Arquitetura Sacra Protestante Templo além da celebração litúrgica
JULIANA VERGILIO
UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
JULIANA VERGILIO
Arquitetura Sacra Protestante – Templo além da celebração litúrgica
SÃO PAULO 2020
JULIANA VERGILIO
Arquitetura Sacra Protestante – Templo além da celebração litúrgica
Trabalho Final de Graduação apresentado à Universidade Anhembi Morumbi como requisito final para obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientadora: Fernanda D’Agostini
SÃO PAULO 2020
JULIANA VERGILIO
Arquitetura Sacra Protestante – Templo além da celebração litúrgica Trabalho Final de Graduação apresentado à Universidade Anhembi Morumbi como requisito final para obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientadora: Fernanda D’Agostini
Aprovado em ____ de 2020
BANCA EXAMINADORA
Prof. Prof. Prof.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente à Deus, por ter me sustentado e me capacitado até aqui. Aos meus pais, por todo apoio e dedicação ofertados a mim. Ao meu irmão, que mesmo longe, sempre me ajudou e apoiou. A todos os meus irmãos em Cristo, que torceram e oraram por mim. Aos meus colegas de trabalho, por toda ajuda e compreensão. À minha orientadora, por todo o suporte, ajuda e incentivo.
Dedico esse trabalho primeiramente à Deus, por ter me capacitado e sustentado até aqui. E aos meus pais, por toda paciência, suporte e apoio.
“Eu acredito no Cristianismo como acredito que o sol nasce todo dia. Não apenas porque o vejo, mas porque através dele eu vejo tudo ao meu redor.” C.S. Lewis
LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Stonehenge, Zigurate de Ur e Pirâmides de Quéops, Quéfren e Miquerinos............................................................................................................ 20 Figura 2 - Diagrama de uma Catedral Gótica ............................................... 23 Figura 3 - Estrutura gótica ............................................................................. 24 Figura 4 - Comparativo entre o tamanho das Catedrais de Laon e de Chartres, elevação e corte na nave central.................................................. 25 Figura 5 - Setorização da planta da Catedral de Chartres ....................... 27 Figura 6 - As Ordens Clássicas ........................................................................ 28 Figura 7 - Elementos da Arquitetura Clássica ............................................ 29 Figura 8 - Planta baixa Basílica de São Pedro, de Michelangelo Buonarroti ............................................................................................................ 30 Figura 9 - Púlpito elevado no Templo de Charenton, França .................... 35 Figura 10 - Elementos básicos de um Templo Protestante ........................36 Figura 11 - Disposição interna do templo e croqui .................................... 37 Figura 12 – Ramificações do Protestantes no Brasil ................................. 38 Figura 13 - Igreja Martin Luther ................................................................... 41 Figura 14 - Catedral da Santíssima Trindade .............................................. 42 Figura 15 - Catedral Evangélica de São Paulo .............................................. 43
Figura 16 - Templo Congregação Cristã de Pinheiros ................................ 44 Figura 17 - Igreja Presbiteriana Independente de Santos ......................... 45 Figura 18 - Igreja Universal na rua Butantã, Pinheiros ........................... 47 Figura 19 - Igreja Assembleia de Deus no Largo General Osório ............. 48 Figura 20 - Maiores detentoras de templos na cidade de São Paulo....... 49 Figura 21 - Delimitações do centro ............................................................... 55 Figura 22 - Limite administrativo Subprefeitura Sé ................................ 56 Figura 23 - Hipsometria e rede hídrica ......................................................... 57 Figura 24 - Imóveis notificados na região .................................................. 58 Figura 25 - Zoneamento..................................................................................... 59 Figura 26 - Eixos regionais ..............................................................................60 Figura 27 - Macroáreas ..................................................................................... 61 Figura 28 - Eixos da transformação urbana ................................................62 Figura 29 - Predominância de usos não residenciais.................................63 Figura 30 - Densidade demográfica e vulnerabilidade social .................64 Figura 31 - Porcentagem de maior incidência de crianças e idosos no território ............................................................................................................. 65 Figura 32 - Terreno ............................................................................................66 Figura 33 - Igreja do Jubileu .......................................................................... 67 Figura 34 - Vista da rua Igreja do Jubileu ..................................................68
Figura 35 - Setorização Igreja do Jubileu ................................................... 69 Figura 36 - Planta Térreo Igreja do Jubileu................................................ 70 Figura 37 - Planta Primeiro Pavimento Igreja do Jubileu ....................... 71 Figura 38 - Fachadas Leste e Oeste Igreja do Jubileu ................................ 72 Figura 39 - Pátio Igreja do Jubileu ............................................................... 73 Figura 40 - Croquis e corte auditório........................................................... 73 Figura 41 - Iluminação Igreja do Jubileu .................................................... 74 Figura 42 - Vista interna Nave principal Igreja do Jubileu .................... 75 Figura 43 - Igreja Metodista do Norte em Christchurch .......................... 76 Figura 44 - Antigo templo da Igreja Metodista do Norte ......................... 77 Figura 45 - Setorização Igreja Metodista do Norte .................................. 78 Figura 46 - Fachadas Igreja Metodistas ....................................................... 79 Figura 47 - Bloco Celebração........................................................................... 80 Figura 48 - Salão de Adoração ......................................................................... 81 Figura 49 - Bloco comunitário ....................................................................... 82 Figura 50 - Entrada foyer ................................................................................. 83 Figura 51 - Continuidade área externa, foyer e pátio ................................ 84 Figura 52 - Iluminação e ventilação natural Igreja Metodista ............ 85 Figura 53 - Seções AA e BB Igreja Metodista ................................................ 85 Figura 54 - Seções CC e DD Igreja Metodista ................................................86
Figura 55 - Programa de necessidades preliminar ..................................... 88 Figura 56 - Fluxograma .................................................................................... 89 Figura 57 - Trajetória solar e ventos predominares em São Paulo ........ 90 Figura 58 - Implantação de estudo 1 .............................................................. 91 Figura 59 - Implantação de estudo 2.............................................................. 92 Figura 60 - Implantação de estudo 3 ............................................................. 93 Figura 61 - Implantação de estudo 4.............................................................. 94 Figura 62 - Volumetria de estudo ................................................................... 95 Figura 63 - Volumetria ..................................................................................... 97 Figura 64 - Axonométrica explodida .............................................................. 98 Figura 65 - Programa de necessidades ........................................................... 99 Figura 66 - Implantação ................................................................................. 100 Figura 67 - Planta Piso Térreo....................................................................... 101 Figura 68 - Ampliação do Piso Térreo .......................................................... 102 Figura 69 - Planta do Subsolo ....................................................................... 103 Figura 70 - Corte AA ......................................................................................... 104 Figura 71 - Corte BB.......................................................................................... 105 Figura 72 - Perspectiva interna quadra ...................................................... 106 Figura 73 - Planta 2º Pavimento ................................................................... 107 Figura 74 - Perspectiva altar ........................................................................ 108
Figura 75 - Perspectiva galeria..................................................................... 108 Figura 76 - Corte CC ......................................................................................... 109 Figura 77 - Corte DD ......................................................................................... 110 Figura 78 – Planta 3º Pavimento .................................................................... 111 Figura 79 - Corte EE ...........................................................................................112 Figura 80 - Perspectiva externa bloco social ............................................114 Figura 81 - Perspectiva externa .....................................................................115
RESUMO Com a falta de templos cristãos protestantes de qualidade arquitetônica no país, visto que grande parte das igrejas celebram seus cultos em edifícios que não foram pensados para tal uso, mas acabam sendo sacralizados e improvisados para tal, e considerando que com isso, a representatividade da arquitetura sacra cristã é enfraquecida, além de limitar as atividades que a Igreja pode exercer tanto com seus fieis, como com a comunidade, o presente trabalho trata da arquitetura sacra cristã protestante, e para compreendê-la, passa pela arquitetura Gótica e Renascentista e pela Reforma Protestante, movimento que culminou nas religiões protestantes, com o objetivo de compreender os elementos da arquitetura sacra e
o espaço sagrado
protestantes.
Palavras-chaves: Arquitetura sacra. Protestantismo. Arquitetura protestante.
ABSTRACT With the lack of Protestant Christian temples of architectural quality in the country, as most of the churches celebrate their services in buildings that were not designed for such use but end up being sacralized and improvised for this, and considering that with that the representativeness of Christian sacred architecture is weakened, in addition to limiting the activities that the Church can exercise both with its believers and with the community, the present work deals with Christian Protestant sacred architecture, and to understand it, it goes through Gothic and Renaissance architecture and by the Protestant Reformation, a movement that culminated in Protestant religions, with the aim of understanding the elements of Sacred architecture and sacred Protestant space.
Keywords: Sacred architecture. Protestantism. Protestant architecture.
SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 17 1. ARQUITETURA SACRA ..................................................................................... 19 1.1. 1.1.1. 1.2.
Breve histórico: do Gótico ao Renascimento ..................................................... 21 Protestantismo e a Arquitetura: Reforma Protestante ................................ 30 As denominações protestantes e a representatividade arquitetônica dos
templos no Brasil ............................................................................................................. 37 1.3.
O papel da Igreja e a materialização na arquitetura ...................................... 49
2.
CONTEXTUALIZAÇÃO DO LOCAL ................................................................... 53
2.1.
O centro de São Paulo ............................................................................................ 53
2.2. O lote ...................................................................................................................... 66
3.
ESTUDOS DE CASO ....................................................................................... 67
3.1.
Igreja do Jubileu – Richard Meier .......................................................................67
3.2. Igreja Metodista do Norte em Christchurch - Dalman Architecture ............76 3.3. Considerações ........................................................................................................ 86
4.
PREMISSAS PROJETUAIS ............................................................................ 87
4.1.
Estudos iniciais .....................................................................................................88
5.
Projeto Arquitetônico........................................................................... 96
5.1.
CONCEITO X PARTIDO .................................................................................................96
5.2.
O PROJETO .................................................................................................................96
6.
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 116
REFERÊNCIAS CONSULTADAS ............................................................................... 117
17
INTRODUÇÃO A arquitetura sacra é um ramo da arquitetura muito explorado há muito tempo e por diferentes estilos arquitetônicos. Inclusive, é muito fácil lembrar de alguma igreja cristã quando se precisa de um projeto para exemplo de algum estilo arquitetônico. No entanto, grande parte desses projetos exemplares são da igreja católica, já que essa é a religião predominante entre os cristãos no mundo. No brasil, o catolicismo é a religião predominante, sendo inclusive, o país com maior número de católicos no mundo. No entanto, o número de evangélicos tem aumentado nos últimos anos. Pode-se notar esse fato ao reparar a quantidade de igrejas e pontos de pregação distribuídos nas cidades. No entanto, em sua maioria, são edifícios que não foram projetados para esse uso, mas improvisados. Entende-se que a arquitetura, enquanto espaço qualificado, não exerce completamente
seu
papel,
visto
que
o
espaço
não
foi
pensado
adequadamente para ser um local de culto, de modo que pode limitar as atividades realizadas ali. Além disso, se considerar a tríade vitruviana dos três princípios básicos da arquitetura – firmitas, utilitas e venustas – esses locais de culto não se enquadrariam neles, especialmente no tocante à venustas. Por isso, compreende a importância de se projetar novos templos cristãos protestantes, para que sejam projetos exemplares para o
18 cristianismo protestante, e principalmente, local adequado para a celebração dos cultos e realização de outras atividades cabíveis à Igreja para com a comunidade. Para que seja possível projetar um espaço adequado, é necessário conhecer seu histórico, exemplos, demandas, necessidades, etc. Assim, trata-se no primeiro capítulo, sobre os estilos gótico e renascentista, anterior e concomitante à Reforma Protestante, e mudanças geradas pela reforma nos templos protestante. Fala-se então sobre o protestantismo no Brasil e aborda a questão das igrejas que funcionam em templos improvisados, e sobre o papel da igreja protestante com a comunidade, mostrando que os templos podem abrigar usos para esse público. No segundo capítulo trata-se sobre o local escolhido para a implantação do templo cristão protestante projetado, e como foi feita essa escolha. O terceiro capítulo traz estudos de caso de dois templos cristãos que incluem em seus programas de necessidades espaços para o uso da comunidade. E por fim, o quarto capítulo apresenta as intenções projetuais, através de programa de necessidades, fluxograma, implantação e volumetria.
