Habitação Emergencial - do temporário ao permanente

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HABITAÇÃO EMERGENCIAL do temporário ao permanente


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CTC – DAU – ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Acadêmica: Karen Miyuki Tamura Orientador: Prof. Msc. Eduardo Verri Lopes Coordenador: Prof. Msc. Aníbal Verri Júnior MARINGÁ 2017


DEDICATĂ“RIA

Aos meus pais, Sandra e Shigueru, pelo amor e apoio incondicional de sempre.


AGRADECIMENTOS

À minha família que sempre esteve ao meu lado, encorajando e acreditando. Aos excepcionais educadores que passaram ao longo de minha formação, por incitarem questionamentos e busca por soluções. Ao professor orientador, Eduardo Verri, pelas incansáveis assessorias. Aos meus amigos de coração, de perto e de longe, encontrados durante o caminho e que levo para a vida, por tanto contribuírem para minha formação pessoal e profissional. Em especial Tiemi, Caio, Aryadne e João, por terem acompanhado cada passo e apoiado a conclusão deste trabalho.


SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 5 1.

CONTEXTUALIZAÇÃO ....................................................................................... 9 1.1. DESASTRES E ESPAÇOS VULNERÁVEIS.................................................... 9 1.2. O CENÁRIO BRASILEIRO ........................................................................ 12 1.3. O HABITAR NO PÓS-DESASTRE............................................................ 16 1.4. A RESPOSTA ARQUITETÔNICA ............................................................. 20 1.4.1. Protótipo Casa Emergencial – Garrison Architects……………….22 1.4.2. Módulos II Guerra Mundial - Jean Prouvé………………………..30 1.4.3. Paper Log House – Shigeru Ban…………………………………39

2.

PROJETO ............................................................................................................ 45 2.1. O MÓDULO............................................................................................ 48 2.1.1. Módulos Residenciais……………………………………………56 2.1.2. Módulos Comuns……………………………………………….62 2.2.

ESTUDO DE CASO ................................................................................ 70 2.2.1. Análises do Contexto Local……………………………………...73 2.2.2. Implantação Temporária…………………………………………82 2.2.3. Implantação Permanente………………………………………...86

CONSIDERAÇÕES...................................................................................................... 109 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................. 111



INTRODUÇÃO

Não pensávamos que ela fosse desaparecer assim; era muito “segura”, era um “baluarte”, havia alguma coisa mais “firme” do que a casa? [...] Mas que estranho, que estranho que nada se visse da nossa casa tão bela, que nada tivesse ficado capaz de distingui-la das outras! Era tudo cinzento, tudo pó, tudo igual aos outros montes cinzentos que também haviam sido casas, mas certamente muito menos bonitas que a nossa. Lina Bo Bardi, 1947, p. 64-65

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Lina Bo Bardi se refere, na citação anterior, ao cenário do pós-Segunda Guerra que destruiu milhares de casas e deixou inúmeros desabrigados. Este trabalho busca encontrar alternativas para casos em que pessoas se tornaram desabrigadas e há a necessidade de uma rápida resposta para que possam reestabelecer seus lares. Fenômenos naturais, tais como chuvas fortes, deslizamentos de encostas ou cheia de rios, nem sempre afetam o ser humano, só se transformam em ameaças quando interferem no funcionamento de uma comunidade, levando à perda de vidas e danos materiais (ANDERS, 2007). Durante as últimas décadas, situações de perigos e riscos aos fenômenos naturais são intensificadas pelo rápido processo de urbanização ocorrido em escala global. Houve um crescimento em áreas impróprias à habitação, tais como de preservação ambiental, encostas, morros e vales, principalmente em países em desenvolvimento. Além disso, as políticas territoriais e urbanas são ineficientes e intensificam esta situação (FERES, 2014). Este contexto pode ser confirmado pelo alto índice de desastres ditos naturais. De acordo com EM-DAT OFDA/CRED, International Disaster Database, entre os anos de 2005 e 2015, os desastres naturais foram responsáveis por aproximadamente 84 mil mortes, mais de 25 milhões de desalojados e 1,8 bilhões de pessoas foram afetadas ao longo desses anos. No Brasil, embora não ocorram fenômenos como tsunamis, erupções vulcânicas e terremotos, frequentemente verificam-se variáveis como enchentes e inundações que destroem e danificam áreas habitadas, em consequência disso há a necessidade de abrigos temporários (SEDEC – RJ, 2006). Existem diversos contextos em que é reconfigurado o habitar após o desastre, em forma de adaptações em edifícios já existentes, acampamento em barracas, tendas ou abrigos emergenciais. Quando se opta por acampamentos temporários é necessário garantir que as instalações sejam facilmente desmontáveis ou transformadas para que tenham outros usos, e


não haja a possibilidade destes locais se tornarem ocupações irregulares (ANDERS, 2007). Além disso, após situações de emergência, prover habitações adequadas é um dos principais problemas a serem resolvidos, visto que as reconstruções das casas podem durar anos mesmo quando questões relacionadas ao terreno não são os maiores obstáculos (ASDOWN, 2011 apud IFRC & OCHA, 2015). Enfim, há um aumento de número de pessoas vivendo em condições inadequadas devido aos desastres sociais e naturais, diante deste cenário uma resposta deve ser difundida de maneira global (ARAVENA, 2015 apud MAIRS, 2015). Tendo em vista o atual contexto, este trabalho visa criar uma proposta de módulos habitacionais para serem usadas em casos emergenciais, e que posteriormente possam ser adaptadas para uma segunda vida como habitação permanente. Objetivos específicos:  Criar um módulo habitacional que possa ser implantado em diversas situações e que permita modificações de acordo com as necessidades de cada contexto;  Propor um módulo de baixo custo, porém de alto custo-benefício;  Resolver um sistema que seja de fácil transporte e montagem;  Prever como o módulo habitacional emergencial poderá ser adaptado no pósassentamento e se transformar em habitação permanente;  Estudar e propor situações de implantação da habitação temporária e permanente;  Estruturar o módulo e contexto habitacional que proporcione aos usuários conforto termoacústico e luminoso.

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1. CONTEXTUALIZAÇÃO 1.1.

DESASTRES E ESPAÇOS VULNERÁVEIS

Figura 1-1: Porcentagem de causas de desastres em cada continente Fonte: Guha-Sapir; Hoyois, Below, 2015, tradução nossa

Ao se tratar de desastres em escala mundial, na primeira década dos anos 2000, uma média de 98 mil mortes e 226 milhões de pessoas foram afetadas por ano, das quais 53% dos atingidos viviam em países em desenvolvimento e apenas 1,8% em países desenvolvidos (IFRC & OCHA, 2015). Em alguns casos, um desastre coincide com um fenômeno natural, porém a consequência desse desastre depende do quanto o fenômeno natural impacta na sociedade e em determinado espaço vulnerável, portanto a escala do impacto está diretamente relacionada às escolhas feitas no meio em que se vive (UNISDR, [s.d.]). No estudo “Annual Disaster Statistical 9


Review 2014”, Guha-Sapir, Hoyois e Below (2015) elencam a classificação de desastres como: geofísico, hidrológico, meteorológico, climatológico, biológico e acidente cósmico (Figura 1-2). Nos últimos trinta anos, mudanças significativas em nível global, acerca do modo como a sociedade vive, trouxeram alguns fatores importantes ao se analisar desastres decorridos de fenômenos naturais. Alterações ambientais e o crescimento e adensamento demográfico com ocupação desordenada tem sido os dois principais fatores que colaboram para o acontecimento de desastres (SEDEC-RJ, 2006). O guia “Shelter after Disaster” (IFRC & OCHA, 2015) elenca algumas mudanças ocorridas nas últimas três décadas que influenciam esses casos, entre eles: 

Aumento populacional: a população global aumentou mais de 50% entre 1982-2015, de 4,6 para 7 bilhões, o que pode ter como consequência um contínuo aumento de vítimas, aumento de perda de propriedades e necessidade de grandes programas de recuperação e abrigos emergenciais;

 Urbanização: em 2012, 50% da população mundial era urbana e é estimado que esse número passe para 70% em 2050. O problema deste processo reside no elevado número de pessoas que vive em áreas vulneráveis e de riscos, estimado em 1 bilhão – uma em cada sete pessoas;  Marginalização: a vasta maioria das mortes ocorridas decorrentes de desastres, nos últimos 40 anos, aconteceu em países pobres, onde há grande carência de acesso à água potável e saneamento básico;  Aumento de pessoas idosas: os sistemas de aviso e evacuação de emergência, além dos programas de abrigos emergenciais, deverão lidar com o fato de que há um aumento de expectativa de vida e, portanto, de pessoas idosas;

Figura 1-2: Classificação e subgrupos de desastres Fonte: Guha-Sapir; Hoyois, Below, 2015, tradução nossa


 Mudança climática: é estimado que 360 milhões de pessoas vivem em regiões costeiras que serão afetadas pelo aumento do nível do mar. Consideram-se desastres casos que se encaixe em pelo menos um dos critérios (GuhaSapir, Hoyois & Below, 2015):  10 ou mais pessoas mortas;  100 ou mais pessoas afetadas;  Declaração de estado de emergência;  Pedido de assistência internacional.

