Revista

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FONTES:

FERREIRA, D. S. Assédio moral: relações desumanas nas organizações. 44. Ed. Rio de Janeiro: Exato, 2006. VALIO, M. Assédio moral nas relações de trabalho. 2007. O QUE É ASSÉDIO MORAL? Disponível em: Acesso em: http://www.assediomoral. org/spip.php?article1 18 mar. 2015. O QUE NÃO É ASSÉDIO MORAL? Disponível em: http://www.assediomoral.ufsc. br/?page_id=425 Acesso em: 18 mar. 2015 ASSÉDIO MORAL Disponível em: h t t p : / / b v s m s . s a u d e . g o v. b r / b v s / dicas/166assedio_moral.html Acesso em: 18 mar. 2015 ASSÉDIO MORAL – A SOMBRA QUE RONDA O SERVIÇO PÚBLICO Disponível em: http:// inaciovacchiano.com/assedio-moral/ assedio-moral-asombra-que-ronda-oservico-publico/ Acesso em: 18 mar. 2015 ASSÉDIO MORAL – EM PERGUNTAS E RESPOSTAS Disponível em: http:// fredfilho.blogspot.com.br/ Acesso em: 18 mar. 2015 Recentes casos de assédio moral em grandes empresas Disponível em: http://www.administradores. com.br/artigos/carreira/recentescasos-de-assediomoral-em-grandesempresas/72197/

EDITORIAL Assédio Moral a sombra das relações de trabalho

O assédio moral não é um fenômeno novo, pode-se afirmar que ele tão antigo quanto o trabalho,vem desde as relações senhor escravo. Mas ele foi desconhecido e ignorado por muitos até bem pouco tempo, atualamente é que se vem discutindo muito sobre o assunto. Através de relatos de situações acontecidas no âmbito das organizações (atos perversos, abusivos e corriqueiros do cotidiano) divulgados em pesquisas e na mídia, começaram as discussões e debates entre profissionais de diversas áreas sociais e científicas. Este fato despertou também no trabalhador a motivação da denúncia do fenômeno que está sofrendo. Conforme revela nossa matéria de capa o assédio moral são situações humilhantes e vexatórias, de forma repetitiva e de longa duração que interfere na vida do trabalhador e trabalhadora de modo direto, comprometendo sua identidade, dignidade e relações afetivas e sociais, ocasionando graves danos à saúde física e mental, que podem evoluir para a incapacidade laborativa, desemprego ou mesmo ao suicídio. Nesta edição além de explicar e exemplificar trazemos informações importantes para aqueles que estão sofrendo com este tipo de situação, lembrando que o sindicatos de sua categoria estão sempre dispostos a auxiliar em situações como essa. Não fique calado, DENUNCIE! A falta de informação sobre o assunto impede o funcionário de agir e o submete cada vez mais a este tipo de situação, por isso a prevenção é um instrumento muito importante, através da disseminação das informações ou qualquer outra ferramenta que iniba essa prática protege não só o empregado quanto á empresa.


QUAIS COMPORTAMENTOS PODEM SER CONSIDERADOS ASSÉDIO? Uma infinidade de comportamentos, desde que sejam repetitivos prolongados e ofensivos à dignidade do trabalhador. Alguns exemplos: desprezar, ironizar, espalhar boatos, fazer piadas, pôr apelidos ofensivos, falar mal, fazer usar roupas ou acessórios como forma de punição, conversar somente aos gritos, criticar sempre o trabalho, por melhor que ele esteja e dar instruções confusas. Também é assédio proibir o colaborador de utilizar o banheiro ou limitar seu tempo de utilização, estabelecer metas e prazos impossíveis, dar tarefas muito abaixo de sua capacidade, ameaçar constantemente de demissão. Outra forma muito comum é isolar a pessoa, ignorá-la, não convidá-la para reuniões ou eventos da empresa, retirar seus equipamentos e atribuições e obrigá-la a ficar sem trabalhar.

