Aplicação de aspectos de design instrucional

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Aplicação de Aspectos de Design Instrucional na Elaboração de Materiais Didáticos Digitais para Educação a Distância Sidnei Renato Silveira Clarissa Tarragô Candotti Gilse Morgental Falkembach Marlise Geller

Resumo Este artigo apresenta uma reflexão sobre o papel do Designer Instrucional na elaboração de materiais didáticos digitais, voltados ao desenvolvimento de atividades para Educação a Distância (EaD). Nesse contexto, o design instrucional é uma área da pesquisa educacional que estuda essas formas digitais, visando a auxiliar no desenvolvimento da aprendizagem. O artigo apresenta, também, aspectos que devem ser levados em consideração para a produção de materiais didáticos digitais, destacando a importância do design instrucional.

Palavras-Chave Design Instrucional; Educação a Distância; Materiais Didáticos Digitais.

Abstract This paper presents a reflection about the role of instructional designer in the development of digital educational materials to Distance Education activities. In this context, instructional design is an area of educational research which studies ways to improve learning. This paper also presents aspects for the production of digital educational materials, highlighting the importance of instructional design.

Key words Instructional Design; Distance Educational; Digital Learning Materials.

1 Introdução O Design Pedagógico, ou Design Instrucional, é uma área da pesquisa educacional que estuda formas de ajudar as pessoas a aprende-


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rem melhor. A área envolve a metodologia voltada ao planejamento de currículos, programas de capacitação e de materiais didáticos em diferentes mídias e contextos de aprendizagem. A intenção dessa área de pesquisa é a realização de um planejamento sistemático, baseado em princípios científicos de comunicação, aprendizagem e de ensino que melhorem os materiais instrucionais elaborados. A condução do Design Instrucional é realizada pelo profissional denominado Designer Instrucional (FILATRO; PICONEZ, 2004). O Design Instrucional deve permitir que os materiais didáticos sejam contextualizados, levando-se em conta diferentes aspectos. Esses envolvem, de acordo com FILATRO e PICONEZ ( 2004): • Personalização aos estilos e ritmos individuais de aprendizagem; • Adaptação às características institucionais e regionais; • Atualização a partir de feedback constante; • Acesso a informações e a experiências externas à organização de ensino; • Possibilidade de comunicação entre os agentes do processo (alunos, tutores, professores, coordenadores); • Monitoramento automático da construção individual e coletiva de conhecimento. Nesse sentido, a proposta deste artigo direciona-se à elaboração de materiais didáticos digitais para atividades relacionadas à Educação a Distância, seguindo preceitos do design instrucional. A evolução das tecnologias de informação e de comunicação viabilizam novas abordagens para a Educação a Distância (EaD), especialmente devido à possibilidade de interação entre alunos e professores, por meio de ambientes virtuais de aprendizagem, assim como o uso de materiais educacionais digitais voltados à abordagem de conteúdos na forma de imagens digitais, vídeos, hipertextos, animações, simulações, objetos de aprendizagem, páginas web, entre outros (TORREZZAN & BEHAR, 2009). Assim, além do material impresso, os cursos na modalidade de 78

