Relatório de Estágio

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Polo de Alvorada

RELATÓRIO DO ESTÁGIO

Ana Cláudia Silveira Del Monego

Denise Comerlato Supervisor (a) do Estágio

Eliane Gueno Tutor (a) do Estágio

Julho/2010 1


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 3 a) QUEM SOU ...................................................................................................... 3 b) A ESCOLA ........................................................................................................ 4 c) A TURMA .......................................................................................................... 5 2. SÍNTESE DO PROJETO DE ESTÁGIO ..................................................................................... 7 3. RELATO REFLEXIVO DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS ......................................................... 11 a) Descrição comentada das aulas ..................................................................... 11 b) Relato-síntese dos projetos/atividades/temáticas ........................................... 13 4. PROPOSTA DE INVESTIGAÇÃO PARA O TCC..................................................................... 21 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS E SONHOS PARA O FUTURO .................................................... 22 6.REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 23 7. ANEXOS E APÊNDICES ....................................................................................................... 24 5ª Semana de 10/05 à 14/05/2010...................................................................... 27 6ª Semana de 24/05 à 28/05/2010...................................................................... 30 7ª Semana de 24/05 à 28/05/2010...................................................................... 33 8ª Semana de 31/05 à 04/06/2010...................................................................... 38 9ª Semana de 7/06 à 11/06/2010........................................................................ 41

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1. INTRODUÇÃO a) QUEM SOU Sou a Professora Ana Cláudia Silveira Del Monego, cursei Magistério no Instituto São Francisco e concluí o estágio em 1989, na Escola Cruzeiro do Sul. Iniciei o curso de graduação em Letras na Ulbra 9universidade Luterana do Brasil) , tendo feito até o 5º semestre, onde fiz o cancelamento do mesmo para fequentar as Vanguardas Pedagógicas do Geempa, de 1991 a 1993. Minha Experiência Profissional teve início em 1988, junto à Prefeitura Municipal de Alvorada ( Emef Padre Léo Seidel), e no Estado do Rio Grande do Sul, onde tinha um contrato do Pradem, na Escola Estadual Campos Verdes. Fui efetivada através de concurso público na Prefeitura de Alvorada em 1989 e lotada na Emef. Idalina de Freitas Lima, onde permaneci até 1991, logo sendo transferida para a Emef Hilário Feijó. Em 1994 fui lotada na Emef Gentil Machado de Godóy, da qual me afastei em 1996. De 1996 à 1998 estive afastada do Município de Alvorada. Em 1999, retornei à Emef Capitão Gentil Machado de Godóy, como vicediretora do noturno, para implantação do SEJA ( Serviço de Educação de Jovens e Adultos). Através de concurso público ingressei como efetiva estadual a partir de 1992, no Colégio Estadual Érico Veríssimo, onde fiquei até o ano de 2002. De 2001 até 2002, fui coordenadora pedagógica na implantação da EJA no colégio Érico Veríssimo. De 2002 até 2004, estive cedida para o setor de Estágio Probatório e Processos Administrativos na PMA (junto à Secretaria Municipal de Administração), retornando às escolas em 2005, com a troca da administração municipal. Sendo assim, no estado fui lotada na EEEM Nísia Floresta, em Viamão. Atualmente trabalho 60 horas semanais, sendo 40 horas no município de Alvorada (Emef. Cap. Gentil Machado de Godoy), com o Laboratório de Informática no turno da tarde, onde atendo todas as turmas da escola dentro do projeto pedagógico chamado de Disciplinas Especializadas, que contam em torno de 300 3


alunos de CAT e mais 180 alunos das turmas de 5ª série. À noite trabalho na Biblioteca da mesma escola, e atendo os alunos deste turno, que são em torno de 250. Conto também com 20 horas no Estado (EEEM Nísia Floresta- Viamão) atuando com uma turma de 3º ano, no turno da manhã, com o número de 40 alunos em sala de aula.

b) A ESCOLA Desde 1999, trabalho na Emef, Capitão Gentil Machado de Godoy, localizada na Rua Georgete de Godóy, 418, Vila Tijuca/Alvorada, tendo seu funcionamento nos turnos de Manhã, Tarde e Noite. A Escola conta com 15 salas de aula e com setores, como: Setores: AI (22 computadores e internet), Biblioteca (2 computadores), Sala de Audiovisual (1 televisão 29", 1 home teather, 1

DVD),

Refeitório, Secretaria,

Laboratório

de Aprendizagem, Sala dos

Professores, Cozinha, Pátio, Quadra de Esportes, Depósito, Rádio Escola banheiros para os alunos e para professores, atualmente está sendo implantado do Jornal do Gentil e o Projeto Mais Educação ( MEC/ Governo Federal). A história da Escola começa em 1957, sendo que antes era chamado de Grupo Escolar Emilio Meyer. Nos primeiros anos a escola se localizava no Passo da Figueira, sendo transferida para seu atual endereço, na Rua Georgete de Godoy, Tijuca, em outubro de 1974. A primeira diretora do Grupo Escolar Capitão Gentil Machado de Godoy foi Maria de Lourdes Cavalheiro (1972). O novo prédio inaugurado em 1974 chegou a abrigar a 5ª série, porém, no ano seguinte a escola passou a atender alunos de 1ª a 4ª séries. Em 1990 a escola ganhou um novo pavilhão o que possibilitou o retorno da 5ª série, já que antes não havia espaço físico para mais turmas. Por fim, em 1991 o Conselho Estadual de Educação, ligado a Secretaria Estadual da Educação, autorizou a implantação das demais séries do ensino fundamental (6ª, 7ª e 8ª). No ano de 1999, a escola passou a oferecer o SEJA (antigo supletivo) à noite. Em 2000, a escola recebeu, através do Orçamento Participativo, um novo prédio, onde funciona hoje: 2 salas 4


de aula, uma sala multimeios, um ambiente informatizado, refeitório, cozinha e banheiros. Além disso, em 2004 a escola ganhou sua quadra de esportes e, em 2005, o pátio interno recebeu calçamento, gerando mais conforto para alunos, funcionários e professores. Atualmente a escola atende aproximadamente 1.250 alunos, em três turnos, nas seguintes modalidades: séries iniciais (1ª a 4ª série), séries finais (5ª a 8ª série) e Educação de Jovens e Adultos – SEJA (T1 à T6). Tendo como princípio o “Fazendo educação com amor e competência”, a escola desenvolve diversos projetos como: oficinas de teatro, música, xadrez, horta escolar, informática, Tribos na Trilha da Cidadania, Feira do Livro, Feira das Ciências, Feira da Cultura Latinoamericana, Projeto Nação Periférica, Projeto Adolescer, Projeto De olhos abertos e Semana da Consciência Negra, com o objetivo de potencializar a ação pedagógica. A escola hoje é administrada por uma equipe diretiva compreendendo diretora e cinco vices-diretores: 

Diretora Carla Rossana Mazarem da Silva Pacheco

Vices-diretores Rita de Cassia Medeiros, Iara Garcia Silvano, Simone Steimtz Mendicelli, Pedro Inácio Knob e Andréa Roseli Dornemann. Atualmente possui 57 professores ao todo, 9 funcionários e 3 secretárias.

c) A TURMA A totalidade 3, na EMEF Gentil Machado de Godóy, está sob a titularidade da professora Sinara, formada em pedagogia. A turma conta com 33 alunos (13 mulheres e 20 homens) a faixa etária vai de 15 a 60 anos de idade. Os turma conta tanto com alunos trabalhadores como 5


com alunos jovens que não trabalham Os alunos que trabalham retornaram a escola justamente por melhores condições nas suas funções, pois muitas empresas exigem uma escolaridade maior de seus funcionários, outros retornaram a escola por serem pessoas que procuram amigos fora de suas casas, como é o caso de alguns mais idosos, e também há os que foram transferidos do dia para o turno da noite por estarem “fora da idade escolar para frequentar o dia”. A turma de um modo geral é participativa, sempre apresenta coerências nos diálogos e com opiniões formadas. O nível sócio-econômico da turma é em geral baixo em relação aos alunos do dia, mas na sua maioria são trabalhadores que tem o mínimo para sua sobrevivência e de sua família. Todos os alunos são moradores da região onde a escola está localizada e muitos dos que trabalham vêm direto para a escola, sem irem em casa. Todos os alunos chegam à escola no horário da janta, pois às vezes ficam horas no ônibus, vindo do trabalho. Os alunos da T3 já estão conosco há bastante tempo, na sua maioria, e existem alguns casos que na realidade não fazem questão de avançar de totalidade, sendo esta turma, muitas vezes sua única forma de lazer. Um desses casos, posso colocar, é o da Dona Maria José, uma idosa que já nos acompanha a pelo menos 5 anos nessa Totalidade. Seu sonho é poder fazer a carteira de motorista. Também há o caso do Vilmar, que já foi nosso aluno por diversas vezes e apresenta sérios problemas neorológicos e emocionais. Esteve algum tempo afastado, mas sempre retorna, pois não aguenta a solidão. Esta turma tem casos de alunos que enfrentam problemas com a justiça, mas sentem-se novamente incluídos ao frequentarem a escola. Enfim, esta turma é muito especial para todos nós aqui na escola, não só por serem alunos trabalhadores, mas por ter nela alunos que há muito tempo nos acompanham e não conseguem desvencilhar de nós.

