AS QUATRO FASES DE LUA

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 1 Luna abriu a porta do banheiro após um longo banho, recheado de um show particular, com suas músicas favoritas e cantoria com um leve toque de drama na playlist escolhida naquele dia, fazendo do seu shampoo o microfone, e agradecendo pelos momentos a sós com sua cadelinha Nina, onde podia cantar na altura que quisesse sem que ninguém lhe escutasse dentro de casa, e pedindo perdão aos vizinhos que podiam talvez lhe escutar. Era por volta das 16h quando saiu do banho ainda pingando de água, depois do banho frio, um banho restaurador, e se perguntava como as pessoas ainda banhavam de ducha quente, num país quente como o Brasil, mas lembrou de que não são todas as regiões que são quentes como a região norte e nordeste, onde o inverno chove, mas com o sol torrando atrás, e o verão é quente, bem quente, quase nos 40 graus. E foi para o quarto, e com a luz ainda desligada, sentou na cama enrolada na toalha, olhou a tela do celular e viu a data, e lhe veio o pensamento de um ano atrás, como foi uma data decisiva de um turbilhão de sentimentos, e deitou na cama, com a cabeça pendendo para fora da cama, fechou os olhos e buscou não pensar na tal data, mas era tarde demais, e logo seu rosto foi ficando vermelho e soltou as lágrimas que tentava segurar, e todo aquele sentimento que reprimiu por pelo menos alguns meses, lhe saíram quentes e cortando seu rosto, e os soluços logo em seguida, e a dor lacerando o peito, tentou afastar os pensamentos, mas não adiantou, sentou e olhou para o teto tentando acalmar o choro, e gritando dentro de si um “engole esse choro”, e logo enxugou as lágrimas com o dorso da mão, ainda segurando o celular e deu um suspiro ainda quebrado pelo choro anterior. Buscou uma bermuda jeans na gaveta e uma camisa de herói da sua extensa coleção, de Harry Potter, Marvel, DC, Star Wars e filmes e séries aleatórias, vestiu as roupas intimas e o jeans e a camisa larga de Harry Potter com o brasão da escola estampado, e sentou no sofá em frente à TV com a tolha enrolada no cabelo para secar, e se viu no reflexo da TV uma Luna, 3


aquela ali poderia até ser a imagem dela, mas não tinha certeza se era a essência dela. E ficou imaginando como seria a vida se tivesse seguido de acordo com seus planos de uns 10 anos antes, ainda com 12 anos, talvez uns sonhos bem bobos, mas agora, com 22 anos, boa parte nem passou perto, a realidade de final de faculdade, um emprego que não era ruim, mas que não era um sonho, mas que talvez fosse um degrau pra subir mais adiante, mas grata por esse emprego, família okay, amigos mais ou menos okay, relacionamento de vento em polpa, mais vento do que polpa, situação financeira okay, sonhos atuais realizados 25% okay, Logo deixou de lado esses pensamentos e ligou a TV e foi se afundar num filme de romance bobo da Netflix que ama assistir, fazer o quê não é, se a vida não oferece um decente, ela sonha com um bem clichê, bem modinha do catálogo. Desistiu dos de romance, e apesar de começar a ver um filme sobre o fim do mundo, um que tem o Quatro de Divergente, a Bonnie de The Vampire Diaries, a mente não focava na história do filme, só pensava no que tinha acontecido há uns minutos atrás, onde mergulhada nos devaneios não conseguiu continuar o filme e ficou focada na lâmpada do teto da sala, refletindo em tudo.

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 2 Alguns dias se passaram, e no trabalho uma pilha de papeis aleatórios por cima da mesa, exames, relatórios, livros de Enfermagem, e vários blocos de anotações, onde podia arrumar todas as anotações de acordo com suas especificidades, mas seria bom se arrumasse em cada bloco diferente, mas na realidade era tudo anotado numa pilha de papeis avulsos. E parou para pensar naquele dia, e ficou viajando no assunto quando Tomas, ou melhor, Tom, seu único amigo e colega de trabalho passa pela porta falando algo que provavelmente Luna não estava escutando, e carregando uma pilha de pastas grossas, e despejou na sua frente, e despertou-lhe do mundo paralelo que estava afundada, lhe dizendo: - Oh querida, acorda para essa dimensão! - Foi mal cara, estava pensando em umas coisas aqui – fala levantando e indo em direção à janela onde havia três vasinhos com cactos, e espirrando com um borrifador água para elas. - Se estiver planejando uma viagem para Londres, e não me incluir na lista, nem me conta. - Meu sonho – sorrindo desse jeito que Tomas vê as coisas, sem negatividade – mas o que não falta e vontade meu amigo. - Filha, só pegar aquela grana no banco e bam, olá Sherlock Holmes e John Watson, Baker Street, 221 b, ou conhecer o set de gravação de Harry Potter. Nossa, até arrepiou. Só vamos. - Claro Tom Riddle, é como pegar meu pó de flu, jogar na lareira e dizer o local. - Com certeza – Tomas rir do tom de sarcasmo de ambos - mas bem que queríamos isso de verdade.

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- Depois da compra das nossas passagens para Londres e depois para almoçar em Paris, verifica esses papeis aqui, ainda daquela situação de ontem que foi falado na reunião – fala revirando os olhos. - Pode deixar comandante – diz Luna fazendo continência e com a mão na testa e com o corpo ereta, e após isso cai no riso. - Muito engraçadona você, vai apresentar esse teu show de stand up hoje é? – sai rindo da sala e fechando a porta. - É HOJE, E NÃO ESQUECE QUE ESSE MICO QUE EU PAGO SÓ PASSA NO DÉBITO – fala alto para ele ouvir quando ainda fechava a porta. - VAI TRABALHAR – Tomas fala depois que fecha a porta e rindo, mas Luna não responde de volta. Aquela conversa mexeu com os parafusos de Luna, porque sempre foi um sonho pegar a mochila cheia de roupa e dinheiro, pendurar o passaporte no pescoço e viajar pelo mundo, conhecer novas culturas e pessoas, dormir em hotéis baratos, acordar e ir tomar café em lanchonetes de esquina, conversar com estranhos que possivelmente não veria novamente no dia seguinte. Mas nem tudo na vida são flores, às vezes são espinhos. E antes que a realidade lhe caísse sobre os ombros, resolveu mexer na tal papelada, e logo se odiou que se prendia a mais de dois anos nesse emprego.

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 3 Era um sábado bem claro, por volta das 17h quando resolveu ir fazer uma caminhada, coisa que raramente fazia, e quando se alongava e colocava os fones de ouvido e tocar uma das músicas da sua playlist de Switchfoot - sua banda favorita desde os 15 anos, e foi amor a primeira ouvida, com a música Your Love is a Song, perfeita, um rock leve - e no fone de ouvido tocava Joy invincible do novo álbum lançado em 2019, Native Tongue, e a cada álbum se apaixonava mais pela banda. Antes de sair recebeu uma mensagem de texto de Olívia, sua melhor amiga - que mora em Brasília -DF, e que se conheceram por um grupo no Whatsapp da banda Switchfoot, onde havia pessoas de todos estados do Brasil, São Paulo, Goiás, Rio de Janeiro, Tocantins, Pará, Sergipe, Bahia, Paraná, Rio Grande do Sul e outros, e as vezes até aparecia de outro país, e desde a primeira conversa se conectaram de certo modo que desde lá não passaram um dia sem se falar, era como tivesse uma irmã em outra cidade, de outra mãe - dizendo: OLÍVIA: Mana, nem sabe! LUNA: Não sei não, nem me falou ainda! OLÍVIA: HA HA LUNA: Fala criatura OLÍVIA: Então, lembra quando te falei do Adam? LUNA: Lembro, o que conheceu na faculdade, à uns 4 meses enquanto atendia ele, e convidou ele para sair quando “esbarrou” com ele quando o viu antes pelas câmeras de segurança 7


e forjou um esbarrão? OLÍVIA: Esse mesmo OLÍVIA: Pois é, nós saímos, e várias vezes OLÍVIA: E tu sabe disso OLÍVIA: Hoje ele veio aqui em casa de manhã, disse que estava por perto e resolveu dar uma visitada, e me pediu em namoro! LUNA: WHAAAAAAT? LUNA: Sério? LUNA: Mano, preciso conversar com ele! LUNA: Me passa o número dele LUNA: Preciso passar a real pra ele LUNA: Ele precisa saber com que louca ele está lidando LUNA: Brincadeira, mas é sério LUNA: mas ele já precisa saber que se ele te magoar eu vou bater aí em Brasília e na cara dele! OLÍVIA: kkkkkkkkkkkkkkk okay então OLÍVIA: Já te encaminho LUNA: OKAY, quando voltar da 8


caminhada eu jogo a real nele LUNA: LOVE YOU, CASE I DIE OLÍVIA: LOVE YOU, CASE I DIE

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4 LUNA: Olá ADAM, aqui é Luna LUNA: Olívia dever ter falado de mim LUNA: E mais cedo ela me contou a novidade E fico feliz por vocês LUNA: mas vou logo dizendo, gosto de você, mas no momento que magoar ela é melhor pegar o primeiro voo sei lá para onde, pois não me responsabilizo por meus atos. LUNA: Dê chocolate para ela, ela ama LUNA: E sempre faça carinho nos gatos LUNA: Sempre repare no cabelo dela e fale que está hidratado LUNA: Seja gentil LUNA: Não dê flores, dê coxinha LUNA: Cante na rua, dance quando ela tiver triste. LUNA: É isso ai! Peace. ADAM: Obrigado pelas DICAS ADAM: Não quero a magoar Eu sei do que ela foi capaz de fazer para falar comigo, e pretendo conquistar ela todos os dias, assim como naquele filme do Adam Sandler com a Drew Barrymore, que não lembro o nome ADAM: Eu realmente gosto dela ADAM: Apesar de que prometeu meu fim trágico, gostei de você, ela fala tanto da amizade de você. ADAM: Foi um prazer. PEACE.

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 5 Luna ainda encucada com tudo que tinha acontecido até esse exato momento na sua vida, e resolveu sair um pouco de casa. Pegou a moto e foi sozinha para a cidade próxima, e como era dia de folga no trabalho, foi para passar o dia na praia, e se chocou com a quantidade de pessoas em plena terça-feira feira, apesar de que não estava um dia quente. Afastou-se de um grupo de pessoas e ficou em baixo de uma palmeira alta e folhosa, lhe dando uma ótima sombra. E em vez de ir dar um mergulho, simplesmente deitou numa cadeira de praia e começou a ler um livro que vivia dentro da bolsa, mas nunca lido, e com alguns minutos de leitura caiu no sono com o livro no rosto, e acordou 3 horas depois no susto, e procurando suas coisas ao redor para ver se não tinha sido roubada enquanto dormia, e viu que nada foi lhe roubado, e agradeceu a Deus por isso. Chegou à moto e colocou tudo dentro do baú e foi para casa restaurada, pois para quem não tirava uma folga há meses e juntando vários plantões estava só o caco. No caminho de casa ficou fazendo vários planos. Chegando em casa quase as 17h30, foi direto ao computador e buscou vagas de empregos e bolsas de estudo para mestrado na área da Enfermagem, onde já havia feito pós graduação em Urgência e Emergência e UTI, e fez uma lista de países e ou cidades que gostaria de morar: 1. Nova Zelândia 2. Austrália 3. Londres 4. Argentina 5. San Diego 6. San Francisco 7. Dublin 8. Barcelona 9. Portugal 10. Grécia 11. Itália 11


Logo cortou os lugares de língua espanhola, pois não sabia nada de espanhol, e apesar de ser pouco semelhante ao português, não fazia ideia da língua. Mas amaria morar em Barcelona só para ir a todos os jogos do Barcelona no Camp Nou, o estádio do time do coração. Procurou e peneirou todas as bolsas de estudo para estrangeiros, e ofertas de empregos nos hospitais dos países. Quando se deu conta do horário já estava marcando 01h01, e como sempre que via horas iguais, ou números iguais em sequencias diferentes, como 13h31, sempre fazia um desejo, e nesse dia desejou que fosse um ano de conquistas. No dia seguinte no trabalho, resolveu pesquisar mais vagas, mandou alguns currículos, e se inscreveu em algumas universidades. A maioria enviada para Austrália e Nova Zelândia, pois era seu maior foco de mudança. Enviou o currículo para os hospitais públicos e privados da Nova Zelândia e Austrália, e com alguns dias começou a receber algumas respostas. De inicio estava super empolgada de receber os e-mails, mas quando lia a empolgação não foi tão boa assim. Já nem se empolgava em relação às faculdades, pois era muito caras, e com o dinheiro que pagaria uma completa no Brasil, mal pagava um ano lá.

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 6 Em meados de Junho, depois de vários e vários nãos, veio o sim. Quando tudo parecia perdido, quando não tinha mais esperança, após mais de quatro longos meses de envios e negações, veio o tão esperado SIM. Quando Luna leu a carta do Hospital Publico de Auckland com a resposta sobre a aprovação do currículo enviado a mais de 3 longos meses, e marcando uma entrevista online foi como ganhar na loteria como única ganhadora. Sim, era uma entrevista ainda no meio do caminho, mas já era algo que 99% não fez. E ela gritou e pulou e gritou mais um monte, e agradeceu a Deus, e por mais que não fosse a pessoa mais frequente ainda tinha sua religião viva em si. E ligou para seus pais contando a novidade, e ficaram felizes, porém sentiu uma dor quando lhe parabenizaram sobre a entrevista e desligou logo após a noticia e ia falar para sua irmã Gabi e para alguns amigos sobre a noticia, mas como não tinha como muitos a quem contar foi correr e espalhar um pouco essa energia que estava sentido. E enquanto corria ia com um sorriso de ponta a ponta, e poucas situações lhe arrancaram um sorriso nesse jeito, e até cantava com a música que ouvia no fone de ouvido. Marcaram para uma semana após o envio do e-mail, ou seja, no dia 30 de Junho teria que conversar com uma pessoa do hospital, algo que não fazia ideia do que perguntaria, mas claro que seria relacionado à Enfermagem, e logo lhe bateu o nervosismo, aquela que dói o estômago e as mãos sua do nada, mas tirando o fato que seria em uma semana estava super mega nervosa, pois essa entrevista lhe guiaria para o país dos sonhos e para o emprego tão almejado. Seu inglês não era ruim, pois aprendeu muito nas séries, filmes, música, na escola, e no curso que fez durante o ensino médio, quando fez uma prova para uma escola de línguas da sua cidade e foi a melhor nota da escola e 13


ganhou 50% de desconto nas mensalidades. Não foi o curso que diria: "nossa, que curso", mas teria pelo menos como provar que tinha o básico de Inglês. O que lhe preocupava mesmo era o sotaque Neozelandês, pois já ouviu algumas vezes vídeos de pessoas falando e achou um pouco diferente do Inglês Americano, mas se assemelhava um pouco do Britânico. "Mas sem paranoias crescendo até lá", pensou Luna.

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 7 Chegou o tal dia da entrevista, Luna estava uma pilha total de nervosismo, mal dormiu pela noite, levantou por volta das 7h da manhã e foi correr. E por incrível que parecesse correr era um método de destilar todo esse nervosismo, e Luna nunca foi do tipo esportista ou fitness, era sedentária, e do tipo de pessoa que quando resolvia sair para caminhar chovia o dia todo. A entrevista estava marcada às 22h no Brasil e 12h na Nova Zelândia, e foi preciso trocar com um colega de trabalho o plantão naquele dia, para poder fazer a entrevista em casa. Abriu o Skype, e viu que precisava atualizar o aplicativo e pela sorte demoraria uma eternidade, e só lhe restava meia hora até as 22h. E quase esfregando o notebook no roteador, demorou 23 minutos para atualizar, e quando terminou finalmente se apressou e trocou a foto que já estava há um milênio aquela foto de 2014, pois nunca utilizou para nada o aplicativo. Dois minutos após trocar a foto, olhou no espelho, depois de passar uma maquiagem leve para esconder as olheiras e algumas espinhas que insistiam em aparecer, mesmo depois dos 20. 09:58 09:59 10:00 10:01 Tocou a chamada de vídeo. O coração de Luna foi a mil. Deu uma rápida orada e pediu a Deus que não falasse bobagem e nem que aparentasse nervosismo. Colocou os fones e se posicionou em frente da câmera e suspirou fundo e sorriu levemente para a luzinha azul que piscava a sua frente. E sussurrou baixo: Modo Inglês ativar! E atendeu, e respondeu com um baixo Hello, Hi! 15


E do outro lado do vídeo viu uma senhora dos cabelos loiros escuros, olhos verdes, arrumado em um penteado baixo, próximo à nuca, bem maquiada, e muito bonita por sinal, aparentando uns 40 anos. E se apresentou pelo nome de Sabrina Dillenburg, e apontou para o crachá preso ao bolso esquerdo, e disse que poderia lhe chamar de Sabrina, e pediu que Luna se apresentasse, e Luna pensou: "Ela não leu meu currículo não?", mas lhe respondeu com um sorriso meio desconcertado e via que suas mãos suavam e lhe batia um medo de começar a falar bobagens, pois isso sempre lhe acontecia quando ficava nervosa. Meu nome é Luna Falcão, tenho 22 anos, Graduada em Enfermagem, Especialista em Urgência e Emergência e UTI a três meses, sou formada em Técnico de Enfermagem, pois aqui no Brasil temos essa categoria da Enfermagem, não é graduação, somente de nível técnico... E a entrevista se prolongou por quase uma hora e quando lhe respondeu a ultima pergunta de "Por que a Nova Zelândia?" e Luna lhe respondeu: "eu prometi ao meu melhor amigo que um dia eu iria morar no país e ele me visitaria sempre que puder", e logo lhe rebateu uma nova pergunta: "e ele ainda lhe visitaria se estiver morando aqui?" e Luna lhe respondeu: "Infelizmente não". E Sabrina lhe agradeceu pela entrevista e que dentro de um mês entraria em contato por e-mail com a resposta e Luna lhe agradeceu pela oportunidade e que estava nervosa e que foi paciente com todas as perguntas e que espera que lhe veja em breve. E Sabrina se despediu sorrindo e desligou. E Luna deitou na cama ao lado e caiu no sono profundo e só acordou quase na hora de ir para o trabalho no outro dia, e seus pais e irmã ainda estavam em casa e lhe fizeram mil perguntas como foi a entrevista durante se arrumava para sair e Luna prometeu assim que chegasse contaria tudo. Luna estava tão nas nuvens que mal se continha, sorria atoa e até dava bom dia para todos que passava pelo corredor, até aquelas pessoas que fechavam a cara para tudo.

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Logo quando sentou na cadeira se sua sala recebeu uma vídeo-chamada de Olívia e mal lhe respondeu um oi já foi enchendo Luna de perguntas e Luna contou de cabo a rabo toda a entrevista. De inicio ela me pediu para ser totalmente sincera nas respostas e concordei, disse Luna, "Ela perguntou como eu cheguei a conclusão de queria me mudar para a nova Zelândia" e respondi: "enquanto ainda na minha adolescência comecei a assistir a Saga de Senhor dos Anéis e o Hobbit e que ao pesquisar a questão do set de filmagem descobri sobre Hobbiton, e me apaixonei pelo país e pela cultura Maori e pelos pontos turísticos, e que por anos achei que não me sentia que pertencia onde moro e que me sentia como numa roupa apertada, onde na primeira oportunidade você quer tirar essa roupa e vestir aquela que mais lhe agrada, e quando pensava para onde me sentiria livre, me sentiria em uma roupa boa sempre pensava na Nova Zelândia" e ela riu e agradeceu sobre a resposta sincera, até demais. E Luna contou toda a conversa de uma hora tanto para Olívia quanto para sua família quando chegou em casa, e eles até encomendaram uma pizza quando chegou em casa para comemorar. Sua mãe nunca quis pensar que suas filhas um dia sairiam de casa e jamais passou pela sua cabeça que seria para o outro lado do mundo, e todas as vezes que Luna e Gabi comentavam sobre ir para outros países ela logo pulava longe da conversa ou falava que iria morar com uma das duas ou que viviria pulando de casa em casa entre as duas. E seu pai sempre puxava sua esposa para a realidade falando que elas precisavam viver as próprias vidas, mesmo dando certo ou não, pois elas sempre teriam com quem contar, eles.

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 8 Durante uma semana Luna mal se conteve na espera do resultado da entrevista. Sua ansiedade estava nas alturas. Luna foi diagnosticada com ansiedade leve aos 19 anos, devido alguns sinais e sintomas que apresentou, e pensou ser algo totalmente diferente, mas que na verdade a palpitação no coração, eventualmente perda do sono, formigamento nos membros superiores, sudorese e respiração descontrolada caminhava direto para ansiedade. Ao se consultar com uma psicóloga bastante requisitada da cidade e muito simpática, teve o diagnóstico de ansiedade, mas foi totalmente verdadeira quanto aos sinais e sintomas e mostrou que tudo que sentia era ansiedade psicológica e não era algo tão preocupante como a depressão, mas que possivelmente em alguma situação haveria um desequilíbrio hormonal, como toda mulher tem e se agravaria naqueles momentos. Não foi necessário o uso de medicações tarja preta, apenas a melatonina, que é produzida em farmácia de manipulação para auxiliar no sono, e não é agressivo ao corpo humano, e também recomendou métodos que poderiam "afastar" os sintomas da ansiedade, como prática de esporte que liberam endorfinas,

alimentos

naturais,

diminuir

o

consumo

de

produtos

industrializados, cortar o café, o que foi pra Luna um insulto, pois para ela café é vida, e evitar uso abusivo de açucares e doces, e que não foi problema nenhum, pois não era tão obcecada a doce e chocolates, evitar possíveis situações de gatilho, onde lhe aumentava as possíveis situações de ansiedade, diminuir o uso de álcool, sem problema, fazia um bom tempo que não bebia nada. Luna ficou repassando isso na cabeça e pensou sarcasticamente: "Super fácil não é? Fugir das oportunidades de dar uma surtada", mas só concordou e saiu do consultório quando finalizou. E é claro, como uma boa Enfermeira que é, não largou para nada o café, talvez tentou diminuir o consumo e aumentou a prática de exercício físico, a corrida, yoga e a dança, e claro que em ambos não era bem sucedida, pois sempre estava perdendo o fôlego e corria e parava e 18


caminhava, tentou a Yoga, e achou patético, não gostou e desistiu na primeira semana, e foi para a dança, e claramente não era boa, mas gostou, mesmo que fosse em casa na frente da TV, continuou. Na semana seguinte sem respostas, Christal Ferratin, ou Chris, uma amiga da faculdade, vendo essa situação toda de Luna, resolveu lhe convidar para passar o fim de semana na fazenda da família, e Luna concordou, e pensou: "certeza que não irão enviar o resultado em pleno fim de semana", e aceitou. A família de Chris era cheia da grana, mas pessoas muito simples, super bacanas e simpáticos. Vindo do estado do Mato Grosso para comprar terras no estado do Pará e ficaram na cidade. Chegando lá, Luna foi recebida como filha, pois já conhecia a uns cinco anos a família de Chris, e o ambiente tão aconchegante da fazenda, um dia claro, mas não quente. Logo Chris arrastou Luna para o estábulo para mostrar o novo cavalinho que havia nascido na madrugada anterior, e era filho de uma égua que Luna havia nomeado quando nasceu a quatro anos, chamando de Lua, quando nasceu era cinza bem claro com pequenas manchas cinza escuro, e seu cavalinho era amarelo com a crina marrom, como o pai, Spirit. Chris pediu que Luna nomeasse o novo mascote da fazenda, e Luna não pensou muito e o chamou de Sun, e Chris quando ouviu deu um grito fino para João, o caseiro da fazenda, e disse para ele: "Eu disse que ela ia chamar ele de Sol", e ele riu e deu 50 reais para ela, e Luna ficou de boca aberta com aquela coisa acontecendo embaixo do seu nariz e ficou chocada e disse: "Vocês estavam prevendo que eu ia chamar ele assim? De Sun? Ou sol, eu sei que você vai me corrigir" apontando para Chris, e João respondeu: "Chris disse que iria chamar de Sol ou Sun, e eu apostei em Estelar ou Estrela", e Luna riu desconcertada, e disse: "Fui induzida para jogo de aposta ilegal, me senti usada, mas Estelar é um bom nome", e Chris pulou no seu pescoço e deu um beijo na bochecha dele, e disse: "Na próxima eu ganho de novo", e se abanou com os 50 reais ilegais que ela conseguiu e saiu. E Chris correu para perto de dois triciclos e sendo acompanhada por Luna saíram dirigindo naquela vasta fazenda cheia de morros, vacas, bois, cavalos e árvores.

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Chegaram à beira do lago que passava aos fundos da fazenda, resolveram nadar um pouco, já era quase 14h, já começava a esquentar, e entraram na água fria do lago, após alguns mergulhos sentaram em um banco submerso a beira d'água e conversando e Chris diz: - Então você quer me abandonar? Acha que vai ser fácil eu largar do teu pé? Mas Luna olha em torno delas e vê poesia na natureza, não apenas um punhado de árvores e água e responde: - Nunca achei que fosse fácil, até arrumei um emprego no presídio para ficar bem longe de ti, mas meio que não deu certo, não é? As duas caem na risada, e completa. - Eu preciso, sabe, e Chris responde: -Você foi forte e merece, mas Luna fala: - Eu não estou indo ou querendo ir porque eu mereço ou porque eu tenho coragem de enfrentar um avião cruzando o mundo, mas porque eu desisto de continuar a viver isso, eu estou realmente dizendo que eu estou me acovardado de continuar a morar aqui, ou melhor, sobreviver a isso. E Chris diz: - Você não é covarde Lu, você é a garota mais forte e corajosa que eu conheço, você passou pelo inferno e continua de pé, você podia ter se moldado por essa situação, você perdeu tanta coisa e o universo está despejando a recompensar em você, e Luna sorri meio triste responde: - “Se fosse para perder o que eu perdi, eu preferia não receber nada a não perder tudo”, Chris se desculpa e diz: - Lu, não foi porque você perdeu que alguém tinha que te recompensar, mas agarra isso, e não perde garota, por favor. - Luna apara as lágrimas que escorrem no rosto e o seca e diz: Eu não vou. Levantou num pulo e puxou Chris pelo braço e correu para a ponte alta que em baixo na água havia um balão de ar na água que quando pula em um lado o outro lado sobe e é arremessado na água, passando várias horas pulando e nadando com os primos de Chris, e no final da tarde já exausta foram para a sede da fazenda e foram dormir.

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No outro dia acordaram toda dolorida tomaram cafÊ e foram andar a cavalo por volta das 9h, e após o almoço foram para casa, e Luna agradeceu pelo final de semana e entrou em casa.

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 9 Era final da tarde de domingo quando Luna chegou na sua casa, e nenhum e-mail chegou em sua caixa de recebidos, logo lhe bateu a tristeza de não ter passado na entrevista. Foi na conveniência mais próxima e comprou um pote de sorvete e levou para casa, após o banho sentou em frente ao computador e procurou um filme. Encontrou um perfeito, A Culpa é das Estrelas, só o escolheu porque não importa as milhões de vezes que já assistiu ou que assistirá, sempre ele arrasa seu psicológico, lhe drenando todo liquido que pode sair pelos canais lacrimais, ou seja, choraria muito. E lá se foi metade do pote ao final do filme e muitos lenços de papel para assuar o nariz. Clichê? Bastante! Ela liga? Nem um pouco! Após o filme foi refletir sobre como a vida é tão leve, qualquer vento alguém é tirado de você, sendo que você sempre se acha o mais provável de ir, mas nunca é você, mas sim as pessoas que estão ao seu redor, e são como granadas, quando o pino é arrancado, não é só uma granada estourando, é destruindo tudo em raios de metros, tudo o que está ao seu redor é destruído. Checou mais uma vez o e-mail, nada, caixa de spam, nada, lixeira, nada. Isso estava se tornando uma tortura para Luna, já mal conseguia dormir direito e comia quase nada. Após muito relutar com o remédio para dormir, Luna caiu no sono agarrada ao celular, para caso recebesse algo pela madrugada saberia na hora. Como nessa semana havia trocado o turno com o colega, Luna trabalharia pela tarde durante esses dias, e se presenteou acordar às 9h no outro dia, sem precisar acordar às 6h para cruzar a cidade antes das 8h da manhã, literalmente. Ao acordar se depara agarrada ao celular e basicamente do jeito que deitou acordou, mal se mexeu durante a noite. Ao desbloquear o celular viu ter alguns e-mails aba de notificações, apressou os dedos para abrir seu e-mail, havia dois e-mails da revista semanal 22


da Enfermagem, um de propaganda do Spotify e um e-mail do Hospital de Auckland. Luna teve uma parada cardĂ­aca, mas passou bem. Respirou fundo e falou: Seja o que Deus quiser, e espero que ele queira o mesmo que eu. Com o dedo tremendo clicou no e-mail e abriu.

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 10 Ao abrir o e-mail havia o cabeçalho do hospital com varias informações que Luna ignorou e logo chegou ao que realmente interessada. Presada Luna, queremos informar que após o envio do seu currículo e a entrevista com Sabrina Dillenburg, diretora geral do Hospital Publico de Auckland, informamos que será preciso uma segunda entrevista para ter algumas informações a mais. Porém essa entrevista precisa acontecer dentro de 24 horas, contando do momento que esse e-mail será enviado. Nos envie uma resposta de confirmação caso ainda haja interesse. Agradecemos sua atenção. H.P.A Já se passaram 8 horas desde o envio da mensagem e Luna logo se apressou a responder o e-mail. Como estava sem fôlego, pois releu uma quatro vezes para ter certeza, respirou e clicou em “Responder” e não sabia o que escrever, travando. E escreveu e apagou varias vezes. “Em resposta a e-mail anteriormente enviado a minha pessoa, confirmo a entrevista a ser realizada assim que possível ao Hospital”. Grata desde já. L.F Não foi a melhor resposta que Luna poderia responder, mas seria melhor do que lhe passava pela cabeça, seria mensagens super se humilhando dizendo que poderia fazer agora E logo lhe responderam que às 14 horas do horário local, na Terça-feira, seria realizada a entrevista via Skype. E que não era preciso responder a essa mensagem. Logo Luna entrou em pânico, pois há um fuso horário louco da Nova Zelândia ao Brasil, são de 14 horas a mais. Correu na internet e tentou fazer as contas para saber ao certo que horas precisaria estar online. Sem falar que iria

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estar de plantão nesse dia, pois já havia trocado de turno dias antes e nesse dia não teria como desmarcar. Logo depois de contas e contas descobriu no aplicativo de tempo no celular que se adicionar outras cidades, irá mostrar a hora exata na tela. Descobriu que teria que fazer a entrevista no trabalho, as 24 horas de Segunda-feira para Terça-Feira. Luna trabalhava em um presidio da cidade de Técnica de Enfermagem, logo não era um local tranquilo muito menos aconchegante para as situações menos preocupantes, pelo contrário, toda situação era uma situação de perigo, ou comumente das situações que chamavam, “fica de olho”. Ao chegar ao seu trabalho, Luna tentou abrir espaço no quadro de trás de sua mesa, onde havia centenas de papeis de exames e requerimentos de materiais e diversos diagnósticos de tuberculose pendurados por imãs, pois era proibidas tachinhas para espetar papeis, e não se é necessário explicar o porquê. Foi em vão, e resolveu mudar de local a mesa e varias outras coisas para ser mais harmonioso possível ao que Sabrina veria através da câmera. Luna foi ao banheiro e lavou o rosto, pois estava suada após a mudança de móveis dentro da sala, passou uma maquiagem leve, só para dar uma disfarçada. Se fosse basear a sala naquele momento com a harmonização do Chi, Feng Shui, não estava nada harmonioso. Mas mudaria assim que a entrevista acabasse. Abriu o notebook e conectou na internet do presidio e não estava tão ruim quanto esperava. Faltava cerca de cinco minutos para as meia noite enquanto Luna estava preenchendo uns papeis quando recebe a ligação do Hospital de Auckland, ressoando um barulho muito alta fazendo jogar os papeis à mão para cima, lhe assustando.

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 11 Luna encara o notebook e encara a tela se arrumando e atende antes que demore muito. Quando vê Sabrina diz: Hiiii. Sabrina novamente lhe atende sorrindo, simpática e pergunta como Luna está e começa aquelas perguntas de sempre como está a pessoa. Depois de uns cinco minutos, Sabrina fica séria e diz: Então Luna, depois de revisar sobre você e sua entrevista que estava sendo gravada, eu sinto muito em dizer... E o rosto de Sabrina congela numa pose nada atraente. A internet cai, e Luna fica encarando a tela e com os olhos bem aberto e tenta retornar imediatamente a ligação e nada, não foi a sua internet, mas de Sabrina. Menos

de

dez

minutos

Sabrina

liga

de

volta

e

Luna

atende

imediatamente, e Sabrina pede desculpas, pois houve uma queda de energia no Hospital, e a internet custou a retornar. Mas voltando o que estávamos falando Luna, diz Sabrina, eu sinto muito em lhe dizer isso, mas você tem três meses para ser efetivada como Enfermeira no Pronto - Socorro do Hospital Público de Auckland, e começa a rir para Luna, mas Luna está sem reação e embasbacada com a novidade. E responde a ela: Quer dizer que eu consegui? Que eu posso trabalhar aí no Hospital em Auckland? Serio? E Sabrina só responde: Sim E Luna começa a chorar, mas sem escândalos, e agradece a Sabrina. E Luna pergunta até quando vai ser possível se apresentar no Hospital e Sabrina diz que estará entrando com o Visa Work, o visto de trabalho imediatamente, e que se não tivesse passaporte era para agir imediatamente, e que iria enviar outras informações dentro de três dias. Luna não sabia o que fazer quando Sabrina desligou a vídeo chamada, e ficou olhando para o nada tentando colocar tudo em ordem e agir imediatamente. Fez uma lista para tentar se organizar o máximo possível: 1. Visto de trabalho 26


2. Passaporte 3. Site da imigração 4. Ter todas as informações 5. Passagens 6. Local para morar 7. Dinheiro Resolveu saber onde tirar o passaporte e descobriu que emitia numa cidade a quatro horas de viagem, o posto mais perto, mas que teria que emitir em Belém, descobriu a lista de documentos que precisa apresentar após o cadastro online, onde fez de imediato. Com o visa work espedido pelo hospital ficou mais fácil de ter o visto de trabalho e Luna estava a mil e ainda estava no trabalho.

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 12 Luna chegou em casa buzinando, fazendo bagunça quando entrou pelo portão de casa, e seus pais queriam saber que bagunça era aquela. E Luna chegou perto e falou: EU CONSEGUI! Seus pais sem saber o que fazer só ficaram fazendo um monte de perguntas e depois lhe parabenizaram por isso e lhe abraçaram e choraram de alegria e depois de tristeza, pois não ira mais ter as duas filhas em casa, pois sua irmã já morava na capital e só vinha em datas comemorativas, férias, finais de semanas. Foram momentos difíceis com seus pais para entenderem que era o que Luna sempre almejou, a depois do que aconteceu a Luna, era mais do que necessário sair enquanto antes dessa cidade, desse país. Luna sempre esteve ciente que não seria moleza, que não iria morar no país das Maravilhas, era um sonho, mas sabia que nada seria de mão beijada, teria que batalhar muito.

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 13 Luna

estava

para

arrancar

os

cabelos

da

cabeça

com

toda

a

documentação necessária para a viagem e para o passaporte, colocar as vacinas em dia e ainda arrumar um dinheiro a mais. Fora que precisava encontrar online um lugar para ficar por um tempo até ter o próprio espaço em Auckland. Mas antes de ir para Nova Zelândia, precisava passar no mínimo uma semana em Brasília – DF, com Olívia, senão ela iria buscar Luna pela orelha onde quer que fosse. Marcou a viagem para Brasília para 28 de Agosto sua chegada, e passaria 8 dias com sua melhor amiga que não conhecia pessoalmente. E percebeu como a vida é irônica, uma situação extrema faz duas pessoas que se conhecem apenas pela internet se juntar por uns dias por algo tão esperado por ambas. Foi no site comprar a passagem aérea, uma sensação que nunca teve, de poder ir para um lugar onde realmente queria estar. A passagem foi comprada para o dia 06 de Setembro, com saída do Aeroporto Internacional de Brasília para o aeroporto Santos Dumont – RJ, com conexão no aeroporto RIOGaleão RJ, para o Aeroporto Internacional de Santiago – Chile, e finalmente para Auckland. Seria cômico se não fosse trágico, mas seria uma viagem de 24 horas e 35 minutos, se não houver atrasos. Estava marcado para chegar em Belém dia 25 de Agosto, e dia 26 iria receber o seu tão esperado passaporte, já havia feito todos tramites para emitir, só faltava receber, fazia todos os dias orações fervorosas para não ter problemas de entrega. E passaria 3 dias com Gabi em Belém, aproveitando os últimos momentos tecnicamente no mesmo lugar. Luna conseguiu entrar em contato com uma estudante em Auckland através de um site e teve uma conversa com uma das três que moravam lá. E pelo Skype ela lhe mostrou o apartamento todo, dois quartos, um banheiro social, cozinha tamanho aceitável, no quarto andar do prédio, e a seis quadras

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a leste do Hospital, o preço ainda veria com o síndico do prédio, dividiria em 4, mas que sairia super em conta. Um dia antes de Luna ir para Belém, fizeram uma festa surpresa de despedida com tema “Heróis”, e não foi esforço algum vestir sua camisa do Batman, pois era seu herói favorito, pois não importa se é DC ou Marvel, mas o Batman o melhor. Alguns amigos e parentes vieram se despedir, e foi choro atrás de choro, e Luna até se surpreendeu com a reação das pessoas, pois sempre achou que as pessoas não ligariam tanto quando se vai para o outro lado do mundo, até recebeu alguns presentes de viagem e também não sabia como reagir a isso, pois muita coisa física ficaria na casa de seus pais. Mas o que importava era a intensão, e recebeu, guardou pelo quarto e terminou de arrumar as malas após a festinha. No outro dia pela manhã, sairia Luna e seus pais para Belém e passariam alguns dias lá, até Luna ir para Brasília. Sua mãe passou a noite chorando e dormiu de cansada de chorar, seu pai dormiu parecendo que não era com ele.

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 14 Como no fim de Agosto para Setembro finaliza o inverno e inicia a primavera na Nova Zelândia, e no estado do Pará não possui as quatro estações evidentes, quando chegou a Belém, Luna e Gabi resolveram comprar algumas roupas de frio e outras peças de roupas. Nunca foi preciso comprar sobretudos ou roupas acolchoadas que mantém calor, e deu graças a Deus por isso, mas agora foi preciso. São roupas mais caras do que o normal, mas como já é final de estação, não comprou nada em excesso, apenas o necessário. Até para não pagar excesso de bagagem no avião a mais do que já iria pagar. Após alguns dias com Gabi, Luna foi para Brasília passar 8 dias com Olívia. Parecia surreal tudo que estava acontecendo na vida de Luna, e mal saiu do Brasil e já estava muito feliz. Na chegada ao aeroporto de Brasília, Olivia estava lhe esperando com uma placa escrita em um papel azul claro, cor favorita de Luna: MY BITCH, POR AQUI! Quando Luna leu começou a correr e chorar ao mesmo tempo puxando duas enormes malas de rodinhas e uma mochila de costa e não sabia se largava no chão e corria mais rápido ou iria lento carregando os chumbos de malas até Olívia. Quando chegaram perto uma da outra Olívia pulou nos braços de Luna fazendo suas pernas se atracarem em suas costas, e quase desequilibrando para cair. Olívia era mais alta que Luna, com 1,65 de altura, cabelo liso preto um pouco abaixo dos ombros. Mas Luna tinha 1,59, cabelo castanho médio liso com algumas mechas naturais do sol com comprimento ao meio da costa. E as duas choravam e sorriam e conversavam enquanto passava centenas de pessoas indo e vindo de voos para todos os cantos. Era um barulho de deixar qualquer um desnorteado, mas as duas meio que estavam numa bolha que nada ao redor poderia lhes tirar a atenção.

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Olivia puxou uma mala e reclamou do peso, porém era a mais leve comparada a outra. E levou Luna a caminho do carro de Adam, e disse que era a única pessoa disponível no momento de carro. De longe avistou o cara que conversou a uns meses por mensagem, talvez tenha dado uma de dura com ele. Meio musculoso, cabelo castanho escuro, rosto triangular, covinhas nas bochechas, pele bronzeada até demais, do tipo que passaria o dia fritando numa praia. As duas chegaram ao carro e Olívia apresentou Adam a Luna: - Adam, essa é Luna, diz Olívia. - Oi Luna, estou bem ainda com você? Diz com a mão estendida do lado do carro e Olívia se segurando para não rir na cara dos dois. - Estamos em paz meu caro soldado, mas não ache que um tratado de paz dura para sempre, no momento que a outra tropa se rebela, há guerra e jorros de sangue, diz Luna estreitando os olhos e rindo sarcasticamente para Adam. E quando termina de falar ficam por uns dois segundo em silencio e os três começam a rir e Luna puxa Adam para um abraço cordial, mas fala no ouvido de dele bem baixo enquanto Olívia rodeia o carro: Estou brincando, mas é sério. E o solta e dá um sorrisinho para ele. Olívia começou a mexer no som do carro enquanto conversava com Luna sobre o voo e o que precisavam fazer nesses dias e do nada parou e colocou a música que sempre disseram que escutariam na primeira vez que andassem de carro, e colocou I’m gonna Be (500 miles) de The Proclaimers, quando começou a tocar olharam uma para a outra e começaram a cantar juntas. Foram o caminho todo escutando musica e cantando junto, ou melhor, gritando junto pois queriam que as pessoas escutassem juntos suas musicas, porque seus estilos musicais eram muito bom. Depois que chegaram na casa de Olívia e almoçar, pois era quase 01 da tarde, resolveram fazer um roteiro dos dias, e logo concordaram que fariam maratona de Harry Potter, Olívia nunca havia assistido os filme, e sempre falou que quando alguma fosse para a casa da outra, assistiriam os filmes, e mais os dois de animais fantásticos. Teriam 10 filmes para 8 dias, mas para Luna não era problema nenhum. 33


Luna e Olívia tinham um dos filmes favoritos em comum, Mesmo se nada der certo, com Mark Ruffalo, Keira Knightley, Adam Lavigne, Haylee Steinfeld e James Corden, com a trilha sonora perfeita, e no filme Gretta (Keira) e Dan (Mark) escutam música por um cabo duplicador de áudio onde colocam dois fones de ouvidos ao mesmo tempo, e era um dos planos de Liv e Lu sentadas a beira da fonte de água e escutando música com o duplicador e dois fones. Seus planos se resumiam também a andar de vespa, a moto de Liv, e sair para comer pizza em uma pizzaria chamada Dom Bosco, que serve pizza em guardanapos e não tem nenhuma mesa para os clientes, como num banco onde você faz o saque do dinheiro e vai embora, e essa é a ideia da pizzaria, ser prático.

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 15 Após algumas horas de conexões, atrasos e trocas de aviões, finalmente Luna chegou a Auckland. Ao passar pelo túnel no avião ao salão de desembarque do aeroporto as suas pernas mau se seguravam, parecia que iria cair ali de cara no chão, parecia que iria se desmontar antes de botar o pé fora do lobby do aeroporto. Após passar por todo aquele processo de estrangeiros passam, Luna finalmente conseguiu relaxar, pois tinha medo como se tivesse traficando uma bolsa cheia de drogas, mas era apenas nervoso de negarem o visto e mandasse ela de volta ao Brasil com um pé na bunda. Procurou um taxi mais próximo e pediu em inglês para lhe levar para o endereço do apartamento que iria dividir mais três garotas estrangeiras, Julie do Colorado – EUA, Louise da França e Larah da Bélgica. Três universitárias de três países, de duas faculdades diferentes que nem se deu o trabalho de perguntar. No caminho ao apartamento passou em frente ao hospital e seu coração foi a mil em um milissegundo, e falou para Jonnhy, o motorista: Eu vou começar a trabalhar aqui daqui a 7 dias, falou com toda empolgação que já falou em toda a sua vida, e Jonnhy só lhe respondeu: legal. Não era de se esperar uma resposta melhor a essa hora da madrugada, era 3h da manhã. Chegando em frente ao prédio que começaria a morar, era um prédio conservado, seis andares, cinco andares com luzes deligadas, exceto algumas janelas de um lado do prédio, que tinha quase certeza que seria as suas colegas de apartamento estavam estudando, ou algo que lhe roubavam o sono. Como já era 3 da manhã, não havia ninguém lá por baixo, somente um monte de campainhas e, Luna acionou o D14 e fez um barulhinho engraçado, e logo veio uma voz que Luna não tinha ouvido e quem atendeu logo disse: Luna? E Luna respondeu: Yeah sou eu, e respondeu de volta: Okay, estou abrindo. Poderia ser um psicopata apertando as campainhas para assaltar e se

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passar pelo primeiro nome que dissessem pelo interfone, pensou Luna. E o portão destrancou e Luna entrou e trancou de volta. Graças ao bom Deus o prédio tem um elevador, um pouco mais lento que o comum, mas subia. Ao passar pelas portas com letras e números, chegou ao D14, segunda porta a esquerda e arrumou o cabelo, checou o hálito e o desodorante, e estava tudo em ordem e deu três batidas na porta e logo em seguida escutou uns murmúrios atrás da porta e foi aberta por uma garota morena do cabelo afro, linda, digna de ser modelo de passarela, devia medir 1,80, ou faria um belo cosplay de Avatar, e Luna seria um Hobbit. Quem abriu a porta para Luna foi Louise a francesa, e logo em seguida atrás apareceu Julie a típica americana, loira, olhos verdes, 1,60, quadris retos e seios médios, e uma voz dentro do apartamento ressoou e que abriu o portão, a voz de Larah a Belga, com características bem americanas também, tirando os quadris retos, com mais um pouco de curvas, mais o biótipo de Luna, na verdade Luna, Julie e Larah tinham quase o mesmo biótipo. E Luna, agora se misturando as características de suas colegas com um pouco de quadril largo, seios pequenos, um bronze napolitano de três cores, onde uma parte não pegava sol de jeito nenhum, outra parte do bronze de camisas de alça e short, e outro de calça com camisa de manga. Elas já haviam se falado por Skype para confirmar a mudança para o apartamento, então não foi um total estranhamento. Por enquanto Luna dormiria no sofá-cama na sala, e não se importava com isso, pois logo queria se mudar para seu apartamento, para morar sozinha, e já iria providenciar isso enquanto antes. As garotas estavam organizando um espaço no closet para as coisas de Luna, e acabaram perdendo a hora, mas já que estavam acostumadas a dormir tarde e acordar cedo, resolveram lhe esperar. Luna ainda não estava acostumada ao sotaque do Inglês das garotas, exceto de Julie, pois era o inglês americano mais limpo que poderia escutar àquela hora da madrugada. Mas com os dias iria acostumar. Fora ainda da leve dificuldade de formar as palavras sem ter o “hum, aah, but hum” que falava durante, e logo perderia essa mania de pensar no que falar, e falar de uma vez só.

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As garotas lhe reservaram uma chave do apartamento e do portão com um chaveiro de chocolate, e teve quase certeza que era de Larah a Belga, pela Bélgica ser conhecidíssima por seu chocolate. Luna deixou suas coisas na sala, abriu sua mala menor e procurou uma roupa de dormir, e achou seu conjunto de Star Wars cinza e foi para o banheiro tomar um banho. Estava um clima agradável dentro do apartamento, apesar de que na rua estava uns 18º C, ou melhor, 64º F. Após o banho, sentou no sofácama já preparado por elas, pegou o celular, conectou ao WIFI e enviou umas mensagens a sua família e amigos. Já marcava 4h quando viu no relógio, mas já era dia 08 de Setembro na Nova Zelândia, e ainda dia 07 no Brasil, meio dia.

