A PRETTY LITTLE LIARS PREQUEL NOVEL
SARA SHEPARD
Ali’s Pretty Little Lies
Se você vai ser duas caras, que pelo menos uma delas seja bonita! —MARILYN MONROE
SÚBITA MUDANÇA DE ATITUDE
E
ra uma vez duas irmãs gêmeas idênticas, Alison e Courtney. Elas eram iguais em todos os sentidos: Ambas tinham cabelos longos e loiros; olhos enormes, claros, redondos e azuis; rostos em forma de coração; e sorrisos cativantes que derretiam corações. Quando tinham seis anos, elas andavam de bicicletas roxas iguais de um lado para o outro da garagem da sua família, em Stamford, Connecticut, cantando “Frère Jacques” enquanto andavam em círculo. Quando elas tinham sete, elas subiam juntas e de mãos dadas no escorregador para crianças maiores o tempo todo. Mesmo que seus pais tenham dado a cada uma delas o seu próprio quarto com sua própria cama de dossel de princesa, muitas vezes elas foram encontradas dormindo no mesmo colchão com seus corpos entrelaçados. Todo mundo dizia que elas compartilhavam a indescritível conexão dos gêmeos. Elas fizeram promessas para serem melhores amigas para sempre. Mas as promessas são quebradas todos os dias. Na segunda série, as coisas começaram a mudar. No começo eram coisas pequenas — um olhar malicioso, um leve empurrão, um suspiro indignado. Então Courtney apareceu na aula de arte de Ali em um sábado insistindo que ela era Ali. Courtney sentou-se na mesa de Ali na escola em um dia que sua irmã estava doente. Courtney se apresentou como Ali ao homem da UPS1, aos novos vizinhos com um cachorro e a velha senhora no balcão da farmácia. Talvez ela fingisse ser sua irmã porque Ali tinha um pouco de brilho extra, algo que a fazia ser notada. Talvez Courtney estivesse com ciúmes. Ou talvez Courtney tenha sido forçada. Ali me obrigou a fazer isso, Courtney disse aos seus pais quando foi pega. Ela disse que se eu não fingisse ser ela hoje, algo terrível ia acontecer comigo, com vocês e todos nós. Mas, quando o pai e a mãe perguntaram a Ali se isso era verdade, seus olhos se arregalaram. Eu nunca diria algo assim, ela respondeu inocentemente. Eu amo minha irmã, e eu amo vocês. De repente, Courtney e Ali estavam entrando em brigas no pátio de recreio. Então Courtney trancou Ali em um banheiro na hora do almoço e não a deixou sair. Os professores chamaram os pais das meninas, suas vozes cheias de preocupação. Vizinhos puxaram seus filhos para perto quando eles passaram com Courtney, preocupados que ela pudesse machucálos também. A gota d’água veio em um impecável dia de primavera quando os pais das meninas encontraram Courtney sentada em cima de sua irmã, com as mãos ao redor da garganta de Ali. Médicos foram chamados. Avaliações psiquiátricas foram realizadas em ambas as meninas. Ali lidou com equilíbrio, mas Courtney entrou em pânico. Ela que começou isso, ela insistiu. Ela me ameaça. Ela quer que eu vá embora. Esquizofrenia paranoide, disseram os médicos em tons graves. Esse tipo de coisa pode ser tratável, mas apenas com uma série de cuidados. Coube a Ali tomar a decisão final, no entanto — e, entre lágrimas, ela decidiu que sua irmã deveria ir. E assim uma instalação foi 1
UPS (United Parcel Service): Companhia americana especializada no serviço de correio para o mundo todo.
encontrada. Courtney foi embora, para longe da família, longe de tudo o que conhecia. Seus pais asseguraram a ela que iriam trazê-la para casa assim que ela ficasse melhor, mas semanas se passaram, e depois meses. De repente, Courtney foi mais ou menos... esquecida. Às vezes, uma família é como uma espiga de milho no verão: Pode parecer perfeita do lado de fora, mas quando você descasca a casca, cada grão está podre. Com os DiLaurentis, a menina que parecia ser a vítima só poderia ter sido a torturadora. Enviar Courtney para longe só poderia ter sido o plano de mestre de Ali. E talvez, apenas talvez, tudo o que Courtney queria era o que ela merecia — uma vida feliz. Esta é Rosewood, afinal de contas — e essas são as gêmeas mais misteriosas de Rosewood. E, como você sabe, em Rosewood, nada é o que parece.
*** A primeira coisa que Courtney DiLaurentis ouviu quando acordou na manhã que sua vida mudou foi o tique-taque do relógio na parede. Ele estava dizendo a ela, de uma maneira não tão sutil, que o tempo estava passando. Ela olhou em torno do quarto desconhecido. Seus pais haviam se mudado de Stamford, Connecticut, há alguns anos, para evitar a vergonha de ter colocado uma filha em uma instituição mental. Eles se mudaram para Rosewood, na Pensilvânia, um subúrbio podre de rico a cerca de trinta quilômetros da Filadélfia, onde até mesmo os cães usavam coleiras Chanel. Porque não conheciam ninguém quando se mudaram, eles não tinham que dizer a ninguém sobre sua filha louca no hospital. Eles até mudaram seu sobrenome de DayDiLaurentis para simplesmente DiLaurentis na esperança de que mantivesse os vizinhos intrometidos de Connecticut à distância. O quarto de visitas de Courtney sempre cheirava a naftalina e tinha uma cama de solteiro com uma velha manta de lã xadrez, uma cômoda de vime mais desgastada do que a do quarto do hospital psiquiátrico, e uma estante pequena e lascada contendo revistas de culinária antigas e um monte de caixas marcadas com IMPOSTOS e EXTRATOS. O armário estava cheio de decorações de Natal, uma pilha de mantas de lã que sua avó tinha tricotado e suéteres feios que ela não poderia imaginar alguém usando. Em outras palavras, o quarto era um depósito de tudo o que a sua família queria esquecer — incluindo Courtney. Courtney empurrou as cobertas para o lado e foi para o corredor. A casa, uma enorme Vitoriana, foi projetada de tal forma que o andar de cima dava para uma grande sala, dando a Courtney uma visão panorâmica da cozinha. Seu irmão mais velho, Jason, estava debruçado sobre a mesa com uma tigela do cereal Frosted Flakes. Sua irmã gêmea, Ali, passou rapidamente ao redor do balcão. Seu cabelo era uma perfeita ondulação loira derramando-se pelas costas, e sua camiseta rosa deu à sua pele clara um brilho saudável. Ela levantou uma pilha de jornais e olhou debaixo dela. Então ela abriu uma gaveta de talheres e a fechou com uma batida. — Alison, qual é o problema? — perguntou a Sra. DiLaurentis, que usava um vestidoenvelope cinza Diane von Furstenberg e saltos altos. Parecia que ela estava indo para uma entrevista de emprego em vez de levando a filha para um novo hospital psiquiátrico.
— Eu não consigo encontrar o meu anel — Ali estalou, abrindo a lata de lixo e olhando para dentro. — Que anel? — Meu anel com minha inicial, dã. — Ali abriu outro armário e fechou com força. — É o que eu uso todos os dias. — Ela se virou e olhou para o irmão. — Você pegou ele? — Por que eu pegaria? — Jason respondeu entre mordidas. — Bem, eu não consigo encontrá-lo — Ali estalou. — Assim como eu não consigo encontrar o meu pedaço da bandeira — ela disse, dando a Jason um olhar penetrante. Jason limpou a boca com um guardanapo. — Mesmo que eu saiba sobre o seu pedaço estúpido da bandeira, qualquer um está legalmente autorizado a pegá-lo, até mesmo as pessoas que ajudaram a escondê-lo. Aquela cláusula de roubar, lembra? — Talvez você o pegou para dá-lo a outra pessoa. — Seu olhar se desviou para o segundo andar. Courtney afastou-se do corrimão. De volta ao quarto, ela abriu a mala florida que ela tinha desde a terceira série e estudou o seu conteúdo. Dentro havia uma camiseta quase do mesmo tom de rosa da que Ali estava usando. Ela encontrou um jeans índigo escuro que combinava com o de Ali, também. Ela os vestiu. A Cápsula do Tempo era uma tradição de longa data em Rosewood Day, a escola particular que Ali e Jason estudavam, e encontrar um pedaço da bandeira rasgada era uma raridade para um aluno da sexta série. Todo o fim de semana, Ali tinha se gabado por causa da parte da Cápsula do Tempo que ela tinha encontrado — embora, tecnicamente, Jason havia dito a Ali onde o pedaço estava, o que não parecia justo. Ali tinha decorado o seu pedaço na mesa da cozinha depois do jantar duas noites atrás, dando a Courtney, que estava assistindo TV na sala de lazer, olhares superiores. Olha o quanto eu sou importante, aqueles olhares diziam. Você não está nem autorizada a sair de casa. Mas Ali não tinha aquele olhar em seu rosto quando sua bandeira desapareceu ontem. Na privacidade do seu quarto patético, Courtney correu os dedos sobre o tecido de seda e os desenhos em relevo prata de Ali — um logotipo da Chanel, uma estampa Louis Vuitton, um aglomerado de estrelas e cometas. Courtney havia desenhado um pequeno poço dos desejos no canto, apenas querendo deixar sua marca em algo que sua irmã cobiçava tanto. Então eu vou dar-lhe de volta, ela prometeu a si mesma. Mas Jason tinha visto primeiro. Ele tinha visto Courtney olhando para ele em seu quarto e entrou correndo, dizendo: — Você realmente quer piorar as coisas entre vocês? — Então ele pegou de volta antes que ela pudesse dizer uma palavra. Courtney estava prestes a fechar a mala quando o seu olhar derivou para o panfleto dobrado no bolso da mala. A Reserva de Addison-Stevens, dizia na frente. Havia uma foto de um buquê de lírios abaixo do título. Era o mesmo tipo de flores que seus pais haviam levado para o funeral da sua avó. Ela abriu o livro e olhou para a primeira página. Nós ajudamos crianças e adolescentes no desenvolvimento de efetivas habilidades de superação e na construção da autoestima para estarem aptos a voltar para casa e para a escola, lia-se. Lágrimas brotaram dos olhos de Courtney. Ela tinha estado em tratamento hospitalar desde que ela tinha nove anos — três anos inteiros. E mesmo que ela tenha se acostumado
com o Radley da mesma forma que um rato pode se acostumar a viver em uma gaiola, ela tinha visto coisas horríveis que nunca mais queria testemunhar novamente. Desde que o hospital anunciou que estava fechando suas portas e o convertendo em um hotel de luxo, Courtney havia assumido que sua família iria trazê-la de volta a Rosewood para viver com eles. Quando seu pai a pegou na sexta-feira, ele tinha dito isto — esta seria uma visita de teste que talvez se transformasse em algo mais permanente. Mas por alguma razão, as circunstâncias mudaram nas últimas vinte e quatro horas. A Sra. DiLaurentis tinha batido na porta de Courtney na noite passada e disse a ela para arrumar as coisas dela imediatamente, deslizando o panfleto da Reserva em suas mãos. — Acreditamos que essa será a melhor coisa para você — ela murmurou, acariciando o cabelo da filha. Courtney folheou as páginas do panfleto, olhando para as fotos dos pacientes. Eles tinham que ser modelos — eles pareciam muito felizes. Ela tinha ouvido coisas terríveis sobre a Reserva das outras crianças que tinham estado lá. As pessoas a chamavam de “corredor da morte” porque várias crianças cometeram suicídio enquanto estavam em seu interior. Outros a chamavam de “torre de Rapunzel” porque os pais deixavam as crianças lá por anos. Televisão, internet e telefone não eram permitidos. As enfermeiras eram como figurantes do filme Um Estranho no Ninho, e a equipe de médicos não tinham nenhum receio em amarrar as crianças a suas camas para mantê-las calmos. Os pais adoravam, porém, porque o lugar era lindo de fora. E se era supercaro, tinha que ser bom, certo? Mas ela não ia. Ela esteve formulando um plano por toda a noite para descobrir como. Agora todas as peças estavam se encaixando no lugar... exceto a oportunidade que ela precisava. Ela esperava que ela surgisse — e logo. Seus pais iam levá-la em 45 minutos. Ela enterrou o panfleto sob suas roupas embaladas e empurrou a mala para o topo das escadas. Então, ela desceu as escadas. Algo chamou sua atenção pela janela traseira. Quatro meninas estavam de pé atrás dos arbustos, sussurrando. Elas pareciam ter a idade de Courtney, e ela podia ouvir as suas vozes através da janela. Uma menina, uma loura em uma saia de hóquei de campo e uma camiseta branca, colocou as mãos nos quadris. — Eu cheguei aqui primeiro. Aquela bandeira é minha. — Eu estava aqui antes de você — uma segunda menina falou. Ela estava ao lado da gordinha que tinha cabelo castanho encaracolado. — Eu vi você sair da sua casa poucos minutos atrás. A terceira menina deu um passo com uma bota de camurça roxa. — Você acabou de chegar, também. Eu cheguei aqui antes de vocês duas. Courtney passou a língua sobre os dentes. Estavam aqui por causa da bandeira de Ali? E elas fizeram uma referência a uma garota que veio da casa vizinha — tinha que ser Spencer Hastings. A Sra. DiLaurentis tinha mencionado o nome dela no jantar na sexta-feira, e o Sr. DiLaurentis tinha feito uma cara azeda. Ele disse que os pais de Spencer ficavam se gabando por causa da construção de uma terceira adição à sua casa, convertendo o celeiro perfeitamente bom em um apartamento de luxo para a sua filha mais velha. Como se um quarto não fosse bom o suficiente?, ele criticou. — Você conhece aquelas que estão lá fora? — Courtney perguntou a Ali, que agora estava de pé em um balcão, folheando com raiva uma revista com fones de ouvido nos
ouvidos. Jason foi embora, e pelos sons, seus pais ainda estavam no andar de cima, se vestindo. A cabeça de Ali levantou-se. Ela tirou os fones de ouvido. — Hein? — Há algumas meninas lá fora. Uma delas é a menina que mora ao lado. — Ela está no quintal? — Ali parecia irritada e foi até a janela. Mas quando ela olhou para fora, ela franziu a testa. — Eu não saio com Spencer. Graças a Deus. — Você não é amiga dela? Ali bufou. — Não. Ela é uma vadia. E você não é? Courtney pensou. Ali virou-se para ela como se Courtney tivesse dito em voz alta. Um sorriso desagradável apareceu em seus lábios. — Camiseta bonita. Mas ela está me dando um déjà vu. Courtney pegou uma banana da cesta. — Eu gostei da cor. — Sim, certo. — Ali passeou até o balcão e pegou um donut da caixa aberta. — Cuidado — disse Courtney, passeando em sua direção. — Donuts vão fazer você ficar gorda. Geleia escorria do queixo de Ali. — Então vá comer no hospital psiquiátrico, esquizofrênica. Courtney fez uma careta. Ela não era uma esquizofrênica, e Ali sabia disso. — Não. — Não — Ali disse imitando-a, transformando suas feições em uma careta. Courtney sugou o seu estômago. Ali sempre usava uma voz nasal e idiotizada para imitar ela. — Pare com isso — ela retrucou. — Pare com isso — Ali disse imitando-a. Courtney sentiu o velho fogo levantar-se do seu interior, o que tinha feito ela entrar em problemas antes. Embora tentasse com muita força suprimi-lo, algo se soltou. — Adivinha — ela cuspiu. — Eu estou com a sua bandeira da Cápsula do tempo. Os olhos de Ali se arregalaram. — Eu sabia. Me devolva. — Ela se foi — disse Courtney. — Eu dei a Jason. E ele não quer dar-lhe de volta para você. — Essa não era exatamente a verdade, mas esta versão soava melhor. Ali olhou carrancuda para Jason, que tinha acabado de reaparecer na porta. — Isso é verdade? Você sabia que ela estava com a minha bandeira? Jason olhou de um lado para o outro entre as meninas, seu olhar perdurando em suas roupas combinando. — Bem, sim, Ali, mas... O olhar de Ali correu para algo no bolso de Jason. O tecido azul brilhante espreitava para fora. Ela arrebatou-o pela metade, arregalando os olhos para o poço dos desejos que agora estava entre o sapo mangá e as incríveis letras bolha. Seus olhos se estreitaram em Courtney. — Você que desenhou isso? Jason agarrou-o de volta dela e enfiou-o no bolso. — Ali, apenas deixe ela em paz. Ali ajustou os ombros. — Você está sempre do lado dela! — Eu não estou do lado de ninguém — disse Jason. — Sim, você está! — Ali olhou carrancuda para Courtney. — Foi bom eu ter dito à mamãe que você me ameaçou ontem à noite. É por isso que você está indo para a Reserva, sabe.
Os olhos de Courtney se arregalaram. — Eu não fiz nada com você! Ali inclinou o queixo para baixo. — Talvez você tenha feito. Talvez você não tenha feito. De qualquer maneira, você não é bem vinda aqui, sua vadia. — Ali, basta! — Jason gritou. — Basta! — Ali imitou com um sorriso de escárnio. Quando ela passou por ele para as escadas, ela o empurrou. Jason cambaleou para trás e caiu em uma estante forjada de ferro. A coisa toda tremeu, e um prato com o horizonte de Nova Iorque na prateleira de cima balançou precariamente. Jason pulou para frente, mas era tarde demais. O prato se quebrou no chão de madeira. O silêncio após a quebra foi ensurdecedor. Jason olhou para Courtney, que tinha congelado no canto. — Por que você tinha que começar a brigar com ela? — ele sibilou. — Eu não pude evitar — disse Courtney fracamente. — Sim, você podia — disse Jason. E, em seguida, deixando escapar um gemido frustrado, saiu pela porta de trás. O interior de Courtney se revirou. — Jason, espera! — ela gritou, correndo para a janela. Jason era seu aliado — ela não poderia deixá-lo irritado com ela. Mas quando ela olhou para fora pela janela, Jason tinha ido embora. As quatro meninas ainda estavam encolhidas nos arbustos, no entanto. Ela olhou por cima do ombro para a cozinha. Pedaços do prato de Nova York estavam por todo o chão. Em breve, sua mãe iria aparecer de onde ela estava e descobrir a bagunça. Ela chamaria suas duas filhas para perguntar o que tinha acontecido. Uma iria aparecer do andar de cima. E se a outra filha estivesse lá fora, conversando com algumas meninas da escola? Não seria Courtney lá fora, afinal — ela não conhecia ninguém. Ela não era sequer permitida sair. Era isso. A sua oportunidade. Se ela estivesse lá fora, seus pais pensariam que ela era Ali, não Courtney. Seria a primeira vez que ela iria representar a sua irmã Ali sem ela obrigála. A primeira coisa que você precisa fazer, ela disse a si mesma, é canalizá-la. Ninguém vai acreditar que você é ela, se você não fizer isso. Então, ela fechou os olhos e canalizou sua irmã. Uma linda vadia. Uma abelha rainha manipuladora. A menina que tinha arruinado sua vida. Sua pele se arrepiou. Isso não era tão difícil: Courtney tinha sido a abelha rainha de um grupo de garotas populares no Radley, conseguindo a melhor mesa na sala de estar, controlando os programas que eles assistiam na TV, apresentando a melhor performance do show de talentos da ala. E antes mesmo de ela ter ido para o Radley, as crianças a amavam — mais do que sua irmã, na verdade. As pessoas se sentiam à vontade com Courtney; elas a escolhiam primeiro no kickball, elas se uniam com ela nos projetos de arte, ela recebia mais presentes no dia dos namorados do que qualquer outra pessoa da classe. Ali, no entanto, por vezes intimidava as pessoas. Ela era muito agressiva, muito intensa. Ela gritava com as pessoas quando não havia adultos assistindo, fazia beicinho quando ela não conseguia o melhor presente no Amigo Secreto, e uma vez até chutou os sapatos novos de salto gatinho que uma menina trouxe para mostrar. Sim, Ali era linda — um pouquinho mais bonita do que Courtney, de fato, mas ela não era a mais amada. Era por isso que ela tinha trabalhado tão duro para conseguir que Courtney saísse de cena. Ela queria ser a estrela única.
