Julia Pereira | Portfolio Arquitetura 2020

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Julia Pereira Portfรณlio 2020



ÍNDICE 1 2 3 4 5 6 7 8

curriculum vitae cabana hojoki archsharing student competition joaquim silva projeto de interiores frei caneca projeto de interesse social praça XV projeto urbano escola de música projeto de arquitetura riba de ave projeto urbano alcanena building information modeling


CURRICULUM VITAE

Este portfólio reúne uma amostra de trabalhos realizados durante a minha trajetória como aluna na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro entre os anos 2012 e 2017, e da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto entre os anos de 2018 e 2020.


Julia Pereira Rua do Monte Cativo 307 - Porto +351 932 555 425 juliamr.pereira@gmail.com brasileira - 27 anos

formação acadêmica 2018 - presente

Mestrado Integrado em Arquitetura FAUP (5º ano) Universidade do Porto

2012 a 2018

Graduação em Arquitetura e Urbanismo FAU UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

experiências em arquitetura 2017 a 2018

Estagiária no escritório Sergio Lousada Arquitetura Tijuca, Rio de Janeiro, Brasil

// desenvolvimento de projetos comerciais e projetos de interiores residenciais, realização de desenhos técnicos (anteprojeto e projeto executivo) e modelagem 3D. 2016 a 2017

Estagiária no escritório Bia Seiler Arquitetura e Design Leblon, Rio de Janeiro, Brasil

// desenvolvimento de projetos interiores residenciais, casas e empreendimentos de médio porte, realização de levantamentos, desenhos técnicos (anteprojeto e projeto executivo) e modelagem 3D, acompanhamento de obras. 2015 a 2016

Estagiária no escritório Flavia de Faria Arquitetura Cosme Velho, Rio de Janeiro, Brasil

// elaboração de histórico de patrimônio, desenvolvimento de projetos de interiores e casas de médio porte, realização de desenhos técnicos (anteprojeto e projeto executivo), modelagem física e digital, acompanhamento e supervisão de obra. 2015

Monitora de Concepção da Forma Arquitetônica II Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (UFRJ)

// montagem de aulas teóricas, apoio e orientação nos trabalhos desenvolvidos na diciplina, montagem de maquete física e material didático. Professora orientadora: Flavia de Faria

cursos extracurriculares 2020

Curso Sales Training + Technology RE/MAX Portugal

2019

Archicad (projeto BIM) FAUP

2013

Curso de Photoshop aplicado à arquitetura Academia de Artes Visuais do Rio de Janeiro

Curso de AutoCad profissional aplicado à construção civil Curso de desenho Oberg

autocad sketchup archicad revit adobe photoshop adobe illustrator adobe indesign

português espanhol inglês

língua materna intermediário intermediário


Projeto finalista no concurso “living and working in Tokyo” organizado por Archsharing Student Competitions em 2016. Projeto em co-autoria com Caio Cavalcanti. José Leite e Miguel Carrasco.



Logo nas primeiras frases de seu clássico ensaio Hôjôki, Kamo no Chomei equivale pessoas e as suas habitações ao fluxo de um rio em constante mudança, um testemunho à transitoriedade de todas as coisas. Ele em seguida passa a ilustrar a ideia da impermanência em uma relato dos eventos de sua vida que levaram o poeta a buscar reclusão do mundo material e concentrar nos ensinamentos do Buda, finalmente encontrando paz interior em uma pequena cabana auto-construída, de proporções mínimas, desprovida de luxo ou excessos. Ao descobrir a magnífica prosa do autor, decidimos que essa era a história que gostaríamos de contar, considerando tanto as complexidades filosóficas inerentes ao desafio quanto os paralelos surpreendentes entre o texto milenar e o concurso organizado pela ARCHsharing, cuja

planta baixa térreo

planta baixa 1 pavimento

proposta consistia em conceber um espaço de moradia e trabalho na Tóquio contemporânea. Para reforçar a beleza estética do texto original, buscamos preservá-lo inalterado em essência ao transmitir a nossa reinterpretação contemporânea da cabana de dez pés quadrados de Chomei através do uso de ilustrações. Bem como no remake cinematográfico de Baz Luhrmann do clássico Shakespeariano Romeu e Julieta, nosso objetivo foi derivar imagens evocativas da existência reclusa do monge de maneira plausível no Japão do século XXI, simultaneamente respeitando a obra literária em sua pureza de estilo e forma. Licença poética se fez necessária para melhor adequar a história à narrativa do projeto, com algumas passagens consideradas irrelevantes suprimidas da versão final.

