TFG Kamila ismail

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PERSPECTIVAS OUTRAS: Futuros alternativos e reconhecimento do contexto urbano por outros olhos Kamila Ismail 1


Jabaquara A proposta surgiu da percepção da necessidade de espaços de convivência na área estudada, o Jabaquara. Unida com a vontade de implantar um uso que incentivasse o

desenvolvi-

mento

sociocultural dos jovens da região, foi proposto a criação de pontos arquitetônicos no território que se caracterizam por possuir um elemento chamariz, a quadra, e junto a ela outros espaços voltados à educação e à cultu-

ra como salas de workshop,

mesas de estudos, acervos abertos e espaços lúdicos abertos a apropriações dos

grupos sociais

identificados no entorno, lhes reforçando sua resistência. Proposta essa que toma mais força quando somada às intervenções urbanas nos pontos críticos do entorno imediato.

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AGRADEÇO Primeiramente aos meus professores e orientadores que me auxiliaram nessa jornada. Aos meus parentes por entenderem minha ausência. Aos meus pais pelo suporte de infraestrutura. Aos meus amigos que me incentivavam e nao me permitiam desistir.

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PERSPECTIVAS OUTRAS:

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Futuros alternativos e reconhecimento do contexto urbano por outros olhos

Trabalho Final de Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Mackenzie

Graduanda Kamila Ismail Professores Orientadores Projeto Gilberto Belleza Monografia Lizete Rubano

5 São Paulo 2020


SUMÁRIO. I.I. INDRODUÇÃO .........

....................................... P. 12

II.I.

JOVEM: REALIDADE E SEDUÇÃO .............................P. 18

II.II.

CULTURA DOS JOVENS.......................P. 28

III.I.

CULTURA E POLÍTICAS PÚBLICAS ....................................P.36

III.II.

OLHA O DEGRAU ..................P.44

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IV.I. METODOLOGIAS

DE RECONHECIMENTO DE ÁREA ..................... P. 52

IV.II. VIVÊNCIA PELO

OUTRO ........................ P. 62

IV.III. CARTOGRAFIA

........................................ P. 68

IV.IV.

ÁREA ESTUDADA - JABAQUARA .. .................................. P. 70

V.I.

EDUCAÇÃO CONTRATURNOS ........ .................................. P. 76

V.II.

CASA DE CULTURA .............. P. 78 7


V.III.

ESCOLA PARQUE ...................... P. 80

V.IV.

DINÂMICA DOS CEUS .......................... ......................................P. 82

VI.I. PARTIDO........P.88 VI.II.

INTENÇÕES ESPACIAIS ........................ ....................................P.112

VII.I.

BIBLIOGRAFIA.......P. 172 8


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I.I. INTRODUÇÃO 12


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ma das maiores carências que o Brasil carrega atualmente é a educação, além das altas taxas de alunos não matriculados, o país possui altos índices de falhas educacionais. Infelizmente essa realidade é mais presente ainda nas comunidades e bairros de baixa renda, pois o ensino público tem um acesso mais concorrido que o particular e essas crianças não possuem a oportunidade de pagar por aulas e atividades complementares ao ensino básico, como ocorre nos bairros mais nobres. Outro recorrente problema diagnosticado em bairros pobres, como é o bairro em estudo, são as grandes ondas de crime e violência, decorrência das faltas de oportunidades educacionais e profissionais que essas crianças têm. O projeto de um centro de apoio ao desenvolvimento sociocultural surge, portanto, com a intenção de gerar ambientes capazes de permitir que grupos sociais diversos o ocupem e assim desenvolvam atividades que irão integrar os jovens e adolescentes desamparados proporcionando o acesso a atividades que poderão leva-los a oportunidades profissionais e trazer novas perspectivas de futuro, mostrando que existem atividades remuneradas alternativas que os interessem.

Esse déficit educacional, combinado ao fato de os jovens não terem opções de programações ocupacionais acessíveis no contraturno ou até mesmo meio de se locomover até as disponíveis, gera uma ausência de interesse ente os jovens, e resulta em uma realidade onde eles são tendenciados a se ocuparem de formas ilícitas, ficando à mercê de uma influência de atividades ilícitas e futuramente encantados pelas conquistas financeiras que essa vida se mostra trazer, por conta da sedução de poder aquisitivo passado como ideia a ser conquistada a traves do tráfico. Combinado com a pouca esperança de outros futuros e poucas oportunidades muitos acabam se deixando levar por essa realidade. Na região de estudo, o bairro do Jabaquara é visível a grande falta de áreas públicas comuns passíveis de ocupação, ou que permanecem vazias, mas que possam ser utilizadas livremente pela população com atividades diversas como esportivas ou educacionais. A implantação de um equipamento cultural possui a intenção de trazer opções ocupacionais para os jovens dessas áreas. É uma área onde o jovem pode se sentir confortável para ler, estudar, criar, projetar, usar uma biblioteca ou participar de debates, e também onde

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pode entrar em contato com o esporte, grupos de atividades sociais, de arte ou outras áreas que não estão em foco nas escolas como dança e música através dos grupos sociais presentes na região, é um espaço que intenciona dar voz e força para esses grupos crescerem e abraçarem mais jovens. Essas integrações fazem com que o jovem possa se construir como sujeito, possa enriquecer sua educação, e olhar para o futuro com uma esperança diante das alternativas, de possibilidades acolhedoras. Além do Centro atender uma grande gama de variações culturais, ele será propicio a receber intervenções e manifestações que sejam capazes de criar atmosferas sensíveis (fazendo aqui, alusão à fenomenologia), que providenciarão para os frequentadores vivencias alterna-

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tivas, fazendo com que desenvolvam um sentimento de pertencimento ao local e se sintam abrigados e convidados, por conta de uma boa experiência ali adquirida e assim queiram utilizar aquele espaço com frequência criando um compromisso por parte do usuário para com o Centro. O projeto visiona criar um espaço em que as pessoas se sintam confortáveis para darem o uso que necessitam, permitindo uma aderência a partir de grupos e atividades sociais que proporcionarão benefícios para os jovens vulneráveis. Que a arquitetura abrigue os usos sociais e que esses grupos sociais possam aderir e devolver a experiencia para a comunidade. Implantado na rua das cruzadas, próximo ao terminal de metrô Jabaquara e ao córrego aberto Casa Espraiada, o projeto propõe a revitalização desta

Imagem ilustrando o skatista Wanderley Bolão nos anos 90. Por Cali Junqueira, para revista Overall Skate Magazine.


área, tratando córrego, vielas, escadarias e praças do entorno imediato com o desenho de um mobiliário urbano, a fim de gerar um espaço público integrado com o CENTRO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO SOCIOCULTURAL, um espaço que se permitirá ser ocupado do modo que o usuário necessitar, incentivando o desenvolvimento de atividades de grupos sociais novos e apoiando e fortificando os já existentes, dando espaço para eles acontecerem. É sobre a visão de uma arquitetura como forma de influenciar a formação de grupos sociais, incentivar a realização de atividades que tragam opções de futuros caminhos profissionais, contribuir nas transformações da comunidade, e principalmente ajudar a fortalecer as dinâmicas já existentes.

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16 Imagem fornecida pelo Jornal Jabaquara News


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I.I. 17


Ii.I. JOVEM: REALIDADE E SEDUÇÃO 18


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egundo a pesquisa Novas Configurações das Redes Criminosas, realizada pelo observatório de favelas em 2018, após a Implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), divulgada pelo Observatório de Favelas, no Rio de Janeiro, o jovem ingressa na rede do tráfico cada vez mais cedo “A gente registrou que existem momentos de saída (do tráfico), mas a grande pergunta é: por que ele volta?”, ressalta o pesquisador Rodrigo Nascimento. Ele verificou que, entre os jovens, 40% já saíram voluntariamente em algum momento do crime. Para Nascimento, o retorno ao tráfico acontece porque eles ainda encontram as “portas fechadas” na vida profissional, possuem poucas oportunidades. “De alguma maneira, não colocando a culpa especificamente nas instituições, mas há algo aí na relação com a escola e o mundo do trabalho que não está funcionando”. (PESQUISA. OBSERVATÓRIO DE FAVELAS, 2018, p. 50) Esse jovem já tem o perfil traçado pelas estatísticas homem, negro, jovem, vindo de família numerosa, chefiada por mulheres, com baixa renda e baixa escolaridade, motivados pela questão financeira. Uma triste visão que a população de baixa renda recebe e um olhar condenador que marca toda uma população. De acordo com o levantamento do Observatório, realizado entre maio 2017 e abril 2018, realizado com 150 jovens inseridos na rede de tráfico do Rio e 111 jovens do DEGASE (departamento geral de

ações socioeducativas), o jovem (de sexo masculino) representa 96,2% dos entrevistados, 72% se denominam negros ou pardos, sendo 50,2% deles terem sido criados apenas pela mãe. Já em relação a esses estudos, 78,2% dos entrevistados teve como última serie frequentada o 5º, 6º ou 7º ano do fundamental e cerca de 16,1% chegou a frequentar o Ensino Médio, mas o ingresso ao mercado de trabalho não foi efetuado. Além disso, a pesquisa mostra que 45,5% dos entrevistados já são pais e essa nova responsabilidade já é um incentivo para largarem as escolas e irem atrás de renda e modos de sustentar sua família, buscando assim uma fonte rápida e com grande retorno. De acordo com a pesquisa da ENSP (Escola Nacional de Saúde Pública, 2000) 25% dos adolescentes entre 10 a 19 anos no Rio trabalham para o tráfico de drogas. Segundo Zilah Meirelles 2000, o jovem busca passar uma certa imagem sobre si de riqueza material e poder através da autoridade, representada pelo controle que o tráfico impõe e dinheiro que ele movimenta, influenciado por uma visão ilusória dessa figura passada entre os próprios jovens por possuírem apenas o traficante como referência dessa imagem de “sucesso”. O chefe do tráfico costuma, de fato, passar essa imagem de domínio e de ser alguém que controla e comanda a comunidade, com alto poder aquisitivo e com grande influência perante os moradores, que se instaura através da violência, e é nessa imagem que os jovens acreditam, admiram e almejam chegar. 19


Aqui é onde podemos ver a possível influência da cultura na vida do jovem, e como a falta de renda e outras atividades que gerem um cotidiano e uma identidade geram uma ausência estrutural de formação. Essa referência de imagem do tráfico, admirada pelos jovens, poderia ser substituída pela do hip hop ou do futebol, por exemplo, se gerada uma atmosfera de admiração pelas culturas outras, já que essas são atividades de potencial no bairro, são atividades que já ocorrem entre os jovens mas que poderiam ganhar mais força e se espalharem mais. Essas atividades alternativas podem ter o poder de trazer para o jovem um novo ponto de vista, uma nova influência de imagem a ser seguida, pois ao invés de ver o chefe do tráfico como única referência de popularidade, ao entrar em contato com figuras dessas vidas na arte ou no esporte, eles podem começar a admirar outras personalidades e assim gerar um interesse por persegui-las como alternativa de futuro, e de criar uma imagem diferente para si através de outras abordagens exploradas.

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A pesquisa “Um olhar sobre o jovem do Brasil”, 2008, aborda o perfil dos jovens que o tráfico mais consegue influenciar e estão assim mais propensos a entrar nesse caminho ou a permanecer ou voltar para essa vida: “são jovens que vivem em condições como estas: (1) jovens que foram aprisionados, devido à sua inserção no tráfico de drogas; (2) que foram julgados; (3) que cumpriram medidas socioeducativas; (4) que, entre 1998 e 2000, foram retirados de um ineficiente sistema socioeducativo e foram inseridos em um projeto-piloto, parceria do governo estadual com o federal,


Cartografia elaborada a partir das conexões dos pontos de CCA e escolas do bairro Jabaquara, produção própria durante o desenvolvimento do TFG, 2020.

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que invertia a lógica do atendimento, retirando-os do confinamento e procurando entender seus anseios; (5) jovens que, quando o prazo do projeto-piloto acabou, voltaram para o mesmo sistema socioeducativo do qual tinham sido retirados, voltaram para a mesma realidade na qual viviam, sem ter mais o apoio que recebiam; (6) apoio de um projeto que foi ‘piloto’ e nunca mais teve continuidade, apesar de monitorado pelos autores do artigo, por intermédio de uma avaliação que não teve nenhum de seus pontos levados em consideração, seja enquanto se discutiam os custos, os benefícios, os impactos, os resultados, os processos ou as vidas que estavam em jogo.” (Fundação Oswaldo Cruz, 2008, p. 153)

Segundo a publicação “Um olhar sobre o jovem do Brasil” (Fundação Oswaldo Cruz, 2008), a cultura brasileira é rica em diversidade, é um país que carrega um vasta quantidade de história com ritos e brincadeiras e expressões culturais e artísticas que passam de geração e geração, e por conta de seu vasto território existe uma diversidade imensa variando de região para região. Porém hoje em dia vemos que nas grandes cidades, principalmente onde temos uma porção da população afastada por sua localização periférica, está em déficit a propagação de atividades que passem essa riqueza cultural. Quando se trata de bases socioeconômicas, a desigualdade de acesso é muito nítida para os jovens entrevistados, essa dinâmica desfavorável para aqueles em situações vulneráveis, que se reflete sobre as possibilidades de acesso, experimentação, consumo e criação da cultura, do lazer e do tempo livre. 22