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1.2.O CENÁRIO BRASILEIRO O Brasil é um país carente em Proteção e Defesa Civil, uma instituição nova, que passa a se organizar a partir do ano de 1988 com a criação do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil quando praticamente não se pensava em Proteção e Defesa Civil não se dava devida atenção aos desastres. (SEDEC; PNDU, 2014, p.16)

A população brasileira é majoritariamente urbana – 84,3% dos aproximadamente 200 milhões de habitantes – com renda familiar baixa: 89,6% das famílias possuem uma renda de até 3 salários mínimos (UFSC; CEPED, 2013). Além disso, um estudo realizado pelo IPEA (2013) aponta que o déficit habitacional brasileiro representou 8,53%, ou seja, 5,24 milhões de residências, em 2012, lacuna também majoritariamente urbana, que representa 85% do déficit total. O déficit habitacional está entre um dos causadores do grande número populacional vivendo em áreas vulneráveis, portanto diante do cenário brasileiro há um elevado número populacional propenso ao risco. Na maioria dos casos, pessoas que moram em áreas vulneráveis são avisadas dos perigos, mas continuam no local, pois geralmente sua sobrevivência econômica depende de sua localização. Assim propostas de relocação das casas, sem auxílio e planejamento para cobrir outras prioridades como comércio, serviços, empregos, educação e saúde são irreais (IFRC; OCHA, 2015). A cultura de prevenção de desastres no Brasil se desenvolveu lentamente ao longo dos anos e apenas depois dos anos 2008/2010 essa discussão ganhou força, com a ocorrência de desastres de grande escala como o do Morro do Bumba em Niterói-RJ e os deslizamentos da Serra do Mar em Angra dos Reis-RJ (SEDEC; PNDU, 2014). Hackradt (2012) também reitera que escorregamentos e enchentes são as causas de desastres mais significativos no cenário brasileiro, e isso se deve principalmente a ausência ou má aplicação de uma política de habitação e


desenvolvimento urbano, que causou o aumento do número de pessoas vivendo em áreas frágeis, tais como margens de rios e encostas. Ao analisar os gráficos (Figura 1-3 e Figura 1-4) é possível observar que o movimento de massa é a causa de desastre que mais cresceu durantes as últimas décadas e uma das que mais causaram mortes. Esse crescimento pode ser uma consequência do também aumento de pessoas vivendo em áreas frágeis tais como encostas ou morros, que são mais vulneráveis aos fenômenos naturais relacionados ao clima e propensas ao risco. Figura 1-3: Aumento de ocorrências entre as décadas de 90 e 2000 Fonte: BRASIL, 2013 apud UFSC; CEPED 2013, p.35

Além de ser relacionada aos eventos atípicos, a ampliação de desastres, tanto em áreas urbanas quanto rurais, é uma realidade evidente à crescente imobilidade do gestor público para lidar com a vulnerabilidade de certas camadas sociais (Valencio et al., 2009). Quando um município decreta, e tem reconhecido nos níveis superiores do Sistema Nacional de Defesa Civil (SINDEC), uma situação de emergência (s.e.) ou estado de calamidade Pública (e.c.p.), em última instância sinaliza a constatação da vulnerabilidade institucional, ou seja, uma incapacidade em lidar, preventiva ou preparativamente, com um evento ameaçante o que, ao fim e ao cabo, engendra a materialização de danos ao cidadão ali inserido (Valencio et al., 2009, p.6).

Figura 1-4: Mortos por tipo de desastre Fonte: BRASIL, 2013 apud UFSC; CEPED 2013, p.35

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Tabela 1-1 – Cenário brasileiro em casos de desastres entre 1991 e 2012

Mortas Enfermas Feridas Desaparecidas Desabrigadas Desalojadas Total Afetadas

Sul

Sudeste

Norte

Nordeste

Centro-oeste

Total

463 9.607 13.342 1.458 287.986 1.072.766 28.784.792

2.294 41.245 24.429 344 271.816 1.166.143 28.142.663

131 181.338 19.336 18 215.856 675.968 8.841.447

546 220.916 38.941 5.109 2.429.589 947.507 55.963.164

14 3.211 978 2 15.390 46.855 5.194.590

3.448 456.317 97.026 6.931 3.220.637 3.909.239 126.926.656

Fonte: Brasil, 2013 apud UFSC; CEPED 2013, adaptada

O registro histórico dos desastres realizado no “Atlas brasileiro de desastres naturais – 1991 a 2012 – Volume Brasil” (UFSC; CEPED, 2013) confirma a fragilidade da população brasileira diante de situações extremas. Entre os anos de 1991 e 2012 houve por volta de 39 mil registros de desastres. Além disso, ao analisar a Tabela 1-1, é possível constatar que, entre as duas últimas décadas, 127 milhões de pessoas foram afetadas e mais de sete milhões ficaram desabrigadas ou desalojadas. Um exemplo da ineficiência e demora em prover habitação em cenário pós-desastre foi o caso de um assentamento irregular no Morro do Bumba, Niterói, em abril de 2010. Neste desastre, um movimento de massa soterrou dezenas de casas, deixou centenas de mortos e milhares de desabrigados. Em relação às vítimas, se dividiram entre aquelas que viveram em abrigos temporários, receberam aluguel social (R$400,00 pagos de maneira irregular), passaram a viver com parentes, continuaram desabrigadas ou receberam apartamento do governo (GEODEMO, 2012). Reportagem da EBC – Agência Brasil de 2015 relata que cinco anos após o movimento de terra, parte das pessoas afetadas ainda não conseguiu uma moradia permanente,


muitas continuaram recebendo o aluguel social e algumas ainda moram em áreas de riscos, inclusive o Morro do Bumba (LISBOA, 2015).

Figura 1-5: Deslizamento de terra, Morro do Bumba, 2010 Fonte:http://www.gazetadopovo.com.br/vida-ecidadania/secretaria-do-ambiente-prefeitura-devia-ter-evitadoocupacao-no-morro-do-bumba-18me6gdla6wlrj8kzzvnnjr66

Das pessoas que foram contempladas com apartamentos, boa parte considera o auxílio do governo ruim, pois alegam que suas casas estão localizadas distante do Bumba e consequentemente do local onde realizam suas atividades diárias (trabalho, escolas, centro comercial) o que impacta diretamente em sua qualidade de vida. Outro ponto mencionado, foi que a pressa de entregar os apartamentos, devido à forte pressão midiática e popular, resultou em uma péssima qualidade dos imóveis entregues, como fica claro na fala de um morador entrevistado que segundo ele houve um curto circuito na instalação elétrica de sua residência deixando-o por duas semanas sem energia, além da queda do teto de gesso do banheiro. As pessoas que ainda residem em abrigos, mostraram-se insatisfeitas devido à falta da mínima infraestrutura do abrigo para a realização de tarefas básicas como tomar banho e escovar os dentes. Demonstram também compreensível preocupação, quanto a incerteza de quando e onde serão contemplados com o auxílio moradia ou nova habitação. (GEO-DEMO, 2012).

