Pequi sobre tela Museu de Arte e Centro LivreSOBRE de Artes TELA de Goiânia PEQUI Museu de Arte e Centro Livre de Artes de Goiânia
JULIA MAZZUTTI
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Universidade de Brasília Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Plano de Trabalho referente à disciplina de Introdução ao Trabalho Final de Graduação Departamento de Projeto de Arquitetura e de Urbanismo
Museu de Arte e Centro Livre de Artes de Goiânia Autora: Julia Mazzutti Bastian Solé Orientadora: Elane Ribeiro Peixoto Banca: Cecília Sá e Cynthia Nojimoto
Plano de Trabalho apresentado como introdução da disciplina obrigatória Trabalho Final de Graduação, a qual encerra a cadeia de Projeto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Proposta de projeto arquitetônico para o novo edifício do Museu de Artes e Centro Livre de Artes de Goiânia. Palavras-chave: Goiânia, Museu, Arte, Educação, Cultura, Memória, Integração
Brasília, 2017 3
A arte é a missão mais sublime do homem, uma vez que é o exercício do pensamento que procura compreender o mundo e a se compreender. Nesse exercício, eu ando pela mais remota antiguidade. Eu quero ligar o passado ao presente, retomar a memória, apreciar e tentar conclui-la. (RODIN, 1911, p. 57) 5
SUMÁRIO
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Apresentação
Introdução
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Local
Escalas de estudo e atuação
Tema
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Cultura, Memória e identidade: Goiânia e o Bosque dos Buritis
Mapas Temáticos
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Intervenções urbanas
Estudos de caso
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Unidade exterior
Entre
Interatividade
Partido
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Volume fragmentado
Diretrizes projetuais
Programa de Necessidades
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INTRODUÇÃO.
Sem título, Siron Franco, 1997
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APRESENTAÇÃO Mudar de cidade para fazer faculdade é uma realidade para jovens em todo o mundo. Para mim não foi diferente. Saí de Goiânia rumo à tão sonhada Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB. Tornei-me mais uma dos inúmeros goianos que vão à capital federal em busca da formação profissional. Goiânia e Brasília. O caminho entre as duas cidades é tão curto. Duzentos quilômetros, duas horas de viajem e a comida da mãe pronta para o jantar. O caminho entre as duas cidades é tão longo. Não tem a porta com o “r” puxado, não tem os bares, muito menos as esquinas, não tem o abraço da infância, não tem o povo goiano. Dentre todas as saudades mescladas na ‘goianidade’ em mim presente e cultivada, talvez, seja a das pessoas a mais genuína. O povo de um lugar é inevitavelmente seu elo e representação mais forte. A arquitetura, as conformações urbanas, a culinária, a fala, os gestos e costumes – tudo é feito pela população e dela depende para viver e se perpetuar. Ao pensar em Goiânia, vejo o vislumbre verde dos parques da cidade, sinto o calor do sol que queima e ilumina seus pedestres, me perturbo com o caos das suas ruas desordenadas, cheiro o pequi da cozinha ao lado, saboreio a pamonha quentinha que chega no final da tarde, me emociono nos vermelhos de Siron Franco. Todo esse conjunto de gestos, sabores e expressões nada mais são do que a expressão da cultura local. Diante de tanta vida cultural, como existir, enquanto lugar, sem espaços capazes de abrigar e fomentar tudo que foi e ainda será produzido como representação e memória dessa cultura? Falar de Goiânia é voltar para casa. É estar mais uma vez nas aulas de desenho no Centro Livre de Artes. É projeto de futuro imbuído de saudade e afeto É querer construir um novo museu para que esse seja a extensão do lar cultural e afetivo cultivado por todos os goianos na sua cidade. O projeto aqui proposto para o novo edifício do Museu de Artes e Centro Livre de Artes da cidade é formado pela admiração e pertencimento a essa população, bem como a toda cultura por ela formada.
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TEMA O ICOM (The International Council of Museums) define: “museu é uma instituição permanente sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento e aberto ao público, que adquire, conserva, estuda, expõe e transmite o patrimônio material e imaterial da humanidade e do seu meio, com fins de estudo, educação e deleite” (ICOM, 2007). Em sua obra Museus para o século XXI, o autor Josep Maria Montaner apresenta um panorama da arquitetura de museus contemporâneos em oito tipologias que se desenvolvem a partir de duas posições tipológicas opostas: “o museu de forma orgânica e irrepetível, monumental e específica; e o museu entendido como contêiner ou caixa polifuncional e neutra, aperfeiçoável e repetível. ” O autor apresenta essas classificações relacionando a arquitetura desses museus e seus projetos expográficos, e destaca, a partir de exemplos e análises, a aproximação do museu às atividades de comércio, principalmente a partir da década de 1980, assim como o papel assumido por eles de elementos definidores dos espaços urbanos e de agregação de públicos em torno de si. O cenário brasileiro de arquitetura e museologia tem acompanhado as discussões e transformações da área desde a década de 1950, quando sediou o Seminário Regional da UNESCO para discussão da função educativa dos museus. Desde então, assumiram-se políticas públicas, como a criação do IBRAM (Instituto Brasileiro de Museus), em 2009, para atuação contínua nessas questões. De acordo com a atual legislação brasileira, museus são “[...] instituições que conservam, investigam, comunicam, interpretam e expõem, para fins de preservação, estudo, pesquisa, educação, contemplação e turismo, conjuntos e coleções de valor histórico, artístico, científico, técnico, ou de qualquer outra natureza cultural, abertas ao público,
a serviço da sociedade e de desenvolvimento. ” (IBRAM, 2009)
seu
Apesar de apresentar um conceito abrangente e que apresenta claramente as principais funções de um museu, na prática, o Brasil expõe um déficit cultural significativo. O país, o qual configura entre as maiores potências econômicas emergentes no mundo, possui poucos espaços devidamente projetados e equipados para o desenvolvimento de atividades artísticas. Acrescido a isso, temos ainda no imaginário popular a crença de que o museu é um local restrito e reservado a um público específico, fato esse que se apresenta na alarmante estatística de 70% da população nacional que nunca visitou museus e/ou centros culturais (IBGE, 2010).
Nesse cenário, destacam-se os museus e centros de formação artística, os quais têm recebido pouquíssima atenção durante toda a história recente do país. Essa lacuna se mostra através de um número ínfimo de instituições, se considerada a extensão geográfca e populacional do país. Nessas temos ainda valiosos acervos, os quais contam com obras de artistas como Di Cavalcante, Tarsila do Amaral, Antônio Poteiro, entre outros, mas que ficam guardados e expostos sob condições inadequadas de climatização, iluminação e instalação. Soma-se ainda a este quadro a falta de ações educativas e de políticas patrimoniais.
Para superar esta situação, instituições públicas e privadas vêm trabalhando, ao longo das últimas décadas, em torno de programas que visam à estruturação, valorização e ressignificação de alguns desses museus e locais de cultura existentes. Esses trabalhos e iniciativas são formados principalmente em torno de conceitos sociais de identidade, memória, localidade e educação, reafirmados na Declaração de Caracas elaborada no Seminário de Estudos Museológicos de 1992:
O museu como uma forma de comunicação entre os elementos do triângulo - território, património, sociedade -, servindo de instrumento de diálogo, de interação das diferentes forças sociais, económicas e políticas; um instrumento que possa ser útil na sua especificidade e função ao “homem indivíduo” e “homem social”, para que este possa enfrentar os desafios que vêm do presente e para o futuro. O museu se manifesta na própria comunidade, que passa a ser ela mesma o Museu manifestado através das relações que esta estabelece com o real, preservando a memória, os valores e as experiências de forma integral e democrática. (Horta 1995,32-35).
No contexto nacional e internacional de tipologias arquitetônicas contemporâneas, formado sobre os preceitos de revalorização de esforços coletivos e participativos na construção de espaços museológicos que refletem e abrem espaço para a construção e vivência da cultura local, encontra-se o Museu de Arte e o Centro Livre de Artes de Goiânia. Na década de 1950, o cenário cultural na nova capital do estado apontava a necessidade da criação de um museu de arte público para abrigar e fomentar a produção da cidade. A partir disso, o Museu de Arte de Goiânia foi criado em 1969, através de uma lei municipal, e inaugurado em 1970 como o primeiro museu público municipal de artes plásticas da região centro-Oeste. Inicialmente, o museu funcionava em um edifício existente na Praça Universitária; o qual foi interditado e retomado para a administração municipal durante uma reforma na praça em 1979. O Museu de Arte de Goiânia foi transferido para a sua atual sede, no Bosque dos Buritis, em 1981. O prédio improvisado que recebeu o museu na época, e que o abriga até hoje, pertence à prefeitura da cidade e foi criado originalmente para sediar as atividades da Comurg (Companhia de Urbanização de Goiânia). Nessa ocasião, são vinculadas às atividades do MAG as áreas de Patrimônio Histórico e a de oficinas de artes. Nesse mesmo ano, a Escola de Música da cidade foi também transferida para o mesmo local, sendo ampliada nos anos seguintes para o CLA – Centro Livre de Artes. O CLA, enquanto edifício e instituição, constitui um
sistema que oferece cursos sequenciais de arte e oficinas, atendendo a um corpo discente atualmente formado por cerca de dois mil alunos entre crianças, jovens, adultos e idosos. O núcleo Centro Livre de Artes abriga, desde então, além do Setor de Música original, os Setores de Dança, de Artes Plásticas e a Oficina Integrada. A partir dessa integração física entre as duas instituições na década de 1980 o MAG e o CLA funcionam não só no mesmo edifício, mas na mesma sintonia. A integração espacial e o contato direto dos alunos com as atividades do museu são vitais para o funcionamento pleno dos estabelecimentos e para o desenvolvimento participativo e integralizado da conjuntura artística local. Ao longo dos anos, o museu se organizou como instituição, passando por períodos de grande efervescência nas décadas de 1970 e 1980, seguidos por momentos de decadência ao longo da década de 1990, quando seu espaço foi reduzido em detrimento das atividades educativas que aconteciam no local. No final desse intervalo de tempo passou por uma reforma, com recursos oriundos da contribuição de alunos das oficinas de artes do CLA, visando melhorar o espaço e o atendimento ao público. Concluídas as obras, o museu foi reaberto em 2002, após investimento de recursos públicos e de artistas locais que promoviam leilões e festivais para mantê-lo e atualizá-lo. Desde a sua consolidação na década de 1980 até hoje, o Museu e o Centro Livre de Artes representam uma instituição cultural local que resiste produzindo e informando ao longo dos anos. Instituições de pequeno porte, mas de forte atuação no desenvolvimento da cultura artística na cidade de Goiânia. Ambos implantados em um edifício reaproveitado, improvisado e nunca devidamente adequado para abrigar duas instituições de forte representação e extensa procura do público. À vista disto, o Museu de Arte da cidade e o Centro Livre de Artes de Goiânia merecem ser olhados e trabalhados em um projeto de diplomação.
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JUSTIFICATIVA Goiânia é a capital do Estado de Goiás, divisa com o Distrito Federal e dista apenas 230 quilômetros de Brasília. É uma cidade em pleno desenvolvimento e com um número de habitantes expressivo (1,296 milhões, de acordo com o senso realizado pelo IBGE em 2010), que anseiam por mais opções de divulgação e produção cultural na cidade. A cidade apresenta um caráter de importância regional e inovação desde o seu planejamento na década de 1930. Idealizada sob a égide do Estado Novo e do progresso por ele pretendido, ela respondia à política da Marcha para o Oeste do governo nacional, que visava acelerar o desenvolvimento e integrar o país continental. A centralidade no território brasileiro e o projeto inspirado nas cidades-jardim1 inglesas marcam a concepção original da cidade como a consolidação em práticas projetuais dos ideais de expansão e modernização que tomavam conta das políticas públicas e econômicas e do imaginário nacional. Nesta perspectiva, Goiânia se situa como ponta de lança, avançada no tempo histórico e no espaço geográfico, espécie de vanguarda de centenas de cidades novas instaladas durante os últimos 50 anos: no Oeste de Santa Catarina e do Paraná, na alta Paulista, no Mato Grosso do Sul e mais recentemente, em Goiás, no Mato Grosso e, através de difíceis e longos caminhos de desbravamento e penetração, no vasto e espantoso universo da Amazônia. (GRAEFF, 1985, p.32).
