Boletim Informativo da Junta de Freguesia de S. Cristóvão do Muro Ed.4

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8-14 + cultura

15 + obras

16-19 + história

20-23 + literatura

24-27 + actualidade

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MURAL UM MURO DE PALAVRAS

BOLETIM INFORMATIVO DA JUNTA DE FREGUESIA DE S. CRISTÓVÃO DO MURO [PAG.05]

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EDIÇÃO ONLINE GRATUITO MAIO 2017 FICHA TÉCNICA DIRECÇÃO EXECUTIVO DA JUNTA EDIÇÃO Nº4, MAIO 2017 COORDENAÇÃO EXECUTIVO DA JUNTA REDACÇÃO PEDRO SANTOS & TÂNIA QUINTAS DESIGN GRÁFICO MARGARIDA PINTO REVISÃO EXECUTIVO DA JUNTA IMPRESSÃO 800 EXEMPLARES GRÁFICA www.mhm.pt

Caros Murenses,

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“E TU MANUEL QUE FIZESTE AOS TALENTOS QUE TE DEI? PU-LOS A RENDER E DOEI-OS ÀQUELA TERRA SENHOR” [PAG.03]

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Passados dez meses da última edição do Mural aqui nos encontramos novamente para análise do que se tem passado e irá passar na nossa freguesia. No primeiro fim de semana de Junho iremos promover mais uma edição da “Festa de rua” com as tradicionais barraquinhas ocupadas pelos pequenos artesãos da terra, os “comes e bebes” e animação no palco. No mesmo mês teremos a inauguração da 3ª fase da requalificação do S.Pantaleão com diversas atividades alusivas ao dia. Em Setembro teremos a 12ª desfolhada á moda antiga com o desfolhar do milho, a tradicional merenda acompanhada com cantigas populares. Um dos nossos grandes orgulhos foi a abertura do “Polo Cultural Moutinho Duarte, são doze as obras editadas de uma só vez, facto deveras arrojado para uma freguesia que dispõe de parcas verbas orçamentais. A importância de tão grandiosa obra de compilação de crónicas e de pesquisa de 50 anos de trabalho muito nos honra tão generosa doação. O polo Cultural está à disposição de todos para consulta ou compra dos cadernos culturais. Em breve começaremos com a construção da pérgula, na capela mortuária, e o muro limite do alargamento do cemitério, obras urgentes e desejadas há muito. A 3ª fase da reabilitação do S. Pantaleão estará concluída nos finais de Maio com o anfiteatro. Estamos convictos que ficaremos com um lugar aprazível, funcional e moderno. Outra grandiosa obra a ser levada a bom porto é a construção do Centro de dia da Muro de Abrigo, num terreno pertencente à freguesia e doado a esta instituição, com a aprovação unânime da Assembleia de Freguesia. É sem dúvida a grande obra do Muro, só possível com o esforço da excelente direção de voluntários e todas as pessoas que não desistiram e contornaram as dificuldades de forma hábil quando tudo parecia impossível. Um grato reconhecimento à Camara Municipal pelo importante financiamento e apoio na construção. Por último e sempre, o Metro. A inconformidade e o desrespeito para connosco das mais altas instancias politicas não nos calam, e procuraremos meios e apoio para continuar com esta luta. Em meu nome pessoal e dos que me acompanham o muito obrigado, é uma honra poder estar ao vosso serviço. CARLOS MARTINS

MORADA Rua José Moura Coutinho nº4190 4745-345 S. Cristóvão do Muro-Trofa HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO SEGUNDA A SEXTA 8H30-12H30, 14H30-18H30 SITE www.jf-muro.pt EMAIL jfmuro@iol.pt FACEBOOK www.facebook.com /JUNTADEFREGUESIADOMURO TELEFONE 229 820 914

ÁREA TOTAL 4,5 km2 DENSIDADE POPULACIONAL 427 habitantes/km2 POPULAÇÃO RESIDENTE 1922 Indivíduos ALOJAMENTOS 719 FAMÍLIAS 627 ORAGO S. Cristóvão

TELEFONES ÚTEIS FARMÁCIA SANCHES 229 810 878 BOMBEIROS 252 400 700 CENTRO DE SAÚDE 252 416 763 EXTENSÃO DE SAÚDE 229 867 060 GNR 252 499 180


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INÍCIO

JUNTA DE FREGUESIA DE S. CRISTÓVÃO DO MURO

EDITORIAL

MENSAGEM

POR #CONCEIÇÃOCAMPOS

POR #ANTÓNIOFERREIRA

ESTIMADO LEITOR

SOLIDARIEDADE

A Cultura, o Património e a Solidariedade são os principais assuntos Infelizmente, nem todos temos a noção do que é ser solidário. Afinal, o que é ser solidário? Aparentemente a resposta até nem é difícil. O desta edição do Mural. conceito é simples, ser solidário é ajudar o outro sem esperar obter A grandeza de uma terra está nas pessoas que a habitam e o Muro daí benefícios. é deveras abençoado neste aspecto. Exemplo disso é o Professor Moutinho Duarte que, despretensiosamente, usou os dons que Deus Muitas vezes a solidariedade é confundida com caridade. A solidarielhe deu em benefício da terra que o viu nascer. Os frutos do trabalho dade é bem mais que isso, é colocar-se no lugar do outro, ver as suas de uma vida estão reunidos em doze volumes de pesquisa e compi- necessidades e ajudar sem esperar recompensa. lação em “Apontamentos da História local”. São cinquenta anos de Na nossa Freguesia temos sorte de a solidariedade ser vivida com intendedicação que se encontram à disposição de todos no Polo Cultural. sidade. A Conferência Vicentina, a Muro de Abrigo, a Cruz Vermelha, José Moreira da Silva, a partir da experiência pessoal enquanto através do Frigorífico Solidário, são exemplo disso. A Conferência elemento da comissão “Trofa a concelho”, escreveu” A História da Vicentina monitoriza e apoia os mais necessitados da Paróquia, a Muro Criação do Concelho da Trofa - Contributos” e doou, na íntegra à Muro de Abrigo, através do Centro de Convívio do Idoso e Apoio Domiciliário, de Abrigo, os lucros da venda do livro, assim como já tinha feito com apoia e trata os mais frágeis, a Cruz Vermelha, através do Frigorífico “Vale a Pena viver Feliz. E viver a vida Intensamente”, obra lançada a 5 Solidário, tenta minimizar as necessidades dos que, momentaneamente têm dificuldades. de Fevereiro de 2016. Apresentamos, também, alguns nomes de pessoas do concelho que se destacam no mundo das artes, da música e da dança, gente genuinamente boa e simples que partilha o seu conhecimento e merece todo o nosso apreço e gratidão, como é o caso do Martinho Dias, o André NO, a Silvia Cruz ( Sissi) e a Antónia Serra que promovem a cultura na sua essência mais verdadeira.

As entidades acima referidas não conseguem fazer todo o trabalho apenas por si só. Em todas as situações, é imperioso que toda a sociedade preste solidariedade ao outro e apoie todo o trabalho que se desenvolve. A Solidariedade é um ato nobre de bondade e a bondade é um ato de amor ao outro.

Quem pratica a solidariedade sente-se mais feliz, realizado e consegue No início de Setembro, a demolição da Ponte da Peça Má gerou contro- encontrar o verdadeiro significado da vida. Já agora, vale a pena pensar vérsia entre a população pela forma inesperada como o processo foi e pôr isto em prática. conduzido. A título de referência para memória futura, são apresentadas algumas considerações relacionadas com o assunto. A bondade e a solidariedade são dos melhores sentimentos do ser humano e são eles que nos permitem ver o outro com o coração, independentemente da classe social, ideologia política, religiosa ou de género. Saint-Exupéry escreveu que “O essencial é invisível aos olhos e só se pode ver bem com o coração” Verdade! A Muro de Abrigo merece todo o nosso apoio, porque é nossa, porque cuida dos nossos idosos e lhes proporciona atenção, carinho e acompanhamento para não sentirem no fim da vida, quando a força é pouca, a solidão. No Centro, praticamente todos se conhecem: é um encontro de vizinhos, animado e lindo de se ver. Um apelo forte a todos os murenses: contribuam na construção da NOSSA casa. Uma das melhores iniciativas da Cruz Vermelha da Trofa é, sem dúvida, o “Frigorífico Solidário”. Coube-nos a honra de servirmos como projeto piloto. Sem câmaras ou qualquer tipo de vigilância os bens alimentares aí são colocados. O desprendimento desta atitude é exemplar, pois ninguém precisa de saber quem dá e ninguém precisa de saber quem é ajudado. A dignidade e o sigilo de cada um ficam salvaguardados. Mais uma vez, um forte apelo a todos: partilhem o que lhes sobra, há sempre quem precise.

3/4 JUNHO artesanato, velharias, arte, praceta de gastronomia, música, s. cristóvão moda, carros antigos, colecções... do muro + INFO

Junta de Freguesia do Muro Rua José de Moura Coutinho, nº4190 4745-345 Muro-Trofa jfmuro@iol.pt | 229 820 914 www.facebook.com/JUNTADEFREGUESIADOMURO

Dia 3 e 4 de Junho exponha na Festa de Rua, dê asas à imaginação e partilhe as suas ideias! Inscreva-se.

Como será do conhecimento de muitos, um dos responsáveis pela edição do Mural, e a quem pertence grande parte dos textos publicados, é o Pedro Amaro Santos. Elemento da Assembleia de Freguesia e do Grupo de Jovens sem Fronteiras do Muro, está desde Fevereiro na Grécia a fazer voluntariado. O Muro é grande porque tem gente enorme! Pretendemos, desde o início, que no Mural seja publicado fielmente o que por cá se passa, promover sobretudo os valores e as pessoas, de forma livre e independente. Um agradecimento sentido a todas as associações da freguesia, às forças vivas, aos murenses que contribuem para a harmonia do lugar onde vivem, e aos que escreveram e permitiram a divulgação neste jornal, O Mural – Um Muro de Palavras que é de todos os Murenses.

ACORDO ORTOGRÁFICO Todos os artigos redigidos pela Junta de Freguesia do Muro não estão escritos segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Os restantes textos encontram-se de acordo com a preferência do autor.


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JUNTA DE FREGUESIA DE S. CRISTÓVÃO DO MURO

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DESTAQUE

PÓLO CULTURAL PROF. MOUTINHO DUARTE POR #PEDROSANTOS

APONTAMENTOS DE HISTÓRIA LOCAL, COLECÇÃO DE 12 CADERNOS

UM PÓLO CULTURAL PARA GUARDAR A MEMÓRIA DE SÃO CRISTÓVÃO DO MURO Cinquenta anos de investigação reunidos em doze Cadernos Culturais foram o pretexto mais do que justo para que a Junta de Freguesia do Muro inaugurasse o Pólo Cultural Professor Moutinho Duarte. Na tarde do dia 8 de Dezembro, domingo, o Salão Nobre da Junta de Freguesia juntava gerações para homenagearem o trabalho do autor e para a lição de sapiência que deixaria todos os presentes motivados e interessados no nosso rico passado.

Ao longo de 50 anos, Manuel Moutinho Duarte, o Professor Moutinho - como carinhosamente o conhecemos - investigou e escreveu sobre a história e o património de São Cristóvão do Muro e das restantes freguesias da Trofa e de Santo Tirso. “Quem deve conhecer essa história é o Professor Moutinho” e “tenho lá um livro do Professor Moutinho que fala dessa família” são frases comuns quando conversamos sobre o passado da nossa terra. Existe uma publicação dos anos noventa da Junta de Freguesia que todos guardam em casa com cuidado e estima. Citamos informações que lá lemos sobre o Benemérito José Moura Coutinho, sobre párocos da nossa terra ou sobre as famílias. Mas soubenos sempre pouco. No “MURAL” - Boletim Informativo e Cultural da Junta de Freguesia do Muro, o Professor Moutinho apresenta-nos detalhadamente temas que a uns lembram outros tempos e a outros deram-lhes a conhecer a terra dos seus avós. Apesar de valiosos, ainda assim, sabia-nos sempre a pouco. Talvez por isso, existisse quase que uma insatisfação que fizesse agarrar com tanta vontade a publicação das obras.

PROFESSOR MOUTINHO DUARTE COM O EXECUTIVO E MEMBROS DA ASSEMBLEIA DA FREGUESIA DO MURO, NO PÓLO CULTURAL

Citando o JORNAL DE SANTO THYRSO, no seu número de 21 de Março de 1912, deixa-se clara na tarde de 8 de Dezembro de 2016 o que se pretendia fazer com o trabalho de Manuel Moutinho Duarte: “Muro, dia 18. Foi hontem [domingo, dia 17 de Março] inaugurado o edifício escolar dos sexos feminino e masculino desta freguesia, edificado com o legado de 4.000$000 reis, que o benemérito José de Moura Coutinho havia deixado no seu testamento à Junta de Paróquia, para esse fim. Na fachada principal foi colocado o busto do benfeitor e um mastro onde foi arvorada hontem a bandeira nacional. Assistiu à inauguração, além de muito povo desta freguesia e circunvisinhas, o presidente da Câmara, o secretário da Administração e diversos amigos da Comissão. Tocou todo o dia, no local, a banda do Sr. Paiva, de Ruivães, queimandose também bastante fogo, fornecido pelo hábil pirotécnico José Maciel de Castro, de Vila do Conde.”

APRESENTAÇÃO DOS 12 CADERNOS DO PROFESSOR MOUTINHO DUARTE, DURANTE A INAGURAÇÃO DO PÓLO CULTURAL

O discurso de inauguração do Pólo Cultural Professor Moutinho Duarte proferido pelo Executivo da Junta de Freguesia de São Cristóvão do Muro, na pessoa da Conceição Campos, materializava bem o sentimento de todas as gerações reunidas no Salão Nobre do agora edificio da Junta de Freguesia, mas outrora escola primária. Cento e quatro anos depois daquele domingo de festa pelo progresso cultural do Muro, voltavam a reunir-se os Murenses com o mesmo propósito de difusão cultural e instrução, prestando a mais justa e devida homenagem inerente à história da Freguesia, às gerações de mulheres e homens, à pessoa de José Moura Coutinho, benemérito pela instrução em São Cristóvão, e a todos que, como ele, lutaram - e lutam por uma freguesia consciente do seu passado e virada para o futuro. Esta breve história da nossa História enquanto terra, povo e comunidade, começou meses antes. Fruto das colaborações estreitas que o Professor Moutinho tem desenvolvido com a Junta de Freguesia, acabou por confessar a sua vontade de tornar acessíveis à consulta de todos - sobretudo os jovens estudantes - uns “singelos” cadernos que reuniam “apenas” o trabalho de cinquenta anos de investigação. Embora

PROFESSOR MOUTINHO COM A SUA FAMÍLIA, NO PÓLO CULTURAL


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JUNTA DE FREGUESIA DE S. CRISTÓVÃO DO MURO

ASSISTÊNCIA NA APRESENTAÇÃO DOS 12 CADERNOS DO PROFESSOR MOUTINHO DUARTE, INAUGURAÇÃO DO PÓLO CULTURAL PROFESSOR MOUTINHO DUARTE

nunca tenha sido vontade inicial do autor, o Executivo da Junta de Freguesia não podia deixar de agradecer todo o trabalho e generosidade do Professor com a publicação do mesmo. Ainda assim, entenderam que o gesto não bastava para dignificar, agradecer e homenagear o trabalho de Moutinho Duarte. A obra do homem merecia um fiel depositário para a salvaguarda, preservação e divulgação daquele tesouro. Nasceu então a ideia de criar um humilde recanto que servisse de apoio ao estudo da história local, pudesse dinamizar actividades e que preservasse nas melhores condições as obras entregues: O Pólo Cultural Professor Moutinho Duarte, um “guardião” da memória de São Cristóvão do Muro. Depois de anunciada esta vontade à Assembleia de Freguesia, foi estudado, elaborado e apresentado um regulamento de salvaguarda da utilização do espaço. Foi convocada uma simples sessão solene para a entrega dos doze Cadernos Culturais à Assembleia de Freguesia. Dia 15 de Novembro juntavam-se ao fim da noite, no Salão Nobre da Junta de Freguesia, cidadãos prontos para testemunharem a generosidade da entrega do trabalho de cinquenta anos acompanhado por 41 de obras relacionadas com a história local da região para constituírem o primeiro espólio que enche as prateleiras da sala. O serão de luxo convenceu todos os presentes e entusiasmou todos os que souberam das notícias. Além da entrega do espólio, foram lidos os títulos das obras e foram comentados os temas que cada Caderno Cultural abordará. Como seria de esperar, ninguém ficou indiferente à riqueza daquela partilha de conhecimento e todos regressaram a casa empolgados com o que seria apresentado semanas mais tarde. Restava abertura do Pólo Cultural e o lançamento das obras publicadas com o carimbo da Junta de Freguesia de São Cristóvão do Muro. No dia 8 de Dezembro, o Salão Nobre da Junta de Freguesia enchia-se para aquele momento marcante na história da nossa terra. Todos estavam conscientes disso e a afluência no evento falou por si, estando a sala completamente lotada com pessoas à porta, nas janelas e espreitando da secretaria da Junta de Freguesia. Com a condução dos trabalhos pelo Presidente da Assembleia de Freguesia, António Manuel Ferreira, a mesa fez-se constituir pelo artista da obra, Moutinho Duarte, e pelo representante pela empreitada, o Presidente da Junta de Freguesia, Carlos Martins. Contudo, sem esconder a alegria pelo momento, o Professor, soube despir-se de méritos próprios, ressal-

vando num jeito muito próprio que tudo era em nome da história da nossa terra. Perante as dezenas de pessoas de muitas das famílias que um dos cadernos tratava e não só, apresentou-nos uma lição de sapiência baseada no 12º Caderno “Famílias de S. Cristóvão - Raízes e Ramos” cativando todos os presentes com a história dos seus antepassados.

nos conta Conceição Campos, além do trabalho compilado, ainda “descobrimos um homem com profundo respeito pelo próximo e que só pretende ser grande na modéstia”. Conhecemos também um homem que sabe que o tempo ditará a justiça aos nossos actos e aos que deixamos.