Exemplos de Assédio Moral • Revista íntima • Situações degradantes (revista dos pertences ou exposição de partes de seu corpo) • Brincadeiras ofensivas • Detector de mentiras • Exames de HIV/AIDS e gravidez • Rebaixamento profissional • Isolamento profissional • Inclusão de nome em “lista negra” • Demissão sem razão plausível • Violação da intimidade • Câmeras em vestuários • Abuso de direitos • Restrição de uso de banheiro • Metas irreais • Ameaças públicas de demissão • Desdém às doenças, com comentários de mau gosto.

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ASSÉDIO MORAL

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O assédio moral se caracteriza por uma série de comportamentos repetitivos e prolongados a situações humilhantes e vexatórias no ambiente de trabalho. São situações que ofendem a dignidade da pessoa e desgasta o ambiente de trabalho, essas humilhações se caracterizam por relações hierárquicas autoritárias e desumanas, onde a vitima se sente isolada do grupo, hostilizada e ridicularizada diante dos colegas. A pessoa perde a confiança e a vontade de trabalhar, tem medo de perder o emprego, possui forte angústia e tensão, que prejudicam tanto sua vida profissional como pessoal e podem acarretar em diversos problemas de saúde. Os reflexos de quem sofre assédio moral vão desde a queda da autoestima, ansiedade generalizada, passando por sentimentos de fracasso e problemas de saúde, em casos

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mais extremos essa situação pode levar ao suicídio. Existem vários conceitos sobre assédio moral, que sempre se relacionam com abuso de poder, perversidade e autoritarismo manifestado por atos, gestos, palavras, enfim tudo que traga dano à dignidade da pessoa. O assédio moral no ambiente empresarial está diretamente ligado à cultura de gestão da empresa, sobre este tipo de gestão Ferreira (2006, p. 17) afirma: Algumas características da gestão perversa nas organizações são: falta de comunicação; pessoas que são colocadas em situação de rivalidade; manipulação de pessoas, para que desestruturem e autodestruam; diminuição do número de cargos exigindo cada vez mais produtividade; e o fato de não


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agirem de forma direta e clara. O objetivo das empresas que possuem gestão perversa é calar as pessoas que denunciam situações de desigualdades ou irregularidades. Essa situação de Assédio Moral pode ser de três tipos segundo Ferreira (2006), vertical descendente – praticado por chefe ou empregador; horizontal – praticado por colegas de trabalho; e vertical ascendente – praticado por grupos de subordinado. O mais comum é o tipo vertical ascendente, entre patrão ou superior que assedia seus funcionários. Homens e mulheres sofrem de assédio moral no trabalho, mas quem mais tende a sofrer com assédio moral são as mulheres. De acordo com Válio (2007, p. 02), essas são algumas hipóteses que caracterizam o assédio moral:

1. Técnicas de relacionamento – aqui o assediador não dirige o olhar nem a palavra à vítima, sequer para um bom dia (...) frequentemente, pelo superior hierárquico ou por colegas, muitas vezes com gritos e recriminações (...). 2. São adotadas, ainda, técnicas de isolamento, ou seja, são atribuídas á vítima funções que a isolam ou a deixam sem qualquer atividade, exatamente para evitar que mantenha contato com colegas de trabalho e lhes obtenha a solidariedade como manifestação de apoio. 3. Existem as chamadas técnicas de ataque, que se traduzem por atos que visam a desacreditar e/ou a desqualificar a vítima diante dos colegas ou clientes da empresa. Essa técnica de assédio moral implica conferir á vítima tarefas de grande complexidade para serem executados em curto lapso de tempo, com o fim de demonstrar a sua incompetência ou exigir-lhe tarefas absolutamente incompatíveis com a sua qualificação funcional e fora das atribuições de seu cargo. 4. Há também as técnicas punitivas, que colocam a vítima sob pressão, como por exemplo, por um simples erro cometido elabora-se um relatório contra ela. O assédio moral e as humilhações realizadas nas relações de trabalho não precisam necessariamente acontecer dentro do ambiente de trabalho, mas tem que ser sempre em função desta relação, como cobrança abusiva de metas feita por e-mails particulares, telefone ou mensagens de texto à noite e aos finais de semana. Não são considerados como assédio moral eventos isolados, conflitos eventuais, críticas construtivas, cobranças de resultados e punições (desde que respeitosas e moderadas), más condições de saúde e higiene no trabalho. Então para ser caracterizado como assédio é necessário que os comportamentos do assediador sejam repetitivos. Um comportamento isolado ou eventual não é assédio moral, embora possa produzir dano moral. A falta de informação sobre o assunto impede o funcionário de agir e o submete cada vez mais a este tipo de situação, por isso a prevenção é um instrumento muito importante, através da disseminação das informações ou qualquer outra ferramenta que iniba essa prática protege não só o empregado quanto á empresa.