19
1. ARQUITETURA SACRA Segundo Mumford (2004), as primeiras cidades surgem também como consequência de reuniões periódicas de celebrações de caráter sagrado. Ainda segundo o autor (Id. Ibid, p. 16): Antes mesmo que a cidade seja um lugar de residência fixa, começa como um ponto de encontro aonde periodicamente as pessoas voltam [...] o primeiro germe da cidade é, pois, o ponto de encontro cerimonial, que serve de meta para a peregrinação: sítio ao qual a família ou os grupos de clã são atraídos, a intervalos determinados e regulares, por concentrar, além de quaisquer vantagens naturais que possa ter,
certas
faculdades
“espirituais”
ou
sobrenaturais,
faculdades de potência mais elevada e maior duração, de significado cósmico mais amplo do que de processos ordinários da vida. E, embora possam ser ocasionais e temporários os desempenhos humanos, a estrutura que os suporta, quer seja uma gruta paleolítica, quer seja um centro cerimonial maia, com sua altiva pirâmide, será dotada de uma imagem cósmica mais duradoura.
Desde a pré-história e antiguidade há evidências de construções voltadas aos ritos e celebrações sagradas, como os megálitos, a exemplo
Stonehenge, os zigurates e as pirâmides do Egito (Fig. 1).
20 Figura 1 - Stonehenge, Zigurate de Ur e Pirâmides de Quéops, Quéfren e Miquerinos
Fonte: Elaborado pela autora. Baseado em: FAZIO, MOFFET, WODEHOUSE, 2011
Segundo Araújo (2005, p. 7), as artes, organização política, sistemas e concepções de sociedade civil do Ocidente foram marcados pelo cristianismo. Por mais de 100 anos, entre 200 d.C e 313 d.C., o Cristianismo foi perseguido e sofreu tentativas de enfraquecimento, incluindo a proibição de seus cultos. Somente com o Édito de Milão, em 313, Constantino, imperador romano, declarou fim à perseguição dos cristãos. Com isso, associado aos interesses políticos do imperador, a construção de igrejas foi incentivada por todo o império. Em 380, o Cristianismo foi declarado religião oficial do Império Romano, pelo então imperador Teodósio I (NOGUEIRA, 2020). Desde então, inúmeras igrejas cristãs foram construídas e diferentes estilos arquitetônicos surgiram e foram representados por essas construções.
21 Antes de começar a discorrer sobre os estilos em questão, vale ressaltar que não é de interesse desse trabalho analisar e compreender cada fase e período detalhadamente1. O interesse nasce em relatar uma breve contextualização histórica e principais elementos arquitetônicos. Esse relato busca a compreensão sobre tais estilos, a fim de propor uma aproximação comparativa entre esses, na qual, mais adiante possibilitará a diferenciação entre a arquitetura de templos desses estilos e a arquitetura de templos cristãos protestantes. A definição para esse recorte analítico se deu por dois motivos: o primeiro, pois a Reforma Protestante, como se verá mais adiante, ocorreu no período do Renascimento, movimento de ruptura com a Idade Média. Entende-se como necessário abordar também o Gótico, estilo arquitetônico concomitante à Idade Média e oposto ao Renascimento; o segundo motivo, é que que esses dois estilos serão resgatados alguns séculos mais tarde, no neoclássico e neogótico, estilos arquitetônicos que influenciarão a arquitetura dos templos protestantes no Brasil.
1.1. Breve histórico: do Gótico ao Renascimento O Estilo Gótico surge na Idade Média, no século XII, em um período de transformação da sociedade, com a ascensão da burguesia, nova classe social composta pelos comerciantes, e desenvolvimento das cidades. Até então, a vida social era desenvolvida no campo e a arte era ensinada e produzida nos
1
Entende-se que uma pesquisa mais aprofundada sobre a arquitetura religiosa desses estilos
seria objeto de estudo para um outro trabalho.
22 mosteiros. Com isso, as cidades passaram a ser o centro da sociedade, local de discussão e acontecimentos, além de cultivar e disseminar a arte. Como estilo arquitetônico, é caracterizado pelo uso de elementos como o arco ogival2 e a abóbada nervurada3, já utilizados em construções do antecessor a esse, o Estilo Românico (FAZIO, MOFFET, WODEHOUSE, 2011, p. 233), mas com novos elementos estruturais e estéticos, como por exemplo, contrafortes4 e arcobotantes5, colunas fasciculadas6, rendilhados7 e vitrais8 (Fig. 2).
2
Arco composto de duas curvas, uma côncava e outra convexa, que se encontram e
formam um ângulo agudo (COLE, 2011, p. 318). 3
Combinação do arco ogival e abóbada de arestas, no qual o ponto de encontro entre
o cruzamento das nervuras é pontiagudo conforme o arco ogival. Esse tipo de abóbada permitiu a economia de materiais, redução do peso da estrutura e aumento da altura da edificação (FAZIO, MOFFET, WODEHOUSE, 2011). 4
Reforço de alvenaria que transfere a carga de peso da abóbada para o chão,
descartando o uso de paredes maciças e espessas (COLE, 2011, p. 328). 5
Combinação de um contraforte externo a um arco esbelto, o qual se fixa à parede
logo abaixo da nascente de uma abóbada, para resistir ao seu empuxo lateral (FAZIO, MOFFET, WODEHOUSE, 2011, p. 587). 6
Coluna decorada com uma série de divisões cilíndricas, delgadas – formando feixes
(COLE, 2011, p. 208). 7
Alvenarias de pedra decorativa muito bem trabalhadas na parte superior das janelas
(FAZIO, MOFFET, WODEHOUSE, 2011, p. 234). 8
Janelas com vidros trabalhados e decorativos. (COLE, 2011).
23 Figura 2 - Diagrama de uma Catedral Gótica
Fonte: PROENÇA, 2004, p. 63
De acordo com Wodehouse, o uso desses elementos em conjunto, possibilitou: a construção de uma estrutura independente com suportes verticais bastante esbeltos, contrafortes na forma de arco (arcobotantes) e coberturas finas e nervuradas como alternativa às paredes pesadas e com poucas aberturas e às abóbadas de berço ou de arestas do Estilo Românico. Essa foi a transformação mais radical em termos de concepção de formas e espaços no desenvolvimento da arquitetura ocidental (FAZIO, MOFFET, WODEHOUSE, 2011, p. 268).
Os arcobotantes e contrafortes transferem as cargas ao solo, de modo que as paredes não são sobrecarregadas, sendo assim, não se faz necessário que sejam robustas.
24 Figura 3 - Estrutura gótica9
Fonte: FAZIO, MOFFET, WODEHOUSE, 2011, p. 234
A técnica construtiva, e evolução da mesma, permitiu uma arquitetura grandiosa, de estrutura e alvenarias cada vez maiores e mais esbeltas, com grandes vãos e vitrais.
9
Id. Ibid, p. 234. “As flechas indicam como as cargas mortas das abóbadas são transferidas
para as colunas da arcada e, através dos arcobotantes inferiores, para os contrafortes externos à edificação. Os arcobotantes mais altos ajudam a resistir às cargas laterais induzidas pela ação do vento contra a edificação.”
25 Figura 4 - Comparativo entre o tamanho das Catedrais de Laon e de Chartres, elevação e corte na nave central
Fonte: FAZIO, MOFFET, WODEHOUSE, 2011, p. 241
As Catedrais Góticas possuíam escala monumental, tanto por representarem o poder e riqueza da cidade (ARAÚJO, 2005), como também pelo caráter sagrado, para estarem mais próximas do céu e de Deus. Com o eixo vertical marcado visualmente e elementos voltados para o céu, conduzindo o olhar para o alto. Além disso, a iluminação natural e difusa tinha grande importância nessas construções, pois criava “uma atmosfera sacra” (ARAÚJO, 2005, p. 9). As janelas no clerestório10, assim como os vitrais e rosáceas11, eram responsáveis por garantir tal iluminação e atmosfera, mas
10
Fileira de janelas acima da nave lateral (COLE, 2011, p. 334).
11
Janelas circulares elaboradas de modo a simular pétalas de flor ou raios de rodas
(COLE, 2011, p. 322).
26 também tinham função decorativa. A ornamentação é outra característica predominante desse estilo, e se mostra através dos rendilhados e tracerias12 esculpidas nos elementos escultóricas das fachadas, como figuras nas ombreiras13 dos portais e gárgulas14, e também com os vitrais trabalhados, no qual os desenhos formados além de terem caráter ornamental e propiciarem uma luz multicolorida, eram relacionados a alguma cena bíblica, de modo que também ensinavam os fieis. As catedrais góticas, em sua maioria, tinham planta em formato de cruz, possibilitada pelo transepto que cruza a nave perpendicularmente. A exemplo da Catedral de Chartres, no ponto desse cruzamento fica o altar, “estrutura elevada, em geral uma mesa ou um bloco de pedra, em que são realizados os rituais” (COLE, 2011, p. 332). Para trás do altar, em direção ao fundo da catedral, fica o coro, local destinado aos cantores e músicos, e o presbitério, reservado para as orações dos padres. A abside consiste na terminação desse eixo da nave central, desde o nártex, área coberta da entrada principal, e é rodeado pelo deambulatório, um corredor lateral.
12
Ornamento de pedra trabalhada nas janelas (COLE, 2011, p. 341).
13
Elemento vertical de moldura de uma porta ou de uma janela (COLE, 2011, p. 337).
14
Escoador de água em forma de figura grotesca que se projeta do telhado ou da
parede (COLE, 2011, p. 335). Acredita-se que os monstros esculpidos afastavam os maus espíritos.
27 Figura 5 - Setorização da planta da Catedral de Chartres
Fonte: FAZIO, MOFFET, WODEHOUSE, 2011, p. 241. Editado pela autora
Enquanto a arquitetura gótica foi uma evolução do estilo antecessor (românico), o período renascentista, no século XV, voltou-se para a antiguidade clássica grega e romana. Nesse período, “a nova visão de mundo humanista [...] que celebrava a racionalidade, a individualidade e a capacidade humana de fazer observações empíricas do mundo físico e agir com base nelas” (FAZIO, MOFFET, WODEHOUSE, 2011, p. 305) proporcionou uma revolução nas artes e ruptura na linguagem arquitetônica, visto que “se empenharam em criar uma arquitetura matematicamente perfeita” (Id. Ibid, p. 305).
28 As basílicas, igrejas e capelas renascentistas seguiam as ordens15 arquitetônicas de colunas e capitéis (ver Fig. 6), tinham as formas quadriláteras e circulares valorizadas (Id. Ibid p. 306), e plantas baixas longitudinais para as basílicas e centralizadas para as igrejas e capelas menores (COLE, 2011, p. 230). Figura 6 - As Ordens Clássicas
Fonte: Estilos Arquitetônicos, [201-]
15
Ordem dórica: a mais simples das três ordens, não possui base, sua coluna é
canelada e o capitel é caracterizado por moldura simples; ordem jônica: possui base, coluna canelada e seu capitel é caracterizada pelas volutas, espirais decorativas; ordem coríntia: possui base, coluna canelada e seu capitel é caracterizado por folhas de acanto (COLE, 2011).