A humildade com que comenta alguns assuntos deixa-nos rendidos à sensatez. Dedicou - e dedica - grande parte da sua vida à investigação e divulgação da história da nossa terra e região. Ao longo dos anos, reuniu vários trabalhos historiográficos sobre temas relacionados com a freguesia de S. Cristóvão do Muro e com as restantes freguesias da Trofa e de S. Tirso. Ao consultarem o seu trabalho e ao trabalharem com ele, todos lhe gabam Mas quem é o homem por trás desta obra? o rigor com que investiga e interpreta procurando a verdade. Manuel Moutinho Duarte nasceu a 3 de Junho de 1944 em Gueidãos, lugar desta Na cerimónia de entrega dos livros terra de São Cristóvão do Muro, e fala-nos à Assembleia de Freguesia, dizia-nos sempre com orgulho nisso. Conhecendo-a que quando estiver em frente a Deus, como poucos, cresceu percorrendo cada trocarão as seguintes palavras: caminho da nossa terra. Estudou na primeira escola primária da freguesia, - E tu Manuel que fizeste aos talentos que no edifício onde hoje funciona a Junta te dei? de Freguesia. Depois de concluídos os estudos, seguiu para o Colégio Almeida - Pu-los a render e doei-os aquela terra a Garrett no Porto. Na Faculdade de Letras que deste o nome de São Cristóvão, Senhor. da Universidade do Porto, concluiu a licenciatura em História. Aí, privou e foi No discurso de inauguração do Pólo aluno dedicado do trofense António Cruz, Cultural, Conceição Campos acrescenficando-lhe com estima e admiração para tava que o Senhor responderá: sempre. - Combateste o bom Combate e guardaste Aos olhos de todos destaca-se pelo a fé. Desde já te está reservada a coroa da carácter reservado e pela elegância na justiça que Eu justo Juiz te darei (2Tm 4,7-8). forma de estar. Pela forma pedagógica com que trata toda gente com quem lida, Graças a este trabalho de cinquenta anos Moutinho Duarte dignifica e confere o de investigação do Professor Moutinho verdadeiro sentido à palavra “Professor”. Duarte, São Cristóvão do Muro dispõe É com generosidade que tem as portas agora doze Cadernos Culturais sobre a de casa abertas para todos os jovens e história da nossa terra, bem como das restantes do concelho da Trofa e de Santo famílias que mais procuram saber. Tirso. De agora em diante o Pólo Cultural Fala por si a obra de Manuel Moutinho Professor Moutinho Duarte assume-se Duarte. Os doze Cadernos Culturais que como guardião da história, memória e passaram a estar à disposição da popu- identidade da nossa terra, São Cristóvão lação são o trabalho de uma vida. Como do Muro. Confrontado com um texto que explicava de onde descende, Carlos Martins confessou-se comovido com o momento e explicou que o Professor tinha mudado o Passado e o Futuro. “O dia de ontem porque conseguiu mostrar às famílias de onde vieram e o de amanhã porque é um trabalho que fica para as gerações vindouras perceberem de onde vieram”.


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JUNTA DE FREGUESIA DE S. CRISTÓVÃO DO MURO

LISTAS DOS CADERNOS CULTURAIS

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– Região da Trofa, SISTEMAS PRÉ-INDUSTRAIS NAS ZONAS RIBEIRINHAS. ADAPTA. Trofa: Edição da Câmara Municipal da Trofa.

O QUE PODE ENCONTRAR NO PÓLO CULTURAL PROFESSOR • Pe.: de Amorim, Aires (1989). Achegas para o Estudo da História Local. MOUTINHO DUARTE: Esmeriz: Edição da Comissão de Melhoramentos.

LISTA DOS CADERNOS DE APONTAMENTOS DE HISTÓRIA LOCAL • Cruz, António (1974). UMA CIDADE EM EVOLUÇÃO (O Porto nos Primórdios • Nº. 1 – Das Atas da Câmara Municipal de Santo Tirso (1841/1950)

de Setecentos). Porto: Faculdade de Letras do Porto.

• Nº. 2 – Arquivo Municipal de Santo Tirso. Copiador Geral. Correspondência Expedida (1871/1900)

• Cruz, António (1945). A CASA QUEIMADA – Romance. Coleção Portuguesa. Porto: Editorial Domingos Barreira.

• Nº. 3 – Município da Trofa. Direitos Paroquias e Côngrua das Freguesias do Concelho

• Sousa Marques, Napoleão. Colaboração de: Moutinho Duarte, Manuel (2000). V CENTENÁRIO DA DESCOBERTA DO BRASIL – 1500-2000. Trofa: Edição da Comissão Instaladora do Município da Trofa.

• Nº. 4 – Santo Tirso

• de Sousa Marques, Napoleão (1999). CIDADE DA TROFA – Duas Comunidades…. Um só povo. Trofa: Livraria Editora SÓLIVROS DE PORTUGAL de David Jorge Pereira.

• Nº. 5 – Diversos/Dispersos • Nº. 6 – Ditos & Escritos • Nº. 8 – Registos Paroquias (Séculos XVIII e XIX)

• de Sousa Marques, Napoleão (1998). SENHORA DAS DORES – Mãe de Deus e Mãe Nossa. Trofa: Livraria – SÓLIVROS DE PORTUGAL – Editora de David Jorge Pereira.

• Nº. 9 – Acerca da Família “Moura Coutinho” (Achegas para a sua Genealogia)

• Pimentel, Alberto. Notas e Comentários de Brito Moreira, Álvaro; Carvalho Correia, Francisco (2011). Santo Thyrso de Riba d’Ave. Santo Tirso.

• Nº. 10 – Diversos/Dispersos

• (1881). Revista OCCIDENTE, Vol. 4º ano. Cópia dactilografada do conto de Alberto Braga, MIGUEL ÂNGELO DE SANTO TIRSO (Na estalagem da carriça, São Cristóvão do Muro)

• Nº. 7 – Ditos & Escritos

• Nº. 11 – Ditos & Escritos • Nº. 12 – Famílias de São Cristóvão. Raízes & Ramos

LIVROS OFERECIDOS MOUTINHO DUARTE

AO

PÓLO

CULTURAL

• Textos: Moutinho Duarte, Manuel – pesquisa e descrição bibliográfica: Sanches, Paula (2011). 1º CENTENÁRIO Prof. Doutor António Cruz (1911-2011). Trofa: Edição: Câmara Municipal da Trofa.

PROFESSOR • Palestrante: Moutinho da Silva Duarte, Manuel. Câmara Municipal da Maia,

Congresso CULTURA POPULAR. Actas do Congresso (Comunicações), Vol. III. MM. • Ferreira, Costa (1999). CONCELHO DA TROFA I – A Formação do Município • do Céu Oliveira, Álvaro Aurélio (1979). Temas Maiatos, Tema – 1. e o Trabalho Efetuado pela Comissão Promotora. Livraria – SÓLIVROS DE JULGADO E COMARCA DA MAIA. Edição da Câmara Municipal da Maia. PORTUGAL – Editora. • do Céu Oliveira, Álvaro Aurélio (1980). Temas Maiatos, Tema – 4. A • Ferreira, Costa (1997). TERRAS DE BOUGADO – Recordações. Trofa: TRANSFERÊNCIA DA SEDE DO CONCELHO. Edição da Câmara Municipal da Maia. Livraria – SÓLIVROS DE PORTUGAL – Editora • do Céu Oliveira, Álvaro Aurélio (1981). Temas Maiatos, Tema – 5. • Santos Pinto, Ricardo (Dr.) (1999). TROFA – Do Sonho à Realidade. Netbe TERREIRO DE ANTIGUIDADES. Edição da Câmara Municipal da Maia – Publicações, Comunicações e Informática, Lda. • do Céu Oliveira, Álvaro Aurélio (1982). Temas Maiatos, Tema – 6. A TERRA • Camposa, Carlos (1990). A Capela de Nossa Senhora da Livração – Lantemil DA MAIA E AS LUTAS LIBERAIS. Edição da Câmara Municipal da Maia. – com um estudo sobre O ABADE SOUSA MAIA. SÓLIVROS DE PORTUGAL. • do Céu Oliveira, Álvaro Aurélio (1983). Temas Maiatos, Tema – 7. OS • Pereira da Silva, José (1981). David Jorge Pereira. O TROFA (S. MARTINHO REISEIROS. Edição da Câmara Municipal da Maia. DE BOUGADO) – ESBOÇO DE UMA MONOGRAFIA. Trofa: Livraria SÓ LIVROS • do Céu Oliveira, Álvaro Aurélio (1985). Temas Maiatos, Tema – 9. DE PORTUGAL. DESMEMBRAMENTO DO CONCELHO. Edição da Câmara Municipal da Maia. • Pereira da Silva, José (1990). David Jorge Pereira. O TEATRO AMADOR • Coordenadora da Edição: Graça, Lourdes (2013). Moinhos da Maia no DA TROFA. Trofa: SÓLIVROS DE PORTUGAL. Leça e noutras linhas de água. Publicação do Clube UNESCO da Maia. • Moutinho Duarte, Manuel (Julho, 2000). São Cristóvão do Muro – Contributo • Sá, Sérgio. Coordenação Pelouro da Cultura. (1998). Alminhas do para uma Monografia. Trofa: Edição da Junta de Freguesia do Muro. Concelho da Maia. Edição da Câmara Municipal da Maia. • Moutinho Duarte, Manuel (2000). O Pasquim – Sátira com sabor Popular. Separata das Atas do Congresso de Cultura Popular. Edição da • de Sousa, Fernando e Outros (1989). O Arquivo Municipal de Santo Tirso – Cadernos de Cultura 1. Câmara Municipal de Santo Tirso. Câmara Municipal da Maia. • Colaboração de: Moutinho Duarte, Manuel (1998). Escola Secundária • Sande Lemos, Francisco (1989). O Abade Pedrosa e a Arqueologia de de Tomaz Pelayo – Anuário Comemorativo do Centenário do seu Patrono. Santo Tirso – Cadernos de Cultura 3. Câmara Municipal de Santo Tirso. Edição da Escola Secundária de Tomaz Pelayo. • de Brito Moreira, Álvaro (2007). Museu Municipal Abade Pedrosa – • Colaboração de: Moutinho Duarte, Manuel (2005). Escola Secundária Colecção Arqueológica. Edição da Câmara Municipal de Santo Tirso. de Tomaz Pelayo – 50 Anos da sua História. Edição da Escola Secundária • de Brito Moreira, Álvaro e outros (2013). Museu Municipal Abade de Tomaz Pelayo. Pedrosa – Santo Tirso Arqueológico, nº 5, 2ª série. Edição da Câmara

• (2005). Escola Secundária de Tomaz Pelayo – Da Escola Industrial e Municipal de Santo Tirso. Comercial de Santo Tirso à Escola Secundária de Tomaz Pelayo – 50 anos. • Ribeiro, António Jorge (2011). CAMILO CASTELO BRANCO EM SANTO TIRSO. Santo Tirso: Museu Municipal Abade Pedrosa. Santo Tirso: Edições Tartaruga. Apoio Junta de Freguesia de Santo Tirso. • Investigação, pesquisa e coordenação geral – Ferreira, Costa (2000). • da Silva Cunha, José Manuel (2014). A INDÚSTRIA MOAGEIRA NO Município da Trofa – CADERNOS CULTURAIS II – O ACERVO ETNOGRÁFICO CONCELHO DA TROFA. Edição ADAPTA, Associação para a Defesa do DE MARIA AUGUSTA REIS. Trofa: Edição do Município da Trofa. Ambiente e do Património na Região da Trofa.

• Moutinho Duarte, Manuel (2001). Município da Trofa – CADERNOS • Sousa Maia, Abade (1913). MEMÓRIAS DE GUIDÕES – Apontamentos CULTURAIS V – O CONCELHO DA TROFA, Apontamentos de História Local. Históricos (em fotocópias) Trofa: Edição do Município da Trofa. • Guimarães Matos, Rogério Bruno (Novembro de 2011/1ª edição). • Costa Ferreira (2003). Município da Trofa – CADERNOS CULTURAIS IX – O DOUTOR PATRIMÓNIO À PROVA DE ÁGUA: Apontamento para a Salvaguarda das ANTÓNIO CRUZ e o Reguengo de Bougado. Trofa: Edição do Município da Trofa. Azenhas & Açudes nas margens do Rio Ave, Vila Nova de Famalicão/Trofa. • Coordenador: da Silva Cunha, José Manuel. Colaboração de: Moutinho Edição: Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão. Duarte, Manuel. (2006) Município da Trofa – CADERNOS CULTURAIS XI


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PONTE DA PEÇA MÁ POR #PEDROSANTOS O TEMPO DITARÁ A SUA JUSTIÇA Sem aviso prévio, dia 2 de Setembro, fomos abruptamente abalados por um atentado ao património era um exemplar de uma arquitectura e à identidade nele contida. Em poucas horas, as opiniões contrárias e a revolta gerada falaram por si que explorou o uso do granito até aos e deixaram bem clara a importância da Ponte da Peça Má para todos os Murenses e muitos Trofenses. limites das suas possibilidades. Destruir esta ponte seria apagar da memória o O debate começou dez anos antes. Em 2007 começava a discução em torno da preservação e utili- mais importante exemplar existente no dade do património ferroviário do concelho da Trofa. Depois de retirado o comboio e no impasse do concelho. Durante estes anos pareceu metro que nunca chegou, as infraestruturas como a Ponte da Peça Má ficaram entregues à tutela da evidente que a ideia de demolir a ponte Metro do Porto. Neste sentido, passa a ser dessa entidade toda a responsabilidade de manutenção seria um atentado à memória e que o e salvaguarda. Em 2007 a Metro do Porto anunciou a vontade de demolir a Ponte, alegando que saberia provar. estaria a condicionar a circulação de veículos que por baixo dela passam todos os dias. Face a isto, muitas vozes se levantaram e deixaram clara a importância daquele monumento, justificando-o O Executivo da Junta de Freguesia deixou como exemplar relevante para o estudo da ferrovia no concelho e da construção daquele estilo de clara a posição que havia assumido antes contra esta demolição fazendo todos pontes a nível nacional. os possíveis para a travar. Contudo, da Manuel Moutinho Duarte, Murense e respeitado historiador local deixou bem clara na altura todas forma silenciosa como o processo foi as características que tornavam a Ponte da Peça Má uma obra de arte. A ponte de alvenaria tinha conduzido, não existia nenhuma margem um vão de 19 metros e o arco era composto por 89 aduelas. Era uma verdadeira obra de arte que para o evitar ou repensar soluções. A deslumbrava todos os que por ela passavam. Acompanhando o historiador e todas pessoas preo- Assembleia de Freguesia do Muro reuniu cupadas com o monumento, a ADAPTA, associação de defesa do património local, também se opôs de emergência para pensar em soluções. Procuraram-se manifestações pacíficas veemente às tentativas de demolição. e bloqueios através da legislação, ainda Desde que o assunto foi levantado e ao longo de todos estes anos, todos concluímos que não assim conseguiram levar a cabo o atenexistiam argumentos que justificasse a demolição daquela obra de arte e que deve ser preservada tado, com a justificação do encargo monepela sua natureza e simbologia. Nunca existiu, sequer, ameaça de ruína. Todos comprendemos que tário para a sua manutenção ou segurança, questões que sabemos puderem ser resolvidas de outra forma. Poucas horas antes da demolição surgiram bastante vozes completamente contrárias ao que se estava a passar. Pedro Costa procurou mobilizar um grupo de pessoas que se mantivesse fiel na defesa do monumento. Na sua opinião foi uma decisão comparável aos atentados ao património histórico praticados pelo Daesh há alguns meses atrás, mas numa escala mais regional. A simbologia do momento e da atitude é tremenda e muito maior do que o que podemos compreender neste momento. Segundo explica, cortando as ligações ferroviárias, ficaremos isolados e escondidos dos concelhos vizinhos, também é certo que não haverá evolução durante bastante tempo, o que talvez nos tornará insignificantes para decisões importantes.

PONTE DA PEÇA MÁ, ANTES DA DEMOLIÇÃO

PONTE DA PEÇA MÁ, DURANTE A DEMOLIÇÃO ÀS 22H44 NO DIA 2 DE SETEMBRO DE 2016

Neste momento não existirá muito a fazer além de preservar a memória do que era nosso. Concordantes ou discordantes do desfecho desta história, todos teremos um exercício de reflexão a fazer sobre o que valemos e o que é nosso. O tempo ditará quem estava certo.

PONTE DA PEÇA MÁ, DURANTE A DEMOLIÇÃO ÀS 23H09 NO DIA 2 DE SETEMBRO DE 2016


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ACTIVIDADES

DESTAQUES CULTURAIS POR #PEDROSANTOS & #TÂNIAQUINTAS A DESFOLHADA À MODA ANTIGA VOLTA A ENCHER O LARGO DA SERRA 17 de Setembro de 2016, Largo da Serra Uma vez mais, a tradição voltou a encher o Largo da Serra, no Muro. Na noite de 17 de Setembro de 2016, pelas 20h estavam reunidas as condições para mais uma noite de festa e convívio dos murenses e de todos quantos se quiseram juntar à festa da Desfolhada à moda Antiga, uma recriação da Junta de freguesia do Muro. Passam os anos, mas a tradição parece inabalável e, por estes dias, juntaram-se pessoas de todas as idades e partilharam a experiência de participarem na 11ª edição deste convívio. Este ano, a animação ficou ao encargo do Grupo de Danças Pra’Pular do Muro e do Grupo Rapaziada que conseguiram colocar toda a população a dançar e a sentir o espírito desta festa. Os presentes, sem dúvida, guardarão nas suas memórias esta noite e, certamente, voltarão no próximo ano, pois esta festa parece já fazer parte da comunidade murense e das freguesias vizinhas.

RECRIAÇÃO DE DESFOLHADA À MODA ANTIGA, DESFOLHADA

ACTUAÇÃO DO GRUPO RAPAZIADA, DESFOLHADA

ACTUAÇÃO DO GRUPO DE DANÇAS PRA’PULAR DO MURO, DESFOLHADA

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CULTURA

ORQUESTRA URBANA DA TROFA POR #PEDROSANTOS

ORQUESTRA URBANA DA TROFA, CONCERTO NO 18º ANIVERSÁRIO DO CONCELHO DA TROFA [FOTO DE O NOTICÍAS DA TROFA]

BANDAS, BOMBOS, VELHINHAS E CAVAQUINHOS: A ORQUESTRA URBANA FAZ MÚSICA PARA TODOS O Concelho da Trofa completava o seu 18º aniversário e estávamos todos convidados para celebrar daquela forma. No palco estavam dezenas de pessoas com muitos instrumentos. Sem compreendermos bem o que se ia passar, ouvimos uma composição sonora confusa do quotidiano. Uma máquina de escrever e um carimbo dão andamento a uma marcha para o progresso. Aquela composição estranha aos demais silencia o público que se admira com o que está em cima do palco. Todos ficam perplexos com extasiante música que impõe o ambiente para o que se vai passar a seguir. Ouvimos cavaquinhos, vozes afinadas, gravações que lembram a conquista do concelho, a garra das bandas de rock e a firmeza do grupo de bombos. Há alguém que declama a nossa história e nos lembra que está na génese da Trofa querer sempre o melhor para os seus e para a sua terra. Minhas Senhoras e meus Senhores, a Orquestra Urbana estava no palco e preparava-se para deixar marcas em todos os presentes. Por trás do abraço de orgulho, André NO, músico trofense e maestro de bombos, velhinhas, djs e bandas de rock.

