Reportagem: Departamento de Pediatria do Hospital de Santa Maria

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Maria do Céu Machado Medicina compreensiva, de proximidade e de oportunidade

Teresa Bandeira

Manuela Baptista

Ambientes, inflamação e pulmão

Perturbações em Pediatria do Neurodesenvolvimento

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Congresso

Publicações

Distribuição gratuita no dia 12 de fevereiro

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Departamento de Pediatria do Hospital de Santa Maria (CHLN):

Cuidados de saúde diferenciados para crianças e adolescentes PUB

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Já foi ver hoje o que se passa na Saúde?

O seu ponto de encontro com a Saúde


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Departamento de Pediatria do Hospital de Santa Maria/CHLN

Cuidados de saúde diferenciados para crianças e adolescentes Composto por cinco serviços (Pediatria Médica, Neonatologia, Cirurgia Pediátrica, Genética e Psiquiatria da Infância e da Adolescência), o Departamento de Pediatria do Hospital de Santa Maria (HSM) é dirigido por Maria do Céu Machado desde 2011, prestando cuidados de saúde a crianças e adolescentes dos zero aos 18 anos. Tem como missão “liderar de forma inovadora, com estratégias de melhoria dos cuidados de saúde à criança, através de atividade assistencial, formativa e de investigação”

Além dos cincos serviços, o departamento inclui uma unidade autónoma de Cardiologia Pediátrica, cinco áreas funcionais comuns – Consulta Externa, Hospital de Dia, Unidade de Técnicas, Urgência Pediátrica e uma Unidade Móvel de Apoio Domiciliário --, dois núcleos (formação e investigação e apoio à criança em risco e à família) e três áreas de intervenção (educação pré-escolar e escolar, voluntariado, património e cultura). Integra, ainda, transporte inter-hospitalar pediátrico da região Sul, serviço social e serviço dietético. Está integrado no Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN) que, com a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e o Instituto de Medicina Molecular, constituem o Centro Académico de Medicina de Lisboa (CAML), criado em 2010. Conforme proposta da atual Comissão de Saúde da Criança e Adolescente, foi aprovada pelo presidente da ARSLVT

já este mês a criação do Serviço médico-cirúrgico de Cardiologia Pediátrica. A sua missão é ser um departamento “aberto, inovador, com potencialidade de evoluir de hospital terciário para centro de excelência que garanta a acessibilidade, promova a atividade de proximidade e que seja distinguido pela especialização e capacidade de investigação e docência”. Uma das suas grandes ambições é a criação do centro de ambulatório pediátrico “Maria Raposa”, que permita os melhores cuidados, concentrando no mesmo espaço os hospitais de dia que fazem parte do departamento e atualmente funcionam no mesmo espaço físico do internamento.

trevista, a responsável relata que o serviço é constituído por 13 unidades funcionais, que incluem diversas especialidades e contam com equipas médicas especializados, com espaços próprios de internamento, respetivas consultas especializadas e hospital de dia. Para a responsável, o facto de estar integrado num departamento e poder contar com o apoio de meios complementares de diagnóstico de última linha

Serviço de Pediatria Médica Celeste Barreto é diretora do Serviço de Pediatria Médica desde 2009. Em en-