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O QUE NÃO É ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO

Há algumas situações que podem ser confundidas com assédio moral: • Situações eventuais:

A principal diferença entre assédio moral e situações eventuais de humilhação, comentário depreciativo ou constrangimento contra o trabalhador é a frequência, ou seja, para haver assédio moral é necessário que os comportamentos do assediador sejam repetitivos. Um comportamento isolado ou eventual não é assédio moral, embora possa produzir dano moral.

• Exigências profissionais

Todo trabalho apresenta certo grau de imposição e dependência. Assim, existem atividades inerentes ao contrato de trabalho que devem ser exigidas ao trabalhador. É normal haver cobranças, críticas construtivas e avaliações sobre o trabalho e/ ou comportamento específico feitas de forma explícita e não vexatória. Porém, ocorre o assédio moral quando essas imposições são direcionadas para uma pessoa de modo repetitivo e utilizadas com um propósito de represália, comprometendo negativamente a integridade física, psicológica e até mesmo a identidade do indivíduo.

• Conflitos

Em um conflito, as repreensões são faladas de maneira aberta e os envolvidos podem defender a sua posição. Contudo, a demora na resolução de conflitos pode fortalecê-los e, com o tempo, propiciar a ocorrência de práticas de assédio moral. Algumas situações, como transferências de postos de trabalho; remanejamento do trabalhador ou da chefia de atividades, cargos ou funções; ou mudanças decorrentes de prioridades institucionais, são exemplos que podem gerar conflitos, mas não se configuram como assédio moral por si mesma.

• Más condições de trabalho

Trabalhar em um espaço pequeno, com pouca iluminação e instalações inadequadas não é um ato de assédio moral em si, a não ser que um trabalhador (ou um grupo de trabalhadores) seja tratado dessa forma e sob tais condições com o objetivo de desmerecê-lo frente aos demais.

LEMBREM-SE! Para serem consideradas como assédio moral, as práticas precisam ocorrer repetidas vezes e por um período de prolongado.

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O ASSÉDIO MORAL E O PAPEL DO RH A disseminação ou prática do assédio moral em uma empresa pode ser favorecida pela própria desestruturação organizacional, e agravado pela ignorância, tolerância, ou mesmo, pelo encorajamento dos próprios gestores. Portanto, o papel do gestor é de fundamental importância para a criação de uma cultura estratégica de desenvolvimento humano dentro da organização. É preciso quebrar o velho paradigma, gerando oportunidades de aprendizado no lugar da punição, partindo do princípio básico de que cada colaborador possa realizar seu trabalho e desenvolver seus potenciais dentro de um ambiente saudável e ético. Enquanto não existir a liderança participativa dentro da organização, a gestão pelo medo pode desencadear comportamentos que levem à prática do assédio moral. Cabe ao gestor fazer com que se cumpram as regras disciplinares criadas para a empresa, apoiando canais de comunicação “confiáveis”, para que o colaborador possa ser ouvido em casos de denúncia sobre intimidações, constrangimentos ou ameaças sofridas por eles, garantindo-lhes o direito do sigilo, ou de anonimato. O gestor de Recursos Humanos deve implantar as políticas de Gestão de Pessoas, definindo os