A elaboração do plano-piloto da cidade é de autoria do arquiteto e urbanista Atílio Corrêa Lima, e inspirava-se no traçado barroco de Versalhes e no de L’Enfant para Washington, buscando unir as tradições modernas e barrocas mescladas no desenho. Sugeriu um traçado urbanístico radial concêntrico em um projeto abrangente, incluindo o cuidado com o paisagismo urbano, presente na arborização dos bairros e avenidas; e as formas geométrica
e simétricas de composição das vias e loteamentos, jardins e do mobiliário urbano. O projeto de Goiânia constitui-se de um traçado que valoriza um centro formal e administrativo do município, a partir do qual são distribuídas as vias e outras funções da cidade. Esse centro cívico proposto pelo arquiteto permaneceu razoavelmente integro ao longo do tempo, configurando-se não só como um núcleo administrativo, mas como centro físico e histórico da cidade. Conservouse como marco físico e referência de traçado para o restante da cidade que se desenvolveu num tecido urbano que, apesar de caótico, ainda hoje é formado por uma série de vias que desembocam em praças e rotatórias, como no modelo original de Atílio Correa. É também um lugar marcado por grandes acontecimentos municipais, estaduais e da população de maneira geral, que dele se apropria enquanto lugar de memória1 e referência de centralidade. O eixo histórico de formação da cidade foi palco para a formação do cenário cultural goiano,
desenvolvido desde a concepção da cidade e que ganha força a partir da década de 1950. Nesta época, Goiânia contava com uma considerável extensão territorial, com suas universidades com cursos de artes e com uma população em constante crescimento que fomentava não só o desenvolvimento urbano, mas que também requeria e formava espaços e atividades culturais. O I Congresso Nacional de Intelectuais, ocorrido em 1954, marcou o início da formação de um forte conjunto artístico na capital, pleno de ideias sobre os variados campos da criação, assim como de demandas, como a necessidade de um local para abrigar e fomentar a produção dos artistas locais. Esse evento objetivava, com contribuições de artistas e intelectuais locais e internacionais, iniciar a um movimento de superação do isolamento cultural da nova capital. O ponto máximo desse acontecimento foi a mostra idealizada e organizada pelos artistas plásticos Frei Nazareno Confaloni, Gustav Ritter e pelo diretor da EGBA - Escola Goiana de Belas Artes, Luiz Carmo Curado. Para a mostra, foram exibidas 317 obras de artistas que compuseram as representações de outros Estados e da EGBA, entre pinturas, desenhos e gravuras. Pretendendo uma visão panorâmica da cultura goiana, foram incorporados exemplares de arte popular indígena Karajá, e de arte sacra, com 17 imagens do escultor José Joaquim Veiga Valle. Na década de 1980, a cidade encontrou um dos seus maiores períodos de efervescência cultural, e o MAG encontrava-se no centro dessa ebulição, tornando-se o ponto de encontro de artistas e palco para exposições e documentação dessa produção ininterrupta. O acervo inicial do museu foi formado pela coleta de obras de artistas modernistas como Ionaldo Cavalcantti, Carlos Scliar, Glauco Rodrigues, Glênio Bianchetti, Guido Viaro, Mário Gruber, Paulo Werneck e Renina Katz. O acervo atual é composto por 1.036 obras de arte coletadas nesse período inicial de fundação e nos anos posteriores, todos pertencentes ao Patrimônio Cultural Artístico do Município de Goiânia. O cenário artístico goiano conta hoje com artistas formados nessa época e atualmente com projeção internacional, como Ana Maria Pacheco e Siron Franco.
Figura 1: Plano original do núcleo da cidade de Goiânia proposto por Atílio Corrêa Lima Fonte: Manso, 2001, p.221 Figura 2: Praça Cívica, Goiânia. 1940. Fonte: IBGE Figura 3: Praça Cívica, Goiânia. 1967. Fonte: MIS - Goiás Figura 4: Praça Cívica e Bosque dos Buritis, Goiânia. 2015. Fonte: Secult - Goiás
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O estado de Goiás e a cidade de Goiânia em especifico empenharam-se, com mais ou menos dedicação, em tornar a cidade um polo cultural, promovendo ações para melhor administrar seus museus e estimular seu meio artístico como um todo. Entre essas iniciativas encontra-se a REM-GO – Rede de Educadores em Museus de Goiás, da qual o MAG faz parte, formada em 2010, considerada entre as três principais redes desse gênero no pais. As políticas públicas voltadas para o desenvolvimento artístico e museológico, o significativo passado recente e o fervor cultural da década de 80 não foram/são suficientes para manutenção e progresso do MAG e do CLA. O Museu da cidade e o Centro Livre de Artes encontram-se atualmente locados em um ponto da cidade que marca o imaginário local enquanto referência histórica e espacial de centralidade e representatividade das suas raízes urbanas e intelectuais. No entanto, a configuração arquitetônica do edifício improvisado e a sua articulação com o entorno não refletem nem reforçam essa importância. Por isso, pensou-se neste trabalho de diplomação, em um novo museu para a cidade, com um projeto arquitetônico capaz de abrigar integralmente todas as atividades e potencialidades existentes, reafirmando sua importância para a promoção da cultura local. Um museu local para uma localidade cheia de história e cultura.
O crescente interesse pela temática do patrimônio é hoje de abrangência mundial, como reação ao processo de globalização e ao risco de estandardização das culturas. Nesse contexto, a possibilidade de os habitantes de Goiânia conhecerem, compreenderem, assimilarem e valorizarem a trajetória histórica de sua cidade, de vivenciarem no presente a aceitação de sua identificação histórica do passado torna-se importante. Trata-se de redimensionar os processos de valorização da história do lugar, que se conectam ao conjunto arquitetônico de Goiânia. (Rocha, 2013)
A escolha do tema Museologia e Identidade mostrase condizente e adequado ao contexto urbano e cultural da cidade de Goiânia; uma cidade grande, porém ainda jovem, com um cenário cultural em desenvolvimento e sem estruturas para adequadas para seu amadurecimento. Em pesquisa realizada recentemente com dois funcionários da instituição, problemas recorrentes são amplamente criticados: a procura pelas atividades do Centro Livre de artes que é sempre maior que a oferta de vagas; a falta de um espaço que comporte as apresentações e eventos inerentes ao CLA; a reserva técnica do museu que já não tem mais espaço e que no atual prédio do museu não tem possibilidade de expansão; a inexistência de espaços para realizar restaurações, hoje feitas no pátio; a circulação de ar precária que afeta o conforto do público e a preservação dos trabalhos expostos; a biblioteca que amontoa obras ao invés de preservá-las... Um museu que destrói as suas obras e maltrata o seu público. Um Centro Livre de Artes que ignora os seus futuros artistas e suprime a produção cultural da cidade. A cidade é resultado de construções e demolições. Uma composição em constante estado de transformação onde só permanece o que possui valor. Atualmente destituído dos essenciais valores histórico, cultural, de uso e de rememoração, enumerados por Reigl em sua obra O Culto Moderno dos Monumentos, de 1903, o edifício que abriga hoje o Museu de Arte e o Centro Livre de Artes de Goiânia é entendido nesse projeto como objeto a ser demolido.
Uma demolição que abre espaço para que o terreno, imbuído dos valores acima mencionados, seja utilizado para a construção de uma edificação capaz de abarcar as necessidades físicas e simbólicas da instituição e dos significados urbanos e culturais rememorados e conservados pela cidade de Goiânia ao longo de sua história.
Figura 5: Ana Maria Pacheco trabalhando em seu estúdio, 1999 Fonte: The National Gallery, Londres. Figura 6: Mostra de Arte do I Congresso Nacional de Intelectuais. Goiânia, 1954. Fonte : acervo e doação Amaury Menezes Figura 7: Inauguração do MAG. Goiânia, 1970. Fonte: acervo e doação Amaury Menezes 1 Cidade jardim: modelo urbanístico concebido pelo inglês Ebenezer
Faz-se necessário assim a concepção de um novo Museu e Centro Livre de Artes que sejam (re) criados em um edifício projetado especificamente para os seus programas e atividades, abrigando-as de forma precisa e apropriada. Um novo Museu e Centro de Arte, a ser implantado no centro histórico, administrativo e afetivo da cidade, mostra-se como uma nova possibilidade de articulação entre o seu passado, marcado por planos e narrativas modernas proferidos em meio aos contos e hábitos tradicionais; e o seu momento atual, onde presente e futuro se mesclam em um desejo de afirmação cultural e identitária.
Howard, no final do século XIX. Comunidade autônoma, cercada por um cinturão verde, em formato radial, criada para congregar em um mesmo local características do campo e da cidade. 2 Lugar de Memória: Conceito apresentado na obra Les Lieux de Mémóire, de 1984, composta por sete volumes e organizada pelo historiador francês Pierre Nora.
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LOCAL.
Sem tĂtulo, Siron Franco, 1983
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CULTURA, MEMÓRIA E IDENTIDADE GOIÂNIA E O BOSQUE DOS BURITIS Aprendemos a ser musicais, afromusicais, euromusicais, pardo musicais. (...) D. J. Oliveira, Siron, Cléber, Ana Maria Pacheco, Poteiro, Roos, dentre tantos nos traduzem para o mundo, mas foram buscar suas raízes em Confaloni e este nos índios.São capazes de traduzir nossa realidade de capital extremamente moderna em art déco dos anos 40 do século passado, cravada em pleno interior que era Campinas, daí o fruto da capital mesclada ao interior, do urbano com o rural, do sertão e do litoral, do campo e da cidade. (CHAUL, 2011)
Em seus jovens 83 anos de idade, Goiânia caracteriza-se como uma cidade de dimensões físicas e populacionais de metrópole, com um extenso raio de influência econômica e social. Apesar de temporalmente recente, a fundação de Goiânia e todos os feitos políticos e urbanísticos por trás dessa parecem desde o princípio esquecidos no tempo, ignorados pelos goianos e pela população brasileira em geral. A capital goiana é um feito urbanístico moderno tão expressivo na história nacional, mas tão pouco reconhecido na historiografia urbanística brasileira. As manifestações arquitetônicas do eclético e do art deco, que apresentam em Goiânia um dos seus maiores conjuntos edificados do mundo; as vias largas e o traçado concêntrico radial que buscava Versalhes, o “marco no processo de urbanização de um estado de economia predominantemente agropecuária”... (MELLO, 2004) Nada disso foi capaz de colocar Goiânia na lista das cidades brasileiras planejadas a serem vistas e lembradas nos estudos e análises. Nada disso foi capaz de enquadrar Goiânia no orgulho e reconhecimento dos seus próprios habitantes. Um fato que encontra explicação ao nos referirmos a um “estigma do sertão” mencionad
por Marcia Metran de Mello em sua tese Goiânia: Cidade de pedras e de palavras. Nele, a autora ressalta o isolamento cultural, político e social do estado de Goiás durante cerca de 50 anos que se sucederam ao fim da exploração do ouro na região. Nesse sentido, o projeto da nova capital surge como promessa de ressignificação e rompimento desse cordão de isolamento. Essa promessa se perdeu em meio a um grande “choque de contrários” que marcou a construção da cidade. A oposição “cidade-sertão” se faz presente desde então no imaginário local. A pretendida “modernidade no sertão” se desenvolveu ao longo dos anos em forma de paradoxos. O centro histórico de Goiânia, formado pelo conjunto da Praça Cívica com as avenidas Goiás, Araguaia e Tocantins, agregado também às as Avenidas Anhanguera e Universitária, é talvez o elo mais forte e concreto entre o passado e o presente na cidade. Em meio a tantos edifícios de forte simbolismo local presentes nesse entorno, tais como o Palácio das Esmeraldas, o Teatro Goiânia, museus e órgãos locais, encontramos o Bosque dos Buritis. Fundado em 1933, é um Bosque de área de 124.800 m2, localizado no coração da e criado para permanecer na cidade como patrimônio paisagístico e centro referência para o lazer da população. Hoje, além do Museu e do Centro Livre de artes, conta com lagos artificiais, vegetação abundante, fontes, brinquedos e equipamentos de ginástica. O local está inserido nesse circuito histórico de formação da cidade não só pela posição geográfica, mas também por estar previsto no seu planejamento da desde o primeiro relatório do arquiteto Atílio Corrêa Lima, em 1933: O Buritizal, situado entre as ruas 72 e a Alameda dos Buritis, será transformado em pequeno parque. É necessário drenálo convenientemente, ,tirando partido deste para os efeitos de cascata e um grande lago recreativo. (LIMA, 1942, p. 107)