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EaD dispõem também de materiais que empregam diferentes mídias para promover a comunicação com os alunos. A construção de materiais educacionais digitais leva em consideração fatores técnicos, gráficos e pedagógicos. O indicado é que esses três elementos sejam concomitantemente construídos por uma equipe interdisciplinar. Dessa forma, torna-se necessário para a criação dos materiais educacionais digitais, para cursos a distância, além da aquisição de equipamentos e de software apropriados ao seu desenvolvimento, o emprego de profissionais especializados de diversas áreas, como informática, comunicação, design gráfico e design instrucional, pois o uso da tecnologia pela tecnologia é insuficiente para que se contemple uma nova concepção educacional. O diferencial consiste, assim, no planejamento pedagógico em que esses recursos estão inseridos (TORREZZAN & BEHAR, 2009). Um material educacional não deve ser planejado de forma isolada dos processos de ensino e de aprendizagem, mas ser projetado a partir de um objetivo de aprendizagem, que varia conforme o curso, a disciplina e o conteúdo abordado. O planejamento das atividades a distância, em conjunto com o planejamento dos materiais didáticos digitais, é fundamental para o alcance dos objetivos educacionais desejados. No contexto da EaD, o Designer Instrucional dedica-se a planejar, preparar, projetar, produzir e publicar textos, imagens, gráficos, sons e movimentos, simulações, atividades e tarefas ancorados em suportes virtuais. Esse profissional, geralmente especialista em Educação a Distância, é responsável pelo desenho pedagógico dos materiais didáticos, integrando uma equipe multidisciplinar (MALLMAN; CATAPAN, 2007). O artigo prossegue apresentando as características de mídias relacionadas à elaboração de materiais educacionais digitais. Além disso, são abordadas, também, questões que envolvem a constituição de equipes multidisciplinares para a construção desses materiais e aspectos que devem ser considerados para permitir o adequado desenvolvimento de materiais educacionais digitais para EaD. Revista D • 3 • 2011

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2 Características das Mídias para a Elaboração de Materiais Educacionais Digitais Conforme Moore & Kearsley (2007), cada mídia possui características próprias que podem favorecer ou não os processos de ensino e de aprendizagem, dependendo do objetivo educacional o qual pretende-se atingir. A seguir são analisadas algumas características dos recursos que podem ser empregados em relação a materiais para EaD.

Mídia Impressa O texto impresso transmite, de modo muito eficiente, grandes volumes de informação e os alunos podem ler o material em qualquer ocasião. Alunos e professores estão familiarizados com materiais impressos e possuem uma boa compreensão a respeito de como usá-los, por serem portáteis, confiáveis e convenientes para utilização. O texto impresso provavelmente exige maior atenção automotivada do que, por exemplo, os vídeos. A qualidade da produção do texto deve ser levada em consideração, pois tratando-se de um texto de boa qualidade a maioria das pessoas pode aprender por meio dele desde que esteja motivada.

Áudio e Vídeo O maior problema relacionado ao uso de áudio e de vídeo na EaD é a questão de exigirem criatividade e conhecimento profissional especializado para a produção de programas de boa qualidade. A dificuldade das instituições de ensino em investirem nesse aspecto muitas vezes acarreta subutilização de recursos. O vídeo é uma mídia poderosa para atrair e manter a atenção e transmitir sensações. Possui capacidade para mostrar pessoas interagindo, destacando-se por isso como uma mídia adequada ao ensino de aptidões interpessoais e ao ensino de qualquer tipo de procedimento, uma vez que apresenta a sequência de ações envolvidas. 80

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Áudio e vídeo podem ser usados para exibir a opinião de especialistas que aumentam a credibilidade e o interesse nesses materiais. São especialmente eficazes para a transmissão de aspectos emocionais ou relacionados à atitude de uma disciplina. A produção desses materiais geralmente é mais onerosa do que a criação de materiais impressos, já que envolve competências especiais. Mesmo com os equipamentos necessários, há necessidade de técnicos experientes para que essa produção seja efetivamente qualificada.

Hipermídia Um material que usa recursos de hipermídia (hipertexto + multimídia) pode oferecer um volume elevado de texto em formatos dinâmicos, além de imagens e de acesso a áudio e vídeo, podendo ser mais atrativo para aqueles alunos que não são motivados pelos materiais impressos. Esse tipo de material pode ser produzido e utilizando enquanto ferramenta específica de autoria, ou por meio de arquivos HTML (HyperText Markup Language), mediante o emprego de um programa de edição que oferece links para navegação e para acesso a documentos externos. Esse recurso pode ser usado na elaboração de guias de estudo e de estruturas de apoio às atividades e aos materiais educacionais. Esses guias de estudo são indicados para apresentar a organização e a estrutura do curso, por meio de material impresso ou de texto on-line.

