Restauro e Intervenção: Plataforma Cultural Salvador, Bahia
Juliana Vitória Aragão
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FAAP Fundação Armando Alvares Penteado Faculdade de Artes Plásticas Curso de Arquitetura e Urbanismo
Restauro e Intervenção: Plataforma Cultural Salvador, Bahia Juliana Vitória Aragão
Orientador: Prof. Cícero Ferraz
São Paulo Dezembro de 2015
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Agradecimentos
Agradeço ao meu orientador, Prof. Cícero Ferraz, que me ajudou durante o desenvolvimento deste projeto. Aos professores Ana Marta e Marcio Novaes, por estarem sempre disponíveis para discutir minhas indagações e propor reflexões. Aos professores do Trabalho Final de Graduação, Paulo Bruna, Pedro Salles, Elisabete França e Giselda Visconti, por dividirem sua sabedoria durante o ano. A todos da A&P Arquitetura e Urbanismo, por me receberem com muita boa vontade e me mostrarem uma nova realidade.
Aos amigos de sala que dividiram conhecimentos, aflições e momentos ao longo destes cinco anos de faculdade. À minha irmã e principalmente aos meus pais, que me apoiaram e acreditaram em mim, sempre pacientes e me incentivando a fazer o melhor de mim. Aos meus familiares e amigos que ficam sempre na torcida. Em especial agradeço ao Prof. Chico Barros, que com muito ânimo e empenho me ajudou e discutiu as questões e receios surgidos no dia-a-dia.
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Resumo A antiga Fábrica de tecidos FATBRAZ, atualmente tombada pelo IPAC, porém abandonada e com acesso restrito, localizada no bairro de Plataforma, no Subúrbio Ferroviário de Salvador, está em intenso processo de arruinamento. No entanto, a edificação é de essencial importância na história do bairro e na vida de seus moradores. O projeto feito para este espaço visa devolver a vida ao lugar com um programa variado que atenda diferentes faixas etárias e, ao mesmo tempo, permita que a população volte a ter contato e respeite novamente a antiga fábrica.
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Índice Introdução I. Histórico e contextualização II. A Fábrica São Brás e o bairro de Plataforma III. O processo de revitalização da orla de Salvador IV. Referências projetuais V. O processo de Restauração VI. O Projeto VII. Bibliografia
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Introdução O atual bairro de Plataforma foi palco de importantes eventos desde antes da época da colonização, estando presente desde o início da história da Bahia e, portanto, do Brasil. O desenvolvimento e o povoamento desse bairro foram alavancadospela implantação da Fábrica São Brás, Uma fábrica de tecidos que chegou a ser a segunda maior do estado baiano, funcionando de 1875 a 1968. Desde seu fechamento, a antiga fábrica nunca teve outro uso, encontrando-se abandona e em acelerado processo de arruinamento, prejudicando também a economia da comunidade.
A atual prefeitura de Salvador está investindo na reurbanização da orla da cidade, projeto que já atingiu diversos dos principais trechos da cidade, e está chegando em Plataforma. O projeto proposto visa incorporar as mudanças da nova revitalização da orla à antiga fábrica que, com um novo uso inclusivo e diversificado, deverá devolver a vida de seus arredores.
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I. Histórico e Contextualização 17
I.I A formação da cidade de Salvador Localizada no nordeste do Brasil, a Baía de Todos os Santos, região em que se encontra Salvador, tem sua história diretamente ligada à formação do país. Trata-se de uma área tropical, banhada pelo Oceano Atlântico, tendo grande parte de seu relevo montanhoso. A Bahia de Todos os Santos foi ocupada por cerca de dois milênios antes da chegada dos portugueses. Grupos indígenas que não utilizavam a língua Tupi, conhecidos como Tapuias, viveram na região por diversos anos. Estes índios cultivavam hábitos canibais e dispunham suas malocas (onde dormiam) no terreno com a intenção de formar uma área comum, pois não existiam tribos, somente aldeias. Cada aldeia era formada por 4 a 8 malocas, sendo que em cada uma vivia de 200 a 600 pessoas, e a trama de alianças era mutável. No entanto, Tupinaés e Tupinambás, duas aldeias
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rivais, tiveram um grande desentendimento, e o território passou a ser habitado apenas pelos Tupinambás. É neste contexto que os portugueses chegam, em 1500, na parte sul da área abordada. Gabriel Soares de Sousa, futuro senhor do engenho e bandeirante, é o primeiro morador do Solar do Unhão, ponto de referência do local. Os primeiros habitantes deste período se instalam na atual Periperi, e são chamados de Caramurus. Portugal “abandona”, então, o Brasil por cerca de 50 anos, e são estes Caramurus e alguns franceses, chegados depois, que ocupam a área. É a chegada destes franceses que desperta na coroa portuguesa a atenção para dominar a área, e resolve ocupá-la com uma preocupação militar e econômica. Salvador é, assim, escolhido como sede do governo e primeira capital do país, pela sua localização
central, no meio de um litoral bem extenso e por ser no cume de uma colina, com declive acentuado até às margens de uma baía. Assim, Portugal chega construindo fortes, para sua proteção, e com a intenção de trans formar o Brasil em colônia produtiva - havia um obstáculo, os índios, que lutavam contra os ideais que estavam sendo implementados pelos colonizadores, porém pode-se dizer de maneira geral que até 1560 esses ja haviam sido expulsos do Reconcavo Baiano. Com o intuito explicado a cima, as terras que hoje pertencem ao Estado da Bahia foram então divididas em 3 Capitanias: a da Bahia de Todos os Santos, doada ao Francisco Pereira Coutinho; a de Ilhéus, entregue a Jorge de Figueiredo Correia; e a de Porto Seguro, que coube a Pero do Campo Tourinho. Estas terras foram doadas à fidalgos e burocratas, como Capitanias Hereditárias e, subdivididas em sesmarias, distribuídas pelo CapitãoDonatário.
Imagem 03 - Terra Brasilis, produzido em 1519.. Fonte: http://mestresdahistoria.blogspot.com.br
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Imagem 04 - Desembarque de Cabral em Porto Seguro, Oscar Pereira da Silva, 1904. Fonte: http://seguindopassoshistoria.blogspot.com.br
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A Capitania da Bahia de Todos os Santos foi praticamente tomada pelos índios em uma guerra contra os portugueses, que acabou com a morte de Pereira Coutinho, também conhecido como Rusticão, seu capitão-donatário. A capitania foi indenizada e incorporada à Coroa lisboeta, tornando-se a Capitania Real, sede para o Governo Geral. Este governo comandava as atividades militares e os movimentos econômicos. Assim, a criação da Cidade da Bahia, como era chamada a região, foi um gesto intelectual para responder às exigências da colonização e, não o arranjo espontâneo de pessoas se agregando gradualmente em um lugar. Buscou-se a reprodução de Portugal nos trópicos, invertendo o predomínio cultural local. Outro fator importante deste período a ser citado é a cana-de-açúcar e os engenhos. O engenho não era apenas uma unidade econômica produtiva, mas também uma unidade cultural e colonizadora, formada pela fábrica, a casa-grande,
a capela e a senzala. Ele imediatamente magnetizava o espaço à sua volta. Assim, no rastro de sua expansão iam surgindo, paulatinamente, vilas e paróquias. No final do século XVII, foi descoberto o ouro em Minas Gerais. Este acontecimento, num primeiro momento, levou à multiplicação das fazendas de gado na Bahia, e ao uso do rio São Francisco para alimentar toda a população que migrava para o pólo minerador. Desta maneira, Salvador exportava gado e recebia parte do ouro, que era enviado para Portugal através de seu porto. Em 1763, no entanto, ocorre a transferência da capital do Brasil para o Rio de Janeiro, para centralizar a saída do ouro em um só ponto, mais próximo da zona de exploração, e para garantir a posse portuguesa de lugares cada vez mais distintos e distantes. Com o início do esgotamento das minas em Minas Gerais, acontece um renascimento agrícola, juntamente com a Revolução Industrial
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Imagem 05 - “Planta da Restituição da BAHIA, por João Teixeira Albernaz” por Victorcouto - Obra do próprio. Fonte: http://www.vitruvius.com.br
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Imagem 06 - Lavragem do ouro em MG, 1827. Fonte: http:// www.revistadehistoria.com.br
na Europa. Esta é a época áurea da cana-de-açúcar no Brasil. A produção de algodão e a valorização das terras florestais do Sul do Estado com a plantação de cacau tomam incremento. Na segunda metade do século XIX, são construídas ferrovias no Estado da Bahia, a principal sendo em direção ao rio São Francisco, cha-
mada de Estrada de Ferro da Bahia and São Francisco Railway, construída em 1860, que será de grande importância para o projeto desenvolvido, como será abordado no Capítulo VI. Neste mesmo século a população da cidade multiplica-se por 5: 45 mil habitantes em 1805 e 206 mil em 1900. A abolição da escravatura e o fato de que a indústria açucareira do Recôncavo Baiano trabalhava com métodos quase imutáveis desde o início da colonização fizeram com que o crescimento e a evolução da cidade decaíssem. Assim, exatamente quando o Brasil se encaminhava para a industrialização, Salvador sofria com a falta de capitais disponíveis para continuar os tímidos esforços feitos no domínio da indústria têxtil no fim do século anterior. É por volta deste período que é construída a Fábrica São Brás (ver Capítulo II), objeto de estudo deste trabalho.
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I.II O Território Municipal A Região Metropolitana de Salvador compreende 22 subdistritos, composta por 10 municípios, sendo Candeias, Simões Filho, Lauro de Freitas, Madre de Deus os que fazem fronteira com Salvador (vide Mapa 01). O território municipal é composto por dois espaços geograficamente distintos - o continente e as ilhas. A porção continental abrange 29km², aproximadamente 90%; a porção insular compreende um arquipélago no interior da Baía de Todos os Santos que totaliza 30km², cerca de 10% do território. A Área Urbana Legal, definida pela Lei nº3.525/85, do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDD-U/85) abrange 250km², cerca de 80% de Salvador na divisa com Lauro de Freitas e Simões Filho. A estrutura urbana de Salvador é influenciada pelas características de seu relevo. Embora
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o local para a formação da cidade tenha sido escolhido exatamente por esse motivo, o sítio revelou-se problemático para comportar uma cidade de grande porte, caracterizada pela ocupação desordenada e por altos níveis de densidade populacional e de área construída. A Mata Atlântica, vegetação típica do local, começou a ser devastada com a chegada dos portugueses, com a exploração madeireira. Porém, foi no último século que sua supressão sistemática, assim como dos ecossistemas associados, se intensificou, como resultado da expansão urbana de Salvador. Mesmo as áreas institucionalizadas como unidades de conservação pelo Município ou pelo Estado da Bahia sofrem pressões do ambiente ao redor, estando sujeitas a invasões e a depredações resultantes de vandalismo ou atividades extrativistas ilegais, como no Morro do Oiteiro, Área de Preservação Permanente (APP) onde há extração de argila.
