A AMANTE VIRGEM Kay Thorpe
Título original: Virgin Mistress (1999) Coleção: Momentos Íntimos 80 (2000) Digitalização e revisão: Tinna
Protagonistas: Erin Grainger & Nick Carson
ELA QUERIA SEDUZIR AQUELE HOMEM... DE QUALQUER MANEIRA! Erin desejou Nick Carson no momento em que o viu pela primeira vez. Sabia que ele também a queria, embora encarasse seus sentimentos como uma simples paixão passageira. Mas se quinze anos de diferença eram uma barreira intransponível para ele, Erin não pensava assim. Nick podia dizer que preferia mulheres mais velhas e experientes, mas ela estava disposta a fazer o que fosse preciso para conquistá-lo. Afinal, que dificuldade podia haver para seduzir o homem de seus sonhos?
A amante virgem - Kay Thorpe Momentos Íntimos 80
Copyright © 1999 by Kay Thorpe Originalmente publicado em 1999 pela Harlequin Mills & Boon Ltd., Londres, Inglaterra Todos os direitos reservados, inclusive a direito de reprodução total ou parcial, sob qualquer forma. Esta edição é publicada através de contrato com a Harlequin Mills & Boon Ltd. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas terá sido mera coincidência. Título original: Virgin Mistress Tradução: Débora da Silva Guimarães Isidoro Editor: Janice Florido Chefe de Arte: Ana Suely Dobón Paginador: Nair Fernandes da Silva EDITORA NOVA CULTURAL LTDA. Rua Paes Leme, 524 - 10º andar CEP: 05424-010 - São Paulo – Brasil Copyright para a língua portuguesa: 2000 EDITORA NOVA CULTURAL LTDA. Fotocomposição: Editora Nova Cultural Ltda. Impressão e acabamento: Gráfica Círculo
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CAPÍTULO I Em resumo, a situação é esta — o advogado concluiu com pesar. — A casa foi hipotecada, e o que restou dentro dela vale muito pouco. — Então encontrarei um emprego — Erin respondeu determinada. — Deve haver uma saída! — Aos dezenove anos, sem qualificações, jamais encontrará um trabalho que possa garantir uma vida adequada a você e sua irmã. Felizmente consegui localizar seu tio. Ele... — Nick Carson é tio de Samantha. Sou apenas enteada do irmão dele. — Aos olhos da lei, você faz parte da família. Tenho certeza de que o sr. Carson não se esquecerá disso. Se Nicholas Carson tivesse alguma semelhança com o irmão, Erin refletiu, provavelmente relutaria em assumir a responsabilidade por Sam, que era sangue de seu sangue. O que faria com alguém que nem era sua sobrinha de verdade? Não que quisesse tornar-se responsabilidade de alguém... Mas o sr. Gordon estava certo. Mesmo que encontrasse um emprego, não ganharia o bastante para as duas. A idéia de separar-se da meia-irmã era horrível, mas tinha de pensar no bem-estar de Sam. Se o tio dela se negasse a assumir os problemas que haviam sido do irmão, como era bem provável depois de tantos anos de afastamento, o governo a enviaria para uma entidade de auxílio ao menor. E qualquer coisa era melhor que isso! Observando a expressão obstinada da jovem, John Gordon admirou sua força aparente. A imagem era a de uma adolescente típica. Os cabelos longos, lisos e louros emolduravam um rosto desprovido de maquiagem, e jeans e camiseta cobriam o rosto esguio e firme. Mas os olhos azuis contrariavam a impressão inicial, traindo uma força de caráter difícil de encontrar em pessoas daquela idade. — Não acredito que os credores exijam a entrega imediata da casa — ele disse —, mas quanto mais cedo começarem a procurar soluções, melhor. Seria mais simples chamar uma empresa especializada em mudanças e vender toda a mobília de uma só vez, mas imagino que o sr. Carson prefira examinar os objetos pessoais do irmão antes de tomar qualquer decisão. Ele estará aqui antes do final da semana.
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Até lá teria alguma idéia do que fazer, Erin decidiu, embora não pudesse sequer imaginar uma saída para o dilema que vivia. A primeira coisa a fazer seria encontrar um lugar para morar. Embora inesperada, a morte do padrasto não deixara nenhum grande vazio em sua vida. Nunca foram próximos, e desde que a mãe falecera haviam se afastado ainda mais. Não que ele houvesse dado muita atenção à filha. Para David Carson, ambas haviam sido um fardo sem o qual a vida teria sido muito mais simples. — Como conseguiu encontrar o sr. Carson? Pelo que sei, ele e meu padrasto não tinham contato há anos. — A galeria onde ele expôs pela última vez na cidade forneceu o telefone do agente e Carson, que o convenceu a me procurar. A essa altura o funeral já havia sido realizado. — Duvido que ele tenha se importado com isso. Nick Carson é um homem muito conhecido, não? — Oh, sim! Não sei muito sobre arte, mas o trabalho dele é muito elogiado pela crítica especializada. Um jovem de talento indiscutível. É o que dizem... Jovem? O homem tinha trinta e quatro anos de idade! Os dez anos de diferença entre os irmãos deviam ter sido significativos para o rompimento, Erin pensou. Nicholas não devia ser muito mais velho do que ela era agora quando havia tomado as rédeas da própria vida nas mãos. Pelo pouco que sabia, a disputa envolvera dinheiro. O que não era surpreendente. O dinheiro devia ser tão importante para Nick quanto havia sido para o irmão mais velho. Perder tudo que tinha havia sido o motivo do ataque cardíaco fulminante que o matara. — Acha que Barbados é um local adequado para uma menina de catorze anos? — indagou. — Quero dizer, a escola... — As escolas da ilha são tão boas quanto as de qualquer outra parte do mundo — John Gordon respondeu. — Por outro lado, é possível que o sr. Carson prefira enviá-la para um colégio interno. Afinal, um homem solteiro e jovem não é exatamente o melhor guardião para uma garota dessa idade. Não sei nem se ele mora em Barbados. De qualquer maneira, essas decisões terão de esperar até que ele esteja aqui. Tenho certeza de que o sr. Carson fará o que for melhor para todos. Erin gostaria de ter a mesma certeza. Sam odiaria um colégio interno. Pensando bem, ela também não gostaria de ser levada para o outro lado do
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mundo. Mas era inútil se preocupar antes de tomar conhecimento dos planos de Nick Carson. Retida em um congestionamento, atrasou-se dez minutos para apanhar a irmã na escola, e respirou aliviada quando a encontrou esperando no portão. Samantha era bem capaz de pedir carona ao primeiro estranho que aparecesse, expondo-se a todo o tipo de riscos para escapar do desconforto de um transporte público. Como Erin, ela herdara os traços físicos da mãe, com cabelos louros e olhos azuis em um rosto que começava a revelar os primeiros sinais de uma beleza mais feminina, menos infantil. Erin fizera o possível para compensar a falta de atenção e cuidados, mas não havia um substituto possível para o amor paterno. Aprendera a lição a duras penas. — Pensei que houvesse esquecido de mim! — a menina reclamou ao entrar no carro que logo perderiam com todo o resto. — Conversou com o sr. Gordon? — Sim, e ele não disse nada além do que já sabíamos. Acabou Sam. Casa, dinheiro... tudo. — Bem, papai nunca nos deu muito dinheiro. Nesse sentido, a diferença não será tão grande. Melanie me contou que a mãe dela recebe um cheque semanal pelo correio, e o conselho providenciou uma casa para elas. Podemos fazer o mesmo, não? Se fosse tão simples... — Nossa situação é diferente — respondeu. — De qualquer maneira, temos de esperar pela chegada de seu tio para sabermos o que ele tem em mente. Ele é seu guardião oficial, e por isso vamos ter de acatar suas decisões. — Não preciso de um guardião! Você sempre cuidou de mim. Por que agora tem de ser diferente? — Porque não tenho meios para sustentá-la. — Se meu tio tem tanto dinheiro assim, ele pode comprar uma casa para nós. — O problema é um pouco maior do que está sugerindo, Sam. — Erin decidiu mudar de assunto. Não queria assustar a irmã com questões que ela jamais poderia solucionar. — O que acha de pararmos no Halson e comermos ecláirs? — Podemos pagar por eles?
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— Não, mas quem se importa? Vamos viver o momento! Compraram seis confeitos e devoraram todos eles sentadas na sala da casa que em breve perderiam. Com cinco dormitórios e localizado em uma área privilegiada, o imóvel deveria alcançar um bom preço, Erin considerou enquanto lavava a louça do chá, logo depois de acabarem de comer. Se esse valor seria suficiente para saldar todas as dívidas deixadas pelo padrasto já era uma outra questão. E felizmente não tinha de pensar nisso. Suas preocupações já eram inúmeras, e preferia não acrescentar novos itens à lista. As duas irmãs passaram uma noite tranqüila diante da televisão. Samantha foi para cama às dez, deixando Erin sozinha com suas preocupações. Incapaz de pensar em saídas plausíveis, decidiu seguir o lema de uma de suas heroínas favoritas. Amanhã seria outro dia. Nada como uma boa noite de sono para tornar tudo mais claro e melhor. Como acontecia com freqüência, quanto terminou de preparar-se para dormir havia perdido o sono. Certa de que uma xícara de chocolate quente a ajudaria a relaxar, desceu para ir aquecer o leite, sem se dar ao trabalho de vestir um robe por cima da camisola curta de algodão. Havia começado a chover, e as gotas executavam uma sinfonia melancólica nas vidraças da cozinha. Mais uma boa razão para relaxar e dormir. Estava pondo o pé no primeiro degrau da escada quando ouviu o som de um carro se aproximando. A luz dos faróis iluminou a janela da sala, e pouco depois o veículo parou da área pavimentada diante da casa. Houve uma pausa breve seguida pelo som de vozes, e alguém tocou a campainha com vigor desnecessário, considerando que as luzes internas ainda estavam acesas. Só esperavam por uma pessoa... e ele devia ter antecipado a viagem. Deixando a xícara sobre o jornal dobrado em cima da mesa da sala, caminhou descalça até a porta, e já tocava a maçaneta quando a cautela deteve o movimento. —.Quem é? — perguntou. — Nick Carson. Será que pode abrir de uma vez, por favor? Estou ficando ensopado aqui fora! Pensou em dizer que esse era o efeito mais imediato da chuva, mas achou melhor guardar os comentários irônicos para quando o conhecesse melhor. Relutante, abriu a porta para o homem que decidiria o futuro de Sam.
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Ele acenou para dispensar o táxi, entrou e deixou a mala no chão do hall. Erin fechou a porta e deu as costas para o recém-chegado, perturbada com a expressão grave no rosto de traços fortes. Cerca de quatro ou cinco centímetros mais alto que seu padrasto, que tinha um metro e oitenta e cinco de altura, Nick possuía os mesmos olhos cinzentos e os cabelos negros e espessos do irmão. O olhar penetrante sugeria uma personalidade mais forte. — Levando em consideração que parece ter um pouco mais do que catorze anos — ele apontou —, quem é você? — Sou a meia-irmã de Samantha. O sr. Gordon não falou sobre mim? — Não, ou eu não estaria perguntando. Gordon disse apenas que meu irmão havia morrido e deixado a filha de catorze anos na miséria. Meia-irmã? — Minha mãe casou-se com seu irmão quando eu tinha quatro anos. Sam nasceu doze meses mais tarde. — Ah! Pensei que tivesse dezesseis... no máximo dezessete anos. Vejo que me enganei. Tem o hábito de andar pela casa usando apenas uma camisola? — Só à noite — Erin disparou, irritada com a postura arrogante do sujeito. Não se deixaria intimidar. Sabia que a camisola era mais decente que muitos vestidos usados pelas garotas de sua idade. — Por sorte desci para beber alguma coisa. Caso contrário, já estaria dormindo. — Nesse caso, eu teria sido forçado a acordá-la. Podemos nos sentar em algum lugar? Passei o dia todo viajando, e pelo visto há muitas coisas que aquele advogado não me contou. — Se está cansado, podemos deixar para conversar amanhã — Erin sugeriu esperançosa, pensando em dispor de algum tempo para preparar-se melhor. — Vamos conversar agora. Preciso saber o que esperam de mim. — Eu não espero nada. Sou perfeitamente capaz de cuidar de mim mesma. — É claro. Por isso anda descalça e deixa seu chocolate esfriando sobre a mesa. — Você me interrompeu quando... Ah, esqueça — disse, lamentando pela primeira vez o hábito de não usar chinelos. Crianças andavam descalças. Adultos não. Por isso o homem a julgara mais nova do que era. Desprovida de todo e qualquer objeto de valor, a sala parecia vazia. Nick Carson não teceu comentários ao entrar, mas sua expressão era mais
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eloqüente que as palavras. Erin acendeu os abajures e sentou-se em uma cadeira como costumava fazer, com as pernas dobradas sob o corpo, enquanto o meio tio, se é que existia esse grau de parentesco, ia acomodar-se no sofá. Ele se vestia com elegância casual, mas a calça marrom e jaqueta clara deviam ter custado uma pequena fortuna, a julgar pelo corte perfeito. Aparentemente, era muito diferente do que imaginara, mas a natureza humana ia muito além das aparências. — O que pretende fazer com relação a Sam? — perguntou-sem rodeios. Nick levantou uma sobrancelha. — Não é do tipo que hesita em saciar a própria curiosidade, é? — Normalmente não hesito diante de nada —disse, disposta a mostrar que não se deixaria dominar. — E é natural que esteja preocupada com o destino de minha irmã. — E quanto ao seu destino? — Já disse que posso cuidar de mim mesma. — Isso significa que já tem planos? — Nada específico. — Tem algum dinheiro? — Não... mas posso trabalhar. — Em quê, exatamente? — Posso ser babá, por exemplo — improvisou. — Sem qualificações ou experiência? — Tenho experiência de sobra depois de ter passado anos cuidando de Sam. — Há muita diferença entra ficar de olho na irmã caçula e assumir toda a responsabilidade pelos cuidados com uma criança. Aliás, você é pouco mais que uma criança. — A maturidade não depende apenas da idade cronológica. — Entendo. — Havia um brilho divertido nos olhos cinzentos. — Samantha é tão confiante quanto você? — Podemos viver muito bem sem a ajuda de ninguém, se é o que quer saber. E ainda não disse o que pretende fazer com ela.
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— Não posso decidir de maneira precipitada. Como disse, há muitas coisas que preciso saber antes de agir. Sobre sua mãe, por exemplo. Onde... — Ela morreu em um acidente aéreo há alguns anos — Erin revelou sem emoção. — Estava fugindo com o piloto do avião, que também faleceu. Deixei a escola para cuidar da casa. — A idéia foi sua, ou do meu irmão? — Não havia outra alternativa. — Ele podia ter contratado uma governanta enquanto você concluía seus estudos. — E teria de pagar por isso. Além do mais, não gostava da idéia de entregar o comando de nossa casa a uma estranha. — E ainda não apreciava a possibilidade. — Pelo menos sou um parente — Nick comentou, como se pudesse ler seus pensamentos. — A propósito, também não estou eufórico com a situação. Fiquei surpreso quando soube que David havia me nomeado como o mais próximo da família. — Ele tinha de escolher alguém, e você era a única alternativa. De qualquer maneira, compreendo sua relutância em assumir uma responsabilidade tão grande. Quero dizer, é um homem sozinho e... — Por que tem tanta certeza de que vivo sozinho? — O sr. Gordon disse que era solteiro. — E tenho de ser casado para viver com uma mulher? Erin mordeu o lábio, sentindo-se uma idiota. Como podia ser tão ingênua? Com esforço, disfarçou o constrangimento usando um tom de voz neutro. — Acha que sua... companheira aceitaria a presença de uma menina de catorze anos na casa? — Eu não disse que tenho uma companheira. Ainda não conheci a mulher com quem seria capaz de conviver em tempo integral. — O problema pode ser outro, sr. Carson. Talvez ainda não tenha encontrado uma mulher capaz de conviver com você em tempo integral — Erin disparou irritada. — É possível. Mas você estava dizendo...
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Ela respirou fundo, tentando manter a calma. Havia algo no homem que a perturbava, mas demonstrar as emoções não seria a melhor maneira de convencê-lo sobre sua capacidade de cuidar da irmã. — Desculpe-me — disse. — Não devia ter falado daquela maneira. — Por que não? É livre para falar como quiser, desde que não seja nada calunioso. Creio que estava prestes a sugerir que eu deixe Samantha aos seus cuidados... e ofereça um certo apoio financeiro, é claro. — Para ela. Eu não preciso de nada. E só enquanto eu não puder sustentá-la. Sam vai indo bem na escola — argumentou. — Seria uma pena tirá-la daqui agora. Podemos alugar um apartamento mobiliado, algo simples e prático... — Esticando as pernas, acomodou-se na beirada da poltrona, os olhos iluminados pelo entusiasmo. — Seria melhor para Sam, e para você também. Nick Carson ficou em silêncio, como se ponderasse sobre o que acabara de ouvir. Quando falou, foi com determinação seca. — Acho melhor deixarmos as decisões para amanhã, afinal... sem certas distrações. Esquecera como estava vestida, e por isso precisou de um momento para compreender o significado do comentário. Vermelha, abaixou a cabeça e notou que a camisola havia subido com o movimento das pernas, expondo uma boa porção das coxas. — Então tem algumas inibições — ele apontou ao vê-la puxar o tecido em direção aos joelhos. — Já estava começando a me assustar. — Não pensei que pudesse se incomodar tanto com um par de pernas... especialmente as de alguém que considera pouco mais que uma criança! — Também fiquei surpreso — Nick confessou com ar debochado. — Seu constrangimento não dura muito tempo, não é? — Não, a menos que seja causado por algo importante. E então, o que acha de minha sugestão? — Impossível. — Por quê? Se está preocupado com o custo, prometo reembolsá-lo assim que... — O problema não é o dinheiro. O que acaba de propor é muito diferente do que eu considero uma solução adequada para o problema que temos em mãos.
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Erin sabia que era inútil discutir. O homem era a imagem da determinação! — E o que considera uma solução adequada? — quis saber. — Ainda não sei. Voltaremos ao assunto amanhã, quando eu puder conhecer Samantha. Ele se levantou e foi como se a silhueta imponente e forte dominasse toda a sala. Erin tomou consciência de uma sensação estranha, uma espécie de formigamento que começava na altura do ventre e ia aos poucos se espalhando por todo o corpo. Não era ingênua a ponto de não reconhecer uma forte atração física, mas nunca imaginara que um dia se sentiria atraída por um homem como Nicholas Carson. Ele tinha idade para ser seu pai! Bem, talvez nem tanto, mas quase... — Ainda não sei seu nome — ele lembrou. — Erin Grainger. — Preferiu conservar o nome de seu pai? — O nome de minha mãe. Nunca soube quem era meu pai. — David podia ter optado por uma adoção. — Ele não quis. Ou melhor, nunca tocou no assunto. Creio que julgava ter feito o bastante se casando com minha mãe. — Ele devia gostar dela. — Suponho que sim. — Erin levantou-se para encerrar o assunto. — Vou arrumar a cama. Como disse, não o esperávamos antes do final de semana. Em poucos minutos poderá ir dormir, se quiser. Em vez de esperá-la na sala, Nick a seguiu até o quarto ao lado do dela. A presença imponente a incomodava, mas tentou esconder o que sentia enquanto abria o armário do corredor para pegar lençóis limpos e um cobertor. — Receio não poder oferecer muito conforto — disse ao abrir a porta da suíte. — Não sabia o que pretendia fazer com as coisas de seu irmão, por isso deixei tudo como estava. Aquela pasta no canto contém documentos e papéis pessoais. A mobília do escritório foi a leilão. — Desde que haja um colchão na cama, não vou precisar de mais nada. Examinarei os papéis de meu irmão amanhã, mas o resto você pode enviar para uma casa de caridade.
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Erin começou a arrumar a cama e surpreendeu-se quando ele pegou uma ponta do lençol para ajudá-la. — Qual é o problema? — Nick sorriu ao notar sua expressão de espanto. — Não sou contra a participação dos homens nas tarefas domésticas. Não acredito que uma mulher deve assumir toda a responsabilidade pelo conforto de um lar. — Uma mulher? Decidiu me promover? — E só uma maneira de falar. Puxe sua parte do lençol, e acabaremos com isto em um minuto. Sabia que a reação era infantil e tola, mas não pode contê-la. Irritada, deixou a cama como estava e apontou para uma porta fechada. — O banheiro fica logo ali. Há toalhas limpas no armário, embora não sejam novas e felpudas como as que deve usar em sua casa. Caso ainda não tenha percebido, perdemos tudo. — Eu sei. Meu irmão sempre foi inconseqüente. É espantoso que tenha vivido por tanto tempo sem sofrer as conseqüências de seu comportamento lamentável. — Nick terminou de arrumar a cama sozinho e com habilidade surpreendente para um homem em sua posição. — Bem, por enquanto é isso. Até amanhã, Erin. Se não se importa, estou exausto e quero dormir. — É claro. Até amanhã. Com relação a Samantha... Quer que ela fique em casa amanhã? — Sim, é uma boa idéia. Assim teremos uma oportunidade para nos conhecermos. O dia não seria longo o bastante para isso, Erin pensou, mas engoliu o comentário. Ainda tinha esperanças de que ele compreendesse e aceitasse seu ponto de vista, especialmente depois de conhecer Sam e constatar que ela estava longe de ser a criança delicada e suplicante que provavelmente imaginava. Agir como uma mulher adulta e responsável seria o primeiro passo para convencê-lo a deixá-las em paz. Em seu quarto, Erin constatou que passava da meia-noite, mas dormir era a última coisa que pensava fazer. Tinha muito em que pensar. Precisava planejar uma nova ofensiva, uma forma diferente de abordar a questão. Devia haver um jeito de convencer Nicholas Carson de que era capaz de cuidar de Samantha. Ele não a queria em sua vida, isso era óbvio. E não podia culpá-lo por sua relutância. Que homem solteiro com sua idade e posição ficaria feliz com a idéia de cuidar de uma menina de catorze anos?
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Sam dormia profundamente. Ficaria surpresa na manhã seguinte, quando descobrisse que o tio já havia chegado, mas saberia lidar com a presença do homem que detinha nas mãos seu destino. Pensando bem, talvez a maior surpresa do encontro estivesse reservada para Nick. Ele não imaginava com a jovem podia ser adulta para sua idade. Isto é, desde que Samantha não fosse tomada por uma antipatia imediata pelo único parente vivo que ainda possuía. Erin sabia que a irmã podia ser insuportável quando queria. Seria melhor preveni-la antes mesmo que ela saísse do quarto. Deitada, tentou identificar algum som no quarto vizinho, mas tudo que ouvia era o silêncio. Imaginou o copo forte despido, e experimentou mais uma vez aquela estranha e incômoda sensação de formigamento. Vira homens nus em trabalhos artísticos, mas aquilo era diferente. O homem tinha idade suficiente para ser seu pai! Ou quase isso. Pensando assim, baniu da mente a imagem provocante, concentrando-se no que sabia sobre a vida de Nick Carson. Os dois irmãos haviam herdado partes idênticas da propriedade do pai. David tentara convencer o caçula a juntar-se a ele nos negócios, mas Nick recusara a proposta e partira. Erin não podia culpá-lo por isso, teria feito o mesmo, se pudesse. O que não conseguia entender ou aceitar era a total falta de comunicação entre os dois desde então. O fato de David Carson não ter encontrado apoio financeiro em um momento de crise também era algo que ia além de sua capacidade de compreensão. Por que não fora procurar o irmão, se havia esgotado todas as outras possibilidades? A menos, é claro, que houvesse pedido socorro e esse pedido houvesse sido negado. Nunca pensara nisso antes. Seria o homem capaz de recusar ajuda ao próprio irmão em um momento de desespero? Ele parecia ser duro, mas... tanto assim? Só havia um jeito de saber a resposta: teria de perguntar a ele. Deitada na cama, muito longe do sono que representaria um grande alívio, tentou imaginar o que o destino estaria reservando para ela. A vida seria muito mais simples se Nick levasse Samantha para morar em Barbados, mas a separação seria dura e dolorosa. De qualquer maneira, preocupar-se com o assunto não faria a menor diferença. A decisão final estava nas mãos dele.
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CAPÍTULO II O alarme a despertou de um sono exausto. Sobressaltada, desligou o relógio esperando não ter incomodado o hóspede no quarto ao lado. Precisava prevenir a irmã antes que ele aparecesse. Como sempre, Sam dormia profundamente e encarou-a indignada quando viu que horas eram. — Eu só saio da cama às sete e meia! — protestou. — Ainda tenho meia hora! — Hoje é um dia incomum. Temos um visitante. — Quer dizer que ele já chegou? — Ontem à noite. A menina sentou-se na cama, subitamente alerta. — Como ele é? — Alto, moreno e mandão. — A descrição lembra alguém que conhecemos. — Seu pai? Bem, eles eram irmãos. Nick quer que você fique em casa hoje para que possam se conhecer. — Não preciso ir à escola? Ora, então ele não deve ser tão ruim assim! Erin tinha uma opinião diferente sobre o assunto, mas preferia não causar preocupações desnecessárias. — Acho melhor estarmos prontas e vestidas quando ele descer—disse. — Vou tomar uma ducha, e depois irei preparar o café enquanto você se arruma. E nem pense em voltar a dormir. Se ainda estiver na cama quando eu sair do banheiro, jogarei um balde de água em sua cabeça para despertá-la. — E depois terá de lavar e passar a roupa de cama. A manhã era clara e ensolarada depois da chuva da noite anterior, e Erin abriu a janela do banheiro para deixar entrar o ar fresco, a luz e os perfumes da primavera inglesa. Talvez Nick se mostrasse mais cordato depois de uma boa noite de sono. Talvez até reconhecesse as vantagens de sua proposta.
