PORTIFÓLIO JÚLIA XIMENES, AGOSTO 2017
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Proposta projetual e processual para renovação de uma área central estratégica subutilizada (12,5ha) no centro expandido do Recife.
Júlia Ximenes ximenes.julia@gmail.com +55 (81) 98831-5316
Experiência Profissional Maio 2016 Presente momento
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
Chefe de Divisão de Estudos, Planos e Projetos Área de Projetos Especiais Desenvolvimento de projetos e planos urbanísticos para áreas estratégicas passíveis de sofrer requalificação ou renovação urbana
Formação
Arquitetura e Urbanismo
Instituto da Cidade Pelópidas Silveira
Out 2014 - Maio 2016
WL Tinoco Arquitetos
Set 2015 - Maio 2016 Out 2014 - Set 2015
Arquiteta Colaboradora Estágiária Escritório do arquiteto Wandenkolk Tinoco, um dos principais expoentes da arquitetura pernambucana.
Heriot Watt University – Edimburgo, Reino Unido Intercâmbio pelo Ciência Sem Fronteiras (CSF) Disciplinas do Masters em Urban and Regional Planning (MSc).
Participação no desenvolvimento de estudo preliminar, projetobásico, projeto legal e executivo de casas e edifícios residenciais. Participação no desenvolvimento de esculturas em chapa de aço
Premiações Vencedora nacional do 27º Opera Prima Vila Naval: Uma proposta de operação urbana
Out 2014 - Maio 2016
Milton Botler Consultoria
Set 2015 - Maio 2016 Out 2014 - Set 2015
Arquiteta e Urbanista Estágiária
Proposta projetual e processual para renovação de uma área central estratégica subutilizada (12,5ha) no centro expandido do Recife.
Escritório de arquitetura, desenho urbano e planejamento urbano, fundado por Milton Botler. Botler presidiu o Instituto da Cidade Pelópidas Silveira (ICPS) no Recife, foi Coordenador do Programa Nacional de Reabilitação de Áreas Urbanas Centrais do Ministério das Cidades, entre outras atividades.
Experiência Profissional
Participação no desenvolvimento de proposta de operação urbana, consultoria para revisão de Plano Diretor, projeto de requalificação de espaços públicos e plano de mobilidade.
Instituto da Cidade Pelópidas Silveira Chefe de Divisão de Estudos, Planos e Projetos Área de Projetos Especiais
Fev 2012 – Ago 2013 Pontual Arquitetos
Desenvolvimento de projetos e planos urbanísticos para áreas estratégicas passíveis de sofrer requalificação ou renovação urbana
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WL Tinoco Arquitetos
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Arquiteta Colaboradora Estágiária Escritório do arquiteto Wandenkolk Tinoco, um dos principais expoentes da arquitetura pernambucana. Participação no desenvolvimento de estudo preliminar, projetobásico, projeto legal e executivo de casas e edifícios residenciais.
Estágiária Escritório de arquitetura com 35 anos de experiência e atuação em projetos de diferentes escalas fundado pelo arquiteto Carlos Fernando Pontual. Desenvolvimento de desenhos e modelagem 3D de estudo preliminar, projeto básico, projeto legal e executivo de casas, edifícios empresariais, institucionais, residenciais e hotéis.
Jan 2011 – Jan 2012
Andrade e Raposo Arquitetos Estágiária
preliminar, projeto básico, projeto legal e executivo de casas, edifícios empresariais, institucionais, residenciais e hotéis.
Jan 2011 – Jan 2012
Andrade e Raposo Arquitetos
Escritório de projeto de arquitetura dos professores da UFPE Moisés Andrade, Mônica Raposo e Paulo Raposo. Desenvolvimento de desenhos e modelagem 3D de projeto básico, legal e executivo de casas, edifícios residenciais e escolas.
Jul 2010 – Dez 2010
Secretaria de Patrimônio e Cultura (SEPAC) de Olinda (PE) Estágiária
pontual arquitetos
Estágiária
Órgão responsável pela formulação e implementação da política cultural e de preservação e valorização do patrimônio do sítio histórico de Olinda, património Mundial da UNESCO.
2015 - 2017
Desenvolvimento de projetos de arquitetura de interiores Formação Complementar
Curso do Lincoln Institute of Land Policy Tierra Vacante, Ciudad Compacta y Sustentabilidad Ministrado pela Professora Nora Lilia Clichevsky (UBA)
2016 - 2017
Aluna especial da disciplina ‘Composição espacial’
wl tinoco
2016 - 2017
Departamento de Arquitetura e Urbanismo (DAU) - UFPE Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano - MDU Ministrada por Luiz Amorim.
Aluna especial da disciplina ‘O projeto e a cidade’ Departamento de Arquitetura e Urbanismo (DAU) - UFPE Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano - MDU Ministrada por Zeca Brandão, Luiz Amorim e Julieta Leite.
Programas AutoCAD SketchUp + Vray VectorWorks 2D Adobe Photoshop Adobe Illustrator Adobe InDesign Corel Draw Revit (Básico) Arqgis/Qgis (Básico)
a&r aruqitetos
2016 - 2017
vista do eixo transversal principal [106] Implantação em função da maximização da visada e do afastamento entre as edificações e da proximidade com a rua.
armazéns do porto
PAULISTA
OLINDA
SANTO AMARO
VILA NAVAL VIL
CENTRO EXPANDIDO
JABOATÃO
[1] LOCALIZAÇÃO: Bairro de Santo Amaro, no limite entre os municípios de Recife e Olinda. Localização estratégica, no centro expandido do Recife, próximo aos centros históricos do Recife.
ÁREA DE INTERVENÇÃO SANTO AMARO
Requalificar uma área central estratégica subutilizada. Ampliar o impacto positivo
da sua transformação urbanística. Propor intervenções responsivas ao contexto local. Promover a integração de territórios.
Os desafios impostos pela transformação urbana de uma área estratégica e com o
porte da Vila Naval (12,5ha), localizada no centro expandido do Recife, traz à tona uma série de questionamentos sobre como deve se dar a sua renovação. Esta tem impactos significa[2] BAIRRO DE SANTO AMARO
• Potencial de transformação
tivos não só no seu entorno imediato, mas, também, na cidade, sua dinâmica, paisagem e patrimônio.
(presença de vazios e áreas subutilizadas)
• processo de transformação iniciado com empreendimentos de serviço e residenciais (incetivado pelo aumento do potencial construtivo
Para isso, propõe-se um plano urbanístico com abordagem propositiva, que ex-
plora a linguagem do desenho urbano como forma de garantir a construção de um espaço urbano integrado e com qualidade espacial, responsivo ao contexto local. Considera-se uma
pelo Plano Diretor);
área mais ampla de requalificação do que a Vila Naval em si, utilizando seu potencial de
• Grande conectividade com outras
renovação para promover transformações urbanísticas estruturais, com melhorias sociais e
áreas da cidade e região metropolitana;
valorização ambiental.
