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Univers(C)idade: Relações de implantação e contexto histórico de edificações universitárias na urbis os estudos de caso do Instituto Central de Ciências da Universidade de Brasília e da Faculdade de Arquitetura na Universidade do Porto Juliana Albuquerque Campos da Silva

Unidade curricular de História da Cidade do Porto Primeiro Semestre Letivo do Ano Curricular 2021/2022 Faculdade de Arquitectura Universidade do Porto Prof. Dr. Rui Fernando de Jesus Bastos Tavares



FAUP – HCP 2021 . 2022 – 1º Semestre | Fevereiro de 2022 Aluna Juliana Albuquerque Campos da Silva

Imagem de capa: Vista aérea do Instituto Central de Ciências - ICC/UnB. 1972. Fonte: Arquivo Público do Distrito Federal

Univers(C)idade: Relações de implantação e contexto histórico de edificações universitárias na urbis os estudos de caso do Instituto Central de Ciências da Universidade de Brasília e da Faculdade de Arquitetura na Universidade do Porto Juliana Albuquerque Campos da Silva1

Este trabalho é produto da unidade curricular de História da Cidade do Porto - HCP da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto ministrada pelo Prof. Dr. Rui Fernando de Jesus Bastos Tavares2 no primeiro semestre do ano letivo de 2021/2022. Através da compilação e contraponto de dois contextos histórico-territoriais distintos, Brasília, capital do Brasil, e Porto cidade do norte de Portugal, pretende-se construir uma narrativa de confronto que visa abordar aspectos do desenvolvimento e da formação das várias camadas que constituem essas duas faixas de território. De modo a sistematizar essa busca, os dois estudos de caso utilizados centram-se na análise de implantação de duas universidades, em cada uma das cidades analisadas: o edifício do Instituto Central de Ciências da Universidade de Brasília projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer e o edifício da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto projetado pelo arquiteto Álvaro Siza. Paralelo a isso, pretende-se documentar fatos que permitam correlacionar o território com a universidade, da presença de água nos cursos hídricos de ambas as cidades e de seus contextos históricos. O caso de Brasília A cidade de Brasília é capital desde 1960 e nasce da interiorização de um país de dimensões continentais, esta área metropolitana é resultado de um sistema de ocupação territorial advindo dos planos de desenvolvimento políticourbanos da época. Com o slogan “50 anos de progresso em 5 anos de governo”, cunhado por Augusto Frederico Schmidt, JK propunha-se a impulsionar o desenvolvimento do país mediante o incremento de cinco áreas – energia, transporte, alimentação, indústria de base e educação – e a construção de Brasília. CAVALCANTE, 2015 Assim como classificam os Kohlsdorf e Holanda, destaca-se que “Brasília não foi construída em território virgem”. O planalto central possui forte presença do bioma cerrado marcado por suas árvores tortuosas, de uma arquitetura 1

Juliana Albuquerque é aluna em intercâmbio acadêmico na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto. Acadêmica de graduação em Arquitetura e Urbanismo na Universidade de Brasília, Brasil.

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Rui Tavares é historiador pela Faculdade de Letras da U.P. Investigador - membro efetivo do CEAU-FAUP/FCT (Centro de Estudos Arquitetura e Urbanismo), grupo PACT (Património da Arquitectura, da Cidade e do Território) e grupo AMH (Arquitectura e Modos de Habitar). Assistente de Prof. Arquitecto Fernando Távora para a disciplina de Teoria e História da Arquitectura da ESBAP (Escola Superior de Arquitectura do Porto), acompanhando sempre o Prof. Fernando Távora no seu magistério, nomeadamente na disciplina de Teoria Geral da Organização do Espaço (TGOE). Docente nas áreas da História da Arquitectura e da Cidade, Regente das Unidades Curriculares de HAAM (História da Arquitectura Antiga e Medieval, do 1º Ciclo, 2ºAno, do MIARQ) e de Teorias de Reabilitação da Cidade (do CEAPA-Curso de Estudos Avançados em Património Arquitectónico-3º Ciclo) no ano lectivo 2011-12.