Ilha dos Frades
Ilha de Maré
Baía de Todos os Santos
Salvador Mapa 01 - Município do Salvador: Abrangência territorial e limites intermunicipais. Fonte: Caderno da Cidade
Oceano Atlântico
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I.III O Subúrbio Ferroviário Historicamente, a cidade de Salvador foi dividida em “freguesias”, tradição portuguesa, e não em bairros. Assim, foram criadas pelo Decreto nº7.791, em 1987, as Regiões Administrativas (RA’s), unidades mais adaptadas ao estágio atual do desenvolvimento urbano da cidade que ajudariam no controle e administração desta (ver Mapa 02). Será enfatizado aqui a RA XVI, o Subúrbio Ferroviário, região onde será implantado o projeto realizado. Os Subúrbios abrangem a faixa de território correspondente à parte norte da falha geológica de Salvador, abrangendo também os terrenos sedimentares voltados para a Baía de Todos os Santos e toda a bacia do rio do Cobre. Subdivide-se nas regiões de Valéria (RA XV) e do Subúrbio Ferroviário (RA XVI) A expansão da cidade ganhou vetores de
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crescimento com a implantação de avenidas durante as décadas de 1960 e 70. Fora dos eixos mais valorizados a Av. Afrânio Peixoto, também conhecida como Suburbana, construída em 1969, liga a região central da cidade com Paripe, área mais ao norte do Subúrbio Ferroviário, sendo quase paralela à linha férrea construída mais de 100 anos antes. Esta via se constituiu numa importante alternativa para os deslocamentos da população da região, o que só era possível pela ferrovia. Sua implantação teve grande impacto no crescimento populacional da região dos Subúrbios nos anos seguintes. Assim, a partir da década de 1970 (ver Mapas 03, 04 e 05), a malha urbana expandiu-se em várias direções, distanciando-se do núcleo inicial da Cidade na borda da Baía de Todos os Santos. Entre 1976 e 1998 o espaço comprometido com
Mapa 02 - MunicĂpio do Salvador: RegiĂľes Administrativas. Fonte: http://www.informs.conder.ba.gov.br/
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Mapa 03 - Município do Salvador: Evolução Urbana: Área Ocupada 1940. Fonte: Caderno da Cidade.
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Mapa 04 - Município do Salvador: Evolução 1976. Fonte: Caderno da Cidade.
alvador: Evolução Urbana: Área Ocupada idade.
Mapa 05 - Município do Salvador: Evolução Urbana: Área Ocupada 1998. Fonte: Caderno da Cidade
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o assentamento populacional e de atividades econômicas dobrou. A RA XVI, durante as décadas de 1970, 80 e 90 foi muito adensada, com a ocupação, regular ou irregular, de lotes dos parcelamentos populares implantados na década de 1960 e 70, e também pela implantação de parcelamentos clandestinos. Há assim um adensamento populacional expressivo. Em 1998, o Subúrbio Ferroviário apresentava uma área comprometida equivalente a 74,48% do seu território e uma área ocupada bruta de 61,23%. O Parque São Bartolomeu e a reserva da Base Naval de Aratu ganham destaque sobre as áreas livres da região. Os vazios mais significativos são descontínuos e intersticiais em áreas já densamente ocupadas. Neste ano, a área dos Subúrbios correspondiam a 8,78% da área total do Município, com 2.718,72 hectares. A Ocupação Predominante é classificada pelo Volume I do Caderno da Cidade - Uso e Oupação do Solo, majoritariamente como Horizon-
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Imagem 07 - Ocupação Horizontal II. Fonte: Caderno da Cidade
tal II (vide imagem 07), sendo esta um assentamento residencial de população de renda média
e baixa em estágio inicial de adensamento construtivo, se caracterizando pela predominância de edificações uni residenciais com até dois pavimentos e podendo ter origem em parcelamentos do solo formais ou informais. Neste tipo de ocupação, é ocupado de 50 a 80% do lote, que costuma ser menos que 200m². Em 2000, de acordo com o Censo do IBGE, Salvador tinha 2.443.107 habitantes, um dos municípios brasileiros com maior densidade populacional: 78 hab/ha. Nos Subúrbios, a densidade chega a 150 hab/ha. Em 2010, a população totalizava 2.675.656 habitantes e, em 2015, estima-se que haja 2.921.087 habitantes.
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II. Plataforma e a Fรกbrica Sรฃo Brรกs 33
A área do atual bairro de Plataforma já era ocupada, em 1558 pelos jesuítas, que fundaram a aldeia de São João, com igreja e residência, utilizada pelos índios Tupinambás. Em 16 de abril de 1638, sua praia foi usada pelo príncipe holandês Maurício de Nassau para desembarcar 3.000 soldados, numa tentativa de invasão à cidade de Salvador. Durante os combates pela independência da Bahia, em 1822, as praias de Plataforma e Itacaranha, bairro vizinho ao primeiro, também no Subúrbio ferroviário, foram cenário do desembarque de 550 marinheiros e soldados liderados pelo General Madeira de Melo, que seriam derrotados na Batalha de Pirajá, em 8 de novembro de 1822. Em 1851, o Engenheiro Carlos Augusto Wey II elabora o mapa de Salvador (ver Mapa 06), e a região já aparece, com o nome de “Platta Forma”. Esta denominação é consequência da existência, desde a época colonial, de uma plataforma de tiro na ponta oposta à Ribeira, isto é, na ponta de São Brás. No mapa, aparecem apenas duas
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construções, que se deduz serem depósitos de escravos pertencentes à José Roiz da Costa, no mesmo local onde hoje se encontra a Fábrica São Brás. Como já citado no Capítulo I, a primeira parte da Estrada de Ferro da Bahia and São Francisco Railway é inaugurada em 1860. O Viaduto da
Imagem 08 - Viaduto da Enseada de Itapagipe, 1861. (Fotogragia de Benjamin Mulock) Fonte: Ferrez, 1989
Mapa 06 - Mappa Topographica da Cidade de S. Salvador e seus subúrbios”, elaborada pelo Eng. Carlos Augusto Wey ll por volta de 1851. Fonte: FERREZ, 1989
Enseada de Itapagipe (imagem 08), que liga Plataforma a Lobato em uma estrutura de ferro, também foi inaugurado neste ano, sendo uma das
maiores obras de engenharia deste primeiro trecho da ferrovia. É impossível caracterizar o processo de
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Imagem 09 - S. Salvador. Baya de Todos os Sanctos. Ataque holandĂŞs a Salvador. Fonte: http://www.cartografiahistorica.usp.br
formação de Plataforma sem descrever, ao mesmo tempo, a história da Fábrica São Brás, alvo da pesquisa, pois a ocupação da área de Plataforma só se intensificou a partir da instalação dessa, em 1875, por dois irmãos comerciantes portugueses, Manoel Francisco de Almeida Brandão e Antônio Francisco de Almeida Brandão. A fábrica de tecidos teve sua implantação na área da antiga Fazenda Brandão, incentivada pela proximidade com a ferrovia, pela presença de um porto natural seguro e pela disponibilidade de recursos naturais, como fontes de água e a Mata Atlântica, que forneceria a madeira necessária ao funcionamento do maquinário. No início da década de 1880, a empresa Antônio Francisco Brandão e Cia. empregava 110 operários, sendo 40 homens, 60 mulheres e 10 menores do sexo masculino. Os produtos (algodão trançado branco e riscado de primeira e segunda qualidade, sacos de pano branco trançado de diversos tamanhos, entre outros) eram par-
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cialmente consumidos na Bahia, e o restante era exportado para o norte do Império. No entanto, a industrialização da área foimaior do que apenas a Fábrica São Brás. Em 1882 começou a funcionar a Empresa de Carnes Verdes, um matadouro e, em 1888, uma fábrica de calçados e uma de sabão, ambas propriedades da Antônio Francisco Brandão e Cia. Em 1891, a Brandão e Cia. se junta com outros acionistas, formando a Companhia Progresso Industrial da Bahia, que englobava as três fábricas da Antônio Francisco Brandão e Cia., a Fábrica Bonfim, 208 casas e 700 tarefas de terras das fazendas da região. A Fábrica São Brás era, em 1893, uma das fábricas têxteis mais importantes da Bahia, empregando 340 operários. Neste ano, a fábrica foi vítima de um incêndio, e teve que ser reconstruída, obra que terminou em 1897. Em 1902 foi construído o aterro na Baía de Todos os Santos, em frente à fábrica de tecidos. Com o crescimento da fábrica, a vila ope-
Imagem 10 - Plataforma, 2012. Fonte: https://ssl.panoramio.com
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Imagem 11 - Vista geral de Plataforma em 1904, vendo-se, à esquerda, a cobertura em shed e a chaminé da Fábrica São Brás, e em segundo plano a vila operária construída na sua vizinhança. Fonte: Castore, 2013.
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rária que se formou ao redor tinha, em 1900, 202 casas, sendo todas propriedade da Companhia. Não se sabe ao certo se a Companhia construia as casas e era responsável pela sua manutenção, alocando-as para os operários, ou se cada trabalhador construía a própria casa no terreno da Companhia. De qualquer maneira, o certo é que os funcionários pagavam o aluguel ou uma taxa para o locador, e que nunca houve um projeto para a vila operária como conjunto, com arruamento e preocupações urbanísticas. A Companhia Progresso Industrial da Bahia era, em 1905, a segunda empresa do setor têxtil baiano, superada apenas pela Empório Industrial do Norte. Neste contexto, decidiu-se demolir as demais construções industriais que se localizavam próximas à Fábrica de Tecidos São Brás para que esta fosse ampliada, sendo esta a maior intervenção realizada no complexo e a que, apesar do avançado estado de arruinamento, se apresenta até hoje.
