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Serviço de Cardiologia do Centro Hospitalar Lisboa Norte
A aposta partilhada num projeto ambicioso: o Departamento de Coração e Vasos do CHLN Com uma história de 60 anos, o Serviço de Cardiologia do Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN), dirigido por Fausto Pinto, tem como missão a prática de uma Cardiologia clínica e de intervenção modernas. De salientar a estreita colaboração com outros serviços, destacando-se a Cirurgia Vascular e a Cirurgia Cardiotorácica, que partilham um projeto comum ambicioso: o novo Departamento de Coração e Vasos do CHLN. Criado em 1954, ano em que foi inaugurado o Hospital de Santa Maria, o Serviço de Cardiologia desta unidade hospitalar foi coordenado durante vários anos por Eduardo Coelho. Algum tempo mais tarde, em 1968, Arsénio Cordeiro criou a primeira Unidade de Tratamento Intensivo para Coronários (UTIC). Salomão Sequerra Amram, Fernando
de Pádua e Carlos Ribeiro continuaram o trabalho desenvolvido até então. Naquela época (finais dos anos 80), havia o Serviço de Cardiologia Médico-Cirúrgica, a UTIC e o serviço de Fernando Pádua (Medicina IV ). Mais tarde, foi feita a fusão, transformando-se num serviço único. Após a jubilação destes mestres, o serviço, já unificado, foi dirigido por Maria
Celeste Vagueiro, Correia da Cunha, Mário Lopes, Nunes Diogo e, desde julho de 2014, por Fausto Pinto. Fausto Pinto regressou dos EUA em finais de 1993, onde fez a sua formação avançada durante quatro anos. Trabalhou algum tempo com Fernando Pádua e, quando foi aberto concurso, em 1995, assumiu o papel de assistente hospitalar.
Desde então, tem estado sempre ligado ao serviço, quer na vertente hospitalar, quer académica. Depois da recente criação do CHLN, o Serviço de Cardiologia do Hospital Pulido Valente (HPV ), inicialmente designado Serviço de Cardiologia II, foi fundido como Serviço de Cardiologia do HSM, sendo atualmente composto pelo serviço
localizado no HSM e pelo polo situado no HPV.
Partes integrantes do serviço O Serviço de Cardiologia do CHLN é constituído pela enfermaria (piso 8), coordenada por Dulce Brito, onde são acompanhados os casos que necessitem
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Fausto Pinto:
“Ser diretor de um serviço do maior CH do país é um desafio permanente” Fausto Pinto considera “um desafio permanente” ser diretor de um serviço do maior CH universitário do país. No entanto, afirma ser “muito gratificante”. “Recebemos as situações mais complexas e, como é óbvio, isso traz-nos uma grande responsabilidade, numa altura em que vivemos, não só em Portugal, mas a nível mundial, alguns constrangimentos”, refere.
de internamento para estudo, diagnóstico ou procedimentos; a UTIC (piso 6), coor denada por Armando Bordalo, na qual são internados os doentes agudos e mais complexos; a Unidade de Cardiologia de Intervenção (piso 8), sob coordenação de Pedro Canas da Silva; a Unidade de Arritmologia e Pacing (Piso 8), dirigida por João de Sousa; a Unidade de Meios Complementares de Diagnóstico Não Invasivos (piso 1), coordenada por Ana Gomes de Almeida, que possui certificação em ecocardiografia avançada atribuída pela Sociedade Europeia de Cardiologia desde julho de 2013; e a Consulta Externa de Cardiologia (piso 2), coordenada por Lúcio Botas. Há um conjunto de 35 camas para internamento, que incluem 10 de intensivos na UTIC. Adicionalmente, há 11 camas no HPV. “É um serviço relativamente pequeno para o que gostaríamos de fazer, em particular considerando não só toda a parte de internamento, mas também a integração em protocolos internacionais,
nomeadamente de investigação clínica, sendo que alguns deles exigem internamento”, aponta Fausto Pinto. O diretor do serviço sublinha a estreita colaboração com os serviços de Radiologia e de Imagiologia para a realização de ressonância magnética e de tomografia computorizada cardíaca. E manifesta o desejo de, no futuro, ter uma participação ainda mais ativa nessa área, em particular em relação à ressonância magnética.
