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Imagine para cuidar de verdade - Aldo Fortunati, Erica Bagni e Silvia Tani
IMAGINE PARA
CUIDAR DE VERDADE
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Aldo Fortunati Erica Bagni 3 Silvia Tani 4
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1 As imagens desse artigo pertencem ao arquivo da Bottega di Geppetto Centro Internazionale di Ricerca e Documentazione sull'Infanzia Gloria Tognetti (www.bottegadigeppetto.it)
2 Especialista em psicologia do desenvolvimento e educação na primeira infância e presidente da Bottega di Geppetto Centro Internazionale di Ricerca e Documentazione sull'Infanzia Gloria Tognetti.
3 Pesquisadora e educadora da primeira infância de Escola da infância de San Miniato.
As crianças reinterpretam as situações de cuidados nos momentos de jogo simbólico durante seu tempo na escola. O jogo representa uma das maneiras privilegiadas para explorar o mundo externo e o mundo das relações interpessoais, para desenvolver habilidades motoras e cognitivas, para experimentar diferentes papéis e para trazer à tona a própria criatividade. É, portanto, um espaço de possibilidades, um momento em que as crianças podem experimentar a si mesmas em sua íntegra (corpo, sentidos e mente), satisfazendo sua curiosidade e sua necessidade de explorar o ambiente e os objetos que o habitam.
O jogo foi de nido como uma atividade que não tem outro objetivo senão o prazer e o gosto de se produzir e de se prolongar e, por isso, se distingue claramente de atividades que visam
alcançar um objetivo ou um resultado. Isso não prejudica a prática, pelo contrário, é o motivo pelo qual a atividade lúdica constitui um excepcional instrumento de crescimento e de de nição da estrutura da personalidade em todos os seus aspectos. Isso acontece especialmente quando o jogo é compartilhado com outras pessoas - crianças ou adultos - e, portanto, quando entram em campo aspectos de interação e de relação que sustentam as redes de interação e de partilha.
O espaço organizado da escola, a partir deste ponto de vista, oferece às crianças diferentes oportunidades para experimentar suas competências. Além disso, o jogo simbólico – como um processo evolutivo que nasce das experimentações iniciais de interação lúdica entre duas ou mais crianças, enriquecendo-as através das tramas de jogos compartilhadas e organizadas de acordo com padrões e papéis de nidos, ditados cada vez mais por intencionalidade e protagonismo – apoia as crianças não só na partilha de objetos, espaços e materiais, mas também com papéis e regras que são determinados através da sua própria cultura. O jogo simbólico é, portanto, uma maneira importante de desenvolver habilidades sociais e capacidades de negociação.
Ter um espaço especialmente projetado, uma ideia de criança protagonista em suas próprias experiências e uma ação educativa do adulto organizada para favorecer e apoiar as potencialidades e a autonomia das crianças são três aspectos fundamentais para que a escola se con gure como um contexto para o desenvolvimento de tramas de jogo cada vez mais ricas e complexas.
Outro aspecto que pode favorecer esta ideia é a presença de crianças de diferentes faixas etárias dentro do mesmo grupo, pois o grupo misto pode estimular ainda mais o desenvolvimento das autonomias e das interações, enriquecendo recursos e habilidades por parte das crianças de diferentes idades. Se, como dissemos anteriormente, o jogo simbólico caracteriza-se pela experimentação de diferentes papéis e pela alternância destes, isso acontece ainda mais quando o jogo simbólico representa uma reinterpretação de situações de cuidado e higiene.
Crianças que diariamente vivem situações em que são cuidadas por adultos, em seus jogos simbólicos recompõem os mesmos comportamentos, direcionando-os a objetos inanimados – como as bonecas – ou a outras crianças ou adultos.
É muito fácil perceber como a brincadeira de médico, de cabeleireiro, de ninar ou de lavar e de trocar representam tramas lúdicas privilegiadas que as crianças trazem à tona através de processos inicialmente imitativos – e depois cada vez mais criativos. Um recorte do diário de Viola (14 meses de idade) traz: "Viola dá comida na boca da boneca com muito cuidado, aproximando a colher da boca, e, quando a boneca não responde aos seus apelos, bate em sua cabeça ou a aproxima, puxando seus cabelos. Reclama, tenta novamente e após inúmeras recusas se inclina sobre os joelhos, aproximando seus olhos na boca da boneca e tentando com os dedos abrir sua boca”.
Outro trecho do diário de Giulia (26 meses): "Julia se aproxima de Sara e Vittoria, sentadas no tapete, chama-as pelo nome, acaricia-as segurando seus rostos em suas mãos, traz os brinquedos para perto delas e afasta Marco com as mãos, que, de maneira um pouco impetuosa, tira das cestas do tapete alguns sininhos[...]. Giulia se aproxima do carrinho onde Sara está deitada e começa a balançá-lo, dando-lhe a chupeta [...]. Na hora do almoço,
Giulia senta ao lado da Vittoria, ela a chama com nomes agradáveis tentando fazê-la sorrir, leva a mamadeira até sua boca para fazê-la beber”. O jogo simbólico, portanto, sugere e ativa percursos de experiências individuais ou compartilhadas entre mais crianças e torna cada uma delas protagonista da evolução do próprio jogo.
O prazer da exploração, da transformação de si mesmo e das coisas e também a oportunidade de criar situações de cuidado dentro de uma trama lúdica envolve as crianças em um jogo que cada vez é diferente, mas que é, ao
mesmo tempo, o resultado de uma experiência passada. Assim, a capacidade de descobrir e reinventar os momentos de cuidado durante a brincadeira abre às crianças um novo horizonte de experiência que as vê como protagonistas ativas ao cuidar de outra pessoa, con rmando que brincar permite exercer as próprias competências para atuar sobre a realidade, transformando-a.