Na intervenção realizada, finalizada em 1909, as diversas paredes foram substiuídas por colunas de ferro fundido, vigas de aço e sobre estas o telhado de aço, vidros e telhas francesas, formando uma cobertura com tipo “Shed”, sendo todo este material importado. As cumeeiras da antiga fábrica foram elevadas em 1,60 metros de altura. O corpo de dois pavimentos, que rompe a horizontalidade da obra, compreende os novos escritórios. Como a antiga chaminé havia caído, foi erguida uma nova em aço sobre uma base de alvenaria de tijolos, com a altura de 60m e 1,5m de diâmetro. Para viabilizar estas alterações, o Morro do Oiteiro, na parte de trás da fábrica, teve que ser escavado aproximadamente 12.000 metros cúbicos. Neste contexto, Plataforma começou a ser atrativa também para habitantes que não eram funcionários da fábrica, primeiramente pelo custo razoavelmente baixo do solo, e também pelo investimento feito pela Companhia Progresso In-
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dustrial da Bahia na construção e manutenção de equipamentos de uso comunitário no bairro, como creche, posto médico, escola e a Sociedade Beneficente e Recreativa São Bráz, que prestava serviços de assistência médica, farmacêuticas, música e aulas, além de um chafariz para o abasteci-mento de água dos moradores, já que nesta época ainda não havia água encanada na região, serviço que só foi instalado em 1913. Desta maneira, a Companhia mostrava preocupação com o tempo livre de seus operários, patrocinando a criação dos grêmios recreo desportivos, festas e eventos pelo bairro, controlando, de maneira sutil, os padrões de comportamento dos seus funcionários. Mesmo a vila operária não tendo sido projetada, ela influenciou a configuração do espaço que se mantém até hoje. A vila se estruturou através de dois eixos principais, a Rua Industrial, atuais ruas Almeida Brandão e Úrsula Catharino, ao longo da ferrovia e subindo a encosta em
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Cartão Postal de 1902, com vista para a praia de Plataforma. Fonte : CASTORE, 2013
Mapa 07 - Mapa da ocupação do território de Plataforma, na primeira década do século XX. Fonte: Castore, 2013.
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direção ao povoado pré-existente de São Bráz, e pequenas ruas nas adjacências da fábrica, adaptando-se à topografia (ver Mapa 08). A Rua Industrial, primeiro e principal eixo, era a comunicação entre os povoados antigos e o núcleo de Plataforma, concentrando a maior parte de casas da Companhia e os equipamentos de serviços iam se instalando como, além dos que já foram mencionados, uma estação policial (inaugurada em 1900), uma escola pública (1905) e uma agência dos correios (1906). A fábrica estava em ascensão e, com isso, o número de operários aumentava. A Companhia, então, aumentou de 268 para 339 a quantidade de casas e criou, em 1923, o Fundo para a construção de casas, destinando uma parcela dos lucros à construção de casas para seus funcionários. Em 1933, a Companhia União Fabril incorporou a Companhia Progresso Industrial da Bahia, criando a Companhia Progresso e União Fabril da Bahia, S/A. O maior acionista e, portanto, Diretor
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Presidente, se tornou o Comendador Bernardo Martins Catharino, também português. A nova empresa possuía dez fábricas de tecidos, empregando cerca de 2 mil operários, que continuaram tendo suas atividades sociais patrocinadas. No início da década de 1940, Salvador possuía 290.443 habitantes, dos quais 4.162 eram residentes de Plataforma e, destes, 3.000 residiam entre a vila operária e a Praça São Brás, núcleo originário do bairro. Entre 1940 e 1950, a população de Salvador aumentou 43,65%, enquanto a de Plataforma aumentou 67,41%. Como não havia água encanada nem esgotos até o final de 1913, a Fábrica São Brás utilizava reservatórios próprios, localizados na Enseada do Cabrito, canalizada até a unidade têxtil. O excedente era vendido aos moradores da região. A usina geradora de energia, também existente até hoje, foi inaugurada em 1942, com a intenção de garantir um abastecimento constante e direto aos seus estabelecimentos industriais, o que não era
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Fábrica São Brás
Mapa 08 - Plataforma, 2015. Indicações eixos de crescimento.
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Imagem 12 - Fรกbrica Sรฃo Brรกs, em Plataforma, vista do mar, em 1918. Fonte : CASTORE, 2013
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Imagem 13 - Seção de tecelagem da Fábrica de Tecidos São Brás em 1918. Fonte: Castore, 2013
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Imagem 14 - Fรกbrica de Tecidos Sรฃo Brรกs em 1928. Fonte: Castore, 2013.
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Imagem 15 - Vista do núcleo operário de Plataforma em março de 1937, vendo-se em primeiro plano, ao centro, a Rua Úrsula Catharino – antiga Rua Industrial; em segundo plano, à esquerda, a Fábrica de Tecidos São Brás; e no fundo a Península de Itapagipe. Fonte: Castore, 2013
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Imagem 16 - Fábrica São Brás, em Plataforma, em 1935. Fonte: Castore, 2013.
Imagem 17 - Visão geral da Usina da Fábrica de Tecidos São Brás. Fonte: Castore, 2013.
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feito pela Cia. Energia Elétrica da Bahia. Com a morte de Bernardo Catharino, em 1944, a fá brica passou a ser controlada pelo seu filho, Alberto, e sucessivamente pelo seu neto, Luiz. Ainda hoje a empresa continua nas mãos da família Catharino, que continua coletando os aluguéis e taxas dos que moram na antiga vila operária. Durante a Segunda Guerra Mundial, a indústria têxtil baiana sofreu com a diminuição da demanda do mercado, ligada à redução da exportação e à competição com as novas indústrias têxteis implantadas no sul do país. Com isso, a Fábrica São Brás, que empregava 1.485 operários em 1935, passou a empregar 1.247 em 1945 e 968 em 1954. Isso levou ao fechamento não apenas desta fábrica, como de outras da empresa. No caso estudado, sua ineficiência tecnológica (seu maquinário era antigo e inadequado, e a troca exigiria um valor elevado de capital) foi outro motivo para o fechamento. Sobre isso, o jornal A Tarde
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Imagem 18 - A Fábrica São Brás e o cais à sua frente, vendo-se a movimentação das canoas nas proximidades do cais. Fonte: Castore, 2013.
publicou: “Plataforma hoje batizada com o nome pernóstico de Almeida Brandão vive quase que em função da Fábrica São Brás. A maioria absoluta das famílias ali residentes vive diretamente ou indiretamente subordinadas à atividade daquela tradicional indústria. [...] O fechamento assim desse estabelecimento industrial constitui uma grave ameaça para a vida de Plataforma”. Nesta década (1950), o poder público investiu no Subúrbio Ferroviário, ampliando o serviço de iluminação pública, realizando o processo de calçamento da atual rua Úrsula Catharino, implantando loteamentos na área (os lotes variavam de 360 a 480m²) e iniciando uma estrada de ligação entre a ladeira de Plataforma e o cemitério de Periperi. O crescimento populacional neste período no bairro foi semelhante ao da cidade de Salvador, aproximadamente 56%. A fábrica foi reaberta em 1961, com equipamento modernizado, mas empregando apenas
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cerca de um quarto de funcionários que empregava originalmente. Nesta mesma década, como já mencionado, foi aberta a Av. Afrânio Peixoto. Assim, no período de 1960 a 1970, enquanto Salvador cresceu 56,64%, a população de Plataforma 97,01%. É preciso ressaltar que esta avenida margeia a orla da cidade desde suas proximidades ao centro histórico, formando um eixo comercial e que, ao chegar em Plataforma, esta se distancia do mar, fazendo com que o bairro não fosse incluído neste eixo, ficando ainda mais excluído social e urbanisticamente. Neste período, segundo o relatório feito pela A&P Arquitetura e Urbanismo (explicado no Capítulo III), os bairros do Subúrbio eram conhecidos como “aglomerados dormitório”, conceito utilizado na época para expressar a grande parcela da população residente que passava o dia fora, no trabalho, e retornava apenas a noite. Mesmo com a modernização dos equipamentos, os resultados almejados pela Companhia
a para a fábrica não foram alcançados e, em 1967, esta foi arrendada para a Fábrica de Tecidos Fátima, assumindo o nome de FATBRAZ. Esta solução também não foi o suficiente para resolver a situação e, assim, a fábrica fechou definitivamente um ano depois, em 1968. O bairro cresceu a partir da fábrica, especialmente o comércio local. É difícil encontrar em Plataforma quem não tenha trabalhado na FATBRAZ, ou tenha um parente que trabalhou. Mesmo com seu fechamento, pode-se dizer que a fábrica impulsionou o crescimento do bairro, que este se desenvolveu ao redor dessa, nascendo basicamente da vila operária e da infraestrutura criada pela Companhia. Na década seguinte, 1970, o bairro continuou crescendo, com um aumento de 98,87% da população, enquanto em Salvador como todo a população aumentou 49,08%. O terminal hidroviário, localizado ao lado da usina, que ligava Plataforma à Ribeira é fechado em 1985, por mais de 20 anos pela falta de segurança.
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II.I Plataforma sem a Fábrica São Brás Desde seu fechamento, a FATBRAZ nunca teve outro uso. Atualmente, o bairro de Plataforma é composto por 69.699 habitantes.A condição de vida destes é precária, como pode ser visto na Tabela I, que mostra que por mais que seja um dos melhores subdistritos para se viver em Salvador, as médias ainda estão a baixo do ideal. A relativa falta de dinamismo sócio econômico apresentada pela área pode ter sido causada por algumas razões: a retirada de vitalidade após o fechamento da fábrica, que agora ocupa uma grande área privilegiada sem nenhum uso, o relativo ilhamento da parte costeira do bairro, por estar distante da Av. Suburbana e pelos transportes ferroviário e hidroviário serem pouco efetivos, a precariedade de equipamentos urbanos, contribuindo não só para a falta de dinamismo, como também para a estigmatização dos moradores do bairro, o que é
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agravado pelo posicionamento da ferrovia na área de borda, que acaba tendo efeito de barreira em um local que poderia ser utilizado como espaço recreativo e para a prática de esportes. As atividades econômicas que passaram a ser praticadas, após o fechamento da FATBRAZ, não só no bairro como nos arredores, incluem a pesca tradicional e a mariscagem, importantes manifestações culturais destas comunidades, constituindo processos peculiares de apropriação social do espaço. A mariscagem é uma atividade realizada em Plataforma há décadas, uma sabedoria passada de pai para filho, uma forma de garantir o alimento diário e distração. No entanto, esta prática vem sido comprometida pelo lançamento direto do esgoto de algumas casas no oceano, assim como o descarte de diversos tipos de lixo, o que torna a água imprópria por contaminação
Tabela 01 - Indicadores que refletem as condiçþes de vida nos subdistritos de Salvador - 2000. Fonte: Caderno da Cidade.