Ferramentas de Autoria As ferramentas de autoria permitem a um profissional de criação elaborar sequências interativas, animações, testes e apresentações multimídia (FALKEMBACH et. al., 2006). Algumas ferramentas não são de fácil uso, como o Adobe Flash. Entretanto, existem aquelas voltadas a professores, tais como o CourseLab ou o Ardora, que permitem a construção de diferentes materiais didáticos digitais e de atividades interativas, sem que seja necessário conhecer uma linguagem de programação (MATANZA, 2010). Revista D • 3 • 2011

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3 Características dos Materiais Educacionais Digitais Os materiais didáticos devem ser elaborados de forma a incentivar a interação com os estudantes, já que a interatividade é um princípio básico para o desenvolvimento dos processos de ensino e de aprendizagem. Os materiais devem ser atraentes e elaborados em linguagem adequada; conter atividades relevantes e contextualizadas; propiciar a troca de experiências e de interação social; fornecer fontes de informação de qualidade; garantir os princípios norteadores do Projeto Pedagógico do Curso e serem adequados ao grupo social a que se destinam. Com relação ao estilo, os materiais devem ser construídos de forma problematizadora, incentivando o trabalho investigativo e o emprego de habilidades reflexivas. Além disso, devem possuir uma lógica que permita o diálogo e a contextualização do conteúdo, assegurando dessa forma uma linguagem que garanta o autoestudo. É preciso deixar claro os objetivos de cada material, o encaminhamento das atividades propostas e a sugestão de referências bibliográficas complementares. Pensando-se no desenvolvimento de materiais didáticos para cursos a distância (EaD), é necessário elaborar um guia de estudo que possibilite ao aluno o acompanhamento de todo o curso. Esse guia pode ser construído em um Ambiente Virtual de Aprendizagem, na forma de um roteiro, indicando o que deve ser estudado e quais atividades a serem desenvolvidas a cada unidade de estudo. Os conteúdos necessitam ser distribuídos em unidades que busquem propiciar ao máximo a autossuficiência, facilitando assim a compreensão da parte do aluno. Os parágrafos devem apresentar uma ou duas ideias relacionadas. As ideias novas devem ser apresentadas através de subtítulos. Devem existir, ainda, elementos de transição entre seções ou entre parágrafos, além da recapitulação das ideias principais ao final de cada seção. Em materiais voltados ao EaD, o estilo recomendado é o conversacional, através da simulação de um diálogo entre o professor e o aluno. 82

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Além disso, é preciso estabelecer uma comunicação de mão dupla, a qual permita que o aluno possa interagir com o professor/tutor. Antes de iniciar a produção dos materiais didáticos, deve-se atentar para alguns aspectos presentes ao roteiro para o design pedagógico (NASCIMENTO, 2010):

Escolha do Tópico: • O que um aluno pode achar interessante neste tópico? • Que aplicações/exemplos do mundo real podem ser utilizados para engajar os alunos em relação ao tópico? • O que pode ser interativo no tópico? • É possível elaborar uma listagerm de aplicações relacionadas ao mundo real que requerem conhecimento do conteúdo tratado? • O que tem sido feito na área em questão? Você tem conhecimento de abordagens interessantes relacionadas ao tema proposto em seu material?

Escopo do Material • O que será coberto pelo material? O que não será coberto? • O que pretende-se que os alunos aprendam? • Qual a definição dos objetos gerais (em relação a competências e habilidades)? • Quais estratégias e atividades atendem a cada objetivo proposto? • Que outros recursos seriam úteis (glossário, calculadora, etc)? • Identificação de seções em que serão necessários recursos adicionais (textos, vídeos, links, etc).

