OLHOS PARA O LAGO
VIA PAISAGÍSTICA NA ORLA DO LAGO PARANOÁ
JULIANA DA SILVA
OLHOS PARA O LAGO: VIA PAISAGÍSTICA NA ORLA DO LAGO PARANOÁ
Universidade de Brasília Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Trabalho Final de Graduação Orientadora: Prof. Dr.a Gabriela de Souza Tenorio Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - UnB Banca examinadora: Prof. Dr. Orlando Vinícius Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - UnB Prof. Dr. Benny Schvarsberg Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - UnB Prof. Dr. Marcos Thadeu
Brasília- DF
SUMÁRIO Introdução Olhos Pra o Lago Justificativa Objetivo Metodologia Contextualização Caracterização Ambiental Viária Usos Diagnóstico Potencialidades Problemas Proposta
Olhos para o Lago: No imaginário coletivo, podemos encarar os cursos d’água como espaços de convívio e lazer, além de serem marcos referenciais de caráter turístico.¹ É possível perceber a importância dada aos cursos d’água nos exemplos que vemos ao redor do mundo: quando os rios ou lagos são realmente valorizados, a cidade se volta para a água e as edificações tiram partido das vistas. As suas margens jamais são obstruídas, pelo contrário, são potencializadoras do convívio social, aproveitando todas as oportunidades que a água disponibiliza. Como consequência dessa valorização, tornam-se espaços de lazer sempre frequentados, fazendo parte do cotidiano da população. Apesar desses exemplos, o que vemos no caso de Brasília e de muitas outras regiões do país é que o potencial dos cursos d’água foi sendo constantemente negligenciado na formação da cidade. No Brasil, sabe-se que toda margem de curso d’água é considerada Área de Preservação Permanente (APP). Este fato se torna paradoxal quando os consideramos em regiões urbanas. Por um lado existe toda uma atração que os rios e lagos exercem sobre as pessoas em meio às múltiplas funções urbanísticas, e de outro, o impedimento de sua ocupação formal visando à preservação de suas funções ambientais.²² Devido à falta de destinação e tratamento de limites das áreas de APP, sem qualquer projeto urbanístico ou legislação específica, estes espaços acabam tornando-se vazios na malha urbana, áreas residuais abandonadas que comprometem, inclusive, a segurança das pessoas.
Vista do Lago Paranoá e Plano Piloto de Brasília. Acervo Pessoal
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Justificativa
Objetivo
O Lago Paranoá esteve presente desde a concepção de Brasília e como a maioria dos cursos d’água, foi um importante estruturador urbano. A relação da cidade com o Lago passou por diversas fases, e hoje ele representa um importante referencial para a população, que busca cada dia mais a sua utilização como espaço de lazer. Além disso, representa um importante elemento componente da identidade da capital. Sabendo que um dos maiores problemas relacionados à orla do Lago é sua inacessibilidade e a sua condição de espaço público rodeado por barreiras e fachadas cegas, que trazem insegurança e monotonia, a criação de uma via paisagística, aliada à possibilidade de fachadas ativas poderia vir a solucionar estes problemas e favorecer o seu uso. Uma via que possa conectar a orla com a cidade, dando mais visibilidade ao Lago por meio dos acessos criados, além de limitar o avanço dos lotes lindeiros. A criação dos acessos deve considerar pontos estratégicos, perto das paradas de ônibus e comércio, fovorecendo a chegada de usuários que não residem nas áreas próximas. A facilidade de acesso às margens do Lago justificaria a criação de alguns serviços de comércio e apoio, que consequentemente estimulariam a permanência das pessoas nestes espaços. O comércio que já existe hoje em alguns lotes residenciais também viria a ser regularizado, dando preferência aos lotes que rodeiam as áreas de lazer. A partir do desenvolvimento e consolidação da orla como espaço público, os moradores das casas que hoje dão as costas para o Lago, teriam a oportunidade de abrir as portas para um espaço de lazer equipado, valorizando cada vez mais um elemento com tanto potencial que é o Lago Paranoá.
O presente trabalho tem como objetivo conceber um desenho de via paisagística que se estenda por toda a orla pública do Lago Paranoá, conectando os parques e áreas de lazer, auxiliando na consolidação da orla do Lago como espaço público e respeitando as condições ambientais. Além disso, pretende estudar as relações público/ privado existentes para evitar as fachadas cegas; criar mais acessos para a orla, tornando-a mais permeável, caminhável e visível; possibilitar bolsões de atividades nos principais acessos; trazer mais conexão com as vias existentes para que o Lago seja mais acessível por transporte público, ciclovias, e calçadas.
Metodologia
A primeira etapa do trabalho aprofunda o conhecimento do objeto de estudo, trazendo um apanhado de pesquisa sobre o histórico da criação do Lago Paranoá e da ocupação de suas margens, com destaque para alguns projetos anteriores de recuperação do Lago, a desobstrução e o atual Projeto Orla Livre. Também foi analisada a documentação relacionada à área, incluindo legislação turística, ambiental, patrimonial, planos diretores e Plano de Manejo da APA (Área de Preservação Ambiental) do Paranoá. A segunda etapa trata da caracterização física, ambiental, funcional e sociológica da área de projeto, a partir da elaboração de mapas. Na terceira etapa será feita a sobreposição destes mapas de caracterização para a elaboração de um mapa síntese de potencialidades e problemas, realizando assim, um diagnóstico da área de intervenção. O diagnóstico irá identificar os pontos de maior potencialidade na orla, relacionada também às áreas adjacentes. Por fim, é elaborada a proposta buscando alcançar o objetivo de consolidação do espaço público.