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vernacular presente nos núcleos urbanos de Planaltina3 do Séc. XIX e em Brazlândia4 do início do séc. XX, é rico em biodiversidade e próximo a uma notável rota de interiorização do território datada de antes da década de 60. Acredito que somos países com democracias jovens e que, agora, com tudo o que vem acontecendo nos últimos vinte anos, precisamos de intervenções concretas. Não somos mais capazes de construir novas Brasílias; são as intervenções pequenas e pontuais que se transformam em coisas grandes. Anna Dietzsch em Urbanismo Ecológico na América Latina, p.70, 2019

Aqui, apropria-se da discussão proposta por Graham e Marvim para se discorrer a respeito de como esta capital foi desde os seus primeiros eixos ordenadores, gestos iniciais, uma ‘autocidade’ de “paisagens rodoviárias motorizadas e tecnologias associadas” como “as utopias de Le Corbusier e Frank Lloyd Wright baseadas em rodovias” (Graham et al, 2001). Cruzamento de dois eixos rodoviários que traz em si uma crítica: o ponto nodal resultado desta intersecção é a rodoviária: maior território popular e acessível do plano. Lucio Costa em Ingredientes da Concepção Urbanística de Brasília de 1995, chega a abordar tais aspectos: Eu caí em cheio na realidade, e uma das realidades que me surpreenderam foi a rodoviária à noitinha. (...) É um ponto forçado, em que toda essa população que mora fora, entra em contato com a cidade. Então, eu senti esse movimento, essa vida intensa dos verdadeiros brasilienses, essa massa que vive fora e converge para a rodoviária. Ali é a casa deles, é o lugar onde eles se sentem à vontade. (...) Isto tudo é muito diferente do que eu tinha imaginado para esse centro urbano, como uma coisa requintada, meio cosmopolita. Mas não é. Quem tomou conta dele foram esses brasileiros verdadeiros que construíram a cidade e estão ali legitimamente. (...) Eles estão com a razão, eu é que estava errado. Eles tomaram conta daquilo que não foi concebido para eles. Foi uma bastilha. Então eu vi que Brasília tem raízes brasileiras, reais, não é uma flor de estufa como poderia ser, Brasília está funcionando e vai funcionar cada vez mais. Na verdade, o sonho foi menor do que a realidade. A Universidade de Brasília Abordar a fundação da Universidade de Brasília sem trazer aspectos das contribuições de Anísio Teixeira (1900-1971) e Darcy Ribeiro (1922-1997) seria ledo engano. Anísio Teixeira integra os debates para criação da Universidade frente às críticas resultantes do contexto político enfrentado para a época já que para o governo da época era necessário que se deixasse fora do centro da capital os movimentos estudantis e os movimentos dos trabalhadores (CAVALCANTE, 2015). Com uma data de idealização que coincide com o surgimento e construção de Brasília, a Universidade de Brasília surge frente ao primeiro pedido do então presidente Juscelino Kubistchek, o JK, em 21 de abril de 1960 (RIBEIRO, 1991). Instituto de Central de Ciências – ICC (1963-1972) é de autoria do arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012) com colaboração do arquiteto João Filgueiras Lima (1932-2014), o Lelé. Essa edificação com proporções urbanas bebe de referências como Le Corbusier e Reidy a fim de propor esse grande edifício de 696m de extensão como vãos livres que alcançam os 45 metros. Em resposta ao plano de Lucio, o arquiteto Lelé explica em uma entrevista como surgiu o desenho do ICC: Foi até engraçado como surgiu o projeto do ICC. Tinha o plano de urbanismo da UnB, do dr. Lúcio. No plano do Lúcio tinha aquelas bolinhas que até faziam uma curva, o Oscar disse: “Vamos fazer logo um prédio só, pegando todos esses institutos”. E O ICC surgiu assim.LIMA apud CAVALCANTE, 2015

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Planaltina é um município brasileiro do estado de Goiás. Faz parte da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno. 4 Brazlândia é uma região administrativa do Distrito Federal. Faz parte da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno.