Interatividade • Laboratório virtual: atividades interativas; • Proposição de um conjunto de atividades a serem realizadas pelos alunos; • Considerações sobre cada atividade: ensinam apenas um conceito? Podem ser utilizada em outros contextos? Revista D • 3 • 2011

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• Como conduzir e organizar atividades? • Como motivar os alunos a desenvolver as atividades? • Como serão avaliados os resultados das atividades? • Quais são a questões voltadas à reflexão (intrigantes ou provocativas) aplicáveis a cada atividade? Os materiais didáticos construídos devem ser avaliados constantemente, incluindo-se o feedbacks dos alunos. Antes de realizar a aplicação dos materiais, esses devem ser avaliados por um designer instrucional, além de passar por uma revisão ortográfica/gramatical, assim como por um parecerista externo especializado no conteúdo. Após o processo de avaliação, deve-se realizar um pré-teste com uma amostra de usuários que podem ser os tutores. Nesse pré-teste devem ser avaliados os seguintes critérios (KUNTZ et. al., 2008): • Há um despertar da curiosidade e de um estímulo no sentido da procura de outras informações sobre o conteúdo tratado? • A exigência de memória, atenção e de concentração é demasiada? • Toda a informação disponibilizada é necessária? • São disponibilizados exercícios de fixação do conteúdo? • Há exercícios que promovam o raciocínio? • Há atividades que promovam associações e interpretações? • Há exercícios que desenvolvam a atividade prática? • Há alguma atividade de avaliação dos conteúdos assimilados? • A maneira como foi elaborado o material traz segurança ao leitor? • São apresentados diferentes níveis de dificuldade? • A dificuldade e a densidade do conteúdo são aceitáveis? • São disponibilizados recursos diversificados (gráficos, tabelas, imagens)? • O material está adaptado ao público a que é dirigido? • Há um glossário para auxiliar no tocante aos termos de difícil compreensão? 84

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• Há demonstrações explicativas (como o emprego de bolhas) acompanhando tarefas e mostrando as etapas seguintes? • As informações, de uma maneira geral, encontram-se claras e limpas? • O conteúdo é dividido para facilitar a aprendizagem? • Na redação do conteúdo é seguida uma lógica clara? • As imagens utilizadas condizem com o conteúdo? • Os elementos gráficos são facilmente identificados? • Há coerência na disponibilidade das cores? • Há uma maneira rápida para a localização do conteúdo por meio de índices? • As abreviaturas e siglas encontram-se devidamente explicitadas? • O vocabulário é apropriado ao público-alvo? • Os títulos estão adequados ao que representam? • Os códigos tipográficos (fontes) empregados são harmônicos (adequados) à leitura? • Há destaque para os pontos essenciais do conteúdo ministrado? • Há manutenção frequente do material, com atualizações e modificações relacionadas aos conteúdos em desuso?

4 Aplicação do Design Instrucional para a Construção de Materiais Educacionais Digitais para EaD Para que seja possível a construção de materiais educacionais digitais contextualizados faz-se necessária uma equipe multidisciplinar. Essa deve contar com profissionais da área de Educação, Comunicação, Psicologia e Design Instrucional, entre outras áreas. Quando estiverem atuando em EaD, os professores assumirão papéis diferenciados, envolvendo-se no que se refere à gestão administrativa até à atuação como professor virtual. Os docentes podem atuar como produtores na elaboração de propostas de cursos ou como parceiros na construção de abordagens inovadoras de aprendizagem junto a especialistas nas áreas Revista D • 3 • 2011

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de Design Instrucional e de Informática. Alguns autores classificam esses papéis como o do conteudista, ou mesmo com o do responsável pela definição e pela construção dos materiais didáticos utilizados, podendo esse profissional ser inclusive especialista na área abordada na disciplina/curso a distância (CARVALHO, 2007). Em razão desse contexto, a equipe necessita atuar na área de Design instrucional. O Design Instrucional é realizado de acordo com diferentes estágios relacionados ao planejamento das atividades e dos materiais didáticos (FILATRO; PICONEZ, 2004; MALLMAN; CATAPAN, 2007): • Análise: identificação das necessidades de aprendizagem e definição de objetivos instrucionais; A fase leva em conta uma análise do problema instrucional, condições de aprendizagem, público-alvo, pré-requisitos, necessidades de aprendizagem e a definição dos objetivos de aprendizagem. Compreende a descrição das características dos aprendizes, a indicação da habilidade que esses devem apresentar para fornecer evidências relacionadas à sua aprendizagem, assim como as condições necessárias para isso, além da especificação dos critérios de avaliação. É a etapa em que deve definir-se o objetivo geral e os objetivos específicos, classificando-os conforme a complexidade das competências requeridas para a aprendizagem (taxonomia de Bloom), ou conforme o tipo de aprendizagem que demandam com base na Teoria de Gagné (TRACTENBERG, 2009). Empregando-se a Taxonomia de Bloom para a definição dos objetivos é considerado que o domínio cognitivo trata da recuperação do conhecimento e do desenvolvimento de habilidades intelectuais, sendo envolvidos diferentes níveis de competências que variam em graus de complexidade (FILATRO, 2008): • Conhecimento/Memorização – usa verbos como citar, definir, identificar, listar; 86