André Nunes Oliveira (André NO) cresceu com os instrumentos como brinquedos de eleição. Aos quatro anos já estudava música e aos treze já era guitarrista de uma banda de rock. Quando ficaram sem baterista, assumiu os ritmos ainda longe de imaginar que faria carreira com o instrumento. Ainda estudou violino no conservatório, mas acabaria mesmo por seguir os estudos em percussão na Escola Profissional de Música de Espinho. Concluindo-os, passou por uma longa lista de projectos musicais: Seven Seas, Full Stock, YYZ, Conto de duas Caras, Gnomo, Edrigba, Retimbrar, Coolmeia, Outorga, Fado em Sib, Avoid Note, banda residente do Portugal no Coração na RTP, Banda Dixcartável, Tde3, Sandro Norton, Glauco, Funfarra, Stopestra, Contratadeiras, Big Band of Friends - com o Rui Veloso - e Daniel Pereira Cristo Quinteto. Ao longo de quinze anos enquanto músico profissional, quase que perdemos a conta aos seus trabalhos, mas entre eles ainda teve tempo para se envolver em projectos com comunidades. Depois de fazer o Curso de Animador Musical no Serviço Educativo da Casa da Música com o Maestro Tim Steiner, crianças, grupos de percussão e coros, em Portugal e no estrangeiro, têm estado sob a sua direcção com resultados magníficos. Uma carreira preenchida que o fez passar por muitas experiências, perceber que tem muito para partilhar e muito para aprender com as pessoas. Embora tenha nascido na Trofa, grande parte da carreira de André NO não passou pela sua terra. Sempre trabalhou muito para fora por falta de iniciativa sua e de convite. Hoje, só faz sentido desenvolver na Trofa algum trabalho que possa fazer algo pelas pessoas. Quando fez o Curso da Casa da Música - um curso feito para animadores musicais de grupos e comunidades - o bichinho foi nascendo e a ideia foi crescendo. Até que “surgiu a vontade de acalmar e fazer coisas na minha terra”. Começa assim a desenhar o projecto da Orquestra e a montar a sua escola de rock a HEAD PHONE Academia de Música. Começou por pensar em tudo muito bem e por apresentar o projecto à Câmara Municipal da Trofa que o abraçou tornando-se a sua grande parceira e criando-lhe os meios para que tudo acontecesse. Segundo o próprio, tudo “está a correr muito bem”. Além do apoio institucional, tem sido excelente a experiência de trabalhar com o responsável pela Divisão da Cultura, Artur Costa. Explicando-nos que há uma genuína vontade de apoiar todo o projecto e fazê-lo crescer Muito resumidamente o projecto passa por trabalhar durante meses com bandas de rock, um grupo de cavaquinhos, um coro, um grupo de bombos tradicionais, um grupo de percussão e uma banda de hiphop. Depois, todos juntos em palco, através da linguagem trabalhada, tudo se une numa sinfonia sem limites de inclusão. Escondendo as muitas horas de trabalho, quem assiste não compreende como é que ninguém se perde na melodia sem ter uma pauta. Como o espectáculo transparece, está em cima do palco um sonho quase louco. Setenta músicos de estilos musicais tão diferentes, de idades tão distantes e com diferentes culturas musicais fundem-se numa explosão contagiante em que todos comungam na música. Há sempre um ambiente e ansiedade e vontade de tocar e aproveitar cada momento, onde, até os mais velhos, manifestam êxtase ao tocarem um hino como a “We Are the Champion” dos Queen.

ANDRÉ NO, CONCERTO DA ORQUESTRA URBANA DA TROFA [FOTO DE ANTÓNIO DINIZ]

Perante todo o caminho de ensaios e concerto, há um longo processo pedagógico. Toda gente aprende e é valorizada pelos seus talentos. Por ser algo “fora da caixa”, acabam por compreender a ideia de participarem em algo tão grande, acabando por


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ANDRÉ NO E ORQUESTRA URBANA DA TROFA, CONCERTO NO 18º ANIVERSÁRIO DO CONCELHO DA TROFA [FOTO DE O NOTICÍAS DA TROFA]

ANDRÉ NO E ORQUESTRA URBANA DA TROFA, CONCERTO NO 18º ANIVERSÁRIO DO CONCELHO DA TROFA [FOTO DE ANTÓNIO DINIZ]

descer do palco “valorizados e com um ego porreiro”. De qualquer forma, André sente que o maior beneficiado acaba por ser o maestro e, como tal, só pode estar tremendamente grato uma vez que todos os músicos “vão ali por carolice dedicar tempo” à sua ideia. Durante o concerto sente que toda gente lhe coloca a máxima confiança, o que é um privilégio. Para si, dos ensaios ao concerto, é gratificante poder transmitir de alguma forma a sua paixão pela música e contribuir para que todos juntos criem algo bom.

por terem a “particularidade de serem 70 músicos” precisam de bastante espaço e um bom som. Se o tiverem, qualquer espaço pode ser palco para a sua explosão musical. Mas os sonhos não ficam por aqui, “quero convidar um grande artista e a orquestra tocar com ele”.

O arquitecto desta fusão está confiante quanto ao futuro. “As pessoas vão compreender a dimensão deste projecto”. Explicando que o trabalho com música e comunidades é muito forte e mexe com as pessoas. Só quem teve a oportunidade de ver o concerto é que já sente a orquestra como sendo da sua terra. “Quem viu o concerto já sente isso, (...) no fim do mesmo muitas pessoas foram ao encontro dos músicos emocionadas e até a chorar. O concerto é emocional. A recitação do texto De todos estes trabalhos, foram a Orquestra Urbana e as com a nossa história, por exemplo, é muito forte. Até arrepia. Só de pensar nisso, Contratadeiras que lhe deram mais gosto pelo trabalho emociono-me.” Perante isto, o músico está empenhado em que o projecto se torne comunitário. Este último, em Famalicão, constituiu numa sólido, rematando: “a Orquestra Urbana é a Orquestra da Trofa!” reunião de quarenta mulheres vindas de vinte ranchos famalicenses para cantarem o Cancioneiro do Minho, André entrega-se de corpo e alma ao projecto valorizando cada músico da Orquestra Zeca Afonso e, mais tarde, reportório tradicional de Natal. como se um artista de grandes palcos se tratasse. No fim de cada ensaio ou dos Tudo isto com uma roupagem instrumental completa- concertos o sentimento é sempre o mesmo: gratidão. “Eu tento sempre agradecer o tempo que cada um me está a dedicar”. Humildemente, chega a confessar-nos: “toda mente diferente do habitual, com músicos de jazz. gente me está a dar uma ajuda”. Por isso só lhes posso ter respeito. “Nenhum deles Depois do sucesso que os dois concertos da Orquestra é profissional mas dá-me prazer fazer música com eles, têm uma entrega impressioUrbana tiveram, André tem vontade de fazer multiplicar nante”, diz-nos. “Só posso sentir respeito por estas pessoas”. os espetáculos: “este ano vamos ter mais concertos em épocas diferentes com repertórios diferentes”. Mesmo O projecto é grande e o tempo deixará bem clara a importância que tem para a comucom toda a precaução de quem dá “passos pequenos nidade. Nos dois concertos no aniversário do concelho, todos presenciaram o potenmas firmes”, quer levar a Orquestra Urbana a todas as cial que está reunido naquele palco. Mais do que isso, todos são testemunhas do freguesias mas também fora do concelho. Explica que valor que cada pessoa tem em comunidade.


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MARTINHO DIAS POR #PEDROSANTOS MARTINHO DIAS NÃO CONHECE FRONTEIRAS.

entre tempo e espaço dedicado à cultura e o que é dedicado ao desporto [fuNa sua obra e na sua vida, as fronteiras chegam tebol], politiquices e acidentes. A comumesmo a diluir-se ao ponto de esbaterem o trajeto nicação social (local ou não) tem uma que fez. Há uma globalidade genuína de quem sabe grande responsabilidade na formação de que a arte é universal e intemporal. mentalidades. Martinho Dias nasceu em 1968, em Covelas, onde cresceu com a cabeça tanto na sua terra como fora Por isso é que este jornal é fundamendela. Dos instrumentos de carpintaria do pai – que tal. Estamos a partir de uma origem (loutilizava para martelar pregos em tudo o que fos- cal) para o global e estamos a alargar o se madeira, para construir barcos, aviões, casas... e raio de ação e a chegar a outras esferas. mais tarde para fazer as próprias grades que sustentam a tela –, a obra de Martinho Dias foi crescendo até uma pintura que imprime expressão, emoção e ¶ Qual é o percurso que fazes enquanmovimento. Numa proximidade que exige que nos tratemos por to artista e homem? “tu”, conversamos com Martinho Dias a meio do caminho entre o Muro e Covelas. A curtas perguntas, Estudei em Covelas, na Secundária da deu-nos respostas que cruzam realidades e diferen- Trofa e depois tive necessidade de ir para tes situações, pondo-as em perspetiva e confrontan- uma escola mais específica – a Escola Soares dos Reis deu-me a preparação do-as no mesmo espaço da tela.

tinuo com ilustrações. Nunca pensei dar aulas antes, mas é necessário algo aparentemente mais estável. Acabei por gostar muito do ensino e de trabalhar com os alunos. Queria tentar conciliar isso com a ilustração e dedicar-me mais à pintura. Embora, a pintura tenha demorado muito tempo a agarrar como queria porque exige uma dedicação muito grande. É um trabalho longo e persistente para que seja criado um conjunto de obras consistentes e seja feita a divulgação... Não interessa ter trabalhos interessantes em casa, encostados à parede porque ninguém os vai ver. Há uma altura em que é imprescindível trabalhar essa parte. Tentar chegar a determinados sítios, receber “nãos”, alguns “sins” e uns “talvez para a próxima”.

MARTINHO DIAS [FOTO MARTINHO DIAS]

¶ Como é que alguém de Covelas chega a tantos lu- para as Belas Artes, o caminho que tinha Nos últimos anos as coisas têm-se alteragares sem que o conheçam tão bem na Trofa? escolhido seguir. do e indo de encontro ao que procurava. Tenho, agora, de gerir os convites para Cresci em Covelas porque tinha de crescer em algum lu- A escola não faz um artista. Para ter um exposições... Mas é mesmo um trabalho gar. Talvez estejam a faltar mais jornais como o “MURAL”. trabalho que se destaque pode não ser de persistência! Não é o facto de estar em Covelas, ou onde quer que fundamental ter um curso, mas em prinseja, que interessa muito para o caso. Interessa o que cípio ele dá uma formação e fornece pis- É também um trabalho a dois, com a a pessoa faz e a importância daquilo que faz. A partir tas que dependerão da capacidade e in- compreensão e cumplicidade da Suzana, daí se as coisas tiverem que dar a volta ao mundo, dão. teresse de cada um em segui-las. minha esposa, caso contrário, seria ainda mais difícil o trabalho para chegar a deO ponto de partida pode não ser relevante. A sua his- A escola ajudou, mas não me transfor- terminados pontos ou entrar em detertória virá mais tarde quando tentarmos perceber quem mou num artista. Acabou por ser uma minadas aventuras. foi aquela pessoa, por exemplo. Muitas das vezes faze- perseguição desde pequeno. Não para mos certas associações a uma origem urbana, a uma ser um artista, mas para fazer algo de origem mais do Norte ou mais do Sul, mas isso vem que gostasse. Eu sempre gostei de desempre depois. senhar, pintar, inventar casas, construi. ¶ Tantos prémios em tantos sítios, A pintura também é uma construção. há imensas exposições, medalhas de Se as pessoas não conhecem “tão bem” será, por um Portanto, nunca me questionei sobre a honra… lado, falta de treino, de curiosidade em conhecer. minha vocação. Noutros casos é a própria formação cultural e intelecNão é assim tanta coisa... tual que não promove o interesse por certos assuntos – as questões culturais estão reservadas a meia página num jornal comum e reduzidas a um ou dois assuntos. ¶ Sais da faculdade e começas a pintar? ¶ Qual é o processo para que este traA cultura não mata a fome a ninguém, mas não conseguiríamos viver sem ela. Há uma desproporção enorme Saio da faculdade e vou dar aulas e con- balho chegue a tantos lugares?


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MARTINHO DIAS COM A SUA OBRA [FOTO MARTINHO DIAS]

O sítio de onde partimos não tem assim tanta importância. Há locais fenomenais, onde até parece que só basta nascer ali, que já está a rampa de lançamento preparada, mas se calhar, depois, falta o impulso, a capacidade para se lançar ou é-se lançado para o alvo errado... Depois há uma situação fundamental que há uns tempos não existia: a internet. Permite a partir de qualquer local estabelecer ligações e enviar/ mostrar trabalho para o outro lado do mundo, se for necessário. Ou pelo menos dar conhecimento do que se faz sem a necessidade de deslocações físicas. As distâncias são agora mais curtas. A internet acaba por ser um meio de grande utilidade e tenho procurado usá-la nesse sentido.

isto pertence ao lado A e isto ao lado B... Eu acho sempre interessante quando diferentes realidades se articulam, criando algo de novo – uma ideia, uma narrativa, um projeto... sem que as partes se anulem, ou seja: 1+1= 3. Ver os Moonspell e o Maestro Vitorino D’Almeida juntos, com uma voz que não pertencesse ao mundo da música, poderia ser interessante.... Mas isto não é gratuito. Não é meter tudo numa panela e esperar que saia um prato espetacular... Por muitas misturas que se faça, elas precisam de ser seriamente trabalhadas... mas são coisas ricas, acho.

¶ Não olhas para uma tela e começas a pintar.

¶ A alguém que não percebe de arte, No meu caso isso não existe. Eu faço vários estudos prévios e quando enfrencomo explicarias o teu trabalho? to uma tela já as coisas estão pensadas, O meu trabalho é mais ou menos como embora, sempre com a possibilidade de sou: mais ou menos transparente; não é alterações radicais. O método de trabacompletamente métrico; procura ser es- lho é esse. Se vou fazer quatro trabapontâneo; procura não ser muito com- lhos, há pelo menos um estudo para cada plicado; procura ser divertido; procura trabalho. preocupar-se com o momento em que se encontra. É no fundo refletir o meio em que vivemos e, por isso, é mais ou me- ¶ Aos treze anos recebeste uma mennos uma espécie de espelho daquilo que ção honrosa internacional num consou e do tempo presente. Traduzindo curso em Nova Deli, na Índia. ainda mais, é um trabalho figurativo, realista - não hiper-realista -, expressivo e Foi a partir de um concurso da escola narrativo. que a minha professora de inglês enviou três trabalhos (sobre os Descobrimentos) para um concurso na Índia. Mais tarde vi o meu nome no JN, entre outros pre¶ Há sempre nele uma composição de miados. Dias depois, fui contactado pela realidades... RTP... Sim, é algo que acho interessante: conseguir conciliar pelo menos duas coisas diferentes. Durante muito tempo vivemos com a ideia de que uma coisa pertence ao passado e outra pertence ao presente, uma é antiga e a outra é moderna, uma é o que está a dar e a outra já não dá, uma coisa é urbana e outra coisa é rural,

Aos treze anos uma pessoa está (...) a tentar afirmar-se – a tentar ter importância e a conquistar um espaço próprio no mundo. Qualquer coisa que acontecesse era o máximo. Mas dessa não estava à espera e por isso soube-me muito bem.

OBRA DE MARTINHO DIAS [FOTO MARTINHO DIAS]

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¶ Qual é a importância que a educação tem nisto?

volta-se aos formulários, aos pontos, às ¶ Outro trabalho que chamou à atenmédias, à quantidade. ção foi o “PANGEA”. Fala-me um pouA minha educação começou por uma coisa básica: ter co sobre isso. sempre liberdade para fazer o que queria, sabendo que havia coisas que não podia fazer. “PANGEA” é um trabalho em vídeo em ¶ Que trabalhos teus mais recentes que procurei misturar (...) jornais com Tive sempre o interesse em experimentar e fazer. destacas? postais turísticos e línguas diferentes. Ninguém na minha família tinha uma vertente artística, Houve uma aproximação à música atraportanto não houve aquela tendência de dizer trabalha Há um conjunto de obras da exposição vés das vozes [femininas] diferentes [incom estas cores ou com aquelas... Mas houve um in- que fiz em Espinho, no Museu Municipal, terpretando a cappella os hinos de cada teresse em acompanhar, incentivar e valorizar mesmo de onde saíram trabalhos que conside- um dos 25 países que o trabalho inclui]. não sabendo ou não se preocupando se estaria a seguir ro interessantes. Mais recentemente des- Serviu como mistura de várias linguauma via que tivesse futuro. Se alguém quiser ser bailari- taco os trabalhos da exposição “A Corja”, gens, vários povos, várias culturas, várias no, vamos dizer que não tem futuro? Há bailarinos que na Casa das Artes em Famalicão, sobre a realidades, numa espécie de Torre de obra de Camilo Castelo Branco. Temos ali têm mais do que futuro! Nunca tive o problema de lidar Babel, contrapondo os postais dos países com essa questão de querer ir para as artes e quererem bastantes ligações entre o passado e o com o que os jornais mostraram duranpresente, o século XIX e o século XXI. que fosse advogado ou médico. te o período de realização da obra, desde 2005 a 2015, aproximadamente. ¶ Achas que hoje a nossa escola dá espaço para isso? ¶ De alguma forma procuraste ilustrar a obra de Camilo? Não! Houve uma reforma do sistema educativo onde os programas curriculares (sobretudo ao nível dos pri- Não se tratou de ilustração. A obra de meiros ciclos), passaram a contemplar um alargamento Camilo foi só um ponto de partida. Os à criatividade e às artes, mas depois não houve (e não trabalhos têm a ver com a temática há) preocupação em dar continuidade à estrutura cria- Camiliana – a forma dele escrever e consda. Por muito empenhados que sejam os professores, truir narrativas com sentido crítico. Várias de entre uma quantidade de tarefas exigidas, eles “tam- questões que fomos falando ao longo bém” lecionam. No fundo, o espaço à criatividade e à desta conversa cruzam-se e poderiam formação artística na escola é, na maior parte dos ca- ser trazidas para aqui a partir da obra de sos, como uma camisola nova, lindíssima, com as man- Camilo. Foi relativamente fácil criar cruzamentos entre duas ou três realidades gas cosidas. diferentes porque são atuais. As realiHá muita gente a investigar e a escrever sobre isto – dades do tempo de Camilo continuam a gente enaltecida pelo sistema político, mas na prática... existir no nosso tempo.

