CALEIDOSC!EPIO:
EM
DESCONSTRUÇÃO 1ª Edição
selfless portraits das mina
_ Nao binarios
Sexo _ Sexualidade Genero
prazer em conhecer, A Zine ‘‘Caleidoscópio: em Desconstrução’’ é uma iniciativa do Coletivo Caleidoscópio para expandir nossas ações não somente pela Universidade, como pela região, com o intuito de (des)informar sobre os diversos temas que se relacionam com sexo, sexualidade e gênero. Textos didáticos, sem cagação-de-regra, aqui é o nosso espaço para descobrirmos uma realidade completamente diferente. A gente oferece o tema para problematização, para debate, um pouco de conceito, talvez, mas nunca a verdade absoluta. Nosso maior orgulho é flexibilidade para estarmos sempre mudando de ideia. Quando a inconstância se torna uma virtude. Sabe o que mais é inconstante? A arte. Esta será sempre protagonista na ‘‘Caleidoscópio: em Desconstrução’’: poesia, contos, desenhos, quadrinhos, colagens, fotografias, e tudo que você imaginar, aqui tem espaço. Nada dialoga mais com a nossa realidade que a expressão artística. Nesta edição, contaremos com o trabalho de mulheres criativas e poderosas, tanto na poesia, como na fotografia e ilustração. Você pode sempre conferir os links onde poderá encontrar mais do trabalho de cada um dos colaboradores artísticos que passarem por aqui na nossa Zine. Pode entrar, e não repara na bagunça!
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O Caleidoscópio Coletivo que respeita e entende todas as formas de expressão de gênero e sexualidade é democrático, horizontalmente estruturado, sem fins lucrativos e aberto a qualquer pessoa que queira participar de suas reuniões. Fundado em 2014, é formado por estudantes e demais pessoas que se empenham em discutir através de uma visão pós-modernista os modos de se constituir sujeito na sociedade contemporânea. Este grupo, entre as diversas atividades que promove visa construir um espaço de conversa, debate, construção e formação de cada um e cada uma de nós no combate ao sexismo, machismo, homofobia, transfobia, lesbofobia e bifobia. A primeira ação do Coletivo é a criação de um grupo de estudos interdisciplinar com o tema gênero e sexualidade. Que ocorre quinzenalmente as quintas feiras, sendo o próximo encontro no dia 30/10 às 18 horas, no DA da História, na Unisinos. Além disso, buscamos promover eventos acadêmicos, culturais e sociais. Como a exibição de filmes dentro do tema de gênero e sexualidade para debates, além de intervenções em diversos espaços da Universidade. O nome Caleidoscópio foi escolhido por representar a visão das diferentes formas que um sujeito pode se constituir, ultrapassando todas as imposições de identidade ao metamorfosear-se entre elas, possibilitando a pluralidade de olhares e estares. O comparativo com o Caleidoscópio nos possibilita conceber as diferentes maneiras de viver e experienciar o gênero e a sexualidade, sendo norteadas por princípios de respeito, liberdade e democracia enquanto sujeitos políticos e subjetivos. O Coletivo tem página no facebook, você pode encontrar através do link http://fb.com/coletivocaleidoscopiounisinos e acompanhar nossas atualizações.
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"A relação com o corpo como um eterno fazer artesanal" Alma Negrot
Sexo, sexualidade e gênero ‘‘Ele é homem?’’ ‘‘Não, ele é gay!’’ Quem nunca ouviu falar alguma frase semelhante a esta quando observava alguns indivíduos conversando sobre a sexualidade alheia. Ou seria sobre o gênero? Ou ainda, sobre o sexo alheio. Estes três termos são comumente confundidos, porém é essencial que se saiba diferenciar. O que é sexo? Além do ato sexual, sexo também se refere a genitália. É através da determinação do sexo que é estabelecido pela sociedade o nosso gênero, onde começa toda a confusão. Mas antes de mais nada... O que é gênero? Gênero diz respeito aos papéis sociais, de identidade e psicológicos estabelecidos previamente pela sua genitália. Ou seja, quem nasce com um pênis é diretamente encaixado como homem, masculino; previamente definido como alguém objetivo, instintivo e bruto; já quem nasce com uma vagina, encaixa-se como mulher: complexa, maternal e sensível. Estes papéis são definidos de forma problemática, tanto por limitarem a vida dos indivíduos que se identificam com seu gênero, como as daqueles que não se identificam com o que foram designadas, ou ainda aquelas que não se identificam com nenhum. O que é sexualidade? Sexualidade é sim, diferente de sexo e gênero. A sexualidade corresponde à representação normativa do que engloba desejo/atração e performance no campo sexual. Portanto, não, se a pessoa é gay, ela não deixa de ser homem, necessariamente. E por que é importante saber diferenciar? Por que é necessário termos noção de que nossa sociedade é normativa e cheia de rótulos excludentes e que nem todas as pessoas se encaixam nestas normas sociais, aprender estes detalhes é o primeiro passo para que se entenda que somos todos diferentes e que essas diferenças devem ser respeitadas. Texto por Julia Gomes.