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 16 Luna levantou num pulo se perguntando onde estava, pois sempre que mudava a cama de posição em casa, sempre acordava com a sensação de não dormir num lugar conhecido. E agora de fato era desconhecido. Era por volta das 15h quando levantou do dia 08, com o fuso horário super desregulado na sua cabeça. Nenhuma das garotas estava em casa quando acordou, haviam saído talvez cedo ou depois do almoço. Resolveu ver no maps onde teria alguma lanchonete perto, e logo a três quadras viu um café, Mayne coffee’s. Era um café talvez antigo, e viu uma placa de inauguração ao lado da porta de vidro, com a data de 1979, mas deve ter passado por varias reformas, era tudo bem atual para algo de 79. Era um salão bem grande para uma cafetaria, algumas mesas vintage nas grandes janelas de vidro ao redor do estabelecimento, com iluminação natural, um palco de uns quatro metros de comprimento e 30 centímetros de altura, devia ter algum show ao vivo por ali, e o cheiro gostoso de café, e logo na entrada havia um senhor de bigode cinza, um chapéu de algum time, talvez de Rugby, esporte do país, um avental vermelho marsala e bem simpático ao receber Luna a porta. Ao ser surpreendida à porta pelo senhor, Luna foi acompanhada a uma mesa com quatro lugares, e ali sentou sozinha. E o senhor se apresentou a Luna: - Oi, Meu nome é Martin, Martin Mayne, dono do café. Você é nova por aqui? Já conheço quase todos meus clientes que entram por essa porta e reconheço logo quem voltará para um segundo café e quem será cliente VIP. E sorriu com aquele bigode roçando os lábios. - Oi, meu nome é Luna, sim, sou nova aqui, acabei de chegar de viagem e estava procurando algum lugar aberto em pleno domingo, e acho que dei sorte, e espero ser uma desses clientes VIPs por aqui. 39


- Uau, seja bem vinda, espero que fique por perto, aqui é um bairro muito tranquilo. - obrigado mesmo. E sr. Mayne saiu e voltou uns cinco minutos depois com uma bandeja com café que Luna havia pedido depois que ele saiu, e com mais alguns cookies ainda saindo fumaça. E Luna se espantou quando colocou o pratinho e o copo de isopor em sua mesa, pois achou que era para outra pessoa, pois havia apenas pedido um café com creme extra, e ele lhe respondeu que era por conta da casa como boas vindas. Luna agradeceu sinceramente pelo agrado, após uns vinte minutos de ter comido foi de volta para o apartamento. E marcou uma estrelinha no maps do celular para sempre voltar lá. Quando entrou no apartamento as garotas já haviam chegado e ficaram um pouco preocupadas pois já saía sem nem saber por onde andar. Mas Luna logo disse que usou o maps para ir e voltar. Luna disse que não queria mexer nas comidas delas por não ter comprado nada daquilo, e assim que pudesse, iria a um mercado e compraria. Mas Julie, Larah e Louise disseram não ter problema em comer as coisas do armário. Por mais que as coisas fossem perto, Luna não era do tipo que gostava de andar muito, e sua carteira de habilitação ainda estava em processo, e buscou bicicletas em sites de vendas de novos ou seminovos, e achou umas seminova, custando 200 dólares neozelandês, mas no real ficaria por cerca de 500 reais. O real é muito desvalorizado, pensou Luna. Mas ficou bem feliz, entregariam no dia seguinte, e tinha cestinha, um banco atrás e capacete, 3 meses de uso, foi um bom negócio, no conceito de Luna, pois nunca conseguiu pedir descontos nas lojas, nunca teve essas caras. Quando chegou a noite, por volta das 21h, as três resolveram sair, convidaram Luna, mas deu desculpa que ainda estava muito cansada da viagem e deixaria para a próxima, mas que na verdade Luna era uma senhora de 85 anos presa num corpo de 23, e ficou pensando depois que saíram: quem sai às 9 horas da noite? 9 horas eu já quero estar de volta para dormir. Ligou o

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notebook e foi conversar com alguém que pudesse estar online, 21h18 NZ, 07h18 BR. NINGUÉM. Esperou mais alguns minutos e sua mãe ficou online, e logo ligou para ela e custou a atender. Sua mãe atendeu e logo perguntou se já estava com saudades de casa e Luna disse que não, mas sua mãe nem deu bola, e contou como foi a viagem e que iria mandar fotos que tirou no café que foi mais cedo, e sua mãe concordou e falou que tinha que sair para o trabalho, e depois ligaria e se despediu e saiu.

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 17 Após falar com sua mãe, Luna foi para o terraço do prédio olhar para algum lugar, para pensar ou simplesmente ficar olhando a rua ou algo que lhe chamasse a atenção, sempre se atraiu pelo silêncio, tem um verso favorito que diz: Até o silêncio tem uma história para contar, de Jacqueline Woodson. Chegando lá em cima, havia algumas cadeiras tipo de praia, sentou-se em uma delas e se embrulho com uma coberta que havia levado com si, e se embrulho com ela. Estava um pouco frio, mas não ligou, mesmo que pudesse ter um resfriado. Ficou vendo algumas estrelas no céu, estava divino, estava sem Lua. Luna desde criança teve fascínio pela Lua e estrelas, tirando o fato que Luna significa Lua, sempre que a via no final da tarde ou a noite ficava lhe observando sua beleza, por varias e varias vezes se deitava na calçada de casa para observar o céu, e sempre se alegrava quando a Lua estava posta a frente a sua janela do quarto. Quando criança pensava que a Lua lhe seguia, um pensamento que possivelmente 100% das crianças possuem durante muito tempo, onde quer que fosse a Lua estava ali. Depois de crescida, começou a pesquisar sobre as estrelas e constelações, só não ligava para horóscopo, nunca fez sentido ligar quem as pessoas são pela ascendência em estrelas, e suas posições. Descobriu que a estrela mais brilhante do céu vista a olho nu se chama Sirius, da constelação Cão Maior, Sírius está a 8 anos-luz de distância, o que significa que quando enxergamos Sírius a vemos como era 8 anos atrás, e que Sirius é seu personagem favorito em Harry Potter. Descobriu que a Lua por si só não produz luz, ela só reflete cerca de 7% da luz do Sol que é refletida sobre ela, e demora cerca de 1,28 segundos para que a luz do Sol que chega a Lua reflita para a Terra. E que as fases da Lua são de acordo com a posição da Lua em relação ao Sol e se a Terra está tampando a luz do Sol, enquanto a Terra faz uma volta a cada ano em torno do Sol, a Lua faz em cerca de 28 dias uma volta em torno da Terra, efeito chamado translação, quando satélites naturais se movimentam em torno de seus 42


planetas, e o efeito rotação é quando a Lua ou a Terra dão voltas no mesmo eixo. Os eclipses lunares ocorrem somente nas fases de Lua cheia e quando tem total alinhamento da Lua, Terra e Sol no mesmo momento, fazendo a Terra sombreamento da Lua. No seu quarto desde criança havia os adesivos de teto que brilhava no escuro, e quando estava sem sono ficava imaginando se realmente o homem chegou há Lua um dia. Mas quando se mudou de casa após os 18 anos não tinha mais o céu dentro de casa. Luna teve certo fascínio por estrelas por um tempo, e certa vez pela sua cabeça ser cheia de ideias, pegou uma caixa quadrada que recebeu com uma encomenda, pintou de azul verde-água e respingos de tinta branca e desenhou algumas constelações, entre elas Cão maior, Apus, Reticulum, Crux, Pictor, Hydrus, Volans, Mensa, Chamaeleon, Octans, Triangulum Australe, Musca e Ursa Maior, quando terminou de desenhar, furou os locais das estrelas, ligou por linhas com uma caneta e dentro da caixa colocou um pisca-pisca de natal, e pelos buracos das estrelas emitia luz parecendo o céu estrelado, e usava como luminária. Depois de um tempo foi para o parapeito do prédio, que tinha mais ou menos 1 metro de altura, e apesar do prédio ser de 6 andares, ele era bem alto, pois podia ver parte da cidade por cima. Tirou algumas fotos e enviou para seus pais e sua irmã e amiga. Ainda não conseguiu falar com Olívia, pois o horário de trabalho dela era meio complicado, e Gabi também não.

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 18 Luna recebeu alguns e-mails de Sabrina depois da notícia, e um deles pedia que fosse ao hospital antes do primeiro dia de trabalho, para acertar algumas papeladas e acertou que iria na Terça-feira dia 10 ao hospital. Pela manhã, na Segunda-Feira, Luna recebeu sua bicicleta por volta das 10 da manhã, e resolveu ir a uma padaria a umas 4 quadras ao norte do Hospital, e talvez passaria lá na frente para gravar o caminho do Hospital até o apartamento. Era inicio de primavera, era de se esperar ser frio ou ter algum momento de chuva, e estava a uns 18ºC/64ºF. Mas estava sem chuva, com algumas nuvens e o Sol pouco visível. Mas Luna preferiu levar um guarda-chuva e ir com um moletom largo do Homem-Aranha, jeans preto e ténis branco e meias grossas, porque é sempre bom está aquecida. Chegando a padaria, havia um Bicicletário para deixar a bicicleta, mas Luna ficou chocada, pois as pessoas não as prendiam, simplesmente deixava lá, deixou a sua lá, mas ficava sempre de olho para ninguém passar a mão na bicicleta que a batizou de Ravena, mas o medo era costume, pois no Brasil o buraco é mais embaixo, mas a Nova Zelândia é o 2º país mais seguro do mundo, então é possível dar o beneficio da dúvida. O ar nessa padaria não é parecido com o café do Mayne, é só uma padaria que chega faz o pedido e vai embora. Comprou 4 donuts, 4 muffins e alguns negocinhos lá que não faz ideia do que seria, mas era bonito. Mandou mensagem para as garotas para dizer que estava levando o que tinha comprado e que não era para sair antes de chegar. Quando chegou ao prédio, lá em baixo, quase ao lado do portão tem um bicicletário, mas tem Sol a tarde toda, e entrou com a bicicleta no apartamento pelo elevador, e não ligou se alguém diria algo. Entrou no apartamento com a bicicleta e deixou num canto que não tinha nada e colocou as compras em cima do balcão da cozinha, e as garotas haviam feito chocolate quente e comeram e conversaram. - Faz quanto tempo que se mudaram para Auckland? Perguntou Luna 44


- Quase dois anos, em novembro entramos de férias diz Louise a Francesa bebericando o chocolate. - Eu já estou a quatro anos, diz Larah a Belga com a boca cheia de Muffin e todas começaram a rir da voz dela como soou. - E Julie diz: Esse ainda é meu primeiro ano, ainda tem muito tempo ainda pela frente, diz meio triste. Talvez ainda não se acostumou com a distancia da família e amigos. - E você Luna, faz quanto tempo que está formada, e em que? Diz Julie, tentando afastar os olhares de pena das garotas sobre ela. - Eu me formei há quase dois anos, entrei na faculdade aos 16 anos, cursei a faculdade de Enfermagem e pós-graduação no ultimo ano da faculdade e mais um ano depois de formada, diz Luna e as garotas meio boca abertas. - Uau, diz Louise meio boquiaberta. E trabalhou depois da faculdade? - Trabalhei em um presídio, responde Luna e Julie se engasga com o chocolate quente e diz arregalando os olhos e diz rápido: Num presídio? - E Luna rindo responde, Sim, foi bem interessante trabalhar lá. - Interessante? Você tem um significado estranho para interessante, diz Louise. - Mas você tinha contato direto com ele? Eles tentaram alguma coisa com você? Perguntou Louise - Sim, tínhamos contato, mas sempre acompanhados de agentes e policiais, e não, eles nunca tentaram nada, eles meio que respeitam as pessoas da saúde que trabalham lá, pois sempre precisa ser feito algum procedimento com eles e não querem que algum problema interfira no atendimento, é uma questão de respeito mutuo, se nós respeitarmos eles, eles nos respeitam. - Você está brincando, não é? É assim mesmo lá dentro? Vocês tem que respeitar pessoas que estão dentro de celas? Diz Julie - É melhor ter respeito lá dentro do que lá fora na rua um dos deles se vingarem de você por eles, não é somente lá por dentro, diz Luna se levantando levando algo para a pia, e talvez as garotas entendesse que não queria mais falar disso. - O que vale é a experiência, completou Luna

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- E vocês, me contem como era antes de vir para NZ, Luna tenta mudar de assunto enquanto antes. - Antes de eu me mudar para NZ, se pronuncia de imediato Julie, antes de terminar o ensino médio eu trabalhava em uma loja de instrumentos, aprendi a tocar três instrumentos durante dois anos que trabalhei lá, mas eu tive uns problemas, eu encobri um amigo que não era tão mais amigo assim de um assalto na loja, mas não ajudei no assalto, se é o que vocês estão pensando, ele me disse que tinha feito logo depois, e que se eu sumisse com as gravações da câmera ele me daria parte do dinheiro que ganharia na venda de 8 guitarras que ele roubou da loja, mas eu não exclui, salvei em um HD e guardei e quando não pude mais esconder, eu contei a polícia e ele foi preso e meu nome não ficou sujo, mas eu não quis permanecer nos Estados Unidos e tenho uma amiga que morou aqui nesse apartamento e me ajudou a conseguir me mudar e estabelecer aqui, quando ela foi embora a uns 10 meses fiquei no apartamento mas odiei morar só, e fiz anúncios para alugar o quarto extra, mas as duas não se importaram de dividir e ficamos e estamos assim a 8 meses, e ah, eu não recebi dinheiro algum dele, ele sumiu depois de ter dito isso, mas não foi porque ele sumiu e não me deu dinheiro que entreguei as gravações, mas porque eu já estava quase depressiva por isso. - Luna segurou sua mão e diz: Eu não te conheço, mas eu tenho certeza que você fez a coisa certa e não aceitaria o dinheiro, eu sei disso, posso ver nos seus olhos, você é uma boa garota, tem um bom coração. E Julie sussurra um obrigado com um sorriso desconcertado. - Bom, antes de terminar os estudos, eu recebi uma proposta de ir para a Itália e me tornar modelo internacional, eu trabalhei em algumas marcas de moda antes da proposta, mas só queria juntar um dinheiro para a faculdade, e fiz vários ensaios fotográficos para algumas marcas pequenas da França, mas nada que me arrastaria para as passarelas ou me tornasse uma alienada da moda, e me desesperei por isso, pois não queria isso para minha vida, fechei meus contratos com essas marcas e não fotografei mais para nenhuma, na primeira oportunidade vim para NZ e fui aceita na universidade e moro aqui já há quase dois anos, contou Louise. - Eu sei que parece estereótipo, mas quando você abriu a porta ontem eu pensei: Caramba, essa garota devia ser modelo, parece um Avatar de alta e eu 46


um hobbit do Bolsão. Todas as quatro caem no riso, e Louise só responde: você só estava errada a parte que devia, mas não sou mais, mas a parte do Avatar e do Hobbit está certa. E Luna a fuzila com os olhos, mas somente brincando. - Falta você Larah diz Louise, e ela suspira e diz: - Eu trabalhava na Fantástica Fábrica de Chocolate com o Willy Wonka. Foi o necessário para Luna dar um berro sem filtro algum, e as três sem vergonha alguma começam a rir do grito de Luna. Foi preciso muitos copos de água para Luna esquecer o que Larah tinha falado. - Okay, só para descontrair, mas eu não trabalhava, na verdade eu dependia dos meus pais, vivia em festas, não bebia nem usava drogas, só gostava da sensação de sair com meus melhores amigos, mas que não eram tão amigos assim, e resolvi sair da boa vida e batalhar um pouco pelo meu futuro, e também porque eu engravidei aos 16 anos, mas acabei perdendo, tive um aborto espontâneo, e foi como se eu precisasse acordar para a vida, eu iria cuidar, não ia entregar para adoção, mas aconteceu que eu perdi. - As três seguraram as mãos de Larah e disseram que sentiam muito sobre isso. E algumas lagrimam correram no seu rosto, e Luna que sempre foi a mais nova na roda de amigos, era a mais velha entre as quatro naquele momento, e a abraçou e disse que na hora certa virá outro, e em silencio só concordou com a cabeça nos braços de Luna. Depois de alguns minutos em silencio, Louise quebra o silencio e diz: depois de 8 meses vivendo juntas nunca tínhamos parado para conversar assim, mas foi só Luna chegar e em menos de 24 horas já falamos dos nossos segredos mais profundos, tipo ser um avatar e trabalhar na fabrica de chocolate, ser delatora e a hobbit do condado numa jornada inesperada. As três

riram

e

Luna

responde:

Eu

desperto

isso

nas

pessoas

e

sorri

sarcasticamente para as três e deita no sofá-cama e diz: se alguém quiser falar comigo, estou no meu escritório, fala colocando a mascara de dormir da Mulher Maravilha nos olhos. Seu horário de sono estava desregulado, sentia sono a todo instante, e aproveitava ainda quando era possível. Dormiu por quase uma hora, até que seu telefone começa a tocar, é quase meio-dia quando atende sem nem conseguir enxergar o que aparecia na tela. Era Tom, e quando Luna atende e diz aló, Tom diz: Garota é vídeo47


chamada, e Luna olha para a tela e vê o amigo do trabalho, de barba por fazer, cabelos pretos ondulados levemente penteados para o lado, os olhos sorridentes de sempre e com uma camisa polo cinza escura, são 10 horas da noite no Brasil, está bem claro onde ele estava provavelmente ele já estava em casa. Luna sente uma dorzinha no estômago quando ele sorri para ela e fala: A pessoa só porque está linda e rica no outro lado do mundo que não quer mais falar com os ex-amigos do subúrbio. E Luna fala: Nem é assim amigo, nossa, sério, saudades de ti me atormentando todos os dias, realmente Luna estava com saudades de Tom, era a pessoa que Luna mais gostava no seu trabalho, várias horas conversando sobre series e filmes, quando Tom assistiu FRIENDS e concordou que Rachel e Ross tinham dado um tempo e que Ross de fato traiu Rachel, e seu argumento foi: Quando você da pause na música você não troca nem desliga o reprodutor, só deixa lá, mas se você termina a música passa para outra. Quando Luna ouviu seu argumento até o aplaudiu, e ele fez reverencia e ficava dizendo: Obrigado, Obrigado. Tom pergunta como está o novo país e Luna só responde: por mais que faz dias que saí de casa, só faz 1 dia que estou em Auckland, mas Tom rebate: Você saiu daqui tem quase duas semanas, como só tem um dia ai? Luna contou que foi para Belém, depois Brasília e enfim NZ. E lhe disse que por lá não mudou nada, nem o catálogo de filmes do cinema, e completou: Cidade pacata é outro nível. E perguntou a Luna: E por onde você já visitou? - Luna só respondeu: Fui a um café e uma padaria aqui por perto. - Tom indignando diz: Você foi para trabalhar em um hospital, não pra trabalhar de confeiteira! Vai andar por aí, vai perder esse país maravilhoso que se mudou e não conhecer nem as ruas por perto além de tomar café igual uma senhora de 70 anos? Pode parar de palhaçada, eu quero fotos e fotos de pedras e praias pra já! Aproveita, pega essas meninas que moram contigo e faz elas te levarem aos lugares sensacionais que tem aí. Tá? E Luna só concorda com a cabeça e então fala: Então tá bom, vou esperar, preciso ir, beijos, meu numero ainda é o mesmo, pode chamar esse bastardo aqui, bye. E Luna só responde: Bye.

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 19 Pesquisou no maps algum parque para visitar e escolheu ir ao Albert Park, era tão lindo só pelas fotos que postam dele, e perto havia uma estação de trem Britomart, Luna logo pensou: Dois coelhos em uma cajadada só. Sempre foi um sonho andar de trem, na sua antiga cidade só tinha ônibus e parecia um sonho bobo, mas para Luna era tudo muito novo e tudo muito surpreendente e adorava essa agonia no estômago sempre que fazia algo inesperado. Após descobri onde embarcaria e onde desceria já era quase 14h, mas mesmo assim foi, andou até uma rua da estação de trem que havia pesquisado. Chegou à estação, comprou o bilhete de ida, e quando foi para a plataforma ficou embasbacada, era tão limpinha e as pessoas tão arrumadas, ficou com medo de até estar no meio de um flash-mob e ser aquelas pessoas no vídeo na internet com cara de não saber o que estava acontecendo. No caminho ao park no trem, Luna estava tão feliz, mal parava de sorrir para as pessoas. Gravou um vídeo para Tom e depois encaminharia para outras pessoas, no vídeo mostrava seu reflexo na porta do trem, mostrando seu look de All Star branco, saia jeans e camiseta de Stranger Things, uma camisa grossa jeans manga longa na mão, uma bolsinha de lado e um óculos de sol. Estava bem agradável o clima, quase o inverno de onde morava. Foi quase obrigada a carregar para cima e para baixo um tubo de protetor solar, pois a incidência de radiação solar é grande na NZ. Quando chegou a estação saiu da plataforma e foi em direção à rua, logo foi no maps para não correr o risco de se perder. Eram algumas quadras de distância, saiu na Queen St, entrou pela Victoria St E, e logo dá de cara com o park, a coisa mais linda que podia ver naquele dia. Luna sempre gostou de estar no meio das arvores e tudo que a natureza provia. No meio do park havia uma fonte d’água, com as águas cristalinas e uma escultura esculpidos anjos com trombetas e algumas cabeças de leões que jorravam água. Ao olhar ao redor Luna viu a Sky Tower, um dos maiores pontos turísticos de Auckland, de 60 andares, onde é possível saltar de bungee 49


jumping, sem falar que o piso de lá de cima é todo de vidro, a sensação é de estar flutuando ou caindo, depende do ponto de vista. Jurou que um dia pularia de lá, nem que fosse a ultima coisa que faria na vida. Caminhou horrores no park, tirou fotos das pessoas deitadas na grama verdinha, de vários canteiros de flores amarelas e vermelhas, chegou perto de um grupo de pessoas que estavam dançando, e um outro grupo de pessoas tocando violão e batendo palmas, achou tão Hippie e tão legal, mais perto da fonte havia uma galerinha da faixa etária de Luna conversando alto, pois tinham uma caixa de som tocando músicas que fazem e já fizeram parte da sua playlist. Quando se aproximou estava tocando Livin' on a prayer da banda Bon Jovi, alguns conversavam e outros cantavam juntos da música. Fez algumas postagens do local no Instagram, primeira postagem desde Brasília, e postou uma foto do Leão da fonte cuspindo água, logo choveu comentários e curtidas. Luna não era do tipo que postava fotos de si mesma, raramente fazia isso, basicamente era de paisagem e coisas no seu arsenal de fotos. Logo entendeu que as musicas que esse grupo tocava eram hits dos anos 80, recheados de Michael Jackson, AC/DC, Guns N' Roses, Queens, Nirvana, The Beatles e outros. Chegou mais perto de alguns e se familiarizou com o sotaque americano, ou a falta de sotaque se for medir ao do sotaque neozelandês. Após uma volta quase completa no park, após comer um algodão doce que não era tão doce e um hot dog típico americano, literalmente, o carinho de hot dog estava estampado nas quatro paredes, no peito, na camisa e no chapéu do atendente HOT DOG TÍPICO AMERICANO. Luna até ficou curiosa em perguntar se era só uma piadinha de marketing ou era literalmente de alguém americano o carrinho, mas a fila estava um pouco longa para ficar de papo furado com o atendente. O fato é que o atendente não tinha sotaque americano, mas sim sotaque australiano ou neozelandês. Comeu o hot dog americano literal com ketchup americano com um suco que nem faz ideia de onde veio. Já por volta das 16h passou em frente ao Starbucks e mandou uma foto para Tom, e para sua sorte ele estava online, logo lhe respondeu: Já vai para seu café da tarde dona Luna, quer uns biscoitos de maisena para acompanhar? Ou prefere bolachas cream cracker? E um emoji revirando os olhos. Luna pôde 50


ver ele se materializado ali na sua frente só para revirar os olhos. Mas não deixou barato, e respondeu: não, muito obrigado meu anjo, mas e isso escorrendo na sua boca? É inveja ou veneno? E um emoji de óculos escuros. Mas logo respondeu com um emoji dando dedo e Luna respondeu com um gatinho rindo com gotinhas de lágrimas saindo pelos cantos dos olhos. Começou a ficar frio, e mal era 18h, vestiu a camisa jeans e foi para a estação de trem, e viu algumas pessoas com bicicletas esperando pelo trem, e invejou eles pela sabedoria de fazer isso, pois além da caminhada de ida e vinda do park à estação era de quase 20 minutos de caminhada, fora ainda de uns 15 minutos de táxi da estação para o apartamento. Na próxima já sabia.

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 20 Chegou ao apartamento quase uma hora depois de sair do park e concluiu: Próximo passeiozinho, que seja em um lugar mais perto que dê de ir de bicicleta. Já era quase 19 horas quando passou pela porta e as três estavam assistindo na Netflix uma série francesa “Plan Coeur” traduzida toscamente para o português como “Amor Ocasional”, que teve quase certeza que Louise encheu muito suas cabeças para assistir, apesar de que foi lançada no final de 2018 e Luna já havia assistido duas vezes a primeira temporada, elas estavam no segundo episódio, e Luna logo se sentou ao lado delas para assistir, e Luna diz: AWW, eu amo essa série, e Louise se vira e diz: Eu nem sabia dessa série, por mais que seja francesa, e Luna respondeu que assistiu todos os episódios em um dia só e no dia seguinte assistiu de novo. Quando acabou o segundo episódio, Larah foi fazer pipoca e Julie fez suco para as três e trouxe refrigerante para Louise. Julie ofereceu pipoca e suco para Luna, mas só aceitou o suco, pois não come nada que venha de milho, não é alergia nem nada, só não comia nada de milho, não gostava. E como toda vida foi assim já era acostumada com as caretas das pessoas quando ouviam essa informação, com elas não foi diferente. Estava cansada de tanto andar e caminhar pelo park, e com um pouco de dor de cabeça, mas nem podia se dar o luxo dizendo que iria dormir, pois por acaso sua cama é o sofá onde todo mundo põe o traseiro para assistir TV. Foi à cozinha e procurou um comprimido de aspirina nas milhares de caixas de medicamentos vencidos e os que estavam no prazo. Achou um e tomou com um pouco de suco que tinha no copo. Julie perguntou se Luna queria dormir, mas para não ser chata muito menos enxotar elas do sofá, respondeu que ainda não ia dormir, mas Julie disse que se quisesse dormir enquanto terminavam de assistir a série, podia deitar por enquanto no seu quarto. E Luna aceitou. Julie tem um quarto só para ela, e Larah e Louise dividem o outro quarto, o quarto de Julie é pouca coisa maior que o delas, por ser tecnicamente a dona do apartamento, pois sua amiga quando voltou para os EUA deixou o domínio 52


sobre ela. Luna entrou no quarto que estava sendo iluminado por um abajur ao lado de sua cama, e que cama, uma King size, olhou ao redor e viu algumas coisas que poderia facilmente ser julgada, como pôster de bandas, CDs, camisas de heróis, roupas empilhadas. Os pôsteres eram de grandes bandas americanas, trabalhar na loja de instrumentos a um tempo atrás refinou seu gosto musical, mas mesmo assim seus CDs ainda tinham One Direction, Ariana Grande e DNCE. Em cima da cama vários travesseiros e um urso de pelúcia, em forma de urso polar, branco imaculado. Arrumou o urso em um lado da cama e deitou do outro. Mal encostou a cabeça no travesseiro e caiu no sono, como se houvesse sonífero em gás no quarto, para ter sido tão rápido em pegar no sono, essa era a teoria mais sensata. Acordou no outro dia quase 6h da manhã, embrulhada e abraçada com um travesseiro, e na cama de Julie, e com Julie do lado. Estava bem escuro lá dentro, levantou sem fase barulho, mas ao passar pelo outro lado da cama, e como sempre, bateu o dedo mindinho no pé da cama, quase grita de dor, mas só tapou a boca e engoliu a dor, mas como o chute fez um barulho Julie não acordou só mudou de posição. Luna foi ao banheiro xingando de dor depois foi para o sofá-cama e pegou no sono, mas logo acordou. As três ainda estavam finalizando as aulas, ainda teriam mais essa semana de aula, mas Julie mais três ou quatro. Após entrarem de férias, Larah e Louise iriam para seus países de férias, provavelmente nesse final de semana, e Julie ainda pensava se iria mesmo, não tinha certeza.

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 21 Definitivamente foi um dia longo o dia anterior, pensou Luna. Ainda era Terça-feira, dia 10, 08 da manhã, teria que estar no hospital 10 horas, e Luna uma pilha de nervos. Nesse meio tempo resolveu conversar com as garotas sobre as faculdades e tudo o que podia lhe tirar a atenção de ir ao hospital. Descobriu que Larah tem 22 anos, cursa Engenharia Biomédica na Universidade de Auckland, Louise 20, cursa Direito também na Universidade de Auckland, e Julie 19, cursa Design e Animação na Media Design School. O campus de Julie é o mais longe, comparado aos das outras, mais longe que o park que foi no dia anterior, lá por perto, e por isso Julie é a única que tem carro próprio, quando ela não leva as duas, elas tem que ir de trem, ônibus, bicicleta, o que der de ir elas vão. Como a universidades delas é perto do hospital, Luna foi com elas de carona, levando alguns documentos na bolsa caso precisasse, por ser perita em não ter documentos quando mais pensava que não seria preciso. Alguma das três conectou o celular ao som do carro, quando começou a tocar 7 rings da Ariana Grande, teve certeza que seria Julie. As quatro cantavam juntas a música, e depois passou para uma música do Shawn Mendes que não faz ideia da letra, e depois outra. O caminho durou cerca de 10 minutos ou menos. Luna foi a primeira a descer, as pernas mal se firmavam no chão. Batia uma paranoia se estava vestida para ocasião, se estava simples demais ou largada demais. Estava com uma camisa xadrez vermelha com preta, calça jeans azul escura e uma sapatilha nude, cabelo meio solto meio preso, pouca maquiagem com um batom vermelho bem de leve só para dar uma cor nos lábios. O prédio se estendia por 7 ou 8 andares, quase todos com a frente de vidro, cada andar se alternava de vidro e parede, vidro e parede e por assim ia. Entrou pela recepção e olhou para fora, as três ainda dentro do carro na rua olhando Luna e mandando cada uma joinha com as mãos. Falou com a recepcionista sobre a visita a Sabrina e confirmou que assim que ela liberasse 54


ela lhe chamaria, e encaminhou Luna para uma sala de espera à duas salas a esquerda do balcão de entrada. Durante 15 minutos de espera, Luna trocou mensagem com sua família e amigos no Brasil que era 08 da noite. Falou até com algumas pessoas que normalmente não falava, até se espantou com as mensagens inesperadas. Após 20 minutos de espera Sabrina abriu a porta que estava do outro lado da sala, era uma mulher alta, e imaginou ser de uma altura mediana, mas tinha mais de 1,70, e Luna pensou: Odeio gente bonita e alta, a vida é tão injusta. Sabrina a convidou para entrar na sala e se sentar a frente da sua cadeira super chic, de couro preto, alta e bem fofa, daqueles que quando senta seu traseiro agradece por essa gentileza, mas a que Luna sentou é uma cadeira com um bom estofado. Lhe contou algumas historias desde a fundação do hospital até agora, já estava como diretora do hospital a 6 anos, é médica cirurgiã cardiovascular a alguns anos, só não falou o quanto pois entregaria sua idade. Ela perguntou a Luna o que tem feito desde que chegou, e lhe contou algumas coisas do que fez e disse alguns planos que ainda teria a fazer ainda na semana que lhe restava, pois domingo dessa semana começaria a trabalhar. Pediu que lhe acompanhasse em um tour pelo hospital, mostrando algumas alas e especializações que o hospital oferece. O hospital era tão limpo e não cheirava mal, até questionou se realmente era um hospital, e continuou a caminhada longa entre todos os andares, o terceiro andar havia uma copa/lanchonete/cafeteria/sala de descanso, haviam mesas e cadeiras, e sofás em um grande salão de paredes de vidros com vista para a rua, e algumas maquinas de café e maquinas de comidas como barras de chocolate, sacos de salgadinhos, maquinas de refrigerantes, algumas plantas para harmonizar o ambiente. O primeiro andar era da emergência, onde Luna era a nova Enfermeira no setor, quando entrou pela porta viu ser um Pronto - Socorro como outros prontos socorros, mas mais arrumados, limpo e menos pacientes, mas nada que algumas coisas se diferenciassem escandalosamente do que já presenciou. Sabrina apresentou alguns da equipe do turno, mas provavelmente não lembraria seus nomes no final do dia. Depois da visita voltaram para o escritório de Sabrina e assinaram alguns contratos e mais papeis e tirou a foto do crachá, como de costume ficou aquela coisa de foto 3x4. Luna trabalharia 55


30 horas semanais, nas duas primeiras semanas trabalharia fixo no turno da tarde, depois iria ter uma nova escala de Enfermagem, receberia de início um bom valor, só teria que se acostumar em receber semanalmente, coisa que é bem rara no Brasil. Após isso, foi liberada, passando do meio dia estava com uma fome de um Leão, pois mal conseguiu comer de manhã. Procurou algum restaurante por perto, iria almoçar só de qualquer jeito, as garotas só voltariam no final da tarde para o apartamento. Comprou uma porção de Fish and chips, peixe com batata frita, não tem erro de se empanturrar com essa divindade.

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 22 Após o almoço, foi dar uma pesquisada nos livros da biblioteca perto do hospital, para ter uma atualização dos procedimentos e termos técnicos hospitalares em inglês, pois uma coisa é saber em português, outra é em inglês, como diz Gabi: uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Plano de estudar algo que envolva Enfermagem, falho, é impossível você querer focar em alguns livros quando se tem uma biblioteca dos deuses bem embaixo dos teus pês. Por mais que não escolhesse nada para ler, mas o prazer era de andar em todos os corredores e ver o sofrimento nos olhares dos estudantes, não de um mal jeito, mas só em saber em que não iria passar por esse sentimento tão cedo ficava muito feliz. Após algumas horas depois de sair do hospital, almoçar e visitar todas as seções da biblioteca, Luna recebeu uma mensagem de Julie dizendo: JULIE: Se estiver ainda por perto me diz, eu estou saindo da universidade mais cedo, só me diz onde que te pego. LUNA: Estou na biblioteca universitária, é perto da Universidade, passa aqui e vamos tomar um café no Mayne’s. JULIE: Chego em 10 min. LUNA: OKAY Menos de 10 minutos Julie chega em seu carro vermelho, mas não estava no melhor humor naquele momento, é perceptível pela escolha musical naquele momento, ou seja, nenhuma música, e pode-se concluir que o estado de espirito inspira nas suas escolhas presentes e futuras, obvio, mas necessário se imaginar, pensa Luna. Depois de um caminho com meias palavras, após chegar ao Mayne’s, Luna abre a boca e diz: - Então, posso perguntar o porquê você está tão calada? Aconteceu alguma coisa? 57


- Sim, aconteceu. Bom – pousou o café na mesa e amarrou o cabelo num coque alto e tirou a camisa de manga longa – lembra quando contei para vocês sobre o ex amigo que roubou a loja e eu meio que encobri ele? –Luna assente com a cabeça – ele não é só um ex amigo, ele é meu ex namorado, mas nós já havíamos terminado quase um ano antes do roubo, mas ai ele foi preso depois que eu entreguei as gravações, mas foi solto por ter pago a fiança, a família dele tem grana, mas ele faz besteiras só para chamar atenção. Mas o fato é que depois que ele foi pego e solto, ele se afundou de vez nas drogas, e hoje eu tive uma notícia de que ele tentou se suicidar, porque ele queria sair dessa vida, mas só se afundava mais, tentou suicídio por overdose de medicações, mas como o corpo dele já tem substâncias demais, o máximo que os remédios fizeram foi ele entrar em coma, e isso já faz três dias. Mas o que mais me incomoda no momento é que ele me ligou a uns três dias e eu ignorei, recebi um e-mail dele e ainda não abri. - Uau, hum, bom, acho que você no momento está se sentindo culpada por ele estar nessa situação? Certo? – Julie só responde um sim acenando lentamente – bom, mas não sinta. As decisões alheias não cabem a nós achar que somos culpados por elas, a decisão foi dele, talvez ele só quisesse te falar algo que precisava, tipo pedir desculpa ou algo do tipo, não se martirize por isso, mas indico ler o e-mail quando achar que está pronta. - Okay – procurou algo dentro da mochila e tirou o celular – não sei se ler agora ou daqui a dez dias vai fazer diferença, mas eu preciso saber algo – e abriu o e-mail e clicou em um nome, Brandon Paiton. Oi Julie, Tentei te ligar, mas acho que você está ocupada ou está dormindo, não sei, não faço ideia do fuso horário da NZ. Mas liguei para te pedir perdão, eu fui um covarde em fazer aquilo com você, eu nem mereço teu perdão, mas me sinto menos lixo em poder dizer que sinto muito, muito mesmo por ter agido como um caminhão de lixo com toda porcaria do mundo com você. Desde que a conheço, você nunca me julgou por quem eu sou ou quem minha família é, nunca olhou para mim com ganância ou com arrogância, mesmo quando eu merecia, nunca desistiu de mim quando eu estava no fundo do poço, quando todos me viraram as costas, quando todos me abandonaram 58


você me estendeu a mão. Mesmo depois de todo amor que você despejou em mim, eu consegui ser o lixo humano que eu sempre fui, mas ainda sim você conseguiu me ver atrás de toda sujeira, mesmo me entregando para a polícia eu não te odiei, porque eu tenho certeza que você não fez isso por ódio ou porque eu não lhe dei o que prometi, mas porque você viu nisso um recomeço, mas meus olhos estavam cheios de imundice que eu não vi essa luz no fim do túnel, eu vi ela se fechando, e a cada dia se fechava mais e mais, e hoje eu estou apenas encolhido nos últimos centímetros do túnel, no fundo do poço. Me perdoa Julie, mesmo que não responda essa mensagem, eu saberei que você me perdoou. Eu demorei muito para saber disso, mas eu sentia, mas não sabia o que era, mas eu te amei desde o momento que você cruzou aquele portão na escola no jardim de infância, mas eu já era quebrado naquela época, mas sempre você tentou remendar meus pedaços quebrados, até o momento que eles começaram a lhe machucar, mas você não ligava, e eu nunca olhei para quem eu machucava, sempre fui egoísta demais, ignorante demais, eu demais para entender que não sou o sol, não sou aquele onde todos giram ao redor. Você foi a luz na minha escuridão, só que eu não ligava. Até o momento que eu te perdi de vez, pois dia após dia eu te afastava mais e mais, mas para você foi a melhor coisa que eu fiz, terminar com você, eu sou tóxico demais, eu machuco mesmo sem querer. Mas para mim, foi uma péssima decisão, mas eu precisava, eu precisei pensar em você pelo menos uma vez na vida. Me desculpa Julie, mas eu queria ouvir tua voz pela ultima vez, ou te ver uma ultima vez, mas parece ser impossível agora. Lembre-se de mim naquele dia na cachoeira a três anos atrás, aquele era para eu pra sempre. Eternizenos naquele dia. Te amei, te amo e te amarei onde quer que esteja. B.P. Julie e Luna terminaram de ler e elas estavam chorando, Julie estava mais. Luna a abraçou e ela não disse nada, pois não sabia nem o que dizer, era dolorido demais saber que alguém que ama vai embora por vontade própria. Julie pediu que fossem embora, e Luna até arriscou ir dirigindo até em casa para Julie não se preocupar com transito naquele momento. 59


Okay, é só torcer para não ter que ser parada no transito e pedirem a habilitação que ainda não tenho, falou Luna em português para ninguém lhe entender.

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 23 Durante quase todo caminho Julie ficou calada olhando para o além, não conseguiu parar de pensar naquele e-mail, ela apenas apertava o pulso esquerdo, muito comum em quem está num momento difícil, como um sinal de tentar ainda estar nessa realidade, por exemplo, quando você não quer acreditar em algo e diz: Me belisca que eu não estou acreditando. - Julie, não fica pensando se você tivesse atendido aquela ligação ele faria tudo diferente – Luna finalmente tenta conversar com ela, mas nunca foi boa nesse quesito consolar – eu sei como você se sente, acha que poderia mudar o mundo e as pessoas se possível, que se sente inútil quando não pode ajudar, e no momento de não atender foi certo, mas agora se sente culpada, mas talvez ele nem tocasse no assunto, talvez ele só piorasse as coisas entre vocês, e talvez ele mudasse de ideia do suicídio naquele momento, mas e no dia seguinte? O amanhã é o amanhã, sabe, incerto, nem o hoje é certo de nada, única coisa que podemos afirmar de hoje, foi o que já passou. Quando as pessoas sabem esconder bem o que sentem elas até começam acreditar que aquilo que negaram a vida toda se tornou “verdade”, mas é só uma fachada, é um piso falso, quando elas caem lá dentro é quase impossível de sair, não impossível, mas como num filme que eu assisti uma vez, o único jeito de sair do fundo do poço é por onde você caiu, é preciso voltar pelo mesmo caminho, mas de um jeito ao contrário, tipo de ré - Passando pelo portão da garagem do prédio e Julie continua sentada quando Luna para o carro. - Nós namoramos por três anos e meio, desde os 13 anos juntos – Julie tinha um olhar vago, ainda apertando o pulso – muito novos, mas eu já o conhecia desde o jardim de infância, sempre fomos amigos, ele vivia na minha casa, nunca teve uma relação boa com os pais e meus pais o adoravam, quando começamos a namorar meus pais aceitaram numa boa, mas com um tempo ele foi mudando, ele nunca fez nada contra mim, mas o fato de ele agir diferente, fumar, beber, às vezes fazer trotes com pessoas inocentes isso me afetava, uma e outra vez que ele levantou a voz para mim e eu logo cortei o barato com ele, nunca levantou a mão para mim, às vezes ele só agia assim 61


para ser mais aceito pelos “amigos”, mas às vezes nem eles o suportavam. Um ano antes de nós terminamos, ele começou a agir estranho, ele se afastou de todos, largou a escola, começou a beber mais do que já bebia, e fumar, eu pedi que ele fosse a um psicólogo, falei até que eu o acompanharia, mas ele só dizia ser uma fase, que logo passaria, mas no fundo eu sabia que não, era depressão, ele não dormia a noite, mal se alimentava, tomava remédios fortes para dormir, ele se fechou para todos, até para mim. Até que ele terminou comigo, falou que não podia mais fazer isso comigo, que ele me traria para o poço com ele. Eu pedi que ele não fizesse isso, para eu ajudar ele, mas não aceitou, me tirou da casa dele, e pediu que não voltasse mais. Fiquei sabendo por algumas pessoas que ele estava usando drogas, tentei contato com ele, mas não me atendeu, nem em casa e nem ligações. Um ano depois ele veio na minha casa falar do roubo, e pedir que eu apagasse as imagens da câmera, e o resto da história você já sabe. Eu me sinto mal por não ter atendido, mas me sinto pior quando eu podia ter o ajudado alguns anos atrás, tentado falar com os pais dele, ter internado ele a força, sei lá, eu devia ter ajudado, ele estava implorando por ajuda e eu não entendia, só achava que era cena dele, eu fui idiota – Julie começou a socar o painel do carro, chorar e gritar. - Hey, Hey, Hey – Luna tenta de tudo lhe parar antes que se machuque – Hey, olha pra mim, você não tem culpa, você tentou, você tinha 16 anos quando terminaram, você o amava tanto achando que podia segurar o mundo por ele, mas nem ele pode segurar o próprio mundo, você é humana, cheia de falhas, ele também, se permita ser humana, isso não vai melhorar ou piorar agora, no momento nada depende de você, depende dele ainda se agarrar a vida e lutar por ela naquele hospital. Ele pode sair dessa, só acredite em o que puder acreditar, se ele quiser ainda ter uma chance, ele vai sair dessa, mas se não, ele pode ir em paz, é uma escolha dele – Luna para um minuto e pensa na carta – Ele disse que se você o perdoasse ele saberia. Você está pronta para dar essa resposta? Você acha que se responder que sim ou não ele vai partir? Isso não depende de você, e sim dele. - Eu não o odeio, mas já não o amo como já amei, mas ele é minha história, ele faz parte da minha vida, ele me magoou muito, mas nunca consegui o odiar. Ela tira o cinto de segurança e se vira para Luna - eu queria nunca ter o conhecido – e sai do carro. 62


- Nunca repita isso novamente – Luna sai do carro e corre atrás dela – Você está cheia de raiva, mas nunca repita isso, ele é parte de você, você é parte dele, hoje você tem o direito de se odiar, mas você não tem ideia do que é perder alguém quando mais se ama na vida, e ele te perdeu, e dia após dia ele sacrificava isso por você, e se não fosse por todas as estupidezes dele você não estaria aqui, eu sei que isso não ajuda em nada, mas se eu pudesse voltar no tempo eu diria às pessoas que eu mais amo o quanto eu amo elas e não deixaria nada acontecer do que aconteceu com elas. Você tem uma chance de reverter isso, mas eu não – Luna sai correndo em direção ao elevador e aperta o botão e ele logo chega, e se apoia no corrimão do elevador e toda dor que estava sentido vem em forma de lagrimas, Julie entra e a abraça e pede desculpas, e Luna não consegue falar nada, só a abraça de volta. As duas entraram no apartamento vazio em silencio, Luna vai para o banheiro e Julie para o quarto.

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 24 Pela manhã no dia seguinte após acordar foi ao banheiro, tomou um banho, escovou os dentes e tentou não se odiar pelo o que disse para Julie. Foi uma noite longa, Larah e Louise sentiram o clima entre as duas e não tocaram no assunto. Luna passou a noite no telhado lendo até que começou a chover, Julie se entocou no quarto e não quis sair de jeito nenhum. Quando saiu do banheiro, arrumou o sofá cama e pegou as chaves na mesinha do lado e ia saindo, para onde não sabia, só precisava sair, mas Julie a chamou com uma voz embargada e disse: - Luna, não vá. Preciso te falar uma coisa – Luna já estava quase passando pela porta quando a ouviu, passou de volta e sentou na cadeira do balcão e não disse nada, não estava com raiva dela, só de si mesma – Me desculpa por ontem, eu não podia ter falado aquilo, não devia ter despejado tudo em cima de você, eu estava cheia de ódio de mim mesma, e de cabeça quente. - Tudo bem, sem ressentimentos, eu também falei o que não devia, nem sei da história de vocês e já fui me enfiando no meio. - Não, você estava certa, eu não poderia querer apagar ele da minha vida, hoje eu sou quem sou graças a ele, mesmo ele sendo a pior pessoa, me desculpa mesmo por ontem, eu juro nunca mais te contar nada. Luna a interrompe e diz: - Eu não me importo em você conta a sua vida para mim, mas eu não quero magoar você me intrometendo quando não devia, se eu falei algo que te magoe, me perdoe você, você não me magoou só me fez lembrar algumas coisas. - Você não falou nada que não fosse verdade, eu precisava daquilo. Você foi como uma irmã que eu nunca tive – Julie diz segurando na mão de Luna do outro lado do balcão. - Eu ainda estou aprendendo em estar desse lado da história, a um mês atrás eu era você na história, sempre fui a consolada, não a consoladora, mas é aquele ditado “um dia da caça outro do caçador” 64


- Você faz bem esse papel, deve ter ouvido muito para aprender - começa a rir em meio as lágrimas que se formavam durante aquela conversa – mas o que eu preciso te dizer é que Brandon acordou essa madrugada, e eu consegui falar com ele por ligação, e conversamos que não voltaríamos, mas me prometeu que iria começar a fazer reabilitação química, que eu me orgulharia dele um dia – quando Julie parou de falar as duas estavam em prantos de felicidades, era uma ótima noticia em meio tanto caos, quando Larah e Louise saem do quarto e abraça as duas e dizem: - Por que mesmo estamos nos abraçando? Louise pergunta - Alguém se tornou milionária e estão forçando uma amizade aqui? Por que vou logo dizer, nem vou com a cara de vocês! Larah diz com tom de sarcasmo – Fez-se um segundo de silencio e as quatro caem na gargalhada. - Nem tem como levar você à sério depois de dizer sobre o trabalho na Fantástica fábrica de Chocolate, na verdade eu vou até trocar teu nome de contato para Oompa-Loompa falsificada. Diz Louise e as quatro continuaram a tirar sarro uma da outra.

