Contos, causos e poesias - Edivaldo Ribeiro (2012).

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Contos, causos e poesias 2012 PRIMEIRA EDIÇÃO

Organização Shirley Santana Nunes

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EDIVAL RIBEIRO

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Agradecimentos

Esse livro nasceu da certeza de que a educação é o caminho da evolução humana e principalmente,

na certeza de que o aluno sempre sabe alguma coisa, de que todo educando pode aprender, mas a seu

modo e a seu ritmo e de que o professor não deve desistir, mas nutrir uma elevada expectativa em relação à capacidade de seu aluno em conseguir vencer os obstáculos.

Portanto, o sucesso da aprendizagem tem muito a ver com a exploração dos talentos de cada

um e que a aprendizagem centrada nas possibilidades e não nas dificuldades dos alunos é uma abordagem efetiva.

Desse modo, notei ao longo das aulas, que de forma prazerosa Edival escrevia e reescrevia seus

textos, então decidi organizar e publicar esta obra para evidenciar a potencialidade e talento desse aluno e deixar claro que todo aluno com deficiência intelectual possui um potencial que precisa ser incentivado.

Agradeço a equipe de profissionais da APAE, que há tanto tempo evidencia o potencial da

pessoa com deficiência; aos meus familiares que assim como eu acreditam na pessoa como ser social

e atuante, independente das barreiras; aos familiares do aluno que apesar das dificuldades sempre buscaram o melhor pra ele; e principalmente ao aluno Edival que reforça a minha crença no trabalho que desenvolvo todos os dias.

Shirley Santana Nunes, pedagoga.

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PORÉM... CONTO, CAUSOS E POESIA


Acreditar...

Podemos olhar a vida, as coisas e as pessoas com muitos olhares e dependendo do que vemos

a cada olhar damos significados , avaliamos prioridades, definimos objetivos e dimensionamos a importância que daremos ao objeto observado. Posso afirmar que no que se refere às diferenças, o olhar se multiplica dado a subjetividade da pessoa humana.

Quando trabalhamos com educação temos que buscar um olhar puro, transparente, sem

interferências de nossas fraquezas, gostos e preconceitos. É assim que deve ser a educação na busca por uma sociedade inclusiva.

Foi nesta perspectiva que observei o trabalho da professora Shirley quando veio com a ideia

de publicar o livro do Edival. Fiquei muito surpresa, pois não sabia deste seu gosto pela literatura; eu sempre observei o Edival muito quieto, na “dele”, e como ele já tem uma certa idade , meu

julgamento, bastante infeliz, era que ele estava na escola para socialização e qualidade de vida, já que tinha muitas restrições e não poderia trabalhar.

Mas ele foi visto com o olhar de sua professora; com olhos de quem não se limita ao agora mas

acredita que cada um tem um potencial que deve ser explorado . Ela fez mais: acreditou... foi a grande facilitadora deste ato que é educar. Descobriu, incentivou, criou a oportunidade e fez nascer um escritor, que tinha tudo para passar despercebido, oculto e até desacreditado.

O Edival, por sua vez, também acreditou na sua capacidade de vencer os obstáculos, foi em

frente e concretizou o seu sonho.

Creio que não foi nada fácil superar as dificuldades, mas ele conseguiu! Assim por esta iniciativa tão maravilhosa, os dois merecem a minha grande admiração e acredito

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que teremos ainda muitas outras iniciativas como esta, pois este é o objetivo do nosso trabalho na APAE.

Parabéns para os dois! Maria José Stevaux, Diretora Pedagógica da APAE de Sorocaba.

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Introdução

Edival estudou no Grupo escolar Prof. Enéas Proença de Arruda no antigo endereço na Vila

Progresso até o primeiro semestre do primeiro ano em 1969.

Ele tinha 7 anos em julho deste ano quando foi operado de um tumor no cérebro descoberto

pelo Dr. Francisco Carlos de Andrade Neto. Foi operado no Hospital 9 de Julho, em São Paulo. Dois dias depois da operação, teve a meningite muito grave. Quando conseguiu curá-la, ficou todo paralisado, sem falar e sem enxergar. Ficou vários meses assim.

Depois, após várias sessões de fisioterapia, começou a engatinhar e em seguida a andar. Ficou

com diversas sequelas.

Quando ainda estava no hospital com meningite, foi implantada uma válvula de derivação na

cabeça até o abdómen, que tem até hoje.

Mais ou menos com doze anos voltou a estudar no ginásio Prof. Enéas onde ficou retido na

quinta série por vários anos, tinha dificuldades em matemática.