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Imagens 19 - 22 - O bairro de Plataforma. Fonte: Acervo A&P Arquitetura e Urbanismo.
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Imagens 23 - 26 - O bairro e a Ferrovia. Fonte: Acervo A&P Arquitetura e Urbanismo.
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de metais pesados - os marisqueiros continuam a prática, consumindo e vendendo o alimento mesmo nestas condições, por falta de opção. O uso de “bombas” na tentativa de conseguir peixes com maior facilidade provoca desequilíbrio ambiental na região, o que também vem agravando a situação. Outro problema é a ocupação irregular de mangues e áreas alagadiças da região; todos estes fatores contribuem para a diminuição gradual da quantidade de mariscos.
Imagens 27 e 28 - Pesca e mariscagem. Fonte: Acervo A&P Arquitetura e Urbanismo.
Imagens 29 e 30 - Poluição das águas. Fonte: Acervo A&P Arquitetura e Urbanismo.
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Mapa de Plataforma Legenda: Antiga FATBRAZ Vazios Públicos Edificações
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II.II Levantamento geral 1. Caracterização da População Quanto à religião e raça no bairro, segundo o Censo de 2000, embora existam 28 terreiros e sessões de giro espalhados por Plataforma, a porcentagem da população que se considera ligada às religiões de origem africana é pouco expressiva estatisticamente. 46,4% são católicos (abaixo do índice de Salvador - 62%), 20,9% são evangélicos e 31% não possui religião. Ainda segundo o censo, 84% da população de Plataforma é negra e 14% branca, cabendo a índios e amarelos um percentual insignificante, porém não há grande disparidade no padrão de vida entre as raças, característica de uma composição de pobreza que não esta mitigada por este aspecto.
Imagens 31-34 - Visuais do bairro. Fonte: Acervo A&P Arquitetura e Urbanismo.
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2. Transporte e Micro acessibilidade O acesso ao bairro pode ser feito através da Av. Suburbana, da ferrovia e da linha náutica, reativada em 2007. A área é servida por 09 linhas, conforme a Tabela II. As linhas de ônibus convergem ou para o Terminal de Plataforma, ou para o Terminal de São João do Cabrito. O acesso interno de Plataforma é que se encontra em estado ainda mais complicado, pois devido às grandes declividades, que chegam a até 75 metros, e ao estado de conservação da pavimentação das ruas, os ônibus não passam na maioria delas, abrindo espaço para que taxistas e mototaxistas rodem constantemente pela região (ver Mapas 09 - ). O Trem do Subúrbio opera desde 2013 sob a administração da Companhia de Transportes do Estado da Bahia (CTB), transportando cerca de 312.000 passageiros por mês. As viagens iniciam às 6 horas da manhã, encerrando às 19 horas, com intervalos de 45 minutos, levando
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aproximadamente 25 minutos para percorrer os 13,5km de sua extensão. O alcance do sistema é baixo, pois serve apenas para um público excessivamente local, com precariedade das instalações e com baixa frequência, o que dificulta a integração com outros modais. A Linha Náutica, que faz a ligação RibeiraPlataforma, opera com duas balsas, transportando cerca de 800 pessoas por dia, em sua maioria moradores de Plataforma que trabalham ou estudam nas proximidades da Ribeira. No entanto, a travessia tem problemas de frequência e de interligação com a ferrovia, tanto no ponto de vista físico, como do ponto de vista operacional. A insegurança nos arredores dos terminais ainda é uma barreira a ser vencida para a utilização plena e confortável deste sistema. Escadas e rotas de pedestres para conectar a rede viária em diferentes cotas de níveis estão presentes em toda a região, mas sofrem com a falta de conservação e a precariedade funcional,
Tabela II - Linhas de ônibus que param em no bairro de Plataforma. Fonte: Levantamento feito pela A&P Arquitetura e Urbanismo. ( * Aproximadamente, com base no mês de dezembro/2014)
resultante de desenhos inadequados e construções improvisadas. A micro acessibilidade local é complexa, não garantindo a acessibilidade para
portadores de deficiência, mesmo esta sendo determinada pela legislação brasileira vigente.
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Estado de Conservação das Vias Legenda: Antiga FATBRAZ Vazios Públicos Edificações Declividade Acentuada Presença de passeio Asfalto Deteriorado Asfalto Preservado Piso de Paralelepipedo Piso de Terra Rota de Pedestre
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Nรกutico
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Ferroviário Av. Almeida Brandão 50
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Esquema dos Meios de Transporte do Bairro Legenda: Via com Transporte Público Via sem Transporte Público Pontos de ônibus Pontos de mototaxi Ponto de taxi Estações propostas para o VLT 69
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Hierarquia Viรกria Legenda: Via Arterial Via Coletora Via Local
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Imagens 35-39 - Transporte e Micro Acessibilidade. Fonte: Acervo A&P Arquitetura e Urbanismo.
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3. Sistema de Drenagem O sistema de drenagem na rua Almeida Brandão é composto por duas bocas de lobo na área pavimentada e, nos trechos sem pavimentação, por descidas d’água que desaguam em canaletas a céu aberto ao longo da extensão da via férrea - várias destas descidas foram criadas pela própria população, quebrando trechos de contenções e muretas para dar vazão a água. Muitas das canaletas estão obstruídas por lixo e vegetação e/ou são muito pequenas para o volume de água acumulado na região.
Imagens 40-41 - Sistema de Drenagem. Fonte: Acervo A&P Arquitetura e Urbanismo
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4. Sistema Elétrico
5. Sistema de Água Potável
O fornecimento elétrico é responsabilidade da Concessionária Coelba. A energia é distribuída através de ramais aéreos fixados em postes de concreto. Toda a via possui iluminação pública, alimentada pela subestação localizada em Paripe.
A água potável é proveniente da ETA (Estação de Tratamento de Água) principal, localizada em Candeias e controlada pela Unidade Regional de Pirajá, que fazem parte do sistema integrado de abastecimento de água em Salvador (SIAA) sob a responsabilidade da EMBASA.
Imagem 42 - Sistema Elétrico. Fonte: Acervo A&P Arquitetura e Urbanismo
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6. Sistema de Esgotamento Sanitário O sistema de esgotamento sanitário foi construído através do programa Bahia Azul, conforme o Plano Diretor de esgotamento sanitário da Região Metropolitana de Salvador, elaborado pela Embasa em 1984 e revisado em 1993. Este sistema está inserido no subsistema do Subúrbio, fazendo parte da bacia do Cobre. O esgoto é revertido para o sistema do Camarujipe, com descarte no mar através do emissário submarino do Rio Vermelho após os devidos tratamentos. No entanto, boa parte da população não possui sua tubulação de esgoto conectada no sistema explicado a cima. Nestes casos, o esgoto é jogado diretamente no mar.
Imagem 43 - Sistema de Esgotamento Sanitário. Fonte: Acervo A&P Arquitetura e Urbanismo
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7. Áreas Verdes O morro do Oiteiro, localizado atrás da antiga FATBRAZ, abriga os últimos remanescentes de Mata Antlântica na cidade fora do Parque São Bartolomeu. O morro é considerado Área de Preservação Permanente (APP) segundo o Artigo 4 do Código Florestal Brasileiro (Lei nº 12.651 de 2012) por sua declividade acentuada e Área de Preservação aos Recursos Naturais (APRN) de acordo com o Artigo 20 da Lei de Ordenamento do Uso e da Ocupação do Solo por ter a vegetação contendo a sua erosão. Mesmo assim, há a existência de uma mina de argila no morro, fazendo constantes extrações do material sem as devidas precauções ambientais. Este fato, junto à sua ocupação ilegal por residências particulares resultou na supressão de boa parte de sua vegetação e, com isso, deslizamentos são recorrentes quando as chuvas são mais intensas.
Os fragmentos de áreas verdes restantes no bairro, além do morro, são algumas plantas frutíferas em residências particulares e gramíneas em áreas públicas. Pela sua proximidade ao Oiteiro, pela sua falta de uso, e pelo clima úmido e apropriado, a FATBRAZ encontra-se tomada pela vegetação.
Imagem 44 - Áreas Verdes. Fonte: Acervo A&P Arquitetura e Urbanismo
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Áreas Verdes Legenda: Áreas Verdes
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8. Espaços Públicos O Subúrbio de Salvador carece de infra estrutura e espaços públicos de lazer. Plataforma conta apenas com um campo de futebol improvisado e três praças (Praça João do Cabrito, Praça 15 de Abril e Praça São Brás). Na Praça São Brás localiza-se o Centro Cultural Plataforma, um equipamento estadual, com um auditório com capacidade de 203 espectadores - este equipamento diferencia-se dos outros espaços públicos pelo bom estado de conservação e pela forte relação estabelecida com as comunidades existentes em seu entorno, também funcionando como espaço aberto para encontros e eventos. A própria população é responsável pela colocação de alguns mobiliários urbanos que formam pequenos recantos ao longo da Av. Almeida Brandão e da ferrovia. Imagens 45 e 46 - Praças São Brás (a cima) e de São João do Cabrito (a baixo).Fonte:Acervo da A&P Arquitetura e Urb.
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Imagens 47 e 50 - Espaços Públicos. Fonte: Acervo Pessoal.
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9. Padrão de Construção As edificações possuem um certo grau de padronização quanto aos aspectos construtivos. Em sua maioria, possuem estrutura de concreto e vedações em alvenaria de bloco cerâmico, com acabamento em massa pintada ou revestimento cerâmico e esquadrias e portões de alumínio. Cerca de 10% das construções são mais precárias, com blocos cerâmicos aparentes na fachada.A cobertura é feita em telha cerâmica, fibrocimento ou metálica sobre estrutura de madeira, cobrindo terraços avarandados. Possuem em média de 2 a 3 pavimentos e variam entre 50 e 100m².
Imagens 51 e 52 - Padrão de Construção. Fonte: Acervo Pessoal
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10. Uso do Solo Predominantemente residencial, caracterizando-se por uma ocupação de edificações de pequeno e médio porte, ao longo de toda a orla do bairro, sendo uni residenciais ou pluri residenciais de dois ou três pavimentos, de maneira geral. Construções de uso comercial, misto, institucional e religioso são encontradas principalmente nas ruas Almeida Brandão e Ursula Catharino. A área é muito influenciada pelos terrenos desocupados da FATBRAZ, e outros imóveis ao seu redor, também nestas ruas, que permanecem fechados e/ou arruinados, o que compromete a dinâmica urbana do bairro.
