JULIANA DE MENEZES FARIA 2017
M U S E U D A C U LT U R A C A I P I R A PA U L I S TA
JULIANA DE MENEZES FARIA
M U S E U D A C U LT U R A C A I P I R A PA U L I S TA TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO ORIENTADORA: ANA MIRANDA
CENTRO UNIVERSITÁRIO MOURA LACERDA
INTRODUÇÃO O S U R G I M E N T O DA C U LT U R A C A I P I R A PAU L I S TA pag. 4
1
TR ABALHO 1.1
pag. 5
COMIDA 1.2 pag. 6
LINGUAGEM ( DIALETO CAIPIR A) 1.3
pag. 8
MÚSICA 1.4 pag. 9
A C U LT U R A C A I P I R A N A C I DA D E D E B A R R E T O S pag. 12
2
OS PRIMEIROS MOR ADORES E AS ESTR ADAS BOIADEIR AS 2.1
pag. 13
BARRETOS CONHECIDA COMO A “CAPITAL DO GADO” 2.2
pag. 15
FESTA DO PEÃO DE BARRETOS 2.3 pag. 16
A CONSOLIDAÇÃO DA CULTUR A CAIPIR A ATR AVÉS 2.4.1 DA FESTADO PEÃO DE BOIADEIROS DE BARRETOS
pag. 17
CONDICIONANTES PROJETUAIS
pag. 20
3
MUSEU DE ARTE MU XIN/OLI ARCHITECTURE PLLC 3.1
pag. 20
ARQUITETURA DAS CASAS CAIPIRAS
pag. 29
CASAS CAIPIR AS, NO PERÍODO DO AÇÚCAR 4.1 pag. 30
CASAS CAIPIR AS RUR AIS PAULISTAS, NO PERÍODO COLONIAL 4.2
pag. 35
4
SUMÁRIO
ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES
pag. 37
5
ESCOLHA DA LOCALIZAÇÃO 5.1
pag. 38
A CIDADE: BARRETOS 5.2
pag. 38
ÁREA 5.3
pag. 40
CONDICIONANTES LEGAIS 5.4 pag. 41
ENTORNO 5.5
pag. 42
P R OP O S TA DE I N T E RV E NÇ ÃO pag. 50
PARTIDO ARQUITETÔNICO/ CONCEITO 6.1 pag. 51
ESTUDOS VOLUMÉTRICOS 6.2 pag. 52
DADOS TÉCNICOS 6.3 pag. 52
PROJETO ARQUITETÔNICO 6.4 pag. 52
6
SUMÁRIO
CONDICIONANTES FÍSICAS
Figura 2. Rancho Ponto de Pouso. ............................................................................ 17 Figura 3. Rancho Ponto de Pouso. ............................................................................ 17 Figura 4. Show de música caipira. ............................................................................ 18 Figura 5. Show de música caipira. ............................................................................ 18 Figura 6. Implantação. .............................................................................................. 21 Figura 7. Cobertura. ................................................................................................. 22 Figura 8. Seção A. .................................................................................................... 22 Figura 9. Seção B. .................................................................................................... 23 Figura 10. Planta Térreo. ......................................................................................... 24 Figura 11. Planta Segundo Pavimento. ..................................................................... 25 Figura 12. Planta Subsolo. ........................................................................................ 26 Figura 13. Fachada . ................................................................................................. 26 Figura 14. Museu de Arte Mu Xin. ............................................................................ 27 Figura 15. Museu de Arte Mu Xin. ............................................................................ 27 Figura 16. Planta Chácara do Sítio do Tenente Carrito, Itapetininga. ..................... 31 Figura 17. Casa da Fazenda Passa- Três, Brigadeiro Tobias, Sorocaba. .................. 32 Figura 18. Fazenda Pimenta, em Boitúva. ................................................................ 33 Figura 19. Casa do Butantã. ..................................................................................... 35 Figura 20. Casa do Butantã. ..................................................................................... 36 Figura 21. Localização de Barretos. ......................................................................... 38 Figura 22. Entorno de Barretos. .............................................................................. 39 Figura 23. Vista aérea da reg ião. ............................................................................. 40 Figura 24. Mapa de Análise Ambiental. .....................................................................41 Figura 25. Mapa de Uso. ........................................................................................... 42 Figura 26. Mapa de Gabarito . .................................................................................. 43 Figura 27. Mapa de Hierarquia Viária. ...................................................................... 44 Figura 28. Mapa de Equipamentos Urbanos. ............................................................ 45 Figura 29. Mapa de Equipamentos Culturais. .......................................................... 46 Figura 30. Mapa Síntese da área. ............................................................................. 47
Í N D I C E D E I L U S T R A Ç Õ ES
Figura 1. Estradas Boiadeiras. .................................................................................. 14
INTRODUÇÃO A cultura é a expressão da arte cujos aspectos vêm se delineando ao longo do tempo através de expressões, hábitos, crenças e rituais. O presente trabalho visa abordar temas relevantes do assunto da cultura paulista, mormente da cultura caipira, tão enraizada na história de formação da atual sociedade interiorana. Ao rememorar a importância da cultura na composição dos atuais laços sociais, o trabalho apresentará alternativas a fim de incentivar a vivência e a experiência das características da cultura sertaneja, simplista e rural. Tradicionalmente caipira, a cidade de Barretos possui, dentro da sua história, uma das mais significantes marcas da cultura
paulista, muito bem festejada à época da tradicional Festa do Peão de Boiadeiro, realizada anualmente no mês de agosto. Do seu nascimento até os hábitos alimentares, da reverência aos tropeiros à cavalgada dos sertanejos, da montaria dos heróis caipiras às provas de laço, das comidas típicas até as botas de couro, tudo continua muito bem representado durante a época do festival de rodeio. Entretanto, a vivência desta cultura não pode se restringir há apenas poucos dias no ano. Assim, o objeto deste trabalho é apresentar um projeto viável para alimentar todas as tradições da cultura caipira paulista através da criação de um museu, mais precisamente, o Museu da Cultura Caipira Paulista.
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1 O S U R G I M E N T O D A C U LT U R A C A I P I R A PA U L I S TA
1 . O S U R G I M E N T O D A C U LT U R A C A I P I R A PA U L I S TA Considera ainda esta “civilização caipira” como como organização de vizinhança, o bairro rural. a “forma mais antiga de civilização e cultura da classe rural brasileira, constituída desde os p r i m e i r o s t e m p o s d a c o l o n i z a ç ã o ”. Entre os séculos XIX e XX, o processo de urbanização no Brasil se intensificou, muito em razão das mudanças econômicas e sociais, por conta da forte imigração. A atividade rural, naquele momento deixou de ser o maior alvo dos investimentos, o que contribui com a ascensão de outras atividades econômicos estranhas à rural e com a urbanização das áreas rurais. Nas palavras de Judas Tadeus de Campos (2009, p.5), ao citar e referendar José de Souza Martins (1975),
Atualmente, são inegáveis os traços e as marcas da cultura caipira para a formação do modo de vida e do comportamento da população interiorana no Brasil, notadamente no Estado de São Paulo. Ocorre que a semente destes frutos foi plantada há, pelo menos, quatro séculos, no período colonial brasileiro. D e i g u a l f o r m a d e n o m i n a d a “ c u l t u r a s e r t a n e j a ”, a cultura caipira paulista está ligada aos chamados sertanistas dos Séculos XVI e XVII, representados pelos portugueses que iniciaram movimento de desbravamento do interior do estado de São Paulo, também conhecido como “ B a n d e i r i s m o ”. Segundo pesquisas, muito da cultura caipira paulista de hoje se originou da fusão da herança da cultura portuguesa com os traços marcantes da cultura nativa indígena. A mistura, principal característica e expressão, do caipira se deu em razão das aventuras realizadas pelos portugueses em busca de riqueza pelo estado de São Paulo. Junto com as expedições, iam se enraizando os costumes, os hábitos, as expressões, as falas, os termos, as comidas, as músicas, as danças e tantas outras características que até hoje sublinham a cultura caipira paulista. Já no século XVIII, a cultura caipira paulista já estava consolidada e quase não havia mais d i s t i n ç ã o e n t r e o s t e r m o s “ p a u l i s t a ” e “ c a i p i r a ”. Nas palavras de Antônio Candido (1971, p. 83), " p o r t o d a p a r t e [d o E s t a d o d e S ã o P a u l o h a v i a] , as mesmas práticas festivas, a mesma literatura oral, a mesma organização da família, os mesmos processos agrícolas, o mesmo e q u i p a m e n t o m a t e r i a l ". O desenvolvimento da sociedade caipira se iniciou com aparente afastamento e isolamento de cada unidade familiar, uma vez que cada família se situava e se alojava em terras ou sítios não próximos às demais. Para Maria Isaura Pereira de Queiroz (1973, p.8), entretanto, essas famílias se mantinham unidas
A figura do caipira teve, a partir de então, reafirmadas e atualizadas as suas conotações fundamentais: ingênuo, preguiçoso, desnutrido, doente, maltrapilho, rústico e sem ambição. A própria classe intelectual brasileira assumia essa concepção, que se exprimia na construção de estereótipos negativos sobre o morador da zona rural. (CAMPOS, 2009, p.5)
Em razão da crise financeira aliada às dificuldades sociais e culturais, a partir do século XIX a cultura caipira no estado de São Paulo ganhou traços implementados pelo capitalismo, em que a atividade rural visava além da autossubsistência. Aos poucos, foram se quebrando as barreiras de isolamento dos caipiras nos bairros rurais, ao passo que a ideia negativa à imagem da figura do caipira foi sendo superada. Dos novos laços criados junto à sociedade urbana, surgiram mais características incorporadas à expressão cultural dos caipiras. Dentre estas, se destacam novos hábitos alimentares, nova preferência de vestimentas e mobílias, absorção de costumes como ir à consulta médica, compra e uso de medicamentos farmacêuticos, dentre outros.