parâmetros nos quais os padrões nas relações de trabalho dentro da organização, devem ser constituídos. Os Recursos Humanos representam uma área estratégica dentro da empresa, desempenhando um papel cada vez mais importante na criação de políticas interativas entre o ambiente interno e externo da organização. O recrutamento e seleção de pessoas, bem como a avaliação de desempenho dos profissionais que nela trabalham, a orientação e desenvolvimento, a capacitação, bem como a política de saúde no trabalho, são fundamentais para a prevenção, identificação e intervenção nos casos de assédio moral dentro da empresa. É preciso reconhecer o efeito nocivo que qualquer conduta abusiva, manifestando-se, sobretudo por comportamentos, palavras, atos, gestos, ou escritos podem trazer dano à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa, colocando em risco sua estabilidade (emprego) e degradando o ambiente de trabalho. Portanto, uma administração baseada nas normas da boa convivência e das relações éticas de trabalho, terá seu diferencial competitivo no mercado, associando sua imagem a boas práticas para uma sociedade mais ética e responsável.

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ALGUMAS DUVIDAS QUEM ASSEDIA?

A situação mais comum é a do patrão, ou superior, que assedia seus subordinados, mas o contrário também ocorre (subordinados assediando seu superior). Existe ainda assédio entre colegas do mesmo nível hierárquico e é possível que mais de uma dessas formas ocorra ao mesmo tempo.

QUEM PODE SER VÍTIMA DO ASSÉDIO?

Qualquer um, mas é mais comum que o assediado seja minoria no ambiente de trabalho, por conta de características como orientação sexual, cor de pele, raça, origem (pessoas de outros Estados), sexo, opção religiosa, aspecto físico (magros ou obesos, altos ou baixos), idade avançada, inexperiência (estagiários ou calouros) e portadores de necessidades especiais (físicas ou mentais). Também sofrem mais aqueles que têm estabilidade no emprego, como gestantes, doentes, vítimas de acidente de trabalho, membros da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) e dirigentes sindicais.

Os motivos são: aumentar a produtividade a qualquer custo, obrigar o assediado a pedir demissão ou provocá-lo até que ele dê motivo para ser demitido, ou mesmo por puro sadismo do agressor. Há empresas nas quais o assédio é estimulado e utilizado como forma de gestão de pessoas, ao que se dão os nomes de assédio moral coletivo, institucional, organizacional ou “straining”.

O QUE ACONTECE COM A VÍTIMA DE ASSÉDIO?

A tendência é o ofendido se isolar de seus amigos e familiares, o que prejudica as relações afetivas de todos aqueles com quem convive. Ele pode sofrer uma série de doenças, com sintomas tanto físicos quanto mentais, como síndrome do esgotamento profissional (síndrome de burnout), depressão, ansiedade, gastrite, pressão alta, síndrome do pânico, abuso de drogas e de álcool, por exemplo. O número de casos de suicídio e de tentativas de suicídio é alto entre os assediados

QUAL É A DIFERENÇA ENTRE ASSÉDIO MORAL E ASSÉDIO SEXUAL?

VI MEU COLEGA SENDO ASSEDIADO O QUE FAÇO?

ASSÉDIO MORAL É CRIME?

O ASSÉDIO SÓ OCORRE DENTRO DA EMPRESA?

O assédio sexual é crime e ocorre quando o superior hierárquico, se utilizando de seu cargo, intimida ou chantageia o subordinado para obter favores sexuais, contra sua vontade. Tanto o agressor quanto a vítima podem ser de ambos os sexos.

Assédio moral não é crime, mas alguns comportamentos isolados são considerados crimes, como falar mal (crime de injúria), ameaçar de causar algum mal (crime de ameaça) e espalhar boatos maldosos (crime de difamação), por exemplo.

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POR QUE SE PRATICA O ASSÉDIO?