• Grande oferta de transporte público; •Próximo a polos geradores de emprego, comércio e serviços (Bairro do Recife).
Como forma de viabilizar a implantação, propõe-se a realização de uma operação
urbana, que conta com o papel chave do poder público enquanto agente do planejamento.
LEITURA DOS TERRITÓRIOS • Presença de canal urbanizado, um respiro Comunidades ao Sul da Av. Doutor Jayme da Fonte à densa ocupação (canal sem arborização e O Plano Urbanístico abrange espaços públicos de permanência). uma área maior que a prevista pelo Plano Os equipamentos da Av. Cruz Cabugá são • Malha urbana característica de assentamenDiretor, para compreender como a Vila Naval a maior barreira para a integração da ZEIS tos espontâneos, com quadras sem definição se relaciona com entorno e que papel desempenha para este e a cidade. com a cidade formal, criando um enclave no e miolos ocupados por residências sem interior da comunidade, área tida como a acesso direto à rua; Limites: frente d’água ao leste, a Av. Agamenon Magalhães a oeste e a Av. Norte ao sul. mais violenta. Esta possui poucos pontos de • Baixa permeabilidade interna e legibilidade; ligação com a Av. Cruz Cabugá, como o Beco • Relativa conectividade e continuidade com A delimitação se deu pelo caráter de barreira da Tramways (ocupado por habitações). Outa cidade formal; das vias de escala metropolitana para área, ra barreira é o muro no limite da comunidade • Trecho do canal sem urbanização, com apesar da importância para sua conectividade. próximo ao Shopping, construído por este. margens ocupadas de forma bastante A área contempla territórios com morfologias O único local em que a comuniprecária; bastante distintas, que pouco se relacionam. dade não está por trás de nenhum equipa- • Presença de comércio no interior da comuEQUIPAMENTOS AO LONGO DA AV. mento é na Pç. General Carlos Pinto, onde há nidade e em seus limites, onde atende a uma demanda mais externa e cria uma interface CRUZ CABUGÁ (EIXO METROPOLITANO) um terreno vazio, com grande potencial para promover a integração da ZEIS com o espaço com a cidade formal. • Baixa taxa de ocupação do solo, alto coefiurbano ao leste. ciente de utilização; Presença de comércio local, • Edificações soltas no lote, cercadas por concentrado naperiferia muros/grades. das comunidades, [1] SHOPPING TACARUNA
FUTEBOL
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Se destaca entre os equipamentos pela escala e potencial de atrair pessoasade outras áreas da cidade, mas possui pouca relação com o entorno, se caracterizando como uma barreira. Ele se auto-isola no espaço urbano, priorizando estritamente o acesso motorizado.
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[2] HOSPITAL DO CÂNCER
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[3] HOSPITAL DE SANTO AMARO Se destaca pelo seu valor histórico e arquitetônico. É um setor Setor de Preservação Rigorosa da Zona Especial de Patrimônio Histórico (ZEPH) 19 – Hospital de Santo Amaro/ Vila Naval.
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Setor de Preservação ambiental Setor de Preservação Rigorosa FUTEBOL
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Ocupação informal Grandes lotes com equipamentos Ocupação formal
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Assentamentos espontâneos de baixa renda: • Alta densidade construtiva e populacional; • Carência de espaço público.
Comunidades ao Norte da Av. Doutor Jayme da Fonte
•Permeabilidade interna, quadras pequenas e regulares (casas com acesso direto à rua); • Baixa integração com o entorno, devido à presença de barreiras;
Terrenos Vazios Muros e barreiras Área residencial de transição entre ZEIS e cidade formal
Vila Naval Condomínio residencial da marinha, área murada sem integração com o entorno, o que diminui a legibilidade do território, pois impede a percepção da frente d’água e o desfrute do seu potencial paisagístico. • Baixa densidade populacional e construtiva; • Traçado regular e ortogonal, com parcelamento característico de conjuntos habitacionais unifamiliares; • Predominância de residências unifamiliares térreas soltas no lote; • Presença de equipamentos que servem à comunidade naval; • Configuração com pouca relação com a frente d’água. FUTEBOL
no encontro com a cidade formal. Forte presença de comércio na via local da Av. Agamenon Magalhães e ao redor da Praça General Carlos Pinto (praça de alimentação informal), para atender à demanda de comércio popular gerada pelo Shopping Tacaruna, sobretudo pelos seus funcionários.
contexto
Eixo principal Leste-oeste Promove a integração
leste-oeste do território e se configura como uma ‘infiltração de urbanidade na ZEIS’; Articula novos espaços e equipamentos públicos de escala local e metropolitana, devido à importância desse território para a escala do bairro e da cidade. Conecta diferentes modais: os ônibus na Av. Agamenon Magalhães e Cruz Cabugá e a estação fluvial de passageiros. SESC + espaço público Creche Escola Estadual Almirante Dutra Largo Hospital de Santo Amaro
Parque na comunidade
conectar
2. Terreno na Praça General carlos pinto
Terreno vazio cuja ocupação com HIS e comércio tem o potencial de criar uma interface entre a cidade formal e a ZEIS, promovendo uma transição entre essas duas escala. Potencial para abrigar a população removida pelas intervenções. Atualmente, ao redor do terreno há barracas de alimentação nas calçadas, que devem ser incorporadas ao projeto enquanto boxes comerciais e de serviços.
Projeto de referência: projeto de HIS para Paraisópolis, que promove transição de escalas entre uma nova Av. perimetral e a comunidade. Fonte:cidadeinformal.prefeitura.sp.gov.br
3 Terrenos com potencial para HIS para abrigar a população removida e para a expansão e consolidação das comunidades
renovação
O Plano Diretor da Cidade do Recife reconhece o potencial da Vila Naval (Setor de Preservação Ambiental da Zona Especial de Patrimônio Histórico 19)para sofrer transformação, classificando-a como uma área de projetos especiais, a ser regulamentada por lei específica. A classificação dos vazios urbanos remanescentes no Recife como áreas de projetos especiais introduziu uma nova escala no planejamento da cidade, trazendo desafios quanto à forma de legislar sobre esses territórios. No entanto, os planos têm se mostrado ineficientes na garantia de um espaço urbano de qualidade, por se pautarem na mera definição de parâmetros normativos genéricos para o vazio em si, abordagem falha em lidar com dinâmicas complexas. Como resultado, a mesma lógica geradora do espaço urbano lote a lote vem sendo aplicada, criando espaços genéricos e sem urbanidade. As edificações têm sido concebidas como objetos isolados, que não conformam espaços públicos de qualidade. Na prática, os planos têm se limitado a legalizar as propostas com pouca qualidade advindas do mercado imobiliário. É em meio a esse contexto que o trabalho faz uma proposta processual e projetual para a renovação da Vila Naval enquanto exemplar do processo de ocupação desses vazios, propondo outra estratégia, viabilizada por uma operação urbana. A abordagem coloca o poder público enquanto protagonista da formulação e coordenação do planejamento urbano, ao mesmo tempo em que considera sua viabilidade financeira dentro de uma economia de mercado.
