Portfólio Julia Pereira

Page 1

J


julia pereira




índice introdução 6 curriculum vitae 8 concurso cabana hojoki 10

archsharing student competition

projetos acadêmicos realizados na UFRJ

joaquim silva 18 projeto de interior

frei caneca 30

projeto de interesse social

beco do pinheiro 36 projeto de edifício comercial

praça XV de novembro 42 projeto urbano e paisagístico

censura 52

projeto conceitual de cenário


6


este portfólio reúne uma amostra de trabalhos realizados durante a minha trajetória como aluna na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro entre os anos 2012 e 2017.

nome Julia M R Pereira data de nascimento 17 setembro 1993 nacionalidade brasileira endereço rua marquês de valença/56,108 cidade Rio de Janeiro contato +55 21 9 8441 3716 e-mail juliamr.pereira@gmail.com

7


curriculum vitae formação acadêmica desde 2012

Aluna de Graduação em Arquitetura e Urbanismo Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

experiências desde 2017

Estagiária no escritório Sergio Lousada Arquitetura

Tijuca, Rio de Janeiro, Brasil // desenvolvimento de projetos comerciais e projetos de interiores residenciais, realização de desenhos técnicos (anteprojeto e projeto executivo) e modelagem 3D. 2016 a 2017

Estagiária no escritório Bia Seiler Arquitetura e Design

Leblon, Rio de Janeiro, Brasil // desenvolvimento de projetos interiores residenciais, casas e empreendimentos de médio porte, realização de levantamentos, desenhos técnicos (anteprojeto e projeto executivo) e modelagem 3D, acompanhamento de obras. 2015 a 2016

Estagiária no escritório Flavia de Faria Arquitetura

Cosme Velho, Rio de Janeiro, Brasil // elaboração de histórico de patrimônio, desenvolvimento de projetos de interiores e casas de médio porte, realização de desenhos técnicos (anteprojeto e projeto executivo), modelagem física e digital, acompanhamento e supervisão de obra, em 2015

Monitora de Concepção da Forma Arquitetônica II

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (UFRJ) // montagem de aulas teóricas, apoio e orientação nos trabalhos desenvolvidos na diciplina, montagem de maquete física e material didático. Professora orientadora: Flavia de Faria

8


cursos extracurriculares em 2013

Curso de Photoshop aplicado à arquitetura Academia de Artes Visuais do Rio de Janeiro

Curso de AutoCad profissional aplicado à construção civil Curso de desenho Oberg

habilitações literárias português . língua materna espanhol . intermediário inglês . intermediário

habilitações de software autocad . avançado sketchup . avançado archicad . básico revit . intermediário adobe photoshop . avançado adobe illustrator . avançado adobe indesing . intermediário rhinoceros . básico

9


cabana hojoki Proposta para o concurso “living and working in Tokyo” organizado por Archsaring Student Competitions em 2016. Projeto em co-autoria com Caio Cavalcanti, José Guilherme M. T. Leite e Miguel Carrasco.

Logo nas primeiras frases de seu clássico ensaio Hôjôki, Kamo no Chomei equivale pessoas e as suas habitações ao fluxo de um rio em constante mudança, um testemunho à transitoriedade de todas as coisas. Ele em seguida passa a ilustrar a ideia da impermanência em uma relato dos eventos de sua vida que levaram o poeta a buscar reclusão do mundo material e concentrar nos ensinamentos do Buda, finalmente encontrando paz interior em uma pequena cabana auto-construída, de proporções mínimas, desprovida de luxo ou excessos. Ao descobrir a magnífica prosa do autor, decidimos que essa era a história que gostaríamos de contar, considerando tanto as complexidades filosóficas inerentes ao desafio quanto os paralelos surpreendentes entre o texto milenar e o concurso organizado pela ARCHsharing, cuja proposta consistia em conceber um espaço de moradia e trabalho na Tóquio contemporânea. Para reforçar a beleza estética do texto original, buscamos preservá-lo inalterado em essência ao transmitir a nossa reinterpretação contemporânea da cabana de dez pés quadrados de Chomei através do uso de ilustrações. Bem como no remake cinematográfico de Baz Luhrmann do clássico Shakespeariano Romeu e Julieta, nosso objetivo foi derivar imagens evocativas da existência reclusa do monge de maneira plausível no Japão do século XXI, simultaneamente respeitando a obra literária em sua pureza de estilo e forma. Licença poética se fez necessária para melhor adequar a história à narrativa do projeto, com algumas passagens consideradas irrelevantes suprimidas da versão final. No entanto, acreditamos que a moral e o ethos permaneçam presentes, seja em representação literal ou figurada, por toda a arquitetura resultante. Idealizado e disposto na forma de uma jornada cronológica abrangendo desde a construção de um pequeno edifício até seu inevitável desaparecimento, nosso objetivo foi fornecer um guia visual demonstrando os vários capítulos - alguns concretos, outros hipotéticos - da fruição e transformação desta particular Hôjôki. A descrição de Chomei de si mesmo como um bicho de seda diligentemente tecendo seu casulo nos inspirou a envolver a construção em uma placenta protetiva de papel de arroz, uma materialização do processo introspectivo de reclusão e redescoberta vivenciado pelo autor. Também significou a introdução de um elemento arquitetônico derivado do vernáculo japonês diretamente em contato com a natureza, assim o submetendo aos efeitos entrópicos do tempo e da atmosfera sobre a matéria orgânica.