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1.1. TRABALHO Inicialmente, os trabalhos dos sertanejos no campo visavam o fim de subsistência, isto é, eles viviam conforme as regras ditadas pela economia de autossuficiência em que produziam o mínimo necessário. Apenas nos casos esporádicos de apresentar excedentes, os produtos eram comercializados. Embora a fixação das famílias ocorresse de forma espalhada nas terras rurais, o isolamento era superado pelas práticas comunitárias em que as famílias se organizavam para o lazer e o trabalho. O senso coletivo possibilitou a quebra deste isolamento, fortalecendo os laços sociais dos caipiras nos chamados bairros rurais. De acordo com Antônio Candido (1971, p. 62):
o pai de família. Comunidade autárquica, a família camponesa é também em geral autoritária. Por outro lado, o grupo econômico autônomo constituído pela família camponesa tem tendência a uma forte centralização, procurando se perpetuar por meio de uma ligação vigorosa com seus meios de subsistência (isto é, com o patrimônio a ser transmitido aos descendentes), e para tanto negando aos seus membros o direito de dela se apartar para criar situações sócio- econômicas d i s t i n t a s . ( Q U E I R O Z , 1 9 7 6 , P. 1 8 )
Assim, a família é responsável por realizar todas as tarefas agrícolas, artesanais e, posteriormente, mercantis. A família caipira traz consigo a característica de unidade doméstica voltada para a produção para atender as necessidades do grupo e da coletividade. As atividades do trabalho caipira ainda subsistem, mesmo com as profundas mudanças sociais e econômicas que atingiram todas as atividades da zona rural. Durante o processo de urbanização e adesão ao sistema capitalista de produção, a unidade familiar se estendeu às outras famílias e a outros negócios, o que permitiu atingir o objetivo de produção em maior escala e com fim de comercialização.
Há, de fato, bairros de unidade frouxa, que podemos denominar centrífugos, propiciando um mínimo de interação; outros, ao contrário, de vida social e cultural mais rica, favorecendo a convergência dos vizinhos em atividades comuns, num ritmo que permite chamá-los centrípetos. (CANDIDO, 1971, p. 62)
A convergência dos vizinhos possibilita o surgimento de uma unidade de produção, representada pela unidade doméstica do grupo de familiares nos bairros rurais. Conforme bem pontua Maria Isaura Pereira Queiroz (1976, p. 18): A família constitui sempre a unidade social do trabalho e de exploração da propriedade, sendo que os produtos, via de regra, satisfazem às necessidades essenciais da vida; as tarefas do trabalho se dividem entre todos os membros dó grupo doméstico, em função das faculdades de cada um, formando assim uma equipe de trabalho. A família assegura a subsistência de todos os membros; a combinação família-empresa agrícola faz com que se estabeleça uma comunidade de posse e uma comunidade de consumo, além da comunidade de trabalho, sob a autoridade de um membro, que é
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1.2. COMIDA Provavelmente o traço mais marcante cujo processo de transformação ao longo dos anos pouco modificou, a comida típica caipira é resultado da mescla de culturas e da miscigenação da população caipira. Especialmente, a forma do preparo e do cozimento, o uso específico de determinadas especiarias, a fabricação de produtos derivados da roça se mantem vivos até os dias atuais. Em termo gerais, “a comida representa a manifestação da organização social, a chave simbólica dos costumes, o registro do modo de pensar a corporalidade no mundo, em qualquer q u e s e j a a s o c i e d a d e” ( F R E I TA S , 1 9 9 6 , p . 2 ) Embora vem declinando o caráter de plantio de subsistência e o modo caipira de preparo, ao longo de cavalgadas, não se pode questionar que até mesmos os hábitos alimentares mais requintados e a culinária mais moderna se rendem aos cacoetes caipiras. Já na época do bandeirismo, houve essa mistura de práticas e regras para a utilização de alimentos, de todas as espécies, para o consumo. Basicamente, os sertanejos, em meio às suas aventuras, utilizavam plantas primitivas, de costume indígena, com o preparo, sobretudo o cozimento destes alimentos, por métodos notadamente europeus. De igual forma, houve aproveitamento dos hábitos de pescar e caçar dos nativos com os ensinamentos dos portugueses com a criação de animais, produção de hortas e utilização de técnicas culinárias europeias. Segundo Rosa Belluzzo (2008, p. 35),
Os afazeres e sabores da cozinha caipira foram, de fato, um prolongamento da cultura bandeirista. Dos indígenas o caipira herdou seus utensílios, suas plantas comestíveis e seu hábito de pescar e caçar. Com os portugueses, aprendeu os ensinamentos de como fazer hortas e pomares e de como criar animais domésticos; além disso, deles assimilou as técnicas e os utensílios culinários, como tachos, sertãs de cobre e ferro, chocolateiras e copos e pratos de estanho (BELLUZZO, 2008, p. 35-36)
Junto com o bandeirantismo citado, o tropeirismo foi fator importante para propagação, dispersão e alastramento da cultura alimentar dos paulistas interioranos. Os tropeiros eram condutores de tropas que, na época do desbravamento de novas terras, obrigados a trilhar caminhos no meio da mata, onde também realizam suas refeições. Citando o jornalista João Rural, autor do artigo “ O s c a m i n h o s d o s s a b o r e s ”, A n a A l i c e S i l v e i r a Corrêa e Suely Sani Pereira Quinzani (2014, p. 6) assim definiram o tropeiro daquela época: O tropeiro (...) viajava apenas quatro léguas (24 km) por jornada ou por dia. Foi assim que nasceram as nossas cidades, pois, nos pousos surgiam ranchos que em pouco tempo se transformavam em vilas e depois em cidades, afastadas, em média, 25 km umas das outras. A tropa era composta geralmente de 10 animais. À frente ia um menino a cavalo, quase sempre o cozinheiro da tropa. Depois vinham os animais de carga, sempre com uma cangalha, carregando malas, canastras, jacás de bambu, sacos e bruacas, grandes bolsas de couro para carregar mantimentos sendo que cada animal levava cerca de 120 kg. É dessa época o feijão tropeiro, feito com carne seca, linguiça, torresmo frito e farinha de milho que proporcionava energia para esses viajantes nas grandes jornadas Brasil afora. Desta forma, (...) o tropeiro ia lançando seus costumes etradições pelas trilhas em que passava e foi o r e s p o n s á v e l p e l a “ m i s t u r a n ç a ”, q u e f o r m o u a b a s e
A cozinha paulista, também conhecida como “ c o z i n h a c a i p i r a ”, s e m p r e f o i b a s t a n t e s i m p l e s , m a s saborosa. Sua marca inconfundível na história deixada pela tradição bandeirista, na qual coexistem as inf luências indígena e portuguesa [...].