Houve um longo período de convites a cantoras para participarem com a interpretação do respetivo hino nacional a cappella,. Como não tinha apoios, tinha de haver um pedido de colaboração não remunerada. Eram cantoras de 25 países a cantarem na sua língua. Há várias histórias pelo meio: uma palestiniana que não participaria se eu convidasse alguma cantora israelita; o mesmo em relação aos Estados Unidos por parte das cantoras cubanas; iranianas interessadas em participar, mas que não tinham forma de enviar a gravação... a internet estava fora de questão e por correio seria controlada. Aparentemente era tudo muito simples e pacífico, mas o trabalho tocava em questões complexas. Eu queria saber o que é que cada país, por mais longínquo que fosse, apresenta no seu dia-a-dia nas notícias. Ao mesmo tempo interessava-me o lado dos postais turísticos a par com as imagens e noticias dos jornais. Um retrato e um auto retrato. É isto que acontece entre o jornal e o postal.

¶ Consegues conceber a ideia de puderes ser uma referência nacional e internacional? Como assim? Não estou a entender... Ah, não, é muito cedo. E não estou preocupado com isso. Acho que poderei fazer parte de uma geração de artistas figurativos e existem outros colegas meus que podem estar na mesma linha. Portanto, há um grupo em que normalmente me insiro ou me inserem. Se isso é representativo ou não, não sei... mas não estou preocupado.

OBRA DE MARTINHO DIAS [FOTO MARTINHO DIAS]

A conversa com Martinho Dias continuou fiada. Tudo volta ao mesmo: ao quebrar de fronteiras e sairmos do ponto de partida para outras realidades. Na sua perspetiva, só assim demonstramos a credibilidade e já ninguém se ilude com postais bonitos com enquadramentos estudados. Há uma simplicidade que se embeleza pela genuinidade de uma arte com emoções.


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ALVADANCE POR #PEDROSANTOS ALVADANCE DESCONSTRÓI FRONTEIRAS EM NOME DA DANÇA E DA JUVENTUDE

encheu completamente. Não havia como negar que o Alvadance estava a agitar a Da garagem de casa para palcos de todo o país, de meia dúzia de amigos do irmão para qua- comunidade. se duzentos jovens, o AlvaDance está há mais de dez anos a trilhar caminho com a certeza de que fazem mais do que dançar. Querem estar envolvidos na comunidade e agitar a juventu- Depois do primeiro espectáculo o grupo de. Querem ser e estar. já pedia crescimento. Para isso, saiu da garagem de sua casa e começou a dar Nascida em França, Silvia Cruz é “a Sissi da dança”, como ouvimos sempre que os bailarinos do aulas na Academia Corpus em Alvarelhos. Alva pisam o palco e há dez anos que agita o panorama cultural trofense. Talvez pela intensidade Mas, em poucos anos, o espaço não e frenesim da sua vida, já não sabe em que ano chegou a Portugal, 2005 ou 2006. Cresceu a dançar chegava. Criou então, em Alvarelhos, o nas ruas, onde sentia o prazer da transmissão da cultura hiphop. Aí aprendeu expressão corporal, AlvaEstudio e o projecto foi crescendo, jazz e cultura moderna. Teria 15 anos quando deixou Rennes para viver em Alvarelhos. De França palco a palco, até encher o Teatro Sá da para a nossa freguesia vizinha começou por dar aulas por brincadeira a um pequeno grupo de Bandeira no Porto mais do que uma vez. amigos do irmão. Em pouco tempo tudo se foi tornando mais sério e o projecto foi crescendo. À medida que o projecto ia crescendo, Começou em casa. “Ele levava os amigos e eu divertia-me a dar-lhes aulas”. Os pais começaram a teve de ir procurando professores que pedir-lhe que “pensasse naquilo mais profissionalmente”. Os jovens traziam os amigos e o grupo ia pensassem como ela, não só na dança, crescendo. Começaram seis e, todas as semanas, mais jovens se juntavam. mas sobretudo “em relação ao dinamismo do concelho”. Queriam ter outros estilos O primeiro espectáculo que deram foi nas festas de S. João em Guidões, a pedido da Comissão de Festas. Alguém soube que existia aquele grupo e o desafio foi-lhe feito. Nesse dia, em palco, estavam de dança e queriam chegar a mais jovens. vinte e seis jovens dançarinos. Depois desse momento foram chegando sempre mais jovens, até ao E assim foi acontecendo: uma vez mais, em poucos anos. o espaço não chegava. Veio ponto em que tinha de começar a pensar com alguma seriedade no projecto que tinha em mãos. para a freguesia vizinha, São Cristóvão do Foi nesse momento que “decidi voltar à minha paixão pela dança”. Começou a trabalhar como baila- Muro, para poder dar ainda mais condirina a nível profissional, a conhecer o meio, a estudar e a trabalhar com um grupo profissional em ções aos alunos e futuro ao projecto que espectáculos e em animações. Contudo, não via um caminho possível: “nunca pensei que ia dar continua a crescer. Nesse momento disse: “ em três anos...ou dá, ou não dá”. Mas o para o futuro”. trabalho e a determinação traz sempre Ainda que com mais seriedade, a dança “não era um futuro possível, era um passatempo”. “Sempre frutos e acabou tudo por acontecer. O quis ter uma família grande muito cedo” e sabia que a vida de dançarina “era muito penosa para ter AlvaCenter, entre todas as modalidades, uma família”. Além disso sentia muita discriminação no meio do espectáculo por ser bailarina, algo tem quase 200 alunos por semana dandoque não queria que nenhum dos jovens sentisse. No fundo, não passava de um projecto pessoal lhe movimento. Só em dança, tem turmas enquanto estudava filosofia na faculdade para vir a trabalhar em campanhas políticas, como sonhava. que vão de “babys” (dos três aos seis anos) a turmas preparadas para competiConta que todos os espectáculos a marcaram porque é neles que os professores sentem o que estão a ções, passando por vários estilos entre as fazer. Talvez o mais marcante tenha sido “Gama o Salvador de Lagotrop”, a história de uma criança que danças urbanas, o jazz e o ballet. perdeu a cor na sua vida e que entra numa aventura interplanetária para a recuperar. O Salão Paroquial Acredita que o projecto do Alvadance “nunca passou só por dança”. Desde cedo que era uma forma de dinamizar a comunidade, não era para competições. Queria, através do hiphop dar uma alternativa de ocupação e formação aos jovens. “Comecei a dar aulas com a ideia de dinamizar o que se passava aqui”. Hoje é mais do que isso, querem “ensinar a dançar, a ser e a estar”, querem formar mais do que bailarinos, querem formar jovens cidadãos. Querem que os alunos cresçam ali, “não vêm para aqui brincar, há técnica, há trabalho, gostamos disso, FOTO DE GRUPO, ALVADANCE [FOTO ALVADANCE] gostamos de avaliar e de ter relação com os pais”. Acompanham de perto o percurso escolar dos jovens porque só assim a escola se torna reconhecida e podem levá-la a competições.

ALVA GOLD, ALVADANCE [FOTO ALVADANCE]

A ideia de fronteira entre freguesias vizinhas é completamente derrotada em projectos como o Alvadance. Embora exista uma relação umbilical com Alvarelhos porque foi lá que tudo começou, e o próprio nome o denuncia, vir para o Muro foi a oportunidade de chegar a mais jovens e atingir outra população. “É mais aberto, há pessoas de Ribeirão, do Castelo e da Trofa.” Mas Sissi afirma determinada: “não deixo de ser de Alvarelhos, agora sou do Muro… depois sou da Trofa”. Não pode haver limites para um projecto que já não se trata só de dança. Trata-se de cultura e de juventude.


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MENINOS CANTORES DO MUNICÍPIO DA TROFA POR #TÂNIAQUINTAS Entrevista Antónia Serra: “O trabalho de coro faz com que O coro conta com cerca de 40 crianças e gostaria que os meninos tivessem, todos, as crianças sejam induzidas à ordem, disciplina, organi- adolescentes. As idades variam entre os um pouquinho mais de tempo. Gostava zação e ao respeito pelo próximo.” 6 e os 14 anos. de passar mais tempo com o coro. A carga horária nas escolas é muito grande, O Coro dos “Meninos Cantores do Município da sobra pouco tempo. Trofa” completa este ano 18 anos de existência. Antónia Serra, fundadora e atual dirigente do grupo ¶ Qual a principal essência dos demonstra-se bastante orgulhosa do trabalho “Meninos Cantores”? ¶ Que projetos idealizam para o desenvolvido por este que foi o “primeiro projeto Divulgação da música coral infantil. futuro? cultural da Câmara Municipal da Trofa”. Formação de públicos. O trabalho de coro Em entrevista ao boletim Mural, conta como surgiu faz com que as crianças sejam induzidas Não faço grandes projetos para o futuro. o projeto, a essência deste grupo e desvenda, à ordem, disciplina, organização e ao Todos os anos entram e saem novos subtilmente, o que se pode esperar dos “Meninos respeito pelo próximo. Formar melhores elementos. Tenho objetivos anuais. pessoas através do espírito de grupo. Cantores” no futuro. No próximo ano fazemos “18 anos a cantar”. Será um ano em grande com muitos concertos. Será um ano em que a ¶ Como começou o grupo coral: “Meninos Cantores ¶ Quais as principais dificuldades que Instituição que representamos, a Câmara tem encontrado ao longo do caminho? Municipal da Trofa e todos os trofenses do Município da Trofa”? continuarão a orgulhar-se do coro dos Na sequência de um projeto meu de voluntariado “canto Não sinto grandes dificuldades, mas Meninos Cantores do Município da Trofa.

MENINOS CANTORES DO MUNICÍPIO DA TROFA, 18º ANIVERSÁRIO DO MUNICÍPIO DA TROFA [FOTO DE O NOTICÍAS DA TROFA]

coral nas escolas”. Este projeto levou ao Brasil a Escola do Cerro 2 Guidões, no âmbito das Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. Programa aprovado pela Comissão Bilateral das Comemorações dos Descobrimentos Portugueses – 1998. Esta escola representou Portugal no Brasil,”Escola Alunos Descobrimentos” cantando temas populares portugueses de Norte a sul do Brasil. O coro dos Meninos Cantores do Município da Trofa, nasce a 1 de Outubro de 1999 e foi o primeiro projeto cultural da Câmara Municipal da Trofa.

¶ Acompanhou este projeto desde início? Que funções desempenha a Antónia nos “Meninos Cantores”? Sim. Abracei desde a primeira hora. Dirijo o coro desde a fundação.

¶ Quantos meninos/meninas tem o projeto neste momento? Quais as suas idades?

MENINOS CANTORES DO MUNICÍPIO DA TROFA, 18º ANIVERSÁRIO DO MUNICÍPIO DA TROFA [FOTO DE O NOTICÍAS DA TROFA]


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OBRAS

ARRANJOS URBANÍSTICOS POR #PEDROSANTOS OBRAS: RESPONDER, PRESERVAR E MELHORAR A FREGUESIA DO MURO Os últimos meses na Freguesia do Muro foram marcados pelo início de grandes obras, assim como pequenas intervenções que respondam às necessidades. Em final de mandato nos destinos da Freguesia, este Executivo mantém a postura de que assumiu desde o primeiro momento: responder aos problemas, preservar o património e criar mais condições para a qualidade de vida de todos os que vivem ou visitam São Cristóvão do Muro. Na Capela Mortuária será colocada uma pérgola para resguardar as pessoas da chuva e do frio durante os velórios. Há muitos anos que todos sentiam esta obra como uma necessidade. Em qualquer velório, agrupavam-se os cidadãos no exterior da Capela Mortuária sujeitos ao desconforto. Perante a experiência dos mandatos anteriores à frente dos destinos na nossa Junta de Freguesia, este Executivo em campanha já havia anunciado a importância que esta obra teria para a população. Assim que tomou posse, definiu como uma das prioridades para o quadriénio vigente a execução da empreitada. Desta forma, a partir dos próximos meses, todos terão mais conforto na hora difícil do luto. CAPELA MORTUÁRIA, CONSERVAÇÃO

Como resposta ao desgaste natural do tempo, as paredes do nosso Cemitério e as paredes da Capela Mortuária foram novamente pintadas. Desta forma, garantimos a conservação do património bem como a imagem cuidada para todos.

O nosso Cemitério não tem sepulturas para cedência disponíveis. Da mesma forma, também zona geral de sepulturas tem todos os espaços preenchidos. Esta situação é bastante delicada porque, por um lado não existe espaço disponível para quem não tiver espaço cedido, mas, ao mesmo tempo, não existe a possibilidade dessas pessoas adquirirem um espaço. Para dar resposta à situação, a Junta de Freguesia investirá no alargamento do nosso cemitério com vista à venda e disponibilização dos espaços de uma forma sustentável que permita dar resposta à ocupação dos próximos anos. Depois do arranjo do terreno e da vedação do mesmo, serão construídas até 110 sepulturas à medida que exista procura e necessidade.

NACIONAL 14, SISTEMA DE SINALIZAÇÃO LUMINOSO

RUA DA PONTE, NIVELAMENTO DAS CAIXAS DE SANEAMENTO

RUA DO SOBREIRO, INTERLIGAÇÃO DE PASSEIOS PEDESTRES

Na Rua da Ponte foram re-niveladas algumas caixas de saneamento que pelo desgaste natural e pelas sucessivas intervenções começavam criar risco de dano nas viaturas dos habitantes.

Já arrancaram as obras da terceira fase da requalificação do do Recinto de São Pantaleão. Esta é a última fase de uma obra projectada e iniciada em 2013. Depois do alargamento e pavimentação da estrada de acesso ao recinto em 2013 e do arranjo urbanístico do espaço envolvente à Capela, é agora o momento da construção de um anfiteatro aberto com uma base para palcos dos futuros espectáculos a realizar, tanto nas Festa em Honra de São Cristóvão e de São Pantaleão, como noutras actividades que serão certamente atraídas. A partir do final de Maio, teremos ao dispor da freguesia e de todos os que nos visitam, um espaço moderno, funcional e aprazível para servir toda a dinâmica que aquele recinto permite e o muito que significa para todos os murenses. É mais enorme passo naquela que foi a obra mais ansiada pela nossa freguesia ao longo de quase 30 anos.

RECINTO DE S.PANTALEÃO, PONTO DE SITUAÇÃO DAS OBRAS

RECINTO DE S.PANTALEÃO, CONSTRUÇÃO DE ANFITEATRO ABERTO

CEMITÉRIO DO MURO, PINTURA DAS PAREDES

O facto de uma das estradas mais movimentadas do país atravessar a nossa freguesia acarreta muitas responsabilidades e consequentes preocupações com o bem-estar e a qualidade de vida de todos os Murenses e de quem todos os dias passa na nossa Freguesia de carro ou a pé para os transportes públicos. Perante isto, a gestão da localização e da sinalização das passadeiras da Estrada Nacional 14 é um assunto complexo que merece muita atenção e reflexão antes de cada decisão. Perante pareceres das entidades competentes, como já foi explicado em várias Assembleias de Freguesia, em vias como a nossa, não deverão ser colocados semáforos, por exemplo, para garantir a segurança dos peões. Assim, procurando um método eficaz para sinalização clara das passadeiras existentes, foi colocado a título experimental na passadeira do alto da Serra um sistema de sinalização de passagem, um projecto pioneiro no concelho.

CEMITÉRIO DO MURO, ALARGAMENTO

Na Rua do Sobreiro, em Quintão, os passeios pedestres não estavam interligados entre si. A urbanização não tinha ainda enquadradas estas questões com os arruamentos em volta. De forma a corrigir a situação, os passeios pedestres tiveram uma pequena intervenção no sentido de serem ligados à via pedestre existente.


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HISTÓRIA

RETALHOS DO PASSADO POR #MANUELMOUTINHO DR. ÁLVARO DE SOUSA E SÁ

Nascido no ano em que nasceu Salazar, 1889, viriam a ser colegas na Universidade de Coimbra, em cursos diferentes: Álvaro São Cristóvão do Muro (17/FEV/1889 – 26/FEV/1976) de Sousa e Sá, em Medicina e António de Aos vinte e quatro dias do mês de Fevereiro do ano de mil Oliveira Salazar, em Direito. oito centos e oitenta e nove, nesta Igreja Paroquial de São Cristóvão do Muro, concelho de Santo Tirso, diocese do Licenciou-se em Medicina com a classificaPorto, baptizei solenemente um indivíduo do sexo mas- ção geral de bom, obtendo em medicina sanitária dezasseis valores. culino a quem dei o nome de Álvaro, que nasceu no lugar de Gueidãos desta freguesia do Muro pelas nove ho- Aos vinte e cinco anos, foi mobilizado para ras da noite do dia dezassete do dito mês de Fevereiro e a Grande Guerra de 1914/18, integraano de mil oito centos e oitenta e nove, filho legítimo de do nos Serviços de Saúde, como CapitãoDomingos de Souza e Sá, capitalista, natural da freguesia Médico do Exército. de São Mamede de Coronado do dito concelho e diocese e de Maria da Silva Correa e Sá, lavradeira, natural da fre- Considerando que, em Santo Tirso, os dois guesia da São Vicente de Alfena do concelho de Valongo e partidos médicos existentes se situavam na sede do concelho, a Câmara Municipal dita diocese do Porto, recebidos e paroquianos nesta fre- deliberou, em 27 de Junho de 1934, criar guesia do Muro e moradores no dito lugar de Gueidãos; um novo partido médico, com sede na freneto paterno de Joaquim de Souza e Sá e Jozefa d’Oliveira guesia de São Tiago de Bougado. Estaria Corrêa e materno de Manuel Coelho Moreira e Albina da ao serviço da população das freguesias Silva Corrêa. Foi padrinho Joaquim de Souza e Sá, lavrador, de São Tiago e São Martinho de Bougado, casado e madrinha Albina Correia da Silva, casada e am- São Mamede e São Romão de Coronado, bos avós da criança, os quais todos sei serem os próprios. Covelas, Guidões e Muro, num total de E para constar lavrei em duplicado este assento que, de- onze mil quatrocentos e três habitantes pois de lido e conferido perante os padrinhos, o não assina (Censo de 1930). a madrinha por não saber escrever. Era ut supra. O Reitor Com quarenta e cinco anos, o Dr. Álvaro de Francisco Moreira Azenha. Sousa e Sá foi um dos concorrentes ao lugar. (Arquivo Distrital do Porto. Paróquia de Muro. Registos de baptismos, 8 – 171)

so verifica-se que o candidato Doutor Avelino Padrão terminou o seu curso com a classificação de bom e foi classificado com dezassete valores no exame de medicina sanitária e que o candidato Doutor Sá teve também no seu curso uma classificação geral de bom, obtendo em medicina sanitária dezasseis valores, segundo consta do documento referido, caso a Comissão resolva apreciá-lo. O candidato Doutor Padrão apresentou a folhas vinte e cinco documento pelo qual comprova o exercício regular da clínica, com o pagamento do imposto profissional e a folhas vinte e seis outro documento comprovativo da maior assiduidade, proficiência e espírito altruísta na assistência aos doentes pobres duma grande parte do concelho, desde mil novecentos e dezasseis e ambos mostram ter prestado serviços na Grande Guerra, nos Serviços de Saúde, tendo o concorrente Doutor Padrão somente mais tempo de serviço em campanha. Assim, submete o processo à votação por escrutínio secreto, depois de resolvida a questão prévia do documento indevidamente selado. A Comissão deliberou, nos termos da lei, considerá-lo como irrelevante. Em seguida, procedeu-se à votação, por escrutínio secreto, tendo cada um dos vogais lançado na urna a sua lista, escrita por cada um nesse acto e verificandose no respectivo apuramento que foi votado por quatro votos, número das listas entradas, ou seja por unanimidade dos vogais presentes e maioria absoluta dos membros da Excelentíssima Comissão o candidato Doutor Avelino da Costa Moreira Padrão. E havendo a maior vantagem a bem da assistência aos doentes pobres abrangidos pelo novo partido em que o nomeado entre em exercício o mais urgentemente possível, a Comissão deliberou considerar aprovada desde já nesta parte a presente acta.”