Quadrícula Número 121, imagem do ano de 1965 Referência 1965_FX109D_F56246 Fotografia Aérea Fonte: Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Habitação Anotações da autora.

Quadrícula Número 121, imagem do ano de 1975 Referência 1975_Fx5A_F227 Fotografia Aérea Fonte: Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Habitação Anotações da autora.

Darcy Ribeiro Fonte: estantevirtual.com

Anísio Teixeira Fonte: Acervo Instituto Anísio Teixeira

Oscar Niemeyer, em Brasília, ao lado do Palácio do Planalto Fonte: Revista Caliban

João Filgueiras Lima, o Lelé Fonte:Revista Trip


Foto aérea do ICC e do campus em construção. Fonte:UnB Agência – www.unb.br.

Construção do Teatro de Arena e a BCE ao fundo. 1973. Fonte: CEDOC-FAC




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O caso do Porto No caso do Porto destaca-se o grande arcabouço presente no portal < https://gisaweb.cm-porto.pt/>, fator preponderante para o desenvolvimento dessa busca das diversas camadas deste território, um palimpsesto. Nisto, destaca-se o rigor presente na Carta Topográfica do Porto de 1892 de autoria de Teles Ferreira. Através dela é possível identificar os elementos presentes na região contígua a região do Gólgota. Teles Ferreira faz um registro apurado e eterniza aquele recorte temporal de território. Assim como, destaca Tavares (2013) existe uma dimensão humana atrelada à manutenção da memória que constitui um dos aspectos centrais da história humana: a capacidade de transmitir o intelecto e o conhecimento pessoal materializado em registros prontos para se perdurarem no tempo. A exemplo disso destaca-se o grande potencial de registro e de manutenção da memória na cartografia documental esboçada também em suas fotografias aéreas e suas quadrículas que assim como exemplifica Carlos Nelson ao comparar as faces da cidade como um jogo de cartas, é possível correlacionar-se com as tais quadrículas. E como quem monta sequências em um jogo é possível ao ser humano que capture e registre as diversas camadas de modificações da cidade. A Escola do Porto5 "O Doiro sublimado. O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir. Não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso da natureza. Socalcos que são passadas de homens titânicos a subir as encostas, volumes, cores e modulações que nenhum escultor, pintor ou músico podem traduzir, horizontes dilatados para além dos limiares plausíveis da visão. Um universo virginal, como se tivesse acabado de nascer, e já eterno pela harmonia, pela serenidade, pelo silêncio que nem o rio se atreve a quebrar, ora a sumir-se furtivo por detrás dos montes, ora pasmado lá no fundo a reflectir o seu próprio assombro. Um poema geológico. A beleza absoluta." Miguel Torga em "Diário XII" No intuito de se discorrer a respeito das modificações presentes no território contíguo junto à região do Gólgota, zona de Massarelos em Porto, faz-se uma cronologia cartográfica nas marcas do agente tempo sobre o território e características de encosta na beira do rio. Tais transformações ficam expostas ao se prolongar a esfera de análise através da sobreposição das cartografias históricas. Um Douro de grande navegabilidade, gerador de uma infraestrutura urbana que foi suporte para a economia local, com a presença marcante do Cais do Bicalho, da pesca de bacalhau e com o suporte do frigorífico presente. Destacase também, que a grande tradição imaterial resultante desse período histórico não se estagnou ali. Presente nas Memórias Paroquiais, a Nossa Senhora da Boa Viagem é símbolo da devoção dos pescadores. Em suas manifestações a fé e se perpetua até os dias atuais. A Ponte Arrábida, esse enorme braço que envolve essa camada de análise, dentre as inúmeras transformações desta área contígua, é a que teve mais impacto na paisagem. Um gesto que desde o princípio foi poético, é símbolo e agente de todas as transformações que esta área presenciou. Seja pela evolução urbana ou a transformação da economia. Uma ponte que une duas superfícies de território como quem costura duas quadrículas, sobrevoa o rio e transforma esse território e sua economia local. A respeito da Foz do Douro, destaca-se todas essas permanências no processo de transformação do sítio prioritariamente pelo novo desenho dos traçados viários e com a presença da ponte. Isso fica explícito na relação do edifício da FAUP em sua relação com o Douro e nos cuidados com o Siza com as pré-existências, o respeito ao local,

