O mundo novo: influência da tecnologia e dos novos modelos na produção do espaço

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FACULDADE DE ARTES, ARQUITETURA E COMUNICAÇÃO - FAAC

O MUNDO NOVO: INFLUÊNCIA DA TECNOLOGIA E DOS NOVOS MODELOS NA PRODUÇÃO DO ESPAÇO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO DO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO, UNESP | BAURU

ALUNA: JULIA GASPARINI DOS S ALMENDROS ORIENTADOR: PROF. SIDNEY TAMAI DEZEMBRO | 2018 pg. 3


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“Change is the only constant.” pg. 5


RESUMO

O trabalho em questão visa compilar literaturas sobre os movimentos, ferramentas, modelos, posturas e comportamentos que vêm, cada vez mais, diluindo a maneira como costumávamos viver nesse mundo. Assistimos o florescer de uma nova dinâmica de interações onde a internet, as conexões em rede e a tecnologia são elementos tão presentes que já os consideramos automaticamente parte de tudo que fazemos. Houve um crescimento significante de gadgets ou dispositivos que auxiliam na utilização de computadores e celulares que, hoje, ultrapassam o número de pessoas no mundo. Se para caracterizar uma revolução devem existir mudanças radicais estimuladas pela incorporação de mudanças que impactam os principais setores que regem a sociedade - econômico, político e social – então não podemos mais negar que estamos, sim, em meio a uma revolução. Hoje, o mundo encolheu. A relação entre tempo e pg. 6


espaço não é mais linear devido à grande possibilidade de manipulação do tempo que a tecnologia nos proporciona. A economia criativa, juntamente com a economia circular, do compartilhamento, a revolução dos hackers e dos makers, a disseminação do acesso à fabricação digital, o empoderamento das pessoas que cada vez mais se tornam empreendedoras está fazendo com que as relações e a produção dos espaços e da própria sociedade se torne mais e mais horizontal e descentralizada. O conceito de carreira – aquela, que você escolhe aos 18 anos e vive a vida toda para obter sucesso e dinheiro através dela – está ficando para trás. A sociedade da informação cria seres humanos e profissionais híbridos, que valorizam as áreas nas quais têm habilidade, mesmo que seja mais de uma. Nessa nova dinâmica, o que tem mais valor são as habilidades que são unicamente humanas, e que as máquinas não fazem com grande maestria: a capacidade de inovação, a criatividade e a presença de sentimentos. Dito isso, o mundo triplicou de tamanho nas costas dos profissionais criativos – arquitetos, designers, artistas, etc. – que são aqueles que ajudarão a reinventar esse mundo tal como é e torna-lo um lugar mais democrático, inteligente e harmônico. Com base em algumas definições do que é a arquitetura: “Arquitetura é, definitivamente, um ato político.” - Peter Eisenman | “Arquitetura é uma maneira de ver, pensar e questionar nosso mundo e nosso lugar nele” - Thom Mayne | “A arquitetura é a arte e a ciência de garantir que nossas cidades e edifícios se encaixem na maneira como queremos viver nossas vidas: o processo de manifestar nossa sociedade em nosso mundo físico. - Bjarke Ingels | “A arquitetura é uma expressão de valores - a forma como construímos é um reflexo do modo como vivemos.” - Norman Foster O trabalho a seguir é uma análise da sociedade como um todo e do modelo de mundo em que estamos inseridos. Considerando que a atuação do arquiteto é muito mais complexa que a construção de edifícios, torna-se essencial, para o exercício da atividade, estudar detalhadamente quais são as forças que movem essa sociedade e como encontra-se seu espaço de atuação. pg. 7


ABSTRACT

The work in question aims to compile literatures about the movements, tools, models, postures and behaviors that are increasingly diluting the way we used to live in this world. We see the flourishing of a new dynamic of interactions where the internet, network connections and technology are elements so present that we automatically consider them as part of everything we do. There has been a significant growth of gadgets or devices that help in the use of computers and cell phones that, today, surpass the number of people in the world. If to characterize a revolution there must be radical changes stimulated by the incorporation of changes that impact the main sectors that govern society - economic, political and social - then we can no longer deny that we are, yes, in the middle of a revolution. Today, the pg. 8


world has shrunk. The relationship between time and space is no longer linear because of the great possibility of time manipulation that technology provides us. The creative economy, together with the circular economy of sharing, the revolution of hackers and makers, the spread of access to digital manufacturing, the empowerment of people who become more and more entrepreneurial, is making relations and production of space and society itself becomes more and more horizontal and decentralized. The concept of career - the one you choose at the age of 18 and live a lifetime to get success and money through it - is lagging behind. The society of information creates hybrid human and professional people, who value the areas in which they have skill, even if it is more than one. In this new dynamic, the most valuable are skills that are uniquely human, and that machines do not do with great mastery: the capacity for innovation, creativity and the presence of feelings. That said, the world has tripled in size on the back of creative professionals - architects, designers, artists, etc. - who are those who will help to reinvent this world as it is and make it a more democratic, intelligent and harmonious place. Based on some definitions of what architecture is: “Architecture is definitely a political act.” - Peter Eisenman | “Architecture is a way of seeing, thinking and questioning our world and our place in it” - Thom Mayne | “Architecture is the art and science of ensuring that our cities and buildings fit into the way we want to live our lives: the process of manifesting our society in our physical world.” - Bjarke Ingels | “Architecture is an expression of values - the way we construct it is a reflection of the way we live.” - Norman Foster The following work is an analysis of society as a whole and of the world model in which we are inserted. Considering that the architect’s performance is much more complex than the construction of buildings, it is essential, for the exercise of the activity, to study in detail what are the forces that move this society and how it finds its space of action. pg. 9


AGRADE CIMENTOS

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Agradeço primeiramente à minha família que sempre me apoiou e incentivou em todos os meus projetos e ideias.Agradeço ao professor Sidney e professor Dorival por terem, de alguma maneira, plantado uma semente que culminou no tema deste trabalho. Acredito que a vida seja feita de momentos e pessoas. Para mim, cada conversa, cada reflexão, cada vivência que tive ao longo de toda minha trajetória até hoje foram essenciais para formar a pessoa que sou. Sou grata por toda viagem que fiz, todos os lugares que estive e todas as pessoas que conheci. pg. 11


SUMARIO

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/01 /02 02.

CONTEXTUALIZAÇÃO: A FORMAÇÃO DO BACKGROUND TECNOLÓGICO EM QUE VIVEMOS E SEU ESTADO DA ARTE.............17

// o encolhimento do mundo.....................................................................18

// contexto das cidades...............................................................................20

// considerações sobre tecnologia............................................................26

// quarta revolução industrial e internet das coisas.................................30

03.

/03

CONCEITOS: MOVIMENTOS QUE SURGIRAM COMO RES POSTA AO NOVO MODELO DE SOCIEDADE.........................................33

// a participação urbana através de intervenção media da por tecnologia e interatividade........................................................34

// movimento maker e os hackers.............................................................42

// economia criativa.....................................................................................50

// influência da economia criativa no ambiente urbano, a cidade criativa........................................................................................54

// economia do compartilhamento...........................................................60

// economia circular.....................................................................................68

04.

CONCLUSÃO...............................................................................................78

05.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................80

01. INTRODUÇÃO..............................................................................................14

/04 /05

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INTRODUCAO

“Vivemos tempos desafiadores: o jeito de vender e atender clientes mudou. O jeito de fazer propaganda e construir marca mudou. O jeito de atrair e reter talentos mudou. O jeito de sobreviver no mercado mudou. Um novo mundo está nascendo, feito de ambientes descentralizados, de relações sustentáveis, de reinvenção constante. O Ipod transformou nossas vidas e já acabou. Assim como o Nintendo Wii. Onde estão o My Space e a Palm? Mesmo quem muda tudo não está a salvo das mudanças. Os líderes nunca estiveram tão frágeis. Os inovadores nunca estiveram tão fortes. Liderança não tem mais a ver com a sua posição hoje, mas sim com a sua capacidade de inventar o futuro. As marcas mais valiosas do mundo foram criadas na última década por jovens com pouco mais de vinte anos. Bem-vindo ao novo mundo: da economia criativa, das empresas líquidas, das relações de trabalho efêmeras, da atração de talentos para causas e não para cargos. Esse é o mundo das pessoas que se organizam em tribos. Hoje, há sempre um jeito melhor de fazer as coisas, onde os pequenos têm tanto poder quanto os grandes, onde se reinventar sempre é o único jeito de permanecer vivo. Nesse pg. 14


mundo, o que faz a diferença são as pessoas, as ideias e os projetos. Nunca antes tanta gente experimentou tanto, de tantos novos jeitos de fazer as coisas. […]” (vídeo statement projeto DRAFT. Disponível em < https://www.youtube.com/watch?v=j5CWOGUvL5c>). Conexão se tornou uma das palavras que melhor define a contemporaneidade. As pessoas estão conectadas entre si, conectadas com a cidade, conectadas com objetos. Objetos estão conectados entre si, conectados aos os espaços, e às redes. Enfim, tudo se conecta numa grande teia que é praticamente onipresente e que possibilita interações em diferentes níveis de complexidade. A questão é que o ser humano evoluiu (e evolui) alcançando um patamar altíssimo de dominação da natureza numa postura egoísta de tentar se sobrepor a ela a qualquer custo. A imersão na tecnologia, nas relações superficiais, mascaradas, e solitárias bem como a busca incessante pelo consumismo exacerbado sem propósito algum começam a se mostrar insuficientes e insustentáveis. É como se tivéssemos alcançado o topo, porém deixado pegadas fundas demais na caminhada. Começa uma nova visão na qual a consciência ambiental e a utilização consciente de recursos é essencial. Além de continuar criando e inventando é necessário rever o modo como utilizamos aquilo que já existe – como fazer tal coisa de um jeito melhor -, e como podemos aos poucos tampar essas pegadas deixadas lá para trás. Obviamente, que nem toda a sociedade está contemplada nessa parcela que alcançou o “auge” do desenvolvimento e exploração. Nessa evolução, uma grande parcela ficou e ainda fica para trás, com pouco acesso ao desenvolvimento, inclusive pouco acesso a condições básicas de dignidade. Sendo assim, não é possível generalizar a sociedade como um todo quando falamos de qualquer um dos temas a seguir. A boa notícia é que, uma vez que difundida essa nova visão, e uma vez estabelecido o desenvolvimento descentralizado, horizontal e transparente, novas esferas de atuação são automaticamente criadas e o desenvolvimento pode se alastrar com menos “burocracia” possibilitando aos poucos que mais pessoas se beneficiem da evolução. pg. 15


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CONTEXTUALIZACAO A FORMAÇÃO DO BACKGROUND TECNOLÓGICO EM QUE VIVEMOS E SEU ESTADO DA ARTE

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ENCOLHI MENTO DO MUNDO

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Em seu livro, Daniel Piza (2011) explica que os dez anos entre Jan/2001 e Dez/2010 certamente exemplificam as mudanças significativas que marcam o começo de um novo século. Pode-se dizer que a grande responsável por toda essa transformação foi a invenção daquilo que chamamos de tecnologia da informação. “Da caixa de uma padaria ao biólogo num laboratório, é raro o profissional hoje que não esteja diante de um computador.” Na economia, em diversos países a produção industrial foi superada pelo estabelecimento de uma economia criativa que não se sustenta na venda de mercadorias de uso físico, mas sim de setores como entretenimento, turismo, informática, etc. A produção passou a ser feita em conjunto por diversos setores de diversos países. “É nesse sentido que se pode dizer que o mundo “encolheu”. O mundo encolheu pela rapidez e pela abrangência com que se interliga. Pode-se dizer também que a complexidade desse novo mundo se intensificou pelo fato das influências e comunicações intensas e mútuas. A presença dos aparelhos eletrônicos se fez muito presente no começo do século XXI. Houve um crescimento significante de gadgets ou dispositivos que auxiliam na utilização dos computadores e celulares que, hoje, ultrapassam o número de pessoas no mundo. Porém, segundo Piza (2011) não só a economia e o comportamento sentiram a presença da tecnologia da informação. Diversas outras áreas - pode-se dizer, na verdade, que quase todas - sofreram modificações e adaptações. Na arquitetura, por exemplo. A disponibilida-


de de softwares de modelagem e simulações 3D, cálculos digitais e novas formas de trabalhar com materiais influenciou diretamente na transformação da linguagem arquitetônica em si. Vimos uma crescente complexidade dos prédios buscando contrapor grandiosidade, leveza e, mais recentemente, tecnologia. Criticada muitas vezes como “arquitetura do espetáculo” e exibicionista, além disso ela representa uma liberdade formal singular graças à evolução das técnicas e dos materiais de construção. Nesse sentido, pode-se afirmar que a arquitetura, assim como as artes, é sempre uma resposta à sociedade. Uma comparação interessante pode ser feita também com a busca pela “experiência” que o novo século trouxe. Por exemplo, na música, diversos festivais inspirados em Woodstock ficaram cada vez mais comuns por todo o mundo. O fato de “experienciar” tem sido um debate muito recente em diversos setores, não deixando arte, arquitetura e o urbanismo de fora. Tem-se notado um grande crescimento de espaços arquitetônicos e temas ambientais em instalações e performances trazendo pontos comuns às demais artes. O espaço arquitetônico pretende e sempre pretendeu interferir na percepção humana. A tecnologia da informação, no entanto, muniu a arquitetura de dispositivos que podem intensificar esta interferência à níveis muito complexos. Foi na primeira década também, que mais mulheres chegaram ao poder, os movimentos homossexuais adquiriram força com diversas mobilizações em metrópoles. O aumento da

expectativa de vida e o da população idosa também proporcionaram mudanças comportamentais. Até mesmo as causas de morte mais frequentes que passaram a ser câncer e Alzheimer. A dinâmica das famílias, o casamento, divórcio, tudo foi modificado no novo século. Os instrumentos de comunicação, redes sociais como Twitter, Facebook, Instagram, entre outros passaram a ser os principais canais de divulgação e, consequentemente de exposição da vida privada das pessoas.