10


11


12


13


14


15


16


A princípio uma camada protetora filtrando as visões e sons da cidade congestionada, a desmaterialização do casco deste caranguejo-eremita - outra imagem suscitada por Chomei para se descrever - serve de lembrete da constante passagem do tempo e da inevitabilidade de seu efeito atrofiante, evidente na decomposição lenta mas infalível do exoesqueleto de papel "como folhas mortas que se acumulam nos beirais e musgo crescendo pelas fundações." Conforme explicado pelo autor, o edifício é construído simplesmente ligando madeiras com acessórios de metal - um método, cita Chomei, que faz de toda a estrutura facilmente desmontável e transportável caso seja necessário reciclar, realocar ou reconstruir. Após a desmontagem das treliças de madeira e do revestimento, tudo o que resta é a escada de concreto situada no canto mais profundo do lote, sugerindo caso desejável - a sua reutilização pelas próximas gerações a ocupar a terra. "As pessoas e suas habitações," afinal, "são como espuma na água, bolhas estourando e desaparecendo enquanto outras sobem para substituí-las, nunca por muito tempo."

17


joaquim silva Projeto realizado no âmbito da disciplina Projeto de Interiores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ. Projeto em co-autoria com Lis Fernanda Thuller.

PUB fica localizado no bairro da Lapa, próximo a ícones como a Escadaria Selarón e os famosos Arcos da Lapa. A região como um todo tem experimentado uma crescente valorização ligada à cultura musical e gastronômica do bairro. Apesar de ainda bastante degradada, a Lapa vem recebendo amplo incentivo tanto de iniciativas privadas como da prefeitura, que promove diversas melhorias visando à requalificação da área. Buscando dialogar com o rico contexto da Lapa, o restaurante procura convidar essa diversidade para dentro deste sobrado convertido. Para tanto, foram concebidos ambientes em diversos patamares conectados visualmente, convidando à interação entre suas diferentes tribos. Uma maneira de estimular essa mistura foi explorar o fato de o nível térreo do restaurante servir simultaneamente como foyer de chegada de um hostel, cujo acesso se dá necessariamente atravessando o edifício do PUB. Ao invés de segregar esses dois fluxos, os consideramos complementares e mutuamente benéficos.

18


19


planta baixa tĂŠrreo (sem escala)

20


planta baixa pavimento intermediรกrio 1 (sem escala)

21


planta baixa segundo pavimento (sem escala)

22


planta baixa pavimento intermediรกrio 2 (sem escala)

23


corte aa (sem escala)

24


corte bb (sem escala)

25


26


27


28


29


vila frei caneca Projeto realizado no âmbito da disciplina Projeto de Habitação de Interesse Social da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ. Projeto em co-autoria com Lis Fernanda Thuller e J Guilherme M T Leite.