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• Compreensão – usa verbos como descrever, explicar, ilustrar, reescrever, resumir; • Aplicação – usa verbos como aplicar, construir, demonstrar, empregar, resolver; • Análise – usa verbos como analisar, apontar, comparar, categorizar, contrastar, diferenciar; • Síntese/Criação – usa verbos como criar, comparar, elaborar, formular, inventar, planejar, produzir; • Avaliação – usa verbos como avaliar, criticar, defender, julgar, justificar, recomendar. Os objetivos também podem ser classificados de acordo com os tipos de aprendizagem propostos de acordo com a Teoria de Gagné (TRACTENBERG, 2009): • Conhecimento declarativo ou fatual: constitui-se através de nomes, fatos, listas, definições, proposições e de discurso organizado, por exemplo: lista dos estados brasileiros, ditados populares, informações pontuais; • Discriminações: trata-se da capacidade de identificar a semelhança ou a diferença entre objetos, elementos ou situações; • Conhecimento conceitual: envolve um conceito de representação, através de um nome ou de um símbolo, relacionado a um grupo de elementos ou de eventos agrupados conforme características compartilhadas; • Princípios: envolve prescrições de relações entre dois ou mais conceitos. Geralmente são descritos em termos de causa e efeito. Para compreender um princípio, antes é necessário conhecer os conceitos envolvidos; • Procedimentos: compreendem métodos pré-definidos no sentido de produzir algo ou voltar-se a lidar com determinada situação. Pode requerer o conhecimento de fatos e de conceitos relacionados; • Conhecimento para solução de problemas: envolve a resolução de problemas mediante a habilidade de combinar fatos, conceitos, prinRevista D • 3 • 2011

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cípios, procedimentos e estratégias cognitivas (seus pré-requisitos) de um modo único, visando a atender o que se refere a um problema ainda desconhecido em relação a determinado contexto; • Atitude: trata-se do estado mental que predispõe um indivíduo a agir de uma determinada maneira. Envolve aspectos cognitivos, afetivos e comportamentais; • Estratégias cognitivas: requer o emprego de procedimentos, técnicas e de habilidades que podem ser utilizadas para melhorar o rendimento nos estudos (“aprender a aprender”) ou na organização pessoal, por exemplo o uso de diferentes métodos de leitura (rápida, analítica), sistemática para resolução de problemas; • Habilidades psicomotoras: depende de movimentos musculares coordenados e precisos, como andar, nadar, digitar, etc. Os métodos didáticos devem propiciar a prática física repetida, a qual pode ser auxiliada por estratégias cognitivas. • Design e Desenvolvimento: pressupõem o planejamento da instrução e da elaboração dos materiais didáticos; A fase de Design, ou fase de planejamento, consiste na definição de estratégias de aprendizagem adequadas: seleção de mídias, métodos de ensino e de estratégias motivacionais. Sugere-se que sejam descritas as atividades que o aluno realizará, as quais serão definidas conforme o domínio de aprendizagem requerido. Essas atividades deverão relacionar as ferramentas de comunicação e de colaboração que serão usadas e a forma de apresentação dos conteúdos, incluindo-se: vídeo, áudio, animação, objetos de aprendizagem e hipertexto. Essa escolha deverá basear-se nos benefícios a serem proporcionados a cada recurso levando-se em conta os objetivos de aprendizagem e os recursos disponíveis. As atividades deverão seguir um fluxo de informação relacionado às seguintes fases: introdução, processo, conclusão e avaliação. Nessa etapa, para garantir uma comunicação efetiva com a equipe que irá desenvolver os materiais, a equipe de planejamento necessita 88