29 Figura 7 - Elementos da Arquitetura Clássica
Fonte: SUMMERSON, 2009, p. 138. Editado pela autora
A escala dessas construções é mais aproximada da humana, principalmente as de planta centralizada, que “passou a representar a forma mais perfeita, absoluta e imutável, capaz de refletir a harmonia celestial” (FAZIO, MOFFET, WODEHOUSE, 2011, p. 306), visto que: Os humanistas estavam certos de que a ordem cósmica divina poderia ser expressa na terra por meio de tais proporções matemáticas, que estavam inevitavelmente relacionadas às medidas do corpo humano (Id. Ibid p. 306).
A ampliação da Basílica de São Pedro, em planta centralizada de cruz grega, inicialmente idealizada por Bramante, teve a participação de praticamente quase todos os grandes arquitetos dos séculos XVI e XVII, visto que o primeiro morreu quando a obra ainda estava no nível térreo e as colunas projetadas por ele não seriam suficientes para suportar o peso da cúpula. Caso a Basílica tivesse sido concluída pela planta de Michelangelo Buonarroti,
30 “representaria o auge das igrejas com planta baixa centralizada projetadas durante o Renascimento” (FAZIO, MOFFET, WODEHOUSE, 2011, p. 332). Figura 8 - Planta baixa Basílica de São Pedro, de Michelangelo Buonarroti
Fonte: FAZIO, MOFFET, WODEHOUSE, 2011, p. 332. Editado pela autora
Esse período não foi revolucionário somente para o campo das artes, mas “a sociedade explode, e em todas as suas dimensões. Duas destas são [...] a dimensão intelectual e a dimensão religiosa, o Renascimento e a Reforma”. (BOISSET, 1971, p. 16).
1.1.1. Protestantismo e a Arquitetura: Reforma Protestante16 Paralelamente a esse período de explosão da sociedade, a instituição da Igreja enfrentava uma calamidade moral (DUNSTAN, 1964, p. 18). Os líderes
16
Não se pretende aqui analisar todo o caminho percorrido pela Reforma e seus
reformadores, mas entender minimamente como surgiu e quais mudanças gerou dentro do Cristianismo, principalmente, quais denominações são sucessoras do movimento, e como
31 eclesiásticos estavam colocando seus próprios interesses à frente da Igreja, de modo que “o egoísmo, o amor da luxúria, o nepotismo, a simonia e a imoralidade se haviam constituído as marcas visíveis da Igreja” (Id. Ibid p. 18). Além disso, havia ainda um “duelo entre a Igreja e os líderes políticos, para a supremacia sobre o povo [...] e a instituição que proclamava unir todos os homens em Cristo, não só dividira os homens entre eles, mas acabara por estar ela própria dividida” (Id. Ibid p. 18). Diante desse cenário, associado às vendas de indulgências pela Igreja Católica, que consistia no pagamento pelo perdão dos pecados, Martinho Lutero (1483-1546), monge agostinho e professor da Universidade de Wittenberg, na Alemanha, publicou em 1517 suas 95 Teses, documento que condenava as práticas eclesiásticas da Igreja que considerava imorais, e convidava a quem interessava para um debate acadêmico sobre, prática comum na época entre os intelectuais (ABUMANSSUR, 2004, p. 66). Com isso, Lutero ganhou facilmente seguidores e sua crítica foi amplamente disseminada, uma vez que seu discurso ia de encontro à situação política do momento: A evolução dos acontecimentos deu-se mais em função da conjuntura política que a Alemanha (e toda a Europa, na verdade), vivia do que pelos méritos de Lutero. De um lado estava a Cúria Romana com seu poder enfraquecido pelos sucessivos questionamentos quanto à autoridade temporal do papa e pela corrupção e mundanidade no trato das coisas
cada uma delas compreende a arquitetura, em especial o protestantismo pentecostal atualmente.
32 materiais; de outro, o crescente interesse dos reis e príncipes em
antagonismo
com
os
interesses
de
Roma;
o
fortalecimento dos nacionalismos e o desejo de autonomia política (Id. Ibid p. 66).
Ressalta-se que ele não foi o primeiro, nem o único crítico e reformador e tampouco foi o último: A reforma da Igreja fora exigida de muitos lados pelo menos 150 anos antes de Lutero surgir: o movimento conciliar, o misticismo dos fins da Idade Média, as exigências éticas dos humanistas platônicos, surtos revivalistas como o de Savanarola em Florença, todos representam diferentes manifestações
do
reconhecimento
generalizado
de
problemas e da decisão de os resolver (ELTON, 1982, apud ABUMANSSUR, 2004, p. 66).
Uldrich Zwinglio (1484-1531) e João Calvino (1509-1564) também foram importantes reformadores, o primeiro em Zurique, Suíça, e o segundo na França e Suíça, principalmente em Genebra.
Os três principiaram o
cristianismo protestante (DUNSTAN, 1964, p. 11), que se ramificou, entre outras, em: luteranos, presbiterianos (calvinistas), anglicanos, metodistas, batistas, e mais recentemente, pentecostais. Os princípios da Reforma Protestante, que enfatizam as diferenças da teologia protestante da católica, são chamados de Cinco Solas. São frases em latim que caracterizam os pilares do protestantismo. A palavra “sola” significa, em português, “somente”, “unicamente”, evidenciando que a liturgia protestante deve ser pautada exclusivamente nesses princípios. Os cinco solas são: Sola Fide (somente a fé), significa que a justificação é somente pela fé em Cristo (e essa fé é dom de Deus), enquanto que para a Igreja Católica os
33 pecados são justificados pela fé e pelas boas obras; Sola Scriptura (somente a escritura), significa que somente a Palavra de Deus (a Bíblia) deve ser identificada como regra de fé e prática da Igreja, enquanto que para a Igreja Medieval, o papa e os concílios possuíam igual ou até mesmo superior autoridade; Solus Christus (somente Cristo), significa que somente Cristo é capaz de mediar a relação entre Deus e o homem, enquanto que na época, por exemplo, a Igreja Católica vendia indulgências, alegando ter poder para perdoar os pecados dos homens (mediante pagamento); Sola Gratia (somente a Graça) significa que a salvação é somente pela graça de Deus e que não há nada para fazermos a respeito, enquanto que na época, a Igreja Católica a comercializava através da venda de perdão de pecados; e Soli Deo Gloria (somente a Deus a Glória) significa que não há nada nem ninguém que divida a glória com Deus. Esses princípios, em especial o Sola Scriptura, considerado o básico, geraram mudanças também na configuração da arquitetura sagrada, “promovendo o retorno a formas de culto mais simples” (VIANA; CAVALCANTE, 2016, p. 121), visto que atos litúrgicos e devocionais que não fossem dirigidos à Deus, seriam rejeitados Segundo Viola (2005, p. 58-60), o púlpito17 foi colocado no centro do templo, ao invés da mesa do altar, e dominou as igrejas reformadas. O altar
17
Plataforma elevada usada para a leitura de sermões e epístolas (COLE, 2011, p. 339).
34 acabou sendo substituído pela mesa de comunhão18, e essa passou a fazer parte dos cultos protestantes. O púlpito então passa a ser o “elemento de maior relevância no contexto de uma celebração litúrgica” (ABUMANSSUR, 2004, p. 126), uma vez que a palavra, ou seja, o discurso e ministração da escritura passa a ser um dos atos litúrgicos mais importantes das celebrações protestantes, visto que é o momento de ensino da escritura, e é ela que rege a fé e práticas da Igreja (Sola
Scriptura). Os bancos são dispostos em torno deste, que é mais elevado, a fim de melhorar a acústica e dar mais visibilidade ao ministro19 (GEIER, 2012, p. 31). Segundo Abumanssur (2004, p. 127), o púlpito sempre estará num nível acima dos bancos, e somente há cerca de uns vinte anos (quase quarenta, na verdade, se considerarmos quando o texto foi escrito), é que ele foi colocado no mesmo nível da mesa de comunhão.
18
Mesa destinada a apoiar os elementos da Ceia, ritual litúrgico referente à última ceia
de Cristo com seus discípulos. 19
Um dos termos destinado aos líderes das igrejas protestantes, pois esses têm como
função, também, ministrar e ensinar a escritura.
35 Figura 9 - Púlpito elevado no Templo de Charenton, França
Fonte: Musée Virtuel du Protestantisme, [20–]
A organização espacial dos templos protestantes se assemelha muitas vezes “à tipologia utilizada em teatros, com bancos dispostos circularmente ao redor do púlpito, que proporcionavam um aspecto dinâmico ao ambiente [...] outras fileiras de bancos formavam galerias” (KILDE, 2000, apud GEIER, 2012, p. 35).
36 Figura 10 - Elementos básicos de um Templo Protestante
Fonte: Musée Virtuel du Protestantisme, [20–] (tradução própria)
Para os protestantes, o batismo é uma cerimônia muito importante, e presenciada por todos, visto que acontece durante o culto público (ABUMANSSUR, 2004, p. 129). Na maior parte das ramificações do cristianismo protestante, com exceção dos batistas e pentecostais, o batismo se dá por aspersão, sendo necessária a pia batismal, que fica posicionada próxima à mesa de comunhão. Já para os batistas e pentecostais, o batismo é por imersão, e não se batiza crianças. Assim sendo, a cerimônia é realizada ou num tanque batismal, o batistério, quando há um desse no templo, ou num rio. Segundo Abumanssur (Id. Ibid p. 131), o batistério fica localizado na parede do fundo do templo, atrás do púlpito.
37 Figura 11 - Disposição interna do templo e croqui
Fonte: Lingerfelt, [194-], apud GEIER, 2012, p. 47. Editado pela autora
Segundo Lingerfelt ([194-?], apud GEIER, 2012, p. 47), essa disposição, com o coro atrás do púlpito, garante uma melhor acústica, “pois todos os sons – a palavra falada e a música – sairiam do mesmo ponto, direcionados à congregação”.
1.2. As denominações protestantes e a representatividade arquitetônica dos templos no Brasil Para falar acerca da arquitetura dos templos cristãos protestantes no Brasil, é necessário entender brevemente o contexto histórico da chegada do protestantismo no país.
38 Figura 12 – Ramificações do Protestantes no Brasil
Fonte: Elaborado pela autora. Baseado em Roberto, [201-] e Folha de S. Paulo, 2016
Segundo Abumanssur (2004, p. 99-100), no período colonial, com a expansão da Companhia das Índias, os holandeses tentaram estabelecer o protestantismo no Nordeste, no entanto, os edifícios públicos e religiosos desse período não foram poupados pela restauração portuguesa de 1649, portanto, não há qualquer vestígio arquitetônico. Ainda segundo o autor, com a vinda da família real para o Brasil e abertura dos portos por conta da relação entre Portugal e Inglaterra, os protestantes ingleses e americanos vieram para cá. Houve ainda a assinatura do Tratado do Comércio e Navegação, em 1810, permitindo que essas pessoas celebrassem seus cultos não católicos, no entanto
39 ... as sobreditas igrejas e capelas sejam construídas de tal modo que externamente se assemelhem a casas de habitação; e também que o uso dos sinos não lhes seja permitido para o fim de anunciarem publicamente as horas do serviço divino. (LAEMMERT, 1863, apud ABUMANSSUR, 2004, p. 100).
