José Luís Passos Coelho
Os doentes devem ser seguidos por especialistas O oncologista assumiu a presidência da Sociedade Portuguesa de Senologia com a expectativa de criar consenso no tratamento do cancro da mama e abre portas a parcerias com outras entidades, apostando em programas de ação comuns.
Women’s MEDICINE N.º 4 ::: janeiro 2014 (TRIMESTRAL) ::: 3 €
Publicações
Albino Aroso
morreu aos 90 anos
CRIOPRESERVAÇÃO
As potencialidades terapêuticas das células estaminais mesenquimais
4.ª Reunião da Sociedade
› Portuguesa da Contracepção
O método pioneiro utilizado pela Cytothera permite garantir que, no mínimo, serão criopreservados 3 milhões de CEM, com um grau de pureza superior a 98%, livres de contaminação microbiológica.
3.º Congresso Nacional de
› Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal XIV Jornadas da Sociedade
› Portuguesa de Senologia
O contracetivo certo para cada mulher
5.º Congresso Português de Medicina
› da Reprodução
177.ª Reunião da Sociedade
› Portuguesa de Ginecologia
Equipamento inovador deteta cancro da mama
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WOMEN’S MEDICINE Diretor: José Alberto Soares (jas@justnews.pt) Assessora de Direção: Helena Mourão (helenamourao@justnews.pt) Redação: Sílvia Malheiro (silviamalheiro@justnews.pt) Susana Catarino Mendes (susanamendes@justnews.pt) Publicidade: Patrícia Branco (patriciabranco@justnews.pt) Sandra Guimarães (sandraguimaraes@justnews.pt)
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SUMÁRIO 04
Morreu Albino Aroso O “pai do planeamento familiar”
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4.ª Reunião da SPDC Desafios e oportunidades da contraceção em debate
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Assistente de Redação e Publicidade: Cláudia Nogueira (claudianogueira@justnews.pt) Editor de Fotografia: Nuno Branco (nunobranco@justnews.pt) Diretor de Produção: João Carvalho (joaocarvalho@justnews.pt)
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Diretor de Produção Gráfica: José Manuel Soares (jms@justnews.pt) Morada: Alameda dos Oceanos, 3.15.02.D, Nº3,1990-197 Lisboa Tel. 21 893 80 30 www.justnews.pt geral@justnews.pt Women’s Medicine é uma publicação da Just News, de periodicidade trimestral, dirigida a profissionais de saúde, isenta de registo na ERC, ao abrigo do Decreto Regulamentar 8/99, de 9/06, Artigo 12.º n.º 1 A. Depósito legal: 358245/13 Tiragem: 5000 exemplares Periocidade: Trimestral Janeiro 2014 Preço: 3 €
Sérgio Castedo fala da evolução no campo da Medicina Fetal “Assistimos a um desenvolvimento que revolucionou o panorama do rastreio e do diagnóstico pré-natal” Pré-eclampsia, parto pré-termo e diabetes Nuno Montenegro fala das conclusões do 3.º Congresso de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal
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Nova tecnologia para realizar mamografia Centro de Senologia e Ecografia de Coimbra com equipamento inovador
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Teresa Bombas, secretária-geral da SPDC: “A mulher, ao longo da vida, tem diferentes necessidades contracetivas”
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José Luís Passos Coelho, presidente da SPS: “Nos países ocidentais, o cancro da mama é a neoplasia mais frequente, mas também é uma doença curável” Avanços recentes, mas fonte de muita controvérsia XIV Jornadas da SPS abordaram o papel da axila no cancro da mama
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“Estabelecer pontes: revisitar o passado para rumar ao futuro” SPMR assinalou o 35.º aniversário no seu 5.º Congresso
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Criopreservação A Cytothera foi pioneira em Portugal
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177.ª Reunião da SPG Médicos juntam-se em volta do presente e do futuro da Uroginecologia
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179.ª Reunião da SPG em Tróia Cirurgia minimamente invasiva em Ginecologia
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Trombose e gravidez Jorge Lima, do Hospital CUF Descobertas, escreve sobre o tema
Impressão e acabamento: RPO Notas: 1. A reprodução total ou parcial de textos ou fotografias é possível, desde que devidamente autorizada e com referência à Just News. 2. Qualquer texto de origem comercial publicado nesta revista está identificado como “Informação”.
Com o apoio:
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Senologia
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notícia
Albino Aroso
Morreu o médico que explicou às mulheres o que é a contraceção O ginecologista Albino Aroso morreu no passado dia 26 de dezembro, em sua casa, no Porto.Tinha 90 anos. Conhecido como o “Pai do Planeamento Familiar”, um dos principais rostos responsáveis pela reforma que conduziu à impressionante queda da mortalidade infantil em Portugal, Albino Aroso foi eleito um dos 65 clínicos mais dedicados a causas públicas. O médico que receitava a pílula quando a contraceção ainda era proibida percorreu o país para formar médicos e para falar com grupos de mulheres e explicar-lhes que eram donas da sua vida e que podiam controlar a sua fertilidade.
2005, recebeu o primeiro Prémio Nacional de Saúde pelos contributos prestados durante a sua carreira profissional. Foi ainda secretário de Estado por duas vezes. A primeira foi em 1976, altura em que publicou a Lei do Planeamento Familiar. Quando voltou ao cargo, entre 1987 e 1991, liderou a Comissão Nacional de Saúde Maternoinfantil, que acabaria por encerrar 150 maternidades em todo o País.
Em 2005, Albino Aroso recebeu o primeiro Prémio Nacional de Saúde pelos contributos prestados durante a sua carreira profissional.
Nascido a 22 de fevereiro de 1923, em Vila do Conde, Albino Aroso era professor associado jubilado de Ginecologia no Instituto de Ciências Abel Salazar, na Universidade do Porto, e, em
DECLARAÇÕES Francisco George, diretor-geral da Saúde:
David Rebelo, presidente da SPDC:
“O Dr. Albino Aroso foi o médico que seguramente mais influência teve no desenvolvimento e na inovação do nível de vida, sobretudo das mulheres e das crianças. Enquanto membro do Governo, por duas vezes, desenhou estratégias políticas e ações que colocaram Portugal em lugares cimeiros, no que respeita à proteção maternoinfantil. Todos reconhecem no Dr. Albino Aroso o principal impulsionador das políticas modernas para a mãe e para a criança e um defensor da promoção da dignidade da própria mulher.
“Profissional altamente qualificado, independente, com profundas convicções sobre o papel que devemos ter na sociedade como cidadãos e como médicos, com elevado sentido de oportunidade e capacidade de execução e de diálogo e, ainda, a sua simplicidade e fino trato para com todos.”
“Promoveu o Planeamento Familiar, o espaçamento dos nascimentos e a utilização fácil e até gratuita de anticoncecionais. Mais tarde, desenhou um plano de concentração das maternidades e da organização de blocos de partos com unidades de Neonatologia que reduziram a mortalidade materna e infantil em Portugal.” “Todos reconhecem no Dr. Albino Aroso a força impulsionadora destes programas e, por isso, teve a maior importância no nosso País.”
“Sempre foi assim que vi o Dr. Albino Aroso e foram estas qualidades e convicções que lhe permitiram, em 1976, como secretário de Estado da Saúde, criar consultas de planeamento familiar em todos os centros de saúde, integradas na valência da Saúde Maternoinfantil, que tanta importância vieram a ter na saúde e dignificação da mulher, assim como na redução da elevada taxa da mortalidade infantil então existente.” “Mas a ação do Dr. Albino Aroso não se limitou a esse momento histórico, pois, ele continuou sempre a lutar pela melhoria das condições de saúde da mulher e pelo respeito aos direitos sexuais e reprodutivos da população.”
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Notícia
Albino Aroso – Um exemplo de cidadania
DECLARAÇÕES Teresa Sousa Fernandes, assistente graduada da Maternidade Daniel de Matos, Coimbra: “Albino Aroso, 90 anos de vida... e que vida! Considerava-se “homem de direita”, foi agraciado como “cidadão do mundo”... o único médico português a ser integrado na Associação Médica Mundial como um dos 65 profissionais de saúde “mais dedicados” a causas nobres (diminuição da mortalidade infantil em Portugal).” “Um dos fundadores da Associação para o Planeamento da Família, em 1967, abriu a primeira consulta de Planeamento Familiar no Porto, em 1969, lecionou no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar e foi-lhe concedida a Medalha de Honra da Cidade do Porto. Foi secretário de Estado da Saúde nos VI e XI Governos, foi “Pai do Planeamento Familiar”, as mulheres da minha geração e seguinte devem-lhe tudo... Ramalho Eanes e Jorge Sampaio agradeceram-lhe: Grã Cruz da Ordem do Infante, Grande Oficial de Ordem da Liberdade e Comendador da Ordem de Mérito.” “Albino Aroso, Membro Emérito da Associação Por tuguesa de Medicina, permanecerá para sempre vivo.”
Carlos Freire de Oliveira, presidente da FSPOG: “O Dr. Albino Aroso foi um dos mais ilustres ginecologistas portugueses do Séc. XX. Desenvolveu uma atividade diversificada e teve um grande envolvimento nas sociedades científicas na área da Obstetrícia e Ginecologia. Distinguiu-se, nomeadamente, pelo grande empenhamento na criação, nos centros de saúde e hospitais, de consultas da planeamento familiar e na obtenção de condições para Portugal poder baixar significativamente as taxas de mortalidade perinatal e neonatal.” O Centro Materno Infantil do Norte vai chamar-se Dr. Albino Aroso, como forma de homenagear o médico, pelos serviços para a promoção do planeamento familiar e da saúde materna e infantil. O Centro Materno Infantil do Norte, unidade que está integrada no Centro Hospitalar do Porto, tem prevista abertura da primeira fase para o início deste ano.
Duarte Vilar Diretor executivo da APF
Conheci o Dr. Albino Aroso quando entrei para a APF, pois, nessa altura, há 34 anos, ele era o presidente da associação. Médico ginecologista/obstetra no Hospital de Santo António do Porto, logo nos anos 60, organizou uma das primeiras consultas de planeamento familiar em Portugal. Nessa altura, a mortalidade infantil e a mortalidade materna tinham valores elevados, a contraceção era pouco acessível e, para muitas mulheres, o aborto funcionava como uma forma de controlar a sua fecundidade. Uma parte importante da mortalidade materna derivava das consequências do aborto clandestino. A APF foi criada, em 1967, por médicos e casais que se preocupavam com esta situação. O Dr. Albino Aroso foi um dos seus fundadores, organizou a APF na zona Norte, com outros profissionais e, como dirigente da APF, um dos seus primeiros objetivos foi introduzir o planeamento familiar nos serviços de saúde portugueses. Em março de 1976, sendo então secretário de Estado da Saúde, Albino Aroso foi responsável pela primeira legislação que introduziu o planeamento familiar, na valência de Saúde Materna dos centros de saúde, criando as condições para a organização de centenas de consultas no país. Mas, como voluntário da APF, a par deste trabalho político, este médico participava em numerosas ações de esclarecimento em aldeias e em bairros, que eram pedidas à associação, numa época em que o próprio termo planeamento familiar era muito mal conhecido, assim como
Albino Aroso foi responsável pela primeira legislação que introduziu o planeamento familiar, na valência de Saúde Materna dos centros de saúde, criando as condições para a organização de centenas de consultas no país. os métodos contracetivos. A par destas sessões, participou ativamente na formação de muitas centenas de médicos (as) e enfermeiras (os) que asseguravam aquelas consultas. Mais tarde, nos anos 80, integra a Comissão de Saúde Materno Infantil, a qual realizou todo um programa de trabalho que permitiu baixar a mortalidade infantil para valores que hoje colocam Portugal numa posição cimeira a nível mundial. Ao longo de toda a sua vida, esta intervenção cívica, política e profissional nunca esmoreceu. Portugal é um dos países do mundo com maiores níveis de uso de contraceção. Tem muito bons indicadores de saúde materna e infantil. É também um dos países com legislação mais avançada na área da saúde sexual e reprodutiva. Estes progressos ficarão sempre ligados ao nome e à memória do Dr. Albino Aroso.