Courtney notou os sapatos altos azuis de Ali perto da porta e os calçou. Para garantir que sua mãe visse exatamente onde ela estava — e onde sua irmã não estava — ela casualmente jogou outro prato para fora da prateleira. Quando ele caiu com um barulho alto e difícil de ignorar, Courtney empurrou a porta de tela e viu quando as meninas que estavam discutindo em voz alta calaram-se e olharam para cima. Pelas expressões intimidadas e reverentes em seus rostos, ela sabia que já tinha enganado elas. Claro que elas pensavam que ela era Ali. — Podem sair — ela gritou com a voz mais confiante que ela poderia reunir. As meninas não se moveram. — Sério, eu sei que tem alguém aí — disse ela. — Mas se vocês vieram roubar a minha bandeira, é tarde demais. Alguém já roubou. Spencer surgiu dos arbustos primeiro. As outras a seguiram. E então simplesmente... aconteceu. Elas assumiram que ela era Ali, e elas fizeram-lhe perguntas. Respostas saíram da boca de Courtney tão naturalmente como se este fosse o papel perfeito para ela. E quando a Sra. DiLaurentis apareceu na varanda, seu olhar cintilou com cautela para as meninas no quintal — elas definitivamente não eram amigas de Ali. Mas quando ela olhou para a filha, ela não suspeitou de nada. Ela só assumiu que Courtney era Ali. E quando ela fechou a porta novamente, a família estava no carro em poucos minutos. Eles foram embora. Só isso. Courtney estava tão animada, nervosa e com medo que ela mal conseguia manter a sua apática atuação com as meninas no quintal. Ela sentia como se estivesse prestes a explodir. Ela se sentia como se estivesse dando em cada árvore do quintal um grande abraço. No momento em que Courtney voltou para a casa, ela sentiu como se tivesse acabado de correr a distância para o Radley e voltado. Sua cabeça estava leve. Seus membros estavam pesados. Ela olhou ao redor da cozinha. Os pedaços dos pratos ainda estavam no chão. Um vaso de flor tinha sido derrubado, também. A casa quieta parecia reverberar com os sons e as vozes dos fantasmas do que acabara de acontecer. Gritos violentos e desesperados ecoando no ar. A briga para entrar no carro. O protesto que eles estavam levando a gêmea errada. Ela caminhou pelas salas silenciosas, os saltos de sua irmã claudicando no chão. Seu plano tinha funcionado. Mas, de repente, o pânico a atingiu. Agora ela tinha que prosseguir com ele. Isso não era algo que podia durar apenas alguns dias ou semanas antes de as pessoas perceberem que a garota errada estava na Reserva. Ela tinha que descobrir uma maneira de ficar em casa para sempre. Ela correu para o quarto no andar de cima da sua irmã, subindo de dois em dois degraus. Seu olhar escaneou a colcha preta e branca de Ali, os anúncios de recortes de revistas e as fotos das suas amigas nas paredes, o armário cheio de roupas. Ela correu para a cama de Ali e deslizou sua mão debaixo do colchão. O diário de Ali estava enterrado precisamente no meio, tal como tinha estado ontem. Sentando-se, ela abriu onde ela tinha parado, e leu. Mas quando ela chegou ao final, a sensação efervescente em seu estômago havia se intensificado. O diário era todo sobre Naomi Zeigler e Riley Wolfe, e ele fazia um monte de referências sombrias a segredos e piadas que Courtney não conseguiria saber de nenhuma maneira. Não havia nenhum jeito de ela poder permanecer amiga de Naomi e Riley — ela tinha que livrar-se delas e formar um novo grupo. Só que, quem?
As quatro meninas no quintal surgiram em sua cabeça. Spencer, Aria, Emily e aquela última garota, a gordinha. Ela correu para o anuário da quinta série de Ali e percorreu as páginas. Hanna — esse era o nome dela. Elas não haviam assinado o anuário dela — nenhuma delas conhecia Ali bem. Perfeito. Slam. Ela levantou a cabeça e empurrou o diário de volta sob o colchão. Apenas tinha se passado uma hora. E se eles já tivessem voltado? E se tivessem descoberto? Ela espiou pela janela da frente. Um carro preto parou ruidosamente no meio-fio; ela não conseguia ver o motorista. Soaram passos no chão da cozinha, depois as escadas rangeram. Ela permaneceu parada enquanto quem quer que fosse caminhava pelo corredor. Uma figura apareceu na sua porta, e ela quase gritou. Jason olhou para ela com os olhos apertados. — Eles já levaram ela? Courtney assentiu, ainda não se atrevendo a respirar. A boca de Jason tornou-se pequena e apertada. — Bem, eu acho que agora você está feliz, hein, Ali? Ele balançou a cabeça e continuou a ir em direção ao seu quarto. A porta bateu alto, sacudindo as paredes. Alguns segundos depois, os compassos de abertura de uma música de Elliott Smith bradaram. Courtney passou as mãos ao longo do comprimento do seu rosto. Ele a tinha chamado de Ali. Ela caminhou até o espelho. A menina no reflexo usava uma camiseta de um profundo rosa e saltos altos. Ela tinha o cabelo brilhante, o rosto em forma de coração e um sorriso travesso. Depois de um momento, ela jogou a cabeça para trás e o cabelo por cima do ombro, do jeito que Ali fazia, e então suspirou. Ela acertou em cheio. Euforia tomou conta dela como uma onda. Ela iria governar a escola. Tornar-se fabulosa. Virar a melhor Alison DiLaurentis possível. Ela mereceu isso, caramba. E sua irmã? Ela pensou no rosto de Ali quando seus pais a empurraram para dentro do carro, a vida que ela levaria na Reserva. Mas o que foi feito foi feito. E foi justo. Ela levantou-se ereta, admirando a menina no espelho. De repente, ela se lembrou de algo, correu de volta para o quarto de hóspedes, abriu a gaveta de cima da escrivaninha feia e tirou o anel de prata que ela tinha roubado na noite passada quando Ali tinha ido lavar os pratos. Ela o pegou e segurou-o para a lâmpada. Havia um pequeno A gravado na superfície. Sorrindo para si mesma, ela colocou o anel em seu dedo indicador direito, o mesmo dedo que Ali o usava. Então, ela olhou para a menina no espelho novamente. — Eu sou Ali — ela disse para o seu reflexo. — E eu sou fabulosa.
1 A PRINCESA DE ROSEWOOD DAY
A
lison DiLaurentis caminhou pelo corredor de Rosewood Day Middle School, seus saltos gatinho fazendo ruído, seu cabelo loiro balançando e sua saia do uniforme xadrez no alto das coxas. O professor de Ciências da Terra enfiou a cabeça fora da porta da sala de aula e ergueu as sobrancelhas. As luzes do teto, que deixava todo mundo parecer abatido e pálido, trazia tons de mel na pele de Ali e manchas verdes em seus olhos. Seus passos pareciam desfilar ao ritmo da música clássica que tocava “entre as aulas” da escola. E quando ela virou no corredor em direção ao refeitório, as multidões se separaram para ela como se ela fosse uma rainha. O que ela meio que era. Era primavera, quase no final do ano da sétima série dela, e Ali e suas amigas iriam comer na melhor mesa do lado de fora, uma mesa grande e quadrada com quatro lados iguais que tinha uma excelente vista para o campo de beisebol. Emily Fields, Spencer Hastings, Aria Montgomery e Hanna Marin já estavam sentadas e tirando seus almoços: rolos de sushi do balcão da Fresh Fields e pretzels macios do refeitório. Ali acenou para elas da porta. Spencer se iluminou. Hanna tirou um recipiente extra do rolo de sushi da sua bolsa e colocou no lugar de Ali. Emily olhou para Ali com um sorriso pequeno e animado, tirando superficialmente algumas folhas do assento favorito de Ali. Aria pousou o tricô e deu a Ali um enorme sorriso. Enquanto Ali atravessava o pátio, todos os olhos estavam sobre ela mais uma vez. Ela podia ouvir os sussurros de admiração e os assobios apreciativos. Devon Arliss, que fazia aula de história com Ali, correu até ela quando ela passou e entregou-lhe sua lição de casa daquela tarde, que ela nem sequer tinha pedido para Devon fazer por ela. E Heather Rausch, cuja irmã trabalhava na Sephora do shopping, entregou-lhe uma sacola de presente cheia de amostras da nova linha de maquiagem. — Você é a única pessoa, além dos funcionários que vão conseguir experimentar isso — Heather disse com orgulho. — Obrigada — disse Ali a Devon e Heather, atirando-lhes sorrisos indiferentes. Parecia que ela era uma celebridade VIP: Ela era tão preciosa e desejável, você tinha que estar em uma lista de espera apenas para chegar perto dela. Governar uma escola era, em uma palavra, incrível. Ela tinha tendências para lançar (ela sozinha fez todos de Rosewood Day usarem esmaltes verde-limão nessa primavera); pessoas para derrubar (colocar um recadinho de amor falso de Kirsten Cullen para Lucas Beattie foi a vingança perfeita para quando Kirsten havia criticado suas habilidades de hóquei de campo);
festas para planejar (a temporada de primavera-verão foi a mais movimentada); e meninas para esnobar. Incluindo suas melhores amigas. Ela andou até a mesa delas. — Ei, vadias! As amigas dela sorriram animadamente. — Ei, vadia! — todas disseram em uníssono, embora Emily parecesse envergonhada. Até mesmo os professores mal se encolhiam quando ouviam vadia nos corredores, mas Emily tinha sido praticamente criada por Amishs2, e ela ainda ficava cautelosa com os palavrões. Ali pegou a câmera Polaroid antiga que o pai dela havia lhe dado e tirou uma foto delas, as meninas sorriram alegremente. Embora Aria fosse a fotógrafa/cinegrafista oficial do grupo, a Polaroid era a marca de Ali — ela nunca ia a lugar nenhum sem ela. No início, ela carregava para todo lugar para que ela não esquecesse alguns detalhes sobre sua nova vida, caso ela fosse pega e enviada para a Reserva. Ela queria mostrar aos meninos bonitos que ela estava com suas amigas e que o lugar mais ensolarado do pátio era onde ela e suas amigas sentavam para almoçar todos os dias. Agora, tirar fotos se tornou um hábito regular. — E aí, quais as novidades? — Ali perguntou quando levantou a tampa do sushi. Hanna tinha escolhido o favorito de Ali, rolo de atum picante com tempero extra. — Eu vi Lara Fiori depois do ginásio — Aria disse. — Ela estava usando as mesmas sandálias Marc Jacobs que você usou na semana passada. Uma plagiadora total. Ali bufou. — Isso não — ela disse, se referindo ao jogo que tinha reaproveitado do irmão, Jason. Era a frase que ela e suas amigas diziam sobre alguém impopular ou chato. — Concordo. — Spencer tira algo de sua bolsa e entrega a Ali. — Kirsten Cullen me deu um convite para uma festa no country clube dela nesse fim de semana. Eu devo dizer que nós vamos? Ali analisou o convite, que era em papel cartão macio. — Parece perfeito, Spence. Definitivamente. Spencer parecia satisfeita. — Nós vamos ter que comprar vestidos, hein? — Ooh, a Bloomie tem uma nova remessa de DVFs3 — Hanna disse entusiasmada. — Eu liguei para eles obsessivamente toda manhã e a vendedora disse que guardaria alguns para nós. — Legal — disse Ali, batendo a garrafa de água Vitamin com a de Hanna em um brinde. Emily se inclinou para frente. — Você teve notícias de Matt hoje? Ali cutucou suas unhas. — Um milhão de vezes. — Matt Reynolds tinha sido namorado de Ali, mas ele se mudou para a Virgínia na semana passada. Ele queria continuar o relacionamento de longa distância, mas ela não queria. Embora ele fosse o garoto mais bonito da sétima série, ela nunca realmente tinha estado a fim dele. Mas, como a garota mais bonita da sétima série, era justo que eles namorassem. — Eu superei ele — Ali continuou. — Eu prefiro sair com vocês todos os dias. Suas melhores amigas de um ano e meio coraram agradecidas por terem sido recrutadas por Ali para seu grupo novo. E Ali estava muito agradecida a elas também. Se elas não 2
Amishs :É um grupo religioso cristão que se estabeleceu nos EUA e Canadá, conhecido por seus costumes conservadores. 3 DVF: Diane von Fürstenberg é uma estilista criadora do vestido envelope.
tivessem estado no quintal da família dela naquele dia, naquele momento crucial, as coisas seriam muito diferentes. Todos em Rosewood aceitaram o novo grupo de Ali rapidamente, e a popularidade das outras meninas tinha disparado. Foi uma vitória para todas. Elas tinham tido vários momentos de diversão. Como na casa nas montanhas em Poconos da família dela. Ou nas muitas festas que tinham sido convidadas, sendo bajuladas enquanto todas as outras meninas tentavam impressioná-las. Ou nessa mesma época no ano passado, quando elas nadaram nuas em Pecks Pond, as inúmeras festas de pijama que elas tiveram, as centenas de horas de conversas telefônicas, as compras e os dias de spa. Ali tinha reformado essas garotas. Elas passaram de ninguém para alguém, tudo porque ela era Alison DiLaurentis. Naturalmente, o que elas não sabiam era que ela não era Alison DiLaurentis. Mas Ali não gostava mais de pensar sobre o seu passado. Era algo que ela tinha aprendido no grupo de terapia há um zilhão de anos: Se ela só tivesse pensamentos positivos, isso iria conduzi-la a uma vida positiva. Sua antiga existência como Courtney tinha acabado. Ela olhou para Aria, que tinha acabado de pegar suas agulhas de tricô e um novelo rosa de mohair. — Você está fazendo outro sutiã? Aria acenou com a cabeça, em seguida, levantou a metade de um sutiã com bojo. — Você gostou? Ali tocou o tecido macio. — Você poderia vender esse na Saks. — Então ela olhou para Spencer, que estava escrevendo algo no seu calendário de planejamento do dia. — Deus, Spence, você tem uma caligrafia ótima. Spencer se animou. — Obrigada! Ali disse a Hanna que os novos óculos de sol que ela tinha comprado na H&M eram surpreendentemente chiques, e ela puxou o rabo de cavalo de Emily e disse que a camiseta canoa que ela estava usando destacava seus ombros musculosos. Elogiar as meninas era bom — não só porque elas elogiavam de volta, mas também porque as aproximava mais. Não havia nada no mundo mais poderoso do que um bando de meninas que eram sinceramente melhores amigas — não amigas e inimigas. Era algo que Ali tinha desejado por toda a vida. Mesmo assim, Ali não conseguiu evitar de declarar que era levemente melhor do que o resto delas. Ela pegou o celular, olhou para a tela e começou a rir. — Cassie me enviou uma mensagem muito engraçada mais cedo — ela disse, se referindo a Cassie Buckley, uma menina da equipe juvenil de hóquei de campo com Ali. — Ela é tão divertida. — Você ainda está saindo com ela? — Emily soou magoada. — O hóquei de campo acabou faz meses. — Nós estamos bem amigas — Ali disse despreocupadamente. — Na verdade, eu vou sair com Cassie e algumas outras garotas da equipe essa tarde. Houve uma longa pausa. Ali analisou suas amigas, satisfeita por suas expressões preocupadas e intimidadas. Ela sabia que elas queriam que ela convidasse elas para irem juntas, mas excluir elas era o objetivo. Não era exatamente para ser malvada. Isso lembrou ela dos labradoodles de Spencer, Rufus e Beatrice, que ficavam no quintal dos Hastings: Eles brincavam por um tempo, e depois Rufus subia em cima e prendia Beatrice para lembrá-la que ele era o alfa.
— Hey — disse Spencer depois de um momento. — Precisamos descobrir o que vamos fazer na festa do pijama do fim da sétima série. Se você já não tiver planos para essa noite, Ali. — O tom dela era alegre, mas ela deu a Ali um olhar cauteloso. — Por favor, diga que você não tem planos! — Emily disse ansiosamente. — Eu não iria perder a nossa festa do pijama. — Ali olhou para Spencer. — E se fizermos no seu celeiro? — A família Hastings tinha um galpão no quintal da casa que eles tinham convertido em uma casa linda para a irmã mais velha de Spencer, Melissa. Com os seus tetos altos, closet enorme e banheiro completo de mármore e com banheira de imersão, seria uma despedida incrível. Spencer torceu a boca. — Não, a menos que nós quiséssemos que Melissa jogue verdade ou desafio com a gente. Ali revirou os olhos. — Expulse ela por uma noite! Seria perfeito, você não acha? Poderíamos colocar sacos de dormir naquele quarto principal grande, assistir filmes na tela plana e talvez até convidar alguns meninos... — Seus olhos brilharam. — Tipo Sean Ackard? — Hanna perguntou animadamente. — Noel Kahn? — Aria deu um sorriso. Spencer cutucou suas unhas. — O que você acha do seu quintal em vez disso, Ali? Ali fez uma careta. — Esqueceu do gazebo que estamos construindo? Meu quintal está um desastre. — Então ela deitou a cabeça no ombro de Spencer. — Por favor, peça a Melissa? Eu seria a sua melhor amiga. Spencer suspirou, mas Ali sabia que ela estava pensando. Esse era o poder que ela tinha sobre todas elas. Elas fariam qualquer coisa por ela, até mesmo coisas que não queriam. Assim como ela tinha feito pela irmã dela, há vários anos. O sinal tocou, e todas se levantaram. — Você nos liga mais tarde? — Hanna perguntou a Ali, e Ali assentiu. Normalmente, as cinco meninas faziam uma ligação conjunta no final do dia para colocar as fofocas em dia. Ali manteve a cabeça erguida quando virou no corredor em direção ao ginásio para a aula seguinte, os olhares invejosos das suas colegas de classe eram como o sol quente de verão em sua pele. Mas, de repente, algo no corredor a parou. Havia um novo anúncio na vitrine chamado CLUBE DE TEATRO DE ROSEWOOD DAY: RETROSPECTIVA. No centro do cartaz tinha uma foto do clube de teatro desse ano após a apresentação de uma peça, Um Violinista no Telhado — Spencer estava lá, ela havia interpretado uma coadjuvante, bem na frente. Em uma textura de raios de sol estavam as imagens centrais que eram fotos de peças antigas. Ali avistou uma Spencer mais nova interpretando uma árvore em Sonho de Uma Noite de Verão. Havia uma foto de Mona Vanderwaal, seu cabelo estava arrumado em tranças e sua boca cheia de aparelho de dentes, interpretando uma vaqueira em Bonita e Valente. Havia uma Jenna Cavanaugh mais nova, cantando um solo com os lábios naturalmente rosas e seus olhos grandes cor de avelã vendo tudo. E perto dessa, atrás de Noel Kahn que estava usando um tapa-olho, estava seu próprio rosto. Exceto que essa era de uma peça antes da sexta série. Antes de Courtney se tornar Ali, e Ali se tornar Courtney. Se você realmente se concentrasse, as diferenças entre as duas meninas eram óbvias. Os olhos da irmã dela eram mais largos e um pouco mais azuis. Ela
ficava mais ereta, e suas orelhas não eram tão para frente. Mas ninguém havia notado essas diferenças, as pessoas raramente prestavam atenção aos detalhes. Ali pensou na Reserva de Addison-Stevens. Ela tinha ido visitar lá algumas vezes, e era ainda pior do que os rumores. A ala dos pacientes tinha paredes azuis descascadas, corredores escuros e grades nas janelas. As crianças se arrastavam pelos corredores desanimadas, algumas delas murmurando, outras gritando, a maioria se contorcendo. Sua irmã era uma delas agora. Ela vinha insistindo que era Alison DiLaurentis há mais de um ano, incansavelmente. Era uma bela situação sem saída: Quanto mais a verdadeira Ali insistia que tinha sido injustamente presa na Reserva, mais motivos a equipe tinha para mantê-la lá. Eles davam a ela tantos medicamentos que ela ficava babando a maior parte do tempo. Ali olhou por cima do ombro, de repente começando a sentir náusea como se alguém estivesse observando ela. Essa sensação a golpeava de vez em quando, embora na maior parte ela apenas atribuísse a estar estressada por causa da graduação. Ela se voltou para a foto. Ela parecia perigosa, de alguma forma. Ali nunca, nunca deixou alguém descobrir seu segredo; ela não iria para a Reserva nem morta. Ela abriu a trava da vitrine de exposição, enfiou a mão dentro, pegou a foto da Alison bonita da quinta série, e colocou-a em sua bolsa. Ela iria queimá-la quando chegasse em casa hoje à noite. O que os olhos não vêem, o coração não sente. Assim como ela costumava ser.