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 25 14.09.2019 - A semana teve seus altos e baixos, definitivamente foi uma loucura. Essas garotas qualquer dia podem me levar à loucura. Mas como está por ai? – não falo com meus pais desde que eu cheguei, fora por mensagem, mas “pessoalmente”, e acho que já me acostumei estar aqui, às vezes é até estranho falar em português, não esbarrei em nenhum brasileiro por aqui, mesmo nos parques ou bosques que fui, e olha que em qualquer lugar que um repórter brasileiro na TV estivesse, em qualquer país, lá estava um brasileiro. - Bom minha filha, está do mesmo jeito, só vocês que tem feito muita falta, parece uma eternidade desde que vocês não estão por aqui - diz minha mãe com o rosto vermelho querendo chorar, e os olhos verdes que estavam vermelhos onde deviam ser branco. - Menos gastos no supermercado, só eu tua mãe e a Nina agora. Falando nisso, Nina essa semana fez birra, não queria comer a ração de jeito nenhum, tinha que fazer o leite e por a ração dentro para amolecer, ai ela comia. Era só o que me faltava, depois de velho babando cachorro. Isso porque eu sempre falei dos outros – disse meu pai emburrado, mas sabendo que ele gosta de Nina. - Mas pai, a Nina já tem quase 11 anos, já quase não tem dentinhos para quebrar a ração. Foi uma longa conversa, era sábado, não iam trabalhar hoje, mas eu tinha uns planos com as garotas, e teria que me preparar psicologicamente para o grande dia amanhã, primeiro dia de trabalho. Os planos era maratonar os filmes de O Hobbit e Senhor dos Anéis, porque é imperdoável você vir para o país que tem o condado, o bolsão, Hobbiton, e não fazer a mínima noção daquele pedaço de céu. Assim que Larah e Julie viessem do mercado nós começaríamos, ansiedade lá em cima por vários motivos. Quase 20 minutos depois elas chegaram com 300 sacolas cheias de compras fazendo aquela farra que elas 67


fazem sempre que saem. Mais parecia que foram fazer compras com a Ariana Grande. - Então, qual é a ordem dos filmes, porque fiquei sabendo que são vários longos filmes – Larah tem humor que só alguém bem treinado no sarcasmo não se ofende. - Vocês nunca assistiram mesmo os filmes? Tipo, nenhum? – Pergunto um pouco embasbacada, e as três só negam com a cabeça, mas Louise diz ter assistido só o Uma jornada inesperada, mas há muito tempo. - Ooookay, são 6 filmes, segue a lista – falo como se estivesse dando aula com slides, mas só estou mostrando os filmes no computador 1. O Hobbit: Uma jornada inesperada 2. O Hobbit: A desolação de Smaug 3. O Hobbit: A batalha dos cinco exércitos 4. O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel 5. O Senhor dos Anéis: As Duas Torres 6. O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei - A sequencia dos filmes foram gravados tipo Star Wars, do meio para final da história foram gravados antes, ou seja, a trilogia de Senhor dos Anéis, e depois a trilogia de O Hobbit -

quando falei de Star Wars elas também

fizeram uma cara de não saber o que estavam ouvindo – Vocês moravam aonde? Em baixo de uma pedra? Vocês não tem cultura cinematográfica nenhuma. As três basicamente responderam que não tinham gosto para filmes geek nerd, onde falavam “nunca gostei desse tipo de filme”, quem se refere aos livros/filmes de J. R. R. Tolkien como “esse tipo”? - Isso é cultura queridas – respondo para elas – agora sentem os traseiros e apreciem essa obra de arte. Assistimos os três de O Hobbit e elas amaram, tipo, não tem como não amar, é Martin Freeman mais Benedict Cumberbatch meus atores favoritos, pode parecer que estou falando da serie Sherlock (também), mas Benedict é Smaug e Martin é Bilbo. Ficamos de assistir A trilogia de Senhor dos Anéis amanhã, que é domingo, segunda e Terça a noite, após meus turnos de trabalho. Elas estão ansiosas para assistir, pelo menos é o que penso, vai que elas estão fingindo só para me agradar. 68


 26 15.09.2019 Recebi minha escala das duas próximas semanas, meu primeiro dia de trabalho no hospital começa as 13h, vai até 19h, tenho um plantão na quartafeira das 07h as 19h. Ouvi dizer que a taxa de emergências no país é relativamente baixa. Pela manhã tento adiantar o que puder no almoço, pois quando voltar do trabalho vou assistir o primeiro filme de Senhor dos Anéis para dar continuidade na maratona que não é maratona se não assistir um atrás do outro. Vamos chamar de “A saga de assistir filmes com as garotas”. Larah e Louise irão viajar na terça-feira depois do almoço, vão de férias de primavera para a França e Bélgica, seus países de origem. Já deixei bem claro que elas não colocam o pé em casa se não voltarem com um turbilhão de presentinhos de viagem, e bem claro que não queria nada de aeroporto, e que sei bem identificar o que é e o que não é de aeroporto. Julie não vai poder ir de férias para os Estados Unidos, suas aulas só encerram no final de setembro, e ainda não conseguiu decidir se iria mesmo, pois só iria ter um pouco mais de duas semanas, e Brandon está ainda na reabilitação, mas no final de ano com certeza iria, teria mais de um mês de férias de Verão. Meio dia bateu no relógio e já estava pronta no sofá só dando o horário de poder ir para o hospital. Vou de bicicleta e não vejo a hora de ter dinheiro a mais para comprar minha moto, carro é muito bom, mas moto é mais versátil, tirando nos dias de chuva, mas nada que uma roupa de chuva ajude. Quando chego ao hospital, não faço ideia do que fazer, não sei se vou direto para o Pronto - Socorro ou vou com Sabrina, a logística não entra na minha cabeça, mas resolvi sair mais cedo de casa, então tenho um tempo a mais para fingir que estou ciente de tudo e que nada aconteceu. Mentira. 69


Fui ao escritório de Sabrina, e ela não estava lá. Quando virei às costas para sua porta lá vinha ela pelo corredor, ufa, salva pelo gongo. Ela estava falando ao celular, em outra língua, talvez russo, não sei, sei que era bem estranho, e pediu para entrar enquanto falava no celular. Quase 5 minutos ela desliga e estou olhando suas plantinhas e os cactos nos vasinhos ao canto da sala. - Você sabia que um dos significados de Sabrina significa Cacto? Digo como se fosse especialista em plantas e significados de nomes. Ela me olha meio que dizendo: Olha só que coincidência?! Mas responde: - Isso é bem legal, tenho vários em casa, e que bom que faz jus a minha pessoa, sabe, cactos, nem todos sabem lidar com seus espinhos. - Isso é bem verdade, mas apesar dos espinhos, cactos também dão flores, e no seu determinado momento elas florescem. - Muito poético. E o que Luna significa? Questiona-me procurando algo dentro da gaveta, sinto que estou meio que a atrapalhando. - Lua. Respondo sem mais nenhuma empolgação na voz, e arrumando o casaco curto e a bolsa na mão, quase me levantando – Eu vou para o Pronto Socorro, o dever me chama – sei quando estou no lugar errado e no momento errado, e me despeço dela, e ela só diz que depois vai ao setor ver como está. Pelo menos ela me viu, e assim que saio sua secretaria que não estava quando cheguei ao hospital estava em sua mesa e me chama, se ela estivesse aqui a 5 minutos antes de tentar ir a sala de Sabrina, não tinha passado como inconveniente naqueles 5 minutos, mas relevo. - Srta. Falcon – era para ser Falcão, mas deixo passar – Como hoje é seu primeiro dia, vou lhe acompanhar ao setor e apresentar aos seus novos colegas de trabalho, eles já estão ciente de você, e peço que converse com o Enfermeiro Paul sobre o plantão que ele lhe entregará agora. Antes você bate o ponto aqui – apontou para uma maquina que passa o crachá e eu passo o código de barra no leitor, parecendo nos supermercados - e depois vai receber dois pares de roupas do hospital e um par de sapatos, e aqui está seu crachá, me acompanhe. Acompanhei a moça que tenho quase certeza que seu nome é Emma Phill. Não estou de óculos, mas não sou cega nem enxergo mal, mas a

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claridade é minha criptonita, e o plástico estava refletindo o sol e não via nada em seu crachá preso ao bolso do terninho bege medonho. Quando estramos no vestiário dos funcionários tinha os armários dos Enfermeiros, todos com nomes dos funcionários, tudo arrumado, coisa mais linda. E lá estava meu nome. Pode parecer besteira ou algo do tipo, mas quase choro pela emoção. Emma Bill, não Emma Phill, me entregou as roupas azuis com meu nome e embaixo Enfermeira, e na gola uma listra fina branca e os sapatos cinza de trabalho novinhos, ainda bem, dois pares de cada, só o sapato que foi só um par. Passei pelos corredores do Pronto - Socorro, havia algumas pessoas caminhando e outras sentadas em seus leitos. Entramos pela sala da equipe do setor e todos me olharam e por meio segundo que pareceu uma eternidade e alguns vieram me cumprimentar, outros só falaram do outro lado da grande mesa onde anotavam coisas em computadores. Após alguns minutos apareceu um homem loiro do sorriso de propaganda de margarina e Emma o chama e o cumprimenta abraçando rápido, logo saquei a dela, está com uma queda pelo Enfermeiro, ela não tem aliança nem ele, depois vou fuçar a vida deles nas redes sociais, é o único jeito de conhecer os gostos das pessoas. Depois de uma curta conversa aos sussurros dos dois, Emma me chama e me apresenta o Enfermeiro. - Srta. Falcon – de novo – esse é o Enfermeiro Paul Kern – Paul essa é Luna, Luna Falcon – está escrito no meu crachá o certo - Olá Srta. Falcon – até ele – estende a mão para me cumprimentar - É Falcão - digo falando um pouco mais alto do que pensei que fosse – Mas pode me chamar só de Luna – estendo a mão o cumprimento e termino de falar com um sorriso mais simpático sem parecer falso. Paul depois me de mostrar todos quartos e leitos me passou o plantão, disse cada situação dos pacientes que estavam internados, a maioria era de idosos que caíram em casa e machucaram ou tiveram alguma fratura, crianças com resfriado, crianças que caíram de bicicleta e fraturaram algo, 2 de acidente de carro mas nada tão grave, uns 3 de cuidados paliativos de câncer terminal.

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A tarde correu bem tranquila, quase sem intercorrências tão alarmantes, mas nenhuma emergência, somente com os pacientes já internados. Quando já estava próximo as 19 horas, veio uma Enfermeira comigo e disse ser a Enfermeira da noite, e se apresentou com Melissa Hourt - acho que não fui com a cara dela, deve ser pelo nome Melissa, não gosto desse nome, mas parecia ser de boa. Depois que passei o plantão para ela já não a odiava tanto, foi só preconceito nominal, mas ela é bem profissional, odeio julgar as pessoas quando não as conheço. Após isso, fui trocar de roupa, deixei as roupas no Hamper, onde se põe roupas sujas dentro, espero que entregue amanhã ela lavada, coloquei os sapatos em uma sacola que ele veio dentro do armário e fui embora. Quando cheguei em casa as três já estavam assistindo ao filme, mexeram no meu notebook, aliás, descobriram minha senha e estão assistindo sem a minha pessoa. Quando vi aquilo simplesmente comecei a gritar: COMPLOR! ESTÃO QUERENDO ME DERRUBAR. Mas Larah só falou para parar de cena, e que eu já havia assistido 300 vezes esses filmes. Mas e dai que já vi 300 vezes, o que vale é a intenção de fazer em grupo. Sentei um pouco emburrada depois do banho, mas logo me contentei, elas queriam assistir dois hoje para amanhã só ter um, as passagens delas foram adiantadas para segunda-feira meia noite.

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 27 16.09.2019 Já é quase 11 horas da noite e lá estamos eu e as três no carro de Julie indo levar elas para o aeroporto, mal conseguimos discutir os filmes depois que terminou “O Retorno do Rei” o ultimo da trilogia de Senhor dos Anéis, mas teríamos uns 40 minutos para discutir todos os filmes até o aeroporto. Mas quando finalmente eu ia falar sobre os filmes, Larah conectou o celular no som do carro e começou a tocar a música que tocou por quase um ano direto nas minhas playlist, Lush Life da Zara Larsson. É uma música impossível escutar e não querer cantar ou dançar, ou os dois ao mesmo tempo. A letra começa sendo acompanhada por palmas, e lá estava as três batendo palma e Julie batucando as mãos no volante e cantamos a musica toda até o enfeites que Zara faz. Cantamos várias músicas, e conversamos por cima de outras, até esqueci que devíamos conversar sobre os filmes. Odiava as vezes quase sempre ser a pessoa chata do grupo. Quando chegamos ao aeroporto, após descer do carro, Larah e Louise já haviam feito o check-in online, por isso não foi preciso estar 10 horas antes do voo. Louise pediu que as quatro tirassem uma foto, atrás de nós haviam 3 aeronaves estacionadas e era uma coisa linda e postou no Instagram com a legenda que coloquei em português: BEM RICAS E PLENAS. 20 minutos depois elas embarcaram. Fomos para o carro e Larah mandou uma mensagem dizendo: - Pode dormir na cama da Louise, eu deixo. - Obrigado, mas gostei mais da tua, obrigado mesmo, vou dormir nela – respondi com uma carinha de agradecida. Ela só respondeu com um diabinho roxo.

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 28 18.09.2019 Desde o momento que coloquei o pé pela manhã nesse Pronto - Socorro mal me sentei, foi ocorrência atrás de ocorrência, mas nada que acabasse com meu dia. Até que depois das 17 horas abriram as portas do Pronto - Socorro e um rapaz de uns 18 anos numa maca desacordado e um outro segurando sua mão, pela sua expressão algo bem sério aconteceu. Chamei Gary, o Enfermeiro da ambulância e corri de encontro com ele e peguei minha lanterna de bolso e fiz o teste de reação pupilar, estavam as duas fotoreativas, isocóricas, já diminui a possibilidade de TCE (traumatismo crânioencefálico), pulso radial filiforme, expansibilidade torácica preservada, mas sua pele estava fria, sem extremidades cianóticas visíveis. - Gary, o encaminha na sala vermelha, instala O₂ em macronebulização, monitoração multiparametricas e já que eu chego com ele. Digo rápido para ele e ele chama alguns Enfermeiros que estavam por lá, que acho bem provável que não tenha. E faço um sinal que o acompanhante não vá. - Me viro para o acompanhante e digo: Ele precisou de O₂, sua pele está um pouco fria, pode ser alguma coisa ou não pode ser nada, preciso que você vá depois ao balcão de entrada e dê suas informações e se tiver algum documento dele será melhor, preciso saber se ele tem alguma alergia, preciso saber o que aconteceu. Okay, muita informação. Primeiro, venha aqui, chamo ele, dou um copo de água. O que aconteceu – pergunto quando termina de beber a água. - Nós estávamos andando de bicicleta – ele faz um gesto para olhar para as roupas dele, tênis, short e camisa DryFit – e quando Dylan tirou o capacete para apertar um pouco porque estava folgado, algum cara bateu na bicicleta dele, e ele estava parado na borda da rua, acho que estava bêbado, e Dylan foi arremessado algum metros, e ele não acordou quando corri para perto dele, ele não acordou desde lá. 74


- Okay, vou requisitar uma tomografia de crânio e um Raio-X e o médico plantonista vai avaliar, não se desespere, tem uma maquina de café no terceiro piso, se quiser pode trazer um para mim – pisco para ele para pelo menos não se preocupar muito, pois nem eu sei o quadro dele – ele vai ficar de observação por enquanto, ele tem alergias medicamentosas? – ele só nega com a cabeça – vá lá, e já te passo alguma informação – ele só concorda e sai. Vou à sala vermelha, que é uma replica pequena de UTI, onde tem 4 leitos com todo suporte de UTI. Quando chego perto dele, olho os monitores e todos os valores estão normais, mas ainda desacordado. Vou ao telefone peço que alguém venha com a máquina fazer o Raio-X e depois levar ele para uma tomografia, mas alguém que ainda não conheço diz que está ocupado, mas seu tom de voz diz que é mentira, o acompanhante vem em minha direção com dois copos de café – falei brincando e ele levou a sério, digo com uma voz preocupada, estou fingindo - é um menor de idade, você sabe que não podemos demorar quando são pessoas menor de idade e idosos – nem sei se isso é verdade -. Essa pessoa diz: estou mandando agora alguém ai, e desliga. Ponho o telefone no gancho com um sorriso malicioso. E o acompanhante diz: - Ele não é menor de idade – com uma cara de “sério que você fez isso?!”- eu digo – eu não sabia - com um tom de sarcasmo – ele não está fazendo nada, só está com a bunda na cadeira enquanto eu corro uma maratona nesse Pronto - Socorro – ele me entrega o café com um sorriso no rosto. Depois de um gole no café, digo: Vou fazer uma medicação nele, pode ser que ele acorde só pela tentativa de acesso venoso. E saio. Amarro a liga no braço do garoto que acho que se chama Dylan, mas antes que eu faça o acesso, levando sua camisa e faço o estimulo doloroso no esterno, no osso do meio do tórax do paciente, com a mão fechada em punho os ossos dos dedos fazem uma compressão de vai e vem, muito comum realizar em pacientes de rebaixamento de consciência. Quando faço a pressão ele acorda, um pouco sonolento, mas acorda. Chamo pelo nome e ele aperta minha mão, e torno o chamar e ele abre os olhos. Dylan, você está no hospital – penso em dizer que o fulano está o acompanhando, mas nem sei seu nome – vou lá fora e o cara que está o acompanhando olha para mim assim que saio da sala, e peço que venha, ele

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quase vem correndo, mas ele só tem pernas cumpridas, e me pergunta se ele está bem, mas peço que me acompanhe. Ele chega ao lado dele e conversa com ele. Ele está com um pouco sonolento, talvez foi só uma concussão, talvez não seja nada sério. Após uns 3 minutos uma moça do Raio-X chega e pede que todos saiam. Após um exame e conversa com ele ela diz: Ele está com uma possível fratura no úmero esquerdo, vou levar para a tomografia, em 10 minutos ele volta – ela diz quando vê que ele não é menor de idade. Um Enfermeiro que a acompanhou levou Dylan para a sala de tomografia diz ao acompanhante que não podia o acompanhar. - Você pode ir comigo lá no terceiro andar, tomar um café ou algo do tipo? Preciso sentar um minuto, mas se eu ficar aqui esse sonho de princesa não se realiza – ele só responde: Claro. Nos andares que subimos no elevador ninguém falou nada, já me senti culpada por convidá-lo para um café ou algo sem medo do que pode acontecer a Dylan. Quando trago dois chocolates quentes, um para mim e o outro para ele, ele toma um gole e agradece. Sentados frente a frente, olhando para a vista da rua do lado, num silencio da vergonha e ele fala: - Obrigado por atender ele tão rápido, eu não sabia nem o que fazer quando o vi sendo arremessado – engulo seco e só digo - Tudo bem, é para isso que estou aqui – sério Luna que você falou isso? – Não queria que algo estragasse o dia de hoje, meus números da sorte, 4 e 18, hoje é o quarto dia que trabalho aqui, e é dia 18 - Quarto dia de trabalho? Que legal. E já aconteceu algo de bom nesses números para ter como da sorte? - Não, mas gosto de acreditar que sim – digo rindo porque é verdade. - Ele estende a mão e diz: Só pra constar, meu nome é Benjamin, Benjamin Boorman, primo de Dylan - Estendo a mão e digo Luna Falcão, Enfermeira do Setor – aperto sua mão e ela me parece tão familiar, o rosto dele é tão surreal, sorriso de garoto propaganda de creme dental, as ruguinhas de leve no canto dos olhos quando sorri com o sorriso aberto, a barba baixa de cor castanha um tom a menos que o cabelo, do tipo faz duas semanas que tirei tudo e já está crescendo, alto, 76


ombros um pouco largo, os olhos castanhos cor de mel, o cabelo um pouco desgrenhado mas dá para ver que é mais curto nos lados e em cima um ondulado mais para o cacheado do que para o liso para a direita. - Você não é daqui não, não é? Tipo, Neozelandesa, seu sotaque não é daqui – ele diz tentando descobri meus podres - Não, e muito menos você, e tenho quase certeza, até insisto em arriscar um pouco mais dizendo que você é Britânico – ele abre a boca e diz - Uau, você é boa, e pelo seu sotaque arrisco a dizer que é americana? – ele diz com cara de quem não tem certeza de sua afirmação - Começo a rir do seu chute – Errooou, sou da América, mas não Americana - Okay, mas você fala como os americanos. E de onde você é? - Eu moro com uma americana, minha maior influencia de Inglês é Americana, mas também tenho muito dos outros. E sou Brasileira, é, sou do Brasil - Eu nunca imaginaria isso, sério, até pensei que fosse da Argentina, mas 80% de chance dos Estados Unidos. - Eu finjo bem haha – eu não sou boa em conversar com pessoas novas, definitivamente – bom, Dylan já deve ter voltado, podemos? - Sim, obrigada pelo chocolate quente. Dylan voltou mais acordado, o medico já estava avaliando o Raio-X e a tomografia, não havia uma fratura, só luxou o ombro esquerdo, vai precisar de uma tipoia e passar uns dias com ela, e ficar de observação essa noite, explica tudo isso para Benjamin e pede que vá para casa, a sala vermelha não pode ter acompanhante, e ele está fora de perigo. Benjamin concordou em ir para casa e Dylan recebeu uma medicação para a dor de cabeça e no ombro e dormiu, permaneceria em monitorização, mas mesmo assim fora de perigo.

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 29 O plantão terminou finalmente e acalmou depois de Dylan. Vou para casa depois de dar uma ultima olhada nele, e permanece dormindo. Passo o plantão para Paul e pergunto sem filtros, acho que estou cansada demais para ter filtros nesse m0mento. - Então, você e Emma hein, vi como vocês se olham e tal, ela fez questão de vir aqui naquele dia, e vocês ficam de cochichos, acho que vale investir hein – ele só rir para mim e diz okay então. Faço joinha para ele e saio. Não vejo a hora de ter a minha cama, ou seja, a cama de Larah. Amanhã é um novo dia, mas eu estou acabada demais. Chego em casa e conto sobre o dia louco e sobre Dylan e Benjamin para Julie. Ela ficou bem assustada que ele chegou desacordado e sobre a pele fria, mas relaxou quando falei que o acordei. Julie ficou em casa o dia todo desenhando um projeto para a faculdade, de um curta-metragem novo, ela tenta me explicar como é ele, mas não entendo nada, depois que ela fala tudo, vou para o banho e sair o mais rápido possível para ir dormir logo. Desabo na cama quando visto meu pijama.

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 30 19.09.2019 Acordo 10 horas da manhã desesperada, corro para fazer as coisas antes de sair para o trabalho, tenho que fazer o almoço para mim e Julie, ela está trabalhando de fotografa pela manhã numa empresa de fotografia daqui do quarteirão, é só três vezes na semana, meio período, não é o dinheiro que ela almejava, mas pelo menos recebe alguma coisa e não depende somente dos pais, mas se ela quiser, ela cobre eventos e recebe mais por eles, é um extra do que ela já receberia só fazendo fotos na loja e externas. Vou para o hospital de carona com Julie, estava chovendo muito, e muitos relâmpagos, pelos meus cálculos vou me atrasar, levo meu guarda chuva amarelo em referencia a How I Met Your Mother e uma capa de chuva, estava ventando muito, e toda prevenção de não chegar ensopada é pouca. Quando chego na frente do hospital visto a capa transparente e me preparo para abrir o guarda chuva, mas como ventava muito, era impossível conseguir abrir ele, e simplesmente saio correndo até a recepção do hospital, pego meu crachá e tento passar na máquina e não reconhece, tento outra vez e não foi, tento mais umas 10 vezes e lê e ainda tem uma mensagem que nos outros dias dizia: Tenha um bom dia, e hoje ele diz: Você está atrasada, mas tenha um bom dia, mas como hoje está tudo dando “certo” digo para aquela maquina estúpida: VAI SE FERRAR! (em português, claro). Corro para me trocar, e com certeza a maquina estúpida está certa, estou super atrasada, okay 10 minutos não é tão atraso, mas mesmo assim, tem gente a horas aqui dentro querendo relaxar e se aquietar, não posso me dar o luxo de tirar isso deles. Quando chego ao setor está um céu de quieto, nada de ocorrências, 8 pacientes com em um setor com capacidade para 40 pessoas. Chego na sala dos funcionários e estão quase todos conversando, mexendo no celular, outros 79


dormindo no repouso, e encontro um novo Enfermeiro, Tim, um japonês que não é tão japonês assim, e eu aqui estereotipando o cara que nem conheço. Ele me passa todas informações do pacientes, um dos pacientes de cuidados paliativos evoluiu a óbito essa manhã, ela foi em paz – disse Tim com os olhos marejados. E eu digo: Sinto muito. Me entrega todos os exames que foram requisitados e não realizados até agora, uns requerimentos de materiais que preciso entregar ao supervisor do hospital, ele que resolve isso. Vou de enfermaria em enfermaria conversar com os pacientes e fazer a visita de Enfermagem, coisa que apendi na faculdade, você não simplesmente vai saber o que o paciente está sentindo, mas o acompanhante também, porque querendo ou não acaba não sendo tão confortável a eles, e também criar vínculos com eles, questão de confiança e respeito. Passo com outros 7 e deixo Dylan por ultimo. Quando entro na sua enfermaria ele está assistindo TV, um desenho, não sei qual é para falar a verdade. - Bom dia Dylan – abro a porta e sua atenção vem para mim - Bom dia doutora – ele fala se ajeitando para sentar, e vou a seu encontro e o ajudo a sentar - Na verdade sou Enfermeira, mas pode me chamar de Luna - Oh, desculpa. Lembro-me de você ontem na outra sala - Sim sim, era eu, acho. Então, como se sente hoje? Se lembra de alguma coisa do acidente? - Me sinto bem, fora o braço que dói quando movimento, e a cabeça parece está pesada, mas o Enfermeiro Tim disse que era pela concussão, e me explicou sobre o que é concussão. E não, não me lembro do acidente, só lembro que estava com Ben pedalando e parei para ajustar o capacete, e do nada sou arremessado,

depois disso não me lembro de nada, e alguns

fragmentos depois que acordei, só. - Okay, se sentir algo, só avisar, e sua alta está prevista para hoje a noite – ele vibra sem muito escândalo – e você está só aqui? – Pergunto e logo me arrependo – alguém atrás com uma voz grossa, mas suave diz: - Não, estou aqui – estava de costa para porta, com certeza não iria ver quem entraria no quarto, e está sentado ali como se a cadeira fosse extensão de seu corpo – Oi, boa tarde. 80


- Boa tarde, bom ver você sem short de exercício – porque eu abro a minha boca? Por que Deus? – Estou brincando – ele se levanta e está com roupas diferentes de short de exercício, de calça social, sapato social e uma camisa social azul clara dobrada até o cotovelo, sem gravata, cabelo arrumados e um perfume suave de desodorante e sabonete, mais social que isso impossível – e estende a mão para me cumprimentar e o cumprimento e digo: - Bom, vou deixar vocês a sós, depois passo para ver você garoto – aposto para Dylan. E fecho a porta e penso: eu sou patética, por que eu falo besteira quando eu menos preciso? A tarde correu tranquilo, fui fazer algumas medicações prescritas e dar altas de dois pacientes, da Sra. Clarken e de Dylan, mas vão aguardar até as 18 horas, que é a hora que a Dra. Costa – ela é porto-riquenha, não me sinto tão estrangeira quando ela está por perto – irá os avaliar final e se precisar prescrever alguma medicação. Sra. Clarken é uma idosa de 72 anos que caiu no banheiro do neto a 8 dias atrás, teve um corte no antebraço esquerdo, no mesmo braço que fez cirurgia a 2 anos atrás após uma fratura no úmero. E Dylan vai de alta apenas com medicamentos para dor, o braço na tipoia. Quando fui entregar seus documentos de alta ele estava só, menos chances de falar besteira. Após um plantão super tranquilo vou para casa de taxi, minha motorista ainda está na Universidade jogando alguma coisa. Pego o taxi e tenho uma viagem de 10 minutos, tento responder o máximo de mensagens que recebi durante a tarde toda.

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 31 20.09.2019 Graças a Deus hoje é meu dia de folga, sim, cinco dias de trabalho e estou só o pó. Acordei 8 horas, quando posso dormir até tarde acabo acordando cedo. É dia de folga de Julie também, só amanhã que ela vai trabalhar, no domingo de noite ela cobrirá uma renovação de votos de dois idosos, 55 anos de casados, é muito tempo. Vou ao meio dia na lavanderia, tem pilhas de roupas para lavar, desde que cheguei ainda não fui lá. Preparo o almoço, coloco as roupas em dois sacos de pano onde Julie leva as roupas, amarro na garupa da bicicleta e parece que vou vender banana na feira. Desço três ruas e chego à lavanderia Bolha de Sabão, tem um grande letreiro escrito o nome da lavanderia e uma bacia verde limão cheia de água e o sabão sendo jogado na bacia, e no contato do sabão com a água cria bolhas de sabão. Dentro são no mínimo vinte máquinas, ao redor e no meio do grande salão, todas com função de lavar e secar, só seria melhor se logo saísse passadas. Separo em cestos coloridos das coloridas as brancas e jeans, não faço a mínima como faço para colocar quem com quem, se as coloridas vão com jeans, a única que sei é que branca é só branca, óbvio. Lá dentro só havia eu e uma senhora, e ela viu o desespero nos meus olhos e me explicou como faria e como faria depois. As coloridas podem ir com jeans, desde que não soltem tinta, as que soltem tinta é melhor lavar a mão em casa, as brancas já sabia como era, me explicou quanto colocar de moeda e só ter cuidado com o vapor que algumas maquinas soltam, e me mostrou as que não soltam tanto vapor, pode ser irrelevante, mas ter uma queimadura de terceiro grau é meio ruim, não é? Enquanto coloco as roupas nas máquinas e a senhora super amorzinho está indo embora, levando um carrinho cheio de roupas, um carrinho azul, vermelho e branco, parecido com de supermercado, mas de plástico e menor. 82


Corro e abro a porta para ela e agradeço pela aula de lavar roupa, ela segura na minha mão e diz: não tenha medo desse mundo, corra atrás dos teus sonhos, seja o que você quiser, trabalhe até não aguentar, e depois desfrute dele. Assustada a agradeci e fechei a porta. Me sentei no banco que estava sentada e abri as mensagens que recebi nessa manhã. Havia mensagens de 5 pessoas diferentes e 2 grupo. Gabi, Olívia, Tom, Julie e um desconhecido, um grupo da família e o grupo das meninas do apartamento. Olho os grupos e respondo, olho de Olívia Gabi Tom e Julie, respondo, sempre deixo de números desconhecidos por ultimo, pois penso melhor nas respostas que posso dar, e não tem nem como tentar adivinhar as 13 mensagens pois a ultima era um ponto de interrogação. Abro a foto, e estranhamente me assusto. É Benjamin. BENJAMIN: Oi Luna, bom dia BENJAMIN: Tudo bem? BENJAMIN: É Benjamin, primo de Dylan BENJAMIN: Eu sei que parece estranho, mas Dylan me pediu um favor BENJAMIN: Pediu para lhe convidar para um jantar BENJAMIN: Nós três BENJAMIN: Para agradecer pelo atendimento no hospital BENJAMIN: Pode ser onde você quiser BENJAMIN: Por nossa conta BENJAMIN: Você aceita? BENJAMIN: Hoje 8h30 BENJAMIN: Aceita? BENJAMIN: ? Não sei nem o que responder. Vai que eles são psicopatas e queiram me levar para a Turquia? Não sou muito boa de confiar em pessoas assim de cara. Qual é, eu trabalhei mais de 2 anos em um presídio, eu vivia em alerta, e até hoje estou. Mas resolvo responder. LUNA: Oi Benjamin, Bom dia LUNA: Está tudo bem, e com você? LUNA: Acho que não terá como ir LUNA: Tinha planos com minha amiga 83


MENTIRA DESLAVADA LUNA: A americana que lhe falei LUNA: Acho que não será possível EU SOU HORRÍVEL EM DAR DESCULPAS LUNA: Mas fica para a próxima ESPERO QUE ELE DESISTA ANTES DA PRÓXIMA LUNA: Mas agradeço pelo reconhecimento e pelo convite Quando termino de rejeitar o convite daquele Deus grego britânico possivelmente psicopata, vejo que ele aparece ONLINE abaixo do número dele e logo em seguida DIGITANDO, corro com os dedos para sair da conversa antes que ele responda. Isso, agora me faço de difícil, depois de dizer não.

Ele

respondeu BENJAMIN: Entendo BENJAMIN: Mas se você quiser convidar ela BENJAMIN: Sem problema AGORA QUER LEVAR NÓS DUAS PARA A TURQUIA BENJAMIN: Pensa com carinho haha BENJAMIN: Dylan realmente quer lhe conhecer fora do hospital e lhe agradecer BENJAMIN: Se ela for, ainda será por nossa conta LUNA: Vou falar com ela assim que chegar em casa LUNA: E lhe dou uma resposta, okay? BENJAMIN: Okay! OKAY? Estou em A Culpa é das Estrelas agora? Chego em casa meia hora depois do convite e nem sei como contar para Julie. Penso mas as ideias não são das boas, resolvo só falar. Vai dá besteira, porque sempre que fico nervosa só sai abobrinha. Bato na sua porta, ela está deitada lendo um livro que recomendei para ela depois de assistirmos o filme juntas O Sol Também é uma Estrela, da autora Nicola Yoon, muito bom, amei quando li no inicio do ano. - Então, e o livro, está gostando? - Pergunto como se não quisesse nada

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- Sim, é bem legal – ela responde marcando e colocando do lado do abajur - Julie, preciso de dois favores teu hoje a noite – Falo e nem tento amaciar mais um pouco - Ooookay, o que é? – Pergunta meio desconfiada - Preciso que me dê carona a um jantar e um restaurante - Uhh, jantar, mas você só está a duas semanas aqui e já arranjou um jantar? - Não é bem um jantar como você está pensando, é só um jantar de agradecimento – falo e sei que ela vai perguntar quem é o agradecido - Quem então? – Bingo - Dylan – espero um segundo e falo baixo – e Benjamin - Uh, arrasando com os pacientes e acompanhantes – Ela fala rindo tirando sarro da minha cara - E vai ser aonde? - Não sei ainda, só quando confirmar que saberei - E porque ainda não confirmou? - Porque é ai que entra o segundo favor – Ela faz uma cara de que não está entendendo nada - Então? - O segundo é que você vá ao jantar comigo - Porque? Porque não vai só? Ele é teu paciente ou era - Por que eu disse que eu tinha planos contigo, mas ele insistiu e até disse que se você quisesse ir, poderia, e que seria tudo de graça - Ah, comida grátis, claro que aceito – Ela diz e não tenho reação - Simples assim? Sabendo da comida grátis e já aceita?! - É de graça, que posso fazer? - Okay então, vou confirmar - Ele tem foto de contato? Quero ver quem é, se vale a pena – Mostro a foto dele tipo que alguém tirou num flutuante de madeira, ele de óculos de sol, uma camisa de botão branca com detalhes em verde água e olhando para longe, encostado em um corrimão, com um sorriso bobo e encantador, os cabelos em favor do vento – Uau, arrasou hein amiga

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- Não é o que você está pensando okay – digo super envergonhada e rindo – é só porque o primo dele quer agradecer - Sei bem hum – diz ela querendo me tirar do sério mas só sei rir - Tchau – fecho a porta e ela só diz – olha o gato dela, arrasou É aquele ditado, dê dinheiro, mas não dê intimidade. Olho para a conversa e clico no seu contato, nem tem nome ainda, depois faço isso. LUNA: Então, ela aceitou, sem problemas BENJAMIN: Oh, que ótimo BENJAMIN: Daqui a pouco lhe mando o local BENJAMIN: Assim que me confirmarem a reserva lhe envio Não respondo nada, apenas leio e saio, não notifica mesmo que li, só que recebi. Quase uma hora depois ele manda o local no endereço no maps. E só respondo com um joinha e ele com um emoji rindo com todos os dentes. Por volta das 7h15 começo a me arrumar, e olho minhas roupas, nada parece ser adequada para um jantar em um restaurante aparentemente chic que precisa de reservas, e que aguarde a confirmação da reserva. Grito para Julie ir para o armário comigo, ela chega com um short jeans, uma camisa branca surrada de alguma banda e a toalha na cabeça, pelo menos ela já tomou banho, e digo: - Eu não tenho roupas – a voz parecia que iria chorar - Pra quem disse que era só um jantar está muito preocupada com irá aparecer lá - É só um jantar, nada demais, mas mesmo assim, eu não tenho roupas de sair, eu basicamente só tenho calça jeans e camisas de heróis. - Não exagera okay, vamos ver aqui ou no de Larah, deve ter alguma coisa que também te sirva Olho ela revirando meus cabides e gavetas separou um vestido azul marinho quase preto com vermelho marsala de pano fino – logo disse que estava frio e ela me fuzilou com os olhos e me ignorou – uma sapatilha preta, meia calça grossa preta e uma jaqueta jeans claro grossa bem grande e folgada de Larah e falou para eu ir me maquiar, nada pesado, não passar batom, secar o cabelo de cabeça para baixo no secador - para dar leveza e certo volume – e quando chegar ao batom para lhe chamar. 86


Entrei no quarto e passei um basicão no rosto e chamei ela, e só disse para passar o brilho labial cor de cereja e saiu do quarto, ela já estava vestida com uma saia rodada preta, uma blusa social sem mangas preta de poá branco com gola branca e uma sandália aberta. Quando sai do quarto ela estava bebendo suco da garrafa na frente da geladeira, e tornou com a garrafa quando me viu. - E agora, tem roupa? - Dá para o gasto - São 8h12, demora uns 15 minutos até lá, já quer ir? - Só um minuto, preciso ir no banheiro fazer o numero 1 Quando chegamos no carro ela me pergunta - Vocês trocaram número no hospital? Paro um minuto para pensar, e realmente não tinha pensado nisso, como ele tinha meu número - Não, eu só conversei com ele durante o café e quando fui fazer a visita com Dylan, mas é uma boa pergunta

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 32 Quando chegamos já era 20h48, havia um congestionamento em uma das vias principais que precisava passar, mas eles ainda estavam lá. Era um lugar bem bonito e aconchegante, as mesas de madeiras e cadeiras de acrílico pretas, em cima das mesas haviam luminárias e saiam delas algumas flores e folhas, algumas mesas no local, umas 14, estava com 8 com pessoas e uma delas era Benjamin e Dylan. Dylan com certeza é uma cópia loira de Benjamin, os dois tem a mesma moldura de rosto triangular, e os ombros levemente largos. Quando passamos pela porta acredito que nos viu pelas janelas, e estavam vindo de encontro conosco. Nos cumprimentaram com beijos cordiais no rosto e apresentei Julie aos dois. Sentamos eu e Julie no mesmo lado e eles a nossa frente. - Então, vocês bebem vinho? – Benjamin quebra o silêncio - Sim – digo dando um gole na taça com água que o atendente me trouxe quando chegamos - Sim, mas hoje estou dirigindo, e tecnicamente não posso beber, nos Estados Unidos a maior idade de consumo de bebidas é de 21 anos, mas aqui na Nova Zelândia é 18 anos, fica ai uma questão para ser debatida. - Eu posso, mas não estou afim – ele tem um sotaque britânico mais afiado que Benjamin, talvez já treinou bastante aqui para perder o sotaque - Então sem vinho ou bebidas – ele diz brindando sozinho com a taça com água - Então Brasil e Estados Unidos? Como é a vivência? Ele faz a pergunta olhando para Julie e ela sorri e responde: - Muito boa, ela fala muito bem o Inglês, como ela diz, assistiu muita série americana, já foi treinada, e também moramos com mais duas, uma Francesa e uma Belga - Que legal. Morei nos Estados Unidos quase dois anos quando tinha 8 anos, meus pais se separaram e ele foi transferido pela empresa e foi morar lá, em Nova York, Manhattan, era muito legal morar lá, nós saiamos quase todo 88


final de semana para almoça em restaurante e pelo menos uma vez no mês ele me levava em um restaurante Brasileiro – eu nem sei o que falar, só arregalar os olhos e sorrir – sim, era de um Brasileiro, uma família Brasileira, não lembro seus nomes mas era muito bom, o arroz com feijão – digo Baião de Dois – isso, nossa eu havia esquecido desse nome, e o churrasco, dos deuses, não havia um churrasco como aquele em toda Manhattan, e o refrigerante do Brasil, uma delícia. Quando você me falou que era do Brasil me veio todas aquelas lembranças de quando morei lá, foi fantástico – ele diz olhando para mim e nem sei o que responder. - Que legal cara, nunca pensei que você tivesse provado o churrasco Brasileiro/Americano - Sim, eu até construí uma churrasqueira na minha casa em Londres para assar o churrasco, mas... - Sai um desastre – Dylan corta no meio de sua fala - Não é totalmente um desastre, até que dá para comer - Vai sonhando – ele põe a mão na boca como se quisesse sussurrar e sussurra para nós duas - parece um pneu de carro - Oh meu Deus, mas ele tentou, talvez ficou muito baixo a carne e o fogo alto. A carne precisa assar, mas não perder todo o liquido dela, senão realmente fica seca – digo como se fosse a churrasqueira da família, mas ver meu pai assando me faz saber pelo menos um pouco - Você está nos devendo um churrasco – Benjamin diz e os outros concordam - Okay, mas chega de falar em churrasco, me deu até desejo – digo e realmente quer0 – Então, Londres, os dois são de Londres? - Sim, nascidos e crescidos – Dylan diz e chamando o atendente para trazer os cardápios - E desde quando moram aqui? – Julie que por mais que fale pelos cotovelos em casa, aqui estava acanhada. - Eu moro aqui a 1 ano e meio, Dylan mora em Londres com sua mãe e a minha mãe, e está só de férias aqui - E porque não mora aqui? - Julie está ativa - Faço faculdade lá, porém queria, mas sempre que posso estou aqui. E vocês? 89


- Quase um ano – ela responde - Eu moro aqui – olho no celular e vejo a data – a exatos 13 dias - O que? Como assim? – Dylan está meio chocado e não entendo o porque - Qual o problema? – falo rindo e não entendo a reação - Você está a 13 dias num país e já trabalha naquele mega hospital? Tipo, como? Explico todo o processo, desde os envios, os não e a vinda - Agora faz sentido, não foi fácil – Benjamin fala meio em transe do que falei - Faz faculdade de que Dylan? – Julie pergunta - Medicina Veterinária, na UCL (University College London) - Ah, que legal, muito legal – digo e é verdade – amo animais, até pensei fazer faculdade de medicina Veterinária quando terminei o Ensino Médio, mas eu não consigo nem ver os bichinhos sofrendo - E você Julie? – Dylan retorna a pergunta - Design e Animação - Uou, isso é muito irado – ele responde muito entusiasmado - É bem legal, eu gosto de criar coisas, até estávamos criando um projeto de uma animação. E você Benjamin – ela faz a pergunta a ele e ele estava rindo de Dylan - Arquitetura - Arquiteto Boorman, combina – digo rindo e comendo meu frango que pedi e chegou logo, ainda bem, estava com muita fome – Você já trabalha nesses 1 ano e meio como arquiteto? - Ah sim, eu fui transferido pela empresa, assim como meu pai, mas ele é advogado, minha mãe também, e a mãe de Dylan também, alias, se formaram os três juntos, mas eu era o único com disponibilidade de me mudar para outro país e eu queria sair de Londres mesmo, ai surgiu a oportunidade e vim, e pretendo não voltar para Londres, só para visitar, já amo esse país, essa cidade - Que legal – eu e Julie respondemos iguais e ao mesmo tempo - E você fazia o que antes de vir para cá? Pelo jeito a uns dias atrás – ele fala meio que tirando sarro do tempo que estou aqui

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- Olho para Julie e a cutuco e faço um sinal que só mulher entende a outra – Eu trabalhava em um presídio - Eles se engasgaram com suco e comida – Presídio? Como assim? E você tinha coragem? – Dylan só se surpreende comigo essa noite - Sim, sim, e sim. Trabalhei por mais de 2 anos lá - E quantos anos você tem? Para tanto tempo de trabalho e não aparentar mais que 18 anos – Dylan está estarrecido - Eu tenho 23 anos - Como assim? Não parece – Benjamin fala e não acredita – eu tenho 25 e estou chocado - É muita raiva que passo, estou brincando, mas obrigado, e você não parece ter 25, parece ter 24 – fico rindo da minha piadinha ruim e os dois se juntam a mim só pela amizade - Obrigado, eu acho, e você Julie? Espera, você dever ter 30 anos? Nada mais me surpreende essa noite - Haha, não, tenho 19 - Eu também, que legal – Dylan diz com uma certa empolgação que fica bem desconcertado - Agora sim, você faz jus a sua aparência – Benjamin diz me olhando e dizendo com os olhos: Você é uma farsa, mas é só coisa da minha cabeça A conversa durou por mais de uma hora e meia, mesmo depois da sobremesa e resolvemos ir, e fui ao banheiro, estava com a bexiga cheia e logo que sai e voltei os três se levantaram e saímos. Quando chegamos lá fora Dylan e Julie foram no sentido do carro dela e eu e Benjamin ficamos para trás, e então pergunto o que ficou martelando na minha cabeça a noite toda - Como você conseguiu meu número? – meu tom não foi agressivo do tipo que coloca uma faca no pescoço e pergunta - História engraçada – será? – Dylan esqueceu sua carteira no hospital, e fui atrás de você com um dos Enfermeiros, acho que se chama Paul – sabotagem, só porque falei de Emma – e perguntei se você estava lá, mas me disse que estava de folga, e então perguntei onde ficava os perdidos, e ele disse que ficava na recepção, lá na entrada, com uma moça ruiva chamada Emma – quer dizer que ele não se vingou – quando sai para a recepção Paul me

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chamou e disse que se eu quisesse seu número ele me daria – culpado – e disse que sim e me deu, fim da história, e aqui estamos. - Entendi, obrigado pelo jantar, e por chamar Julie também, Dylan é um ótimo garoto – digo porque não sei nem o que falar - Sim, quando podemos sair de novo? Nós quatro - Bom, o que você vai fazer quarta-feira que vem a noite? – já sei onde ir - Não faço nada a noite, qual é o plano? - Só marque na sua agenda, quarta-feira a noite, nós quatro, espere por mais informações no decorrer da semana – estou muito misteriosa – calma, isso não inclui esconder um corpo, é aceitável pela sociedade o que faremos - Okay, já estava ficando assustado com sua conversa, mas confio em você - Então está fechado, falo com Julie e você com Dylan - Fechado. Boa noite, e de novo obrigado - Sem problemas, boa noite Vou em direção do carro de Julie que está estacionado 4 carros a frente do de Benjamin, e o deixo do lado do seu, um Jeep prata, daqueles bem caro, e vejo os dois trocando números, cada um segura o celular do outro e entrega em seguida. Dylan vem em minha direção e me abraça - Muito obrigado Luna, por ter cuidado de mim, eu nunca fui tão bem atendido, e Bem me contou como você agiu e mentiu quando estava desacordado, devo isso a você – ele bate a mão direita de leve no braço esquerdo. - Não foi nada demais, e não foi só eu que lhe atendi, foi uma equipe toda, talvez vocês falissem se fossem pagar um jantar para todos – ele ri do que falo - Mesmo assim, obrigado, e boa noite, mantenha contato – me abraça e ele é mais alto que eu, quase da altura de Benjamin - Boa noite Ele dá tchau para Julie que já está do outro lado do carro. Entro no carro e vamos para casa e digo: - UHH, até trocaram números, UHH - Haha, cala boca – ela fala e ri desconcertada - Okay, vai fazer o que na quarta-feira? 92


- Não sei, nada, por quê? - Marquei com Benjamin uma coisa para nós 4 - Benjamin uhhh, okay então, mas falando nisso, como ele conseguiu teu número? – conto para ela como foi - Talvez Dylan nem perdeu de verdade e só foi atrás de você - Ah pelo amor de Deus Julie, sem especulações sem noção, por favor – digo rindo e ela dá de ombro, conecto o celular e coloco musica para tocar, não quero que ela fique falando sobre eu e Benjamin, ou especulando sobre.

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 33 23.09.2019 Ontem à noite combinei com Julie que iriamos a praia hoje, mas hoje acordei já querendo voltar à dormir de novo. - Tive um sonho esquisito onde eu andava por minha cidade onde cresci e havia vários cavalos, estava escuro, era a noite e mal tinha iluminação de postes, eu ia com meu pai pela rua perto de casa, e víamos alguns cavalos em pé no meio da rua e outros possivelmente mortos, não entendia nada, quando chegávamos perto de um posto de gasolina no meio da cidade na realidade, no sonho a cidade acabava no posto e o rio já estava ali, e havia muitos cavalos em pé e caídos a beira do rio, e muitas pessoas andando parecendo que nada estava acontecendo. Acordei soando e assustada com o sonho – conto o sonho para Julie, pois dizem que se você contar um sonho ele não se realiza, e eu realmente não queria que ele se realizasse. Vamos para a praia, saímos 6h30 minutos, meio cedo, certo? Mas preciso estar de volta para a vida de adulta antes das 13 horas, nem que eu entre de saída de praia dentro do hospital. Levamos dois potes de protetor solar, o maior fator que achamos na farmácia. Vamos para a praia Takapuna Beach, a viagem pelo maps dura cerca de 25 minutos, mas como é período de férias, está com um trafego um pouco agitado. Levamos 40 minutos, razoavelmente rápido, mas quando chegamos lá esquecemos que acordamos 6 horas da matina para ficar fritando no sol, eu, que não sou nada fã de sol ou areia, ou os dois juntos. Parte da praia é cheia de pedras, e varias aves sentadas nela, e de frente a praia, bem longe há uma montanha, que tenho um pressentimento que é algum vulcão, e se Deus quiser está adormecido a bilhões de anos e permanecerá. Montamos o sombreiro perto de algumas árvores nos rebocamos de protetor solar e fomos dar um mergulho. Julie arriscou um biquíni americano e eu fui com um maiô azul claro com uma estampa em referência a música de Rihanna, escrito BEACH BETTER HAVE MY MONEY que comprei no Chile, no 94


aeroporto, é isso que basicamente se faz quando espera por duas horas de conexão de um país para outro, e um short Jeans soltinho. Julie puxou sua cadeira de sol para o sol que nem estava tão quente, mas também não estava frio como nos outros dias, para atualizar o bronzeado, eu fui mais para de baixo do sombreiro e comecei a continuar meu livro, mas claro que peguei no sono, mas não demorei muito para acordar, aliás, estava sol, porém estava levemente fechado o tempo, mas se eu fosse para o sol não me bronzearia, mas ficaria vermelha como um camarão, bem que queria um bronzeado, mas nunca rolou em toda minha vida, só queimada mesmo. Já era 11h quando Julie resolveu ir embora, e recebo uma ligação e atendo. - Hey Luna, é Dylan, tudo bom? - Tudo bom, e com você? - Está bem, é o seguinte, Ben quer saber o que você está tramando para quarta-feira, ele está me enchendo desde o jantar, e eu também estou começando a ficar com uma pulga atrás da orelha, pode me dizer, juro não falar para ele Eu estava me esquecendo de quarta-feira, espero não está de plantão nessa noite - Desculpa, mas não posso dizer, e nem adianta perguntar para Julie, nem ela sabe - Não sei o que? – Julie surge atrás de mim perguntando o que falei dela - Tapo o celular e falo que é Dylan, e ela só dá um sorriso - Ela não sabe, nem adianta, mas vou adiantar que não é nada social, é bem casual - Okay, isso não ajudou em muita coisa, mas espero que mande logo onde é - Está bem, tchau Salvou o número de Dylan Lawford e salvo também de Benjamin Boorman Vamos para o carro e peço que vá um pouco mais rápido, preciso tirar a maior parte de areia que estou levando no meu corpo, principalmente em lugares desnecessários.