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alimentar brasileira por vários séculos. (CORRÊA; Q U I N Z A N I , 2 0 1 4 , P. 6 )
Assim, é a partir da manifestação e transformação dos costumes herdados durante a formação das cidades do interior dos movimentos dos movimentos do bandeirantismo, do tropeirismo, do indígena e do português colonizador que se assimila sua culinária caipira.
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1.3. LINGUAGEM (DIALETO CAIPIRA) A definição de linguagem (ou língua) e a de dialeto se esbarram em pequenas distinções, contudo, ambas fazem parte da cultura da sociedade e são resultados de fatos e transformações sociais. Diversos foram os fatores que inf luenciaram o surgimento do dialeto caipira. Além de ser uma das principais características marcantes do modo de ser do sertanejo, o linguajar é a forma atual que mais se exterioriza para identificação de um caipira. Tipicamente presente no interior paulista, é considerado como dialeto cuja origem se deu também pela mistura da linguagem indígena e europeia. Como no Brasil colonial, havia diversas tribos com diversas línguas, estas tribos estabeleceram um conjunto de intercâmbios linguísticos através de uma língua comum (língua geral) que, também foi adotada para a comunicação com os portugueses. Sobre a inf luência da língua geral no dialeto caipira paulista, Cibélia Renata da Silva Pires (2008, p. 44) explica que:
Entretanto, segundo Sílvio Elia (1979, p.153)o dialeto das populações interioranas, é o caipira, e são ocupadas no interior do Estado de São Paulo. O “falar caipira” é facilmente identificado na cidade de Piracicaba, aonde têm raízes muito fortes, e ficou conhecido como “ c a i p i r a c i c a b a n o ”. E , h á u m p r o c e s s o d e registro que reconhece o sotaque como patrimônio público imaterial, que está em fase de documentação em áudio, vídeo e texto das expressões típicas do linguajar característico do interior de São Paulo.
Em São Paulo, a chamada língua geral se expandiu durante o século XVII com o movimento das Monções que, de São Paulo, seguiu com destino a Cuiabá, Mato Grosso e Goiás. Mais tarde, a criação d a A L e i d o D i r e t ó r i o d o s Í n d i o s , e m 1 7 5 7, estabelecendo o uso obrigatório da língua portuguesa e proibindo o uso da língua geral, fez com que esta se refugiasse no interior de São Paulo, sendo transmitida pela oralidade e sem o contrato da escolarização sistemática, dando origem ao chamado dialeto caipira. (PIRES, 2008, p. 44)
O dialeto caipira é de cunho oral, tendo em vista que se mantém longe das regras inf lexíveis da linguagem ou código escrito. A linguagem caipira atualmente é estigmatizada e com aparente discriminação social, por ser considerada de menor prestígio social.
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1.4. MÚSICA A musicalidade é característica intrínseca ao povo brasileiro, independentemente da época, da região, da idade, do gênero. A música brasileira, assim como toda a sua cultura, é produto de grande miscigenação de culturas como: portuguesa, africana, indígena. Sobre o tema, Romildo San’tanna (2000):
personagens do campo, diferente do lavrador familiar. O canto destaca outro ponto vertiginoso da cultura caipira que é o dialeto, com singularidade rústica, pronúncias carregadas, ausências fonéticas, trocas de letras, significados duplos. Para a música, imprescindível a presença da viola, cujo registro no Brasil aponta para o século XVI. Através da viola e do dialeto, cantam-se os causos caipiras, com ritmos variados. A dança, também expressão da cultura caipira paulista, embora menos presente, está identificada originariamente na catira, em que se constitui por salteados, palmeados, cantorias e o som da viola.
A nossa música tem “raízes brancas nas formas e rimas, e africana, indígena e portuguesa no p e n s a m e n t o e a f e t o ”. C o m o t e m p o s o m a m - s e a e s s e ritmo musical ingredientes de outros povos que passam a vir para o Brasil. Imigrantes de outros cantos da Europa com uma forte inf luência do c a n c i o n e i r o I b é r i c o ”. ( S A N ’ T A N N A , 2 0 0 0 )
A música caipira relata o cotidiano dos
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2 A C U LT U R A C A I P I R A N A C I D A D E D E B A R R E T O S
2 . A C U LT U R A C A I P I R A N A C I D A D E D E B A R R E T O S Neste capítulo, buscou-se entender quais fatores que levaram Barretos, tornar-se a “capital do gado” e de que maneira a cultura caipira alcançou os grandes centros do Centro Sul brasileiro e as suas cidades interioranas. No final do século XVIII, a região Norte do estado de São Paulo teve um crescente processo de migração mineira, especialmente nos territórios de cidades como Franca, Ribeirão Preto e São José do Rio Preto. Devido seu grande potencial econômico, riquezas e contatos políticos e o grande crescimento de produção de café, ocasionou-se a vinda dessas famílias. E, consequentemente, chegariam e formariam a cidade de Barretos. Devido a localização estratégica de Barretos, os seus corredores boiadeiros existentes, além de serem utilizados para o transporte de gados, foram de grande importância comercial, onde
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circularam todo um repertório de ritos, práticas e aspectos de dadas visões de mundo que formavam a cultura caipira. Até então, a cultura caipira era vivenciada, especialmente, em localidades encravadas em antigas áreas de povoamento (caso de Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso), mas, desde então, tais códigos passaram a ser difundidos, entendendo-se melhor a popularização de congadas, moçambiques, folias-de-reis, cavalhadas, festas do divino, entre outros, pelas localidades desta região. Tais corredores é que promoveram, inclusive, um intercâmbio com regiões platinas, daí a constância do uso de certas expressões linguísticas ( “ p e ã o ”, “ r o d e i o ”, “ p e l e j a r ” e “ x u c r o ” ) e v e s t i m e n t a s ( “ p o n c h o ”, “ b o m b a c h a s ”, “ c h a p é u d e f e l t r o ” e “ l e n ç o n o pescoço”) originárias destas áreas.
2 . 1 . OS P R I M E I ROS M O R A D O RES E AS ES T R A DAS B O I A D E I R AS A cidade de Barretos tinha forte relação com a ação Igreja Católica. Em 1854, houve a doação de terras ao Divino Espírito Santo, por duas famílias estabelecidas na região: Barreto e Marques. Como a Igreja Católica normalmente transferia seus lotes à população pobre, isto propiciou um novo f luxo migratório que ali se instalaria, pois também enxergavam as oportunidades geradas pelo fato desta localidade ser integrada ao circuito mercantil do gado e desfrutar de certa projeção política, sendo eles em sua maioria denominados l a v r a d o r e s1 . Além dos lavradores, entre a população local, já marcada pela cultura caipira, destacavam-se: bandeirantes, mineiros, descendentes de indígenas e negros. Conforme o próprio site o f i c i a l d a c i d a d e2 d e s c r e v e : Os bandeirantes chegaram pelos estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso, e pelo Triângulo Mineiro. Os mineiros na primeira metade do século XIX, vieram com suas famílias e seus criados, após estarem descontentes com a mineração do ouro e das pedras preciosas, vieram em busca de oportunidades. E, mais tarde, chegaram os criadores de gado, à procura de terras eficientes para a criação de seus rebanhos.*
Assim, em busca de melhores condições de vida e de trabalho, houve um grande aumento da população de Barretos. As estradas foram os principais articuladores para o transporte de gado, e para prosperar permanentemente na atividade mercantil de gado devido a cidade localizar-se estrategicamente perto dos grandes centros mercantis. 1
Lavrador: termo genérico empregado para se referir aos homens e mulheres que se dedicavam a ocupações onde predominava o trabalho livre, ou seja, tratava-se de uma população marcada por um estilo de vida que podemos denominar, justamente, por caipira. Fonte: Disponível em
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As estradas boiadeiras que levavam ou cruzavam Barretos, Humberto Perinelli Neto, Andréa Coelho Lastória e Rafael Cardoso de M e l l o3 c o n t a m :
“Duas eram as principais estradas margeando o núcleo urbano local. Constava a estrada boiadeira “ v e l h a ”, t e r m o q u e d e s i g n a v a o c a m i n h o t e c i d o p e l o s homens do gado vindos de Franca e Batatais, localidades paulistas que recebiam animais cuja origem remontava aos atuais estados de Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso. Além disso, existia a e s t r a d a b o i a d e i r a “ n o v a ”, a b e r t a n o ú l t i m o q u a r t e l do século XIX e responsável por despejar nas pastagens barretenses o gado tangido de Paranaíba (atual Mato Grosso do Sul) e de Frutal (Minas Gerais) e proveniente, além dos estados supracitados, do atual estado de Mato Grosso do S u l .”