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2. SÍNTESE DO PROJETO DE ESTÁGIO O projeto pedagógico foi desenvolvido na Escola Municipal Ensino Fundamental Capitão Gentil Machado de Godóy com atendimento dos alunos da Totalidade 3, na modalidade EJA. No município designa-se SEJA, Serviço de Educação de Jovens e Adultos, no Município de Alvorada. Optei pela criação do Blog Colaborativo, onde os alunos fariam o registro de suas memórias, suas preocupações, expectativas, e suas impressões sobre o mundo que experimentando, ao retornarem à escola e suas conclusões, de forma colaborativa. Foi uma oportunidade em que pensei que poderiam se fazer apropriar do uso dessa ferramenta com a finalidade de construir e expandir seus pensamentos e memórias, de forma a terem novas experiências e, que ali, se vissem como agentes de seu próprio conhecimento e aprendizagens. Minha maior preocupação era que os alunos fossem capazes de traçarem seus perfis, memórias, sonhos, desejos e anseios dentro do ambiente em que estavam inseridos. Os registros deveriam ser feitos através de fotos digitais, depoimentos e seus textos registrados no blog, em nível de compartilhamento com outros alunos e colegas. Com isso, procurava desenvolver outros conhecimentos dentro da escrita, produção textual, coesão e coerência, interpretação das informações trazidas através dos conhecimentos prévios dos alunos, bem como promover a autonomia e identidade através das próprias produções coletivas e estabelecer relações interdisciplinares com a troca de experiência e trabalhos em grupo. Pensei, neste trabalho diferenciado, por oportunizar ao nosso aluno a construção de seu conhecimento, olhando para o passado, agindo no presente e planejando o futuro. Meu papel foi o de problematizador do senso comum dos alunos

em

relação

às

questões

propostas,

onde

eles,

de

forma colaborativa, foram autores e construtores de suas histórias, tanto no blog quanto fora dele . 7


Os princípios que me orientaram dentro da proposta foram às leituras realizadas

durante

o

curso.

Com

as

disciplinas

que

me

foram

proporcionadas, selecionei e me identifiquei com algumas, bem como com alguns autores para a produção desse projeto, no qual culminou a minha prática pedagógica. Busco aqui, principal atenção ao planejamento, aos projetos de trabalho, temas geradores, avaliação e reflexão da prática pedagógica, sempre procurando refletir de acordo com os ensinamentos de Emília Ferreiro, Paulo Freire, Piaget, Gadotti, bibliografias tiradas, principalmente, da interdisciplina concluída no semestre anterior, Educação de Jovens e Adultos. Procurei aproveitar o máximo as leituras feitas durante o curso, nas inerdisciplinas apresentadas, tirando delas o máximo de ensinamentos possíveis. Procurei selecionar a investigação, o conhecimento prévio, a curiosidade, a experiência de vida como os principais elementos constitutivos, pois acho que dessa forma, consegui chegar mais facilmente ao que me propus durante esse período, que foi oportunizar ao meu aluno a construção de seu conhecimento de forma prática, levando em consideração toda a sua história de vida, agindo de forma consciente no presente e capaz de planejar seu futuro. Meu

projeto

teve

por

finalidade

que

os

alunos

discutissem

e

entendessem os processos que os levaram a abandonar a escola no período regular de estudos e os motivos que os fizeram retornar para ela depois de tanto tempo fora. Assim discutiram questões referentes à: identidade, tomada de consciência, de decisões, auto - estima inclusão, resgate à cidadania, e, principalmente, que se aceitem e se entendam como sujeitos capazes de mudar suas histórias de vida e seus destinos. Meus principais objetivos como estagiária foram:

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 Ligar de forma concreta o que aprendi durante o curso com a prática pedagógica;  Interagir de forma construtiva com os colegas a ponto de nos auxiliarmos mutuamente;  Aplicar o uso das tecnologias no meu estágio;  Entender como funciona o pensamento dos alunos que retornaram a escola e o que buscam nela.  Refletir sobre minha prática pedagógica, bem como revê-la quando for preciso.  Trabalhar de forma integrada com os outros colegas em nível de troca de experiências.  Ser capaz de aceitar e entender minhas limitações.  Ter humildade suficiente para mudar minha prática quando for necessário. Os objetivos gerais que tinha por alcançar eram: 

Apontar com os alunos, as marcas trazidas de suas experiências fora do ambiente escolar;

Estimular o raciocínio através de ações individuais e coletivas;

Desenvolver atenção, concentração e observação;

Registrar informações;

Desenvolver a autonomia na produção textual;

Possibilitar uma aprendizagem significativa;

Sensibilizar, conscientizar e criar ações onde o aluno resgate sua identidade, autonomia e identidade dentro das produções;

Valorizar atitudes dentro e fora da escola, bem como seu conhecimento prévio;

Expressar-se através de suas memórias, lembranças e sentimentos;

Estimular e valorizar o trabalho em grupo;

Valorizar e incentivar o trabalho em grupo. 9


E meus objetivos específicos era com que meus alunos fossem capazes de: 

Entender o processo de desenvolvimento de sua memória;

Ler e interpretar textos;

Produzir textos com coerência e coesão;

Apontar marcas trazidas de suas experiências fora do ambiente escolar;

Estimular o raciocínio através de ações individuais e coletivas;

Desenvolver atenção, concentração e observação;

Registrar informações;

Desenvolver a autonomia na produção textual;

Possibilitar uma aprendizagem significativa;

Sensibilizar, conscientizar e criar ações onde o aluno resgate

sua

identidade, autonomia e identidade dentro das produções; 

Valorizar atitudes dentro e fora da escola, bem como seu conhecimento prévio;

Expressar-se através de suas memórias, lembranças e sentimentos;

Resolver cálculos que envolvam as quatro operações;

Resolver problemas matemáticos que envolvam as quatro operações;

Produzir histórias matemáticas;

Confeccionar mapas;

Fazer levantamentos de dados;

Escrever ortograficamente conforme a língua materna empregando-a em palavras, frases e textos;

Expressar-se través de desenho e criação de mapas;

Interagir com o grande grupo;

Trabalhar individualmente;

Escrever de forma clara para organização de pensamentos;

Ser autor de suas histórias;

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A avaliação se deu através da observação diária pela participação e envolvimento do aluno durante as aulas, nas reflexões, conversas e discussões que os alunos farão sobre as suas participações em seus grupos específicos, semanalmente, levando em conta as atividades desenvolvidas; Nos registros dos trabalhos realizados pelos alunos, através de produção escrita, fotos e outros recursos.

3. RELATO REFLEXIVO DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS a) Descrição comentada das aulas Fazendo uma análise geral de todo o tempo em que estive na sala de aula, pode-se dizer que parte de meus objetivos como estagiária, professora e como pessoa, eu consegui alcançar. Alguns conflitos surgiram durante esse período, tanto que todos eles foram relatados à minha orientadora, professora Denise e também aos meus alunos. Muitas vezes precisamos parar para reformularmos nossas aulas. O principal foi que pudemos rever muitas das nossas atitudes e atividades, bem como a forma de trabalho das mesmas. Até certo momento de meu estágio, não achei que fosse necessário parar para refazer as leituras que me foram apresentadas durante todo o meu tempo de estudante, isso foi o grande empecilho durante minhas primeiras semanas de estágio. Na segunda semana de reflexão, percebi alguma resistência por parte de meus alunos mais velhos, pensando nisso e refazendo minhas leituras, me reportei ao texto lido, Jovens e adultos como sujeitos de conhecimento e aprendizagem de Marta Kohl de Oliveira: …o aluno do EJA é aquele que voltou à escola, e pode ter passado bem pouco tempo dentro dela anteriormente, por isso, é o sujeito que apresenta maior dificuldade em realizar as tarefas propostas pela professora.

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Na mesma reflexão falo:

Se cada período da vida é suscetível de se identificar com uma série de papéis, atividades e relações não cabem dúvida de que a entrada no mundo do trabalho a formação de uma unidade familiar própria são identificadas como papéis, atividades e relações da maior importância a partir do final da adolescência. [A forma como esses dois fenômenos ocorrem] e as expectativas sociais em torno deles são claramente dependentes em relação a fatores históricos, culturais e sociais. (PALACIOS, 1995, p. 315)

Pensei muito durante esse período que o meu grande problema era a questão de aceitação entre os jovens e os adultos misturados na sala de aula, nas diferenças de visões que os mesmos apresentavam, nas particularidades e dificuldades de cada um. E, toda a minha mudança de proposta de trabalho se deveu as leituras da bibliografia complementar. Dóris Maria Luzzardi Fiss, em Encontros e Falas, diz especificamente sobre a aprendizagem dos mais velhos: "Com muita dificuldade, principalmente o idoso, mas com uma aprendizagem diferenciada, buscando sua realidade e respeitando seus limites, ele aprende. Depende de cada aluno..."