2 FUMAÇA ENTRA EM SEUS OLHOS
N
o fim da tarde, Ali se sentou no Jeep de Cassie Buckley, na garagem de Cassie. Cassie tinha acabado de conseguir sua carteira de motorista, e ela adorava dar carona para as meninas até em casa. Elas estavam de frente para a casa antiga e vitoriana de Cassie, onde elas e algumas outras garotas do time de hóquei de campo tinham estado depois da escola. O lugar era revestido por um alpendre, tinha vitrais e um cata-vento em forma de galinha no telhado. Na direita era o quintal comprido e estreito de Cassie, que continha um jardim que precisava ser cuidado, um muro de pedra que a separava dos vizinhos, e uma banheira antiga com pés, o que não ficava deslocada aqui na autêntica Old Hollis. Ali realmente preferia a vibração pobre-chique da Hollis à perfeição presunçosa de Rosewood, mas, como essa não pareceria ser a opinião que Alison DiLaurentis teria, ela nunca deixou transparecer. Depois de terminar de checar os espelhos, Cassie virou a chave na ignição. — Eu espero que a gente passe por alguns veteranos gostosos na estrada. — Quais? — Zoe Schwartz perguntou do banco traseiro. — Eu não sei — disse Cassie. — Alguém gostoso. — Eu vou encontrar alguém para você. — Zoe folheou as páginas do Mule mais atual, o anuário de Rosewood, que tinha acabado de sair naquele dia. Ninguém sabia por que se chamava Mule — era um apócrifo, uma piada interna de escola privada que o pessoal do anuário ficava supersticioso de se meter. — Ian Thomas é muito bonito — Zoe decidiu, parando na foto de graduação de Ian. Seu sorriso era largo, seus olhos estavam super azuis e ele realmente estava bonito usando o chapéu de graduação. — Não é tão bonito quanto o irmão de Ali. — Cassie agarrou o cigarro Marlboro Light coletivo que estava sendo passado ao redor e deu uma longa tragada. — Eca! — Ali disse. — O quê? Ele é lindo. — Cassie a cutucou. — Você pode arranjar para mim um encontro com ele? — Você não gostaria de ter um encontro com ele — Ali disse. — Ele é tão temperamental. — Então, ela endireitou-se no banco do passageiro da frente, tirou o cigarro da mão de Zoe, e tragou, se esforçando ao máximo para não estremecer quando a fumaça atingiu seus pulmões. As outras meninas eram estudantes do segundo ano ou do penúltimo; ela era a primeira da sétima série a fazer parte do grupo, até mesmo superando o eu-jogohóquei-de-campo-desde-que-nasci de Spencer. Mas enquanto Ali estava sentada no jipe de
Cassie com elas, fumando e conversando sobre meninos, era como se todas elas tivessem a mesma idade. — Ian é realmente muito bom — Ali disse. — Eu vivo perto dele o tempo todo. — Sério? — As meninas olharam para ela. — Quando? Ali amou ter chamado a atenção delas. — Ele está namorando a irmã de Spencer Hastings. Ele vai na casa dela o tempo todo. Cassie franziu o nariz de botão. — Melissa Hastings? Que desperdício. — Ela é tão certinha — Zoe concordou. — O que ele vê nela? Ali cutucou sua unha. Ironicamente, o irmão dela tinha uma queda por Melissa Hastings, também. Ela não sabia o que pensar de Melissa, porém. De todas as pessoas em Rosewood, Melissa era uma das poucas que não se curvava a ela. Às vezes, quando ela estava no quintal dela, Melissa estava na janela da casa do celeiro no outro lado da propriedade dos Hastings e apenas a encarava. Cassie soprou um anel de fumaça. — Quais são os nossos planos de verão, pessoal? A escola vai terminar daqui a um mês. Brianna Huston, que tinha cabelo preto brilhante e pernas grossas de goleiro, baixou os óculos de sol. — Perder dez quilos. E arranjar um namorado, é claro. — Um romance de verão seria fantástico — Zoe suspirou. — Eu também quero um namorado — Ali declarou. Cassie deu-lhe um olhar interrogativo quando ela freou na placa de parar. — Você já não tem um? Ali lembrou do rosto choroso de Matt quando ele subiu na minivan da família dele para ir para a Virgínia. Ela só respondeu as mensagens fervorosas e apaixonadas dele duas vezes. — Eu não gosto dessa coisa de longa distância. Elas passaram pela Faculdade Hollis. Os estudantes estavam sentados em bancos com xícaras de café gelado ou conversando nos degraus de pedra. Quando Ali percebeu três rapazes sem camisa jogando frisbee no gramado, ela estendeu a mão e apertou a buzina. Os caras olharam para cima e sorriram. Ali soprou um beijo quando Cassie dirigiu para longe. — Gostei deles, talvez — Ali brincou. A mandíbula de Cassie caiu aberta quando ela olhou para Ali. — Você deveria ser a minha nova melhor amiga — disse Cassie. — Eu vou deixar de lado essas vadias e tornar você a abelha rainha comigo. — Hey! — Zoe disse, bem-humorada. — Estou brincando — disse Cassie, então deu a Ali uma piscadela. Elas saíram de Hollis e se contorceram pelas ruas de Rosewood, onde as casas ficaram maiores e mais espalhadas. Cassie colocou Jay-Z para tocar, e todas as meninas cantaram junto. Elas passaram o Shopping King James branco e monolítico, e uma placa para o novo bistrô francês Rive Gauche numa tenda na entrada. Em seguida, elas se direcionaram para uma das estradas secundárias depois da pista Marwyn, cujo estacionamento estava cheio de carros e motos. Em seguida, elas atravessaram a velha ponte coberta, que todo mundo gostava de grafitar, e depois passaram pelo bairro de enormes mansões isoladas, onde Sean Ackard, a paixonite de Hanna, morava.
Cassie entrou em um bairro cheio de mansões para deixar Zoe, em seguida, estacionou na fazenda de cavalos de Brianna. Quando estavam só Ali e Cassie no carro, Cassie acendeu outro cigarro, deu uma tragada, e passou para Ali. — Acredita que a minha mãe vai ficar em casa tempo suficiente para ir para a cerimônia de premiação de esportes na próxima semana? Eu acho que ela, tipo assim, se sente culpada ou algo assim. — Isso é incrível. — Ali apertou a mão de Cassie. — Agora só temos que conseguir fazer a minha mãe ir para a minha formatura. Cassie olhou para ela com simpatia. — Ela continua ausente o tempo todo? — Sim — Ali disse firmemente. — A Miss Socialite Jessica DiLaurentis. — Ela revirou os olhos. — Meu pai nem sequer vai aos eventos com ela. Quando Ali havia dito a suas amigas que ela e as meninas do hóquei de campo conversavam sobre coisas profundas, não era totalmente mentira. Elas falavam muito sobre seus pais. Os de Cassie eram socialite, nunca tinham tempo para ela. Para as outras meninas, ela fazia soar como se fosse uma coisa boa — sua casa ficava vazia, o que era perfeito para festas, ela poderia vestir o que quisesse para a escola, e os pais dela nem perceberiam o amassado que ela tinha feito na frente do para-choque do Jeep. Mas para Ali, ela disse a verdade, porque os pais de Ali também viviam em seus próprios planetas — a mãe dela tinha participado de três beneficentes nesse mês com a sua controvérsia, para crianças com doença mental, mas raramente gastava tempo com Ali ou Jason. Elas viraram na rua de Ali. As casas familiares que Ali tinha olhado todos os dias durante um ano e meio brilhavam ao sol do fim da tarde. Mona Vanderwaal dava voltas em torno da garagem de cinco carros de sua família em seu patinete Razor. Suas amigas Phi Templeton e Chassey Bledsoe estavam sentadas sob uma árvore de salgueiro em frente ao quintal dela, brincando com um ioiô. Todas as três olharam para cima de queixo caído quando viram Ali e Cassie passarem. Idiotas. A casa dos Cavanaugh, uma casa Colonial com um quintal grande, era a próxima. Ali olhou para o grande carvalho que ainda tinha os restos da escada de madeira que levava para a casa da árvore de Toby Cavanaugh. De repente, ela notou um rosto na janela da frente. Jenna Cavanaugh olhou para fora com os óculos escuros grandes sobre os olhos. Ali sentiu um puxão em seu peito. Ela levantou dois dedos para a janela do carro, no antigo aceno secreto entre Jenna e ela. Não que Jenna tenha visto. Cassie estacionou na calçada de Ali, atrás de um caminhão de construção cheio de escadas e pás. Próximo a ele estava um carro esporte preto velho, seu interior cheio de copos do Burger King, embalagens vazias e livros escolares. — O que está acontecendo em seu quintal? — Cassie perguntou. Ali suspirou dramaticamente. — Meus pais estão construindo um gazebo. Vai ser o lugar que um zilhão de pessoas vão fazer suas festas. Esses trabalhadores repugnantes apareceram ontem para consultar os meus pais sobre o que precisava ser feito. Cassie levantou a bunda do assento e olhou para algo no quintal. — Eles não parecem tão repugnantes para mim. Ali seguiu o olhar dela. Três caras com as camisetas manchadas de suor e jeans rasgados caminhavam através do quintal dela, passando pela casa da árvore em que ela e Emily tinham passado muitas horas conversando. Um dos trabalhadores tinha tatuagens de
cima abaixo dos braços e carregava uma pá no ombro. Outro tinha sujeira em todo o rosto e estava falando no celular. Mas o terceiro, que era mais novo, estava olhando diretamente para Ali, seus olhos verdes penetrantes e um sorriso travesso no rosto. — Oh meu Deus, eu estou apaixonada — Cassie sussurrou. — Por Darren Wilden? — Ali fez uma careta. Cassie ficou boquiaberta com ela. — Você o conhece? Eu só vi ele nos corredores. — Ele é amigo de Jason. — Ali fez um barulho na parte de trás da garganta. — A ideia de diversão dele é grafitar as paredes do lado de fora das quadras de tênis. — Bad boys são gostosos. — Cassie tirou um tubo de brilho labial e lentamente o espalhou nos lábios. — Ele é todo seu — Ali murmurou. Elas ficaram em silêncio enquanto Darren as abordou, ainda olhando para Ali. Finalmente, ele limpou a garganta. — Você não deveria estar fumando, Ali — ele disse severamente. Ali olhou para baixo. O Marlboro Light que Cassie tinha acendido ainda estava em sua mão, a cinza branca ondulando no ar. Raiva tremulou dentro dela. Darren era um acessório em sua casa, assim como Jason era mal-humorado e irritante. Quem ele pensava que era, o pai dela? Como se ele tivesse algum poder sobre o que ela fazia! Ali deu outra longa tragada no cigarro, em seguida, jogou-o pela janela. Ela saiu do carro lentamente com os olhos nos dele. Ela andou até ele sem dizer uma palavra, até que estava ao lado dele. Então puxou a saia para cima e lhe mostrou uma linha de perna. Os olhos de Darren foram direto para lá e não se arregalaram de horror ou aversão, mas com o que definitivamente era luxúria inadequada. Sorrindo, Ali acenou um adeus para Cassie, em seguida, virou-se e caminhou para a casa, sabendo que ele e Cassie ainda estavam olhando. Aí está. Era ela que estava no controle, afinal.
3 FESTA LÁ EM BAIXO
-U
m fondue suíço com quatro espetos. — Uma garçonete colocou um caldeirão borbulhante de queijo derretido no centro da mesa. — Aproveitem! A mãe de Ali, uma mulher alta e elegante com longos cabelos loiros, um rosto em formato de coração e uma testa com botox permanente, colocou o guardanapo no colo e delicadamente pegou um espeto. Seu pai fez um som de humm e estalou os lábios, que Ali sempre achava que eram um pouco grossos e elásticos. Um fio de queijo estava esticado do espeto até a boca dele. Essa provavelmente era a razão da mãe dela nunca o levar para seus jantares de caridade. Ali franziu o nariz em desgosto. — O que é isso? Parece queijo Velveeta. — É fondue. — A Sra. DiLaurentis empurrou um espeto na direção dela. — Você vai adorar. — Eu provavelmente amo sorvete cheio de gordura, também, mas você não me vê tomando. Sua mãe tomou um gole do copo de vinho branco. — É francês, querida. Por isso, não tem calorias. — Ela torceu a boca como se fosse uma piada engraçada. Ali cruzou as mãos em seu prato vazio e olhou ao redor do restaurante. Era noite de quinta-feira, e ela estava com sua família no Rive Gauche, o novo bistrô francês que havia inaugurado na seção de luxo do shopping King James. O local foi decorado com vários espelhos, anúncios de bebidas alcoólicas retrôs e placas das ruas de Paris. Grupos de mulheres bem vestidas da Main Line compartilhavam mexilhões e batatas fritas em quase todas as mesas. Um grupo de jovens universitários que parecia ter saído das páginas da J. Crew estava tomando sopa de cebola em sopeiras francesas no canto. Ali considerou tirar uma Polaroid do novo restaurante legal, mas depois desistiu — esse lugar era incrível, mas ela preferia tirar uma foto dela com suas amigas. Ela mal acreditava que sua família tinha ido jantar fora; eles não faziam isso há muito tempo. Mesmo assim, seus pais estavam sentados tão distantes quanto possível nas cadeiras, como se fossem duas crianças do ginásio desconhecidas em um baile. A Sra. DiLaurentis estava colada em seu celular como se estivesse trocando mensagens com o Presidente, e o Sr. DiLaurentis continuava espreitando uma pilha de documentos jurídicos que estava em sua pasta. — Jason, você vai experimentar, não vai? — A Sra. DiLaurentis pousou seu celular perto do prato e balançou um espeto em direção ao irmão de Ali. O cabelo loiro e desleixado de Jason caiu em seus olhos quando ele balançou a cabeça. — Eu não estou com fome.
— Não se sente bem? — A Sra. DiLaurentis estendeu a mão para sentir a pele de Jason. Jason se afastou. — Eu estou bem. Ali bufou. — Parece que alguém está em um de seus humores de Elliott Smith — ela disse, fazendo referência a música depressiva e miserável que ele sempre ouvia quando estava deprimido. Jason olhou para Ali por uma fração de segundo, então fungou e se virou. Ali se perguntou se ele estava chateado por ouvir dizer que ela tinha fumado com Cassie, ou talvez que ela tinha flertado com Darren. Mas por que ele se importava com essas coisas? Na maioria das vezes, Jason fingia que Ali não existia mesmo. O que realmente machucava. Ali estava grata por seus pais não terem adivinhado quem ela era — eles estavam muito envolvidos em suas próprias vidas para prestar atenção. Enquanto ela parecesse o suficiente com Ali, eles não fariam perguntas. Mas ela achou que Jason notaria algo. Ele não deveria conhecê-la melhor do que todos os outros? Afinal, ele praticamente a visitou todo fim de semana em Radley, jogando cartas com ela na sala de visitas, dizendo a ela sobre as meninas que ele gostava, uma das quais tinha sido Melissa Hastings, com quem ele começou uma amizade. — É assim que você faz ela gostar de você — Ali tinha instruído ele, dando-lhe dicas que ela viu na Cosmo. Mas quando ela tinha tomado a vida de sua irmã, ela descobriu que Melissa estava namorando Ian Thomas, e Jason estava solteiro. Ela queria perguntar a Jason se ele estava bem, mas parecia fora da personagem — Alison achava que Jason era irritante e insuportável. Se ela quisesse atuar esse papel corretamente, ela teria que fingir que achava isso também. Se ela dissesse a verdade a pelo menos uma pessoa, seu segredo estaria a um passo mais perto de ser revelado. A garçonete pousou as bebidas de todos. Do outro lado da mesa, o Sr. e a Sra. DiLaurentis sussurravam. — Agora? — A mãe de Ali parecia alarmada. — Deveríamos esperar. — Isso não pode esperar — o Sr. DiLaurentis disse com firmeza. — Sim, pode. — O que pode? — Ali perguntou, pegando um pedaço de pão cheio de queijo e colocando na boca. O queijo derreteu calorosamente em sua língua. Era tão bom que ela quase desmaiou. Sua mãe se atrapalhou com os talheres. — Hum, nada, querida. Estamos um pouco estressados agora. Enviar Jason para Yale é muita despesa, e estamos tentando descobrir como administrar as nossas finanças. Ali começou a rir. — Se vocês estão tão preocupados com o dinheiro, então por que vocês estão construindo um gazebo enorme no quintal? Houve uma longa pausa. O Sr. DiLaurentis se levantou para usar o banheiro e esbarrou na mesa com tanta força que quase derrubou a panela de fondue. O celular da mãe de Ali tocou, e ela atendeu com uma falsa voz animada. Ali agarrou a taça de vinho de sua mãe quando ela não estava olhando e tomou um longo gole. Tanto faz. Um ano atrás, ela teria levado o comportamento bizarro deles para o lado pessoal — talvez os pais dela tivessem percebido quem ela realmente era e se recusavam
a compartilhar coisas com ela. Mas eles guardavam muitos segredos, coisas que eles não diziam a Jason, tampouco. O Sr. DiLaurentis voltou do banheiro e imediatamente pegou sua taça de vinho. Quando a Sra. DiLaurentis desligou o telefone, ela olhou para Ali. — Então. Vamos para o hospital nesse fim de semana. O estômago de Ali revirou. — De novo? Faz pouco tempo que fomos lá. — Faz dois meses que você não vai. Vai ser bom para você visitar sua irmã. — Eu já tenho planos — disse Ali rapidamente. As sobrancelhas do Sr. DiLaurentis franziram. — Sua mãe nem mesmo disse que dia nós vamos. — Eu tenho planos todos os dias. — Ali sorriu fracamente. — Por favor, não me façam ir. É tão difícil para mim emocionalmente. Eu passo horas chorando na cama sempre que volto de lá. A Sra. DiLaurentis parecia atormentada. Ali sentiu uma onda de triunfo. Jogar a carta emocional sempre funcionava. O resto do jantar foi formal e em silêncio, ninguém falou. A Sra. DiLaurentis se levantou na metade do seu prato principal porque viu algumas mulheres que conhecia da Liga Junior. Quando eles passaram no bairro deles, havia toneladas de carros estacionados na calçada. Mais carros estavam congestionados na garagem de Spencer, a maioria deles jipes, SUVs, BMWs antigas e Hondas. Um som alto retumbava do quintal. — Parece que alguém está tendo uma festa — a Sra. DiLaurentis murmurou. O Sr. DiLaurentis fez uma careta. — Em uma noite de quinta-feira? Ali saiu do carro para ter uma visão melhor. Os adolescentes estavam no pátio dos Hastings e perto do celeiro do quintal onde Melissa morava. Melissa estava sentada com as pernas cruzadas em uma das mesas do pátio — com os cabelos loiros na altura do queixo e as pérolas, ela parecia um clone da Sra. Hastings. O pai de Spencer, que era alto e largo com um nariz longo e fino, mandíbula forte, e cabelo escuro grosso e encaracolado, estava no terraço, girando uma taça de conhaque. O Sr. DiLaurentis revirou os olhos quando fechou a porta do motorista. — Eles têm que ser tão pretensiosos? Esse terceiro nível do terraço é ridículo. — E ela sempre fala que eles só servem Dom Pérignon nas festas — a Sra. DiLaurentis acrescentou. — Que brega! — Mas mesmo quando ela saiu do carro e caminhou para dentro, seu olhar permaneceu no meio da multidão. Ela parecia quase melancólica. Jason entrou sem comentar nada. Depois de um momento, Ali foi a única que permaneceu na calçada. Ela olhou através das hedges. A maioria dos adolescentes ela reconhecia: Justin Poole, um jogador de futebol gostoso chamado Garrett Flagg, e Reed Cohen, cuja banda quase se apresentou em um festival de música em Philly no ano passado. Ian Thomas, com seu cabelo cor de palha e confiança, o belo menino de ouro, estava ao lado da porta da frente do celeiro, segurando um copo de plástico vermelho que estava certamente cheio de algum tipo de álcool. Mas quando Ali viu a menina ao lado de Ian, flertando tempestuosamente, a boca dela escancarou. Era Spencer.
Instantaneamente, Ali começou a atravessar o gramado, não se importando se suas novíssimas rasteiras Maloles brancas se manchassem de grama. Ela ziguezagueou através das hedges e passou pela multidão de adolescentes até que estava ao lado de Spencer e Ian. Quando Spencer se virou, ela empalideceu. — Oh! — ela gorjeou nervosamente. Ian olhou para as duas, em seguida, se afastou para falar com outro sênior. Ali enfrentou Spencer e sorriu docemente. — Você não me disse que tinha uma festa hoje à noite. Os olhos de Spencer se lançaram de um lado para o outro. — Melissa organizou em cima da hora, ela foi aceita na Penn com uma bolsa de estudos integral. — Que bom para ela — Ali disse. — Mas você poderia ter me mandado uma mensagem. — Eu sinto muito. — Spencer parecia nervosa. — Eu achei que você não estava em casa. Eu vi o seu carro saindo mais cedo. Ali colocou as mãos nos quadris. — E? Spencer apertou sua boca em uma linha. — Ali, não era... — Então os olhos dela se fixaram em alguém por trás delas. Ian estava voltando, agora com um prato de comida na mão. — Quem grelhou esses hambúrgueres? — Ele deu uma mordida suculenta. — Eles estão incríveis. Spencer se animou. — Eu grelhei, na verdade. — Sério? — Ian parecia impressionado. — Você consegue fazer bifes? Spencer se dobrou em um quadril e deu-lhe um olhar muito sensual. — Eu posso fazer qualquer coisa. O sorriso de Ian se alargou. De repente, Ali se perguntou se foi por isso que Spencer não tinha contado a ela sobre a festa. Talvez ela quisesse ele só para ela. Ela se colocou no campo de visão de Ian. — Ei, Eee — ela disse, chamando-o pelo apelido que sua irmã tinha usado em seu diário. Ian voltou sua atenção para Ali. Seu sorriso se alargou, e ele a olhou de cima a baixo. — E aí, Ali? Ela piscou os cílios. Ele era velho demais para ela, mas era muito divertido flertar com ele e ela não podia resistir as covinhas sensuais quando ele sorria. — Você está bebendo Dom Pérignon? — Ela apontou para o copo. Ian deu de ombros. — É champanhe, mas não tenho ideia de qual tipo. Ali olhou para Spencer. — Aparentemente, sua mãe se gaba por só servir champanhe Dom Pérignon nas festas. Parece brega, porém, você não acha? — Ela adorava alfinetar Spencer com as coisas agressivas que os pais dela diziam sobre a família Hastings. — Quem se importa se é brega, se o gosto for bom? — Ian disse. Ele ofereceu a taça a Ali. — Quer um gole? — Ian? — Melissa interrompeu do pátio, pouco antes de Ali aceitar o copo. Ela estava no parapeito, olhando para eles. Ali deu-lhe um sorriso doce, mas a expressão de Melissa não mudou. — Estou indo — Ian disse, pegando o copo de volta de Ali. Ele atirou às meninas um sorriso de despedida e disse que iria vê-las depois. Quando ele colocou o braço ao redor dos ombros de Melissa, Spencer deu um gemido pequeno e torturado.