Buscar compreender a dinâmica ocupacional dos jovens brasileiros é importante para investigar a realidade de influência que seu tempo livre tem sobre o desenvolvimento desse sujeito. A dinâmica sociocultural da vida juvenil reflete diretamente na realidade da organização da vida deles, e em seus desdobramentos perante possibilidades culturais e experiências a serem vividas em seu tempo livre. Então é em seu tempo livre, em descontrações e atividades corriqueiras do dia a dia pós/pré aula, que os jovens constroem suas próprias normas e expressões culturais, seus ritos, suas simbologias e seus modos de ser. É nesse momento que criam ou são influenciados por modelos de imagens, de referências ao como querem ser, ao que querem se tornar. É importante levar em conta que, o que o jovem vive em seu tempo livre faz parte da construção de sua sociabilidade, influenciando na identidade a ser construída. Portanto o lazer pode ser um espaço para a aprendizagem de dinâmicas sociais, diferentes práticas culturais e de lazer em grupo, nos espaços públicos podem ser consideradas como experimentações onde se abrem portas para produções subjetivas. O projeto desenvolvido nesse TFG intenciona criar espaços culturais espalhados pelo bairro de intervenção que permitam ocupações de diversas atividades de lazer e cultura, com a finalidade de promover um escape da rotina e das obrigações, para que nesse ambiente os jovens possam viver novas experiências e se permitirem viajar para uma nova realidade. Esses espaços funcionam como palco para novos grupos, eventos e expressões, mas também como um ponto de resistência para as atividades do entorno que já existem, acontecerem, crescerem e


se espalharem. Para Juan Okamoto, 1999, a experiência é uma resposta ao ambiente, sendo assim devemos criar ambientes que permitam o desenvolvimento de vivências diversas e que sejam propensos para possibilidades de interações sociais através de atividades de relações interpessoais, ressignificando produtos culturais e gerando processos de identificação cultural para o jovem. Ao se identificar com algum lugar, o jovem se sente pertencente àquela cultura e logo àquela realidade, o que pode gerar uma possível influência de novas possibilidades para si. Para o filósofo Martin Heidegger, 1951, o homem só é capaz de habitar e criar laços de relação com o lugar quando ele se identifica e se sente abrigado por ele. Os espaços podem ter a influência de serem elementos formadores da memória e identidade, como as escolas por exemplo, que são importantes não somente como espaços de educação, mas também de socialização. São o primeiro e mais duradouro espaço de encontro com a comunidade que as crianças entram em contato. As escolas desempenham papel fundamental na formação da identidade, além de serem os suportes físicos das diversas relações sociais cotidianas dessas crianças. São onde elas terão contato com outras realidades, outras pessoas e outras visões de vida e assim formar a sua própria a partir do que vê em seu arredor. A construção de identidade é uma forma de sobrevivência social, fundamental para que se estabeleçam pertencimento e relações interpessoais que geram aprendizados e influências. Na opinião de John Locke, 1693 a apreensão do conhecimento se faz a partir da experiência advinda do estímulo e reações de momentos vivenciados em relação ao meio ambiente. A nossa percepção é uma resposta aos estímulos externos, ou seja, a nossa experiência será

baseada no que o espaço emitirá. Assim como nossa vivência será pautada no que nos é permitido fazer baseando-se na liberdade do espaço, ou no aprisionamento dele, e na acessibilidade social. Segundo Christian Norberg Schulz, 1963, em “O fenômeno do lugar”, para que o usuário desenvolva uma relação com o local, ele precisa se identificar e criar laços com o espaço em questão, laços que podem ser desenvolvidos através de diversas técnicas da arquitetura e da fenomenologia. Uma delas é criar uma ambientação, criar um espaço em que as pessoas se sintam confortáveis e queiram passar mais tempo nele. O conceito de habitar envolve o fato de o usuário se sentir conectado com o lugar, que ele se identifique, crie laços e memórias e é por conta desse laço criado que ele vai passar a frequentar o local e desfrutar das atividades que lhes são possibilitadas. Quando se fala em vulnerabilidade social, essas condições só não são suficientes. Entretanto, se associadas ao amparo às lógicas locais, podem contribuir às experiências valoradas pela fenomenologia e ao fortalecimento de um sujeito crítico e agente. Portanto o jovem precisa se identificar com o lugar e com espaços que o amparem para que continue frequentando e assim se construindo através da conexão entrelaçada com alguma especificidade ali encontrada. O fato de muitos jovens nunca terem participado de eventos culturais, fortes, de manifestações de culturas locais, em espaços públicos demonstra a precária apropriação da cidade como espaço educativo, de encontros e sociabilidade, revelando uma falta de identificação do jovem com sua cidade. Eventos públicos tanto culturais quanto esportivos são uma estratégia para gerar uma convivência coletivo, ainda assim muitos jovens não conseguem desfrutar de diversas dessas contribuições por di23


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ficuldades financeiras que inviabilizam o transporte, por exemplo, com a falta de dinheiro para o bilhete da mãe, ou do próprio jovem quando o passe livre acaba no meio do mês, ou pela falta de disponibilidade de um acompanhante(quando os pais estão trabalhando, o que se torna mais complexo ainda quando são crianças que cresceram só com um dos pais) ou ainda pela falta de tempo já que alguns jovens começam a trabalhar desde muito cedo e entre outros empecilhos econômicos e sociais. Quando se estuda as preferências dos jovens em relação a opções de ocupação do tempo livre, notamos que muitos se envolvem em interações sociais, agrupando-se. Segundo a pesquisa “Um olhar sobre o jovem do Brasil” (Fundação Oswaldo Cruz, 2008), 45% dos jovens buscam realizar atividades de lazer e entretenimento apenas em seu final de semana, sendo entre elas sair com os amigos, namorar, passear, sair para dançar ou ir ao shopping, 22% dos entrevistados se ocupam com atividades dentro de casa vendo TV, ouvindo música e descansando, 18% desses jovens buscam atividades esportivas como futebol, ciclismo, atletismo ou academia, e apenas 6% procuram por atividades culturais. Expondo assim o grande potencial que a criação de uma espacialidade que abrigue grupos e atividades em conjunto tem, e assim a importância de espaços de sociabilidade e de amparo para o tempo livre. De acordo com Michael Mario dos Santos nas ciências sociais, “agenciamento refere-se à capacidade dos indivíduos de agir, independendo de fazerem suas próprias escolhas, e estrutura refere-se aos fatores de influência que determinam o limite de um agente em suas decisões. A diferença entre estruturação e agenciamento é debatido na incerteza pela qual as ações pessoais são contrariadas pelo sistema social” (SANTOS,

2011, p. 34). A arquitetura pode ser uma estruturadora da comunidade a partir do momento em que ela usa de sua habilidade de promover situações sociais para permitir que essas interações se tornem atividades corriqueiras que possam agregar experiencias positivas na bagagem profissional ou educacional do jovem que frequenta esses espaços culturais, abrindo seu leque de oportunidades. Ainda de acordo com o mesmo autor “Na consulta humana a ação é dirigida pela racionalização do processo no qual a intencionalidade requer uma certa rotina monitorizada em constante interação. Uma norma como razão figurada na fatualidade da vida social.” (SANTOS, 2011, p. 35). O agenciamento é a coerência da intencionalidade. Na arquitetura o agenciamento programático intenciona que seu uso resulte em ações dos usos humanos, tem a intenção de que seus espaços gerem atividades, e que essas atividades resultem positivamente em seus usuários. “O domínio cognitivo é caracterizado pela capacidade de um agente produzir um efeito sobre o corpo ou o espaço”. (SANTOS, 2011, p. 36). O autor Igor Guateli, 2013 também fala sobre os agenciamentos programáticos na arquitetura, a partir do conceito de máquina e da capacidade do espaço influenciar e amparar eventos, dinâmicas, situações e atividades. Em seu texto ele questiona “E se a força do objeto arquitetônico estivesse concentrada nas estratégias programáticas e espaciais engendradas a serviço da ‘habitabilidade’’ (GUATELI, 2013, p. 146). A força da arquitetura não necessariamente está no programa que ela impõe no espaço implantado, mas sim em aquelas atividades que se são propicias a florescerem em sua espacialidade e no reforço sobre aquelas dinâmicas que já existem no entorno atingido, está no seu poder de abrigar o usuário da região. 25

Imagem fornecida pelo portal Vitruvius


É fato que acontecimentos do cotidiano podem ter grande influência sobre nossas decisões de vida. A arquitetura como objeto construído é um fenômeno capaz de produzir efeitos, mas é a boa arquitetura que consegue fazer com que esse efeito se torne, talvez uma boa experiência que seja capaz de influenciar positivamente no desenvolvimento social e cultural daqueles que a vivenciam. Os exemplos mais emocionantes são os de fortalecimento como sujeito assim como o do cantor Criolo, nascido na favela das Imbuias, zona sul de São Paulo. “A certeza, na favela, é que eu não seria nada”, disse Criolo em entrevista ao site jornalístico Ponte, 2015. Para o MC a baixa autoestima e a sensação de não pertencimento entorpecem os jovens da periferia. Alguns assumem qualquer risco, diz ele, para serem socialmente aceitos. A realidade da dinâmica social alternativa ilegal do jovem em situação de vulnerabilidade econômica e cultural só reforça a importância de se apresentar alternativas a outras experiencias criativas, de expressão, de sociabilidade e de intelectualidade. Essas atividades alternativas podem fazer com que o jovem olhe para o futuro com uma nova esperança diante dessas novas possibilidades apresentadas.

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Ii.Ii. CULTURA DOS JOVENS 28


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uando em busca de levantar dados sobre tempo livre, lazer e cultura no Brasil, em relação aos jovens deparase com um quadro de escassez. As pesquisas aqui mostram o grande desfalque de acesso das crianças, principalmente de baixa renda, a alternativas culturais, de expressão e produção. Esse déficit cultural e educacional torna-se mais preocupante quando relacionamos à grande desigualdade vivenciada pela população de baixa renda nas cidades brasileiras. Esse é um antigo ciclo que o mundo conhece e que a arquitetura sozinha não tem o poder de solucionar, essa disciplina, pelo potente instrumento com que trabalha – o projeto- pode e deve criar alternativas e possibilidades, a partir do pensar em espaços que amparem e fortaleçam dinâmicas sociais, e abrigando o desenvolvimento cultural de uma região, reconhecendo e permitindo experiências emancipatórias. Dentro desse tema pode-se abordar a discussão de direito à cultura. Os espaços de cultura e lazer oficiais, e suas potencialidades, ficam à mercê da disponibilidade fornecida pelos poderes maiores. Falar em direito cultural além de se relacionar com o amplo e universal acesso, tem a ver com a condição de produção cultural e valorização da memória afetiva coletiva.

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Segundo a pesquisa “Um olhar sobre o jovem do Brasil”, 2008, podemos acompanhar o acesso dos jovens em atividades culturais e esportivas, oferecidas pelo poder público ou por ONGs. “Em relação aos projetos culturais, 88% dos jovens informaram nunca ter participado de algum deles, índice que aumenta para 94% entre os jovens do meio rural. A proporção entre os jovens das capitais e do interior que tiveram acesso a esses projetos é de 17% para aqueles e de 8% para estes. Dos 11% de jovens que afirmaram ter participado de algum projeto cultural, 6% o fizeram há menos de um ano e 4% há mais de um ano. 58% dos jovens nunca participaram de shows ou outras atividades culturais realizadas em praças públicas. Mais da metade dos jovens brasileiros declarou na pesquisa que gostaria de fazer parte de algum clube ou associação esportiva.” (Fundação Oswaldo Cruz, 2008, p. 33)

Os jovens vulneráveis são os que têm menos acesso e são os que deveriam ser mais priorizados. A relação do jovem com a cultura se torna um fazer político a partir do momento em que se gera uma resistência a partir de uma apropriação e ressignificação dos espaços urbanos. O direito à cultura não diz respeito apenas ao lazer ocupacional do tempo, mas se torna uma saída para o desenvolvimento da identidade em um contexto de segregação social. A comunidade não é uma partilha apenas espacial, mas ela se configura como uma união com a finalidade da busca de direitos e lutas. Hoje vemos 29


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Corte urbano no Jabaquara, produção própria durante o desenvolvimento do TFG, 2020.


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emergindo grupos sociais de esporte ou cultura que trazem consigo uma luta por direitos de negros, mulheres, LGBTs + outros. Um exemplo estudado é o grupo Bocada forte, um grupo que trata sobre o Hip Hop e suas culturas, e age na Zona Sul como fortalecedor dos jovens, fornecendo espaço para treinos, quadras para esporte, palco para apresentação e incentivando o desenvolvimento de atividades que poderão se tornar uma alternativa até de interesse profissional. Desde 1999 o Bocada Forte vem sendo um dos maiores portais de hip hop no mundo, sendo o primeiro blog sobre essa rica cultura que foi criado no Brasil, e vem realizando um admirável trabalho em divulgar o breaking, graffiti e os djs que estão envolvidos no movimento do hip hop. Além de ser responsável por organizar diversos eventos e encontros com o tema abordado, a ONG incentiva diversos artistas dando voz e publicidade para eles, fortificando-os e ajudando-os a crescer cada vez mais. É uma ação muito importante na comunidade. Outro importante tipo de incentivo cultural que deve ser desenvolvido para os adolescentes são aqueles que envolvem diretamente a identificação dos grupos. Ao desenvolver atividades que valorizem o nome da cultura periférica, esta ganha força dentro da comunidade, dando visibilidade aos produtores culturais do próprio bairro. O termo periférico, era comumente usado de forma pejorativa, desvalorizando as expressões artísticas criadas por pessoas que viessem de comunidades, mas atualmente por ação política dos grupos de jovens dos bairros periféricos, essa condição se ressignificou , caracterizando movimentos artísticos locais que saíram da invisibilidade a que estavam submetidos, ganhando força e reconhecimento, tornando-se sinônimos de luta e resistência para a 32

própria comunidade. Como aponta Renato de Almeida,2005, mestre em Antropologia, “a produção cultural presente nos bairros de periferia envolve também uma reconstrução espacial e do olhar para o espaço urbano na qual o bairro torna-se uma mediação na relação com a cidade e com as estruturas de poder”. (ALMEIDA, 2005) É com o objetivo de incentivar movimentos como esses que a Ação Educativa, ong que dedica em formar jovens com enfoque a cultura e educação, possui a Agenda Cultural da Periferia com um guia mensal das atividades culturais acessíveis. O país – por meio de agentes oficiais do Estado nesse momento em que vivemos governos extremamente conservadores- continua tratando a cultura com menos importância, mas há um conjunto de experiências culturais e jovens emergindo que recolocam a importância estruturadora da dimensão cultural. Em tempos de uma pandemia que está gerando um mundo de isolamento físico e social, está se criando uma consciência sobre a importância da cultura: o confinamento está colocando em evidência a notoriedade que a cultura tem na vida e no cotidiano das pessoas. .

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“Espera-se que uma política pública democrática neste âmbito seja capaz de promover a cidadania cultural, para que amplie a capacidade crítica dos jovens frente à tendência das indústrias culturais de homogeneizar e reforçar guetos de identidade.... Nas médias e grandes cidades brasileiras, as periferias, os bairros populares, os morros e as favelas são verdadeiros desertos de equipamentos e instalações culturais. Ainda que sua média seja elevada, estes se encontram concentrados em centros culturais de difícil acesso físico e simbólico para os setores populares.” (Fundação Oswaldo Cruz, 2008, p. 33)


A desigualdade econômica age de diversas maneiras na vivência dos cidadãos, ela é capaz de gerar uma desigualdade de acesso aos equipamentos de cultura e lazer, gerando desvantagens sociais. Políticas públicas para a juventude precisam somar forças para suprir as condições de desigualdade em relação ao acesso à cultura e ao lazer, ampliando as possibilidades desses jovens para que se atue de maneira democrática, favorável para se desfrutar do tempo livre e fazer florescer realidades locais. A pesquisa “Um olhar sobre o jovem do Brasil” Fundação Oswaldo Cruz, 2008, revela que é preciso favorecer o acesso a espaços, equipamentos, instituições e serviços que são voltadas à dimensão cultural. O estudo ressalta a importância que existe em compreender o tempo livre do jovem e as consequências que se podem trazer dele, já que não se trata, aqui, apenas de um momento de lazer, cultura desinteressada e entretenimento. Dando-se sua devida atenção, o fazer e experiencias culturais, no cotidiano, pode se tornar um momento de aprendizado, desenvolvimento social e de criação de identidade. Segundo o artigo “Juventude, direito à cidade e cidadania cultural na periferia de São Paulo”, o jovem do bairro periférico se identifica com sua região quando ela se torna uma referência pra ele, como um espaço seguro, apesar de sua alta taxa de violência, pois ali é um espaço onde ele se sente abrigado e familiarizado. A relação de proximidade e pertencimento em relação ao seu bairro pode ser revelada na forma como os jovens a nomeiam: “pedaço”, “quebrada”, “comunidade”. Esses termos costumam se referir ao espaço intermediário entre o privado e o público, “onde se desenvolve uma sociedade básica, porém mais ampla

que a fundada nos laços familiares, e mais densa, significativa e estável que as relações formais e individuais impostas pela sociedade”. (ALMEIDA, 2012, p. 157) Na Pesquisa “Juventude e integração sul-americana”, (Ibase e Instituto Pólis,2009), a circulação e mobilidade nas zonas urbanas e rurais aparecem entre as principais demandas dos grupos de jovens pesquisados em vários países da América do Sul. Além da necessidade de criação de equipamentos culturais nas periferias, os jovens têm o direito à mobilidade para o lazer, usufruir os bens que só os bairros centrais possuem, por exemplo, assim como de outros municípios. A dinâmica de apropriação da cidade, de seus espaços e equipamentos faz parte do direito à cidade, o mais básico. Como já falado, é no lazer que os jovens direcionam o desenvolvimento de sua identidade, através do envolvimento social, criação de relacionamentos e sentidos estéticos. Essas atividades geram uma consciência de liberdade ao permitir um descanso da rotina cotidiana de trabalho e obrigações sociais. É difícil analisar o papel dos coletivos culturais sem relacioná-los com o universo do lazer. O lazer se tornou uma grande forma de atuação política, e é através das manifestações culturais que se promovem os encontros e reuniões de cada vez mais pessoas, que se voltam para a luta de reconhecimento de seus bairros, da cidadania e de seus direitos. A solidariedade atrai para o compromisso. .