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 34 25.09.2019 Hoje o Pronto - Socorro do hospital está um céu de calmo, literalmente, tem 3 pacientes, sem entradas ou saídas, só observação, provavelmente terão alta mais tarde. E meu celular é bombardeado por mensagens de Dylan, esse garoto é mais ansioso que eu. Envio o endereço e ele responde: - Um café? Café eu tomo em casa, é só chegar lá e depois vamos para outro lugar? - Respeite o café do Mayne garotinho, mas você vai entender depois - Tá okay - Tchau, estou no trabalho, 8h lá - Beleza Ele vence no cansaço. Quando saio do hospital, Julie está me esperando, ela foi à biblioteca aqui perto para devolver uns livros emprestados e pagar uma multa de 12 dólares por 3 livros. Fomos para casa e nos arrumamos em tempo recorde. Nem ela sabe o que vai acontecer, só digo onde é e ela dirige, apesar de que é perto, está chovendo um pouco e prefiro não pegar essa chuvinha chata. Chegando na frente do café do Mayne os dois estão chegando ao mesmo tempo, se tivesse marcado certinho não daria tão certo como deu. Encontramo-nos na porta do café e eles chegam e olham para dentro e veem pessoas no palco, é dia de Karaokê. Dois dias antes do jantar fui ao café pela manhã, e Mayne me disse que as quartas-feiras eram dia de Karaokê. - Então, Karaokê? - Benjamin diz me abraçando, muita intimidade para pouco tempo nos conhecendo, não digo que acho estranho, até porque Brasileiros são muito calorosos em questão de cumprimentos, mas os Europeus nem tanto 96


- Dia de Karaokê, qual é, está com medo? – ele faz um movimento de estar ofendido, mas na brincadeira - Nunca, pelo contrário, sinto pena de quem for com você – ele foi ousado e nem tenho palavras - Oh, sério? Vamos ver, mas vamos entrar, vamos nos molhar todo se ficarem trocando farpas a noite toda – Dylan diz e Julie só concorda com a cabeça e nos empurrando para dentro Sentamos em uma mesa que sentei no primeiro dia que vim aqui, até porque era a única vazia, viro para Julie e digo: - Se garante ir de dupla comigo e disputar com esses dois? - Eu acho, o que quer cantar? - Qual o teu nível de conhecimento de música dos anos 80? – aponto para um cartas atrás de nós e diz: Noite dos anos 80. - Ah, isso é tão legal, mas conheço algumas, dá para enganar - Okay, vamos ganhar desses dois - Vamos fazer uma pequena competição, eu e Julie, você e Dylan, músicas dos anos 80 – aponto para o cartaz e eles só fazem um som: ahhh e Benjamin faz o sinal que quer um tempo e vira para Dylan e fala algumas coisas - Fechado, mesmo que isso não for uma competição – Dylan faz um circulo com o dedo indicador falando de tudo, não só de nós 4 – quem ganhar escolhe o próximo evento, esse final de semana para os 4. - Fechado Mayne chega em nossa mesa todo espirituoso como ele sempre foi e diz: - Algum de vocês vão cantar? - Sim, duas duplas, garotas VS garotos – Dylan diz super animados - Quem vai primeiro? – Julie e Dylan falam juntos que a outra dupla iria – okay, vamos tirar na moeda, cara garotas e coroa garotos – ele joga a moeda e apara e vira na mão, faz um pequeno suspense e mostra, face coroa da moeda – garotos primeiro – Julie zoa com Dylan e diz: - Essa é a primeira perda de vocês na noite, se preparem – viro para ela sorrindo com cara do tipo, calma garota, está muito ousada - Vai sonhando, espera até começarmos e esse sorriso vai sumir – Dylan é competitivo, anotado 97


- Vamos ver - Mayne interrompe e diz: Tem 3 apresentações antes, não tem prémio ou melhor colocado, mas pelo visto estou vendo uma rivalidade aqui. Anotem no papel – entrega caneta e papel já pré-pronto com algumas informações do tipo: Título da música, artista(s), cantor(es) da noite, e entregue para Marie ali no computador. -

Obrigada

Mayne,

e

vamos

querer

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chocolates

quentes

com

marshmallow e biscoitos – ele só concorda com a cabeça e sai. Eles dois começam a cochichar e Julie me cutuca e fala: - Qual é o plano, ou melhor, a música – sussurro a música no seu ouvido e ela abre um sorriso tão largo parecendo que ganhou em um bolão da sorte – ótima, não tem melhor para o momento - Okay – escrevo no papel e olho para os dois e eles já escreveram e digo: Julie vai entregar o nosso, e vocês? - Já está aqui querida – Dylan é competitivo que até a voz dele muda, estou ficando com medo, ele levanta e vai em direção a Marie e a entrega e Julie também, e passam no balcão para pegar nossos pedidos - Ele é só um pouco competitivo, não é Benjamin? – Digo para Benjamin e ele só concorda com a cabeça - Me chame de Ben, é muito logo meu nome, às vezes é trava língua para quem não tem muito contato com ele - Okay, Ben – sorrio para ele e só diz - Obrigado. Preparado? - Canto essa música de trás para frente, se prepare para o melhor passeio da vida - Uh, será que sabe? Mas o público que vai escolher - O público? Como assim? Vai ter votação? - Sim, alguém precisa julgar - Agora que Dylan tira minha pele fora se perdermos, ele tem pensado nesse lugar há dias - Se empenhe mais um bocado e ganhe – pisco para ele e ele serra os olhos do tipo, “você é baixa, garota” - Ganho com as mãos nas costas

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- Não precisa das mãos agora, só a voz – Julie chega com os copos de chocolate e diz: - A trocação de farpa continua - Veremos – ele diz e fazem o movimento com os dedos indicador e médio dos olhos para mim Ficamos cantando as 3 músicas seguidas para aquecer a voz, e como truque não bebo ou como quando trouxeram nossa comida, fica residual na garganta. E finalmente chamam eles. Eles levantam e digo: Boa sorte, vão precisar. Preparo o celular para gravar e eles sobem no palco e se apresentam, Ben parece um pouco nervoso, Dylan parece está no seu habitat. A música começa a tocar e logo sei qual é: JESSIE’S GIRL de Rick Springfield. Amo essa música, tem a melodia muito boa. Ben começa e sua voz grossa soa rouca e algumas senhoras que estavam um pouco mais a frente começam a gritar e logo Dylan se junta a ele com sua voz um pouco mais aberta que combinam as duas. [...] Eu me olho no espelho o tempo todo Me perguntando o que ela não vê em mim Eu tenho sido engraçado Tenho assuntos legais Não é assim que o amor deveria ser? Me diga, onde posso achar uma mulher como aquela? [...] Eles rodam pelo salão puxando um das senhoras para dançar enquanto cantam e vão para o palco e fazem mais alguns movimentos e vão para nossa mesa e param na nossa frente e se ajoelham enquanto cantam e pegam nossas mãos, faço expressão de estar lisonjeada e os gravo e terminam no palco e todas as mulheres que estavam no salão estão aplaudindo eles. E estamos de pé já para ir para o palco e os 2 nos carregam e rodam no ar quando chegam perto da nossa mesa, eles estão cheios de animação e sentam e bebem um pouco, Julie me olha do tipo: esses dois estão loucos, pego a jaqueta de couro de Ben e Julie de Dylan, e eles ficam com cara de não estar entendendo o porque. Chamam nossos nomes e vamos para o palco. Nos apresentamos e viramos de costa para a plateia que está dividida entre homens e as que gostaram da apresentação dos dois, olho para Julie e digo:

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- Incorpore a música, sinta ela, esqueça da voz se está boa ou não – ela só concorda com a cabeça A música começa a tocar, LIVIN’ ON THE PRAYER de Bon Jovi, as pessoas começam a gritar com os primeiros toques da bateria e guitarra, nos viramos para fazer posição de rock star e eles estão gravando e começo a cantar a parte de Tommy, minha voz que geralmente é grave para cantar, pois escolho as músicas que me favoreçam, essa precisa usar minha voz aberta, e sai relativamente boa, já estava aquecida com a cantoria dos outro e logo Julie canta a parte de Gina, uma voz geralmente calma e fechada sai suave e mais aberta, e honestamente faz um contra a minha voz, harmonicamente, as pessoas vão a loucura, se levantam e batem palma no coro, no oooh a plateia canta junto e começamos a correr e dançar pelas mesas e mostrando que podemos fazer melhor, vamos para frente deles e cantamos e eles nos acompanham “We'll give it a shot” [...] Oh, estamos quase lá Oh, oh, vivendo por um fio Segure a minha mão, nós vamos conseguir, eu juro Oh, oh, vivendo por um fio Oh, estamos quase lá Woah, vivendo por um fio [...] E voltamos para o palco para aquele espaço da música que tem o solo de guitarra e bateria e continuamos a cantar um tom acima e finalizamos a música e todos, sem exceção, todos levantam e batem palmas. Voltamos para a mesa e os dois estão embasbacados e nos abraçam quando voltamos e dizem: - Vocês são umas fingidas, vocês já estavam tramando tudo, já sabiam da noite e já ensaiaram tudo! – Dylan fala tentando cobrir a voz de Marie que está dizendo que irão dar uma pequena pausa após esse show de rock que nós apresentamos. - Eu só sabia do Karaokê, nem sabia que era dos anos 80, e nem Julie sabia, aprendam a perder meus anjos – digo e mando um beijo para ele, Ben só assiste esse show de não saber perder de Dylan. Chamo Mayne e digo na frente de todos para não dizer que estou roubando

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- Mayne, fizemos uma aposta para quem ganhar, certo? Queremos saber da plateia agora, já que já sabemos quem ganhou entre nós quatro – digo apontando para nós duas - Okay, vou falar com Marie para perguntar ao público - Marie sobe no palco e fala com a plateia – Plateia linda dessa noite, maior plateia que já tivemos – tinha umas 70 pessoas ali dentro – temos uma pequena competição interna aqui, entre as duas duplas que acabaram de se apresentar – a plateia começa a bater palma se virando para nossa mesa – e as duplas são Ben e Dylan cantado Jessie’s Girl e Luna e Julie cantando Livin’on the Prayer, subam no palco aqui vocês 4 – saímos da mesa e fomos para o palco – então, vocês vão fazer mais barulho para a que vocês mais gostaram, por ordem de apresentação, o quanto gostaram de Ben e Dylan? O barulho foi alto, muitos aplauso e assovios e alguns gritos das senhoras da frente. E Luna e Julie? O barulho deles foi alto, mas o nosso superou, quase todos gritavam e batiam palmas, alguns até batiam na mesa – Parece que temos uma dupla ganhadora, Luna e Julie, com uma aula de Rock clássico dos anos 80, parabéns garotas. Eu e Julie nos abraçamos e eles se juntam a nós e fomos para nossa mesa comer. E Ben fala: - Já decidiram nosso próximo passeio? - Viro para Julie e digo no seu ouvido: Vamos deixar eles decidirem o próximo? – Ela concorda e falo para eles: - Escolhemos – faço uma pausa dramática - deixar vocês escolherem o lugar - Dylan comemora dando um pequeno soco no ar, Ben fala sem voz para mim: Obrigada e só sorrio para ele - Depois passo as informações - Então, gostaram? - Eu adorei, quero ir de novo – Dylan diz todo empolgado – Vamos Julie? The Final Countdown do Europe? - OMG, eu amo essa música, vamos – os dois saem no sentido de Marie e anotam no papel as informações e voltam. Duas mulheres de uns 30 e poucos anos começam a cantar Total Eclipse of the Heart de Bonnie Tyler, não foi o melhor cover que já ouvi, mas podia ser pior. Logo em seguida os dois são chamados e começam a cantar, Dylan 101


primeiro depois Luna e os dois no coro, nos solos de guitarra os dois fazem as guitarras invisíveis como todo ser humano faz, um de costa para o outro. Estamos gravando, então não podemos falar ou cantar, e os dois parecem dois rock star também, o rock faz aflorar a estrela escondida que está dento de nós. [...] Acho que não há ninguém para culpar Nós estamos saindo do chão Será que algum dia as coisas serão iguais novamente? É a contagem regressiva final A contagem regressiva final [...] Quando terminam os dois estão ofegantes, pareciam ter corrido uma maratona, mas vou dizer a verdade, os dois foram muito bons, combinou as vozes com a música e uma com a outra. Dou os parabéns e eles desafiam nós dois para cantar, mas estou cansada para fazer uma nova apresentação, e Ben também diz estar sem força e agradeço com um olhar e ele retribui e os dois dizem então querer ir embora Saímos do café e fico mais na porta, está chovendo, e Julie e Dylan saem para buscar os carros. Ben e eu ficamos esperando os dois. Ele segura na minha mão e estremeço, não sei o que falar ou fazer e sinto na minha pele a jaqueta que ainda estou vestida e digo: - Oh, sua jaqueta – solto sua mão e tiro – estava esquecendo - Ele recebe com um sorriso pequeno – não era preciso, fica bem e você - Mas está frio e só peguei para derrotar vocês, e fazer parte do estilo rock anos 80 – coloco meu sobretudo e fecho - Gostei de passar a noite com você, vocês, e vamos fazer o melhor final de semana, e se preparem, precisa ser muito bom – ele aponta para os carros do outro lado da rua e me abraça e o abraço de volta e penso: Odeio gostar do jeito que ele chega de mansinho e se sente em casa. - Boa noite Ben - Boa noite Luna – nos separamos e cada um foi para seu carro, Dylan foi dirigindo e Julie também Entro e fecho a porta e Julie fala: - E ai? Se beijaram? - Menina, me respeita – meu rosto está pegando fogo e não sei disfarçar – claro que não 102


- Sério? Vocês são fofos juntos, devia investir - E vocês dois? Cantando juntos? Trocando mensagem o dia todo, pensa que não sei? Estou só observando – tento desviar o foco - Nada a ver, somos amigos - E eu e Ben não podemos ser só isso também? - Podem, mas seria melhor se fossem mais, sabe, um casal - Fora de cogitação – sussurro só para mim: no momento – fora, só amigos. Mas e essa jaqueta? - OMG, eu esqueci completamente - Ah sim, claro, você vai dormir enrolada nela só sentindo o cheiro de Dylan e sonhar com ele, onw, tão fofo vocês dois, devia investir - Ah, cala boca. Você que está caidinha pelo arquiteto bonitão e nem se enxerga - Bom, eu não estou, mas você nem negar consegue mais - Calada – faço o movimento de zíper na boca Chegamos ao estacionamento do prédio e ficamos em silêncio, subimos e Julie está cantarolando uma música que um homem cantou lá, mas não sei qual é. Envio os vídeos para os 3, Ben me envia o meu e de Julie e posto uns trechos das 3 apresentações no Instagram e quero eternizar. Recebo duas mensagens de Ben: BENJAMIN: Ótima noite BENJAMIN: Boa noite LUNA: Excelente noite LUNA: Boa noite Ele não responde, e vou dormir.

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 35 Recebi a nova escala de trabalho, uma loucura, porém ficou boa até. Terça- Feira: 01/10: 07h às 19h Quarta- Feira: 02/10: 07 às 13h Quinta- Feira: 03/10: 07h às 19h Segunda- Feira: 07/10: 07h às 19h Terça- Feira: 08/10: 07h às 19h Quarta- Feira: 09/10: 07 às 13h São 06h07 minutos quando meu celular começa a berrar feito louco em cima da mesa do outro lado do quarto, e me xingo dos pés a cabeça por ter esquecido de colocar no modo silencioso, se algo acontecesse eu ligaria de volta depois. É uma ligação de vídeo com Larah e Louise, cada um nas suas casas e Julie ainda não atendeu, e não sei se realmente quero atender. Êxito por um minuto e atendo - Vocês sabem que horas são aqui? - Sim, eu sei, são 6 da manhã, cadê Julie, ela precisa está presente – Louise fala e simplesmente ignora o meu horário - Ela está dormindo como qualquer ser humano que pode se dar esse luxo de dormir um pouco mais quando não se tem duas loucas de amigas que acordam esse horário – fico estressada pois odeio conversar logo quando acordo - Okay, sem drama, vai no quarto dela e acorda essa vadia – Larah gosta de me cortar, credo - Bato na porta de leve, e entro, ela está com o celular na mão e cobrindo os olhos – Julie, você viu o que essas loucas estão fazendo? – cubro o celular para elas não escutarem, deito do lado dela e ela atende – quando vocês voltarem, vão encontrar as coisas de vocês no corredor, só para levar embora, não precisa nem se despedir. Sério? O que vocês querem? – Acho que ela está fula da vida 104


- Como assim vocês saem com dois gatos e não falam nada? – Julie e eu nos encaramos e realmente, ninguém falou nada – e pior, saem para cantar! Isso é bem caidinho – Larah é do tipo que prefere virar a noite numa balada enchendo a cara do que está com pessoas legais, em lugares legais - Okay, esquecemos de falar, mas desnecessário ligar esse horário da madrugada só para xingar a gente, sabe quantas horas aqui é adiantando? 12 horas. E sim, saímos com eles, e eles são muito legais, e foi Luna que me apresentou eles – eu não acredito que ela está passando a batata quente para mim - Foi por acaso, okay, foi no hospital e eu obviamente fiz o atendimento dele, e o primo dele que estava com ele quis agradecer pelo feito e me convidaram para um jantar, e levei Julie junto porque ela iria ficar em casa só, e fiquei com medo de ele me mandar para a Turquia para vender meu corpo na prostituição, nada contra a profissão, mas acho que não sou o melhor exemplo de corpo para isso – as duas que estavam carrancudas até abriram um sorrisinho – mas até ontem não aconteceu nada, ainda - Ainda? Como assim? Vocês vão sair de novo com eles? - Louise está em choque - Sim, esse final de semana, e não, não sabemos onde é, Dylan ainda vai falar ou vai ser segredo - Oh, vamos dar nomes aos burros agora, não é? Quem é Dylan? O bonitão grandão ou a figurinha repetida mais nova do bonitão? – Não deixar Larah de fora dos acontecidos, pois ela vira o bicho, anotado – Hein? - Dylan é o mais novo, o que cantou no vídeo com Julie, e o outro que cantou com Dylan é Benjamin – Digo o nome todo porque apresentar outra pessoa pelo apelido é meio íntimo demais. - HUM – Louise só julga nós duas, parece que já está treinando para ser juíza - E que está pegando quem? – Larah não tem controle - Julie fala bem alto e acho que está gritando enquanto fala – NINGUÉM ESTÁ PEGANDO NINGUÉM - Okay, sinto uma culpa na voz de Julie – Louise já está nos julgando - Eu vou dormir, adeus – ela desliga mesmo o telefone e se cobre com o cobertor 105


- Olho para a tela das duas e elas estão meio sem graça – Ninguém está pegando ninguém okay, é só amizade, depois conversamos melhor sobre isso – faço um gesto de que vou tentar conversar com Julie e elas se despedem e desligamos Me cubro também com o cobertor e está um pouco claro aqui em baixo. Julie está encolhida virada para mim e olho para ela e tento conversar com ela - Então, está tudo bem? - Está sim, só fiz essa cena para elas ficarem achando que estou com raiva, mas estou só porque me acordaram cedo demais, eu só teria mais meia hora de sono e elas me tiraram isso, daqui a pouco preciso levantar e ir para a loja, e nem nesses 10 minutos que me restam consigo voltar a dormir - Então vamos tomar café? Já que aquelas duas estão de vida ganha na casa dos seus papais e as adultas aqui daqui a pouco precisam ganhar o aluguel da semana - Claro - Julie levanta, e liga a torradeira e coloca duas fatias de pão, pego o leite na geladeira e duas vasilhas para comer cereal matinal e ela faz duas torradas para ela e eu faço nossos leites com cereal Ligo a TV e procuro algum desenho animado entre os canais e me lembro de quando ia dormir na casa da minha tia, de manhã cedo eu acordava, ligava a TV e colocava no canal da MTV só para escutar as playlists bem sem noção que passava pela manhã. Está passando o desenho Ursos Sem Curso, como chama no Brasil, no Inglês original se chama We Bare Bears que se for traduzir ficaria Nós, Ursos Nus. - Temos duas semanas ainda longe daquelas loucas, espero que me tragam muitos presentes, só pelo ódio de hoje de manhã, e quer saber, vou ignorar elas o dia todo só para elas pensarem que estou com raiva, e você sustenta a ideia se lhe perguntarem! – Ela diz e fico meio assustada - Não acordar Julie cedo, anotado – digo e ela não fala nada - Eu estava pensando, você podia comprar uma cama e colocar no meu quarto, nós podíamos dividir o quarto, não vejo problema nenhum, até porque é regra da casa, não trazer ninguém para dormir, sabe, nenhum homem ou mulher, então não atrapalharia ninguém

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- Isso podia ser bom, mas você sabe que eu queria um lugar só meu, não é? - Sim, eu sei, mas pensa comigo, ano que vem é o ultimo de Larah, e Louise está querendo se mudar de volta para a França – essa informação eu não sabia – ela não se adaptou bem ao país, talvez porque a vida dela na França era mais agitada no Ensino Médio do que é na faculdade aqui - Eu não sabia que ela queria ir embora, não é por minha causa também não, não é? - Não, antes de você entrar em contato conosco ela já pensava isso - Poxa, isso é chato - Sim, e nem eu nem Larah queria que isso acontecesse, porque já somos uma família, nós 4, já aturamos um bom tempo a outra. - Nessas férias acho que ela se decide e talvez em março do ano que vem ela já não vai mais começar o semestre novo na faculdade. E acho que em fevereiro começa as aulas do segundo período lá, não sei, é meio louco, mas acho que ela vai embora. Ela diz que em qualquer lugar tem universidades com curso de direito e estar aqui ou lá ela é convidada para ser modelo do mesmo jeito. - Eu só não quero que ela se arrependa depois. Vamos esperar o que ela decidir, ela precisa terminar o ano na faculdade antes de se mudar, se for mesmo. - Sim, mas se ela não for, pode colocar a sua cama no meu quarto, é bem grande, e tem espaço, e chega de dormir no sofá cama - Okay então – ela termina de comer o cereal e vai para o banheiro se arrumar, a sorte dela é que a loja é aqui na rua da frente.

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 36 28.09.2019 Ontem pela manhã Dylan nos enviou uma lista de coisas que precisávamos levar para o tal passeio mega louco e muito legal como ele disse na mensagem. Pela lista não consegui deduzir o que seria. Precisava levar lanches, short, tênis, protetor solar, chapéu, toalha, roupa de banho, roupas a mais, e varias coisas aleatórias. Acho que ele falou coisa com coisa só para despistar. Ficaram de passar aqui 7h, pois seria um pouco longe, quase três horas de viagem até o tal lugar, e realmente não sei o que vai ser para ser tão longe. Envio nosso endereço e eles confirmam saber onde é. As 6h50 um carro buzina na rua e logo em seguida meu telefone toca, e é Dylan, o garoto é agoniado. Atendo - Vamos? - Estamos descendo – desligo e apresso Julie que está enfiando coisas na mochila Quando chegamos ao carro Ben estava no volante e Dylan atrás dele. Logo deduzi que eu iria do lado de Ben e Julie com Dylan. Dylan desceu e colocou nossas coisas no porta-malas e entramos no carro, só fiquei com o celular e uma caixa térmica que pedi para eles levarem atrás, tinha as comidas que eles pediram e tinha uma outra caixa térmica que eles trouxeram, ou seja, tinha bastante comida para o lugar desconhecido. - Então, vocês podem dizer aonde vamos? Ou é segredo? – Digo depois que entro no carro e Ben me abraçar se esticando todo para meu lado. - Noup, segredo, e não vale pesquisar no maps para onde vamos – Dylan diz procurando alguma coisa no porta-luva entre o motorista e o passageiro. - Okay, deixa só eu avisar para a minha mãe que se eu sumir até amanhã para ela começar a fazer buscas por locais com 3 horas de distância, porque 108


parece que vamos ser desovadas – digo com um olhar de sarcasmo para eles falarem logo onde é. - Pode mandar, mas essa informação você não tira de mim, nem de Ben, não é Ben? - Sim, sim, boca fechada – ele rir dirigindo e vira para mim e diz: Coloca o cinto. - Sim chef – digo fazendo continência como fazia com Tom, meu Deus, Tom, nunca mais falei com ele. Somos 4 pessoas que acabaram de se conhecer e percebo que não sei nada sobre eles, nada pessoal, do tipo, não sei nenhum podre de ninguém, até Julie não conheço tanto, mas sei alguma coisa, faz 20 dias que estou nesse país e já estou saindo com dois caras que conheço a literalmente 10 dias, e em 8 dias já saí 3 vezes com eles, se for contar com hoje. É muito rolê para pouco tempo. - Então Luna, porque mesmo você resolveu vir para Nova Zelândia? – Dylan começa a fazer as perguntas depois que paramos para abastecer a uns 30 minutos depois que saímos da frente do apartamento - Longa história ou curta história? - A que você quiser contar - Curta historia. Bom, eu estava cansada e decepcionada com varias partes da minha vida no Brasil e resolvi mandar minha vida para algum lugar, mas eu sempre quis morar ou viver visitando esse país, ou outros vários, sério mesmo, em outra vida, se eu acreditasse em outra vida eu seria aeromoça, viver viajando de país em país, mas ai eu ia me frustrar porque eu não iria parar para aproveitar, e uma vez eu recebi um convite para morar com uma pessoa aqui – ops, essa ultima informação foi informação demais. - Quem te convidou para morar aqui – Ben me pergunta com uma cara meio sem graça, talvez já até sabe da resposta, pois eu fiz uma cara muito ruim quando soltei essa informação - Meu ex, uma vez estávamos conversando sobre onde eu moraria em algum lugar do mundo se eu pudesse me mudar naquele exato momento, e eu disse na Nova Zelândia, porque eu era muito louca por Senhor dos Anéis e 109


Hobbit, hoje eu ainda gosto, mas eu era fascinada, e então ele disse que um dia nós moraríamos aqui – digo isso olhando para o para-brisa do carro e não quero que Ben veja a minha cara - E cadê ele? – Dylan faz essa pergunta que todo mundo queria saber - Eu não sei, talvez em algum interior do Brasil e talvez em algum interior do meu estado, faz muito tempo que parei de falar com ele - Vocês terminaram bem ou mal? – Ben parece mais aliviado - Por mim foi bem, para ele acho que nem tanto, ele se mudou de cidade logo depois - O que? Luna quebrando corações – Dylan diz zoando comigo - Ele resolveu ressurgir quase dois meses depois que terminamos e no dia do meu aniversário, mandou uma mensagem, mas acho que ele nem lembrou que era meu aniversário - E o que ele disse na mensagem? – Julie está me encarando, posso ver o reflexo dela na janela do carro - Sinto sua falta - Dylan grita dentro do carro – OOOOOHHHH, e o que você respondeu? - Oi – e todos nós começamos a rir - E o prémio de coração da Elsa do Frozen vai para Luna Falcon – Ben resolve entrar na história - Qual é, eu não estava com raiva dele ao ponto de mandar ele se ferrar, nem com saudades de ao ponto de dizer Eu também, mas para mim era tanto faz que eu só respondi oi, eu poderia não ter respondido - Verdade, você é muito educada, porém com o coração de gelo – Julie está me zoando, e esse tempo todo ela está sendo apoiada por mim, vai esperando - Mas o que importa é depois, o que ele disse depois? – Ben está muito interessado em saber o desfecho da história - Ele falou que alguns dias depois do acontecido ele havia se mudado para uma cidade maior, a umas 4 horas de distância, e começou a cursar Engenharia mecânica numa faculdade lá, e que se eu quisesse a gente poderia voltar - E? – Julie e Dylan parecem fazer um coral agora - Eu respondi: Não vai rolar, já estou em outro 110


- PEGADORA – Dylan se fosse uma mulher idosa seria daquelas fofoqueiras que senta na frente de casa só para saber da vida dos vizinhos - Nada, eu só disse isso para ele esquecer essa possibilidade, mas eu estava solteira, quem em sã consciência sai de um relacionamento e já entra em outro? Eu não tenho esse pique todo - Ah, até parece. - É sério, depois dele eu não namorei sério mais ninguém - Quando diz sério, é tipo sem compromisso firmado, mas tinha os nãos sérios, os ocasionais? – Ben faz essa pergunta e quase não entendo, o sotaque britânico ficou meio forte agora - Não chega ser tanto no plural, mas só singular - Só um então? – Julie fala antes de Dylan, mas ele ia falar a mesma coisa - Yeap - Legal – Ben faz um batuque com os dedos no volante - Chega de falar só de mim, vamos para o próximo. Nós vamos para... Sr. Arquiteto – digo cutucando na constela dele, e nota de memória, não cutucar a costela dele quando dirigir, ele tem uma cocega monstruosa do tipo que quase viramos o carro na pista pelo movimento que ele fez quando sentiu, mas o carro só dançou na pista e passou pelo acostamento muito medonho - Vocês estão bem? – me viro para Dylan e Julie que estão rindo como dois loucos que inalaram o gás do riso do coringa, e me viro para Ben e ele está congelado, mal pisca e seguro no seu braço com as duas mãos e ele se vira para mim e digo – vamos descer do carro – ele desliga o carro e nós dois descemos e corro para o lado dele e ele está um pouco em choque – Ben, me desculpa, eu não devia ter feito aquilo – seguro nos dois antebraços dele e ele abre um sorrisinho um pouco sem graça e diz: - Está tudo bem, não se preocupe comigo, está bem com você? – ele põe as duas mãos nas minhas bochechas e olha para baixo para ver se estou machucada - Estamos bem, o carro só perdeu o controle, não capotamos nem nada, fica tranquilo, me desculpa, me desculpa, me desculpa, nunca mais faço isso – boto a mão na cabeça e ele me puxa e me abraça – é minha culpa se algo de grave tivesse acontecido e fora o carro, quantos anos eu trabalharia para pagar esse carro? 111


- Está tudo bem? Vamos continuar? – Dylan e Julie descem do carro - Tem algum problema se Dylan continuar o caminho? – Me dirijo para Ben e ele só responde: - Tudo bem. Trocando de piloto – ele entrega a chave e os dois entram nos bancos da frente - Ei, me desculpa, não tento mais fazer isso, sei que é horrível – digo e ele só sorri para mim – viro de costa e vou abrir o carro e ele faz o mesmo que fiz com ele, um cutucão na costela, e me contorço igual uma minhoca e ele começa a rir muito alto, e até colocou as mãos no joelho para rir e eu só cruzo os braços e me encosto no carro e fico vendo esse louco rindo no meio da pista, a sorte que não tem nenhum carro passando, quando finalmente ele para – já acabou a graça? - Ainda não, o seu jeito – ele dá mais umas risadas – foi impagável - Muito engraçado, só entra no carro antes que eu fale para deixar você aqui – ele me abraça prendendo meus braços e não consigo me soltar - Melhor momento da minha vida – ele abre a porta do carro para eu entrar e fico olhando com cara de quem não gostou do que ele fez – entro e fecho a porta, e ele torna a abrir me forçando ir para o outro lado do banco - Finalmente, estavam se matando lá fora? – Dylan dá partida e sai do acostamento - Ainda não – Digo meio emburrada e Ben está rindo em silencio e é meio contagioso porque ele rir em silêncio, mas faz toda aquela cena de colocar a mão na barriga e fechar os olhos e abrir a boca, apesar de som algum sair dela – põe o cinto seu coringa. - Paramos no Sr. Arquiteto, não foi? – para quebrar o silencio que fiz e o sorriso descarado dele, Julie resolve continuar a conversa - O que quer saber? – Ele diz se virando para mim e levantando as sobrancelhas umas três vezes rápidas - Por que você quis vir para Nova Zelândia? Não outro lugar? – ela pergunta - Por que eu fiquei numa situação em que eu não queria mais ficar na empresa que eu estava e na primeira oportunidade que a minha empresa que é uma companhia de arquitetura designou para um grupo de arquitetos um serviço eu me esforcei ao máximo para conseguir, virei noites e entreguei 112


antes do tempo e consegui a vaga antes do prazo, e o meu foi o melhor e disseram que eu iria para Auckland, e aceitei na hora - Que situação foi essa? – digo e acho que foi um pouco grossa - Hum, minha ex-namorada estava tendo um caso com um dos engenheiros que trabalhava na mesma empresa, quando eu soube quase saí do meu emprego, mas não iria fazer isso só por ela, e então veio a vaga e cá estou a 1 ano meio. - Ah, sinto muito, eu não imaginava – ele nega fechando os olhos e dando um sorrisinho do tipo você não adivinharia se eu quisesse - OH, mas olha pelo lado bom, se não fosse pelos nossos ex-bostas não estaríamos aqui, indo sei lá para onde – levanto a mão para um toca aqui e ele faz e segura minha mão e diz baixo: - Desculpa por ter te cutucado - Está tudo bem, estamos quites. Mas chega de falar da vida do outro, quanto tempo falta? - 30 a 40 minutos. - Ben coloca umas músicas para tocar, e não faço a mínima quem canta. Paramos em um posto, pois quero desabastecer, estou com a bexiga cheia. - 20 minutos. Finalmente toca uma música que sei, “Find a Home out There” da banda Alberta Cross. Começo a cantar e Dylan pergunta de onde conheço a música - Eu escutei em um episódio de uma série que amo, A Million Little Things, e sempre que ouço alguma música que gosto vou atrás. Não sou uma pessoa eclética em relação a músicas, sou aleatória. Só tenho basicamente duas bandas que sigo de verdade e sei quase toda discografia. - E qual é? - Switchfoot, uma banda americana, da Califórnia. Depois te mostro algumas músicas deles. - E a outra? - Não é bem uma banda, é um grupo de louvor, Hillsong, por ser cristã tenho essa influência gospel. - Sei sim, já fomos algumas vezes na igreja, não é Ben? É perto de casa, uns 15 minutos para lá, e bem perto também da minha faculdade. 113


- Nossas mães são cristãs também, mas eu sou muito difícil em ir – Ben diz virado para mim - Se tivesse uma igreja do Hillsong a 10 minutos da minha casa eu nem saia de lá – digo e é verdade - Não tem perto da tua casa no Brasil? – Dylan pensa que igrejas do Hillsong é igual mercadinhos e farmácias aqui em Auckland - Não, acho que no Brasil só tem em São Paulo, não tenho certeza que é só lá. Nem sei se aqui em Auckland tem. Mas parece que não, nem no país todo. Bem engraçado, porque a Austrália é bem aqui do lado e tem no Brasil, no Brasil, vê se pode.

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 37 Ao chegarmos a um estacionamento apinhado de carros, achamos uma vaga quase do lado da entrada, ou seja, estava lotado. Pegamos nossas coisas e parecia que estávamos de mudança. Chegamos a uma entradinha e tinha uma placa com informações em Inglês e maori, a língua nativa do país escrito: Reserva Marinha Te Whanganui-A-Hei, Ilha do North - Península de Coromandel. Quando li eu não pude acreditar, eu nunca imaginei que eles nos trouxessem aqui. Muito menos vir logo para cá. - Eu não acredito nisso – digo olhando para eles e não estou acreditando, eu estou muito, mas muito feliz surpresa e muito feliz mesmo - Eu acho que adivinhei que você poderia querer vir aqui um dia – Dylan fala com um tom de que parece que salvou o mundo, talvez o meu naquele momento - OMG OMG OMG, obrigada obrigada obrigada – abraço ele e no momento não parece o suficiente - Okay, muito feliz, entendi, mas onde nós estamos? – Julie ainda não entendeu - Você sabia disso? – me dirijo a Ben e ele só assente com a cabeça positivamente - Ainda sem entender – Julie olha para a placa e tentar achar o que de tanto especial eu vi - Não sei se você vai saber, mas não vou falar agora, só quando chegarmos lá que falo, senão perde a magia - Não estamos em Horgwarts, eu já sei disso, então não tem magia – ela diz meio emburrada, mas eu não vou dizer - Não falem para ela – aponto para os dois - vamos, temos que ir, sei que tem uma longa caminhada Entendi o porquê que Dylan falou para irmos de tênis, tem uma caminhada de uns 40 minutos até o ponto final, mas o começo da magia. A planície e as montanhas e pedras são de tirar o fôlego. Julie trouxe a câmera do 115


seu trabalho, ela falou que iria fazer um trabalho por fora e depois dividiria os lucros com a loja, mas no caso ela não tem trabalho nenhum, só trouxe para registrar. Quando chegamos ao ponto eu não me aguentava dentro de mim, honestamente, eu poderia começar a gritar, sem exageros, mas sim, gritaria. Ben me acompanhou e Julie e Dylan ficaram para trás, entramos na caverna que liga dois lugares da reserva, é escura e de um lado tem por aonde viemos e do outro lado a praia, mas o que importa é onde estou. Ben segura na minha mão e estou tremendo, e ele me ver sorrindo para um bando de água e areia branca com um monte de pedras enormes no meio da água. Olho para trás e Julie está tirando fotos de nós dois a uns 10 metros de distância. Os dois vêm a nosso encontro e ela diz: - Já podem me contar onde estamos? – ela olha para as pedras, o mar, a areia e volta a olhar para mim e uma cara de que está começando a entender toda minha empolgação e alegria – é o que estou pensando? - SIIIIIIIM, ESTAMOS EM NÁRNIA, BICHT – falo gritando e nós duas começamos a pular segurando uma à mão da outra e os dois começam a rir de nós duas – se chama Cathedral Cove - Ela abraça os dois e às vezes acho que estou naquela série Americana, Full House, onde tudo termina em abraços – OMG, eu não acredito, e você sacou tudo desde o começo, eu sou muito lerda, mas eu nem sabia do nome desse lugar - Sim, eu gosto de pesquisar às vezes os locais de gravação – digo parecendo aqueles nerds que sabem de tudo dos filmes e os furos deles também. Mas estou feliz demais - Melhor dia até aqui desde que cheguei. Julie tira uma foto nossa, de nós 4 – ela trouxe o tripé também, programou para pegar a saída da caverna e ficar à vista a pedra que caracteriza a entrada de Nárnia. – Ah, sabe, Switchfoot, minha banda favorita, toca uma música deles no final do filme Príncipe Caspian, e a música e o clip foram gravados próprios para o filme, a música é This is Home, e eu amo essa música. Olhamos a foto e ficamos escuros, só aparece nosso contorno e a luz toda lá trás de nós, ficou linda. E resolvemos ir para o outro lado, para a praia, tivemos que atravessar pela água, pois parte da caverna tinha entrada da água

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e parte areia. Fizemos fila indiana, seguramos um na mão do outro para caso alguém resolva ser levado por uma possível onda, leva os quatro. É lindo, é mágico, é espetacular. Estar ali é parte de realizações de sonhos. E por mais que esteja com pessoas que mal conheço, parece que quero que estejam para sempre na minha vida. - Eu sinto que o Peregrino vai aparecer a qualquer hora – Dylan diz e todos nós estamos olhando para o horizonte, e com aquela esperança no estomago que o Caspian vai aparecer no seu barco e nos salvar – ah, quero assistir o filme de novo. Quando disse a Ben onde seria, nós assistimos os 3 filmes só para relembrar – ele conta virando para nós duas – eu sei que o barco não aparece no segundo filme, só no terceiro, mas eu gosto de imaginar que foi gravado aqui, não na Austrália - Isso... Sem palavras – Julie está estática - Promoter de eventos está oficializado para você Dylan, meu Karaokê não é nada comparado a isso - Respeite o café do Mayne, garotinha – ele usou as minhas palavras contra mim – mas cada um tem sua importância, mas vamos concordar – ele está tão cheio de si, e dou esse crédito a ele – esse é o melhor - Vamos montar as coisas – Ben diz tirando uma bolsa comprida e tira alguns canos brancos e vejo que são para montar uma mini barraca, e Dylan pega uns e eles começam a montar, e estou quase acreditando que eles já foram escoteiros em algum momento sombrio de suas vidas infantis. - Okay, vamos montar – olho ao redor e vejo uns dois sombreiros que trouxemos – esses daqui – abro, termino e pronto Quando estávamos descendo, vinham conosco umas 10 pessoas, e elas não iam ficar lá, aparentemente, logo se aproximava da beira da água um barco amarelo que deu de ler: Cathedral Cove Water Taxi, um taxi aquático que levariam elas para algum lugar do outro lado da ilha. Mas iriamos ficar por aqui. Nos arrumamos entre os pequenos metros que tínhamos em baixo da barraca, apesar de nem estar quente, mas estava ensolarado, mas já cientes que a propensão de raios solares no país é grande, não arriscamos ficar tão expostos ao sol. E resolvemos ir dar uns mergulhos, mas antes, rebocar o corpo de protetor solar. 117


- Dylan pega o protetor e estende a frente o do corpo – Quem se habilita a passar protetor nas minhas costas musculosas malhadas em quatro horas diárias em uma academia? - Julie arranca o protetor de sua mão e ao mesmo tempo que não faz uma cara boa, ela faz uma cara boa, sim, duas em uma, do tipo, só vou fazer isso porque eles nos trouxeram até aqui. - Haha, aproveita – digo e ela sorri do tipo: é melhor correr antes que eu esfregue sua cara nessa areia, mas antes que eu termine de cantar vitória, Ben estende a mão com protetor pedindo com cara de cachorro pidão para passar nele. - Eu passo em você também, pode deixar – eu passo o protetor nele e ele passa em mim, uma mão lava a outra A água estava um gelo, mas eu podia ver meus pés de tão cristalinas que são. Ainda ficou na praia um grupo de jovens de 4 pessoas, mas ficaram um pouco longe de nós. Por alguns minutos ficamos mergulhando para ver as pedras, conchas e o que poderia passar na nossa frente, mas as ondas começaram a ficar um pouco fortes, e fui para a barraca. Enrolei a toalha na cabeça e comecei a beber um pouco de água, com toda a animação de estar ali, mais 40 minutos de caminhada esqueci de que estava com sede desde a parada para fazer o número 1. Dylan vem atrás de mim e pergunta: - Porque saiu? – ele fala procurando algo numa mochila - Está um pouco frio, mas daqui a pouco volto, não estou acostumada ainda a tanto frio, sabe, Brasil, está bem longe das temperaturas daqui - Entendo, não demora então, trouxe máscaras de mergulho, para ficar melhor para ver – só confirmo e ele vai. Uns minutos depois volto, e ficamos revezando de dois em dois para mergulhar.

Paramos

para

almoçar,

e

olha,

estou

impressionada,

eles

planejaram tudo. Havia um almoço dentro da caixa-térmica deles. Frango assado sem ossos, para não dar trabalho, batata sauté, lasanha de carne e suco em caixinha. Após o almoço ficamos na sombra por alguns minutos e até arrisco em tentar dar uma pequena dormida, mas Dylan e Julie parecem duas crianças que ficam correndo pela praia. Pego a câmera e tiro algumas fotos deles, e ficam 118


muito boas, sem me gabar. Mostro para Ben que se senta do meu lado na toalha. - Ficaram muito boas, você tem um bom olhar – diz comendo uma maça que trouxemos - Eu fui fotografa algumas vezes, nada fixo, só umas vezes - Sério? Que legal - Fiz o ensaio fotográfico de uma amiga e seu namorado, não era muito a minha vibe, tipo, fotos de casais, mas ficaram boas, até hoje ela usa as fotos – tiro outras fotos deles e me distancio para tirar uma foto de Ben do jeito que ele estava - e eles não eram os melhores modelos - digo para ele, olho a foto e caramba, até sem querer ele é muito bonito, mostro e gosta, ele pega seu celular e tira uma foto de nós dois, mas ainda estou com a toalha na cabeça, mas ficou muito fofa a foto – também fotografei em uma formatura de uma amiga, nada profissional. - Levanto e quero andar por perto, estendo a mão para ele – me acompanha numa caminhada? - Sim my lady – ele pega uma camisa e veste e me acompanha Ficamos uns 5 minutos só trocando meias palavras, do tipo, olha isso, olha aquilo, viu aquela ave, viu aquilo. - Então, lá no carro, você falou que estava decepcionada com varias coisas da sua vida no Brasil, o que seria isso? - Muitas coisas, a minha rotina estava me matando, eu ia do trabalho para casa, de casa para o trabalho, eu não saia de casa, mal ia ao supermercado que era bem perto de casa, muitas coisas aconteceram e isso me deixou muito para baixo - Que coisas seriam essas? - Olho para ele, e acho que ainda não estou pronta para falar disso – Acho que ainda não é o momento para falar disso, não estou dizendo que não confio em você ao ponto de não contar essa parte da minha vida, mas acho que eu não estou pronta para contar, sabe, é um pouco difícil demais, mas um dia te conto - Vou esperar esse dia – ele acha que ganhei num prémio milionário, mas mal sabe ele que é bomba, não literalmente – então me conta sobre – ele pensa e fala – sobre seus relacionamentos 119


- Sentamos em umas raízes da arvore tombada, ele senta de frente para mim e um raiz e eu em outra raiz – o que quer saber - Qual foi o mais curto entre todos - Nem penso e logo respondo – 3 meses - Só? – assinto com a cabeça – e o mais longo? - Dou um sorriso e penso: Porque eu me meto nessas coisas, espero uns segundo e respondo – 3 meses - WHAT? Como assim? Você só teve um relacionamento ou não passou disso os outros? – ele está em choque, ele até se levantou e sentou do meu lado - Foi só um, sabe aquilo que disse, compromisso de verdade, ele foi o único - Mas porque só durou isso? - Longa historia ou curta história? - Longa história - Ah não – ele me interrompe - Longa história - Okay, eu estava nos meus 19 anos, e eu tinha um rolo com meu melhor amigo, Miguel, a um pouco mais de um ano, mas não era nada sério, sabe, só aproveitar o momento, e teve um dia que pareceu que isso não iria acontecer novamente, eu senti isso e realmente, não aconteceu mais por um bom tempo, mas voltando, na ultima vez que algo aconteceu foi – paro para pensar – em 2016, fevereiro, e na semana seguinte nós discutimos e aquilo foi o ponto final, passamos alguns dias sem nos falar, mas depois voltamos a nos falar, mas não era como antes, sabe. Dois meses depois eu comecei a conversar com um cara que conheci no trabalho, Davi, não no presídio, outro lugar, e enfim, menos de dois meses começamos a namorar e na primeira discursão ele jogou na minha cara dizendo que eu ainda gostava do Miguel, que eu não tinha esquecido ele, e eu negava aos quatro ventos que não gostava mais, mas só como amigo, e apesar da conversa dura que tivemos, nós continuamos, mas não durou mais que um mês, e terminamos. - Mas você gostava do seu melhor amigo, Miguel? - Sim, eu era apaixonada por ele desde os 18 anos, acho que eu descobri mesmo quando nos beijamos pela primeira vez 120


- Mas então porque você começou a namorar Davi sendo que você podia lutar pelo Miguel? - Eu entendo a sua frustação, mas as coisas não são os filmes da Barbie, eu não queria nada sério com ninguém, sabe, eu nunca me via preparada para um relacionamento, e ele também não, e sem falar que ele era mais novo 2 anos, ele tinha 16, 17 anos, as coisas aconteceram rápido entre a gente e terminou muito depois. Quando terminou eu quis seguir em frente, na minha cabeça estava desencanada dele, que eu ficaria com outro e nem lembraria do que eu senti por ele, mas não foi assim, quando eu comecei a namorar Davi, parecia muito fácil ter esse relacionamento com ele, porque nossos horários não coincidiam muito, e sim, eu ficava feliz por não dar certo de se ver tanto durante a semana, só nos finais de semana, mas ai ele conseguia algumas folgas durante a semana e realmente não tinha como eu ir, pela faculdade, e ele começou a me cobrar atenção e eu logo perdi a graça, não gosto quando me cobram atenção, do tipo que acho que a pessoa é carente de atenção, e terminar foi um alívio, porque eu entendi que depois da nossa conversa eu ainda gostava mesmo do Miguel, e além de eu estar mentindo para ele, mesmo sem eu realmente querer, eu estava mentindo para mim, porque eu via aquilo e negava. - E depois? Você foi atrás dele, do Miguel? - Tecnicamente não, continuamos a ser amigos como éramos, mas aquilo não aconteceu mais, eu parti para uma fase da minha vida que eu não queria estar com ninguém, e eu aprendi muito sobre, do tipo que você pode estar só, mas não sozinha. - Muito poético - Mas ai ele resolveu também seguir em frente, ele começou a namorar uma garota, e tipo, eu fiquei muito triste por isso, fiquei ruim por dias, mas acabei aceitando que ele também tinha o pleno direito de seguir em frente, e por ter acontecido muita coisa entre a gente, nós não falávamos do assunto relacionamentos, e demoramos uns 8 meses para falar do dele e o meu que já havia terminado a 20 anos. - Ele ouve e não fala nada e com uns segundos ele solta: Tensão sexual - Quando ouço isso eu começo a rir muito alto – não era bem isso, mas tudo bem 121


- E você tentou seguir em frente também? - Ah, mais ou menos, sabe o Tinder? - Eu não acredito nisso! – ele se levanta e coloca as duas mãos no quadril e me julga enquanto me olha – isso é o maior sinal de desespero emocional - Senta ai – digo rindo – a minha melhor amiga Olívia estava se dando muito bem nisso, sabe, e fiquei animada para tentar, mas eu sabia que não sai coisa boa de lá, então só coloquei minhas iniciais e umas 4 fotos, eu passei um pouco mais de uma semana lá, e o primeiro match foi com um cara de São Paulo que tinha se mudado para a minha cidade a um pouco mais de 4 meses e a conversa era muito boa sabe, mas eu sentia que ele estava me escondendo alguma coisa, ele não tinha conversa de segundas intenções, tipo, só conversávamos, e na minha desconfiança eu resolvi investigar, peguei todas as minhas habilidades que toda mulher tem, um treinamento do FBI que já vem instalado desde quando nascemos – ele dá um sorriso largo, os olhos dele fica verde em contraste com essa areia branca, ai que raiva dele ser tão bonito – mas eu só tinha o primeiro nome, Caio, e procurei, virei a noite mas achei - E ai? Ele era um infiltrado da Hydra? - Essa foi boa, mas não, ele tinha namorada em São Paulo - Ah, que idiota. E o que você fez? - Eu parei de falar com ele - Fez bem, e teve mais alguém? - Teve sim, mais dois, um era da minha cidade, mas ele escrevia muito errado e parei de falar com ele, e o outro só estava de passagem na cidade, mas era de outra, então parei no mesmo dia de falar com ele. Moral da história é que o melhor partido não estava para eleição e o resto era furada. - Eu nunca tentei o Tinder, sempre achei furada, mas com sua história só concretiza minha ideia. - Eu preciso levar na cara para aprender as vezes, mas o bom é que não saiu de conversas, já pensou eu ter que sair de casa com o Caio, pois ele seria a melhor opção, e do nada a namorada dele resolve aparecer e me bater lá mesmo? - Você tem uma mente muito fértil