Em 13 de maio de 2010, o Complexo Penitenciário Frei Caneca foi implodido para dar lugar a um conjunto habitacional. Fundado em 1850, apenas o que restou do edifício foram seu majestoso portal de cantaria (fig. 1) e parte do muro que outrora cercara o terreno. Ironicamente, no lugar do muro demolido se construiu outro (fig. 2), agora resguardando edifícios erguidos pelo Governo Federal para abrigar famílias carentes através do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV). O projeto, situado em plena região central do Rio de Janeiro, segue o carimbo padrão da iniciativa de habitação do governo, com edifícios de alvenaria de cinco andares e apartamentos sempre de dois quartos (fig. 3). Esse modelo tem sido replicado por todo o território nacional, independente de clima, contexto ou cultura locais. O imponente portal, isolado num canteiro, restou como triste memória de uma história apagada. Foi-nos incumbida a tarefa de voltar no tempo e projetarmos de maneira mais humana e sensível uma moradia para a mesma população de duzentas famílias, agora atentos às particularidades de cada estrutura familar e às condições socioespaciais da região. A partir de um cuidadoso diagnóstico da área, foi desenvolvido um programa híbrido somando às habitações uma biblioteca municipal no edifício ocioso que outrora abrigou uma delegacia (fig. 4), espaços comerciais e um hotel, dada a proximidade do sítio com o Sambódromo da cidade, palco maior do carnaval carioca. Baseados em um detalhado censo realizado por pesquisadores da UFRJ acerca da demografia domiciliar nos condomínios do PMCMV, derivamos uma proporção aproximada dos diferentes tipos familiares mais comuns e desenvolvemos uma série de tipologias buscando contemplar as mais variadas configurações nucleares. Visando a otimizar o investimento público, elegemos um sistema modular de estruturas pré-fabricadas seguindo a matriz estrutural do muro do antigo complexo, cuja alvenaria foi removida para revelar ao resto do bairro o antes hermético interior dessa imensa quadra urbana.

1.

2.

3.

30

4.


36m2

18m2

54 m2

54m2 72m2

36m2

72 m2

6m x 6m

31


ANTIGA DELEGACIA DO PRESÍDIO

ANGITO MURO DO PRESÍDIO

ANTIGO PORTAL DO PRESÍDIO

ANTIGO TERRENO DO PRESÍDIO

ALVENARIA REMOVIDA

MALHA 6x6m DERIVADA DA ESTRUTURA DO MURO HOTEL BIBLIOTECA APARTAMENTOS COMÉRCIO E SERVIÇOS

CASAS GEMINADAS

VILA RESIDENCIAL

32


HOTEL

ANTIGA DELEGACIA DO PRESÍDIO

GALERIA COMERCIAL LOJAS E RESTAURANTES

ANGITO MURO DO PRESÍDIO ANTIGO PORTAL DO PRESÍDIO

HOTEL

BIBLIOTECA

APARTAMENTOS

COMÉRCIO E SERVIÇOS

VILA RESIDENCIAL

CASAS GEMINADAS

33


TIPOLOGIA A 20M2 1 A 2 PESSOAS

TIPOLOGIA B 30M2 2 A 4 PESSOAS VARANDA DE SERVIÇO

CONJUGADO

VARANDÃO

ESCADA DE ACESSO

SACADA CONVERSÍVEL EM QUARTO

Quando possível, foram incorporados aos tipos cômodos abertos e semi-abertos (terraços e sacadas) com a possibilidade de posterior adaptação, optando o morador por expandir a sala ou acrescentar um dormitório, por exemplo. Essa tradicional prática, um fundamento da arquitetura informal encontrada nas favelas e subúrbios do Rio de Janeiro, foi incorporada para dotar seus recipientes de maior autonomia e poder de escolha na posterior expansão

A necessidade de responder à grande variedade de configurações familiares implicou uma série de diferentes unidades habitacionais, contemplando desde domicílios de um único morador até famílias com oito pessoas sob o mesmo teto.

do imóvel - um costume cultural brasileiro -, sem comprometer a prerrogativa de adotar uma estrutura racional e eficiente. Com a opção por não revestir os pisos e paredes de todas as unidades, visto que historicamente no Brasil moradores de conjuntos habitacionais públicos têm recorrido à troca de materiais como maneira (consciente ou não) de diferenciação e personalização de suas casas, uma segunda economia foi possível, não apenas financeira como ambiental.