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Vista do Lago Paranoรก . Acervo Pessoal
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CONTEXTUALIZAÇÃO No projeto original da cidade de Brasília, as margens do Lago Paranoá receberiam cidade universitária, os setores de embaixada e um grande parque de feição “naturalística e rústica” onde seriam permitidos a construção de clubes náuticos, balneários, restaurantes e outros equipamentos de lazer. O acesso a essas áreas se daria por uma grande alameda que se embrenharia por campos.³ Porém, houve uma desvirtuação do traçado original do plano urbanístico de Lucio Costa4, que previa uma avenida entre a orla do lago e um setor residencial localizado próximo às margens. Previam-se igualmente setores ilhados, cercados de arvoredo e de campo, destinado a loteamento para casas individuais, sugerindo-se uma disposição dentada em cremalheira, para que as casas construídas nos lotes de topo se destaquem na paisagem afastadas umas das outras, disposição que ainda permite acesso autônomo de serviço para todos os lotes. (COSTA, 1992, item 20)
AVENIDA
Posteriormente, o júri que elegeu o projeto considerou que havia “demasiada quantidade indiscriminada de terra entre o centro governamental e o lago”, e que “a parte mais longínqua do lago e as penínsulas não são utilizadas para habitações”. A partir disso, a cidade foi deslocada cerca de 800 metros em direção ao lago, e foram criados o Setor de Habitação Individual Sul e Norte com o objetivo de integrar mais o lago com o resto da cidade já que, segundo a Comissão Julgadora, isso não estava na proposta de Lucio Costa. É possível perceber que no projeto original os fundos de lote se encontram dando para uma rua de serviço, e suas frentes seriam acessadas por uma área verde. O que aconteceu realmente foi que “rua de serviços” passou a ser a rua de acesso dos lotes, que têm apenas uma entrada, e o acesso previsto hoje se configura como fundos de lote. Essa nova configuração acabou gerando espaços residuais e sem utilidade que com o passar do tempo começaram a ser invadidos, assim como a orla do Lago Paranoá.
AVENIDA
Figura 2- Planta oficial de Brasília na data da inauguração Fonte: www.jobim.org/lucio Figura 1- Ocupação da Orla no Projeto Original de Lúcio Costa com detalhe das casas em disposição dentada. Fonte: www.museuvirtuabrasilia.org.br
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O principal problema dessa nova ocupação foi a desconsideração da avenida que se localizava junto às margens do lago, com o setor residencial a oeste da pista. Se o traçado do Plano Urbanístico para a Orla esboçado por Lucio Costa fosse respeitado e cumprido, as margens não poderiam ser invadidas por residências e, a via proposta, poderia ser futuramente dotada de infraestrutura de lazer e circulação, talvez abarcando vários modais de transporte como ciclovia, ônibus ou bondinhos para turismo, além de se considerar o transporte náutico. A falta de tratamento das margens fez com que os moradores começassem a ocupá-la irregularmente com a justificativa de que era um espaço abandonado e perigoso, sujeito ao acúmulo de lixo.
A apropriação privada O processo de apropriação privada no Lago Paranoá iniciou-se logo após a sua construção. A princípio, o Setor de Mansões Isoladas, que já era previsto no projeto original como “casas avulsas isoladas de alto padrão arquitetônico” fomentou a construção de mais casas na parte norte, resultando no Setor de Habitação Individual Norte. As penínsulas já estavam sendo ocupadas nos primeiros anos de construção, pois serviam de acampamento provisório para os engenheiros que construíam a barragem. Segundo consta no relatório do Plano Piloto:
Os condomínios residenciais também se alastraram em diferentes zonas sob o descaso do governo e a falta de fiscalização, hoje são um dos principais empecilhos à integração da orla. Todos estes condomínios já estão consolidados e passaram ou passam por processo de regularização. Além disso, o Lago Paranoá foi um alvo constante dos agentes imobiliários, atraídos pelo seu potencial turístico. O governo, pressionado por este mercado, acabou fazendo alterações de regulamentos urbanísticos, ambientais e de conservação. Tudo isso resulta na restrição ao acesso e uso do bem público pela população. Segundo Parente (2006), o resultado dessa falha de projeto (a falta de destinação destas áreas), foi o avanço dos lotes lindeiros invadindo a orla, como regra não consentida.
O Projeto Orla de 1995 O Projeto Orla foi criado em 1992 e iniciado em 1995. A Proposta visava propiciar uma articulação entre a cidade e o Lago Paranoá. Alertava Brasília para o potencial do Lago no que diz respeito à oferta de atividades de turismo e lazer, propondo onze polos com empreendimentos diversos.
O objetivo principal era transformar a orla, até então restrita aos clubes e moradores da região, em um grande complexo de lazer e turismo aberto a toda população e aos visitantes da cidade.4 O conjunto dos polos contribuiria para o turismo e a economia, gerando mais empregos e democratizando o lago. A maioria dos polos de atração se localizava no Plano Piloto, onde já existem grandes áreas desocupadas e de fácil acesso. O projeto possuía as seguintes diretrizes gerais expressas em seu documento base: - Manutenção da orla livre para acessos e usos públicos; - Preservação da horizontalidade da paisagem; - Valorização de um patrimônio cultural da humanidade; - Recuperação dos princípios que nortearam a criação da cida de; - Manutenção da predominância de espaços livres e arboriza dos sobre os espaços construídos, característicos da escala bucólica de Brasília. A principal crítica ao projeto deveu-se ao fato de os polos serem tratados de maneira isolada, citando apenas a existência de uma futura alameda que faria a conexão entre eles.
Evitou-se a localização dos bairros residenciais na orla da lagoa, a fim de preservá-la intacta, tratada com bosques e campos de feição naturalista e rústica para os passeios e amenidades bucólicas de toda a população urbana. Apenas os clubes esportivos, os restaurantes, os lugares de recreio, os balneários e núcleos de pesca poderão chegar à beira d’água. (COSTA, 1995, p. 294)
Ao contrário do que previa Lucio Costa, o processo de ocupação desrespeitou totalmente o caráter do lago, com a invasão das áreas de APP por parte dos moradores, e inclusive dos clubes, que apesar de poderem chegar até a orla ainda assim extrapolam os limites do lote, construindo também por cima do espelho d’água.
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Figura 3- Orla da Península Norte Fonte: www.g1.globo.com
Figura 5- Conexão entre os polos do Projeto Orla Fonte: Lago Paranoá: Lazer e Sustentabilidade Urbana, 2006.
Figura 4- Polos do Projeto Orla Fonte: Lago Paranoá: Lazer e Sustentabilidade Urbana, 2006.
Além disso, concentrava as principais atividades no centro de Brasília, utilizando grandes áreas disponíveis, sem questionar as invasões na orla. Essa implantação não possibilitou uma ocupação abrangente e efetiva da orla pela população, além de propor uma conexão interna a terra, ignorando a relação entre o usuário e a água. O projeto também não garantiu a preservação ambiental das margens do lago, principalmente a margem leste, para qual não se previu nenhum polo, mantendo seu caráter de uso privado ao invés de público. Mesmo após 11 anos de sua implementação, apenas dois polos previstos no projeto original foram realizados: o Polo 3 (Complexo Brasília Palace), que hoje se encontra abandonado, e o Polo 6 (Centro de Lazer Beira Lago), que está incompleto. O Polo 10 (Pontão do Lago Sul), e o Polo 11 (Parque Ermida Dom Bosco), foram acrescentados na revisão do projeto em 1995. Apesar de inacessível, a Ermida é bastante frequentada pela maioria da população, é aberta e permite atividades de piquenique e esportes. Já o Pontão tem um caráter mais elitizado, com controle de acesso, restrição de usos e restaurantes caros.