Desde o princípio destinado ao lazer e conformação cultural dos habitantes locais, esse espaço permanece, ao longo dos anos de criação e consolidação da cidade, como marco histórico do núcleo original da cidade e também como marco de sua renovação e propaganda que mantem as suas nacionalmente reconhecidas áreas verdes em meio à selva de pedra que se estende ano após ano. O Bosque pode ser visto ainda, segundo Marcia Metran, como uma “imagem profunda dos elementos urbanos”, termo definido por Barthes (2001, p.230) como imagens que marcam a paisagem urbana de forma a romper com a sua monotonia e tornála mais legível. O parque reúne dois dos elementos mais representativos e utilizados como ‘imagens profundas’: “o curso d’água significativo e a vegetação vigorosa”. (MELLO, 2004, p. 144) Em 1999, em um concurso realizado pelo Banco Itaú, o Bosque foi eleito como símbolo da cidade de Goiânia. O valor simbólico, urbanístico, histórico, afetivo e espacial do lugar é ressaltado e instituído pelos cidadãos da cidade como feição maior de representatividade urbana e antropológica – um monumento não-intencional que é acolhido pelos moradores devido à sua intrínseca relação significativa, espacial e de usos com a população. Dentro desses significados e representações, o Bosque dos Buritis é símbolo da cidade também pois retrata simbolicamente o passado rural e a evolução urbana, expressando a dialética “cidade-sertão” tão fortemente presente no imaginário e na formação dos goianienses. Talvez de forma simples e reduzida na imensidão da configuração urbana da cidade atual, mas o Bosque concentra em si e representa enquanto centro e alegoria a dualidade da formação de Goiânia que nem mesmo a população foi capaz de explicar. Soma-se a isso os fatores de sociabilização e formação cultural que ali se desenvolvem de maneira mais profícua e intensa em relação a outros pontos da cidade. É um dos elementos, talvez até o mais forte deles, considerando o caráter histórico e privilegiada posição geográfica na metrópole, que de acordo com a autora Marcia Metran de Mello, pode
funcionar como “estruturas profundas na perspectiva de se recriar um imaginário social em que seja possível ligar a palavra da cidade à palavra dos seus habitantes.” Percebe-se assim o valor do Bosque enquanto símbolo da cidade no imaginário local; uma cidade que curiosamente é uma metrópole regional e escolhe como sua representação um ‘pedaço da natureza’. O novo projeto para o edifício do MAG e do CLA enquadra-se antes de tudo no contexto simbólico e espacial do Bosque dos Buritis. Se um museu deve ser e reunir em si cultura, identidade, localidade, expressão e formação artística, como não olhar e analisar o ‘pedaço de natureza’ (tão estimada pelos goianienses) que o abraça? A arquitetura do MAG e do CLA passa e dialoga incessantemente com o urbano do Bosque e do centro histórico de Goiânia. A nova arquitetura aqui é assim expressiva, mas não agressiva. É marcante e singular, mas não por si só. É marco e reforço do papel do Bosque como símbolo da cidade. (...) um edifício não é constituído apenas de uma base material. A cidade, a rua, o prédio, a porta, o corredor, etc, são focos de subjetivação que fazem parte de composições locais. (GUATARI, 1992, p.161)
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ESCALAS
DE ESTUDO E ATUAÇÃO O estudo e projeto para o novo Museu de Arte e Centro Livre de Artes de Goiânia abrange a concepção do trabalho em duas escalas: a primeira, uma escala macro, a qual busca compreender em seu recorte de análise e intervenção os pontos urbanos e arquitetônicos de integração da memória da cidade e de fundamental importância para a rede de desenvolvimento artístico e cultural local. A segunda compreende a escala micro de intervenção no terreno já existente no Bosque dos Buritis para locação do novo edifício para o Museu e para o Centro Livre de Artes. O edifício que constitui o objeto de trabalho desse projeto de diplomação está sendo problematizado na conversa entre essas duas escalas. Na escala urbana, a existência dos aspectos históricos em uma escala maior, de dimensão simbólica, é fundamental. Como esclarecido por Marcia Metran em sua tese, “em Goiânia, os elementos temporais se homogeneízam pelo tempo exíguo de existência da cidade, pela reposição indiscriminada de edifícios e pela parca expressão artística demonstrada na maior parte da malha urbana. ” (Mello, 2004, p. 17). Ou seja, a configuração urbana e seus desdobramentos fazem, ou pelo menos, deveriam fazer parte do circuito cultural e artístico da cidade. Nesse sentido, a carência local por espaços culturais e símbolos urbanos passa também pela ressignificação desses pontos e percursos. Assim, a expressão artística existente será fomentada com a criação do novo edifício do MAG e do CLA, e deve se estender pela cidade de forma a recaracterizar esse espaço histórico e urbano perdido ao longo do tempo no imaginário local e assim valorizar numa via de mão dupla a produção artística local e a cidade no seu conjunto expressivo urbanístico. Reconectar as escalas de uso, relação, entendimento e compreensão histórica e urbanística do conjunto de edifícios e estruturas urbanas.
Deve ainda desenvolver as redes de integração, algumas até já existentes no imaginário urbano local, por meio de tratamentos de solo e paisagismo, intervenções artísticas e de mobiliário feitas por artistas, entre outros. Essas ações são projetadas de forma a tornar a cidade legível, de fácil apreensão e, consequentemente, mais utilizada, compreendida e admirada pela sua população. Essa capacidade de legibilidade oferecida pela cidade (nesse caso, que deve ser agregada, reforçada na cidade ou em um trecho dela) é qualidade essencial para gerar uma imagem satisfatória do ambiente. (...) devido à intensidade de sua vida e ao aglomerado de gente tão díspar, a cidade grande é um lugar romântico e rico em detalhes simbólicos. Para nós é tão esplêndida quanto aterradora, “a paisagem de nossas confusões”(...). Se fosse legível, realmente legível, o medo e a confusão poderiam ser substituídos, com prazer, pela riqueza e pela força do cenário. (Lynch, 1999, pp. 134-135)
que a área conta com nascentes e vegetação a serem preservadas, tentando assim intervir o mínimo possível na disposição geral da natureza do Bosque., utilizando um terreno que já existe e não irá afetar o curso d’água nem as áreas verdes existentes. Todos esses aspectos e pontos de análise para a escolha e desenvolvimento do projeto no terreno em questão serão detalhados em mapas temáticos mostrados a seguir.
Figura 8: Vista aérea Bosque dos Buritis. Goiânia, 2012. Fonte: Hostel 7. Figura 9: Museu de Arte de Goiânia, 2017. Fonte : fotografia pessoal Figura 10: Centro Livre de Artes, Goiânia, 2017. Fonte: fotografia pessoal
Assim, cria-se, a partir do projeto principal de arquitetura do edifício, uma rede de integração da qual o MAG e o CLA são parte essencial para contribuir de forma promissora com o reforço da memória e identidade locais a partir da integração, utilização, compreensão, interação e legibilidade do trajeto urbano e de seus significados. Para a escala pontual do edifício de arquitetura, o qual constitui o foco e objeto de trabalho principal desse trabalho, considera-se a área do Bosque dos Buritis como um todo. A escolha do mesmo terreno para a concepção do projeto para o novo edifício a abrigar o MAG e o CLA parte do princípio maior de integração e simbolismo atribuído ao Bosque dos Buritis, como foi explanado no item acima. O terreno onde o edifício do Museu e do Centro encontram-se atualmente apresenta-se em uma posição privilegiada em relação a acessos e mobilidade urbana, além de possibilidades amplas de aproveitamento da topografia local e conexões físicas e visuais com o restante da área do parque. Acrescido a isso, buscouse na opção de manutenção do mesmo terreno a viabilidade ambiental do projeto, uma vez
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Rede de Integração Goiânia
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Assembleia Legislativa Estadual
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Museu Casa Pedro Ludovico Teixeira
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Monumento às Três Raças
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Museu Zoroastro Artiaga
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Centro Cultural Marieta Teles
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Palácio das Esmeraldas
Mercado Municipal de Goiânia Instituto Tecnológico Federal de Goiás
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Praça Cívica
Parque Mutirama
Colégio Lyceu de Goiânia
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Edifício Sede dos Correios
Catedral Metropolitana de Goiânia
Superintendência de Agricultura do Estado
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Teatro Goiânia
Praça Universitária
Praça do Trabalhador
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Centro Cultural Cora Coralina
Museu Antropológico
Antiga Estação Ferroviária
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Centro Cultural Goiânia Ouro
Museu da Escultura ao Ar LIvre
Escola de Artes Visuais
Bosque dos Buritis
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Beco do Codorna
Centro Cultural UFG
Praça do Bandeirante
Museu de Arte e Centro Livre de Artes
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Centro de Convenções de Goiânia
Biblioteca Pública Municipal
Palace Hotel
Lago das Rosas
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Praça do Avião
Centro de Educação Profissional em Artes Basileu França
Grande Hotel
Teatro Inacabado
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Praça Tamandaré
Escola de Artes veiga Valle
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Centro Cultural Octo Marques
Praça do Cruzeiro
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Praça do Sol
Centro Cultural Martim Cererê
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Coreto
Parques e Praças
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Centro de Educação e Cultura
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Edifício / Monumento Histórico
Torre do Relógio
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REDE DE INTEGRAÇÃO A escolha dos locais para a formação da Rede de Integração foi feita a partir de critérios estabelecidos pela análise do local de intervenção, assim como das simbologias e significados sociais e urbanos associados às instituições as quais o novo edifício em projeto se destina. Os valores de uso, simbólico e histórico, assim como a disposição e configuração no perímetro histórico de formação e consolidação da cidade, levaram a seleção de cerca de 45 pontos de interesse que configuram entre áreas verdes, monumentos e edifícios históricos, e locais de educação e cultura. Esses estão diretamente conectados ao ponto de interesse principal do projeto (Museu de Arte e Centro Livre de Artes de Goiânia) no sentido de complementarem a formação e divulgação do conhecimento histórico, artístico e cultural a ser difundido pelas instituições no Bosque dos Buritis. Acrescido a isso, os locais pontuados estão dispostos em um conjunto maior do perímetro original do planejamento da cidade, posicionados ao longo de vias que se caracterizam como rotas de maior importância no contexto urbano, se considerados a capacidade/intensidade de fluxos, conexões e integrações na malha urbana, e a acessibilidade e oferta de transporte público e acessos para pedestres e ciclistas. A concentração e disposição desses pontos de interesse ao longo dessas vias demonstra não só a existência de um circuito urbano que concentra edifícios de interesse histórico e cultural, evidenciando a necessidade de que esse recorte seja olhado e tratado enquanto plano de urbanismo e integração, mas também a também já existência de eixos capazes de integrar todos esses pontos e criar na cidade percursos que estimulem a conexão funcional e física desses locais, além de criarem novos tratamentos paisagísticos de percurso a serem difundidos no uso e apropriação da cidade. Figura 11: Teatro Goiânia. Goiânia, 2016. Fonte: Fotografia pessoal. Figura 12: Centro de Educação Profissional em Artes Basileu França, Goiânia, 2015. Fonte: SECULT - GO. Figura 13: Museu Zoroastro Artiaga, Goiânia, 2017. Figura 14: Praça do Bandeirante, Cruzamento Av. Goiás e Av. Anhanguera. Goiânia, 2017. Fonte: SECULT - GO. Figura 15: Canteiro central Avenida Goiás. Goiânia, 2017.
