Jornal do XIV Congresso de Nutrição e Alimentação

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Rui Poínhos

Pedro Graça

Helena Ávila

Da nutrigenética à nutrição personalizada

Alimentação saudável – um conceito construído artificialmente ao longo do Séc. XX

A literacia alimentar: um desafio emergente nos municípios portugueses

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António Pedro Mendes Cafeína e rendimento desportivo _ P. 12

Publicações

Congresso

www.justnews.pt

diretor: josé alberto soares Distribuição gratuita no dia 22 de maio

Célia Craveiro e Nuno Borges

Maria Leonor Faleiro Intervir na alimentação: o impacto na microbiota _ P. 10

Consulta de Obesidade do HSM - CHLN Tratar a obesidade sem deixar de saborear os alimentos _ P. 8/9

O valor da motivação _ P. 5

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Um dos grandes congressos de Saúde Pública em Portugal

Osvaldo Santos


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22 de maio 2015

A presidente com o seu vice

O nutricionista nos CSP O nutricionista nos cuidados de saúde primários foi assunto em destaque na tarde de ontem, com a realização de uma mesa-redonda moderada por Rui Santos Ivo (ACSS-Administração Central do Sistema de Saúde). Isabel Monteiro (ARS Norte) falou sobre “Contratualização de indicadores: oportunidade ou ameaça?” e Ester Vinha Nova (ARS Centro) abordou os “Desafios do passado, do presente e do futuro”.

Secretariado a cargo da Há Comunicação

Food & Nutrition Awards 2014 Gonçalo Moreira Guerra, vice-presidente da APN, moderou a sessão de apresentação dos trabalhos vencedores dos Food & Nutrition Awards 2014 e posou para a foto com os premiados: Rita Carvalho Nunes (Projeto NutriFun for Kids), Jaime Pereira (AGROBIO), Lisa Afonso (ISPUP), Carla Lopes (ISPUP/FMUP) e João Cavaleiro (Gumelo).

1300

inscreveram-se para o Congresso de 2015

76 Número expressivo de posters

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Publicações


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Um dos grandes congressos de Saúde Pública em Portugal O secretário de Estado da Economia, Leonardo Mathias, que presidiu à sessão de abertura, ouviu o representante da Direção-Geral da Saúde, Pedro Graça, afirmar: “Os hábitos alimentares inadequados são a principal causa dos anos de vida perdidos prematuramente, nesse sentido, este é um dos grandes congressos de Saúde Pública em Portugal.” Na foto da mesa, podem ver-se: - Pedro Cunha, subdiretor-geral da Educação, em representação do diretor-geral da Educação

- Pedro Portugal Gaspar, inspetor-geral da ASAE - Artur Lami, diretor-geral das Atividades Económicas - João Casanova de Almeida, secretário de Estado do Ensino e Administração Escolar - Célia Craveiro, presidente da APN - Leonardo Mathias, secretário de Estado adjunto e da Economia - Nuno Vieira e Brito, secretário de Estado da Alimentação e da Investigação Agroalimentar

- Alexandra Bento, bastonária da Ordem dos Nutricionistas - Álvaro Pegado Mendonça, diretor-geral da Alimentação e Veterinária - Pedro Graça, diretor do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, em representação do diretor-geral da Saúde - Hélder Muteia, representante da FAO, Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura

“Desperdício alimentar, um compromisso de todos”

As

mulheres dominam

Célia Craveiro e Alexandra Bento

A sessão de abertura incluiu a 2.ª ronda de assinaturas do compromisso da sociedade civil e do Governo. Alexandra Bento, bastonária da Ordem dos Nutricionistas, fez questão de sublinhar que assinava o documento em nome de uma mão cheia de entidades representativas de… 300.000 profissionais.

Veja as fotos do Congresso em O seu ponto de encontro com a Saúde


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Célia Craveiro, presidente da Associação Portuguesa dos Nutricionistas (APN):

“A palavra nutrição vende, o que não tem de ser algo negativo” Há cada vez mais nutricionistas em Portugal. O aumento de especialistas nesta área tanto acontece no setor da saúde como nas escolas, nas IPSS, ou na restauração coletiva, entre outros locais. Os desafios atuais passam por acolher os vários nutricionistas a nível nacional, mas também por desmistificar as ideias que surgem nos muitos livros sobre dieta, como salienta Célia Craveiro, presidente da Associação Portuguesa dos Nutricionistas. Just News ( JN) – Como vê, atualmente, a Nutrição em Portugal? Célia Craveiro (CC) – A profissão tem mudado muito nos últimos 15 anos. O número de recém-licenciados e licenciados em Ciências da Nutrição aumentou bastante, assim como as universidades com curso nesta área. Este crescimento deve-se, sem dúvida, ao facto de se ter noção de que a Nutrição é essencial na promoção de estilos de vida saudáveis.

dades destas múltiplas funções e também lidar com um problema mais recente, que diz respeito às dificuldades de contratação no Sistema Nacional de Saúde. JN – Como é que a APN consegue chegar aos alunos de Ciências da Nutrição com o aumento do número de cursos? CC – A APN tem apostado em reunir-se com os coordenadores dos cursos, a ní-

CC – É uma área que tem melhorado bastante nos últimos anos e já temos à disposição estudos de excelente qualidade. E assim tem de ser, porque a prática tem de se basear na evidência científica. Quanto à investigação, podemos dizer, sem problemas, que está bem de saúde. Refiro-me tanto aos trabalhos realizados no país como aos restantes, que surgem muitas vezes no âmbito do Doutoramento que um colega vai fazer em faculdades estrangeiras.

Nutrição | Uma ciência em constante atualização

Hoje em dia, já se tem uma ideia mais definida da necessidade de se pedir ajuda a um nutricionista para se ter ementas nas escolas, ou para se ajudar as pessoas a prevenir doenças crónicas não transmissíveis, como a hipertensão, a diabetes e as dislipidemias. Este é um dos grandes desafios da APN. Se há poucos anos todos nos conhecíamos, hoje em dia, já não é tanto assim. O nutricionista não trabalha apenas a nível clínico, embora ainda exista uma grande associação a esta ideia. A profissão tem um papel fundamental na clínica, mas também em empresas de alimentação coletiva, autarquias, escolas, hotéis, SPA, centros de estética, ginásios, centros de investigação científica, indústria alimentar, serviços de apoio ao consumidor, lares, etc. Há que saber gerir as necessi-

vel nacional. E o feedback tem sido muito bom. A Nutrição não é uma ciência exata, está sempre em constante atualização e é importante falar entre pares, desde a formação. É uma forma de se estabelecerem premissas que devem ser comuns a todos os cursos, mas salvaguardando a particularidade de cada universidade e faculdade. JN – O Ensino é de qualidade? CC – Sim, sem dúvida. E prova disso é que temos a Ordem dos Nutricionistas. Quem trabalha como nutricionista teve de passar por certas provas, mostrar que tem capacidade para trabalhar nesta área que é tão vasta e tão importante para a sociedade. JN – Como vê a investigação em Nutrição em Portugal?

Sei que nem sempre é fácil conjugar as exigências da profissão com a investigação. Todavia, é preciso não descurar esta área, porque o conhecimento baseado na evidência é o que nos ajuda a dar uma resposta mais adequada às necessidades da população. JN – No SNS, considera que os nutricionistas são valorizados? CC – Existem sérias dificuldades de contratação por causa da atual crise. Os cuidados de saúde primários, por exemplo, só ficam a ganhar com a contratação destes profissionais, tendo em conta o papel chave que têm a nível da promoção da saúde e da prevenção da doença. Infelizmente, a crise não tem permitido as contratações necessárias à taxa de cobertura desejável para a população. Os cole-

gas de Medicina Geral e Familiar são uma ajuda fundamental na luta pela adoção de estilos de vida que permitam uma maior qualidade de vida, tanto em termos físicos como psicológicos. Além disso, são estes médicos que acompanham indivíduos e famílias desde a mais tenra idade, o que lhes confere informação privilegiada no sentido de detetar precocemente situações, que devem ser encaminhadas para o nutricionista. JN – Existe uma proliferação de livros sobre dietas com autores que muitas vezes nem são nutricionistas. O que se pode fazer para que a população não seja induzida em erro? CC – Há um lado positivo e outro negativo. A palavra nutrição vende, o que não tem de ser algo negativo. Mas, de facto, temos assistido a um crescendo de publicações, em papel e online, onde se abordam os mais variados temas ligados à alimentação e, mais concretamente, às dietas para perda de peso. Algumas são de qualidade, outras nem por isso, pelo que se torna fundamental aumentar a literacia da população, de forma a capacitá-la a filtrar a informação. A APN tenta produzir materiais para os associados, a fim de se manterem o mais atualizados possível. Organizamos o Congresso todos os anos, temos a revista Nutrícias, que está indexada à Scielo… É um trabalho árduo e desafiante, porque existe muita informação nas redes sociais que não é científica. Com isto não estou a dizer que sou contra o uso dos novos media. Aliás, estes devem também ser utilizados para desmistificar mitos, dar a conhecer o trabalho de colegas … JN – E que desafios espera a sociedade? CC – O maior desafio é conseguir trabalhar a profissão de forma construtiva e produtiva, para que haja um aumento da intervenção dos nutricionistas na sociedade, nomeadamente, em certas áreas emergentes, como a indústria alimentar, a Geriatria, o Desporto... Além disso, é preciso apostar no conhecimento para ir contra os mitos e as ideias erradas que vão proliferando, com o surgimento de várias dietas e de muitos livros que nem sempre têm os conteúdos mais corretos. Este conhecimento deve ser transmitido aos profissionais de saúde – nutricionistas e não só –, mas também à população.