TIPOLOGIA D 72M2 6 A 8 PESSOAS

TIPOLOGIA C 72M2 4 A 6 PESSOAS

ACESSO SECUNDÁRIO QUARTO TÉRREO

QUARTOS CONVENCIONAIS

DUPLEX

PÁTIO INTERNO

QUARTO UNIVERSALMENTE ACESSÍVEL (PNE)

TERRAÇO CONVERSÍVEL EM QUARTO


beco do pinheiro Projeto realizado no âmbito da disciplina Projeto de Arquitetura 4 da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ. Projeto em co-autoria com Aline Loura, Julia Nodari, Lis Fernanda Thuller e Luan Schueler. Professor orientador: Petar Vrcibradic.

No centro do dinâmico e movimentado bairro do Flamengo, na Zona Sul do Rio de Janeiro, um imenso terreno baldio remanescente da construção do metrô bloqueia virtualmente um quarteirão inteiro. Quando desafiados com a tarefa de imaginar no sítio uma edificação que atendesse às necessidades particulares da região, a resposta veio na forma de um edifício misto consistindo de biblioteca, centro comunitário, galeria, academia, lojas, restaurantes e escritórios comerciais, todos distribuídos em duas lâminas cuja relação configuraria uma praça. É nesse interstício que se articulam essas variadas funções, numa composição classicamente modernista que almeja a facilitar o ir e vir em meio à heterogeneidade da cidade moderna. O programa foi elaborado com o objetivo de ativar as ruas pouco movimentadas de um pacato quadrilátero contíguo a uma das mais efervescentes praças da cidade, sem no entanto perturbar suas tradições já consagradas (uma feira semanal, por exemplo, cujo traçado informou a forma do novo edifício) ou impor uma atmosfera demasiadamente ruidosa sobre um contexto em grande parte residencial. Vizinho a um importante centro cultural, os dois novos blocos procuram dialogar com o edifício existente para consolidar uma arena cultural marcada por três construções verticalizadas em contraste com uma generosa esplanada.

perspectiva do pátio interno

36


esquema de anรกlise do contexto

37


aterro do flamengo

largo do machado

ĂĄrea e contexto do projeto

planta baixa do tĂŠrreo (sem escala)

38


perspectiva externa a partir da rua arno konder

Escritórios

Serviços

Comércio

Biblioteca Centro Cultural diagrama esquemático de uso

39


perspectiva interna dos acessos ao tĂŠrreo

corte esquemĂĄtico transversal

40


perspectiva externa a partir da rua arno konder

corte esquemรกtico longitudinal

41


praça xv de novembro Projeto realizado no âmbito da disciplina Ateliê Integrado 2 da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ. Projeto em co-autoria com Gleicy Pereira, Ariane Pereira, Laura de Sá e J Guilherme T Leite.

Sinônimo de poder desde o século XVII, a Praça XV de novembro, antigo Largo do Paço, é hoje uma colagem não apenas das diferentes épocas que a definiram como também dos acontecimentos que moldaram a cidade e sociedade carioca, coexistindo num verdadeiro sítio arqueológico a céu aberto resquícios de colônia, império, república, ditadura e redemocratização. Entre edifícios construídos e demolidos, aterros, túneis e mergulhões, se realizou uma praça única - imensa, mas sempre familiar; acolhedora embora imponente. Sua paisagem é atemporal, mistura o velho e o novo, o bonito e o feio - uma praça histórica, sem dúvida, mas também uma praça atual, sempre preparada para absorver mais uma camada de transformações, em constante mudança e evolução. Talvez sua mais notável característica seja que todos os dias por ela passam milhares de pessoas oriundas não só do Rio de Janeiro como de outros municípios, estados e países. A rara disposição de terminal rodoviário, terminal de barcas, linha de carril, estação de metrô e aeroporto internacional, todos organizados em torno de um largo histórico e uma gigantesca esplanada, faz da Praça XV de novembro, além de porta de entrada da cidade, um de seus mais movimentados e excitantes equipamentos públicos, um espaço democrático à disposição dos mais diversos usos e usuários.