A tradição da simplicidade arquitetônica protestante desse período, com aparência de habitação, foi moldada não somente por essa interdição, mas também pela pobreza das comunidades onde eram inseridas (Id. Ibid p. 100-101). E mesmo após a proclamação da República, quando os protestantes ganharam o direito de construírem seus templos como templos, já não havia mais, aqui ou na Europa, um único estilo prevalecente
sobre
o
qual
se
pudesse
fazer
uma
interpretação própria. É, portanto, em um momento de crise estética na arquitetura que os protestantes iniciam a conquista do território brasileiro (ABUMANSSUR, 2004, p. 108-109).
Com isso, “os estilos neoclássico e neogótico foram as principais fontes de inspiração para as comunidades protestantes” (Id. Ibid p. 113). Estilos inspirados no racionalismo da antiguidade, e no gótico, respectivamente, sendo, inclusive, o Renascimento, também racionalista, o estilo arquitetônico do período da Reforma, e o Gótico seu antecessor. Possíveis razões para a influência desses estilos na arquitetura protestante do Brasil, é que segundo Kilde (2002, apud GEIER, 2012, p. 39), teólogos buscavam meios para que os anseios cristãos fossem refletidos na liturgia e práticas protestantes. Com isso, em 1830, analisaram ruínas medievais, no que foi chamado de movimento Eclesiológico, que resultou na
40 volta ao gótico, que foi considerado o estilo capaz de refletir os princípios cristãos. Uniram as proporções góticas, a estrutura visível e relação interiorexterior através da transparência. Outra razão, é que esses estilos estavam presentes também em grande parte das igrejas protestantes norte americanas (ABUMANSSUR, 2002, p. 12), e essas contribuíram com a chegada do protestantismo no nosso país. Nos Estados Unidos ainda, em consequência da Guerra Civil e questões escravistas, as igrejas protestantes buscaram se fortalecer e unir, de modo a tentar apaziguar a comunidade. Uma estratégia adotada para essa união foi a adoção do estilo neogótico nos templos, considerado uma arquitetura neutra, nem católica, nem protestante, mas cristã (KILDE, 2002, apud GEIER, 2012, p. 39-40). Segundo Abumanssur (2002, p. 14), esse estilo arquitetônico é conhecido entre os protestantes por “estilo catedral”. Alguns exemplos de templos neogóticos que temos no Brasil, são os das primeiras igrejas luterana, anglicana e presbiteriana, em São Paulo e Porto Alegre, sendo as duas últimas, inclusive, denominadas de catedral.
41 Figura 13 - Igreja Martin Luther
Fonte: Hebmüller, [2020]
O primeiro templo dos luteranos de São Paulo foi inaugurado em 1908 e é o primeiro em estilo neogótico da capital (HEBMULLER [2020]). Foi inclusive tombado como patrimônio histórico do Município de São Paulo. No dia 1º de maio de 2018, teve grande parte de sua edificação destruída em consequência do incêndio e queda do edifício vizinho.
42 Figura 14 - Catedral da Santíssima Trindade
Fonte: Prefeitura de Porto Alegre, 2008
O primeiro templo anglicano no Brasil foi inaugurado em 1903, em Porto Alegre. Por falta de recursos, foi simplificada e não construída a torre. É tombado pelo Patrimônio Histórico Municipal.
43 Figura 15 - Catedral Evangélica de São Paulo
Fonte: Fernandes, 2015
Os cultos e celebrações da Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo, são realizados na Catedral Evangélica de São Paulo, desde 1955. A influência do estilo neogótico está presente também no formato das janelas com arcos ogivais, em alguns templos protestantes e pentecostais, característica marcante, por exemplo, entre os templos da Congregação Cristã no Brasil.
44 Figura 16 - Templo Congregação Cristã de Pinheiros
Fonte: Google Maps, 2019
Como citado anteriormente, o estilo neoclássico também influenciou a arquitetura dos templos protestantes, fazendo uso de elementos como as ordens das colunas, frontões, pórticos. Segundo Abumanssur (2002, p. 12), enquanto o neogótico está mais associado ao lado espiritual e simbólico, o neoclássico vai de encontro ao lado racional do homem e da fé protestante. Ainda segundo o autor (Id. Ibid p. 13), “esse estilo transmitia as ideias de reserva, solidez, boas maneiras e simplicidade [...] presentes na maneira do protestante entender, ou racionalizar, sua fé e seu ascetismo”.
45 Figura 17 - Igreja Presbiteriana Independente de Santos
Fonte: Google Maps, 2019
Essa simplicidade é materializada tanto no desenho arquitetônico, quanto na decoração e falta de ornamento nos templos (ABUMANSSUR, 2004, p. 112), pois conforme os princípios dos Cinco Solas do protestantismo, tudo o que não for relacionado às Escrituras e à Trindade passa a ser rejeitado (VIANA; CAVALCANTE, 2016, p. 121). Conforme Matos (2011, p. 4, apud VIANA; CAVALCANTE, 2016, p. 120) O próprio santuário, suas imagens, suas relíquias e sua liturgia podiam se tornar mais importantes para o cristão comum do que o relacionamento pessoal e direto com Deus. Os meios (as representações materiais) tendiam a tornar-se mais importantes do que os fins, ou seja, as realidades transcendentes para as quais eles apontavam.
46 Nesse sentido, entra ainda a questão da representação de Deus e coisas divinas para os protestantes. Segundo Abumanssur (2011, p. 8), essa rejeição “levou a arte a um apagamento da imagem: simbolismo, impressionismo, abstracionismo [...] e todo o processo de decomposição da realidade [...] buscava [...] a contemplação pura e extática da verdadeira realidade do Ser”. Ainda conforme Abumanssur (2004, p. 124), quando há nas igrejas pinturas e/ou vitrais, essas representações pictóricas são de cenas bíblicas, “como por exemplo, o sacrifício de Isaque por seu pai Abraão” e nos vitrais “abstracionismos geométricos”. Os templos protestantes no Brasil não seguem um único estilo arquitetônico, mas “o mais comum é vermos diferentes elementos de diferentes estilos misturados sem nenhum critério” (Id. Ibid p. 113). Atualmente, ainda, é muito comum se ver igrejas protestantes que têm como templo edifícios já existentes, adaptados para a celebração dos cultos. Vale ressaltar, que o protestantismo não compreende o espaço como sagrado, mas como espaço sacralizado por meio das reuniões, cultos e celebrações dos fieis (ABUMANSSUR, 2004, p. 101). Isso significa que “o espaço sagrado é então, qualquer lugar onde a comunidade reúne-se ou atue” (ABUMANSSUR, 2004, p. 101). Segundo Abumanssur (Id. Ibid p. 186-187) A sacralidade de um espaço pentecostal, não é qualidade própria do lugar, mas uma leitura ad hoc no momento celebrativo. Os templos, para esses cristãos, (falamos desses,
47 mas poderíamos falar de outros também), inscrevem-se na paisagem urbana de modo indistinto. Eles não são, salvo raras exceções, marco referencial para a cidade. Esses templos se perdem no conjunto da mobília urbana [...] são não-lugares, como todo o resto da cidade.
O autor usa ainda o termo “não-arquitetura” para designar esses edifícios que funcionam como igreja, de forma adaptada, sem que tenham sido projetados e pensados para tal uso. E completa que “as casas de cultos pentecostais, ao perderem o caráter monumental e o sentido da permanência, perdem-se, em consequência, na paisagem urbana e confundem-se com os demais edifícios da rua” (Id. Ibid p. 190). Figura 18 - Igreja Universal na rua Butantã, Pinheiros
Fonte: Google Maps, 2019
48 Figura 19 - Igreja Assembleia de Deus no Largo General Osório
Fonte: Google Maps, 2019
Considerando os pontos tratados nesse tópico, entende-se que a arquitetura protestante no Brasil ainda enfrenta uma crise estética, não pelos mesmos motivos de quando recebeu o direito de construir seus templos (ABUMANSSUR, 2004, p. 108-109), pois enquanto naquela época faltavam as referências estéticas arquitetônicas protestante, atualmente se tem as referências, mas sobram-se os templos. Segundo dados da Prefeitura de São Paulo, há na cidade 5.779 templos, dos quais, se somados os das igrejas protestantes detentoras individuais, ultrapassa o número da Igreja Católica (RODRIGUES, 2019).
49 Figura 20 - Maiores detentoras de templos na cidade de São Paulo
Fonte: Folha de S. Paulo, 2019
Com isso, pode-se concluir que a arquitetura protestante brasileira demanda de templos referenciais, com uma estética arquitetônica marcada e definida, que se destaque da paisagem, oposta à “não-arquitetura” citada por Abumanssur.
1.3. O papel da Igreja e a materialização na arquitetura Nas últimas décadas, o templo deixou de ser um espaço apenas de celebração litúrgica. Segundo Suda (2014, p. 6), diversas funções, antes não consideradas de caráter religioso, passaram a fazer parte das manifestações da Igreja Protestante, como teatro, música, dança, esportes e assistência social. Edifícios religiosos que ficavam fechados durante a semana e só funcionavam durante as celebrações, passaram a dividir seus recursos,
50 espaços, infraestrutura, tempo, e serviços profissionais com a comunidade. Com isso, “os edifícios antigos e suas dependências simples para a adoração e ensinamento bíblico estavam fora de moda. Novos edifícios multifuncionais eram necessários” (SUNDAY, 2010, apud SUDA, 2014, p. 6). A ideia de fazer a congregação o centro de serviços da comunidade veio do movimento do evangelho social [...] entre as características enfatizadas por uma igreja institucional estavam livrarias, refeições para aqueles que precisavam, ginásios e outras dependências para recreação para os jovens. Algumas igrejas patrocinaram uma “troca de trabalhos” para ajudar a encontrar empregos para os desempregados (MACLLISTER, s.d., apud SUDA, 2014, p. 6).
Dessa forma, os templos passaram a “abrigar a assembleia de fieis e suas necessidades contemporâneas e não mais a de converter o visitante num devoto, com a criação de uma atmosfera mística” (ANSON, 1969, apud SUDA, 2014, p. 11). Essas novas atividades que a igreja passou a oferecer têm como objetivo
abraçar
a
comunidade
local
e
proporcionar
atividades
socioeducativas, artísticas, e de integração, a fim de contribuir com o desenvolvimento e capacitação da mesma. No passado a arquitetura religiosa era guiada por um programa arquitetural baseado em cultura, normas e formas. Agora, no entanto, a arquitetura religiosa como um tipo de construção está se tornando cada vez mais diversa e pode de fato forçar mudanças nos programas das atividades religiosas (FUJIKI, 1997, p. 5, apud SUDA, 2014, p. 12).
51 Na Bíblia, em Tiago 1:27, diz que a verdadeira religião é cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades, fazendo referência aos necessitados e vulneráveis. Além disso, no evangelho de Mateus, em diferentes passagens, relata Jesus dizendo que o segundo maior mandamento é “amar o seu próximo como a ti mesmo”. Alguns significados de “amor” são “sentimento de afeto, cuidado, zelo, dedicação”. Ao entender que a Igreja (aqui como grupo, como parte do Corpo de Cristo) deve cuidar dos vulneráveis e amar seu próximo, que não é somente quem está ao seu redor e já faz parte de seu vínculo social e afetivo, entende-se que o papel da Igreja está muito além de só realizar celebrações litúrgicas, mas é também papel desta cuidar e amar o seu próximo, mesmo que esse não seja um membro de sua celebração. E quando se entende isso, compreende-se que o papel da igreja (agora como edifício construído) é muito mais do que um lugar para essas reuniões e celebrações. É o lugar que pode abrigar todas essas atividades e funções e proporcionar lugares adequados para cada um deles. Os edifícios religiosos são muitas vezes vistos como lugares fechados e presos no passado, mas quando eles se distanciam
das
estruturas
dogmáticas
tradicionais,
oferecendo espaços livres para a interpretação do espiritual, se convertem em espaços atuais e abertos que promovem o diálogo e a compreensão entre os crentes (BENITEZ, 2009, p. 7, apud SUDA, 2014, p. 12).