Foi estudar no ginásio da Escola Baltazar Fernandes porque lá tinha sala especial. Continuou na

quinta série não me lembro por quanto tempo. Aos 20 anos, entrou na APAE.

Várias coisas aconteceram durante a recuperação do Edival. Eu não lembro, porque fiquei muito

abalada. Era eu que corria com ele todo o tempo. Graças a Deus, hoje ele está bem. Eva Benedita Alves Ribeiro, mãe do aluno.

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I.

A Princesa Primavera e o Jardineiro e a Lenda de Seu Balde Furado


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A PRINCESA PRIMAVERA E O JARDINEIRO E A LENDA DE SEU BALDE FURADO

No pico da colina havia um imenso palácio, regido por um rei incrédulo. Nesta mesma localidade havia muitas farturas. Certo dia, a manhã estava abafada e chuvosa e o Rei se pôs a blasfemar reclamando do clima. O Jardineiro, por sua vez, implorava ao seu Rei que não reclamasse assim, porque ele, um dia, se arrependeria do que disse contra o clima. Porém o Rei disse ao jardineiro: “Um Rei nunca se arrepende do que diz ou faz”. Ele sempre dizia que nunca haverá ninguém superior a ele. Assim, o Rei continuou a reclamar e o Jardineiro insistia para que ele parasse.

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Ao raiar o dia seguinte, o Jardineiro, pronto para iniciar as suas tarefas de jardinagem e cultivo, deparou-se com o plantio totalmente seco e sem nenhum sinal de vida. O homem foi imediatamente comunicar o ocorrido ao Rei. Este passou a se lembrar e a meditar em tudo o que havia dito sobre o clima. O Rei, de tão nervoso, caiu enfermo de tanta tristeza. Chamaram vários sábios e magos que havia no reino e aos arredores dele para descobrirem o que entristecia o Rei. Aquele que descobrisse seria muito bem recompensado. O Jardineiro tomou em suas mãos um Par de Baldes e saiu chamando a chuva, e, enquanto isso não ocorria, ele não descansava nem desanimava.

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O Jardineiro passou a baldear os Baldes de água, mas ele não desconfiava que um Balde Furado deixava para traz rastros de água. O outro Balde durante a caminhada dizia com todo orgulho: “eu sempre chego completo até a borda, eu sirvo até as mesas de nossos senhores e a mesa de nosso senhor Rei, enquanto você somente fica na soleira da janela servindo os pássaros”. O Balde Furado, sentindo-se desprezado e humilhado, começou a chorar e a soluçar. Neste mesmo instante, passou a Princesa que tomou o Balde Furado em suas mãos e o levou consigo aos seus aposentos e o deixou sobre a soleira de sua janela. Ali mesmo vinham os pássaros se servir da água. Todos os dias quando eles vinham,

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traziam ramos de diversas qualidades e piavam cânticos de alegria. A Princesa e o Jardineiro se depararam com uma imensa beleza que se rastejava pelo chão e se agarrava às paredes subindo com imensa formosura. Começaram a desabrochar e a exalar sobre todo o Palácio todos os seus aromas. O Rei se alegrou de tal maneira que imediatamente chamou os guardas e ordenou que trouxessem o Jardineiro e o vestissem com as melhores roupas do Palácio. Ele ordenou que sua filha se casasse com o Jardineiro e o fizesse Príncipe. Ela o aceitou e, anos após, nasceram duas crianças: um menino e uma menina. As crianças cresceram. O menino recebeu o

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titulo

Príncipe

e

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menina

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de

Princesa.

O

Príncipe

programava

os

computadores para comandar os Robôs e para desligá-los

automaticamente

após

terem

encerrado as suas tarefas. Ele saía para galopar pelas colinas quando, ao longe, avistou uma camponesa que colhia flores do campo. O Príncipe foi ao encontro da camponesa e a levou até sua humilde casa. Ele ordenou que seus Robôs viessem ao seu encontro e construíssem uma nova casa em que as flores passem por cima dela cobrindo o telhado. As flores, ao desabrocharem, transformaram a casa em uma floresta totalmente florida e cheia de pássaros de várias cores.