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EVENTO
4.ª Reunião da Sociedade Portuguesa da Contracepção
Contraceção:
desafios e oportunidades A 4.ª Reunião da Sociedade Portuguesa da Contracepção (SPDC), que teve lugar no final de setembro, na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, abordou os desafios e oportunidades da contraceção. Na qualidade de responsável local do evento, Ana Rosa Costa, membro da SPDC, destaca alguns dos temas que estiveram em análise. No entender de Ana Rosa Costa, todas as sessões foram, pelo teor científico e qualidade dos palestrantes, “muito interessantes”. Ainda assim, a especialista faz questão de destacar a mesa sobre sexualidade, tema escolhido pelo Prof. Bitzer, presidente da Sociedade Europeia de Contraceção e Saúde Reprodutiva (ESC), e a sessão sobre VIH e contraceção. “No ano em que faz 30 anos do 1.º diagnóstico de VIH/SIDA em Portugal, foi interessante ouvir o Prof. Henrique Barros falar sobre o problema da infeção por VIH em Portugal (um dos países europeus com maior prevalência de infeção VIH). Luísa Machado, vencedora do prémio da SPDC/Gedeon Richter 2013, abordou o tema da contraceção e sexualidade nas mulheres VIH positivas, apresentando números em relação à população que recorre à consulta de um hospital universitário, sendo o primeiro estudo sobre este tema feito em Portugal”, indicou. Por outro lado, acrescentou, “Manuel Esteves não defraudou as expectativas, abordando de forma brilhante a função/disfunção sexual feminina”.
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Carla Rodrigues, ginecologista e mestre em sexologia, falou do papel do ginecologista na terapia sexual, um tema cada vez mais abordado na consulta de Ginecologia. “É fundamental que os ginecologistas adquiram competências nesta área e se sintam preparados para responder às questões colocadas pelas utentes e até promoverem um programa de terapia sexual se necessário.” O tema “O contracetivo certo para cada mulher”, apresentado por Teresa Bombas, secretária-geral da SPDC, “foi importante pelo facto de as necessidades e expectativas em relação ao método contracetivo serem diferentes ao longo da vida da mulher em idade fértil, salientando a ajuda dos critérios de elegibilidade da OMS para o profissional de saúde escolher o método de eleição para cada mulher individualmente, tendo em consideração a patologia e a medicação, que eventualmente podem limitar as escolhas contracetivas”, considerou. Por outro lado, referiu, “numa época em que a obesidade está a aumentar e constitui uma preocupação de saúde pública”, foi também abordado, por Tiago Ferraz, o aconselhamento contracetivo em mulheres com síndrome metabólica (existência de pelo menos duas de três condições que frequentemente coexistem: obesidade; HTA;
hipertrigliceridemia; glicemia em jejum superior a 100 mg/dl, colesterol HDL inferior a 50 mg/dl).
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Outro dos assuntos em foco foi a consulta de planeamento familiar que, afirmou, é “muitas vezes o motivo que leva as mulheres em idade fértil a recorrer ao médico”. “Sofia Bessa Monteiro referiu a oportunidade que constitui esta ocasião para aconselhamento não só contracetivo, mas também sexual, rastreio de infeções sexualmente transmissíveis, cancro do colo do útero e mama, bem como para promover um estilo de vida saudável”, avançou. Apesar de não poder referir o nome de todos os intervenientes, Ana Rosa Costa aproveitou a ocasião para agradecer a todos o seu contributo para o sucesso desta reunião, destacando apenas o papel de Teresa Bombas e Maria do Céu Almeida que, “pelo seu entusiasmo, trabalho e empenho, contribuíram sobremaneira para o mesmo”. Para a especialista, o balanço da reunião é positivo, tendo excedido todas as expectativas. “Foi a reunião mais participada, com 220 inscrições, 17 comunicações livres e 12 posters”, concluiu, acrescentando que houve necessidade de aumentar as duas sessões inicialmente previstas para três.
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EVENTO
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discurso direto
Nomeadamente no que concerne ao rastreio pré-natal das anomalias cromossómicas mais comuns
Evolução notável no campo da Medicina Fetal Sérgio Castedo Diretor clínico do Laboratório Genética Médica de Diagnóstico Pré-Natal (GDPN)
Nas últimas décadas, temos assistido a uma evolução notável no campo da Medicina Fetal, nomeadamente no que concerne ao rastreio pré-natal das anomalias cromossómicas mais comuns (trissomias 21, 18 e 13 e anomalias de número dos cromossomas X ou Y). Apesar de ser sabido, há muito, que o risco de aneuploidias fetais (particularmente, trissomia 21, trissomia 13 e trissomia 18) aumenta com a idade materna, e de forma particularmente acentuada a partir dos 30-35 anos, a idade materna, como método isolado de rastreio pré-natal de trissomia 21, é hoje considerada obsoleta. Atualmente, aceita-se consensualmente que o cálculo de risco de trissomia 21 (ou trissomia 13, ou 18) deverá ser baseado não apenas na idade materna, mas também em análises bioquímicas e em dados ecográficos. De facto, com base em todas essas informações (idade + análises + ecografia, nomeadamente, translucência da nuca e ossos do nariz), o cálculo do risco de trissomia 21 é incomparavelmente mais preciso do que com qualquer dos métodos isoladamente, sendo essa a base dos rastreios pré-natais clássicos de trissomia 21, a saber: – Rastreio Combinado (assim designado porque inclui análises + ecografia) do 1.º trimestre – rea lizado entre as 8 e as 13 semanas de gestação, inclusive, permite detetar 85-90% dos casos de trissomia 21 com apenas 5% de falsos positivos. – Rastreio do 2.º trimestre – realizado entre as 14 e as 22 semanas de gestação, com 2, 3 ou 4 marcadores bioquímicos. Com o melhor destes rastreios (teste quádruplo) é possível detetar cer-
ca de 83% dos casos de trissomia 21, com apenas 5% de falsos positivos. – Rastreio integrado – utiliza os marcadores do 1.º e 2.º trimestres e o risco é apenas calculado no final da 2.ª colheita. É o melhor dos rastreios clássicos, já que permite a deteção de cerca de 94% dos casos de trissomia 21, com 5% de falsos positivos.
Na última década, assistimos a um desenvolvimento notável, que veio revolucionar o panorama do rastreio e diagnóstico pré-natal e que revolucionará por certo a medicina pré-natal – os testes não invasivos.
Entretanto, na última década, assistimos a um desenvolvimento notável, que veio revolucionar o panorama do rastreio e diagnóstico pré-natal e que revolucionará por certo a medicina pré-natal – os testes não invasivos. A demonstração de que cerca de 10% do ADN livre (isto é, não ligado a células) em circulação nas grávidas, a partir das 10 semanas de gestação, é de origem fetal abriu as portas ao estudo do genoma fetal (nomeadamente, a deteção das trissomias mais comuns), sem necessidade de estudos invasivos, mas apenas da análise do plasma materno. De facto, se 10% do ADN livre no plasma materno é de origem fetal, tal significa que, se o feto tiver trissomia 21, haverá na circulação materna uma percentagem de ADN livre proveniente do cromossoma 21 ligeiramente superior ao verificado, por exemplo, para qualquer outro cromossoma. Claro que esse ligeiro acréscimo só é detetável com o recurso a equipamentos sofisticados que, em termos muito simples, permitem contar milhões de sequências de ADN provenientes dos cromossomas 13, 18, 21, X e Y, comparando o resultado dessas contagens com
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DISCURSO DIRETO
a de outros cromossomas não envolvidos em trissomias.
– As que, face a um rastreio pré-natal convencional positivo para trissomia 21, querem saber, com elevadíssima confiança, se o bebé é ou não afetado, mas sem correrem os riscos (baixos) associados às técnicas invasivas (BVC ou AC);
A partir de meados de 2012, as principais empresas envolvidas na investigação nesta área (Sequenom, Ariosa Diagnostics, Natera e outras) iniciaram a comercialização, nos EUA e na Europa, de testes não invasivos, com vista ao diagnóstico das aneuploidias mais frequentes (dos cromossomas 21, 13, 18, X e Y). As diferenças entre os diferentes testes relacionam-se sobretudo com as tecnologias usadas (e preços respetivos) e com os métodos de validação usados, nomeadamente se o seu uso foi validado apenas em grávidas de alto risco (idades avançadas, ou rastreios positivos) ou, também, em grávidas de baixo risco. Um desses testes, o teste Harmony® (da Ariosa Diagnostics) foi amplamente testado em Londres, pela Fetal Medicine Foundation, sob a égide de Kypros Nicolaides, sendo correntemente disponibilizado a todas as grávidas que recorrem a essa instituição. Este grupo de investigadores tem divulgado os resultados obtidos, tanto em grávidas de alto como de baixo risco, e é patente a grande fidedignidade do teste. De facto, com uma taxa de falsos positivos inferior a 0,1%, permite detetar mais de 99% dos casos de trissomia 21. Este desempenho compara favoravelmente com o melhor rastreio pré-natal convencional (o rastreio integrado), com o qual é possível detetar cerca de 94% dos casos de trissomia 21, com 5% de falsos positivos. A grande limitação, ainda, à adoção destes como rastreio pré-natal universal das aneuploidias mais comuns reside apenas no seu preço, já que, em termos de desempenho, nenhum rastreio convencional é comparável. Alguns dados importantes: – Estes testes podem ser realizados a partir da 10.ª semana de gestação (avaliação ecográfica), inclusive; – Alguns destes testes (como o teste Harmony ) podem ser usados tanto em gestações de fetos únicos como de gémeos, estando também validados tanto em gestações ocorridas naturalmente como com recurso a técnicas de Procriação Me®
– As que, mesmo sem estarem num grupo de risco elevado, têm os recursos suficientes para optarem por este teste em vez dos rastreios pré-natais convencionais.
O teste Harmony® (da Ariosa Diagnostics) foi amplamente testado em Londres, pela Fetal Medicine Foundation, sob a égide de Kypros Nicolaides, sendo correntemente disponibilizado a todas as grávidas que recorrem a essa instituição.
dicamente Assistida (PMA), incluindo com ovócitos de dadora – Estes testes deverão ser feitos, idealmente, por requisição do médico assistente e após aconselhamento genético; – Perante um resultado anormal de um teste não invasivo (por exemplo, típico de trissomia 21), esse resultado deverá ser confirmado por amniocentese (AC) ou biópsia de vilosidades coriónicas (BVC), antes de ser tomada uma decisão irreversível sobre a gestação. Na nossa experiência, as grávidas que mais têm procurado este teste são: – As que engravidaram com recurso a técnicas de PMA e que têm indicação para DPN invasivo, mas que pretendem excluir a possibilidade de trissomias no seu bebé, sem o recurso a uma técnica invasiva que possa dar origem a um aborto
É previsível que, num futuro muito próximo, graças a uma maior competição entre empresas concorrentes e ao surgimento de equipamentos mais baratos e rentáveis, venhamos a assistir a uma redução dramática dos preços destes testes, com a possibilidade de os mesmos serem adotados como rastreio pré-natal universal de primeira linha das anomalias cromossómicas mais comuns. Por outro lado, é concebível que a mesma tecnologia possa ser usada para detetar todos os tipos de desequilíbrios cromossómicos, o que tornaria praticamente dispensáveis os métodos invasivos de DPN (amniocentese e biópsia de vilosidades coriónicas) para estudo do cariótipo fetal.