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Segundo Renato Souza de Almeida, 2012 em seu artigo “Pensar a resistência pela cultura é compreender que a ação política adentrou o cotidiano e, por outro lado, que a cultura se faz presente neste cotidiano. E isto, nem de longe, quer concluir pela perda de sentido do público e nem pelo entendimento de que, de agora em diante, a produção de subjetividades é que orienta toda e 33


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qualquer forma de resistência. Não é a ação em si que determina sua eficácia política, mas o contexto no qual a ação está inserida. Referindo-se ao pensamento de Raymond Williams e sua concepção de cultura, Terry Eagleton aponta que a cultura não é em absoluto inerentemente política. Não há nada de inerentemente político em cantar uma canção de amor bretônica, organizar uma mostra de arte afro-americana ou declarar-se lésbica. Essas coisas não são nem inata nem eternamente políticas; tornam-se isso apenas sob específicas condições históricas, geralmente de um tipo desagradável. Elas se tornam políticas apenas quando são apanhadas num processo de dominação e resistência – quando essas questões, de outra forma inócuas, são transformadas por uma razão ou outra em terrenos de disputa.” (ALMEIDA, 2012, p. 167)

Nos últimos anos diversas propostas como o Fundo Cultural (fundo de apoio ao desenvolvimento cultural criado pela lei Rouanet, 1991) vêm surgindo nas periferias, com intenções, apropriações e ressignificações de espaços públicos; viabilizando o acesso para a população sem renda. Os coletivos periféricos organizam a resistência “reapropriando” e “ressignificando” produtos culturais de caráter “central”, construindo suas manifestações próprias nas regiões da cidade em que moram, que são mais esquecidas e, como consequência, estas estratégias que se localizam no campo da cultura e da comunicação, neste contexto de globalização, tornam-se resistências políticas. Um debate decorrente dessa condição, é o do direito à cidade e para quem ela é. Uma cena que vem ocorrendo mais 34

frequentemente é a de grupos de jovens dando início à variadas atividades culturais em um espaço esquecido da cidade, o que acaba por atrair uma atenção do poder público, da sociedade, da população moradora do bairro e da especulação imobiliária e então surge um debate político sobre o uso do local, a necessidade de se manter aquelas ações ali e de fazeremnas crescer e acolher mais gente. É o direito à cidade se transformado em direito à cultura, dando palco e acesso a ela.


II.II.

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IiI.I. CULTURAs e políticas públicas 36


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4 Alguns Pontos de Cultura encontrados na região de intervenção do TFG. Mapa disponibilizada pelo site CULTURA VIVA. REDE DE INCENTIVO E DISSEMINAÇÃO DE INICIATIVAS CULTURAIS.

1-Escola nômade de filosofia, 2- Raiz ancestral, 3- Mucambos de Raíz Nago, 4- Cia. Maja de teatro e dança, 5- Associação comunitária cultural constelação CCCC.

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A

poder captar recursos junto a apoiadores (pessoas físicas e empresas) que poderão anular aquele apoio do Imposto de Renda. Todo projeto cultural, de qualquer artista, produtor ou agente cultural brasileiro, pode se beneficiar da Lei Rouanet, pessoas físicas e jurídicas de direito público ou privado, com ou sem fins lucrativos, podem propor projetos. É um recurso que tem ajudado a manter projetos como Masp, Orquestra Sinfônica de Heliópolis, Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, Orquestra Sinfônica Brasileira, Inhotim, Instituto Tomie Ohtake, Bienal de São Paulo, a orquestra do maestro João Carlos Martins e o Projeto Guri.

s discussões mencionadas anteriormente demonstram mais ainda sua importância quando desencadeiam ações públicas em favor da população em questão. Assim vemos mais ainda o valor de iniciativas de ongs e grupos sociais com suas consequências perante a comunidade, com as conversas e ações que fazem surgir essas políticas tão importantes. Aqui serão listadas algumas iniciativas em relação à cultura e à arte, seus objetivos e papeis na comunidade. Os capítulos a seguir são compilados do site da Prefeitura de São Paulo com informações sobre legislações de suporte à cultura. .

Lei Rouanet, ou Lei de Incentivo à Cultura A Lei Rouanet foi criada pelo Pronac (Programa Nacional de Apoio à Cultura) e tem o objetivo de apoiar e direcionar recursos para a cultura. A Lei inclui o FNC (Fundo Nacional de Cultura), com recursos preferidos para atividades culturais. Para poderem desfrutar deste apoio, as propostas são escolhidas por processos seletivos da Sefic (Secretaria de Incentivo e Fomento à Cultura). “Quem decide o financiamento são as empresas ou cidadãos que patrocinam ou doam aos projetos. A decisão não é do governo”, explica o MinC. Um produtor cultural, artista ou instituição, como um museu ou teatro, por exemplo, que planeja fazer um evento cultural pode submeter sua proposta para a análise da Secretaria Especial da Cultura do Ministério da Cidadania e receber o apoio da Lei de Incentivo à Cultura. Se a proposta for aprovada, o produtor vai

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PROGRAMA CULTURA VIVA O programa Cultura Viva foi um dos programas que mais descentralizou recursos em SP. Criado em 2013, a partir de parceria entre a Secretaria Municipal de Cultura e o Ministério da Cultura, o Programa Cultura Viva Municipal tem como objetivo impulsionar o desenvolvimento cultural da população, incentivando atividades culturais propostas por ongs e dando acesso aos meios de produções culturais a partir das ações de uma rede municipal de pontos de cultura. Os Pontos de Cultura são organizações culturais que “articulam e impulsionam um conjunto de ações em suas comunidades e não possuem um modelo único, nem de instalações físicas, nem de programação ou atividade” (MInC), são entidades ou coletivos certificados pelo governo federal. O programa gera uma integração do poder público com a comunidade, respeitando a dinâmica local e social da comunidade onde se inseriu.


Ela não gera uma implantação forçada de dinâmicas isoladas do contexto, mas sim para reforçar as já existentes, e as fortalecer. A finalidade central da rede consiste na articulação, divulgação e troca de experiências entre todos os Pontos de Cultura participantes. A proposta é que isso ocorra em uma escala local, regional e municipal envolvendo também outros atores culturais como organizações parceiras, equipamentos públicos de cultura, educação, Fóruns de discussão, etc, além da relação de troca com programas da Secretaria Municipal de Cultura como o Programa VAI, Programa Agentes Comunitários de Cultura, Programa Aldeias e Programa Fomento à Cultura da Periferia de São Paulo. .

VAI

Os bairros periféricos concentram a maior parcela da população pobre, e é onde as políticas públicas menos chegam, dificultando a implantação de grandes equipamentos culturais. Foi a pensando nessa discussão que nasceu uma das mais conhecidas das políticas públicas focada na juventude: o Programa de Valorização das Iniciativas Culturais - VAI. O VAI, foi criado pela lei 13.540 e regulamentado pelo decreto 43.823/2003, para apoiar, através de subsídio, atividades artístico-culturais, principalmente de jovens de baixa renda e de regiões mais afastadas do foco central do Município, com déficit de recursos e equipamentos culturais. O VAI tem como finalidade, segundo o Minc: “incentivar o desenvolvimento do criador de cultural local e fazer com que todas as formas de cultura sejam aceitas e que as pessoas possam aderi-las.” Uma das riquezas do Programa é

integração de linguagens e intervenções. Os participantes realizam montagens, produções e apresentações de teatro, dança e música, há exibição e produção de vídeos e gravação de cds, oficinas artísticas, eventos culturais com manifestações de rua e em espaços fechados, festivais, cultura indígena, cultura popular, capoeira, rádio, hip hop, produção e publicação de jornais, revistas e livros, saraus, contadores de histórias, biblioteca, videoteca, memória, formação de produtores culturais, cultura digital, desenho e entre outros. A seleção dos projetos é realizada pela Comissão de Avaliação e Propostas que prioriza jovens de baixa renda (entre 18 e 29 anos), não profissionais, de regiões do Município mais prejudicados em questões de recursos e equipamentos culturais. Para o VAI o desenvolvimento dos participantes a partir da gestão e produção dos projetos é o mais importante, por isso o programa intende acompanhá -los durante toda a produção através de orientações com reuniões, atendimentos e visitas. .

PROGRAMA FOMENTO

DE

Os programas de fomento da Secretaria de Cultura e Economia Criativa têm o objetivo de apoiar financeiramente artistas, grupos, instituições e coletivos que pretendem realizar projetos culturais. O fomento ocorre por meio de quatro programas que atuam de maneiras complementares: O ProAC Expresso Editais que funciona por meio de seleções públicas para linguagens artísticas ou segmentos específicos. Os projetos recebem financiamento da Secretaria de Cultura e Economia Criativa; O ProAC Expresso ICMS que funciona por incen39


tivos fiscais. Os participantes podem captar recursos através da iniciativa privada. As empresas patrocinadoras estatais paulistas recebem de volta o valor investido como descontos no ICMS; O Programa de Fomento acontece pelas Leis federais Rouanet e do Audiovisual. E o Prêmio Estímulo ao Curta-Metragem que tem como objetivo ter como produto dos projetos de audiovisual, filmes com até 25 minutos de duração. O Movimento Cultural das Periferias elaborou a Lei de Fomento às Periferias ao longo de três anos. Eles reivindicam cerca de R$ 20 milhões anuais para investimento em iniciativas culturais nas comunidades. No site da prefeitura de SP se encontram os programas de fomento atual, são eles: O Programa Municipal de Fomento ao cinema que incentiva, por meio de patrocínios auxiliares, a produção nacional, que explora obras audiovisuais através de longas e curtas-metragens, roteiros, documentários e animações; O programa Municipal de Fomento a Dança que tem como objetivo destinar recursos para pesquisa, produção, circulação e manutenção de companhias de dança de SP, que visa apoiar grupos, selecionando trabalhos continuados de dança contemporânea e propagar sua produção independente, assim como garantir um maior acesso do público; O Programa Municipal de Fomento ao Teatro que visa incentivar novos e existentes trabalhos continuado de teatro, para incentivar um acesso maior da população através de grupos profissionais financiados e acontece em espaços públicos revitalizando áreas esquecidas e degradadas ao levar o teatro para as ruas. Além disso temos também os editais de apoio cultural como: o Edital de Apoio à Criação Artística que tem como finalidade apoiar o desenvolvimento ar40

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tístico em Sp a partir das itinerâncias dos circos, garantir um maior acesso do público, incentivar as produções circenses e promover suas diversidades; O edital Redes e Ruas para apoiar a inclusão, cidadania e cultura digital, com atividades em telecentros, praças com o programa WiFi Livre SP e em parceria com os Pontos de Cultura de São Paulo (já mencionado anteriormente), o programa visa incentivar ações de cultura, inclusão digital e iniciativas de ocupação dos espaços públicos em SP; O Edital de Apoio à criação artística – Música, que visa financiar obras musicais, incentivar e propagar a produção musical, aumentar o acesso da população e fortalecimento de locais com capacidade de promover diversas manifestações musicais, além do foco na criação, produção e difusão da música; O Edital de apoio à Criação Artística – Linguagem Reggae, que seleciona, para financiar, 8 projetos que impulsionam a cultura do reggae, visando incentivar a produção e propagação do reggae, proporcionar maior acesso à população e fortalecer a diversidade e riqueza desta cultura; O Edital inédito de Publicação de Livros que incentiva autores não estreantes; O Edital de Fomento ao Serviço de Radiodifusão Comunitária; O Edital de Arte de Rua- MAR, que tem como objetivo aumentar a visão para a Pintura de Rua e incentivar diversas vertentes da arte urbana; E o Prêmio Zé Renato para incentivar o desenvolvimento da produção do teatral. “A periferia tem a maioria da população, mas sempre fica com as migalhas”, lembrou Aurélio Prates Rodrigues, que mora em Cidade Ademar e integra o coletivo A Princesa da Zona Urbana, “Mais da metade dos equipamentos culturais ficam nas subprefeituras da Sé e de Pinheiros, enquanto Ermelino Matarazzo e Cidade Ademar têm zero”.

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ECONOMIA DA CULTURA= GERADOR DE EMPREGOS E RENDA A cultura é um setor em crescimento que movimenta um capital considerável o que está começando a atrair a atenção de políticos, ela tem um dinamismo e uma capacidade de atrair a população, o que resulta em ela estar no centro das políticas públicas, fatos que podem ser vistos ao refletirmos sobre o número crescente da quantidades de pessoas que estão visitando museus e exposições em SP. Existem algumas culturas que vão de encontro com a proposta de experiencia social do espaço público. A cultura urbana do automóvel (como micro espaço de vida - individualismo) x conflitando com os outros meios de transporte, ela faz com que seus usuários não vivenciem as dinâmicas do andar a pé, a bike, metro ou ônibus, ao se locomover na atmosfera do transporte individual, o usuário tem uma leitura diferente do seu entorno. O contato direto com a cidade está restrito ao momento de embarque e desembarque do veículo, não há uma vivência ou uma experiencia espacial. Como descreve Paola Berenstein, 2011, o automóvel tira a oportunidade de se ter uma experiencia de homem lento, de vivenciar e viver a cidade de uma forma lenta, aprofundada e mais real. Já a internet, uma cultura que a princípio acarretaria uma individualidade maior, hoje serve como divulgador e propagador de encontros, eventos e manifestações gerais, favorecendo e propiciando experiencias sociais. Em uma entrevista, Nabil Bonduki em 2013, fala sobre o conflito do uso do espaço público como por exemplo a ocorrência de manifestações x aqueles

que querem espaço silencioso. O espaço público é um espaço livre onde podem e devem ocorrer diversas manifestações culturais, artísticas, políticas ou diversas, manifestações essas que geram movimentação e barulho. Essas consequências contribuem para a individualização de pessoas que buscam outra vivência espacial e assim acaba indo atrás de espaços individuais, particulares, isolados e silenciosos. O que vai de encontro com aqueles que buscam a convivência, que vão para os espaços públicos buscando formas de encontro. A cultura interpassa com todas as políticas públicas, não temos como pensar em educação e formação desvinculado da cultura, as diversas formas de comunicação e aprendizados se refletem no contexto cultural. Além de sua transversalidade com a questão urbana, afinal todos os equipamentos culturais estão na cidade e exercem uma relação com o espaço da cidade, a própria cidade é um palco para a cultura, sendo ocupada em, desde eventos até manifestações culturais, políticas e sociais gerais, em praças, parques e espaços públicos. A cidade é palco. É necessário fazer acontecer nas periferias o que já acontece no centro de SP. Promover a relação entre cultura e cidade é uma das maiores riquezas culturais do centro, como por exemplo uma das maiores manifestações que é a virada cultural, mas também seria interessante a descentralização de outras manifestações artísticas como paradas, blocos de carnaval, feiras, encontros musicais, debates, combates de dança, batalhas de músicas e outros. Hoje um dos meios culturais mais visitados são os CCBBS (Centro Cultural do Banco do Brasil), espaços culturais geridos por bancos. E a dúvida que gera é, por que espaços privados atraem mais do que os museus históricos como a pi41


nacoteca? São questões de investimento ou divulgações? A grande discussão é que quanto mais se abandonam os pontos culturais públicos, menos investimentos eles recebem e assim os espaços culturais públicos acabam sendo abandonados.