Célia Craveiro

A comida da mãe é a grande tentação É presidente da Associação Portuguesa dos Nutricionistas e, como nutricionista, trabalha na área da consultoria. Considera ser uma aventura estar à frente da APN, mas abraçou o projeto “com muita motivação”. Não é fácil conjugar a vida pessoal com a profissional, mas tenta ser o mais disciplinada possível para ter um estilo de vida saudável. “ÀS 7h15 da manhã já estou no ginásio e não dispenso este momento!” Quanto à alimentação, “tento ter uma alimentação saudável, embora, com uma vida cheia de atividades, nem sempre seja fácil”. Tentações também as tem, “afinal, sou um ser humano”, mas acontecem sobretudo por causa da mãe.” É uma excelente cozinheira. Faz tudo muito bem. Tão bem que não consigo ter um prato preferido.”

Optou pela Nutrição porque uma amiga lhe indicou que era “um curso muito interessante e pela diversidade de áreas de atuação.” Ao fim de uns anos, acredita que seguiu o caminho certo e não está arrependida de ter optado pelas Ciências da Nutrição numa altura em que ainda havia pouca formação na área.


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O valor da motivação

Osvaldo Santos Instituto de Medicina Preventiva da Faculdade Medicina da Universidade de Lisboa Estima-se que metade da mortalidade prematura se deva a escolhas comportamentais patogénicas – dieta não saudável, sedentarismo, fumar, condução perigosa, sexo de risco, etc. Estas escolhas, tais como as que vão em sentido contrário (saudá-

veis), são influenciadas por estados internos (sensações, crenças, valores, aprendizagens, motivações, etc.) e por uma multiplicidade de condições ambientais. Existe uma clara preferência motivacional para a recompensa imediata (por oposição a recompensas a longo prazo, mesmo que de maior valor ou grandeza). Pode ser dito que somos “máquinas” de gratificação imediata. Por exemplo, estamos naturalmente motivados para perder peso por motivos estéticos ou de desempenho físico (menos motivados por motivos de saúde). Estes são objetivos perspetivados a médio ou longo prazo. Mas estamos ainda mais motivados para satisfazer o que se vem convencionando chamar de fome hedónica, procurando alimentos de elevada palatabilidade (em muitos casos, de elevado valor calórico e pouco saciantes). E este objetivo é perspetivado como tendo valor imediato.

Assim, quando falamos em motivação, importa especificar a que necessidades correspondem, quais os objetivos visados e quais as crenças sobre o momento em que são satisfeitas. É necessária capacidade de autocontrolo ou de autorregulação para conseguirmos adiar recompensas imediatas (aqui e agora). Esta capacidade de autocontrolo desenvolve-se com a idade, sendo observável a partir dos (aproximadamente) três anos de idade. E a investigação mostra que maior capacidade de autocontrolo em idades mais precoces está associada a melhores indicadores de saúde, nomeadamente, de controlo do peso corporal, em adulto. Existe muita evidência quanto à importância de promover valores e motivações autónomas (ou seja, do próprio e não impostas). Na realidade, muito do trabalho no sentido de alterar comportamentos alimentares tem necessariamente

de passar por mudanças dos significados que as pessoas dão aos alimentos e ao comportamento alimentar. A entrevista motivacional emerge como estratégia relacional efetiva para este exercício de mudança da qualidade da motivação relacionada com a alimentação. É especialmente efetiva quando associada a intervenção dietética adequada, com alterações alimentares e objetivos adequados (saudáveis e exequíveis) à pessoa que quer perder ou controlar o seu peso. Através dos princípios e estratégias relacionais próprias à entrevista motivacional, é possível promover a qualidade da aliança terapêutica, bem como garantir acordo quanto à representação do problema (por que razão existe excesso de peso), quanto às tarefas a realizar e quanto aos objetivos terapêuticos. Importa, no entanto, realçar que a mudança da forma de pensar sobre os ali-

mentos e sobre a condição nutricional e ponderal não bastam, por si só, para que a mudança de estilo alimentar se mantenha no tempo. De facto, a construção de hábitos implica repetição comportamental para que, desta forma, se construa automatização das escolhas (os hábitos são memórias procedimentais: associações contexto-comportamento). Resumindo, a alteração de comportamentos alimentares implica alteração de crenças sobre alimentação e condição ponderal (incremento de literacia sobre alimentos e saúde). Implica também transformação motivacional, sendo a entrevista motivacional ferramenta com evidência de efetividade. E, mais importante ainda, implica treino de autocontrolo para que as tomadas de decisão alimentar, na maioria dos casos feitas de forma rápida e pouco refletidas, sejam consistentes com os objetivos e motivações autónomas.

Observar detalhes antes de prescrever suplementos faz a diferença na performance do atleta

Pedro Carvalho Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto

Muitas vezes, a escolha de um suplemento obedece apenas à quantidade para a qual se verificou um efeito ergogénico do mesmo, procedimento que é totalmente correto. Ainda assim, as diferentes formulações existentes no mercado em cada suplemento fazem com que a sua biodisponibilidade seja também ela distinta, levando a que o seu efeito no nosso organismo não seja potenciado ao máximo. É assim necessário, em alguns dos suplementos mais utilizados, como o magnésio, o ferro e o cálcio, escolher as suas formas mais facilmente absorvíveis e com menor ocorrência de distúrbios gastrointestinais (sobretudo no caso do ferro), de modo a maximizar o efeito pretendido com a suplementação. Os óleos de peixe, ricos em ómega 3, são outros suplementos cada vez mais

Os poucos estudos que investigaram o efeito da suplementação em ácido fosfatídico associado ao treino de força em indivíduos treinados revelaram aumentos na força e massa muscular, comparativamente ao efeito isolado do treino.

utilizados em atletas, na perspetiva de equilibrar um padrão alimentar que, por norma, é muito mais rico em ácidos gordos ómega 6 e, consequentemente, mais pró-inflamatório. Também aqui deverá existir uma preocupação, quer na procura de um suplemento que possua o ratio ideal EPA:DHA (idealmente 2:1), quer de uma marca que cumpra todos os requisitos relativos à qualidade dos mesmos (se possível com o selo de qualidade da IFOS – International Fish Oil Standards Program), de modo a proteger estes ácidos gordos da oxidação, com as consequências deletérias que uma peroxidação lipídica em cadeia pode ter no nosso organismo. Um suplemento recente que parece igualmente ter um efeito promissor é o ácido fosfatídico. Trata-se de um fosfolípido presente nas membranas celula-

res e que parece conseguir estimular a mTOR, proteína de sinalização absolutamente fulcral na síntese proteica muscular. Os poucos estudos que investigaram o efeito da suplementação em ácido fosfatídico associado ao treino de força em indivíduos treinados revelaram aumentos na força e massa muscular, comparativamente ao efeito isolado do treino, pelo que vale a pena estar atento a futuros estudos que surjam sobre este novo suplemento. Estas são algumas questões de pormenor relativamente à prescrição de suplementos para atletas que, apesar de não serem muitas das vezes abordadas, podem fazer toda a diferença na melhoria do seu estado nutricional e, consequentemente, da sua performance desportiva.


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Nuno Borges, membro da direção da APN e presidente da Comissão Científica do XIV Congresso de Nutrição e Alimentação:

“Existe uma sede de conhecimento mais prático” “Nutrição: saber para agir” é o tema central do Congresso. O objetivo é conseguir responder às questões que surgem no dia-a-dia dos nutricionistas, quer trabalhem em clínica ou noutros setores. Nuno Borges considera que os participantes têm cada vez mais necessidade de informações científicas sobre as várias temáticas que surgem no mercado relacionadas com a Nutrição. Com o aumento do número de publicações nesta área, é preciso separar o trigo do joio. Just News ( JN) – Por que razão o tema do Congresso é “Nutrição: saber para agir”? Nuno Borges (NB) – Este tema foi escolhido por todas as pessoas que fazem parte da Comissão Científica, que quis apostar num evento que permitisse dotar os participantes de conhecimentos mais práticos. A filosofia é dar resposta a questões práticas, que surgem no dia-a-dia. Nesse sentido, tentámos elaborar um Programa que pudesse responder a questões de quem exerça a profissão em clínica, ginásios, IPSS, escolas, restauração... Não é fácil, de facto, conseguir num único Congresso abarcar os interesses de todos, mas fazemos por isso. Mas também temos momentos menos científicos como, por exemplo, uma conferência sobre “Sabores e Sentidos”, que conta com um chef que nos vai deliciar com algumas iguarias. Estes momentos são importantes pelo convívio, mas também para conhecer as diferenças e a riqueza da gastronomia de várias regiões. JN – Considera que existe uma maior necessidade em ter um programa mais focado no conhecimento prático? NB – Sem dúvida. A estrutura do Congresso tem sofrido, inevitavelmente, alterações ao longo dos anos. Não apenas porque as pessoas que constituem a Comissão Científica são diferentes, mas também porque os participantes assim o entendem. De várias conversas que tivemos de forma mais informal e dos dados obtidos através de uma aplicação de televoto – utilizada pela primeira vez no ano passado e que também existirá este ano --, concluímos que existe uma sede de conhecimento mais prático. É normal, tendo em conta que há nutricionistas que já estão afastados da Universidade há algum tempo e que sentem a necessidade de dar resposta às várias questões dos seus doentes/clientes – depende da área em que exercem. Questões que surgem por causa de um livro que surgiu no mercado, ou de uma notícia que acaba por ter impacto a nível nacional, suscitando muitas dúvidas.