Celeste Barreto

existentes no hospital “facilita muito a assistência atempada”, pois, não existe necessidade de as crianças e adolescentes serem transferidos para outros hospitais, o que, por sua vez, conduz a uma melhoria dos resultados. Há áreas muito especializadas dentro do serviço, como por exemplo a patologia do sono, a transplantação renal e a unidade de cuidados intensivos, que envolve o seguimento de doentes altamente complexos. A formação pré e pós-graduada é também uma das grandes apostas. O serviço acolhe não só internos de Pediatria, mas também de outas especialidades que procuram estágios parcelares – Neurologia, Pneumologia de Adultos, Imunoalergologia e Endocrinologia, por exemplo. No futuro, pretende tentar que as unidades possam dar formação específica nas subespecialidades. Segundo a médica, já foram feitos estudos nas áreas da Nefrologia e da Medicina da Adolescência e estão também programados nas áreas da Imunoalergologia, Pneumologia e Infeciologia. A acreditação também é uma meta, tendo o serviço sido auditado duas vezes. De acordo com Celeste Barreto, as exigências feitas para estes programas de acreditação não são simples, mas há áreas que o serviço tem potencialidades para desenvolver. Por outro lado, ambiciona ser centro de referência regional para várias patologias. Além das doenças metabólicas, há propostas para centros de imunodeficiências primárias e centro regional ou de âmbito nacional da fibrose quística da Pediatria, juntamente com os adultos. Aspira, ainda, poder vir a ter uma telemedicina. “Pensamos que podemos ser pilotos no projeto dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, usando a Plataforma dos Dados da Saúde, em que o médico num


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Até há um tempo, estava limitado a um determinado tipo de patologias, tendo crescido muito, tendo em conta o quadro que possui (sete cirurgiões e cinco internos). De acordo com Miroslava Gonçalves, diretora do serviço, possui uma urgência interna e externa, assegurando as 24 horas por dia durante todo o período da semana com dois blocos a funcionar diariamente e com 4,5 tempos de consulta por dia. Do ponto de vista da enfermagem, a responsável menciona que os recursos são escassos, a sobrecarga de trabalho é grande, porém, “o trabalho não é posto em causa”. “As necessidades são várias, sobretudo se quisermos crescer. Por exemplo, temos muita dificuldade em desenvolver a área da investigação por falta de tempo, que é despendido na área clínica. Não temos lista de espera em consulta nem em cirurgia, mas isso exige um trabalho muito árduo da parte das pessoas, que é também muito gratificante”, acrescenta. Apesar do trabalho ser muito, os projetos para o futuro são vários, assumindo os internos um papel de relevo neste campo. Destacam-se, sobretudo, os planos na área do trauma e das malformações congénitas. O serviço está a tentar também tornar-se no centro nacional de transplantação renal ou, pelo menos, da zona Sul, uma meta que não depende apenas da equipa. A responsável termina lembrando que, neste hospital, “falar em trauma significa falar de cuidados intensivos pediáhospital consegue discutir um determinado doente que está noutra unidades hospitalar do país, discutindo os exames complementares com recurso a uma câmara.” A equipa é constituída por 46 médicos, que estão ligados às várias áreas distribuídas pelas unidades. Em 2014, foram realizadas 37.692 consultas, internados cerca de 1600 doentes, foram feitas aproximadamente 5 mil sessões de hospital de dia (1400 doentes) e cerca de 40 mil exames complementares de diagnóstico.

Serviço de Neonatologia Diretor do Serviço de Neonatologia desde 2009, Carlos Moniz adianta que o

Carlos Moniz

principal objetivo do mesmo é cuidar de crianças recém-nascidas nos primeiros 28 dias de vida, sendo, na sua grande maioria, prematuros. Todavia, presta cuidados também a recém-nascidos patológicos. Segundo o especialista, o internamento de recém-nascidos tem vindo a aumentar nos últimos anos, sendo que cerca de 20% são referenciados de outras instituições, que também têm maternidade e em que as situações são mais complicadas. “No seu conjunto, o HSM é um hospital de apoio perinatal diferenciado, com o objetivo de se tornar num hospital de apoio perinatal altamente diferenciado”, refere. Da equipa fazem parte 11 médicos e 35 enfermeiros, números que Carlos Moniz afirma serem “reduzidos”. A investigação clínica desenvolvida do CAML é muito importante. “As nossas publicações são transmitidas para o exterior através de publicações nacionais e internacionais”, salienta. O serviço tem capacidade para 22 internamentos, dos quais oito em cuidados

intensivos. De acordo com o responsável, as principais causas que levam ao internamento são a prematuridade, as doenças metabólicas, as doenças infeciosas e a encefalopatia hipóxico-isquémica. De destacar o pioneirismo na utilização de uma técnica que remonta a 2010, para o tratamento da encefalopatia hipóxico-isquémica, a hipotermia induzida. Realiza ainda reuniões semanais de Perinatologia com o Serviço de Obstetrícia, para o melhor conhecimento de todas

as situações de risco perinatal, minimizando os riscos não calculados.

