O Universo do Cordel
Língua Portuguesa
2012
Camila Rebecca Busnardo Gabrielle Gulgueira Cavalin Júlio César Modenez Nãnashara dos Santos Tonini
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APRESENTAÇÃO Este material didático o auxiliará, ao longo do semestre, no estudo da Língua Portuguesa, nas questões da linguagem, gramática e interpretação de textos. Além disso, você terá contato com imagens, vídeos, textos, pesquisas à internet: assim, você terá as bases para ampliar seus conhecimentos. Para isso, você perceberá a importância da realização das atividades propostas, e também compreenderá a necessidade de complementá-las com vídeos, filmes, reportagens e músicas. Temos o objetivo de levá-lo a conhecer a multiculturalidade do Brasil, o que será feito tanto por meio de atividades teóricas, como práticas. Enfatizamos a importância da diversidade literária brasileira escolhendo como eixo temático a Literatura de Cordel. Através de inúmeros poemas e vídeos sobre cordéis, oficinas para confecção de acróstico, xilogravura e de seu próprio c ordel, você entrará em contato com os seguintes tópicos da Língua Portuguesa: Literatura, Gramática e Produção de Textos. Esperamos que você tenha a oportunidade, através desse material, de estudar novos conteúdos de Língua Portuguesa, tanto gramaticais, como de literatura, especialmente, os relacionados a uma visão criativa e não menos crítica da rica manifestação literária do nosso país denominada literatura de cordel. Com isso, buscamos aproximá-lo da cultura popular nordestina, estimulando seu olhar crítico e poético sobre a realidade sertaneja e, mais, fazendo-o entender quão abrangente é essa manifestação literária, que se dissemina por todo o Brasil. Ao fim do nosso trabalho, desejamos provocar seu interesse pelas raízes culturais de nosso país, compreendendo que, mesmo no atual mundo tecnológico e moderno em que vivemos, o cordel vem se incorporando às novidades da indústria cultural, tornando-se cada vez mais rico, interessante, criativo e cativante. Fonte: http://guiadepremios.com,acesso em 05/07/2012
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Carta ao Aluno Ao longo de sua trajetória escolar, você se deparou com disciplinas de Língua Portuguesa importantes à sua formação. Gostaríamos, através desse fascículo, de mostrar-lhe uma nova visão a respeito de um fascinante gênero literário: o cordel. Trataremos desse gênero de modo interligado com outras disciplinas (como Educação Artística, por exemplo), procurando ensinar-lhe noções históricas do surgimento do gênero e as principais características da literatura cordelística. Além disso, você aprenderá quais foram os principais poetas de cordel, as principais temáticas abordadas nesse gênero e, ainda, terá a oportunidade de ler alguns cordéis e, com auxílio do professor e de sua turma, compreenderá quão interessante e prazeroso pode ser essa leitura. Você perceberá, no decorrer de seus estudos, que o cordel traz conteúdos diversificados e muito atuais. Você sabia, por exemplo, que uma notícia pode virar cordel? E que até mesmo as inovações tecnológicas, como a televisão e a internet, já se renderam a esse universo cultural? Você verá que o cordel, embora seja uma típica manifestação literária (escrita e oralizada) da região nordeste do Brasil, está presente em diversas regiões brasileiras, tratando de temas como amor, religião, tradição, moral, dentre outros, temáticas essas adaptadas às peculiaridades de cada um desses locais. Com isso, você perceberá que essa antiga tradição oral mantém-se, ainda, bastante presente nos dias atuais e vem sendo representada de maneiras tecnológicas. É importante ressaltarmos que você entrará em contato com variadas mídias, ao longo dos capítulos, o que fará de seu aprendizado um processo interessante e rico em informações: assistirá a vídeos, ouvirá músicas, fará xilogravura, escreverá seu próprio cordel e, ainda, produzirá uma animação sobre cordel. Convidamos, agora, a ingressar nesse universo. Mãos à obra!
Os autores.
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ÍNDICE
Capítulo 1: Cordel ............................................................................ 5
Capítulo 2: Xilogravura ..................................................................18
Capítulo 3: Variação linguística ..................................................30
Capítulo 4: Cordel e outras mídias ..............................................42
Bibliografia .......................................................................................52 Manual do Professor ......................................................................53
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CAPÍTULO 1: CORDEL VOCÊ JÁ VIU? Observe as imagens abaixo:
Fonte: http://www.nosrevista.com.br, acesso em 16/05/2012
Fonte: http://davisquinelato.blogspot.com.br, acesso em 16/05/2012
Fonte: http://sandrodosertao.blogspot.co m.br, acesso em 16/05/2012
Fonte: http://grupodeestudos001.blogspot.com.br, acesso em 16/05/2012
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Literatura_de_ cordel, acesso em 16/05/2012 Fonte: http://uminstantenabiblioteca.blogspot.c om.br, acesso em 16/05/2012
1. Você já viu alguma dessas imagens? Consegue lembrar onde as viu?
Resposta pessoal.
2. Todas essas imagens fazem parte do universo do cordel. Você já ouviu falar do cordel? Resposta pessoal.
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CONHECENDO E DISCUTINDO Um pequeno fato do cotidiano ou um grande acontecimento, tudo pode virar cordel. No cordel, aconteceu, virou poesia. O assunto pode ser algo real ou fictício, o perfil de uma figura ilustre, como Lampião, uma história imaginada, uma crítica social, entre muitas outras coisas. O mais importante no cordel é que seja de fácil compreensão para que possa ser não só transmitido, mas recontado muitas vezes, de maneira que desperte o interesse do ouvinte. Por estar tão presente na cultura falada, o cordel adquiriu uma característica diferenciada da poesia erudita, com características métricas próprias que facilitam a memorização dos versos, que aproxima a poesia da música, com os repentistas e cantadores de embolada e, principalmente, com a interação com o público. Assista ao vídeo abaixo e discuta com o professor e os colegas:
Leandro Gomes de Barros Paraibano, Leandro Gomes de Barros nasceu em Pombal-PB, no dia 19 de Novembro de 1865. Ele foi o pioneiro na publicação de folhetos rimados além de autor de uma obra vastíssima. Devido a essa ampla publicação, é considerado um dos mais importantes poetas da Literatura de Cordel no Brasil. Começou a escrever seus folhetos em 1889, conforme ele mesmo conta nesta sextilha de A Mulher Roubada, publicada no Recife em 1907: Leitores peço-lhes desculpa se a obra não for de agrado Sou um poeta sem força o tempo me tem estragado, escrevo há 18 anos Tenho razão de estar cansado. A História da Donzella Theodora, História do boi misterioso, História do cachorro dos mortos, O príncipe e a fada e Peleja de Manoel Riachão com o diabo estão entre seus cordéis mais famosos. Faleceu no Recife-PE, em 04 de março de 1918 deixando um legado inspirador para as futuras gerações de cordelistas.
http://www.youtube.com/watch?v=4xuzg51HzzQ&feature=related
1. Qual a sua primeira impressão sobre o local e a cultura apresentados no vídeo? Reposta pessoal. Professor, favoreça a discussão entre os alunos, a fim de todos debaterem suas opiniões.
2. De acordo com o vídeo, quais temas podem Temas típicos da região Nordeste: o canvirar um cordel? gaço, histórias de amor, cultura oral etc.
Após o seu falecimento, em 4 de março de 1918, no Recife, o poeta e editor João Martins de Ataíde, em seu folheto A Pranteada Morte de Leandro Gomes de Barros, escreveu: Poeta como Leandro Inda o Brasil não criou Por ser um dos escritores Que mais livros registrou Canções não se sabe quantas Foram seiscentas e tanta As obras que publicou.
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A história do cordel A palavra cordel tem origem na forma como tradicionalmente os folhetos eram expostos para venda, pendurados em cordas. Por muito tempo pensou-se que o nosso cordel fosse o mesmo de Portugal e que teria chegado ao Brasil com o colonizador português e se adaptado ao longo das gerações até se tornar conhecido nos dias atuais. Porém, em estudos recentes¹, e para muitos cordelistas, esta arte de contar histórias em versos é genuinamente brasileira. O nome cordel, entretanto, permaneceu como referência à arte da tradição oral.
Conhecendo o cordel português
Com a invenção da imprensa pelo alemão Johannes Gutenberg, por volta de 1440, os livros impressos ficaram com o custo mais acessível, e mais pessoas vieram a se interessar pela palavra escrita. Foi quando os trovadores perceberam a oportunidade de aumentar seus rendimentos e passaram a oferecer também o texto impresso de seus poemas, ao final de suas apresentações. No início, esses versos não tinham ainda o formato de livrinhos encadernados e se constituíam de folhas soltas. Por isso, em Portugal ganharam o nome de folhas volantes.
A história do cordel português está relacionada à tradição medieval e à arte de contar histórias. Um narrador, geralmente anônimo, transmitia experiências pessoais, provérbios e contos por meio das histórias que contava, carregadas de aventura, amor e heróis épicos. Estes folhetos eras chamados de “Romances de Cordel” sendo impressos em modelo de 24 paginas. Tais narrativas, além de entreter, possuíam caráter moralizador. Veja abaixo um trecho de cordel português A história da Imperatriz Porcina, escrito por Baltasar Dias, e note como ele retrata a época em que foi escrito.
Fonte: http://www.ablc.com.br acesso em 25/05/2012
No tempo do Imperador Que Lodônio se dizia, Que a grã cidade de Roma E o seu império regia Casado com a Imperatriz Que Porcina nome havia, Por suas muitas virtudes Formosura e alta valia Como princesa que era Filha do rei da Hungria.
Baltasar Dias Nasceu na ilha da Madeira, Portugal, no final do século XV. Embora cego, dedicou-se a compor versos, por vocação e necessidade financeira. Visitava as aldeias de Portugal declamando seus versos e vendendo sua obra. São alguns de seus trabalhos: Auto Breve da Paixão de Cristo (1613), Auto da Malícia das Mulheres (1640) e História da Imperatriz Porcina (1660).
Apesar da semelhança estrutural, os temas dos cordéis nordestinos diferem muito dos cordéis portugueses. Vamos aprender agora um pouco das características do cordel nordestino, uma literatura tipicamente brasileira. ¹ ABREU, Márcia. Histórias de cordéis e folhetos. Campinas: Mercado de Letras: ALB, 1999
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CONTEXTUALIZANDO Para conhecer o cordel nordestino, é preciso saber do que ele trata. Relacione cada trecho de cordel abaixo aos temas mais recorrentes nessa literatura (alguns trechos podem apresentar mais de um tema): Amor – Cangaço – Natureza – Mulher – Peleja – Bibliografia – Religião – Reflexão
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Eu vou narrar a história De um grande brasileiro Um cearense de fibra Com fama de milagreiro Patriarca do sertão Padre Cícero Romão O santo de Juazeiro.
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Arievaldo Vianna. Padre Cícero, o santo do povo, 2008 Bibliografia; religião
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Contei de uma garota que amava um cangaceiro, era um tal cabra da peste, um valentão do Nordeste que montava a Ventania, trazia susto e coragem por cada canto que ia! Virge Maria! Sylvia Orthof. Cordel adolescente, ó xente!. São Paulo, Quinteto, 1996.
Patativa do Assaré. O sabiá e o gavião, 2009 Natureza; reflexão
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Amor; cangaço
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Bernardo Nogueira Moleque, se eu te pegar Me escancho em tuas garupas Das pernas eu faço gaita Da cabeça uma cumbuca Dos queixos um par de tamanco Da barriga chupa-chupa Preto Limão Nogueira se eu te pegar Até o diabo tem dó! Desço de goela abaixo Em cada tripa dou nó Subo de baixo pra cima E vou morrer no gogó T.S.Oliveira. A peleja de Bernardo Nogueira com Preto Limão, 2011
Peleja
Eu nunca falei à toa. Sou um cabôco rocêro, Que sempre das coisa boa Eu tive um certo tempero. Não falo mal de ninguém, Mas vejo que o mundo tem Gente que não sabe amá, Não sabe fazê carinho, Não qué bem a passarinho, Não gosta dos animá.
Um sertanejo não quer Secar as tripas e os ossos Pra viajar vende os troços Cadeira, prato e colher Chorando abraça a mulher Dizendo não chore não Quando acabar sequidão Volto correndo eu prometo A seca pintou de preto As cores do meu Sertão Geraldo Amâncio. A seca pintou de preto as cores do meu Sertão, 2008.
Reflexão
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Se o mundo se tornasse num jardim Cada flor fosse igual a um farol Existisse colibri e rouxinol; Araponga, guainumbi, papa-capim, Juriti, papagaio, trampulim; Música, samba, pintura e poesia; Brisa, vento, luz, treva e harmonia Uma fera a outra entendesse Se acaso isto um dia acontecesse Sem mulher neste meio nada havia. Leandro Gomes de Barros. O valor da mulher.
Mulher; natureza
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Com base nos trechos de cordel, faça os exercícios abaixo: 1. Destaque as palavras cujo significado você não conhece e procure-as no dicionário ou na Internet. Professor, se possível, realizar essa atividade na sala de Informática, pois algumas palavras dos textos, por serem expressões regionais de língua oral, não se encontram no dicionário. Atentar também para os múltiplos significados apresentados na Internet e as fontes que são ou não confiáveis
2. Quais as semelhanças e diferenças encontradas entre o poema abaixo e os trechos de cordel da página anterior? Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, Que viva de guardar alheio gado; De tosco trato, d’ expressões grosseiro, Dos frios gelos, e dos sóis queimado. Tenho próprio casal, e nele assisto; Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; Das brancas ovelhinhas tiro o leite, E mais as finas lãs, de que me visto.