Selfless portraits das Mina O Selfless Portrait das Minas é um projeto em forma de Grupo do Facebook que busca promover a arte feminina, abrindo espaço para as minhas nesse espaço ainda muito restrito aos homens, que é o cartunismo e desenho. Agora você confere uma entrevista com a Suzana Maria, idealizadora deste grupo que vem provando cada vez mais ser um sucesso. Quem é a Suzana?
Como começou tua relação com o desenho?
É dificil responder uma pergunta assim. Achar uma resposta para o que possa ou não significar o que somos. Eu ouso dizer que eu sou uma pessoa legal, ou uma pessoa alta. Eu t a m b é m s o u d e s i g n e r, i l u s t r a d o r a e fomentadora de movimentos de mulheres. Sou uma pessoa muito da inquieta e não consigo deixar de fazer alguma coisa quando quero.
Acho que como todo mundo que desenha, eu não poderia ter começado diferente. Comecei criancinha, rabiscando papel, desenhando pricensinhas sem nariz e cachorrinhos de duas patas. Com o tempo, fui evoluindo, procurando novas coisas pra desenhar, rabiscando todas as carteiras da escola. Hoje estou aqui desenhando mulheres, agregando os meus ideais políticos aos meus trabalhos e seguindo em frente com empoderamento feminino e amor.
O espaço artístico, ainda que excêntrico, aceita muito pouco o artista e modelo fora do padrão. De que forma é possível lutar para quebrar estas regras? Um coisa que acontece muito no selfless e é com certeza a minha parte favorita é a representação múltipla dos mais diversos tipos de imagens femininas. Acho que a melhor forma de criar esses novos padrões (ou melhor dizendo, a quebra dos antigos) é dar visibilidade a diversidade feminina. Representação importa, e é por isso que temos que ver mais cores de pele, mas formatos de corpos e entender que todas as mulheres são sim perfeitas em sua própria existência. Essa ‘‘padronagem’’ que acontece nas artes ou até mesmo em todo o universo que trata de imagem tem de ser rompida, tendo em vista que o clássico mulher branca, hétero, magra, européia não condiz com a realidade da maioria das mulheres que consumem os produtos que elas vendem. Nós somos muito bem treinades por um sistema excludente, capitalista, para achar que essa é a única forma de beleza. É inacreditável pensar que em pleno século 21 nós ainda tenhamos que bater de frente para abrir esse espaço, e é por isso que eu luto por mais mulheres, mais características únicas, mais representação nas artes. Como se deu a criação do Selfless Portraits De que forma tu acha que expressões artísticas das Mina? podem empoderar as Mina? A Sirlanney, da página Magra de Ruim lançou um projeto do livro dela no catarse. Pra ajudar na divulgação, ela pediu para que váries amiges dela fizessem um flyer falando sobre o livro e tudo mais. Pra isso, eu resolvi desenhala baseada nas fotos que ela tira no instagram. Ela retribuiu me desenhando. Cara, foi uma sensação incrivel. Não só desenha-la, como receber um desenhando de alguém que eu admiro tanto. Então pensei em passar essa ideia pra frente e pra isso fiz um grupinho. Eram 30 meninas de começo, hoje já são mais de quatro mil.
A partir do momento em que passamos a não aceitar passivamente o que é mastigado para nós e passamos a ser agente desse movimento, nos empoderamos. É facil perceber que lembramos sempre de artistas homens, antes de pensar nas mulheres. Aliás, quantas grandes mulheres artistas você consegue lembrar assim de cabeça? e isso não é por falta destas na história das artes, mas sim pelo fato de que a arte é um reflexo da sociedade, e a sociedade é em absoluto sexista. Temos que tomar o bastão para nós. E já que o meio artístico é tão dificil de ser quebrado, então criemos a nossa própria cena. Não precisamos mais aceitar a vida de cabeça baixa, isso é história de outros tempos.
GLOssÁRIO Binarismo: Binarismo é o ato de reduzir tudo ao binário, um ato de violência assim como o machismo e o sexismo. Binarismo é diferente de Binaridade, que se refere a expressão de gênero cabível a seres binários. Indivíduo e Classe: É importante saber distinguir quando estamos falando sobre classe ou indivíduo. Classe se refere a um grupo social, por exemplo, a classe heterossexual, que inclui todas as pessoas desta. Indivíduo, refere-se justamente ao indivíduo. Desta forma, podemos dizer que todo pertencente à classe heterossexual goza dos privilégios de ser hétero na nossa sociedade, porém, nem todos indivíduos heterossexuais necessariamente reproduzem homofobia. Cisgênero: Pessoa que se identifica com sua designação de gênero desde o nascimento.