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MOBILIDADE URBANA O sistema viário da região está diretamente relacionado à conformação e uso do local de intervenção arquitetônica. No sentido mais amplo da escala macro, as Avenidas Anhanguera, Goiás, Paranaíba, Araguaia, Tocantins e Universitária funcionam como vias arteriais que integram a cidade como um todo e conseguem abranger o acesso à grande maioria dos pontos de interesse da Rede de Integração. Na escala mais local de acesso, as Alamedas das Rosas e dos Buritis complementam os acessos aos locais da Rede e trabalham na coleta e distribuição de fluxos para as vias arteriais acima mencionadas. Olhando especificamente sobre o Bosque dos Buritis e o terreno que abriga o MAG e o CLA destaca-se as vias Alameda dos Buritis, Rua 01, Rua 29 e Rua 10 que abrigam o percurso em torno do Bosque, muito utilizado por pedestres para realização de esportes e acesso à área central da cidade. As duas entradas principais e únicos acessos externos ao Bosque estão localizados na rua 01 e na Alameda dos Buritis, sendo a entrada da Rua 01 o acesso direto ao Museu e ao Centro Livre. Nesse sentido, a conformação do sistema viário atual, assim como da distribuição dos modais e dos acessos do Bosque, permitem um acesso amplo de pedestres e meios de transporte ao local de implantação do novo edifício. No âmbito geral, a morfologia e equipamentos do parque oferecem uma estrutura razoável de acessos com calçadas, rampas e sinalização. No entanto, a entrada que hoje configura no acesso principal do museu não se encontra devidamente evidenciada e acessível para os visitantes e funcionários. Isso porque está localizada na rua 01 que é uma via local e de pouco trânsito de pessoas se comparada com as outras vias circundantes do Bosque. Além disso, a entrada é estreita e as árvores camuflam não só o edifício em si, mas o acesso a ele, configurando uma visual em que os transeuntes do lado externo e do bosque não visualizam o edifício e acabam deixando de usá-lo por não saber da existência dele. A entrada pequena e escondida, assim como a ausência de placas indicadoras e informativas, da mesma forma não estimulam o pedestre a percorrer o Bosque e usufruir do seu potencial cultural e paisagístico. Com relação à mobilidade urbana, a região de análise é de predominância do automóvel, refletindo a situação que se estende por toda a cidade e que é acentuada
nesse trecho considerando a classe econômica elevada dos moradores locais e grande diversidade de usos. Esse domínio do transporte particular se reflete também na configuração do atual edifício do MAG e CLA que tem grande parte do seu terreno destinado à área de estacionamentos. -Ainda assim, em comparação a outros pontos da cidade, essa pode ser considerada uma das áreas mais bem servidas de transporte público, contando com pontos do BRT (Eixo Anhanguera) que atravessa a cidade no sentido LesteOeste, passando ainda por diversos pontos da rede de integração e abrindo-se em direção a outros eixos de acesso à essa região central. No outro sentido, Norte-Sul, as Avenida Goiás e 85 apresentam também diversos pontos de ônibus capazes de fomentar a distribuição de usuários ao longo do seu trajeto. No acesso direto para o Bosque dos Buritis, contase com o pontos ponto localizado na Avenida Assis Chateaubriand. Além do BRT, verifica-se também a extensa presença de pontos e linhas de ônibus, com distâncias de caminhada agradáveis entre eles, permitindo o acesso ao pontos de interesse e conexão entre os mesmos. O fluxo de pedestres é permitido pelas calçadas e faixas de acesso, apresentando alguns problemas nas dimensões e manutenção dessas passagens. Nota-se ainda a ausência de canais de acessibilidade ao longo do trajeto, como rampas estrategicamente posicionadas para integração com locais de acesso, travessia e conexão com outros modais; piso tátil; sinais sonoros e indicações de trajeto. O modal da bicicleta é o que se apresenta em pior situação de acesso e uso. A implantação de algumas ciclovias e ciclo faixas ao longo da cidade, assim como a instalação de pontos de locação de bicicletas públicas, se mostram como indicativos do aumento do uso do modal pela população, assim como da adequação do sistema urbano ao mesmo. Porém ainda se apresentam em número reduzido, incapaz de integrar um efetivo sistema de mobilidade; e com falhas significativas na integração dos eixos já criados e na adequação do sistema de trânsito para comportar com segurança o deslocamento dos ciclistas.
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USO E OCUPAÇÃO DO SOLO Como explanado anteriormente, o Bosque dos Buritis possui um incontestável valor simbólico no contexto local, assim como uma posição privilegiada e um desenho/forma que acompanhou as mudanças da cidade e das percepções e relações dessa e de sua população com os espaços públicos. Passou por diversas reformas até chegar na sua configuração atual retratada no mapa acima. As alterações em sua forma e configuração estão continuamente relacionados aos usos que foram sendo estabelecidos à sua volta e esses por sua vez à valorização da área que se sucedeu em partes à proximidade com o espaço verde de lazer. Desse modo, ao prever áreas verdes, Attílio relacionou a ocupação do solo e o tamanho da cidade, regulando-se pelas barreiras físicas existentes: os cursos d’água. Assim, reforçava a escolha do sítio mais plano e de fácil abastecimento de água. Ademais, os limites urbanos deveriam, aos moldes da cidade jardim, conformar um cinturão verde, remetendo-se a ideia de delimitar o território sobre o qual a cidade se desenvolveria, sem uma correta previsão de seu crescimento, culminando numa ocupação espontânea e não planejada.
A valorização da área situada entre Goiânia e Campinas, na década de 1940, foram lançados inúmeros loteamentos, modificando a situação do Parque dos Buritis: deixava de ser limite ao ser inserido na malha da cidade, permanecendo como área verde. Essa área permanece até os dias atuais como parte do eixo supervalorizado na malha urbana – Setor Central, Setor Oeste, Setor Aeroporto, Setor Campinas, Setor Sul, Setor Norte Ferroviário, Setor Leste Universitário (como pode ser observado no mapa de rede de integração) e, comparado ao contexto de mobilidade urbana local, bem servido nos diferentes modais. A implantação dos equipamentos culturais e de lazer, principalmente a parir da década de 1980, foi feita também de forma a favorecer os usos e estabelecer as relações com o entorno – o próprio MAG e CLA favoreceram a criação de um novo olhar de tratamento paisagístico, cuidado ambiental e inserção urbana do Bosque como um todo:
Apenas após um período de quase quarenta anos (1980), desde o plano urbanístico de Atílio Correa Lima até a proposta de Chacel, é que as preocupações em urbanizar e dotar o Parque dos Buritis de tratamento paisagístico começaram a se definir, quando a área passou, de fato, a ser encarada como um espaço público da cidade. E observa-se a importância dada ao caráter cultural da área, à medida que se previa a instalação de equipamentos culturais.
A desapropriação de partes do área original do Bosque para novas construções apesar de danosa ambientalmente, acabou favorecendo a criação de pontos de interesse urbano e arquitetônico no entorno, como o conjunto do Colégio Ateneu Dom Bosco, tombado como parte do patrimônio edificado Art Deco do município; a feira livre da rua 29 que já se tornou ponto tradicional de comercio informal e atrai inúmeros usuários para a área semanalmente; o Fórum que concentra um grande volume de empregos na região; e o edifício da Assembleia Legislativa, projetado no interior do Bosque, estabelecendo um marco arquitetônico de formas corbusianas no centro da cidade. Dessa forma, percebe-se por meio do mapa a grande diversidade de usos no entorno da área, com uma ampla variedade de residências, comércios e instituições que se articulam, apesar do aparente caos dos parcelamentos e ocupações, de forma a criar uma área bem servida em múltiplos serviços e ocupações. Contata-se assim uma favorável diversidade de pessoas e fluxos no entorno imediato, a qual deve ser transferida para o Bosque, em todos os seus usos e atividades, de forma a integrar esses possíveis usuários às possibilidades tão próximas do museu e do centro de artes. Essa integração passa pela percepção da integração visual e física desses espaços e trajetos, além de sinalização e condução aos mesmos. Um edifico visível e com um atrativo programa de necessidades para os moradores locais e trabalhadores que circulam por ali todos os dias. Figura 16: Feira Livre Rua 29. Goiânia, 2017.Fonte: Fotografia pessoal. Figura 17: Assemblía Legislativa do Estado. Goiânia, 2015. Fonte: Site Oficial Assemblia Legislativa de Goiás
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FLUXOS E ATIVIDADES O Bosque dos Buritis permite em suas conformações espaciais e equipamentos a prática de diversas atividades. Algumas das atividades encontradas durante as visitas locais foram: caminhada/corrida, malhação individual e em grupos, leitura, manutenção e plantio de flores, ciclismo, descanso, observação da paisagem, panfletagem, visitas escolares, desenho, alimentação, apresentações informais de música e teatro, aulas de artes em geral desenvolvidas no CLA, visitantes do MAG e ponto de encontro de grupos e casais. Percebe-se, portanto, a potencialidade da área em unir diferentes grupos de atividades e pessoas. Internamente, percebe-se ainda alguns pontos de interesse de uso e integração com o novo edifício do MAG e do CLA, como a área do teatro de arena (ponto 1 do mapa), que poderá ser utilizado como palco para realização de apresentações das turmas do CLA e realização de atividades extras a serem promovidas pelas instituições no sentido de estimular a pratica e desenvolvimento de atividades artísticas e práticas “não-tradicionais”/institucionalizadas (batalhas de rap, atividades de circenses, aulas de yoga, dinâmicas esportivas, ... o monumento Liberdade feito pelo artista plástico Siron Franco dois lagos (um deles com fonte luminosa), pista de cooper, caminhos internos, mirante, parque infantil e estação de ginástica. Os eixos de circulação mais intensa são o da.... E os pontos de concentração e permanência de pessoas mais utilizados são.... Nesse sentido, destacamse também os eixos xxx que atuam integrando os espaços e atividades distribuídos ao longo do parque.
Figura 18: Playground Bosque dos Buritis, Goiânia, 2017. Fonte: Fotografia pessoal. Figura 19: Prática de Ioga no Bosque dos Buritis. Goiânia, 2017. Fonte: AMA-GO. Figura 20: Caminhada no Bosque. Goiânia, 2017. Fonte: Fotografia pessoal. Figura 21: Comércio e atividades em frente ao prédio do MAG e CLA. Goiânia, 2017. Fonte: Fotografia pessoal. Figura 22: Convivência e contemplação. Goiânia, 2017. Fonte: Fotografia pessoal.
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DADOS FÍSICOS O relevo no Bosque dos Buritis é pouco acidentado, com ponto mais alto onde se localizam o MAG e o CLA atualmente e dois declives em sentidos opostas, um que cai em direção ao córrego Capim Puba e o outro em direção ao córrego Botafogo. Na parte norte do Bosque, onde se localiza a Assembleia Legislativa, o desnível do terreno é de 10 metros em relação a localização do museu e de 5 metros desde o acesso da rua 01 até a parte da Alameda dos Buritis/ Avenida Assis Chateaubriand onde se localizam os pontos de ônibus. Em relação a vegetação, a região apresenta uma extensa arborização, formando uma cobertura vegetal densa, a qual fica mais rarefeita ao longo dos quarteirões do entorno que são ocupados com edificações. Apesar da intensa incidência solar no ponto principal de implantação do edifício, a densa vegetação a ser preservada no Bosque, assim como os edifícios em altura no entorno imediato, permitem uma menor incidência direta dos raios solares, auxiliando no conforto térmico do edifício. Os ventos Nordeste, predominantes em todo o ano na cidade, incidem sobre a área com mais intensidade nas áreas dos lagos e edifícios onde existem menos barreiras para a circulação dos mesmos. Considerando o Bosque em si, com seu relevo acidentado, porém possível de ser apreendido/ compreendido, é possível identificar alguns pontos de indicação de vistas, a serem trabalhadas no projeto do edifício em relação à integração desse com o restante do Bosque, de forma a fomentar o caráter permeável da paisagem e suas potencialidades. Alguns desses pontos estão demarcados no mapa acima e as imagens ao lado mostram dois deles.
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ASPECTOS LEGAIS E AMBIENTAIS No Plano original de Atílio Corrêa Lima, percebe-se a influência sanitarista do contexto urbanístico da época, além de preocupações relativas ao local como espaço capaz de atribuir/oferecer lazer, natureza e beleza ao conjunto urbano. Ainda de acordo com a autora Anna Flávia Rego Mota, “verifica-se a visão das áreas verdes como os pulmões da cidade: é possível perceber como os cursos d’águas se relacionam com as áreas verdes, compondo as áreas livres da cidade, “[…] sendo elementos de destaque nas considerações do arquiteto urbanista, que procurava proteger de um modo eficaz a pureza da água que deveria abastecer a cidade” (AMMA, 2008, p.07). Na tentativa de evitar o desmatamento das áreas verdes com uma possível expansão desordenada da cidade, Atílio demarcou no Plano as reservas ambientais, que teriam usos futuros de parques ou bosques, afirmando que embora só mais tarde a administração pública pudesse urbanizálas, as demarcações impediriam que o governo se dispusesse das mesmas para outros fins que não os previstos (Lima apud Diniz, 2007). Dentro dessa lógica, definiu o Parque dos Buritis como um espaço livre, inalienável, que não poderia ter seu uso como área de lazer e de preservação ambiental alterado. (MOTA, 2014)
O Bosque dos Buritis, no entanto, apesar de todos os esforços do arquiteto no seu planejamento, sofreu uma série de modificações e perdas em relação à sua área original ao longo dos anos, principalmente entre as décadas de 1940 e 1970 onde a cidade se desenvolveu extensivamente. No entanto, foi sofrendo modificações com perdas consideráveis de sua área original (Figura 3) e de espécies vegetais existentes no local com doações pelo Governo do Estado de áreas do Bosque para os Colégios Atheneu Dom Bosco e Externato São José. Com a aprovação do Setor Oeste com o Decreto-Lei nº 574, de 12 de maio de 1947, o Bosque perdeu cerca de 70% de sua área configurandose, assim, o desenho que atual (AMMA, 2005). Na década de 1950, o Governo também fez doações das áreas do Bosque para a construção do Abrigo dos Velhos, atual Fórum. (MOTA, 2014)
Após essa série de intervenções na conformação do Bosque, as discussões sobre ecologia e sustentabilidade que permeavam a década de 1990 foram sendo transferidas para as medidas de planejamento urbano em Goiânia por meio de legislações municipais sobre o uso e tratamento dessas áreas verdes. “Em 1994, o Decreto nº 2.109 de 13 de setembro efetivou o tombamento do Bosque dos Buritis juntamente com outras áreas verdes da cidade: Bosque do Botafogo, Jardim Botânico, Cabeceira do Areião e Lago das Rosas. O tombamento resultou do intuito de preservar essas áreas verdes impedindo que estas sofressem mais desmatamento, no caso específico do Bosque dos Buritis, o tombamento evitou que mais edifícios fossem construídos no local. Desde esta ação do poder municipal, a configuração da área pouco se alterou, tornando-se um bem precioso para o discurso ambiental que permeou as administrações municipais subsequentes, inferindo sua relevância como área de Especial Interesse Histórico e Cultural, conforme consta nos relatórios de elaboração do Plano Integrado de Desenvolvimento de Goiânia (SEPLAM, 1992). Este documento traçou as diretrizes de valorização da área mesclando tanto o discurso ambiental e/ou ecológico bem como as ações de patrimonialização da cidade. “ (MOTA, 2014) Registro / Descrição AMMA (Agência Municipal do Meio-Ambiente Goiânia): Bosque dos Buritis Localização: Ruas 01, 29, Av. Assis Chateaubriand e Al. dos Buritis, Setor Central/Setor Oeste; Recursos Naturais: Remanescentes de Mata Seca e Vereda de Buritis, APP (Área de Preservação Permanente) do Córrego Buritis; Infraestrutura: Museu de artes, pista de caminhada interna e externa, estação de ginástica, alambrado no entorno, lanchonete; revitalização em 2007/2008. Possui Plano de Manejo; Aspecto Institucional: Criado no Plano Original de Goiânia de 1938; Área: 124.800,00 m².