A estrada boiadeira “nova” ficou sendo a via de acesso para os sertanejos vencerem as grandes f lorestas que rodeavam Barretos, povoar a região e facilitar as relações comerciais entre Mato Grosso, São Paulo e Minas Gerais. No mesmo ano de 1870, houve um rigoroso inverno, que contribuiu para a destruição da mata , em que abalou o comércio do café. Porém, esse incidente contribui para que a pecuária progredisse rapidamente na região, pois com o desmatamento, surgiu um pasto natural que contribuiu para a criação e engorda de gados.
h t t p s : // c a r a v e l l e . r e v u e s . o r g . A c e s s o e m 9 d e m a i o d e 2 0 1 7 . 2 D i s p o n í v e l e m h t t p s : // w w w . b a r r e t o s . s p . g o v . b r / c i d a d e . A c e s s o e m 9 d e m a i o d e 2 0 1 7. 3 Disponível e m h t t p s : // c a r a v e l l e . r e v u e s . o r g / 3 1 0 ? l a n g = p t . A c e s s o e m 9 d e m a i o d e 2 0 1 7.
ACESSO A PARTIR DE OUTROS ESTADOS
MINAS GERAIS
SANTANA DO PARNAÍBA
UBERABA
SÃO FRANCISCO DE SALES
RIO GRANDE ACESSO A PARTIR DO ESTADO DE SÃO PAULO
FRUTAL
PORTO DOS ÍNDIOS
PORTO TABOADOMATO GROSSO TRAÇADO APROXIMADO DA ESTRADA PARANAÍBAUBERADA- BARRETOS
TANABI
BARRETOS
R. SÃO JOSÉ DOS DOURADOS RIO PRETO
JABOTICABAL
SS
R. AGUDOS
MA TO G
POSTO FLUVIAL
CATANDUVA
O
R. TIETÊ
RO
TRAÇADO APROXIMADO DA ESTRADA DO TABOADO
ARARAQUARA R. DOS PEIXES
S. CARLOS
R. SANTO ANASTÁCIO BAURU
PIRACICABA
AGUDOS PARAPANEMA
LENÇÓIS
F i g u r a 1 . E s t r a d a s B o i a d e i r a s . R e a l i z a d o p e l a a u t o r a e m 0 5 d e s e t e m b r o d e 2 0 1 7.
Com isso, Barretos em função de sua localização privilegiada ao longo da Estrada Boiadeira modifica-se gradativamente num centro regional. Na década de 1970 abrem-se vendas e lojas na localidade, que vai assumindo cada vez mais o papel de ponto de pouso e caminho de passagem de tropas. Aos poucos se transforma também num forte entreposto de comercialização de gado, assumindo M AT O G R O S S O 12 relações comerciais com Mato Grosso, São Paulo e Minas Gerais. Já em 1874, a capela é elevada à Freguesia, e em 1885 à Vila.
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Em 1897 lhe é conferida as altas honras de C i d a d e d o E s p í r i t o S a n t o d e B a r re t o s . To d av i a , é em 1906 que passa a ser denominada apenas como Barretos. A elevação do arraial dos Barretos à condição de centro do circuito mercantil do gado do Centro Sul brasileiro esteve associada, inevitavelmente, à passagem de incontáveis peões, boiadeiros e invernistas pelos caminhos e estradas que ligavam as regiões sertanejas aos mercados consumidores de bois e derivados, por volta de 1870.
2 . 2 . B A R R E T O S C O N H E C I D A C O M O A “ C A P I TA L D O G A D O ” Devido aos fáceis acessos de trajetos, através das estradas boiadeiras, que conectavam as regiões sertanejas aos mercados consumidores de bois e derivados, Barretos tornou-se o centro do circuito mercantil do gado do Centro Sul brasileiro. Além disso, no início do século XX, como surgimento da ferrovia, permitiu-se o escoamento da produção pecuária, de trazer novos investidores e produtos, alimentar as trocas com os grandes centros e movimentar as negociações de terras e produções.
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Essa inovação impulsionou a chegada de matadouros frigoríficos na cidade, onde tornou-se possível, a comercialização da carne para grandes centros brasileiros e no exterior. Com isso, a cidade foi se firmando como ponto de comércio pecuarista. Em 1916, Barretos já era considerada a “Capital do Boi, e além do frigorifico Anglo, fundavam-se mais dois, o Charqueada Bandeirante e o Charqueada Minerva.
2 . 3 . F E S TA D O P E Ã O D E B A R R E T O S Barretos é uma cidade marcada por eventos agropecuários, entre eles, o que mais se destaca é a Festa do Peão de Boiadeiros. Iniciou-se em uma quermesse, realizado pela Prefeitura Municipal de Barretos, onde aconteceu o primeiro rodeio do país, instalado na praça central da cidade. Era o momento que os boiadeiros e peões se divertiam, após uma longa viagem. E, em 1945, a cidade ganhou o Recinto Paulo de Lima Côrrea, onde ocorria diversas exposições agropecuárias e quermesses beneficentes. E em, 1956, ela foi criada com o intuito de dar uma continuidade em sua história vinculada à tradição da pecuária e caipira :
Entre as atrações, que são todas vinculadas à pecuária e a cultura local, destacava-se provas para os peões concorrentes, desfiles, noites folclóricas, que que apresentavam danças como a catira (ou cateretê), modas à viola, gastronomia típica, organizavam-se ainda 5 brincadeiras como o pau-de-sebo e futebol, e a f a m o s a q u e i m a d o a l h o 6.
O objetivo principal da criação da Festa, era resgatar e valorizar a cultura caipira, e a vida dos trabalhadores, que eram os peões. Haviam muitos casos de preconceitos, eram marginalizados e consequentemente, havia um processo de esquecimento dessa cultura. E a Festa, surgiu com o intuito de mostrar a vida diária desses peões, o seu jeito de viver, a catira, a moda de viola, o rodeio, a queima do alho. E, Barretos é o registro dessa cultura, que não deixou cair no esquecimento e reconheceu essa cultura, que é tão rica e conseguiu vencer todas as barreiras que surgiram ao longo de sua trajetória, tornando-se reconhecida mundialmente.
“E foi assim, que em 1955, nasceu numa mesa de bar, OS INDEPENDENTES. Um grupo de rapazes solteiros e auto suficientes, como era a regra, ligados a agropecuária local, teve a idéia de promover festas inspiradas na lida das fazendas, com o objetivo de arrecadar fundos para as entidades assistenciais da região. Um ano depois, em 1956, foi lançada a 1a Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos. Sob a lona de um velho circo, surgiu o modelo do evento rural de maior sucesso do país atualmente. Já na primeira festa, a principal atração foi o rodeio. E os mesmos peões que passavam meses viajando pelos estados brasileiros, agora eram 4 e s t r e l a s d a f e s t a d o p e ã o d e B a r r e t o s .”
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D i s p o n í v e l e m h t t p : // w w w . i n d e p e n d e n t e s . c o m . b r . A c e s s o e m 9 d e m a i o d e 2 0 1 7. 5 Pau de Sebo: é uma das atrações mais divertidas. O desafio do participante é pegar uma bandeira no alto do mastro de 11 metros de altura, sendo dois abaixo do solo e outros 9 metros para a escalada. Qualquer turista que estiver na Festa do Peão pode participar da brincadeira. A única regra e estar com o corpo liso e não usar nenhum tipo de equipamento ou artifício para escalar. Como o próprio nome diz o pau está envolvido em sebo bovino, dificultando ainda mais a tarefa. Disponível em h t t p : // w w w . i n d e p e n d e n t e s . c o m . b r . A c e s s o e m 9 d e m a i o d e 2 0 1 7.