planta baixa 2 pavimento

planta baixa cobertura


No entanto, acreditamos que a moral e o ethos permaneçam presentes, seja em representação literal ou figurada, por toda a arquitetura resultante. Idealizado e disposto na forma de uma jornada cronológica abrangendo desde a construção de um pequeno edifício até seu inevitável desaparecimento, nosso objetivo foi fornecer um guia visual demonstrando os vários capítulos - alguns concretos, outros hipotéticos - da fruição e transformação desta particular Hôjôki. A descrição de Chomei de si mesmo como um bicho de seda diligentemente tecendo seu casulo nos inspirou a envolver a construção em uma placenta protetiva de papel de arroz, uma materialização do processo introspectivo de reclusão e redescoberta vivenciado pelo autor. Também significou a introdução de um elemento arquitetônico derivado do vernáculo japonês diretamente em contato com a natureza, assim o submetendo aos efeitos entrópicos do tempo e da atmosfera sobre a matéria orgânica. A princípio uma camada protetora filtrando as visões e sons da cidade congestionada, a desmaterialização do casco

deste caranguejo-eremita - outra imagem suscitada por Chomei para se descrever - serve de lembrete da constante passagem do tempo e da inevitabilidade de seu efeito atrofiante, evidente na decomposição lenta mas infalível do exoesqueleto de papel "como folhas mortas que se acumulam nos beirais e musgo crescendo pelas fundações." Conforme explicado pelo autor, o edifício é construído simplesmente ligando madeiras com acessórios de metal - um método, cita Chomei, que faz de toda a estrutura facilmente desmontável e transportável caso seja necessário reciclar, realocar ou reconstruir. Após a desmontagem das treliças de madeira e do revestimento, tudo o que resta é a escada de concreto situada no canto mais profundo do lote, sugerindo caso desejável - a sua reutilização pelas próximas gerações a ocupar a terra. "As pessoas e suas habitações," afinal, "são como espuma na água, bolhas estourando e desaparecendo enquanto outras sobem para substituí-las, nunca por muito tempo."


JOAQUIM SILVA

Projeto realizado no âmbito da disciplina Projeto de Interiores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ. Projeto em co-autoria com Lis Fernanda Thuller. Sob orientação da professora Marina Lage.


1. Planta baixa térreo.

2. Planta baixa 1º pavimento.

3. Planta baixa 2º pavimento.

4. Planta baixa 3º pavimento.


5. Corte longitudinal AA.

6. Corte transversal BB.


7. Detalhamento escada + painĂŠis.

8. Detalhamento bancada + revestimento.


FREI CANECA

Projeto realizado no âmbito da disciplina Projeto de Habitação de Interesse Social da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ.. Projeto em co-autoria com Lis Fernanda Thuller e José Leite. Sob orientação da professora Daniela Engel.


Vila Frei Caneca Em 13 de maio de 2010, o Complexo Penitenciário Frei Caneca foi implodido para dar lugar a um conjunto habitacional. Fundado em 1850, apenas o que restou do edifício foram seu majestoso portal de cantaria (fig. 1) e parte do muro que outrora cercara o terreno. Ironicamente, no lugar do muro demolido se construiu outro (fig. 2), agora resguardando edifícios erguidos pelo Governo Federal para abrigar famílias carentes através do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV). O projeto, situado em plena região central do Rio de Janeiro, segue o carimbo padrão da iniciativa de habitação do governo, com edifícios de alvenaria de cinco andares e apartamentos sempre de dois quartos (fig. 3). Esse modelo tem sido replicado por todo o território nacional, independente de clima, contexto ou cultura locais. O imponente portal, isolado num canteiro, restou como triste memória de uma história apagada. Foi-nos incumbida a tarefa de voltar no tempo e projetarmos de maneira mais humana e sensível uma moradia para a mesma população de duzentas famílias, agora atentos às parti-