Pensando nessa fala, foi tomada a decisão de rever minhas propostas, principalmente no que diz respeito aos adolescentes, pois se a ela serve para os mais idosos, certamente também serve para repensar a aprendizagem deste público mais jovem. Enfim, todo o meu processo de estágio foi baseado nas leituras refeitas durante a interisciplina de Educação de Jovens e Adultos, onde tive o apaixonado Professor Helvécio como meu mestre. Pude tomar consciência do quanto estas reflexões foram importantes para que eu pudesse ver e rever minha prática dentro e fora da sala de aula, tanto como educadora, quanto como ser humano, capaz de 12


rever e aceitar minhas limitações e, principalmente, ter humildade suficiente de aceitar esta mudança como forma de aprendizagem. Confesso que, no fundo, as leituras feitas anteriormente foram muito superficiais. No entanto, a partir do momento em que percebi minha própria superficialidade em relação ao estágio, precisei retomá-las e aprofundar-me nos conceitos estabelecidos nelas. Assim, foi no caso dos textos lidos com outros olhos, ou seja, olhos de pesquisadora dos autores citados a seguir: 

AGUIAR, Helvécio - Elizabeth Milititsky - Educacao de Adultos & Educacao Profissional

FISS, Dóris Maria Luzzard - Educação de Adultos: ainda um desafio

FISS, Dóris Maria Luzzardi - EJA, Paulo Freire e Pedagogia do Oprimido

FISS, Dóris Maria Luzzardi - EJA, Educação Popular e tema gerador

FISS, Dóris Maria Luzzardi - EJA: alfabetização, letramento e autoria

FREIRE, Paulo - A importância do ato de ler

COMERLATO, Denise Maria - Escrita, representações gráficas e cognição

VIERO, Anézia- EJA e Educação Popular

b) Relato-síntese dos projetos/atividades/temáticas Em relação ao projeto de estágio, relatos e temáticas desenvolvidas, propriamente dito, faço aqui reflexões bem problemáticas, para mim, em relação aos temas abordados, pois, muitas vezes precisei rever ou deixar para depois algumas das atividades propostas e rever, com meus alunos, o que poderíamos mudar e o que poderia continuar em relação ao planejamento. Estas mudanças estão bem expostas nas minhas reflexões e próprias mudanças de comportamento no decorrer desse período, como tento sintetizar na reflexão feita na 5ª semana. Naquele momento trabalhamos a música Vida de Operário ( Banda pato Fu) e a 13


Tela de Tarsila do Amaral intitulada Operários, sobre os quais os alunos fazem uma reflexão do operário como gerador de riquezas para o país. Fizemos uma boa reflexão e análise da relação de escravidão do povo brasileiro, desde o seu descobrimento até os dias de hoje, não só na questão do trabalho escravo, mas também em relação aos grupos de pessoas que ainda são escravizadas enquanto trabalhadoras. Nessa análise da 5ª semana faço uma referência à bibliografia complementar, o artigo escrito por Dóris Maria Luzzardi Fiss, onde a autora faz referência às três idéias pegas por empréstimo de Moll (id. ibi.,p. 14) sobre o que é necessário para a construção das práticas pedagógicas:

A consciência de que estes homens e mulheres não são tábulas rasas, mas portam um sem-número de experiências sociais, culturais, afetivas que lhes permitiram acúmulo de saberes em diferentes campos epistemológicos; sua convicção de que esta condição de analfabeto não implica nenhum tipo de patologia, déficit ou deficiência, e de que o analfabetismo não é uma expressão individual de fracasso, mas expressão de uma forma de exclusão socialmente excluída; a compreensão de que a leitura da palavra escrita, como ensina Paulo Freire, é impossível desencarnada ou descontextualizada da leitura do mundo, ou seja, as palavras estão cravejadas de mundo e de significações produzidas no universo individual e social.

Já dentro dessa temática, aproveitamos para conversar e fazer a interligação do que havíamos estudado, tendo como base o quadro de Tarsila, bem como a questão de gênero, hoje, ainda tão diferenciado profissionalmente. Levando ainda, em consideração o que foi colocado, anteriormente, por Dóris, quando toma para si palavras de Freire: Como declara Freire (1997a, p.47), uma das principais tarefas do sujeito reside em assumir-se como ser social e histórico, (...) pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque é capaz de amar. Assumir-se como sujeito porque é capaz de reconhecer-se como objeto. 14


Em minha 6ª semana de estágio, resolvi mudar a forma de apresentação do meu planejamento, pois me pareceu que ficaria mais claro, tanto para mim quanto para a supervisora. Esta foi a emana de visita da Supervisora Denise, e no dia da visita, havia planejado fazer uma atividade com verbos, quando nos dirigimos à biblioteca da escola. A atividade transcorreu muito bem, inclusive registrada a conclusão através de fotos, e que foram postadas em nosso blog colaborativo http://gentiltotalidade3.blogspot.com. Com referência aos conceitos trabalhados durante esta semana, pareceu-me que todos foram de bastante interesse dos alunos, principalmente pela maneira eufórica que demonstraram ao poderem realizá-los. Também postado nessa mesma semana de reflexão. Pareceu-me uma semana muito mais do que especial, pois além de todo o processo de aprendizagem de meus alunos e meu também, pude fazer o avanço para a totalidade quatro de meus alunos Edson e Ellen . Como diria Freire, fui à verdadeira professora cumpridora de meus deveres, em todos os sentidos: desafiadora, questionadora, instigadora, investigadora e mediadora, capaz de levar meus alunos a procurarem respostas no seu cotidiano, situações problemáticas, desafiadoras, capazes de fazê-los pensar como agentes de seu próprio cotidiano e de sua própria vida....Enfim, de serem

agentes do seu cotidiano, capazes de

pensar e agir de forma a serem considerados cidadãos ativos na sociedade. Na 7ª semana, passamos a atividades um pouco mais poéticas, quando deixamos nossos sentimentos fluírem de maneira mais solta e sonhadora, conforme

postagem

feita

no

blog,

na

página

http://gentiltotalidade3.blogspot.com/2010/05/poema-em-fatias-atividade-realizadaem.html. Pudemos trabalhar também os haicais, que foram criados por eles, bem como poemas em fatias. Busquei sempre estar com meus planejamentos de acordo com a realidade e cotidiano da minha turma. Essa foi uma das semanas que mais me fez ver a mudança acontecendo dentro de mim, como educadora, pois trabalhamos textos ainda relacionados ao trabalhador. Durante a reflexão desta semana fiz referências a Dóris Fiss, quando cita Marx ( 1982, p.50):

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O trabalho como criador de valores de uso, como trabalho útil, é indispensável à existência do homem - quaisquer que sejam as formas de sociedade - é necessidade natural e eterna de efetivar o intercâmbio material entre o homem e a natureza, e, portanto, de manter a vida humana.

Assim, como o trecho comentado, anteriormente, por Anézia Viero, na reflexão que faz sobre a Educação Popular, dentro da Modalidade de Jovens e Adultos, onde, em determinado ponto coloca que:

“a educação popular é a ampliação de oportunidade, e coloca em pauta o compromisso oficial com aqueles que não tiveram acesso a escolarização quando crianças, mas que essa deficiência pode e deve ser sanada depois ao retornarem para esta modalidade de ensino".

Aproveito também para citar da mesma autora: “Minhas práticas partem de um ponto de vista de profundo respeito aos saberes que os trabalhadores trazem de suas práticas cotidianas.” Na 8ª semana, pude perceber, eu já estava com uma visão completamente diferente da que tinha ao iniciar meu estágio. Penso que as leituras feitas com maior consideração e com outros olhos me abriram possibilidades de mudar minha postura e visão, tanto profissional quanto pessoal, visivelmente. Tanto que me refiro a isso, a cegueira, com a leitura feita na bibliografia complementar, escrita por Denise Comerlato. Ali, percebi que fazia parte do mesmo universo de “cegos”, citados por ela, baseados na Obra de José Saramago, tão bem escrita e interpretada por ela. Por esse motivo fui atrás do filme “Ensaio da Cegueira”, de tão curiosa que fiquei. Infelizmente, esqueci-me de citar isso durante minha oitava 16


reflexão. No entanto, gostaria de deixar registrado o que foi citado, em minhas reflexões, da bibliografia de Denise: "Entende-se, aqui, que o conhecimento é construção de modelos explicativos e lógicos. Resultado da busca de se aproximar do mundo objetivo, que nunca é totalmente apreensível. Elaborado a partir de uma seleção do “real”, de uma percepção ou olhar guiado por concepções teóricas, visões de mundo, valores e pelas estruturas da inteligência, o conhecimento e suas representações (concluise) não são neutros. Faz parte dos seus resultados tanto o sujeito como o objeto e a relação estabelecida entre eles, o que depende enormemente do tipo de inserção social e cultural dos sujeitos no mundo. O conhecimento escolar trabalha, em sua maior parte, com conceitos e representações... E o que isso tem a ver com a Educação de Jovens e Adultos? Esboços, rabiscos, rasuras, grafites, sinais, índices, ícones, imagens gráficas, desenhos, números, letras, gráficos, esquemas, mapas, etc., representações gráficas por meio das quais também olhamos e somos olhados, compreendemos e constituímos o mundo e a nós mesmos. Como pequenas coisas ocorridas no cotidiano podem fazer com que se pare para pensar em algo que parece nada ter a ver com nossas vidas. Apesar de sempre parar para fazer meus planejamentos, jamais imaginei que meus alunos pudessem passar o dia pensando no que deveriam trazer para a aula naquele dia, nem na importância que seriam capazes de dar a uma atividade que para mim parecia tão fácil. Como fui ingênua. Não sou mais! Hoje, sou capaz de ver e rever minha postura enquanto estudante e profissional, graças a estes seres maravilhosos que tanto me ensinaram durante este tempo. A partir da 9ª semana, começamos a nos envolver com a Copa da África. Meu Deus, algo que aconteceria no outro lado do Atlântico.