“O senhor presidente apresentou o processo de concurso para facultativo municipal do novo partido com sede em S. Tiago de Bougado, informando que se habilitaram ao respectivo concurso os Doutor Avelino da Costa Moreira Padrão e Doutor Álvaro de Sousa e Sá. Verifica-se que ambos apresentaram os documentos exigidos por lei e ainda outros tendentes a obter preferência na votação, mas ele presidente tem dúvida quanto à legalidade do certificado de folhas quarenta e oito (certificado de exame de medicina sanitária) do concorrente Doutor Álvaro de Sousa e Sá, por não se encontrar devidamente selado, pois lhe parece que tal documento, aliás essencial, não pode ser tomado em consideração nos termos do parágrafo quinto do artigo duzentos e dezassete do Regulamento Geral do Imposto de Selo, mas a Comissão resolverá. Do exame do proces-

(Câmara Municipal de Santo Tirso. Da acta da sessão de 26 de Setembro de 1934)

O médico Dr. Álvaro de Sousa e Sá, conhecido por “Doutor da Brasileira”, residia na aldeia de Gueidãos, administrando a sua casa agrícola, a maior desta aldeia.

OS QUINZE MAIORES CONTRIBUINTES DA CÔNGRUA PAROQUIAL EM 1910

ÁLVARO DE SOUSA E SÁ, ALUNO DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

N.º

NOME

1

Maria da Silva Correia e Sá (Viúva)

LUGAR

CÔNGRUA

Gueidãos

6$660

2 3

Manuel António Duarte (a viúva)

Matos

6$540

António Matos d’Azevedo Mendonça

Matos

6$480

4

António de Sousa Moreira

Real

5$800

5

Manuel Francisco da Silva Castro

Real

4$970

6

Joaquim d’Oliveira Sousa e Sá

Gueidãos

4$950

7

Rita Monteiro da Silva Salazar (Dona)

Foz

4$620

8

Manuel de Sousa Reis Carriça

4$430

9

Henrique Ferreira Maia

Gueidãos

4$200

10

José Caetano da Silva

Quintão

4$100

11

Francisco Moreira Azenha (Reitor)

Real

4$030

12

Joaquim Moreira d’Assunção

Vilares

4$000

13

Joaquim de Sousa Moreira

Vilares

4$000

14

Caetano da Silva Pereira

Carriça

3$940

15

António da Silva Moreira

Real

3$910


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O Dr. Álvaro de Sousa e Sá faleceu em São Cristóvão do Muro: Álvaro de Sousa e Sá, de oitenta e sete anos, solteiro, faleceu, de isquemia cerebral, às duas horas do dia vinte e seis do mês de Fevereiro de mil novecentos e setenta e seis, na freguesia de Muro, concelho de Santo Tirso. Foi sepultado no cemitério de Coronado (São Mamede), Santo Tirso. (Assento n.º 167 do ano 1976, da Conservatória do Registo Civil de Santo Tirso)

PROF.ª LAURA IRIA VITAL São Salvador, Beja (22/ABR/1889) – Ramalde, Porto (13/JAN/1975) Aos quinze dias do mês do Setembro do ano de mil oitocentos oitenta e nove, nesta Igreja paroquial de São Salvador, da cidade, concelho e diocese de Beja, baptizou solenemente, de minha licença, o presbítero João Maria Afonso, um indivíduo do sexo feminino a quem deu o nome de Laura, que nasceu na casa n.º 4 da rua Ancha, às nove horas da noite do dia vinte e dois do mês de Abril do ano de mil oitocentos oitenta e nove, filha legítima de António Henriques Vital, Tabelião de notas, natural da freguesia de São João Baptista, desta cidade de Beja, e de Dona Maria Isabel Beque Vital, que se emprega em serviços domésticos, natural da freguesia da Sé, da cidade, concelho e diocese de Évora, recebidos nesta freguesia do Salvador, da mesma paroquianos, e moradores na referida casa da rua Ancha, neta paterna de Francisco António Vital e de Dona Maria José Cardeira Vital, e materna de Telesfóro Beque e de Valentina Álvares. Foi padrinho António Henriques Vital Júnior, solteiro, estudante, e madrinha Dona Virgínia Amélia Vital, solteira, os quais sei serem os próprios. E para constar lavrei em duplicado este assento que, depois de ser lido e conferido perante os padrinhos, assino. Era ut supra. O pároco colado Luiz Augusto da Costa. (Assento n.º 46 do ano 1889, da Conservatória do Registo Civil de Beja)

O livro de actas da Comissão Paroquial Administrativa do Muro contém os seguintes registos: “O Presidente (Manoel Luiz Ferreira Torres) disse que se acham as escolas d’esta freguezia concluídas e que, visto o grande afan com que tinham trabalhado todos os membros d’esta corporação na grande obra altruísta que um benemerito bemfeitor legou ao povo d’esta freguezia para receberem a instrucção tão benefica para quem d’ella necessita e para quem esse obreiro da emancipação nacional julgou conveniente, propunha para que se reclamasse do Excelentissimo Ministro do Interior da Republica Portuguesa a imediata criação das duas escolas, visto que o edifício está construído em condições de ser adaptado aos dois sexos.” (Sessão ordinária de 21 de Janeiro de 1912)

“Este dia, (dezassete de Março de 1912) disse o presidente, foi sem duvida de grande effeito e maravilhoso deslumbramento para nós em vermos representadas as auctoridades administrativas d’este concelho, a quem, com alegria, entregamos as chaves do templo onde muito breve veremos acoitados os nossos filhos recebendo a instrucção, e n’estes casos pedia para que ficasse escripto n’este livro que as escolas d’esta freguezia, legadas pelo benemérito José de Moura Coutinho, foram inauguradas e entregues à Excelentíssima Câmara Municipal d’este concelho no dia dezassete de Março do anno de mil novecentos e doze.” (Sessão ordinária de 31 de Março de 1912)

D.ª Laura Iria Vital foi a primeira professora da escola primária feminina do Muro, nomeada por Despacho de 30 de Setembro de 1912. O seu nome continua vivo na memória de algumas das suas meninas – hoje vetustas senhoras – e na placa toponímica da rua onde se encontra a casa que foi sua, na qual residiu e que legou à Paróquia de São Cristóvão do Muro.


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A professora D.ª Laura apresentou na Conservatória do Registo Predial de Santo Tirso PROF.ª ADELAIDE DE OLIVEIRA MAIA uma escritura, lavrada em 21 de Abril de 1938, para requerer o registo, a seu favor, de um prédio que comprara a Joaquim de Sousa Rocha e mulher Lucinda Moreira de São Cristóvão do Muro (24/MAI/1921) Sousa, pelo preço de 3.750$00. Prédio: “Uma casa com dois pavimentos e quintal, no lugar de Real, freguesia de Muro, a con- Adelaide de Oliveira Maia nasceu às zero horas e trinfrontar de norte com os vendedores, nascente com a linha férrea do Norte, sul caminho de ser- ta minutos do dia vinte e quatro de Maio do ano de vidão particular e poente caminho.” mil novecentos e vinte e um na freguesia de Muro, do O prédio corresponde ao actual artigo matricial n.º 220 da freguesia do Muro, cria- Concelho de Santo Tirso. Filha de Manuel de Oliveira Maia, de quarenta anos, casado, natural da freguesia do em 1977. Titular: Fábrica da Igreja Paroquial da Freguesia de S. Cristóvão do Muro. Descrição: “Prédio com 2 pisos e 8 divisões, destinado a habitação, composto de uma casa de r/c com 4 divisões, 1.ª dependência com 1 divisão e 1.º andar com 4 divisões.” A Professora D.ª Laura faleceu no Porto: Laura Iria Vital, de oitenta e cinco anos, solteira, faleceu, de broncopneumonia, às dezanove horas do dia treze de Janeiro de mil novecentos e setenta e cinco, na freguesia de Ramalde, concelho do Porto. Foi sepultada no cemitério de Agramonte, Porto. (Assento n.º 59 do ano 1975, da 2.ª Conservatória do Registo Civil de Porto)

de Muro, concelho de Santo Tirso, morador no lugar de Quintão, Muro, Santo Tirso, e de Rosa Gonçalves de Oliveira, de trinta e nove anos, casada, natural da freguesia de Guidões, concelho de Santo Tirso, moradora no lugar de Quintão, Muro, Santo Tirso. Neta paterna de José de Oliveira Maia, da freguesia de São Tiago de Bougado, e Ana Ferreira de Jesus, da freguesia de Muro e materna de António Gonçalves de Oliveira, natural da freguesia de Guidões, e de Esperança Maria Rosa de Jesus, natural da freguesia de Alvarelhos, todas do dito concelho de Santo Tirso. Averbamento n.º 1 – Casou catolicamente com Baldomero Dias da Silva, em vinte e oito de Setembro de mil novecentos e quarenta e três. Averbamento n.º 2 – O casamento averbado sob o n.º 1 foi dissolvido por morte do marido, em 29 de Maio de mil novecentos e noventa e quatro. (Assento n.º 543 do ano 1921, da Conservatória do Registo Civil de Santo Tirso). Adelaide de Oliveira Maia foi aluna da Dona Laura na escola primária feminina de São Cristóvão do Muro, onde é, hoje, o Salão Nobre da Junta de Freguesia. “Aluna brilhante” – considerava a Professora! “Aluna distinta” – reconheciam as suas companheiras de escola! Ouvi eu – tantas vezes! – da boca de algumas delas.

O DIPLOMA DE PROVIMENTO – DIPLOMA DE FUNÇÕES PÚBLICAS – NO LUGAR DE PROFESSOR PRIMÁRIO DA ESCOLA PARA O SEXO FEMININO DA FREGUESIA DE MURO, PASSADO A D.ª LAURA IRIA VITAL, ESTÁ DATADO DE 30 DE DEZEMBRO DE 1914.

A Adelaide não abandonou a escola primária como muitas, nem se quedou por aí, como as outras. E não se opuseram os pais à vontade que a sua filha tinha de “ir estudar”, o que significaria, no imediato, avultado sacrifício para um casal com oito filhos e parcos recursos. Maior seria ainda o sacrifício, não fora o talento da “cachopa”, que viria a assegurar-lhe aprovação no final do ano lectivo, isenção de propinas e lugar no Quadro de Honra no Liceu de Santo Tirso. Aí esteve matriculada, em 1934/35 e1935/36, nos dois primeiros anos como aluna interna, assim designados os alunos que frequentavam as aulas no liceu. Externos se designavam aqueles que as frequentavam em estabelecimentos de ensino particular, estando apenas inscritos no liceu. A propósito, recordo Maria Augusta Gonçalves Cerejeira – também veio a ser professora da nossa escola primária – foi aluna externa do Liceu Municipal de Santo Tirso, pois frequentava as aulas no Colégio de Lourdes, em Santa Cristina do Couto.


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ALUNA ADELAIDE, SANTO TIRSO, 1935

Em 1936, na Sessão de 1 de Julho, a Câmara Municipal deliberara patrocinar um pedido dos pais dos alunos dirigido ao Ministro da Educação Nacional, a fim de ser criado o quarto ano no liceu de Santo Tirso. A pretensão não foi atendida pelo Ministro – o Dr. Carneiro Pacheco, de Santo Tirso –, a frequência foi decrescendo e o liceu acabou por ser extinto pelo Decreto n.º 39.700, de 18 de Junho de 1954, que criou a Escola Industrial e Comercial, sendo, então, Ministro da Educação Nacional o Dr. Pires de Lima, de Santo Tirso. Na mesma Sessão, a Câmara

deliberou também enviar à Companhia dos Caminhos de Ferro do Norte de Portugal um pedido de alguns pais de alunos, que “embaraçados com a falta de comboios a horas convenientes, solicitam que o comboio das oito horas e quinze minutos que fica na Trofa, seja prolongado até à estação desta Vila”. No ano lectivo de 1936/37, a Adelaide continuaria a viver em Santo Tirso, na casa particular que a acolhera em 1934, frequentando o terceiro ano e vindo a ser, no final do ano, uma dos quarenta e quatro alunos aprovados em todas as disciplinas do 1.º ciclo liceal. Para prosseguir os estudos, como tanto desejava, a Adelaide foi inscrita no Liceu Nacional de Carolina Michaëlis, no Porto. Durante a Segunda República, a frequência escolar deste Liceu baixou consideravelmente, porque “não interessava que houvesse muitas raparigas a estudar, era só uma elite”. Daí o Carolina ser apelidado, com alguma ironia, de “Universidade da Carvalhosa”. Aqui continuou Adelaide com isenção de propinas e fora do lar paterno. Agora, em casa do seu irmão Adriano, mais velho uns quinze anos, com residência nos subúrbios da cidade, na Areosa. Grande era a estirada que percorria a pé, diariamente, entre a casa e o liceu!

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Entre 1941 e 1974, na Escola com as características referidas, a Professora D. Adelaide ensinou largas centenas de crianças, mormente de Santa Maria de Alvarelhos, onde leccionou durante trinta anos. Interpretando o reconhecimento da população, a Junta de Alvarelhos atribuiu a uma rua da freguesia a designação: Rua D. Adelaide (Prof.ª). Também neste período casou, cumprindo o determinado no Art. 9.º do Decreto-lei n.º 27:279, de 24 de Novembro de 1936, acima transcrito. Dirigiu requerimento ao Ministro a pedir autorização e o pretendente, Baldomero Dias da Silva, seu conterrâneo, apresentou atestado de bom comportamento moral e civil, e documento comprovativo de auferir vencimento compatível, pois era segundo artilheiro da armada e autorização do Comandante do Corpo de Marinheiros. Entre 1974 e 1988, na sua terra natal, a senhora Professora D. Adelaide entrou numa Escola saída da Revolução de 1974. Numa Escola em que, como escreveu o Ministro Sottomayor Cardia, era necessário separar demagogia de democracia. A senhora Professora nunca deixou seduzir-se pela atitude demagógica que conduz à permissividade, à indisciplina e à perda de autoridade e prestígio dos professores, com efeitos nocivos para a qualidade do ensino. Interpretando o reconhecimento da população, a Associação de Pais e Encarregados de Educação dos Alunos da Escola do Muro promoveu uma homenagem pública à senhora Professora D. Adelaide (e aos senhores professores também aposentados D. Hermínia Cruz e Prof. Reboredo Mota), no dia 9 de Novembro de 1996. Quarenta e sete anos a ensinar e a formar grande número de crianças; mais de um milhar, seguramente. Ocorre-me este naco da excelente oratória do Padre António Vieira, pregando em defesa dos índios brasileiros – in Sermão do Espírito Santo: “............. É uma pedra, como dizeis, esse índio rude? Pois trabalhai e continuai com ele (que nada se faz sem trabalho e perseverança), aplicai o cinzel um dia e outro dia, dai uma martelada e outra martelada, e vós vereis como dessa pedra tosca e informe fazeis, não só um homem, se não um cristão, e pode ser que um santo.”

As escolas do magistério primário foram encerradas de1936 a 1940 pelo Governo. Mais uma medida do Estado Novo a comprovar que “não interessava que houvesse muitas raparigas a estudar”. A Adelaide tirou proveito de uma porta que se abriu: um concurso extraordinário destinado a estágio para formação de professoras do ensino primário. Frequentava o Liceu Carolina Michaëlis, onde tencionava prosseguir os estudos, mas concorreu, foi admitida e ficou aprovada. A professora Adelaide de Oliveira Maia começou a leccionar na freguesia de Folgosa, da Maia. Entrava, assim, em 1941, na Escola saída da Reforma que Carneiro Pacheco iniciara em 1936, que: - preconizava “o ideal prático e cristão de ensinar bem a ler, escrever e contar, e a exercer as virtudes morais e um vivo amor a Portugal”; - pretendia “fosse colocado o crucifixo por detrás e acima da cadeira do professor” - institucionalizou “um livro único para cada classe”; - estipulou “o ensino primário será ministrado em regime de separação de sexos”; - determinou “é obrigatória para todos os alunos do ensino primário a inscrição nos quadros da Mocidade Portuguesa”; - prevenia “será demitido o funcionário pertencente aos serviços do ensino primário que dê escândalo público permanente”; - determinou “o casamento das professoras não poderá realizar-se sem autorização do Ministro da Educação Nacional, que só deverá concedê-la nos termos seguintes: 1.º ter o pretendente bom comportamento moral e civil; 2.º ter o pretendente vencimentos ou rendimentos, documentalmente comprovados, em harmonia com os vencimentos da professora”.

PROFESSORA ADELAIDE, PORTO, 1941


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LITERATURA CÉU EM CHAMAS POR #MANUELPEREIRA Corria devagar o tempo no batalhão de pára-quedistas, em Bissalanca, na Guiné-Bissau, na semana que antecedia o Natal de 1973.Muito mais devagar do que o desejo e a paciência do Toni Maia e demais camaradas, jovens com sangue na guelra, e longe da família, da terra, e dos amigos. Maia não era apelido do Toni, mas apenas o nome da sua terra, que, tal como no caso de muitos dos seus companheiros, passou a fazer parte da sua identidade. Notícias difusas, que todavia circulavam velozmente, qual fogo em capim ressequido, davam conta dum suposto “movimento” que tinha o intuito de acabar com a guerra colonial. Alguma acalmia por parte do inimigo também ajudava a fortalecer a esperança de passar o Natal no aconchego do batalhão. Pura e doce ilusão! Segunda-feira, dia de consoada, quatro da manhã, ordem para a companhia abalar. Para onde? Nordeste, junto à fronteira com a Guiné-Conacri, acudir a um destacamento – Bamuko – com o risco iminente de cair nas mãos dos turras. O batalhão funcionava assim como uma espécie de corporação de bombeiros a acudir a situações de extremo perigo, dando uma mão aos corajosos camaradas do exército, quando se tornava impossível manter as unidades que tão galhardamente defendiam, tantas vezes pagando com o preço da própria vida!