1. Planta baixa de situação do complexo habitacional proposto.

3. Corte esquemático do complexo.

cularidades de cada estrutura familar e às condições socioespaciais da região. A partir de um cuidadoso diagnóstico da área, foi desenvolvido um programa híbrido somando às habitações uma biblioteca municipal no edifício ocioso que outrora abrigou uma delegacia (fig. 4), espaços comerciais e um hotel, dada a proximidade do sítio com o Sambódromo da cidade, palco maior do carnaval carioca. Baseados em um detalhado censo realizado por pesquisadores da UFRJ acerca da demografia domiciliar nos condomínios do PMCMV, derivamos uma proporção aproxi- mada dos diferentes tipos familiares mais comuns e desenvolvemos uma série de tipolo- gias buscando contemplar as mais variadas configurações nucleares. Visando a otimizar o investimento público, elegemos um sistema modular de estruturas pré-fabricadas seguindo a matriz estrutural do muro do antigo complexo, cuja alvenaria foi removida para revelar ao resto do bairro o antes hermético interior dessa imensa quadra urbana.

2. Destaque do conjunto de habitação desenvolvido.


VI I

VII IX VIII

V II

XI

IV X

III

I. Antiga delegacia do presídio II. Antigo muro do presídio III. Antigo portal do presídio

VI. Novo hotel VII. Nova biblioteca VIII. Tipologias de apartamentos IX. Casas geminadas X. Vila residencial XI.Comércio e serviços.

IV. Parte da alvenaria removida V. Malha 6mx6m derivada da estrutura do muro

Padronização vs. adequação Demolido em 2011 para a construção de um empreendimento do programa Minha Casa Minha Vida, o conjunto edilício do antigo presídio Frei Caneca consistia de uma série de edifícios de diferentes estilos, épocas e graus de conservação. Concluímos que seria relevante, num gesto de reconhecimento da memória do lugar, preservar ao menos em parte esse conjunto. Optamos por manter o trecho oeste do muro ao longo da testada do lote, removendo a alvenaria para que restassem apenas seus elementos estruturais, resultando num misto de colunata e galeria comercial ao longo da calçada sul da Rua Frei Caneca, ampliando e protegendo o passeio e facilitando a conexão com o entorno. Além de valorizar a rua e respeitar o legado arquitetural e social associados àquele espaço, a releitura do muro de um presídio como passeio permeável representa uma inversão simbólica e literal do significado e relação do muro e de toda a quadra com o restante da cidade.

Hotel

Antiga delegacia do presídio

Galeria comercial Lojas e restaurantes

4. Volumetria do conjunto de habitações e equipamentos.

Antigo muro do presídio


5. Planta baixa do conjunto.


6. Tipologia 2 quartos.

7. Tipologia 4 quartos (1 pavimento)

8. Tipologia 4 quartos (2 pavimento)

10. Tipologia apartamento de 1 quarto. 11. Tipologia apartamento conjugado.

9. Tipologia apartamento 3 quartos.

12. Corte transversal esquemรกtico do conjunto.


13. Alçado acesso direto da vila residencial.

Padronização vs. adequação Tomando como ponto de partida o conjunto de dados compilado pelo PROURB/UFRJ e pelo Observatório das Metrópoles/IPPUR/UFRJ ao longo de entrevistas com 125 famílias de seis condomínios Minha Casa Minha Vida em Santa Cruz, nosso grupo se propôs a investigar a variabilidade de configurações nucleares inevitável em qualquer amostra demográfica tão significativa. Refutamos o modelo consolidado de unidade habitacional ostensivamente adotado pelo programa, limitado a um único tipo de apartamento de dois quartos, e sua irresponsável implantação, que rejeita qualquer possibilidade de estímulo à interação com as dinâmicas urbanas preexistentes e tampouco contempla preceitos de conforto ambiental ou eficiência construtiva. De acordo com a pesquisa, liderada pela professora Luciana Andrade, da FAU/UFRJ, o índice de inadequação dos condomínios de Santa Cruz beira os 70%, o que sugeriria que menos de um terço das unidades estaria mensurado de maneira adequada às famílias que as habitam. Outros 68% deveriam ter sido contemplados com apartamentos com um (13%), três (33%) ou quatro (7%) dormitórios. 12% das residências consultadas contavam com apenas um morador, e se indicou conjugado como a solução adequada. Nosso objetivo enquanto projetistas foi potencializar a maior versatilidade tipológica possível - em termos tanto de implantação do edifício como de compartimentalização interna das unidades habitacionais - sem fugir das proporções demográficas estabelecidas pela pesquisa e obedecendo a uma lógica construtiva racional de baixo custo, cuja matriz pudesse se adaptar a diversas situações urbanas e edilícias sem destoar do tecido urbano de seu entorno.