Seja solidário com seu colega e dê apoio. Se o assédio estiver partindo de um grupo de pessoas, não participe das agressões, por uma questão de solidariedade. Saiba que você, no futuro, também pode acabar sendo uma das vítimas. Se os trabalhadores se unirem, o agressor perde força.

Não, é possível que ocorra longe da empresa e até fora do horário de expediente, como acontece no caso da cobrança abusiva de metas feita por e-mails particulares, telefone ou SMS (mensagens de texto) à noite e aos finais de semana.


O QUE A VÍTIMA DEVE FAZER?

• Resistir: anotar com detalhes todas as humilhações sofridas (dia, mês, ano, hora, local ou setor, nome do agressor, colegas que testemunharam conteúdo da conversa e o que mais você achar necessário); • Dar visibilidade, procurando a ajuda dos colegas, principalmente daqueles que testemunharam o fato ou que já sofreram humilhações do agressor; • Evitar conversar com o agressor, sem testemunhas. Ir sempre com colega de trabalho ou representante sindical; • Exigir por escrito, explicações do ato agressor e permanecer com cópia da carta enviada ao D.P. ou R.H e da eventual resposta do agressor; • Procurar seu sindicato e relatar o acontecido para diretores e outras instancias; Recorrer ao Centro de Referencia em Saúde dos Trabalhadores e contar a humilhação sofrida ao médico, assistente social ou psicólogo; • Buscar apoio junto a familiares, amigos e colegas, pois o afeto e a solidariedade são fundamentais para recuperação da autoestima, dignidade, identidade e cidadania. IMPORTANTE: Se você é testemunha de cena(s) de humilhação no trabalho supere seu medo, seja solidário com seu colega. Você poderá ser “a próxima vítima” e nesta hora o apoio dos seus colegas também será precioso. Não esqueça que o medo reforça o poder do agressor!

QUAL É O PAPEL DA EMPRESA?

A lei obriga a empresa a manter um ambiente de

trabalho saudável. Portanto, ela deve estabelecer políticas de identificação, prevenção e combate ao assédio e deve deixar bem claro a todos que os atos de violência não serão admitidos. É muito importante criar canais que permitam a denúncia das vítimas e que garanta a apuração dos fatos e a punição dos assediadores. É necessário vigiar constantemente o ambiente de trabalho e fornecer frequentes treinamentos e reciclagens aos funcionários

A EMPRESA SOFRE PREJUÍZOS COM O ASSÉDIO?

Bastante. Nos ambientes em que há assédio o clima organizacional não é bom, a produtividade cai, há retrabalho e riscos de desperdício de material e até de sabotagem. A vítima fica doente e se afasta do serviço para tratamento, o que sobrecarrega seus colegas de trabalho. O assédio é motivo para a despedida indireta (a popular “justa causa da empresa”), que ocorre quando o trabalhador pede demissão por causa das humilhações que sofre, mas consegue reverter o pedido na justiça, e passa a ter direito a todas as verbas devidas na demissão sem justa causa. É possível ainda que o trabalhador consiga a condenação da empresa ao pagamento de indenização por danos morais, mesmo que ela não tivesse conhecimento dos fatos. Cresce a rotatividade dos funcionários (turnover), o que resulta em aumento de custos com recrutamento, seleção e treinamento, sem contar que bons profissionais evitam trabalhar em empresas conhecidas por praticar assédio moral.

A QUEM DENUNCIAR?

Se o assédio persistir, procure seu sindicato e denuncie. Ele deve estar apto a destacar um representante para te acompanhar em reuniões da empresa para discutir o assunto. Você também pode fazer a denúncia pela internet ou pessoalmente no Ministério Público do Trabalho (http://portal.mpt.gov.br), no Ministério do trabalho da sua região (http://portal.mte.gov.br/ postos/) ou na Vara do trabalho mais próxima de você(www.tst.jus.br/web/acesso-a-informacao/ varas-do-trabalho1) . Procure o advogado do sindicato ou um advogado de sua confiança e leve todos os documentos que tiver, caso pretenda entrar com uma ação.