Desde 2008, a partir do Decreto Municipal nº. 527, o Bosque está sob o comando da AMMA - Agência Municipal do Meio Ambiente – Goiânia, na Diretoria de Áreas Verdes e Unidades de Conservação, a qual tem por finalidade planejar, coordenar, orientar, acompanhar e fiscalizar a elaboração de projetos e execução de obras relativas aos parques, bosques, áreas verdes, unidades de conservação, reservas legais e demais reservas naturais no Município. A área está inclusa na relação de mananciais e áreas preservadas do município. Isso porque entre os 85 cursos d’água existentes no município, um deles é o córrego Buriti que tem sua nascente localizada no interior do Bosque dos Buritis. Atualmente, faz parte do Programa de Parceria para Recuperação e Revitalização dos Mananciais de Goiânia, desenvolvido pela AMMA em forma de parceria público-privada entre empresários locais e Prefeitura para desenvolvimento e execução de projetos para preservar os rios, córregos, lagos e nascentes que existem na capital. Para a nascente do Córrego Buriti, prevê-se a limpeza da área e recomposição florística com plantio de 2 mil mudas de espécies nativas do cerrado, em uma tentativa de minimizar os efeitos de alguns dos problemas verificados nos mananciais da capital, como a são ausência de mata ciliar, lançamentos clandestinos de esgoto, lançamentos clandestinos de entulho, focos de erosão, assoreamento e a ocupação irregular de faixa de ZPA-I (Zona de Proteção Ambiental).
Resolução CONAMA Nº. 369/2006 “Dispõe sobre os casos excepcionais, de utilidade pública, interesse social ou baixo impacto ambiental, que possibilitam a intervenção ou supressão de vegetação em Área de Preservação Permanente - APP”. INSTRUÇÃO NORMATIVA CONJUNTA AMMA E SECULT N. º 001/2005 “Considera que o Museu de Artes de Goiânia, o Centro Livre de Artes e seus arredores estarem inseridos na Unidade de Conservação denominada Bosque dos Buritis.” INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº. 001, de 01.07.2005 “Instituir as diretrizes ambientais para licenciamento ambiental de parcelamento do Solo Urbano no Município de Goiânia. ” INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº. 022, de 12.06.2007 “Dispõe sobre normas para visitação de Parque e Unidades de Conservação no Município de Goiânia. ” INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº. 031, de 17.03.2009. “Altera o caput e o § 1º do art. 7º da Instrução Normativa nº. 028, de 18 de agosto de 2008, que classifica as Unidades de Conservação do Município de Goiânia e institui a Zona de Amortecimento das mesmas, que passa a vigorar com a seguinte alteração. ”
Lei Complementar nº. 014, de 29 de dezembro de 1992
INSTRUÇÃO NORMATIVA n°. 034, de 22.07.2010 “Dispõe sobre normas para o funcionamento do serviço permissionário nas Unidades de Conservação, Parques/ bosques ou Áreas Verdes no Município de Goiânia, revogando as disposições em contrário. ”
Lei nº. 9.985, de 08.03.2000 “Prevê que a Agência Municipal do Meio Ambiente é o Órgão competente para a elaboração dos instrumentos de regulamentação e normatização das formas de uso das Unidades de Conservação de Goiânia.”
CAPÍTULO X DAS ÁRVORES NOS IMÓVEIS URBANOS Art. 107. A Prefeitura colaborará com a União e o Estado no sentido de evitar a devastação de florestas e bosques e de estimular o plantio de árvores, de acordo com o que estabelece a legislação pertinente.
Lei Complementar n° 132/2004
Art. 71. Os Administradores das Unidades de Conservação são responsáveis pela supervisão, manutenção e conservação de um grupo ou conjunto de Parques e Bosques a serem definidas por região ou tipologia vegetal, e outras tarefas correlatas a serem delegadas pela GUC.
Relação das Instruções normativas que conferem aos aspectos ambientais do Bosque dos Buritis e região:
Resolução CONAMA Nº. 001/1986 “Dispõe sobre critérios básicos e diretrizes gerais para o Relatório de Impacto Ambiental - RIMA”
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Área originalmente destinada ao Bosque dos Buritis Área destinada ao Bosque dos Buritis no Plano de 1947 Fórum Área originalmenteSão destinada Colégio Externato José ao Bosque dos Buritis
Colégio Ateneu Bosco Área destinadaDom ao Bosque dos Buritis no Plano de 1947 Fórum
Doações de áreas do Bosque dos Buritis e parcelamento do Setor Oeste
Colégio Externato São José Colégio Ateneu Dom Bosco
Fonte: Decreto-Lei no 574, de 12 de maio de 1947, sem escala. Intervenção de Anna Flávia Rego Mota.
Lagos Edificações Zona de Preservação Integral Zona de Recuperação Zona de uso restrito Zona de uso intensivo
Zoneamento do Bosque dos Buritis estabelecido pelo Plano de Manejo. Fonte: AMMA, com intervenção da autora, 2017.
Bosque dos Buritis Fórum Externato São José
Clube dos Oficiais Percurso original do Córrego Buriti. 2014. Fonte: Coletivo SOBREURBANA. Intervenção da autora, 2017.
Mutirão de limpeza da área do Bosque dos Buritis.
Vista do Córrego Buriti no interior do Bosque dos
2010. Fonte : AMMA Goiânia
Buritis. 2014. Fonte: Fotografia pessoal
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ESTUDOS DE CASO.
Visão Nu, Siron Franco, 1987
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ESTUDOS DE CASO Na concepção e desenvolvimento de um projeto arquitetônico, a busca e análise de projetos já existentes com pontos em comum é de extrema importância. No caso do Museu de Arte e Centro Livre de Artes de Goiânia, buscou-se encontrar edifícios que se assemelhassem ao tema a ser realizado não só pelo programa (museu / escola de arte), mas também pelo contexto local, urbano, implantação, volumes e disposições capazes de atender da melhor forma os problemas e potencialidades detectados na análise inicial do objeto de projeto. Dessa forma, os estudos de caso escolhidos enquadram-se em duas tipologias distintas. A primeira, denominada ‘Unidade Exterior’, apresenta três estudos de caso que se assemelham na utilização de formas orgânicas em coberturas que unem os volumes que compõem o edifício. Nesse caso também, observa-se como essa unidade se dispõe no terreno, adequando-se suavemente ao mesmo. A segunda tipologia apresenta edifícios compostos por volumes fragmentados. Essa linha arquitetônica foi considerada desde o início dos estudos para o projeto uma vez que se mostra como uma opção adequada e dinâmica para a composição de um edifício que deve abrigar um vasto programa de necessidades e com um entorno imediato de extrema importância e significação, que deve ser valorizado pelo edifício. Assim, a condição de terreno, a necessidade de inserção na paisagem e de orientação dos usuários no sentido de explorar o entorno do edifício parece supor a escolha de um partido fragmentado. Os dois modelos referenciais exibidos oferecem pontos relevantes para a formulação do projeto. Assim, explorou-se também dois estudos de caso que podem ser vistos como uma alternativa de união entre os dois partidos inicialmente discutidos. Nesse, as formas orgânicas ou coberturas se sobrepõem à um conjunto de volumes fragmentados que incitam o direcionamento
do prédio ao externo, mas, ao mesmo tempo, o condensam em um mesmo corpo unitário. Esses dois paradigmas arquitetônicos fragmentação e compacidade - já foram também discutidos por autores como Rafael Moneo, que apresenta a ‘união’ desses conceitos em obras que transitam entre a compacidade externa e a fluidez de uma arquitetura dissolvida em formas descontínuas. Nessa tipologia que marca a arquitetura contemporânea, observamos ainda algumas obras de Rem Koolhaas e Herzog & de Meuron. Isso considerado, o projeto para o novo edifício do Museu de Arte e Centro Livre de Artes de Goiânia é e deve ser embasado por pensamentos e propostas construtivas que abarquem a paisagem, representada na figura maior do Bosque dos Buritis e do entorno repleto de formas e significados já consolidados; a fragmentação que se mostra como caminho a ser seguido num edifício que existe como ponto de uma rede maior e que deve articulá-la em suas diversas funções; e enfim a compacidade, seja essa formal ou funcional, de forma a unificar os usos e simbolismos presentes e potenciais. Projetar um museu e um centro de artes contemporâneos passa inevitavelmente por questões de interatividade, que se estabelecem também a partir e por meio da arquitetura do edifício. Assim, apresenta-se também algumas referências de interatividade em museus e espaços culturais. Esses exemplos foram escolhidos e estudados a partir da óptica de que os recursos tecnológicos e interativos são válidos e eficazes no sentido de conexão real e construção intelectual a partir do momento em que tocam pontos da memória e cotidiano do expectador, fazendo-o se reconhecer e refletir a partir daquilo. A questão da interatividade é assim e deve ser usada como uma ferramenta de comunicação que se extende além do toque tecnológico, indo de encontro ao intelecto e às emoções do visitante.
Por fim, apresentam-se sugestões de mobiliário e intervenções artísticas urbanas que vem como uma opção para minimizar o problema de falta de estruturas profundas e marcos de legibilidade na cidade, apontado no texto sobre o local. São maneiras de explorar as possibilidades de integração da rede de edifícios e estruturas urbanas já existentes. São os pontos da Rede de Integração explicada anteriormente, unidos por meio de um trajeto que pode e deve ser marcado e compreendido não só por elementos de paisagismo e paginação, mas também por intervenções artísticas e mobiliários criativos que estimulam a utilização e conexão desses espaços com a comunidade, além de os conectarem com o ponto central dessa intervenção. Entre os vários estudos de caso estudados inicalmente vimos a Biblioteca de Thionville e o Museu Lacma de Peter Zunthor que, junto com o Grace Farms, do SANAA Arquitetos, mostrou caminhos iniciais de trabalho com a unidade exterior por meio de coberturas orgânicas. Seguindo, observamos o Museu da Mineração Allmannajuvet também de Peter Zumthor e o Museu Solages da RCR Arquitetos que nos deram diretrizes iniciais sobre projetos com volumes fragmentados feitos de forma admirável em relação à escala local, sensibilidade de implantação, fragmentação, respeito e integração à paisagem. O estudo detalhado desses nos conduziu à permanência de dois dos estudos de caso apresentados inicalmente, Grace Farma e Centro Intenacional para as artes, que reunem em sua forma os principais pontos referenciais utilizados na concepção projetual; e a adição de outros estudos de caso como o novo Museu de Budapeste do SANAA Arquitetos e alguns exemplos de museus que trabalham a questão da interatividade. Todos esses exemplos se unem de forma a conduzir a elaboração do programa de necessidades e partido arquitetônico de forma mais completa possível e sempre considerando o entorno, a implantação, as funções, os simbolismos e a transposição desses valores nas formas e volumes do edifício a ser propposto.