Segundo Carmo (2010, apud SUDA, 2014, p. 11), “no modernismo, progressivamente, o espaço da igreja passava a ser multifuncional, diluindo
52 todas as barreiras para melhor cumprir a sua função de polo dinamizador da vida da comunidade”. De acordo com Suda: o foco não está somente no templo, lugar de adoração, mas também na qualidade das demais estruturas que se fazem essenciais, tais como salas de ensino, estúdios de gravação e transmissão e ensaios, áreas de recreação e lazer, setores administrativo, de marketing, financeiro, entre outros, convertendo a construção em um ambiente multifuncional e atraente aos frequentadores (SUDA, 2014, p. 12).
Ao incluir em seu programa áreas de usos comuns destinadas à comunidade local e não exclusiva aos membros da igreja, os templos contribuem com projetos sociais e abrigam pautas que biblicamente já são de sua responsabilidade, ao cuidar dos mais necessitados e vulneráveis.
53
2. CONTEXTUALIZAÇÃO DO LOCAL Considerando os fatores analisados no capítulo anterior, pode-se concluir que o templo projetado deve estar inserido numa área onde possa se destacar da paisagem, além de abrigar outros espaços, destinados ao uso da comunidade local. Com isso, adota-se que deve estar inserido numa área central, com acesso fácil, próximo à pontos de ônibus e/ou estações de trem e metrô e onde haja uma comunidade local para poder fazer uso dos espaços. Por isso, optou-se pela região central de São Paulo.
2.1. O centro de São Paulo A partir dos anos 20, com a expansão da cultura cafeeira, a cidade de São Paulo foi a que mais atraiu investimentos e pessoas. Na década de 30 já tinha mais de 1 milhão de habitantes, crescendo exponencialmente esse número e atingindo a marca de 6 milhões nos anos 1970 (ROLNIK, 2001). Ainda segundo a autora, no fim dos anos 30 o transporte rodoviário começou a ser valorizado, substituindo os bondes sobre trilhos que circulavam na região central por ônibus que chegavam até os novos bairros surgidos na periferia, resultando “em espraiamento progressivo e diminuição da densidade da cidade” (Id. Ibid, p. 42). Em paralelo, o centro foi cada vez mais verticalizado
e
juntamente
com
a
região
sudoeste,
concentrando moradias de alto padrão, comércios e serviços.
consolidados,
54 Nos anos 50, com a intensificação do setor industrial através da chegada das indústrias petroquímica e automotiva, a cidade se torna o centro industrial mais importante do país, além da maior cidade e mais importante centro financeiro. Entre os anos 60 e 70, com o surgimento de uma nova centralidade na avenida Paulista e a “evasão de sedes de empresas e bancos para a região” (ROLNIK, 2001, p. 46), o centro de consumo também foi deslocado do centro histórico em direção ao espigão da Paulista. Segundo Rolnik (2001, p. 45): Até essa data, a São Paulo metropolitana contava com um único centro, feito de duas partes: o ‘Centro Tradicional’ (região do triângulo), constituído durante a primeira industrialização (1910-40), e o ‘Centro Novo’ (da praça Ramos à praça da República), que se desenvolveu no pós-guerra (1940-60). A vida cultural, econômica e política de todos os grupos sociais da metrópole compartilhava um espaço que abrigava simultaneamente a boca do lixo e a do luxo, a sede das grandes empresas e uma multidão de vendedores ambulantes, engraxates, pastores e pregadores do fim dos tempos, homens-sanduíche e os magazines elegantes da rua Barão de Itapetininga, os apartamentos luxuosos da avenida São Luís e os chamados ‘treme-treme’ feitos de kitchenettes superpovoadas na baixada do Glicério e na Bela Vista.
55 Figura 21 - Delimitações do centro
Fonte: CASTRO, 2003
A partir desse processo de deslocamento do centro financeiro para a região da Paulista, alguns equipamentos públicos foram se deteriorando e os bairros se esvaziando, em consequência também do “interesse e oferta crescente por moradias em áreas exclusivamente residenciais, numa busca por uma vida cotidiana mais bucólica” (OLIVEIRA, 2018). Nesse período, os imóveis foram se esvaziando, tornando-se subutilizados e até mesmo, abandonados, já que “os antigos locatários foram embora; os proprietários deixaram os locais vazios por diferentes motivos” e ainda, “o Estado não tomou nenhuma medida para impedir o abandono dessas estruturas que deveriam, de acordo com a Constituição, exercer uma ‘função social’, sendo produtivas ou habitáveis” (OLIVEIRA, 2018). Como resultado, a região central
56 ficou abandonada por muito tempo, mas há cerca de uma década, depois de políticas públicas e incentivo por parte da Prefeitura, tem atraído mais moradores e movimento, visto que: Um público jovem conectado, ligado à cultura, gastronomia e que gosta da vida urbana, começou a frequentar e até morar no Centro. Novos bares, restaurantes, espaços e coletivos culturais surgiram, dando um novo dinamismo à região. Esse processo
está
contribuindo
diretamente
para
a
ressignificação do Centro de São Paulo como um lugar de encontro, respeito à diversidade, oportunidades, economia criativa, inovação e palco para diferentes coletivos sociais e de cultura (MELO; BACOCCINA, 2019).
A região central, sob administração da Subprefeitura da Sé, é composta pelos distritos da Sé, República, Cambuci, Liberdade, Bela Vista, Consolação, Santa Cecília e Bom Retiro. Figura 22 - Limite administrativo Subprefeitura Sé
Fonte: Quadro analítico: Sé, 2016
57 Essa região é mais alta ao norte, de modo que vai descendo em direção à Consolação, Bela Vista e Liberdade, e o centro entre República e Sé é mais baixo também, visto que ali é área de vale. Figura 23 - Hipsometria e rede hídrica
Fonte: Caderno Subprefeitura Sé, 2016
Essa subprefeitura possui muitos imóveis notificados pela função social, em todos os distritos, com maior concentração na República e Sé.
58 Figura 24 - Imóveis notificados na região
Fonte: Geosampa, 2020
Segundo o novo zoneamento, Lei de Uso e Ocupação do Solo nº 16.402/16, esses dois distritos concentram as Zonas de Centralidade (ZC) e Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS), de modo a incentivar e garantir habitação de interesse social nessa área.
59 Figura 25 - Zoneamento
Fonte: Quadro analítico: Sé, 2016
Com isso, o templo não poderá ser inserido nessa área, pois os vazios urbanos e lotes notificados de tamanho adequado para o projeto, são ZEIS. Sendo assim, a análise das demais condicionantes será determinante para a definição do distrito e consequentemente, do lote. A região como um todo é bem servida de linhas de transporte público, tanto da CPTM, Metrô e terminais de ônibus.
60 Figura 26 - Eixos regionais
Fonte: Perímetros de ação: Sé, 2016
Ao analisarmos as macroáreas, nota-se que a subprefeitura é dividida ao meio, no eixo noroeste-sudeste (contornando os distritos República e Sé), entre Macroárea de Estruturação Metropolitana e Macroárea de Urbanização Consolidada.
61 Figura 27 - Macroáreas
Fonte: Caderno Subprefeitura Sé, 2016
Os distritos Consolação, Bela Vista, Liberdade e parte do Cambuci, são classificados como consolidados e predomina a Zona de Estruturação Urbana (ZEU), que são zonas “onde se deve condensar a transformação da cidade, necessária para enfrentar seu expressivo déficit habitacional e reorientar um processo de contínua urbanização” (Zoneamento ilustrado, 2016, p. 2), enquanto que os distritos enquadrados na Macroárea de Estruturação Metropolitana, são em sua maioria, da Zona de Centralidade (ZC), “voltadas à promoção de atividades típicas de áreas centrais ou de subcentros regionais
62 ou de bairros, destinadas principalmente aos usos não residenciais, com densidades construtiva e demográfica médias” (Zoneamento ilustrado, 2016, p. 25). Essas zonas são complementares, a fim de garantirem o equilíbrio entre moradia, comércio e emprego. Figura 28 - Eixos da transformação urbana
Fonte: Caderno Subprefeitura Sé, 2016
A região da ZC é predominantemente residencial, enquanto nas demais áreas predomina uso não-residencial misto.
63 Figura 29 - Predominância de usos não residenciais
Fonte: Caderno Subprefeitura Sé, 2016
Em consequência desses usos, a densidade demográfica é maior nos distritos da ZC, no entanto, as áreas de maior vulnerabilidade, de acordo com o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS) não se concentram somente nessas áreas, mas parte de Santa Cecília e República também são mais vulneráveis.
64 Figura 30 - Densidade demográfica e vulnerabilidade social
Fonte: Caderno Subprefeitura Sé, 2016
Considerando os usos que o templo a ser projetado visa abrigar, incluindo áreas destinadas ao uso da comunidade, em especial atividades voltadas às crianças, como esportes e aulas de música, se faz necessário também compreender onde há concentração de crianças em moradias fixas na região.
65 Figura 31 - Porcentagem de maior incidência de crianças e idosos no território
Fonte: Caderno Subprefeitura Sé, 2016
Ao analisar todas essas condicionantes, chega-se à conclusão de que o templo
deve
ser
inserido
dentro
da
Macroárea
de
Estruturação
Metropolitana. Como já visto que não poderá ser nos distritos da República ou Sé, sobram Santa Cecília, Bom Retiro e parte do Cambuci. Com o cruzamento dos dados de imóveis notificados, eixos regionais, vulnerabilidade social e incidência de crianças no território, define-se que o templo será localizado na Santa Cecília.
66
2.2. O lote Em função de tamanho de lote dos imóveis notificados e proximidade desses ao transporte público, definiu-se que o templo será localizado na rua Frederico Abranches, em um terreno de aproximadamente 4.000 md, em uma Zona de Estruturação Metropolitana (ZEM), que tem o “objetivo de promover maior diversidade de atividades e atrair a população para esses locais, que também estão próximos da rede de transporte público” (Zoneamento ilustrado, 2016, p. 11). Optou-se por incluir à área do terreno de projeto o imóvel vizinho da lateral direita, de aproximadamente seis metros de testada, a fim de aumentar a medida dos fundos, visto que há duas quebras no segmento dos fundos. Figura 32 - Terreno
Fonte: Geosampa, 2020. Editado pela autora
67
3. ESTUDOS DE CASO A definição dos estudos de caso se deu principalmente por templos que têm em seu programa de necessidades áreas de uso comum voltadas à comunidade, além de uma volumetria que permita a iluminação e ventilação natural.
3.1. Igreja do Jubileu – Richard Meier Figura 33 - Igreja do Jubileu
Fonte: Archdaily, 2009
Local: Roma, Itália Arquiteto: Richard Meier Área total: 830 md
68 Ano: 2003 Prêmio Frate Sole em 2004 Localizada no subúrbio de Roma, a Chiesa di Dio Padre Misericordioso foi um projeto fruto de um concurso encomendado pelo Vaticano para o Jubileu do segundo milênio do Cristianismo, por isso ficou conhecida como a Igreja do Jubileu. Inserida em um lote triangular, de um bairro com muitos edifícios habitacionais, em um ponto da rua que se assemelha à uma bifurcação, a entrada principal da igreja, voltada para leste, fica em um ponto de marcação visual livre, de modo que quem está na rua, ao se aproximar, logo consegue visualizar a igreja marcando a paisagem. Figura 34 - Vista da rua Igreja do Jubileu
Fonte: Google Maps, 2017
A edificação é dividida em dois blocos. O bloco sul, com linhas curvilíneas, abriga as atividades voltadas ao sagrado. Ao norte, com linhas retilíneas, fica o bloco voltado às atividades administrativas e comunitárias.