Pontão do Lago Sul. Acervo pessoal.
A desobstrução Em 2011, foi determinado que fosse apresentado um plano para desobstruir e recuperar o perímetro da orla na faixa de 30 metros a partir da margem do Lago Paranoá, com um prazo de 120 dias, porém esta ordem não foi cumprida. Só em 2015 foram retomadas, no poder judiciário, as discussões acerca da desobstrução, quando o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios a juizou a ação civil pública no Tribunal de Justiça do DF.
A partir daí, o Governo de Brasília começou o processo de retirada de cercas e muros, identificando as áreas obstruídas sem deixar de notificar os moradores. No entanto, a operação foi suspensa em abril do mesmo ano, em razão de uma intervenção judicial de alguns moradores dos Lagos Sul e Norte. Até que finalmente, em julho de 2015, a justiça confirmou a validade do acordo e determinou o seu cumprimento.
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A Agência de Fiscalização do DF (Agefis) foi o órgão responsável por cumprir a sentença da retirada de qualquer material que impedisse a circulação e a chegada às margens do lago. As construções que ocupam a área de APP, tais como piscinas, quadras esportivas, churrasqueiras ou deques passariam a ser de uso público. A principal preocupação é que as construções neste perímetro podem causar a impermeabilização do solo, contribuindo para que lixo e terra sejam levados pela água da chuva até o lago, causando assoreamento nestas áreas, além da erosão causada pelo desmatamento e enfraquecimento da margem. No decorrer das ações, apenas os 30 metros de APP foram desobstruídos, as áreas invadidas entre lotes continuam bloqueadas por moradores, impedindo o acesso direto à orla.
Figura 10- Área a ser desobstruída no Parque Vivencial II Fonte: A Terceira Margem, Requalificação da Orla Norte, 2016
O Projeto Orla Livre
Figura 8 e 9-Etapas da desobstrução Fonte: AGEFIS
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O projeto Orla Livre tem o objetivo de retomar a vocação da orla do Lago Paranoá como um espaço democrático, acessível, com enorme potencial para abraçar as vivências de esporte e lazer em harmonia com o meio ambiente.5 A ligação do parque Península Sul com o parque Asa Delta já foi realizada por meio de calçadas e deques, e o Deque Sul acaba de ser inaugurado. A partir da desobstrução, o Governo do Distrito Federal (GDF) lançou um concurso internacional para eleger o projeto de urbanismo e paisagismo que vai recuperar a orla do Lago Paranoá. O Termo de Referência6, recentemente publicado, reapresenta o zoneamento e o plano de manejo da APA do lago com algumas adições, além de estabelecer as principais diretrizes que devem nortear o projeto. O zoneamento da APA é dividido em subzonas de Preservação, Conservação, Ocupação Especial e Ocupação Consolidada.
Figura 11- Mapa de Zoneamento Ambiental da APA do Lago Paranoá. Fonte: Plano de Manejo da APA do Lago Paranoá.
Na Subzona de Preservação serão retiradas todas as ocupações irregulares com o objetivo de manter as áreas intactas. Nas Subzonas de Conservação alguns usos serão permitidos, desde que sejam compatíveis e passem por processo de licitação. Também são incentivadas atividades de ecoturismo, pesquisa e educação ambiental. Em algumas subzonas de Ocupação Especial apenas será permitido o uso residencial, em outras pode ser considerado o uso comercial de baixa densidade. O planejamento para garantir o crescimento ordenado, respeitando as características ambientais é um dos objetivos principais do projeto. Outro ponto bastante comentado é novamente a democratização da orla, tornando mais acessível e mais utilizada. Para isso, são apresentados os pontos de maior interesse do projeto, áreas que deverão receber tratamento com equipamentos públicos para garantir a permanência das pessoas. As principais áreas de interesse englobam não só os parques em área de conservação, como também outros pontos que já são frequentados pela população como a Prainha do Lago Norte e o Deque Norte. Além de incluir, é claro, toda a extensão da orla onde é considerada pública. Outro ponto importante e raramente abordado em outros projetos para o Lago é a implantação de um transporte lacustre que possa não só dar apoio às atividades turísticas, como também servir de transporte público alternativo para regiões como São Sebastião, Jardim Botânico, Paranoá, entre outros, e assim poder se consolidar no cotidiano da população. O documento também apresenta um zoneamento do espelho d’água para apoiar o projeto de mobilidade, considerando também as zonas de banho, de segurança nacional, tratamento de esgoto e uso restrito na saída dos córregos que alimentam o Lago Paranoá. Os princípios e elementos que segundo o Termo de Referência, devem estar presentes em toda a orla do Lago Paranoá são: – Integração de toda a orla dos Lagos Sul e Norte (SHIS, SHIN e SML) a partir de trilhas para pedestres e ciclistas, com 4m de largura; – Assegurar o uso pela comunidade com a implantação de, no mínimo, mobiliário urbano (lixeiras, sanitários, bancos), estações de bicicletas de aluguel e iluminação pública da trilha; – Qualificação paisagística por meio de revegetação da orla com espécies nativas do Cerrado;
– Garantir que os espaços públicos permitam e reforcem o convívio social, por meio da criação de conexões com o tecido urbano consolidado; – Dotar os espaços públicos do caráter de praças ou parques. Também deve ser levada em consideração o projeto da nova ponte para a península do lago norte e o antigo Projeto Orla, na forma original ou com alterações. Segundo o Termo de Referência, é reconhecido que a falta de destinação das áreas de APP, não havendo tratamento das margens e, principalmente a falta de uma via por todo o perímetro da orla, acabou causando os problemas que temos hoje. A privatização destas áreas tornou a orla praticamente inacessível, além de causar a erosão do solo e o assoreamento. Apesar dos avanços, não foi mencionada em nenhum momento a dificuldade de consolidar a orla como espaço público com os fundos dos lotes. Como assegurar o uso pela comunidade em áreas onde uma extensa fachada cega causa monotonia e insegurança? Os serviços de comércio e apoio estão todos localizados em pontos de atração como parques e praças, sem considerar toda a área desobstruída, como aconteceu anteriormente no antigo Projeto Orla. É possível que dessa maneira as faixas desobstruídas apenas sejam utilizadas para ciclismo e corrida, já que não garantem minimamente a permanência das pessoas. Além de tudo isso, é importante dizer que o GDF apenas cumpriu a sentença da justiça, desobstruiu os 30 metros de área de preservação e desconsiderou todo o restante das áreas invadidas entre lotes e inclusive a orla, quando estivesse fora dos 30 metros. Ainda assim, o Projeto Orla Livre considera estas áreas para intervenção até os limites dos lotes. Foram realizadas reuniões abertas à comunidade para receber informações e opiniões da população. A apresentação do Projeto Orla Livre foi feita pelos arquitetos, urbanistas e paisagistas envolvidos. Quando questionados sobre os muros das casas, apenas disseram que serão transformados em cerca viva.