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discurso direto
3.º Congresso Nacional de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal
Especialistas debateram pré-eclampsia, parto pré-termo e diabetes
O 3.º Congresso Nacional de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal foi, segundo o presidente da Comissão Científica, Nuno Montenegro, bastante participado, tendo cumprido todos os objetivos propostos. Pré-eclampsia, parto pré-termo e diabetes foram os temas abordados no decorrer do 3.º Congresso Nacional de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal, que este ano teve lugar na cidade do Porto, de 21 a 23 de novembro, e cujo programa científico esteve a cargo do Centro Hospitalar de São João, FMUP, sob a presidência de Nuno Montenegro. O Centro de Investigação Médica da FMUP acolheu assim, no decorrer do congresso, 350 participantes, que puderam contar com a organização de três cursos de pré-congresso ‒ subordinados aos temas “Monitorização fetal intraparto”, “Epidemiologia perinatal” e “Neurossonografia
fetal: da teoria à prática” ‒, 17 palestras, quatro videoconferências e quatro convidados internacionais “de renome”, no que respeita aos três temas centrais do congresso: Kypros Nicolaides e Andrew Shennan, de Londres, Michel Robson, de Dublin, e Steve Walkinshow, de Liverpool.
Relativamente ao segundo assunto abordado, o especialista menciona que estão no mercado, e já começaram a ser divulgados em Portugal, alguns métodos analíticos que permitem dosear uma hormona de produção placentar que melhora muito o diagnóstico diferencial entre as várias doenças hipertensivas na gravidez.
De acordo com Nuno Montenegro, o evento foi um sucesso e “cumpriu na perfeição todos os objetivos” a que a Comissão Científica se tinha proposto.
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Debate e atualização científica
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No que respeita ao primeiro tema abordado, pré-eclampsia, foram efetuadas duas palestras, onde se falou acerca de dois assuntos distintos: rastreio e diagnóstico. Quanto ao primeiro, estiveram em foco os novos métodos de rastreio da pré-eclampsia. “Esta é uma doença que surge, por definição, na segunda metade da gravidez, porém, foram propostos testes combinados que podem ser efetuados ainda no primeiro trimestre e nos permitem antecipar a ocorrência de uma hipertensão”, conta Nuno Montenegro.
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O 1º teste não invasivo para a deteção das trissomias 21,18 e 13. Com estudo opcional dos cromossomas X e Y e conhecimento do sexo fetal. A partir da 10ª semana de gestação. Com uma simples amostra de sangue materno.
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Disponível em todos os laboratórios de Análises Clínicas da rede Labco CLINOVA www.labco.pt Torres Novas • Tel.: 249 823 681
DR.ª GRAÇA NUNES Pedroso • Tel.: 227 860 740
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Seguiu-se, posteriormente, uma mesa-redonda, em que estiveram presentes especialistas portugueses “com muita experiência na área” e que deram o seu contributo para o debate e update dos presentes relativamente a estes temas. Foi discutido qual o melhor plano terapêutico e a melhor atitude a tomar perante uma mulher grávida com hipertensão, tendo em conta que os procedimentos serão diferentes consoante a doença subjacente. O uso do sulfato de magnésio como neuroprotetor foi um dos assuntos abordados. “De acordo com a evidência científica mais recente, esta substância deve ser usada como neuroprotetor fetal, para prevenir a morbilidade neurológica dos fetos de mães com pré-eclampsia e/ou restrição de crescimento fetal.” Quanto ao parto pré-termo, segundo Nuno Montenegro, tem-se verificado que não têm sido conseguidas, ao longo das últimas décadas, estratégias que reduzam a sua incidência. “Elegemos o tema porque sabemos que é uma angústia dos obstetras e neonatologistas”, exclama.
Foram enunciadas várias abordagens em relação ao rastreio, numa primeira fase, e, numa segunda, os métodos disponíveis para reduzir essa incidência. “Segundo a evidência científica, é possível reduzir a incidência do parto pré-termo se for usada a estratégia do rastreio sistemático ‒ através da medição do colo, aquando da ecografia do segundo trimestre (entre as 20 e as 24 semanas) ‒ e de medicar as mulheres com colos curtos, até às 35 semanas, com progesterona vaginal”, indica. No que respeita ao terceiro tema, diabetes, o presidente da Comissão Científica indica que, em Portugal, a substância de eleição para esta doença, na prática clínica, é a insulina ministrada por via parentérica, porém, noutros países, e de modo incipiente em Portugal, está a ser difundida a utilização da metformina por via oral. “O que se pretende agora é tentar introduzir este fármaco no tratamento da diabetes na gravidez, com todas as vantagens que isto terá. Basta com-
parar aquilo que é um medicamento de toma injetável com um de toma por via oral.” Por fim, Nuno Montenegro realça, ainda, os novos e mais exigentes critérios de diagnóstico para a diabetes na gravidez, afirmando que, “com isto, pretende-se identificar mais casos. Ao alargarmos os critérios de diagnóstico, vamos detetar de forma mais precoce e num maior número de mulheres”. E salienta: “O objetivo é evitar as consequências daquilo que é a diabetes, quer para a mulher a curto e longo prazo, quer para o feto e recém-nascido.” Para terminar, Nuno Montenegro manifesta a sua satisfação quanto ao resultado final do evento: “Comparativamente aos congressos anteriores, podemos afirmar que foi um recorde, tanto em termos de participações, como de submissões de trabalhos.” E conclui: “Não queria deixar de referir ainda que fizemos um congresso com quatro videoconferências e que cumprimos religiosamente os tempos. Não houve nenhum atraso e isso a mim e às comissões científica e organizadora, face aos hábitos que temos, muito nos orgulha.”
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Nova tecnologia permite realizar mamografia convencional e tomossíntese, em simultâneo ou em diferido
Centro de Senologia e Ecografia de Coimbra adquiriu equipamento inovador para
deteção do cancro da mama O Centro de Senologia e Ecografia de Coimbra adquiriu um novo equipamento para a realização de exames de mamografia, capaz de executar a mamografia digital convencional (2D) e também a sua mais recente tecnologia, designada tomossíntese (mamografia 3D). Atualmente, existem ainda muito poucos equipamentos destes instalados na Europa. Dário Cruz, diretor clínico do Centro, acredita que, brevemente, esta tecnologia possa substituir integralmente a mamografia digital convencional (2D). “A Imagiologia médica tem dado grandes ‘saltos qualitativos’ nos últimos anos e o Centro de Senologia e Ecografia de Coimbra tem tentado acompanhar esse progresso, quer na área da ecografia, uma das atividades importantes e fundamentais do Centro, quer no campo da mamografia, a sua principal valência imagiológica e onde temos tido sempre a preocupação de adquirir equipamentos de última geração”, adianta Dário Cruz.
aprovada pela Food and Drug Administration (FDA), em 2011.
O novo equipamento adquirido – FUJIFILM Amulet Innovality – pode realizar tomossíntese de grande qualidade, tecnologia cuja investigação se iniciou em 1992, mas só muito recentemente foi considerada definitivamente eficaz e aconselhável no rastreio e diagnóstico precoce do cancro da mama, tendo sido formalmente
Em termos estritamente técnicos, Dário Cruz indica que o objetivo é substituir a imagem única da mama com sobreposição de todos os tecidos que a integram por várias imagens de pequenas (milimétricas) “fatias” da mama, conseguidas através de um curto movimento de angulação (15/25 graus) da ampola.
Neste contexto, o Centro de Senologia entendeu que estavam reunidas as condições de garantia da indiscutível utilidade prática desta nova tecnologia para que este Centro de Senologia adquirisse deste equipamento, “embora sendo uma decisão muito arriscada do ponto de vista financeiro”.
Tomossíntese fornece visão mais clara e precisa da mama Com este novo equipamento, a tomossíntese e a mamografia digital convencional (2D) são realizadas no mesmo aparelho, em simultâneo ou em diferido, sem qualquer desconforto adicional para a mulher ou aumento significativo da dose de radiação na mama. A mulher não necessita de qualquer preparação especial para fazer este exame, cuja execução tem, na prática, a mesma simplicidade da mamografia convencional. “O tempo para a obtenção de imagem é semelhante e a comodidade pode até ser melhorada no que respeita aos níveis de compressão nas mamas mais sensíveis, sem prejuízo da qualidade da imagem. Uma das si-
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tuações mais comuns em que este aperfeiçoamento técnico se revela extremamente útil é o caso de próteses”, sublinha Dário Cruz, lembrando que, atualmente, há muitas mulheres que aplicam próteses.
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informação
mitindo a deteção de lesões não identificadas pela mamografia convencional (2D), com realce para os casos de muito pequenas lesões ou da presença de microcalcificações, sobretudo em mamas estruturalmente densas ou muito densas. Por outro lado, possibilitou o aumento da especificidade da mamografia, permitindo excluir lesões consideradas duvidosas ou suspeitas na mamografia convencional (2D), evitando, assim, biópsias ou outros procedimentos adicionais desnecessários. Outra das vantagens prende-se com o facto de melhorar a caracterização das lesões (forma, dimensões e localização), com impacto positivo na abordagem e decisão terapêuticas.
Dário Cruz Segundo refere, este equipamento permite, mediante um “micro-disparo” prévio (modo inteligente), a identificação distinta do tecido mamário e do material de prótese e a adequação do exame a esta realidade, dispensando praticamente a compressão da mama e garantindo uma grande qualidade de imagem dos tecidos moles da mama operada. Na sua vertente médica, o diretor clínico do Centro refere que a tomossíntese é, sem dúvida, o maior e mais recente avanço da mamografia, fornecendo ao radiologista uma visão mais clara e mais precisa da mama e dos seus componentes anatómicos , minimizando o efeito negativo da sobreposição de todo o tecido mamário, como acontece na mamografia convencional (2D). “A mamografia 3D permite identificar, de forma muito mais clara e eficaz, qualquer anomalia mamária, a sua forma e dimensões, bem como a sua localização exata.” “Com este novo equipamento e esta nova tecnologia, são feitos disparos fracionados, sendo que cada disparo resulta na imagem de uma ‘fatia’ de mama de espessura milimétrica (1-5 mm, em função do grau de resolução que se pretende), o que permite detetar lesões muito pequenas, mesmo nas mamas de estrutura fibrosa, densas ou muito densas, em que a mamografia 2 D tem grande dificuldade, por vezes, mesmo impossibilidade de o conseguir”, acrescenta.