69 Figura 35 - Setorização Igreja do Jubileu
Fonte: Richard Meier & Partners Architects, [200-]. Editado pela autora
O bloco sagrado é marcado por sua imponente volumetria, com elementos estruturais portantes de placas de concreto pré-moldadas e tensionadas, que se assemelham à conchas. São três ao sul, que fazem referência à Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo) e delimitam a divisão interna da igreja, e outra ao norte, que faz a separação entre os blocos. O pé direito alto permitiu um mezanino para uma área de depósito acima da sacristia e o coro na outra extremidade (Fig. 36 e 37). O bloco comunitário possui volumetria mais simples, ortogonal. Concentra os sanitários, além de abrigar áreas de apoio e administrativas,
70 como escritórios e salas de aula. É ainda, através deste bloco que se acessa o jardim no nível térreo, o pátio um nível abaixo, e a quadra de esportes. Há um segundo andar (não encontradas plantas deste nível), onde ficam ambientes destinados à moradia do pároco. É também nesse bloco que ficam os sinos, na fachada leste. Figura 36 - Planta Térreo Igreja do Jubileu
Fonte: Richard Meier & Partners Architects, [200-]. Editado pela autora
71 Figura 37 - Planta Primeiro Pavimento Igreja do Jubileu
Fonte: Richard Meier & Partners Architects, [200-]. Editado pela autora
Ao analisar as volumetrias dos dois blocos como um todo, e as fachadas leste e oeste (Fig. 38), sendo a primeira a frente da igreja, fica visível que o bloco sagrado é maior, tanto em altura quanto em largura, comparado ao comunitário. Acredita-se que isso busca evidenciar a predominância do sagrado.
72 Figura 38 - Fachadas Leste e Oeste Igreja do Jubileu
Fonte: Elaborado pela autora. Baseado em Wikiarquitectura, [200-]
O jardim e principalmente o pátio (Fig. 39), são áreas vazias (no sentido de não serem volumetrias edificadas) ao norte do bloco comunitário. No entanto, em croquis feitos pelo próprio Richard Meier e corte encontrados nas pesquisas (Fig. 40), constatou-se que o intuito era a construção de um terceiro bloco, ao norte do bloco comunitário, que abrigaria um grande auditório (Fig. 40).
73 Figura 39 - Pátio Igreja do Jubileu
Fonte: Knowlton School, [20?]
Figura 40 - Croquis e corte auditório
Fonte: Elaborado pela autora. Baseado em Richard Meier & Partners Architects, [200] e Wikiarquitectura, [200-]
A iluminação natural é uma importante característica do projeto. Os vãos entre as conchas e fechamentos com caixilharia de alumínio e vidro, também usados nas fachadas leste e oeste (Fig. 41), permitem a entrada da luz
74 natural, de modo que durante o dia não seja necessário fazer uso da artificial, além de propiciarem um jogo de luz e sombra, de modo que a experiência provocada pela iluminação vai mudando com o passar das horas, conforme o dia escurece. Além disso, esses vãos permitem também um efeito de iluminação difusa no período da noite quando a igreja precisa ser iluminada. Figura 41 - Iluminação Igreja do Jubileu
Fonte: Elaborado pela autora. Baseado em: Richard Meier & Partners Architects, [200-]
A ventilação natural também é garantida através da circulação de ar, possibilitada por uma parede de ripas na concha norte (Fig. 42), na parte superior, em conjunto com as aberturas mais baixas. Assim como as demais obras de Richard Meier, a Igreja do Jubileu tem como característica marcante a cor branca, não só externa, como predominante internamente também. Para garantir que o exterior da igreja
75 permanecesse nessa cor, foi desenvolvido um concreto especialmente para o projeto, no qual utiliza-se em sua mistura dióxido de titânio, que exposto à luz solar, oxida os poluentes do ar, de modo que a superfície permaneça branca. Internamente, o branco se junta ao bege do mármore, utilizado em alguns elementos litúrgicos, e com a madeira dos bancos e parede ripada da concha norte. Figura 42 - Vista interna Nave principal Igreja do Jubileu
Fonte: Google Maps, 2016
76
3.2. Igreja Metodista do Norte em Christchurch - Dalman Architecture Figura 43 - Igreja Metodista do Norte em Christchurch
Fonte: Archdaily, 2016
Local: Christchurch, Nova Zelândia Arquiteto: Dalman Architecture Área total: 780 md Ano: 2016 Prêmio de Arquitetura Local e Nacional da Nova Zelândia (NVZIA – New
Zealand Architecture National and Local Award) em 2017 na categoria de edifício público Localizada na costa leste da Ilha Sul da Nova Zelândia, a igreja foi reconstruída após seu templo centenário (Fig. 44) ter sido demolido em
77 consequência de sérios danos causados por terremotos entre o fim de 2010 e início de 2011. A volumetria da nova edificação (Fig. 43) faz referência à horizontalidade do templo anterior (Fig. 44), e a janela mais alta da esquina, com uma cruz de madeira, faz alusão à antiga torre. Figura 44 - Antigo templo da Igreja Metodista do Norte
Fonte: Archilovers, 2016
O templo é basicamente composto por dois blocos, o mais ao sul, de esquina, sendo destinado à celebração dos cultos, e o ao norte, com áreas destinadas ao uso comum, tanto da própria igreja, como também da comunidade.
78 Figura 45 - Setorização Igreja Metodista do Norte
Fonte: MRM, [201?]. Editado pela autora
O bloco celebração é composto pela Worship Hall, em tradução livre, Salão de Adoração, um auditório com pouco mais de 165 assentos e cerca de 215 md. As cadeiras, dispostas em dois grupos com corredor central, são voltadas para o altar na parede do fundo, e não são fixas no piso, de modo que o layout possa ser alterado conforme necessidade (Fig. 48). As fachadas (Fig. 46), oeste (frente) e leste (fundos), são de painéis de vidro de 2 metros de altura instalados entre as colunas metálicas, com o intuito de atrair a atenção daqueles que passam pela rua. A fachada sul, voltada para a via mais movimentada, possui poucas aberturas, a fim de barrar parte do ruído, mas ainda assim permitir a transparência e relação interior-exterior. Na esquina do bloco, a janela alta além de contribuir com a iluminação natural e também
79 fazer referência à torre que existia no mesmo local no antigo templo, marca a edificação na paisagem, especialmente o Salão de Adoração, o uso predominante da igreja. Figura 46 - Fachadas Igreja Metodistas
Fonte: Archilovers, 2016
A cobertura desse bloco possui geometria irregular, pois as arestas convergem para a torre. Com isso, o forro interno de painéis de madeira, seguiu essa irregularidade e se tornou ponto de atenção, atraindo o olhar para cima (Fig. 48). O revestimento da cobertura é aplicado também na lateral leste e na parte de trás da torre, enquanto a lateral oeste recebe o mesmo
80 acabamento do fechamento lateral, de modo que a torre é incorporada ao bloco, tornando-se os dois um único volume. Figura 47 - Bloco Celebração
Fonte: Elaborado pela autora. Baseado em Archdaily, 2016
81 Figura 48 - Salão de Adoração
Fonte: Elaborado pela autora. Baseado em Archdaily, 2016 e Goodenough, 2017
O bloco comunitário (Fig. 49), por sua vez, abriga os ambientes de usos comuns, não só para as atividades da igreja, mas também da comunidade. Inclui um ginásio, com cerca de 150 md, que além de receber atividades voltadas ao esporte é também um salão multiuso (Fig. 49); uma sala de eventos, menor que o anterior, com aproximadamente 90 md e que pode ser dividida em dois ambientes; uma cozinha, de aproximados 25 md, com acesso direto ao salão; escritórios voltados às atividades e reuniões da igreja; além dos sanitários que estão concentrados nesse bloco. Um corredor central divide esse bloco longitudinalmente, separando o ginásio e cozinha dos demais ambientes, garantindo a circulação entre eles e os conectando ao foyer e ao estacionamento em frente à fachada norte, possibilitando também
82 a ventilação cruzada. Para a iluminação, uma claraboia foi prevista na cobertura do corredor e no ginásio iluminação zenital tipo shed (Fig. 43). Figura 49 - Bloco comunitário
Fonte: Elaborado pela autora. Baseado em Archdaily, 2016 e NZIA, 2017
O foyer, elemento central e de grande importância no projeto, separa os blocos e seus usos, mas também os conecta, reiterando que fazem parte de um só edifício e de uma só instituição. Além disso, o acesso principal e ao pátio externo também se dá por ele. Com isso, busca-se fazer um ambiente convidativo, com transparência, que permita a visualização do interior e do pátio, de modo a atrair visitantes. A cobertura na parte externa é inclinada (Fig. 50), de modo que quanto mais perto da entrada mais baixa fica, numa tentativa de convidar as pessoas a entrarem no templo.
83 Figura 50 - Entrada foyer
Fonte: Archdaily, 2016
Além disso, outra maneira de tornar a entrada convidativa é através da materialidade. O pavimento da calçada se assemelha ao carpete do foyer, e a madeira utilizada tanto na cobertura da área externa, como no forro do foyer, se repete no piso do pátio, criando uma continuidade (Fig. 51). Além disso, a madeira se destaca do branco da fachada, e do preto da cobertura e caixilharias, marcando a entrada principal.
84 Figura 51 - Continuidade área externa, foyer e pátio
Fonte: Elaborado pela autora. Baseado em Archdaily, 2016
Acerca da materialidade, o fechamento lateral é composto por um sistema de isolamento e acabamento externo (EIFS, sigla em inglês para
Exterior Insulating Finishing System) que inclui em suas camadas EPS (Poliestireno Expandido) e fibra de vidro, que ajudam a manter o interior fresco nos meses mais quentes e mantém o calor nos meses mais frios, e também contribuem com a redução do consumo de energia. A iluminação e ventilação natural são muito utilizadas nesse projeto, e a volumetria e setorização simplificadas, com o foyer central e um único corredor, favoreceram a ventilação cruzada e iluminação zenital através da torre, claraboia e shed (Fig. 52 a Fig. 54).
85 Figura 52 - Iluminação e ventilação natural Igreja Metodista
Fonte: Archdaily, 2016. Editado pela autora
Figura 53 - Seções AA e BB Igreja Metodista
Fonte: Archilovers, 2016. Editado pela autora
86 Figura 54 - Seções CC e DD Igreja Metodista
Fonte: Archilovers, 2016. Editado pela autora
3.3. Considerações Ao analisar os dois projetos, nota-se conceitos em comum que serão levados para o projeto, como: a predominância da iluminação natural, incluindo a zenital; a ventilação natural cruzada; a integração entre o ambiente interior e exterior através da transparência; a separação dos usos por blocos, porém esses conectados; ambientes adequados para o uso da comunidade externa e não somente dos membros da igreja; e uma arquitetura icônica, que marca a paisagem em que está inserida.
87
4. PREMISSAS PROJETUAIS O projeto do templo seguirá o exemplo de blocos dos estudos de caso. Serão três: um para a celebração, com auditório para cerca de 300 pessoas, incluindo galeria; outro para as atividades administrativas e de ensino, com sala pastoral, salas de aula baby, kids e teens, sala de reunião, sala de ensaio (para ensaios musicais), além de depósito, sanitários e fraldário (com espaço para amamentação e alimentação para bebês); e o último será para as atividades sociais, com quadra de esportes, sala de dança, cozinha e cantina, e vestiários. A escolha de separar em três blocos se deu como uma referência à Trindade, de modo que cada bloco abrigue um uso, mas que todos sejam uma edificação só, separados, mas fazendo parte de um todo.