“A computação, na verdade, modificou hábitos e valores em todas as profissões. De biólogos a lojistas, passando por cineastas, arquitetos e, claro, escritores e jornalistas, todos trabalham diante de uma tela de PC hoje em dia. […] O chamado dinheiro plástico’, na forma de cartões de débito e crédito com chips, tomou o lugar do papel-moeda e, sobretudo, dos cheques na hora do pagamento. Nas empresas, os setores de TI foram os que mais cresceram em importância estratégica e número de empregados.” (Piza, 2011 pág. 94).

O que melhor define a década de 2001 a 2011 sem dúvida foi a consolidação e expansão da internet que se torno cada vez mais presente no cotidiano das pessoas em todo os cantos do mundo, o que foi intensificado com o lançamento da banda larga em 2000 (Piza, 2011). A internet transformou mais do que o dia a dia das pessoas, proporcionou uma mudança profunda também na economia, como explicados em capítulos posteriores. pg. 19


CON TEXTO DAS CIDADES ”Uma cidade é um assentamento humano em que estranhos têm a chance de se encontrar” (Bauman, Modernidade Líquida)

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A expansão das grandes cidades na primeira década do século XXI foi intensificada trazendo grande desenvolvimento econômico, porém, juntamente com diversos problemas que sobretudo influenciam na qualidade de vida das pessoas. A desigualdade social, a má distribuição de renda, crescimento desenfreado, congestionamentos, etc. são problemas comuns e recorrentes nos grandes e até médios centros urbanos. Desde o início do século XX a população nas cidades quadriplicou e, hoje, a maioria das pessoas vivem nelas. Sendo assim, seria plausível que as cidades fossem objeto imprescindível de investimento, projetos e adequabilidade às pessoas. Segundo Abreu (2016) “A cidade é uma estrutura dinâmica, em constante transformação, onde o antigo e o novo, o passado e o presente convivem lado a lado em um permanente diálogo”. Bauman, em modernidade líquida (2001), define a civilidade. Segundo ele, é o entorno urbano que deve ser civil, ou seja, deve ser favorável à prática da civilidade. E o que seria então a civilidade? É uma característica de situação social, que não pode ser privada para que seja completamente “aprendida”. Um ambiente urbano civil é aquele que oferece espaços em que as pessoas possam compartilhar, serem instigadas, pressionadas ou até induzidas a expressar-se. As pessoas construíram as cidades, num determinado momento, tentando categorizar os usuários de acordo com o local que habitam. A construção de shoppings centers, condomínios fechados são provas de que se


pretende induzir a convivência entre os iguais por transpassar mais segurança. Mas, para Bauman, conviver com a diferença é uma arte que, como todas as outras, deve ser aprendida e exercitada. Quanto mais eficazes as tendências de homogeneização, maior se torna a dificuldade de convivência com “estranhos”, tornando-a ameaçadora e intensificando a ansiedade que ela gera bem como desperdiçando potenciais encontros improváveis e multidisciplinares que geram inovação. Segundo Daroda (2012) os espaços públicos e abertos nas cidades são essenciais na possibilidade de interação entre indivíduos pois são locais onde acontecem encontros que refletem a sociabilidade e as diversidades sócio espaciais. É também palco de interações entre ambiente construído e natural. Para Bassani, os comportamentos e a construção da leitura e uso da cidade se expressam de maneira cultural; sua materialidade e a leitura de seus espaços se dão devido à cultura estabelecida nesse ambiente o qual podemos chamar de habitat ou território. Esse ambiente é uma constante construção abstrata e que depende da operação da linguagem, pois ele não existe simplesmente enquanto fato natural. Sendo assim, o autor confirma sua proposta de que a forma da cidade é espelho de seu tempo. Abreu (2016) ressalta que os valores fundamentais do ser humano são aprendidos em sociedade pois ele toma como verdade os valores e comportamentos dependendo da sociedade em que vive. Por esse motivo, a experimentação dos espaços, das sensações,

das interações é de fundamental importância na construção dos indivíduos. Yi Fu Tuan (1983) escreve que “experienciar é aprender”, ou seja, a vida em sociedade e nos espaços em comum nos torna capazes de aprender pelo exemplo e pela vivência. A complexidade da vida urbana na contemporaneidade possui outros fatores ainda como, por exemplo, a modificação da concepção de espaço e tempo. A invenção de veículos que se movem mais rápido que humanos e animais, teve grande impacto na validade do espaço e tempo. Eles foram colocados em prova, pois tornando a locomoção mais veloz, atravessar grandes distâncias agora passa a tomar muito menos tempo. A referência de tempo mudou significantemente, e perguntas como por exemplo “Quão longe é? ”, antes respondidas por

“[...] Mais ou menos uma hora, ou um pouco menos se você caminhar rápido” [...] “Se você sair agora, estará lá por volta do meio-dia” ou “Melhor sair agora, se você quiser chegar antes que escureça”. Hoje em dia, pode-se ouvir ocasionalmente essas respostas. Mas serão normalmente precedidas por uma solicitação para ser mais específico: “Você vai de carro ou a pé? ”. “Longe” e “tarde assim como “perto” e “cedo” significavam quase a mesma coisa: exatamente quanto esforço seria necessário para que um ser humano percorresse uma certa distância - fosse caminhando, semeando ou arando. [...] “Espaço” é o que se pode percorrer em certo tempo, e “tempo” é o que se precisa para percorrê-lo. [...] O modo como compreendíamos essas coipg. 21


sas que hoje tendemos a chamar de “espaço” e “tempo” era não apenas satisfatório, mas tão preciso quanto necessário, pois era o wetware - os humanos, os bois e os cavalos que fazia o esforço e punha os limites”. (Bauman, 1983 pg. 98)

Bauman ainda explica que a mudança de wetware - que definia algo inflexível, aquilo que depende dos poderes e vontades naturais, aquilo que não se pode mudar ou esticar, quando o tempo de viagem era característica da distância - para o hardware - que transforma o tempo em atributo da técnica de viajar, algo que os humanos podem inventar, construir, controlar, etc. fez com que o tempo não mais dependesse das intenções imutáveis da natureza pois ele poderia ser modificado e manipulado diferentemente do espaço. Foi aí que espaço e tempo se dissociaram. Inclusive, na atualidade, vivemos imersos numa realidade cheia de possibilidades, velocidades, transmissões e conexões virtuais que desafiam ainda mais a lógica da relação entre espaço e tempo. Não existe nada mais “líquido” e fluido do que a própria rede, o ambiente virtual. A dinâmica das redes na contemporaneidade é um elemento responsável pela organização e reprodução da sociedade. Os meios de transporte e comunicação tornaram-se elementos básicos e estão em constante movimento assim como as pessoas (Abreu, 2016).

A utilização de novas tecnologias [...] está presente em todos os segmentos importantes das sociedades do mundo atual. Esta presença transforma irreversi-

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velmente a forma como as pessoas pensam, agem e se relacionam umas com as outras, alterando assim, hábitos, costumes e o ambiente em que estão inseridas. Essas mudanças provêm da rapidez com que são disponibilizadas e processadas as informações. As informações são disponibilizadas em uma velocidade que não poderíamos imaginar em tempos passados não muito distantes. (NORONHA; TAVARES; 2012 apud SANTOS, 2007, p.1)

O conhecimento e a informação, democratizados pela internet, se tornaram meios de exercício da cidadania através de uma imensa mobilização digital embasada em comunidades virtuais que debatem assuntos globais e locais e, ainda, dando visibilidade a fatores que antes não eram possíveis de serem enxergados através dos meios de comunicação de massa. (NORONHA; TAVARES; 2012) Noronha e Tavares (2012) também explicam que no ciberespaço – nome dado à internet – todos estão conectados pela rede em suas respectivas comunidades e que, a informação disponível é apropriada pelas pessoas e somada ao contexto de vivência local de cada um. Portanto, esse processo é que seria responsável por influenciar as ações de cada indivíduo na sociedade. Às cidades em que a infraestrutura de telecomunicações e tecnologias digitais já são uma realidade, atribui-se o nome de Cibercidades. São cidades contemporâneas que são fruto das relações criadas no espaço virtual onde são trocadas informações e onde se valorizam os aspectos sociais, culturais, intelectuais


e técnicos da sociedade. Tais relações devem contribuir para a ocupação de espaços concretos na cidade através de organização virtual e horizontalizada. Daroda (2012) define as cibercidades como espaços híbridos formados pela sobreposição de objetos virtuais em relação ao meio físico onde a conectividade e a mobilidade são as principais articuladoras das novas formas de sociabilidade urbana configurada por redes invisíveis. O espaço urbano configura-se hoje como um espaço hibrido formado por camadas digitais e físicas. Os dispositivos móveis proporcionam aos usuários acesso imediato e universal aos serviços, e consequentemente, proporcionam novas formas de interatividade no espaço urbano. Portanto, as cidades físicas não são substituídas pelas virtuais, mas há uma reconfiguração profunda. As barreiras e os limites impostos à cidade, aos poucos são quebrados e dissolvidos por essa possibilidade de penetrar em todos espaços configurando mais ainda a cidade como um ambiente híbrido. A partir do ciberespaço, é possível estabelecer outra dinâmica para o tempo e o espaço em que vivemos. Através da rede, criamos um novo território de relações sociais e culturais em que surgem outras formas de vinculo por meio de relações nômades, permitindo uma maior flexibilidade social (NORONHA; TAVARES; 2012).

Imagem 1 | Carro autônomo, sem motorista Fonte: NAVAJA, 2016. disponível em <http://www.conarec.com. br/2016/08/05/seria-carro-autonomo-solucao-transito/>

Imagem 2 | A cidade informacional Fonte: GOMES, 2017 Apud FIRMINO 2005.

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Observa-se na arte contemporânea a exploração no espaço tridimensional recriando experiências na cidade através das novas tecnologias de informação e comunicação. Sendo assim, essas tecnologias aliam-se ao planejamento urbano ao passo que conseguem unir pessoas e conferir trocas de experiências entre indivíduos neste novo espaço complexo. Hoje, pensa-se no computador como um parceiro daquele que gera os espaços. Quanto ao espaços público, as tecnologias podem favorecer seu uso na contemporaneidade por possibilitar ações e apropriações até mesmo pela disseminação do uso de aparelhos móveis que permitem essas experimentações e análises em tempo real. Segundo Daroda (2012) as primeiras práticas de agregações sociais através de tecnologias móveis foram os flash mobs ou smart mobs que reúnem multidões organizadas através destes dispositivos com o objetivo de impactar o dia-a-dia das pessoas realizando um ato conjunto. Os flash mobs tem cunho artístico de performance, já os smart mobs tem cunho político e pretendem mobilizar uma massa em forma de protestos políticos. Em ambos, a mobilização causa grande surpresa naqueles que estão acostumados a frequentar o local. São, portanto, “mobilizações políticas, estéticas e coletivas que utilizam mídias portáteis para organizar reuniões efêmeras no espaço público” (Daroda, 2012). Resumidamente, contribui para que as pessoas “experienciem” espaços mais do que apenas passem por eles ou apenas os vejam. A experiencia espacial urbana tem sido signipg. 24

Imagem 3 | Flash Mobs, organização de apresentações através de dispositivos móveis Fonte: Google Imagens

Imagem 4 | Manifestações organizadas através de redes virtuaisFonte: Época disponível em <https://epoca.globo.com/ideias/noticia/2015/03/era-dos-protestos-conectados.html>

Imagem 5 | Manifestações organizadas através de redes virtuais Fonte: Época disponível em <https://epoca.globo.com/ideias/noticia/2015/03/era-dos-protestos-conectados.html>


ficativamente influenciada também pelo que chamamos de sistemas de georreferenciamento e localização ou mídias locativas. Essas mídias fornecem informações básicas como horário, dia, etc. bem como informações sobre o perfil de uma certa pessoa ou grupo de pessoas. Esses sistemas contribuem para a captação de informações sobre um determinado lugar e, a partir delas tem-se uma base de dados georreferenciados que tornam possível acessos, divisão e distribuição de informações em meio ao espaço urbano.