Este relato reitera a ineficiência para se prover respostas habitacionais adequadas e definitivas em casos pós-desastres. Além disso, desabrigados decorrentes dos desastres então se somam ao déficit habitacional pré-desastre, que no cenário brasileiro já é alto. Portanto são requeridos investimentos de propriedade da terra, construção e planejamento para ambos os casos. Enfim, com o aumento do número de pessoas vivendo em condições precárias, modelos sustentáveis e com adequada resposta a este problema devem ser difundidos de maneira global (ARAVENA, 2015 apud MAIRS, 2015).

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1.3. O HABITAR NO PÓS-DESASTRE Habitação adaptada, temporária e permanente Em meio a um cenário de catástrofe, oferecer abrigo aos atingidos e prever a instalação e construção da moradia permanente são as principais ações para retomar as condições de vida no ambiente atingido (FERES, 2014). Após dois anos do terremoto da Guatemala em 1976, o presidente admitiu que muitos erros foram feitos, e listou os cinco piores: “muita ajuda foi doada; muitas casas que foram construídas eram meramente de tipologias emergenciais; algumas organizações utilizaram muita ajuda voluntária estrangeira; muito foi feito sob pressão e sem apropriada consultoria, então as vítimas se tornaram expectadoras em vez de participantes na reconstrução; muito do trabalho realizado na reconstrução foi feito sem consultar o Comitê de Reconstrução do Governo” (NORTON, 1980 apud IFRC; OCHA, 2015, p.20, tradução nossa). Sabemos que o ideal é a localidade possuir um abrigo estruturado, que possa ser utilizado em situações de emergência. Contudo, o mais comum é a utilização de estruturas como: escolas, igrejas, associações comunitárias e clubes. Esses locais funcionam de forma improvisada, podendo não apresentar os recursos necessários para o seu funcionamento como abrigo. Além disso, a utilização de locais improvisados como abrigo interrompe a prestação dos serviços habituais. (UFSC; CEPED, 2014, p.38)

O guia “Administração de um Abrigo Temporário” (SEDEC-RJ, 2006) levou em consideração um grupo de especialistas e pessoas que passaram pela experiência de gerenciar um abrigo, com isso realizou-se uma avaliação quanto às dificuldades apresentadas. De acordo com o SEDEC-RJ (2006), as coordenações e os gerenciamentos de abrigos no Brasil se encontram aquém do esperado em casos de desastre em massa, o que se deve principalmente aos fatores administrativos, como falta de organização, articulação, comunicação, logística e assistência,


propriamente dita. Portanto, a articulação dos órgãos envolvidos com a defesa civil – como as Secretarias Municipais, entidades privadas, clubes de serviço e ONG – devem trabalhar em conjunto para uma resposta eficaz às famílias afetadas. Conforme o guia “Shelter after disaster” organizado pela Federação Internacional da Cruz Vermelha (IFRC; OCHA, 2015) os seguintes tempos de cada fase podem servir como referência em casos pós-desastres, e serem úteis em casos em que há pouco planejamento, podendo variar de acordo com as condições do local e tipos de desastres:  Fase 0: Fase pré-desastre, redução de riscos  Fase 1: Período de assistência imediata (do impacto ao dia 5)  Fase 2: Período de reabilitação (do dia 5 até 3 meses)  Fase 3: Período de reconstrução (a partir dos 3 meses) O período de pós-desastre adequado envolve uma série de complexos fatores, relacionados a diversos agentes sociais. Há alguns fatores que devem existir para um sistema de gerenciamento adequado, a resposta do morar no pós-desastre se relaciona tanto na seção de operações, planejamento, logística e finanças (SEDEC-RJ, 2006). O guia “Shelter after disaster” (IFRC; OCHA, 2015, p.34, tradução nossa) lista alguns elementos essenciais, porém não são limitados somente a estes, para um efetivo programa de reabilitação em comunidades desabrigadas:    

Envolvimento e aceitação da população afetada; Uma estrutura organização eficaz dentro do governo; Liderança no governo que inspire a recuperação e mantenha a face pública para a reconstrução; Fundos orçamentários adequados e com controle a fim de evitar desvios;

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 

     

Compromisso por todos os grupos de suportes, tanto de curto e longo prazo; Assistência técnica em todas as áreas: arquitetura, planejamento, engenharia, gerenciamento de contratos, melhoramento de assentamentos de baixa renda, questão ambiental e planejamento ambiental e questões legais; Construção segura em relação a técnicas construtivas e uso do solo; Problemas sobre a posse da terra resolvida; Projeto do abrigo que seja adaptada e apropriada ao clima e à cultura local; Apoio de políticas locais; Ambientalmente sustentável; Fortalecimento da base econômica da comunidade.

Quando se trata de repostas a desabrigados através de abrigos emergenciais, há certos caminhos a serem seguidos, entre eles a adaptação de edifícios existentes e os acampamentos de desabrigados, não há uma escolha ‘certa’, a solução deve ser compatível com a comunidade afetada (ANDERS, 2007). Após o habitar temporário para qual o abrigo foi construído, há três cenários possíveis: 1) desmontar e armazenar; 2) desmontar e reciclar; 3) adquirir por parte do grupo populacional que a habitou e passar a ter a função de habitação permanente (SOUSA, 2015). Apesar do contexto de destruição, o estudo “Gestão de Desastre e Ações de Recuperação” (UFSC; CEPED, 2014) afirma que é possível gerar possibilidades positivas após um cenário pós-desastre. É justamente nesse contexto que são geradas maiores oportunidades para superar o nível de desenvolvimento prévio ao desastre, possibilitando a criação de novas fontes de emprego, a reparação de danos materiais e a adoção de medidas de prevenção e de mitigação (UFSC; CEPED, 2014, p.172).


Enfim, é possível afirmar que um dos maiores problemas causadores de desastres decorridos de fenômenos naturais é a vulnerabilidade perante o meio. Nesta vulnerabilidade está incluso o grande déficit habitacional e pessoas vivendo em áreas de riscos. Portanto, diante do cenário brasileiro, é necessário e possível pensar-se em respostas pós-desastres que possa se transformar na solução permanente de moradias à população afetada que viviam naquela condição de risco.

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1.4.A RESPOSTA ARQUITETÔNICA Nossos lares não precisam nos oferecer abrigo permanente ou guardar as nossas roupas para que mereçam esse nome. Falar em lar com relação a uma construção é simplesmente reconhecer a sua harmonia com a nossa própria canção interior (BOTTON, 2007, p.107).

A arquitetura transitória deve ser pensada de modo a agir, proteger e buscar um equilíbrio entre o mais cômodo possível e a procura pela solução do habitar permanente, além disso, é necessária uma adaptação a diversos locais, situações e ser flexível o suficiente para receber outras estruturas (SOUSA, 2015). Em países onde há grande déficit habitacional, a solução de abrigo emergencial em casos de desastres não pode ser dissociada do problema habitacional como um todo. Nesse caso o

Figura 1-6: Quinta Las Anacuas, Alejandro Aravena Fonte: MAIRS, 2015

conceito de abrigo temporário é equivocado, visto que quando em condições normais, a população já vive em locais e condições precárias (áreas de riscos, encostas, vales sujeitos a inundações, favelas) que as autoridades não reconhecem ou as reconhecem como habitações temporárias, portanto o problema relacionado aos abrigos emergenciais é diretamente relacionado ao planejamento, gerenciamento e mobilização de recursos locais (IFRC; OCHA, 2015). Ou seja, situações de desastres estão diretamente relacionados ao problema habitacional existente anteriormente, visto que a grande maioria dos afetados vive em situações vulneráveis, onde o desastre poderia ter sido evitado. O abrigo temporário pode ser extremamente custoso em questões de tempo, energia e dinheiro, quando se leva em consideração as dinâmicas complexas e políticas de reconstrução (IFRC; OCHA, 2015). Além disso, de acordo com Anders (2007), o investimento em abrigos emergenciais pré-fabricados e estocados para serem utilizados exclusivamente para casos de