Articulação com a Cirurgia Vascular e a Cirurgia Cardiotorácica Os serviços de Cardiologia, Cirurgia Vascular e Cirurgia Cardiotorácica colaboram de forma muito efetiva. Para Ângelo Nobre, diretor do Serviço de Cirurgia Cardiotorácica, as especialidades de Cirurgia Cardiotorácica e de Cardiologia irão evoluir, no futuro, para haver cada vez uma maior integração, sendo que, “provavelmente, haverá daqui a uns anos a especialidade de Cardiologia
Médico-Cirúrgica”, em que algumas pessoas se diferenciarão mais na área médica, outras na área cirúrgica e a Cardiologia de Intervenção será (como já é) partilhada por cirurgiões e cardiologistas. O responsável conta que já na anterior direção existia uma grande colaboração entre ambos os serviços. “Começámos com a formação de um heart team para as TAVI, sendo que realizámos as primeiras há cerca de dois anos. Contudo, anteriormente, já eram feitas reuniões médico-cirúrgicas conjuntas de decisão de doentes. Por outro lado, dada a grande proximidade física entre os dois serviços, partilhamos muitas vezes camas”, refere, frisando que a colaboração no apoio à Cardiologia de Intervenção foi sempre estreita. O Serviço de Cirurgia Cardiotorácica colabora na intervenção estrutural, na área clínica diária de decisão médico-cirúrgica, no apoio em intervenções mais invasivas e na área de pacing. De destacar, também, o recente início de um progra-
ma de ablação de FA toracoscópica minimamente invasiva e receção do apêndice auricular esquerdo, em que participa um cardiologista especialista em eletrofisiologia, e brevemente será iniciada a cirurgia coronária. É também muito estreita a relação entre a Cirurgia Vascular e a Cirurgia Cardiotorácica. Segundo José Fernandes e Fernandes, diretor do Serviço de Cirurgia Vascular, hoje em dia, “o state of the art no tratamento da patologia complexa da aorta torácica e toracoabdominal com cirurgia aberta necessita frequentemente de circulação extracorporal”. Por este motivo, quando é necessário recorrer a este tipo de intervenção, o Serviço de Cirurgia Vascular conta com a colaboração do Serviço de Cirurgia Cardiotorácica, no bloco do mesmo serviço, “onde existe a circulação extracorporal e todo o equipamento necessário para que essa cirurgia seja conduzida com a maior segurança para os doentes”, refere. Além disso, neste momento há um
“Sendo as doenças cardiovasculares a primeira causa de morbilidade e mortalidade, e tendo em conta a quantidade de doentes que tem de tratar, o serviço dever-se-á afirmar também como o principal serviço do país”, desenvolve o responsável. Para Fausto Pinto, “tem de haver uma utilização muito criteriosa de tudo o que são recursos, para que nada falte aos doentes, mas tem de ser feita de uma forma muito rigorosa, de acordo com as guidelines e protocolos internacionais”. O diretor do serviço sublinha que é necessária uma “atualização constante” de equipamentos na área da Cardiologia, para que o serviço possa estar a par da evolução das metodologias mais recentes, uma vez que isso contribui para tratar melhor os doentes. Compete ao serviço desenvolver atividade que permita conquistar, através da participação em trabalhos internacionais e ensaios clínicos, algum tipo de apoio que possibilite apoiar o desenvolvimento da atividade do serviço Isto é importante para atrair pessoas que queiram fazer formação e “está a acontecer cada vez mais”, por se tratar de um serviço atrativo no mercado internacional, pela sua visibilidade e pelo trabalho que desenvolve.
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projeto para a criação de um Departamento de Coração e Vasos, em colaboração com o Departamento de Coração e Vasos de Maastricht, dirigido pelo Prof. Michael Jacobs. Este projeto envolverá uma maior cooperação e articulação funcional entre a Cardiologia, a Cirurgia Cardiotorácica e a Cirurgia Vascular e, de acordo com José Fernandes e Fernandes, reunirá um conjunto de competências “para o tratamento dos casos mais complicados e mais difíceis da patologia da aorta e a criação de um Centro de Doenças da Aorta (Aortic Centre)”. Esta maior colaboração do Serviço de Cardiologia com estes dois serviços poderá, segundo Fausto Pinto, ”eventualmente, potenciar um conjunto de interações, inclusivamente partilha de espaços físicos, e dar uma resposta completa e integrada aos problemas relacionados com patologia cardiovascular”.