88 Figura 55 - Programa de necessidades preliminar
Fonte: Elaborado pela autora, 2020
4.1. Estudos iniciais Como estudo inicial, os blocos compartilharão o mesmo foyer e entrada principal. O bloco celebração ficará entre os outros dois, simbolizando a centralidade, o cerne de todo o templo. Simbolizando também a conexão entre os demais usos, como se dissesse que o cristianismo é um importante fator para proporcionar esses usos, e que a igreja pode sim abrigá-los.
89 Figura 56 - Fluxograma
Fonte: Elaboradora pela autora, 2020
Considerando a trajetória solar e ventos predominantes em São Paulo (Fig, 57), iniciou-se o estudo de implantação.
90 Figura 57 - Trajetória solar e ventos predominares em São Paulo
Fonte: Elaborado pela autora. Baseado em Carta solar 24S e Projeteee, 2020
A primeira implantação considerou a configuração dos blocos em formato “L”, posicionados na parte oeste do lote, conforme figura 58. Essa primeira implantação visava concentrar a edificação no lado oeste de modo que as aberturas e área do terreno não edificada ficassem voltadas para leste, aproveitando a insolação.
91 Figura 58 - Implantação de estudo 1
Fonte: Elaborado pela autora, 2020
No entanto, considerando que a rua Frederico Abranches, única rua de acesso ao lote é de mão única em direção à sudeste, acredita-se que nessa disposição de implantação, o templo ficaria oculto à quem passasse pela rua. Portanto, foram feitos novos estudos de implantação.
92 Figura 59 - Implantação de estudo 2
Fonte: Elaborado pela autora, 2020
O novo estudo consistiu em espelhar o conjunto de blocos, liberando o lado oeste do lote. Essa disposição favorece a visualização do conjunto por quem está na rua. No entanto, essas duas implantações não se conformaram da melhor maneira com a topografia do terreno. O terceiro (Fig. 60) e quarto (Fig. 61) estudos também foram realizados, deslocando os blocos um pouco para sul, articulando-os. O terceiro, concentra-se mais ao sul do terreno, numa disposição em “U”, com o bloco social no lado leste do lote, de modo que fique visível para quem está na rua, mas ainda assim não aproveita a topografia. O quarto estudo, então, moveu o bloco social um pouco mais para norte e deslocou o bloco celebração, de
93 modo a deixar esses dois blocos em cotas únicas da topografia, entre curvas de nível (Fig. 61), ficando apenas o bloco ensino em duas elevações. Figura 60 - Implantação de estudo 3
Fonte: Elaborado pela autora, 2020
94 Figura 61 - Implantação de estudo 4
Fonte: Elaborado pela autora, 2020
Dentre essas opções de estudo, optou-se pela última implantação, pois a disposição em diagonal do bloco celebração permite a visualização do mesmo de quem está na rua, com o intuito de ser convidativo. Nesse sentido, justifica-se também a posição do bloco social, mais próximo da rua, num ponto de visão para os transeuntes, numa tentativa de convidá-los. Além disso, nessa posição, as aberturas para ventilação cruzada aproveitarão os ventos predominantes. Como conceito do projeto, tem-se primeiramente a referência à Trindade, sendo representada através dos três blocos. Além disso, tem-se a relação interior-exterior através da transparência, que será possibilitada
95 através do uso de pano de vidro no foyer de acesso principal e bloco social e em algumas grandes janelas no bloco ensino. Para a iluminação natural, serão previstas janelas altas, do tipo shed, em referência à iluminação zenital do ginásio da Igreja Metodista do Norte (Fig. 49), na fachada sul do bloco celebração e na fachada leste do bloco social. No bloco celebração ainda, serão previstos alguns pontos de iluminação também nas fachadas leste e oeste. Esse bloco, que será como um auditório, terá o palco ao sul, de modo que essa iluminação zenital virá de trás do altar. Figura 62 - Volumetria de estudo
Fonte: Elaborado pela autora, 2020
96
5. PROJETO ARQUITETÔNICO A proposta do projeto é criar um templo que não se limite apenas à celebração litúrgica, mas que proporcione à igreja a também cumprir seu papel com a comunidade.
5.1. CONCEITO X PARTIDO O conceito do projeto, como falado no capítulo anterior, envolve a Trindade (três em um), além da relação Sagrado X Terreno e o Encontro do Céu e Terra. O partido arquitetônico materializa esses conceitos da seguinte forma: a Trindade é referenciada nos três blocos (social, celebração e ensino), que se conectam e formam um único edifício; a relação Sagrado X Terreno está no programa de necessidades, nos usos que não se restringem apenas à celebração litúrgica e aos frequentadores da igreja; e o Encontro do Céu e Terra está representado na materialidade e cores, com o uso de tons que remetam ao céu e terra e pôr do sol, como marrom, laranja, amarelo, verde e azul.
5.2. O PROJETO A planta é dividida em três blocos conectados. O acesso principal se dá pelo bloco central, o celebração, que contempla o salão da igreja, e a circulação distribui os fluxos para os outros dois blocos. No entanto, há acessos
secundários
exclusivos
esportes/eventos) e ensino.
para
os
blocos
social
(quadra
de
97 Figura 63 - Volumetria
Fonte: Elaborado pela autora, 2020
Seguindo as premissas iniciais, a edificação é formada por três blocos que são conectados e formam um só. Enquanto esses seguem uma volumetria mais retilínea e ortogonal, o paisagismo segue mais orgânico, fazendo referência à própria natureza de céu e terra do conceito e também formando mais uma relação antagônica, mas complementar, assim como Sagrado X Terreno e Céu X Terra.
98
Figura 64 - Axonométrica explodida
Fonte: Elaborado pela autora, 2020
99
O programa final inclui o salão de celebração dos cultos, quadra de esportes que também serve como espaço de eventos, salas de aula, de reunião, ensaio e pastoral, além de uma área exclusiva para amamentação e alimentação de bebês e crianças pequenas. Figura 65 - Programa de necessidades
Fonte: Elaborado pela autora
100 Figura 66 - Implantação
Fonte: Elaborado pela autora, 2020
101 Figura 67 - Planta Piso Térreo
ACESSO PRINCIPAL ACESSO SECUNDÁRIO
Fonte: Elaborado pela autora, 2020
102
No pavimento térreo, para melhor conformidade com a topografia natural, cada bloco está em uma elevação. Na conexão entre blocos, esses desníveis são vencidos com rampas. Os vãos são vencidos com a associação de pórticos de concreto, laje em grelha e telha metálica autoportante. Figura 68 - Ampliação do Piso Térreo
Fonte: Elaborado pela autora, 2020
103
No subsolo, abaixo da quadra, fica o estacionamento com 44 vagas para veículos, incluindo duas para pessoas com mobilidade reduzida. Figura 69 - Planta do Subsolo
Fonte: Elaborado pela autora, 2020
104
Figura 70 - Corte AA
Fonte: Elaborado pela autora, 2020
105
Figura 71 - Corte BB
Fonte: Elaborado pela autora, 2020
106
O bloco da quadra, para promover maior iluminação e ventilação natural, tem em sua fachada leste, do térreo, aberturas tipo shed, com tela metálica, e na fachada oeste, na altura correspondente ao segundo pavimento, fechamento também em tela, garantindo o efeito chaminé da ventilação natural. Figura 72 - Perspectiva interna quadra
Fonte: Elaborado pela autora, 2020
No térreo do bloco celebração ficam os vestiários e cantina, que também atendem ao bloco social, mas seu ambiente principal é o de celebração dos cultos, que tem ao todo, incluindo a galeria e assentos para pessoas com mobilidade reduzida, cadeirantes e obesos, 318 lugares. No
107
segundo pavimento, além da galeria, tem-se uma sala de dança que também atende às atividades do bloco social. Figura 73 - Planta 2º Pavimento
Fonte: Elaborado pela autora, 2020
O salão de celebração dos cultos também conta com aberturas tipo shed para iluminação e ventilação, mas aqui com venezianas e painéis de vidro. As janelas de correr da parede oposta e que podem ser abertas pelo corredor do segundo pavimento, permitem a ventilação cruzada. O conforto acústico
108
do ambiente se dá pelo fechamento lateral em placas duplas de gesso recheadas com lã de vidro, o piso vinílico e o forro suspenso tipo nuvem acústica Figura 74 - Perspectiva altar
Fonte: Elaborado pela autora, 2020
Figura 75 - Perspectiva galeria
Fonte: Elaborado pela autora, 2020
109
Figura 76 - Corte CC
Fonte: Elaborado pela autora, 2020
110
Figura 77 - Corte DD
Fonte: Elaborado pela autora, 2020
111
O bloco ensino é o único que tem três pavimentos. Nesse bloco, concentramse as atividades relacionadas à igreja, como as salas de aula, de ensaio, reunião e pastoral, além dos sanitários e fraldários do térreo que também atendem ao salão de celebração. Figura 78 – Planta 3º Pavimento
Fonte: Elaborado pela autora, 2020
112
Figura 79 - Corte EE
Fonte: Elaborado pela autora, 2020
113
Para a materialidade das fachadas, buscou-se fazer uso dos conceitos de Sagrado e encontro de Céu e Terra. Com isso, no bloco social, há uma pele de vidro em formato de cruz, cortando a alvenaria, trazendo a referência do sagrado, além de promover a iluminação natural e também garantindo a transparência da relação interior-exterior. A cor cinza para dar continuidade ao cinza da estrutura de concreto e contrapor com o colorido dos outros blocos. No bloco celebração, a fachada é composta principalmente por pano de vidro e esquadria de alumínio, permitindo a visão e relação interior-exterior, e um beiral de painéis ACM (alumínio composto) em um dégradé de tons de azul. Já no bloco ensino, as fachadas são ventiladas num sistema com painéis ACM também, mas em tons de marrom, laranja, amarelo, verde e azul, fazendo referência ao encontro de céu e terra. Na fachada principal, os painéis coloridos formam um desenho de cruz, enquanto as outras fachadas desse bloco são todas coloridas.
114 Figura 80 - Perspectiva externa bloco social
Fonte: Elaborado pela autora, 2020
115
Figura 81 - Perspectiva externa
Fonte: Elaborado pela autora, 2020
116
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS O projeto apresentado é resultado da busca por uma arquitetura sacra protestante representativa e imponente, oposta aos templos não-arquitetura como os citados do decorrer desse trabalho. É também a materialização do papel da Igreja (enquanto instituição), permitindo que essa exerça suas funções além da celebração litúrgica, com atividades de integração e socioeducativas através do esporte, música, artes, etc, para a comunidade externa. A praça externa, que antecede o acesso à edificação, é aberta e de usos livres e diversos, com áreas de descanso, playground infantil e uma área plana para eventos ao ar livre, também servindo ao uso e recreação da comunidade. Por fim, o projeto, marca a importância da arquitetura pensada e projetada para determinados usos, servindo adequadamente às necessidades de seus usuários, contrária aos templos e edificações improvisados, que apesar de fornecerem um abrigo às atividades e usuários, não oferecem espaços apropriados e de qualidade.