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UNIDADE EXTERIOR Grace Farms Arquiteto (s): SANAA Arquitetos Data: 2015 Localização: New Canaan, Estados Unidos Área: 7.710 m² Programa: Edifício polivalente destinado à Igreja local e outros grupos sem fins lucrativos e comunitários selecionados. Local destinado para as amenidades e programas públicos que vão desde cafés, debates, concertos intimistas e aulas de arte e atletismo para uma série multidisciplinar de projetos e eventos. Materialidade: vidro, concreto, aço e madeira Pontos referenciais: sensibilidade de implantação, adequação à topografia, leveza, atividades múltiplas desenvolvidas ao longo de volumes fragmentados, formação de visuais e enquadramentos de visão, escala local, programa educacional e cultural
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VOLUME FRAGMENTADO Centro Internacional para as Artes José Guimarães Arquiteto (s): Grupo Pitagoras Data: 2012 Localização: Guimarães, Portugal Área: Programa: Centro de Artes – galeria, laboratórios e oficinas Materialidade: aço corten, concreto, placas metálicas Pontos referenciais: volume fragmentado, implantação no terreno em declive, programa que combina centro de exposições e escola de artes, abertura e condução do olhar ao exterior urbano
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ENTRE Museu Ludwig e Nova Galeria Nacional de Budapeste Arquiteto (s): SANAA Arquitetos Data: 2015 (projeto) - 2018 (construção) Localização: Budapeste, Hungria Área: 21.508 m² Programa: Museu Materialidade: Pontos referenciais: pontos de entrada de luz natural, volume fragmentado, inserção em um parque urbano, inserção no terreno, concentração de duas instituições em um mesmo edifício, praça criada entre os ambientes, elemento de acesso aos diferentes níveis integrado ao conjunto arquitetônico, volumes fragmentados que são ‘unidos’ / integrados pelos terraços, praças e espaços ativos que se formam ao longo do prédio e estimulam as relações pessoais e espaciais, espaço público contemporâneo - cidade, paisagens e salas de exposição são parte da experiência
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ENTRE
INTERATIVIDADE Museu Parlamentarium Autor: Atelier Bruckner Data: 2011 Localização: Bruxelas, Bélgica Área: 5 400 m² Programa: Museu Pontos referenciais: interatividade – tecnologia, interação do toque (“hands-on ”)
Museu da Resistência e da Deportação de L’Isère Autor: Jacques Rome Data: 1994 Localização: Grenoble, França Área: 1 100 m² Programa: Museu Pontos referenciais: interatividade – conexão intelectual, questionamentos (“minds-on ”)
Museu da Maré Autor: construção coletiva – Comunidade do Morro da Maré Data: 2006 Localização: Rio de Janeiro, Brasil Área: 800 m² Programa: Museu Pontos referenciais: interatividade – conexão emocional, objetos afetivos (“hearts-on ”) 59
INTERVENÇÕES URBANAS
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DIRETRIZES.
VÃrus, Siron Franco, 2002
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DIRETRIZES Em resumo, a situação dos museus começa em casa. A situação é muito simples: nós estamos habituados a museus épicos mas o que precisamos são histórias. Nos museus, nós estamos habituados a representações, mas o que precisamos são expressões. Nós estamos habituados a ter monumentos, mas o que precisamos são de casas. (Pamuk, Manifesto for Museums, 2017)
Na conjuntura urbana atual não há mais espaço para a separação entre museu-comunidade, museu-sociedade e, consequentemente, entre museu e cidade. Dessa forma, o projeto para o desenvolvimento de um novo programa arquitetônico para o Museu de Arte de Goiânia vem para concretizar este fato e incentivar, por meio de um espaço adequado, a promoção da arte e da cultura. Um museu que atue na formação e divulgação cultural local e que esteja em constante articulação com o seu entorno de edificações e vivências, e, por meio disso, potencialize as integrações sociais e espaciais. Um projeto que parta da ideia de que um museu deve ser um lugar de prazer, aprendizado, troca e reconhecimento. Um plano que preveja a infraestrutura correspondente e responda às atuais necessidades com propostas apropriadas e ao mesmo tempo inovadoras tecnológica e economicamente, de maneira que o funcionamento do museu e de suas estruturas associadas seja viabilizado em todos os sentidos pela arquitetura. Diretrizes que consideram o contexto de implantação e usos como um todo e que busquem o aproveitamento desse potencial. A análise anterior do local, assim como dos estudos de caso e escalas de atuação, conduz à um diagnóstico que identifica diversos problemas a serem solucionados e potencialidades a serem trabalhadas como oportunidades projetuais. Em síntese, são eles:
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PROBLEMAS
Comunicação e Estrutura do Objeto Arquitetônico Precariedade estrutural do edifício atual - espaço físico insuficiente para atender as demandas e atividades do Museu e do Centro Livre de Artes; ausência de um programa de necessidades atrativo e adequado em termos de áreas, instalações e equipamentos para o desenvolvimento das atividades institucionais. Grande área do terreno destinada ao edifício tomada por estacionamento (que ainda assim é insuficiente para o número de usuários). Forma e volume edificados inexpressivos e que tornam o MAG e o CLA invisíveis aos olhos externos, sem grandes atrativos visíveis.
Implantação e Acessos Circulação do edifício e do entorno precárias. Parque urbano com equipamentos culturais, porém a implantação destes não favorece seus usos e não estabelece relações com o entorno. Localização dos equipamentos nas bordas da área do Bosque, como se esses não fossem parte integrante desta, criando um limite entre a “natureza intocada” e a cidade, estabelecendo um espaço fragmentado e limitando a ação do Bosque como conjunto. Parte voltada para o Setor Oeste (acesso da rua 01 e principal acesso do MAG e do CLA) recebeu tratamento apenas de adequação do acesso dos edifícios, que seguem invisíveis aos usuários, sendo subutilizados – entrada pequena, escondida e conjunto e entorno sem sinalização.
Limitações Legais e Ambientais Atividades comerciais no entorno do Bosque que culminam no despejo de lixo, retirada de áreas de mata ciliar, lançamentos clandestinos de esgoto, lançamentos clandestinos de entulho, e a ocupação irregular de faixa de ZPA-I (Zona de Proteção Ambiental). Restrições legais e ambientais devido à presença de áreas de preservação vegetal e hídrica.
POTENCIALIDADES
Localização Posição privilegiada na malha urbana com pontos de interesse arquitetônico e paisagístico presentes no entorno imediato. Existência de infraestrutura básica no entorno e no terreno. Boa acessibilidade e conexão aos diferentes tipos de modais. Existência de eixos de integração e deslocamento no circuito macro e micro
O Bosque dos Buritis Forte possibilidade de diálogo entre o paisagismo e a arquitetura. Local já visto pela população e pelas autoridades como espaço público e palco de manifestações culturais. Existência e possibilidade de ampliação do lazer contemplativo ou ativo e diversidade de usos e atividades no Bosque e no entorno. Existência de legislação que protege e trabalha na conservação e reconsolidação das áreas ambientais frágeis abrigadas pelo conjunto. Utilização e comunicação do eixo do Córrego Buriti. Presença de proteções contra a forte incidência solar e de ventos.
Simbolismo Representatividade local - contexto artístico, histórico e cultural local existente e significativo. Região consolidada espacial, utilitária e simbolicamente perante a sociedade local. Centro Livre de Artes Instituição bem consolidada e de grande procura por parte da população.
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Atitude Ativa
e Reflexiva
Marilyn G. Hood (1983, 51) na obra Staying Away: why people choose not to visit museums, sobre estudos de públicos, salienta um conjunto de critérios fundamentais que o museu deve oferecer para que constitua uma atração de diferentes públicos como a capacidade de interação social, fazer algo de útil, o sentimento de agradabilidade, corresponder a desafios e sentir novas experiências, a oportunidade para aprender coisas novas, ter uma atitude ativa. O museu reflexivo é aquele que se auto examina como forma de se construir e de ser capaz de satisfazer o tão aspirado compromisso de construção cultural com a comunidade. Os programas de qualidade fazem conexões artísticas com o ambiente local. Essa ligação aumenta a relevância do projeto. Através da utilização de artistas locais e de obras de arte, de museus locais e outras instituições culturais. Além disso, o museu deve estar atento, respondendo às suas funções histórica e social. Estudiosos como Maurice Halbwachs e Pierre Nora realizaram estudos a respeito de lugares nos quais ou a partir dos quais a memória de um povo é construída, solidificada e propagada às futuras gerações. Dentre esses lugares, os museus se destacam como possuidores de uma carga histórica e identitária incontestável. Seguindo nessa linha de pensamento, procura-se conhecer mais a respeito da relação entre patrimônio e memória, e promover no ambiente do museu o reconhecimento por parte da população de sua identidade e história. Espaços culturais e símbolos urbanos passa também pela ressignificação desses pontos e percursos. Assim, a expressão artística existente será fomentada com a criação do novo edifício do MAG e do CLA, e deve se estender pela cidade de forma a recaracterizar esse espaço histórico e urbano perdido ao longo do tempo no imaginário local e assim valorizar numa via de mão dupla a produção artística local e a cidade no seu conjunto expressivo urbanístico. Reconectar as escalas de uso, relação, entendimento e compreensão histórica e urbanística do conjunto de edifícios e estruturas urbanas.
Redes de
Colaboração As redes são formadas por alguns elementos básicos: os pontos ou nós, que são normalmente elementos da mesma natureza (instituições ou pessoas, por exemplo); as relações entre estes pontos, que podem ser representadas por linhas unindo os nós, a própria arquitetura que a rede configura, e os fluxos dentro da mesma. A autora Manuelina Duarte diz em sua obra Desafios da Museologia Contemporânea que “Independentemente do tipo de pontos ou unidades (nós), os padrões de organização das redes costumam resultar em arquiteturas que se caracterizam por áreas mais densas e por pontos mais “marginais” nas redes, que possuem menos aderência ou menos conexões (Martinho, 2016).” Assim, é necessário que a arquitetura do novo Museu de Arte de Goiânia ofereça espaço e estrutura física com possibilidade de futuras expansões e espaço para o desensolvimento de exposições e atividades educativas que possam integrar os visitantes e outras instituições. Arquitetura acessível espacial e culturalmente, capaz de atingir e agregar para os museus o não-público que representa hoje 70% da população nacional. Lembramos as advertências de Soulier (2013), que na sua tese propôs dar a palavra aos autóctones e questionar a capacidade das exposições dos museus expressarem diferentes pontos de vista. Para esta autora, o museu afirmase como um lugar de reconhecimento não somente quando promove relações entre visitantes e exposições, mas quando se apresenta também como um espaço de produção. Hoje, é importante que o museu se coloque numa posição de abertura para que a construção de conteúdos e a produção de sentidos sejam propostas pelas comunidades e não somente de dentro para fora. O próprio ICOM sugere quatro abordagens para este tema: conexão entre objetos da coleção em exposições criadas para apresentar uma narrativa; relações intergeracionais potencializadas pela conexão entre a comunidade e uma história viva; apresentação moderna do patrimônio utilizando as novas mídias de comunicação e mediação; e a colaboração entre museus e outros tipos de organizações.
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Cárater Educaional e
Formação Artística Diversa O museu sugere novas e diferenciadas relações com a sociedade, atribuindo a si próprio, também, a função de formar o ser humano para o exercício da cidadania, através das mediações entre o acervo exposto e o público. (Oliveira, 2013, p.3) O Centro Livre de Artes atua como mediador entre acervo e o público no sentido de comunicação, produção e formação. Destaca-se aqui a função educativa do museu e a necessidade de uma arquitetura que forneça espaço adequado para o desenvolvimento de atividades como aulas de dança, música, desenho, pintura; e que tenha relação colaborativa com o museu para que um possa fornecer subsídio e incentivo intelectual e espacial para o outro. Ainda nesse sentido, busca-se construir um espaço adequado para a realização de ações educativas tais como visitas guiadas, palestras, debates e mostras de arte integradas. É necessário que exista a conexão/integração física e funcional com o Centro livre de Artes. Os museus são instituições ao serviço da sociedade e procuram através das ações educativas tornarem-se elementos vivos dentro da dinâmica cultural das cidades. (Sandell 2002; Souza 2002). Pintura, esculura, literatura, música, são mais próximos uns dos outros do que imaginamos normalmente. Eles todos exprimem os sentimentos humanos em face à natureza. Não há nada mais do que meios de expressão variados. (Rodin, 1911, p. 17)
Além disso, ressalta-se a necessidade de se pensar a criação e incorporação de espaços já existentes para o desenvolvimento de aulas e apresentações de manifestações artísticas não-tradicionais, como batalhas musicais, circo, espetáculos e performances que, apesar de assim nomeadas, estão cada vez mais presentes como formas de manifestação cultural e devem ser contempladas pelo conjunto arquitetônico.