propostas de interveção
Foto aerea do Beco da Tramway
requalificação do beco da Tramways, com relocação da população
Áreas críticas Remoções
1
2
Área de requalificação Área de renovação
<<Every increment of construction must be made in such a way as to sew the city>>
*
3
(Alexander et al, 1987)
1. Parque
O terreno deve ser transformado em parque e abrigar equipamentos de lazer, como espaços para ensaio e apresentação dos grupos de teatro e orquestra da comunidade, além de habitação. Papel fundamental na melhoria da qualidade urbana e ambiental da ZEIS, pela sua escala e grande arborização. Potencial de modificar a relação do interior da comunidade com o entorno, pela introdução de um equipamento atrativo e a criação de novos acessos. Atualmente é um lote murado e sem uso, um foco de criminalidade em uma área sem conectividade da ZEIS.
Projeto de referência: Urbanização do córrego do Antonico. Fonte: mmbb.com.br
urbanização do canal Urbanização do Canal de Santa Terezinha e arborização da via do canal no trecho urbanizado.
visão: costurar a cidade • Promover a integração, sobretudo leste-oeste, dos diferentes padrões de ocupação; • Modificar a relação da área com a frente d’água, aumentando a legibilidade do espaço urbano e garantindo o acesso e a apropriação do espaço pela população (criação de parque linear na margem e equipamentos de uso público); •Requalificar o espaço público, conferindo -lhe qualidade urbana e ambiental.
requalificação assentamentos espontâneos Promover a continuidade entre a ZEIS e a ‘cidade formal’, diluindo barreiras urbanísticas e simbólicas e garantindo o acesso da população às infraestruturas, oportunidades e serviços do entorno.
Renovação incompatível com o adensamento necessário
comunidades ao norte da av. dr. jayme da fonte:
nas cidades, sobretudo em zonas centrais. Estas precisam ser mais compactas e vivas, Redesenhar o espaço urbano, estabelecer uma relação com a água, projetar para racionalizando a infraestrutura e encurtando distâncias, na busca por um espaço urbano pessoas, criar espaços de fruição da vida mais sustentável. urbana, estabelecer paradigmas, pautados Diante da necessidade de proem um modelo de cidade que queremos mover o adensamento em áreas centrais, construir. como manter o caráter de vila do território? Criar um espaço urbano com É preciso reinterpretar a vila, melhor qualidade do que áreas já consoli- recriar a sua ambiência dentro do espaço dadas, favorecido pelo seu grande potencial Fonte: Vigliecca & Associados urbano, em diferentes escalas. O espaço paisagístico. comunidades ao sul da urbano e até mesmo as edificações têm múlav. dr. jayme da fonte: tiplas escalas, uma dessas, ou várias, pode Mas, como fazer? Estratégia de requalificação: ter a escala da vila. Ela pode estar no nível do térreo das edificações, no interior de uma Como garantir a qualiquadra, no vazio de um prédio, na relação dade urbana tão almejada? O entre as edificações. Estratégia de requalificação: Infiltrações de urbanidade:
que faz com que o espaço urbano tenha qualidade? Como criar um lugar? Qual o caráter do lugar? Qual a relevância desse caráter? Qual o valor do existente? Qual papel a área pode desempenhar para o entorno e para a cidade? Qual a densidade ideal? Quais usos? Quais parâmetros urbanísticos?
Comunidades ao norte da Av. Dr. Jaime da Fonte: Conectar a ZEIS • Acabar com o isolamento por trás dos equipamentos e muros, com a abertura de vias estratégicas para sua conexão; • Remover os muros remanescentes do lote do Shopping Tacaruna; • Requalificar, arborizar e criar espaços de convivência ao longo do canal.
Desafio de promover a transformação do território sem apagar sua memória. A manutenção desta não se dá necessariamente pela preservação da estrutura sua urbana e edílica ou sua mimetização, mas pela apreensão da sua essência e caráter, que deverá ser incorporado a uma proposta de redesenho urbano.
Comunidades ao sul da Av. Dr Jaime da Fonte:
Requalificar a estrutura urbana da ZEIS • Reestruturar as áreas críticas (margem do canal e “miolos de quadra”), realocando a população em habitações precárias na própria área, através do seu reordenamento e ocupação de terrenos vazios; • Promover um reassentamento pulverizado.
• Modificar a relação dos equipamentos
com o espaço público, acabando com seu auto-isolamento;
[1] Edf. Mirador, MVRDV [2] Linked Hybrid, Steven Holl [3] De Citadel, Cristian de Portzamparc [4] Croquis de Christian de Portzamparc
Caráter do lugar
Fonte: Vigliecca & Associados
Vazios urbanos e tipologia de complementação:
Renovação: Vila Naval • Explorar a transformação da vila naval enquanto ‘novo elemento’, capaz de induzir a integração do território,com a provisão de novos usos, espaços públicos e potencial paisagístico.
[4]
A Vila Naval ocupou a Vila das Lavadeiras da antiga Fábrica Tacaruna na década de 60. Conjunto edílico Vila Entretanto, a maior parte dessas casas da Naval e Caráter do lugar década de 1930, encontra-se deteriorada ou A preservação de todo o conjunto modificada e não possui reconhecido valor edílico não se justifica, por inviabilizar o histórico ou arquitetônico. adensamento da área e pelo mau estado de Apesar de ter mudado de caráter fabril para conservação. naval, o território permaneceu enquanto vila. Não é a tipologia isolada, mas a morfologia do lugar e a ambiência criada pela relação Vila: entre as casas que configuram o caráter do 1 Povoação, de categoria inferior a de cidade e espaço urbano. As casas das patentes mais superior a de aldeia; baixas, que se repetem ao longo das vias, são 2 Conjunto de pequenas casas parecidas, as que criam a ambiência mais característica dispostas de modo que formam rua ou praça de uma vila, as mais relevantes para mainterior; nutenção da sua memória, portanto.