SEMELHANÇAS
DIFERENÇAS
Resposta pessoal. Espera-se que o
Resposta pessoal. Espera-se que o
aluno enumere: organização por
aluno enumere: a dificuldade de
linhas (versos) rimados; possibilida-
compreensão das palavras; a
de cantar (ritmo); rimas; etc
questão da regra culta e popular etc
Tomás Antonio Gonzaga, Marília de Dirceu. 1792
Poema erudito e poema popular
Gêneros de linguagem
O gênero lírico representa a manifesO poema pertence ao gênero lírico, ou seja, o tação do eu-lírico, ou seja, aquele expoeta expressa um sentimento interior. No caso do pressa suas emoções e ideias. Além do poema de Tomás Antonio Gonzaga, podemos per- gênero lírico, existem outros dois gêneceber que sua linguagem é mais rebuscada, pre- ros: o dramático, que são os textos dominando a forma culta. Essas características en- compostos para serem encenados (peças de teatro) e o narrativo ou épico, quadram o poema como erudito. que incluem os romances, contos, noveErudito vem de erudição, que significa uma las, crônicas, poemas épicos, fábulas instrução vasta e variada, adquirida pela leitura e etc. estudo acadêmico. Geralmente, os poemas canônicos, ou seja, consagrados ao longo do tempo pelos acadêmicos, estão na forma erudita. Já os trechos de cordéis que vimos na página anterior apresentam uma linguagem mais conhecida e pouca ou nenhuma preocupação com a norma culta. Esse tipo de poema é conhecido como popular, e é nessa classe que os cordéis se enquadram, pois são parte também da cultura oral da população.
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A função da rima no cordel Sabe o refrão daquela música que você não consegue esquecer? Se você observar, notará que existem alguns recursos que facilitam a sua memorização. Um deles é a rima, que além de deixar a música mais agradável, faz com que ela fique na nossa cabeça por mais tempo. Este recurso de estilo é utilizado em toda forma Rima: é a semelhança sonora poética, inclusive no cordel. Você deve se lembrar que existente entre a palavra final de os versos de cordel são declamados nas feiras pelos re- um verso com a palavra final de pentistas e cantadores de embolada e quanto mais outro verso na estrofe. fácil for o refrão, mais agradará o público ouvinte. Observe o cordel abaixo e responda: AQUELE QUE É BOM DE RIMA FAZ SUCESSO NO CORDEL Poesia é coisa boa Que nos alegra a alma, Emociona e acalma, Portanto, não é à toa Que este poeta apregoa E coloca no papel O valor de ser fiel Ao princípio que o anima: Aquele que é bom de rima Faz sucesso no cordel.
Fonte: http://poetasilassilvacordel.blogs pot.com.br,acesso em 25/06/2012
É verdade que existe Quem não queira nem ouvir Falar neste ir e vir Do cantador, o que é triste. Mas sei que tu já ouviste Um abusado pra dedéu Ofender algum menestrel, Mas ele não desanima. Aquele que é bom de rima Faz sucesso no cordel.(...) Mila Pereira
1. No trecho do cordel acima algumas palavras rimam com outras. Você consegue iden-
tificá-las apenas ao olhar? Por você acha que isso é possível? Sim. Porque há semelhança na grafia entre as palavras.
2. Para rimarem entre si, nem sempre as palavras precisam ter
a mesma grafia (serem escritas da mesma forma), pois ocorre uma percepção sonora que permite identificá-las. Releia o poema em voz alta e sublinhe as palavras em que você percebe o recurso da rima sendo utilizado.
Palavras homófonas são as que apresentam o mesmo som independente da grafia (forma como são escritas).
3. Agora que você já identificou as palavras rimadas no cordel, substitua-as por outras
que preservem a rima do texto. Resposta pessoal. Professor, a intenção do exercício é fazer o aluno encontrar outras palavras que possuam rimas, mesmo que isso altere o sentido do texto.
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INTERPRETANDO A chegada de Lampião no céu
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Foi numa Semana Santa Tava o céu em oração São Pedro estava na porta Refazendo anotação Daqueles santos faltosos Quando chegou Lampião.
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Pedro pulou da cadeira Do susto que recebeu Puxou as cordas do sino Bem forte nele bateu Uma legião de santos Ao seu lado apareceu.
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São Jorge chegou na frente Com sua lança afiada Lampião baixou os óculos Vendo aquilo deu risada Pedro disse: Jorge expulse Ele da santa morada.
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E tocou Jorge a corneta Chamando sua guarnição Numa corrente de força Cada santo em oração Pra que o santo Pai Celeste Não ouvisse a confusão.
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O pelotão apressado Ligeiro marcou presença Pedro disse a Lampião: Eu lhe peço com licença Saia já da porta santa Ou haverá desavença.
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Lampião lhe respondeu: Mas que santo é o senhor? Não aprendeu com Jesus Excluir ódio e rancor?… Trago paz nesta missão Não precisa ter temor.
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Disse Pedro isso é blasfêmia É bastante astucioso Pistoleiro e cangaceiro Esse povo é impiedoso Não ganharão o perdão Do santo Pai Poderoso.
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Inda mais tem sua má fama Vez por outra comentada Quando há um julgamento Duma alma tão penada Porque fora violenta Em sua vida é baseada.
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- Sei que sou um pecador O meu erro reconheço Mas eu vivo injustiçado Um julgamento eu mereço Pra sanar as injustiças Que só me causam tropeço.
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Mas isso não faz sentido Falou São Pedro irritado Por uma tribuna livre Você aqui foi julgado E o nosso Onipotente Deu seu caso encerrado.
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- Como fazem julgamento Sem o réu estar presente? Sem ouvir sua defesa? Isso é muito deprimente Você Pedro está mentindo Disso nunca esteve ausente.
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Sobre o batente da porta Pedro bateu seu cajado De raiva deu um suspiro E falou muito exaltado: Te excomungo Virgulino Cangaceiro endiabrado.
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Houve um grande rebuliço Naquele exato momento São Jorge e seus guerreiros Cada qual mais violento Gritaram pega o jagunço Ele aqui não tem talento.
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Lampião vendo o afronto Naquela santa morada Disse: Deus não está sabendo Do que há na santarada Bateu mão no velho rifle Deu pra cima uma rajada.
Fonte: http:/ joaopedrodojuazeiro.blogspot.com, acesso em 15/05/2012
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Fonte: http://www.pu-acranio.com, acesso em 29/05/2012
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O pipocado de bala Vomitado pelo cano Clareou toda a fachada Do reino do Soberano A guarnição assombrada Fez Pedro mudar de plano.
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Em um quarto bem acústico Nosso Senhor repousava O silêncio era profundo Que nada estranho notava Sem dúvida o Pai Celeste Um cansaço demonstrava.
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Pedro já desesperado Ligeiro chamou São João Lhe disse sobressaltado: Vá chamar Cícero Romão Pra acalmar seu afilhado Que só causa confusão.
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Resmungando bem baixinho Pra raiva poder conter Falou para Santo Antônio: Não posso compreender Este padre não é santo O que aqui veio fazer?!
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Disse Antônio: fale baixo De José é convidado Ele aqui ganhou adeptos Por ser um padre adorado No Nordeste brasileiro Onde é “santificado”.
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Padre Cícero experiente Recolheu-se ao aposento Fingindo não saber nada Um plano traçava atento Pra salvar seu afilhado Daquele acontecimento.
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Logo João bateu na porta Lhe transmitindo o recado Cícero disse: vá na frente Fique despreocupado Diga a Pedro que se acalme Isso já será sanado.
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Alguns minutos o padre Com uma Bíblia na mão Ao ver Pedro lhe indagou: O que há para aflição? Quem lá fora tenta entrar E também um ser cristão.
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São Pedro disse: absurdo Que terminou de falar Mas Cícero foi taxativo: Vim a confusão sanar Só escute o réu primeiro Antes de você julgar.
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Não precisa ele entrar Nesta sagrada mansão O receba na guarita Onde fica a guarnição Com certeza há muitos anos Nos busca aproximação.
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Vou abrir esta exceção Falou Pedro insatisfeito O nosso reino sagrado Merece muito respeito Virou-se para São Paulo: Vá buscar este sujeito.
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Lampião tirou o chapéu Descalço também ficou Avistando o seu padrinho Aos seus pés se ajoelhou O encontro foi marcante De emoção Pedro chorou.
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Ao ver Pedro transformado Levantou-se e foi dizendo: Sou um homem injustiçado E por isso estou sofrendo Circula em torno de mim Só mesmo o lado ruim Como herói não estão me vendo.
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Sou o Capitão Virgulino Guerrilheiro do sertão Defendi o nordestino Da mais terrível aflição Por culpa duma polícia Que promovia malícia Extorquindo o cidadão.
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Por um cruel fazendeiro Foi meu pai assassinado Tomaram dele o dinheiro De duro serviço honrado Ao vingar a sua morte O destino em má sorte Da “lei” me fez um soldado.
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Mas o que devo a visita Pedro fez indagação Lampião sem bater vista: Vê padim Ciço Romão Pra antes do ano novo Mandar chuva pro meu povo Você só manda trovão .
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Pedro disse: é malcriado Nem o diabo lhe aceitou Saia já seu excomungado Sua hora já esgotou Volte lá pro seu Nordeste Que só o cabra da peste Com você se acostumou. Guaipuan Vieira
Guaipuan Vieira Nasceu em Teresina – Piauí, em 11 de setembro de 1951. Filho do poeta folclorista e indianista Hermes Vieira e de Maria José Sousa Rodrigues, é poeta cordelista, xilógrafo e radialista. Autor de vários folhetos de cordel, alguns premiados e com destaque na imprensa nacional e internacional. Em 1987 fundou o Centro Cultural dos Cordelistas do Ceará – Cecordel. No mesmo ano com apoio da iniciativa privada cria a Banca do Cordel, pioneira em praça pública no Brasil. Em 2004, no Festival Internacional de Cantadores, em Quixadá – Ceará, foi outorgado pela Academia Brasileira de Literatura de Cordel, com a Medalha de Mérito pelo reconhecimento do trabalho prestado em prol da literatura de cordel no Ceará.
Fonte: http://onordeste.com, acesso em 29/05/2012
Depois de ler o cordel, responda as questões abaixo: 1. Qual a classificação do cordel de acordo com a métrica? Sextilha em alguns estrofes e septilha em outros.
2. De acordo com os temas de cordel que estudamos anteriormente, qual (is) tema (s) está (ão) presente (s) no texto? Cite versos que o (s) caracteriza (m). Religião: estrofe 6 (“Lampião lhe respondeu: / Mas que santo é o senhor? / Não aprendeu com Jesus / Excluir ódio e rancor?”) etc. Cangaço: estrofe 28 (“Sou o Capitão Virgulino / Guerrilheiro do sertão”) etc. Pode-se indicar também a peleja, devido ao combate entre Lampião, São Pedro e os outros santos.
3. O poema é popular ou erudito? Cite exemplos que comprovem sua escolha. Poema popular, devido às palavras e expressões coloquiais e pelo tema regional utilizado.
4. O cordel acima apresenta como protagonista uma personagem importante da história do nordeste brasileiro. O que você sabe sobre Lampião? Resposta pessoal.
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5. Lampião é um cangaceiro. Quais versos desse cordel nos Cangaceiro: permitem afirmar isso? Estrofe 7: “É bastante astucioso / Pistoleiro e cangaceiro”. Estrofe 12: “Te excomungo Virgulino / Cangaceiro endiabrado”. Estrofe 29: “O destino em má sorte / Da “lei” me fez um soldado”.
s. m. 1. O que traz muitas armas, afetando valentia. 2. Salteador. 3. Bandoleiro. Fonte: http://www.priberam.pt/DLPO/
6. Nas estrofes 28, 29 e 30, Lampião justifica suas atitudes por causa do sofrimento de seu povo e da morte de seus pais. Você considera Lampião um vilão ou um herói? Por quê? Resposta pessoal.
7. Nos versos “Sou o Capitão Virgulino, Guerrilheiro do sertão“ (estrofe 28), quais elementos são usados nessa fala de Lampião para promover sua defesa? Lampião utiliza-se dos nomes em que era conhecido, “Capitão Virgulino” e “Guerrilheiro do sertão”, demonstrando que as pessoas o conheciam como um justiceiro, e não como um criminoso.
8. Encontre adjetivos no cordel que caracterizem Lampião como um vilão e transcreva-
os nas linhas abaixos: Pistoleiro, endiabrado, malcriado etc.
9. Considerando a resposta da questão 5, qual a função dos adjetivos e das locuções adjetivas ao descrever uma personagem? Os adjetivos e locuções adjetivas caracterizam a personagem, de modo que o leitor estabeleça seu caráter e modo de ser.
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10. Você acredita que podemos modificar a imagem de uma pessoa positiva ou negativamente através do uso dessa classe de palavras? Quais adjetivos deveriam estar presentes para que a imagem de Lampião fosse de um herói e não de um vilão? Resposta pessoal. Espera-se que o aluno responda afirmativamente, dando como exemplos alguns adjetivos como: justiceiro, herói, guerreiro, popular, admirado etc.