Fluxos e
Circulação Considerar e estudar os fluxos já existentes, assim como os que serão formados e integrá-los ao formato e disposição dos ambientes de forma que esses sejam favoráveis à organização dos conteúdos e seleção dos objetos. Verificar e buscar montar o conjunto edificado de acordo com a relação entre as áreas e seus acessos segundo as rotinas de trabalho, como por exemplo, o fluxo que parte da recepção, passando pela desembalo, registro até chegar à reserva técnica. A Rede de Integração explanada anteriormente demonstra a extensa possibilidade de conexões com o entorno e a necessidade de formação dessa rede histórica e cultural. Os eixos principais que estruturam o edifício em si partem dos eixos já existentes nas linhas do Bosque e do traçado urbano central. A consideração e ênfase nesses eixos reforça a conexão já mencionada entre cidade - bosque - museu - centro livre de artes. No edifício em si, pensa-se na relação entre os ambientes em questões de trânsito e atividades, e também na posição desses em relação ao entorno para as fronteiras de público e privado que se estabelecem e se dissolvem de maneira diferente em cada espaço. Além disso, prevê-se a criação de eixos gerais que percorram o edifício como um todo oferecendo essa leitura do espaço e melhor distribuição das diversas atividades. Um exemplo é a criação de dois fluxos internos: o primeiro, mais tradicional, percorrer os espaços expositivos e de atividades de acordo com a circulação do nível e disposição das obras; e um segundo que se estabelece por meio das rampas de acesso às escadas e diferentes praças - terraços que se formam no nível superior criando uma sequência de espaços sociais ativos que se conectam e conectam o edifício externamente como um todo.
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Cárater Local e entorno
O autor turco Orhan Pamuk, venceu o prêmio Nobel de literatura em 2006 com o seu romance Museu da Inocência e posteriormente transformou o seu livro em um Museu na cidade de Instambul que remonta a história do protagonista do romance e materializa o seu Modest Manifesto for Museums. Nesse último, o escritor afirma que “Grandes museus com suas amplas portas nos convidam a esquecer nossa humanidade e abraçar o estado e suas massas humanas. É por isso que milhões fora do mundo ocidental têm medo de ir a museus. ” É necessário mudar a estatística atual de 70% da população brasileira que nunca visitou um museu e essa transformação passa primordialmente pela acessibilidade proposta e oferecida pela arquitetura do museu – colocá-lo em contato com o seu entorno, em uma escala que torne o edifício visível mas não monumental a ponto de ser opressor ou inatingível. Formas e eixos que conduzam o visitante em seus percursos de forma acolhedora e de fácil compreensão. Implantação adequada e que aproveita as formas e vistas do Bosque, formas de respeito ao entorno como o uso da área que já esta desmatada. Além disso, considerar o estacionamento subterranêo de forma a suprir a necessidade de uso porém sem alterar a área ja utilizada e aumentando a capacidade de área e uso do edifício em si. Permeabilidade e conexão com o parque e com a cidade. Os eixos claros e diretos convidam as pessoas à estabelecerem essas conexões e assim extabelecerem suas próprias rotas e percursos cheios de descobertas. A arquitetura de estende de maneira horizontal, deixando o chão livre para a apropriação e criação dessas interações. A possibilidade de vista e entrada de todos os lados reforça essa permeabilidade e contribui para a criação de vistas do entorno vegetal. A praça e os espaços circundantes fazem o edifício criar uma camada que se dissolve na paisagem.
Identidade e
Interatividade
Criar junto ao edifício uma identidade visual característica do Museu que seja consolidada e divulgada para de modo a atrair cada vez mais visitantes e colaboradores para o espaço. Os estudos de caso apresentados anteriormente também conduzem a concepção do projeto em um oartido arquitetônico fragmentado que se abre em direção ao Bosque dos Buritis e em sua forma conduz visual e espacialmente o visitante em direção ao Bosque e ao percurso da Rede de Integração. Um edifício fragmentado e ao mesmo tempo unificado de forma à congregar em si diversas atividades Interagir físicamente com o Bosque de forma a criar um edificio expressivo, mas não agressivo. O museu com foco nas artes visuais permite que os seus usuários busquem pelas outras formas de expressão artística em outros endereços, fomentando assim o uso de outros locais de formação e exibição cultural já existentes na cidade. Estimula-se assim também a consolidação da Rede de Integração proposta de forma que a população local e visitante seja incitada à cultura num primeiro momento de visita ao museu e que prossiga a partir disso nesse consumo e descoberta culturais ao longo do percurso urbano. Aproveitar as novas formas de interatividade oferecidas pelos recursos tecnológicos atuais mas não limitar-se à interatividade hands-on. O toque, a permeabilidade de partes do acervo e do edifício são importantes para a comunicação e troca do mesmo com a comunidade. Porém, uma arquitetura que acolha seus visitantes, que abra visuais e nichos de interação com o entorno natural de luz e vegetação, volumes e formas que remetem à arquitetura tradicional da cidade, elementos e materiais que fazem parte da memória coletiva, tudo isso forma nos alunos do CLA e visitantes do MAG uma conexão que vai além do tato físico, atingindo a mente e às emoções do indivíduo de maneira à construir uma experiência inesquecível.
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ELEMENTOS ESTRUTURADORES
50.3 m x 78.8 m TERRENO
Área disponível: 4 000 m2
BOSQUE MÓDULOS PRAÇA SUPERIOR OU INFERIOR NÃO QUEBRAR OS ESPAÇOS + intimista
+ público
RUA 01
LIMITES VEGETAIS E EIXOS DE CIRCULAÇÃO BOSQUE DOS BURITIS
AUDITÓRIO ADMINISTRAÇÃO ALIMENTAÇÃO E CONVIVÊNCIA
comuns às duas instituições
área (central) de distribuição de FLUXOS e ATIVIDADES Av. Universitária
Praça Cívica
PRAÇA CÍVICA
Rua 26 BOSQUE
ACESSOS edifício
Entrada Principal Bosque dos Buritis
Praça MAG - CLA
BOSQUE Bosque
CLA MAG EIXO PRINCIPAL conexão e circulação
BOSQUE RUA 01
Entrada Rua 01 75
PROGRAMA DE NECESSIDADES.
Situação Horizontal, Siron Franco, 2015
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ELABORAÇÃO A elaboração do Programa de Necessidades para o novo edifício do Museu da Cidade e do Centro Livre de Artes de Goiânia foi feita a partir da análise e reunião de uma série de dados e fatos que foram constatados ao longo dos primeiros capítulos. Nos estudos sobre o tema e justificativa, observou-se a necessidade de incorporar ao projeto ambientes, fluxos e circulações que representassem e/ou fossem capazes de abrigar os usos e atividades do edifício com todos os seus simbolismos e valores agregados às instituições e ao local ao longo dos anos. Com os mapas temáticos e estudos do local, foi possível observar igualmente as possibilidades de integração entre edifício e entorno (nesse caso, considera-se o Bosque como entorno imediato). Dessa forma, produziu-se inicialmente o mapa representado ao lado de Usos e Potencialidades no Bosque dos Buritis de forma a identificar pontos já existentes ao longo da área do Bosque os quais podem ser usados para abrigar atividades integrantes e complementares às que serão desenvolvidas no MAG e no CLA. É o caso por exemplo do Teatro de Arena localizado alguns metros à frente do terreno da intervenção onde podem ser realizadas atividades e apresentações dos próprios alunos do CLA e também outras manifestações artísticas como circo, batalhas de rap e apresentações de dança e música em geral que por vezes não são contempladas pelas aulas tradicionalmente oferecidas no Centro Livre. A avaliação dos aspectos legais e ambientais também permitiu firmar a escolha sobre a manutenção do mesmo terreno para a construção do novo edifício, somando uma área total de cerca de 7 000 m2, contando apenas com pequenas expansões, de maneira a evitar ao máximo a retirada da vegetação existente e de intervenção na disposição atual do Bosque com as divisões de áreas de preservação e intervenção. Partindo desses aspectos iniciais, procurou-se
também analisar o programa de necessidades atual das duas instituições e suas áreas e funções como base. Com isso, foi realizado também um questionário com um funcionário do museu e um do centro onde foram apontados problemas a serem solucionados no programa existente, como as salas de aula com capacidade insuficiente para o número de alunos matriculados e locação dos materiais e equipamentos utilizados nas aulas; a área da reserva técnica do museu que é extremamente pequena e sem a estrutura necessária para salvaguarda do acervo; entre outras áreas e ambientes inexistentes ou em geral com áreas bem abaixo do necessário, compremetendo o funcionamento das instituições internamente e no acolhiemento do público. Em seguida, usou-se as recomendações de livros e teses sobre planejamento de museus e escolas de arte e realizou-se a análise do programa de alguns estudos de caso que possuem usos e situações semelhantes de forma que foi aplicado um processo de compatibilização de dados que identificou os ambientes comuns a todos os estudos de caso e suas respectivas áreas chegando assim ao resultado de quais ambientes seriam incorporados ao novo programa. Para o número de usuários, analisado o Quadro de atividades e organização institucional CLA e do MAG, considerouse os valores médios atuais - 40 visitantes/ dia no MAG e 375 alunos/turno no CLA - 20 funcionários no MAG e 45 no CLA - uma vez que, como já mencionado nas diretrizes, pretende-se manter o caráter local das instotuições e distribuir essas atividades ao longo dos vários pontos existentes na cidade a serem conectados pela Rede de Integração. Nesse sentido, os cálculo das áreas mínimas o qual tem seus valores apresentados na tabela abaixo foi elaborado a partir da consideração de todas essas variáveis aplicadas às normas e legislações para cálculo de áreas.
Usos e Atividades no Bosque dos Buritis
1
Área para esportes
2
Área para convívio e contemplação
3
Teatro de Arena
4
Área para convívio e contemplação
5
Área de piquenique
6
Área para convívio e contemplação
7
Área de vegetação aberta - gramado
8
Área para alimentação e lazer
Programa de Necessidades atual
CLA
• Área total do edifício atual: 1 451.75 m² (1 500 m²)
• Área total terreno previsto: 6 6 956.55 m² (7 000 m²)
• Área total do Bosque: MAG
124 800.00 m²
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PROPOSTA Com todas as análises de estudos de caso e do programa de necessidades atual, montouse o quadro de áreas. Apesar de desde o início serem consideradas para ficarem locadas no mesmo edifício, as duas instituições tiveram seu quadro de áreas e zoneamento feitos inicialmente separados de forma a entender melhor a disposição e circulação dos ambientes que compõem o programa de necessidades de cada um. Posteriormente, os dois zoneamentos foram olhados e observados em conjunto e assim percebeu-se a existência de alguns ambientes que poderiam ser comuns às duas instituições, como o auditório e a área de alimentação e convivência, já dando assim algumas indicações sobre o zoneamento do conjunto. Da mesma forma, o uso de cada um dos espaços e as relações entre eles determinou a proximidade dos ambientes para facilitar os fluxos recorrentes, como acesso e informação dos visitantes, montagens de exposições e atividades com os alunos. Para a montagem desse zoneamento inicial, os diversos ambientes de cada uma das instituições foram agrupados em setores que determinam assim ambientes com funções próximas e complementares, oferecendo assim um quadro de áreas geral mais amplo que permite a realização dessa disposição dos ambientes no terreno nesse primeiro momento e que será depois mais detalhada com fluxos e áreas divididas.
As áreas de estacionamento, que apresentam um problema na configuração atual do edifício, foram calculadas a partir da NBR 9050, considerando o uso do edifício e as demandas de vagas especiais. Ao valor final da área total do edifício foi feito um acréscimo de 30%, o qual é implantado nesse cálculo inicial para suprir as áreas de instalações, paredes e circulações não previstos. No quadro de áreas, apresenta-se também as instalações necessárias que devem ser previstas em cada um dos ambientes (água – eletricidade – exaustão – climatização – esgoto – telefone – internet - gás).
Mais uma vez o foco para o programa de necessidades passa pela integração entre arquitetura e paisagem. Essa linha arquitetônica foi considerada desde o início dos estudos para o projeto uma vez que se mostra como uma opção adequada e dinâmica para a composição de um edifício que deve abrigar um vasto programa de necessidades e com um entorno imediato de extrema importância e significação, que deve ser valorizado pelo edifício. Assim, a condição de terreno, a necessidade de inserção na paisagem e de orientação dos usuários no sentido de explorar o entorno do edifício parece supor a escolha de um partido fragmentado.
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CLA O CENTRO LIVRE DE ARTES As aulas e atividades oferecidas pelo Centro Livre de Artes a tantos anos foram o ponto de partida e linha condutora para a elaboração do programa de necessidades e zoneamento do edifício que irá abrigá-lo. A formaçõ artística diversa do centro configura o setor de aulas como o maior do conjunto em área. A opção de manutenção desse setor na extremidade norte do terreno (e do conjunto), indicada já nas diretrizes, foi feita para que essa área mantenha o contato físico e visual direto com o Bosque, fato esse que estimula significativamente o desenvolvimento criativo e harmônico das aulas. Além disso, a orientção e abertura das salas para essa parte permite uma relação de entorno mais intimista que na porção voltada para a rua 01, oferecendo assim mais liberdade para as atividades ao ar livre com os alunos e concentração para as práticas individuais.
lanchonete e área de alimentação e convivência, destinado ao uso de alunos, pais e funcionários. Os estabelecimentos podem ser de responsabilidade do CLA - MAG ou podem funcionar sob caráter de arrendamento, sendo de administração terceirizada.