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usar documentos que auxiliem na especificação dos conteúdos, da estrutura e fluxo de informação e da interface. No caso de materiais multimídia, faz-se necessário o uso de um roteiro escrito ou storyboard para especificar o conteúdo exato a ser produzido (FALKEMBACH, 2005). O storyboard é uma ferramenta criada para o desenvolvimento de quadros (frames) que compõem uma animação. Esse tipo de estrutura pode ser utilizado para a modelagem de materiais educacionais digitais. Um storyboard pode representar um esboço do modelo de uma aplicação, mostrando assim como os seus elementos encontram-se organizados. Esse ajuda no planejamento do conteúdo de cada unidade e na disposição das mídias, sendo considerado o “rascunho” da aplicação, já que permite aos responsáveis pelo projeto visualizarem a sua estrutura de navegação, ensejando a discussão da sequência do conteúdo, a realização de revisões e o acompanhamento necessário ao bom andamento do trabalho (FALKEMBACH, 2005). Para construir um storyboard é válido seguir as seguintes etapas (FALKEMBACH, 2005): • organização do conteúdo relacionado ao tema da aplicação de forma lógica; • determinação das estruturas de acesso, ou seja, do controle da navegação; • especificação do conteúdo a ser exibido e das mídias a serem utilizadas em cada tela. As telas são representadas por quadros e cada quadro de um storyboard deve mostrar o conteúdo dessas telas. Para planejar um material educacional multimídia é necessário: • Usar criatividade; • Seguir princípios como os sugeridos por Filatro (2008), para quem o material deve: combinar textos escritos ou falados com imagens, eliminando-se informações visuais irrelevantes; omitir música de fundo, ou som ambiente, os quais não estejam relacionados ao conteúdo, Revista D • 3 • 2011

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apresentar textos objetivos; proporcionar orientações instrucionais expressas em estilo conversacional, evitando a linguagem formal; propor atividades e exercícios práticos que permitam recuperar informações em contextos autênticos; • Verificar a disponibilidade dos recursos envolvidos e a respectiva viabilidade econômica; • Produzir um storyboard especificando o conteúdo do material para a equipe de desenvolvimento. No planejamento de um curso ou de um material educacional é fundamental propor atividades organizadas, de forma a favorecerem a aprendizagem do aluno. Com base na teoria de Gagné, Filatro (2008) apresenta a organização do fluxo de atividades de aprendizagem relacionada a eventos instrucionais: • Introdução: ativa a atenção do aluno; informa os objetivos de aprendizagem; aumenta o seu interesse e motivação, além de apresentar uma visão geral da unidade tratada; • Processo: recupera conhecimentos prévios; apresenta informações e exemplos de forma expositiva ou na forma de investigação; focaliza a atenção, empregando estratégias de aprendizagem; proporciona a prática e orienta-a, fornecendo feedback; • Conclusão: revisa e sintetiza o conteúdo; aplica conceitos envolvendo habilidades aprendidas em situações da vida cotidiana; remotiva e encerra o trabalho/estudo; • Avaliação: estima a aprendizagem e fornece feedback e complementação da aprendizagem. Os seguintes recursos podem ser usados na elaboração de atividades de aprendizagem: • Utilização de ferramentas para atividades colaborativas, disponíveis em Ambientes Virtuais de Aprendizagem, tais como o Moodle: Wiki, Blog, Fórum, e-mail e calendário de eventos; 90

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• Utilização de materiais educacionais para exposição de conteúdos: videoaulas – gravação do professor; vídeo com gravação de painéis ou de depoimentos com profissionais especializados em determinada área; videoaulas – apresentações animadas com áudio; áudio associado a uma imagem; desenho animado; tutoriais com gravação de tela e de áudio; utilização de texto impresso. A etapa de desenvolvimento consiste na produção do material envolvendo o trabalho de uma equipe técnica com profissionais da área de comunicação, informática e de design mediante o acompanhamento do professor conteudista. • Implementação: capacitação e ambientação de docentes e de alunos à proposta de design instrucional; A implementação consiste em aplicar o material desenvolvido a uma situação real de curso a distância, através da realização de um pré-teste com uma amostra de usuários. • Avaliação: acompanhamento, revisão e manutenção dos materiais. A construção dos materiais educacionais digitais também deve ser avaliada por um designer instrucional, passar por uma revisão ortográfica e gramatical e por um parecerista externo, especialista no conteúdo (KUNTZ et. al, 2008; ROMISZOWSKI, 2010).