14. Diagrama da modulação dos apartamentos.


PRAÇA XV

Projeto realizado no âmbito da disciplina Ateliê Integrado II da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ.. Projeto em co-autoria com Laura de Sá, Gleicy Pereira, Ariane Pereira e José Leite. Sob orientação da professor Guilherme Lassance.


Removendo barreiras psicogeográficas Para que fosse possível criar condições de permanência e estar na Praça XV, algumas barreiras - visíveis e invisíveis - tiveram que ser desconstruídas, facilitando o acesso à orla e criando condições para eventuais descobertas acidentais por transeuntes (tanto esporádicos como assíduos). Inspirados pela teoria da deriva, de Guy Debord, mapeamos as várias “ilhas” que juntas configuram a Praça XV e seu entorno e quais as barreiras que hoje fragmentam e distanciam esses diferentes espaços e impedem um ir e vir despretensioso e livre. Identificamos na Rua Primeiro de Março e seu intenso tráfego de automóveis e ônibus a maior barreira - visual, acústica e espacial - separando a Praça XV e a orla em geral do restante da região central da cidade, ocupando agressivamente a via que nasceu como principal artéria comercial da ainda vila colonial. Propusemos o fechamento do trânsito automotivo em toda a extensão da Rua Primeiro de Março e do conjunto de vias por ela alimentadas. Para tanto, foi elaborado um detalhado estudo de reorganização do trânsito na região, que incluiu um terminal intermodal de transportes para absorver o intenso fluxo de ônibus que hoje atravessa o Centro quase todos os dias, redistribuindo seus passageiros para uma rede integrada de veículos leves sobre trilhos. Um cinturão de bloqueio foi demarcado e ao longo de seu perímetro foram determinados pontos de interesse para a criação de garagens subterrâneas para os donos de automóveis.


Arco do Teles

Hotel marítico e VLT subterrâneo

Jardim do chafariz


Midiateca carioca

Mercado orgânico Praça XV

Largo do Paço

Diagnóstico Sinônimo de poder desde o século XVII, a Praça XV de novembro, antigo Largo do Paço, é hoje uma colagem não apenas das diferentes épocas que a definiram como também dos acontecimentos que moldaram a cidade e sociedade carioca, coexistindo num verdadeiro sítio arqueológico a céu aberto resquícios de colônia, império, república, ditadura e redemocratização. Entre edifícios construídos e demolidos, aterros, túneis e mergulhões, se realizou uma praça única imensa, mas sempre familiar; acolhedora embora imponente. Sua paisagem é atemporal, mistura o velho e o novo, o bonito e o feio - uma praça histórica, sem dúvida, mas também uma praça atual, sempre preparada para absorver mais uma camada de transformações, em constante mudança e evolução. A despeito de seu imenso potencial, nós interpretamos que a Praça XV carecia de um catalisador que desencadeiasse o processo de resignificação daquele simbólico logradouro, permitindo finalmente que seu valioso espaço fosse plenamente desfrutado e reconhecido. Tendo sempre em vista a riqueza de sua pluralidade, nosso objetivo foi dotar a praça e seus vários recintos de dispositivos que incentivassem uma interação mais íntima, espontânea e inconsciente com o lugar, independente do perfil social ou econômico de seu interlocutor.


ESCOLA DE MÚSICA Projeto realizado no âmbito da disciplina Projeto de Arquitetura IV da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto. Sob orientação do professor João Paulo Loureiro.