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EXEMPLOS DE ASSÉDIOS Ricardo Eletro – março/2013 – indenizações de R$ 20mil e R$ 30mil Uma auxiliar administrativa foi, durante dois anos, diariamente humilhada por uma de suas superiores, que a chamava de “jumenta”, “retardada”, “incompetente” e “burra”, e também a ofendia com expressões chulas. Outra superiora sua se referia a todas as funcionárias como “porcas”, além de também ofendê-las com palavrões. A empresa foi condenada em R$ 20mil por danos morais. Carrefour – dezembro/2012 – indenização de R$ 100mil Durante quatorze anos uma funcionária do Carrefour de Brasília sofreu discriminação racial, tratamento grosseiro e excesso de trabalho, o que a levou a ficar incapacitada para o trabalho por três

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anos por conta de síndrome de esgotamento profissional (ou síndrome de burnout). Ela foi indenizada porque demonstrou que recebia pressões intimidadoras, constrangedoras e humilhantes, e que inclusive um dos diretores a chamava de “macaca” na presença de outros empregados. Santander – novembro/2012 – indenização de R$ 100mil O banco foi condenado a indenizar uma gerente adjunta gaúcha, com 20 anos de casa, que nos últimos cinco foi maltratada por seus superiores. Eles diziam com frequência que ela tinha que atingir as metas, sob pena de demissão, “nem que fosse necessário rodar bolsinha na esquina”.


10 AÇÕES PARA COMBATER O ASSÉDIO MORAL Para que não ocorra o assédio moral, a organização pode tomar ações preventivas. Confira abaixo algumas delas. 1 - A empresa pode investir em ações educativas e estimular a paz nos relacionamentos em todos os níveis. Para isso, os canais internos de comunicação são indispensáveis no combate ao assédio moral. 2 - Quando a comunicação interna divulgar alguma informação referente ao assédio moral, à fonte deve ser sempre citado. Isso serve para matérias, entrevistas, promulgação de leis, entre outros dados relevantes. 3 - A cultura organizacional deve ser reforçada e os colaboradores informados que os diretos humanos, sejam através dos direitos trabalhistas como também pelos direitos universais do cidadão fazem parte dos valores internos e devem ser praticados por todos os que atuam na companhia. 4 - Uma ótima oportunidade para saber se o assédio moral circula pela organização é durante a realização da pesquisa de clima organizacional. Um dos fatores que podem ser abordados na aplicação da ferramenta é exatamente saber se os funcionários sentem-se coagidos, humilhados, discriminados de alguma forma, sejam pelos líderes ou demais colegas de trabalho. 5 - Para combater o assédio moral, a organização pode criar um comitê permanente e que tenha o objetivo de desenvolver procedimentos que garantam a integridade dos colaboradores. O mesmo comitê pode, por exemplo, ser formado por representantes dos departamentos como por funcionários formadores de opinião, que tenham facilidade de comunicação com os demais pares. 6 - Outra atividade relevante que dá bons resultados é a criação de um Código de Ética, que expresse claramente a postura da empresa em relação ao assédio moral e quais providências serão adotadas, caso algum fato ocorra. 7 - A realização de palestras em eventos realizados pela organização como treinamentos, encontros comemorativos é uma alternativa para esclarecer aos colaboradores o que significa assédio moral e

as consequências que pode gerar a empresa, ao assediador e à vítima. 8 - Os gestores têm papel de grande relevância no combate e na prevenção do assédio moral. Para isso, a empresa pode optar em treinar os gestores e esses, por sua vez, tornem-se agentes multiplicadores do assunto. 9 - Muitas vezes, as vítimas do assédio moral ficam caladas porque não se sentem seguras de fazer a denúncia para que o problema venha à tona. A área de Recursos Humanos, por exemplo, deve deixar claro que suas portas sempre estarão abertas para ouvir os funcionários, garantindo o sigilo dos fatos relatados. 10 - Ao tomar ciência de assédio moral, a área de RH precisa averiguar a veracidade da denúncia e, quando o fato for constatado, encaminha o caso rapidamente para a direção, a fim de que as providências necessárias sejam adotadas.