Figura 1-7: Quinta Monroy, Alejandro Aravena Fonte: MAIRS, 2015


emergência, pode gerar obstáculos à provisão de habitações permanentes necessários para suprir o déficit habitacional, o adensamento urbano em áreas de riscos, condições precárias de saneamento básico e altos aluguéis. Aravena (2015 apud MAIRS, 2015) também reitera essa tese, ao afirmar que respostas ao abrigo emergencial com tendas provisórias é um gasto desnecessário de dinheiro, esta solução somente é justificável quando se precisa prover uma rápida resposta e as chances de se cometer erros é grande, neste caso compra-se tempo com a implantação provisória de tendas. Este autor ainda afirma que quando se trabalha em soluções habitacionais que sejam de uso permanente, do ponto de vista financeiro pode ser mais custoso no começo, mas isto já é um pré-investimento, que serve como habitação emergencial, e também será uma solução definitiva (Figura 1-6 e Figura Figura 1-8: Casas pós-tsunamis Sri Lanka, Shigeru Ban Fonte: FREARSON, 2013

1-7). Quando há a necessidade de realizar abrigos temporários, assim que as pessoas atingidas terem sido realojadas, as soluções definitivas devem ser a prioridade das autoridades, sob pena dos abrigos temporários se transformarem em guetos (NUNES, 2010). Shigeru Ban consegue aplicar esse modelo de habitação de emergência como habitação permanente na reabilitação de casas de pescadores no Sri Lanka após ser atingido pelo tsunami de 2004 (Figura 1-8 e Figura 1-9). De acordo com o arquiteto “Isso não iria ser um esforço tradicional emergencial, onde vamos e fazemos casas muito rápido e a deixamos, eu queria tratar isso como um projeto de desenvolvimento” (BAN, 2013 apud FREARSON, 2013, tradução nossa).

Figura 1-9: Área comum coberta, Shigeru Ban FREARSON, 2013

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1.4.1. Protótipo Casa Emergencial – Garrison Architects

Tabela 1-2: Mudança populacional de Nova Iorque

Se você olhar para cada desastre, as chamadas casas temporárias nunca são temporárias. Ainda existem pessoas vivendo em casas construídas após o terremoto de Kobe em 1995. Nós queremos fazer algo bom que possa durar, porém isso é também um dever, pois provavelmente seria como acabaria acontecendo (GARRISON, 2015 apud CHABAN, 2015, tradução nossa).

A maior cidade dos Estados Unidos, Nova Iorque possui mais de 8,5 milhões de habitantes e como é possível observar na Tabela 1-2 há uma taxa de crescimento de 4,6% entre 2010 e 2015 (NYC-DCP, 2015). Essa alta densidade demográfica e a posição geográfica tornam esta cidade vulnerável às tempestades costeiras. Além disso, o risco de tempestades mais severas, frequentes e intensas atingirem a cidade é crescente, portanto a cidade terá que lidar com muitos desafios pós-tempestade, entre eles o de centenas de milhares de habitantes ficarem desabrigadas (NYC-OEM, 2012). A fim de lidar com esta problemática, o plano pós-desastre de Nova Iorque descreve e direciona algumas diretrizes projetuais para situações de emergência. Apesar da alta densidade e da falta de espaços livres urbanos, há o objetivo de assentarem o maior número possível de residentes no seu bairro original e dessa forma prover suporte para retornarem a sua vida em comunidade, portanto pensa-se em uma rápida construção de multipavimentos que possa ser removível e reutilizável (NYC-OEM, 2012). Em 2007, a NYC-Office of Emergency Management (NYC-OEM) organizou o concurso internacional “What if NYC...” no qual visava coletar ideias de propostas inovadoras para o projeto de habitação emergencial pós-desastre (NYC-OEM, 2012). Na ata do júri deste concurso são elencadas as qualidades analisadas e consideradas: alta densidade, rápida construção, adaptação a vários terrenos, flexibilidade a diversas tipologias de famílias, reutilização, durabilidade, acessibilidade, segurança e sustentabilidade (NYC-OEM, 2008).

Fonte: NYV-DCP, 2015


Figura 1-10: Vencedores do concurso “What if NYC...” Fonte: <http://www.whatifnyc.net/>

Como resultado foram selecionados, dentre as 117 propostas, 10 vencedores em janeiro Figura 1-11: Proposta CLA - Concurso "What if NYC..." Fonte: <http://www.whatifnyc.net/>

de 2008 (Figura 1-10). Após os vencedores serem anunciados, cada equipe teve três meses para revisar o projeto conforme a ata do júri, então a comissão reavaliou as dez propostas com enfoque na facilidade e rapidez da construção, facilidade no transporte e custo benefício (NYCOEM, 2012). Depois disso o OEM manteve enfoque em duas propostas em particular: Container Living Apparatus (CLA, Figura 1-11) que utilizou containers modificados e empilháveis e no Community Provisional Residence (CPR, Figura 1-12) projetado com painéis pré-fabricados. Após o concurso, esses conceitos continuaram sendo desenvolvidos pela prefeitura de Nova Iorque e os seguintes passos foram tomados (NYC-UPDHP, 2014?): 1. Diretrizes e especificação de desempenho para a casa emergencial urbana; 2. Criação de diretrizes para situação pós-desastre (Figura 1-13);

Figura 1-12: Proposta CPR – Concurso “What if NYC...” Fonte: <http://www.whatifnyc.net/>

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3. Protótipo multifamiliar de três pavimentos construído em uma área de estacionamento próximo ao OEM, para as prévias diretrizes serem testadas em condições reais.

Figura 1-13: Diretrizes para situações pós-desastre Fonte: NYC-OEM&DCP, 2012

Com as diretrizes desenvolvidas pelo NYC-OEM, o escritório Garrison Architects foi contratado pelo American Manufactured Structures and Services (AMSS, responsável pela construção) para projetar o protótipo a ser implantado como teste para situações pós-desastre. O objetivo é criar um modelo para habitação pós-desastre, utilizando as últimas tecnologias construtivas em conjunto com rigorosas exigências de segurança, sustentabilidade, durabilidade e design universal. Os módulos são infinitamente flexíveis: eles podem ser implantados em lotes vazios, jardins privados, ou espaços públicos. Quando necessário, os módulos são levados para o terreno, implantado no local e ligado às infraestruturas residenciais. (Garrison Architects, [s.d.], tradução nossa)

Figura 1-14: Protótipo emergencial construído Fonte: Garrison Architects, [s.d.]


Os departamentos OEM, DDC e USACE escolheram esta proposta (Figura 1-14) para ser construída devido a sua atenção com questões de projeto sustentável, flexibilidade a diversas tipologias familiares, possibilidade de se adaptar a diferentes tipos de terrenos e adequado balanceamento entre durabilidade, conforto e custo-benefício (NYC-UPDHP, 2014?).

Figura 1-15: Interiores do protótipo Fonte: Garrison Architects, [s.d.]

Figura 1-16: Vista frontal da unidade pronta Fonte: Garrison Architects, [s.d.]

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O protótipo possui unidades habitacionais com um ou três quartos, área de estar, banheiro, cozinha e depósito (Figura 1-17 e Figura 1-18). O módulo habitacional de um quarto pode receber uma expansão anexa para acomodar mais habitantes conforme a necessidade dos moradores.

Figura 1-17: Planta Baixa - Módulo habitacional três quartos Fonte: NYC-UPDHP, 2014?

Figura 1-18: Planta Baixa - Módulo habitacional um quarto Fonte: NYC-UPDHP, 2014?


Figura 1-19: IsomĂŠtrica explodida do mĂłdulo inicial Fonte: Garrison Architects, [s.d.] 27


Figura 1-20: Processo de construção e transporte dos módulos Fonte: Garrison Architects, [s.d.]