117
REFERÊNCIAS CONSULTADAS LIVROS ABUMANSSUR, Edin Sued. As moradas de Deus: Arquitetura de Igrejas
Protestantes e Pentecostais. São Paulo: Editora Cristã Novo Século, 2004. ALVES, Rúbem Azevedo. Protestantismo e Repressão. São Paulo: Ática, 1982. BOISSET, Jean. História do Protestantismo. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1971. COLE, Emily. História Ilustrada da Arquitetura. São Paulo: Publifolha, 2011. DUNSTAN, J. Leslie. Protestantismo. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1964. FAZIO, Michael; MOFFETT, Mirian; WODEHOUSE, Lawrence. A História
da Arquitetura Mundial. 3. ed. Porto Alegre: AMGH, 2011. MUMFORD, Lewis. A cidade na história: suas origens, transformações e
perspectivas. 4. ed. 2. tiragem, São Paulo: Martins Fontes, 2004. PROENÇA, Graça. História da Arte. 16. ed. São Paulo: Ática, 2004. ROLNIK, Raquel. São Paulo. São Paulo: Publifolha, 2001.
118
SUMMERSON, John. A Linguagem Clássica da Arquitetura. 5. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009. VIOLA, Frank A. Cristianismo Pagão. A Origem das Práticas de nossa
Igreja
Moderna.
[S.l.:s.n.],
2005.
Disponível
em:
<https://ebdonline4.webnode.com/_files/2000064939c35a9e2d0/Cristianismo%20Pag%C3%A3o%20%20Frank%20A.%20Viola.pdf>. Acesso em: 18 Abr. 2020.
TEXTOS E ARTIGOS ABUMANSSUR, Edin Sued. A Arte, a Arquitetura e o Sagrado. Ciências Sociais e Religião, Porto Alegre, ano 2, n. 2, p. 177-190, set. 2000. ______. Arquitetura e Mística Protestantes. Religião e Cultura (PUCSP), São Paulo, v. 1, n. 1, p. 35-56, 2002. ______. Teologia e Arte. In: VILHENA, Maria Ângela; MARIANI, Ceci Baptista. Teologia e Arte, São Paulo: Paulinas, 2011. ARAÚJO, Cristiane Ribeiro de Mello. Arquitetura Religiosa. In: I Congresso Internacional de Ética e Cidadania e II Semana de Ética e Cidadania, 2005, São Paulo. Revista Eletrônica de Ética e Cidadania. São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2005. v. 1. p. 1-20. CASTRO, Luiz Guilherme Rivera de. São Paulo e sua área central: Planos,
políticas
e
programas
recentes.
São
Paulo,
2003.
Disponível
em:
119
<https://www.researchgate.net/publication/274518182_Sao_Paulo_e_sua_are a_central_planos_politicas_e_programas_recentes>. Acesso em: 01 de Maio 2020. MATOS, Alderi Souza de. A Reforma Protestante do Século XVI. São Paulo,
[20-].
Disponível
em:
<http://www.faifa.edu.br/revista/index.php/voxfaifae/article/view/24/43>. Acesso em: 18 de Abr. 2020. SÃO PAULO (cidade). Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano – SMDU. Parcelamento, uso e ocupação do solo do município de São Paulo: lei nº 16.402, de 22 de março de 2016; zoneamento ilustrado. São Paulo: SMDU, 2016. ______. Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano – SMDU. Decreto nº 57.537 de 16 de dezembro de 2016; Caderno das subprefeituras:
Sé. São Paulo: SMDU, 2016. ______. Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano – SMDU. Decreto nº 57.537 de 16 de dezembro de 2016; Caderno de propostas dos planos regionais das subprefeituras: Perímetro de Ação Sé. São Paulo: SMDU, 2016. ______. Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano – SMDU. Decreto nº 57.537 de 16 de dezembro de 2016; Quadro analítico: Sé. São Paulo: SMDU, 2016.
120
______. Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento - SMUL. Código de obras e edificações: lei nº 16.642, de 9 de maio de 2017; decreto nº 57.776 de 7 de julho de 2017; COE ilustrado. São Paulo: SMUL, 2017. SUDA, Nicolle Priscilla Lopes. As novas faces da Igreja Protestante e sua
influência na representação e produção arquitetônica dos templos religiosos atuais no Brasil. Revista Especialize On-line IPOG, Goiânia, v. 1, n. 009, dez. 2014. VIANA, Telma Coelho; CAVALCANTE, Sylvia. Dos Espaços Sagrados. Ciências da Religião: história e sociedade, São Paulo, v. 14, n. 1, p. 111-126, jan./jun. 2016.
TRABALHOS ACADÊMICOS GEIER, Vivian Kruger. Os templos evangélicos, suas configurações
espaciais e seu valor para os usuários em Maceió, Alagoas. 2012. 153 f. Dissertação (mestrado em Arquitetura e Urbanismo: Dinâmicas do Espaço Habitado) - Universidade Federal de Alagoas. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Maceió, 2012. GODOY, Cristine Matschulat. A percepção do espaço arquitetônico e
sua significação na arquitetura religiosa. 2018. 123 f. Trabalho final de graduação (bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Presbiteriana Mackenzie. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. São Paulo, 2018.
121
SITES ARQUITETURA Clássica. In: Estilos Arquitetônicos. Disponível em: <https://www.estilosarquitetonicos.com.br/arquitetura-classica/>.
Acesso
em: 26 de Abr. 2020. ARQUITETURA Gótica. In: Estilos Arquitetônicos. Disponível em: <https://www.estilosarquitetonicos.com.br/arquitetura-gotica/>. Acesso em: 15 de Mar. 2020. ARQUITETURA Renascentista. In: Estilos Arquitetônicos. Disponível em: <https://www.estilosarquitetonicos.com.br/arquitetura-renascentista/>. Acesso em: 15 de Mar. 2020. AS Principais Religiões Cristãs. In: Folha de S. Paulo. Disponível em: <https://arte.folha.uol.com.br/poder/2016/12/25/arvore-religioes/>.
Acesso
em: 18 de Abr. 2020. CHAPEL Street Centre: Dalman Architects. In: MRM, [201?]. Disponível em: <https://www.metalroofing.org.nz/feature-articles/chapel-street-centredalman-architects>. Acesso em: 20 de Maio 2020. CHRISTCHURCH North Methodist Church. In: Archilovers, 2016. Disponível em: <https://www.archilovers.com/projects/176572/christchurchnorth-methodist-church.html>. Acesso em: 20 de Maio 2020. CHRISTCHURCH
North
Methodist
Church.
2017
Canterbury
Architecture Awards Winner. In: NZIA – New Zealand Institute of Architects,
122
2017.
Disponível
em:
<
https://www.nzia.co.nz/awards/local/award-
detail/6729#!>. Acesso em: 20 de Maio 2020. CHURCH of 2000 / Richard Meier & Partners. In: Archdaily, 2009. Disponível em: < https://www.archdaily.com/20105/church-of-2000-richardmeier>. Acesso em: 22 de Maio 2020. CONEGERO, Daniel. O que são os 5 solas da reforma protestante? Disponível
em:
<https://estiloadoracao.com/5-solas-da-reforma-
protestante/>. Acesso em: 31 de Maio 2020. GÓTICO. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São
Paulo:
Itaú
Cultural,
2020.
Disponível
em:
<http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3789/gotico>. Acesso em: 07 de Mar. 2020. HARVEY, Justine; GOODENOUGH, Stephen. Dynamic geometry: Chapel
Street Centre. Architecture Now, New Zeland, 2017. Disponível em: <https://architecturenow.co.nz/articles/dynamic-geometry-chapel-streetcentre/>. Acesso em: 20 de Maio 2020. HEBMÜLLER, Paulo. História da Paróquia Centro – SP. [2020]. Disponível em:
<https://www.luteranos.com.br/conteudo_organizacao/sao-paulo-
centro/historia-da-paroquia-centro-sp>. Acesso em: 22 de Mar. 2020. IGREJA Anglicana da rua dos Andradas é entregue. Prefeitura de Porto
Alegre,
Dez.
2008.
Disponível
em:
123
<http://www2.portoalegre.rs.gov.br/smc/default.php?reg=4&p_secao=227>. Acesso em: 22 de Mar. 2020. IGREJA Metodista do Norte em Christchurch / Dalman Architecture. In:
ArchDaily
Brasil,
2016.
Disponível
em:
<https://www.archdaily.com.br/br/798675/igreja-metodista-do-norte-emchristchurch-dalman-architecture>. Acesso em: 20 de Maio 2020. JUBILEE Church. In: Richard Meier & Partners Architects. Disponível em: < https://www.richardmeier.com/?projects=jubilee-church-2>. Acesso em: 22 de Maio 2020. JUBILEE
Church.
In:
Wikiarquitectura.
Disponível
em:
<
https://en.wikiarquitectura.com/building/jubilee-church/#>. Acesso em: 23 de Maio 2020. JUBILEE Church and Community Center, Rome, Italy. In: Knowlton
School.
Disponível
em:
<https://knowltondl.osu.edu/index.php/Detail/objects/6820>. Acesso em: 23 de Maio 2020. MELO, Clayton; BACOCCINA, Denize. Precisamos falar sobre o Centro
de São Paulo. Carta Capital, São Paulo, 04 de Fev. 2019. Disponível em: <https://www.cartacapital.com.br/blogs/a-vida-no-centro/precisamos-falarsobre-o-centro-de-sao-paulo/>. Acesso em: 01 de Maio 2020. NOGUEIRA, André. Constantino, o grande: o primeiro imperador cristão. Disponível
em:
124
<https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historiaquem-foi-constantino-o-grande-imperador-cristao.phtml>. Acesso em: 31 de Maio 2020. OLIVEIRA, André. Desigualdade, vitalidade e decadência: o que
aconteceu com o centro de SP. El País, São Paulo, 12 maio 2018. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2018/05/11/cultura/1526065149_527001.ht ml>. Acesso em: 01 de Maio 2020. RENASCIMENTO. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura
Brasileiras.
São
Paulo:
Itaú
Cultural,
2020.
Disponível
<http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3637/renascimento>.
em:
Acesso
em: 15 de Mar. 2020. ROBERTO, Claudio. Infográfico evangélicos de raiz. Disponível em: <https://profrobsonculturacrista.blogspot.com/2014/01/principaisramificacoes-do.html>. Acesso em: 18 de Abr. 2020. RODRIGUES, Artur. São Paulo ganha 2.433 novas igrejas em 25 anos
com expansão evangélica. Folha de S. Paulo, São Paulo, 5 set. 2019. Disponível em:
<https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/09/sao-paulo-ganha-
2433-novas-igrejas-em-25-anos-com-expansao-evangelica.shtml>.
Acesso
em: 30 de Abr. 2020. SANTOS, Flávio Cosme dos. Pilares da Reforma Protestante. [S.l.]: Out. de
2015.
Disponível
em:
125
<http://iprb.org.br/_ANTIGO/artigos/textos/art200_249/art230.htm>. Acesso em: 18 de Abr. 2020. SANTOS, Gilmaci. Opinião – 500 anos da Reforma Protestante. São Paulo:
Out.
2017.
Disponível
em:
<https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=385109>. Acesso em: 18 de Abr. 2020. VEIGA, Edson; FERNANDES, Márcio. Primeira igreja protestante de SP
completa 150 anos. São Paulo: Mar. 2015. Disponível em: <https://saopaulo.estadao.com.br/blogs/edison-veiga/primeira-igreja-protestante-de-spcompleta-150-anos/>. Acesso em: 22 de Mar. 2020.
VÍDEOS MARTINHO Lutero: A Ideia que Mudou o Mundo. 2017, 55min, son., color. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=iRX9kpPwYVg>. Acesso em: 25 de Fev. 2020. REDESCOBRINDO a Reforma – 08 – A Reforma Protestante e a Arquitetura. TV Mackenzie. 2017, 28 min, son., color. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=fNYpEKt8qWw&list=WL&index=4&t=5> . Acesso em: 24 de Fev. 2020.