Cirurgia Pediátrica O Serviço de Cirurgia Pediátrica é médico-cirúrgico. Ao longo dos anos, diferenciou-se em várias áreas, nomeadamente do trauma infantil (é o único centro na área infantil na zona Sul), da transplantação renal e das malformações congénitas. Realiza cerca de 1200 cirurgias por ano, entre ambulatório e patologia diferenciada.

Miroslava Gonçalves


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tricos até aos 18 anos”. Por vezes, tem de avançar com patologias com as quais não está familiarizada e, nestes casos, conta sempre com o apoio da Cirurgia Geral e das outras especialidades.

Serviço de Genética O Serviço de Genética tem como objetivo colaborar no diagnóstico e realizar

doença familiar, podendo, através de um teste genético, saber se efetivamente herdou ou não a situação, que, contudo, só virá a manifestar-se algures no futuro.” Além da área assistencial (consulta), o serviço tem uma vertente laboratorial. O Laboratório de Genética realiza técnicas de diagnóstico genético em quatro domínios funcionais: citogenética convencio-

número de recursos humanos e de mais tempo”. Tem também como ambição que a área das doenças genéticas possa estar mais representada nos interesses de investigação no CAML. “É uma área de relevo que tem sido reconhecida como tal”, diz Ana Berta Sousa. Em 2014, foram realizadas mais de 3000 consultas e, anualmente, são feitas entre 500 a 1000 análises.

Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência O Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência, criado em 2014, tem como missão prestar serviços pedopsiquiátricos e psicológicos às crianças que estão internadas no Departamento de Pediatria, na faixa etária dos 0 - 15 anos, e às suas famílias. Teresa Goldschmidt, diretora do serviço, relata que a saúde mental no departamento já existe desde de 2001, mas tem vindo a crescer nos últimos anos. O serviço provém da unidade de Psiquiatria

Norte, e todo o Oeste, nomeadamente a zona da Caldas da Rainha e Torres Vedras. Do ponto de vista do internamento pediátrico, apoia múltiplas situações, quer agudas de trauma na sequência de acidente, quer de diagnóstico de doenças graves ou inicial de doença crónica, que obriga as crianças, os jovens e as suas famílias a um esforço de adaptação muito grande. Quanto aos projetos, Teresa Goldschmidt adianta que o serviço está a dar os primeiros passos na consulta da criança em risco, destinada a situações de elevado risco psicossocial associados à sintomatologia pedopsiquiátrica. Em 2015, irá arrancar com o hospital de dia de pedopsiquiatria, destinado a crianças com psicopatologia mais grave. Além disso, está previsto que possa vir a ter, em colaboração com o Serviço de Psiquiatria de adultos, um internamento conjunto para os adolescentes mais velhos e jovens adultos, que cobriria as idades entre os 14 e os 21 anos. Outro

Ana Berta Sousa

o aconselhamento genético de todas as doenças, cuja base se acredita ser genética – quadros sindromáticos e/ou polimalformativos, perturbação do desenvolvimento intelectual, perturbação do espetro do autismo, défices sensoriais, entre outras. Em entrevista, Ana Berta Sousa, responsável do serviço desde 2013, adianta que o diagnóstico é feito muitas vezes em crianças e, nalguns casos, ainda na vida intrauterina. Há situações em que não é feito pelo geneticista, mas por inúmeras especialidades diferentes. Dentro do aconselhamento genético, inclui-se a área do risco familiar de cancro, tentando perceber, a partir da história familiar, se existem fatores genéticos, para lá do contributo multifatorial habitual na génese do cancro, que coloquem uma família ou um conjunto de pessoas de uma família num risco acrescido em relação à população em geral. A partir dessa estratificação de risco, é possível instituir medidas de vigilância e de prevenção adequadas. Outra área particular do aconselhamento genético são os testes preditivos para doenças neurodegenerativas de início tardio. “Temos a possibilidade de dizer a uma pessoa saudável se tem risco de vir a desenvolver determinada