O que a tomossíntese traz de novo? De acordo com o médico, a tomossíntese veio aumentar a sensibilidade da mamografia, per-
Estudos realizados permitem, tanto quanto é possível, expressar quantitativamente estes benefícios. Em termos gerais, o médico radiologista refere poder afirmar-se que a utilização sistemática da tomossíntese permitirá aumentar a taxa de deteção do cancro da mama em cerca de 15%, podendo atingir 25% ou mais nas mamas densas; reduzir a taxa de biópsias em cerca de 11%; e reduzir em cerca de 20% a taxa de reconvocação para “aferição diagnóstica” de mulheres integra-
das em Programas de Rastreio Organizado (Comunitário), como é o caso do Programa da Liga Portuguesa contra o Cancro (LPCC).” “Estamos perante uma tecnologia já com suficientes provas dadas para que possamos considerá-la irreversível e que a curto/médio prazo irá certamente substituir integralmente a mamografia digital convencional (2D), com reais benefícios práticos de vária ordem e em diversos campos da Senologia, designadamente no rastreio e diagnóstico precoce do cancro da mama”, considera Dário Cruz.
Mais de 30 anos ao serviço da mulher O Centro de Senologia e Ecografia de Coimbra, localizado na Avenida Calouste Gulbenkian, foi criado em outubro de 1983. Depois de estar sediada em dois locais de menor dimensão, tem atualmente uma área útil de 300 m2 distribuídos por duas salas de mamografia digital, dois gabinetes médicos dotados de ecógrafos e de estações digitais de leitura de exames (Work Station), munidas de Sistema CAD (Computer Aided Detection), uma sala de ecografia geral e quatro salas de serviços de apoio. A atividade do Centro de Senologia e Ecografia de Coimbra desenvolve-se em diversas áreas da Radiologia/Imagiologia, nomeadamente Imagiologia Mamária, em todas as suas vertentes, Ecografia geral, com realce na área da patologia mamária, e ainda Osteodensitometria, de grande importância na avaliação da robustez óssea da mulher pós-menopáusica. Atualmente, trabalham no Centro de Senologia nove médicos, todos especialistas em Radiologia, cinco dos quais dedicando-se em exclusivo à Senologia, concretamente à Imagiologia Mamária e Radiologia de Intervenção que lhe está associada, designadamente as cito-punções e punções biópsicas (“Core” Biópsias), estereotáxicas ou ecoguiadas. Dário Cruz faz questão de realçar o atendimento personalizado do Centro. “Ao observar a mulher, o radiologista tem a possibilidade de, simultaneamente, visualizar as respetivas imagens radiológicas e ecográficas na “Estação de Diagnóstico” da sua sala de trabalho, onde dispõe ainda de um ecógrafo próprio, para que possa realizar este exame sem que haja necessidade de deslocação. Ou seja, há mais comodidade e qualidade de atendimento para a mulher, economia de tempo e, sobretudo, benefícios técnicos”, refere.
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discurso direto
O contracetivo certo para cada mulher
Teresa Bombas Secretária-geral da Sociedade Portuguesa da Contracepção (SPDC)
Respeitando os direitos humanos, é da responsabilidade do Estado criar condições de acessibilidade aos cuidados de saúde reprodutiva iguais para todos os cidadãos e independentes da nacionalidade, raça, etnia, género, idade e condição socioeconómica. A mulher, ao longo da vida, tem diferentes necessidades contracetivas. Existe uma vasta opção de métodos de contraceção, incluindo métodos reversíveis (naturais, barreira, hormonais, intrauterinos), irreversíveis (vasectomia e laqueação tubar) e contraceção de emergência. É da responsabilidade do profissional de saúde facultar informação para uma opção adequada, individualizada às necessidades e expectativas, minimizando riscos e promovendo a qualidade de vida. A fase da vida da mulher desde a adolescência, passando, na idade adulta, pelo pós-parto, pela vontade de planear e espaçar as gestações até à menopausa, só por si, condiciona a opção contracetiva. Os hábitos de vida tais como o sedentarismo são um fator de risco para a obesidade, por exemplo. A presença de comorbilidades é um outro aspeto a considerar na escolha contracetiva. Nas últimas atualizações em contraceção, a obesidade e os hábitos tabágicos são aspetos a considerar na escolha de um método contracetivo com igual relevância, tal como a presença de outras doenças, nomeadamente a hipertensão, a diabetes e as trombofilias, entre outras situações. Os critérios de elegibilidade da Organização Mundial de Saúde (OMS) auxiliam o profissional de saúde na eleição de um método ou métodos de contraceção. As novas formulações de contracetivos disponibilizam doses progressivamente mais baixas
A escolha contracetiva adequada deve considerar, simultaneamente, os benefícios para a saúde e qualidade de vida da mulher, o que se traduzirá na melhoria da adesão e diminui o risco de gravidez não planeada.
de etinilestradiol, uso de estrogénios naturais, progestativos cada vez mais seletivos, vias de administração e regimes de utilização diferentes, e contribuem para a maior segurança e tolerabilidade dos métodos. A escolha contracetiva adequada deve considerar, simultaneamente, os benefícios para a saúde e qualidade de vida da mulher, o que se traduzirá na melhoria da adesão e diminui o risco de gravidez não planeada. A contraceção de emergência constitui a última hipótese de prevenção de uma gravidez não desejada em caso de relação sexual não protegida pelo não uso de contraceção, mas também pelo uso inadequado de um método de contraceção. A informação sobre este método deve estar presente em todas as fases da vida da mulher, mesmo nas situações de uso regular de um método, sobretudo se a sua eficácia depende da adesão da utente.
Em Portugal, a totalidade dos métodos de contraceção modernos e seguros está disponível, é fundamental que sejam todos divulgados à utente, para que a opção seja o mais assertiva possível. Não devemos esquecer também que as necessidades da mulher são diferentes ao longo da vida, pelo que a mudança de método deve ser considerada sempre que a mulher ou as circunstâncias da sua vida assim o exijam. Mais uma vez, é solicitado ao profissional de saúde uma informação e aconselhamento adequado. É verdadeiro mito o conceito de que a despenalização do aborto contribuiu para a diminuição do uso de contraceção, pois, os dados nacionais revelam que o risco de gravidez não desejado está relacionado sobretudo com o uso inadequado de contraceção e não com a não utilização. A intervenção dos profissionais de saúde, a educação sexual e também outros meios de educação e informação são fundamentais para melhorar o uso de contraceção. O contracetivo ideal deve ser 100% seguro, 100% eficaz e acessível a 100% das mulheres. Este contracetivo não existe. Até lá, o profissional de saúde deve ter acesso a formação e informação científica atualizada, para ser efetivo na educação e promoção de uma sexualidade segura e satisfatória que vá ao encontro das expectativas e necessidades da mulher e do casal.
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José Luís Passos Coelho, presidente da Sociedade Portuguesa de Senologia:
“Os doentes devem ser seguidos por especialistas dedicados ao tratamento do cancro da mama” J. L. Passos Coelho é o novo presidente da Sociedade Portuguesa de Senologia. O oncologista assume o desafio com a expectativa de criar consensos no tratamento do cancro da mama e abre portas a parcerias com outras entidades, de forma a pôr em marcha programas de ação comuns. Women’s Medicine (WM) ‒ Como encara o desafio da presidência da SPS? J. L. Passos Coelho (JLPC) ‒ É uma grande responsabilidade. Quando uma Direção toma posse é porque acha que tem disponibilidade e capacidade para assumir esse cargo. Sinto essa vontade e agora vamos trabalhar no sentido de congregar os interesses profissionais e científicos dos membros desta sociedade, assim como dos doentes, que, em última análise, são os principais destinatários deste trabalho. WM ‒ Quais as principais metas e objetivos? JLPC ‒ Ainda só tivemos uma reunião de trabalho, mas sabemos que há coisas que vamos seguramente realizar, entre as quais está a promoção de uma reunião científica anual que congregue os membros da sociedade em torno do tema do cancro da mama. Depois, em 2015, faremos o congresso, que é um evento de outra dimensão, de maior duração e que ocorre de três em três anos. WM ‒ Esse é, de facto, o maior acontecimento do mandato? JLPC ‒ Julgo que sim. Somos uma sociedade nacional, mas que tem a preocupação de ser igualitária entre as três áreas geográficas do país. A presidência tem obrigatoriamente de ser rotativa e as reuniões anuais, pelas mesmas razões, também vão alternando na sua localização. WM ‒ Para a reunião deste ano, o que está previsto? JLPC ‒ Será organizada no Norte, em colaboração com o Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro. O programa ainda não está fechado, mas o tema condutor da reunião será a axila e o cancro da mama, uma área com algumas controvérsias e onde há dados recentes que importa discutir.
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WM ‒ O facto de a Senologia não se ter ainda constituído como uma especialidade tem levantado dificuldades? JLPC ‒ De facto, a Senologia não é uma especialidade como a Oncologia ou a Cirurgia. É antes uma área do saber e da prática que aglutina especialistas de várias áreas. Há quem defenda que deva existir enquanto especialidade, mas, atualmente, é sobretudo uma área de diferenciação pessoal e institucional.
riadas instituições, há pessoas que se dedicam exclusiva ou predominantemente ao diagnóstico e/ou ao tratamento do cancro da mama. Há anatomo-patologistas, imagiologistas, cirurgiões, radioterapeutas e oncologistas médicos que têm esta área como centro da sua prática. A sociedade está aberta a todos os médicos que trabalham nesta área, é multidisciplinar, reunindo os vários especialistas que se dedicam ao cancro da mama.
WM ‒ Quer então dizer que são os profissionais de saúde que se interessam por esta área e procuram formar-se? JLPC ‒ No essencial, sim. Isto é, nas mais va-
WM ‒ Qual é o panorama atual do cancro da mama? JLPC ‒ Nos países ocidentais, o cancro da mama é a neoplasia mais frequente entre as
mulheres, mas também é uma doença curável em cerca de dois terços dos casos, não sendo a principal causa de morte por doença oncológica no sexo feminino. Ainda assim, os números são elevados. WM ‒ As possibilidades de tratamento atual podem oferecer boas taxas de sobrevivência? JLPC ‒ Quando o diagnóstico é feito nas fases iniciais da doença é, como referi, habitualmente curável. Infelizmente, nas fases avançadas da doença, a doença é tratável, mas não curável. Contudo, com o recurso às várias modalidades terapêuticas existentes, pode permitir sobrevivências prolongadas e com boa qualidade de vida.
Nos países ocidentais, o cancro da mama é a neoplasia mais frequente entre as mulheres, mas também é uma doença curável em cerca de dois terços dos casos, não sendo a principal causa de morte por doença oncológica no sexo feminino. Ainda assim, os números são elevados.
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Entre hospitais… ténis e viajar são as atividades de eleição Desde cedo que José Luís Passos Coelho decidiu que Medicina era a estrada a percorrer. “Gosto de trabalhar com pessoas e desde sempre tive curiosidade em saber como é que a máquina funciona”, explica, simplesmente. O curso foi feito na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Como na altura, em Portugal, não havia ainda a especialidade de
Oncologia, aquando do internato, a opção recaiu em Medicina Interna. O passo seguinte foi dado nos Estados Unidos da América. “Estive lá seis anos: fiz a especialidade de Medicina Interna na UT Southwestern, em Dalas, e a seguir a de Oncologia Médica, no Johns Hopkins, em Baltimore. Tive a sorte de poder fazer um mestrado em investigação clínica na Universidade Johns Hopkins e depois regressei”, conta o médico. Por onde passou, sempre criou ligações fortes e, embora já não seja, atualmente, presença tão assídua, o IPO de Lisboa foi a “sua casa” durante 15 anos. Hoje, passa por lá no âmbito da atividade docente da cadeira de Oncologia da Faculdade
de Ciências Médicas, pois, há seis anos, o desafio foi colaborar no arranque do Hospital da Luz, enquanto responsável do Centro Oncológico. Acumula essas funções com a direção do Departamento de Oncologia do Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, e o tempo livre, confessa, “não é muito”. No pouco que sobra, não desiste de se manter envolvido na investigação clínica, quer em gru-
pos cooperativos, ou com a indústria farmacêutica. Lamenta a reduzida atividade científica de iniciativa própria. “Gostava de fazer mais, mas precisava de tempo. A investigação não se faz aos bocadinhos. É preciso paz de espírito, estarmos concentrados e focados, e isso é, de facto, um desafio crítico entre nós.” Outra atividade “full time”, como o próprio lhe chama, de sorriso no rosto, é a família. Contra o stress, os seus aliados são o ténis e as viagens, hoje em dia, raras. “Gosto muito de viajar, embora o faça muito menos do que desejaria. Acabei por viajar muito mais quando era mais novo… Conhecer novos locais é uma experiência extremamente gratificante, que nos abre horizontes”, termina.