Precisamos nos

envolver, realmente, com o que acontece por lá: como são as pessoas, a sua cultura, os seus costumes, a sua língua, o seu trabalho, bem como esse evento 17


mobilizou um país tão exótico e, ao mesmo tempo, tão parecido com o nosso. As pesquisas foram intensas sobre isso. Fomos para a internet, biblioteca, jornais, revistas, e outros meios de telecomunicação. Junto a isso, veio tudo o que precisávamos saber a respeito do que envolvia nosso país nesse evento e nos anteriores. Foram grandes coisas descobertas. Muita discussão surgiu em torno das peculiaridades que fomos achando, do que fomos descobrindo dentro de nossa própria história. Aproveito para colocar aqui algo que coloquei na minha própria reflexão: Tendo essa experiência como uma das mais significantes nesse período de estágio, percebi aqui algo que li no texto de Dóris Fiss, onde faz a referência a seguir a produção de novos conhecimentos que aumentem a consciência e a capacidade de iniciativa transformadora dos grupos com que trabalhamos. Por isso mesmo, o estudo da realidade vivida pelo grupo e de sua percepção dessa mesma realidade constituem o ponto de partida e a matéria-prima do processo educativo (OLIVEIRA & OLIVEIRA, 1984, p. 19).

Essa reflexão deixou bem acentuada a diferença de visão de mundo dos mais jovens e dos mais velhos, quando faço referência à discussão entre a tia Maria e outros alunos mais novos: Na aula em que fizemos o estudo do Hino Nacional e o cantamos, achei algo muito peculiar e pudemos perceber a importância que cada grupo da turma dá ao sentimento de patriotismo, digo isto porque a Tia Maria, o Vilmar, a Aurea, o seu Cristovão e os outros alunos mais velhos se emocionaram ao cantar, pois lembraram que quando eram crianças o hino era cantado todos os dias, e fizeram também referência ao período da ditadura no país, onde o Hino significava o sentimento de liberdade e onde clamavam por isso. Isso foi percebido principalmente na Tia Maria, na Aurea e também no seu Cristovão. Já os alunos mais jovens que estão na turma nem estavam dando bola para essa parte da aula, até ouvirem a histórias contadas pelos mais velhos. A Tia Maria disse: " Se não fosse por nós que passamos a ditadura, vocês hoje não teriam toda essa liberdade que tem, vocês deveriam ter noção do que é o nosso hino. Fechem a boca e respeitem!"

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Nessa mesma reflexão falo sobre a questão das limitações do grupo e uso as seguintes palavras:

Nessa parte de minha reflexão vou usar um outro trecho do mesmo texto citado acima, onde coloca o seguinte: " Fazendo coro a Freire, Ernani Maria Fiori, no Prefácio ao livro Pedagogia do Oprimido, ressalta a importância de o sujeito descobrir-se e conquistar-se como “sujeito de sua própria destinação histórica” (1993, p. 9), aprendendo a “escrever a sua vida, como autor e como testemunha de sua história, isto é, biografar-se, existenciar-se, historicizar-se” (id. ibid., p. 10).

Ernani define a pedagogia pensada por Freire como um “método de conscientização”, ou seja, “um método pedagógico que procura dar ao homem a oportunidade de redescobrir-se através da retomada reflexiva do próprio processo em que vai ele se descobrindo, manifestando e configurando” (id. ibid., p. 15). Nessa semana, começamos a trabalhar com os Jogos Lego, onde postei algumas fotos de meus alunos trabalhando, bem como postei vídeo de minha turma no Youtube, auxiliados pela professora Sinara, titular da turma, para que eu pudesse filmar a atividade: http://www.youtube.com/watch?v=M6-sFoAMwk. Fiquei extremamente vaidosa e lisonjeada com o comentário que recebi da professora Denise, que tão bem me orientou durante este período. Foi meu alicerce durante esse processo e, muito contribuiu com eu crescimento profissional e pessoal. Dentre tantos dos que foram feitos durante meu estágio, gostaria de salientar, este, em especial:

“Ana Cláudia, que maravilha de trabalho!! Gostei da tia Maria! Há tantas coisas para comentar... mas fico com o geral, trabalho significativo e necessário. As citações do Fiore são pérolas que coroam o teu trabalho, realizado com muito empenho, carinho e sensibilidade de escuta... parabéns mais uma vez, abs, Denise”

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Na 10ª semana, deixo claras a interlocução e integração com os meus colegas de escola e, do que muito pudemos trocar durante esse período, tentando demonstrar que, precisamos ter humildade suficiente para estarmos sempre abertos a aprendizagens, tanto com colegas, quanto com os alunos. Freire diz:

„"Assumir a ingenuidade dos educandos demanda de nós a humildade necessária para assumir também a sua criticidade, superando, com ela, a nossa ingenuidade também."

A professora Denise comenta: “Tenho acompanhado o teu trabalho e vejo o quanto teu trabalho tem sido significativo para teus estudantes. Certamente Freire em outra época e lugar, teve outras experiências que continuam a nos servir como reflexões norteadoras, mas que devem ser atualizadas, num mundo cada vez mais rápido, com a população com acesso a muitas informações, no meio urbano... Teu relato me lembra o livro Pedagogia da Autonomia de Freire onde revela que o certo é nunca estar muito certo de suas certezas. Eu concordo com ele plenamente. Desse modo, o fato de te questionares permanentemente, questionares as tuas propostas pedagógicas, o fato de questionar é que faz esse caminho estar certo. No mais, não existe uma prática ideal ou no vazio... e no mundo, como seres humanos, somos sempre processo buscando ser o melhor que podemos. Foi um imenso prazer te acompanhar nesta trajetória de estágio, um privilégio te ter como orientanda! Um grande abraço, Denise”

Na 11ª semana, faço especial reflexão sobre a Feira das Ciências e de minha satisfação em ter tido a oportunidade de ter todas aquelas pessoas especiais como meus alunos, e a emoção em ter podido aprender, com eles, imensamente.

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4. PROPOSTA DE INVESTIGAÇÃO PARA O TCC Para poder dar continuidade ao meu relatório, é necessário que neste item faça a seleção do que me pareceu mais significativo durante meu estágio, para que possa desenvolver meu TCC. No entanto, isso me parece tão difícil, pois todos os momentos dessa experiência foram extremamente importantes. Mesmo assim, vou procurar destacar algumas questões que me pareceram mais significativas e que podem ser trabalhadas em meu projeto:  A evasão escolar;  A identidade do aluno da EJA;  Políticas educacionais e trajetória da EJA;  Qualificação e mudança na prática pedagógica na busca do processo ensino/aprendizagem;  O professor da EJA (perfil)

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS E SONHOS PARA O FUTURO Minhas considerações finais serão feitas com uma mensagem, pois nela, vi a presença de todos os questionamentos, reflexões, propósitos, certezas e incertezas que compõem e que compuseram este momento especial de meu estágio e, principalmente, a sintetização dos meus sonhos: MUITO ALÉM DE UMA PORTA Se você encontrar uma porta à sua frente, poderá abri-la ou não. Se você abrir a porta, poderá ou não entrar em uma nova sala. Para entrar, você vai ter que vencer a dúvida, o titubeio ou o medo. Se você venceu, você deu um grande passo: nesta sala vive-se. Mas também tem um preço: são inúmeras as outras portas que você descobre. O grande segredo é saber quando e qual porta deve ser aberta. A vida não é rigorosa: ela propicia erros e acertos. Os erros podem ser transformados em acertos, quando, com eles, se aprende. Não existe a segurança do acerto eterno. A vida é generosa: a cada sala em que se vive, descobre-se outras tantas portas. A vida enriquece a quem se arrisca a abrir novas portas. Ela privilegia quem descobre seus segredos, e generosamente oferece afortunadas portas. Mas a vida também pode ser dura e severa: se você não ultrapassar a porta, terá sempre a mesma porta pela sua frente. É a repetição perante a criação. É a monotonia cromática perante o arco-íris. É a estagnação da vida. Para a vida, as portas não são obstáculos, são apenas diferentes passagens. Dr. Içami Tiba

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6.REFERÊNCIAS 

AGUIAR, Helvécio - Elizabeth Milititsky - Educacao de Adultos & Educacao Profissional- Nov. 2009 – pg 02.