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Uso do Solo
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Legenda: Residencial Comercial Misto
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Materiais de Construção
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Bar
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Mercearia
Comercial:
Serviços: 01
Salão de Beleza
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Salão de Beleza
Institucional:
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Mercado
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Bar
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Centro de Saúde
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Lanchonete
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Escola
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Restaurante
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Embasa
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Mercearia
Misto: 01
Lanchonete
Religioso: 01 Centro Espírita 02
Igreja Evangélica
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III. A revitalização da orla de Salvador 87
Em 2013, o prefeito Antonio Carlos Magalhães Neto anunciou que iria requalificar a orla da cidade de Salvador. Inicialmente, foram escolhidos nove trechos, sendo estes São Tomé de Paripe, Tubarão, Ribeira, Barra, Rio Vermelho, Jardim de Alah/Armação, Boca do Rio, Piatã e Itapuã. O projeto incluiu, segundo o site da prefeitura da cidade, 50 mil m² de novas calçadas, 6 km de ciclovias, 10km com nova iluminação pública, 16 mil m² de espaço compartilhado, quadras, praças e restaurantes, além de mudanças no trânsito: fechamento de trechos para carros, abrindo a rua para os pedestres.Tudo isso com a intenção de devolver a orla às pessoas, mudando inclusive a cultura local, no sentido que a população passou a desfrutar da orla para passeios, caminhadas e encontros. As obras já foram, de maneira geral, concluídas e a população pode usufruir destes novos espaços. Foi com esta mesma proposta que a Prefeitura Municipal de Salvador, através da Fundação Mario Leal Ferreira (FMLF), propõe um estudo
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urbanístico da orla, no trecho entre Plataforma e Itacaranha, objetivando a apresentação de soluções para os anseios da população local e a reincorporação à dinâmica urbana de toda a cidade. A empresa A&P Arquitetura e Urbanismo foi a vencedora da licitação e realizou uma série de visitas e levantamentos da área de influência, para sua análise e conceituação da intervenção a ser realizada. Estes reconhecimentos, já citados aqui, geraram a evidenciação de problemas e de potencialidades na área, como será abordado a seguir.
III.I A Orla de Plataforma Segundo a análise feita pela A&P, a área estudada (bairro de Plataforma e Itacaranha) apresenta problemas e potencialidades futuras. Problemas: - Acessibilidade - Descontinuidades Transversal (em relação ao próprio bairro) Longitudinal (em relação ao resto da Orla) - Precariedade dos acessos desde o bairro; - Distância entre as estações da ferrovia; - Falta de urbanização ao longo do trecho; - Isolamento do restante da orla da baía (enseada dos Tainheiros);
-Drenagem e saneamento - Pontos de deficiência da drenagem, alagamentos; - Situação de esgoto primário na drenagem superficial;
- Carência de urbanização - Falta de passeios; - Estado precário das vias; - Falta de mobiliário urbano;
Potencialidades: - Uso da orla marítima - Atividades de pesca (sobrevivência e recreativa);
- Áreas de risco - Pontos de potencial risco de estabilidade das encostas; - Estado do Patrimônio Local - Arruinamento e abandono da FATBRAZ; - Áreas de insegurança social;
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- Lazer; - Atividades náuticas; - Turismo; - Fruição da paisagem; - Acessibilidade - Superação da descontinuidade transversal; - VLT (acesso ao mar); - Melhoria das conexões com o bairro; - Urbanização da orla (acesso ao mar); - Superação da descontinuidade longitudinal - VLT (ligação da orla à cidade); - Ligação hidroviária (continuidade da orla da baía); - Patrimônio Local - Possibilidade de uso por equipamentos urbanos dinamizadores; - Eventual possibilidade de uso de áreas ambientais conservadas (privadas);
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Estas diretrizes foram mais aprofundadas no relatório feito pela empresa e ajudaram a criar o projeto proposto. Além disso, foi levada em consideração a opinião da população local que, através de questionários e oficinas, pode participar da construção do projeto. Segundo os habitantes da área, a localização, a moradia, a tranquilidade, a orla, a paisagem, os esportes, o lazer, a cultura, o Centro Cultural Plataforma e a proximidade aos pontos comerciais são os pontos fortes da comunidade, e a orla, a limpeza urbana, a segurança, o asfaltamento/pavimentação, o esgoto, o mal cheiro do Mercado do Peixe, os acessos, os transportes, a oferta de serviços de saúde, a iluminação, a coleta do lixo, a poda das árvores e o apoio as atividades esportivas e culturais precisam ser melhorados. A vontade da população é que fosse melhorada a estrutura do Mercado do Peixe (onde os marisqueiros comercializam seus produtos) e das barracas de praia, e que fossem implantados
mais equipamentos urbanos e iluminação pública, como praças, quadras, quiosques, pista de skate e rampas de acesso para as embarcações . Quanto a FATBRAZ, a comunidade tem muitos anseios, idealizando a construção de um Campus Universitário, um ginásio esportivo, um Centro Comunitário, um hospital, uma central de abastecimento ou um Centro Cultural.
Imagem 53 - Orla atual de Plataforma. Fonte:Acervo Pessoal
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III.II O projeto Com base no levantamento acima, a A&P criou diretrizes para seu projeto, sendo elas: - Integração da Orla às áreas lindeiras; - Requalificação dos usos; - Indicação de áreas estratégicas para desenvolvimento de projetos que vão reforçar a requalificação da Orla; - Proposição/Utilização de equipamentos que reforcem a utilização da área como lazer contemplativo e de passeio; - Incentivo às atividades de cultura, lazer e entretenimento; - Proposição de espaços que resgatem e/ou estimulem a expressão da identidade popular local; - Recuperação ambiental de áreas degradadas, incluindo outras que desempenham função ambiental ecológica; - Atendimento a demanda por infraestrutura ur-
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bana e social; - Adoção de soluções sustentáveis de infraestrutura a fim de minimizar o impacto das soluções na faixa da praia; - Utilização de vias de mão única e/ou compartilhada sempre que possível, priorizando o pedestre; - Garantia e reforço da mobilidade entre a orla e seu entorno imediato a fim de permitir a acessibilidade da Cidade e da região do Subúrbio à orla; - Articulação da proposta do VLT (descrita a seguir) com a requalificação da área; - Indicação de melhorias habitacionais para fins de interesse social nas residências situadas na área ou no seu entorno imediato da área de influência do projeto; - Identificação de ocupações em áreas ambientalmente protegidas na área do projeto e seu entor-
no imediato; - Eliminação de situações de risco e proposição de plano de recolocação, caso necessário. Assim, a proposta final inclui mobiliários urbanos por toda a extensão da orla, ciclovia, áreas de lazer, uma fonte interativa, academia ao ar livre, uma pista de skate, playgrounds infantis e cinco recantos de convivência em locais já ocupados hoje pela comunidade para este mesmo fim. As ruas Almeida Brandão e Ursula Catharino, atualmente de chão batido, serão calçadas e reurbanizadas, e rampas de acessibilidade serão implantadas para amenizar as descontinuidades existentes. Nas redondezas da antiga ruína, houve a criação de uma piscina natural que enche com a alta da maré, localizada na frente da antiga usina da Fábrica São Brás, com a criação de uma praia artificial, a implantação de quadras poliesportivas e um parque infantil também fazem parte da proposta. Para os marisqueiros, haverá uma estrutura
de apoio. A ferrovia, que será substituída por VLT (como explicado a seguir), terá novos terminais, sendo um deles em frente às ruínas da FATBRAZ, permitindo maior integração com a linha hidroviária - a atual estação Almeida Brandão será desativada e sua estrutura servirá como sede para a Associação de Moradores de Plataforma (AMPLA), uma organização muito ativa no bairro. O início das obras está previsto para o final deste ano, com previsão de 10 meses de duração, de acordo com o site do Correio 24 horas, fonte informativa do estado da Bahia. A comunidade está muito animada com a intervenção, “Eu ainda vou viver para aproveitar isso tudo aqui e muito, com fé em Deus!”, afirmou o aposentado Ednilson Leandro dos Anjos, que chegou a viver com a Fábrica São Brás ainda ativa e, portanto, presenciou todo o processo de degradação que ocorreu na área desde seu fechamento.
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Imagens 54 - 57 - Nova Orla de Plataforma. Fonte: Acervo A&P Arquitetura e Urbanismo.
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Imagens 58 - 61 - Nova Orla de Plataforma. Fonte: Acervo A&P Arquitetura e Urbanismo.
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III.III O Veículo Leve Sobre Trilhos Uma das premissas para o projeto é a substituição da linha férrea por um Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT), uma proposta municipal para o Subúrbio. O traçado para este veículo se mostrou apropriado para a região, pois não interfere com os sistemas em rede (principalmente o drenante), não havendo a necessidade de recolocação. As interferências com os sistemas superficiais e aéreos em rede seriam mínimas se comparadas a outras alternativas e, além disso, as passagens de nível requeridas são rigorosamente as mesmas já existentes, de acordo com a Nota Técnica emitida por Rogério Bezerra & Cynthia Brito, especialistas na área. A maior vantagem deste modal é que sua convivência com uma travessia urbana compartilhada com o tráfego rodoviário e de pedestres é muito melhor do que a ferrovia, pois o VLT possui
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sinalização semafórica temporizada e sonorizada, acionada eletronicamente quando o trem se aproxima, o que oferece segurança ao pedestre, que cruza os trilhos em nível, e aos moradores das marginais do trilho, melhorando a acessibilidade e a ambiência e o acesso às praias ao longo do trecho. Este método já é utilizado em outros ambientes urbanos como, por exemplo, em Barcelona. De acordo com a A&P, o VLT, com sua estrutura de funcionamento, possibilitará a integração e a construção de um espaço público ao longo de toda a borda da baía, por: - Reestruturar a segregação entre as faixas (descontinuidades) - a atual ferrovia, além de ter uma circulação pesada, possui um tempo de frenagem incompatível com movimentações peatonais; - Minimizar as barreiras topográficas, possibilitan-
Imagem 62 - VLT de Barcelona. Fonte: http://comunidade. maiscomunidade.com
Imagem 63 - VLT de Barcelona. Fonte: http://comunidade. maiscomunidade.com
do acessos transversais aos trilhos através de rampas, escadarias ou platôs escalonados; - Conectar as estações em uma velocidade compatível com o cruzamento de pedestres em nível; - Ampliar a população atendida com o aumento da frequência e recomposição da quantidade de vagões;
- Aumentar a segurança na área, pois ao conectar as faixas transversalmente, maiores fluxos e aproximações são viabilizados. Das duas estações existentes no trecho Plataforma - Itacaranha, estão sendo propostas quatro para o VLT, ao longo dos 2,5km da borda (área do projeto). Este reposicionamento busca
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diminuir as distâncias entre estações, bem como garantir às mesmas uma maior dinâmica ao novo meio de transporte proposto. Estas estações deverão funcionar como pólos de conexão, convergência e transposição, sendo elas: Estação São João-Cabrito (próximo ao Mercado do Peixe, ponto de referência de Plataforma, na chegada da pista de borda da enseada dos Tainheiros - conexão com pontos de ônibus), Estação São Brás-Plataforma (em frente à ruína da FATBRAZ, redinamizando a área e criando uma conexão ao terminal hidroviário), Estação São Brás-Mocotó (entre Plataforma e Itacaranha, conectando as pequenas praias que se formam na maré baixa com a rua Almeida Brandão, atendendo à população carente de infra estrutura) e a Estação Itacaranha (já existente).