“A procura por hotspots faz as pessoas se sentarem em um lugar em vez de outro; a troca de telefonemas e SMS cria um novo movimento nas ruas e novas formas de sincronidade ou encontros; os métodos atuais de localização e mapeamento mudam a forma com as pessoas veem e interagem com a estrutura da cidade; ao acesso à informação sobre mobilidade em blogs, micro-blogs, ou softwares sociais alteram como as pessoas produzem conteúdo sobre sua experiência e a conecta a suas comunidades. Essas tecnologias estão produzindo um novo ritmo para a vida cotidiana, e novas mobilidade dentro de lugares” (Carneiro 2014 apud Lemos 2008)

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CONSIDERA ÇÕES SOBRE TECNO LOGIA ¹ - O grupo VOICERS ém ecossistema digital de educação que busca democratizar o acesso às tecnologias e tendências futuras, que ajudarão a desenvolver as pessoas a usá-las de forma exponencial e positiva. Acreditam que conhecimento alinhado à tecnologia é a principal ferramenta para construção de um futuro ideal. Esse ecossistema é composto por pessoas que já vivem no futuro e são experts nas áreas de tecnologia, pg. 26

ciências, inovação e desenvolvimento humano. Através de suas vozes e visão de futuro são capazes de influenciar outros a repensarem o seus! Têm então o compromisso de gerar através dessas vozes, conteúdo educacional com grande foco em videos com qualidade e das mais inusitadas formas, eventos e momentos, aos quais chamam de Tech Talks. (http://www. voicers.com.br/o-que-e-o-voicers/)

Carneiro (2014) apud Alcorn (1986) comenta que o ser humano evolui externamente e de forma muito rápida. Ele faz uso de construções artificiais baseadas em princípios naturais que desafiam as mudanças físicas conquistando tudo que é oferecido pelo planeta em todos os seus cantos e em todos os sentidos. Alcorn (1986) ainda defende a partir da teoria evolucionista de que os seres evoluem para adaptar-se ao meio para sobreviver, que o ser humano encontrou na tecnologia uma forma de buscar dominar o meio e, isso só foi possível devido à sua exclusiva habilidade do pensamento abstrato. Segundo ele, o raciocínio nos faz buscar uma maneira mais eficiente de fazer as coisas. No entanto, a tecnologia digital tem sido responsável por alienar as pessoas também. Em certos discursos, a tecnologia é vista como avanço e, qualquer outra coisa que não seja ela, retrógrado. Institui-se como prioridade para a existência de uma sociedade a informação baseada em computadores e redes conectadas. Alguns êxitos tecnológicos criam a sensação de mágica e os coloca acima da razão e da moral (Carneiro, 2014). Carneiro citando Zizek (2012): “O paradoxo, portanto, é que, quanto mais personalizado, fácil e “transparente” for o funcionamento do pequeno item [...] mais a configuração tem de se basear no trabalho realizado em outro lugar, [...] quanto mais essa experiência é não alienada, mais é regulada por uma rede alienada”. Carneiro (2014) questiona até que ponto a tecnologia liberta e até que ponto ela contribui mais para a alienação das pessoas.


Em contrapartida, existem vertentes que defendem que a tecnologia - diferentemente da visão tirana de que ela aliena e substitui a ação humana – atualmente possibilita um certo tipo de volta à “humanização” dos indivíduos. Numa palestra para o Hacktown 2018 (Santa Rita do Sapucaí – MG), Lígia Zotini – integrante do grupo Voicers¹ - defende a ideia de que, se um trabalho pode ser substituído por uma máquina, então este trabalho é desumano. Em outras palavras, a tecnologia e a automatização permitem que o ser humano esteja livre para desenvolver suas capacidades estritamente humanas, como o raciocínio lógico, a criatividade, a inovação e suas relações aftivas, em detrimento dos serviços mecânicos ou repetitivos. Inclusive, argumenta que o futuro só será um lugar ideal se começarmos a desenvolver pessoas com a mesma intensidade que desenvolvemos as máquinas.

Muitos estudos revelam que a tecnologia tem tirado algumas vagas de trabalho que até poucos anos atrás existiam. Se olharmos há 100 anos atrás, a maioria dos trabalhos eram realizados em fazendas, o que representava 80% dos trabalhos naquela época. Em contrapartida temos hoje apenas 3% de representatividade do trabalho humano em fazendas, sendo esses trabalhos completamente substituídos pela tecnologia. Além disso, diversas ocupações foram criadas para atender a necessidade do desenvolvimento tecnológico [...], porém o que precisamos contextualizar é a forma acelerada com que essas mudanças estão acontecendo. O que antes levava quase 100 anos para mudar, hoje acontece em

alguns poucos anos e já faz parte da nossa rotina diária. [...] Acredito que nosso maior desafio agora é saber como gerir o medo que assola as pessoas que estão cada vez mais com o status de desempregados. Sim, isso mesmo que você leu, se você não começou a desenvolver novas competências você irá se tornar uma pessoa que facilmente pode ser substituída e, portanto, majorando a lista do desemprego. (Zotini, 2018 disponível em <http://lilianmarinscoach.com/qual-o-verdadeiro-impacto-da-tecnologia-no-trabalho/>)

Imagem 6 | Lígia Zotini e Irina Bezzan (da esquerda para a direita), integrantes do grupo Voicers. Camisetas vendidas no evento Hacktwn 2018 em Santa Rita do Sapucaí. Fonte: Voicers disponível em <http://www.voicers.com.br/voicers-e-a-nova-economia/>

Em alguns países, como EUA e Canadá, existe o UBI (Unversal Basic Income) que, resumidamente, consiste em uma ajuda disponibilizada pelo governo que cobre os gastos básicos da população possibilitando que essa trabalhe pg. 27


com propósito fazendo o que realmente tem vontade, sem se preocupar com a garantia de subsistência fazendo qualquer atividade que não lhe seja compatível. Segundo pesquisas, cerca de 87% das pessoas trabalham apenas para garantir subsistência (MARINS, L. 2018).

[...] a ideia da nova era tecnológica é fazer com que todos nós tenhamos mais coragem para nos reinventar e, com ousadia, realizar as suas atividades ocupacionais que lhe geram prazer e propósito. Estamos vivendo a era do autoconhecimento. [...] Eu particularmente acredito que a tecnologia está substituindo alguns trabalhos que por muito tempo foram desumanos e trazendo a possibilidade de usarmos o nosso valor único como seres humanos para exercer atividades que utilizam os nossos órgãos mais importantes: o cérebro e o coração. (Zotini, L. 2018 disponível em <http://lilianmarinscoach.com/qual-o-verdadeiro-impacto-da-tecnologia-no-trabalho/>)

Em relação à arquitetura, por exemplo, o uni verso computacional vem inserindo-se há algum tempo. Os primeiros arquitetos a experienciarem coisas parecidas são Christopher Alexander, Nicolas Negropont, John Frazer, entre outros. A computação é introduzida na criação de formas que evoluem simultaneamente com os arquitetos e os próprios computadores. Ela possibilita o teste de formas, estruturas. O discurso de que o arquiteto seria trocado pela máquina foi equilibrado após a constatação de que a interrelação entre eles é muito rica mesclando intuição, criatividade, sistematização e racionalização de processos. pg. 28


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QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL EA INTERNET DAS COISAS Segundo Raposo (2018), para caracterizar uma revolução industrial, devem existir mudanças radicais estimuladas pela incorporação de tecnologias, tendo impacto nos principais setores que regem a sociedade: econômico, político e social. Numa retrospectiva sucinta, vimos até hoje três revoluções bem definidas: - Século XVIII, inserção do tear mecânico, das máquinas de fiar e das máquinas a vapor iniciando a mecanização dos sistemas de produção. - Século XIX, a tecnologia inserida foi a eletricidade. Trouxe consigo mudanças significatipg. 30

vas no estilo de vida das pessoas, na duração da jornada de trabalho e no funcionamento das máquinas em geral. - Século XX, após a Segunda Grande Guerra, aos poucos a tecnologia e a informática juntamente com a disseminação da internet, softwares, dispositivos móveis, robótica, eletrônica, etc. foi ganhando notoriedade e substituindo a maneira com que as coisas eram pensadas, produzidas e distribuídas. Nessa revolução também se destaca a globalização, fenômeno que tornou possível a distribuição rápida de produtos e informações ao redor de todo o globo entre diversas nações. Avanços na medicina com uso da engenharia genética, biotecnologia também se fizeram presentes. Hoje, vivemos no despertar do que alguns consideram uma quarta revolução. Chamada também de Indústria 4.0, essa transformação promete grandes mudanças na forma com vemos e nos relacionamos com o mundo. Essa revolução é híbrida, multidisciplinar, tecnológica, moral, econômica, entre tantos outros adjetivos. Nunca se viu tal comportamento e suas projeções para o futuro são ainda mais interessantes. A Indústria 4.0 é caracterizada, segundo Raposo (2018) apud Faustino (2016), “pela customização em massa e personalização da linha de produção, alia-se a um conjunto de tecnologias como robótica, realidade aumentada inteligência artificial, nanotecnologia, impressão 3D, big data, e IoT (Internet of Things, ou Internet das Coisas), manutenção preditiva, simulação, CPS (Cyber Physical System),


Cyber Security (FAUSTINO, Bruno 2016). As promessas dessa nova revolução são, entre outras, benefícios na produtividade, personalização em escalas, manufatura enxuta, redução de custos, redução de erro, transparência nos negócios e economia de energia. Outro fenômeno que já começou a se concretizar é o desaparecimento de muitos empregos que já conhecemos e a criação de novos tipos de trabalhos que ainda desconhecemos. Os trabalhos mecânicos, físicos, braçais, passarão a ser realizados por máquinas abrindo espaço para os seres humanos trabalharem em cargos que exijam maior conhecimento intelectual e criativo. Na revolução tecnológica em que vivemos, tudo está em constante evolução numa rapidez exponencial. Por essência, o que chamamos de internet das coisas é a conexão existente entre objetos (cotidianos ou não) através da internet. Essas coisas conectadas passam a alojar sistemas, sensores e conectividade que os permitem trocar informações através da rede. Sendo assim, podem ser controlados por sistemas computacionais imersos nessa mesma rede. Evans (2011), cita em seu texto que de acordo com o Cisco Internet Business Solutions Group (IBSG), o surgimento da IoT se deu a partir do momento em que existiam mais coisas/objetos conectadas à internet do que pessoas, em meados de 2008 e 2009. Se a internet já foi responsável por impactar a educação, comunicação, negócios, ciência, governo, humanidade; a IoT é uma revolução

na própria internet, que potencializa a capacidade de coletar, analisar e distribuir dados que podem ser transformados em informação, conhecimento e sabedoria.

Em 2003, havia aproximadamente 6,3 bilhões de pessoas vivendo no planeta e 500 milhões de dispositivos conectados à Internet. Ao dividir o número de dispositivos conectados pela população mundial, descobrimos que existia menos de um (0,08) dispositivo por pessoa. Com base na definição do Cisco IBSG, a IoT não existia em 2003, pois o número de itens conectados era relativamente pequeno considerando que dispositivos ubíquos, como smartphones, estavam sendo apresentados. [...] O crescimento explosivo de smartphones e tablets levou o número de dispositivos conectados à Internet até 12,5 bilhões em 2010, à medida que a população humana chegou a 6,8 bilhões, tornando o número de dispositivos conectados por pessoa superior a 1 (exatamente 1,84) pela primeira vez na história. (EVANS, 2011).

Imagem 7 | Gráfico da população mundial em relação aos dispositivos conectados. Fonte: EVANS, 2008. pág. 3 pg. 31


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CONCEITOS MOVIMENTOS QUE SURGIRAM COMO RESPOSTA AO NOVO MODELO DE SOCIEDADE

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PARTCIPAÇÃO URBANA ATRAVÉS DE INTER VENÇÃO MEDIADA POR TECNO LOGIA E INTERATI VIDADE “Em todas as formas de intervenção, pretende-se modificar o status quo, produzindo um efeito no fluxo da experiência cotidiana, pelo poder rápido e enfeitiçante da experiência [...]”. (SOUZA, 2012) pg. 34

Segundo Souza (2012) “Uma das formas contemporâneas para manifestar sua presença no tempo e no espaço, além de expressar sua subjetividade é a intervenção urbana, que surge como expressão gráfica no mesmo período em que a pós-modernidade chega em seu auge”. Essas mudanças em espaços públicos ou privados pretendem requalificá-los e torna-los passíveis de apropriação. Uma intervenção tem natureza social e temporal e, sua manifestação ocorre como um fenômeno cultural, coletivo, multidisciplinar e inclui aspectos de ordem psicológica, geográfica e econômica (Souza, 2012). Uma intervenção pode propor inconformismo, brincadeira, protesto, jogo, consciência, humor, crítica, denúncia, ternura, entre tantas outras temáticas que abrangem a sociedade atual. A espontaneidade da intervenção tendo como inspiração a paisagem urbana mistura-se com a paisagem de modo a transformá-la aos poucos e tornar-se parte do cenário em questão. Ela se dissolve nas ruas, muros, prédios, integrando o cotidiano da cidade utilizando seu poder simbólico e/ou sua inquietação, crítica, etc. de forma individual ou coletiva. É uma representação efêmera, não-oficial nem comercial que é expressa em outro lugar que a academia ou os museus, “é livre ao mesmo tempo em que é fugaz pela rapidez com que surge e desaparece”. (Souza, 2012) É neste contexto que, para Souza (apud Prosser, 2010), a cidade torna-se uma mídia alternativa de suporte entre o diálogo artista-sociedade.