QUARENTENA

Ao longo da quarentena o autocuidado deve tomar proporções ainda mais significantes no dia a dia da população. Isolar-se e se privar de atividades, passatempos, lugares e pessoas não é uma tarefa fácil e se manter com a saúde mental pode ser uma dificuldade, afinal é muito penosa essa experiência do isolamento social. E é nesse momento de tormenta que começamos a prestar mais atenção na importância que setores da produção humana, como o da cultura, têm nas nossa vidas, que muitas vezes a importância passa despercebida pelo olhar da população. Pensando nesse setor, que foi o primeiro a parar e será o último a retornar após a quarentena, foi criada a Lei (que recebe o nome do compositor Aldir Blanc) de auxílio emergencial aos profissionais do setor cultural durante a pandemia. Ela prevê o uso de R$ 3 bilhões para ajudar milhares de trabalhadores da cultura que estão em situação vulnerável. Aprovada na Câmara (04/06/20), aguarda a resposta no Senado para auxiliar o setor que emprega cerca de 5 milhões de pessoas. O texto traz as fontes de financiamento e prevê a descentralização dos recursos a Estados e Municípios para fortalecer o Sistema Nacional de Cultura. A lei ainda dará subsídio para a manutenção de espaços artísticos como microempresas, cooperativas e organizações sociais.

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Dia 30/06/20, ainda em quarentena, a Secretaria da Cultura anunciou que foi sancionada pelo Governo Federal a Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc (PL1075). A lei que visa auxiliar a classe artística, cujo trabalho é um dos mais afetados nesse período por ter sido um dos primeiros a ser interrompido e um dos últimos a voltar para suas atividades, auxilia trabalhadores informais, com uma ajuda de R$600,00 reais durante 3 meses e recursos para espaços artísticos e cooperativas culturais. Além disso, uma parte dos recursos federais serão destinados a editais municipais que fomentem as atividades artísticas. Nas regiões periféricas há um público muito necessitado de equipamentos que incentivem a cultura, que permitam a ocupação de grupos sociais e que criem atividades para os jovens e crianças de comunidades carentes. É, mais que nunca, necessário amparar as produções culturais locais e ampliar as oportunidades de acesso.


III.I.

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IiI.Ii. OLHA O DEGRAU 44


Atividade de intervenções artísticas na escadaria para as crianças da escola Estadual Oscar Pereira Machado, oficina contou com a participação dos estudantes para imaginarem o escadão dos sonhos. Crédito: Site ONG Cidade Ativa, 2015

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P

ensando em políticas urbanas que somassem no cotidiano dos jovens e trouxessem perspectivas e oportunidades, descobriu-se um projeto com uma intenção muito humana. No Jardim Ângela, bairro também da zona sul, o Instituto Cidade em Movimento desen-

Antes e depois das intervenções na escadaria Alves Guimarães. Crédito: site Ong Cidade Ativa, 2015

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volveu o programa Passagens. O bairro é conhecido por sua alta vulnerabilidade social e pelas surpreendentes taxas de violência, portanto o programa teve como finalidade escanear a área para poder desenvolver métodos que pudessem ajudar a melhorar essas questões, interferindo principalmente


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Mapeamento Colaborativo de escadarias. Crédito: Relatório Olhe o Degrau Escadaria Cotoxó, 2017

em vielas, passarelas, escadas, cruzamentos, e que melhorassem as condições de mobilidade dos moradores da região. Foi então que a ONG Cidade Ativa em associação ao projeto, trouxe a iniciativa Olhe o Degrau. O Instituto Cidade Ativa teve como premissa implantar nos projetos propostas para as necessidades reais dos usuários, por tanto. Para conhecê-las a fundo, foi feita uma leitura do local através da vivência, coletaram diversas entrevistas para assim, através do outro, criarem um partido. Nas entrevistas perceberam desejos em comum em quase todas as escadarias, por exemplo: melhor

iluminação, degraus regulares, corrimão e drenagem. Para integrar ainda mais os moradores com o projeto, decidiu-se fazer a intervenção em frente à escola Estadual Oscar Pereira Machado com uma oficina para poder trazer os usuários ao projeto ativamente, e assim engajá-los. Com a ajuda de outras ongs como a GEDI Desenvolvimento e Inovação e do Zoom Urbanismo, Arquitetura e Design realizaram oficinas de grafite, mosaico e construção de mobiliário urbano em conjunto com alunos, moradores e grupos locais como Ciclo Social Arte, Grêmio

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Partidos de projeto para escadarias. CrĂŠdito: RelatĂłrio Olhe o Degrau, 2017

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Transformação Jovem, Família Nakamura e Unidos do Macari. Após a intervenção foi realizado um novo estudo na região e notou-se que o número de transeuntes do local aumentou, começou a se notar crianças usando o espaço e a rua, e a população vivenciando mais aquela região renovada. As pessoas haviam mudado sua impressão do local e agora o consideravam menos ameaçador. Além das intervenções no bairro Jardim Ângela, a ONG Cidade Ativa

atua em várias outras regiões, e levou o Olha o Degrau para diversas outras escadarias. Com ações simples e participativas que podem ser executadas por toda a população, sem necessidade de muitos recursos essas ações geram um produto final impressionante que resulta no engajamento da população, e assim garantem a manutenção futura, inspirando a população à criação de outras iniciativas, dessa vez vindas de dentro da comunidade, uma vez que esta acabou por perceber sua própria força.

Visão Aérea da escadaria da Rua Cotoxó antes da reforma. Crédito: Relatório Olhe o Degrau, 2017

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A iniciativa tem como objetivos centrais: Evidenciar as escadarias como passagens seguras e espaços públicos atraentes, desenvolver as intervenções de forma participativa e engajadora, melhorar a qualidade de vida dos moradores, formar um grupo de voluntários e moradores para garantir a manutenção do espaço, incentivar a população a criar mais iniciativas como essa, segundo relatório Jardim Ângela, Olhe o Degrau, 2016. .

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Conectividade (próximo a metros e 6- pontos de ônibus, conexões com calçadas e ciclovias, próximos de equipamentos públicos, parques e praças). .

7- Resiliência e sustentabilidade (gestão de água, energia e resíduos, grelhas ou canaletas para drenagem, presença de lixeiras e conservação de limpeza, beirais e marquises, arborização, piso drenante e áreas permeáveis, iluminação natural, sistemas alternativos de abastecimentos). (Relatório Jardim Ângela, Olhe o Degrau, 2016.)

Passos das intervenções: Medições, levantamento geométrico e topológico; Avaliação de viabilidade de uso das escadas com 7 parâmetros, conforme relatório Jardim Ângela, Olhe o Degrau, 2016: Segurança (através de ilumina1- ção, quantidade de transeuntes, limpeza, conservação, usos abertos e em movimento no entorno, aberturas e conexões visuais). 2- Proteção (ausência de obstáculos, ausência de poluição e sujeiras, arborização, regularização do piso, corrimão e marquises). 3- Acessibilidade (Pavimentação adequada, ausência de obstáculos, corrimão, sinalização visual e tátil). 4- Diversidade e versatilidade (variedade em tipos de espaços e usos, patamares amplos que permitam receber, diferentes tipos de mobiliários, atividades temporárias, usos diversificados 24hrs, espaços de permanência, usos para diferentes idades, gêneros e habilidades). Atratividade (percepção senso5- rial, elementos lúdicos, locais para encontro, conversa e descanso, conservação visual, vistas para paisagem, design do mobiliário, materiais com diferentes cores e texturas).

Além disso, no relatório da Cidade Ativa, 2016, a ong atenta para outras preocupações em relação à escadaria como fluxos (subindo e descendo), tipos de percursos e permanências. Para coletar a opinião de moradores ela realiza entrevistas e cria uma dinâmica de painéis colaborativos onde os moradores que estiverem passando podem deixar seu voto, opinião ou rascunho. Como parte do reconhecimento da área, a ong levanta atores da região, ela pesquisa e conhece grupos ativos mobilizados em diferentes temas e funciona como núcleo de diversas representações da população local. A reforma da escadaria traz novos usos e olhares para uma parte da cidade que estava descuidada e esquecida. Por conta da intervenção, a iniciativa gera novas dinâmicas urbanas, encontros e espacialidades, um importante engajamento da população a partir da sensação de pertencimento do novo local e novas oportunidades como muros para os artistas da região. OBS: As metodologias que a ONG tem é muito rica e foi um parâmetro para parte da produção projetual com ênfase na intervenção urbana deste TFG.


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III.II.

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IV.I. METODOLOGIAS DE RECONHECIMENTO DE ÁREA

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Levantamento de equipamentos e CCAS e Ongs do entorno estudado, produção própria durante o desenvolvimento do TFG, 2020

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A

lém de criar pontos de re sistência que dão suporte e incentivam a permanência e implemento das atividades sociais na região, o projeto desenvolvido neste TFG tem como objetivo melhorar o aspecto de alguns percursos dos jovens do território estudado através de intervenções urbanas ao longo dos trajetos levantados. Uma das questões que fica é, como saber se as intervenções sugeridas vão funcionar, e alcançarão o objetivo de serem usadas e abraçadas pela população? De fato, não existe uma fórmula que garanta sucesso para implantação de intervenções urbanas, por isso é necessário buscar aproximações que auxiliem a propor ideias fundamentadas a partir de projeções de resultados com métodos de comparações, estáticas, estudos de projetos já executados semelhantes ao proposto, e principalmente conhecendo o território a sofrer alterações junto a população afetada, para assim conhecer para quem se está projetando e poder pensar soluções voltadas para esse público especifico, para que não se tornem propostas genéricas e impessoais . Só investigando a fundo o território que conseguimos descobrir suas verdadeiras problemáticas e é só entendendo a população que podemos compreender suas verdadeiras necessidades. Para BERENSTEIN JACQUES, 2011 perder-se pela cidade é uma das melhores formas de conhecer o território, “A experiência de errar pela cidade pode ser uma ferramenta de apreensão da cidade”. (JACQUES, Paola Berenstein, 2011, p. 192) Baseando-se nessa ideia foi que o TFG deu partido, foi através de visitas e vivências, através do adentrar o território sem planejar trajetos, que surgiram

descobertas cruciais para o desenvolvimento do trabalho e aqui serão descritas algumas das formas de abordagens do território. O bairro do Jabaquara contém muitas histórias e dinâmicas, é rico culturalmente e muito complexo, exigindo uma leitura igualmente complexa. Em primeira instância a fim de conhecer o bairro a fundo foram necessárias várias vivências onde houve tentativas de ter uma atitude semelhante ao do Flâneur personagem presente no texto de JACImagens fornecidas pelo Wanderley Duarte Rodriguez, conteúdo de uma entrevista à Revista Tribo Skate 2015.

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QUES, Paola Berenstein, 2011, o errante urbano, “a experiência do choque com o Outro, com os vários outros anônimos, a embriaguez da multidão – uma relação entre anonimato e alteridade que constitui o espaço público metropolitano”. (JACQUES, Paola Berenstein, 2011, p. 194). Buscava realizar-se visitas sem premissas e sem objetivos, onde apenas aconteciam caminhadas despretensiosas, deixando que o bairro contasse sua própria história e então assim poder conhecer riquezas como dinâmicas não tão visíveis aos que apenas passam por ali, espaços mais escondidos, ruas sem saída por onde ninguém passa a não ser que se tenha um destino ali e outros espaços urbanos não tão valorizados como a escadaria e os resquícios de traçado viário que foram, então, objeto de intervenção desse TFG. Por conta de uma dessas errâncias realizadas em época de carnaval que se descobriu-se, como uma surpresa a existência de uma importante dinâmica social para o bairro, que se tornou um ponta pé para este trabalho: o grupo de samba Flor de Liz. Foi por conta dessa descoberta que se teve a iniciativa de criar como partido pontos de reforço cultural para incentivar as riquezas já existentes no entorno. Após essa descoberta, as visitas começaram a ser direcionadas para descobrir mais dinâmicas sociais como essa e assim conhecer o bairro através dos moradores. A partir de então iniciaram-se descobertas sobre o bairro em questões de dinâmicas sociais, ongs, grupos e outras associações da área. Foi notado que a região é muito rica principalmente em instituições voltadas para crianças com atividades de aprendizado e associações relacionadas à música ou esportes. Esses eram os temas que mais se evidenciavam na região. Percebeu-se que o bairro supria a falta de grandes atrações culturais 56

através de suas próprias ações sociais, irrigando-se de dentro para fora, através de sua força como uma comunidade que se constitui. A grande presença de instituições para jovens foi uma observação consistente que revelou mais uma importante característica do bairro: a grande presença do público da faixa etária entre 12 e 18 anos que frequenta e vivência a região. Além disso, um dado que reforçava a informação é a grande quantidade de escolas na região, aproximadamente 38 no entorno estudado, segundo dados do Geosampa. A partir desse dado, resolveu-se focar nesse público como principal alvo de estudo e objetivo de apoio e incentivo, pois além de tudo, incentivando a garotada pela educação, acredita-se ser um grande meio de fortalecer a construção de um sujeito crítico e cidadão. Essa atenção para o público jovem tem uma motivação que vai além da intenção de gerar momentos de lazer mais enriquecidos. Segundo relatos da diretora do CCA MIOSÓTIS (Centro para Crianças e Adolescentes) em entrevista realizada em março de 2020, a instituição voltada para esse público, foi criada para manter os jovens longe das vivências negativas da rua. Uma das realidades presentes no bairro são pais ausentes e mães que cuidam dos filhos sozinhas e trabalham fora, portanto, as crianças não possuem companhia durante o dia ficando, na maioria dos casos, sozinhas em casa ou sem acompanhamento/orientação no espaço público. Em seu relato, a coordenadora conta que infelizmente recebe muitas notícias de uma porcentagem de jovens que após saírem do CCA (ao completarem 15 anos) acabam se envolvendo com uma realidade ilegal por conhecerem aquilo como caminho e muitos acabam presos ou até mesmo mortos pouco tempo após.


“Onde anda Wanderley Bolão”

Imagens fornecidas pelo Wanderley Duarte Rodriguez, conteúdo de uma entrevista à Revista Tribo Skate 2015.