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Quando terminou o banho, Erin descobriu que a irmã esperava para usar o banheiro. — Seja rápida — pediu. — Quero terminar de comer antes que seu tio apareça. Aposto que ele vai pedir um café sofisticado. — Nesse caso, mostre a ele onde fica o fogão. Você mesma vive dizendo que devemos começar exatamente como devemos prosseguir. — Dizer e fazer são duas coisas bem diferentes. Além do mais, ele não vai ficar aqui por muito tempo. Não o bastante para estabelecermos padrões de comportamento. A última coisa que queria era uma estadia prolongada. Não tinham muito tempo. A casa precisava ser esvaziada antes de ser posta à venda, e o banco não esperaria muito. Planejando o café habitual, Erin entrou na cozinha e parou desconsertada ao ver Nick Carson sentado à mesa com uma xícara de café e o jornal matinal cuja assinatura ainda não cancelara. Ele levantou a cabeça ao ouvir seus passos e examinou cada detalhe do corpo juvenil coberto pela calça jeans e a camiseta azul. — Vejo que optou por um traje mais discreto esta manhã — comentou. — Quem aparece sem anunciar a visita deve estar preparado para encontrar qualquer coisa — Erin respondeu, tentando aparentar indiferença — Não esperava encontrá-lo acordado. — Eu sempre me levanto às seis. À que horas Samantha vai descer? — A qualquer minuto. — E aproximou-se do refrigerador. — O que gostaria de comer? — Cereal, frutas e iogurte, se for possível. — Não me importo de cozinhar alguma coisa, se preferir uma refeição quente. Seu irmão sempre comia ovos com bacon. — Mas eu pretendo viver mais que ele. — Quer dizer que é um desses maníacos por hábitos saudáveis? Uma centelha de humor iluminou os olhos cinzentos. — Não sou nenhum maníaco. Apenas evito as frituras, especialmente de manhã. O café ainda está quente. — Sem esperar por uma resposta, pegou
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uma xícara limpa no suporte e serviu a bebida, aproveitando para completar a que mantinha ao alcance da mão. Erin não conseguiu conter uma exclamação de reprovação ao vê-lo adoçar o café com três colheres de açúcar. — Todos temos alguma fraqueza — ele disse. — Saúde! O café estava forte demais para o gosto de Erin, mas ela não disse nada. Estava perturbada demais com a proximidade dos pés que quase se encontravam sob a mesa. Nick também vestia jeans e camiseta, revelando uma forte estrutura de ombros de peito. Pela primeira vez desde que aprendera a falar, ela não soube o que dizer. — Vejo que acordou silenciosa. — Estava esperando que você começasse a conversa. Deve ter dezenas de perguntas para fazer. — Creio que você já deu as informações mais importantes ontem à noite. — Já chegou a alguma conclusão? — Com relação a quê? —Ao que propus. Sei que também estaria me sustentando por algum tempo, mas... — Já disse que essa idéia é inviável. Erin encarou-o sem esconder a frustração. — Então o que pretende fazer? Sam não vai se adaptar em um colégio interno. — Ela fará o que for decidido. — É melhor não apostar nisso. Caso não saiba, pressionar uma adolescente de catorze anos é uma atitude tola que não vai surtir bons resultados. — Será que pode falar mais baixo, por favor? E trate de acalmar-se. Não está ajudando em nada com todo esse descontrole. Erin respirou fundo. Por um momento o homem a fizera lembrar o padrasto. — Só estou preocupada com ela. Se mandá-la para o colégio interno, Sam vai acabar fugindo.
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— E quem está pensando em colégio interno? Foi você quem disse isso. — E qual é a alternativa? É um homem solteiro. Não pode levá-la para morar em sua casa. Já imaginou o que as pessoas vão dizer? — Não, e nem quero imaginar. E não vou fingir que estou eufórico com o papel de guardião de uma adolescente, mas, como você mesma apontou ontem à noite, sou o único parente vivo de Samantha, o que encerra a discussão. Espero contar com você. Erin encarou-a em silêncio por um momento, completamente aturdida. — Está sugerindo que eu também me mude para Barbados? — perguntou em voz baixa. — Por que a surpresa? Não quer ir? — Não é a minha vontade que está em jogo. Sam é sua sobrinha, mas eu... eu seria apenas um caso de caridade. — Se puder contar com sua ajuda, não terei de contratar uma babá... se é que o título também se aplica a quem cuida de adolescentes. Além do mais, você pode arrumar um emprego. — Fazendo o quê? Já se esqueceu da minha falta de qualificações? — Qualificações podem ser conquistadas. — Com o tempo. Até lá... — Até lá você pode ser útil dentro de casa, se quiser. — Não irei a lugar nenhum, a menos que você vá comigo — Samantha afirmou da porta. — Você não tem escolha — respondeu o tio dela. Os olhos azuis adquiriram um brilho mais, intenso. — Erin já havia dito que você é mandão! — Erin ainda não viu nada! — A impaciência deu lugar a um sorriso divertido. — Olá, Samantha. Vejo que já escolheu seu lado na disputa. — Vou ter de chamar você de tio? — Nick — ele decidiu. — Afinal, somos todos adultos. O sorriso que iluminou o rosto da menina sugeria aprovação. — Certo, Nick. E você pode me chamar de Sam.
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— Vou preparar o café — Erin anunciou. — Suco para todos? — Sim, por favor — Nick aceitou. — Mas ainda espero uma resposta. Agora. Prefiro sempre a clareza e a objetividade. Considerando que a única alternativa seria separar-se da irmã e candidatar-se ao programa de apoio financeiro do governo, seria tolice recusar o convite. — Sim — disse com alguma hesitação. — E... obrigada. — Por nada. — Já que estamos de acordo com relação ao número de passageiros — Samantha brincou, puxando uma cadeira para sentar-se —, quando partimos? — Segunda-feira, se ainda houver lugares disponíveis no vôo. Erin quase derrubou as tigelas de cereal que havia tirado do armário. — Não vamos conseguir resolver tudo até lá! — O que não pudermos concluir, ficará sem conclusão. Só precisam se preocupar com seus pertences pessoais. — Não me refiro apenas à casa. Não temos passaportes, por exemplo. — Detalhes... Iremos à cidade esta manhã e cuidaremos de tudo. Mais alguma coisa? Erin tentou pensar depressa. — A escola... — Eles serão informados. — Levando em consideração que amanhã é sexta-feira, isso significa que não preciso mais voltar às aulas? — Samantha perguntou esperançosa, deixando escapar um grito ao vê-lo assentir. — Grande! — E melhor não se entusiasmar muito — o tio aconselhou. — Ainda tem uns bons anos de estudo pela frente. — E olhou para Erin novamente. — Mais alguma coisa? — Não sei. Não estou acostumada com toda essa pressa. Você é muito... decidido. — Melhor do que ser mandão. Ela não conseguiu conter um sorriso.
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— Foi a impressão que tive ontem à noite. — Deve ter sido o cansaço da viagem. E então? Podemos comer? Erin serviu os flocos de milho e decidiu que teria de ir ao supermercado para abastecer a despensa para os próximos dias. Felizmente ainda dispunha de algum dinheiro. Erin manteve a conversa animada ao longo da refeição, relaxada e a vontade como a irmã mais velha gostaria de estar. Sabia que sua presença seria necessária para evitar os comentários maldosos, mas não havia como negar a realidade: durante algum tempo viveria da caridade de um homem que mal conhecia. Aceitá-las em sua casa era um gesto de generosidade e uma prova de seu caráter, e o mínimo que podia fazer era tornar a vida dele o mais simples possível. Sabia pouco sobre Barbados, apenas o que vira nos programas de turismo da tevê, mas o lugar devia ser lindo. De repente sentiu-se animada com a perspectiva de viajar. Seria a primeira vez que ela e Samantha voariam em um avião, e já atravessariam o Atlântico! Depois do café, voltou ao quarto para mudar de roupa e vestiu o conjunto de saia e jaqueta verdes, o único conjunto mais elegante que possuía, e conseguiu até encontrar meias finas intactas. Num impulso, prendeu os cabelos na altura da nuca e decidiu que não poderia fazer melhor. Nick esperava por elas na sala, e também trocara o jeans e a camiseta pela calça e a jaqueta que usara na noite anterior. — É surpreendente o que um par de sapatos de salto alto e um toque de batom podem fazer — ele comentou ao vê-la. Erin preferiu ignorar a provocação. — Onde está Sam? — No carro. — No...? Eu nunca dirijo até a cidade! — E esta não será a primeira vez. Eu vou dirigir. Erin conteve uma resposta ríspida. Se alguém possuía aquele automóvel, era o banco, ou o tomariam em breve. Era inútil continuar agindo como se tivesse direitos exclusivos sobre um bem que logo perderia. — Faça como quiser — disse. — Mas saiba que o trânsito é intenso. O tráfego lento não aprecia aborrecê-lo. Nick tinha tanta sorte que até conseguiu estacionar o automóvel bem perto da repartição pública onde eram
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emitidos os passaportes, e pouco depois do meio-dia os três voltavam à rua levando os documentos. Como não dispunha de muitas opções em casa, foi com alívio que Erin ouviu a sugestão de Nick para que almoçassem em um restaurante qualquer. Samantha gostaria de ir a uma conhecida lanchonete local, mas ele insistiu em levá-las a uma cantina italiana onde, conforme suas palavras, serviam comida de verdade. Erin apreciou o frango ao vinho tinto e devorou o pudim de chocolate servido na sobremesa. — Há quanto tempo não comem fora? — Nick perguntou. — Não me lembro — ela respondeu séria, esperando poder mudar de assunto. — Papai nunca nos levava a lugar algum — Samantha contou. — Ele dizia que era tolice pagar por um serviço que podia ser feito quase de graça em casa. Mas costumava ir sozinho a restaurantes. — Com os clientes — Erin corrigiu. — E declarava as despesas como contas de negócios. — Duvido que todas elas tenham sido contas de negócios. Certa vez ouvi quando ele falava com alguém ao telefone, e papai estava preocupado com uma certa investigação da Receita Federal. — Por que pensar nisso agora? — Nick interferiu com firmeza. — Querem café? — Prefiro um conhaque — Samantha disparou. Sustentando o olhar espantado do tio com um ar da mais pura inocência. — Aquela mulher ali acabou de pedir a mesma coisa. — Quando tiver a idade dela, você também poderá pedir conhaque. — Como sabe quantos anos ela tem? — Não sei. Mas tenho certeza de que é maior de idade. — Pare com essa brincadeira tola, Sam — Erin censurou-a, temendo que o bom humor da irmã transformasse a tolerância em exasperação. — Quer café ou não? Ela encolheu os ombros. — Vou encarar o gesto como uma resposta negativa — Nick decidiu. — Na sua idade, café também não é uma opção muito saudável. Deixaram o restaurante às duas, mas não seguiram direto para casa. Nick tinha um compromisso na cidade. Quando percebeu que o compromisso
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era uma visita à galeria de arte local, Erin não conseguiu disfarçar o interesse. — Eles têm alguma obra sua em exposição? — indagou. — Uma ou duas. — Podemos acompanhá-lo? — Suponho que sim, se quiserem. Com exceção de um casal examinando algumas telas expostas em um canto do amplo salão de mármore, os três eram os únicos visitantes. Um homem de meia-idade com longos cabelos louros presos em um rabo-decavalo surgiu de detrás de uma cortina, causando uma forte impressão em Erin. Usando um terno de veludo vermelho com babados de renda nos punhos e na gola, ele lembrava uma figura do século dezenove. Um sorriso satisfeito iluminou seu rosto assim que ele os viu. — Nicholas, querido, que surpresa maravilhosa! — extravagante. — Por que não me avisou sobre sua visita à cidade?
exclamou
— Porque foi uma visita inesperada. — Rindo, Nick estendeu a mão ao vê-lo avançar. — E nem tente me beijar, ou vai levar um soco no nariz! O sorriso transformou-se em uma careta aborrecida acompanhada por um sorriso exagerado. A mão enfeitada com anéis brilhantes cobriu o peito na altura do coração. — Bruto! — Sempre fui. — Nick olhou para as duas garotas. — Este é Miles Penhalligen. Miles, estas são minhas sobrinhas, Erin e Samantha. O homem cumprimentou-as com simpatia. — Não são parecidas com você — comentou. — São lindas! — Herdamos os traços de nossa mãe — Erin explicou. — E a sobrinha é Sam. Tivemos pais diferentes. — Tiveram? — Miles olhou para Nick. — Meu irmão faleceu — ele explicou sem emoção. — Como vão as coisas por aqui? — Oh, muito bem. Suas telas foram vendidas logo no início da exposição. Um investimento e tanto, considerando o preço que um comprador obteve em um leilão realizado poucos dias depois da aquisição. Creio que é hora de começar a cobrar mais por seu trabalho, querido!
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— Então não veremos seus quadros?—Samantha perguntou. — Por enquanto não. — Podem ver o retrato que ele pintou tendo a mim e Rummy como modelos. Não é seu melhor trabalho, entretanto. Nicholas não conseguiu capturar o espírito de Rummy. Mas é melhor que nada, certo? — Aquele seu gato não tem um espírito digno de ser capturado — Nick respondeu com tom debochado. — E receio que as meninas não tenham tempo para ir a sua casa, Miles. Partiremos na segunda-feira. — Os três? — Sim, os três. — Ora, ora! Nicholas Carson volta para casa acompanhado por duas lindas e desconhecidas jovens. Isso vai abalar a ilha! Queria ser uma mosca para poder ver a reação de certas pessoas. Um grupo de turistas entrou na galeria, e Miles despediu-se de todos para ir atendê-los. — Ele é impagável! — Samantha comentou rindo assim que saíram. — E também é mais astuto negociante de artes em Londres — respondeu Nick. — Não se deixem enganar pela encenação que acabaram de ver. Miles se diverte fingindo ser o que não é. Erin já suspeitava disso. Mesmo assim, gostaria de saber a quem o homem havia se referido quando falara sobre certas pessoas... O instinto sugeria que se tratava de uma mulher. A intensidade da reação provocada pela idéia de que Nick pudesse estar envolvido com alguém a surpreendeu. Era ridículo sentir tais coisas por um homem que, além de ser quinze anos mais velho que ela, era tio de Samantha! Tentando distrair-se, anunciou a necessidade de uma visita ao supermercado e mais uma vez espantou-se com o comportamento de Nicholas Carson. Além de insistir em acompanhá-la, ele fez questão de pagar a conta. — Vai ter de se acostumar com isso — disse quando voltavam ao carro. — Não tem dinheiro, eu tenho... portanto, eu pago. Afinal, foi meu irmão quem a colocou nessa situação. Samantha havia ficado no carro ouvindo música, e Erin decidiu aproveitar para fazer a pergunta que a incomodava desde a chegada de Nick. — Ele nunca tentou entrar em contato com você? Nem nos últimos meses?
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O rosto moreno ficou tenso. — Sim. E eu me neguei a ajudá-lo. — Oh! Por isso está disposto a ajudar-nos! Sente-se culpado por não ter socorrido seu irmão quando... — Não tente me analisar. Não sinto a menor culpa com relação a David. Erin não acreditava nele. Se fosse tão duro quanto queria parecer, não teria atravessado o mundo para ajudar duas garotas que nem conhecia. — Como vocês demoraram! — Samantha reclamou ao vê-los. — Só precisávamos de comida para três dias! — Ainda não sabemos ao certo se partiremos na segunda-feira — apontou Erin, acomodando-se no banco de trás. — É claro que sabemos. — Nick sentou-se ao volante. — Fiz as reservas esta manhã, enquanto se arrumavam. Partiremos de Heathrow às dez e vinte da manhã. E dormiremos no Hilton na noite de domingo para facilitar a locomoção ate o aeroporto. Erin deixou que a irmã manifestasse todo seu entusiasmo. Enquanto isso, dizia a si mesma que ainda não estava comprometida. Reservas podiam ser canceladas. Mas, no fundo, sabia que era tarde demais para voltar atrás.
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CAPÍTULO III O mar parecia calmo àquela altura, e os navios lembravam brinquedos em uma banheira. Samantha logo se aborrecera com a paisagem, dizendo que voar não era uma grande coisa, afinal. Mas Erin continuava com o rosto bem próximo da janela, encantada com o serviço da primeira classe. Aquela manhã haviam sido tratados como reis desde que chegaram à sala de embarque, onde foram servidos drinques e canapês. Nick se comportava como se estivesse mais que habituado a tudo aquilo, o que a levara a questionar sua verdadeira posição social. Lera em algum lugar que os artistas passavam a vida lutando pela sobrevivência, mas Nicholas Carson parecia ter mais do que o necessário. Ele estava sentado no banco de trás, só precisava virar um pouco o pescoço para vê-lo pelo canto dos olhos. O livro que estivera lendo fora trocado por um bloco de desenhos. Sutis e sensíveis, as mãos de dedos longos eram a única parte do corpo que combinavam com a imagem do artista. O restante era pura masculinidade. E era essa aura de virilidade que atraía os olhares de todas as mulheres por quem Nick passava. A comissária de bordo parou para perguntar se ele gostaria de beber alguma coisa e deixou escapar uma exclamação surpresa. — Quer ficar com ele? — Nick indagou. — Oh, sim! Nunca tive um retrato desse tipo! Ele riu. — Não é exatamente um retrato. — Para mim é o melhor. Pode assiná-lo, por favor? — Sim, é claro. — Houve uma breve pausa seguida pelo ruído da página sendo arrancada do bloco. — Aqui está. — Vou guardá-lo como um tesouro. Um Nicholas Carson! Meu! — Não conte com isso — murmurou Samantha. A jovem comissária aproximou-se para repetir a mesma pergunta que fizera aos outros passageiros, e ela levantou a cabeça com um sorriso doce. — Posso dar uma olhada?
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A morena de traços perfeitos e cerca de trinta anos correspondeu ao sorriso e exibiu o desenho. Erin teve de admitir que a semelhança era impressionante. Samantha nem se deu ao trabalho de tecer comentários. — É uma honra ser considerada digna de todo esse trabalho — a aeromoça disse, sorrindo para o homem sentado no banco de trás. — Não foi trabalho algum. — Nick garantiu com simpatia. — Uma estrutura óssea como a sua é o sonho de todo artista. Se o peito da mulher inchasse um pouco mais, ela acabaria concluindo a viagem sem os botões do uniforme, Erin pensou com maldade incomum. Sempre irreverente, Samantha virou-se para o tio no banco de trás. — Que bela cantada! — Você é jovem demais para tanto cinismo — ele a censurou. — A moça tem mesmo uma bela estrutura óssea. — Eu também tenho. E nem por isso você se ofereceu para fazer o meu retrato. — Gostaria que eu fizesse um? — Pensei que nunca perguntaria! — Então venha sentar-se aqui atrás, onde posso vê-la. Samantha atendeu ao pedido como se estivesse prestando um enorme favor. — De frente ou de perfil? — De qualquer jeito, desde que fique quieta. — De perfil. Vou começar a rir se tiver de ficar parada olhando para você. Ouvindo a conversa, Erin teve certeza de que jamais se sentiria tão a vontade com ele quanto a irmã. Além do fator físico, era horrível saber que seria sustentada por um homem que nem era seu parente. O desenho foi concluído examinou-o com um olhar crítico.
com
— Você me fez parecer uma criança!
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rapidez
espantosa,
e
Samantha
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— Você é uma criança — Nick respondeu com tom seco. — Quer ficar com ele, ou posso rasgá-lo? — Vou guardá-lo. Por que não desenha Erin agora? — Outro dia — ele disse, antes que Erin pudesse rejeitar a idéia. — Quero terminar de ler meu livro. Sam voltou ao assento ao lado da irmã e jogou o desenho no colo de Erin com uma careta de desprezo. Apesar da opinião de Sam, era evidente que Nick conseguira captar a juventude do rosto delicado com perfeição. Esperava que ele não acreditasse tê-la desapontado com a recusa em desenhála, porque um retrato era a última coisa que tinha em mente. Desde a primeira visão da ilha com suas praias de areia branca, Erin ficou tão encantada que hão conseguiu pensar em mais nada. O sol ainda brilhava alto no céu quando aterrissaram. Nick foi recebido no aeroporto com familiaridade e simpatia, mas os olhares de especulação para ela e Samantha não passaram despercebidos. Em uma ilha tão pequena como aquela, a notícia se espalharia como fogo sobre pólvora, e logo começariam os comentários. Pegaram um táxi na saída do aeroporto, o que decepcionou Samantha. Sem falsos pudores, ela anunciou que esperava ser transportada por uma limusine. — As estradas da ilha não são adequadas para esse tipo de veículo. Costumo dirigir o jipe, mas também tenho um Mercedes na garagem. Se souber dirigir, posso incluir seu nome na apólice de seguro. — Sim, eu sei dirigir, mas posso usar um ônibus quando quiser ir a algum lugar — Erin garantiu orgulhosa. — Deve haver um sistema de transporte público na ilha. — Existe, mas você teria de andar muito para chegar ao ponto de parada mais próximo da casa. O que não seria nenhum sacrifício em uma paisagem como aquela. As cores eram vibrantes, a vegetação, exuberante e exótica, e um perfume floral pairava no ar momo e limpo. — E tudo tão lindo! — exclamou, esquecendo a questão do transporte. — Nunca vi tantas flores diferentes! — Logo vai se habituar ao cenário. Em um mês, vai estar tão acostumada que nem notará a paisagem.
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— Nunca! — Entusiasmada, virou-se para encará-lo. — Posso imaginar como a nossa presença vai influir em sua rotina diária, mas farei tudo que puder para ajudar. Qualquer coisa. Só precisa pedir. — Vou me lembrar disso. Sentada ao lado do motorista, Samantha conversava como se conhecesse o homem há anos. Ali estava alguém que não teria problemas para adaptar-se a nova vida. Erin esperava que a faceta rebelde de seu temperamento não aparecesse com muita freqüência. A propriedade de Nicholas Carson era um banquete para os olhos. Construída no meio de um enorme terreno e cercada por um gramado exuberante cortado por canteiros floridos, a mansão lembrava os encartes distribuídos pelos agentes de viagem. Palmeiras imperiais e coqueiros muito altos contribuíam para dar ao lugar uma atmosfera tropical. — Você deve nadar em dinheiro! — Samantha apontou excitada. — Falando em nadar, aposto que há uma piscina neste lugar! — Nos fundos — Nick respondeu. — Posso ir dar uma olhada? — Fique à vontade. Envergonhada com o comportamento da irmã, Erin pediu desculpas. — Por quê? — Pelo comentário que Samantha fez. Foi grosseiro e inoportuno. — Considera vulgaridade falar sobre dinheiro? Eu não estaria vivendo aqui se fosse pobre. — Eu sei, mas... Ah, esqueça. Acho que estou perturbada com tantas mudanças. Nick não respondeu. Em silêncio, estudou o rosto jovem com uma expressão indecifrável. Erin sentia novamente aquele formigamento, e por isso não conseguiu sustentar o olhar penetrante. Deixar que ele percebesse o tipo de efeito que exercia sobre seu controle seria embaraçoso e desastroso, levando em conta que Nick podia considerar a situação insustentável. Além do mais, era só uma atração passageira. Tinha de ser. De repente a porta dupla entre a sala e a varanda se abriu para dar passagem a uma mulher muito gorda num vestido cor de laranja. Seu rosto era praticamente dividido ao meio por um sorriso amplo e branco. — Sr. Nick! Ouvi o ruído do carro!
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— Como vai, Bella? — E virou-se para Erin. — Ela é minha governanta. A melhor da ilha. — Não adianta me adular! — a mulher protestou, trocando o sorriso por uma careta de reprovação. — Por que não me avisou que estava voltando... e com uma visitante! — Duas — Nick corrigiu. — A outra foi dar uma olhada na piscina. Esta é a srta. Grainger. — Erin. É um prazer conhecê-la, Bella. E lamento ter chegado de maneira tão inesperada. — O que está feito está feito. Preciso ir arrumar os quartos. — Deixe-me ajudá-la. — De jeito nenhum! — Veio a resposta ofendida. — Joshua levará as malas — ela disse, notando que o patrão se inclinava para apanhá-las. — Sentem-se enquanto preparo o chá. — Prefiro levar as malas para dentro. Joshua só terá de deixá-las nos quartos mais tarde. E prepare o chá para as duas — acrescentou. — Prefiro um uísque. — É cedo demais para beber aquele veneno!—Bella apontou. — Provavelmente. — Nick não alterou o tom de voz, mas a governanta compreendeu a mensagem e encolheu os ombros com aparente resignação. — Algumas pessoas se negam a ouvir a voz da razão. Depois de deixar a bagagem no chão de ladrilhos do hall, Nick olhou para Erin e riu. — E preciso saber enfrentá-la. Bella considera seu dever manter todo mundo na linha, como ela diz. — E óbvio que ela não tem muito sucesso com você. — Digamos que sou um caso perdido. — E apontou para um corredor à esquerda. — Venha, vamos procurar sua irmã. O aposento ao qual ele a levou era suntuoso, uma vasta extensão de carpete cor de creme em contraposição ao estofado colorido. Portas de vidro davam passagem à varanda dos fundos, de onde era possível ver um gramado em torno de uma piscina com uma pequena ilha no centro. Como se pressentisse a presença dos observadores, Samantha virou-se e acenou. Nick abriu a porta, e um perfume delicado invadiu o ambiente.