nal, citogenética molecular, biologia molecular e genómica. No laboratório trabalham três técnicos superiores de saúde, sendo aguardada para breve a entrada de mais dois para substituir os que saíram recentemente. Depois, há quatro especialistas em Genética Médica e quatro internos em formação. O serviço conta ainda com uma psicóloga, que dá apoio na área dos testes preditivos e do pré-natal, ajudando as pessoas a lidar com situações mais complicadas. No futuro, gostaria de poder vir a dar apoio direto ou indireto a outros hospitais do país na sua área de influência, no sentido de criar uma “genética de proximidade”, em vez de obrigar todos os doentes a deslocarem-se até ao Hospital de Santa Maria. No entanto, “este projeto implica a existência de um maior

dos planos, provavelmente para 2016, é a criação da consulta de primeira infância, destinada especificamente à faixa etária dos 0 aos 3 anos. A equipa é constituída por três pedopsiquiatras especialistas, uma interna, uma enfermeira de saúde mental, sete psicólogas, uma terapeuta ocupacional e uma assistente social do departamento (em tempo parcial). Ao longo do ano, no seu conjunto, dará cerca de 7 mil consultas.

Unidade presta apoio no domicílio Em maio de 2006, foi formada a Unidade de Apoio Domiciliário (UMAD), coordenada por Celeste Barreto, diretora do Serviço de Pediatria Médica. Trata-se de uma parceria entre o CHLN e a Fundação do Gil, que tem como objetivo ser uma alternativa válida ao internamento hospitalar de longa duração para crianças crónicas dependentes de tecnologia de suporte e necessidade de apoios técnicos no domicílio controlando os sintomas e prevenindo o isolamento social. A Fundação do Gil disponibilizou uma carrinha com um motorista, que é utilizada por equipas de enfermagem que se deslocam a casa dos doentes e muitas vezes às escolas para avaliar a situação clínica. Muitas vezes, são doentes ventilados ou a fazer diálise peritoneal. Desta forma, a criança pode estar no seu ambiente familiar ou na escola e não necessita de dirigir-se ao hospital. A UMAD no CHLN foi pioneira, tendo-se depois alargado para outros hospitais. Tem tido uma média anual de 500 visitas domiciliárias.

Escola do Serviço de Pediatria

Teresa Goldschmidt

da Infância e da Adolescência que, por sua vez, já vinha da Unidade de Saúde Mental Infantil e Juvenil. A área de atendimento do serviço, em termos de consulta externa, é muito extensa, cobrindo toda a área de Lisboa

Outra das mais-valias do Departamento é a Escola do Serviço de Pediatria, que surgiu para dar continuidade ao percurso escolar dos doentes crónicos com internamentos prolongados recorrentes. O projeto envolve escolas de referência que se ligam com a Escola do HSM e partilham aulas e trabalhos. Alguns alunos deslocam-se à escola e outros são acompanhados nos quartos ou na enfermaria onde se encontram isolados ou imobilizados.

“Quando os meninos não podem deslocar-se à escola, nós vamos às reuniões das escolas, contactamos os professores, fazemos os testes, digitalizamos e enviamos a avaliação”, explica Diana Pita, uma das duas professoras que acompanham os meninos. As aulas são dadas ao ritmo das crianças. Por vezes, podem compensar com trabalhos de pesquisa. Alguns dos professores têm currículos específicos nesta área. E é tudo oficializado através do Ministério da Educação.


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