Imagem 64 - Ferrovia de Plataforma. Fonte: Acervo Pessoal.
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IV. ReferĂŞncias Projetuais 101
O projeto aqui proposto é o restauro e uma intervenção na antiga FATBRAZ que, como já explicado, foi de fundamental importância para a formação do bairro de Plataforma, no Subúrbio Ferroviário de Salvador. O programa do novo uso foi pensado especialmente para a comunidade do bairro e do subúrbio, tendo características muito próprias. Assim, as referências utilizadas são de restaurações, cheios e vazios, recuperações de margens de rios e orlas, a importância da ruína, conceito/partido, estrutura da cobertura proposta e de usos específicos.
Imagem 65 - Arena do Morro. Fonte: ArchDaily
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1. Arena do Morro, Herzog & de Meuron Primeiro projeto realizado dentro da proposta para o plano urbano “Uma Visão Para Mãe Luiza”, uma comunidade na cidade de Natal. Conta com uma quadra poliesportiva, arquibancada para 420 pessoas, salas multiuso para dança e educação, um terraço com vista para o mar, assim como vestiários e banheiros, num total de 1.964m². Havia uma estrutura pré existente do antigo ginásio, em concreto. A nova cobertura incorpora esta estrutura e a complementa com telhas sobrepostas com espaçamento, permitindo iluminação e ventilação naturais. Referência de implantação de um projeto público em uma comunidade de baixa renda, com uso não necessariamente determinado, podendo se adaptar aos diferentes momentos da população, porém em uma escala muito reduzida. Referência também de cobertura com iluminação e ventilação naturais.
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Imagens 66 e 67 - Arena do Morro. Fonte: ArchDaily
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2. Cais das Artes, Paulo Mendes da Rocha + Metro 9 Trata-se de um museu e um teatro na orla da cidade de Vitória, no Espírito Santo. Construído em concreto, valoriza e faz parte da paisagem, valorizando também o entorno paisagístico e histórico, com um passeio público junto ao mar. São 30.000m² construídos em um terreno de 20.050m². Referência conceitual na relação e no impacto sobre a paisagem pré existente (orla).
Imagens 68 - 70 - Cais das Artes. Fonte: ArchDaily
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106 Imagens 71 e 72 - Cais das Artes. Fonte: ArchDaily
3. Frac, Lacaton & Vassal Um antigo armazém de barcos, atualmente usado para expor coleções públicas de arte contemporânea. No projeto de restauro, foi feita a duplicação do edifício pré existente para conter o novo programa. A nova construção justapõe-se delicadamente sem competir ou desvanecer. Referência quanto ao restauro - como o novo se relaciona com a arquitetura original.
Imagens 73 - 75 - Frac. Fonte: ArchDaily
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4. Ruhr Museum, OMA O que foi um dia a maior mina de carvão da Europa (Zeche Zollverein), agora é um parque com obras de grandes arquitetos. Entre estas obras, esta o Ruhn Museum. Nele, 80% do pré existente foi conservado, incluindo maquinário, dispondo o museu ao redor destes. Referência de respeito à ruína. Designação de um novo uso para um lugar abandonado, mantendo o máximo possível do original.
Imagens 76 - 78 - Ruhr Museum. Fonte: ArchDaily
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5. Music School Louviers extension, Opus 5 O artefato já havia sido uma igreja, uma prisão e um tribunal, agora é uma escola de música. O programa abrange 24 salas de aula, biblioteca e 2 salas de orquestra. No projeto de restauro, foi criado um novo bloco, com duas fachadas em concreto e duas fachadas sendo uma capa de vidro - trata-se de uma caixa de vidro com fitas de cromo que refletem o entorno, exibindo a vida do edifício. Por mais que o novo edifício se apoie sobre o original, a intervenção é facilmente diferenciada. Como o programa é forte, a parte nova acabou se tornando mais importante do que a existente. Referência quanto ao impacto de uma intervenção em uma pré existência. Imagens 79 - 83 - Music School Louviers extension. Fonte: ArchDaily
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6. Restauro da Pinacoteca de São Paulo, Paulo Mendes da Rocha O edifício original, projetado por Ramos de Azevedo em 1900, tem caráter fortemente neoclássico na utilização de materiais nobres, formas geométricas e regulares e na organização dos espaços internos. Transformado em um grande museu, foi preciso adequar a arquitetura para suas necessidades técnicas e funcionais. Assim, acrescentou-se um elevador, um laboratório de restauro, uma biblioteca, passarelas para melhorar a circulação, e uma nova cobertura. Referência de cobertura - vigas em V metálicas, sem caimento, com uma hierarquia que conduza a água, permitindo a iluminação natural.
Imagens 84 e 85 - Restauro da Pinacoteca de São Paulo. Fonte: ArchDaily
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Construída onde costumava ser o Complexo Presidiário do Carandiru, a Biblioteca São Paulo faz parte da intervenção do Parque da Juventude. O edifício possui uma área ampla com iluminação zenital, garantindo a flexibilidade de layout interno. A biblioteca está organizada como se fosse uma livraria, visando atrair também o público não leitor. Referência conceitual para a parte da biblioteca, nos quesitos de fluxos, áreas de estar e mobiliários.
Imagens 86 e 87 - Biblioteca São Paulo. Fonte: ArchDaily
7. Biblioteca São Paulo, Aflalo & Gasperini
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V. O Restauro 113
V.I Reconhecimento do artefato Foi feito um levantamento do estado atual da obra, um reconhecimento do objeto de estudo. Este levantamento foi baseado na planta fornecida pela Prefeitura de Salvador e adaptado de acordo com o presenciado na visita ao local. Fotos tiradas nas visitas, realizadas nos dias 27 e 29 de janeiro de 2015:
Imagens 88 - 93 - FATBRAZ . Fonte: Acervo Pessoal.
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Imagens 94 - 98 - FATBRAZ . Fonte: Acervo Pessoal.
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Imagens 98 - 103- FATBRAZ . Fonte: Acervo Pessoal.
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Imagens 104 - 109- FATBRAZ . Fonte: Acervo Pessoal.
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Imagens 110 - 115- FATBRAZ . Fonte: Acervo Pessoal.
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Assim, supõe-se e toma-se como verdade que a estrutura da antiga fábrica seja esta: 0
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1. Cronologia e Hierarquia arquitetônica A Fábrica São Brás passou por diversas intervenções até chegar ao estado em que se encontra hoje em dia. Muitas destas intervenções foram feitas enquanto a fábrica ainda estava em funcionamento, como foi abordado no Capítulo II - será levado em consideração que o corpo original é aquele cuja construção foi finalizada em 1909, quando a Companhia Progresso Industrial da Bahia estava em ascenção e, a Fábrica São Brás, em processo de expansão.
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Primeira intervenção - Construção da usina geradora de energia, inaugurada em 1942, ainda enquanto a fábrica estava em funcionamento. Segunda intervenção - Anexo à usina, não há informações quanto à data de sua construção. Apesar de ser de outra época e sua arquitetura destoar da originalmente proposta, a arquitetura deste trecho também tem valor. Após o fechamento da FATBRAZ, não se tem registros das intervenções feitas - o levantamento foi feito a partir da visita ao local. A partir deste ponto, toda ação é considerada descaracterizadora e possui menor valor arquitetônico. Terceira intervenção - Paredes internas, construídas após o início do processo de tombamento. Não há valor arquitetônico neste trecho, sendo apenas descaracterizador do complexo. Quarta intervenção - Emparedamento dos vãos, feito após o tombamento da obra. Assim como a terceira intervenção, esta não possui valor arquitetônico, sendo apenas descaracteriza
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dora do complexo. O intuito desta interposição foi bloquear o acesso à antiga fábrica, pois esta já havia sido saqueada. Neste momento, também foi reconstruída a parte da fachada principal que havia desabado após a retirada da cobertura, no entanto, esta reconstrução foi apenas para preencher o espaço, desconsiderando a arquitetura original.
2. Materiais Na intervenção realizada em 1909, as paredes foram substituídas por colunas de ferro fundido, vigas de aço e sobre estas o telhado de aço, vidros e telhas francesas, sendo todo este material importado. No entanto, estas características não são mais encontradas, pois a FATBRAZ foi saqueada e tudo que possuía algum valor comercial foi retirado. A antiga estrutura só pode ser vista em alguns pontos.