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— Entre — ele a convidou. Samantha obedeceu, parando a alguns passos da porta para apreciar a sala. — Que lugar! Deve ter custado uma fortuna! — Esta será sua casa, pelo menos nos próximos anos. — Já me sinto completamente em casa! Sempre soube que meu destino era a riqueza! Nick riu. — Não vai mais notar a diferença depois de se habituar. As escolas são muito parecidas em todos os lugares. — Oh, por que tinha de me lembrar disso? Mesmo assim... não voltarei a estudar imediatamente, certo? — Depende da rapidez com que eu puder tomar todas as providências. Cuidarei disso amanhã cedo. O ruído de pratos e xícaras anunciou a chegada de Bella, que entrou na sala empurrando um carrinho de chá. Ela encarou Samantha com desgosto ainda maior. — Não disse nada sobre uma criança — apontou. — Pensando bem, não disse nada sobre coisa alguma! — Uma omissão que pretendo corrigir agora mesmo. Esta é Samantha, filha de meu irmão e meia-irmã de Erin. Elas viverão aqui. — Para sempre? — Essa é a idéia geral? A mulher olhou para as duas jovens como se não pudesse acreditar no que ouvia. — Pretende adotá-las? — Já passei da idade de ser adotada — Erin protestou. — Faremos o possível para não dar trabalho, Bella. — Prometo arrumar minha cama todas as manhãs — Samantha ofereceu com tom magnânimo. — Não vai nem perceber que estou aqui! — Já percebi — Bella respondeu mal-humorada. — É melhor tomarem o chá enquanto está quente.
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— Eu sirvo — ofereceu Samantha ao ver a governanta se retirar. — Sente-se e comporte-se — Nick ordenou. — Erin fará as honras. Enquanto as duas irmãs se preparavam para o lanche, ele atravessou a sala para providenciar uma dose de uísque no bar de cedro. Havia três xícaras no carrinho, e Erin deduziu que Bella não era o tipo de pessoa que se resignava com facilidade. Nick devia tê-la prevenido por telefone, em vez de surpreendê-la com duas hóspedes inesperadas! Ele se sentou na poltrona à frente de Erin e cruzou as pernas. — Estava precisando disto. Foi uma semana e tanto! — Para todos nós — respondeu Erin. — Tem razão. Talvez prefira uma bebida mais forte... — Não, obrigada. O chá vai me fazer bem. — Eu gostaria de algo mais forte — Samantha anunciou, cortando uma fatia da suculenta torta de frutas. — Nunca gostei muito de chá. — Que pena! — Erin respondeu com tom seco, perdendo a paciência — Considere-se uma pessoa de sorte por estar aqui. Os olhos azuis como os dela refletiam ressentimento. — Tenho mais direito que você a estar aqui! — Pare com isso! — Nick permanecia na mesma posição, mas a alteração na voz não deixava espaço para argumentos. — Peça desculpas a sua irmã. Agora! — Ela não... — Erin começou, calando-se ao receber um olhar de censura. Chocada, Samantha obedeceu, mergulhando num silêncio ofendido. Erin queria dizer a ela que estava tudo bem, que não ficara magoada com o comentário intempestivo. Mas Nick interferira na questão de maneira brusca e inesperada, e a metamorfose a surpreendera. Ele esvaziou o copo e deixou-o sobre a mesa de canto, ao lado do abajur. — Você deve respeito a sua irmã, Samantha. Ela sacrificou muitas coisas para cuidar de você e de seu pai nos últimos anos! — Sam não teve culpa de nada. E limpar a casa e cozinhar não foi nenhum sacrifício!
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— Sabe muito bem que a rotina doméstica envolve muito mais do que está sugerindo. Notei como Sam considera sua obrigação cuidar de todos os detalhes, inclusive de suas roupas. Não tente diminuir a importância do que tem feito. — Sam estava na escola, e papai tinha os negócios para cuidar. — Você também devia ter ficado na escola. E não deve nenhuma lealdade a meu irmão. A julgar pela bagagem que trouxeram, é evidente que ele manteve os bolsos bem fechados. — Trouxemos apenas o que considerávamos necessário — Erin argumentou. — Seria ridículo trazer roupas de inverno para um lugar com este clima. — Também não temos tantas roupas de verão — Samantha indicou, recuperando a disposição. — Não importa — apontou o tio. — Bridgetown possui excelentes butiques. — Caras, certamente — disse Erin. — Deve fazer o que considera adequado por Sam, mas posso sobreviver muito bem com o que já tenho. — Depende do que você tem. Preciso sustentar minha posição nesta ilha. — Dificilmente importância.
irei
a
algum
lugar
onde
meus
trajes
tenham
— Esse seu orgulho pode se tornar aborrecido. — Ele falava como se já estivesse farto. — Quando vai entender que não está recebendo favores? — Também não estou aqui pelas razões que expôs. Se tem uma governanta, está mais do que protegido contra os comentários maldosos. — Não me importo com os comentários! Você está aqui porque Sam precisa de você! — É isso mesmo! — A menina parecia ansiosa para convencê-los. — E não quis ofendê-la com aquele comentário que fiz há pouco. Estaria perdida sem você! Erin duvidava disso. Cercada por todo aquele conforto, Sam nem perceberia sua ausência. — Peço desculpas — disse assim mesmo. — Estou me comportando como uma ingrata.
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— Não quero sua gratidão. — O tom de Nick era seco. — Esta também é sua casa, tanto quanto de Samantha. Pare de agir como uma pobre-coitada. — Não estou representando, se é o que quer insinuar. Se tivesse alguma idéia de como vive... — O que esperava encontrar, afinal? — Um lugar onde eu pudesse ser útil. Não mencionou a existência de criados. — Porque nem pensei em mencioná-los. Quanto a ser útil, tenho uma montanha de papéis para serem organizados. E não quero ouvir nem mais uma palavra sobre esse assunto. Não havia mais nada que ela pudesse dizer, Erin concluiu. Sem meios de sobrevivência, estava encurralada em uma situação que nunca desejara ou planejara. Algumas pessoas poderiam chamá-la de tola por não tirar proveito do momento. Bella voltou para informar que os quartos haviam sido arrumados. Erin a seguiu pela escada de degraus largos, tentando conversar, desistindo da tentativa ao perceber que seus comentários mereciam apenas respostas monossilábicas. Não podia culpá-la por sua atitude. Descobrir que seu trabalho diário seria triplicado era motivo de sobra para aborrecimento. A julgar pela reação inicial da governanta, qualquer oferta de ajuda seria interpretada como um insulto, mas isso não significava que tivesse de aceitar ser servida durante todo o tempo. Devia haver alguma coisa que pudesse fazer sem despertar o ressentimento de Bella. Só precisava de um pouco de tato e diplomacia. Os dois quartos ficavam nos fundos da casa e possuíam banheiros privativos e sala de estar. Da varanda era possível ver a piscina e o gramado e, ao longe, o mar entre as palmeiras. — Que maravilha! — Samantha exclamou. — Vai ser ótimo viver aqui! Bella saiu resmungando alguma coisa sobre as maneiras deploráveis de certas crianças, e Erin sentou-se na cama como se as forças a houvessem abandonado repentinamente. O desânimo em seu rosto despertou a curiosidade da irmã. — Não levou a sério o que eu disse lá embaixo, não é? — É claro que não. Você nunca me pediu nada. Se me transformei no arquétipo da irmã mais velha, ninguém pode culpá-la por isso. Acho que estou apenas perturbada com tantas mudanças.
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— Pois eu estou encantada! Era exatamente o que eu esperava encontrar. Vou amar cada minuto da minha nova vida! Erin pensou em dizer que boa parte dessa nova vida seria dedicada aos estudos, mas preferiu ficar quieta. Nick levaria alguns dias, talvez até uma semana inteira para matriculá-la em um colégio local. Por que causar polêmica? — É melhor desfazermos as malas — sugeriu. — Duvido que possamos encher um décimo desses guarda-roupas com nossas coisas. — Suspirando, olhou para os imensos armários embutidos que cobriam uma parede da suíte. Samantha encolheu os ombros. — Vou comprar muitas coisas novas. E você devia fazer o mesmo. Ouviu o que Nick disse sobre manter as aparências. — Oh, sim! Ele deve passar noite de insônia pensando nisso! Tente não exagerar, Sam. Deve haver um limite para a generosidade de seu tio. — Não sei por quê. Ele tem mais do que precisa. Relaxe, Erin! Ele é nosso tio, lembra-se? — Seu tio. E aposto que ele mesmo vai estabelecer os limites. Estava perdendo tempo. O entusiasmo de Samantha a cegava para a razão e o bom senso. — Vou procurar um biquíni e dar um mergulho — ela anunciou. — As malas podem esperar. Nick teria de estabelecer as regras, Erin decidiu ao ver a porta do quarto se fechar. Tentara impor limites pouco antes, mas Sam não parecia ter aprendido a lição. E ele ainda nem começara a enfrentar o pior! Desfazer a mala e a valise de mão foi uma tarefa que ocupou cerca de quinze minutos. Como antecipara, suas roupas pareciam perdidas no interior do armário. Depois de uma ducha prolongada e relaxante, não pôde deixar de ver a própria imagem em um dos espelhos nas paredes do banheiro. Tinha seios pequenos demais, pensou desconsolada. Que homem ficaria excitado com uma visão tão insignificante? Suspirando, decidiu mudar o rumo dos pensamentos. Não queria admitir que o único homem a quem desejava impressionar jamais ficaria excitado com qualquer um de seus dotes. Ou com a falta deles. De volta ao quarto, vestiu uma túnica de algodão azul cujo comprimento era devido muito mais aos centímetros que adquirira ao longo dos anos do que aos ditames da moda. A escuridão envolvera a ilha,
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despertando os insetos noturnos. Erin foi até a varanda e observou o céu limpo pontilhado por estrelas muito maiores e mais brilhantes do que as que vira até então. Apesar de tudo, era impossível negar a felicidade de estar ali. Quem não gostaria de viver em um lugar tão adorável? Devia haver algum tipo de trabalho que pudesse fazer. Bridgetown parecia ser o ponto de partida ideal para sua procura. O jantar foi servido na varanda por um indiano sorridente que Nick apresentou com Joshua Parish, marido de Bella. O casal vivia em um chalé distante duzentos metros da casa principal, ele contou com tom irônico, os olhos fixos em Erin. Sendo assim, seriam só os três durante a noite. — Por que comprou um lugar tão grande? — ela indagou, recusando-se a reagir à provocação. — Gosto de espaço. Além do mais, nunca se sabe quando alguém vai aparecer. — Recebe muitas visitas? — perguntou Samantha. — Algumas. Eventualmente. — Tentaremos não atrapalhar quando isso acontecer — disse Erin. O comentário mereceu um olhar debochado. — Estou certo disso. Samantha terminou de comer a banana caramelada com um suspiro satisfeito. — Maravilhoso! Estou encantada com tudo isto! Erin queria dizer que ela acabara de chegar, mas manteve a boca fechada, consciente dos olhos cinzentos fixos em seu rosto. Usando camisa branca e calça de algodão cru, com os cabelos negros ainda úmidos do banho, ele havia disparado seu coração assim que o vira. Era inútil lembrar a diferença de idade... alguns anos não mudariam a intensa resposta do corpo, que parecia ter adquirido vida própria. — Quando iremos a Bridgetown? — Samantha questionou com um sorriso doce que muitos consideravam angelical. — Será maravilhoso ter roupas novas! Estas nem me servem mais — disse, olhando para a blusa que usava. — E as outras estão ainda piores. — Nesse caso, é melhor irmos amanhã mesmo — decidiu Nick. — Tenho alguns negócios a resolver, mas sua irmã poderá acompanhá-la nas
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compras. — E olhou para Erin. — É evidente que terá todo o dinheiro necessário. E não se preocupe, porque não vou sugerir que tire proveito dele. — Melhor assim. E se a responsabilidade será minha, vou precisar de um valor determinado dentro do qual operar. — Tudo de que precisa é meu cartão e uma autorização para abrir contas em meu nome. Erin desistiu. Não tinha o direito de ditar quanto ou como ele devia gastar com a única sobrinha. Sabia que Samantha tiraria vantagem de um arranjo tão generoso, mas uma conta astronômica seria a lição de que Nick precisava naquele momento. Então começaria a estipular limites. A túnica azul parecia exibir uma grande porção de pernas quando ela..se levantou da mesa para ir tomar o café do outro lado da varanda, seguindo uma sugestão de Nick. Tinha consciência dos olhos que a seguiam, do sorriso contido. E daí? As pernas eram seu ponto forte. Erin desistiu de manter as pernas cobertas, concentrando-se nos sons e aromas da noite caribenha. Insetos de formas e tamanhos variados voavam em torno das lâmpadas, mas não havia mosquitos. Havia lido em algum lugar que a ilha era a única parte do mundo desprovida de serpentes. Era um alívio saber disso. — Onde fica seu estúdio? — perguntou. — Atrás do velho moinho. Gosto de me afastar de tudo quando estou trabalhando. Já fez algum tipo de pintura? — Só na escola. — E ela era brilhante! — Samantha interferiu. — Todos a elogiavam! — Não exagere, Sam. — Não é exagero! Você havia decidido cursar a faculdade de artes, e teria concluído o curso, se papai não houvesse feito chantagem para convencê-la a abandonar tudo para assumir os deveres de nossa mãe. Não que ela houvesse feito muito... — Não fale assim dela! Nem de seu pai. Chantagem é um termo forte demais para a situação. — Não é. Papai a convenceu de que você tinha o dever de retribuir a generosidade com que ele a acolhera. E por tê-la deixado ficar conosco depois que mamãe partiu. Eu ouvi! — Ele fez isso? — Nick indagou com tom contido.
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— Papai passava por dificuldades financeiras, e fiquei feliz por poder ajudá-lo. — Por que insiste em tentar defendê-lo? David foi um crápula! — Você não foi muito melhor quando se negou a ajudá-lo. — Já disse que esse é um problema que só diz respeito a mim, Erin! — Eu sei. Não tenho o direito de julgá-lo, especialmente quando... — Especialmente quando me deve tanto — ele concluiu impaciente. — Não suporta a idéia de ser ajudada por alguém, não é? — Só se puder retribuir essa ajuda. E como não há muito que eu possa fazer nesta casa, irei procurar um emprego. — Com que tipo de experiência? — Sei cozinhar, limpar, passar... — Centenas de mulheres possuem essas mesmas habilidades. Como estrangeira, só será aceita para desempenhar funções que nenhum residente possa assumir, o que limita ainda mais suas possibilidades. — Parece que vai ter de se conformar com a situação, Erin — Samantha comentou rindo. Vermelha, Erin notou que Nick também sorria. Naquele momento, teria apertado o pescoço da irmã com enorme prazer. — Não creio que tenha de se conformar com a inutilidade — ele apontou. — Como mencionei antes, preciso de alguém para organizar minha papelada. — Não quero bisbilhotar em seus assuntos pessoais. — Não há nenhum segredo naqueles papéis. E então? Quer esse trabalho ou não? Qualquer coisa era melhor do que ficar sentada vendo o tempo passar, vivendo à custa de um homem que acabara de conhecer. — Quero. E se houver mais alguma coisa que eu possa fazer... — Vou pensar no assunto. Samantha bocejou. — Não posso estar tão cansada! Ainda não são dez horas!
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— São quase duas da manhã, de acordo com seu relógio biológico — Nick lembrou. — Por que não vai dormir? Precisa descansar para fazer suas compras amanhã. O argumento a convenceu. Erin preparou-se para acompanhar a irmã, mas foi detida por um gesto de Nick E a última coisa que queria era ficar sozinha com ele.
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CAPÍTULO IV O silêncio reinou por alguns instantes depois da partida de Samantha. Erin foi a primeira a falar. — Queria dizer alguma coisa? — Só pensei que seria bom se os adultos tivessem alguns minutos sozinhos. A propósito, quando completa vinte anos? — Em outubro. — Que coincidência! Somos do mesmo mês. Temos de planejar uma dupla comemoração. — Ainda falta muito tempo. — Está pensando que talvez não esteja aqui até lá? — Talvez... Nick não respondeu de imediato. Silencioso, examinou-a sem disfarçar o interesse, detendo-se por alguns instantes nas pernas expostas pela túnica azul. — Gostaria que posasse para mim qualquer dia. — O quê? Eu? — Por que a surpresa? — Bem... não tenho a beleza daquela aeromoça. E você não se mostrou interessado em desenhar meu retrato no avião. — Porque você merece mais atenção do que eu poderia ter dado naquele momento. Não quero um esboço rápido. Prefiro pintá-la sem pressa, relaxada, como a vi naquela primeira vez. — De camisola? Ele sorriu. — Esperava que eu sugerisse um nu artístico? — É claro que não! Não tenho os atributos necessários. — Acha que seios grandes são essenciais? Posso garantir que está enganada.
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Constrangida com a conversa, ela se levantou e tentou esconder o rosto vermelho. — Vou dormir. Nick não se moveu. — Se não quer aceitar meu convite, pode posar como parte de todas aquelas coisas que se disse disposta a fazer por mim. E um preço justo, não acha? Erin partiu sem responder, certa de que fora vítima de um deboche cruel. No banheiro da suíte, enquanto se preparava para ir para cama, examinou-se mais uma vez diante do espelho e tocou os seios, testando a consistência. Eram firmes, sem dúvida, mas não chegavam a encher suas mãos, e jamais preencheriam as de... Isso tinha de parar! O interesse de Nick por ela era apenas artístico! Dormiu agitada, e acordou às seis da manhã para um dia glorioso. Vestindo jeans e camiseta, desceu e atravessou a sala para sair pela porta de vidro, sentindo o ar fresco na pele como uma carícia delicada. Encantada, decidiu caminhar um pouco antes do café da manhã, apreciando as cores exóticas das flores e da vegetação exuberante. Depois de alguns minutos viu o velho moinho que Nick mencionara na noite anterior e a construção com teto de vidro que devia ser o estúdio. Curiosa, aproximou-se para espiar através de uma janela. Que mal poderia haver? Dezenas de telas enfileiradas contra uma parede eram protegidas por pedaços de tecido branco, e havia outra coberta em um cavalete, certamente um trabalho em andamento. A porta estava destrancada, e Erin não resistiu à tentação. Apenas uma olhada rápida... Nem uma hora inteira suficiente para contemplar a beleza da pintura que tinha diante dos olhos, uma paisagem retratando um mar revolto. A perfeição era tão grande, que tinha a impressão de que as ondas gigantescas a envolveriam a qualquer momento. Perdida na admiração de um talento muito maior do que imaginara, esqueceu-se de que estava invadindo uma área restrita para a qual não havia sido convidada. Depois de alguns minutos um som na porta chamou sua atenção. Apoiado no batente, os polegares enganchados nos bolsos da calça jeans, Nick a examinava com expressão enigmática. — Há quanto tempo está aqui? — perguntou ele.
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— Há alguns minutos. Desculpe-me. Sei que não devia ter entrado, mas a porta estava destrancada e não consegui... eu não... — Parou e encolheu os ombros. — Não existe nenhuma justificativa para o que fiz. — Não precisa justificar-se. Qual é o veredito? — Seu trabalho é excepcional. É claro que não sou uma especialista, mas... — Acha que sua opinião não é importante? — Só quis dizer que não sou crítica de arte. — De acordo com Samantha, tem um talento muito especial. — Em seu lugar, eu não levaria a sério as palavras de minha irmã. Sei desenhar algumas coisas, mas é só isso. — Cobriu a tela que estivera observando e sorriu. — Todos estes quadros serão vendidos? — Eventualmente, sim. As telas serão levadas de navio no final do mês. — Para Miles Penhalligen? — Não. Para Nova York. Pode me ajudar a embalar os quadros quando os engradados chegarem. Mais um trabalho para a sua lista. — E ainda nem chegamos perto do ideal. — Depende do ponto de vista. E isso nos remete ao ponto de partida. Nick afastou-se da porta e aproximou-se, segurando-a pelos ombros para examiná-la sob todos os ângulos. Erin temia que o coração saltasse do peito. — Não tem noção da sua beleza, não? — Com um dedo, acariciou seu rosto e despertou cada terminação nervosa. — Tem uma estrutura óssea impressionante. — Eu e a aeromoça. Ele sorriu. — Com ela foi só uma maneira de ocupar o tempo. Com você a admiração é autêntica. Sam também tem uma beleza única, embora ainda não tenha desabrochado inteiramente. Sua mãe deve ter sido uma linda mulher. Erin tentou permanecer imóvel enquanto as mãos tocavam seus cabelos, afastando-os do rosto.
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— Teria sido melhor se ela não houvesse sido tão bela — disse. — Por que sua beleza atraía os homens? — Como insetos são atraídos pelo calor das lâmpadas, seu irmão costumava dizer. — Na verdade ele usava termos mais chulos, mas não tinha intenção de repeti-los. — O homem com quem ela fugiu era parceiro comercial de meu padrasto. — Deve ter sido duro para ele. A expressão nos olhos cinzentos sofrera uma sutil alteração. Tremores sucessivos sacudiam o corpo de Erin, e sabia que ele também devia senti-los. Queria que ele a tomasse nos braços, que a tocasse e beijasse, que a acariciasse e possuísse... — Não serei eu o desbravador desse caminho — Nick murmurou antes de soltá-la. — Por mais tentadora que seja a idéia. Erin conteve um gemido mortificado e sentiu o rosto queimar. — Não sei do que está falando. — É claro que sabe. Considerando seu estilo de vida, devo ser o primeiro homem a se aproximar o bastante para despertar seu interesse. Logo vai superar o que está sentindo. — Creio que sim — suspirou, desistindo de fingir que não o compreendia. — Lamento se o embaracei. — Não me embaraçou. É melhor voltarmos para casa. Nick caminhou ao lado dela em silêncio, relaxado como se nada houvesse acontecido Mais uma prova de sua força de caráter. Outro homem não teria hesitado em desfrutar de sua paixão juvenil. Tinha de parar de pensar nele daquela forma. Nicholas Carson era o tio de Samantha. Não havia a menor possibilidade de um futuro entre eles. — Estou esperando há séculos! — Sam reclamou ao vê-los entrar na varanda. — Pensei em dar um mergulho, mas não sei quando partiremos para a cidade. — Quero estar em Bridgetown às nove — Nick anunciou. — Portanto, sairemos às oito e meia. — Ótimo! Quando vamos comer? Estou faminta! Bella apareceu empurrando um carrinho repleto de coisas apetitosas.
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— Se acha que estou atrasada, é porque acordou cedo demais — a governanta comentou com tom seco. — O café é servido às oito. Sempre! — Quase sempre. Alguns dias tomo café mais cedo — Nick explicou. — Bella, voltaremos para o almoço no horário habitual. — Espero que sim. — Depois de transferir o conteúdo do carrinho para a mesa, ela partiu de cabeça erguida. — Por que permite que ela fale com você naquele tom? — Samantha estranhou. — Essa mulher é só uma empregada! — Bella é uma pessoa muito especial, e exijo que a trate com o respeito que ela merece! — Sam não teve a intenção... — Sim, ela teve, e não vou suportar esse tipo de atitude. Fui claro? — E quanto ao respeito que nós merecemos? — Devolveu a menina. — Não é muito agradável ser tratada como uma intrusa! — Ela vai acabar se conformando com as mudanças. Bella está aborrecida porque não foi consultada. — E por que não a consultou, se ela é tão importante por aqui? — Porque também cometo erros de vez em quando. Vamos comer? Erin sentou-se tomada por uma súbita infelicidade. Então havia um limite para a paciência de Nick, afinal! E Samantha quase o ultrapassara momentos antes. O homem devia estar farto delas. Estavam quase terminando a refeição quando ele retirou um cartão do bolso e entregou-o a Erin. — É melhor ficar com isto — disse. — Não vou sugerir que compre algumas coisas para você também, porque sei que estaria perdendo meu tempo. — Tem razão. De qualquer maneira, obrigada pela oferta. — Lembre-se dela quando quiser. Refeita do corretivo, Samantha transbordava de entusiasmo com a visita à cidade. Erin invejava a capacidade de recuperação da irmã. A humilhação que sofrerá pouco antes ainda a queimava por dentro, e sabia que a sensação persistiria por muito tempo.