Outras propostas: • Criar espaços de lazer e de apoio às atividades desenvolvidas na comunidade, como vestiários para os campeonatos de futebol; • Requalificar as moradias existentes, através de um programa de reformas, ampliações e execução de instalações.
Equipamentos ao longo da Av. Cruz Cabugá:
[3]
[1]
Renovação e re-desenho
[2]
Fonte: Vigliecca & Associados
3 Distrito ou comunidade autônoma em uma cidade, que possui características de uma vida em vila.
O conceito de vila parece ser
<< A cidade não é estática, com o tempo ela cresce sobre si mesma, adquire consciência e memória de si mesma >> (Aldo Rossi, 1966)
casas preservadas
plano de massa
Propõe-se a realização um plano de massa para a Vila Naval, que define o parcelamento, a configuração dos espaços públicos, a volumetria das edificações e regulamentações específicas. Este prevê um trabalho de acompanhamento dos projetos futuros, para garantir sua implantação em acordo com o proposto, gerando um espaço urbano com qualidade.
faseamento e variedade A execução do plano será faseada e este poderá ser dividido em até 15 empreendimentos, o que facilita sua viabilidade e execução. A divisão em empreendimentos assegura maior pluralidade ao espaço urbano, pois os arquitetos de cada um destes podem imprimir, dentre dos limites estabelecidos, sua expressão arquitetônica e concepção de uma cidade contemporânea.
sistema viário
possíveis estratégias processuais para a renovação da vila naval (jon lang,2005): • ‘total urban design:
•‘piece-by-piece urban design:
uma equipe controla todo o projeto, das áreas públicas e infraestrutura às edificações. Risco: espaço urbano pouco plural
parâmetros urbanísticos são definidos de forma a controlar e orientar o desenvolvimento da área. Risco: criação de um espaço urbano fragmentado, que se constrói lote a lote.
•‘all-of-a-piece urban design’: uma equipe desenvolve um plano geral que guia as propostas de diversos empreendedores, que possuem uma equipe própria para o desenvolvimento de cada empreendimento. Requer uma equipe responsável pelo acompanhamento do projeto de cada área e pela administração e compatibilização do desenvolvimento da área como um todo. Potencial: criação de área plural
• ‘plug-in urban design’: há a implantação de infraestrutura, que permite que projetos se ‘pluguem’. Risco: a qualidade da transformação depende da atuação do mercado
O sistema de ruas e quadras é mantido, por ser um ‘paradigma’ da forma urbana das cidades, garantindo que residentes e usuários se localizem e tenham um endereço no sistema espacial da cidade As vias existentes transversais à Av. Cruz Cabugá foram mantidas, para dar continuidade ao tecido urbano do entorno e promover sua integração. Foi criada uma via transversal enquanto Eixo Principal, associado à equipamentos públicos, para acabar com o caráter de barreiras dos Hospitais. Foi criado um eixo de visada em relação à água e aos armazéns de açúcar do Porto do Recife (ponto focal na paisagem), descortinando a paisagem. O eixo foi prolongado até a água, criando uma Marina.
espaço público Foi proposta uma rede de espaços públicos que estimula a fruição da vida urbana: o parque linear na frente d’água, a praça e o deck do SESC e o pátio em frente ao Hospital de Santo Amaro. Este último tem o intuito de valorizar o Hospital, mantendo sua escala e referência enquanto marco e transformando-o em ponto focal, através de sua conexão visual com a frente d’água. As calçadas possuem no mínimo 5m de largura, com arborização e travessia de pedestre em nível. Além disso, buscou-se a criação de um espaço urbano com variedade e ritmo para os pedestres, a partir da al-
ternância entre edificações e jardins, edifícios com diferentes gabaritos e expressões arquitetônicas. Promoveu-se o contato visual entre a rua e as edificações, para garantir a vigilância social.
equipamentos públicos
Cruciais para incentivar a apropriação da área pela população local e da cidade • SESC: equipamento âncora na frente d’água, com potencial de atração de pessoas de outras áreas da cidade. Impulsiona a extensão da movimentação cultural do Bairro do Recife para a Vila Naval; • Escola Estadual Almirante Soares Dutra e creche: equipamentos de atendimento local; • Estaleiro: garantia de espaço digno de trabalho para as pessoas que constroem barcos embaixo da Ponte do Limoeiro(local próximo); • Estação fluvial: promove a conectividade da área (prevista pelo projeto de navegabilidade do Recife).
a quadra
Propõe-se o desenho urbano a partir da escala da quadra, unidade capaz de definir a qualidade do espaço urbano de forma mais efetiva que o lote. Modelo base de quadra não aberta com permeabilidade visual entre o espaço público e privado, com dimensão média de 150m por 60m. A quadra é cortada por rua pedestrianizada, que encurta as distâncias do espaço urbano e o torna mais convidativo para pedestres. A única quadra aberta é a em frente a Praça General Carlos Pinto, onde há o maior número de casas preservadas da Vila Naval. Nela é recriada a ambiência de vila no nível do térreo e assume um caráter de centro cívico da vila, com concentração de comércio, serviço e escritórios, uma extensão do Shopping para o espaço urbano.
pavto térreo
0
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Residencial Escritório Comércio Equipamento público Hotel Garagem
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pavtos mais baixos Residencial Escritório Equipamento público Hotel Garagem
pavtos mais altos 0 0
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Residencial Escritório
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planta de coberta Equipamento público
edificações O plano de massa define a volumetria das edificações, uma espécie de ‘envelope’ tridimensional dentro do qual o arquiteto tem liberdade para desenvolver o seu projeto, podendo ultrapassar o volume em 10%. A implantação das edificações visa maximizar o afastamento entre elas, para potencializar as visadas e a ventilação, enquanto uma de suas faces está sempre no paramento da rua, para conformar e estabelecer uma relação com o espaço público. Foram propostas edificações verticais e outras mais baixas e horizontais, para garantir variedade tipológica, contribuindo para a criação de um espaço urbano mais rico espacialmente e com uma escala mais humana. Os projetos devem fugir dos volumes monolíticos, através de quebras, recortes, recuos e avanços, que estabelecem diferentes escalas e referências no espaço urbano.
Implantação resultante do afastamento progessivo da lesgislação do Recife
Implantação em função da maximização da visada e do afastamento entre as edificações e da proximidade com a rua.