A cidade é um organismo multifocal e construído por diversos atores em constante mudança e a intervenção urbana é uma prática acima de tudo atrelada a ela. Souza (2012) ainda se refere à cidade como um espaço polifônico, criado a partir de diversas vozes e fenômenos caracterizando ora harmonia ora dissonância. Por esse motivo, a intervenção é a concretização física dessa polifonia. Ela espelha também a sociedade como um todo, evidenciando suas diferenças ou similaridades em diversos aspectos. Para Mazivieiro e Silva (2016) “nas cidades de urbanização consolidada, as possibilidades de intervenção no tecido urbano enfrentam obstáculos e demandam a mobilização de múltiplos setores que compõe as camadas do espaço da cidade”. Por isso, as intervenções ou instalações são interessantes, pois proporcionam uma nova leitura do espaço sem grande burocracia ou participação efetiva dos setores administrativos. Enquanto a intervenção urbana até então discutida, historicamente foi ligada à arte (grafitti, colagens, pinturas, etc. geralmente associados à visão) a instalação é uma categoria que surgiu pouco mais recentemente, na década de 60. Seu surgimento é contemporâneo às assemblages ou happenings, que buscavam inserir outros sentidos além da visão na experimentação dessas intervenções. O contexto das obras então propõe que a percepção leve em conta a ação de um corpo com cinco sentidos. Transformando o indivíduo de mero observador para um elemento que interage, sente e habita o trabalho (Oliveira, 2014).

Instalar, verbo originário da palavra instalação, seria o ato de colocar a obra de arte num vazio, ou num espaço neutro. O próprio ato de montar uma exposição é uma forma de instalar pois reconfigura o espaço existente (Proença, 2013 apud Sudeburg 2000).

As novas formas de interação por meio da interface digital trazem novos questionamentos sobre as diferentes percepções no espaço das instalações interativas. A interação arte-tecnologia, além de promover novas percepções sensoriais, proporciona níveis diferenciados de interação entre espectador e obra e modifica sua percepção sensorial, uma vez que o apreciador se torna parte da experimentação. (Proença, 2013)

Novas linguagens artísticas surgem devido aos novos sistemas e recursos tecnológicos, dando origem à experimentações e práticas contemporâneas de instalações com alto grau de interatividade baseadas em sistemas digitais e possibilitando intensa exploração do espaço tridimensional. Sendo assim, esta categoria traz percepções do espaço diferenciadas ao criar uma relação interativa entre autor-obra-receptor através de uma interface digital e eletrônica. Historicamente, a intenção de artistas e teóricos de explorar a participação e interação do observador da arte tornou-se operante a partir da década de 60 mesmo que a procura por novos meios de expressar ideias seja mais antiga, sobretudo com as vanguardas modernas. Proença (2013 apud Giannetti 2006) explica pg. 35


que a mudança em relação ao termo que define a relação público/arte tem muito a ver com o tipo de experiência proposta: enquanto o termo espectador e/ou observador em relação à obra conota uma ideia de contemplação distanciada, o termo usuário provem da palavra “uso” (que fazemos de um aparelho ou computador), mas nem sempre propõe uma ação interativa. A diferença para uma instalação interativa é que esta proporciona o “uso” através do acesso, participação e manipulação de um sistema ou obra de arte fazendo uso de tecnologias eletrônicas e/ou digitais. Fazendo um paralelo com a definição de instalação interativa de Sogabe (2005), na qual define que essa só é legítima quando existem “pessoas num espaço, interagindo com um aparato ou evento, produzindo com o auxílio de algum recurso tecnológico”, então qualquer instalação ou intervenção interativa num espaço urbano, onde há pessoas passando e fenômenos acontecendo, isso o torna totalmente propício para que uma obra de arte desse tipo aconteça. Proença (2013, apud Nardin 2004) ressalta que o espaço modifica seu propósito de suporte, fundo ou cenário pois passa a atuar como elemento ativo, catalisador das interatividades. Estas interações são muito bem aceitas pois propõe interação física com elementos físicos, trazendo um maior envolvimento nas pessoas. No entanto, as mesmas não são tão bem aceitas quando requerem certo conhecimento prévio técnico em informática. A utipg. 36

lização de sensores ou leitores de ações simples como vozes, gestos encantam mais por poderem ser realizadas por qualquer um.

Nesse contexto, Sogabe (2005) observa que uma boa obra não está necessariamente relacionada a uma tecnologia de ponta, e vice-versa, pois um bom insight é aquele que surge da percepção de um tipo de uso inteligente de um recurso tecnológico, seja ele de baixa ou alta tecnologia. (Proença, 2012)

Mesmo que historicamente, segundo Proença (2012 apud Tavares 2007), a esfera da arte tenha se comunicado com as demais esferas, hoje em dia no contexto dessa nova arte digital a comunicação é a ideologia e, sendo assim, a mediação entre ciência e tecnologia é cada vez mais presente. Ainda, os dispositivos tecnológicos modificam profundamente a visão e percepção do mundo devido às percepções e processos cognitivos envolvidos. O fim dos movimentos vanguardistas que caracterizaram a modernidade emancipou a arte fazendo com que os artistas buscassem sua poética numa proposta autoral singular, não mais baseada nos códigos e normas do desenvolvimento técnico e sociocultural. Nesse momento, a arte tenta se inserir na cultura tecnológica que emergiu no espaço contemporâneo. A concepção do artista então, parte da análise das propriedades das máquinas e recursos técnicos, do estabelecimento dos fenômenos de interatividade e imersão dos indivíduos em relação à obra e, ainda, no trabalho de concretizar todas essas etapas num resultado


que exprima a poética e a sensibilidade que são próprios do campo da arte. O que difere um programador ou engenheiro de computação de um artista agora é que ambos têm o conhecimento da tecnologia, mas é trabalho do artista utilizá-la adaptada num contexto sensível que exprima sua função de arte. Toda essa tecnologia e infraestrutura não são problemas distanciados da arquitetura em si, pois é cada vez mais intrínseco ao tecido urbano e social no qual está inserida. Por isso, deve-se levar em conta a relação entre tecnologia e sociedade a fim de trabalhar sua união produzindo viabilidades tecnológicas, porém levando em consideração questões sociais (Carneiro, 2014). Quanto às instalações interativas de terceiro grau, no qual o indivíduo se faz necessário para o funcionamento da obra, no ano de 2017, o evento FILE SP (Festival Internacional de Linguagem Eletrônica) expôs diversas obras de alto grau interativo.

Em 2014, a Aarhus University (Dinamarca) propôs uma intervenção urbana que consistia num totem com um display de contagem que contava “high fives” entre pessoas que passavam pela calçada. À frente do totem foi demarcada uma área dentro da qual as pessoas tocavam umas com as outras e o contador adicionava mais um high five na tela. Assim que as pessoas entraram na brincadeira, o totem contou 207 interações em apenas duas horas. A intervenção urbana, contou com elementos simples de informatica e a montagem de um totem com sensor de som, um display controlados por um microcontrolador arduino. Com poucos recursos, notou-se um resultado satisfatório pela quebra de expectativa pelos usuários de uma rua comum.

Imagem 8 | The High Five Counter, na Dinamarca. Interação entre pessoas desconhecidas e/ou desconhecidas nas ruas Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=BHcRPwpQR0k pg. 37


ESCADA PIANO | Estocolmo Uma agência de publicidade em parceria com a Volkswagen transformou uma escada comum do metrô numa escada interativa, que tomou forma de um piano onde cada degrau simulava uma tecla e produzia um som diferente quando pisada pelos usuários através de um sensor de pressão instalado nos degraus. A intenção das empresas era de produzir um experimento ao qual chamaram de “Fun theory” ou teoria da diversão afim de tentar mudar os hábitos sedentários da população da capital. A instalação foi responsável por aumentar em 66% o uso da escada comum em comparação à rolante. O interessante dessa obra é a peculiaridade da analogia feita entre a escada e as teclas do piano e como a utilização e experimentação do público foi alterada. O sucesso da iniciativa estimulou a implantação em outras localidades, entre elas a cidade de São Paulo.

Imagem 9 | A Escada Piano Projeto: https://www.youtube.com/watch?v=tLqkc5yF5OY Fonte: Google Imagens pg. 38

Imagem 10 | Unnumbered Sparks Fonte: http://www.unnumberedsparks.com Projeto: https://www.youtube.com/watch?v=npjTmG-TBHQ

UNNUMBERED SPARKS | Vancouver Diversas iniciativas têm sido experimentadas em diferentes partes do mundo, proporcionando novas formas de relação entre as pessoas e o ambiente. Nas artes, o fator de interatividade entre observador e arte fica cada vez mais relevante quando mesclado com o uso de tecnologia. A interação entre eles permite que seja criada uma unidade de ação e reação instantâneas. O projeto Unnumbered Sparks de Janet Echelman e Aaron Koblin, propõe que os usuários interajam através de seu telefone celular numa escultura suspensa em meio a cidade escolhendo e modificando os efeitos gráficos que são projetados na escultura. Ao mesmo tempo que mudam os efeitos podem observar as demais mudanças feitas pelas outras pessoas. Dessa maneira, cada pessoa que estava ali tinha sua marca impressa diretamente na escultura.


De maneira geral, os projetos de referência estudados demonstram a utilização de dispositivos eletrônicos para o estabelecimento de uma ponte entre o homem e o espaço. Novas possibilidades são atribuídas ao espaço, que podem materializar esse diálogo transformando atividades humanas em forma de recurso sensível, visual, sonoro ou mecânico, de forma instantânea e efêmera, ou até mesmo permanente. O interessante desses projetos é que, além do fato de enfatizarem o espaço em que se inserem - pois tornam-se uma atração e marcam presença onde se localizam - é a possibilidade do artista, arquiteto, etc. de controlar como a ação do homem impactará nos espaços.

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MOVI MENTO MAKER E OS HACKERS

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Se na primeira revolução industrial foram inseridos novos materiais e fontes energéticas possibilitando que as máquinas aumentassem a produção reduzissem o esforço humano permitindo o processamento da matéria prima em grande escala produtiva, isso aumentou a competitividade do mercado em relação à qualidade dos produtos e o baixo custo. Em seguida, na próxima revolução, o desenvolvimento dos meios de transporte e comunicação permitiram que essa produção fosse realizada em massa, com modificações feitas em grandes volumes e alta padronização do que era produzido. Nesse cenário a indústria utilizava muito do marketing para persuadir o consumidor de que aquele produto era adequado para ele levando em conta o padrão de estilo de vida (classe social e cultural, família, grupos de referência, etc.) e mantendo preço baixo devido a produção em escala. Nesse esquema, o trabalhador é técnico e especialista e nem sempre conhece todas as etapas ou o todo da produção o que possibilita também a redução na qualificação do profissional. Há então uma mudança no imaginário do que seria um bom emprego tendo em vista que esse profissional da indústria já não parecia qualificado suficiente. Assim, no advento das telas, o bom emprego passou a ser aquele que era realizado em frente a um computador ou notebook. Com isso, há um enfraquecimento da hierarquia corporativa no controle absoluto da produção de bens e capital devido, principalmente, à redução do custo inicial de investimento permitindo a


descentralização desse “poder” pelo fato de os trabalhadores poderem tornar-se empreendedores individuais. Afinal, segundo Lima e Correa (2016), a diferença entre o que pode ser feito em casa e o que pode ser realizados em um ambiente de trabalho tem diminuído nos últimos dez a quinze anos. A revolução industrial contemporânea tem evidenciado como modificações e inovações de técnicas produtivas podem influenciar no eixo projeto-indúsria-consumidor. Desde o DIY (Do It Yoursellf ou Faça Você Mesmo) que foi/é um fenômeno social no qual o consumidor se apropria e modifica bens industriais mesmo sem conhecimento profissional com a atividade construindo, transformando ou consertando produtos, até a criação e inserção de novos maquinários que pertencem ao que alguns denominam terceira revolução industrial, observa-se o crescimento da autonomia em aprender, participar, projetar e produzir produtos (Lima e Correa 2016). Em 2012, Chris Anderson (2012) escreveu o livro “makers – a nova revolução industrial”. Como o próprio título já prevê, ele aponta que a revolução maker seria responsável por drásticas mudanças na produção. E foi mesmo. E tem sido cada vez mais. “Fazedor” da tradução literal do inglês é um termo que deriva do faça você mesmo, e é empregado para designar aquele(s) que se empoderam dos recursos que possuem para produzir coisas independentemente da indústria de produção ou da disponibilidade do produto ou serviço no comércio, por exemplo. Lima e Correa (2016) explicam que

o Faça você mesmo é um movimento que se intensificou no pós guerra principalmente nos estados unidos, com o intuito de reduzir o consumo e de trazer as mulheres (agora sem a mão de obra dos homens que estavam na guerra) a realizar as tarefas domésticas antes consideradas tarefas masculinas. Vemos o crescimento de produtos personalizados e exclusivos feitos sob medida para clientes específicos. Segundo Anderson (2012) o que manteria um país economicamente forte seria a produção de produtos físicos, evitando que este se tornasse apenas um prestador de serviços. Ainda nessa linha, é possível traçar um comparativo entre o texto de Camargo (2016) no qual o autor descreve características do trabalhador e o filósofo concluindo que o Maker consegue transitar entre o intelecto e o manual de maneira brilhante. Na segunda revolução industrial, onde o operário utilizava-se da atividade manual contínua e automática, sem conhecer o todo, sem saber o propósito daqueles movimentos é um exemplo de execução mecânica com presença quase nula do intelecto. Por outro lado, o filósofo que pensa muito e faz conclusões apenas em teoria, utiliza-se demais da parte intelectual sem a presença da atividade prática. Nesse sentido, Camargo traz o exemplo do artesão que, assim como o maker, utiliza-se de suas habilidades manuais para buscar perfeição, porém em constante diálogo entre cérebro, máquinas, matéria prima e ambiente que constroem a atividade mental do artífice e são responsáveis ativos na aquisição da habilidade. pg. 43


Segundo Camargo, há uma tendência de valorizar - na sociedade oriental – as atividades intelectuais em detrimento das manuais. No entanto, frisa que toda atividade humana desde a mais vulgar até a mais abstrata tem origem como prática corporal e que o desenvolvimento técnico também necessariamente é desenvolvido anteriormente por um processo de imaginação.