JN – Receberam muitas comunicações orais e posters? NB – Sim, recebemos cerca de 100. Ano após ano, apercebemo-nos de que as pessoas estão mais ávidas de dar a conhecer o seu trabalho, além de este interesse demonstrar que a investigação em Nutrição está viva e é considerada cada vez mais essencial. Num evento em que juntamos tantas pessoas ligadas à Nutrição, é fundamental dar-lhes a oportunidade de darem a conhecer o seu trabalho. É também uma forma de nós, da organização, aprendermos com estes colegas. Todos temos muito para ensinar, mas mais ainda para aprender. Infelizmente, não temos espaço para muitas comunicações orais, mas quem for escolhido para apresentar um poster vai ter a possibilidade de falar sobre o trabalho que realizou e as conclusões a que chegou.

“Vivemos num mundo paradoxal. Há quem viva numa grande pobreza e sofra de desnutrição, mas também vivemos, nas sociedades mais ocidentais, o problema da obesidade e das doenças metabólicas, mas também da desnutrição em doentes e idosos.”

JN – O “boom” de publicações sobre nutrição e dieta tem aumentado bastante… NB – Daí esta necessidade de se ter respostas concretas, mas científicas. O facto de estarmos a apostar num programa mais prático não significa que as apresentações não sejam baseadas na evidência científica. Hoje, surgem muitas questões, como a importância do leite, as novas dietas, o consumo de suplementos sem prescrição médica, entre outras, que devem ser respondidas com base em estudos comprovados cientificamente. Não nos podemos esquecer de que estamos a falar da saúde da população. Existem muitas publicações que têm uma base científica, mas também há muitas informações falsas e erradas, que podem pôr em causa a saúde das pessoas. Por exemplo, os testes de intolerância alimentar divulgados por muitas empresas, como bastante avançados e com base científica, são falsos. Além de serem muito caros, as pessoas acabam por deixar de comer certos alimentos que são importantes para uma dieta alimentar saudável. Existem depois exemplos sem qualquer sentido, como a dieta do grupo sanguíneo ou do signo… Estes dois exemplos são básicos para qualquer nutricionista e obviamente que não vão aceitar estas dietas. Mas precisam saber como lidar com este mundo paralelo, com uma forte adesão por parte da população e que domina, muitas vezes, as redes sociais. JN – O público-alvo do Congresso é o nutricionista? NB – Não só. Ao longo dos anos, temos contado com a participação de outros profissionais, como enfermeiros, médicos de várias especialidades, nomeadamente, da Medicina Geral e Familiar, psicólogos… Esta diversidade é muito positiva, porque é necessário partilhar experiências entre especialidades. Não se pode viver isolado, em ilhas. A equipa deve ser multidisciplinar, como já é do conhecimento geral. JN – Abordando alguns temas do Congresso, o que pensa da Nutrigenética e da Nutrigenómica?

Congresso | O objetivo é dar resposta às questões práticas que surgem diariamente

NB – São áreas muito interessantes! O objetivo é perceber de que maneira a genética afeta a maneira como nos relacionamos com a comida. E nas mais variadas vertentes. Será que precisamos de mais ou menos vitaminas? E como lidamos emocionalmente com os alimentos? Algo mais recente é tentar ver como é que aquilo que comemos, principalmente na vida intrauterina e na infância, vai afetar a nossa genética. O que se pretende é chegar ao ponto de se conceber a melhor dieta para cada pessoa, a fim de ser mais saudável e prevenir determinadas doenças. Estas áreas ainda são recentes, mas já existem muitas pessoas interessadas e a investigá-las. Esperemos para ver! Pessoalmente, penso que estas áreas vão fazer toda a diferença na saúde da população. JN – Outra temática a abordar é “O futuro da Nutrição num mundo de recursos limitados”. Um tema que faz todo o sentido numa altura de crise.

Como é que o nutricionista pode ajudar? NB – Sim. Aliás, vivemos num mundo paradoxal. Há quem viva numa grande pobreza e sofra de desnutrição, mas também vivemos, nas sociedades mais ocidentais, o problema da obesidade e das doenças metabólicas, mas também da desnutrição em doentes e idosos. O que se pretende com esta mesa-redonda é falar sobre outro papel bastante importante do nutricionista, que é dar resposta a recursos limitados. Vão ser abordadas três temáticas que, no fundo, representam alternativas não tecnológicas e outras que permitem um regresso à natureza. É um desafio para a Humanidade manter a alimentação sem deteriorar o meio ambiente, porque a terra tem limites e, obviamente, sem pôr em causa o meio ambiente. Os biofortificadores são outra temática importante, já que podem fazer toda a diferença em regiões de grande carência alimentar, como acontece nos países mais pobres.


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Perfil Nuno Borges

Vai sempre para as aulas “cheio de vontade, com muita garra para dar e receber”

JN – Outro tema que se destaca no Programa intitula-se “O nutricionista nos cuidados de saúde primários do SNS”. Como vê a contratação de nutricionistas no SNS? NB – Esta questão é mais do foro político, mas é, de facto, um tema chave, hoje em dia. Inevitavelmente, teríamos de falar sobre o que se está a passar. Infelizmente, existem muitos exemplos de falta de nutricionistas no SNS, principalmente nos cuidados de saúde primários. A reforma dos CSP permitiu alertar para a importância do nutricionista nas equipas multidisciplinares das unidades de saúde familiares. E foram feitas várias contratações porque é nesta primeira linha de cuidados que se pode prevenir ou diminuir o risco de doenças, como a diabetes, a hipertensão, a obesidade e a hipercolesterolemia, entre outras. Sabe-se, e há muito que está provado cientificamente, que a ação do nutricionista, em equipa, numa fase inicial, pode fazer

toda a diferença na saúde futura dos utentes. Mas, com a austeridade, vemos que há vários colegas à espera de colocação. Aliás, o problema é mesmo existir concursos de admissão, porque as entidades de saúde e os restantes profissionais de saúde têm noção da importância da Nutrição. Espero que esta situação se resolva o mais brevemente possível, não só para o bem dos nutricionistas que esperam vaga no SNS, mas sobretudo para o bem de toda uma população que vê aumentar as doenças metabólicas, que podem, na maioria dos casos, ser prevenidas. JN – Há cinco anos que integra a Comissão Científica do Congresso. Quais são os desafios futuros para manter um Congresso aberto a nutricionistas e não só? NB – O primeiro grande desafio foi, é e será ter um Programa que seja do agrado de todos e que responda às ne-

cessidades de quem participa. Além de se contar com a participação de especialistas de várias áreas, incluindo a investigação e a docência, não podemos esquecer que os nutricionistas não trabalham apenas em clínica. Mas acredito que, com muito empenho, com uma atualização constante, com os ouvidos bem abertos para escutar os colegas, é possível ter um programa interessante e abrangente, sem deixar de ser científico. O Congresso costuma ser um ano no Porto e outro em Lisboa. Neste momento, temos esta perspetiva, mas quando eu for substituído surgirão, com certeza, novas ideias, de grande valor. Estamos a crescer e penso que a dificuldade inerente à organização científica de qualquer programa não vai pôr em causa a qualidade dos próximos congressos. A Nutrição está sempre a evoluir, a investigação na área aumentou e surgirão sempre temáticas que vão exigir toda a atenção por parte da APN.

É professor associado da Faculdade de Ciências da Nutrição da Universidade do Porto, presidente do seu Conselho Científico há cerca de três meses, docente na Universidade do Minho, membro da APN e diretor da Nutrícias. Muitos cargos que se resumem num só: “Sou nutricionista!”, diz, com orgulho. Foi dos primeiros doutorados na área e acredita que a investigação deve fazer parte da vida de qualquer nutricionista. “Nem sempre é fácil, compreendo, mas devemos evitar deixar esta componente tão importante para a prática clínica”. Para Nuno Borges, a investigação é um mundo “trabalhoso, mas magnífico”. Fez investigação, quase em exclusivo, durante alguns anos na FMUP e depois numa empresa da indústria farmacêutica e foi um período muito bom da sua vida.

quiri como professor e nutricionista.” É uma tarefa tão gratificante, apesar de árdua, que vai sempre para as aulas “cheio de vontade, com muita garra para dar e receber”. Com tantas tarefas, não deixa a família de parte. Garante mesmo: “Tenho sempre tempo para a minha mulher e para as minhas filhas.” E acrescenta: “Ninguém me vai ouvir dizer que não há tempo. Há sempre, desde que façamos as coisas por gosto. Tudo o que faço é porque gosto e as dificuldades jamais superam as coisas boas que a vida me dá todos os dias. É a viver assim que me sinto bem e de outra maneira não faz sentido.” Stress é uma palavra que não faz parte da sua vida e mantém-se calmo e tranquilo perante o que a vida lhe dá todos os dias, a cada momento. Afinal,

Ao longo dos anos, sente que a profissão mudou muito. “É como a água e o vinho!” Apesar de ser nutricionista, gosta muito de dar aulas. “É o meu palco! Sinto-me muito bem quando estou com tantos jovens. Aprendo muito com eles!”. Para Nuno Borges, os alunos dão-lhe vida e ânimo. “Gosto imenso de conversar com eles, de escutar as suas ideias ainda cheias de muitas expectativas e partilhar o conhecimento que ad-

“problemas há sempre, fazem parte da vida e só temos de os enfrentar.” Quanto à alimentação saudável, diz: “Faço por isso.” Não tem hobbies, embora goste muito de música. “Oiço de tudo um pouco. Sou muito eclético.” Conquilhas é o seu prato preferido e come-as todos os anos quando vai ao Algarve. “É uma tentação. Sou louco por conquilhas, de preferência as de terras algarvias!”