Santo Amaro
Vila Naval
Zona amenização de paisagem
Olinda
Esquema da implantação da Vila Naval na paisagem urbana da cidade.
uso misto e mobilidade Esquema de cruzamento elevado a ser adotado na área da Vila Naval
A área deve ser multifuncional, com comércio, serviço, habitação, hotel, escritórios e equipamentos. A diversidade de usos é crucial para garantir um espaço urbano vivo em todas as horas do dia e viabilizar que os próprios moradores realizem as mais diversas atividades na área. Mobilidade não está necessariamente associada à ideia de percorrer grandes distâncias com eficiência, mas conseguir realizar diferentes atividades em um espaço de tempo razoável, com o menor deslocamento possível (Bertolini e Le Clercq,2003). Dessa forma, um espaço urbano acessível e sustentável, deve ter essas atividades o mais próximo possível, maximizando o uso do transporte ativo. Além disso, a área está em um corredor de transporte público. A oferta deste possibilitou a definição de um limite máximo de vagas por empreendimento, além de outras medidas como o compartilhamento da infraestrutura de garagem nas quadras e a mudança da relação das garagem com o espaço urbano, com uso misto e teto verde.
inserção na paisagem No sentido transversal, as edificações na frente d’água possuem um gabarito mais baixo, de modo a garantir uma escala mais humana e de vila na frente d’agua. Na medida em que se aproxima da Av. Cruz Cabugá, a altura das edificações aumenta em acordo com a escala
tilhada e nivelada, para evitar que se transforme em uma barreira na frente d’água. Ela contorna a Praça do SESC por trás, desincentivando seu uso enquanto alternativa à Av. Cruz Cabugá e garantindo o contato direto do equipamento com a frente d’água. O padrão viário da Av. Cruz Cabugá é transformado, para minimizar seu caráter de barreira. Propõe-se a implantação de ciclovia e a criação de faixa exclusiva para ônibus.
de uma via metropolitana, mas seguem um modelo de galeria com comércio no térreo para manter a escala humana e gerar sombra no poente.
Fonte: NYC DOT - Street Design Manual - NYC.gov Faixa de pedestre elevada no meio de quadra a ser adotado na área da Vila Naval Fonte: NYC DOT Street Design Manual - NYC.gov
densidade Densidade: 302 hab/ha A densidade estipulada, em função do parâmetro previsto pela Prefeitura, é baixa em relação ao contexto internacional, quando comparada à de cidades consideradas como exemplo de urbanidade, como Paris e Barcelona. Entretanto, deve-se considerar o contexto do Recife, que possui baixas densidades. Propõe-se uma densidade superior à média da cidade, em uma lógica de desenvolvimento orientado pelo transporte (DOT), que prevê o adensamento ao longo dos corredores de transporte público.
traffic calming
Utilização da estratégia de traffic calming, como travessias de pedestre em nível, para alcançar um espaço urbano mais humanizado. A via na frente d’água é compar-
5 (amazéns + frente d’água)
4
eixo de visada
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1. SESC 2. Escola 3. Creche 4. Edf Garagem + Aluguel de Bicicletas 5. Estaleiro
1
conexão pedestre ciclovia
CUT total bruto
2.24
ÁREA CONSTRUÇÃO PRIVATIVA/USO operação urbana Área comércio (base 14,482.75 9% Apenas o das usoedificações) intensivo de transporte Área escritório 40,425.11 à público, associado a políticas de restrição 25% A implementação do Plano Área residencial 94,325.25 58% oferta de vagas, minimizariam o impacto de Urbanístico deve se dar por meio de uma VGV área privativa novos empreendimentos de escala, viabili-preço/m² operação urbana, que inclui as áreas de 811,817,500.00 162,363.50 5,000 zando desidades mais altas. Nº unidades residenciais (DU) Tamho médio da unidade habitacional Nº pessoas/família (CENSUS IBGE - Recife) Nº habitantes DENSIDADE BRUTA (hab/ha) Densidade líquida (hab/ha)
1,179.07 80.00 3.20 3,773.01 302 719
Desidade do espaço urbano em função do número de habitantes/ha, número de unidades residenciais/ha e área construída/ha. Fonte: Density Atlas, MIT
Densidade do Bairro de Santo Amaro: • 73,52hab/ha Densidade dos bairros vizinhos: • Bairro do Recife: 2,23hab/ha • Boa vista: 84hab/ha • Espinheiro: 142hab/ha
requalificação e renovação urbana. Essa ferramenta viabiliza uma escala de planejamento mais local e estratégico, que proporciona transformações significativas em uma área, associando a renovação de áreas urbanas à reestruturação do existente, vinculadas por meio de uma modelagem econômica. Ela permite a modificação de índices e características de parcelamento, uso e ocupação do solo e subsolo, bem como alterar as normas edílicas, considerando o impacto ambiental delas decorrente. A viabilização da Operação depende do papel ativo do poder público enquanto coordenador, inclusive para minimizar as possíveis consequências excludentes do processo de renovação urbana. É primordial envolver atores locais, da sociedade civil e diversas esferas governamentais, buscando diferentes modelos de governança. Deve-se atender as populações locais com a geração de empregos e renda, além de atender às suas necessidades habitacionais, de equipamentos e infraestrutura. A viabilidade da operação urbana Vila Naval é facilitada pelo fato da gleba de renovação pertencer à União. A renovação da Vila Naval e a comercialização da terra seriam responsáveis por gerar a receita para viabilizar as intervenções de requalificação no entorno. É necessário o desenvolvimento de uma modelagem econômica detalhada, incluindo os custos provenientes das propostas de requalifi-
cota de solidariedade
cação e dos equipamentos públicos.
É prevista a aplicação de cota de solidariedade, com a destinação do equivalente a 10% da área computável dos empreendimentos para a produção de HIS.
O presente trabalho faz uma proposta para a relização de uma operação urbana, definindo as diretrizes para a área de
requalificação e fazendo uma proposta processual e projetual para a Vila Naval, na qual se propõe a explorar o papel do desenho urbano na criação de um espaço urbano de qualidade. É preciso haver o desenvolvimento das propostas de requalificação, associadas à um trabalho participativo junto às comunidades, para o fechamento da proposta de operação urbana. Estima-se que haja a remoção de 407 famílias, com base nos estudos desenvolvidos, incluindo o reordenamento de áreas críticas e reestruturação da malha urbana.