WM ‒ Que avanços têm sido feitos nesta área? JLPC ‒ Há grandes avanços na compreensão da doença, o que resultou na separação do cancro da mama em vários subtipos, com abordagens clínicas diferentes e com maior impacto terapêutico. WM ‒ É um caminho que pode trazer melhores resultados? JLPC ‒ Essa evolução já é visível. Estamos, inclusive, a procurar ir mais longe: uma área de investigação atual tenta perceber se é possível caracterizar as alterações específicas, indivi duais, do cancro de uma determinada pessoa. Ou seja, definir o BI do cancro de cada doente, identificando as vias celulares alteradas para, em seguida, prescrever o ou os fármacos que possam interferir com essas vias intracelulares. Seria, assim, o verdadeiro tratamento único personalizado. É um conceito que já está a ser testado em estudos clínicos, embora implique grande sofisticação técnica e individualização terapêutica. É um campo extremamente promissor, mas, de momento, sem aplicação generalizada. WM ‒ O atual clima económico pode prejudicar estes avanços? JLPC ‒ Seguramente que sim. Em tempos de restrições, como as que se vivem atualmente no mundo inteiro, há escassez de recursos para a investigação e isso causa limitações importantes. Os fundos disponíveis para bolsas têm vindo a ser reduzidos e há maior dificuldade em fazer investigação. Por outro lado, poderão vir a existir dificuldades de acesso a fármacos novos, quase sempre caros. O preço de um medicamento inovador paga todo o seu desenvolvimento – da molécula aos estudos animais e aos ensaios clínicos ‒, mas também suporta o desenvolvimento incompleto de todos os outros medicamentos que não chegaram a bom porto, nunca vindo a ser comercializados, por atividade clínica não confirmada ou por toxicidade inaceitável. Por isso, os preços são altos, o que levanta o problema da sustentabilidade dos sistemas de saúde. WM ‒ Além da questão financeira, há outros problemas por resolver? JLPC ‒ Há sempre espaço para melhorar, nomeadamente a articulação entre as instituições e as pessoas interessadas nesta área. Temos, em geral, os mesmos recursos clínicos que existem nos países economicamente mais saudáveis, mas é desejável que as pessoas com doenças oncológicas sejam tratadas atempadamente, de acordo com as boas práticas clínicas, pelos técnicos de
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saúde dedicados a esta área. No que respeita ao cancro da mama, os doentes devem ser seguidos por especialistas cujo interesse dentro da Oncologia, diagnóstica ou terapêutica, deve incluir a área de cancro da mama. WM ‒ E existe essa possibilidade? JLPC ‒ Tem de ser feito esse esforço, porque, de facto, os resultados clínicos podem ser inferiores se os doentes forem tratados por pessoas habilitadas para o fazer. O fator prognóstico do “tratador” está bem definido em determinadas áreas da cirurgia oncológica. Outra limitação importante é a enorme sobrecarga de trabalho clínico dos oncologistas, diminuindo o tempo de prestação de cuidados por doente e reduzindo a níveis mínimos o tempo disponível para investigar, isto é, para produzir conhecimento. WM ‒ Desse ponto de vista, encontramo-nos em desvantagem face ao estrangeiro? JLPC ‒ Claramente, porque enquanto muitas instituições noutros países têm profissionais dedicados exclusivamente a esta área, com um perfil misto entre a atividade assistencial e de investigação, em Portugal, isso é extremamente difícil de conseguir, uma vez que a carga clínica é avassaladora. WM ‒ Em termos de estado da arte, estamos em igualdade com o que se faz lá fora? JLPC ‒ Diria que estamos bem inseridos no panorama dos países ocidentais. No que respeita a capacidade diagnóstica e terapêutica, possuímos, em geral, a mesma que existe noutros países ocidentais e, em termos de sucesso terapêutico, estamos em consonância com a Europa. Temos é, possivelmente, mais dificuldades organizativas. Por último, a nível de formação, talvez não tenhamos a diferenciação em Senologia com um currículo organizado, de forma a ser uma subespecialidade com currículo definido e certificação. WM ‒ Neste momento, a SPS tem nos seus planos a articulação com outras especialidades? JLPC ‒ Essa é uma das primeiras apostas que queremos implementar neste mandato. A primeira parceria, em que já existem alguns projetos comuns, é com a Sociedade Portuguesa de Oncologia. É uma ligação óbvia e que queremos reforçar. Desejamos também ter ligação com sociedades estrangeiras da mesma área e que nos sejam afins, de forma a abrir portas a um melhor desempenho da Sociedade. O primeiro passo é
Ambicionamos ser um polo aglutinador dos profissionais que se dedicam à investigação do cancro da mama. obviamente Espanha, pela proximidade geográfica. WM ‒ Que mensagem deixaria aos profissionais desta área e o que eles podem esperar desta presidência da SPS? JLPC ‒ Enquanto Direção, gostaríamos de manter as atividades formativas anuais com sucesso e com impacto científico. De acordo com a tradição, promoveremos uma reunião de consensos nacionais, onde se tentará uniformizar e propor uma abordagem comum no diagnóstico e tratamento da doença.
Ambicionamos também ser um polo aglutinador dos profissionais que, dentro da sua área de trabalho, se dedicam à investigação do cancro da mama. É nosso desejo colaborar com os Registos Oncológicos de forma a tentar ter uma caracterização fiel da população portuguesa com cancro da mama. Queremos saber como a doença se apresenta, como evolui, como é tratada e com que resultados, indo a um detalhe mais fino do que é habitual nos dados comunicados aos registos oncológicos.
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O papel da axila no cancro da mama
Uma área com grandes avanços e implicações importantes na clínica As XIV Jornadas da Sociedade Portuguesa de Senologia (SPS), realizadas em outubro último, em Lamego, em colaboração com o Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, contaram com cerca de 300 participantes, que contribuíram ativamente para o debate em torno do “papel da axila no cancro da mama”. A razão dessa escolha prende-se com o facto de esta ser “uma área em que se registaram grandes avanços recentes, com implicações importantes na prática clínica, embora ainda com bastantes incertezas e fonte de muita controvérsia”, explica o presidente da SPS, José Luís Passos Coelho. A reunião esteve estruturada em mesas-redondas, cujos intervenientes debateram os vários problemas relacionados com a avaliação e o tratamento da axila em doentes com cancro da mama. O primeiro painel de peritos debruçou-se sobre “como avaliar a axila”. De acordo com José Luís Passos Coelho, “quando se faz um diagnóstico de cancro da mama, um dado fundamental é determinar se o tumor tem, ou não, envolvimento ganglionar axilar”. Complementando a avaliação clínica, a ecografia mamária permite ao radiologista verificar se existem gânglios axilares suspeitos – pelo seu número, tamanho ou características não habituais – e, quando isso acontece, realizar uma citologia com a finalidade de retirar uma amostra para estudo. O outro componente do diagnóstico
com vista ao ato cirúrgico – a identificação do gânglio que drena a zona tumoral – é realizado antes de o doente entrar no bloco operatório, pelos serviços de medicina nuclear. “Este procedimento faz parte da boa prática médica e da rotina de tratamento destes doentes”, sublinha o presidente da SPS. “Hoje, sabemos que o padrão de drenagem linfática de toda a
mama é, preferencialmente, para toda a região perimamilar, e daí para a axila, razão pela qual os gânglios axilares e o estudo da axila são tão importantes”. Nesta mesa-redonda, coube a Teresa Martins Lúcio, do Hospital Beatriz Ângelo, e a Francisco Sousa Pimentel, do Hospital de Vila Real, falar sobre a técnica, indicações e limitações de ambas as metodologias de sinalização do gânglio que drena a zona tumoral, tendo as suas intervenções sido complementadas pela visão da anatomopatologia, na pessoa de Teresa Simões Silva, dos Hospitais da Universidade de Coimbra, e da cirurgiã Cláudia Araújo, do IPO do Porto, que se centrou nas implicações técnicas e cirúrgicas da abordagem do gânglio sentinela.
Prós e contras do estudo ACOSOG Z011 Da parte da tarde, a segunda mesa-redonda incidiu sobre as implicações terapêuticas do gânglio sentinela positivo e a relevância do estudo
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ACOSOG Z0011. De acordo com José Luís Passos Coelho, “a probabilidade de haver outros gânglios na axila envolvidos por cancro da mama, no caso do gânglio sentinela ser negativo, é inferior a 5%. Isso significa que podemos evitar aos doentes toda a morbilidade associada ao esvaziamento axilar”. Contudo, “quando o gânglio sentinela é positivo, o tratamento tradicional passa por completar a cirurgia – no mesmo ato cirúrgico da mama ou noutro ato posterior – para estudar os restantes gânglios axilares”. Esta é uma área controversa, na medida em que o estudo ACOSOG Z0011 “põe em dúvida a vantagem de complementar o estudo do gânglio sentinela positivo com uma avaliação mais extensa que implique a remoção dos restantes gânglios da axila”. Por razões metodológicas, este estudo apresenta algumas limitações. Contudo, “mostrou que os doentes que tinham gânglio sentinela positivo e não fizeram esvaziamento axilar tinham um risco de vir a ter uma recidiva axilar da doença nos anos seguintes inferior a 2% e a sobrevivência era idêntica à das doentes com esta característica, mas que tinham complementado o tratamento com uma dissecção ganglionar axilar”. Na sessão, coube a José Luís Fogo, do Hospital de São João, e a Noémia Afonso, do IPO do Porto, tomar posições de defesa e de crítica do
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referido estudo. Por sua vez, a radioterapeuta Helena Pereira, também do IPO do Porto, e o oncologista Miguel Barbosa, do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, falaram sobre as implicações da aceitação dos resultados deste estudo no planeamento e administração da radioterapia e para o tratamento sistémico.
Por isso, pedimos ao cirurgião João Leal Faria, do IPO de Lisboa, que falasse das implicações desta decisão no que respeita à abordagem cirúrgica da doença, e a Gabriela Sousa, do IPO de Coimbra, que se debruçasse sobre as implicações para o tratamento médico dos resultados obtidos com um estudo do gânglio sentinela antes e pós-quimioterapia”.
Estudo do gânglio sentinela antes ou depois da quimioterapia?
Além destas três mesas-redondas, as jornadas contaram com duas conferências, uma sobre o prognóstico do envolvimento ganglionar axilar na era da classificação molecular do cancro da mama, realizada pela anatomopatologista italiana Isabella Castellano, e outra sobre “a experiência do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro no tratamento do carcinoma da mama”, realizada por Paulo Avelar.
