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Sinopse Ela não sabia o quão perigoso ele era... Para evitar que uma querida amiga se casasse com o famoso Ian Lennard, o Visconde de St. Clair, Felicity Taylor revelou o passado obscuro dele na sua coluna de fofocas anônima de Londres. Mas a destemida Srta. não podia imaginar a raiva de St. Clair. O perigoso libertino estava agora sem noiva, e ainda precisando desesperadamente de um herdeiro. Então imagine a surpresa de Felicity quando o lorde sangue-quente lança seu olhar sobre ela! Ameaçada com a exposição e a ruína, qual escolha ela tinha senão a de se casar com ele? ...até se casar com ele! Uma esposa era meramente uma necessidade para garantir sua fortuna — ou era o que Ian pensava até conhecer Felicity. Ele descobre que a audaciosa mulher se assemelha a ele em inteligência e paixão... e ela pode ser mais do que ele pode aguentar. Beijos ardentes e toques carinhosos o tentam a confiar nela para abrir seu coração – mas Ian sabe que os segredos que ele esconde irão afastá-la. Então nada poderá ser mais perigoso do que se apaixonar pela sua fogosa noiva.
Revisão Inicial: Juliana, Gisele, Miriam E Jéssica Revisão Final: Lilly M. Visto Final: Lisa De Weerd Projeto Revisoras Traduções
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Capítulo 1 Dezembro de 1820, Londres, Inglaterra. Liberdade de imprensa é o segundo maior privilégio do homem inglês e deve ser preservado até quando os resultados nos alarmam, o alarme nos induz a reforma e a capacidade de reformar a sociedade é o primeiro maior privilégio do homem inglês.
Lorde X. The Evening Gazette, 5 de dezembro de 1820
Algum idiota estava espalhando rumores sobre ele de novo. Ian Lenard, o Visconde St. Clair chegou a essa conclusão no momento em que entrou no clube de cavalheiros e o mordomo cumprimentou-o com uma piscadela e murmurou: — Muito bem, milorde. — enquanto tirava seu casaco. O sombrio mordomo do Brooks tinha piscado para ele. Piscou para ele, pelo amor de Deus. Como felicitações não era o caso, Ian só podia supor o pior. Ele fez uma careta enquanto andava pelos corredores atapetados em direção à sala de leitura, aonde ia ao encontro de seu amigo Jordan, o conde de Blackmore. Então um pensamento reconfortante lhe ocorreu. Talvez o mordomo tivesse bebendo no trabalho novamente e tinha apenas o confundido com outra pessoa. Em seguida, um grupo de homens que mal conhecia parou de conversar e o parabenizam. Os comentários – Quem é ela? - e - Então você fez de novo, seu cachorro espertalhão. Foram acompanhados por mais piscadelas. Todos eles não poderiam tê-lo confundido com outra pessoa. Com dificuldade, ele reprimiu um gemido. Só Deus sabe qual foi a história desta vez. Ele tinha ouvido a maioria delas. Sua favorita era ele resgatando a filha ilegítima do Rei da Espanha de um antro de piratas bárbaros, a quem ele venceu sozinho, ganhando assim como recompensa uma mansão em Madrid. É claro, o Rei de Espanha não tinha filha, ilegítima ou não, e Ian nunca tinha sequer conhecido um pirata bárbaro. A única verdade da história era que ele tinha sido apresentado ao rei da Espanha e que a família de sua mãe era dona de uma mansão em Madrid. Mas os boatos, pela sua própria natureza, não exige fundamento na verdade, então seria inútil negá-los. Por que alguém deveria acreditar nele quando a fofoca era muito mais interessante? Assim, ele respondeu de modo habitual. Uma resposta evasiva e um olhar irônico, cuja intenção era sempre a de se livrar dos iludidos e dos curiosos. Ele quase chegou à sala de leitura quando o Duque de Pelham aproximou-se dele.
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― Boa noite, meu velho—, o robusto senhor disse com uma jovialidade incomum. — Queria convidá-lo para um pequeno jantar que estou dando amanhã, você e alguns outros com suas inamoratas. Certifique-se de trazer sua nova amante. Gostaria de dar uma olhada nela. Ian cravou as vistas no sapato do homem a quem não gostava. — Minha nova amante? Pelham cutucou-o presunçosamente. ― Nem tente manter a mulher em segredo agora, St. Clair. O gato, ou devo dizer, a gatinha está fora do saco, e todo mundo quer saber a cor da sua pele e quão profunda suas garras estão enterradas em você. Uma amante? Esse foi o boato? Que decepcionante. Poderiam, pelo menos, o terem feito um legendário salteador das estradas. ― Eu lhe digo uma coisa, Pelham. Quando eu adquirir esta minha nova amante, vou ter certeza de trazê-la para um dos seus jantares. Até então, eu devo recusar o convite. Agora, se você me der licença, tenho um compromisso. Após deixar o duque boquiaberto para trás, Ian caminhou para a sala de leitura. Uma amante, ele não conseguia se lembrar da última vez que teve uma. Certamente muito antes de sua volta para a Inglaterra. Antes dele ter sido forçado a esta busca por uma esposa. Não que ele não pudesse arrumar uma amante se quisesse, mas ele queria concentrar toda sua energia num cortejo, sem alguma outra mulher infernizando-lhe com perguntas ciumentas. Pelham não poderia entender isso, de qualquer maneira, uma vez que seu único objetivo na vida era seduzir quantas jovens virgens ele conseguisse colocar as mãos. O homem era um porco. Entrando na sala de leitura, Ian imediatamente encontrou o suspeito cabelo ruivo de Jordan, como um farol contra o damasco escuro da poltrona. Jordan recostado no console da mesa de madeira mogno, lendo um jornal. Ian sentou-se na cadeira em frente a dele e escolheu um charuto da caixa, ansioso por uma noite sociável para fumar, lendo jornais, na companhia de seu amigo mais próximo. Quando ele cortou o final do charuto, Jordan olhou para cima. — Aí está você. Eu gostaria de saber o que estava te prendendo. Tenho estado impaciente para ouvir o que aconteceu. Ela aceitou? Dou-lhe os parabéns agora? Por um segundo, Ian pensou que Jordan se referia aos rumores da amante. Então ele se lembrou. — Ah, você quer dizer Katherine. — Quem mais? A filha de Sir Richard Hasting. Você propôs para alguma outra mulher recentemente? Ele sorriu. – Não, só Katherine. Uma é o suficiente, você não acha? — Então quando é o casamento? — Não está decidido ainda. Os olhos de Jordan se estreitaram. ― Certamente ela não recusou a oferta. — Não exatamente. 4
Ian acendeu o charuto na chama de uma vela próxima e deu uma longa tragada. — Ela usou essa velha tática feminina, pedindo tempo para pensar na minha proposta, que foi, provavelmente, uma ideia da Lady Hastings. A mulher é um tubarão com saias, sua esperança é conseguir um dote maior, obrigando a filha a agir como moça recatada. Pobre Katherine, não se sobressai brincando de recatada, no entanto. Senti pena dela enquanto ela gaguejava sobre como deveria considerar minha proposta um pouco mais. —Perdoe-me por dizer isso—, Jordan falou — mas eu não entendo o que você vê nessa garota. Ela é simples e extremamente tímida. Ela não dirigiu duas palavras para mim quando nos conhecêssemos. E obviamente você não está se casando com ela por sua fortuna insignificante ou por suas conexões sociais, já que o pai dela é apenas um baronete. — Sua esposa não tem fortuna e seu pai é apenas um reitor, ainda assim isso não o impediu de se casar com ela e tornando-a uma condessa. Com a menção de Emily, o rosto de Jordan se iluminou. – Sim, mas ela tem numerosas qualidades que compensam sua falta de fortuna e conexões. Ian riu. – Ainda apaixonado, logo vejo. Bem, eu não procuro por amor Jordan, procuro por uma esposa. Tirando sua experiência incomum, eles raramente vêm juntos. Tudo que eu quero de uma esposa é respeitabilidade e bom caráter. Na verdade, uma mulher linda, jovem e interessante que poderia prender qualquer homem era a última coisa que Ian precisava. Ele já desprezava a si mesmo por ter que arrastar uma mulher para sua situação problemática. Pelo menos ele podia ter certeza de que a pessoa com quem se casasse ganharia algo que ela nunca teria a chance de ganhar. —Bem, — comentou Jordan quando ele voltou a ler seu jornal — você sabe que a Srta. Hastings não irá recusá-lo. Ela seria uma tola para fazer isso. — Sim. — Mas ele quase desejava que ela o fizesse. Não sentia entusiasmo pelo casamento. Entusiasmo não é necessário, ele lembrou a si mesmo. Ela atende às minhas finalidades. Se apenas a mulher não ficasse tímida sempre que ele a olhasse. Ele sabia o porquê dela fazia isso. Os rumores sobre ele, compreensivelmente, a deixavam nervosa. Mas o nervosismo dela o irritava da mesma forma. Bem, uma vez que se casassem e ela viesse a conhecê-lo melhor, ela iria relaxar. E ele aprenderia a lidar com sua timidez, no tempo certo. Jordan de repente sacudiu o jornal e levantou-o para examinar mais de perto. — Espero que a Srta. Hastings não seja do tipo ciumenta, ou você pode se encontrar sendo rejeitado no final das contas. —Por quê? — Ele soprou uma nuvem de fumaça no ar. — Essa coluna relata que você manteve uma amante por mais de um ano. — Coluna? No jornal? Você deve estar brincando. — Nem um pouco. — Jordan ergueu o jornal. — É aqui mesmo no The Evening Gazette. — Meu Deus, de onde eles tiram essas coisas? — Os olhos de Ian se estreitaram. — Embora isso não explique por que todo mundo está me dando parabéns está noite. Me entregue isso, deixe-me ver. 5
Jordan jogou o jornal para Ian. — É a coluna ‘segredos da sociedade’. Você sabe aquele que o Lorde X escreve. — Eu não leio a coluna do Lorde X. — Ian mal tinha tempo de ler as notícias diárias, muito menos às fofocas escritas por fofoqueiros anônimos para jornais de terceira categoria. Ele pegou o papel, e acrescentou: — Eu estou surpreso por você ler isso. Jordan deu de ombros. — O senso de humor do homem me agrada. Além disso, algumas das pessoas que ele ataca precisam ser derrubadas com uma estaca. — Incluindo eu, suponho. — Ian disse secamente enquanto olhava a página. — Nem um pouco. Ele elogia seu bom gosto para as mulheres. — Isso eu tenho que ver. Discussão de assuntos particulares não era novidade na imprensa, mas era dito que Lorde X é particularmente adaptado a isso. Nenhum passo em falso escapava de sua atenção, nada era muito privado. Expor as fraquezas da alta sociedade parecia não só ser sua profissão, como também o seu prazer. Mas era fácil falar o que se pensa quando se escreve sob um pseudônimo. Com crescente impaciência, Ian passou levemente os olhos sobre o que o homem moralizador falava em sua coluna, suas contas dos “escândalos-feitos" por Lady Minnot, e suas críticas aos excessos do Conde de Bentley, cuja nova casa extravagante era uma “abominação na Era em que as viúvas de soldados passam fome". Então, ele avistou o seu nome:
Apesar dos rumores sobre os seis anos de ausência do Visconde St. Clair aumentarem, ele mantém seus amores tão em privado que até o rumor disfarça suas amantes. Assim, o seu correspondente fiel ficou surpreso ao ver o Visconde entrar em uma casa em Waltham Street, com uma mulher bonita e misteriosa. Investigações posteriores revelaram que a casa pertence ao bom Visconde e que a senhora residiu lá por mais de um ano. Outros homens ostentariam tal preciosidade, mas Lorde St. Clair prefere escondê-la, o que só prova que a discrição é realmente a melhor parte da coragem.
Ele leu de novo, as palavras gravando em seu cérebro. Mas que inferno! Waltham Street. Ele deveria ter percebido quando todos começaram a discutir a sua "amante", que significa Srta. Greenaway. Mas como o Lorde X descobriu sobre ela e o quanto ele sabia? Ele a tinha interrogado? Embora ela não fosse suscetível a revelar qualquer coisa, escritores fofoqueiros como Lorde X podem ser muito persuasivos. Ian teria que falar com ela, ter certeza sobre o que ela disse a estranhos. Ele levantou a cabeça para encontrar Jordan sobre ele com indisfarçável curiosidade. — Bem? Quem é ela? Friamente, ele rasgou a página do jornal, dobrou-o em dois, e deslizou no bolso do casaco. — Eu vou lhe dizer quem ela não é. Ela não é minha amante. Lorde X está errado. 6
E prestes a descobrir que nem todo mundo toleraria a língua solta do homem. Se o homem sabia sobre Waltham Street, ele poderia saber outras coisas, e antes que ele as revele na sua coluna desagradável, Ian iria colocar um fim nisso. — Mas você tem uma casa em Waltham Street?— Jordan perguntou. Ian considerou dizer que não era da sua conta, mas com certeza iria despertar a curiosidade de Jordan ainda mais. —Eu tenho uma casa em Waltham Street, mas não com a finalidade que Lorde X mencionou. Eu emprestei para uma amiga da família que passou por tempos difíceis. Nada mais. — Sério? — Sério. — disse ele firmemente. — Não importa o que diz essa fofoca idiota. Jordan se inclinou para trás e cruzou as mãos sobre seu colete. — É esta amiga da família tão bonita como afirma Lorde X? — Por que você pergunta? —ele vociferou. Travessura brilhava nos olhos de Jordan. —Isso explicaria sua falta de preocupação com os atrativos físicos da Srta. Hastings. Se você tem uma bela amante ao seu lado. — Droga, Jordan, você não ouviu uma palavra do que eu disse! — Desculpe-me velho amigo, mas desconheço alguém que tenha ajudado uma bela mulher que passou por tempos difíceis dando-lhe uma casa em uma área nobre da cidade. — Eu não espero que você entenda. — Ian apagou o charuto com irritação. —Você não tem um osso nobre em seu corpo. — Minha mulher faria uma adendo nessa afirmação,— disse Jordan, sorrindo. — Será? Você quase destruiu a reputação dela durante as primeiras semanas em que se conheceram, e sobre minhas objeções, se bem me lembro, foi só depois que você descobriu o quão idiota estava sendo foi que decidiu se casar com ela. Com um olhar faiscante, Jordan abriu a boca para retrucar. Então, ele a fechou e ficou calado, olhando Ian por um tempo. — Eu vejo o que você está fazendo: tentando me desvia do assunto sobre sua amante. — Não mesmo. — Isso era exatamente o que ele estava fazendo, e, geralmente, funcionava com Jordan, cujo temperamento explodia à menor provocação. Jordan nunca se viu forçado a aprender os perigos de um temperamento desgovernado da forma como Ian tinha sido. —Além disso, ela não é minha amante. — Lorde X pensa que sim. — Lorde X é um imbecil. Vou ter que falar com o bastardo, fazê-lo parar de difamar minha amiga publicamente. — Sua voz endureceu. — Eu sei exatamente como lidar com tipos assim. — Se você conseguir encontrá-lo. — Jordan disse na busca pela caixa de charutos. — Ninguém sabe sua verdadeira identidade. — Alguém sabe. Há geralmente um confidente ou um servo ou um parente para indicar o caminho. E certamente existem rumores. 7
— Há sempre rumores. — Jordan cutucou um charuto, deixando-o de lado para então pegar outro. — Pollock foi mencionado, embora nós dois saibamos que ele não tem colhões para isso. Alguém sugeriu Walter Scott. Mas ninguém tem a menor ideia. Lorde X se mantém por si só. — Tenho certeza de que ele faz— comentou Ian secamente. — Caso contrário, um de seus inimigos pode cortar sua língua em um desses becos escuros quando ele menos esperasse. O olhar de Jordan encontrou com o dele. — É isso que você pretende fazer? Ian riu. – Cortar sua língua? E o que eu faria com ela depois? Duvido que haja muita saída de línguas de fofoqueiros no açougue. — Quando a resposta do Jordan foi somente um sorriso fino e uma tragada súbita no seu charuto, Ian olhou para ele. —Meu Deus, você falava a sério! Desde seu retorno a Inglaterra, o abismo entre Ian e seu amigo de infância tinha se tornado mais amplo e profundo a cada dia e, de repente, isso o irritou. — Você realmente acha que eu iria cortar a língua dele por causa de algumas fofocas sobre mim? —Claro que não. — Jordan deu de ombros. – São todos aqueles rumores idiotas sobre você e seu passado sanguinário... Eu continuo esquecendo, é um disparate. — Sim, é um absurdo. — Algumas delas. Ele não estava disposto a discutir o seu "passado sanguinário" com seu melhor amigo. Realmente o abismo iria aumentar se fizesse isso. —Você não deveria dar ouvido aos boatos. —E você não deveria fazer coisas que possam suscitar mais fofocas. Ou levar o homem a escrever mais colunas sobre você. — Não se preocupe com isso, — Ian respondeu. —Quando eu terminar com ele, ele saberá mais do que algumas fofocas sobre mim ou meus amigos. — Quando Jordan levantou uma sobrancelha, Ian resmungou, —Eu só pretendo conversar com o homem, Jordan. Suborno, manipulação ou ameaças devem funcionar, especialmente sobre essa espécie de covarde lamuriento que se esconde atrás de um pseudônimo. Jordan relaxou um pouco. —Como você irá encontrá-lo? — Qualquer um pode ser encontrado se alguém sabe como procurar. — Ian se levantou e olhou para seu amigo. —Vou falar primeiro com seu superior, o editor do The Evening Gazette. — John Pilkington? Ele não vai te ajudar em nada. Ele se deleita em esconder a identidade do seu correspondente mais popular. Talvez, mas até mesmo John Pilkington tem suas debilidades. E Ian iria usá-las para descobrir o que ele queria. — Então é melhor eu começar agora, não é?— disse ele, voltando-se rapidamente em direção à porta. — Nós o veremos na próxima semana, no baile organizado por Sara para inaugurar sua nova casa de campo, não é? Emily já está pensando nisso. Nós não vamos ficar na casa, pois Emily odeia sair de casa por muito tempo com o novo bebê, mas iremos passar um bom tempo por lá para desfrutar do baile. E você tem que ir e ver o bebê. — Eu vou estar lá. Prometi levar Katherine e os pais dela em minha carruagem. 8
Katherine. Só Deus sabe se ela iria. Ele se irritou em pensar que ela poderia considerá-lo um insensível por ter uma amante enquanto a estava cortejando. Bem, Lorde X não iria mencionar Waltham Street em sua coluna nunca mais. Ian iria se certificar disso. Primeiro, alertaria a Srta. Greenaway sobre como lidar com quaisquer perguntas, então, iria aniquilar esse Lorde X. E quando o fizer, o homem iria desejar apenas ter mantido suas piadas sobre os excessos de Bentley.
Capítulo 2 A condessa de Blackmore recentemente deu ao seu marido o primeiro herdeiro. Mamãe e bebê passam bem, então logo veremos Lady Blackmore deixando sua cama para continuar seus esforços na ajuda aos mais necessitados. Tanta dedicação por parte dela merece ser comentada, Sobretudo por ser uma atitude tão rara.
Lorde X. The Evening Gazette, 8 de dezembro de 1820
O míssil vermelho que passava pela janela de estúdio da Srta. Felicity Taylor se parecia muito com um pedaço de fruta. Ao som da parada brusca de uma carruagem e dos palavrões vis vociferados pelo cocheiro, Felicity pulou da cadeira e correu para o corredor. — William, George, e Ansel, venham aqui agora mesmo! —Ela gritou subindo as escadas para o próximo andar. Um estranho silêncio pairava no ar. Então, um por um, os três meninos de seis anos de idade, idênticos, espiaram por cima da grade e a olharam com expressões culpadas. Ela franziu a testa e olhou seu trio de irmãos. — Pela última vez! Vocês não devem bombardear as carruagens com frutas. Vocês estão me ouvindo? Agora, qual de vocês jogou essa maçã? — Quando os meninos murmuraram seus protestos habituais, ela acrescentou: ― Não haverá pudim para qualquer um na hora do jantar até que alguém confesse.— Duas cabeças instantaneamente se viraram olhando acusadoramente para George. Claro que era Georgie. Ele era tão problemático quanto seu xará, o falecido rei louco e seu filho irresponsável que tinha sido coroado esse ano. A denúncia dos seus irmãos deixou o rosto de George sem cor. — Eu não atirei a maça, Lissy, juro! Eu estava comendo, na verdade ela estava muito suculenta, mas aí quando eu me inclinei para fora da janela — O que você também não deveria fazer – ela o cortou – Eu já te disse antes, só pobres rufiões atravessam a janela e atiram coisas nas pessoas desavisadas que estão caminhando na rua. — Eu não joguei! — ele protestou. ― deixei cair sem querer!
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— Sei. Como ontem à noite quando ‘deixou cair’ seu livro de latim e quase fez um buraco no telhado dos Hackneys, ou esta manhã, quando ‘deixou cair’ uma bola de neve no vigário. George balançou a cabeça assentindo. — Uh-uh. Mais ou menos assim. Ela olhou para ele. Infelizmente, lançar um olhar fulminante a Georgie não fazia nenhum efeito sobre esse diabinho incorrigível. Nada fez o que era compreensível. Os trigêmeos ainda estavam se recuperando da morte do pai no ano passado, como ela também. Eles nunca conheceram a mãe, falecida horas depois do nascimento dos trigêmeos. Mas o pai tinha sido o mundo deles. Eles consideravam sua irmã uma substituta pobre até mesmo porque, as dívidas deixadas por seu pai arquiteto, a mantinha muito ocupada, não podendo dedicar tempo necessário à educação dos seus irmãos. Ela plantou as mãos nos quadris, olhou para Ansel, o tagarela entre os trigêmeos. —Onde está James? — Estou aqui. — Seu quarto irmão apareceu atrás dos outros, elevando-se sobre suas cabeças inclinadas. — Eu pensei que você estava cuidando deles para mim. — disse ela irritada. Ela lamentou o tom agudo no instante em que falou. — D-desculpe Lissy. Eu estava lendo. Estou estudando em casa até que possa voltar à Academia Islington. Sua amada academia Islington, que eles não podiam mais pagar por sua placa de ouro nem seus ternos de seda. —Está tudo bem, James. Você deve manter seus estudos. — Embora só Deus soubesse quando ele poderia retomá-los, e, se poderia. Um suspiro cansado escapou de seus lábios. Ela não deveria ter colocado um garoto de onze anos no comando de qualquer maneira. Seu estudioso irmão tinha tanto trabalho brincando de babá dos trigêmeos quanto um cachorrinho tem com três filhotes de lobo. Mas ela não podia pagar uma babá real. Com ou sem babá, Georgie precisava ter temor a Deus antes que os outros começassem a imitar as travessuras dele. —Bem, Georgie, temo que devemos chamar o médico. Georgie ficou boquiaberto. ― Como assim? — Você parece ter problema em deixar cair coisas, então algo deve estar errado com suas mãos. Talvez você tenha aqueles tremores. Vou te enviar para que ele possa examiná-lo. — Eu não preciso de um médico, Lissy! Sério, não preciso!— Ele estendeu as mãos. — Vê? Elas estão bem! Ela deu umas batidinhas no queixo com o dedo, fingindo um olhar de especulação profunda. —Eu não sei. Um médico poderia curar sua súbita doença. Ele poderia sugerir algum medicamento, olhos de sapo picados ou algo assim. Georgie ficou verde. 10
– Olhos de sa-sapo?! — Ou óleo de fígado de bacalhau. De três a quatro vezes ao dia.— Georgie detestava óleo de fígado de bacalhau. — Sinceramente, Lissy, — Georgie deixou escapar, ― não vai acontecer de novo! Serei cuidadoso na próxima vez, eu me inclino bem para fora... qu-quer dizer, fico bem próximo a janela. — Sei que você vai. ― Ela pegou os outros dois olhando Georgie de forma presunçosa e acrescentou: — Se o resto de vocês também ficarem com as mãos trêmulas, vou ficar feliz em chamar o médico para vocês também. Seu comentário surtiu o efeito desejado. Todos ficaram sérios. — Agora podem ir, e brinquem silenciosamente, pelo amor de Deus! pena.
Os trigêmeos não se moveram. Agarrados no corrimão, eles a olharam com carinhas de — Talvez você pudesse contar uma história para a gente.
— É! Aquela em que o pavão comeu o dragão!— Adicionou William esperançoso. Pavões e criaturas fantásticas era a atual obsessão de William. —Essa não, — Georgie disparou – Conte aquela em que o cavalheiro do mal cai do cavalo numa poça de lama e deeeeeixa cair suas armas. Ela deu um pequeno sorriso e sentiu o coração apertado. – Eu não posso agora crianças. Sinto muito, mas devo terminar este artigo. O Sr. Pilkington está enviando o Sr. Wilson para pegá-lo e eu não posso deixá-lo esperando. lama.
— Eu não gosto do Sr. Wilson. – Ansel complementou – Ele deveria cair numa poça de
Ela não teve coragem de falar isso para eles, mas o Sr. Wilson de fato tinha sido o modelo para história. — Sr. Wilson é fedorento e feio ― acrescentou Georgie ― quando ele olha para você, tenho vontade de socá-lo. Ele é um burro maldito, isso é o que ele é. — George! ― Ela tentou parecer chocada, mas foi difícil porque a escolha de palavras de Georgie era surpreendentemente precisa. ― Que palavreado é esse? Vou usar óleo de fígado de bacalhau para lavar sua boca! ―Quando ele fez uma careta ela acrescentou ― Além disso, por mais que não gostemos do Sr. Winston, temos que ser simpáticos com ele para que eu continue escrevendo no jornal. — Mas eu o odeio! ― Georgie chorou. ― Todos nós o odiamos, não é? — Uh-hum. Se estivermos aqui, eu socaria o nariz dele ― disse Ansel veementemente. — Eu cuspiria na sua espada ― William acrescentou, como se ele usasse uma. — Eu, eu... ― James hesitou, sem o mesmo instinto de seus irmãos sedentos de sangue ― Eu faria alguma coisa. — Não, vocês não fariam, eu não permitiria isso. ―Ela prendeu um sorriso ao pensar que seus soldadinhos de chumbo derrubando a ‘carne-seca’ do Sr.Winston. ― Eu digo uma coisa. Se vocês ficarem longe de problemas pela próxima hora, eu prometo contar as duas histórias, a do pavão e a do cavalheiro malvado. 11
— Oba! O pavão vai comer o dragão e o cavaleiro do mal, ― gritaram os trigêmeos em coro enquanto corriam em direção ao quarto. Que Deus os guarde! Eles nunca andam para algum lugar, vão sempre correndo. James olhou envergonhado para ela. ―Vou cuidar melhor deles dessa vez, prometo. — Eu sei que você vai, meu coração. ― Ela sorriu com carinho. ― Você é um bom garoto e de grande ajuda para mim. Agora vá com eles. James sorriu satisfeito e foi atrás de seus irmãos. Ela tinha que lembrar-se de não repreendê-lo desnecessariamente. Ele era tão sensível quanto um poeta, coitadinho. Embora ele não tivesse sido nem a metade tão sensível como o pai. Ficou subitamente com raiva e fez uma careta para o céu. ―Você vê o que fez, Deus? Porque deixou papai cair no rio Tamisa enquanto ele estava bêbado? Você poderia ter realizado alguns milagres, repartido o rio ou algo do tipo. Você certamente poderia ter feito coisas suficientes. Mas não, deixou papai cair. Espero que ele esteja aproveitando o tempo aí em cima, jogando através dos portões de pérola e bebendo nas ruas de ouro. ― Seus olhos lacrimejaram. ― Espero que ele esteja construindo malditas mansões por aí. Ela abaixou os olhos e encontrou uma empregada olhando para ela. A garota desviou o olhar e recomeçou a varrer furiosamente o tapete. Dane-se, pensou Felicity embaraçada. Ah, ótimo. Agora toda a casa deve estar acostumada com as conversas dela com a divindade, uma casa de campo cheio de velhacos não deveriam achar normal uma pessoa discutir com Deus. Como ela poderia fazer qualquer coisa com os garotos sob suas saias? Graças aos céus que a Sra. Box ficaria com eles pelos próximos dias enquanto Felicity viajaria. Ela precisava dar uma escapadela dos soldadinhos de chumbo, especialmente daquele trio. Mas primeiro, o trabalho. Entrando apressadamente no estúdio que antes era do seu pai, ela sentou-se à mesa ao lado da janela e examinou uma folha de papel com tinta. Hmm... Onde ela estava? Ah, sim. Finalmente, no aconselhamento de moda, dando uma profunda opinião sobre o Duque de Pelham: “O que as jovens garotas precisam para refrear sua paixão é de um bom vestuário antigo e um cinto de castidade. Então não teremos todas essas notícias de jovens fugindo de casa”. Ela mergulhou a pena no tinteiro e expôs sua opinião. Claro que para ser justa, a coisa toda precisava de uma calúnia bem disfarçada, que foi um pouco difícil de transpor em palavras. Paixões, de fato. Eram as paixões do duque, que as meninas deveriam evitar, como ela bem sabia. Colocá-lo num cinto de castidade e todas as mulheres iriam aplaudir. Apesar de serem muito eficaz, elas ainda teriam que amarrar suas mãos e amordaçar sua boca nojenta. O pensamento era tão gratificante que ela se sentou e saboreou a imagem inofensiva de Pelham amarrado, mais de uma vez. Amarrar o libertino num carro em movimento e... O som das rodas de uma carruagem a tirou de seu devaneio. Através da janela viu uma carruagem chegando, coberta de neve, rompendo em mil pedaços a fina capa de gelo que havia se formado sob as poças d’água. Quando estacionou perto da casa, Felicity deixou escapar um juramento impróprio de uma dama. O odioso Sr. Winston acabava de chegar. Ela voltou sua atenção ao artigo. Ahh. Ela não teria tempo de terminar de corrigir os erros e ainda tinha aquela frase problemática do segundo parágrafo, que ela tinha intenção de alterar... 12
Do outro lado da rua e fora da linha de visão de Felicity, Ian permanecia oculto nas sombras, observando Sr. Winston procurar algumas moedas no bolso para dar ao cocheiro. Rapidamente Ian surgiu e saudou o cocheiro a tempo, sacando umas moedas de seu bolso e pagando o que o Sr. Winston devia. ― Espere um minuto, ok? O cavalheiro deve ir para outro lugar — Então ele sorriu ao jornalista. ― Pilkington ficará aliviado ao saber que eu conseguir te encontrar. Winston olhou desconcertado para Ian. — Quem diabos você é? — Eu sou o mais novo empregado do Sr. Pilkington.— Na verdade, Pilkington ainda estava entrevistando os candidatos, mas Winston não podia saber disso. — Ele precisa de você em Haymarket. Disse-me para vir aqui e redirecioná—lo. Disse que como sou novo, poderia lidar com o artigo do Lorde X. — Quando Winston o olhou desconfiado, ele acrescentou: — Há um tumulto acontecendo, e ele quer você lá imediatamente. — A revolta? — O brilho no olhar do homem disse a Ian que ele acertou no tema. Winston praticamente lambia os lábios sobre a perspectiva de ver violência nas ruas. – Estou vendo... Bem... — Após uma avaliação superficial de Ian, ele estava aparentemente satisfeito com o capote de lã barata e chapéu de castor que Ian tinha vestido para se fazer parecer mais com um operário do que com um Visconde. — Tudo bem então. Basta bater na porta e dizer que é do jornal. Quando o Sr. Winston pulou na carruagem e mandou o cocheiro seguir em frente, Ian sorriu para si mesmo. Foram três dias subornando os funcionários do jornal para conseguir a informação e seguir Winston. Finalmente valeu a pena, e graças às técnicas que Ian tinha aprendido durante a guerra. Ele não precisava saber o nome verdadeiro de Lorde X. Ele tinha descoberto onde o homem morava e isso era o suficiente. Cuidadosamente subindo pelas escadas frias da casa, ele observou seu desenho gótico e o incomum batente da porta, que parecia familiar. Onde ele tinha visto um como aquele? Como a resposta não veio imediatamente à cabeça, ele guardou a informação para uma análise futura. Em seguida, ele examinou a fachada da casa em meio à neve caindo constantemente. Era um grande exemplo do estilo gótico, com suas janelas pontiagudas e um excelente trabalho no rendilhado de pedras. A casa de um cavalheiro, mas ele não esperava por isso. O veneno da pena de Lorde X era definitivamente aristocrático. Ian tinha estudado os artigos do homem completamente, contudo ele ainda os considerava boatos, ele entendia porque as duquesas atrasavam o jantar para ler sua coluna e porque os lacaios e camareiras gastavam seu suado dinheiro para comprar o The Evening Gazette. E porque Pilkington protegia seu maior recurso tão bem. Lorde X era o sonho de qualquer editor. Forte e espirituoso, com um estilo envolvente e uma incrível capacidade de descobrir os segredos mais ocultos. Ele fornecia tanto louvor e censura de uma forma divertida, como um dos professores de Ian em Eton, que evitava as surras comuns para o uso de um sarcasmo sutil. Lorde X criticava com elegância. Seus assuntos principais eram sobre os membros da sociedade, exemplificando seus piores traços, o desprezo pelas necessidades e sentimentos dos outros, arrogância sem sentido e o amor pela vida licenciosa. Sem dúvida, foi por isso que Ian tinha aparecido na coluna. Dado aos muitos crimes atribuídos ao Visconde de St. Clair, Lorde X, provavelmente o considerava o filho do diabo. Ian deu de ombros. Podia ser até uma meia-verdade, mas verdade ou não, Lorde X precisava 13
aprender a ser mais discreto na sua escolha de seus assuntos. E Ian pretendia ensinar-lhe essa lição específica. Uma forte batida feita com o batente de ferro trouxe uma resposta imediata, embora a mulher de cabelos brancos que atendeu a porta parecia perplexa com a visão dele. — Pois não, Senhor? Posso ajudá-lo? Ele tirou o chapéu, espalhando um pouco de neve ao redor. — Eu sou o Sr. Lennard do Gazette. — Poderia muito bem usar seu verdadeiro sobrenome, já que o Lorde X, provavelmente o conhecia apenas por seu título. ― Estou aqui para levar o artigo. A mulher limpou as mãos úmidas e avermelhadas em suas saias, então ficou de lado. – Então entre. — Quando ele entrou, ela acrescentou alegremente: — Sou a Sra. Box, governanta. Onde está o Sr. Winston hoje? — Ele foi chamado em outro lugar. Estou substituindo-o. — Ah. Bem, espera aqui, querido. Vou buscar o artigo. — Na verdade, — ele falou quando ela começou a subir a escadaria de carvalho ― o Sr. Pilkington pediu-me que falasse pessoalmente com o seu senhor. rir. –
— Meu senhor? Uma expressão confusa transpassou pelo rosto dela. Logo começou a Esse Sr. Pilkington, tão impertinente. Ele não te contou, contou? — Contou o quê?
— Esqueça, não vou estragar sua brincadeirinha. Vou dizer ao “meu senhor” que você está aqui. ― Ela levantou a saia e subiu as escadas, o tempo todo murmurando, — meu senhor, né? ― entre suas risadinhas. Ele ficou olhando para ela. Que criada estranha. Ela ainda não tinha pegado seu casaco nem chapéu. E não tinha mordomo, nem lacaio? Que casa excêntrica! Atravessando em direção a chapeleira de ferro fundido, ele colocou seu casaco e seu chapéu e por fim, examinou o vestíbulo de mármore. Seis anos como espião lhe tinha ensinado como usar a observação para descobrir os segredos de alguém, mas este ambiente era tão enigmático quanto seu proprietário. Uma sala discreta, sem aquelas quinquilharias que alguns preferem. Uma cômoda que continha apenas uma bandeja de prata para as cartas. O espelho que tinha altura maior que a dele tinha grifos como tema, em pequenos entalhes delicados. Era estranho que um homem que escrevia tão atrevidamente sobre a sociedade poderia ter gostos refinados como esse. Talvez a esposa do homem fosse a responsável pela decoração. Isso explicaria o toque feminino. Uma fita de renda aqui, uma linha suavizada lá. Mas se havia uma mulher lá, porque a casa estava tão descuidada? O corrimão de bronze precisava de polimento e os tapetes necessitando de uma varrida. Onde estavam os servos ocupados trabalhando nessa hora da manhã? O forte cheiro de sebo significava que o homem não podia ter condições de arranjar cera de abelha, mas isso não era tão incomum. O tempo foi passando e Ian começou a andar impacientemente. Ele queria terminar logo com isso, então ele poderia ir até Katherine e resolver os negócios do casamento de uma vez por todas. Ele estava se atrasando para ir vê-la desde o surgimento da coluna, dizendo a si mesmo que ela precisava de um tempo para superar qualquer dor que o artigo lhe causara. 14
Pessoas murmurando nas suas costas, sobre sua aparência, seu jeito tímido, e as poucas chances de encontrar um marido. Com certeza a notícia publicada sobre a suposta amante deslumbrante de seu noivo naquela coluna havia provocado um enorme desgosto em Katherine. De modo que disse a si mesmo que sua presença lá só iria piorar a situação. Mas ele era um maldito mentiroso e sabia disso. A verdade era que quando estava com ela, ele queria estar em qualquer outro lugar. Irritava-o constantemente o jeito que ela tinha de concordar com tudo que ele falava ou quando ficava em total silêncio. Quando ela tentava conversar, a ingenuidade dela também o irritava. A maioria dos homens gostaria de ter uma mulher ingênua e dócil. Na verdade, ele a tinha escolhido justamente porque ela não iria lhe causar problemas, especialmente em sua luta contra seu tio. Então, por que a ideia de se casar com ela fazia seu sangue gelar? Ele não pensaria nisso. Ele se casaria com ela, não importa o protesto de seus impulsos egoístas. Ela era adequada às suas necessidades. Além disso, as emoções mais poderosas o induziam inevitavelmente à ruína. É preciso pensar antes de agir, ignorando o canto do desejo ou mesmo da raiva. Há dez anos ele havia aprendido isso da maneira mais dolorosa, e seus esforços para banir tais tentações tinham assegurado sua sobrevivência desde então. Eles também poderiam ser o necessário para ganhar essa batalha, não só com Lorde X, mas com o bastardo de seu tio. Ele caminhou em direção à escada, em seguida, retornou. Foi quando o teto desabou ali dentro. Um “whoosh” atrás dele o fez se girar a tempo de ver um pedaço de gesso atingir o chão uns centímetros do onde ele tinha estado. Seus olhos se estreitaram. Não, não era gesso. Ele chutou aquilo. Quando se desfez e grudou um pouco em seu sapato ele ficou surpreso ao descobrir que a mancha disforme era na verdade um monte de neve suja, mal começando a derreter no chão de mármore. Vozes de meninos flutuavam para baixo, onde ele estava. ― Meu Deus do céu, não é ele! — disse um deles. Uma voz semelhante ecoou: — É outro camarada. — Ele olhou para cima e encontrou-se sobre escrutínio de três pares de olhos chocados. Olhos idênticos em cabeças idênticas que balançavam atrás das grades da escadaria no andar superior como diabinhos fora de alguma cena. Ian piscou um par de vezes, mas não tinha erro ali. Os três garotos jovens no topo das escadas eram idênticos. E um deles tinha um balde vazio na mão. — Olá para vocês ― ele os chamou. ― Vocês cumprimentam todos seus convidados com tanta hospitalidade assim? Um novo rosto apareceu atrás das grades da escada, um garoto mais velho com uma expressão alarmada no rosto em contraste com a curiosa dos outros meninos. ― Oh, Georgie, o que você fez agora?! Lissy vai querer nossas cabeças por isso! Lissy? A babá deles, talvez? Estes devem ser os filhos do Lorde X. Hmm. Trigêmeos idênticos, uma raridade. Ele acrescentou isso às suas informações, embora, em toda sua vida, não tenha conhecido nenhum cavaleiro que se gabasse por ter três filhos idênticos. O menino que não era do trio correu escada abaixo, com os outros atrás dele. Num exame mais detalhado, sua semelhança com os trigêmeos era óbvia. — Por favor, senhor, — o menino mais velho disse assim que ele parou de derrapar na frente de Ian. — Eles não quiseram fazer nenhum dano.
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— Não queriam? ―Inclinando-se para baixo, Ian vasculhou a neve suja. — Pó de carvão, três ou quatro pedrinhas. Pedaço de gelo. — Ele pegou uma forma meio cilíndrica e balançou-a entre o polegar e o indicador. ― O miolo de uma maça? Eu diria que esse pedaço iria causar um pouco de dano na cabeça de alguém. E certamente nas suas roupas. — Nós não estávamos apontando para você, senhor, — um dos trigêmeos, disse amavelmente. —Nós pensamos que você fosse o Sr. Winston. Com muita dificuldade, ele reprimiu um sorriso. — Não é o preferido de vocês, entendi. — Ele olha descaradamente para Lissy — o menino mais velho murmurou. Ian se endireitou, pegando seu lenço para enxugar a mão. —Quem é Lissy? — Nossa irmã – um dos trigêmeos anunciou. — Tô vendo. — Quatro filhos e uma filha. Lorde X tinha uma família bem grande para cuidar. —Bem, graças a Deus que não sou o Sr. Winston. E que sua pontaria é ruim. — Sentimos muito mesmo, Senhor. — o menino mais velho disse penitentemente. — Nós não costumamos fazer esse tipo de coisa. Se não tivéssemos esperando o cavalheiro do jornal ― Eu vim em seu lugar ― Ian o cortou. — Então você é escritor como Lissy? ― um dos trigêmeos perguntou. — Não exatamente. ― Inexplicavelmente ele sentiu dificuldades em mentir para as crianças. ― Sua irmã é escritora? mas...
— Ah, sim. Ela escreve um monte de coisas, — o trigêmeo continuou ansiosamente, —
― Fique quieto ― disse firmemente seu irmão mais velho. Então ele virou a cabeça para olhar Ian. ― Eu poderia dizer que você não é escritor. — Poderia? — Todos os escritores têm as mãos borradas de tinta. Você não tem. Ian examinou suas mãos com uma solenidade dissimulada. ― Acredito que esteja certo. — Lissy tem manchas de tinta nos dedos ― um trigêmeo disse ― porque ela escreve... — Eu disse para você ficar quieto, Georgie ― o mais velho falou severamente. – Não deveríamos falar sobre isso. Lissy diz que não é coisa que uma mulher supostamente faz, escrever histórias. Ian prendeu um sorriso. Ele poderia facilmente imaginar a irmã dele, uma romancista iniciante de 15 anos ou mais, tentando imitar a profissão do pai ao mesmo tempo em que se apegava ao bom comportamento feminino. A governanta apareceu de repente no topo da escada. Quando ela viu as crianças, ela os chamou – Parem de incomodar o cavalheiro, garotos! ― quando desceu apressada, ela viu a pilha de neve se derretendo ao redor como um cirurgião ao redor de um paciente problemático. Ela franziu as sobrancelhas brancas e arqueou o ombro olhando os meninos de lado. 16
— Devo supor que vocês pegaram isso da varanda, né? Eu juro, Papai Noel não trará nada além de pedaços de carvão para vocês, se antes ele tiver uma conversinha com sua irmã. O olhar de pânico que os trigêmeos trocaram uns com os outros fez surgir o instinto protetor de Ian. — Na verdade, um criado entrou e sacudiu uma grande quantidade de neve do seu casaco, ―ele comentou, esperando ter algum deles por ali. ― Eu poderia ter escorregado se os garotos não tivessem se apressado para cá e me avisado. ― Quando os olhares dos diabinhos se iluminaram com gratidão, ele temperou sua súbita ajuda com um olhar severo. ― Tenho certeza que eles limparão tudo isso para você. Eles são muito prestativos. — Sim, nós faremos isso, não é meninos? ― o irmão mais velho ordenou aos demais. — Ah sim, nós queremos ajudar! — Nos deixe fazer isso! — Nós faremos direito! — Muito bem meninos, — disse Sra. Box, as costuras dos lábios trêmulos pela necessidade de sorrir. ― Vocês podem limpar isso. James, corra e busque um esfregão. Georgie, você pode usar esse balde vazio que tem nas mãos. Ela olhou Ian, com um sorrindo saindo dos lábios. ― Obrigada por ser tão compreensivo. Algumas vezes eles são uns selvagens, mas podem ser umas gracinhas quando querem. Ele tentou imaginar, mas falhou. ― Percebi que eles não gostam do Sr. Winston. — Para ser honesta, ninguém gosta. E falando nele, o artigo ainda não está pronto, mas você pode subir e esperar por ele. Ela olhou para onde os garotos estavam espalhando mais neve do que as recolhendo. ― Você se importa de achar o caminho sozinho, querido? São capazes de deixar a sala tão escorregadia como uma pista de gelo. notá-lo.
— Sim, sem problemas. – Isso pode dar a ele uma chance de observar Lorde X, sem
— A primeira porta a direita, depois de subir as escadas. ― Sra. Box apontou para o andar de cima. ― Vá em frente, está aberta. — Obrigado ― murmurou e rapidamente foi em direção ao piso superior. Quando ele achou a sala e começou a entrar, estacou no vão da porta. Ele deve ter entendido mal a direção dada pela governanta. Essa sala continha uma mulher, uma coisinha jovem atrás da mesa com seu perfil voltado para ele. Ele a estudou com interesse. Ela tinha uma mandíbula angulosa e o tom de pele mais rosada, em vez do marfim pálido tão popular entre as jovens naquele momento. Ela deve ser a irmã dos meninos, Lissy. A julgar pelo seu tamanho, ela tinha, provavelmente, metade de sua idade. Mas ele não podia tirar os olhos dela. Seu cabelo foi o que chamou a atenção dele. Uma confusão de cachos cor de canela, atropeladamente empilhados no topo da cabeça e segurados ali por duas agulhas de tricô cruzadas. Ele nunca viu uma mulher tão despreocupada com sua aparência. Na verdade, a bainha de seu vestido azulceleste estava suja, e seus sapatos poderiam usar os serviços de um sapateiro. Em seguida, ela se curvou para abrir uma gaveta da mesa, e sua boca ficou seca. Meu Deus, que vista! Suas doces curvas perfeitamente delineadas sob a musselina fina do vestido. Ele foi um pervertido ao olhar, mas como não fazer isso? Ela pode ser jovem, mas já possuía o 17
corpo bem proporcionado de uma cortesã. Não admira que o Sr. Winston a olhe descaradamente. Ele precisou de todo seu autocontrole para olhar em outra direção procurando a entrada para outra porta aberta. Não havia nenhuma. Pensando em perguntar a jovem mulher qual era a direção que devia tomar, ele limpou sua garganta. Assim que ele reparou o fato de que ela estava escrevendo alguma coisa com os dedos manchados de tinta, descritos por seus irmãos, ela disse sem se virar. lo.
— Venha, senhor. Preciso apenas fazer essa pequena correção e então você pode levá-
Duas coisas o atingiram de uma vez. Uma, sua voz calma e segura o indicou que ela não era tão jovem quanto ele pensava. E duas, ela estava obviamente esperando um visitante. Sr. Winston. Mas que inferno, ele pensou, amaldiçoando-se pela compreensão demorada. Lorde X era uma mulher.
Capítulo 3 A senhora de certo cavaleiro deve tomar cuidado com o namorico de seu marido com uma cantora de ópera famosa por suas mãos abertas e coração fechado. Há boatos que o rouxinol canta tão bem que deseja entrar no castelo, e não tem nenhuma objeção em expulsar o pavão real apenas para conseguir seu objetivo.
Lorde X. The Evening Gazette, 8 de dezembro de 1820
Felicity riscou uma palavra, então rabiscou outra na margem. —Me desculpe estar atrasada com isso, — disse ela, ainda procurando por outros erros na página. —Tem sido uma manhã frenética. Uma voz masculina, suave como um bom conhaque francês, respondeu. ― Leve o tempo que quiser senhora. Estou apreciando a vista. No instante em que registrou a insolência do homem, ela se virou, preparando-se para dar a este novo empregado do Sr. Pilkington a mesma resposta afiada que ela tinha dado ao Sr. Winston no seu primeiro dia. Então ela congelou. O homem com o olhar calmo e concentrado, que estava fora da porta do seu estúdio não era definitivamente do The Evening Gazette. O Visconde St. Clair. Ela o reconheceria em qualquer lugar. Droga, droga, droga de novo! O que ele estava fazendo ali? Óbvio que a Sra. Box tinha o confundido com o homem enviado pelo Sr. Pilkington. Mas isso não explica porque o nobre lorde estava procurando por ela. 18
Ele sorriu, ou melhor, deu um forçado sorriso superficial. O resto de sua expressão facial não indicava o que estava pensando, nem indicava o motivo da visita. Ele entrou no pequeno escritório. ― Assumo que saiba quem sou. Ela certamente sabia. Embora ela jamais pensasse em vê-lo naquela sala. Ela o via em inúmeros encontros sociais. Quem não notaria um homem daqueles? Quase tão alto como dois dos trigêmeos juntos. Além disso, poucos homens preenchiam tão bem seus casacos e calças nessa idade. E poucos homens não eram dândis, tão obviamente como ele. Seu rosto duro e anguloso provocava comentários onde quer que ele fosse, especialmente quando fazia par com a pele oliva que tinha herdado de sua mãe espanhola. Sem mencionar aqueles olhos... A tonalidade exótica de tinta preta, com as pupilas parecendo espirais para dentro de sua alma negra. Eles não eram chamados de “olhos do diabo” à toa. As mulheres se afastavam deles, ou se perderam naquelas profundezas... Ela se chocou. Ela não iria se perder na profundidade deles. O que tinha de errado com
ela? Sim, ela o conhecia, só muito bem depois de ter seguindo-o em direção a Waltham Street na semana passada. Poderia ser por isso que ele estava aqui? Por causa da menção a ele na coluna da semana passada? Mas ele não poderia saber que ela era Lorde X. Sr. Pilkington guardou sua identidade bem. Lorde St. Clair não tinha qualquer razão para protestar seu artigo. Homens da sua laia amavam ter suas amantes com louvor. Ainda assim, não faria nada para ele descobrir a verdade. Rapidamente, ela empurrou os artigos entre outros papéis que tinha sobre a mesa e colou um sorriso no rosto. — Bom dia, Lorde St. Clair. Você deve desculpar minha surpresa. Eu não acho que já tenhamos sido apresentados. — Não, minha senhora. Ele virou para trás e fechou a porta, o que aumentou substancialmente sua inquietação. O olhar dele se estreitou em direção dela. — Mas eu sei quem você é. Ele disse isso como se a descoberta fosse uma surpresa. ― Tenho visto você em alguns lugares. Você é a Srta. Felicity Taylor. Seu pai era o Algemon Taylor, o arquiteto. — Isso mesmo. ― Meu Deus, como era estranho. Ele tinha ido visitá-la, ainda que só agora percebesse quem ela era? — Fiquei triste ao saber da morte de seu pai no ano passado. ―Suas palavras foram devidamente simpáticas, mas a sua expressão ainda era impossível de ler. — Eu vi o seu trabalho em Worthing Manor e em Somerset House. Ele era muito talentoso. Ela sentiu um nó na garganta — Sim, ele era. — Talentoso e tolo. Seu talento o levou a companhia de homens de posição, sua idiotice e temperamento aberto o impediu de reconhecer os perigos da vida além de seus recursos. Ele morreu como tinha vivido, de forma imprudente. Ela não tinha ilusões ou se desesperou com o pai que ela tinha adorado. Ou sobre os homens aos quais teve amizade. Sua voz endureceu. ―Obrigada pelos pêsames, Lorde St. Clair, mas se você me der licença, eu estou um pouco ocupada e...
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— Eu vejo que ele não é o único membro talentoso da família, — o Visconde continuou, como se ela tivesse falado com a parede. Ele fez um gesto para escrivaninha desarrumada. — Aparentemente, você é igualmente talentosa com a caneta... Lorde X. A cor se esvaiu do seu rosto. Ele sabia! Ou talvez ele só pensasse que sabia. Ela deve agir com cautela. —Você quer dizer o homem terrível que escreve artigos no jornal? Certamente você não acha que eu tenha alguma coisa a ver com ele. Ele avançou sobre ela como um exército ameaçador. ―Srta. Taylor, não pense que sou um idiota só porque você acha que sabe os meus segredos. A agitação no peito dela aumentou. Ela voltou para trás, apenas para ser parada pela presença indesejável da sua sólida mesa. — Só um tolo acreditaria que eu fosse Lorde X. Quem te deu as informações foi grosseiramente mal informado. Ele parou a poucos centímetros dela, muito perto para o que o decoro mandava, e ela lançou-lhe um olhar indignado. Ela desejou colocá-lo em seu lugar e limpar esse sorriso presunçoso da sua boca insolente, mas o topo de sua cabeça estava quase no seu queixo, o que tornou impossível olhá-lo de baixo de seu nariz, sem parecer uma completa criança. — Ninguém me deu qualquer informação,— disse ele. —Eu fiz minha própria pesquisa. Descobri o agente preferido de Pilkington, Winston. Então eu o segui até aqui, mandei-o para outro lugar, e tomei o lugar dele. — Com absoluta desfaçatez, inclinou-se e começou a vasculhar a pilha de papéis sobre a mesa. Seu penetrante aroma o assaltou subitamente. — Sua governanta foi gentil o suficiente para enviar-me na busca por seu artigo. — de repente ele parou de vasculhar, um sorriso perverso tocou-lhe os lábios. Segurando uma folha de papel almaço, ele disse, — Este aqui. Sem chance em dissimular por mais tempo. Ela inclinou a cabeça para cima de forma a olhar para ele. — Muito bem. Você descobriu meu segredo. — Sim, eu descobri. Seus olhos encontraram os dela, ainda mais ilegível de perto. Eles eram tão misteriosos quanto a meia-noite... e tão sedutores. Olhando para longe, ela fixou os olhos em um ponto em algum lugar próximo ao seu largo ombro esquerdo. — Eu não posso imaginar por que você teve todo esse trabalho para me encontrar. Ele jogou o jornal sobre a mesa, mas não se afastou. — Porque você escreveu mentiras sobre mim em sua coluna na semana passada, e eu não gosto de ser objeto de falsa especulação. Seu olhar se voltou para ele. Tinha ela escrito alguma coisa além dos comentários sobre a amante dele? ― É uma acusação muito grave, Lorde St. Clair, — disse ela alegremente. —Eu vou ter que desafiá-lo num duelo para defender minha honra. Uma sobrancelha negra arqueou para cima. 20
— Eu te advirto Srta Taylor, você perderia qualquer duelo comigo. ― Seu olhar baixou para se fixar em sua boca. ―Apesar de que, até perder, você faria esse esporte interessante. O diabo, ele era mais pilantra do que ela suspeitava. Agora ela entendia porque algumas mulheres o achavam fascinante. E porque sua amiga tímida, Katherine Hastings, o achou terrível. — Você disse que veio aqui para discutir a minha coluna, — ela comentou irritada por estar com o coração acelerado. — Confesso estar confusa sobre o que lhe ofendeu. — Não brinque comigo, você sabe que eu quero dizer. Aquilo sobre minha suposta amante na Waltham Street. — Esse é o ponto de sua objeção? Por favor, permita minha estupidez um pouco mais. Precisamente o que em meus comentários lhe ofendeu? — O fato de que são falsas, — disse ele, pronunciando cada palavra com crescente impaciência, como se falasse a uma criança. — Eu já expliquei isso. Ele estava tão perto que podia ver cada fio bem aparado de seu cabelo, brilhante como um fino veludo. Sua proximidade, junto com um brilho irritante de determinação nos olhos, começou a preocupá-la. Em tempos como estes, ela daria uma fortuna para ser mais alta. E dotada de um dom para dar socos. Alguma coisa sobre aquele homem estava perturbando-a... um propósito negro sob a aparência civilizada, como uma cabeça de falcão encapuzada. De repente, ela tinha um profundo desejo de estar próxima a porta de saída antes que o capuz caísse e a ave de rapina golpeasse-a. Escorregando entre ele a mesa até a beirada, em direção a porta. — Nem pense em sair antes de eu terminar, — ele ordenou com uma voz de aço, voltando-se para acompanhar seus movimentos. Ela parou em sua tentativa. — E eu não estava. Embora ela quisesse. Ela tinha lidado com homens estúpidos. Ela tinha até manuseado homens furiosos, que eram apenas versões maiores de seus irmãos petulantes. Mas este homem, com sua inteligência e calma estranha, estava fora da realidade de sua experiência. Este homem compelia uma obediência por sua maneira. Ela não queria descobrir o que aconteceria se a obediência não aparecesse imediatamente. — O que eu escrevi sobre você, era verdade. — Ela tentou igualar a sua calma. — Foi uma especulação, baseada em fatos reais. — Tais como? – Ele manteve o olhar fixo nela, descansando seu quadril sobre a mesa. Quando ele cruzou os musculosos braços, um arrepio subiu pela sua pele. Estar sozinha com ele a proporcionava uma perspectiva totalmente nova sobre um homem. Quando ela o tinha visto em público, rodeado por suas companhias, era fácil dispersar o ar de perigo que ele usava como colônia. Mas agora que ele espreitava-a no estudo antigo de seu pai, não foi nada fácil. — Bem, Srta. Taylor ― ele perguntou puxando-a de volta os negócios que tinham em mãos. ―Quais são esses fatos? — Ah sim. ― Ela os marcou em seus dedos. ― A casa na Waltham Street foi adquirida por você há uns anos para a mulher que reside lá. Ela é linda, relativamente jovem e obviamente apaixonada por você. Seu nome é Srta. Greenaway. Ela manteve em segredo a outra coisa que sabia. Ela podia precisar dela mais tarde, se os assuntos se complicarem. Não havia necessidade de provocar o temível Visconde mais do que o necessário. 21
Um momento de silêncio mortal se seguiu. Então ele se afastou da mesa e se endireitou em toda sua intimidante altura. —Esses são realmente os fatos, em sua maior parte. — Fez uma pausa, seu olhar examinando-a com uma precisão incrível, como se fossem descobrir suas fraquezas. — Você fez uma afirmação subjetiva: a de que ela é "obviamente apaixonada por mim". O que te levou a essa conclusão? —Eu falei com ela pessoalmente. — Embora ela tivesse esticando um pouco a verdade. — Em pessoa? ―Uma corrente de raiva apareceu brevemente em sua voz, antes dele se dominar. — E Srta. Greenaway disse estar apaixonada por mim? Um afrontamento roubou mais cor de seu rosto. — Bem, não exatamente... q-quer dizer ... — Por um momento, teve um impulso louco de mentir. Mas ela tinha a mais estranha sensação de que ele saberia se ela fizesse isso. — Para ser honesta, ela não falou mesmo de você. Ela confirmou seu nome e que a casa pertencia a você, nada mais. — Ela só disse aquilo porque Felicity a tinha encontrado de surpresa quando entrava em casa. Mas no momento que Felicity tocou no nome de St. Clair, a mulher corou e fugiu para dentro do seu santuário. Certamente comprovando seu status. — Como você concluiu que ela estava ‘apaixonada’ por mim? — Mas ele não tomaria isso como prova. — Ela era muito reservada. Claramente quis protegê-lo de... — Uma fofoqueira intrometida? ― sua voz soou com sarcasmo. ― Eu não posso imaginar porque ela iria querer fazer isso. ― Ela olhou para ele ― Se o contato de vocês é tão inocente, então porque ela esconde alguma coisa? — Porque ela prefere a privacidade dela, talvez? — Ou porque temia sua desaprovação. Você deve admitir que seja conhecido por sua discrição. Não diz a ninguém, nem aos seus amigos próximos sobre suas atividades. Coçando o queixo, ele circulou ao redor dela. — Eu suponho que você está se referindo a todos os rumores sobre o que fiz quando estava no exterior. — Bem... sim. Graças à sua notória reticência, descobrir qualquer coisa sobre ele além de rumores tinha sido quase impossível. As poucas coisas foram as de que ele havia desaparecido da Inglaterra com dezenove anos, e retornou após a morte de seu pai há alguns anos atrás. Ninguém sabia onde ele tinha ido ou o que ele tinha feito. As histórias variavam muito, afirmações de que ele tinha sido um espião dos franceses, amante da esposa de um cavalheiro espanhol, incluindo a reivindicação de um homem que tinha visto Lorde St. Clair mendigando nas ruas de Paris. A questão era... o Visconde se comportava de forma mais insondável do que uma confissão de padre. E Felicity desaprovava segredos. Olhou divertidamente para Felicity. — Quais rumores você ouviu? Que eu era um assassino sob encomenda? Que eu seduzi Josephine depois de seu divórcio, e que Napoleão me chamou para trabalhar com ele? Ela apurou os ouvidos. ― Não essa última. — Bom Deus, seria um bom conto para a coluna. Se ela pudesse convencê-lo a confirmar, o que não era provável. 22
— E eu suponho que você acredita em todos os boatos. — Dificilmente. Mas, na ausência de outras informações, daquelas que você mesmo pode oferecer... o que mais você quer que eu faça? Ele parou na frente dela. —Você pode cuidar da sua própria vida em vez de semear rumores e fofocas pelo caminho. — Eu não semeio boatos e fofocas! — Ah, sim, eu esqueci: Você faz especulações baseadas em fatos. — Eu faço o que qualquer bom integrante da imprensa faz — disse arrogantemente. Ele bufou. — Os bons escrevem de forma responsável. Eles se preocupam com questões de importância nacional. Não creio que a Srta. Greenaway se qualifica assim. — Quando ela começou a responder, ele levantou sua mão. — Então, você viu a mulher, descobriu que lhe forneci abrigo e determinou que ela fosse minha amante, não foi isso? — Foi uma dedução lógica. —Mas errada. Eles estavam de volta ao assunto mais uma vez. — Se de fato estou equivocada sobre a situação, vou escrever uma feliz correção. Até agora você não me disse nada para provar que estou errada. — E você não conseguiu explicar porque está tão interessada em meus assuntos pessoais. — Passeando de volta para a mesa onde seus papéis estavam espalhados a esmo sobre a superfície de carvalho, o homem realmente tinha o desplante de vasculhar suas notas. —Diga-me, qual é o possível motivo que poderia ter para escrever sobre mim? Eu te ofendi sem querer? Ela optou por ignorar a detestável implicação, que a vingança motivou sua coluna. — Eu escrevo sobre todo mundo, Lorde St. Clair. Sua história é apenas um entre centenas. — Mas uma mundana. —Ele pegou um envelope, examinou-o e o deixou cair. — Um homem oferece uma casa para uma mulher que não é sua esposa. Certamente isso é uma coisa chata para os seus leitores. Homens fazem isso o tempo todo. Sua indiferença despertou a indignação moral dela. — Exatamente por isso que é ofensivo! Homens procuram virgens para se casarem e querem suas esposas fiéis a eles, mas eles se sentem perfeitamente livres para sair com quantas mulheres puderem colocar as mãos. Ele fez uma pausa nas buscas em sua mesa para lhe lançar um olhar de cálculo. — Você esquece que eu não sou casado. — Não, mas está prestes a ser. Ela lamentou a réplica do momento em que ele congelou. De repente, ocorreu-lhe que ele tinha jogado isso para fisgar uma declaração reveladora, e ela tolamente mordeu a isca. Ele caminhou em sua direção com lentos passos, como um falcão tomando o vôo. — O que você quer dizer? 23
— N-Nada. Só que você está solteiro e... que você vai se casar um dia e... Sem aviso, o falcão pairava sobre ela. — Você sabe da minha proposta a Srta. Hastings, não é? Ela engoliu, depois assentiu. — Eu suponho que você descobriu isso da mesma maneira que descobre todo o resto, se metendo nos assuntos privados das pessoas. — Não! — Sua insistência em vê-la acuada o agradava. ― Srta. Hastings me disse. Katherine é uma amiga minha. — Uma amiga muito querida, doce e leal, embora tímida como um rato. Esse era o problema. Katherine não tinha a mínima ideia de como lidar com os gostos de Lorde St. Clair. — Sei. — Sua mandíbula se apertou. — Então, você decidiu expor o meu 'mau comportamento' na imprensa para fazer a sua 'amiga' duvidar de mim e recusar minha proposta. Ele estava quase certo, embora Felicity não tivesse realmente esperança de que os pais de Katherine duvidassem dele. A pobre Katherine tinha se recusado a romper com o Visconde se isso significasse fazer com que seus pais, especialmente sua mãe, ficassem com raiva. Ela ainda confidenciou melancolicamente para Felicity que, se a Sra. Hastings pudesse ver algo inadequado feito pelo Lorde St. Clair, talvez tivesse alguma esperança de se recusar a proposta. Felicity tinha aconselhado a jovem a opor-se a sua mãe, mas Katherine não queria fazer isso. Mesmo assim, Felicity poderia deixar de interferir, se ela não tivesse o conhecimento de que o homem era muito misterioso, com um passado preocupante e uma amante. O pensamento de sua querida amiga casada com um homem desses gelou seu sangue. Felicity tinha conhecido muitas "namoradinhas casuais" de seu pai para não saber que tipos de maridos se convertiam esses de homens. Renovada em sua posição, ela encontrou seu olhar com ousadia. — Eu pensei que Katherine e seus pais deviam saber no que ela está se metendo. Olhos frios como o mármore negro se dirigiram a ela. — E você não poderia dizer-lhes em particular, porque tem que revelar seu hobby desagradável de se intrometer nos assuntos dos outros. Ela cruzou os braços sobre o peito. Ela já tinha tido o bastante dos insultos arrogantes desse Visconde. ― Veja bem, Lorde St. Clair, não sou eu quem está mantendo uma amante enquanto corteja uma jovem bela e gentil. — Pela última vez, a Srta. Greenaway não é minha amante! — E eu suponho que o bebê que estava com ela, um filho de menos de um ano de idade, também não seja seu filho. Aquilo o deteve em frio. Sua expressão se fechou, ficou pensativo. ―Bem... Então você também sabe sobre o bebê? Eu posso ver o que você pensa disso. — Você nega?
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— Iria adiantar alguma coisa? Você já tem sua opinião formada de que sou um debochado devorador de jovens inocentes e um pai de bastardos. Eu não iria querer destruir sua destorcida avaliação sobre mim providenciando nada tão inútil como os fatos. Ela considerou aquilo como um insulto à sua integridade. — Se você puder provar que minhas deduções são falhas, basta fazê-lo. — Tudo bem. — Abruptamente ele começou um pacífico estudo da sala de canto a canto, examinando o conteúdo e fazendo um inventário. Abriu a caixa de rapé e se sentou na beirada de uma delicada mesinha. — Você aceita rapé, Srta. Taylor? ― ele perguntou, como se fosse a coisa mais natural do mundo. — Claro que não! Era do meu pai. — Então esse estúdio pertencia a ele. — Sim. — Imaginei que sim. E a espada, pendurada na parede? Era de seu pai também? Aonde ele queria chegar? —Não, era meu avô. Ele olhou atentamente. — Ah, sim, o coronel Ansel Taylor. Os rapazes do regimento muitas vezes falaram de Ansel, a bigorna, porque tinha uma coluna de ferro. — No regimento? O que você estava fazendo em um regimento? Uma pequena torção de sorriso tocou seus lábios. — Eu lutei na Guerra das Penínsulas. Ela olhou-o incrédula. A ideia era ridícula. Homens com títulos e fortuna, herdeiros de seus pais, não serviu nas forças armadas. Se eles fossem mortos, iria significar o fim da linha da família e do título. Nenhum pai permitiria isso. Nem o seu próprio iria sugerir isso. Todo mundo sabia que o militarismo era para os filhos menores e pessoas sem títulos. — Isso era o que você estava fazendo no continente durante todos esses anos? — perguntou ela, não se preocupando em esconder seu ceticismo. — Por quê? Você deseja escrever sobre a minha história de guerra que no seu jornal, também? Sua expressão reticente aumentou as suspeitas dela. — Você pode sugerir alguma razão para que eu não devesse escrevê-la? — Receio que você diga que eu participei pelo outro lado — disse ele com uma condescendência ácida. Ela olhou ameaçadoramente para ele. — Eu não invento informações, milorde. Simplesmente as relato. — Ou especula sobre ela. — Quando estou relativamente certa sobre os fatos que baseiam minha especulação, sim. — Isso ajuda quando você tem todos os fatos, não apenas os que lhe interessam — Ele caminhou até a lareira e ajeitou uma obra de arte de James, inspecionando a escultura de uma 25
ovelha feita na madeira crua. Então ele a colocou de lado e encarou Felicity. — Seu avô... Ele tinha amigos na carreira militar, homens que ele teria ajudado de alguma maneira? Ela procurou na memória. — Sim. Ele costumava jantar semanalmente com um soldado amigo. — Então você deve entender minha situação. A Srta. Greenaway é a irmã de um homem que lutou comigo na Batalha de Vittoria. Ele morreu em meus braços. E como estava morrendo, me pediu para cuidar de sua irmã. Eu prometi que faria isso. Então, quando ela foi seduzida por algum salafrário que a engravidou e a abandonou, ela veio até mim. Claro que eu concordei em ajudar. É por isso que eu a coloquei na casa da Waltham Street. Primeiro, ela se sentiu culpada pela suposição que tinha feito. Como ela poderia ter estado tão errada, tão apressada? A pobre mulher se viu pobre e grávida... De repente ela o pegou olhando para ela. Um olhar calculado e totalmente desonesto. Ela olhou para a espada do avô, e então notou a medalha de ouro dele pendurada logo abaixo. A que continha o nome do seu avô e a sua patente gravada nela. O patife! Ele fingiu saber sobre seu avô para reafirmar suas mentiras, para fazê-la ter vergonha de sujar sua própria reputação. Ela duvidou que esse miserável tivesse sequer ouvido falar do seu avô, muito menos ter lutado com homens que o conheciam! Provavelmente a única vez em que Lorde St. Clair empunhou uma espada foi em duelos sobre as mulheres casadas com quem tenha se deitado. ele.
Ooh, ela iria lhe mostrar que não era uma boba. Ela lançou um sorriso superficial para
— Como você foi nobre em ajudar um amigo! ― ela se emocionou. — Eu sinto muito por ter entendido errado. Vou logo acrescentar uma correção na minha coluna. Correndo para a mesa, ela brandiu sua pena sobre o papel e começou a escrever. — Como faço? O propósito de Lorde St. Clair ao comprar a casa na Waltham Street não foi pelo motivo que parecia ser. Tendo jurado ao seu soldado amigo falecido no campo de batalha que tomaria conta de sua irmã, Lorde St. Clair teve a gentileza de recolhê-la quando se encontrou grávida e abandonada por um salafrário. — Você não pode escrever isso! — ele esbravejou atrás dela. Ela fingiu reler suas palavras. — Eu acredito que você está certo. — Ela fitou-o com um olhar duro. — Eu não poderia escrever uma mentira tão descarada. ―Riu — Eu seria a piada da cidade. Um olhar de admiração cintilou nos olhos de Ian — O que te faz pensar que é uma mentira? — Se o irmão Srta. Greenaway tivesse sido seu amigo e este tivesse sido um favor feito a ele, a gratidão dela teria obrigado-a a me falar sobre sua generosidade. Mas isso não aconteceu. — Ela riscou as palavras que tinha acabado de escrever, então jogou seu artigo sobre sua mesa. — Além disso, herdeiros ricos com um título raramente lutam em guerras. Por que eles deveriam, quando há filhos mais novos para isso? Não, eu tenho certeza que você estava no Continente fazendo exatamente o que faz agora... Seduzindo mulheres inocentes. Pela primeira vez naquela tarde, ela parecia ter despertado a ira dele. Um músculo de sua mandíbula pulsou convulsivamente. — Eu não dou a mínima para o que pensa de mim, mas eu não terei você especulando sobre a Srta. Greenaway na imprensa. 26
—Por que não? Você deve agradecer-me para melhorar a sua reputação entre seus amigos. Sem dúvida, eles estão todos te felicitando pela bela amante. — Na verdade, eles estão, — disse ele sem um traço de vergonha. — Mas não é a minha reputação que me preocupa. É a da Srta. Greenaway e do seu filho. Ela não merece ser arruinada com a sua fofoca. — Não seja absurdo, eu não a arruinei. Eu não publiquei seu nome, nem o endereço de sua casa. Nem sequer mencionei a criança. Eu não seria tão cruel com alguém do meu sexo. Além disso, você deveria ter se preocupado com a ruína dela antes de tê-la engravidado. — Eu não a engravidei! — Ele blasfemou uma maldição nada cavalheiresca. — Muito bem, acredite no que quiser. Mas considere quem você realmente está prejudicando, Katherine, uma mulher que você diz ser amiga. A publicação do seu artigo a humilhou. — Não foi minha intenção. — Na verdade, ela tinha pensando muito antes de dar um passo tão drástico. Se tivesse sido apenas a timidez de Katherine no caminho da sua felicidade, Felicity poderia ter mantido silêncio, por considerar que um marido atencioso lidaria com isso. Mas este homem não poderia ser um marido atencioso, não se ele tinha uma amante. Havia também uma pessoa que Katherine alegava amar. Lady Hastings tinha forçado Katherine a recusá-lo, pois estava abaixo dela. Conhecendo Lady Hastings, isso significava que ele era um jovem filho de cavaleiro, ou de um comerciante ou algo assim. Katherine não tinha revelado seu nome, mas ela ainda claramente o adorava. No entanto, ela não teria sido capaz de contradizer a vontade de seus pais se negando a aceitar um pretendente como Lorde St. Clair. Não sem um empurrão. Um grande empurrão, muito público, que faria até a mãe dela tomar conhecimento. E é isso que Felicity lhe dera. — Eu não me arrependo de minhas ações, — acrescentou ela com força. — Ela e sua família tinham que estar cientes do que tipo de homem que você é. Ele lançou-lhe um olhar incrédulo. — Que tipo é esse? Um homem rico, de boa posição social, que possui tudo o que uma mulher desejaria para ter um casamento confortável? Meu Deus, você tem um pensamento estranho. Acha que Katherine irá gostar de sua intromissão? Quer que ela permaneça solteira a vida toda? Para privá-la de uma oportunidade de ter sua casa própria, seus próprios filhos? O comentário logo a fez se lembrar da própria situação. — Muito obrigada por destacar o destino doloroso que aguarda a mim e a todas na minha situação. — Você não tem idade suficiente para entender a ideia de ser uma solteirona. — E você não é mulher para entendê-la, — ela retrucou. — Além disso, você não deve deixar o meu tamanho enganá-lo, senhor. Eu já estou com vinte e três anos! — Realmente, idade muito avançada. — disse Ian sarcasticamente, com uma sobrancelha encurvada para cima. Era surpreendente como um simples arquear de sobrancelha dele podia fazer com que ela se sentisse com a idade dos trigêmeos. Felicity ergueu mais as costas para parecer mais alta até que sentiu uma pontada de dor na parte baixa da coluna. ― Possivelmente não sou ‘tão madura’ como você, mas conhecer os amigos de meu pai me ensinou muitas coisas. O casamento pode ser tão desagradável quanto ser uma solteirona, quando o marido é um libertino descuidado de olhar errante. Katherine não pode me agradecer agora por alertá-la tão publicamente, mas ela fará isso mais tarde! 27
Oh, querido, agora eu passei dos limites, fiz isso, pensou ela, quando ele caminhou até ela e agarrou-a pelos ombros, como um falcão descendo para matar. — Você não sabe o que está fazendo, pequena estúpida! — ele rosnou. A flagrante tentativa de intimidá-la substituiu seu medo por fúria. Desvencilhando-se dele, ela foi para a porta. — Eu sei exatamente o que estou fazendo. Do meu jeito, eu escrevo a verdade. Você pode achar isto difícil de entender, já que subterfúgio é a sua prática habitual, mas este é o meu trabalho e eu faço isso da melhor maneira que puder! Ela abriu a porta com um dramático floreio — Bom dia, milorde. Nossa conversa acabou. Seus olhos se estreitaram. ― Não chegou nem na metade. — Ele caminhou até a mesa e passou o dedo em seu artigo. — Eu não vou sair até que você escreva ter se enganado sobre o fato de eu ter comprado uma casa na Waltham Street para uma mulher. — Escrever uma retração? — A ideia chocou-a. Ela caminhou até a mesa e pegou a página, dobrando-a e colocando-a no bolso do avental. — Eu não vou fazer isso! Em primeiro lugar, porque eu mantenho minhas palavras. Em segundo, dizer que você nunca comprou a casa seria uma mentira, e independentemente do que você pensa, eu não minto em minha coluna. Um sorriso triste tocou seus lábios. — E se eu disser que vou revelar publicamente a identidade de Lorde X? O que acontece? Continuará sendo tão popular se seus leitores descobrirem a mulher que se oculta atrás da fachada de um genioso cavalheiro? A ameaça dele foi a gota d’água. Ignorando a sacudida de medo, ela apontou o dedo para ele acusadoramente. — Vá em frente, seu abusado! Exponha-me! E eu estarei atrás de você como um juiz atrás de um ladrão! Até você convencer as pessoas de que eu sou Lorde X, o que vai ser um pouco difícil se você percebe, vou fazer você e todos os rumores sobre você o único assunto da minha coluna! Ao olhar fulminante dele, ela baixou a voz em um sussurro. — Primeiro eu vou montar um acampamento fora da porta da casa da sua amante, até que ela me diga todos os segredos da sua vida desprezível. Então eu vou vasculhar a cidade inteira para obter informações sobre você. De uma forma ou outra, eu não vou descansar até descobrir exatamente porque você tem tantos boatos sórdidos ligados ao seu nome. Vou fazer com que seja impossível se casar com alguém nesta cidade! Para seu crédito, ele nem sequer piscou sob sua ameaça. Mas ela poderia dizer que ela tinha feito um ponto, pois se os olhos eram pistolas, ela seria um alvo cheio de buracos. — Então, estamos num impasse. — disse ele friamente. Felicity se estremeceu. Talvez não fosse tão sábia para enfrentar ameaças com ameaças, especialmente quando o homem que ela tinha ameaçado tinha poder e riqueza muito superiores aos seus próprios recursos escassos. Como o pai dela tinha avisado quando ela queria se rebelar contra os patrões para os quais ele trabalhava, “Você não pode insultar um canhão com balas, minha criança. Não se você quiser manter sua cabeça no lugar.” Deliberadamente, ela suavizou seu tom. 28
— Eu não vejo isso como um impasse. As coisas vão apenas continuar como antes. Você vai esquecer o meu artigo e eu vou esquecer que tivemos esta conversa. Parece justo. — ‘Parece justo’ que você tenha inventado uma história escandalosa sobre mim apenas para influenciar sua amiga na escolha de um marido? Você pode pensar que ‘parece justo’, se isso pacifica a sua consciência, mas nós dois sabemos que isso é uma lamentável manipulação sua. — Tenho certeza que você iria reconhecer manipulações ruins mais facilmente do que eu, dada a sua reputação. Eu o considero como um serviço para as mulheres. E agora, eu tenho trabalho a fazer. Bom dia, Lorde St. Clair. Ele se endireitou. — Tudo bem, Srta. Taylor, eu vou embora. —Passou, parando a poucos centímetros de onde ela estava. Inclinando-se para ela, ele baixou a voz até ela se parecer com o timbre e o volume de rosnado de um lobo. — Mas eu vou avisá-la, eu sou um homem perigoso para se ter como inimigo. Se algum dia eu a vir em qualquer lugar perto da minha casa em Waltham novamente, você vai se arrepender do dia em que pegou uma caneta e escreveu sobre mim. Então ele se virou e saiu da sala. Ela não disse nada, não se aventurou a fazer uma observação leviana, ou uma réplica quente. Na verdade, agora que ele se foi, levou todo seu esforço para tampar o medo surgido dentro do peito. Porque, apesar de suas palavras corajosas, apesar de sua insistência em acreditar que ele estava apenas blefando, ela acreditava nele piamente. E a última coisa que ela precisava na sua vida agora, era um lorde perigoso.
Capítulo 4 Só é necessário notar os casamentos da Srta. Hilton com Sr. Bartley e Lady Anne Bowes com Sr. Jessup para entender porque ultimamente os casais estão fugindo para se casarem em Gretna Green.Os pais se mostram muito intransigente sem casar suas filhas com lordes anciões, pois os jovens decentes não possuem recursos suficientes para seduzir suas mães gananciosas. Os casais devem seguir seus corações por todo caminho em direção a Escócia.
Lorde X. The Evening Gazette, 8 de dezembro de 1820
Ian desceu as escadas perdido em pensamentos, com o cenho franzido. Era hora de uma nova estratégia. Se a Srta. Taylor achava que ele ia desistir, ela não era só uma solteirona de língua afiada e uma convencida, também era uma tola. Ele nunca deixava cabos soltos, e a hipócrita da Srta. Taylor era certamente um deles. A julgar pelas suas ridículas ideias sobre os aristocratas, ele duvidava que ela ficasse fora disso, especialmente se Katherine ignorar seus avisos e quiser se casar com ele mesmo assim. Então o 29
que a louca da Srta. Taylor faria? Pressionar a Srta. Greenaway até a mulher contar tudo? Ou fuçar seu passado em Chesterley? Não, ele deveria parar essa mulher de uma vez por todas. Mas como mudar o pensamento de uma mulher que alegava que expor “libertinos de olhares errantes” era uma boa causa? Lamentavelmente ela era muito inteligente para ser manipulada. Provou isso quando não acreditou na história sem sentido da Srta. Greenaway ser irmã de um amigo moribundo. E ameaças não funcionaram com ela. Essa descarada inclusive teve a ousadia de ameaçá-lo! Um homem que havia fulminado soldados três vezes mais corpulentos que ela. Droga. Ele não precisava disso agora. Ele não tinha tempo para lidar com a Srta. Taylor. O relógio estava correndo. Ele tinha dois escassos anos para se casar e ter um herdeiro ou ele perderia Chesterley para seu tio bastardo. Ele se recusava a deixar isso acontecer, independentemente do que Lorde X escrevia. Ele chegou à sala de estar e ficou desapontado ao ver que os irmãos bagunceiros da Srta. Taylor já tinha desaparecido. Outra conversa com aqueles irmãos linguarudos poderia ter utilidade. Ah, bom, outra hora talvez. Seria fácil de arranjar. Quando ia se virar para vestir o casaco e o chapéu, viu a Sra. Box surgindo na sala. Ali estava alguém que ele poderia usar a seu favor. E ela ainda não sabia realmente quem ele era. Quando ela o viu, logo sorriu, não foi possível evitar. Ele entendia o porquê. A típica arrogância masculina não o permitiu ver que Lorde X era uma mulher, por mais que ele tivesse notado o estilo feminino de escrever e a propensão em falar sobre os problemas das mulheres no conteúdo dessa coluna. Agora estava pagando por sua falta de visão. — Você falou com ‘meu senhor’, senhor? – a governanta perguntou, com os olhos sorrindo. — Você sabe a resposta para isso, Sra. Box. – Ian contestou com um tom de voz meio debochado e repreensível – Você me enganou com muita eficiência. O rosto da Sra. Box ficou rosado. – Foi malvadeza minha, eu sei. Mas depois de correr atrás de três diabinhos da Taylor House fez de mim tão travessa quanto eles na minha velha idade. — Velha idade? – ele disse suavemente – Você não pode ter mais de quarenta anos. Ela apontou um dedo para ele repreendendo-o. ― Vamos Sr. Lennard, você sabe mais do que isso. Que paquerador você é! — Só com moças bonitas. E como eu posso resistir se essa casa está cheia delas? O sorriso dela desapareceu – Você não paquerou com a Srta, não é? Ela não gosta disso. Ela repreendia o Sr. Winston exatamente por isso, pelas barbaridades que ele soltava. — Tenho certeza que ela fazia isso ― ele disse duramente ― Repreender homens é claramente sua especialidade. — Com um bom motivo. Os homens estão sempre fazendo ‘avanços indecorosos’ atrás dela. Você não fez nada desse tipo, fez? Ele esperava que sua expressão indignada fosse convincente. ― Sra. Box, que vergonha! Sou um cavalheiro, nunca iria maltratar uma Srta!
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Mas ele queria. Ah, sim. Porque junto com o desejo incontrolável de estrangular a Srta. Taylor também veio uma atração igualmente incontrolável. Apesar de todas as suas ideias irritantes, a mulher sabia como fazer um homem desejá-la, sem nem se dar conta. Era aquele cabelo, que parecia como se tivesse saído da cama. E aqueles lábios vibrantes que precisavam ser beijados. Droga! Isso não estava ajudando! Forçando-se de volta ao assunto em questão, ele vestiu o casaco e perguntou: ― Será que o Sr. Winston fez algum avanço com ela? — O canalha fez mais do que isso, um dia a imprensou contra a parede e tentou colocar as mãos sobre ela. De repente sentiu um impulso poderoso de esganar o jornalista ausente. Disse a si mesmo que ele estava apenas reagindo ao pensamento perturbador de qualquer jovem mulher ser agredida em sua própria casa. Não tinha nada a ver com a Srta. Taylor, em particular. — E o que ela fez? — Ah, a Srta. Taylor pode cuidar de si mesma na maioria das vezes. Ela deu uma joelhada naquele lugar que você sabe, e disse a ele que se tentasse outra vez o empurraria escada abaixo. Desde então o homem se comporta bem. Um sorriso tocou seus lábios. Ele deveria saber que a Srta Taylor não agiria como uma típica mulher. Desde quando ela o tinha olhado de igual para igual, nivelado àqueles olhos verdes letais com os dele e lhe dado à aspereza de sua afiada língua, ele se deu conta de que ela era qualquer coisa, menos típica. — Então o Sr. Winston não é do gosto dela, — ele meditou em voz alta. —Ela tem algum pretendente? Ou um noivo? ― Isso seria o ideal. Ele poderia arruinar os planos do casamento dela da mesma maneira que ela estava tentando arruinar o dele. A Sra. Box lhe lançou um olhar de conhecimento. — Ela não tem nenhum noivo e nem muitos pretendentes, acho que o homem certo ainda não apareceu, se é que me entende. Quando ela cutucou Ian e piscou, obviamente ela entendeu mal sua intenção, ele quase riu em voz alta. Isso poderia contar a seu favor. Ele inclinou-se para a governanta com um ar de confidencialidade. ― Eu vou te contar um segredo, Sra. Box. Sua senhora me intriga, mesmo que ela me odeie. Os lábios superiores da Sra. Box enrugaram em sinal de descrença. ― Ela não pode odiar um bom rapaz como você. Você apenas tem que manter o contato com ela, escutou? Eu sei que ela aparenta ter um coração frio, mas é apenas uma fome por... A porta batendo no topo das escadas cortou-lhe as palavras. Ele e Sra. Box olharam para cima para encontrar a Srta. Taylor do lado de fora de seu estúdio, um pilar tremendo de raiva. — Venha aqui Sra. Box, preciso de você mais uma vez. ― O brilho do olhar que dirigiu a ele fritaria a neve que caia lá fora. ― E Lorde St. Clair, se você não sair dessa casa imediatamente e parar de pressionar meus criados, terei meu lacaio jogando-o porta a fora! — Eu disse, ela me odeia. ― ele falou para a boquiaberta Sra. Box. Então ele piscou para a Srta. Taylor com um sorriso presunçoso. ― Eu não posso ver que mal há em falar com os seus criados depois de você ter questionado meus amigos. 31
— Joseph! ― ela gritou, obviamente fazendo valer sua tola ameaça. Embora ele pudesse espancar qualquer criado dela com as duas mãos nas costas, ele tinha cumprido seu objetivo e questionar a Senhora Box podia esperar outra hora. Ele pôs o chapéu na cabeça. ― Não incomode seu lacaio, estou saindo. ― Ele acrescentou com um aceno para Sra. Box. ― Nós terminamos nossa conversa depois. O eco da ameaça irada que lhe lançou a Srta. Taylor, que o crivaria de balas se ele voltasse naquela casa novamente para falar com seus criados, o perseguiu até a porta principal. Ele sorriu para si mesmo. Então, a Srta. Toda-Poderosa não era tão insensível à ameaças como ela fingiu ser. Bem, a bruxinha logo descobriria o que significava atravessar o caminho do Visconde St. Clair. Toda mulher tinha sua fraqueza e se fosse preciso perseguir seus criados como um cão de caça para conhecer a dela, ele faria. Ele desceu a escada, já no lado de fora da casa, com um humor muito melhor. Chamando o seu cocheiro, que o aguardava com a carruagem em um ponto da rua, ele parou para saborear o ar frio, depois do decidido ar abafado da casa e de sua dona. A neve continuou a semear o inverno ao longo da rua enlameada. No momento, tudo era coberto de branco, mas logo as estradas se transformariam num pântano gelado inavegável por qualquer homem sensato. Isso lhe lembrava a Srta. Taylor, pura, branca e inocente à primeira vista. Mas o gelo era o gelo, quer raspado em flocos macios ou sólido embalado em folhas, e deve ser colocado à chama para torná-lo água inofensiva. Bem, ele tinha toda a intenção de colocar Srta. Taylor na chama. Depois disso, ele a teria implorando para escrever uma retratação. Mas primeiro, ele tinha assuntos mais importantes para resolver. Estava escurecendo e a neve se acumulando. Ele, junto com Katherine e seus pais, tinham sido convidados para passar alguns dias na casa de campo da irmã de Jordan, Lady Worthing. Eles estariam viajando juntos em sua carruagem, esta tarde, e eles deveriam pegar a estrada antes que se tornassem intransitáveis. Ele tinha pouco tempo para ir para casa, pegar suas malas e mudar de roupa antes de chegar à casa dos Hastings. Só de pensar em passar duas horas na carruagem com a família Hasting tirava seu bom humor. A essa altura, eles provavelmente já devem ter lido a coluna. Ele não conseguiria falar em privado com Katherine, e mesmo se pudesse, ele não tinha certeza do que dizer a ela. No entanto, ele devia falar alguma coisa, só para forçá-la a uma decisão. Ele já não aguentava mais procurar por uma esposa. E os dois anos que lhe restavam era pouco tempo para casar e ser pai. Seu primeiro filho podia ser uma menina, ou ele podia levar uns meses para engravidar Katherine. Seu cocheiro parou na frente dele, e ele subiu ordenando o cocheiro a dirigir. À medida que se afastou do alpendre, ele olhou para a janela do estúdio da Srta. Taylor, mas não havia sinal dela. Provavelmente foi encerar sua vassoura e adicionar uns sapinhos no seu caldeirão. Ele podia imaginá-la debruçada sobre uma panela de vapor, mostrando proeminentemente esse traseiro tão atraente capaz de conseguir que qualquer homem fique com água na boca, desejando acariciar esse suave... Droga! Lá estava ele de novo, cobiçando a mulher como o libertino barato que ela achava que ele era. Ele tinha que manter a rédea curta sobre esses pensamentos. A mulher era um problema, puro e simples, e sua atração por ela só intensificava isso. Melhor ele se concentrar na sua noiva menos problemática, que a Srta. Taylor parecia determinado em assustar. Ele precisava inventar alguma explicação sobre o artigo que garantiria a Katherine sua intenção de ser fiel a ela. 32
Ele suspirou. A ironia era que ele pretendia fazer exatamente isso. Ele nunca tinha aprovado a infidelidade. Seu pai, com todos os seus defeitos, tinha sido escrupulosamente fiel à sua mãe, e Ian admirava isso. Essas muitas pessoas, que detinham uma sofisticada ideia sobre casamento irritavam Ian, eram frívolos, preocupados apenas com os seus próprios prazeres. Como ele poderia fazer Katherine acreditar nele depois do famoso Lorde X, quando ela já estava tão tímida com ele? Quando ele chegou à Hastings House uma hora mais tarde, ele não tinha determinado o que falar com ela, o que o irritou. Então, quando o mordomo mostrou-lhe a sala de estar, ele já estava com um humor azedo. Quando o servo anunciou-o, o humor de Ian piorou ao presenciar a cena que tinha a sua frente. Dentro do aposento elegantemente decorado, a geralmente arrogante Lady Hastings estava empoleirada na borda de um sofá lavanda como um esquilo num galho de árvore, com a cabeça ereta e olhos inquietos mirando em todas as direções como se sentisse o perigo chegando. Sir Richard, que mal podia andar, estava em pé com grande dificuldade e avançava com a ajuda de sua bengala em direção ao aparador que exibia uma destacável seleção de Brandies. Onde estava Katherine? Por que ela não estava fazendo parte desse estranho quadro familiar? — Lorde St. Clair! — Lady Hastings gritou logo que ele entrou ― Venha se juntar a nós! Trarei chá. ― Ela levantou um sino de prata e tocou-o repetidamente, até que o tilintar ecoou pela sala como um estridente coral de ópera. — Agnes, isso é o suficiente! — O marido mandou. — Coloque o condenado sino no lugar, pelo amor de Deus! Não teremos chá num momento como esse! Uma expressão frenética atravessou o rosto dela enquanto ela batia no assento alinhado ao seu lado com uma energia não característica dela. lado.