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O Príncipe galopou novamente pelas colinas até a casa da Camponesa. Ele a convidou para um passeio no Palácio. Lá chegando, pediu ao Rei e à Rainha permissão para que se casasse com a Camponesa. Deram-lhe a permissão e, no dia seguinte, o filho da Rainha foi coroado Príncipe e a Camponesa coroada Princesa. Príncipe e Princesa saíram para povoar outras terras e formar um Principado. O Príncipe, certo dia, galopou até a casa do Camponês e o convidou para uma festa no Palácio. Era o aniversário da Rainha e, neste mesmo dia e neste mesmo mês, se comemora o dia da Primavera. Um dos Robôs saiu para buscar água e, no caminho, o Balde Orgulhoso continuava a humilhar o Balde Furado. O Robô quando chegou

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com os Baldes, deixou o Furado sobre a soleira da janela onde sempre servia água para os pássaros. O outro Robô, programado para que trabalhasse no plantio, trouxe uma muda de uma árvore rara e a plantou no Balde Orgulhoso e o deixou no fundo do terreno. Após dias, abriu uma vala profunda e enterrou o Balde Orgulhoso. Anos se passaram e o Balde Orgulhoso

foi

devorado

totalmente

pela

ferrugem e sumiu na terra. Este foi o destino do Balde Orgulhoso.

Assinatura: Eribeiro Dia nove De Outubro De 2012

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II.

-

Poesias Diversas e & Um caso de familia

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No alto da colina Uma flor eu encontrei Ao retornar para a casa Em um vaso eu replantei Mas quando eu vim para regar Lá meu vaso não mais o encontrei Mas com certeza em algum lugar Eu o encontrarei

O meu vaso é verde, amarelo e azul, Da cor do céu que reluz. É morada eterna de Deus E de nosso amado senhor Jesus Somente ele nos conduz Junto com todos na Luz.

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Olhos verdes cor de esperança Eu gosto de você Desde quando nós ainda éramos crianças Até hoje não perdi a esperança De um dia pôr em seu dedo uma aliança

Os trens correm pela ferrovia até a estação Quero um dia ser cunhado de seu irmão De todo coração

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Os aviões voam Suspensos no ar Quero um dia que você Venha ser o meu par

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Flor do campo Flor da terra Flor que enfeita Flor que me alegra Nos seus tempos de crianรงa Brincavam de pula-corda ou de amarelinha Mas nunca estรก sozinha Pois quero uma delas Para um dia ser minha

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Rosas lindas Rosas belas Rosas formadas de pétalas Brancas e amarelas Que enfeitam a minha casa E as suas janelas Com as cores belas Que são somente delas

Rosa linda Rosa bela Botão branco De pétalas amarelas

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PORÉM... CONTO, CAUSOS E POESIA


Olhos verdes cor de esperança Eu gosto de você Desde quando nós ainda éramos crianças

Olhos verdes Cor de Esmeralda Vestida de noiva De véu e grinalda

Garota loira Cabelos cor de mel Muitos anos não vive mais aqui Mais sim lá no céu A minha Princesa Dos cabelos cor de mel.

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Nós tivemos um cavalo que atendia pelo nome de Baio. Certo dia, Baio ficou muito doente e febril. Então meu pai o laçou e o levou para o seleiro onde, à tarde, o animal morreu. Ao chegar a noite, ouviram um relincho que vinha do seleiro, um som como se estivesse batendo

o

casco

pedindo

comida.

Porém

pensaram: quem está no seleiro batendo o casco e relinchando se o Baio morreu nesta tarde? Quem está relinchando no seleiro?

Lua minguante, Lua nova, Lua cheia, Lua crescente Ajuda a plantação E alegra muita gente

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Sobre a APAE

A educação é também onde decidimos se amamos nossas crianças o

bastante para não expulsá-las de nosso mundo e abandoná-las a seus

próprios recursos e tampouco, arrancar de suas mãos a oportunidade de

empreender alguma coisa nova e imprevista para nós, preparando-as, em

vez disso e com antecedência, para a tarefa de renovar um mundo comum. Hannah Arendt, filósofa política alemã

Presente em Sorocaba desde 1967, a APAE é uma associação civil, de caráter assistencial,

cultural, de saúde, de estudo e pesquisa, desportivo e outros. Está congregada a uma Federação que

promove medidas de âmbito nacional em prol da pessoa com deficiência, defendendo seus direitos, apoiando as famílias e articulando-se com a comunidade.

A Escola atende 260 pessoas entre crianças, adolescentes e adultas com deficiência intelectual e

outras patologias associadas nos Programas de Estimulação e Habilitação: que oferece atendimento

terapêutico individualizado com profissionais da saúde ( de recém nascido a 6 anos);Ensino Fundamental ( de 6 a 14 anos e 11 meses) Programa Sócio educacional ( de 15 a 30 anos) Educação

Especial para o Trabalho ( de15 a 30 anos); Programa de inclusão no Mercado de Trabalho ( para maiores de 16 anos) e Programa Sócio Ocupacional ( para maiores de 30 anos.)

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