1. Planta baixa térreo.

O monolito O terreno situado na zona da Boavista, no Porto, configurava um grande fragmento no território, com bastante potencial (próximo a grandes ícones da cidade, nomeadamente a Casa da Música e a bela estação de metro e autocarros do arquiteto Souto de Moura) e permitia as mais diversas soluções volumétricas para o edifício. O projeto aqui proposto nasce da inspiração na arquitetura paulista brutalista e racional - e consiste basicamente em um único volume, com seu miolo subtraído e tranposto para o subsolo, dando forma ao grande auditório cuja cobertura fica livre de cargas estruturais e dá lugar a um grande pátio protegido, proporcionando, assim, uma ambiência mais resguardada ao clube de jazz, no rés do chão, e a área de concetos ao ar livre. O programa da escola se concentra principalmente ao nível da Rua de Domingos Cerqueira, e tem planta organizada numa lógica circular, e abraça o grande pátio central, com o objetivo integrar todos ambientes sonora e visualmente.

2. Planta baixa subsolo.


3. Corte transversal AA.

4. Corte transversal BB.

5. Corte longitudinal CC.

6. Corte longitudinal DD.


B

C

A

C

C

D

D

B

A

B

A

7. Planta baixa 1ยบ pavimento.

C

C

D

D

B

8. Planta baixa 2ยบ pavimento.

A


9. Esquema vertical de infraestruturas.

10. Detalhamento do alรงado.


11. Corte longitudinal | Sala de combo

12. Planta baixa | Sala de combo


RIBA DE AVE

Projeto realizado no âmbito da disciplina Projeto Urbano da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto. Projeto em co-autoria com Irene Bordin, Natália Fávero, Miriam Rendeiro e José Leite. Sob orientação do professor Mario Mesquita.


1. São Roque Um núcleo bastante consolidado em que a ordenação do território sempre esteve intimamente associada à topografia do sítio. Ainda no século XVI, seu ponto mais alto foi escolhido para receber um santuário consagrado em nome de São Roque.Hoje a área representa um relevante polo de serviços, com equipamentos educacionais, esportivos e de saúde.

2. Rio Ave Pode-se perceber toda a história do Vale do Ave a partir de uma leitura cuidadosa de seus cursos d'água. Por aqui passaram os romanos e, séculos depois, a revolução industrial, que legou à paisagem um expressivo patrimônio edificado que também implicou a contaminação das águas do Rio Ave, afastando desse oásis em potencial por décadas tanto populações locais como eventuais turistas e dérives.

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3. Centro histórico Um núcleo bastante consolidado em que a ordenação do território sempre esteve intimamente associada à topografia do sítio. Ainda no século XVI, seu ponto mais alto foi escolhido para receber um santuário consagrado em nome de São Roque.Hoje a área representa um relevante polo de serviços, com equipamentos educacionais, esportivos e de saúde.


Chegada a São Roque

Sopé da pedreira de São Roque

Pedreira de São Roque

Junto à estrada nacional e no trecho entre os hospitais e a igreja de Riba d'Ave, chega-se a um núcleo comercial remoto e subaproveitado, mas notável sobretudo pela concentração de equipamentos - públicos e privados - de interesse social, como os citados hospitais e edifícios religiosos, além de associações esportivas, escolas e repartições do Estado (como a GNR).

Quem sobe à capela de São Roque, saiba ou não, contorna uma grande pedreira no centro de uma quadra residencial. Embora o acesso ao alto desse monte seja razoavelmente íngreme e careça de suportes para garantir acessibilidade e conforto plenos, a vista do alto da pedreira é das melhores que Riba d'Ave tem a oferecer.

Chegando ao ponto mais alto da pedreira, percebe-se a relação com o resto do monte e com a capela, próxima. Uma mistura de relva e pedra bruta oferece substrato para atividades de lazer e repouso, um refúgio da urbanidade do bairro.

1. Jardim elevado sobre o terminal.

2. Perspectiva térrea do terminal de São Roque.


Terminal de autocarros de São Roque

Escadinhas de São Roque

Praça da pedreira

A mais nova porta de entrada de Riba d'Ave, de onde partem e aonde chegam as diversas linhas de autocarro que ligam o Vale do Ave aos principais centros econômicos do norte de Portugal. Situada ao longo da EN 310, sua cobertura une e conecta uma série de edifícios novos e preexistentes que juntos representam a reinvenção de toda a área.