— É claro que estamos! Não dê ouvido a ele, Lorde St. Clair. Venha se sentar ao meu Ele perdeu alguma coisa, qualquer idiota poderia dizer isso. — O que aconteceu? — Ian perguntou Sir Richard, ignorando a esposa do homem.
— Nada aconteceu, — Lady Hastings replicou. Ela atirou ao marido um olhar assassino. – Você não deve discutir isso agora, Richard. — Não há porque fingir —, respondeu o marido quando ele alcançou o aparador. — O meu homem pode não ter achado nenhum vestígio deles. Se não fosse por essas pernas, eu poderia ter ido, mas... — Ele parou, derramou uma quantidade generosa de conhaque no copo. ― Você não deveria estar bebendo, — disse ela, enquanto ela se levantou e foi para seu lado. O casal estava testando a paciência de Ian. ― Achar nenhum vestígio de quem? — Minha filha, — disse Sir Richard. Sua esposa soltou um guincho, mas ele evitou qualquer novo protesto. — Ele tem o direito de saber, Agnes. — Ele encontrou o olhar de Ian diretamente. — Você propôs casamento a minha filha, mas ela não lhe deu nenhuma resposta. Correto? Um mal-estar revolvia a boca do estômago de Ian. 33
— Sim. — Se ela tivesse fugido para evitá-lo? Ela tinha se chateado com aquele artigo maldito? Sir Richard levou o copo de brandy até a boca, mas sua esposa o tirou antes que ele pudesse beber. Ele fez uma careta para ela, depois para Ian. —Temo, Lorde St. Clair, que nossa filha tenha fugido... com outro homem. Fugiu? A tímida Katherine que se sobressaltava a cada vez que tentava falar com ela? Ian não pode conter um acesso de ira. Meu Deus, de novo não. Isso tinha acontecido com ele no ano passado quando a filha do Lorde Nesfield, Sophie, fugiu com um advogado. O que havia de errado com essas meninas, sempre voando para casar com homens sem a aprovação dos pais? Ele deve ter a pior sorte da cristandade! Apesar de seus esforços razoáveis para escolher mulheres maçantes, ele só encontrava aquelas cuja natureza tranquila mascarava paixões furiosas. Paixão nunca tinha feito parte de sua oferta, mas claro, ele tinha suposto que uma mulher sensata não queria emoções fugazes dessa classe. Aparentemente, ele estava errado. Maldição! — Ela fugiu com quem? – Ian perguntou. Sir Richard pegou o copo de conhaque de sua esposa, em seguida, tomou-o. Ele limpou a boca com as costas da mão. — Nosso mordomo, o Sr. Gerard. Seu mordomo. Katherine havia fugido com um homem que ela deveria ter conhecido há algum tempo. De repente ele tinha a desconfortável sensação de que ele tinha sido enganado. ―Katherine e seu mordomo já tinham alguma ligação antes? —Sim, — disse Sir Richard, ao mesmo tempo sua mulher gritou. ― Não! — Que era? — ele perguntou em um tom gélido. Sir Richard fez uma careta para a esposa. — Porque você não diz a ele, minha querida? Eu não acho que você gostaria de ouvir o que eu tenho a dizer sobre o assunto. Ela o fulminou com o olhar e logo encarou Ian dando uma volta com tanto ímpeto que o ruído de sua saia rodada de musselina ressonou por toda sala. — Veja Lorde St. Clair, minha filha começou a se imaginar apaixonada pelo Sr. Gerard anos atrás. ― Ela arqueou as sobrancelhas em direção ao marido. ― Eu avisei ao meu marido que ele deveria demitir o homem, mas ele imaginou que não iria acontecer. Uma “paixão de menina” ele costumava dizer. “Ela não fará nada de errado. Não vou sacrificar um bom mordomo por uma tolice dessas.” Sob outras circunstâncias, Ian poderia ter se divertido com a incrível capacidade de Lady Hastings para imitar seu marido. Agora, não. ― Adiante. — Richard pensava que ela ia superar, mas não foi assim. Em seguida, no ano passado, o homem teve a audácia de pedir a mão dela. Ele foi recusado, é claro. Claramente, ele não tinha os requisitos necessários de nascimento e fortuna. — Necessários para você — acrescentou o marido. 34
Ela bufou. — Não seja evasivo comigo, Richard. Você sabe que eu estava certa em insistir nisso. E você devia ter demitido o homem, logo que ele revelou seus sentimentos. Seu marido encostou-se no aparador. — Eu o achei um homem honrado. Além disso, eu temia que demiti-lo seria apenas tentá-lo a fugir com nossa menina, e se eu o mantivesse, ele não arriscaria sua posição. Ambos pareciam aceitar a situação... —Ele olhou desculpando-se com Ian. — Quando você apareceu e ela concordou com sua atenção, eu pensei que ela tivesse esquecido sua fantasia de garota. — Suas atenções se voltaram rapidamente em se tornar sua mulher. — Eu não sabia que ela estava insatisfeita com o seu namoro. Ian não precisava perguntar o que o homem queria dizer. Aparentemente, ele tinha subestimado o seu medo a ele. Sua mulher acenou com a mão como se quisesse apagar as palavras do marido. — Meu marido não sabe que ele está falando. Katherine estava perfeitamente satisfeita com você até... Ela fez uma pausa, e Ian sentiu uma pontada de desconforto. Ele podia ver onde isso estava chegando. — Até que aquele artigo miserável foi impresso no jornal. — ela continuou. Com duas manchas coloridas escurecendo suas bochechas. — Eu sei que os jovens devem ter a sua diversão, mas realmente, Lorde St. Clair, você não podia ser mais discreto? No momento em que o Sr. Gerard leu essa coluna, ele correu até aqui, protestando que estávamos casando "seu anjo" com um libertino devasso que não poderia estimá-la. Ian gemeu. Ele sabia que o artigo só lhe traria problemas. Maldita daquela descarada bruxa, Srta. Taylor! Lady Hastings suspirou. —Claro, eu lhe disse para colocar a cabeça no lugar e Richard, tarde demais, em minha opinião, deu-lhe o seu aviso prévio. Mas foi inútil. Minha menina doce e obediente ficou impressionada com sua coragem. Ela fugiu com ele no dia seguinte. Ian olhou para ela boquiaberto. — Isso foi há muito tempo? Porque não me avisaram? Sequer tiveram a cortesia de me notificar? Uma breve nota, ‘Caro Lorde St. Clair, nossa filha fugiu com o mordomo, desculpe por tudo’ teria sido suficiente! Lady Hastings se eriçou e abriu a boca como se quisesse lhe dar uma resposta adequada. Seu marido apressou-se a intervir. —Você tem todo o direito de estar com raiva, St. Clair. Eu queria dizer a você de uma vez, mas Agnes esperava que meu homem de negócios pudesse recuperar Katherine antes que eles chegassem à Escócia. Eu não tenho nenhuma esperança agora. Meu homem mandou me dizer que os perdeu. Temo que minha filha e Sr. Gerard estejam casados antes de vê-los novamente. Um silêncio gelado se seguiu, pontuado apenas pelo crepitar do fogo e pelo som dos cascos dos cavalos na rua. Ian falou primeiro. — Então eu suponho que seja isso. 35
— Sim. Obrigado por ser tão compreensivo sobre isso. Ian balançou a cabeça. Ocorreu a ele que agora estava livre da insípida Katherine. Parte dele odiava ter seus planos destruídos, mas outra parte se alegrava com sua fuga. — Receio que não iremos a Worthings como planejado, — Sir Richard acrescentou. — Se você puder dar-lhes nossas desculpas. — Claro. — Fez uma pausa, depois disse com toda a sinceridade: — Eu desejo-lhe tudo de melhor com o seu novo genro. Não vou mais incomodá-lo com nenhum assunto concernente a sua filha. — Essa foi outra vantagem deste desastre, ele não precisava suportar mais essa bajulação da Lady Hastings. Ele girou em direção à porta, mas Lady Hastings gritou: — Espere! Suponha que Richard esteja errado, e ela volte casta e ilesa. Talvez então... — Lady Hastings, — ele interrompeu e a encarou — Eu não quero uma esposa que esteja apaixonada por outro homem, não importa o quão casto seu corpo seja. As duas manchas de cor voltaram ao rosto dela. — No entanto, você se sentiu a vontade para vir ao seu casamento com o cheiro de sua prostituta apegado a você. —Agnes! — o marido exclamou em choque. Ian estreitou seu olhar sobre a mulher insolente. — Se eu fosse você, Lady Hastings, eu tomaria cuidado com tudo o que o Lorde X escreve, especialmente sob as circunstâncias. Os espanhóis têm um provérbio: quem fofoca para você, fofoca de você. E o Lorde X claramente não tem preferência sobre as pessoas. Então, sem mais uma palavra, ele saiu.
Capítulo 5 O Conde de Worthing e sua esposa esperam uma multidão para seu primeiro baile de Natal em Kent. Que promete ser o evento da temporada, se o tempo não fizer as estradas intransitáveis,e que permitirá aos curiosos uma olhada no último desenho do falecido Sr. Algernon Taylor na casa de Worthing Manor adquirida há poucos anos.
Lorde X, The Evening Gazette 09 de dezembro de 1820
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Felicity olhou para cima quando a Sra. Box entrou no quarto, seus cabelos brancos como um montão de creme de leite em cima de seu rosto rosado. A governanta tinha um quadro debaixo do braço e uma saia bem lavada estendida sobre a outra. — Graças a Deus está seca — exclamou Felicity, procurando pela anágua. — Deus do céu, você nem terminou de empacotar suas coisas! Descendo a pintura, a Sra. Box lançou um olhar preocupado para o baú meio cheio de roupas ao pé da cama de Felicity. — Você já deveria ter ido! Você deveria ter ido ontem à noite. Irá parecer ruim, você viajar para Worthing e chegar com um dia de atraso. — Não é tão ruim como seria caminhar através da neve à meia-noite. — Felicity enfiou a anágua pela cabeça. Ela poderia se arranjar só com duas delas? Bem, ela deve, não é? Assim como ela deve continuar a gastar o suado dinheiro em vestidos, joias e colares atraentes. A grande quantidade de senhoras não iria convidá-la para sua meio social se ela não fosse a "filha do charmoso Algernon” em vez de "a pobre falida Srta. Taylor". Como ela iria conseguir material para seus artigos? Mas chegar tarde para uma visita a uma casa de campo também não aumentaria sua reputação. Lembrando quem tinha despertado seu antigo temperamento. — Se você deve culpar alguém, culpe ao terrível Lorde St. Clair. Graças a ele, eu tive que me esgueirar no jornal para entregar o artigo noite passada. Quando cheguei em casa, a neve soprava tão espessa que não me atrevi a viajar, especialmente sozinha na escuridão. Juro, se eu vir esse homem novo... ― Tenha cuidado, querida. Seu lorde pode estar visitando Worthings, também. Felicity olhou para os céus. — Por favor, Deus, não, em hipótese alguma, envie esse homem arrogante à Worthings, ou não serei responsável pelos meus atos. Sra. Box ignorado o apelo de Felicity à Divindade. — Eu ainda não consigo acreditar que o Visconde St. Clair fingiu ser do Gazette. E você, repreendendo o Visconde! Isso não foi muito sábio, você sabe. — Que se dane a sabedoria! — exclamou Felicity. – Não me importaria nem que ele fosse um maldito duque! Esse homem merecia uma repreensão. Porque ele era o mais arrogante, enganador, o filho de uma... — E isso é outra coisa. Você deve prestar atenção aos seus modos, querida. Pegou maus hábitos de seu pai, se me perguntar. Aquelas senhoras na casa de campo vão dizer que você está falando como um operário. – A criada lançou-lhe um considerado olhar. — Além disso, eu gostei do Visconde. Sua imponente figura. Alto, todos aqueles músculos... Senhor tem misericórdia de minha alma, que me faz desejar ser jovem novamente. Ele não era nada parecido com os senhores que seu pai costumava trazer para casa. Aqueles não eram rapazes bons. Mas mesmo com aquela pele morena, ele parece atraente. — Atraente! — Felicity exclamou, tentando esquecer que ela também tinha achado sua aparência rude e ar sombrio perturbadoramente atraente. — Se o seu gosto vai até valentões arrogantes, acho que ele é atraente. Ele pensou que poderia ser melhor do que eu porque sou uma mulher. Bem, o corrigi. Ele não vai me incomodar de novo. — Isso é uma pena. Não ia te machucar em nada se casar com um Visconde. — Pare com isso! Você sabe muito bem que ele não se casaria com alguém do meu tipo. E mesmo que se casasse, devo aceitar qualquer cavalheiro razoavelmente atraente que entre 37
por essa porta? Ele mantém uma amante, pelo amor de Deus! Eu jamais manteria silêncio sobre isso! — Supostamente você não poderia, sendo uma mulher sem rodeios e todo o resto. Mas... Ele é rico? — Tenho certeza que ele é, ou ele não poderia pagar uma amante. — Ela viu o olhar especulativo nos olhos da criada, e acrescentou teimosamente, — Eu não me importo se ele tem uma maldita fortuna. Seu caráter é falho. Sra. Box dobrou uma bata rendada e acrescentou no baú de roupas. Felicity tirou-a. Como se ela fosse receber alguém no seu quarto em Worthings! Sra. Box apertou os lábios e empurrou a bata de volta ao baú sob as outras roupas. — A fortuna pode compensar grandes deficiências de caráter, especialmente quando o seu rosto e corpo não é no mínimo deficiente. Se me perguntar. — Não perguntei. — ela retrucou, embora ela desistisse de lutar com a Sra. Box sobre a bata. A mulher simplesmente ia escondê-la mais uma vez quando ela estivesse de costas. — Estou simplesmente apontando que logo teremos que vender a prata, mesmo que só para manter os meninos vestidos. Falando nisso, nós devemos vender isso. — A empregada levantou o quadro que ela trouxe mais cedo. — Não! — Felicity disse, assim que ela viu o que era. ― Esse não. — Trará um bom dinheiro. – Sra. Box tentou persuadi-la. Provavelmente, embora o artista não seja conhecido. Mesmo assim, ela não poderia se separar do quadro favorito de seu pai. Predominantemente em tons dourados e vermelhos podia-se ver um sultão e seu harém. Seu pai alegou gostar das linhas coloridas, mas ela suspeitava que ele gostasse mais das mulheres com pouca roupa. No entanto, aquele quadro também era o seu favorito. Odiava admitir com tanta fraqueza, mas ela gostava mais do sultão com sua pouca roupa. Era tão diferente do homem inglês, moreno, bonito e orgulhoso... Bom deus, ela pensou com um grunhido. Era a viva imagem do Lorde St. Clair. Agora entendia porque achou o Visconde tão fascinante ontem. Talvez ela devesse vendê-lo. — Vou pensar sobre isso – ela disse. — É melhor fazer mais que isso. Você mal tem o suficiente essa semana para dar gorjetas aos criados dos Worthings. Felicity apertou os dentes. ― Não vou dar gorjetas. ― Quando a senhora Box expressou horror em seu rosto, mostrando sua desaprovação absolta, Felicity emendou: — Não voltarei naquela casa, assim o que me importa os criados me criticando quando eu for embora por não ter dado gorjetas? A mulher deu um suspiro exasperado. ― Criança, você não pode ir por aí. Se na casa dos Worthings você se sentir atraída por algum jovem... — Encontrar um bom cavalheiro para casar, é minha única solução. Eu tentei e você sabe. Mas homens aceitáveis não se casam com uma mulher sem dinheiro e com quatro irmãos para criar e os inaceitáveis são... bom, inaceitáveis. — Você quer dizer inaceitáveis segundo seu elevado grau de exigência ― disse senhora Box com insolência. 38
— Qual grau de exigência deveria usar? Eu serei aquela que viverá com ele e compartilhará sua cama, não você ou as crianças. ― Se ela encontrasse alguém para amar, talvez... Mas não, homens não se casam com mulheres como ela por amor. Eles casam com mulheres surpreendentemente belas ou flores delicadas ou bonequinhas de porcelana. Não com uma solteirona de língua afiada como ela. Não que ela queira se casar, disse a si mesma com mau humor. Não precisava. ― É muita pouca coisa que eu não sacrificaria por minha família, e felicidade é uma delas. Desde que Sr. Pilkington me pague regularmente e não se intrometa no que eu escrevo, continuarei fazendo minha coluna e ganhando com o que venha dela. — Uma pena. Esse dinheiro é apenas o suficiente para pagar os credores do seu pai. Eles estão começando a duvidar de mim quando eu minto sobre a suposta herança que seu pai lhe deixou. Por quanto tempo conseguirei fazê-los acreditar que sua herança está demorando a chegar por questões legais? Sra. Box inventou uma mentira muito útil sobre uma herança depois que elas descobrirem que ela e os garotos tinham somente uma renda precária de cem libras anuais, uma carruagem velha e uma montanha de dívidas. Claro, James herdou a casa, pois era o primogênito e se ele viesse a ter um primogênito, este também a teria. Mas a casa estava completamente hipotecada. Até agora a Sra. Box mentiu mantendo os credores a margem da situação, mas até quando aquilo iria funcionar? Ainda se sua escolha fosse a de se casar por dinheiro... — Quando um desses inescrupulosos se der conta de que estamos sem um tostão, você sabe que eles virão em cima dessa casa como moscas, forçando você a ir a bancarrota. Seu irmão perderá a casa que seu pobre pai desenhou com tanto amor. Cansada dessa velha história, Felicity fechou o baú com uma força descomedida. ― Se isso acontecer, eu e os garotos nos juntaremos ao circo. — É sério, querida. Você deveria começar a planejar para o futuro. Que futuro? Ela não tinha um. Ambas sabiam, apesar dela não estar pronta para encarálo. ― Eu te digo uma coisa ― ela disse iluminada. ― Há rumores de que Lorde Worthing costumava ser um pirata. Enquanto estiver em sua casa, pedirei a ele que fale bem de nós para seus companheiros foragidos. Os meninos seriam bons piratas, não acha? Pavoneando-se com esses sabres magníficos na cintura e subindo o cordame do navio... — Deus tenha piedade, a marinha inglesa não permitirá essa barbaridade. ― Sra. Box cruzou os braços sobre seu peito. ―O que deveria perguntar a Lorde Worthing é se algum de seus amigos precisa de uma esposa. — Você quer dizer, seus amigos piratas? ― quando a senhora Box a repreendeu com um olhar, Felicity completou impulsivamente. ― Não deveria me importar em casar com um pirata, você sabe, sempre que se banhe com frequência e mantenha sua perna de pau bem polida. Ou talvez eu pudesse achar um com tapa olho. — Já tive o suficiente por hoje – grunhiu Sra. Box — Tudo que eu digo é que se Lorde Worthing e sua mulher gostam de você o suficiente para convidá-la para sua casa... — Só me convidaram porque papai desenhou a casa deles e querem que eu a veja agora, terminada. ― O convite a pegou de surpresa, porque ela mal conhecia Lady Worthing e nada além do que rumores sobre seu marido. — Insisto que deveria aproveitar ao máximo. 39
— Ah, eu vou, não se preocupe, especialmente no baile dessa noite. Tenho certeza que escutarei fofocas o suficiente para me fartar de escândalos. Só espere até eu escrever minha próxima coluna. — Você e suas fofocas e caldos de escândalos, como se isso fosse manter você na velhice. ― A Sra. Box estalou ruidosamente a língua, pegou a pintura e foi para porta. ― Muito bem, não se incomode com uma pessoa que cuidou de você desde que nasceu. Mas não me venha chorar quando a grana acabar. — Com um choramingo, ela abriu a porta. ― Vou chamar Joseph para buscar o baú. O cocheiro, contratado, estará esperando por você em frente da casa. A governanta rodopiou com o nariz no ar, murmurando: — Senhor livre-me, nunca pensei ver o dia em que os Taylors não conseguiriam nem manter uma carruagem. Felicity fez uma careta para a porta. Sra. Box certamente sabia como ruborizá-la. Mas pelo menos a querida mulher tinha ficado, apesar de seu salário ter diminuído. Apenas quatro criados permaneceram, Sra. Box, Joseph, uma criada para limpeza e o cozinheiro. Todas as amadas pinturas do pai tinham sido vendidas, bem como seus livros de arquitetura e instrumentos de desenho. Mesmo as joias de mamãe tinham ido embora, exceto o colar usado por Felicity em ocasiões sociais. E ainda lhes faltava dinheiro. Os meninos comiam com vontade igual operários, e ela tinha que manter as aparências. Ela fez todos os sacrifícios que poderia imaginar. Eles mergulhavam suas próprias velas de sebo e faziam seu próprio sabão, comiam frango em vez de carne, acendiam o fogo somente quando necessário e racionavam o chá. Eles não tinham parentes para ajudá-los e ela não poderia virar uma governanta com os meninos para criar. Ela considerou dar aulas, porém ganhavam mais sendo colunista do jornal. Além disso, a maioria das escolas requer que as professoras morem no mesmo local onde dão aulas e então o que ela faria com os meninos? Então ela gastava os dias escrevendo para coluna, perambulando pela sala em busca de mais coisas para vender, e rezando para poder manter seus credores longes até os garotos terem idade suficiente para ajudar a família. O Sr. Pilkington algumas vezes deu a entender que poderia publicar um livro dela se ela encontrasse um assunto controverso o suficiente para poder usar sua língua afiada, mas até agora ele havia rejeitado todas as suas sugestões para tal trabalho. Joseph chegou para pegar o baú, e ela arrastou-se pelas escadas atrás dele, com um porte abatido e cansado. A última vez que ela partiu para uma visita desse tipo, ela tinha ido com o pai. Ele havia sido convidado pelo Duque de Dorchester para dar um parecer sobre a restauração da ala oeste da mansão ducal. Ela tinha ido junto para tomar notas, como tinha feito desde que ela tinha onze anos. Durante a visita à propriedade do duque, no entanto, ela descobriu certa aptidão para falar o que pensava de uma forma que as pessoas escutavam. Às vezes, eles a repreendiam por suas opiniões diferentes, mas eles escutavam e até achavam espirituoso. Tinha sido uma diversão, nada além. Agora era a única coisa que lhe garantia uma renda. Tomara Deus que ela nunca perca o seu dom para isso. Ela repetiu a oração uma hora mais tarde, depois de deixar mil advertências sobre os meninos para Sra. Box e depois de passado a difícil despedida banhada de lágrimas e beijos úmidos. E repetiu novamente três horas depois, quando a carruagem batia ruidosamente na estrada repleta de neve rumo a propriedade dos Worthings. Ela desejava saber o que esperar dessa visita. Lady Worthing parecia gentil, mas o que poderia dizer dessas condessas? Muitas 40
vezes elas a faziam se sentir como uma pomba entre pavões, mesmo quando ela se lembrava que era mais esperta e mais inteligente que qualquer uma delas. Não era a anfitriã que mais a preocupava, no entanto. Era o marido, e os rumores de ter sido um pirata. Ela quase esperava que o rumor não fosse verdade, porque certamente um expirata era como um daqueles patrões de seu pai, com mãos ‘errantes’. Mas antes de seu pai falecer, ele disse que os Worthings passavam a maior parte do tempo numa ilha ou no mar, o que seria de se esperar de um pirata. Papai havia considerado suas ausências uma bênção, uma vez que não ia incomodá-lo durante seu trabalho. Na verdade, eles estavam fora quando seu pai sofreu aquele acidente fatal no rio Tamisa. De repente, o cocheiro subiu uma pequena ladeira e a casa saltou às vistas, banindo todos os pensamentos sobre seus anfitriões. — Oh, papai, — ela sussurrou, com um nó na garganta. Não admirava que os Worthings tivessem ficado tão satisfeitos com ele. Foi o melhor trabalho de seu pai, com certeza. Ele sempre se destacou com o estilo gótico, as linhas curvas do arco em forma de S, os parapeitos ao logo do muro baixo da varanda, as faixas pontiagudas feitas para as janelas desse tipo. O estilo imponente, os elementos irregulares refletiam seu imponente e totalmente inconstante pai. Lágrimas escorreram de seus olhos. Maldito por deixar que seus excessos o levassem à ruína! Se não fosse por sua fraqueza para os divertimentos que só seus amigos com títulos e ricos poderiam comprar, ele poderia ter deixado um legado tão grande quanto ao do brilhante Sr. Christopher Wren. Em vez disso, ele deixou apenas uma família quase na miséria e alguns prédios bonitos. Com cinquenta anos era muito jovem para morrer. Muito, muito jovem. O cocheiro chegou à entrada imponente, e ela se recompôs, enxugando as lágrimas amortecidas em seu rosto. Era hora de ser a filha do brilhante Algernon mais uma vez, a inteligente Srta. Taylor, a divertida Srta. Taylor. A pobre Srta. Taylor. Com um suspiro, ela se preparou para a condescendência dos criados quando eles virem que ela tinha viajado de carruagem contratada. Para sua surpresa, no entanto, o mordomo que supervisionava a descarga de seu baú era genuinamente amigável. ― Os cavalheiros saíram para caçar faisão, Srta, e as damas foram agora mesmo se juntar a eles para o almoço. —Nesse frio? — Eles organizaram um almoço na casa de caça da propriedade. Minha senhora disse que se você chegasse a tempo e não estiver muito cansada, você será bem-vinda para se juntar a eles. Ela não estava cansada, mas lhe agradaria poder vaguear pela casa um pouco. Mas ela suspeitava que Lady Worthing preferisse mostrar ela mesma a casa. Além disso, isso não eram férias, era trabalho. E o melhor momento para ouvir as fofocas é quando as pessoas estão relaxadas. — Creio que vou me juntar a eles. — disse ao mordomo. ― Muito bem, senhorita. O criado irá mostrar-lhe o caminho. Apesar do ar frio, o passeio foi agradável, proporcionando-lhe um olhar para o terreno. Apesar do Inverno ter desfolhado as árvores e matado a grama, o número de árvores e as formas das colinas a levou a pensar que o terreno podia ser ótimo durante o verão. O bosque chamou sua atenção para um lugar, um pequeno lago congelado, que brilhava como safiras. Também havia uma longa fila de árvores de carvalho que, provavelmente, teria encantado sua 41
mãe. Seu pai sempre se inspirou nos seres humanos. Sua mãe tinha preferência aos elementos da natureza. Pouco tempo depois, Felicity viu a cabana de caça que o lacaio tinha descrito. Seu pai tinha construído isso também? Ele não, certamente. Ele odiava qualquer coisa rústica. E um chalé de madeira com telhado de palha e as cascas de tronco de árvores emoldurado as portas certamente teria ofendido sua sensibilidade. O lacaio a introduziu numa cena acolhedora de calor e energia. Três homens formaram um círculo em frente da lareira, discutindo vantagens de suas armas, enquanto Lady Worthing e outra mulher conversavam num canto e os servos se alvoroçavam sobre o posicionamento do banquete composto de caldo escocês, canapés recheado com perdiz, ensopado de veado, e lascas de pão. Assim que Lady Worthing a viu, veio para frente com a mão estendida. —Você está aqui, afinal de contas! Quando você não chegou ontem à noite, eu temi que a forte nevasca pudesse ter tê-la mantido longe. Meio emocionada pela saudação graciosa, Felicity, hesitante, tomou a mão de sua anfitriã. — Alguns negócios me mantiveram na cidade até tarde, então fiquei com medo de me aventurar à noite com a neve, cuja boa parte derreteu esta manhã, de qualquer forma, acabei vindo. Ao som de sua voz, um dos cavalheiros girou seu olhar para ela. O Visconde St. Clair. Ela congelou e seu pulso acelerou traiçoeiramente quando seus olhares se encontraram. Ah, por que ele tinha que estar ali? E por que a mera visão dele fazia com que o medo e a ansiedade a atingissem ao mesmo tempo? Dentro do espaço limitado da casa, ele parecia ainda maior e mais ameaçador do que ela se lembrava. Embora o cabelo despenteado e a cor em suas bochechas aumentavam seu encanto masculino, a espingarda que ele mantinha com facilidade casual não fez nada para aliviar seus medos. Em calças de pele de corça e com um longo casaco verde escuro, ele era a própria imagem de um caçador pronto para disparar em qualquer criatura problemática que o frustrasse. Julgando pela farta sacola a seus pés, ele poderia usar sua arma com grande precisão. Seus músculos se contraíram em alarme, mas ela obrigou-os a relaxar. Ela estava sendo boba. Mesmo o arrogante Lorde St. Clair não se atreveria a atirar nela, por piedade. Ainda assim, ela se sentiria muito mais confortável se ele tivesse agarrado a uma bengala, em vez de uma arma. Claro, ele sabia quem ela era e isso podia ser tão perigoso quanto. Ele iria expô-la? Ou tinha acatado suas ameaças de coração? — Estou muito feliz que você tenha vindo, apesar dos problemas que teve para chegar até aqui, — disse Lady Worthing calorosamente, seu olhar voando de Felicity para Lorde St. Clair. — Agora a nossa festa está completa. Felicity arrancou seus olhos do formidável Lorde St. Clair. Apenas seis deles? E então convenientemente, ou inconvenientemente, emparelhados? Ah, isso seria um desastre. — Mas Lady Worthing...
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— Você não deve fazer cerimônia comigo. Somos quase da mesma idade e se você for tão agradável como seu pai disse, tenho certeza que seremos amigas. Então, por favor, me chame de Sara. Atordoada por mais uma prova de simpatia da sua anfitriã, Felicity gaguejou. — E-eu ficaria honrada. E você deve me chamar de Felicity. — Ela fez uma pausa. ― Todos seus convidados chegaram, então? — Na verdade, sim. Esperamos uma centena de pessoas para o baile desta noite, mas ninguém está hospedado na mansão. O Sr. e Sra. Kinsley não puderam vir porque tiveram uma emergência em cima da hora e os Hastings viriam com o Ian, mas no último minuto não puderam vir. — Ela lançou um olhar incerto para Lorde St. Clair e depois acrescentou — Ah, mas eu me esqueci. Você não conhece todo mundo, conhece? Felicity negou, acenando com a cabeça. Sara se virou para um homem tão alto como Lorde St. Clair e o apresentou como seu marido Gideon. Felicity murmurou uma saudação enquanto estudava ele. Este homem tinha sido um pirata? Como? Seu cabelo era curto e ele se comportava como um cavalheiro. Talvez o rumor tivesse sido exagerado no final das contas. Ela deveria descobrir sobre isso enquanto estivesse lá, apenas para aplacar sua própria curiosidade. Sara apresentou o casal mais velho, o marquês e marquesa de Dryden, os pais de Gideon. Que grupo mais ilustre e incomum que ela tinha topado, graças ao talento de seu pai. Eles seriam companheiros interessantes pelos próximos dias, mas infelizmente não a forneceria material de trabalho. O parentesco deles faria impossível o uso do que dissessem, pois eles saberiam que a única pessoa estranha no grupo seria a capaz de difundir os rumores. Além disso, ela nunca poderia falar mal de pessoas que se demonstravam tão abertas sem serem altivas. Droga! Isso não foi só uma viagem quase inútil. Também a tinha jogado na companhia do enfadonho Visconde. Então ela se animou. Pelo menos a noite do baile seria repleta de rumores. — O pai de Felicity desenhou Worthing Manor — Sara estava explicando para sua sogra. —Eu pensei que ela poderia gostar de ver como ficou, agora que está pronto. —Os outros já começaram a expressar seus elogios sobre o projeto quando Sara acrescentou — Ah não, me esqueci de te apresentar a Ian. — Não tem necessidade, — comentou Lorde St. Clair. ―Srta. Taylor e eu já nos conhecemos. Felicity lhe lançou um olhar cauteloso. Esse foi o momento que ela temia. Ele iria expôla a seus amigos. Bem, se o fizesse, ela iria fazê-lo se arrepender. Deixe-o tentar. As palavras de Lorde St. Clair parecera intrigar Sara. ― Vocês já se conheciam mesmo? Eu não tinha ideia. Onde vocês se conheceram, Ian? — Talvez eu devesse deixar a Srta. lhe dizer. — Ele provocou Felicity com um sorriso de desafio que a fez cerrar os dentes. O que ele esperava? Que ela iria expor-se? Ou mentiria, para que ele pudesse acusá-la mais uma vez de "inventar" coisas? Bem, ela não iria fazer. — Na verdade, nos encontramos em Taylor Hall. — Quando os outros olharam chocados, ela acrescentou, — Lorde St. Clair veio oferecer seus respeitos depois que meu pai faleceu. ― O que era verdade. Ele ofereceu seus pêsames, de uma forma. Ainda assim, ir até uma mulher solteira que ainda não tinha sido apresentada era escandaloso sob quaisquer circunstâncias. 43
Bem, ela pensou, ela certamente aceitou o desafio. isso.
Se ele queria expô-la, agora era a sua chance. Eles poderiam muito bem acabar com Seu sorriso desapareceu.
― Srta. Taylor vai manchar minha reputação como um cavalheiro. Você deixou de mencionar aos meus companheiros, aqueles que nos apresentou em sua casa. Seu coração deu um pequeno salto. Aparentemente, não correria o risco dele abrir uma discussão sobre sua coluna ante de seus amigos. O conhecimento disso a encorajou. — Oh, sim, seus companheiros. Você e eu estivemos envolvidos numa conversa tão animada naquele dia que eu tinha esquecido sobre eles. Lembre-me de novo, quem eles eram? Ele levantou uma sobrancelha e abriu a boca para retrucar. Ela até se encontrou ansiosamente antecipando sua resposta. Então Gideon amansou a conversa. — Eu odeio interromper, mas podemos continuar essa discussão depois do almoço? Caçar nesse mau tempo desperta um apetite feroz nos homens. Sara riu. — Sim, claro, meu querido. Contente por ter tido a última palavra na discussão, Felicity sentou-se no lugar mais próximo e piscou para Lorde St. Clair, com um sorriso impaciente. Embora ela estivesse entre Gideon e seu pai, Lorde St. Clair sentou-se a mesa, em frente a ela e sua expressão determinada mostrou que ele não tinha intenções de se retirar da batalha ainda. Bom. Ela estava pronta para ele hoje. Assim que todo mundo estava sentado e os criados começaram a servi-los, Sara inclinou um pouco para olhar Felicity. — Você deve desculpar a grosseria de meu marido, Felicity. Passamos grande parte do ano numa ilha remota onde falarmos diretamente é um hábito mais comum do que aqui na Inglaterra. — Eu não me importo com as conversas objetivas, — Felicity respondeu, lançando um olhar aguçado para Lorde St. Clair. — É melhor do que um discurso enganoso. Ele ergueu o copo de vinho, um meio sorriso brincando em seus lábios. — Ah, então eu suponho que você nunca participa daquela diversão feminina chamada 'fofocas'. Antes que Felicity pudesse responder, Sara respondeu a ele. — Como todos os homens, você acha toda conversa feminina suspeita, e eu admito que às vezes possa ser cruel. Mas até as fofocas tem suas serventias. O Comitê das senhoras é baseado na disseminação de boatos ou a ameaça deles para convencer aos membros recalcitrantes do Parlamento em apoiar a nossa causa. — Ela serviu-se do ensopado de veado da bandeja oferecida pelo criado ao seu lado. — E também tem utilidade social, servindo como uma censura pública e insistindo que homens e mulheres atuem com mais decoro e discrição em seus vícios. Que os impedem de influenciar indevidamente os nossos jovens, você não acha? Felicity nunca tinha ouvido falar numa defesa mais eloquente sobre a sua profissão. Ela acrescentou instantaneamente "razão" e "inteligência" a lista crescente de atrativos da condessa. 44
Lorde St. Clair desviou o seu negro e perturbador olhar de Sara para Felicity. — E, se a fofoca é falsa? Felicity sorriu pretensiosa. — Fofoca é mais verdadeira do que falsa. Você nunca ouviu o ditado 'Onde há fumaça, há fogo'? ― Só Deus sabe, Lorde St. Clair tinha estado fumando como uma chaminé. — Sim, mas quem coloca fogo? — Ele bebeu profundamente do vinho em seu copo. — Se você incendeia minha casa, e anuncia que há fogo, isso só prova que você pode colocar fogo e consequentemente, fumaça. Não há prova fiel de minhas tendências incendiárias. — Eu não coloquei. —Ela parou quando ela pegou os outros olhando para ela. — Nós, mulheres, não incendiamos, Lorde St. Clair. Os homens constroem muitos fogos por conta própria que tudo que podemos fazer é manter a fumaça longe para que não nos asfixie. — Ainda estamos discutindo fofocas, não estamos? — Gideon colocou secamente enquanto cortava um pedaço de torta. ― Vocês me deixaram perdido com toda essa conversa sobre incêndios. Sara lançou um olhar exasperado ao marido. — Só porque você é homem, pensa tão literalmente. Tudo é preto no branco. Fofoca é ruim, verdade é bom. Mas algumas vezes a fofoca é boa e verdadeira, é um antídoto muito desagradável para um vaidoso. Quando Ian ia começar a retrucar, ela acrescentou: — Além disso, Ian só está reclamando sobre fofocas, porque foi o assunto da mesma no The Evening Gazette desta semana. — Sério? – exclamou Felicity com assombro. — Eu não me lembro de ter lido nada sobre o seu Visconde no jornal. Diga-me o que foi dito. — É sobre sua mais recente amante. — Os olhos de Sara brilharam. — Quantas são Ian, desde que você voltou do Continente? Quinze? Vinte? E isso foi depois de Josephine e todas aquelas mulheres espanholas. Se for para acreditarmos em fofocas, você passa todo o seu tempo na cama. — Isso foi o suficiente sobre rumores chatos e claramente falsos.— Lorde St. Clair cortou. — Além disso, estávamos discutindo o trabalho do Sr. Taylor sobre Worthing Manor. Diga-me, Sara, a magnífica escada oval do salão foi ideia sua ou dele? Com essas poucas palavras, ele mudou de assunto tão facilmente e de forma eficaz, que despertou uma admiração relutante em Felicity. Lorde St. Clair sabia mudar de assunto muito bem para distraí-la. Apesar de relutante em deixá-lo ganhar, ela não podia resistir a ouvir Sara quando esta começou a contar a saga da construção da casa. Felicity foi logo perguntando, lutando por algum pedaço de informação sobre essas últimas semanas de vida de seu pai. Uma ou duas vezes ela apanhou Lorde St. Clair olhando-a tão de perto, que se perguntou se ela tinha deixado cair mostarda no queixo ou algo assim. Mas ela não lhe daria a satisfação de vê-la reagir. Ela ignorou-o em seu lugar. Assim que todos tinham terminado a sua torta de maçã, os cavalheiros retornaram ao seu esporte. Ela relaxou no momento em que o irritante Visconde desapareceu pela porta com seus companheiros. Agora, se ela pudesse tentar evitá-lo inteiramente pelos os próximos dias ... Lady Dryden decidiu voltar pé para a casa para tirar uma sesta, mas Sara convidou Felicity para ficar na casa de campo e se juntar a ela para um chá. Logo depois que os homens 45
saíram, os criados tinham levado todos os pratos em uma carroça e arrumado tudo. Por isso, Felicity se encontrou ansiosa por ficar a sós com sua anfitriã. Sara entregou-lhe uma xícara de chá, em seguida, apontou para um sofá antigo, mas confortável, perto da lareira. Quando elas se sentaram, Sara sorriu para ela. — Fiquei surpresa ao descobrir que você já conhecia Ian. Mas suponho que não deveria ter ficado. Com sua recente busca por uma esposa, tenho certeza que ele frequenta muitas reuniões sociais como você. — Sara inclinou-se e acrescentou: — Vocês dois parecem muito confortáveis juntos. Eu não tinha percebido que se conheciam tão bem. Felicity começou a protestar contra a conclusão que a condessa tinha chegado, então se conteve. Isso podia ser sua chance de aprender mais sobre o progresso de sua corte a Katherine, desde que o artigo do Lorde X tinha aparecido na gazeta. Katherine e seus pais não tinham estado "em casa" para qualquer um recentemente. Até mesmo para ela. Ela deixou cair o seu olhar num constrangimento aparente. ― Entendi que Lorde St. Clair já havia encontrado uma esposa. Ele não está cortejando seriamente a Srta. Hastings? Sara hesitou, debatendo-se no que dizer. Então, ela largou sua xícara de chá. — Sim, ele estava. Mas falo com autoridade que ele não está mais. A euforia varreu Felicity. Seu artigo tinha funcionado! Katherine estava livre dele! — A Srta. Hasting terminou com ele, então? Eu não posso culpá-la, você sabe, não parecia haver uma profunda afeição entre eles. — Eu acho que você está certa. Suas razões para procurar uma esposa; os de sempre, da necessidade de um herdeiro e talvez algum companheirismo; não requerem profundo afeto. Acho que ele pensou que a Srta. Hastings ocuparia bem essa posição. — Nem tão suficiente assim, se ele está mantendo uma amante. — Felicity murmurou sem pensar. Sara a lançou um olhar interessado. — Ah, então você leu o artigo da gazeta. Você fingiu que não, na hora do almoço. Desta vez o embaraço de Felicity era genuíno. Não tinha palavras para explicar porque ela tinha insultado Lorde St. Clair. Ela hesitou. Felizmente, Sara não esperou por uma explicação. — Eu entendo seus sentimentos. Parecia um tanto espalhafatoso ele exibir uma amante enquanto cortejava alguém. Mas Ian explicou a situação para todos nós hoje.— Ela sorriu timidamente. — Nós não parávamos de provocá-lo sobre sua fama repentina, então ele finalmente nos contou a história toda. Suponho que não devia discutir sobre isso, mas eu odeio ver Ian acusado injustamente. Os ouvidos de Felicity se aguçaram. — Injustamente? — Sim. Veja, a situação não é nada o que diz essa pessoa do jornal. Ian estava simplesmente ajudando um amigo da família. — Ela bateu o queixo, pensativa. — Acredito que ele disse que a mulher era a esposa de um compatriota durante a guerra. Ou era a irmã do homem? — Ela balançou a cabeça. — Em qualquer caso, após a morte do amigo de Ian, a pobre mulher caiu em tempos difíceis, e Ian entrou em cena para ajudar. Ian é assim. Um homem muito generoso. 46
Felicity teve que abafar um bramido. Os amigos de Lorde St. Clair eram tão ingênuos como leais se eles acreditaram na história que ele tinha tentado passar para ela. — Eu nunca teria imaginado que Lorde St. Clair tivesse servido durante a guerra. Ele não parece o tipo. — Ele nos pegou de surpresa. — Sara se apressou a acrescentar: —Não que ele iria lutar, ele não é um covarde nem nada. Estávamos apenas surpresos porque ele nunca nos falou sobre isso. — Ouso dizer que ele é modesto sobre suas realizações, — Felicity comentou secamente. Era fácil ser modesto sobre realizações inexistentes. — Ian é realmente modesto. Fiquei chateada em saber como ele foi mal interpretado no jornal. — Ela suspirou. — Eu não acho que fez mal algum, no entanto. Pode tê-lo salvo de cometer um erro terrível. Aparentemente, sua noiva em potencial tinha seus próprios interesses. — O que você quer dizer? — Você não tem ouvido? Todo mundo em Londres estava falando dele esta manhã ou assim Emily disse, minha cunhada. Emily e meu irmão Jordan vivem perto daqui. Eles vieram da cidade esta manhã e pararam aqui a caminho da casa deles. Emily e eu conversamos em particular, e ela me deu a notícia mais surpreendente. — Sara inclinou-se com um ar conspiratório. — De acordo com ela..,
Capítulo 6 Cuidado, meus amigos, com as armadilhas que podemos construir sobre episódios românticos, a vaidade, desejos desenfreados, a arrogância de acreditar que a pessoa que desperta nossas afeições devem corresponder com os mesmos sentimentos. Nada é tão trágico quando uma mulher, ou um homem, confunde um sorriso amigável com um cortejo. Lorde X, The Evening Gazette 09 de dezembro de 1820
Ian sondou o salão de baile lotado com um olhar de perito. Como ele estava cansado desse maldito esforço sem sentido. Só uma coisa o mantinha no jogo da caça-esposa, saber que se ele não jogasse, estaria distribuindo o legado de seu pai para um homem com o caráter de uma cobra. Ele viu uma mulher insípida enfeitada de renda branca virginal e não podia reprimir um estremecimento. E pensar que ele tinha vindo para isso, escolher mulheres elegíveis como uma bola de Natal. Ele nunca deveria ter demorado tanto tempo nessa busca. Após a morte do pai, quando ele ouviu pela primeira vez as condições que deveria cumprir para receber a herança, ele desperdiçou meses preciosos procurando um meio legal para derrubá-las. As leis de herança deveriam protegê-lo. Mas a morte prematura de seu avô quando seu pai era uma criança havia impedido o homem de se encarregar sobre os direitos à herança , deixando seu pai em uma posição para fazer o que bem entendesse. 47
E na sua forma habitual de manipulação, seu pai tinha feito exatamente isso, deixando um testamento dos mais abomináveis. A percepção de Ian de que não poderia fazer nada para reverter essas condições tinha caído pesadamente sobre ele. Relutante e furiosamente, ele procurou uma mulher que poderia lhe dar o herdeiro que ele precisava para cumprir essas condições. Para sua surpresa, ele descobriu que era um solteirão muito inelegível, agradeceu a todos os boatos absurdos. Muitas pessoas especularam violentamente sobre sua saída abrupta da Inglaterra. Muitos outros haviam cochichado que ele havia espionado para os franceses. Refutar tantos boatos de longa data era impossível, especialmente quando ele não queria falar sobre o que ele realmente fez todos esses anos. Além disso, a discussão de suas atividades no continente podia provocar uma discussão sobre o porquê dele ter fugido da Inglaterra, e isso era inaceitável. Felizmente, suas tentativas infalíveis para se comportar como um perfeito cavalheiro no ano passado tinha amaciado a opinião pública sobre ele, embora muitas pessoas ainda não confiassem a ele as suas filhas. Muitos concordaram com a crença de Srta. Taylor, de que em toda fumaça há fogo. Alguns provavelmente viram a fachada de seu passado sombrio ruir. E agora duas de suas escolhas tinham fugido com outros homens. Outras duas que ele tinha cortejado o recusaram, após seu maldito tio ter dado dinheiro aos pais delas, numa visita. Sem dúvida, tio Edgar tinha pensado que Ian não iria ouvir sobre suas tentativas covardes de minar a busca de Ian por uma esposa. Mas tio Edgar não sabia o quanto seu sobrinho tinha mudado nos últimos anos. Ian já não era a cabeça quente de dezenove anos de idade, que tinha fugido por orgulho e teimosia. Desta vez, ele iria ficar e lutar. Ele não iria deixar aquele bastardo arrastar a propriedade de Chesterley para o fundo do poço como tinha feito com seus próprios imóveis. Se Ian não pudesse encontrar uma esposa a tempo, ele iria revelar publicamente a verdade sobre seu tio, mesmo se isso significava destruir-se no processo. Ele iria para o inferno se fosse preciso para colocar Edgar Lennard lá, também. Infelizmente, ele agora tinha outra incômoda pessoa para enfrentar. Seu olhar se fixou numa figura sorridente atravessando o salão de baile. Srta. Taylor. Usando um vestido modesto mais adequado para uma virgem de sorriso afetado do que para uma solteirona ativista. Ela estava com os fofoqueiros mais famosos da sociedade. Lady Brumley, Lorde Jameson e as irmãs March. A Srta. Taylor era a única entre eles com qualquer brilho ou estilo. Dada sua roupa desgrenhada na primeira reunião, que o surpreendeu. Hoje à noite, ela tinha tomado todos os cuidados com sua aparência. As pérolas incrustadas no seu calçado certamente foram caras, suas joias de bom gosto e elegante, e seu cabelo varrido por um alfinete de pérola muito mais sofisticado do que os dois lápis que ele a viu usando ontem. A luz das velas aumentou o brilho de seu saudável rosto, resvalando até a bainha de seu cremoso vestido de cetim que embalava um corpo que seria invejado por qualquer cortesã. Infernos! Ele estava pensando nela daquele jeito, novamente. Que idiotice perigosa. Era testemunha da maneira que ele perdeu metade de seus tiros após o almoço de hoje, pego em pensamentos de coisas absurdas como o súbito nascer do sorriso dela quando elogiava os desenhos de seu pai, ou o brilho travesso dos olhos dela quando fingiu não ter lido as fofocas que ela mesma tinha escrito sobre ele. Que praga de mulher por invadir seus pensamentos. E por que ele devia sentir essa atração detestável por ela? Não fazia sentido. Ela era uma praga na sociedade e com todo o bom senso, uma mulher que usava a reputação de seu pai para escavar a vida de qualquer pessoa que seja tola de falar com ela. Mesmo agora, ela até se atreveu a falar com Lady Brumley, o galeão da fofoca que tinha uma boca tão grande quanto o seu roliço corpo e que 48
mostrava uma tendência desagradável em usar chapéus com temas náuticos. Ele poderia imaginar pelos caminhos sujos em que a conversa delas vagava. — Então você conheceu a Srta. Taylor na casa dela, não é? — uma voz feminina perguntou ao seu lado. Sem olhar, ele reconheceu o perfume de lavanda da esposa de Jordan, Emily. Sua pergunta demonstrou porque a atração sexual era perigosa. Se ele tivesse sua mente clareada durante a tarde, não teria subestimado a audacidade da Srta. Taylor. Na tentativa de forçá-la a mentir, ele a tentou em falar a verdade, o que ainda provocou uma situação bastante inconveniente para Ian, a se ver obrigado em mudar de assunto para cobrir seus pecados. Deixar de olhar a Srta. Taylor foi mais difícil do que ele gostaria que fosse. dela.
― Já vejo que conversou com Sara. Sim, conheci-a em sua casa. Respeitava muito o pai
— Respeitava mesmo? Tá bom Ian, eu duvido que você sequer tenha conhecido Algernon Taylor. Ian deu de ombros. — Não precisava ter conhecido o homem para admirar seu trabalho. — Você deve ter admirado muito a ponto de apresentar suas condolências a sua filha. Você nunca procura uma pessoa, sem um propósito. Ela o conhecia muito bem. ― Seja cuidadosa, minha amiga intrometida, — ele disse levemente. — Você está se metendo em assuntos além de seu alcance. Emily arqueou uma sobrancelha loira e, em seguida, olhou para o salão de baile, precisamente para a Srta. Taylor. — Ela é muito bonita, não é? Bonita não era o bastante para começar a descrevê-la. As meninas que riam e flertavam com ele eram bonitas. Ela era a própria energia, vital, viva, como uma rosa escarlate entre lírios pastel. Mas rosas tinham espinhos e os espinhos da Srta. Taylor gotejava veneno. — Ela não me interessa, eu lhe asseguro. ― Impressionante como ele conseguia falar a mentira mais deslavada com uma cara tão séria. E mais surpreendente ainda era que tinha sido uma mentira. — Que pena. Ela parecia interessada em você. Aquilo o assustou. — O que quer dizer? — De acordo com Sara, ela estava cheia de perguntas sobre você, especialmente quando ela ouviu dizer que você tinha voltado a procurar por uma solteira elegível. Ele gemeu. — Eu devia saber que Jordan não conseguiria manter uma confidência sem te contar... — Não o culpe por isso. A notícia estava circulando antes de eu deixar Londres esta manhã. Acha que uma família poderia esconder uma fuga, por muito tempo? 49
— Acho que não. — Então Srta. Taylor sabia de tudo agora. A bruxa provavelmente se parabenizou pelo sucesso dela. Então por que não tinha reprimido sua obsessão em arruinar sua vida? Se ela andou perguntando sobre ele, claramente não tinha. Droga. Ele devia encontrar uma nova estratégia para lidar com ela. — A Srta. Taylor tinha lido esse artigo besta sobre você, — Emily prosseguia, — mas Sara explicou para ela as coisas direito. Ian franziu o cenho. ― Explicou para ela? — Sara pensou que você iria gostar se uma mulher não comprometida como a Srta. Taylor soubesse da verdade. Após você ter explicado nesta manhã sobre seu amigo soldado e sua irmã, ambos estávamos ansiosos para ter a verdade reconhecida. Você está sendo modesto sobre a situação e sobre suas atividades, mas nós não gostamos de ouvir você sendo difamado tão injustamente. Tudo que Ian queria fazer era blasfemar em voz alta. Agora a Srta. Taylor pensaria que ele era mais mentiroso do que antes. Que, de certa forma, ele foi. — Pelo que me lembro, eu pedi a vocês para manterem essa história de modo a proteger a privacidade dos meus amigos. Emily lançou-lhe um olhar de soslaio. — E vamos fazer isso. Sara apenas queria ajudar. Você tem procurado por uma esposa, apesar de tudo. É importante que as mulheres elegíveis saibam do seu verdadeiro caráter. — Mulheres como a Srta. Taylor se supõe? — Claro. — Emily batida seu leque algumas vezes. — Certamente você não teria relutância em se casar com uma mulher respeitável simplesmente porque ela não tem uma grande fortuna ou bom nascimento. Se você está procurando uma esposa, Srta. Taylor não seria uma má escolha. Ele queria rir. Casar com a Srta. Taylor seria enorme desastre. Com sua língua solta, propensão para escavar segredos e prazer em alfinetar homens do seu tipo, em menos de uma semana; não, um dia; após o casamento, ela iria se intrometer em seus assuntos. Além disso, ela não aceitaria se casar com ele. O pouco que ele tinha ouvido falar sobre ela indicava que seu pai tinha deixado uma herança substancial, então casar por dinheiro não era nenhum incentivo. E uma vez que ela pensava que ele era um dissoluto e um libertino, um homem que vivia para desmoralizar mulheres e humilhar suas noivas, as atrações usuais de um casamento não iria tentá-la. Mesmo assim, casar com a Srta. Taylor seria tão divertido quanto enlouquecedor. Não, ele reprovou a si próprio. Isso nem se deveria levar em consideração. ainda.
— Você parece ter uma opinião muito favorável a essa mulher. Você nem a conhece
— Verdade. Mas eu gostei dela assim que Sara nos apresentou. Ela é adorável, engraçada, inteligente e direta. Você deve admitir que seja muito sombrio e certamente muito misterioso. Você precisa de uma mulher como ela para te trazer à tona. E se, como muitos homens, você quiser uma esposa com uma reputação impecável, ela o tem também. Ele bufou. — Impecável? Eu duvido seriamente disso. 50
— Oh? — Emily olhou para ele com interesse. — Você sabe alguma coisa sobre a Srta. Taylor que o resto de nós não saiba? Uma pena que ele não poderia dizer a Emily que a Srta. Taylor era Lorde X. Isso só serviria para expô-la a lingua solta. Mas ele não estava pronto para a guerra, ainda. — Eu queria apenas dizer que ela não é o que parece. — Então você é o único a pensar assim, — Emily retrucou obviamente decepcionada pela sua recusa a revelar mais. — Ninguém nunca fala mal dela. Era precisamente por isso que a Srta. Taylor movimentava-se com impunidade através da sociedade. Ela não precisava ser um membro do Almack. Defendida por aqueles da laia de Lady Brumley, ela precisava apenas ser filha do arrojado Algernon Taylor para obter acesso aos prestigiados bailes e ‘companhias’, e assim, para todas as fofocas necessárias para a sua coluna. Segura no seu anonimato, ela desenterrava fofoca antiga, em seguida, passava ao seu julgamento sem nunca sofrer censura da sociedade. Se ela mesma tivesse sido alvo de especulações, ele duvidava que ela fosse tão convencida. Ian parou. Um pensamento intrigante. Srta. Taylor, assunto de fofocas. Ao som dos acordes iniciais de uma valsa ‘pairava no ar’ ele começou a sorrir. Talvez tenha chegado a hora da convencida Srta. Taylor aprender em primeira mão como facilmente uma situação poderia ser mal interpretada. Sem dar-se uma oportunidade de questionar seus motivos, ele desculpou-se com Emily, em seguida, caminhou propositadamente por toda a sala. Ah, sim, ele sabia exatamente como ensinar a Srta. Taylor uma lição muito necessária de humildade, especialmente se sua reputação era "impecável" como Emily disse. Tão logo Felicity viu Lorde St. Clair vindo em sua direção, ela se preparou para problemas. Que o Diabo leve Katherine! Felicity tinha corrido o risco de ser descoberta para evitar que sua amiga se casasse com um degenerado e a mulher tinha fugido com o mordomo de sua família em vez disso! Se ela soubesse que o Sr. Gerard era o alvo dos afetos de Katherine, ela nunca teria encorajado-a. Mas ela tinha imaginado ingenuamente que era um filho de algum cavaleiro menor do que desejava Lady Hastings. Não um criado, por piedade, que era, sem dúvidas um caçador de fortuna! Droga! Era certo Katherine recusar a oferta de St. Clair para, em seguida, aceitar a proposta de se casar com um homem mais adequado a ela, do tipo gentil. Menina idiota. Agora, para incluir a todos os seus problemas, Felicity tinha um homem em seu encalço. Não admirava que Lorde St. Clair tinha passado o almoço atormentando-a. Ele deve estar furioso! Ela o observou se aproximar com um crescente mal-estar. O homem tinha uma estranha capacidade de manter seus verdadeiros sentimentos enterrados ‘profundamente’ dentro dele, o que o fazia mais difícil de manejar em comparação a um homem de fácil leitura. Se ela tivesse algum senso, ela sairia correndo. Uma pena que ela não tinha para onde ir. — Lorde St. Clair caminha para cá, minha querida, — Lady Brumley disse ao lado dela, com um aceno de cabeça elaboradamente artificial dirigido a ela. – Quer que eu o apresente? — Obrigada, já nos conhecemos. — Sem dúvida a Marquesa falaria muito disso. Lady Brumley não tinha chegado aos sessenta anos sem aprender como transformar vagos comentários em alimento de fofocas. Felicity dependia dela para extrair informações que enchiam pelo menos, metade de sua coluna. Às vezes se questionava se Lady Brumley já tinha adivinhado que tipo de calças veste Lorde X. 51
Só Deus sabe, mas ela gostaria ser outra pessoa agora, exceto ela mesma. Em seguida, o Visconde problemático chegou, vestindo um sorriso tão alarmante que ela mal conseguia dar outro em resposta. Ele acenou com a cabeça brevemente à Marquesa e, em seguida, curvou-se em frete a Felicity. — Srta. Taylor, você me daria à honra de dançar comigo? O canalha. Ele queria levá-la para a pista de dança de modo a poder cercá-la e ele sabia que ela não ousaria recusar com Lady Brumley bebendo cada palavra proferida entre eles. Bem, ela tinha que enfrentar sua ira alguma hora. — Eu ficaria feliz em dançar com você, — ela mentiu, estendendo sua mão. Embora fosse ainda mais feliz se nunca o tivesse conhecido. Ele levou-a para a pista de baile com a facilidade trazida pela prática de um cavalheiro, e, em seguida, colocou uma mão na curva de sua cintura, enquanto a outra se fechava firmemente em torno de seus dedos enluvados. Ela gemeu. Que Deus a preserve, ela tinha concordado em dançar uma valsa e valsas não eram seu forte. Geralmente, sua dança deixava muito a desejar, mas em algumas formas, como a quadrilha, ela poderia seguir os passos dos seus companheiros e ocultar seus percalços no meio da multidão. O que era impossível com uma valsa. — Lorde St. Clair — ela começou, tentando avisá-lo. Mas ele já a tinha girado no salão. Um-dois-três, um-dois-três, um-dois-três, ela contando em sua cabeça, inutilmente tentando manter-se sem tropeços e passos em falso. — Srta. Taylor — ele começou. — Shh, — ela murmurou, projetando um invejoso olhar aos outros que tão habilmente gerenciavam a dança com graciosidade. Seus dedos apertaram mais o ombro dele. — Eu estou contando. — Contando? — Os passos. Eu sou muito ruim na valsa. Ele olhou para ela com desconfiança. — Você deve estar brincando. Nesse momento, ela sem querer pisou em seu pé. ― D-desculpe-me. — Ela gaguejou quando tentou recuperar os passos, quase os levando a um impasse. Ele voltou um pouco para que ela pudesse acertar os passos, permanecendo em silêncio até que ela encontrou-os novamente. ― Como você pode não ter o domínio sobre a valsa? Você vai a diferentes encontros sociais toda noite. — Sim, mas eu não vou para dançar. —Ela retomou a apertar seu ombro até a morte. Talvez ele pudesse simplesmente carregá-la pelo salão. Ele certamente era grande o suficiente, e ela já tinha arruinado qualquer graça e elegância que eles poderiam estar demonstrando, agarrando-se a ele como uma mulher a se afogar. Quando ele não respondeu seu comentário, ela arriscou um rápido olhar para seu rosto. Ele era blindado, seus olhos impessoais como pedras preciosas. ― Esqueci, você vai para ouvir fofocas. 52
— Para coletar material. — Sua condescendência e facilidade óbvia para dançar valsa a estava irritando. — E você vai para caçar uma égua parideira. Não vejo por que isso é mais aceitável. — Uma égua parideira? — ele se engasgou. ― É o que você coletou do interrogatório que fez a Sara essa tarde? Ela tropeçou e ele a pegou, movimentando-a de volta para a etapa da valsa somente momentos antes de ela colidir com outro bailarino. Ela levou um segundo para se recompor. — Eu não interroguei Sara. Ela ofereceu informações. — E você fez suas habituais especulações com base em dicas e insinuações. — Então você não está procurando uma mulher para ter seu herdeiro? Um longo silêncio se seguiu, durante os quais ela tomou ciência de algo além da valsa… como o largo tórax dele ao nível de seu olhar… seu perfume de especiarias e o cheiro de linho engomado e masculino, autêntico de homem... Em algum momento ele tinha movido a mão que estava segurando a lateral de sua cintura e posto no começo de suas costas. Embora ela tenha entendido porque ele sentiu a necessidade de restringir sua cintura com o braço, dada sua capacidade abismal de valsar, porém, foi ainda mais inadequado. Ela se voltou facilmente para ele, então quase perdeu o ritmo, levando-o a manter seus braços ainda mais apertados em volta dela. Quando ela encontrou seu olhar, ela o viu olhando para ela com divertimento. — Você realmente não pode valsar, pode? — ele disse. — Você acha que gostaria de fazer algo parecido com isso? — Por que não? Compensa fazer todo o resto. — Não suas razões para precisar de uma esposa, eu suspeito, — ela disse determinada a fazer-lhe responder a sua pergunta. Ele soltou uma respiração exasperada. ― Claro que preciso de uma esposa para ter meu herdeiro. É por isso que a maioria dos homens de título e fortuna precisa de uma esposa. — Ele pausou. — Então, o que eu devo esperar ver na próxima edição do Gazette? Ela estava começando a sentir-se confortável o suficiente para que sua observação maliciosa não a fizesse perder os passos. — Realmente, Lorde St. Clair, você tem uma opinião exaltada sobre si mesmo. Tenho coisas mais interessantes para escrever do que sobre seus cortejos. — Sim, como a fuga da Katherine. Então ele tinha finalmente trazido o assunto à tona, não tinha? Inclinando a cabeça para baixo, ela focou em sua gravata habilmente vinculada. — Por que deveria escrever sobre isso? Todo mundo já sabe. Além disso, apesar do que você pensa, eu não estou tentando arruinar as vidas das pessoas. Katherine é minha amiga, antes de qualquer coisa. — Você já tinha a humilhado escrevendo sobre minha suposta amante. Por que a relutância em falar sobre a sua fuga? A acusação injusta a incomodou. — Eu vou admitir que meu artigo possa ter causado algum desconforto a ela, mas obviamente não durou muito. O resultado final foi sua felicidade. 53
— Você tem certeza? Esse mordomo conhece seus padrões impecáveis? Seu interesse em sua gravata cresceu espantosamente. — Eu não o conhecia, mas eu tenho certeza que ele é um homem muito bonito e vai fazê-la feliz. — Sei. O que significa que você está tão consternada sobre a fuga quanto eu. Ele era tão presunçoso! Ela blasfemou, e muito hábil em ler sua mente. ― Não de tudo. Pelo menos ele afirma ter ser apaixonado por ela, que é mais do que você poderia dizer. — Você tem uma resposta para tudo, não é? Mas eu a conheço Srta. Taylor, e você não acredita em amor mais do que eu. ― Ele puxou-a mais perto, rebocando-a da coxa ao peito de uma forma mais indelicada. Ela tentou empurrá-lo de volta, mas falhou. — Eu talvez não valse muito bem, — ela sibilou, — mas você precisa me segurar tão de perto? Não é apropriado e você sabe. — Não, não é. Quando ele não se desviou um centímetro em resposta a sua repreensão, ela disse: ― Poderia gentilmente me soltar? — Eu acho que não. Ocorreu a ela que isso não tinha nada a ver com suas habilidades de dançarina. ― Por quê? — Porque manter você a uma distância prudente não seria tão agradável. — Ele completou seu comentário com um sorriso tão cínico que fez seu coração parar. Ela pisou propositadamente em seu pé, mas seus sapatos de baile não eram páreo para os sapatos de couro do homem. — Lorde St. Clair... — ela começou. — Chama-me de Ian. ― a interrompeu com um tom zombeteiro. — Depois de tudo que você sabe sobre mim, não vejo razão para mantermos a cerimônia. — Agora veja só, eu sei que você está irritado comigo sobre a fuga de Katherine. — Você escreveu publicamente sobre questões que não eram da sua incumbência. Você perguntou aos meus amigos sobre meus assuntos particulares. — Ela perdeu um passo, mas ele a puxou de volta nele sem a menor cerimônia e continuou dançando. — E você nem sequer teve a decência de sentir remorso pelo que fez. — Porque eu não fiz nada de errado! — Realmente? — Eles giravam a luz de velas, o que destacava seu sorriso irônico. — Então você não irá se importar ter a situação invertida. Um inquieto pressentimento fez seu estômago estremecer. — O que quer dizer? dela.
Ele abaixou a cabeça perto o suficiente para que seus lábios encostassem-se no ouvido ― Você já foi alvo de fofoca, Felicity? 54
Ela congelou em seus braços. Bom Deus. Foi por isso que ele a tinha chamado para dançar. Ela tinha estado tão absorta em não tropeçar sobre seus pés que não tinha se importado com o quão perto ele a mantinha, até que fosse tarde demais. Olhando em volta, ela percebeu pela primeira vez os sussurros e olhares de interesse dos dançarinos mais próximos a eles. Ninguém nunca dançou valsa tão estreitamente a menos que eles estivessem namorando… ou pior. — Por quê? Seu desalmado, insolente. — Cuidado, minha querida, — ele sussurrou presunçosamente, — alguém pode ouvir você. E o que eles vão pensar? — Que você é rude e inconscientemente mal-educado! — Ou que você bebeu muito vinho, razão pela qual está me permitindo essas liberdades. Ou que você está ansiosa para tomar o lugar da minha suposta amante. Ou qualquer outra hipóteses desagradável baseado em nada mais do que eu segurando você tão estreitamente. Amaldiçou-o por ser a mais lógica e perversa criatura de calças! ― Tudo bem — ela reclamou depois que eles fizeram outro giro. ― Ponto para você. Agora me deixe ir! — Ah, eu nem mesmo comecei a marcar meu ponto, — ele murmurou em uma voz tão suave quanto ameaçadora. Seu coração trovejando abafou o refluxo da música. Ele a mantinha presa em seus braços mais efetivamente do que qualquer cinta. Para escapar dele, ela teria que fazer uma cena que metade do salão de baile iria notar que só provaria seu ponto. Sim, ele iria desfrutar assistindo-a se embaraçar ante tanta gente importante, não iria? E o que ele quis dizer, ‘eu nem comecei a fazer meu ponto?’ Com o próximo giro, eles chegaram a borda da multidão e de repente ela sabia. O pânico rasgou através dela quando ela percebeu que eles dançavam em direção as fechadas portas francesas que levavam a varanda. — Não — ela sussurrou tentando em vão deter seu avanço. Era como enfrentar uma roda de moinho. Como um rio caudaloso impulsionando a roda, Ian movia-se inexoravelmente, arrastando-a com ele, ela querendo ou não. Mas duas hábeis voltas e eles estavam nas portas. Ele lançou sua mão apenas em tempo suficiente para abrir uma porta. — Eu não vou lá fora com você sozinha! — ela sibilou, mas ele a empurrou através da porta, para a varanda como se ela não fosse nada além de uma boneca de pano. Soltando sua mão com força, ela girou em direção ao salão de baile. Com uma alarmante velocidade, ele se colocou entre ela e a porta, fechando esta última suavemente. Sua respiração veio em sopros gelados e ela tremeu. — Você não pode fazer isso para me manter aqui. Está congelando, pelo amor de Deus! — Pegue meu casaco — ele começou desabotoá-lo. — Não se atreva! — Era a última coisa que ela gostaria. O Visconde St. Clair em tal situação particular. Seu sorriso impertinente relembrou o de seus irmãos quando eles faziam alguma maldade. — Eu estou apenas tentando ser um cavalheiro. 55
— E falhando miseravelmente. — Ela tentou olhar por cima do ombro dele para o salão de baile para ver se alguém tinha notado sua saída, mas sua altura bloqueava sua visão. Então ela lançou uns olhares furtivos em torno da varanda. Felizmente eles estavam sozinhos. — Tudo bem, você me tem aqui. O que você quer de mim? — É simples: Eu quero que você veja como é ter sua ilibada reputação suja por injustas especulações de fofoqueiras. ― Seu sorriso desapareceu abruptamente. ― A inversão é um jogo limpo, Felicity. Por que de todos os sem-vergonhas, descarados... ― Você acha justo? Você nem sabe o significado dessa palavra! Minha antiga reputação foi alcançada por vida intocada, e eu tenho certeza que você não pode dizer o mesmo de si! Se você não gosta da sua reputação, não me culpe! Não fui eu quem a fez assim, seu... Seu mulherengo imbecil! Ele avançou sobre ela, sua mandíbula apertada perigosamente. ― Sim, sou eu. Um patife que não merece se casar com uma mulher decente. Um homem que nenhuma mulher no seu perfeito juízo iria confiar. — Ele a pegou em torno da cintura, puxando-a para um abraço estreito. O sarcasmo fortemente atado em voz. — Então por que eu deveria me comportar ou tratá-la de maneira diferente do que milhares de mulheres que eu tenho pervertido?! — Porque você é um grande idio... Ele não lhe deu nenhuma chance de terminar o insulto. Sua boca desceu duramente sobre a dela. Ela se chocou tão profundamente que por um instante não fez nada. Fazia tempo que um homem tinha dado um beijo forçado nela, quando um dos patrões de seu pai fez isso. Tinha sido horrível. No entanto, esse não. Ele comandava onde o outro tinha se gabado, seduzia onde o outro tinha se revoltado. Embora ele tivesse assumido o completo controle dela e não tivesse mostrado nenhuma preocupação com o decoro, ela não estava enojada. Pelo contrário, o seu beijo provocou sensações estranhas em sua barriga... E mais a baixo. Aquela intimidade havia conseguido derretê-la como uma manteiga, fazendo-a perder o controle de si mesma por um momento, o que certamente nunca aconteceu com outro homem. E para seu horror, quando ele a soltou e recuou, ela se sentiu desapontada por um instante. Um tom rosado esquentou suas bochechas, irritando-a. Ela nunca corou, porque quase nada a envergonhava. E pensar que esse maldito Visconde pudesse fazê-la tão... — Vejo que te deixei sem palavras. — Os olhos dele ardiam enquanto eles passeavam sobre o rosto, fixando-se em seus lábios ainda queimados. ― Não pensava que isso fosse possível. Ela ignorou o insulto. ― É assim que você intimida todos os seus inimigos? — Só as mais bonitas. — Ele arqueou uma sobrancelha. — E você não parece estar particularmente intimidada. Devo ter sido descuidado. Desesperada para ocultar sua reação desconcertante sobre o assalto dele, ela retrucou. — Seria preciso muito mais do que um beijo rude para me intimidar. — Seria mesmo? — Um sorriso diabólico tocou seus lábios quando ele mais uma vez apertou sua cintura. Quando ela se arqueou para se afastar, ele pegou sua mandíbula entre seu 56
polegar e seu dedo indicador para prendê-la mais ainda. — Então eu estou certamente disposto a intimidar. Ela enrijeceu preparada para resistir nessa hora. Mas ele a pegou de surpresa. Sua boca mal roçou na dela, um toque leve que fez surgir arrepios em seus braços. Divertidamente, sedutoramente, ele brincou com seus lábios, o beijo tão tentador como são os doces para uma criança faminta. Até agora, ela não sabia como era estar faminta. Mas a boca dele alimentava sua fome fazendo um nó dentro de sua barriga, fomentando algo desconhecido, exótico. Em seguida, ele inclinou seus lábios ao longo dos dela mais firmemente, e o mundo dela virou de cabeça para baixo. Os dedos dele traçavam a linha de sua mandíbula em um traço áspero que a deixou com a pele aquecida e em formigamento. Pressionando seu polegar para baixo em seu queixo, ele abriu sua boca abaixo da dele e então mergulhou sua língua dentro. A intimidade súbita a fez enrijecer, mas ele a afagou com suas mãos, acariciando seu pescoço... a base de sua garganta onde seu pulso batia radicalmente… seu ombro nu. Quando ela relaxou sob seu toque, ele aprofundou-se no beijo, explorando sua boca como se fosse um pêssego suculento que ele queria saborear. Com cada incursão de sua língua, ele provou e a acariciou tão sabiamente, ela pensou que poderia deixá-la louca. Ela não tinha esperado essa doçura desarmante. Homens de seu tipo não tratam as mulheres com tanta consideração, tratavam? Resistir sua atração estava além do que ela podia fazer. Nunca imaginaria que o desejo poderia ser tão intenso... Ele a estava levando a loucura. Ela apertou as lapelas do casaco e se segurou pela vida querida, esmagando o tecido extrafino de seus punhos. Ela não soube quando fechou os olhos e entregou-se à riqueza inebriante da boca dele explorando a dela, mas isso não importava. Algo proibido umedecia seu ventre, se sentia quente e deliciosa, isso era irresistível. Algum instinto a fez deslizar a língua timidamente em sua boca. Com um gemido, ele arrastou-a rente a ele, esmagando seus lábios nos dela. O tom de seu beijo alternou instantaneamente para uma bruta posse energética. Seu miserável controle havia desaparecido e ela sentiu isso em seu sangue, que zumbia e cantava sob a paixão selvagem do seu beijo. Prazeres intensos dançavam de sua cabeça aturdida até a ponta dos dedos dos seus pés congelados. Ela se sentiu envolvida por seu calor, pela urgência de sua necessidade, pelo tamanho de seu corpo tão grande e viril. No entanto, estranhamente, ela não sentia medo, nem desejo algum de pará-lo. Ela nunca teria permitido que o frio e calculista Visconde a tocasse desse modo, mas esse homem de sangue quente, com suas mãos grandes que se dedicavam a brincar com suas costelas, cintura, quadris... Ele varreu a língua por sua boca como se fosse dono dela, e ansiosamente ela se entregava a ele. O súbito som de vozes lhe devolveu os sentidos, quebrando seu gozo tonto e lembrando-lhe por que ela não devia fazer aquilo. Não ali, pelo menos. Ela arrancou seus lábios dos seus. — Lorde St. Clair... — Ian. — Ele ordenou, com uma necessidade quente em seu olhar. — Ian, alguém está vindo. — ela advertiu. — Deixe-os. — Ela tentou afastá-lo, mas ele pegou seu rosto entre as mãos, beijando-a novamente com tal força que ela quase esqueceu sobre o que estava protestando. Mas quando ela ouviu um suspiro por trás deles, ela levantou-se e empurrou-o com força.
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Seu domínio sobre ela foi desfeito. Por um longo momento, o olhar dele ficou preso ao dela, olhos brilhando avidamente na escuridão. Em seguida, sua expressão se tornou fechada e sua respiração acelerada se abrandou. Ele olhou atrás dela para quem os tinha apanhado. E um sorriso de auto-satisfação espalhou por todo o rosto dele. O calor do desejo foi embora de uma vez. Oh, Deus. Ela tinha se enganado, muito. Seu beijo tinha sido apenas uma estratégia. Namorador especialista que ele era, ele a fez acreditar que era mais que isso, fez acreditar que estava tão envolto na magia como ela. E todo o tempo, estava usando a sedução para embalá-la numa situação publicamente embaraçosa. A vergonha se espalhou pelo seu rosto, rapidamente substituída pela fúria. O desgraçado inconcebível! Ela lhe deu um tapa, o barulho do tapa soou alto na varanda. Mas não limpava a expressão de regozijo do rosto dele. Pensar que ela tinha caído em sua armadilha , e até mesmo gostado! Ela se apoiou e virou para ver seus espectadores. Lá estava sua anfitriã, Sara. E com ela Lady Brumley, a própria. Ele iria para o inferno por causa disso! Tentando não olhar como uma mulher que tinha sido brutalmente acolhedora dos beijos de um libertino, Felicity forçou uma expressão de surpresa no rosto, como se ela não tivesse percebido que eles tinham estado lá, em pé. — Oh, eu imploro seu perdão. Lorde St. Clair e eu estávamos em uma discussão. — Sei. — Lady Brumley sorriu como um gato que tinha caído no pote de creme. — E se você nos desculpar, nós desejamos continuar nela — Ian disse atrás dela. ― Em particular. Seu tom de voz brando esfregou sal na ferida. Ela pensava que ele tivesse sentido paixão porque ele a tinha feito sentir algo. Como ela poderia ter sido tão estúpida! — Não queremos nada disso. — Disse ela com veemência. — Aparentemente sua senhoria não compreende a palavra ‘não’ — forçando-se a enfrentá-lo, acrescentou — boa noite, Lorde St. Clair. Eu sugiro que você mantenha suas mãos para você no futuro. ― Foi uma tentativa ineficaz para desfazer o dano, e ela sabia. triunfo.
— Eu mantenho se você mantiver. — Ele ridicularizou. Seus olhos reluzentes com o
Juntando os trapos retalhados de sua autoestima, ela fugiu através das portas de vidro para o salão de baile. Havia pessoas em toda parte, e ela sentia como se todos a estivessem olhando. Ah, se o chão de mármore pudesse abrir e a engolir por inteiro! Evitando olhar aos demais, ela correu através do salão de baile. Seu corpo tremia, e lágrimas ameaçavam transbordar de seus olhos. Idiota! Ela criticou a si mesma. Imbecil! Boba! Como ela pôde, sabendo o tipo de homem que ele era, ter permitido que ele a beijasse daquele jeito? Queria poder dizer que ele tinha forçado a ‘situação’ para cima dela, mas sabia bem. Ele só precisou acariciá-la para tê-la desmaiada em seus braços como uma aluna boboca. Há muito tempo, ela se resignou a nunca experimentar a paixão. A probabilidade de que ela fosse se casar era pequena, e já tinha se recusado ao pensamento de ceder seus impulsos de outra maneira. Mas ainda os tinha, sentia esses terríveis desejos na parte baixa do ventre, especialmente quando ela olhava para a pintura do sultão ou via casais adoráveis. Ela estava preparada para os avanços de Ian muito antes de conhecê-lo. 58
Maldito por adivinhar sua fraqueza tão facilmente! O sentimento de pesar foi aumentando conforme caminhava através dos dançarinos na pista. Ela tinha caído nas redes daquele libertino. Lorde Saint Clair tinha ouvido Sara e Lady Brumley se aproximando, e ainda tinha deliberadamente continuado a beijá-la para completar sua vingança e arruinar sua reputação ilibada. Era evidente que o Visconde tinha se consolado com sua estúpida concordância e tinha elogiado a si mesmo por tê-la seduzido tão facilmente. Mais lágrimas ameaçavam inundar seus olhos e ela obrigava-as a voltar a trás, baseadas na sua raiva, para que não se dissolvessem em prantos enquanto ela escapava dos olhos curiosos do salão de baile. O canalha! Então ele queria arruinar sua reputação, não é? Bem, ele tinha ido longe demais. Dois poderiam jogar esse jogo! Ela faria esse arrogante e insensível Visconde pagar por sua presunção e suas táticas malditas, fazê-lo lamentar de ter posto os pés dentro de Taylor Hall. Oh, espere só até ela escrever sua próxima coluna!
Capítulo 7 Na semana passada o conhecido herdeiro de um condado foi visto com uma mulher jovem e respeitável, mas sem dinheiro, no pomar da Lady Bellingham.O pai do herdeiro insiste que seu filho tem apenas a intenção de fazer amizade. A julgar pelo comportamento do seu filho, no entanto, a declaração do pai pode ser fundamentada em meras ilusões, invés dos fatos.