Figura 12- Mapa de Zoneamento do Espelho d’água. Fonte: Termo de Referência do Concurso Internacional.
Figura 13- Áreas de intervenção do Projeto Orla Livre Fonte: Termo de Referência do Concurso Internacional.
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CARACTERIZAÇÃO Auguste François Marie Glaziou, botânco e paisagista que realizou as pesquisas sobre Planalto Central, sugere em seu relatório parcial que o “lago artificial” tenha existido há muito tempo atrás como um lago natural, que após anos de atividades geológicas, teve suas águas vertidas por onde hoje está localizada a Barragem do Paranoá. Um indício que fortalece tal suposição é o fato de o represamento do lago, previsto para quatro anos após o fechamento da barragem, ter ocorrido em apenas um ano, possibilitando concluir que a área já era mesmo propícia à existência de um reservatório d’água de tal dimensão.
Localização
A partir dos estudos da Subcomissão de Planejamento Urbanístico, os urbanistas conceberam a formação de um lago em torno da Nova Capital, por meio da construção de uma barragem no Rio Paranoá. As obras de represamento desse rio começaram em 18 de outubro de 1956, e o lago que resultou deste represamento foi o elemento definidor do sítio urbano previsto para a edificação de Brasília, a marca registrada da paisagem que compõe a cidade.8 O Lago Paranoá também contribuiu para amenizar as condições climáticas e gerar energia elétrica. O início das obras de construção civil só foi possível após a conclusão da Usina Hidrelétrica do Lago Paranoá, em 1958. Com a escolha do sítio para a nova capital, foi lançado em 1956 o Concurso Nacional do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil. Segundo o Edital, o Lago Paranoá deveria atingir cota variável entre 990 e 1.000 metros, constituindo elemento obrigatório na composição da cidade.
Lago Paranoá no Distrito Federal
O Lago Paranoá foi represado artificialmente no período chuvoso dos anos 1959 e 1960 para recreação e paisagismo. Os cursos que originaram o lago integram a bacia do Rio Paranoá, sendo eles: Riacho Fundo, Ribeirão do Gama, Córrego Cabeça de Veado, Ribeirão do Torto e Córrego Bananal. Foi inaugurado em 12 de setembro de 1959, aniversário do presidente Juscelino Kubitschek.7Situase na cota 1.000 acima do nível do mar. Apresenta aproximadamente 80 km de perímetro, superfície de 39,48 km2, volume de 560x106 m3, profundidade máxima de 38 metros e média de 14,8 metros. A Bacia Hidrográfica do Lago Paranoá ocupa uma área de 1.010 km2 e engloba as Regiões Administrativas do Plano Piloto, Lagos Sul e Norte, Paranoá, Núcleo Bandeirante e Guará.
por abrir nesse ponto uma brecha funda, de paredes quase verticais pela qual se precipitam hoje todas as águas dessas alturas. É fácil compreender que, fechando essa brecha com uma obra de arte (dique ou tapagem provida de chapeletas e cujo comprimento não excede de 500 a 600 metros, nem a elevação de 20 a 25 metros) forçosamente a água tomará ao seu lugar primitivo e formará um lago navegável em todos os sentidos, num comprimento de 20 a 25 quilômetros sobre uma largura de 16 a 18. (CRULS, L. apud CARVALHO, DS.)
Lago Paranoá e Brasília
Imensa planície em parte sujeita a ser coberta pelas águas da estação chuvosa; outrora era um lago devido à junção de diferentes cursos de água formando o rio Parnauá; o excedente desse lago, atravessando uma depressão do chapadão, acabou, com o carrear dos saibros e mesmo das pedras grossas,
Figura 15- Construção do Lago Paranoá Fonte: wbrasilia.com
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CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL
Mapa de Erodibilidade Baixo risco de erosão Médio risco de erosão Alto risco de erosão Muito Alto risco de erosão
A erosão destrói as estruturas que compõem o solo, levando os nutrientes e sais minerais para baixo do relevo. Com isso a parte superficial do solo fica qualitativamente pobre, e quando chove a água carrega partes desse solo e das rochas, abrindo buracos no relevo. O material do solo levado pela chuva contamina as nascentes dos rios causando o assoreamento. Os detritos depositados no lago o impedem de portar seu volume máximo de água, causando inundações e enchentes.
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Mapa de Cobertura Vegetal Formação Campestre Formação Florestal Formação Savânica
Os desmatamentos, os avanços imobiliários em encostas e a ocupação do solo contribuem para a erosão. As áreas de risco são dadas pela característica do solo e os problemas que ele apresenta. Esse problema faz com que determinado local seja considerado perigoso para ocupação por acontecerem deslizamentos de terra.
No mapa acima pode ser observado o nível de degradação das matas que compõem a APA do Lago Paranoá, em comparação com as matas existentes nas reservas ambientais. As manchas verdes dos trechos dos córregos pertencentes às reservas possuem mais massa e continuidade, enquanto os trechos urbanos apresentam características minguadas e dispersas.
CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL
ETE
Mapa de Cobertura Vegetal Balneabilidade Própria para banho Balneabilidade Imprópia para banho Assoreamento no Rio Bananal Assoreamento no Riacho Fundo Assoreamento no Córrego Cabeça de Veado
Mapa de Zoneamento Ambiental Conservação da Vida Silvestre Preservação da Vida Silvestre APP- 30 Metros 1 ARIE do Paranoá Sul 2 ARIE Setor Habitacional Dom Bosco 3 ARIE do Bosque 4 ARIE do Santuário de Vida S. do Riacho F.
ETE
Segundo a CAESB, com a implementação do Programa de Recuperação do Lago Paranoá na década de 90, o lago apresenta cada vez mais áreas adequadas à balneabilidade, possuindo hoje cerca de 95% de sua área adequada para recreação. Dos braços que alimentam o lago, os do Riacho Fundo e o do Bananal são os que mais sofrem com o processo de assoreamento. Os pontos críticos estão atrás da ETE, nas proximidades da Ponte das Garças, e no chamado córrego Cabeça de Veado, entre as QLs 16 e 18 do Lago Sul. O braço do Riacho Fundo vem sofrendo um processo acelerado de degradação.