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V.II Estado de Conservação 1. O processo de tombamento Estando abandonada desde seu fechamento, em 1968, a FATBRAZ nunca teve outro uso. Seus proprietários não têm interesse em reativar o espaço, largando-o ao abandono e à deterioração. No entanto, já foi explicado a importância da fábrica para a população, sendo um marco na história e na cultura dos habitantes e na paisagem do bairro, com valor artístico, social e memorial. Contudo, o uso é uma das condições necessárias para preservação de qualquer arquitetura e, sem ele, a obra está destinada ao arruinamento. Impulsionado principalmente pelo Diretor do Centro de Estudos Afro Orientais da Universidade Federal da Bahia e pela Associação de Moradores de Plataforma (AMPLA), com o intuito de frear a sequência descrita a cima, o processo de tombamento iniciou em 1997, após a solicitação
feita: “com seus maquinários e arquivos, testemunha a memória da paisagem, história do povoamento e industrialização da Bahia, a formação do subúrbio ferroviário, de seus trabalhadores e moradores da região. (...) Seu tombamento e utilização adequados poderá proporcionar à população de Salvador e seus visitantes elementos para a valorização da memória, da identidade baiana contribuindo para a valorização e desenvolvimento social da região”. (Solicitação de tombamento de 9 de dezembro de 1996, IPAC - Processo de Tombamento da fábrica São Bras nº003/97)
Na época, embora já em processo de de-
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gradação, a obra ainda possuía as características da época de sua construção, o que justificou o processo - a fábrica já havia sido invadida e tudo que possuía valor comercial foi roubado: o ferro da estrutura (cerca de 10.000 kg), elementos compositivos, entre outros. Poucos meses depois, devido ao aceleramento do processo de degradação do imóvel após a retirada de sua cobertura, à proximidade com a ferrovia e à falta de qualquer obra de consolidação da sua estrutura mural, uma parte da fachada desabou. O tombamento, feito pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico da Bahia (IPAC), em 2002, não foi o suficiente para a preservação do que havia resistido até então, vendo que o processo de deterioração acelerou muito desde 1996. Hoje, só restam os escombros da fachada principal e dos muros perimetrais e, mesmo assim, a presença da construção da orla da Baía de Todos os Santos é marcante. Segundo o IPAC, o patrimônio, em suas expressões edifica-
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das ou imateriais, é o que nos confere identidade, é questão de solidariedade entre gerações e de memória coletiva, sendo de toda a sociedade o compromisso de preservá-lo.
Imagens 116- FATBRAZ em 1996 . Fonte: Castore, 2013.
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1I. Patologias Como explicado, a FATBRAZ encontra-se em avançado estado de arruinamento. Assim, as patologias acontecem de forma geral, sendo recorrentes em todo o corpo existente; as indicações feitas a baixo são apenas apontadoras esquemáticas.
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Imagens 117 - 118- FATBRAZ em 1996 . Fonte: Castore, 2013.
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V.III Conceituação Patrimônio cultural é um bem móvel, imóvel ou imaterial que possui significação cultural, ou seja, valor estético, histórico, científico ou social para as gerações passadas, presentes e futuras. O termo preservação é usado para se referir ao conjunto de medidas que visam a identificação, proteção, conservação e reabilitação de bens culturais; o tombamento deste patrimônio se torna necessário por ser uma proteção legal dos bens. A necessidade de preservação do patrimônio cultural está relacionada à noção de memória social, referências de identidade que diferenciam os homens. Há diversas maneiras de se relacionar com o passado, ligando-se a ele ou renegando-o. As estruturas que sobrevivem ao passar do tempo tornam-se evidências do desenvolvimento cultural da civilização, representando sua história. No século XIX, alguns dos principais estu-
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diosos do estilo gótico deram início à discussão em torno de técnicas e formas de intervenções em edificações antigas. Os pensadores que mais se destacaram foram John Ruskin, um socialista que viveu na Inglaterra, Eugéne Emmanuel Viollet-le-Duc, um francês com grande interesse na arquitetura medieval, e Camillo Boito, crítico de arte italiano. Estes restauradores possuem teorias muito divergentes uma da outra. Ruskin possui um pensamento mais conservador, não permitindo a restauração nem nenhum tipo de intervenção em hipótese alguma, pois prezava pela autenticidade da obra, achando que esta devesse ser conservada, porém devesse morrer com dignidade. Le-Duc, por outro lado, prezava pela completude da obra, não se preocupando com sua autenticidade, afirmando que o edifício devesse existir mesmo que o completo nunca tivesse existindo e esse não seja condizen-
te com sua identidade original - o arquiteto do restauro assume o papel de arquiteto oficial, podendo pensar o monumento da maneira que achar apropriado. Boito, por sua vez, foi o responsável por elaborar os princípios que deram origem às teorias contemporâneas de restauração, fazendo um equilíbrio entre as duas teorias citadas - ele não aceita a morte dos monumentos como Ruskin, aproximando-se de le-Duc neste ponto. Porém, seu pensamento assemelha-se a teoria Ruskiniana de que a conservação da obra é primordial mas, de acordo com Boito, a restauração é aceita, mas somente se extremamente necessária, e é essencial que as intervenções e modificações possam ser identificadas como tal e não parte do monumento original, através de diferentes materiais, ornamentos, expondo fotografias antigas, etc. Boito também acredita na ênfase do valor documental dos monumentos, que suas
várias fases devam ser respeitadas, e que deve-se registrar e documentar antes, durante e depois da restauração, apontando as datas e obras realizadas. Assim, concluiu-se que conservação é uma ação essencial, mas a restauração é um mal necessário. No século XX, surgiram as Cartas Patrimoniais, formadas em conferências, consolidando conceitos, métodos e práticas de intervenção com cada vez mais aprofundamento sobre o significado do patrimônio cultural. Há diversas Cartas, sobre diferentes assuntos, entre as que abordam as intervenções em monumentos históricos, destacam-se as duas Cartas de Atenas, a Carta de Veneza e a Carta de Burra. A Carta de Atenas de 1931 recomenda que quando se trata de ruínas, sobre a técnica da conservação:
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“(...) uma conservação escrupulosa se impõe com a recolocação em seus lugares dos elementos originais encontrados (anastilosa), cada vez que o caso o permita; os materiais novos necessários a esse trabalho deverão ser sempre reconhecíveis. Quando for impossível a conservação de ruínas descobertas durante uma escavação, é aconselhável sepultá-las de novo depois de haver sido feito um estudo minucioso.” (Carta de Atenas, 1931 , página 3 - Portal do Iphan) Já a Carta de Atenas de 1933, afirma que a vida de uma cidade é um acontecimento contínuo, o que se manifesta com o passar do tempo através de materiais, traçados ou construções, que caracterizam a personalidade da cidade. Estes elementos serão salvaguardados caso constituam a expressão de uma cultura anterior de interesse geral, no entanto, a morte deve chegar também para as obras dos homens, sendo necessário sa-
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ber reconhecer e discriminar aquelas que ainda estão bem vivas. Se os interesses da cidade são prejudicados pela persistência de determinado monumento, e a construção for uma de vários exemplares existentes, esta deverá ser demolida ou conservada apenas a parte que constitua uma lembrança ou valor real, modificando o resto de uma maneira útil. “As obras-primas do passado nos mostram que cada geração teve sua maneira de pensar, suas concepções, sua estética, recorrendo, como trampolim para sua imaginação, à totalidade de recursos técnicos de sua época. Copiar servilmente o passado é condenar-se à mentira, é erigir o ‘falso’ como princípio, pois as antigas condições de trabalho não poderiam ser reconstituídas e a aplicação da técnica moderna a um ideal ultrapassado sempre leva a um simulacro desprovido de qualquer vida. Misturando o ‘falso’ ao ‘verdadeiro’, longe de se alcançar ma impressão de conjunto a dar
a sensação de pureza de estilo, chega-se somente a uma reconstituição fictícia, capaz apenas de desacreditar os testemunhos autênticos, que mais se tinha empenho em preservar”. (Carta de Atenas, 1933, página 27 - Portal do Iphan) A Carta de Veneza, escrita em 1964, por sua vez, reexamina os princípios da Carta de Atenas de 1931, aprofundando-os e dotando-os de um alcance maior. Desta maneira, dita que a conservação dos monumentos exige manutenção permanentes e é sempre favorecida por sua destinação a uma função útil à sociedade; enquanto a obra existir, toda a destruição e modificação que altere relações de volumes e cores são proibidas. Segundo a carta, a restauração tem por objetivo conservar e revelar os valores estéticos e históricos do monumento e fundamenta-se no respeito ao material original e aos documentos autênticos-
todo trabalho complementar indispensável por razões estéticas ou técnicas deverá ostentar a marca do nosso tempo, integrando-se harmoniosamente ao conjunto, mas distinguindo-se. Quando as técnicas tradicionais forem inadequadas, a consolidação do monumento pode ser assegurada com o uso de técnicas modernas testadas previamente. Por último, a Carta de Burra explica o que é e em quais circunstâncias/com quais cuidados os procedimentos para a conservação, preservação, restauração e reconstrução devem ser feitos. 1. Conservação: descrita como os cuidados necessários para preservar um bem, podendo ou não implicar na restauração, manutenção ou em obras mínimas de reconstrução ou adaptação. Assim, o objetivo da conservação é preservar o valor de um bem, se baseando no respeito a substância existente. As técnicas usadas devem ser de caráter tradicional, podendo usar técnicas modernas somente em casos que sua efi-
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ciência seja garantida por experiências. Acima de tudo, a significação do bem deve ser mantida - nenhum bem deve ser revestido de uma importância injustificada. As decisões tomadas na conservação total ou parcial de um bem devem ser previamente definidas, determinando as futuras destinações consideradas compatíveis para o bem. Não é permitido qualquer nova construção, demolição ou modificações no entorno do bem, e o bem deve ser mantido em sua localização histórica, a não ser que deslocá-lo seja o único meio de assegurar sua sobrevivência, porém deverá ser restituído na medida em que novas circunstâncias permitam. 2. Preservação: definida como a manutenção no estado do bem e a desaceleração do processo pelo qual ele se degrada. A preservação se impõe quando o bem evidencia uma significação cultural específica e nos casos que as informações disponíveis não permitam realizar a conservação
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de outra forma. 3. Restauração: definida como o restabelecimento da substância de um bem em um estado anterior conhecido. A restauração só é possível se existirem dados suficientes que provem um estado anterior, e que este estado leve a uma valorização da significação cultural do bem, mostrando novos aspectos deste. A restauração pode implicar a reposição de elementos ou a retirada de acréscimos, porém respeitando as contribuições de todas as épocas, caso seja o caso. 4.Reconstrução: descrita como o restabelecimento com o máximo de exatidão, de um estado anterior conhecido. No entanto, não é nem recriação nem reconstituição hipotética. A reconstrução deve ser feita quando a integridade do bem foi comprometida ou quando esta possibilite restabelecer ao conjunto de um bem uma significação cultural perdida, mas as partes reconstruídas devem poder ser diferenciadas quando vistas de perto e não devem acarretar prejuízos ao sig-WW
nificado do bem. De maneira geral, qualquer intervenção deve ser precedida de um estudo dos dados disponíveis. Os estudos que implicarem na remoção de elementos existentes só serão possíveis quando o resultado ou for indispensável para as decisões futuras, ou tenha significado que possa se tornar inacessível por causa dos trabalhos obrigatórios de conservação. Os trabalhos devem ter acompanhamento apropriado por profissionais, que deverão manter um diário da obra, guardado nos arquivos de um órgão público e mantidos a disposição do público.