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Olho para perto da nossa barraca e Julie e Dylan encontraram não sei onde uma canoa, e aponto para eles e Ben só diz que tem um grupo que faz aluguel de canoas na ilha. - Mas e você? Como foi que você descobriu? Você sabe, que ela estava lhe traindo – isso é tão desconfortável de se falar, mais que estar num relacionamento gostando de outro - Bom, a nossa relação já não estava muito boa por alguns meses, eu sempre fui empolgado para fazer as coisas, e ela sempre me colocando para baixo, do tipo que nada do que eu planejava iria para frente ou que não estava feliz para isso ou aquilo, ela começou a ter desculpas para não aparecer nos almoços ou quando saiamos, ou melhor, tentava, e um dia resolvi seguir ela, e não foi preciso muito esforço para descobrir, eu vi ela na frente da casa dele, se beijando, tirei uma foto dos dois e depois enviei para ela e para ele, porque nos conhecíamos, mas não éramos amigos, e com uma mensagem escrita: Sejam felizes. - Uau, você fez com muita classe – o aplaudo e ele só sorri – e depois, ela tentou conversar? - Ah sim, claro, e ouvi, mas não cedi, ela veio com a desculpa de que já não estava dando certo, que nossa relação estava desgastada, dois anos e meio e nada de pedir ela em casamento e isso lhe frustrava - Dois anos e meio? Isso é muuuuito tempo. Mas ela queria casar apesar disso que ela fez, mas e você? Queria? - Essa parte é um pouco complicada, eu sou um pouco o oposto de você, eu sempre fui atrás de relacionamentos, mas eu nunca amei ninguém do nível que eu casaria, eu gostava dela, mas não amava nesse nível - Entendo. E depois que você se mudou – não sei por que faço essa pergunta – você namorou mais alguém? - Não, fui me conhecer também, e trabalhar muito, precisava ter meu lugar no sol naquela empresa, a NZ é um país que investe muito em questões de moradias, prédios, empresas, e essas coisas - É, eu ouvi falar disso, vamos indo? – ele levanta e continuamos a conversar – E ela, continuou em Londres? Qual o nome dela? Gosto de imaginar as pessoas e odiar elas só pelo nome e a imagem que crio na minha mente

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- Clara Hulten. Quando eu vim para cá, uns meses depois ela foi despedida, mas fiquei sabendo por um amigo em Londres que ela foi contratada e depois transferida para a Austrália por outra empresa, e que faz vistoria em algumas das empresas aqui, só espero não ter que ver ela. - E Dylan, vocês são bem próximos, como é a relação de vocês? - História engraçada, minha mãe e a mãe dele são irmãs gêmeas, fizeram faculdade juntas. Minha mãe Lauren, conheceu meu pai Charles durante a faculdade, e nasci depois de uns dois anos de formados, e minha tia Loren, meus avós não tiveram tanta criatividade para os nomes, nunca quis casar, sempre disse que era se aprisionar a um qualquer, ela é bem extremista em relação a casamentos, mas nunca interferiu nos relacionamentos de ninguém. Mas ela queria ser mãe, e quase ninguém quer ter filhos sem um relacionamento, mas ela tinha o melhor amigo Brian, e ele aceitou em ser o pai, e eles fizeram, você sabe, e ela teve o Dylan, e Brian registrou no nome dele, ele fez questão, mas os dois não estão juntos, e eles se tratam como pai e filho. Mas acho que um dia os dois ainda vão ficar juntos, e eu e Dylan estamos apostando nisso, minha mãe acha que não. - Ah, isso é muito legal, gosto de atitudes como a dela e a dele. Não precisa estar acompanhada para ser feliz, e não preciso ser casado e assumir um filho – digo e ele está sorrindo muito engraçado - Você é feminista? - Não, eu sou mulher, defendo meus direitos e vontades - Uau, isso é muito bom, gostei, vamos para Vegas nos casar agora mesmo - Começo a rir e ele fica com cara de quem não está entendendo e explico – Quando eu era mais nova, uns 15 anos, eu tinha uma ideia de que se um dia eu encontrasse um cara com as mesmas perspectivas que as minhas, eu iria casar com ele numa igreja de cassino em Vegas - Achou? – ele começa a apontar para si - Não, ainda não, mas ainda há tempo, não sei na verdade - Como assim não sabe? - Quando eu falava de mesmas perspectivas eu entendia que gostasse das mesmas coisas que eu, que seria uma cópia fiel da minha personalidade, eu não entendia muito do que isso significava 124


- Ah, entendo, e porque não pensa mais nisso? O que pensa agora? - Encontrar uma pessoa que entenda as minhas perspectivas, eu entenda as dele e viver em harmonia, não um vivendo no rastro do outro sabe, do lado, acompanhando - E o que falta para isso? - Eu acho que o outro. Mas no momento eu estou procurando meu lugar no sol, como você - Estamos. Acho que no momento certo vai aparecer, para ambos - Yeah. E como você conheceu Julie? - Quando eu soube que vinha para cá, eu fui atrás de pessoas para dividir aluguel, vi numa página da universidade dela no Facebook um anúncio de colegas de apartamento, ela havia postado uns 7 meses antes, aí entrei em contato com ela, elas na verdade, e falaram que iriam conversar e uns dias depois falaram que podia, e fim. - Isso é legal. Chegamos a barraca e Julie e Dylan estavam dormindo, dois anjinhos que passaram um tempão correndo na praia, parecendo aquelas crianças irritantes. Ben deitou com eles e provavelmente dormiu também, e eu sentei em baixo de uma dos sombreiros que armei e só deitei em cima de uma toalha. Meia hora depois fui na beira da água e entrei, dei uns mergulhos, fiquei boiando de costas deixando as ondas me levassem e trouxessem para a praia. Até que eu me choco com algo e me assusto, é Ben, nadando no meu lado, olho para a praia e não estou muito perto, mais ou menos uns 20 metros - Acho melhor voltarmos para a praia, está muito longe – só assinto com a cabeça e vamos, por mais que estava um pouco calmo, comecei a nadar de volta a praia, sem desespero. Quando chegamos, sentamos na beira da água. - Qual é o seu maior medo? - Baratas e insetos em geral e sapos - Não nesse sentido, mas baratas? Tem muitas coisas piores para temer - Elas são nojentas, e não venha tentar diminuir meu medo, só aceite. Mas em que sentido? – a água limpíssima bate em nossos pés e respinga em nossos rostos - Não sei, em relação à vida

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- Não sei se tenho medo em relação à vida, tipo, eu já tive medo de perder alguém que eu me importava, e mesmo assim a vida me surpreende, entende, tendo medo ou não, ela me surpreende ou me decepcionada, querendo eu ou não, eu já estou no nível que eu espero tudo dela, mas faço ela se surpreender comigo as vezes - A é, e o que você surpreendeu ela ultimamente? - Isso tudo, mudar para cá, sair com vocês 3 vezes em menos de 10 dias, me abrir para pessoas totalmente desconhecidas, e eu acho que estou gostando disso - Isso é bom, mas isso é um assalto - Começo a rir e ele também – não consigo nem imaginar isso - Você duvida da minha capacidade de lhe assaltar? - Não, mas prefiro acreditar na bondade das pessoas - Nos somos um total de bondade e não bondade, algum momento uma das duas se exalta, mas não anula a outra - Isso mesmo – penso – Qual a sua frase de vida? - Não sei, são tantas, músicas, poemas e pensamentos se enrolam quando penso nisso - Diga um e não vou considerar a principal - Ame todos, confie em poucos e faça errado a nenhum, William Shakespeare. - Tem um trecho de Shakespeare que diz: Comece aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança, aprenda a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão. - Aproveite o hoje - Aproveite o hoje - Estou com fome – Dylan está atrás de nós todo descabelado, parecendo que estava brigando – o que tem para comer? - Levanto, limpo a areia atrás – você é alérgico a amendoim? Ou algo comestível? - Não - Graças a Deus, tenho pena de quem tem alergia a amendoim. 126


Tinha vários sanduiches de pasta de amendoim, de amendoim com geleia, Julie que fez, sanduiche natural com frango desfiado, cookies com gotas de chocolate, mini pizza e frutas. Comemos 70% da comida, o resto deixamos para a viagem de volta. - Vamos dançar – Julie comeu muito pão, virou açúcar rápido no sangue e agora está elétrica, essa é a única explicação para tanta animação, não que tudo o que aconteceu não seja motivo, mas é muita animação para os padrões dela. Só ela e Dylan tiveram coragem para dançar, eu estava cheia de tanta comida, e Ben não se pronunciou, mas ficou instigando a eles fazerem a dança da chuva na água e ele gravar. Após aquele fenômeno dos deuses chamado por do sol, Dylan vai na barraca e volta com algumas coisas na mão. - Então, o dia que vocês mais temeram chegou – Dylan diz entregando para cada um uma caixinha de suco e nós duas nos encaramos e Ben não olha para nem um de nós três, olha para longe - Do que você está falando Dylan? – Não estou entendendo - Amanhã estou indo embora de volta para Londres, se não fosse pelo acidente eu já nem estaria aqui, eu ia dois dias depois do tal acidente se ele não tivesse acontecido claro, mas adiei por duas vezes, por vocês 3, eu realmente não queria ir, mas não dá para adiar mais, a faculdade já voltou, e não posso me dar esse luxo. - Porque não falou antes, poderíamos ter feito uma festa de despedida – Julie tem a voz embargada, acho que ela vai chorar a qualquer minuto. - Melhor do que esse dia? Impossível. Eu fiquei por vocês 3, e cá estamos, eu não queria que fosse um dia de despedida, mas um dia de diversão, se fosse despedida vocês me tratariam como um rei, mas um rei tem só o respeito dos seus servos, dificilmente tem seu amor, e eu queria apenas o amor, e amizade, e vocês me deram isso. - Nós duas estamos chorando já, mas porque odeio do fundo do meu coração despedidas, e por mais que saiba que ele pode voltar daqui a algumas semanas, isso não me conforta – Obrigado por esses dias, você foi a razão maior de estarmos nós 4 unidos em todos os momentos, mesmo de um jeito ruim, você é o imã que nos uniu – abraço ele e sinto que ele está chorando, sinto o peito dele tremer contra o meu, o solto e seguro seu rosto, tem 127


algumas lágrimas e aparo com os dedos – você é um garoto de ouro, eu vejo em você características e qualidades que eu via no meu melhor amigo, você tem um grande coração, eu sei que na primeira oportunidade você vai voltar, mas vou sentir sua falta. Me afasto dele e Julie o abraça e ela chora um pouco alto, ele cobre o rosto em seu ombro. Dou alguns passos e encontro Ben e ele está segurando as lágrimas, seu olhos estão vermelhos e seu nariz está coçando, conheço isso muito bem, passo por trás dele e o abraço pelas costas envolvendo sua cintura e acho que me apeguei muito a eles, mas dói em pensar que não vou mais ter ele depois de amanhã. Sua costa é quente quando encosto meu rosto nela, e ele segura meus braços entrelaçados na sua barriga. Após alguns minutos ele me puxa para seu lado, coloca seu braço esquerdo nas minhas costas e beija o topo da minha cabeça. Os dois estão a uns 10 metros de nós sentados na areia, ainda vendo os últimos raios do sol. Foi um longo dia, e não tenho palavras para descrever, mas posso dizer uma: IMPAGÁVEL.

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 38 Saímos da praia já passava das 19h, estava começando a escurecer, não houve muita conversa durante a caminha, só o básico. No estacionamento havia poucos carros, muitas pessoas vieram da outra ilha durante a tarde, mas nos permanecemos lá até o por do sol. De volta a cidade foi um silêncio ensurdecedor, e eu odeio ficar em silêncio em viagem, não consigo sem estar escutando música, ainda mais por quase 3 horas. Coloco This is Home do Switchfoot, e aos poucos eles foram desamarrando as caras de enterro. Depois coloquei mais umas aleatórias e então finalmente I’m gonna be (500 miles), a música que tocou quando cheguei em Brasília e eu e Liv cantamos como loucas pelas ruas dentro do carro. Um pouco mais de uma hora de viagem Julie e Dylan estão conversando baixinho, mas as caras não são as melhores, pouco depois Julie deita no banco do carro com a cabeça no colo de Dylan, não é o certo a se fazer, e dão um jeito de prender ela nos cintos. E logo os dois dormem. - Acho que vai ser bem difícil para ela quando ele for – digo quase sussurrando para Ben - Por quê? - Ela encontrou nele um amigo, de verdade, um pilar para se manter forte, ele apareceu num bom momento - Aconteceu algo antes de nós aparecermos? – ele diz aparecermos com duas aspas com os dedos - Sim – olho para trás e confirmo se estão dormindo mesmo – uns dias antes ela recebeu uma notícia, dos Estados Unidos, seu ex tinha tentado suicídio por overdose medicamentosa – Ben levantou as sobrancelhas bem altas, nunca tinha visto essa cara de surpresa – mas ele era usuário de drogas lícitas e ilícitas, então o corpo dele já estava acostumado a tanta substância, e ele entrou em coma - E como ela reagiu a tudo isso? 129


- Não muito bem, no dia que ele tentou o suicídio, ele ligou para ela, mas não atendeu, e enviou um e-mail, mas não leu. 2 dias depois ela soube do ocorrido e me contou, e lemos o email, era uma carta dele, foi bem impactante, porque antes de ela vir para cá, ele aprontou muito com ela, foi muito idiota desde o relacionamento e até depois. Ela se sentiu culpada por não ter atendido ele, que se tivesse atendido talvez ele não tivesse feito - E ele morreu? – meu estomago se revira - Não, ele acordou no outro dia que lemos a carta, e acho que está na reabilitação química - Ah, que bom - E acho que Dylan foi fundamental para ela nesse momento, não como tapa buraco, é claro, mas para conhecer outras pessoas. Acredito que ela não tem muitos amigos, porque vamos concordar, o curso dela é só de Nerds, não faz o perfil de galera que vira a noite em festas enchendo a cara, e ela não sai, o perfil dela no Instagram nem tem fotos com pessoas aqui, e nem ela é marcada nas fotos, e fico com medo de ela desistir da faculdade assim como Louise está querendo fazer - Isso eu tenho que concordar. E a Louise é a Belga? – Nego – a Francesa, certo. No começo foi bem complicado para mim também, uma coisa é você crescer num lugar e depois se adaptar a outros modos e costumes. Mas você está muito bem - Nem tanto, ainda me enrolo muito no sotaque, o sotaque daqui é pouco ouvido nos outros países, o britânico já é mais ouvido, no meu ver, mas as vezes nem entendo o que você fala, não sei se percebeu, mas as vezes demoro para compreender tudo o que você fala – fico rindo de mim mesma - Nenhum pouco, você fala bem, e não fala quadrado, tem sotaque americano, como eu disse na primeira vez. - No meu ver, você tem sotaque, eu e Julie não temos - Eu não tenho, vocês que tem – ficamos rindo e paramos para abastecer, falta uns 40 minutos para chegarmos - Que horas é o voo dele? - 12:46 - Huuum – penso com meus parafusos – vamos fazer um almoço de despedida – é só fazermos cedo, ai ele não perde o voo 130


- Claro, lá em casa, é mais perto do aeroporto - Mentira, vamos para sua casa e vamos prender vocês dois no banheiro, ai ele não vai - Era para ter falado esse plano antes de eu ter comprado a passagem - Verdade Anoto seu endereço, e não é tão perto do aeroporto - São 8 quadras de distância, nem é tão perto de lá - Mas é mais perto - Julie – cutuco-a quando chegamos e fico com medo de ela me atacar, depois do que Larah e Louise fizeram naquele dia, fico com medo de acordar ela. Ela abre os olhos e está tentando entender o que está acontecendo – Já chegamos, vamos? - Já? Dylan, acorda – ele acorda e se espreguiça e quase volta a dormir, e Ben o chama ai ele acorda - Onde nós estamos? – ele olha ao redor – ah tá - Saio do carro para pegar nossas coisas no porta-malas – Amanhã então? 10 horas estamos lá, vê se não dorme, ah, fala para eles do almoço, antes que eles comecem a chorar aqui mesmo, o abraço e ele cheira a água salgada e a sabão em pó. Ben explica o almoço de amanhã e os dois resplandecem alívio. Dylan se despede de nós e Ben já está no carro quando termino de levar as coisas. Fico do portão acenando e entramos.

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 39 29.09.2019 É domingo, 8h da manhã, e realmente não quero levantar, eu daria tudo para passar o dia dormindo não precisar fazer nada. Até que ouço abrirem a porta e bater um pouco forte. É óbvio que penso que é um assalto. Pego a primeira coisa pontuda que vejo, uma caneta, se tem um filme que o cara mata outros caras com um lápis, porque eu não conseguiria com uma caneta? Saio do quarto devagar, chamo Julie, mas não responde, me desespero, começo a sair e não está aberta a porta, ando pelos cômodos e não tem ninguém. Corro para a janela e a loja de fotografias está aberta. Mas hoje é domingo. - Julie, é você na loja? – Ligo para ela para ter certeza se não arrombaram a loja - Sim, eu vim deixar a câmera aqui e terminar uns trabalhos - Ah, okay, eu ouvi a porta batendo forte, achei que tinham entrado aqui - Foi sem querer, eu puxei com o pé, porque estava com as mãos cheias de coisas para trazer - Não esqueça, 10h - Não vou, já que chego - Bom dia Sunshine, é preciso levar alguma coisa para o almoço? – Ligo para Ben - Bom dia, Sweetheart, não é preciso, vamos fazer tudo aqui, não se preocupe - Já sei onde vou almoçar todo domingo agora - Vai ser um prazer - Te vejo depois - Okay, tchau 132


Quase 9h30 Julie aparece de volta em casa e corre para o banho, mas deixa duas caixas do maiores do que caixas de sapatos, mas não abro, apesar que queria, mas me segurei. Descemos e ela não falou nada demais, mas eu realmente queria saber das caixas que ela estava levando, e nada dela falar, entramos no carro e nada. - Coloca o endereço deles no maps para dizer o caminho – coloco e nada dela falar nem o que foi fazer na loja - E essas caixas, o que são? – finalmente pergunto - Nada demais, depois te mostro. E tua habilitação? Quando vai ter ela? - Acho que essa semana, disseram de 20 a 30 dias - Legal. Vai comprar um carro? - Não sei, acho que não - Porque não? - Prefiro moto - Nunca andei de moto. Também só sei dirigir carro - Eu aprendi primeiro de moto, depois peguei algumas vezes carro e a habilitação. Mas moto é mais prático - Mas carro é mais seguro, e também aqui chove muito - Não ligo em pegar chuva, gosto da liberdade da moto Chegamos ao prédio de Ben, que lugar lindo, é um prédio esguio e alto, do tipo que se tentasse adivinhar quanto de andares tinha ali, provavelmente eu erraria, mas devia ter uns 20 andares, uma parede toda desde lá de cima até em baixo era coberta de plantas e flores. Entramos pela portaria do prédio e um senhor de aparentemente uns 50 anos nos cumprimentou. Reparo em seu crachá, e está escrito Sr. Silva. - Desculpa lhe incomodar, mas o senhor é daqui da Nova Zelândia? - Oh, não, eu sou de Portugal, mas moro aqui já faz 22 anos – quando ele diz ser de Portugal eu fico feliz, por ter alguém que fale em português, porque está difícil encontrar um brasileiro por aqui - Isso é muito legal – Falo em português – desconfiei pelo sobrenome, no Brasil tem muitos “Silva” - Ah, você é Brasileira, oh, pode me chamar de Santiago – ele cumprimenta a mim e a Julie 133


- Eu sou Luna, e essa é Julie, ela é americana – meu Deus, como é bom falar em português, mesmo que o português de Portugal às vezes se diferencia para do Brasil – minha amiga - Um prazer lhe conhecer Julie – ele fala em Inglês, ela não entenderia mesmo se ele falasse em português – vocês vieram visitar alguém? - Ah é, sim, Benjamin e Dylan – digo, e já estava esquecendo - 6º andar, apartamento 12. Quer que chame eles no telefone? - Não precisa, eles estão nos esperando – já estamos esperando o elevador - Bom dia para vocês - Bom dia e bom trabalho – conversar em português é tão engraçado e ver a cara das pessoas, igual à de Julie, super desconcertada, de não estar entendendo nada - O elevador começa a subir – é tão engraçado o português, e você nunca falou na minha frente, você precisa me ensinar - Claro, quando quiser - Como fala em português – ela pensa – não sei, canta uma música – chegamos no andar deles - Depois, okay? – ela só concorda - Como é Hall em português? – ela vai começar ver tudo e perguntar como é em português - Corredor, apesar que corredor tem dois sentidos, de lugar e pessoa que pratica esporte de corrida - Legal – chegamos na porta deles e ela bate na porta estilo Sheldon Cooper, de The Big Bang Theory, três batidas e o nomes dos dois, três batidas e o nome deles, três batidas e o nome deles. - A porta se abre e é Dylan com um guardanapo de prato no ombro – achei que tínhamos convidado o Sheldon para o almoço, mas ele não ia poder vir e mandou uma cópia dele Entramos e o lugar também é esplêndido por dentro, é um grande salão claro e não tem divisórias de cômodos, apenas nos quartos que são ao fundo do apartamento e o banheiro obviamente, os móveis se intercalavam de preto ou branco. Ben está na cozinha, todo prendado, e veio nos cumprimentar.

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Sentamos os 4 na sala no sofá que quando sentei ele me abraçou de tão fofo e mole que ele é. Logo vi um violão no canto. - Você toca violão? – Pergunto para Ben - Já toquei mais, quase formei uma banda na faculdade, mas os caras só queriam beber e fumar durante os ensaios, e isso me irritava bastante, então desisti – Você toca? - Olha, tocar é uma palavra muito forte, mas tiro uns acordes - Toca e canta para nós uma música – ele fala levantando para pegar o violão e senta em uma cadeira perto de onde estou sentada - Você primeiro – eu realmente quase não sei tocar, é o básico do básico – Ed Sheeran - Okay, mas depois é você – ele começa a procurar cifra de alguma música na internet Ele começa a ver se as cordas estão desafinadas, dá umas passadas com a palheta fazendo acordes e dá uma tossida para limpar a garganta. Quando ele começa a cantar, sua voz é grave e ele canta Perfect, dedilhado perfeito, um pouco mais lento que a música original é, nas partes um pouco mais agudas ele faz um leve falsete e me arrepia, e eu passaria o dia inteiro só ouvido ele cantar, não é atoa que ele cantou tão bem no dia do Karaokê. [...] Amor, eu estou dançando no escuro, Com você entre meus braços, Descalços na grama, Ouvindo nossa música favorita [...] Ele termina e eu estou boquiaberta, não tenho palavras, honestamente, bato palma e me entrega o violão, mas eu não quero tocar porque já perdi, e isso nem é uma competição - Huuum, melhor não, eu não toco tem uns 3 anos, faz muuuito tempo que não toco, sério - Não tem problema, não estamos julgando – Dylan quis ser legal, sabendo que não vai sair bom - Okay – não sei nem o que tocar, eu não sei muitas – e é verdade – e eu nem sei tocar de verdade - Toca o que você sabe – diz Ben. E é quase nada

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- Sabe alguma brasileira? – Julie ainda está nessa – quero ver você falar em português - Isso é verdade, nunca ouvimos você falar em português – Dylan agora se junta no complô - Ela estava conversando com o senhor da portaria, ele é Português, ela descobriu pelo sobrenome - Sério? Não tinha prestado atenção ao seu sobrenome, e moro aqui a mais de 6 meses. Mas quais músicas brasileiras você sabe? - Sei duas, mas só vou tentar uma – Julie e Dylan comemoram Procuro na internet a cifra e adapto para Lá, pois é meu tom de voz, a música que escolho está em Sol, ou seja, mais alta que meu tom de voz. Faço os acordes e tento pegar o ritmo da musica antes de tentar cantar e começo. A música que escolho é Olha só moreno, da Mallu Magalhães. Ela é mais estilo MPB lenta, e eu gostei dela quando ouvi a primeira vez Olha só Moreno do cabelo enroladinho Vê se olha com carinho pro nosso amor Eu sei que é complicado amar tão devagarinho E eu também tenho tanto medo Eu sei que o tempo anda difícil e a vida tropeçando Mas se a gente vai juntinho, vai bem Eu não sei se você sabe, mas eu ando aqui tentando E a gente tem o eterno amor de além [...] Termino e Julie está encantada, e nem cantei essas coisas tão bem, foi razoável. - Ah, é tão fofa ela, fala sobre o que? – entrego o celular para ela e traduz do português para o inglês – muito fofa – ela fala quando termina de ler - Você aprendeu a tocar violão com quantos anos? – Ben pergunta - Acho que eu tinha 17 anos, mas eu nunca tive aula, aprendi pela internet, mas eu não tinha muito tempo para parar e estudar, por conta da faculdade e trabalho - Mas você toca bem – mentira, e eu sei disso, porque eu não toco - Você só quer ser educado, porque eu sei que eu não toco bem, eu odeio fazer pestana e dedilhado, sempre que posso adapto as cifras - Mas você sabe de música, até fala de tons e notas 136


- Eu disse que eu não sei tocar violão, não que eu não saiba de música - Então você estudou música - Agora chegamos em um ponto, eu estudei música quando criança, são duas vertentes, teoria musical e instrumental - Viu só, sabe - E você Dylan, sabe tocar? - Não, só karaokê mesmo - Sorrimos dele – mas nunca se interessou em aprender? - Sim, bateria, mas fiquei com preguiça de ter aulas - Fica difícil defender – Julie ataca - Já que no dia do Karaokê, nós dois cantamos, vocês deviam cantar – Dylan diz para nós dois e atiça Julie que só fala: Yeah - Por mim tudo bem – Ben procura uma cifra e me entrega – é Shallow, nunca cantei ela, não em voz alta, só escutei, fora a parte que é alta Ele começa a tocar e dedilhar, mas ele já sabe as notas e eu me levanto e sento no braço da poltrona que está sentado e ouço-o cantar. O tom da música se encaixa com sua voz grave, canta a primeira parte e espero até chegar a segunda, mas acho que não vou conseguir entrar no tom no coro. Me diga uma coisa, garota Você está feliz neste mundo moderno? Ou você precisa de mais? Existe algo mais que você está procurando? Estou caindo Em todos os bons momentos Eu me vejo almejando uma mudança E nos momentos ruins, eu tenho medo de mim mesmo Me diga uma coisa, garoto Você não está cansado de tentar preencher esse vazio? Ou você precisa de mais? Não é difícil manter toda essa energia? [...] Entro e até ai está tudo bem, o tom é mais fechado e gosto desse tom, me levanto e fico de pé atrás dele e os dois então nos escutando como se estivessem num espetáculo, a parte alta chega e me empenho ao máximo 137


para tentar chegar ao tom da Lady Gaga que canta sem nem se preocupar, pois ela faz isso de olhos fechados, ele se junta a mim no coro e é a primeira vez que cantamos juntos. [...] Eu estou à beira do precipício, assista enquanto mergulho Eu nunca vou tocar o chão Caio através da água Onde eles não podem nos machucar Estamos longe da superfície agora [...] Ele se levanta e fica de frente comigo após os OOOH, e se junta a mim no final. Terminamos e estou com a garganta anestesiada. E posso dizer, arrasamos. Estou arrepiada, e isso só acontece quando gosto do que ouço Os dois aplaudem alto e não acredito no que fizemos, foi muito bom, e legal, não tinha passado pela minha cabeça que meu dia teria se tornado um musical. O forno apita, alguma coisa muito cheirosa terminou de assar. Ben vai a cozinha e tira duas vasilhas do forno. Está enlouquecidamente cheiroso. São 11h10 min quando sentamos para almoçar, e Ben e Dylan colocam todo o almoço na mesa já preparada com pratos, talheres, e copos. - O cardápio é totalmente Inglês, tudo o que aprendemos da culinária da Inglaterra está aqui – Dylan conta - Nossas mães sempre nos ensinaram a cozinhar, pois sempre quiseram que fossemos independente – Ben fala muito orgulhoso do que ele fez - Dylan resolve explicar o cardápio - Isso é Sunday Roast – ele aponta para uma carne assada no forno com vários legumes fumegando, a carne super cozida, chega podia ver ela se desfiando, um molho ao redor, e várias batatas assadas ao lado – e isso é Frango Tikka Masala, é um prato que minha tia aprendeu com uma amiga na faculdade, apesar de que dizem que a origem do prato seja da Escócia, ele tem muitas características Indianas, por conta das especiarias que é usada, é frango com iogurte, especiarias, marinado tudo e depois vai ao forno, é servido com arroz branco e molho picante, mas vamos ficar sem o picante e ficar apenas com o molho Após o almoço, nos sentamos de voltamos ao sofá para comer a sobremesa, sorvete, não tem erro. E Julie pegou as duas caixas que tinha

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levado para casa e trouxe para cá. Uma ela entregou para Ben e a outra pra Dylan, que abriu e tinha a jaqueta do dia do Karaokê - Eu quero que fique com ela, combinou com você – ele entrega em suas mãos e a abraça – no fundo da caixa havia algo embalado num papel de presente fino, azul claro. É um porta retrato de alumínio, com varias fotos pequenas com ímãs atrás delas, fotos do karaokê e da praia, de nós 4 e dos dois, eu pude ver uma lagrima brotar do seu rosto, até ele ver a foto que tirei dos dois enquanto eles dormiam depois que Ben e eu voltamos da caminhada e começou a sorrir e mostrou para nós, e haviam outras fotos no fundo da caixa. - Posso? – Ben pergunta se pode abrir a dele, e ela concorda com a cabeça. - Ah, é para vocês dois – olho de Ben para ela sem entender, sendo do lado dele e abre a caixa. Há 2 embrulhos parecidos com o de Dylan, dois porta retrato do tamanho de folha sulfite, com divisórias, em cada quadradinho tinha uma foto devidamente em cada tamanho, e a maior no canto inferior direito, é a foto que tiramos na caverna onde nós quatro estamos escuros e a praia magnifica lá atrás - Obrigado Julie – Ben levanta e a abraça tirando-a do chão, essa é a desvantagem de baixos contra altos. Vou e a abraço também. Ben coloca o porta retrato no Hack em baixo da TV. Dylan sai e entra em um dos quartos e volta com um organizador de escritório, com algumas coisas dentro, e senta no chão em cima do tapete - Isso é para você Luna – ele me entrega uma caixa. É um busto de borracha, um cofre de moeda do Batman, e honestamente, amei. Entrega para Julie também, da mulher maravilha - OMG, isso é tão legal, adorei - Eu amei, obrigada – Julie agradece - O meu ele já tinha me entregado – ele foi buscar no quarto e volta com o busto do coringa e é muito legal - Isso é tudo muito legal, mas precisamos ir para o aeroporto, já é quase meio dia - Vamos com vocês – Julie se pronuncia

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- Beleza, pega suas malas e desce com elas, não podemos perder esse voo – Ben me entrega o busto – coloca no meu quarto, por favor – ele fala arrumando as coisas que estavam bagunçadas Descemos e Dylan resolveu ir com Julie, e tive que ir com Ben. Só queria ser uma abelha para saber o que eles conversariam - Saindo do estacionamento do prédio fico olhando para os dois ainda parados na rua dentro do carro – O que será que vai acontecer com os dois? - Vamos fazer uma aposta - Vamos, o que? - Se um perder, paga um jantar - Beleza – mas o que você acha que vai acontecer? - Eu acho que vai rolar um beijo na hora que ele for passar para embarcar, tipo filmes românticos bem clichê- ele diz - Ah, qual é, eu estava pensando nisso. - Mas acho que ela vai pedir para ele ficar - Esse final discordo, seria muito egoísmo dela, ela não faria isso - Ou ele diz que vai ficar, depois do beijo, sabe, para ficarem juntos - Julie enfiaria ele numa mala e despacharia para Londres do mesmo jeito - Ben ri do que falo – Porque acha isso? - Seria egoísmo dela também se aceitasse que ele ficasse aqui - Isso seria muito altruísmo dela - Acho que ela odiaria viver com essa ideia que foi egoísta - Mas acho que os dois vão chorar - Concordo Apesar de ser domingo, meio dia, o aeroporto está lotado, as pessoas vem e vão, entram e saem. Recebo uma notificação do Instagram, Dylan postou um vídeo e marcou eu e Ben. Quando vejo escritou: @dylan.lawf_ mencionou você em um vídeo me sobe um frio na coluna. - Acho que eles postaram o vídeo de nós cantando – Ben fala olhando para seu celular e eu para o meu Abro o vídeo e tem um trecho de 30 segundos, desde o oooh e o resto do coro até cortar e reiniciar. Não é querer se martirizar, mas olho os comentários, 140


havia 3, acho que um é do pai dele, e os outros não sei quem é. Depois vou saber quem é o pai dele. Ficamos assistindo umas 5 vezes e Ben falava que precisava melhorar a batida na parte mais alta da música, mas eu discordei, falei que estava perfeita. - Quando você falou que tinha uma banda, como foi, desde o começo - Eu conhecia os caras desde a escola, mas nunca fomos amigos, quando comecei a faculdade nos encontramos e tocávamos algumas vezes, mas então eles bebiam e fumavam o tempo todo, e não ficavam sóbrios quase nunca para os encontros então resolvi largar, e então fiquei só tocando para mim ou para as garotas – ele fala como se fosse me importar, só dou de ombro - Você era o vocalista principal? - Não, eu era só o cara do violão e às vezes fazia a segunda voz, o vocalista tinha uma voz tipo do vocalista do Nickelback, rouca, muito boa, mas ele bebia demais - Uma benção, uma maldição, é o equilíbrio da vida Os dois chegam depois de uns 5 minutos, mas acho que só atrasaram para não carregar as malas e algumas coisas que também estão numa caixa. Dylan vai para o guichê para fazer check-in e confirma, falta 15 minutos para o voo. Nós 3 vamos para uma parte do aeroporto, onde alguns dias atrás tiramos uma foto eu, Julie, Larah e Louise, e ficamos vendo algumas aeronaves pousando e outra indo. 15 minutos passaram voando, e chegou a pior parte, a despedida. Ben conversa com ele baixinho depois o abraça, e se afasta. Vou em sua direção e digo: - Da próxima vez que vier, não precisa se jogar na frente de um carro para me ver, pode me ligar que vou onde estiver, não tenho problema em ir – as ultimas palavras saem com uma lagrima escorrendo por meu olho esquerdo e depois o direito – pode me ligar, mensagem ou vídeo chamada – ele sorri e nos abraçamos e ele não fala nada além de concordar. Vou para o lado de Ben e seguro sua mão, é difícil ver Dylan ir embora, que tenho certeza que o considera um irmão, não somente um primo. Julie o abraça, ela não chora, mas esconde o rosto no seu peito e o abraça, segurando a mão na outra na costa de Dylan, e ele por ser mais alto, 141


encosta o queixo em sua cabeça e de olhos fechados ele sorri. E o vejo falando para ela: vou sentir sua falta. Ele começa a andar de costa, segurando uma bolsa de mão e volta uns passos até ela e faz o que eu e Ben apostamos, ele volta e a beija, segura em uma mão sua nuca e a outra a bolsa, acredito que para ela foi inesperado, pois ela estava com as duas mãos no bolso do moletom, foi repentino. Ele volta para a porta de embarque e a porta se fecha atrás dele, ela espera uns 5 segundos e vira para nós dois. E sai andando, não fala nada e vai embora, e me deixa aqui, sem mais nem menos. - Você quer uma carona? – ele fala com sarcasmo - Oh, não precisa, minha amiga está... Não, espera, ela foi embora – respondo com sarcasmo também – filha da mãe - Então, a aposta, perdemos? Ganhamos? Como ficou? - Acho que empatou - Vamos tomar sorvete – ele me puxa pelo passador da calça - Claro – olho para o painel que indica 64,4 °F’/ 18 ºC – está quente para caramba para tomar sorvete Saímos e fomos para o carro, não acho o dela, ela realmente foi embora. - Onde será que Julie foi? – Ben quebra o silencio do caminho do aeroporto a sorveteria - Talvez para casa, não sei, não esperava essa reação dela - Nem eu - Ben diz ligando o rádio – Qual é a coisa que você mais adorava quando criança? - Isso é muito difícil, eu sou muito indecisa, sério, eu sou horrível em tentar escolher apenas uma coisa - Okay, mais especifico qual desenho você costumava amar, ao ponto de ter coisas dele?- Isso, melhorou, mas ainda não sei, preciso pensar. Mas me diga você, qual era seu desenho favorito? - Nos EUA, quando eu morei com meu pai, eu amava assistir Tom e Jerry e quando voltei eu continuei a assistir, antes minha mãe não deixava eu assistir desenhos, quando voltei ela deixava, e então eu tinha miniaturas deles no meu quarto, quando Dylan fez uns 5 anos, um pouco depois que voltei para

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Londres, eu dei tudo para ele, já estava com 11 anos, já nem ligava para isso, eu fui muito idiota – ele para em um semáforo – já pensou? - Acho que sim, quando eu era criança eu amava assistir o desenho do Ursinho Poof, eu era meio que fascinada por ele, eu tinha um urso grande dele, tinha uns 50 cm, dormia abraçada com ele, e eu meu material escolar era dele, e não aceitava ser de outro, e até hoje na casa dos meus pais tenho cartelas e cartelas de adesivos dos cadernos que eu usava na escola, e certamente não usava os adesivos. - Ele está sorrindo de mim – Ursinho Poof é tão irritante - Eu sei, depois de “adulta” fui assistir de novo os filmes, e eu dormi, é tão inocente chega ser irritante - Isso é verdade - Mas seria um desenho para mostrar para os meus filhos, se eu tiver, claro - Você não quer ou não pode ter filhos? - Não sei se não posso, mas no momento não quero - Por quê? - Não sei, as pessoas passam por fases, e estou numa fase que filhos não passam pela minha cabeça - Legal, mas e se por acaso você engravidar? - Bom – penso – eu cuidaria, claro - E se você um dia quiser e não puder ter? - Eu adotaria – e você, quer ter filhos? - Quero, dois, um casal, gêmeos, igual minha mãe e minha tia - Claro que quer, não é você que vai carregar duas crianças por 9 meses – eu falo sarcasticamente e ele me encara - Eu sei que não vou poder carregar, mas eu vou criar meus filhos, eles são meus bens maiores, seria um casal, Noah e Lilian - OMG, ele nem tem e já quer dar nomes. Isso é errado, a mãe deve escolher o nome - Por quê? - Por que ela carrega por 9 longos meses, nada mais justo - Entao me diz você, qual seria o nome de filhos que você daria? - Não sei, eu escolheria pelo significado 143


- Significado? Como assim? - Todo nome tem um significado, o meu nome tem um significado, o seu tem um significado - E qual é o seu? E o meu? - O meu significa Lua, é a tradução de Moon em português, Moon é Lua e Luna significa Lua.

– Pesquiso o significado de Benjamin e leio – Filho da

Felicidade - Isso faz muito sentido, todos são felizes ao meu redor - Ah, claro – finjo uma cara de que não concorda e ele faz que vai mexer no meu cabelo, mas desvio – Quando é seu aniversário? - Não me venha com essa coisa de Horóscopo - Não, não é isso, só quero saber para colocar na agenda, sabe, para não esquecer – agora que ele falou nisso, até que vale tentar saber o signo dele - 23 de Julho – Bingo, leonino – e o seu? - 10 de Agosto – Também sou leonina, mas não acho que nenhum de nós dois somos característicos, Olivia sempre me encheu com coisas de Signos, mas realmente nunca entendi - Oh, próximo, mas sou mais velho 2 anos Chegamos à sorveteria, é pequena, mas muito aconchegante, toda decorada de doces, me sinto no clip California Gurls da Katty Perry. Peço um milk-shake de chocolate sem cereja - Odeio cereja, anota ai - Anotado Depois que recebemos os milk-shakes fomos para o carro e fomos no caminho de casa. - Quase esqueci de te falar, nos dias 20 a 27 vou estar fora do país, infelizmente não terá minha companhia - Você vai para onde? Uma semana inteira? - Londres, vou ter que ir, desde que me mudei para cá, nunca mais voltei lá – ele faz uma pausa e toma o milk-shake enquanto paramos no sinal – vai ser uma semana longa, é aniversário da minha mãe e minha tia - Oh, okay então, fazer o que. Ah, não fala para Dylan sobre a aposta, pode ser que ele nem ligue para a aposta, mas Julie pode se chatear, prefiro evitar ela gritar comigo 144


- Beleza Chegamos na frente de casa e me despeço dele. - Entro no apartamento, Julie está comendo sorvete do balde, e como muita cobertura, pego uma colher na gaveta e sento do lado dela em cima do balcão da pia, ficamos em silêncio por alguns minutos – Então, quer me explicar porque me deixou no aeroporto? - Na verdade não – ela enche a boca de sorvete, e engole – Ben estava lá, podia lhe trazer - Mas eu não moro com ele, eu moro com você, e você devia me trazer para casa, sabe, evitar gastar gasolina atoa e ajudar o meio ambiente - É, eu sei, mas, não sei, quis sair dali o mais rápido que pudesse - Poderia ter me falado, eu entenderia, ele entenderia. - Desculpa - E quer conversar sobre antes de sair correndo igual o diabo corre da cruz? - Ela sorri – não tem muito o que falar daquilo, você viu, estava lá - Eu sei que eu estava lá, eu vi o que eu vi, mas tenho certeza que foi por causa do que aconteceu que você saiu correndo - Foi, e não foi - Espero ela continuar – Então? - Foi de surpresa, não esperava isso dele, não em um momento como esse – ela para os olhos na janela no outro lado do apartamento – ele sabe o quanto eu ainda estou mexida com as coisas que aconteceu com Brandon, nós nos tornamos próximos demais em poucos dias, e ao mesmo tempo que eu penso que o conheço, eu não o conheço, eu tenho medos de gostar de verdade dele e ele viver lá em Londres, entende, eu não sou carente, mas não quero que ele se aprisione a mim assim, de uma hora para outra - Penso por um tempo - Eu não sou o melhor exemplo para dizer isso, nem de longe sou, mas você não pode sentir medo de viver algo que não está escrito na lista de afazeres. Por anos e anos eu evitei mil coisas por não saber como fazer, por ter medo, por achar que não importaria, por ter medo das consequências,

e

sabe,

se

eu

estivesse

deixado

que

essas

coisas

acontecessem, eu estaria aqui ou não. Depende do que você é destinado a 145


viver, não no que você acha ou deixa de achar, se hoje você está aqui é porque alguma matemática louca de uma força maior que chamo de Deus fez por nós e estamos vivendo isso. Só entenda que um prato servido no restaurante mesmo não sendo o que você pediu pode ser melhor do que você pediu. Se dê o luxo de viver o momento, ame, grite, corra, mate, esconda, mas viva isso. Às vezes a coragem que vive dentro de nós é um veneno, sabe, faz coisas quase irreversíveis, mas o medo ele é arranca, decepa, destrói aquilo que podia ser, ele nem dá a chance de crescer, ele corta pela raiz. Fica a dica – digo descendo do balcão e deixo ela sentada com o balde de sorvete entre as pernas.

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 40 09.10.2019 Semana passada fui ao mercado com Julie, a dispensa estava criando teias de tão vazia que ela estava ficando. Passei por uma sessão de casa e avistei uma coisa que eu esperei a minha vida toda para ter, um rádio/relógio despertador, mas é claro que esse é de ultima geração, conecta o celular e pode carregar. Depois fomos a uma loja comprar uma cama, pois Julie quer que eu durma com ela, mesmo se Louise não for embora, e também para ela não achar que esperamos ela ir para comprar, e é claro que nem uma de nós 3 queremos isso. Todas as manhãs acordavam com uma musica diferente, e hoje acordamos com uma do Shawn Mendes, levantamos cedo, tenho que está no hospital as 7h, mas Julie faz questão de levantar cedo, não sei porque, se eu pudesse eu dormiria até não conseguir mais [...]Você tem planos para esta noite? Estou a algumas várias milhas do Japão, e eu Eu estava pensando que poderia voar até seu hotel esta noite Porque eu-eu-eu não consigo tirar você da minha cabeça [...] Enquanto fazemos o café rápido é possível dançar com a música e cantar alguns trechos dela, é impossível escutar e não dançar. Estava chovendo quando sai de casa, então fui de taxi para o hospital, leva mais ou menos 10 minutos para chegar, estou pensando seriamente em comprar um carro em vez de moto, chove muito por aqui. O Pronto - Socorro está com 24 pacientes internados ao total, não está corrido, mas tem bastante paciente. Temos no quadro de Enfermeiros 1 para cada 5 pacientes ao total de leitos, e hoje temos 5 Enfermeiros, e 3 Médicos. Paul, Tim, Gary, Melissa e Eu somos os Enfermeiros do Pronto - Socorro, os outros foram realocados para as clínicas, e caso tenha alguma entrada a mais do que pode por profissional, será realocado de volta. 147


Estávamos todos reunidos na sala quando recebemos um aviso da ambulância, iriamos receber uma criança e pelo quadro clínico de avaliação primária, era grave. Preparamos o leito que a receberia na sala de Emergência. Em 7 minutos após o aviso de Margie, a Enfermeira da Ambulância, trouxe a garotinha, fiz uma rápida avaliação nela, a encaminhamos para o leito. Ela estava sonolenta, quase sem reação, pressão arterial inaudível, saturação de Oxigênio no sangue com valor de 72%, cianose nas extremidades, boca, nariz, mãos, pés e partes íntimas, temperatura 91.4º F /33º C, 62 Batimentos Cardíacos por Minuto, 8 Respirações por minutos. - Me passa o quadro dela, por favor Margie – peço enquanto tento passar sonda vesical de Fowler, e ela acorda e vomita no outro lado da cama - Ela tem Síndrome de Crohn, uma inflamação grave intestinal, e ela tem algumas alergias alimentares de acordo com informações colhidas da mãe, onde a garota ontem noite comeu um Hambúrguer, e após come-lo, sentiu diarreia, enjoo, vomito, e hoje piorou e contou para a mãe, e chamou a ambulância, mas o que lhe assustou foi a coloração das fezes e vomito, eram pretos – vou no outro lado e olho o vômito, e realmente, preto cheio de grumos. - Obrigada Margie – ela recolhe a maca e sai - Paul, passa uma sonda Nasogátrica nela, por favor, precisamos fazer com urgência uma lavagem estomacal, precisamos drenar todo o líquido – mostro o vômito no chão – e ver a reação, vou chamar algum médico para avaliar, passei com muita dificuldade a sonda vesical, está muito edemaciada. Oferto Oxigênio em cânula nasal até a médica vir e entuba-la, pois esse procedimento só é realizado por médicos. Olho os monitores e os valores não estão melhorando. O Dra. Bernardi entuba a garotinha e ajusta a ventilação mecânica. Ela está tão debilitada que ela mal consegue manter a respiração normal. Faço hidratação venosa de acordo com a prescrição da doutora e fico observando ao pé do leito os parâmetros, ainda não melhorando, aguardo mais um pouco e vejo os batimentos cardíacos diminuírem. 70, 68, 65, 62, 53, 42... - ELA ESTÁ PARANDO! – grito - Paul, vem aqui – grito e ele vem – pega o Reanimador de respiração manual – no Brasil chamamos de AMBU, ele 148


desencaixa a traqueia de oferta da maquina de ventilação mecânica e encaixa o AMBU ao tubo que a médica passou – vou fazer as massagem cardíacas - 30 compressões e 2 ventilações O Dr. Collin estava chegando quando ele pede para Melissa preparar duas ampolas em duas seringas de Epinefrina, duas de Água Destilada e duas ampolas de Potássio. - Okay Luna, deixa eu tentar aqui – ele se ajoelha ao lado dela e faz compressões cardíacas e pego com Melissa as medicações, Tim estava só em algum lugar do setor com Gary - Contate a UTI, pode ser que encaminhe ela se estabilizar aqui – peço para ela – só deixa de aviso, não é nada confirmado. - Okay Após a injeção de Epinefrina, Água destilada e Potássio, Dr. Collin para e olha o monitor e observa se ela sustenta os batimentos. Não sustenta e para. Paul troca com ele e faz de imediato as compressões, e faço as ventilações, de 5 em 5 minutos ficamos observando se ela reagia a medicação e a reanimação cardiopulmonar. Continuava a não sustentar. Quase uma hora depois de reanimação e medicações ela não sustenta e não podemos mais fazer nada. Eram 11:12 quando ela para e meu coração se despedaça. Minha primeira paciente que vejo evoluir a óbito. E cabe a mim contar juntamente com o psicólogo do Hospital à família, eu sou a responsável pela sala de Emergência. Vou ao corredor e vejo uma senhora baixa, chorosa, franzina andando de um lado para o outro, e me odiei naquele momento, queria não ser Enfermeira naquele dia. Chego perto dela e ela me olha e não digo nada, mas ela vê em meu olhar que algo de ruim tinha acontecido. E ela se enrola em um moletom rosa claro e chora com muita dor, como se algo estava lhe partindo ao meio, e não consigo me conter, a abraço e choro, como se lhe conhecesse a vida toda e estaria perdendo uma amiga, mas ver aquela dor de perda me tira o chão, tento conversar com ela, mas não consigo tirar uma palavra, pois tenho um nó enorme na minha garganta. Um senhor se aproxima dela e a deixo com a psicóloga e saio pelo corredor e encontro Tim a beira de um leito segurando a mão de uma senhora de cuidados paliativos, ele chora e vou onde ele está. 149


- Ela se foi – ele diz enxugando as lágrimas - Eu sinto muito – já estava com o psicológico lá no lixo e começo a chorar – a garotinha também evoluiu a óbito - Eu sinto muito – ele me abraça e o abraço, e não sei o que fazer agora. Tim é Enfermeiro especialista em Oncologia, é uma área muito complexa, é preciso muita cabeça para lidar com muitas perdas, coisa que eu não tenho, por mais que seja formada em Urgência, Emergência e Unidade de Terapia Intensiva, não tenho psicológico para tudo isso. Saio do setor e vou correndo para o vestiário, não sei para onde ir, nem o que fazer, mas o meu pensamento é me esconder. Chego lá, me tranco no banheiro e choro com a toalha na boca para não fazer barulho. Sento no chão e fico estática por alguns minutos. Melissa vem e pergunta se sou eu no banheiro, e pergunta se está tudo bem, e claramente respondo que sim, apesar de que estou um lixo, me sentindo um lixo, e iria de bom grado para a caçamba de lixo. Volto e já está quase dando o horário de ir embora, é tudo que quero. Espero o novo Enfermeiro Nickolas vir e assumir o próximo turno, passo as informações da manhã e vou embora, não quero conversar com ninguém. Preciso de café. Vou andando, está um pouco ensolarado. Vou ao Mayne. Chegando a porta ele me recepciona e diz: - Você veio, achei que não vinha – não entendo – Benjamin – ele chama, olho para as pessoas que estão no café Ben está com uma mulher, digna de ser uma Angel, aquelas modelos magérrimas e altas e lindas. Ela tem cabelos loiros de embalagem de Xampu caríssimo,

os

lábios

carnudos,

olhos

verdes,

os

ossos

da

bochecha

protuberantes, o maxilar forte, e uma postura de dar inveja. Ele me olha na porta e vem ao meu encontro, não tenho reação de me mexer. Ele chega e me abraça e nem sei se retribui - Senta conosco – ele puxa de leve a minha mão, mas não o acompanho - Não, não – respondo com um sorriso – não quero atrapalhar, eu já ia para casa mesmo, nem sei porque quero café antes do almoço – aceno para ela e ela dá um sorriso - Está tudo bem com você? Estou te achando um pouco triste, abatida, não sei 150


- Só cansada, foi puxado hoje - Então vem conosco - Não, vai lá, não quero atrapalhar - Entao deixa eu lhe apresentar - Não, eu preciso tomar banho, estava no hospital, sabe, germes, bactérias, vírus, essas coisas - Okay então - Tchau – saio sem nem abraçar ele, e sem meu café - Luna – ele vem atrás de mim – você quer conversar? - Não, eu quero que você volte para seu encontro, não quero atrapalhar sua vida amorosa - Não é um encontro okay - Só volta – e saio andando rápido e não deixo ele falar Viro a esquina e estou me odiando, odiando o mundo, odiando o Mayne, Ben, aquela modelo, odiando até meu despertador que deixou eu ir pro trabalho. Não tem ninguém na rua e isso me assusta. Ando mais uns 5 minutos e um cara chega. - Isso é um assalto – é um cara de mais ou menos 1,70 de altura, branco, de capuz e com a mão no bolso do moletom – me dá o celular – a mão no bolso é clássica de fingir que é uma arma Meu celular está na mochila, faço que vou pegar no bolso esquerdo da calça e viro um soco na cara dele de canhota, bem no queixo, e acho que nocauteei ele, cai desacordado no chão e chamo um homem que tem uma conveniência bem em frente e viu tudo. Ele chama a policia e saio de lá, eu sou estrangeira, imigrante legal, mas não quero encrenca para o meu lado. Chego ao prédio e vejo a Sra. Ellen na portaria e digo que se alguém vier atrás de mim, não estou, só Julie, mas acho que ela vai estar na faculdade o dia todo. Entro no apartamento e vou para o banho, não demoro muito no banho. Saio e vejo umas 6 ligações perdidas e 3 mensagens de voz, escuto e é Ben - Hey, preciso falar com você, você me pareceu estranha hoje, me liga - Hey, me liga, quero falar com você

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- Vou estar em casa hoje a tarde toda, aparece lá para conversar, estou indo para lá Não retorno e me visto. Preciso sair de casa. Pego a bicicleta e desço pelo elevador. Tem um park aqui perto, vou dar uma volta nele. Coloco algumas músicas no fone para tocar, mas isso só me agonia mais. Pedalo alguns minutos e isso me incomoda. Sinto-me uma intrusa na minha própria pele. Penso em Ben, e como fui idiota com ele. Passo em uma conveniência perto da casa dele e compro dois potes de sorvete, um de chocolate e um de Baunilha com gotas de chocolate. Entro no portão e o porteiro português não está lá, e fico feliz por ser outra pessoa, mas peço para não anunciar que cheguei, que quando chegasse lá eu pedia para ele confirmar que está tudo bem, que não sou uma psicopata que entra nos prédios para assaltar. Bato na porta e ele logo abre, parecia que estava esperando. - Vi você entrando no prédio – ele diz quando faço cara de assustada - Legal, liga para a portaria e diz que já subi – ele faz cara de que não está entendendo nada – só liga e diz isso Vou para a cozinha e pego duas colheres e vou para o sofá que abraça, deito como se fosse minha casa, minha cama. Ele senta no chão no meu lado e de frente pra mim. - O que aconteceu? – ele fala pegando uma colherada de sorvete de Baunilha - O sol raiou, o dia aconteceu - Mas isso acontece todos os dias, precisa ser mais especifica. - Okay – falo me sentando de frente para ele – hoje recebemos uma paciente, uma criança, 12 anos, caso grave, chegou quase sem reação, e ela só foi piorando, nada que fazíamos tinha efeito, ela começou a parar, ter parada cardiorrespiratória e fizemos eu e Paul as primeiras RCP nela, o médico fez medicações e nada dela sustentar, e evoluiu a óbito menos de uma hora. - Ele não diz nada por alguns segundos – não sei nem o que falar, sinto muito mesmo - Depois teve outro óbito, de uma paciente de cuidados paliativos de câncer de mama, fase terminal, paciente de Tim

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- Eu sinto muito – nós não temos muitas frases para dizer o quanto está triste com algo - Mas isso não é a parte pior, nem a melhor, mas algo para complementar. - O que? - Depois que lhe vi no encontro – ele revira os olhos em desaprovação – fiz parte do pequeno índice de criminalidade do país – ele não está entendendo - quase fui assaltada - O que? Como assim Assaltada? - Um pouco depois que sai do café, um cara veio dizendo que era um assalto, que era para entregar o celular - E porque você disse quase foi assaltada? - O ápice do meu dia, eu dei um soco na cara dele - OMG, porque você fez isso? Você podia ter sido baleada ou algo do tipo - Olha, eu estava com ódio de tudo e de todos, e isso só me fez descarregar esse ódio - E o que aconteceu com ele? Ele correu? - Ele desmaiou, ele foi nocauteado - Ele está sem reação – Isso é mentira não é? – mostro o dorso na minha mão esquerda, os nós dos dedos estão vermelhos – OMG, mas você nem é canhota - Eu era quando criança, mas desenvolvi da direita, mas isso é irrelevante, ele desmaiou e deixei ele com o cara da conveniência da frente, e falei para ele que não viu quem foi, caso a policia perguntasse quem foi - Você é louca Luna – fala pegando mais sorvete – ele podia estar armado - Dou de ombro – Já aconteceu, e ele se deu mal Levanto, estou agoniada com algo, quero chorar, gritar, bater, socar, mas o mais forte desses é chorar. Vou no banheiro do quarto de Ben e ele vem atrás, entro no banheiro e me olho no espelho, meu olhos estão fundo e tristes, mas sei que nem se maquiagem resolveria isso. Saio do banheiro e ele está deitado na cama e mexendo no celular. Sento no lado oposto a ele.