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ENTREVISTAS

Relatos de quem já sofreu e opiniões sobre o assunto. “ Eu acredito que começa tudo na cultura da organização, pra rolar assédio moral parte tudo da cultura do fundador, do empresário,aquilo que ele impõe. A maioria das empresas em que isso acontece na minha opinião é que a cultura que o proprietário cria dentro da empresa é onde ele tem pessoas trabalhando para o objetivo dele, para o objetivo da organização, sobre aquilo que ele estabeleceu pra ele. Sendo assim ele acha que todo mundo é um escravo pro negócio dele, pra alcançar o objetivo dele. Ele acha que pagando o funcionário, o mesmo tem obrigação de fazer tudo que ele quer, é nesse ponto que acontece o assédio moral, que foi como aconteceu comigo na empresa onde trabalhei em 2012. Onde o dono tinha a visão de que todo mundo era vagabundo, que o pessoal não queria fazer nada, os funcionários tinham que fazer tudo que ele queria, tinham que tratar ele como um Deus. Trabalhei lá como assistente administrativo, ele sempre gritava, desvalorizava o que eu fazia e me difamava perante os colegas, passei inclusive por uma situação em que fui trancado dentro da empresa, após uma discussão que ele teve comigo, em que ele inclusive quebrou algumas coisas dentro da empresa. Passado tudo isso, eu poderia ter me deixado desanimar, pois era minha primeira experiência como funcionário. Mas eu não desanimei, pois sabia que eu era muito mais do que aquilo que meu chefe falava e fui atrás. Hoje sou um empresário bem sucedido e trato muito diferente os funcionários que trabalham comigo, eles são meus parceiros estratégicos, os valorizo muito como pessoas, pois já passei pelo pior e quero o diferente para os que trabalham comigo. “ D. L. , 20 anos, empresário de marketing digital. “Na minha opinião o assédio moral tem uma característica comum atrás do assédio moral tem que haver a intenção de se livrar daquele funcionário, ou por meio de demissão ou por meio de transferência. Eu passei por essa situação

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no banco em que trabalhava, antes de pedir transferência, o gerente não queria que a gente se destacasse, acho que com medo de perder o cargo e nos dava metas impossíveis de ser atingidas. Na época apenas solicitei minha transferência para outra agência, com medo e também pela falta de informação acabei não tomando nenhuma atitude contra o gerente. B. A, 32 anos, trabalha em um banco público. “Eu acredito que praticamente todas as pessoas podem ser vítimas de assédio moral, mas existe um grupo que é menos propenso a passar por isso P que é o pessoal que está no topo da empresa e conhece mais claramente as exigências da empresa, seus direitos e que também já adquiriu uma visibilidade e, por isso, não está disposto a topar qualquer parada. Quanto mais baixo o cargo mais o funcionário está exposto.” L. S, 22 anos, trabalha como estagiária de adm em um escritório de advocacia. “ Acho que são mais vulneráveis ao assédio moral as pessoas que ocupam os menores cargos, as mulheres, os negros e as pessoas de condições mais baixas, principalmente aqueles que precisam muito do emprego. Muitas passam por essas situações e por medo acabam não procurando ajuda e nem saindo do trabalho. Eu nunca passei por nada parecido.” C. O,21 anos, auxiliar adm de uma construtora.