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Usando uma saia florida e uma blusa branca que comprara em uma loja de roupas usadas, desceu para ir ao encontro de Nick e Samantha na varanda. Ele também trocara a calça jeans e a camiseta por uma calça branca e uma camisa cor de ferrugem que, aberta no pescoço, exibia uma pequena porção de pele bronzeada, o suficiente para empurrá-la mais uma vez para aquele abismo de sensações desconhecidas e envolventes. E se não conseguia controlar o que sentia por ele, o melhor a fazer era aprender a esconder os sentimentos. — Comecem pela Broad — ele sugeriu ao deixá-las no centro de Bridgetown, mencionando a avenida principal. — Lá estão as maiores butiques. Virei encontrá-las aqui ao meio-dia. — Ainda acho que devia estipular um limite para o que está disposto a gastar — Erin insistiu. — Faça como eu disse, está bem? E se apressem, porque só têm três horas. Samantha puxou o braço da irmã. — Você ouviu o que ele disse. Três horas passam depressa. — Não creio que ficará restrita a esta expedição de compras — Erin opinou ao vê-lo. — Não pretendo aceitar restrições de espécie alguma. Nick já disse que posso ter tudo o que quiser. Não com essas palavras, mas o sentido não havia sido muito diferente. Quem era ela para se preocupar com o saldo bancário do sujeito? Se queria atirar dinheiro pela janela... O cartão de Nick abria todas as portas, mas era impossível ignorar a curiosidade das pessoas que as atendiam nas lojas. Erin encantou-se com um vestido de alças finas em seu tom favorito de azul, mas resistiu à tentação de experimentá-lo, temendo ser contagiada pela febre de consumo de Sam. Às onze e meia, incapaz de suportar mais um minuto que fosse daquela provação, Erin deu a expedição por encerrada. Carregadas de caixas e sacolas, decidiram beber alguma coisa antes de irem ao encontro de Nick, e sentiam tanta seca que entraram na primeira lanchonete que viram. O lugar estava lotado, mas dois adolescentes acenaram de uma mesa oferecendo as duas cadeiras vazias. Erin tentou fingir que não os vira, mas Samantha atravessou o ambiente acertando algumas cabeças ao passar por entre as mesas com suas sacolas.
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Sem outra alternativa, Erin a seguiu e foi pedindo desculpas àqueles que haviam sido atingidos. Sabia que, algum dia, acabaria realmente perdendo a paciência! O conjunto de calça e jaqueta amarelo que Samantha insistira em usar depois da primeira loja acrescentava alguns anos a sua idade, e os dois rapazes a examinaram com evidente interesse enquanto ela deixava as sacolas no chão e caía sobre uma das cadeiras com um suspiro teatral. — Obrigada pelo convite. Pensei que fôssemos morrer de sede! Um deles, o de cabelos claros, levantou-se. — O que querem beber? O serviço aqui é tão lento, que prefiro sempre ir pedir no balcão. — Oh, não, obrigada — Erin protestou. — Eu mesma posso cuidar... — Bobagem. Será mais rápido se eu for pedir. Os turistas não são os primeiros a serem atendidos. — Não somos turistas — Samantha anunciou. — Moramos aqui. O interesse cresceu. — Realmente? Como nunca nos encontramos antes? — Porque nos mudamos ontem—Erin explicou relutante, aceitando a oferta do rapaz ao se dar conta de que não possuía uma única moeda em dinheiro local. O rapaz afastou-se para ir buscar as bebidas, e o outro apresentou-se. — Sou Reece Brady. Ele é Tim Wyman. Também moramos aqui. Tim nasceu na ilha. Meus pais vieram de Michigan quando eu era pequeno. Não devia ter mais de dezessete anos, Erin calculou. Dono de cabelos castanhos e grandes olhos verdes, devia ser o sonho de todas as adolescentes do lugar. Samantha fez as apresentações por elas e provocou uma reação imediata ao mencionar o nome de Nick. — Então são vocês as garotas de quem todos estão falando! Ele é mesmo seu tio? — É claro que sim! Papai nos deixou na miséria ao morrer, e por isso viemos morar com tio Nick.
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— E já começaram a gastar — Reece apontou para as sacolas e riu. — Não importa. Ele tem muito mais do que precisa. — Como pode saber? — Erin perguntou irritada. — Todos sabem! Tim chegou com as bebidas e logo foi informado sobre a identidade das duas irmãs. — Dione vai ter uma surpresa e tanto quando voltar — ele opinou depois de ouvir o breve relato do amigo. — Quem é Dione? — Samantha perguntou sem rodeios. — Minha irmã. Ela ajuda na administração da loja da família... sempre que está aqui. No momento ela está em Nova York. Wyman. Até então Erin não ligara o nome a uma das lojas que haviam visitado naquela manhã. Um estabelecimento caro e elegante. — O que ela tem a ver com Nick? — indagou, esperando soar casual, apesar de ter certeza da resposta. — Bem, nada como o que gostaria de ter — Tim riu. — Ela vai ficar furiosa quando souber da presença de duas belas louras na casa de Carson. Samantha riu. — Não devia estar defendendo sua irmã? — Por quê, se ela nunca me defendeu? Dione acha que aos vinte e seis anos está acima de nós, os mais jovens. Não sei o que Nick viu nela! — Pois eu sei — Reece interferiu. — A mesma coisa que todos os outros homens vêem. Duas sobrinhas não farão muita diferença. Dione sempre consegue o que quer. Pelo que acabara de ouvir, era bem provável que Dione fosse a pessoa que Miles Penhalligen mencionara em sua galeria. Se a mulher estava envolvida com Nick, Erin podia imaginar qual seria sua reação quando voltasse de Nova York. A culpa era dele. Se houvesse seguido sua sugestão, Nick não estaria enfrentando tantos problemas. Ao estender a mão para o copo de suco de laranja que pedira, olhou para o relógio e viu que faltavam apenas cinco minutos para o meio-dia. — Oh, não! Temos de ir, Sam! Já é quase meio-dia!
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— Ei, qual é o problema? Sua carruagem vai virar uma abóbora? — brincou Reece. — Acalme-se, Erin! Que importância pode ter um pequeno atraso? — Samantha protestou. — Ele vai esperar... — Foi um prazer conhecê-los — Erin disse aos dois jovens, ignorando a objeção. — E obrigada pelas bebidas. Vamos, Sam. Já estavam na rua quando a mais jovem comentou aborrecida: — Que falta de delicadeza! Podia ao menos ter me deixado terminar de beber o suco! — Nick disse que estaria esperando por nós ao meio-dia. Teria sido uma indelicadeza ainda maior fazê-lo esperar. Devemos muito ao seu tio, Sam. Ainda mais do que havíamos nos dado conta. — Está falando isso por causa da irmã de Tim? E daí? Ela é só uma namorada! Ninguém disse que os dois vão se casar. Se não gostar da nossa presença, o azar será todo dela. Namorada era um termo ameno demais para descrever o relacionamento entre o casal. Dione devia ser amante de Nick. E já a odiava por isso. — E hora de começar a mostrar um pouco mais de consideração, Sam. Nick se dispôs a mudar muitas coisas em sua vida por nossa causa. Poucos homens na posição dele teriam feito o mesmo. — Muitos homens teriam considerado um golpe de sorte dividir a casa com duas belas louras. Erin não conseguiu conter um sorriso. Oh, como gostaria de ser realmente uma loura estonteante! De preferência com vinte e seis anos de idade. Chegaram ao local do encontro com quinze minutos de atraso e encontraram Nick parado ao lado da fonte no centro da praça. — Desculpe — Erin pediu ofegante. Ele encolheu os ombros. — Já perdi tempo por razões bem piores. Encontraram tudo que queriam? — Não, mas creio que é o suficiente por enquanto — Samantha respondeu sem nenhum constrangimento.
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— Ótimo. Tiveram algum problema? — Nenhum — disse Erin. — Seu nome é reconhecido em todos os lugares. Foi um alívio jogar as caixas e sacolas no porta-malas e sentar-se no interior do automóvel equipado com ar-condicionado. O calor começava a se tornar insuportável lá fora. Samantha preferiu o banco traseiro, o que obrigou Erin a viajar na frente, ao lado do motorista. — Conhecemos um rapaz chamado Tim Wyman — Sam contou assim que partiram. — E o amigo dele, Reece. Eles compraram bebidas para nós. — Espero que não tenha bebido nada alcoólico. E aqueles dois deviam estar na escola. — Por quê? Quantos anos eles têm? — Dezessete. Os dois estudam em Peterson, o mesmo colégio para onde você irá na próxima segunda-feira. — Tão depressa assim? — Foi o melhor que pude fazer. Sendo assim, aproveite seus cinco dias de liberdade. Cinco semanas não seriam o bastante, Erin pensou. E se Tim. e Reece podiam escapar da escola com tanta facilidade, quem obrigaria Samantha a freqüentar as aulas? Se não se deixara aprisionar pelos muros dos colégios ingleses... Ah, como atormentada pela talvez ele a visse estava exatamente
gostaria de ter catorze anos! Assim não estaria tão presença do homem sentado a seu lado. Por outro lado, sob outro ângulo se fosse mais velha. Mas aos dezenove, no meio do caminho. Talvez em outubro...
Imaginou os dois juntos, as mãos explorando seu corpo, os olhos cinzentos devorando suas curvas, expressando desejo e paixão, a boca tocando... Umedeceu os lábios com a ponta da língua e sentiu-se envergonhada ao perceber que Nick olhava em sua direção. Aquilo tinha de parar! Desesperada, compreendeu que a situação estava escapando ao seu controle.
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CAPÍTULO V Bella passou a tratá-las um pouco melhor, principalmente devido ao esforço de Erin para manter os dois quartos, dela e de Sam, na mais perfeita ordem, apesar da falta de colaboração da irmã. Sabia que era a maior culpada pela falta de consideração de Samantha com a arrumação e a limpeza. Sempre havia sido mais fácil e rápido desempenhar as tarefas domésticas do que esperar pela ajuda da menina. Organizar a papelada no estúdio não levou mais do que algumas horas, e apesar de sua inexperiência com os negócios, Erin logo concluiu que a venda dos quadros não era a única fonte de renda de Nick. Ele também mantinha uma impressionante variedade de investimentos. Não que a descoberta fizesse alguma diferença. Sempre soubera que ele era rico, a extensão dessa riqueza não tinha importância. Nick abrira contas bancárias em seu nome e no de Sam, e agora ambas possuíam talões de cheques. O valor das duas contas devia exceder em muito a quantia que ele afirmava ter recebido da empresa que comprara os móveis. Questionado, ele nem tentou negar a acusação. — É a única maneira de terem uma certa independência — argumentou. — E não vou discutir o assunto. Se não quer usar o dinheiro, o problema é seu. Mas ele vai ficar exatamente onde está. Erin fora procurá-lo no estúdio, onde ele concluía a cena marítima. Observando a facilidade com que produzia uma obra de perfeição admirável, Erin invejou seu talento. Mesmo com todas as aulas do mundo, não teria sequer se aproximado daquele resultado. — Já pensou no que Samantha vai fazer com todo aquele dinheiro? — indagou. — Em que ela poderia gastá-lo? Roupas? O que tem é suficiente para abrir uma loja. — Eu sei. Não devia ter deixado minha irmã gastar tanto. — Não foi isso que eu quis dizer. — Nick recuou um passo para observar o quadro e abandonou o pincel. — Quando vai parar de ver críticas onde elas não existem? — Enquanto limpava as mãos em um pedaço de pano, continuou: — Esta é a última tela da consignação para Nova York. Já que está
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aqui, podemos começar a trabalhar. Faremos os esboços preliminares. Sentese aqui, onde a luz é melhor. Satisfeita com a desculpa para ficar perto dele, Erin obedeceu. Nick preparou o material e começou a desenhar. A camiseta justa revelava músculos poderosos, e a calça jeans ressaltava a força das coxas grossas. Era tão másculo, tão diferente dos garotos que conhecera! — Tente pensar em alguma coisa agradável. Algo que gostaria de estar fazendo — ele sugeriu, procurando ajudá-la a relaxar. Não conseguia conter o fluxo de imagens provocado pelas palavras inocentes. Nick deixando o pincel para aproximar-se dela, tomá-la nos braços e carregá-la até o sofá no canto do estúdio. Nick beijando seus lábios, o pescoço, o colo... Abriu os olhos e descobriu que ele a observava com uma expressão perturbada. Sem dúvida podia imaginar o que ocupava seus pensamentos. — Tem todo o tempo do mundo, Erin. Não se apresse. Espere pelo homem certo. Era tarde demais para negações. Vermelha, ela respondeu: — Esse homem já apareceu. Amo você, Nick! — Você não me ama. — A voz era mais dura. — O que sente é apenas uma forte atração sexual, mais nada. Estou honrado por ser o objeto de seu desejo, mas é só isso. Seja uma boa menina e esqueça essa história, está bem? — Não sou nenhuma criança! Não preciso de ninguém decifrando meus sentimentos! — E eu não preciso disto! Vai posar para mim, ou devemos dar o dia por encerrado? Tremendo de raiva e humilhação, ela se levantou. Nick não tentou detê-la ao vê-la caminhar para a porta. Vários minutos se passaram antes que ela pudesse se dar conta do que dissera no estúdio. Que vergonha! Como havia sido idiota a ponto de confessar seu amor por um homem que conhecia há uma semana? O que esperava? Retribuição? E como voltaria a encará-lo depois disso? Eram mais de seis horas quando Nick voltou para casa. Parada ao lado da janela do quarto, Erin o viu contornar a piscina a lamentou não poder
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conter as emoções como se fechasse uma torneira. Talvez nem fosse amor, mas o que sentia era envolvente e forte. Jamais havia experimentado algo tão poderoso em toda sua vida. O jantar foi uma provação. Depois de uma semana nadando e tomando banho de sol, Samantha começava a ficar aborrecida, e não fazia nenhum esforço para esconder o tédio. — É inútil ter tantas roupas novas se não saio de casa — ela se queixou. — Ainda nem fui à praia! — Ainda é tempo de corrigir esse lamentável erro — Nick respondeu. — Paradise é um excelente ponto de partida. — E virou-se para Erin. — Siga para oeste e continue cerca de dois quilômetros além de Bridgetown. Marcarei o caminho no mapa, se quiser. Será um bom motivo para praticar antes do início das aulas de Samantha na segunda-feira. — Quer dizer que espera que eu vá dirigindo seu carro? — Por que não? Você é habilitada. — E tem muita sorte — Sam apontou. — Pode passear e divertir-se quando quiser, enquanto eu vou ter de passar mais dois anos presa na escola! — Dois anos? Quem disse que vai abandonar os estudos aos dezesseis? Erin não teve alternativa, mas seu destino será bem diferente do dela. — Não poderá me obrigar a nada depois que eu completar dezesseis anos. — Quer apostar? Nos últimos dias, Erin aprendera a se manter longe das constantes discussões entre tio e sobrinha. Nick era perfeitamente capaz de cuidar de si mesmo, e a prova disso era o silêncio de Samantha, que comia a sobremesa com ar contrariado. Nick desapareceu assim que terminou de tomar o café. Erin não se surpreendeu ao ouvir o som de um carro se afastando vinte minutos mais tarde. Seria uma longa noite, e a insistência de Samantha para que fossem à cidade no outro carro só tornava a situação ainda pior. — Não sei por que não?! — ela dizia. — São apenas quinze ou vinte minutos de viagem. — De dia, e para alguém que conhece o caminho. Acabaríamos perdidas.
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— E daí? Seria mais excitante do que passar a noite em casa sentada diante da tevê. Irritada, Erin decidiu fazer alguma para melhorar seu humor. O primeiro passo seria sair de perto de Samantha antes que acabasse perdendo a paciência. Sozinha, foi até a varanda e respirou fundo, enchendo os pulmões com o ar morno e perfumado da noite caribenha. Podia compreender a frustração da irmã. O luxo e o conforto da casa não eram substitutos para a vida agitada que ela imaginara levar. Pelo menos teria a escola com que ocupar-se a partir da segunda-feira. O que ela faria com o tempo que teria de sobra era algo em que ainda não pensara. Posar para Nick estava fora de cogitação. Ele já devia ter perdido o interesse em pintála. E quem poderia condená-lo? Encurralado em uma situação que nenhum homem de sua idade suportaria! Fizera o que julgava correto e as levara para sua casa, mas já devia estar arrependido. Quando foi para o quarto, por volta das dez, ele ainda não havia voltado. Samantha também se recolhera com algumas revistas, aparentemente mais calma. Inquieta demais para dormir, apesar de já estar de camisola, Erin sentou-se em uma das cadeiras da varanda e ficou contemplando a lua cheia. O calor era intenso. A piscina parecia convidativa e, num impulso, ela entrou para vestir o único maio que levara... mas lembrou-se de que não havia refeito uma das costuras laterais que se esgarçara na última vez em que o usara. Não sabia se Samantha já havia dormido, e preferia não correr o risco de acordá-la ao entrar no quarto. Além do mais, não gostava de usar roupas emprestadas, mesmo que fossem da irmã. Pensando bem, que mal havia em nadar nua? Estaria sozinha. Bella e Joshua haviam ido para casa, e Nick não voltaria tão cedo. Se voltasse... Talvez Dione estivesse na cidade novamente, e nesse caso os dois passariam a noite juntos, recuperando o tempo perdido. Inflamada pela imagem de Nick nos braços de outra mulher, desceu a escada sem fazer barulho e saiu pela varanda da sala de estar, Ao alcançar a piscina, despiu a camisola e deixou-a com a toalha que levara do banheiro, entrando na água antes que pudesse mudar de idéia. A água era como seda em sua pele nua. Depois de nadar por alguns minutos, ficou flutuando de costas, observando as estrelas no céu limpo e a lua que parecia pairar soberana sobre o mundo. Sons e aromas se misturavam para criar uma atmosfera perfeita, paradisíaca.
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Erin continuou flutuando, invadida por uma intensa paz, quase em transe por conta da harmonia com a natureza. Seria capaz de passar a eternidade ali, livre do peso do corpo e da opressão das roupas, distante das preocupações e dos temores que a atormentavam constantemente. Uma sombra bloqueou a luz da lua, e pouco depois uma silhueta escura surgiu na beira da piscina. Erin continuou boiando, tão hipnotizada que se recusava a reconhecer a realidade. — É o paraíso! — murmurou. — Devia experimentar! Nick não respondeu. Em silêncio, despiu a camisa e a calça, e parou por alguns instantes para remover a última peça que cobria seu corpo antes de se juntar a ela na água morna. Foi o toque das mãos dele que a fez perceber que não vivia um sonho. O prazer era tão intenso que não podia ser fruto da imaginação. Quando aqueles lábios másculos encontraram os dela, Erin foi definitivamente lançada da infância para o mundo dos adultos. O processo era irreversível. Devagar, Nick puxou-a de encontro ao corpo. A profundidade permitia que ele mantivesse os pés no fundo da piscina e, contando com esse apoio, ele a acomodou em torno de sua cintura. Estava excitado; numa resposta instintiva, Erin o enlaçou com as pernas e preparou-se para o que sabia estar prestes a acontecer. Não queria que ele falasse, temia que as palavras quebrassem o encanto. Agarrada a ele, sentiu um momento de tensão e desconforto ao primeiro toque íntimo, mas a urgência de entregar-se era maior que a dor. Nick beijou-a mais uma vez, e a dor deu lugar ao prazer. No instante seguinte estavam juntos, movendo os corpos numa dança mais antiga que o mundo. Erin acordou com o sol penetrando no quarto. Teria sido um sonho, ou a noite anterior realmente acontecera? Ainda podia sentir o corpo dolorido. Então havia mesmo acontecido! A euforia desapareceu quando lembrou a expressão sombria que se apoderara do rosto moreno mais tarde, quando ele a levara para dentro. Fora mandada para a cama sem uma única palavra, sem um beijo de boa-noite. Mas não estava arrependida. E ele também não lamentaria quando descobrisse que não seria pressionado ou perseguido. Não tinha a intenção de fazer cobranças. Por outro lado, nada os impedia de dormirem na mesma cama algumas noites. Ninguém precisaria saber.
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Pensando bem, nada a impedia de procurá-lo imediatamente. Ainda era cedo. Bella só chegaria para o trabalho em uma hora, e Sam nunca tivera o hábito de sair da cama antes das dez, a menos que fosse obrigada. Sorrindo, levantou-se e foi até o quarto de Nick. Fechou a porta com cuidado, despiu-se e deitou-se ao lado dele na cama, excitada com a visão do corpo nu sob o lençol branco. Ele resmungou alguma coisa, mas continuou dormindo. Ousada, enlaçou-o pela cintura e beijou-o na nuca, certa de que fariam amor com toda a paixão da noite anterior. Mas, ao ver os olhos cinzentos abertos e alertas, Erin só conseguiu pensar em uma palavra. Choque. Nick estava chocado com sua presença. E no instante seguinte, a surpresa deu lugar ao aborrecimento. — O que pensa estar fazendo? Abalada com a frieza do tom de voz, ela buscou refúgio no sarcasmo. — Não foi isso que disse ontem à noite. — A noite passada não devia ter acontecido. Pensei que pudesse me conter meu desejo, mas... Diabos! Você é uma menina de dezenove anos! — Não sou nenhuma criança. E também desejei tudo que aconteceu. — Você ainda nem sabe o que quer. — É claro que sei! Amo você, Nick. E o desejo é parte integrante do amor. — Nem sempre. — Se está dizendo que não me ama, eu já sei, e não importa. — Era mentira, mas tinha de manter um mínimo de dignidade. — Fico feliz por estar com você. É o bastante. — O que aconteceu ontem não vai se repetir. — Se está preocupado com a possibilidade de uma gravidez, relaxe. Tomo anticoncepcionais há três meses. — Para quê? — Para regular minhas taxas hormonais. Ordens médicas. Você foi o único homem a quem me entreguei. — Eu já havia percebido. — Então sabe como é especial para mim.
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— Pelo amor de Deus, não comece a falar de amor novamente. Você nem sabe o que é isso. — Quer parar de me tratar como se eu fosse criança? Do que tem medo? Acha que vou pedi-lo em casamento? Esqueça! Tenho tanto interesse por isso quanto você! — Ah, é? E o que pretende ser? Minha amante? — Se você quiser... — Saia daqui! Erin sorriu. Sabia que ele a desejava, que estava nervoso por não conseguir controlar esse desejo, e a certeza a enchia de confiança. — Não quer que eu saia. — E colou o corpo ao dele, movendo-se de maneira provocante. — Quer? Nick levantou-se como se houvesse sido picado por uma serpente. — Você tem dez segundos — disse. — Estou falando sério, Erin. Quero que saia do meu quarto. Ela também se sentou, tentando decidir o que fazer. Podia optar pela saída mais covarde e cumprir a ordem que acabara de receber, ou desafiá-lo e assumir as conseqüências... quaisquer que fossem. Nick ficou tenso ao sentir o dedo deslizando por suas costas. — Já aconteceu — Erin murmurou. — Que diferença faz se acontecer novamente? Já disse que não corro o risco de ficar grávida. — Não existe um método totalmente seguro, sua tola. — Ontem à noite você não se preocupou com isso. Não sabia se eu estava protegida ou não. E nem por isso se deteve. Ele riu com amargura. — Depois de vê-la flutuando naquela piscina, como esperava que me controlasse? Nem toda a fúria do céu teria me detido! E agora vou ter de viver com as conseqüências do que fiz. — Se usar uma proteção da próxima vez, eliminaremos os riscos a um patamar insignificante — ela opinou, tentando ser prática e razoável. Pousou os lábios onde havia deslizado o dedo, estendendo a língua para provar o sabor de sua pele. Era impossível aplacar o clamor que crescia dentro dela — Não vou sair daqui — afirmou com segurança. — É melhor conformar-se. Quero você, Nick. Agora! Neste minuto!
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Por um momento, enquanto ele não tentou se afastar, Erin acreditou ter vencido. O movimento súbito que o pôs em pé deixou-a aturdida e embaraçada. Ajoelhada no meio da cama, ficou parada enquanto ele vestia o robe que apanhou nas costas de uma cadeira. Quando se virou, Nick estava novamente no comando da situação, o rosto rígido e inexpressivo. — Não sou eu que você quer — disse. — É só o sexo. E a culpa é minha, devo admitir, por ter permitido que conhecesse o sabor da paixão. Mas a história termina aqui. E agora que já acertamos tudo, vai sair, ou prefere que eu a ponha para fora? Erin pensou em lançar mais um desafio, mas manteve a boca fechada. Ele ainda a queria, e os dois sabiam disso, mas não havia como duvidar de sua determinação. Constrangida com a nudez que até então exibira orgulhosa, levantouse, vestiu a camisola e respirou fundo. A ousadia desaparecera. Tudo que restava era a dor causada pela rejeição. — Vai me mandar de volta para casa? — perguntou com voz embargada. — Seria a decisão mais sensata sob todos os pontos de vista. Mas prefiro esperar até ter certeza de que não haverá nenhuma repercussão. — E se houver? A pausa pareceu interminável. — Vamos ter de lidar com as conseqüências — ele disse finalmente. — Você não tem chinelos? Ela balançou a cabeça, evitando encará-lo. Temia perder o pouco respeito que ainda tinha por si mesma e implorar para não ser mandada de volta. — Vou tentar ficar fora do seu caminho — declarou. — Lamento tê-lo incomodado. Saiu antes que Nick pudesse responder, se é que ele pretendia oferecer alguma resposta, e fechou a porta com uma firmeza nascida do desprezo por si mesma. Se não havia feito de papel de idiota antes, com certeza conseguira realizar a façanha naquela manhã. Mas Nick estava enganado com relação a um ponto da questão; era mais que sexo. A idéia de nunca mais vê-lo, se ele a fizesse deixar Barbados, era insuportável.