11. Observe a tirinha abaixo e responda:
Fonte: http://www.flickr.com, acesso em 29/05/2012
a) A mulher da tirinha é Maria Bonita, a companheira de Lampião. Qual frase utilizada por ela justifica seu apelido? “Ui, que medo... Então, vá! O que não falta é homi atrás de mim.”
b) Compare a atitude de Lampião ao tentar convencer São Pedro no poema e Maria Bonita na tirinha. Quais são as semelhanças e diferenças? Em ambos, Lampião enfrenta o interlocutor (São Pedro e Maria Bonita), manifestando sua opinião de forma direta. Entretanto, ele é mais polido com São Pedro, provavelmente devido a ser um santo, do que com Maria Bonita.
c) Qual a diferença entre a resposta de São Pedro e a de Maria Bonita? Como Lampião reage em ambos os casos? Enquanto São Pedro acaba cedendo, através da intercessão de Padre Cícero, Maria Bonita ironiza e acaba deixando Lampião sem palavras, dando a entender que sua opinião prevaleceu no final, diferentemente do cordel, onde Lampião acaba vencedor.
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PRODUZINDO Nas tradicionais feiras de cordéis, é comum uma arte conhecida como embolada, em que dois desafiantes se enfrentam de maneira semelhante aos repentistas, utilizando instrumentos como o pandeiro e a viola. É um canto geralmente improvisado, com refrão fixo, que é apresentado em público. Assista ao vídeo de Caju e Castanha, dois famosos repentistas, para conhecer um pouco da embolada.
Todo repentista pode ser um cordelista, mas nem todo cordelista, pode ser um repentista. A diferença é que o poeta repentista faz de improviso. Dá uma peçana (tema) e ele improvisa. Já o poeta cordelista é chamado poeta de bancada. Ele senta, pensa e escreve seus versos.
http://www.youtube.com/watch?v=RqLrJi-iPEA&feature=player_embedded
A questão da pirataria não é recente. As obras do grande cordelista Leandro Gomes de Barros, por exemplo, sofreram com esse problema. A viúva de Leandro acabou vendendo os direitos autorais de sua obra para João Martins de Ataíde. Ele, por sua vez, começou a publicar os poemas de Leandro tendo nas capas o seu nome como editor e diretor chefe, depois, ele tirou a palavra diretor chefe. E, por fim, passou a assinar só o seu nome, sem alusão a Leandro Gomes de Barros.
Como estudamos em “Conhecendo e Discutindo”, o cordel faz parte da tradição oral brasileira. Por pertencer à tradição oral, esses poemas são transmitidos de geração em geração. Ao longo da história, muitos cordéis foram atribuídos a autores que não os verdadeiros. Por isso, a questão dos direitos autorais na poesia popular é um ponto a ser considerado. Para garantir os direitos sobre a composição dos cordéis, muitos autores fizeram/fazem uso do acróstico.
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O acróstico era/é utilizado como um recurso estilístico, no qual o autor compõe a última estrofe do cordel utilizando, no início de cada verso, uma letra que na vertical formará o seu nome. A última estrofe do folheto "A Força do Amor” ou também conhecido como “Alonso e Marina", do poeta Leandro Gomes de Barros, forma o acróstico LEANDRO:
Levemos isso em análise Então ver-se-á onde vai A soberba é abatida No abismo tudo cai, Deus é grande e tem poder Reduz ao pó qualquer ser O poder dele não cai. Leandro Gomes de Barros Fonte: http://aeilijpaulista.blogspot.com.br,acesso em 30/05/2012
In: 140 anos de nascimento de Leandro Gomes de Barros, o rei da Literatura de Cordel - Por: Arievaldo Viana
Seu desafio é escrever um acróstico do seu nome seguindo o modelo de Leandro Gomes de Barros. Lembre-se da estrutura métrica e das rimas! Depois de pronto, você e seus colegas vão apresentar o seu acróstico à turma em forma de embolada, ou seja, colocando ritmo e cantando! Pode usar pandeiro, violão, outro instrumento ou apenas a voz. Divirta-se!
Fonte: http:// poesianordestina.blogspot.com,acesso em 30/05/2012
CAPÍTULO 1: RELEMBRANDO OS CONCEITOS APRENDIDOS Ao longo deste capítulo, pudemos estudar e melhor compreender os seguintes temas:
Cordel português Cordel nordestino: autores, temas e estrutura Poema erudito e poema popular Emboladas Como fazer um acróstico
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CAPÍTULO 2: XILOGRAVURA VOCÊ JÁ VIU? Observe as imagens abaixo:
Fonte: http://artepopularbrasil.blogspot.com.br, acesso em 16/05/2012 Fonte: http://www.galeriabrasiliana.com.br, acesso em 16/05/2012
Fonte: http://poesiadiversidade.blogspot.com.br, acesso em 16/05/2012
Fonte: http://denisferreiraeditorbahia. blogspot. com.br, acesso em 16/05/2012
Fonte: http://artepopularbrasil.blogspot.com.br, acesso em 16/05/2012
1. Quais situações são apresentadas nas figuras? Essas situações fazem parte da sua vida? Discutir com os alunos como a realidade apresentada nas xilogravuras é semelhante/diferente da realidade do aluno.
2. Essas figuras fazem parte do universo do cordel. Você começou a estudar no Capítulo 1 a literatura de cordel e seus temas mais recorrentes. Observando as imagens, quais temas, pensando nas poesias de cordel, você acredita que essas figuras retratam? Relembrar com os alunos os temas típicos de cordel: sertão, religiosidade, romance, entre outros, associando-os às imagens de abertura desse capítulo. Exemplo: O cordel “Forró pé de Serra” poderia retratar uma poesia sobre festas populares nordestinas, bem como o cordel “Bandinha de Pífano”. Já o cordel “Nossa Senhora de Aparecida” apresenta uma conotação religiosa. O cordel “A serpente” pode representar crenças locais. Professor, ressaltar com os alunos o retrato do êxodo de nordestinos apresentado no cordel “Mudança de Sertanejo”. Você poderá questionar os alunos sobre quais são os possíveis motivos que levam os sertanejos a abandonarem o sertão, indicando que esse é um tema muito presente em nossa literatura, não só nos poemas de cordel, a exemplo da obra “Vidas secas”, de Graciliano Ramos.
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CONHECENDO E DISCUTINDO Agora você vai assistir a um vídeo de uma reportagem exibida no programa Globo Rural, da Rede Globo, de 02 de janeiro de 2011, sobre as xilogravuras e os folhetos nordestinos.
http://www.youtube.com/watch?v=lXkKOI3z0V8&feature=related
Discuta com seus colegas e responda: 1. De acordo com o vídeo, em qual região do país a cultura das xilogravuras é mais presente? Região Nordeste.
2. Como essa cultura permanece, mesmo com o crescimento das novas tecnologias? Essa cultura permanece com a passagem do conhecimento de pai para filho, preservando, assim, as tradições.
3. Quais tipos de artesanato são predominantes na região em que você vive? Você já tinha visto uma imagem feita em xilogravura? Resposta pessoal.
J.Borges
José Francisco Borges nasceu em 20 de dezembro de 1935, em Bezerros, Pernambuco. Ele é um xilogravurista e cordelista. Aos 29 anos, publicou seu primeiro cordel: O Encontro de Dois Vaqueiros no Sertão de Petrolina, que vendeu mais de cinco mil exemplares em dois meses, tendo mestre Dila como ilustrador. Contudo, sua principal arte não são os versos, mas sim, a xilogravura, que foi descoberta por acaso. Sem dinheiro para comprar os clichês (chapas de zinco que serviam de base para a confecção das capas dos cordéis), pegou um pedaço de imburana e talhou uma igrejinha. O desenho estampou a capa de seu segundo trabalho: O Verdadeiro Aviso de Frei Damião. J. Borges já escreveu mais de 200 cordéis e ilustrou-os. Suas ilustrações estamparam capas de discos e livros. Os temas das suas obras vão do cotidiano do pobre às histórias do cangaço, da religiosidade popular aos crimes e corrupções. Borges tem a sua própria técnica de colorir as imagens. A Chegada da Prostituta no Céu é o cordel de maior sucesso de J. Borges e vendeu 100 mil exemplares.
J.Borges recebeu a condecoração da Ordem do Mérito pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o Prêmio UNESCO, na categoria Ação Educativa/Cultural. E, ainda em 2002, foi um dos treze artistas escolhidos para ilustrar o calendário anual das Nações Unidas. J. Borges apresenta, inclusive, obras expostas no museu do Louvre em Paris.
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Xilogravura No início de sua produção, os folhetos apresentavam apenas o nome do autor dos poemas, o título e um traço tipográfico. Esses folhetos, impressos em preto e branco, eram expostos em feiras, nas proximidades de igreja, estações e fazendas, em cima de caixotes ou pendurados em barbantes (varais de cordel). Na contracapa traziam o endereço do autor, que, normalmente, era o próprio vendedor dos folhetos. Foi João Martins de Athayde quem inovou, inserindo ilustrações nas capas dos folhetos. Posteriormente, essas ilustrações passaram a ser esculpidas em pedaços de madeira (imburana). Grandes nomes da xilogravura são Dila (de Caruaru, Pernambuco), Stênio (Juazeiro) e J. Borges (Pernambuco). Atualmente, os folhetos são coloridos, trazem informações sobre os autores – em alguns até mesmo o retrato do autor –, conselhos, avisos etc.
A arte Xilogravura vem do grego xilo, que significa madeira. Ou seja, é a arte de gravar em madeira. Primeiramente, o artista esculpe na matriz o que deseja desenhar, depois, segue-se a etapa da entintagem, em que a tinta é colocada na área que não foi escavada através de um rolo e, por último, segue a impressão, que transfere o desenho da matriz para o papel. Para a confecção da xilogravura, é importante entender as seguintes expressões:
Matriz: taco de madeira gravado com instrumentos de corte. Outros materiais podem ser usados, tais como: linóleo, poliuretano, compensados, etc.
Entintagem: a tinta é colocada, através de um rolo, na área que não foi encavada.
Impressão: transporte da imagem para o papel, por meio de pressão à mão ou no prelo.
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CONTEXTUALIZANDO Agora que você já sabe que as xilogravuras ilustram os folhetos de cordel, observe as figuras abaixo e tente associar cada imagem com o respectivo folheto que ela ilustra.
3 1
2
5
6
4
Título do folheto O forró dos bichos
Número da Xilogravura 2
Cantadores de embolada
6
Lua de mel de matuto
3
III Estação
5
A professora
4
Sertão e o sol quente
1
22
Agora, discuta com seus colegas e responda: 1. Como foi possível identificar os títulos dos folhetos apenas com as xilogravuras? O que, em cada xilogravura, remeteu você a um dos títulos? Resposta pessoal. Destacar como as imagens transmitem sentido mesmo sem a presença do texto.
2. Quais outros meios de comunicação não se utilizam de palavras para expressar seu significado? Que outras linguagens utilizam? O aluno pode destacar: propagandas como outdoor, banner etc., sinais de trânsito, cartões de penalidade usados em eventos esportivos (como partidas de futebol), entre outros.
Linguagem Linguagem é o uso da língua como forma de expressão e comunicação entre as pessoas. Porém, a linguagem não é somente um conjunto de palavras faladas ou escritas, mas também de gestos e imagens. Assim, a linguagem pode ser classificada de três maneiras: verbal, não verbal e mista.
Linguagem verbal: Utiliza a língua (oral ou escrita) como forma de expressão e comunicação entre as pessoas. É utilizada em cartas, reportagens de jornais, conversa oral, slogans etc.
Linguagem não verbal: Utiliza meios não verbais para expressar a mensagem. A linguagem não verbal está presente em imagens estáticas – placas, sinais de trânsito, xilogravuras – ou em imagens em movimento – vídeo, filmes etc.
Linguagem mista: Utiliza, simultaneamente, linguagem verbal e não verbal, ou seja, palavras e imagens. É encontrada em charges (imagem), quadrinhos, propagandas com texto e imagens, vídeos, filmes etc.
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Observe a tirinha abaixo e responda as questões:
Fonte: http://gibitecacom.blogspot.com.br – Acesso em 16/05/2012
1. Qual o tipo de linguagem utilizado na tirinha? Linguagem não verbal.
2. Você consegue compreender o significado da tirinha? Por quê? O aluno deve associar a falta de textos nos balões com a ausência do entendimento da tirinha. Nesse quadrinho, apenas a linguagem não verbal não é suficiente para entender a mensagem.
Agora, observe a tirinha completa:
Fonte: http://gibitecacom.blogspot.com.br – Acesso em 16/05/2012
3. O tipo de linguagem foi modificado depois da inclusão dos diálogos. Como a linguagem passa a ser classificada agora? Qual a importância dessa linguagem para a compreensão da tirinha? A linguagem, agora, passa a ser classificado com linguagem mista. Espera-se que o aluno identifique que, com a Inclusão do diálogo, ele consegue entender as imagens. Assim, nessa tirinha, linguagem verbal e não verbal se completam para possibilitar o entendimento da história.
