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Revista JMx - A arte da escutatória
from Revista JMx 39
A arte da escutatória: descobrindo o poder de ouvir bem no mundo moderno
Como transformar simples conversas em oportunidades de conexão mais profundas e significativas
O início de um novo ano sempre nos brinda com uma miríade de promessas e oportunidades. Janeiro de 2025 não poderia ser diferente, uma folha em branco esperando por nossos desejos e metas adormecidos.
Em meio a essa temporada de planejamentos e novas empreitadas, tomar um momento para refletir sobre o poder da escuta pode revelar-se singularmente lucrativo. Afinal, nada é mais transformador do que a arte de ouvir verdadeiramente. É uma tarefa bastante árdua, desafiadora, mas totalmente realizável e compensadora.
Enquanto navegamos pelas nossas décadas digitais, repletas de notificações instantâneas e conversas apressadas, educar-se na escuta não só aperfeiçoa a comunicação, como também reforça laços esquecidos e constrói pontes para interações mais autênticas. Devemos nos lembrar da palavra: seu significado, suas dimensões, sua importância, sua exatidão e sua tentativa de expressar algo que, para o emissor, é de suma importância. Além disso, o corpo, em suas múl-
tiplas expressões, pode nos revelar ainda mais.
Nesse mês promissor, convido você a adentrar no universo da escutatória, onde cada palavra ouvida com atenção semeia a promessa de um mundo mais empático e conectado. Afinal, o que temos a perder? Apenas um pouco de atenção — e, em troca, podemos ganhar muito mais do que imaginamos.
A qualidade da nossa comunicação, para ser verdadeiramente poderosa, deve ser tanto efetiva quanto afetiva. Ela está intrinsecamente ligada à escolha das palavras que utilizamos. As palavras, selecionadas com precisão e inteireza, têm o poder de construir elos, aproximar e esclarecer. No entanto, tão crucial quanto a escolha das palavras é a qualidade da nossa escuta. Muitas vezes, essa habilidade é o fator determinante entre o sucesso e o fracasso de interações e relacionamentos. Quando nos encontramos em um estado emocional reativo e defensivo, imersos em nossas próprias emoções, o espaço mental para escutar o outro de forma plena e aberta é significativamente reduzido. E, em um cenário de comunicação truncada, há quem diga que a guerra surge, pois a violência emerge onde
as palavras falham – um exemplo claro disso é quando alguém, incapaz de se expressar verbalmente, recorre à força.
A neurociência lança luz sobre esse fenômeno, explicando que, diante de necessidades não atendidas, o cérebro humano recua para o estado límbico. Esse é um modo primitivo, induzido pela sensação de ameaça, e nos deixa apenas com três opções de resposta: lutar, fugir ou congelar. No entanto, ao verbalizarmos o que sentimos de forma específica e detalhada, entramos em um processo quase terapêutico, trazendo à tona o poder curativo da fala. Este é o princípio que sustenta práticas como a psicanálise e a psicoterapia. Quando traduzimos nosso estado interno em palavras, ganhamos consciência sobre a situação que enfrentamos, permanecemos ancorados no presente e preparamos o terreno para uma comunicação mais rica, onde a escuta se torna uma aliada indispensável. A eficiente escuta ativa não apenas complementa a comunicação, mas também a transforma em uma força construtiva e restauradora.
Parafraseando Alberto Caeiro, conhecido heterônimo de Fernando Pessoa: não basta ter ouvidos para captar o que é dito; é necessário que haja silêncio dentro da alma. Para efetivamente escutar, é fundamental compreender que essa habilidade
envolve mais do que apenas nossos ouvidos — ela requer a participação do corpo inteiro. A prática da escuta verdadeira exige uma postura receptiva, curiosidade autêntica e atenção plena, manifestando-se por meio de canais verbais e não verbais.
Um antigo provérbio chinês ilustra bem essa dinâmica: se dois viajantes se encontram numa estrada, cada um com um pão, e trocam entre si, cada um parte com um pão. Entretanto, se dois homens se aproximam, cada um com uma ideia, e as trocam, ambos se afastam com duas ideias, enriquecidos pela troca. Com essa reflexão, incentivamos você a mergulhar nesta jornada de trocas e descobertas, ansioso para expandir horizontes e cultivar novas ideias, convencendo os outros com as suas orelhas.
Para verdadeiramente demonstrar que você está ouvindo, não tente adivinhar, apenas reflita o que as palavras do outro provocam em você. Não se preocupe em entender completamente tudo o que foi dito. Deste modo, o interlocutor pode esclarecer se foi compreendido ou se há algo que precisa ser ajustado. Envolver a harmonia entre a voz, o corpo e a palavra potencializam a mensagem. Sinais verbais e não verbais são fundamentais para isso. Mostre interesse com o olhar focado no outro, sinalize compreensão, faça perguntas para
esclarecer, considere a perspectiva alheia, tome notas e use paráfrases para expressar suas interpretações.
Por fim, se não despertarmos interesse genuíno, acabaremos “falando com as paredes” ou, pior, com alguém grudado na tela do celular. A verdadeira comunicação não se mede apenas em números, mas na qualidade do diálogo. É quando ambos, de igual para igual, compartilham pensamentos e perspectivas, evitando o confronto de “eu tenho razão” contra “você só tem argumentos”. A escuta eficaz é baseada na disposição de sentar juntos e encontrar soluções para nossos desafios.
Sugiro, caro leitor, que leia o excelente livro: Escute, expresse e fale! Domine a comunicação e seja um líder poderoso/1ª ed. – Rio de Janeiro: Rocco, 2023, e domine a arte de comunicar-se transformando-se em um líder poderoso.
Autor: Wagner Lourenço, advogado e escritor
E-mail: advwagner1212@gmail.com