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- Então, quem era a modelo? Porque num café? Podia ter levado ela num restaurante chique - Não era um encontro – ele fala sério – Achei que você saberia quem ela é – não estou entendendo - Não sei quem é – realmente não sei, não conheço muitas pessoas, e fico pensando se é alguma famosa, estrela de Hollywood. - Clara - Não sei o que falar, porque não fui atrás saber quem é ela – Clara, não achei que se veriam de tão bom grado, da tua parte, claro - E não foi, por acaso nos encontramos na empresa, e ela me chamou para almoçar, e disse que já tinha almoçado, mas não era verdade, e então ela me chamou para beber alguma coisa e disse que tinha um lugar perfeito - Ah claro, no café que eu te mostrei, fascinante – falo sarcasticamente – continua - A levei lá porque sei que ela não toma café, nunca gostou, e ainda disse que se bebesse não beberia de jeito algum, escurece os dentes - Não se pode confiar em pessoas que não tomam café - Ele rir – Isso pode ser verdade. Mas o fato é que não foi uma das conversas mais legais que tive, ela ficou muito desconcertada e mais ainda depois que viu você - Eu? Por quê? - Não sei, não entendi. Mas uns 10 minutos que você foi embora eu disse que precisava ir atrás de você, e sai e fui ao seu apartamento, mas você não estava lá – faço uma cara de culpada – você estava lá, ótimo - Eu não queria falar com ninguém, precisava desses minutos a sós - Okay então, perdoada - Ben – o chamo me sentando - Sim - responde digitando algo no celular e colocando em cima da cama - Preciso falar uma coisa - Claro, pode falar - Lembra do dia da praia, que você me perguntou algo e eu disse que não estava preparada para falar daquilo? - Lembro sim 154


- É sobre isso que preciso falar - Não quero que você me fale se não estiver pronta - Sim, eu sei, mas talvez eu não esteja preparada nunca - Então porque quer contar algo que realmente não quer? - Porque independente de eu querer ou não, isso aconteceu, não há nada que possa mudar - Certeza? - Não consigo responder – só confirmo com a cabeça - É bem mais difícil tentar falar, mas... – Lembra do Miguel? Meu melhor amigo? – ele concorda com a cabeça – no inicio de 2018, em fevereiro, ele sofreu um acidente, ele foi atropelado por um motoqueiro, ele estava andando na rua, ele, outro amigo nosso, e um colega da turma deles, mas o motoqueiro só acertou ele, não foi de proposito, se é o que você está pensando. Estava chovendo, estava com muita neblina, a rua mal iluminada, tudo culminava para algo acontecer. E aconteceu, ele foi levado para o hospital de média e alta complexidade na minha cidade, e ficou internado por duas semanas na UTI, o caso dele era bem grave, era algo dependendo de um milagre. Acho que 6 dias depois do acidente eu visitei ele na UTI, quando eu entrei, antes de eu ver ele, eu vi o nome dele em uma placa de identificação no pé da cama e não quis acreditar que aquilo era verdade, sabe, parecia surreal até ali, e do momento que eu vi, pareceu que a ficha caiu, eu não tinha reação nenhuma. Eu fui para o lado dele, e olhando não parecia muito diferente, pouquíssimas escoriações, fratura de Fíbula e Tíbia da perna direita, como ele foi arremessado alguns metros pela pancada ele caiu e quebrou alguns dentes e um corte no lábio superior – paro de contar e aquilo me tira o folego e me arranca as lagrimas mais doloridas naquele dia - Mas se foi só essas escoriações e fratura, porque o caso dele é grave? – Ben pergunta, mas não terminei de contar. - Eu precisava respirar e assuar o nariz – A lesão maior foi na cabeça, e de difícil procedimento cirúrgico, ele não teve TCE, mas a lesão foi danosa, ele teve hemorragia e edema cerebral, e deram inicio imediato de tratamento. Quando eu cheguei perto dele, eu peguei sua mão, e falei: Miguel, aqui é a Luna, a minha voz saiu embargada quando falei, eu olhei para os monitores e os valores de Respiração e Batimentos cardíacos elevaram, e pedi que ele se 155


acalmasse que todos nós estávamos orando por ele, que todos estavam esperando para ele sair dali no momento dele, e não me lembro do que falei mais para ele, eu estava um pouco em choque com tudo aquilo. Eu sempre entrei naquela UTI como estagiária, nunca passou pela minha cabeça que um dia eu iria visitar uma pessoa que eu tanto gostava. Meia hora passou tão rápido, não lembro o que eu falava, mas lembro que eu fiz o que eu fazia sempre que estávamos de mãos dadas, fazia carinho entre o dedo indicador e o polegar, sabe, no dorso da mão, e afagar a barba baixa, pois cortaram o cabelo e a barba dele. Nos dias de visitas só podia ir duas pessoas, e nesse dia foi o pai dele e eu, quando sai da UTI o pai dele estava esperando lá fora, mas tínhamos que esperar o médico para dar o relatório do dia. Quando saímos de dentro do hospital, tinha a família dele, e uns amigos nossos, eu não consegui falar nada, o pai dele que falou, mas eu também não queria desabar ali, pela família, não queria que se importasse com o que eu estava sentindo naquele momento, era mais que o suficiente para o que eles estavam passando. A minha casa ficava perto do hospital, então eu fui, cheguei em casa, meus pais perguntaram e falei como ele estava e fui tomar banho. Até aí estava tudo tranquilo, mas quase uma hora depois a mãe dele me mandou mensagens perguntando como eu estava, e que me viu muito triste, que admirava nossa amizade, que sabia do meu amor por ele, e quando li foi como se duas adagadas estravam no meu corpo e me cortavam por dentro, era uma dor insuportável, eu me enrolava de dor na cama pelo o que eu estava sentindo naqueles dias, eu chorava que meus ouvidos tamparam e eu não ouvia nada. Eu fui correndo para os braços da minha mãe como crianças correm quando ralam os joelhos, e fui, a dor era pior que dois joelhos ralados. Mas a minha dor nem se comparava a dor deles, e a dela, pois naquele dia 11 era aniversario dela. - Ben não tinha reação alguma, ele estava sentado com a costa apoiada no espelho da cama, e eu de pernas cruzadas no outro lado da cama encostada no espelho do pé. - O caso dele não melhorava nem piorava, 8 dias se passaram, e ele evoluiu a óbito. - Lágrimas pesadas rolaram no rosto de Ben, e eu não conseguia mais olhar para ele, de certo modo, isso estava sendo um alívio, mas ao mesmo tempo um castigo, pois nunca precisei contar para ninguém, todos que o 156


conhecia sabiam, eu achava que se eu não falasse isso não seria verdade – Eu realmente eu sinto muito Luna – ele senta do meu lado e me abraça, meu soluços aumentam e minha respiração descontrola - Durante os 14 dias de internação eu fui 10 dias no hospital, mas ficava na recepção só para saber das noticias, e 1

dia eu o visitei. Eu não estou

dizendo que sou mais amiga dele por ter ido todos esses dias, eu só não conseguia ficar em casa esperando alguém me falar algo. Mas naquele dia, foi um dia difícil, foi o dia inteiro com o coração pesado, não pude ir ao hospital naquele dia, porque tive que ir comprar umas coisas, e quando eu estava saindo da loja começou a tocar uma música, me lembrava muito ele, e antes de tudo isso, ela me trazia alegria, hoje ela me trás saudades. Quando recebi a noticia eu estava na faculdade, na aula, e quando soube eu sai da sala e meus pais estavam lá na frente esperando eu e minha irmã, todos me abraçavam chorando, mas eu não conseguia chorar, eu estava sem reação alguma, vinham falar comigo em prantos e eu seca como o deserto. Quando me afastei de todos e de tudo aquela onda de dor veio e me afogou, não conseguia falar, fomos para a casa da avó dele, e foi o pior dia da minha vida. A mãe dele falou para mim que quando olhava para mim, via ele do meu lado, e isso me destruiu. No outro dia foi a cerimonia de enterro, foi horrível ver fechando o caixão e levando ele. Parecia tudo anormal. A cerimonia foi num salão da minha igreja, depois desse dia nunca mais fui naquele lugar, eu olhava para aquele lugar e ele me causava dor. Na hora do enterro não consegui ir para perto, não conseguiria ver colocando na terra, nem a família dele foi, na hora teve uma chuva forte, apareceu um arco-íris bem forte acima de nós. - Eu não faço ideia da dimensão da sua dor, mas eu sinto muito, eu sei que já repeti isso várias vezes isso – deito no colo dele e me enrolo, as lagrimas ainda rolam quente em meu rosto. - No dia do acidente de Dylan, eu o vi ali, naquela maca, mas não era ele, eu sabia disso. E me propus a fazer mais do que eu podia para evitar que algo grave que pudesse ser evitado da porta do hospital para dentro. Quando você me cumprimentou lá na hora do café, ainda no hospital, eu senti a mão dele, mas era a sua. Eu disse que 18 era meu número da sorte, e é, tudo de bom acontece no dia 18 na minha vida, mas dia 19 de Fevereiro é o pior dia da

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minha vida. Mas no dia 18 eu conheci vocês, e acho que 18 é meu número da sorte. - Antes de ele sofre o acidente, vocês estavam juntos? Tipo, namorando ou algo do tipo? Porque a mãe dele falou aquilo para você - Não estávamos namorando, ela falou isso porque sempre estávamos juntos, antes eu achava que ela não gostasse de mim, pois sempre estávamos juntos, eu achava que eu levava eu pro caminho errado – sorrio do que falo, mas eu realmente achava isso dela - Mas no dia 18 de Janeiro, aconteceu que rolou algo entre nós, e comicamente foi dia 18, a primeira vez que nos beijamos foi dia 18, e olha só, eu tinha 18 anos. 18 dias antes do acidente rolou o clima – isso soou muito engraçado, nunca tinha parado para pensar em como as coisas sem voltavam para um número, ironicamente. - Isso é engraçado, ter um número de acontecimento. Mas quando fala de rolar um clima, rolou... Você sabe – ele faz uma cara muito engraçada para quem está deitada no colo - Levanto e sento de frente para ele – Sexo? Não, nunca aconteceu. Na minha vida toda, para ser mais especifica. - Entao você nunca fez? Virgem? - Sim - Legal – ele está desconcertado. Melhor mudar de assunto - Yeah - Posso perguntar mais uma coisa? - Porque me contou isso? É muita coisa para contar, muito forte, mas mesmo assim contou - Não sei, talvez porque quando fico triste, pelo o que aconteceu hoje, ficou mais fácil falar, não conseguiria em um dia normal. E confio em você, não que a minha confiança vale alguma coisa, mas aposto nela, e você falou sobre o que Clara fez, não é fácil falar para duas estranhas - Mas confiei em você, e na Julie. E não seja boba, deve valer um milkshake - Então vale bastante - Me deito com a cabeça no travesseiro e ele deita do meu lado, são 19h – Acho que sim. Posso fazer outras perguntas? – estamos um de frente para o outro 158


- Lembra que te falei na praia, que eu nunca tinha achado alguém que eu casaria? – Confirmo – Você teria casado com ele? Porque você o amava, de verdade. - Acredito que sim, ele foi o segundo cara que eu realmente amei, e por um bom tempo eu neguei esse sentimento, mas depois aceitei, mas nem tudo é como planejamos, como eu disse, ele seguiu em frente com outra, e eu fiquei. Antes do acidente, quando aconteceu pela ultima vez eu senti que agora ia para frente, nós fizemos planos e tudo mais, mas aconteceu o acidente. - E como foi depois de tudo? - Foi bem difícil, eu tinha uma rotina com ele, e quando ele se foi, foi como se estivesse faltando uma parte daquilo tudo, como uma peça perdida de um quebra-cabeça. Onde quer que eu fosse que nós já estivemos, era uma tortura, principalmente na igreja e no ponto de ônibus, pois nós passávamos o culto inteiro conversando, e quando eu ia embora ele ficava esperando comigo no ponto até eu ir. E por inúmeras vezes depois que ele se foi, e fui nesse ponto de ônibus, eu não conseguia não chorar, eu via nós 2 ali. Até que eu parei de ir a igreja ou quando ia não sentava no nosso lugar, ficava longe olhando. Toda vez que eu ia para a igreja, eu esperava que ele passasse na janela, me visse e fosse sentar comigo e isso passou a não acontecer, toda pessoa que passava no corredor eu esperava que fosse ele, mas não era, e isso realmente machucava. - Vocês tinham se falado antes do acidente? - Sim, algumas horas, no máximo 4 horas, passamos o dia todo conversando. Naquele dia conversávamos sobre a série que eu tinha passado para ele, passei 5 temporadas, e em menos de 10 dias ele assistiu 4 temporadas, quase 4, ele ficou viciado na série - Qual série? - How I Met Your Mother - Nunca vi - Estou chocada, você precisa assistir - Qualquer dia - No dia do enterro, eu usei a mesma camisa que usei no dia do nosso primeiro beijo – ele me encara deitado de frente para mim – eu nunca consegui me desfazer dela, e eu sempre doava roupas, mas eu nunca a doei, e no dia do 159


enterro eu senti que eu precisava usar ela, sabe, com o sentimento de “na alegria ou na tristeza”, e ela ainda está comigo, no Brasil. Ele me puxa para perto dele, minhas lágrimas caem em seu braço, e caio no sono, foi um dia longo, e dolorido, se pudesse apagar, eu faria de bom grado.

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 41 Acordo, e me pergunto onde estou. No quarto de Ben, queria acordar sem ter essa sensação de estar sendo acordada no susto. Olho ao redor, ele não está ali, olho no celular, são 2h da madrugada. Levanto e procuro por ele, a porta está aberta e tem uma luz vinda do resto da casa. Ele está sentado em frente à mesa de Arquiteto, nem sei como é o nome dessa mesa, sei que é inclinada. Apareço ao lado dele e ele se assusta, talvez não esperasse que eu acordasse a essa hora. Atrás dele há uma pequena sacada com duas poltronas. - Hey, não sabia se você acordaria, e não quis te acordar, então avisei a Julie que você pegou no sono - Ah, obrigado. Trabalhando? - Na verdade não, só pensando. Chá? – ele aponta para uma xicara fumegando - Não obrigado, odeio chá Pego o violão, o celular e me sento em uma das poltronas na sacada. A rua está quieta, as luzes lá fora indicam uma garoa fina. Ele se senta na poltrona a frente. - Procuro uma música e faço para traduzir do Português para Inglês – Essa música eu aprendi mais ou menos um mês antes do acidente dele, eu ouvia ela em um comercial e gostava dela, mas ela é bem antiga, de um dos melhores cantores de MPB do Brasil, Tim Maia. Naquele dia que Dylan foi embora, eu disse que só sabia duas músicas em português, e uma era essa e a outra foi a que toquei – entrego o celular e começo a tocar Nem sei porque você se foi Quantas saudades eu senti E de tristezas vou viver E aquele adeus, não pude dar Você marcou na minha vida Viveu, morreu na minha história Chego a ter medo do futuro 161


E da solidão, que em minha porta bate E eu Gostava tanto de você Gostava tanto de você [...] - Depois do acidente eu não consegui mais tocar ela – olho para ele, e ele está inexpressível – hoje foi a primeira vez - Quando você resolveu se mudar, foi por causa dele? - Foi pela falta dele - Você ainda o ama? - Essa pergunta me rasga por dentro – Eu não sei, claro, amo, mas – não sei o que responder – talvez não como amava, sabe, amo como amigo, mas não posso me prender a esse sentimento o resto da minha vida, ninguém deve fazer isso. Eu sinto muita falta dele, ele é boa parte da minha historia, e não ter ele para comemorar tudo o que eu conquistei, tudo que planejei, do que ele sabia, isso me matava todas as vezes que eu conseguia - Entendo – ficamos calados por alguns minutos olhando para a rua e o céu com algumas estrelas - Vamos dormir? - Claro – não estou com sono, na verdade, mas ele deve estar Chegamos ao quarto dele e ele tira do armário um edredom e me dá um moletom azul piscina grande, do tipo que ficou quase um vestido e um short branco de algodão. Visto e me olho no espelho, ficou muito engraçado. Ele sai do banheiro vestido uma calça de moletom cinza e uma camisa branca. - Vou dormir no quarto de hospede, pode dormir aqui – ele diz pegando o edredom - Não, dorme comigo, por favor – faço cara de cachorro pidão - Melhor não, vou dormir lá – ele fala quase indo - Benjamin Boorman, por favor - Okay, mas sem abusar de mim - Sem problema, isso – aponto para meu look – não é nada atraente - Você está linda, uma princesa - Ah, claro, uma princesa do Crack – ele dá uma gargalhada gostosa - Sem mãos bobas – ele aponta o dedo para mim

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- Não garanto nada – ele me encara – tudo bem, me controlo – falo me rendendo A cama é grande, nós estamos com edredons diferentes, isso diminui a probabilidade de ter mãos bobas, mesmo que isso nem passe pela minha cabeça. Ele não demora e logo dorme, fico olhando ele dormir, vejo mensagens no celular e têm algumas de Julie, as primeiras perguntando onde estou e as ultimas dizendo que Ben tinha dito que estava no apartamento dele.

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 42 Acordo com a bexiga cheia, são 06h24 no relógio da mesa de cabeceira, não sei se ele vai trabalhar hoje de manhã. Vou ao banheiro social, para não fazer barulho da descarga. Após saí do banheiro, ouço tocarem a campainha, eu nem sabia que tinha campainha. Abro a porta, e é uma senhora de uns 40 e poucos anos, com o cabelo em um coque baixo preso a uma redinha de cabelo, vestido preto e cinza claro, e sorri para mim quando me vê - Bom dia, posso lhe ajudar? – Digo, e nem sei porque atendo a porta alheia - Bom dia, Senhorita? – ela aguarda eu falar meu nome e digo: Luna – Srta. Luna, sou Miranda, sou a Cleaner do Sr. Benjamin. Faço os serviços domésticos. - Oh, entre, por favor – falo toda desengonçada. - Bom dia Miranda – Ben está vindo em nossa direção, sem camisa, que horas ele tirou a camisa? Quando acordei ele estava sem camisa? Aconteceu alguma coisa e eu não lembro? - Bom dia Benji – ele pega sua mão e beija cumprimentando - Bom dia Sunshine – ele me abraça tirando do chão - Bom dia Sweetheart – digo sem conseguir falar, ele está me apertando no abraço. Miranda está nos encarando com cara de quem gosta do que vê – Não é o que a senhora está pensando – digo para ela quando ele me coloca no chão - somos apenas amigos - Oh, não é isso, mas gosto de ver ele feliz – ela fala com um tom de voz de mãe protetora, e vai para a cozinha preparar o café da manhã Vou com ela fazer o café, mas ela diz para não se preocupar, mas não me importo, nunca tive nada tão fácil na vida, não vai ser um café da manhã que vai mudar isso. Ben vai para o banho e não demora muito ele volta todo arquiteto. Camisa social branca, suéter cinza claro por cima, calça jeans escura, bota preta e uma pasta de lado, tipo bolsa, nem sei definir. 164


E eu só me dei o trabalho de trocar o short pela minha calça preta enquanto ele banhava, e fiquei com o Moletom azul. Sentamo-nos a mesa e tinha algumas frutas cortadas, café, leite, torrada e bolo. - Estou querendo comprar um carro – digo enquanto tomamos café – ou uma moto, não sei, aqui chove muito. Mas quero comprar de segunda mão, usado - Legal, tem um site de leilão de carros, e também as feiras de carros, posso ir com você - Okay. Só preciso aprender a dirigir mais no lado direito, que é bem estranho - No Brasil dirige no esquerdo? - Sim, faz mais sentido – ele só nega com a cabeça e mordendo a torrada Tomamos café e já estava dando 8h, descemos para o estacionamento. Mas minha bicicleta estava na em baixo, e eu iria nela. - Vamos de carro, depois você pega ela - Eu tenho que levar, vai que eu preciso dela? - Tudo bem então. Mas vou acompanhando você - Por quê? Você vai se atrasar - Porque estou com medo do cara que tentou te assaltar vir atrás de você - Muito gentil da sua parte, mas ele não vai vir, eu acho, mas vou estar de bicicleta, quando eu chegar em casa te aviso - Tudo bem então - Já está assim? Dormindo na casa dele? – Julie diz quando entro em casa - Bom dia pra você também, querida. E não, não está assim, eu só estava muito cansada e peguei no sono, e acordei muito tarde para sair. - Hoje você trabalha? - Não, só semana que vem. - Okay, estou indo para a loja. Você vai na lavanderia hoje? – concordo que sim – okay, tem umas roupas no saco no quarto, lava para mim, por favor! Ah, deixei uma coisinha na sua cama, veja lá - Esta bem. Tchau – ela sai acenando e diz: - Estou pensando em adotar um gato

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- Por favor, não! Eu gosto de gatos, mas sou super alérgica a gatos, acho muito fofo, mas meu sistema imunológico não gosta. - Okay então, tchau - Hey, tem falado com Dylan? - Sim – ela responde da porta – depois conversamos disso, estou atrasada – só respondo com um joinha. Fui ao nosso quarto, e em cima da minha cama havia um quadro magnético, de fotos, e ele era cheio de estrelas, lua, sol, estrelas cadentes, naves espaciais de Star Wars e foguetes. Coloquei todas as fotos que tinha trago do Brasil e as que ela revelou no dia que Dylan foi embora.

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 43 16.10.2019 - HOJE É QUARTA-FEIRA, DIA DE KARAOKÊ, QUEM ESTÁ DENTRO? – encaminho a mensagem para Julie, Dylan e Ben. Dylan só respondeu com uma mãozinha dando o dedo do meio. Ben confirmou e Julie disse que está resfriada, e a melhor parte da mensagem dela é que ela está na cama do lado. - HOJE, 20h, NO MAYNE, SEM FALTA – Encaminho para os 3, e Dylan torna a responder a mesma coisa, Ben diz que passa aqui e nos leva, e Julie diz que talvez não vá, só se eu cuidar dela. E isso é golpe baixo, nem posso me recusar a cuidar dela, porque sou Enfermeira, e cuido de todos, menos dela. - Amanhã as duas chegam, precisamos aproveitar a paz, pois Larah não vai nos deixar em paz – Julie diz deitada em sua cama, e eu na minha - Já? Passou muito rápido. Julie senta aqui, o que acha desse carro? – estou num site de leilão - Muito bom, tem uma colega da faculdade que tem um desse, e é lindo - Estou querendo comprar ele, estou juntando um dinheiro, mas tenho boa parte, mas acho que dá para pagar parcelado ou dar partes, sei lá, Ben deve saber - Eu também sei, okay, meu carro não veio de balsa dos Estados Unidos para cá - Okay, eu só achei que o seu fosse zero km - Não, ele é de segunda mão, mas foi pouco rodado, por ser carro popular e ter o volante na esquerda as pessoas não gostam muito, e eu só queria não andar de ônibus e trem, só isso. E só me custou 14 mil dólares, e ele é novo, tipo, de 2016, e comprei em maio, tenho há 5 meses - Bem barato, quero um assim São 7h30 e Julie disse que não vai, que está muito gripada, que iria atrapalhar e que não tem nem forças nem coragem de sair da cama, quem dirá de casa. Ligo para Ben 167


- Ben, acho que não vou, Julie não vai, e ela está um pouco ruim - Não, vamos, eu compro remédio para ela no caminho, não se preocupe, sei tratar uma gripe também - Okay 10 minutos e ele chegou, com uma sacola cheia de remédios e um inalador portátil. Partilhas de Vitamina C, antigripal, coquetel de vitamina, suco de Laranja e Limão, Água destilada para o Inalador, descongestionante e pacotes de lenços humedecidos. - É para não machucar quando assuar o nariz – ele diz quando vejo os lenços - Obrigada Ela toma uma porrada de remédios que ele trouxe e preparo a injeção intravenosa e a inalação para ela, vai se sentir melhor com isso. Ainda bem que não tem medo de agulha, o coquetel na veia geralmente faz efeito rápido. - Se sentir febre me liga, sério, não precisa pensar duas vezes – digo quando estou colocando ela na cama, ela parece um bebezão Ben está vendo as fotos e eu sei o que ele vai falar depois. - Aquelas fotos, são seu amigos no Brasil? – São sim - Meio obvio não é? - Aquele que você está dançando? É o Miguel? - Sim, são duas fotos nossa dançando, uma estamos abraçados, e ele de costa para a foto, e na outra ele me rodopiando - Foi em uma festa? - Tecnicamente não, mas numa confraternização na minha igreja - Dia especial? - Dia especial - Pode me contar? - Talvez – é meio estranho contar para ele,mas... – Foi... nesse dia, foi o nosso primeiro beijo - Na igreja? - Sim - Que ousada – ele responde rindo, quebrando o gelo 168


- E o seu primeiro beijo foi onde? Quantos anos? - Foi na escola, Amy o nome dela, nós tínhamos 13. Mas espera ai, ele não foi o seu primeiro beijo, não foi? - Ah não, foi com uns 12 anos, não lembro o nome dele, mas foi razoável, não foi ruim ao ponto de odiar nem bom ao ponto de gostar, meio termo. - O meu também Chegamos, mas hoje não parece um dia qualquer de Karaokê, está mais elaborado, jogos de luzes, Mayne está de Paletó, todos que trabalham no café estão com as roupas impecáveis e há uma mesa em frente ao palco com duas mulheres e um homem. Entramos e Mayne nos vê lá do palco e vem em nossa direção. - Oh, é tão bom ver vocês de novo, e juntos – ele fala cumprimentando a nós e lhe abraço – e Julie? - Sim, estamos juntos – nem sei o que responder – Julie está resfriada em casa. Porque essa produção toda? – falo arrumando a gravata borboleta marsala em seu pescoço - Oh, melhoras para ela. Vocês não estão sabendo? – negamos – hoje é o 12º Campeonato Anual de Karaokê do Mayne - Oh, que legal, vamos assistir tudo Luna –Ben fala e concordo - Não, não, não. Vocês tem que competir juntos, vocês mandaram muito bem naquele dia dos anos 80, precisam competir hoje, e terá prêmios - Nós não competimos, bom, só entre nós 4, mas não somos profissionais – Ben diz se sentado quando Mayne nos encaminha e acompanha até a mesa que sempre ficamos - Ah, mais isso aqui não é profissional, só é uma competição – Mayne fala - Eu vou colocar o nome de você, e não quero nem saber, está decidido, escolham a música - Ben e eu não temos nem reação – Okay – Ben responde - E ah, vocês irão competir na categoria de Duplas, Trios e Grupos, e terá a outra categoria individual, mas vocês vão de dupla – Mayne sai e estou de boca aberta. Ele volta – Esqueci outra coisa, os ganhadores das duas categorias irão competir numa guerra final, a primeira fase chamamos de Batalha e a segunda de Guerra

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- E agora? Se é uma competição nem temos nada preparado, nem no carro cantamos músicas iguais. Já sabemos, vamos começar a escutar músicas iguais, para a próxima não sermos pegos de surpresa – Ben fala muito rápido e agoniado. - Calma cara, vamos pensar numa música legal, descontraída, que pode agradar aqueles 3 ali na frente, que tenho quase certeza que são jurados – ele olha e tenta julgar qual o tipo musical dos 3 - Qual sua ideia? – Ben me pergunta, vejo desespero em seu olhos - Começo a rir – parece que sua vida depende disso, calma okay – e tenho algumas em mente - Escrevo 4 músicas em um guardanapo – O que acha? – ele toma a caneta e o papel da minha mão e escreve mais 4 - Só precisamos escolher entre as 8 Viva la Vida – Coldplay I’m Still Standing – Elton John It's My Life - Bon Jovi Dusk Till Dawn - Zayn ft. Sia Bohemian Rhapsody - Queen Everybody Talks - Neon Trees Sweet Caroline - Neil Diamond Story of my Life – One Direction - Corta a que você não sabe – digo para Ben - Eu só não sei essa Dust Till Dawn – ele corta ela e faço o mesmo - Não sei direito essa Everybody Talks, já ouvi uma ou duas vezes, mas não sei. Mas Bohemian Rhapsody é boa, mas não cai bem cantar ela, por ser longa e tudo mais – corto as duas – Sweet Caroline é boa, History of my life também. O que decidimos? - Eu gosto de I’m Still Standing, ela tem uma vibe boa, e pode agradar os jurados - Sim, então é essa? - Sim. E da “guerra”? – ele sorri quando fala - Cada problema em seu tempo - Okay

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- Mas acho que já tenho em mente uma, mas não entrou nessa lista, é um nível a mais, sabe, Batalhas e Guerras são diferentes – nós dois começamos a rir. Você gosta de Queen? – Ben concorda que sim – Que tanto? - Muito - Então já sei qual será da Guerra - Qual? - Ganhe comigo essa e saberá Ben leva o papel com nossa música e nossos nomes, aproveito para ligar para Julie. Ela não me atende, acho que ela dormiu de tanto remédios, vejo as mensagens e ela me enviou uma dizendo que ia dormir, se eu ligasse provavelmente não iria atender. - Tem 8 apresentações na nossa frente, será uma categoria intercalando a outra – Ben diz sentando e trazendo um copo de café com creme extra para nós dois - NÃO BEBA! – digo quando ele está dando um gole no café e ele se assusta - Por quê? – ele diz assustado parecendo que tem veneno dentro - Fica resíduo nas cordas vocais, vai por mim, você não quer isso - Você já foi cantora por acaso para saber disso? - Eu já cantei uma vez na rádio da minha igreja, e eu bebi café antes e ficou um pouco estranho, sério, não foi uma das minhas melhores performance - Você cantou numa rádio? Isso eu não esperava! Você é muito boa então, para cantar numa rádio - Não sou boa, mas acho que não tinha ninguém, e sobrou para mim ir - Você canta super bem, não se diminua assim, você sente a música, você devia seguir carreira - Cala boca – começo a fazer cocega naquele lugar que quase fez nós entrarmos numas árvores no caminho de Coromandel Meia hora depois chama uma garota que canta Youth – Shawn Mendes ft. Khalid. Posso dizer que ela foi a melhor até aqui. Marie a agradece e dá uns dois minutos e nos chama, nós estamos totalmente nervosos, não me sinto assim faz um tempo. Subimos no palco e um rapaz que trabalha lá e não sei seu nome me chama e pergunta que versão queremos para tocar a música, e escolho a versão do filme Sing, é mais atual, 171


e a que eu sei também. Ambos sabemos a letra decorada, não será preciso ficar lendo a letra na tela - Só respira – Ben fala para mim, e lembro que ele se apresentava as vezes - Okay. Hey lembra, se vencermos essa batalha, vamos cantar Queen, e não vai ter outra que possa nos ganhar com Queen, e especialmente a que eu estou pensando - FECHADO – ele levanta a mão para um High Five e dou um High Five Subimos no palco, as luzes ao redor se fecham e dois clarões ficam iluminando a escuridão ao redor em cima de nós, vejo os olhos ao redor nos fitando e Ben ajustando o suporte do microfone, pois ele é muito mais alto que a garota que cantou antes de nós, mas a música pede que nos mexermos. O som do trompete ecoa pelo café, arranco o microfone do suporte e Ben também, começo a cantar a primeira estrofe, esqueço que estamos sendo avaliados, e tento me divertir ao máximo cantando, Ben canta também, ele vira para mim e faz uns passos comigo de quem entende a letra e a melodia. [...] Você não sabe que eu ainda estou de pé melhor do que eu já fiz Parecendo um verdadeiro sobrevivente, me sentindo como um garotinho Eu ainda estou de pé depois de todo esse tempo Juntando os pedaços da minha vida Sem você na minha mente Eu ainda estou de pé (Sim sim sim) Eu ainda estou de pé (Sim sim sim) [...] Rodamos pelo café cantando e puxando umas pessoas para nos acompanhar nas dancinhas, imitando as notas altas do trompete, e fazendo o solo de guitarra. Colocamos os microfones nos suporte e ficamos batendo palma, cantando e dançando dancinhas dos anos 80 que no clipe do Elton John faz, pois já assisti algumas vezes ele. Quando terminamos estamos exaustos, as pessoas no café nos ovacionam, sem muito exagero, mas batem palmas e assoviam para nós. Os três jurados batem palmas sem muito ânimo, não vou dizer que não gostaram, é uma competição, precisam ser Imparciais. 172


Esperamos os resultado. Marie sobe ao palco e anuncia os três primeiros colocados de cada categoria - Marie anuncia - Categoria Individual – Faz um suspense – em terceiro lugar: Miler Shue; em segundo lugar: Emily Bronx e em Primeiro lugar – suspense - Samantha Hailer – a garota sem muita animação bate nas mãos de alguns que estão ao redor dela, pra falar a verdade, sinto um pouco de soberba no olhar dela - Samantha é a garota antes de nós, aquela que cantou muito bem – digo para Ben que está bebendo o café - OH GOSH – ele responde - Marie anuncia novamente – Categoria Grupos, Trios e Duplas – Suspense novamente – em terceiro lugar: Making our own Problems – já vi algo parecido com isso - , em segundo lugar: battles in wars – um pouco sugestivo para a final, não é? – e em primeiro lugar – supense maior – Luna e Ben Foi como tirar um peso das nossas costas, nós pulamos e nos abraçamos, e Mayne estava atrás de nós e pulava e assobiava, e alguns que já nos conhecia das outras apresentações nós aplaudiam - Marie continua - Okay, okay, temos prêmios para os ganhadores. Para os primeiros ganhadores das categorias temos um cartão de desconto de 50% em qualquer produto do estabelecimento em qualquer dia da semana por 3 meses – todos batemos palmas - Entregaremos assim que terminar, e também um troféu para cada um com seus nomes gravados e categorias, só estão gravando e ao final de tudo será entregue. Mas antes de tudo – suspense, as luzes se apagam e uma luz em cima dela se acende – A GUERRA FINAL! – ela fala bem alto e um solo de guitarra bem louco começa a tocar de fundo e ela faz sinal de parar para o garoto – Que venha para a luta! Samantha! – ela espera a garota soberba subir ao palco – e Luna e Ben! - Subimos ao palco muito amigáveis, isso pode ganhar os jurados – tirem cara ou coroa – Ben escolhe coroa, e resta cara para Samantha, a moeda gira e para em cara, e ela escolhe começar. Ela escolhe Titanium - David Guetta ft. Sia, honestamente, a voz dela não casa com a música, não é porque é nossa concorrente, mas a música também tem notas altas e muito remix, o que tem para aproveitar em um Karaokê? No

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meu ver, não foi boa a escolha. Ela termina e aplaudimos claro, é uma competição, mas não somos inimigos. Explico a música para Ben enquanto ela se apresentava. - Vamos cantar Don’t stop me Now - Ele vibra – eu adoro essa música - Eu também, sei de trás para frente essa música. Então aceita cantar ela? - Mas é claro. Vamos dividir - Dividimos assim, eu inicio a parte lenta, você canta o primeiro solo e fazemos o coro, depois faço o outro solo e o coro novamente juntos, o solo de guitarra e o coro novamente e fim, sem muito mistério - Perfeito - Hey, performance, como se fossemos o Queen, incorpore o Fred Mercury e seus 200 graus - Ele sorri – só você para me fazer participar de um campeonato de canto - Não é campeonato, é competição – digo o corrigindo - Mesma coisa – ele fala revirando os olhos – Vamos, Marie está chamando Subimos no palco, e digo qual é a música e o garoto coloca a música, e detalhe, nem de Samantha nem a nossa aparecerá a letra, então é saber ou não saber a letra. Vou fazer uma coisa, e você fique atento na hora que você entra na música Pego o suporte do microfone e estendo do chão até onde o microfone possa alcançar minha boca para eu cantar, e me sento num banquinho em frente ao balcão de mármore alto, Ben vem para o meu lado e digo: - Vou começar aqui, e você vai entender tudo - Okay – ele fala um pouco intrigado Faço sinal para o garoto soltar a música. A música se inicia com um solo de voz e piano feito por Mercury, e repito o que ele faz. Sento-me em frente ao balcão e dedilho o mármore fingindo ser as teclas de piano. Canto na minha voz mais suave, para as pessoas que não conheçam essa música pensarem que é só uma música lenta, mas ai se enganarem. Esta noite eu vou me divertir de verdade Eu me sinto vivo 174


E o mundo, eu vou virá-lo do avesso, yeah! Estou flutuando por aí em êxtase Então não me pare agora Não me pare Porque eu estou me divertindo, me divertindo [...] Ben está do meu lado e logo entra em sua parte e sobe para o palco, vou em seguida ele tira o pedestal do seu microfone e canta seu solo, quando ele canta ser um carro de corrida nós dois imitamos motoristas, e no coro cantamos juntos [...] Eu estou queimando pelo céu, yeah! Duzentos graus É por isso que me chamam de Senhor Fahrenheit Estou viajando na velocidade da luz Eu quero transformá-lo num homem supersônico [...] Faço minha parte do solo e tento atuar o máximo, mas aproveitar a letra da música, sem perder o controle da voz. Fazemos o coro juntos e vem o solo de guitarra, nos jogamos no chão fazendo as guitarras humanas e voltamos para mais uma vez para o coro. Quando paramos de cantar a plateia levanta e canta o que Fred Mercury faz no final da música: LA RA RÁ, LA RA, RA, RÁ, UHH, UHH, UHH. Aquilo me arrepia. E a maioria que cantou está aplaudindo de pé. Descemos do palco e Ben está em chamas, ele não se controla no sorriso. Mayne não consegue ser imparcial, ele comemora e nos abraça, damos High Five duplo. E Marie sobe ao palco depois de uns dez minutos. - Sem muita delonga, aqui dentro temos a ganhadora ou os ganhadores do prêmio maior da noite, para o Segundo colocado: são 4 entradas para o show de Abertura do Musical UMA BROADWAY INESQUECIDA e canecas estilizadas com a caricatura, e para o Primeiro colocado: um jantar pago para o ou os ganhadores e mais 4 pessoas no restaurante Francês Un Endroit Parfait, e mais 15% de desconto em cima no cartão que já irão receber, e por ultimo não mais importante canecas estilizadas com a caricatura da ou dos ganhadores. Boa sorte irei abrir o envelope. - Nós fomos maravilhosos – Ben segura na minha mão - Nós fomos 175


- E a vencedora ou vencedores da noite é MEU CORAÇÃO VAI SAIR PELA BOCA. FECHO OS OLHOS - LUNA E BEN As pessoas ao redor gritam e assoviam, e batem em nossos ombros, e eu estou pregada nesse banco, e só sei respirar, Ben dá uma gargalhada longa e só sei sorrir dele. As pessoas nos conduzem para o palco e não consigo nem digerir isso. - Ben fala, porque eu nem sei o que falar, talvez até esqueci como falar em Inglês – Obrigado a todos, e ao Mayne que nos forçou a participar da competição, e aos jurados que foram muito profissionais e imparciais, ótimo trabalho, e a minha parceira aqui, minha amiga, melhor amiga e melhor companhia impossível, as vezes insuportável, mas é um amor de pessoa - Obrigada pelo carinho – digo no outro microfone, todos riem – agradeço a todos que vibraram com nossas apresentações, e Mayne, Marie e ao garoto do som – Matt, ele fala lá do computador – ao Matt e aos jurados que consideraram nosso esforço, e aos nossos parceiros de palco que lutaram como nós, palmas para eles – todos nós os aplaudimos – até a próxima pessoal Recebemos dois troféus, um de mais ou menos 10 centímetros, gravado ao pé: 12º CAMPEONATO ANUAL DE KARAOKÊ DO MAYNE 2019 – PRIMEIRO LUGAR NA BATALHA DE DUPLA: LUNA E BEN. O outro troféu era maior, uns 15 centímetros, também gravado CAMPEONATO ANUAL DE KARAOKÊ DO MAYNE 2019 – PRIMEIRO LUGAR NA GUERRA FINAL: LUNA E BEN. Recebemos os cartões com 65% de desconto e o cartão do jantar no restaurante Francês, as canecas serão entregues em no máximo 10 dias. Na saída uma das juradas nos chama e diz: - Oi, você que é a Luna, e você Benjamin, não é? Sou Andrea - Oh, olá, sim somos – eu e Ben a cumprimenta - Gostei dos seus estilos, vocês poderiam se apresentar nas audições para essa peça – ela pega um panfleto do tal musical UMA BROADWAY INESQUECIDA - sou uma das diretoras - Oh, que legal – Ben fala ao ver o panfleto – a senhora é uma das juradas que avalia as audições? - Não, sou só a diretora, uma das diretoras, são outras que avaliam - Nós podemos tentar não é Ben? O que temos a perder? 176


- Não sei, não terá como eu fazer, as audições serão no dia da minha viagem – a porcaria da viagem, estava esquecendo - Oh, é verdade. Me desculpa Sra. Andrea, acho que não será possível - Você pode tentar sem mim – Ben diz - Não, nós ganhamos juntos, faríamos juntos, não quero fazer isso sem você - Eu sei, mas você tem que tentar sem mim, uma hora terá que fazer sem mim - Não gostei dessa frase dele, sinto como se ele estivesse partindo de vez – vamos conversar Sra. Andrea - Espero que vá, querida, espero ver você no espetáculo Não sei se sou capaz de fazer uma audição. Na saída, Mayne entrega alguns cookies para Julie. Vamos embora e Ben mal esconde o sorriso no caminho. - Preciso escutar mais suas músicas, e só ganhamos pelas duas músicas suas - Besteira, ganharíamos fácil com Everybody Talks - Não, I’m still Standing deixou eles com uma pulga atrás da orelha, de querendo mais - Não seja bobo, já ganhamos, fomos melhor que a Samantha – faço uma cara de quem não gostou dela – ela acabou em partes com a música - Não foi tão ruim, mas não foi a melhor escolha - Sim - E você vai fazer a audição? - Não, não sou cantora ou atriz, nem os dois juntos - Mas não é o que eu vejo naquele palco. Você se transforma – ele rir – não de um jeito ruim, sabe, você tem atitude quando começa a cantar - Mas uma coisa é um Karaokê de café, outra é um musical, eu não tenho extensão vocal - Mas você disse: O que nós temos a perder? O que você tem a perder? - Tempo – digo olhando ele dirigir - tempo é precioso - Sem essa. Abre o site do musical, e vê o que tem de informação – tem o site no panfleto

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- Abro o site, procuro as informações e leio para ele – As audições terão inicio no dia 26 de Outubro, as 10 horas. Local SKYCITY Theatre, Victoria Street West, Auckland. - É no máximo 30 minutos de casa. É perto. E o que mais? - Continuo – As audições serão gratuitas, é requisito cantar uma música original Broadway ou que foi introduzida na Broadway. Introduzida? - Também não sei. Mas acho que cantando uma que já escutou alguém falando que é da Broadway, está valendo - Mas eu nunca assisti nenhum musical da Broadway. Não sei se sei alguma original ou introduzida da Broadway – falo com desde - Você já deve ter ouvido alguma, não é tão difícil tentar lembrar - Não sei – penso, penso, penso – Espera, eu assisti as 6 temporadas de Glee, e eles são loucos pela Broadway, bom, alguns - Você assistia Glee? Nem me assusto então como você tem tanta desenvoltura no palco - Assisti sim. Mas não têm nada haver com Glee, talvez, algumas músicas que cantamos eles cantaram em Glee. Vou procurar alguma na internet que eles cantaram. Desço na frente de casa e ele se despende e vai. Entro em casa e Julie está no banheiro. Quando ela sai estou na porta pronta para lhe dá um susto. Ela sempre sai de costa para a cozinha, e me importo em que ela não me veja no reflexo do espelho em cima da pia quando ela sai do banheiro. - BUUH – ela grita muito, mas muito alto, e jogando os lenços humedecidos e o descongestionante nasal para o alto - Sua filha da puta - eu estou jogada no chão rindo. Ela corre no sofá e pega uma almofada e começa a me bater com ele, e não tenho forças para levantar, a não ser rir. Quando ela se cansa e eu também, ela senta no sofá muito brava comigo – você está louca não é, fumou uma carreira no caminho, não foi? - Eu estou engasgada de tanto rir – desculpa, mas foi inevitável – começo a rir de novo - Vai se ferrar – ela entra no quarto batendo a porta

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Entro no quarto bem devagar, e ela está mexendo no celular, levo o potinho de isopor que Mayne mandou para ela. - Mayne mandou para você – entrego um pouco de longe, para ela não me dar uma voadora no meio dos peitos - Obrigada – ela diz um pouco seca - Subo na minha cama e arrumo meus dois troféus na estante em cima da minha cama e faço barulho com a garganta – olha que coisinhas lindas - Ela se levanta e olha de perto – vocês ganharam alguma coisa? - Ganhamos o campeonato anual de Karaokê no Mayne - Mentira, sério isso? – confirmo que sim – que legal, parabéns, e quais eram os prêmios? - Ganhamos 65% de desconto em qualquer coisa do café, um jantar para mais 4 pessoas num restaurante italiano, francês, chinês, não sei, o nome é esquisito e canecas customizadas - Quando vou não tem essas coisas - Eu nem sabia disso, soubemos na hora. E você está melhor? - Um pouco, dormi muito, um pouco depois que saíram eu dormi, só acordei para ter um ataque do coração agora pouco – ela fala fechando a cara - Me desculpa – falo segurando o riso - Vai dormir, ou melhor, melhor não. 3h horas temos que ir buscar as duas no aeroporto – ela diz assoando o nariz - Eu já fui muito nesse aeroporto, e não para de ir e voltar gente - Sim, e em Dezembro tem mais - Dia 20 tem mais - O que tem dia 20? - Ben vai para Londres - Oh, isso eu não sabia - Eu nem lembrava, ele me falou no dia que Dylan voltou para Londres - Oooh – ela diz e deita na cama e se embrulha - Pensei que você não ia dormir - Falei para você não dormir, mas eu estou doente, você pode ficar acordada - Ah, vai se ferrar – ela fica rindo e me embrulho – eu vou dormir, 3h nós saímos 179


Nós acordamos 2h50, um pouco em cima da hora. Descemos bem grogues de sono. Não deixo Julie dirigir, os remédios que ela está tomando são fortes, e já tenho minha carteira, sem culpa agora. Chegamos 10 minutos atrasadas, elas já haviam desembarcado e estavam nos esperando. - Como vocês conseguem se atrasar? Vocês estão à 40 minutos daqui – Larah já vem reclamando - Simpática como sempre – digo abraçando elas - Sou um poço de simpatia, quase ganho o concurso de Miss Simpatia, mas a Sandra Bullock roubou de mim – Larah diz entregando uma das malas dela - E esse catarro todo, Jul? Louise diz puxando as bolsas no caminho até o carro - Só um resfriado, Luna e Ben está me entupindo de remédios - Huuuum – Larah diz enfiando as malas no porta-malas do carro - Estamos no caminho de casa e dirijo – E como foi as férias? - Curta, podia ser mais do que duas semanas – Louise responde - Vocês já faltaram 3 dias de aula – Julie responde quase gritando, o nariz está entupido, e o ouvidos tapados de tanto forçar - Besteira, 3 dias não fazem diferença – Larah diz mascando um enorme de um chiclete, ou muitos – E como foi sem a gente aqui? - Um céu – Julie responde - Essa garota está indo pelo caminho errado Louise, ela está passando muito tempo com a Luna – Larah fala com voz de desespero - Eu só mostrei uma vida social saudável para ela – digo - Não me parece muito saudável – Louise diz olhando para Julie com nojo de todo aquele catarro - Muito engraçada – Julie diz

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 44 20.10.2019 - Bom dia Sunshine – atendo o telefone e não consigo nem enxergar quem está me ligando, reconheço a voz - Ben? – olho na tela, são 7h20 – tem formiga na sua cama? - Não, mas vou viajar hoje, mas antes temos que fazer uma coisa antes de eu ir - Pode ir, eu deixo, eu fico dormindo - Não, isso que iremos fazer envolve totalmente você - No momento nada está me faltando, deixa para quando voltar - Não, temos que fazer hoje - Tem que ser hoje mesmo? Hoje é domingo Benjamin - Tem que ser agora - Que horas você vai para o tal lugar? - Estou aqui em baixo - Então sobe, vamos tomar café com as meninas, para conhecer elas - Okay – ele desliga e vou para o banho O banho dura quase 10 minutos, saio e os 4 estão conversando alto. Vou no quarto e deixo algumas coisa lá e vou para a cozinha. - Parece que já estão íntimos – digo me sentando a mesa - Só umas histórias – ele responde - Então, vamos? – digo depois de tomar um pouco de suco - Claro – ele se levanta Entramos no seu carro, nada que possa ser suspeito do que faríamos, e as malas provavelmente estão lá atrás. - Posso saber onde vamos? - Vai saber na hora - Não sou muito a favor de surpresas - Não é surpresa, só não faz ideia onde estamos indo 181


- Mesma coisa - E já decidiu o que vai cantar na audição? - Mais ou menos, se eu for – dou ênfase no se eu for – tenho umas 6 músicas em mente, e claro, tenho que decidir uma - Qual? Coloca para tocar - Conecto o celular ao som do carro e procuro na internet e dou play no vídeo – Vou tocar todas e você dá um veredito, qual a melhor - Beleza - Essa se chama “Maybe This Time” do musical Cabaret. Essa é “Don’t rain on my Parade” do Musical Funny Girl – em seguida coloco outra – e do mesmo musical “I’m the Greatest Star”.