O módulo é estruturado em aço, com sistema todo pré-fabricado e construído em fábrica, transportado e apenas encaixado no terreno (Figura 1-20 e Figura 1-21) garantindo maior agilidade da obra. De acordo com os arquitetos é possível fazer a montagem no local em menos de quinze horas, mesmo em condições urbanas difíceis. No caso deste protótipo, a construção do módulo foi feita em Bristol (Indiana) pela Mark Line Industries, depois percorreu mais de 1000 km (Figura 1-22) para ser implantado em Nova Iorque (NYC-UPDHP, 2014?). Portanto, permite-se que em casos reais de desastre haja a construção de vários módulos em diferentes fábricas, para depois serem transportados e somente implantados no local necessário. Este protótipo se mostra extremamente eficiente para casos pós-desastres, devido as suas principais características: pré-fabricação que garante agilidade construtiva e fácil montagem, adaptabilidade a diversas tipologias de família com a possibilidade de ampliação, possível implantação em diferentes tipologias de terrenos devido ao sistema de fundação especificado e possível reutilização após o uso emergencial, neste caso é previsto deixar os módulos estocados para um futuro desastre.

Figura 1-21: Processo de montagem no terreno Fonte: <http://www.dailymail.co.uk/news/article2615388/New-York-City-tests-stackable-post-disaster-housingsolution-ensure-better-prepared-post-Sandy-disasters.html>


Figura 1-22: Deslocamento entre o local de construção e implantação final do protótipo Fonte: NYC-UPDHP, 2014?

CONSIDERAÇÕES DO PROJETO  Sistema modular que garante agilidade construtiva e fácil montagem no canteiro;  Possibilidade de ampliação, adaptável a diversas tipologias de família;  Possível implantação em diferentes tipologias de terrenos;  Previsão de reuso do módulo.

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1.4.2. Módulos II Guerra Mundial - Jean Prouvé Jean Prouvé (1901-84), ferreiro por formação base, sem formação acadêmica em arquitetura ou engenharia, abordou a habitação ao recorrer à indústria e visar a economia, sem que isso lhe roubasse a qualidade da obra (NUNES, 2010). Os trabalhos de Prouvé podem ser caracterizados como um “avanço experimental” na arquitetura, conectados com as necessidades da sua época e fundamental para a inovação e renovação do conhecimento construtivo (BERTHIER, 2015). O seu interesse na procura da novidade levou-o a trabalhar com vários arquitetos da região de Nancy e com arquitetos modernos da época nos quais se incluiu Le Corbusier. Com ele desenvolveu estudos de Escolas Móveis para refugiados de guerra onde introduziu uma estrutura que viria a utilizar nas Casas para os Trópicos – a estrutura tipo Pórtico Central. (NUNES, 2010, p.25).

A origem das casas desmontáveis de Prouvé data do começo dos anos 1930, quando começou a experimentar as estruturas arquitetônicas – ao final desta década já havia refinado seu sistema estrutural e patenteado o “pórtico axial” metálico, estrutura de duas “pernas” que serviria de apoio principal aos projetos posteriores (STOTT, 2016). Apesar das suas obras terem sido dominadas pelo uso do metal, a madeira industrializada – como painéis de laminados e compensados – também representou uma importante função em suas construções. Com o uso desses materiais foi possível atingir uma construção seca com elementos que pudessem ser produzidos em massa (BERTHIER, 2015). No começo da década de 40, em plena Segunda Guerra Mundial, Prouvé foi solicitado para desenvolver barracas temporárias para o exército francês (NUNES, 2010). Deveria produzir 275 módulos móveis de 3x3m (Figura 1-24) no período de um mês, utilizando para este projeto


técnicas pré-fabricadas. Devido à escassez de aço utilizou o metal apenas para a estrutura, para o fechamento desenhou painéis de madeira que incorporavam as portas e janelas, transferindo técnicas da construção em aço para a madeira (BERTHIER, 2015). Prouvé projetou os painéis de madeira (Figura 1-25) com uma leve curvatura que permitiu usar chapas mais finas desse material, mantendo a economia e rigidez necessária. Para a conexão dos painéis foram utilizados perfis metálicos que também serviram como reforço (Figura 1-23), e esta técnica construtiva foi patenteada no início de 1940 (BERTHIER, 2015).

Figura 1-24: Barracas temporárias móveis, Jean Prouvé Fonte: BERTHIER, 2015

Figura 1-23: Sistema de encaixe dos painéis, Jean Prouvé Fonte: BERTHIER, 2015

Figura 1-25: Painel de madeira, Jean Prouvé Fonte: BERTHIER, 2015

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Com o fim da Segunda Guerra Mundial e a necessidade de prover rapidamente abrigos para a população francesa, as casas desmontáveis de Prouvé foram colocadas em uso (STOTT, 2016). Prouvé desenvolveu então a Casa 6x6m (Figura 1-29), que tinha como objetivo abrigar temporariamente os desalojados da guerra (NUNES, 2010). Segundo o Committee on Human Settlements (apud STTOT, 2016), o ministério para a Reconstrução e Desenvolvimento Urbano da França encomendou 800 unidades da casa emergencial, destas apenas a metade foi produzida, pois o estado mudou sua estratégia para a construção de habitações permanentes.

Figura 1-26: Casa 6x6, Jean Prouvé Fonte: Galerie Patrick Seguin, [s.d.]

Figura 1-27: Interior da Casa 6x6, Jean Prouvé Fonte: Galerie Patrick Seguin, [s.d.] Figura 1-28: Montagem Casa 6x6, Nancy, 1945, Jean Prouvé Fonte: BERTHIER, 2015


Figura 1-29: Desenhos do Atelier de ProuvĂŠ para a Casa 6x6 Fonte: <http://www.dezeen.com/2015/06/11/richard-rogers-updates-jean-prouve-6x6-demountable-house-design-miami-basel2015-galerie-patrick-seguin/> 33


Figura 1-30: MĂŠtodo de montagem, publicado por volta de 1950-1951 Fonte: <http://www.dezeen.com/2015/06/11/richard-rogers-updates-jean-prouve-6x6-demountable-house-design-miami-basel-2015-galerie-patrick-seguin/>


As primeiras casas foram construídas em 1944 para habitar as vítimas de Lorraine, onde poucas casas sobreviveram à guerra – eram feitas com peças de metal e madeira, os componentes foram facilmente transportados para as vilas atingidas e as casas montadas em um dia por duas pessoas, permitindo assim abrigar os atingidos (Galerie Patrick Seguin, [s.d.]). O processo de montagem era simples, rápido e didático, como se pode observar nas Figura 1-30 e Figura 1-31. Jean Prouvé emoldurou a função de arquiteto como um ator na construção, inovação, envolvido com a evolução das técnicas com suas ferramentas, métodos e criatividade. Seu trabalho revela que a arquitetura não é somente uma área para implantar técnicas, mas também uma oportunidade para invenção, aperfeiçoamento e renovação em situações complexas (BERTHIER, 2015, p.105, tradução nossa).

Figura 1-31: Montagem Casa 6x6, Jean Prouvé Fonte: NUNES, 2010

Tendo em vista a época em que foram construídas e o contexto pós-guerra, Prouvé não considerou para o projeto original áreas molhadas como banheiro e cozinha. A Casa 6x6 foi readaptada pelo escritório de Richard Rogers (RSHP) para o evento Design Miami/Basel 2015. Esta proposta é repensada para ser uma casa completa de final de semana, mantendo-se os conceitos de pré-fabricação e facilidade de montagem. Elementos como painéis solares, sistema de água quente, módulos externos de banheiro e cozinha foram adicionados ao antigo projeto, garante-se assim autonomia para a nova proposta, porém mantêm-se a flexibilidade da planta original (OH, 2015). Além disso, seis painéis originais foram substituídos, dois deles passaram a ser Figura 1-32: Interior Casa 6x6, Jean Prouvé Fonte: Galerie Patrick Seguin, [s.d.]

o acesso para a cozinha e banheiro e quatro foram substituídos por painéis de vidro que se abrem para um novo deck externo, este também pode ser erguido para servir de proteção solar (OH, 2015).