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Nem sempre elementos não verbais são capazes, por si só, de produzirem sentido. No caso da tirinha, o texto dos balões foi necessário para haver compreensão. Agora observe essa outra tirinha:
Fonte: http://www.monica.com.br – Acesso em 16/05/2012
4. Que tipo de linguagem é utilizada? Linguagem não verbal.
5. Você consegue entender o significado da tirinha? Por quê? Sim, pois as imagens isoladas são capazes de produzir significado.
6. Alguns símbolos (linguagem não verbal) têm seu sentido independente da representação verbal, pois adquirem significado por meio do contexto. Por exemplo, no jogo de futebol, o cartão vermelho significa expulsão. No quadrinho acima, quais símbolos têm essa função? O que eles representam? Podem ser citados: as estrelas, que simbolizam dor; a fumaça nos pés, que representam a corrida; traços nas cabeças das personagens, que significam fala ou surpresa; a cruz, que simboliza os primeiros socorros; entre outros.
7. Retorne à tirinha de Antonio Cedraz em que a personagem demonstra insatisfação ao saber que haverá segundo turno. Utilizando-se da linguagem verbal, explique o sentido do quadrinho. Se preferir, você pode fazê-lo na forma de uma estrofe de cordel.
25 Resposta pessoal. O professor pode incentivar que os alunos tentem explicar a tirinha utilizando, para isso, de versos, tal como a poesia de cordel .
INTERPRETANDO Leia com atenção o cordel abaixo e depois responda às questões:
Ai! Se sêsse!... Se um dia nóis se gostasse; Se um dia nóis se queresse; Se nós dois se impariásse, Se juntin nóis dois vivesse! Se juntin nóis dois morasse Se juntin nóis dois drumisse; Se juntin nóis dois morresse! Se pro céu nós assubisse? Mas porém se acontecesse qui São Pêdo não abrisse as portas do céu e fosse, te dizê quarqué tolice?
E se eu me arriminasse e tu cum eu insistisse, prá qui eu me arrezorvesse e a minha faca eu puxasse, e o buxo do céu furasse?... Tarvez qui nóis dois ficasse tarvez qui nóis dois caísse e o céu furado arriasse e as virge todas fugisse!!! Zé da Luz Impariar: ficar junto Arriminar: enfurecer Arriar: descer
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1. Analisando a linguagem do poema acima, é possível supor que ele seja: a) Um poema popular ou um poema erudito? Por quê? Poema popular, pois apresenta características regionais e linguagem coloquial.
b) Um poema urbano ou um poema rural? Por quê? Poema rural, pois apresenta características próprias do ambiente rural, como tirar a faca, a questão religiosa de São Pedro etc.
2. O poema Ai! Se sêsse!... foge aos padrões da norma culta e procura retratar o modo de falar do poeta. a) Identifique palavras que tenham sido escritas de modo diferente daquele registrado no dicionário. O aluno pode citar: nóis, juntin, arrezorvesse, tarvez, qui, dizê, quarqué, virge etc.
b) Nesse poema, o poeta utiliza enfaticamente verbos que estão na forma do imperfeito do subjuntivo. Leia o boxe ao lado e reflita: Por que essa forma verbal é empregada no poema? Qual é o efeito pretendido com esse emprego? A forma é usada porque o poema expressa suposições do eu-lírico, hipóteses levantadas por ele. O eu lírico
Verbos flexionados no imperfeito do subjuntivo costumam ser usados para indicar uma hipótese. Em uma frase como “Se eu furasse o céu, talvez as virgens fugissem”, o verbo furar serve para indicar uma situação hipotética, apresentada como uma condição para que outro fato, as virgens fugirem, acontecesse.
apaixonado por sua amada, questiona o que aconteceria caso suas hipóteses realmente acontecessem, ou seja, se ele conseguisse a correspondência de seu sentimento.
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c) O poeta utiliza a conjunção se para iniciar os primeiros versos de seu poema. A função dessa conjunção é indicar uma situação de condição e/ou hipótese. Que outra palavra, presente no poema, também expressa dúvida, condição ou hipótese? A palavra tarvez (talvez).
3. O eu-lírico dirige esse poema à pessoa amada. Há, nele, um conflito real da não correspondência desse sentimento. Mas, a partir de “Se pro céu nóis assubisse?”, há um conflito criado pelas suposições desse eu-lírico. Que conflito é esse? Espera-se que o aluno compreenda que o cordel é dividido em duas partes: primeiramente, o eu-lírico faz várias suposições em relação a possibilidade dele ficar com o ser amado, inclusive se “juntos eles morressem”; depois, pensando sobre a possibilidade da morte, o eu-lírico sai do conflito real, que é a correspondência de seu sentimento, e passa a supor o que aconteceria se os dois, estando juntos, morressem e subissem aos céus. Assim, a partir de “Se no céu nóis assubisse?”, há um conflito gerado pelas suposições (imaginação) desse eu –lírico.
4. Considerando a resposta da questão 3, esse cordel poderia ser classificado em qual (is) tema (s)? Por quê? Tema de amor, devido às características do romance entre as personagens, ou tema de peleja, devido ao conflito gerado hipoteticamente com São Pedro no final do cordel.
PRODUZINDO A partir de agora, você aprenderá como fazer uma xilogravura, isto é, a elaborar a ilustração de um folheto de cordel. Para isso, deverá usar os temas de cordel que vocês estudaram no capítulo anterior e neste. Reúnam-se em duplas para a confecção da xilogravura. Mas, antes, assistam ao vídeo explicativo de como fazer uma xilogravura em madeira (assim como as originais são feitas).
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http://www.youtube.com/watch?v=6mgCBOHi9zo.
Nessa atividade, não vamos usar madeira. Utilizaremos batatas, um material que está mais facilmente ao nosso alcance. Acompanhe abaixo os passos para a confecção da xilogravura.
Materiais utilizados:
Modo de fazer: 1. Corte as batatas em dois pedaços;
Batatas grandes (peguem as maiores que tiverem)
Agulhas de tricô (ou outro objeto com ponta mais fina)
Tinta de tecido preta (ou outra tinta à base de água)
2. Com a agulha de tricô, escave a batata para formar o desenho de sua escolha (o desenho deve ser relacionado com os temas de cordel do capítulo 1); 3. Coloque tinta preta nas partes não cavadas da batata; 4. Por fim, imprima a imagem da sua xilogravura em uma folha em branco, utilizando a batata como um carimbo.
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Agora, comparem a sua xilogravura com a imagem abaixo e discutam:
Fonte: http:// pe.quebarato.com.br – Acesso em 16/05/2012
1. Há semelhança entre os traços da xilogravura que você fez e o das imagens acima? Resposta pessoal. Professor, ressaltar o que pode ter acontecido de errado caso os traços talhados na batata tenham saído diferentes do esperado para uma xilogravura.
2. Por que vocês acham que os traços de xilogravuras geralmente são mais simples e geométricos? Lembre-se que as xilogravuras originais são talhadas em madeira. Os alunos devem chegar à conclusão que o processo de talhar a madeira impede o uso de muitas curvas e formas complexas, por isso as xilogravuras têm traços mais simples, finos e precisos.
Pronto! Agora vocês fizeram suas primeiras xilogravuras. Com a outra metade da batata, vocês podem fazer outros desenhos à escolha. Guardem suas xilogravuras. Nós as utilizaremos nos próximos capítulos!
CAPÍTULO 2: RELEMBRANDO OS CONCEITOS APRENDIDOS Ao longo deste capítulo, pudemos estudar e melhor compreender os seguintes temas:
O que é xilogravura A diferença entre linguagem verbal e não verbal Como fazer uma xilogravura
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CAPÍTULO 3: VARIAÇÃO LINGUÍSTICA VOCÊ JÁ VIU? Observe as imagens abaixo:
Fonte: http://dirceurabelo.wordpress.com acesso em 29/05/2012 Fonte: http://gauchitogil.wordpress.com, acesso em 29/05/2012
Fonte: http://jeitobaiano.wordpress.com/, acesso em 29/05/2012
Fonte: http://jrholanda.wordpress.com, acesso em 29/05/2012
1. Você sabe de que região são as pessoas de cada uma dessas imagens? Professor, apontar que as possíveis regiões são: Rio Grande do Sul, Interior (relacionado à figura do caipira), São Paulo e Bahia.
2. Quais as diferenças entre essas imagens? O que elas retratam? Pode ser abordada a diferença no ambiente em que as pessoas se encontram: capitais/ centros urbanos, regiões mais interioranas, centro de cidades históricas (como a região central da Bahia, onde há as feiras de artesanatos, com apesentação de celebrações típicas/danças, além de apresentar comidas típicas). Chamar a atenção dos alunos ao fato de haver peculiaridades em cada uma das regiões, sejam tais características relacionadas às vestimentas, costumes, religião e, inclusive, diferenças na linguagem (pelo léxico, pronúncia, sintaxe, expressões utilizadas no cotidiano etc).
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3. Você já teve a oportunidade de conversar com pessoas que sejam de algum desses lugares? Se sim, lembra de ter percebido caracaterísticas nas falas dessas pessoas que sejam diferentes da sua? Quais as principais diferenças que você percebeu? Resposta pessoal, mas sendo importante que o professor reforce a questão da diferença existente nos modos de falar, isto é, da variação linguística.
4. Você sabe que nome damos a essa diferença?
Variação linguística.
CONHECENDO E DISCUTINDO Agora, você vai assistir a um vídeo, exibido no Museu da Língua Portuguesa, da cidade de São Paulo. Nele, temos várias pessoas cantando o Hino Nacional Brasileiro. Confira e depois responda: 1. É possível notar no vídeo diferenças na fala das pessoas, mesmo todas falando a mesma língua, o português, ou seja, há diferenças no modo como essas pessoas falam. Você concorda com essa afirmação? Resposta pessoal. Professor, comentar que compreendemos todas as pessoas do vídeo e reconhemos o português como http://www.youtube.com/watch?v=gy3hx2l0X1Q
língua que falam, no entanto, há especificidades na linguagem de cada um, relacionadas com a região, idade, entre outras.
2. Pela fala de cada uma das pessoas, é possível identificar de qual região do Brasil elas são? Quais são essas regiões? Como você as identificou? Resposta pessoal. O professor deve apontar que as prováveis regiões. sejam São Paulo, Minas Gerais, Sul do Brasil e Rio de Janeiro. Perguntar aos alunos o que mais foi significativo no momento de diferenciar e identificar a linguagem: se a pronúncia, as gírias, o vocabulário etc
3. Você percebeu alguma semelhança com o seu modo de falar? Se sim, qual dessas linguagens mais se aproximou da sua? Resposta pessoal. Professor, neste ponto, seria pertinente explicar para os alunos que existem diferentes tipos de variação linguística, como é citado no quadro ao lado, de modo que pode explorá-los em aula. Mas, deve fazer a ressalva de que, neste capítulo, será abordada apenas uma tipo de variação linguística, a regional ou geográfica.
Variação Linguística é um fenômeno que representa as diversas maneiras de as pessoas falarem uma determinada língua. A diferenciação pode ocorrer por fatores de idade, grupo social, sexo, grau de escolaridade, regionalismo ou período histórico. No Brasil, por exemplo, existem falantes que se expressam de formas muito diferentes. Para tentar uma padronização, principalmente na escrita, escolhe-se como variedade de prestígio, a norma culta. A norma culta é a escolhida pelos meios de comunicação, pela escola, pelos órgãos oficiais. Ela tende uma padronização do português, privilegiando a linguagem formal.
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Variação linguística regional ou geográfica O Brasil possui uma dimenO Brasil é um país de dimensão continental. são territorial de 8,5 milhões Existem diversas culturas, crenças e maneiras de km² e é dividido em 27 típicas de falar dentro de seu território. Essa unidades federativas. É o quinto maior país pluralidade cultural é evidenciada, inclusive, por do mundo. A língua oficial é o português, meio da heterogeneidade da língua. no entanto, há 181 línguas indígenas que Abaixo você verá exemplos de falas que são ainda são faladas por alguns índios. características de certas regiões brasileiras, portanto, exemplificam a variação linguística geográfica. Você conseguiria saber de que região é cada uma dessas falas?
Frase Mas, bah, de onde tu viestes, tchê? Oxente, mainha, Joilso chegou inda não? Uai, mais qu’é que ocê tá fazendo? Tirisdaí menino! Pô brother, tá de caô?
Região do Brasil Sul do Brasil Bahia Minas Gerais Rio de Janeiro
Valeu truta, tá ligado que pode contá comigo, né meu?
São Paulo
Oh, bichim, diabeisso? Sabe não?
Nordeste
A variação linguística regional pode ser verificada em nível lexical (vocabulário), fonético (pronúncia/ sotaque), morfológico (formação e classificação das palavras) e sintático (função das palavras na frase e nas orações). Agora, imagine as seguintes situações: 1. Um carioca que está passando o dia na praia e resolve tormar uma água de coco. Como ele a pediria ao vendedor? a) “M’irmão, me vê um coco” b) “ Senhor, por obséquio, vender-me-ia uma água de coco?” 2. Uma criança que mora em São Paulo precisa dar um recado ao coordenador da escola em que estuda. Como ela deveria falar? a) “Senhor, a professora Vanessa perguntou se você poderia ir à nossa sala” b) “Meu, a professora tá pedindo pra você ir na nossa sala!”
