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BALADA DA PORTA FECHADA
from 37ª Edição
BALADA DA PORTA FECHADA DA PORTA FECHADA LÍCINIA QUITÉRIO
É a porta fechada dessa casa assombrada no dizer das mulheres ligeiras no andar. E o vento a sussurrar: Vai chegar vai chegar o tempo de arrombar essa porta fechada dessa casa assombrada.
E a mulher a pensar: É comigo é comigo que ele está a falar. Amanhã vou voltar rente à casa passar o meu ombro encostar à ombreira da porta baixinho perguntar: Quem foi que te assombrou?
Quem foi que te fechou?
E a casa a responder:
Alguém que não gostou da luz que em mim brilhou e esta porta fechou e sobre mim espalhou este manto de sombra e as mulheres afastou e os homens afastou e o medo semeou e desde então ninguém junto de mim passou nem sequer reparou que a luz não se apagou e às vezes é luar e às vezes nevoeiro e às vezes é braseiro a descair no mar.
A mulher despertou.
Não sabe se sonhou mas pela casa passou e a porta estava aberta e lá dentro era dia e o vento sussurrou: Foste tu que passaste contra o medo lutaste e o teu ombro apoiaste na ombreira da porta que não mais se fechou.
Foste tu que mataste a sombra que assombrou a casa que voltou a ser luz a ser guia.
E a casa sorria. E a mulher sorria.