6 Queima do Alho: tradição da culinária típica das comitivas de peões de boiadeiro e virou uma das principais atrações da Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos. O cardápio é composto de arroz carreteiro, feijão gordo, paçoca de carne e churrasco. A comida é feita em fogão improvisado, bem próximo ao chão. Há um concurso culinário, realizado no espaço especialmente feito para isso, chamado Ponto de Pouso, em que o vencedor é o cozinheiro que prepara a melhor refeição à moda dos tropeiros, no menor espaço de tempo. O concurso é realizado sempre no segundo sábado d aFesta, apenas para convidados e imprensa. D i s p o n í v e l e m h t t p : // w w w . i n d e p e n d e n t e s . c o m . b r . A c e s s o e m 9 d e m a i o d e 2 0 1 7.
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2 . 4 . 1 A C O N S O L I D A Ç Ã O D A C U LT U R A C A I P I R A AT R A V É S D A F E S TA D O P E Ã O D E B O I A D E I R O S D E B A R R E T O S A Festa do Peão de Boiadeiros de Barretos nasceu com o princípio de resistir e buscar a continuidade histórico-regional vinculada à pecuária e homenagear seus boiadeiros. Com o decorrer dos anos, o público aumentou e com isso, a diversificação, foram introduzidos novos elementos, transformações de alguns espaços, interesse de patrocinadores e merchandising, participações de peões norte-americanos nos rodeios, programação musical atrativa, linguagem comercial e até mesmo, uma necessidade de adaptação entre a cultura “de raiz” com a cultura de massa, porém mesmo com uma tentativa de acompanhar as .
tendências globais, há a preservação dos elementos culturais regionais da cidade. A partir disto, veremos alguns exemplos que consolidam a cultura caipira até os dias de hoje. Durante a Festa, é realizado a Queima do Alho, no Rancho Ponto de Pouso, um dos espaços que mais conotam o dia-a-dia dos tropeiros, rodeado de uma pequena mata, com poucos recursos estruturais e alguns objetos que referenciam a cultura rural, como a carroça.
F i g u r a 2 e 3 . R a n c h o P o n t o d e P o u s o . F o n t e : < h t t p : // a c e r v o d i g i t a l . u f p r . b r / h a n d l e / 1 8 8 4 / 3 0 3 5 2 > . A c e s s a d o e m 2 0 / 0 7/ 2 0 1 7 .
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“A Q u e i m a d o A l h o é f e i t a e m f o g o d e c h ã o ( f o g ã o improvisado muito próximoao chão). Ela consiste no feitio de arroz carreteiro, feijão tropeiro, carne de churrasco e paçoca de carne (esta à base de carne seca e farinhas de milho e de mandioca), seguindo-se as tradições dos antigos tropeiros que iam à frente da tropa “queimar o alho” para quando o s d e m a i s p e õ e s c h e g a s s e m p a r a a r e f e i ç ã o “. ( A Festa Do Peão Boiadeiro De Barretos/Sp Como Espaço De Encontro De Culturas- Andrea Firmino Gonçalves)
Além disso, ela reúne o berrante, a música de viola, a catira, com comitivas que deslocam-se em tropas, com animais tralhados, vestidos como os antigos tropeiros e que, passando de geração em geração, preservam os detalhes do que é simples, próprio da sua história e característico da sua cultura. A programação musical é variada, vão desde as músicas sertanejas, com destaques nas mídias para atender e atrair um grande público, countrys, mas também encontra-se músicas que
preservam a cultura dos antigos tropeiros, as chamadas músicas de raízes. O “Memorial do Peão” é também localizado no Parque do Peão, e possui um acervo onde, apresenta imagens, objetos e máquinas da vida do peão como um todo, tendo como anexo, i n c l u s i v e , u m “ M u s e u d e T r a t o r e s ”, o n d e s e pode perceber a evolução destes instrumentos de trabalho rural. Os objetos expostos ficam estáticos, como é comum em museus. Trata-se das tralhas da Queima do Alho, das vestes do peão, das violas, dos utensílios domésticos comuns no meio rural e na vida tropeira (selas, pelegos, entre outros). Portanto, embora haja algumas mudanças como tentativa de conciliação com a globalização, há fortes laços com o príncipio inicial da Festa e as referências culturais caipira preservadas. Essas adaptações são necessárias e uma forma de garantir a manutenção e perpetuação do evento, e não a desvalorização da cultura caipira.
F i g u r a 4 e 5 . S h o w d e m ú s i c a c a i p i r a . F o n t e : < h t t p : // a c e r v o d i g i t a l . u f p r . b r / h a n d l e / 1 8 8 4 / 3 0 3 5 2 > . A c e s s a d o e m 2 0 / 0 7/ 2 0 1 7 .
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3 CO N D I C I O N A N T ES P RO J E T U A I S
3 . CO N D I C I O N A N T ES P RO J E T U A I S Foram realizadas leituras projetuais de dois Museus, sendo um localizado na China, o Museu de Arte Mu Xin e as Casas Caipiras, no período do açúcar, do café e gado.
A cozinha paulista, também conhecida como “ c o z i n h a c a i p i r a ”, s e m p r e f o i b a s t a n t e s i m p l e s , m a s saborosa. Sua marca inconfundível na história deixada pela tradição bandeirista, na qual coexistem as inf luências indígena e portuguesa [...].
Os afazeres e sabores da cozinha caipira foram, de fato, um prolongamento da cultura bandeirista. Dos indígenas o caipira herdou seus utensílios, suas plantas comestíveis e seu hábito de pescar e caçar. Com os portugueses, aprendeu os ensinamentos de como fazer hortas e pomares e de como criar
3 . 1 . M U S E U D E A RT E M U X I N / O L I A R CH I T E C T U RE P L L C
PA R Â M E T R O S T É C N I C O S Construção: 2012 – 2015 Área: 6.700 metros quadrados L o c a l i z a ç ã o : Wu z h e n z h e n , To n g x i a n g , Ji a x i n g , Zhejiang, China. Arquitetos: Oli Architecture PLLC O Museu foi dedicado ao renomado artista e escritor Mu Xin, e sua concepção foi inspirada em sua vida pessoal e sua filosofia.
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PA R Â M E T R O S E S PA C I A I S ENTORNO:
A escolha da localização e posição do museu, levou em consideração a grande preservação h i s t ó r i c a e c u lt u ra l q u e a ci d a d e d e Wu z h e n possui. A cidade, que tem 1000 anos, constitui de antigos canais, ruas, mercados, pátios, terraços, pontes, construções à beira mar, em
cima de lagos. Nesse mesmo sentido, o projeto é uma paisagem de interseções, construído em cima de um lago, e que transmite experiências únicas.
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LEGENDA: 1. Museu de Arte Mu Xin 2 . Te a t ro 3. Bairro Histórico 4. Centro de Visitantes
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F i g u r a 6 . I m p l a n t a ç ã o . F o n t e : < h t t p : // w w w . a r c h d a i l l y . c o m . b r > A c e s s a d o e m 2 4 d e a b r i l d e 2 0 1 7 .
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LEGENDA: Espaço Ocupado Pela Edificação ESCALA GRÁFICA
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TOPOGRAFIA
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LEGENDA:
1. 2. 3. 4. 5. 6.
Hall Galeria de Introdução Galeria 1 Galeria 2 Almoxarifado Galeria Inferior
O Museu possui dois andares da estrutura de concreto que situam-se acima da superfície do lago, enquanto um terceiro nível com um jardim
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de água é submerso abaixo - fazendo o edifício parece f lutuar.
C I R C U L A Ç Ã O E AC ESS OS Possui dois acessos sociais e um de serviço no térreo. O setor de serviços do Museu, concentra-se mais no subsolo do edifício, enquanto as áreas sociais no térreo e segundo pavimento.
A circulação é contínua, na maioria das vezes, compostos em corredores.