42


43


a. Diagnóstico A despeito de seu imenso potencial, nós interpretamos que a Praça XV carecia de um catalisador que desencadeiasse o processo de resignificação daquele simbólico logradouro, permitindo finalmente que seu valioso espaço fosse plenamente desfrutado e reconhecido. Tendo sempre em vista a riqueza de sua pluralidade, nosso objetivo foi dotar a praça e seus vários recintos de dispositivos que incentivassem uma interação mais íntima, espontânea e inconsciente com o lugar, independente do perfil social ou econômico de seu interlocutor.

b. Removendo barreiras psicogeográficas Para que fosse possível criar condições de permanência e estar na Praça XV, algumas barreiras - visíveis e invisíveis - tiveram que ser desconstruídas, facilitando o acesso à orla e criando condições para eventuais descobertas acidentais por transeuntes (tanto esporádicos como assíduos). Inspirados pela teoria da deriva, de Guy Debord, mapeamos as várias “ilhas” que juntas configuram a Praça XV e seu entorno e quais as barreiras que hoje fragmenA CIDADE NUA tam e distanciam esses diferentes espaços e impedem um ir e vir despretensioso e livre. Identificamos na Rua Primeiro de Março e seu intenso tráfego de automóveis e ônibus a maior barreira - visual, acústica e espacial - separando a Praça XV e a orla em geral do restante da região central da cidade, ocupando agressivamente a via que nasceu como principal artéria comercial da ainda vila colonial. Propusemos o fechamento do trânsito automotivo em toda a extensão da Rua Primeiro de Março e do conjunto de vias por ela alimentadas. Para tanto, foi elaborado um detalhado estudo de reorganização do trânsito na região, que incluiu um terminal intermodal de transportes para absorver o intenso fluxo de ônibus que hoje atravessa o Centro quase todos os dias, redistribuindo seus passageiros para uma rede integrada de veículos leves sobre trilhos. Um cinturão de bloqueio foi demarcado e ao longo de seu perímetro foram determinados pontos de interesse para a criação de garagens subterrâneas para os donos de automóveis. J. G. LEITE

44


45


1. Chafariz do Mestre Valentim Um marco da paisagem da Praça XV, este chafariz de cantaria data do século XVII e remete à época em que navios chegados da Europa atracavam ao longo de uma orla hoje aterrada e abasteciam suas despensas com água pura conduzida desde o Rio Carioca até a frente marítima, passando antes pelo Aqueduto da Lapa e pelo Largo da Carioca. Sobreviveram, além do próprio chafariz (há muito desativado), os degraus de gnaisse que outrora transportaram inúmeros marinheiros de suas embarcações à terra firme. No lugar de onde um dia já morreram incontáveis ondas, um verde gramado rebaixado permite que se admire o belo edifício do ângulo pelo qual o viam os imigrantes chegados à cidade nos séculos XVII, XVIII e XIX. Este importante documento histórico, no entanto, se encontra hoje cercado por uma austera balaustrada, admitindo que se observe mas nunca que se interaja com o chafariz ou o bucólico oásis que poderia existir em seu jardim rebaixado. Foi justamente com o propósito de disponibilizar esse espaço aos usuários da praça que redefinimos a relação entre indivíduo e monumento, removendo a balaustrada de dois lados do cerco e introduzindo um jogo de planos descendo paulatinamente até chegar ao nível do gramado. Também foi proposta a reabertura do chafariz e do acesso a seu terraço, cuja altura equivale à de um prédio de três andares.

46


2. Estação das barcas Há mais de um século instalado no mesmo edifício, a estação das barcas da Praça XV é o grande porto de chegada para milhares de estudantes, trabalhadores e turistas que atravessam todos os dias a Baía de Guanabara entre o Rio de Janeiro e Niterói. Em tese o mais conveniente meio de transporte público entre as duas cidades, na prática o edifício e suas instalações estão defasados em décadas, já operando muito além de sua capacidade de absorção e organização. Para responder a esse severo gargalo - diariamente filas quilométricas se formam desde as apertadas plataformas de embarque até a margem oposta da praça, muito além do limite da atual estação -, elaboramos uma proposta de expansão do conjunto sobre a água, dotando-a de uma área compatível com sua larga escala de usuários. No antigo edifício eclético continuariam a funcionar bilheteria, administração e comércio, além de um grande mercado de alimentos no maior dos três pavilhões da edificação. Uma extensa fronteira de catracas visaria a otimizar a entrada e saída de passageiros do ampliado espaço de embarque, cuja cobertura conformaria também um espaço de transição entre o edifício antigo, totalmente público, e o novo cais.