Pode-se considerar que o processo de trabalho do maker é um processo de integração que o posiciona mais próximo do artesão das guildas pré-industriais do que do operário moderno. O maker tem consciência do resultado do seu trabalho e do processo que o concretiza e, neste processo, mesmo havendo fases mecânicas ou outras puramente intelectuais, no conjunto a continuidade entre corpo e mente certamente se verifica. Como exemplo disto, pode-se pensar na utilização de dispositivos digitais como o arduíno ou o raspberry py que agregam poder computacional aos projetos. [...] (CAMARGO, 2016 pg. 75)

A disseminação e acessibilidade à Web foi de extrema importância para munir esses revolucionários de meios para materializar seus projetos democratizando o acesso a eles. Ao contrário dos grandes inventores e homens de negócio da primeira revolução industrial, não é necessário ser tão privilegiado para poder produzir alguma coisa. Cada vez mais caem patentes de máquinas de fabricação digital (impressoras 3D, Cortadoras a laser, Fresadoras) e o preço deixa de ser exorbitante para ser acessível. A produção é feita através de softwares com programas abertos dispg. 44

poníveis na web (o que chamamos de open source) e com apenas um clique ela pode ser disponibilizada para um mercado global de milhares e milhões de pessoas que podem reproduzi-lo ou aprimorá-lo de qualquer lugar do mundo. A terceira revolução industrial é responsável pela criação de novos produtos com propriedade estruturais e materiais totalmente novos. Os equipamentos de maior representatividade são por exemplo as máquinas de Controle Numérico Computadorizado (CNC), o corte a laser, o scanner 3D e as impressoras 3D. Esses maquinários tornaram a prototipagem e produção gradativamente mais barata para o consumidor além do manuseio simplificado e a internet unindo tudo isso permitindo que toda ou parte do processo fosse realizado em casa, no escritório, na escola, trazendo a fabricação para fora das indústrias da mesma forma com que os PCs trouxeram a computação para ambientes não tradicionais. (Lima e Correa 2016). Anderson (2012) defende que assim como a web democratizou a inovação nos bits, essa nossa classe de tecnologias de produção rápida democratizaria a inovação nos átomos. O conceito da fábrica como é hoje também estaria com os dias contados. A possibilidade de produzir de forma mais simples e rápida e menos burocrática tende a horizontalizar a produção. Tende a empoderar os cidadãos e os deixarem a par do que está sendo produzido. O crescimento exponencial de espaços compartilhados em todo o mundo chamados de makerspaces comprova a popularidade


do movimento e cria um ambiente propício ao desenvolvimento dessa cultura. As três características transformadoras do movimento maker são: pessoas que utilizam ferramentas digitais de desktop para criar designs para novos produtos; uma norma cultural de partilhar esses designs e colaborar com outros em comunidades online; utilização de arquivos de designs comuns que permitam a qualquer pessoa enviar também seus designs para serviços de fabricação comerciais para serem produzidos em qualquer quantidade (Anderson, 2012). A ideia de compartilhamento surge com grande intensidade e consequentemente com uma grande resistência por parte dos modelos antigos nos quais a propriedade era tão valorizada e atribuída ao sucesso. O movimento traz um regresso a um tipo de empresa familiar pelo fato de as novas tecnologias darem ao indivíduo o domínio sobre os meios de produção permitindo o empreendedorismo da base para o topo. Todos são ou podem ser designers. Trazendo para a estrutura de ensino, já desapareceram algumas aulas de trabalhos manuais, agora os alunos aprendem a usar o PowerPoint e o Excel na aula de informática e aprendem a desenhar e esculpir na aula de artes. Chris Anderson especula por que não inserir então uma aula de design na qual o aluno teria uma base criativa e produziria coisas diversas desde jogos de videogame até edifícios e estruturas complexas. Ainda expõe como seria se as salas de aula tivessem máquinas de impressão 3D e de corte a laser.

Tornaria possível a fabricação de protótipos ou peças funcionais daquilo que os alunos haviam projetado e imaginado. Esse é o cenário perfeito para a criação de uma geração maker e, segundo Anderson, a vaga de empresário será preenchida por esse tipo de pessoas daqui para frente. Na mesma pegada dos makers, um grupo de grande importância para a dinâmica do compartilhamento e da prática independente de produção, são os hackers. A princípio, os hackers eram programadores. Pessoas que entendiam muito de computação e programação cuja tarefa era resolver problemas e refinar softwares principalmente dos computadores sofisticados de grandes empresas que detinham o monopólio dessas máquinas. Essa tarefa é genuinamente colaborativa, pois os mesmos problemas são solucionados por diversos profissionais que disponibilizam suas tentativas e descobertas afim de chegar numa solução final conjunta. Quando foram popularizados os computadores pessoais pela IBM (International Business Machines), em meados da década de 60, a “cultura hacker” possibilitava que os programadores alterassem o funcionamento dos softwares, uma vez que na computação, uma mesma máquina com os mesmos componentes pode desempenhar diferentes funções dependendo de como é programada. Além do funcionamento de um aparelho, a programação também define aspectos gráficos como layout, cores, formas, etc. tornando possível, inclusive, a criação de trabalhos artísticos utilizando computadores (Pereira, pg. 45


2012).

Imagem 11 | Imagem produzida digitalmente a partir do software de programação Processing Fonte: http://www.defcon6.com/?cat=8

Imagem 12 | Imagem produzida digitalmente a partir do software de programação Processing Fonte: http://www.defcon6.com/?cat=8 pg. 46

Na tradução do inglês, to hack significa “dividir em partes”, ou seja, a atividade do hacker é primeiramente desmembrar e depois repensar/ressignificar/reconstruir de uma nova forma. Wark (2004) citado por Pereira (2012) afirma que “os hackers criam uma possibilidade de novas coisas entrarem no mundo. Nem sempre coisas grandes, nem mesmo boas coisas, mas coisas novas” A escola dos hackers é a busca pelo conhecimento não mediado por uma instituição. Segundo Pereira (2012) “toda pessoa é um hacker em potencial – as gambiarras e soluções improvisadas fazem parte do cotidiano do cidadão comum”. Uma outra vertente que surge com os hackers de software é a engenharia reversa, ou seja, observar detalhadamente algo pronto para tentar deduzir sua “receita”. Atualmente, hackear já virou um verbo comum. Utilizado para descrever uma ação de reinvenção ou ressignificação, os hackers atuam em qualquer área desde que tenha um problema a ser resolvido. Segundo Wark (2004) “podemos compreender como hackeamento os lances de abstração artística que altera o comportamento da tecnologia e seu efeito na realidade”. Tanto cresceram os entusiastas da descontrução que hoje vemos cada vez mais a presença de eventos denominados “hacktowns”. A palavra hackathon surgiu da união de duas outras do inglês: hack (dividir) e marathon (marathon). Trata-se, assim, de um evento onde pessoas com conhecimentos em programação, ou que gostam de ambientes desafiadores, formam um pequeno grupo com


o objetivo de desenvolver um software ou solucionar um problema proposto, na รกrea de tecnologia.

Imagem 15 | Logos de hachtowns e eventos que estimulam a cultura maker e hacker Fonte: Google imagens

Imagem 13 | Hacktown em Cambridge Fonte: https://www.networkworld.com/article/3170589/open-source-tools/facebook-throws-an-open-source-hackathon.html

Imagem 14 | Hacktown em Recife Fonte: Google imagens

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ECO NOMIA CRIATIVA

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A economia criativa é um segmento com grande potencial que tem crescido exponencialmente em diversas nações. O setor é estudado desde meados de 1990, porém tem ocupado maior espaço recentemente por configurar, hoje, uma alternativa possível e concreta de estratégia de desenvolvimento. A primeira vez em que se falou sobre o assunto, foi num documento Australiano de 1994 que falava sobre uma Nação Criativa com intuito de construir uma política cultural inovadora alçando o tema à condição de setor estratégico. Independentemente da nomenclatura – pode-se encontrar assuntos sobre o tema como economia da cultura, indústria criativa, economia intangível, economia imaterial, nova economia – a ideia central é de um desenvolvimento da economia embasado na cultura, criatividade, valores humanos, saberes tradicionais, plural e sustentável. Segundo o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), “economia criativa é um conjunto de negócios baseados no capital intelectual e cultural e na criatividade que gera valor econômico”. Ela estimula a geração de renda, cria empregos e produz receitas de exportação, enquanto promove a diversidade cultural e o desenvolvimento humano. Diferentemente do modelo de produção comum, a economia criativa engloba tanto o ciclo de criação, produção e distribuição de produtos e serviços que tem a criatividade, a cultura e o capital intelectual como combustível essencial. Um exemplo concreto da geração de riqueza desse segmento é que, em 2015, foram gera-


dos R$115,6 bilhões para a economia criativa no Brasil, representando 2,64% do PIB. Entre os principais fatores que tornaram o cenário favorável para o que chamamos “sociedade do conhecimento”, onde a economia criativa tem grande chances de aflorar, são: A capacidade de produção industrial chinesa, que se impõe sobre todas as outras inviabilizando a indústria base tradicional de diversos outros países; O extenso desenvolvimento tecnológico das tecnologias de comunicação, como a internet, que é responsável por distribuir de forma fácil e democrática toda informação, diminuindo distâncias globais e inclusive diminuindo barreiras sociais e culturais; A acessibilidade à meios de produção independente a partir de fabricação digital; A preocupação real com o meio ambiente, que foi adicionado definitivamente na agenda internacional, que promove conscientização para o desenvolvimento sustentável doravante mudanças de paradigmas de produção e desenvolvimento; A criação de acordos que protegem a propriedade intelectual, dentre eles o acordo TRIPS (Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights). Por tratar-se de um novo modelo de regularização nunca antes vivenciada, esses acordos ainda se encontram em discussão visto que constituem uma base regulatória aplicada a uma circulação de bens de natureza intelectual. Para Rafaela Cappai (2015), vivemos uma revolução que transforma a maneira de viver e se relacionar no planeta. Inclusive, nessa revolução, a linha entre o trabalho e o prazer é tão fina que muitas vezes é ultrapassada sem que

percebamos. Uma mudança que vem possibilitando que sejamos o que quisermos e que encontremos pessoas semelhantes em qualquer lugar. “Sucesso tem a ver com descobrir, se experimentar, se reinventar, se lançar num caminho autônomo e autêntico espalhando [...] inspiração, informação e criatividade por onde passa” (CAPPAI, R. 2015 pg.33). Ainda segundo a autora, o objetivo dessa dinâmica é impactar positivamente o mundo e compartilhar habilidades com pessoas interessadas em estimular e incentivar iniciativas. A economia criativa é o meio pelo qual essa “revolução” tem se alastrado mundo afora. Nesse momento exato da história, reinventar-se e arriscar-se em novas possibilidades é cada vez mais fácil, considerando que o mundo está ávido e voraz para receber novas ideias e inovação.

[…] a maior revolução de todas, a mãe de tudo isso, a pica das galáxias mor, a nossa amada “interwebs”. Desde que ela surgiu nosso mundo vem mudando e não há como negar que ela é a grande culpada. Por conta dela, pequenos empreendimentos criativos existem e podem fazer negócio com todo o mundo, aumentando a demanda pelo seu trabalho; empreendedores podem se comunicar e gerar valor com uma audiência muito além da imaginada; milhões de ferramentas digitais forma criadas e transformaram a maneira como a gente trabalha; você pode trabalhar de casa, da praia ou da Conchinchina; os custos forma reduzidos e você pode consegue fazer mais gastando menos; nichos nasceram e pessoas com interesses semelhantes se encontram; a informação pg. 51


disponível ficou mais acessível; o que a gente cria não fica mais guardado da gaveta... [...] (CAPPAI, R. 2015 pg.39).

Cappa (2015) descreve o tripé “responsável” por essa transformação que mudou e muda a vida dos criativos:

Fonte: autora

HOUSE OF ALL | São Paulo Ambientes de trabalho compartilhados e colaborativos têm sido cada vez mais comuns nas cidades, principalmente em cidades globais, como por exemplo São Paulo. O House of All é um espaço completo que mescla colaboratividade em vários setores, em um só lugar. Situado no bairro de Pinheiros em SP, a estrutura do edifício é dividida em “casas” de acordo com sua função: - house of work (coworking) - house of learning (sala de aula e de reuniões) - house of food (restaurante compartilhado) - house of bubbles (lavanderia) - bubble.lab (acervo de peças) - house of ink (estúdio de tatuagem) - house of gaming (salas de jogos) - house of nowhere A estrutura de utilização dos espaços é feita através de aluguel (no caso das salas mais fechadas e específicas) mediante hora e data marcadas. O pagamento pode ser feito por uso ou por meio de planos semanais/mensais, etc. No caso de aulas, cursos e eventos de gastronomia, a organização é feita em conjunto entre os responsáveis pelo espaço e os responsáveis em ministrar o evento/curso. Sendo

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assim, existe o benefício monetário para ambas as partes. Além de um espaço que funciona durante o dia, o house of all também se transforma, no período noturno, em uma opção de lazer e encontro de pessoas.