FISS, Dóris Maria Luzzard - Educação de Adultos: ainda um desafio-EJA, Paulo Freire e Pedagogia do Oprimido- EJA, Educação Popular e tema gerador -EJA: alfabetização, letramento e autoria – 1998 - Pg 96.

FREIRE, Paulo - A importância do ato de ler; - Pedagogia do Oprimido - Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1979

COMERLATO, Denise Maria -Escrita, representações gráficas e cognição 2005

OLIVEIRA, Marta Kohl de - Jovens e adultos, conhecimento, aprendizagem - Revista Brasileira de Educação, n. 2, set-dez, ANPED, 1999.

FONSECA, Laura Souza - EJA e formação de professoras em EJA. ESTEIO, JULHO, 2008

CURY, Carlos Roberto Jamil - Políticas públicas e história da EJA - Parecer CEB nº 11/2000. ..

CARVALHO Marie Jane S; NEVADO, Rosane Aragon de ; MENEZES, Crediné Silva de. Arquiteturas Pedagógicas para Educação a Distância: Concepções e Suporte .... KONRATH, Mary Lúcia Pedroso; CARVALHO, Marie Jane Soares; AVILA, Bárbara Gorziza. ...

COSTA, Iris Elisabeth Tempel e MAGDALENA, Beatriz Corso - Revisitando os Projetos de Aprendizagem, em tempos de web 2.0 - Faculdade de Educão/PEAD - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Porto Alegre - RS - Brasil.

FREIRE Paulo - Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa - São Paulo: Paz e Terra, 1996

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FERREIRA, Lucinete. O contexto da prática avaliativa no cotidiano escolar. In:_____. Retratos da avaliação: conflitos, desvirtuamentos e caminhos para a superação. Porto Alegre: Mediação, 2002. p.39-61.

7. ANEXOS E APÊNDICES Todos os anexos estão postados em:  1. http://kakaestagio.pbworks.com/Projeto-de-Est%C3%A1gio

A semana que passou foi mais tranquila a meu ver, pois consegui realizar as tarefas que ficaram pendentes da semana anterior e, incluí nas dessa semana. A princípio, os alunos mostraram-se ainda nervosos em relação a criação de emails, pois isso ainda é muito novo para eles. A atividade de produção dos mapas de suas ruas foi bem interessante, pois mesmo alguns morando nas mesmas ruas, eles tiveram divergências em relação aos mapas. Alguns usaram a expressão “burro” para outros que realizaram os mapas diferentes dos seus. Achei que foi muito interessante esse trabalho. É impressionante como os mais velhos tem mais dificuldades do que os outros em relação a este tipo de trabalho. A exposição dos trabalhos foi bem atraente, pois alguns fizeram uma boa introdução oral em relação aos seus trabalhos. Essa atividade culminou na sexta-feira, noite da pizza. Baseando-me no texto lido, Jovens e adultos como sujeitos de conhecimento e aprendizagem de Marta Kohl de Oliveira, o aluno do EJA, é aqule que voltou à escola, e pode ter passado bem pouco tempo dentro dela anteriormente, por isso, é o sujeito que apresenta maior dificuldade em realizar a tarefas propostas pela professora. A tarefa de visitação ao bairro foi bem legal, porem, não foram todos os alunos que quiseram ir, pois ainda existe uma certa resistência em atividades que 24


não envolvam somente o quadro cheio de tarefas. Essa prerrogativa, geralmente é dos alunos mais velhos, pois por terem ficado muito tempo afastado da escola, por serem

oriundos

de

outras

regiões,

principalmente

naquela

comunidade,

demonstram uma maior resistência no desenvolvimento das atividades. Posso aqui, também fazer referência ao texto citado anteriormente: Se cada período da vida é suscetível de se identificar com uma série de papéis, atividades e relações, não cabe dúvida de que a entrada no mundo do trabalho e a formação de uma unidade familiar própria são identificadas como papéis, atividades e relações da maior importância a partir do final da adolescência. [A forma como esses dois fenômenos ocorrem] e as expectativas sociais em torno deles são claramente dependentes, em relação a fatores históricos, culturais e sociais. (Palacios, 1995, p. 315) É impressionante como alguns alunos acham que aula só é válida se tiver o caderno cheio de conteúdos. Alguns acham que é pura bobagem fazer algo fora da sala. Mesmo assim, fizemos a visitação e, as fotos logo serão postadas no blog colaborativo da turma. Realizamos também as tarefas relacionadas à matemática, com os dados levantados por eles nos mapas que confeccionaram. Embasamento Teórico Jovens e adultos como sujeitos de conhecimento e aprendizagem Marta Kohl de Oliveira

Faculdade

de

Educação,

Universidade

de

São Paulo

Trabalho

apresentado na XXII Reunião Anual da ANPEd, Caxambu, setembro de 1999.

Na semana que passou consegui ficar um pouco mais tranquila em relação as propostas feitas aos alunos. Conseguimos realizar praticamente todas elas. Os alunos gostaram muito da atividade feita através do texto João oito ou oitenta. Através dessa tividade, fizemos a discussão sobre a origem dos seus nomes, e foi 25


o que mais envolveu na segunda-feira. Alguns colocaram que nunca haviam pensado sobre de onde haviam saídos seus nomes., ou o porque de seus pais terem os escolhido. Conversamos sobre a importância de ter um nome, que é através dele que as pessoas são identificadas dentro da sociedade. Que o nome é essencial para as pessoas serem cidadãos, ou seja, fazer documentos, abrir conta bancária, adquirir bens, participar de associações, ter acesso aos serviços públicos e privados. Falamos tambésm ,sobre as partes que compõem os nomes, ou seja, prenome( nome próprio) e sobre nome ( nome da família). Identificaram de qual dos pais haviam herdado cada parte de seu sobrenome. Na terça-feira, fiz a inversão das atividades propostas. Os alunos trabalharam individualmente, no primeiro momento, com a montagem de listas com o que pode e o que não pode ser comprado com o dinheiro. Logo passamos para a apresentação no grande grupo, então surgiu uma discussão bem boa sobre o que valia o dinheiro. Isso fez com que a atividade ficasse um pouco prolongada. Aí, surgiu a discussão sobre o salário mínimo e como conseguirem sobreviver com ele. Falaram sobre suas atividades profissionais, bem como gastos que tem no decorrer do mês. Fizemos uma lista com as profissões que exercem os alunos, então puderam perceber que tem diferença salarial de uma ocupação para outra. Dentre as ocupações citadas, viram que quem trabalha fazendo faxina, ganha mais do que os outros. Usamos a própria conversa para realizarmos a segunda parte dessa aula. Colocamos na pauta o valor do transporte coletivo e inclusive conversamos sobre a retirada do ônibus que atende a nossa região. Dentro dessa discussão, falou-se também do descaso do poder público em atender as comunidades mais afastadas do centro da cidade, ou seja, as que ficam mais na periferia, como é o nosso caso, pois nossa escola tende os alunos vindos da própria Tijuca e principalmente os alunos do SEJA, quer vem do Bairro Umbu e do Sítio dos Açudes.

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Na quinta-feira não pudemos realizar as postagens no blog, pois ficamos sem internet no Ambiente Informatizado. Então demos continuidade ao trabalho iniciado na terça, onde falávamos sobre o custo de vida e realizamos a montagem de uma cesta básica e com o preço dos produtos que a compõem. Chegaram a conclusão que os mercados que abastecem nossa comunidade possuem preços bem diferentes para o mesmo produto. Ou seja, que compra no Mercado Oliveira gasta menos na cesta básica do que os que compram no Super G. que fica na esquina de casa, pois ali, muitos compram no caderno. Sai mais carop, pois pagam somente quando recebem seus salários e os comerciantes cobram o que melhor lhes convém. Quase na metade do segundo horário, fomos convidados ajudarmos a confeccionar as flores para a decoração da festa para as mães, que aconteceu no sábado. Na sexta-feira as atividades decorreram conforme o programado, ou seja, realizamos atividades matemáticas com encartes de jornais na primeira parte da aula. Contas envolvendo as quatro operações baseadas nos preços dos alimentos contidos nos encartes. Adoraram realizar a segunda parte da aula, que envolvia montagem de figuras mediante desenhos geométricos preestabelecidos. Acho que foi uma semana mais tranquila, em relação as que antecederam. Não fiquei tão preocupada em não conseguir fazer tudo que foi proposto. Os alunos estavam mais abertos nessa semana. Parece que eu estava deixando as coisas mais complicadas do que pareciam. Procurei atender mais as necessidades em relação ao cotidiano deles, pois consegui chegar mais perto de suas espectativas.