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3. Dois amigos baianos estão conversando sobre o resultado do jogo Vitória X Bahia. Um deles está comemorando o fato do time dele ter vencido. Como ele comemoraria? a) Oxi, que o Vitória é melhor time da Bahia! b) Certamente o Vitória é um time de destaque!
Falando em variação linguística... você sabia que o nome do filme brasileiro “Ó paí ó” representa uma variação linguística regional? Essa fala, tipicamente baiana, é a contração da expressão “olhe para aí, olhe”!
4. Um gaúcho está em uma entrevista de emprego,e o entrevistador pergunta por que ele merece a vaga.Como ele responderia? a) Bah, que eu tô precisado desse emprego. Minha prenda tá esperando isso para nós casarmos. b) Bah, gostaria de ressaltar que fiz muitos cursos nessa área e tenho grande experiência no ramo.
Registro formal: é o que se dá, com base no conjunto de regras instituídas pelo chamado padrão culto da língua. As normas, relacionadas à linguagem padrão, vinculam-se ao conceito gramatical, e procuram orientar a escrita e a fala, principalmente nos meios acadêmicos e nas camadas sociais consideradas de prestígio. Ou seja, é empregado em situações mais formais, como em ambientes acadêmicos, oficias, em ambientes empresariais, entre outros Fonte: http:// sincovaga.com.br, acesso em 03/06/2012
Registro informal: ocorre, frequentemente, no dia a dia, e representa uma linguagem informal, espontânea, baseada em uma estrutura não vinculada à gramática normativa, ao contrário, a uma “gramática natural”, individualizada, que muda de pessoa para pessoa, conforme o grupo social a que pertence, idade, região geográfica, período histórico no qual se encontra etc. Fonte: http:// bloguinfi.blogspotcom, acesso em 03/06/2012
Pensando nesses conceitos, discuta com seus colegas: 1. Em que situações do seu cotidiano você usaria o registro formal? E o registro informal? Resposta pessoal. O professor pode ajudar os alunos com alguns exemplos: o registro formal, normalmente, é empregado no meio acadêmico ou profissional e, mesmo quando nos dirigimos a autoridades (sejam políticas, religiosas, escolares), pessoas mais velhas etc. Por outro lado, o registro informal é utilizado no dia a dia, para falar com pessoas mais próximas, amigos, vizinhos, parentes.
2. Pense na seguinte situação: se você tivesse que mudar de cidade, como você diria isso para um amigo? E para o coordenador da sua escola? Resposta pessoal. O professor deve deixar claro para os alunos que, usualmente, nos dirigimos aos amigos de modo informal, diferentemente de quando precisamos contar algo a alguém não muito próximo/com quem não temos muita intimidade. Nessa situação, procuramos falar de forma mais resumida, escolhendo quais as melhores palavras e expressões para tratar do assunto de um modo educado e sutil. Além disso, procuramos não usar gírias, falando de maneira mais formal.
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CONTEXTUALIZANDO Leia o cordel abaixo, do famoso cordelista Patativa do Assaré: O sabiá e o gavião
1
Eu nunca falei à toa. Sou um cabôco rocêro, Que sempre das coisa boa Eu tive um certo tempero. Não falo mal de ninguém, Mas vejo que o mundo tem Gente que não sabe amá, Não sabe fazê carinho, Não qué bem a passarinho, Não gosta dos animá.
2
Já eu sou bem deferente. A coisa mió que eu acho É num dia munto quente Eu i me sentá debaxo De um copado juazêro, Prá escutá prazentêro Os passarinho cantá, Pois aquela poesia Tem a mesma melodia Dos anjo celestiá.
3
Não há frauta nem piston Das banda rica e granfina Pra sê sonoroso e bom Como o galo de campina, Quando começa a cantá Com sua voz naturá, Onde a inocença se incerra, Cantando na mesma hora Que aparece a linda orora Bejando o rosto da terra.
4
O sofreu e a patativa Com o canaro e o campina Tem canto que me cativa, Tem musga que me domina, E inda mais o sabiá, Que tem premêro lugá, É o chefe dos serestêro, Passo nenhum lhe condena, Ele é dos musgo da pena O maiô do mundo intêro.
5
Eu escuto aquilo tudo, Com grande amô, com carinho, Mas, às vez, fico sisudo, Pruquê cronta os passarinho Tem o gavião maldito, Que, além de munto esquisito, Como iguá eu nunca vi, Esse monstro miserave É o assarsino das ave Que canta pra gente uví.
6
Muntas vez, jogando o bote, Mais pió de que a serpente, Leva dos ninho os fiote Tão lindo e tão inocente. Eu comparo o gavião Com esses farão cristão Do instinto crué e feio, Que sem ligá gente pobre Quê fazê papé de nobre Chupando o suó alêio.
7
As Escritura não diz, Mas diz o coração meu: Deus, o maió dos juiz, No dia que resorveu A fazê o sabiá Do mió materiá Que havia inriba do chão, O Diabo, munto inxerido, Lá num cantinho, escondido, Também fez o gavião.
8
De todos que se conhece Aquele é o passo mais ruim É tanto que, se eu pudesse, Já tinha lhe dado fim. Aquele bicho devia Vivê preso, noite e dia, No mais escuro xadrez. Já que tô de mão na massa, Vou contá a grande arruaça Que um gavião já me fez.
Patativa do Assaré Compositor, poeta e improvisador, foi um dos mais importantes representantes da cultura popular nordestina. Nasceu em 1909, em Assaré (CE), e em 1956, escreveu seu primeiro livro de poesias, Inspiração Nordestina. Recebeu vários títulos e prêmios pela sua colaboração com a difusão da cultura nacional. Faleceu em 2002, na sua cidade natal.
Fonte: http://pe.quebarato.com.br, acesso em 03/06/2012
35
Fonte: http://picasaweb.google.com, acesso em 03/06/2012
9
Quando eu era pequenino, Saí um dia a vagá Pelos mato sem destino, Cheio de vida a iscutá A mais subrime beleza Das musga da natureza E bem no pé de um serrote Achei num pé de juá Um ninho de sabiá Com dois mimoso fiote.
10
Eu senti grande alegria, Vendo os fíote bonito. Pra mim eles parecia Dois anjinho do Infinito. Eu falo sero, não minto. Achando que aqueles pinto Era santo, era divino, Fiz do juazêro igreja E bejei, como quem bêja Dois Santo Antõi pequenino.
11
Eu fiquei tão prazentêro Que me esqueci de armoçá, Passei quage o dia intêro Naquele pé de juá. Pois quem ama os passarinho, No dia que incronta um ninho, Somente nele magina. Tão grande a demora foi, Que mamãe (Deus lhe perdoi) Foi comigo à disciprina.
12
Meia légua, mais ou meno, Se medisse, eu sei que dava, Dali, daquele terreno Pra paioça onde eu morava. Porém, eu não tinha medo, Ia lá sempre em segredo, Sempre. iscondido, sozinho, Temendo que argúm minino, Desses perverso e malino Mexesse nos passarinho.
13
Eu mesmo não sei dizê O quanto eu tava contente Não me cansava de vê Aqueles dois inocente. Quanto mais dia passava, Mais bonito eles ficava, Mais maió e mais sabido, Pois não tava mais pelado, Os seus corpinho rosado Já tava tudo vestido.
14
Mas, tudo na vida passa. Amanheceu certo dia O mundo todo sem graça, Sem graça e sem poesia. Quarqué pessoa que visse E um momento refritisse Nessa sombra de tristeza, Dava pra ficá pensando Que arguém tava malinando Nas coisa da Natureza.
15
Na copa dos arvoredo, Passarinho não cantava. Naquele dia, bem cedo, Somente a coã mandava Sua cantiga medonha. A menhã tava tristonha Como casa de viúva, Sem prazê, sem alegria E de quando em vez, caía Um sereninho de chuva.
16
Eu oiava pensativo Para o lado do Nascente E não sei por quá motivo O só nasceu diferente, Parece que arrependido, Detrás das nuve, escondido. E como o cabra zanôio, Botava bem treiçoêro, Por detrás dos nevoêro, Só um pedaço do ôio.
17
Uns nevoêro cinzento Ia no espaço correndo. Tudo naquele momento Eu oiava e tava vendo, Sem alegria e sem jeito, Mas, porém, eu sastifeito, Sem com nada me importá, Saí correndo, aos pinote, E fui repará os fiote No ninho do sabiá.
18
Cheguei com munto carinho, Mas, meu Deus! que grande agôro! Os dois véio passarinho Cantava num som de choro. Uvindo aquele grogeio, Logo no meu corpo veio Certo chamego de frio E subindo bem ligêro Pr’as gaia do juazêro, Achei o ninho vazio.
19
Quage que eu dava um desmaio Naquele pé de juá E lá da ponta de um gaio, Os dois véio sabiá Mostrava no triste canto Uma mistura de pranto, Num tom penoso e funéro, Parecendo mãe e pai, Na hora que o fio vai Se interrá no cimitéro.
20
Assistindo àquela cena, Eu juro pelo Evangéio Como solucei com pena Dos dois passarinho véio E ajudando aquelas ave, Nesse ato desagradave, Chorei fora do comum: Tão grande desgosto tive, Que o meu coração sensive Omentou seus baticum.
21
Os dois passarinho amado Tivero sorte infeliz, Pois o gavião marvado Chegou lá, fez o que quis. Os dois fiote tragou, O ninho desmantelou E lá pras banda do céu, Depois de devorá tudo, Sortava o seu grito agudo Aquele assassino incréu.
22
E eu com o maiô respeito E com a suspiração perra, As mão posta sobre o peito E os dois juêio na terra, Com uma dó que consome, Pedi logo em santo nome Do nosso Deus Verdadêro, Que tudo ajuda e castiga: Espingarda te preciga, Gavião arruacêro!
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Sei que o povo da cidade Uma idéia inda não fez Do amô e da caridade De um coração camponês. Eu sinto um desgosto imenso Todo momento que penso No que fez o gavião. E em tudo o que mais me espanta É que era Semana Santa! Sexta-fêra da Paixão!
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Com triste rescordação Fico pra morrê de pena, Pensando na ingratidão Naquela menhã serena Daquele dia azalado, Quando eu saí animado E andei bem meia légua Pra bejá meus passarinho E incrontei vazio o ninho! Gavião fí duma égua! Patativa do Assaré
Partindo do conceito de variação linguística estudado e, tomando por base o cordel lido, responda: 1. Para você o cordel “O sabiá e o gavião” apresenta variação regional? De que maneira é possível perceber essa variação? Sim. Professor, indique que podemos perceber essa variação através do léxico, da estrutura das frases, da fonética e da morfologia.
2. Através da linguagem do texto, pode-se dizer que representa uma variedade não padrão da língua. Por que é possível afirmar isso? Professor, oriente os alunos, no sentido de pedir que transcrevam expressões que eles entendem ser típicas de um contexto não padrão, tais como, “quage”, “cabôco rocero”, “prazentêro”, “inriba” etc.
3. Podemos afirmar que esse cordel possui um vocabulário caracteristicamente nordestino. Do seu ponto de vista, esse vocabulário somente pode ser representativo da linguagem nordestina? Se sim, por quê? Caso contrário, quais palavras permitem compreender a existência de uma linguagem típica de outra localidade? Em qual região brasileira poderia haver essa linguagem? Resposta pessoal. O professor pode mostar aos alunos que, por exemplo, expressões como “oiava”, “repará”, “fiote”,” munto”, “naturá”, “granfina”, “celestiá”, “ligêro”, “uviro”, também podem representar um modo de falar semelhante ao do dialeto caipira, presente nas regiões interioranas do país.
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4. Releia o cordel, prestando atenção às palavras “mió”, “juêio”, “véio”, “Evangéio”. O que é comum entre elas? Professor, chamar a atenção dos alunos para o fato de que nessas palavras o i é utilizado em substituição do lh, esse fenômeno chama-se ionização. Convidar os alunos para ler o quadro abaixo.
5. Identifique, no cordel “O sabiá e o gavião”, expressões que acredite que não estejam de acordo com o padrão culto do português. Resposta pessoal. Exemplos de expressões que podem ser citadas: “veio”, “fio”, “maió”, “quarqué”, “frauta”, “ iscutá”, “ subrime”, “incrontei”, “suspiração” etc.
ENTENDA MELHOR ROTACISMO: transformação do som do “l” pelo “r”. Ex: firme, ao invés de filme; “brusa”, no lugar de blusa. IONIZAÇÃO: troca do “i” pelo “lh”. Ex: fio, ao invés de filho. NÃO REDUNDÂNCIA DO PLURAL: a marca do plural ocorre apenas no início do sintagma. Ex: as menina bonita.
Não podemos entender a existência de uma variação padrão da língua como a única APAGAMENTO DO –R NO FINAL DO variação correta e aceitável. Na verdade, o que INFINITIVO: supressão do “r”, marca do temos, no cotidiano, não são maneiras erradas infinitivo. Ex: maió, suó, contá, vagá, repará. de se usar a língua, mas maneiras não padrão, que, portanto, não se prendem à gramática normativa. Muitas vezes, esses modos de falar não são vistos como de prestígio, mas isso não implica entendê-los como desprovidos de sentido, afinal, eles fazem sentido, sim, dentro de um determinado contexto social. Preconceito lingüístico é o nome dado à discriminação social através da linguagem.