“A Nutrição está sempre a evoluir, a investigação na área aumentou e surgirão sempre temáticas que vão exigir toda a atenção por parte da APN.”


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22 de maio 2015

Consulta de Obesidade do Hospital de Santa Maria, Centro Hospitalar Lisboa Norte

Tratar a obesidade sem deixar de saborear os a Quem se dirige à Consulta de Obesidade do Hospital de Santa Maria (CHLN) já passou, regra geral, por muitas experiências de dietas que não surtiram qualquer efeito. São pessoas que podem estar muito desmotivadas, mas que, com o apoio de um plano nutricional, conseguem perder peso e ganhar qualidade de vida. José Camolas é um dos nutricionistas da consulta e realça a importância de não se pensar tanto no peso ideal per si e mais nos quilos a menos, que melhoram a qualidade de vida da pessoa e previnem ou melhoram patologias associadas a este problema de saúde. “O objetivo não é apenas preparar pessoas para a cirurgia bariátrica, mas tratar a obesidade em toda a sua amplitude.” É desta forma que José Camolas, nutricionista na Consulta da Obesidade do Hospital de Santa Maria (CHLN), resume o trabalho que a equipa ali desenvolve. Quem é referenciado à Consulta de Obesidade do HSM-CHLN nem sempre ali chega muito motivado. Após várias tentativas de perda de peso, geralmente, pensa que vai ser apenas mais uma. “A pessoa tende a pensar que vai fazer mais uma dieta, mas a verdade é que o plano é individualizado, tendo em conta as diversas variáveis socioeconómicas, culturais e biológicas que estão associadas àquele indivíduo e à obesidade em si”, explica o nutricionista. No fundo, na Consulta de Obesidade do HSM-CHLN não existe um foco exclusivo na perda de peso, mas “nos quilos a menos que melhoram a qualidade de vida da pessoa e previnem ou melhoram patologias associadas a este problema de saúde, como a diabetes, a hipercolesterolemia e as doenças cardiovasculares, entre outras”. As mulheres são as que mais procuram ajuda, enquanto os homens costumam chegar numa situação mais complicada. “Muitas vezes, vêm na sequência de um evento cardiovascular, por exemplo, após um enfarte agudo do miocárdio (EAM), ou porque um familiar ou amigo obeso sofreu algum acidente cardiovascular e sente medo que lhe venha a acontecer o mesmo.”

As motivações para perder peso podem estar escondidas No HSM-CHLN já existe uma consulta para tratar a obesidade há mais de 20 anos, tendo sido reestruturada há cerca de oito a 10 anos. “No início, tratavam-se as mais variadas situações relacionadas com o peso, desde a anorexia e a bulimia nervosa até aos casos de obesidade mórbida. Mas, após a reestruturação das consultas, as doenças do comportamento alimentar ficaram a cargo do Serviço de Psiquiatria, ficando nós com a responsabilidade de dar resposta à obesidade severa”, esclarece José Camolas. Apesar de os doentes recebidos na

consulta terem, na sua maioria, critérios para virem a realizar a cirurgia bariátrica, José Camolas salienta que o seu trabalho não é só esse. “É preciso tratar a obesidade, permitir que as pessoas saiam desta consulta com um plano personalizado, tendo em vista a melhoria do estado metabólico e da qualidade de vida, independentemente de virem a necessitar de cirurgia.” E continua.”Existe muito a ideia de que nos devemos centrar na perda de peso, mas esta não pode ser vista de forma isolada. Será que uma pessoa que tem 150 kg e sempre foi obesa precisa de ter como meta um IMC normal? Penso que não é realista.”

já não conseguia correr com o filho, nem sequer sentar-se sem dificuldades para brincar com ele.” Quanto às motivações, também é preciso ter cuidado com as mais escondidas. “Se me surge uma jovem de 18 anos, não devo esperar que a sua verdadeira motivação seja tratar a obesidade para não ser diabética, devo suspeitar que o mais certo é que a razão esteja em conseguir ir à praia e vestir o biquíni, ter sucesso nas relações, etc.”. Tudo é válido e não há motivações melhores que outras, o importante, segundo José Camolas, é perceber o que pode ajudar nas fases mais difíceis. “A dificuldade começa logo com uma taxa de não comparência na primeira consulta que ronda os 25% e ao fim de um ano podemos ter 50% de desistentes.” Os fatores que levam a desistir podem ser os mais variados, de facto, mas podem estar simplesmente na distância, pois, há doentes que vêm do Algarve. Mudar comportamentos é tudo menos fácil, daí que na Consulta se trabalhe em equipa multidisciplinar. “Conta-se com o apoio da Endocrinologia, da Psicologia, da Cirurgia, caso se avance para a intervenção cirúrgica, da Pneumologia – muito por causa da síndrome da apneia obstrutiva do sono – e de outras especialidades que possam ser necessárias ao doente.” Um trabalho multidisciplinar sem o qual “não é possível ajudar ninguém.”

muitos passos para trás.” Um dos passos essenciais no aconselhamento nutricional é precisamente ajudar a pessoa a ver se está a passar por um período da vida em que pode resvalar. “A vida muda, há muitas coisas que podem acontecer e, por isso, o nutricionista deve estar presente para ajudar a continuar a seguir em frente.” Mais, “o nosso papel é auxiliar o doente a ter uma perceção an-

tecipada desses momentos, que podem fazer-se sentir na necessidade de se comer mais, ter mais vontade em ingerir doces e outros alimentos energéticos, por exemplo”, diz José Camolas. A intervenção na Consulta da Obesidade da HSM-CHLN deve contar sempre com o envolvimento do paciente para que se possa ter sucesso. Quanto à referenciação para outras especialidades, pode acontecer em qualquer altura. “Mesmo que inicialmente a pessoa só seja seguida nesta Consulta, pode vir a precisar de seguimento em Endocrinologia, Pneumologia, Psicologia e Psiquiatria, entre outras especialidades. Estamos cá para trabalhar em equipa.”

Dieta saudável, mas com sabor Na Consulta de Obesidade do HSM-CHLN, José Camolas refere que se seguem

Após a cirurgia, pode haver recaídas

José Camolas

O nutricionista relembra que não é fácil seguir um plano nutricional diário e que é preciso olhar para a realidade de cada paciente. “Um dos casos que acompanhei era de uma senhora que praticamente só conseguia levantar-se do sofá para ir para a cama e vice-versa. Esta doente precisava melhorar a mobilidade, mesmo que não conseguisse chegar ao IMC normal.” A motivação é essencial e é preciso saber a razão por detrás da ida à Consulta da Obesidade para se poder trabalhar mais em sintonia com as necessidades individuais. “Um dia tive um pai que veio à consulta para perder algum peso, porque

Nos casos de cirurgia bariátrica, é preciso continuar a ir às consultas. “Nos primeiros dois meses, precisa-se sempre de apoio e é normal que as pessoas não desistam da consulta. O problema é depois, porque existem os momentos de charneira, onde tenho verificado que temos de estar mais atentos aos riscos de uma recaída.” O estômago, como é um músculo, pode voltar a aumentar de volume e é necessário existir um acompanhamento por parte de um nutricionista, para que se evite voltar ao peso anterior à intervenção cirúrgica. “O que está convencionado é que o aconselhamento continue a seguir à cirurgia durante 36 meses, mas pode ser que seja necessário mais tempo. Varia de doente para doente e é preciso ajudar, de forma multidisciplinar, estas pessoas. Nestes casos, a desmotivação pode levar a dar

O nutricionista José Canolas relembra que não é fácil seguir um plano nutricional diário e que é preciso olhar para a realidade de cada paciente.


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s alimentos princípios como aqueles que estão atribuídos à Dieta Mediterrânica, considerada agora Património Imaterial da Humanidade. “Os legumes, os produtos hortícolas, a fruta fresca e o peixe são essenciais no regime alimentar de qualquer um.” Quanto às polémicas que envolvem o leite e outros produtos lácteos, José Camolas é perentório. “Se a pessoa está habituada e não tem sintomatologia compatível com alergia ou intolerância a tais produtos, pode fazê-lo. Não vamos restringi-los. Embora, naturalmente, recomendemos aqueles que têm um reduzido teor de gordura e daremos indicações personalizadas quanto às respetivas porções.” Pensar no sabor dos alimentos é outro ponto importante. “Comer deve dar prazer e isso é possível numa alimentação saudável, ao contrário do que é habitual pensar-se”, observa José Camolas. O nutri-

O processo de mastigação é tão fundamental que em alguns centros clínicos dos EUA só se aceita fazer a cirurgia se a pessoa tiver uma boa saúde oral. Caso contrário, não vai conseguir cumprir o plano nutricional desejável e, nos casos mais graves, os alimentos são ingeridos quase inteiros.

cionista afirma ainda que um dos pontos ensinados na consulta é a saber mastigar e saborear. “Vive-se a correr e já é um hábito demasiado enraizado, existindo assim a necessidade de levar as pessoas a mastigar devagar, saboreando o que comem. Isto é importante em termos de sabor, mas também na digestão, principalmente após a cirurgia.”

dade e as suas complicações, como diabetes, hipercolesterolemia, hipertensão, acidentes vasculares cerebrais (AVC), enfartes agudos do miocárdio (EAM), entre outros.” Além disso, “a prevenção da obesidade e das comorbilidades, assim como o seu tratamento, trazem poupanças a médio e longo prazo ao erário público,