47


3. Midiateca do Rio Cada dia mais ocioso desde a transferência da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro para São Paulo, em 2000, o edifício “Bolsa do Rio” é um monolito de vidro e pedra que se juxtapõe à paisagem colonial da Praça XV. Hoje, suas atividades mais rentáveis se dão nas garagens do subsolo do edifício e no centro de convenções que ocupa com grandes salões e auditórios os pavimentos acima do modesto nível térreo. Este, por sua vez, não passa de um escuro e despropositado foyer de circulação vertical com acessos laterais se abrindo para pequenas vias de pedestre. Ao longo da fase de pesquisa de campo deste projeto, demos conta da ausência em pleno Centro da cidade de bons espaços para estudo e trabalho, tendo sempre de recorrer a museus, centros culturais e instituições de ensino para termos acesso à infraestrutura necessária para o desenvolvimento do trabalho. Essa infraestrutura incluía ferramentas essenciais às atividades cotidianas contemporâneas, como uma conexão rápida à internet, acesso a tomadas e recintos confortáveis e protegidos, além da estrutura convencional de mobiliário apropriado, banheiros, etc., igualmente indispensável. Aproveitando a subutilização dos múltiplos pavimentos de escritórios comerciais que ocupam a maior parte do edifício, propusemos a extrusão de um prisma de luz e ventilação onde se localiza hoje a laje central da planta-tipo do edifício, transformando drasticamente sua espacialidade interna para atender melhor ao programa de midiateca sugerido. O térreo, por sua vez, foi transformado num expansivo pilotis implantado delicadamente sobre a praça, com acessos peatonais desobstruídos em três de suas quatro faces e passagem livre por baixo do volume suspenso. Para isso ser possível, bastou remover os panos de vidro espelhado que antes repeliam pessoas “estranhas” e separavam dentro e fora no nível da praça.

48


3. Orla Conde Uma das consequências da demolição do Elevado da Perimetral, que por anos contornou a região central do Rio de Janeiro junto à orla, foi o ressurgimento de uma longa extensão de espaço livre e transitável, improvisadamente enfeitado para os Jogos Olímpicos de 2016 sob o pretexto de representar um espaço de lazer antes inexistente no Centro. A falta de planejamento ou de um projeto de paisagismo competente, no entanto, acabaram condenando a chamada Orla Conde ao status de resíduo urbano, dada a total falta de atrativos ou mecanismos de ativação. Partindo do mosaico de triângulos de pedra portuguesa que marca um imenso semicírculo sobre a esplanada da Praça XV, procuramos respeitar e dar sequência ao próprio desenho como ponto de partida para uma nova Orla Conde, desta vez equipada com opções de comércio e serviço, restaurantes, banheiros e áreas de permanência. Sob o prédio do Tribunal da Marinha, hoje quase inteiramente vago, escavou-se um acesso à linha expressa de VLT criada para conectar o Aeroporto Santos Dumont à Rodoviária Novo Rio por dentro do recém-construído Túnel Marcelo Alencar. Ocupando a faixa externa de cada galeria do túnel, a linha teria paradas nos pontos de maior demanda ao longo de seu trajeto sob a Orla Conde, como na altura da Praça XV. As paredes térreas do corpo do edifício foram subtraídas, transformando a estrutura em uma continuação orgânica do passeio público, permitindo inclusive contato imediato e direto com o mar através de uma escadaria que descende para dentro da água e permite o estacionamento de pequenas embarcações não-motorizadas.