Ensino, formação e investigação são áreas primordiais O ensino pré e pós-graduado, a formação e a investigação são três áreas de relevo para o Serviço de Cardiologia do
Perfil
Ângelo Nobre Licenciado em Medicina pela FMUL (1983), Ângelo Nobre especializou-se em Cirurgia Cardiotorácica em 1993 e fez o Internato Complementar no Hospital Santa Maria. Entrou para o quadro como assistente hospitalar, tendo passado a chefe de serviço de Cirurgia Cardiotorácica em 2001 e assumido a direção do serviço em maio de 2014. É também professor convidado e regente da cadeira de Cirurgia Cardiotorácica da FMUL. CHLN, ou não estivesse este integrado num centro hospitalar universitário. Atualmente, são doze os internos que incorporam o serviço, apesar de se ambicionar poder ter um número maior, pois, como salienta Fausto Pinto, os internos “representam o futuro” e “é importante, sobretudo numa especialidade que trata o que mais mata, que existam equipas bem treinadas e bem diferenciadas”.
O Serviço de Cardiologia tem a responsabilidade do ensino de toda a vertente cardiológica durante o curso de Medicina (3.º, 4.º, 5º e 6.º anos) e desenvolve também atividades de formação pós-graduada a nível de mestrado e doutoramento. “Estamos envolvidos num programa de mestrado, em conjunto com a Escola Superior de Tecnologias da Saúde, em técnicas de diagnóstico e terapêutica em Cardiologia.
logia”, um evento anual que decorre em fevereiro. Destaque, ainda, para uma reunião monotemática sobre o encerramento do apêndice auricular esquerdo na fibrilhação auricular, que realizou no passado mês de janeiro. Na área da investigação, o serviço está envolvido em três grandes grupos de trabalho: 1) estudos e ensaios clínicos 2) registos 3) estudos da iniciativa do investigador. “É importante que Portugal não perca a ligação à participação em ensaios clínicos, pois, é a forma de ter acesso à inovação”, sublinha Fausto Pinto, adiantando que o serviço está envolvido em vários estudos, registos e ensaios de iniciativa própria. Publica todos os anos 50-60 artigos em revistas científicas e participa em dezenas de reuniões nacionais e internacionais. Há ainda vários elementos da equipa que participam em órgãos dirigentes, nacionais e internacionais. Fausto Pinto é o atual presidente da Sociedade Europeia de Cardiologia e outros membros desenvolvem atividades em várias estruturas, sendo de realçar o facto de, este ano, Dulce Brito ser a presidente do Congresso Português de Cardiologia.
Ficha técnica
Perfil
José Fernandes e Fernandes José Fernandes e Fernandes concluiu o ensino secundário no Liceu Nacional de Portalegre e a Licenciatura de Medicina na FMUL, em 1969. Fez a formação pós-graduada em Cirurgia Geral no Serviço de Cid dos Santos, sob a orientação de António Coito, com quem refere ter aprendido imenso. Depois foi para Londres como Bolseiro da Fundação Gulbenkian e Equiparação do Instituto de Alta Cultura. Doutorou-se em 1985, tendo seguido as duas carreiras, hospitalar e académica, sem nunca as separar, tendo feito todos os concursos legais e necessários até chefe de serviço hospitalar e professor catedrático. É Fellow do American College of Surgeons e do Royal College of Surgeons de Inglaterra e membro honorário
Participamos, também, no ensino de alguns mestrados, conjuntamente com o Instituto Superior Técnico, e desenvolvemos alguns cursos de formação pós-graduada, por exemplo, na área da ecocardiografia. Estamos ainda a planear alguns na área da intervenção e da arritmologia”, adianta. É responsável pela organização do congresso “Novas Fronteiras em Cardio-
da Academia Nacional de Medicina do Brasil e da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular e, em 2013, foi feito Honorary Member da Society for Vascular Surgery dos Estados Unidos e Canadá. Atualmente, é diretor do Serviço de Cirurgia Vascular do CHLN, professor catedrático de Cirurgia e diretor da FMUL e do Instituto Cardiovascular de Lisboa, que fundou em 1999, na continuidade do Instituto Vascular de Lisboa, iniciado em 1986. Autor de cerca de 100 trabalhos científicos publicados, teve atividade intensa, nacional e internacional, como palestrante convidado nas reuniões científicas mais importantes da sua especialidade em todo o mundo.
Recursos humanos Internos: Médicos cardiologistas: Pessoal técnico de diagnóstico e terapêutica: Enfermeiros: Assistentes operacionais: Assistentes técnicos: N.º de consultas e exames (por ano): N.º de consultas: N.º de ecocardiogramas: N.º de próteses aórticas transcutâneas: Encerramento do apêndice auricular esquerdo: N.º de pacemakers implantados: N.º de cateterismo: N.º de angioplastias: N.º de Holters: N.º de ressonâncias magnéticas cardiovasculares: N.º de Angio-TAC coronárias:
12 38 47 79 54 17
36 mil 16 mil 50 20 1000 4 mil 2 mil 5000 cerca de 300 cerca de 150