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CAPÍTULO VI No final da primeira semana de aulas de Samantha, Erin já se sentia segura para percorrer o caminho com facilidade e rapidez. Sam ajustou-se rapidamente, apesar da estranheza inicial. Três anos mais velho, Tim Wyman a apresentara a todos no primeiro dia, o que garantira aceitação imediata. No sábado de manhã, enquanto tomavam café, Samantha relatava os eventos da semana, e Erin observava Nick, tentando adivinhar seus pensamentos. Ele se mantivera afastado nos últimos dias, e a distância só servira para aumentar o ardor que a queimava. Passava as noites deitada, incapaz de dormir, o corpo clamando pelo toque das mãos, a boca suplicando por seus beijos. Se ao menos ele esquecesse as eventuais conseqüências e deixasse a natureza seguir seu curso! De repente ele a encarou. Com o coração aos saltos, Erin disse a primeira coisa que passou por sua cabeça. — Estava pensando em ir à cidade. Preciso comprar algumas coisas. — Use o carro quando quiser. E já que vai sair, aproveite para comprar uma roupa nova. Vamos sair esta noite. Samantha interessou-se. — Todos nós? — Todos nós — Nick confirmou. — Aonde vamos? — Quis saber Erin. — À casa dos Wyman. Conheço o pai de Tim — explicou, notando o espanto da sobrinha. — Ele deve ser bem mais velho que você, ou não teria uma filha de vinte e seis anos — observou Erin. — Como sabe que ele tem uma filha? — Tim falou sobre a irmã naquele dia em que o conhecemos na cidade — Samantha explicou com ar inocente. — Você a conhece bem, não é? Nick não parecia ter registrado a ironia.
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— Val tem cinqüenta e poucos anos e três filhos. Dione e Tim, sobre os quais vocês já sabem, e Harley, de vinte e três anos. — Por que fomos convidadas para a casa da família? — Erin estranhou. — Porque eles querem conhecer vocês duas. Sairemos às oito em ponto. — Ele se levantou. — Se precisarem de mim, estarei no estúdio. Os engradados para os quadros haviam chegado no dia anterior. Erin podia estar ajudando a embalar as telas, mas a situação entre eles era tão tensa, que preferia não provocar novos conflitos. — O que está acontecendo entre você e Nick? — perguntou Samantha. — Ele parecia irritado com você. — É só uma diferença de opiniões. Quer ir à cidade comigo? — É claro que sim! Vou mudar de roupa — a menina decidiu entusiasmada enquanto se levantava. — Nunca se sabe quem vamos encontrar por lá. Sozinha, Erin pensou na sugestão de Nick sobre a compra de um novo traje. Sugestão? Havia sido mais uma ordem. Era evidente que não queria apresentar-se na casa dos amigos acompanhado pela sobrinha pobre. Como seria indelicado recusar o convite, compraria uma roupa nova. Talvez o vestido azul que vira dias antes. O vestido ainda estava disponível. Samantha aplaudiu ao ver a irmã saindo do provador. —Você ficou lindai Parece três anos mais velha, pelo menos. Era exatamente esse efeito que esperava alcançar. Satisfeita, comprou a roupa pensando em como Nick reagiria quando a visse pronta para sair. Se não conseguisse conquistá-lo, não seria por falta de empenho! As duas irmãs almoçaram em casa e passaram a tarde na piscina. Na última hora Erin acrescentara um biquíni amarelo às compras, e era com ele que relaxava em uma espreguiçadeira, esperando adquirir um tom mais dourado sob o sol caribenho. O calor que envolvia seu corpo despertava certas lembranças. Sem que percebesse, começou a recordar a noite em que fizera amor com Nick naquela piscina e, como sempre, o corpo reagiu de forma intensa e imediata às imagens invocadas pela mente. Queria repetir a experiência mais esplêndida que já tivera. Mas, se não pudesse ter Nick, passaria o resto da vida no celibato.
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Ao abrir os olhos, viu o objeto de seus sonhos parado na beira da piscina, pronto para um mergulho. As linhas fortes e firmes do corpo exibido pela sunga minúscula pareciam estar gravadas em sua retina. Nick mergulhou, e Erin teve de respirar fundo para recuperar o fôlego. — Uau! — Samantha murmurou impressionada. — Papai nunca teve músculos como aqueles! — Seu pai não tinha tempo para fazer ginástica — lembrou Erin. — Tempo? O que ele não tinha era vontade. E teria vivido por muito mais tempo, se houvesse se mantido em forma. Era impossível rebater aquele argumento. Depois da morte da esposa, David Carson havia engordado quase vinte quilos, e nunca fizera o menor esforço no sentido de ter uma vida mais saudável. Mas Nick era diferente. Podia imaginá-lo aos cinqüenta anos, com mechas grisalhas nas têmporas e linhas de expressão em algumas partes do rosto. Então seria uma mulher madura de trinta e cinco anos, talvez mãe. Dois filhos, pensou sonhadora, um menino e uma menina. O garoto seria parecido com o pai, enquanto a menina herdaria seus traços. Nick saiu da piscina, obrigando Erin a voltar ao mundo real. Era inútil investir energia em sonhos impossíveis. — Vejo que seguiu minha sugestão — ele apontou, referindo-se ao novo biquíni. — Finalmente consegui convencê-la a abandonar aqueles maios antiquados — Samantha contou. — E espere só para vê-la esta noite! Vai ter de usar uma arma de fogo para impedir que os rapazes a ataquem! — Prometo fazer o que estiver ao meu alcance. Querem beber alguma coisa? — Suco de abacaxi gelado! — Sam escolheu. — O mesmo para mim. — Estava perturbada demais para pensar em alguma coisa naquele momento. Quando conseguiu desviar o olhar das costas do homem que se afastava, Erin descobriu que a irmã a observava com um sorriso malicioso. — Gosta dele, não é? Tinha de manter o tom de voz neutro, ou acabaria revelando demais. — É claro que sim. Ele tem sido muito bom para nós.
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— Não foi isso que eu quis dizer. Você está queimando por ele! — Onde aprendeu a falar desse jeito? — Não tente bancar a puritana comigo. Só estou dizendo... — Sei o que está dizendo. E não gosto de ouvir você falar dessa maneira. — Certo. Vou tentar usar outros termos, então. Quer ir para a cama com ele, não é? Erin não conseguiu impedir o rubor que tingiu seu rosto. — Não seja ridícula! — protestou, mesmo sabendo que a voz soava fraca. — Não há nada de ridículo em desejar um homem. Se tivesse sua idade, acho que também me interessaria por ele. — Não devia nem estar pensando nesse assunto. — Ah, vamos lá! Tenho catorze anos, não cinco! E se quer saber a verdade, tenho pensado muito em Tim! — Acho que está passando muito tempo na frente da televisão. — Sam sempre havia sido precoce, mas agora a questão alcançava uma nova dimensão. — Espero que não cometa nenhuma tolice. — Acha que sou estúpida? Não quero acabar como Maureen Bailey, aquela vizinha que tínhamos na Inglaterra. Mas havia uma chance de que Erin seguisse por aquele caminho. De acordo com o Nick dissera, nenhum método anticoncepcional era absolutamente seguro. E apesar de todos os problemas que uma gravidez poderia acarretar, parte dela desejava ter um bebê. Nick retornou com uma bandeja contendo três copos de suco gelado. Depois de deixar as bebidas sobre a mesa entre as espreguiçadeiras, foi se sentar na cadeira vazia ao lado de Erin. Sam bebeu metade do conteúdo do copo e deixou-o sobre a mesa. — Vou dar mais um mergulho antes de entrar. Ainda quero lavar o cabelo para esta noite. — Eu também — Erin disse apressada, agarrando a desculpa para afastar-se. — Pensando bem, acho melhor começar a me arrumar, ou não terminarei a tempo.
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— Espere um minuto — Nick pediu. — Precisamos conversar. — Tivemos a semana toda para conversar — ela respondeu em voz baixa, certa de que a irmã não poderia ouvir o que diziam da piscina. — Não torne a situação ainda mais difícil. E não pense que vou me desculpar pelo que aconteceu. Àquela noite foi... — Maravilhosa! E não precisa pedir desculpas. Sabia o que estava fazendo, e faria tudo novamente. Nick sorriu. — Não sabe aceitar um não como resposta, não é? — Oh, eu aceitaria, se fosse sincero. Talvez lamente o que houve entre nós, mas isso não anula o desejo que sente por mim. Por isso passou a semana toda me evitando. Tem medo de ceder à tentação mais uma vez. — Não sabe o que está dizendo — ele respondeu irritado. — Você é só... — Uma criança? Está enganado, Nick. Deixei de ser uma menina há uma semana. E é tarde demais para voltar atrás. — Acha que não sei disso. Comecei algo que não pode ser apagado de nossas vidas. — Você não começou nada. Apenas despertou algo que já existia em mim, algo que só esperava pela pessoa certa e o momento ideal. — Não sou a pessoa certa. E aquele momento não foi o ideal. — Por que diz isso? — Em primeiro lugar, sou velho demais para você. — Bobagem! Muitos homens se relacionam com mulheres mais jovens. — É claro! Já relacionamentos desse tipo.
teve
oportunidade
de
testemunhar
vários
Nick estava rindo dela. Debochando de suas tentativas desesperadas. — Não preciso ver alguma coisa para saber que ela acontece — disse com dignidade. — Com licença, mas preciso começar a me arrumar. Dessa vez ele não tentou detê-la. As sete e meia da noite, com os cabelos presos, os ombros e o colo ressaltados pelo corte do vestido de alças finas, Erin parecia muito diferente
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da menina que alguma dúvida algum cuidado encontrou Nick
chegara àquela casa há quase duas semanas. Se ainda havia sobre o resultado obtido com um mínimo de maquiagem e com os cabelos, ela se dissipou quando desceu a escada e parado no hall.
— Sam não estava exagerando — ele disse. O paletó formal de tecido cor de creme realçava os ombros largos, e foi preciso muito esforço para não deixar transparecer o desejo que sentia por ele. — Não disse que era uma ocasião formal — reclamou, tentando esquecer o calor que brotava de seu ventre. — Não é. Não como está pensando. Val e a esposa são pessoas elegantes, e normalmente seus convidados procuram seguir o estilo do casal. E você está ótima. Como teria sido terrível se houvesse se negado a seguir a sugestão de Nick! Era tolice continuar resistindo à idéia de compras roupas novas. Na segunda-feira voltaria à cidade para resolver o problema. Quanto ao resto... A chegada de Sam dissipou o pensamento. Usando um vestido branco e curto demais, com os olhos enfatizados por sombra, rímel e delineador e os lábios cobertos de batom, não só parecia mais velha, mas também um pouco vulgar na opinião de Erin. Esperava que Nick ordenasse a remoção imediata da maquiagem, pelo menos, mas ele não disse nada, deixando-a com a impressão de que esse tipo de providência ficaria a seu critério. — Podemos ir? Já passa das oito. Erin gostaria de mandar a irmã de volta ao quarto para uma reformulação completa, mas não havia tempo para isso. Na próxima vez acompanharia os preparativos de perto. A mulher de cabelos negros que os recebeu no jardim da imponente mansão em estilo espanhol devia ter cerca de cinqüenta anos, e seu sorriso era puramente cortês. — Tim está esperando por você no pátio — ela disse a Samantha, oferecendo um sorriso mais genuíno ao olhar para Nick. — Imagino que tenha sido prevenido sobre a volta antecipada de Dione. — Não. Quando ela chegou? — Há pouco mais de uma hora. E ainda está decidindo o que vai vestir. Sabe quanto tempo isso pode levar, não é? Nick riu e encolheu os ombros.
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— Ninguém tem pressa. A família de seu marido também está aqui? — Sim. A filha e o genro de Shirley voltaram a morar em Barbados, em Bay Marris. Organizamos este jantar como uma forma de oferecer as boasvindas ao casal. — Bay Marris é um lugar encantador. — É verdade. Bryn está usando sua experiência de arquiteto para executar uma reforma rápida. Pobre Tessa! Passou todos esses anos de casada seguindo o marido em suas viagens pelo mundo! — Suponho que estar com o marido tenha sido suficiente para justificar qualquer concessão — disse Erin. Pamela Wyman fitou-a com ar condescendente. — Mais uma romântica como a nossa Tessa! Ela tinha a sua idade quando se casou com Bryn. Nunca tiveram tempo para ter filhos... Shirley fará as apresentações. Creio que todos estão aqui fora. Vai também. — E afastou-se para ir receber outros convidados. Nick segurou o braço de Erin e levou-a para a área do jardim onde algumas mesas haviam sido arranjadas. — Vamos ver onde estão os jovens... — Gostaria de conhecer as pessoas que a sra. Wyman mencionou — ela protestou, odiando a idéia de ser esquecida em uma roda de moças e rapazes tolos e imaturos. — Aposto que têm uma vida fascinante! — Imagino que nem sempre tenha sido tão fácil. Venha, vamos procurá-los. Nick atravessou o jardim e o primeiro conjunto de mesas, seguindo diretamente para a área mais próxima da piscina, onde várias pessoas conversavam e riam acomodadas em mesas menores. Ele beijou o rosto de uma mulher de cabelos brancos cujo rosto desmentia a idade que devia ter. A mulher sentada a seu lado, uma versão mais jovem dela mesma, só podia ser sua filha. — É um prazer vê-la, Shirley — disse. — Como vai, Roland? Val? Quero que conheçam uma de minhas sobrinhas. Esta é Erin. Samantha está logo ali com Tim. O sorriso de Shirley Wyman era muito mais radiante do que o de sua nora, a dona da casa. — O que está achando de Barbados, querida?
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— É um lugar encantador! Samantha e eu seremos eternamente gratas a tio Nick por ter nos trazido para cá. A outra mulher, a mais jovem, mordeu o lábio para conter o riso. — Imagino que sim — disse. — Sou Tessa Marshall. Este é meu marido, Bryn. — E apontou para o homem que acabara de se levantar do braço da cadeira onde ela estava sentada. — Não é muito comum encontrar um homem da idade dele disposto a assumir tamanha responsabilidade. — A responsabilidade não é tão grande quanto parece — Nick argumentou.— Erin cuida da irmã, como sempre fez. — A mão no braço dela havia adquirido uma firmeza maior, como que para preveni-la contra novas piadas. — Ela está ansiosa para saber sobre suas viagens. Tessa riu. — Vai ter de se contentar com uma versão resumida. A vida não é longa o bastante para todos os detalhes. Venha sentar-se aqui, Erin.— E mostrou a cadeira vazia a seu lado. — Enquanto vocês conversam, Nick e eu vamos beber alguma coisa — disse Bryn. — Oh, não! Ele vai tentar convencê-lo a pintar meu retrato! — Tenho certeza de que Nick aceitará a missão com prazer, Tessa — Erin opinou com sinceridade. — Você é uma linda mulher. Como sua mãe. — Tem razão, mamãe ainda é muito bonita. É difícil acreditar que ela tem setenta anos. Em minha família, as mulheres começam tudo muito cedo e vivem intensamente. — Entendo. A sra. Wyman disse que você tinha a minha idade quando se casou com Bryn. — Dezenove anos. Ele é doze anos mais velho, embora não aparente a idade. Pensando bem, creio que existe uma certa semelhança entre Bryn e Nick, apesar de serem separados por alguns anos. Quantos ele tem? — Trinta e quatro. Quinze a mais que eu — murmurou. Os olhos verdes de Tessa expressavam compreensão. — Não é uma diferença intransponível. Na verdade, pela maneira como ele segurava seu braço há pouco, acho que as chances são bem favoráveis. Era inútil tentar negar o óbvio.
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— Nick só segurou meu braço para impedir-me de chamá-lo de tio novamente. Ele é tio de Samantha. O irmão dele era apenas meu padrasto. — Eu já imaginava. Suponho que seja mais simples para ele apresentála como sobrinha do que oferecer explicações detalhadas... embora esse pequeno truque possa trazer problemas no futuro. — Que problemas? Nada será diferente no futuro — respondeu, sentindo-se impelida a confiar na mulher que também amava um homem mais velho. — Não devia ser tão pessimista! A idade não interfere nos sentimentos. Eu, por exemplo, me apaixonei por Bryn aos catorze anos. — E ele também a amava? — Oh, sim, ou não teria esperado por mim durante cinco anos. Vivemos juntos há vinte e sete anos, e sei que ainda seremos feliz por muito mais tempo. Erin fez um cálculo rápido e espantou-se com o resultado. — Então tem quarenta e seus anos. E Bryn está com cinqüenta e oito! É incrível! — O amor é um excelente tratamento de beleza. — Tessa parecia realmente feliz. — Sei que alguns homens são capazes de conviver com uma mulher jovem e linda sem perderem a cabeça, mas Nick não é um deles. E despertar o desejo de um homem é mais do que a metade da conquista. — Quer dizer que não está chocada? Tessa sorriu. — Não existe nada de chocante no que você sente por ele. Certa vez empurrei Bryn para dentro de uma piscina para obrigá-lo a perder o controle. Ele estava completamente vestido, ficou furioso, mas nem assim fez aquilo que eu queria que fizesse. Erin riu Nick também era um homem determinado, mas conseguira perturbá-lo a ponto de fazê-lo perder o controle, o que devia significar alguma coisa. Tessa tinha razão. As chances eram muito maiores do que havia percebido até então. Percorrera metade do caminho, e faria o que fosse necessário para conquistar a outra metade. Aplausos ecoaram de um grupo perto da porta da casa, e uma mulher surgiu na varanda para juntar-se aos convidados. Erin notou que Nick mudava de expressão ao ver a recém-chegada. Se aquela era Dione Wyman, a batalha podia ser dada por encerrada antes mesmo de começar.
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CAPÍTULO VII Com um vestido preto e justo que modelava o corpo exuberante e cabelos negros emoldurando o rosto oval, a recém-chegada atraía os olhares de todos os homens presentes. — Surpresa! — ela disse. — Não é mais — respondeu Nick. — Por que mudou seus planos? — Porque não consegui ficar longe de você, querido. — Ela o beijou nos lábios. — Sentiu saudade? — Um pouco. — Entendo. Tentarei aumentar seu entusiasmo mais tarde. — Em vão, se ele tiver um mínimo de bom senso — Tessa sussurrou. Dione afastou-se para ir cumprimentar outros convidados. Erin sentiase murcha como um balão sem gás. Por que Nick olharia para ela, se podia ter Dione? — Preciso ir ao banheiro — disse. — Vou com você — Tessa ofereceu. Caminharam em silêncio até um dos reservados no final de um corredor que partia da sala, e Tessa voltou a falar assim que fechou a porta. — Se é mesmo a mulher que penso ter vislumbrado sob essa aparência indefesa, não vou deixar aquela devoradora de homens intimidá-la Nick tem caráter. Não vai se deixar enganar. — Que diferença isso faz? — Muita. Qualquer homem fica entusiasmado com mulheres como Dione, mas os que têm bom senso jamais vão além da atração física. — Não gosta dela, não é? — Dione é uma predadora. Ela se alimenta da atenção dos homens. Acredita que tentou seduzir meu Bryn quando estivemos aqui no ano passado? Ele achou tudo muito engraçado. Eu senti vontade de esganá-la. Seria maravilhoso vê-la cair da pose! E acho que você é a pessoa ideal para derrubá-la.
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— Gostaria de ter sua confiança. — Para quê? Você tem tudo que é necessário para conquistar Nick! Já se olhou no espelho? Francamente, Erin! Se o quer, lute por ele! Mostre a Dione que ele já tem dona! Erin sentiu que a segurança de antes retornava aos poucos. Se queria o amor de Nick, teria de lutar por ele sem pensar na possibilidade de derrota! — Volte para lá e mostre a eles do que é capaz! — Tessa encorajou-a. Nick ainda conversava com Bryn quando retornaram ao jardim. Sem pensar nas conseqüências do que estava prestes a fazer, Erin segurou o braço dele e sorriu para o homem mais velho. — Espero que não se importe, mas vou tirar este agradável cavalheiro para dançar. Estão tocando nossa canção. Bryn não parecia surpreso. — Fique à vontade. Nick pousou a mão em suas costas para guiá-la até a pista de dança, onde outros casais se divertiam. Depois de enlaçá-la, perguntou: — Desde quando temos uma canção? — Desde agora — ela respondeu, entrelaçando os dedos em sua nuca. — Como você não tomava a iniciativa, achei melhor tomar as rédeas da situação. — Quanta segurança! Por que acha que eu não tomaria a iniciativa? — Porque, se tirasse alguém para dançar, seria Dione, e não pretendo permitir que ela se aproxime de você. — Impressionante! De onde tirou toda essa confiança? — É simples, Nick. Você foi meu primeiro. Não quero que outro homem faça amor comigo... nunca mais. — Pretende entrar para o convento? — Você sabe que não. Quero me casar com você. Quero ter filhos seus. Quero... — Ei, ei, ei! Pensei que não estivesse interessada em casamento! — Eu menti. Talvez não me ame como eu o amo, mas vai me amar. Farei tudo por isso. Se quiser me pintar nua, juro que...
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— Agora chega. A brincadeira acabou. — Quem está brincando? — murmurou, colando o corpo ao dele de forma provocante. — Quero você, Nick. E você me quer. Não é verdade? — Mais uma palavra, e a levarei para casa. — Ótimo! Assim ficaremos a sós. — Pare com isso, Erin! Já disse que chega! — O que pretende fazer se eu não parar? Nick segurou as mãos dela e tirou-as de seu pescoço, colocando alguma distância entre eles. — Pare imediatamente. Não sei o que deu em você, mas... Erin sorria, o que o fez calar-se. Irritado, saiu da pista de dança e puxou-a pela mão como se fosse uma criança. Mas Erin não estava disposta a desistir. A perseverança sempre alcançava bons resultados. Nick a levou para uma área protegida por palmeiras bem perto da praia. Lá ele parou para encará-la, o rosto contorcido numa máscara rígida. — Não sei que brincadeira é essa, mas vai parar agora mesmo! — Não é nenhuma brincadeira. Amo você, Nick. E sei que pode me amar, se deixar acontecer. Já está na metade do caminho para isso. — Só porque fiz amor com você? É muita ingenuidade considerar os dois como sinônimos. — Então sou ingênua. É melhor do que ser cínica. Dione vai deixá-lo mais cedo ou mais tarde. Eu não. Sendo assim, é evidente que sou sua melhor escolha para o papel de esposa. — Seria, se eu estivesse procurando uma esposa. Fui fraco o bastante para me deixar seduzir por um corpo perfeito e um rosto angelical, mas não vou me casar com você. — Nem se eu estiver grávida? — Erin... Está tentando me dizer alguma coisa? Ela balançou a cabeça, surpresa com a habilidade de permanecer calma naquelas circunstâncias. — É cedo demais para saber. E você não me deu uma resposta. Se eu estivesse grávida, aceitaria se casar comigo?
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— Reconheço que uma criança faria uma grande diferença... — Então espero estar grávida! — A última coisa de que precisa é ser mãe aos dezenove anos! — O que a idade tem a ver com isso? Pensando bem, a idade não interfere em nada! Já viu um casal mais ajustado que Tessa e Bryn? — Tessa? Agora entendo! Foi ela quem inventou tudo isso. O que você disse para... — Eu não disse nada. Tessa tirou as próprias conclusões a partir do que viu. — Ah, é claro! Só precisou olhar para nós dois juntos para compreender a situação. — Ele suspirou. — Do que estou reclamando? Se não houvesse... — E parou, comprimindo os lábios. — Já chega. — Ainda não, Nick. — Determinada, abraçou-o e beijou-o nos lábios, colando o corpo ao dele de forma a provocar uma resposta. Por um momento teve a sensação de que o beijo seria correspondido, mas em seguida ele a empurrou com brutalidade assustadora. — Não vai acontecer — disse. Depois levou-a de volta à festa como se lamentasse a impossibilidade dê puni-la fisicamente. Mas Erin não se dava por vencida. Tessa plantara uma semente que em breve daria bons frutos. Dione conversava com algumas pessoas, mas, ao vê-los, parou de falar e fitou-os com um ódio que encheu de alegria o coração de Erin. Pelo menos conseguira fazê-la entender que Nick era propriedade exclusiva. Samantha estava em um canto do pátio com alguns jovens. Nick levou Erin até lá e deixou as apresentações por conta de Tim. O primeiro a conhecê-la foi Harley, o filho do meio dos Wyman. — Estava esperando por isto — ele disse com um sorriso fascinante. Se não estivesse voltada para outros objetivos, certamente teria ficado entusiasmada. — Mamãe disse que você era bonita, mas não imaginei que fosse tanto. Quer beber alguma coisa? Os dois se afastaram do grupo para apanhar as bebidas, e Harley não perdeu tempo. Assim que ficaram sozinhos ele disparou: — Onde esteve durante toda minha vida? — Crescendo — Erin respondeu.