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Essa preocupação reforçou a intenção de trabalhar com equipamentos – e espaços públicos – preenchidos por atividades culturais ou educacionais, que possuam uma área onde o jovem possa se se sentir confortável para ler, estudar, criar, projetar, usar uma biblioteca , debater; mas, também, onde possa entrar em contato com o esporte, grupos de atividades sociais, de arte ou outras áreas que não estão em foco nas escolas convencionais como dança e música. Essas integrações fazem com que o jovem, além de desenvolver interesses, possa enriquecer sua criação, e olhar para o futuro com uma nova esperança diante das novas possibilidades apresentadas. Como exemplo de instituições existentes no bairro, levantou-se alguns CCAS do entorno estudado, que são centros voltados para crianças. Sendo os principais da região: o CCA MIOSÓTIS, CCA AMAS JABAQUARA, CCA SÃO BENEDITO e CCA CIDADE VARGAS (MAMÃE) e o CCA LEIDE DAS NEVES (ACM/YMCA). Os CCAS possuem como foco a constituição de espaço de convivência a partir dos interesses dos jovens acolhidos (entre 6 e 15 anos). Os centros realizam atividades de contraturno baseadas em experiências lúdicas, culturais e esportivas como formas de expressão, interação, aprendizagem, sociabilidade e principalmente proteção social. Os centros procuram integrar também crianças e adolescentes portadoras de deficiência, retiradas do trabalho infantil, submetidas a outras violações de direitos ou sob qualquer tipo de vulnerabilidade, com atividades que contribuam para ressignificar vivências de isolamento, bem como propiciar experiências favorecedoras do desenvolvimento de sociabilidades e pre58

Imagens de produção próprias em visitas ao bairro Jabaquara, 2020


venção de situações de risco social. Têm como objetivo geral: ”Oferecer proteção social à criança e adolescente, em situação de vulnerabilidade e risco, por meio do desenvolvimento de suas potencialidades, bem como favorecer aquisições para a conquista da autonomia, protagonismo e cidadania, mediante o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários.” (DADOS: Site da PREFEITURA SP. CCAS, consultado em 2020) Além dos CCAS, outra dinâmica muito ativa no território são as organizações voltadas à dança e ao esporte. O terreno do clube Guarani foi uma grande descoberta, pois além da descoberta pessoal sobre os campeonatos de Gatebol que ali ocorrem, sendo esse um evento que traz uma grande movimentação na área, ele também abriga diversos eventos esportivos para jovens. O terreno em que ocorrem os campeonatos, foi descoberto por meio de um uma visita despretensiosa e sem seguir qualquer tipo de guia através do som alto do hip hop. Ao seguir o som deparou-se com algumas centenas de jovens andando de skate e então conversando com o organizador do evento, descobriu-se tratar de uma final de competição de skate, mas a maior descoberta foi a história por trás desse evento, a história de transformação e conquista do idealizador. O evento que ocorria estava sendo realizado pela ONG Skate dos sonhos, era uma Jam Session com premiação da Skate dos Sonhos & Gangster em comemoração aos 10 anos do Big Ball Project, e foi nesse evento que aconteceu o encontro com Wanderley Duarte Rodriguez, mais conhecido como bolão, um skatista profissional reconhecido nos anos 80, integrante da “facção Moemagem” (nome decorrente de um preconceito sofrido relacionado com a imagem desses jovens skatistas).

A descoberta pessoal de uma dessas histórias de transformação através do esporte foi uma grande influência impulsionadora para a construção desse TFG. Após superar seu vício em drogas pesadas, Wanderley tornou-se pastor e comandante do projeto social Big Ball, onde realiza atualmente ações sociais tendo como público alvo os jovens atraídos pelo esporte, pela música e pelo grafite, elementos da cultura do hip hop, além de diversos projetos de intervenção, como fez no colégio Leivas Leites-Pelotas ao instalar uma mini rampa como porta de entrada para gerar interesse nas crianças, proporcionando a valoração da dimensão do corpo em movimento. Em entrevista “Onde anda Wanderley Bolão” por Rodrigo K-B-ÇA, para a revista Tribo Skate, na edição 234 em maio de 2015, ele conta sua trajetória, como viciou-se em drogas, como o esporte o influenciou e deu forças para buscar ajuda que queria e como depois de tudo se tornou hoje uma figura de apoio para a comunidade.

“Em 2009 tive alguns problemas na presidência na Associação de Basquete de Rua de São Paulo e acabei voltando a morar em Belo Horizonte. Nesse retorno para Minas Gerais, acabei decaindo no uso de drogas e álcool, situação essa que culminou comigo morando na Cracolândia. Nessa mesma época acabei levando 6 facadas do meu próprio irmão, ficando entre a vida e a morte” ... “Minha Ong chama Big Ball e hoje temos um trabalho antidrogas e outro chamado ‘Resgatando vidas’ que ajuda pessoas sob influência das drogas e álcool, além de pessoas que buscam oportunidades.” (Wanderley Duarte Rodriguez, para Revista Tribo Skate, 2015, p.26)

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E são histórias como essas que nos motivam a criar espaços que abriguem associações e grupos sociais que possam influenciar outros jovens, a criar espaços em que as pessoas se sintam participantes para darem o uso que necessitam, permitindo uma aderência a partir da população. Que a arquitetura possa abrigar os usos sociais relevantes e que esses grupos possam retornar esses ganhos para si e para o coletivo. Nas visitas realizadas próximas ao carnaval (fevereiro de 2020), os ensaios dos grupos de samba animavam as ruas e reuniam uma grande parte da população para torcer, assistir e socializar nos galpões onde aconteciam os ensaios. E essa sociabilidade continua para além do carnaval, com os ensaios, organizações e produções. Escolas de futebol são uma temática evidente na região. Apesar da existência de algumas quadras na região, em uma conversa com um morador de cerca de 20 anos, descobriu-se que, na realidade, a maioria delas são de difícil acesso ao público e, por questões burocráticas, não é possível “apenas chegar e jogar com o grupo”, Joaquim, jovem morador abordado na rua em fevereiro de 2020. Portanto seria interessante a criação de outras quadras, ainda que menores, porém de fácil acesso tanto burocrático quanto de acesso físico e transporte, pois ao se espalhar mais esses focos de desenvolvimento de treinos de futebol, a probabilidade é que se tenha mais quadras próximas a mais casas desses jovens e assim seja possível acessá-las sem a necessidade do transporte público.

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Em seu texto, BERENSTEIN JACQUES, 2011, aponta a necessidade e potencialidade de conhecer o território através do outro:

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“O errante, ao buscar o estranho no cotidiano familiar, vai de encontro a esta alteridade e, assim, instaura o dissenso, que é precisamente o pressuposto básico que possibilita a constituição de qualquer esfera pública. A experiência errática é uma possibilidade de experiência da alteridade na cidade.” (JACQUES, Paola Berenstein, 2011, p. 192) Trecho que relata bem próximo o que aconteceu no desenvolvimento deste trabalho, foi através da visão dos outros que se descobriram precariedades, necessidades e potencias dos moradores que seriam afetados pela intervenção. (BERENSTEIN JACQUES, 2011)


IV.I. 61


IV.II. VIVÊNCIA PELO OUTRO 62


U

mas das melhores formas de conhecer um local é através daquele que mora ali, ideia reforçada pela declaração: “os que melhor conhecem o bairro são os moradores de rua, pois são os que o vivenciam radicalmente.” (BERENSTEIN JACQUES, 2011, p. 200) Por conta disso, decidiu-se conversar com diversos moradores da região, os que moram, usam, trabalham e frequentam, focando principalmente nos jovens. A fala do outro é sempre um grande veículo de aprendizado, a partir da qual se pode apreender dinâmicas muito importantes da região. Outro diferente, mas tão importante quanto, é o ponto de vista das crianças e jovens, pois é uma perspectiva que os adultos já não conseguem mais compreender por inteiro, além de existirem características da região que apenas eles conseguem apreender. Então para entender melhor a dinâmica do entorno, decidiu-se realizar para o TFG uma dinâmica de leitura de território com as crianças e os jovens do CCA MIÓSOTIS, localizado no bairro do Jabaquara. A dinâmica consistia em que eles transmitissem seus sentimentos em relação à região por meio de desenhos. Para a execução da atividade havia um roteiro, mas foi interessante per-

ceber no decorrer dela que ao tratar com jovens e crianças não se pode esperar uma ordem disciplinada, então acabou saindo do roteiro, mas o que foi interessante, pois gerou uma interação maior entre todos, e resultou em relatos mais intensos e inesperados da área. Em um primeiro momento foi entregue para os participantes um mapa da região, com imagem de satélite, com a intenção de avaliar a capacidade de percepção espacial deles, e admiravelmente muitos conseguiram identificar seu bairro, através de pontos referenciais como a pracinha ou a escola que estudavam. Na sequência foi pedido que, em ordem, identificassem com círculos onde estávamos (O CCA Miosótis), depois a escola que frequentam e depois, ainda, suas casas. Nessa etapa também foi identificado que muitos moravam bem perto, os possibilitando que fossem para lá a pé, mas alguns moravam bem longe, a ponto de seus bairros não aparecerem no mapa. Após essa etapa inicial foram distribuídos papeis sulfites e lhes foi pedido para identificarem lugares próximos dali que frequentavam; depois pontos da região que não gostavam ou desencadeavam sentimentos ruins; pontos que gostavam e por fim algo que gostariam que tivesse na região. Como resultado aqui estão alguns de seus desenhos na cartografia abaixo. 63


Por privacidade foram retirados os nomes dos participantes. A seguir uma coletânea de alguns dos relatos ouvidos durante a dinâmica e que acabaram se tornando um dos grandes motivadores para o andamento do trabalho. Jovem frequentador do CCA Miosótis: “a gente vem andando pra cá para não gastar com busão, mas temos medo de passar na pracinha por que é escura e cheia de árvores, e sempre tem alguns homens estranhos lá.” Março 2020. Auxiliar pedagógico do CCA Miosótis: “Infelizmente perdemos muitos alunos por conta de dificuldade de transportes, são crianças cujo os pais trabalham o dia todo, ou muitas vezes só possuem a mãe que tem que se virar para sustentar a casa e não tem como levar e trazer as crianças. Algumas são tão pequenas que a gente fica de coração apertado de deixá-las irem embora sozinhas, mas fazemos questão de ajudar pelo menos a atravessar a rua, e sempre alertamos a olhar para todos os lados. Algumas mães as vezes tentam fazer revezamento para trazer algumas crianças no intervalo do almoço e deixam de almoçar para isso, é de todo o esforço que fazem para manter as crianças longe das influencia negativas daqui enquanto elas estão trabalhando e as crianças sozinhas em casa, ou fora dela.” Março 2020. Jovem frequentadora do CCA Miosótis: “Não gosto de passar por aquela rua estranha lá, é vazia e apertada, tenho medo dos homens que passa por lá.” Março 2020. Jovem frequentador do CCA Miosótis: “Moro aqui pertinho, na rua de cima, mas sempre dou a volta na quadra pra passar na frente do tio das frutas, ele sempre do abacaxi pra gente.” Março 2020.

Coordenadora pedagógica do CCA Miosótis: “Infelizmente a gente escuta muita história dos jovens depois que saem daqui. Os números são assustadores e nos deixam muito tristes, é muito comum ouvirmos que um jovem, 2, 3 meses depois de ter parado de frequentar o CCA já foi preso, ou está vendendo droga, ou roubando ou até mesmo está morto por conta do tráfico. Essas histórias são muito comuns aqui na região e são elas que nos motivam a continuar a fazer nosso trabalho, apesar das dificuldades que temos também, mas sabemos que estamos ajudando a manter esse jovem longe da rua por mais tempo. E claro que temos histórias boas também, antigamente tínhamos um grupo de ensino tecnológico e era incrível ver os meninos saindo daqui e indo trabalhar de forma direita ou até entrando em faculdade, quero trazer esse programa de volta.” Março 2020. Jovem frequentador do CCA Miosótis: “Gosto de vir pra cá pra brincar com os meus amigos, mas também gosto por causa do lanche.” Março 2020. Jovem frequentador do CCA Miosótis: “Eu gosto de ver o velho, a velha do gato, o tio do gás e o do abacaxi, do portão e do cachorrinho quando to vindo pra cá.” Março 2020. Jovem frequentador do CCA Miosótis: “Eu não gosto do homem da rua que fica implicando com nois.” Março 2020. Jovem frequentadora do CCA Miosótis: “Eu não gosto a calçada suja perto do ponto de ônibus, porque quando chove fica com muita lama e suja os meus sapatos.” Março 2020. Jovem frequentador do CCA Miosótis: “Eu não gosto de violência, brigas, morte, perder o que mais gosto.” Março 2020.

Entrevistas de produção própria realizadas em vistas ao CCA Miosótis em Março de 2020.

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Cartografia elaborada a partir de alguns desenhos das crianças do CCA Miosótis, produção própria durante o desenvolvimento do TFG, 2020.

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E claro, alguns relatos em comum se baseavam em temer a região, não se sentirem seguros para percorrerem sozinhos, relatos de violência, mas também houve concordâncias nos desejos, e o desejo que mais foi recorrente era por uma quadra. A partir disso, a proposta urbana do projeto foi sendo estruturada. Além desses relatos terem ressaltado a necessidade de uma intervenção no percurso para facilitar e incentivar o acesso aos pontos de reforços implantados no TFG, surgiu como proposta a implantação de uma quadra junto a cada módulo de programa, por perceber a influência dela na motivação dos jovens e seu desejo de um espaço para jogar após a aula, que não seja a rua movimentada com carros. Outra característica observada no bairro foi a das atividades comerciais, que aparecem em destaque. Como visto no texto de Vera Silva Telles e Daniel Veloso Hirata, “Cidade e práticas urbanas: nas fronteiras incertas entre o ilegal, o informal e o ilícito”, 2007, um bairro pode funcionar como um organismo autossuficiente que praticamente se torna distante de uma instancia de governo por falta de auxílios, criando assim suas pró-

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prias práticas e dinâmicas urbanas. Um dos modos de comercio mais comuns no bairro são os ambulantes e vendedores de rua, que embora seja um trabalho informal, é uma forma que esses trabalhadores encontraram para suprir seu rendimento e se sustentarem, e são a esses trabalhadores ambulantes que as crianças se referem ao tratar do “tio do abacaxi”. Conhecer o território vai muito além de uma leitura superficial de mapas... Para conhecer o território de fato é necessário vivenciá-lo, compreender suas dinâmicas cotidianas e conhecer quem ali mora. Além de apreender essa visão do território pelos olhos dos outros, foram identificados desejos que os moradores realmente tinham, por meio das conversas e visitas, e foi daí que partiu de fato o projeto, da visão do outro. Esse relato aproxima-se da minha experiência no desenvolvimento deste trabalho: foi através da visão do outro que foram descobertas ausências, necessidades e potências dos moradores que poderiam ser afetados pela proposição de projeto. E assim caminhou esse trabalho.


IV.II. 67


Cartografia elaborada a partir do levantamento fotográfico de problemáticas e potencialidades do bairro Jabaquara, produção própria durante o desenvolvimento do TFG, 2020.

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IV.III. CARTOGRAFIA


Outra dinâmica que auxiliou muito no reconhecimento da região foi a cartografia a partir da experiencia de Flaneur, sugerida por BERENSTEIN JACQUES, 2011. Valeu a ideia de ir revisitar o local, mas sem os olhos viciados de alguém que passa diariamente por ali e acha que conhece, mas que não vive e convive de fato. Então, desta vez com a finalidade de elaborar uma cartografia que con-

tasse algo do bairro, decidiu-se realizar a dinâmica do “se perder” mais uma vez por lá. Como já conhecia alguns recantos e pessoas, havia o reconhecimento de algumas ruas, não sendo necessários guias ou mapas. Fui, mais uma vez, andando pelo bairro e dobrando qualquer esquina ao avistar algum tipo de construção ou ponto urbano que chamassem atenção. E assim chegou-se ao ponto de se perder de fato... aí foi preciso lançar mão de guia gps para retornar para casa. Mas foi a partir dessas andanças que descobriu-se o espaço esportivo onde ocorre o campeonato de Gatebol e os eventos de skate, e - por sorte - no dia estava acontecendo uma final de campeonato... e ali estava o Wanderley Bolão, já mencionado anteriormente, um personagem tão importante às discussões deste trabalho. Em outras visita, desta vez mais tomando mais atenção a vida da região, a visita deixou se guiar por um som que vinha ao fundo e acabou atraindo a direção para um galpão onde ocorria um ensaio de grupo de samba (estava próximo ao período de carnaval) e então se iniciaram outras descobertas sobre a vida e atividades que já existiam entre as pessoas da comunidade, e a força que esses grupos traziam para as pessoas, a força que gerava e a felicidade que trazia. Foi então que se ressaltou a necessidade de fortalecê-las ao invés de impor novos usos que talvez não tivessem adesão por parte da população local e assim não acrescentariam em nada para o futuro dos jovens da região. O que então havia começado como uma atividade para gerar uma cartografia, se tornou-se a motivação deste TFG: conhecer e projetar para o existente e fortalecer as dinâmicas que já estavam em desenvolvimento, além de valorar espaços de resistência e apropriação. A cartografia resultou em fotografias tiradas nas vivencias que exaltam problemáticas urbanas, ou potencias e forças da região.