SNS deve apostar no nutricionista porque “é mais barato prevenir do que tratar” José Camolas defende uma maior aposta na Nutrição, principalmente no Serviço Nacional de Saúde (SNS), onde se tem assistido a cortes. E não se trata de defender apenas a sua profissão. “Está provado cientificamente que a ação do nutricionista, desde os primeiros anos de vida ou até mesmo durante a gravidez, ajuda a reduzir os casos de obesi-

testemunho

“O meu objetivo é chegar aos dois dígitos na balança, mas já me sinto mais saudável” Tiago Nunes tem 30 anos e sempre teve peso a mais. “Sempre fui um bom garfo”, admite. Após muitas dietas infrutíferas, que punham em causa a sua saúde, o médico de família referenciou-o para a Consulta de Obesidade do HSM-CHLN. “Comecei em dezembro e já noto diferenças. Cheguei aqui com 106 quilos, já sentia dificuldade em trabalhar (tenho de estar sempre em pé) e vi que era preciso mudar de vida.” Esta vontade de mudança ajuda-o a seguir o plano nutricional diário, ao qual se junta o exercício físico. “O

porque se gasta muito com as doenças crónicas preveníveis”, acrescenta. E dá um exemplo: “De acordo com estudos já realizados, se se investir na prevenção da diabetes, alterando estilos de vida menos saudáveis, ao fim de três anos, consegue-se uma diminuição de 50% do número de casos desta patologia em indivíduos com risco aumentado.”

meu objetivo é chegar aos dois dígitos na balança, mas já me sinto mais saudável.” Apesar de ter “abusado” nas férias, acredita que ainda vai chegar aos dois dígitos e que se vai sentir ainda melhor em termos de saúde. Comparando as dietas do passado e o plano nutricional, admite que é mais fácil perder peso com metas definidas. “Há objetivos a cumprir, tenho uma alimentação saudável, pratico desporto e evito ter problemas de saúde, como acontecia com as dietas em que deixava de almoçar e jantar.”

O especialista realça ainda a importância de quem se formou em Ciências da Nutrição. “Devido à nossa formação de base, temos uma perceção mais concreta de que se deve dar menos atenção à perda obrigatória de muito peso, porque bastam poucos quilos para que se melhore a qualidade de vida de quem, por exemplo, não

conseguia fazer a sua higiene pessoal.” Com mais nutricionistas a intervir desde os primeiros anos de vida em equipas multidisciplinares, José Camolas acredita que é possível prevenir e tratar a obesidade. Afinal, o objetivo não se centra no fim da linha, ou seja, na cirurgia, mas na prevenção e no tratamento.


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Percepção dos consumidores e determinantes de aceitação e adesão

Da nutrigenética à nutrição personalizada

Rui Poínhos Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação, Universidade do Porto

Por nutrição personalizada (NP) entende-se o aconselhamento sobre alimentação saudável adaptado a um indivíduo com base no seu estado de saúde, estilo de vida e/ou genética. A sequenciação do genoma humano impulsionou diversas

áreas científicas. Ao nível das Ciências da Nutrição, os avanços na nutrigenómica (influência dos nutrientes na expressão genética) e, em particular, na nutrigenética (influência dos genes na interacção entre dieta e doença), abriram terreno para a diversificação das formas de personalizar os serviços de aconselhamento nutricional. O projecto Food4Me – Personalized Nutrition: an integrated analysis of opportunities and challenges (www.food4me.org) surgiu da necessidade de estudar de forma integrada diversos aspectos relacionados com a NP. Entre outros, este projecto estudou a percepção dos consumidores sobre os serviços de NP e os determinantes de aceitação e adesão a estes serviços. Um dos trabalhos desenvolvidos no âmbito do “Food4Me” teve como objectivo explorar a percepção que potenciais consumidores têm da NP (Stewart-Knox et al., 2013; Appetite. 66:67-74), através da realização de grupos focais em 8 países europeus (entre os quais Portugal). Como

principais resultados, salienta-se que a NP é percepcionada como potencialmente benéfica, sobretudo em termos de saúde e forma física. O recurso à Internet como meio de prestação do serviço apresenta como vantagem uma maior conveniência, mas sobressaem preocupações relacionadas com a confidencialidade e a protecção dos dados, as entidades prestadoras do serviço e reguladores e com o envio por correio de amostras de sangue e ADN. O contacto pessoal direto é considerado importante, sobretudo quando o serviço envolve o uso de informação genotípica. Adicionalmente, verificou-se que o pagamento do serviço é percepcionado como um “indicador” de qualidade e segurança. Noutro trabalho, em que participaram 9381 adultos de 9 países europeus (incluindo Portugal), desenvolveu-se um modelo de equações estruturais no qual diversos factores psicológicos eram estudados enquanto preditores da intenção de adesão à NP (Poínhos et al., 2014;

PLoS One. 9:e110614). Verificou-se que as variáveis psicológicas eram preditoras das atitudes face à NP, sendo as atitudes um preditor directo da intenção de adesão à NP. A percepção de benefícios foi a variável psicológica com maior efeito sobre as atitudes. Juntamente com a autoeficácia relacionada com a alimentação, esta variável apresentou ainda um efeito directo na intenção. Como resultado dos dois trabalhos, conclui-se que a promoção dos serviços de NP implica a regulação e garantia de protecção dos dados pessoais, a divulgação de informação transparente sobre potenciais benefícios e a promoção da autoeficácia relacionada com a alimentação. A estabilidade do modelo de equações estruturais entre países mostra que os factores psicológicos que determinam a adopção da NP têm uma aplicabilidade transversal aos diferentes países europeus estudados.

O recurso à Internet como meio de prestação do serviço apresenta como vantagem uma maior conveniência, mas sobressaem preocupações relacionadas com a confidencialidade e a protecção dos dados.

Nota: Artigo escrito segundo o antigo Acordo Ortográfico.

Intervir na alimentação: o impacto na microbiota

Maria Leonor Faleiro Universidade do Algarve, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Centro de Investigação Biomédica (CBMR)

A associação da microbiota do trato gastrointestinal (MTG) à saúde e à doença é presentemente indiscutível. As intervenções alimentares podem influenciar a composição da MTG quer a longo, quer a curto prazo. A abordagem metagenómica tem desempenhado um papel crucial no conhecimento desta complexa comunidade microbiana, bem como o efeito de vários componentes da dieta na sua organização. Com esta abordagem, foi possível comparar os perfis da MTG de comunidades que habitam em zonas com estilos de vida muito diferentes, como nos EUA, Europa e África, e evidenciar que a composição da MTG reflete as diferenças do seu estilo de vida, sendo que as comunidades ocidentais são caracterizadas por uma menor diversidade microbiana.

Os alimentos são a nossa melhor fonte de microrganismos e nas zonas mais urbanizadas o consumo de alimentos processados (caracterizados por uma menor diversidade microbiana e menor abundância) é mais elevado, o que contribui largamente para estas diferenças na MTG. Presentemente, a elaboração de estratégias alimentares na promoção da saúde não só tem que ter como base os impactos destas na composição da MTG, mas igualmente na sua funcionalidade, pois, é hoje bem evidente a elevada capacidade de adaptação metabólica da microbiota às alterações na dieta. A existência de uma composição da microbiota que reflita, por si só, o estado saudável é ainda uma questão que necessita de uma resposta concordante. Se

Os alimentos são a nossa melhor fonte de microrganismos e nas zonas mais urbanizadas o consumo de alimentos processados é mais elevado, o que contribui largamente para estas diferenças na MTG.

esta composição for definida, quais são as estratégias alimentares que têm que ser implementadas para a atingir? O esclarecimento sobre as interações dos microrganismos e as fontes alimentares pode beneficiar largamente da integração da informação recolhida, não só da metagenómica, mas igualmente das abordagens metatranscriptómica, metaproteómica e metabolómica. Esta integração poderá contribuir para a elaboração de estratégias dietéticas/nutricionais que promovam o estabelecimento da microbiota de suporte a uma vida saudável. Recordemos que a capacidade de adaptação dos microrganismos ter-nos-á proporcionado uma maior flexibilidade aos diferentes regimes alimentares ao longo do nosso processo evolutivo.