números ÁREAS PARCELAMENTO (Vila Naval) Área da gleba 124,895.00 Sistema viário (leito carroçável) 11,240.55 Sistema viário (leito não carroçável) 29,974.80 Área privada loteável 52,455.90 Área pública (áreas livres + equipamentos) 31,223.75 Área de equipamentos públicos 7,614.00 Taxa de solo natural 31,723.33 ÁREA DE CONSTRUÇÃO Área privativa total Área construída total Área privativa/Área construída m² PRIVATIVA/Nº VAGAS CUT privativo CUT total CUT privativo bruto CUT total bruto
9% 24% 42% 25% 6% 25%
162,363.50 280,024.75 58% 39.75 3.10 5.34 1.30 2.24
ÁREA CONSTRUÇÃO PRIVATIVA/USO Área comércio (base das edificações) 14,482.75 9% Área escritório 40,425.11 25% Área residencial 94,325.25 58% VGV área privativa preço/m² 811,817,500.00 162,363.50 5,000 Nº unidades residenciais (DU) Tamho médio da unidade habitacional Nº pessoas/família (CENSUS IBGE - Recife) Nº habitantes DENSIDADE BRUTA (hab/ha) Densidade líquida (hab/ha)
1,179.07 80.00 3.20 3,773.01 302 719
Relação entre as edificações na frente d’água e o espaço público
a quadra (simulação de um empreendimento) A fim de ilustrar e simular como seria a etapa seguinte ao desenvolvimento do Plano de Massa, no qual diferentes escritórios de arquitetura desenvolveriam os empreendimentos, foi realizado um estudo preliminar para umas das quadras. O desenvolvimento do estudo possibilita uma melhor visualização e compreensão da proposta apresentada enquanto Plano de Massa.
Residencial Escritório Comércio
Planta - Pavto Semi-enterrado
Planta - Pavto Térreo
Apartamentos com 40m² Apartamentos com 215m² Apartamentos com 190m² Salas Escritório 41m²
Planta - Pavto +6.00m
Apartamento 35m² Apartamento 75m² Apartamento 95m²
Planta - Pavto +21.00m
Escritório 270m² Apartamento 126m² Apartamento 160m² Apartamento 165m²
vista do eixo transversal principal simulação de um empreendimento hospital de santo amaro
CASA PARA IDOSOS
O projeto é uma intervenção em um sobrado no Bairro dos Coelhos, em Recife. O sobrado se encontra em péssimo estado de conservação, apenas com sua ‘casca’. Para abrigar uma casa de idosos, era necessário intervir no sobrado e aumentar a sua área construída, para ofertar todos os quartos e a estrutura do asilo. Para isso, foi criado um anexo que se acopla a casa e demarca a intervenção de caráter contemporâneo. Os quartos se localizam no volume ‘anexo’, enquanto o corpo da casa abriga as áreas comuns e de serviço. A intervenção na casa respeita a altura dos pés direitos existentes e cri um vazio que perpassa todos os andares e é o ponto de encontro entre o novo volume edificado e o sobrado. Além disso, o vazio confere permeabilidade visual ao interior da casa, estabelecendo uma relação de troca entre todos os andares.
3
5 4
2
6
2
6
7
7 7 7
1
pavimento tĂŠrreo
7
1Âş pavimento
7
7
7
TUBO METÁLICO EM AÇO INOX Ø= 3'' PISO EM CIMENTO QUEIMADO PERFIL VS 600x152 LAJE STEEL DECK
BRAÇO MÉTALICO PARA FIXAÇÃO DA CHAPA PERFURADA
FORRO EM GESSO ACARTONADO
3
PANO DE VIDRO (TRECHO MÓVEL)
5
CHAPA METÁLICA PERFURADA
4 6
2
7
2
6 TUBO METÁLICO EM AÇO INOX Ø= 3''
1
7
7 PANO DE VIDRO (TRECHO FIXO)
7 7
PISO EM CIMENTO QUEIMADO
7
7
7
PERFIL VS 600x152 LAJE STEEL DECK FORRO EM GESSO ACARTONADO
10 11
6
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7 8
7
2 7 7
2º pavimento
7
7
8
7
2
7
7
3º pavimento
7
7 7
7
7
0
9
7
1 2
5
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
RECEPÇÃO ESTAR ADMINISTRAÇÃO COPA DORMITÓRIO DEPÓSITO QUARTO SALA MULTIUSO REFEITÓRIO COZINHA SALA DE EXERCÍCIO
ENCANTA MOÇA
Encanta Moça: articulação como potencialização do território A área de estudo, localizada no bairro do Pina (Recife), é um território bastante fragmentado, PINA
que conta com importantes avenidas, o Shopping Rio Mar e as comunidades do Encanta Moça, que configuram uma ZEIS (Zona Especial de Interesse Social). Apesar de sua localização estratégica, próxima a equipamentos urbanos e naturais e a importantes eixos viários, a ZEIS Encanta Moça é desarticulada em relação ao território circundante.
PINA ZEIS PRQ MANGUEZAIS
A falta de articulação se repete na escala intracomunitária, consequente de um tecido urbano marcado por longas quadras, da descontinuidade das vias locais e da alta incidência de becos. O trabalho propõe uma estratégia projetual para promover a articulação da ZEIS à malha urbana existente e para a articulação do seu tecido na escala local, através da criação de uma rede pedonal, associada a novos espaços públicos.
Caracterizando o território // Ativos e Potencialidades
A relação entre unidades construídas e o tecido urbano: pequenas unidades na ZEIS, em sua maioria habitações unifamiliares, com
O território possui uma localização estratégi-
forte adensamento construtivo nos ‘miolos’
ca no contexto cidade, entre as ZEDE Centro
de quadra, e maiores unidades no tecido
Principal Boa Viagem e Centro Expandido
formal, com a predominância de habitações
(Zonas Especiais de Dinamização Econômi-
multifamiliares, onde o adensamento ocorre
ca), áreas de infuência no âmbito regional e
através da verticalização.
metropolitano.
A relação entre a unidade construída e o teci-
Sua localização permite o acesso através de
do urbano da área guiará a proposta de inter-
grandes eixos viários, importantes corredores
venção do trabalho.
de transporte público, trazendo à área um potencial de conexão no contexto cidade. Além disso, a área está próxima a importantes equipamentos naturais, como o Parque dos Manguezais, o Estuário do Pina, a UCN Jordão (Unidade de Conservação da Natureza) e a praia de Boa Viagem.
// Vazios O mapeamento de vazios guia a proposta de intervenção ao possibilitar a identificação dos vazios a serem consolidados e conectados e observar a carência de espaços livres em áreas com alta taxa de ocupação. // Síntese
// Barreiras
Diante da caracterização exposta, o projeto abordará a conexão e articulação do território
Apesar da localização estratégica, a ZEIS se
enquanto tema, propondo estratégias projet-
encontra isolada em relação ao entorno, devi-
uais que promovam a conectividade do tecido
do à baixa conectividade com o tecido urbano
urbano na escala do entorno e intracomu-
e à presença de barreiras, como o estuário
nitária.
do Pina, o Shopping Rio Mar, o Aeroclube, o Parque dos Manguezais e a Via Mangue, via de caráter expresso.