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Figura 1-33: Projeto de Casa 6x6 readaptado por RSHP Fonte: <http://www.dezeen.com/2015/06/11/richard-rogers-updates-jean-prouve-6x6-

demountable-house-design-miami-basel-2015-galerie-patrick-seguin/>

Figura 1-34: Corte mรณdulo do banheiro, RSHP Fonte: <http://www.dezeen.com/2015/06/11/richard-

rogers-updates-jean-prouve-6x6-demountable-housedesign-miami-basel-2015-galerie-patrick-seguin/>


Figura 1-35: Corte módulo cozinha, RSHP Fonte: <http://www.dezeen.com/2015/06/11/richard-

rogers-updates-jean-prouve-6x6-demountable-housedesign-miami-basel-2015-galerie-patrick-seguin/>

Figura 1-36: Modelo readaptação Casa 6x6, RSHP Fonte: OH, 2015

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Jean Prouvé, reconhecido por sua inovação construtiva e experimentação de novas técnicas aliadas à industrialização, colaborou com o governo francês para abrigos no período durante e pós-guerra. O cenário de recursos escassos e a necessidade de uma rápida resposta ao problema habitacional fizeram com que a proposta de industrialização construtiva para facilidade de montagem, transporte e execução em grande escala fosse colocada em prática.

CONSIDERAÇÕES DO PROJETO  Sistema pré-fabricado de fácil execução;  Painéis que podem ser facilmente desmontados e remontados;  Estrutura leve e adaptabilidade a diversas tipologias de terreno;


1.4.3. Paper Log House – Shigeru Ban Desde a sua criação 35 anos atrás, o objetivo do Prêmio Pritzker de Arquitetura é reconhecer arquitetos que vivem para a excelência no trabalho construído e que fazem uma contribuição significativa e consistente para a humanidade. Shigeru Ban, laureado de 2014, reflete esse espírito do prêmio ao máximo. Ele é um arquiteto de destaque que, por vinte anos, tem respondido com criatividade e desenho de alta qualidade em situações extremas causadas por desastres naturais devastadores. Seus edifícios servem de abrigo, centros comunitários e locais espirituais para aqueles que sofreram enormes perdas e tem sido vítimas de tamanha destruição. [...] Shigeru Ban é um arquiteto cujo trabalho incansável exala otimismo. Onde outros podem ver desafios insuperáveis, Ban vê um convite à ação. Onde outros podem tomar um caminho seguro, ele vê a oportunidade de inovar. (JÚRI PRITZKER, 2014 apud HELM, 2014).

O projeto da Paper Log House (Figura 1-37) foi desenvolvido em março de 1995, e pensado para abrigar um grupo de vietnamitas que viviam em tendas de plástico desde o terremoto que atingiu Kobe, Japão, em janeiro (JODIDIO, 2012).

Figura 1-37: Paper Log House, Kobe, Shigeru Ban Fonte: Shigeru Ban Architects, [s.d.]

Muitos desses refugiados estavam vivendo em Kobe e obviamente tiveram mais dificuldades que muitos outros. Estavam vivendo apenas com lonas de plástico e não puderam se mudar para as casas propostas pelo governo fora da cidade. [...] Eu pensei que nós deveríamos projetar algum tipo de abrigo para eles. Idealmente, um abrigo que fosse mais adequado para os desabrigados, mas também mais atrativo, portanto outros habitantes de Kobe aceitariam a presença deles. (BAN, 2012 apud JODIDIO, 2012, p.17, tradução nossa)

Para este projeto de 16 m², a fundação foi constituída por caixas de cerveja, preenchidas por sacos de areia, as paredes foram elaboradas por tubos de papel (4mm de espessura, e 106mm de diâmetro) e para a cobertura foi utilizada a solução e os materiais adotados em barracas (Shigeru Ban Architects, [s.d.]). A cobertura de lona fica aberta durante o verão para a

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circulação do ar, e no inverno é fechada para manter o calor (FERES, 2014). Além disso, as unidades são fáceis de desmontar e serem reaproveitadas, no caso de Kobe foram implantadas a cada 1,8 metros de distância, espaço usado como área comum (QUINTAL, 2014). Ao final do verão de 1995, 27 abrigos foram construídos para usuários tanto vietnamitas quanto japoneses (JODIDIO, 2012).

Figura 1-38: Esquema construtivo Paper Log House Fonte: FERES, 2014


Em 1999, 2001 e 2014 a Paper Log House foi readaptada na Turquia, Índia e Filipinas, respectivamente, com adequações ao clima e incorporações de elementos culturais locais (FERES, 2014). Recentemente, após o terremoto que atingiu o Equador em abril de 2016, um protótipo da Paper Log House foi construído no local atingido, porém não há informações se será executado em grande escala. Entre as mudanças ocorridas no projeto implantado na Turquia (Figura 1-39), estão: alteração do tamanho da unidade para 3x6 metros, devido à dimensão padrão local da chapa compensada, e melhorias para o conforto térmico – foram inseridos resíduos de papel nos tubos das paredes e fibra de vidro na cobertura (Shigeru Ban Architects, [s.d.]). Na índia (Figura 1-40), Figura 1-39: Paper Log House aplicado na Turquia Fonte: Shigeru Ban Architects, [s.d.]

houve alterações na fundação e na cobertura, foram utilizadas restos de construções destruídas em vez de caixas de cerveja e areia, e para a cobertura foram utilizados bambus e entrelaçados de cana (Shigeru Ban Architects, [s.d]). Nas Filipinas (Figura 1-41), a fundação também foi feita com caixas de cerveja e areia, o piso de painéis compensados, os fechamentos laterais de entrelaçados de coco estruturados pelos tubos de papel, e a cobertura foi resolvida com folhas de palmeira (Shigeru Ban Architects, [s.d]).

Figura 1-40: Paper Log House aplicado na Índia Fonte: Shigeru Ban Architects, [s.d.] Figura 1-41: Paper Log House aplicado nas Filipinas Fonte: Shigeru Ban Architects, [s.d.]

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Figura 1-42: Estudo adaptação do projeto para Índia Fonte: BAN; SHODHAN, 2003


Este projeto se destaca, além da inovação com a utilização de materiais alternativos, pela característica de possível adaptação a diferentes locais, com inserção ou alteração de elementos que consideram a cultura e necessidades dos atingidos (Figura 1-42 e Figura 1-43). Ao analisar as obras executadas da Paper Log House – no Japão, Turquia, Índia e Filipinas – é possível constatar que o sistema estrutural a partir de tubos de papel foi mantido em todos os casos, apesar de elementos de fechamentos e fundação terem sido adequados de acordo com cada contexto.

CONSIDERAÇÕES DO PROJETO  Adaptabilidade do projeto de acordo com cada contexto;  Sistema estrutural que permite variação de fechamentos e fundação;  Sistema de fácil montagem e execução;

Figura 1-43: Estudo adaptação do projeto para Índia

Fonte: BAN; SHODHAN, 2003

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2. PROJETO

a vida varia o que valia menos passa a valer mais quando desvaria Paulo Leminski 45



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2.1.O MÓDULO O PROCESSO O conceito de processo exerceu uma importante influência para estabelecer uma teoria do projeto, Rafael Moneo (2008) ao analisar a obra de Peter Eisenman afirma, Eisenman se vê obrigado a introduzir o conceito de process: entende-se o projeto por meio da sequência no tempo que o tornou possível. O objeto, por si só, não comunica as intenções (ou, se quisermos, as ideias do arquiteto) e, por isso, com o intuito de fazê-las perceptíveis, é preciso dar evidência ao processo (MONEO, 2008, p.141).

O presente projeto foi pensado para ser um processo de desenvolvimento pós-desastre, desde a fase da habitação temporária até a fase da habitação permanente – fabricação, transporte, montagem, morar provisório, desmontagem, remontagem, ampliação, adequação e morar permanente. Além disso, durante o processo de projeto, certos fatores – como as dimensões dos materiais, legislação vigente para o transporte, técnicas construtivas – foram determinantes para muitas das decisões tomadas, tais como a escolha do sistema estrutural, materiais, processo de reimplantação, e tipologias habitacionais. O desafio de se projetar uma habitação de emergência está em não apenas construir algo barato, mas sim analisar o que a indústria produz, os materiais disponíveis e interligar soluções com a população (SOUSA, 2015).