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F i g u r a 1 0 . P l a n t a T é r r e o . F o n t e : < h t t p : // w w w . a r c h d a i l l y . c o m . b r > A c e s s a d o e m 2 4 d e a b r i l d e 2 0 1 7
LEGENDA: 1. Bilheteria 2. Recepção Vip 3. Vip Píer 4. Hall 5. Galeria de introdução 6. Galeria 1 7. G a l e r i a Te m p o r á r i a 3 8. Galeria 5 9 . S a l a d e Vá d e o 10. Auditório 11. Jardim de rochas
LEGENDA:
Área Serviço Área Social Acesso Social Acesso Serviço Circulação Social Circulação Restrita
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LEGENDA: 1. Galeria 2 2. Galeria 3 3. Galeria 4 4. Auditório LEGENDA:
Área Serviço Área Social Acesso Social Acesso Serviço Circulação Social Circulação Restrita
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LEGENDA: 1 . G a l e r i a Te m p o r á r i a 1 2. Almoxarifado 3 . G a l e r i a Te m p o r á r i a 2 4. Jardim 5. Café 6 . G a l e r i a Te m p o r á r i a 3
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F i g u r a 1 3 . F a c h a d a F o n t e : < h t t p : // w w w . a r c h d a i l l y . c o m . b r > A c e s s a d o e m 2 4 d e a b r i l d e 2 0 1 7 .
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A composição da fachada reforça o material utilizado, o concreto, que compõe os volumes em diversas alturas e recuos. A construção é concretado in loco (“in-situ-concrete”).
Foi utilizado isolamento de poliestireno de alta densidade, que foram mantidas por hastes de fixação.
Os arquitetos optaram por “Colored Architectural Exposed Concrete, que significa,Concreto Exposto Arquitetônico C o l o r i d o (A E C ) 7.
7 Inúmeros ensaios foram realizados para encontrar a cor certa e desempenho com uma mistura de cimento cinza, escória, areia, agregado local, óxidos de titânio (cor branca) e um pouco de óxido de ferro para dar-lhe este matiz particular. Disponível em h t t p : // w w w . a r c h e l l o . c o m / e n / p r o j e c t / m u - x i n - a r t museum. A c e s s o e m 2 2 d e a b r i l d e 2 0 1 7.
F i g u r a 1 4 e 1 5 . M u s e u d e A r t e M u X i n . F o n t e : < h t t p : // w w w . a r c h d a i l l y . c o m . b r > A c e s s a d o e m 2 4 d e a b r i l d e 2 0 1
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4 A R Q U I T E T U R A DAS CAS AS CA I P I R AS
4 . 1 CAS AS CA I P I R AS , N O P E R Í O D O D O A Ç Ú CA R A escolha das casas caipiras como leituras projetuais se justifica pelo fato de que a construção do Museu trará linguagens e conceitos que remetem a essas casas, ou seja, o objetivo é resgatar elementos, que fizeram parte da trajetória da cultura caipira, traduzidos com linhas arquitetônicas contemporâneas. Neste subcapítulo, será analisado três casas no tempo do açúcar: 1 . Sí t i o d o Te n e n t e C a r r i t o , e m It a p e t i n i n ga , construída na primeira metade do século XIX;
Será analisado suas características, funcionalidades, organização espacial das plantas e sua composição. Uma das características em comum destas três casas caipiras: é a presença de um definitivo corredor que dava acesso às varandas8, muitas vezes chamadas de salas de fora, por não possuírem fôrros, e serem abertas. Ao redor da casa, acontecia a vida social da família. Este corredor, foi a principal mudança pragmática em relação às casas bandeiristas.
2 . C a s a d a Fa z e n d a P a s s a -T r ê s , d e B r i g a d e i r o To b i a s , em Sorocaba, construída entre 1792-1820; 3. Fazenda Pimenta, em Boitúva, construída 1958;
8 Va r a n d a s : l o c a l a l p e n d r a d o o n d e a f a m í l i a s e r e u n i a , c h a m a d o t a m b é m d e “ s a l a d e f o r a ”, q u e f u n c i o n a v a c o m o a s a l a d e j a n t a r . Fonte: A casa Paulista. Lemos, Carlos.
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Fi g u r a 1 6 . Pl a n t a C h á c a r a d o Sí t i o d o Te n e n t e C a r r i t o , It a p e t i n i n ga
LEGENDA: 1. Sótão 2. Cozinha 3. Quarto familiar 4. Quarto familiar 5. Quarto familiar 6 . Va r a n d a
LEGENDA: 7. Q u a r t o d e Vi s i t a s 2 8. Sala de recepção 9. Quarto familiar 10. Quarto familiar
Área Serviço Área Íntimo Acesso Social/Convívio Social Acesso Social Circulação Serviço
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F i g u r a 1 7. C a s a d a Fa z e n d a P a s s a - T r e s , B r i g a d e i r o To b i a s , S o r o c a b a . Fo n t e : C a s a P a u l i s t a . L e m o s , C a r l o s .
LEGENDA: 1. Sótão 2. Quarto de visitas 1 3. Quarto familiar 4. Quarto familiar 5 . Va r a n d a 6. Quarto de Visitas 2 7. Q u a r t o d e Vi s i t a s 3 8. Sala de recepção
9. Cozinha 10. Quarto familiar 11. Quarto familiar
LEGENDA:
Setor Serviço Setor Íntimo Setor Social/Convívio Social Acesso Social Circulação Serviço
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Figura 18. Fazenda Pimenta, em Boitúva. Fonte: Casa Paulista. Lemos, Carlos.
LEGENDA: 1. Sótão 2. Cozinha 3. Quarto familiar 4. Quarto familiar 5 . Va r a n d a 6. Quarto de Visitas 1 7. Q u a r t o d e Vi s i t a s 2 8. Quarto de Visitas 3 9. Sala de recepção 10. Quarto familiar 11. Quarto familiar 12. Quarto familiar
LEGENDA:
Setor Serviço Setor Íntimo Setor Social/Convívio Social Acesso Social Circulação Serviço
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O programa é igualmente dividido em três setores nas casas: o de serviços, o íntimo, relativo à família, e o social, relativo ao convívio com estranhos. O setor de serviços compõe-se de uma ou mais cozinhas e cômodos complementares, que podem ter a função de despensas, depósitos, quarto de queijos ou até mesmo quarto de dormir ligado ao serviço. O setor íntimo, onde habita a família do proprietário, organiza-se em torno de uma grande sala, a sala da família, que faz a articulação com os demais setores. Para essa sala voltam-se os quartos e alcovas da família. Finalmente, o setor relativo ao convívio com estranhos é também organizado ao
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redor de uma grande sala, para a qual se voltam os quartos e alcovas destinados aos hóspedes. Há uma distinção bem clara entre a parte social e a parte íntima da casa, resultante da necessidade de se receber hóspedes e viajantes constantemente. (Cruz, Cícero. Fazendas do Sul de Minas.)
As três plantas, como na maioria desse período, s ã o e m f o r m a t o s d e u m “ L”. M u i t a s v e z e s a p e r n a d o “ L” f o i d e n o m i n a d o d e “ p u x a d o ”, p o r é m e s s e bloco foi construído juntamente com toda a construção e não posteriormente. Eram onde ficavam a área de serviço, que dava suporte a cozinha, como despensas.
4 . 2 C A S A S C A I P I R A S R U R A I S PA U L I S TA S , N O P E R Í O D O COLONIAL A casa bandeirista denomina-se às construções rurais paulistas residenciais do período colonial. Apesar de alguns questionamentos quanto à sua beleza, valor artístico ou cultural, algumas casas conseguiram efetivar seu tombamento e registrada como patrimônio cultural, pelo IPHAN. A casa bandeirista é marcada pelo estilo de planta retangular, sala social central, dormitórios distribuídos ao redor da sala, sem corredores, poucas aberturas no qual confere segurança à residência e, consequentemente, seu interior torna-se pouco iluminado. Neste subtema será analisado a Casa do Butantã ou Casa do Bandeirista, em São Paulo. A planta é retangular e organizada em três faixas (social, familiar e serviço, a partir da fachada principal. Composta por 12 cômodos, não havia corredores, ao redor da sala central concentrava-se os quartos da família, onde denotava a preservação da intimidade doméstica da família patriarcal e nas laterais
do alpendre, a capela e o quarto de visitas. A necessidade de preservar a intimidade ocorria devido a presença constante de estranhos, onde as famílias davam abrigo aos bandeirantes, ao longo de suas viagens, e então, o quarto de hóspedes era totalmente isolado da residência, com acesso apenas ao alpendre. O alpendre tinha função definida pelas atividades administrativas da casa, o patriarca recebia seus convidados e realizava suas reuniões ali. O proprietário e seus parceiros de negócios tinham, então, ao seu lado esquerdo a capela e ao seu lado direito o dormitório dos hóspedes. E, às costas do patriarca, ficava a sala central, de acesso restrito a o s v i s i t a n t e s .9 Dentro da residência, o mobiliário era bem simples, distribuído entre redes, esteiras, bancos e banquetas (não havia cadeiras), armários que guardavam tigelas, gamelas, cuias e canecas, e arcas de diversos tamanhos para a acomodação de roupas, ferramentas e armas. 9
D i s p o n í v e l e m h t t p : // w w w . v i t r u v i u s . c o m . b r A c e s s a d o e m 1 1 d e s e t e m b r o d e 2 0 1 7.