5 considerações Finais A utilização dos computadores e da Internet alavancou a área de EaD - Educação a Distância. A Educação a Distância Mediada por Computadores - EDMC - é uma das áreas de pesquisa mais promissoras da Revista D • 3 • 2011

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Informática na Educação. As escolas e, principalmente as universidades, estão investindo em novas formas de ensino, através da utilização do computador, da Internet e dos cursos a distância. Nesse contexto, a interatividade é princípio fundamental de um curso a distância. Assim, deve existir interação entre o professor e os alunos, entre os alunos, entre os alunos e o material didático e entre os alunos e o ambiente de aprendizagem. Como a construção adequada dos materiais pode estimular a interatividade, diversos autores confirmam a importância do design instrucional, na medida em que essa área de pesquisa possibilita o estabelecimento de critérios para a construção dos materiais didáticos para EaD. Segundo Sales (2005), o material didático é um elemento relevante para a EaD, porque configura-se enquanto um mediador que culmina por trazer em seu núcleo a concepção pedagógica que guiará a aprendizagem. Assim, todo o planejamento do professor, até o material propriamente dito, deve relacionar-se propiciando que o conteúdo seja apresentado ao aluno de forma que esse consiga alcançar os objetivos relacionados. Andrade (2003) aprofunda essa ideia e enfatiza que todo o material didático deve promover a a busca de aprendizagem envolvendo a interatividade e a sequência de ideias e de conteúdos. Assim, o professor passa a exercer o papel de condutor de um conjunto de atividades e o aluno o de construtor do conhecimento. O material didático, em razão disso, deve ser empregado no sentido de provocar (motivar) a interação do aluno com o próprio material, com as ferramentas tecnológicas, com os colegas e com o professor. Segundo Tarouco (2007a), ao produzir-se um material de apoio para o ensino realizado com emprego de computador, presencial ou a distância, é necessário levar em conta a questão de se ajudar o estudante a aprender, mediante o uso da informação e do texto no sentido de que seja possibilitada a construção de um diálogo. O estudante deve ser encorajado a avançar, através da superação bem-sucedida de obstáculos. Por isso necessita ter clareza sobre o material a que irá acessar. 92

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Esse material deve ser pautado por objetivos claros e bem definidos, explicitados no início de cada unidade, além de empregar organizadores avançados (links, indexadores) que levem-no de um tópico a outro, permitindo dessa forma que a navegação possa ser alterada e/ou sugerida de acordo com próprios interesses dos alunos. É importante considerar, também, que os seres humanos possuem diferentes estilos de aprendizagem ou formas de se apropriar de informações, de processá-las e de construir novos conhecimentos. O processamento das informações pode ser ativo ou reflexivo, a percepção pode ser sensorial ou intuitiva, a entrada de dados pode ser mais visual ou verbal e a compreensão, global ou sequencial (TAROUCO, 2007b). O uso das novas tecnologias de informação permite a criação de materiais de aprendizagem que vão além de textos já que exploram outras formas de comunicação, favorecendo diferentes estilos de aquisição de conhecimento. A comunicação audiovisual possui uma superposição de linguagens e de mensagens que enriquecem o material de aprendizagem disponibilizado aos alunos. Conforme Moran (2004), o conhecimento visual facilita a compreensão do que não temos presente fisicamente, pois simula a presença do que está longe, do que fisicamente poderia ser difícil executar, assim como ilustra e ajuda a compreender mais facilmente conceitos abstratos. “Caminhamos para processos de comunicação audiovisual, com possibilidade de forte interação, integrando o que de melhor conhecemos da televisão (no tocante à qualidade de imagem, som, contar estórias, mostrar ao vivo) com o melhor da Internet (acesso a bancos de dados, pesquisa individual e grupal, desenvolvimento de projetos em conjunto, a distância, apresentação de resultados).... Não podemos confundir a educação on-line somente com cursos pela Internet ou somente pela Internet no modo texto” (MORAN, 2004). Dessa forma, o desafio consiste em produzir materiais que apoiem as propostas de ensino que extingam as fórmulas prontas e que criem desafios cognitivos para os estudantes. Que despertem a atenção e resRevista D • 3 • 2011