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iv.iv. ÁREA ESTUDADA JABAQUARA

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Imagens de produção próprias em visitas ao bairro Jabaquara, 2020


Com o objetivo de enriquecer culturalmente uma população que não tem muito acesso à infraestrutura, o projeto será implantado em uma área mais periférica, escolhida então a Zona Sul, o bairro do Jabaquara, São Paulo. A área escolhida localiza-se na Ruas das Cruzadas, próximo ao metrô Jabaquara e ao Córrego Água Espraiada, por ser uma subcentralidade da zona sul de fácil acesso e por ser próxima ao terminal de ônibus e à estação Jabaquara. Essa região possui um uso residencial e também um significativo comércio e serviço que movimenta a região. Além disso, foi observado que o córrego que se localiza em frente ao terreno de intervenção é aberto e poluído e assim foi detectado como uma oportunidade de revitalização e renovação para a área afetada. Segundo o Portal São Paulo in Foco, 2013 o desenvolvimento da região do Jabaquara começou no final da década de 1920, com a criação da Avenida Washington Luís, ligando a mais desenvolvida vila Mariana aos loteamentos suburbanos às margens das represas. Com a inauguração do aeroporto de Congonhas em 1936 e então em 1974 vieram as primeiras estações da linha azul, segundo site da secretaria de cultura da prefeitura de Sp. A zona sul, na região do Jabaquara, é uma área com certa carência de equipamentos públicos de grande porte, ainda mais quando comparada ao centro. Para quem mora na região é nítida a falta de espaços públicos que possam ser ocupados de maneira livre e democrática. Os moradores sentem falta de mais espaços que permitam uma apropriação cultural livre, um espaço onde grupos com fins variados possam expressar suas atividades ou até mesmo um lugar para se ir estudar e ler com tranquilidade.

Ao vivenciar a região acaba-se evidenciando a falta de vazios, de áreas públicas que permitam uma ocupação, de áreas para apropriação, que o usuário tenha uma pausa, um amparo para seu tempo livre. A proposta de levar um equipamento mais amplo e multifuncional nesse espaço da região sul, um equipamento que proporcionasse um uso livre, um local que permitisse ser ocupado de uma forma democrática e assim abrigasse diferentes formas de manifestações culturais e educacionais, criando alternativas ocupacionais para os jovens da região, começou, então a se delinear. Na área é muito clara a falta de cuidado, evidenciado pelos grandes lotes abandonados e descuidados, os córregos abertos sem tratamento, os lixos pela rua, calçadas sem manutenção e cuidado com até mesmo grandes tubulações passando por elas e obstruindo a passagem. Foi levando em consideração esses pontos levantados que foi escolhida uma área em meio a uma região pouco equipada. O espaço escolhido está praticamente tornando-se um lixão por falta de cuidados e é próximo ao córrego Água Espraiada aberto e poluído, com algumas construções irregulares no entorno. Essas condições já colocavam como tema a revitalização do córrego e a criação da área de convivência, além de atividades públicas, tudo com a perspectiva de que a população se envolvesse e criasse laços e memórias com a área renovada e assim uma consciência de cuidado e manutenção.

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Mapeando entidades sociais do bairro, notou -se que a região possui uma grande dinâmica de movimentação social a partir dos próprios moradores com o intuito de desenvolver a região, gerando oportunidades para os jovens que estão muito presentes na região. Em contrapartida, equipamentos culturais são quase nulos, apesar da grande demanda. As intervenções urbanas deram-se por dinâmicas espaciais, como o córrego aberto, ruas com questões de acesso e questões gerais relacionadas ao percurso. Na área hachurada do mapa está demarcada a operação urbana água espraiada, demostrando um interesse do governo em promover uma valorização mobiliaria. A área está localizada em uma macrozona de estruturação e qualificação urbana (MZURB) e entre duas macroáreas, de estruturação metropolitana (MEM) e de qualificação da urbanização (MQU).

Dentro da operação urbana, o bairro do Jabaquara é um dos que possui maior densidade demográfica, com o histórico de haver sido um bairro vazio, seu bum populacional ocorreu nos anos 80 e 90, na chegada do metro. No mapa ao lado se identifica a maior concentração ao torno do córrego.

A construção da av. Roberto desabrigou cerca de 20 mil famílias, propiciando o aumento de habitações irregulares na região que se concentram ao longo do córrego.

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A área possui em sua maior parte a zona mista, porém com a operação urbana, foram pensadas em várias áreas para habitações de interesse social para suprir parcialmente a demanda. O Jabaquara é, dentro da operação urbana, um dos que mais possui Zeis, em sua maioria, sendo do tipo 1 e 3. Há na área uma grande porção do território em Zeu, caracterizada pela proximidade com algum eixo de transporte, tendo assim o C.A.=4.

Observando o mapa, se pode concluir que o Jabaquara possui em grande quantidade o uso residencial sendo em sua maioria de médio e baixo padrão. Ainda assim, existe uma grande quantidade de comércio e serviço distribuídos pela área. O comércio informal é também uma grande realidade da região.

Através do mapa ao lado se conclui que a região possui áreas de grandes desníveis, e que possui o vale ao longo do córrego água espraiada. A grande planície é utilizada para área de manobra dos trens da linhas 1-azul. O córrego aberto é um grande enfoque na discussão, pois ele é contornado por habitações irregulares em condições insalubres e de risco.

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JA

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Levantamento fotográfico de problemáticas e potencialidades do bairro Jabaquara, produção própria durante o desenvolvimento do TFG, 2020.


ABAQUARA

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Fonte Google maps, 2020.


V.I. EDUCAÇÃO

CONTRATURNO C

omo já visto, grande parte da criação de identidade do jovem é construída em seu período de tempo ocupacional livre, portanto no contraturno de seu período escolar enquanto não tem atividades pré definidas para se aplicarem. Esse é o espaço de tempo em que a vida pública se apresenta como estímulo de possíveis experiencias negativas. Com esse pensamento em mente se toma conta da importância do ocupacional no período de contraturno, além de criar um equipamento que sirva para abrigar atividades ocupacionais, é necessário criar uma espacialidade que abrigue os grupos presentes na comunidade que tem a potencialidade de ajudar na formação de identidade desse jovem. Em bairros de classes média com famílias de médio poder aquisitivo, os jovens são criados tendo seus dias completamente preenchidos. Quando não em escolas de turno cheio, eles costumam ter suportes em escolas especializadas com aulas de inglês; arte; matemática e português extra; xadrez; jazz, ballet e danças em geral; canto; instrumentos musicais; lutas como judô, jiu-jitsu e boxe e esportes geral como futebol, basquete, vôlei, tênis, natação e academia, aulas de tecnologia; aulas de teatro e até culinária. São diversas as atividades que podem ser ofertadas aos jovens como forma de complemento à educação, mas também como ocupação e criação.

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Mas infelizmente, essa é a realidade dos jovens de média classe em uma cidade como São Paulo. Para famílias de baixo poder aquisitivo, essas atividades não são acessíveis. Por isso a importância em criar espaços que possam servir de palco para que organizações e grupos ofertem algumas dessas atividades de forma mais democrática. Por isso a importância de criar raízes para os grupos sociais já existentes na comunidade, para que eles continuem funcionando e agregando cada vez mais jovens. Apesar de existirem alguns programas de contraturno, ainda são insuficientes. Segundo site portal do MEC apenas cerca de 5 mil escolas públicas do ensino fundamental integram o programa Mais Educação para as atividades extraclasse. O Mais educa é um programa do Ministério da Educação que visa melhorar o desempenho educacional no ensino fundamental, através do uso de período de contraturno dos jovens. Existem outros programas também como o SESI (Serviço Social da Industria), voltado principalmente para dependentes de trabalhadores da indústria, onde os jovens constroem seus projetos com autonomia, e incentivo ao empreendedorismo baseados em tecnologias, ciência e robótica. Porém esses programas ainda não conseguem abrigar a maior parcela de alunos das instituições públicas.


V.I. 77


V.II. CASAS DE

CULTURA O

utra dinâmica criada para trazer opções educacionais e culturais para as comunidades são as Casas de Cultura. A Casa de Cultura tem a missão de levar para os moradores da comunidade um acesso mais democrático às atividades culturais, às oficinas, aos eventos. Tem o papel de disseminar expressões humanas, incentivando o desenvolvimento sociocultural através de acesso a bens culturais e do incentivo à criação artística. Além disso, ela dá suporte para ongs e grupos sociais com apoio técnicos e espaços para o desenvolvimento de atividades e aprendizados, assim como fomenta e divulga as várias tendências da arte, como música, canto, artes dramáticas, dança, sarau, capoeira, entre outros. Segundo NEVES, Elelise, 2020, em entrevista ao canal do Youtube “Casa de Cultuma Mario Quitana”, integrante da Associação de Amigos da Casa de Cultura Mario Quintana (de RS, um anterior hotel):As Casas de Cultura são organizadas pelas subprefeituras e não estão ligadas à Secretaria de Cultura Cada Subprefeitura tem sua forma de administrar as Casas. Apesar do voluntariado, uma das maiores dificuldades existentes em administrar uma Casa de Cultura é coordenar a falta de recursos humanos, ou seja, a falta de pessoas para os trabalhos, já que não possui funcionários próprios e nem a maioria dos cargos básicos por não ser regulamentada.

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Corpo é tudo o que ocupa espaço e constitui unidade, é consistência. Podemos relacioná-lo com os corpos de concreto já que ambos possuem olhos, alma e coração e assim são as casas de cultura, além de sua própria alma, muitas vezes se tornam o coração da comunidade em que se encontram, e assim a comunidade o retorna para ela com o corpo. “É impossível pensar em uma sem pensar na outra, pois hoje a associação é o sustentáculo da Casa, é a associação que financia os eventos, equipamentos, oficinas através dos recursos dos espaços comerciais e patrocínios que captam.” NEVES, Elelise; 2020. .

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“A promoção da cultura popular, a abertura de canais para sua expressão, seu cultivo nas gerações jovens (...) cria um clima de apreço genuíno por seus conteúdos, fará crescer a cultura e, com isso, devolverá a identidade aos grupos empobrecidos” (KLIKSBERG; 2001, p.142).

Levantamento de algumas casas de cultura da Zona Sul: A Casa do Saber é um centro de debates e disseminação do conhecimento em São Paulo, que oferece acesso à cultura de forma clara e envolvente, porém rigorosa e fiel aos pressupostos dos idealizadores. Oferece cursos de artes, cinema, filosofia, história. Instalada no antigo prédio do Mercado Municipal de Santo Amaro, a Casa de Cultura Manoel Cardoso de Mendonça foi inaugurada em 1980 e tornou-se referência de programação e


atuação junto à comunidade. Desde sua criação, possui uma agenda fixa com cadastramento de artistas, artesãos e profissionais que atuam nas mais diversas áreas da cultura. Entre as atividades estão o Teatro Vocacional, que faz a iniciação do artista e a orientação através de saraus, mostras e leituras; a Poesia no Alpendre, uma mostra permanente de poesias e crônicas, além do projeto Passeando por Sampa que leva grupos com monitoria para conhecer a programação cultural da capital paulista.

Outras casas mais relevantes próximas á área estudada: Casa de Cultura do Campo Limpo – Rua Aroldo de Azevedo, 100 – Jd. Refúgio; Casa de Cultura Ipiranga – Rua Abagiba, 20 - Moinho Velho; Casa de Cultura Hip Hop Sul – Rua Sant’anna, 201 - Vl São Pedro; Casa de Cultura M’Boi Mirim – Av. Inácio Dias Silva, s/n – Piraporinha; Casa de Cultura Santo Amaro – Praça Dr. Francisco Ferreira Lopes, 434 ; Casa de Cultura Parelheiros - Rua Nazle Mauad Lutfi, 169 – PQ. Tamari; Centro cultural Jabaquara.

Levantamento de CCAs no bairro Jabaquara, Fonte Google Maps, desenvolvimento do TFG, 2020.

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V.III. ESCOLA PARQUE

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egundo Censo Escolar INEP (Instituto Nacional de Estudos e pesquisas educacionais Anísio Teixeira) 2014, 70% das escolas brasileiras não dispõem de quadras para os alunos, apenas 17% possuem sala de leitura e cerca de 12 mil oferecem laboratórios, e mais de 23 mil escolas no país não têm banheiros. Esses dados são importantes para nos alarmar sobre a situação de precariedade na infraestrutura de muitas escolas. A precariedade no ensino brasileiro é uma realidade que grande parte da população de baixa renda tem que enfrentar ao tentar conquistar seu direito de obter o ensino básico. Como tentativa de oferecer uma alternativa para essa situação, o educador Anísio Teixeira teve a iniciativa de tentar implantar a ideia de Escolas parques. Segundo site “Bv Anisio Teixeira” acessado em abril de 2020, acessado em agosto de 2020, nos anos 1950, em Salvador, as Escolas Parque eram a vanguarda da inovação educacional brasileira, criando um polo de rede e um centro de estruturação urbana capaz de unir diversos equipamentos sociais de um território. Segundo CHAHIN, Samira B. 2011, em seu artigo “CIDADE, ESCOLA E URBANISMO: O PROGRAMA ESCOLA-PARQUE DE ANÍSIO TEIXEIRA” Anísio Teixeira tinha a intenção de levar educação para todos com a 80

finalidade de formar cidadãos críticos. Mas ele também entendia o papel estruturador da escola e sua importância espacial na comunidade. Tendo em vista o rápido desenvolvimento das cidades na época, começava a surgir a demanda de que as escolas fizessem sua parte na transformação em comunidades organizadas tão diversificada internamente. A escola passava a ser um instrumento para a estruturação da sociedade e das cidades. A concepção programática de Anísio Teixeira se encontrou com uma forma arquitetônica moderna com um projeto realizado por Hélio Duarte e Diógenes Rebouças na cidade de Salvador, em 1947 para criar os modelos de escolas. Ainda segundo o artigo mencionado, adeptos do movimento liderado por Lúcio Costa, conceberam o conceito de escola parque. Em meio a uma grande área verde, a transparência das salas de aula ultrapassava a viabilidade os antigos os prédios escolares. Após retornar de suas tarefas na UNESCO, em 1947, Anísio inspirou seu projeto no que havia presenciado. Em seus projetos, Anísio projetava articular as demandas da pedagogia organizando os espaços internos da escola sem as definições tradicionais das espacialidades formais das salas de aula, já que ele pretendia desenvolver atmosferas que permitissem um aprendizado por meio da experiência de situações vinculadas ao cotidiano dos estudantes.