Vista a partir da rua de São Roque, agora com a escadaria que essa pitoresca promenade merece. Foram concebidos elementos diversos para guiar peregrinos desde o sopé do morro, junto ao terminal, até seu cume, onde a rua em frente à capela foi (re)convertida em largo, sem trânsito ou estacionamento de automóveis.

Cercada ao longo de séculos pelo casario que viria a definir a área, a capela de São Roque aos poucos perdeu a expansiva vista que detinha sobre a paisagem do Ave. Muito perto dali, no entanto, uma praça instalada sobre uma pedreira desativada oferece espaço e amplitude para a contemplação da região desde um de seus pontos mais altos.

6. Acesso à praça da pedreira.

3. Diagrama esquemático das intervenções na zona de São Roque.

4. Praça da pedreira.

5. Acesso à capela de São Roque.


Complexo industrial Sampaio Ferreira

Rio Ave

Praça de Santana

O grande conjunto de edifícios fabris que margeia o Rio Ave na altura de Riba d'Ave representa talvez o elemento mais marcante e emblemático dessa paisagem, com chaminés industriais dominando o espaço aéreo como torres sineiras, afirmando seu comando sobre o território. Hoje degradadas, as estruturas preservam sua imponência e rigidez estrutural, aguardando uma intervenção que "recicle" os esqueletos e os ofereça a serviço da população.

A fotografia acima retrata um trecho do Rio Ave ainda dentro dos limites administrativos de Riba d'Ave mas já um pouco removido de seu núcleo urbanizado. Acessável a pé ou de carro, esse trecho se destaca pela sua beleza natural e paisagem relativamente preservada, oferecendo sítios propícios à contemplação da natureza e contato direto com seus elementos.

Identificada como o principal espaço público do centro de Oliveira São Mateus, a praça de Santana abriga uma já tradicional feira de produtos têxteis, alimentos e outros objetos variados. Seu acesso desde Riba d'Ave, no entanto, é dificultado pela topografia do sítio e pelas más condições (ou ausência total) dos passeios pedonais que desenbocam na grande praça.

1. Ponte sobre o Rio Ave.

2. Mercado de Santana, interior.


Revitalização de estruturas em desuso

Preenchendo a lacuna

Mercado de Santana

As fábricas devolutas da família Ferreira foram logo identificadas como um ativo de grande interesse na requalificação de Riba d'Ave, tanto pela sua escala como pela posição estratégica no território, dialogando com cotas altas e baixas e se prestando a uma miríade de novas aplicações, de esportivas a cívicas a artísticas a museológicas.

O complexo de fábricas, somado ao Rio Ave e ao relevo local, representa uma barreira virtualmente intransponível para quem quer atravessar de maneira rápida e confortável de uma freguesia à outra. Dessa constatação nasceu uma ponte pedonal que vence uma cota de 14 metros com uma suave rampa distribuída por curvas sinuosas.

Em Oliveira São Mateus, percebeu-se a oportunidade de valorizar a chegada e fruição da atual praça de Santana com a requalificação geral do espaço, que ganhou um estacionamento subterrâneo sob um novo mercado, um amplo largo, uma alameda comercial e uma praça-miradouro com vista para Riba d'Ave.

3. Interior da oficina multidisciplinar.

4. Interior do complexo esportivo.

5. Planta baixa da intervenção no complexo fabril.


A caminho da natureza Dada a riqueza do contexto natural, o desenho da paisagem pretende alterar o mínimo possível a natureza do lugar, respeitando o que já se encontra no sítio. Assim, priorizou-se permanência das superfície florestal e das árvores, adaptando-se os passeios e as plataformas aos diferentes níveis do terreno.

Mobilidade sem congestionamento Funcionando em conjunto com o proposto terminal de autocarros de São Roque e visando a minimizar o trânsito de grandes veículos dentro dos perímetros urbanos de Riba d'Ave e Oliveira São Mateus, propusemos também uma linha circular de autocarros elétricos de menor porte a ser operada pelo concelho de Vila Nova de Famalicão. As diversas linhas de autocarro de concessionárias particulares que hoje atravessam a malha urbana do Vale do Ave pelas estradas nacionais terão no terminal de São Roque um ponto estratégico de contato com as franjas do núcleo de Riba d'Ave, possibilitando o embarque e desembarque de passageiros rumo aos principais centros de emprego, como Guimarães, Porto e Braga.