“Something's Coming” do Musical

West Side Story. “My Man” de Funny Girl também. “Seasons for Love” musical Rent - Acabou? - Sim. O que achou? - Estou em dúvida em 3 - Quais - A primeira, bem forte ela - Maybe This Time - Aquela da estrela, ser uma estrela, mais ou menos isso - I’m the Greatest Star - E aquela bem rápida, a que a cantora segura o final - Don’t rain on my Parade. Minhas favoritas - Chegamos Olho ao redor, tem um pátio apinhado de carros, de todos os tipos, grandes, pequenos, não sou boa em escolher marcas e modelos, e acho que ele me trouxe porque sabia que eu faria besteira se viesse sozinha. - Essa é uma das melhores revendedoras de carros usados da cidade, Youth Garage, reservei o test drive esses dias, e marcaram para hoje, temos a manhã quase toda para fazermos test drive, só até 11h, porque meu voo parte 12h. - Mas preciso fechar contrato hoje? - Não, mas se quiser pode deixar em aberto, ou se não quiser, nada será feito 182


- Okay, vamos lá Entramos pelo salão, a gerente Maggie, como quis ser chamada nos atendeu gentilmente, Ben se apresentou e ela confirmou a visita no papel em sua mão. - Você tem um estilo de carro? Um preferido? – Maggie pergunta para mim - Um que ande – ela sorri com cara de “que garota idiota”, mas Ben ri, e não parece forçado – estou brincando, não tenho um preferido, contando que não seja caro, esse é meu preferido - Okay – ela nos leva no meio de trocentos carros, e havia algumas motos, mas as motos que são caras para caramba, e nem me interesso em saber dos preços Ben vê alguns que acham interessante para mim e fico em dúvida em 4, depois um rapaz nos explica sobre economia, e outras coisas que Ben parece entender bem, e eu só concordo, meu pai entenderia tudo de cada carro. Peneiramos entre os 4 e passamos para dois. Ben resolveu fazer o teste drive nos 2. Mas eu dirigindo. Entramos no primeiro carro e a primeira coisa que estranho é o volante, que é do lado direito, quando dirigi o carro de Julie, o dela é do lado esquerdo, acho que ela fez questão de comprar esse, porque no EUA também é do lado esquerdo. - Quem em sã consciência põe o volante de um carro do lado direito? Sem falar que vocês dirigem na pista da esquerda. Vocês são estranhos - Ben está rindo de mim quando tento mudar a marcha muito desajustada com a mão esquerda – Vocês da américa que dirigem no lado esquerdo, e na pista direita, isso é estranho. Na verdade, nós podíamos discutir isso o resto da vida, e um sempre estará errado - Sim, vocês - Não. Ah, chega, só dirija e acostume, você está aqui agora, quando estiver lá, dirija do lado “certo” - Eu amei esse, visualmente, e como dirigir - Você precisa testar o outro, para ter como escolher - Okay – voltamos para a revendedora e pegamos o outro carro

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- O que achou desse? – Ben pergunta quando já dirigi por uns 5 minutos, ele não tenta tirar minha atenção, pois preciso de concentração para entender essa marcha na esquerda - Honestamente? – ele diz que sim – gostei mais do outro - E o que vai fazer? - O que preciso fazer agora, Marcus? – Pergunto para o rapaz que nos acompanhou para o test drive nos dois carros - Entrar com as papeladas – ele diz sorrindo - Então faremos isso - Sério? Você ficará com o outro mesmo? – Ben pergunta um pouco espantado - Sim, uma hora ou outra preciso fazer isso, e agora é um bom momento - Okay então Quando assinamos uma pilha de documentos, Ben também assinou como segundo financiador. Financiei com um valor de 16 mil dólares, com um abatimento de 9 mil de entrada e parcelas semanais de cerca de 90 dólares. O modelo que escolho é o Mazda 3, ano 2016, cor cinza escuro, estilo Sedan, 40 mil km rodados. - Você tem certeza desse carro? – Ben pergunta quando estou assinando - Absoluta - Parabéns Luna – Maggie se levanta e me cumprimenta – esse carro é seu. Em 3 dias entregaremos seu carro, em casa. - Obrigada Maggie, e ao Marcus também - Obrigada Benjamin pela preferência São 10 horas, leva um pouco mais de 40 minutos até o aeroporto. - O que vamos fazer agora? - Você gostou mesmo desse carro? – Ben me questiona e fico assustada, é a terceira vez que ele me pergunta - Eu amei ele, em todos os sentidos. Você não? - Gostei sim, mas só queria saber se você gostou mesmo - Okay, o que vamos fazer? - Comer! - Melhor que isso impossível

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 45 - Okay – ele diz quando voltamos do balcão após fazermos os pedidos – o que você vai fazer essa semana? - Tenho 2 plantões noturnos e um diurno, isso serve? - Na verdade não, mas fazer o que, não é? - É isso que eu digo - Mas depois que eu estiver lá, eu quero que você me mande um vídeo cantando a música que escolheu cantar na audição - Porque você está insistindo nisso? Eu disse que nem estou animada para isso - Porque eu quero que você faça isso, você gosta de cantar - Assim como o resto da população mundial - Eu não quero que você se arrependa daqui a uns anos, e não quero ser a pessoa que vai ficar com a consciência pesada por não ter te incentivado - Você não quer ser a Clara, não quer ser o lado negativo - Sim - Entendi, mas se eu passar vergonha a culpa é toda sua - Você que vai cantar ruim, não eu - Filho da mãe – apareceu nosso número no identificador, ele vai buscar os pedidos No caminho do aeroporto recebo a ligação dos meus pais, por vídeo chamada, atendo. - Oi mãe, oi pai – as vezes até estranho em falar em português - Oi filha – eles falam juntos - Como vocês estão? - Estamos bem, e você? Que horas são ai? - Estou bem, são 11h 24 minutos. E a Nina? - Está aqui, melhorou para comer. Aqui são 19h 24 minutos - Que bom - Está indo para algum lugar? 186


- Para o aeroporto - Meus pais se encaram – Fazer o que? - Benjamim está indo para Londres – Mostro ele virando a câmera para ele - Como fala Hello em português? – Ben pergunta - Olá - Olá Mr. E Mrs. Falcon – já nem me importo como as pessoas pronunciam meu sobrenome - Olá Benjamin – meu pai responde – Quem é ele Luna? - Meu amigo, nos conhecemos no hospital, o primo dele sofreu um acidente, e nos conhecemos depois. É o que foi conosco para a praia, aquela bonita, que o senhor gostou - Huum – depois falamos disso – minha mãe fala um pouco desconfiada – mas pergunta para ele em Inglês, se em Londres é bonito mesmo igual nas fotos - Repito a pergunta e ele pede para eu fala para ele como responder em português - É sim, Mrs. Falcon, até mais se duvidar – ele fala com a língua enrolada, e eles ficam rindo dele, provavelmente por causa do sobrenome, e porque ele demora para juntar as palavras - E Benjamin – meu pai pergunta – você trabalha de que? - Repasso a pergunta e ele responde em Inglês – ele se esqueceu de perguntar a resposta - Ele é arquiteto – digo e eles concordam – é um pouco parecido o som - Então está bem, não é filha? Não está precisando de nada não, não é? - Não, mas quando chegasse em casa eu ia ligar para vocês, mas tenho uma ótima noticia, comprei um carro, é seminovo, mas é lindo, depois mando foto dele, eu nem sabia que iria hoje na loja, ele me tirou da cama 7h só para ir lá - Isso é maravilhoso, filha – meu pai está muito feliz - Parabéns filha, você merece isso, e muito mais – minha mãe diz - Obrigada - Depois manda o modelo do carro para eu ver Luna – meu pai diz – depois a gente se fala mais, está bem? A novela está para começar - Está bem, beijos, amo vocês 187


- Amamos você filha – eles dizem - Tchau Benjamin - Tchau Mr e Mrs Falcon, foi um prazer conhecer vocês – ele fala depois que me pede para dizer como falar - Tchau, beijos - Seus pais são legais, o que eles queriam? - O de sempre, saber como estou - É engraçado falar em português - Bobagem Chegamos ao aeroporto, não tem muitas pessoas, mas acabo de pensar em uma coisa, quando Ben pega as duas malas do porta-malas. - O teu carro Ben, ele vai ficar aqui no aeroporto? - Não, você vai nele - Não, eu nunca dirigi esse carro, parece um tanque de guerra de grande, olha o meu tamanho - Não seja boba, é como os outros carros - Se eu bater esse carro, a culpa é sua – ele me entrega a chave e o documento do carro - Está no seguro, só não dê caso perdido, dá mais trabalho ter um novo - Confortante – digo dando um sorriso e fechando a cara em seguida - Vou fazer o check-in, espera aqui Ele volta e senta do meu lado. Tiro duas caixinhas de dentro da bolsa. - Toma, esse é para sua mãe, e esse é para sua tia - Não era preciso Luna - Não tem problema, quero que dê para elas. É a mesma coisa, se trocar não tem problema - Ele abre uma das caixinhas, e tira um pingente de cordão, uma árvore da vida dentro de um círculo, do tamanho de uma moeda de 10 centavos – é lindo, obrigado - Obrigada você, você já fez tanto por mim, mas isso não é pagamento, é agradecimento - Okay, está na hora – ele diz quando alguém fala naqueles sons que ninguém entende que o embarque do voo dele já começou 188


- Nos levantamos e fomos no caminho do portão de embarque – trás o Dylan de volta, estou com saudades daquele garoto chato - Por ele, moraria aqui - Não duvido – ele me abraça forte, e o abraço forte também - Tchau - Tchau – e ele vai, entrega o passaporte e a passagem para o rapaz na porta e volta - Esqueci uma coisa – olho para o banco que estávamos sentados e não tem nada lá, me viro e ele está parado na minha frete, mas tudo que consigo pensar é: NÃO, NÃO, NÃO, NÃO, ISSO NÃO. E sim, ele faz o que eu pensava, ele coloca as duas mãos no meu rosto e tira algumas mechas de cabelo e coloca atrás da orelha, e as minhas vão direto ao seu quadril dele, a respiração dele é quente, ele me olha nos olhos, mas meus pensamentos ainda são os mesmo, mas ele chega mais perto e encosta os lábios nos meus, não recuo, retribuo, uma das suas mãos vai para um dos meus braços, nem sei em qual, perdi a noção de direita e esquerda, uma das minhas mãos sobem e param em sua nuca e recuo. Ele sorri para mim, e acho que estou sem reação, se isso for uma aposta como eu fiz com ele sobre Dylan e Julie, eu vou presa por matar um ou dois. - Encontrei – ele dá um sorriso maroto - Encontrou? Ham, é mesmo? – Fito ele – ele chega perto e beija a minha testa e afaga a minha bochecha esquerda - Nos falamos depois, tchau - Tchau – espero ele ir e a porta se fechar depois de alguns entrarem depois dele Vou para o carro e estou assustada por 4 motivos, isso que aconteceu, o carro tanque, o transito que está uma loucura, e não sei onde vou deixar esse carro. Saio

dessa

loucura,

passo

no

apartamento

dele

e

deixo

no

estacionamento, a chave levo comigo, vou para casa de pé, apesar que um bilhão de taxis passaram por mim, mas não quis entrar em nenhum, até que penso no cara que tentou me assaltar, começo a correr, não paro até chegar em casa. Entro em casa suada, e vou para o banho e vou para o quarto, a noite

189


tenho plantão até amanhã de manhã, minha desculpa é que vou passar a noite em claro.

190


 46 22.10.2019 São 10 da manhã quando recebo uma chamada da revendedora, dizendo que estão aqui na frente de casa para entregar o MEU CARRO. Meu carro, que sinfonia de Beethoven. Larah, Louise e Julie descem comigo, faço uma chamada de vídeo para Ben, ele atende, e Dylan está com ele, são 9h da noite em Londres, então é um horário razoável para ligar. Minha cara estava me assustando, meu sorriso não estava querendo se desmanchar. - Vamos estrear ele – Louise grita do carro - Vamos tomar milk-shake – Larah começa a falar já agarrando a bolsa - Vamos, vocês pagam - digo - Você é a rica da casa, devia pagar – Larah diz - Já estou dando a carona

191


 47 23.10.2019 No caminho do hospital tive uma ideia, uma coisa bem louca, acho que vale a pena investir. Fiz meus procedimentos padrões, visita aos pacientes, medicações, curativos, troca de acesso, sinais vitais. - Tim, estava querendo falar com você - Claro – ele fala se sentando em frente ao computador ao lado - Então, nem sei como explicar isso, mas eu tive uma ideia vindo para cá hoje. Mas preciso te por a parte da origem da minha ideia. No Brasil, o conselho federal de Enfermagem, junto com os conselhos regionais dos estados

de

Enfermagem,

eles

tem

um

programa

chamado

Anjos

da

Enfermagem, onde eles visitam os hospitais, alas infantis, setores onde pessoas passam muito tempo internados, asilos, participam de eventos da Enfermagem nacionalmente, mas é realizado geralmente por acadêmicos, mas a característica principal é que eles vão vestidos de palhaços e enfermeiros palhaços. - Isso é muito legal, me conte mais - Então, ai que entra a minha ideia, é trazer esse projeto para dentro desse hospital - Nós podemos estudar a ideia e conversar com Sabrina - Sim, mas eu pensei em ser no fim do mês, sabe, no dia de Halloween - Sim, isso seria muito legal - Como aqui se comemora o Halloween, e no Brasil não, poderíamos também usar fantasias, além de palhaços. Ah, e lá eles levam violão e cantam, atuam, levam brindes, sabe, eles levam um pouco de alegria, esperança e ânimo - Vamos falar com Sabrina amanhã então - Então você aceita? 192


- É claro, só que depois teremos que conversar com o comitê de Enfermagem do Hospital, se for aceito por ela - Legal, obrigada Tim - Eu que agradeço, adorei isso Era por volta do meio dia quando Ben me ligou, não tenho falado com ele direito desde o dia do tal acontecido, e o aniversario da mãe dele e da mãe de Dylan foi ontem, uma mega festa de 50 anos para as duas, apesar de ser gêmeas, não são idênticas, são gêmeas bivitelinas, mas se parecem. - Oi, como você está? – ele pergunta enquanto preencho uns documentos de alta médica - Estou bem, e a festa ontem? - Foi longa, e cheia de tias-avós que ficam me perguntando como é morar fora, e perguntando de Clara - Fico rindo – Um amor de tias-avós - Não é engraçado, elas ficam apertando minhas bochechas e de Dylan, ele estava muito bravo com isso - Isso é engraçado. Ah, então, eu fiz um convite para Tim me ajudar num projeto – explico para ele o que é o projeto Anjos da Enfermagem, e o que queremos fazer no dia do Halloween - Isso é muito divertido, também quero ir, se for possível, posso tocar violão - Vamos conversar com Sabrina amanhã, e ver o que resolve - Luna – Tim vem passando pela porta do corredor - Só um minuto, Tim está me chamando – digo para Ben - O que você vai fazer quando sair daqui? – Tim pergunta - Nada, ir para casa? - Você quer ir almoçar comigo? É um restaurante aqui perto - Claro, porque não - Okay, vejo você daqui a pouco - Okay – volto para minha mesa - Ben, onde eu parei? - Eu preciso ir, estão me chamando, depois nos falamos, tchau - Tchau – antes que eu termine de falar ele desliga 193


- Vamos? – Tim passa no vestiário, estou terminando de me arrumar - Só um minuto – passo um batom, para espantar a cara de espantalho - Vamos – saímos pelo estacionamento e ele para e eu continuo - Você não vem? - Tenho meu carro - Sério? Que ótimo – chego ao lado dele – uau, esse carro é lindo, parece o meu - Parece, mas o meu é mais – digo e ele sorri - Tanto faz - Vamos, eu te mostro o caminho - Okay É um restaurante japonês, e não sei se vai dar boa coisa - Eu nunca comi comida japonesa, não sou a favor de coisas cruas – digo muito envergonhada - O que? Como assim você nunca comeu comida japonesa? E não são só coisas cruas - Eu sei, estou brincando, mas nunca comi - Então a partir de hoje você vai cortar da sua lista isso - Oookay – entramos e nos sentamos em uma mesa de madeira – o que você me recomenda? Algo que não coma com hashi - Eu lhe ajudo a usar eles, parecem um bicho papão, mas não é - Boa sorte - Vamos começar com algo simples de se pegar, mais seco, vamos de – ele olha o menu – Tempura - Já ouvi falar disso, mas sempre quis saber o que é, e já vi em um joguinho - Ele sorri – são pedaços fritos de vegetais ou mariscos envoltos num polme fino - Legal, e agora? - Olho para os pedaços fritos, o cheiro está uma loucura, e bem dourado - Pegue seu primeiro hashi com o dedo médio e o polegar e coloque entre a base do dedão e o lado do dedo indicador, o segundo hashi com seu dedo 194


indicador e dedão, abra e fecha as pontas dos hashis, movimentos de pinças, e tente pegar a comida - Tento pegar um pedaço do bolinho e consigo – oh, olha, eu consegui - Viu, eu sou um bom professor Depois de conseguir e as vezes não, finalmente termino os bolinhos - Então, você não é japonês mesmo? Não é - Não, meu pai é - Nasci aqui, na Nova Zelândia, mas sou de Christchurch, longa história - Legal, pode me contar - Meu pai veio para a Austrália aos 16 anos, e aos 18 conheceu a minha mãe na universidade, fizeram faculdade de Medicina e se mudaram depois de formados, e 5 anos depois meu irmão nasceu, 2 anos depois eu nasci, e 1 anos depois minha irmã. - Uau, que legal - E você? - Sou Brasileira, nascida e crescida na mesma cidade, e virei a pagina e vim para cá - Direta ao ponto - Sim. Desconfiei que você não era japonês original – ele ri quando falo isso – você é alto, e seu olhos são diferentes - Você é expert em Japoneses agora? Ou falsos japoneses - Meu tio é filho de Japonês, então entendo um pouco da miscigenação dele, e dos meus primos, mas ele é bem característico, baixo, olhos bem puxados, e adora coisa frita - Mas ele não é tio de sangue? Não é - Não, ele é casado com a minha tia, irmã do meu pai - Mas você tem os olhos puxados - É, eu ouvi minha vida toda isso, só porque ele é meu tio, mas sempre expliquei isso: São meus cílios e meus olhos pequenos e cílios longos, logo eles concluíam: Japonesa. Nem sei se é isso, mas as pessoas às vezes entendem. Meu sinal em língua de Sinais, no caso do Brasil é LIBRAS, meu sinal é um L passando do canto do olho para cima, por causa do meu olho de falso japonês, o cara que é surdo me deu esse sinal, lá só eles podem dar um sinal para você, é como se ele pegasse uma característica marcante e tornasse seu sinal 195


- Sério? – ele dá uma gargalhada – isso eu não imaginava, mas isso é legal, nunca aprendi língua de sinais - Pois é, tivemos a disciplina na faculdade, foi bem engraçado. E quando você já tem seu sinal, e vai se apresentar em Sinais para outro, você datilografa seu nome, você faz o seu sinal no final, e eles entenderão - Uau, isso é maravilhoso, melhoraria muito nos atendimentos se tivéssemos essa disciplina sempre Conversamos varias outras coisas, também fechamos algumas ideias sobre o projeto. Já era quase 16h quando cheguei em casa, ninguém na sala, fui para o quarto, quando abro a porta Julie está deitada digitando algumas coisas no computador. Me jogo na cama e tiro a bota e a calça. - O que houve? Está com cara de que aconteceu alguma coisa - Talvez, mas acho que fiz besteira - O que você fez Luna – ela senta na cama de frente para mim - Acho que Ben está chateado comigo - Por que ele faria isso? Ele venera você - Penso em perguntar o porquê disso, mas depois pergunto – eu saí com o Tim hoje, fui almoçar com ele - E porque ele ficaria chateado por causa de um almoço? - Vou ter que contar para ela – Talvez porque no dia que ele viajou, no aeroporto - Ela me corta – Vocês se beijaram? Porque não me contou? - Não digo nada, só levanto as sobrancelhas – eu sabia, você estava estranha naquele dia - Sabia nada - Eu tive essa reação - Eu também deixei minha amiga plantada no aeroporto. Ah não, não tinha ninguém comigo - Esquece isso, mas me conta detalhes - Sem detalhes, aconteceu, ele me beijou e eu retribuí, e nós não temos nos falado direito esses dias, mas hoje voltamos a nos falar normal, ele me ligou e enquanto estávamos conversando, Tim me convidou para almoçar, e eu aceitei 196


- E ele estava escutando? - Sim, não achei nada demais, eu falei para ele sobre o projeto que eu e Tim vamos fazer, ele até se voluntariou para ajudar - Depois quero saber do tal projeto. Mas o porque que você acha que ele está chateado? - Pelo o que ele falou depois. Ele falou que precisava ir, estavam lhe chamando, depois nos falávamos, deu tchau e desligou, e nem esperou eu dar tchau - Isso é mal – concordo – mas estão juntos? - Ah, qual é Julie, uma coisa não tem haver com a outra - Mas vocês se beijaram, e ele está com ciúmes - Você e Dylan se beijaram e estão namorando? - Não sei - Então por que diabos você insiste nisso? - Porque eu quero ver vocês juntos - Ah, pelo amor de Deus, não força - Qual é Luna, nós duas com eles dois?! Já pensou? - Ah, claro, pensei. Pensei nós duas entrando uma do lado da outra, de braços dados, as duas de branco, os dois no altar de colete cor de areia combinando com a calça, gravata azul clara, camisa branca, e eles nos esperando

para

casar,

os

4

no

mesmo

dia,

lindo

não

é?

conto

sarcasticamente - Ai que horror do mal humor, só estava brincando - Desculpa, eu só não sei o que fazer - Você gosta dele? De verdade, não só como amigo - Não sei, não sou muito boa nessas coisas, e não sei se é um bom momento para isso - Que momento é esse então? - Não sei, estou criando desculpas para eu mesma - Isso não se faz Luna - Eu sei, só estou com medo - Medo de que? Você me falou coisas boas naquele dia, mas não consegue falar nada para si

197


- É mais fácil tentar dizer o que as pessoas precisam fazer, do que falar para sim. Mas eu tenho medo de não dá certo, e eu sei que tenho que tentar para dar certo, mas dá medo, sabe, ele é muito especial, e não quero perder - Pensa comigo, ele já deu um passo, o beijo, e pode ser que ele já ache que vocês estão juntos e por isso o ciúmes - Entendo, mas tem um porem, eu não considero um beijo como inicio de relacionamento, no Brasil isso é casual, normal, não é nada firmado, sabe, é só uma coisa, lá nós perguntamos se a pessoa quer namorar, entende, você pode ficar trocentas vezes com ela, e geralmente isso não significa que estão namorando, vai por mim, sou expert nisso, em ficar e não ser relacionamento - Okay, entendido. O que falta é vocês conversarem sobre isso. Porque na Inglaterra é do mesmo jeito do EUA - Sim, eu sei – enfio o travesseiro na cara – vou dormir, tchau - Mas me responde uma coisa – eu tiro o travesseiro do rosto – esse Tim é bonito? - Menina, é – mostro a foto de contato dele. Um “falso japonês”, 1,85 de altura, não muito musculoso, mas tem músculos, um sorriso devastador, o cabelo bem preto liso, mais baixo do lado esquerdo, um pouco mais comprido para o lado direito, só faltou a barba para ser um deus grego completo. A foto dele provavelmente foi tirada na praia, e ele está sem camisa. - Uau, sem mais, uau, pode voltar a dormir - obrigada – fico esperando ela devolver meu celular, que ainda está vendo a foto de Tim. Estendo a mão e me entrega - Obrigada

198


 48 25.10.2019 LUNA: Ontem fomos conversar com Sabrina, e ela aprovou o projeto, hoje iremos para uma reunião com o comitê de Enfermagem do hospital, espero que dê tudo certo. Quando ler essa mensagem, me liga, ou me responda, preciso falar com você, pois tento falar com você, e não tenho retorno. Por favor Ben. Encaminho essa mensagem para ele, pois desde o dia do almoço com Tim ele não me atende ou me responde, e falo com Dylan e ele só diz que ele saiu, ou não está em casa para saber se está lá A reunião inicia as 18h, e espero que não atrase, tenho plantão de 19h as 7h da manhã de amanhã. E só para concluir, amanhã é a audição, e ainda não escolhi qual será, para falar a verdade, não estou no clima de ir. - Boa noite a todos – Sabrina saúda todos os Enfermeiros do comitê, que posso concluir ser uns 60 Enfermeiros – hoje nos reunimos para uma causa maior, para um projeto que será implantado por nós, e originado de 2 dos nossos Enfermeiros, Luna Falcon e Timothy Ueda – nos levantamos e damos tchauzinhos para eles, apesar que só segui Tim – nada melhor do que eles para nos esclarecer o projeto. Venham aqui Luna e Tim, subam aqui e nos apresentem o projeto - Subimos e quando chegamos perto do microfone, Tim para e eu paro do lado dele – Vai! – ele fala entre os dentes sorrindo - Não, você fala, eles conhecem você - A ideia foi sua, você deve falar, depois eu complemento com algo - Não, por favor, eu nem sei por onde começar – ele passa a mão na minha costa e me empurra para o microfone 199


- Só não fala muito, temos que trabalhar hoje ainda, e respira – ele se estica para falar perto de mim e baixinho - Eu preferiria me enterrar num buraco, como as toupeiras fazem, porque é isso que eu estou me sentindo, uma toupeira – Boa noite Enfermeiros – eles respondem boa noite. Limpo a garganta com uma tossezinha longe do microfone – bom, a nossa ideia base do projeto é fundamentado em um movimento realizado com os Enfermeiros e Acadêmicos de Enfermagem do Brasil, de onde eu vim – falo porque tenho certeza que 60% das pessoas aqui nunca nem me viram, e nem eu a eles - o nome do projeto é Anjos da Enfermagem, é um projeto nacional onde é realizadas visitas em hospitais, postos de saúde, asilos e eventos de Enfermagem no país todo, e baseados nisso, foi elaborado um aprimoramento para trazermos para esse Hospital a mesma visão que eles têm no Brasil, mas antes de vocês se perguntarem o motivo das visitas, além das visitas que fazemos diariamente, é que os Anjos da Enfermagem eles tem características que diferenciam dos Enfermeiros da Assistência,

ou

seja,

eles

vão

vestidos

de

palhaços,

levam

músicas,

brincadeiras, prémios e alegria, esperança e fé, e esse é os prêmios maiores que eles buscam levar e trazer – eles começam a bater palmas, acho que gostaram da ideia - e conversando com o Enfermeiro Tim, nós aprimoramos a ideia, e o projeto consiste em ser realizado no dia de Halloween, ou seja, aquelas roupas que usaríamos nas festas de Halloween ou que já foi usada anteriormente, elas terem uma segunda finalidade, trazer um pouco de esperança para as crianças e adultos que passam dias e dias internados nas alas e não podem comemorar esse dia tão legal – eles tornam a bater palmas e assoviar – mas para que isso se concretize, precisamos da ajuda de vocês, mais do que já nos entregamos todos os dias em cada ala, setor, e cada paciente, precisamos um pouco mais desse amor a profissão. Se os famosos vão com suas roupas de heróis nos hospitais, por que não nós? Quem está conosco? - A maioria levanta as mãos, e conversam e sorriem – Acho que não tenho muito que acrescentar, não é? – Tim fala ao microfone – temos umas listas aqui, vamos entregar para cada supervisor dos setores, e os enfermeiros que não puderam estar aqui, as mesmas informações serão repassados, não é obrigatório fazer parte, até porque nem todos estarão trabalhando ou 200


disponível nesse dia, mas agradecemos a cada um que possa doar mais um pouquinho de si. Obrigado e boa noite, e bom trabalho para quem irá trabalhar, assim como nós. - OMG, Tim, porque você fez isso comigo? – eu estou totalmente envergonhada – não sei nem o que falei – ele está rindo de mim – você devia ter falado, não me importaria, você fala melhor que eu publicamente - Não seja boba, você falou tudo, tudo certo, e bem explicado, as vezes que explicou tudo, mas não explicou a finalidade, e depois falou a finalidade, mas deu certo, falou tudo - Esse é o meu poder, dar voltas e voltas e depois falar a razão – estamos indo para o Pronto – Socorro - Esse é seu poder – ele fala com deboche rindo do meu poder – vamos trabalhar, a noite é longa minha amiga - A noite é longa

201


 49 26.10.2019 Sabe aqueles dias que você esperou tanto para que ele chegasse, mas quando ele chega, você não quer nem que ele comece, e quando começa só quer que ele termine? Pois então, eu só quero que ele termine com meu corpo na minha cama, embrulhada no meu edredom fofo e minha cama quentinha. Saio do hospital as 7h3o, o transito contrário está uma loucura essa hora do dia, acho que estão indo para a praia ou algo do tipo, o está tendo uma hiper mega promoção e não estou sabendo, mas eu só quero ir para casa. - Bom dia Luna – Larah já está acordada essa hora do dia, de bom humor - O que você bebeu? Está de bom humor essa hora da madrugada, não é assim que você fala? - Não se pode nem ser legal com as pessoas que até acham estranho, quando voltar a ser quem sou daqui a uns minutos vão implorar em meus pés para ser o doce de pessoa que fui - Bom dia – Louise também já está acordada e Julie está saindo do banheiro – tinha pó de mico na cama de vocês? - Acho que não sou eu que estou de bom humor, acho que é Luna que está de mal humor, e tudo excede nela, e acha que nós estamos estranhas – Larah tem razão - Okay, desculpa, vou me exilar na minha cama embaixo do meu edredom – desculpa mexer na aura de vocês essa hora do dia - Você não vai fazer a audição? – Julie pergunta - Não. Eu falei da audição para você? – não me lembro – tanto faz, não vou, estou cansada - Não, você tem que ir Luna, é uma chance única - Mas eu não sou atriz e cantora, ou ambos, só sou eu, Luna - Você tem que ir, sério, não seja essa pessoa que nem tenta as coisas – Louise diz sentando no balcão comendo uma torrada com nutella - Okay, vou repensar, tenho até 10h para isso 202


- Pensa sem mal humor – Larah grita do sofá Tiro meu tênis e calça e deito na cama, estou exausta, que se eu tentar levantar o braço, acaba minha bateria. Pego no sono rápido. - Luna, hey, acorda, são 9h, você não vai fazer a audição? - Não consigo pensar – acho que sim, o que eu tenho a perder? Algumas horas de sono? Isso é besteira - Vai tomar uma ducha, eu te levo lá, ai você pode dormir no caminho - Beleza – vou para o banheiro e faço o básico no chuveiro. Quando saio do banho e vou para o quarto, Julie separou um macacão pantacourt preto com listras brancas, e uma sandália de salto alto preto, me visto e não passo nada no rosto, talvez no carro passe, e saímos correndo para o carro dela. - Com sono ainda? - Não, com um banho frio, espanta até a alma. Me ajuda a escolher entre duas músicas, qual tenho que cantar. Vou cantar e depois me diz qual Passei o caminho todo cantando e revisando alguns tons de voz que preciso encaixar. E é um jeito de aquecer a voz, é errado, mas é assim que faço. Chegando lá, desço e Julie diz que se eu quiser carona, é só ligar para ela, vai estar na biblioteca que é algumas quadras daqui. Olho no relógio 10h10 e penso: O que será, será. Entro no teatro, que a coisa mais linda. Há mais ou menos 10 pessoas. E para variar eu sou a última, vou a uma mesa onde faz a inscrição e tem um número

de

apresentação,

sou

a

12ª.

alguns

que

ficam

fazendo

aquecimentos vocais e alongamentos. Simplesmente ignoro e vou ler o livro em PDF, A cinco passos de Você, o filme que derramei litros de lagrimas quando assisti no cinema, eu, minha irmã, e uma amiga, só havia mulher na sessão, e 1 namorado de uma garota, e tenho 99% que ele foi obrigado. Chega mais umas 4 pessoas depois de mim, e fico feliz por não ser a ultima Aos poucos vai diminuindo as pessoas, mas elas demoram uns 15 minutos por pessoa. Será que fazem a pessoa recitar as obras de Shakespeare? Para demorar tanto, é a única ideia possível. Já são 12h40 quando finalmente chega meu número, já estou com a glicose lá em baixo, não tomei café e nem almocei, e pelo que me lembro, tomei um chocolate quente ontem a noite 8h horas quando Tim teve uma boa ação e comprou para nós 5 Enfermeiros do

203


Pronto – Socorro. A sorte que encontrei uns chicletes na bolsa, pelo menos me mantem acordada, pelo menos para mascar. Entro pela porta grande, onde há um homem grande e forte, e deixa eu entrar. Vejo todos que já se apresentarem a frente do palco, e todas as poltronas vermelhas, o palco com uma cortina vermelha que se abre ao meio, ando pelas escadas e uma senhora pega meu papel que recebi na inscrição e fala para eu ir para o palco. Passo por alguns dos que já se apresentaram, e me desejam sorte, subo por uma das escadas ao lado do palco. - Olá – ela lê o papel – Luna, boa tarde, meu nome é Siena, essa é Bayle e Margaret – as duas me cumprimentam com um tchauzinho. Elas estão em uma mesa no meio das poltronas, quase lá em cima - Me conte sobre você! Você já fez quantas peças? E quantos musicais? - Nenhum, para ambos, mas se contar as peças na igreja e nos natais, então fiz umas 5 peças - Elas me olham sem reação alguma – e como você chegou até aqui? Como soube da audição? - Eu e meu amigo ganhamos uma competição de Karaokê, onde uma senhora chamada Andrea, se não engano, nos convidou para fazer a audição - Ah, Andrea, ela gosta dessas competições baratas – Bayle fala com desdém – mas ela insiste em dizer que ali que vive grandes profissionais. Mas onde está seu amigo? Ele vai se apresentar também? - Oh, não, ele está em Londres - Okay então, o que você tem para nos apresentar? Quais são suas músicas? - Eu esco... espera, músicas? - Ah sim, esquecemos de uma coisa, você e todos terão que nos apresentar 3 músicas, mas não necessariamente as 3 da Broadway, mas pelo menos uma é obrigatório - Ah, eu não esperava por isso - Esse era o intuito, querida. E nós escolhemos quais os tipos de música queremos, e para você – Margaret pensa – Uma da Broadway, uma música que lhe peça mais do que você tem, e uma de alguém que você admira e que se conecte com essa música

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- OMG – as pessoas começam a dar sorrisinhos, e penso: vocês já estiveram aqui, então já se ferraram antes de mim – okay - Quais você escolhe? – Bayle questiona - “I'm The Greatest Star” de Funny Girl interpretada por Barbra Streisand – penso – “It's All Coming Back to Me Now” canção de Céline Dion, e por ultimo “Make You Feel My Love”, versão de Adele - Você tem 9 minutos para cantar as 3, pense e tente encurtar as músicas, mas sendo harmônico. Você tem 3 opções de microfones, esse que coloca do lado da boca, com a caixinha que coloca no bolso, o microfone solto, ou o microfone com suporte. Você decide ali com Doug, ao lado do palco, faça isso enquanto fechamos o resultado da pessoa anterior a você – Siena diz – você pode mudar de microfone entre as músicas, você diz para Doug como escolhe - Nas duas primeiras músicas vou usar esse de lado, e na ultima você me leva o microfone com o suporte, tudo bem Doug? – ele concorda que sim – obrigada - Pronta? – concordo. As luzes se apagam, e tem uma luz fraca em cima do placo e tudo ao redor fica escuro, muito escuro, só vejo os identificadores das escadas – Boa sorte, ela aperta o botão do cronômetro em cima da mesa A Broadway, ela pede que as coisas sejam da alma para o corpo, não somente corpo e voz, mas a alma precisa resplandecer em casa movimento, em cada nota. E isso tento passar na música que escolho, ela fala sobre ter um grande talento e será uma grande estrela, apesar que nem quero mais fazer isso Eu sou a maior estrela Até agora! Mas ninguém sabe--espera! Eles vão ouvir uma voz Uma flauta de prata (ah ah ah ah) Vão aplaudir cada apito [...] Ando e corro, danço e aproveito cada espaço do palco, canto o mais compassado possível. [...] Procure em baixo e você nunca vai me ver Tente o céu porque lá estarei eu 205


Eu posso fazê-los chora Eu posso fazê-los suspirar Um dia eles vão clamar pelo meu drama Você já adivinhou Quem é a melhor ainda Se você não entendeu vou te dizer uma vez mais Pode apostar seu último centavo Em todo o mundo até agora Eu sou a maior, maior Estrela. A última estrofe é a mais alta, e seguro a ultima palavra até perder o fôlego, alguns aplaudem quando termino. Olho o cronometro e vejo 02:37. Continuo Havia noites em que o vento era tão frio Que meu corpo congelou na cama Só de ouvi-lo soprar Do lado de fora da minha janela Terminei de chorar no instante em que você deixou E não consigo lembrar de onde ou quando ou como E eu bani cada lembrança que você e eu alguma vez tivemos Mas quando você me toca desse jeito E você me abraça assim Eu só tenho que admitir Isso está tudo voltando para mim Está tudo voltando, está tudo voltando para mim agora Houve momentos de ouro E havia, flashes de luz Havia noites de prazer infinito Foi mais do que qualquer lei permite Baby, baby, baby Quando você me toca desse jeito E quando você me abraça assim Ele foi junto com o vento Mas está tudo voltando para mim Eu mal consigo me lembrar 206


Mas está tudo voltando para mim agora Canto maior parte do tempo com os olhos fechados, e vi alguns vultos de pessoas entrando no salão. 04:56. Doug traz o outro microfone e o suporte. Continuo Quando a chuva estiver soprando no seu rosto E o mundo todo incomodar você Eu poderia te oferecer um abraço caloroso Para fazer você sentir o meu amor [...] [...] Eu sei que você não se decidiu ainda Mas eu nunca te faria nada de mal Eu soube desde o momento que nos conhecemos Não há dúvida na minha mente de onde você pertence [...] Eu poderia te fazer feliz, tornar os seus sonhos realidade Nada que eu não faria Vou ao fim da Terra por você Para fazer você sentir o meu amor. As pessoas batem palma só por educação, não é como no Karaokê do Mayne. 07:32. Bayle para o cronômetro. - Obrigada Luna, pode se sentar. Faremos as considerações ao final As luzes de acendem para a outra pessoa entrar e eu me sentar. Vou em direção aos outros candidatos, e a umas cadeiras, um pouco atrás das 3 eu vejo e não acredito. É Ben, e olho de novo, talvez sejam meus olhos querendo acostumar de novo com a luz. Mas é ele. Quando ele me vê que o vi ele, se levanta e vem ao meu encontro, e vou ao dele - Nos abraçamos e quero chorar, não sei por que – O que você está fazendo aqui? Não era para estar em Londres? - Talvez, tive que adiantar a vinda - Nos sentamos um pouco longe dos candidatos – Por quê? Aconteceu alguma coisa lá? - Não, aconteceu aqui – meu estomago sem enrola – O que aconteceu? Entraram no seu apartamento para roubar? - Ele rir – Não, eu fui um idiota com você naquele dia, e isso estava me corroendo, e também porque eu não queria mais ficar lá

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- Ah sim. E porque não me ligou para ir te buscar no aeroporto? Eu teria ido, sabe, você está sem carro - E você também, não vi o carro lá fora - Ah, verdade, vim com a Julie. Você viu todas as músicas? - Vi as duas ultimas, eram quantas? Não era só a da Broadway? - Eu também pensei que sim, mas tinha que ter mais duas, e escolhi essas duas, as únicas que passaram na minha cabeça - A ultima era para mim? – ele me pergunta com um sorriso maroto - Não, e faz silêncio, vai começar o outro - Senti sua falta, e desculpa por aquele dia - Senti sua falta também, mas podia pelo menos ter me respondido as mensagens - Eu estava no avião, demora um pouco de Londres para Auckland, sabia - Sabia, mas não 3 dias - Okay, erro meu, desculpa

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 50 Depois que todos se apresentaram, não havendo mais nenhum, elas se juntaram por alguns minutos. E nos juntamos aos outros candidatos - Você não parece nervosa – Ben fala tirando alguns cabelos do meu rosto - Não estou. Sabe que eu não queria fazer isso, e estava muito cansada para vir, o plantão essa noite foi puxado. Mas dei meu melhor - Deu sim, mas vamos esperar o resultado - vamos chamar os 10 melhores, com nomes aleatórios, não na ordem do melhor ao pior – Bayle diz. Ela é um poço de simpática, só que não - Jordan, Lisandra, Marta, Eloy, William, Samantha, Luna, Alice, Gwen e Justin. Ao palco, por favor, e aos outros, parabéns, mas não foi dessa vez, mas fiquem atentos para uma possível segunda chamada - OMG, parabéns Luna, você foi ótima, serio, não é só porque eu sou idiota, mas você é maravilhosa – Ben fala e eu não gosto que as pessoas me elogiem, não sei reagir a isso - Obrigada, Sweetheart – vou para o palco – espero que não tenha que cantar de novo, estou morrendo de fome, não sei se dou conta mais - Saindo daqui vamos almoçar num lugar especial - Okay – desço as escadas e me junto aos outros os cumprimentando, até Samantha, a garota que perdeu para nós, acho que Andrea também a convidou - As três descem da mesa e vão para o palco conosco – vamos fazer uma avaliação breve de cada um, e no final faremos a classificação dos 5 melhores entre os 10, os 3 primeiros terão números no espetáculo Cada um foi avaliado detalhadamente, porém breve, só vi apresentação de 1 dos que estão aqui, de Justin, o restante foi antes de mim, então não sei o que concordar ou discordar. Fui a penúltima. - Luna, nós gostamos do seu número da Broadway, sua desenvoltura é boa, só precisa melhorar um pouco mais a respiração, mas é boa, as escolhas musicais foram escolhidas a dedo, passou segurança em todas as três, também escolheu bem o microfone, por mais que a segunda fosse mais parada que a primeira, fez boa escolha, e temos uma câmera focada no rosto de 209


vocês, e pude ver suas expressões, são de dor quando fala de dor, de felicidade quando é algo feliz, pudemos ver até algumas lágrimas nos olhos, e expressão corporal sem exageros, necessárias, as mãos na sintonia das musicas, até posso dizer que imagino que você tem uma banda na mente onde entendi que a cada possível nota forte seus ombros e mãos anunciavam sincronismo – todos riem e eu também – mas tem alguns pontos negativos, você não precisa subir tanto como a cantora canta, faça no seu tom, e você precisa melhorar a respiração, você cansa mais a voz se respira errado, e dá a impressão que a voz não está aquecida. É isso. Qual seria sua segunda escolha de música para apresentar? – elas fizeram essa pergunta a todos - Don’t Rain on my Parade – Bayle anota assim como anotou dos outros - Eu gostaria de ver esse, mas não é mais possível. Obrigada – Siena diz Agradeço, e fazem a avaliação de Justin, demoram um pouco mais, mas foram coisas boas também - Vamos falar os 5 primeiros melhores, e os 3 primeiros permaneçam – Margaret diz - De trás para a frente – Siena anuncia – Eloy, Samantha, Gwen – ela faz uma pausa - Luna e Jordan – todos nos aplaudimos e nos abraçamos, acabou a “concorrência” Saio em direção de Ben e ele parece triste - Tudo bem com você? – pergunto - Você não está entre os 3 - Mas eu estou feliz, já pensou ter que vir todo dia só para ensaiar? Não, obrigada – ele sorri – vamos? Eu comeria um boi se aguantasse Pegamos um taxi e ele dá o endereço da casa dele - Miranda fez o almoço para nós – ele fala depois que dá o endereço - Como sabia que eu estava no teatro ainda? - Julie, ela me disse que deixou você lá, e que você mandou mensagem para ela que aquele cabaré iria demorar a terminar, então arrisquei em ir. Mas quando cheguei para entrar, havia um cara nem um pouco simpático, tive que entregar uns dólares para entrar, e jurar que não iria atrapalhar - Ele foi simpático comigo - E as suas coisas? – pergunto, pois não o vejo com nada 210