— Alguém está tentando conseguir o namorado da irmã? — Ali brincou. O rosto de Spencer ficou vermelho. — Claro que não! Ali revirou os olhos. — Oh, por favor. Está escrito em todo o seu rosto. “Eu posso fazer qualquer coisa” — ela acrescentou em voz entrecortada. — Vem para mim, garotão. Me dê um beijão molhado. — Cala a boca! — Spencer gritou. — Você flertou com ele, também! Ali encolheu os ombros. É claro que ela flertou com ele. Havia algo em seu DNA que lhe dava vontade de flertar com todos os meninos que Spencer gostava. Ela precisava provar que ela era melhor. Na verdade, Ali e Spencer estavam fazendo uma competição esse ano para ver quem beijava mais meninos mais velhos. Spencer continuava insistindo que ela estava ganhando, mas Ali estava convencida de que ela estava trapaceando. — Não era de verdade — ela disse. — Admita que você tem uma queda por ele e eu não vou ficar brava por você não ter me contado sobre essa festa de hoje porque queria Ian só para você. — Mas eu não sabia... — Spencer começou. — Só pra constar — Ali interrompeu. — Eu acho ele lindo. Você deveria ir atrás dele. — Você acha? — Os olhos de Spencer se iluminaram. — Mesmo que ele esteja com Melissa? — Por que não? — Ali perguntou. — Vale tudo no amor e na guerra. Na verdade, ela achava meio medíocre ir atrás de um sênior, mas ela esperava que amolecer um pouco Spencer iria fazê-la confessar ainda mais. Spencer suspirou. — Tudo bem. Eu tenho uma queda por ele. Mas você não pode dizer a ninguém, ok? — Seu segredo está seguro comigo. — Ali enganchou seu braço com o de Spencer e puxou-a para uma mesa de comidas e bebidas instaladas perto da grelha. E, vejam só, havia algumas garrafas de Dom Pérignon sobre a mesa. Mas quando ela pegou uma garrafa e despejou um pouco do líquido caro em um copo, ela se deu conta: Ao admitir que ela tinha uma queda por Ian, Spencer também tinha meio que admitido que tinha escondido a festa de Ali, afinal. Vadia.
4 NUNCA CONFIE EM ALGUÉM DA CALIFÓRNIA
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or que você não foi aos Hastings na noite passada? — Ali perguntou quando subiu no BMW de Jason na manhã seguinte para a escola. Jason, que tinha olheiras sob seus olhos como se tivesse ficado sem dormir, ligou o canal da faculdade no SiriusXM. — Eu não estava a fim. — Metade da sua classe estava lá — Ali argumentou. — Foi muito divertido. — Depois que ela e Spencer se encontraram, elas dançaram com veteranos bonitos pelo resto da noite. Vários caras pediram o número dela, não que ela tivesse dado a eles. Ela ainda se sentia como se houvesse algo medíocre sobre namorar alguém muito mais velho. — Eu não estava de bom humor. — Jason lançou-lhe um olhar. — E eu não gostei de você ter ido. Ali zombou. — Melissa não se importa para onde Spencer vai. Jason se encolheu. — Não é como se eu tivesse que pular de uma ponte se Melissa pulasse primeiro. Ali cruzou e descruzou as pernas. Você teria pulado há um ano, ela queria deixar escapar. Mas ela duvidava que Jason confessasse sua paixonite por Melissa para a verdadeira Alison. Ela olhou para Jason. — Você acha que mamãe e papai estão realmente estressados por enviar você para a faculdade? — Ela suspirou. — E se eles estiverem falidos? Jason bufou. — Eles não estão falidos. Eu não acho eles estejam preocupados com isso, tampouco. — Mas eles disseram... — Ali parou, pensando no comportamento estranho dos pais deles no jantar. — Você acha que eles mentiram? Jason apertou com força os freios atrás de um Mercedes cupê, sem responder. Ali passou os dedos de um lado para o outro na correia do cinto de segurança. — E se eles estiverem pensando em se divorciar? Jason torceu a boca. — Eu acho que não... — Faz sentido. Eles não estão mais juntos. E toda aquela conversa no jantar de nos contar algo, é provavelmente isso, você não acha? — Ela torceu sua pulseira de corda em torno do pulso. — Eu não estou surpresa, na verdade. Ter uma filha como Courtney deve custar caro em um casamento. O nome Courtney pairava no ar como um mau cheiro. Ali raramente dizia seu verdadeiro nome em voz alta, e, definitivamente, nunca para Jason. Ele respirava de forma constante e uniforme, sua expressão não demonstrava nada. — Talvez — ele finalmente disse.
Eles pararam no estacionamento longo e arborizado de Rosewood Day. A escola de pedra e tijolo se elevava diante deles, dando a Ali os mesmos arrepios que ela sentiu da primeira vez que veio aqui na sexta série. Era isso que eu estava perdendo, ela pensou quando alisou as mãos sobre o blazer. Eu vou agitar esse lugar. E ela tinha conseguido, é claro. Todo mundo já conhecia ela e se submetia a ela. Ah, houveram desafios no primeiro dia: se perder a caminho para o ginásio, confundir Devon Arliss e Dara Artz — felizmente eles estavam apenas felizes por ela estar falando com eles — e flertar com Andrew Campbell, e logo depois perceber que ele era uma das pessoas mais nerds da escola. Algumas pessoas lhe deram olhares estranhos quando ela se sentou no interior da lanchonete — aparentemente todos os alunos populares sentavam fora — mas ela tinha dado conta da maioria das coisas com petulância e facilidade. No dia seguinte, porém, ela carregava o antigo diário da irmã, que ela começou a escrever sobre si mesma, como um roteiro para a vida de Ali. Jason passou pelas escolas primárias e secundárias e se dirigiu para o estacionamento da parte traseira, onde todos os veteranos estacionavam. As pessoas saíam dos carros e falavam ruidosamente. Ali abriu a porta rapidamente, assim que Jason entrou em um espaço de estacionamento, e olhou em volta procurando por Cassie e suas outras companheiras da equipe de hóquei. Mas então ela viu alguém. Hanna estava no outro lado do estacionamento com uma morena alta e magra que ela não reconhecia. — Ali! — Hanna acenou com as mãos acima da cabeça. — Aqui! Ali começou a andar, estreitando os olhos para a menina. Ela era bonita — muito bonita — e parecia que era pelo menos uma caloura. Ela estava carregando uma bolsa de franja verde-esmeralda com um logotipo da Marc Jacobs no fecho. Ali queria acreditar que era uma imitação, mas parecia verdadeira. — Ali, essa é Josie. — Havia duas manchas rosas brilhantes nas bochechas de Hanna. — E Josie, essa é Alison DiLaurentis. — Prazer em conhecê-la. — Josie estendeu a mão para ela apertar. Suas unhas estavam pintadas com uma cor cinza que Ali nunca tinha visto antes. Ela nem sabia que cinza era uma cor popular, mas parecia totalmente chique. — Eu ouvi muito sobre você. — Todo mundo já ouviu — Ali disse presunçosamente. — Mas eu não ouvi nada sobre você. — A família de Josie acabou de se mudar de Los Angeles — Hanna se intrometeu. — É tão ridículo eles terem decidido se mudar em maio. — Josie revirou os olhos. — Não poderiam ter esperado até o verão? Eu não pude ir para o meu baile da nona série, e o cara mais gostoso de lá me convidou. E eu tinha uma amiga que tinha ingressos para o Teen Choice Awards, então eu não vou poder ir, também. — Oh meu Deus, eu gostaria de ir para o Teen Choice Awards! — Hanna arfou. A cabeça de Ali girava. Los Angeles? Baile da Nona série? Teen Choice Awards? Ela se inclinou sobre o para-choque traseiro do VW Beetle de alguém. — E como você conheceu Hanna? Hanna se iluminou. — Eu a conheci ontem na Otter. — O que é isso? — Ali perguntou. — Uma loja de animal de estimação?
Pequenos sorrisos quase de pena apareceram em ambos os rostos de Hanna e Josie. — Otter é a nova boutique do shopping — Josie disse. — Meu pai é o dono. Estou trabalhando lá depois da escola alguns dias por semana. — É a melhor loja, Ali — Hanna falou entusiasmada. — As pessoas da seção de estilo da Sentinel foram lá quando eu estava lá. Eles disseram que poderiam fazer um artigo sobre ela! — Nós estamos na semana de abertura, você deveria passar lá — Josie disse, saindo do caminho quando um Volvo velho acelerou pelo estacionamento. Então, ela cutucou Hanna. — Lembra da briga que umas meninas se meteram por causa de um par de jeans Citizens? Hanna olhou para Ali. — Você teria adorado. Duas meninas viram um par de skinnies que ambas queriam, e se meteram em uma briga no vestiário. — De tão incrível que os jeans eram — Josie acrescentou. Ali limpou a garganta. — E como foi que você descobriu sobre essa loja, Hanna? — Eu li sobre ela on-line. — Hanna de repente parecia em pânico. — Eu pensei que você conhecia ela, Ali. Eu teria dito alguma coisa. — Desde quando você vai para o King James sozinha? — Ali disse em uma voz que para todo mundo poderia parecer brincalhona, mas ela sabia que iria deixar Hanna nervosa. — Eu pensei que nós sempre mandássemos mensagens umas para as outras se fôssemos. — Ela não se preocupou em dizer que ela também tinha ido ao King James ontem. Mas isso não contava — ela esteve com os pais. — Ela não ficou lá por muito tempo — Josie disse cautelosamente, dando a Ali um olhar estranho. — Isso é pessoal, coisa de melhores amigas — Ali disse firmemente. Então ela olhou para Hanna novamente. Toda essa situação estava errada. Desde quando era Hanna que recebia convites para aberturas de boutique e não contava a ela? E desde quando uma menina muito mais velha de Los Angeles escolhia Hanna como sua mais nova melhor amiga? Ok, então Hanna estava vestindo uma linda blusa de seda que Ali nunca tinha visto antes, e ela sempre sabia o que fazer com as joias — hoje, ela estava usando um monte de pulseiras de prata no braço esquerdo. Mas ela também tinha borrachas cor de rosa e roxo em seu aparelho. Havia uma espinha em sua testa e outra se formando em seu queixo. Seu blazer de Rosewood Day, o qual servia no início desse ano, estava puxado no peito e o botão da cintura não estava atacado. Ela ainda seria uma idiota se Ali não a tivesse escolhido e dado a ela um status de garota popular. Mais do que isso, ela era a idiota de Ali, e Ali não queria compartilhar ela. Ali cheirou o ar. — Hum, Hanna? — Ela olhou para as wedges amarelo-banana Marc Jacobs de Hanna. — Eu acho que tem cocô de cachorro no seu sapato. Hanna empalideceu. — Oh meu Deus. — Ela foi até o meio-fio e furiosamente raspou o calcanhar contra o concreto. Ali deu a Josie um olhar de desculpas. — Nós simplesmente não podemos levar Hanna em todos os lugares. Uma vez, quando estávamos em Philly juntas, ela literalmente caiu na calçada em uma poça de lama! Os lábios de Josie tremeram, mas ela não riu. Ela puxou sua bolsa acima do ombro. — Na verdade, eu deveria ir. Eu ainda não sei andar nesse lugar. — Você vai embora? — Hanna perguntou, voltando do meio-fio.
— Nos falamos em breve, ok? — Josie praticamente fugiu, seu rabo de cavalo saltando enquanto descia o morro. Quando ela chegou na porta, algumas meninas bonitas disseram olá para ela, e ela sorriu de volta. Hanna se encolheu miseravelmente. Ali enganchou o braço com o cotovelo dela. — Sinto muito, Han. Algumas pessoas tem muito nojo de cocô de cachorro, no entanto. Hanna colocou o lábio inferior em sua boca. — Na verdade, não tinha cocô de cachorro no meu sapato. Eu chequei. — Sério? — Ali perguntou inocentemente. Ela agarrou a mão dela e apertou com força. — Eu jurava que senti cheiro de algo, Han! Foi mal! Hanna franziu a testa, talvez sentindo o que Ali estava fazendo. Às vezes Hanna era mais esperta do que Ali dava crédito — ela percebia o comportamento manipulativo muito mais rápido do que as outras. Se Ali desse bobeira — não que isso fosse acontecer — e se Hanna se valorizasse, ela provavelmente seria uma abelha rainha decente. Mas Hanna não disse nada. Ali agarrou seu braço mais uma vez. — Além disso, eu ouvi dizer que as pessoas da Califórnia são meio estranhas. Você não quer ser amiga dela, de qualquer maneira. Ela tinha Ali, afinal, e Ali era tudo o que importava.
5 OS ROMANCES DE VERÃO SÃO SEMPRE OS MELHORES
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erminou, garotas! — A treinadora de Ali do hóquei de campo, a Sra. Schultz, gritou enquanto as duas equipes brigavam enquanto corriam na frente do campo. Mesmo que a temporada ainda estivesse longe, a Sra. Schultz gostava de juntar as meninas para praticar de vez em quando para ficar em forma para o próximo ano. Ali caminhou em direção às arquibancadas. O cheiro de grama recém-cortada fazia cócegas em suas narinas, e quando ela chegou mais perto, viu que a Sra. Schultz estava com uma jarra grande de ponche de frutas com sabor de Gatorade, o favorito dela. — Vocês desempenharam uma grande defesa — a Sra. Schultz disse quando Ali e Cassie chegaram nas arquibancadas. — Vocês vão ser uma força considerável no próximo outono. Cassie empurrou Ali. — Você vai ser a jogadora de destaque do time antes mesmo de ser uma caloura. — Isso é porque eu sou incrível! — Ali falou entusiasmada, formando um V com os braços. Mas no fundo, ela não conseguia acreditar que fazia parte da equipe. Ela mal andava na propriedade do Radley, muito menos correr nos treinos de hóquei de campo, mas assim que soube que a equipe da escola estava permitindo seletivas para juvenis para duas excelentes jogadoras secundaristas — Ali e Spencer — sua meta era se qualificar. Quando sua família mais tarde visitou o hospital e “Courtney” descobriu que Ali tinha entrado para a equipe do colégio, o rosto de “Courtney” empalideceu. Quem é a melhor Alison agora? Ali queria gritar para ela. Ali pegou um copo de plástico da pilha e se serviu de um Gatorade. Em seguida, trocou de blusa, jogou o equipamento em sua bolsa, disse adeus a Cassie e as outras, e se dirigiu para o estacionamento alternativo, onde Jason deveria estar esperando para pegá-la. Apenas um Honda Civic, um ônibus escolar aleatório, e o Ford de um guarda de segurança estavam estacionados lá com os assentos dos motoristas vazios. Ela se sentou na ponta da fonte para esperar. Duas líderes de torcida cujos nomes Ali não lembrava saíram da escola superior e se dirigiram para seus carros. Um aluno do oitavo ano, que sempre estava nos anúncios de vídeo pela manhã estava perto do mastro, falando ao celular. E de pé perto das portas da academia estavam Naomi Zeigler e Riley Wolfe. Elas ergueram os olhos e olharam para ela ao mesmo tempo, então rapidamente se viraram. O estômago de Ali revirou. Fazia um ano e meio desde que ela abandonou Naomi e Riley sem explicação, mas ela ainda se sentia desconfortável na presença delas. A princípio, as duas meninas haviam implorado o perdão de Ali pelo o que quer que elas tinham feito —
elas só queriam ser amigas novamente. Elas se ofereceram para fazer a lição de casa de Ali por um ano. Qualquer roupa do closet delas que ela gostasse, elas dariam. Elas mencionaram um lugar chamado Purple Room e algo chamado Skippies, o que era exatamente por isso que Ali se livrou delas — ela não sabia do que elas estavam falando. Elas teriam detectado ela como a Ali Falsa tão rápido que ela teria sido mandada para a Reserva em pouco tempo. Seu celular tocou, e ela pulou. Era uma mensagem de Aria: Quer vir amanhã à noite? Meus pais vão sair. Armário de bebidas, aqui vamos nós! Sim e sim! Ali escreveu de volta. Ela empurrou o celular de volta no bolso. De repente, ela sentiu olhos em suas costas de novo, e arrepios subiram em sua pele. Era Naomi e Riley? Mas quando ela se virou, era um garoto da idade dela, de pé onde as árvores se encontravam com o estacionamento. Ela não tinha ideia de onde ele tinha vindo, e ele estava olhando para ela tão intensamente que Ali ficou preocupada que ele pudesse ouvir seus pensamentos. — É Alison, não é? — ele gritou quando se aproximou. Ali semicerrou os olhos. O menino era alto e magro, do tipo físico dos caras que nadavam nado borboleta na equipe de Emily durante o ano competitivo. Ele usava uma camiseta preta apertada, shorts corte fino listrado e tênis de lona sem cadarço. Seu cabelo castanho estava para cima em picos pontiagudos, e seus olhos eram de um tom ainda mais impressionante de azul do que os dela. Tinha que ser lentes de contato coloridas. — Alison — ele repetiu quando estava mais perto. Sua voz era rouca e profunda. — Uh, é — ela disse lentamente, empurrando seu cabelo atrás da orelha. — E você é...? Ele pareceu espantado. — Você não se lembra de mim? Ali piscou. Faz um longo tempo desde que ela respondia uma pergunta como a irmã dela, e isso a fez se sentir tonta, desamparada e transparente. — Refresque a minha memória — ela disse, odiando suas palavras. — É Nick Maxwell. — Ele se sentou na beira da fonte e colocou as mãos sobre os joelhos, que eram musculosos e tinham só um pouquinho de pêlos escuros sobre eles. — Do acampamento de Ravenswood. Isso explicava por que Ali não tinha ideia de quem ele era. A irmã dela tinha ido ao acampamento de verão depois da quinta série, alguns meses antes da troca. — Claro — ela disse animadamente, esperando que soasse convincente, essa sensação de atordoamento não ia embora. — Como você está? Nick riu. — Você se esqueceu de mim. Eu acho que você escrevia coisas sobre rapazes nas paredes das cabines o tempo todo? — Eu... — Parecia que Ali tinha sido jogada em um país estrangeiro, sem qualquer conhecimento da língua. Ela havia memorizado o diário da irmã palavra por palavra, e não tinha qualquer menção de alguém chamado Nick no diário dela. Talvez ela tivesse preocupada que os pais dela lessem e manteve ele em segredo. Nick abaixou a cabeça. — Eu sinto muito, você provavelmente não sabia que eu vi o que você escreveu. — Ele bateu os dedos sobre o concreto. — Os conselheiros me fizeram lavar. Eu acho que eles pensaram que eu te obriguei a escrever ou algo assim. — Seu olhar voltou para ela, e ele sorriu em apreciação. — Talvez eu devesse ter prestado mais atenção em você naquela época, no entanto. Você realmente cresceu.