5ª Semana de 10/05 à 14/05/2010

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Nesta semana foi possível realizar uma série de atividades que estavam programadas, claro que, como nas semanas anteriores, nem tudo foi realizado conforme o programado. Mesmo assim, saí bem satisfeita com os resultados que alcançamos. Partindo da primeira atividade realizada, na segunda, acho que tivemos um alcance além do que esperava, pois através do texto trabalhado, os alunos fizeram a relação do trabalho escravo como gerador de riquezas para o país. Esta conversa se deu pela lembrança de um dos alunos de que estávamos na semana da "abolição da escravatura". Também foi lembrado por alguns deles que na realidade a semana não seria bem essa, pois no Brasil, já era reconhecido o dia 20 de novembro como data da consciência negra, mas tudo correu bem tranquilo. Aproveitei a oportunidade para relacionar a escravidão , ou seja, os escravos como o primeiro grupo de trabalhadores braçais, mesmo a sua maioria não sendo nascido aqui, propriamente dito. Isso possibilitou uma boa reflexão sobre o trabalho escravo no Brasil. No entanto, alguns referiram-se aos grupos que ainda são escravizados, hoje. Na realidade, foi feito um bom exercício de memória e de relação do passado do país e, bem como, do presente. Na realidade, essa conversa informal, tomou bastante tempo de nossa noite. Portanto, as atividades programadas na área de matemática, foram um pouco mais curtas do que o planejado, pois o assunto foi mais envolvente, e penso, mais significativo do que qualquer outro programado. Pensando nessa colocação, faço menção à bibliografia complementar e artigo escrito por Dóris Maria Luzzardi Fiss, onde a autora faz referência a três ideias pegas por empréstimo de Moll (id. ibi.,p. 14), o que é necessário para a construção das práticas pedagógicas: A consciência de que estes homens e mulheres não são tábulas rasas, mas portam um sem-número de experiências cociais, culturais, afetivas que lhes permitiram acúmulo de saberes em diferentes campos epistemológicos; sa convicção de que esta condição de analfabeto não implica nenhum tipo de patologia, deficit ou deficiência, e de que o analfabetismo não é uma expressão 28


individual de fracasso, mas expressão de uma forma de exclusão socialmente excluída; a compreensão de que a leitura da palavra escrita, como ensina Paulo Freire, é impossível desencarnada ou descontextualizada da leitura do mundo, ou seja, as palavras estão cravejadas de mundo e de significações produzidas no universo individual e social. Levando em consideração a realidade em que eles vivenciam diariamente, o trabalho escravo está muito relacionado a forma como se sentem como trabalhadores e também como alunos, pois necessitam ir à escola depois de um dia de muito trabalho, muitos bem cansados por terem feito um longo deslocamento em ônibus lotados, sem nem conseguirem ir em casa para tomarem um banho. Essa é uma de suas queixas. No entanto, ficam felizes de poderem chegar à escola e terem a janta pronta lhes esperando. Também foi interligado o trabalho realizado com a obra de Tarsila, pois o quadro faz referência ao trabalho, ou seja, aos trabalhadores e também as relações de trabalho. Procurei chamar a tenção dos alunos para as fisionomias das pessoas pintadas na obra, suas feições cansadas, de origens diferentes, bem como a relação deles com o mercado de trabalho. A necessidade de sobrevivência apresentada na obra, não difere muito da situação que nos é apresentada nos dias de hoje, mesmo sendo uma obra de 1933. Aproveitei para trabalhar também a questão de gênero que ficou de fora na aula anterior, pois aqui pudemos ver homens, mulheres e até crianças pintados na tela. Conversamos sobre os jovens e os velhos pintados, fazendo a relação com essa diversidade também presente em nossa sala de aula. Levantamos a questão salarial: será que homens e mulheres que tem as mesmas funções, tem remuneração igual? Realizamos atividades envolvendo problemas matemáticos com os salários recebidos por eles e por seus familiares. Como os operários da tela são apresentados? Cansados, alegres, tristes, sonolentos, dispersos... Como eles se veem no final do dia? Enfim, foi muito boa a reflexão nessa semana, podendo fazer uma relação significativa da arte com o cotidiano de cada um. 29


Os alunos puderam ter uma maior visão do que realmente acontece com eles enquanto classe trabalhadora, fazendo relação com a obra e sua realidade, bem como a realidade passada anteriormente por trabalhadores em outros tempos. Enfim, como se veem em relação a si mesmo como sujeitos desse mundo de trabalhadores, muitas vezes também oprimidos, sendo capazes de fazer e refazer sua própria historia. Tomando ainda as palavras de Dóris, faço referência a outra passagem, onde diz: Como declara Freire (1997a, p.47), uma das principais tarefas do sujeito reside em assumir-se como ser social e histórico, (...) pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque é capaz de amar. Assumirse como sujeito porque é capaz de reconhecer-se como objeto. Praticamente, fizemos nossa culminância, na visitação ao Museu Tecnológico da PUC, que estava em exposição no Ginásio Municipal de Alvorada. Lá os alunos conheceram diversos experimentos que podem facilitar o dia-a-dia das pessoas, e outros bem interessantes como um filme em 3D sobre o corpo humano. Esse filme deu pano pra manga na aula de sexta-feira, onde novamente deixamos de ir ao ambiente informatizado. Assunto que rendeu bastante, pois conversamos muito sobre a visita na sexta-feira, bem como fizemos uma boa discussão para o fechamento da semana. Assim, penso que cada semana nosso trabalho tem tido maior rendimento. Minha única preocupação é não ter desenvolvido tudo o que foi planejado por escrito para os dias que estavam programados. No entanto, penso que foi maior a experiência alcançada, do que qualquer planejamento feito.

6ª Semana de 24/05 à 28/05/2010 Como tenho mudado frequentemente meus planejamentos, mudo também a forma com que farei minhas reflexões. Penso em tentar fazer postagens reflexivas diariamente, se conseguir, pois acho que terei as ideias mais frescas , bem como os acontecimentos diários. 30


Segunda-feira, dia 17/05, eu e minha turma recebemos a visita da minha supervisora, a Professora Denise, que chegou após o horário do intervalo, onde infelizmente, alguns alunos já haviam ido embora. Nessa época do ano, começa a diminuir o número de alunos nas aulas, pois o frio começa a aparecer e eles optam em ir para casa se aquecer. Mesmo assim, a aula estava bem interessante. Fizemos a brincadeira do Tibicando, ou seja, o verbo tibicar, pois estamos trabalhando com verbos. Esse conteúdo é revisto na T3, pois já foi trabalhado na totalidade anterior. A aula iniciou bem dinâmica, com todos muito empolgados com a brincadeira. O Vilmar, que é um aluno mais velho, se colocou à disposição para ser o primeiro a participar. A brincadeira teve a participação de todos os alunos, bem como a minha e da professora titular da turma, a Sinara, pois ela está sempre presente nas aulas. Após o intervalo, iniciamos a atividade programada para a segunda metade da aula, onde fizemos o jogo da trilha. Este jogo desenvolve as habilidades de concentração na ordem cronológica do dia de um trabalhador, onde só podemos cronometrar usando os verbos. Eles participaram ativamente da atividade, que foi bem produtiva. Os grupos fizeram a exposição oral das suas trilhas e logo a seguir produziram por escrito à trilha do dia, dentro do grupo. Procurei nesse dia desenvolver atividades que pudessem desafiar meus alunos a procurarem respostas no seu cotidiano, como diria Freire, situações problemáticas, desafiadoras, capazes de fazer o indivíduo pensar... Não acredito na educação como o ato de depositar, onde os alunos são depósito e o professor aquele que deposita...Não pode-se aceitar a educação bancária, pois não acredito que possa desumanizar meus alunos, a ponto de não aceitar seu conhecimentos prévios..." Pensando nessas palavras, sei da condição deles de agentes do seu cotidiano, capazes de pensar e agir de forma a serem considerados cidadãos ativos na sociedade... Como minha turma é muito participativa, não tenho tido maiores problemas em realizar as atividades programadas. Gostaria de lembrar que no decorrer da semana recebi três alunas que avançaram da totalidade 2. Elas demonstram ter um bom desenvolvimento e acredito que acompanharam

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tranquilamente a aula. Logo avanรงarei dois alunos para a totalidade 4, o Edson e a Helen.

Fotos da Trilha, atividade da brincadeira Tibicando:

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Por ter feito conselho de classe na sexta-feira, tendo aula até as 21horas, necessitei desenvolver o restante da atividade de quinta-feira, na sexta, deixando assim, atividade de sexta, para a próxima segunda-feira, dia 24/05.