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Assim chamado o legado da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto


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a preservação das visuais existentes e a construção de novas visuais que como obturadores fazem o recorte cuidadoso desta paisagem. “limitamos a dimensão da futura faculdade para favorecer contactos e relações muito estreitas entre alunos e docentes numa tentativa de manter, numa cadeia de fidelidades múltiplas, a consciência de um corpo coletivo ao longo de anos na chamada Escola do Porto” […] Esternecedor quando afirma, sinceramente, que projector em diálogo não é uma técnica, é uma disposição, um estado de espírito e uma necessidade para a qualidade da arquitetura. Alexandre Alves Costa Destaca-se o rio como esse elemento geográfico que desenha e define esse território. Sobretudo na construção de uma série de valores paisagísticos e patrimoniais e de permanência desses seus valores. “A investigação deve incidir sobre a complexa estratificação das aglomerações urbanas, a fim de identificar valores, compreender o seu significado para as comunidades e apresentá-los aos visitantes na sua globalidade. As instituições académicas e universitárias, assim como outros centros de pesquisa, devem ser encorajadas a aprofundar e investigação científica sobre os diferentes aspectos da abordagem da paisagem histórica urbana e a cooperar em si, a nível local, nacional, regional e internacional. É essencial documentar o estado actual das áreas urbanas e a sua evolução, facilitar a avaliação das propostas de alterações, e aperfeiçoar as competências e os procedimentos de proteção e gestão” Recomendação sobre Paisagem Histórica Urbana, UNESCO, Paris, 2011 A área em questão concretizou-se como um estudo de caso necessário para se discorrer sobre a interpretação da narrativa histórica presente nas diversas fontes documentais que tecem enredos e registram esse território na linha temporal da cidade.

Fotografia aérea da zona da Ponte da Arrábida (Porto - Gaia e Rio Douro), vendo-se além da ponte, a Sécil; o Estádio Universitário; os armazéns na zona ribeirinha de Gaia; a Igreja do Corpo Santo de Massarelos, a Companhia Carris de Ferro e o Entreposto do Peixe Frigorífico, na Alameda Basílio Teles. Fonte: http://gisaweb.cm-porto.pt/units-ofdescription/documents/289792/?


Carta topográfica do Porto, 1892 Carta de Teles Ferreira Quadrícula 164 Fonte: http://gisaweb.cm-porto.pt/

Fotografia aérea da cidade do Porto : 1939-1940 : fiada 14, n.º 231 Fonte: http://gisaweb.cm-porto.pt/


1959 Construção da Ponte da Arrábida (1959-1962) Fonte: Arquivo Municipal do Porto

1939 Fotografia aérea da zona ribeirinha, residencial, rural e industrial de Massarelos, desde a Rua do Campo Alegre (Norte), à Rua do Ouro (Sul). Fonte: http://gisaweb.cm-porto.pt/units-of-descrip tion/documents/587655/?q=campo+alegre

1957 Construção da Ponte da Arrábida. 1957 Fonte: José Rodrigues https://www.flickr.com/photos/ zerrodrigues/16993154163/in/alb um-72157652365320468/

1963 Vista de Massarelos para o Douro. O Tripeiro. Porto : Associação Comercial do Porto. Série 6, ano 3, capa n.º 2, 1963. Fonte: Arquivo Municipal do Porto


Panorâmica do Porto, por Pier Maria Baldi (1968). In OLIVIEIRA, 1973.

Torre da Marca e Massarelos 1865. Eduardo Pires de Oliveira, In OLIVEIRA, 1985.

O Douro e sua margem direita desde à foz, 1865. Eduardo Pires de Oliveira. In OLIVEIRA, 1985.

Garrett, António de Almeida. A Ponte da Arrábida e Porto de amanhã/ A ALmeida Garret. 1950 https://catalogo.up.pt/F/?func=full-set-set&set_number=002022&set_entry=000025&format=999


Álvaro Siza, 1985. Ink and pencil on paper. Fonte: Álvaro Siza Archive – Fundação Serralves, Porto, Portugal.