Imagens 16 e 17 | Facahda do House of All Fonte: www.houseofall.co

Imagens 18, 19 e 20 | Espaços do House of All Fonte: www.houseofall.co pg. 53


INFLUÊNCIA DA ECONO MIA CRIATIVA NO AMBIENTE URBANO, A CIDADE CRIATIVA

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Dentre tantos outros benefícios da economia criativa, pode-se observar, nos países que obtiveram já grandes resultados, como o Reino Unido, um crescimento significativo nas áreas de cinema, festivais, turismo, música, etc. Nesse âmbito, nota-se a potencialidade que esse modelo de desenvolvimento possui na produção e utilização dos espaços públicos em geral e da promoção das cidades como palco de festividades e intervenções.

É notável o processo de regeneração urbana e de desenvolvimento de várias cidades que apostaram e investiram no setor, principalmente aquelas que sofreram o esvaziamento econômico pela perda de competitividade para a indústria chinesa. Cidades como Manchester, Liverpool, Sheffield, Halifax, Barnsley, Huddersfield, entre outras, são exemplos impressionantes desse fenômeno. Elas se reinventaram e, como consequência, estão sendo redescobertas. É comum a todas elas a existência de um edifício dedicado ao abrigo de agências de desenvolvimento local de indústrias criativas, comportando atividades de pesquisa, financiamento, fomento, treinamento e formação de profissionais em diversas áreas e incubação de negócios. Os espaços contam ainda com uma estrutura aberta ao público em geral para a fruição de obras de arte, cinema, teatro e café, com uma agradável atmosfera de cultura e entretenimento. O edifício pode ser uma indústria desativada, cujas instalações passaram por uma profunda renovação e adaptação para o novo programa arquitetônico; pode ser uma arquitetura nova, moderna e conceitualmente arrojada; ou, ainda, uma fusão entre as duas primeiras situações. O fato


é que tais edifícios – os Iconic Buildings, como são chamados pelos britânicos – trazem concretude ao conceito de economia criativa, pois são acessíveis e frequentados pela população, aumentando o nível de adesão local a esse processo de reinvenção econômica. (MELEIRO, A.; FPNSECA, F. 2012 pg. 6).

Esses ambientes são de extrema importância na produção do setor, pois são pontos de encontro onde convivem artistas, músicos, escritores, desenvolvedores de software, diretores de cinema, designers, empreendedores criativos, etc. Juntamente com atores importantes da economia, como empresários e agentes de financiamento. Sendo assim, esses espaços se tornam áreas de convergência de onde podem resultar produtos, projetos, atividades, entre outros. O ambiente urbano é o mais propício ao desenvolvimento da economia criativa, seja pelo perfil multiétnico, pela convivência ativa de diferentes grupos e comunidades, pela convergência de culturas e saberes, pela disponibilidade de tecnologias. Em 2004, a UNESCO promoveu a rede Cidades Criativas que agrupa cidades e regiões que possuem essa dinâmica de troca, desenvolvimento e promoção econômica. O Plano Diretor Estratégico de São Paulo, elaborado no ano de 2014 já considera, em suas páginas, algo relacionado ao crescimento da indústria criativa na cidade. São cidades que se caracterizam por processos contínuos de inovação, das mais diversas áreas. Baseadas em conexões (ideias, pessoas, regiões intra e extra urbanas, público e

Para reduzir as desigualdades socioterritoriais, o PD defende fortalecimento de centralidades urbanas polares e lineares, desconcentrando e multiplicando a oferta de emprego por toda a cidade. Para isso, são criadas zonas, parques tecnológicos, perímetros e polos de incentivo ao desenvolvimento econômico em diferentes regiões da cidade, cada qual com estratégias específicas, como incentivos urbanísticos e fiscais ou ampliação e qualificação de redes de infraestrutura. O objetivo principal é promover uma distribuição das atividades produtivas da cidade. (plano diretor estratégico de são Paulo, 2014, pg.48).

privado, áreas diferentes de saber) e têm na cultura (identidade, fluxo de produção, circulação e consumo, infraestrutura, ambiente) grande fonte de criatividade e diferencial social, econômico e urbano (REIS, 2012). Visto que a cidade é uma construção coletiva de redes e interações dos cidadãos que a constituem, uma cidade criativa é aquela que oferece um ambiente favorável à transformação da criatividade em soluções e propostas de valor para seus usuários. Algumas cidades ícones que se pensa ao citar “cidades criativas” são Barcelona, Londres, Nova York, Berlim. Segundo Reis (2012) o que essas cidades tem em comum é que, por mais que tenham diferentes backgrounds de identidade, história, cultura, situação socioeconômica, etc. elas nos passam a sensação de que haverá uma surpresa prazerosa a cada momento, e que a diversidade pulula a cada esquina, que a experiência vivida será de encantamento, realização e inovação. pg. 55


“Cidades Criativas” (REIS, A.D.F. 2012) e separa a transformação em quatro temas, divididos em três etapas:

Tabela 1 | Fases de transformação para uma cidade criativa Fonte: REIS, 2011. pág.13

Imagem 21 | Página do Plano Diretor de São Paulo que define diretrizes para a economia criativa Fonte: Plano Diretor Estretégico de SP pág.49

Ainda de acordo com Reis (2012), a construção de uma cidade criativa vai além de espaços colaborativos e de parques de empresas com viés tecnológico, por exemplo. O objetivo é que exista uma espécie de cluster criativo que se instaure em todas as regiões da cidade, em diferentes centros de mídia. São locais híbridos, multifuncionais de residência, trabalho, lazer, onde os produtos criativos sejam tanto produzidos quanto consumidos e nutridos por diversidade. Pode-se propor que a consolidação de uma cidade genuinamente criativa passa por algumas fases, nas quais as características principais vão se enraizando e perpetuando aos poucos. A tabela a seguir foi retirada do livro pg. 56

Em suma, a fase de latência é quando a criatividade se encontra espalhada na cidade, sem liderança, com pouca ou nenhuma identidade e pertencimento (questão dos mapas mentais e afetivos) e tem o espaço público negligenciado, perigoso, caracterizando uma terra de ninguém. Num segundo momento (catálise), a criatividade forma aglomerados em alguns bairros e regiões da cidade que passam a se destacar, a liderança é responsável por desencadear mobilizações e conexões e já existem espaços públicos que são considerados espaços de todos. A fase de consolidação vê uma criatividade totalmente espalhada por toda a cidade, onde a liderança é compartilhada, ou seja, as decisões são divididas entre governo, empresas privadas e sociedade civil. Os mapas criados pelos cidadãos são muito claros e o espaço público passa a ser protagonista, onde tudo é lugar de todo mundo.


CASA FIRJAN | Rio de Janeiro Situada no bairro de Botafogo, no RJ, a casa Firjan é composta por dois edifícios: um casarão de 1906 que sofreu um projeto de revitalização intensa; e um edifício recentemente construído no fundo do terreno original de 10 mil m² – Firjan SENAI -, cuja premissa inicial era ser uma construção altamente sustentável. A Casa Firjan é um lugar comprometido com a reflexão e a criação de propostas e soluções inovadoras para os desafios da nova economia numa sociedade em constante transformação. Além de um centro de empreendedorismo e inovação, o espaço oferece cursos alinhados às novas exigências do mercado, atividades culturais, palestras, laboratório de tendências, FabLab e ambiente de debate e elaboração de políticas públicas.

Imagem 22 | Fachada prédio Casa Firjan Fonte: Google imagens

Imagens 23 e 24 | Prédio novo da casa Firjan Fonte: Google imagens

Imagem 25 | Agenda de programação das atividades na Casa Firjan Fonte: http://www.firjan.com.br pg. 57


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ECONO MIA DO COMPAR TILHA MENTO “We want to truly make living in the city a shared experience” (Harmen van Sprang - Airbnb)

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Apesar de a economia compartilhada ser um fenômeno recente, a sua difusão tem sido cada vez maior. Muitas empresas da economia compartilhada já se tornaram modelos de negócio bem-sucedidos e sustentáveis, o que evidencia o grande potencial de desenvolvimento econômico desse fenômeno. Ou seja, o surgimento de empresas e aplicativos que tem como objetivo o compartilhamento de bens e serviços. Fundado em 2009, por exemplo, a empresa Uber revolucionou a maneira com que nos deslocamos nas cidades. Assim como a Airbnb revolucionou a experiência de se hospedar. Assim como o Spotify o fez com a música, e o Netflix com os filmes e séries e tantos outros aplicativos têm reinventado o consumo em geral. O que essas empresas têm em comum e o que aconteceu para que elas atingissem esse patamar de sucesso? A base da sociedade atual se estruturou numa ideia coletiva de que o sucesso é oriundo de uma boa formação, consequentemente um bom emprego, a posse de um imóvel, formação de família e acumulação de bens para o bem-estar dessa família. Essa lógica pode até se mostrar eficiente, mas em alguns aspectos estimula a compra de produtos que, na prática, não são utilizados em frequência proporcional ao valor pago. Adquirir o bem nos traz o benefício do uso, porém também nos traz o custo e a responsabilidade pela aquisição. Com base nessa afirmação, vemos um crescimento exponencial de empresas e plataformas de compartilhamento. Esse padrão de consumo compartilhado pode interferir


radicalmente nas indústrias tradicionais pois interfere no padrão de consumo, exigindo mudança na estrutura de vendas, na produção e, até mesmo na estrutura de empregos (NEVES, 2018). Até então, no capitalismo tradicional, uma venda representa a saída de um produto que passa a ser propriedade do comprador. A cada compra, se adquire um bem. Por outro lado, na ideia de economia compartilhada, torna-se possível vender um mesmo produto diversas vezes, e o comprador não obtém propriedade sobre o bem usufruído. Esse modelo é uma forma de utilizar de forma mais racional e sustentável os bens, superando a lógica de consumo em massa veiculada desde o século passado. A partir dessa redução do acúmulo, existe uma distribuição da oferta, o que aumenta a competitividade do mercado e o melhor serviço passa a ser escolhido pela qualidade, e não mais pelo preço. Neves (2018) explica que tem acontecido uma substituição dos interesses próprios pelos interesses colaborativos que desaguam numa qualidade de vida sustentável em detrimento do simples enriquecimento financeiro. A internet possibilitou que a democratização do conhecimento. Qualquer pessoa, independente de nível de instrução, classe social pode trocar ideias e conhecimento através de plataformas online, aplicativos de comunicação, sites, fóruns, etc. O acesso fácil e instantâneo sobre as opiniões, feedbacks e experiências dos outros usuários, fazem com que o consumidor repense a maneira de escolher os produtos e

que possa comparar diversas opções procurando o melhor custo-benefício. Por trás das plataformas de compartilhamento existem várias características que as tornam competitivas contra o status quo, isto é, táxis, hotéis, restaurantes, etc. Todas possuem o feedback instantâneo para o serviço prestado. Saiu do Uber, você classifica como foi sua experiência. Isso faz com que a plataforma controle a qualidade. Esse controle de qualidade não acontece com um táxi. Quando você vai escolher uma estadia pelo Airbnb, você tem acesso à pontuação e aos feedbacks escritos dos últimos hospedes. Como estava a cama? Qual a qualidade da temperatura da água no banheiro? Para ter esse tipo de feedback para hotéis, precisa-se ler vários posts do TripAdvisor, e mesmo assim corre o risco de ter o azar de ficar no único quarto cujo ar-condicionado faz barulho (ATZINGEN, 2015). Tendo em vista que o foco da atualidade é cada vez mais a busca pela sustentabilidade, torna-se essencial discutir hábitos e conceitos que motivam as escolhas do indivíduo. A colaboração e consciência ambiental vão substituindo os hábitos de consumo tradicional que dependem de recursos finitos do planeta.

“A ideia de concorrência na economia de compartilhamento é que a competição exista de modo eficiente, trazendo benefícios tanto para o agente de produção quanto para o agente de consumo. Isso só pode acontecer em um ambiente que crie um espaço onde o consumidor tem participação efetiva no modo como os serviços são prestados. Essa participação é traduzida no ideal de consumo pg. 61


sustentável, onde venda, troca, aluguel e compartilhamento em geral priorizam o acesso e não mais a posse. “E os indivíduos que adotam [a economia de compartilhamento] podem ser consumidores e fornecedores ao mesmo tempo”, como diz Marin (2016).” (NEVES, 2018).