A APA do Lago Paranoá, abrangendo uma superfície aproximada de 16.000 hectares, foi criada pelo Decreto nº 12.055, de 14 de dezembro de 1989, e seu zoneamento ambiental foi revisto por meio do Decreto nº33.537, de 14 de fevereiro de 2012. As áreas protegidas caracterizam-se principalmente pela presença de nascentes que alimentam o Lago Paranoá, além de ainda apresentarem vegetação nativa intacta. Nas áreas de Conservação são permitidos alguns usos, desde que sejam compatíveis e passem por processo de licitação. Nas áreas de Preservação não se admite nenhum tipo de construção, para que se mantenham intactas. Este Zoneamento Ambiental considera a existências de vários condomínios multifamiliares que foram crescendo dentro das Zonas de Conservação sem nenhuma fiscalização e hoje estão regularizados.
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CARACTERIZAÇÃO FUNCIONAL EPPN
EPPR
As L4 e EPPR são as que mais se aproximam do lago em determinados momentos, possibilitando um acesso direto à orla. Em compensação, não são bem atendidas pelo transporte público. São poucas as linhas de ônibus que atendem esses trechos diariamente, e as paradas, muito distantes umas das outras, estão isoladas em locais ermos. Na via L4, as paradas de ônibus são quase inexistentes. O Lago Sul e Península Norte hoje são as regiões mais bem atendidas pelo transporte público, porém apenas nas vias principais. É preciso andar grandes distâncias para ir dos pontos de ônibus até a orla. As ciclovias existentes também se localizam nas vias principais. Além das vias principais, apenas o Parque Vivencial do Lago Norte e a Península dos Ministros possuem ciclovia.
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L4
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Mapa Sistema Viário - Funcional EPDB
Vias Locais Vias Coletoras ou Secundárias Vias Principais Ciclovias Paradas de Ônibus
As vias de transito rápido estão presentes em todo o perímetro do Lago Paranoá. São elas: Estrada Parque Dom Bosco (EPDB) no Lago Sul, Estrada Parque Paranoá (EPPR) no Lago Norte, Estrada Parque Península Norte (EPPN) e a via L4. Essas são as principais vias usadas para chegar ao lago hoje. Dentro das quadras residenciais, tanto o Lago Sul como a Península Norte possuem um desenho de baixa conectividade de vias. A Península Norte apresenta um desenho em árvore, com vias locais, coletoras e principal. No Lago Sul algumas vias locais desembocam na EPDB. As vias locais não tem conexão com nenhuma outra e nem com a orla.
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Mapa de acessos à orla Vias de Acesso à orla
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Hoje existem pouquíssimas vias de acesso à orla, algumas só podem ser percorridas a pé. Em todo o Lago Sul, apenas o Parque Asa Delta, o Parte Península dos Ministros e o Bosque são acessíveis. No SML e Setor de Clubes apenas existem acessos isolados e pontuais, não sendo possível caminhar pela orla a não ser nos espaços públicos da Concha Acústica e do Centro de Lazer Beira Lago. Na Península do Lago Norte existe a possibilidade de caminhar pela orla depois da desobstrução, mas o problema dos acessos persiste, tornando a caminhada exaustiva, uma vez que não existe quase nenhuma possibilidade de retorno à via principal. Pontos acessíveis no mapa: 1- Parque Península Sul 2- Parque Asa Delta 3- Bosque 4- Centro de Lazer Beira Lago 5- Concha Acústica 6- Ermida Dom Bosco 7- Morro do Careca 8- Parque Vivencial do Lago Norte
CARACTERIZAÇÃO - USO E OCUPAÇÃO
Os lotes residenciais são acessados por ruas locais e sem saída, a configuração dos lotes com os fundos para as áreas verdes é o principal fator que contribui para as invasões que existem hoje tanto na orla do Lago, como entre um conjunto e outro. Quanto a ocupação do solo, é importante destacar que as áreas públicas invadidas de cada lote residencial correspondem em média 2 vezes o tamanho dos lotes. Mesmo com a desobstrução, essas invasões continuarão sendo o maior problema de acesso às margens do lago, pois bloqueiam completamente seu perímetro. Resumo do cálculo das áreas dos lotes residenciais, no Lago Sul e na Península Norte, e dos avanços dos mesmos sobre as áreas públicas:
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1- Parque das Garças 2- Prainha do Lago Norte 3- Deque Norte 4- Erminda Dom Bosco 5- Centro de Lazer Beira Lago 6- Parque Península Sul 7- Parque Asa Delta 8- Bosque 9- Pontão do Lago Sul
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4 Fonte: Estudo sobre questões relativas à ocupação da orla do Lago Paranoá de Brasília. CLDF, Gabinete do Deputado Joe Valle, abr/2015.
Mapa de Usos 5 8
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Residencial Unifamiliar Residencial Unifamiliar (invasão) Clubes Clubes (invasão) Institucional Institucional (invasão) Comercial Áreas de parque previstas em lei e utilizadas pela população Áreas de lazer equipadas ou apenas apropriadas pela população
Como explicado anteriormente, na parte oeste da orla predomina o uso residencial devido à modificação no projeto original do Plano Piloto de Brasília. No lado leste estão localizados os Setores de clubes e algumas instituições como CAESB (Estação de Tratamento de Esgoto) e a UnB, além do Palácio da Alvorada e do Jaburu, mais perto do polo turístico. Os únicos lotes comerciais que fazem parte da orla são os do shopping Pier 21 e do edifício Icone Parque. Em toda a orla do Lago Sul e Norte predominam usos residenciais, os usos institucionais (Escolas e Hospitais) são raros e estão distribuídos de forma pontual. O Lago Sul possui alguns pontos de comércio ao longo da via EPDB. Esses pontos funcionam como shoppings, concentram grande número de lojas em um local e dão prioridade de acesso por automóvel. Já na Península Norte o comércio é ainda menos presente, acontecendo em pouquíssimos pontos no canteiro central, muito distantes da orla.