— Você deveria ter prestado mais atenção — Ali repetiu, lentamente as peças se juntando. Ali havia escrito algo desesperado em uma parede sobre um menino que ela tinha uma paixonite não correspondida? Esse cara realmente disse não? Ela se levantou e subiu a saia de hóquei de campo em suas coxas. De repente, ela realmente, realmente queria que Nick gostasse dela. Imagine dizer isso a irmã dela no hospital. Ela teria um aneurisma cerebral. — Então o que você pensa sobre o que eu escrevi? — ela balbuciou animadamente. Os olhos de Nick brilharam. — Bem, foi muito lisonjeiro, obviamente. Não é todo dia que um cara lê uma mensagem sobre o quão bom beijador ele é, especialmente quando uma garota que ele nunca tinha beijado escreveu. Eu queria saber como você soube. — Ah, eu sempre tive uma boa noção de como as pessoas vão beijar só de olhar para elas — Ali disse, olhando para os lábios dele. Eles eram rosa e em formato de arco. — Sério? — Nick sorriu. — Sim. Eles permaneceram assim por um momento, sorrindo um para o outro. Em seguida, Ali pegou a câmera. — Posso tirar uma foto sua? — Só se você me der seu número de telefone em troca — Nick disse. Ali tirou uma foto, em seguida, escreveu seu número de celular em um pedaço de papel rasgado do seu caderno de matemática. Então Nick pegou e disse apenas — Te vejo por aí, gracinha. — Quando ele se afastou dela, Ali se sentiu inquieta. Por que ele não pediu a ela para eles saírem? Ele ainda não queria ela da maneira que deveria. Ela pensou em quando recentemente tinha aprendido a hipnotizar pessoas, um jogo que a irmã mais velha de Matt tinha ensinado numa tarde. Contagem regressiva a partir de cem, toca na testa de alguém, e depois diz que ela está sob seu poder. Ali desejava poder testar agora e fazer Nick chamá-la para um encontro. Então ela viu uma figura familiar atravessar o campo de hóquei. Era Ian Thomas, usando calças cáqui e uma pólo cor kelly-green. Ele parecia uma mistura entre um garoto da fraternidade e um jogador, mas um cara gostoso era um cara gostoso. Talvez houvesse outra maneira de fazer Nick ficar sob o poder dela. Ela se colocou no caminho dele. E, como qualquer bom peão, Ian sorriu quando a viu. — Ei, Ali! — ele chamou, acenando. Ali soprou-lhe um beijo, e ele provocadoramente soprou um de volta. Ela nem precisava se virar para saber que Nick tinha parado e estava olhando. Talvez ela fosse uma melhor hipnotizadora do que pensava.
6 ALGO PODRE NO ANTIGO CELEIRO
S
ábado à tarde, Ali parou sua bicicleta na grama entre a placa de madeira grande e torta que lia-se ANTIGO ARMAZÉM e o velho Subaru azul dos pais de Aria com adesivos na traseira. Aria tinha ligado cerca de meia hora atrás — a família dela iria comprar uma mesa, e perguntou se Ali não queria se encontrar com ela. Ali não tinha nada para fazer, então ela concordou. Além disso, estava tenso dentro da casa dela — as portas continuamente se batiam, os pais dela passavam um pelo outro sem se falar, e em um momento a mãe dela atendeu quando o telefone tocou, mas não disse nada, só suspirou, e em seguida, desligou. Ali precisava sair dali. Ali abriu a porta do celeiro e piscou na escuridão. A loja de antiguidades cheirava a uma estranha mistura de mofo e limonada recentemente espremida. Uma estação antiga estava tocando no rádio, e em todos os lugares que ela se virou tinha montes de lixo. Brinquedos antigos, tapetes feios, cobertores e cadeiras que quebrariam se alguém se sentasse nelas. Mais relógios do que Ali poderia contar estavam em cada centímetro de espaço disponível do balcão. O irmão de Aria, Mike, que estava na sexta série, estava em cima de uma máquina de pinball antiga tentando fazê-la funcionar. Então ele se virou para Ali e deu-lhe um olhar longo e amoroso, assim como ele sempre dava. O irmão de Aria estava tão a fim dela — uma vez ele até mesmo tentou beijá-la em uma das festas de pijama de Aria. — Aí está você — Aria disse, tocando no ombro de Ali. Ali se virou e analisou sua amiga. Parecia que as listras cor de rosa do cabelo de Aria se multiplicavam, e ela usava brincos de penas longas que roçavam nos ombros. Debaixo do outro braço estava seu porco de pelúcia, Pigtunia, que seu pai tinha trazido da Alemanha pra ela. — Só bebês carregam bichos de pelúcia — Ali repreendeu. Aria se virou e deu de ombros, segurando o porco e fazendo oink. — Pigtunia queria passear. Por que eu diria não? Porque ela é um bicho de pelúcia? Às vezes Aria era uma aberração e tanto. — Ei. — Aria tocou em um abajur estilo Tiffany da mesa com o focinho de Pigtunia. — O que você acha? Essas coisas não são bem caras? E veja, está apenas por 25 dólares! Ali bufou. — Eu tenho certeza que é uma imitação. — Aqui era a Main Line, afinal. Até mesmo os proprietários de lojas de sucatas sabiam que um abajur verdadeiro da Tiffany valia muito. Mais à frente, o Sr. Montgomery, que Aria chamava de Byron, virou-se para uma pequena mesa redonda com ladrilho na parte superior. — Que tal essa?
A Sra. Montgomery — Ella — bufou. — Não vai caber nós quatro. Ou essa é a intenção? — O que isso quer dizer? — O Sr. Montgomery exigiu, cruzando os braços sobre o peito. Seu blazer de lã tinha um buraco no cotovelo. A Sra. Montgomery empurrou uma mecha do seu cabelo castanho atrás da orelha. — Esqueça. — Eu não quero esquecer. — O pai de Aria guiou a sua esposa até um canto. Eles falavam sussurrando. Mike ergueu os olhos da máquina de pinball com o cenho franzido. Ali se virou para Aria. — O que está acontecendo com seus pais? Aria encolheu os ombros. — Eles sempre ficam assim quando compram antiguidades. Pela forma que a garganta de Aria balançou quando ela engoliu, Ali sabia que tinha tocado em um assunto doloroso. Mas você tinha que ser cego para não perceber que a relação dos pais de Aria tinha mudado. Na sexta série, o Sr. e a Sra. Montgomery falavam francês na mesa de jantar quando queriam dizer coisas românticas na frente dos filhos. Esses dias, eles mal jantavam ao mesmo tempo. E uma vez, não muito tempo atrás, quando Ali tinha dormido na casa de Aria, ela tinha se levantado no meio da noite para usar o banheiro e notou que a mãe de Aria estava dormindo no quarto de hóspedes. Aria disse que era porque seu pai roncava, mas a casa tinha estado muito quieta naquela noite. Ali queria que Aria confidenciasse que estava preocupada — talvez se Aria dissesse, Ali poderia se abrir sobre suas próprias preocupações familiares. Mas Aria não agia dessa forma. Enquanto as outras meninas tinham suas próprias razões para falar delas mesmas para Ali, contar seus segredos se ela só perguntasse como foi o dia delas, era difícil conseguir que Aria se abrisse. Na verdade, Ali não tinha certeza às vezes do por que Aria não acabava com a amizade. Claro, ela gostava de ser parte de um grupo, mas muitas vezes ela mantinha Ali distante, mantendo seus sentimentos guardados. Às vezes, isso fazia Ali disputar seu carinho e atenção ainda mais. Outras vezes, isso só a irritava. De repente, Ali viu algo em uma das mesas. Um antigo espelho de bolso de prata com gravuras delicadas no cabo, a parte traseira estava encostada ao lado de uma pilha de livros. Os médicos usavam um espelho muito semelhante durante as sessões de grupo do Radley. Ela fechou os olhos, uma memória veio à tona. A Senhorita Anna, a psicóloga, tinha passado o espelho ao redor para cada menina compartilhar com o grupo olhando para ele o que ela mais queria ser. A maioria das garotas diziam respostas melosas: Eu quero ser forte; Eu quero ser melhor; Eu quero ser feliz. Mas Ali olhou para seu reflexo, suas características correspondentes a da irmã. Ela não tinha dito que queria ser sua irmã, porém, como a maioria das pessoas do hospital teria pensado. Ela disse, Eu quero ser livre. Ela colocou o espelho na bolsa e se afastou. — Esse lugar cheira ao porão da minha avó — ela disse, agarrando o braço de Aria e conduzindo-a para fora da porta. — Vamos lá para fora. Elas desviaram através das pilhas de cestos de vime e em torno de uma desnatadeira de madeira e saíram para o sol da tarde. O ar cheirava a lilases. Um cavalo relinchou em uma pastagem. Apesar do cenário sossegado, Ali de repente sentiu o arrepio familiar em sua coluna. Um carro passou, e quando ela olhou pelo para-brisa, o rosto carrancudo de Melissa Hastings olhou de volta. Ali se encolheu. Elas não estavam muito longe do bairro delas, mas
essa era uma estrada secundária, não um caminho que Melissa teria muita razão para atravessar. Em seguida, Ali viu dois caras saírem da enorme casa de estilo colonial abaixo do caminho do celeiro. — Esse é Noel Kahn? — ela perguntou. Aria se virou. Ambas observaram quando Noel e um cara que elas não conheciam pegou uma bola de basquete da grama e atirou no aro da enorme garagem circular. — Vamos — Ali disse, começando a atravessar o estacionamento. — Vamos falar com eles. — Espere! — Aria gritou, agarrando o braço dela. — Como eu estou? Ali analisou Aria, de seu cabelo colorido até sua sombra de olhos azul brilhante para o top hippie com estampa de curvas que exibia seus braços magros e peitos grandes-para-asétima-série. — Você está ótima — ela disse. — Mas deixe o porco, ok? Aria prendeu Pigtunia no teto do carro de seus pais, e então ela e Ali começaram a andar. Os meninos olharam para cima quando as viram chegando. O cabelo castanho de Noel estava despenteado, e havia uma mancha de sujeira em seu rosto. Ele e o outro cara, que tinha cabelos loiros encaracolados, sardas e bochechas angelicais apertáveis, usavam camiseta sem mangas, shorts compridos de malha e tênis branco que pareciam enormes em seus pés. — Ei, Ali. Ei, Aria — Noel disse. Aria agarrou a mão de Ali. Ele sabe o meu nome! o aperto dizia. É claro que ele sabe, Ali queria dizer a ela. Ela só apresentou eles umas seis milhões de vezes. — Ei, Noel — Ali disse. Então ela olhou para Bochechas Angelicais. — Quem é o seu amigo? O cara deu um passo adiante. — Mason Byers. Acabei de me mudar para cá de Atlanta. — Ele vai entrar no time de lacrosse do próximo ano — Noel disse. — O treinador me pediu para dar uma volta com ele. — Ele apontou para o outro lado da rua. — Vocês gostam de antiguidades? — Meus pais gostam — Aria disse, revirando os olhos. — Eles são obcecados por coisas antigas. — Que legal. — Noel desviou seus olhos verdes para Aria. — Meus pais também. Meu pai coleciona miniaturas de navios. Elas estão tomando conta do escritório dele. — Meu pai é obsecado por livros — Aria admitiu, brincando com seu piercing falso de nariz. — Às vezes ele vai nos mercados de pulga e traz uma caixa inteira deles, procurando por um que seja valioso. Minha mãe quer matá-lo a maior parte do tempo por não termos espaço para todos eles. — Os mercados de pulga podem ser muito legais — Noel disse. — Uma vez eu encontrei uma incrível placa de néon de cerveja em Bryn Mawr. Ali bufou. — Noel, quando você foi a um mercado de pulgas? — A família de Noel era uma das mais ricas de Rosewood. Noel deu uma cotovelada brincalhona em Ali. — Eu já fui em vários. E se você não estiver interessada, quando Aria e eu formos a um mercado de pulgas, você não tem que vir. Ali revirou os olhos. — Como se eu quisesse.
Um beep alto soou do outro lado da estrada. Os pais de Aria estavam tentando encaixar uma mesa redonda com pernas ornamentadas na parte de trás do Subaru. A mesa caiu no chão com um clonk, e o Sr. e a Sra. Montgomery começaram a discutir. Uma expressão infeliz cruzou o rosto de Aria. — Nós deveríamos voltar. — Boa sorte com a mesa — Noel disse. — Prazer em te conhecer — Ali disse a Mason enquanto elas se afastavam. Quando os meninos voltaram a jogar basquete e elas estavam fora do alcance da voz, Aria agarrou o braço de Ali animadamente. — Oh meu Deus, ele quer ir para um mercado de pulgas comigo! Ali bufou. — Ele não disse exatamente isso. — Mesmo assim, correu tudo bem, você não acha? Ali olhou para a amiga. Os olhos de Aria estavam brilhando, quase girando, ela estava tão animada. Por alguma razão, isso a incomodava. Não era como se Noel realmente quisesse sair com Aria quando ele tinha alguém como Ali como opção. Ele estava apenas sendo simpático, provavelmente porque Aria era a melhor amiga de Ali. De repente, o celular dela tocou. Oi, gracinha, dizia uma mensagem de um número com o prefixo 610. Ela franziu o cenho. Quem é? ela escreveu de volta. Você esqueceu de mim de novo? veio a resposta. É Nick do acampamento. O coração de Ali saltou pela boca. Finalmente! Ela estava esperando pela mensagem de Nick. Minha memória está voltando, ela escreveu. Eu só queria dizer oi, Nick respondeu. Tenho que ir. Ali deslizou o celular de volta no bolso, sentindo-se triunfante. Ela sabia que deixar ele com ciúmes funcionaria perfeitamente. Ela olhou para Aria, de repente se sentindo mais generosa — Eu acho que realmente correu tudo bem — ela disse. No momento em que as meninas foram para o outro lado da rua, os pais Montgomerys haviam conseguido colocar a mesa no carro. Havia olhares furiosos em seus rostos, mas eles se endireitaram quando viram as meninas. A Sra. Montgomery abriu a porta e jogou a bolsa no lugar dos pés. — Vamos, Aria. É melhor a gente ir. — Ela olhou para Ali, em seguida, para a bicicleta de Ali, depois para Mike, que já tinha subido na parte de trás e estava com o corpo contorcido para acomodar a mesa grande. — Eu lhe ofereceria uma carona para casa, Ali, mas eu acho que não tem espaço. — Está tudo bem, eu não me importo de pedalar — Ali respondeu. Então ela olhou para Aria, que tinha pego Pigtunia do teto e estava embalando-a em seus braços. — Ainda está de pé hoje à noite? Aria olhou para seus pais, que estavam sentados nos bancos da frente do carro, olhando para a frente. Sua garganta doeu quando ela engoliu. — Hum, eu realmente acho que meus pais não vão sair. — Oh. — Ali encolheu os ombros. — Tudo bem. Nós não temos que... — Ela gesticulou com a boca a palavra bebida.
— Na verdade... — Aria girou sua pulseira azul de corda em volta do pulso, em seguida, olhou com cautela para seus pais. — Não é uma boa noite para você ir. Ali deu um passo para trás. — Por quê? — Aria olhou para seus pés, sem responder. — Está acontecendo alguma coisa com seus pais? — Ali exigiu. Aria pareceu magoada, quase como se Ali a tivesse esbofeteado. Eu só estou tentando ser legal! Ali quase protestou, mas Aria entrou no carro antes que ela pudesse dizer. — Eu te ligo mais tarde, ok? Sinto muito. Aria fechou a porta, deixando Ali de pé ao lado do carro com os braços estupidamente dos lados. Ali olhou para os adesivos do para-choque traseiro do carro enquanto o carro se afastava. PATERNIDADE PLANEJADA. VISUALIZE WHIRLED PEAS4. Um peixe de Darwin. Aria nem sequer olhou para fora da janela para acenar um adeus. Ali começou a andar quando o carro saiu do estacionamento. Quando colocou a mão em sua bolsa, seus dedos se fecharam em algo familiar. O espelho de prata. Ela puxou-o para fora e olhou para o espelho. Por um momento, ela não reconheceu a menina olhando de volta — ela parecia triste, desolada, confusa. Nem um pouco parecida com ela mesma.
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Visualize Whirled Peas (Visualize Ervilhas Girando): Um trocadilho de Visualize World Peace (Visualize a Paz Mundial).
7 TANTO TRABALHO PARA SER UMA CASAMENTEIRA
A
lgumas horas mais tarde, Ali e Emily estavam em um longo sofá L de couro na sala de estar de Ali. Ali estava folheando temas de baile da Teen Vogue, CosmoGirl e Seventeen, e Emily estava folheando um exemplar com orelhas de burro do Horóscopo de Aniversário, que ela parecia nunca se cansar. My Super Sweet 16 da MTV soava no fundo, e a casa cheirava a frango assado e espiga de milho que a Sra. DiLaurentis estava preparando para o jantar. Jason pisava no andar de cima, batendo as gavetas de sua cômoda e abrindo e fechando a porta do guarda-roupa. Uma música melancólica de rock cantarolava através do teto. — Todas essas garotas estão medonhas usando verde menta — Ali declarou quando virou uma página de uma divulgação de moda de vestidos de baile. — Qualquer vestido com o mesmo tom de uma bola de sorvete não é sexy. Emily colocou o livro de aniversário sobre a poltrona. A coluna estava tão gasta que as páginas ficavam espalhadas abertas sem precisar de ajuda. Emily estava lendo o de 6 de junho, o aniversário de Ali, pela, provavelmente, bilionésima vez. — Eu acho que você ficaria muito bem em verde menta — ela decidiu, depois de analisar a foto do vestido. — Isso é porque eu fico bem em qualquer cor — Ali disse, meio brincando. — Você fica mesmo — Emily disse com sinceridade, e Ali queria abraçá-la. Emily sempre foi boa para levantar o astral. Após Aria ter misteriosamente cancelado, Ali tinha ligado para Emily perguntando se ela queria vir aqui ao invés. Naturalmente, Emily tinha lhe dado um sim enfático. Emily rabiscou uma imagem de uma menina em um vestido de baile na capa de um de seus cadernos. Em vez de ter um diário, Emily exibia seus pensamentos, gostos e desgostos com rabiscos em seus cadernos: Nesse em particular, ela escreveu o nome do seu nadador favorito, Michael Phelps, em letras bolha; uma imagem do tubarão mascote de Rosewood Day com o hidrocor azul Sharpie; e o nome em caligrafia de Ali, Spencer, Aria e Hanna, seguido pelas letras BFF. O ar condicionado soprou novamente, balançando as cortinas da janela da sacada. Ali se levantou e empurrou as cortinas para trás, revelando a visão da casa dos Cavanaughs do outro lado da rua. Tinha sido por essa janela que Toby Cavanaugh havia espionado elas no ano passado na noite que tudo aconteceu. Emily deve ter pensado a mesma coisa, porque ela limpou sua garganta. — Eu acho que eu vi Jenna hoje. Talvez ela esteja estudando em casa. — Eu a vi, também — Ali disse.