O que acontece é que o consumidor não deseja mais, por exemplo, um CD ou um DVD, mas sim uma música, um filme. Não precisa de uma furadeira, e sim um buraco na parede. Torna-se cada vez mais evidente a separação entre o que é produto e o que é o valor agregado a ele. Ou seja, a função da ferramenta é tão importante quando a própria ferramenta. A ferramenta chamada streaming, como é o exemplo do Spotify, transforma a noção de direito autoral e propriedade intelectual da música. Ela possibilita o acesso à inúmeras músicas em qualquer lugar e a qualquer hora de forma gratuita – quando financiada por anúncios públicos – ou mediante uma assinatura mensal para obtenção da permissão. A reprodução do conteúdo depende unicamente de uma conexão em rede e não ocupa espaço em memória com downloads de faixas. O streaming também permite que o usuário personalize quais músicas quer ouvir, em qual ordem e ainda as alocar em pastas ou playlists. (MOSCHETTA, 2017)

“ pg. 62

Artistas e gravadoras são recompensados pelo seu trabalho na forma de royalties, e não por vendas, que são pagos de acordo com o número de reproduções de cada faixa. E o paradigma muda também na esfera do consumidor: ao utilizador é oferecido apenas um acesso temporário ao conteúdo, e não a sua posse.

Sendo assim, a música deixa de ser um bem e transforma-se em um serviço, migrando para uma “era onde o acesso é mais valioso que a propriedade” (Hagen, 2015: 628). O controle sobre as músicas passa a ser das empresas, e os utilizadores ficam a mercê de possíveis mudanças nos termos de uso (Burkart, 2014). Isso faz com que as empresas detenham uma enorme quantidade de dados que traduzem hábitos e tendências de consumo dos ouvintes. Estes dados alimentam algoritmos, que são utilizados para possibilitar uma experiência mais personalizada ao utilizador (MOSCHETTA, 2017. Pág.4).

Nota-se que o Streaming é uma ferramenta que utiliza da tecnologia de informação e algoritmos para manter a personalização do serviço individualizando o usuário

Imagem 26 | Página do Plano Diretor de São Paulo que define diretrizes para a economia criativa Fonte: Plano Diretor Estretégico de SP pág.49

Barros (2015) citando Manovich (2014) acredita que essas mídias que são geradas pelo consumidor podem conceber uma nova situação cultural uma vez que a atuação do consumidor é totalmente modificada. Diferente-


mente de uma ideia inicial de consumo como uma forma nociva de esgotamento de recursos, com o consumo colaborativo essa ideia muda de cor. O autor ainda coloca (apud Miller 2002) que “na medida que as pessoas consomem, elas estão consolidando outra moralidade”. O consumo a partir de mídia digitais que potencializam a autonomia do consumidor revela uma atuação cada vez mais independente da lógica mercadológica.

Como diz Patriota (2009, p.110), este é um processo que “altera, em todos os meios, a relação entre tecnologias disponíveis, indústrias, mercados, gêneros e públicos”. Isso significa entender que o cenário atual talvez estimule, a partir de diversos fatores, mas especialmente diante dos novos processos comunicacionais, uma reconfiguração da postura do indivíduo, mas sem deixar de observar a força das leis de mercado. (BARROS, 2015 pg.7).

As maiores empresas que têm comprovado de que esse modelo de economia é sustentável, são o NETFLIX – consumo de filmes, séries, documentários, entre outros através de streaming -, Airbnb – oferta de locação e estadias ao redor do mundo -, Spotify – streaming de músicas -, Uber – plataforma de compartilhamento de locomoção. O que tem contribuído para a popularização desses sistemas de negócio, são, entre outros fatores, a urbanização, o aumento da longevidade, o crescimento populacional. Inclusive pode-se imaginar a influência direta que estes terão sobre o espaço urbano e o espaço edificado. As moradias tendem a fica

Imagem 27 | Algumas plataformas de compartilhamento que mais ganharam força nos útimos anos (Spotify, Netflix, Airbnb e Uber). Fonte: Google imagens

rem menores conforme a urbanização cresce, mas tudo bem, afinal as pessoas acumularão menos bens, necessitarão de menos espaço para guardá-las. Elas utilizarão os serviços de acordo com suas necessidades. Essas plataformas também auxiliam em questões relacionadas à renda, onde as pessoas buscam alternativas de reequilibrar ou aumentar a renda principalmente em momentos de crise. pg. 63


“Queremos fazer com que viver na cidade seja verdadeiramente uma experiência compartilhada; queremos que as pessoas se sintam conectadas não só à cidade, mas também umas às outras” (Tradução própria Alex Starritt em huffpost, 2017). Entre as plataformas estão, por exemplo, aplicativos de aluguel de motorhome, aluguel de carros saindo do aeroporto, entregadores de comida caseira por região, entre outros.

A Tabela 2 | Comparativo capitalismo industrial e economia colaborativa Fonte: NEVES (2018), apud Chase (2015).

A regulação dos serviços no consumo colaborativo é feita majoritariamente pelos usuários. Segundo uma pesquisa citada por NEVES (2018) da PRICEWATERHOUSECOOPERS (2015), 69% dos usuários somente utilizam as plataformas quando essas foram recomendadas por alguém confiável. Sendo assim, a contribuição dada pelas pessoas com opiniões e críticas às regras e políticas de uso torna-se essencial. E ainda, conclui-se que a participação é fundamental para o funcionamento adequado do sistema. Em Amsterdam, foram criadas dezenas de plataformas como incentivo a participar da economia criativa. Um dos organizadores da iniciativa, Harmen van Sprang, explicou que pg. 64

Imagem 28 | Outras plataformas de compartilhamento que foram bastante difundidas em outros países. Fonte:https://www.huffingtonpost.com/entry/forget-uber-amsterdam-is-showing-how-to-use-the-sharing_us_58f60ed0e4b0156697225295

Ainda sobre a relação entre a economia criativa e espaço urbano, Junior, Junior e Figueiredo (2011) concluem que não só a economia afeta a cidade, mas principalmente, a cidade também afeta a economia. Num estudo realizado na cidade do Rio de Janeiro, foi possível enxergar através de mapas de distribuição de empregos e estabelecimentos ligados à economia criativa, que os polos onde havia maior produção de conteúdo criativo apresentam um padrão de distribuição espacial concentrado de interações das quais sua sobrevivência é dependente. A proximidade de núcleos


Imagem 29 | Banner da plataforma online sobre indústria criativa, em Londres Fonte: http://www.thecreativeindustries.co.uk

que potencializam esse tipo de produção cria um ciclo virtuoso de crescimento, tornando-se essencial a previsão desses espaços no planejamento urbano (JUNIOR; JUNIOR; FIGUEIREDO; 2011). A tendência dessas indústrias se materializarem em meio à cidade

evidencia acerca da relevância territorial para o dinamismo desse segmento de atividades. Ou seja, as aglomerações das diversas “indústrias criativas” se desenvolvem onde a base territorial oferecer as condições de reprodução do sistema econômico, engendrando um poderoso processo de retro-alimentação, uma vez que as referidas aglomerações também fortalecem a base territorial. (JUNIOR, JUNIOR, FIGUEIREDO, 2011; pg.13).

” pg. 65


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ECO NOMIA CIRCULAR

“A economia circular oferece uma nova forma de enxergar o mundo e as inter-relações entre a economia, a sociedade e o meio ambiente” (Victoria Almeida, representante da fundação Ellen Macarthur Fondation – disponível em <www.unilever.com.br>)

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Uma tendência que desponta, que de fato é uma necessidade, é a chamada economia circular. Uma nova forma de pensar o modelo de negócios que surge através da ameaça de insuficiência de recursos do nosso planeta. Pode-se considerar a economia criativa como um sistema do futuro que vai totalmente contrário ao vigente e que cada vez mais deverá se tornar e regra e não exceção. Basicamente, ela estimula novas práticas de gestão e revela novas oportunidades criando valor às organizações em harmonia com o meio ambiente. Atualmente, a economia mundial se baseia, em sua grande parte, num modelo linear de negócios no qual a lógica é extrair, produzir, utilizar e descartar (e, às vezes, reciclar ou incinerar). Desde a Revolução Industrial, e muito especialmente desde o final da 2ª Guerra Mundial, este modelo de crescimento, ao assumir que os recursos são abundantes, disponíveis e sem ter preocupações de recuperar os desperdícios gerados ou componentes de produtos em fim de vida, tem conduzido à contínua delapidação dos recursos e ao crescente aumento de resíduos. Devido à essa dinâmica, hoje, nos oceanos, encontramos imensos aglomerados de resíduos (principalmente plásticos) que formam verdadeiras Ilhas em meio aos Oceanos. Chamadas originalmente de “Garbage Patches” são aglomerados de pequenos pedaços de plástico, embalagens, sacolas e ainda particulas bem menores denominadas microplásticos, que são facilmente ingeridas por animais. Segundo uma publicação de 2017 da NOAA


(National Oceanic and Atmospheric Administration), esses aglomerados se formam devido aos movimentos de correntes marítimas e ventos que acabam centralizando grande parte dos detritos descartados em todos os continentes em localizações específicas pelo globo. A maior aglomeração está entre a Califórnia e o Havaí no Oceano Pacífico denominada “Great Pacific Garbage Patch” que, segundo um vídeo publicado em março de 2018 na earthsky.org, mede 1,6 milhões de m² o que equivale a aproximadamente três vezes o território da França contendo 1,8 trilhões de pedaços de plástico e pesando em médio 80 mil toneladas.

a velocidade com que usamos os recursos naturais são insustentáveis. No ritmo que produzimos hoje, são necessários mais de um ano e meio para regenerar o que se usa em um ano. O contexto torna fundamental que se tenha uma nova abordagem do modelo de desenvolvimento dos países e do funcionamento de empresas, que contenha consciência ambiental e econômica. Um padrão sustentável que além de projetado para o mercado seja também projetado para o planeta. Respeitar princípios ecológicos que tragam benefícios a toda sociedade. Em suma, essa economia pretende se inspirar nos modelos harmônicos do funcionamento da própria natureza. Sendo assim, mais do que nunca se faz necessária a inovação no design de produtos e sistemas. Um modelo econômico embasado em “fechar o ciclo de vida” dos materiais e produtos reduzindo o consumo de matéria-prima, energia e água. Empresas passam a ser simultaneamente consumidoras e fornecedoras de materiais que são reincorporados no ciclo produtivo.

Imagem 30 | Ilustração esquemática sobre tipos de economia Fonte: Google imagens

É nesse contexto, por exemplo, que a economia circular se mostra bastante necessária. Nas palavras de Leitão (2015) “[…] jogar “fora” é jogar “dentro””. Vivemos num planeta finito, limitado, não só em recursos materiais e energéticos, mas também em espaço e capacidade de assimilar a poluição gerada. A forma e

Imagem 30 | Ilustração esquemática sobre tipos de economia Fonte: Google imagens pg. 69


Um grande símbolo do consumo, a embalagem, tem sido alvo de diversas críticas mundo afora pela quantidade excessiva de desperdício de materiais e pela quase inutilidade da mesma depois de cumprir sua função principal de transporte do produto (dentre outras funções). São centenas de exemplos de embalagens inúteis que só servem para encarecer o produto ou atrair o consumidor.

dia de nossos clientes. Mas também para trazer empresas globais para repensar e ação” (traduzido pela autora, disponível em <https://original-unverpackt.de/ueber-original-unverpackt/>).

ORIGINAL UNVERPACKT | Berlim Inspirado no ideal de reduzir embalagens, uma startup alemã aboliu completamente as embalagens dentro de um supermercado em Berlim. No mercado denominado “OU” (Original Unverpackt) inaugurado em setembro de 2014, a logística é simples: o cliente leva seu próprio recipiente para guardar suas compras. A ideia é não trabalhar com marcas na venda de alimentos, produtos de limpeza e higiene, mas sim dar preferência aos produtores locais e alimentos orgânicos. A venda é feita a granel evitando assim o desperdício. Retirado do site do mercado, os proprietários explicam: “Acreditamos que a loucura do plástico só pode ser interrompida por soluções sustentáveis. Com o Original Unverpackt, lançamos o primeiro supermercado, que dispensa completamente as embalagens descartáveis. Nossa missão é ser uma alternativa sustentável ao consumo cotidiano. Comece pequenas mudanças no dia a pg. 70

Imagem 31 | Interior do mercado: todos os produtos vendidos à granel e sem uso de qualwuer tipo de embalagem descartável Fonte: Google imagens

Imagem 32 | Fachada do mercado em Berlim, Alemanha. Fonte: Google imagens


Biocoop 21 | Paris Em Paris, no ano de 2015, os franceses também experimentaram um mercado sem embalagens descartáveis. O primeiro teste que durou cerca de um mês foi um sucesso e, hoje, já são encontradas diversas lojas ao redor da capital francesa. Nomeado Biocoop 21 (homenagem ao COP 21conferÇencia de clima da ONU) , a rede comercializa apenas produtos orgânicos e, sempre que possível, valorizando a produção local dos alimentos. Para fazer compras, é preciso trazer de casa suas próprias embalagens – o que também barateia os produtos. Para os mais esquecidos (ou, então, para aqueles que não planejavam parar no mercado), o Biocoop 21 oferece frascos de vidro e sacolas reutilizáveis feitas de algodão orgânico, entre outras embalagens para carregar as compras. Hoje, a marca além de vender produtos também organiza e participa de eventos, mantém dicas e receitas sobre alimentação saudável, etc.