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Novos consumos alimentares na comunidade: aspartame

Diana Teixeira FMUP, Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto Pese embora o carácter etiológico multifactorial da crescente prevalência de doenças crónicas, é consensual na comunidade científica que o consumo de produtos açucarados associar-se-á ao aumento do risco de doenças crónicas, incluindo a obesidade, a diabetes tipo 2, a hipertensão e a doença cardiovascular. Por este facto, uma abordagem potencialmente benéfica seria a substituição dos alimentos açucarados (sobretudo bebidas) pelos seus congéneres contendo edulcorantes não calóricos, que proporcionam o sabor doce, mas com valor energético negligenciável ou inexistente. Neste contexto, o aspartame (edulcorante artificial de baixo valor energético – E951) surge como o adoçante mais amplamente usado e utilizado numa ampla variedade de géneros alimentícios. Por conseguinte, diversos são os estudos analisados pela European Food Safety Authority (EFSA) para avaliar o risco do uso deste edulcorante. Questões relacionadas com a sua segurança e a dos seus produtos metabólicos (fenilalanina, ácido aspártico e metanol) têm sido investigadas na população em geral e em subgrupos populacionais, incluindo indivíduos com a doença genética fenilcetonúria. Apesar das alegações sobre o efeito do aspartame na saúde (dor de cabeça, alterações de humor, depressão, reações

alérgicas, desenvolvimento de cancro e tumores cerebrais, doença de Alzheimer, doença de Parkinson e esclerose múltipla), as agências reguladoras internacionais reconhecem que o aspartame é seguro nos propósitos para os quais é utilizado e na dose diária admissível (DDA): 40 mg/kg peso por dia, pela Organização Mundial da Saúde e pela EFSA. Estudos de avaliação do consumo alimentar têm demonstrado que este edulcorante é consumido em quantidades muito inferiores, comparativamente ao valor definido para a sua DDA. Por exemplo, em Portugal, numa amostra de adolescentes, a ingestão diária de aspartame estimada a partir do consumo de refrigerantes, principais contribuidores para a ingestão diária deste edulcorante, foi de 1,1 mg/kg de peso corporal, francamente abaixo da DDA. Após o exposto, permanece a questão de qual o impacto metabólico do consumo de edulcorantes? A evidência de que dispomos, ainda que de complexa interpretação e controvérsia pela complexidade dos sistemas de regulação energética no Homem e da dificuldade em isolarmos cada factor, indica que os edulcorantes podem ter um papel no aumento do risco cardiometabólico. Dos mecanismos biologicamente plausíveis que têm sido propostos para explicar essa associação, destacam-se: – O consumo de edulcorantes não energéticos pode alterar as preferências

Fonte: Scientific Opinion on Aspartame. EFSA 2013

face ao doce, favorecendo e perpetuando o consumo de alimentos doces, promovendo desta forma a manutenção ou o ganho de peso excessivo; – A exposição a edulcorantes não energéticos pode não só interferir na regulação do apetite como também afetar negativamente a regulação de processos fisiológicos e metabólicos, nomeadamente, a diminuição da libertação da incretina GLP1, que tem sido implicada na regulação da ingestão alimentar, dos níveis de glicose no sangue e na proteção cardiovascular; – Por último, a mais recente evidência sugere que os edulcorantes artificiais como o aspartame, a sacarina e a sucralose podem modificar a composição do microbiota intestinal e, desta forma, contribuir para a desregulação metabólica. Apesar do exposto, e face à consistência do atual conhecimento, cremos que substituir o açúcar por adoçantes parece conferir uma vantagem. Optar pela versão light ou sem açúcar, com metade das calorias da sua versão original, pode fazer sentido para os indivíduos que desejem reduzir a sua ingestão energética e/ou o teor de hidratos de carbono. Isto não deverá incitar à desresponsabilização do indivíduo, pela ingestão do dobro da quantidade! E deverá ser sempre acompanhada por um conjunto de escolhas alimentares equilibradas, energeticamente adequadas, de forma a minimizar os seus putativos efeitos adversos.

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A bioimpedância na prática clínica

Rita Guerra Unidade de Integração de Sistemas e Processos Automatizados da FEUP A bioimpedância é um método utilizado na prática clínica em que se mede a impedância elétrica do corpo. A impedância engloba dois componentes, a resistência que reflete o balanço hídrico corporal e a reactância relacionada com a componente celular e com a integridade das membranas celulares. Resistência e reactância refletem as propriedades elétricas dos tecidos que são afetadas por doença, composição corporal, estado nutricional e de hidratação. No que diz respeito ao estado nutricional, a resistência e a reactância permitem estimar a massa gorda, a massa gorda livre de gordura ou a água corporal. Para obter estas estimativas, é necessário recorrer a equações de regressão, que poderão ou não incluir outras variáveis, como o peso e a altura. A massa livre de gordura é de especial importância dada a relação descrita na literatura entre a diminuição da massa livre de gordura com a desnutrição, a caquexia ou a obesidade. Contudo, estas equações foram desenvolvidas em populações saudáveis e a constante de hidratação encontrada, assim como a razão entre água extra e intracelular, poderão não ser válidas em indivíduos com alterações do estado de hidratação, típicas de diversas patologias, como falência renal ou insuficiência cardíaca. Assim, nestes doentes, é recomendado recorrer a

outros dados para confirmar os resultados obtidos a partir destas equações. Dada a limitação da aplicação destas equações de regressão em indivíduos não saudáveis, os parâmetros obtidos diretamente pela bioimpedância têm chamado a atenção de investigadores e de profissionais de saúde. O ângulo de fase é obtido a partir da relação entre a resistência e a reactância e por isso determinado pela quantidade de água corporal e balanço hídrico, pela massa celular corporal e pela integridade das membranas celulares, aspetos relacionados com o estado nutricional e que podem estar alterados em estados de desnutrição. O ângulo de fase está descrito como um indicador de prognóstico na doença, de mortalidade e do estado nutricional. Vários autores identificaram pontos de corte do ângulo de fase para a identificação da desnutrição em doentes com diferentes patologias e a sua associação com variáveis de resultado clínico já foi quantificada.

A bioimpedância é um método utilizado na prática clínica em que se mede a impedância elétrica do corpo. O vetor de impedância bioelétrica é, tal como o ângulo de fase, obtido diretamente pela bioimpedância. Resistência e reactância são representadas num gráfico, o que permite identificar simultaneamente alterações no estado de hidratação e no estado nutricional, por comparação com valores de referência. Uma vez que a bioimpedância fornece informação sobre o estado nutricional assente na massa celular corporal, a avaliação do estado nutricional não deve basear-se exclusivamente na informação obtida pela bioimpedância, mas englobar outros dados clínicos e nutricionais obtidos por outros métodos.


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22 de maio 2015

As diferentes facetas das algas marinhas na alimentação humana

Leonel Pereira MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, Departamento de Ciências da Vida, FCTUC

As algas marinhas habitam os oceanos há mais de 2 mil milhões de anos e são utilizadas como alimentos pelos povos

asiáticos desde o século XVII. Hoje, são usadas diretamente na alimentação, extração dos ficocoloides utilizados na indústria farmacêutica, cosmética e alimentar. Também o são na extração de compostos com ação antiviral, antibacteriana e como biofertilizantes, como o “Sargaço” usado no litoral Vianense. De entre as espécies da rica flora algológica da costa portuguesa, algumas podem ser utilizadas para consumo direto na alimentação humana, embora nenhuma seja atualmente colhida em larga escala e/ou comercializada para esse fim. A tradição europeia é praticamente nula e a expressão dos hábitos alimentares atuais pouco difere da dos passados. Na Europa, só em períodos de fome é que as algas foram consumidas por populações próximas da costa. Os critérios para a procura e seleção das espécies comestíveis com valor comercial assentam, num primeiro plano, na sua

textura e sabor de cada alga (mais do que no valor nutritivo) e, num segundo plano, na criação de novos hábitos alimentares dietéticos no Ocidente, isto é, no valor calórico ou benéfico para a saúde. Em Portugal, não existe legislação específica que regule este novo ramo alimentar, embora a procura de produtos dietéticos e macrobióticos e a diversificação dos hábitos alimentares esteja em franco crescimento. Nesse contexto, e até como contributo para alavancar esse ponto de viragem, tendo em conta que praticamente todas as algas alimentares consumidas no nosso país são importadas (apesar de várias dessas espécies, ou algas similares, se encontrarem na nossa costa), é importante dar a conhecer as algas que potencialmente são comestíveis e presentes na flora portuguesa. As algas representam exatamente o oposto ao conceito de fast food: um alimento natural, silvestre e abundante (e

com um índice de crescimento capaz de sustentar uma cultura intensiva), capaz de fornecer um elevado valor nutritivo, mas com reduzido valor calórico. Pobres em gorduras, as algas marinhas possuem polissacarídeos que se comportam, na sua grande maioria, como fibras sem valor calórico. As algas parecem ser, por isso, a melhor forma de corrigir não só a falta de alimento para ingestão como as carências nutricionais da alimentação atual sentidas a nível mundial devido ao seu variado leque de constituintes essenciais — minerais (ferro e cálcio), proteínas (com todos os aminoácidos essenciais), vitaminas e fibras. Da composição analítica das algas marinhas, destacam-se: – Presença de minerais (oligoelementos) com valores cerca de dez vezes superiores ao encontrado nos vegetais terrestres, como no caso do ferro na Himanthalia elongata (Esparguete do

mar), ou no caso do cálcio presente na Undaria pinnatifida ( Wakame) e no Chondrus crispus (“musgo irlandês” ou simplesmente “musgo”). – Presença de proteínas, macromoléculas importantíssimas para a construção de novos tecidos animais, que contêm todos os aminoácidos essenciais, constituindo um modelo de proteína de alto valor biológico, comparável em qualidade às presentes nos ovos das aves; presença de vitaminas em quantidades significativas. Merece especial relevo a presença de B12, ausente nos vegetais superiores e que é indispensável para a formação das células sanguíneas (eritrócitos) e a manutenção do sistema nervoso dos animais; o seu baixo conteúdo em gorduras e valor calórico transforma-as em alimentos adequados para regimes de emagrecimento, se integradas numa dieta estrategicamente programada, como é o caso da alga mais consumida no mundo, o Nori.

exercício. Em desportos que exijam alta intensidade em períodos relativamente curtos os resultados são um pouco contraditórios. Alguns trabalhos mostram que indivíduos não treinados não verificam melhorias na sua performance com a suplementação, ao contrário de indivíduos altamente treinados. Aparentemente, os últimos apresentam adaptações fisiológicas, como uma melhor regulação ácido-base, que favorecem o efeito da cafeína. Em desportos de força, a investigação encontra-se numa fase precoce, sendo que o efeito no aumento de força ou resistência é ainda uma incógnita. O rendimento cognitivo parece ser também afetado pela suplementação com cafeína, tendo uma recente meta-análise concluído que a cafeína melhora o rendimento cognitivo em exercícios de atenção.