Sobre Números e não Sobre gênero Antes de tudo, hei de deixar-lhes cientes de certos termos talvez “desabituados” de vosso vocabulário diário, mas ainda, antes ainda, deixar-lhes cientes que estamos falando de vidas e não de objetos ou etiquetas, rótulos, marcas. O que afinal é binaridade de gênero? O que é gênero? Bom, por binaridade, sabemos assim, que presume-se em um sistema numérico composto e decomposto de apenas dois elementos. Em nossa atual sociedade, construída de modo hegemônico, heteronormativo e “cis-padronizado”, binaridade de gênero (diferente de binarismo de gênero), dá-se por aqueles seres humanos “encaixados” dentro da identidade “apenas-homem” ou “apenasmulher”, independente de sua cis ou transgeneridade. Sem ainda entrar em méritos que desconstruiriam gêneros do que é homem ou do que é mulher, pensaremos nesses termos apenas como construção e expressão social, performatividade e identificação. Larguemos, por obséquio, em alguns momentos, imagens e associações ligadas aos gêneros, vão ser necessárias para essa nossa viagem pelo mundo Queer. Obrigada pela atenção. Eis que será que é só isso? Um ser humano está fadado, dentro de toda a sua complexidade, a estar nessa “caixa” chamada de “homem” ou “mulher”? Ainda que não desconstruamos gênero e sim, usando a normatividade para desnormativizar, pensamos no que beira e irrompe os “aléns” dessa denominação.
Usando novamente as vestes que nos deram e que talvez, até nos mutilam de certa forma, é necessário dar-lhes o prazer de mostrar-lhes um mundo mais plural do que esse. O mundo não se limita apenas ao “homem” e “mulher”. Não que quem se encaixe e se sinta confortável dentro dos dois termos binários esteja errade, ou mesmo equivocando xs demais, longe disso, apenas afim de acolher quem não está confortável sendo “apenas-homem” ou “apenas-mulher”. Não binaridade de gênero é tudo aquilo que abrange o que foge desse sistema binário. As identidades trans não binárias são justamente isso, o que transgride, o que transborda, o que é translúcido entre tais gêneros. Por mais irônico que pareça classificar o não classificável, nessa primeira oportunidade, afim de ilustrar e deixar claro e sucinto o conhecimento, vamos viajar pelo mundo não binário: Há, daquelas pessoas, quem não se identifique com nenhum gênero, xs agêneres; há também aquelas pessoas que não se identificam com apenas num gênero, que ficam dentro do espectro de gêneros da pangeneridade (que pode abranger vários gêneros binários ou não, expressando do bigênere ao pangênere); também temos transeuntes dos gêneros, o espectro de gênero fluído, que está em constante transformação, sendo ela expressão ou aparência, entre os gêneros (binários ou não); finalmente temos o espectro neutrois, que abrange gêneros lidos como neutros. Mas o que define uma pessoa não binária? Oras, nada mais nada menos que ela mesma! Suas experiências e vivências dentro de seu gênero. Tu te constróis do gênero que te propões, tu és o que pensas e o que absorves des outres. Gênero, como eu disse antes é expressão, performatividade, construção. Não existe uma formula correta nem para definir, esteticamente, um gênero binário, tal qual u m n ã o b i n á r i o . As nossas amarras estéticas que ligam certos atributos, biológicos ou não, à certos gêneros são falácias que nos enfiaram desde o nascimento. Não assinamos embaixo do gênero que nos deram, ou assinamos? Por que estaríamos fadades a seguir um padrão que nem é nosso e nem nos contempla? Isso posto, relacionar gênero com atributos fixos, nada mais é do que uma construção para servir outrem e não nós mesmes. Afinal, mesmo se tratando de gêneros binários, não somos todes iguais, ou somos? Vamos desconstruir? Texto por Carla Vargas.
Quem estampou esta Edição? FOTOGRAFIA: Ala Nuiza fotografa para Alanógica y Nostálgica e desconstrói para a vida. Flickr: www.flickr.com/alanuiza ILUSTRAÇÕES: Capa: Julia Gomes Instagram: @gomesbjulia Página 5: Suzana Maria Página no Facebook: www.facebook.com/shoshanamaria Página 8: Ana Luísa Freitas Blog: www.9dadesasolta.com Página 9: Pillar Bellardi DeviantArt: www.pillarbellardi.deviantart.com/ 10
SER-SOL Eis o dia! Basta vestir-se do amarelo-brilho. Calçar os sapatos cor do azul do céu.
E seguir. Seguir o caminho que foi traçado
com as próprias mãos.
Sem medo. Sem defesas.
Sem pudor. Seguir e viver. Viver de verdade. Com dores. Com sorrisos.
Amores e desgostos. A vida e sua imensidão.
Eis o dia! E ela sorri.
O sol emana de si! Texto por Carolina Mombach