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O rapaz riu. — Gosto de mulheres com raciocínio rápido. Vamos dançar? Teria recusado o convite, mas naquele momento viu Nick dançando com Dione e mudou de idéia. — Eu adoraria. — A música é um pouco ultrapassada — ele se desculpou enquanto a levava para a pista. — Meu pai é admirador dos trabalhos da década de sessenta. — Também gosto desse período. A propósito, você e Tim são muito parecidos com seu pai. — É o que todos dizem. Dione herdou os genes de minha mãe, e algumas pessoas dizem que ela é parecida com Shirley. Estranho, se levarmos em consideração que ela nem é nossa avó de verdade. — Não? — Não. Shirley se casou com meu avô uma semana antes do casamento de Tessa e Bryn. — Oh, sim, já tive oportunidade de conhecê-los. Você os vê com freqüência? — Não, mas de agora em diante isso deve mudar. Eles voltaram a morar na ilha depois de vinte e sete anos. Deve ter notado que há uma grande diferença de idade entre os dois. — Doze anos não representam uma diferença tão grande assim. — Prefiro uma mulher mais próxima da minha idade. Quatro anos mais jovem, para ser bem exato. — Está procurando alguém da idade de sua irmã? Harley riu novamente. — Como eu disse, admiro o raciocínio rápido. Nós dois vamos passar muito tempo juntos de agora em diante, Erin. Foi a presunção que a afetou de forma mais direta e intensa. Tanto que não pensou nas conseqüências antes de agir. — Não creio que Nick permita essa proximidade depois do nosso casamento. Ele é muito possessivo.
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Em outras circunstâncias a expressão do rapaz a teria levado às gargalhadas. — Ele é seu tio! — Oh, não! Sam e eu somos meias-irmãs. Espero que saiba guardar segredo, porque ainda não fizemos um anúncio oficial. — Imagino que não! — Harley soava quase selvagem. — Ele devia ter vergonha de tirar vantagem de uma menina quinze anos mais jovem! — Que importância tem a idade? Tessa e Bryn não se incomodaram com a diferença. — Não, mas ninguém mais aprovou a união. — Como pode saber, se ainda nem tinha nascido quando eles se casaram? — Meu pai já havia nascido. E também já havia... — O rapaz deteve-se de repente. — Não quero discutir o passado. Estamos falando sobre você e aquele... artista! Aposto que ele a convenceu a posar nua, como fez com Dione. O homem é um pervertido! Saber que Nick havia retratado a bela morena nua a encheu de raiva. Dione devia conhecer todos os truques de sedução que uma mulher pode usar! Ela, por outro lado, só dispunha do instinto. A virgindade havia sido seu único trunfo. Sem ela, o que tinha a oferecer? — Estou cansada — disse. — Vamos parar, está bem? Harley não tentou dissuadi-la. — Espero poder contar com sua discrição — Erin comentou quando deixaram a pista, embora não tivesse muita esperança. Ele não respondeu. Sério, afastou-se sem encará-la, como se temesse ser contaminado por uma doença mortal. Tessa acenava com entusiasmo, apontando para uma cadeira vazia a seu lado, e Erin aceitou o convite. — Acabei de cometer uma estupidez — disse em voz baixa. — Disse a Harley que Nick e eu vamos nos casar. Pedi segredo, mas duvido que ele seja do tipo discreto. Sei que não devia ter mentido, mas ele estava se tornando inconveniente e... — Não precisa explicar nada, meu bem. Conheço esta família há décadas! E não espere que Harley guarde segredo. Na verdade, ele já deve estar espalhando a novidade neste momento. A rejeição costuma ferir os
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Wyman com mais profundidade, parece. O pai dele também se tornou vingativo quando eu o rejeitei. — Eu já imaginava. — De qualquer maneira, é tarde demais para recuar. Termine o que começou, querida, e Nick será alvo de inveja de todos os homens da ilha. Se a reação de Harley era digna de consideração, Nick seria crucificado. Como pudera ser tão irresponsável? Pouco depois Erin começou a notar certos olhares em sua direção e soube que Harley espalhara a notícia que devia ter guardado em segredo. Nick havia desaparecido. Dione também. Mas não sabia se estavam juntos. Desanimada e temerosa, aceitou o convite de Bryn para dançar como uma rota de fuga, certa de que ninguém se atreveria a atacá-la enquanto estivesse em companhia de um homem tão distinto. Ainda estava dançando quando Nick apareceu. Sozinho. E sua expressão não anunciava nada de positivo. Sentindo sua tensão, Bryn tentou ajudá-la. — Qual é o problema? Não está feliz com o noivado? — Não existe nenhum noivado — ela confessou. — Foi só um comentário inconseqüente que... — Eu já imaginava — ele cortou. — Aposto que Tessa teve participação no que você chama de comentário inconseqüente. — Oh, não! Ela... — Ela não tem culpa nenhuma — interrompeu uma voz firme. — Será que pode me dar licença, Bryn? — É claro, Nick. Ele a tomou nos braços como se quisesse apenas dançar, mas Erin sabia que sua intenção era outra. Por isso decidiu ir direto ao assunto. — E então? Podia sentir a tensão nos braços que a apertavam com força desnecessária. — O que esperava? Imaginou que estivesse envergonhado a ponto de me sentir forçado a pedi-la em casamento?
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Sabia que estava criando uma confusão ainda maior do que a anterior, mas àquela altura já não se importava com nada. O que tinha a perder? — Sorria, querido, ou as pessoas pensarão que já estamos discutindo. — As pessoas vão pensar coisas bem piores se insistir nessa farsa! — Já sabe o que sinto por você. Se Maomé não vai à montanha... Eu era virgem antes de conhecê-lo. Não acha que o casamento é um preço justo em troca do privilégio? — Não acredito no que estou ouvindo! Erin também não acreditava no que estava dizendo. Mas as palavras continuavam jorrando numa enxurrada incontrolável. — Amo você — disse antes de beijá-lo nos lábios. — Não há nada que possa fazer ou dizer para alterar o que sinto. Se nos casarmos, serei a melhor esposa que um homem já teve. Lavarei suas roupas, pregarei botões em suas camisas, farei seus pratos favoritos... Um sorriso distendeu seus lábios. — Não preciso de uma esposa para cuidar da casa. Bella é muito competente. — Mas não pode fazer tudo. Estarei sempre pronta para você, Nick... para o que quiser. Pode contar com meu amor, meu respeito... e até minha obediência. Ele deixou escapar uma gargalhada seca. — Não precisa exagerar! — Estou falando sério! Não pode se casar com Dione. Não vou permitir. — Nunca tive a menor intenção de casar-me com Dione. Nem com nenhuma outra mulher. — Isso foi antes de nos conhecermos. Naquela noite em que fizemos amor na piscina, pude sentir a intensidade da paixão que despertei em seu corpo. — Qualquer outro homem teria reagido da mesma maneira diante do que vi. Você estava... — E parou, respirando fundo para conter-se. — Não devia tê-la trazido para cá. — Eu teria morrido na solidão se houvesse me deixado na Inglaterra.
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— Não. Teria conhecido alguém... — Se vai dizer alguém da minha idade, esqueça! São todos aborrecidos. Tome Harley por exemplo. É tão convencido que acredita que sua companhia é suficiente para fazer a felicidade de qualquer garota! — E normalmente ele está certo. — Por quê? Por que ele é um bom partido? — Um dos melhores da ilha. — Pois que fiquem com ele. O único homem que quero é você. — Isso é o que você pensa agora. — Tenho certeza de que nunca mais amarei ninguém. Nick ficou em silêncio por alguns instantes. Quando falou parecia estar resignado. — É melhor anunciarmos que não é realmente minha sobrinha. — Já disse a Harley que não somos parentes. — É o bastante por enquanto. — Por enquanto? — A menos que a obrigue a desmentir publicamente o que disse, a única alternativa é participar da farsa. Dentro de algumas semanas diremos que rompemos o noivado. Até lá, não diga mais nada a ninguém. Fui claro? — Perfeitamente. — Ótimo. É melhor irmos embora. Já passa da meia-noite. Erin estava confusa demais para resistir. Sorrindo, acenou para Tessa do outro lado do pátio, relutante em mostrar-se derrotada. Pela maneira como as pessoas olhavam em sua direção, era óbvio que o rumor havia se espalhado. Como era óbvio que Nick pretendia ignorar a reação das pessoas. Estavam quase chegando à casa quando Dione surgiu do nada e parou diante deles. — É verdade? — perguntou, olhando para Nick como se quisesse agredi-lo. — Harley acabou de me contar que você vai se casar com sua sobrinha! — Ela não é minha sobrinha. E Harley já sabe disso. Sua mãe está lá dentro? Quero me despedir dela antes de ir embora.
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— Não pode estar falando sério! Ela é só uma criança! — Ela tem idade suficiente para falar por si mesma — Erin interferiu irritada. — Se não acredita, espere até receber o convite de casamento. Eles serão enviados em breve. Uma gargalhada ecoou em algum lugar atrás deles, provavelmente Tessa, desfrutando da expressão aturdida da jovem Wyman. Erin podia sentir a fúria emanando em ondas do corpo de Nick, mas não se arrependia do que fizera. Era hora de todos perceberem que não era uma flor delicada e dependente disposta a aceitar tudo que jogassem sobre sua cabeça. A luta estava apenas começando!
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CAPÍTULO VIII Pamela nem tentou esconder seus sentimentos quando a encontraram. — Podia ao menos ter prevenido Dione, em vez de deixar que ela soubesse de tudo dessa maneira! — A culpa foi minha — Erin interferiu. — Deixei a notícia escapar enquanto dançava com Harley, e ele a espalhou segundos depois, apesar de eu ter perdido segredo. — Isso não vem ao caso. Nicholas Carson, devia sentir vergonha de si mesmo. — Tem razão — ele respondeu sem se alterar. Assim que entraram no carro, Samantha também expressou sua opinião. — Vocês são dois dissimulados! Por que não me contaram antes? Fiz papel de idiota na festa! — Não exagere — Nick a repreendeu. Erin permanecia em silêncio. Qualquer outro homem teria desmentido toda a farsa, mas ele não a expusera ao ridículo. Por quê? — E então? Não vão dizer nada? — Samantha perguntou depois de uma pausa prolongada. — Dizer o quê? — Nick devolveu. — Qualquer coisa! Quando tudo começou, por exemplo? Hoje à tarde Erin estava fingindo que nem gostava de você!. — Não estava preparada para discutir o assunto — ela explicou. — Oh, mas não hesitou em discuti-lo com Harley. E mal conhecia o sujeito! — Não foi intencional. — Não? Ele disse que você estava ansiosa para dar a notícia! — Não foi bem assim, Sam. — Não importa. Quero saber como tudo começou e...
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— Você saberá o que precisa saber quando for conveniente — Nick cortou. Afrontada, a menina cruzou os braços e concluiu o trajeto em silêncio, e foi para o quarto sem sequer despedir-se. — Vamos conversar na biblioteca — Nick decidiu quando ficaram sozinhos. O aposento confortável e amplo era o mais afastado dos quartos, o que significava que teriam total privacidade. — Sei o que vai dizer — Erin começou ao vê-lo fechar a porta. — Não pude me conter e... — Mentira! Gostou de anunciar o casamento diante de todos. Especialmente de Dione. — Bem, eu tinha todo direito de estar ressentida. Fui tratada como uma criança enjeitada! Aquela mulher é indelicada, desagradável e grossa. E você devia tê-la colocado em seu devido lugar, se não pretendia se casar com ela. — Dione não é a única que precisa ser posta em seu devido lugar. — Como sua futura esposa, tenho o direito de impor-me diante da sociedade. — Já disse que vamos... — Sei o que você disse — ela cortou determinada. — Mas, se desistir do casamento agora, posso processá-lo por quebra de compromisso. — Nesse caso, farei o possível para contratar um bom advogado. Ele estava rindo! — Estou falando sério, Nick! Não vou desistir! Nick suspirou com um misto de cansaço e resignação. — Não daria certo... — começou. — Por que não? — ela disparou ansiosa, vislumbrando uma pequena possibilidade. — Não sou experiente, mas estou disposta a aprender. Serei tudo que você quiser. Só precisa me mostrar o que quer. — Casamento é mais que sexo. E você seria infeliz comigo, porque está encantada com o conceito, e esse encantamento vai desaparecer nas primeiras semanas.
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— Está enganado. Conheço a diferença entre amor e encantamento. — É claro que sim. — Se você apenas encantamento, teria desistido diante da primeira atitude insuportável que você tivesse, aliás, como essa que acaba de ter. Em alguns momentos você é muito desagradável, sabe? — Então estamos empatados. Não acha que isso reduz as chances de harmonia conjugal? — Harmonia em excesso acaba trazendo o tédio. Não há nada como uma boa discussão para fazer a adrenalina fluir. E a reconciliação é sempre deliciosa! Nick não conseguia mais conter o riso. — Está pintando um cenário irresistível! — Vai acabar concordando comigo. Por que não poupa tempo e energia e aceita a idéia do casamento de uma vez? Serei... — Já sei. A melhor esposa que um homem pode ter. Vamos ter de esperar para ver se cumpre todas as promessas. Erin atirou-se nos braços dele e beijou-o. Nick correspondeu com paixão, rendendo-se aos encantos da mulher que o fizera perder o juízo e cometer tantas loucuras. — Não vai se arrepender — ela murmurou com os lábios perto dos dele. — Nunca! — É melhor ir para a cama, Erin. Uma boa noite de sono é sempre a melhor conselheira. Vai acordar pensando de outra maneira. Sabia que nada a faria mudar de idéia, mas achou melhor não discutir. Tinha outros planos para aquela noite. — Não vai subir? — Preciso relaxar um pouco. Estou confuso depois de tudo que aconteceu. Sem argumentar, Erin subiu a escada, passou pela porta do quarto onde dormia e seguiu direto para a suíte de Nick, onde se despiu e deitou-se. Dessa vez ele não a expulsaria. Nunca mais. Estavam unidos por um laço indissolúvel. O casamento seria apenas uma formalidade.
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Esperou no escuro pelo que pareceu uma eternidade, até que Nick finalmente apareceu. Sem acender as luzes, ele se despiu e deu alguns passos na direção da cama, e só então a viu. — Não era isso que eu tinha em mente quando sugeri que fosse dormir — disse. — É uma questão de interpretação. Não vamos discutir a definição de conceitos, vamos? — Ousada, descobriu-se e abriu os braços, certa de que ele não resistiria à visão do corpo nu. Nick hesitou por alguns instantes. Depois abriu a gaveta da cômoda e, ao perceber o que ele fazia, Erin surpreendeu-se por não ter pensado nesse aspecto da questão. Mas se ele preferia garantir a segurança... Como na primeira vez, acordou em sua cama, mas pelo menos contava com a certeza de que tempos melhores se aproximavam. Resistira em deixálo, mas Nick havia insistido em mandá-la embora. Enquanto não se casassem, dormiriam em quartos separados, decidira. Erin não conseguia entender que diferença isso faria, mas... Sra. Nicholas Carson. Soava tão impressionante! Não havia razão para prolongarem a espera pelo casamento. Depois do que dissera a Dione, todos contavam com uma cerimônia em breve. Deitada, começou a planejar todos os detalhes, até que as batidas na porta a interromperam. O rosto de Samantha surgiu na fresta. — Pensei que pudesse estar acompanhada — ela disse. — Suponho que ele já tenha voltado para o próprio quarto. — Ele nunca o deixou — Erin respondeu-com honestidade. — Desculpe-me por não tê-la prevenido antes, mas... as coisas aconteceram sem que eu tivesse controle sobre elas. — Tudo aconteceu conforme você planejou, Erin. Quando teve a idéia? Quando eu disse que papai havia feito chantagem para tirá-la da escola? — Eu não fiz chantagem com Nick! — Foi quase isso. Deixou que Harley espalhasse a notícia em uma festa porque sabia que Nick não a desmentiria. Talvez... mas ele não teria concordado com o casamento se não a quisesse... pelo menos um pouco. — Amo esse homem — disse. — Ele é a melhor coisa que aconteceu em minha vida.
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— Como pode saber? Nunca teve outro namorado. Por que não se envolve com alguém como Harley Wyman? — Porque não quero mais ninguém. Nick é meu único amor. — Mas ele é velho! E é meu tio. Se insistir nesse casamento, ele também será meu cunhado. Já pensou nisso? Não, mas o conceito era interessante. — E eu serei sua tia, além de irmã. Que confusão! — riu. — Isso tudo é nojento! — Samantha explodiu furiosa. — Não vou aceitar uma situação tão... tão... imoral! — Imoral? Você não parecia preocupada com moralidade ontem à tarde, quando insinuou que eu devia ir para a cama com Nick! — Eu estava brincando. E não fui a única a sentir-me revoltada com esse casamento ridículo. Devia ter ouvido o que as pessoas diziam ontem à noite. — Não estou interessada no que as pessoas pensam ou falam. O amor não conhece barreiras. — Aposto que leu essa frase em algum romântico do século passado. Pois bem, faça como quiser. Mas não espere que eu vá ao casamento! Erin ficou sentada na cama por alguns minutos depois da partida da irmã, tentando não se deixar abalar pelo que ouvira. Sam acabaria aceitando a situação. Nick falaria com ela. Ele já estava sentado à mesa do café quando, meia hora mais tarde, Erin desceu. Samantha não estava na sala. — Bom dia, amor! — cumprimentou-o, parando atrás da cadeira para beijá-lo no rosto. — O que significa isso? — indagou uma voz escandalizada. — Bom dia, Bella. Estou apenas cumprimentando meu noivo. Vamos nos casar. Não é maravilhoso? Pálida, Bella encarou o patrão como se estivesse diante de um monstro. — Ela é só uma criança, sr. Nick! Em que está pensando?
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— Agora? Em uma xícara de café quente e forte. Não pretendia anunciar o casamento dessa maneira, Bella, mas logo toda a ilha estará comentando. — Alegre-se por nós! — Erin sentou-se sobre os joelhos de Nick e beijou-o nos lábios. — Sabemos o que estamos fazendo, não é, querido? — Já chega — ele decretou em voz baixa. Reconhecendo os sinais de impaciência nos olhos cinzentos, ela se mudou para uma cadeira e viu a governanta servir o café num silêncio reprovador antes de voltar à cozinha. — Mudou de idéia? — perguntou quando ficaram sozinhos. — Não, mas prefiro que mantenha os pés no chão. — O tempo todo? — ela indagou com um sorriso malicioso. — Em público, pelo menos. — Era impossível conter um sorriso. — Vamos ter de enfrentar muitas outras reações como a de Bella. — Isso é ridículo! Nós não... — Um ruído na porta a interrompeu. Samantha estava parada na soleira, ouvindo a conversa, e afastou-se correndo ao notar que a irmã percebera sua presença. — Sam! — O que está havendo? — ele estranhou. Erin fingiu uma calma que estava longe de sentir. — Acho que ela está convivendo muito com os Wyman. — Entendo. Pensei que ela houvesse ficado aborrecida por não ter sido prevenida, mas vejo que o problema é maior do que eu imaginava. — Samantha esteve em meu quarto há alguns minutos. Parece que as pessoas fizeram comentários desagradáveis. — Eu sabia que isso ia acontecer. Não me importo com o que dizem, mas você pode descobrir que é difícil enfrentar a maldade de certas pessoas. A questão vai além da diferença de idade. Você era enteada de meu irmão. Muitos verão o nosso relacionamento como algo... pecaminoso. — Qualquer pessoa estúpida o bastante para pensar dessa maneira não merece nossa consideração. Pelo menos podemos contar com o apoio de Tessa e Bryn. Eles já passaram pela mesma situação. Nick não apontou que eles haviam passado a maior parte do tempo longe das fofocas da ilha.
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— Terminou de embalar as telas? — Erin perguntou enquanto servia o café em duas xícaras. — Ainda nem comecei. Estava com muitas coisas na cabeça. — Espero ser uma delas. — Digamos que você é noventa por cento do que tenho em mente. — Uau! E depois de pensar tanto em mim, chegou a alguma conclusão? — ela provocou sorrindo. — Oh, sim! Concluí que o melhor que tenho a fazer é mandá-la para a escola de arte em Londres... assim que tivermos certeza de que não há nenhuma conseqüência para o que fizemos. — Está arrependido? Por favor, Nick, não desista agora! Sei que você me quer! — E que homem poderia não desejá-la? O comentário era menos do que desejava ouvir, mas sabia que não conseguiria muito mais que aquilo no momento. Nick jamais havia pronunciado a palavra amor. Nem mesmo na noite anterior, no auge da paixão, embora ela a houvesse repetido dezenas de vezes. Mas sabia que as emoções de um homem estavam ligadas ao aspecto físico do relacionamento, enquanto as mulheres eram mais românticas. — Quer ajuda com os quadros? — perguntou, desistindo do assunto temporariamente. — Prometo ser cuidadosa. — Ótimo. Tenho de terminar de embalar as telas ainda hoje. Se concluirmos o trabalho até a hora do almoço, poderemos ir até Bathsheba à tarde. Vai gostar da costa do Atlântico. Erin hesitou. — Samantha está incluída no convite? — Se ela quiser ir. Depois do que vi há pouco, duvido que esteja interessada em nossa companhia. — Não pode conversar com ela? — E dizer o quê? Não posso alterar os fatores com os quais Samantha está aborrecida. Não, Erin. Ela vai ter de superar sozinha. Nick tinha razão. Sam não se deixaria envolver por palavras. O mais adequado seria fazê-la entender que eram felizes, apesar da diferença da idade. E se nem isso desse resultado... Bem, Sam teria de aceitar a situação.
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Seguiram para o estúdio, onde começaram a embalar as telas que seriam mandadas para Nova York. — Também aceita encomendas? — Erin perguntou. — Ocasionalmente. Aquela tela com os cortadores de cana foi encomendada por alguém que viveu aqui e queria uma recordação. Ela será enviada para Nova York com uma etiqueta indicando que já foi vendida. Um excelente estímulo para outros compradores. — Pelo que Miles disse quando estivemos lá, o público não precisa de incentivo. — Nick estava sem camisa, e o trabalho contínuo fizera brotar uma fina camada de suor em suas costas. Incapaz de conter-se, ela se aproximou e enlaçou-o pela cintura, apoiando o rosto em suas costas. — Nem eu — disse. — Estou sempre pronta para você. Rindo, ele segurou a mão dela antes que o objetivo fosse alcançado. — Comporte-se, Erin! Este não é o lugar ideal para certas intimidades. — Por que não? Costuma ser interrompido quando vem trabalhar? Acha que alguém pode aparecer? — Não sei. E nem pretendo correr riscos desnecessários. Contenha seu entusiasmo. Ela o encarou insegura, sentindo uma certa mudança em sua atitude. — Não é só sexo que espero de você, Nick. O problema é que você é tão bom nisso, que não consigo me controlar — brincou. — Eu me esforço. — Apesar da resposta debochada, era evidente que a atmosfera sofrera alterações. — Preciso ir buscar fita adesiva. Por que não começa a recolher o material que não foi utilizado? Assim poderemos sair mais depressa. Erin o viu sair e, desconsolada, tentou imaginar o que-Nick esperava dela. Falara de seus sentimentos sem reservas. De certo ele compreendia que sexo era apenas uma parte da atração? Sozinha, limpou o estúdio e aproveitou para analisar os quadros que não seriam mandados para Nova York. Enfileirados em suportes próprios, eles ocupavam a parede dos fundos e atraíam sua atenção como um ímã poderoso. O primeiro retratava Bella em um vestido vermelho, arranjando algumas flores em um vaso. Era evidente que Nick a pintara sem que ela percebesse, e mais clara ainda era a intenção de não se desfazer da obra. Ao passar para a tela seguinte, Erin sentiu o estômago contraído e se deu conta de que, na verdade, estivera mesmo procurando por aquilo. Dione reclinada em uma
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espreguiçadeira, um braço apoiado sobre o encosto, o outro descansando sobre a coxa, os lábios distendidos por um sorriso sedutor. O corpo era perfeito, com proporções que desafiavam a lógica e a fisiologia, mas o que realmente importava era que Nick guardara o retrato junto com os trabalhos que considerava especiais. E devia ser. A mulher fora sua amante! Talvez houvesse outros como aquele, um estudo completo sobre a anatomia feminina baseado nas mulheres com quem ele se deitara. Se houvesse, não queria ver mais nada. Seria a esposa de Nick. Isso era mais que todas as outras haviam conseguido. Uma coisa que jamais permitiria, no entanto, seria que ele a pintasse nua. Depois do que acabara de ver, sabia que se sentiria inadequada.
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CAPÍTULO IX A praia castigada pelas ondas era fenomenal, e Nick fez alguns esboços da paisagem e um de Erin, perdida na contemplação do oceano. — Eu nem percebi! — ela se espantou ao ver o retrato. — Era essa a intenção. Na semana passada percebi que você não é o tipo de modelo que pode ser retratada em uma pose de estúdio. Seria como tentar imobilizar uma força da natureza. — Está falando sério, ou não quer ficar comigo no estúdio por medo de sucumbir ao meu poder de sedução? — Engraçadinha! Falando nisso, sabia que eu havia voltado quando decidiu ir nadar nua naquela noite? — Não — ela respondeu séria. — Não ouvi o carro. Não tinha um maio, e por isso decidi mergulhar despida. Não imaginava que pudesse haver alguém por perto. E quando o vi, pensei que fosse uma alucinação. — E eu tirei proveito disso... — Você fez apenas o que eu queria que fizesse. Pare de censurar-se! — Vou tentar — Nick sorriu. — Por que não me mostra o que é capaz de fazer? — Ele ofereceu o bloco de papel e o lápis. — Oh, não! Sou apenas uma amadora! — Talentosa, de acordo com Sam. Vamos lá, desenhe a paisagem, as gaivotas... Qualquer coisa. Os olhos azuis foram iluminados por um brilho intenso. Segurando o bloco junto ao peito, ela executou movimentos suaves e concluiu o esboço com uma assinatura rabiscada no canto inferior da página. — Retrato de um artista — disse, devolvendo o bloco. Nick examinou o desenho e começou a rir. Erin havia feito uma caricatura dele diante de um cavalete, segurando um pincel maior que seu braço e mordendo a língua numa expressão exagerada de concentração. Pensara em acrescentar uma mulher nua reclinada em uma espreguiçadeira, mas achou melhor não revelar a fonte daquela súbita inspiração.