Lorde X, The Evening Gazette 10 de dezembro de 1820
Trovões e relâmpagos formavam nuvens feias e cinzas ao amanhecer, quando Ian caminhava em direção a sala dos Worthing, na manhã após o baile. Horas atrás ele tinha abandonado todo pensamento de continuar dormindo e agora esperava tomar seu café da manhã sozinho. Certamente ninguém estaria acordado essa hora, mesmo que seja um dia de domingo, quando a família poderia estar se preparando para assistir a missa. Mas ele não estava com sorte. Parou na entrada da sala, suprimindo um gemido quando viu Sara olhando para ele do outro lado da mesa bem sortida do café da manhã. Droga, ele devia ter adivinhado. De todas as pessoas que podiam ter se levantado, só podia ser ela. E agora ela devia estar preparada para uma discussão sobre a cena que aconteceu ontem à noite, na varanda. A perturbadora noite de ontem, a cena inexplicável. — Bom dia – ela disse laconicamente – Você levanta muito cedo, não levanta? Ele sentou num lugar distante o suficiente para desencorajar qualquer intimidade, mas perto o suficiente para não parecer grosseiro. 59
― Eu poderia dizer o mesmo de você. — O servo correu para colocar um ovo cozido antes que ele o fizesse e Ian serviu-se de uma torrada da bandeja que estava sobre a mesa. Sara levantou as mãos com desdém. ― Eu não consigo dormir quando tem convidados em casa. Sempre me preocupo em deixá-los confortáveis. Ele grunhiu uma resposta. Isso não a assustou. ― Você se surpreenderia em saber quantas pessoas já andam por aí a essa hora da manhã. — Ela empurrou uma salsicha sobre o prato com o garfo. ― Srta. Taylor, por exemplo, levantou-se bem cedo. Ele se recusou a discutir sobre Felicity. ―Tem café? — Certamente. — Sara fez sinal para o criado, que já estava contornando a mesa com um jarro. Observando Ian perto, Sara acrescentou: — Ela se levantou e se foi há mais de uma hora. — Quem? – ele disse, fingindo estar distraído. — Srta. Taylor, é claro. — É claro — Ele repetiu secamente. Ele tinha finalmente conseguiu colocar a mulher para fora? O pensamento não caiu bem a ele. — Acho que ela deve ter ido embora mais cedo para chegar em casa antes desse tempo piorar. Parece que estamos num dia diabólico. — Casa? Não, ela não foi para casa. Ela simplesmente foi ao povoado de Pickering por um momento. Ele ignorou a repentina aceleração do seu pulso. É claro que Felicity não teria fugido. Ela nunca se comportava como as outras mulheres. A noite passada, por exemplo. Ele beijou-a para fazer um ponto, esperando que ela reagisse com indignação, horror ou até mesmo nojo, dado as suas ideias sobre ele ser um ‘mulherengo'. Em vez disso ela pestanejou e olhou para ele surpreendida, como se ela nunca tivesse sido devidamente beijada. Então que droga de coisa ele devia fazer quando uma animada, linda criatura olhou para ele, com os lábios entreabertos em um convite e a respiração numa mistura de suspiros suaves e urgentes? Ignorá-la? Nem Deus poderia tê-lo impedido de beijá-la naquele momento. Seu segundo beijo não tinha sido definitivamente para fazer um ponto. Salvo outro ponto, aquele em que a queria. Ferozmente. Intensamente. E ela o queria também, não importa o que ela tinha falado mais tarde. Ela encontrou seu beijo numa completude absoluta: ela curvou seu corpo até estar perfeitamente em seus braços... a sua boca com uma doce sensação embriagadora... seus seios esmagados contra seu peito... Maldição! Memórias como essas o mantiveram acordado até metade da noite. Ele poderia ter ganhado a batalha e manchado a reputação dela, mas graças a esse beijo, o resto de sua noite tinha sido um longo desfile de imagens e sensações, os olhos verdes nas sombras da 60
noite, seus doces lábios embaixo dos deles, uma cintura que ele podia alcançar com as mãos, o roçar do cetim quando ela tinha permitido que a estreitasse entre seus braços. E tampouco podia esquecer seu malicioso comentário posterior: “Aparentemente a sua senhoria não compreende a palavra ‘não’”. Bruxa insolente. Ela tinha sido tão insolente em seus sonhos depois que ele finalmente adormeceu. Oh, Deus, sim, insolente e ansiosa, deitada em sua cama com suas mechas tom-café derramadas sobre seu travesseiro e seu corpo quase despido, coberto só por cetim e renda. Primeiro ela o provocava com sua boca tão sedutora. Logo ela o beijava na boca, no peito... Por todo o corpo que ardia de desejo. Ele gemeu. Parecia tão real, ele tinha acordado tão duro como os pilares de pedra da casa. A mulher era um convite à sedução, maldita seja, e agora tudo o que ele queria era a chance para descobrir o corpo dela com seus olhos, sua boca e suas mãos. Mãos que agora estavam em punho fechado. Bem cerradas. Deus, como a desejava! Ele a queria implorando por seus beijos. Queria vê-la debaixo dele, gemendo de prazer. Ele não podia lembrar qual foi à última vez que desejou tanto uma mulher. Nem mesmo seu triunfo em fazê-la provar do próprio veneno conseguia banir esse desejo. — Estou preocupada com a Srta Taylor. – Sara continuou, sorvendo seu chá tranquilamente como se o tema da conversa fosse uma banalidade. ― Ela já devia ter voltado. Ela disse que só iria a cidade postar uma carta, mas ela foi de cavalo faz um tempo e se demorar a voltar é capaz de ser surpreendida pela chuva. Uma imagem de Felicity totalmente ensopada, com o tecido úmido agarrado as suas curvas assaltou sua mente antes que ele pusesse fim ao pensamento. E por que ela foi postar uma carta? Ela escrevia para quem? Perdido em pensamentos, rompeu a casca do ovo, tirando a parte de cima. Ah, seus irmãos. Naturalmente ela estava informando que chegou bem de viagem ontem. Quando ele não disse nada, Sara acrescentou. ― Eu espero que ela não durma em cima da sela. Ela me contou que não dormiu bem ontem de noite. Sem dúvidas Sara o culpava pela falta de sono de Felicity. A expressão reprovadora dela estava firmemente em seu rosto. Aquela que devia fazer seu marido pirata se manter comportado. Bem, ele não precisava de lições de decoro. Fingindo não entender o que ela falou, ele afundou o garfo no centro do ovo e disse: — É difícil dormir bem numa casa estranha, por mais confortável que ela seja. — Não acredito que tenha sido a casa que a deixou sem dormir. — Oh. – Ele comeu um pouco – Talvez a Srta. Taylor simplesmente estivesse excitada demais após o baile para dormir. Esse tipo de reação é comum em jovens damas. — Principalmente quando elas se sentem insultadas. Ele fingiu uma expressão de perplexidade inocente. — Insultada? Quem em seu juízo perfeito insultaria a Srta. Taylor? — Você sabe muito bem quem. – Sara espetou a salsicha com tanta impetuosidade que ele se sentou incômodo. ― Ela ficou muito decepcionada com a forma em que a tratou. Ele sentiu sua consciência culpada. Mas que droga! Ele não tinha razão para sentir culpa. Ele não tinha feito nada a Felicity que ela não tivesse merecido. 61
― Ela não foi maltratada, garanto a você. ― Quando Sara abriu a boca para retorquir ele levantou a mão. ― Isso é uma questão pessoal entre ela e eu, então por favor, se mantenha fora disso. — Se você pudesse ter visto o modo que ela... — Sara. ― Ela a avisou. — Você a fez chorar! ― Sara disse sem rodeios. ― Uma pequena durona como a Srta. Taylor. Ela estava chorando quando nós a encontramos, por mais que ela fortemente tentasse disfarçar. Ele não conseguia imaginar Felicity chorando por nada, e o pensamento de seus beijos terem-na levado a tal extremo foi muito ridículo para compreender. Ele repousou sua colher no prato e descansou sua mão sobre a barriga. ― Vá em frente. Você claramente está determinada a falar sobre isso. Desembucha. E quem seria o “nós”? — Lady Brumley e eu. Nós fomos atrás da Srta. Taylor por causa do seu desaparecimento do salão de baile nos preocupou. — Preocupou você, talvez. Duvido que Lady Brumley sinta algo além de um urgente desejo até a raiz dos cabelos por mais fofoca. Um pequeno toque de rubor coloriu o rosto de Sara. ― Pode ser verdade. Mesmo assim, encontramos Srta Taylor sentada à mesa de escrever, suas bochechas úmidas e os olhos vermelhos de tanto chorar. Ian suprimiu mais um sentimento de culpa. O choro de Felicity não podia ser genuíno. Ela deve ter ouvido Sara e Lady Brumley vindo pelo corredor e produziu aquelas lágrimas de crocodilo para influenciá-las. ― Na verdade, a mulher se ofende muito facilmente se ela se dissolveu em lágrimas só porque um homem a beijou. A indignação brilhou no rosto de Sara. Ela sustentou o seu olhar, em seguida, fatiou uma salsicha com uma precisão deliberada. Ian apertou suas coxas defensivamente. — Não foi exatamente isso, — ela retrucou, — como você bem sabe. Ouvi a forma vergonhosa que deu a entender de que ela tinha incentivado seus avanços. Ele recusou a se justificar nesse quesito. Sara não sabia da história toda, nem devia. — E você fez mais do beijá-la, eu acho. Se ele tivesse feito, com certeza lembraria. ― Que diabos você quer dizer? Sara largou seus talheres. ― Você sabe o que eu quero dizer. Tomando vantagens, colocando suas mãos no que não te pertence. É por isso que recebeu um tapa. Ian a focou com um ar zangado. ― Ela contou isso para você? — Ela disse que você tinha ido longe demais. E eu vi a maneira como você a segurava, se lembra? Então, eu poderia facilmente acreditar que você tocou onde não devia. — Sara levantou-se, tirando o guardanapo com suas mãos agitadas. 62
Ele estava ficando furioso e impressionado. Felicity certamente sabia como aproveitar a situação em seu favor. Mas ele tinha os fatos do seu lado. — Será que ela realmente disse que eu tirei vantagem dela, que eu a toquei de forma que não devia? Sara se dirigira ao aparador e concentrou-se em organizar as tampas da louça. — Não exatamente. Ela ficou chocada ao ver-nos, assim, a princípio ela não queria falar sobre nada. Mas eu não podia deixá-la sozinha, quando ela estava tão perturbada. Além disso, como sua anfitriã, eu senti que era o meu dever descobrir o que você tinha feito para angustiála. Então eu perguntei se... Se você se comportou de alguma maneira que não deveria ter se comportado, outra que não beijá-la, claro. Ao ouvi-lo murmurar uma maldição, ela acrescentou rapidamente: — Eu esperava que ela fosse dizer não, você entende. Mas ela explodiu dizendo que deveria ter sabido melhor, não se deixar ficar a sós com um homem de sua reputação, que ela deveria ter parado você antes que você fosse longe demais. Sara encarou-o e plantou as mãos nos quadris. — Essas foram suas palavras, longe demais. Ela disse que se condoeu em me dizer o verdadeiro caráter do meu amigo, mas que você era um canalha. Ela foi mais específica sobre isso. O som de sua curta risada rendeu mais olhar indignado de Sara. — Tenho certeza que ela foi, embora duvide seriamente que se sentiu doida em denegrir a minha imagem para você. Provavelmente ela se sentiu agradecida de ver sua consternação sobre o meu comportamento. — Eu não sou tão desleal com os meus amigos, de forma alguma. — Sara protestou com uma fungada. — Não é como se ela tivesse inventado uma história e eu acreditado sem questionar. As coisas estão estranhas entre vocês desde que ela chegou de viagem. Você deve confessar que sua conexão com ela é curiosa. Você admitir ter ido a casa dela, o que nós dois sabemos não ter nada a ver com a morte do pai dela. Como Emily disse, você mal conhecia o pai dela. Ele gemeu. Ele não precisava de Emily e Sara como aliadas Felicity e contra ele. ― Mantenha-se longe de minha relação com a Srta. Taylor, você sabe muito bem que eu nunca forçaria uma mulher, não importa qual seja minha associação com ela e, especialmente, não sob seu teto. Nós somos amigos por tempo suficiente para você saber isso. Seu lábio inferior tremeu, mas se era de agitação ou de raiva, ele não saberia dizer. — O Ian que eu conhecia quando Jordan e eu éramos crianças nunca faria isso, é verdade. — Certa tristeza encheu sua voz. — Mas você não é o mesmo de antes. Desde que você voltou do continente, tem estado diferente, mais duro, cínico, mais como um... um... — Canalha? — ele disparou. — Eu ia dizer 'enigma'. – o tom de voz de Sara foi baixo, ela estava pensativa. — Você deixou a Inglaterra sem deixar uma palavra a Jordan, alienando-se de toda a sua família mesmo quando seu tio tinha acabado de sofrer a morte de sua esposa. Você não voltou até que seu pai morreu, e então você começou a procurar uma esposa para um herdeiro de maneira absolutamente implacável. Ela fez uma pausa, como se esperasse uma explicação, mas ele não tinha nenhuma para dar. 63
Havia algumas coisas que ele não podia discutir, mesmo com seus amigos mais próximos. Os lábios dela se apertados numa linha fina. — E agora parece que você não sente escrúpulo em destruir a reputação de uma jovem e respeitável dama como Srta Taylor. — Chega de Srta Taylor! — Ele atirou nos seus pés. — A mulher pode cuidar de si mesma, eu lhe garanto. E apesar do que ela disse a você e a harpia da Lady Brumley, ela não protestou contra meus beijos, nem estava em perigo de ser comprometida por mim! Embora da próxima vez que ele a ver, ela poderia muito bem correr esse risco. Ou comprometê-la ou estrangulá-la. As duas possibilidades soaram atraentes no momento. — Você está dizendo que ela queria sua atenção? Ele fechou os punhos na parte de trás da cadeira. — Estou dizendo que ela não protestou. — Ela lhe bateu, não? Com dificuldade, ele reprimiu um juramento. — Sara, você deve aceitar minha palavra de que as coisas entre Srta Taylor e eu não são o que parece. — Então, o que... — Não vou continuar discutindo isso com você. É um assunto particular. Assim, você pode muito bem ficar longe dele. — Ele se afastou em direção à saída da sala. A voz dela o deteve. ― Não posso ficar fora disso, essa é minha casa e eu não vou permitir que você brinque com uma jovem e indefesa mulher embaixo do meu nariz. Ele virou para ela com espanto. Ele nunca a tinha ouvido falar com aquele tom de aço em sua voz dirigido a ele. Droga, Felicity tinha jogado seu papel muito convincentemente. — O que exatamente você está dizendo, Sara? — Eu acho que talvez você deva ficar na casa de Jordan até o resto da sua visita. Seu olhar sobre ela se estreitou. Virando-se seus passos no chão para o final da mesa, ela continuou rapidamente. — Eu já falei com Emily, e ela concordou. O bebê não lhe dará qualquer problema, então ela disse que teria todo o prazer em recebê-lo. Claro, você pode se juntar a nós para as outras atividades que estamos planejando, mas à noite. — À noite, você não quer o galo dormindo no galinheiro. ― Ele soltou. Ela se ruborizou. — Eu suponho que seja uma maneira de se colocar. Sob outras circunstâncias, ele poderia ter sido insultado. Mas Sara estava apenas se comportando como Felicity tinha pretendido. Ele não podia culpar Sara por ter acreditado, Felicity poderia desempenhar uma justa indignação de maneira muito convincente, e Sara era exatamente o tipo que acreditava em uma heroína martirizada. Bem, o martírio Felicity viria com um preço, ela sabendo ou não. Embora ele preferisse ficar na casa do Jordan, de qualquer maneira, ele não tinha a intenção de deixar Felicity pensar que ganhou, nem por um momento. Uma ideia havia surgido em sua mente que com certeza faria trabalhar a imaginação atormentada de Felicity.
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— Tudo bem. Mandarei meus pertences para casa de Jordan. — Ele continuou em direção à porta, depois parou e lançou um bonito sorriso a Sara — Ah, você passaria uma mensagem para Srta Taylor, para mim, não passaria? Sara olhou-o cautelosamente. – Qual? — Diga a ela que até John Pilkington tem seu preço. — John Pilkington? Quem é ele? O que na face da terra... — Apenas diga a ela. Ela vai saber o que isso quer dizer. — Então, assobiando para si mesmo, ele saiu passeando da sala.
Capítulo 8 Romances não são influências tão terríveis sobre a mente dos jovens, como alguns de nos acreditamos. Alguém pode negar a inspiração de Robinson Crusoé do Defoe ou a cautela contra o orgulho que é o enredo inteiro de Orgulho e Preconceito? Lorde X, The Evening Gazette. 13 de dezembro de 1820
Até John Pilkington tem seu preço. Com uma careta, Felicity, fechou ‘Os mistérios de Udolpho’ e depositou em seu colo. Droga, por que as ameaças insidiosas de Ian sobre Pilkington deviam atormentá-la? Mesmo quando ela estava lendo um romance? Em casa com os meninos sob suas voltas, ela raramente podia ser indulgente em relação ao seu amor pela leitura. Agora ela tinha se permitido algumas horas para ela mesma e ele teve que se intrometer. Fazia frio na sala de estar dos Worthing, e o motivo principal era que não haviam acendido a lareira. Felicity puxou um xale de lã grossa para mais perto do simples vestido que continuava a usar, em vez de se vestir para o jantar. Sara tinha dito que ninguém nunca usava essa sala, e por isso ela tinha ido para lá, enquanto os outros estavam jantando. Ela desculpouse por não participar da refeição, dizendo a Sara que se sentia muito envergonhada para enfrentar Lorde St. Clair. Os Blackmore tinham chegado e Ian estava com eles, pela primeira vez em três dias. Mas a verdade era: ela era uma covarde. A ideia de passar o jantar com um homem determinado a arruinar sua vida, e invadir seus pensamentos, era insuportável. Com certeza ele veria o quanto suas últimas palavras preocupavam-na. E como ela iria conseguir lidar com aquilo sem dizer nada revelador? Pior, como na face da terra ela conseguiria deixar de lembrar os beijos que ele tinha lhe dado? Não, roubado. Ele roubou mais que beijos, ele roubou o antigo sonho de experimentar a paixão de um homem. Agora que ela pode ver como é fácil para um homem fingir a paixão, ela nunca poderá confiar no beijo de um homem novamente. Então jantar com o Ian hoje a noite era impensável. 65
Além disso, ela tinha uma boa razão para evitá-lo. O homem estava claramente buscando vingança. Por que ele iria dar-lhe aquele recado por Sara? E por que ele acompanhava os Blackmores no jantar da casa dos Worthings essa noite? Ele tinha estado visivelmente ausente quando os Blackmores vieram para o almoço um dia depois da conversa dele com Sara. Então ele foi para Londres a negócios no dia seguinte, levando-a a felicitar-se por se livrar dele. Mas ele voltou e agora ela estava preocupada. Por que tinha ido a Londres em meio a uma visita com amigos íntimos? Que negócio poderia ter compelido a viagem? E por que voltou? Ela podia adivinhar algumas respostas. Poderia ser a respeito da sua coluna. Ela enviou o artigo ao Sr. Pilkington segunda-feira, por isso, sem dúvida, tinha aparecido na The Evening Gazette, enquanto Ian estava na cidade. Se assim for, ele deveria ter visto. A menos que ele o impediu de ser publicado. Ela revolveu as palavras dele mais uma vez em sua cabeça. Ela só poderia supor que ele pretendia subornar o Sr. Pilkington em censurar as palavras delas ou fazer recusá-lo a publicá-las. A pergunta era, o que o Sr. Pilkington tinha a falar diante uma oferta desprezível destas? Certamente ele não a cortou do jornal. Porque, Sr. Pilkington sempre professou que ela era sua melhor correspondente. Então outra vez... Até John Pilkington tem seu preço. Ela levantou os olhos para os céus. — Você não pode me dar uma dica? — ela murmurou a Deus. — Ian deve ter algum plano em mente. Só Deus sabe, quero dizer, só você sabe, que Ian tem dinheiro suficiente para fazer o Sr. Pilkington salivar. Penso que dificilmente meus poderes literários balanceariam a editora, se St. Clair bombardeá-lo com ouro. — Com quem você está falando? – Uma familiar voz feminina veio da porta e ela estremeceu ao ouvir. A condessa entrou na sala com o resto da festa atrás dela. Gideon, os Blackmores e o pior de tudo, Ian. Somente os Drydens estavam ausentes, eles provavelmente tinham se retirado para dormir. Felicity se sobressaltou e seu livro escorregou do colo, indo para o chão com um baque. ― Eu não estava falando com ninguém. ― O calor inundou seu rosto. Ser pega agindo como uma idiota em frente de todos eles, especialmente dele? Quanto que eles escutaram? Quanto ele escutou? ― Quero-ro dizer, eu tenho esse hábito ruim de falar... falar comigo mesma algumas vezes quando estou distraída. — Estamos distraindo você, Srta. Taylor? ― Ian perguntou enquanto deambulava passando por Sara. Com um movimento rápido, ele pegou o livro de Felicity que estava no chão. Quando ela estendeu as mãos para ele, ele ignorou sua mão estendida e colocou-o debaixo do braço. — Não tivemos essa intenção. ― O divertimento apareceu em sua voz. Sem dúvida ele tinha adivinhado precisamente porque ela não tinha ido jantar. Adivinhou e ficou satisfeito com isso. De fato, ele parecia abominavelmente autoconfiante e bonito, com sua casaca saxônica de cobalto encaixando seus ombros largos em perfeição, suas calças pantalonas de casimira abraçando suas coxas tão musculosas pra um nobre e sua gravata amarrada simplesmente, como se tivesse coisas mais importantes a fazer do que esperar um criado para fazer um nó complicado. Ao lado dele e de seus amigos finamente vestidos, ela parecia uma criatura enfadonha em seu vestido de musselina e xale de lã velho. — Estamos muito satisfeitos em vê-la bem, — Ian continuou. — Nós pensamos que estava doente. Uma dor de cabeça. Isso foi o que Sara nos disse. 66
— Sim, Srta. Taylor tinha uma dor de cabeça monstruosa, — Sara apressou-se em dizer. — Você deveria tê-la visto antes. Ela quase desmaiou quando estávamos andando. ―Sara olhou para Felicity desconsolada. ― Desculpe-me, eu não sabia que você estava aqui. Desculpe-me, eu tinha que inventar uma dor de cabeça para explicar sua ausência no jantar. Isso tocou Felicity, aumentando sua já enorme culpa por ter dado a entender algo que não era verdade sobre o que tinha acontecido na noite do baile. Felicity não tinha a intenção de enganá-la. Quando Sara e Lady Brumley a encontraram na escrivania do seu quarto, escrevendo seu artigo com raiva, ela tentou se livrar delas. Mas foi infrutífero. Felicity devia saber que a adorável condessa não deixaria passar ‘batidas’ suas lágrimas. E quando em uma explosão de raiva, Felicity tinha dito que Ian tinha feito mais do que beijá-la, a indignação desmedida de Sara tinha feito Felicity perceber como suas palavras foram mal interpretadas. Mas ela não ousara explicar, não na frente de Lady Brumley. Ainda assim, ela não esperava que Sara fosse banir Ian de casa. Aparentemente, Felicity tinha subestimado o jeito ferozmente protetor da condessa em relação às mulheres solteiras. Depois de várias discussões sobre a reforma e da comunidade que os Worthings estavam construindo em uma ilha remota, Felicity conhecia a mulher melhor, e agora ela entendia exatamente como Sara deve ter entendido o que Felicity disse sobre Ian. O que só triplicou sua culpa. E sua relutância em admitir a verdade para a mulher. Bem, pelo menos ela poderia apoiar a história da condessa agora. — Eu tinha uma dor de cabeça. Mas depois que eu dormi um pouco, diminuiu, então eu vaguei pelas escadas para encontrar um livro para ler e descobri esta sala tão adorável. Emily, a outra condessa presente, olhou para a lareira apagada, onde os criados estavam agora a acendendo com gravetos de madeira. — Você não deveria ter sentado aqui sem a lareira estar acesa. Você poderia pegar um resfriado para somar a essa sua dor de cabeça. Tardiamente lembrando que Emily tinha um conhecimento sobre medicina, Felicity murmurou, — Eu não queria dar trabalho para os criados. E eu não fico resfriada facilmente. — Ao mesmo tempo, — Sara disse firmemente, — nós não queremos perturbar o seu prazer solitário. Vamos entender se você quiser se retirar com seu livro agora. — Se retirar? — Ian interrompeu em um tom nítido. — Nós finalmente ganhamos sua companhia, e você está banindo-a para a cama? Isso é inóspito de você, Sara. — Ele não pareceu notar o olhar de censura de Sara. — Além disso, eu tenho certeza que sua convidada não vai se opor em passar alguns minutos com a gente. Opõe-se, Srta. Taylor? Felicity encontrou seu olhar e seu coração bateu mais rápido em face do desafio que apareceu nos olhos do diabo. Ele queria que ela ficasse, o que significava que devia sair correndo da sala mais rápido do que uma lebre assustada por um lobo. Porque se ela ficasse, ele iria atacar. No entanto, se ela fugisse, ele iria persegui-la de outra forma. Pelo menos aqui ela tinha Sara ao seu lado. — Eu adoraria ficar, Lorde St. Clair, especialmente agora que estou me sentindo melhor. Além disso, você tomou como prisioneiro meu livro, então não posso muito bem ir embora, eu posso? 67
— Ah, sim, o seu livro. — Ian segurou-o e leu o título — Os mistérios de Udolpho por Ann Radcliffe. Um romance, como soa interessante. — Ele sorriu friamente a Felicity. — Devo dizer que não estou surpreso em descobrir que você gosta de ficção. O homem simplesmente não iria ceder. Felicity arrebatou o livro dele, sem se importar com seu olhar de risada. — A ficção é verdade, não importa o que você diz. De onde você acha que romancistas obtém seu material? Da vida real, não de especulações de alguns cientistas sobre o que pode ser a vida. Romances podem nos preparar melhor para as dificuldades da vida do que história antiga. Na verdade, eu encorajo meus irmãos a lê-los sempre que possível. Eles costumam oferecer uma visão mais verdadeira da sociedade do que todos os fatos supostamente impressos em outros livros. — Ou em jornais? — perguntou ele, com uma sobrancelha levantada. Como o seu olhar preso no dela, cheio de significado, cheio de ameaça, o fervor foi drenando para fora do corpo dela. Era isso, seu próximo assalto. Ela esperou por isso com o coração batendo forte. cartas.
Ele se virou para onde Jordan e sua esposa estavam sentados, ao redor da mesa de
— Falando de jornais, Jordan, eu trouxe um na minha volta de Londres para você. Eu tenho um artigo interessante para lhe mostrar. Os joelhos de Felicity ficaram fracos. Seu artigo tinha que ser. Mas se ele tinha visto, por que ele iria querer seus amigos para lê-lo? Agradecidamente, Emily falou. – Eu pensei que viéssemos aqui para jogar cartas. Foi por isso que você sugeriu que viéssemos para essa sala, não foi? Ian sugeriu isso? Ah, claro. Seu coração despencou quando ela observou os servos que corriam sobre a sala acendendo as velas e tornando a sala confortável. A festa ter se movido para a sala de carteado não tinha sido um súbito impulso. Ele tinha planejado esse encontro "acidental", o diabo. Ele deve ter descoberto seu paradeiro com um servo durante o jantar. Então, isso realmente era: sua próxima batalha. E ela não estava pronta. chance.
— Bem, não foi Ian? – Emily repetiu. – Eu quero tanto jogar. Eu raramente tenho a Jordan riu.
― Você vê o que acontece quando você expõe uma garota do interior à diversão? Ela nunca tem o suficiente. Com um olhar transversal, Emily retrucou: — Você sabe que não é a única razão. Nunca há número suficiente de pessoas aqui para jogar, já que Gideon não gosta do jogo. — Jogo confusamente estúpido. — Gideon murmurou. Ele se sentou em uma poltrona perto do fogo para aquecer suas mãos. — Infelizmente Emily agora tem muitas pessoas para jogar, — disse Ian. — Nós não queremos deixar a Srta Taylor fora do jogo. — Ah, vocês não devem se incomodar comigo — Felicity apressadamente disse. — Vou simplesmente continuar lendo. Vocês quatro podem ir adiante com o jogo de vocês, com toda certeza. 68
— Impossível, — comentou Ian. — Nós vamos ser ruidosos, o que vai restaurar a sua dor de cabeça. Olhando para ele, Felicity falou rangendo os dentes. — Então, talvez eu devesse me retirar. — Não, eu insisto em cancelar nossos planos. Não quero ser o responsável de privar as pessoas de sua companhia, especialmente quando você retorna a Londres amanhã. Além disso, eu acho que você também irá achar o jornal interessante. Seu olhar divertido encontrou o funesto de Felicity, ela queria estrangulá-lo. O que ele estava planejando? Amaldiçoou-o. Os outros não pareceram incomodados com sua insistência em ditar o seu entretenimento. Emily ainda graciosamente admitiu que fosse injusto deixar Srta Taylor fora do jogo. Ninguém protestou quando ele enviou um servo para buscar os seus jornais. Após o criado ter ido, ele se sentou em uma cadeira alta, superando-a com seu corpo grande. Quando ele se inclinou para trás, as pernas abertas e polegares dobrados nos bolsos da calça, ele usava o ar presunçoso de um homem que sempre tem o seu caminho. — Agora todos nós podemos acompanhá-lo na leitura, Srta. Taylor. Eu trouxe cópias do repositório Ackermann para vocês, mulheres. — O sorriso que ele fixou sobre ela foi tão insidioso como pó de carvão em uma chaminé. E para Jordan, eu trouxe o Gazette. Ele é um grande admirador da coluna de Lorde X. Ela engoliu em seco. Isso não fazia sentido. Por que Ian quereria que seus amigos lessem seu artigo sobre ele? Era simplesmente o desagradável caminho que ele escolheu para expô-la? Ela forçou uma nota de desprezo em seu tom de voz. — Não é Lorde X o homem que escreve fofocas? — Ela passeava despreocupadamente pelo lado oposto da sala e pousou-se sobre um sofá com estofados de seda. ― Lorde St. Clair, eu não posso acreditar que você criticou a minha preferência para a ficção quando você lê um fofoqueiro como Lorde X. — Ian não lê, ele odeia o cara — Jordan interrompeu. — Mas eu admito admirar o escritor. Seus comentários mordazes são um tônico para toda a hipocrisia da nossa sociedade. Lorde X é um tipo bem sagaz, mesmo ele dá um puxão em Ian ocasionalmente. O olhar de Ian estava voltado para ela. — Sim, ele é sagaz. À custa de outras pessoas. Uma chama suave começou a queimar no seu estômago. Porque diabo ele não acabava logo com isso? Se ele quisesse expô-la... — Isso não é verdade, — comentou Emily. — O homem demonstra ter um bom critério na hora de emitir seus julgamentos. Ele só se mete com os pomposos, cruéis e irracionais. Só na semana passada, ele defendeu as jovens damas que ignoram a ganância de seus pais para fugir com quem amam. A inesperada defesa da Condessa levantou os ânimos de Felicity. Então notou uma súbita tensão na sala. Jordan olhou para sua esposa reprovadoramente.
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― Você não deveria mencionar essas coisas na frente de Ian, querida. Ele não gosta tanto deles como você. Emily se ruborizou. ― Deus meu, eu esqueci... Isso. Eu... Os jornais chegaram naquele momento, poupando Lady Blackmore de qualquer constrangimento adicional. Agora, carrancudo, Ian os pegou rapidamente e então selecionou um que se parecia com o The Evening Gazette e jogou a Jordan. — Bem, não há nenhuma menção das fugas na última coluna do Lorde X. Mas ouso dizer que vai interessar a você e Emily mesmo assim. Parece que o fofoqueiro não se cansou de me ter como seu assunto. — O quê? — Jordan olhou realmente surpreso, uma reação que parecia ser compartilhada por todos na sala. Felicity se preparou para o dia do juízo final. Jordan logo abriu o jornal e começou a virar as páginas. — Ian, eu pensei que você pretendia descobrir a verdadeira identidade do Lorde X. Não me diga que você não conseguiu convencer o homem a manter o silêncio sobre seus assuntos. Felicity respirou rápido quando lançou seu olhar ao de Ian. Ian levou um tempo para responder, obviamente, deliciando-se com o poder que ele tinha sobre ela. — Eu tive algumas dificuldades em rastrear um homem chamado Lorde X. Mas eu falei com Pilkington. Embora ele não quisesse revelar a identidade do seu correspondente, ele me disse algo muito interessante. O estômago de Felicity começou a revirar como uma batedeira de manteiga em atividade. — Pilkington? — Sara interrompeu. — Mas Ian, não é ele o homem que você mencionou, quando... — Ela parou, seu olhar voando de Ian para Felicity. Felicity não conseguia encontrar o olhar de sua amiga. ― Pilkington é o editor do The Evening Gazette. ― Jordan explicou, com uma tensão óbvia na sala. Ele procurou pela coluna no jornal. ― Espere. Aqui está. — Leia em voz alta. ― Ian pediu, lançando cada palavra a ela como um maldito arqueiro. Felicity realmente se sentia mal agora. Uma coisa era escrever aquelas palavras quando tinha estado sozinha em seu quarto, reforçada pela raiva. Mas ouvi-las, lidas pelos próprios amigos de Ian... Dane-se ele! Ela não se deixaria levar pela culpa provocada por ele. Ela tinha todo o direito de retaliar depois das suas táticas desagradáveis na varanda. Se sua coluna o envergonhar perante seus amigos, então ele não devia fazê-los ler. Além disso, não foi ele quem começou? Comparado com a profunda humilhação que ele tinha deixado cair sobre ela naquela noite, a forma como ele a fez responder aos seus beijos e logo sendo sarcástico sobre a resposta que ela deu para Sara e Lady Brumley. Ela bateu seus punhos no colo quando a voz divertida de Jordan retumbou em toda a sala:
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“Acautelai-vos, meus amigos, para não invocar a ira de Lorde St. Clair lendo esta coluna. Ele ficou triste em ser mencionado aqui na semana passada. Parece que o bom Visconde quer nos fazer acreditar que a mulher residente em sua casa na Waltham Street não é sua amante, mas a irmã de seu compatriota de guerra a quem ajuda amigavelmente durante um momento de dificuldade. Se isso for verdade, seu comportamento é digno de louvor, e não de censura. No entanto leitor, seu fiel correspondente acha duvidosa essa possibilidade, especialmente a parte em que afirmou ter lutado na guerra. Alguém já ouviu falar de seus feitos na batalha ou visto sua bravura em primeira mão? Se assim for, deixe que o The Evening Gazette saber de uma vez. Estaríamos muito felizes em publicar as histórias sobre os anos de sua senhoria lutando no exterior. Combatendo Napoleão. As verdadeiras suspeitas de seu correspondente, no entanto, são as de que os ‘anos de guerra’ do Visconde são tão questionáveis quanto a sua ‘benevolência’, caso em que suas reivindicações insultariam a bravura de todos aqueles homens que realmente lutaram por nosso país.”
Jordan abaixou o jornal, com os olhos brilhantes de raiva. — Eu pego de volta cada elogio que já tenha dado a esse homem Ian! Isso é uma calúnia! Você deve mover uma ação contra ele! Ele não pode difamá-lo desse jeito, ele deve ser forçado a se retratar desse insulto ou apresentar-se com satisfação no campo de duelo! Felicity se fez manter o olhar no de Ian. Sua falta de expressão amplamente demonstrava que esperava pela reação dela. Sem dúvida, esperava que ela se ruborizasse ou recuasse ou mostrasse outra evidência de vergonha. Ele não conseguiria isso dela, o canalha! Ela não se arrependeu de uma única palavra que tinha escrito! Verdadeiramente, não se arrependeu! Bem, talvez esse finalzinho tivesse sido exagerado. Ela provavelmente não deveria ter duvidado de sua coragem. Mas ela estava com raiva, e com boa razão. Ele a humilhou publicamente tão publicamente como ela tinha feito com ele. Não, ela não se arrependeu do que ela tinha escrito. Ele merecia tudo o que ela podia lançar sobre ele. — O que eu não entendo, — Emily colocou — é como Lorde X soube o que você nos contou sobre seu amigo, Ian. Eu juro que nunca disse uma palavra a ninguém fora desta sala. — Nem eu — Sara concordou. Felicity ouviu em descrença. O quê? Não podia ser. As duas condessas deviam ter contado a outras pessoas. Sara tinha contado a ela. E certamente o motivo de Ian ter mentido para eles, em primeiro lugar, teria sido para se assegurar de que eles limpassem seu nome entre as fofocas. Ian deu a Felicity um breve sorriso insultuoso. – Tudo bem, Sara. Eu sei que você provavelmente contou a algumas pessoas para me defender. Não culpo você por isso. — Mas não fiz! – Sara protestou. – Você nos pediu para não contar a ninguém e eu mantive seu desejo! – Seu olhar se voltou para Felicity, confuso e triste. O embrulho no estômago de Felicity agora ameaçava fazê-la desmaiar. Ele pediu-lhes para não dizer nada? Bom Deus. Como ele sabia que Sara tinha contado a ela e só a ela? Que tipo de demônio ele era, afinal? 71
— Você ou a Emily devem ter dito alguma coisa. ― Ian replicou com inocente aparência. ― Vocês não poderiam adivinhar que seria passado adiante. O próprio Pilkington me disse que Lorde X tem uma mulher que o ajuda a recolher informações. Sem dúvida ela ouviu a verdade de uma de vocês no baile. Que mentiroso! Felicity pensou raivosamente. Sr. Pilkington não disse coisa alguma! Ele acrescentou suave e astuciosamente. ― Provavelmente é Lady Brumley, com sua inclinação por fofoca. foi...
― Não! – Sara exclamou. – Eu não disse uma palavra para ela. A única pessoa que contei
Ela parou no exato momento em que Felicity sentiu uma nascente armadilha em volta dela. Por quê? Aquele manipulador, filho mentiroso de um celibatário! Ian se recostou com uma expressão vitoriosa, congratulando-se pelo sucesso de suas maquinações. Essa emboscada tinha sido seu plano, ele pensou em arruiná-la com seus amigos, evitando que ela tirasse qualquer outra informação deles. Para defender a si própria, ela teria que admitir ser Lorde X. Mas ele não queria isso. Ah, não. Revelar sua identidade para seus amigos seria obriga-la a contar toda a verdade, até as partes que ele escondeu deles. Então, ao invés disso ele fez com que ela se passasse por uma delatadora que repassava fofocas por seu bel prazer. Pelo menos Lorde X tinha um propósito nobre, mas a assistente de Lorde X poderia ser somente uma mulher mesquinha, uma bruxa das piores. Eles a desprezariam agora. Ela olhou Sara, e ficou assustada por ver a expressão ferida dela. Eles já a desprezavam. Ela se revolvia para se defender, e fingindo não se dar conta da conclusão que Sara havia chegado: — Você me contou Sara, então certamente contou a mais alguém. Sara tinha um olhar de cortar o coração devido a traição. ― Não, ninguém além de você. Felicity queria protestar, agir como se tivesse sido insultada, qualquer coisa para tirar esse olhar horrível do rosto de Sara. Mas protestar somente a faria olhá-la com mais culpa. Ela nunca teria adivinhado que se importaria tanto com o que uma Condessa pensaria dela. Ela tinha poucos amigos próximos, graças à posição de seu pai e ela tolamente pensou que Sara poderia se tornar uma. O que mais Ian ia se atrever a tirar dela? Agora, todos estariam contra ela e só seria pior se ela revelasse ser Lorde X. De qualquer forma, ela era uma ‘intrusa’. Eles não acreditariam quando ela falasse que o “segredo” de Ian era uma flagrante grande mentira. E não existiria ninguém para confirmar a história dela. Exceto a Srta. Greenaway, a única outra pessoa que sabia a verdade, seja qual for. Logo ela se encheu de esperanças. Claro! Srta. Greenaway! Lutando para manter a tranquilidade, ela disse a Ian: — Sabe, talvez não tenha sido nenhum de nós a falar com Lorde X. Sua amiga, aquela da Waltham Street, pode ter ido ao jornal explicar a situação. Eu sei que se eu tivesse sido assunto de uma fofoca injusta, faria o mesmo. Uma nova pausa aconteceu e todos digeriram essa possibilidade. Pela primeira vez que ele entrou na sala, a fachada de autoconfiança de Ian alterou uma fração de segundo.
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― Eu asseguro a você, Srta. Taylor, que a Senhorita G, que é aquela minha amiga, nunca faria tamanha tolice. Ela manteria meu desejo pela privacidade. Todavia, Sara parecia mais do que disposta a compreender a hipótese de Felicity. ― Sim, mas ela teria arriscado a própria reputação só para agradá-lo? Duvido. E até se ela tivesse, talvez ela não conseguisse ver você sendo difamado depois de ter sido tão generoso com ela. Pense em quão pesado isso seria na consciência dela. — Sara está certa. – Felicity acrescentou com um alívio a transpassando. – Tenho certeza que a mulher teria achado muito angustiante. Quero ver ele se safar dessa, ela pensou ferozmente. Ele não podia rebater sua hipótese sem dizer a verdade, e ele não contaria a verdade aos seus amigos depois de presenteá-los com uma mentira bem ultrajante. Foi-se o seu comportamento presunçoso. Como duas pedras recém golpeadas, seus olhos brilhavam para ela. Ele pulou seu pé e caminhou para onde Jordan tinha jogado o jornal. ― A Srta. em questão não foi ao jornal. ― Ele pegou o Gazette, examinou-o e apunhalando com um longo dedo na coluna. ― Aqui diz “O bom Visconde quer nos fazer acreditar” etc. Isso implica que Lorde X acha que eu sou o único fazendo falsos clamores. — Não necessariamente, ―Jordan colocou. ― Se ele está determinado a espetar você com sua caneta, ele pode não querer que seus leitores saibam que sua amiga é a fonte dele, pesaria em seu favor. Então ele se expressa mais vagamente. Depois de tudo, ele não vem a público dizendo conseguir as informações de você ou de um de seus amigos, não é? Sara deu a Felicity um olhar defensivo. ― Vê Ian, provavelmente não é um dos nossos. A defesa da querida Sara arruinou o triunfo de Felicity. Sara não merecia ser um peão nessa batalha. Era falha de Felicity que Sara tivesse sido colocada ali em primeiro lugar. Nem o olhar mordaz de Ian a fez se sentir melhor. Ele estava certo em desprezá-la. Ela nunca devia ter permitido que Sara acreditasse que ele tivesse tomado liberdade com ela na varanda. Até aquele momento, a guerra tinha permanecido entre os dois. Mas agora parecia estar fora de controle. — Não interessa saber como Lorde X descobriu, — Jordan falou. – Qual direito ele tem de presumir que você mentiu sobre lutar durante a guerra? Ele não deu provas. Só por isso você devia processar seu jornal. Se eu fosse você, eu faria o governo determinar uma retratação do Gazette. — O governo não se incomodaria. ―Ian mudou seu olhar de Felicity para Jordan. ― O que eu fiz no continente não foi oficial. Duvido que alguém se lembre de minha função. — O que você fez? – Jordan perguntou — Nada que valha discutir. Claro que não, pensou Felicity, renovada na certeza de sua posição. Uma carreira militar inexistente. Que conveniente que ninguém lembrasse seu papel na guerra. — Wellington lembra o que você fez, — Gideon de repente assinalou da sua posição solitária em frente ao fogo. ― Ele me contou que não teriam ganhado a guerra sem você. Todos os olhos se voltaram para ele, mas especificamente os de Felicity. — O próprio Duque te contou isso? – Jordan perguntou a seu cunhado. – Em que inferno você encontrou o Duque de Wellington? Gideon encolheu os ombros. 73
― Um baile ou algo similar. Não lembro. Wellington e eu estávamos discutindo sobre o papel da aristocracia britânica no militarismo. Eu só sabia que Wellington não nascerá aristocrata, mas se tornou um após seus esforços pelo seu país. Então eu disse a ele que pensava ser estúpido ter um sistema onde os homens mais educados, os aristocratas e todos os primogênitos, estavam desencorajados a defender seu país por interesse em heranças. No calor do momento, ele deu Ian como exemplo de um primogênito e aristocrata que participou brava e efetivamente na guerra. O choque manteve Felicity imóvel. Podia ser verdade? Ian não mentiu sobre suas memórias de guerra? Era impossível! Como... Por que um Visconde herdeiro lutaria na guerra? — Wellington estava provavelmente bêbado. – Ian murmurou. — Se ele estava, escondeu bem. ― Gideon falou. — Quando o comentário dele despertou minha curiosidade, eu perguntei mais coisas sobre você e de repente ele lembrou que eu costumava ser um corsário americano. Ficou muito quieto sobre o assunto. Pensei que não seria inteligente pressioná-lo. — Não teria importância se você tivesse pressionado — Ian disse sobriamente. ― Estou surpreso que ele disse alguma coisa. É um grande exagero sobre minha pequena ajuda. — Wellington não exagera – Jordan colocou, uma nota de temor na sua voz. ― Mas que inferno você fez durante a guerra? Foi um espião? Por que ninguém fala disso? — Porque isso não é assunto que ninguém queira discutir. Nada que eu queira falar. ― O olhar de Ian se prendeu em Felicity, terrível e alerta. ― Ou que seja discutido no jornal. Felicity nunca se sentiu tão pequena. Se Ian estava dizendo a verdade, então ela cometeu um grande erro por publicar o questionamento da honra dele. Evitando o olhar dele, ela imperdoavelmente afundou no compacto e duro sofá. Ela merecia o pior, por ter se enganado. Que idiota ela tinha sido para assumir que seus hábitos libertinos eram a única faceta do seu caráter. Ela vislumbrou seu lado sombrio quando o viu pela primeira vez. Um lado sombrio que só a dor era capaz de esculpir na alma de um homem e o tipo de dor que só vem de terríveis atrocidades. Porque ela tinha sido tão precipitada em ignorar seus próprios instintos? Por causa de Katherine? Não, para ser justa, tinha sido mais que isso. Tinha sido seu preconceito contra homens daquele tipo. Ele tinha sido tão... Tão tipicamente arrogante e sigiloso sobre seus casos que isso a cegou para outras considerações. Como os rumores sobre espionar e sua ausência da Inglaterra nos mesmos anos da guerra. E o jeito que ele a tratou na varanda tinha agravado sua raiva contra ele. Mas ela nunca deveria ter veiculado suas queixas na coluna, especialmente sem saber a verdade. Aquilo foi errado. Ela via agora. — Por que Lorde X fez de você seu inimigo? ― Gideon perguntou a Ian. ― Talvez devesse interrogar as suas amizades da alta sociedade para saber qual garganta cortar. — Não vamos falar sobre cortar gargantas, ― Jordan reprovando seu cunhado. ― Você pensa como um pirata de novo Gideon, e não como um homem civilizado. Gideon lançou um divertido olhar a sua mulher não visto por seu cunhado. ― Às vezes o jeito pirata é mais eficiente. — Só se você quiser a forca, ― Jordan retrucou secamente. — Chega! ― Ian levantou as mãos. Agradeço a vocês por todos os conselhos, meus amigos, mas eu lidarei com isso do meu jeito. Eu te garanto Jordan, eu cuidarei de Lorde X sem cortar garganta alguma. Não será preciso voltar a falar sobre isso no futuro. 74
Embora ele não tivesse olhado muito para ela enquanto falava, ela sabia que as palavras dele eram para ela. Deus do céu, ela realmente tinha feito aquilo. Depois dessa noite, ele a moeria até virar pó com todo poder e armas que ele dispusesse. O coração dela pulou no estômago. Ela tinha sido tão tola por levar o assunto adiante, especialmente com o futuro inseguro dela e dos irmãos. Ela deveria ter levado em consideração o prenúncio de seu pai sobre não insultar um canhão com balas se quisesse manter a cabeça no lugar. Embora ela desejasse desperadamente manter a cabeça no lugar agora, ela temia muitíssimo que fosse tarde demais para evitar o canhão.
Capítulo 9 Segundo rumores, certa duquesa não gostou do presente de aniversário dado por seu marido, um indescritível espartilho. Ao ser presenteado com uma cinta construída para impedir o acesso do sexo masculino ao corpo feminino, ela jogou—a ao fogo e em seguida, informou que ele podia manter os homens distantes ficando mais em casa.
Lorde X, The Evening Gazette. 13 de dezembro de 1820.
Felicity subiu depressa as escadas em direção ao seu quarto, querendo saber como tinha sobrevivido à última hora. Ian, um herói de guerra? Um mentiroso, sim sobre Srta. Greenaway, e certamente um canalha calculista quando se tratava de mulheres. Mas ainda sim um herói. Esse pensamento a tinha atormentado nos estranhos minutos seguintes a emboscada feita por Ian. Apesar das tentativas de Sara em desviar a conversa para assuntos mais triviais, o incômodo silencioso que tinha se instalado no ambiente não se desfez. Ela quase chorou de alivio quando Gideon sugeriu que os homens se retirassem ao seu escritório para ver ‘as plantas’ do barco que tinha acabado de comprar. Mais um minuto na presença de Ian e ela poderia ter se traído numa torrente de emoções. Ela permaneceu na sala tempo suficiente para ter certeza que Emily e Sara não suspeitavam mais de que ela era cúmplice de Lorde X. Depois ela pediu licença para se retirar e ir para o quarto. Não que ela pudesse dormir. Suas mãos apertaram os corrimãos da escada. Como ela poderia com o olhar condenador de Ian brandindo em sua mente? Ela merecia isso, ela sabia, não importa o quanto ela tentasse ser racional sobre o acontecido. A retaliação dela tinha ido longe, muito excessiva, ela devia reconhecer isso. Sufocando um soluço, ela segurou seu livro mais firmemente sobre os braços e subiu correndo os últimos degraus, ansiosa para chegar ao santuário de seu quarto. Ele não deixaria o insulto passar, ela o conhecia muito bem para pensar outra coisa. Oh, como ela pôde deixado-lo chegar tão longe? Como ela pôde deixar seus sentimentos se sobreporem ao seu bom senso? Na sua precária situação, ela não devia ter provocado um Visconde. 75
Ela chegou ao topo das escadas e avançou pelo hall arrastando pesadamente os pés, passando por tapetes de seda e imponentes pilares desenhados por seu pai. Se seu pai estivesse ali, poderia dizer a ela o que fazer. Ele sempre sabia como tratar gente daquela posição. Na verdade, essa habilidade jamais havia sido uma das virtudes de Felicity. Felizmente, depois do nascimento dos trigêmeos e da morte de sua mãe, ela teve que se dedicar a cuidar dos bebês e renunciar as viagens com seu pai. Desse modo, ela tinha finalmente conseguido evitar todo contato com os chefes de seu pai, exceto quando os trazia para casa. Casa. Graças a Deus que ela estaria em casa amanhã. Depois do tumulto dessas últimas horas, ela estaria pronta para aguentar, até mesmo desejar as piores traquinagens que os meninos poderiam aprontar com ela. Ela não podia esperar para desabafar com a senhora Box. A mulher aliviaria sua consciência culpada e entenderia o que a tinha levado a se comportar tão irracionalmente. Sim, e a senhora Box a ajudaria a achar uma formar de evitar a terrível vingança de Lorde Saint Clair. Com um leve suspiro, ela oscilou ao abrir a porta do quarto, agradecida em ver que os criados já tinham ascendido a lareira, dobrado os magníficos cobertores aos pés da imponente cama e iluminado o quarto com velas suficientes para lançar um fraco brilho sobre o quarto. Absorta em seus pensamentos sombrios, fechou a porta e caminhou para a cômoda de madeira, lançando seu livro sobre a cama enquanto passava. Ela tirou o xale e abriu a cômoda para guardá-lo. O olhar dela pousou na bata de renda que a senhora Box tinha incluído na mala. Tinha pertencido a sua mãe, dado a Felicity quando ela completou dezesseis anos e cheia de esperanças para o futuro. Naquela idade, ela imaginou um marido que a veria nele, com olhos brilhantes de aprovação do jeito que os de seu pai brilharam para sua mãe. Mas isso nunca aconteceria, não é? A vida transloucada de seu pai e sua subsequente morte pôs fim aquelas esperanças. Tinham-na empurrado a uma terrível posição onde ela só conseguia sobreviver escrevendo histórias que a obrigavam a lidar com pessoas da laia de Lorde Saint Clair. Mais lágrimas se amontoaram aos olhos. Acariciou a bata rendado enquanto engolia os soluços. Ela não iria chorar por isso. Isso estava fora de questão. Forçando sua atenção na bata que tinha sob seus olhos, acariciou o adorno de uma intrincada flor. Sua mãe, a quem sempre admirou por ser tão perita com sua agulha de costura, havia confeccionado esse belo e delicado traje. Felicity o levantou e pressionou-o no rosto, respirando o mais leve cheiro de água de rosas que sua mãe costumava usar. Precisando sentir uma conexão, qualquer conexão com sua mãe, ela decidiu vesti-lo naquela noite. Impacientemente ela tirou seu vestido dispensando-o junto com suas anáguas, meias e ligas. Então vestiu a adorável bata sobre sua chemise. Seus cabelos se soltaram um pouco nesse processo e ela sacudiu a cabeça de um lado para o outro para que caíssem livremente em cascata, não se importando com o lugar onde caiam as forquilhas. Andando para a penteadeira Harewood situada entre duas janelas pontiagudas do grande quarto de dormir, ela se olhou através do espelho oval que tinha sobre o móvel. Por um momento, tudo o que ela viu foi uma jovem mulher escassamente vestida de olhos avermelhados e com um olhar perdido no rosto. Então o reflexo de um movimento no espelho a fez prender a respiração. Atrás dela, um homem se apoiava contra a parede perto da porta fechada. Ian! Meu Deus, Ian tinha voltado para se vingar. Seus musculosos braços estavam cruzados sobre seu peito e seu intenso olhar continha um poder tão escuro que por um momento ela não podia se mover, não podia piscar, como o olhar petrificado da vítima de um mágico hipnotizante. 76
― Continue. ― Seus olhos insolentes bebiam cada aspecto de sua aparência. ― Não me deixe interrompê-la. Isso a liberou de seu feitiço. Ela girou para encará-lo, segurando firmemente junto ao peito as extremidades abertas da roupa com os dedos crispados. ― Como você se atreve! Há quanto tempo você... — Eu estive esperando você desde que deixei a sala de estar. Gideon e Jordan pensam que eu voltei para a casa dos Blackmores. Mas eu não podia ir embora sem falar com você. — Não aqui, não assim! Desça, eu encontrarei você... — Irá me encontrar? ― Ele riu, um som baixo e ameaçador. ― Você acha que eu vou confiar em você para me encontrar? Antes que eu pudesse chegar às escadas, você estaria gritando para Sara me jogar porta a fora. — O que o faz pensar que eu não gritaria agora? — Você não fará enquanto estiver vestida desse jeito. ― Ele lançou-lhe outro olhar devorador, exatamente como o sultão do quadro dela, determinando como punir seu harém. Isso a chocou e o medo que sentia se misturou com um estranho calor que se estendia da cabeça aos seios e as costas. O amaldiçoou por isso. — Além disso, — ele acrescentou, — se você gritar e Sara vier correndo até aqui exigindo uma explicação, você teria muito mais dificuldade de convencê-la da sua inocência como da última vez. Ele tinha um excelente argumento. Mas ela não esperava que o desgraçado a encurralasse em seu próprio quarto. O ultraje ajudou a banir seu medo. Levando a cabeça para trás, ela o escrutinou para averiguar suas intenções. Com candelabro preso na parede a poucos centímetros sobre a cabeça dele, ele estava iluminado mais perversamente, seu rosto e seu corpo eram um compêndio de sombras abaixo da cintilante luz das velas que acentuava seu tamanho e brincava de esconde-esconde com suas expressões. Mas ela não precisava ver seu rosto para ler seu humor. Pela primeira vez, desde que se viram, sua voz mostrou cada nuance de sentimento, o tom cortante evidenciava sua fúria. E essa invasão foi uma grande prova de que ela o provocou mais do que deveria. Nenhum homem entra no quarto de uma mulher solteira à noite sem ser convidado... E certamente nenhum homem permaneceria em silêncio enquanto a mulher se despe, a menos que suas intenções fossem menos honestas. Ela esperava retaliação, mas não isso. Bom Deus, não isso. Um breve flash de terror cegou sua coragem por recordar os indesejados avanços dos patrões de seu pai, por não saber o que vinha a seguir. Ela sempre tinha conseguido Pará-los antes que passassem dos limites, mas ia ser impossível lutar contra Ian. Ele era muito grande, muito seguro de sua força. Muito justificado em sua raiva. O coração dela afundou. Tentando não parecer óbvia, ela tateou a superfície verde da penteadeira atrás dela, a procura de uma arma, mas não avistou nada mais útil do que uma escova, um pente e um emaranhado de fitas. Ao menos que ela quisesse arruma-lo até a morte, ela estava indefesa. Mas ela ainda lutaria com ele de alguma maneira. Ela encontrou seu olhar mais uma vez, convocando toda sua resistência.
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―Você não veio aqui só para conversar, ou não teria assistido eu me despir. ― Ela acrescentou com um ar acusador. ―Agora você tem se dedicado a atacar mulheres em seus quartos? Gideon ficará tão desapontado. Ele parece pensar que você é um herói de guerra. Seus lábios se apertaram de raiva. ― Nós dois sabemos o quão decidido ele está nessa opinião, não sabemos? Estou simplesmente vivendo de acordo com a imagem que tem de mim. Conforme a pesquisa cuidadosa de sua coluna, eu sou um mentiroso, até mesmo um devasso. Um homem sem honra. A cada palavra dita frisadamente era como um golpe de martelo sobre sua consciência. ― Eu não chamei você de mentiroso. ― Ela disse defensivamente. ― Eu meramente... Questionei certas declarações que você fez sobre seu passado. — Declarações que eu nunca quis publicadas. — Por que não? Gideon disse que você não fez nada que te envergonhasse. — Mas você não acredita nisso, acredita? – ele disse com amargura. – Não, você é muito esperta para ser enganada pelos clamores dos amigos do homem. Ian levantou a cabeça e com esse gesto suas rígidas feições ficaram expostas sem querer embaixo das velas. Uma luz ambarina brilhava sobre seus irados olhos negros, seu queixo tenso. Ah sim, ele estava com raiva, até furioso. Sua imagem era terrível e intrigante ao mesmo tempo. Engolindo em seco, ela apertou o bata sobre os seus seios. ― Eu acredito nisso agora. Mas certamente você entende porque não acreditei antes. Como você poderia esperar que eu acreditasse em suas afirmações quando você insiste em esconder tanta coisa do seu passado? Além de todos aqueles rumores contraditórios, ninguém nunca professou ter lutado com você e nem há menções públicas sobre sua carreira militar. — Porque eu prefiro assim. Se quisesse que minha história de guerra fosse de conhecimento público teria informado os detalhes para os jornais na época do meu retorno, três anos atrás. Uma pena que você não sentiu a necessidade de me consultar considerando meus desejos sobre o assunto. Felicity se sobressaltou ante o tom acusatório. ― É sua própria culpa se falei sobre isso. Você sabe muito bem que sua história sobre Srta Greenaway implorou para ser questionada. Além disso, nunca teria escrito mais sobre você se não tivesse me atacado na... — Atacado? ― Ele se separou da parede. ― Você chama um simples beijo de assalto! — Não foi um simples beijo para mim. ―Ela falou antes que pudesse se conter. Ela continuou num tom mais sossegado. ― Se tivesse sido, não teria reagido como reagi. Aquilo pareceu tomá-lo de surpresa. Seu insondável olhar recaiu sobre os lábios dela e ali se demorou a lembrando da última vez que ele tinha tocado seus lábios com os dele. A boca dela tremeu em resposta. — Não foi um simples beijo para mim também. ― A voz dele ressoou no silencioso quarto. ― De jeito algum. Uma emoção injustificada a atravessou ante as palavras dele. Ele não quis dizer isso. Ela sabia exatamente o quão sincero ele podia ser e quão facilmente sua sinceridade podia se tornar uma traição. Mas ainda sim ela queria acreditar nelas. 78
O ar parecia espesso e fechado. O espaço muito pequeno para conter eles dois, embora ele permanecesse a uma considerável distância. E ela só vestia o bata, sua chemise e sua roupa de baixo. Ela tentou fechar mais o bata sobre seu corpo, mas o pedaço de tecido parecia ter vida própria, mantê-lo fechado era impossível. Pior ainda, seus movimentos pareciam ter atraído a atenção dele para isso. Seus olhos escuros arrastavam-se sobre ela, famintos e sedentos, desarmando todas as suas defesas com a mesma eficiência de uma faca afiada. Ele já a tinha olhado assim antes, quando tinha estado a escassos centímetros de distância, rodeando-a com seus braços e seus lábios pegados aos dela... Com uma maldição não falada, ela ‘afastou’ seu olhar do dele. Ele clareou a garganta. ― No entanto, — ele continuou asperamente como se estivesse com raiva por ela ter mencionado aqueles beijos, — o que eu fiz não foi provocação suficiente para você manchar minha reputação. — Você manchou minha reputação primeiro, naquela noite na varanda. — Não é verdade. Você se esqueceu da sua primeira coluna? Ela gemeu. Impressionante, ela tinha esquecido. ― Nossas opiniões diferem em quão verdadeiramente esses comentários colocaram em perigo sua reputação. — Levou minha noiva a fugir com outro homem. Se isso não sujou minha reputação, isso pelo menos a fez reluzir. — Você conseguiu sua vingança por isso, não é? Sujeitando-me aos seus beijos e... — Sujeitando você ― ele se aproximou dela, sua sobrancelha franzida. ― Você está dizendo que não gostou deles? — Claro que eu gostei, — ela soltou. Ao olhar satisfeito dele, ela acrescentou. ― Como eu não poderia? Você é um libertino, fazer as mulheres desfrutarem de seus beijos é sua vocação. Mas isso não muda o fato deles terem sido forçados. — Não sou um libertino. ― Ele passou as mãos pelos cabelos em exasperação. ― Se você realmente tivesse pesquisado para a sua falsa coluna, você saberia disso. Sobre forçar os beijos, acredite-me, se você tivesse me estapeado depois do primeiro beijo, eu não teria ficado para um segundo. ― Seus olhos se estreitaram. — Mas você agarrou as lapelas do meu casaco para me puxar de volta. Aqueles beijos foram bem-vindos, não importa o que você disse depois. Você mentiu sobre nosso encontro inteiro para Sara. Pelo menos tenha a decência em admitir isso. — Eu não menti para ela! ― Ela protestou. — Você disse a ela que me aproveitei de você. — Não! Ela simplesmente... Presumiu que você tivesse feito isso por que... Por que... — Porque você disse que fui ‘longe demais.’ ― Ele se aproximou dela vagarosamente, os olhos brilhando como um conjunto de prata e ônix. ― O que é exatamente ‘longe demais’, Felicity? Ela se retraiu contra a penteadeira. 79
— Tenho certeza que você sabe melhor do que eu, dada a sua reputação. — Minha reputação. – ele bufou. – Eu dificilmente sei o que é isso nesses dias, ela tem sido tão destroçada por você e todas estas fofocas. Mas isso não responde a minha pergunta. Se você não mentiu, então o que você quis dizer quando contou a Sara que fui ‘longe demais’? Ele agora estava a escassos centímetros dela, e embora quisesse fugir, ela se recusou a deixá-lo ver como estava intimidando-a. Além disso, a penteadeira em suas costas impedia seus movimentos. Tentando manter um pouco o ar de uma solteirona, ela retrucou: — Você sabe o que eu quis dizer.Quis dizer que você me beijou com... Com... — Ah, como alguém descreve o mergulho na paixão e na pura intensidade do beijo de um homem, que para o coração, sem soar como uma colegial boba? — Com grande entusiasmo. — Ela terminou sem jeito. Um meio sorriso tocou os lábios dele. — Eu não vou negar isso. Eu diria que ambos mostraram ‘grande entusiasmo’. No entanto, mesmo os mais entusiastas de beijos não pediriam a Sara que me expulsasse de casa. — Sem aviso, ele enganchou seu braço sobre a cintura dela, puxando-a tão perto que ela podia ver a mancha escura da barba acima de seu lábio superior. — Então diga-me, minha enganosa Felicity, o que fiz para fazê-la pensar tão mal de mim? Eu juro que não lembro nada que pudesse me envergonhar. — Isso é porque nada envergonha você! — Ela cravou as unhas no peito dele e o empurrou, o que se mostrou absolutamente inútil e apenas fez que sua bata se soltasse um pouco. ― Me solte Ian, ou eu vou ser obrigada a... Obrigada... ― Seu coração deu um salto quando ela se lembrou do por que não podia gritar. ― Vou estar realmente convencida de que você é um canalha patife! A breve explosão de risos dele ecoou no quarto. — Você já está convencida disso. Ademais, não vou sair até você demonstrar o que é “longe demais". Só para eu não cometer o mesmo erro no futuro, se é que me entende. — No futuro? — guinchou ela. — Tanto quanto espero que nossa pequena discórdia tenha acabado. Eu sei que você é melhor do que isso. Então, eu quero saber o que é permitido e o que não é. ― Agindo rapidamente com dois dedos sob a borda da bata, ele a despiu um pouco, seu olhar mergulhando descaradamente para examinar a chemise dela. O sangue dela acelerou, pulou, correu através de suas veias. Ela deveria gritar que isso definitivamente não era permitido, mas tudo que ela podia fazer era lutar para puxar o ar para os pulmões. Então, ele inclinou a cabeça para pressionar um beijo sobre sua clavícula, na parte exposta acima de sua chemise. A carícia era tão íntima que ela, tensa, ao tentar se distanciar acabou perdendo o equilíbrio, caindo contra a borda da penteadeira, suas mãos agarrando-se a ela em busca de apoio. Ele se aproveitou do desequilíbrio para pegar o bata em seus punhos e baixá-la lenta e sensualmente sobre seus ombros. Como que se amontoando na penteadeira atrás dela, ele enrolou uma mecha de seu cabelo em torno do dedo e a beijou. — Não — ela sussurrou roucamente. Um prazer inebriante corria através de seu corpo traidor. Ela lutou ferozmente. A última vez que ela o deixou beijá-la, ele tinha pisado nos seus sentimentos depois. — Você... Você... Não deve... 80
Ele deixou cair a mecha de cabelo, afagando-a onde a mecha caiu sobre o ombro. Em seguida, ele varreu-a dali deixando seu ombro livre. — É isso o que você quis dizer com 'longe demais'? —Ele afastou a manga de sua camisa até deixar o ombro nu. Ela prendeu a respiração quando ele baixou a boca para beijar a pele exposta. A respiração dele era como a carícia de uma pluma, provocando uma promessa. Quando ela emitiu um suave suspiro, ele virou seus lábios até a base da sua garganta. — Ou isso?— Ele roçou levemente a boca ao longo da cavidade lisa como se procurasse o pulso que saltava em um frenesi sob seu toque, e quando ele o achou, o beijou também, e em seguida, dirigiu-se para o arco do seu pescoço. Nessa hora ele levantou a cabeça, seus olhos ardendo como brasas mal amontoadas na chama que era seu rosto. — Não, eu esqueci. Esses são beijos e "longe demais" é mais do que um ou dois beijos, não é? “Longe demais” deve ser o suficiente para fazer com que minha amiga de infância duvide de meu caráter. Agora, o que pode ser isso? Com o olhar ainda fixo no rosto dela, ele pegou uma manga de sua chemise em seu punho e puxou-o para baixo além de seu ombro. A cor inundou seu rosto enquanto ela agarrava a mão dele pelo punho para detê-lo, mas então ele trouxe sua boca sobre a dela e ela se esqueceu do porquê que ele não devia estar ali sozinho com ela... Do porquê que ele não devia tocá-la assim, beijá-la assim... Do porquê que ela não confiava nele ... Tudo. Seu beijo foi profundo e imediatamente possessivo, sua língua entrando em sua boca antes dela pensar em separar os lábios. A ponta da mesa cravava a palma de sua mão, onde ela tinha agarrado numa tentativa de não "atraí-lo de volta", como ele a tinha acusado antes. Mas isso foi só uma pequena vitória, pois não podia deixar de responder com o resto do corpo, se esforçava arduamente contra ele, de acolher sua boca enquanto ele explorava a dela... Ou suas mãos enquanto trabalhavam sobre as mangas da chemise sobre os ombros dela... Ou seu joelho pressionando, limitadamente por causa da escassa roupa de musselina, na parte interna das coxas dela. Ela ainda o ajudou jogando a cabeça para trás quando os lábios dele abriram caminho descendo pela sua garganta. No entanto, quando ele afrouxou os laços de sua chemise, ela voltou rapidamente ao seu bom senso, segurando a roupa antes que ele pudesse abrir um espaço e revelar seus seios nus. — Pare com isso! O que você acha que está fazendo? — Determinando meus limites —ele disse numa voz rouca. ― Quão longe é “longe demais”? — Certamente isso é! — Ah... Mas você disse que não mentiu para Sara sobre o meu ‘ataque’ naquela noite, e eu definitivamente não me lembro de ter feito isso. — Seu olhar de negra noite se prendeu ao rosto dela, mas sua mão em concha cobriu um seio coberto pela musselina, em uma carícia ousada que a fez ofegar. ― Então, vamos continuar. Minha memória às vezes é falha. Talvez eu deva atualizá-la. — Não, você... Você... — Sua mente ficou em branco quando sua mão se moveu sobre seu seio. Era extraordinariamente vergonhoso e delicioso ao mesmo tempo. — Oh, milorde — disse uma voz gutural que certamente pertencia à outra pessoa que não a ela, a voz de uma devassa. — Será que eu a toquei assim naquela noite, Felicity? 81
Ela fechou os olhos para não testemunhar sua expressão triunfante. Ele achatava a palma da mão contra seu seio e começou um movimento de rotação que fez seu mamilo endurecer em uma ponta dolorida. Em suas ingestões agudas de ar, ele se inclinou, sua própria respiração marcando com uma tatuagem quente contra seu rosto. — Diga-me, querida. Eu fiz isso? A palavra estrangeira pegou-a desprevenida até que se lembrou de que ele era meio espanhol. E ela tinha vergonha de perguntar o que aquilo significava. — Responda-me! — Ele ordenou em um tom mais áspero. fez.
— Não! — Ela deixou escapar, sem se importar com seu orgulho. — Você sabe que não
Quando ela forçou-se a abrir seus olhos, para enfrentar a expressão exultante que ela tinha certeza que estaria em seu rosto, ficou chocada ao ver que ele não estava exultante. Sua necessidade bruta rompeu com seu estado normal de controle. — É um milagre eu não tê-lo feito. — Confessou com voz irregular. — Porque eu queria. Deus, como eu queria. A afirmação dele salvou seu orgulho ferido. Ele não tinha apenas a manipulado naquela noite, ele tinha sentido o que ela sentiu. E as coisas que ele fazia com ela, agora os beijos, as carícias eram mais do que uma de suas amaldiçoadas estratégias. A percepção disso renovou todos seus desejos reprimidos, e eles sopraram através dela como um vento errante, explodindo qualquer pensamento de modéstia ou restrição de donzela. Ela se inclinou ansiosamente sob sua mão. Com um gemido de pura satisfação masculina, ele acariciou-lhe a sério... Puxando seu mamilo através da musselina, apertando delicadamente com uma experiência nata, encontrando o outro seio e o submetendo a mestra tortura e gloriosa carícia. Para sua vergonha, suas carícias despertaram uma curiosidade mais deplorável. Como seria a sensação de ter os dedos dele contra sua pele nua? Ou até mesmo sua boca? Que pensamento escandaloso! Que ele deve ter percebido, pois ele deslizou a mão dentro de sua chemise para tocar seu seio nu. O turbilhão que se seguiu de prazer a fez fechar os olhos e suspirar em voz alta. Bom Deus, era melhor do que ela imaginava. Pele na pele, a mão dele intimamente em sua carne. Quaisquer objeções persistentes desapareceram até que só restasse uma necessidade urgente de saber mais, sentir mais, tê-lo tocando-a mais. Sua respiração ficou ofegante, como se o movimento insolente da sua mão, não, suas mãos, porque estavam as duas agora dentro de sua chemise, fazendo uma magia que sugava cada respiração de seu corpo. Ela nunca teria adivinhado que seu corpo possuía tanta capacidade para desfrutar esse prazer ou que um homem descobriria isso com uma facilidade surpreendente. — Ian ...— ela murmurou, sem nem mesmo saber o que ela queria dizer. — Sim. — Sua voz soava rouca e distante. — Meu Deus, você parece o céu em minhas mãos... Tão bom... Tão doce... Ele ajoelhou-se sob um joelho, puxou a chemise para baixo de forma que ele pudesse agarrar os seios dela com a boca, exatamente como ela imaginou. Chocada tanto pela sua 82
incrível capacidade de saber os anseios do corpo dela, quanto pelo que ele fez, ela apertou a cabeça dele entre as mãos. Ele devia parar com isso. Ela devia fazê-lo parar com isso. No entanto, ela embalou a cabeça mais perto, respirando o cheiro do fumo que se agarrava ao seu cabelo. Ele fez um barulho parecido com um rosnado do fundo de sua garganta e deslizou a mão livre em torno das coxas dela, depois a puxou para frente até ela cair sentada sobre sua perna dobrada, fazendo com que ela agarrasse seus ombros em busca de equilíbrio. A parte inferior da blusa se abriu para acomodá-la nessa posição tão pouco convencional e os botãozinhos laterais de sua calça se amontoaram logo abaixo dos joelhos. Enquanto se sentava com mais firmeza sobre as coxas dele, a parte da frente de sua calcinha foi parcialmente aberta, fazendo com que suas partes tão íntimas estivessem pressionadas diretamente contra a perna de Ian, com apenas uma fina camada de tecido separando a pele da dele. O choque a manteve imóvel por um momento. Essa era a mais decadente posição. Mas quando ela se contorceu em uma vã tentativa de sentar-se com mais decoro, ela só se encontrou mais decadente. A íntima pressão foi deliciosa. Na verdade, sempre que ela se contorcia com intenção de se afastar, a junção entre as coxas dela começava a pulsar com uma dor inconveniente que só diminuía quando ela apertava-se contra sua coxa novamente. Ela sentiu essa dor antes, tarde da noite quando estava meio sonolenta e sonhando com seu sultão. A única coisa que a satisfazia, ela tinha vergonha de admitir, era essa pressão. Ela recorreu a isso uma ou duas vezes, sigilosamente, com culpa. E agora ela recorria a isso de novo, se balançando contra a perna dele. — Isso, — ele murmurava contra seu peito. – Me cavalga, sim... Sim... Embora não entendesse completamente o que ele queria dizer, ela não precisava de mais encorajamento para esfregar seu lugar mais íntimo ao longo da coxa dele. Ela agarrava sua cabeça para mais perto de novo, inclinando-se para ele, esforçando-se para pressionar mais seu peito contra a ousada sucção da boca dele. Fios espessos do cabelo dele derramavam sobre suas mãos. Os fios do cabelo dele faziam cócegas em seus dedos espalmados, fazendo brotar entre eles um ímpeto selvagem. Ele a fazia se sentir selvagem, esse anseio desenfreado entre as pernas dela, o prazer de satisfazer isso ondulando sob sua coxa. A boca dele estava quase selvagem em seu seio agora, despertando tantas reações pecaminosas nela que ele tinha que ser o diabo. Ela se balançou para frente em sua coxa, emitindo um ronronar quando cada mudança de posição enviada sensações gloriosas através dos membros inferiores dela. Ele arrancou sua boca da carne dela, apenas para abocanhar o outro seio com igual fervor. A mão dele assumiu um seio, acariciando o mamilo, o úmido bico, enquanto sua boca e língua davam prazer às volumosas curvas do outro seio. Ela estava se afogando, o prazer surgindo em ondas sobre ela, o cheiro do tabaco e a sensação de que a enchia e possuía como uma enchente, ameaçando tragá-la, dissolvê-la. Um desejo ardente de conhecer mais sobre ele a atacou. Ela puxou sem descanso a lapela do casaco dele, e ele encolheu os ombros para tirá-lo, jogando-o descuidadamente sobre o chão enquanto ele se voltava para lamber o seio dela com a língua. Ela moldou seus músculos através da camisa dele, saboreando a maneira como eles se flexionavam sob seus dedos. Ele passou sua enorme mão sobre as panturrilhas dela, os joelhos e a parte interna de suas pernas, até chegar a curva nua do quadril com seus dedos, seus maravilhosos, carinhosos dedos... Abruptamente ele se enrijeceu e arrancou a boca do seio dela, apesar de sua mão em concha ainda continuar sob uma nádega nua. — Ian? — ela questionou em decepção. 83
— Shhh, — ele advertiu, com a cabeça inclinada como se estivesse ouvindo. Então ela ouviu, também, sons de conversa feminina e passos sinuosos no corredor. Ela congelou, sua garganta ardendo com uma emoção ferida. Certamente ele não tinha planejado isso para que fossem apanhados novamente. E numa posição muito mais comprometedora. Oh, Senhor, se ele tivesse feito tudo isso com o propósito de envergonhá-la... Ele tirou a mão de suas coxas, seus olhos negros encontraram o olhar dela. A preocupação neles assegurou a ela que ele não tinha planejado isso. Ele agarrou seu braço. ― É Sara e Emily. Você espera por elas? Ela balançou a cabeça sem dizer nada, e ele enfiou seus dedos na pele dela, cada músculo de seu rosto tenso enquanto ele olhava para a porta. O quarto do bebê era do outro lado do corredor e ela se perguntou se era lá o destino delas. Os passos pararam diante de sua porta, mas as vozes rapidamente baixaram. Elas pensavam que ela estava dormindo. Mal sabiam elas. Só quando ouviu a porta do outro lado do quarto abrindo e fechando, conseguiu respirar novamente. O aperto de Ian em seu braço se afrouxou. — Felicity. — Embora ele apenas sussurrasse a palavra, parecia ecoar no silêncio de seu quarto de dormir. — Sim? — Isso é “longe demais”. Ela reprimiu um louco impulso de rir. ― Acredito que você está certo, milorde. — Ela devia sair de cima do seu joelho, empurrá-lo para longe, tirar os dedos do cabelo dele. Mas ela não podia fazer nenhuma dessas coisas. Ele inclinou a cabeça para puxar o mamilo com os dentes, provocando um suspiro nela. Esperando que ele fizesse de novo, ela o puxou mais para perto. Seu corpo queria mais dele, embora ela não soubesse o quê. Se ele só ia beijá-la, chupar seus seios de novo, colocar a mão sobre seu quadril... A boca dele se fechou com urgência sobre o peito dela, sugando e provocando até que seu desejo se transformou numa dor quase real. Mas quando ela gemeu e se esfregou contra ele, ele parou. Deitando sua bochecha contra o mamilo que ele tinha acabado de devorar, ele pressionou um beijo na curva interior do outro seio. — Faça-me parar com isso, — ele pediu, com um tom duro e gutural, um apelo sério em suas palavras. Levou um momento para o significado do que ele disse penetrasse no confuso estado dela. ― Por quê? Houve uma longa pausa. Ele apoiou sua testa contra o peito dela e depois de um segundo, ela viu sua cabeça balançando. Quando ele levantou o rosto, ela percebeu que ele estava rindo, sem alegria, uma risada silenciosa. — Acredito que você é a única virgem na região que diria isso. — Dando-lhe um último beijo carinhoso no seio, ele a levantou de sua coxa e colocou-a em pé no chão. Então ele se levantou de sua posição de joelhos. 84
As pernas bambas dela ameaçaram se curvar sob o seu peso. Quando ele pegou-a pelos ombros para firmá-la, em seguida, soltá-la tão rapidamente, a vergonha encheu suas faces de escarlate. Muito tarde, tarde demais, ela percebeu o quão longe tinha ido. E que ele tinha sido o único a parar aquilo, não ela. Puxando para cima a chemise, ela se atrapalhou desajeitadamente com os laços. ― Deus do céu, você deve pensar que sou a criatura mais devassa. — Não. — Ele colocou o dedo indicador contra os lábios dela para silenciá-la. — Não, não penso. Mas você é a última mulher na Terra que eu deveria ter tocado desse jeito. — Seu polegar delineou os lábios em um curso sensual que fez o coração dela disparar. Seus dedos ainda estavam sobre os laços de sua chemise. Ela olhou seu rosto ilegível, esperando descaradamente que ele fosse beijá-la novamente. Quando invés disso, ele tirou a mão, a intensidade da decepção dela surpreendeu-a. tardia.
— Mas eu não posso lamentar isso, — acrescentou ele, quase como uma reflexão
Nem ela podia. Sentia-se como uma surda-muda que ganhou de repente, o dom da audição e da fala. Todas às vezes que ela protestava contra os homens por causa do uso que eles faziam das mulheres para aplacarem suas paixões, não tinha sonhado que mulheres tinham paixões também e que poderiam ser tão poderosas e devastadoras quanto isso. Lançou nova perspectiva sobre todas as suas suposições. Quando ela baixou o olhar para onde os laços de sua chemise ainda estavam meio soltos em suas mãos, ele livrou os laços dos dedos dela, de repente ineptos, e habilmente terminou de amarrá-los. — Uma coisa é certa, ― disse ele em voz baixa. — Desta vez, você tem todo o direito de reclamar de mim para Sara. — Eu não faria isso, — ela sussurrou, magoada que ele tenha pensado nisso. — Por que não? Nada mudou. — Tudo mudou. — Ela não sabia o porquê, mas o mundo inteiro era diferente agora. Ele tinha mais moral do que ela esperava, e ela não tinha moral, no mínimo. Na verdade, ela tinha se tornado em uma criatura que ela não reconhecia, tudo no espaço de uns poucos beijos e carícias de parar o coração. Ele levantou o queixo dela, seu olhar aborrecido no dela. — Você não acha que sou uma cobra por prendê-la em seu quarto e tomar liberdades com você? Ela balançou a cabeça. ― Você parou, mesmo quando poderia ter feito o que quisesse comigo e eu teria... Teria... — Ela se afastou dele com um soluço engasgado, incapaz de terminar a declaração vergonhosa. Quando ele beijou-a na varanda, ela se convenceu de que sua sonhada rendição tinha sido uma reação momentânea e perfeitamente compreensível aos encantos de um libertino. Ele a mantinha à força, disse a si mesma. Ele a havia pegado desprevenida. Mas, embora esta noite tenha começado como antes, não tinha terminado da mesma forma. Ela revelou seu pecado, tinha acolhido cada carícia. Em suma, se comportou como uma irresponsável. Apenas a consciência dele impediu que ela se entregasse a ele. 85
Levantando sua cabeça, ela viu sua imagem no espelho. Ela nem olhou para a parte que seus lábios estavam vermelhos, seu cabelo despenteado, e que usava apenas a chemise e suas roupas intimas. Com um gemido angustiado, ela pegou sua bata do chão e enfiou os braços por dentro das mangas opacas. — Não há nada para se envergonhar. — Tranquilizou-a, colocando a mão em seu ombro. — Todo mundo tem desejos, e as mulheres não podem controlá-los com mais facilidade do que os homens. Se for alguma coisa, é mais difícil para as mulheres. A sociedade espera que os homens saciem seus desejos à vontade, mas é esperado que as mulheres respeitáveis suprimam os desejos delas, mesmo com seus próprios maridos. Isso não torna as relações fáceis, nem justas. A observação a surpreendeu tanto que ela esqueceu os seus pensamentos culpados. Ela o encarou com os olhos bem abertos. ― Essa é uma opinião muito progressista, você sabe. — Eu sou um homem muito progressista, — disse ele secamente, — apesar do que você pensa sobre mim. Seus olhares se prenderam. Sim, ela tinha começado a perceber isso. Certamente ele não era o libertino dissoluto que ela pensava que fosse. Mas o que era? Que tipo de homem continha seus impulsos quando tinha a oportunidade e a motivação para tirar proveito de uma mulher? Deus sabe que ela tinha sido completamente arrastada por suas peritas seduções para discutir sutilezas como reputação, honra e castidade. — Você é progressista, — reconheceu. — E você me mostrou misericórdia quando eu não esperava por isso ou merecia. — Misericórdia? —Ele deu uma risada seca. —É disso que se trata? Estranho, mas se pareceu com insanidade. — Ele tocou sua bochecha. — Nenhum homem em sã consciência iria deixá-la quando poderia ir para cama com você. Devo ter perdido o meu juízo. Desta vez, ela não podia duvidar de sua sinceridade, e suas palavras fervorosas fizeram que uma bolha de desejo quente se formasse dentro dela mais uma vez. Ela forçou-o com firmeza. — Não. Você simplesmente exerceu moderação, o que demonstra que você é realmente um cavalheiro. Com uma maldição, ele deixou cair sua mão e virou para longe dela. — Não se engane. Eu não fiz isso por qualquer impulso cavalheiresco, lhe garanto. Simplesmente não posso suportar mais comentários mordazes sobre mim em seus malditos artigos do jornal. Ela não acreditou nele. Talvez estivesse enganando a si mesma, mas duvidava que ele tivesse se reprimido por medo de seus artigos. O homem não temia nada abaixo do céu, e certamente não a ela. calças.
Ele olhou do quarto para a porta fechada, enfiando os polegares no cós de suas
― Então, como ficamos agora? Devo esperar por mais relatos das minhas atividades no The Evening Gazette? — O rosto dele estava rígido, expectante, como se ele não ficasse surpreso em saber que ela pretendia continuar seus ataques contra ele. Ele se envergonhava de que ele pudesse pensar que ela continuaria escrevendo sobre ele depois do que fizeram. — Devo esperar mais tentativas suas de expor minha identidade para seus amigos? 86
Ele atirou-lhe um olhar solene. ― Ficarei calado se você também ficar. — Então estamos combinados. Lorde X não tem mais nenhuma desavença com o Visconde St. Clair e vice-versa. ―Nem qualquer razão para falar com ele, ela pensou, uma dor inexplicável surgiu em seu peito. Nenhuma conexão com ele agora, seja qual for. A mandíbula dele se esticou. Ele a encarou plenamente, arrastando seu olhar para baixo mirando seu corpo trêmulo, então de volta até seu rosto. Ele agora tinha uma expressão de aceitação resignada. — Isso provavelmente é o melhor. Afinal, não seria correto para um Visconde brigar com sua noiva tão publicamente. Ela olhou boquiaberta para ele. ― Noiva? — Nosso encontro aqui essa noite me levou a uma decisão. — Ele limpou a garganta, seu olhar varrendo sobre ela mais uma vez. — Felicity, você e eu deveríamos nos casar.
Capítulo 10 Coronel Shelby revelou a sua noiva, sofredora de longo tempo, que devido aos seus ferimentos de guerra não considerava justo prendê-la em um noivado com ele.Mas quando a mulher fiel disse que o amava de todo coração,ele cedeu com prazer. O casamento será realizado na Candelária St. Martin-in-the-Fields.
Lorde X, The Evening Gazette 13 De Dezembro de 1820
Ian poderia dizer que pela expressão incrédula de Felicity que a surpreendeu. O que mais ele poderia esperar? Droga, ele tinha chocado a si mesmo! — O-o que você disse? ― Ela gaguejou. — Eu disse que deveríamos nos casar. Ele não queria ser tão brusco. Ele certamente não pretendia propor casamento a ela quando veio para seu quarto horas atrás. Ele só queria assustá-la um pouco, fazê-la enxergar que não poderia continuar essa batalha entre eles. Então ela pôs aquela maldita bata, um punhado de rendas que mostrava mais do que escondia. Ele não deveria tê-la visto se despir. Ele deveria ter revelado sua presença antes disso. Mas os três dias longe dela o deixaram faminto, mesmo depois de ler sua inflamada coluna. Três dias e três noites lembrando aqueles beijos tórridos que o fazia querer um vislumbre do corpo dela, e ela foi tão rápida que ele ficou sem forças para interromper, revelando sua presença no quarto. 87
Mesmo assim, ele não se arrependeu um minuto. Nem se arrependeu da proposta de casamento. Verdade, sua decisão tinha sido precipitada e suas razões emaranhadas e complexas até mesmo para ele. Felicity, com seu amor pelos rumores e sua curiosidade desmedida, era a última pessoa com quem ele deveria se casar. Contudo, ele a queria em sua vida. Nenhuma outra mulher poderia responder estratégia com estratégia e surpreendê-lo sempre. O casamento com ela seria qualquer coisa, menos entediante. Ele assistiu como ela balançava ao redor e caminhava até a lareira. Luzes suaves banhavam seu corpo esbelto, e sua frágil vestimenta avidamente agarrada ao seu traseiro muito atraente. Luxúria corria por ele novamente. Com um gemido, ele admitiu a verdade para si mesmo. Ele não a queria apenas em sua vida, ele a queria em sua cama. O que era um problema. Ele não estava pensando com a cabeça, ou pelo menos não aquela com um cérebro. Caso contrário, ele nunca teria considerado um casamento com esta Srta. ‘Espertinha’ inclinada a fofocas. Mas ele já tinha se decidido. Ele precisava de uma esposa, por que não ter uma que ele gostasse? Só Deus sabe que desfrutaria com ela. Estava precisado de cada grama de autocontrole para se abster de deixá-la nua e obedecer todos seus impulsos carnais inspirados pelo esplendoroso corpo dela. Duas coisas o tinham impedido. A primeira era seu status de virgem respeitável. Ele iria contra seu código moral se deflorasse esse tipo de mulher. A segunda, e talvez a mais convincente, razão foi a consciência de que uma única noite com ela não seria capaz de satisfazê-lo, e ela nunca lhe permitiria mais. Ele podia seduzi-la uma vez, mas seu jeito politicamente correto o faria quer cortar a garganta dessa mexeriqueira antes que ela consentissem ser a amante de um homem. Além disso, ele não precisava de uma amante. Ele precisava de uma esposa. E se ele casasse com ela, poderiam ter tantas noites na cama conforme a paixão deles permitisse. Só o pensamento o deixou duro novamente. — Bem? — Ele soltou impacientemente quando ela levantou o atiçador de bronze e alimentou o fogo com aparente distração. Faíscas dançavam no ar frio sobre seu corpo tentador. — Você está me pedindo... Para casar com você. — Ela tropeçou sobre as palavras, como se elas fossem estranhas para ela. — Não é uma ideia tão estranha, é? — Eu-eu não sei. Quero dizer, sim, é. Você é um Visconde. — Que observação perspicaz. — Ele murmurou, conquistando um olhar carrancudo dela. Ele fez um gesto de indiferença. ― Isso não tem nada a ver com nossa situação. Ela deixou o atiçador de lado e o encarou. — Não mesmo? Eu sou uma ninguém. Por que você iria querer se casar comigo? Deliberadamente, ele pousou seu olhar sobre a confusão de ricas mechas de cabelo cor de canela, passando para os deliciosos seios que ele tinha acariciado para a parte dela que ele desejava também ter acariciado, provado e saciado… Quando seu olhar bateu de volta ao rosto dela, ele viu que ela entendeu. — Quero casar com você pela mesma razão que qualquer homem se casa com a mulher que deseja.
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As bochechas dela se mancharam de escarlate, e ocorreu-lhe que ele raramente a via corar. Isso parecia bom, especialmente nela. Ele teria que fazê-la corar com frequência quando se casarem. — Mas homens de seu tipo... — Tome cuidado, Felicity. Estou cansado de suas generalizações sobre os homens do meu 'tipo'. Ela o olhou com descrença. — Você pode me dizer que não se importa nem um pouco pelo fato de me faltar conexões familiares? Ou grande riqueza ou ... — Por que eu deveria me importar? Eu tenho o suficiente para nós dois. Isso não é o quero em uma esposa. — Sim, eu esqueci. ― Seus dedos apertaram as bordas da sua bata quando ela lutou para mantê-lo fechado. Ela parecia subitamente muito jovem, jovem e atormentada, seus olhos sombrios em consternação. — Você quer uma mulher para ter seu herdeiro. — Isso seria um de seus deveres, sim. Quando ela ficou rígida, ele acrescentou, — mas as crianças são o resultado natural quando satisfazemos nosso próprio desejo, e pelo que me lembro, você acha essa atividade, em particular, bem atraente. Ela lançou um olhar embaraçado para ele. — Você disse que não havia nada de errado em sentir desejo. — Quis dizer isso mesmo, — ele reafirmou, lembrando o quão envergonhada ela ficou ao responder ansiosamente as carícias que ele tinha feito. — E o casamento faz o desejo ser muito mais conveniente. Ele percebeu que tinha dito alguma coisa errada quando o bonito queixo dela tremeu. — Sim, o casamento seria conveniente tanto para você quanto para mim. Afinal, porque depender de duas mulheres diferentes para todas as suas necessidades, um para ter seus filhos e o outra para satisfazer o seu… seu instinto viril. — Sua voz alteou um pouco mais. ― Pense em como seria conveniente ter apenas uma mulher para ambos os propósitos. Que conceito revolucionário. — Eu nunca quis mais do que uma mulher de cada vez, — ele rebateu, querendo saber como essa discussão fugiu do seu controle. — E sim, eu prefiro ter uma esposa que possa desejar. Embora eu tivesse anteriormente me conformado com um casamento confortável e ameno. Agora eu percebo que posso ter mais. Há algo errado com isso? — Eu não sei. – Ela manteve o queixo firme e empinado. – O que pensaria a Srta. Greenaway? O ar entre eles estalou repleto de súbita tensão. Ele deveria ter adivinhado que esse assunto iria aparecer. Se ele tivesse estado nessa tensão durante a guerra, teria conseguido se matar meia dúzia de vezes. O fato dele não ter previsto os seus protestos era uma prova de quanto o adorável corpo dela o tinha desconcertado. Cuidadosamente, ele pesava suas palavras. ― A opinião dela não tem importância. — Oh? Então que papel ela desempenhará neste casamento?