A tabela acima mostra a área regular dos lotes registrados em cartório, a área ocupada irregularmente e a porção dessa ocupação dentro da faixa da APP no Lago Sul e na Península Norte. Com base nesta tabela é possível observar que a área ocupada irregularmente na Península Norte é maior que a área de lotes escriturados e que a porção dentro da APP invadida é mínima, se comparada com as ocupações ao longo da malha urbana. Como é possível perceber no mapa de usos, os clubes também ocupam grandes áreas públicas, normalmente com a construção de estacionamentos, ou simplesmente cercando espaços. Atualmente existem poucos pontos de lazer na orla do Lago. Quando não são espaços elitizados, sofrem com a falta de manutenção ou não apresentam nenhum tipo de tratamento. O Parque da Ermida Dom Bosco, o Deque Norte e o Centro de Lazer Beira Lago são espaços que apresentam o mínimo de tratamento urbano e são bastante utilizados pela população nos finais de semana. Outros pontos com o Parque Asa Delta, Península Sul, Península Norte, Prainha e Bosque são áreas sem qualquer tratamento urbano mas que mesmo assim já vêm sendo apropriadas para o lazer há bastante tempo.
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CARACTERIZAÇÃO - USO E OCUPAÇÃO
Orla do Lago Norte após desobstrução. Acervo pessoal
Mapa de Permeabilidades e Barreiras com Fachadas Cegas Barreiras no Lago Paranoá Extensão de Fachadas Cegas
Neste mapa é possível perceber a situação em que o Lago Paranoá se encontra mesmo com a desobstrução da orla. Apesar dos lotes grandes e da baixa densidade de construção, as áreas cercadas bloqueiam praticamente toda a orla do Lago. Mal existem acessos, e não há nenhuma permeabilidade visual que valorize as vistas. Além da inacessibilidade, as fachadas cegas se estendem por todo o perímetro do Lago, não existe nenhum lote que se abra para a orla, devido a configuração viária.
Fachadas cegas nos acessos à orla . Acervo pessoal
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PenĂnsula do Lago Norte. Acervo pessoal.
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DIAGNÓSTICO A partir dos mapas de caracterização, é possível identificar quais são os problemas e potencialidades que podem influenciar no desenho da via paisagística a ser proposta.
Problemas encontrados: Para que a orla do Lago Paranoá possa se consolidar como uma área de lazer e turismo aberta a toda população, é necessário ter em mente alguns aspectos básicos relacionados à acessibilidade, distâncias a serem percorridas, permeabilidade visual, diversidade de usos, oferta de atividades e segurança. Quanto á acessibilidade: Podemos dizer que a inacessibilidade à orla é o principal problema a ser enfrentado se pretendemos fazer dela um espaço público democrático. Pelo que se pode perceber, hoje existem pouquíssimos pontos que permitem a chegada até ela e além disso estão muito distantes uns dos outros. Considerando que as áreas invadidas entre os conjuntos não passarão pelo processo de desobstrução, é quase impossível imaginar que as pessoas conseguirão chegar até a orla a pé. As paradas de ônibus também estão relacionadas ao problema da inacessibilidade, uma vez que estão todas localizadas nas vias principais, fazendo com que seja necessário andar grandes distâncias até o Lago. Na Península Norte, as distâncias das paradas de ônibus até a orla têm em média de 600 a 900 metros, algumas mais distantes e outras menos. Isso sem considerar as voltas e contornos decorrentes da falta de conectividade das vias. Pela análise dos mapas, foi possível identificar vias que poderiam ligar diretamente as paradas de ônibus à orla, porém muitas delas são interrompidas ao chegar na via local das QL’s,
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principalmente por causa das invasões entre lotes. No Lago Sul, as distâncias das paradas de ônibus até a orla são um pouco menores (aproximadamente 300 metros), com exceção de alguns pontos como na Península dos Ministros, com 1300 metros, e nas QL’s 26 e 28, com distâncias que chegam até 1200 metros. No Setor de Mansões, as vias estão muito próximas da orla mas não são bem atendidas por transporte público. A mesma situação acontece na via L4, que apesar de se aproximar da orla em muitos pontos, por ela quase não circulam linhas de ônibus fazendo este tra jeto. As ciclovias tampouco a judam, já que só passam pelas vias principais e estão pouco conectadas.
Não só há homogeneidade de usos, como também de perfil de moradores. As residências no Lago Paranoá abrigam apenas um tipo de família com as mesmas condições financeiras. Todas tem uma grande área de lazer dentro das próprias casas. É por isso que o interesse de tornar a orla um espaço de lazer público dificilmente partiria deles. Nesse caso, a dificuldade está em fazer da orla um lugar atraente não só para as pessoas que residem ali, fazendo com que elas considerem abrir suas casas para o Lago, como também para as pessoas de outras localidades e condições financeiras. Assim o Lago passa a ser frequentado por todo tipo de gente, e deixa de ser um espaço segregador como é hoje.
Quanto às distâncias:
Quanto à permeabilidade visual:
Este problema também está diretamente relacionado aos escassos pontos de acesso. Na orla da Península Norte, as distâncias entre um acesso e outro chegam a 3000 metros e no Lago Sul, 2000. Este é um importante fator a ser considerado, uma vez que desestimula a caminhada das pessoas pela orla. Quando acessada, começa uma extensa caminhada até o próximo ponto de saída. Esse tipo de configuração só é interessante se o único objetivo for promover atividades de ciclismo e corrida. Quanto aos usos:
Para que possa ser um lugar atrativo, além da facilidade de acesso, atividades a serem oferecidas e curtas distâncias para se percorrer a pé, é necessário que tudo isso seja visível. Hoje os pontos de onde se tem as vistas do lago são nas entradas das pontes e nos parques/ espaços de lazer, todo o resto de seu perímetro possui bloqueios que impedem o acesso e a visibilidade. Quem passa pelas vias EPDB, EPPN ou L4 não enxerga o Lago, e consequentemente, não vai ser estimulado a frequentá-lo, mesmo que estejam acontecendo coisas interessantes ali.
Apesar da insistência com o tema das fachadas ativas, presente na maior parte dos estudos sobre espaços público, até hoje nenhum projeto de requalificação da orla considerou este problema. A configuração viária presente nos bairros do Lago Sul e Norte, com ruas sem saída (que deveriam ser ruas de serviço), fez com que as casas se abrissem para elas, dando as costas para a orla do Lago. Quando as construções dão as costas para o Lago, desvalorizam todo potencial que ele representa, além de produzirem muros para o espaço público. Todos os estudos e pesquisas sobre a cidade concluem de forma unânime que as fachadas cegas são um desrespeito ao pedestre, pois tornam as caminhadas exaustivas, desinteressantes, e acima de tudo, trazem insegurança. Amenizar a sensação que as fachadas cegas causam deve ser uma das principais preocupações de um projeto de requalificação da orla. Por fim, quanto mais pessoas estiverem utilizando o espaço, mais se desenvolverão as atividades que acontecem ali, sejam atividades de comércio, serviços, esportes, etc. Isso é um ponto importante quando relacionado ao caráter turístico do Lago Paranoá.