ços. Mais nada! Uma mina anti-pessoal, acoplada a outra anticarro, com uma força capaz de atirar um camião pelos ares tinha pulverizado o corpo do seu amigo. Nunca mais regressaria à sua Vidigueira natal que tanto amava. Depois dos héli’s terem recolhido o que restava do desventurado camarada, a coluna retomou a marcha. Um passo era agora um suplício, cada qual tentando adivinhar onde estaria escondida a próxima mina. Aquela hora seguinte demorou uma eternidade, e os suores que caíam abundantemente das suas frontes não eram só devidas ao terrível calor. Dum momento para o outro, porém, tudo mudou. Entraram numa zona queimada por bombas de “napalm”, um cenário apocalíptico, onde a cinza lhes dava pelos joelhos. O foco estava agora centrado no perigo que corriam numa área tão manifestamente desprotegida e na dificuldade em avançar naquele inferno!

Duas semanas antes, outra companhia operacional, a 144, tinha feito trabalho idêntico em Fuxima, salvando in-extremis dois pelotões de bravos, que sobreviveram algumas semanas como toupeiras, enfiados nas valas sob fogo cerrado dos morteiros inimigos! A guerra na Guiné-Bissau, principalmente junto às fronteiras com o Uma árvore majestosa, que resistira às Senegal e a Guiné-Conacri, países que apoiavam os “mobombas de fósforo era atacada por milhavimentos de libertação”, estava praticamente perdida. res de abelhas, que, removendo a casca, Lá foram então a caminho de Bamuko. Primeiro de sugavam avidamente a seiva salvadora. avião até Nova Lamego; depois de Berliet; e a parte fi- De repente, como que comandadas por nal a pé pelo mato, pois a picada estava semeada de mi- alguma entidade desconhecida, largaram nas. Chegados ao aquartelamento de madrugada, aqui- a árvore e atiraram-se aos seus corpos. lo que lhes era dado ver ultrapassava de longe os piores Não para os atacarem, mas apenas à propesadelos! Tudo literalmente arrasado, o chão era um cura do suor que lhes salvava assim a vida tapete de aletas das granadas dos morteiros, e as ogi- naquele braseiro. Caminharam assim alvas da rampa de foguetões espetadas no chão a esmo guns kms, com os olhos, o nariz e as axilas por toda a área em redor! Os militares exaustos, famin- transformados em precário cortiço. Não tos, e alguns manifestamente loucos, foram emergindo podiam subestimar o perigo de as pisar, das valas e aglomerando-se junto aos recém-chegados pois isso, as mais das vezes, representava uma sentença de morte! E só os deixaram e aos respectivos comandantes. enfim em paz, à aproximação das primeiSeria tempo de armadilhar o que restava daquele ar- ras árvores da mata, que finalmente vinha remedo de forte militar, e partir, levando o que fosse ao seu encontro. Porém, aquilo que lhes possível. Mas uma companhia de pára-quedistas nun- parecia um porto seguro, escondia na verca abandonava um lugar sem assinalar marcadamen- dade o perigo maior: uma emboscada! te a sua presença! E uma saída com dois pelotões- os outros dois ficavam a garantir a segurança do aquar- Crepitaram as kalashnikov’s dos seus initelamento – foi logo agendada para a madrugada se- migos, e, de imediato entraram com tudo guinte, à zona onde supostamente eram lançados os o troar avassalador das suas armas depressa se encarregou de demonstrar bombardeamentos. para que lado pendia a refrega! De rePartiram carregados como burros, pois somado ao pente, silêncio. Tão rápido como comeequipamento costumeiro, cada alma arcava com 5L de çou, o tiroteio findou dando lugar a uma preciosa água. Caminhavam há cerca de duas horas pe- frágil trégua. Havia dois feridos a neceslas bordas duma picada, que adivinhavam pejada de mi- sitar de evacuação urgente: o Antunes nas, quando o sol magnífico fez a sua aparição. De sú- com o joelho esquerdo desfeito, nunbito, um atroo brutal, uma coluna de terra e vegetação ca mais caminharia em condições, e o que se ergue aos céus e um grito lancinante do alferes Torres Novas com dois tiros na barriga, Afonso - Amaraaaalll!!! Era infelizmente a crua verda- graças a Deus segundo garantia o Pinto de! Amaral, um prazenteiro alentejano que por ironia enfermeiro, sem atingir nenhum órgão do destino já tinha acabado o tempo de tropa, e que só vital. Enquanto aguardavam a evacuação, se encontrava entre eles porque uma quantidade anor- um pelotão avançou até ao lugar donde mal de camaradas baixara à enfermaria com malária, supostamente foram metralhados. Dois tinha acabado de morrer. Ficou desfeito, aliás, pois do corpos de jovens, ainda muito novos, jaseu corpo só foi possível recolher uma parte dos bra- ziam cobertos de sangue! Espalhadas

pelo capim, estavam cinco armas novinhas em folha, que recolheram e seguiram de helicóptero com os feridos. A tensão era enorme, pois sabiam o inimigo muito perto com a missão de resgatar os seus mortos. Seguiram um caminho mais longo, para evitar a armadilha que representava aquele deserto de cinzas. O calor era sufocante debaixo dum sol em brasa. O equador, sob o qual rigorosamente se encontravam, ditava a sua inexorável lei. A água desaparecera num ápice dos cantis! O regresso ao destacamento adivinhava-se terrível, e as primeiras baixas não demoraram. “Não posso mais” balbuciou o Silva, tendo os companheiros não só de o amparar, como carregar a pesada MG42, que até aí empunhara com notável bravura. A seguir foi o Santos “deixai-me aqui, não aguento mais”. E, sem avisar, quase simultâneamente o Serafim Periquito caía como um tordo. Para este foi mesmo necessário improvisar uma maca, pois não conseguia dar sequer mais um passo. A coisa estava a ficar muito feia! Solicitaram então um pelotão para vir ao seu encontro, uma rara situação numa tropa de élite. Esse facto salvou-lhes literalmente a pele. Quando avistaram os seus camaradas, já a noite caía. Da tropa orgulhosa, respeitada e temida em todo o território da Guiné, só restava um grupo agonizante de maltrapilhos que mal podia com uma gata pelo rabo!


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Os seus companheiros deram-lhes água, deram-lhes ânimo, ampararam-nos. E num assomo extremo de solidariedade, carregaram os mais fracos às costas. A chegada a Bamuko foi uma cena surreal e dramática, numa penosa orgia de dôr e sofrimento! Foi assim afinal o Natal de 1973, da 141 de caçadores pára-quedistas, escrevendo uma pequena página na história da guerra na Guiné-Bissau Os ventos da liberdade sopravam perto. Em breve nem mais um jovem – português ou guineense – morreria numa guerra sangrenta e inútil. A oportunidade para a paz, estava finalmente a chegar.

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O MEU REPARO VAI…

RIMAS

POR #ADELAIDEFERREIRA

POR #HERMÍNIAABELENDA

I Pró Prof. Moutinho Duarte É um senhor na freguesia Pesquisa durante a noite E trabalha todo o dia

VI Nesse tempo caminhava-se Com os socos na mão Agora temos os pés quentes Mas frio no coração

II O presente está à vista É importante saber do passado E o professor fá-lo como ninguém É um homem muito interessado

VII O presente está a caminhar A alta velocidade Cuidado! Cuidado com o tombo! Que o passado já deixa saudade …

III Revelou-nos dados importantes Das famílias de antigamente Como eram as suas vivências De outrora até ao presente

VIII Sou do largo da Serra Nascida e criada Adoro a minha terra Não a trocava por nada

IV Mercearias e pensões Aidos pró gado descansar Pois eram as carroças e os bois Que se usavam para transportar

IX Temos campos temos montes E fontes de água a correr A nossa freguesia é linda Não a deixemos morrer

V Tempos difíceis e fome Mas com trabalho tudo se resolvia À lareira contavam-se histórias Havia muito mais alegria

X Obrigada Prof. Moutinho Também gosto de recordar Continue o seu trabalho Sei que tem muito pra dar.

Rimas perdidas no tempo que passa Trovas lançadas no fogo da vida São gritos de alma por trás da vidraça São hinos de anjos pedindo guarida Versos cantados ao sol e à lua Poemas de amor caindo em desuso São risos de jovens que passam na rua São palavras vãs em tempos de abuso São réstias de sol que encandeou? São nuvens escuras no espaço perdido? São apenas voltas que o mundo forjou São lágrimas do homem que sofre com medo? São alegrias sentidas do desconhecido? São apenas caminhos que estão em segredo


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“SOLIDARIEDADE, PATRIMÓNIO E CULTURA” POR #JOSÉLUÍSMARQUES Solidariedade, património e cultura São nestas páginas tema Estarei eu à altura De lhes dedicar meu poema? Prometo que vou tentar E, se encontrar a rima, Vai deslizar minha pena E minha mão assina.

Solidariedade

Cultura

Património

Há formas de a praticar Dispensando o necessário Com uma palavra amiga Também se é solidário.

Cultura, qual água corrente Que leva sabedoria A quem bebe na nascente Das veias que ela cria.

Património rico ou pobre Cada terra tem o seu Se não tem edificado Tem o que a natureza deu.

A presença e o convívio, Mesmo sem nada na mão, Levam conforto e alívio A quem vive na solidão.

Povo culto, povo sábio Que tem na sua matriz Os saberes do alfarrábio Naquilo que faz e diz.

História e Património Caminharão lado a lado Seja por arte ou memória Falar-nos-ão do passado.

Há instituições/movimentos Que na sua génese têm A missão de ajudar Todos os que a elas vêm.

Pode alguém ser muito rico, Poderoso e até nobre, Mas se não tiver cultura, Será sempre um rico pobre.

Conservemos o legado Com páginas da nossa história Que mostra o nosso passado E nos aviva a memória.

Patrocinada pela Igreja A Vicentina Conferência Está sempre disponível Em casos de emergência.

O novo Pólo Cultural É fruto da parceria Entre o Professor Moutinho E a Junta de Freguesia.

Tiraram-nos o comboio, Também a ponte caiu. Prometeram-nos o Metro, Obras… alguém as viu?

Também a Muro d’Abrigo, Que começou de mansinho, Em cada ajuda que presta Vai fazendo o seu caminho.

Lá irão estudiosos Aprofundar seu saber E até os curiosos Poderão lá aprender.

Amemos a nossa terra Nela nascemos e vamos Se não se defende o que tem, Que futuro lhe deixamos?

No centro acolhe utentes E, com equipas formadas, Apoia no domicílio As pessoas acamadas.

Quem investe na Cultura Faz um seguro de vida Que garantirá às gentes Um futuro com saída.

Iniciativa louvável Que cobre uma vasta área Mesmo cobrando o dízimo, É social e solidária. Há algures um frigorífico Com uma grande abertura Encham-se as prateleiras Para não haver ruptura. Não tem chave nem segredo, Todos lá podem entrar. Quem pode, deixa o que quer Quem precisa, é só tirar.


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ACTUALIDADE

O METRO COMO ALTERNATIVA AO COMBOIO POR #PEDROALMEIDA A leitura do artigo que principia na página 135 do número 1062 da Gazeta dos Caminhos de Ferro, editada a 16 de Março de 1932, deve ser feita com as devidas cautelas: intitulado “Visita do Chefe de Estado ao Norte e inauguração do túnel da Trindade e linha da Senhora da Hora à Trofa”, escrito em jeito de crónica por quem terá presenciado os acontecimentos, é pautado por adjectivação bajulatória, o que torna entediante o deliberado enaltecimento da obra da ditadura militar de Óscar Carmona; depois, quando a dado ponto da narrativa é chegado o momento de referir, ainda que sumariamente, alguns factos da passagem da comitiva pela freguesia de São Cristóvão do Muro, podem os mais saudosistas resvalar para um acesso de nostalgia ao depararem-se com o seguinte excerto: «Na ponte que existe entre os lugares de Poça (sic) Má e da Serra, sobre a estrada de Braga, o sr. ministro do Comércio apeia-se para descerrar uma lápide comemorativa da inauguração desta obra de arte. Há mais aclamações, palmas, vivas e bastantes foguetes. E o comboio segue.» Seguiu, mas não se pode dizer que tenha ido muito longe. Na eminência de completar setenta anos de serviço, o comboio parou de vez no dia 24 de Fevereiro de 2002. A ponte resistiu mais uns anos, alimentou controvérsia quanto ao destino merecido, até que a sua demolição, a 2 de Setembro de 2016, pôs fim ao debate. A concórdia possível reside numa constatação simples: setenta anos é pouco para a vida útil de uma linha férrea. Convém estarmos cientes, portanto, de que a reivindicação do Metro para a Trofa é uma fuga para a frente, isto é, trata-se da forma mais lógica de remediar um erro cometido, já que o regresso do comboio é impossível. Contudo, será legítimo assumir que ficaremos a ganhar com a mudança? Tome-se como referência a Póvoa de Varzim. A linha férrea que servia a cidade foi igualmente desativada e, estando inscrita na primeira fase do Metro do Porto, de facto reconvertida. No entanto, a transformação que englobou a duplicação da via, a eletrificação da linha, a construção de estações e a utilização de novo material circulante traduziu-se em reais melhorias do serviço prestado aos passageiros? Com grande facilidade, sem hesitar, responde-se que sim; não obstante, é curiosa a informação

disponibilizada pela própria Metro do Porto. No documento “Avaliação do impacto global da 1ª fase do projecto do Metro do Porto” é realizado um estudo interessante, justapondo o antes e o depois nas linhas intervencionadas, desde os tempos de viagens praticados, as frequências e os números mensais de passageiros. Em relação a este último indicador são analisados três cenários: o de Março de 2001, quando o serviço era assegurado pelos Caminhos de Ferro Portugueses (CP); o do mês de inauguração da respectiva linha; e, por último, o mês de Novembro de 2007. Vejamos: comparando o número de passageiros que utilizaram a estação da Póvoa, em Março de 2001, com os que o fizeram no mês da inauguração da linha do Metro, registou-se um decréscimo de 2.6% no número de passageiros, de 54 774 para 53 339. Nesta linha, entre os mesmos cenários, o decréscimo foi geral nas dez estações que compõem o trajecto até à Senhora da Hora (exclusive). Neste particular, a estação de Azurara liderou a lista das estações com maior decaimento no número de passageiros, contabilizando, durante o primeiro mês de funcionamento, apenas 2 887 passageiros, ou seja, uma variação de 73.9% face aos 11 076 utentes de Março de 2001. Somente as estações além da Senhora da Hora apresentaram variações positivas aquando da transição CP/Metro do Porto. A estação de Francos foi o caso mais notável dessa tendência, pois viu passar de 9 362 para 61 622 o número mensal de passageiros (558.2% de acréscimo). O documento do qual constam estes dados conjectura hipóteses que poderão ter contribuído para o declínio da procura nas estações entre Fonte do Cuco e Póvoa de Varzim. São elas: a) a quebra das rotinas dos passageiros, causada pela suspensão do serviço ferroviário durante os anos em que decorreram as obras; b) a pouco eficiente alternativa rodoviária; c) a existência da auto-estrada A28, à data a funcionar sem custos para o utilizador (SCUT); d) o tipo de utilização predominante nos percursos mais longos, onde a procura se concentra nas horas de ponta da manhã e do final de tarde dos dias úteis, em desajuste às «características da oferta do Metro do Porto». O número de passageiros na estação da Póvoa de Varzim, desde a inauguração do Metro, nunca ultrapassou a fasquia estabelecida pela CP. O melhor resultado ocorreu mesmo na fase de transição, em que o factor novidade, ainda assim, não foi contributo decisivo. Nos últimos anos, no período entre 2009 e 2016, este indicador operacional (tomando, em cada ano, o mês de Maio como referência) conheceu um máximo relativo em 2011 (52 132 passageiros), apresentando, entre 2013 e 2016, um tendência contínua de decréscimo, de 48 853 para 43 132 passageiros mensais. A linha da Póvoa, portanto, está em contraciclo com a rede do Metro do Porto, onde, de ano para ano, há crescimento global do número de passageiros. Importa, então, estudar as razões que conduziram ao decréscimo da procura num serviço que, com a mudança de operador, sofreu inquestionáveis melhoramentos – o serviço expresso faz a ligação Póvoa - Trindade em menos 11 minutos do que o comboio. Perdida a oportunidade de ouro que foi a primeira fase do projecto Metro do Porto, a construção da linha até à Trofa, pelo menos no futuro relativamente próximo, é pouco provável. Numa primeira abordagem, parece legítimo aceitar que se use a narrativa da linha da Póvoa como previsão do que acontecerá na eventual linha da Trofa; no entanto, após uma análise mais ponderada, com facilidade se admite uma realidade diferente. Ao contrário da Póvoa, a Trofa, com particular evidência no Muro, possui uma localização que a torna mais atractiva ao uso deste meio de transporte; entroncaria num ramal que atravessa estações relevantes – ISMAI e Fórum; e, acima de contudo, a linha do Metro constituir-se-ia como uma alternativa muito competitiva, sobretudo em horas de ponta, à congestionada Estrada Nacional 14. Recentemente foram notícia os próximos investimentos da Metro do Porto: uma nova linha – Linha Rosa – totalmente subterrânea, entre as actuais estações Casa da Música e São Bento; e a extensão da Linha Amarela em 3.18 km, até Vila D’Este. O objectivo, segundo a própria empresa, é dar prioridade à cobertura de “zonas chave”, onde o retorno do investimento se fundamenta com a maior densidade populacional em torno das linhas.

GAZETA DOS CAMINHOS DE FERRO Nº 1062 - ANO 1932, PÁGINA 135

À medida que os anos passam, sucedendo-se os planos de investimento da Metro do Porto, a esperança da população da Trofa esmorece. Pior do que a promessa original não cumprida é a saga de avanços e recuos e a leviandade com que se manobram as expectativas dos trofenses. Na Trofa vive-se um prodígio que oxalá não tenha muitos exemplos no país: a ideia de o Progresso não ser intrínseco à evolução do Tempo.


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MURO DO MELHOR E DO PIOR! POR #MANUELJOAQUIMAZEVEDO Há 36 anos fui estimulado a vir residir para a freguesia de São Cristóvão do Muro, por um amigo de infância e conterrâneo Lousadense, que aqui no Muro, terra natal da sua amada tinha fixado residência e constituindo família.