O HABITAR TEMPORÁRIO Durante a fase temporária, enquanto questões em relação ao terreno, às políticas habitacionais legíveis, ao tempo de reconstrução e soluções para o habitar permanente são resolvidas, é proposto que as pessoas afetadas fiquem em módulos habitacionais emergenciais,

Figura 2-1: Conceito módulo temporário


assentados em um terreno temporário, preferencialmente próximo à moradia anterior. Esses módulos habitacionais são de estruturas pré-fabricadas, que ao chegarem no terreno, necessitam da ‘abertura’ da laje, travamento da cobertura e montagem dos fechamentos laterais. Essa instalação pode ser feita rapidamente, conforme a necessidade que esta problemática impõe. Os módulos fechados com medidas de 1,60x6,00x3,00m, se transformam em 3,80x6,00x3,00m, aumenta-se, portanto, mais de duas vezes a área entre o que foi transportado e o que será habitado. Na área fixa do módulo, configuram-se as áreas molhadas pré-instaladas, e na área ampliada os espaços de convivência e descanso.

O HABITAR PERMANENTE Após a fase temporária, os módulos iniciais serão transportados para o local definitivo, adaptados e ampliados, para se tornar uma habitação permanente. Portanto, os módulos mínimos poderão ser associados a outros, conformando assim unidades variadas. Além de poderem ser ampliados com novos módulos metálicos, há a possibilidade de a extensão ser realizada com outras técnicas construtivas (alvenaria, madeira, concreto), que melhor se adequar ao contexto a ser inserido. Além de ampliar o espaço existente, há a possibilidade de verticalizar os módulos, a fim de diluir o valor do terreno entre as habitações. Então há maior possibilidade de serem implantadas Figura 2-2: Conceito habitação permanente

em uma área melhor localizada no tecido urbano e preferencialmente próximo ao local atingido. Em suma, é proposta a reimplantação e ampliação dos módulos já existentes, para assim configurar habitações de resposta permanente, com dimensões variadas, adequadas a diferentes tipologias de famílias e suas necessidades. 49



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O SISTEMA ESTRUTURAL O sistema estrutural foi pensado para seguir uma modulação que se adeque às dimensões dos materiais disponíveis. Além disso, levou-se em consideração a dimensão dos módulos fechados, 1,60x6,00x3,00m, a fim de maximizar a logística até o local a serem implantadas as habitações temporárias. Em cada viagem é possível conduzir quatro módulos com um caminhão convencional, ou seis habitações com uma carreta. Busca-se com isso reduzir o desperdício, racionalizar a fabricação e montagem, com eficiência e em prazos curtos.

A FLEXIBILIDADE O sistema estrutural do módulo é independente dos fechamentos, desse modo é possível adequar os materiais das paredes, coberturas, aberturas, de acordo com o contexto local. Ou seja, há velocidade para montagem da obra com a pré-fabricação e vinda do sistema estrutural pronto, porém é possível mudar os fechamentos de acordo com as possibilidades do contexto a serem inseridos. Além disso, há a possibilidade de unir dois ou mais módulos a fim de formar unidades maiores que podem ser utilizadas como espaço de uso comum, como administração, refeitório, clínica, ambulatório, sanitários coletivos, salas de aula ou sala para reuniões. Esses módulos de uso comum poderão ser especificados conforme a necessidade de cada local.


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2.1.1. Mรณdulos Residenciais


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2.1.2. Mรณdulos Comuns


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2.2. ESTUDO DE CASO A fim de escolher uma área para a implantação do projeto, foram utilizados os dados do Projeto Mapeamento, do Ministério da Integração Nacional, no qual são analisadas áreas vulneráveis, mapeadas áreas de riscos e apresentadas propostas de intervenções para a prevenção de desastres (BRASIL, 2015). Este estudo está sendo executado pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (SEDEC) em 275 municípios, previamente mapeados pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) por meio da “Ação Emergencial de Setorização de Áreas de Riscos” (BRASIL, 2015). Dentre os municípios paranaenses, 11 cidades foram mapeadas: Almirante Tamandaré, Antonina, Capitão Leonidas Marques, Curitiba, Fazenda Rio Grande, Pinhais, Rio Branco do Sul, São José dos Pinhais, São Miguel do Iguaçu, Umuarama e União da Vitória. Optamos por aplicar o estudo de caso em Curitiba por atingir um número razoavelmente grande de famílias e pela maior facilidade em se obter dados e informações da cidade. De acordo com o relatório feito para Curitiba há três áreas vulneráveis a deslizamentos

Figura 2-3: Locação Bairro Butiatuvinha Fonte: IPPUC, 2015 Tabela 2-1: Intervenções propostas

e/ou inundações, alagamentos ou enxurradas, todas de caráter predominantemente urbano e locadas no Bairro Butiatuvinha (Figura 2-3) inserido na regional Santa Felicidade (BRASIL, 2014), próximo ao Contorno Norte da cidade. Esses locais são caracterizados por serem áreas de encosta com média a alta declividade, com taludes de corte verticalizados e edificações implantados junto às bases e topos destes taludes que aumentam a vulnerabilidade à ocorrência de movimentos de massa e erosão (BRASIL, 2014). Entre as intervenções necessárias (Tabela 2-1), destacam-se as intervenções de demolição e relocação dessa população, recomendando a remoção das casas em alta vulnerabilidade – ilustradas em vermelho na Figura 2-4 – 15 edificações da área SR 01, 45 da área SR 02 e 8 da área SR 03, totalizando 68 edificações.

Fonte: BRASIL, 2014, p.4


Figura 2-4: Mapeamento dos Setores de Risco em Curitiba

Fonte: BRASIL, 2014.

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2.2.1. Análises do Contexto Local Até o momento não há relatos de quando as intervenções propostas para a relocação das pessoas em alta vulnerabilidade, identificadas no relatório do Ministério da Integração e órgãos relacionados à prevenção de desastres, serão realmente realizadas. Portanto, este trabalho terá o objetivo de intervir nessas áreas e solucionar a questão habitacional das famílias em alto risco iminente ao desastre (Figura 2-4). Figura 2-5: Área de topografia acentuada Fonte: Acervo da autora, 2016

No mapa ao lado (Áreas Vulneráveis) é possível constatar que nos três setores de risco há grande declividade, e são áreas próximas a fundos de vale, consequentemente sujeitas às enxurradas e inundações. Além disso, observou-se que em algumas áreas do local já está acontecendo um processo de rastejo (Figura 2-5 e Figura 2-6).

Figura 2-6: Edificações com risco ao movimento de massa Fonte: Acervo da autora, 2016

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Tabela 2-2: Áreas de Ocupação Irregular

Entre os anos 2000 e 2010 houve um aumento significativo de ocupações irregulares no Bairro Butiatuvinha (Regional Santa Felicidade), que passaram de cinco para onze áreas (Tabela 2-2). Os locais demarcados como área vulneráveis são assentamentos irregulares e seu entorno é composto por grandes áreas de loteamentos clandestinos. Portanto, é possível observar que grande maioria dos parâmetros da lei do Zoneamento para a área não são respeitados, tais como a testada e área mínima dos lotes, a taxa de ocupação, recuo mínimos do alinhamento predial e taxa de áreas permeáveis.

Fonte: COHAB e IPPUC 2000, 2005 e 2010 apud IPPUC, 2015

No caso da Regional Santa Felicidade, é possível verificar que a forma de ocupação irregular do território sofreu influências da colonização italiana. Conforme descrito, a cultura dos imigrantes induziu a ocupação do lote com várias habitações, destinada aos membros da família. Entretanto, quando os imóveis eram repassados a terceiros, não havia uma distinção formal entre as propriedades, o que induziu a ocupação informal do solo. Como resultado, as ocupações irregulares dessa Regional são numerosas, porém de menores dimensões e mais distribuídas pelo território, quando comparadas às ocupações de outras regiões de Curitiba. (IPPUC, 2014, p. 23)

Ao analisar esta área ficou evidente o contraste entre grandes áreas ocupadas irregularmente e áreas ocupadas por condomínios fechados. Quando comparada à proporção de casas de vila ou condomínios entre o bairro e a média do município de Curitiba, essa tipologia de residência em Butiatuvinha se mostra alta, mais de 12% (Figura 2-7). Figura 2-7: Domicílios segundo tipo Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010 apud IPPUC, 2015

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A área estudada está inserida na porção da Área de Proteção Ambiental (APA) do Passaúna, onde é definida como Zona de Urbanização Consolidada II, que compreende as áreas consolidadas ou passíveis de consolidação dentro da APA (IPPUC, 2016). Tabela 2-3: Zoneamento e Uso do Solo

Fonte: IPPUC, 2016

O Artigo 17 do Zoneamento define alguns parâmetros especiais para as áreas de ocupações irregulares dentro da APA, locadas em áreas ambientalmente inadequadas ou sujeitas à regularização fundiária: I.