Emily girou a caneta entre os dedos. — Você... pensa sobre ela? — Na verdade, não — Ali mentiu. — Você acha estranho Toby confessar algo que ele não fez? Ali fechou as cortinas. — Foi ele sim, Em. Fim da história. — Mas... — Fim. Da. História. — Ali apontou para o bracelete de corda em ambos os pulsos delas. Havia um monte de coisas que ela tinha considerado dizer a Emily desde aquela noite. O que ela tinha visto pouco antes dos fogos de artifício explodirem. A discussão que ela teve com Jenna, mesmo antes daquela noite. Mas ela tinha mentido durante tanto tempo que ela não poderia recomeçar agora. E de qualquer modo, a verdade não mudaria o que tinha acontecido. Ela puxou o rabo de cavalo de Emily. — Estou tão feliz por você poder vir hoje à noite, Em. — Eu também. — Emily abaixou a cabeça timidamente. — Nós não tivemos uma noite sozinha desde fevereiro. Ali sorriu. — É claro que você fica de olho nessas coisas. — Emily era como a secretária de amizade, sabendo exatamente quantos minutos elas passavam juntas. Às vezes, ela anunciava que elas tinham sido amigas por 213 dias, ou que elas passaram 400 minutos no celular na semana passada, ou que elas trocaram 67 e-mails ou que tinham escrito 190 mensagens, ou que elas tinham compartilhado 14 segredos. Emily parecia preocupada. — Isso é estranho? — Não. — Ali abraçou um travesseiro. — Bem, talvez estranho de uma forma fofa. — Se as outras estivessem aqui, Ali poderia ter implicado um pouco mais com Emily por causa disso, mas quando era apenas as duas, ela poderia dizer a ela o que ela realmente pensava. Quando Ali estava com Emily e só Emily, ser tão certinha e perfeita não importava tanto. Soaram passos no corredor, e as meninas olharam para cima. A Sra. DiLaurentis surgiu na cozinha em um vestido de verão com uma caderneta fina de couro em suas mãos. Ela parou quando viu Ali e Emily na sala de estar. — Eu pensei que vocês iriam para o shopping — ela falou abruptamente, escondendo a caderneta atrás das costas. Ali inclinou a cabeça. — Nós não dissemos isso. — Oh. — A Sra. DiLaurentis parecia confusa. — Bem. Não fiquem até muito tarde, ok? A porta da garagem bateu. Ali esperou o motor do Mercedes de sua mãe ligar, mas isso não aconteceu. Ela estava meio tentada a ir até a garagem e ver se ela estava sentada em seu carro, falando ao celular — ela fazia isso algumas vezes. Bizarro. Bzz. O celular de Ali vibrou em seu bolso traseiro. Ela tinha recebido uma nova mensagem de Nick. Ei, gracinha, dizia. Escrevendo alguma coisa sobre alguém em uma parede de cabine ultimamente? O estômago de Ali revirou, e ela soltou um grito feliz. Desculpe, ainda não encontrei nenhum bom beijador, ela respondeu. — Pra quem você está mandando mensagem? — Emily espiou o celular de Ali do sofá. Ali escondeu o celular. — Alguém do hóquei. — Ela não queria dividir Nick ainda. Era bom manter isso em segredo até que ela tivesse certeza de que algo estava acontecendo entre
eles. Além disso, Emily provavelmente iria criticá-la por superar Matt rapidamente, quebrando o coração dele. Emily era uma molenga. Ela olhou para Emily, analisando seu cabelo longo loiro-morango, olhos claros e rosto bonito e sardento. — Nós precisamos encontrar um namorado para você, Em. Emily parecia assustada. — Precisamos? — Dã! Você ainda não teve um primeiro beijo! — Ela bateu palmas. — Eu acho que eu posso ter encontrado alguém perfeito para você. Ele acabou de se mudar para Rosewood, o nome dele é Mason Byers. Ele está jogando no time de lacrosse, então ele é atleta também. E ele parece realmente fofo, Em, ele é de algum lugar do sul. Eu aposto que você vai gostar dele. — Ela se levantou, ficando cada vez mais animada. — Eu poderia ligar para Noel agora e pedir o número dele. Ele é superfofo, Em, ele também tem sardas. Emily lentamente colocou o lábio inferior em sua boca. — Eu não estou interessada. Ali colocou as mãos nos quadris. — Você não conheceu ele ainda. E ele não é um aperta-bunda, eu prometo. — Uma vez, em uma festa na casa de Noel Kahn no início desse ano, um aluno do oitavo ano tinha apertado com força a bunda de Emily, dando-lhe uma piscadela brincalhona quando ela se virou para encará-lo. Emily contou essa história para Ali com horror, não percebendo que ela deveria ter levado isso como um elogio. A expressão de Emily ainda não mudou. Intrigada, Ali subiu ao seu lado no sofá. — O que está realmente acontecendo? — ela exigiu. Emily olhou para as unhas recém-pintadas. — Eu meio que gosto de outra pessoa. — Sério? — Ali tocou no joelho de Emily. — Quem? Os olhos de Emily se lançaram de um lado para o outro. — Eu não posso te dizer. Ali começou a rir. Ela sabia tudo sobre Emily, até mesmo as coisas vergonhosas: que ela tinha menstruado aos onze anos, que ela fez xixi na cama em uma festa do pijama de natação na quarta série, que ela acidentalmente roçou a ereção de um menino mais velho durante a prática de natação e se escondeu no vestiário pelo resto do treino, apavorada de que ele tivesse pensado que tinha sido de propósito. — É alguém realmente embaraçoso? — Ali incitou. — Alguém fora dos limites? Quem quer que seja, você pode me dizer, Em. Eu não vou dizer a ninguém, eu prometo. Emily pegou uma revista e abriu numa página aleatória. — Esses sapatos são bonitos, você não acha? — Quem quer que seja, eu poderia te ajudar a fazer gostar de você. Sério. Só me diga, ok? — Então ela encostou a cabeça no ombro de Emily. — Eu não sou a sua melhor amiga? Emily enrijeceu sob o peso da cabeça de Ali. Depois de um momento, ela se afastou e levantou-se do sofá. — Eu acabei de me lembrar — ela falou abruptamente, procurando pela bolsa de pernoite e enfiando as calças de pijama e a bolsa de maquiagem que ela tinha tirado do chão. — Eu tenho que fazer uma coisa para a minha mãe. — Agora? — Uhum. Eu esqueci. — Emily atirou a bolsa no braço e correu através da cozinha. Ela enfiou os pés em seus sapatos, que estavam na porta da frente, sem sequer amarrá-los. Ela olhou para Ali, que ainda estava no sofá. — Até mais. — Emily!
Mas a porta se fechou, fazendo as jarras e panelas penduradas na ilha da cozinha tinirem juntas fracamente. Ali piscou com força no silêncio. O que diabos aconteceu? Ela levantou-se e caminhou até a cozinha, abrindo com força a geladeira, mas não tirando nada. Um calendário de cão da parede chamou sua atenção, e ela olhou para o quadrado que representava 31 de maio. Ela e Emily poderiam não ter tido nenhum momento a sós desde fevereiro, mas fazia muito, muito mais tempo do que isso que Ali tinha realmente passado uma noite de sábado sozinha.
8 TERAPIA EM FAMÍLIA, ISSO NÃO
N
a manhã de domingo, Ali, Jason e os pais DiLaurentis pararam em uma placa familiar apontando para uma estrada isolada ladeada por árvores altas e grossas. A RESERVA ADDISON-STEVENS, lia-se nas letras de caligrafia. O Sr. DiLaurentis ligou a seta e se dirigiu para a estrada. — Essas árvores brancas são bizarras — Ali resmungou, olhando pela janela para as bétulas da floresta, os seus galhos albinos estavam torcidos e enrolados sobre a estrada. — Elas me lembram das pessoas desse lugar. A mãe dela fez uma careta para ela no espelho retrovisor, mas Ali fingiu não notar, gastando uma quantidade exagerada de esmalte de unhas. A mãe dela odiava o cheiro, mas Ali queria puni-la. Essa manhã, depois que ela acordou e tomou banho, a mãe dela entrou em seu quarto sem bater e se sentou em sua cama. — Você vai visitar sua irmã no hospital hoje. — Não, eu não vou. — Ali tinha forçado lágrimas nos olhos. — É muito difícil para mim, mãe. Eu tenho pesadelos toda vez que vou lá. Por alguma razão, a atuação de pena não estava funcionando. — Se você não for, você não vai poder ir para a festa do pijama do fim da sétima série com suas amigas — a Sra. DiLaurentis proclamou. A boca de Ali escancarou. — Você não pode dizer o que eu posso e o que eu não posso fazer! A Sra. DiLaurentis ficou de pé. — Eu sou sua mãe, claro que eu posso — ela disse com firmeza. — Ela é sua irmã, Alison. Eu sei que vocês duas não se davam bem, mas você tem que superar isso e tentar ser simpática. Você já pensou mais sobre a terapeuta que eu recomendei? Ali caiu sobre a cama e cobriu a cabeça com um travesseiro. De vez em quando, sua mãe mencionava uma terapeuta local, dizendo que poderia ajudá-la a lidar com seus problemas com sua irmã gêmea. Mas o que a mãe dela não sabia era que ela tinha ido a terapeutas durante anos — e eles nunca tinham sido capazes de resolver esse problema. Agora ela estava presa no carro. Quanto mais perto eles chegavam do hospital, o nó em seu estômago apertava mais firmemente. Quando o pai dela continuou a dirigir, o celular de Ali tocou. Ela pensou que poderia ser uma mensagem de Nick — eles tinham trocado mensagens a manhã inteira, e ela tinha certeza de que ele estava perto de convidá-la para sair. Mas era de Emily, ao invés. Eu sinto muito por ontem à noite. Onde você está? Podemos conversar agora?
Ali olhou para o edifício à distância. O hospital era uma grande mansão branca com colunas impressionantes, parecendo mais a casa de alguém do que uma instituição mental. Uma enfermeira e um paciente estavam mancando pelo caminho. Outro paciente estava sentado em um banco, apenas olhando. Uma ambulância estava estacionada em uma garagem lateral, esperando um desastre. Não posso agora, ela escreveu, então desligou o celular. Ela tinha começado a entender por que seus pais mantiveram o segredo da segunda gêmea todos esses anos: Havia definitivamente um estigma em ter uma filha ou irmã em um hospício. As pessoas poderiam supor que os DiLaurentis eram pais ruins por colocá-la lá. Ou talvez eles assumissem que o resto da família também era louca. Seu coração batia mais rápido quando abriram a porta de entrada e eles deram seus nomes a um homem usando marrom com um walkie-talkie. Eles circularam a entrada da garagem e passaram as topiarias obsessivamente bem cuidadas e os pacientes de olhos vidrados no gramado. Por um momento, Ali pensou ter reconhecido um deles do Radley, uma garota que costumava gritar na cama por horas seguidas, mas ela não tinha certeza. Eles pararam no estacionamento dos visitantes e saíram. Ali ficou atrás do seu irmão e seus pais, olhando para os nomes nas placas dos antigos pacientes que haviam morrido que estavam ao lado das árvores e bancos. NELLY PETERSON. THOMAS RYDER. GRACE HARTLEY. Essa era outra coisa que as pessoas diziam sobre a Reserva: A taxa de suicídio era preocupante. As pessoas deveriam ter pensado que a morte era uma opção melhor do que ficar preso aqui. O lobby tinha piso de mármore, uma grande fonte no centro e sofás brancos modernos. Depois de dar o nome deles a uma recepcionista usando jaleco, eles passaram pela enfermaria dos pacientes, que era significantemente mais decadente e mais velha do que o lobby e o exterior. Eles entraram na sala de visitas, que era grande e clara com várias janelas grandes, sofás gastos empurrados contra as paredes e uma televisão velha reproduzindo um filme que Ali não reconheceu. A sala cheirava a antisséptico e macarrão com queijo. Uma enfermeira ouvia fones de ouvido sentada perto de uma janela no canto. Uma mulher, que Ali tinha quase certeza que era uma psiquiatra, estava conversando com uma garota desanimada com cabelo loiro claro perto de uma estante cheia de jogos de tabuleiro. Então, a porta se abriu, e uma menina familiar entrou na sala. Ali prendeu a respiração. O cabelo loiro de sua irmã estava enxuto e enrolado perfeitamente. Sua pele parecia impecável, apesar da comida do hospital nojenta que ela sem dúvida comia, e os peitos dela ainda eram um pouquinho maiores e sua cintura um pouquinho menor do que a de Ali. Brincos de ouro pendiam de suas orelhas, e ela usava batom rosa cintilante. — Olá, pessoal — sua irmã gêmea gorjeou agradavelmente, dando a seus pais um beijinho na bochecha e apertando o braço de Jason. Só quando ela se virou para Ali sua expressão mudou um pouco. Fúria queimava em seus olhos. Todos se sentaram em um dos sofás xadrezes perto da TV. A Sra. DiLaurentis se virou e pegou Cocas para todos da máquina de venda automática. Ela ofereceu a suas filhas CocaCola Diet, parecendo orgulhosa de si mesma. — Eu percebi que vocês garotas não querem açúcar de verdade.
Ali franziu o nariz. — Eu não bebo Coca Diet, tampouco. Ninguém da escola toma. A Sra. DiLaurentis parecia envergonhada. — Mas eu comprei para você uma caixa inteira no mês passado. — Mas isso foi antes de eu ler que açúcar falso é como gordura. — Ali empurrou a lata para longe. — Eu fiz todo mundo da escola beber água Vitamin ao invés. “Courtney” bufou. — É divertido criar tendências, não é, Ali? Ali se encolheu. Não muito tempo atrás, você não era a garota que criava tendências, sua irmã realmente quis dizer. Você não era nada. — Claro que é — ela disse confiante. — Além disso, eu acho que é muito mais saudável. De repente, a menina desesperada que estava falando com a terapeuta no canto deu um pulo no sofá e envolveu a irmã de Ali em um grande abraço. — C! — ela gritou. — Ei, eu mesma — “Courtney” disse, envolvendo o braço em torno do ombro da menina. — Pessoal, essa é Iris, minha colega de quarto. E Iris, esse é Jason, mamãe e papai, e minha irmã. — Ela olhou diretamente para Ali. — Alison. Iris voltou seus olhos azul-gelo para Ali. — Então você é a famosa Alison. Eu já ouvi falar muito sobre você. Ali devolveu a Iris um sorriso igualmente perverso. — Não acredite em tudo o que você ouve. Eu não sou tão maravilhosa quanto Courtney diz. — Ah, Courtney diz mesmo que você é maravilhosa. — Iris não piscou. — Mas ela é bem legal, também. Nós nos divertimos muito aqui. Terça-feira é o nosso dia de spa de pé, não é, C? E quinta-feira tem yoga! — Que bom! — A Sra. DiLaurentis bateu palmas. Ali estreitou os olhos. — Vocês têm spa aqui? E yoga? — O Radley não tinha um desses. — Uhum. — O sorriso de Iris mostrou todos os seus dentes. — Você está com inveja, não é? Eu aposto que você também queria estar aqui. Ali se encolheu, um arrepio passou por sua espinha. Sua irmã tinha contado tudo a essa menina. E Iris claramente acreditou. Iris se levantou. — Bem, eu vou deixar vocês colocarem os assuntos em dia. — Ela abanou os dedos para a família e se afastou, seu jeans pendurados abaixo de seus quadris magros. A Sra. DiLaurentis colocou sua Coca-Cola na mesa de café. — Ela parece... legal. — Ela é um esqueleto — Jason murmurou. — Ela é muito legal. — “Courtney” brincou com seus brincos. — Ela está aqui por causa de transtornos alimentares. Mas eu acho que ela está bem melhor, ela vai embora na quarta-feira. Quem sabe quem vai ser a minha próxima colega de quarto. Eu gostava da minha colega de quarto antes dela, também, o nome dela era Tabitha. Mas eu acho que não posso ser sortuda três vezes. — Então, como são as suas aulas? — o Sr. DiLaurentis perguntou. Todos da Reserva tinham um professor particular que ajudavam a continuar o ritmo do grau. — Elas estão indo muito bem — “Courtney” respondeu com entusiasmo. — Eu definitivamente arrasei em Inglês. Em Geometria também. Eu não tenho certeza em relação à
História e Ciências. — Seu rosto se animou. — Mas eu tive muita ajuda. Um amigo meu, Tripp, tem me ensinado. Ele é incrível. A Sra. DiLaurentis trocou um olhar surpreso com seu marido, que parecia tão chocado quanto. — Isso é tão bom! — ela gorjeou. — Tripp está aqui? “Courtney” balançou a cabeça. — Ele estava. Mas ele foi transferido para outro lugar. — Ela passou o dedo em um buraco da mesa. — É um saco, mas trocamos um monte de emails. Ela parou e olhou para seu colo. Os DiLaurentis trocaram um olhar acusatório que Ali não conseguiu decifrar. — Você parece muito mais feliz — a Sra. DiLaurentis disse. — Eu estou me sentindo muito bem — “Courtney” disse. — Eu acho que são os medicamentos novos que estão me dando. — E suas enfermeiras disseram que você tem sido muito cooperativa — o Sr. DiLaurentis acrescentou. — Eles são muito bons comigo — “Courtney” disse. — Todos eles trabalham tanto. Ali virou a cabeça e revirou os olhos. Qual o motivo da atuação doce-como-torta? E por que sua irmã gêmea estava agindo tão normal? Normalmente, quando eles vinham aqui, “Courtney” era hostil e agressiva, mal falando com qualquer um deles. — Na verdade, tem me feito tão bem eles estarem me dando permissão para sair do campus de vez em quando — “Courtney” acrescentou. Ali se encolheu. — Sozinha? — Não. — Sua irmã sorriu docemente. — Com um acompanhante. — Meu Deus! — A Sra. DiLaurentis sorriu. — Você deve estar melhorando. Ali puxou com tanta força um fio solto do sofá estofado que eles estavam sentados que uma linha inteira apareceu em suas mãos. Que lunáticos permitiram que a irmã dela saísse do campus? Eles não percebiam do que ela era capaz de fazer? Depois de um momento, uma enfermeira bateu no ombro da Sra. DiLaurentis para dizer que a sessão de grupo de Courtney iria começar em breve. Todo mundo se abraçou, Ali rangeu os dentes quando colocou os braços em volta dos ombros da irmã. Em seguida, sua irmã gêmea desapareceu estranhamente alegre da sala de visitas. Ali pediu licença para ir ao banheiro — ela se sentia tonta e precisava de alguns segundos a sós. Ela empurrou a porta do banheiro das visitas do hall de entrada, franzindo o nariz ao sentir o cheiro picante de água sanitária e o círculo de ferrugem em torno de uma das pias. Então a porta se abriu de novo, e duas garotas entraram. Uma delas era Iris. A outra era sua irmã gêmea. — O-oi? — Ali gaguejou. — Você não tem terapia de grupo? — Oh, não se preocupe com isso, mana — “Courtney” zombou, olhando para Iris. A colega de quarto marchou até a porta e ficou de guarda na frente dela com seus braços magros cruzados sobre o peito. O coração de Ali começou a acelerar. Ela olhou para a porta que Iris estava de guarda. — A mamãe vai procurar por mim em breve. — Ah, isso não vai demorar muito — “Courtney” deu um sorriso forçado, aproximando-se.
Ali se encolheu. Todos os tipos de cenários horríveis passaram pela mente dela. Ela viu a irmã dela saltando sobre ela na cama quando ela tinha sete anos de idade, obrigando-a a fazer o que ela pediu. Se você não fizer, você vai se arrepender. Ela imaginou sua irmã empurrando-a em um closet e amarrando seus pulsos com uma corda elástica. Ela se lembrou dela arrancando a cabeça de sua boneca favorita, a única coisa que sua avó tinha lhe dado. E então ela se viu prendendo sua irmã no chão, os olhos dela cheios de alegria quando ela gritou por ajuda. Sua irmã gêmea tinha armado para ela diversas vezes. — Eu só quero te dizer uma coisa, ok? — A irmã de Ali estava tão perto dela que Ali conseguia ver os poros de seu rosto e o contorno brilhante da sombra de olho em suas pálpebras. — Eu sei o que você esteve fazendo. E logo, logo, eu vou acabar com você. Parecia que ela tinha acabado de enfiar uma estaca fria no peito de Ali. — Por favor, não me prenda de novo — ela falou sem pensar, virando para longe do rosto de sua irmã. Então ela suspirou, percebendo o que tinha acabado de admitir. Após a troca, ela prometeu nunca, nunca revelar o que tinha acontecido a ninguém, nem mesmo a menina cuja identidade ela roubou. “Courtney” sorriu sordidamente, surpresa com o que ela disse, também. Ela estendeu a mão e agarrou o dedo de Ali, tocando o anel de prata com um A redondo no centro. — Seu tempo está se esgotando, Ali — ela zombou, soltando o dedo de Ali e passando por ela em direção à saída. — Diga adeus.