Memória, não tem preço mas tem um custo. E que a geração presente tem o dever de preservar a memória para com a geração futura. Mas ao arrepio dos Murenses e de forma sigilosa e planeada e com o argumento de custos de manuEscolher uma terra para viver e aí construir o nosso lar, tenção, destruíram para sempre a obra sem que a ela se tenha alguma afinidade, é uma tarefa mais emblemática desta freguesia. difícil e que requer uma análise cuidada e devidamente estudada. Mas, felizmente pelo melhor, 2016 foi um ano grande na generosidade e solidarieNa época, proliferavam ao longo da EN14 algumas su- dade. A freguesia do Muro ficou mais encatas (cemitérios de automóveis) que para além dos riquecida com o importante espólio hismalefícios contaminantes que geravam, criavam uma tórico e literário oferecido pelo Prof. Dr. imagem visual negativa a quem por aqui passava. As su- Moutinho Duarte. catas, o cruzamento da carriça e a ponte da peça má, eram os principais pontos de referência e de localiza- Um acervo que reúne todo um trabação para quem por aqui passava. Havia mesmo quem lho de investigação e pesquisa da históse referisse ao Muro como a terra das sucatas. A par da ria local, recolhido ao longo de mais de falta de uma rede de saneamento básico e de abasteci- 50 anos, que o torna rico no conhecimenmento de água potável, estes depósitos de automóveis to, no património, na cultura e na narraa céu aberto, suscitavam-me uma grande interrogação ção de inúmeras histórias da cultura lopelo risco que constituíam para a saúde pública, o meio cal e regional. ambiente e os recursos naturais. De imediato a Junta de freguesia aceitou Estes aspetos negativos e a escassez de terrenos vendá- esta importante doação e a exponenciou veis para construção, em nada facilitavam a decisão de para a disponibilizar á comunidade, puaqui apostar em viver. blicando este trabalho em 12 cadernos intitulados “Apontamentos de história loPor outro lado, a freguesia do Muro era apetecível pela cal” e criando um espaço chamado “Pólo sua localização geográfica, dividia as distâncias que eu Cultural Professor Moutinho Duarte” e a minha esposa tínhamos que efetuar para nos deslo- para que esta obra passe a estar dispocarmos diariamente para os nossos locais de trabalho. nível para consultada pela comunidade.

da Trofa da Cruz Vermelha Portuguesa em parceria com a Junta de Freguesia do Muro que disponibilizou o local para instalação do primeiro frigorífico comunitário assente na solidariedade. A ideia é simples e prática: quem tem mais dá e quem tem menos leva. Bem-haja a quem pelas suas profundas convicções humanas de partilha e solidariedade, tornam possível a satisfação das necessidades básicas de muitos carenciados anónimos. Neste âmbito, não posso deixar de referir o serviço prestado pela Muro de Abrigo - Associação de Solidariedade Social do Muro IPSS, que desde 2005, data da sua fundação tem praticada em prol da comunidade envolvente. A prestação de serviços aos idosos e a pessoas carenciadas, nomeadamente no centro de convívio e no apoio domiciliário, o fornecimento de alimentos, medicamentos e cuidados de higiene a quem deles precise é uma nobre atitude praticada por muitas pessoas que de forma desinteressada dispensam diariamente parte do seu tempo para que outros se sintam um pouco mais felizes. O ano de 2016 deixou pelo melhor, após aprovação em Assembleia Geral de associados, a esperança tão desejada da construção das futuras instalações Sociais da Muro de Abrigo. Estou certo que a comunidade Murense, se vai mobilizar mais uma vez de forma solidária em torno deste projeto para que o sonho se torne realidade.

A oferta de um serviço de transportes públicos diversi- Apraz registar o empenhamento do ficado e abrangente, efetuado por comboios e autocar- Professor Moutinho Duarte ao entregar o ros, ajudavam a manter o desafio tentador. seu espólio em vida, sem qualquer contrapartida, de forma a poder ser transmiPonderados os prós e os contras, e depois de ter conta- tido aos atuais e vindouros interessados tado com alguns Murenses que ao longo deste processo em encontrar o testemunho histórico e Por tudo isto, digo: É bom viver no Muro. de reflexão me transmitiram simpatia e geraram afetivi- patrimonial de sucessivas gerações. dades que ainda hoje perduram. A localização geográfica, as acessibilidades e a simpatia dos Murenses foram Também em 2016, o Muro ganha o pripreponderantes na decisão de aqui passar a residir. Foi meiro “frigorífico solidário” da Trofa para assim que passei a integrar a comunidade Murense. pessoas carenciadas que podem ir, de forma anónima, buscar comida doada Infelizmente pelo pior, um dos pilares da minha deci- por quem tem a mais. são foi “saqueado” a todos os Murenses de forma subtil e enganadora. Uma valência da autoria da delegação A desativação em fevereiro de 2002 da linha do comboio Porto – Trofa, confere um autêntico roubo ao povo Trofense e em especial aos Murenses. Apesar da contestação e das inúmeras lutas travadas, nenhum dos governos até ao momento devolveu este bem que era pertença desta região desde 1938. Na minha modesta opinião, o Estado Português deveria ser processado judicialmente pelo gasto indevido de dinheiros comunitários. As verbas assinadas e transferidas pela CEE, destinavam-se ao pagamento de um projeto previamente aprovado e devidamente definido para construção da linha do metro até á Trofa e não até á Maia. Assim, os dinheiros comunitários pagaram uma obra que nunca chegou a ser realizada. Infelizmente também pelo pior, 2016 ficou marcado pela demolição de uma das referências geográfica, patrimonial e histórica da identidade do Muro. Foi com tristeza que assisti á decapitação da Ponte da Peça Má. Uma obra de arte com 84 anos de idade, construída em alvenaria de pedra, com um vão de 19 metros formado por um arco de 89 aduelas. Todos sabemos que a preservação do Património e da


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ASSEMBLEIA DE FREGUESIA DO MURO POR #ANTÓNIOFERREIRA António Manuel, perante a experiência enquanto cidadão e ¶ Que balanço faz das Assembleias de Freguesia do Muro? Presidente da Assembleia nos últimos anos, na sua opinião:

A “nossa” Assembleia de Freguesia, é sui generis… Efetivamente as sessões da Assembleia têm sido de elevada cordialidade e tolerância, onde todos os elementos têm participado, sem que lhes tenha sido re¶ Qual é o Papel da Assembleia de Freguesia? tirado a possibilidade de manifestarem na íntegra as suas opiniões. No A Assembleia de Freguesia é, por inerência, o órgão autárquico de- cômputo geral, o balanço da actividade da Assembleia de Freguesia liberativo que, juntamente com a Junta de Freguesia, como órgão tem sido positivo.

ASSEMBLEIA DE FREGUESIA DO MURO, LEITURA DA ACTA DA SESSÃO ANTERIOR [FOTO DE O NOTICÍAS DA TROFA]

executivo, manifestam a vontade colectiva da população e tentam prosseguir os seus interesses, através da gestão dos meios de que dispõem e do uso dos poderes funcionais que a cada um deles a lei atribui.

¶ Qual o Papel do Presidente? Ao Presidente da Assembleia de Freguesia compete, entre outras: representar a Assembleia, assegurar o seu regular funcionamento e presidir aos seus trabalhos; Elaborar a ordem do dia das sessões e proceder à sua distribuição; Assegurar o cumprimento das leis e a regularidade das deliberações; Exercer os demais poderes que lhe sejam cometidos por lei, pelo regimento interno ou pela Assembleia.

¶ Como vê a participação dos murenses na nossa Assembleia de Freguesia? A presença de murenses nas Assembleias de Freguesia, não tem sido de todo representativa. Efetivamente esperava que os murenses vivessem e participassem mais das atividades deste órgão autárquico, no entanto, tal não acontece. Preocupa-me sobremaneira a não participação, nomeadamente dos mais novos. Na minha opinião, este alheamento é cada vez mais o reflexo do descrédito que a classe política granjeou junto dos seus representados. Embora, neste caso, devessem ser deixadas de lado as politiquices e serem vividas, debatidas e levadas à prática, as necessidades e as realidades da nossa Terra.

¶ Como vê a participação dos murenses na vida do concelho? O comum murense quando chamado à participação, como bairrista que é, ultrapassa-se a si próprio e o resultado são maravilhosas obras. Reflexo disso são os obtidos pelos Jovens da nossa Terra, a instituição Muro de Abrigo, as participações das Escolas nos eventos concelhios, actividades promovidas pela Junta de Freguesia, Associação Recreativa, etc. No entanto, olhando para o Concelho onde estamos inseridos, a sensação com que fico é que os habitantes do Muro estão de certa forma desiludidos com o rumo que tem sido tomado, nos destinos desta terra.

JUNTA DE FREGUESIA DE SÃO CRISTÓVÃO DO MURO APRESENTA

Sabias que...

TERTÚLIA COM MOUTINHO DUARTE 02JUNHO2017 SALÃO NOBRE DA JUNTA DE FREGUESIA

21H00


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MAIORIDADE DO CONCELHO NO MURO POR #TÂNIAQUINTAS No ano em que a Trofa atingiu a sua maioridade, o professor e trofense José Maria Moreira da Silva teve a generosidade de oferecer ao concelho um livro, com 30 crónicas da sua autoria intitulado: “A História do concelho da Trofa: Contributos”. A apresentação deste decorreu no Salão Nobre da Junta de Freguesia do Muro, na noite de 12 de novembro de 2016. As grandes obras, por vezes, nascem do acaso, ou de simples projetos e esta, não foi exceção. Tudo começou, como conta o professor José Silva, como “resposta ao repto” que aceitou, lançado pelo João Pedro Costa – um dos responsáveis do blog “E a Trofa é minha” – e pelo João Mendes, um dos cofundadores do blog.

MOREIRA DA SILVA COM ALGUNS DOS AUTORES DO BLOG “...E A TROFA É MINHA!”, DIA DO LANÇAMENTO [FOTO DE CLICKS DO VELOSO]

A ideia inicial seria escrever 30 crónicas para o blog “E a Trofa é minha”, no entanto, quando estava a escrever as últimas, o professor sentiu “necessidade de fazer uma revisão a todas”, o que o levou a fazer algumas adaptações, mais concretamente em “termos históricos”. Quando tinha tudo finalizado, considerou que este “Contributo” seria interessante para a História da criação do Concelho da Trofa e “merecia ser muito mais que crónicas”. E assim aconteceu. O professor ofereceu-as ao blog para serem editadas em livro. O livro foi, então, publicado e dado a conhecer à comunidade, na noite de 12 de novembro de 2016. Uma noite que, tal como a noite em que apresentou o seu anterior livro “Vale a pena viver feliz. E viver a vida. Intensamente!”, ficará na “história da Freguesia do Muro e do Concelho da Trofa”. Salienta a “rara beleza” destas noites de uma “grandiosa solidariedade”. O professor ofereceu as crónicas ao blog “E a Trofa é minha” que, por sua vez, doou a totalidade das verbas à Muro de Abrigo, formando assim uma “cadeia solidária”. Moreira da silva sente-se, ainda, grato por poder colaborar neste projeto de conhecimento aliado à solidariedade: “Sabe tão bem fazer o bem!”. João Mendes foi o escolhido para escrever o prefácio do livro. O professor justifica a sua escolha descrevendo-o como alguém que “escreve bem e vive a Trofa como poucos”. João sentiu-se honrado com o convite por parte do professor Moreira da Silva: “ Foi uma honra e um privilégio sem precedentes, de braço dado com uma enorme responsabilidade”. Confessa que “escrever artigos de opinião e comentar os temas do quotidiano” não se equipara à “exigência” que requer escrever o prefácio de um livro, sobretudo, quando esse livro retrata a “história contemporânea” da terra que o viu nascer.

ACTUAÇÃO DOS VOLUNTÁRIOS DA MURO DE ABRIGO, LANÇAMENTO DO LIVRO “A HISTÓRIA DO CONCELHO DA TROFA: CONTRIBUTOS” [FOTO DE CLICKS DO VELOSO]

passados a sofrer, com as dores de uma paixão”. Descreve-os como “momentos de exaltação do trofismo” que permitiram tornar o sonho realidade, “mobilizando milhares de trofenses que marcharam até Lisboa para exigir a independência”, como acrescenta João Mendes.

Tanto o professor como João Mendes consideram que a independência é fundamental para a qualidade dos projetos. “A liberdade é muito mais que uma simples escolha, ela alimenta os sonhos dos que não têm medo ou preguiça de sonhar”, constata o autor da obra, referindo que pretendeu ser “livremente livre” naquilo que pensou e escreveu.

O cofundador do blog considera que “esse olhar analítico, objetivo e desprendido” do professor tornam a sua obra “especial”. Mesmo reconhecendo que este “não é omnipresente”, aponta a importância deste registo referente “aos grandes momentos” que fazem dos trofenses aquilo que hoje são. Os “dados concretos e apontamentos” pessoais configuram ao trabalho um “enorme valor para a preservação da memória comum dos trofenses”.

João Mendes, por sua vez, afirma que a “intervenção no espaço público não é monopólio das elites políticas ou das máquinas de comunicação”. É defensor de uma “escrita livre e revolucionária na forma”, pois esta foi “uma das armas daqueles que durante anos lutaram pela autodeterminação do concelho da Trofa”.

O professor Moreira da Silva salienta que tem a consciência de não ter conseguido o ”distanciamento devido”, não só no que concerne tempo, mas também ao envolvimento na questão, declarando que esteve envolvido até ao “tutano” na luta pela criação do Concelho da Trofa. Fez parte integrante da Comissão Promotora: pertenceu à Comissão Executiva; ao Secretariado e ao Secretariado Permanente; também foi o Coordenador do dia da “Ida a Lisboa Buscar o Concelho.

A obra é feita de um trofense para os trofenses e para todos os que tenham inteO professor sentiu que a Trofa carecia resse na história deste concelho, mas há de “nacos da sua História mais recen- um aspeto que não pode ser, de forma alte” que fizesse avivar a “memória de dias guma, descorado: a independência.

A noite ficou marcada pelo talento do professor Moreira da Silva, mas também por artistas que “de forma altruísta abrilhantaram a sessão”, como considera João Mendes. Hoje passados já dois meses do lançamento do livro, o escritor da obra sente-se feliz com o “feedback positivo” que tem recebido, não só através da opinião dos leitores – “altamente elogiosas” – como também pela venda do livro – que já está a esgotar a primeira edição – o que é um grande feito, uma vez que aborda uma temática local. Os projetos parecem continuar no Concelho da Trofa, não foste esta a sua “essência”. João Mendes revela que o blog já tem novos projetos no “forno” que não configuram apenas a escrita. Salienta que sabem bem o seu lugar e onde têm valor, por isso servem “o interesse dos trofenses”. “A sociedade trofense precisa de praticar uma democracia inclusiva, onde todos têm lugar”. Sem dúvida, que esta noite reforçou a mensagem que o professor Moreira da Silva tentou transmitir no Salão Nobre da Junta de Freguesia do Muro.


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JUNTA DE FREGUESIA DE S. CRISTÓVÃO DO MURO

NOTÍCIAS ÚLTIMAS POR #TÂNIAQUINTAS UMA MURENSE CENTENÁRIA

FRIGORÍFICO SOLIDÁRIO INAUGURADO NO MURO

Aurora Ferreira completou o seu centé- Servir as pessoas 24h por dia, e 365 dias por ano, foi o mote que levou à criação do Frigorífico simo aniversário a 6 de fevereiro des- Solidário, um projeto piloto inaugurado em São Cristóvão do Muro a 17 de Dezembro de 2016. te ano. Estima-se que um terço da comida produzida em todo o mundo é desperdiçada, o que serviria para aliNos tempos atuais, completar um sé- mentar 3000 milhões de cidadãos. Consciente desta realidade, a Junta de Freguesia do Muro, em parceculo de existência é, de facto, um gran- ria com a Cruz Vermelha da Trofa empenharam-se no desenvolvimento de um projeto solidário. Como de feito e os murenses, amigos da Dona explica Daniela Esteves, presidente da delegação da Trofa da Cruz Vermelha Portuguesa, este é um proAurora Ferreira, não quiseram deixar pas- jeto “da comunidade, para a comunidade que necessita”. sar este dia em vão. Pelo contrário, uniramse e prepararam uma festa surpresa no A ideia da criação de um Frigorífico Solidário nasceu das experiências que se verificaram noutros paíCafé Campinho, onde habitualmente a “Ti ses, mas, sobretudo, da consciência de uma realidade bem atual – “a pobreza envergonhada”, como reAurora”, como é conhecida, vai para tomar fere Daniela Esteves. o seu café. A Freguesia do Muro foi escolhida como a primeira a receber este frigorífico, pois reunia todos os reA sua energia e boa disposição são as mar- quisitos, à partida estipulados: “é freguesia central do concelho da Trofa” e para além disso, para a Cruz cas que mais lhe caracterizam e neste dia Vermelha é também um lugar “geograficamente favorável”. Reúne, ainda, outras duas características tão especial demonstrou uma alegria enor- fundamentais: “é um lugar de passagem” e é um lugar “discreto”. me por todo o carinho que foi recebendo. Entrelaçadas aos sorrisos foram também Projetos solidários enriquecem as comunidades e as pessoas e, por isso, “prontamente a junta apoiou caindo as lágrimas de emoção e gratidão este projeto”, afirma Conceição Campos, mencionando toda a ajuda prestada: “A Junta apoiou com a divulgação nas redes sociais e junto da população, no controlo dos bens que são facultados, na manutenpara com todos os presentes. ção, limpeza e também no esclarecimento e incentivo, quer aos utentes quer aos doadores”. Os amigos são sempre uma parte importante na vida de alguém, ainda para mais Definido o sítio, a manutenção e cuidado do mesmo ficou à responsabilidade das das organizações, a em cem anos de existência, no entanto, o Junta mais regularmente e a Cruz Vermelha duas a três vezes por semana. amor de um filho é inigualável e a D.Aurora recebeu uma visita inesperada – a do seu Esta iniciativa, como evidencia a presidente da delegação da Trofa, “consiste em consciencializar toda a filho José – que certamente tornou ainda comunidade que ajudar está ao alcance de todos”. São simples gestos que podem fazer toda a diferença aos que mais necessitam, mas que, de certa forma, têm “vergonha de procurar os serviços”. Daniela mais inesquecível o seu dia. Esteves acredita que, deste modo, “os valores da cidadania e do respeito” ganham uma nova ênfase na Já ao final da tarde, na Igreja do Muro, sociedade. Aurora Ferreira teve, ainda, direito a uma E a verdade é que este “teste” na Junta de Freguesia do Muro tem sido “excelente”. Conceição Campos missa em sua homenagem. destaca a “consciência no levantamento dos bens”, pois aqueles que os vêm buscar “nunca os levam na Cem anos marcam a vida desta Murense totalidade”, o que, sem dúvida revela que “há respeito pelo próximo”. que continua com a jovialidade e a humildade de alguém que valoriza as simples Esta é uma verdadeira cadeia de solidariedade da comunidade para a comunidade. Existe de facto uma coisas da vida e que, seguramente, após as preocupação de todos para que o frigorífico tenha sempre lá produtos: “lá colocam coisas que têm em surpresas de hoje, terá mais uma história casa, como limões, hortaliças, fruta, mas também gêneros comprados.” bonita para contar neste seu livro já com A generosidade dos que se deslocam a este ponto solidário, foi para além dos bens alimentares. Nos várias páginas. dias em que o frio se fez sentir mais acentuadamente, houve quem deixasse agasalhos, hedrons e sacos que “rapidamente desapareceram”, como menciona Conceição Campos, bastante emocionada com tal gesto: “foi um gesto que me comoveu, alguém pensou nos outros”. Hoje, já passado um mês deste projeto piloto, o balanço feito pela Cruz Vermelha e pela Junta de Freguesia do Muro é “bastante positivo”. Daniela Esteves realça o “empenho da população na colocação de bens-alimentares”. Conceição Campos, por sua vez, afirma que “ninguém é indiferente a este projeto”. No futuro, após quatro meses de implementação piloto no Muro, o objetivo da Cruz Vermelha da Trofa é avançar para outra freguesia e, por fases, conseguir abranger todo o concelho para, assim, dar uma resposta a todos. Daniela Esteves salienta que todas as Juntas de Freguesia se demonstraram receptivas em apoiar a Cruz Vermelha da Trofa neste projeto, o que são ótimas notícias para que esta iniciativa seja alargada. D. AURORA COM SACERDOTES, EUCARISTIA DE ANIVERSÁRIO

Conceição Campos concretiza confessando que este é um dos “projetos mais marcantes quer da Cruz Vermelha quer da Junta de Freguesia do Muro, que o apoia incondicionalmente e com muito orgulho”.