49


5. Arco do Teles Por uma discreta passagem marcada por um singelo arco, a ambiência que se sente no Centro do Rio de Janeiro é transformada completamente ao longo do trecho conhecido por Arco do Teles, um dos principais endereços da boemia carioca, notável pelas dezenas de bares e restaurantes que transbordam de clientes alegres três vezes ao dia - primeiro no almoço, depois no final do expediente e por fim à noite. Ao se deixar o beco em direção à Praça XV, no entanto, a energia rapidamente se dissipa à medida que nos confrontamos com uma via de trânsito motorizado, mais uma barreira a isolar uma testada inteira da Praça XV da praça propriamente dita. A extinção do leito carroçável permitiu a expansão da estrutura boêmia do Arco do Teles para a borda da Praça XV, cujos edifícios limítrofes já nasceram com espaços comerciais orientados para a calçada. Após anos sem movimento comercial, entretanto, um a um esses espaços foram fechados e reorientados para dentro dos próprios edifícios, incorporados a outras lojas ou convertidos em escritórios. A ativação da Praça XV depende também da ativação desses térreos, seu poder de transformação amplificado pela vocação já consagrada dessa descontraída quadra.

50


6. Largo do Paço Enquadrado por um conjunto arquitetônico edificado pela Coroa portuguesa, que a partir de 1808 se instalou temporariamente no Rio de Janeiro e teve no Paço Imperial seu principal edifício administrativo, o Largo do Paço - hoje a rigor Praça XV de Novembro, uma homenagem à proclamação da república brasileira - conserva a atmosfera e morfologia de uma praça renascentista europeia, distinção rara entre logradouros públicos no continente americano. Esse legado, no entanto, é comprometido pelo intenso trânsito de automóvies que congestiona a Rua Primeiro de Março, fatiando a praça e a isolando da malha do restante do antigo núcleo urbano carioca. A poucos centímetros da testada do antigo palácio, hoje museu, carros e ônibus em alta velocidade obrigam pedestres a negociarem o estreito espaço de uma calçada que um dia se misturou imperceptivelmente com a própria via. Do outro lado da rua a cena se repete, com o antigo Conveto do Carmo desocupado pela impossibilidade de se conviver tão de perto com tamanha agressão ambiental. Com o intuito de afirmar o centro da praça como um local de tranquilidade e repouso, propusemos a reinstituição do piso de saibro original do terreiro, delimitando também espaços para atividades a céu aberto organizadas pelo museu adjacente, criando conexões entre seu interior (e seus pátios permeáveis) com o espaço público vizinho, hoje ignorado pela instituição.

51


censura Projeto realizado no âmbito da disciplina Cenografia 1 da Escola de Belas Artes da UFRJ. Professora orientadora: Cássia Monteiro.

O conceito que rege o tema desse trabalho está ligado ao momento atual brasileiro que “causa revolta ao perceber que importantes passos dados no sentido da conquista da cidadania e do direito civil sejam abandonados, provoca temor acompanhar a atitude da justiça que, de forma sectária, vem conduzindo o país para uma ordem que divide claramente a população segundo um critério econômico, e dá náusea ver a imprensa promover o ódio e a polarização das posições políticas entre os brasileiros, construindo uma narrativa que é apresentada como o relato de fatos reais”. A partir disso, foi proposto trazermos a tona a discussão sobre a censura e construir um produto baseado nesse conceito através de uma maquete física e desenhos complementares. O produto aqui apresentado foi baseado no Mito da Caverna, uma alegoria do filósofo grego Platão, no qual pretende exemplificar como nós podemos libertar a condição de escuridão que nos aprisiona através da luz da verdade e discute sobre teoria do conhecimento, linguagem e educação na formação do Estado ideal.

52


“No interior da caverna permanecem seres humanos, que nasceram e cresceram ali. Ficam de costas para a entrada, acorrentados, sem poder mover-se, forçados a olhar somente a parede do fundo da caverna, sem poder ver uns aos outros ou a si próprios. Atrás dos prisioneiros há uma fogueira, separada deles por uma parede baixa, por detrás da qual passam pessoas carregando objetos que representam "homens e outras coisas viventes". (...) Os prisioneiros não podem ver o que se passa atrás deles e vêem apenas as sombras que são projetadas na parede em frente a eles. Pelas paredes da caverna também ecoam os sons que vêm de fora, de modo que os prisioneiros, associando-os, com certa razão, às sombras, pensam ser eles as falas das mesmas. Desse modo, os prisioneiros julgam que essas sombras sejam a realidade.”

53



Obrigada!


nome Julia M R Pereira data de nascimento 17 setembro 1993 nacionalidade brasileira endereço rua marquês de valença/56,108 cidade Rio de Janeiro contato +55 21 9 8441 3716 e-mail juliamr.pereira@gmail.com


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.