Dessa forma, a língua não deve ser vista, apenas, como um sistema rígido de regras a serem cumpridas. Noções de correto e incorreto na língua são relativas, pois mudam conforme o passar do tempo. Lembre-se, o que é considerado certo hoje, pode não ser amanhã!
6. Considerando o cordel que acabou de ler, “O sabiá e o gavião”, é possível dizer que as variações linguísticas representam uma forma errada da língua portuguesa? Explique. Chamar a atenção dos alunos para o fato de que a língua utilizada no cordel representa uma variante não padrão, considerada não culta, o que, contudo, não implica considerá-la como errada. Se comparada à norma padrão, ela será não padrão, não incorreta!
7. Para você, pode existir preconceito com alguém que fale uma variante não padrão? Resposta pessoal.
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INTERPRETANDO O Acordo Ortográfico e as mudanças no português do Brasil
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Com licença, meus amigos, Quero falar com vocês Sobre o que estão fazendo Com o nosso português. Eu não sei se é bom ou mau Mas, Brasil e Portugal Assinaram um tratado Pra que em nossa ortografia, Que é diferente hoje em dia, Seja tudo unificado.
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Moçambique, Cabo Verde, Angola e Guiné-Bissau Assinaram o acordo Com Brasil e Portugal. O Timor Leste também Embarcou no mesmo trem E andaram me dizendo Que entrou até São Tomé, Mas este, sendo quem é, Eu só acredito vendo. (...)
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Eu já soube, por exemplo, Que acabaram com o trema E, aliás, quanto a isso, Não vejo o menor problema. Pois pronunciar “frequência”, “tranquilidade”, “sequência” e até “ambiguidade”, A gente foi aprendendo Ouvindo e depois dizendo Através da oralidade.
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O “k”, o “y” e “w” Entraram no alfabeto. E quanto a isso eu achei Que o acordo foi correto Pois já tinha muita gente Com nome bem diferente No sertão do Ceará: O Yuri e o Sidney, Franklyn, Kelly e Helvesley, Já usam essas letras lá.
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Mais complicado é o hífen Que ora tem, ora não. Parece que há uma regra Pra cada situação. Em muitas ele caiu Mas em algumas surgiu. E, como a coisa complica, Já falam em reunir Mais gente pra discutir Quando sai e quando fica.
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Mas, parece que os problemas Que vão incomodar mais Vêm com a queda dos acentos Ditos diferenciais. Pólo, pêra, pêlo e pára Ficam com a mesma cara Pra sentidos diferentes. Mas, de acordo com reforma, “pôde”,“pôr”, “dêmos” e “fôrma” São exceções existentes.
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Tem muitas outras mudanças Que ainda temos que estudar. Permitam-me um conselho Que agora quero lhes dar: É bom ficar bem atentos Para essa queda de acentos Na escrita brasileira. E quando for se sentar Cuide pra ninguém tirar O assento da cadeira.
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Já chega de falar tanto Sobre a língua portuguesa. Vou pegar um avião E voar pra Fortaleza. Mas, antes desse percurso Devo dizer que esse curso Valeu mais que ouro em pó. Tomara que o tratado Seja também adotado No país de Mossoró Marcos Mairton da Silva
Fonte: http://nomundoenoslivros.com, acesso em 03/06/2012
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Depois de ler o cordel, discuta com seus colegas e responda: 1. Você já ouvir falar sobre o Novo Acordo Ortográfico? Resposta pessoal.
2. Quais são os países que firmaram o Acordo de unificação da Língua Portuguesa? Os países são: Brasil, Portugal, Guiné Bissau, Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé, Timor Leste.
3. Quais são as mudanças ortográficas citadas pelo poema? As mudanças referem-se à queda do trema; à incorporação no alfabeto das letras “k”, “w” e “y”; uso do hífen e dos acentos diferenciais.
4. Qual a opinião do autor sobre o Novo Acordo Ortográfico? É positiva ou negativa? Justifique. Na primeira estrofe, o autor não tem certeza se o Acordo é bom ou mau (estrofe 1, verso 5). No decorrer do texto, ele elogia algumas mudanças (trema, k-w-y), mas critica outras (acento diferencial e hífen). No entanto, nas estrofes 8-10, ele diz: “Tomara que o tratado / seja também adotado / no país de Mossoró”, o que apresenta uma opinião geral positiva.
5. E você? Qual sua opinião sobre esse acordo? Resposta pessoal.
ENTENDA MELHOR O governo brasileiro definiu que as mudanças do Novo Acordo Ortográfico entraram em vigor no dia 1º de janeiro de 2009 - mas o uso da grafia antiga (em livros e outras publicações, além de vestibulares, provas e concursos públicos) está liberado até o fim de 2012. Os especialistas acreditam que esses quatro anos são mais do que suficientes para que nós, usuários da língua, nos acostumemos às novidades. Calcula-se que, no Brasil, 2 mil palavras sofrerão alterações, ou seja, 0,5% do total.
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PRODUZINDO Agora que você já aprendeu o que é cordel, a linguagem nele utilizada, o regionalismo e, além disso, como fazer uma xilogravura, você terá um desafio: elaborar seu próprio cordel! INSTRUÇÕES 1. Você deverá utilizar o tema escolhido para realização da xilogravura no Capítulo 2. 2. Você poderá utilizar traços regionais (por exemplo, características da fala nordestina, mineira, paulista, sulista, entre outros). Se não conhecer bem essas características, pesquise na internet. 3. Atenção para as rimas e métrica, características muito importantes em um cordel.
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CAPÍTULO 3: RELEMBRANDO OS CONCEITOS APRENDIDOS Ao longo deste capítulo, pudemos estudar e melhor compreender os seguintes temas:
O que é norma padrão e norma não padrão; O que é variação linguística; O regionalismo: variação linguística mais comum no cordel; O que significa preconceito linguístico; O Novo Acordo Ortográfico.
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CAPÍTULO 4: CORDEL E OUTRAS MÍDIAS VOCÊ JÁ VIU? Assista aos vídeos abaixo e responda:
O matuto no cinema
Salário de deputado e salário de operário
Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=wamnabxSnKM
Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=I0bvtzOqVC0
Caldeirão do Huck – Entrega da Kombi de cordel
Abertura da novela Cordel Encantado
Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=AL7B1GCN2WQ
Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=WpodnDM6UGM
1. Como você relaciona os vídeos com o conteúdo que aprendeu até agora? Discutir com os alunos que o tema principal dos vídeos é o universo do cordel: o primeiro é um curta-metragem com a presença do cordel e xilogravuras; o segundo, uma embolada de Caju e Castanha apresentada na televisão; o terceiro, a entrega de uma Kombi tematizada para um vendedor de cordel na televisão; e o último, a abertura da novela “Cordel Encantado”. Trazer à tona os temas vistos até então, relacionando-os com o conteúdo dos vídeos.
2. Esses vídeos foram produzidos por outras mídias. Quais são essas outras mídias e que diferenças existem entre elas e a tradição do cordel? As mídias aqui expostas são a televisão e a internet. Discutir com os alunos que essas mídias são reflexos da modernidade e tecnologia, enquanto o universo do cordel reflete a cultura popular e oral e é resultado da tradição.
3. Você acha possível associar as novas mídias com o universo do cordel? Isso ajudou você a conhecer mais sobre esse universo? Discutir com os alunos que os exemplos dos vídeos provam que é possível associar o cordel com outras mídias, mesmo sendo objetos distintos. Mostrar também como a veiculação em massa feita pelas mídias ajuda na difusão da cultura brasileira, no caso, o cordel.
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CONHECENDO E DISCUTINDO Agora você vai assistir a outra parte da reportagem exibida no programa Globo Rural, da Rede Globo (a partir de 33 min e 44 seg.).
Luiz Gonzaga
http://www.youtube.com/watch?v=mtqmDejqTho
http://www.youtube.com/watch?v=7DosjK6GSUQ&feature=player_detailpage#t=2084s
Discuta com seus colegas e responda: 1. Você já conhecia algum dos artistas apresentados no vídeo? Quais? Resposta pessoal.
2. O cordel inspirou várias músicas, livros, filmes e novelas. Escreva um exemplo de cada uma dessas manifestações artísticas inspiradas pelo universo do cordel. Reposta pessoal. Professor, a partir dos vídeos assistidos e da vivência de cada aluno, é provável que eles conheçam tais exemplos. Caso contrário, discuta com os alunos a fim de que eles compartilhem seus conhecimentos.
3. Leia o box ao lado sobre a utilização do cordel para o ensino de gramática e responda: você acha que o cordel auxilia no processo de aprendizagem? Por quê? Resposta pessoal. Lembrar os alunos que o ritmo do cordel facilita na memorização e dinamização do aprendizado.
Luiz Gonzaga do Nascimento, conhecido como “Rei do Baião”, foi uma das mais importantes figuras da música popular brasileira. Nasceu em 1912 em Exu, sertão de Pernambuco. Sua obra difundiu as tristezas e injustiças do sertão nordestino para o resto do país numa época em que a maioria das pessoas desconhecia o baião, o xote e o xaxado, ritmos do Nordeste. Morreu em 1989, em Recife, aos 76 anos. Assista no vídeo acima uma das últimas apresentações de Luiz Gonzaga na televisão, onde ele canta dois de seus grandes sucessos: “Xote das meninas” e “Asa branca”.
No livro “A Gramática no cordel”, de Janduhi Dantas, o autor transforma alguns temas de gramática em cordel, pois seus filhos conseguiam decorar muitos cordéis, mas não iam bem na gramática. Veja um exemplo: Previlégio ou Privilégio? É com e ou é com i? Preste atenção no recado: Quem pronuncia ou escreve Previlégio está errado, Quem grafa ou diz privilégio É um privilegiado. Disponível em http://www.releituras.com/ne_jdantas _gramatica.asp, acesso em 25/06/2012
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Literatura de cordel presente em outras mídias É natural que, ao longo do tempo, as tradições e expressões artísticas sejam modificadas de acordo com novos costumes sociais e as evoluções tecnológicas. O mesmo aconteceu com a literatura de cordel. Atualmente, o cordel não se encontra apenas nas feiras, pendurados em cordas; não são encontrados somente no Nordeste do Brasil, nem tratam apenas de temas do sertão. Com o auxílio das novas mídias (televisão, internet, cinema), a literatura de cordel ganhou o mundo, permitindo o acesso de diversos grupos sociais em diferentes lugares: nas escolas e nos lares, nos centros urbanos e na periferia. Hoje, através de músicas, filmes, novelas, vídeos da internet, revistas etc., o cordel se manifesta, pois, enquanto expressão cultural, ele continua desempenhando suas funções sociais: informar, formar, divertir, socializar ou poetizar, conforme os diferentes temas que retrata.
Leia os cordéis acima, divulgados na internet, e responda: por que os autores são favoráveis à divulgação da literatura de cordel na internet? Você concorda com eles? Os autores são favoráveis porque, através da internet, o cordel tem maior visibilidade e versatilidade e não sofre com o desgaste natural dos folhetos. Além disso, a grande exposição valoriza o gênero e seus autores.
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CONTEXTUALIZANDO Leia o cordel abaixo. O lobisomem e o coronel
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Era uma vez um maldito Avarento e orgulhoso Me refiro a Benedito Um coronel poderoso O que ele mais gostava Era as reses que criava Todas de primeira linha Com os olhos tudo comia Nem mesmo baú cabia Todo o ouro que ele tinha. No interior da fazenda Vivia um vaqueiro pobre Morando numa tapera Não tinha terra, nem cobre Ao invés de mulher bela Possuía uma cadela Para lhe acompanhar E a fome como fadiga Remoendo na barriga Só pra lhe incomodar. Dos bichos o mais querido Era a vaca Belezura Que o coronel Benedito Lhe tratava com ternura Cruzando os campos floridos Esbanjando formosura E Maria dos Anjos sua filha A mais bela de toda a região Tinha os olhos da cor do arco-íris E a voz da codorna do sertão O cabelo de deusa, os pés de miss Como se fosse um anjo que saísse Do altar divinal da inspiração João por Belezura tinha muito zelo Cuidava da vaca como um cão fiel Porque já sabia que o coronel Não perdoaria nenhum desmantelo Dona Preta estava num sono brutal Quando a lua cheia na noite reinava Com o uivo assombroso a Preta acordava E um grande mugido vindo do curral
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Da janela viu um grande animal Com brasa nos olhos faminto a rosnar Era o lobisomem monstro de azar Amaldiçoada, cruel criatura Que naquele instante comeu Belezura E Dona Preta aflita se pôs a gritar.
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Dona Preta estava bastante assustada Muito apavorada com tudo que viu Com medo danado saiu na carreira Sem eira nem beira pra o armário fugiu.
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Com o grito todos saíram Seguindo o encalço do cão Com um lampião clareando Todos de rifle na mão Depois que nada encontrou O coronel se irritou E começou a esbravejar Como quem perde o juízo Dizendo esse prejuízo Alguém vai ter que arcar.
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Na tarde do outro dia Não tendo alguém para culpar O coronel Benedito Começa desabafar Nas costas de João Vaqueiro Bate só para se vingar. O coronel furioso Se pôs dizendo a gritar Nós estamos preparados Se o lobisomem voltar Com a outra lua cheia Depois de um mês passado Os jagunços no curral Tomando conta do gado Quando um uivo anunciava Que o lobisomem chegava Eles em grande aflição Pediam força a Jesus Rezando e beijando a cruz Com medo da maldição.