II.

III.

os lotes e áreas livres inseridas nas ZUC II - Zona de Urbanização Consolidada II e outras áreas declaradas de interesse pelo poder público poderão abrigar regularização ou reassentamento de famílias alocadas em ocupações irregulares na APA, através de projetos urbanísticos destinados à Programas de Habitação de Interesse Social; os projetos urbanísticos específicos poderão utilizar parâmetros especiais de uso e ocupação do solo, desde que promovidos pelo poder público, mediante aprovação do Conselho Gestor dos Mananciais, conforme a Lei Estadual no 12.248/1998; não serão permitidas regularizações e reassentamentos em áreas com acesso direto para rodovias de Contorno Norte, BR-277 e PR-090. (IPPUC, 2016, p. 232) 77



A área estudada tem uso predominantemente residencial com baixo gabarito, e está dividida entre loteamentos clandestinos, assentamentos irregulares, condomínios horizontais e loteamentos regulares. Na Avenida Manoel Ribas estão concentradas algumas unidades comerciais, enquanto, há equipamentos de uso comum dispersos pela área, duas escolas, igreja e um campo de futebol privado, mas que atende ao bairro como área de lazer. A porção noroeste desta área, onde se encontram as ocupações irregulares e alguns loteamentos clandestinos, é desconexa do tecido urbano. Há somente um acesso, e grandes quadras e condomínios fechados funcionam como barreiras Leste-Oeste que dificultam a transposição e contribuem para isolá-la do restante do bairro e do tecido urbano, ao impedir uma boa integração e conexão com a cidade.

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Como ponto de partida, as 68 famílias com alto risco iminente ao desastre serão relocadas para um local seguro e temporário, até que as moradias permanentes sejam finalizadas. Ambas as fases serão implantadas em locais próximos às moradias atuais, dessa forma garante-se a possibilidade de manter a rotina e os laços entre a vizinhança local. Uma possível implantação para as habitações temporárias são terrenos públicos, ou áreas livres, como campos esportivos, grandes áreas de estacionamentos, praças ou parques abertos, áreas urbanas que já dotam de infraestrutura mínima. Verificou-se que há um campo de futebol a aproximadamente 200m de distância das áreas vulneráveis. O campo possui baixa declividade e dimensões com capacidade para abrigar temporariamente as famílias em alto risco. Próximo ao campo de futebol, o projeto das habitações permanentes será implantado em um lote de 14.360m², resultado da desapropriação de terrenos privados. A fim de não consolidar essa grande área como uma barreira urbana, a valorização das conexões com o tecido urbano será utilizada como uma das diretrizes de projeto para a implantação permanente.

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2.2.2. Implantação Temporária As 68 residências foram divididas em quatro áreas dentro do campo, com dois eixos centrais de circulação. Cada área residencial conta com um espaço de lavanderia coletiva, uma caixa d’água geral e áreas livres de lazer. Na porção central do campo foi locada a área de reuniões e, próximo ao acesso, a área administrativa. Para cada grupo de 17 residências foi locada uma caixa d’água e o sistema de esgoto será integrado ao sistema público existente.

Figura 2-8: Acesso ao campo de futebol Fonte: GoogleEarth, 2016.


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2.2.3. Implantação Permanente Além de resolver a questão das moradias, buscou-se criar uma melhoria urbana para o entorno em geral, criando e definindo espaços públicos integrados com o seu contexto. Serão implantadas 78 novas unidades residenciais: 68 famílias transferidas das áreas de alto risco e 10 famílias que já viviam nos terrenos desapropriados para o projeto. Na face noroeste do terreno está locada uma linha de transmissão de energia, sendo necessária uma área de passagem de 20 a 30 metros de largura para a segurança dos moradores (ELEKTRO, 2013). O uso nessa área de segurança é restrito, entretanto é permitido o cultivo de hortas comunitárias, que poderá ser usado por todos os moradores locais. Essa horta comunitária é integrada a uma área de convivência para uso comum, locado onde os eixos de circulação de pedestres se encontram. Os módulos residenciais foram acomodados conforme o desnível do terreno com a finalidade de evitar ao máximo a necessidade de movimento de terra, os blocos residenciais são interligados por eixos de circulação de pedestres. Além disso, a implantação considerou o aproveitamento dos ventos dominantes (NE segundo a SEED/PR) e a melhor insolação para as faces com aberturas. Com o objetivo de enfatizar o uso do espaço para as pessoas, os estacionamentos foram distribuídos em três áreas ao longo do projeto e evitou-se a criação de apenas um grande bolsão de estacionamento.


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A fim de aproveitar o desnível existente entre a calçada da Avenida Manoel Ribas e o terreno, nivelou-se esta face do terreno com o passeio público para serem criadas galerias comerciais semienterradas. A galeria comercial possui área total de 376m², que poderá ser um único estabelecimento ou ser dividida para diferentes lojas. Devido ao recuo estabelecido é conformada uma pequena praça para uso público. Além disso, foi estabelecida uma continuidade ao caráter comercial já existente nessa rua, como pode ser observado no mapa de Leitura da Área (página 79).


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Além dos módulos reutilizados da fase da habitação temporária, foi criado um módulo de ampliação com dimensões de 3,80x9,00m para acomodar o programa de uma habitação definitiva. Foram realizadas duas tipologias residenciais, uma com 51m² que acomoda uma família de 4 pessoas e outra de 72m² para 6 pessoas. A unidade habitacional de 51m² é composta por uma unidade do módulo temporário e uma unidade do módulo de ampliação. Já a unidade de 72m² é composta por dois módulos da habitação temporária e um módulo de ampliação. Em ambas as tipologias, as áreas molhadas – banheiro, cozinha e lavanderia – continuam no módulo temporário, portanto no módulo de ampliação foram locadas as áreas de estar e descanso. No pavimento térreo estabeleceram-se eixos para circulação de pedestres e áreas privativas para cada residência. As áreas de lazer e serviços das residências foram locadas voltadas para os eixos de circulação geral e os dormitórios para as áreas privativas de cada habitação.


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Para seguir as diretrizes do Zoneamento, e o entorno residencial de baixo gabarito, foram estabelecidos conjuntos de habitações de dois pavimentos. Os acessos das residências superiores foram resolvidos com escadas externas, locadas entre dois módulos. Como essas escadas são compartilhadas por no máximo duas residências, foi possível a criação de uma área privada para cada habitação superior. As caixas d’águas foram locadas acima do módulo temporário, onde estão locadas as áreas molhadas e há a maior concentração de estrutura.


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CONSIDERAÇÕES Desde o início, a principal motivação para a realização do último trabalho de graduação foi a busca por um olhar social na perspectiva de uma graduanda em arquitetura e urbanismo. Portanto, foi escolhido trabalhar com uma proposta para situações emergenciais e contribuir com soluções para a diminuição de pessoas vivendo em condições de riscos e áreas vulneráveis. Como este é um problema global, vivenciado em diferentes contextos, começamos a pensar em um módulo e suas diferentes possibilidades – materiais, adequações climáticas, fechamentos, implantações. A ordem do processo projetual foi definida desde a primeira assessoria, quando discutimos a metodologia de trabalho e determinamos que começaríamos com o projeto em uma escala do objeto, para depois aplicá-lo na escala da cidade. Essa metodologia foi adequada para o bom andamento do projeto, pois resolvemos um módulo que pudesse ser adaptado, e posteriormente asseguramos a sua viabilidade ao inseri-lo em uma cenário existente – ao definir quais das possibilidades seriam mais pertinentes, após analisar este caso específico. Enfim, apresento aqui um projeto que pode ser adaptável e desenvolvido em diferentes contextos e que acreditamos ser viável e justificável para este problema habitacional.

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