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— Nenhum. — Pura exasperação transpareceu em seu tom de voz. — Eu te disse antes, essa mulher não é minha amante. Eu estou ajudando a ela e seu filho, nada mais. — Você ainda espera que eu acredite nesse conto de fadas sobre seu irmão ser seu soldado amigo? — Quando ele olhou ameaçadoramente para ela, ela acrescentou, — Eu sei que você disse a verdade sobre lutar pela Inglaterra, dificilmente poderia ignorar as afirmações de um homem como o Duque de Wellington. Mas sei que você está mentindo sobre a conexão que existe entre a Srta. Greenaway e você. Eu não sou uma idiota, você sabe. — Claro que não. ― O sarcasmo movia suas palavras. — Você é muito, muito inteligente para acreditar na minha generosidade ou lealdade para com um amigo. Uma expressão doída cruzou o rosto dela. — Eu mereço isso, suponho, mas você está errado. Posso acreditar em muitas coisas boas a seu respeito. O que não posso acreditar é que a Srta. Greenaway teria se recusado a me esclarecer sobre sua bondade sem delongas. Qualquer mulher na posição dela teria logo defendido você. Ou ido ao The Evening Gazette depois da publicação do artigo e exigido uma retratação. Por que a mulher tinha que ser tão malditamente lógica?! ―A Srta. Greenaway entende, ao contrário de você, que prefiro manter certos aspectos do meu passado fora dos jornais. — E em sigilo de sua noiva em potencial? Ele gemeu. ― Que droga, Felicity! — Eu quero saber o que ela é para você. ― A dor embotou os olhos verdes dela, e quando ela falou novamente, sua voz parecia trêmula. — Eu-eu não acho que é um pedido irracional, considerando a proposta que você me fez. Então isso o atingiu. Meu Deus, a mulher estava com ciúmes! Apesar disso tê-lo agradado absurdamente, também complicava algumas questões. Ele foi tentado a dizer a verdade para ela e pôr fim as suas preocupações tolas. Mas isso exigiria mais do que uma simples explicação de como ele conhecia a Srta. Greenaway. Ele teria que explicar por que ele estava ajudando a mulher, porque ela era necessária para seus planos sobre seu tio, e por que ele e seu tio eram inimigos. Ele teria que confiar ao ‘escritor’ mais notório de Londres os detalhes mais escandalosos de sua vida. E ele teria que fazer isso sem nem mesmo ter a certeza de que ela se casaria com ele. Ninguém em seu perfeito juízo concordaria com aquilo. Ainda assim, ele não deixaria o ciúme dela ficar entre eles. Ele avançou em direção a ela com uma sombria determinação. — Eu vou te dizer o que a Srta. Greenaway não é. Ela não é minha amante, nem qualquer tentação para mim. Seu filho não é meu, ou eu o teria reivindicado há muito tempo. O mais importante: o que ela é para mim não tem nada a ver com você. Ela nunca vai ter qualquer influência sobre nosso casamento. Isso é tudo que você precisa saber. Raiva surgiu no rosto dela. — Você não vai nem me dizer como a conheceu? — Não. — Ele parou a poucos centímetros dela, suavizando deliberadamente seu tom de voz. — Confie em mim, não há razão alguma para que a mera existência dela em uma casa minha a preocupe. — E essa é sua palavra final sobre o assunto? 90
— Sim. — Então minha resposta é não. Os olhos dele se estreitaram. — Sua resposta para o quê? — Sua proposta de casamento. Eu não posso me casar com um homem que não quer ser honesto comigo. Ele não podia acreditar no que ouvia. — Você está me recusando porque está com ciúmes de uma mulher que estou ajudando? — Eu? Não! Ciúmes! — ela protestou, embora sua expressão desmentisse suas palavras. ― Estou recusando porque você não quer um casamento real. Você quer um arranjo de negócios: eu cumprindo meu dever tendo um filho seu sem interferir na sua vida, e, em troca, você vai me dar seu nome e pagar meus vestidos. — E fazer amor com você. ― Ele acrescentou com uma voz rouca, determinado a lembrá-la do por que essa conversa começou. Ela se moveu mais próxima à lareira, as pontas de suas orelhas avermelhando. — Sim. Isso também. Mas qualquer pessoa poderia servir esse propósito para você. Apenas aconteceu de eu ser conveniente. — Acredite em mim, se eu estivesse escolhendo uma esposa por conveniência, você não estaria na lista. A última coisa que preciso é uma linguaruda escritora de jornal compartilhando minha cama! Ela devolveu o olhar dele com o seu e com uma nova compreensão brilhando em suas profundezas. ― Então essa é a razão da sua proposta! Você quer se casar comigo para que eu não desenterre os seus desagradáveis segredos do passado e os publique na minha coluna! — Ah, por Deus. Você já concordou em manter silêncio. Por que eu deveria casar com você só para ganhar isso? — Porque você não confia em mim. Se confiasse, me diria a verdade sobre a Srta. Greenaway. Ele rangeu os dentes de frustração. Que droga essa maldita mulher e seus ideais! A maioria dos homens mantém segredos de suas esposas, isso era aceito, até mesmo esperado. Mas ela não permitiria isso. Ah, não. Não sua pequena encrenqueira convencida, com suas ideias irreais sobre como os homens devem se comportar em um casamento! Devia ter adivinhado que ela nunca concordaria em se casar com ele. Mas não, ele tinha que deixar seu pênis pensar por ele. Bem, ele a tinha pedido em casamento e se fez de idiota por isso, já era o suficiente. Agora ele devia lavar suas mãos e deixá-la com suas suspeitas. Poderia qualquer mulher fazer valer a pena todo esse problema? Ele olhou sua postura raivosa, as mãos delicadas plantadas sobre os quadris, os olhos expressivos piscando como esmeraldas. Mesmo vestida ao acaso, com lápis prendendo seus cabelos, ela o tinha atraído. Mas agora, vestindo essa desculpa de bata, era irresistível. Ele nunca tinha visto uma jovem mulher tão cheia de vida, de audácia e com uma promessa sensual brilhando em ondas, especialmente quando seu temperamento tornava tudo mais atraente. 91
Sim, essa mulher valeria qualquer problema. E ele começou a ver que convencê-la a se casar com ele levaria mais do que um interlúdio sedutor e alguma discussão. Tudo bem, então ele planejaria uma estratégia mais elaborada. Ele não tinha sido um espião para nada. E ele ainda tinha um pouco de tempo para ser paciente. — Bem? — ela disse, interrompendo seus pensamentos. — Você entende, não é? Eu não vou me casar com você, Ian, e nada do que disser vai mudar minha decisão. — Você foi perfeitamente clara. — Ele disse em tom neutro. Ela olhou para ele com desconfiança. — Então você não vai continuar mais com isso? — Não. — Não até que eu ache uma estratégia mais adequada para isso. Ela parecia assustada por sua concordância fácil. — E minha recusa da sua proposta não afetará nosso acordo? — Que acordo? expor.
— Que eu não vou escrever nada sobre você na minha coluna e que você não vai me
Ele tinha se esquecido disso. Caramba, era perfeito! Ela estava lhe entregando sua estratégia de bandeja! Ele podia usar o medo dela em se expor em sua vantagem. Virando-se, ele juntou as mãos por trás das costas e caminhou pelo quarto como se estivesse pensando profundamente. ― Isso é um assunto totalmente diferente, não é? Graças as suas falsas insinuações no artigo mais recente, agora tenho a reputação de ser um covarde e um mentiroso, o que torna mais difícil minha busca por uma esposa. Em essência, você me ‘arruinou’ e ainda se recusou a fazer a coisa certa que é se casar comigo. Então por que não deveria te expor? — Não seja incongruente! Eu não ‘arruinei’ você. Tenho certeza que alguma mulher casaria contigo por sua fortuna ou só pelo seu título! Parado perto da cama, ele deu de ombros. — Não é fácil encontrar uma esposa quando se tem minha reputação. Eu procurei por dois anos. — Ela não precisa saber que ele tinha sido mais específico do que a maioria, fato parcialmente responsável pelo seu dilema atual. ― Naquele tempo, o mais perto que cheguei a um noivado real foi com sua amiga Katherine, que você terminou com suas revelações sobre minha vida privada. — Revelações que eram verdadeiras! Não é culpa minha que você tenha uma amante! — Mesmo que a Srta. Greenaway fosse minha amante, coisa que ela não é, — ele disse uniformemente, — foi você quem expôs minha associação com ela, destruindo assim meu noivado. E durante isso você ainda levou Katherine a fugir com um homem que pode muito bem ser um caçador de fortuna. Sua intromissão custou muito a mim e a sua amiga. Certamente você admite isso. Ela respirou. — Eu somente admito que escrevi, o que ditou a minha consciência. Às vezes ele achava seu maldito senso de justiça quase divertido. — E na segunda coluna? Sua consciência também exige que você faça suposições infundadas sobre minha carreira militar? 92
A culpa confundiu o rosto dela, como ele sabia que aconteceria. — Tudo bem, Vou admitir que foi errado e que lamento. Ela aprumou seus ombros com teimosa determinação. ―Mas posso endireitar isso na próxima coluna de Lorde X— — Como? Eu te garanto que Wellington não vai repetir as palavras que disse para Gideon. Ninguém do governo irá me reconhecer. E se você apresentar somente rumores, fará com que seus leitores duvidem ainda mais de mim, nada menos que isso. Não, você abriu a caixa de Pandora e você nunca será capaz de fechá-la. — O que você quer de mim? Eu não posso me casar você, Ian! ― Mas eu ainda preciso de uma esposa. — Ele esfregou seu queixo, laçando a ela um rápido olhar especulativo. — Então por que você não me fornece uma substituta para você mesma? Claramente, ele a tinha assustado. ― O que você quer dizer? — Você conhece muitas jovens damas, e você tem o ouvido da sociedade mesmo sem sua coluna. Tenho certeza que você pode encontrar alguém para se casar comigo. — Achar uma esposa para você? — O pânico na expressão dela o agradou excessivamente. — Não seja ridículo! Eu-eu não saberia quem ou como ou... — Então você planeja me deixar nesta situação? — Sim. Não! Eu-eu quero dizer — ela parou, seus olhos se estreitando. — Você age como se tivesse que se casar de uma vez. Mas se você só esperasse a fofoca ser esquecida... — Não posso, — ele a cortou. Então se amaldiçoou quando a testa dela enrugou em confusão. — Porque não? Após anos de espionagem, chegar a uma razão plausível para sua urgência levou apenas um segundo de pensamento, especialmente porque era quase verdade. ― A procura por uma esposa me afastou de minha propriedade. Passei dois anos infrutíferos nesse esforço, mal posso passar por outro. — Uma súbita inspiração bateu nele. — E considere isso: você gasta uma grande parte do seu tempo em eventos sociais por causa da sua profissão, enquanto eu gasto o mesmo tempo à procura de uma esposa. Faria todo o sentido para nós se nos ajudássemos um ao outro em nossos esforços. Com um olhar cuidadoso, ela cruzou os braços sobre o peito. — Um ao outro? Exatamente como você me ajudaria? Ele levantou uma sobrancelha. — Por não expor sua verdadeira identidade, é claro. O alarme acendeu em suas feições. — Você quer dizer que se eu não encontrar uma esposa para você, você vai me expor? Ele reprimiu um sorriso. — Vamos apenas dizer que sua recusa em ajudar-me com meu problema irá me incentivar a iniciar um boato ou dois sobre a verdadeira identidade de Lorde X. Você dificilmente poderia me culpar dado os ‘rumores’ que você tem espalhado sobre mim. Deslizando para longe da lareira, ela andou para penteadeira. Ela apertou suas mãos sobre a superfície de madeira esverdeada e olhou ao espelho para encontrar respostas para sua 93
reflexão. Ele tinha um nó no estômago. Não gostava de jogar esses jogos, mas ele não via nenhuma outra maneira de prendê-la. E prendê-la era o que ele queria, não importa a estratégia que devia usar. Ele teria esse cabelo cumprido até a cintura espalhado por um travesseiro e essas mãos puxando-lhe mais para perto. Teria esses doces lábios de mel e esse corpo ágil, cheio de segredos sensuais. E sim, essa droga de mente afiada pertenceria a ele, também. Queria tudo. Tão logo pudesse obter. No espelho, ele viu o olhar dela mudar para ele, assombrado, relutante. Amargo. ― Em pensar que há poucos minutos, eu te chamei de cavalheiro. A acusação o atormentou, mas não o suficiente para fazê-lo mudar de ideia. — Todo mundo comete erros, — disse ele baixinho. — E seu erro consiste em me subestimar. Não sou um cavalheiro quando se trata de conseguir o que eu quero. Você devia ter aprendido isso até agora. Dobrando seus braços sobre seus seios como uma cristã reunida aos pagãos, ela o enfrentou. — E se eu fizer o que ameacei antes? Descobrir seus segredos e relatá-los? — Vamos, Felicity, você realmente quer uma guerra entre nós? Sobre a mera possibilidade de me ajudar na busca por uma esposa? — Ele rumou em direção a ela. — Não estou pedindo que você arraste uma mulher até a Igreja para mim. Eu só quero que você me elogie para as suas amigas não comprometidas, me apresente aqui e ali e tente negar os efeitos de seu artigo mais recente. Certamente você não acha que sou indigno de qualquer uma simplesmente porque não sirvo a você. Eu sou tão ruim assim para merecer ajuda? A rigidez deixou a postura dela. Abaixando a cabeça, ela perdia tempo com os laços de rendas de sua bata. — N-não, claro que não. Ele pressionou com sua vantagem. — Acho que essa oportunidade irá lhe permitir fazer minha vida miserável. Você pode escolher apenas mulheres com língua ferina ou mulheres feias ou até mesmo mulheres cruéis. No meu atual estado de desespero, vou quase aceitar qualquer uma que você encontrar para mim. Encontrando seu olhar, ela disse maliciosamente. — De alguma forma, duvido disso. Ele sorriu. — Você me conhece tão bem. Você vê? Você poderia ser uma grande ajuda para mim. A consternação dela ao ouvir suas palavras foi tão transparente. Ele ficou maravilhado que ela não tinha se dado conta do quão indisposta estava em imaginá-lo casando-se com outra mulher. Mulher teimosa. Seu orgulho evitava que ela o aceitasse. E seu ciúme, não importa o que ela tenha dito em protesto. Bem, ele usaria esse ciúme contra ela. Ele a faria ver que observá-lo cortejando outra pessoa qualquer era muito pior do que seus esforços por proteger a Srta. Greenaway. E se ele tivesse que dançar com dez mil mulheres para fazê-la enxergar isso, que assim seja. Felicity lançou um rápido olhar para o céu como se esperando que a divindade a aconselhasse sobre a proposta dele. Em seguida, ela baixou o olhar para o dele. ― Tudo bem. Vou fazer o que eu posso. 94
— Obrigado. — Quando ela ficou hesitante, ele acrescentou, — E não pense em voltar atrás uma vez que estejamos em Londres. Devo prendê-la à sua promessa. — Tenho certeza que irá. — Disse ela, devagar. A miséria dela o encantou. Ela já era sua, ela admitindo ou não. — Amanhã, — disse ele, — Devo sair cedo para resolver alguns negócios em Londres, mas amanhã à noite, eu vou estar na festa de Sir Caswell. Você pretende ir, também, não é? Ela deu um aceno rígido. — Bom. Logo, você poderá começar com suas tentativas em meu favor. — Ele não poderia resistir adicionando. — É claro, se você mudar de ideia sobre a minha proposta... — Não vou. — Ela retrucou, embora ele percebesse que suas palavras não tinham a mesma convicção dessa vez. — Muito bem. Até amanhã. — Ele fez uma ligeira curva e, em seguida foi em direção à porta. Ele não queria ir embora. O que ele queria era atirá-la na cama e fazer amor com ela até o amanhecer. Com qualquer outra mulher, isso com certeza garantiriam um casamento. Mas talvez não com Felicity, e não iria arriscar a possibilidade de comprometê-la porque isso poderia firmar sua vontade de resistir a ele. Quando ele abriu a porta, ela chamou atrás dele. — Espere Ian! Ele voltou com a mão na maçaneta da porta para encontrá-la vindo em sua direção com seu casaco, que ele tinha esquecido no chão. No entanto, quando ela se aproximava dele, seu olhar se deslocou para um local atrás dele, e a cor sumiu de seu rosto. Ele seguiu a direção do seu olhar, já adivinhando o que iria encontrar. Paradas fora do quarto do bebê pelo corredor estavam várias pessoas aparentemente engajadas em uma conversa séria até ele abrir a porta: A governanta de Sara, a babá, outro criado… e Sara e Emily. Todos os olhos se prenderam nele, parado só com sua camisa e Felicity, segurando seu casaco, vestida apenas com sua bata e chemise. Os servos afastaram o olhar ao mesmo tempo,correndo as vistas pelo corredor, mas os de Sara e Emily permaneceram congelados. Em seguida, o choque endureceu a expressão de Sara, enquanto Emily começava a sorrir. Ian tinha pouco tempo para decidir como lidar com a estranha situação. Por mais que ele desejasse usá-la para forçar Felicity ao casamento, ele duvidava que fosse funcionar. Ela era muito independente para ser seduzida pelos conselhos de suas amigas e iria se ressentir ainda mais se ele insistisse no casamento baseado na sua reputação agora comprometida. Ainda como seu olhar travado no de Sara, ocorreu-lhe que ela seria uma boa aliada. A única maneira de obter seu apoio, no entanto, seria melhor que ela tivesse uma compreensão clara da situação e não simplesmente a historinha que Felicity podia contar. — Boa noite, Senhoras. — Ele sorriu com facilidade casual. — Espero que não haja nada de errado no berçário. — Ele ouviu Felicity gemer atrás dele, mas a ignorou, concentrando-se em Sara. A jovem Condessa olhou para ele. — O que você está fazendo aqui, Ian?
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— A Srta. Taylor concordou em me ajudar na busca por uma esposa. — Ele disse sinceramente. — Nós estávamos montando uma estratégia. — Sim! — Felicity concordou com grande entusiasmo. – Lorde St. Clair e eu estávamos em uma longa discussão sobre o assunto. Como Emily revirou os olhos, Sara olhou Felicity. — Mas minha querida, a forma como você está vestida... Ian lançou a Felicity um olhar divertido, querendo saber como ela poderia explicar isso. Com suspiro um pouco desanimado, Felicity fechou sua bata. Claramente, ela tinha esquecido que ela estava vestindo apenas sua chemise e uns pedaços de renda. — Não culpe a Srta. Taylor. — Ian disse a Sara com grande generosidade. – Eu a surpreendi logo após ela ter se preparado para dormir e nós ficamos tão absortos na conversa que esquecemos completamente do apropriado. Além disso, a Srta. Taylor é bastante indiferente sobre tais assuntos. — Tão indiferente que você tirou seu casaco? — Seu tom era duro e rígido, tão severo como qualquer mãe. — Não tente me enganar, Ian. Eu sei como vocês homens trabalham. E se você acha que vou permitir que você se beneficie de uma mulher na minha casa... — Verdade Sara. Nada aconteceu. — Felicity protestou. — Eu sei que parece ruim, mas... — Você não precisa defendê-lo, — disse Sara. — Eu sei do que ele é capaz. Ian levantou uma sobrancelha. ― Sabe mesmo? Então você deve saber que eu propus casamento a Srta. Taylor. Com um olhar de choque, Sara mudou seu olhar para Felicity. — Isso é verdade? Ele confiou que podia sentir o calor de raiva de Felicity aquecer suas costas. — Sim. — Felicity adicionou correndo, — mas eu recusei. Discutimos sobre a questão, e isso é tudo o que aconteceu. Eu juro. Ian segurou um sorriso de triunfo. Felicity poderia pensar que sua revelação iria libertála dessa situação, mas não conhecia Sara, como ele. A mulher adorava fazer acertos, e ambas, ela e Emily estavam ansiosas para vê-lo casado. Elas estariam do seu lado de agora em diante, especialmente se ele parecia razoável e Felicity uma simples tola. De que outra forma poderia parecer, afinal? Sem revelar o que ela sabia sobre sua conexão com a Srta. Greenaway. E o como ela sabia disso, Felicity nunca poderia explicar razoavelmente por que ela se recusou a se casar com ele. Assim, sua recusa iria parece inexplicável, e Sara teria mais uma razão para juntá-los. Na verdade, já havia um vislumbre perigosamente familiar no olhar de sua amiga. — Você recusou Ian? — Sim. — Felicity olhou de Sara para Emily. Quando ela pegou a visão do largo sorriso de Emily, cresceu o pânico em sua expressão. — É por isso que eu concordei em ajudar. A ele, quero dizer. Você sabe, a encontrar uma esposa. Porque o recusei. Ele disse que se eu não iria me casar com ele, deveria ajudá-lo e concordei e nós… nós tivemos uma conversa perfeitamente civilizada. Isso é tudo o que aconteceu. É verdade... Como a voz de Felicity foi sumindo, Sara lançou um olhar questionador a Ian. A resposta dele foi um sorriso. Os olhos marrons dela escureceram. 96
— Ian, vou falar com você daqui a pouco no andar de baixo. Agora gostaria de falar com a Srta. Taylor. Sozinha. — Claro. — Ele olhou Felicity, cujos olhos amplos e rosto pálido mostravam sua perplexidade. Se ela soubesse que Sara estava prestes a fazer em seguida... Ele não a invejava, porque já tinha estado à mercê das tentativas casamenteiras de Sara uma ou duas vezes. Ainda assim, ele sentiu a necessidade perversa de tranquilizar Felicity que ele iria manter silêncio sobre sua identidade como Lorde X. Ele colocou sua mão em seu ombro, tentando não reagir ao puro prazer de tocá-la. — Você não precisa se preocupar com minha discrição sobre esse assunto, nem a dos meus amigos. Tenho certeza que eles podem manter os servos calados também. Apesar de toda a conversa que tivemos mais cedo, ninguém vai discutir este assunto com fofocas, e, sobretudo, não com Lorde X. O homem não entrará nisso, te garanto. Certamente não por mim. Os olhos de Felicity se prenderam aos dele, e ele viu uma trêmula compreensão brevemente neles. Ele lhe devia isso... Para proteger o segredo dela. Mas, embora ele não soubesse, Felicity ainda estava confusa. O que ele estava tentando com esse novo estratagema? Ele poderia ter aproveitado essa oportunidade para forçá-la ao casamento, mas ele não tinha. Por que ele foi tão sincero com suas amigas, tão defensivo de sua honra? E tão disposto a manter seu segredo? vocês.
— Se vocês me derem licença, — acrescentou. — Vou deixá-las para a conversa de Ele caminhava para o final do corredor, deixando Felicity balançando sua cabeça. — Eu nunca vou entender esse homem.
— Nenhuma de nós jamais vai entender, —Sara comentou ao seu lado. Suavemente, ela tomou o braço de Felicity. ― Vamos minha querida, vamos para o seu quarto, antes que mais criados apareçam e a vejam aqui desse jeito. Não fique preocupada, nós ajudaremos você a descobrir como lidar com Ian. A afirmação deixou Felicity desconcertada. O que há para descobrir? Ela e Ian tinham feito um acordo simples, e ela tinha dito a Sara e Emily que não haveria nenhum casamento. O que mais foi deixado para discutir? No entanto, as duas mulheres obviamente pensavam que havia algo mais para falar. Olhou a ambas com expectativa. De repente, ocorreu-lhe: elas queriam discutir por que ela não iria se casar com Ian. Suas maneiras razoáveis e a vontade de se casar com ela tinham-lhes convencido de que ele estava se comportando como um cavalheiro enquanto ela era uma tola ou uma devassa. Elas queriam saber qual dessas duas opções ela era. Seu coração começou a bater forte no seu peito. Nem podia explicar, não sem revelar o que ela sabia sobre o caráter de Ian. Isso significaria revelar sua identidade. Muito bem, ela pensou desafiadoramente, não iria dizer-lhes essa maldita coisa. Iria deixá-las pensar o que quisessem dela. Em seguida, viu o sorriso simpático de Sara. Ela gemeu. Sara tinha a defendido mais cedo na sala de leitura. Ela tinha tomado o lado de Felicity por razão alguma além da amizade. E descartar isso significaria perder essa amizade. Ian poderia fazer o que quisesse para que ela parecesse uma inconstante, uma idiota, até mesmo uma devassa. E elas iriam acreditar nele, porque ela não forneceria nenhuma explicação própria. 97
Ela procurava freneticamente em sua mente por uma explicação plausível para sua recusa, mas não conseguia pensar em nada. Qualquer razão exigiria que ela mentisse descaradamente sobre Ian, e ela não podia fazer isso, não a Sara. Não, depois do que tinha acontecido antes. Ian tinha conhecimento disso, não tinha? O manipulador impertinente. Ele contava que ela não ia mentir ou aparecer com uma explicação plausível. Ele tinha contando que ela caísse nessa. Sara e Emily permaneceria ao seu lado, e ela iria perdê-las como amigas. Ela não podia ganhar. Não, a menos que lhes contasse a verdade. Seu espírito se iluminou de repente. Sim, a verdade. Talvez fosse tão simples como isso. Desabafar com elas, explicar tudo do início ao fim e confiar no bom senso delas. Era arriscado, mas elas eram duas mulheres sensatas. Certamente iriam entender e se manteriam ao lado dela, uma vez que soubessem de tudo. Além de acreditar na possibilidade, esta começou a seduzir Felicity. Ah, ter alguém que sabia o suficiente para dar seu bom e honesto conselho. Elas poderiam ajudá-la a descobrir como lidar com Ian, com ele e seus segredos, com ele e sua insistência em fazer com que ela o ajudasse a encontrar uma esposa quando o próprio pensamento disso a deixava doente de ciúmes. — Você realmente pode confiar em nós, — Sara estava dizendo. — Ian falou a verdade sobre nossa discrição. Nós nunca faríamos fofocas sobre você. E sobre Lorde X, eu não posso imaginar por que ele mencionou o homem. Eu nem mesmo conheço o colunista... — Sim, você conhece, — Felicity a interrompeu. – Lorde X tem estado em seu meio o tempo todo. A mistura de confusão e descrença no rosto delas quase a divertiu. Quase. Afinal de contas, elas poderiam levar a mal sua confissão. Elas poderiam odiá-la depois disso. Só esperava que elas não a odiassem. — O que quer dizer? — Emily perguntou. — Certamente você não acha que um de nós... — Não. — Felicity hesitou, mas apenas por um segundo. Essa seria sua melhor atitude, e ela iria continuar custe o que custar. — Não um de vocês. Eu. Eu sou Lorde X.
Capítulo 11
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Nesses esclarecidos tempos, é problemático ver tantas uniões conjugais formadas sem respeito à afeição, disposição e compatibilidade. O sucesso político ou financeiro resultante desse tipo de união é importante quando as partes, por si só, não conseguem aproveitá-la?
Lorde X, The Evening Gazette 13 De Dezembro de 1820
Sara sentou-se na cama de Felicity, dobrando suas pernas embaixo dela, incapaz de fingir indiferença no momento em que viu a jovem andando vagamente pelo quarto, relatando uma história fantástica. Sara poderia ter questionado a veracidade desse conto se tudo não tivesse se encaixado tão maravilhosamente com o que ela própria havia observado nos últimos dias. Felicity Taylor era Lorde X? Esse tempo todo o colunista mais famoso de Londres estava de visita em sua casa e Sara nunca teria imaginado a verdade. Que surpreendente! Ela olhou para Emily, que estava sentada na banqueta em frente à penteadeira. Emily acenava ocasionalmente e murmurava palavras encorajadoras indicando que simpatizava profundamente com a jovem. Era compreensível, Emily sabia o que era manter uma elaborada encenação, sendo forçada a fingir no ano passado, tinha quase perdido tudo. Mas Emily agiu assim porque sua vida estava em perigo, enquanto que Felicity… Sara balançou a cabeça, voltando sua atenção para Felicity, cuja ousada história contrastava com as rendas de seu feminino vestuário. Felicity não era como as outras jovens damas, que Sara conheciam da sociedade. Emily também não. Ou ela mesma. Na verdade, Sara simpatizou com os motivos que justificaram a atitude de Felicity: sua preocupação com o futuro da Srta. Hastings e, logo, sua humilhação após a vergonha que Ian causou a ela na varanda. Embora Sara jamais teria começado uma batalha tão pública, certamente teria feito algo para retaliar. Pelo amor de Deus, Ian brincou com os sentimentos de Felicity, pretendendo que ela fosse a libertina. Sara deveria ter feito mais do que expulsar Ian de casa, devia ter socado suas orelhas, e muito. Espera só ela estar sozinha com ele mais tarde, ele receberia uma severa repreensão! No entanto, uma coisa a intrigava. Por que Ian continuava a guardar segredo sobre a identidade de Lorde X? Felicity disse que ele tinha algo a esconder, mas Sara queria saber se ele tinha outra razão, uma mais romântica. Essa possibilidade a intrigou enormemente. A jovem estava olhando para ela agora, com uma expressão culpada no rosto. — Você deve achar isso tudo tão horroroso, — disse Felicity, aparentemente interpretando mal o olhar de concentração de Sara. — Você nunca irá saber o quão arrependida estou por enganar você em relação a Ian. Ainda penso nisso com vergonha. Mas até então não te conhecia. Não acreditava que você poderia entender o que realmente aconteceu. E não sabia como você era ou quão diferente da maioria das... ― Ela parou, obviamente embaraçada. — Maioria de quê? — Sara estimulou. Felicity engoliu saliva visivelmente. — Maioria das mulheres de sua posição social. Todas elas me tratam com condescendência. ― Desviou o olhar, endurecendo-o. — Elas gostam de mim para entretê-las com fofocas ou histórias sobre meu pai, mas quando termino me colocam de lado como qualquer outra diversão, deixando-me sozinha para desviar-me de seus maridos e filhos. 99
— Como eu fiz. — Sara disse suavemente. — Não! Não foi igual. Apesar do que deixei você acreditar naquela noite, Ian nunca tirou partido de mim. Não realmente. Foi minha própria culpa que eu... Que eu... — Acreditou de coração na atitude dele? Acreditou em seus beijos? Não, isso não foi sua culpa. — Mas eu o trouxe para mim com meu artigo. — Felicity protestou. — Que você tinha todos os motivos para escrever, — Sara exclamou. — Eu não culpo você sobre isso. Também não gosto de ter meus sentimentos pisoteados por um lorde descuidado. — Ainda assim, não é igual. — ela disse em voz baixa. — Igual a quê? Felicity cruzou os braços sobre seu peito, seu olhar baixou. — Aos outros. Que conheci por causa de papai. Sara prendeu a respiração. — O que os outros fizeram com você? — Oh, nada muito horrível, — Felicity falou às pressas, porém, seus braços apertados sobre seu peito. — Um beijo indesejado aqui, uma mão boba ali, quando fiquei mais velha. Eueu tinha onze quando comecei a acompanhar papai nas visitas nas casas de seus chefes e tomar notas para ele. Um sorriso fraco tocou seus lábios. — Ele escrevia muito mal. Ele mesmo não conseguia ler o que escrevia na maior parte do tempo. E gostava de ir com ele para esses casarões. ― Seu sorriso enfraqueceu. ― Até eu descobrir como as pessoas de lá eram. — Nem todas elas, certamente. — Emily colocou. — Ah, não! Apenas alguns homens. Eram geralmente os filhos mais velhos que queriam 'entreter-me’ quando meu pai estava ocupado com seus pais, depois que tive idade suficiente para despertar seus interesses. Mas eu podia lidar com eles na maioria das vezes. E nosso lacaio me mostrou como... Hmm… Bater com meu joelho neles onde dói. — Bom para eles — disse Sara, contente pelos servos protetores. — Foram apenas os pais que me deram problemas reais. Sabia que não era inteligente repeli-los corajosamente como fazia com seus filhos, então eu tinha que ser mais criativa nos meus recursos. O pensamento de uma menina lutando contra os avanços de um homem velho despertou indignação de Sara. — Onde estavam as mulheres desses homens, pelo amor de Deus? Dos jovens, onde estavam suas mães? Elas não ensinam seus filhos algo melhor do que atacar jovens hóspedes? — As mulheres tendem a olhar para o outro lado. Ou pior. — Felicity pronunciou as palavras de forma desapaixonada, mas Sara viu a dor que ela tentou esconder. ― Pelh, a esposa de um deles que pegou seu marido… avançando em mim, culpou-me e a meu pai e o aconselhou a me dar uma boa surra. — Certamente ele não seguiu esse conselho! — Sara exclamou em horror. Felicity olhou assustada. 100
— Ah, não, papai nunca levantou a mão para qualquer um dos seus filhos. No caso de meus irmãos, poderia ter sido melhor se ele tivesse. Papai disse que era uma bruxa velha invejosa com um marido-polvo e se recusou a continuar o projeto. — Seu tom repleto de autocensura. — Levou um ano para encontrar outro que pagasse bem e minha mãe e eu trabalhamos sem parar, costurando roupas para podermos sobreviver. mais.
Sara viu um flash de amargura no rosto de Felicity e seu terno coração amoleceu ainda
— Assim você aprendeu a não se queixar das mãos impertinentes daqueles homens, não é? Melhor se conformar com isso do que ser responsável pela perda da fortuna da família. Um sorriso tocou os lábios de Felicity. —Como sempre, Lady Worthing, você é mais perspicaz do que a maioria. — Por que você não me chama mais pelo primeiro nome? — Sara perguntou suavemente. — Não mereço. ― O rosto de Felicity esboçou remorso quando ela voltou a caminhar pelo quarto. — Estou tão envergonhada. Você não foi nada além de amável comigo desde o dia que cheguei, mas abusei horrivelmente de sua hospitalidade naquela noite da varanda. — Isso é uma tolice – colocou Emily jogando um olhar de relance para Sara. — Você fez o que era necessário para sobreviver. Quando homens usam sedução como uma arma, eles nos deixam apenas como defesa o fingimento. Além disso, se me lembro o que Sara me contou, Lady Brumley também estava presente. Dificilmente você poderia tê-la deixado saber o que realmente aconteceu. — Emily está certa, ― disse Sara. — Não culpo você por me enganar. — De repente, uma imagem de Ian discutindo com ela quando o expulsou de casa surgiu em sua cabeça, fazendo-a rir. — E se tem um homem que precise ter seu orgulho alfinetado, este é Ian. Você devia ter visto o rosto dele quando eu o acusei de tirar vantagem de você sob meu teto. Eu nunca o vi um olhar tão ofendido. — E com boa razão. — O olhar de Felicity varreu brevemente a penteadeira. — Embora ele tenha me feito pagar amplamente por essa manobra. Sara ficou séria. ― Você ainda não nos contou o que aconteceu quando deixou a sala de leituras essa noite e veio para cá. Eu sei que vocês dois não conversaram simplesmente. Mas também não posso acreditar que Ian tenha sido tão insensível para fazer... Quero dizer, ele não fez... Ele não... — Não. – Mas o rubor de Felicity desmentiu suas palavras. — Ele me beijou novamente. Isso é tudo. Emily riu. — Se isso for verdade, então Ian é mais cavalheiro do que sempre foi meu marido. — E o meu. — Sara adicionado com uma risada. Suas palavras pareciam ter chocado Felicity. — Mas seus maridos são tão cavalheiros! — Ah, eles têm as armadura dos homens civilizados, pode ter certeza. — Sara reclinou contra um travesseiro na cama da Felicity, sustentando-se com os cotovelos. ― Só porque nós não vamos tolerar qualquer coisa menos que isso em público. Em particular, bem... — Ela não 101
podia impedir o sorriso que surgiu em seus lábios quando se lembrou da forma ardente que Gideon fez amor com ela nessa manhã. — Eles são tão perversos quanto podem ser, não é Emily? — Graças a Deus — Emily retrucou, os olhos brilhando em frente à lareira. Felicity parou de passear pelo quarto olhando de uma para a outra em completa confusão. ― Então, essa noite quando deixei que Ian... Quando ele me fez sentir... Eu não sou... — Imoral porque sentiu desejo? — Sara balançou a cabeça, lembrando-se muito bem de sentir repugnância por si mesma quando Gideon tinha roubado suas defesas e a fez desejá-lo. — Não há nada de errado em sentir desejo, minha querida. — Foi o que Ian me disse também. — Felicity sussurrou. — Ainda assim, — Sara adicionado às pressas, — isso não significa que ele pode fazer amor com você sem assumir a responsabilidade por suas ações. Felicity franziu as sobrancelhas. — Ah, ele está ansioso para assumir a responsabilidade, mesmo que tudo que ele só tenha feito... – ela corou novamente. — De qualquer maneira, esse é o problema — ele quer casar comigo. — Sim, ele disse isso. O que significa que seus sentimentos eram sinceros. — Ou, pelo menos, seu desejo era sincero, — Emily acrescentou com um pouco de cinismo. Sara considerado cuidadosamente o que disse sua cunhada. Emily conhecia muito melhor o atual caráter de Ian do que ela. Emily achava que Ian era incapaz de sentir qualquer coisa, exceto desejo? Sara não conseguia acreditar nisso. — Em todo caso — ela voltou seu olhar para Felicity, — você recusou. Você realmente não tem nenhum desejo de se casar com Ian? — Nenhum. ― As palavras de Felicity passavam convicção, mas a expressão dela, não. Ela recomeçou a andar. — Como eu poderia casar com um homem cujo único interesse em mim é como mãe de seu herdeiro? Eu tenho responsabilidades, tenho quatro irmãos para cuidar e uma criadagem inteira que depende de mim. Ian não iria querer tudo isso sobre ele. — Como você sabe? Perguntou a ele? — Não preciso. Ele só me quer porque posso dar a ele um herdeiro. E eu tenho certeza que ele também espera livrar-se da minha incômoda interferência em seus assuntos. Ele acha que pode fazer tudo isso se casando comigo. Nosso casamento não seria real. — Seu tom tornou-se melancólico. — Não seria como o de vocês e não quero nada menos que isso. — Bom para você, — Emily disse. — Toda mulher merece um homem que se preocupa com ela. Mas a julgar pelo modo que Ian não olha para ninguém quando você está na sala, a forma que só você parece ter para despertar a fúria dele, e sua paixão, acho que ele se importa com você. — O homem não sabe nem a primeira coisa sobre se importar ― Felicity disse petulante. ― Ou ele não iria mentir para mim sobre aquela... Aquela mulher! Sara se esticou, com interesse aguçado. — Você quer dizer aquela amiga da Waltham Street? 102
— Sim! Ele não vai me dizer a verdade sobre ela! Ele admite que a Srta. Greenaway não é irmã de um soldado amigo, mas ele não vai dizer quem ela é para ele. Ele quer que eu simplesmente ignore a existência dela. — Srta. Greenaway? — O nome importunou a memória de Sara. Ela tocou a testa com os dedos, tentando pensar onde ela tinha ouvido esse nome antes. Com grande animação, Felicity correu para a cama e afundou-se no colchão. — Você a conhece? Quem é ela? Por que ele não fala sobre ela? A identidade da Srta. Greenaway de repente apareceu na mente de Sara e ela se amaldiçoou por não ter lembrado antes. — Ah, ela não é ninguém com quem você tenha que se preocupar ― disse Sara, tentando encobrir seu erro. O olhar de traição nos olhos da Felicity era inconfundível. ― Foi o que ele disse. — Ela suspirou. — Mas não culpo você por não querer me dizer nada, visto minha profissão. — Esse não é o motivo. — Sara pegou a mão de Felicity, querendo saber como ela ainda não tinha conseguido observar as pontas dos dedos da mulher manchados de tinta. — Simplesmente não quero que você chegue a conclusões sobre Srta. Greenaway e Ian com base na minha pouca informação. — Não importa o que você me diga. Eu sei que ela é sua amante. — Não estou tão certa. — Sara se debateu por um momento. Mas Felicity merecia ouvir a verdade, mesmo que Ian não quisesse revelá-la. — Quando conheci a Srta. Greenaway, ela trabalhava para o tio de Ian como governanta das crianças do homem. — Então ela é uma mulher mais velha? Emily perguntou de onde estava sentada, próxima a penteadeira. — Nesse caso, ela não poderia ser amante de Ian. — Ela não é tão velha, — disse Sara. — Ela não pode ter mais do que trinta e dois anos. A Srta. Greenaway foi trabalhar na casa dos Lennard quando ela tinha apenas vinte anos, era alguns anos mais velha do que Ian, na época. A propriedade de Edgar Lennard era anexa a Chesterley, então eu imagino que Ian tenha tido muitas oportunidades de vê-la. Mas eu nunca ouvi falar de nada entre eles. — Bem, há algo entre eles agora. — Felicity disse firmemente. — Ela teve uma criança não muito tempo depois de Ian colocá-la na Waltham Street. Ela deve ser sua amante. Eu não sei por que ele não apenas admite. — Existe uma criança? Felicity acenou com a cabeça. — Ele diz que não é dele. — Sua voz parecia frágil e despreocupada, mas Sara poderia dizer que Felicity era tudo menos isso. Uma onda de pena pela jovem a inundou. ― Talvez você devesse acreditar nele. Ian é um homem honrado, apesar da impressão que ele deu a você. Ele iria reclamar qualquer criança que fosse dele, bastardo ou não. A mulher pode ser amante de outro homem, talvez do seu tio. — Por que ele não disse isso, se é tão inofensivo? E por que não é o seu tio a mantê-la invés de Ian? — Ela piscou fortemente, e só então Sara percebeu que ela estava chorando. 103
Felicity ficou de pé, virando as costas para elas. — Bem, eu não me importo com o que Ian faz com ela. Não vou me casar com um homem que tenha uma amante. Outras mulheres podem aceitar, mas eu não. — Não aceitaria ― disse Emily com simpatia. — Acredite em mim, Jordan sabe que se eu o encontrar com outra mulher, eu pego um machado e acerto determinada parte de sua anatomia. Sara sorriu para a imagem, mas seu sorriso desapareceu quando ela viu postura inflexível de Felicity. A pobre mulher não iria admitir o motivo de sua aflição, mas Sara sabia. E ela desejava poder colocar isso na mente de Felicity com facilidade. O problema era que ela não mais conhecia Ian. Ao longo dos anos, ele tinha crescido calado. Bastava olhar para seu recente comportamento. Ele mentiu para eles desde o momento que tinha chegado, sobre como conhecia Felicity, a mulher que mantinha em Londres e provavelmente até mesmo suas razões para sua apressada viagem rumo a cidade. Além do mais, ele tinha mudado. Ultimamente ele tinha estado distante, indiferente. A única vez que ele tinha agido com seu antigo, agradável comportamento foi na noite de hoje, no corredor. Quando estava falando com Felicity. Hmm. Sara examinou a jovem cuidadosamente. Talvez Felicity estivesse errada sobre os motivos de Ian para a proposta de casamento. E se Ian meramente estava tendo o mesmo problema de aceitar que estava apaixonado como Gideon e Jordan tiveram? Uma coisa que sua experiência lhe ensinou, os homens odiavam se apaixonar. Eles lutavam contra isso, eles afastavam isso, chamavam-lhe de sexo ou paixão ou luxúria, qualquer coisa, menos amor. Um homem preferia ir bravamente para o inferno a admitir sua fraqueza para uma mulher e dar poder sobre ele. Então por que Ian seria diferente? Quanto mais ela pensava sobre o comportamento dele em relação à Felicity, mais essa possibilidade fazia sentido. — O que planeja fazer sobre essa bagunça? — perguntou a Felicity. A jovem enfrentou-as. — Eu não sei. Ian diz que quer minha ajuda para achar uma esposa para ele... — Vocês dois não inventaram essa história antes para nos enganar? Um olhar triste cruzou o rosto de Felicity. ― Receio que não. Ele diz que devo a ele, pois meus artigos têm arruinado suas chances e porque me recuso a casar com ele. Ele não deixa de ter razão, entende. Então quer que eu o apresente a outra mulher, o aconselhe sobre com quem casar... Esse tipo de coisa. Que cachorro espertalhão, Sara pensou. Entendia agora a intenção dele, e foi mais perspicaz do que ela jamais teria imaginado. — E você pretende fazer isso? — Suponho que sim. Mas conheço tão poucas mulheres que podem atendê-lo que parece inútil para tentar. — Sua voz cresceu taciturna. — Ainda insiste que eu o faça... É muito chato. — Talvez você não goste do pensamento de juntá-lo com outra mulher. — Não mesmo! — Felicity soou como se ela estivesse tentando convencer a si mesma. — Eu não quero casar com ele! E não me importo com quem mais ele possa se casar, contanto que não seja comigo! 104
O diabo que o diga, pensou Sara. A perspectiva de ver Ian com outras mulheres da corte matava Felicity, e Ian, sem dúvida, contava com isso para ajudá-lo a ganhar seu pedido de casamento. Era uma manobra inteligente. E trabalho garantido, a julgar pela miséria de Felicity. Talvez Felicity estivesse certa, afinal de contas, e Ian era simplesmente o homem mais calculista da Inglaterra. Ele certamente tinha movido todos ao redor como peças de xadrez. Tanta atenção à estratégia não significava que sentisse qualquer emoção mais forte pela mulher. Então, novamente, tinha algo que brilhava nos olhos dele quando olhava para Felicity. Havia apenas uma maneira de descobrir suas verdadeiras intenções. ― Sabe, eu poderia ajudá-la com seu esforço se você quiser, — disse Sara improvisadamente. Felicity parecia mais do que ansiosa para aceitar sua oferta. — Poderia? Como? Sara deu de ombros. ― Eu conheço muitas jovens mulheres como você. Posso fazer as apresentações e ajudar a dissipar os boatos sobre ele. — Sim, isso seria maravilhoso! Eu não teria que permanecer em torno dele. — Felicity interrompeu-se rapidamente. – É isso. Assim ficarei livre para cuidar do meu próprio negócio. — Que negócio? — Emily perguntou. — Meu trabalho, é claro. Eu devo estar livre nos encontros sociais para coletar fofocas para minha coluna e não posso fazer isso se estiver ocupada ajudando Ian a encontrar uma esposa. — Ah, sim, — Sara comentou, assistindo Felicity com novo interesse. Como era estranho que uma jovem tão sensível e inteligente poderia ser tão ansiosa para escrever um escândalo, material de um jornal comum. ― Esqueci que você é Lorde X. Mas certamente o seu senhor Pilkington poderia ficar sem fazer a coluna do Lorde X por um curto tempo. — Ele poderia, mas, — A mulher parou, seu olhar indo de Sara para Emily. — Eu-eu não gostaria de parar de escrever. Eu gosto e trabalhei duro para ganhar meus leitores. Não quero perdê-los. Além disso, depois de todas essas festas das férias, nas próximas semanas, não haverá nada até que a temporada comece. Eu devo estar livre para trabalhar agora. Uma explicação falha se é que Sara já tinha ouvido uma antes. Felicity claramente tinha alguma outra razão para continuar escrevendo. Mas qual? A julgar por sua aparência e pelos rumores sobre a herança de seu pai, Felicity não tinha dificuldades financeiras. ― Minha ajuda te deixará ficar livre para o trabalho? — Ah, sim! — Felicity disse fervorosamente. — Muito bem, então devo ajudá-la. Gideon e eu planejávamos passar o Natal na cidade esse ano de qualquer maneira. Iremos levá-la para casa amanhã e acompanhá-la aos eventos sociais que Ian espera que você participe. — Ela observou Felicity de perto. — Tenho certeza que posso encontrar uma esposa para ele sem você, se for preciso. — Sim, claro que poderia. — Felicity disse em um tom estranhamente enfraquecido. Seu olhar de desolação disse a Sara tudo o que precisava saber sobre os sentimentos de Felicity. Se Ian estava apaixonado ou não, Felicity já estava no meio do caminho para isso. — Mas Ian vai se importar se é você e não eu a ajudá-lo? — Felicity perguntou. — Ele parecia pensar que precisava de minha ajuda. 105
Sara capturou os olhos de Emily e um olhar de compreensão se passou entre elas. Não surpreendentemente, Emily também tinha adivinhado a estratégia de Ian. Seus maridos as treinaram muito bem para que pudessem reconhecer as desviadas maquinações dos homens. — Tenho certeza que Ian gostaria da ajuda de qualquer um. — Emily disse a Felicity alegremente, sua expressão travessa, mostrando que não foi isso que ela pensou. — Vou falar com ele esta noite sobre o assunto, — Sara acrescentou. — Sem dúvida ele ficará encantado com meu envolvimento. É ruim que ele iria. Se ele ficasse, significaria que possuía pouco interesse em Felicity assim como ele teve em relação à Lady Sophie e à Srta. Hastings. Nesse caso, seria melhor para Felicity descobrir agora. Mas Sara duvidava que Ian quisesse a interferência de alguém no assunto. Ela nunca tinha visto um homem tão agitado por uma mulher, tão imprudente em sua caça. Só Deus sabe que ele nunca teria encurralado Lady Sophie no seu quarto. Se o instinto de Sara provasse estar certo como geralmente fazia, ele não gostaria do que ela ia dizer a ele essa noite. Nem um pouquinho. *** Mal controlando sua raiva, Ian olhou para Sara de onde estava, próximo a lareira na sala de leitura. ― Mas que diabos você quer dizer! Planeja me ajudar a encontrar uma esposa? Não quero sua ajuda, Sara! — Mas a Srta. Taylor disse que você foi inflexível quanto a necessitá-la para isso. — Sara passeou pela sala, pegando um jornal aqui, endireitando uma almofada lá. — Não vejo por que minha ajuda seria menos bem-vinda. — Porque eu não quero a droga de um casamento contigo, esse é o porquê! Ela levantou a cabeça para olhar pensativamente para ele. ― Receio que não tenha entendido. A voz dela foi totalmente presunçosa. Ele procurou seu rosto com os olhos estreitados — Sim, você entendeu. Você é muito inteligente para o seu próprio bem. E você sabe muito bem que a melhor maneira de garantir a afeição de Felicity é fazê-la perceber o quão ardorosamente ela quer se casar comigo. — Ah, é? — Sim, é, minha amiga intrometida. Ela quer casar comigo e eu vou forçá-la a admitir isso, mesmo que eu tenha que dançar com a metade das mulheres elegíveis de Londres na frente dela. Ele possuía um desejo súbito de esmagar uma estatueta de porcelana de Sara na parede. A última coisa que ele queria era Sara estragando as coisas, especialmente se colocar mais distância entre ele e Felicity. Ele abaixou sua voz, esforçando-se para manter o controle. — Eu aprecio sua tentativa de ajudar, mas tenho isso bem em minhas mãos. Já coloquei minhas vistas sobre a esposa que quero e não preciso de você para destruir todos os meus planos! 106
— Deus do céu, Ian, se ela não quer se casar com você, por que desperdiçar seu tempo com isso? Certamente você não deseja ter uma esposa que não se importa minimamente com você. — Ela se importa comigo sim, não interessa o que ela diga. E ela seria uma esposa perfeita para mim. Ela está apenas sendo teimosa sobre... – Ele parou, subitamente consciente do interesse de Sara. — Sobre o quê? Ele estreitou os olhos em direção de Sara. ― O quanto ela te contou da discussão que tivemos? Parecia que Sara estava se debatendo com algo, mas deu de ombros. — Apenas que se recusou a casar com você. — Ela disse o por quê? — Afirmou que você não serveria para ela. Aparentemente, enquanto ela concorda que faria a esposa perfeita, não está tão certa de que você faria o marido perfeito. Ele Franziu a sobrancelha. ― Só porque ela não me conhece. — Ou porque ela te conhece muito bem. A farpa dela acertou mais fundo do que ele teria pensado. — Obrigado por confiar tanto em mim. Ela ignorou seu tom cortante. ― Diga-me Ian, por que você acha que ela seria a esposa perfeita? Ela não é o tipo de mulher que você sempre afirmou preferir. Ela não é quieta nem dócil. E ela tem uma família enorme e iria esperar pelo seu suporte. — Eu posso lhe dar isso. Sara inexplicavelmente sorriu. — Sim, suponho que você pode. Depois, há sua profissão muito problemática... — Ela falou sobre isso com você? — perguntou incrédulo. — Sua identidade como Lorde X? — Com um ar de completa indiferença, ela afundou-se em uma cadeira exuberante. — Naturalmente. Ela me contou tudo sobre a pequena guerra entre vocês. Ele ficou atordoado, em silêncio. Ele não tinha esperado que Felicity fosse revelar tanta coisa a Sara. O que isso queria dizer? E como afetaria seus planos? — Devo dizer — Sara prosseguia, — que embora sua história tenha explicado os acontecimentos dos últimos dias, não esclareceu o porquê que vocês dois devem se casar. Dada a aparente divergência que vocês têm sobre muitos assuntos, pensaria que um é bastante inadequado para o outro. — Pensaria? – Ele a fitou com um ar zangado. — Suponho que isso quer dizer que você está ao lado dela. Você pensa que ela tem razão em me rejeitar. Ela alisou suas saias com súbita concentração. — Talvez eu esteja em ambos os lados. 107
Avançando rapidamente até onde ela estava sentada, ele se inclinou para baixo e apoiou suas mãos sobre os braços da cadeira dela. ― Não brinque comigo, Sara. Não estou de bom humor. Você não pode estar dos dois lados. Quero que ela se case comigo, e ela quer continuar livre. Portanto, você deve escolher: ajude a mim ou a ela. Ou fique completamente fora do assunto. A mulher irritante apenas sorriu para ele. — Preciso de mais informações antes de tomar uma decisão. — Que tipo de informação? — Você a ama? As palavras explodiram em seu cérebro. Amá-la? O assunto não tinha surgido em seus cortejos anteriores. Que surgisse agora, com Felicity, parecia-lhe muito desconcertante. Ele se voltou da cadeira de Sara. — Nem todos os homens se casam por esse motivo. Só porque você e seu irmão se supõem apaixonados por seus cônjuges não significa que seja igual com todos os outros. — Então por que você quer se casar com ela? — Você sabe por que, — ele se esquivou. — Pela mesma razão que todo homem na minha situação deseja se casar. Porque eu preciso de uma esposa para conduzir minha casa e ter meus filhos. — Claro. Mas por que ela? Depois de tudo, ela está abaixo de você na escala social. — O que não importou para o seu padrasto, seu marido ou seu irmão. Então eu não sei por que você acha que isso iria me importar. — Tudo bem, então você não se importa com isso. O que te importa? O que te faz pensar que deveria se casar com ela? — Ela tem quatro irmãos, — ele retrucou, se aproveitando de um fato que ele praticamente não tinha considerado até agora. ― Precisa que eu te aponte o que isso quer dizer sobre quais possibilidades dela me dar um filho? — Como tantas outras mulheres. Você ainda não me disse o que eu quero saber. Por que devo ajudá-lo a seduzir minha amiga para que se case com você, quando para você meu amigo, qualquer mulher atenderia a seu propósito? Passando os dedos através de seu cabelo, ele a encarou. — Você sabe que ela estará melhor se casando comigo do que tomando conta de quatro pirralhos e praguejando fofocas. — Tem certeza? Ela parece desfrutar de sua estranha vida. Pelo que eu saiba, ela não tem dificuldades financeiras para que precise se casar com você por dinheiro. Mas você não respondeu à minha pergunta. Por que ela? — Porque a quero! — ele estourou. — Ela é a única que eu quero! Ele lamentou sua admissão no momento em que viu a expressão encantada de Sara. Com um resmungo, desviou o olhar para o outro lado. Droga, a mulher o pressionou até fazê-lo dizer mais do que intencionava. Mas essa era a verdade. Felicity mexeu com algo primitivo dele, algo que ele pensou que tivesse suprimido há muito tempo. Excitação. Paixão. O puro gozo de beijar uma mulher que realmente desejava. Apenas quando ele se resignou a cumprir o seu dever não importando o que custasse, ela explodia em sua vida como fogos de artifício contra um céu a meia-noite. 108
Agora ele estava viciado no brilho que ela emanava ao seu redor sempre que entrava numa sala. Ele sofria para possuir esse brilho, para fazer-lo só dele. Ele precisava possuí-la de todas as formas possíveis. E ele só podia fazer se casando com ela. Ele voltou a olhar para Sara. — Bem? Dei a você informação suficiente? Irá me ajudar a ganhá-la? Ou você ainda acha que eu e Felicity não nos adequamos? — Ah, começo a pensar que um irá se adequar muito bem ao outro. — Ela lançou-lhe um ardente, mas enigmático sorriso. — Sim, vou ajudá-lo. Sente-se, Ian. É hora de fazermos alguns planos.
Capítulo 12 Lorde Hartley tem requisitos rigorosos para sua esposa em potencial. Ela tem que ter particularmente "uma aparência impressionante e uma inteligência apresentável". Só espera-se que o aparente herdeiro reconheça o que seu pai não fez, que uma mulher com uma aparência apresentável e uma impressionante inteligência é muito mais interessante.
Lorde X, The Evening Gazette, 21 De Dezembro de 1820
Felicity fez uma careta para o rosto pálido no enorme espelho quadrado sobre sua penteadeira. Tola! Ela disse a si mesma. Boba! Sonhadora ridícula! Ela não tinha razão alguma para estar tão sombria e certamente sem razão para deixar sua apatia à mostra em seu rosto! Desde a semana do seu regresso do campo, foi a quatro bailes de Natal, três festas e um concerto privado. Tinha providenciado seis artigos bons para o Sr. Pilkington, que a pagou decentemente. Hoje à noite iria participar da festa anual de St. Thomas oferecido por Lady Brumley, o baile mais prestigiado da temporada, com as pessoas mais interessantes de Londres, que iriam lhe fornecer um vasto material para suas colunas. Então por que seu mal-estar persistia? Por causa dele, é claro. O Visconde traiçoeiro de olhos inquietos. Ele participaria do baile de hoje também, dançando com uma mulher após outra, buscando uma esposa com jovial indiferença. Era o que queria, não era? Ela o rejeitou, então esperava que ele se definhasse por ela? Era precisamente o que esperava, idiota que tinha sido. Mas deveria ter sabido. Não tinha feito nada além de atormentar o homem desde o dia em que o conheceu. Não que ele não merecesse, porque merecia. Mas...
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Olhando para o espelho, fez nova careta. Não admirava que tivesse desistido dela tão facilmente. Olha esse rosto pálido e essa expressão enfadonha! Se parecia exatamente com uma mulher comum e sem classe, o que ela era! Furiosamente, passou carmim nas bochechas, e tão furiosamente quanto antes, tirou-o do rosto. Nenhuma mulher respeitável usava carmim atualmente. Sua mãe usava, mas isso era comum na época dela. Por que se importava com o que ele pensava dela de qualquer forma? Eles estavam bem agora. — Lissy, que coisa vermelha é aquela com que estava brincando? ― Perguntou uma voz de menino atrás dela. Foi Ansel quem falou, mas todos seus soldadinhos de chumbo estavam alinhados as suas costas, invadiram seu quarto em massa esta noite. James sentou de pernas cruzadas sobre o baú fechado, mantendo sua postura meticulosamente ereta como tinha aprendido na Academia de Islington. Desprovidos de tal treinamento, William e Ansel esparramaram suas barrigas na cama, com suas cabeças descansando em seus cotovelos e seus pés descalços chutando o ar à toa. E George, fiel à forma, perambulava pelo quarto em busca de travessuras. — Não estou brincando com isso. — Ela deixou de lado o velho pote de carmim com firmeza. Ela não daria a Ian a satisfação de vê-la aparecer toda avermelhada e se vender como alguma mulher da vida. Então ele saberia o quanto ela se arrependeu em não ter aceitado sua proposta de casamento. Arrependimento? Ahh! Não se arrependeu de recusar um casamento com um homem para quem as mulheres eram apenas uma diversão e a esposa uma fabricante respeitável de crianças. Casar com um homem que tinha amante? Um homem que, um dia depois de ter sido rejeitado, cortejou cada mulher elegível que apareceu no seu caminho? Jamais! — Você tem que ir ao baile esta noite? — Ansel perguntou, sua cabeça dourada se inclinou para um lado enquanto ele assistia Felicity fechar o colar de rubis de sua mãe sobre seu pescoço. — Sim, Lissy, você tem que ir? — Georgie perguntou. — Você tem ido a festas toda a semana. Não vejo porque você não pode ficar aqui conosco esta noite. James deu uma resposta por ela. — Lissy precisa escrever sobre alguma coisa, rapazes, assim ela tem que ir as festas. Vocês sabem disso. Se não for, não teremos dinheiro suficiente para o peru de Natal. Você não gostaria disso, não é? Os trigêmeos balançaram a cabeça em uníssono, e Felicity respondeu com um sorriso. — Amanhã prometo para passar o dia inteiro com vocês. Sr. Pilkington nos enviou ingressos para a exposição dos trabalhos de cera da Madame Tussaud 1. Que está na Strand Street novamente. Vocês gostariam de ir assistir? Até James se animou. — Podemos Lissy, sério? Você vai nos levar?
1 Marie Tussaud (1761-1850) aprendeu a técnica de modelagem com cera com um médico durante o período que foi governanta dele. Marie e sua mãe foram presas na sua cidade natal na época da revolução francesa e ela foi encarregada de preparar máscaras de cera utilizando como molde as cabeças dos prisioneiros que haviam sido guilhotinados. Entre estes figuravam Maria Antonieta, Luis XVI e Jean Paul Marat (o filósofo revolucionário morto por Charlotte Corday). O Dr. Curtius faleceu e deixou para Marie toda sua coleção de cera. Marie continuou seu trabalho até praticamente sua morte.
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— Irei, certamente! — Ela tinha visto muitas vezes a exposição quando menina e aguardava com expectativa descobrir o que Madame Tussaud tinha adicionado à coleção. ― Podemos ir ao quarto separado? ― Georgie pediu em um silencioso sussurro. Felicity franziu as sobrancelhas por sua menção da notória coleção de máscaras da morte da Revolução Francesa que Madame Tussaud tinha começado a fazer no início de sua estranha profissão. — Na verdade, você não pode! Iria te dar pesadelos. — Não, não! — Georgie protestou. — Nada me assusta, Lissy! Ela lançou um olhar irritado aos céus, questionando a Deus por sua sabedoria em fazer meninos tão destemidos na teoria e medroso na prática. Os trigêmeos eram geralmente todos barulhentos e bombásticos… até a noite trazer aqueles pesadelos infantis. — Veremos. — Disse sem se comprometer. A porta do seu quarto se abriu e a Sra. Box entrou com pressa. ― Os Worthings chegaram. Você não quer mantê-los esperando, querida. Pegando seu leque, ela se e levantou da penteadeira e encarou seus irmãos. — Bem? Como estou? — Você parece um pavão! — William disse, dando seu melhor elogio. — Ela não parece com nenhum pavão, Will. — Georgie desprezou seu irmão. – Não há uma única pena nesse vestido. Felicity abriu a boca e, em seguida, fechou-a, percebendo que era inútil corrigir muitos erros gramaticais ao mesmo tempo. George realmente devia parar de passar seu tempo com Sra. Box e Joseph, nenhum deles tinha a gramática adequada. — Você está muito linda, — James disse sinceramente, ignorando seus irmãos, que agora discutiam sobre as palavras de William. Ele endireitou a coluna e se aproximou com o braço estendido. — Talvez eu deva escoltar você até o andar debaixo, adorável senhora? Sufocando uma risada, acenou com a cabeça e pegou seu braço. — Ficaria honrada, amável senhor. Com uma expressão altiva, James acenou para seus irmãos se aproximarem. ― Vocês podem carregar a calda do vestido, se quiserem. — Ele não tem calda, ― Felicity protestou, mas já era tarde demais. Três pares de mãos encardidas lutaram para agarrar a extremidade traseira de sua saia pêssego. Ela estremeceu, mas não os deteve. Suas saias se sujariam no momento em que ela entrasse na rua enlameada de qualquer maneira. E embora os meninos segurassem sua saia em altura suficiente para revelar sua anágua, ela sabia que deveria dar-lhes alguma chance de participar da sua noite, ou seriam pequenos terroristas para a Sra. Box o resto da noite. No entanto, o topo da escada foi seu limite. A possibilidade de cair sob seu traseiro com seus três ajudantes entusiastas puxando seu vestido era real demais para arriscar. Com uma palavra gentil, ela os sacudiu como se fossem gatinhos apegados. — Agora, meninos, vocês podem também ficar aqui. — Mas nós queremos falar com Lorde Worthing, — Georgie protestou. — Ele não veio antes com Lady Worthing. Ele não é pirata? 111
Com uma rápida olhada para baixo de onde os Worthings estavam conversando com a Sra. Box, ela assobiou sob a sua respiração. — Quem lhe disse isso? — Você. — Ansel respondeu. — No dia que voltou de viagem. Ela tinha esquecido. E é claro que eles estavam interessados em suas aventuras em alto mar. Que era justamente o que não precisava, os trigêmeos encurralando um conde com sinceras perguntas sobre como executar um homem. — Podemos falar com ele, hein, Lissy? — William pediu. Ela forçou um sorriso. ― Hoje à noite, não. Outra vez, tudo bem? ― Vendo suas expressões cabisbaixas, ela abaixou-se para acarinhar cada um na bochecha. — Vocês verão muitos piratas amanhã na exposição da Madame Tussaud. Aquilo limpou a decepção de seus rostos. ― Certifique-se de obedecer Sra. Box. — Acrescentou ela, despenteando o cabelo Georgie com carinho. — E não fique esperando por mim. Vou chegar tarde. Ela sentiu os olhos deles sobre ela enquanto James, olhando quieto como adulto, a levou até ao pé da escada. Os meninos estavam crescendo muito depressa. Apesar de que em alguns dias, ela quase não esperava até que pudessem ajudar com encargos financeiros da família, mas na maioria dos dias, ela lamentava as circunstâncias que os lançaram para a vida adulta muito cedo. Sra. Box olhou para cima, vendo Felicity e James e sorriu largamente. ― Aqui está, milady. E o jovem senhor com ela. James ergueu-se reto, e um nó se alojou na garganta de Felicity. Ele não iria ser senhor de qualquer coisa em breve. Hoje três diferentes credores estiveram atrás dela, o açougueiro, um lojista de Cheapside e alguns companheiros de seu pai dos jogos de azar. O último homem, um cavaleiro, ameaçou levar o magistrado até ela se não saldasse a dívida de seu pai. Felizmente, ela havia dinheiro para dar-lhe ou não saberia dizer o que ele teria feito. Mas os outros dois, teve que mandar embora de mãos vazias. Meu Deus, ela precisava de dinheiro, enormes quantidades dele. Nunca iria saldar todas as dívidas do jeito que estava indo. Hoje à noite teria de recolher mais material do que o habitual. Talvez se pudesse encontrar o suficiente, pudesse abordar secretamente um jornal rival sobre como escrever uma segunda coluna sob um segundo nome. Se só pudesse pagar uma das grandes somas no final das contas... — Você parece ótima esta noite, — Sara comentou com Felicity quando chegou à parte inferior da escada. Com um sorriso caloroso, a condessa voltou-se para James. — E que homem bonito você tem seu lado. James sorriu bastante para louvor da condessa. Ele tinha caído de amores pela mulher desde o dia que os Worthings trouxeram Felicity para casa. — Suponho que os trigêmeos já estão na cama. ― A cara de Sara mostrou decepção. — Eu adoro esses queridinhos, e esperava apresentar Gideon para eles. Eles estavam dormindo quando chegamos do interior na semana passada. — Na verdade... — James começou. 112
— Na verdade, — Felicity repetiu, encarando seu irmão antes que ele pudesse dizer mais, —prometi a eles um passeio amanhã, então tive que mandá-los para a cama cedo. — Lissy vai nos levar para ver a Exposição de cera de Madame Tussaud. — James falou. – Eles estão muito animados com isso. — Eu imagino que estão. — Sara riu-se, então, olhou Felicity especulativamente. — Nunca fui lá. É geralmente na Strand, não é? — Sim. — Felicity olhou para as escadas de onde seus irmãos estavam espreitando ao redor do corrimão, em seguida, rapidamente acrescentou: — Acho que devemos ir. Após um rápido adeus a James, eles partiram. O caminho para Lady Brumley foi pura tortura. Sara e Gideon compartilharam tantos sorrisos secretos e olhares apaixonado que a fez invejar sua felicidade. Isso também a lembrou de Ian… ele a beijando, a tocando intimamente, sussurrando carinhos… Ela sentou-se reta. Gideon pode saber a resposta a uma pergunta que a atormentava por dias. — Gideon, fala espanhol? — Um pouco. — O que ‘querida’ significa? Seu olhar se estreitou sobre ela. — Significa amada. Seu coração deu uma pequena sacudida. Ian a tinha chamado de sua "querida" naquela noite em Worthings? O que isso significava? Nada, a julgar pelo seu comportamento nesta semana. — Quem chamou você de ‘amada’ em Espanhol? — Sara pediu com um sorriso. Felicity riu fracamente. — Oh, ninguém. Eu li em um livro. Sara e Gideon trocaram olhares sabidos. O clamor fora da carruagem, felizmente desviou a atenção desse assunto. Como de costume, o baile de Lady Brumley era de uma esmagadora procura. Cocheiros abarrotavam a rua estreita como cães pisando uns aos outros para chegar a um osso. Uma coisa era certa, Ian teria muitas mulheres elegíveis para escolher a partir de hoje. O pensamento a deprimiu. Com firmeza, ela o deixou de lado. Quem se preocupava com esse senhor mulherengo e seu inquieto olhar? Não ela, com certeza. Só porque ele a chamou de sua "amada" e sabia exatamente como usar suas mãos no corpo de uma mulher... — Droga! — Ela murmurou sob sua respiração. — Eu concordo, — disse Sara, confundindo a fonte de sua aflição. — Está um caos lá fora. Mas não nos preocupemos, conseguiremos passar. Espere até que você veja Gideon lidar com uma multidão. Alguns minutos depois, Felicity chegou a ver exatamente isso. Uma vez que Gideon desceu da carruagem, todos os olhos estavam sobre ele, e não apenas por causa de sua estrutura imponente. Sua reputação aparentemente o precedeu, todos olhavam pasmados para aquele homem moreno, do qual os rumores diziam de ter sido o Lorde Pirata. Com seu caminhar proposital, que Sara e Felicity se apressaram em imitar, Gideon atravessou no meio da 113
multidão como uma lâmina quente através do gelo. Graças a Deus. Ela estava ansiosa para sair do vento de inverno que os estapeavam como pás de metal gelado. Em alguns momentos, os três estavam dentro da apertada Casa e no topo das escadas para o salão de baile, a serem anunciados. — Ali está Ian, — Sara sussurrou a Felicity enquanto eles caminhavam para baixo em direção ao perfume dos esmagados ramos de louro, suor umedecido, lã e cera das velas. Felicity seguiu o olhar de Sara para onde Ian dançava uma quadrilha. Soberbamente. Com uma mulher bonita apenas metade de sua idade, Felicity disse-se em uma explosão de temperamento. — Ah, — Sara continuou, — ele está com a Srta. Trent. Excelente. Eu a sugeri a ele, você sabe. Ela gosta um pouco de flertar, mas sua linhagem familiar é impecável e tem três irmãos. Se ele conseguir pegá-la, ela lhe dará um herdeiro. Eu tenho quatro irmãos, lembra? Felicity queria retrucar. Naturalmente, sua própria linhagem familiar era menos impecável, especialmente quando um considerado pai cujo gosto pela bebida tinha lhe enviado para uma queda no Rio Tamisa. Não importa, ela disse-se com uma carranca. Não haveria nenhum casamento entre Ian e ela, e de qualquer forma não queria um. Ela pegou Sara a olhando e suavizou sua expressão. — Ian já propôs para alguém? Considerando como ele se queixou da dificuldade em encontrar uma esposa, parece ter agido muito bem sob sua proteção. — Sim. — Sara treinou seu olhar sobre Ian. — E garanti que você estivesse livre para perseguir seus próprios interesses. — Eu agradeço por isso, — disse Felicity enganosamente. Sara não tinha respondido à sua pergunta. Tinha Ian gostado de alguém em especial? O pensamento ameaçador persistia com ela pelo resto da noite. Embora tivesse coletado informações para sua coluna e concordado com diversas danças, mais frequentemente para que não se sentisse atraída em observar Ian dançar. Algumas de suas parceiras, ela descartava como irrelevante. Ele dançou com Lady Brumley e Sara por dever, é claro. Então, ele dançou com Lady Jane, que era certamente muito frívola para que ele a considerasse como uma esposa, e a Srta. Childs, cuja bem-conhecida afeição por champanhe teria posto a prova tanto suas finanças e quanto sua paciência. Foi sua segunda dança com a Srta. Trent que alarmou. Srta. Trent tinha inteligência, sagacidade, até um temperamento, e o pior de tudo, um lindo cabelo loiro e doces olhos azuis. Srta. Trent certamente satisfazia todas as exigências de Ian para uma mulher descomplicada, maldita! Sem mencionar sua “linhagem familiar impecável. — Vejo Ian de pé com a Srta Trent novamente, — comentou Sara a Felicity depois de retornar de uma volta com seu marido. — Ela seria uma boa escolha para ele. — Se ele puder ignorar seu mau gosto por acessórios, — Felicity disse irritada, apreensiva sobre a aparente falha da Srta. Trent. – Olha que bolsa terrível ela carrega. — De alguma maneira, não acho que a bolsa da Srta. Trent preocupa Ian. — Houve uma sugestão de riso na voz de Sara, mas quando Felicity lhe lançou um olhar frio, Sara escondeu seu divertimento. ― Falando em homens e suas parceiras, o Conde de Masefield está vindo em sua direção. ― Sara adicionou em um sussurro. – Acredito que ele próprio esta indo para uma segunda dança. Felicity conferiu seu cartão de dança. 114
― Ah, sim. Eu esqueci. Eu prometi uma valsa a ele. ―Graças a Deus que tinha praticando com James. Ela começou com a pretensão de preparar James para a vida adulta, mas na verdade, a falta de habilidade dela nessa área a afligia. Isso era uma de várias inadequações em seu caráter, habilidades e aparência que a atormentava nos últimos tempos. Desde que conheceu um certo Visconde, para ser honesta. — Lorde Masefield parece enamorado de você. ― Sara comentou. ― Ele raramente dança duas vezes com alguém. Felicity acenou com desdém, seu olhar ainda no cartão de danças. ― Ele gosta de conversar, isso é tudo e sou uma boa ouvinte. É minha profissão, você sabe. Em um tom tenso, Sara disse: — Ian parece estar vindo em nossa direção também. Felicity girou a cabeça para cima. Apenas alguns passos atrás de Lorde Masefield, ele se movia rapidamente em direção a elas parecendo inexplicavelmente ameaçador. Por um segundo, ela esperou que a Srta. Trent tivesse dito alguma coisa para irritá-lo. Então se censurou por esse pensamento. Queria que Ian se casasse, para que pudesse tirá-lo de sua mente de uma vez por todas. Lorde Masefield chegou momentos depois. Com uma reverência cortês, o bonito conde ofereceu sua mão para Felicity. — Acredito que esta dança é nossa, não é, Srta. Taylor? Ela lançou-lhe um sorriso que ampliou quando viu Ian se aproximar. ― É sim, milorde. — Disse ela docemente. Segurando sua mão, deu um passo adiante, mas Ian se interpôs para bloquear seu caminho. — Eu gostaria de reivindicar a dança depois dessa, Srta. Taylor, se você estiver livre. Droga de homem! Desde a valsa deles, ele não a tinha pedido mais para dançar, ainda assim esperava que ela caísse aos seus pés, porque estava lhe pedindo agora. Bem, ele podia esquecer. — Sinto muito, mas meu cartão está cheio. Agora, se você nos desculpar, Lorde Masefield tem essa dança. Embora os olhos de Ian ardessem em chamas, ele se afastou com extrema cortesia para deixá-los passar. — Eu peço desculpa. — Disse perfeitamente no mesmo tom, mas ela sentiu seu olhar aborrecido em suas costas quando eles se afastaram. Na verdade, Ian queria estrangulá-la enquanto observava o jovem Masefield e Felicity olhando um ao outro na valsa. Um grande idiota, aquele Masefield, uma cópia verdadeira do seu pai idiota. Masefield não merecia dançar com ela e certamente não duas vezes. Sara aproximou-se para estar ao lado dele. ― Isso foi inteligente? — perguntou em voz baixa. — Pedindo-lhe para dançar quando você estava fazendo tudo tão bem até agora? — Estava? Já fiquei com mais mulheres do que consigo contar, mas não a vejo demonstrando nenhum sinal de carinho. 115
Sara arqueou uma sobrancelha. — Pensei que estivesse muito certo sobre dela. — Estava. Estou. ―Ele passou seus longos dedos pelo cabelo. ― Droga, não sei mais. Tudo o que sei é que não podia ficar sem tocá-la por mais um minuto, especialmente quando esse tolo do Masefield veio em direção dela. Ainda assim, o que ela está fazendo com um cartão de dança cheio? Pensei que ela estava aqui para coletar material para suas malditas colunas? — Vocês homens sempre acham que só as mulheres fofocam, mas nada está mais longe da verdade. Masefield puxou Felicity para mais perto e Ian franziu a testa. — Bem, Masefield não é um fofoqueiro, é? Ele está com as mãos em cima dela. Você devia avisá-la para ficar longe dele, ele só está brincando com ela. Seu pai quer que se case com uma herdeira, e ele tem título para fazer isso. Depois, ele é recém-saído da sala de aula, pouco mais que um garoto. Ele sequer saberia dizer alguma coisa para ela se estivessem sozinhos. — Tem certeza? — Sara perguntou em voz enganosamente inocente. Ele olhou para ela. Ela estava rindo dele, fedelha descarada, desfrutando de seu acesso de raiva. Ela provavelmente pensou que isso significava algo. Significava que precisava levar Felicity Taylor para cama antes que explodisse de necessidade. Uma necessidade que tinha crescido em proporções gigantescas no minuto em que a tinha visto entrar hoje à noite, usando um dos mais atraentes pedaços de moda. Com esse material transparente, levariam apenas uns poucos puxões nos lugares certos para deixá-la nua. As mangas se agarravam em seus ombros pela vida, e o corpete sedutoramente drapejado escorregava quando ela se curvava para revelar uma generosa quantidade de seus seios dourados. Era um milagre que a maldita coisa se mantivesse firme. Cada homem daquele lugar provavelmente esperava para ver quando cairia. — Por que você não a preveniu para que não usasse esses frágeis vestidos? Ela está se fazendo a si mesma de tola. — Não vi ninguém rindo dela. E seu vestido não é mais frágil do que o meu. — Sara escondeu o rosto com o leque, mas ele sabia que ela estava sorrindo por trás dele. — Você é uma mulher casada, pode se vestir assim. Mas ela está solteira, não é a mesma coisa. Você deve falar com ela sobre esse vestido. Ele mostra muito de sua figura. Vai arruinar sua reputação. — Pelo que me lembro, a única coisa a arruinar a reputação dela até agora é sua associação com você. Suas palavras azedas não cairam mais fáceis para ele, por serem verdade. — Bem, tenho a intenção de remediar isso, fazendo-a minha esposa, muito respeitável. Estou cansado desse jogo, Sara. Não está funcionando. Preciso de uma nova estratégia. A expressão de Sara suavizou. — Ah, mas está funcionando. Ela esconde, mas está tão ciumenta quanto você. Você devia ter ouvido as críticas dela sobre a incomparável Srta. Trent. Suas palavras amoleceram a paciência dele só um pouco. — Eu não posso continuar assim, fazendo a corte para mulheres que não desejo me casar. Há muito tempo rejeitei a metade delas como possibilidades e a outra metade tem pais que nunca aprovariam minha corte, mesmo que eu quisesse suas filhas. Que não quero. Ela é a única que quero. 116
— Você deve ser paciente. — Não posso. — Ele não tinha tempo para ser paciente. Ele devia ter uma esposa, e logo. E se devia, seria Felicity. — Certamente há outra maneira de prendê-la. Preciso de um tempo sozinho com ela. Um momento na varanda nessa aglomeração não vai me fazer bem, mesmo se eu pudesse levá-la lá fora. Não, eu preciso de mais tempo, o suficiente para convencê-la de que está errada sobre mim. — Ou o suficiente para seduzi-la? Ele encontrou o questionador olhar de Sara e considerou mentir. Mas Sara poderia detectar esse tipo de mentira há quilômetros de distância. ― Se necessário. ― Deveria ter seduzido Felicity na última vez que esteve sozinho com ela, ao invés de uma abordagem mais sutil. A sutileza não funcionou melhor do que as ameaças com ela. Ou do que os ciúmes. Sara parecia indecisa, então suspirou. ― Bom, não deveria ajudá-lo a seduzi-la, mas sei como você poderia passar mais tempo com ela e seus irmãos. Ela irá levá-los a exposição de cera amanhã. Um sorriso lento se espalhou pelos seus lábios. Ele começou a explorar as possibilidades, táticas, manobras. — Você diz aquela na Strand Street? Sara assentiu. ― Mas faça parecer que você os encontrou acidentalmente ou ela nunca confiará em mim de novo. — Posso fazer isso. ― Ah sim. Depois, iria acompanhá-los em casa e arranjar um convite para jantar. De lá... Seu sorriso alargou. — Eu sei como funciona esse seu cérebro diabólico, — Sara observou, — porém tenho que precavê-lo de que a sedução pode não surtir efeito na mente da Felicity. Ela tem uma personalidade forte. — Vai surtir. — ele jurou, embora ele mesmo não tivesse certeza disso uma semana atrás. Ainda assim, não tinha escolha. O que começou como um desejo impraticável de possuíla tornou-se uma obsessão. Ele não podia deitar-se sem imaginá-la em sua cama, não podia comer sem sentir o gosto dela em seus lábios. Pelo amor de Deus, ele mesmo podia ouvi-la rir, às vezes, durante o sono. Mas isso não era tão ruim quanto ouvir seus suspiros de prazer, que ele também ouvia durante o sono, em seus sonhos. Ela o queria também. Ele sabia disso. E reconhecendo ou não, ela precisava dele. Muito bem. Ele iria seduzi-la e teria sucesso. Porque se a primeira sedução falhou em convencer Felicity de que devia se casar com ele, iria seduzi-la quantas vezes fossem necessárias para fazê-la mudar de ideia ou deixá-la grávida. Mas de um jeito ou de outro, iria tê-la como sua esposa.
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Capítulo 13 O baile anual de St. Thomas de Lady Brumley foi certamente maior do que qualquer outro anterior. Como o Sir Jameson disse: "ninguém faz um baile como Lady Brumley. A cidade não conseguiria impedir este encontro mesmo se colocassem a casa dela sob quarentena."