A última mesa-redonda incidiu sobre qual a melhor altura para fazer o estudo do gânglio sentinela em doentes que têm indicação para fazer quimioterapia antes da cirurgia. Se não há evidência clínica de envolvimento ganglionar axilar, esse estudo deve ser realizado antes ou depois da quimioterapia? – eis a questão. De acordo com José Luís Passos Coelho, “estão a decorrer estudos para responder a esta pergunta, mas, neste momento, ainda não há orientações seguras sobre o que fazer.
O programa científico das XIV Jornadas foi complementado pela apresentação de numerosos trabalhos de investigação, sob a forma de posteres. Os autores dos três trabalhos que se destacaram em termos de qualidade científica foram selecionados por um júri para apresentação oral e discussão com os restantes especialistas presentes nas jornadas.
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Figueira da Foz recebeu 5.º Congresso
Medicina da Reprodução: revisitar o passado para rumar ao futuro O 5.º Congresso Português de Medicina da Reprodução, organizado pela Sociedade Portuguesa de Medicina de Reprodução (SPMR), teve lugar entre os dias 3 e 5 de outubro, na Figueira da Foz. “Estabelecer pontes: revisitar o passado para rumar ao futuro” foi o lema do encontro que celebrou o 35.º aniversário da SPMR. Em jeito de balanço, Ana Teresa Almeida Santos, presidente da SPMR, fala sobre as principais conclusões do congresso, que contou com a presença de cerca de 300 participantes. A presidente da SPMR começou por salientar a realização de três cursos pré-congresso, com lotação limitada, subordinados aos temas “Preservação da Fertilidade: uma abordagem multidisciplinar”, “Andrologia” e “Metrologia”.
Teresa Woodruff, responsável pelo Oncofertility Consortium. A presidente da SPMR relatou que a especialista veio de Chicago para partilhar a sua experiência de vários anos na aplicação de técnicas de preservação da fertilidade feminina, com especial ênfase na criopreservação de tecido ovárico para posterior transplante e/ou isolamento de folículos ováricos com restauração da fertilidade.
De acordo com Ana Teresa Almeida Santos, mereceu especial destaque a conferência proferida por Joachim Calaf, que discutiu as possibilidades atuais em termos de preservação de células germinativas para eventual utilização futura. Prática que, referiu, “resulta do adiamento da idade da primeira gravidez associado ao inexorável declínio da fertilidade feminina com a idade”. “Com o sucesso das técnicas de vitrificação de ovócitos, tornou-se possível adiar a gravidez para uma idade em que a situação financeira e/ /ou a estabilidade sejam mais propícias, o que, naturalmente, suscita problemas de vária índole, que foram discutidos na conferência intitulada ‘Declínio da fertilidade ‒ doença biológica ou doença social?’”, acrescentou. A nossa interlocutora considerou também “particularmente interessante” a perspetiva apresentada por Nicolas Olea, que reviu o papel dos diferentes disruptores endócrinos na fertilidade humana, “despertando grande interesse da audiência, que se inquietou com este flagelo ainda bastante desconhecido da maioria das pessoas, mas que, insidiosamente, vem provocando danos irreversíveis, alguns mesmo com impacto transgeracional”. Decorreram também diversas mesas-redondas e sessões multidisciplinares que versaram temas tão diversos como: a recetividade uterina, as novas perspetivas de modular a implantação endometrial, a implementação de sistemas de gestão da qualidade
“O projeto Oncofertility Consortium tem permitido um desenvolvimento assinalável dos cuidados prestados às mulheres jovens a quem é diagnosticada uma neoplasia cujo tratamento põe em risco a sua fertilidade futura”, referiu. E acrescentou:
Ana Teresa Almeida Santos nos centros de Procriação Medicamente Assistida (PMA), a cirurgia laparoscópica, a atualização em Endocrinologia na sua relação próxima com a fertilidade e a gravidez, o diagnóstico genético pré-implantação e ainda as estratégias de comunicação em ciência. Segundo Ana Teresa Almeida Santos, a adesão dos especialistas em Ginecologia e Medicina da Reprodução foi muito satisfatória e também os internos da especialidade estiveram presentes em grande número e protagonizaram a apresentação de 51 trabalhos originais, sob a forma de comunicações livres ou posters.
Oncofertilidade em debate “Oncofertilidade: uma especialidade emergente” foi o tema da conferência que esteve a cargo de
“Apesar de nos EUA a Oncofertilidade ser já uma especialidade médica, em Portugal, é ainda desconhecida da maioria dos especialistas, sendo urgente divulgar a possibilidade de referenciação das doentes oncológicas para aconselhamento reprodutivo e eventual preservação da fertilidade logo que é considerada a necessidade de uma terapêutica potencialmente gonadotóxica (o que tem vindo a ser amplamente recomendado por várias sociedades científicas internacionais: ASCO, ASRM, ESHRE e ESMO).”
Os avanços terapêuticos apresentados O programa do congresso incluiu quatro simpósios promovidos pela Indústria Farmacêutica. O simpósio da MDS incidiu sobre a corifolitropina alfa (Elonva®), “desenvolvida para proporcionar uma abordagem simplificada do tratamento de estimulação ovárica controlada, reduzindo o desconforto provocado pelo elevado número de injeções, pelo que a sua eficácia foi testada exclusivamente no protocolo com antagonista de GNRH”.
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A presidente da SPMR explicou que o perfil farmacocinético desta molécula reflete um processo de step-down, podendo ser feitos ajustes de dose diária a partir do 8.º dia da estimulação. “Este novo conceito consiste em uma única administração de corifolitropina alfa durante a primeira semana do tratamento e pode melhorar os resultados, reduzindo o potencial de erro na administração da medicação pelos pacientes e possibilitando uma abordagem simplificada do tratamento, com taxas de gravidez idênticas às que se obtêm com esquemas de administração diária de FSH.” Por sua vez, no simpósio levado a cabo pela Ferring, foi apresentada a multidose do Menopur® que, segundo Ana Teresa Almeida Santos, foi uma das novidades apresentadas no congresso, dada a sua recente introdução no mercado. “Esta nova apresentação permite aos pacientes a reconstituição de um frasco de 600 ou 1200 unidades de hMG, sendo depois utilizada nos dias seguintes, constituindo portanto uma vantagem em termos de comodidade e reduzindo a possibi-
lidade de erros de administração, além de permitir uma maior flexibilidade das doses.” “Nikolaos Polyzos proferiu uma conferência em que destacou o interesse da utilização da AMH na personalização dos tratamentos de estimulação da ovulação, abrindo as portas a uma medicina da reprodução cada vez mais individualizada e centrada no paciente”, acrescentou. Ana Teresa Almeida Santos destacou também o simpósio da Merck, intitulado “E o mundo nunca mais foi o mesmo …”, centrado na investigação e desenvolvimento da companhia farmacêutica e na recente implementação de prémios destinados a galardoar projetos de investigação da iniciativa de investigadores que tenham como objetivo melhorar a “take home baby rate”. Diego Ezcurra
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EVENTO
apresentou a estratégia da companhia e, refere, “salientou o empenhamento da empresa no desenvolvimento de novas linhas de investigação”. Por último, a nossa interlocutora realçou o simpósio organizado pela Gedeon Richter, que apresentou uma nova arma terapêutica para redução do volume dos miomas uterinos disponibilizada pela GR e de administração oral (Esmya®) que, indica, “tem sido utilizada para a redução pré-operatória dos miomas uterinos, permitindo uma abordagem cirúrgica facilitada e menos invasiva”. Nas suas palavras, no contexto da infertilidade, “esta possibilidade assume importância particular ao permitir conservar o útero”. “Esta sessão consistiu na apresentação de casos clínicos que documentam a experiência de clínicos portugueses com Esmya®, tendo sido salientada a facilidade na realização das miomectomias por via histeroscópica e a possibilidade de a cirurgia não ser necessária face à redução rápida das menorragias e da anemia condicionada pela redução do volume dos miomas”, finalizou.
A adesão dos especialistas em Ginecologia e Medicina da Reprodução foi muito satisfatória e também os internos da especialidade estiveram presentes em grande número.
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26 JANEIRO 2014
EM FOCO...
Serviço alarga potencialidades da utilização das células estaminais mesenquimais em terapia
Cytothera é pioneira em método de
criopreservação
A Cytothera foi a primeira empresa em Portugal a disponibilizar o serviço de isolamento de células estaminais mesenquimais (CEM) do tecido do cordão umbilical. Patrícia Cruz, diretora do Banco de Tecidos e Células da Cytothera, revela as particularidades do método utilizado, assim como as potencialidades terapêuticas das CEM. No tecido do cordão umbilical existe uma mistura muito heterogénea de células estaminais, entre as quais podem ser encontradas as células mesenquimais. “A Cytothera isola e purifica este tipo de células, que são minoritárias e representam menos de 0,1% da totalidade das células presentes no tecido do cordão”, explica Patrícia Cruz. “O isolamento das células estaminais do tecido do cordão umbilical é efetuado através de um processo de digestão enzimática que permite libertar do tecido as células estaminais mesenquimais. Após o processo de digestão, é obtida uma suspensão com vários tipos de células. Esta suspensão é purificada durante um período de tempo em que todos os outros tipos de células são eliminados, permanecendo apenas as células estaminais mesenquimais. O processo é considerado bem-sucedido quando forem atingidos 3 milhões de células estaminais sem que tenha sido detetado qualquer tipo de contaminação bacteriana ou fúngica”, adianta aquela responsável. O método utilizado pela Cytothera permite garantir que, no mínimo, serão criopreservados 3 milhões de CEM com um grau de pureza superior a 98%, que estão livres de contaminação microbiológica e que cumprem com todos os critérios da ISCT (International Society of Cellular Therapy). Patrícia Cruz sublinha que, uma vez que as células já estiveram em cultura celular, a Cytothera pode garantir que, quando for necessário multiplicar as células para aplicação terapêutica, estas estarão aptas e irão multiplicar-se com sucesso.
As células isoladas a partir do tecido de cordão umbilical são guardadas em quatro criotubos, de forma a poderem ser utilizadas em quatro momentos diferentes na vida. “As CEM têm a capacidade de se diferenciar, consoante os estímulos externos, em células nervosas, musculares, cartilagíneas, ósseas, adiposas e endócrinas e poderão ser, num futuro próximo, uma solução muito promissora para o tratamento de várias patologias”, observa.
A diretora do Banco de Tecidos e Células da Cytothera refere que o tecido do cordão umbilical é constituído por diferentes tipos de células (células endoteliais, células musculares, fibroblastos, linfócitos, adipócitos, macrófagos, mastócitos e plasmócitos), sendo que entre elas podem encontrar-se as CEM. Estas células são as responsáveis pela manutenção e renovação dos tecidos mesenquimais adultos. Apresentam igualmente efeitos imunossupressores quando transplantadas, diminuindo as reações de rejeição por parte do organismo recetor. Patrícia Cruz diz que estas características tornam este tipo de células muito importantes em aplicações de terapia regenerativa de tecidos lesados (lesões causadas por queimaduras, AVC e enfartes, entre outros) e como coadjuvantes em transplantes de células hematopoiéticas (de medula óssea ou de sangue do cordão umbilical).
Criopreservação das células estaminais do sangue do cordão umbilical
Patrícia Cruz
Segundo a diretora do Banco de Tecidos e Células da Cytothera, o processo de isolamento e criopreservação das células estaminais do sangue do cordão umbilical já é utilizado desde 1980 e já está bastante estandardizado. O isolamento das células estaminais do sangue do cordão umbilical é efetuado utilizando um método de separação automático em sistema fechado.