// ZEIS Encanta Moça A ZEIS Encanta Moça ocupa uma área de 48 hectares e é formada por seis comunidades de interesse social: Areinha, Beira Rio/Pina,
// Ocupação e densidade construtiva A morfologia e a densidade construtiva dos
Bode II, Bode III, Encanta Moça e Jardim Beira Rio.
tecidos urbanos ditos formal e informal dif-
O processo de ocupação teve início na déca-
erem entre si.
da de 1970 e se deu de forma espontânea nas
1
Shopping Rio Mar
2
Aeroclube
3
Parque dos Manguezais
1
1
2
3
2
3
1
1
2
3
2
3
margens do Estuário do Pina através da con-
como uma barreira, uma vez que o sistema
strução de palafitas para abrigar pescadores
viário formal não penetra nas comunidades,
e a população de baixa renda que migrava do
acentuando a fragmentação entre cidade for-
interior para a cidade do Recife. Com o passar
mal e informal. Também é relevante destacar
do tempo, as comunidades foram se estru-
que as edificações de maior precariedade da
turando através de sucessivos aterros sobre o
ZEIS se encontram nas margens do Estuário
curso d’água e da implantação de edificações
do Pina e no miolo das quadras largas, que at-
irregulares, muitas delas sem quaisquer
ravés de becos e travessas garantem o acesso
condições de infraestrutura para a moradia.
dos pedestres às unidades construídas.
Atualmente a área da ZEIS se configura como uma parcela do território bastante consolidada e de alta densidade construtiva, com a
Fragmento cidade informal
// Partido de intervenção
grande maioria das edificações de baixo gab-
O trabalho se propõe a investigar o isola-
arito e uso misto. De modo geral, se instalam
mento da ZEIS no espaço urbano e a baixa
comércios e serviços para atender a demanda
conectividade do seu tecido, propondo uma
local no pavimento térreo e residências nos
estratégia de intervenção capaz de promover
pavimentos superiores.
a conexão da ZEIS nesses dois âmbitos.
Observa-se um contraste entre os padrões ti-
A investigação se dá através da análise do
pológicos da ZEIS e da cidade formal no seu
processo de agregação de células, tendo
entorno, analisada a partir da relação entre as
como parâmetro a relação da unidade con-
unidades construídas e as quadras em que es-
struída com o espaço público, no âmbito das
tão inseridas. O padrão tipológico encontrado
quadras. A partir disso, investiga-se a relação
no entorno imediato é composto por edifi-
entre a unidade construída e as dimensões
cações de uso residencial e serviço isoladas
da quadra e de que forma elas interferem na
no lote que, em conjunto com os altos muros,
conectividade da ZEIS na escala local e do en-
restringem o contato dos transeuntes com
torno.
as edificações. Em contraposição, nas comu-
Fragmento cidade formal
nidades o processo de ocupação irregular e
Observa-se que a relação entre a unidade
desordenado proporcionou a configuração de
construída e cada dimensão da quadra (lar-
quadras largas e longas, na sua maioria sem
gura e comprimento) tem consequências dis-
definição de lotes, que estabelecem uma pro-
tintas. Enquanto a largura é determinante na
porção distinta entre a unidade construída e
condição de acesso às unidades construídas,
quadra.
o comprimento interfere na conectividade do sistema viário da ZEIS.
Sobretudo nas áreas de fronteira entre a ZEIS e seu entorno, as quadras longas funcionam
// Largura Durante o processo de ocupação das qua-
// Q(E) = ≤ 4u
Acesso direto às unidades construídas a partir do espaço público
// Q(L) = > 4u
Condição de acesso não direto às unidades construídas, vencido através de becos.
// Q(C) = ≤ 25u
Adequadas à escala do pedestre e garantem uma melhor caminhabilidade
dras, o miolo tende a ser a área de ocupação mais tardia, quando não se é mais possível construir uma unidade com acesso direto à rua. Este tende a ser a área com as habitações mais precárias da quadra, cujo acesso se dá através de estreitos becos. // Comprimento O comprimento da quadra não interfere na condição de acesso às unidades construídas, mas tem uma forte interferência na conectividade do sistema viário, podendo tornar-se
// Q(L) = > 4u
Barreira para a conectividade do território
uma barreira no espaço urbano.
// Quadra estreita e curta [Q(EC) = ≤4u : ≤25u]
// Quadra estreita e curta [Q(EC)= ≤4u : ≤25u]
// Quadra estreita e longa [Q(EL)= ≤4u : >25u]
// Quadra estreita e longa [Q(EL)= ≤4u : >25u]
ZEIS foram analisadas para identificar o tipo
// Síntese Q(L) = >4u: Intervenção para conferir acesso às unidades construídas a partir do espaço público, através da criação de um sistema de articulação pedonal e da criação de vazios nos miolos das quadras. Essa intervenção tem impacto direto na conexão “intracomunidade”, de caráter local.
[q(lc)= >4u : ≤25u]
// quadra larga e curta [q(lc )= >4u : ≤25u]
de promover sua conexão intracomunitária e com o entorno. // A intervenção A partir dessa estratégia de análise, intervémse em uma das quadras, para testar sua aplicação na promoção da conectividade da
Q(C) = >25u: Intervenção transversal de
ZEIS. A quadra escolhida carece dos dois
caráter viário para conectar e potencializar o
tipos de intervenção, pois possui uma largura
sistema viário existente, promovendo a artic-
maior que quatro unidades e comprimento
ulação da área no âmbito local e com o en-
maior que vinte e cinco unidades [Q(LC)=
torno.
>4u : >25u].
A partir dessa metodologia, as quadras da
// quadra larga e curta
de intervenção que cada uma requeria a fim
A quadra é uma centralidade na ZEIS, devido
// quadra larga e longa [q(ll)= >4u : >25u]
// quadra larga e longa [q(ll)= >4u : >25u]
à grande presença de equipamentos públicos,
Os espaços públicos de maior escala são
como escolas e creche, e ao caráter das vias
associados a equipamentos públicos (escola,
que a conformam, vias com maior conectiv-
creche, livroteca, etc.) e habitação, para
idade e com uma significativa presença de
garantir sua vitalidade. O mobiliário urbano
comércio.
proposto para estes espaços estão vinculados ao uso desses equipamentos.