Escola Parque da 308 Sul, em Brasília: exceção| Foto: Andre Borges Portal Gazeta do Povo, 2018

Para KOWALTOWSKI Dóris, arquiteta e professora, 2011 em entrevista ao site Portal Aprendiz Uol “o espaço físico da escola influencia a forma como as pessoas trabalham e aprendem dentro dele”. A arquitetura deve permitir uma flexibilidade no ensino, deve permitir e gerar diferentes experiencias que agreguem para o desenvolvimento humano. Segundo o site “Portal gazeta do povo” acessado em abril de 2020, baseando-se nos estudos de casos efetuados no EUA, Anísio afirmava que o espaço do auditório, tinha um papel destacado no cumprimento do objetivo de socialização das atividades escolares porque além de não estar inserido na atmosfera da sala de aula, era palco de atividades que davam às crianças um sentido de responsabilidade e de consciência social instigando-as a desenvolverem atividades diferenciadas. Segundo CHAHIN, Samira B. 2011, tratando da organização espacial, Anísio propôs a divisão do programa de

ensino em dois grupos disciplinares, que ocorriam alternadamente entre manhã e tarde: no primeiro, ensino elementar básicos e, no segundo inserir na vida das crianças as atividades não tão convencionais (como arte, trabalhos manuais, música, dança e etc.). O arquiteto Hélio Duarte, em entrevista a Euler Sandeville, relatou que ao contrário do planejamento escolar convencional, a escola deveria ser o núcleo do bairro, convergindo para sua apropriação como um lugar comunitário do qual todos os moradores do bairro pudessem usufruir. A ideia de integrar a escola com a comunidade, assim como ocorre nas dinâmica do CEUS (Centros Educacionais Unificados), possibilita uma expansão nas possibilidades de espaços educativos e incentiva a transformação da cidade. Além disso o próprio edifício pode ser uma produção artística servindo de incentivo e inspiração aos usuários.

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Esquema do Centro Educacional Carneiro Ribeiro (TEIXEIRA, 1962). Fonte: Mestrado “Centro Educacional Unificado (CEU):concepção sobre uma experiência”, FIGLIOLINO, Simone; 2014.

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V.IV. DINÂMICA DOS CEUS O

s Centros Educacionais Unificados, mais conhecidos como CEUs, existem em São Paulo desde 2002 e possuem cerca de 46 unidades (Dado do site da prefeitura de SP, secretaria da educação, )o equipamentos educacionais e articulações de políticas públicas implantados posteriormente às Escolas Parque, eles integram o sistema educacional da Prefeitura de São Paulo e são administrados pela Secretaria Municipal de Educação. Os CEUs intencionam possibilitar sua integração com outros equipamentos públicos do bairro para que o acesso seguro da população ao espaço da cidade seja garantido. Servindo como contraturno escolar, ele demonstra oportunidades de educação além dos muros escolares. Essa articulação com outras espacialidades faz do território CEU uma construção viva a partir do reconhecimento das forças e fluxos culturais locais, pois além de se instalar conectando-se a outros equipamentos do entorno, ele também incentiva a revitalização do contexto. Segundo Portal da prefeitura, Secretaria Municipal da Educação, os CEUs possuem como objetivo promover o desenvolvimento do ser humano em todas as idades, ser uma referência de desenvolvimento pra comunidade, promover experiências educacionais democráticas,

emancipatórias e inovadoras, promover o protagonismo infantil e juvenil, ser um centro de promoção da justiça social no território e na comunidade, promover o acesso à educação, cultura, lazer, esporte e recreação e às tecnologias. Eles têm a intenção de promover uma educação integral, democrática, emancipatória, humanizadora e com qualidade social, além de trazer propostas culturais, esportivas, tecnológicas e de lazer e recreação, incentivando o desenvolvimento do jovem pensando em seu futuro. Serviços que os CEUs oferecem segundo Portal da prefeitura, Secretaria Municipal da Educação: Disponibiliza empréstimo de livros em bibliotecas, auxilia na inscrição de crianças e adolescentes para atividades de férias, auxilia na inscrição em atividades de extensão de jornada escolar, auxilia na inscrição em cursos Uni CEU, disponibiliza usufruir da piscina, disponibiliza usufruir da quadra, auxilia na consulta de programação e auxilia na inscrição de crianças e adolescentes para atividades de férias. Os CEUs surgiram com a proposta de serem uma expansão da rua, criados para ampliar o ensino, eles tinham como proposta espacial a ideia de construção coletiva do lugar. “O edifício público é um lugar legítimo e compõe o direito à cidade, que engloba infraestrutura, equipamentos públicos e habitação social.” Afirma DELIJAICOV, Alexandre 83


em entrevista ao Portal Aprendiz Uol, 2015, professor da Fau Usp e coordenador do grupo de arquitetos e engenheiros responsáveis pelo projeto CEU. Para ele, são locais que “propõem uma formação urbana, espaços de aprendizagens e virtudes de se estar numa cidade” e também “espaços de contraponto ao urbanismo mercantilista e rodoviário”, que “destrói as relações humanas, afastando e esterilizando as pessoas” DELIJAICOV, Alexandre; 2015. A intenção era gerar um local de encontro e convivência, de ação pública e transformação. CEU CIDADE ADEMAR Segundo uma publicação feita no Jornal Jabaquara e Cidade Ademar em 15/07/20, os membros do Fórum Cidade Ademar estão em busca da construção do Centro Educacional Unificado Cidade Ademar (CEU), junto a lideranças e outras entidades em luta pelo atendimento da demanda escolar. Membros dos Conselhos Comunitários de Segurança do Jardim Miriam, Vila Joaniza e Cidade Ademar, apresentaram ofícios para a construção do CEU na assembleia de orçamento de 2020 do 30/11/19. O projeto já possui um terreno na Rua do Espigão, ao lado da EMEF Elza Maia, que já é uma estrutura do CEU. Segundo a publicação do Jornal Jabaquara e Cidade Ademar, 2020, em setembro de 2016, durante a campanha eleitoral na Cidade Ademar, o candidato Fernando Haddad afirmou que se reeleito, inauguraria em até dois anos o CEU. Na mesma ocasião, o prefeito indicou ter conseguido parte de um terreno ligado ao clube de funcionários da Caixa Econômica Federal (APCEF/SP) para a construção de uma unidade. Na época, o decreto n° 57.287 chegou a ser publicado no Diário Oficial, determinando como utilidade 84

pública a área de 20.616,60m² do clube para a implantação do centro educacional. Existe um projeto e um acerto municipal para a instalação do CEU Cidade Ademar na área do Clube Econômica Federal, porém o percentual do uso é só de 1/6 da área total do terreno sendo assim insuficiente para atender as necessidades da comunidade. Já o prefeito eleito na ocasião, João Doria, 2020, anunciou no programa de metas de 2017-2020 que nele não estaria contemplada a construção do CEU na região da Cidade Ademar, que ainda estava em fase de projeto. Com sua saída e entrada do prefeito Bruno Covas, o projeto não andou, e a luta das lideranças continua. Os CEUs intencionam inaugurar uma nova urbanidade nos bairros em que se instalam, mas sem fazer “tábula rasa” do local. Seus projetos não são apenas uma intervenção no campo do objeto, mas pretendem trazer uma identificação e transformação ao território. O Território CEU se instaurou com intenção de relacionar os equipamentos à comunidade que está em volta e restaurar seu entorno, e as atividades ali exercidas servirão para compor um currículo e um estilo de vida. Além de se tornar um ponto referencial e de encontro.


V.IV. 85


Implantação do TFG demonstrando o partido de construção de território a partir de pontos e suas ligações, produção própria durante o desenvolvimento do TFG, 2020.

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VI.I. PARTIDO O

projeto se iniciou a partir das reflexões pós visitas e pesquisas sobre a área. Ao entrar em contato com os moradores e tomar conhecimento das necessidades e riquezas já existentes na área de estudo se chegou à conclusão de que implantar um uso novo qualquer, descolado da realidade da comunidade não faria tanto sentido, portanto decidiu-se que o projeto seria uma continuação do que já existia, seriam espacialidades para receber as diversas dinâmicas que aconteciam pelo bairro e possuíam vários dos moradores como adeptos, portanto algo que seria mais facilmente aceito e abraçado pela comunidade. Após a decisão de trabalhar com o olhar mais focado para as dinâmicas de força, decidiu-se mapear as entidades do bairro (como CCAS, ongs e grupos de samba) e após ver a potência de trabalhar com a juventude, foi feito também um levantamento das escolas do entorno; A partir dessas informações cruzadas se traçaram as ligações de possíveis percursos entre esses pontos tendo então as vias onde têm as maiores potencias para intervir e baseado nesses levantamentos que as intervenções de conexões foram criadas.

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Pontos relevantes para estratégicas urbanas próximas ao lote, produção própria durante o desenvolvimento do TFG, 2020.

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Surge assim a proposta de tirar-se proveito dessas conexões para intervir no percurso de modo a melhorar o espaço público. As intervenções não focam somente em melhorias nas ruas, mas também em espaços esquecidos ou sem cuidados com grandes potencialidades de receber encontros sendo elas as praças, escadarias, vielas, com uma abordagem arquitetônica mais informal de equipamentos mais flexíveis, como instalações e criações de espaços lúdicos. Questões urbanas como o córrego aberto e ruas dificuldade de acesso recebem aten-


Perspectiva externa de produção própria durante o desenvolvimento do TFG, 2020.

ção especial. A ideia dessa abordagem é melhorar o percurso dos jovens (casa- escola-CCA) interligando o espaço público à escola e ao CCA, mas também de ser um espaço de resistência, dominando a rua, conquistando o direito aos espaços públicos, trazendo proteção ao jovem, fazendo com que a rua seja usada, vista e assim receba uma segurança natural que é a dos olhos dos próprios moradores.

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O conceito de conectar os pontos surgiu após a constatação de que as crianças usuárias desses CCAS possuem dificuldades diversas em questões de transportes, muitas vezes não conseguem ter acesso ao passe livre para o mês todo, ou para sua companhia, não possuem alguém disponível para leva-los, portanto o maior transporte na escala bairro é a pé, o que engloba outra problemática que seria a do perigo das crianças se locomoverem sozinhas, os medos das permanências que geram desconforto, e espaços que geram medo. Além dessas atuações de caráter mais urbano propriamente dito que são nos espaços entre as construções, que conectam as construções, o TFG vai para uma segunda escala de intervenção que são os chamados módulos de apoio. Ao estudar esses levantamentos de localização de escolas, CCAS, ONGS, e percursos, decidiu-se intervir em alguns lotes escolhidos a partir da proximidade de usos de força que já existiam no contexto urbano, para implantar módulos arquitetônicos para complementar e reforçar esses usos. Esses módulos caracterizamse por possuir um elemento chamariz para as crianças e que servirá também como elemento de identificação (uma quadra), criando assim pontos de encontro na cidade. Junto a ele, será instalada uma unidade arquitetônica com o uso voltado para dar base ao desenvolvimento do jovem, unidades essas descritas no programa de cada lote, sendo este adequado em relação ao contexto urbano e social imediato, para poder reforçá-lo. Em alguns momentos essa quadra poderá se instalar acima da cota térrea com uma conexão direta visual com os jovens que passam

pelo bairro para ser uma sedução direta, com a finalidade de atrai-los a entrar e conhecer os outros usos da edificação. Em outros a quadra poderá estar adentrada da edificação com a finalidade de fazer o jovem passar por entre outros usos dos prédios, como uma biblioteca, para que ele sinta-se seduzido a conhecê -los. E além de dar suporte para as associações existentes, esses módulos tenham espaços democráticos e livres que permitam a apropriação de novos grupos sociais e atividades que os jovens poderão desenvolver. O conceito de habitar envolve o fato de o usuário sentir-se conectado com o espaço, que ele identifique-se, crie laços e memórias, e assim passe a frequentar e vivenciar o espaço, criando dinâmicas de socialização. A ideia é que estes equipamentos conformem um referencial no bairro, pelas questões espaciais e de linguagem e pelas possibilidades de atividades e uso. Há a intenção de implantar um edifício que chame atenção, que atraia a população e que gere uma movimentação para que se atraia os olhares de quem pode investir em outras problemáticas da região já apontadas no levantamento, como calçadas e ruas degradadas, vielas e escadarias abandonadas e praças e “restos” do sistema viário sem cuidados. O projeto aqui propõe, da mesma forma que o Masp, um térreo aberto, permitindo a permeabilidade e interligação de uma via para a outra e se caracteriza por ser uma volumetria a 8,7m do chão, gerando uma grande praça pública em sua base criando uma continuação da área de entorno do córrego, com alguns usos em pontos estratégicos.


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O vão livre do Masp, por exemplo, chamado de “prédio sobre praça”, é uma construção democrática, que soube ser generosas com a cidade e se permite ser apropriada, ter um uso livre, acontecer atividades e encontros, manifestações, apresentações e outros diversos usos moldados pela população, é um marco nos espaços de convivência da cidade. O projeto estrutural do Tfg está marcado pelas vigas vagões que se erguem acima da praça. Para evitar o número excessivo de pilares pelos 80 metros (nas extensões maiores de ambos sentidos), e conseguir visuais mais abertas pelo térreo e durante o percurso realizado pelo usuário ao adentrar o projeto enfocando na rampa, ensaiou-se a utilização dessas grandes estruturas, a princípio grandes vigas verendeis de aço, que posteriormente receberam travamentos gerando formas triangulares. O projeto, então, caracteriza-se pela forma como as vigas volumétricas treliçadas engastadas nos grandes pilares, permitindo assim um térreo mais livre com vãos entre pilares de 30m. O projeto teve como partido a intenção de tirar proveito das grandes estruturas de treliça como espacialidades, recebendo uma função específica. A estrutura é composta por 8 grande pilares de concreto armado que servem como de circulação vertical, (já que são aproveitadas para abrigar os elevadores e escadas de emergência), sendo que cada par suporta, através da solda, uma linha de viga treliçada ,basicamente um tubo treliçado com altura adequada para receber um uso (4,8m), sendo ele de circulação quando posicionadas ao lado da rampa e de uso de convívio como uma varanda quando

estão no extremo da edificação. A estrutura é complementada por tirantes para ajudar a suportar e não cisalhar. Assim como o arquiteto Lelé, o projeto tentou manter a simetria para que a estrutura principal (que semelhante aos pórticos de lelé) tivessem esforços iguais e diminuísse a tensão de cisalhamento. O edifício então foi pensado em módulos de usos ligado a esporte e educação, cada uso em um volume na parte central dos pavimentos intercalados, variando de lado da rampa. Esses volumes que recebem os programas são vedados com caixilharias de piso a teto com portas de correr para acesso, tornando-se visualmente caixas que são sustentadas pelas vigas treliçadas que as concordam. O projeto foi pensado simetricamente para que as reações dos tirantes nos dois lados da viga fossem quase iguais, suavizando a torção. O projeto consiste em um centro comunitário voltado para apoiar os usos da sociedade que já existem na região do Jabaquara, próximo ao terminal. O programa são basicamente espaços voltados para abrigar grupos sociais que já existe, e espaços com a finalidade de abrigar demandas da população como espaços de estudos com mesas e pequenos acervos de livros, um Fab Lab, área para receber os grupos de dança e samba, um palco para apresentações performáticas, um restaurante comunitário, uma horta comunitária e uma quadra que é o grande chamariz para os jovens.