- Kai, meu amigo me buscou no aeroporto, e levou minhas coisas para casa enquanto eu ia para o teatro Chegamos na frente do prédio dele - Santiago, boa tarde – o porteiro português estava lá – como o senhor está? - Olá, estou bem, e a senhorita? - Estou bem, obrigada – entramos no elevador e dou tchau para ele - Ah, ele é português, vocês me falaram – ele está desconcertado – Luna? Está tudo bem? - Na verdade não, estou com hipoglicemia, preciso comer logo, sério – mostro minhas mãos que estão tremendo – minha cabeça está doendo, e pesada, tem um buraco no meu estômago, e minhas pernas estão pesadas - Já estamos chegando – a porta se abre do elevador e entramos em seu apartamento – só lavo as mãos e sento na mesa que já está posta a um tempo e as comidas que estavam no fogão, e não ligo se está gelada, na verdade não tenho problema com isso - Está melhor? – ele pergunta quando terminamos de comer - Muito melhor - não me lembro a ultima vez que comi algo sólido, talvez no almoço de ontem. Tiro as sandálias e deito no sofá, e ele senta na poltrona de sempre - E como foi a semana? – ele pergunta, e acho que ele quer que fale de Tim - Foi tranquila, estava de plantão essa noite, apresentamos para o comitê de Enfermagem do Hospital o projeto, tivemos muita adesão, espero que dê tudo certo, será dia 31, no Halloween - Legal. Ah, já que você falou em Halloween, você quer ir comigo em uma festa de Halloween? É tipo a festa de noivado do meu amigo do trabalho, e no final de semana é o casamento. Você aceita ir comigo nos dois? - Claro, onde vai ser? - O noivado será na casa deles, é só para os amigos, e o casamento será numa fazenda saindo de Auckland - Está bem

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- Vou ser um dos padrinhos, então vou entrar no casamento, e você vai ter que ficar com o Dylan - Dylan vem para o casamento? - Sim, ele chega dia 1º, e dia 2 é o casamento. - E ele falou algo sobre a Julie? - Não, não quis me falar. Ela falou? - Esses dias eu perguntei, e ela só respondeu Eu não sei - Eu vou tomar um banho, já faz mais de dia que estou com essa roupa - Está bem Vou à cozinha para beber um pouco de água, e volto para o sofá, olho ao redor e vejo algumas fotos em portas retratos, e o porta retrato que Julie nos deu. Vejo as fotos expostas e um álbum de fotos pequeno, e quando abro as fotos estão apenas dentro dele e cai todas no chão, e saio catando, uma por uma. Tem algumas fotos dele com o pai, e concluo, ele só herdou os olhos castanhos claro do pai, o resto foi da sua mãe. Deve ser por isso que Ben e Dylan se parecem, só diferencia o cabelo, de Dylan é mais claro, quase loiro, e de Ben é castanho médio, e os olhos de Dylan são verdes. Há três tiras de fotos de cabine, ele em três idades, com três garotas diferentes, e uma mais recente, e reconheço, Clara. - Achou alguma coisa? – ele diz sentado na poltrona me olhando - Só matando o tempo, e vi o álbum – pego as três tiras de foto e o álbum e levo para o sofá – Foi na formatura da faculdade? - Sim, já namorávamos na faculdade, estudávamos na mesma turma – ele pega as outras tiras – essa foi na formatura do Ensino Médio, e essa no Baile de Inverno no segundo ano. - Isso é tão ensino médio – falo rindo deles no segundo ano - Você não tem fotos dos bailes da escola? - No Brasil não fazemos esses bailes – ele me entrega as fotos para guardar – só baile funk – ele solta uma gargalhada - E na formatura da Faculdade? - Não participei, guardei o dinheiro durante a faculdade, e gastei a uns dias comprando um carro - Então você nunca foi num baile da escola? 212


- Nego – nem nos de funk – falo me deitando no sofá, de novo - Vem comigo – ele se levanta e estende a mão - Onde? Não pode ser deitada? - Não, vamos, levanta Me levanto e ele liga o home theater e conecta o celular e fecha as cortinas e vai no quarto e pega um blazer e veste, só a parte de cima, e volta, o blazer azul, uma camisa de algodão branca por baixo e uma calça de moletom azul escura e descalço. Abre uma gaveta do Hack em baixo da TV e pega uma liga que segurava alguns cartões, e uma flor branca de um arranjo em cima da mesa de centro. - Me dê sua mão – estendo a mão, ele enrola o cabo da flor e prende com a liga no meu braço – pronto, você terá seu primeiro baile - Você pensa rápido. Cadê o ponche? Precisamos de ponche – vamos à cozinha, tem uma pequena adega em baixo da pia, ele pega duas garrafas de vinho e uma de champanhe, pego duas taças grande para o vinho e duas finas e longas, para o champanhe. Encho as duas taças de vinho enquanto ele coloca para tocar uma música bem agitada, não faço ideia de quem. Bebemos a taça de uma vez só. - Temos que tirar a foto antes da festa – ele prepara meu celular em cima de uma caixa em cima do encosto da poltrona e nos posicionamos em frente à câmera. Ele do meu lado, e eu o segurando no braço direito. - Vamos dançar – evito ao máximo cantar, minha cota de cantoria do dia já extrapolou Dançamos várias outras músicas, ele fazendo danças totalmente esquisitas e eu indo acompanhando, vinho e champanhe - Cansei, já acabou? – pergunto colocando as ultimas ml de vinho nas taças - Não, ainda tem a lenta, e ai terminamos – ele vai até onde o celular dele está e rola na tela as músicas e para em uma – eu ouvi essa no avião, na verdade no aeroporto antes de embarcar, ai baixei e escutei varias vezes seguidas até não conseguir mais escutar, mas ai depois escutei de novo e de novo

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Ele desliga as luzes e deixa dois abajures da sala ligados, começa a tocar o som de violão, ele pega a minha mão e me leva para mais perto dele, e dançamos no ritmo dá música. [...] Você nunca tem que sair Se mudar é o que você precisa Você pode mudar ao meu lado Quando você está alto, eu vou pegar os baixos Você pode diminuir e eu posso fluir E nós vamos devagar E crescer enquanto vamos Cresça à medida que formos [...] - Você bebe muito assim, normalmente, ou hoje é o dia de se libertar? – ele pergunta quando vê as 3 garrafas secas - Dia de se libertar, mas você bebeu também querido, não bebi só – respondo ele me girando, e meu estomago gira também - Está bem – continuamos a dançar e a música termina - Conseguimos uhuuuu – faço uma dancinha de botar as mãos para cima e empurrar - Você está muito bêbada e eu também - Estou ótima – pego as 3 garrafas e levo para a cozinha e ele pega as taças Me sento no balcão da cozinha e bebo um copo cheio de água, talvez dilua um pouco do vinho que corre queimando nas minhas veias, Ben faz o mesmo, e se encosta na pia na minha frente, e num susto ele abre a geladeira e pega uma barra de chocolate e me dá um pedaço e fica com o resto na mão. - Gostou do “baile”? - Adorei Desço do balcão e estendo a mão para ele para vir para mais perto. Ele coloca as duas mãos no balcão ao meu lado, coloco uma das mãos em seu ombro e a outra levo aos seu cabelo, arrumo a frente com movimentos leves e lentos. A sua mão esquerda tira meus cabelos do ombro direito e nos olhamos, um para o outro, sinto o vinho se misturando com o champanhe e meu sangue está me queimando por dentro. É inevitável, meu lábios buscam os deles numa 214


fuga total desse mundo, ele retribui, as suas mãos vão ao lado do meu corpo e uma na minha nuca, que sinto que vai explodir quando ele passa os dedos entre meus cabelos. Isso é só o vinho, penso - Não é não – ele fala, acho que pensei alto demais. Estou estagnada – vem comigo. Ele me puxa pela mão, e espero que não seja o que estou pensando – ele abre o guarda roupa e pega duas caixas medias, e põe em cima da cama – essa é sua, e essa é minha Tiro a tampa da caixa, está enrolado em um papel fino, parece ser roupa, desembrulho e é um moletom vermelho sangue, abro ele e está estampado na altura do peito POOH, começo a rir e a cara dele é tão fofa, e estendo o moletom na cama, continuo a abrir algo que ainda tem dentro da caixa, e desembrulho, são pantufas do Pooh e o Leitão, aquelas que só enfia o pé - Eu não acredito nisso – corro por cima da cama e o abraço – obrigada, não precisava. Mas abre a sua caixa - Ele abre, são pantufas do Tom e Jerry – minha mãe encomendou em uma loja em Londres uma para ela e minha tia, e pedi para fazer as nossas também. Gostou? – concordo com um sorriso de orelha a orelha - Visto meu moletom e deito na cama, coloco a caixa no chão, Ben coloca a caixa dele ao lado e deito de barriga para baixo – então, você pode me explicar o que aconteceu naquele dia? No dia que você me ligou e ficou todo estranho e desligou dizendo que ia não sei aonde? - Não sei, quando você falou do projeto com Tim eu entendi, colegas de trabalho, mas quando ele te convidou para almoçar e você aceitou, eu me vi a quase 2 anos atrás, com Clara, e no momento que eu disse aquilo e desliguei, eu me senti a pior pessoa na face da Terra, eu não queria ter agido daquele jeito, e não atendi as ligações ou as mensagens porque as minhas desculpas são baseadas em nada, e eu entendo se você não me perdoar por isso - Não é questão de perdoar, e eu entendo que você pensou pelo o que passou com ela, entendo, mas há vários fatores que sua reação foi desnecessária, por exemplo, ele é meu colega de trabalho, você e eu somos amigos, não temos motivos de você ter ciúmes, e vamos ficar claro que eu odeio ciúmes, independente do nível de proximidade, okay

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- Desculpa, mas eu o vi no hospital, e ele é bonito, e alto, e depois que nós nos beijamos no aeroporto, pensei que você gostasse de mim - Direito ao ponto – Eu nunca disse que não gostava de você, mas um beijo é só um beijo, não quer dizer que estamos juntos - Entao você quer namorar comigo? - Nesse momento, no momento que estamos girando em torno de todo álcool do vinho, não, vai por mim, não quero que você se arrependa depois - Eu não me arrependeria Luna, porque você diz isso? - Porque eu não sou aquela garota, não sou Clara, eu não sou alta, magra e bonita, cabelos lindos e arrumados, uma postura perfeita, para falar a verdade, eu sou total oposto daquilo tudo - Você é melhor do que aquilo Luna – ele se levanta - Ben, vai por mim, você não quer isso, é muito cedo, eu já estive nesse barco, começar cedo, terminar cedo, por mais que eu goste de você, mas é questão de proteção – estou chorando, e ele está encostado na parede do quarto - Senta aqui - ele vem e senta – por favor, não vamos fazer isso com a gente, eu não quero te perder, mas as coisas não podem ser tão rápida, não precisamos fazer as coisas movidas a momentos, ciúmes, ou beijos, por favor, entenda - Eu entendo – ele está encarando a cama - Houve um silêncio gritante - Aquela ultima música, cantei pensando em você – ele levanta o rosto com um sorriso fraco - E o que vai ser de nós agora? Depois daqueles beijos? Você vai sair daqui e ir embora e ficar sem falar comigo? - Não, porque eu faria isso? - Não sei – fico de joelho na cama e chego perto dele, e dou um leve beijo nele e beijo sua testa – porque você faz isso comigo? - Não fiz nada demais – ele se levanta e chega perto de mim com a mão na minha nuca, e arrepia, meu ponto fraco, ele sorri quando estremeço - É por isso que eu vou para casa – dou um leve e curto beijo e levanto da cama, me desvencilhando das suas mãos - Você não pode fazer isso o resto da vida comigo, Luna - Não vou – falo calçando minha sandália - Eu levo você – ele diz calcando um tênis all star 216


- Não, negativo, você bebeu, não posso deixar você dirigir, vá dormir e depois conversamos direito, eu pego um taxi - Tudo bem – ele tira o tênis – nos falamos depois – ele fala tirando a camisa - Tchau – saio rápido do apartamento, antes que ele me faça fazer besteira, antes que eu me arrependa, ele só está bêbado, e eu também, mas não estamos tanto assim Volto em seu apartamento, bato na porta, esqueço que tem campainha - Mudou de ideia? – ele abre a porta com uma camisa na mão, acredito que está arrumando a mala - Sua chave do carro, estava com ela na bolsa – entrego e vou andando de costa – te vejo por ai – porque eu falo essas besteiras quando estou com vergonha? Vou para a rua vestido o macacão pantacourt por baixo e o moletom do Pooh por cima, e uma sandália de tiras salto fino, nada muito elegante nesse momento. Chamo o taxi e vou para casa. No taxi recebo uma mensagem de Ben BEN: Qual vai ser sua fantasia na festa? BEN: E no hospital? BEN: Vai usar a mesma? LUNA: Eu não estava me lembrando disso LUNA: Mas já sei qual será das duas LUNA: Qual vai ser a sua? BEN: Perguntei primeiro LUNA: De manhã vou de aluna da Grifinória LUNA: E a noite de Coringa em Batman, cavaleiro das Trevas BEN: UOOOOOU IRADO BEN: Vou de Batman LUNA: Beleza, agora posso te chamar de Ben Affleck BEN: Uau BEN: Essa piadinha foi muito ruim LUNA: Eu sei, esse é o meu poder

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 51 31.10.2019 Pela manhã acordo cedo e me visto com as minhas roupas de Estudante de Horgwarts, Camisa social branca de manga longa, suéter cinza, saia preta, meia calça preta, all star preto, o cachecol vermelho e amarelo da Grifinória que comprei na Riachuelo, e uma capa de frio longa de Louise, porque ela é rica e fina em Paris e tem uma capa de frio, e claro, minha varinha da Hermione que ganhei de aniversário de Olívia, nos meus 21 anos. Na Segunda-Feira dessa semana, Tim, Gary, Melissa e eu fomos atrás de prêmios, brinquedos, para darmos para as crianças e adultos quando passarmos pelos setores, fomos em lojas de brinquedos e artigos, e hoje recebemos no Hospital mais de 200 brinquedos de duas lojas, e mais de 150 presentes para os adultos. - 200 brinquedos são mais do que necessários para todos os pacientes do Hospital, Luna – Gary diz - Nós não precisamos dar todos no Hospital, há inúmeras casas de apoio pela cidade, creches, asilos, orfanatos, escolas e até outros hospitais – digo descarregando as caixas do caminhão - Você tem razão – ele diz - Tudo bem, eu sei que foi demais quando eles falaram lá na loja, mas há outras pessoas em outros lugares, não vou ficar nem com as embalagens disso tudo. Vamos, me ajude aqui Antes de irmos aos setores, no reunimos novamente na sala que nos reunirmos a uns dias. Havia muita fantasia de herói e de palhaços, ao mesmo tempo em que me sentia numa Comic Con, me sentia num circo, ou melhor, numa conferência de palhaços. Eu me sinto tão alegre, parecendo que irá transbordar algo dentro de mim - Hoje você fala – digo para Tim 218


- Bom dia Heróis, Vilões, bruxos, anões, magos, Hobbits, Elfos, Ninjas, cantores, Enfermeiros, e palhaços – Tim está vestido de Senhor Miyagi, de Katatê Kid – iremos dar inicio ao movimento, mas antes, o pessoal que trouxe violão venham aqui na frente – no mínimo umas 20 pessoas vieram – e os lideres de cada setor que foi dividido essa semana, venham também

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líderes foram separados – vamos ser divididos por setores, e a recomendação é sempre usar o álcool nas mãos antes de entrar em cada quarto, não esqueçam disso, pois vocês fazem isso todos os dias – todos riem – mas vamos lá – todos gritaram UHUUU, muito alto. Por onde íamos passando, nós víamos alegria nos olhares das pessoas, mas algumas crianças ficavam se perguntando o por que não tinha chocolates e doces, e eles respondendo que os nutricionistas roubaram tudo para eles, e as crianças riam, eles faziam parecer que os Nutricionistas são os Grinch do Halloween. Algumas crianças até choravam quando viam seus heróis favoritos e os abraçavam, cantavam as músicas junto com cada Enfermeiro, seguravam em suas mãos, e na hora de ir, eles não deixavam. Não era somente satisfatório ver cada crianças feliz, e cada adulto carrancudo mudar para um sorriso, mas também dos Enfermeiros que faziam seu melhor ali, naquele momento, e definitivamente Anjos da Enfermagem é o melhor nome que podemos ser nomeados. Especialmente as crianças quando recebem os brinquedos, elas sentem uma euforia do tamanho do mundo, são presentes simples, mas o melhor presente foi nosso. Já passa das 11h quando começamos a nos reunir de volta na sala de reuniões. Todos falando alto e rindo, alguns ainda cantavam. - Enfermeiros – Sabrina dá a palavra agora – muito bom, ótimo trabalho a todos – há um coral de aplausos e assobios – foi mágico ver tudo isso, eu não esperava ser tão grande como foi, mas me surpreenderam, cada um, especialmente esses dois – ela aponta para mim e Tim, estamos em baixo com os outros Enfermeiros - que projeto maravilhoso, vocês foram uma injeção de felicidade dentro desse hospital – eu definitivamente não me seguro e algumas lágrimas rolam, Tim segura na minha mão e o abraço de lado – espero que tenha outras vezes, para sempre, e hoje mais do que nunca, tenho total certeza de que não me arrependeria de contratar esses dois, e não me arrependo, mas se um dia vocês fizerem alguma coisa que eu possa me 219


arrepender – nós dois ficamos tensos – vocês tem credito comigo – todos riem, e tornam a bater palmas – bom dia a todos, e até próximo dia de trabalho

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 52 Passei do hospital para o mercado e comprei sacos e sacos de doces e chocolates, para dar para as crianças que passassem na nossa porta, e para falar a verdade, não sei se tem crianças no nosso prédio, não me lembro de ter visto nenhum pirralho. BEN: Pronta para hoje a noite? BEN: Festa de noivado do Kai e da Harper LUNA: Na verdade eu tinha esquecido LUNA: Mas vou sim BEN: Você não ousa não ir LUNA: Espera para ver BEN: Ah não, Luna, não faça isso comigo BEN: Já comprei a fantasia BEN: 8h passo ai e te busco LUNA: Okay Pego meu jaleco que trousse do Brasil, corto as mangas e costuro para não ficar desfiando, e deixo no tamanho de camisa normal, pego um cinto branco de Larah, coloco meu tênis branco, um vestido claro por baixo mais justo, coloco o finado jaleco, o cinto, passo um batom bem vermelho mas não borro, delineador de gatinho nos olhos, máscara de cílios, não passo nada para ficar branco meu rosto, até porque não tenho nada que possa ficar branco, a não ser trigo, mas não dou corda para essa ideia. Imprimo o adesivo de candidatura de procurador do Harvey Dent, o coringa usa colado na roupa. Quase 8h e Ben chega e bate a porta, estou na cozinha e abro para ele, sua fantasia é tão legal, a minha vontade é arrancar e ficar com ela para mim. Sua fantasia é das boas, não comprada na 25 de março em São Paulo, mas algo do tipo que foi feita da alta costura, ou algo do tipo, ele até se importou em usar uma bota do solado tratorado, em vez de um tênis qualquer. A sua 221


fantasia é a do Batman em Batman vs Superman, cinza e preta, com direito a capa e tudo. - Sua fantasia está muito legal - Obrigada – agradeço - Mas a minha está melhor – ele dá um sorriso bem burguês - Bem humilde você, não é? – ele rir - Porque escolheu a do coringa? - Ou você morre como herói ou vive o bastante para se tornar o vilão respondo - OMG, eu amo referências - Vamos? - Vamos - Quem é que e Kai e Harper? – pergunto quando estamos a caminho de uma festa de dois estranhos, rodeados de um bando de estranhos, pelo menos para mim - Harper trabalha comigo, e Kai morou comigo logo quando me mudei para a NZ, nós dividíamos o apartamento, nos conhecemos no avião quando estava de mudança, e ele é de Hamilton, mas estava fazendo intercambio em Cambridge, e iria se mudar para Auckland por uma oferta de emprego, e como o voo dura várias horas, nos conhecemos e ficamos amigos, e como ele é de outra cidade, e eu também, só tínhamos indicações de lugares, visitamos alguns apartamentos e achamos um, razoavelmente pequeno, mas muito bom, mas deu certo, então em um certo dia eu sai com Harper para um café em frente a empresa, e coincidentemente encontramos ele, e os apresentei, e então se conheceram e começaram a namorar, e a 6 meses saí de onde morávamos, ela se mudou para lá e mudei para o meu apartamento, e resolveram se casar a 4 meses, compraram uma casa para eles, e cá estamos, sou um dos padrinhos, e quase fui madrinha – ele rir e eu também – porque sou amigo dos dois, ainda trabalhamos juntos, eu e Harper, então basicamente disputaram meu posto, mas acharam um pouco melhor ser o padrinho. - Ah, que legal. Você foi um cupido – falo com minha voz de melosa. Ele entra em uma rua, e acho que chegamos, tem carros para todo lado

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- Pelo menos com eles eu consigo – prefiro não falar nada, finjo que estou olhando a festa rolando lá dentro – vamos - Não me deixa só, eu não gosto de está rodeada de bêbados desconhecidos - E se eu precisar ir no banheiro? - Pelo amor de Deus, Ben, também não seja extremo a esse ponto, você me entendeu - Está certo, vou lhe apresentar Entramos na casa, e ela é grande, e o quintal da frente está apinhado de gente de fantasias de zumbis, umas espécies de heróis, não consegui distingui, umas mulheres maravilhas, flash, tinha até uns 4 com tampa de vaso sanitário no pescoço, várias e vários morcegos, mas os noivos estão épicos. Os dois estão de Mavis e Johnny de Hotel Transilvânia, como no casamento deles, ela de vestido longo preto, um véu fino preto, ele de paletó preto, gravata borboleta vermelha, short e all star preto. Ben chega cumprimentando alguns caras e algumas garotas pelos corredores, e eu segurando em sua capa, como crianças na barra do vestido da mãe, para não se perder no mercado, no meu caso são se eu me meter em algum tumultuo, eu o puxo. - Harper – ele a abraça e gira, ela é toda bonitinha, da minha altura, olhos azuis, cabelos pretos, um pouco abaixo do ombro – você está linda – ele me puxa pela mão – essa é Luna, a garota que te falei - Oiii, eu pensei até que você fosse de mentira, na primeira vez que me falou de você – ela me abraça rápido – mas ai ele me mostrou os vídeos no Karaokê, então ainda continuei achando que fosse mentira, qual é, poderia ser qualquer pessoa – nós 3 rimos – mas então me mostrou da praia, e acreditei - Não sei o que ele falou, mas não acredite em tudo que ele fala – digo com uma mão na boca como se não quisesse que ele ouvisse - Ei, eu ouvi isso, e tudo que falo de você é verdade – ele diz – E Kai? - Ele está por ai, não o vejo tem uns 10 minutos, mas não se preocupe, deve está resolvendo coisas das bebidas – ela diz – vão dançar e beber, mas se veio dirigindo, melhor não - Está bem – fomos por dentro da casa e paramos na cozinha, há varias latas de refrigerante e cervejas, vários sanduíches e sacos de salgadinho 223


Cheetos, cupcakes com cobertura verde imitando o Blobby de Hotel Transilvânia, bolachas com perninhas enfiadas no recheio, Macarons com a cara do Jack de O estranho Mundo de Jack, no teto há vários morceguinhos e fantasminhas - Se eu soubesse que era tema mais para vampiros, bruxos, eu teria vindo com a minha roupa de Hogwarts – digo quase gritando para Ben - Você tem uma fantasia de Horgwarts? – alguém fala comigo atrás de nós, me viro e não sei quem é - Tenho, eu acho, mais ou menos, fui hoje para o hospital com ela – falo com a moça que falou comigo - Eu amo Harry Potter, de qual casa você é? – uma moça de uns 25 anos, no máximo, cabelos castanhos ondulados, olhar muito estranho, a boca está aberta de um jeito bem sinistro, ou ela é assim ou está no melhor papel de festa Halloween - Grifinória, pelo Pottermore – respondo muito sem liberdade, porque ela é uma estranha, por mais que eu ame falar de Harry Potter, ela me inibe - Eu sou da Lufa-Lufa – ela continua com a cara estranha, ela é estranha – Oi Benjamin, tudo bom? – ela desfaz a cara de estranha e fala com uma cara de estar o provocando - Oi Britany – ele não a abraça ou estende a mão, como ele geralmente faz, tem algo de errado – Essa é Luna – ele aponta para mim, e ela estende a mão e aperto sua mão – Luna, vamos ali, vou lhe apresentar os caras da empresa - Okay, bom te conhecer Lufana – ela abre um sorriso bem psicopata, e não escondo minha cara de “essa garota tem problema” - Essa garota é estranha – falo para ele, mas antes checo para saber se ela não está atrás de nós - Ela é um caso complicado – ele diz se distanciando de um grupo de caras que estão ficando de cabeça para baixo num galão de alumínio de cerveja, e me sinto assistindo aqueles filmes de adolescentes. - A noite é longa, pode me contar – digo me encostando numa parede da sala de estar - Ela trabalha na empresa, ela é recepcionista na entrada, e ela dá em cima de todos os caras que passam por aquele balcão, e desde que comecei a 224


trabalhar lá, ela tem me chamado para sair, e eu sempre dizia que estava sem tempo, ou tinha compromissos, ou que já era compromissado, mas ela continuava insistindo, até um dia eu entrei no elevador e ela entrou também, no meio do caminho ela me prendeu na parede e tentou me beijar a força dentro do elevador, eu tentei me sair dela, e até que parou em um andar e encheu de pessoas, e ela se acalmou, sai e nunca mais tratei ela como tratava, eu sempre tratei ela com respeito e educação, mas ela só quer se aproveitar dos caras da empresa, depois disso só dou bom dia, boa tarde e boa noite. - Isso é um belo exemplo para saber quando é ao contrario, quando o cara agarra a mulher a força – digo olhando para ela, pois ela está me encarando do outro lado da sala - Eu nunca tentaria isso – ele diz sentando no chão com uma lata de refrigerante na mão, e me sento do lado dele – mas foi constrangedor, não por mim, por ela, talvez alguns tenham visto, mas eu quase entrei no ferro do elevador tentando me esquivar dela, talvez eles entenderam certo, talvez não - Mas se ela tivesse lhe denunciado por abuso ou algo do tipo, você teria provas, como as câmeras do elevador - Sim, mas não quero falar disso, já se passaram 8 meses disso, então nada me interessa mais disso - Okay – me levanto, estendo a mão – vamos dançar – ele pega a minha mão e dançamos por horas, só parando para beber água e refrigerante e comer as coisas que não paravam de chegar e as pessoas não indo comendo, só queriam beber, e parando para ir ao banheiro - Então Dylan vai chegar amanhã? Que horas? – estamos indo de volta para casa, já são quase 01h da manhã - Está programado para chegar as 10h - E o que vamos fazer? – Pergunto - Eu estava pensando em usar nosso jantar pago que ganhamos do Karaokê. Mas antes fazer uma surpresinha para Julie. O que acha? E já que ganhamos mais 4 entradas além de nós dois, levamos Dylan, Julie, Larah e Louise. Nós 6. Pode ser? - Tudo bem, e qual seria a surpresinha? - Ainda estou pensando. Você não falou para ela que ele vinha, não é? 225


- Não - Ele não falou para ela também, e ele vai a convidar para ir com ele no casamento - Ah sim, você falou que ele ia. Dylan conhece Kai e Harper? - Sim, Dylan sempre veio quando estava de férias, ou feriados prolongados, ele ficava comigo e Kai no apartamento, e conheceu Harper também nesse tempo que morei com ele, e convidaram ele para o casamento - Legal. Vocês são bem próximos, tipo, bem próximos mesmo - Quando meu pai foi para Nova York, minha mãe e minha tia resolveram morar juntas, e Dylan e eu fomos criados como irmãos, e o considero como irmão - Ah, isso é tão fofo – eu e meus primos já fomos mais próximos, mas as pessoas crescem e se afastam, nós nos falamos ainda, mas não como ainda crianças, entende - Mais oi menos, bom, meu pai tem 3 irmãos com filhos, mas não os conheço bem, um mora em Irlanda, uma em Londres e a outra na Alemanha - Ah sim. Vamos bolar um plano para encontrar Dylan e Julie - Sim, eu pensei em aparecer com ele no apartamento de vocês, dizendo que somos entregador de pizza, mas ai quando ela abrir a porta, surpresa, é ele - Será que ele vai querer esperar a tarde toda para querer ver ela? - Provavelmente não - Então precisamos fazer um plano mais cedo - Deixa eu pensar – passamos em frente a um restaurante preferido de Julie, que é perto do apartamento – já sei, vamos fazer assim, esse restaurante ali, “Chicken Pail”, vende o melhor frango frito em balde que já comi, é crocante por fora e suculento por dentro, deu até fome, mas enfim, vocês ou ele, vocês que sabem, pode aparecer com um balde de frango para ela, aí eles terão a tarde toda para se matar. Só atualizei o horário e o que levar - Okay, bem melhor, vou falar para ele quando chegar

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 53 01.11.2019 São 8h e Julie está saindo para a faculdade, todo meu plano do Macaco Louco foi por água a baixo. LUNA: Mudança de planos LUNA: Julie foi para a faculdade LUNA: Esqueci esse pequeno detalhe BEN: Tudo bem, ele ainda não chegou BEN: E nem falei com ele BEN: Quando ele chegar ele se dá o jeito dele LUNA: Okay LUNA PARA LOUISE, LARAH E JULIE: HEY, SE VOCÊS TIVEREM COMPROMISSO PARA HOJE A NOITE, DESMARQUEM! TEMOS UM JANTAR PARA NÓS, AS 8H, SEM ADIAMENTOS JULIE: Okay LARAH: Finalmente vai pagar alguma coisa para nós LOUISE: Tudo bem Hoje trabalho à tarde, então só chegarei 19h em casa. - Bom dia Sweetheart - Boa tarde Sunshine! - Dylan? Dylan! Oi, como você está? Eu não acredito que eu vou falar isso, mas senti sua falta – Dylan me liga do celular de Ben - AH, também não acredito que sinto o mesmo - HAHA, engraçadão – ele rir do outro lado – e como foi a viagem? - Longa, podia demorar menos, tipo ter um teletransporte.

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- Também acho que já deviam ter inventado um, já pensou eu ter uma hora de descanso no trabalho e me teletransportar para a minha cama, e quando acabasse o tempo voltasse para o hospital? - Seria muito legal. Mas enfim, vamos hoje a noite ao tal jantar francês? - O plano é esse - Então fechou, espero vocês lá - Vejo vocês lá. Tchau Quando chego em casa as três já estão quase prontas, só faltava elas de fato se arrumarem, e eu estou só o pó da farinha de trigo, Larah ainda secando o cabelo no secador dentro do banheiro, Louise terminando de se maquiar, e Julie estava fazendo algo no computador no balcão da cozinha, já vestida mas com uma toalha na cabeça. - Ei meninas, prontas? – Larah põe a cara na porta do banheiro, Julie tira os olhos do computador e Louise terminando o delineador super concentrada. - Quase – Louise diz, Larah termina com o secador e Julie fecha o computador e entra no quarto - Está tudo bem? – Pergunto para Julie quando vou deixar minhas coisas em cima da minha cama - Mais ou menos, Brandon está com uns problemas na reabilitação, meus pais estão com uns problemas em casa, e Dylan não me responde a quase dois dias - O que Brandon tem? - Não pergunto de Dylan porque sei o motivo - Ele está tendo abstinência, e ao mesmo tempo que ele não quer, o corpo pede, sabe – concordo – mas ele fica irritado e se afasta de todos, e não faz a terapia em grupo, fica o dia todo no quarto - Eu sei Julie, mas se você se importar com isso sempre que acontecer, você vai se importar para o resto da vida com isso, porque uma pessoa que faz reabilitação, esses sintomas são quase permanentes, vão querer quase sempre, basta essa pessoa ter foco - Eu sei, mas fico com medo de ele fugir e voltar para onde ele saiu - Você não pode pegar pela mão e o forçar, ele tem que querer 100% e mais o que lhe restar, não se martirize por isso, vai por mim - Tudo bem 228


- Vai se arrumar - Quem vai além de nós 4? – ela pergunta quando estou saindo do quarto, e ela não vê minha cara de “eu sei onde Dylan está e sei o porque não te responde” - Ben - digo entrando no banheiro Vamos todas no meu carro, o de Julie já serviu de muito agrado para ser nossa limusine, de acordo com Larah. Chegamos ao restaurante, de fato é um lugar perfeito, subimos por uma escada espiral onde nos levava ao terraço do restaurante, as paredes são de pedras brancas, o teto de vidro, e várias lâmpadas em varais iluminado o ambiente, dando aquele ambiente de calmaria, na sacada da frente às portas abertas, com uma árvore que vinha desde o chão lá em baixo até em cima, com um buraco para seu tronco que ainda passava uns centímetros do teto de vidro, as mesas quadradas de madeira escura para 6 e 4 lugares, e uma moça muito elegante nos recepciona em uma mesa alta quadrada ao lado da porta, e nos encaminha para a nossa mesa reservada, há 3 mesas com pessoas, os 2 ainda não chegaram. Louise está se sentindo em casa, eu mais perdida que tudo na vida. - E como está na faculdade? – pergunto para elas - Final de curso, então está bem difícil – primeira vez que Larah não fala com sarcasmo - Eu vou começar a estagiar no escritório de uma professora, ela é promotora, e vai ser maravilhoso, vai ser um grande up no meu currículo, ela disse que vai me fazer trabalhar de fato nos casos, e não para servir café, fazer xerox ou atender telefone, e eu super não quero servir café e atender telefone, ela parecer ser grossa, mas quem não é? Enfim, ela é boa no que faz, e eu sou um espelho dela - UHUUU – falamos juntas, e rimos uma da outra - Estamos organizando uma viagem para Queenstown, terá um evento tecnológico no Instituto de tecnologia Southern, para o final do mês, estamos animados

para

ir,

vamos

expor

nosso

curta-metragem

que

estamos

trabalhando a uns meses – Julie está animada – terá competições - Vai lá garota, e quebra a cara daqueles nerds espinhentos – Larah quase grita, mas as pessoas ouviram que se viraram para nós 229


- Não incite a violência em um ambiente fechado, Larah – digo com os dentes cerrados e quase sussurrando - Desculpa – Larah responde com os dentes cerrados – e como está no hospital? - Está bem, o evento do Halloween rendeu, doamos os brinquedos que recebemos a mais para as creches e escolas ao redor do hospital, até quiseram uma entrevista comigo e Tim, mas nos recusamos, e Sabrina não quis se pronunciar, então deixaram para lá – vejo a cara das 3, do tipo “Porque não, isso é publicidade” – não estamos atrás de holofotes, apenas de fazer o bem, sem olhar a quem - Poético – Louise diz olhando fixamente para a porta Eu só vejo uma mão encobrindo os olhos de Julie, e ela dá um gritinho agudo, ela não esperava isso, nem eu, e em seguida um “OMG”. Ela tira as mãos e olha quem é ainda sentada, quando ela o vê, parece que ela viu um fantasma, a pele branca um pouco dourada, ficou no tom de uma sulfite. - Ela se levanta e ele dá um passo para trás e acredito que ele pensava que sua reação seria ela pular nos seus braços, mas a reação dela foi dar um murro em seu ombro esquerdo, e ela é forte – O que você está fazendo aqui? Porque não me responde? E porque não me falou que vinha? - Oi também para você – ele fala massageando onde ela o socou - mas respondendo suas perguntas, eu vim para o casamento, porque eu estava no voo, e porque era surpresa. - Poderia ter dito que iria entrar dentro de um buraco, talvez eu me importasse menos do que pensar que algo teria acontecido, seu idiota - OWNT, ela se importa comigo – ele a puxa para um abraço, e ela está meio emburrada. Louise e Larah que ainda não o conhecia estão achando muito engraçado essa cena de importância um com o outro – tire esse sorriso super simpático do rosto – ela não está rindo – vai encantar os outros caras nesse restaurante – ela não está rindo mesmo – vamos, não vamos estragar a noite, vamos curtir, depois você me mata – ela dá um leve sorrisinho. Ele conseguiu quebrar essa geleira - Okay – ela fala se sentando - Me levanto e o abraço, ele está tão lindo de terno azul, camisa azul clara, sem gravata e tênis branco – meninas, esse é Dylan, primo de Ben – elas 230


se levantam o cumprimentam com beijinhos no rosto. Ben está ao meu lado quando eles estão se cumprimentando, o abraço e ele se senta a ponta da mesa e Dylan na outra ponta, Julie ao meu lado, e Louise e Larah de frente para nós duas. - Então, que casamento é esse? – Larah não é nada transparente, imagina - É o casamento de uma amiga do trabalho e um amigo que morou comigo quando me mudei para Auckland, amanhã – Ben diz levantando a mão para pedir o cardápio. - Legal – ela dá de ombro - Vocês querem ir conosco? Luna vai comigo – ele arregala os olhos para Dylan - Não, tenho que terminar até domingo meu projeto final da faculdade, mas obrigado – Larah diz - Bem que eu queria, mas eu tenho um encontro sábado a noite – todos nós soltamos o “UHHHH” – calem a boca – ela fala corando - Julie, você quer ir comigo? Também fui convidado, sabe, por isso vim – ele fala com um sorriso que me convenceria rápido - Ela encara ele por uns 3 segundos, mas penso que foi uma eternidade – Tudo bem – o clima pesado termina - YES – comemoro - Vamos pedir, estou com fome – Louise diz O cardápio é todo em Francês, e nossa vantagem é que Louise é francesa. Ela explica cada prato, cada um pediu coisas diferentes, evito carnes de cordeiro, pato e essas coisas, de carne mesmo, só como frango, peixes e carne bovina e só. Um dia penso em me tornar vegetariana. A noite corre entre o jantar e a sobremesa super deliciosas, do tipo que levaria em um potinho só para deliciar deitada na minha cama em baixo do meu edredom. Mas acho que esse meu pensamento é porque estou extremamente cansada e com sono. Esses dois últimos meses eu saí mais que sai em 2 anos no Brasil, honestamente. Por volta das 10h43 resolvemos ir embora. Coloco as garotas no carro e jogo meu corpo dentro do carro também, Dylan e Ben se despedem e vão embora. 231


- Vocês precisam de roupas, já olhei o guarda roupa de vocês duas, e não vejo nenhum vestido de casamento – Louise diz aflorando o lado das passarelas – amanhã cedo vamos - Já estou cansada antes de levantar cedo amanhã – digo e é verdade

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 54 02.11.2019 Se tem uma coisa que eu não suporto é ir as comprar, mas uma coisa que supera isso é comprar coisas com pessoas indecisas, Larah e Louise são essas pessoas. Eu ficaria com o primeiro que experimentei, Julie experimentou uns 3 para gostar do terceiro, mas não, as duas querem que experimentamos a loja inteira para no fim ir para outra loja. - Meninas – digo a Louise e Larah – temos menos de duas horas para está pronta para sair para esse lugar, e Ben acabou de me mandar o lugar dizendo que vamos ter que ir só nós duas, porque ele é um dos padrinhos, e precisa estar mais cedo, então ou vocês aceitam o que escolhemos ou aceitam, okay? – as duas reviram os olhos – Okay Escolho um vestido estilo Adele, midi rendado vermelho cereja, gola mais aberta para os ombros, manga três quarto. Julie escolhe um vestido no tecido de crepe verde piscina, ombro a ombro, estilo tubinho, na altura dos joelhos, combinou com os olhos dela. Essas são informações que a vendedora nos passou, eu classifico como tudo tecido. Depois que elas finalmente aceitaram nossos desejos, fomos para casa, e elas fizeram maquiagem e penteados em nós. Louise já tinha muita prática em alto-maquiagem, então fazia com glória cada delineado, e Larah definia os ondulados de Julie e tentou fazer no meu, mas disse que daqui para o estacionamento não haveria mais cachos, mas não me escutou. Saímos às 9h30 e temos 50 minutos de viagem de acordo com o maps. Julie leva um livro e eu vou escutando música no rádio e deixo o celular para tentar nos guiar para a tal fazenda. Em 43 minutos de viagem chegamos à fazenda. A entrada já está um espetáculo, a porteira tem um letreiro escrito KAY E HARPER WEDDING em uma madeira e letras douradas cursivas. Entramos e estaciono perto de outros carros. 233


Vimos um movimento grande de pessoas mais a frente, mas não conheço ninguém, mas tenho quem me salve. BEN. - Onde você está? – digo quando ele atende - Estou na beira do lago – ele diz - Uau, ajudou bastante. Vem aqui no estacionamento, ou peça para Dylan vir - Está bem, vou dar um jeito aqui - Okay Dylan vem, pois Ben assim como os outros 4 padrinhos e as 5 madrinhas estão na sessão de fotos com o noivo, e depois só as madrinhas com a noiva, de acordo com as informações de Dylan. A ornamentação é nos tons de azul claro, e obviamente amei. Vejo Ben de longe, assim como os outros padrinhos, ele está de camisa branca social, suspensório e calça azul claro, sapatos pretos e sem gravata. Kai estava com um tom mais escuro de azul, tanto a calça como o colete por cima da camisa branca, e uma lapela azul bem clarinho com cordas preso perto da gola do colete. Fui o cumprimentar e ele estava radiante. Falei com Ben e ele me apresentou os outros padrinhos, Peter, Robie, Maison e Will. Em baixo de uma grande tenda alta branca, em frente ao lago, há vários bancos de madeira voltados para uma redoma de flores de todos os tons de azuis possíveis e folhagens, já havia umas 60 pessoas sentadas nos bancos, e por incrível que pareça, hoje está um pouco quente. Menos de meia hora depois, temos a noticia que vai iniciar a cerimônia. Todos os convidados se assentam e os padrinhos e madrinhas, pais dos noivos se retiram e vão para fora da tenda. Algumas músicas tocam quando um rapaz inicia a cerimonia. Um dos primos de Kai, conta uma breve historia de como Kai e Harper se conheceram, coisa que já sei, e começa chamando o noivo, os padrinhos logo atrás, vem uma garotinha, um garotinho e um Golden Retriever trazendo as alianças, e então chama as madrinhas, todas com um tom de azul claro diferente, e desde a primeira até a última são cores crescentes, e enfim a noiva, e fico muito feliz em não ouvir a marcha nupcial, porque eu não suporto ouvir ela, nada contra, só não gosto. Ela entra ao som de Photograph, Ed Sheeran, mas apenas em melodia do violão, sem voz. Ela está linda, o vestido 234


mais larguinho, uma pano fino, num estilo transparente onde é necessário, coroa de flores bem básica da mesma flor que está na lapela de Kai. A cerimonia segue e muitos estão chorando, mas eu não, não consigo entender o porquê os convidados choram em casamentos, não entendo, mas respeito. E finalmente chega aos SIM de ambos (obvio), obvio porque é visível que se amam. Após a cerimonia somos encaminhados a outra tenda, um pouco mais afastado da tenda da cerimonia. Há varias mesas e cadeiras, todas com pequenos arranjos ao meio da mesa. Ben vem se sentar conosco, já que os outros padrinhos não se sentam com o noivo. Há uma infinidade de pessoas que estão fazendo discursos para os recém-casados, tios, tias, madrinhas com seus histéricos gritinhos e choro ao final, alguns padrinhos com piadinhas internas, e os pais dos dois. Até que meu celular começa a tocar, um número estranho. Levanto-me e vou atender. - Aló? – digo um pouco desconfiada - Oi, eu falo com Luna, Luna Falcon? – uma voz nem tão estranha pergunta por mim - Sim, sou eu - Oi Luna. Aqui é Siena, do musical Uma Broadway Inesquecida, você pode falar agora, ou está ocupada? - Pode falar sim, só estou em um casamento, mas não tem problema – chamo Ben que ficou da mesa perguntando por gestos o que era a ligação - Tudo bem, então é o seguinte, conversando com Bayle, Margaret, Andrea e Palmer, nós queríamos convidar você para fazer o número de encerramento do musical, e entre todas as músicas que perguntamos, de ser a segunda opção, a sua era a melhor de encerramento – escuto no alto falante com Ben, e ele fala, mas sem voz para eu aceitar - Oh, isso eu não imaginava – digo isso porque não sei se aceito - Já imaginamos como seria o número, mas claro, se você aceitar e quiser modificar o número, nós conversamos sobre - E como seria o tal número? – estou curiosa - Bom, após todos os números já apresentados, os da casa, os convidados, e os que passaram nos testes que você participou, as cortinas se 235


fecharão e obviamente todos irão aplaudir, mas então que começa a tocar Don’t Rain on my Parade, e você está sentada em uma das poltronas, já com microfone, começa a cantar, e todos começam a lhe procurar, e então você andará em meio aos corredores cantando e performando e interagindo com o público, e em um determinado momento você sobe ao palco, até arrisco em cantar, mas naquele trecho: I'm gonna live and live now, Get what I want, I know how, e então você se posicionará ao meio do palco e quando chegar naquela parte: I'll march my band out, as cortinas se abrirão e todos que participaram do musical estarão atrás, você se junta a eles e sustenta o final, mas eu tenho certeza que você sabe melhor que eu. Será o número de encerramento. Então, o que acha? – eu estou embasbacada como elas já elaboraram tudo, e Ben confirma com a cabeça rindo - Eu aceito – digo rindo para ele e para o celular, como se ela pudesse me ver - Okay então, entraremos em contato em um momento oportuno, obrigado Luna, e eu disse, eu pagaria para ver esse número. Bye – ela desliga - Isso é real? – pergunto a Ben - É sim garota – ele fala me segurando e me levando para a tenda – mas no momento, vamos aproveitar isso Tudo está tão lindo, a tarde passa rápido entre almoço e quase todos irem embora, mas como Ben é padrinho nós ficamos com ele. Os novos Sr e Sra Belizie dançam ao som de muitas musicas dos anos 70, 80 e aquelas que dão até vergonha de ouvir, mas ouve escondido. Já passando das 7h, Ben me chama para ir com ele para um pátio em meio uma clareira lajotada, iluminado por várias correntes de pisca-piscas de natal. E em algum lugar daquela clareira há uma caixinha de som pendurada, onde toca as músicas que toca lá na tenda do casamento. - Aqui é tão lindo, moraria sem pensar duas vezes – digo olhando ao redor e vendo os últimos feches no céu de luz do sol se pondo – mas também gosto de morar na cidade, parece martírio. - Luna – me volto para ele, e ele está apenas parado, com as mãos nos bolsos 236


- Sim – respondo - Eu tenho pensado naquele dia lá em casa, do seu baile – eu sorrio quando ouço – mas, é serio – ele rir tirando as mãos do bolso e me puxa e começa a dançar lento e o acompanho, mas deixo um espaço para ver ele – você diz que não é como ela, e não quer que as coisas entre nós acabem cedo como foi com seu ex, mas você já disse tudo, você não é ela, e concluí que não sou ele – tento falar algo, mas ele me interrompe – você já falou naquele dia, hoje sou eu. O único jeito de provarmos o contrário do que fomos com eles, é sermos nós, você e eu, Luna e Ben, não como eles foram com nós e nós com eles. Eles não vão ser apagados, e isso é fato, eles são as nossas bagagens, basta você me ajudar a carregar a minha e eu a sua, mas como um time. Nós só precisamos ser NÓS. – ele põe a mão esquerda no bolso e tira uma caixinha preta, meu coração dói de tão rápido que ele começou a bater – no dia que fui para Londres, e que falamos com seus pais, e o voo demorou uns 20 minutos ainda para sair, então resolvi estudar um pouco do português, sabe, para falar com uns brasileiros – não estou entendendo aonde ele quer chegar – e então comecei pelo verbo To Be, e aprendi que We ou Us significa Nós em português – ele fala tão engraçadinho – mas que além de ter o significado de eu, você, e o resto do mundo, nós é o plural de nó, de Node, nó de linha, fio, cabo de fone, uma infinidade de coisas que podem se dar nós. E Luna – ele pega a minha mão, e põe a caixinha na minha mão e abre virado para ele – você quer ser o Nós, os nossos nós, o nosso nó? – ele vira a caixinha e é um anel de ouro com um nó em cima – não sei o que dizer me faltam as palavras, e o ar também – você aceita namorar comigo? – levo a mão que não segura a caixa à boca e concordo que sim – você aceita? Diga mulher! – ele diz sorrindo - Sim, eu aceito – ele fecha a caixinha na minha mão e me puxa e me gira, preciso me acostumar com isso - Quando ele me coloca no chão ele finalmente me beija como ele queria, como queríamos. Pega a caixinha, abre e me pede a mão direita e coloca no dedo do meio – eu gostei tanto dessa coisa de nó, que fiz um pequeno para mim, e coloquei como de pingente no cordão – ele tira a corrente de dentro da camisa e mostra uma argolinha que acredito que não cabe no meu mindinho e um nó pendendo para baixo

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- Chego mais perto dele, ajeito seu cabelo ondulado, ele passa os braços na minha costa – eu não esperava isso de você, mas parece que já estava tudo maquiavelicamente planejado - Eu ia propor no dia do baile, mas estávamos tão bêbados que eu esqueci até o que falar – sorrimos juntos - O encaro por alguns segundos, com um sorriso que não quer sair de nossos rostos - Várias vezes em momentos distintos da minha vida eu me vi procurando alguém para dividir a vida, e por duas vezes eu achei, mas nem uma das vezes terminou como eu esperava, e em meio entre uma e outra eu me perguntava se um dia eu encontraria, e por mais que eu encontrasse, eu negava ou deixava pendurado. Mas eu procurei várias e várias vezes, baseada naquela frase milenar de Quem procura acha. Mas eu não achei. Não achei porque eu não era a caçadora, eu estava perdida, e você, você me achou.

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