D. AURORA COM JSFMURO, EUCARISTIA DE ANIVERSÁRIO

EXECUTIVO DA JUNTA DE FREGUESIA, VEREADORA LINA E DIRECÇÃO DA CRUZ VERMELHA DA TROFA, INAUGURAÇÃO DO FRIGORÍFICO SOLIDÁRIO


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JUNTA DE FREGUESIA DE S. CRISTÓVÃO DO MURO

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ASSOCIAÇÕES

MOVIMENTOS & PROJECTOS POR #TÂNIAQUINTAS MURO DE ABRIGO MURO DE ABRIGO LANÇA PRIMEIRA PEDRA Sábado, dia 11 de março de 2017, será um dia marcante para todos os Murenses, em especial para todos aqueles que se entregaram à Muro de Abrigo como uma segunda casa. A um dia de completar o seu 12º aniversário realizou-se, pelas 17h:30, na Rua da Paz, a cerimónia do lançamento da primeira pedra, como símbolo do início da construção do centro de dia.

unanimidade, a cedência do terreno para o projeto, sublinhando que “o terreno é de todos”. E, dirigindo-se à presidente da Muro de Abrigo, frisou que o próprio e a comunidade Murense é que estavam gratos à Associação pela utilidade com que iriam cunhar o espaço. Referiu, ainda, que a construção iria estar bem localizada, uma vez que se situa perto da estrada nacional e é de fácil acesso. Já Sérgio Humberto, como Fátima Silva o tinha feito, apontou as burocracias que não permitiram implementar o primeiro projeto, mas que “foi rápido o processo de ajustamento” que será financiado pela Câmara em 60%. Elogiou o trabalho realizado pela instituição “não só no concelho da Trofa como além fronteiras”, salientando o “abraço largo” desta e outras IPSS do concelho da Trofa, no que concerne ao “acolhimento e carinho”.

“Ao dar-me completo-me!”, assim iniciou o seu discurso Fátima Silva, presidente da Muro de Abrigo, há 8 anos. O presidente da Câmara terminou o seu discurso levantando outras questões políticas ao indicar que “ a freguesia do Muro foi quem menos beneficiou com a criação do Após os foguetes de entrada e dos habituais agrade- concelho da Trofa” e que, assim sendo, era o momento de “recuperar o tempo perdido”. cimentos a todos os presentes, Fátima Silva, de uma forma emotiva, contou todo o processo até ao concre- “É importante estarmos ao lado de quem luta e é empreendedor!”, frisou o Padre Rui, tizar do seu sonho, lembrando as palavras de Yoko Ono garantindo o apoio de “toda a comunidade cristã” a esta iniciativa de criação de “um “Um sonho que sonhas sozinho é um sonho. Um sonho espaço de respeito pelo outro”. O seu agradecimento final dirigiu-se a todos aqueles que não desistiram deste sonho e o levaram a bom porto. sonhado junto é realidade”. Dias como estes ficam, certamente, guardados nos corações daqueles que o “O projeto inicial seria um lar para 50 idosos que incluía, sonharam e também daqueles que viram o sonho acontecer. também, apoio domiciliário e centro de dia”. Este foi o projeto que a presidente da Muro de Abrigo sonhou e Para que esta “tradição” sentimental ficasse intemporalmente registada utilizaram a no qual concentrou todas as suas forças. Concorreram “cápsula do tempo” - um objeto simbólico que continha as assinaturas dos responao Programa Operacional Potencial Humano - POPH, sáveis pelo projeto, de alguns dos idosos beneficiários, do presidente da Câmara e mas o orçamento de 1,5 milhões não lhes foi conce- da Junta, do Padre Rui, bem como de familiares, amigos e comunidade Murense no dido, provavelmente porque não tinham “o peso polí- local presente. tico necessário”, como a própria reconheceu. Juntamente com as assinaturas foram também colocadas duas moedas, uma de 1€ e O projeto idealizado há cinco anos atrás não conse- outra 0,50€ para assinalar a época de construção do edifício. guiu o apoio estatal necessário, mas os colaboradores da Muro de Abrigo não desistiram. Em Maio, uma nova A cápsula foi enterrada no terreno e o Padre da Freguesia procedeu à bênção do local. ideia surge da parte de Fátima Silva: “Percebi que tinha No final da celebração, todos os presentes tiveram direito a um lanche de convívio, de colocar o meu sonho lindo de parte e optar apenas onde se fizeram mais agradecimentos e se partilharam sorrisos de gratidão por, finalpelo centro de dia”. mente, verem o sonho a tomar dimensões físicas. Mudaram as diretrizes do projeto e começaram a invesO dia 11 de Março ficará não só marcado na agenda da freguesia do Muro como na tigar qual a melhor opção, optando por uma consalma dos Murenses, que o diga, Amélia Duarte que já faz parte da casa há 7 anos e trução modelar, ao invés de uma construção usual, pois considera que este centro de dia “representa muito” para a comunidade. permitia que os custos fossem menores e, portanto, “o sonho tornava-se mais acessível”. Rosa Barbosa e Gracinda Oliveira também pertencem à instituição e demonstraramse confiantes neste novo projeto. “Há idosos que precisam de muito carinho”, refere O projeto terá as mesmas valências do anterior, à Rosa Barbosa. Gracinda Oliveira considera que será um projeto que irá “unir as exceção do lar residencial. De início a equipa da Muro pessoas do muro”. de Abrigo ficou “renitente”, como confessou Fátima Silva, mas depois o apoio foi visível. Futuramente, irão realizar um peditório pelas portas dos seus conterrâneos e estão positivas quanto à generosidade do povo da terra. A presidente salienta a importância de “abraçar este projeto com todo o carinho”, pois “um dia algum de nós O dia terminou com o jantar comemorativo dos 12 anos da Muro de Abrigo, onde também pode precisar desta ajuda”. reinou a alegria e boa disposição. Apesar da IPSS já ter um trabalho ativo nas freguesias do Muro, Alvarelhos e Guidões, ajudando, por exemplo, mensalmente 50 famílias, era necessária uma “resposta social”, acrescenta Fátima Silva. As burocracias nem sempre acompanham a velocidade e vivacidade dos sonhos e a presidente lamenta que a inauguração do centro não ocorresse dia 12 de março, aquando do 12º aniversário da Associação. Mesmo assim, demonstrou gratidão por, pelo menos, ser atirada a primeira pedra neste dia. “Não quisemos plantar aqui a construção sem darmos conhecimento à nossa comunidade”, afirmou a presidente, apelando a ajuda de todos. Para que o projeto fosse levado avante, a ajuda da Junta de Freguesia do Muro, bem como da Câmara Municipal da Trofa foi imprescindível. Carlos Martins, aquando da sua intervenção, explicou que foi aprovado em Assembleia de Freguesia, por

PRESIDENTE DA JUNTA DO MURO, PRESIDENTE DA MURO DE ABRIGO E PRESIDENTE DA CÂMARA DA TROFA, COLOCAÇÃO DA 1º PEDRA


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JUNTA DE FREGUESIA DE S. CRISTÓVÃO DO MURO

POR #TÂNIAQUINTAS

POR #TÂNIAQUINTAS

MURO DE ABRIGO E JSFMURO

ASSOCIAÇÃO DE PAIS DA EB1/JI DO MURO

UMA TRADIÇÃO DE MIÚDOS E GRAÚDOS

ASSOCIAÇÃO DE PAIS REALIZA WORKSHOP SOBRE “SEGURANÇA NA INTERNET”

O gosto pela música, mas sobretudo pelos sorrisos dos seus conterrâneos, levou o grupo de jovens JSF Muro e a Muro de Abrigo A Associação de Pais da EB1/JI do Muro realizou a 25 de novembro, a cantarem as Janeiras pela freguesia, enchendo de luz e alegria pelas 21h, na Escola EB1 do Muro uma palestra intitulada os lares dos Murenses, desde o início do advento até à terceira “Segurança na Internet”. semana de Janeiro. O workshop desenvolvido insere-se num projeto mais amplo levado As boas histórias que marcaram o passado motivaram estes dois a cabo pela Associação de Pais desde o ano letivo anterior. A ideia grupos a trocar o “quentinho da lareira”, como afirma Alexandra “engloba a realização de workshops dedicados a uma preocupação Freitas, membro do grupo JSF Muro, pelo contentamento de levar a mais global – Crescer em Segurança”, como explica o Presidente da Associação de Pais, José Martins. casa dos murenses a tradição das Janeiras. “Começámos numa ponta e não descansamos até batermos em todas as portas, até chegarmos a todas as famílias”, confessou Alexandra, recordando os rostos de felicidade daqueles que abriam o seu lar a estas pessoas com um puro sentimento de alegria. E, ainda hoje, “as pessoas sabem receber bem”, como salienta Fátima Silva. “Há sempre uma mesa cheia, para que nos possamos alimentar e seguir caminho”. Apesar de serem dois grupos com idades diferentes, a missão de levar um pouco de si a cada lar move cada um deles, numa caminhada que lhes “enche o coração”. Ambos os grupos reconhecem que o pouco tempo que dispõem para cada lar é importante para essas pessoas e, sem dúvida, que “gratidão” é uma palavra que espelha o sentimento delas. Fátima destaca os “velhinhos” e a ternura e carinho com que os recebem. Já Alexandra confessa que esta é uma época do ano em que têm “mais oportunidade de estar mais próximos” de quem tanto os ajuda. Cada grupo utiliza os fundos angariados para os seus projetos, mas reconhece que o “espírito” que se vive ao longo deste tempo é prin- WORKSHOP “SEGURANÇA NA INTERNET”, ESCOLA EB1 DO MURO [FOTO ASSOCIAÇÃO DE PAIS] O objetivo da promoção destas palestras visa dar destaque a assuntos cipal motivo para percorrem a freguesia. que poderão ser do interesse dos pais e da restante comunidade, tais É o carinho e o encontro com as pessoas que mais importa. No fundo, como: “Perigos na Internet, Escola Segura, Primeiros Socorros, Suporte Básico de Vida e Alimentação Saudável”, enumera José Fernando. deixar um pouco de cada um por cada lar por onde passam. Apesar do Presidente da Associação de Pais considerar que estas iniciativas fazem todo o sentido, “dada a realidade que hoje enfrentamos”, referente aos perigos na internet, a palestra apenas teve a participação de cerca de 20 pessoas (pais e alunos). Os presentes reagiram de “forma muito positiva”, afirma José Fernando, lamentando que não tenham comparecido mais pais e alunos, pois foram discutidos temas como: “os riscos da Internet”, “cyberbullying”, “privacidade no facebook”, “ferramentas e aplicações para gerir privacidade online”, entre outros, com muita “utilidade para os pais e alunos”. Por último, o presidente chama à atenção para o “isolamento dos jovens” para quem, em muitos casos, “as relações e contactos na Internet assumem um valor desmesurado, tornando-se, assim, fundamental que os pais, ou encarregados de educação estejam aptos para promoverem um diálogo saudável e preventivo. MURO DE ABRIGO, A CANTAR AS JANEIRAS

JSFMURO, ÚLTIMO DIA DE JANEIRAS [FOTO JSFMURO]

WORKSHOP “SEGURANÇA NA INTERNET”, ESCOLA EB1 DO MURO [FOTO ASSOCIAÇÃO DE PAIS]


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POR #PEDROSANTOS JSFMURO TESTEMUNHO DA PARTICIPAÇÃO DO GRUPO DE JOVENS JSFMURO NAS JORNADAS MUNDIAIS DA JUVENTUDE EM CRACÓVIA. Tudo começou com um sonho, um ano antes. Depois do regresso, podemos sentir com o sonho cumprido. Foram 11 dias, de 24 de julho a 3 de agosto, dias repletos de surpresas, desafios, alegria e descoberta. Fomos 21 com o movimento GIOFRATER, do qual tão orgulhosamente fazemos parte. Ficamos alojados em casas de famílias de acolhimento, em Gdow, uma pequena localidade encantadora, na periferia de Cracóvia. Embora divididos durante as noites, todos estivemos bem, transbordando amabilidade destas gentes da Polónia. Entre correrias, longas caminhadas, buscas aos transportes públicos, chegámos sempre onde queríamos, em especial ao parque Blonia e ao Campus Misericordiae, onde decorreram as cerimónias com o Papa Francisco. Desde a Via Sacra à noite da Vigília, acolhemos todas as palavras do Santo Padre no nosso coração. No meio de 2,7 milhões de jovens de todo o mundo, palavras de união, de liberdade e, sobretudo, de misericórdia adquiriram um sentido claro, forte e meigo, nas feições do nosso tão querido Papa. Este desafiou­-nos a sonhar mais alto, a lutar pelo nosso futuro, a não deixarmos que os governantes de todo o mundo decidam por nós. Papa Francisco defendeu a liberdade para um jovem como o mais importante e a vida da pessoa ao nosso lado como o mais valioso. Chegamos a casa com a certeza de que não visitamos somente um país, mas sim tantos quantas as pessoas que conhecemos. Vivemos estes dias não rodeados de polacos, mas sim rodeados do mundo, de uma forma que só assim se experimenta. Dezenas de povos, separados por continentes mas unidos em sentido, em fé e em amor. Voltamos assim, mais unidos, gratos por todos os momentos passados, com as “botas calçadas”, nas palavras do Papa Francisco, com força para caminhar e “deixar a nossa marca”, procurando fomentar a união e a paz entre os povos, e entre as pessoas próximas de nós, no nosso país e na nossa comunidade, com a certeza de que “quem não vive para servir, não serve para viver”.

JSFMURO, EM CRACÓVIA [FOTO JSFMURO]

JSFMURO, COM A T-SHIRT DE APOIO À SÍRIA [FOTO JSFMURO]

16h00 Inauguração Oficial 17h00 Eucaristia

2.7 MILHÕES DE JOVENS, CAMPUS MISERICORDIAE [FOTO JSFMURO]

18h00 Porco no espeto, comes e bebes variados 21h00 Concerto da Orquesta Urbana


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POR #TÂNIAQUINTAS JSFMURO PÓLO I9 VENCE O ORÇAMENTO PARTICIPATIVO JOVEM O Grupo de Jovens JSF Muro volta a apresentar um projeto ao Orçamento Participativo Jovem e, novamente, vence a verba financeira oferecida pela Câmara Municipal da Trofa para a melhor iniciativa. À semelhança do ano de 2014, com o projeto “50x5: Memória e Futuro do Centro Paroquial do Muro”, a 17 de dezembro de 2016, o grupo de jovens JSF Muro volta a sair felizardo, desta vez com o seu projeto “Pólo i9” que, como expressa a própria sonoridade do nome, pretende ser um projeto inovador para a cidade da Trofa. A base do Pólo i9 será uma sala de estudo com um horário que se adapta às necessidades dos estudantes. A ideia seria ter uma sala comoda, equipada com internet, uma máquina de café e boa iluminação. Juliana Sá, membro da JSF, relembra como surgiu a ideia da criação do Pólo i9: “Estávamos a conversar acerca do Orçamento Participativo, numa reunião da JSF Muro e refletimos no que nos fazia falta, todos os dias, e a resposta foi óbvia para todos: uma sala de estudo.” Acrescenta que o grupo tinha noção que esta, apesar de ser uma ideia inovadora, era também “um direito de todos os jovens estudantes trofenses”.

PARTICIPANTES E JÚRI, ORÇAMENTO PARTICIPATIVO JOVEM 2016 [FOTO JSFMURO]

Reunidas as forças necessárias, a JSF Muro levou a cabo o projeto, bastante apoiado por jovens do secundário e universitários, bem como por várias organizações, em que a AEBA - Associação Empresarial do Baixo Ave é a principal parceira, criando uma ponte entre os jovens e as empresas, preparando-os para o futuro. A promoção deste orçamento parece envolver bastante os jovens da Trofa, como afirma Juliana Sá: “A oportunidade oferecida pelo OPJ é fulcral para desenvolvermos o nosso olhar atento sob o que nos rodeia”, considerando que os jovens se devem sentir “lisonjeados” com esta oportunidade. Confessa que, em muitos casos, “as ideias e as soluções mais óbvias passam despercebidas”, e por este mesmo motivo decidiram olhar para as lacunas na cidade da Trofa e com um espírito empreendedor apresentar um projeto sólido e de, facto, viável. Apesar desta inciativa apresentar uma “visão mais concelhia”, o grupo sente-se “grato e orgulhoso” por continuar a receber um apoio incondicional da gente da sua terra.

3 de JUNHO às 22h30 praceta de s. cristóvão do muro

JSFMURO, VENCEDOR DO PROJECTO PÓLO I9 NO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO JOVEM 2016 [FOTO JSFMURO]


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