Apesar de muitos trabalhos utilizarem doses superiores, a ingestão de 3 a 6 mg/ kg de peso corporal parece ser o suficiente para potenciar o efeito da cafeína. Há inclusive alguns trabalhos que encontraram resultados positivos com doses inferiores a este intervalo. A cafeína tem um tempo de semivida de 4 a 6 horas e o pico de concentração sanguínea ocorre cerca de 1 a 2 horas após a sua ingestão; assim, a suplementação deve ser feita com cerca de 1 hora de antecedência em relação ao início do exercício, parecendo haver benefício em suplementar também no seu decorrer, se a duração deste assim o permitir. Apesar da evidência clara dos benefícios da cafeína em diferentes tipos de exercício, são necessários mais estudos em atletas de elite, com protocolos de exercício que se assemelhem às situações competitivas.

Cafeína e rendimento desportivo

António Pedro Mendes Nutricionista no Hospital Agostinho Ribeiro e no FC Paços de Ferreira A cafeína é uma trimetilxantina naturalmente presente no café, chá, chocolate ou mesmo no guaraná. De uma forma ou

de outra, é consumido em larga escala e com uma grande aceitabilidade social. Atualmente, dispomos de vasta investigação com o objetivo de avaliar o seu potencial efeito ergogénico no rendimento desportivo, seja em desportos de endurance, força ou alta intensidade. Apesar dos inúmeros trabalhos, nem sempre as conclusões coincidem, havendo questões importantes por resolver. Vários mecanismos têm sido propostos para explicar os benefícios da sua suplementação; no entanto, parece cada vez mais assente que o mecanismo que mais contribui para o efeito ergogénico da cafeína é o de antagonista dos recetores de adenosina, estimulando assim o sistema nervoso central. Este mecanismo explica a diminuída sensação de dor, desconforto e perceção subjetiva do esforço. Também os seus efeitos ao nível neuromuscular e

da modulação da utilização de substratos energéticos parecem ter influência no rendimento de atletas. A suplementação com cafeína aparenta ser mais eficaz em desportos de endurance, apresentando, no entanto, resultados muito positivos noutros tipos de

A cafeína tem um tempo de semivida de 4 a 6 horas e o pico de concentração sanguínea ocorre cerca de 1 a 2 horas após a sua ingestão.


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O nutricionista nos CSP do SNS: desafios do passado, do presente e do futuro

Ester Maria Vinha Nova Assessora superior de Nutrição, URAP – ACES Dão Lafões, ARSC-IP O nutricionista é um profissional habilitado com o grau de especialista, sendo a Nutrição Humana a sua área profissional específica (Decreto-Lei n.º 414/91 de 22

de outubro). A formação dos nutricionistas inicia-se em Portugal em 1976, quando é criado na Universidade do Porto o curso de bacharelato em Nutricionismo. Em março de 1987, é criada a licenciatura em Ciências da Nutrição. A Faculdade de Ciências da Nutrição e da Alimentação formou, durante de mais de vinte anos, os nutricionistas em Portugal. Continua a ser o único estabelecimento de ensino público, mas a licenciatura em Ciências da Nutrição é, agora, também ministrada em outras instituições de Ensino Superior Universitário. No Serviço Nacional de Saúde, o nutricionista pertence à carreira dos Técnicos Superiores de Saúde, à qual tem acesso após um estágio de especialidade de dois anos. No âmbito dos cuidados de saúde primários, exerce a sua atividade principalmen-

te nas áreas da Nutrição Clínica, Nutrição Comunitária. A Consultadoria, a Formação e a Investigação Científica, Organização de Serviços e Políticas de Saúde Alimentar são outras das suas áreas de trabalho. Os cuidados de saúde primários são o núcleo do sistema de saúde e situam-se junto das comunidades. Ao longo do tempo, têm sido alvo de alterações na sua organização e estrutura, estando atualmente os centros de saúde reestruturados em unidades funcionais e, pelo Decreto-Lei n.º 28/2008, são criados os agrupamentos de centros de saúde (ACES). Os ACES compreendem várias unidades funcionais, estando os nutricionistas integrados na unidade de recursos assistenciais partilhados (URAP). Esta unidade é multiprofissional e presta serviços de consultadoria e assistenciais às outras unidades do ACES, nomeadamente às unidades de saúde

familiares (USF), unidades de cuidados de saúde personalizados (UCSP), unidades de cuidados de saúde na comunidade (UCC) e à unidade de saúde pública (USP). A missão dos ACES é a de garantir a prestação de cuidados de saúde primários à população de determinada área geográfica. Quando analisamos as atividades legalmente definidas para o ACES, atividades de promoção da saúde e prevenção da doença, prestação de cuidados na doença e, para os nutricionistas, nomeadamente, as que são realizadas no âmbito da Nutrição Comunitária e da Nutrição Clínica, verificamos total concordância. Isto evidencia a importância que as atividades desenvolvidas por estes profissionais têm no desempenho do ACES. O nutricionista assume-se como um profissional de saúde com conhecimentos específicos em nutrição e alimentação

humana, com capacidade para intervir na alimentação de pessoas saudáveis e doentes, em indivíduos ou grupos. Segundo o artigo “Incorporação dos nutricionistas nos centros de saúde”, publicado na revista Nutrícias n.º 11 da Associação Portuguesa dos Nutricionistas, existe um rácio de 1 nutricionista para cada 117.964 habitantes, valor esse que é bastante díspar se for verificado o rácio por cada administração regional de saúde. Segundo a conclusão de um grupo de peritos, em 2007, o rácio desejável para Portugal é de 1 nutricionista por cada 20.000 habitantes. Urge dotar os serviços de saúde de um maior número de nutricionistas, técnicos superiores de saúde especialistas em nutrição e alimentação, imprescindíveis para a melhoria da qualidade de vida e de saúde das populações, e ainda na otimização dos recursos de saúde.

Novas recomendações Adult Treatment Panel IV (ATP IV) – Lípidos da dieta e C-LDL

Alejandro Santos Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto Em 1957, Keys e colaboradores iniciaram o “Estudo dos Sete Países”, verificando que a ingestão de gordura saturada

variava significativamente entre as regiões estudadas e que quanto maior a ingestão de gordura saturada maior a concentração de colesterol sérico. Estudos subsequentes confirmaram a maior incidência de doença coronária nos indivíduos com colesterol sérico mais elevado. Estes resultados estimularam a realização de estudos adicionais para esclarecer como a modificação da dieta poderia alterar o perfil lipídico, diminuindo a incidência de doença coronária (1). Em 2008, o National Heart, Blood and Lung Institute, dos EUA, iniciou o processo de revisão das recomendações para redução do risco cardiovascular, incluindo recomendações sobre o estilo de vida. O grupo de trabalho avaliou por revisão sistemática o efeito de padrões alimentares e da composição em macronutrientes da dieta nos níveis de C-LDL, C-HDL, triglice-

rídeos e pressão arterial, particularmente no contexto de ensaios clínicos aleatorizados com pelo menos um mês de duração. O estudo do efeito de padrões alimentares permite caracterizar melhor a composição global em macro e micronutrientes e a qualidade da dieta (por ex.: padrão alimentar mediterrânico). De entre os macronutrientes com efeitos relevantes no perfil lipídico plasmático destacam-se os ácidos gordos saturados, trans, monoinsaturados e polinsaturados. A seguir, resumem-se as recomendações propostas para a dieta de adultos que beneficiariam da redução do C_LDL e que, à partida, serão adotadas no Adult Treatment Panel IV: 1. Adoção de um padrão alimentar com ênfase na ingestão de hortícolas, fruta e cereais integrais; que inclua laticínios magros, aves, peixe, leguminosas, óleos vegetais (exceto tropicais) e frutos de casca rija;

que limite a ingestão de doces, de bebidas açucaradas e de carnes vermelhas. a) Este padrão alimentar deve ser ajustado às necessidades energéticas, gostos pessoais e culturais, assim como à dietoterapia de outras situações clínicas (incluindo a diabetes); b) É possível cumprir este padrão alimentar seguindo planos como o padrão DASH, padrão alimentar da USDA ou a dieta da AHA. 2. Ter como objetivo um padrão alimentar em que 5% a 6% da energia é obtida a partir de gordura saturada. 3. Reduzir a percentagem da energia obtida a partir de gordura saturada. 4. Reduzir a percentagem da energia obtida a partir de gordura trans. Uma das novidades destas recomendações é a afirmação de que não há evi-

dência suficiente para determinar se a redução do colesterol da dieta reduz o C-LDL, pelo que as recomendações não propõem limites à ingestão diária de colesterol, como no caso das ATP III (2). Esta novidade terá implicações na comunicação à população do papel da dieta no risco cardiovascular. Referências: 1. Keys A, Aravanis C, Blackburn H, et al. Seven Countries: A Multivariate Analysis of Death and Coronary Heart Disease. Cambridge, MA, and London, England: Harvard University Press Cambridge; 1980. 2. Eckel RH et al. 2013 AHA/ACC guideline on lifestyle management to reduce cardiovascular risk: a report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines. J Am Coll Cardiol. 2014 Jul 1;63(25 Pt B):2960-84.