Lorde X, The Evening Gazette. 21 de dezembro de 1820
Graças a Deus vou me livrar dele, Felicity pensava enquanto escapava de Lorde Masefield com a desculpa de ir ao toalete. A ideia do homem sobre uma brilhante discussão era uma conversa sobre Ascot. Ela não poderia imaginar Ian... Não! Porque vivia pensando nesse Visconde maldito? O homem tinha realmente a encarado furiosamente durante sua valsa com Lorde Masefield, como um lobo vigiando sua presa que escapou. Como ele se atrevia, depois de dançar com metade das mulheres de Londres! Desejava sinceramente que ele peneirasse as mulheres elegíveis da sociedade sem peneirar suas emoções também. Ela suspirou. Tinha que culpar só a si mesma. Afinal, podia ter aceitado a proposta dele. Enquanto andava ao longo do corredor que levava ao toalete, ouviu passos atrás dela e uma voz chamar. — Srta. Taylor espere! Ela parou no corredor e olhou para trás. Um homem alto, próximo aos seus quarenta anos, se aproximou. Ela não o reconheceu, mas algo familiar na expressão dele fez esperar que ele chegasse até ela. — Ainda não fomos devidamente apresentados, — ele disse, — mas sei quem você é. Você é a filha do Algemon Taylor, não é? — Sim. E você quem é? — Meu nome é Edgar Lennard. – ele curvou-se rigidamente. ― acredito que você conhece meu sobrinho, Lorde St. Clair, filho de meu irmão. Instantaneamente o interesse dela se manifestou. Então esse era o tio de Ian e patrão da Srta. Greenaway. Sim, ela podia ver a familiaridade entre eles na forma da testa e na grande estatura. Mas a semelhança terminava aí. Onde Ian era sombrio, esse homem era justo. Enquanto as feições de Ian tinham certa aspereza, desse homem era classicamente bonito, apesar da idade. Ela podia facilmente imaginar uma mulher bonita como a Srta. Greenaway sendo amante desse homem. Então essa teoria podia ser verdade no final. Ou não. Felicity aprumou seus ombros. De qualquer forma, o homem poderia dizer o que ela desesperadamente queria ouvir — que relação Srta. Greenaway tinha com Ian. — Eu conheço seu sobrinho, de fato. O conheço muito bem. O homem franziu seus lábios desaprovadoramente. 118
― Então eu gostaria de falar com você por um momento, se você não se importa. — Não me importo mesmo. — Diga-me tudo, acrescentou a ela mesma. Notando uma próxima porta de uma sala de estar aberta, ele gesticulou para ela. ― Por aqui, por favor. O que quero dizer requer privacidade. — Tudo bem. ― ela entrou. Mas quando ele fechou a porta da sala de estar por trás dela, ela deu-lhe seu frio sorriso e abriu-a novamente. Isso faria com que não a encontrasse sozinha com este homem, mesmo que ele tivesse idade suficiente para ser seu pai. Além disso, alguma coisa em seu jeito a colocava em guarda, e ela tinha aprendido a nunca ignorar tais instintos. Ele aceitou, embora tenha manobrado para que estivessem sentados o mais longe possível da porta. — Não quero desperdiçar seu tempo, — ele começou assim que se sentaram. — Ouvi seu nome vinculado ao do meu sobrinho esta tarde. — Ouviu? — Lady Brumley certamente não tinha perdido tempo em espalhar a notícia. — Como você provavelmente sabe, ele está procurando por uma esposa. Ela fingiu surpresa. ― Sério? — Tem especulações dizendo que ele irá oferecer uma proposta de casamento para você. Isso é verdade? Meu Deus, a fofoca tinha sido mais precisa do que esperava. E isso parecia ter agitado o Sr. Lennard. Ela não devia se sentir surpreendida com os parentes de Ian que podem estar preocupados com o fato de Ian se casar com uma mulher abaixo deles em posição social, conexões familiares e riqueza, mas isso a irritava do mesmo jeito. Ela levantou seu queixo altivamente. — Você não espera que eu saiba o que seu sobrinho ‘está prestes a’ fazer, Senhor. Não leio mentes. O homem a considerou gravemente. – O que é uma pena, Srta. Taylor, porque se você pudesse, saberia que ele não é o tipo de homem com que uma respeitável mulher deveria se casar. Ela olhou para ele. Ela tinha entendido tudo errado. O homem queria avisá-la para se afastar de Ian, não proteger Ian dela. Mas por quê? — Ele parece perfeitamente aceitável para mim. — Bem, se ele não mantivesse uma amante e nem mais segredos do que a tumba de uma múmia. — Isso é porque você não o conhece. Meu sobrinho é um libertino e um canalha. Ele levou muitas mulheres à ruína, incluindo aquela recentemente mencionada no Gazette. — Você quer dizer sua antiga governanta, Srta. Greenaway? — Felicity perguntou, para ver sua reação. O que, de fato, o assustou. — Você conhece a identidade dela? — Claro. A raiva brilhou nas suas belas feições antes que ele a sufocasse com um sorriso falso. 119
— Acho que meu sobrinho disse que ela foi minha amante ou alguma mentira parecida. Como era curioso que o tio de Ian apressou-se em se defender sem saber do que tinha sido acusado ou se realmente tinha sido acusado de algo. ― Seu sobrinho não me disse nada sobre ela. Tenho minhas próprias fontes. — Espero que eles tenham te dado a história completa, sem inclinações em direção a meu sobrinho. Lá estava novamente, essa suposição. Ela manteve silêncio, levantando uma sobrancelha para parecer que ela sabia mais do que de fato sabia. Essa estratégia ajudou muitas vezes em suas investigações, especialmente quando a pessoa questionada era culpada de algo. E funcionou muito bem com o Sr. Lennard. Ele inclinou-se em direção dela como se fosse partilhar algo de grande importância. — Suas fontes também lhe disseram o verdadeiro motivo pelo qual meu sobrinho pegou Srta Greenaway sob sua proteção? — Talvez para irritar você? ― ela tentou adivinhar. Ele pareceu afrontado. — Não. Para certificar-se de que ela manteria o silêncio sobre seu real caráter. Ela estava rapidamente concluindo que não gostava desse homem. — Não me mantenha em suspense, Sr. Lennard. Posso ver que está ansioso para me informar sobre o que Srta. Greenaway está escondendo. Aparentemente seu tom sarcástico não foi suficiente para dissuadi-lo em fazer outras confidências. — Você deve entender que só estou te contando isso porque não posso ver a honra da minha família ofendida pelas atividades do meu sobrinho. — Vá em frente. — Duas semanas atrás, ela estaria pronta para acreditar em qualquer coisa que ele dissesse. Mas há duas semanas, ela tinha testemunhado em primeira mão a raia honrosa de Ian. Achou difícil conciliar a preocupação de Ian com seus sentimentos e sua reputação na última noite em Worthing Manor com as veladas implicações de seu tio. — Presumo que você saiba que meu sobrinho fugiu da Inglaterra com dezenove anos. — disse ele. Ela assentiu. — Fugiu porque seu pai o botou para fora depois do que ele fez com minha esposa. Ele pausou para gerar um efeito, e lutava para manter seu rosto inexpressivo. Mas era uma coisa boa que ele não pudesse ver seu interior, que estava se torcendo em nó por um pressentimento terrível. Talvez não tivesse sido uma boa ideia incentivar as confidências dele. Com o silêncio dela, ele continuou. — Minha esposa Cynthia era mais jovem que eu, e ela e Ian andavam sempre juntos. — Seu tom era severo. ― Nunca realmente se sabe o que tenta um jovem rapaz à loucura, mas parece que ele confundiu a bondade dela para com ele. Um dia, quando a encontrou sozinha, ele... bem, se aproveitou dela. De uma forma carnal, se você me entende. A acusação deslizou no ar, de forma súbita, feia e impossível de ignorar como o som de uma árvore caindo. ―Você não quer dizer... 120
— Sim, ele — ele parou, seus lábios apertados em uma linha fina. – Sinto muito. Embora muitos anos tenham se passado, ainda é difícil falar sobre isso. Mas para o seu bem, eu devo. Compondo-se, disse sem rodeios, — Meu sobrinho, Ian, forçou minha esposa. Com cada palavra, um peso terrível bateu no peito de Felicity, como as milhares de prensas de tinta na impressão de um papel. Poderia ser verdade? Poderia Ian ter estuprado sua própria tia? Aos dezenove anos? Os segredos de Ian prestaram alguma credibilidade nas palavras do homem e a mera possibilidade disso ser verdadeiro enojou Felicity. Ela pensou em todos os jovens herdeiros que tinha conhecido, aqueles que a acuaram nas sacadas ou que se esfregaram nela "acidentalmente". Esses lordes foram criados para acreditar que eram invencíveis, que tinham direito a tudo. E o comportamento arrogante deles com as mulheres era alimentado desde tão cedo que uma vez ela teve que se defender de um esnobe de catorze anos. Mas Ian não era como os lordes que ela tinha conhecido, jovens ou velhos. Ele era um homem honrado em muitos aspectos, e inclusive em seu comportamento no aspecto mulher… bem, exceto pela misteriosa Srta. Greenaway. Ela não podia acreditar que Ian violaria alguma mulher, especialmente nesse sentido. O homem tinha um controle de ferro. Sim, ele forçou um beijo nela, mas tinha uma razão para isso e não foi mais longe. Em outros encontros com ele, ele se mostrou mais contido que ela. Agora que o choque inicial da acusação do Sr. Lennard passou, ela quis saber qual a intenção dele em dizer essa indecência para ela. Se fosse tão difícil falar sobre isso, porque tinha feito com uma completa estranha? Por nobres razões, ele afirmou, de querer protegê-la? Ou algo menos nobre? — Se o que você diz é verdade, — ela finalmente disse, — Então Ian é claramente desprezível. Mas você tem certeza que ele forçou sua esposa? Ela contou isso para você? — Sim, ela logo veio para mim, cheia de vergonha e lágrimas. — E o que você fez sobre esse ultraje? — O que eu fiz? – Ele olhou de cenho franzido. — No mínimo, certamente você o desafiou, por conta desse insulto à sua esposa. — Meu sobrinho? Eu não poderia desafiá-lo! Seu pai nunca teria me perdoado! Mas você pode acusá-lo por trás das costas sem dar oportunidade para que ele se defender, ela pensou. Muito nobre. — Então foi quando Lorde St. Clair fugiu para o continente? — ela persistiu. Ele puxou nervosamente a gravata. — Sim. Eu o confrontei e exigi que fizesse reparações. E como covarde que era, escapuliu para o continente na calada da noite, com o rabo entre as pernas. Que estranho. O Duque de Wellington elogiou a bravura de Ian, enquanto seu tio o chamava de covarde. Se ela tivesse que apostar seu dinheiro em quem mentiu, seria no Sr. Lennard. — Deve ter sido difícil para sua esposa, ver seu algoz sair impune. Com um longo suspiro, ele abaixou os olhos para suas mãos. — A vergonha da violação de Ian a torturou, então ela tirou a própria vida, deixando a mim e nossos dois filhos sofrendo. E tudo porque não consegui evitar que meu sobrinho a violentasse. 121
— Essa é uma história muito criativa, Edgar. — veio uma voz feminina da porta, — e tão convincentemente apresentada também. Você compete comigo com sua habilidade de contar história. Quando Felicity girou a cabeça em direção à porta, Edgar Lennard pulou de sua cadeira. Parada no vão da porta estava o próprio Galeão das Fofocas, Lady Brumley. Felicity tinha ignorado a mulher toda a noite, sabendo que a Marquesa iria bombardeá-la com perguntas sobre o baile dos Worthings. Mas agora ela se sentiu insanamente contente por vê-la. Ouvir as sórdidas acusações de Edgar Lennard fazia sua pele arrepiar. No entanto, Sr. Lennard não parecia feliz de ver a mulher. — Isto não é uma de suas histórias, Margaret. Srta Taylor e eu estávamos tendo uma conversa privada. — Sim, mas na minha casa. — Lady Brumley movia-se pela sala, os brilhantes enfeites de seu turbante capturava a luz das velas. Um turbante de cetim ouro com âncoras de navio bordados nele circundavam sua cabeça como uma coroa, e dele se pendurava um enorme broche de navio de ouro que sacudia como se realmente balançasse no mar. — Você não foi convidado para meu baile, Edgar. Então, imagine minha surpresa quando vi você saindo do salão de baile depois da Srta Taylor. Eu só queria que essa aglomeração não tivesse me impedido juntar-me a vocês mais cedo. Os olhos da Marquesa eram poços de estanho que revelavam tanta malignidade que Felicity sentiu um frio em sua coluna vertebral. Em algum momento no passado, o honorável Edgar Lennard estupidamente fez da Marquesa sua inimiga. Ele cruzou os braços sobre o peito. — Eu ouvi os rumores que você já foi espalhando sobre meu sobrinho, que ele poderia propor a casamento para a Srta Taylor. Quando soube que ele e Srta Taylor estariam aqui, queria ver por mim mesmo se eram rumores verdadeiros. — E o que você decidiu? — Lady Brumley perguntou, suas feições como rocha. — A julgar pelo perceptível ciúme dele em relação a lorde Masefield e a forma como ele não conseguia tirar os olhos da Srta Taylor por metade da noite, diria que você estava certa. A inconveniência dessa conversa começou a irritar Felicity, especialmente quando ambas as partes pareciam alheios não só a ela, mas para os fatos de Ian ser seu amigo. Ela abriu a boca para falar isso, mas foi impedida pelas próximas palavras de Lady Brumley. — Assim você decidiu arruinar esse cortejo da mesma maneira que arruinou os dois outros dele, não é? É por isso que está dizendo mentiras para essa pobre garota? — Não são mentiras. — ele protestou. Dois lacaios fardados apareceram na porta por trás da Marquesa. Sem mesmo se virar, Lady Brumley apontou para Sr. Lennard. ― Esse é o homem. Tirem-no daqui. ― Enquanto os lacaios corriam para a sala, o cintilar das velas emprestou um brilho infernal ao sorriso da Lady Brumley. — Uma coisa que aprendi com você vinte e cinco anos atrás, Edgar, é não permitir gentália dentro de sua casa. Receio que terá que sair. ― Você não tem nenhum interesse em interferir nisso. ― Sr. Lennard protestou enquanto os lacaios o flanqueavam. — Não, mas minha interferência irrita você, e vivo para isso, como bem sabe.
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Os lacaios levaram-no para a porta, mas antes de deixar a sala ele olhou de volta para Felicity. — Não escute as histórias dessa harpia. Lembre-se do que eu disse. Meu sobrinho não é o que parece ser. — Tirem-no daqui! — Lady Brumley vociferou e Lennard foi arrastado para fora. Felicity ficou imóvel, sua mente e emoções num tumulto. Ela não podia acreditar nas estranhas acusações de Edgar Lennard, mas o fato de Lady Brumley não querer ouvi-las a fez pensar a respeito. O que estava acontecendo? Lady Brumley esperou até que nenhum som viesse do hall, em seguida, fechou a porta e caminhou para um aparador que levava uma garrafa e alguns copos. Com as mãos tremendo, ela derramou uma generosa quantidade de líquido roxo no copo e tomou um gole. — Você quer um pouco de vinho? — ela perguntou enquanto olhava o copo. — Não. — O que ela queria eram respostas. Lady Brumley a encarou, o copo apertado firmemente entre suas mãos. — Você não acreditou em todo esse disparate que Edgar jogou em você. — Eu não sei no que acreditar. — Ele está apenas tentando dissuadi-la de se casar com lorde St. Clair. Felicity suspirou. — Você e o Sr. Lennard trabalham com uma falsa suposição. Lorde St. Clair não tem qualquer intenção de se casar comigo. No caso de você não ter notado, ele esteve com meia dúzia de Srtas hoje à noite e nenhuma vez comigo. Lady Brumley riu. ― Vou para forca se isso o que ouvi na sua voz não for inveja. E eu não vi St Clair beijar qualquer dessas senhoras apaixonadamente na varanda, minha querida Srta. Taylor. Ou tirar proveito delas como você disse que ele fez. Felicity gemeu. Seu engano tinha retornado para assombrá-la. —Ele não fez. O que aconteceu nos Worthings foi um mero flerte. Ele e eu já esquecemos aquilo. — Sei. — Lady Brumley pousou seu copo. Caminhando para a porta, ela a abriu. — Bem, se você não está pensando em se casar com o homem, não deve ter se importado com a história de Edgar, e certamente não precisa ouvir minhas opiniões. Assim nós também podemos voltar para o salão de baile. Ela esperou ansiosamente e Felicity fez uma careta. A mulher era um Maquiavel de primeira grandeza! Se Felicity admitisse querer saber mais, iria confirmar seu interesse por Ian. Se não admitisse, deixaria essa oportunidade passar. Como poderia? As afirmações desagradáveis do Sr. Lennard a atormentaram, e precisava saber se havia alguma verdade nelas. O Galeão das Fofocas poderia provavelmente saber melhor do que ninguém. Felicity suspirou. – Não disse que não estava interessada. Ainda sou amiga de Ian. Quero dizer, Lorde St. Clair. Então, é claro que qualquer fofoca que poderia prejudicar a reputação dele me interesse. Com apenas a contração de seu lábio superior reconhecendo que tinha ganhado, a Marquesa fechou a porta mais uma vez. 123
— Um amigo. Hmm. Suponho que será assim agora. Sente-se Srta Taylor, vou lhe contar o que sei. Tentando não parecer tão ansiosa como se sentia, Felicity se empoleirou na borda de um sofá e dobrou suas mãos úmidas em seu colo. Lady Brumley tomou outro grande gole de vinho antes de sentar sua robusta forma em uma cadeira estofada perto do fogo. — Suponho que Edgar lhe disse a mesma história ridícula que ele está relatando a outras mulheres que St Clair cortejou... Que St. Clair estuprou Cynthia e ela se matou de vergonha, levando-o a fugir para o continente. Colocado tão direto, soou ridiculamente melodramático. — Sim. Sr. Lennard disse que a mulher ligada a Lorde St. Clair no jornal sabe a verdade, razão pela qual o Visconde levou-a sob sua proteção. Ele diz que Lorde St. Clair a arruinou. Lady Brumley acenou com a mão com desdém. — Tolices. Se alguém a arruinou, foi Edgar. A mulher a quem você se refere, cujo nome é Penelope Greenaway, não foi apenas a governanta das crianças de Edgar, mas também foi amante dele depois da morte de sua esposa. Ele a expulsou quando descobriu que ela engravidou e esperava seu bastardo. — Como você sabe disso? — Digamos apenas que eu faço disso meu trabalho, para saber tudo sobre Edgar Lennard e seus assuntos. O que é bastante fácil, uma vez que ele paga seus servos tão mal que eles não se importam em ganhar um guiné extra por simplesmente me dar informações. ― A risada baixa da Lady Brumley continha certa amargura. — Em todo caso, quando Edgar colocou Srta Greenaway para fora, eu a teria ajudado simplesmente para irritá-lo, mas Lorde St. Clair conseguiu fazer isso primeiro. Uma vez que ele tem tanto desprezo por seu tio como eu, ele viu vantagem em ajudar uma mulher que pode derrubar seu tio. Além disso, Ian tem um coração mole, e o filho dela é seu primo, apesar de tudo, bastardo ou não. — Você acha que essa é a única razão para ele ajudá-la? — Com certeza. Não importa o que afirma Edgar e o que um escritor fofoqueiro tenha escrito. ― Ela fez uma pausa para lançar um olhar de conhecimento para Felicity. ― Srta. Greenaway não é amante de Lorde St. Clair. Então por que Ian não tinha simplesmente dito isso? — Só porque ela foi amante do Sr. Lennard não significa necessariamente que ela não é de Lorde St. Clair agora, — Felicity comentou, decepcionada por Lady Brumley não dar mais alguma prova. — Se Lorde St. Clair odeia seu tio, seria uma vingança apropriada fazê-la sua amante, você não acha? — Pegar os restos do seu tio? Ele seria muito orgulhoso para fazer isso. Isso era um bom argumento, ela pensou, sentindo um pouco mais fácil. — Além disso, St Clair não iria manter uma amante enquanto ele está cortejando alguém. Os homens mantêm amantes regularmente, para ser justa, mas uma futura mãe em potencial franziria o olhar sobre isso. Então por que arriscar, especialmente quando Edgar parece tão decidido a impedir seu casamento? — Sim e por que Sr. Lennard está tão determinado em impedir o casamento dele? Eu não entendo. Lady Brumley batia os dedos com impaciência no braço de sua cadeira. 124
— Acho que pelos motivos habituais, se Ian morre sem filhos, Edgar ou seu filho vai herdar eventualmente. Eis uma razão tão boa quanto qualquer outra para Edgar afugentar as jovens mulheres de St Clair. Mas não vou deixá-lo assustar mais ninguém com suas mentiras sórdidas. — Você tem certeza de que são mentiras? — Felicity pediu esperançosamente. — Tão certo quanto qualquer um que conheça esses dois homem pode estar. Não é uma característica de St. Clair forçar uma mulher. Você sabe disso tanto quanto eu. Ela se sentiu entorpecida. — Mas você não tem nenhuma prova, — disse ela devidamente. A mulher mais velha hesitou, como se a debater alguma coisa. Então suspirou. — Deveria ter imaginado que você simplesmente não iria tomar minha palavra como verdade. Muito bem. Tenho algumas informações que recolhi com os servos de Edgar. Não é muito, mas acredito que seja o mais perto da verdade. Lady Brumley ajustou seu turbante, fazendo com que o pequeno broche de navio balançasse. — É verdade que Cynthia Lennard morreu pouco depois que St Clair foi embora rumo ao continente. Mas os servos de Lennard não ouviram nenhuma sugestão de que ela se matou depois de um estupro. Não, eles acreditam que sua morte resultou de um caso de amor correspondido. Seu coração se afundou. — Você quer dizer, entre Lorde St. Clair e Sra. Lennard? — Sim. É plausível, mesmo compreensível. Cynthia tinha vinte e cinco anos para os dezenove de St. Clair. Ela era bonita e muito ingênua. Edgar a deixou sem chão, mas acredito que ela se arrependeu depois. A idade dele ultrapassava a dela por alguns dezessete anos. Portanto, é compreensível que ela tenha caído de amores por seu jovem sobrinho, Ian, e o tenha levado para sua cama. Essa versão não agradou Felicity mais do que a outra. Embora exonerasse Ian de estupro, significava que ele tinha tido mesmo um caso de adultério com sua tia. O pensamento se retorcia em seu interior. A Marquesa não parecia ter notado a angústia de Felicity. — Os servos pensam que a culpa de Ian sobre o ilícito romance o levou a fugir para o continente. E Cynthia morreu definhando por ele. Ninguém sabe ao certo, no entanto. Todos os servos que trabalhavam lá há dez anos foram pagos ou se aposentaram para guardarem silêncio sobre o escândalo. O sangue de Felicity bateu fortemente em suas veias. Isso era quase como um conto tão traiçoeiro como o outro. Aos olhos da lei, era incesto, e certamente fazia Ian indiretamente responsável pela morte de sua tia. Também foi uma traição terrível para com o irmão de seu pai e até mesmo seu pai. Era difícil imaginar Ian trair a confiança de sua família. Mas se ele tivesse feito isso por amor? Seu coração se contorceu ao pensar sobre isso. Ela odiava admitir isso, mas a história da Lady Brumley explicava muito. Por isso, Ian tinha ido para o continente sem dizer aos seus amigos, porque foi inflexível sobre ela se manter fora de seus assuntos particulares, e porque não queria que ela conversasse com a Srta. Greenaway.
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Isso ainda podia explicar o porquê dele ter sido tão cuidadoso com ela naquela noite em seu quarto. Talvez não chegasse a seduzi-la porque se lembrou do que tinha acontecido na última vez que tinha feito amor com uma mulher respeitável. — Em todo caso, — Lady Brumley prosseguia, — nada disso pode ser verdade. E se for, está tudo no passado. Aconteceu quando St Clair era um rapaz imaturo. Mas seus seis anos no continente fez dele um homem, um homem muito bom se posso julgar. Aquele homem merece uma esposa, não importa o que Edgar pensa ou tenta fazer sobre isso. Felicity quase não a ouvia. Ela se levantou entorpecida, sua mente confusa — Devo retornar ao baile. Meus companheiros estarão procurando por mim. — Mas Srta. Taylor ... — Por favor, Lady Brumley, deixe-me ir. Eu preciso pensar em tudo isso. — Tudo bem. Apenas seja sensata sobre isso. Você sabe tão bem quanto eu que St. Clair não é nenhum violador das mulheres. Edgar está mentindo, certamente você pode ver isso. — Sim. — O problema era a ideia de um caso de adultério com sua tia, dele encontrando-se com sua própria tia e, em seguida fugindo, deixando a mulher a lamentar-se até a morte, enojava Felicity. Claro, como Lady Brumley disse, poderia ser tudo mentira. Considerando as fontes, como ela poderia saber? Especialmente quando ele não confiaria nela? Ela abriu a porta. Lady Brumley disse para ela, — Se ele propor casamento a você... — Ele não vai. ― Ela sussurrou e deixou a sala. Mesmo se ele oferecesse de novo, ela não podia aceitar. Este segredo sombrio em seu passado ainda o atormentava, qualquer um poderia ver isso. E, enquanto ele se recusava a desabafar sobre isso, isso estaria entre eles, uma besta feia surgindo sempre que ela tentasse chegar mais perto. Ela sempre iria querer perguntar se a Srta. Greenaway era sua amante ou se ele ainda amava Cynthia Lennard. Ela não poderia ser um dessas mulheres que fingiam não observar as infidelidades do marido. Ainda apesar dos rumores, especulações e mentiras prováveis, apesar dos segredos dele, o coração dela ainda pulava e seu sangue acelerava sempre que ele mirava aqueles negros olhos pecadores em sua direção. Maldito diabo sedutor dos infernos! Certamente teve uma vingança encantadora. Foi entregue nas mãos dela um pouco da fofoca mais incrível que ela já teve na vida, mas não só não queria escrever sobre ela, como nem queria pensar nela. Como ele ia rir se soubesse. Com alguns beijos e carícias, tinha tirado a fofoca do escritor de fofocas. E ela nunca mais seria a mesma.
Capítulo 14 126
A exposição de Madame Tussaud está na Strand Street. Aumentam as histórias de senhoras que têm desmaiado no quarto separado. Mas como isso seria possível? Algumas dessas senhoras têm maridos cuja aparência envergonharia um burro. Se essas senhoras não desmaiam ao ver seus maridos no quarto de dormir, não vejo porque uma ou duas máscaras da morte fariam isso.
Lorde X, The Evening Gazette 22 de dezembro de 1820
Até um homem cego não perderia os quatro pirralhos descendo da carruagem, Ian pensou. A algazarra deles superou o barulho na Strand Street. As carruagens se movendo com dificuldade por causa das molas com pouco óleo, os operários batendo na reforma que eles faziam numa casa maravilhosa ao longo do caminho, os vendedores gritando. Ele viu os terríveis Taylors fora da janela uma vez, um bando familiar que Felicity tentou colocar em ordem enquanto discutia com o cocheiro de aluguel, que desceu de seu lugar para apontar em direção a alguma coisa na carruagem. Com uma batida no teto, Ian mandou seu cocheiro ultrapassar a carruagem conforme combinaram. Uma segunda batida deixou a carruagem de St. Clair parada logo em frente aquela carruagem de aluguel. Ian colocou o chapéu e caminhou em direção a sua presa. Ele podia ouvir o protesto de Felicity enquanto se aproximava. ― Não vou pagar um Xelim pelos danos, te digo isso! – Envolvida num casaco preto de lã que já tinha visto dias melhores, ela apontava o dedo para pontuar cada frase. O encardido motorista fechou a porta, que não travou até que ele tivesse levantado o frágil painel numa polegada, forçando a porta no lugar. Em seguida, abriu-a novamente, deixando-a do jeito que estava enquanto enfrentava Felicity triunfante. — Você vê que está quebrada, não vê Srta.? — A única coisa que vejo é que está me enganando. Não discuto que está quebrada, a questão é quem quebrou. Foi antes de termos entrado! — Não, não foi! — O homem corpulento cruzou os braços sobre sua grande barriga. — Eu cuido muito bem da minha carruagem, e a porta estava fechando apropriadamente quando parei para você e seus irmãos. Foi um daqueles seus rapazes que quebrou a porta. — Isso é uma mentira! Provavelmente foi você mesmo que quebrou essa maldita coisa! — Estou avisando, Srta... Ian interveio rapidamente. ― Quanto irá custar para reparar os danos? O cocheiro virou-se, seus olhos brilhando enquanto avaliava o valor do corte de seu casaco e a finura de sua roupa. ― Bem, agora, senhor, isso depend... — O que você está fazendo aqui? ― O olhar desconfiado de Felicity foi do cocheiro dele parado a menos de 10 metros de distância, depois de volta para ele. Ian tirou o chapéu. 127
― Bom dia, Srta. Taylor. Estava no caminho para consultar-me com meu homem de negócios quando vi a comoção. Pensei que poderia parar e oferecer meus serviços. — Isso não é preciso. ― Ela disse empertigada ― Tenho a situação sob controle. — Sim, mas você e seus irmãos estão obviamente num passeio e odiaria vê-lo estragado. Estarei feliz em pagar pelos prejuízos eu mesmo, se você me permitir. — Não se atreva a pagar esse malandro! Não terei esse roubo recompensado, e ele ― ela apontou acusadoramente o dedo para o cocheiro, — está tentando nos enganar! — Agora veja aqui, Srta. Sovina, você não vai continuar mentindo sobre mim para esse cavalheiro! ― o cocheiro falou com hostilidade. Ian puxou Felicity de lado. Mantendo o olhar no irado cocheiro, ele murmurou. ― Meu Deus, não brigue com ele por uns poucos xelins. Não vale a pena. — Mas a porta estava quebrada antes de nós... — Tenho certeza que sim. E o que te importa? — É o princípio da coisa! Ele rangeu os dentes. ― O princípio das coisas vai, em breve, envolver você e seus irmãos numa briga. ― Meneando a cabeça, indicou dois homens descendo de suas carruagens atravessando a rua e saudando seu compatriota. Um fez careta e o outro se emplumou. Ambos pareciam incomodados. Quando Felicity ficou pálida, ele continuou em voz baixa. – É sua palavra contra a dele, e você é uma mulher com quatro garotos agitados a reboque. Isso não é hora nem lugar para sua maldita sede de justiça. Posso trucidá-los para você se quiser, mas essa não é uma lição que você queira dar aos seus pequenos, não é? Ela lançou um olhar para os trigêmeos, que permaneciam mudos, olhando com cautela do cocheiro para ela e Ian. Ela estremeceu. ― Não, suponho que não. — Então me deixe pagar pelos prejuízos. A não ser que insista em pagá-los você mesma. Ela corou. ― O cocheiro quer dois xelins e eu só trouxe comigo dinheiro suficiente para cobrir as despesas com a ida e volta do passeio. Então se você não se importar... — Não me importo nenhum pouco. — Mas é um empréstimo, ― ela se apressou em acrescentar. ― Vou reembolsá-lo mais tarde. — Tudo bem. De qualquer maneira essa questão seria discutida uma vez que ela concordasse em se casar com ele. Ainda assim, sua falta de dinheiro lhe parecia estranha. Ela trouxe menos do que dois xelins a mais com ela num passeio com quatro meninos? Ela estava preocupada com os batedores de carteira? Eles voltaram para onde o cocheiro deliberava com seus reforços zombeteiros. O homem encarou-o com uma postura mais agressiva, nem mesmo poupando um olhar a Felicity. 128
— Bem, senhor? A senhorita concordou em pagar? — Sim, dois xelins não? — Duas guinéus. Ele levantou uma sobrancelha ante a flagrante ganância do homem. — A senhora deve ter entendido mal. — Aproximando-se do cocheiro, ele se inclinou para examinar a porta quebrada e notou um pouco de ferrugem na dobradiça torcida. Ele olhou para cima. — Dois guinéus, hein? O cocheiro coçou sua axila, com uma pitada de incerteza em sua expressão. Seu amigo corpulento o cutucou. — Sim, senhor. Esse é o custo para consertar uma dobradiça nesses dias. Ian se endireitou. — Então, quem conserta sua carruagem está traindo você. Deixe-me fazer um favor para você. Leve sua carruagem para Wallace da Chandler Street, e diga-lhe que quero a porta inteira substituída por minha conta. Por dois guinéus, você deve pelo menos ter algo decente. ― Ele pegou seu cartão de visita e deu ao cocheiro. O homem pegou com relutância, depois empalideceu quando viu o nome no cartão. Com um olhar nervoso para seus amigos, ele murmurou, — Só quero a dobradiça reparada. — O que você desejar. Wallace vai cuidar disso para você. Justo o suficiente? — Nada mais justo, milorde. ― Ele olhou com desgosto para Felicity. ― Mas não vou voltar por ela como eu disse que faria. Ian sentiu a tensão de Felicity atrás dele e colocou uma mão sobre seus braços. ― Não será preciso. Eu a levarei junto com sua família para casa. Os músculos dela estavam tensos debaixo da mão dele e só relaxaram quando o cocheiro se afastou. Então, ela o encarou com sua típica impertinência. — Bem, bem. Parece que você entendeu o ‘princípio da coisa ' depois de tudo. Pelo menos quando é sobre seu dinheiro. Um sorriso surgia na boca dele. — Admito, não poderia manter a compostura pagando a um patife. Especialmente um que gosta de abandonar jovens mulheres. A consciência dele cintilou no olhar dela. Isso esquentou o ar gelado do inverno, tornando Ian instantaneamente feliz por ter vindo. ― Obrigada por sua ajuda, — ela disse suavemente. Então um turbilhão em movimento de braços e pernas e jovens ansiosos correram até eles com toda a delicadeza dos elefantes. Gritos de ― Meu deus do céu! ― e ―Você não é aquele homem do jornal? ― e ― Por que ele te chamou de milorde? ― saíram da boca dos trigêmeos enquanto eles ficavam em círculo ao redor de Ian, que se sentiu quase como um urso encurralado, cercado por criaturas com um terço de seu tamanho. Criaturas com casacos desgastados e mangas esfarrapadas. Como era estranho que sua irmã os vestisse tão mal. Seu olhar foi para ela. Pensando nisso, onde estava o elegante traje da moda que ela vestia nos Worthings? Hoje a roupa dela estava útil, mas ele não podia deixar de 129
reparar as bordas desgastadas de seu casado de lã e a desbotada cor de seu simples boné preto, que claramente passou muitos dias sob o sol. — Parem meninos, — Felicity disse severamente. – É rude todos vocês falarem ao mesmo tempo. Ele bruscamente se afastou das indagações sobre seu vestuário. ― Eles não estão me incomodando, Srta. Taylor, mas poderia ser melhor se fôssemos apresentados devidamente. ― Ian sorriu ao pivete mais próximo. ― Como você se chama, rapazinho? — Sou William. O garoto mal tinha acabado de falar quando o garoto perto dele o interrompeu. – Esse aqui é meu irmão Ansel e eu sou George. Mas todo mundo me chama de Georgie. E aquele ali é James. Ele é o mais velho. — Sei. ― Ele usou sua habilidade de observador para catalogar as características que identificavam os trigêmeos, registrando rapidamente, um sinal na pele de Ansel, a cicatriz no queixo de Georgie e a falta de um dente de William. ― É um prazer conhecer todos vocês. Eu sou... — O Visconde de St. Clair. ― James o cortou irritado. Quando Ian lançou-lhe um olhar interrogativo, o menino mais velho encolheu os ombros ossudos. — Eu perguntei a Sra. Box sobre você naquele dia em que veio a nossa casa. — Ele olhou desafiante. ― O dia que Lissy gritou com você. Pensei que talvez você fosse... Que você seja... — Entendo. ― Ian interrompeu. ― É bom que você tome conta de sua irmã. ― Ele lançou a Felicity um olhar significativo. ― Ela precisa de alguém que faça isso. Felicity revirou os olhos. ― Nós já prendemos sua senhoria por muito tempo, meninos. Tenho certeza que ele tem coisas mais importantes para fazer. Antes que ele pudesse protestar, Georgie se intrometeu. ― Ele pode nos acompanhar a exposição? Nervosamente alisando a gola de Georgie, Felicity disse: — Lorde St. Clair tem uma reunião e não tem tempo para gastar com a gente. — Minha reunião não é urgente, — disse ele. Quando ela o olhou, ele acrescentou: — E eu nunca vi a exibição de cera. Além disso, prometi que te levaria pra casa na minha carruagem. — Ele prometeu, eu ouvi. — James avaliava Ian com seus olhos verdes e afiados iguais ao de sua irmã. — E isso nos poupará meio xelim. Ian começou a se perguntar se as finanças dos Taylors estavam tão seguras quanto disseram para dele. O ansioso riso de Felicity só aumentou suas suspeitas. ― Não seja bobo James. Quem se importa com meio xelim!? ―Ela enfrentou Ian. ― Sinceramente Lorde St. Clair, não há necessidade de se preocupar. Tenho certeza que um dia conosco irá aborrecê-lo terrivelmente. — Não tanto quanto um dia com meu administrador, que considera contar figuras um grande entretenimento. Tenha pena de mim, e não me sentencie a uma manhã de aritmética. — Quando ela ainda hesitou, ele acrescentou, — Digo uma coisa. Deixe-me ir junto, e comprarei chá e tortas de carneiro para todos depois. 130
A desavergonhada promessa funcionou perfeitamente, fazendo os garotos clamarem por ele até Felicity suspirar. — Muito bem, mas você vai se arrepender. Esses quatro podem ser muito cansativos. — Tenho certeza que vou sobreviver. — Oh, sim. Ele planejava se entrosar tão bem com os meninos Taylor, que sua irmã seria forçada a reconsiderar sua proposta de casamento. Enquanto eles seis se dirigiam para a entrada do salão de exposição, Felicity puxou James de lado e cochichou algo em seu ouvido. Ele balançou a cabeça, em seguida, correu para frente pegando seus irmãos e sussurrando nos ouvidos deles. Era tudo muito misterioso e ele lutou para não rir. Então eles tinham segredos, não é? Felicity era uma tola por pensar que algumas palavras de advertência poderiam impedi-lo de achar uma saída secreta para seus irmãos. Mesmo os terríveis da casa Taylor não eram páreo para um homem que uma vez tinha soltado a língua do assessor sênior de Napoleão. Até o final do dia, ele saberia tudo. Então usaria isso para fazê-la casar-se com ele. Com toda certeza. Levou três horas e a percepção de que se aproximavam do fim do salão alugado para Felicity finalmente relaxar. Eles tinham ido bem. Os meninos não deixaram escapar nada sobre as finanças deles. Eles se comportaram como filhos de cavalheiro... Na maioria das vezes, de qualquer maneira. Tinha sido até agradável, apesar da intrusão de Ian. Ela observou suas companhias. Georgie, Ansel e William se ajoelharam diante de uma escultura de cera de um escocês, olhando sob o kilt para determinar se o que todos diziam era verdade. Ian e James ficaram na frente dela, lendo o cartaz que estava com uma versão impressionante de cera de Bonaparte. Olhou para os dois, pensou com um sorriso, os dois de pé e tão parecidos. Ambos ficaram com as mãos cruzadas atrás das costas, descansando o peso em um pé, mantendo o outro joelho levemente dobrado. Até se pareciam um pouco. Os cachos castanhos e ordenados de James se assemelhavam ao grosso cabelo negro de Ian, e ambos tendiam a os desalinharem, passando os dedos sobre eles quando agitados. Eles quase poderiam ser pai e filho. Ela engoliu seu desconforto, um desejo súbito descendo por sua barriga. Ian e um filho. O filho dela. A ideia a intrigou, a aqueceu. Como seria Ian como pai? A julgar pelo seu comportamento de hoje, seria maravilhoso. Ele tinha parado os impetuosos impulsos de Georgie com uma palavra, cedeu às fantasias de William, e acabou com os deploráveis mexericos de Ansel. Mas era o seu irmão James quem Ian tinha cativado, apesar das suspeitas iniciais do menino. A partir do momento que Ian descreveu em detalhes fascinantes os eventos da Revolução Francesa enquanto mantiveram-se em pé diante da escultura de Robespierre, ele segurando o livreto, dispondo a história e James na palma de sua mão. Ela observava quando Ian lia em voz alta uma frase em francês e depois traduzia para James. Seu francês era excelente, muito melhor do que o rudemente aprendido por ela com seu há muito esquecido tutor. Mas Ian tinha vivido no Continente, espionando para os britânicos ou algo assim, por muitos anos. O sóbrio pensamento caiu sobre ela. Não sabia o que ele tinha feito lá, porque ele não falaria sobre isso. Ou sobre qualquer outra coisa, o reservado miserável. As conversas de ontem à noite queimavam seu cérebro. Ela pensou toda a noite, desejando saber o quanto daquilo era verdade. Ian não poderia ter violentado ninguém, mas a sedução era algo viável. Ele era capaz de tanto egoísmo? Talvez não agora. Mas aos dezenove anos? Ela queria saber. Ela precisava saber. Talvez se ela simplesmente perguntasse... — Como você sabe francês tão bem? — James perguntou a Ian, de repente. 131
Ian olhou para a escultura de madeira, com uma expressão distante que ela logo reconheceu. — Passei seis anos no continente. James inclinou a cabeça. — Por quê? Abaixando o olhar para o garoto, Ian encolheu os ombros. – Lutei na guerra. Ela ainda estava absorvendo o fato de Ian ter realmente admitido suas atividades na guerra para seu irmão quando James respondeu. – Mas Lissy falou que você mentiu sobre isso. — James! — Ela pegou-o pelo ombro e o virou de frente para ela. — Não disse tal coisa! — Você escreveu no papel! ― James arregalou os olhos com dor. ― Lembro disso. Ela suspirou. – Ah, isso. Não sabia que você lia minha coluna. — Nós todos lemos ― James falou. ―Bem, não os trigêmeos, mas eu e Sra. Box e Joseph e o cozinheiro. Nós lemos todas as manhãs enquanto você e os garotos ainda estão dormindo. A revelação surpreendeu-a. Nunca imaginou que seu público incluía sua família. Ela sabia que a Sra. Box lia a coluna, o que era esperado. Mas seu irmão? Ela não sabia se ficava orgulhosa ou mortificada. Em todo caso, devia corrigi-lo. ― O que escrevi sobre Ian foi errado. Estava desinformada. Ian serviu seu país. — Ian? – James perguntou com toda a inocência de uma criança. Ela grunhiu. ― Lorde St. Clair. Ele não mentiu. Estava errada. James parecia confuso. ― Mas você nunca está errada. Todo mundo fala isso. ― Lorde X tem o jeito dele — eles dizem.― Ele sabe a verdade. Ela suspirou. Ela ia começar por onde, pelo amor de Deus? Quando foi irresponsável ao escrever aquela coluna, não tinha pensando em quão longe as consequências poderiam ir. — Sei o que todos dizem. ― Ela contou ao seu irmão. ― E tento escrever a verdade, mas cometo enganos. Ninguém é perfeito. Você não deve acreditar em tudo que lê ou ouve. Às vezes é exagerado ou até é mentira. Ela deveria ouvir seu próprio conselho e lidar com as afirmações de Lady Brumley com cautela, mais ainda com as do Sr. Lennard. Ela olhou Ian e o viu aguardando-a com uma expressão de vigia. Até que ela soubesse de todos os fatos, não faria suposições. Não agora. Ela voltou sua atenção para seu irmão. ― Agora peça desculpas para Lorde St. Clair. Não importa o que você pensa, é indelicado fazer menção às fofocas. 132
James enfrentou Ian, devidamente castigado. — Sinto muito, milorde. Falei sem pensar. — Está tudo bem. — Ian colocou a mão no ombro de James, mas seu olhar travado com o dela. — Eu não me importo quando as pessoas fazem perguntas, só quando elas tiram conclusões precipitadas. O que a incomodou. — Talvez elas tirem conclusões precipitadas, porque você não responder às suas perguntas. — Talvez essas perguntas digam respeito a questões privadas — rebateu. Ela levantou uma sobrancelha. — James, por que você não pega seus irmãos antes que eles derrubarem a escultura? Assim que ele saiu correndo, ela sorriu docemente para Ian. ― Seu problema é que você considera tudo como sendo questão privada. Suponho até que você proíbe sua governanta de falar sobre o que contém nos seus armários para estranhos. — Você não? Não, suponho que não, considerando a sua governanta. Sra. Box adora falar sobre você. Devo ter com ela uma longa conversa quando te levar pra casa? Ver se ela vai me dizer o que contém em seus armários. ― Sua voz baixa sussurrava através dela. ― Gostaria de saber se um deles contém aquele atraente pedacinho de renda que vestiu na casa de campo dos Worthings. Lentamente seu olhar recaiu sobre o corpo dela. Sua respiração presa na garganta. Meu Deus, de novo não, ela pensou enquanto um tumulto de sensações rugia através dela. Prazer feminino, expectativa, desejo... Para sua surpresa, os olhos dele pareciam um espelho das sensações que teve. Ele inclinou a cabeça para falar calorosamente. ― Ou melhor ainda, você poderia me mostrar mais tarde, quando estivermos sozinhos. Um arrepio delicioso passou ao longo de sua espinha. Ele ainda a queria. Apesar de todas as mulheres que cortejou essa semana, ele ainda a queria. dele.
Ela enrijeceu. Sim, e aquelas mulheres todas? Com um olhar arquejante, ela se afastou
— Não estaremos sozinhos mais tarde. Você esquece que têm várias mulheres para cortejar hoje à noite. Seu sorriso, escuro, doce e perigoso, enviou uma onda de clara excitação até os dedos dos pés dela. — Ah, mas eu desisti disso. Descobri que todas as mulheres que conheci e cortejei na semana passada não tem o necessário para ser minha esposa. — E o que é isso? — Elas não são você. Seu coração saltou no peito, como um pássaro preso dentro de uma caixa de vidro. Suas doces palavras ressoavam sobre o corpo dela e enviava uma necessidade quente encher suas veias. Georgie derrapou até eles, seguido de perto por seus outros irmãos. — Lissy, Lissy, o quarto separado é a próxima porta! Podemos entrar? Por favor? 133
Agradecida a Deus por seu tratante irmão, que dragou seus pensamentos sobre o homem sombriamente bonito atrás dela com suas insinuações tentadoras sobre mais tarde sozinhos. — Georgie, te disse ontem à noite que não poderia ir ao quarto separado porque não é para garotos de sua idade. — Mas Lissy, tenho quase doze anos — James disse — Praticamente um homem. James tinha um argumento, mas eles a fariam pagar com o inferno se o deixasse entrar sem os trigêmeos. ― Sinto muito James, acho melhor encerrarmos nossa excursão aqui. — Aahh, Lissy. – Georgie chorou em franca decepção. ― Por que não podemos ir? Ian falou. ― Sim, porque não, srta Taylor? Não me importo de levar os garotos até lá se você mesma não deseja entrar. Seu flerte frustrado fez seu temperamento incendiar ante a intrusão dele em sua autoridade. — Não é comigo com que estou preocupada. — disse ela com firmeza. — É com os meninos. Essas coisas lhe dão pesadelos. Todo mundo diz que o quarto separado é sanguinário. Com malícia brilhando em seus olhos, Ian colocou as mãos sobre os ombros de Georgie. — Mas os meninos têm uma necessidade permanente de se levarem a sanguinolência. Eu, certamente sim. — Aos seis anos de idade? Eles são muito jovens, te digo. — Talvez você devesse deixá-los julgar isso. — Ian disse. Ele achava que isso era uma grande piada! Deixar que garotos de seis anos de idade decidissem com o que poderiam lidar, realmente! Meninos de seis anos pensam que podem voar, pelo amor de Deus. Só um mês atrás, Georgie tinha planejado saltar da varanda armado com asas que tinha feito com estanho. Graças a Deus pela tagarelice de Ansel. — Posso falar com você em particular, Lorde St. Clair? — ela disse friamente. — Certamente. — Ele a seguiu até um local a poucos passos de seus irmãos. Ela lutou para manter seu tom razoável. — Sei que tivemos nossas diferenças, mas você não deve deixar que isso influencie no seu julgamento. James é velho o suficiente, mas os trigêmeos são só bebês. Eles têm selvagens imaginações e se assustam facilmente. Ele olhou para ela com desconfiança. ― Os terríveis da casa Taylor, como sua governanta os chama? Confie em mim, os rapazes são mais resistentes do que você pensa. Eles gostam de um bom susto. Seu olhar se estreitou. — Diga-me, sua mãe teria deixado você ver essas coisas? — Não, mas ela não teria me deixado ir numa exposição de ceras mesmo. Meu pai não teria aprovado. 134
— Posso ver por que, se você queria estudar esculturas de corpos ensanguentados na tenra idade de seis anos. Um músculo saltou em sua mandíbula. ― Mesmo com seis ou dezesseis anos, não teriam me deixar ir. Não estava autorizado a participar de feiras ou jogos ou — ele parou. ― Meu pai considerava tais entretenimentos improdutivos. Ele era... Um cara rígido. A admissão a deixou atordoada. Foi a primeira vez que ele tinha falado de seu passado ou mesmo mencionou seus pais. Ela se alegrou com essa evidência de que ele poderia fazê-lo. Ela até simpatizava com seus sentimentos. Mas ele estava errado sobre os meninos. — Concordo que as crianças precisem de entretenimento, mas... — Eu te digo uma coisa. Entre conosco e se você considerar inadequado, nós voltamos na hora. Eu juro. Você, de todas as pessoas, sabe como os jornais exageram para vender ingressos. Provavelmente só contém velhos ossos de cães e uma cera ou outra. Ele tinha um bom argumento. Ela olhou de Ian para seus ansiosos irmãos. — Muito bem, vamos dar uma olhada rápida, mas se eu vir só um dedo esmagado exibido nessa exposição, irei... Eles já estavam correndo para o extremo oposto do salão, onde uma porta coberta por uma cortina preta os esperava. Próximo a ele um grande sinal de alerta se lia em letras garrafais, seguido por palavras menores, sem dúvida, ressaltando as propriedades frágeis que a sala continha. O mal-estar tomou conta dela. Se Ian estivesse errado... Só rezava para que não estivesse.
Capítulo 15 Apesar de ser imprudente fazer com que uma criança coma imoderadamente, o que constitui imoderadamente? Um pai considera uma torta extra de maçã uma mera concessão à fome, enquanto o outro acredita que é a estrada para perdição. É de se admirar que as crianças cresçam confusas?
Lorde X, The Evening Gazette. 22 de dezembro de 1820
― Ela está zangada com a gente, não está? ― Georgie sussurou para Ian na carruagem, tão alto que até mesmo os transeuntes provavelmente puderam ouvi-lo, Ian pensou. Certamente todos ali de dentro ouviram, incluindo a imóvel mulher que estava sentada ao lado do jovem pirralho. Ele não podia ver a reação dela com a pouca luz dos escassos postes. Em seguida, um fio de luz atravessou o rosto dela para o pintar em prata e realçar seu olhar fixo. A respiração dele ficou presa na garganta. Ele nunca a tinha visto com olhar tão desamparado. 135
Ele se mexeu no banco que compartilhava com James e William. Normalmente sua carruagem era espaçosa, mas estava apertada e quente com seis corpos espremidos nele. ― Ela não está brava com você. ― Ian não se preocupou em diminuir o tom de voz. ― Ela está brava comigo. Felicity o ignorou. ― Por que? ―Georgie perguntou. ―Ela acha que foi errado eu levar todos vocês para o quarto separado. Os meninos começaram a tranquilizá-lo de que não foi errado, que todos passaram por bons momentos. Então Felicity falou: ― Eu não estou com raiva de qualquer um de vocês, a menos se falarem de mim como se não estivesse aqui. ― Seu olhar passou por todos eles. ― Eu estou com raiva de mim mesma. Deixei vocês, crianças, entrarem naquele lugar terrível quando eu deveria ter sido firme. Ian sufocou um a maldição. Sim, ter sido firme contra ele. E se ela não estava com raiva, por que a fumaça de sua desaprovação enchia o ar da carruagem? Droga, como poderia ter adivinhado que os malandros iriam se dispersar assim que contorceram seus corpos para dentro do quarto separado? Como poderia saber o que tinha lá dentro? Tudo bem, então eles encontraram três cabeças de cera empaladas em altos postes. Figuras de ceras de criminosos revestiam as paredes carregando machados, espadas ensanguentados, era sangue em tudo. Manchas de sangue em cera nos membros cortados de suas vítimas e a cera de sangue pingava da lâmina da guilhotina no extremo da sala. Era culpa dele que Madame Tussaud aparentemente possuia um tonel interminável de cera vermelha? E uma queda pelo drama? Aparentemente sim, a julgar pela maneira que Felicity tinha olhado para ele e em seguida invadindo o quarto para capturar cada menino pelo pescoço e guiá-los em direção a entrada. Já era tarde quando isso aconteceu. No momento que ela pegou Georgie, os garotos já tinham sido expostos a uns bons quinze minutos de horror no quarto separado. Assim tinha começado o exílio de Ian das afeições de Felicity. Ela falava com ele apenas em monossílabos. Ela mal tocou na ceia de carne de carneiro, tortas de maçã e chá em um restaurante popular, embora os meninos tenham atacaram a comida com gosto. Agora estava sentada como uma das estátuas amaldiçoadas de Madame, o mais longe possível dele. Tudo tinha ido tão bem até agora. Não podia acreditar que tinha arruinado seus planos para a noite com uma atitude tão descuidada. James falou ao lado de Ian. ― Bem, você não deveria estar com raiva de mim, Lissy. Eu sou velho o suficiente para ir ao quarto separado, se eu quiser. Não sou mais uma criança. Ian sufocou um gemido quando Felicity se encolheu. Maravilha. Por que James teve que escolher este momento inoportuno para afirmar independência a sua irmã? James continuou em tom de voz desigual que amplamente ilustrava sua juventude. ―Não é como se você fosse nossa mãe ou qualquer coisa. Se eu não tivesse sido forçado a deixar a Academia de Islington, poderia ter ido por conta própria à exposição, você sabe. E então ninguém teria evitado que eu fosse ver o quarto separado.
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Com a menção da Academia de Islington, um silêncio tão pesado como a neve do inverno deste ano caiu sobre a carruagem. Mesmo os trigêmeos pararam de se remexer. Ian olhou Felicity, cujos olhos se arregalaram com alarme. Ele se virou para olhar fixamente em James. ― Por que você foi forçado a deixar a Academia de Islington? Você é um rapaz brilhante e bem-educado. Certamente eles não teriam nenhuma razão para te expulsar de lá. O pânico fez o menino se estremecer sob o assento. ― Bem, eu... ― Você o entendeu mal, Ian, — Felicity interrompeu. ―Ele não deixou a academia. Está simplesmente em casa, de férias. ― Sim, é is-isso. ― James adicionou, tropeçando sobre as palavras. ― Para o natal. O irmão mentia tão mal como sua irmã. Ian olhou para baixo ao rapaz sem barba que defendia sua família de forma tão transparente. ― Você sabe que não é correto contar histórias, James. Quero saber a verdade. Você deixou a Academia porque sua irmã precisa de dinheiro? James atirou a sua irmã um olhar de ajuda. — Lissy... ― Tudo bem James, ― o lampião pegou a expressão fechada de Felicity; ― Realmente, Lorde St. Clair, não é necessário atormentar o pobre coitado. Se você quiser saber de alguma coisa, me pergunte. ― Tudo bem. Você precisa de dinheiro? ― Ele cruzou os braços sobre o peito. ― Se você não me contar, vou descobrir a verdade de qualquer maneira. Ela olhou para fora da janela, os dedos segurando sua bolsinha para protegê-la contra um ladrão. ― Nós não precisamos… é que... neste momento estamos sem fundos, porque estamos esperando a herança de papai ser resolvida. Mas assim que o dinheiro vier para nós... ― Ser resolvida? Mas ele está morto há mais de um ano! ―Sim, é alguma confusão jurídica. Os advogados vão resolver o problema. Entretanto, minha coluna nos sustenta. Ele bufou. Como se aquilo pudesse sustentar uma casa grande como a deles. ― Talvez você precise de alguém para intervir em seu nome e acelerar o processo. Eu poderia falar com o homem de confiança de seu pai. ― Não! Não tem nenhum direito de interferir. Estamos muito bem, garanto a você. ―Mas Lissy... ―James começou. ― Estamos bem ― ela rangeu, lançando a seu irmão um olhar de aviso. ―Estou certa que o dinheiro virá a qualquer dia e James voltará para a Academy de Islington. ― Muito bem. Faça como quiser. ― Ele largou o assunto. Não tinha sentido pertubá-la ainda mais quando algumas palavras com a Sra Box iria lhe dizer tudo o que precisava saber. Ela mexia com a roupa de Georgie, arrancando uma folha de mangueira de seu despenteado cabelo até que ele resmungou. A única coisa que não fazia era olhar para Ian. Tinha mais ali do que admitia. Ele pretendia ir a fundo nisso essa noite, mas como conseguiria um convite para entrar se ela estava tão apreensiva? 137
Minutos mais tarde ele conseguiu sua resposta quando algo caiu sobre suas pernas. Ele olhou para baixo para encontrar William caído de sono, sua cabeça aninhada confortavelmente no colo de Ian. Pobre rapaz, devia estar próximo de sua hora de dormir. Uma ideia atingiu Ian repentinamente. ― William adormeceu? ―Felicity perguntou, inclinando-se frente. ― Quer que eu o tire de você? ― Não, ele está bem onde está. ― Ian manteve sua voz baixa, não querendo despertar seu pequeno bilhete de entrada para a casa dos Taylor. ―Acho que foi um dia longo e cansativo para ele. ― Eu lhe disse que seria. ―Você também me disse que seria entediante, mas foi tudo menos isso. Um pequeno sorriso rachou sua reserva. ―Duvido que qualquer um pudesse achar o quarto separado entediante. Terrível, talvez, mas não entediante. ― O que ‘terrível’ quer dizer? ― Georgie perguntou. ― Significa que todo aquele sangue horrorizou sua irmã, ― Ian respondeu antes que ela pudesse. ― Não era sangue de verdade, Lissy. ― Georgie bateu no joelho de sua irmã tranquilizando. ― Era apenas cera. Não devia ter se assustado com ela. Ian não podia ajudar, ele riu, embora suavemente para não despertar William. Logo ela juntou-se a ele. O som de seus sorrisos silenciosos aqueceu seu coração e o fez ansiar por restabelecer a proximidade que eles tiveram anteriormente. Quando os sorrisos acabaram, ele limpou sua garganta. ― Me desculpe pela exposição. Mesmo que não tivesse concordado com seus motivos por recusar-se a levá-los ao quarto separado, não deveria ter pressionado você. Ela reconheceu suas desculpas com um sorriso irônico. ― Está tudo bem. Você não poderia ter adivinhado como aquilo seria. — Ela olhou para baixo, vendo Georgie. ― Ouso dizer que esse pequeno tratante teria encontrado alguma forma de entrar lá de qualquer jeito, com permissão ou não. ― Provavelmente, ― disse Ian, sentindo-se um pouco melhor sobre a tarde. O sociável silêncio que se seguiu foi estranhamente reconfortante. Quem teria pensado que a viagem numa carruagem junto com três diabinhos, um intelectual em construção e a empertigada irmã deles poderia ser tão agradável? Ele não esteve entre crianças há anos, não desde sua juventude, quando passou tempo com seus jovens primos. Para sua surpresa, percebeu que sentia falta disso. A carruagem estremeceu num impasse e ele olhou para fora para ver as luzes brilhantes iluminando a entrada gótica da casa dos Taylors. A porta foi aberta e os meninos saltaram, tombando-se estranhamente. Com a ajuda do cocheiro, Felicity desembarcou e se virou para pegar William. Ian a afastou com a mão. ― Eu o carrego. ― Odeio incomodá-lo ― ela protestou. ― O quarto das crianças é dois lances acima. ― Não me importo e além disso, você tem que cuidar dos outros. 138
De seu grato sorriso, supôs que ela não estava ansiosa para levar uma criança de vinte quilos ou mais pelas escadas. Ela ficou de lado enquanto o cocheiro pegava William para Ian descer. Quando a criança foi mais uma vez para os braços de Ian, soltou um pequeno suspiro e então se aconchegou contra o peito de Ian com uma expressão sonolenta de confiança. Ian olhava para baixo, admirando o punho do pequeno contra sua gravata e as suaves bochechas manchadas com restos de torta de maçã. Uma onda de ternura o fez estreitar mais o menino em seus braços. Um dia, seria seu filho a segurar nos braços. Seu e de Felicity. O pensamento o acertou como um turbilhão. Depois de hoje, não tinha dúvida que ela seria uma boa mãe. Mas ele poderia ser um bom pai? Queria a chance de descobrir. Avançando sobre os degraus exteriores, entrou na casa. ― Para onde vou? ― perguntou a Felicity, que estava entregando seu casaco ao lacaio, uma criatura magra lamentavelmente insuficiente para lidar com as exigências físicas de sua função. Este era o homem que Felicity tinha mencionado quando o ameaçou jogá-lo na rua da última vez que esteve lá? O pensamento o fez sorrir. ― Siga-me ― ela disse, levantando um candelabro e indo para a escadaria principal. Consegui violar a Fortaleza, pensou com satisfação quando a maciça porta de carvalho se fechou por trás deles. Mudando William de braço, tirou seu casaco para dar ao lacaio. Agora tudo o que tinha que fazer era ficar lá dentro por tempo suficiente para progredir com Felicity. Sra. Box apressou-se para o hall. ― Bem, boa noite, milorde. ― A última vez que ele tinha visto a mulher, Felicity estava brigando com ele. Ainda assim, a governanta não mostrou nenhuma surpresa quando o viu carregando uma de suas responsabilidades no braço. A cumprimentou e ela sorriu para ele. Teve apenas tempo para registrar que ela ainda gostava dele antes que fosse direto para os meninos os enxotando para subir as escadas. ― Já passou muito tempo da hora de dormir, rapazes. Venham e não me dê nenhum trabalho agora. Enquanto eles subiram, James relatou à Sra. Box os acontecimentos do dia. Quando o menino falou de como Ian tinha comprado o jantar e os trazido em casa com sua carruagem, Sra. Box disse, ― Isso foi cortês de sua senhoria. ― Por impulso, ele piscou para ela. Quando ela piscou de volta, ele sorriu. Bem, bem, ele tinha um aliado. Bom, precisava de toda a ajuda que poderia arranjar para ficar um tempo sozinho com Felicity sem as crianças. Especialmente quando Felicity parecia excessivamente ansiosa para se livrar dele. Ficando bem em frente dele, corria escada acima. Enquanto estudava sua silhueta, ereta envolta num vestido de lã e fechada por uma longa linha de botões de pérola, sua mente se entregou a pensamentos agradáveis. Teria que desfazer todos esses botões pouco a pouco e puxar para baixo o vestido desgastado para encontrar sua fina chemise interior. Ela não usava nenhum espartilho, tinha bastante certeza. A chemise que iria dispensar de uma vez para que então pudesse ver seus finos ombros e beijar do alto de suas costas até seu adorável traseiro. Ele ficou duro só de pensar. Ah, sim, ele faria tudo isso e muito mais, talvez ainda essa noite. Uma vez que seus irmãos fossem postos para dormir, ela poderia aceitar sua proposta ou ele poderia seduzi-la 139
para aceitá-la. Mas de uma forma ou outra, iria terminar com isso antes de deixar a casa dos Taylors. Não devia ser demasiado difícil convencê-la a se casar com ele nesse momento. O amplo apoio para sua causa estava ao redor dele. O corrimão rangia debaixo de sua mão, mostrando necessidade de reparo. No primeiro andar, uma das pinturas que tinham pendurado na parede perto do escritório, em sua última visita, não estava mais lá, ficando apenas uma parte mais escura do papel de parede ali para marcar sua passagem. Eles tinham decorado a casa com pedaços de hera e azevinho para a temporada, mas mesmo eles não podiam esconder a condição das gastas cortinas ou a pintura que estava descascando das molduras. Ele apostaria seu espólio que a diminuição das finanças dos Taylors tinha começado muito antes da morte de seu pai. Na verdade, questionou o tamanho de sua herança. E se eles precisavam de dinheiro, eles precisavam dele. O que não seria sua primeira escolha para uma arma — ele usaria um pouco sedução — mas realmente contaria com isso, se fosse necessário. Em primeiro lugar, no entanto, devia consegui-la sozinho. James se obrigou a ir para seu próprio quarto quando eles deixaram o primeiro andar. Agora eram apenas os trigêmeos que os acompanhavam de longe, uma tarefa fácil com um deles já dormindo e com os outros quase caindo profundamente de sono. Tão logo eles alcançaram o piso superior, Felicity conduziu-o a um quarto com três camas idênticas. Ela correu para afastar os cobertores. ― Deixe-o aqui, por favor. Depois que ele colocou seu quente pacote na cama, ela olhou para Ian, parecendo de repente sem jeito. ― Obrigada, Lorde St. Clair. Apreciei sua ajuda. Agradeço o jantar e a carona. Nós todos nos divertimos. Ela lançou um rápido olhar para Georgie e Ansel. ― Diga ao sua senhoria obrigado e boa noite. Eles obedeceram ao mesmo tempo, com Georgie dando dicas gerais sobre futuros encontros. No entanto, uma palavra de sua irmã o silenciou. ― Bem, então... ― ela disse, ― devo colocar os meninos na cama agora, assim a Sra. Box irá lhe mostrar a saída. Foi um dia lindo, mas tenho certeza que você está ansioso para ir para casa. ― Não mesmo. Vou esperar por você no andar de baixo. Um olhar de pânico cruzou o rosto dela. ― Não é necessário. Levará algum tempo para eu colocá-los na cama. Eles devem ter seus rostos lavados, e ... ― Eu faço tudo isso. ― A Sra. Box se movimentava em direção as outras camas com grande eficiência. ― Você pode descer as escadas com sua senhoria. Afinal, depois de tudo que ele fez por você e pelos meninos hoje, o mínimo que você pode oferecer é um pouco daquele bom vinho tinto antes dele encarar o frio lá de fora. ― Ela piscou para ele novamente. – Isso não seria agradável, Lorde St. Clair? Ele sorriu. ― Oh, sim. Um vinho seria perfeito. ― Vinho e Felicity. Não tão boa combinação quanto brandy e Felicity, mas seria um bom começo. Mais tarde, eles poderiam ter um brandy… e na parte da manhã um café da manhã. Duvidava que a Sra. Box intensionava esse resultado, mas para ele isso ficava mais atraente a cada minuto. 140
― Vou ver se temos algum vinho. ― Felicity disse sem se comprometer, evitando seu olhar. Quando eles alcançaram o corredor e ela fechou a porta do quarto, começou uma conversa para evitar qualquer tentativa de apressá-lo porta a fora. ― Essa é uma bela casa. Seu pai a projetou? ― Sim. ― Ela não disse nada além, se apressando para as escadas. Ele a seguiu. ― Eu pensei um pouco. O mesmo desenho do grifo está na aldrava da casa de campo dos Worthings. Seu pai devia gostava de grifos. ― Sim. ― Novamente ela não disse mais nada, porém levantou suas saias e desceu as escadas num ritmo surpreendente. Aproximando-se dela, ele pegou seu braço fazendo-a parar de andar. ― Felicity, nós precisamos conversar. ― Não, você deve ir embora. Você deve... Qualquer protesto que estava prestes a fazer foi interrompido quando um grito de criança rompeu a noite.
Capítulo 16
Mais recente esforço poético de Lorde Byron diz respeito ao Don Juan, o amante legendário. Uma obra que certamente irá iluminar a fama de Byron, pois todos sabem que os amantes espanhóis são os mais ardentes.
Lorde X, The Evening Gazette, 22 de dezembro de 1820
O-o monstro tinha t-três cabeças, William estava chorando no ombro da Sra. Box quando Felicity e Ian correram para o quarto, e um grande b-braço vermelho. E cortava com um machado e ...e ... Seu rosto se contraiu quando foi invadido com um gemido baixo. O som triste perfurou o coração de Felicity.
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Oh, meu querido, ela exclamou, correndo para sua cama. Ela acenou para Sra. Box a distância e em segundos estava embalando o menino contra seu peito. Está tudo bem, Lissy está aqui agora para cuidar de você o monstro não pode te machucar. Pobre querido, Mrs. Box cacarejou. Tive um pesadelo, ele falou. Sim. Duras palavras de acusação subiram nos lábios de Felicity quando ela procurou Ian na sala escura, mas elas permaneceram por dizer quando o viu de pé rigidamente dentro da porta, as mãos enfiadas em seus bolsos. Cada linha de suas características sombrias trazia as marcas de culpa. Encontrou o seu olhar com os olhos tão arrependidos, que não podia ficar com raiva. Além disso, era tão culpada quanto ele, por lhe permitir influenciar a sua decisão. Pelo menos ele não sabia o que poderia acontecer. Ela não tinha essa desculpa. I-ia me c-cortar em pedaços, William sussurrou. Foi chegando para... Shh... doce, você deve esquecer tudo sobre ele. Foi apenas um sonho. Felicity embalou a criança nos braços, enquanto cantava em seu ouvido. Está tudo bem. Eu vou te proteger. Sentiu os olhos de Ian sobre ela, lembrando-lhe que queria falar com ela em particular. Não esta noite, pensou, não quando suas emoções foram tão facilmente afetadas. Ela lançou a Sra. Box um sorriso amarelo. Eu estou com William agora. Sei que você tem muito a fazer, então você pode ir e mostrar a saída Lorde St. Clair. Sra. Box assentiu e se dirigiu para a porta. Não-o-o! William lamentou, afastando de Felicity para sacudir um braço para a porta. Você quer que a Sra. Box fique? Felicity perguntou. E-eu quero L-Lorde St. Clair, William balbuciou. Felicity gemeu. O homem tinha cativado seus irmãos órfãos tão facilmente como a tinha cativado. Vem cá, Ian, disse ela resignadamente, não se preocupando se alguém a ouvia usar seu nome de batismo. Parecendo obviamente perturbado, Ian olhou para onde os outros meninos estavam dormindo no colchão com um pequeno cobertor puxado até o queixo. Então, caminhou em sua direção. Eu não sei o que fazer, ele admitiu quando chegou à cama. Sente-se. Felicity assentiu para indicar o outro lado do colchão de penas. Apenas segure sua mão. Eu vou embora agora. Sra. Box começou, e antes que Felicity pudesse protestar a abandonara... Com um tremor estranho em sua barriga, Felicity viu a porta se fechar atrás da governanta. A fraca iluminação e o espaço confinado prestaram uma intimidade ao berçário que nunca tinha notado. Tendo Ian ajudando-a com William foi aconchegante e estranhamente satisfatório. Ian, no entanto, parecia desconfortável. Apertando a mão pálida William em sua própria mais escura, olhou-a como se fosse um cadeado do qual tinha perdido a chave. 142
voz.
Eu estou aqui, William, disse ele, surpreendendo-a com a suavidade de sua
Um tremor passou pelo pequeno corpo de William. Ele levantou o rosto coberto de lágrimas para Ian. Era um monstro. Eu sei, mas já passou. Não era real, Felicity acrescentou irritada por que Ian falou como se a criatura existisse. Foi real! William protestou com um muxoxo. Ele fixou o olhar sobre Ian. E ...e ele vai voltar e me ferir. Ela disparou-lhe um olhar de advertência, Ian disse: Não, não. Nós o assustamos para sempre, a Sra. Box, e sua irmã e eu. Sim, mas ele vai voltar, insistiu o garoto. Ele quer m-me cortar em pedaços. Como ele picou todas aquelas pessoas no Quarto Separado. Luz âmbar das velas revelou a expressão aflita de Ian. Ele arrepiou o cabelo de William. Eu te digo que vou ficar aqui por um tempo, e se o monstro voltar, vou dizer a ele para não incomodá-lo mais. Vou ser muito firme. O rosto do menino se iluminou. Você ...você quer dizer, como disse para o motorista desagradável não incomodar Lissy? E ele ouviu e foi embora? Sim, disse Ian solenemente. Exatamente como aquele. Você promete ficar até que ele venha? Você promete? Eu juro, disse Ian com uma ferocidade que aqueceu o coração de Felicity. Ela prendeu a respiração enquanto William contraiu seu rostinho pelo pensamento. Então, puxando a mão de Ian em seus braços, apertava-a contra seu peito e afundou contra o travesseiro. Tudo bem. O monstro vai ouvir você. Você é grande, e pode bater nele. Ela assistiu com perplexidade, então com inveja como William fechou os olhos, a mão de Ian mantida firmemente em seu coração como um brinquedo precioso. Dentro de instantes, pode ouvir o som abençoado da sua respiração e até mesmo ver suas características relaxarem no sono. Lágrimas escorreram de seus olhos. Quantas vezes garantiu que era apenas um sonho, mas foi incapaz de acalmar seus medos, ter que esperar até que se esgotasse de chorar antes de sair? Mas Ian entrou aqui com sua presença imponente e garantiu a calma, e William se sentiu seguro. Ela sabia que os meninos perderam o pai, sabia que muitas vezes eles correram para Joseph em busca de atenção porque o lacaio era o único homem na casa. Até agora ela não tinha percebido a extensão do seu desejo pela força especial de um homem. Seus pobres, soldados de chumbo órfãos. Ela enxugou as lágrimas, mas novamente seus olhos encheram de lágrimas, correndo por suas bochechas para escorrer pelo queixo e nos lençóis bagunçados. 143
Sinto muito, retumbou uma voz do outro lado da cama. Eu sinto muito, Felicity. Você estava certa, e eu errado. Nunca deveria tê-los levado para aquele quarto condenado. Sua garganta se apertou quando o viu escovar os cabelos para trás da testa de William num gesto paternal. Não é isso. Provavelmente sou uma tola, mas você o fez se sentir melhor quando eu não podia. Acho que estou com um pouco... de ciúmes. Você tem razão. A culpa é minha por ter sofrido em primeiro lugar. Eu deveria ser fuzilado. Palavras fortes de fato, vindo de um homem que geralmente escondia suas emoções. Seu coração torceu quando viu a dor endurecendo suas feições já ásperas. Ela tentou provocá-lo para reduzir seu humor sombrio. Tiros? Oh, não, inofensivo demais. Ela olhou para os outros meninos, que felizmente já estavam dormindo, então acrescentou: A punição que deve caber ao seu crime é a decapitação. É o que você precisa. Em seguida, poderíamos acrescentar a sua cabeça como participação nas exposições de Madame Tussaud. Seu olhar encontrou o dela, desconsolado e ainda mais ferido. Estou brincando, Ian. Você não deve se culpar. Você não podia saber como ele reagiria. Mas você sabia. Tenho vivido com ele toda a sua vida. Ela manteve o tom leve. Além disso, você provavelmente nunca teve pesadelos e não tinha ideia do que poderia trazê-los. Imagino que você fosse como Georgie, capaz de dormir com facilidade após as aventuras mais assustadoras. William tem uma imaginação ativa, “estou com medo." Ela deu uma risada trêmula. Ele tenta ser tão corajoso quanto Georgie, mas nunca consegue. Ian não disse nada por alguns instantes, fixando o seu olhar sobre o peito de William, que agora subia e descia no sono perfeitamente contente. Em seguida, um olhar cansado da vida passou pelo rosto de Ian. Eu nunca tive aventuras na infância, assustadoras ou não. Então nunca tive pesadelos. Felicity prendeu a respiração. Ansiosa para aproveitar o raro momento, exclamou: Nenhuma aventura! Todo menino tem aventuras. Certamente você deve ter corrido solto na mata, ou furtivamente afastado a isca de um urso, ou algo assim. Não. Ele respirou, com grande tremor. Era um filho muito obediente... Nunca tive permissão para ser qualquer outra coisa. Papai acreditava que os herdeiros devem ser preparados para as suas responsabilidades em uma idade jovem, o que significava não os estragando com frivolidades. Por isso não havia escapadas selvagens na floresta. Minhas manhãs e noites foram gastos com um tutor e minhas tardes com meu pai, que me levou a fazenda e me fez memorizar todos os nomes dos inquilinos e como tudo funcionava. Que maneira terrível de passar a infância. Ela nunca tinha considerado esse aspecto de ser um grande senhor, mas com uma extensa propriedade provavelmente viria extensivos deveres. É por isso que todos os cavalheiros ficam tão selvagens quando vêm para Londres? Porque seus pais são duros feitores? 144
Não pelo que me disse Jordan. Meu pai era o único. Suponho que eu deveria ser grato por isso, já que sua "preparação" tem sido útil na minha gestão de Chesterley. Mas de vez em quando... — Ele parou. De vez em quando, você teria gostado de uma aventura ou duas. Ele conseguiu dar um sorriso. Pareço uma criança mimada. Ou um homem que nunca chegou a ser qualquer tipo de criança em tudo. Seu olhar se encontrou com o dela e se deteve. Por esse breve momento, ela leu tanto desejo nele que se maravilhou por não ter visto isso antes. Então ele fechou sua expressão e desviou o olhar. Provou-se vantajosa. Permitiu-me suportar ...acontecimentos mais tarde com mais facilidade. E sua mãe? Felicity perguntou baixinho. Ela concordava com a filosofia de seu pai? Ele ficou em silêncio por tanto tempo que começou a pensar que não responderia. Então, ele suspirou. Quem sabe? Ela nunca disse. Ela o temia. Eles se casaram porque meu pai precisava de sua fortuna para pagar as dívidas do meu avô. Foi arranjado entre ele e sua família na Espanha. Ela tinha pavor de meu pai e deixou-o governar sua vida e a minha até o dia em que morreu. Um bolo se formou em sua garganta com o pensamento de Ian como uma criança, sendo alimentado com a papa do dever, com pouco amor para adoçá-la. Quando ela morreu? Como morreu? Por que tantas perguntas? Ele respondeu com uma sobrancelha arqueada. Mais importante e útil para sua coluna? Ela ignorou a farpa. Não, certamente. Estou muito... cuidadosa sobre a minha munição estes dias. Jurei a St. Clair e pela família inteiramente. Você vê, o chefe da família é um desgraçado arrogante que causa problemas para mim toda vez que escrevo sobre ele. Vejo que você se lembra, alertou, mas estava sorrindo agora. Então? Vai-me dizer sobre a morte da sua mãe? Ele encolheu os ombros. Não é nenhum grande segredo. Uma epidemia de varíola atingiu uma cidade vizinha, quando eu estava com dezessete anos. Papai não acreditava em inoculações, pensou que poderia causar a doença em vez de impedi-lo, mas eu tinha ouvido falar da vacina de Jenner2 na escola, então consultei o nosso médico local. Com seus conselhos, fui atrás, pelas costas de meu pai, para que todos na propriedade fossem vacinados. Ela não conseguia pensar em um único Lorde de dezessete anos, que poderia tomar tal iniciativa. Que coisa incrível Ian tinha feito . Sem dúvida, ele salvou centenas de vidas com sua ação.
2
Edward Jenner (Berkeley, 17 de maio de 1749 - Berkeley, 26 de janeiro de 1823) era um naturalista e médico britânico que clinicava em Berkeley - Gloucestershire, conhecido pela invenção da vacina da varíola. A primeira imunização deste tipo na história do ocidente.
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Infelizmente, minha mãe se recusou a ir contra a vontade de papai, como de costume. Ela morreu da doença. Ele olhou para cima da cama, com os olhos brilhando como ônix quebrado à luz das velas. E ele me culpou, o bode velho teimoso. Disse que eu tinha trazido a varíola à propriedade com a vacinação. Que injusto! O coração dela deu uma guinada no pensamento de um jovem Ian forçado a assumir a culpa pela morte de sua mãe. Ele encolheu os ombros. Papai tinha ideias firmes sobre o certo e o errado, e eu tinha cometido um de seus pecados capitais, agindo sem o seu consentimento. Ele nunca me perdoou por isso. É por isso que fugiu para o continente? Ela sussurrou sem pensar. Para escapar de seu pai e sua injustiça? Era como se uma cortina caísse sobre seu rosto. Algo assim. Antes que ela pudesse comentar, ele olhou para seu irmão, e disse secamente: Você acha que é seguro deixar William agora? Um aperto de ferro oprimiu seu peito. Ela deveria ter sabido que Ian não iria responder a essa pergunta. Mesmo depois de todo o tempo que passaram juntos, ele não confiava nela. Felicity? Ele a chamou. Será que o menino ficará bem sozinho? Ela endireitou os ombros com um suspiro. Sim, eu acho que sim. Ele nunca tem mais de um pesadelo. Ele soltou a mão de William e se levantou. Então nós poderíamos muito bem tomar um vinho. Vinho? Ela mal podia pensar em vinho agora. Tudo o que ela conseguia pensar era no pobre menino que Ian havia sido e o homem atormentado que se tornou, aquele que não falaria de seu passado, mesmo para os amigos. Agora podia ver porque ele poderia ter se voltado para sua tia em sua solidão. Por que poderia ter sido levado a fazer o impensável. Não, ela não deve pensar que, ou aborrecê-lo novamente com perguntas. No entanto, como ele se levantou o seguiu para a porta, uma mal-estar se formando em seu peito. Ele ainda queria conversar com ela sozinho. Ontem, poderia ter sido tola o suficiente para acreditar que poderia resistir a seus avanços. Depois de hoje sabia muito bem que Ian estava preocupado, e ela tinha a coragem de uma lebre. E suas revelações a tinham suavizado em relação a ele, e isso era muito perigo. Quando eles chegaram ao salão mal iluminado por uma vela, ela percebeu que precisava do candelabro que havia esquecido no berçário. Espere, ela começou, voltando-se para a porta. Ele pegou-a pela cintura e puxou-a em seus braços. Eu tive vontade de fazer isso o dia todo. Então sua boca tomou a dela em um beijo ardente que lhe roubou o fôlego e severamente golpeou a sua vontade. Ela envolveu seu pescoço com os braços. Se não tivesse secretamente esperando o dia todo ficar sozinha com ele, poderia ser capaz de resistir-lhe. Mas era impossível agora. Tinha ficado acordada muitas noites lembrando-se de suas carícias. Muitas vezes o viu dançar com outras e sonhou que era a sua vez. 146
Seu beijo era tudo que se lembrava e muito mais. Respirações quentes derretendo em um... os pelos de bigodes contra seu rosto ... o cheiro familiar, mas fraco do tabaco em seu cabelo. Depois que ele teve seus joelhos tremendo e em qualquer outro lugar, recuou e sorrir para ela. Isso é melhor do que vinho, você não acha? Melhor do que qualquer bebida que ela poderia imaginar. E era por isso que, absolutamente, não deveria deixá-lo fazer isso novamente. Tomando-o de surpresa, ela se soltou de seus braços e correu em direção à escada. Quando o ouviu amaldiçoar atrás dela, acelerou seus passos, mas mal podia ver seu caminho através da fraca luz da única vela no topo das escadas. Você deve sair, Ian, ela chorou. É tarde. Eu não vou sair, ele resmungou enquanto corria descendo as escadas atrás dela. Ela esperava a superá-lo, mas isso era impossível. Aparentemente, o homem possuía os olhos de um gato, pois falou com ela assim que chegou ao próximo piso. Ele a virou para enfrentá-lo, seus olhos refletindo seus mais escuros desejos. Não há nenhuma razão para eu sair, e você sabe disso. Estou cansado desta farsa. Estou cansado de ir para a cama querendo você e acordar desejando-lhe mais. Estou cansado de fingir cortejar outras mulheres apenas para fazê-la sentir ciúmes. Seus olhos se arregalaram em choque. Sim, é por isso que as cortejei, disse ele, interpretando corretamente a reação dela. Você é a única que eu queria desde aquela noite em Worthings. Ela engoliu em seco. Ela deveria ter sabido que era um truque o tempo todo. Ela tentou convocar fúria, mas tudo o que sentia era uma emoção traiçoeira por que ele tinha enfrentado tanta dificuldade para ganhá-la. Se você me desprezasse, seria uma coisa, continuou em voz baixa. Mas você não o faz. Você me quer, também. E a solução perfeita para todo esse cruel desejo é nos casarmos. Assim, você e eu vamos chegar a um acordo. Essa noite. O pensamento de casar com ele a seduziu ferozmente, não só por causa de "deste desejo cruel” como ele chamava. Os meninos gostavam dele. E ele lhe daria um futuro de segurança e uma casa própria, livre de preocupação financeira. Uma casa onde seu marido não confiava nela com a verdade sobre sua vida. Se tivesse revelado um pouco sobre si mesmo esta noite, as coisas importantes que ele ainda mantinha em segredo. Como ela poderia viver com um homem cujo passado foi tão obscuro, que não iria segurá-la contra a luz? Ela poderia confiar seu futuro e dos meninos de tal homem? O mais importante, ela poderia dar seu coração para alguém que não a amava, que só a queria porque ele precisava de um herdeiro? Ela não podia. Eu lhe disse antes, não vou casar com você. Diabos, por que ela soou tão hesitante, como se nem sequer ela acreditasse em suas próprias palavras? Talvez estivesse cansada de lutar contra os sentimentos que a tomavam, de pensar sobre o futuro. Então devo convencê-la de outra forma. Seu rosto sombrio pairou perto dela, de forma esmagadora, tentadora. É hora de você ver o que está negando a si mesmo. Seu coração bateu mais rápido. O que você quer dizer?
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Eu vou te mostrar. Ian a beijou novamente, desta vez ela se sentiu completamente tonta. Dobrando a cabeça, ele descobriu um pedaço virgem de pele sob sua orelha e beijou-a, em seguida, sobre sua orelha. Onde é o seu quarto, querida? Onde podemos estar sozinhos? Ela piscou em atordoada confusão. O-o quê? Sentiu como se alguém tivesse enchido sua cabeça com algodão. Não importa, ele rosnou. Vou encontrá-lo. Ou algum lugar igualmente aceitável. Agarrando-a em seus braços, caminhou pelo corredor escuro. Ela teria lutado, realmente, teria, se ele não a tivesse beijado novamente. Não era muito bem um beijo, uma escovada simples da sua boca contra a dela, mas a deixou mais dolorida. Como ele continuou pelo corredor, passando a abrir as portas do seu estúdio, quarto de seus pais, e sala de costura de sua mamãe, ela ficou maravilhada com sua relutância em detê-lo. Que feitiço louco ele lançou sobre ela? Tudo parecia irreal, como se estivesse em um sonho, um sonho onde ele pertencia a ela em todos os sentidos da palavra. Ele fez uma pausa em frente ao seu quarto, em seguida, entrou. Depois de colocá-la de pé, fechou a porta atrás deles, girando a chave com o toque de uma mão. O clique da fechadura a arrancou de seu feitiço. Nós não deveríamos estar aqui... devemos. Ela parou, estreitando os olhos. Como você sabia que este era o meu quarto, Ian? Você ficou me espionando? Ele riu e encolheu os ombros. Este é o único quarto vazio neste andar com um fogo aceso e a cama bagunçada. Não foi difícil deduzir. Então percebeu o que ele quis dizer, dizendo que mostraria o que ela estava negando a si mesma. Não alguns beijos e carícias como antes. Sedução. E que burra tinha sido por não perceber isso antes! Ian, isso é errado! Nem um pouco. Pelo que me lembro tudo isso começou porque você estava determinada a se certificar de que Katherine entrasse na união com os olhos abertos. Bem, estou lhe oferecendo uma oportunidade semelhante. Se você está determinada a ser uma solteirona, deve ir para solteirice com os olhos abertos. Ele tirou seu colete e foi trabalhar em sua gravata. Tenho a intenção de abrir seus olhos, para mostrar o que estará perdendo se você se negar a mim, querida. A fraqueza tomou seus membros. Desejava que ele parasse de chamá-la de "querida" com aquela voz rouca. Espanhol ou não, ele fez coisas más para ela. Meus olhos estão completamente abertos. Você abriu-os na última vez que você tocou-me, se você se lembrar. Ele riu. Oh, me lembro muito bem. Lembro-me da maneira que você me beijou de volta, do jeito que você montou em minha coxa, a maneira como você gemeu quando toquei seus seios. As palavras francas chocando-a e excitado, ao mesmo tempo, o envio de imagens selvagens e indecentes aglomerando através de sua memória. Sua pele se aqueceu por saber o que trazia seu olhar, e ela teve que desviar o olhar antes que ele pudesse ver o efeito das suas palavras sobre ela. 148
Mas eu não abri seus olhos completamente, continuou ele. Essa é a única razão por você ter recusado a minha proposta de casamento. Gostaria de saber qual seria sua resposta se a tivesse levado para a cama. Aproximando-se dela, ele ergueu a mão para o corpo e o rosto em chamas. Seu polegar mergulhado até a garganta dela, em seguida, delineando o queixo antes de acariciar o lábio inferior sedosamente. Vamos descobrir? Por que não podia dizer não? Por que a palavra travou na garganta, maldito? N-Não acho que... que seja sábio. Mas ela disse em um suspiro pouco ofegante, e sua cabeça cambaleou pela intimidade de seus dedos contra o seu rosto, para não mencionar a confusão de imagens que suas palavras tinham provocado. Ele apertou sua cintura, trazendo-a de volta para seus braços. Sim, mas desde quando você faz o que é sábio, querida? Ele tinha um ponto, pensou. Então a beijou novamente, e ela estava perdida. Sua razão se desfez, juntamente com sua vontade e seu bom senso. Todos eles caíram com as batidas de seu coração e os desejos puramente devassos atropelados através de seu corpo indisciplinado. Não importa o que sua mente gritasse, que ele tinha preparado isso desde aquela noite em Worthings, que era um erro, que se arrependeria mais tarde. Agora ela não se arrependia. Não podia. E não conseguia nem odiá-lo por usar sua fraqueza, seu segredo vergonhoso, contra ela. Abriu a boca para sua língua ousada tão avidamente como a devassa que ela evidentemente era. Suas mãos soltaram os botões na parte de trás de seu vestido com destreza surpreendente, e tudo que podia fazer era manter os braços ao redor de seu pescoço. Ela combinava todos os seus impulsos com os seus próprios, abandonando-se à sua maior experiência em uma febre de necessidade. Quando sua mão deslizou dentro de seu vestido para acariciá-la, um suspiro de luxuria escapou de seus lábios Eu gosto de tocá-la, sussurrou enquanto levava a mão mais baixo dentro de seu vestido para apertar seu bumbum. E você gosta de me ter tocando em você, não é? Ela escondeu o rosto em chamas em seu ombro, incapaz de admitir em voz alta a dolorosa verdade, que ansiava por suas mãos, que as queria em todo seu corpo. Bom Senhor, como sem vergonha era! Uma mulher sensível e respeitável o expulsaria neste minuto! Obviamente, não era nenhuma destas mulheres. Mas como poderia resistir à tentação brilhante que ele apresentou? Era como ter o seu sultão a um passo de seus sonhos e em seu quarto. Ele transformou a sala sombria com o seu mobiliário de carvalho simples e cortinas irregulares em um oásis mágico onde qualquer ato sensual era aceitável, até mesmo esperado. Seus olhos escuros estavam ardentes com promessas, ele recuou e rasgou impacientemente os botões de sua camisa. Ela esperou com a respiração acelerada para ver o que havia por baixo de seu verniz civilizado. Ela estremeceu com a visão. A cor da sua pele era como o café com leite, que atestaram a sua herança mista, o seu sangue selvagem espanhol. Um pouco de cabelo encaracolado negro como em sua cabeça salpicava seu peito, onde seguia em linha reta. Quando ele abriu a camisa, o seu olhar seguiu a trilha até onde o pelo diluía em uma linha, e depois desaparecia debaixo de sua cintura. Você gosta do que vê? Perguntou ele, a sua voz era profunda e estrondosa. 149
Um suspiro escapou de seus lábios mortificados quando levantou o seu olhar de volta para seu peito finamente moldado. Ela não tinha decência? Esteve olhando para ele lá embaixo e se perguntado... Seu sorriso sabendo que só piorava a situação. Suponho que você nunca viu um homem despir-se antes. Ele tirou a camisa de linho e deixou cair, ela balançou a cabeça. Embora já tivesse visto homens nus até a cintura, os pugilistas em Bartholomew estavam sempre sem camisa, ela nunca viu um tão perto, nem mesmo o pai. E o que viu fez-lhe a garganta ficar seca. Ian não era tão forte como os pugilistas, mas ela sempre achou músculos salientes repulsivos. Seus músculos eram magros e delineados, mas bem definidos. Não havia como negar o poder que o permitiu trazer William por três lances de escadas sem um murmúrio. Aqui. Pegando a mão dela, ele apertou-a contra seu peito. Por que você não faz mais do que olhar? A necessidade gritante em seu rosto a chamou. Toque-me, Felicity, do jeito que eu a toquei naquela noite. Eu sonhei em ter suas mãos em mim. Ela não precisava de mais nenhum convite para moldar os dedos sobre seus músculos, sentindo o aço sob os pelos e a dura pele quando ele ficou tenso ao seu toque. Ela queria sentir tudo, a vasta extensão do seu peito, os cumes de suas costelas, os nervos tensos em sua cintura. E tocando-lhe provocou uma agitação vergonhosa que sentiu antes... em seus seios, em seu ventre. A umidade familiar formando entre as suas coxas, certas evidências de sua imaginação solta. Ela apertou as pernas fechadas, mas isso não aliviou a dor entre elas. Como se sentisse a sua agitação, ele começou a usar as mãos sobre ela, bem como, embora não onde ela queria. Ele enroscou os dedos pelos cabelos levemente presos, a livrou de seus grampos, em seguida, suavizando-o sobre os ombros. Em seguida, tirou a camisa e meias. Ele correu seu olhar quente e ansioso sobre seu corpo. Estou feliz que você não use aqueles espartilhos abomináveis, ele rosnou enquanto suas mãos varreram levemente sobre suas costelas. Quando estivermos casados, você deve usar nada além de sua chemise quando estivermos sozinhos. O pensamento escandaloso a animou, então ela se alarmou, pois era muito parecido com a pintura de seu sultão e suas amantes seminuas. Nós não devemos nos casar, ela disse teimosamente. Não vou deixar você me adicionar à seu harém. Harém? Ele riu. Eu não tenho harém, querida. Você vai ser minha esposa, somente minha esposa. Você pode muito bem se acostumar com a ideia. Ela tirou as mãos de seu peito, mas ele pegou uma e pressionou-a contra a costura no centro de sua calça. Aqui, respondeu asperamente. Toque-me aqui. Algo se moveu sob seus dedos, e ela ofegou, lutando para tirar a sua mão, mas ele não a deixava. Você só tem que passar em minha frente, ele disse firmemente, para me fazer sentir isso. Eu nunca quis qualquer mulher tanto quanto quero que você, nunca... Nem mesmo... Ela começou a dizer: Cynthia Lennard, então se pegou, relutante em falar dela em um momento tão íntimo. Nem mesmo a senhorita Greenaway?― ela terminou pouco convincente, embora agora duvidava que a mulher fosse sua amante.