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— Além de talento, também tem senso de humor — ele comentou, devolvendo o bloco. — Tente algo mais sério, está bem? Dessa vez Erin desenhou mais devagar, a testa franzida e os olhos apertados contra a luz intensa do sol. Nick permaneceu em silêncio até que ela devolveu o bloco com um movimento de ombros que sugeria inibição. — Não está muito bom. Os olhos não saíram como eu queria. Ela o desenhara novamente, mas dessa vez com realismo. Notando que seu trabalho era analisado com atenção excessiva, Erin inquietou-se. — Não precisa ser gentil. Não vou tentar o suicídio se disser que o desenho é ruim. — Ruim? É ótimo! Tem razão quando diz que os olhos podiam ser melhores, mas eles são o traço mais difícil de capturar em um retrato. Você tem talento. Só precisa lapidá-lo. E será um prazer ajudá-la, Erin. — Não está dizendo essas coisas só para me agradar? — Seria cruel alimentar falsas esperanças. Além do mais, a pintura vai representar uma faceta a mais em nossa lua-de-mel. — Lua-de-mel? — Acontece sempre depois do casamento. Quer escolher algum lugar em especial, ou prefere que eu faça surpresa? — Oh, Nick! Prefiro a surpresa. Devo ser uma mulher de muita sorte. Beijou-o e desejou que estivessem sozinhos. Mesmo que fizessem amor dezenas de vezes, nunca seria o bastante! Eram quase seis da tarde quando voltaram para casa. Bella os recebeu na porta, e havia uma sombra de preocupação nos olhos escuros. Sam estava desaparecida há quatro horas. O terreno fora vasculhado duas vezes, mas não encontraram nem sinal dela. Nick decidiu sair de carro para procurar pela sobrinha, e Erin, conhecendo a irmã, resolveu acompanhá-lo. Depois de meia hora percorrendo as trilhas entre os canaviais sem nenhum sucesso, Erin sugeriu que fossem a Bridgetown. Nick guiou o carro na direção da cidade, e sua expressão indicava que Sam estaria encrencada se fosse encontrada por lá. De sua parte, Erin só queria certificar-se de que a irmã estava bem. Enquanto ele conduzia o veículo em velocidade reduzida, Erin seguia atenta aos pequenos grupos reunidos nas ruas iluminadas. Alguns turistas
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ainda passeavam e apreciavam as vitrinas das lojas na avenida principal, e jovens se reuniam em torno de mesas de bares ou nas calças, exibindo roupas elegantes e rindo com a alegria típica da adolescência. Samantha estava em um desses últimos grupos. Tim mantinha um braço apoiado sobre os ombros exibidos pelo vestido justo e decotado, a saia tão curta que mal cobria a porção superior das coxas. Erin sabia que aquela roupa não havia sido comprada em sua companhia. Nick parou o carro ao lado do grupo e desceu sem dizer nada. De costas para a rua, Samantha foi pega de surpresa pela voz imperiosa. — Entre no carro. E você, mocinho, é melhor desaparecer por um bom tempo. —Ei, qual é o problema? — Tim respondeu com ousadia, mantendo o braço sobre os ombros de Sam. — Estamos apenas nos divertindo. Era evidente que estivera bebendo. E pelo olhar insolente de Samantha, ela acompanhara os amigos. — Não vou a lugar algum com você! Furioso, Nick segurou-a pelo braço e quase a jogou dentro do carro, fechando a porta de trás com uma violência assustadora. Apesar da contrariedade, Samantha não tentou sair ou argumentar. Pelo menos ainda conservava uma certa noção de perigo. Tim e os outros integrantes do grupo permaneceram onde estavam, sem coragem para enfrentar o adulto que se sentava diante do volante e ligava o motor. Por mais que quisesse dizer algumas verdades à irmã, Erin achou melhor ficar quieta. Nick estava lidando muito bem com a situação. — Espero que nunca mais repita o que fez hoje — ele disse. — Por quê? Não tem o direito de me dar ordens! — Samantha explodiu revoltada, certamente buscando coragem no álcool. — Odeio você! — Continue assim, e vai ter motivos bem concretos para odiar-me. Quando comprou essa roupa ridícula? — Não foi quando estivemos juntas na cidade — Erin afirmou impaciente. — Esteve faltando à escola? — E se estive?
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— Samantha, você foi matriculada há uma semana! Que tipo de impressão espera causar? — Relaxe, Nick. Foi só um intervalo para o almoço. Além do mais, você me deu aquele talão de cheques para que eu fosse independente, certo? — Se é assim que pretende usar seu dinheiro, talvez tenha de tomar algumas medidas corretivas. Como chegou à cidade? — Tim foi me buscar no portão de casa. — Se queria sair, por que não foi conosco à praia? — indagou Erin. — Porque não queria estar com vocês! E ainda não quero! Isso tudo é horrível! — Já chega! — De repente Nick parecia prestes a perder a paciência. — De agora em diante, está proibida de se relacionar com Tim Wyman. Quero que fique bem longe dele. Samantha não respondeu. Em casa, Nick obrigou-a a mudar de roupa e lavar o rosto. — Precisa comer alguma coisa para ajudar o estômago a absorver o que esteve bebendo. Vou dizer a Bella para atrasar o jantar em meia hora. Erin subiu, lutando contra a irritação que ameaçava dominá-la. Era inútil dizer a si mesma que não tinha culpa pelo comportamento de Samantha, quando sabia que tudo havia sido uma reação direta ao que acontecera recentemente. Nick devia estar arrependido por ter atendido ao telefonema do sr. Gordon! Depois de uma ducha rápida e revigorante, foi ao quarto da irmã e encontrou-a dormindo profundamente. Talvez fosse melhor assim. No dia seguinte, quando a levasse para a escola, tentaria ter uma conversa honesta e equilibrada com a adolescente. Nick a esperava na sala com um uísque na mão. — Quer beber alguma coisa? — ofereceu. — Não, obrigada. Sam está dormindo. Espero que não acorde com uma ressaca. — Seria uma excelente lição para ela. Este papel de pai severo nunca fez parte do meu roteiro, sabe? — Deve estar farto de nós duas. Só trouxemos problemas para você. — Tem razão.
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— Ainda não é tarde demais. Se quiser recuperar seu antigo estilo de vida... — Esqueça. Eu sempre termino o que começo. — Esvaziou o copo de um só gole e deixou-o sobre uma mesa de canto. — Vamos jantar. Conversaram pouco durante a refeição. A certa altura, Erin não suportou mais a tensão e decidiu dizer o que a incomodava. — Se quiser tomar outra atitude com relação a nós duas, certamente entenderei e... — O que acha que posso fazer? — Pode mandar Samantha para o colégio interno, por exemplo. — Onde ela não ficaria, como você disse. — Talvez fique. Suponho que a escolha do colégio seja importante. — E quanto a você, o que tem a sugerir? — Você mencionou a escola de arte. Sei que o custo seria alto, mas... — Pelo amor de Deus, quer parar de pensar nos custos de tudo? Não me importo com o dinheiro! — Você se importaria, se tivesse pouco. Como estava dizendo, não seria apenas a mensalidade da escola. Teria de pensar em moradia, alimentação, material e... — Você não vai a lugar nenhum! Vai ficar aqui, ao lado de sua irmã. Sei lidar com Samantha. Quanto a você... — De repente ele se levantou, contornou a mesa, tomou-a nos braços e beijou-a. — Não vai sair daqui — repetiu. — Não quero sair. Só pensei que... — Não pense. Vamos encontrar uma solução para tudo. Gostaria de ouvir Nick dizer que a amava, mas sabia que isso não ia acontecer. Ele só aceitara o casamento por se sentir culpado. Ainda a queria, e a noite anterior havia sido a prova desse desejo, mas por quanto tempo continuaria interessado em suas respostas ingênuas e simples? Talvez devesse comprar livros sobre o assunto. Aprenderia a manter o interesse do homem que amava, e o resto viria com o tempo. — Vamos para a cama — murmurou.
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Fizeram amor no quarto dela. Erin não se importava com o lugar onde estavam, desde que ficassem juntos. E também não queria vê-lo partir antes do amanhecer. Sonhava acordar ao lado de Nick todos os dias, e não queria esperar por uma cerimônia tola para realizar esse sonho. Que diferença faria um simples pedaço de papel? — É tarde — ele murmurou. — Acho melhor ir... — Fique. — Erin, por mais que a idéia seja tentadora, existem coisas que temos de levar em consideração. Volte a dormir. — E partiu. Sozinha, ela soube que não poderia pegar no sono novamente. Samantha estava acordada e vestida quando Erin entrou em seu quarto, e a novidade a surpreendeu. — Sente dor de cabeça? — perguntou, disposta a ser tolerante. — Não bebi tanto assim. E não preciso da sua compreensão. Se quer saber a verdade, ainda estou furiosa por terem me envergonhado daquela maneira. Nick não tinha o direito de... — Nick é responsável por sua segurança. Não devia ter saído sem avisar. Bella estava aflita quando chegamos. — O que faço não é da conta dela! — Ela estava preocupada pensando que podia ter se perdido. Devia ser grata por viver cercada de pessoas que se importam com você. E se acha que Nick vai permitir que viva de acordo com regras próprias, é melhor pensar novamente. — Por quê? Ele só se importa com você. Sou apenas um empecilho. — Isso não é verdade! Você é sobrinha dele, a única filha do irmão que ele perdeu! É claro que Nick a ama. Por que mais a teria trazido para cá, se podia ter optado por um colégio interno onde outros se responsabilizariam por seu bem-estar? — Ele só me trouxe para cá porque você não teria vindo sem mim. Ouvi quando ele tentava convencê-la naquela manhã em nossa casa. O homem ficou louco assim que a viu! — Deixe de ser vulgar! — Erin explodiu. — Nick precisava da minha presença nesta casa para evitar os comentários maldosos! — E mais provável que as pessoas falem a seu respeito agora. Aposto que ele a seduziu naquela primeira noite, quando os deixei sozinhos.
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— Está enganada. Fui eu que tomei a iniciativa. Eu disse a Harley que íamos nos casar. Nick podia ter me desmentido diante de todos, mas... — Mas não fez nada, porque a situação o agradou. Erin sabia que era inútil argumentar. Sam havia decidido que era apenas um meio para a obtenção dos fins que Nick sempre tivera em mente, e nada abalaria essa convicção. — E melhor descermos para o café, ou vai perder a aula. — Pelo menos tenho a escola! Seria horrível ter de passar o dia todo nesta casa! Durante a refeição matinal, Nick não mencionou a noite anterior. Os carregadores chegariam a qualquer momento para retirar as telas, e ele parecia mais interessado em comer e ir para o estúdio. — Estou pensando em ir a Bridgetown depois de deixar Sam na escola. Precisa de alguma coisa? — Erin perguntou. — Espuma de barbear, se for possível. A idéia de comprar algo tão pessoal sugeria uma intimidade que Erin não esperava conquistar tão cedo, e o pedido a encheu de esperança. — A propósito — ele continuou —, Tessa telefonou ontem à noite, enquanto estávamos fora. O irmão e a cunhada chegaram e ela vai oferecer um jantar esta noite. Somos esperados por volta das oito. Era pouco provável que Sam estivesse incluída no convite. E menos provável ainda que ela quisesse ir. — Não podemos deixar minha irmã sozinha — começou. — Também não podemos resolver nossas vidas em torno de Sam. Bella e Joshua ficarão aqui até voltarmos. — Quer ter certeza de que ela não vai sair novamente? — Por quê? Acha que fui duro demais ontem à noite? — Não. Oh, Nick, Sam está agindo de maneira estranha! Nunca a vi tão revoltada! — Ela nunca teve Tim Wyman para colocar idéias em sua cabeça. Val devia pôr uma coleira naquele garoto.— E levantou-se. — Agora tenho de ir. Até mais tarde.
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Samantha não disse uma única palavra no trajeto até a escola, e também não se despediu ao saltar do carro e entrar no edifício junto com outros jovens. A culpa era dela, Erin reconheceu enquanto seguia para a cidade. Mesmo que se sentisse atraído por ela, Nick jamais teria tomado a iniciativa. Ela havia dado o primeiro passo. Num nível inconsciente, esperara ser encontrada naquela noite, quando fora nadar nua. Sam acertara ao acusá-la de ter feito chantagem emocional. Um preço justo pelo privilégio de sua virgindade, não poderia ter colocado a intenção de maneira mais clara. Mesmo assim, ele recusara a chance de escapar, o que a enchia de esperança. E apesar de toda a rebeldia, Samantha acabaria aceitando a idéia do casamento. Teria de aceitá-la. Tudo daria certo!
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CAPÍTULO X Bridgetown estava movimentada naquela manhã. Erin esteve na butique onde comprara o vestido azul e escolheu mais dois, uma calça e dois shorts. Ainda era cedo para pensar no enxoval, mas já que estava ali, podia aproveitar para olhar alguns tecidos de decoração. Gostaria de mudar as cores da suíte principal. Sonhando com um futuro cor-de-rosa, vagou pelas lojas e entrou em algumas delas, até que, enquanto examinava um tecido perfeito para as cortinas, ouviu uma voz gelada. — Eu não faria muitos planos para gastar o dinheiro de Nick antes de ter uma aliança no dedo. Ele ainda pode recuperar o bom senso. Forçando um sorriso, Erin virou-se e sentiu o impacto corrosivo do olhar de Dione. — Ele já recuperou o bom senso — disse. — Desista. — Acha mesmo que o conquistou, não é? — Estou certa disso. E não me importaria se ele fosse pobre. — Não sou nenhuma idiota. Estou seguindo seus movimentos há vinte minutos. É evidente que está ansiosa para fazer umas comprinhas. Até aquele momento Erin não havia percebido que entrara na Wyman's, mas era tarde demais para vacilar. — Pensei que tivesse coisas mais importantes para fazer. De qualquer maneira, eu tenho. Até outro dia. — Não pense que pode manter um homem como Nick satisfeito, por muito tempo. Ele perdeu o juízo temporariamente, mas uma certidão de casamento não vai mantê-lo acorrentado em sua cama! — Não encaro o casamento como uma prisão. Com licença, mas tenho mesmo de ir. Saiu de cabeça erguida, apesar do tremor que a sacudia por dentro. O significado do comentário era óbvio: quando Nick se cansasse dela, Dione estaria esperando de braços abertos. Determinada a lutar com todas as armas, parou em uma livraria em comprou um livro que despertou um olhar curioso por parte do balconista. A julgar pelo que vira nas primeiras páginas, sabia menos ainda do que
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imaginava sobre o assunto. Algumas posições retratadas lembravam verdadeiros malabarismos! Mas se aquele era o caminho para manter o interesse de um homem... Nick havia saído quando Erin chegou em casa. Bella não soube dar informações sobre o paradeiro do patrão. A julgar pelo comportamento da governanta desde o dia anterior, Erin sabia que seria inútil fazer perguntas. Como Sam, Bella teria de se conformar com a situação. A opinião de Nick era a única que importava. Nada o obrigava a se casar com ela. Sendo assim, devia realmente desejar a união. De que mais precisava para ser feliz? Mesmo assim, teve de se esforçar para não perguntar onde ele havia estado quando o viu chegar, por volta das quatro da tarde. — Pensei que gostaria de estar aqui quando os carregadores chegassem — comentou. — Eles já levaram as telas. Encontrou tudo que queria? — Sim. Deixei a espuma de barbear no seu banheiro. Oh, sim, e encontrei Dione na cidade. — Em que lugar? — Na Wyman's. Ela foi bastante desagradável. — Deve ter pensado que você queria provocá-la. — Que bobagem! Nem havia percebido que estava naquela loja até ouvir a voz dela. Fui ver alguns tecidos para as cortinas e... — Cortinas? Acha que a casa precisa ser redecorada? A ironia a atingiu em cheio, mas Erin se manteve firme. — Não, mas gostaria de mudar as cores do seu quarto. Isto é, se vamos nos instalar lá depois do casamento... — Que cores gostaria de usar? Era hora de injetar um pouco de humor na conversa, antes que a situação escapasse ao controle. — Que tal rosa e dourado? — Nem sobre o meu cadáver! Nick estava sorrindo, o que significava que o truque havia surtido efeito. Disposta a tirar proveito do momento, ela se aproximou e beijou-o.
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Estavam na varanda, e o contato rápido aliado ao calor do sol foi suficiente para excitá-la. — Vamos para o quarto... — Estou esperando um telefonema. Lamento, mas vamos ter de guardar todo esse entusiasmo para um momento mais propício. — Em outras palavras, você decide onde e quando? Isso é machismo! — Prudência. Preciso conservar minhas energias. De acordo com o livro, a iniciativa feminina era um poderoso estimulante, desde que usada com moderação. O orgulho masculino era frágil. — Já ouviu dizer que o entusiasmo inicial desaparece com o passar do tempo? — brincou. — Garanto que vai se arrepender quando eu começar a sofrer súbitas dores de cabeça. — Manterei um bom estoque de analgésicos. — Ele riu. — E já que estamos falando no assunto, para quando espera seu próximo período? Sei que é preciso interromper o uso da pílula mensalmente para permitir a menstruação. Quando isso vai acontecer? — Não sei — respondeu de cabeça baixa, tentando esconder um rubor culpado. — Preciso verificar. — Está ocultando alguma coisa, Erin? — Não — mentiu. — Eu só... — E respirou fundo. — Está bem, confesso que já devia ter parado. Mas alguns dias não fazem diferença. — Qual é o problema? Tem medo de que nada aconteça quando interromper o uso do medicamento? — Refere-se à possibilidade de uma gravidez? A chance é tão remota que nem me preocupa. — Então, por que... Já sei. Tinha outros planos para o final de semana, não é? — Não é bem assim. Queria que fizesse amor comigo outra vez, mas não planejei o que aconteceu no sábado à noite. Não seria capaz de planejar ocorrências tão aleatórias. — Talvez não, mas com a ajuda de Tessa Marshall tudo é possível. — Ela não tem culpa de nada.
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— Eu sei. A culpa é minha. De qualquer forma, é melhor parar com os anticoncepcionais imediatamente. Dentro de uma semana estaremos casados. Espero que não esteja sonhando com uma cerimônia grandiosa. Prefiro manter uma certa discrição. — Não me importo com a cerimônia. Só quero estar com você. O toque do telefone interrompeu a conversa Nick foi atender e Erin o seguiu, mantendo uma certa distância para garantir a privacidade. Mesmo assim, podia ouvir tudo de onde estava. — Não está na hora de ir buscar Samantha na escola? — ele perguntou, cobrindo o aparelho com a mão. Era verdade. —Até a volta — disse, sufocando o sentimento de rejeição e as suspeitas que tentavam ganhar espaço em sua mente. — Sim, amanhã está ótimo — Nick disse ao telefone. — Às onze. Um encontro de negócios. Sim, devia ser isso. Quando chegou à escola, Erin não encontrou a irmã no portão. Ninguém sabia dizer onde ela podia estar. Prestes a entrar para pedir informações, sentiu-se dividida entre o alívio e a irritação ao vê-la caminhando lentamente, como se o tempo não tivesse a menor importância. Tim Wyman a acompanhava. — Estou esperando há quase dez minutos! O que estava fazendo? — Nada muito importante, comparado a você. A propósito, não precisa mais vir buscar-me. Consegui uma carona. — Obrigada, Tim, mas não precisa se incomodar. Venha, Sam. — É melhor obedecer a irmãzinha — Tim aconselhou ao ver a jovem hesitar. — Não quero que seu tio Nick me ataque novamente. Até amanhã. Sam entrou no carro e bateu a porta com violência desnecessária. — Você é tão insuportável quanto ele! Por que não me deixam em paz? — Você sabe porquê. Não tem dado provas de ser responsável. — Oh, e você é melhor que eu! Aposto que é verdade o que as pessoas andam dizendo! — O que estão dizendo? — Que ele só vai se casar porque você está grávida!
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— Isso é mentira. As pessoas estão enganadas. — Tem certeza? Por que mais ele trocaria Dione por você? Tim me contou que os dois estavam juntos há algum tempo. — O que não significa que Nick tivesse a intenção de se casar com ela. — Mas significa que dormia com ela antes de dormir com você! — É melhor não repetir essas palavras perto de seu tio. Ele seria capaz de lavar sua boca com sabão. — Ele não se atreveria! E então, como foi? — Como foi o quê? — Você sabe. Já se deitou com ele, não é? — Pare com isso, Sam... Por favor, tente entender. Eu o amo! — Se insistir nesse casamento, nunca mais voltarei a falar com você. Estou falando sério. Erin não respondeu. Amava a irmã, mas não cederia à pressão. Naquela noite, Nick e Erin deixaram Samantha assistindo à tevê. Bella ficaria na casa até mais tarde, esperando pelo retorno do patrão. — Estou perdendo a paciência com aquela mocinha — Nick comentou quando entraram no carro. — Talvez o colégio interno seja uma boa idéia, afinal. — Ela vai acabar se conformando. Deve estar com ciúme, só isso. — Ciúme? — Ela projetou em você a imagem do herói. Faz parte do crescimento. — Oh, sim! E você já passou desse estágio, é claro. — Há muito tempo. O que sinto por você é amor de verdade. — Como não se cansa de repetir. — E vou continuar repetindo até você se acostumar com a idéia. A noite na casa dos Marshall foi agradável. A certa altura, quando conversava com Oliver, o irmão de Tessa, um homem da mesma idade de Nick, Erin aproveitou para perguntar: — Como reagiu quando soube que sua irmã ia se casar com Bryn? Devia ter sete ou oito anos, não?
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— Oito. E fiquei muito impressionado. — Mas acabou aceitando o casamento? — Tinha de pensar em mim, na vida nova que estava começando. Bryn estava reformando esta casa e comprou a nossa propriedade, então vizinha ao terreno, para ampliar o espaço. Mamãe havia se casado com Roland e nós nos mudamos para a casa dele, um lugar com uma praia privada e um barco no portão. Para mim, foi como encontrar o paraíso. Mas... por que perguntou? Está enfrentando problemas com sua irmã? — Alguns? — Ela vai acabar se conformando depois que você e Nick estiverem casados. E mais ainda quando chegar o primeiro sobrinho. Pretende ter filhos? — No mínimo dois. — Eu não esperaria muito tempo para começar. Nick pode perder o interesse pelo som de pés pequeninos depois dos quarenta anos. Talvez já houvessem começado. Interrompera o uso da pílula, mas ainda teria de esperar alguns dias para saber ao certo. Tessa aproximou-se para dizer ao irmão que a esposa procurava por ele. Assim que ficou sozinha com Erin, ela disparou: — Não sabe como estou feliz por tudo ter dado certo. Adorei ver a cara de Dione no sábado, na festa dos Wyman. — Eu não devia ter dito aquilo. — É claro que devia. Ela encontrou o que procurava. Além do mais, você não estava mentindo. Os convites estão sendo distribuídos, não? — Será uma cerimônia muito simples. Além de você e Bryn, nem sei quem mais estará presente. — De uma coisa pode estar certa: os Wyman não estarão lá. Passava da meia-noite quando se despediram de todos e voltaram para casa. Durante o trajeto, Erin cedeu ao impulso de formular a pergunta que estivera em sua mente nos últimos dias. — Naquela primeira noite você disse que ainda não havia encontrado uma mulher capaz de fazê-lo pensar na rotina da convivência diária. Ainda pensa assim?
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— Estou começando a mudar de idéia — ele riu. — Com o tempo, talvez possa até me animar com a perspectiva. Erin riu, embora a resposta ainda não fosse aquela que gostaria de ouvir. Como se houvesse um acordo tácito entre eles, subiram a escada da casa de mãos dadas e foram para o quarto dela, onde fizeram amor com ardor e urgência. Vencido o estágio de torpor que se seguiu ao clímax, Erin levantou-se para ir ao banheiro. — Volte logo — Nick murmurou. — A noite está apenas começando.