Fonte: http://peregrinacultural.files.word press.com, acesso em 15/05/2012
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E todos entrincheirados Começam a se arrepiar Depois do segundo uivo Sentiram a alma gelar Ouvindo um brado assassino Junto um grito feminino Vindo da sala de estar. Quando o coronel, naquela tensão Da voz de Maria o grito escutou Percebeu que a fera se aproximou Furtando o tesouro do seu coração. Mas o coronel de rifle na mão Pede a cabroeira pra casa cercar E se por ventura o monstro encontrar Não é pra temer o grande conflito E sim apontar para o bruto maldito Puxar o gatilho e a bala cantar. Benedito ao entrar na casa grande Ouviu gritos dos homens lá de fora Sons de ossos quebrados e ganidos E os cabras morrendo sem demora Escutando o uivar do anticristo E só o lobo sobrou naquela hora. Benedito assombrou-se, pois sentia Que era ele, o capeta e mais ninguém Parecendo ansioso como quem Viu que a morte de perto o perseguia Na pisada do monstro, o chão rangia No momento um trovão do céu caiu Lampião se apagou, fera grunhiu As canelas do velho amoleceram Quando os olhos de fogo apareceram A mandíbula mortífera se abriu.
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Se o final dessa história Vocês quiserem saber Pergunte ao cego que a luz Dos olhos não pode ver Mas que ouviu da cadela Numa conversa com ela Que a tudo pôde ver.
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Essa é a minha sina Viver sofrendo na vida De não ter nenhum dos olhos Mas ter a língua comprida.
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Não tenho cobiça nem falo mentira Só digo a verdade, não sou cego bobo O homem é do lobo o que o lobo é do homem É que o homem é do homem o mais terrível lobo.
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João fez um bucho em Maria Com nove meses e um dia Numa noite de luar Quando a criança nasceu O sertão estremeceu Pôs-se o inferno a chorar.
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Até nos dias de hoje É possível se avistar Nas noites de lua cheia Uma cadela a ladrar E um cego andando sem guia Filho de João e Maria Com o rabo a balançar.
Fonte: http:// tokdehistoria.wordpress.com, acesso em 15/05/2012
O lobisomem e o coronel em outras mídias
Fonte: http://sebodomessia s.com.br, acesso em 15/05/2012
Em 1964, o escritor José Cândido de Carvalho lançou o seu segundo livro, “O Coronel e o Lobisomem”. Nele, acompanhamos a história e as histórias do coronel Ponciano de Azeredo Furtado, membro da Guarda Nacional, em meio a aventuras divertidas e inusitadas – com direito a onças, sereias e, claro, um lobisomem – pela região de Campos de Goitacazes. O romance é bem diferente do cordel – que é de autoria anônima -, mas foi inspirado em seus elementos. Em 2005, o diretor Maurício Freitas lançou um filme baseado no romance, protagonizado por Diogo Vilela, Selton Mello e Ana Paula Arósio.
Fonte: http://meucinema brasileiro.com, acesso em 15/05/2012
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Agora, responda: 1. Na estrofe 1, verso 8, está escrito: “Com os olhos tudo comia”. Qual é o significado dessa expressão no cordel? A expressão no cordel significa a ganância do fazendeiro.
2. Na estrofe 7, verso 2, o lobisomem é descrito “Com brasa nos olhos, faminto a rosnar”. Qual o significado das expressões “brasa nos olhos” e “faminto a rosnar”? Brasa nos olhos significa que o lobisomem estava bravo, furioso. Faminto a rosnar significa que o animal estava com fome.
3. Para você, as expressões “comer com os olhos” e “brasa nos olhos” podem ser interpretadas literalmente? Por quê? Não, pois são expressões figuradas. Professor, explicar aos alunos, caso não saibam, o sentido da expressão literalmente. Os conceitos serão explicados abaixo.
Linguagem denotativa e conotativa A forma como utilizamos o significado das palavras é muito importante para expressarmos nossas ideias de maneira adequada. Se quisermos ser objetivos e claros na transmissão das informações, precisamos utilizar uma linguagem literal, cujo significado real está no dicionário. A esta linguagem chamamos denotativa.
Fonte: http://br.fashionmag.com, acesso em 15/05/2012
Porém, se quisermos evocar ideias através da emoção ou subjetividade, precisamos de palavras que correspondam a uma transferência do significado usual para um sentido figurado/metafórico. A esta linguagem chamamos conotativa. É o exemplo das expressões “comer com os olhos” e “brasa nos olhos”. Fonte: http://canalcolibri.blogspot.com, acesso em 15/05/2012
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4. Retorne ao cordel O lobisomem e o coronel (páginas 45 e 46) e preencha a tabela abaixo com outras expressões com sentido denotativo e conotativo. LINGUAGEM DENOTATIVA
LINGUAGEM CONOTATIVA
Alguns exemplos: a Preta acordava (estrofe 6)
Alguns exemplos: Com o uivo assombroso (estrofe 6)
Benedito ao entrar na casa grande (estrofe 15)
alma a gelar (estrofe 15)
Dentre outros.
Dentre outros.
Agora, leia a tirinha abaixo:
Fonte: http://blog.educacional.com.br – Acesso em 16/06/2012
Na tirinha, o personagem de barba é Hagar, e o outro é Eddie, seu melhor amigo. 5. Por que não acontece o entendimento entre eles? Porque Hagar utiliza linguagem conotativa e Eddie, linguagem denotativa.
6. O que Hagar quis dizer com a expressão “segurar as pontas”? O que Eddie entendeu? Hagar quis dizer para Eddie aguentar o ataque inimigo até ele preparar o barco para a fuga. Já Eddie entendeu literalmente, ou seja, que deveria segurar as pontas das flechas.
A linguagem conotativa é muito utilizada pelos poetas, que expressam seus sentimentos dessa maneira. É um recurso que enriquece o pensamento, dando mais originalidade e expressividade ao texto.
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INTERPRETANDO Agora você vai assistir a uma animação do cordel “O lobisomem e o coronel”, que você leu na seção Contextualizando.
http://www.youtube.com/watch?v=qLTzbfopMmE
Depois de assisti-la, releia o cordel (páginas 45 e 46) e responda as perguntas abaixo: 1. Quais as principais diferenças entre o cordel escrito e o vídeo que você assistiu? De qual maneira você pôde entender melhor o sentido do texto? Resposta pessoal. Professor, orientar os alunos no sentido de que o vídeo apresenta as cenas e personagens definidos, o que ajuda na compreensão, mas bloqueia a imaginação de cada leitor. A musicalidade também é uma diferença, pois no vídeo o cordel é trazido como deve ser apresentado (cantado) e no texto, geralmente é apenas lido.
2. O cordel apresenta uma lenda folclórica muito conhecida, mas que varia de acordo com as regiões e países: o lobisomem. O que você sabe sobre essa lenda? Resposta pessoal. Professor, favorecer a multiplicidade de informações que existem sobre o lobisomem.
A lenda do lobisomem tem, provavelmente, origem na Europa do século XVI, embora traços desta lenda apareçam em alguns mitos da Grécia Antiga. Do continente europeu, espalhou-se por várias regiões do mundo. Chegou ao Brasil através dos portugueses que colonizaram nosso país, a partir do século XVI.
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3. Apesar de apresentar superstições, o cordel também possui elementos religiosos. Encontre e transcreva abaixo alguns desses elementos. Estrofe 12: Pediam força a Jesus / Rezando e beijando a cruz / Com medo da maldição. Estrofe 16: Benedito assombrou-se, pois sentia / Que era ele, o capeta e mais ninguém
Estrofe 20: Quando a criança nasceu / O sertão estremeceu / Pôs-se o inferno a chorar.
4. Quem é o “tesouro do coração” que aparece na estrofe 14? O que essa expressão significa? É a filha do coronel, Maria dos Anjos. A expressão significa que a filha era o bem mais precioso do coronel.
5. O que o autor quis dizer com os versos da estrofe 19: “O homem é do lobo o que o lobo é do homem / É que o homem é do homem o mais terrível lobo.”? A frase significa que o homem é o principal destruidor de si mesmo, podendo representar a pior face de si.
6. Os cordéis geralmente transmitem uma lição moral, um ensinamento. Para você, qual mensagem é transmitida nesse cordel? Resposta pessoal. Professor, orientar quanto ao exemplo da ganância do coronel e as consequências geradas com essa atitude.
7. Na estrofe 16, acontece o ponto alto da narrativa, quando o lobisomem encurrala o coronel Benedito. Neste momento, a narrativa é interrompida e o narrador conta sua própria história. Qual a relação do narrador com as personagens? O narrador é o cego, filho de João e a Maria e neto do coronel Benedito. É possível que ele seja um lobisomem, pois tem um rabo a balançar, e indica que seu pai, João, é o lobisomem da história, já que essa é uma característica hereditária.
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PRODUZINDO Como você percebeu durante o capítulo, a tradição do cordel e a inovação das mídias podem andar de mãos dadas. Um cordel, quando vira, por exemplo, um vídeo da internet, tem um alcance maior e enriquece ainda mais essa manifestação cultural. Você se lembra do cordel “Ai se sêsse”, que estudamos no capítulo 2? Esse cordel foi adaptado em diversos vídeos da internet, que demonstram essa associação entre a tradição e a modernidade. Você vai assistir agora a uma versão desse cordel disponível na internet. Agora que você já conhece bem a história, preste atenção às imagens e ao modo como o autor do vídeo o produziu. http://www.youtube.com/watch?v=-SV47bqozcg&feature=related
Fonte: http://universohq.com, acesso em 03/07/2012
Veja agora um outro exemplo de adaptação: um cordel transformado em história em quadrinhos! Perceba como o autor trabalha com as xilogravuras e dá vida às personagens, mantendo sempre as rimas e a estrutura original do cordel. Agora é a sua vez! Nos capítulos anteriores, você fez uma xilogravura e um cordel sobre um determinado tema. Agora, você está pronto para apresentar esse material para os seus colegas de sala. Em grupo, adaptem os cordéis e xilogravuras em outra mídia. Pode ser história em quadrinhos, animação ou vídeo, desde que apresente o resultado do material produzido em todos os capítulos. No final, todos vão apresentar seus trabalhos para os colegas e compartilhar a criatividade de cada um!
Professor, essa atividade demandará um tempo maior e exigirá empenho e envolvimento dos alunos. Conduzir os grupos na escolha da mídia, de acordo com a experiência dos alunos, bem como orientar nas eventuais dúvidas. Seria interessante fazer na escola uma feira de cordel, com os folhetos pendurados em cordas, e que inclua uma apresentação dos trabalhos dos alunos.
CAPÍTULO 4: RELEMBRANDO OS CONCEITOS APRENDIDOS Ao longo deste capítulo, pudemos estudar e melhor compreender os seguintes temas:
O cordel em outras mídias Linguagem conotativa e denotativa Produção e exposição de mídia
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BIBLIOGRAFIA
BRAGA, Teófilo. Os livros populares portugueses (folhas volantes ou literatura de cordel), in Era Nova: Revista do Movimento Contemporâneo (1880-1881), Lisboa: 1881, pág. 62.
ABREU, Márcia. Histórias de Cordéis e Folhetos, Campinas, SP: Mercado das Letras, Associação de Leituras do Brasil, 1999.
DIAS, Baltasar. História da Imperatriz Porcina, mulher do Imperador Lodônio, de Roma. Lisboa, s/ed.,1ºedição 1690.
GORDILHO, Tereza & BELTRÃO, Eliana santos. Coleção Novo diálogo 8°série (9° ano), 1° edição, FTD - São Paulo 2006.
ASSARÉ, Patativa do. Cante lá que eu canto cá: filosofia de um trovador nordestino. Petrópolis: Vozes, 2002.
FREITAS, João Alberto Holanda. O Patativa que eu conheci. Campinas: Komedi, 2010.
SANTOS, José Farias dos. Luiz Gonzaga : a música como expressão do Nordeste. Santos: IBRASA, 2004.
Sites consultados:
http://www.camarabrasileira.com/cordel90.htm - Ensaio de Thelma Regina Siqueira Linhares
http://www.ablc.com.br - Associação Brasileira de Literatura de Cordel.
http://www.camarabrasileira.com/cordel12.htm - Biografia de Leandro Gomes de Barros
http://www.camarabrasileira.com/cordel30.htm - Biografia de Rouxinol do Rinaré
http://www.e-biografias.net/patativa_assare/ - Biografia de Patativa do Assaré
http://www.sinopsedolivro.net/livro/o-coronel-e-o-lobisomem.html - Resumo do livro O Coronel e o Lobisomem.
http://www.youtube.com - Vídeos
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MANUAL DO PROFESSOR 1. Apresentação Caro professor, Vivemos rodeados por tecnologias: celulares, TVs e computadores cada vez mais desenvolvidos e promovendo um novo meio de acesso à cultura material. Se antes o livro era o único acesso ao conhecimento, ele, hoje, está dentro do computador, podendo ser lido em telas sensíveis ao toque e contrapondo-se a informações provenientes da internet. Vivemos o tempo da escrita instantânea, de novos gêneros textuais, como o blog, o e-mail, o post e vídeos. Mas, diante de tantas inovações e mudanças, ainda há espaço para antigas tradições? Os cordéis provêm das tradições orais do nordeste brasileiro, riquíssimas em detalhes e temáticas, mas, infelizmente, esse gênero literário não é comumente abordado nas escolas tradicionais. Essa antiga tradição cordelística oral brasileira ganhou destaque nacional em 2011, por meio de uma releitura de sua forma, com a telenovela Cordel Encantado, transmitida em uma grande emissora de televisão. Nesse cenário educacional tecnológico, em que a forma pela qual os conteúdos são abordados seduz e atrai os alunos, cabe a reflexão: se uma novela despertou o interesse para o cordel, porque esse interesse também não pode ser despertado no interior da sala de aula? A riqueza temática dos cordéis e a criatividade na forma são elementos interessantes e variados para serem trabalhados no contexto escolar. Por meio dos cordéis, é possível trabalhar questões como variedade linguística, adjetivação, rima, prosódia, relação ente linguagem verbal e não verbal ao associar os cordéis às xilogravuras, entre outros. Além das possibilidades intertextuais com músicas, vídeos e contos.