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Não, eu definitivamente nunca lhe dediquei um pensamento. Um aviso cintilou em seus olhos quando ele inclinou a cabeça em sua direção. Mas você? Tenho pensado em você constantemente desde o dia que nos conhecemos. Ele a beijou com uma necessidade quase com raiva desta vez, sua língua apunhalando profundamente, seus lábios duro nos dela. A protuberância em sua calça aumentou, e mexeu contra seus dedos. Quando sua mão esquerda vagou para seu peito, ela se viu de bom grado apertando o comprimento, quente e duro, deleitando-se na forma como pulsava sob seu toque. Afastando seus lábios dos dela, ele murmurou: Meu Deus, você está me torturando. Ele puxou-a em seus braços e seguiu para a cama com ela. Quando a deixou na borda, ficou de joelhos, de repente, ciente de onde a tinha colocado e porquê. Mas antes que ela pudesse fugir, ele pegou um punhado de sua chemise para detêla. Com um sorriso jovial, ele arrastou a frágil musselina pelas pernas deixando suas coxas nuas. Oh, não, querida. É a minha vez de torturá-la. Alarme corria através dela, por seu carinho estrangeiro lembrou que, sob as maneiras e roupas de um lorde Inglês estava um espião meio-espanhol e até mesmo semicivilizado, com segredos tão profundos que mesmo o mais agudo das fofocas não poderia arrancá-las. E este era o homem que queria na cama dela! Tinha perdido o juízo? Então ele enfiou a mão dentro da fenda em sua roupa íntima para cobrir o triângulo escuro entre as suas pernas, e ela congelou. Meio civilizado? Ele estava completamente incivilizado! Ian, você não deveria... Ela sussurrou enquanto ela agarrou seu pulso em uma tentativa fútil de impedi-lo. Deixe-me tocar em você do jeito que você me tocou. Olhos negros brilhantes, ele embalou o lugar secreto no meio de suas coxas, então começou a acaricia-lo, girando a palma da mão em câmara lenta, de maneiras tentadoras que ela nunca se atreveu a tocar. Emoção e vergonha queimavam juntas através de seu corpo, e ela fechou os olhos, desejando que pudesse se esconder dele. A qualquer momento, ele sentiria a umidade constrangedora entre suas pernas e a desprezaria por isso. Meu Deus, você é tão quente e úmida, tão pronta para mim, ele disse mais ou menos, mas sem uma pitada de desdém. Pronta para ele? A que ele estava se referindo? Então ele deslizou seu dedo dentro da passagem com sua umidade que era indecente, e ela sabia. Seus olhos se abriram. O-o que você... Ela parou de falar quando outro de seus dedos se juntou ao primeiro, dirigindo dentro e fora dela em golpes aquecidos que a fez se contorcer. Oh, céus... Ian... Ian... Somente a luz do fogo iluminava suas feições inconstantes, que brilhavam triunfantes e misteriosas, e deu uma qualidade sobrenatural para o que ele fazia com os dedos... Seus dedos ímpios... tentadores que arrasaram com ela, persuadindo-a a balançar para a frente sobre os joelhos fracos. Ele pegou-a com o outro braço, sua respiração irregular agora, como ela própria. Felicity, você sabe... Como um homem faz amor com uma mulher, não é? Como... Como isto, ela sussurrou. 151
Não é bem assim. Tomando-lhe a mão, ele achatou contra a protuberância em suas calças apertadas, que parecia maior do que antes. Isto é o que eu quero colocar dentro de você, do jeito que meus dedos estão dentro de você agora. Eu sei, ela sufocou, absurdamente satisfeita que ele quis tomar o tempo para explicá-la. Você quer dizer que você fez isso antes? Perguntou asperamente, uma nota de incredulidade em sua voz. Seus dedos mergulharam ainda mais fundo dentro dela com um golpe de seda tão delicioso ela arqueou contra a palma de sua mão. O-o quê? Ela não conseguia pensar, mal conseguia registrar a questão. A selvagem vibração entre as pernas agora pulsava como o bater do seu coração, e seus dedos só aumentou o ritmo. Oh... Não... Não... O filho de Lorde Faringdon descreveu... Disse-me uma vez... O que queria fazer... Para mim. Mas eu não... Deixei... Sua mandíbula se apertou. O filho de Lorde Faringdon é um homem morto. Olhando para sua expressão raivosa, ela não conseguia evitar a risada que borbulhava através de sua garganta. V-você está com ciúmes. Nem um pouco.Veja, tenho você e ele não. Ainda assim, ele deu-lhe um beijo possessivo que quase a quebrou. Que combinava os impulsos possessivos de seus dedos, aumentando o pulsar entre as pernas a uma dor insuportável. É por isso que a retirada súbita de seus dedos a fez gemer em decepção em sua boca. Ele terminou o beijo com uma risada. Não se preocupe querida, seus desejos serão satisfeitos. E assim vai ser o meu, graças a Deus. Ele se sentou na cama para tirar as botas, então se levantou e tirou as calças e as meias, enquanto o observava com interesse vergonhoso. Como sabia que ela ansiava por algo? Como sabia o que era, quando nem ela mesma sabia? Então, ele retirou as roupas íntimas, e ela soltou uma maldição distintamente pouco feminino. O instrumento que sobressaia orgulhosamente por entre suas coxas musculosas era espesso e rígido. Isso foi o que ela tinha acariciado? Oh, Senhor. Tire a sua chemise, ordenou. Quando ela enrijeceu pelo seu comando, ele acrescentou em um tom mais suave: Por favor? Eu quero ver você. Toda você. Quando ela ainda hesitou, paralisada pela visão de seu membro nu, ele se aproximou e pegou a chemise nas mãos, puxando-a sobre sua cabeça em um movimento rápido. De repente com timidez, ela afundou sobre os calcanhares e cruzou as mãos sobre o peito. Não, querida. Você não tem nada para se envergonhar. Ele tirou seus braços de cima de seus seios, e seus olhos se tornaram fundidos enquanto se deleitaram em seu corpo. Absolutamente nada. Seu corpo faria Venus chorar de inveja.
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Tais palavras poéticas de um homem que escondeu seus pensamentos tão bem, mas ele não estava escondendo-os agora. Admiração brilhou em seu rosto, provocando um orgulho mais impróprio nela. Como uma jovem mulher, amaldiçoou os atributos femininos que atraiu atenção indesejada para ela quando acompanhava seu pai. Mas agora saboreou-os, porque eles fizeram Ian querê-la. Deus a proteja, ela tinha caído. E ele claramente queria dizer para ela cairia mais longe ainda. Sua boca travou a dela em um beijo de parar o coração, e suas mãos estavam todas em cima dela, acariciando sua cintura e os seios e as coxas com o cuidado de um especialista, de tal forma que ela cooperou avidamente quando ele a moveu para deitá-la de costas na cama. Depois se ajoelhou entre as pernas dela, pairando sobre ela como uma criatura nascida da escuridão, cada centímetro de seu corpo tenso com sua necessidade. Se sentia aberta, totalmente exposta debaixo dele, mas a sensação desapareceu quando ele inclinou a cabeça para chupar primeiro um mamilo e depois o outro. A agitação entre as pernas dela começou de novo, mais urgente e aguda a cada momento. Ele leu o seu corpo muito bem, descendo para acalmar onde doía com golpes rápidos, agradáveis de seus dedos. Só quando ela se contorcia e gemia embaixo dele que ele abriu os lábios secretos com a mão e guiou seu membro dentro dela. A intrusão quebrando seu prazer requintado. Bom Deus, Ian! A parte dele pressionando a sua era maior e mais dura do que ela havia imaginado. Você não pode... Não é... Ela começou a dizer "certo", mas percebeu que não era verdade. Pareceu certo, tê-lo dentro dela como agora. Invasivo e desconhecido... mas certo. Só vai doer um pouco, ele prometeu, avançando mais no interior. Uma mecha de cabelo caiu sobre a testa para proteger os olhos dela, mas o desenho feroz de sua boca a fez ficar preocupada de que ele poderia estar tendo um pouco de dificuldade sobre si mesmo. É exatamente o que eu quero dizer... Sim. Ele piscou-lhe um sorriso de dor. Você é uma virgem, Felicity. E a primeira vez que um homem entra em uma virgem, é como... uma violação a uma parede. A metáfora da batalha não fez exatamente confortável. Você deveria saber. Na verdade... Ele fez uma pausa em seus movimentos, um espasmo tanto de tormento como de prazer cruzou seu rosto. Eu nunca tive uma virgem. Bem, você tem uma agora. Ela se contorceu para trás, tentando inutilmente encontrar uma posição confortável debaixo dele. Não por muito tempo, com você fazendo isso, ele rosnou, então corajosamente impulsionou para frente. Uma pitada de dor a fez suspirar, então foi embora. Mas agora ele estava plantado tão profundamente dentro dela, ela não se atrevia a respirar, mover-se muito menos. Não era uma sensação inteiramente desagradável. Ainda assim, tinha imaginado que havia mais ‘ação’ do que isto. Ian... é isso... Nós... Está feito?
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Feito? Os músculos do ombro dele ficaram tensos com o esforço de manter-se distante dela, mas ele conseguiu dar um sorriso. Oh, não, querida. Embora eu ache que nós podemos dizer com segurança... Que a parede foi violada. Ele retirou, então, empurrou novamente, e o movimento foi tão íntimo, tão intrigante que seus olhos se arregalaram de surpresa. Deus a guarde, havia mais. Seus movimentos lentos e cuidadosos a encantaram, embora eles parecessem lhe custar algum esforço. Na verdade, quando sua cabeça desceu, seus lábios sugaram seus seios, sua boca saqueando e jogando duro com ela enquanto a sua parte inferior do corpo ainda a persuadia. Mas sua paciência logo teve o efeito desejado, seu corpo começou a se ajustar ao seu tamanho, e depois ainda passou a saboreá-lo. Os anseios exóticos que ele tinha despertado mais cedo voltaram com força total, fazendo-a contorcer-se debaixo dele e envolvendo suas pernas em sua cintura para conseguir mais, sentir-lo mais, tê-lo mais profundamente dentro dela. Ele não precisava de mais encorajamento do que isso. Aumentando o ritmo, seu corpo trovejou ferozmente acima dela, dentro dela. A cama balançou com a força de suas estocadas, mas ela continuou com ele, gemendo de forma devassa. Levantou seus lábios de seu seio palpitante para sussurrar, Querida, você é minha. Só minha. A luz do fogo saltando de seus olhos cor da meia-noite e a expressão de necessidade fez suas feições parecem quase demoníaca enquanto balançava descontroladamente contra ela Não vou deixá-la ir agora. Nunca. Ela balançou a cabeça de lado ao outro, querendo negar o seu pedido mesmo quando o abraçou. Como um sultão que possui e nunca será possuído, ele segurou-a com correntes no encalço de seda. Mas oh, quão doce seria suas correntes. Quanto mais lutava, mais ela crescia envolvida nela até que não conseguia pensar em nada a não ser nele, não conseguia respirar sem respira-lo, então ele a invadiu e agora seria conquistada, também. E ela saudou a conquista, condenado. O acolheu no seu seio, como ele sabia que faria. A dor voltou a subir por seu ventre, batendo no seu coração, fazendo-a rebolar embaixo dele. Bom... Senhor... Ian... Sim... Sim! Deixe que venha... Ele chiou. Deixe que venha, Felicity. A explosão inesperada a devastou, rasgando um grito de seus lábios enquanto seu corpo pulsava ao seu redor. Segundos depois, ele dirigiu-se ao máximo dentro dela e gritou em espanhol, as palavras que ela não entendia, mas compreendeu muito bem, pois refletia sua própria alegria. Por um momento, ele pairava sobre ela com os olhos fechados, sua cabeça jogada para trás e seus lábios se separaram ainda em seu clamor. Em seguida, o profano vislumbre do fogo revelou uma intensa satisfação que rastejou sobre as suas feições, amenizando-as... apagando a tensão que tinha mantido sua testa rígida até agora. Ah, querida, foi tudo o que ele sussurrou antes de se retirar, então saiu e deitou-se ao lado dela na cama. Puxando-a para cima de seu corpo, ele a abraçou e a segurou contra seu peito. Ela se acomodou contra ele com um longo suspiro e encostou o rosto em cima do suor que umedecia seu peito. Um contentamento delicioso se espalhou pelo corpo exausto. 154
Ela podia ouvir seu coração trovejar em seu ouvido, sentir sua respiração acalmar contra seu cabelo. Não é de se admirar que ele estivesse tão confiante que poderia seduzi-la e fazer sua proposta. Sedução era uma arma potente, de fato. Certamente explicaria o grande número de mulheres caídas ao redor de Londres. Se ela pudesse ficar aqui assim... com ele ... Poderia iludir a si mesma que um casamento entre eles poderia funcionar... Ela gemeu. Se fossem apenas crianças que brincavam de fingir que não, para moças que queriam mais de seus maridos do que segurança financeira e bebês, desejando a luxúria. Ian não havia falado de amor. Como ele poderia? Ele nem sabia o que era, sem nunca ter conhecido ele mesmo. Uma proposta gelada sobre sua pele nua, e ela estremeceu. Ian estendeu a mão para pegar o cobertor, então o puxou por cima deles e colocou-o em volta de seus ombros com tanta ternura, que a fez querer jogar toda a cautela ao vento. No entanto, nada havia mudado. Não, isso não era verdade. Tudo havia mudado. Agora ela tinha a razão mais urgente de todas para não se casar com ele. Se ele fizesse amor assim com ela todas as noites, iria reduzi-la a uma escrava babando e apaixonada em questão de semanas, enquanto ele continuaria a manter seu coração e sua alma na reserva. Essa possibilidade era horrível demais para contemplar. Se levantado de seu peito, ela olhou para o rosto descontraído do mais enlouquecedor e tentador homem que conhecia. Ian..., começou ela. Shh, ele murmurou, pressionando o dedo nos seus lábios. Podemos falar mais tarde. Embaixo dela, sentiu que ele se mexia novamente, e seu coração acelerou como uma coquete paquera em resposta. Diabos levem o homem, não seria uma questão de semanas. Estava mais para dias. Oh, quem ela estava enganando? Queria ser sua escrava apaixonada neste instante. Com um sorriso auto-satisfeito, ele puxou a cabeça para baixo para capturar seus lábios, e quando começou a beijá-la com prazer preguiçoso, ela derreteu em cima dele como se fosse manteiga espalhada em uma torrada. Muito bem, pensou com um suspiro quando o calor fluiu da sua boca através de seu corpo e em linha reta até o seu ventre. Poderia muito bem aproveitar mais uma chance de fazer isso com ele esta noite. Haveria abundância de tempo amanhã para quebrar as correntes da escravidão.
Capítulo 17 A cidade está sempre cheia de rumores, mas leva um indivíduo inteligente a classificar a verdade das que são apenas excitantes. Lorde X é apenas tal indivíduo.
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Lady Brumley, em anúncio de The Evening Gazette, 23 de dezembro de 1820
Deitado na cama de Felicity totalmente desperto, Ian ouviu um relógio de carrilhão distante dizer as horas. Duas horas da manhã já. Com um suspiro, ele esfregou os cabelos perfumados da mulher que dormia em seus braços. Era hora de acordá-la, mas não para que pudesse fazer amor com ela. Não deveria mesmo ter feito isso duas vezes, com ela recentemente ‘iniciada nos prazeres sensuais’. Mas se a machucou pela segunda vez, ela certamente escondeu bem. Nunca teria sonhado que uma mulher com ideias sobre a moralidade tão elevadas poderia tomar a cama com tanto entusiasmo. Moça sensual. Sua própria febre inextinguível agitou-o ereto, mais uma vez, e ele gemeu. Não haveria mais satisfação, esta noite, mesmo que ela pudesse suportar. Hoje à noite ele deveria preservar o decoro, para poupar seu embaraço nas mãos de seus vizinhos. Se ele ficasse, eles não se esqueceriam de ver sua carruagem na rua pela manhã. No entanto, não podia suportar a ideia de perturbar seu sono tranquilo. Com o acordar, sem dúvida, vem o remorso, Felicity não era o tipo de mulher que abraçaria sua ruína alegremente. Não importa o quanto lhe dissesse que era inevitável, ela culparia a si mesma. E depois a ele. Ele fez uma careta. Bem, teria anos para fazer as pazes com ela, anos de longas noites de inverno no quarto principal em Chesterley e verões preguiçosos de fazer amor no gazebo, enquanto o cheiro adocicado de rosas no ar... Droga, estava duro novamente. Será que jamais seria capaz de pensar nela sem ter seu pênis se agitando por atenção? A cama com uma mulher deveria satisfazer o seu desejo, não aguçar sua necessidade dela. No entanto, ele a queria agora, e gostaria de tê-la cem vezes mais antes de chegarem ao altar. Passos soaram no corredor, e ele congelou. Quem seria a essa hora? Um dos meninos? Maldito Inferno, Felicity ficaria mortificada se seus irmãos a descobrissem assim. Quando os passos pararam do lado de fora da porta do quarto, ele gemeu. Encostando sua boca no ouvido de Felicity, ele murmurou, Acorde, querida. Você tem que acordar. Hmm? Ela resmungou quando um toque suave soou na porta. Isso foi seguido por uma voz abafada que ele reconheceu como a da governanta da casa. Srta. Taylor, você está aí? Sacudiu a maçaneta, e agradeceu sua boa fortuna por ter pensado em trancar a porta antes. Srta. Taylor! A voz mais alta. Não havia como negar a urgência atrás das três batidas afiadas que se seguiram. Felicity subiu em cima dele, sua expressão impossível de ler na escuridão. Primeiro, ela olhou para ele deitado abaixo dela, em seguida, à porta, em seguida de volta para ele. Ele podia imaginar o que ela estava pensando, principalmente quando puxou o lençol para cobrir-se. Ela começou a falar, mas ele lançou-lhe um movimento rápido da cabeça. Vamos, agora, querida, a voz de fora da porta suplicou. Eu sei que você está aí dentro. Acorde. É importante! Houve o som de chaves tilintando, e ele gemeu. Felicity quase saltou para fora da cama. 156
Estou indo, Sra. Box! Ela fez sinal para ele ficar parado, então pegou a chemise e puxou-a sobre sua cabeça. O que é? O que há de errado? É um dos meninos? É o desagradável do Sr. Hodges novamente, disse a Sra. Box através da porta. Ele está bêbado. Diz que se encontrou com o administrador de seu pai em uma taverna e descobriu a verdade sobre o... Espere, estou saindo, disse Felicity, cortando Sra. Box. Em um flash, ela arrancou um roupão volumoso e amarrou na cintura, então foi correndo para o corredor, tomando cuidado para não deixar a Sra. Box ver o quarto. Que história é essa do açougueiro? Ele a ouviu dizer antes da porta se fechar atrás dela, abafando as vozes. Rapidamente ele saiu da cama e acendeu uma vela. Enquanto vestia sua camisa e calça, se esforçou para ouvir a conversa que sumiu com as mulheres, aparentemente, desceram as escadas. Maldição, ele procurou por sua Hessians 3 até encontrá-las deitadas meio debaixo da cama. Assim que ele colocou as botas, ele seguiu para o corredor sem se preocupar em colocar seu fraque ou o colete. Vozes subiam do andar de baixo. A primeira foi de um homem, lamentosa e arrastada, com os acentos de um comerciante menor. Agora olhe aqui, Srta. Taylor... Eu quero meu dinheiro... Mantenha sua voz baixa, Felicity insistiu. Você quer acordar toda a família? Se isso é o que preciso para conseguir meu dinheiro, eu vou. Não me importo em acordar os seus de maneira alguma... Um monte de demônios, os garotos... Ian caminhou até as escadas e olhou por cima do corrimão. O homem chamado Hodges, uma criatura esquelética de sobrecasaca desgrenhada e calças, vacilante no meio do saguão mal iluminado abaixo. Sra. Box ficou entre Hodges e as escadas, de costas para Ian, mãos nos quadris firmemente plantadas. A poucos passos de distância, Felicity, olhava claramente agitada, agarrou seu roupão fechado na garganta. Você vai ter o seu dinheiro assim que a herança de papai for resolvida. Hã! Não há nenhuma solução você sabe muito bem disso! Seu administrador de fantasia estava na taberna hoje à noite, e perguntei sobre isso para ele. Contou-me a verdade, e fez, por que estava bêbado, a única coisa que seu pai deixou para você foi uma pilha de dívidas e os quatro meninos para alimentar, e estou planejando receber o que deve para mim antes de todo mundo descobrir que você não tem um centavo em seu nome. Ian tinha ouvido o suficiente. Com o propósito sombrio, ele começou a descer as escadas. Podemos discutir isso amanhã em sua loja, o Sr. Hodges Felicity começou, então gritou quando o homem se lançou para ela. Ian continuou a descer as escadas com uma raiva cega. Abaixo dele, o comerciante pegou os ombros de Felicity.
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O modelo foi muito utilizado no século XVIII tornando-se o padrão utilizado pela maioria dos exércitos. um pouco mais tarde já no século XIX, também pelos civis. As principais características deste modelo eram os baixos saltos, seus bicos levemente afunilados, canos com alturas próximas aos joelhos, características estas que as tornavam ideais para a montaria, facilitando o encaixe dos pés aos estribos e protegendo as pernas das calçados dos desgastes provenientes do atrito com a cela. Estes modelos ainda possuíam as partes frontais dos canos um pouco mais altas do que as partes traseiras, sendo que no centro destas partes frontais dos canos encontravam-se geralmente um par de pingentes por cano, sendo estes pingentes muito semelhantes aqueles de cortinas mais antigas.
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Você vai me pagar em moeda ou você vai me pagar com prazer, o homem estava dizendo quando Ian se aproximou do degrau, mas de uma maneira ou de outra você vai me pagar hoje à noite, senhorita. Antes mesmo de Ian ter chegado ao final da escada, no entanto, Felicity elevou seu joelho até bater na virilha do homem, então, empurrou o filho da mãe para trás sobre as pernas da Sra. Box, recuando convenientemente para trás os joelhos do homem. O homem tombou e caiu no chão de mármore dobrado, com as mãos segurando sua virilha. Sra. Box riu enquanto pairava sobre a criatura gemendo. Esse é o "prazer" que você vai ter esta noite, condenado Ela interrompeu quando Ian deu a volta por ela e pegou o comerciante em ambos os punhos. Ian segurou o pequeno homem longe do chão. Você quer dinheiro? Ele sacudiu o homem gemer furiosamente. Você quer dinheiro, seu bastardo miserável? Não, Ian! Felicity gritou enquanto corria até ele. Insensível a qualquer coisa, mas o insulto a ela, Ian sacudiu o homem de novo, sem se importar com os olhos arregalados de terror e a cabeça sacudindo para frente e para trás. Você vai ter o seu dinheiro, Hodges. Mas se você colocar uma mão na minha noiva novamente, eu vou... Noiva? Sra. Box disse, tendo aparentemente recuperado sua língua. Ian coloque o homem no chão, maldito! Felicity ordenou. Agora! Ian hesitou. Então ele o deixou cair no chão. Excelente, e lançou o desgraçado. O corpo de Hodges bateu no chão como um saco de cevada, mas ele ficou de pé, meio sóbrio por toda a confusão. Eu não sei quem você pensa que é, nem o que, mas... Ele é o Visconde de St. Clair, é quem ele é, Sra. Box colocou com um altivo fungar. É melhor não contrariá-lo, seu tolo. O homem engoliu em seco, em seguida, baixou os olhos para examinar seu terno amarrotado. Visconde ou não, ele não tinha nenhum motivo para agarrar-me assim, ele murmurou. É um dia triste quando um homem não pode cobrar as suas dívidas. Você não estava coletando dívidas, cruel... Ian começou! Eu seguraria minha língua se eu fosse você, Sr. Hodges, Sra. Box disse. Agora vá. Sem falta eu e a senhorita iremos vê-lo pela manhã para discutir a conta. Para pagar a conta, Ian corrigiu. E a senhorita não estará lá. Meu homem de negócios vai atendê-lo. Ele deu um passo ameaçador em direção ao açougueiro. Mas veja bem, você nunca ficará dentro de uma milha perto da Srta. Taylor, novamente, você entende? Ou eu juro que vou... Eu entendi a mensagem, milorde, o homem disse rapidamente, segurando uma mão. Estou indo embora agora, e não vou voltar. Tudo o que queria era meu dinheiro, e se vendo a... Eu estou vendo você saindo, Ian reprimiu. 158
Hodges fugiu. Assim que a porta se fechou atrás dele, Felicity se voltou para Ian, os olhos ardendo. Não o convidei para se intrometer aqui. Eu tinha a situação sob controle. Sim, eu vi como 'sob controle' você tinha a situação! Você estava mexendo em um vespeiro, caramba! O que diabos você teria feito depois que ele se recuperasse do golpe a sua virilha? Felicity ergueu o queixo obstinada. Eu teria chamado Joseph para jogá-lo fora. Ele não podia jogar fora um cão sarnento em seu melhor dia! Mas não tenha medo, uma vez que nós formos casados. Nós não vamos nos casar! Eu lhe disse antes, Ian, eu não vou me casar com você, nem mesmo depois... Ela parou com um olhar constrangido para a governanta. O que você quer dizer com, “você disse a ele antes”? Sra. Box quebrou começando a considerar Ian com novo interesse. Você propôs à minha senhora antes desta noite milorde? Ian começou a dizer que não era seu assunto, então pensou melhor. Se Felicity ainda pretendia ser teimosa sobre este, ele poderia precisar da Sra. Box do seu lado. Minha primeira proposta foi feita uma semana atrás, em Worthings. Aparentemente, sua senhora precisa de mais persuasão do que a maioria para fazer o que é do seu melhor interesse. Perdão, Milorde, a governanta disse acidamente, o seu olhar percorrendo suas roupas escassas, mas eu não acho correto ou aprovo seus métodos de persuasão. Se eu soubesse que Felicity estava desamparada, ele retrucou: Eu não precisaria de tais métodos. Agora me diga, a sua senhora têm uma herança ou não? Sra. Box lançou-lhe um olhar considerando, então balançou a cabeça. Quase sem dinheiro. Seu pai deixou uma centena de libras por ano e uma montanha de dívidas. James herdou a casa, que está hipotecada. Obrigado, disse Ian laconicamente, voltando seu olhar para Felicity. amiga!
Sra. Box, como você pôde? Felicity chorou. Pensei que você fosse minha
Eu era, e sou. Alguém tinha de fazer algo, querida, e você sabe disso. Além disso, se você gosta do homem o suficiente para deixá-lo ir para sua cama, você, assim como ele estão bem o suficiente para se casarem. A vergonha se espalhou ao longo das bochechas de Felicity deixando-as vermelha, ela fez uma careta a Ian. Isso vai ser tudo por agora, Sra. Box. Felicity e eu temos assuntos importantes a discutir. Aceitando seu direito de comandá-la como se ele sempre tivesse sido seu senhor, a governanta assentiu e foi em direção ao hall. Então ela fez uma pausa para fitá-lo com um olhar de advertência.
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Um destes assuntos que você irá discutir será a data de casamento em breve, milorde. Hodges não é susceptível de manter a boca fechada por muito tempo, e desde que te viu aqui, vai adivinhar que você e a garota foram... Bem... Decidido, onze horas na véspera de Natal servirá? Ele perguntou secamente, perguntando como ele tinha afundado a ponto de aceitar as opiniões de um servo sobre o dia de seu próprio casamento. Eu me casaria com ela na parte da manhã se eu pudesse, mas preciso de tempo para obter uma licença especial. Como é mais cedo do que eu tinha planejado, e dá-nos apenas hoje e amanhã de manhã para se preparar, mas você tem um ponto. Um sorriso brilhante iluminou o rosto da mulher, desgastado pelo trabalho. Então, véspera de Natal. Isso seria adorável. Quando a mulher saiu andando pelo corredor, Ian segurou as mãos de Felicity. Venha, vamos voltar ao seu quarto. Posso me vestir enquanto nós discutimos isso. Não, certamente. Eu não sou uma tola, para lhe dar outra chance de me seduzir. Embora ela falasse as palavras friamente, um vermelho brilhante a acompanhou. Ele a tinha visto corar mais no dia anterior do que no tempo todo que a conhecia. Ele achou muito encorajador, a mulher não corar diante do homem que ela odiava. Com referencias mais adequadas, ela estava prestes a tornar-se uma viscondessa desdenhosa, mais do que foi como filha de um arquiteto, ela passou por uma porta no meio do corredor. Podemos conversar na sala. Ela girou a maçaneta e empurrou a porta. Não que isso fará nenhum bem. Ele pegou uma vela de um anteparo nas proximidades e a seguiu. Você sabe muito bem que o casamento é nosso único recurso agora. Ele entrou na sala e fechou a porta. O recurso para quê? Caso você não tenha notado, ele rosnou. Eu comprometi você, o que geralmente significa casamento. Geralmente. Mas não necessariamente. Bruxa Teimosa. Inferno, eu arruinei você para qualquer outro homem! Embora tenha se encolhido com suas palavras, ela manteve sua posição. Eu nunca esperei casar de qualquer maneira. Palavras de Sara saltaram em sua mente. Devo adverti-lo que a sedução pode não ter sucesso em mudar a mente de Felicity. Ela tem uma vontade forte. Maldito inferno, ele não tinha acreditado nelas, mas obviamente entendia Felicity melhor do que ele. O que deveria fazer para Felicity ouvi-lo? Ele colocou a vela com cuidado na mesa mais próxima, com medo de que poderia realmente jogá-la em um acesso de raiva. Ele não sofria de crises de temperamento nos últimos anos. Havia lutado arduamente para se livrar dessa culpa, e tinha conseguido, até que conheceu a senhorita Felicity Taylor. Impiedosamente, ele forçou a sua ira. Felicity era uma mulher racional e devia ser tratado como tal. Você sabe que esta é a melhor solução para seus problemas de dinheiro e minha necessidade de uma esposa. 160
Ela simplesmente olhou para ele, sua boca formava uma linha apertada. Envolvida por seu roupão gigante, ela parecia frágil e pálida. Essa união será muito mais para a sua vantagem, ele continuou. Você vai ser uma viscondessa com um subsídio saudável à sua disposição. Seus irmãos não necessitarão de mais nada, vou continuar com a manutenção da casa, e vou me certificar de que seus servos estarão servidos. Serei um marido generoso, eu lhe garanto. Isso tudo provavelmente é verdade. Ao contrário de você, no entanto, acredito que uma mulher precisa mais do que uma casa confortável e um subsídio generoso para fazer um casamento bem-sucedido. Se for sobre a sua cruel coluna que você está preocupada, não me importo se você continuar. Não é sobre a minha coluna, disse ela, cansada. O que então? Ele pensou um instante e depois enrijeceu. Você gostou de fazer amor, sei que gostou. Sim. Ela inclinou a cabeça, seus cílios esvoaçantes para baixo para proteger os olhos. É claro que gostei. Não sou um bloco de gelo, depois de tudo. Somente quando o alívio surgiu através dele que reconheceu que ela realmente o fez duvidar de sua proeza na cama. A mulher iria transformá-lo em um idiota, e ele tinha o suficiente. Bem? O que você quer de mim? Se ela ainda fosse uma criança fresca saindo da sala de aula ou uma amante da poesia, poderia ter pensado que ela desejava votos de amor eterno. Mas não era, nem ela considerava todos os membros do seu sexo com cinismo. E ela nunca mencionou uma vez amor, quando recusou a sua última proposta. Felicity, ― disse, impaciente quando ela ergueu o olhar para a sua confusão e incerteza sobre seu rosto. Não faça isso mais complicado do que precisa ser. Dê um nome às concessões a serem feitas e acabemos logo com isso. Vou dar-lhe o que quiser dentro da razão. Mesmo a verdade sobre a senhorita Greenaway? Ela deixou escapar. Maldita. Ele deveria ter imaginado. Uma vez que Felicity tinha uma ideia na cabeça, ela ficava preocupada como um gatinho se preocupa com um cordão. Eu lhe disse antes, Srta. Greenaway não tem nada a ver conosco. Você é uma idiota, se recusar este casamento por causa dela. ― Ela virou para longe dele, seguiu o caminho até a janela com seus pés calçados com chinelos. Seu corpo esguio parecia pequeno e delicado ao lado do projeto sublime gótico, ainda mais quando ela estremeceu. Ele teve uma súbita vontade de envolvê-la em seus braços e protegê-la do frio, de seus medos, de tudo o que poderia prejudicá-la. Com mãos trêmulas, ela tentou fechar as cortinas na janela com mais força do que o necessário. E se... Ela fez uma pausa, como se a reunir sua coragem. E se eu estou recusando por causa de outra pessoa? E se eu estou hesitando por... Cynthia Lennard? Vindo do rastro de pensamentos de sua proposta, sua pergunta acertou-o como um tiro de pistola no peito. Deus, não. Não isto. Não agora. Ele se esforçou para esconder sua reação, mas suas palavras ainda saíram duras. O que você sabe de Cynthia Lennard? 161
Ela inclinou a cabeça contra as cortinas. Ela era sua tia, não era? Eu ouvi... Que você e ela tiveram um caso de amor. Que ela definhou por você depois que você fugiu da Inglaterra para o Continente. Ela tinha "ouvido" isso? Onde? Como? Um peso de culpa esmagou o peito, tornando quase impossível para ele respirar. Maldito inferno, não importa o quanto ele tentasse, não poderia escapar do legado de tia Cynthia. A pobre, bela e condenada tia Cynthia. Ele não sabia o que era pior, a história que Felicity tinha ouvido ou a verdade. Nem ele confiava. Ele precisava de mais informações. Você realmente se superou desta vez. Onde você conseguiu tal história? Duvido mesmo que até Lady Brumley poderia rivalizar com esta história. É pura e simples imaginação. Lady Brumley foi quem me contou. Felicity afastou-se da janela e começou a andar, suas palavras saiam em um tom mais alto que mostrou seu nervosismo. Ela ouviu falar sobre isso a partir dos serviçais de seu tio. Ela parecia detestar o seu tio, e assim ela tentava descobrir tudo o que pode sobre ele. Eu não sei por que. Por que? Porque ele a rejeitou 25 anos atrás. Ele a deixou no altar quando descobriu que a riqueza de seu pai era uma farsa. Depois disso, sua única opção era se casar com Brumley um homem de idade. Ela nunca perdoou meu tio por isso. Ela parecia abalada. Eu não a culpo. Nem eu, mas certamente você pode ver que esta história nada mais é, do que sua tentativa de vingança contra ele. Ela o fez parecer um tolo e um corno. Essa é a sua única razão para a sua divulgação. Sim, talvez ele pudesse agir a seu favor que Lady Brumley, de todas as pessoas, tinha chegado tão perto da verdade. Na verdade, ela me contou sua história por que... Ela engoliu em seco. Porque o seu tio tinha me dito outra pior. O rosto de Ian ficou pálido. Meu tio? Ele me abordou em particular durante o baile, e... E me disse que você tinha... Forçado sua esposa e que ela se matou de vergonha. Ele afundou em uma cadeira próxima e olhou para o nada. Porra! Tio Edgar e suas mentiras! Raiva nadou através de seus sentidos rasgando por ele como um tubarão faminto. Eu suponho que você acreditou nele! Ele arrebentou. Não! Claro que não! Ela deu um passo em direção a ele e pôs a mão em seu ombro, seu rosto tingindo de uma cor rosada. Eu sei por experiência que você não forçaria as mulheres. Achei a história inteira suspeita antes mesmo de Lady Brumley confirmar que ele estava mentindo. Mas como você pode ver, ela não me contou sua história para atacar de volta a seu tio. Estava tentando ajudá-lo. Tinha adivinhado o seu interesse em mim e queria me tranquilizar sobre sua pessoa. Assim vejo. Soltando sua mão, ele se levantou da cadeira. Ela queria assegurar-lhe que eu era apenas um adúltero. Meu Deus, era um pesadelo. Ambos as histórias eram horríveis. Mas a verdade era tão terrível que não conseguia nem falar sobre isso, especialmente para ela. Então isso é uma mentira, também? Ela perguntou em um sussurro. 162
Sim, pensou, mas não podia dizer isso, porque então ela gostaria de saber a verdade. Malditos sejam todos por colocarem estas dúvidas em sua mente. E condenada até mesmo por fazê-los parcialmente verdadeiros. Obviamente, você já decidiu a resposta. Você acredita que seduzi minha tia, esposa do meu próprio tio, irmão do meu pai e depois a abandonei. Uma lembrança terrível rodou sobre ele. Olhando para ela, ele rosnou: E você me deixou fazer amor com você ontem à noite, mesmo pensando isso. Eu deixei você fazer amor comigo, porque eu não queria acreditar. Ainda não acredito. Sua voz vacilou, e de repente ele vislumbrou a dor que ela tinha se empenhado fortemente para se esconder. Mas não sei em que acreditar. Todo mundo especula sobre sua vida, bombardeando-me diariamente com novas histórias sobre o perigoso Lorde St. Clair. E você espera que eu, uma mulher que o conhece a menos de um mês possa discernir a verdade em meio às mentiras enquanto você age como o herói trágico e mantém silêncio sobre tudo isso? Sua lógica só piorava a situação. Você tem um histórico em escrever mentiras sobre mim, mas quer saber o porquê que continuo em silêncio? Oh, isso é cômico! Seus olhos brilharam. Isso é apenas uma desculpa, e sabe disso. Eu o mencionei uma vez em minha coluna na semana passada? Enquanto você babava sobre cada mulher elegível à vista, escrevi uma palavra sobre você ou as mulheres que você cortejava? Maldita seja Felicity, não vejo por que você insiste em saber sobre o meu passado. A raiva que sentia de si mesmo virando em direção a ela. Você está com ciúmes de mulheres que eu nem sequer levei para cama! É uma maravilha que eu tenha tempo para lutar uma guerra ou para o gerenciamento de Chesterley, considerando todas as mulheres que você acha que seduzi. Ele passeava pela sala furiosamente. Não é minha tia, a quem eu, aparentemente, seduzi com a idade precoce de dezenove anos. Então eu fugi para o continente e para os braços de uma população de mulheres espanholas, dependendo da fonte que você dê crédito. Ah, e não vamos esquecer Josephine, que aparentemente veio ao meu leito, apesar do fato incômodo que sou Inglês e seu inimigo jurado. Sem mencionar todas as mulheres que eu cortejei ou supostamente levei a cama nos últimos três anos na Inglaterra. Parando, ele olhou para ela. E a pobre senhorita Greenaway. Acho que você ainda acredita que ela seja minha amante. Ele cruzou os braços sobre o peito. Entre todas elas, perdi uma mulher ou duas cuja associação comigo deseja perguntar? Sim, você perdeu a mulher que você quer se casar. Mas, aparentemente, você não a quer nem o suficiente para confiar a verdade a ela. A acusação caiu entre eles como uma luva. Sua dor era tão palpável, seus olhos verdes tão sombrios. Maldito inferno, ele não tinha a intenção de machucá-la. Foi exatamente isso o pensamento de saber tanto e tão pouco despertou seu temperamento como nada jamais tinha feito. Frustrado, ele passou os dedos pelos cabelos desalinhados. Como ele desejava que pudesse desenrolar toda a história. Seria quase um alívio. Só que uma vez que ela soubesse, nunca iria se casar com ele, não a sua justa Felicity. E não poderia se enganar, ele estava obcecado, não poderia permanecer longe dela. 163
Esta não é uma questão de confiança, disse ele em uma tentativa de acalmá-la. Certamente o fato de que quero me casar com você mostra que confio em você. Confio em você para não levar vergonha ao nome da família, e confio em você para ser uma boa esposa para mim. Confio em você com a gestão da minha casa e da educação e criação dos meus filhos. Isso não é suficiente para você? Ela endireitou os ombros. Ian, eu não sou insensível ao elogio incrível que você me faz com esta oferta de casamento. Eu até admito que gostaria de me casar com você. Mas não quero um casamento cheio de segredos. Porque você não pode entender isso? E por que você não pode compreender que nenhum dos meus segredos tem nada a ver conosco? Você está torturando-se desnecessariamente com todas essas perguntas sobre outras mulheres na minha vida. Você está com ciúmes de uma mulher que morreu há dez anos, outra mulher que eu considero apenas uma amiga, e um ex-imperatriz que eu nunca sequer conheci, pelo amor de Deus, muito menos levei para a cama. Você está com ciúmes de fantasmas quando tudo que eu quero é você. Ela suspirou. Você insiste em ver isso como simples ciúme. Às vezes você pode ser como um burro, vaidoso e arrogante. Quanto mais insultante as palavras soariam nos lábios macios de uma mulher? É por isso que você deve se casar comigo, disse ele em uma tentativa fraca de humor. Vai dar-lhe ampla oportunidade para picar a minha vaidade e subjugar a minha arrogância. Ela levantou uma sobrancelha. Isso é realmente uma tentação. Então ela acrescentou: Mas não o suficiente. Contanto que você não vai ser honesto comigo, não posso me casar com você, Ian. Sempre vou saber que você não confia em mim, e o pensamento irá me consumir até que passe a odiá-lo. Importo-me muito com você para que isso aconteça. Desculpe-me. Ele tinha visto isso chegando, ainda que ele não pudesse acreditar. Como ela poderia ser tão teimosa? Bem, ela não iria negar-lhe o casamento simplesmente por causa de velhas fofocas e orgulho ferido, não quando ele era o meio para sua salvação também. Ele não iria deixá-la! Você não tem escolha no assunto, disse a ela severamente. Você vai se casar comigo. Ela enrijeceu. Eu te disse, não me importo se você me comprometeu. Mas você se importa com a fome, não é? Esqueceu-se da sua situação financeira? Eu não. Se você não casar comigo, eu vou procurar todos os credores de seu pai e dizer-lhes que não têm uma herança real. Você sabe muito bem o que vai acontecer depois. Eles cairão como um enxame de ratos encima deste lugar. Choque a atingiu em cheio o seu rosto. Você não! Nenhum cavalheiro faria algo tão cruel. Não, iria deixá-la sem dinheiro e comprometida. Vou fazer o que eu devo para garantir que você se case comigo, e se isso significa atirar-lhe aos lobos até que você veja sua loucura, que assim seja. Não seja tola, Felicity. Quanto tempo você acha que vai durar uma 164
vez que esses devedores dividam esta casa entre eles? Como você vai viver quando ela for embora? Em um sótão, sustentando quatro irmãos crescendo a partir de uma coluna de jornal? Acho que não! Tenho perspectivas! Sr. Pilkington diz que vai imprimir meu livro. O Sr. Pilkington diria qualquer coisa para mantê-la escrevendo essa coluna, ele lhe paga uma ninharia por isso. Você realmente acredita que ele se preocupa com o seu livro? Mesmo que ele faça, não lhe traria dinheiro suficiente para sustentar uma casa desse tamanho. Ele se aproximou dela e baixou o tom de voz. Você recusaria um futuro seguro para a sua família simplesmente por causa de seus malditos princípios? Não. Eu não vou permitir isso. Você vai casar comigo amanhã, e esse é o fim da discussão. Ele seguiu até a porta, mas ela o pegou pelo braço antes que ele a alcançasse. Você não quer fazer isso! Que tipo de casamento poderíamos ter se eu te odiasse? Embora esta tenha sido sua maior pressão, no entanto, ele se forçou a não atender seu pedido. Você não vai me odiar. Você é muito sensível para isso. Eventualmente, você vai me agradecer. Oh, você realmente é um burro arrogante! E um tolo, também, se você acha que eu sempre agradeço por ser forçada a agir contra a minha vontade! Só estou fazendo o que é necessário pelo meu melhor interesse, ele seguiu. E pelo seu. Sim, e o meu. Mas os nossos interesses entrosam muito bem juntos. Será? Pois bem, Lorde St. Clair. Ela disse, o título soou como uma maldição em seus lábios: Eu tenho uma surpresa para você. Eu quero um casamento real, e só poderemos ter se você for honesto comigo. Então até que você seja, é melhor rezar para que nosso encontro de hoje à noite tenha produzido o seu herdeiro. Porque essa será a última vez que levo você a minha cama de bom grado. ’Se você esta forçando este casamento, você terá que forçar a partilha da minha cama também’, você me ouviu? O pensamento de que ela pudesse realmente estar dizendo a verdade, por um instante o paralisou. Então, ele a sacudiu. Ela já estava cedendo sobre o assunto do casamento, o outro viria. Eu ouvi, mas esta ameaça não vai me desanimar. Cheguei ao fim da minha paciência. Vamos nos casar na véspera de Natal, nem que eu precise arrastá-la para dentro da igreja eu mesmo. Ela recuou visivelmente em suas palavras. Quero dizer o que eu disse. Eu não duvido. Ele pegou o queixo e passou o polegar deliberadamente sobre o lábio inferior que tremia. Mas eu sei como as suas paixões são facilmente despertadas. Marque minhas palavras, querida, eu vou ter o meu herdeiro até o próximo dia de São Martinho, e não terei que forçá-la para tê-lo, também. Ele esperou até que viu a dúvida cintilando em seus olhos, então a soltou. Portanto, não importa o que você ameace, iremos nos casar. Entendeu? Ela olhou para ele com o rosto em branco, mas ele podia ver o olhar de derrota em seus olhos. Felicity? Ele a sacudiu severamente. 165
Com um suspiro de exasperação, ela balançou a cabeça. Seu triunfo tinha um gosto amargo de absinto, ele desejava ter ganhado de alguma outra forma. Num impulso, ele tirou o seu anel de sinete para pressioná-lo na palma da mão fria, fechando os frágeis dedos sujos de tinta em torno dele com uma pontada de culpa. Apresente isto se aparecer mais algum de seus credores para cobrá-la. Avisarei sobre os preparativos para o casamento uma vez que tenha adquirido a licença especial. Quando ela simplesmente ficou ali rigidamente, ele soltou sua mão. Mas, quando ele a deixou na sala de visitas, suas palavras o acompanharam. ’Se você esta forçando este casamento, você terá que forçar a partilha da minha cama também’. Maldita bruxa obstinada dos infernos, faria o que fosse necessário para provar seu erro.
Capítulo 18 Minhas fontes me dizem que Lady Marshall foi vista na Strand com a amante de seu marido. Se isto for verdade, ela abre um precedente perigoso, pois no momento duas mulheres se consultarem entre si sobre um homem, é provável que ele perca as duas. Lorde X, The Evening Gazette 24 de dezembro de 1820
Era manhã da Véspera de Natal, Felicity e a Sra. Box estavam de pé desde o amanhecer. Com duas horas antes do casamento, elas estavam nos aposentos de Felicity. Ela estava rígida em um tamborete com os braços estendidos para a Sra. Box alterar o vestido de noiva de sua mãe para ela. —Ainda bem que os vestidos eram menos equipados na época de sua mãe, — a Sra. Box comentou, — ou você teria que vestir um espartilho com isto. Eu sei que você não gosta de espartilhos.
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Eu estou contente que você não use aqueles espartilhos abomináveis, Ian disse. Quando nós estivermos casados, você não deve vestir nada além de sua chemise quando nós estivermos sozinhos. Casados. Eles iriam se casar. Calor espalhou-se através de seus seios e quadris com o pensamento. — Dane-se. — ela murmurou baixinho. — Vamos querida, não fique assim. Não é o fim do mundo. — Apertando um pouquinho o corpete de cetim, a Sra. Box costurava através da dobra. — Você está se casando com um visconde, pelo amor de Deus! Ele estará levando os meninos sob suas asas... — Hah! Ele não me deixará celebrar o Natal com eles amanhã! — Você pode culpá-lo? Quem iria querer quatro meninos sob os pés durante sua lua de mel? Ele podia enviá-los todos para algum lugar, mas ele não irá. Ele só quer uma semana com você para si mesmo, assim ele pode mostrar a você “o entorno de sua propriedade.” — Isso é uma pena que seja na semana do Natal, mas você deveria ter pensado sobre isso antes de você deixar a cama do homem ontem de manhã. Ela olhou para a Sra. Box. — E ele estava fechando a casa, minha casa! Empurrando o braço de Felicity para cima, a Sra. Box fez uma prega debaixo de seu braço e colocou-os rapidamente no lugar. — Não é mais a sua casa, agradeça ao bom Deus. O que você está planejando fazer depois que se casar? Viver aqui? Separada de seu marido? — É um pensamento, — Felicity murmurou. A empregada riu. — Não minta para mim, querida. Você não quer viver separada das cintas do grande garanhão, e você sabe disto. Lágrimas brotaram de seus olhos. — Oh, maldição, — ela sussurrou, tocando o pesado anel de sinete que pendia de uma fina corrente ao redor de sua garganta. Isto era verdade. Apesar da missiva terrível de Ian declarando seus "planos", realmente uma lista de comandos para o casamento, e embora ela não tivesse feito nada além de reclamar sobre isso no último dia e meio, estava secretamente tonta com o pensamento de casar-se com ele. Ela não poderia esperar para ele ser seu. Para pertencer somente a ela e cuidar dela. Ela fungou. Cuidar dela, realmente! O homem não sabia o significado da palavra! Ele, com toda a sua conversa miserável sobre as vantagens e mesadas generosas. E sim, o seu herdeiro. Ele estava disposto a pagar um alto preço por seu maldito herdeiro. Bem, ele logo descobriria que seu desempenho como uma égua reprodutora estava subordinada à sua vontade de confiar nela. Infelizmente, isso significava mantê-lo à distância até que ele se aproximasse. Uma lágrima amarga escapou de seus olhos. Como se pudesse administrar esta situação. Ian só precisava se insinuar em seduzi-la, e ela se transformava em uma idiota derretida. Outra lágrima rolou por sua bochecha para cair impetuosa de seu queixo e sobre o vestido, escurecendo um minúsculo ponto no cetim azul cintilante.
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— Agora, você não vai chorar por todo o bonito vestido de noiva da sua mãe! — A Sra. Box entregou-lhe um lenço e enxugou de leve os olhos de Felicity. —É um milagre que o vestido sobrevivesse até aqui, e agora você quer arruiná-lo antes do casamento! — Bom! Então eu posso vestir o que eu realmente quero, saco e cinzas! — O saco eu posso arranjar, —a Sra. Box disse acidamente. — Mas eu não colocarei nenhuma cinza em seus cabelos depois que eu tive que ir a metade de Londres para achar flores de laranjeira. — Eu não sei por que você se preocupou. Isto certamente iria servir a ele, se eu não tivesse flor e um vestido feio porque ele não se incomodou de me consultar na data do casamento. — Ele a consultou, e você disse a ele que não se casaria com ele. Então o que mais o homem podia fazer? — Aceitar minha recusa como qualquer homem decente teria. — Nenhum homem decente deixaria uma mulher ir em frente como você fez. Não se gostasse dela. — Gostar de mim! Ele não gosta de mim! Só quer qualquer mulher que concordasse em ser sua esposa, e aconteceu de eu estar à mão. — Tolices. Os homens não sabem o que eles querem querida, e certamente não sabem como pedir por isto. Eles ‘não pensam’ quando uma mulher está ao seu redor. Então você precisa considerar suas ações, não suas palavras. Tire pelo seu Visconde: Você falou mal do homem em seu jornal, e depois você o expulsou de casa, ainda assim ele voltou e aqui esta ele saldando todas as suas dívidas e devolvendo James para aquela escola que o menino ama. Quais provas mais você precisa de que ele gosta de você? Ela precisava de honestidade. Confiança. Mas ela não podia dizer isto a Sra. Box. A governanta não entenderia. — Nada disso importa para ele, porque isso é apenas dinheiro. O dinheiro não significa nada para ele. Ele só esta abrindo sua bolsa, porque tem uma bolsa considerável para abrir. — Talvez. Ou talvez esteja abrindo a bolsa porque não soubesse como abrir seu coração. Faça-o primeiro, querida, e um dia ele se sentirá tranquilo para fazê-lo também. Se ela apenas pudesse acreditar nisto. Mas duvidava que já tivesse aberto seu coração, ele mantinha isto enterrado tão profundamente sob seu passado. Se ela pudesse só saber o que o atormentava, poderia descobrir como alcançá-lo. Mas ninguém sabia a verdade exceto ele. E talvez Senhorita... Ela endireitou-se. — Sim! Srta Greenaway! — Eu esqueci, —ela disse a Sra. Box com pressa, — Eu preciso ir. Eu tenho algo para atender antes do casamento. — O quê? A carruagem de sua senhoria estará esperando por nós em menos de duas horas! Existem centenas de coisas para fazer antes disso! — Eu sei, mas isto é importante. Eu preciso ir agora, antes que Ian leve-me as pressa para fora de Londres. — Felicity alcançou os botões superiores do vestido. — Ajude-me a tirar isto!
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— Você perdeu o juízo, é isso o que é. — a Sra. Box agitou a cabeça, mas começou a desabotoar o vestido. — Faltam menos de duas horas antes de seu casamento! Uma boa ideia! Se você não retornar para a igreja a tempo, sua senhoria pedirá a minha cabeça! — Não levara muito tempo, eu juro. — Felicity saltou do tamborete e rapidamente vestiu um vestido velho. —Retornarei antes mesmo de você tomar noção disso. Mas se não estiver aqui quando for a hora de partir, continue sem mim e traga o vestido. Eu encontrarei você na igreja. Menos de um minuto mais tarde, ela estava correndo para fora da residência e sinalizando para uma carruagem que passava. Oh, Deus, por favor, ajude-me, ela rezou quando subiu para dentro. Ela deu ao homem o endereço na Waltham Street, então se sentou, erguendo o olhar ao céu. Não pedia à Divindade desde que Ele a abandonou em Worthings, mas precisava dele agora. Que a mulher estivesse em casa, Deus. Faça com que ela concorde em conversar comigo. E não me deixe chegar atrasada para o casamento. Por favor, eu imploro a você, faça isto por mim. Ele deve tê-la escutando, pois vinte minutos mais tarde quando bateu na porta da Srta. Greenaway, a mulher mesmo a abriu, seu bebê embalado em seus braços. —Você! — Ela exclamou, então, tentou bater a porta no rosto de Felicity. Felicity pressionou seu pé pela abertura para bloquear a porta, estremecendo quando colidiu contra sua bota. O calçado de senhoras obviamente não era projetado para servir como batente. — Vá embora! — Uma voz gritou através da abertura. — Eu não tenho nada para dizer para você! — Por favor, Srta. Greenaway deixe-me entrar, só por um momento! — Quando a mulher somente chutou em seu pé, Felicity gritou, — Eu sou a noiva de Ian! Um silêncio súbito veio do outro lado da porta. Então a Srta. Greenaway se debruçou em torno da extremidade, embalando seu bebê em seu peito. — Você? Sua noiva? — Eu receio que sim. — Soltando a corrente que segurava o anel de sinete, Felicity segurou ambos em direção à mulher. — Eu sou realmente. Com uma expressão cautelosa, a mulher trocou seu bebê para seu ombro e tomou o anel. Mas enquanto ela estudava o objeto, confusão substituiu a cautela. — Eu não entendo. O mestre Ian, eu quero dizer, Lorde St. Clair, disse-me ontem que estava casando com uma Srta. Felicity Taylor, mas ele não disse que era você também, quero dizer, nunca imaginei. — Que ele estaria casando com Lorde X? Não, eu não teria pensado isto eu mesmo algumas semanas atrás. — Então, Ian já tinha estado aqui para dizer a Srta. Greenaway do casamento. Isso aumentaria seu ciúme se não fosse por uma coisa, a mulher parecia surpreendentemente calma pela ideia. E uma amante teria chamado um homem por seu título de infância? — Mas eu sou Felicity Taylor e estou prestes a me casar com ele. De fato, o casamento é às onze, então não tenho muito tempo. Você, por favor, poderia me deixar entrar? Eu realmente preciso conversar com você. A mulher hesitou apenas brevemente antes de abrir a porta. — Sua senhoria ficará furiosa se ele descobrir isto. — Então não vamos dizer a ele, — Felicity disse quando andou acima da soleira. A Srta. Greenaway curiosamente a inspecionou. 169
— Certo. Não vamos. — Ela gesticulou para um cabideiro. — Você pode por seu casaco lá, então venha comigo para sala de estar, por favor. Eu tenho o berço de Walter lá enquanto a empregada está no mercado, e eu estava prestes a colocá-lo para tirar o seu cochilo. — Ela olhou para a cabecinha de seu filho, com sua penugem de bebê dourado. — Entretanto penso que ele já começou. O brilho do amor no rosto da mulher exaltou a perfeição de suas características de boneca de porcelana. Como poderia alguma mulher ter tal beleza perfeita? O pensamento de Felicity, incapaz de silenciar sua inveja. Apenas a mais leve pincelada de linhas minúsculas nos cantos dos olhos da Srta Greenaway revelavam que ela era mais velha que Felicity. E embora a mulher vestisse um vestido de lã prático que escondia cada centímetro de pele, isto não fazia nada para esconder a figura sem igual. Uma punhalada rápida de ciúme foi direto ao coração de Felicity. Enquanto elas caminhavam pelo corredor abaixo, Felicity disse. — Estou certa de que você está se perguntando o que estou fazendo aqui. —Nem tanto. — A mulher lançou-lhe um olhar de soslaio. — Você está aqui para saber se sou realmente a amante de Lorde St. Clair como você postou em sua coluna. Um calor subiu do pescoço de Felicity para suas bochechas. — Não, eu… Isto é… bem, eu ... — Confie em mim eu faria a mesma coisa se estivesse em seu lugar. Mas deixe-me por sua mente à vontade. Não sou, nem nunca desejei ser sua amante, ou qualquer outra coisa. Um suspiro enorme derramou para fora de Felicity antes que ela pudesse prevenir isto. Ian proclamou uma centena de vezes que aquela Srta Greenaway não era sua amante. Sara tinha estado quase certa disto, e a Sra. Brumley muito mais. Mas até Felicity ouvir as palavras da boca da própria Srta Greenaway, não tinha acreditado muito nisto. E embora supostamente a mulher pudesse estar mentindo, ela não via nenhuma razão para isto. — Obrigada, — Felicity sussurrou quando elas entraram em uma sala de estar pequena. — Não tem porque. — Com um pequeno arrulhar, a mulher deitou seu filho em um berço de madeira que ficava próximo a uma cadeira grande. — Seria indelicadeza minha realmente retribuir a generosidade de sua senhoria enganando sua futura esposa. — Ela gesticulou para um bonito sofá branco. — Por favor, sente-se Srta Taylor. Felicity concordou, sentindo-se desajeitada. A mulher estava sendo muito gentil, considerando a situação. — Antes de ir mais longe, devo me desculpar por meu artigo. Eu não devia ter especulado isso publicamente sobre sua associação com Ian. Ele me fez ver que estava errada ao fazer isso, especialmente quando poderia… prejudicar sua reputação. A Srta Greenaway riu. — Minha reputação? — Com uma graça e postura que somente uma governanta poderia gerir, ela abaixou-se posteriormente em uma linha vertical sobre a cadeira ao lado de seu filho. Felicity nunca tinha visto uma coluna de mulher parecer tão elegantemente ereta. Ela certamente nunca tinha conseguido isto ela mesma. — Eu agradeço por sua preocupação, — a mulher continuou, — mas é desnecessário, asseguro a você. Você não mencionou meu nome ou de Walter, e minha reputação foi arruinda há muito tempo atrás. Além disso, sua suposição era lógica, dada as circunstâncias. E como você bem sabe Lorde St. Clair desperta especulação onde quer que vá. 170
— Isto é verdade. — Felicity engoliu. —É a verdadeira razão porque estou aqui. Você sabe que… ouço alguns rumores na minha profissão. E… bem, ouvi alguns particularmente sórdidos sobre Ian. Eu estava esperando que você pudesse me dizer o que é verdade e o que é mentira. — Entendo. O que você ouviu? Em circunstâncias diferentes, Felicity poderia ter sido mais delicada sobre a apresentação de sua situação, tentando avaliar a melhor forma para extrair a verdade de sua companhia. Mas ela não tinha tempo para tais sutilezas hoje; ela era forçada a ser direta. Felizmente, a franqueza anterior da Srta Greenaway tornou isto mais fácil. Tão brevemente quanto possível, Felicity relacionou as duas conversas que ela teve no baile de Brumley. Embora a expressão da Srta Greenaway alterasse um pouco a menção do tio de Ian, ela se manteve em silencio enquanto Felicity contava. — Então como você vê, — Felicity terminou, —não sei em que acreditar, ou se qualquer uma destas histórias é verdadeira. Esperava que você pudesse me dizer por que Ian deixou a Inglaterra. E por que ele e seu tio estão em conflito sobre o seu casamento. — O que sua senhoria diz? O sarcasmo atado em sua voz. — Que eu estou apenas com ciúmes. Que isto não é nada para preocupar minha linda cabecinha. — Ela empinou seu queixo. — Ele não dirá a mim qualquer coisa. E como sua futura esposa, penso que tenho o direito de saber. — Eu concordo, — ela suavemente disse. — Eu direi que este tio de sua senhoria não é confiável. Mas, além disto, não posso dizer qualquer outra coisa. Lorde St. Clair me fez jurar segredo no dia em que me trouxe aqui, e eu devo-lhe muito para trair sua confiança. Não! Felicity pensou com um desespero atado em sua barriga. Isto era como um daqueles labirintos de jardim que ela odiava, onde cada volta só levava a mais voltas. Pura frustração a fez levantar-se. — Então como vou saber que eu não estou cometendo o maior engano de minha vida casando-me com ele? A testa da mulher arqueou em um semblante perplexidade. — Diga-me algo, Srta Taylor. Duas semanas atrás, Lorde St. Clair me instruiu a nunca falar com você, mas agora ele está casando você. Como isto aconteceu? — Eu me perguntei a mesma coisa, — ela disse com tristeza. — Aparentemente, em algum lugar entre nossas batalhas ao longo de minha coluna, ele chegou à conclusão que eu seria uma esposa apropriada. Eu não posso imaginar como, uma vez que nós não temos nada em comum. — Não realmente. — Os lábios da mulher tremeram com diversão. — Exceto talvez uma habilidade incrível para descobrir segredos de outras pessoas. E uma propensão para agir energicamente para conseguir o que você deseja. E não vamos esquecer um carinho com as crianças, que ele disse que sua noiva tinha quatro irmãos que ela estava sustentando, e ele sempre foi gentil com o meu filho. — Ela estourou em um sorriso. — Mas nada mais, certamente. O que mais você vê um no outro? Felicity não gostou de ser ridicularizada. Ela olhou para a governanta. — Você está dando palpites em uma concepção errada se pensa que isto é um jogo de amor. Ian não escolheu casar comigo por qualquer ponto em comum, asseguro a você. Ele quer uma égua reprodutora, isto é tudo. 171
— Uma... Uma égua reprodutora? — A Srta Greenaway engasgou. — Uma mulher para dar a ele um herdeiro. E em troca de meu casando com ele, está saldando as minhas dívidas e sustentando a mim e a meus irmãos. — Ah. Então seu casamento nada mais é do que um acordo de negócios? — Justamente. — E o fato de que você é uma mulher bonita, jovem e inteligente não tem nada a ver com isto, da mesma maneira que seus atrativos não têm nada a ver com sua decisão. Ela corou. — Certamente que não. — Então por que, rogo dizer, você esta tão empenhada em descobrir seu passado? Se este casamento é meramente um acordo de negócios e ele está mantendo sua parte do acordo, por que você se importa o que ele fez dez anos atrás? — Porque, — Felicity disse por entre os dentes, — em pouco tempo, estarei pondo minha vida e meu futuro em suas mãos, e o homem é tão malditamente reservado que nem sei se posso confiar nele! — Isso não era completamente verdade, mas ela não tinha tempo para hesitações. — Você não precisa se preocupar sobre isto. Lorde St. Clair é bastante confiável. Ele vai tratá-la bem. ― A Srta Greenaway levantou-se e se aproximou de onde Felicity estava de pé trêmula. — Mas penso que você sabe disto. Então o que realmente atormenta tanto você? Felicity abaixou sua cabeça para esconder as lágrimas súbitas nadando em seus olhos. — O que me atormenta é que nós nem sequer somos casados e já estou apaixonada pelo canalha. Ela fungou. Oh, droga isto era verdade. Ela se sentiria mal com o pensamento de ser sua esposa e não ter seu coração? E lutou tão duro contra isto! Deveria saber que lutar era sem sentido desde a primeira vez que ele passou em seu escritório e informou-a que ela iria lamentar embaraçá-lo. Oh, sim, ela lamentou. Lamentou que esse envolvimento com ele não o fizesse amála também. As lágrimas espalharam-se por suas bochechas, as primeiras isoladamente, então em riachos sólidos, peregrinos perdidos fluindo para o regato do amor não correspondido. A senhorita Greenaway tirou um lenço de algodão macio e deu-o para Felicity. — Aqui, pegue minha querida. Seguramente não é tão terrível estar apaixonada por um homem como Lorde St. Clair. — É quando ele não me ama — ela sussurrou. — Você está certa disto? Ela movimentou a cabeça. — Ian tem um espinho enterrado profundamente em seu coração que o previne de me amar. Isto precisa ser arrancado. Como posso fazer isto quando não sei o que é? — Ela ergueu olhar suplicante para a Srta. Greenaway. — Você não pode me ajudar? — Oh, Senhorita Taylor, — a mulher disse simpaticamente. — Eu diria a você em um momento se não fosse minha promessa. Você tem o direito de saber sobre o espinho em seu 172
coração. Isto está tão enterrado, que ele não fala disto para mim, e sei tudo que aconteceu. No entanto ele precisa falar sobre isto. — Se você me disser o que aconteceu eu poderia fazê-lo falar sobre o assunto. libertar.
— Não. Ele deve construir seu caminho para a superfície antes que ele possa se O desespero rastejou sobre ela novamente. ― Não existe nenhum modo que eu possa ajudá-lo? Com um sorriso, a mulher mais velha segurou debaixo de seu queixo.
— Eu acho que você já começou. Quando ele veio ontem para me contar sobre o casamento, existia uma luz em seus olhos que eu não via desde que ele era um rapaz. No passado, as descrições das mulheres que ele cortejava eram recitadas sempre sem emoções de suas qualidades. Mas ele chamou você, “a criatura mais irritante de Londres, teimosa, descarada, e necessitando muito da mão de um homem para orientá-la.” Estava bastante claro para mim que ele não podia esperar para fornecer “a mão orientadora.” — Isso não prova nada, — ela murmurou. — Ele é um tirano, sabe. Ela riu. — Só com você aparentemente, e isto é porque suas emoções estão envolvidas. Além disso, acho muito curioso sua relutância para revelar que sua noiva era Lorde X. Ou ele queria proteger você, ou não queria que eu pensasse mal de você. Ambos mostrando que ele se importa. Felicity torcia o lenço. — Ou que sua opinião importa muito para ele. —Nós somos amigos, sim. Injustificado que fosse o ciúme tomou conta dela novamente. — Então por que ele não casou com você? Eu-eu quero dizer, antes de eu encontrálo. Sua posição social não é inferior a minha. Algumas das mulheres que ele cortejou eram extremamente inadequadas a ele. Pelo menos com você ele estaria confortável e não precisaria temer que você não fosse aceitá-lo. — Minha querida Srta. Taylor, ele nunca teria perguntado a mim.Veja, eu sei demais sobre seu “espinho”, como você chama isto, entretanto, considero isto só um incidente trágico em seu passado, mas para ele está tão profundo e escuro, que não poderia imaginar qualquer mulher que o quisesse sabendo disto. É por isso que ele não dirá a você: porque teme assustá-la. Ela colocou sua mão amavelmente na de Felicity. — Além disso, ainda que ele perguntasse, eu não teria aceitado. Isso a surpreendeu. — Porque você estava apaixonada por seu tio? — Dificilmente. — Seu tom aumentou indiferente. — Eu não era amante de Edgar Lennard por escolha. Ele deixou isto bastante claro depois que sua esposa morreu que eu poderia ser sua amante e continuar como governanta de suas crianças ou ser acusada de um crime e deportada. Aos vinte e dois, eu tinha horror disto. Como uma órfã sem família, eu seria presa sem ninguém para defender a minha causa, e teria sido sua palavra contra a 173
minha. Então fiquei como sua amante. Fiquei muito feliz quando ele me dispensou, ainda que isso significasse a pobreza ou algo igualmente baixo. Ela sorriu. — Mas por mais que eu apreciasse que Lorde St. Clair viesse para me salvar naquele momento, não tinha desejo casar-me com ele. Isto teria sido estranho, considerando seus laços para com Edgar e meu filho. Eu estou certa que ele teria sido perfeitamente amável sobre isto, mas eu não queria tal generosidade. Sou muito parecida com você: apesar de minha reputação arruinada, eu gostaria de me casar por amor. Ela recuou com um suspiro. — Mas isto será improvável de acontecer. Ainda, que eu gostasse de ver isto acontecer para Lorde St. Clair. E acho que irá, se você estiver lá para curar a ferida quando o ferimento dolorido ao redor do espinho finalmente se romper. Você estará lá, não é? Eu consegui te deixar tranquila em relação a ele? Curiosamente ela tinha. Existia algo reconfortante no conhecimento que a Srta. Greenaway conhecesse todos os fatos sobre o passado de Ian e não estivesse horrorizada. Qualquer que fosse o problema de Ian, não era insuperável. Houve o som de uma porta abrindo, e então uma mulher jovem colocou sua cabeça na entrada da sala de estar. — Eu voltei Srta. Greenaway. Eu devo pegar Walter para você? — Não, Agnes, obrigada. Ele está tirando um cochilo. — Eu devo dizer ao homem de libré para retornar então? — Agnes perguntou. A senhorita Greenaway virou para Felicity. — Que horas você disse que era seu casamento? Felicity congelou. Maldição, ela esqueceu completamente da hora. Ela esquadrinhou a sala por um relógio, gemendo em voz alta quando ela avistou um. isto!
— Bom Senhor, tenho que estar na igreja em dez minutos! Eu nunca vou conseguir
— Sim, você vai. Nós iremos no cabriolé. — A Srta Greenaway dirigiu-se para a porta da sala de estar. — Posso deixar você na entrada da igreja, e ninguém precisa saber que eu estava lá. Agnes pode olhar Walter, e se nós nos agirmos depressa, nós poderemos fazer isto a tempo. — Eu ainda tenho que me vestir e tudo! — Felicity lamentou-se quando ela correu atrás da Srta Greenaway. — O vestido está na igreja, mas nós chegaremos terrivelmente tarde… oh, Ian vai me matar! — Não, ele não vai. Eu ouso dizer que o homem estará, provavelmente, ele mesmo um pouco atrasado. Nós deixaremos você lá na hora certa, não tenha medo. — Lançando um ansioso olhar para o relógio, a Srta Greenaway agarrou a mão de Felicity e a arrastou em direção à porta da sala de estar. — Vamos Srta Taylor!
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Capítulo 19 Como são cansativas essas modas de casamentos em dezembro Lorde Mortimer com Lady Henrietta, Sr. Trumble com Srta Bateson, e Sir. James com Srta Fairfleld. Por que as noivas arrastam seus amigos neste tempo frígido quando um casamento no agradável verão é bem mais confortável? Lorde X, The Evening Gazette. 24 de dezembro de 1820
Ian andou até a janela do vestíbulo da Capela de St. Augustine pela décima vez em vários minutos. Mas a metade da rua de um andar abaixo mostrava apenas o mesmo espetáculo: vagões de anúncios elogiando os jardins de Vauxhall e o Bálsamo Benignos do Dr. Bentley, vendedores de visco e azevinho, e as ocasionais carruagens da moda flutuando entre as charretes e os cabriolés. Nenhum sinal de sua obstinada noiva. Sua carruagem tinha chegado com os seus passageiros há meia hora, sem trazê-la. Um enfadonho latejar começou em sua cabeça como o de um baterista incompetente. Ele queria estar doente, mas não permitiria isto. Não no dia de seu casamento. Não na frente da Sra. Box e especialmente não na frente de Jordan, que se inclinava com firmeza contra o reboco da parede a alguns metros de distância. Os dois lamentavam por ele, malditos fossem. Entretanto a Sra. Box frequentemente espiava na igreja para ver se seus protegidos ainda sentavam-se calmamente ao lado de seu ídolo Gideon, ela passou o resto de seu tempo observando Ian descaradamente enquanto ele compassava e amaldiçoava. Jordan fingia não notar qualquer coisa ou qualquer um, mas também, furtivamente olhava para Ian a cada minuto. Ian plantou seus punhos no peitoril e debruçou-se para fora, raspando as juntas contra a pedra enquanto ele inspecionava a rua até onde ele podia ver. Nada. Sem carruagens de aluguel com bonitos passageiros, nem discretas carruagens encortinadas. Onde inferno ela estava? Ele virou em direção a Sra. Box. — Você tem certeza que Felicity disse para encontrá-la aqui? — Sim. Se ela não estivesse de volta a tempo. O qual ela não está. — E ela não disse nada para onde estava indo? — Nem uma palavra milorde, mas prometeu que estaria aqui na hora certa. estalo.
Ele tirou seu relógio do bolso, o abriu, olhou para as horas, e o fechou com um
— Ela já quebrou essa promessa por vinte e três minutos, — ele rosnou, girando de volta para a janela. — Se ela não chegar logo, terei que ir procurá-la. Você conhece Felicity. Ela pode ter entrado em outra discussão com um motorista de alguma carrugem de aluguel, ou coche pode estar preso ou…
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Ele parou com um gemido. Ele soava como um daqueles malditos noivos obcecados que baba sobre suas noivas. — Ela estará aqui, milorde, — a Sra. Box aventurou. — Ela provavelmente encontrou um pouco mais de tráfico que o esperado. Uma grande quantidade de carruagens estava na estrada hoje, estamos na Véspera de Natal afinal. Mas ela não é o tipo de garota que... — Deixa um homem no altar? — Maldição. Ele não tinha intenção de dizer isto. Fez parecer que era possível. Mas não era. Felicity nunca agia impulsivamente quando o futuro de seus irmãos estava em jogo. Então novamente, ela sempre o surpreendia. E se isto fosse uma surpresa particularmente desagradável? Deus sabe que era o que ele merecia por seu comportamento arrogante. Ele esfregou suas têmporas com mãos instáveis. O baterista em sua cabeça tinha se juntado com um tocador de pratos e um trompetista muito entusiástico. Jordan veio para seu lado. — Eu suspeito que se você perguntasse, o vigário poderia produzir um frasco de álcool. Devo buscá-lo? Você olha como se pudesse usar o reforço líquido. Ele não deveria ter convidado seus amigos. Na verdade, ele não esperava que eles se apressassem para Londres, em um prazo tão curto para seu casamento, especialmente desde que Sara e Gideon tinham acabado de deixar a cidade. Mas eles vieram, e agora eles iriam testemunhar sua humilhação. — Não, é só uma enxaqueca, — ele mentiu incapaz de encontrar o olhar de seu amigo. — Isto me atormenta por dois dias. — Desde que ele cometeu o erro idiota de tentar forçar certa mulher teimosa a casar-se. — Você não deve piorar isto esticando sua cabeça naquele ar frio desagradável, — a Sra. Box colocou. — Por que não sai da janela antes de conseguir uma febre? Ian atirou-lhe um olhar medonho. — Sra. Box, se este casamento acontecer realmente e você vier a trabalhar para mim, você e eu devemos ter uma longa discussão, relativo ao seu mal hábito de dar lições ao seu mestre. — Eu estou só tentando ser útil, — ela disse com uma fungada. — “Útil “e “irritante” são duas coisas distintas. No momento, você é... — Ian, — Jordan interrompeu se inclinado para fora da janela, —não é ela? Já meio resignado que não viesse, Ian articulou o suporte de suas mãos no peitoril e olhou mais uma vez. Um coche parou embaixo com duas mulheres nele. O passageiro era Felicity, estava certo. Ele soltou um longo suspiro. Então ele sugou em outro, quando ele reconheceu o motorista, cujo vestido de lã simples ele mesmo pagou. Maldito inferno, ele estava em apuros agora. Por que em nome de Deus Felicity tinha que trazê-la para o casamento? — Quem é a mulher com a Srta Taylor? — Jordan perguntou. Ian fez uma careta. — Minha “amiga” da Waltham Street. O silêncio de Jordan amplamente demonstrou que ele conseguiu adivinhar o significado disso. Como Ian também. Felicity poderia ter só uma razão para trazer a Srta Greenaway para a igreja. Sua ciumenta noiva provavelmente tinha intenção de esfregar sua 176
"amante" em seu rosto, entretanto se surpreendeu que a Srta Greenaway houvesse concordado com o esquema. Ela não deveria ter percebido o que Felicity pretendia. O ar glacial rodando no vestíbulo frio acompanhou o gelo aglomerando em seu coração quando ele assistiu o salto de Felicity do coche. Ela pausou para falar com a Srta Greenaway. Então, para sua surpresa, ela virou-se e correu para os degraus enquanto a Srta Greenaway partia no coche. — O que a... ― Ele dirigiu-se à porta de uma vez. Sua breve futura esposa explicaria isto para ele ou por Deus, ele a poria sobre seu joelho. A Sra. Box apressou-se atrás dele. — Espere milorde! — Ela disse quando pegava em seu braço. — Trás má sorte o noivo ver a noiva antes do casamento! — Não existirá um casamento se eu não conversar com ela agora. — Escapando da mão da mulher, ele abriu a porta para o vestíbulo quando Felicity alcançou o degrau superior. — Você está atrasada. Sua cabeça levantou e ela parou tão abruptamente que quase perdeu o equilíbrio. Alcançando-a, ele a pegou pelo braço para firmá-la. — Ian! Sim, estou… Eu não queria estar, mas… Bom Deus, você está ai de pé há muito tempo? — Meia hora. E sim, eu vi você chegando com a Srta Greenaway. mar.
Na palidez etérea de seu rosto, seus olhos brilharam escuros e misteriosos como o — Não é o que você pensa.
— Você não quer saber o que penso, asseguro-lhe. — Ele a arrastou para dentro do vestíbulo, então se virando para encontrar Jordan e Sra. Box pouco à vontade com relação a ele, como membros de um irritante coro de uma tragédia grega. Ele nivelou um olhar negro em ambos. — Jordan, vá dizer ao vigário que o casamento brevemente começará, e vá buscar James, já que ele estará conduzindo Felicity. Sra. Box junte-se a Sara e Emily na sala de coro. Diga a elas que Felicity estará lá em um momento para se vestir. Quando a governanta hesitou, atirando em Felicity um olhar ansioso, Felicity disse. — Está tudo bem. Pode ir. Eu preciso falar com Ian a sós. Seu tom tranquilo apenas agitou mais seu temperamento. Assim que os outros desapareceram, ele a enfrentou com uma carranca. — Bem? Que explicação você possivelmente pode ter para isto? — Eu verdadeiramente sinto muito que esteja atrasada, mas nós estávamos conversando, e o tempo escapou. — Você sabe muito bem que não estou me referindo ao seu atraso, — ele interrompeu. — Por que em nome de Deus você foi ver a Srta Greenaway? E o que você quer dizer, que você estava conversando? Sobre o quê? — Você, claro. O que mais? A orquestra do inferno agora uivava em sua cabeça. — O que ela disse sobre mim? — Nada importante. — Com um ar de distração, ela se virou inspecionando o vestíbulo. — Esta é uma igreja muito boa, Ian. É a que você frequenta? 177
Maldita seja Felicity! Ele agarrou seus ombros e virando-a ao redor para enfrentá-lo. — O que maldito inferno ela disse a você? Seu olhar encontrou o dele, fresco, composto. — E se ela me disse a verdade? Ele não teve que perguntar qual era a verdade. Meu Deus, não. Seguramente não. Certamente se a Srta Greenaway disse a ela a verdade, Felicity não estaria de pé aqui. Ela estaria fugindo dele até onde seus escassos fundos a levasse. Não é? Só quando ela estendeu-se para erguer seus dedos de seus ombros que ele percebeu que estava cravando-os em sua carne. Ela não os liberou, porém, mas apertou-os com os seus. — Ela não me disse nada, Ian, que você já não tenha me dito. Ela disse que você a fez jurar segredo. E que você teria que dizer-me você mesmo. A frenética batida em sua cabeça aliviou, mas só um pouco. — Então ela não satisfez sua tola curiosidade sobre as coisas que não importam? — Não. — Mas você veio aqui de qualquer maneira. Seu sorriso breve reassegurou-lhe. — Sim. Uma coisa que ela me disse era que seu segredo não deverá ferir-me. — Eu mesmo disse isso a você. — Era muito mais provável machucá-lo, virando-a contra ele, que era por isso que não falaria dele até que ela estivesse casada, na sua cama, e grávida. E por isso ele ignorou seu olhar expectante agora. — O que mais ela disse a você? Ela suspirou. — Ela também disse que você seria um bom marido e me trataria bem. Uma tênue esperança brotou dentro dele. —E você acreditou nela? — Eu acredito que você tenha o potencial para ser um bom marido. — Seu tom cresceu gelado. — Mas não se você continuar a tratar-me do modo que você fez na outra noite. Seu segredo já é ruim o suficiente, mas ameaçar apressar minha ruína financeira de uma maneira tão desprezível — Ela ergueu seu queixo em um entalhe. —Eu não gosto de ser tiranizada, Ian. A extensão de seu repudio estava aparente em cada linha rígida de seu corpo esbelto. Ele rangeu seus dentes. Ele já tinha planejado se desculpar, mas agora que o momento chegou às palavras pareciam presas em sua garganta. — Eu fiz o que pensei que fosse o certo. — Você pensou que forçar-me fosse certo? Ele tirou suas mãos das dela. — Era o único modo de fazer você compreender a sabedoria que é se casar comigo. — Oh, você acha, não é? — Ela cruzou seus braços acima de seu corpete de lã desbotado. 178
Com um gemido, ele desviou o olhar. — Não. — Ele suspirou. — Eu sinto muito. Eu não estava pensando. Eu não devia ter forçado você. — Você quer dizer isto? — Sim. — Então se eu não me casar com você, você não fará nada para me parar? Seu olhar saltou para o seu, um suor frio saindo em sua testa. Meu Deus, ela o recusaria agora? Com todo mundo esperando na igreja? Ele esquadrinhou seu rosto por algum sinal do que ela pretendia. E não viu nenhum. Ainda que ele soubesse que só uma resposta mostraria a sua sinceridade, por mais que picasse seu orgulho para lhe dar isto. — Não. Sim. Eu quero dizer que eu não farei nada para parar você. O sangue trovejava em suas orelhas enquanto ele esperava por sua resposta, mas ela não tinha acabado com ele ainda. — Eu tenho mais uma pergunta. Se você a responder para minha satisfação, casarei com você, Ian. Isso o pôs em guarda. — Se você esta falando das histórias de Lady Brumley... — Não. É algo que… tem me aborrecido desde que você fez amor comigo. Por que você me escolheu para casar? Por que não todas aquelas outras mulheres que você cortejou? Sara perguntou a ele a mesma coisa, e sua resposta não mudou. — Porque eu quero você mais que alguma delas. agitada.
Pela primeira vez desde que eles começaram esta discussão absurda, ela pareceu
—Se querer você quer dizer desejar, eu devo adverti-lo que eu ainda pretendo não compartilhar sua cama até que nós trabalhemos nossas diferenças. — Bom. — Aquela ameaça em particular não o preocupou. Nenhuma mulher com a paixão de Felicity abstinha-se do prazer depois que teve um gostinho. Não quando o homem estava empenhado em seduzi-la. — Mas isso não foi o que eu quis dizer. Eu quero você, a pessoa Felicity. Nenhuma outra mulher será suficiente. Você… me intriga. — No seu sorriso lento, ele ficou inexplicavelmente irritado. — E eu não sei por que, então não me peça para aprofundar mais ou jorrar um monte de tolice sobre suas virtudes. — Eu não sonharia com isto. Se você começar a catalogar minhas virtudes, você certamente irá adicionar minhas falhas também, e estou certa que este último excede o primeiro em sua mente. — Seu sorriso alargou. — Mas suponho que aquela resposta irá me satisfazer. No momento, pelo menos. A extensão de seu alívio cambaleou e o alarmou, tanto que ele não conseguia manter a aspereza de sua voz. — Então nós podemos, por favor, nos casar? — Oh, muito bem. Eu quero dizer, você já teve tantos problemas, afinal. Eu não gostaria de desapontar você. Ou humilhá-lo publicamente. 179
Ele bufou. — Sim, você é sempre tão cuidadosa a esse respeito. Um sorriso foi sua resposta. Mas, quando ela tirou suas mãos das suas e apressou-se para os degraus que levava ao caminho para a sala do coro, ele sentiu a cobertura de gelo ao redor de seu peito começar a derreter. Ele não se importava que ela o tivesse ameaçado sobre não deitar-se com ele. Deixaria que ela tivesse seu pedaço de diversão e pensasse que estava no controle. Desde que o casamento continuasse e ela se tornasse sua esposa de uma vez por todas, ela poderia ameaçar o quanto quisesse. Porque no fim, ele ganharia.
***
Este era um casamento muito peculiar, Felicity pensou. A noiva entregue por seu irmão de doze anos de idade. Apenas dois assistentes, e eles eram irmã e irmão, Sara ficou de pé para ela e Jordan ficou de pé para Ian. E um ex-capitão pirata flanqueava os irmãos trigêmeos da noiva que estavam se contorcendo a esquerda, enquanto uma empregada se sentava à direita. O único outro convidado era Emily, então era ambos uma variedade heterogênea e pequena. No entanto eles fizeram que tudo se tornasse alegre, mais alegre do que a noiva e noivo, isto era certo. Quando o vigário leu o serviço, Jordan sorriu maliciosamente e Sara sorriu com indulgência. A Sra. Box chorou lágrimas de alegria desde o início, enquanto os meninos meneavam e sorriam no banco, apenas muito encantados em adicionar um visconde para a família. E o geralmente rosto severo de Gideon realmente parecia satisfeito com todo o assunto, até mesmo lançando uma mão para subjugar as travessuras de um ou outro dos trigêmeos. Enquanto o vigário lia os votos, Felicity relanceou um olhar em seu futuro marido, parecendo tão alto e forte em seu colete de veludo branco e sua casaca azul escuro da saxônia com botões dourados. Alguém poderia pensar a partir de seu semblante que este casamento estava sendo tão fácil para ele como um passeio pelo campo. Mas ela sabia bem. Que tinha existido aquele momento no vestíbulo quando ela vira de relance a profundidade de sua incerteza, a pura intensidade de seu desejo de casar-se com ela e seu igualmente intenso medo de que ela não pudesse. Esse vislumbre tinha empurrado à diante, quando cada pensamento que tinha dizia que isto era uma loucura. Em algum lugar dentro de sua fachada fria estava um coração muito machucado, que não poderia amar até que fosse curado. E ela queria curá-lo. Tinha que fazê-lo. Pois ela já tinha perdido seu coração para ele, e não iria desistir, até que ele fizesse o mesmo. Ian começou a repetir os votos, e a firmeza de sua voz profunda acalmou suas preocupações. Iria dar tudo certo. De alguma maneira faria isso tudo dar certo. Quando foi sua vez, ela falou devagar, as palavras pesando em sua língua, pois eram seus mais solenes votos. Se estivesse errada sobre Ian, ele poderia um dia levantar-se para assombrá-la. Mas sua vigorosa presença ao seu lado deu-lhe força para terminar com isto.
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Ela e Ian trocaram os anéis. Ela deu a ele o antigo anel de casamento de seu pai, que era tudo o que ela podia dispor, mas o que Ian deslizou em seu dedo era obviamente novo e caro. Ele certamente falava a sério quando prometeu ser um marido generoso. — Você pode beijar a noiva, — o vigário entoou. Seu sangue clamava tolamente quando Ian a encarou e ergueu seu véu. Ela tinha esquecido sobre esta parte da formalidade, e fazia dois dias desde que ele beijou-a da última vez. Seu beijo foi rápido e circunspecto, um mero pressionar de seus lábios contra os seus, mas as chamas incendiavam seus lábios onde ele os tocou, e o fogo rebelou-se em seu ventre. Não podia confundir o brilho possessivo refletido em seus olhos de meia-noite quando ele afastou-se. Encontrou uma resposta no sorriso que ela não podia afastar de saltar de seus lábios. Oh, mas ela era um caso perdido. Cada movimento seu chamando por seus sentidos, que por sua vez clamavam por sua atenção. Um olhar aqui, um toque lá… algum e todas as chamas desencadeando em lugares impertinentes. E pensou em resistir a isto? Nem sequer notou os amplos sorrisos dos convidados do casamento enquanto ela e Ian subiam ao altar. Sua mão enluvada cobria a dela onde estava aninhada na dobra de seu cotovelo, mas até este contato casto provocava demais sua imaginação selvagem, que continuava vendo suas mãos desnudas em seus seios, barriga e coxas. Ela engoliu em seco. Agradecendo a Deus que ambos vestissem luvas, ou suas mãos, certamente se fundiriam com o calor de seus pensamentos. Em uma névoa sensual, ela o deixou levá-la para o vestíbulo. Nesta mesma névoa sensual, ela foi com ele e o vigário para a câmara onde assinaram todos os documentos necessários. Apesar de ter sido apenas alguns minutos, parecia que tinha passado horas antes de saírem da igreja para a carruagem que os levaria para o banquete de casamento que Sara insistiu em lhes dar. No momento que alcançaram sua carruagem seu corpo estava inundado com a necessidade maldita, e tudo apenas a partir do mais aprazível contato conjugal. Se ela pudesse só escapar por um momento, apenas para recuperar seu fôlego antes de Ian tê-la ele mesmo. Mas isto era impossível. Agora estariam sozinhos na carruagem todo o caminho para o banquete de Sara. Bem, ele não iria seguramente tentar nada em tão pequena distância. Talvez isso lhe desse tempo para reprimir os maus impulsos antes que eles partissem na jornada de duas horas para sua propriedade. Infelizmente, uma vez que eles estavam em sua carruagem, ele tomou o assento próximo ao dela. As cortinas foram fechadas, e o coche era tão íntimo quanto qualquer aposento. Ela gemeu em voz alta com o pensamento, e ele lhe lançou um olhar preocupado. — O casamento não estava aceitável? — Ele perguntou quando o coche partiu. — O casamento estava bom, — foi tudo que conseguiu administrar. Sua carruagem era espaçosa, mas ela não podia evitar tocá-lo quando compartilhou seu assento, e a pressão de sua coxa com as suas oferecia novas tentações. Tendo compartilhado uma cama com o homem devia ter reprimido todas as hesitações de seu corpo ansioso e iniciado, mas que qualquer coisa, isso só fez piorar. — Eu estou contente com sua aprovação, — ele disse. — Queria dizer-lhe, que a sua escolha do vestido foi excelente. Como você o conseguiu em tão pouco tempo? — Era o vestido de noiva de mamãe. A Sra. Box ajustou-o para mim. — Com sucesso admirável. Ajusta-se bem em você. 181
Bom Deus, ele deveria dizer isto naquela voz masculina retumbante que fazia o mais inócuo dos comentários parecem sedutor? — Eu direi a ela o que você disse. Pegando sua mão, ele atou seus dedos com os dela. — Você parece adorável vestida nele. direção.