1. Passadiço sob ponte existente.

Canalizações à beira-rio

Recanto dos pescadores

O Rio Ave, por sua vez, parece ter sido abandonado pelas freguesias que divide. Poluído há décadas pelas antigas fábricas têxteis da região, hoje oferece uma possibilidade de reinvenção a partir de maiores cuidados com a natureza, o meio ambiente e a paisagem.

Faça o seu caminho

Mais distante um pouco do centro das freguesias se revela um oásis entre Riba d'Ave e Oliveira São Mateus. Com o horizonte definido pelas densa massa das árvores, é fácil aqui transportarmo-nos para uma fuga em plena cidade. Todavia, esse pacífico recanto sofre também, hoje, com a falta de infraestrutura adequada para seus frequentadores.

Um domingo de sol (e sombra)

Foram criadas novas ruas e lotes a partir do desmembramento de grandes quintas e de propriedades com pouca ou nenhuma atividade agrícola localizadas dentro do perímetro urbano especificado. Vias especialmente estreitas, frequentemente dentro dos circuitos criados, tiveram rua e passeio niveladas e foram identificadas como ruas de acesso condicionado a moradores e autorizados. As três zonas identificadas para a primeira fase de desenvolvimento imobiliário - duas em Oliveira São Mateus e uma em Riba d'Ave - oferecem diversas modalidades de ocupação do solo para atrair variados tipos e usos, sejam novos ou já existentes.

Ao longo dos eixos fundamentais representados pelo Rio Ave e pela Estrada Nacional 310, assim como ao longo dos perímetros do "novo" centro urbano de Riba d'Ave e Oliveira São Mateus, foi implementado um plano de pavimentação e arborização buscando qualificar as principais vias da área e dotar o projeto de uma identidade facilmente identificável. Passeios largos em lajetas de granito, com bancos sob a sombra de árvores, permeiam o território e oferecem a oportunidade de se perder à deriva entre fragmentos de urbanidade e ruralidade entretrocados e complementares.

2. Ponte pedonal sobre açude desativado.


Revitalização de estruturas em desuso

Ponte dos pescadores

Lastro, memória e identidade

Uma das premissas básicas desde o princípio do projeto foi garantir às pessoas plena acessibilidade a todas as intervenções, focando no conforto de todos no trânsito pelo território. Isso implicou o uso frequente de pontes, rampas e elevadores para vencer os grandes vãos e quedas tanto dentro como entre as duas freguesias estudadas.

Outra prerrogativa do projeto foi aproveitar ao máximo as estruturas existentes para com apenas algumas adaptações simples dotá-las de condições universais de acesso. Exemplo disso é a ponte dos pescadores, que marca o limite norte do parque, instalada sob a VIM e junto a um novo pátio de estacionamento para automóveis leves.

Consideramos a identidade do sítio na escolha das ações pretendidas. Esse gesto nos levou a mirar a infraestrutura local, por mais precária fosse, para então imaginar maneiras de qualificá-la sem trair sua essência. Nessa tônica, as escadas entre o rio e Oliveira São Mateus foram mantidas, embora redesenhadas com a paleta material original.


ALCANENA

Trabalho realizado na plataforma Archicad no âmbito da disciplina Projeto BIM da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto. Sob orientação do professor Nuno Lacerda.



1. Planta baixa | Casa em Alcanena | Arquitecto Souto de Moura.

2. Alรงado nascente | Maquete digital.


3. Corte longitudinal | Casa em Alcanena | Arquitecto Souto de Moura.

4. Corte longitudinal | Casa em Alcanena | Arquitecto Souto de Moura.

5. Corte transversal | Casa em Alcanena | Arquitecto Souto de Moura.

6. Corte transversal | Casa em Alcanena | Arquitecto Souto de Moura.

7. Alรงado sul | Maquete digital.



Obrigada!


Rua do Monte Cativo 307 Porto +351 932 555 425 juliamr.pereira@gmail.com


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