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CAPÍTULO XI Nick estava sentado na cama quando ela saiu do banheiro. O abajur estava aceso, e ele segurava entre as mãos o livro que Erin esquecera sobre a cômoda. A expressão com que a encarou era inquietante. — De onde veio isto? — Da livraria. Eu comprei o livro. — Sem entender a atitude de Nick, de repente não sabia que palavras usar para explicar-se. — Queria saber como mantê-lo... satisfeito. — E acha que acrobacias sexuais serão suficientes? — Bem, não só as acrobacias. — Estava parada no meio do quarto, nua, submetida a um olhar que não tinha nada de amoroso ou terno. — Só pensei que devia saber um pouco mais sobre as preferências masculinas. — Vejo que estou a página certa para a performance desta noite. O sarcasmo a feriu. Mais ainda por se tratar de uma acusação injusta. — O que aconteceu foi espontâneo — defendeu-se. — Já havia percebido que existem coisas que nenhum livro pode ensinar. Amo você, Nick. Só quero fazê-lo feliz. Não havia ternura no sorriso que distendeu seus lábios. — Pode obter o que tem comigo com qualquer outro homem. — Não! — Sem se importar com a própria nudez ou com ouvidos atentos do outro lado da parede, caminhou até ele, tirou o livro de suas mãos e jogou-o do outro lado do quarto. — Você é o único homem que quero! — Sou o único que conhece de forma mais íntima. Talvez seja melhor reservar as afirmações categóricas para quando tiver alguma base de comparação. — O que pretende fazer? Contratar alguém para mostrar-me outras técnicas? — Abaixe o tom de voz! Quer acordar sua irmã? Erin mordeu o lábio. Devia ser tarde demais para esse tipo de preocupação. O robe de algodão que comprada naquela manhã permanecia
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embrulhado sobre a cadeira, e ela abriu o pacote e vestiu-se apressada, tentando recuperar parte da dignidade. — Tudo isso por causa de um livro estúpido! E pensar que nem tive tempo para terminar de folheá-lo! — Não é só o livro. É a situação toda. Acho que preciso de um psiquiatra. Devo estar maluco por ter permitido que isso acontecesse! Boquiaberta e confusa, Erin ficou parada enquanto ele se levantava da cama. O primeiro impulso era de atirar-se a seus pés e recusar-se a aceitar o que ele parecia estar dizendo, mas o orgulho a impedia de agir. — Suponho que deva agradecer à sorte por ter recuperado o bom senso a tempo — disse, vencendo o nó que se formara em sua garganta. Nick terminou de vestir a calça antes de encará-la. — A tempo de quê? — De cancelar o casamento. — Nem pense nisso. Já disse que costumo terminar tudo que eu começo. — E se eu quiser desistir? — Esqueça! A raiva oferecia um refúgio satisfatório para a dor causada pela resposta seca. Agarrando o relógio de porcelana que ficava sobre o criadomudo, atirou-o em sua direção, deixando de acertá-lo na cabeça por alguns poucos milímetros. O estrondo da peça se chocando contra a parede foi ensurdecedor no silêncio da noite. Erin levou a mão à boca ao se dar conta do que acabara de fazer. — Nick, eu sinto muito! — disse com voz trêmula. — Podia ter machucado você! — Com essa pontaria? Duvido! — Se estava zangado, sabia disfarçar o que sentia. Ele estudou o rosto ruborizado com expressão estranha, como se estivesse dividido entre a vontade de rir e a preocupação. — Quer desistir do casamento? — Você sabe que não. Quantas vezes vou ter de dizer que o amo? O sorriso era fraco. — Tem uma maneira estranha de demonstrar amor.
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— Nunca fiz nada parecido antes. E prometo nunca mais repetir essa loucura. — Nunca é uma palavra muito forte. Por outro lado, é melhor não contar com tanta tolerância no futuro. E por favor, trate de recolher todos os pedaços do relógio antes que Bella os encontre. Ela vai perceber que a peça desapareceu, mas diremos que você o derrubou sem querer. E o seguro cobrirá o valor. Os olhos azuis revelavam desânimo e temor. — Quer dizer que o relógio era valioso? — Tinha um certo valor, sim. Teria feito alguma diferença, se soubesse antes. — Suponho que não. Estava perturbada demais para pensar em detalhes desse tipo. — Um riso rouco escapou de sua garganta, mas o sorriso desapareceu quando percebeu que Nick terminava de se vestir. — Continua disposto a deixar-me? — Levando em consideração a grande probabilidade de Sam estar acordada e atenta depois de todo esse barulho, creio que é a melhor política. De qualquer maneira, precisamos dormir. Erin pensou em dizer que podiam dormir juntos, mas sabia que seria perda de tempo. E ele tinha razão, Sam não podia estar dormindo depois de todo o barulho que fizera arremessando o relógio contra a parede. Considerando as circunstâncias, era bem provável que não voltassem a fazer amor antes do casamento. Uma semana inteira de espera. Não poderia suportar. Foi preciso muita força de vontade para conter-se quando Nick beijoua nos lábios e deu-lhe boa-noite. — Durma bem — ele concluiu com tom suave antes de sair. Erin despiu o robe e voltou para a cama, enterrando o rosto no travesseiro que ele usara. Não poderia dormir sem o calor e o conforto dos braços fortes em torno de seu corpo. Alguns dias mais tarde, quando obteve a confirmação de que não estava grávida, Erin foi invadida por sentimentos confusos. Por um lado lamentava não estar esperando um filho de Nick. Por outro lado estava aliviada, porque temia que ele a rejeitasse quando começasse a engordar. Afinal, ele não se mostrara pesaroso ao saber da notícia.
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Apesar do que Oliver dissera, tinham muito tempo. Podiam esperar mais um ou dois anos. O relacionamento com a irmã ainda era péssimo. Samantha não comentou se havia ou não acordado na noite do incidente com o relógio, mas sua atitude na manhã seguinte deixara evidente, pelo menos para Erin, que não só ouvirá o barulho, como o interpretara a sua maneira. A tolerância de Nick diminuía dia-a-dia. Se Samantha não voltasse a se comportar com um mínimo de boas maneiras, ele passaria a tratá-la como a menina mimada que era. E Nick era um homem que nunca deixava de cumprir uma ameaça — Você não se atreveria! — ela respondeu com um desdém que fez Erin esperar pelo pior. — A lei me protege contra agressões físicas. — A lei inglesa, talvez. Aqui as coisas são bem diferentes. E não me importo com o que pensa a meu respeito. É sua irmã que está sofrendo. Era como tentar dialogar com uma parede. Infeliz, Erin acompanhava a cena e via no rosto da irmã a determinação e a teimosia. Se continuasse agindo daquela maneira, Sam acabaria tendo motivos concretos para se arrepender. E a culpa era dela. Não levara em consideração sentimentos alheios quando decidira conquistar o homem que a despertara para o amor. O próprio Nick fora induzido a assumir, um compromisso para a qual não estava preparado. Podia reparar seu erro desistindo do casamento, mas não tinha coragem para abrir mão de tudo. Mais cedo ou mais tarde Sam teria de perceber que não conseguiria mudar nada com aquele comportamento infantil e egoísta. Só esperava que ela não demorasse muito a ouvir a voz da razão. O casamento aconteceria na encantadora igreja de St. Andrew, no alto de uma colina de onde era possível ver a costa do Atlântico. Nick levou-a para conhecer o pastor, e depois para visitar o Hotel Sandy Lane, onde ele arranjara uma recepção para doze ou quinze pessoas, muitas delas desconhecidas para Erin. O amigo que ele convidara para ser seu padrinho chegaria de Nova York no domingo. Com a ajuda de Tessa, Erin aumentou o guarda-roupa tendo em vista a lua-de-mel em um local de clima quente, porém desconhecido. O vestido que escolheu para a cerimônia era uma confecção simples em renda inglesa, e na cabeça ela usaria apenas um arranjo de flores naturais que com-'. binaria com o buquê.
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— Vai parecer um anjo! — Tessa opinou enquanto almoçavam no Hilton. — Devia deixar os cabelos soltos, caindo sobre os ombros como uma capa dourada. — Nesse caso ficaria mais parecida com Alice. Aquela do País das Maravilhas. Nick não gostaria de me ver entrando na igreja com cara de quem vai fazer a primeira comunhão! Na verdade, ainda me sinto culpada por tê-lo empurrado para o altar. — Duvido que ele houvesse se deixado empurrar para algo que não quisesse. Admito que o casamento não teria acontecido tão depressa, mas teria acontecido eventualmente. É evidente que ele é maluco por você! — Gostaria de ter essa certeza, mas sei que está enganada. Nick nunca disse que me ama! — Bem, os homens não são muito bons com as palavras. Pensam que uma declaração de amor pode comprometer sua virilidade. Espere só até a lua-de-mel. E surpreendente como a atmosfera da suíte nupcial pode torná-los românticos! Deve ter alguma relação com o sentimento de propriedade, acho. Erin riu. — Vou acreditar no que está dizendo. — Oliver me contou que está enfrentando problemas com sua irmã. Ela já aceitou a situação? Considerando que Sam casamento, era inútil mentir.
continuava
afirmando
que
não
iria
ao
— Não. Ela continua revoltada com tudo que está acontecendo? — E Nick, com tem lidado com lidado com a sobrinha? — Bem, até agora, mas temo que ele acabe perdendo a paciência. — Talvez seja o melhor para ela. — Oh, não! Sam o odiaria para sempre! — Então vai ter de esperar que ela cresça o bastante para reconhecer que não é a pessoa mais importante do mundo. Sua irmã ainda acredita que é o eixo em torno do qual você gravita. Ninguém poderia obrigar Samantha a comparecer ao casamento, como Nick já havia dito. Tudo que podia esperar era que, no dia marcado, ela mudasse de idéia. A experiência não teria o mesmo valor sem ela.
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Naquela tarde, quando foi buscar a irmã na escola, Erin descobriu que ela a desafiara e saíra no carro de Tim. Dessa vez Nick ficaria realmente furioso! Sem saber onde procurá-la, voltou para casa com a esperança de descobri-la no quarto ou na piscina, e foi com alívio que identificou o carro esporte do rapaz parado a alguma distância do portão. Nenhum dos ocupantes-se mostrou incomodado quando Erin parou o automóvel ao lado do deles. Suspeitava de que haviam estado trocando beijos, mas não havia prova disso. — Se Nick souber disso, vocês vão se arrepender — disse com tom severo. — E melhor entrar aqui, Sam. E você, Tim, trate de ficar bem longe dela. O sorriso do rapaz debochava de sua impaciência. — Estou tremendo de medo! Até amanhã, docinho — disse a Samantha, que já descia do veículo. Ela sorriu e acenou antes de entrar no Mercedes, mas sua expressão sofreu uma alteração drástica quando Erin pôs o carro em movimento. — Já disse que não precisa ir me buscar. — E eu já disse que vai voltar da escola comigo todos os dias. Tim Wyman é velho demais para você. — Olhe só quem fala! — É diferente. — É claro que sim! Nick tem idade para ser seu pai! Ou quase. — Estou dizendo que é diferente porque já tenho idade para saber o que sinto. Não há nada de errado em ter um namorado da sua idade, mas Tim Wyman está fora de questão. — Você não o conhece! Não sabe de nada! — Samantha gritou furiosa. — Por que não pergunta a Tim aonde seu querido Nick vai quando sai sozinho? Estavam chegando ao portão. Erin parou o carro no acostamento e ficou imóvel, olhando através do pára-brisas sem enxergar nada. — O que está dizendo? — perguntou em voz baixa.
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— Ele tem encontrado Dione. Tim os viu juntos ontem à tarde, a caminho de Frame Cove. Lá é bem tranqüilo e deserto, especialmente durante a semana. A qualquer instante a dor surgiria, mas por enquanto sentia apenas o torpor. Nick não estivera em casa quando retomara com Sam no dia anterior, e não explicara onde havia ido. — Erin? — A beligerância desaparecera da voz de Sam, dando lugar a algo que soava como apreensão. — Diga alguma coisa. — O que quer que eu diga? — Não sei. Qualquer coisa. Diga que estou mentindo. Por uni momento a esperança ameaçou desabrochar em seu coração. — Está mentindo? Sam hesitou antes de balançar a cabeça devagar. — Mas pode ter sido um encontro inocente — justificou. "E os porcos podem voar", Erin pensou, sentindo o torpor desaparecer na mesma medida em que cenas horríveis desfilavam por sua mente. Nunca fora a Frame Cove, mas Sam falara como se conhecesse o lugar. Quando e como era algo que perguntaria em outra ocasião. E se a localização não recebia visitantes nos dias de semana, devia ser o cenário perfeito para um encontro amoroso. Podia ver os dois deitados juntos sob uma palmeira, os raios de sol penetrando por entre as folhas e banhando partes dos corpos nus e bronzeados. Dione não precisava de um livro para saber o que fazer, conhecia todos os truques. — É melhor entrarmos — disse, incapaz de suportar a tortura imposta pela própria imaginação. — Bella já deve ter preparado o chá. Estavam subindo a alameda que levava à entrada principal quando Sam falou: — O que vai fazer? — Não sei — Erin respondeu com tom neutro. — Confrontá-lo, acho. Pedir uma explicação. — Sentindo a reação da irmã, encolheu os ombros. — Tem razão. De que adiantaria? — Não vai se casar com ele, não é? Quero dizer, não pode continuar amando alguém capaz de um gesto tão horrível. Falta de confiança não era a melhor base para um casamento. Nick decidira desposá-la porque havia sido pressionado, mas jamais seria capaz da
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dar a ele o que uma mulher como Dione podia oferecer. Era melhor desistir de tudo enquanto ainda havia tempo. — Não. Não haverá mais casamento nenhum — confirmou com o mesmo tom inexpressivo. — Vou dizer a ele que mudei de idéia. Mas não hoje. E você não vai contar nada disso a ninguém. — É claro que não. — Sam parecia inquieta, como se só então percebesse o que havia desencadeado. — E quanto aos arranjos? — Serão cancelados. Hoje ainda é quinta-feira. Temos tempo de sobra. A aparição de Bella na porta da casa encerrou a conversa. — O chá está pronto! Onde estiveram? — Já estamos entrando — Erin respondeu enquanto descia do carro. — Desculpe o atraso. O aborrecimento da governanta desapareceu diante do rosto pálido e dos olhos sem brilho. — Está sentindo alguma coisa, menina? — perguntou com tom carinhoso. — Deve ter comido alguma coisa que não me fez bem — Erin respondeu. — Vou me deitar um pouco. — Faça isso. Direi ao sr. Nick onde poderá encontrá-la. — Por favor, não. Preciso ficar sozinha. Era óbvio que Sam também não estava preparada para encará-lo naquele momento. Erin pensou em ficar e apoiar a irmã, mas precisava mesmo de alguns instantes de solidão. O quarto onde estivera com Nick não serviu de refúgio. Por isso foi se sentar na varanda e ficou olhando para a piscina com o coração disparado. Bella devia ter servido o chá na varanda, porque podia ouvir a voz de Samantha, embora não identificasse as palavras. Nick respondia em tom ainda mais baixo, e de repente Sam tornou-se estridente. — É de você que ela está enjoada! Erin me disse que não quer mais se casar! Gelada, esperou pela resposta de Nick, mas só ouviu o silêncio. Minutos depois ele entrou no quarto sem se dar ao trabalho de bater na porta. — Sente-se melhor? — perguntou.
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Ela balançou a cabeça devagar, lutando contra o ímpeto de atirar alguma coisa contra o homem que destruíra seus sonhos. Houve uma pausa prolongada. — Tem algo a me dizer? — Sim. — O momento havia chegado. Com esforço, engoliu o nó que se formava em sua garganta. — Eu... mudei de idéia com relação ao casamento. — Assim? De uma hora para a outra? — Não foi bem assim. Suponho que não estar grávida teve alguma coisa a ver com minha decisão. — Você nunca acreditou na possibilidade de uma gravidez. Por que a certeza faria tanta diferença quanto ao que sente? — Não sei, mas alguma coisa aconteceu. Hoje percebi que passei as últimas semanas vivendo num mundo de sonhos, numa espécie de castelo romântico construído de areia. Gostei de fazer amor com você, e por isso imaginei que estivesse apaixonada. — E agora não pensa mais assim? — Não. E também não estou apaixonada. — Foi tudo que conseguiu dizer, e assim mesmo com muito esforço. Era horrível ter de mentir. O amor não deixava de existir quando o objeto desse sentimento provava ser indigno dele. Essa era mais uma lição que acabara de aprender. — Eu... sinto muito. Sei que teve muito trabalho, sem falar nas despesas, e... — É melhor assim. Pelo menos compreendeu tudo antes da cerimônia. E não se preocupe com os arranjos. É fácil cancelar tudo. Concentre-se apenas no que deseja fazer com sua vida de agora em diante. O que faria? Não chegara tão longe. Mas uma coisa sabia com certeza espantosa. Não permaneceria naquela casa. O próprio Nick ficaria satisfeito quando se livrasse dela. — Quero voltar para casa — disse. — Para a Inglaterra. O dinheiro que depositou na minha conta é suficiente para pagar a passagem e cobrir minhas despesas por alguns dias, enquanto tomo as primeiras providências. O Serviço Social encontrará um lugar onde eu possa morar. — Acha mesmo que vou concordar com isso? — Nick perguntou irritado. —Você não tem escolha Não estou sob sua responsabilidade.
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— Mas Sam é minha sobrinha e vai continuar vivendo aqui. Está disposta a deixá-la? Erin engoliu a primeira onda de angústia. — Não posso levá-la comigo, posso? — Não. Ela terá de aprender a viver sem você. —E virou-se para sair. — E será melhor se não nos encontrarmos por enquanto. Pedirei a Bella para trazer uma bandeja com o chá. Ela vai ficar contente quando souber que já se recuperou. E ficaria ainda mais feliz quando soubesse que o casamento havia sido cancelado, Erin pensou, contendo o desejo de chamá-lo antes que a porta fosse fechada. De que adiantaria? Mesmo que contasse o que sabia sobre ele e Dione, o sonho havia terminado. Nick superaria o choque, a raiva por ter tido tanto trabalho em vão, e então viria o alívio por estar livre. Mais tarde, depois de Bella ter deixado a bandeja com o chá e despejado meia dúzia de conselhos sobre a importância da boa nutrição para o crescimento, Erin se deu conta de que estivera agindo como uma criança. Uma mulher adulta não teria reagido daquela maneira ao que podia ser simplesmente um boato. Sam não vira Nick e Dione juntos, apenas ouvira o relato de Tim. E se ele houvesse mentido? Era tarde demais. No dia seguinte devolveria tudo que havia comprado para o casamento, reservaria um lugar no próximo vôo para Londres e partiria, de preferência antes da segunda-feira. Voltar para casa no dia em que deveria estar se casando seria mais do que podia suportar. A noite estava chegando quando Sam entrou no quarto como um furacão. — Nick disse que você vai voltar para casa! Não pode fazer isso, Erin! Não vou ficar aqui sem você! — Você não tem escolha. Mesmo que Nick permitisse, eu não poderia levá-la comigo. Não tenho meios de sobrevivência. — Não precisa ir embora! Agora que desistiu do casamento, tudo voltará a ser como antes. — E tarde demais, Sam. Nada será como antes. Não posso ficar aqui. Sinto muito, mas vai ter de enfrentar a separação. — Pode encontrar outro lugar para morar. Aposto que a sra. Marshall a ajudaria, se fosse procurá-la.
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— Nem pense nisso. A única maneira de viver longe de Nick e tentar esquecê-lo é ir para algum lugar onde eu jamais possa encontrá-lo. Samantha ficou em silêncio por um momento. — Quer dizer que ainda o ama? — É claro que sim. Ninguém deixa de amar alguém só porque essa pessoa cometeu algum erro. — Ele não fez nada de errado. — O quê? — Erin murmurou. — Está tentando dizer... — A idéia foi de Tim. — Que idéia? — Ah, você sabe, a idéia de dizer que eles estavam juntos. Ele sabia que eu queria impedir seu casamento com Nick. Era difícil conter a raiva que aflorava em seu peito. — Você conseguiu o que queria — disse em voz baixa, temendo perder o controle. — Eu sinto muito. Senti ciúme de você! Nick é meu tio, mas não teria pensado em me trazer para cá se não a houvesse visto em casa naquela noite. Ele nem gosta de mim! — Não seja ridícula! É claro que ele gosta de você. Mas como alguém pode demonstrar o que sente, se é obrigado a passar o tempo todo se defendendo de acusações injustas e infantis? — Eu estraguei tudo! — Sam soluçou, dando vazão às lágrimas. Erin respirou fundo e abraçou-a. — Tudo bem, tudo bem. Eu entendo. — Como pode dizer que está tudo bem? Disse a Nick que desistiu do casamento, e a culpa é toda minha! Não pode ir procurá-lo e dizer que cometeu um engano? Ou que mudou de idéia? — Infelizmente não. — Sabia que seria difícil superar o ressentimento pela menina que arruinara sua vida e... Mas não. Sam não havia arruinado nada. Se tivesse pedido explicações a Nick como uma mulher adulta, em vez de simplesmente aceitar a palavra de Sam, nada estaria acontecendo.
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— Sou tão culpada quanto você por tudo que estou vivendo. O amor só existe se estiver lado a lado com a confiança, e eu não confiei em Nick. Vá para a cama, está bem? Amanhã é dia de aula. — Nunca mais chegarei perto de Tim Wyman! Não ficaria surpresa se soubesse que ele agiu a mando da irmã! Erin já havia pensado nisso. Não que a possibilidade alterasse alguma coisa. — Vai mesmo voltar para casa, Erin? — Não tenho outra alternativa. A menina assentiu resignada, como se aceitasse um castigo merecido, e saiu em silêncio. Horas mais tarde, Erin ainda estava deitada no escuro, longe de conseguir dormir, quando a porta se abriu. Nick não acendeu a luz, mas aproximou-se da cama com passos decididos. — Sam me contou tudo — ele anunciou sem rodeios. — Por que não disse a verdade? — Porque estava preocupada demais com o meu orgulho. Sinto muito. — Por acreditar em uma mentira, ou por ter dito que desistiu do casamento? — Pelos dois. Sei que está aliviado por se livrar de mim e... — Sabe? — Sim, sei que me comportei muito mal. — Tem razão. Desde o início. — Espero que acredite que não foi intencional. Pode me perdoar? — Por ter duvidado de mim? Sim. Mas o que me fez passar nas últimas horas... Foi pior que conhecer o inferno. Pensei que a houvesse perdido. Erin estava atônita, tentando sufocar a onda de calor que envolvia seu coração. Não suportaria outra decepção. — E isso teria sido... ruim? — Ruim? Foi pior que a morte! Será que ainda não percebeu que a amo, Erin? Desde o primeiro instante que passamos juntos. A princípio tentei ignorar, negar o sentimento, e até consegui convencer-me de que estava sendo
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apenas generoso por traze-la para cá junto com Sam. Mas naquela noite em que a encontrei na piscina... Naquela noite a farsa acabou. — Se já sabia que gostava de mim, por que me tratou tão mal na manhã seguinte? — murmurou, incapaz de acreditar no fim do pesadelo. — Por culpa. Não só havia seduzido uma menina com pouco mais da metade da minha idade, como havia despertado um impulso sexual que você não sabia controlar. — É claro que sabia! Estava me controlando muito bem, até você começar a me dar lições de moral! — É verdade. Por isso jogou um relógio contra a parede. — Nick... — Prometo comprar uma coleção de relógios para o nosso quarto. Quer se casar comigo, Erin? Juro que nunca houve ninguém tão importante quanto você em minha vida. — Oh, Nick! Isso é tudo que eu quero! Certa de que o amor que sentia era correspondido, pela primeira vez abraçou-o sem a intenção de seduzi-lo. Sabia que sexo não era o único objetivo de Nick. Ele a amava. A lua-de-mel podia esperar.
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EPÍLOGO — Eu os declaro marido e mulher — concluiu o pastor, provocando suspiros em alguns membros da congregação. A primeira reação de Erin foi de alívio. Haviam sido dias frenéticos. Finalmente podia relaxar. — Onde você vai? — perguntou uma voz aguda quando ela se virou para seguir Nick. — Quieto — Bella aconselhou. — Seus pais têm de ir assinar o livro com tia Samantha e tio Alan. — Não vamos demorar — Erin prometeu. — Fique com Bella, Ryan. — E seguiu o marido. — Não imagina como fiquei aliviada quando Sam desistiu de colocá-lo entre os pajens. Já pensou no que poderia ter acontecido? — Nem quero pensar. Nosso filho é a personificação da encrenca! — Nick murmurou. — Como qualquer menino de três anos de idade. — Eu não apostaria nisso. Tivemos sorte com nossa primeira filha. Ela sempre foi bem-comportada. Estavam chegando na sacristia. Erin viu a filha de seis anos de idade entre o grupo de damas de honra bem perto dos noivos. Linda como um poema no vestido lilás e branco, com cabelos dourados que lembravam um manto sobre suas costas, Francesca exibia uma serenidade incompatível com a idade que tinha. Oito anos atrás, Erin estivera no lugar que Sam ocupava naquele momento. Aos quarenta e dois anos, Nick não parecia muito diferente do homem por quem ela se apaixonara, elegante e imponente no fraque negro que realçava seus cabelos espessos. Havia sido um tempo maravilhoso. E a felicidade só fazia crescer com o passar dos anos.
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Nick a incentivara a dedicar-se à pintura, e algumas de suas telas haviam sido vendidas em galerias de Londres e Nova York. Juntos tiveram dois filhos maravilhosos com quem passavam todo o tempo possível, e a paixão que os incendiara no início ainda ardia intensa. E para coroar aqueles oito anos de felicidade, Samantha estava se casando. Deviam tudo a Nick. Ao homem que enchera seu coração de amor e esperança.
FIM
KAY THORPE nasceu em Sheffield em 1935 e experimentou diversos empregos depois de deixar a escola. Escrever começou como um hobby, tomando-se um meio de vida somente depois de seu primeiro romance ter sido aceito para publicação em 1968. Desde então, ela escreveu mais de cinqüenta, e atualmente vive com o marido, o filho, um cachorro e um gato nos arredores de Chesterfield, em Derbyshire. Seus interesses incluem literatura, caminhadas e viagens.
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