Imagem 33 | Produtos vendidos à granel Fonte: Google imagens

Em Amsterdã, foi inaugurado em Março de 2018 o primeiro teste de um supermercado plastic free (ou seja, livre de plástico). Com a proposta um pouco diferente dos mecados na Alemanha e França, aqui os produtos são embalados, porém com materiais recicláveis ou biodegradáveis. A princípio, o experimento foi feito em um corredor inteiro de uma rede grande de lojas no qual nenhum dos produtos possui plástico em suas embalagens. O corredor possui mais de 700 itens embalados com vidro, metal, papelão e materiais biodegradáveis. É possível encontrar carne, arroz, molhos, leite, chocolate, iogurte e frutas e vegetais frescos. A rede Ekoplaza, que possui cerca de 74 lojas pela Holanda, tem planos de, até o final do ano, implantar pelo menos um corredor plastic free em cada unidade. Segundo Sian Suherland, cofundador do grupo “A plastic Planet” ¹, “não há lógica nenhuma em embrulhar coisas tão efêmeras quanto comidas em algo tão indestrutível como o plástico”; “Embalagens de comida e bebida de plástico permanecem úteis por questão de dias e têm uma presença destrutiva na Terra por séculos”. (tradução própria, The Guardian disponível em <https://www. theguardian.com/environment/2018/feb/28/ worlds-first-plastic-free-aisle-opens-in-netherlands-supermarket>).

“Durante décadas, aos consumidores vem sendo vendida a mentira de que não podemos viver sem plástico em alimentos e bebidas, e um departamento sem plástico apaga essa falsa crença e, finalmente, podemos ver um futuro no qual o público possa escolher comprar pg. 71


plástico ou não. Hoje em dia, não temos escolha” (Sian Sutherland, co-fundadora da campanha do grupo A Plastic Planet site https://www.greenme.com.br/informar-se/lixo-e-reciclagem/6407-primeiro-supermercado-do-mundo-sem-plastico)

Os idealizadores ressaltam que os itens embalados com materiais biodegradáveis não serão mais caros do que os tradicionais. “Os corredores sem plástico são uma maneira realmente inovadora de testar biomateriais compostáveis que oferecem uma alternativa mais ecológica às embalagens plásticas”, acredita Erik Does, executivo-chefe da loja. De acordo com ativistas, o setor de supermercados é responsável por 40% de todas as embalagens plásticas (Ciclo Vivo, disponível em <https://ciclovivo.com.br/inovacao/negocios/supermercado-corredor-sem-plastico/>)

Imagem 34 | Primeiro corredor Plastic Free num supermercado Fonte: https://ciclovivo.com.br/inovacao/negocios/supermercado-corredor-sem-plastico/

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Mais um exemplo de economia circular na prática, é a Circular Fibres Initiative proposta pela Fundação Ellen MacArthur² que apoia esse tipo de inovação na indústria da moda. A indústria da moda rápida e seu modelo de negócios tem como base uma alta taxa de descartabilidade de peças pelos consumidores impactando negativamente o meio ambiente. Porém, atualmente, os consumidores (principalmente os mais jovens) estão gradativamente preocupados com a responsabilidade ambiental dos produtos e marcas. Transparência, sustentabilidade e comportamento corporativo ético são exigências cada vez mais presentes pela geração Z e os Millenials³. A marca sueca H&M (Hennes & Mauritz) lançou recentemente sua coleção Concious Exclusive feita a partir de BIONIC, um poliéster fabricado inteiramente com resíduos de plástico recolhidos nas zonas costeiras. As peças da coleção – que inclui desde vestidos a calças - são uma prova de que “através da reciclagem, o lixo pode renascer em algo bonito” segundo a modelo Natalia Vodianova que fez parte da campanha de propaganda da coleção. Além da qualidade produtiva, outra característica é a exclusividade dos produtos. Sendo assim, essa postura não só mostra consciência com o meio ambiente, mas também ajuda na construção da sua imagem de marca. A iniciativa teve um impacto positivo no segmento, pois fez com que outras marcas concorrentes (como, por exemplo, Zara e Mango, também propusessem soluções de economia


circular em suas linhas de produção).

² - A Fundação Elle Macarthur foi estabelecida em 2010 com a missão de acelerar a transição rumo a uma economia circular. Desde a sua criação, a Fundação se tornou uma das líderes globais de pensamento, inserindo a economia circular na agenda de tomadores de decisão em empresas, governos

e na academia. O trabalho da Ellen MacArthur Foundation se concentra em cinco áreas interconectadas: Insight & Análises; Empresas & Governos; Educação; Comunicação; Iniciativas Sistêmicas (https:// www.ellenmacarthurfoundation.org/pt/ fundacao-ellen-macarthur/a-fundacao)

³ - Millenials é como são denominadas as pessoas que nasceram nos anos 80, englobando também os nascidos até meados dos anos 90. Já a Geração Z abrange os

que nasceram a partir dos meados da década de 90 (https://transformacaodigital.com/o-que-sao-a-geracao-z-e-os-millennials/)

Imagens 35 e 36 | Linha Concious Exclusive da H&M Fonte: Espalha Factos disponível em <https://espalhafactos. com/2017/02/09/conscious-hm-roupa-plastico/>

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NIKE A empresa esportiva Nike possui, desde 1990 – primeiramente só nos Estados Unidos -, uma iniciativa de reciclagem de calçados denominada Reuse-a-Shoe que consiste em arrecadar tênis velhos e usados que seriam descartados no lixo para produzir Nike Grind – um material reciclado utilizado no piso de pistas de corrida, quadras e campos com grama além de outros produtos esportivos. O Nike Grind é criado a partir de materiais de fabricação excedente reciclados e calçados esportivos da Nike. Misturas de borracha, espuma, fibra, couro e têxteis são separadas e moídas em uma ampla gama de grânulos. Diferentes materiais da Nike Grind são incorporados em produtos de desempenho, desde calçados e roupas novas da Nike até superfícies de esportes e brinquedos

Imagem 37 | Produtos reciclados de tênis que são utilizados como matéria prima do Nike Grind Fonte: https://www.nikegrind.com/about/ pg. 74

Imagem 38 | Tipos de revestimentos de piso produzidos através do Nike Grind Fonte: https://www.nikegrind.com/surfaces/ Para conhecer o projeto: https://www.youtube.com/watch?v=0WYNI5X9cWY

Felizmente, também o setor de construção civil tem se atentado à questão ecológica. Muito comumente encontramos soluções aplicáveis ou ainda em processo de testes e estudos que reutilizam materiais descartados para produzir elementos utilizáveis na construção de edifícios e cidades. Na Italia, por exemplo, a indústria Presanella Building System lançou uma solução que transforma plástico reciclado em tijolos para construção. Segundo um cálculo baseado nos primeiros projetos realizados com o sistema, uma residência de aproximadamente 80m² pode reciclar em torno de 2.500Kg de resíduos plásticos (Marcia Souza ciclovivo 2017). No Brasil já é possível adquirir o material que é fabricado no Paraguai e exportado


para toda América Latina. O sistema é constituído não só de diferentes tipologias de tijolos mas também cofragens, iglus, peças de vigas, etc. O material é combinado na construção com cimento, isopor e água para as fundações e vedação. O custo e o tempo de construção são reduzidos devido à praticidade construtiva do sistema (Ciclo Vivo disponível em <https://ciclovivo.com.br/arq-urb/ arquitetura/chega-ao-brasil-tecnologia-que-transforma-plastico-reciclado-em-tijolos/>).

comum e é mais fácil de ser aplicado além de ser até 60% mais resistente. Seu processo produtivo reduz o uso de combustíveis fósseis e a quantidade de lixo que seria descartado em aterros. Já testado e aprovado – depois de 18 meses – o produto está dentro dos padrões britânicos e europeus (Ciclo Vivo disponível em <https://ciclovivo.com.br/inovacao/tecnologia/engenheiro-britanico-usa-plastico-reciclado-para-criar-asfalto-60-mais-resistente/>)

Imagem 40 | Estrada construida com asfalto produzido atrvés de plástico reciclado Fonte: Google imagens Imagem 39 | Consrução utilizando os blocos produzidos através de plástico reclicado da Presanella Fonte: Google imagens

Quanto aos materiais utilizados na cidade, um grupo de empreendedores ingleses desenvolveu um tipo de asfalto de alta qualidade produzido a partir de reutilização de resíduos plásticos. O MR6, como é chamado, não utiliza tanto betume quanto a pavimentação

Inclusive no Brasil, já se veem iniciativas na linha de raciocínio da economia circular. A empresa Unilever, referência no setor de bens de consumo, lançou em 2017 um plano estratégico de compromissos comprometidos com a sustentabilidade tanto ambiental quanto social. pg. 75


“A responsabilidade não é apenas da indústria ou de quem promove a venda ou do reciclador, mas de toda a sociedade. Todos somos responsáveis pelo que consumimos, garantindo que nossos resíduos voltem para a cadeia e não causem impacto. Não cabe ao governo fiscalizar ações de sustentabilidade, mas incentivar e criar meios para garantir que municípios, estados e empresas cumpram seus papéis” (Rejane Pieratti, do Ministério do Meio Ambiente, em evento de sustentabilidade da Unilever).

Os três pilares de ação da marca consistem nos seguintes tópicos: 1. Ajudar mais de 1 bilhão de pessoas, até 2020, a agirem para melhorar sua saúde e bem-estar. Ações de saúde e higiene contribuem para a redução da incidência de doenças que ameaçam a vida, enquanto atitudes voltadas à alimentação melhoram o sabor e a qualidade nutricional de todos os produtos alimentícios. 2. Reduzir pela metade o impacto ambiental na fabricação e consumo dos produtos até 2030. Redução dos gases de efeito estufa e as emissões de CO2 causadas pelo uso de energia das fábricas. Reduzir o consumo de água e o nível de resíduos e, até 2020, ter 100% da matéria- -prima adquirida de acordo com as políticas de sustentabilidade. 3. Melhorar as condições de vida e trabalho de milhões de pessoas até o ano 2020. Promover a igualdade nos ambientes de trabalho, ampliando a participação feminina e a diversidade, além de apoiar negócios inclusivos. (Olhar Sustentável, 2018. Ed.n1. disponível em <www.unilever.com.br>) pg. 76


Imagem 41 | Avanços globais consquistdos em 2017 pela Unilever Fonte: Plano de sustentabilidade Unilever disponível em <https:// www.unilever.com.br/Images/olhar-sustentavel_tcm1284-523609_ pt.pdf>

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CONCLUSAO

Não é de hoje que o mundo em que vivemos mudou. Os antigos paradigmas e conceitos que geravam todas as interações e dinâmicas não é mais sustentável e não faz mais sentido num ambiente totalmente influenciado pela tecnologia, pela virtualização, pela diminuição de espaços e do tempo com que as coisas acontecem. Cada vez mais, a tecnologia nos auxilia a realizar tarefas com praticidade, a compartilhar informações bem como acessá-las. A partir das referências citadas no trabalho em questão, é possível perceber que existe uma nova dinâmica que desponta em diversas áreas diferentes, mas que em sua essência têm o mesmo propósito: a busca pela descentralização, horizontalidade, compartilhamento e sustentabilidade. Seja na produção de bens, na economia, na utilização de serviços, na produção de espaços, entre outros. Progressivamente, as máquinas substituem funções antes destinadas aos seres humanos. No entanto, existe uma função muito particular do ser humano que dificilmente pode ser substituída por uma máquina: a criatividade e a capacidade de inovação. Sendo assim, a previsão de um futuro me parece muito positiva, considerando que pg. 78


a produção (material e intelectual) se baseará na busca por soluções criativas e resoluções de problemas que foram criados ao longo da história, levando em conta que habitamos um planeta finito que possui recursos esgotáveis. Tendo em vista que a tecnologia é uma das grandes responsáveis por essa nova era, pode-se classificar como um paradoxo o fato de que ela, por automatizar processos mecânicos e - segundo Ligia Zotini (umas das fundadoras do grupo Voicers) - “desumanos”, acaba humanizando os processos, ou seja, dando mais espaço para que possamos explorar as capacidades que são exclusivamente do intelecto do ser. Ao contrário do que se pensava, do que se via nos grandes filmes de ficção científica, nesse trabalho foram apresentados meios pelos quais a tecnologia não se mostra tirana, mas sim aliada ao crescimento e desenvolvimento humano em sociedade. É interessante como podemos traduzir as mudanças globais nas áreas da produção, economia, gestão em uma discussão sobre arquitetura. Visto que o espaço é produzido conforme as interações e trocas entre pessoas e serviços, estamos acompanhando a cidade sendo pensada de maneira diferente assim como os edifícios, as residências. A substituição de posses por acesso à serviços possibilita que tenhamos casas menores, com espaços mais amplos, modificáveis; surge a necessidade e um impulso de se construir espaços híbridos que possam ser utilizados por várias pessoas ao mesmo tempo, independente da ocupação que elas possam ter. A cidade como uma rede integrada de conexões e interação com o usuário dá espaço para intervir de maneira mais eficaz e organizada, desvinculando o usuário de burocracias e o empoderando como elemento essencial para produzir o espaço que utiliza. A grande oferta de serviços veiculados pela internet e o surgimento de inúmeros pequenos empreendedores que prezam pela personalização dá um pequeno passo rumo a desconcentração da riqueza. O conhecimento é cada vez mais burocrático, a facilidade de acesso à ele também é uma questão de empoderamento do cidadão que não se faz mais refém instituições que antes detinham grande parte do conhecimento. pg. 79


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