7ª Semana de 24/05 à 28/05/2010 Assim como todas as outras , essa semana foi de extrema importância, tanto para minha aprendizagem quanto para a aprendizagem de meus alunos. Iniciamos a semana fazendo o que havia sido planejado para última sextafeira, pois tivemos conselho. Durante a atividade o assunto mais tratado foi a forma como os patrões veem os empregados. Foi colocado que muitos trabalhadores não reclamam de nada junto aos patrões, por acharem que são seres inferiores à eles. Essa conversa trouxe uma grande plenária, onde os alunos resolveram montar uma espécie de julgamento do que seria trabalho escravo ou direito de todo o trabalhador. Isso me lembrou uma passagem do texto lido, ainda de Dóris Fiss, onde ela cita Marx ( 1982, p.50), O trabalho como criador de valores de uso, como trabalho útil, é indispensável à existência do homem - quaisquer que sejam as formas de sociedade - é necessidade natural e eterna de efetivar o intercâmbio material entre o homem e a natureza, e, portanto, de manter a vida humana. Portanto nossos alunos como trabalhadores são dignos de terem sua espectativas valorizadas e respeitadas. Aproveitando essa oportunidade, li para eles um texto extraído de algo que havia lido anteriormente, sendo que este surgiu 33


aleatoriamente na aula, pois não havia programação para este, foi mais a título de curiosidade: ELES TRABALHAM FEITO CAVALOS O desemprego e a fartura de lixo nas grandes cidades fizeram surgir uma categoria de trabalhadores que não para de crescer: a dos moradores de rua que sobrevivem catando lixo reciclável com a ajuda de uma carroça. Quase sempre é assim: quando conseguem se estruturar um pouco, pagam 40 reais por um eixo de automóvel no ferro-velho, montam uma carroça e passam a viver do que conseguem apurar na venda do material. Na cidade de São Paulo, a população de rua mais que dobrou em dez anos: em 1993, de acordo com a Secretaria de Assistência Social, era de 4.549 pessoas e em 2003 pulou para 10.300, sendo que 3.200 delas viviam de catar lixo. Grande parte trabalha com carroças. A coordenadoria do Programa de Coleta Coletiva Solidária de São Paulo calcula que existam de 6.000 a 9.000 catadores nas áreas que englobam as 31 subprefeituras da cidade. Conflitos familiares, alcoolismo

e

desemprego

são

as

principais

causas

desse

aumento.

Concorrência acirrada Para os catadores, comprar uma carroça é o primeiro passo para reorganizar a vida e recuperar dignidade. Além disso, esse trabalho gera benefícios para a cidade. “Nossa atividade deveria ser reconhecida como profissão. Evitamos a destruição da natureza com a reciclagem de materiais e ajudamos a prefeitura a economizar recursos com aterros sanitários, porque desviamos parte dos materiais que iriam para lá”, diz Nelson da Silva, morador de rua há seis anos. Eustáquio fatura de 300 a 400 reais por mês e se considera privilegiado: “Quem corre atrás de material na rua acha cada vez menos”, diz. Não faz muito tempo dava para tirar 200 reais por semana. “Todo mundo está tirando material da rua”, 34


reclama. Todo mundo, no caso, são: os prédios que passaram a separar o próprio lixo para a reciclagem e o entregam para a prefeitura; os carroceiros cada vez em maior

número;

os

caminhões

dos

depósitos

e

os

de

coleta

regular.

A concorrência é forte. “Um saco de lixo na rua é mexido por muita gente”, diz Fábio. Primeiro vêm os andarilhos que não têm carroça porque não podem comprar ou porque não têm força para puxar uma. Catam com sacos, buscam principalmente latinhas de alumínio e ganham de 3 a 4 reais por dia. Dá para viver? “Não, dá só para comprar o goró”, diz Eustáquio. Depois vêm os carroceiros. Em seguida, os caminhões. Segredo do negócio: correr para pegar o lixo fresquinho.

Entretanto, para catadores associados a cooperativas, o programa municipal é um meio de inclusão social. O material é recolhido pelos caminhões e processado por cooperativas, em centrais criadas e equipadas pela prefeitura. Nesses centros trabalham, diretamente, os catadores cooperados; e, indiretamente, os outros que vendem ali seus materiais. A inclusão social é apenas um dos objetivos do projeto, além da educação ambiental dos cidadãos, da preservação de recursos naturais e da redução da quantidade de lixo encaminhada aos aterros sanitários. Uma das vantagens de fazer parte da cooperativa é receber um valor maior pelo material, pois ele é vendido diretamente à indústria recicladora sem passar pelos depósitos. Em contrapartida, uma das exigências da prefeitura para entregar a gestão da central às cooperativas é que elas estabeleçam horários de trabalho para os catadores. Nem todos querem saber disso. Os catadores que não se organizarem vão continuar como Eustáquio e Fábio: disputando material com os caminhões e recebendo o que os depósitos pagam pela coleta do dia. No caso do papelão, os depósitos pagam em torno de 13 centavos o quilo, enquanto que, se venderem diretamente à indústria, eles recebem 30 centavos. 35


Fragmentos do artigo de Patrícia Cornils, publicado na internet em 18/6/2004 no site www.nominimo.com.br Já a aula de terça-feira, foi daquelas bem polêmicas e que envolveu bastante conversa e principalmente discussão entre os grupos. Essas discussões se dão em torno dos que trabalham nos grupos e dos que ficam só se escorando nas costas dos outros. Nessa aula tivemos a presença da tutora Eliane Gheno, que fez uma breve referência ao nosso trabalho para com os alunos. logo após sua retirada, aproveitamos para fazer uma retomada do conteúdo que já havíamos visto em aulas anteriores, como verbo, sujeito, substantivos. Isso foi bem produtivo, pois fizemos um resgate de todas as frases criadas pelos alunos no poema dado, bem como o levantamento das dificuldades travadas pelos sujeitos do poema. Fotos da Atividade do Texto De dar Dó – Texto fatiado

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Tenho tentado fazer uma ligação dos acontecimentos nas aulas com as leituras que tenho refeito neste período, e me chama especial atenção algo que li no texto de Anézia Viero, na reflexão que faz sobre a Educação Popular dentro da Modalidade de Jovens e Adultos. Em um determinado ponto de seu texto, ela coloca que: " a educação popular é a ampliação de oportunidade, e coloca em pauta o compromisso oficial com aqueles que não tiveram acesso a escolarização quando crianças, mas que essa deficiência pode e deve ser sanada depois ao retornarem para esta modalidade de ensino". Vejo isto claramente com os meus alunos do noturno. Se não fossem suas experiências fora da escola e de vida, com certeza nossas conversas não renderiam tanto para aumentar nossos conhecimentos. Digo nosso, pois cada vez aprendo mais com as aulas que eles me dão. Na quinta - feira, trabalhamos problemas matemáticos envolvendo cálculos de quatro operações, baseados nos dados trazidos a respeito de seus rendimentos mensais. Após, fizemos nosso churrasco em comemoração aos aniversariantes do mês, bem como confraternização e muita conversa até o final da noite.

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O trabalho com haicai na sexta-feira, não fez a cabeça deles, muitos acharam que já havíamos visto muitos poemas na semana e pediram para revisarmos cálculos que envolviam divisão, o que obviamente foi acatado por mim, que não sou doida em entrar em conflito com eles. Nossa semana correu muito bem aproveitada. Pensando nesse último parágrafo, encerro esta reflexão com uma frase retirada do texto referido anteriormente: “Minhas práticas partem de um ponto de vista de profundo respeito aos saberes que os trabalhadores trazem de suas práticas cotidianas.”

8ª Semana de 31/05 à 04/06/2010 Esta oitava semana foi muito difícil de ser trabalhada, embora fosse a menor em termos de dias de aulas do que as outras. Segunda - feira, dia 31/05, faleceu a minha avó paterna, por volta das 6:30 da manhã. Passei o dia, com minha família, organizando tudo e indo ao seu velório. No entanto, precisei comparecer à escola no turno da noite para atender minha turma de estágio ( bem como na terça-feira também, pois no dia 1º /06, foi realizado o enterro).

Também trabalhei normal na terça à noite. Foi bem

complicado desenvolver o que planejei, pois estava em uma situação um tanto incômoda e extremamente sensível. No entanto, procurei cumprir com minha obrigação o mais profissional possível. Não deixei de comentar com meus alunos o acontecimento de meu dia. Mas dando início ao trabalho programado, apresentei a charge selecionada para que todos fizessem sua apreciação. Alguns acharam muito engraçado que figuras tão diferentes fossem tão presentes em nosso dia a dia. Um dos alunos, o Vilmar, que é um cara bem vivido e tem uma enorme consiência crítica, embora 38


seja um tanto despreocupado, aparentemente, colocou que as duas figuras da charge apresentavam a burguesia e o trabalho quase que escravo. Disse que embora o não trabalhasse, fosse aposentado por incapacidade mental, conseguia entender muito bem quando os pobres sacrificavam suas vidas em detrimento do ricos poderem aproveitar. Como em todas as minhas aulas, o assunto deu pano pra manga, e como... As produções das charges foram feitas em grupos e colocadas no mural da sala. Aproveitei o ensejo para pedir que na terça-feira trouxessem o maior número de objetos que pudessem trazer, pois faríamos outra atividade