Agora ele pretendia ser sedutor. Ela não deveria deixar a conversa vagar naquela
— Se eu tivesse tempo,― ela disse, tentando soar irritada, — poderia tê-lo ajeitado mais nos ditames da moda. Mas você estava com tanta maldita pressa de ter seu negócio fechado. Ela esperava incomodá-lo o suficiente para soltar sua mão, mas seu aperto meramente mudou a forma da maneira em que seu polegar pudesse golpear através de seu pulso. Ela podia sentir o toque sensual mesmo através de suas luvas. —Eu comprometi você, lembra? Nós tivemos que agir rapidamente para preservar sua reputação. — Sim, e ganhar a possessão de qualquer herdeiro que você pudesse ter gerado. Você pagou bem caro por este seu herdeiro. Isso não funcionou também. Como se soubesse por que ela o aferroava, ele riu, então liberou sua mão, mas apenas para retirar suas luvas com movimentos lentos que transformavam seu interior em papa. Ela engoliu em seco e acrescentou. — Bem, você pode achar que conseguiu a pior das pechinchas. Ele lançou as luvas de lado. — Como assim? — As dívidas de meu pai são bastante significativas; meus irmãos são propensos a comer; e eu mesmo posso decidir que é hora de favorecer meu gosto para luxos antes eram inacessíveis para mim. Com uma risada, ele se recostou contra o assento acolchoado e tomou suas mãos enluvadas na sua. Ele virou-se ao longo e ergueu-a para pressionar um beijo na curva da palma de sua mão. — Você pode deliciar-se com o conteúdo de seu coração, querida. Quando você e o curador de seu pai discutiram os termos do acordo de casamento ontem, estou certo que ele disse a você da mesada que estou fornecendo a você e a seus irmãos. —Sim. — Na verdade, ela tinha mais "dinheiro extra" por um ano do que ela poderia gastar em toda uma vida. Erguendo seu rosto para o dele, ela murmurou, —não vejo como você pode possivelmente conseguir que seu dinheiro seja digno de mim. Ela amaldiçoou sua língua irrefletida quando o desejo chamejava em seu olhar. — Teria sido uma barganha em três vezes o preço, — ele disse sua voz espessa com a necessidade. Oh, não. Ela conhecia o significado daquele olhar, sabia o que sinalizava. No entanto, como uma tola, ela olhou fixamente paralisada quando ele curvou sua cabeça com lentidão infinita em direção a ela. Quando sua boca cobriu a sua, morna, firme, e perfumada com vinho, ela necessitava aquilo. O conhecimento de que ele agora era seu marido, de que isto 182
não era apenas aceito, mas esperado, corroeu ainda mais sua vontade, suavizando-a, fazendo com que ela cedesse de forma gradual, que não reconhecesse isto como cedendo até que fosse muito tarde. Ele levou seu tempo, tocando vagarosamente sua boca, primeiro com suavidade acariciando seus lábios e então com golpes ternos de sua língua. Quando ela ergueu suas mãos pondo-as em concha em suas bochechas, ele a arrastou sobre seu colo para que pudesse saquear sua boca zelosamente. O beijo já não era mais terno ou gentil. Era a explosão de toda a sua fome e da dela, bocas que buscavam prazer com entusiasmo desavergonhado. Uma de suas mãos deslizou seu vestido e anáguas até o topo de suas pernas, até que elas tocaram as suas ligas. Então ele achou o lugar dolorido entre suas pernas e deslizou seu dedo polegar dentro de sua fenda para provocar a suave carne e o pequeno núcleo inchado. Ela se mexeu semi conscientemente para permitir-lhe melhor acesso, e ele tomou vantagem disto, deslizando um dedo bem no fundo de sua passagem lisa. Ele acariciou-a com tanta ousadia, que arrancou um suspiro chocado dela que ele engoliu com seu beijo. Pareceu tão temerário se entregar a estas carícias quando apenas uma cortina e uma folha de vidro os separavam do resto de Londres. O pensamento excitou-a além da razão. E ela não era a única excitada. A excitação de Ian inchou em seu colo tão seguramente quanto sua própria excitação latejava entre suas coxas. Ela não teria sequer notado que a carruagem parou, se ele não tivesse parado abruptamente de beijá-la e acariciá-la. Mesmo depois que ele recuou, sua cabeça girava vertiginosamente. Então ele olhou para ela e sua boca, sua provocante e perversa boca, curvada em um sorriso. — Eu vou ter meu herdeiro no próximo dia de São Martinho, — ele lembrou a ela em um sussurro. — Ou mais cedo. Quando o lembrete afundou dentro e seus olhos cintilaram como um triunfo, todo seu prazer desapareceu. Diabos o levem, diabos o levem, diabos o levem! Ela já tinha sentado em seu colo, com sua mão escorregadia em cima em suas saias! Como ela poderia tê-lo deixado vencer tão facilmente? — Solte-me, — ela sussurrou incapaz de pensar sobre qualquer réplica engenhosa para esconder sua mortificação. — Você está certa de que é isso o que você quer? — Ele teve a audácia de apertar seu polegar no pequeno nódulo de carne novamente. Ela arrancou sua mão debaixo de suas saias. — Sim. Nós estamos aqui. É hora de entrar. — Nós poderíamos ir direto para Chesterley, é uma boa viagem de duas horas; tempo de sobre para… prazeres privados. Eu estou perfeitamente disposto a abrir mão do banquete de Sara. — Bem, eu não estou, — explodiu se contorcendo em seu colo. — Eu não comi nada desde o amanhecer, e devo me alimentar, milorde. porta.
— Eu posso te alimentar, querida — ele sussurrou enquanto estendia a mão para a Frenética para se livrar dele, ela abriu-a com um empurrão. 183
— O homem não pode viver em uma cama sozinho, — ela gracejou antes de pular agilmente da carruagem sem esperar pela mão dele para sair. —Nem por acaso a mulher. Ele sorriu quando ele a seguiu para fora. — Muito bem. Eu posso esperar até mais tarde. — Não haverá “mais tarde”, — ela murmurou tanto para ele como para ela mesma. — Da próxima vez, estarei bem mais preparada. Recusando o braço que ele ofereceu-lhe, apressou seus passos para a entrada, sua raiva aumentando quando olhou para trás para vê-lo segurando suas luvas. As luvas que ele deliberadamente removera assim poderia afagá-la. Ele teria feito isto de propósito, diabos o levem, ele provou que poderia seduzi-la sempre que quisesse. Ooh, devia ter esperado isto dele. Ele viu sua recusa em ir para a cama com ele como um desafio, e Ian nunca voltava atrás em um desafio. Bem, ele iria ter uma surpresa. Desta vez ele a irritou o suficiente para resistir a ele. Deixe-o tentar novamente uma pequena sedução mais tarde. Ele não iria gostar do resultado. Ian felicitou-se enquanto encarava as costas rígidas de sua noiva. Tinha sido ridiculamente fácil provar que ela não poderia resistir a suas próprias paixões. Ele provavelmente não devia tê-la insultado-a no final, mas como ele poderia não se regozijar quando ela virou manteiga pura em suas mãos apenas uma hora depois de proibi-lo em sua cama? Uma pequena hipócrita, é isso o que ela era. E ele desfrutaria descascar sua hipocrisia quando retirasse o vestido dela mais tarde. Ela fez uma pausa no topo dos degraus para esperar por ele, os olhos relampejando. Perversamente, ele diminuiu a velocidade de seus passos e deixou seu olhar embebê-la. Ele gostou de olhar para ela naquele vestido, o vestido de sua mãe. Esse apego sentimental era sob medida para ele, não era? Seguramente uma vez que eles estabelecem a de vida de casados, ela esqueceria tudo sobre seus segredos. Seria fácil navegar, desde que ele gerasse um herdeiro logo. E não existia nenhuma razão para pensar que não iria, agora que estava certo que ela não poderia resistir a suas seduções. Seu pai tinha tido um de dois filhos, e ela era a única menina de cinco crianças. Sim, ele teria seu herdeiro. Talvez até antes do dia de São Martinho. Talvez até de São Miguel. Ele pegou seu braço quando a alcançou no topo. — Quanto tempo nós devemos ficar para satisfazer sua necessidade de sustento? Eu duvido que os Worthings possam oferecer-me qualquer coisa para satisfazer-me. — Isto é porque seu apetite está cansado, ― ela disse sarcasticamente. — Não cansado… carnal. E satisfazer esses apetites aqui, chocaria aos meus amigos. — Ele se inclinou para sussurrar. — Entretanto eu acredito que isto agradaria minha esposa. — Você superestima seus poderes de sedução, — ela silvou debaixo de sua respiração quando a porta abriu diante deles. — E você, seus poderes de resistência. Quando os empregados desceram para pegar seu manto e seu casaco, sua cor intensificada disse-lhe que ela sabia disto e não estava tão certa de sua própria. Era suficiente para torná-lo excessivamente contente consigo mesmo. 184
Assim que eles alcançaram a sala de jantar, seus amigos os cercaram, mas mesmo isso não reduziu seu bom humor. As mulheres levaram Felicity, clamando por detalhes sobre o súbito casamento. Ele perguntou-se o que ela estava dizendo a elas. A verdade? Duvidava disto. O que quer que fosse ela mal começou antes de ser cortada quando as portas duplas abriram em uma extremidade da sala e os Temíveis Taylor correram em direção a ela em um galope. Ela ajoelhou-se para abraçar os trigêmeos, e seus quadris esticaram-se contra a seda azul. Num flash de memória, ele viu a si mesmo beijando os globos bem torneados, em seguida, virando-a para cima para separar suas coxas e… Seu membro obstinado chamou sua atenção imediata dentro de seus calções justos. Maldição, isso nunca tinha acontecido, não até hoje. Jordan aproximou-se e entregou-lhe uma taça de champanhe. Uma vez que Ian não conseguia desviar seus olhos de Felicity e a maldita coisa em seus calções estava fixa na direção ela, como uma bússola apontando para o norte, Ian moveu-se de forma que uma cadeira bloqueasse a visão de seu corpo agachado. Claramente notando a manobra não muito sutil de Ian, Jordan sorriu. — Parabéns, meu amigo. Você tem uma esposa completa, entretanto parece que ela veio com muita bagagem. Você é o único homem que conheço que empreenderia em uma família tão grande e tumultuosa por uma mulher. — Ela vale a pena, — ele ouviu-se dizendo, percebendo que ele queria dizer exatamente isto. — Eu ouso dizer que vale. — Jordan tomou um gole de champanha. —Você sabe, Emily disse-me algo estranho. Ela afirma que sua esposa é o famoso Lorde X. O riso de Felicity flutuou no ar, fazendo as entranhas de Ian imediatamente se contraírem. Ele engoliu um pouco de champanhe. — Ela é. Então veja o que você diz ao redor dela. Eu duvido que ela tenha qualquer intenção de se aposentar simplesmente porque se casou comigo. — E todas as suas colunas sobre você... — Era uma forma peculiar de namoro, você poderia dizer assim. — Ian assistiu enquanto ela levantou-se e começou a falar com os meninos com uma expressão séria. — Outras pessoas fizeram contribuições, e nós oferecemos rumores sobre os outros. Um clamor súbito veio de um dos trigêmeos. O menino arremessou-se através da sala em direção a Ian e agarrou-se em torno de suas pernas, soluçando em um dos joelhos do Ian. Assustado, Ian despenteou o cabelo do menino e disse ternamente. ―O que houve agora, o que está errado? Quando o menino ergueu o rosto coberto de lágrima para ele, ele reconheceu William por seu dente perdido. — Lissy disse que v.. você está levando-a para longe para viver com você! — William gaguejou entre soluços. — E n.. nós vamos f.. ficar aqui sem ela! Felicity se aproximou, seu olhar sobre Ian. — Eu sinto muito... Eu não tinha dito a eles até agora. Eu sabia que eles iriam ficar muito desapontados. — Por favor, não leve embora nossa i... irmã, nós precisamos de Lissy! 185
Abaixando-se em um joelho, Ian segurou nas bochechas úmidas de William. — Eu preciso dela, também. E você tem Sra. Box para cuidar de você. Mas quem eu tenho? Ninguém. Além disso, só será uma semana. No Dia de Ano novo, nós voltaremos para buscar vocês todos. Então você virá para minha propriedade para viver comigo e sua irmã. Você gostaria disso, não é? — Mas o Natal já terá passado até lá! — William lamentou. — Nós não podemos ter Natal sem Lissy! O choro o torturou. Natal. É claro. Fazia anos desde que ele celebrou o Natal em mais de uma forma superficial, então, embora ele vagamente notasse que Lissy e os meninos seriam separados no feriado, ele não se preocupou sobre isto. Ele enviou uma seleção de brinquedos para Taylor Hall suficiente para agradar qualquer criança e ele considerou ter resolvido o problema. Ele era um maldito idiota. A mulher era a coisa mais próxima de sua mãe, e agora ele a estava levando para longe no Natal. O que estava errado com ele estes dias? O Ian Lennard que tinha espionado para Sua Majestade teria reconhecido a importância dos meninos terem Felicity a sua volta no Natal. O Ian obcecado por sua esposa, porém, só pensava em consegui-la para si mesmo o mais rápido possível. Seu olhar voou para Felicity, que estava observando William com olhos nublados. Maldição. Ele se levantou e tocou seu braço. — Por que você não disse nada? Olhando para longe, ela gaguejou, — S.. Sobre o quê? — Você quer estar aqui para o Natal, também, não é? Sinto muito, eu não... — Ele rompeu com um gemido. — Eu não sou tão insensível para afastá-la de sua família durante o feriado. Ele olhou abaixo para o nariz vermelho de William e seu peito arfante. Desprezar seus irmãos não iria valorizá-lo para sua nova esposa. Ainda, que a única solução não fosse a que desejava. Então o deixou completamente surpreso quando ele ouviu-se dizendo: — Que tal se Lissy e eu ficássemos em Taylor Hall hoje à noite, William? Nós celebraremos o Natal com você de manhã e sairemos amanhã depois do jantar de Natal. Isso agradaria você Will? Os olhos de William iluminaram. — Oh, sim! Você ouviu Lissy? Nós teremos o Natal todos juntos! — Ele saiu correndo para dizer aos seus irmãos. — Mas é só por hoje à noite! — Ian gritou depois do menino. Então ele suspirou. Outra noite compartilhando Felicity com seus irmãos. Maldição. Felicity deslizou a mão na dobra de seu cotovelo, então o beijou na bochecha. —Obrigada. — Ela sorriu radiante para ele. — Mas você pode lamentar seu gesto generoso mais tarde quando meus irmãos forem assolá-lo sem piedade. — Eu já lamento agora, — ele murmurou, colocando sua mão sobre a dela. —Talvez possa persuadi-los que será mais provável o Papai Noel vir mais cedo se eles se retirarem mais cedo. 186
— Boa sorte. — Seu sorriso ficou travesso. — Eles estão sempre tão excitados com o Natal, que nós seremos afortunados se eles dormirem à noite toda. — Por que eles deveriam? Nós certamente não o faremos. Ela olhou distraída, então corou e tentou remover sua mão das dele. — Eu imploro seu perdão. Devo dormir bem. Eu sempre faço quando estou em minha própria cama, sozinha. — Sozinha? — Ele apertou ainda mais sua mão. — Absolutamente não. Você é minha esposa agora, e não terei seus empregados fofocando ao redor de Londres sobre o porquê o Visconde de St. Clair não compartilhou a cama com sua esposa em sua noite de núpcias. Seu olhar apunhalando mostrava que ela entendia sua posição e sabia que não poderia esperar para mudar isto. — Muito Bem. Nós dormiremos junto. Mas dormir é tudo o que nós faremos Ian. — Se você diz, — ele zombou. Ele deixou-a mantendo sua hipocrisia para o momento. Afinal, ele tinha a noite toda para tirar isto dela, um pedaço de cada vez.
Capítulo 20 A tendência deplorável de alguns para beberem demais durante a época do Natal vai causar estragos em nossa sociedade se nós não verificarmos isto.
Lorde X, The Evening Gazette. 25 de dezembro de 1820
Felicity veio despertando lentamente, a luz matutina ardendo por suas pálpebras fechadas. Abrindo seus olhos, viu os familiares moldes no teto. Era sua própria cama, e ela estava vestida com sua chemise. Mas como chegou aqui? A última coisa que lembrava era estar contando uma história para Georgie no berçário. E o sonho estranho posteriormente… os braços erguendo-a… uma voz baixa murmurando… uma sensação de flutuar.
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Ian! Ela sentou-se rapidamente na cama, então o viu afundado em uma cadeira não muito longe. Sem camisa e descalço, usava apenas sua roupa íntima. Suas pernas cabeludas estavam espalhadas na frente dele, e seus braços estavam cruzados sobre seu peito nu. E seus olhos estavam abertos, fixos nela com uma intensidade escura que a fez sentir calafrios. Ele nunca pareceu mais ameaçador. Ou tentador. — Afinal a Bela Adormecida despertou, — ele rosnou, levemente enrolando um pouco as palavras. Ele endireitou-se na cadeira e um espasmo de dor sobre seu raramente rosto pálido. — Você está indisposto? — Ela perguntou com preocupação imediata. Curvando-se, ele levantou algo e brandiu isto diante dela. Uma garrafa de conhaque. E quase vazia pelo parecia. — Por pelo amor de Deus, você está embriagado! — Ela exclamou. Ele ergueu a garrafa, inspecionando seu conteúdo escasso mal-humorado. — Não embriagado o suficiente. Estava meio vazia quando achei. Como era estranho para Ian beber excessivamente. Estar bêbado significava perder o controle de uma situação, e Ian nunca perdia o controle. O que poderia tê-lo feito beber? — Algo aconteceu ontem à noite que não me lembro? — Nada aconteceu. — Ele recostou-se contra a cadeira para olhar ameaçadoramente para ela, a garrafa batendo contra sua perna. — Este é o problema. Entre sua celebração de Natal, todo o tempo que passou pendurando meias e cantando canções com seus irmãos, e sua insistência em levar os meninos para a cama, nem uma maldita coisa aconteceu. Você não me deixou ir com você, falou-me algumas tolices sobre está ser a última noite com eles durante algum tempo. Então como um tolo desci para esperar por você. Balançando a garrafa, ele bebeu o resto do conhaque, os músculos em sua garganta trabalhando convulsivamente enquanto ele engolia. Ele enxugou sua boca com a parte de trás de sua mão. — Quando você não veio, eu fui olhar você e achei-a adormecida na cama de Georgie. Ele soou tão abandonado que ela sorriu. — Oh. Deve ter sido o champanhe. Sempre me põe direito para dormir. E eu me levantei muito cedo ontem de manhã... — Tentei despertar você. Isso era inútil, então eu finalmente desisti e levei você para a cama. — Seu olhar movendo-se abaixo por seu corpo, então parou em seus seios. A alteração súbita em sua expressão de raiva para desejo a fez olhar abaixo em sua chemise. Bom Senhor. Ela estava aberta, onde os laços estavam desfeitos. Rapidamente, ela reatou-os, cuidando para não encontrar seu faminto olhar. — Você… despiu-me? — Certamente. Eu não poderia deixar você dormir com seu vestido, não é? O calor nadou acima dela com o pensamento de seu vestido sendo desabotoado e deslizando lentamente fora de seu corpo. Tinha ele a tocado? Talvez. Mas não tinha dormido com ela, estava bastante certa disto. Lembraria se tivesse. Além disso, se tivesse dormido com ela, provavelmente não estaria bêbado agora.
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Ele segurou a garrafa para cima, olhando fixamente com uma carranca, então a lançou de lado como uma criança mal-humorada descontente com um brinquedo. —Vazia maldito seja. Existe mais neste lugar? — Se houvesse eu não a daria para você, — ela disse corriqueiramente. — Você não devia estar bebendo a esta hora, pelo amor de Deus. — Ouso dizer que qualquer homem que passou sua noite de núpcias assistindo sua esposa mimar, um monte de jovens travessos ingratos e então cair em um sono profundo estaria bebendo a esta hora. Ele soou tão desesperado, o pobrezinho. Quase compensou o fato que ele tinha ficado à noite passada tentando desgastar sua resistência a ele. Uma carícia, quando seus irmãos não estavam olhando… um braço em torno de sua cintura… segurar as mãos. Não mencionando dois beijos roubados no corredor e um descarado debaixo do visco. Oh, sim, ele mereceu uma noite de núpcias sozinho depois o que a fez passar. Não percebeu que sorria até que ele murmurou. — Você acha isto imensamente divertido, não é? Você está muito orgulhosa de si mesmo por todas as suas tática dilatórias. — Bem, não planejei exatamente que isto fosse acontecer deste modo, então dificilmente posso orgulhar-me disto. Mas deu certo a meu favor. — Ela deslizou da cama e vestiu seu roupão, então foi para a porta e destrancou-a. — Onde você pensa que está indo? — Ele levantou-se da cadeira, seus movimentos surpreendentemente firmes. Ela o encarou, e sua boca foi seca. Seus calções de lã não deixavam nada para a imaginação, descrevendo em detalhes sua excitação amorosa. Quando combinado com seu físico seminu e bastante glorioso, a visão disparava seu coração. Diabos levem o homem. Até ligeiramente bêbado, ele era tentador. Mas ela não o deixaria distraí-la de seu propósito no momento. Pensando depressa, ela apanhou a chave para que ele não pudesse trancar a porta novamente. — Eu pensei em ir buscar-lhe algo para sua cabeça dolorida. Os meninos estarão aqui em cima a qualquer minuto, e ... — Tranque a porta, — ele ordenou quando andou em direção a ela. — Nós podemos ter perdido nossa noite de núpcias, esposa, mas não existe nada que diga que nós não podemos ter uma manhã de núpcias. O coração batendo forte, ela abriu a porta, mas em dois passos, ele estava ao seu lado, batendo-a fechada antes que ela pudesse passar. Ele imprensou seu corpo entre o seu e a porta. Cada centímetro de macho rígido, determinado flexionado contra ela. — Dê-me a chave, — ele ordenou os olhos reluzindo para nela. Desafiadoramente, ela lançou-a através do quarto. — Pegue-a você mesmo. Ele hesitou aparentemente debatendo como conseguir a chave, sem deixá-la tempo o suficiente para ela escapar. Então ele sorriu e sua mão agarrou seu quadril. — Não importa. Mas quando ele curvou a cabeça para beijá-la, ela contorceu-se entre ele e a porta. 189
— Você não está em condição para estar fazendo isto, — ela disse afastando-se dele. — Nenhum homem jamais esteve em condições melhor para fazer isto, querida. — Ele espreitou-a com intenção despreocupada. — Você é minha esposa agora. E nós consumaremos este casamento. Uma série desigual de pancadas e batidas na porta de seus aposentos surpreendeu a ambos. Ian deteve-se, virando-se para olhar a porta. — Lissy! — Veio o sussurro alto de uma criança além dela. — Lissy, você está acordada? — Não diga nada, e os pequenos diabinhos partirão, — ele rosnou baixinho. Ela riu em parte, do ridículo de sua declaração e em parte pelo alívio por ter sido poupada mais uma vez. —É manhã de Natal, Ian. Eles não partirão. Dê-se por satisfeito por eles não estourarem aqui sem bater. É isso o que eles normalmente fazem. Isso o mandou de volta contra a porta num instante. —Vão embora, rapazes! — Ele falou através dela. — Sua irmã não está pronta para se levantar ainda. Ela vai sair em um instante. Ela sorriu para ele. — Nada do que você disser vai colocá-los para fora. Não na manhã de Natal. Como se para sustentar suas reivindicações, a maçaneta sacudiu e a voz chorosa de uma criança gritou. — Você está aí, Lissy? Nós queremos ver se o Pai Noel encheu nossas meias! — Então vão olhá-las! — Ian gritou para a porta. — Nós não podemos! Lissy as trancou na sala de estar! Seu olhar saltou para ela. — Você não fez isto. —Eu sempre faço isto. Caso contrário, eles estariam lá à meia-noite. Ele olhou furioso para ela. — Diga a eles para esperarem até que saiamos. — Não nesta vida. — Com um sorriso, ela gritou, — Eu sairei em um momento, meninos! Eu só tenho que me vestir! — Se apresse! É Natal! — Georgie gritou através da porta. Uma maldição irrompeu dos lábios de Ian. Ele olhou para ela e para a maçaneta e de volta para ela à medida que se dirigia para sua cômoda, no outro extremo do quarto. Ela podia adivinhar seus pensamentos. Abrir a porta e ordenar aos meninos para partir? Não, eles poderiam invadir, pondo fim a qualquer coisa. Deixar a porta e procurar pela Chave? Então ela correria para fora. Ela riu para si mesma. Isto deveria retribuir-lhe amplamente por suas pequenas manobras na carruagem ontem e seus insultos e carícias ontem à noite. Ela tirou uma chemise nova, roupa intima, e meia calça, e então escolheu um vestido com fechamento frontal que pudesse colocar facilmente, já que não queria sua ajuda. Andou para o biombo, mas parou quando um pensamento perverso entrou em sua cabeça. 190
Ela tinha um modo muito melhor de retribuir-lhe. Sentindo-se ousada, o encarou e removeu seu roupão, casualmente como se ele não estivesse observando-a com olhos semicerrados de sua posição na porta. Ela hesitou um instante, insegura da insensatez de seu plano. Mas ele tinha um ombro recostado contra a porta e não conseguia se mover. Ela estaria segura. Além disso, estava na hora de lembrá-lo que estava perdendo desde que a considerava sua égua de procriação e não uma esposa. Lentamente, desatou sua chemise e encolheu os ombros para fora de uma manga, então o outro. Seus olhos se alargaram. — O que diabos você está fazendo? — Eu estou trocando de roupas, claro. Eu tenho que me vestir. Com um sorriso maroto, ela soltou a chemise no chão, expondo seus seios. Seu olhar libertando sua fome. — Venha aqui, e eu a ajudarei, — ele disse naquela voz vibrando que embaralhava suas entranhas. Oh, ela estava tentada. Penosamente tentada. Mas não desmoronou especialmente depois dele ter estado tão seguro de si mesmo ontem. — Eu não preciso de qualquer ajuda. Além disso, você tem que manter a porta fechada. Você nunca sabe quando os meninos podem tentar entrar. Ela alcançou os laços de sua roupa intima, e ele rosnou, —não ouse! Apreciando a sensação de poder sobre ele, desatou-os muito lentamente, lembrando-se de suas carícias ousadas ontem e o insulto que tinha vindo depois. Seus olhos faiscaram para ela. — Isto não é divertindo, Felicity. — Não? Você está preocupado que não possa ter seu herdeiro “por ocasião de São Martinho” afinal? — ela disse insolente. Então ela deslizou para fora de suas roupas íntimas. Com uma imprecação, ele impeliu-se para longe da porta. — Meninos? — Ela ruidosamente gritou. Eles tentaram a maçaneta pelo lado de fora e Ian lançou-se de volta contra a porta. — Vão embora! — Ele silvou na porta, mas seus olhos a comiam. Ela se deleitava com a emoção perversa que atravessava por ela quando seu olhar passou por cada centímetro de seu corpo desnudo. Isto era imprudente, audacioso ao extremo. Ela deveria ter vergonha de si mesma, mas não estava. Não de tudo. Isto serviu para fazê-lo sofrer um pouco da tortura em que a colocou ontem. — Pelo menos tenha a decência de usar o biombo, — ele rangeu. — Tudo que você tem que fazer é fechar seus olhos. — Eu não posso, — ele disse com voz rouca. Na verdade, ele parecia congelado, o retrato de um macho muito frustrado quando se debruçou contra a porta e bebeu cada movimento seu, o resto de seu corpo tão rígido 191
quanto á coisa dentro de seus calções. Levantando uma sobrancelha, ela levantou uma meiacalça, então ergueu seu pé e escorou-o na cama assim poderia colocar a meia-calça. De seu ponto de vista, ele tinha que ter uma visão excelente de uma determinada área de sua anatomia. Um ruído estrangulado, um cruzamento entre um gemido e uma maldição, estourou dele. Ela prendeu a meia-calça com uma liga, então abaixou o pé e pegou a outra meia-calça. — Já chega! — Ele rugiu. Quando ela ergueu uma sobrancelha, ele endireitou-se. — Dois podem jogar este jogo, você sabe. Continue a exibir seus recursos, querida, e eu descreverei exatamente o que eu desejo fazer com você. Em voz alta. Nós podemos também dar a seus irmãos uma aula enquanto eles estão escutando do outro lado da porta. Ela hesitou. Realmente, tornou-se muito quieto do lado de fora no corredor, e ela conhecia seus irmãos muito bem para pensar que eles tinham partido. — Você não faria isso. Seus olhos se estreitaram. ― Esse pequeno pedaço de pele acima de sua liga? Eu quero passar minha língua e corrê-la para cima... — Certo! Certo! — Pegando suas roupas, ela correu para trás do biombo. Seu suspiro de alívio ecoou no quarto. Ela vestiu-se depressa, e quando saiu detrás do biombo, o encontrou vestindo sua camisa e calças compridas com uma carranca. Tinha escorado uma cadeira debaixo da maçaneta, mas claramente renunciou quaisquer planos adicionais para sua cama esta manhã, uma vez que os meninos estavam fazendo barulho do lado de fora da porta, estava claro que nenhum dos dois conseguiria paz até que ela fosse aberta. Quando se apressou em passar por ele, porém a pegou pelo braço e puxou-a perto o suficiente para sussurrar. — Hoje à noite, minha provocante esposa, não existirá quaisquer garotos batendo em nossa porta. Um calafrio deslizou ao longo de sua espinha. Talvez seu método de vingança não tenha sido uma ideia tão boa, afinal. — Hoje à noite, terei meu próprio aposento. —Para dormir somente. Seu sorriso maroto fez sua pele ganhar vida. —De fato, quero que você repita esse desempenho atordoante desta manhã, na privacidade de meu aposento em Chesterley. Ela ergueu o rosto sério para ele. — Alegremente. Assim que você me disser o que desejo saber, Ian, terei muito prazer em acompanhá-lo em seu aposento. Seu sorriso desapareceu. — Você nunca desiste? — Não. Eu prefiro abrir mão de muitos prazeres em seus abraços do que passar um momento em sua cama sabendo que isto não é nada para você, apenas um acasalamento. 192
Por um momento olhou-a como se fosse dizer alguma coisa. Então, sua mandíbula apertou e ele olhou para a porta. — É melhor você abri-la antes que os pequenos diabinhos ponham-na abaixo. Não havia dúvidas sobre isto, casou-se com uma libertina, Ian pensou sombriamente quando se sentou na sala de estar onde os Temíveis Taylor estripavam um monte de caixas e pacotes embrulhados. Seu olhar estava fixo em sua nova esposa, na verdade, tinha sido incapaz de olhar para qualquer outro lugar desde sua pequena façanha no quarto. Seu cabelo envolvia seus ombros como uma capa aveludada amarrotada, e um sorriso fresco, doce curvavam sua boca toda vez que seus irmãos abriam um de seus muitos presentes. Acomodada no chão com seu corpo escondida atrás de montículos de papel picado e fitas entrelaçadas, ela poderia ser confundida com outra das crianças. Mas não por ele. Meu Deus, esta manhã quando ela escapou de suas peças íntimas… Ele gemeu. Era encantadora. A imagem de seu corpo nu, encharcado pela luz solar que beijava os seios altos, pequenos e os cachos tentadores entre suas pernas, ainda estavam estampados em sua memória. Como estavam todos os seus sorrisos ‘marotos’. Se ele não tivesse tirado sua virgindade, duvidaria de sua virtude, mas aparentemente seus instintos provocantes eram tão naturais para ela como escrever fofocas. Ela ainda causaria a morte dele. Um sorriso zombeteiro tocou seus lábios. E ontem, ele teve a arrogância de pensar que seria fácil! Se ele não tomasse cuidado, ela teria lhe arrancado não só todos os segredos sobre seu passado, mas uns milhares de outros, qualquer coisa para recuperar o privilégio de espalhar aquelas coxas brancas flexíveis e... Maldição. Tempo para uma nova estratégia. Mas o quê? As evidentes tentativas para seduzi-la meramente despertaram sua determinação de resistir, e as tentativas encobertas fizeram-na responder da mesma forma, apenas para encurtar o ato. William saltou em direção a ele, arrastando atrás de si o cavalinho de pau que ele recebeu de "Papai Noel", um elaborado arranjo com crina real de cavalo que Ian escolheu especialmente para os meninos. George e Ansel já tinham disparado porta a fora para experimentar os seus nas escadas, e James estava sentado ao lado de sua irmã radiante com um conjunto de ferramentas de talhar madeira. Mas William aproximou-se de Ian com um sorriso tímido. — Olhe Lorde St. Clair tem rédeas de couro e tudo! A excitação do menino baniu qualquer ressentimento prolongado que sentia em direção aos rapazes por arruinar seus planos de lua de mel. — Sabe William, agora que casei com sua irmã, você e eu somos irmãos. Então por que você não me chama de Ian? William irradiou. —Realmente? — Realmente. — Ian ergueu o menino para se sentar em seu joelho, surpreso com a enxurrada de afeto familiar que o possuiu. — E quando a sua irmã e eu retornamos da cidade na próxima semana para levarmos você e seus irmãos para Chesterley, iremos tratar de comprar pôneis de verdade para todos vocês. — Por piedade! — William lançou seus braços sobre o pescoço de Ian. — Você é o melhor irmão do mundo! 193
— Ou pelo menos o mais rico, — Felicity brincou. Quando Ian sorriu para ela impávido acima da cabeça de William, ela acrescentou, — Você vai estragá-lo se você continuar com isso. — Estou procurando meramente por maneiras de mantê-los ocupados nas primeiras horas da manhã, para que eles não venham bater nas portas do quarto das pessoas. Ela levantou uma sobrancelha. — Bem, você ultrapassou sua marca. — Ela varreu sua mão ao redor da sala. Papai Noel foi extremamente extravagante. — Espero que sim. Ele parecia ter esquecido os Taylors ultimamente, então eles lhe deveriam mais que o habitual, você não acha? — Ele balançou William em seu joelho. ― Você se importa se Papai Noel lhe der tantos presentes de uma vez, meu menino? A resposta era previsível sonoro: ― Não! — Você vê? — Ian continuou rindo. — Os machos desta família não têm nenhum problema em concordar com qualquer coisa. Você é a única do contra. Ela fungou. — Porque eu sou a única sensata. — Isso significa que não quer o presente que eu comprei para você? Suas bochechas coraram de prazer. — Você me comprou um presente? — É claro. Você é minha esposa. Desviando seu rosto do dele, ela gaguejou. ― S-Sim, mas eu não tenho um para você… isto é… não houve tempo. — E nenhum dinheiro. Está tudo bem. Ele colocou William de lado, e o menino correu da sala para juntar-se aos outros dois trigêmeos, gritando: ―Adivinha Georgie! Ian vai nos dar pôneis de verdade! Ian levantou-se, então caminhou para a janela e recuperou uma pilha de presentes detrás da cortina. Retornando para onde ela se sentara, ele lhe entregou. — Eu não preciso de qualquer coisa. Você sim. Seus olhos brilhavam com encanto quando ela tomou os pacotes dele. — Eu não sei o que dizer. — Abra-os antes de você dizer qualquer coisa. Você pode não gostar deles. Ele encontrou-se tenso quando ela agarrou a pequena caixa retangular do topo. Ele não deu muitos presentes para mulheres, mas de alguma maneira assumia que ela não seria como algumas de suas conquistas e desejava ter bugigangas, balangandãs e rendas. Agora ele reconsiderou. Ele poderia estar errado; ela poderia odiar. Mas era muito tarde para fazer qualquer coisa sobre isto. Abrindo a caixa, ela retirou um objeto cilíndrico prateado. Ela virou isto em sua mão em perplexa concentração. 194
James chegou e sentou-se de pernas cruzadas ao lado dela no chão, e agora perscrutava o objeto por cima de seu ombro. — O que é isto? — É uma caneta tinteiro, — Ian explicou. — Um homem chamado John Scheffer obteve a patente no ano passado. Isto faz o tinteiro desnecessário. — Ele a tomou dela e demonstrou como funcionava, empurrando um pouco o botão que ativava o lançamento de tinta para o bico. — Eu investi na companhia de Scheffer. Penso que será um grande sucesso. Eu pedi-lhe para fazer esta aqui especialmente para você depois que nós retornamos para Worthings na última semana. Veja aqui? Está gravada com suas iniciais. Depois de usar um pedaço de papel de embrulho para limpar um pouco de tinta que tinha coletado no bico, ele devolve-a para ela. Ela apertou-a tão silenciosa, sua garganta estava sensível. Ela odiou. Maldição. Ele deveria ter comprado-lhe mais das futilidades das outras caixas, em vez de arriscar um presente tão tolo. Uma caneta era muito trivial, e não excitante suficiente para sua natureza selvagem. Mas o que ele sabia sobre comprar presentes para uma esposa, especialmente uma tão incomum quanto Felicity? A seu silêncio continuou, e Ian disse casualmente. — Continue e abra os outros. A caneta é mais uma experiência que um presente de qualquer maneira. Pensei que você pudesse usar isto e dizer-me se funciona direito. Então ela ergueu a cabeça, lágrimas brilhando em seus olhos. — É a coisa mais maravilhosa que alguém já me deu. O olhar no rosto dela fez seu coração saltar, uma sensação pouco conhecida. —Você gostou. — Oh, Ian, eu amei! Odeio esses tinteiros bagunçados. Isto será tão útil. — Esfregando as lágrimas de seus olhos com uma mão, ela cuidadosamente recolocou a caneta em sua caixa com a outra. — Eu sempre vou valorizá-lo. Ele limpou a garganta, inusitado com agradecimentos tão efusivos. isto.
— Aqui, ― ele disse, empurrando o segundo presente para ela novamente. — Abra — Você não devia ter comprado tantos. Eu sinto terrível por não ter nada para você.
No entanto, ela abriu todos eles com entusiasmo. O resto de seus presentes era mais típico, um leque de renda, meias de seda, e um par de brincos de rubi primoroso que ele pagou o resgate de um rei. Embora ela exclamasse em voz alta sobre cada um, quando tinha acabado, foi a caneta que ela tirou para examinar novamente. Quando ela acariciou-a, o prazer brilhando em seu rosto, ele pensou em suas mãos sobre ele naquela noite. Meu Deus, o que ele não daria para tê-las sobre ele novamente. De repente, ela olhou para ele, seu bonito rosto brilhando ainda mais. — Espere! — Virando-se para James, sussurrou instruções, e ele saiu correndo. —O que você fez agora? — Ian perguntou, levantando uma sobrancelha. Seu sorriso era dissimulado. — Você verá. James retornou momentos mais tarde com uma tela emoldurada. Ele entregou para sua irmã, que a entregou para Ian. 195
— Esta era a pintura favorita de Papai, — ela explicou. — Eu não poderia suportar vendê-la. Mas agora que nós somos casados… bem, não vejo nenhuma razão que você não possa aprecia-la. Ele tomou a tela dela e olhou-a fixamente surpreso. Ele poderia facilmente ver por que seu pai imprudente gostou disto. Era uma pintura de um harém, provavelmente designada para a coleção de alguém de arte erótica, entretanto não era mal feita. Um sultão de pele escura estava sobre um tablado com o peito nu e de braços cruzados. Abaixo dele um bando de mulheres jovens seminuas posando em várias posições sobre uma piscina pintada em cores luxuriantes. — Você está me dando uma pintura erótica? — Ele perguntou. Seu rubor rápido e olhar furtivo a James, que estava escutando avidamente, disselhe que não havia pensado sobre isto assim. — Não é… Bem, é, mas… É por um espanhol. É por isso que eu pensei em você. Embora o artista não fosse qualquer um por dedução. — Não, ele não seria. — Ele examinou a pintura mais próxima, incapaz de manter o sorriso fora de seu rosto. Somente Felicity poderia dar a seu marido algo tão obviamente escandaloso por uma razão aparentemente inocente. — Papai comprou isto porque ele admirava as cores e as linhas, — ela persistiu. — Eu estou certo que ele admirava-a muito. — Ele riu. —Especialmente as cores sensuais e as linhas curvas. — Ian! — Ela exclamou com um olhar preocupado em James, que tinha perdido o interesse na conversa e agora examinava sua nova caneta. — O sultão também é bem feito, você não acha? O sultão? Ele olhou para a figura novamente. Então ele percebeu porque ela pensou em dar-lhe a pintura. A compreensão iluminou seu humor consideravelmente. Seus olhos encontraram os dela sobre a parte superior da tela. — Muito bem feito, de fato. — Você pode dizer o artista era um espanhol, — ela murmurou. — Ele fez o sultão parecer espanhol. Suas características são castelhanas, não turcas. — Sim, castelhano. — Ele abaixou sua voz. — Como a minha. Abaixando a cabeça, ela engoliu em seco, o movimento de sua garganta fez algo perverso em suas entranhas. — De qualquer maneira, pensei que você poderia gostar. E agora é melhor eu ir ajudar a Sra. Box supervisionar as preparações para o jantar. Se você vigiar os meninos para mim. — Certamente. Ela, pensou, estava fugindo depois de soltar esta surpresa em seu colo, ela fez isso mesmo? — Você e eu podemos discutir a pintura mais tarde. Seu olhar voltou para ele. —O que você quer dizer, “discutir isto”? —Eu estou curioso para saber o que a atrai nesta pintura. 196
—Eu? Nada. — Mas sua cor elevada confirmou suas suspeitas, assim com seu murmúrio, — E... eu... seria melhor ir. Ele observou, tentando não rir quando ela fugiu da sala de estar. Afinal ele descobriu sua estratégia para ganhá-la. Ele não ganhou um pouco de terreno, avançou sobre ela com toda a sutileza de um batalhão. Ela o queira tanto quanto ele a queria, mas sempre que gabava-se para ela e a apoiava contra uma parede, seu orgulho se levantava contra ele. Não, ele deveria usar suas próprias necessidades contra ela. Ele deveria provocá-la, tentá-la. Seu prazer em seus presentes, seu oferecimento tímido de uma pintura erótica, demonstrava que ela estava suficiente dividida sobre como agir com ele, estava vulnerável para a corte. Agora que pensou sobre isto, ela sucumbiu a sua sedução depois de uma semana de ciúme exultantes e de seu dia escoltando-a pela cidade com seus irmãos. Então, embora estivesse impaciente para tê-la em sua cama novamente, ele progrediria devagar, galanteando-a sem qualquer avanço evidente até que a tivesse de joelhos implorando-lhe para tomá-la. Ele teria uma semana a sós com ela. Se, ao final daquele tempo não a trouxesse de boa vontade para sua cama, não teria nenhum tipo de tática para qualquer outra coisa mais.
Capítulo 21 O casamento do Visconde St. Clair com Felicity Taylor, filha do finado arquiteto Algernon Taylor, tomou a sociedade de surpresa. Entretanto rumores circularam sobre os dois, ninguém esperava um casamento tão precipitado.
Lorde X, The Evening Gazette. 27 de dezembro de 1820
Na terceira noite após seu casamento, Felicity estava sentada escrevendo com sua nova caneta à mesa em seu espaçoso aposento em Chesterley. Mas sua mente logo vagou de sua coluna até seu marido enigmático. O que faria com o comportamento de Ian? Depois de sua confrontação na manhã de Natal, esperava uma batalha longa e amarga. Uma que ganharia, é claro, mas ainda uma 197
batalha. Estava determinada a fazê-lo ver as vantagens de um casamento verdadeiro, onde os companheiros compartilhavam tudo um com o outro. A abstinência de relações conjugais parecia a única coisa que poderia causar uma boa impressão nele. Agora ela não estava tão certa. Depois que passou toda a manhã e a tarde de Natal preparando-se para resistir aos seus beijos e carícias tão tentadoras, não houve nenhuma. Ele deu uma razão para isso no dia em que a trouxe para cá, algum coisa sem sentido sobre dar-lhe o tempo para ajustar-se ao casamento, mas ela não acreditou naquilo nem por um momento. Ian nunca permitira ter tempo para ajustar-se para qualquer coisa antes. Por que considerou isso agora? Além disso, Ian nunca agiu sem um propósito. Ele tinha algo ‘em mente’. Muito bem. Ian poderia ser um mestre em estratagemas, mas ela gastou uma quantia irregular de tempo estudando os funcionamentos dos homens e mulheres que povoavam a sociedade Londrina. Seguramente poderia compreender suas intenções. Mas não esta noite, pensou exausta. Este não era o momento para cismar sobre estas questões, não quando seu período tinha começado, com toda a assistência incomoda e mau humor. Ela deveria insistir em coisas felizes, em quanto gostava de Chesterley e seu pessoal, que a surpreenderam com suas boas vindas. Quando seu periodo estava sobre ela, não poderia pensar racionalmente. Ela fazia montanhas de montículos e chorava sem nenhuma razão, a qual não era uma vantagem quando se lidava com a mente fresca de seu marido tático. Meu marido. O pensamento deu-lhe um pouco de emoção. Oh, porque o pensamento dele ser seu marido suavizava sua resolução? Talvez porque, como Lorde St. Clair, ele tem sido o inimigo e como Ian, ele tem sido uma irritação, até uma tentação, mas não alguém capaz de alterar sua vida substancialmente. Como seu marido, porém, era a criatura mais perigosa na Terra, um incubo4 levantando-se do inferno e exigindo sua alma em troca da satisfação de seus desejos perversos… seus quentes, abandonados sonhos… suas fantasias flagrantes… Ela suspirou e pegou sua caneta novamente. Nestes dias, ela queria muito despir-se e atirar-se aos pés do homem. Que era exatamente o que ele esperava. Uma batida na porta entre seus aposentos a fez dar um salto. — Quem é? — Ela perguntou sem pensar. — Seu marido, quem mais? Posso entrar? — Claro. — Bom Deus, como ele fazia isto? Aparecer assim sempre que ela pensava nele? E até sabia usar uma palavra calculada para reduzi-la a uma papa? O homem verdadeiramente era o diabo. Especialmente agora, quando ele entrou no quarto vestindo apenas uma camisa meio abotoada que escassamente disfarçava a largura de seu peito de pele escura e um par de calças compridas que se ajustavam sobre suas coxas fortes. Dê-lhe trajes persas e seria seu sultão em carne e osso, todas as características ásperas e músculos de primorosa e esplêndida economia de movimento. Não que seu estado de nudez devesse surpreendê-la a esta hora da noite. Ainda assim, ele parecia apenas entrar em seus aposentos quando razoavelmente podia fazê-lo semidespido, como se usar a casualidade de seu traje para reforçar a intimidade do fato 4
Íncubo (em latim incubus, de incubare) é um demônio na forma masculina que se encontra com mulheres dormindo, a fim de ter uma relação sexual com elas. O íncubo drena a energia da mulher para se alimentar, e na maioria das vezes deixa-a morta ou então viva, mas em condições muito frágeis. A versão feminina desse demônio é chamada de súcubo.
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deles serem marido e mulher. Então ele vagou pelo quarto com familiaridade, ou pior ainda, esparramando-se na cama para discutir os eventos do dia ou planos para amanhã. O homem não perdia uma única oportunidade para perturbar seu equilíbrio. Felizmente, ela tinha boas razões para rejeitar-lhe esta noite, se ele tentasse, pois seguramente ele não desejaria vir para a cama dela durante esta época do mês. Além disso, esta noite ele não parecia com um homem disposto à sedução. Tinha um jornal dobrado debaixo do braço, e embora ela estivesse escassamente vestida, seus olhos acenderam apenas brevemente sobre seu traje. — Eu senti sua falta no jantar. Sua criada informou-me que você estava indisposta. Ela corou. — Sim. — Ela não disse nada mais. Ele poderia ser seu marido, mas discutir seus períodos mensais com ele parecia muito íntimo. — Eu trouxe-lhe a edição mais recente do The Evening Gazette. Pensei que poderia alegrá-la. — Sua expressão era ilegível. — Eu vejo que Lorde X anunciou nosso casamento. —Teria parecido estranho se Lorde X ignorasse tal tópico. — Ela engoliu em seco. Ele tinha lido o artigo inteiro? E o que ele pensou? Dois dias atrás, pensou que um pouco de encorajamento na sua maneira habitual poderia ter algum impacto nele. Agora não estava de todo certa se tinha sido sábio. — Você não se importa, não é? — Ela aventurou-se. — Que todo mundo saiba que casei-me com você? Porque deveria? — Ele andou relaxadamente em direção a ela. — Mas como você sabe muito bem, isso não foi tudo que você discutiu. — Ele ergueu o jornal e leu: “ Alguns podem questionar como um casamento entre Lorde St. Clair e qualquer mulher respeitável poderiam ter sucesso quando o passado do homem é tão misterioso, mas apesar do que seu correspondente fiel previamente escreveu relativo ao visconde, aposto que a honra do homem o obrigaria a estar próximo de sua esposa, se não com mais ninguém.”
— Sim, — ela nervosamente respondeu, —inseri meu comentário habitual. — Você quer dizer, sua reprimenda habitual. — Ele dobrou o jornal com um sorriso. — Diga-me, querida, você pretende conferenciar-me em todas as edições de sua coluna? Diabos o levem, ele nem ficou bravo. foi?
— É um pensamento, — ela disse irritada. —Conseguiu sua atenção no passado, não Com um sorriso malandro, ele soltou o jornal em seu colo.
— Sim, mas se você mencionar nosso casamento em cada coluna, até mesmo o mais estúpido leitor eventualmente adivinhara sua identidade. Seu continuo bom humor a fez sentir-se derrotada. Ela retornou a escrita. — Fique tranquilo, não tenho intenção de fazer tal coisa tola. — Especialmente quando sua menção o tinha irritado tão pouco. — Isto é um alívio. — Inclinando-se sobre ela, pegou o artigo que estava trabalhando. Depressa ele esquadrinhou as linhas, e seu sorriso abruptamente desapareceu. —Quão muito interessante, minha querida. Aparentemente você não precisa mencionar 199
nosso casamento pra fazer seu ponto. Você simplesmente escolhe as partes de fofoca que são material de nossa situação. Seu tom divertimento endureceu com sarcasmo. — Briga misteriosa de Merrington com seu tio? A amante mais recente de Pelham e sua esposa patética ignoram seu caráter repulsivo? O quão inteligente você é para repreender-me de uma maneira que ninguém entenderia somente você e eu. — Ele lançou o papel almaço na mesa em que ela estava escrevendo com um olhar de desgosto. Ela certamente conseguiu uma reação agora, só que esta não era uma que tinha procurado. — Eu não sabia que você conferia esta coluna. Simplesmente escrevi fofoca como sempre faço. Você está lendo mais nisto do que escrevi. — Oh, sim, é mera coincidência que você menciona Merrington e seu tio. — Aquela história tem sido discussão em toda Londres, e você sabe disto! Uma riqueza de desprezo atado em seu tom. — E o que dizer de Pelham? Você não pode dizer-me que o “bruto insensível que aprecia zombar de sua esposa tola tomando amantes diante de seus próprios olhos“ não significa que seja eu. Eu conheço você muito bem. A acusação injusta picou. Ela nunca compararia Ian com Pelham, de todas as pessoas! — Aparentemente não, assim como você pensa. Não é sobre você, Ian. — Mas você aprecia me provocar em sua coluna. E um “bruto insensível que aprecia zombar de sua esposa". — Tudo nem sempre é sobre você. — Ela se levantou da cadeira, as emoções turvando quando ela cruzou o quarto para colocar-se bem longe de seu temperamento desagradável quanto possível. — Como claramente devo dizer isto? Nem sequer considerei a nossa situação quando escrevi isto! Encostando seu quadril sobre a mesa de escrever, ele olhou para ela. — Você esquece que eu sou um perito em sua coluna. Você nunca cutuca os indefesos ou os fracos como fez aqui com a esposa patética de Pelham. — Talvez isto seja porque ela não é patética, nem eu me refiro a ela como tal. Ele ignorou a observação. — Além disso, existe paixão demais em suas palavras para que elas não tenham algum significado pessoal. "Bruto insensível?" “Zombando de sua esposa?” Como um espião, eu me superei em interpretar mensagens codificadas. Entretanto você sabe disto, não é? É por isso que escreve tais coisas, de forma que entenderei seu significado mesmo quando ninguém mais iria. — Às vezes você pode ser um asno de tão arrogante! — O homem tolo recusou-se a escutá-la, e ela não estava com humor para isto. Resolutamente, dirigiu-se à porta. — Pense o que quiser. Claramente não sou a única pessoa neste casamento que pula para as conclusões. Com alguns passos largos, ele estava ao lado dela, pegando seu braço para detê-la. — Você não pode dizer que ridicularizou Pelham e sua esposa para seu próprio bem? Ele é um idiota vaidoso, com certeza, e tem um olho para as mulheres jovens, mas… 200
Suas palavras sumiram, e ela sentiu seu olhar fixo sobre ela. — Espere um minuto. Seu pai projetou uma das casas de Pelham, não é? Eu ouvi o duque mencionar isto uma vez. falar.
Memórias antigas vieram para sufocá-la, e ela movimentou a cabeça, incapaz de Os dedos de Ian apertaram seu braço.
— No baile de Lady Brumley, Pelham fez observações sobre sua pessoa que dei de ombros porque ele fala de todas as mulheres jovens do mesmo modo, mas... — Ele virou-a para encará-lo, sua expressão totalmente arrependida. — Meu Deus, ele fez algo para você, não foi? É por isso que você escreveu sobre ele! Ele machucou você! — Não foi nada… uma tola nulidade. Ela inclinou a cabeça para esconder suas lágrimas, mas ele não a deixou, levantando seu queixo para que ele pudesse olhar para ela. Quando viu as lágrimas em seus olhos, praguejou debaixo de sua respiração. — Obviamente não de tudo. Isso era tudo que levou para as lágrimas escaparem e fluir livremente abaixo por suas bochechas. Olhando aflito, ele a abraçou e a levou para se sentar na cama onde poderia embalá-la em seu colo. ― Vamos, vamos querida. — Ele acariciou suas costas, seus cabelos e seus braços. — Você não deve chorar. Ele não pode machuca-la novamente. — Eu sei. — Ela afastou as lágrimas e amaldiçoou a melancolia que a fazia tão chorosa neste momento do mês. — Eu não tenho medo dele. Ian pressionou suaves beijos penitentes em seu cabelo. — O que ele fez? E onde estava seu pai? Por que não estava protegendo você? — Você não deve pensar que foi culpa de papai. Ele sempre estava tão absorto em seu trabalho que nunca notou os avanços dos homens. Ian olhou fixamente para ela, uma mistura de horror e descrença em seu rosto. — Merci Pelham não era o único? O que eles fizeram? Como isso aconteceu? — Verdadeiramente, não é tão ruim quanto parece. — Ela ergueu seu rosto para o dele. — Papai me levava junto quando visitava seus empregadores, e ocasionalmente… um deles ou seus filhos eram um pouco impacientes, isto é tudo. — Isto é tudo? — Sua mandíbula se esticou e seus olhos faiscavam. — Diga-me quem machucou você, e juro que irei ... — Ninguém fez qualquer coisa mais que roubar um beijo ou dois, — ela mentiu alarmada por sua fúria súbita. — Você sabe que eu era virgem quando nós fizemos amor. — Sim, mas existem outras maneiras de machucar uma mulher que tomando sua virgindade. Pelham deve ter sido realmente cruel se você se sente compelida a escrever isto sobre ele. Você não mostra as suas garras impensadamente. Ela encolheu os ombros e curvou sua cabeça, mas ele a pegou pelos ombros. —Diga-me, Felicity. O que Pelham fez para você? 201
Ela quis por tanto tempo contar tudo para alguém, e Ian a pegou em um momento de fraqueza. Suas palavras derramando de dentro dela. — Ele me encurralou na biblioteca de sua propriedade. Papai não precisava de mim no momento, então fui até lá para ler. A imagem disparou imediatamente em sua mente… Pelham entrando na sala, o sorriso sórdido que se espalhava por seu rosto, o modo como ele a prendeu na poltrona com seu corpo espesso. Ela continuou quase em transe — Seu beijo pegou-me tão de surpresa que e não tive reação a princípio, mas quando ele… pôs suas mãos dentro de meu corpete, eu o estapeei. ― O que não adiantou nada, claro, exceto fazê-lo rir e apertar seus seios cruelmente. Mas ela não podia dizer isto a Ian. ― Isso foi tudo. — Pôs suas mãos... Maldito seja, porei minhas mãos dentro de seus calções e arrancarei suas bolas! Melhor ainda, porei minhas mãos ao redor de sua garganta! — Não! Já faz muito tempo, Ian. Não importa mais. — Claramente, que importa. — Ele a olhou em seu rosto. —E conheço Pelham. Um bofetão não iria detê-lo. Ela desviou o olhar, incapaz de mentir novamente. —Diga-me o resto, querida, — ele persuadiu. — Não existe muito mais a dizer. Ele agarrou minha mão e forçou-a contra seus calções. Então eu… eu apertei-lhe tão duro quanto eu podia e ele ganiu. Felizmente, isso trouxe sua esposa. Ela irrompeu exatamente quando ele recuou sua mão para me bater. — Meu Deus, — ele disse com voz rouca. — Você escapou por um triz. Ela não pensou sobre isto antes, mas era verdade. Tudo podia ter sido pior. Pelham não tinha tomado sua virtude; ele até não conseguiu a chance realmente para machucá-la. No entanto, ela nutriu sua queixa contra ele e sua esposa por anos, deixando isto, e outros incidentes, disfarçando sua percepção a tal ponto que ela considerava todo homem de posição com suspeita. Que tolice. —Eu desejava que estivesse ali para ver sua esposa o repreender, — Ian adicionou. — A única pessoa que ela repreendeu foi a mim. — Estranhamente, no entanto, ela falou as palavras sem rancor. Era como se contando a Ian sobre isso derrotasse seu poder de machucá-la. — A senhora Pelham marchou direito para papai, anunciando que eu era uma irresponsável e uma paqueradora e que ele deveria espancar-me severamente. — Aquela cadela! Ela riu. — Você não mede suas palavras, não é? — Eu não preciso. — Ele apertou-a para si. — Eu não escrevo para o público. Se eu escrevesse sua coluna, teria sido muito mais mesquinho com a mulher do que você foi. Sua coluna. Ela tinha esquecido tudo sobre isto. — Eu não deveria ter posto aquilo nesta noite, não quando estou me sentindo… indisposta. Você está certo sobre ser pessoal. Normalmente sou menos publicamente antagônica, até quando escrevo sobre os antigos clientes de papai, mas esta noite estou impaciente. — E estou certo de que não ajudei sendo um “asno arrogante". Ela gemeu. 202
— Eu não deveria ter chamado você disto. —Era verdade. Tenho sido tão ruim quanto Pelham. — Não! — Sim. Eu beijei você contra sua vontade, e ataquei você em Worthings. — Você não me atacou! — Ela olhou em seus olhos arrependidos. — Foi completamente diferente com você. Eu gostei do que você fez. Pelham me fez sentir-me suja e barata. Você me fez sentir desejável. E quando você se foi, como só um homem honrado faria, você me convenceu de que nem todos os homens de posição são como Pelham. Seus olhos reluziram. — Mas eu seduzi você uma semana mais tarde. Eu... — Ela colocou seu dedo contra seus lábios para silenciá-lo. — Eu não deixarei você falar sobre si mesmo no mesmo tom que fala dele. Você não é nada como Pelham, nada, digo a você! Você nunca me forçou a dar meu corpo para você. Eu escolhi. E não lamento isto. Seu tom fervoroso deveria tê-lo convencido. Mas ele fez algo mais, algo que ela não contava. Ela sentiu a mudança nele antes mesmo dele abaixar a cabeça. E para sua vergonha, ela deu boas-vindas ao seu beijo, saudou sua intimidade facilmente. Era seu marido. Ela era sua esposa. Não existia nada errado nisto. Seu beijo estava cheio de encantos, ternos e completos ao mesmo tempo. Ela apagou tudo exceto os pensamentos de sua última união. Ele empurrou sua chemise fora de seus ombros, e ela enroscou seus braços sobre seu pescoço. Estava indiferente de como isso travou um de seus seios contra ele até que ele deslizou sua mão dentro para apalpar o peso suave. — Minha doce, querida — ele murmurou contra seus lábios, arreliando seu mamilo em um botão duro com pequenos beliscões de seu dedo polegar e indicador que fizeram seu sangue correr quente e sedoso através de suas veias. Meu amor, ela pensou em resposta. Meu doce amor. Arrastando sua chemise para baixo até despir um seio, cobriu-o com sua boca e puxou duro, as limas de sua língua enviando prazeres exótico penetrando através dela. Agarrou sua cabeça para ela e encharcou tenros beijos em seu cabelo, que parecia fazê-lo apenas mais vorazes. Então, tudo se moveu muito depressa. Ele estava deitando de costas na cama, metade de seu corpo coberto, suas mãos acariciando a parte interna de suas coxas por baixo de sua chemise Um pânico súbito bateu nela. Estava em seu período… ele não podia… ele não deveria… Ela pegou seu pulso freneticamente. ― Não, Ian, você não deve… — Não faça isto comigo novamente, querida — ele rosnou quando ergueu a cabeça para olhar fixamente para ela com gélidos, olhos assombrados. — Você não pode tentar parar-me desta vez! — Não quero verdadeiramente, não quero! Não mais. Mas… — Aqui um rubor violento manchou suas bochechas. — Mas eu… meu… oh, céus querido, isto é muito embaraçoso. — Ela engoliu em seco. — Meu período veio hoje. É por isso que não me senti bem o suficiente para descer para o jantar. 203
Ian pairou acima dela, olhando em branco. Então quando o que ela disse afundou, ele gemeu e soltou a cabeça sobre seu ombro. — Maldição! Quando me tornei um homem tão amaldiçoado? Ela ficou imóvel debaixo dele, ferida pelo remorso. — Eu... sinto muito. Deveria ter dito algo mais cedo… verdadeiramente queria… você sabe… — Haverá outras noites. — Ele pressionou um beijo superficial em sua bochecha como se qualquer coisa mais pudesse testar sua resistência. Então ele recuou e levantou uma sobrancelha. — Existirão outras noites, não é? Ela sabia o que ele estava pedindo, e agora ela sabia sua resposta. Estava na hora de fazer de seu casamento o que deveria ser. Sua tentativa de forçar seu controle não estava funcionando, porque no fundo não confiava em seus motivos. Ela percebeu aquilo quando ele ficou tão irritado. Então deveria mostrar a ele que seus motivos eram puros, que o amava tanto que não importava o que dissesse a ela. Esse era o caminho para fazer seu casamento um de verdade. — Sim, — ela suavemente disse. — E meus períodos são geralmente de curta duração. Em alguns dias nós podemos... — Basta querida. — Ele sorriu ironicamente. — A menos que você queira me atormentar ainda mais, não me diga o que nós podemos fazer em alguns dias, imploro a você. Alguns dias parecem uma eternidade. — Para mim, também, — ela disse timidamente. Ele suspirou e afundou de volta na cama ao lado dela, olhando fixamente para o dossel. Ele ficou quieto por muito tempo, tanto tempo que ela se perguntou o que mais poderia dizer para tranquiliza-lo. Então ele falou em tons cortados. — Suponho que isto significa que você não está grávida. — Não. Para isto, também, sinto muito. Virando para um de seus lados, ele escorou sua cabeça em cima de seu cotovelo. — Não há nada para sentir muito sobre isso. Isto é um daqueles assuntos que só a natureza pode controlar. Mas nós temos bastante tempo. Então porque ele parecia tão desapontado? Porque pareceu compelido que ter um herdeiro com toda devida pressa? Ele empurrou a si mesmo até se sentar ao lado dela na cama. — É melhor eu deixar você agora. Você precisa de seu descanso. Não estando pronta para perder sua companhia ainda, ela se sentou e tomou sua mão. — Você poderia dormir aqui esta noite. — Ela traçou os longos dedos magros, a palma larga com as cicatrizes minúsculas provavelmente recebidas quando ele era um soldado. — Dormir e não tocar em você? — Ele suavemente disse. — Impossível. Perdoe-me, querida, mas a última vez que nós compartilhados uma cama sem fazer amor, embriagueime para poder suportar a situação. E temo que tenha que fazer o mesmo esta noite. Então acho melhor retornar ao meu quarto. 204
Ele levantou-se para partir, e ela o chamou — Ian? — Sim? — Eu quis dizer o que disse a você. Parei de lutar contra você. Sou sua esposa, e quero dizer ser sua esposa em todos os sentidos de agora em diante. Ele pegou em sua bochecha. — Durma bem. — Ele pausou, então adicionou, — Se você sentir isto até de manhã, nós iremos visitar meus inquilinos assim posso apresentá-los para você. Ela sorriu. — Eu gostaria disto. — É tudo o que posso pensar para desviar nossas mentes de outras coisas, — ele admitiu com pesar. Então ele se foi. Sentindo-se desolada, ela levantou-se e foi para a escrivaninha. Seu artigo ainda estava onde Ian o tinha lançado. Ela se sentou na escrivaninha e leu-o de novo. As linhas agora pareciam tolas, como uma criança mostrando sua língua para seus algozes. Pela primeira vez em anos, a amargura de Felicity em direção a Pelham se foi. Em seu lugar estava a mais profunda piedade. Para Pelham, porque ele poderia nunca conseguir que uma mulher gostasse dele sem intimidá-la. E por sua esposa, porque ela deveria viver com o miserável. Lorde X não poderia dizer nada que alterasse aquela situação, nem um pouco. Ela deliberou por mais um momento. Então pegou sua caneta e cruzou pelas linhas sobre Pelham e sua esposa.
Capítulo 22 Quando palavras não bastam, ações falam por si.
Lorde X, The Evening Gazette. 30 de dezembro de 1820
Quando Ian deixou os aposentos de Felicity, suas palavras de despedida ecoavam suavemente em sua mente. Eu terminei de brigar com você… Eu quero ser sua esposa em todos os sentidos de agora em diante. Afinal ele a ganhou, e sem renunciar a seus segredos.
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Mas depois, quando provou sua cama fria, sozinho ele examinou suas palavras mais de perto, e elas o atingiram com um mau pressentimento. Ela não tinha dito, parei de lutar com você porque quero você, embora soubesse que ela o desejava. Ela não tinha falado de querer ser sua esposa em todos os sentidos. Ela tinha falado de sua vontade. Eu quero ser… Como se reconhecendo seu dever. Ou seu cansaço de lutar contra ele. Não era isso o queria, uma esposa à revelia. Queria que ela gostasse dele livremente, ser sua esposa porque desejava, não porque se sentisse presa ao casamento. Ele ganhou sua aquiescência com um preço muito grande para sua própria consciência. Na manhã seguinte, enviou um empregado com suas desculpas para cancelar sua visita aos seus inquilinos. Ele não suportaria enfrentá-la. Ela disse muito na noite passada, revelado o suficiente de seu passado para fazê-lo ver seu comportamento sob uma nova luz. E examinando seu próprio comportamento, ou melhor, contemplar seus muitos pecados, era tudo o que ele fez pelos próximos três dias. Ele certamente não foi a qualquer lugar próximo de sua sofrida esposa. Pelo amor de Deus, o que ele poderia dizer a ela para se desculpar por sua antiga arrogância? O próprio pensamento torturou sua consciência. Então o que a visão dela faria para mudar isto? Agora já era final de tarde da Véspera de Ano Novo, e ele estava com um dilema. Um dia depois, eles retornariam a Londres. O que ele iria fazer com Felicity? Andando em seu escritório sem parar, parou para olhar pela janela, então quando viu o objeto de seus pensamentos em pé no jardim fazendo anotações em uma pequena mesa. O que ela estaria planejando? Melhorar o jardim? Ou nivelá-lo e pôr uma lagoa? Difícil saber com sua querida esposa. Independentemente disso, era uma ação tão doméstica que por breves momentos salvou-lhe a consciência. Muito brevemente. Ele virou-se da janela para encarar cegamente o impressionante escritório, um verdadeiro bastião de masculinidade, graças às preferências de decoração de seu pai e a sua falta de tempo para supervisionar sua redecorarão. A mobília de mogno, as tapeçarias de veludo e o bronze antigo emprestavam ao lugar um ar escuro, quase sombrio. Ele o odiava. Mas não só por sua aparência. Meu Deus, a volumosa e feia escrivaninha, que com frequência tinha debruçado sobre ela enquanto seu pai batia em seu traseiro com uma bengala. Não que as surras machucassem sua bunda, mais do que as que ele tinha sofrido rotineiramente em Eton, mas elas torturavam seu orgulho. Ele odiava tê-las recebido pelo homem que mais queria agradar. Ele desprezava ser forçado a submeter-se contra sua vontade. Acima de tudo, tinha sido humilhado nas poucas vezes que seu pai tinha lhe tirado algumas lágrimas. Ian sempre considerou não chorar uma questão de orgulho, e seu pai sempre considerou fazê-lo chorar uma questão de orgulho. Ninguém entendia seu duelo particular. Sua mãe queria que Ian derramasse lágrimas falsas para terminar o açoitamento. Jordan tinha dito que ele estava louco por contê-las. Mas toda vez que Ian sobrevivia ao açoitamento de seu pai sem chorar, ele considerava um triunfo acima de todo o processo degradante que era submetido. A partir disso ele aprendeu que a força física não era o suficiente, que a manipulação e a estratégia eram as chaves para conseguir o que você almeja, porque as surras de seu pai nunca o fizeram qualquer coisa mais que endurecer sua resistência. Agora Felicity havia lhe ensinado algo mais, que existiam mais tipos de força do que a física, e elas eram da mesma maneira destrutivas. Inconscientemente, ela o ensinou isso de 206
incontáveis maneiras. Suas lágrimas na frente de Sara, que tinham aparentemente sido genuínas. Seu horror as suas ameaças para fazê-la casar-se com ele. Se você esta forçando este casamento, você terá que forçar a partilha da minha cama também, ela disse, e ele foi tão arrogante que ignorou sua legítima reclamação. Ao invés disto, agiu exatamente como a longa sequência de denominados cavalheiros antes dele, Pelhams e Farringtons e todos os outros bastardos. Ele tinha intimidado-a. Se aproveitado dela. A seduziu. A lista de suas ofensas era tão longa que engasgou-se com elas. Ele ainda teria sucesso em fazê-la disposta ou tão disposta quanto uma mulher cujo orgulho tenha sido pisoteado, cujas energias foram esvaziadas pela luta. Ele ganhou sem ceder um pouco ao seu pedido simples, a verdade sobre seu passado. Quão vazio era a sua vitória. Porque eventualmente ela descobriria a verdade, se não por ele, então por outro. Alguém faria um comentário aleatório ou tio Edgar diria apenas para ofendê-lo. Então ela teria razão suficiente para deixá-lo, pois a verdade seguramente quebraria quaisquer laços de dever que ele tinha conseguido fazê-la sentir por ele. Ele olhou pela janela novamente. Ela parecia tão atraente, tão perfeitamente em casa em seu jardim. Ele poderia se acostumar em tê-la sempre em sua vista. O que fez o pensamento de que se ela o deixasse ainda mais apavorante. Que beneficio seria vencer a briga contra seu tio se ela não estivesse aqui? Ou pior ainda, se ela ficasse desprezando-o a cada respiração? O pensamento o deixou muito mal. Não, ele deveria atender ao chamado de sua consciência. Cometeu um erro forçando este casamento, ele via isto agora. Mas o destino a impediu de ter seu filho ainda, deste modo dando-lhe a chance de desfazer seu erro. Então deveria aproveitar aquela chance e oferecer-lhe de volta o que ele havia tirado dela, seu orgulho, sua independência, e sim, sua liberdade. Depois de todas as indignidades que ela sofreu nas mãos de homens de seu tipo, ela merecia mais dele. Ainda que ele tivesse que arrancar seu coração para fazer isso. *** — Boa noite, milady, — o mordomo de Ian, Spencer saudou Felicity quando ela entrou na sala de jantar e sentou em seu lugar habitual. Milady. Ela sempre tinha a vontade de olhar ao seu redor e procurar a imponente figura que ele se referia. Spencer inclinou-se sobre seu lugar para despejar um copo de Borgonha. — Sua senhoria mandou dizer que ele não virá jantar esta noite, milady. Uma decepção tomou conta dela. Ela vestiu-se com tal cuidado, esperando ansiosamente dizer a Ian que seu período tinha terminado. — Oh. O mordomo idoso hesitou. Quando ela olhou-o, ele disse, — Se você precisar de senhor, porém, ele está em seus aposentos. Ela iluminou-se. 207
— Ele pediu que você dissesse isto? — Não, milady. Simplesmente pensei que estas informações poderiam ser de seu interesse. Seu ânimo caiu mais uma vez. — Sim, elas são. Obrigada. Ele fez sinal para o criado servi-la o primeiro prato, um consume. Ela olhou fixamente para a tigela, mas sua mente estava em outro lugar. A ausência de Ian no jantar nas últimas três noites havia atraído a atenção até dos empregados. Sem dúvida eles também notaram sua distância dela. A visita prometida aos inquilinos não tinha se concretizado. Ele mandou dizer-lhe que estaria muito ocupado com outros negócios para levá-la nas redondezas e fazer as apresentações. Ela detestava aquela frase, "mandou dizer." Ian sempre "mandava dizer" para ela. Que não poderia acompanhá-la na aldeia... Que ele estaria fora o dia todo inspecionando suas propriedades... Que não viria para o jantar... Ela só desejava que o miserável “enviasse palavras" sobre por que seu comportamento na outra noite o fez evitá-la. — Milady? — Spencer perguntou. Ela olhou até achar em seu cotovelo. — Sim? — Existe algo de errado com a sopa? Ela olhou fixamente para ele por vários minutos. — Não. — Ela empurrou de volta sua cadeira. — Não estou com fome, receio. Acredito que passarei sem jantar esta noite. — Sim, milady, — ele murmurou, curvando-se. Ela abruptamente levantou-se, tomou um gole de vinho fortalecedor, e então se compôs e dirigiu-se à porta. Já tinha tido o suficiente desta tolice. Tinha visto menos Ian nos últimos três dias de sua vida de casada em Chesterley do que ela teve em um dia de sua vida de solteira em Londres. Isto não era como Ian amuasse simplesmente porque seu período o impedira de levá-la para cama. Mas por qual outro motivo ele poderia estar evitando-a? Bem, ela descobriria. Eles eram casados, por piedade, e se ele pensava que ser casado quisesse dizer ignorar sua esposa quando não podia levá-la para a cama, estava muito enganado. Estava na hora de informá-lo daquele fato. Quando ela chegou aos aposentos de Ian, estava aliviada por achar a porta aberta e Ian claramente visível do lado de dentro. Ele deveria ter acabado de sair do banho, pois seu cabelo ainda estava úmido e vestia um roupão de seda adornado amarrado na cintura com uma faixa. Ele permanecia ao pé da cama, dirigindo seu camareiro que estava… Embalando um baú aberto. — Onde você está indo? — ela perguntou abruptamente da entrada. Seu camareiro olhou com surpresa, mas um aceno com a cabeça rápido de Ian em direção à porta foi tudo que levou para o empregado deslizar passando por Felicity para fora no corredor. — Para Londres, — ele respondeu. Seu coração saltou uma batida. Ela entrou no quarto com passos instáveis, fechando a porta atrás dela. 208
— Eu pensei que nós não iríamos retornar a Londres até depois de amanhã. baú.
Ele continuou de onde seu camareiro parou lançando um par de ceroulas para o
— Houve uma mudança de planos. Você vai querer participar do baile de véspera de Ano Novo de Lorde Stratton, não vai, então você poderá escrever sobre ele em sua coluna? Isso significa partir amanhã. Eu planejei dizer-lhe esta noite. — Oh. — Ela desejava que ele perguntasse a ela sobre isso primeiro. O baile não era tão importante para ela quanto consumar seu casamento, e agora só existiria esta noite antes de seus irmãos estarem com eles novamente. Então, ela só precisava de uma noite. Sentindo-se um pouco nervosa, ela andou até a cama e sentou-se na extremidade. — Eu… vim para dizer que meu período acabou. Ele obviamente, não perdeu o significado disto. Suas mãos pausaram no ato de pegarem algo em sua escrivaninha. — Entendo. Esperou que ele dissesse mais… olhasse para ela ou a beijasse… qualquer coisa mesmo. Quando ele retornou para embalar, ela não pode acreditar nisto. O que tinha acontecido com ele? Três dias atrás, ele não a teria deixado só em sua cama por mais de um segundo depois de tal pronunciamento. — Ian, isso significa não existir nenhuma razão para nós não... — Eu sei o que quer dizer. — Seu perfil estava virado para ela, os músculos tensos mais inflexíveis do que mármore. — Quer dizer que nós deveríamos ter partido para Londres hoje. Ela olhou fixamente para ele em confusão absoluta. — Para que? — Felicity. — Sua voz falhou um pouco em seu nome. Ele endireitou-se como armando-se para uma desagradável tarefa. Quando ele a enfrentou, sua expressão era desagradável. — Nós estamos indo para Londres cedo por outra razão também. Isto não soou bom, nada bom mesmo. — Oh? — Eu enviei uma mensagem hoje para um advogado, solicitando uma consulta para amanhã. Eu penso que ele vai favorecer-me. — Ele pausou. — Este advogado em particular é especializado em anulações. Ela levantou-se, seu coração batendo pesadamente em seu peito. — O que você quer dizer? Seu olhar fixo no dela. — É hora de reconhecermos que isto foi um engano. Um engano? Ele estava buscando uma anulação? Como ele ousava! — Por quê? Porque levei tanto tempo para deixar você levar-me para a cama novamente?
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— Claro que não! Mas graças a nossa abstinência, você ainda não está grávida. Segundo a lei, o casamento nem sequer foi consumado. Nós deveríamos aproveitar esta situação e obtermos uma anulação enquanto ainda podemos. — Eu não quero uma anulação! Ele suspirou. — Se for pelo dinheiro que você está preocupada, fique segura que vou estabelecer para você um subsídio que irá prover generosamente você e seus irmãos. — Maldito seja, Ian, não é o dinheiro! Não me importo com dinheiro, nunca me importei! Eu me importo com você! Não quero uma anulação, e você também não! — O que quero não importa. — Os olhos da mais profunda obsidiana 5 encararam seriamente para ela. — Eu uma vez pensei que fosse, que minha necessidade por uma esposa substituísse quaisquer reivindicações de moralidade ou consciência ou até simples cortesia. Queria uma esposa, então me propus a conseguir uma. E fixei-me em você. Quando você me recusou, seduzi você. Quando você recusou-se a casar-se comigo para salvar sua reputação, o fiz para você não poder recusar-me. E tudo porque queria você. Ela abriu a boca para protestar que o queria também, mas ele levantou uma mão para impedi-la. — Agora descobri que minha consciência me atormenta. A única solução é anular esta farsa de casamento. E ela esperava seduzi-lo esta noite. — Diabos o leve, Ian, por que você teve que escolher agora para se arrepender de seus pecados? — Agora que eu te amo tão profundamente. — Melhor tarde do que nunca, você não acha? — Não, não acho! Não quero que você preste atenção em sua consciência se isso significar o fim de nosso casamento. Não casei com você por sua consciência! — Você não se casou comigo por qualquer outra coisa afinal, forcei você para casarse comigo! — O que diabo você fez! Lembra-se daquela conversa que nós tivemos no vestíbulo da igreja? Se quisesse me livrar de você, teria ido embora então. Mas não fiz! — Ela devia dizer a ele o por quê? Será que ele iria fechar-se se ela o fizesse? Ela deveria aproveitar esta chance. — Foi o amor que me impediu de ir embora, maldição. Sabia disto, mesmo antes de chegar à igreja. Eu casei com você porque eu amo você, Ian! As palavras visivelmente o agitaram. Embora ele não oferecesse o mesmo, ela ganhou encorajamento de sua expressão, que mostrou a incerteza, não repugnância. Seguramente, era um bom começo. Desviando seu olhar do dela, ele passou os dedos por seu cabelo. — Eu não posso imaginar o porquê, — ele disse finalmente. — A não? — Ela andou a passos largos até estar em frente a ele, querendo que olhasse para ela. — Você é generoso e paciente com meus irmãos. Você escuta-me quando falo, diferentemente de outros homens que pensam que qualquer coisa que uma mulher diga necessariamente deve ser estúpido. Você é atencioso com os seus servos, como também é comigo. 5
[Geologia] Vidro vulcânico, geralmente escuro, que se fratura de forma concoidal e de que se podem fazer instrumentos cortantes e espelhos. = OBSÍDIA
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— Isto é só um lado de mim. Você já viu um pouco do outro, aquele que manipulou você para o casamento. Mas lhe asseguro, se você realmente soubesse a escuridão em minha alma, não estaria falando de... — Sua voz ficou embargada. — Estaria implorando para deixar este casamento. Ah. Então essa era sua razão real para querer a anulação. O espinho em seu coração. Ela finalmente trouxe isto para a tona, e ele não só recusou a deixá-la arrancá-lo, mas insistiu em levá-la para longe dele antes que ela o visse. Bem, isso não ira funcionar. Lutou muito duro por ele e o amava demais. Talvez ele não pudesse falar sobre isto ainda, mas iria eventualmente, e quando o fizesse, ela estaria aqui, não longe em Londres vivendo separada dele. — Eu conheço você melhor do que você pensa. — Você conhece? — Seu olhar voltou para ela, olhos pretos estalando. ― Você sabia que menti para você desde o princípio sobre as minhas razões para o casamento? Ela se obrigou a não reagir. Queria afastá-la, e ela não o deixaria. — Como assim? — Preciso de um herdeiro porque se eu não gerar um dentro de dois anos, perderei Chesterley e a maior parte de minha renda. Serei um visconde, mas nada mais. Ela ficou boquiaberta. — Como pode ser? Seguramente sua propriedade está vinculada — Não. Meu avô morreu quando meu pai era apenas um menino. Então embora a propriedade fosse vinculada ao meu pai, não havia ninguém para forçá-lo a vinculá-lo a mim. E uma vez que meu pai tinha ideias peculiares sobre herança, escolheu manter a propriedade longe de meu alcance até que eu atingisse a maioridade e casasse. Deste modo, não existia nenhum documento legal protegendo meu direito a ela quando saí de casa para o Continente. Seus lábios comprimidos em uma linha. ― Isto foi quando meu pai aparentemente decidiu que eu deveria somente herdar sob certas condições. Sua vontade de que eu deveria ter um herdeiro ao final de meu trigésimo ano, ou meu tio herdará tudo. — Seu tio! — Ela disse em horror. ― Sim. E tendo em vista as evidências de seu caráter, você percebe o que aconteceria então. Ele esmagaria esta propriedade sob seu calcanhar até que ela não fosse mais do que uma mancha no condado. ― Ele se afastou dela, apertando uma mão contra a cabeceira da cama. — Então como você vê Felicity, quando você me acusou de buscar uma “égua de procriação,” você chegou muito perto da verdade. Cheguei aos vinte e nove no último mês, então tenho este ano e o próximo para gerar um herdeiro. É por isso que eu forcei você a casar-se comigo. — Entendo. O que você está me dizendo é que você tinha ainda mais razões convincentes em forçar um casamento para que eu percebesse. Você não estava simplesmente tendo sua habitual natureza autocrática; Estava desesperado. E deveria culpar você por isto, menosprezá-lo por isto? — Você deveria me culpar por mentir a você! Eu poderia ter dito a você a verdade, revelar a história inteira a você. Mas não poderia arriscar a ter sua recusa de ser minha “égua de procriação”, assim agi como sempre agi com você: seduzi, manipulei e a enganei. Ela escolheu suas palavras com cuidado. 211
— Eu perdoei você por isso a muito tempo, da mesma maneira que você me perdoou por todos os meus maus juízos de você. Não me importo mais que você tenha mentido para mim sobre suas razões para o casamento. Não era tudo uma mentira. Você já tinha deixado claro que você estava casando comigo por considerações práticas. Saber que estas considerações eram mais urgentes do que achei faz pouca diferença, e certamente não é razão para buscar uma anulação. Nem isto altera meus sentimentos por você, nem um pouco. Um músculo se contraiu em sua mandíbula. — Deveria. — Não o faz. Eu não sou tola o suficiente para acreditar que este pequeno engano defina o caráter de um homem. Ele virou-se para ela, olhos reluzindo sombriamente. — Você não conhece meu caráter, Maldição! Aqueles anos no continente, o que você pensa que eu estava fazendo? Era um espião, Felicity, isso significa que vivia uma vida de constantes enganos e traições. Porque não era apenas um espião, era um bom espião. Você sabe o que é preciso para ser um bom espião? A veemência por trás da pergunta pegou-a desprevenida. Tudo que ela podia fazer era sacudir a cabeça em silêncio. — É preciso não dar merda nenhuma pelo que acontece para você ou o que faz. A moralidade não tem nenhum lugar em suas ações, você faz qualquer coisa que seu governo julgue necessário. Naquela época eu sentia que o mundo virou as costas para mim, então fiz o mesmo. Virei minhas costas para minha família, a Chesterley, e tudo que mais prezava. Eu ensinei-me a não sentir, não deixar minhas emoções levar o melhor de mim. Confiei no intelecto em vez disso, e isso me levou longe. Meus superiores logo descobriram que empreenderia qualquer tarefa desde que fosse perigosa suficiente para fazer-me esquecer ... Ele cessou bruscamente, seu rosto torturado. — Não importa o que Wellington disse, as coisas que fiz não eram nada para se orgulhar. Sim, descobri informações que ninguém podia. Sim, graças a minha coragem e meu talento com idiomas, insinuei-me profundamente nas fileiras do exército de Napoleão na Espanha. Você sabe quantos “amigos” franceses e espanhóis eu traí com isto? Quantas mentiras eu disse? — Mas eles eram o inimigo. — Isso era minha desculpa, também. Mas não eram todos os inimigos. Existiam seguidores de acampamento espanhóis e os civis e, espionar é um negócio sórdido. Isto espalha muito rapidamente em toda a vida. Você possivelmente não pode saber quantas coisas fiz e agora sinto remorso. — Ele falou as palavras com tal desprezo próprio afiado que isto torceu seu coração. — O fato de que você lamenta por tudo isso, só prova seu bom caráter. É uma das muitas razões de eu amar você, Ian. — Pare de dizer isto! Você possivelmente não pode amar um homem como eu! Falando claramente não o convenceria. Então ela aproximou-se e disse. — Então vejo que devo provar que eu te amo. E antes que ele pudesse pará-la, ela laçou seus braços sobre seu pescoço e arrastou sua cabeça para baixo para beijá-lo. 212
Capítulo 23 A véspera de ano novo promete muitas diversões atrativas, entre elas estão a exibição de fogos de artifício em Vauxhall, o Entretenimento do Sr. e Sra. Locksley, o baile anual de Lorde Stratton, e o extravagante jantar de Sua Majestade em Frogmorelodge. Haverá algo para todos os níveis da sociedade, então a noite com certeza será apreciada em todos os lugares.