9 TUDO DESMORONANDO
-V
ocê está indo bem, Alison! — Mark Hadley, um aluno do oitavo ano, falou quando Ali passou por ele na pista no final da tarde. — Posso correr com você? — Brian Diaz gritou em seguida. Ali lançou um sorriso brilhante para eles por cima do ombro, mas ela não parou. As linhas vermelhas da pista estavam embaçadas debaixo dela. Ela sacudiu os braços com força, flexionou suas pernas e passou zunindo pelas arquibancadas, tentando limpar seus pensamentos. Essa era a sua quinta volta, e ela decidiu correr até conseguir tirar a memória do que tinha acontecido no hospital da sua mente. Havia apenas um problema: A imagem do rosto zombeteiro da sua irmã estava marcado em sua mente. Ela considerou contar a seus pais o que sua irmã tinha dito a ela no banheiro, mas ela resolveu não contar. A Sra. DiLaurentis perguntaria a Ali verdadeira a verdade. Mesmo que a Ali verdadeira alegasse Eu sou Alison, eu sou Alison continuamente, e se a Reserva tivesse fitas de vigilância? Ali disse abertamente Por favor, não me prenda novamente. Ela tinha selado seu destino? E se sua irmã estivesse a observando quando ela saía do campus? Ela realmente tinha um acompanhante? O quão rigorosa era a Reserva, afinal? Houve apenas outra vez que ela esteve sozinha com sua irmã desde que ela se tornou Ali. Isso havia acontecido no começo da sexta série, não muito tempo depois da mudança acontecer — a irmã dela tinha voltado para casa para um fim de semana. Aparentemente, a garota que todos pensavam que era Courtney estava tendo dificuldade em se mudar para a Reserva; os médicos acharam que algum tempo longe poderia fazer bem a ela. Ali havia ficado tensa por causa da visita o tempo todo. Todos eles ficaram presos em casa enquanto sua irmã estava em casa — seus pais ainda mantinham as coisas em segredo — e ela não sabia como explicar a suas amigas o porquê de ter que ficar longe delas o fim de semana inteiro. Ela não podia dizer que tinham saído da cidade — Spencer iria ver o carro deles na entrada da garagem e as luzes acendendo e apagando dentro da casa. Enfim, ela disse que estava doente e era muito contagioso. Mas o estresse não terminou por aí. Assim que sua irmã entrou na casa, Ali a observava como um falcão. Ela até mesmo dormiu na sala de estar para se certificar de que sua irmã não saísse no meio da noite e trancou a porta do quarto dela para se certificar de que sua irmã gêmea não entrasse e mexesse em suas coisas. No primeiro dia, o plano funcionou bem o suficiente: Ali conseguiu manter sua irmã dentro e sob controle. Mas no segundo dia, quando Ali virou as costas, sua irmã desapareceu. Para seu horror, ela a encontrou de pé no jardim da frente. Uma segunda garota ergueu os olhos para o som de porta abrindo com os olhos
arregalados. Era Jenna Cavanaugh. E foi então que Ali se lembrou: Jenna conheceu as duas gêmeas anos atrás, durante outra visita à casa — todas elas estavam brincando com Barbies no quintal numa tarde. Ela era a única garota de Rosewood que sabia que havia duas delas. Um sorriso desagradável se espalhou pelo rosto da sua irmã. — Eu estava apenas conversando com Jenna, Courtney — ela disse. — Eu estava dizendo a ela tudo sobre quem você realmente é. Os olhos de Jenna tinham ido de uma gêmea para a outra. A visão de Ali escureceu. Ela agarrou a mão de sua irmã e puxou-a para dentro. Seus pais estavam na cozinha. Ali disse que sua irmã estava conversando com os vizinhos. — Eu estava apenas dizendo a verdade — “Courtney” gritava. — Eu disse a ela que eu era a Alison verdadeira e que eu estava sendo mantida presa! Uma veia tinha pulsado na têmpora da Sra. DiLaurentis, e ela tinha enviado Courtney de volta para a Reserva mais cedo. Era óbvio que seus pais não acreditaram nela, mas se eles tivessem provas — tipo Ali dizendo por favor, não me prenda de novo — suas opiniões poderiam mudar. Ali não poderia voltar para lá, ela simplesmente não conseguiria. Ela tentou imaginar as camas frias, sem graça, com cheiro de antissépticos; aqueles quartos de hóspedes sem alegria, aqueles enfermeiros distribuindo comprimidos usando seus jalecos. Depois de um ano no Radley, sua família não a tinha visitado no Natal, fazendo uma viagem para o Colorado ao invés. A celebração do hospital tinha envolvido uma árvore de plástico patética, canções de natal que ninguém cantava junto com o piano sem afinação, e peru com molho grosso com pedaços. Ali estava certa de que cada menina do recinto tinha ido dormir chorando em seu travesseiro. Agora Ali passou na parte traseira da pista, a qual era limitada com os campos de futebol. Na faixa de grama estreita que separava os dois tinha abundantes blocos pequenos de concreto no chão. Cada um era marcado com um ano e as palavras Cápsula do Tempo. Era do jogo que Rosewood Day jogava todos os anos. Ali pensou no pedaço da Cápsula do Tempo que ela tinha pego da irmã gêmea. Depois que ele descobriu o que ela fez, Jason pegou o pedaço e nunca devolveu — Ali não tinha ideia do que aconteceu com ele. Mas isso pouco importava — ela tinha usado o pedaço que faltava para ganhar a simpatia das suas amigas. Ela limpou o suor da testa. Se não fosse por aquele pedaço da bandeira, eu estaria aqui agora? ela se perguntou. Talvez o destino dela fosse coincidência, instável. Talvez ele pudesse mudar de uma hora para a outra mais uma vez. Lágrimas inesperadas caíram dos seus olhos. Era como se todas as bolas do número de malabarismo impecável que ela estava apresentando houvessem caído no chão. Não só com o que havia acontecido com a sua irmã, mas com tudo o que estava acontecendo com suas amigas, também. Por que elas estavam guardando tantos segredos dela? Elas não gostavam mais dela? Elas não queriam mais fazer parte do grupo dela? Elas tinham esquecido o quanto ela tinha feito por elas? E o que a irmã dela quis dizer com Eu sei o que você esteve fazendo? E se ela tivesse visto as amigas dela desafiando ela, visto ela estragar tudo? Ali passou pelas arquibancadas mais uma vez, mesmo sem perceber que ela tinha dado outra volta e então, de repente, sentiu o chão se mexer debaixo dela. Em segundos, ela estava esparramada na pista, seu rosto atingiu o pavimento duro.
— Você está bem? — Mark Hadley disse de pé sobre ela. — Eu estou bem. — Ali tentou rir quando se levantou. Uma lágrima rolou pelo seu rosto, mas ela rapidamente fungou e se afastou. Alison DiLaurentis não chorava. Alison DiLaurentis não se assustava com sua irmã perdedora, nem com estresse, preocupação ou medo de sua popularidade. Era por isso que ela era a garota mais popular da escola, porque ela sabia que ela merecia. Sua irmã estava prejudicando ela como sempre fazia. E quanto a suas amigas, talvez ela só precise lembrar a elas o quão especial e surpreendente ela era, como elas seriam ninguéns sem ela. Ela cobriria elas com bondade, deslumbraria elas com a magia brilhante que atraiu elas no começo. Seria fácil, na verdade. Ela já sabia o que todas queriam. Ela poderia estalar os dedos, e tudo estaria feito, apenas assim. Certo?
10 AMOR MALFADADO
-Q
ue luz surge lá no alto, na janela? — Aria disse dramaticamente, apertando seu peito. — Ali é o leste, e Julieta é o sol — Spencer continuou, em seguida, caiu no banco do lado de fora da People’s Light & Theater Company, a poucos quilômetros de Rosewood, onde algumas classes tinham vindo em uma excursão para assistir a peça famosa. — Isso é tão romântico. — Sim, mas não se esqueça que eles morreram no final — Ali implicou, chutando um buraco da grama. — Eles nem mesmo desfrutaram a paixão deles. Idiota! — Sim, mas a morte é o gesto mais romântico de todos, você não acha? — Aria perguntou com os olhos brilhando. — Eu quero dizer, se você está disposta a morrer por alguém, significa que você realmente o ama. — Obrigada, mas eu prefiro viver e desfrutar a paixão — Ali disse. E ela se sentia apaixonada esses dias. Ela e Nick tinham trocado mensagens sem parar por duas semanas. Eles não haviam se encontrado ainda, mas o primeiro encontro iria ser no dia seguinte, e ela mal podia esperar. Também fazia duas semanas que sua irmã tinha ameaçado ela, e nada tinha acontecido. Ainda. Embora Ali tenha sonhos tumultuosos de sua irmã de alguma forma provando o que ela tinha feito, não tinha havido intervenções dos pais ou exposições terríveis. Sua irmã não tinha aparecido na porta deles ou no quarto de Ali, à noite, expulsando Ali de sua cama para que elas pudessem trocar de volta. Os pais DiLaurentis tinham ligado nos dois domingos, Ali escutou secretamente a chamada. “Courtney” falou sobre seu namorado, Tripp. Suas aulas. Que Iris, sua colega de quarto, tinha ido embora, mas que ainda não tinham lhe designado uma nova. Nada em relação a Ali. Nada remotamente louco. O que deixava Ali ainda mais nervosa. Duas semanas não mudou a situação com suas amigas, no entanto. Emily ainda estava guardando segredos. Hanna ainda estava socializando com Josie. Spencer ainda parecia desconfiar de Ali e Aria tinha se fechado completamente. Cada observação desafiadora das amigas de Ali parecia como um teste que ela tinha que passar, especialmente se sua irmã estivesse observando, julgando, reunindo informações para provar que ela não era quem ela dizia ser. Ela não iria para a Reserva. Ela não se despediria. Ela preferia morrer. Aria pegou sua bolsa. — Eu preciso ir ao banheiro. — Eu também — Emily disse, com um olhar de desculpas para Ali antes de se levantar, como se ela devesse pedir permissão. Ali apenas revirou os olhos e ignorou.
Próximo a ela, o olhar de Spencer estava no campo. Perto de uma mesa de piquenique cheia com os professores acompanhantes e um grupo de veteranos, incluindo Jason, Darren Wilden, Melissa Hastings e Violet Keyes, que tinha perseguido Jason por anos. Ian Thomas também estava lá. Os olhos de Spencer se iluminaram quando o viu. Ela deu um pulo. — Eu tenho uma pergunta para fazer a Sra. Delancey — ela disse, apontando para um dos professores de inglês. Ali e Hanna, as únicas que sobraram, observaram o rabo de cavalo de Spencer saltar contra suas costas enquanto ela corria em direção à mesa de piquenique. Ela fez uma pergunta a Sra. Delancey, mas ficou espiando Ian com o canto do olho. Ali fez um barulho de nojo na parte de trás da garganta, e Hanna olhou por cima de seu sanduíche. — O que foi? — Ela só foi pra lá para ficar perto dos meninos mais velhos. — Nós poderíamos ir, também — Hanna sugeriu. — Não. — Ali cruzou os braços no peito. — Eu estou com raiva de Spencer. — Você está? — Hanna parecia preocupada. — Por quê? Ali bateu as unhas contra o banco. Pela mesma razão que eu estou com raiva de você, ela quis dizer. Mas em vez disso, ela suspirou. — História longa e chata. Hanna ficou quieta. Ali olhou para os ônibus escolares amarelos parados no estacionamento, que interrompiam os pastoris dos campos e fazendas do Condado de Chester. A feiura adequava a seu humor, entretanto, a rebeldia de suas amigas tinha acabado de despertar todos os sentimentos confusos mais uma vez. E se ela estivesse falhando? E se sua irmã tivesse descoberto uma forma de voltar e tomar a vida dela de novo? Se Ali fosse para a Reserva, ela nunca veria esses campos novamente. E ela ainda nem tinha apreciado eles. Às vezes, em seus momentos mais sombrios, ela imaginava seus pais descobrindo o que ela tinha feito e deixando-a no lado de uma estrada em algum lugar para apodrecer. Eles odiariam ela para sempre. Talvez eles até mesmo jogassem ela na cadeia. Ela sentiu uma lágrima no rosto. Quando ela ergueu os olhos, Hanna estava de boca aberta para ela. — Ali? — ela disse. — Qual é o problema? Você está bem? A garganta de Ali tremeu quando ela engoliu. Por um segundo fugaz, ela considerou dizer a Hanna, com seu cabelo castanho-cocô, aparelho, e sua expressão séria e piedosa, tudo. Mas em vez disso, ela apenas deu de ombros, seu estômago revirado. — Esqueça isso. Risadas soaram do outro lado das áreas dos piqueniques, e Ali olhou para cima. Um grupo de veteranos estava na grama, imitando uma das cenas de duelo da peça. Ian empunhou uma espada imaginária. Eric Kahn, o irmão de Noel da nona série, riu ruidosamente. Spencer tinha desaparecido. De repente, desesperada para ficar longe de Hanna, que tinha testemunhado uma breve rachadura em sua armadura, Ali pegou sua câmera Polaroid, saltou da mesa, e caminhou em direção a Ian e os outros antes que Hanna pudesse perguntar para onde ela estava indo. — Ei, Ee — Ali disse, dando-lhe um sorriso travesso de flerte. Ian pausou o seu duelo de mentira e sorriu de volta. — Ei. — Ele tirou uma mecha de cabelo loiro da testa. — Eu não sabia que você viria. — Eu estive aqui o tempo todo — ela disse, inclinando seus quadris. Ian sorriu e se moveu um pouco mais para perto dela. — Ah, é?
— Sim. — Ali levantou a câmera, o nó em seu estômago lentamente desenrolando. — Posso tirar uma foto de nós dois? — Claro — Ian disse, e passou o braço em volta dos ombros de Ali. Ali segurou a câmera no comprimento do braço e tirou uma foto. A máquina zumbiu e chiou, em seguida, soltou uma foto branca de dentro. Lentamente, a imagem preencheu. O rosto de Ali parecia a de uma modelo perfeita. E a forma como Ian inclinou a cabeça em direção a ela, fez parecer que ele era seu namorado. Ian analisou a foto, também. — Você está linda — ele disse. Um tremor passou por Ali. — Você também — ela respondeu. Quando ela levantou o queixo para cima, ela se surpreendeu ao ver o rosto de Ian ali, quase como se ele quisesse um beijo. Mas ela não queria Ian — ele era uma coisa estranha de Spencer. O que a fez pensar em seu plano para conquistar as suas amigas novamente. E isso deu a ela uma ideia. Ela se afastou e deu a Ian um longo olhar. — Eu conheço uma pessoa que gosta de você. As sobrancelhas de Ian se elevaram. — Quem? — Spencer. Ian piscou, talvez pensando que Ali fosse dizer que era ela. — Spencer Hastings? — Ele riu. — Ok. — Você beijaria ela? Ele olhou para ela como se ela fosse louca. — Isso parece um pouco perigoso. Ali queria bufar. Era incrível Ian não ter recusado rapidamente, porque ele tinha uma namorada. Ela baixou o queixo e fez olhos de cachorrinho. — Por favor? Ela iria adorar, Ian. Ela tem uma queda tão grande por você. Um sorriso satisfeito se espalhou pelo rosto de Ian. Ele fingiu pensar. — Que tal isso? Se eu der um beijo em Spencer, então eu ganho um beijo seu. — Ok — Ali disse, encolhendo os ombros. Beijar Ian Thomas não era a pior coisa do mundo. Certamente seria algo que ela poderia se gabar com Cassie e as outras. — Mas você tem que realmente beijar Spencer, ok? Não apenas um beijinho na bochecha. Beijá-la como se você quisesse. — Combinado — Ian disse, estendendo a mão para ela apertar. Quando Ali o fez, ele deixou seus dedos tocarem o interior da palma da mão dela, e seu estômago vibrou um pouco. Ian podia ser pervertido, mas ele era lindo. Ela começou a voltar para onde as suas amigas estavam sentadas, sentindo-se um milhão de vezes mais otimista do que antes. Quando Spencer soubesse que Ali convenceu Ian a beijá-la, com um estalar de dedo ela estaria tão grata e impressionada que nunca desobedeceria Ali novamente. Mas, quando ela passou por um velho carvalho, ela ouviu uma risada estranha e alta. Ela parou e olhou em volta, ouvindo. Havia alguém sentado em cima de uma das mesas de piquenique, olhando para ela com olhos duros e estreitados. Melissa. E pelo olhar em seu rosto, parecia que ela tinha ouvido cada palavra que Ali e Ian tinham dito.
11 BANG, BANG, VOCÊ ESTÁ APAIXONADA
N
o dia seguinte, Ali ficou na frente do espelho de corpo inteiro do banheiro do Henry’s Paint Ball and Laser Tag, um extravagante campo e salão na beira de Rosewood. Nick queria que esse fosse o primeiro encontro deles, e embora Ali normalmente rejeitasse paintball, ela estava disposta a fazer qualquer coisa para conquistar o garoto que tinha rejeitado sua irmã gêmea — até mesmo colocar o macacão azul e feio de paintball. Ela passou suas mãos na roupa folgada, em seguida, amarrou um cinto rosa neon J. Crew em torno da cintura. Isso fez com que ele parecesse um pouco melhor. — Ali? — uma voz chamou quando ela saiu do banheiro. O coração de Ali deu um salto. Nick estava inclinado contra a cabine de entrada, parecendo lindo, apesar do fato de que estava usando um macacão também. Seus olhos azuis penetrantes olhavam para ela e somente ela. Covinhas apareceram nos cantos do seu sorriso. Ela caminhou até ele tão friamente quanto pôde, resistindo à vontade de gritar. — Oi — ela disse, sorrindo. Nick fez um gesto para a área de paintball, um percurso de obstáculos com arbustos e paredes protetoras, proporcionando lugares para se esconder. — Você está pronta? — Absolutamente — Ali respondeu. Mas quando Nick entregou-lhe uma arma, ela recuou. Era enorme. Nick riu. — Você não tem que agir como uma menina em torno de mim. Eu lembro de você arrasando no dia de paintball de campo. Ali agarrou a arma contra seu peito e ficou ereta. Ela nunca tinha jogado paintball em sua vida, mas Nick não podia saber disso. Ela olhou para os outros jovens brincando no campo, atirando por trás dos arbustos para acertar seus inimigos. Ela saiu com garotos suficientes para saber que havia duas equipes; o objetivo era capturar as bandeiras amarelas que estavam penduradas na cerca no outro lado da vasta extensão de grama. O quão difícil isso poderia ser? — Vamos arrasar — ela disse. Quando eles atravessaram o campo, Nick se inclinou na direção dela. — Então, o que está acontecendo no mundo de Alison DiLaurentis? — Pouca coisa — Ali disse quando eles se agacharam atrás de um arbusto. Ela não iria dizer a ele a verdade — tipo sua visita ao hospital psiquiátrico, por exemplo. — E no seu? Nick olhou por cima do arbusto. Um garoto passou zunindo, mas ele estava com um macacão azul como o deles. Jatos de tinta explodiram em direção a ele de todas as direções, e ele gritou e cobriu a cabeça. — Eu estou trabalhando em um novo restaurante francês do King James.
— O Rive Gauche? — Ali perguntou animadamente. — Eu amei esse lugar! Agora eu vou mais vezes. — Eu espero que sim. — Os olhos de Nick brilharam. Então ele a cutucou alegremente. — É claro que você conhece o Rive Gauche. Você é provavelmente o tipo de garota que gosta de fazer compras, hein? — Eu gosto de fazer compras — Ali disse. — Mas eu não sou nenhum tipo de garota. — Não? — Nick levantou uma sobrancelha. — No acampamento você era. Você tinha as garotas de lá aos seus pés. — Talvez eu tenha mudado — Ali brincou. — Você mesmo disse que eu realmente cresci. Nick não parecia convencido. — Então você não é uma Miss Popular que conseguetudo-o-que-quer, ama-manicure-e-pedicure, tem-um-grande-grupo-de-amigas e é-boa-emtudo-que-faz, você não é mais esse tipo de garota? Ali olhou por cima do mato, mas não havia ninguém à vista. Isso era absolutamente a imagem que ela queria projetar, a Alison perfeita que ela precisava ser. Mas, de repente, ela queria que Nick soubesse que ela era mais do que isso. Mais intensa. — Para sua informação, eu não gosto de manicure e pedicure — ela admitiu. Nick arregalou os olhos. — Estou chocado! — ele disse em horror simulado. — Vou avisar a imprensa. Ali se aproximou. — E eu meio que gosto de assistir futebol — ela sussurrou. — E comer asas de frango em vez de saladas. — Não! Ela riu. — Eu amo animais, também. — Ah, é? — Ele sorriu para ela. — Você tem algum animal de estimação? Ali balançou a cabeça. — Agora não. Mas eu costumava ter uma rata-do-deserto. Nick pareceu surpreso. — Você não parece o tipo que tem uma rata-do-deserto. Ali cutucou ele. — Lá vai você fazendo suposições novamente. — Ela levantou a arma de paintball mais alto no ombro. — O nome da minha rata era Marshmallow. Ela era o máximo, eu pintava o pêlo dela e as unhas, e colocava laços na cabeça dela. — Então está tudo bem fazer manicure e pedicure na rata, apesar de você não gostar. — Nick estalou a língua. — Crueldade animal. — Ela não parecia se importar — Ali admitiu, se sentindo melancólica. — Por um tempo, Marshmallow foi a minha única amiga. Nick bufou. — Ok, até parece. Ali apertou a boca, percebendo que tinha falado demais. Marshmallow tinha sido sua amiga só porque ela tinha sido seu animal de estimação no Radley. Tinha sido um grande privilégio para ela ser autorizada a ter um animal de estimação, e ela adorou a responsabilidade, dando-lhe muito carinho, certificando-se de que ela fazia bastante exercício em sua roda, e colocando a gaiola ao lado de sua cama porque ouvir o tap-tap-tap de suas garras nas bordas no meio da noite a confortava. — Bem — Nick disse, aproximando-se de Ali, — eu espero poder conhecer essa garota que definitivamente não é uma Miss Perfeita.
— Eu gostaria disso — Ali disse timidamente. — E quanto a você? Nenhum segredo que eu deveria saber? Nick tocou o gatilho da arma. — Na verdade não. Eu sou desse jeito mesmo — ele disse, olhando nos olhos dela. Arrepios passaram pelo corpo de Ali. Então, de repente, algo vermelho passou diante de seus olhos. Uma menina com um macacão vermelho ziguezagueou através do campo. Ali deu um pulo e mirou nela, disparando a arma de paintball como se ela realmente tivesse sido a mestre de paintball no acampamento. A menina gritou e correu para se esconder. Ali agarrou a mão de Nick. — Vamos lá! — Ela puxou-o para o campo em direção as bandeiras. Tintas voaram neles vindas de todas as direções, e Ali se abaixou e deu uma risadinha, conseguindo evitar os ataques. As bandeiras amarelas estavam próximas. Ela arrancou uma da cerca e soltou um grito. Nick, que estava logo atrás dela, estava tão animado que a pegou nos braços e a girou. — Você arrasa no paintball! — ele exclamou com um sorriso largo. — Eu acho que você não mudou totalmente. — Eu acho que não — Ali disse enquanto ele gentilmente a descia. Seu peito arfava de correr pelo campo. Mas ao estar nesse lugar com Nick, sorrindo como uma louca, ela não sentiu nenhum sofrimento. Eu sou a melhor Alison do mundo, ela pensou. Ninguém, nem mesmo a verdadeira Alison, poderia tomar o lugar dela.