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Com o sistema que a Cytothera utiliza, Patrícia Cruz adianta que é possível minimizar a contaminação da amostra por ser mínima a intervenção do operador. É efetuada a separação das três frações do sangue e é guardada a fração rica em células estaminais para posterior armazenagem, designada por buffy coat. Também é guardada uma amostra do plasma para que possam, se necessário, ser realizadas análises serológicas. “Este método de separação permite recuperar mais de 90% das células estaminais presentes no sangue do cordão umbilical e mais de 80% das células totais.” “As células estaminais hematopoiéticas isoladas do sangue de cordão umbilical são armazenadas num único compartimento. Associada a esta unidade ficam dois criotubos com células estaminais que poderão ser utilizados para efetuar análises serológicas, hematológicas ou para efetuar testes de compatibilidade”, explica.
Com o sistema que a Cytothera utiliza, é possível minimizar a contaminação da amostra por ser mínima a intervenção do operador. É efetuada a separação das três frações do sangue e é guardada a fração rica em células estaminais para posterior armazenagem, designada por buffy coat.
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EM FOCO...
A diretora do Banco de Tecidos e Células da Cytothera relata que existem já terapias standard para certas doenças, como alguns tipos de leucemia, linfomas, anemias e mielomas, entre outras. Adicionalmente, diz, “há também várias aplicações terapêuticas em fase de ensaios clínicos, nomeadamente para diabetes, lúpus, paralisia cerebral e muitas outras, o que demonstra o enorme potencial destas células”.
Qual o futuro da criopreservação das células mesenquimais?
De acordo com Patrícia Cruz, a aplicação clínica das CEM é atribuída às suas quatro propriedades biológicas: 1) capacidade de migração para os tecidos infetados quando em aplicações intravenosas; 2) potencial de diferenciação em vários tipos celulares; 3) propensão para secretar moléculas bioativas importantes para reparação de tecidos e inibição de inflamações; 4) modulação de respostas imunes. “A utilização de CEM tem gerado um grande entusiasmo ao longo da última década, como uma nova terapêutica para uma variedade de patologias”, aponta, adiantando que, atualmente, foram já conduzidos ensaios clínicos utilizando CEM para cerca de 12 tipos de condições patológicas, com vários ensaios em fase de conclusão que demonstram a sua segurança e eficácia, entre as quais a doença do enxerto contra o hospedeiro e as doenças cardiovasculares. Até à data, aquela responsável avança que foram já realizados mais de 20 mil transplantes com recurso a células estaminais. “Estão em curso vários ensaios clínicos para patologias como a
paralisia cerebral, enfarte do miocárdio, esclerose múltipla, artrite reumatoide e diabetes.” Adicionalmente, acrescenta,” estão em desenvolvimento mais ensaios a nível das doenças oftálmicas, onde mais de 300 pacientes de todo o mundo receberam já tratamentos com células estaminais, como, por exemplo, na distrofia macular de Stargardt, na degeneração macular ou na retinite pigmentosa”.
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Cytothera é uma empresa certificada Com mais de oito anos de experiência em Portugal, a Cytothera é uma empresa certificada de acordo com as Normas de Qualidade ISO 9001:2008, pela EIC (Empresa Internacional de Certificação). É um laboratório autorizado pela Direção-Geral da Saúde para efetuar a recolha de tecidos e células e os Kits Cytothera estão devidamente registados no Infarmed. “Na Cytothera, a garantia da qualidade é muito importante, por isso apostámos num laboratório que permitisse o processamento de todas as unidades em câmara de fluxo laminar (Classe A, ISO5) instaladas numa sala limpa classificada (Classe B, ISO6). O laboratório tem vigilância por câmaras de videovigilância, sistemas de deteção de incêndio e uma empresa de segurança 24 horas por dia”, conta Patrícia Cruz, desenvolvendo que todos os equipamentos estão ligados a uma unidade de fornecimento de energia ininterrupta e estável. É uma empresa de capital 100% português, que está inserida no Grupo Farmacêutico Medinfar, um grupo financeiramente sólido, que aposta na melhoria contínua da qualidade de vida dos portugueses, disponibilizando soluções na área das ciências da vida. A Cytothera tem uma parceria com um laboratório de investigação, o ECBio, que lhe permite estar sempre atenta a novas aplicações terapêuticas e a ser uma empresa pioneira na disponibilização de serviços inovadores na área da terapia celular. “Temos uma equipa multidisciplinar que está sempre disponível para esclarecer todas as dúvidas”, afirma. E adianta que são realizadas com regularidade sessões de esclarecimento para os profissionais de saúde e para os futuros pais.
Com mais de oito anos de experiência em Portugal, a Cytothera é uma empresa certificada de acordo com as Normas de Qualidade ISO 9001:2008, pela EIC (Empresa Internacional de Certificação). É um laboratório autorizado pela Direção-Geral da Saúde para efetuar a recolha de tecidos e células e os Kits Cytothera estão devidamente registados no Infarmed.
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30 JANEIRO 2014
EVENTO
Viseu recebeu a 177.ª Reunião da Sociedade Portuguesa de Ginecologia
Especialistas debateram o presente e o futuro da Uroginecologia A Secção Portuguesa de Uroginecologia da Sociedade Portuguesa de Ginecologia (SPUG) organizou a 177.ª Reunião da SPG, sob o tema “Uroginecologia: presente e futuro”. O evento decorreu no Hotel Príncipe Perfeito, emViseu, nos dias 8 e 9 de novembro, tendo contado com a presença de cerca de 240 especialistas.A presidente da APNUG, Liana Negrão, faz um balanço do evento. Liana Negrão considera que a Uroginecologia tem evoluído significativamente nos últimos anos, “emergindo atualmente novas abordagens nas áreas do diagnóstico e do tratamento das disfunções do pavimento pélvico potencialmente inovadoras”. Neste sentido, “o programa da reunião procurou abordar diversas áreas da Uroginecologia e fazer um balanço da realidade científica atual e de novas perspetivas futuras”. A especialista prosseguiu referindo que a bexiga hiperativa foi o tema da primeira mesa-redonda, na qual, indicou, “foram apresentados novos fármacos para o tratamento desta patologia e o papel da neuroestimulação na prática clínica”. A cirurgia de correção da incontinência urinária de esforço foi debatida posteriormente, “com uma análise crítica dos diversos slings e a abordagem diagnóstica e terapêutica dos insucessos cirúrgicos”.
Do mesmo modo, “a cirurgia de correção do prolapso urogenital foi motivo de debate em duas sessões, tendo sido apresentadas vantagens, limitações e complicações das técnicas cirúrgicas tradicionais (com tecidos nativos) e das técnicas mais recentes, com utilização de redes sintéticas e da laparoscopia”. A conferência sobre a “Avaliação e abordagem das algias miofasciais do pavimento pélvico”, apresentada por Paulo Dinis, abordou um tema pouco divulgado em reuniões científicas, que Liana Negrão indicou ter suscitado o maior interesse dos participantes. “Os exames complementares em Uroginecologia foram tema de uma mesa-redonda, na qual Stefano Salvatore apresentou as evidências científicas que suportam a utilização da urodinâmica na prática clínica”, adiantou. E acrescentou: “Outros exames complementares de
Robert Freeman, Fernanda Águas, Liana Negrão e Abranches Monteiro
diagnóstico com interesse crescente nesta área foram também apresentados, salientando-se a ecografia do pavimento pélvico e a ressonância magnética nuclear.” Na opinião da especialista, a conferência proferida por Robert Freeman sobre “Formação em Uroginecologia: presente, passado e futuro” revestiu-se do maior interesse, alertando para a necessidade de uma regulamentação da formação e credenciação dos especialistas nesta área.
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O debate sobre os “Prós e contras da cesariana profilática na prevenção da disfunção do pavimento pélvico” “mobilizou os participantes para a discussão deste tema tão complexo, envolvendo múltiplas questões, de ordem técnica, ética e económica”.
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INFORMAÇão
Comissão Europeia aprova variante Tipo II do Esmya® A Gedeon Richter Plc. (“Richter”) anuncia que os comprimidos Esmya® 5 mg (acetato de ulipristal) estão agora licenciados para administração até 2 ciclos intermitentes de 3 meses para tratamento pré-operatório de miomas uterinos na União Europeia. A Comissão Europeia (CE) aprovou a expansão da indicação da variante Tipo II do Esmya® 5 mg (acetato de ulipristal), que permite um ciclo repetido de 3 meses de tratamento pré-operatório em todos os países da União Europeia. Esta decisão segue o parecer positivo que o Comité de Medicamentos para Uso Humano (CHMP) emitiu em novembro de 2013.
A última sessão foi dedicada às controvérsias mais recentes na cirurgia de correção do prolapso urogenital, nomeadamente as indicações para o uso de redes, os prós e contras da conservação uterina e o estado de arte do uso de redes em Portugal. Para além das sessões científicas referidas, “houve ainda espaço para uma sessão dedicada à apresentação de comunicações livres, selecionadas de entre as que foram propostas para apresentação nesta reunião”. Segundo referiu, “foi uma sessão muito participada, com discussão aberta das experiências de diferentes serviços”. No total, foram apresentadas nove comunicações livres e trinta e sete cartazes, tendo sido atribuídos prémios aos melhores trabalhos.
A aprovação da CE foi baseada nos resultados do estudo PEARL III e na sua extensão. Os estudos avaliaram a eficácia e segurança de ciclos repetidos intermitentes de 3 meses de tratamento de acetato de ulipristal em indivíduos com miomas uterinos e sangramento uterino intenso. Os resultados do estudo mostraram que um ciclo repetido de acetato de ulipristal proporciona eficácia continuada para as mulheres (as taxas de amenorreia foram 79,5% e 88,5% para as mulheres após o primeiro e segundo ciclos de tratamento, respetivamente; a variação percentual média da avaliação na redução do volume dos três maiores miomas foi -49,9% e -63,2%, após o primeiro e segundo ciclos de tratamento, respetivamente). Os dados dos estudos PEARL III foram apresentados no 10.º Congresso da Sociedade Europeia de Ginecologia, em 18 de setembro de 2013.
A concluir, Liana Negrão disse que o balanço global da reunião foi positivo, tendo sido evidente o interesse dos diversos temas abordados, motivando uma elevada adesão dos participantes em todas as sessões. “As expectativas relativas à qualidade científica foram claramente atingidas em todas as sessões.”
“Estamos satisfeitos com este passo significativo para o Esmya®, pois, significa mais possibilidades de escolha para os médicos que têm de tratar sintomas moderados a graves causados por miomas”, afirmou Erik Bogsch, diretor executivo da Gedeon Richter Plc. “Agora, vamos trabalhar com as agências reguladoras locais para comunicar as implicações desta extensão do rótulo aos médicos na Europa.”
O evento teve o patrocínio da International Urogynecological Association (IUGA) e da European Urogynaecological Association (EUGA), tendo tido em sua representação Robert Freeman, vice-presidente da IUGA, e Stefano Salvatore, vice-presidente da EUGA.
“O Esmya® proporciona eficácia prolongada e contínua para a mais ampla gama de sintomas causados por miomas uterinos,” disse o Prof. Jacques Donnez, que conduziu os estudos PEARL I, II e III. “A extensão da sua licença aumenta o leque de opções de tratamento pré-operatório para
as mulheres com miomas uterinos e pode significar que são poupadas dos sintomas até um ano.” A informação completa do produto, contendo o RCM revisto, está disponível ao público no Ficheiro Comunitário da CE e disponível online em www.ema.europa.eu/ema.