Lorde X, The Evening Gazette, 30 de dezembro de 1820
Ian permaneceu congelado com a boca de sua mulher na dele. Maldita seja, ele não poderia deixar isso acontecer! Levá-la para a cama faria com que fosse impossível para ele anular o casamento. Por que ele não considerou a temperamento passional de sua mulher nas suas estratégias iniciais? Porque não sabia que ela se imaginava apaixonada por ele. Era por isso que ela estava tentando essa maldita manobra. Ela pensava que por eles terem feito amor estava apaixonada, o que não era a mesma coisa. As coisas que ele lhe dissera não fizeram a menor diferença, porque elas eram apenas uma fração do verdadeiro horror. Assim que ela descobrisse a verdade sobre isso, seus sentimentos de amor se dissipariam rapidamente. Então devia contar tudo a ela. Então ela o desprezaria, e a batalha acabaria. Alcançou os braços dela para retirá-los de seu pescoço, mas Felicity se segurou firme, e com os dedos ao redor dos pulsos dela, ele podia sentir sua pulsação selvagem. Mas foi pior quando ela moveu seus lábios contra os dele. Maldição, eles eram doces. Literalmente. Doce como um Borgonha6, fazendo-o pensar numa fruta madura e deliciosa... madura e deliciosa como os seios esmagados contra seu peito por estar nas pontas dos pés. Meu Deus, aqueles seios. Ele se coçava por tocá-los. Ignorar seus lábios era administrável. Possível. Se ele mantivesse sua boca fechada e não inspirasse o perfume dela. Mas ignorando seu corpo, toda sua extensão tão macia contra ele, era impossível. Não quando ele rasgou seus lençóis por uma semana tentando não pensar em tê-la de novo. Ele não era uma maldita pedra, pelo amor de Deus. Ele enrolou seus dedos ao redor dos pulsos dela, tentando freneticamente desatar as mãos aprisionadas no seu pescoço. Ela se afastou e franziu a testa para ele. Você se esqueceu de como me beijar, Ian? Não, ele disse gravemente, fogo consumindo-o por dentro. Eu não quero beijá-la. Um sorriso curvou os lábios tentadores dela. Sim, você quer. Você está apenas sendo teimoso, e não vou aturá-lo. Quero que você faça amor comigo novamente. 6
Vinho da região de Borgonha na França.
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Imagens eróticas dançaram em seus olhos, ele jogando-a na cama e tendo o que ele queria com ela. Não. Nós temos que conversar. Tenho mais a te contar... Mais tarde. Eu quero fazer isso primeiro. Faça! Sim, sim! O corpo dele gritava. Ainda bem que sua mente ainda estava funcionando, e dizia não, embora o não ficasse a cada segundo mais fraco. Então ela ondeou suas partes baixas na sua ereção florescida, e teve que lutar para se recordar o porquê de ter que negá-la com tanta firmeza. Eu o quero, Ian. Agora. Ela soltou seu pescoço de repente, e ele a cintura dela ainda mais rápido, mas ela apenas moveu suas mãos para os cabelos, onde começou a remover os grampos. Ele franziu o cenho para ela. Não faça isso. Você não me dá alternativa. Se você não fizer amor comigo, você me forçará a recorrer as mesmas táticas que usei na manhã após nosso casamento. Infernos, aquelas palavras enviavam imagens quentes direto para sua mente! A imagem dela deslizando sua combinação de seda e levantando uma perna... Ele agarrou as mãos dela e prendeu-as ao lado de seu corpo. Eu não vou deixá-la fazer isso. Não pode me parar, e sabe disso. Grudou a pélvis dela na dele de novo, e se descontrolou um pouco. Se você não me deixar tirar estas roupas, recorrerei às suas táticas daquela manhã... Direi exatamente o que quero fazer com cada parte do seu corpo. Um olhar realmente malicioso se postou nos olhos dela enquanto seguia uma trilha lenta desde a bochecha ao pescoço dele com o olhar. Você sabe aquela linha de pelo logo ali no seu tórax, aquela que começa logo abaixo da sua garganta? Eu quero correr meus dedos o caminho todo, muito, muito lentamente. Seu olhar ardente refletiu as ações que ela descrevia, deslizando de seu peito até seu cinto. Sua lança tencionou na intenção de escapar do elástico de sua roupa íntima... Se ela não se calasse... Eu quero seguir aquela intrigante linha de pelos até seu ventre e contornar o seu umbigo. Provavelmente darei um ou dois beijos ali. Sim, acredito que continuarei com os beijos. Espalharei alguns beijos mornos, molhados de seu ventre até alcançar seu duro... Ele não a deixou terminar. Esmagou sua boca na dela, devorando-a, invadindo-a com sua língua no segundo em que ela abriu seus lábios. Pensamentos sobre anulação e planos de aliviar sua consciência desvaneceram. Sua esposa estava entre seus braços, e ele a queria. Deus, como a queria. Apenas Felicity conseguia combinar os impulsos mais sensuais de uma cortesã e da diversão de uma inocente curiosa, uma combinação que nenhum homem conseguiria resistir. Certamente não ele. Ele ainda segurava as mãos delas ao lado de seu corpo, mas não resistiu quando as arrastou para ficarem livres, e então as deslizou para dentro de seu roupão para resvalar sobre suas costelas. Quando ele a sentiu manuseando desajeitadamente os nós de seu calção, a ajudou a desatá-los, então os retirou junto com seu roupão numa rapidez incrível. 214
A ânsia dela em deixá-lo nu deu a ele licença para despi-la logo depois, arrancando os botões, rasgando os nós e as fitas enrolados, puxando, despregando e descartando camadas de rendas femininas até que ela estivesse apenas com sua chemise e meias. Aparentemente ela estava sem roupa de baixo, e a percepção disso deixou-o num estado de rigidez como nunca estivera antes na vida. Puxando-a, arrancou os laços de sua chemise, os nós estavam tão atados que ele soltou uma maldição sob sua respiração. Ela fez um pequeno barulho, o que imediatamente o fez olhar para cima, e vê sua expressão paralisadas ante a precipitação dele. Ela parecia alarmada. Claro. Mesmo com todo seu atrevimento, ela ainda era praticamente inocente. Havia completado o ato apenas duas vezes, e sua pressa feroz em despi-la a chocara. Se forçou a parar e respirar um pouco no lugar de jogá-la na cama como queria. Ela merecia algo melhor. Não merecia nada disso, mas ele não podia deter-se, então deveria fazer com que fosse bom para ela então. Se conseguisse manter-se são neste meio tempo. Precisava de um pouco de distância. Soltando sua chemise, ele disse gravemente: Tire isso para mim. Assim não ficarei tentado a rasgá-la e violá-la muito rápido. Suas bochechas ficaram rosa, mas anuiu. Se afastando um pouco dele, ela curvou a cabeça e se concentrou em desfazer os nós de sua chemise, o que deu um segundo para ele respirar. E para dar um banquete para seus olhos ante sua visão em sua chemise. Nunca tinha visto essa nela antes. Era algo que uma esposa usaria em sua noite de lua de mel feita de uma seda nevoada fina o suficiente para revelar mais do que deveria e menos do que ele queria ver. Mostrava claramente os botões de pêssego escuro de seus mamilos onde se pressionava contra o tecido, porem o resto de seus seios permaneciam ocultos. As curvas femininas de seu ventre estavam escondidas, mas os pelos do delicioso V entre suas pernas se mostrava escurecido sob o tecido opaco. Ele tinha que manter suas mãos quietas, contêlas para não rasgar o maldito pano em dois para que ele pudesse se banquetear em seu corpo nu. Felicity alcançou a bainha da chemise como se fosse puxá-la sobre a cabeça. Não, ele comandou. Faça do jeito que fez na manhã depois de nosso casamento. Abaixe-a. Devagar. O olhar dela encontrou com o dele. O alarme havia desaparecido, fora substituído por olhos abertos de excitação. Fez como ele pediu, e enquanto revelava centímetro por centímetro da carne feminina, a boca dele secava. A luz das velas brilhava na pele suave. Seus seios eram tão graciosos como se lembrava, atrevidos e firmes e na forma que gostava, não muito grandes, pois nunca fora afeiçoado às mulheres fartas. Então veio para seu ventre, com uma bela covinha se mostrando como um umbigo, e então… Você pode soltar a chemise, ele falou num ruído alto. Ela o fez, e ele gemeu. Cachos de pelo encaracolado docemente pousados sobre o ponto que ele queria beijar, acariciar e lamber. Felicity começou uma das ligas, e ele disse:
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Espere. Deixe-as. Se inclinando para frente, ele puxou-a para dentro de seus braços para um longo e instigante beijo. Então levantou seu corpo e tornou a colocá-la sobre seus pés agora na cama onde ela estaria alguns centímetros acima dele. Ian, o que você... Shh, ele murmurou enquanto passeava com as mãos sobre os quadris e as coxas dela. Havia qualquer outra mulher tão perfeitamente moldada? Ou era o desejo dele em tê-la que fazia que visse perfeição em todos os lugares? Segure-se a coluna da cama, querida. Quando ela fez como propôs, ele pegou sua outra mão e colocou-a em seu ombro. Então levantou-lhe sua perna oposta e enganchou-a sobre seu outro ombro, abrindo-a para seu olhar. E sua boca. Ian? Ela disse, sua pele ficando toda rosada. Lembra-se do que disse que queria fazer naquela manhã? Ele plantou um beijo numa das coxas sob sua liga. O que queria fazer com minha língua? Ela ofegou baixinho de surpresa quando ele fez exatamente o que ameaçara, correndo sua língua lentamente para cima e para baixo de sua coxa até os limites de seu pelo encaracolado. Bom Deus, ela sussurrou enquanto a boca dele encontrava o lugar onde ele cravara seu beijo, você não quer dizer... Isso é... é... Ohhhhhhhh, Ian... Não protestou depois disso. Ele a beijou lá determinado, saboreando o seu gosto, se deleitando com os murmúrios de aprovação enquanto banhava as pétalas da sua pele com a língua. Ela abandonara a coluna da cama, ambas as mãos se agarravam na cabeça dele forçando-o a ficar mais perto. Gostava daquilo, gostava do modo como sua pequena mulher lasciva se jogava no ato marital mais íntimo de todos. Agora, se conseguisse se segurar para não perder o controle. Sua essência almiscarada e suas ondulações ávidas construíam uma tensão que o deixava no limite, e ele não tinha certeza de quanto tempo mais conseguiria resistir sem se constranger. Sim, sim... Ian, ela gemeu, sim... assim... oh, assim é ainda melhor...Meu Deus... Meu doce Deus... A sua explosão veio tão rápido que teve que ancorar suas coxas para evitar que caísse quando os tremores tomaram seu corpo enquanto ela gritava seu nome. Ela se balançou por um momento como se estivesse suspensa, sua perna deslizando de seu ombro. Então lentamente afundou seus joelhos na cama. Olhou em seus olhos, uma luz confusa de prazer ainda permanecia brilhando em seu rosto. Nunca imaginei... Nem eu. Ele nunca imaginara que dar prazer a uma mulher poderia ser tão sublime. Ou que desejasse uma mulher com tanta urgência, mas ainda assim queria dar ainda mais prazer a ela. Ou que se encontraria tão apaixonado por ela que nunca a deixaria ficar fora de sua vista. Ela olhou para baixo, para a ereção dele, e seus olhos estudando-o. E se... Ele congelou. Poderia terminar isso agora, e eles poderiam ainda ter a anulação. Ela encontrara seu prazer, então não se preocuparia muito se ele não encontrasse o dele. Mas ela deve ter adivinhado seus pensamentos, pois murmurou: 216
Oh, não, você não... e puxou sua cabeça em direção a dela. Depois daquilo, teve pouca noção de como ela terminou deitada na cama com suas coxas abertas e com ele ajoelhado entre elas. Seu pênis apenas guiando-o. A próxima coisa que percebeu, e já estava deslizando em sua lisa e bem-vinda passagem. Meu Deus, querida, você está tão quente. Quente, apertada e incrível. Era possível morrer de prazer? Porque se qualquer pessoa pudesse incitá-lo a isso, era sua querida esposa. Como uma devassa natural, ela prendeu suas pernas instintivamente ao redor do quadril dele, puxando mais para dentro, sugando-o. Ele não conseguiria ir devagar. Sem chance. Se sentia muito bem com suas pernas trancadas ao redor dele e o seu corpo se esforçando para se encontrar com cada golpe dele. Seguia fundo e duro... ele não podia se segurar. Queria estar em seu interior enchendo-a tão completamente para que nunca o esquecesse, para que nunca quisesse deixá-lo. Queria marcá-la, como uma chave marcava a cera quente para ser feita uma fechadura, assim só eles poderiam se encaixar um no outro. nela.
Você perdeu... sua chance... de anulação, ele a avisou enquanto arremetia
Bom. Beijou-o saciando-se com sua boca para selar o acordo. Sua língua se arremessou na dele incitando-o, e ele a sugou fortemente, desejando... necessitando o tanto quanto conseguisse pegar. Ela era sua. Para sempre. O pensamento o deixou tão satisfeito que o guiou até o fundo dela e jorrou sua semente quase que no mesmo instante. Eu te amo, ela chorou contra sua boca no momento em que encontrou sua própria liberação. Te amo... te amo... te amo... Eu também te amo, ele pensou no mesmo instante. Deus me ajude, porque eu também te amo. O que significava que teria que contar tudo a ela. Não poderia deixá-la seguir pensando que o amava quando ela não o conhecia realmente. Ela merecia saber no que tinha se metido. Mas não agora. De manhã. Teria esta doce noite com ela. *** Algo fez cócegas na orelha de Felicity, puxando-a pela névoa do sono. Um sussurro. Alguém estava sussurrando seu nome em sua orelha. Ela se aconchegou um pouco mais entre as cobertas, que estavam enroladas até seu queixo. Vá embora, ela bramiu. Uma voz masculina riu. Você não pode dormir o dia todo, querida. Ela abriu um olho para vislumbrar Ian, depois fechá-lo. Por que não? Nós estamos partindo para Londres hoje, lembra? Levou um segundo para que ela absorver aquilo, mas quando o fez, seus olhos abriram-se de repente. Ian estava sentado na beira da cama ao lado dela, sua mão 217
descansando em seu traseiro bem coberto. Já estava vestido, por piedade. Mas claro, o quarto estava banhado de luz, o que deveria ter algo a ver com aquilo. Que horas são? Ela perguntou. Meio-dia. Meio-dia? Bom Senhor, dormi até tarde! É compreensível. Você não dormiu muito a noite passada. Não, eu não dormi, ela pensou enrubescendo. Eles tiveram uma noite e tanto. Se ele não tivesse gerado um herdeiro na noite anterior, não tinha sido por falta de tentativas. Uma enxurrada quente de memórias agradáveis a fizeram sorrir timidamente para ele. Você não dormiu muito, também. Talvez você devesse voltar para a cama. Ele riu. Nas palavras do imortal Lorde X, “Homens não sobrevivem apenas de cama.” Você tem que se levantar, querida. Espero ter partido até a uma da tarde. Ela levantou o olhar, seu coração batendo três vezes mais rápido. Por que tão cedo? Você não quer passar algumas horas com seus irmãos antes do baile? E vai precisar de tempo para se vestir. Um suspiro de alívio escapou pelos lábios dela. Então você não... está pensando em visitar aquele solicitante para pedir a anulação. Ele desviou o olhar. Temo que isso não seja mais possível. Agora que nós consumamos o casamento, nós não podemos prosseguir com o assunto até termos certeza que você não esteja grávida. Até lá nenhum juiz com olhos acreditará que não tivemos relações conjugais, mesmo que você prove não estar grávida. O traço de arrependimento na voz dele a fez levantar o queixo e dizer fortemente. Bom. O olhar dele voltou para ela. Veremos se sentirá assim mais tarde. O que você quer dizer? Nós precisamos conversar. Nós devíamos ter conversado sobre isso na noite passada, antes que fosse tarde demais, mas nós estávamos... Eu não me arrependo da noite passada. O breve brilho de satisfação nos olhos dele dizia que também não, não importava o que dissesse. Só espero que você diga o mesmo depois de conversarmos. Mas nós podemos fazer isso na carruagem a caminho de Londres. Ele agarrou a ponta das cobertas que estavam até o queixo dela. Agora saia da cama e se vista, preguiçosa. Ou eu mesmo a visto. 218
Com um sorriso de escárnio, puxou as cobertas, e então congelou. Aparentemente ele se esquecera que ela não tinha vestido uma camisola na noite passada. Seu olhar trilhou de forma faminta sobre o corpo desnudo dela. Vestir-me? Ela caçoou. Você nunca conseguiria. Levantou e agarrou o cachecol dele, então o puxou em sua direção. Ele foi desejoso. Suponho que possamos partir um pouco mais tarde, ele concedeu no momento em que baixava a cabeça para mordiscar uma de suas orelhas. Uma hora não fará mal algum. Ou duas. Ou três. Ela desabotoou a casaca dele. Nas palavra do imortal Lorde X, “paixão não deve jamais ser apressada”. Ele nunca disse isso. Acabou de dizer, disse ela silenciando a risada dele com seu beijo. Quatro horas mais tarde, eles entraram na carruagem St. Clair. Todos os planos para dar uma paradinha em Taylor House haviam sido abandonados agora que eles estavam tão atrasados, já que ela não queria excitar seus irmãos aparecendo lá e ficando por apenas uma hora, depois voando para o baile. Eles não a esperavam até amanhã de qualquer modo, então iriam direto para a casa de St. Clair na cidade onde se vestiria. Felicity se afundou no assento de trás da carruagem, se sentindo aquecida, satisfeita, e sim, amada. Ian ainda precisava falar as palavras, mas sentia seu amor em cada carícia, em cada olhar. Tinha certeza que ele a amava. E um dia ela o faria dizer as palavras. Esperasse só se ela não o faria. No entanto, esse não seria o dia. Julgando pela feição rígida em seu rosto quando ele se sentou sem sua frente, ele estava concentrado na “conversa” dele, e não parecia que seria prazerosa para nenhum dos dois. A carruagem deu partida, e viajaram cerca de uma milha em silêncio com ela observando a janela e temendo a discussão por vir. Nem o dia parecia promissor a isso. A luz do sol que brilhara tão encantadora enquanto faziam amor desvanecera por trás de um lençol de nuvens taciturnas que ameaçavam fazer nevar. Um frio e triste dia, para ser mais certeiro. De repente, Ian limpou a garganta. É a hora de te contar tudo. Seu coração retumbava quando olhou-o. Sobre o quê? Mas sabia e se segurou esperando o pior. atrás.
Meu passado. Toda a “verdade” que você tanto queria se apossar a uma semana
Por que agora? Despertou nela um medo de saber a verdade quase que na mesma intensidade que queria sabê-la. O que contasse a ela poderia mudá-los de forma irremediável. Você merece saber. Nós não podemos anular o casamento, mas nós poderemos ainda dissolvê-lo de alguma outra forma. Divórcio, separação, o que você quiser. Quero que você saiba com que tipo de homem se casou antes de continuarmos nessa... ilusão de você me amar. 219
Havia tanta dor em seu semblante, que banira a relutância dela em ouvi-lo. Ele precisava revelar o espinho em seu peito, e ela poderia aguentar. Meu amor por você não é uma ilusão, disse suavemente. Nada do que me diga pode mudar isso. Ele olhou para fora da janela, um músculo latente em sua mandíbula. E se eu... dissesse que fiz algo tão terrível que arruinou várias vidas? Se você quer dizer, a história sobre a sedução de sua tia... A verdade é pior do que aquilo... dez vezes pior. Ele implicaria que a pior acusação de seu tio era a verdade? Não, ela não acreditaria. Sei no meu coração que você é decente e bom, não importa o que me diga. Você acha isso? Ele pausou. Muito bem. Veremos o que você acha depois de ouvir tudo. Veja, não seduzi minha tia como Lady Brumley alegou, ou a forcei como meu tio disse. Seu olhar retornou a ela, lavrado em pesar, culpa e ódio por si mesmo. A verdade é que... a matei.
Capítulo 24 Na véspera de ano novo, nós fazemos o certo não olhando para frente, mas para trás. O homem que não consegue aprender com seus erros do passado minguou suas esperanças de evitar novos erros.
Lorde X, The Evening Gazette. 31 de dezembro de 1820
Felicity se sentou congelada, incerta de tê-lo entendido. Você quer dizer, porque ela se matou por amor a você... Não. Ela nunca me amou, e não se matou, não por amor ou por qualquer outro motivo. Eu a matei. colo.
As mãos dela começaram a tremer tanto que as segurou fortemente juntas ao seu Eu... Eu não acredito em você. Como é possível? 220
Ele suspirou pesadamente. Deveria ter começado do começo. No ano em que alcancei os dezenove anos, passei um longo feriado em Chesterley com meu pai. Nós brigávamos por tudo. Minha tia e meu tio normalmente estavam por perto durante essas brigas. Tio Edgar sempre ficava do lado de papai, o que agravava os conflitos. Mas minha tia... Sua voz suavizou. Minha tia tentava apaziguar as coisas. Ouvia minhas reclamações com compreensão, tendo aturado o temperamento formidável de meu tio por três anos. Mesmo não sendo tão mais velha do que eu, era uma mulher sensível que oferecia profundos conselhos, então me tornei para ela um grande amigo. Nós passávamos tanto tempo na companhia um do outro e ela era tão bondosa que comecei a me importar muito com ela. A carruagem bateu numa raiz, sacudindo-os, mas Ian dificilmente pareceu notar. E sim, suponho que estivesse me afeiçoando a ela e que até mesmo a desejava, embora naquela idade os moços desejem qualquer coisa que vista uma anágua. Duvido que ela tenha percebido meus sentimentos. A despeito das histórias que ouviu, Tia Cynthia sempre fora consciente de seu dever para com meu tio e nunca se comportou em relação a mim com nada mais do que um caráter circunspecto. Embora ele a olhasse, ela podia dizer que não a via. Via seu próprio passado, e sua expressão de desespero partia o coração de Felicity. Desejou que sentasse ao seu lado enquanto lhe contava sua triste história, mas ele não era o tipo de homem que quer uma mulher o afagando num momento como esse. E ela temia parar o fluxo de palavras. Numa tarde, ele continuou, Estava passando por uma pequena cabana na propriedade de meu tio quando ouvi alguns barulhos vindos de lá. O som inconfundível de carne batendo contra carne. Uma mulher chorando. Um homem gritando. Reconheci a voz de meu tio. Suas grandes mãos se fecharam em punhos sob suas coxas onde estavam. Eu notara contusões em minha tia antes de perceber que suas explicações plausíveis para elas eram mentiras. Mas não podia equivocar-me com o que estava ouvindo. Então parei do lado de fora da porta. Era tão do feitio de seu querido marido saltar em defesa de uma mulher. Ela podia imaginar o quão doloroso devia ter sido ouvir sua tia ser maltratada. Ele proferiu um palavrão baixo. Se eu tivesse parado um momento para pensar, teria percebido que qualquer interferência direta de minha parte apenas deixaria meu tio com mais raiva. Poderia ter achado meu pai e implorado que fosse até lá, ou batido na porta com alguma mentira sobre estar precisando da ajuda de meu tio. Ele parou, como se incapaz de continuar. Desejou silenciosamente que ele continuasse. Ele virou o olhar para a janela. Mas não tomei um momento para pensar. Agi c exatamente a mesma maneira imprudente que meu pai sempre criticava. Explodi pela porta. Ele ficou em silêncio por tanto tempo que ela finalmente suspirou. E ele estava... ele tinha... Batido nela? Oh, sim. Ela já tinha marcas vermelhas em suas bochechas e um olho roxo. Estava encolhida num canto, soluçando enquanto ele estava lá parado em pé sobre ela com suas mãos em punhos... punhos, imagine! Sua voz foi ficando cada vez mais grave e 221
grossa. Meu Deus, ela era metade do tamanho dele, uma coisinha de nada. E o bastardo estava usando seus punhos nela! Horror a encheu, se afundando cada vez mais enquanto pensava em como aquela visão torturara seu amado marido. Oh, Ian, ela murmurou solidária. Mas ele não parecia ouvi-la. Fiquei um pouco louco. Me lancei contra as costas dele. Nós... lutamos, mas ele não era páreo para um garoto de cabeça quente de dezenove anos, quase vinte anos mais novo do que ele. Logo o tive no chão e estava esmurrando seu rosto de novo e de novo... Minha fúria estava fervendo tanto que tudo se obscurecera ficando apenas o desejo de sangue, o dele. Ele tomou uma longa tragada de ar. E quando minha tia veio por trás de mim e agarrou meus braços para me deter antes que o matasse, me livrei dela com tanta força que ela... ela... Ele sussurrou, quase sem voz. Então elevou o tronco e seu olhar torturado retornou a ela. Ela perdeu o equilíbrio e caiu contra o ornamento superior de madeira da lareira. Ela... bateu a cabeça. O médico disse que ela morreu na hora. Bom Senhor, ela sussurrou, sua pobre tia. Mas não era pela pobre tia dele que seu coração se partia. Era por ele, pelo seu doce marido. Que mantivera toda essa escuridão dentro dele por tanto tempo em silêncio. Ela desejou saber disso antes. Sim, minha pobre tia. As palavras estavam pesadas com auto-repreensão. Pega entre duas criaturas violentas como eu e meu tio, não tinha chance de viver ou ser feliz. Ele enterrou seu rosto em suas mãos. Desesperada por confortá-lo, ela se inclinou para frente e colocou sua mão na nuca dele. Por um longo momento, não houve som dentro da carruagem, apenas seu rangido, o bater dos cascos dos cavalos e a respiração torturada de Ian. Quando não pode mais suportar, disse: Entendo seu sofrimento, meu amor, mas não foi sua culpa... Não foi minha culpa? Exclamou quando levantou a cabeça. Como não foi minha culpa? Entrei num lugar no qual não deveria! Deixei que meu temperamento me tomasse de tal forma que empurrei uma mulher minúscula forte o suficiente para fazê-la cair e se matar! Freneticamente, ela procurou por palavras que abrandassem a culpa dele. Ela poderia ter caído numa almofada. Que não o tenha acontecido foi trágico, concordo, mas ainda assim você não pode se culpar por circunstâncias infelizes. Além do mais, seu tio poderia tê-la matado de qualquer jeito se você não tivesse entrado. Os olhos dele ardiam. Mas ele não o fez. Você não entende? Eu o fiz! Você estava tentando protegê-la! Ninguém poderia racionalmente culpá-lo por isso! Minha família o fez! Um arrepio perpassou pelo coração dela. Seu tio... 222
Não meu tio. A expressão dele ficou dura como pedra. Digo, ele me culpou, ele ainda me culpa, mas não há muito que possamos fazer sobre isso. Ele não é um idiota. Sabia que mesmo se ele me acusasse perante as autoridades de assassinato, eu o acusaria com as mesmas autoridades de maus tratos com sua mulher. Ele não tinha desejo nenhum de revelar a verdade ante o mundo. Nem de revelar seu verdadeiro caráter ao meu pai. Então nenhum dos dois contou ao seu pai o que realmente aconteceu? Ele se endireitou, longe do alcance das mãos dela. Se remexendo incansavelmente, apertava e afrouxava seu punho. Na época meu pai havia sido chamado e me encontrara segurando o corpo dela e com raiva de mim mesmo. Tio Edgar se recompusera o suficiente para apresentar sua versão do que tinha acontecido. Não incluía nenhum dos maus tratos, lhe garanto. Disse ao meu pai que... me pegou seduzindo Tia Cynthia, e na luta entre nós ela tentou impedir-nos de lutar e caiu. Bastardo! Ela disse, ainda mais furiosa com o tio de Ian do que antes. Como ousava o homem a difamar Ian ante seu pai quando o velho visconde estivera tão desconfiado de seu filho? Bem, pelo menos seu maldito tio é consistente em suas mentiras. Essa é uma variação do que ele me contou. Ela adicionou secamente. Não mencionou maus tratos a esposa para mim também. Embora me deixe surpresa o fato dele não ter simplesmente te acusado de ter matado sua esposa. Creio que ele sempre temeu que se ele falasse, eu simplesmente mentiria e o acusaria de assassinato. Seria mais plausível para a maioria dos ouvintes. Eu tinha dezenove anos e honestamente jovem; ele era um homem adulto. A mulher era sua esposa. Eu tinha as evidencias dos maus tratos, Srta. Greenaway ficaria feliz o bastante para testemunhar a favor, pois uma vez ela mesma testemunhara uma das cenas. O que explicava o contínuo interesse de Ian na mulher. Como era típico, ele vinha tramando, mantendo a Srta. Greenaway do lado dele até que pudesse precisar dela. E Felicity assumira o pior. Não era de se admirar que ele estivera tão bravo com ela. Não, ele continuou, Tenho certeza que meu tio achou que lhe contando que eu seduzira até mesmo violentara sua esposa fosse menos arriscado. Isso alimentou os boatos que circulavam sobre mim e me fez parecer um sedutor demoníaco enquanto ele bancava o marido traído, um papel que ele preferia. Mesmo assim, no geral nunca circularam sua história. Ele deve ter percebido que se eu soubesse o que ele contara à mulher que eu cortejava, eu poderia tomar medidas mais drásticas contra ele. E as teria feito, se não tivesse casado a tempo de gerir um herdeiro. O que não entendo é o porquê seu pai ter escrito um testamento tão abominável. Você contou para ele o que aconteceu aquele dia, não? Eu contei a ele, ele disse profundamente. Ele simplesmente escolheu não acreditar em mim. Em seu filho? A enormidade disso cortou o coração dela. Ele acreditou no irmão ao invés de você! Que tipo de pai faria uma coisa dessas? Oh, seu pobre amor, aguentando tanto tormento e culpa de seus próprios familiares! Ela apertou a perna dele, se perguntando quanto mais deveria doer nele, se já tinha feito que ela sofresse desse modo por imaginar a dor ele. muito.
Ian deu de ombros, como se isso não importasse, mas ela sabia que importava e
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Papai já me culpara pela morte de minha mãe. Me achava um rapaz estouvado e destemperado, o que suponho que fosse verdade. Precisou de pouco para convencê-lo que eu seduzira minha tia. Estava muito óbvio em minha adoração por ela. Ela permaneceu sentada sem palavras. Que conforto poderia lhe oferecer para remediar a dor de tão terrível traição? Era uma coisa boa que o pai de Ian estivesse morto. Do contrário, ficaria tentada a matá-lo com as próprias mãos. Eu parti naquela noite para o Continente, Ian continuou, deixei-os para lidarem com as questões, os rumores e a bagunça. Se soubesse na época o que aprendi depois. Teria ficado e tentado convencer meu pai. Mas não sabia, e não consegui continuar vivendo ali, vendo meu tio todos os dias, tolerando a desaprovação de meu pai, escondendo aquele segredo sórdido. Sua voz diminuiu. E que a tinha matado. Tudo que queria era fugir. Se movendo para sentar ao seu lado, ela pegou as mãos dele entre as suas. Ele as apertou tão forte que tinha certeza que seus dedos ficariam marcados mais tarde. Claro, papai tomou minha fuga como uma ampla demonstração de minha culpa, prosseguiu. Era uma coisa estúpida a se fazer, mas então só tinha dezenove anos. Ainda não tinha aprendido a pensar antes de fazer. Se tivesse, ela poderia ainda estar viva hoje em dia. Ela não podia mais aguentar. Você precisa parar de se culpar por isso, meu amor. Suas ações são perfeitamente compreensíveis. Seu os olhos tristes a disseram que as palavras dela não mudavam nada para ele. Compreensíveis ou não, privei duas crianças de sua mãe. Ouso dizer que meus pobres primos não ligam muito para como isso aconteceu. Soltou a mão dela e olhou para fora pela janela oposta. Até onde eles entendem, matei a mãe deles de modo tão efetivo como se tivesse colocado uma pistola na cabeça dela. Ela começou a protestar, até que percebeu que esse não era o modo de alcançá-lo. Você está dizendo que uma morte acidental é a mesma coisa que assassinato. O resultado é o mesmo, não? ele chiou. Então me diga, você tem mais crimes em sua consciência. O que você quer dizer? Você me estuprou, não? O quê?! ele virou a cabeça para olhar para ela. Você mesma disse que queria... Se não importa se eu queria ou não. “O resultado é o mesmo.” Não foi isso que você disse? Eu não sou mais virgem, então isso quer dizer que você me estuprou, porque estupro e sedução e vontade consentida de fazer amor, todos tem o mesmo resultado, não tem? Ele ficou em silêncio por um longo momento, os músculos de seu rosto tão tensos que temia que estalassem. Vejo o que está tentando fazer, mas não vai funcionar. Não pode banir minha culpa com retórica.
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Eu não estou tentando bani-la. Suavizá-la talvez, mas não bani-la. Se pudesse bani-la com apenas algumas palavras, seu caráter seria de fato defeituoso. Ela colocou sua mão sobre o joelho dele novamente. Eu estou apenas pedindo que você me deixe compartilhá-la, ajudá-lo a viver com ela. Um arrepio passou por ele. Não tenho direito de esperar isso de você, disse gravemente. Quando você se casou comigo, não sabia da escuridão que repousava dentro de mim. Por não te contar sobre isso, te dei a chance de recusá-lo. Ninguém a culparia por me deixar agora que sabe a verdade. Por que eu desejaria deixar o homem que amo? Maldição, o homem que você diz amar não é o mesmo homem com quem se casou! Ele retirou as mãos dela de seu joelho. Posso não ser o canalha que você imaginou, mas eu não tenho princípios e sou inescrupuloso. Não te mereço ou qualquer outra mulher decente. Ele encarou cegamente o lado de fora da carruagem. Nunca deveria ter me casado. Se eu não tivesse tanta certeza que meu tio Edgar destruiria Chesterley, nunca teria procurado por uma esposa. Por isso que tentei escolher uma mulher que se casasse comigo por outros motivos, se não ela ficaria devastada quando conhecesse meu verdadeiro caráter. Um som de agonia escapou dele. Então você apareceu, fiquei tão tentado por você... justifiquei minhas ações me dizendo que você não tinha futuro... O que era verdade! Ela o interrompeu. Não. Eu poderia tê-la ajudado sem necessitar me casar com você. E tinha aquele maldito Masefield... Ele nunca teria se casado comigo, e você sabe disso. Certamente não queria casar com ele. Não quando podia ter você. Ela enfiou suas mãos sobre os braços dobrados dele. E você não consegue ver que toda sua preocupação em escolher uma esposa prova sua bondade? Um homem sem escrúpulos teria pegado qualquer mulher que servisse aos seus propósitos. Mas você fez o seu dever enquanto estava também tentando proteger a mulher que cortejava. Do jeito que protegi você? Meu Deus! Veja o modo como a tratei. Eu te manipulei, menti, a obriguei casar comigo... Se nós compararmos os maus tratos, meu querido. Eu temo que tenha que pagar tanto quanto você. Um nó fechou sua garganta. Você tinha esse terrível segredo guardado, e eu fiz de tudo para trazê-lo à tona. Minhas ações foram motivadas pela minha emoção de modo tão despreocupado quanto impensados como os seus, exceto que eu não tenho a desculpa da juventude ou de circunstâncias atenuantes para confortar minha culpa. Mas ainda assim posso pedir pelo seu perdão e seguir em frente. Por que você não pode fazer o mesmo? Ele balançou a cabeça para olhá-la com incerteza. O que fiz foi muito pior. Você disse que não importa, mas depois que você considerar todas as implicações... Continuarei te amando. Uma vez que meu coração decidiu algo, isso não vai mudar, e meu coração tem bastante certeza sobre o que sente por você. Pegando a mão dela, ele olhou para baixo. Você está se esquecendo que isso ainda não acabou. Se por qualquer motivo, nós não tivermos um filho no tempo descrito, nós perdemos Chesterley. 225
Ela sentiu seu coração pulsar pelo fato dele ter dito “nós”. Quando o conheci eu tinha menos do que nada. Então como posso reclamar em ter apenas o nada? Um vislumbre de um sorriso tocou nos lábios dele. Você tem o modo mais estranho de ver as coisas. O qual é o motivo de você me amar. No segundo em que ela disse essas palavras, desejou não tê-lo feito. Ele não tinha dito que a amava, ao final das contas. Mas ele levantou a cabeça, os olhos claros e firmes. Eu te amo de verdade, você sabe. Mais do que qualquer pessoa na minha vida. Não deveria dizê-lo e prender você ainda mais a mim, mas é a verdade. E o pensamento de perdê-la me atormenta. Oh, Ian, ela disse, tão feliz que mal conseguia se conter, você nunca vai me perder! Os dedos dele prenderam os dela firmemente. Ouça-me, Felicity. Há outras ramificações da luta com meu tio. Se nós não preenchermos os termos do testamento, pretendo lutar por ele. Ele já secou toda sua propriedade; não vou permitir que ele faça o mesmo com Chesterley. Mas isso significa contestar o testamento na corte, e com um fórum público, há sempre o risco de a história vir à tona. Nós resolveremos isso se chegar a tanto. Há mais. Se nós cumprirmos todos os termos, meu tio pode retaliar. Até o momento em que você me disse o que ele te contou, eu não tinha percebido o quão longe ele iria para me impedir de receber minha herança. Ele é um covarde como todos os rufiões são, o que explica o porquê dele se restringir a contar rumores a mulher que eu estava cortejando. Mas se ele descobrir que não tem mais nada a perder, não temos como prever o que dirá. Você se vera banida da sociedade, seu marido difamado, e seus irmãos e filhos sendo alvos de piedade. Eu te amo demais para desejar isso para você. E eu o amo demais para deixá-lo encarar tudo isso sozinho. Ela apertou as mãos dele. Os olhos dele estudaram os dela por um longo momento. Você parece determinada nessa decisão. Muito bem, eis o que proponho. No baile de hoje a noite haverá especulações, algumas desagradáveis, sobre o porquê de nosso casamento apressado. Os rumores antigos sobre mim circularão novamente, graças ao nosso casamento. Se você achar que pode aguentar as fofocas malévolas, mesmo sabendo que isso será apenas uma fração do que poderá ocorrer mais tarde em nosso casamento, não falarei mais em separação ou divórcio. Ela se indignou. Eu não preciso desse teste para saber que quero continuar casada com você. Não veja isso como um teste. Ele sorriu abatido. Essa é sua última chance de escapar. Embora isso parta meu coração vê-la partir, consigo aguentar se isso significar sua felicidade. Seu olhar solene se concentrou nos olhos dela. Mas se você decidir depois dessa noite a permanecer comigo, nunca a deixarei partir, você me ouviu? Você estará presa a mim para o resto de nossas vidas não importa o que meu tio tente. Então tome sua decisão cuidadosamente. 226
Eu vou. E agora me escute Lorde St. Clair. Eu darei minha decisão depois de hoje à noite, e você deverá acatá-la. Nada mais de “Eu sei o que é melhor para você” e “Você vai se arrepender”. Começaremos tudo de novo, duas pessoas que se amam e que se casaram apenas por essa razão. Ele hesitou por um momento, e então suspirou. Como sempre, você nos leva para uma barganha difícil. Então você concorda? Curvando sua cabeça, ele pressionou um beijo quente entre as mãos unidas. Sim, meu amor. Eu concordo.
Capítulo 25 Rumores parecem abundar na véspera de ano novo, quando a perspectiva de um novo ano tenta as fofocas a ousarem.
Lorde X, The Evening Gazette, 31 de dezembro de 1820
Felicity deu uma olhada em Ian enquanto a carruagem se aproximava da casa da cidade de Lorde Stratton. Ele estivera quieto desde que tiveram a conversa, entre o tempo de se vestirem e do caminho até aqui. Agora parecia positivamente sombrio. Desejava que ele não se sentisse compelido a fazer esse teste de seu amor, mas o entendia. Não podia aceitar seu amor até que perdoasse a si mesmo, e ela o ajudaria a fazer isso com o tempo. A despeito das suas preocupações, estavam verdadeiramente casados agora. Não podia esperar para ver Sra. Box para contar o quão contente estava com sua situação. Mais do que contente. Uma vida inteira com Ian, livre de segredos e incertezas, que mulher não ficaria extasiada ante tal pensamento? 227
Do que você está sorrindo? Ele rosnou. Não pode resistir em provocá-lo um pouco. É o meu primeiro baile como Viscondessa de St. Clair. Se a Srta. Taylor conseguia ganhar as confidências de tantas pessoas, imagine quanto material a Viscondessa de St. Clair não poderá reunir para Lorde X! Então graças a Deus que é o nome de Lorde X que está naquela maldita coluna, é tudo que tenho a dizer, resmungou ele, pensou ter visto uma ponta de um sorriso nos lábios dele. De outra forma, eu estaria lutando em duelos toda semana por isso. Deleitada que suas palavras implicassem um futuro para eles, gracejou. Oh, mas estou pensando em usar meu nome verdadeiro agora. Quando fui contar ao Sr. Pilkington que iria me casar ele sugeriu chamar de “Os segredos das Ladies, pela Viscondessa de St. Clair.” Não soa bem? Ele elevou uma das sobrancelhas. Você está tentando me mandar mais cedo para a cova? Hmm. Se você morresse, eu seria a Viscondessa Viúva de St. Clair. Isso também soa bem. Quando ele fez uma carranca, adicionou, é uma brincadeira, Ian. Tenho sempre que explicar minhas brincadeiras para você? Quando não tem graça, sim. Ele não sorriu, e lamentou tê-lo provocado. Deveria ter sido um pouco mais cuidadosa, antes que ele se sentisse defensivo, deveria entender. Mas ela poderia esperar. Contanto que a amasse. Não se preocupe, disse suavemente, não tenho intenção nenhuma de usar meu nome real. Disse a Pilkington que você nunca aprovaria. Ele ficou decepcionado, mas quando apontei que a outra opção era que eu parasse de escrever para ele, apoiou o meu jeito. Aquilo finalmente trouxe um sorriso. Tenho certeza que sim. Pilkington não é um tolo. Sabe que não deve cruzar espadas com você, meu amor. Meu amor. Agora isso soava ainda melhor, ela pensou. A carruagem parou, e desembarcaram. Ele ofereceu seu braço, e ela o tomou com uma explosão de felicidade possessiva. Começaram a subir as escadas, mas haviam se movido por metade do caminho até que Jordan chegou correndo para saudá-los. Ian, ele disse sem preâmbulos, estive de olhos abertos por você. Os músculos no braço de Ian se enrijeceram sob os dedos dela. O que há de errado? Seu tio está aqui. Um rápido estremecimento atravessou Felicity. Jordan se apressou. Ele ouviu sobre seu casamento e está... contando histórias. Sobre você e Felicity. Que tipo de histórias? Felicity perguntou. 228
Jordan lhe jogou um olhar. Bem, uma delas, descobriu que você é Lorde X. Espalhou a notícia bem rapidamente. Parece que seu novo pseudônimo será necessário ao final das contas, Ian disse friamente. Felicity suspirou. Sem dúvida Sr. Pilkington decidiu que precisava de uma mãozinha nessa direção, e seu tio foi à mão para os seus propósitos. Sim, mas Lennard modificou isso para os seus próprios propósitos, quaisquer que esses sejam, Jordan disse. Disse a todos que você descobriu o segredo mais escuro de Ian como Lorde X, então Ian a forçou se casar com ele para mantê-la quieta. E que foi por isso que o casamento foi tão apressado, e por isso que você escreveu aqueles comentários sobre Ian sendo honesto com sua esposa. Felicity estremeceu. Todas suas colunas retornariam para assombrá-la? Olhou para o rosto rígido de Ian. Ele odiava e se culpava por isso. Ela podia notar. Há mais, meu amigo, Jordan prosseguiu. Seu tio está dizendo outras coisas também, sobre você em particular. O braço de Ian era como uma barra de ferro sob os dedos dela. Não é a fofoca usual, presumo. O que ele está dizendo? Ian perguntou firmemente. O olhar de Jordan se desviou para Felicity. Talvez devêssemos falar em particular, Ian. Eu não tenho segredos para ela, Ian retrucou. Diga-me. Como quiser. Ele está alegando que você violentou a mulher dele, depois deixou a Inglaterra para evitar o escândalo do suicídio dela. Disse que você tirou vantagem tanto de Felicity quanto de sua amiga a Srta. Greenaway. Está pintando-o como o pior devasso que já existiu. Enquanto Ian se desvencilhava dela permanecendo com seus punhos contra os corrimãos de pedra, raiva estourou dentro de Felicity. O tio canalha de Ian sequer tivera a decência de esperar ter certeza que Ian engendrara um herdeiro antes de atacar. Que covarde choroso, para expressar suas queixas desta maneira desprezível. Isso é tudo? Ela olhou para Jordan. Por que ele não acusa Ian de beber sangue de virgens e de torturar mulheres em seu calabouço? Eu a avisei que isso poderia acontecer, Ian disse em uma voz baixa direcionada apenas para ela. Apenas não esperava tão cedo. Ele não vai escapar com isso, ela jurou. Não vou deixar. Se você tentar negar suas histórias, Jordan interviu, apenas fará as coisas ficarem piores. Eles pensarão que Ian está obrigando-a a defendê-lo. Ian sempre foi misterioso sobre seu passado, e acreditarão em qualquer coisa que seu tio lhes disser. E um casamento repentino surpreendeu a todos. A melhor coisa para os dois será enfrentar descaradamente essa situação, e não dizer nada sobre ela. Emily e eu estaremos ao lado de vocês, assim como Sara e Gideon...
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Não! Ian rodou para encará-lo. A rixa de meu tio é comigo. Não quero vocês envolvidos nisso. Você e Emily e os outros devem se desassociar de mim até que tudo esteja acabado. E Felicity, você vai para casa. Infernos que vou! Correr de acusações vazias? Nunca! Concordo Lady St. Clair. Jordan cruzou os braços sobre seu peito, desafiando Ian a contradizê-lo. Não me “desassociarei” de ninguém. Ian lançou um olhar negro ao seu amigo. Nós discutiremos isso em um instante. Mas primeiro preciso dar uma palavrinha em privado com minha mulher. Claro. Jordan se retirou para um pouco a cima nas escadas a uma curta distância, ainda parecendo ofendido. Ian voltou seu olhar brilhante para ela. Não a terei maculada com isto. Não deixarei meu tio machucá-la. E não deixarei que ele te machuque. Esses rumores envolvem a nós dois, então tenho tanto direito de lutar essa batalha quanto você. Além do mais, sei exatamente como lidar com esse tipo de verme. Quando Ian começou a protestar, adicionou gentilmente, você prometeu uma chance de me provar essa noite. Bem, essa é minha chance, e estou pegando-a. Maldição, querida, você nunca foi o objeto de rumores maldosos. Eu já, e te digo, não a colocarei ante isso. Você não sabe o quão cruéis as pessoas podem ser! Eu não sei? Você se esqueceu com quem está falando? A melhor maneira de se lutar contra uma fofoca é usando outra fofoca, e como você bem sabe, esse é o meu forte. Dê-me uma chance de contrariá-lo, Ian. Posso fazê-lo. Sei que posso. Bem, ela achava que podia, de qualquer forma. Teve toda a tarde para pensar sobre o que fazer se algum dos medos de Ian acontecessem, e formara um plano. Era arriscado e poderia não funcionar, mas tinha que tentar. Você não precisa sacrificar sua reputação para provar que me ama. Não me importo com minha reputação. Além do que não estou tentando provar que te amo. Estou tentando provar que você pode confiar em mim. Sempre. Tenha fé em mim, Ian. Não trairei seu segredo mais sombrio. Sei disso, maldição! Mas não a quero envolvida. Não deveria ter te arrastado nesse casamento, em primeiro lugar... Pare com isso! Viveu tanto tempo com essa culpa que acha que merece uma punição, e a planeja exatamente pela negação dos prazeres de nosso amor. Bem, estou nesse casamento também. Se você se punir, punirá a mim, lembra? Não deixarei você apaziguar sua consciência me afastando desse casamento para viver miserável sem você. Penso em ficar firme nesse assunto. Isso o trouxe de volta rapidamente. Ele a olhou com respeito pensativo. Não desejaria vê-la vivendo em miséria, meu amor. Ele passou seu dedão sobre o queixo dela, depois sussurrou. Muito bem. Quando você põe dessa forma, tenho pouca escolha no assunto. O coração dela se elevou, segurou a palma dele e a beijou, depois olhou para onde Jordan andava de lá para cá, no topo das escadas, observando-os longamente, com olhares exasperados. 230
Isso vale para os seus amigos, também, Ian. Eles acreditam em você como eu, e não querem perder sua amizade. Querem te ajudar. Você precisa da ajuda deles, admita isso ou não. Uma coisa é Edgar Lennard caluniar seu sobrinho. E uma bem diferente é ele caluniar o Visconde de St. Clair, o Conde e a Condessa de Blackmore, e o Conde e Condessa de Worthing. Se você deixá-los estarem ao seu lado, apenas ajudará em seu caso. Ele grunhiu. Você está me pedindo para deixá-los sofrer por minha conta. Pelo menos você tem o conhecimento do porque isso está acontecendo; eles não. Eu não tenho direito de pedir ajuda deles quando eles não sabem a verdade. Então lhes diga a verdade. Você pode confiar neles, sabe disso. Eles são boas pessoas. Apenas pensarão melhor de você pela sua honestidade. Prometo que eles não o decepcionarão. Enganchando a lapela dele, lhe deu um sorriso reafirmando o que dissera. Nem eu. As luzes das lâmpadas de gás bruxuleavam sobre sua expressão furiosa. Lentamente ele passou a mão pela sua bochecha numa carícia gentil. Você não me decepcionaria nem se entrasse naquele baile, se despisse e mostrasse a língua para todos eles. Um pouco da tensão a deixou. Talvez houvesse esperança para seu marido no final das contas. Suponho que isso funcionaria, ― gracejou, mas está muito frio essa noite. Creio que vou tentar primeiro o meu plano se não se importar. Meu Deus, ele disse gravemente, o que fiz para merecê-la? A mesma coisa que fiz para merece-lo, nada. Foi você mesmo. E foi o suficiente. Sorriu para ele, e sem aviso, a puxou e a beijou profunda e longamente. Quando a soltou, olhou-o entorpecida. Para que foi isso? Para dar sorte. Sorte? Ela disse elevada. Não preciso de sorte. Tenho você e sou a Viscondessa de St. Clair, a mais notória escritora de fofocas que Londres já viu. Se não puder virar um rumor em minha vantagem, quem poderia? Os cantos da boca e Ian deram um puxão. Imploro seu perdão. Não quis questionar suas habilidades. Ofereceu seu braço a ela. Devemos prosseguir e enfrentar as cobras, milady? Ela elevou seu queixo orgulhosamente enquanto colocava o braço dentro de seu cotovelo. Certamente, milorde. Jordan os esperava no topo das escadas. Os três entraram na casa da cidade de Lorde Stratton juntos e foram guiados ao salão de baile por um criado. Quando ela e Ian foram anunciados, houve um distúrbio geral no salão. Ela engoliu. Dessa vez não era como o salão do qual ela fugira depois do beijo de Ian. Dessa vez, a fofoca poderia arruiná-la. E a Ian. De fato, se o plano dela falhasse, poderia deixar seu marido pior do que antes. Olhou para cima para Ian, então tomou forças em sua 231
expressão arrogante. Se ele podia olhar para baixo, para essa multidão em desafio, então também podia. No momento em que eles adentraram, Emily e Sara se uniram a eles, com olhares ansiosos. Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa para tranquilizar seus temores, viu Lady Brumley indo em direção a ela com metade das fofocas da cidade. Suas mãos se umedeceram. Se virando para Ian, ela sussurrou: Por que você e Jordan não saem um pouco para algum outro lugar para conversar? Posso lidar com isso melhor sem você estando parado aqui franzindo o cenho a cada um e convencendo-os que você é de fato o Demônio Encarnado. Aquilo trouxe um sorriso aos lábios dele. Estava franzindo o cenho? Carranqueando com um olhar furioso, mais precisamente. Ela retirou sua mão do braço . Vá agora. Converse com seu amigo... Se sentirá melhor depois. Ficarei bem. O olhar dele encontrou com o seu carregado e sério novamente. Eu te amo. Bom. Mantenha esse pensamento em mente. Porque depois do que estava prestes a fazer, ele poderia querer estrangulá-la. Especialmente se isso não funcionasse. Jordan e Ian mal tinham partido para uma das salas de carteado quando Lady Brumley e seu séquito já estavam em frente a elas. Era agora ou nunca. Minha menina querida! Lady Brumley exclamou, os olhos brilhando de prazer. Estou tão feliz de vê-la aqui! E casada também! Que choque! Nós temos ouvido as histórias mais incríveis, mas como disse a todos, é pura besteira. Histórias? Sobre mim? Felicity perguntou no seu tom mais inocente, imaginando se poderia sair disso. Sara e Emily chacoalharam suas cabeças como se para avisá-la, mas as ignorou. Tinha que tentar isso. Do contrário Ian continuaria a sofrer nas mãos das fofocas. Alguma criatura desordeira insiste em que você é Lorde X. Lady Brumley beijou o ar em cada lado das bochechas de Felicity. Eu disse a eles que não podia ser verdade. Mas é verdade, minha querida Lady Brumley, Felicity replicou. Agora que estou casada, não vejo razão para mantê-lo em segredo. Aquilo claramente pegou todos de surpresa, não muito por ela ter confirmado a fofoca, mas porque não parecia preocupada que sua identidade fosse revelada. Lorde St. Clair está forçando-a a finalizar a coluna? Alguém perguntou. Não, de fato. Ela forçou um sorriso brilhante em seu rosto. Meu marido gosta da minha coluna, sabe. Na verdade, nós discutimos isso no caminho do baile. Eu estou pensando em chamá-la “Os Segredos de uma Viscondessa”. Ian diz que o título dá uma ideia errada, uma vez que não supõe que sejam meus segredos, mas creio que soa maravilhosamente bem. O que você acha? Lorde Jameson, que sempre a tratara como a uma filha, disse hesitante: Seu marido não desaprova sua escrita? Céus, não. Por que desaprovaria? 232
O homem mais velho parecia desconfortável. Você deve admitir que tenha sido... um pouco crítica sobre ele nas últimas colunas. Oh, aquilo. Ele já quase me desculpou por aquilo. Afinal de contas, se não tivessem sido minhas colunas sobre ele, nós nunca teríamos nos conhecido e nos apaixonado. Houve um silêncio desconfortável. Então Lady Brumley veio em seu resgate. Esses tolos têm algumas opiniões sobre seu casamento não ter nada a ver com amor. Que St. Clair a chantageou para se casar com ele. Ela arreganhou os olhos em espanto. Chantageou-me? Sim. Disse a eles que era algo inteiramente sem noção, mas eles ouviram que você descobriu o segredo de seu marido e que se casou com você para manter seu silêncio sobre ele. Algum idiota alegou que sua senhoria ameaçou a arruiná-la se você não se casasse com ele. O tio de Ian havia certamente acertado perto da verdade, não? Bem, não o deixaria triunfar nessa. Ela não deixaria! Felicity olhou para Lorde Jameson e para os outros, que evitavam seu olhar. Então explodiu em gargalhadas deliberadamente. É verdade, cada palavra. Ela tinha a atenção deles agora. Choque estava estampado em seus rostos. Lady Brumley, Emily, e Sara olhavam para ela como se tivesse perdido a cabeça. vestido.
Ela continuou em tom dramático, embora seus joelhos estivessem tremendo sob seu
Lorde St. Clair descobriu que eu era Lorde X, veio até minha casa, e ordenou que eu parasse de escrever sobre ele. Recusei-me, é claro. Então ele me deu um ultimato, ou me casava com ele ou me arruinaria. Ela pausou para ter efeito. Foi uma decisão muito difícil. Eu lhe digo, que mulher quer se casar com um rico visconde quando pode ser uma pobre escritora desconhecida de colunas para um jornal? Quando Sara sorriu e Emily se uniu a ela, Felicity se sentiu mais confiante. Deu algumas batidinhas em seu queixo. Pensei sobre isso por... oh... algo em torno de meio minuto. E decidi que por mais que achasse divertido ser arruinada por um homem que certamente tinha posses, preferia muito mais ser uma rica viscondessa. Desse modo poderia ter todas as suas posses, se vocês me entendem. Por um momento, quando sua audiência continuou a olhá-la como se estivesse louca, ela pensou que tinha cometido um grande erro. Por favor, Deus, rezou, permita-os ter senso de humor. De repente, Lady Brumley deu uma risada, e alguns outros sufocaram seus risos também. Insistindo em sua vantagem, ela suspirou com grande exagero. Então cá estou presa em um casamento com um atraente e rico jovem de classe. É terrível, não acham? Agora não posso me casar com um velho libertino nem com um advogado falido! E estava realmente esperançosa em conseguir isso. 233
Havia gargalhadas agora. Algumas bem altas. Ele é um marido tão incomodo, também, ela seguia rapidamente enquanto ela os tinha ao seu lado. Insiste que eu compre coisas, e sabe que eu odeio compras. Quem quer todas joias, sedas e plumas tumultuando o seu quarto? É realmente uma afronta. E o modo como ele trata meus irmãos ela rolou os olhos. Continuo dizendo a ele para não mimá-los, mas ele não ouve! Está mandando o mais velho para uma escola super cara, e está constantemente comprando presentes para os outros três. Juro, não poderei fazer nada com eles se ele não parar! Ela tinha reunido uma multidão a essa altura, muitos dos quais ou estavam rindo ou perguntando aos vizinhos se poderiam recontar o que ela dizia. Que tal no quarto? Uma das mais sinceras e atrevidas irmãs March perguntou alto. O seu marido também provou ser um “encrenqueiro” ali? Ela não teve que fingir seu rubor. Muitíssimo. Veja, você gostaria de um homem como esses em sua cama? Tão alto, viril, e bem constituído? Digo que estava esperando por um careca baixinho com uma pança, e ao invés disso ganho aquilo! Ela adicionou com uma piscadela, E devo queixar-me que quando exige seus direitos matrimoniais, me faz querer me portar de uma maneira bem inapropriada... Não havia uma alma na audiência que não estava sorrindo, e maioria estava rindo. Lady Brumley gargalhava tão forte que tinha até lágrimas nos olhos. E Sara e Emily lhe sorriam aprovadoramente. Felicity até conseguia ouvir alguns cochichos, como: “Eu sabia desde o começo” e “Eles não formam um casal adorável?” De repente toda conversa parou. Uma mulher com um porte arrogante se dirigiu em direção a Felicity, a multidão se abriu ante ela com temor de interesse. A própria Duquesa de Pelham. Ela parou em frente à Felicity e a varreu com seu olhar desdenhoso que Felicity se lembrava muito bem. Isso tudo é muito divertido, Lady S. Clair. Ela disse o título de Felicity com zombaria. Mas você não me engana com essa conversa das boas qualidades de seu marido. Ouvi que ele tem um histórico de forçar mulheres desamparadas. Você mencionou uma dessas mulheres em sua coluna, se me lembro. E o próprio tio dele alega que o visconde fugiu da Inglaterra depois de abusar de sua tia. Tenho certeza d que você sabe do que isso se trata. Um silêncio caiu na multidão ante o ato deliberado de crueldade da duquesa. Nenhuma mulher com um pingo de sentimento mencionaria tão terrível acusação sobre um homem para sua mulher. Por um segundo, ela estava de volta na biblioteca Pelham quando a duquesa fizera aquelas acusações vis para seu pai e para humilhá-la. Mas pensar em Ian endureceu sua espinha. Aquela bruxa velha amarga odiara todas as mulheres que seu marido alguma vez sentira luxúria, tivessem essas mulheres respondido a sua luxúria ou não. E agora ela procurava usar Ian para degradar Felicity publicamente. Ela olhou a duquesa friamente. O tio de Ian? Você quer dizer Sr. Lennard? 234
Você sabe de quem falo. Felicity revestiu seu rosto com um olhar de simpatia. Pobre homem. Continua repetindo aquela história depois de todos esses anos? É tão triste. Ele nunca se recuperou depois da morte de sua esposa, eu sei. Acho que ele se culpa, mesmo tendo sido puramente um acidente. Ela caiu e bateu a cabeça quando estava no dormitório dele. Eles estavam discutindo, ou pelo menos foi o que a amante dele me disse. Aquilo pegou a duquesa de surpresa. Sua amante? Pois, sim. Ela esperava que a Srta. Greenaway a perdoasse por isso enquanto todos os nomes se mantivessem fora disso. Aquela mulher que mencionei no jornal, aquela da Waltham Street? Acontece que estava errada sobre a conexão dela com meu marido. Ele a ajudou porque fora amante do Sr. Lennard por um tempo e estava com terríveis dificuldades. Ela deixou o Sr. Lennard porque já não aguentava mais o pesar dele. Eu mesma conversei com ela sobre isso tudo. V-você conversou com ela? a duquesa balbuciou. Nenhuma mulher jamais falara com alguém que se presumia ser a amante de seu marido, o que Felicity rezava que lhe desse crédito a suas alegações. Sim. Eu queria saber se poderia fazer alguma coisa para ajudar o querido Sr. Lennard a passar pelo seu luto. Ele é família, no final das contas. Ian e eu, ambos estamos muito preocupados com seu estado. A miserável mente do pobre parece ter se quebrado. Ela se inclinou e abaixou o tom de voz como se compartilhar um grande segredo. Ele tem algumas ideias de que deveria ter herdado Chesterley no lugar de meu marido. Pode acreditar nisso, sua graça? Aquilo iniciou os cochichos, como ela esperava que o fizesse. Tal “ideia” ofendia as crenças firmes nas quais se baseava o direito de primogenitura. Além do mais, todos assumiam que o estado estava vinculado a herança de Ian. Assim a “ideia” de Edgar Lennard apenas provava sua loucura. Isso não explica a fuga de seu marido da Inglaterra, a duquesa persistiu. Para a surpresa de Felicity, Lady Brumley respondeu aquela pergunta. Ele partiu para lutar na guerra, é claro. Todos sabem disso. Seu pai, homem sábio como era, se recusara a deixar seu herdeiro se unir as tropas, mas meninos serão sempre meninos, e Lorde St. Clair queria servir a seu país. Seriamente, Lady Brumley, a duquesa replicou mordazmente, você espera que nós acreditemos que o herdeiro de um visconde... Apenas pergunte a Wellington sobre isso, Sara interrompeu. Outro dia, ele mencionou o serviço de Lorde St. Clair para o meu marido. Disse que a Inglaterra não teria vencido a guerra sem o Visconde de St. Clair. Embora ainda parecesse cética, a Duquesa de Pelham claramente percebera que estava em menor número. Jogando a todos um olhar mordaz, ela elevou seu queixo e saiu. Felicity quase teve um colapso. Bom Senhor, esperava que nunca precisasse lidar com aquela mulher novamente. Lady Brumley deu uma olhada na pele pálida de seu rosto e agarrou seu braço. 235
Venha me contar um pouco mais sobre seu marido encrenqueiro, ela disse enquanto a arrastava para longe da multidão. Quero saber de todos os detalhes. Com alívio, Felicity permitiu que a mulher a guiasse pela borda da pista de dança e para longe dos outros. Assim que eles estavam com os ouvidos longe do alcance, perguntou numa voz baixa: Você acha que eles acreditaram em mim? Aqueles que não forem manter para si mesmos. Ela deu uma pancadinha na mão de Felicity. Você fez muito bem, minha querida. Agora deve deixar rastros para que o rumor se espalhe. Apaixonados com sua óbvia afeição por St. Clair, sua história deve ganhar mais crédito do que a de Edgar com o tempo. Então relaxe. Você venceu. Ela realmente esperava que fosse verdade. Ian já sofrera o bastante. Ela fez uma rápida reza para a divindade: Deixe funcionar, Deus, por favor. Nunca vou reclamar novamente se você fizer isso por mim. E por ele. Então, diga-me quanto daquela história é verdade? Lady Brumley perguntou. Os olhos de Felicity se arregalaram. O quê? Você não acreditou em mim? Lady Brumley riu. Nenhuma palavra. Bem, exceto pelas partes das qualidades de seu marido. Eu suponho que você esteja muito satisfeita com seu “marido encrenqueiro”? Um sorriso tímido rastejou no rosto de Felicity. Muito satisfeita. Fico feliz em ouvi-la. Algumas moças jovens não reconhecem um bom homem mesmo que eles caiam em seus colos. Ela pensou no que Ian lhe contara sobre seu tio e Lady Brumley. Isso é porque homens, ambos, bons e maus, escondem suas características muito bem. Por exemplo, Edgar Lennard pode parecer um bom homem para uma jovem dama. Mas qualquer mulher que tenha escapado de um casamento com ele deveria se considerar afortunada. Do que eu conheço sobre o temperamento dele. Um temperamento violento. E uma tendência a perdê-lo com as mulheres. Lady Brumley observou perspicazmente, e Felicity não desviou seu olhar. Naquele momento, um entendimento perpassou entre elas. Creio já saber disso, a marquesa finalmente disse. Embora sinceramente espere que seu sobrinho não se assemelhe a ele nesse assunto. Nem um pouco. Mas então, você já sabia disso também, não é? Ela apertou a mão de Lady Brumley. Obrigada. A marquesa parecia desconfortável. Pelo quê? Por ter fé nele quando ninguém mais teve, nem mesmo eu. Lady Brumley deu um pequeno encolher de ombros que fez com que os sinos de ovelhas pendurados em seu turbante tilintassem. De nada, Lorde X. E se você alguma vez precisar que alguém escreva sua coluna para você... 236
Felicity riu. Não se preocupe. Você é a única pessoa que eu consideraria. Negligentes a alta música e aos sons de pés dançantes vindos do salão de dança, Ian e Jordan estavam silenciosos numa sala de carteado deserta. Ian acabara de contar sua história, maravilhado de como tinha sido muito mais fácil contá-la pela segunda vez. Encorajado pela reação mais cedo de Felicity, não deixara nada de lado. Além do mais, estava ficando evidente que a verdade surgiria logo, dada a determinação de seu tio em arruiná-lo, e queria que Jordan ouvisse dele, não de Edgar Lennard. Jordan o observou por um longo tempo. Ele fizera perguntas vez ou outra, mas não fizera qualquer comentário que pudesse revelar o que estava pensando, e aquilo preocupava Ian. Finalmente, seu amigo suspirou. sofrido!
Meu Deus, queria ter sabido disso a muito tempo atrás. Como você deve ter
A reação o atordoou. Esperava mais choque, mais reação. Mas aparentemente sua esposa era tão esperta sobre isso quanto todo o resto. Seus amigos apenas se importavam com ele. E entendiam, como ela entendera, que tinha sido um acidente. Se eu soubesse, teria feito algo para ajudá-lo, Jordan continuou. Não havia nada que pudesse ser feito, eu temo. Ainda sim, você poderia ter me dito. Sou seu amigo mais antigo. Por que não disse nada? Ian deu de ombros. Vergonha. Culpa. Eu me odiava. E não tinha qualquer razão para acreditar que meus amigos se sentiriam diferente sobre isso. Mas algo mudou isso, não é? Um sorriso rastejou sobre seu rosto. Sim. Minha esposa. Ela finalmente me fez aceitar que todos nós cometemos erros. Que viver com eles não quer dizer se torturar com eles. Ou carregá-los sozinho. Jordan segurou um dos braços de Ian, apertou brevemente em sinal de simpatia, e então soltou-o. Sua esposa é uma mulher notável. Quase tão notável como a minha. Sim, eu sei. Para ele, ela era mais notável, mas duvidava que Jordan fosse concordar com isso. Quanto ao seu tio... O tom de Jordan se tornou duro. Você não pode deixálo ganhar. Mesmo se eu nunca soubesse a verdade, acharia uma abominação o seu tio ganhar Chesterley. Imagino o porquê seu pai chegou a considerar isso. Ian ignorou o repentino solavanco de dor em suas vísceras. Aquele momento em particular não parecia terminar nunca. Ele me achou mais despreparado para a posição do que meu tio. Isso não é verdade. Os olhos de Jordan se apertaram. Se ele quisesse, teria te deserdado completamente, mas não o fez. É possível que tenha preparado aquele testamento como um meio para você perceber suas responsabilidades? Quando morreu, não tinha ideia de onde você estava ou se você voltaria algum dia. Talvez seu pai temesse 237
que você não retornasse por uma boa razão. E a ameaça de seu tio herdar tudo certamente seria uma boa razão. Ian nunca considerara aquilo, mas fazia sentido. Era o tipo de teste que seu pai teria dado a ele. O que podia querer dizer que seu pai acreditara nele, ao final das contas. Era reconfortante pensar aquilo. Talvez você esteja certo, meu amigo, ele disse a Jordan. De qualquer modo, nós nunca saberemos. Nesse momento, estou mais preocupado em certificar-me que Felicity não sofra com os mesmos rumores sórdidos que tive que aguentar durante os últimos anos. Então acho que já passou da hora de retornarmos ao salão de baile. Você está certo, Jordan disse e depois se dirigiu para a porta. Quando eles entraram no salão, alguns minutos depois, notou instantaneamente uma mudança no modo como as pessoas o observavam. A frieza que estivera ali mais cedo sumira. Algumas das mulheres dali ainda por cima o olhavam com interesse. No entanto, ele queria apenas uma mulher. Quando se uniram a Gideon perto da mesa de ponche, demorou alguns minutos para achar sua mulher com Lady Brumley entre uma multidão de matronas. Alguém o viu, depois falou algo para Felicity que a fez rir e lançar a ele um sorriso encantado. Ele sorriu de volta. O que diabos estava acontecendo? Ele não teve que se perguntar por muito tempo. Emily e Sara se apressaram para eles três, ofegantes e excitadas. Onde na terra estavam vocês dois? Sara perguntou. Vocês perderam tudo! Oh? Jordan perguntou, trocando olhares com Ian. Sua esposa é incrível! Emily disse a Ian. Eu sou bem consciente disso, acredite-me. O que ela fez agora? Bem, você não precisa se preocupar sobre os rumores que seu tio espalhou, Sara comentou. Levaram-se alguns minutos até que Emily e Sara contassem a história. Enquanto narravam cada detalhe das distorções que Felicity fazia de cada acusação feita por Edgar, o assombro de Ian só crescia. Eles estavam certos, Felicity era incrível. Nunca ocorrera a ele atacar os problemas como ela havia feito. De alguma forma ela virara todas as mentiras de seu tio em elogios ao seu marido sem ao menos chamar Edgar Lennard de mentiroso. Incrível. Os olhos de Sara estavam brilhantes e travessos quando terminou a história. Creio que ela ainda está reclamando de seu marido “encrenqueiro” e de quão miserável ela é por ter casado com um homem que mantém seus irmãos, apoia sua profissão, e como diz, a faz se “comportar de maneira inapropriada”. Ela os tem rindo das alegações sobre um suposto casamento forçado colocado pelo seu tio. E demonstrando piedade dele sobre as outras acusações. Ian mal conseguia respirar, sua garganta estava tão apertada de orgulho e amor. Ela dissera que não o desapontaria, e então prosseguiu superando todas suas expectativas. Como ele tinha sido tão sortudo? Encontrar a mulher mais maravilhosa de toda Londres, quando tudo o que procurava era alguém que lhe desse um herdeiro. Não se importava com o que acontecesse agora, contanto que ele continuasse com ela. 238
Ele olhou-a de novo e viu-a numa conversa íntima com Lorde Jameson, outro fofoqueiro notório. Sem dúvida estava plantando sementes de dúvida no mais fértil dos solos. Como se tivesse sentido seu olhar, ela olhou para cima, viu quem o cercava, e então o presenteou com um rápido sorriso tentador, como se tentando determinar se ele aprovara as táticas dela. Ele colocou o máximo de sentimento em seu sorriso de resposta e o rosto dela brilhou. Ele sentiu outros olhos neles, mas só podia pensar nela. E no quanto queria levá-la para casa e fazê-la se “comportar de maneira inapropriada”, De repente vislumbrou alguém se aproximando dela e seu sorriso desvaneceu. Tio Edgar, maldito fosse. Deêm-me licença por um momento, ele murmurou aos seus amigos e se apressou em direção a Felicity. Seu tio disse algo a ela e depois os dois saíram do salão de danças em direção a um dos corredores que guiavam aos quartos privados. O que era perfeito, Ian pensou enquanto os seguia. O que ele tinha a dizer para seu tio não era para os outros ouvidos. Ele os encontrou numa sala de visitas fora do hall central. Ele se apressou em direção a sala, mas diminuiu o passo quando se aproximou da porta aberta e ouviu seu tio dizer: Você não me ouviu, não é? Você tinha que acolhê-lo. Você tinha que defendê-lo e me fazer parecer um tolo. Bem, espero que você se divirta Lady St. Clair. Ele disse o título de cortesia com condescendência. Você e sua inocência. Quando você ouvir toda a verdade... Eu sei “toda a verdade,” ela disse ferozmente. Ele me contou tudo. E quer saber mais, se eu quisesse contar “toda a verdade” para o mundo, com certeza a teria feito de uma forma que você soasse como o verme que é. Ian estancou na porta. O fato é, ela continuou, não quero dizer toda a verdade... não tenho nenhum desejo de causar mais dor ao meu marido. Mas se em algum momento revelar o que houve naquela noite, naquela cabana, não hesitarei em denunciá-lo em público pelo crápula batedor de mulheres que é! mulher!
Isso não evitará que meu sobrinho vá para a cadeia culpado de assassinar minha
Você pode se surpreender. Tenho certeza que sua amante anterior, que, à propósito te detesta, ficaria mais do que feliz em afirmar que foi você quem empurrou sua esposa. E também tenho certeza que um bom número de serventes poderiam atestar sobre seus hábitos sórdidos. Então vá em frente, tente acusar Ian de assassinato. A Srta. Greenaway e eu nos asseguraremos que você vá direto para Newgate por isso. Não permitirei que você o machuque nunca mais! Há outras formas de machucá-lo, ele disse numa voz dissimulada que enviou calafrios espinha abaixo de Ian. Imagino como meu sobrinho se sentiria se me descobrisse deitado com sua esposa? Devemos descobrir? Ian surgiu pela porta, batendo-a tão forte contra a parede que seu tio rodopiou no meio caminho para alcançar Felicity. Toque-a, Ian o alertou, e o cortarei em tantos pedaços que ninguém nunca será capaz de encontrá-lo! Felicity nunca estivera tão feliz de ver seu marido em sua vida. Embora indubitavelmente pudesse ter usado seu truque do joelho no tio dele, preferia ter seu marido ao seu lado num momento desses. 239
Aí está você, meu amor! Estava apenas dizendo ao seu tio o quão satisfeita estou de ter-me unido a família Lennard. Mas por alguma razão ele se recusa a me felicitar por isso. Venha aqui, Felicity, Ian comandou, embora seus olhos permanecessem em seu tio. Somos esperados no salão de dança. Nossos amigos devem estar a nossa procura nesse exato momento. Provavelmente, disse alegremente e se uniu a ele na porta. Agora que Ian estava ali, começava a se sentir bem satisfeita consigo mesma. Tinha colocado seu ponto de vista ao tio dele, e tinha uma boa impressão de que ele hesitaria antes de incomodá-los futuramente. Pousou sua mão sobre a dobra interna do braço de seu marido, e ele a cobriu com sua mão, apertando-a. Seu olhar a perpassou rapidamente. Você está bem? Perfeitamente bem, o reassegurou. Ele voltou seu olhar para seu tio. Estou avisando-o, Tio Edgar, protejo o que é meu. Se você chegar perto de minha esposa mais uma vez, não haverá muito de você para ser enterrado. Faça o que quiser comigo, mas deixe-a em paz. Entendido? Seu tio olhou para ele furioso. Nós não terminamos. Você e eu. Chesterley ainda será minha. Você ainda tem que ter um herdeiro. Acredite-me, tenho toda a intenção de tê-lo. Ian olhou para sua esposa, e não havia dúvidas sobre o amor em seu olhar. Então é melhor seguirmos prontamente para consegui-lo, você não acha, minha querida? Oh, certamente, disse, radiante para ele. Devemos começar imediatamente. Eles deixaram Edgar para trás, amaldiçoando-os audivelmente. Antes que eles pudessem alcançar o salão de baile, contudo, Ian moveu-a rapidamente para o que parecia ser um estúdio e trancou a porta, fechando o ferrolho também. O que você está fazendo? Ela perguntou surpresa com a repentina expressão ameaçadora no rosto dele. Você deve me prometer que nunca mais deixará que aquele homem a pegue sozinha novamente. Se ele a tivesse machucado, juro... Mas não o fez. Prometa-me, Felicity! Ou eu a manterei aqui, trancada até que o faça. E os Strattons podem achar isso estranho amanhã de manhã. Eu prometo, disse suavemente. Agora que ela dissera o que precisava para o tio dele, não precisaria ver aquele patife nunca mais. Ele relaxou visivelmente, mas quando ele não se moveu para sair, ela adicionou, Não deveríamos voltar para o baile agora? Você disse que nossos amigos estão esperando por nós. Eu menti. Aliás, há outro assunto que precisamos discutir. Que seria? 240
Com os olhos brilhando perigosamente, ele trilhou seus dedos sobre a bochecha dela. Eu ouvi que você me considera um marido um tanto quanto “encrenqueiro”. Ela tomou uma respiração. O quanto Emily e Sara teriam dito a ele? Ele teria desaprovado seus métodos? Ian era uma pessoa muito reservada, no final das contas. Ela deliberadamente manteve seu tom leve. Onde você ouviu tal coisa? Todos estão comentando. Aparentemente você estava tão ocupada espalhando fofocas sobre mim esta noite quanto meu tio. Ele prendeu seus dedos sob as mangas dela e puxou-as lentamente dos seus ombros. O pulso dela se apressou com a expressão dos olhos dele que refletiam uma intenção decididamente pecaminosa. Ele desatou o vestido dela. Estão dizendo que tenho esse hábito irritante de fazê-la sentir coisas que não deveria. Com certeza Ian usaria suas palavras contra ela. É bem verdade. Ela pressionou a mão dele contra seu peito para sentir seu coração batendo. Vê? Você está fazendo isso agora. Isso é o que acontece quando você deixa um “alto, viril, e bem constituído” visconde força-la a um casamento. Ele correu seus dedos embaixo da borda do corpete até deslizar sobre os mamilos dela, e ela sugar o ar. No lugar de esperar por um “advogado falido” ao qual você estava “esperançosa em conseguir”. Ela corou. Eles lhe disseram cada palavra que eu disse? Sara tem uma memória assustadoramente boa. Ele claramente não estava zangado. E se estivesse, tinha um jeito estranho de demonstrá-lo. Ele a despiu de seu vestido e de sua chemise na parte de cima, expondo seus seios ao ávido olhar dele. Gostei especialmente da parte sobre como você se comporta de forma inapropriada quando estou por perto. Ela estava perdendo a capacidade de respirar. Você quer dizer... assim? Alcançando-o, começou a desfazer sua gravata. Exatamente. Ele alcançou seu cabelo. Não o cabelo, Ian! Ela protestou. Nunca o colocarei no lugar de forma apropriada, e então todos saberão o que estivemos fazendo! Com um sorriso perverso, ele começou a remover os grampos. Bom. Devo prezar minha reputação, depois de tudo. Odiaria me mostrar um mentiroso perante minha esposa. Baixou a cabeça para beijar a garganta dela. Especialmente quando ela enfrentou tantos problemas para enumerar todas as minhas más qualidades. Não enumerei todas elas, disse impaciente enquanto seus cabelos caíam sobre seus ombros. Eu me esqueci de mencionar sua insistência de ter tudo a seu modo... sua 241
arrogância... sua tendência em escolher os lugares e os momentos mais inapropriados para seduzir-me. Devo continuar? Não agora, minha querida viscondessa, ele sussurrou enquanto pressionava beijos sobre seu colo. Guarde alguma coisa para sua coluna. Porque agora, planejo ilustrar-lhe minhas más qualidades fazendo aquilo que você considera mais “irritante”. Oh? E o que seria? Creio que você o tenha chamado de: “exigir meus direitos matrimoniais”. E para o deleito completo dela, seu marido “encrenqueiro” fez exatamente aquilo.
Epílogo Os leitores devem ficar contentes em saber que Lady St. Clair teve um filho, batizado de Algernon Jordan Lennard, evidentemente o herdeiro de seu marido, o visconde. Ambos, mãe e filho, estão bem. E sem dúvida a viscondessa logo voltará a assinar essa coluna logo em breve. O honorável Sr. Edgar Lennard, tio do visconde, deixou a Inglaterra para residir numa plantação americana que comprara. Nós desejamos a ele e a sua família tudo de bom em seus novos lares.
Senhora Brumley, The Evening Gazette. 11 de novembro de 1821 (Dia de São Martinho)
Três cabeças loiras idênticas se curvaram sobre Felicity quando ela esteve apropriadamente sentada na gigantesca cama do senhor de Chesterley, embalando seu filho de apenas três dias de idade. Dêem ao pobre Algernon espaço para respirar, meninos, ela admoestou quando as três cabeças se tumultuaram ao redor dela. Vocês terão muitas chances de olhá-lo, lhes garanto. Por que ele é tão enrugado? Perguntou Ansel. Parece um velho. Assim como você quando nasceu, disse a ele. Todos os bebês são assim quando nascem. Ele sabe que nós somos seus tios? William perguntou. 242
Ainda não, mas logo saberá. E pense o quão sortudo será em ter quatro tios vivendo na mesma casa que ele. George observou mais de perto o bebê. Ele dorme absurdos, né? Não é, uma voz feminina austera corrigiu-o automaticamente atrás dele. Não é, George repetiu, com um olhar furtivo para a mulher que lhe sobrepunha. Felicity sorriu para a Srta. Greenaway. Você está fazendo progresso pelo que vejo. Srta. Greenaway revirou os olhos. Sim. Agora só preciso corrigir George dez vezes por dia ao invés de vinte. Nem sô... sou, tão ruim. George rosnou. Ambas, Felicity e Srta. Greenaway explodiram em risadas. Aquilo acordou o bebê, que imediatamente começou a gritar. Srta. Greenaway jogou seu olhar mais “governanta” possível nos trigêmeos. Venham agora, vocês três, nós temos aula de Latim para terminar. E sua irmã precisa descansar. O coro de suspiros não deteve a jovem, e em segundos ela tinha os três garotos marchando para fora do quarto como verdadeiros soldados. Felicity balançou a cabeça em estupefação. Essa tinha sido sua melhor decisão, pedir para que a Srta. Greenaway fosse a preceptora dos meninos. A mulher tinha uma habilidade natural com crianças, se o trabalho dela com os trigêmeos fosse algum indicativo. A Srta. Greenaway também se adaptara a oportunidade, já que uma mulher com um filho bastardo teria dificuldades em encontrar um emprego digno. Nos últimos tempos Felicity notara o desimpedido administrador de Ian olhar para a Srta. Greenaway com algo mais do que apenas curiosidade desinteressada. A Srta. Greenaway refutara as tentativas iniciais dele em cortejá-la, dizendo a Felicity que um homem com tal inteligência e posição merecia uma mulher “pura”. Mas Felicity sabia que o homem ruiria a resistência da Srta. Greenaway. Quando a única coisa que ficava entre o amor de duas pessoas era um passado sombrio, este não teria chance alguma contra os princípios do romance. O amor sempre triunfaria. breve.
Ela apostaria todas suas economias que haveria outro casamento em Chesterley em
A pequena boca de Algernon abria e fechava como um peixe. Ela rapidamente baixou seu robe, e colocou sua pequena boca em seu mamilo, dragando vigorosamente. Ele é perfeito, pensou, medindo seu pequenino nariz esculpido, as orelhas em concha, os ainda olhos azuis que provavelmente logo ficariam negros para combinar com os rebeldes cabelos negros que circundavam o centro de sua delicada cabeça. Ele parecia com o pai, é claro. Um pequeno sultão para se equiparar ao grande sultão. Bem, não haveria harém para seu querido menino, se tivesse algo a opinar sobre isso. Não, ele deveria ter uma agradável e apresentável garota... alguma amável filha de um conde ou até mesmo de um duque... Ela grunhiu. Era melhor tomar cuidado, ou se tornaria uma daquelas mulheres que sempre criticara em sua coluna. 243
Ele terminou de mamar e caiu num sono satisfeito aconchegado nela. Cuidadosamente, ela puxou seu robe de volta para cobrir seu seio. Por mim você não precisa fazer isso, veio uma voz retumbante masculina de perto da porta. Ela olhou para cima deleitada. Ian! Você voltou! Sim, voltei. Com um sorriso, ele entrou, depois baixou seu acalorado olhar para o seu seio agora coberto. Vejo que deveria ter chegado alguns minutos mais cedo. Não caçoe de mim, ela avisou. Nós ainda temos mais seis semanas, você sabe, antes de fazermos o que quisermos. Ele grunhiu. Acredite-me, meu amor, estou bem ciente disso. Ele caminhou até a cama e se sentou de lado, alcançando-a para acariciar a bochecha de seu filho. Ele é lindo, não? Sim, ela concordou com orgulho maternal. E agora ele é o orgulhoso herdeiro de toda uma propriedade. Ela olhou para ele ansiosa. Está acertado, então? Acabou? Ele confirmou com a cabeça. Tio Edgar não poderá tocar-nos. Creio que ele já tenha percebido isso na noite do baile dos Stratton. A Sra. Box se apressou para dentro do quarto. Sua senhoria chegou e... Oh, aí está você, milorde! Pegou-me em flagrante fofocando, pelo que vejo. Ela se aproximou da cama, sorrindo amplamente. Devo levar o pequeno para vocês, queridos? Parece que ele está cochilando novamente. Felicity entregou o bebê a Sra. Box. A mulher se provara uma enfermeira excelente, e Felicity não tinha dúvidas que continuaria a ser por vários mais pequenos Lennards. Tão logo a Sra. Box partira, Ian se esticou ao seu lado na cama. Eu descobri algo interessante enquanto estava com o conselheiro legal em Londres. Ele retirou uma folha dobrada de papel. Aparentemente, meu pai deixou instruções para que isso fosse me dado se eu tivesse sucesso em ter um herdeiro antes do prazo terminar. Ela tentou adivinhar pela expressão de Ian o que ele queria dizer, mas ele apenas olhou-a com aquele jeito inescrutável que ainda possuía. Pegando o papel com mãos trementes, ela abriu e passou o olho sobre as linhas: Meu filho, Se você está lendo isso quer dizer que não me desapontou. Sem dúvida nenhuma deve achar meus métodos extremos. Você sempre achou. Mas eu tinha que ter certeza de que você cuidaria de Chesterley na minha ausência, e esse pareceu ser o melhor modo de forçá-lo a reconhecer suas responsabilidades. Perdoe-me se puder.
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Felicity jogou o papel de lado, raivosa. E isso foi tudo o que ele escreveu? Nenhuma palavra de desculpa por manipulá-lo desse jeito? Sem pista se ele acreditava em sua inocência por todo esse tempo? Essa foi sua desculpa, meu amor... ou o mais perto do que meu pai alguma vez pudesse chegar a fazer. Jordan uma vez disse que se alguma vez meu pai realmente acreditara que eu não era digno de ser seu herdeiro, não teria feito aquele estranho testamento. Ele simplesmente teria deixado a propriedade para o meu tio. Mas ele não o fez... porque queria ter certeza de que eu voltaria por ela. Notando a resignação em seu tom, ela pegou as mãos dele entre as suas. Você não está zangado com ele? Todos esses anos de tortura, pensando que ele te desprezava... Estou mais zangado comigo do que com qualquer outra coisa. Se eu tivesse ficado, nós talvez tivéssemos encontrado um jeito de lidar com nossas diferenças. Mas deixei meu orgulho me guiar. Ele sorriu. Então, de novo, se tivesse ficado, talvez não tivesse te conhecido. Ela sorriu amplamente. Oh, tenho certeza que teria. Você é um homem tão encrenqueiro, que você eventualmente teria feito algo que merecesse o mérito de ser mencionado em minha coluna. E, então, você teria entrado no meu estúdio e me alertado sobre cruzar com você... E te seduziria e teria traçado uma estratégia muito cuidadosa para tê-la. Ele apertou a mão dela. Você está certa, querida. Não teria feito diferença nenhuma. Um encontro com você teria sido o suficiente para me fazer querê-la. Com certeza foi tudo que foi preciso na primeira vez. O quê? Você não agia como se me quisesse naquele dia. Você agia como um valentão. Ele levantou uma sobrancelha. Por todo o bem que me fizera. Você simplesmente continuou a escrever precisamente o que você queria sobre mim. Falando nisso, ela disse com um brilho no olhar, é hora de eu voltar a escrever minha coluna. O que você acha que deveria ser meu primeiro assunto agora que o bebê nasceu? Como o Visconde de St. Clair tirou um médico da cama no momento em que sua esposa reclamou pela primeira vez a dor do parto? Como a notória calma do visconde o desertou quando o médico lhe disse que talvez levasse horas e que ele deveria tentar dormir um pouco mais? Como o bebê chegou entre conselhos constantes de um pai que pensava saber alguma coisa de medicina quando decididamente não tinha ideia nenhuma? Tenho uma ideia melhor, Ian disse com um sorriso perigoso. Por que não escrever uma coluna sobre as várias formas que o visconde tenciona em utilizar para torturar sua mulher de prazer uma vez que o médico libere as relações maritais. Oh, não, não poderia escrever sobre isso! Disse com uma expressão de horror debochado. Muito escandaloso até mesmo para você? De maneira nenhuma, ela disse timidamente. Muito comprido. Isso tomaria muito mais do que uma coluna.
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Fim
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