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DESCRIÇÃO DOS MÓDULOS: 1- Quadra + abrigo à grupos sociais + horta comunitária (baseado no relato das crianças do CCA e tirando proveito do programa de incentivo a pequenos agricultores) +pista corrida/ skate mantendo espaço da feira (e aproveitando o grande desnível do terreno). Quadra + abrigo à grupos so2- ciais + biblioteca (tirando proveito da quantidade de escolas)/centro de estudos baseado em relatos de moradores, e em proveito à proximidade do conjunto habitacional (Boldarini)/parque educativo tirando partido do córrego aberto que corta o lote, podendo criar um boulevard e espaço de encontro e apreciação, incentivando o cuidado. 3- Quadra + abrigo à grupos sociais + palco para apresentações musicais (tirando partido da proximidade com dois grupos de samba), com ateliê de fantasia, e espaço kids para as crianças ficarem enquanto os pais treinam + casa de cultura de movimento (se relacionando com o tema de esporte, por ser próximo ao corpo de bombeiros, que é um ponto relatado pelos jovens, onde vão jogar e fazer outras atividades. 4- Quadra + abrigo à grupos sociais + casa de cultura de tecnologia interativa (pela proximidade com CCAS e escolas) + espaços de estudos (devido a percepção do uso do espaço das mesas do shopping como ponto de estudo, evidenciando a carência relatada por moradores. 5- Praça seca com ponto de apoio e higienização 6- Ponto de coleta e separação de lixo reciclável e lixo orgânico para produção de adubo para as hortas públicas 98

7- Ponto de coleta de lixo reciclável e reciclagem


P r o g r a m a: quadra + abrigo à grupos sociais +horta comunitária (baseado no relato das crianças do CCA e tirando proveito do programa de incentivo a pequenos agricultores) +pista corrida/ skate mantendo espaço da feira ( e aproveitando o grande desnível do terreno).

P r o g r a m a: quadra + abrigo à grupos sociais +biblioteca (tirando proveito da quantidade de escolas) /centro de estudos baseado em relatos de moradores, e em proveito à proximidade do conjunto habitacional (Boldarini)/parque educativo tirando partido do córrego aberto que corta o lote, podendo criar um boulevard e espaço de encontro e apreciação, incentivando o cuidado.

P r o g r a m a: quadra + abrigo à grupos sociais +palco para apresentações musicais (tirando partido da proximidade com dois grupos de samba)com ateliê de fantasia, e espaço Kids para as crianças ficarem enquanto os pais treinam + Casa de Cultura de movimento (se relacionando com o tema de esporte, por ser próximo ao corpo de bombeiros, que é um ponto relatado pelos jovens, onde vão jogar e fazer outras atividades)

P r o g r a m a: quadra + abrigo à grupos sociais +casa de cultura de tecnologia interativa (pela proximidade com CCAS e escolas) + espaços de estudos (devido a percepção do uso do espaço das mesas do shopping como ponto de estudo, eviden- 99 ciando a carência relatada por moradores.


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DIRETRIZES URBANAS -Atuar no percurso dos jovens entre escola e CCA através da criação de módulos de resistência (a quadra+ uso de suporte à educação e cultura) nos lotes específicos + ações urbanas entre as conexões observadas -Revitalizar vielas e escadarias trazendo usos alternativos, vida, luz e segurança. -Revitalização do córrego, limpando, e voltando a atenção dos moradores através de mobiliário e deck, uso e assim gerar cuidado. -Revitalizar e aumentar calçadas -Ruas importantes humanizadas -Criar pontos de higiene como suporte para moradores de rua, como auxílio ao corona vírus -Bebedouros -Iluminação pública -Implantar hortas públicas -Bibliotecas em muros cegos -Bike stop -Expandir ciclovia -Praças mais abertas, para segurança das crianças -Mini parques infantis -Mesas e mobiliário urbano nos pontos de encontro -Ponto de coleta e adubo ESTRATÉGIAS URBANAS PONTUAIS PARA O LOTE DESENVOLVIDO -Revitalização do córrego: indica-se sua limpeza e criação de um deck com bancos, árvores e área verde permitindo a apropriação de pessoas como área de descanso, área essa que conecta-se com a área verde do lote desenvolvido estrategicamente localizada na parte frontal do terreno para que se integrem. Na área de uso de convívio do córrego foram criados pórticos para acomodar alguns mobiliários semelhantes ao utilizados na viela. 103


-Pensando nos percursos dos jovens levantados no trabalho, resolveu-se atuar em um dos pontos que se revelaram mais evidente no contexto urbano, as vielas e escadarias. Na região elas se mostraram muito presentes, em grande número e de grande potência já que encurtavam o caminho e facilitavam o trajeto dos moradores, mas como revelado pela pesquisa muitos tinham medo de utilizá-las pela falta de segurança. Portanto decidiuse criar uma linguagem de mobiliário própria para ela, onde os bancos e espreguiçadeiras são desenhados para encaixar nos degraus, assim como mesas, pontos de hortas e pontos de troca de livros, ela também disponibiliza espaços para expressão artística dos moradores e alunos da escola ao lado, além de criar pontos de convivências e encontro. Pensou-se também como premissa em manter as paredes cinza claro para poder receber as artes, e o mobiliário será colorido em tons pasteis, seguindo a ordem do arco-íris crescentemente. Premissa essa utilizada também nas vielas. -Além das escadarias e vielas outros espaços esquecidos da região são os resquícios do desenho viário, espaços esses que anteriormente eram usados como ponto de tráfico, mas agora recebem quadra, modulo de sanitário e vestiário com duchas pensadas como suporte para moradores de rua, assim como bebedouros e bike stop.

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-Uso da quadra como elemento atrativo, como um marco, portanto nesta área a quadra se dispõe acima do nível da rua, com a perspectiva de funcionar como um elemento de atração: quem chega precisa subir um nível de rampa para chegar a ela, e, assim , adentrar o edifício proposto. Uma vez dentro, os usuários, ainda na rampa, são atraídos visualmente a conhecer os outros níveis – essa é a proposta - e assim entrar em contato com usos ligados à educação, áreas de estudos e acervos (ambos a meio nível acima da quadra), tendo, assim, uma total conexão visual, esperando- se assim gerar curiosidade e interação. Também há premissa de deslocar a quadra 1,5m para baixo do primeiro volume foi pensada para criar um atrativo para quem passa pela calçada, e, se isso acontecer, que a pessoa deseje entrar. -A rua entre o projeto e o córrego foi humanizada, recebendo um piso diferenciado e nivelada à calçada. No projeto foi realizado um aumento de área de passeio no entorno da quadra, para um percurso mais confortável, utilizando um piso drenante e integrando com o restante do projeto. -Outro ponto é a criação de uma praça seca, no nível 104 em frente à escola e à igreja na rua posterior, para abrigar esses usuários, gerando um ponto de encontro e abrigo coberto. Em cima da praça, criou-se um espaço lúdico com rede, assim como do pavilhão do Brasil na exposição de Milão de 2015, em menor escala.

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-Pensando em conectar a escola, igreja e CCA, que estão na parte sul em relação ao projeto, com córrego, na parte norte, posicionou-se uma rampa no meio terreno que conecta a cota 100 (da rua ao norte) com a 104 (da rua ao sul). E na mesma localização a rampa articula os andares superiores, sendo um dos pontos principais do projeto por ser um trajeto pensado para todos, que permite uma interação entre os meio-níveis, criando uma continuidade. -Pensando na integração visual entre os pavimentos, os usos foram instalados em cada metade do edifício conectadas pela rampa, tirando proveito da chegada em lados intercalados que ela gera. -O principal conceito do projeto está na intenção de tirar partido das grandes estruturas e usá-las como espacialidade para uma função específica. Por isso a estrutura do edifício é constituída por vigas metálicas de treliças espaciais, suportadas pelos pilares que são torres de concreto armado e simultaneamente abrigam os eixos das escadas de emergência e dos elevadores). Essas treliças espaciais, quando localizadas na parte central do edifício são destinadas para circulação e quando no extremo da edificação da edificação são espaços de convivência, sem fechamentos laterais, funcionando como varandas, destinadas para pontos de lazer, se tornando um espaço que complementa o uso de seu pavimento. - O projeto tirou proveito do desnível entre vias para criar uma escadaria lateral à parede do Fab Lab, para que quando fechada, funcione como cinema ao ar livre.

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- No nível 100 foram abrigados um café em frente à área verde integrada ao córrego, um Fab Lab na área mais recuada, com mesas de estudos e áreas de workshops, e em frente à rua lateral um teatro informal e dinâmico que pode ser área de exposição, área de treino de samba ou espaço para apresentações.


VI.I. 109


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VI.II. intenções espaciais 112


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ara que o projeto seja devidamente apropriado, é necessário que se pense nos usuários e nos seus modos de vida, seu cotidiano e sociabilidade, nas consequências que essa obra trará para a vida desses usuários e fazer com que ela contribua para a vida comunitária. Mas a questão é, como pode uma obra contribuir na vida de um usuário? A arquitetura é uma arte que aborda diversas frentes teóricas, um bom objeto arquitetônico pode ser capaz de gerar diversas consequências no usuário, como as sensoriais e as sociais. A arquitetura pode vir de todas as formas, o que dita o que ela vai se tornar e o quê ela vai influenciar é a intenção do arquiteto associada à sua relação e compromisso com a realidade urbana e social. Um edifício tem a potencialidade de se tornar um amplo espaço de abrigo e proteção, para que se torne um local onde as pessoas venham e o ocupem, que passem seu tempo livre, que se encontrem com outras pessoas e desenvolvam interações sociais, conheçam novas pessoas ou apenas se encontre com aqueles de quem tem saudades. Não se trata da arquitetura como um agente ativo, mas sim do que ela é capaz de permitir, abrigar e fortalecer.

Este TFG investiga possibilidades ao projeto de provir espaços democráticos que aceitem usos dinâmicos e atividades alternativas. Um espaço livre que permita um ensaio de dança, por exemplo, um espaço que possa proporcionar o surgimento de grupos nesse segmento e também receber e dar voz para os que já existem no entorno, dando mais força e resistência, fazendo-o crescer, podendo resultar em uma opção de ocupação profissional. O projeto desenvolvido traz consigo a intenção de se tornar um espaço onde todos possam usar para seus suas programações variadas, mas há também a intenção de afetar o usuário individualmente, para que ele também se sinta abrigado pela edificação ao entrar e se deparar com atmosferas agradáveis que criem boas experiências e sensações. Além das apropriações relacionadas ao uso, o trabalho aborda em como a arquitetura também é capaz de proporcionar consequências sensoriais. Um espaço pode possuir uma atmosfera que resulte em uma experiencia que se envolva com o psicológico do usuário. A aceitação da obra pelo usuário depende diretamente da experiência de cada um dentro da obra, cada ponto de vista é individual, o 113


que gera reflexões diferentes para todos. Uma experiência que desperte uma memória afetiva para um, pode não gerar nada em outro, já que a ela é uma resposta ao ambiente. Uma atmosfera é o caráter de um lugar, é sua essência. Essa qualidade é determinada por características ambientais que influenciam e ditam a nossa vivência em um lugar. Essas qualidades são configuradas pela materialidade e ambiência. “A arquitetura ao aplicar o conceito de fenomenologia desperta um novo interesse nas qualidades sensoriais

Espaços gerados pelas treliças utilizados como espaços de convivência

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dos materiais, da luz, da cor, bem como na importância simbólica e tátil das junções. Esses aspectos contribuem para realçar a qualidade poética que na opinião de Heidegger é essencial para o habitar.” (NESBITT; 1995, p.444) A arquitetura com qualidade deve, ao ser elaborada, abrigar o usuário e se tornar um lugar propício a ser ocupado, mas também se um lugar que gere boas sensações e faça com que as pessoas se identifiquem para que assim permaneçam, que habitem. Para SCHULZ, Norberg; 1979, habitar significa estar em paz


em um lugar protegido. Esse é o papel da arquitetura, abrigar o usuário para que ele se sinta protegido e poder exercer o uso que necessita. Já para PALLASMA; 2006, a experiência espacial é sintética, opera em vários níveis, simultaneamente: mental e físico, cultural e biológico, social e individual etc. O homem só é capaz de habitar e criar laços de relação com o lugar quando ele se identifica e se sente abrigado. HEIDEGGER; 1957 diz que “quando o homem habita, está simultaneamente localizado no espaço e exposto a um determinado caráter ambiental. Para

conquistar uma base de apoio existencial, o homem deve ser capaz de orientar-se”. Portanto, a identificação é a base do sentimento de pertencimento que é o que resulta no homem querer habitar. Os espaços podem ter a influência de serem elementos formadores da memória e identidade. Os ambientes de estudo por exemplo, são importantes não somente como espaços de educação, mas também de socialização. Desempenham papel fundamental na formação da identidade, além de serem os suportes físicos das diversas relações sociais cotidianas.

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Simulação de percurso pela rampa demonstrando conexþes visuais dos usos nos pavimentos


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Ambientes de estudos e acervos de livros

A construção de identidade é uma forma de sobrevivência social, fundamental para que se estabeleça pertencimento e relações interpessoais. Neste contexto, a memória é um aspecto importante para a construção da identidade dos grupos socioculturais. Segundo Rodrigo das Neves Costa e Giselle Arteiro Nielsen Azevedo no artigo: Espaços Históricos como Formadores de Memória e Identidade: Estudo de Caso do Ginásio Experimental Carioca Rivadávia Corrêa; 2014, p.3 “O estudo do tema é relevante na medida em que o processo de identificação faz emer118

gir outros sentimentos como pertencimento e apropriação, importantes na criação de vínculo afetivo entre pessoas e lugares.” Como vimos, os jovens da comunidade criam suas identificações com aquilo que convivem, eles criam referências a partir daquilo que constrói um sentido em suas realidades, que parece mais próximo e oferece promessas mais atraentes de futuros que infelizmente podem ser ofertas vindas do mundo ilícito. Trazer outras referências culturais, outras vivencias que gerem identificação


e outras perspectivas de futuro podem fazer outras alternativas de futuro mais acessíveis e atraentes. Sensível às relações sociais na cidade, o arquiteto Ruy Ohtake, 2018 em entrevista à TV Brasil defende que o desafio atual é integrar as populações periféricas ao espaço urbano de uma forma digna. A partir dos projetos que desenvolveu em São Paulo, Ruy Ohtake mostrou a importância da arquitetura como agente de integração social e como a arquitetura tem o poder de gerar reações na sociedade. “Fazer arquitetura é fazer

política. Temos que usar a arquitetura para a sociedade, fazendo projetos que tragam alento para as pessoas”. (OHTAKE; 2018) Tema de campanha anual do CAU/Sc, 2017, a arquitetura social considerando a escala humana, é algo que vai muito além da estética por ajudar a moldar a funcionalidade dos espaços, tornando-os extensões úteis e práticas da vida. Pautada no fato de que o meio é capaz de interferir no comportamento, a arquitetura comprometida socialmente busca promover acesso universal e direi119


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tos à uma sociedade tão desigual como a brasileira, aumentando a qualidade de vida das pessoas e de explorar todo o potencial transformador da boa arquitetura e do urbanismo. Projetos com essa teórica se destacam por estimular a interação das pessoas com a cidade e entre elas mesmas, por permitir relações mais fluidas que resultam na melhoria da qualidade de vida e na possibilidade de gerar cenários sociais. São espaços que permitem ser locais para se relacionar, discutir e propor, eles têm em comum o desejo de aproximar as pessoas e de permitir relações intrapessoais. É fato que acontecimentos têm ‘efeitos’ – isto é, têm repercussões sobre nós mesmos e sobre outras coisas. Esse é na verdade o fato central por traz das ‘relações’ entre coisas, o fato de que as coisas afetam umas às outras. A arquitetura como objeto construído é um fenômeno capaz de produzir efeitos, mas é a arquitetura comprometida socialmente que consegue fazer com que esse efeito se torne uma experiência de direitos, que influencie positivamente na construção como ser daqueles que a utilizam.

Terraço e Horta comunitária

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VII.I Bibliografia

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