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LEGENDA: 1. Sala de serviço 2. Alpendre 3. Sala de serviço 4. Quarto familiar 5. Sala de jantar 6. Quarto familia 7. Q u a r t o f a m i l i a 8. Sala de recepção 9. Quarto familia 10. Quarto de visitas 11. Alpendre 12. Capela LEGENDA:
Setor Serviço Setor Íntimo
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F i g u r a 2 0 . C a s a d o B u t a n t a . F o n t e : < w w w . t e s e s . u s p . b r / t e s e s / d i s p o n i v e i s / 1 6 // T A I P A _ C A N E L A P R E T A _ C O N C R E T O
O telhado é largo e inclinado, de quatro águas e coberturas com telhas de canal, o que torna a casa vunlnerável a frentes frias e ventos. O piso é feito de terra batida e as paredes são
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feitas de taipa de pilão, cuja origem árabe foi trazida ao Brasil pelos portugueses. Na casa, cozinhavam ao ar livre, sobre pedras, que dava acesso ao jardim traseiro.
5 CO N D I C I O N A N T ES F Í S I CAS
5 . 1 . ES CO L H A DA L O CA L I Z A Ç Ã O O referencial histórico e os estudos sobre a cultura caipira foram determinantes para a delimitação das diretrizes para a escolha da localização do Museu e a área a ser implantado. As pesquisas mostram as raízes que a cultura
caipira alcançou na formação da sociedade, principalmente interiorana. Ao rememorar essa importância, a cidade de Barretos (o verdadeiro marco dessa cultura), foi escolhida para a criação do Museu da Cultura Caipira Paulista.
5 . 2 . A C I DA D E : BA R RE TOS
F i g u r a 2 1 . L o c a l i z a ç ã o d e B a r r e t o s . F o n t e : < h t t p : // w w w . a c e r v o d i g i t a l . u f p r . b r > A c e s s a d o e m 2 4 d e a b r i l d e 2 0 1 7
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O Município de Barretos está localizado na região Norte do Estado de São Paulo, com 112.101 habitantes (IBGE 2010) e uma área de 1565.6km2. Fundada em 25 de agosto de 1854, a cidade é o
centro de uma microrregião, que compõe junto à Colômbia (ao norte), à Colina (ao sul), à Olímpia (ao leste) e à Guaíra (ao oeste), portanto trata-se de um município que exerce grande polarização na sua região de entorno.
F i g u r a 2 2 . E n t o r n o d e B a r r e t o s . F o n t e : < h t t p : // w w w . a c e r v o d i g i t a l . u f p r . b r > A c e s s a d o e m 2 4 d e a b r i l d e 2 0 1 7 .
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5 . 3 . Á RE A A área escolhida está localizada na região oeste da Cidade, mais conhecida como Região dos Lagos. Próxima ao Centro, ela é praticamente o coração de Barretos. É uma área que possui um conjunto de quatro lagos ornamentais, abastecidos pelo córrego Aleixo, ciclovias, amplas calçadas para a prática de exercícios físicos, e diversas
barracas distribuídas, com serviços diurnos e noturnos, playgrounds, e uma ampla área verde, onde grande parte são consideradas Área de Preservação Permanente. Portanto, é uma área bastante movimentada, conhecida e frequentada pelos moradores, sendo muito conhecida até pelos turistas.
F i g u r a 2 3 . Vi s t a a é r e a d a r e g i ã o . Fo n t e : Fo t o t i r a d a d o G o o g l e M a p s . A c e s s a d o e m 2 4 d e a b r i l d e 2 0 1 7.
O Museu será estrategicamente localizado em frente aos lagos, onde terá uma paisagem natural favorecida e acessos facilitados, em decorrência da existência de uma via principal, para carros, e dos corredores e ciclovias, para
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ciclistas e pedestres, encontrados na área. O projeto agregará ainda mais a área de lazer verde existente, além de ter como objetivo, incentivar ainda mais a vinda para aquela área.
5 . 4 . CO N D I C I O N A N T ES L E G A I S N
LEGENDA ÁREA DE INTERVENÇÃO ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE
MAPA ANÁLISE AMBIENTAL | 1:20000 F i g u r a 2 4 . M a p a d e A n á l i s e A m b i e n t a l . R e a l i z a d o p e l a a u t o r a e m 5 d e a b r i l d e 2 0 1 7.
Segundo o Plano Diretor de Barretos, em seus mapas, a área de intervenção é considerada uma Área de Preservação Permanente, devido à localização dos lagos ornamentais. Porém segundo o Código Florestal, Lei 12.651, de 25 de Maio de 2012:
licenciamento ambiental, elaborará Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno do Reservatório, em conformidade com termo de referência expedido pelo órgão competente do Sistema Nacional do Meio Ambiente - Sisnama, não podendo o uso exceder a 10% (dez por cento) do total da Área de Preservação Permanente.
Na implantação de reservatórios d’água artificiais de que trata ocaput, o empreendedor, no âmbito do
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5.5. ENTORNO Ao analisar o Mapa de Uso, nota-se que é uma área predominantemente residencial. Há a presença de um corredor comercial, localizado n a Ave n i d a En ge n h e i ro Ne c ke r C a r va l h o d e Camargo.
Há poucos equipamentos institucionais presentes na área, porém uma ampla área verde entorno dos lagos ornamentais.
N
LEGENDA ÁREA DE INTERVENÇÃO RESIDENCIAL COMERCIAL SERVIÇO EQUIPAMENTOS VAZIO ÁREA VERDE
MAPA USO DO SOLO | 1:20000 Figura 25. Mapa de Uso. Realizado pela autora em 5 de abril de
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No mapa de Gabarito, as construções térreas são predominantes. Há em alguns pontos, edificações de dois pavimentos, e somente uma
de quatro pavimentos, e um edifício residencial de quatorze pavimentos.
N
LEGENDA ÁREA DE INTERVENÇÃO TÉRREO 2 PAVIMENTOS 4 PAVIMENTOS 16 PAVIMENTOS
MAPA GABARITO | 1:20000 F i g u r a 2 6 . M a p a d e G a b a r i t o . R e a l i z a d o p e l a a u t o r a e m 5 d e a b r i l d e 2 0 1 7.
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A hierarquia viária da área se divide em três tipos de vias: - v i a s p r i n c i p a i s : e nt o r n o d o s l a go s (Av. Centenário da Abolição e Rua Vinte e Cinco de Ago s t o) , Ave n i d a En g . Ne c ke r C a r va l h o d e C a m a rgo e Ave n i d a 7 (c o r re d o r c o m e rc i a l ) e a s Ruas Trinta e Oito (face norte do Mu s e u-f ro nt a l ) e Ave n i d a 1 1 (f a c e l e s t e d o museu- lateral).
A presença de duas vias principais que se cruzam no entorno do Museu, garante uma facilidade de acessos para aqueles que utilizaram meios de transporte para sua visita. - vias coletoras: Rua Trinta, e Rua Trinta e Dois (c ol e t a m e d i s t r i b u e m o t rá f i c o d a Ave n i d a S e t e . - vias locais: demais vias, há uma dominância desta, devido a existência de bairros residências na área.
N
LEGENDA
N
ÁREA DE INTERVENÇÃO VIA LOCAL VIA COLETORA VIA PRINCIPAL
MAPA HIERARQUIA VIÁRIA | 1:20000 F i g u r a 2 7. M a p a d e H i e r a r q u i a Vi á r i a . R e a l i z a d o p e l a a u t o r a e m 5 d e a b r i l d e 2 0 1 7.