Sobre o estudo O PEARL III e a sua extensão eram estudos de longo prazo, abertos, de fase 3, em que as doentes fizeram acetato de ulipristal 10 mg e foram randomizadas com dupla ocultação para a administração de um progestativo (acetato de noretisterona) versus placebo, após o final de cada ciclo de tratamento com acetato de ulipristal. O estudo PEARL III recrutou 209 pacientes e foi concluído em 2012. O estudo investigou a eficácia e segurança de um só tratamento aberto de três meses com acetato de ulipristal 10 mg, seguido da administração, durante 10 dias, de acetato de noretisterona ou placebo, em doentes com miomas uterinos e sangramento uterino intenso. A seleção das doentes foi aleatória e duplamente cega. (Resultados sob publicação.) No final do estudo PEARL III, as doentes tiveram a opção de continuar o tratamento com acetato de ulipristal 10 mg no estudo de extensão. Este compreendia três ciclos adicionais de 3 meses de tratamento aberto com acetato de ulipristal 10 mg, cada um seguido de 10 dias de tratamento com acetato de noretisterona ou placebo, tratamento esse decidido por dupla ocultação. Seguiu-se um período livre de medicamentos, antes do ciclo seguinte de tratamento. Um total de 132 pacientes optou por continuar o tratamento médico no estudo de extensão. A extensão do Pearl III avaliou a eficácia e segurança de ciclos repetidos de acetato de ulipristal 10 mg no sangramento uterino, tamanho do mioma, dor e qualidade de vida. Foi concluída em 2013. (Resultados sob publicação.) Espera-se que, de modo semelhante à dose de 10 mg, a eficácia da dose de 5 mg no primeiro ciclo de tratamento seja mantida no segundo ciclo de tratamento.
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EVENTO
179.ª Reunião da SPG em Tróia
Cirurgia minimamente invasiva em Ginecologia A Sociedade Portuguesa de Ginecologia vai realizar, nos dias 14 a 15 de março, no Hotel Aqualuz, em Tróia, a sua 179.ª Reunião, que será organizada pela Secção Portuguesa de Endoscopia Ginecológica (SPEG). Fátima Faustino, presidente da SPEG, adianta alguns aspetos sobre o encontro, que será subordinado ao tema “Cirurgia minimamente invasiva em Ginecologia” “A cirurgia minimamente invasiva assume um papel cada vez mais importante na resolução dos problemas ginecológicos da mulher, pelo que esta área desperta cada vez mais o interesse de um número crescente de ginecologistas e obstetras, sobretudo dos mais jovens membros da nossa especialidade”, afirma Fátima Faustino.
de aprendizagem na cirurgia endoscópica ginecológica. Depois, será iniciado o ciclo de palestras e conferências divididas pelos temas: “Temas práticos em endoscopia ginecológica”; “O papel da cirurgia reprodutiva em época de PMA”; “Complicações em laparoscopia”; “Laparoscopia em ginecologia oncológica”; “Anatomia cirúrgica em patologia benigna e maligna”; “Imagem e endometriose profunda (DIE)”; “Dor pelviperineal para além da endometriose”; “Cirurgia do pavimento pélvico” e “Nova classificação de malformações uterinas ESHRE/ESGE”.
A especialista destaca, ainda, uma sessão ”Winners”, particularmente vocacionada para os mais jovens membros da especialidade, seguindo a linha de orientação defendida pela Sociedade Europeia de Endoscopia Ginecológica (ESGE) e moderada pelo presidente da mesma, Rudi Campo. Na tarde do dia 15, terá ainda lugar um simpósio sobre os mais recentes avanços na investigação do acetato de ulipristal na terapêutica dos miomas uterinos e outras patologias, que terá J. Donnez como principal palestrante.
“Pretendemos, mais uma vez, organizar um evento com nível científico elevado”, avança a ginecologista, acrescentando que, para tal, contarão com a participação de eminentes palestrantes nacionais e internacionais com experiência nesta área. Na manhã de dia 14 de março, Fátima Faustino indica que a reunião terá uma vertente de formação prática em endotrainers, para cerca de 20 participantes que desejem melhorar a sua curva
De acordo com a presidente da SPEG, um dos objetivos é abordar as diversas vertentes da cirurgia ginecológica, “onde a laparoscopia e a histeroscopia permitiram um avanço significativo, quer pelas vantagens da própria tecnologia, quer pela diminuição de morbilidade e rápida recuperação das doentes submetidas a estas técnicas minimamente invasivas”.
Fátima Faustino
A concluir, Fátima Faustino salienta que “foi preocupação da SPEG elaborar um programa científico que possa despertar o interesse de todos os membros da nossa especialidade, permitindo-lhes uma participação ativa na discussão dos diversos temas, em ambiente de agradável convívio”.
IX Congresso Português de Osteoporose
Evento revela caráter multidisciplinar do tratamento No ano em que celebra as bodas de prata, a Sociedade Portuguesa de Osteoporose e Doenças Ósseas Metabólicas (SPODOM) realiza o IX Congresso com uma cerimónia especial de homenagem aos seus sócios fundadores. A multiplicidade de especialidades presentes neste evento – desde a Medicina Geral e Familiar à Oncologia – revela bem a complexidade do tratamento da denominada “doença silenciosa”.
O Congresso bienal da SPODOM vai ter lugar no Hotel Meliá Ria, em Aveiro, de 26 de fevereiro a 1 de março. “Dada a multidisciplinaridade da nossa sociedade, o congresso destina-se a todos os profissionais de saúde ligados ao tratamento do doente com osteoporose e outras doenças ósseas metabólicas, nomeadamente, médicos de família, reumatologistas, endocrinologistas, ginecologistas, oncologistas, enfermeiros, nutricionistas, terapeutas,
assistentes sociais e psicólogos”, explica a presidente da comissão organizadora, Ana Paula Barbosa. Como tem sido habitual em congressos anteriores, dois dias antes da abertura oficial, tem lugar o curso Osteoporosis: Essentials of Densitometry, Diagnosis and Management, desta vez com a chancela da International Osteoporosis Foundation e da International Society for Clinical Densitometry.
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DISCURSO DIRETO
Trombose e gravidez
Jorge Lima Especialista em Ginecologia e Obstetrícia, Hospital CUF Descobertas, Lisboa
O embolismo pulmonar (EP) é a causa direta mais frequente de mortalidade materna nos países ocidentais. A trombose venosa profunda (TVP) está subjacente ao EP. Muitos casos de TVP não são reconhecidos clinicamente e são apenas identificados na autópsia após a morte materna. A TVP está também associada a um risco significativo de novo episódio trombótico e a insuficiência venosa profunda. A mortalidade materna associada ao embolismo pulmonar pode ser reduzida através de uma investigação “agressiva” das mulheres com suspeita clínica de TVP ou EP, do tratamento das mulheres com o diagnóstico de tromboembolismo venoso e da profilaxia das mulheres com risco aumentado de TVP e/ou EP. É preciso não esquecer que os sinais e os sintomas sugestivos de TVP e de EP podem estar presentes na gravidez e têm, frequentemente, uma origem não trombótica, refletindo apenas alterações fisiológicas e não doença tromboembólica. Quanto aos exames utilizados no diagnóstico (cintigrafia ventilação/perfusão, TAC helicoidal), o seu potencial risco teratogénico é desprezível quando comparado com o risco de tromboembolismo venoso (TEV) não tratado por erro diagnóstico. De forma a prevenir e a tratar o TEV, é crítico compreender a extensão do problema, os fatores de risco e os mecanismos fisiopatológicos da doença tromboembólica na gravidez. Risco trombótico e gravidez Na gravidez normal ocorrem profundas alterações fisiológicas nos mecanismos hemostáticos com o desenvolvimento de um estado de hipercoagulabilidade. Este estado pró-trombótico, condicionado pelos estrogénios, é devido ao aumento dos pró-coagulantes (fatores II, V, VIII, IX, X, XII, aumento major do fibrinogénio), à diminuição dos anticoagulantes naturais e à supressão da fibrinólise. Estas adaptações fisiológicas, em conjunto com o aumento da volemia,
previnem a hemorragia anormal pós-parto e desempenham uma função sinérgica com a contração miometrial. A tríade de Virchow está presente na gravidez, sendo caracterizada por hipercoagulabilidade, estase venosa e lesão vascular (lesão endotelial dos vasos pélvicos), que pode ocorrer mesmo no parto vaginal. Este conjunto de alterações favorece um aumento do risco de tromboembolismo venoso na gravidez e puerpério, mesmo em mulheres sem trombofilias hereditárias ou adquiridas. Os fatores de risco de TEV na gravidez são: idade superior a 35 anos, obesidade, cesariana (especialmente de emergência), diagnóstico de trombofilia e história familiar ou pessoal sugestiva de trombofilia. Outros fatores de risco adicional incluem varizes dos membros inferiores; imobilidade; paraplegia; desidratação; situações inflamatórias e infecciosas, tais como a doença inflamatória do intestino e a infeção do trato urinário; pré-eclampsia; quadros hemorrágicos graves, como o descolamento prematuro de placenta normalmente inserida; e problemas médicos concomitantes com alguma gravidade, como a síndroma nefrótica. A hiperemese gravídica, por condicionar desidratação e imobilidade, representa também um risco significativo de TEV. As viagens de longa distância constituem também um fator de risco importante. Não existe uma preponderância do TEV em qualquer trimestre da gravidez, no entanto, existe a predisposição para a TVP ocorrer na perna esquerda (aproximadamente 90%), possivelmente devido à exagerada compressão sobre a veia ilíaca esquerda causada pela artérias ilíaca e ovárica direitas na zona de cruzamento. As TVP na gravidez são muito mais frequentes na região ileo-femural (> 70%) do que no território femoro-polpliteu (9%), tendo as primeiras um maior risco de EP.
Anticoagulação na gravidez A anticoagulação está indicada na gravidez, na prevenção e tratamento do TEV, na prevenção e tratamento do embolismo sistémico em doentes com válvulas cardíacas mecânicas e, frequentemente combinada com a aspirina, na prevenção das complicações da gravidez na síndroma de anticorpos antifosfolípidos (SAAF) e noutras trombofilias. Os antitrombóticos disponíveis para a prevenção e tratamento do TEV e do tromboembolismo arterial incluem a heparina, os derivados cumarínicos e a aspirina. As heparinas de baixo peso molecular (HBPM) têm sido usadas com segurança durante a gravidez e são fármacos úteis na prevenção e tratamento do tromboembolismo venoso. As HBPM podem ser utilizadas com segurança na amamentação, uma vez que não são secretadas para o leite materno. Tromboembolismo venoso e gravidez Todas as mulheres devem ser submetidas a uma avaliação dos fatores de risco trombótico, de forma a estabelecer quais as que necessitam de tromboprofilaxia. Essa avaliação deverá ser efetuada no período pré-concecional ou no início da gravidez. A avaliação do risco deve ser sempre repetida e continuada no internamento hospitalar e sempre que surjam outros problemas na gravidez. Apesar da inegável importância das recomendações para a boa prática médica, a avaliação de risco trombótico deve ser individual. As mulheres que desenvolvem trombose venosa durante a gravidez devem fazer terapêutica com HBPM durante 4 meses e depois manter profilaxia com HBPM até ao fim da gravidez. Após o parto, deverão iniciar anticoagulação oral após sobreposição com HBPM até INR obter um terapêutico (2-3). A duração dessa anticoagulação vai, no entanto, depender da localização e da gravidade do fenómeno tromboembólico.
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NOTÍCIA
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1.º Plano
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