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31/12/2009 - 09:08 - ATUALIZADO EM 31/12/2009 - 10:23
Do Complexo do Alemão ao American Ballet 0
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JULIANA RESENDE, DE LONDRES
Neste Natal, o Brasil deu um presente raro ao Reino Unido: em vez de futebol, dança, em cadeia nacional. O documentário ONLY WHEN I DANCE, que conta a saga de dois jovens bailarinos, moradores de áreas pobres do Rio de Janeiro, foi exibido pelo Canal 4 no dia 25, às 13h25 – horário nobre na TV aberta britânica. “Queríamos contar uma história diferente da violência e do tráfico de drogas nas favelas. Foi quando deparamos com esses grandes talentos”, diz a diretora inglesa Beadie Finzi. Ela encantou-se com Irlan Silva, de 19 anos, criado no Complexo do Alemão, um dos morros mais violentos do Rio, atual integrante do prestigiado American Ballet Theatre, e com Isabela Coracy, de 18, recém-contratada pela São Paulo Cia. de Dança, depois de temporada com Deborah Colker. Foi Christina Daniels, produtora brasileira radicada em Londres, quem descobriu Irlan e Isabela, há quatro anos. “Via só coisas bem negativas na imprensa e fiquei com vontade de mostrar outra realidade”, diz ela. Fruto de uma parceria anglo-brasileira entre a Jinga Pictures e a Tigerlily Films, o documentário mostra a dedicação e o triunfo desses dois disciplinados adolescentes que têm em comum – além do talento – a disposição para contornar obstáculos. Enquanto participam de concursos nacionais e internacionais de dança, eles seguem as atividades escolares e enfrentam anos de estudo de balé clássico no Centro de Dança Rio, que é o ponto de partida do filme.
GARRA E TALENTO Irlan Silva em cena e no cartaz do filme. Segundo o New York Times, ele é o “Billy Elliot da vida real”. Acima, Isabela, de 18 anos, e Rafaela, de 9, no Centro de Dança Rio
A “raça” de todos os envolvidos impressiona e inspira. Isabela tem de conciliar as dificuldades do dia a dia com a preparação física e psicológica para os testes. Sua luta cotidiana é um dos pontos altos do filme, embora não tenha alcançado ainda o mesmo sucesso de Irlan Silva. Aos 19 anos, ele é um fenômeno que tira o fôlego do espectador, especialmente quando dança Nijinsky (1890-1950) na Suíça, arrancando lágrimas de uma das juradas. “O filme me ajuda a ficar cada vez mais conhecido, porque está sendo exibido em vários festivais de cinema do mundo”, diz o bailarino. Ao falar de Only when I dance, o jornal americano The New York Times chamou Irlan de “Billy Elliot da vida real”. Mas Irlan não concorda muito com a comparação. “O que vejo de mais semelhante entre a vida do protagonista e a minha é a resistência que meu pai teve em relação ao balé clássico quando comecei a dançar”, diz ele. “Mas, depois de assistir a meu primeiro espetáculo, ele começou a aceitar minha decisão e apoiar meu sonho de me tornar bailarino.” O filme já foi exibido nas mostras do Rio e de São Paulo, mas ainda não tem data para estrear no Brasil.
O Centro de Dança Rio, onde Irlan e Isabela estudaram, é um berço de excelência, mesmo sem nenhum incentivo público ou privado. Instalado no bairro do Méier há 30 anos, vem formando e exportando talentos regular e surpreendentemente. O principal deles é Thiago Soares, primeiro bailarino do Royal Ballet de Londres, também mostrado no documentário. Apesar desse enorme sucesso, a escola do Méier luta para sobreviver. “Fomos aprovados para captar R$ 185 mil anuais pela Lei Rouanet, mas estamos tentando prorrogação da aprovação pela terceira vez devido à dificuldade de encontrar patrocínio”, afirma Mariza Estrella, fundadora e diretora do Centro. A escola tem 450 alunos e 80 bolsistas, entre eles Rafaela Luiza de Oliveira, de 9 anos, que Mariza já identifica como um talento em potencial. A vida de Rafaela também é marcada por dificuldades financeiras. “Ela tem quatro irmãos e mora na subida do morro de Lins de Vasconcelos”, diz a diretora. “Tia Mariza” é quase uma mãe para os alunos de sua escola. No filme, ela vibra com cada vitória de Irlan, ao mesmo tempo que aconselha Isabela a dançar conforme a música, com o carinho de uma (fada) madrinha. Ela inscreve e acompanha os alunos nas principais competições de dança no Brasil e no exterior e, não raro, contribui também com dinheiro do próprio bolso. “Com US$ 200 mensais podemos custear as despesas de alunos de famílias pobres que mais se destacam no circuito de concursos e festivais”, diz ela. No site do filme (www.onlywhenidance.com), há um canal para doações para o Centro de Dança Rio, o The Vida Ballet Fund.
O que é preciso para tornar-se Irlan ou Isabela 1- Amor à dança Ambos começaram a estudar balé aos 11 anos e, de lá para cá, não medem esforços para triunfar em cima no palco 2 - Muita determinação Enfrentar adversidades com a cabeça erguida e postura de primeiro bailarino 3 - Dedicação total Ter disciplina espartana de aulas e ensaios, além de cuidar da alimentação e do corpo 4 - Investimento É preciso ter verba para vencer na dança clássica. Só uma sapatilha de ponta custa cerca de R$ 60 5 - Apoio familiar A família, seja humilde ou abastada, deve apoiar a carreira do bailarino, não só financeira como psicologicamente
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