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pondam ao maior número possível de questionamentos que os alunos poderiam fazer presencialmente, pois o ato de ensinar só se reveste de sentido quando o aluno aprende. Acredita-se que a partir do design instrucional e da formação de equipes multidisciplinares, seja possível vencer este desafio.

Referências ANDRADE, A. F. de. Construindo um ambiente de aprendizagem a distância inspirado na concepção sociointeracionista de Vygotsky. In: SILVA, M. (org). Educação Online. São Paulo: Loyola, 2003. p. 255-270. CARVALHO, Ana Beatriz. Os Múltiplos Papéis do Professor em Educação a Distância: uma abordagem centrada na aprendizagem. 18º Encontro de Pesquisa Educacional do Norte e Nordeste – EPENN. Maceió, 2007. FALKEMBACH, Gilse Morgental. Concepção e Desenvolvimento de Material Educativo Digital. RENOTE – Revista de Novas Tecnologias na Educação, v. 3, n. 1, maio, 2005. FALKEMBACH, Gilse Morgental; GELLER, Marlise; SILVEIRA, Sidnei Renato. Desenvolvimento de Jogos Educativos Digitais utilizando uma Ferramenta de Autoria Multimídia: um estudo de caso com o ToolBook Instructor. RENOTE – Revista de Novas Tecnologias na Educação, v. 4, n. 1, julho, 2006. FILATRO, Andrea. Design Instrucional na Prática. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008. FILATRO, A.; PICONEZ, S. C. B. Design Instrucional Contextualizado. Disponível em http://www.abed.org.br/congresso2004/por/htm/049-TC-B2.htm. Consultado em maio de 2010. KUNTZ, V. H.; FREITAS, M. C. D.; MENDES JÚNIOR, R. Critérios de Ergodesign para Avaliação de Conteúdo Informacional voltado para Auto-Aprendizagem. Anais do 8º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design. São Paulo, 2008. MALLMANN, E. M.; CATAPAN, A. H. Materiais Didáticos em Educação a Distância: gestão e mediação pedagógica. Disponível em: <http://www.periodicos.udesc.br/index.php/linhas/article/viewFile/1360/1166>. Linhas, Florianópolis, Santa Catarina. v. 8. n. 2. Jul./ dez., 2007. Consultado em maio de 2010. MARTINS, R. X. Design Instrucional do Curso Estratégias e Gestão Aplicadas à EaD. Universidade Federal de Itajubá. Monografia do Curso de 94

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Aplicação de Aspectos de Design Instrucional na Elaboração de Materiais Didáticos Digitais para Educação a Distância

Sidnei Renato Silveira UniRitter. E-mail: sidnei@uniritter.edu.br Clarissa Tarragô Candotti UniRitter. E-mail: clarissa@uniritter.edu.br Gilse Morgental Falkembach ULBRA/Santa Maria. E-mail: gilsemf@gmail.com Marlise Geller ULBRA/Canoas. E-mail: marlise.geller@gmail.com

Recebido em 21/09/2011 Aceito em 07/11/2011

Silveira, Sidnei Renato; Candotti, Clarissa Tarragô; Falkembach, Gilse Morgental; Geller, Marlise. Aplicação de Aspectos de Design Instrucional na Elaboração de Materiais Didáticos Digitais para Educação a Distância. Revista D. Porto Alegre, n. 3, p. 77-96, 2011.

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