1992 Construção da FAUP (1992) Fonte: <https://br.pinterest.com/pin/527273068865119548/ >



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Essas realidades urbanas e suas correlações Com relação aos traçados presentes na materialidade dos alçados do projeto que Siza Vieira propõe, destaca-se uma busca na identidade local especificamente na composição fachadista que dialoga frontalmente com o rio Douro. O ritmo e cadência com que é constuida a face da edificação permite com que sejam feitas várias especulações de sobreposição de camadas de geometria, tais quais encontram-se presentes neste documento. Traz-se tais especulações a fim de estreitar as relações edilícias com a cidade. Sobre como o projeto configurou-se e transformou a paisagem de maneira tão delicada. Quase como quem pousa em um solo sublime. Se tratando da região do Gólgota destaca-se a permanência da Casa Cor-de-Rosa (edificação remanescente da Quinta do Gólgota)e como a presença desta edificação foi determinante para os traçados iniciais do Pavilhão Carlos Ramos (espécie de ensaio para o que viria a se consolidar no edifício da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto). Bem como, como o projeto traz todas as potencialidades presentes na identidade da arquitetura das casas portuguesas tradicionais. Suas relações com a rua, com o Douro e com relação às suas aberturas, acessos e composições formais. A respeito dos traçados definidores da implantação do Instituto Central de Ciências - ICC da Universidade de Brasília, destaca-se o grande apego à topografia local. Sobretudo na forma como o edifício se acenta no terreno e como seu gesto em planta retoma o eixo rodoviário do Plano Piloto de Brasília. Nisto, essa edificação ganha uma retórica de via urbana. O Instituto Central de Ciências se consolida como esse grande eixo de integração que traduz a lógica da escala gregária, toda a modulação que se converte em marcação de velocidade para o transeunte que percorre as alas norte-sul. Apreende-se como um discurso de integração urbana que rasga o territorio e abre frente para jardins e conexões paisagísticas de integração de escalas. Já que a forma em que se materializa o edifício abraça o que viria a ser a praça cívica do estudante da Universidade de Brasília. Integra sete institutos em seus seiscentos e setenta e seis metros de comprimento. Nisto, destaca-se esse grande contraponto que condiz com as grandes diferenças presentes em faces territoriais tão distintas. Por um lado, uma escala residencial, marcada uma série de pré-existencias com escalas, vistas e proporções tão identitárias e particulares que dialogavam tão fontalmente com a porção de água que ali circunda, um Douro com forte presença e que incita enquadramentos instantâneos de sua paisagem. E em contraponto a isso, destaca-se a construção de Universidade de Brasília quase que contemporânea a construção dessa cidade. Marcada por essa importância rodoviária dos dois gestos iniciais que determinam a forma de ocupação urbana e suas setorizações, que advem de um certo apagamento de pré-existências com importantes movimentações de terra. De certa forma, o Instituto Central de Ciências reflete essa integração longitudinal e de alta velocidade em seu traçado. O que de certa forma retoma a identidade mais particular da capital do Brasil. Além disso, destaca-se a forma como se acenta na paisagem, quase que imperceptível, visuais pontuais do Lago Paranoá resultado de um terreno que se mostra plano sem grandes interferências em suas visuais. Assim, é possível se destacar como a implantação desses dois edifícios aponta para contextos de urbanização e de camadas históricas que de certa forma moldam suas intervenções arquitetônicas. Sobretudo na forma como a cidade se abre e determina esses espaços. Brasília se acenta sobre o Lago Paranoá e o Porto tem sua alma no Douro. E Assim como já disse Lucio Costa, a realidade foi maior que o sonho.


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interligação das duas margens

travessias fluviais

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Fonte: Autora



Faculdade de Arquitectura do Porto : a primeira pedra : Siza Vieira e a beleza que nos circunda. Fonte: artigo em jornal, recorte de imprensa, 1988. Fonte: <https://hdl.handle.net/10405/31847>



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