Para o desenvolvimento deste projeto, serão adotados os princípios elaborados por Camillo Boito, consolidados pela Carta de Atenas de 1931 e reestruturados pela Carta da Veneza, seguindo a nomeação descrita pela Carta de Burra.
I. Aplicação na FATBRAZ A reestruturação da antiga fábrica foi pensada seguindo os estudos e levantamentos citados a cima. Desta maneira, foi decidido demolir as duas últimas intervenções, que descaracterizam a obra original e não possuem valor arquitetônico. Outros pequenos trechos também deverão ser demolidos com a intenção de melhorar a circulação interna do espaço e tornar o espaço mais amplo. Todas as demais paredes deverão ser restauradas e consolidadas, considerando o estado de degradação em que estas se encontram atualmente. Com a intenção de formar novos espaços, novas paredes deverão ser construídas, porém com suas próprias características e personalidade, diferenciando-se do monumento original. Estas alterações estão indicadas na planta a seguir:
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As aberturas não desejadas deverão ser fechadas com painéis metálicos: 0
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Resquícios da cobertura original existem apenas em alguns ambientes. Estas também deverão ser reconstruídas conforme costumavam ser, caso não estejam completas, e preservadas se estiverem. Nos demais espaços onde está sendo proposto uma cobertura, deverá ser utilizada a criada (ver Capítulo VI).
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V.IV Procedimentos Para restaurar a ruína, deverão ser resolvidas as patologias citadas. Assim, primeiramente é preciso consolidar toda a estrutura pré existente, evitando risco de queda e comprometimento das partes remanescentes. -Os panos de alvenaria, por razões estruturais, deverão ser substituídos e recompostos com a mesma dimensão e técnica original encontrada, com datação e identificação da época da intervenção, devidamente ancorados ou cintados conforme execução original; -Todos os elementos estranhos à alvenaria, tais como peças de madeira, grapas, grampos, pregos, fios, vegetações, pichações e fungos deverão ser retirados; -Os tijolos danificados ou descaracterizadores deverão ser retirados para recomposição, assim como todas as peças danificadas de todos os trechos que apresentem danos nos panos de
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alvenaria; -A base da fundação deverá ser impermeabilizada, contendo a capilaridade ascendente que possa danificar a alvenaria e comprometer a estrutura pré existente; -As fissuras deverão ser seladas através do preenchimento do vazio com argamassa pouco espessa, que deve ser úmida antes de aplicada. Nas fissuras maiores, fazer o embrechamento com pedaços de tijolo; -Será necessária a avaliação estrutural quanto à falta de travamento de algumas paredes para solução adequada de ruína; -Os vãos deverão ser reabertos, liberando as aberturas originais; -Os caixilhos faltantes deverão ser substituídos por novos de metal aparente, o mesmo utilizado nos painéis de fechamento. Os elementos compositivos faltantes na torre da fachada prin-
principal deverão ser substituídos por um similar de ferro fundido, porém pintados na coloração branca. A parte faltante da fachada principal, atualmente preenchida por um muro simples, deverá ser reconstruída seguindo o padrão da arquitetura original, porém deverá ser pintada na coloração branca, assim como as alvenarias estruturais faltantes em outras paredes da antiga fábrica. -As marcas de como o artefato foi um dia, como a da tubulação embutida e os trechos da estrutura original, deverão ser preservadas. Os trechos com pedaços da cobertura original deverão ser cobertos através da reconstrução desta, que deverá seguir a lembrança existente. -As partes da argamassa que não puderem ser consolidadas deverão ser removidas através de decupagem química ou mecânica e, após saneamento das patologias do substrato, deverão ser refeitas, com o traço e textura das originais encontradas, conforme indicado nas especificações estabelecidas pelo relatório de prospecções e
análise de laboratório. A coloração, determinada pelo projeto de intervenção, deverá seguir o que se imagina que fosse o padrão da fábrica - amarelo claro, com elementos compositivos em vermelho tijolo; -As camadas de revestimento caracterizadas com interferência errônea ou danificada do material deverão ser removidas para ser refazimento e/ou recuperação da argamassa de revestimento original (decapagem); -As trincas e rachaduras do substrato deverão ser tratadas através da escoriação em forma de “V”e aplicação de massa veda trinca; -A completa execução do processo só deverá ser feita após provas no canteiro de obras e aprovação do órgão competente, que verifique a compatibilidade da cor e do traço da nova argamassa; -Antes de revestir o artefato com a argamassa, deverá ser aplicada uma camada de hidrofugante para criação de uma película protetora.
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VI. A Intervenção 159
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VI.I Justificativa O projeto de revitalização da FATBRAZ foi pensado para atender às carências da comunidade de Plataforma e do Subúrbio Ferroviário por espaços públicos e equipamentos urbanos. Desta maneira, o programa engloba diversos tipos de atividade: culturais, esportivas, educacional, serviços e de lazer. A implantação desta intervenção se justifica pela magnitude da atual ruína que, sem uso, compromete a segurança e a economia local. Além disso, um novo uso garante que a memória da fábrica, tão importante para a formação do bairro de Plataforma e para seus habitantes, continue viva.
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VI.II Condicionantes Foram considerados como princípios condionantes: 1. As novas estações propostas do VLT e sua interligação à estação hidroviária existente; 2. A insolação forte do nordeste; 3. O processo de arruamento da fábrica, sua sensibilidade e sua importância para a comunidade; 4. Os 70.000 habitantes do bairro de Plataforma e a falta de espaços comunitários presente na região. Área da fábrica: 14.700m² Área da usina: 2.410m² Área total do terreno: 25.040m²
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EXPOSIÇÕES
VESTIÁRIO PISCINAS
SALAS DANÇA
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ADMINISTRATIVO
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VI.III O Programa
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I. Lazer
II. Cultural
Os habitantes da região tem poucos pontos de encontro, espaços de convivência e entrosamento. Assim, foram criadas duas praças, onde além do convívio, podem ocorrer feiras de artesanato e culinária, como é de costume da cultura baiana em outros bairros da cidade, entre outros eventos.
Abrange uma biblioteca, área para exposições, e um trecho para que fique exposta permanentemente a história da fábrica, incluindo esta invervenção e a data das modificações feitas. A biblioteca foi projetada para a antiga usina como um espaço em que crianças que estudam apenas meio período possam ficar o restante do dia fazendo suas tarefas, estudando e pesquisando, idosos possam ir para ler periódicos e adultos possam pesquisar e aprimorar seus conhecimentos. Segue o conceito de “biblioteca livraria”, com diversas áreas de estar espalhadas - mesas para trabalhos em grupos de diferentes tamanhos, puffs modulados que podem ser posicionados de acordo com a necessidade do momento, sofás e poltronas. A biblioteca circulante conta com 15.000
volumes, sendo 4.000 infantis e 11.000 adultos, com capacidade de 25% de crescimento, servindo não só a população do bairro de Plataforma, como auxiliando o Subúrbio Ferroviário. Seguindo as sugestões do New Metric Handbook, os volumes infantis foram organizados em módulos de 90cm de largura, divididos em 3 prateleiras (totalizando 91cm de altura) com 15cm de profundidade, pois os livros devem ficar virados com a capa para frente, facilitando a visualização da criança. Para comportar os 5000 livros (com a margem para acréscimos), foram necessários 420 destes módulos. A organização dos 13500 volumes de jovens e adultos segue o mesmo princípio, porém com mais prateleiras e os livros virados de lado, sendo necessários 180 módulos. O espaço da biblioteca conta também
com uma videoteca, com 3500 vídeos circulantes mais 25% de espaço para crescimento. São necessários doze dos módulos já explicados para comportá-los. Para que os usuários tenham a opção de assistir os vídeos no próprio complexo, foram implantadas oito salas para até doze pessoas cada com telas de projeções. A biblioteca conta também com um café com vista para a Ribeira.
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AMPLIAÇÃO BIBLIOTECA
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CAMADA SUPERIOR - PERGOLADO
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ESTRUTURA DA COBERTURA DA BIBLIOTECA 0
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ESTRUTURA DA COBERTURA DO BLOCO CULTURAL 0
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CAMADA SUPERIOR - PERGOLADO
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III. O Complexo Esportivo Composto por duas quadras poliesportivas abaixo do nível da fábrica, um campo de futebol, um ginásio para aulas de ginástica olímpica, lutas, entre outros, arquibancadas, uma academia ao ar livre simples, uma piscina semi-olímpica para aulas de natação, uma piscina infantil e vestiários e áreas de apoio para estes.
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AMPLIAÇÃO COMPLEXO ESPORTIVO
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ESTRUTURA DA COBERTURA DO VESTIÁRIO 0
CAMADA SUPERIOR PERGOLADO
CAMADA INFERIOR - VIGAS EM V METÁLICAS COM VEGETAÇÃO
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ESTRUTURA DA COBERTURA DAS SALAS DE DANÇA 0
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CAMADA SUPERIOR PERGOLADO
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IV. Educacional
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Salas de aula para que os moradores da comunidade possam participar de cursos, como alfabetização de adultos, jardinagem, artes, artesanato, administração e contabilidade. Estes cursos podem ser cíclicos e sem custos. Há também duas salas para aulas de dança e três ateliers musicais, que possuem fechamento com cortina de vidro, podendo ser integrados à área de exposições conforme a necessidade.
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AMPLIAÇÃO SALAS DE AULA
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CAM PERG
ESTRUTURA DA COBERTURA DAS SALAS DE AULA 0
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CAMADA SUPERIOR PERGOLADO
CAMADA INFERIOR - VIGAS EM V METÁLICAS COM VEGETAÇÃO
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V. Serviços Creche para 180 crianças entre 3 meses e 6 anos. Em Plataforma, assim como em toda Salvador, há muitas creches informais e irregulares - o projeto busca suprir esta necessidade.
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AMPLIAÇÃO BLOCO SERVIÇOS
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CAMADA SUPERIOR - PERGOLADO 192
CAMADA INFERIOR - VIGAS EM V METÁLICA
M V METÁLICAS COM VEGETAÇÃO
ESTRUTURA DA COBERTURA DO BLOCO DA CRECHE/ADMINISTRATIVO/ GINÁSIO 0
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DETALHAMENTO COBERTURA
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VII. Bibliografia 207
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