As fachadas cegas: Enquanto as grandes distâncias e a falta de acessos são um empecilho à chegada ao Lago, a falta de diversidade de usos dificulta a permanência das pessoas no local. A predominância de usos residenciais no perímetro da orla faz dela um lugar monótono e desinteressante porque não oferece nenhum tipo de atividade que atraia pessoas. Os únicos lugares que podem ser considerados atraentes hoje são os parques, porque oferecem algumas atividades específicas que o restante da orla não disponibiliza, como atividades aquáticas, piqueniques, e alguns serviços de apoio.
Olhos para o Lago: faz referência à Jane Jacobs, que em seu livro Vida e Morte das Grandes Cidades (1961), aborda a importância dos “olhos para a rua”. Segundo ela, para que a rua possa agregar o número e a diversidade de pessoas desejadas, é preciso ter “olhos para a rua”, ou seja, as construções devem estar voltadas para ela, com portas e janelas, de forma a promover uma vigilância informal, garantindo assim, a segurança das pessoas.
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DIAGNÓSTICO Potencialidades: Apesar de todos os problemas relatados, o Lago Paranoá não deixa de ser um importante atrativo da cidade, e ainda tem possibilidades de ser um espaço público turístico de sucesso, se tratado de maneira correta.
As pontes:
As áreas adjacentes às pontes são uma potencialidade devido à facilidade de acesso, à visibilidade, e às grandes áreas disponíveis. Além disso, já existem espaços equipados, como a Pracinha dos Orixás, na ponte Honestino Guimarães; o Deque Sul na Ponte das Garças; e o Centro de Lazer Beira Lago na Ponte JK.
Os parques e áreas de lazer:
Como visto antes, alguns parques e áreas de lazer já são equipados, e outros apesar da falta de infraestrutura são muito urilizados pela população. Representam uma grande potencialidade por serem lugares que oferecem diversas atividades e por isso já são um ponto de atração na orla do Lago.
O comércio:
Os pontos de comércio, apesar de serem bastante escassos, devem ser considerados porque também são fator de atração. Como um dos problemas relacionados à consolidação do espaço público se deve à falta de serviços de apoio, a existência desses pontos comerciais facilitaria para agregar pessoas. É por isso que a criação de novos acessos na orla deve levar em conta a localização das paradas de ônibus e comércio existente.
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As áreas residuais:
Hoje são áreas residuais, mas com o tratamento adequado podem vir a ser espaços de lazer. Existem grandes áreas na orla do Lago com potencial para abrigar novos parques e áreas de lazer, dependendo da sua condição ambiental. Algumas dessas áreas são zonas de conservação, onde são permitidos alguns usos.
A barragem do Lago Paranoá:
A barragem do Lago tem muito atrativo turístico, no entanto até hoje não foi aproveitada de forma adequada. As zonas de conservação adjacentes possuem um relevo e vegetação que podem ser explorados para fazer desse ponto mais um cartão postal de Brasília.
O CCBB:
A oportunidade de integrar o Centro Cultural Banco do Brasil com a orla não pode ser ignorada. Tanto o CCBB quanto a orla do Lago possuem problemas de inacessibilidade. É possível propor uma ligação entre os dois para que deixem de ser acessados exclusivamente por carro, e assim as pessoas que frequentam a orla teriam mais um evento cultural atrativo.
A UnB:
Os lotes da UnB possuem grandes áreas inutilizadas e que ainda mantêm muita vegetação nativa. Além disso, a Universidade usa parte desse espaço para desenvolver as atividades esportivas, que poderiam perfeitamente ser aliadas ao espaço público da orla, trazendo mais comunicação entre o campus e a cidade, ao invés de serem mais um bloqueio para sua continuidade.
A Concha Acústica:
É um polo de atração do antigo projeto orla e hoje se encontra abandonado. Pode ser que se encontre nesta situação por ser um lugar isolado e inacessível. Com o projeto da via paisagística pode voltar a ser um espaço bastante frequentado, principalmente pela proximidade que tem com a zona turística de hotéis e apartahotéis no Lago.
A conexão via espelho d’água:
Como dito antes, a limitação das invasões na orla seria só um benefício entre os muitos que a via paisagística poderia proporcionar. O que realmente se espera é que a orla se consolide como um espaço público de qualidade, realmente utilizado, conectado e atrativo. A via irá interligar todas as zonas de interesse, passando por todo o perímetro do Lago. Assim, a orla do Lago Paranoá não ficará restrita aos moradores da região ou às pessoas que possuem carro, tornando-se por fim, um lugar democrático.
Muitos pontos no Setor de Clubes e de Mansões estão isolados e não podem ser conectados via orla por causa dos lotes escriturados. Ainda assim, a possibilidade de conexão via espelho d’água pode fazer com que esses pontos sejam mais atrativos e frequentados. Além disso, é um estímulo para os esportes náuticos e para o turismo.
A criação de novos acessos:
A criação de novos acessos deve considerar as áreas com maior potencialidade para agregar pessoas. Por isso, são localizados preferencialmente perto das paradas de ônibus e comércio (quando existir). A intenção é que nas entradas da orla se estabeleçam bolsões de atividades, para que seja ainda mais convidativa. É por isso que a distância entre os acessos também deve ser a mínima, com o objetivo aliviar a situação das fachadas cegas. Assim, se a cada curta distância se encontram bolsões de atividades, a caminhada pela orla mesmo com os fundos de lotes se torna menos penosa e exaustiva. Mais acessos também tornarão o ago mais visível, as pessoas poderão ver o que acontece nele e assim terem mais vontade de utilizá-lo.
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Deck Sul. Acervo pessoal.
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PROPOSTA *1 FOTO
Muitas áreas na orla tem potencial para abrigar bolsões de atividades, porém algumas delas hoje se enontram bastante inacessíveis. A análise feita classifica as áreas de permanência de acordo com seu grau de acessibilidade. Do verde claro até o mais escuro: as áreas acessíveis e visíveis por meio da via principal; as áreas acessadas pelas vias secundárias em meio a fundos de lote; e por último, as áreas em meio a fundos de lote que precisam ser acessadas por ruas muito estreitas e labirínticas.