Na terça- feira, a atividade seguiu seu curso normal, ou seja, conforme o planejado. Achei interessante que muitos deles não trouxeram consigo somente objetos que usam no seu dia, para o trabalho, pois muitos vem direto para escola. Alguns me colocaram que levaram de casa para o trabalho os objetos que usariam na aula à noite. o trabalho foi bem produtivo e de bastante curiosidade por parte deles. Surgiu muita discussão em torno, principalmente, do produtor rural, pois um dos alunos é padeiro e levou um pacote de farinha. Daí veio a questão de que percurso essa farinha fazia até chegar a padaria em que ele trabalhava. Surgiram coisas impressionante, como: que tipo de instrumento de trabalho o produtor usava para plantar, colher, secar, transportar... O que provavelmente era pago ao produtor e com que preço esse produto chegava ao seu destino final. Com toda essa discussão em torno do assunto, trabalhamos problemas matemáticos envolvendo os números apresentados pelos alunos, trabalhando as quatro operações. Apesar dessa não ter sido uma semana muito fácil para mim, consegui entender muito mais do que poderia ter entendido durante uma semana normal de aula. Quando cheguei em casa na terça, parei para pensar no que havia transcorrido naquela aula. Na importância que esse tipo de assunto tem para eles, que sequer haviam parado para pensar nisso, muito menos eu mesma. 39


Será que quando não nos damos conta das coisas que parecem tão obvias, não estamos em uma espécie de cegueira, que só parece obvio quando paramos para ouvir quando os outros nos mostram? Pensando nisso fui procurar um texto que havia lido, da própria Denise Comerlato, nesse caso, minha orientadora, mas que no entanto me trouxe uma referência significativa durante o estudo da interdisciplina de EJA. Nesta bibliografia complementar ela, Denise, coloca algo sobre a cegueira coletiva, então parei para refletir sobre um trecho , que diz:

”Entende-se, aqui, que o conhecimento é construção de modelos explicativos e lógicos”. Resultado da busca de se aproximar do mundo objetivo, que nunca é totalmente apreensível. Elaborado a partir de uma seleção do “real”, de uma percepção ou olhar guiado por concepções teóricas, visões de mundo, valores e pelas estruturas da inteligência, o conhecimento e suas representações (conclui-se) não são neutros. Faz parte dos seus resultados tanto o sujeito como o objeto e a relação estabelecida entre eles, o que depende enormemente do tipo de inserção social e cultural dos sujeitos no mundo. O conhecimento escolar trabalha, em sua maior parte, com conceitos e representações... E o que isso tem a ver com a Educação de Jovens e Adultos? Esboços, rabiscos, rasuras, grafites, sinais, índices, ícones, imagens gráficas, desenhos, números, letras, gráficos, esquemas, mapas, etc., representações gráficas por meio das quais também olhamos e somos olhados, compreendemos e constituímos o mundo e a nós mesmos.

Parte extraída da Bibliografia Complementar de Educação de Jovens e Adultos, Denise Cormelato - ESCRITA, REPRESENTAÇÕES GRÁFICAS E COGNIÇÃO. Cabe salientar que esta bibliografia foi baseada em tantas outras leituras feitas

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pela autora de outros pensadores, dentre eles: Paulo Freire, Emília Ferreiro, Ana Teberoski, Marta Kohl... Também Paulo Freire faz menção a conscientização quando diz: "...É também consciência histórica: é inserção crítica na história, implica que os homens assumam o papel de sujeitos que fazem e refazem o mundo. Exige que os homens criem sua existência com um material que a vida lhes oferece..." Sinceramente, acho que muita coisa passou a fazer outro sentido dentro de mim, a partir do momento

que resolvi achar tempo para realizar as leituras

necessárias para melhorar minha prática pedagógica, baseada na teoria, antes tão esquecida por mim.

9ª Semana de 7/06 à 11/06/2010 É interessante como as coisas acontecem de acordo com a vontade dos alunos. Essa foi uma semana muito especial, pois o assunto trabalhado foi a Copa 2010, assunto que foi bem desenvolvido por nós. Conversamos muito sobre isso, de como a mulheres não se interessam por jogos de futebol, mas nesse acontecimento mundial, nem elas deixam de fazer sua torcida. O que será que faz com que esse sentimento de nacionalidade seja tão acentuado nesse período? Em nossa conversas também levantamos fatos que acontecem no intervalo de uma copa para outra que não nos motivam tanto. Nem as Olimpíadas mexem tanto conosco quanto o futebol. Porque será que fora desse período não temos tanto sentimento de amor pela Pátria? Bem pelo contrário, muitos até desejam não serem daqui, sentem vergonha. Mas no fundo concluímos que realmente o nosso país é o melhor lugar do mundo. Onde mais tem tanta diversidade como aqui? Fizemos uma pesquisa bem legal sobre o país sede e identificamos coisas absurdas que acontecem por lá e que aqui, não...Os alunos gostaram muito dessa situação de pesquisa, pois aprenderam a procurar na internet, bem como em livros, 41


obviamente, com minha ajuda e com a ajuda da Sinara, professora titular da turma. Tendo essa experiência como uma das mais significantes nesse período de estágio, percebi aqui algo que li no texto de Dóris Fiss, onde faz a referência a seguir a produção de novos conhecimentos que aumentem a consciência e a capacidade de iniciativa transformadora dos grupos com que trabalhamos. Por isso mesmo, o estudo da realidade vivida pelo grupo e de sua percepção dessa mesma realidade constituem o ponto de partida e a matéria-prima do processo educativo (OLIVEIRA & OLIVEIRA, 1984, p. 19).

Na aula em que fizemos o estudo do Hino Nacional e o cantamos, achei algo muito peculiar e pudemos perceber a importância que cada grupo da turma dá ao sentimento de patriotismo, digo isto porque a Tia Maria, o Vilmar, a Aurea, o seu Cristovão e os outros alunos mais velhos se emocionaram ao cantar, pois lembraram que quando eram crianças o hino era cantado todos os dias, e fizeram também referência ao período de ditadura no país, onde o Hino significava o sentimento de liberdade e onde clamavam por isso. Isso foi percebido principalmente na Tia Maria, na Aurea e também no seu Cristóvão. Já os alunos mais jovens que estão n turma nem estavam dando bola para essa parte da aula, até ouvirem a histórias contadas pelos mais velhos. A Tia Maria disse: " Se não fosse por nós que passamos a ditadura, vocês hoje não teriam toda essa liberdade que tem, vocês deveriam ter noção do que é o nosso hino. Fechem a boca e respeitem!" Essa fala dela foi um balde de água fria nas piadinhas deles. Foi quando o Edson, uma espécie de lider deles se deu por conta da importância desse estudo para os mais velhos. Então começaram a fazer questionamentos sobre o período 42


de opressão e logo se interessaram em estudar o Hino. Foi uma aula muito boa. Ficamos nisso até o horário do intervalo, aliás nem fizemos intervalo nesse dia. No outro dia fomos ao Ambiente Informatizado fazer as pesquisa pertinentes a participação do Brasil nas copas. Baseados nesse dados levantados, após o intervalo fomos para a sala de aula e elaboramos questões matemáticas que envolviam problemas, onde foram resolvidas as quatro operações. Antes disso , inclusive de irmos ao AI, falamos da importância da pesquisa, do levantamento de dados e da história, principalmente ao mais jovens. Nesse tipo de atividade, os mais velhos ficam meio de fora, pois acham muito difícil lusar o computador, então a grande mãozinha vem dos jovens. Essa turma se entende muito bem nessa questões que tratam das limitações de cada grupo. Nessa parte de minha reflexão vou usar um outro trecho do mesmo texto citado acima, onde coloca o seguinte: " Fazendo coro a Freire, Ernani Maria Fiori, no Prefácio ao livro Pedagogia do Oprimido, ressalta a importância de o sujeito descobrir-se e conquistar-se como “sujeito de sua própria destinação histórica” (1993, p. 9), aprendendo a “escrever a sua vida, como autor e como testemunha de sua história, isto é, biografar-se, existenciar-se, historicizar-se” (id. ibid., p. 10). Ele define a pedagogia pensada por Freire como um “método de conscientização”, ou seja, “um método pedagógico que procura dar ao homem a oportunidade de redescobrir-se através da retomada reflexiva do próprio processo em que vai ele se descobrindo, manifestando e configurando” (id. ibid., p. 15). Na quinta-feira demos continuidade ao nosso processo de pesquisa, porém na biblioteca, sobre questões referentes ao país da Copa. Na sexta-feira a atividade foi a programada até o horário de intervalo. Após foi um pouco alterada, em função da Feira das Ciências que acontecerá no próximo sábado, dia 19/06. Para essa Feira, os alunos do SEJA trabalharão com os Jogos Lego, e nós das iniciais ficamos com os jogos das caixas verdes. Já fizeram alguns objetos das revistas dos jogos. ficaram muito legais. Foi impressionante o empenho 43


deles em relação ao que foi proposto. Nesse dia estiveram poucos alunos na aula, acho que por causa do frio. Eu e a Professora titular trabalhamos juntas para a atividade.

Algumas fotos do trabalho dos Legos:

2. http://kakamonego-kakamonego.blogspot.com/  https://www.ead.ufrgs.br/rooda/rooda.php  http://gentiltotalidade3.blogspot.com 44


 http://peadalvorada6.pbworks.com/f/conhecimentoprevio.pdf  http://peadalvorada6.pbworks.com/f/Revisitando+os+Projetos+de+Apren dizagem,+em+tempos+de+web+2.0.pdf  http://peadalvorada7.pbworks.com/f/Arquiteturas_Pedagogicas.pdf  http://peadalvorada8.pbworks.com/

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