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Por fugir ao cânone dos gêneros trabalhados usualmente no Ensino Fundamental II, e que pode, assim como o conto maravilhoso, encantar e chamar a atenção do aluno, sem deixar o senso crítico de lado, decidimos, nesse material, adotar a literatura de cordel como eixo temático. Aqui, o aluno viajará ao Nordeste e descobrirá um universo de cangaço, de seca, de romances, até chegar aos dias de hoje. Encantar-se-á com as rimas e a criatividade dos versos, que podem, até mesmo, explicar ocorrências da língua. Esse material propõe-se a ser midiático, tendo muitas referências de vídeos, imagens, músicas sempre relacionado ao universo do cordel. Além disso, há uma preocupação em que as atividades sejam relacionadas e façam sentido para o aluno, por isso, cada capítulo é uma continuidade de produção do anterior. O resultado final será a confecção de um vídeo, uma história em quadrinhos, uma animação, ou seja, uma produção que permita ao aluno transmitir aos demais o cordel e a xilogravura por ele produzidos. Esperamos, com esse material, que o estudo da literatura de cordel seja prazeroso tanto para alunos, quanto para professores.
2. Texto explicativo das sessões Esse material está organizado em torno de uma unidade temática: o cordel. Essa unidade está divida em quatro capítulos e, cada um desses capítulos, apresenta sessões fixas, que definem a concepção de ensino-aprendizagem entendida pelos realizadores do material. Os capítulos são: Capítulo 1 – Cordel Nesse capítulo, procuramos abordar as origens da literatura de cordel, desde a possível herança do cordel português. Além disso, apresentamos os principais autores de cordel, as características desse gênero - enfatizando os temas mais frequentes -, a questão da rima e a tradicional figura do repentista, que dá vida aos versos do cordel.
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Capítulo 2 – Xilogravura Dedicamos o Capítulo 2 à xilogravura, uma técnica que enriquece os folhetos de cordel com imagens. O aluno é levado a conhecer a técnica, os principais representantes e a relação semântica da xilogravura com a poesia de cordel. Para aprimorar o estudo, trazemos o conceito de linguagem verbal e não verbal, com alusão à xilogravura e à poesia de cordel, evidenciando como as duas linguagens são complementares para o entendimento da mensagem a ser transmitida.
Capítulo 3 – Variação Linguística O capítulo 3 é dedicado a um traço característico do cordel, o regionalismo. Para explicar esse conceito, recorremos ao conceito de variação linguística e aos diferentes tipos de variação. Buscamos fazer uma distinção entre linguagem padrão e não padrão, demonstrando que as duas maneiras podem aparecer no cordel, de acordo com a região na qual foi produzido e, também, a temática abordada. Tendo em vista que o nosso foco não é, meramente, estabelecer conceitos, procuramos discutir a questão do preconceito linguístico e dos estereótipos em relação à linguagem de determinadas regiões, buscando trazer à reflexão o aluno, num processo conjunto e contínuo com o professor.
Capítulo 4 – Cordel e outras mídias Chegamos ao fim do nosso material, mostrando como o cordel se faz presente nos dias de hoje, seja através da letra de uma música, da abertura de uma novela, ou por meio de um micro documentário. O cordel se reinventa, diariamente, na internet e em outras mídias, passando a ser escrito por pessoas não, necessariamente, ligadas à tradição do cordel e apresentando temáticas variadas e atuais, como a do novo acordo ortográfico, realizado em 2009.
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Cada capítulo está dividido em 6 sessões. Sendo elas: 1) Você já viu? Acreditamos que o aluno deva ser levado ao entendimento de um conceito e tema, o que significa não lhe dar conceitos prontos e atividades que, meramente, expliquem e verifiquem o conteúdo ensinado. Por isso, todos nossos capítulos iniciam-se com imagens que servem para, previamente, situar o aluno no tema a ser discutido e, além disso, suscitam reflexões nele, indagando-lhe sobre a possibilidade de já ter tido contato com determinado assunto. Através das imagens, esperamos que os alunos comecem a pensar no tema do capítulo e a se interessar por ele. Queremos partir do que o aluno já conhece do assunto, para, somente então, trazer-lhe novas informações. As questões que acompanham a seção Você já viu? foram feitas com o intuito de serem trabalhadas oralmente, pelo professor, antes de iniciar o conteúdo dos capítulos, dessa forma, o professor pode estimular a participação oral e a argumentação dos alunos. 2) Conhecendo e Discutindo Nessa seção, começamos a apresentar os conceitos aos alunos, mas sempre de modo a questioná-los e provocá-los para uma reflexão. Com isso, procuramos introduzir o aluno em determinada matéria, lançando mão, para tanto, de textos sobre o conteúdo, quadros informativos e ilustrativos do assunto, box com curiosidades etc. Relacionamos o assunto com outras mídias disponíveis na atualidade, principalmente, a internet, de modo que interligamos os textos, as atividades e a fala do professor, com vídeos do domínio virtual youtube. Utilizamos também trechos de reportagens, aberturas de telenovelas e músicas, que melhor ilustrem o tema. Para trabalhar com o aluno os vídeos sugeridos e os textos trazidos, procuramos elaborar breves perguntas interpretativas a respeito dos vídeos assistidos.
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3) Contextualizando É o momento em que o aluno aplica os conhecimentos discutidos na seção Conhecendo e Discutindo e aprofunda a discussão. Assim, realiza exercícios escritos sobre os conceitos abordados, preenche quadros comparativos e esquemáticos, responde perguntas de interpretação, lê e analisa quadrinhos, podendo utilizar-se, para tanto, da consulta a dicionários ou internet. 4) Interpretando Dedicamos essa seção para um momento de articulação entre leitura e escrita. O aluno é levado a ler um cordel e pensar em questões de interpretação e análise da estrutura do cordel que favoreçam a sua compreensão. Através dessa interrelação, o aluno pode associar os conteúdos trabalhados anteriormente com o cordel a ser lido (como questões gramaticais, lexicais, de variação linguística, relacionadas ao novo acordo ortográfico etc), aprofundando sua análise e mesmo a interpretação sobre determinada temática trazida no cordel. 5) Produzindo Após toda a discussão do tema, propomos uma atividade prática, de aplicação do conteúdo. A ideia é que o eixo temático e a seção Produzindo sejam o fio condutor do material. Ou seja, cada Produzindo se somará ao outro, do capítulo seguinte, para que, no final, o aluno tenha uma grande produção artístico-literária. Portanto, é um processo contínuo, com vistas à preparação de uma atividade. Primeiramente, o aluno escreve uma estrofe de cordel (exigida na forma de acróstico), depois ele seleciona um tema e faz uma xilogravura. Com esse mesmo tema, o aluno produz todo o cordel, utilizando o acróstico como última estrofe. Por fim, o aluno deve usar esse cordel e a xilogravura para pensar uma forma de apresentação interessante e criativa para os demais colegas, seja na foram de vídeo, de música, de história em quadrinhos, entre outras.
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Procuramos, com essa seção, despertar e estimular os alunos às expressões artísticas, sempre as relacionando à interpretação, criação, crítica e desenvolvimento intelectivo. 6) Relembre os conceitos aprendidos Essa seção sintetiza e finaliza todos os capítulos. Nela, elencamos os principais conceitos e temas estudados ao longo de cada capítulo. Com isso, objetivamos uma forma de organização dos estudos do aluno, por meio da qual ele pode retomar os conceitos aprendidos e discutidos ao longo do capítulo, além de mais facilmente visualizar os pontos abordados, realizando um “balanço” dos conceitos.
3. Tabela A tabela a seguir é um esquema do fascículo, com seus capítulos, conteúdo, duração, objetivo, atividades, materiais, avaliação e organização interativa. Com ela, queremos ajudá-lo a planejar e organizar as suas aulas.
59 Cap.
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3
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Conteúdo
- A Literatura de cordel: origem; repentistas, cordelistas e temas recorrentes na poesia de cordel.
- Xilogravura; -Linguagem verbal e não verbal; - Breve introdução ao modo verbal subjuntivo; -Introdução do conceito de Variação Linguística.
Duração
5 aulas (225 min)
5 aulas (225 min)
-Variação Linguística (regionalismos); - Registro da 5 aulas norma padrão (225 min) e não padrão - Preconceito Linguístico e estigmatização; - Novo Acordo Ortográfico
- cordel e suas manifestações em outras mídias; - Sentido cono- 5 aulas tativo e deno(225 min) tativo; - Produção de um cordel, através de recursos multimídias.
Objetivo
Atividades
- Conhecer a história e origem do cordel (comparando o cordel Português com o nordestino). - Diferenciar poeta repentista de poeta cordelista. - Diferenciar poesia erudita de poesia de cordel. - Conhecer Leandro Gomes de Barros. - Conhecer os principais temas da poesia de cordel. - Entender a importância da rima no cordel.
- Análise de dois poemas para identificar qual deles se trata de um poema erudito e qual é um poema de cordel. - Interpretação de cordel de Leandro de Barros. - Associação de capas de cordel ao respectivo tema. - Interpretação de um cordel sobre a origem desse gênero literário. - Interpretação de quadrinho com temática de cordel. - Motivados pela questão da autoria dos cordéis, escrever um acróstico com o próprio nome.
- Apresentar a técnica da xilogravura, relacionando-a à Literatura de cordel (demonstrando ser uma arte e, também, um meio de representação do cordel). - Apresentar o conceito de linguagem verbal e não verbal, demonstrando as relações de sentido entre a xilogravura e a poesia de cordel. -Interpretar o cordel Ai se sêsse, de Zé da Luz, ressaltando o conceito de Variação Linguística e explorando como o conceito de subjuntivo pode auxiliar na interpretação do cordel.
- Análise de xilogravuras de J. Borges, relacionando as imagens aos possíveis temas de cordel que podem ilustrar. - Entendimento e interpretação de vídeo produzido pelo programa Globo Rural, da rede Globo, sobre a produção de xilogravura. -Atividades para entendimento do conceito de linguagem verbal e não verbal. - Interpretação do cordel Ai se sêsse, de Zé da Luz, com foco para as questões linguísticas. Atentando-se, principalmente, para a questão da Variação Linguística. - Realização de oficina, para confecção de xilogravura, representando algum dos temas de cordel estudados no capítulo anterior.
- Aprofundar o conceito de Variação Linguística. - Conhecer o registro padrão e não padrão (relacionando-os com registros formais e informais). - Refletir sobre preconceito linguístico e a estigmatização. - Estudar as principais mudanças trazidas pelo Novo Acordo Ortográfico - Estudar as diversas formas de representação do cordel. - Aprender sobre os sentidos literais e figurados, através das linguagens conotativas e denotativas. - Procurar despertar e aprimorar habilidades artísticas nos alunos, através da produção de um cordel.
- Análise do poema O sabiá e o gavião, relacionando-o ao conceito de variação linguística (geográfico, social, etc.) - Interpretação de cordel sobre O novo Acordo Ortográfico. - Produção de um cordel, cujo tema esteja relacionado com a xilogravura feita no Cap. 2.
- Analisar do cordel O Lobisomem e o Coronel. - Assistir ao vídeo do referido cordel. -Leitura do cordel citado, intercalando atividades de interpretação e envolvendo conceitos de linguagem conotativa e denotativa. - Produção, em grupo, de um cordel, sobre tema já abordado anteriormente nas atividades de xilogravura e de escrita do cordel.
Materiais
Material didático; Computador e projetor.
Material didático; Computador e projetor.
Material didático; Computador e projetor.
Material didático; Computador e projetor.
Avaliação - Participação dos alunos na aula. - Comprometimento com as atividades de interpretação. - Realização de um acróstico.
- Comprometimento com as atividades de interpretação. - Participação nas aulas. - Realização de uma xilogravura.
- Participação dos alunos. - Comprometimento dos alunos com a atividade de interpretação. - Capacidade de trabalho em grupo.
- Participação dos alunos. - Produção multimídia de um cordel. - Capacidade de trabalho em grupo.
Organização interativa
- Aula expositiva. - Atividade individual.
- Aula expositiva. - Atividade individual de interpretação. - Produção em dupla.
- Aula expositiva. - Atividade individual. - Produção em grupo.
- Aula expositiva. - Atividade individual. - Produção em grupo.