*1- ACESSO AO PARQUE VIVENCIAL II
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ACESSIBILIDADE
As vias de servidão propostas passam por entre os fundos dos lotes das QL’s do Lago Sul e Norte, pois estas áreas hoje também se configuram como invasão. Estas vias têm o objetivo de aumentar o acesso à orla. Entre uma via e outra, as distâncias variam entre 300 e 500 metros, que é considerada uma distância confortável nos percursos a pé. As vias propostas em amarelo são complementos necessários à malha existente, facilitanco também o acesso por transporte público (ônibus). As rotas de ônibus propostas também têm como objetivo encurtar as distâncias de caminhada da rua principal até a orla do Lago. Essas novas rotas podem funcionar apenas nos finais de semana em um primeiro momento, para estimular o turismo na área. Conforme a orla do Lago se consolida e se populariza talvez essas rotas possam funcionar todos os dias, de forma rentável.
Rotas de ônibus Novas rotas Rotas que necessitarão reforço de linhas Rotas existentes
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MOBILIDADE
A ciclovia também deve ser complementada, pois hoje é interrompida em muitos pontos. A ciclovia proposta acompanha a via paisagística e também passa por toda a orla pública do Lago Paranoá. Os acessos desde a via principal estão marcados de acordo com os pontos de aluguel de bicicleta e os acessos diretos às áreas de permanência, mas é possível acessar a via paisagística por qualquer via de servidão criada, A proposta conecta o Varjão, por meio da passarela existente, e complementa a ciclovia já implantada no Paranoá.
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MOBILIDADE O Distrito Federal tem a quarta maior frota de veículos náuticos do País. Apesar de não ser uma região litorânea, possui aproximadamente cinco mil embarcações. O número é considerado alto, mas pode ser explicado porque o DF tem uma das maiores rendas per capita do País. Porém, a importância das conexões via espelho d’àgua visa atender à toda população do DF. As rotas de transporte lacustre contribuiríam não só no âmbito turístico, como também na mobilidade da cidade, a partir da integração dos modais de transporte. As regiões administrativas do Paranoá, Itapuã, São Sebastião, Jardim Botânico, e outras, seriam beneficiadas. A Península do Lago Norte deixaria de ser uma ilha segregada, desafogando o trânsito nesta área. O projeto da Ponte do Lago Norte também é de grande importância para a conexão de outras zonas do DF, como Sobradinho.
Possíveis Rotas de Transporte Lacustre
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USOS
A predominância do uso residencial em 90 % do Lago Sul e Norte traz monotonia e são a causa principal das extensas fachadas cegas que rodeiam o espaço público. A proposta visa voltar os olhos para o Lago e áreas de lazer e para isso, os lotes que tem relação direta com a orla e seus acessos passam a ser de uso misto, na esperança de trazer mais atividades diversificadas e atrair maior número de pessoas. A longo prazo, essa mudança poderia vir a amenizar a sensação de insegurança causada pelos fundos de lote e muros que existem hoje. Muitas áreas de invasão também foram aproveitadas para a criação de novos lotes de uso misto onde fosse conveniente. Estes novos lotes tem configuração fundo/ fundo, e resolvem as fachadas cegas existentes em muitos trechos.
Os lotes ponta de picolé que passam a ser de uso misto podem sofrer modificações da segunte maneira:
1. Lote de uso misto
2. Lote de uso misto com construção adicional para comércio
3. Desmembramento do lote de uso misto
Via Paisagística
* EM TODAS AS HIPÓTESES DEVE SER CONSERVADA A FACHADA COM O MÍNIMO DE PERMEABILIADADE VISUAL, JAMAIS COM CERCAMENTO OPACO COMO CERCA VIVA, POR EXEMPLO.
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Centro de Lazer Beira Lago. Acervo pessoal
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PROPOSTA- ÁREA DE DETALHE
Os lotes criados seguem o padrão já existente, com afastamento frontal de 5 metros e laterais de 1,5 metros. A necessidade de se conservar a horizontalidade e propor algo condizente com a escala bucólica impossibilita que ha ja um adensamento satisfatório. O ideal seria que mais pessoas diversificadas vivessem nestas área, justificando a criação desses espaços de lazer. Apesar disso, as frentes e as possíveis atividades comerciais cumprem com o objetivo principal do trabalho.
Detalhe Lago Norte -Antes Detalhe Lago Sul -Antes
Detalhe Lago Sul - Depois
Detalhe Lago Norte - Depois
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Área de detalhe- Lago Norte
1,5 m 5m
20 m
1,5 m
Parada de ônibus Detalhe da via de acesso ao espaço de lazer: priorizada a proxiidade com a parada de ônibus e proposto os pontos de aluguel de bicicleta.
Ponto de aluguel de bicicleta
5m 2m Corte da via de servidão
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2m
Cerca viva
1,5 m
7m
LOTE
1,5 m LOTE
Corte da via de acesso (Antes)
Corte da via de acesso com lotes de uso misto criados
2m
2,4 m
5m
30 m
Corte da Via PaisagĂstica
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ANTES
Vista dos novos lotes voltados para a rua de acesso
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ANTES
Vista da via de servidĂŁo
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Área de detalhe- Lago Sul
20 m 1,5 m
1,5 m 5m
3m
Detalhe da via compartilhada em frente aos lotes criados. Os estacionamentos atendem ao público que utiliza o espaço de lazer. É proposto estacionamento rotativo, para estimular mais o uso do transporte público.
2,5 m 6m
Corte da via compartilhada
5m Corte da via de servidão
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2m
2m
ANTES
Vista da via compartilhada
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VIA PAISAGÍSTICA Via Paisagística Via Paisagística por baixo das pontes Conexão por deques
Corte via Deque
Corte via Ponte
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2m
2,4 m
5m
100 m ÁREA DE INTERVENÇÃO PAISAGÍSTICA
30 m
1m 2,5 m 5 m CALÇADA
30 m ÁREA DE PRESERVAÇÃO
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ANTES
Vista da Via PaisagĂstica
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LAZER Foram encontradas diversas áreas com potencial para se tornarem espaços de permanência, enquanto a via paisagística em si apenas conecta estes pontos de lazer. Todos os espaços podem oferecer atividades esportivas e contemplativas, algumas têm a vantagem de oferecer também equipamentos culturais e de eventos. Cada uma dessas áreas deverá receber um projeto específico, considerando a diversidade de paisagens que o Lago apresenta. Já existem muitos projetos desenvolvidos em algumas das áreas identificadas.
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EXEMPLOS:
Na árie do Bosque: Projeto: Parque Urbano sensível à água Praia do Cerrado. Marina Eluan- FAU UnB
No deque Norte : Projeto: A Terceira Margem: Requalificação da orla Norte. Thaís Lacerda- FAU UnB.
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OLHOS PARA O LAGO