TESTE

Descubra se sua empresa não está passando dos limites. 1. Sua empresa possui controle de horários rígidos, mesmo para diretores, não possibilitando que você resolva assuntos pessoais no horário comercial. ( ) SIM ( ) NÃO 2. O horário do cafezinho, que é um momento de relaxamento e descontração, foi banido de sua empresa. ( ) SIM ( ) NÃO 3. Os funcionários são proibidos de receber e-mails e telefonemas pessoais durante o expediente. ( ) SIM ( ) NÃO 4. A diferença entre o refeitório dos colaboradores e da diretoria é enorme em termos de conforto e qualidade. ( ) SIM ( ) NÃO 5. Os seus chefes constantemente solicitam para que você resolva situações pessoais dele que atrapalham no seu trabalho. ( ) SIM ( ) NÃO 6. Para realização de seu trabalho você não tem nenhuma autonomia para tomada de decisão. Você tem que solicitar autorização de seu chefe. ( ) SIM ( ) NÃO 7. Você tem medo (ou se sente pouco à vontade) de dar sua opinião sobre o trabalho, a empresa ou projetos em geral. ( ) SIM ( ) NÃO 8. É comum as pessoas da empresa receberam broncas em público, muitas delas até de forma ofensiva e grosseira. ( ) SIM ( ) NÃO

10. Acontecem com frequência, situações onde os colaboradores são obrigados a trabalhar até mais tarde, mesmo que não seja necessário. ( ) SIM ( ) NÃO Ao responder positivamente a maioria destas questões, a empresa pode estar passando dos limites com seus colaboradores. Se você faz parte da equipe de gestão, reavalie sua postura e de sua equipe. Se você não faz parte desta equipe e não está feliz com isso, pode ser o momento de buscar uma empresa melhor.

DICAS DE LEITURAS SOBRE O TEMA ASSÉDIO MORAL,DANDO A VOLTA POR CIMA. Autor: João Renato Alves Pereira O Professor Universitário de História Mestre João Renato Alves Pereira retrata as várias fases de humilhação de quem é alvo do assédio, as estratégias do agressor, os danos que podem prejudicar a saúde, e as atitudes que as vítimas devem tomar para combater o assédio. Do ponto de vista de quem sofreu, com a intenção de auxiliar as pessoas a darem a volta por cima. MAL-ESTAR NO TRABALHO: REDEFININDO O ASSÉDIO MORAL. Autora: Marie France Hirigoyen. O livro baseia-se numa pesquisa realizada a partir de centenas de depoimentos recebidos pela Dra. Marie-France Hirigoyen sobre seu primeiro livro – Assédio Moral: A Violência Perversa no Cotidiano. Neste seu mais recente livro, a psicanalista francesa esmiúça o tema e torna clara a definição de assédio. Ela faz uma análise minuciosa sobre as características específicas da vítima, os casos de falsa alegação de assédio, a identificação do perfil do agressor, como separar o verdadeiro assédio do falso, quais os contextos de trabalho que favorecem procedimentos perversos.

9. Se as pessoas forem flagradas “fofocando” (falando de assuntos não profissionais), elas são fortemente advertidas. ( ) SIM ( ) NÃO

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DICAS DE FILME

Vários filmes consagrados retratam situações de assédio moral, trazemos agora uma lista filmes que vale a pena conferir. A Proposta - A editora de livros canadense Margaret Tate (Sandra Bullock) é autoritária e detestada pelos seus funcionários. O único que tem paciência com ela é seu assistente Andrew Paxton (Ryan Reynolds).

Harry Potter e a Ordem da Fênix - A diretora de Hogwarts, Dolores Joana Umbridge (Imelda Staunton), é a carrasca da escola. Além de tratar os professores mal, atrapalha as aulas dando questionários aos docentes.

TIRINHAS

Frases Discriminatória Frequentemente utilizadas pelo agressor:

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Os Incríveis - Longe das missões secretas, Roberto Pêra - o Sr. Incrível - era bastante cobrado pelo chefe na corretora de seguros em que trabalhava. Em uma das cenas do desenho, o chefe gritava incessantemente com Pêra.

Legalmente Loira - No primeiro emprego, Elle Woods (Reese Whiterspoon) foi chamada de burra e menosprezada pelos companheiros de setor.

O Diabo Veste Prada - O que era para ser um sonho, tornou-se pesadelo quando Andy Sachs (Anne Hathaway) foi contratada como auxiliar do ícone da moda Miranda Priestly (Meryl Streep). Durona e exigente, Miranda humilhava a nova funcionária em frente à equipe.

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