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A literacia alimentar: um desafio emergente nos municípios portugueses

Helena Ávila Uniself, S.A. O património não tem um valor único, intrínseco e definido para todas as épocas, dado incorporar o valor que as pessoas lhe atribuem, o que pode variar com o contexto histórico, social e cultural da época em que é perspetivado. Com efeito, aquilo que, numa determinada altura, pode ser considerado de elevado valor patrimonial, noutra, pode ser secundarizado ou até ignorado como património. Até sensivelmente meados do século XX, a categoria de património cultural era atribuída, sobretudo, a obras de arte plásticas e arquitetónicas, castelos, catedrais, igrejas medievais e ruínas arqueológicas. Na atualidade, com a ampliação do significado do conceito, também a questão do(s) valor(es) atribuído(s) ao património se alterou, constatando-se que com aquele podem associar-se diversos tipos de valores, designadamente: materiais e imateriais; estéticos; artísticos; históricos, sociais; identitários; etnográficos; naturais; económicos; de uso. A conceção de município pedagógico remonta a alguns séculos atrás, estando a história dos municípios povoada de ciclos e programas conducentes a uma ação de desenvolvimento, autossuficiente e instituinte de normas, práticas e graus de capacitação dos respetivos munícipes.

O Plano Nacional de Saúde 20112016 integra o conceito de “Saúde em todas as políticas”, baseado no reconhecimento de que a saúde também depende da responsabilidade de outros setores, para além do Serviço Nacional de Saúde, que integram disciplinas como, por exemplo, os currículos escolares, a qualidade arquitetónica e ambiental, a eficiência energética, as políticas de equidade e de género, a segurança dos alimentos e dos bens de consumo, a habitação, o lazer, o desporto e a cultura, etc. Para além dos três setores principais que devem assumir responsabilidade pela melhoria da literacia em saúde (National Academy of Sciences, 2003), nomeadamente o sistema educativo, o sistema de saúde e o cultural, existem outros setores sociais que têm de estar envolvidos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) define literacia em saúde como o conjunto de “competências cognitivas e sociais e a capacidade dos indivíduos para ganharem acesso a compreenderem e a usarem informação de formas que promovam e mantenham boa saúde ( WHO, 1998): é a capacidade para tomar decisões em saúde fundamentadas, no decurso da

O Plano Nacional de Saúde 2011-2016 integra o conceito de “Saúde em todas as políticas”, baseado no reconhecimento de que a saúde também depende da responsabilidade de outros setores.

vida do dia-a-dia – em casa, na comunidade, no local de trabalho, no mercado, na utilização do sistema de saúde e no contexto político; possibilita o aumento do controlo das pessoas sobre a sua saúde, a sua capacidade para procurar informação e para assumir responsabilidades”. As competências das pessoas em literacia em saúde incluem: 1- Competências básicas em saúde que facilitam a adoção de comportamentos protetores da saúde e de prevenção da doença, bem como o autocuidado; 2- Competências do doente para se orientar no sistema de saúde e agir como um parceiro ativo dos profissionais; 3- Competências como consumidor para tomar decisões de saúde na seleção de bens e serviços e agir de acordo com os direitos dos consumidores, caso necessário; 4- Competências como cidadão, através de comportamentos informados, como o conhecimento dos seus direitos em saúde, participação no debate de assuntos de saúde e pertença a organizações de saúde e de doentes. Outro aspeto fundamental é o do estabelecimento de redes de conhecimento entre cientistas, profissionais e decisores, por forma a reunir evidência que suporte políticas e intervenções capazes de ultrapassar barreiras sociais para a saúde. As redes deverão abranger temas como desenvolvimento infantil, condições de trabalho, aspetos inerentes à globalização, fatores determinantes da saúde, sistema de saúde como um determinante social, urbanismo, exclusão social e políticas sobre os determinantes da saúde. Apesar de as escolhas alimentares serem vistas geralmente como um produto resultante do comportamento individual ou de uma opção de vida, na verdade dependem de fatores educacionais, sociais, culturais e familiares.

Marketing a

Apesar de as escolhas alimentares serem vistas geralmente como um produto resultante do comportamento individual ou de uma opção de vida, na verdade dependem de fatores educacionais, sociais, culturais e familiares. A Organização Mundial de Saúde, no programa de ação desenvolvido e publicado para a região europeia (2014), coloca particular ênfase na capacitação dos cidadãos para fazerem escolhas alimentares saudáveis, tendo em consideração os diferentes grupos etários, de género e realidades socioeconómicas, e através de iniciativas que promovam a literacia alimentar. Também o PNPAS propõe, como uma das suas áreas estratégias: “O aumento da literacia alimentar e nutricional e a capacitação dos cidadãos de diferentes estratos socioeconómicos e etários, em especial dos grupos mais desfavorecidos, para as escolhas e práticas alimentares saudáveis e o incentivo de boas práticas sobre a rotulagem, publicidade e marketing a produtos alimentares.” Com a crescente delegação de competências nos municípios portugueses e o papel primordial que estes detêm na capacitação dos cidadãos, de que modo irão enfrentar desafios tão complexos e determinantes para o estado de saúde das populações e indivíduos?

Pedro Queiroz Diretor-geral da Federação das Indústrias Portuguesas Agroalimentares Em sentido amplo, quando falamos hoje de marketing alimentar, referimo-nos a um processo bidirecional através do qual se pretende conhecer os desafios do mercado e definir estratégias de venda, comunicação e desenvolvimento dos produtos/negócio.

Alimentaçã o construído a

Pedro Graça Nutricionista. Direção-Geral da Saúde


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g alimentar – um desafio de todos No que toca especificamente à comunicação com os consumidores – a componente mais visível do marketing –, a indústria alimentar e das bebidas, a par da natural intenção de aumentar as suas vendas, tem-se pautado por mensagens que valorizem o papel dos seus produtos no contexto de uma alimentação diversificada, numa abordagem que naturalmente tem evoluído a par das tendências de consumo. Quando, muitas vezes, se questiona a relação entre o marketing e uma alimentação saudável, é importante perceber que não se pode, de forma simplista, estabelecer uma relação direta. Embora haja, por norma, uma tendência mais generalizada das mensagens, o marketing resulta das estratégias individuais de cada empresa com base na sua gama de produtos. O que se procura atualmente é reconhecer que uma escolha saudável é, acima de tudo, uma escolha informada e, como tal, a comunicação individual dos produtos deve assegurar as bases para

uma compra global devidamente esclarecida. O marketing deverá assim aproximar os produtos dos consumidores e estes, por seu lado, deverão desenvolver uma opinião crítica e estar aptos a comparar a oferta disponível no mercado, de forma a adequar o cabaz às suas expectativas e necessidades. É sabido que tem havido uma tendência muito ligada à relação entre a alimentação e o bem-estar e saúde dos consumidores, em particular com a evidência do papel dos alimentos na Nutrição e na prevenção de fatores de risco. No entanto, os consumidores são cada vez mais exigentes e, além de quererem conhecer cada vez melhor a composição dos produtos que consomem, estão também preocupados com o tipo de processos utilizados e com o impacto que as empresas têm no ambiente, nas populações e na sociedade em geral. Por outro lado, quer as plataformas de disseminação, quer a tipologia de mensagens têm evoluído muito ao longo

dos anos. O marketing passa cada vez mais pela base digital e, em particular, pelas redes sociais, o que leva a fenómenos desafiantes. Há, hoje, um foco muito maior das mensagens. No passado, a mensagem que passava na televisão e na imprensa escrita acabava por ser mais genérica. Agora, estamos a evoluir para mensagens que podem ser muito mais dirigidas, desde um target específico de consumidores até à preferência individual. O circuito fica mais adaptado ao consumidor nas redes sociais, mas o marketing também fica sujeito a um julgamento maior, porque nos meios digitais a partilha de informação é imediata e ampla. O consumidor formata a sua opinião e, com isso, influencia mais facilmente outros. Estamos a assistir, cada vez mais, a uma espécie de diálogo digital entre consumidores, empresas e todos os outros parceiros que envolvem a alimentação. O marketing alimentar torna-se, assim, cada vez mais, um desafio partilhado por todos!

ã o saudável - um conceito o artificialmente ao longo do Séc. xx O lema deste congresso é “Nutrição: saber para agir”. Refletindo sobre o tema, aborda-se nesta breve comunicação o conhecimento nutricional e a sua evolução como ferramenta essencial à ação alimentar desde os primeiros tempos da escrita. Esse conhecimento nutricional, como produto da ciência, é uma construção recente do homem, uma construção “artificial” progressiva desde a descoberta das vitaminas, já no início do Séc. XX. Durante este período, a informação científica produzida permitiu construir uma série de recomendações alimentares que são contrárias ao instinto biológico de procurar energia e consumi-la rapidamente. Contudo, para seguir estas recomendações é, por vezes, necessário agir

contra o instinto e contra a economia (que disponibiliza calorias baratas a baixo custo), razão pela qual a sua aplicação pode ser mais difícil nas populações mais vulneráveis socialmente. A tese que se apresenta é a de que sem o conhecimento nutricional, sem a capacidade de refletir sobre os nutrientes e sua relação com a saúde, o homem moderno seria menos saudável na sua relação com os alimentos. Ou, por outras palavras, a alimentação “moderna”, o que hoje consumimos e a forma como consumimos e pensamos a alimentação, atualmente, já não é idêntica à dos nossos antepassados e, provavelmente, ainda bem, porque queremos viver mais e melhor.

Sem o conhecimento nutricional, sem a capacidade de refletir sobre os nutrientes e sua relação com a saúde, o homem moderno seria menos saudável na sua relação com os alimentos.

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dos cuidados de saúde primários

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