A quadra possui uma particularidade quanto
No trecho da quadra em que há um grande
a sua ocupação, uma mistura entre unidades
vazio, propõe-se a consolidação de um espaço
construídas características de assentamentos
público de maior porte, articulado à única
informais, sem a presença de lotes, e unidades
praça hoje existente na comunidade. Este
com lote delimitados, característicos da ocu-
passa a abrigar a livroteca, relocada de uma
pação formal. Além disso, ela possui vazios
construção precária, comércio e habitação.
significativos que viabilizam uma intervenção
O vazio abrigará uma horta comunitária,
de maior porte. A ocupação desses vazios e a
hoje existente na praça, mobiliário voltado
consolidação de parte dele viabiliza a oferta
para a livroteca e mobiliário infantil para as
de habitação com adequada infraestrutura,
crianças da creche e escola vizinhas. O outro
evitando que esta ocorra de forma precária,
espaço público de maior porte está vinculado
com uma grande incidência de becos.
à Escola Estadual.
A largura da quadra escolhida [Q(L)= >4u] gera unidades construídas no seu miolo sem acesso direto ao espaço público. A intervenção propõe a remoção estratégica de unidades precárias no interior da quadra, criando uma via longitudinal de caráter pedonal, que confere acesso direto às unidades construídas e articula becos de acesso existentes, transformando-os em becos de passagem. Associados à via longitudinal são criados pátios de pequena escala, sempre vinculados a unidades construídas que lhe garantem vigilância social e vitalidade. Em função da grande extensão da quadra [Q(C) = >25u], propõe-se uma via transversal
quadras curtas quadras longas
que dá continuidade as vias existentes,
quadras largas
articulando o sistema viário.
quadras estreitas
1
Equipamentos existentes 2
1
1
2
3
1
Escola
2
Igreja
3
ONG
As tipologias de complementação e aquelas
apresentava problemas de articulação nos dois
propostas para os vazios dialogam com o
sentidos (quadra longa e larga). Tal proposta
espaço urbano, conformando-os e garantindo
possibilitou a abertura de via articulando a
sua vitalidade. Os vazios e as vias pedonais
quadra com o entorno, viabilizou ocupações
propostas promoveram o acesso direto
dos miolos de quadra e a condição de acesso
às unidades construídas, viabilizando a
às unidades construídas, atendendo às duas
ocupação do miolo de quadra.
escalas de intervenção propostas, a escala do entorno e a intracomunitária.
// Considerações finais O estudo de caracterização e leitura do território permitiu um entendimento do contexto urbanístico tanto da ZEIS Encanta Moça quanto de seu entorno. Através dele, que
conseguimos sintetizam
a
identificar lógica
de
3
5
4
padrões ocupação
na área, considerando a relação entre o dimensionamento (largura e comprimento) das quadras e as unidades construídas. As variáveis entre esses dois parâmetros de
2
1
análise apresentam distintas conseqüências para a área e interferem na conexão entre dois sistemas: intracomunitário e articulação com o entorno. Para além disso, também se considerou a marcante distinção entre os tecidos urbanos da cidade formal e informal e, como conseqüência, viu-se a necessidade de propor uma articulação da ZEIS com o traçado viário da cidade formal. Tomando como partido essas duas questões levantadas,
foi
possível
desenvolver
a
intervenção em uma quadra com caráter de centralidade local, que segundo a classificação
pavimento térreo
1º pavimento
Tipologias 1
volumetria
1Âş pavto
tĂŠrreo
2
3
4
5
QUADRA ABERTA
Estudo desenvolvido para um quadra no Bairro no Pina, em Recife, localizada entre duas importantes avenidas que vem passando por um processo de transformação, em função da construção de edifícios empresariais verticais. O projeto se baseia no conceito de quadra aberta de Cristian de Portzamparc e de ‘Urban porosity’ de Stevel Holl, para inverter a lógiVISÃO SERIAL (Paisagem Urbana, Gordon Cullen)
ca da construção de edifícios verticais isolados nos seus lotes e propor uma transformação com base na unidade da quadra. O projeto manteve uma torre já existente na quadra (em cinza) e concentrou a maior parte das edificações no seu perímetro, criando pátios públicos e semi-públicos em seu interior. Foram criados diversos acessos das vias para o interior da quadra, fazendo com que ela se configure como um espaço de permanência e de passagem para os habitantes da cidade. Por fim, foi utilizado o mesmo CA permitido pela legislação vi-
QUADRA ABRTA (Croquis de Portzamparc)
gente, para investigar o potencial positivo dessa abordagem para a transformação do espaço urbano, mesmo mantendo-se o mesmo potencial construtivo.
2
2
2
2
2 2
2 2
9
2
2
8 2
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9
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2 6
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5 10
25
1
Edificação existente
6
1-PÁTIO PÚBLICO 2-LOJA 3-CENTRO CULTURAL 4-LAZER PRIVATIVO 5-BWC 6-SALA 7-LIVRARIA 8-RECEPÇÃO 9-ESTACIONAMENTO 10-CAFÉ 11-TERRAÇO 13-PRAÇA DE ALIMENTAÇÃO
0
0
1-PÁTIO PÚBLICO 2-LOJA 3-CENTRO CULTURAL 4-HALL PRIVATIVO 5-BWC 6-SALA 7-LIVRARIA 8-RECEPÇÃO 9-ESTACIONAMENTO
6
5 10
25
6
6
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7 7
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7
6 7
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7 7 7 7 7
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2
3
1
HOTEL LOJAS APARTMENTO CULTURAL ESTACIONAMENTO
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4 4
4 5
6 6 6
6
6 6
0
1-PÁTIO PÚBLICO 2-PÁTIO PRIVATIO 3-EDIFÍCIO GARAGEM 4-APTO 1 QUARTO 5-APTO 2 QUARTOS 6-APTO 3 QUARTOS 7-QUARTO HOTEL
5 10
25
6
6
6
6
6 6
6
ERMIDA DE SÃO SIMEÃO
SÃO SIMEÃO ‘O ESTILITA’—nasceu no século V e vivia como pastor até que resolveu abandonar o mundo para se dedicar à meditação e contemplação espiritual. Durante sete dias e sete noites esperou de pé à porta de um mosteiro pedindo para ser admitido como o servo mais humilde. Depois de alguns anos entre os monges, Simeão abandonou o mosteiro partindo para deserto. Lá, no cume de uma montanha, construiu uma alta coluna de pedra em cujo topo se instalou em meditação e jejum (Daí ‘Estilita’: de ‘stylus’ que quer dizer ‘coluna’ em grego). No exígüo espaço do topo, exposto às intempéries e ao desconforto absoluto, alimentando-se apenas do que eventualmente traziam peregrinos (entre os quais a imperatriz Eudóxia, que pelo seu exemplo se converteu à fé cristã), Simeão viveu mais de trinta anos, sem nunca ter descido ao chão novamente, até a sua morte no ano de 459.
Projeto desenvolvido pelo escritório Pontual Arquitetos, pelo arquiteto Carlos Fenrnando Pontual.
residência | PONTUAL ARQUITETOS