O Setor Administrativo abriga os ambientes e atividades responsáveis pela organização funcional interna do CLA – corpo discente, corpo docente e funcionários administrativos. Acompanha e avalia o desempenho e a produtividade dos servidores do CLA. Controla a freqüência, férias, licenças, limpeza do prédio e o arquivo e o almoxarifado. Tem acesso parcialmente restrito.
1 400 alunos | 45 professores | 25 funcion.
O Setor de Manutenção controla a integridade física do edifício, limpeza, segurança dos recursos físicos e de todo corpo discente e docente. Responsável ainda pela comodidade e bem-estar do pessoal, preparo de alimentos, bebidas e manutenção da copa. Tem acesso restrito a funcionários. O Setor de Aulas acomoda o desenvolvimento das atividades e aulas oferecidas pela instituição. Tem acesso parcialmente restrito (aberto a alunos, pais e funcionários). O Setor de Alimentação, comum às atividades de mesma função do MAG, é um espaço equipado com
O Auditório, também de uso comum das duas instituições, é pensado para o atendimento das apresentações e eventos inerentes ao CLA – oferece aos alunos a possibilidade de convivência com o palco e com exposições, além de possibilitar aos alunos, pais, professores e toda à comunidade a possibilidade de assistirem a palestras, espetáculos e conferências de assuntos de interesse do museu e do centro de artes.
ÁREA TOTAL : 3 345 m2 ADMINISTRATIVO : 325,00 m2 | acesso restrito | parcialmente restrito MANUTENÇÃO : 50,00 m2 | acesso restrito AULAS : 1 285,00 m2 | acesso parcialmente restrito ALIMENTAÇÃO E CONVIVÊNCIA : 532,00 m2 | acesso público AUDITÓRIO : 386,00 m2 | acesso parcialmente restrito ESTACIONAMENTO: 1 365,00 m2 | acesso visitantes, funcionários e alunos
BOSQUE
MAG | RUA 01
83
85
MAG O MUSEU DE ARTE DE GOIÂNIA De acordo com o livro Orientações para Gestão e Planejamento de Museus, da autora Manuelina Duarte, “é a edificação que tem que ser adequada ao museu, não o contrário. Depois de definidas premissas como a missão e delineados o acervo e o porte da instituição (que implicam quantas pessoas irão trabalhar, qual a capacidade de carga necessária) é que se pode dimensionar a edificação.”
Esquema de organização de um Museu em pequeno porte entrada/recepção
administração
sala de exposição
setor técnico
acesso público acesso restrito
Assim, o programa arquitetônico do Museu envolve planejamento territorial, criação de ambientes e percursos e organização de um conjunto de fluxos e ambientes que maximizem a capacidade de apreensão e vivência do espaço e das obras que ele expõe, assim como de adequado armazenamento e transporte das mesmas.
Esquema de organização de um Museu em pequeno porte (COSTA, 2006, p.87)e
Esquema de organização de um Museu em médio porte entrada/recepção
salas de exposição biblioteca/midiateca
As salas de exposições, juntamente com a recepção e a área de reserva técnica compõe as áreas mínimas que formam o conjunto museal. Partindo dessa premissa, são pensadas e dispostas as áreas de forma que as obras comuniquem e sejam salvaguardadas. Tal comunicação envolve não só a exposição das obras em si mas também a existência e integração com espaços de atividades e exposições multimidias que auxiliam no entendimento e aprendizado cultural como um todo. Os espaços de museus devem ser postos em diálogo com necessidades específicas quanto à tipologia dos acervos, à missão ou ao porte da instituição. Nesse caso, remonta-se às diretrizes do caráter local e porte médio do museu de forma a conduzir os visitantes em caminhos que os remetam à essa escala local. mais do que isso, mantem-se a capacidade pequena de visitantes e os espaços de reserva técnica que vem para conservar e tratar bem o acervo existente e não ampliá-lo numa escala global. A morfologia identificada com as funções da tipologia e com a presença de espaços para os serviços são imprescindíveis, além de instalações técnicas para segurança e climatização.
administração
diretoria/secretaria
setor técnico
laboratório/oficinas conservação/restauro reserva técnica
auditório salas de cursos especializados
acesso público acesso restrito
Esquema de organização de um Museu em médio porte (COSTA, 2006, p.87)e
50 visitantes por dia | 25 funcionários ÁREA TOTAL : 1 960 m2 ADMINISTRATIVO : 180,00 m2 | acesso restrito | parcialmente restrito MANUTENÇÃO : 52,00 m2 | acesso restrito EXPOSIÇÃO E SALVAGUARDA : 1 185,00 m2 | acesso público | restrito ALIMENTAÇÃO E CONVIVÊNCIA : 92,00 m2 | acesso público
CLA | BOSQUE
eixo de distribuição de funções e conexão CLA - MAG
SAÍDA
RUA 01
passando pela loja e pelo café
87
Entrada | Sala Segurança | Guarda-Volumes Saguão orientação | informações Loja | Livraria Departamento educacional, recreação e visitas Inclusão áudio visual Biblioteca | Midiateca Auditório | Restaurante | café Sanitários sociais
Área Pública não expositiva
Exposições longa duração Exposições curta duração Área de descanso e circulação Sanitários
Área Pública expositiva
Chegada e Saída de Material | Climatização Sala de preparação para exposições e workshops Laboratório de conservação e restauro
Área Não Pública com coleção
Administrativo Manutenção
Área Não Pública sem coleção
89
PARTIDO.
Visão n 42, Siron Franco, 2013
91
. BLOCO CENTRAL DE ACESSO DOIS EIXOS PRINCIPAIS DE ACESSO E CIRCULAÇÃO QUE ESTRUTURAM E COORDENAM O DESENVOLVIMENTO DOS AMBIENTES, ATIVIDADE E FUNÇÕES CONEXÃO COM O ENTORNO A PRAÇA QUE SE ESTENDE A PARTIR DO NÚCLEO CENTRAL PELOS EIXOS EDIFÍCIO - BOSQUE - CIDADE O EDIFÍCIO SE TORNA PARTE DO PERCURSO PRINCIPAL E NÃO É MAIS INVISÍVEL ZONEAMENTO QUE CRIA BLOCOS DE ATIVIDADES E VOLUMES QUE SE FORMAM A PARTIR DOS FLUXOS E USOS FRAGMENTAÇÃO E DINAMICIDADE 93
MACRO A proposta para a intervenção an escala macro parte dos pontos de interesse e eixos de integração existentes entre eles, identificados durante a análise do local.Apesar de não ser o ponto principal de intervenção do projeto, essa escala maior representa um ponto essencial na criação e funcionamento do edifício como um todo no sentido das questões históricas, simbólicas e culturais que ele busca resgatar e desenvolver. Assim, propõe-se nesse primeiro momento a paginação e a criação de algumas estações informativas ao longo do percurso. Escolheu-se um recorte menor para a realização do estudo de intervenção uma vez que a rede de integração como um todo representa uma parcela bastante extensa; o raio que abrange Praça Cívica e Bosque dos Buritis foi então escolhido por abrigar a maior concentração de pontos de interesse próximos, os quais estão posicionados entre dois locais de intenso fluxo e uso (Pç. Civica e Bosque dos Buritis).Esses dois pontos foram os inicialmente pensados para abrigar essas estações que funcionarão como marcos urbanos, dotados de mobiliário (lixeira, bancos, brinquedos, etc) e tótens informativos que falam sobre o ponto da estação, sobre os locais próximos e os percursos e histórias que os conectam.
ESTUDOS
Estação Av. Goiás e Av. Anhanguera: dois eixos principais, terminal de ônibus, grande fluxo de pessoas, próximo de vários pontos da Rede de Integração
Uma vez identificados os eixos que são vias importantes na mobilidade urbana e que também permeiam vários desses pontos, optou-se por selecionar os principais (escohidos de acordo com a capacidade de fluxo, mobilidade urbana e proximidade com maior número de pontos de interesse). Por serem vias existentes, estudouse também como implantar essa paginação em cada um deles, podendo ser em calçadas e/ou canteiros centrais. Algumas opções de piso foram desenhadas a partir das formas de flores do cerrado, como forma de tocar mais uma vez os locais de memória locais. O resultado final geométrico permitiu ainda o desenvolvimento das estações que têm sua forma a partir do desenho do piso - as peças se deslocam do plano horizontal do piso e formam mobiliários, canteiros verdes e áreas de convivência.
Paginação Rede de Integração Flores do Cerrado
Estação Praça Cívica grande área de concentração e distribuição de fluxos
Lobeira
Catedral Metropolitana ESTAÇÃO
Pontos de Interesse Rede de Integração
Praça Cívica
Algodão
ESTAÇÃO
Praça do Bandeirante ESTAÇÃO
Teatro Goiânia ESTAÇÃO
Bosque dos Buritis MAG - CLA Pequi
Percursos a serem tratados em termos de paginação e paisagismo
ESTAÇÃO
95
EIXOS E ESTAÇÕES
3
4
Eixos a receber tratamento de paginação e estações 2
Pontos Rede de Integração
1
PAGINAÇÃO
1
ESTAÇÃO BOSQUE DOS BURITIS mag - cla - córrego buriti - bosque - entorno
2
ESTAÇÃO PRAÇA CÍVICA praça - história urbana - edifícios e rotas entorno
3
ESTAÇÃO AVENIDA GOIÁS pontos entorno - fluxos e vivências local
4
ESTAÇÃO TEATRO GOIÂNIA pontos entorno - locais de cultura - arquitetura
ESTAÇÕES
MÓDULO PISO Estação Avenida Goiás: 110 m2 Estação Teatro Goiânia:145 m Estação Praça Cívica: 325 m2 Estação Bosque dos Buritis: 90 m2
Ponto Bicicletas Municipais Ponto de Ônibus
97
MICRO Os estudos para o partido partiram das áreas e zoneametos do programa de necessidades.Esses foram pensados dediversas maneiras pensando inicialmente nos limites do terreno existente, o qual posteriormente teve seus limites ampliados em porções que não afetam a configuração do Bosque e que permitem uma volumetria mais dinâmica e a criação de espaços centrais de fluxo e circulação mais permeáveis.
ESTUDOS
Nesse sentido, também foram desenvolvidas algumas tipologias de volume pensadas a partir desses blocos de atividades que surgem a partir dos setores estabelecidos no programa de necessidades e são usados aqui como referência para criação de proporções de escalas e áreas. A tipologia do volume fragmentado se mostrou ao longo do trabalho como a opção a ser seguida e assim buscou-se maneiras iniciais de fragmentar essa volumetria: deslocamento vertical dos volumes, deslocamento horizontal, e por fim nos dois eixos. Desde o princípio, a implantação também é um ponto relevante que foi tralhado até o momento na ideia de um edifício em três níveis, aproveitando o desnível existente no terreno e abrindo para as visuais no nível mais elevado. Outro ponto nodal é o espaço central de distrbuição de fluxos e atividades que foi observado em estudos de caso - como o Louvre Lens do SANAA e a proposta para o Centro Pompidou de Jean Nouvel - e o zoneamento formulado a partir do quadro de áreas demonstra a criação dessa ampla área central como uma boa opção para alcançar essa permeabilidade desejada e organizar a distribuição de fluxos e atividades em um edifício que congrega tantas funções.
núcleo central distrbuição jardim - terreno aulas e atividades
Aberturas no teto e jardins internos também aparecem como possibilidades de aumentar a iluminação, permeabilidade e sensação de amplitude nas circulações. A forma da ‘praça lage ‘ainda apresenta-se inteiramente vinculada à disposição dos volumes de ambientes do térreo, e pode ser pensada no desenvolvimento do partido para ser posicionada no nível térreo de forma a
auditório alimentação loja administração exposições
NÍVEL 1 subsolo aproveitamento desnível existente estacionamento - reserva técnica acesso externo e interno NÍVEL 2 térreo entrada nível da rua 01 exposições - aulas - alimentação - adm acesso interno NÍVEL 3 primeiro pavimento visual Bosque dos Buritis praça - galeria - alimentação e convivência acesso externo e interno - rampas escultura
99
101
paisagem meio
vivência
acolhimento distribuição
praça
integração
estações orientação
ver
eixos
interação urbana
modulação
Aulas Coletivas 760 m²
Exposições 930 m²
Biblioteca e Mediateca 135 m²
103
Auditório 395 m²
Alimentação e convívio 500 m²
Aulas Individuais 380 m²
BOSQUE
RUA 01
puxar falando o que fica em cada ambiente
1
SUBSOLO estacionamento carga e descarga reserva técnica administração MAG
2
TÉRREO exposições | auditório recepção | administração CLA aulas | biblioteca e mediateca alimentação | convivência
3
PRAÇA LAGE galeria paisagismo alimentação | convivência
105
BIBLIOGRAFIA
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