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Os Equipamentos Urbanos existentes na área são variados, com a presença de instituições sociais que acolhem o menor, o homem de rua, o viciado e o deficiente físico. No âmbito da c u l t u r a , e n c o n t r a - s e o Te a t ro C i n e B a r re t o s , Museu Ruy Menezes (patrimônio histórico) e a Biblioteca Municipal, sendo todas localizadas no Centro da Cidade, e o Recinto Paulo de Lima
Côrrea Na área de saúde, possui o Hospital São Sebastião e um posto de saúde, e no setor religião, há três Igrejas. Possui quatro hotéis, também localizados no Centro, bem próximos entre eles, um Fórum, uma Estação de Energia Elétrica e no setor de lazer, há duas áreas esportivas públicas e uma privada.
LEGENDA ÁREA DE INTERVENÇÃO
N
RESIDENCIAL COMÉRCIO SERVIÇO INSTITUCIONAL VAZIO ÁREA VERDE
MAPA USO DO SOLO | 1: 20000
LEGENDA
N
ÁREA DE INTERVENÇÃO LAZER ESPORTIVO
ATEND. AO HOMEM DE RUA
BIBLIOTECA MUNICIPAL
HOSPITAIS
ATENDIMENTO AO MENOR
ATENDIMENTO AO DEFICIENTE
EST. ENERGIA ELÉTRICA
HOTÉIS
FÓRUM
IGREJA
POSTO DE SAÚDE
ATENDIMENTO AO VICIADO
TEATRO
PATRIMÔNIO HISTÓRICO
MAPA EQUIPAMENTOS | 1: 20000 Figura 28. Mapa de Equipamentos Urbanos. Realizado pela autora em 5 de abril de
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Barretos, como vimos, é uma cidade muito rica em termos culturais, devido as suas raízes que contribuíram e fizeram dela, a cidade pioneira da cultura caipira. Porém, a cidade possui a p e n a s c i n c o e q u i p a m e n t o s c u l t u r a i s : Te a t ro
Cine Barretos, Museu Ruy Menezes, Recinto Paulo de Lima Côrrea (patrimônio histórico, encontra- se fechado), Biblioteca Municipal (direcionada ao público infanto-juvenil) e o Parque do Peão de Barretos.
N
LEGENDA ÁREA DE INTERVENÇÃO PARQUE DO PEÃO DE BOIADEIROS TEATRO CINE BARRETOS BIBLIOTECA MUNICIPAL MUSEU RUY MENEZES RECINTO PAULO DE LIMA CORREA
MAPA EQUIPAMENTOS CULTURAIS | 1:50000 F i g u r a 2 9 . M a p a d e E q u i p a m e n t o s C u l t u r a i s . R e a l i z a d o p e l a a u t o r a e m 5 d e 2 0 1 7.
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Com base no levantamento, foi criado um mapa síntese, com as informações que serão relevantes para o projeto do Museu. Ao analisar o mapa, nota-se a predominância da zona residencial no seu entorno, presença de
um corredor comercial, e a localização próxima à Zona Central. Um dos pontos mais importantes é a presença de uma grande Área de Preservação Permanente, em volta dos quatro lagos ornamentais.
F i g u r a 3 0 . M a p a S í n t e s e d a á r e a . R e a l i z a d o p e l a a u t o r a e m 2 4 d e a b r i l d e 2 0 1 7.
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6 P R O P O S TA D E I N T E R V E N Ç Ã O
6 . 1 . PA R T I D O A R Q U I T E T Ô N I C O / C O N C E I T O Com o objetivo de agregar ainda mais os valores da história da Cultura Caipira que tanto enraizou a cidade de Barretos e que consequentemente, virou seu símbolo e um referencial no Brasil, surge o Museu da Cultura Caipira. A criação do Museu da Cultura Caipira, tem como partido resgatar a sua história, torná-la presente na vivencia das pessoas e despertar o interesse no conhecimento da cultura que fez parte da história da cidade, e tornou-se tão verdadeiramente rica. O conceito do projeto terá uma releitura das
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Casas Caipiras, no período do açúcar no Brasil, com o intuito de resgatar alguns elementos como: figuras geométricas quadrangulares, horizontalidade em sua composição formal, os alpendres como espaços de integração. E serão traduzidos em elementos contemporâneos, como a escolha da materialidade e a inserção constante do objeto com a paisagem urbana em que está inserido. Assim, o Museu da Cultura Caipira Paulista, será construído baseado em uma releitura do passado, com traços arquitetônicos atuais e com o objetivo de conservar a cultura caipira.
6 . 2 ES T U D OS VO L U M É T R I COS Etapa I: setorização
Etapa II: Materialidade
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6.3 DADOS TÉCNICOS PROGRAMA DE NECESSIDADES
FLUXOGRAMA RUA
PÁTIO
LOJA
BILHETERIA SALA DE MÚSICA I RECEPÇÃO SALA DE MÚSICA II
SALA DE DANÇA I
RESTAURANTE
SALA DE DANÇA II
SALA DE ESTUDOS COZINHA
DEPÓSITO DE ACERVOS
BIBLIOTECA
RUA
SANITÁRIOS
ANFITEATRO
COPA VESTIÁRIO MANUTENÇÃO ÁREA TÉNICA ALMOXARIFADO
SALA DE EXPOSIÇÃO I
CURADORIA SALA DE DIREÇÃO
SALA DE REUNIÃO SALA DE EXPOSIÇÃO II
SALA DE MANUTENÇÀO
SALA DE SEGURANÇA
SANITÁRIOS
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6.4. PROJETO ARQUITETÃ&#x201D;NICO
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2
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A
6
S
5
17 13
0,00 7
15 8
9
10
11
12
16
14 18
B
54
B
2
1
4 3
+0,10 0,00
A
A
6
S
5
17 13
0,00 7
15 8
9
10
11
12
16
14 18
B
55
B
20
+4,00
19
21
A
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23
24
27
25
28
29
30
31
32
26
B
56
33
A
57
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+ 9,80 + 8,00
+ 4,00
0,00
- 4,00
+ 9,80 + 8,00
+ 4,00
0,00
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+ 9,80 + 8,00
+ 4,00
0,00
- 4,00
+ 9,80 + 8,00
+ 4,00
0,00
60
61
62
63
64
65
66
CANDIDO, Antônio. Os parceiros do Rio Bonito: estudos sobre o caipira paulista e a transformação dos seus meios de vida. 2.ed. São Paulo: Duas Cidades, 1971 ELIA, Sílvio. O problema da língua brasileira. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro – Ministério da Educação e Cultura, 1961. FREITAS, M.C.S. Educação nutricional: aspectos sócio-culturais. In: Anais do XIV Congresso Brasileiro de Nutrição – CONBR AN, 1996. MARTINS, José de Souza. Capitalismo e tradicionalismo: estudos sobre as contradições da sociedade agrária no Brasil. São Paulo: Pioneira, 1975 APUD CAMPOS, Judas Tadeus. Uma pesquisa pioneira para a compreensão da cultura caipira. Disponível em: http://w w w.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142012000300030. Acesso em: 20 abr. de 2017. PIRES, Cibélia Renata da Silva. A formação e expansão da cultura e dialeto caipira na reg ião de Piracicaba. 309 f. Tese (Mestrado em Filolog ia e Língua Portuguesa) – Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas , Universidade de São Paulo. São Paulo. 2008. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira. Bairros rurais paulistas: dinâmica das relações bairro rural-cidade. São Paulo: Duas Cidades, 1973. ____________. O campesinato brasileiro: ensaios sobre civilização e grupos rústicos no Brasil. Petrópolis: Editora Vozes, 1976. RUR AL, João. Os caminhos dos sabores. Textos do Brasil no 13. Disponível em: http://w w w.chaocaipira.org.br/assets/publicacoes/xP1Xe9yN0AT7/HXpVtqX0yZpE.pd f Acesso em 20 abr. 2017 apud CORREA, Ana Alice Silveira; QUINZANI, Suely Sani Pereira. A cultura caipira: os usos e costumes da tradicional cozinha paulista narrada através de seus ingredientes tradicionais. In: VII Simpósio Nacional de História Cultural. Universidade de São Paulo. São Paulo. 2014. SAN’TANNA, Romildo. A moda é viola: ensaio do cantar. São Paulo: Ed. Unimar, 2000. LEMOS. Carlos. Casa Paulista. São Paulo: Editora EDUSP, 1999.
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RE F E R Ê N C I AS B I B L I O G R Á F I CAS
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