12 ALI NO BECO
A
lguns dias mais tarde, Ali estava sentada com suas amigas em um banco na frente da Pinkberry, que era na avenida principal de Rosewood a alguns quarteirões de distância da escola. Do outro lado da rua, a placa néon da Ferra’s Cheesesteaks piscava ligando e desligando. Mulheres usando calça capri e óculos de sol Chanel grandes entravam e saíam do salão Aveda. Os sinos da porta da Wordsmith’ Books tilintavam alegremente. Apesar dos ocasionais gases do cano de escape dos carros que passavam, todo o mundo cheirava a flores da primavera e caramelo quente da lanchonete de sobremesas Pinkberry. — E então, quando eu olhei pela minha janela, um dos trabalhadores estava olhando para mim. — Ali estava dizendo a suas amigas sobre os caras que vieram cavar um buraco para o gazebo naquela manhã. — E então ele assobiou! Quer dizer, ele era tão nojento quanto Toby Cavanaugh costumava ser. Talvez até mais nojento. Eu me senti suja. E se eles tiverem tirado fotos de mim? Spencer deixou cair a colher em sua taça. — Você deveria deixar suas cortinas fechadas se você não quer que eles vejam você. — O que é que isso importa? — Emily se intrometeu. — Aqueles caras não podem fazer isso! Você deveria contar a seus pais, Ali. Ali fez um gesto de interrupção com a mão. — Está tudo bem. Eu posso lidar com isso sozinha. — Isso é sério. — Emily estava respirando pesadamente, o que ela sempre fazia quando estava alterada. — Isso é, tipo, assédio! Eles deveriam contratar outras pessoas! Você quer que eu diga a eles por você? — Calma, delegada — Ali brincou, usando seu apelido favorito de Emily. Ok, então ela aumentou um pouquinho a verdade. Os trabalhadores, na verdade, não tinham lançado nenhum olhar em sua direção nessa manhã, mesmo quando ela caminhou para o carro de Jason. — Ok, pessoal, trocando — Ali disse a suas amigas, soltando a colher de plástico de volta em sua taça da Pinkberry e entregando-a a Hanna, que estava à sua esquerda. Hanna lhe entregou o seu de pistache a Emily, Emily deu o seu iogurte congelado com sabor de manteiga de amendoim para Spencer, e Ali pegou o de Aria de lichia e nozes com chocolate granulado. Ali deixou os sabores derreterem em sua língua, sentindo que tudo no mundo estava certo. Só hoje, ela recebeu três mensagens de Ian prometendo a ela que o beijo de Spencer
viria em breve, mas também querendo saber quando o beijo com ela aconteceria. Esperemos que, com o tempo, ele esqueça — especialmente agora que as coisas estavam indo tão bem com Nick. Ela ainda estava satisfeita com o esplendor do incrível encontro deles. Parte dela queria dizer a suas amigas sobre isso, mas parte dela queria manter Nick para si mesma um pouco mais. Ela ainda não tinha escrito em seu diário sobre ele, ele era tão especial que ela não tinha sido capaz de encontrar as palavras certas para descrevê-lo. De repente, ela se sentiu tão feliz que quis compartilhar o sentimento. Ela apoiou a cabeça no ombro do blazer de Spencer. — Então, meninas. Eu acho que todas devemos encontrar caras incríveis nesse verão. E, então, fazer de tudo para eles se tornarem nossos namorados. Hanna parecia emocionada. — Eu estou dentro! Eu reivindico Sean! — Ótimo! — Ali sorriu. — E você, Spence? Tem alguém que você está a fim? — Ela não sabia quando Ian iria tomar a iniciativa, mas quanto mais cedo, melhor. Spencer ficou rígida e deu-lhe um olhar de Por favor, não diga a ninguém. — Uh, não. — Ela enfiou a colher no sorvete e mordeu vigorosamente. — Bem, eu tenho uma paixonite — Aria disse com orgulho quando Spencer não respondeu. — Nós sabemos, nós sabemos. — Emily bateu nela de brincadeira. — Por Noel. Você só nos disse umas 50 vezes. — Sim, e até mesmo conversamos na semana passada — Aria disse entusiasmada. Ali recatadamente limpou os lábios com um guardanapo. — Por que eu não convido ele por você? — ela disse, se sentindo generosa. Os olhos de Aria se arregalaram. — O que você vai dizer? — Eu vou dizer a ele que você é a garota mais incrível do mundo. Aria riu. — E ele vai acreditar em você? — É claro, Aria. Noel me ouve. O que eu digo, é verdade. Posso convencer ele de que você é a garota que ele deveria sair. — Ela olhou para as outras. — Digam a ela, pessoal. Digam a ela que eu consigo convencê-lo de que Aria é incrível. — Ela consegue — Emily disse. É claro que ela foi a primeira a concordar. — É verdade. — Hanna acenou com a cabeça. Mesmo relutante, Spencer deu de ombros. Aria rodou a colher em torno do seu sorvete que estava derretendo rapidamente. — Você realmente faria isso por mim, Ali? Qual é a pegadinha? — Sem pegadinha. — Ali bagunçou os cachos de Aria, que ela tinha ajudado a fazer naquela manhã antes da escola. — Eu só quero que você fique feliz. — Tão feliz quanto eu estou, ela pensou. — Você é incrível. — Aria deu a Ali um grande abraço. Depois que as meninas terminaram suas sobremesas, Spencer tinha avisado que ela tinha que ir ao Hospital Memorial de Rosewood, onde ela tinha se voluntariado. A mãe de Hanna estava esperando por ela na Starbucks do final da rua. Emily e Aria tinham montado em suas bicicletas e se dirigiram para casa, também. Ali jogou o copo de iogurte no lixo e caminhou rumo a Wordsmith, então avistou o carro de Jason estacionado em uma zona de carga e descarga. Pela primeira vez, ele realmente foi pontual.
— Você se importa se nós pararmos na Kinko em Hollis, antes de ir para casa? — Jason perguntou quando Ali entrou no carro. — Eu tenho que tirar uma xerox do meu histórico escolar para a faculdade. — Então ele olhou para ela no banco traseiro. — E venha para a frente! Eu não sou seu motorista! Ali resmungou, em seguida, escalou para o banco da frente no semáforo seguinte e afivelou o cinto de segurança. — Por que você tem que tirar uma xerox do seu histórico, é para Yale? — ela perguntou. — Porque nele tem as minhas notas finais — Jason respondeu. — Yale exige que todos os alunos entreguem a eles para se certificarem de que eles ainda querem nos aceitar. Ali franziu o nariz. — Eu pensei que você já tinha sido aceito. — Isso garante que os alunos não reprovem no último semestre do ensino médio — Jason disse, apertando o acelerador quando o sinal ficou verde. Ali fechou os olhos e pensou no seu irmão indo para a faculdade. Isso costumava ser uma das coisas que ele conversava com ela quando a visitava em Radley — ele queria se especializar em ciências políticas, ele havia contado, e então talvez se tornar um advogado que se especializasse em casos de emancipação de crianças. Eu deveria me emancipar da mamãe e do papai, ela tinha dito com tristeza. Então, talvez eu pudesse sair desse lugar. Jason tinha murmurado concordando. Eles ficaram em silêncio enquanto o carro passou a placa com letras enfeitadas anunciando a Faculdade Hollis. O campus tinha um monte de edifícios antigos de tijolos, uma Big Ben — tipo uma torre do relógio, e uma grande área que tinha a pista de hóquei de gelo e as cercas dividindo as áreas dos esportes. Eles passaram por um bar chamado Snooker, que tinha um quadro na frente listando a programação da semana dos Phillies. Quando Jason virou à esquerda no próximo semáforo, cruzou o final da rua que tinha abundantes universitários e lojas de fumo, ele deu a Ali um olhar de soslaio. — Posso fazer uma pergunta? Ali encolheu os ombros. — Depende de qual pergunta for. Jason tomou um gole de sua garrafa de água. — Eu sei que Courtney estava no banheiro com você antes de sairmos do hospital. Ela disse alguma coisa? O sorriso desapareceu do rosto de Ali. Ela não imaginou que alguém tinha visto Courtney ir ao banheiro. Quando ela saiu, o corredor estava vazio, Jason e os outros estavam esperando no lobby. Era possível que ele tivesse ouvido o que sua gêmea tinha dito? — Eu a vi sair depois de você — Jason disse como se estivesse lendo a mente dela. — Foi tudo bem? Ali balançou sua pulseira de corda em seu pulso. — Foi tudo ok. Falamos sobre coisas bem estúpidas. — Você tem certeza? Ali piscou. — Por que eu não teria certeza? — Eu não sei. — Jason ergueu as mãos defensivamente. — Eu só estou perguntando. Ali lambeu os lábios e considerou dizer a ele que a verdadeira Ali tinha ameaçado ela, mas as palavras dela ecoavam em sua mente. Por favor, não me prenda novamente, ela havia dito, basicamente admitindo tudo o que ela tinha feito. Jason parou em uma faixa de pedestres para que os alunos passassem. — Você acha que Courtney parece diferente?
Ali se encolheu. — Diferente como? — Mais feliz, eu acho. Não ela mesma. Houve uma sensação crepitante na boca do estômago de Ali. — Alguém sabe quem Courtney realmente é? Ela é louca. — Eu sei quem ela é. Não, você não sabe, Ali pensou com um surto de raiva. Você não sabe de nada. Jason parou em um espaço de estacionamento na frente da Kinko. — Eu sei porque você nunca entendeu eu ter visitado ela por todos esses anos no Radley — ele disse em voz baixa. — Eu apenas pensei que ela precisasse de alguém, sabe? — Então, por que você parou de visitá-la na Reserva? — Era uma pergunta que Ali nunca tinha feito a ele. Jason passou o dedo sobre o chaveiro prata do BMW. — Eu não quis deixar de visitar ela na verdade. Eu só estava ocupado com trabalhos escolares e não consegui arranjar tempo. Nas vezes que eu visitei ela, porém, ela parecia... estranha. — Ele engoliu em seco, em seguida, olhou para ela. — Ela me disse algumas coisas estranhas sobre você. O estômago de Ali revirou. — Ela é uma vadia louca e ciumenta. Jason não pareceu convencido. — Por um tempo, eu achei que algumas das coisas que ela me disse fossem verdade. Ali se esforçou para evitar que suas mãos tremessem. — Ela mentiu. Jason abriu a boca, depois fechou de novo. Ele olhou para ela fixamente, como se estivesse tentando memorizar cada sarda, cada cílio do rosto dela. — Você já desejou que pudesse voltar atrás e mudar o que você fez? As palavras atingiram Ali como uma estalactite de gelo em seu coração. O que você fez. Mas ele quis dizer o que Ali fez... com Courtney. Certo? Não a troca. — Eu não fiz nada — ela retrucou. Jason manteve os olhos na estrada. — Todos nós fizemos coisas que poderíamos ter feito de um jeito diferente. Nós poderíamos ter ajudado ela. Deveríamos ter sido uma família. — Não é assim que eu vejo — Ali disse bruscamente. — Ela é louca. Ela tem que estar presa. Fim da história. Jason mordeu o lábio inferior e não disse nada. Depois de um momento, ele saiu do carro e andou até a Kinko. Ali viu a porta abrir e fechar, seu estômago revirando. As paredes pareciam se fechar em torno dela dentro do carro e, de repente, ela se sentiu tão espremida em seu assento que não conseguiu mais permanecer nele. Ela se atrapalhou com a maçaneta da porta e cambaleou para a rua. Carros e caminhões passaram zunindo na via movimentada. Os alunos passavam rapidamente segurando copos de café da Starbucks e livros didáticos. A torre do relógio soltou quatro sons melodiosos. Ali deu alguns passos cuidadosos para a calçada, tentando encontrar o equilíbrio novamente. Ela caminhou até o fim do quarteirão e observou os adesivos de skate que alguém tinha colado na placa de pare. Então, uma risadinha melodiosa soou vinda da esquina. Ali se virou e inclinou seu ouvido. Lá estava essa risada de novo. Ela estava vindo do beco. Ela enfiou a cabeça dentro da área estreita entre a estrada de dois edifícios universitários. ESSES ESPAÇOS SÃO RESERVADOS APENAS PARA O DEPARTAMENTO DA FACULDADE DE HISTÓRIA DA ARTE lia-se em um cartaz na
frente de um espaço de estacionamento. Um Subaru, que tinha uma janela quebrada, estava no estacionamento com duas pessoas dentro. Uma delas tinha um rabo de cavalo loiro e um sorriso fogoso de estudante de faculdade. A outra, o motorista, tinha um rosto severo e selvagem com um estilo de cabelo de professor. Ali se endireitou, reconhecendo os familiares adesivos PATERNIDADE PLANEJADA e VISUALIZE WHIRLED PEAS nos para-choques do Subaru. Também havia um amassado no para-choque, que a mãe de Aria tinha feito quando passou por cima de uma pedra decorativa no jardim da frente de Ali. Era o pai de Aria que estava no carro. Mas a outra, a menina com o rabo de cavalo, definitivamente não era a esposa dele. — Eu amo estas sessões depois das aulas de estudo — ele dizia. — Eu também — disse a menina, em seguida, fez beicinho. — Mas eu odeio ter que ser apenas nas terças-feiras às quatro. O Sr. Montgomery tocou seu rosto. — Essa é a única hora que nós podemos. A menina suspirou. — Eu sei, eu sei, mas... O Sr. Montgomery pôs o dedo nos lábios para silenciá-la. Então ele segurou o queixo dela e trouxe seu rosto para o dele. Ali se escondeu por trás da parede de tijolos quando o pai de Aria passou as mãos pelo cabelo da menina. A menina puxou o pai de Aria para mais perto e beijou seu pescoço. — Ali? As duas cabeças se separaram rapidamente. Ali se virou. Jason estava atrás dela com uma sacola de plástico da Kinko na mão. — Vamos embora? — ele perguntou. Ali piscou com força. Houve um barulho atrás dela. — Uhum... — ela disse, virando a cabeça de volta para o beco. Mas ele estava vazio agora. Tudo o que tinha restado foi uma nuvem de fumaça do escape, como se o carro do Sr. Montgomery — e o que ele tinha feito lá dentro — nunca tivesse estado lá. Mas Ali sabia o que ela tinha visto.
13 DRA. ALISON, AO SEU SERVIÇO
A
li se aproximou da porta da frente da casa de Hanna e tocou a campainha. A abertura da melodia Fifth de Beethoven tocou, porém tudo estava quieto. Ali sabia que Hanna estava em casa, no entanto. Ela mandou uma mensagem para Ali a poucos minutos atrás. Ali se virou e olhou para o enorme quintal da frente de Hanna, elegantemente bem cuidado. Ali sempre gostou mais da casa de Hanna porque ela era solitária em uma rua isolada no topo do Monte Kale, que ficava fora de Rosewood. Ele era fortemente arborizado e não tinha a coisa de suburbanos todo-mundo-sabe-da-vida-de-todo-mundo, como era no bairro de Ali ou nos outros bairros de Rosewood. Muitas vezes, quando ela dormia aqui, ela ia ver veados no gramado da frente de Hanna de manhã, e ficava escuro o suficiente em cima da montanha para ver toneladas de estrelas à noite. Hanna abriu a porta. Seu cabelo castanho estava despenteado em torno do seu rosto, seus olhos estavam vermelhos por trás dos óculos e havia migalhas laranja brilhante de Doritos em sua blusa. Ali olhou para trás dela, para um monte de embalagem na mesa de café. Minha nossa. Bolinhos Twinkies. E havia um saco de pipoca de queijo vazio no chão. Um único pastel em um prato banhado em uma piscina de creme. Ali olhou fixamente para essas migalhas. Por um longo tempo, ela se perguntou por que Hanna comia desse jeito, colocando enormes porções de Doritos em sua boca como se a FritoLay tivesse anunciado que nunca mais iria fabricá-los novamente. Ela costumava fazer suas amigas zoarem dela — Isso não é uma competição, Hanna, e Cuidado, seus dentes vão ficar laranja. Isso foi antes delas irem para Annapolis há alguns meses, porém, e ela viu o que Hanna fez com a escova de Kate. — Hey — Hanna disse rigidamente, deixando Ali entrar e tocando as teclas do alarme, o qual estava apitando. Sempre que a mãe de Hanna não estava em casa, o que acontecia sempre, já que ela tinha um trabalho de alto nível na cidade — ela mandava Hanna manter o alarme ligado o tempo todo. — O que há de errado? — Ali perguntou. — Nada — Hanna disse sem encontrar o olhar de Ali. Então, ela olhou para a caneca de café com um desenho de um Doberman em suas mãos, sua expressão com um toque de dor e tristeza. Seu pai costumava usar esse copo, mas o Sr. Marin havia se mudado meses atrás. — Você falou com Aria? — Ali perguntou. — Não... — A cabeça de Hanna se levantou com rapidez. — Por quê? Aconteceu alguma coisa com ela?
Ali passou a língua sobre os dentes. Ela não conseguia pensar em outra coisa desde que tinha visto o que o pai de Aria estava fazendo em Hollis. Aria sabia? Era por isso que ela estava agindo de modo estranho ultimamente? Ela não tinha dito a Ali o que estava acontecendo, mas e se ela tivesse dito a uma das outras? Hanna seria uma boa escolha — os pais dela se divorciaram no ano passado. Mas Hanna parecia genuinamente pega de surpresa, então Ali percebeu que Aria não tinha contado a ela. Talvez ela não devesse dizer nada. Uma coisa era Ali falar um segredo descoberto por trás das costas de Aria, mas talvez fosse outra coisa dizer a Hanna algo que ela ainda nem soubesse. Além disso, Ali se sentia poderosa por saber algo tão horrível sobre a família de Aria. — Hum, esqueça — Ali murmurou. — Mas você obviamente não está bem. O que está acontecendo? Hanna desabou em uma cadeira da mesa da sala de jantar. Os talheres tinham sido postos de lado, e o livro de história dela estava estendido e aberto no capítulo da prova que elas teriam amanhã. Ela soltou um suspiro torturado. — Meu pai me enviou fotos dele, Kate e Isabel de férias. Ali piscou, esperando Hanna continuar. Isabel era a nova namorada do pai dela, e Kate era a filha bonita dela. Ali conheceu as duas em Annapolis. Ela estava prestes a dizer a Hanna que isso não era grande coisa, mas de repente, ela se lembrou de que ela estava sendo a Nova Ali, a menina que mataria suas amigas com gentileza. Kate era definitivamente um ponto sensível para Hanna. Embora Hanna raramente mencionasse, o Sr. Marin tinha ido para Annapolis e dado a custódia dela a mãe de Hanna. Era surpreendente porque Hanna e o pai dela sempre costumavam ser uma equipe antes de ele ir embora. Eles cantavam músicas dos Beatles no banco da frente durante caronas, tentando fazer as outras meninas cantarem junto. Não importa quantas vezes Ali dissesse a Hanna que ela estava sendo infantil, ela ainda levava um amigo imaginário chamado Cornelius Maximilian para jantar. E uma vez, quando o pai de Hanna havia levado Hanna e Ali para a praia, pareceu que Hanna queria ficar com ele ao invés de escapar para o calçadão com Ali para falar com os meninos. Esquisito. O Sr. Marin era tão diferente do próprio pai de Ali, que colocava um terno todo dia, ia trabalhar e falava com sua família durante as refeições, mas normalmente se retirava para seu escritório. Mesmo que Ali nunca, jamais, dissesse a Hanna, ela se sentiu um pouco aliviada quando o pai de Hanna foi embora. Hanna não tinha mais a coisa especial e brilhante em sua vida que Ali secretamente, lá no fundo, invejava. Agora, Hanna estava preocupada que Kate houvesse tomado o seu lugar. Ali tinha oferecido ir com ela para Annapolis, prometendo que elas superariam Kate e fariam ela se sentir fraca e estúpida. O problema foi, quando elas chegaram lá, alguma coisa tinha mudado em Ali. Kate parecia meio... legal, muito parecida com ela, na verdade. Talvez Hanna tivesse que lidar com aquilo. Mas em vez disso, Hanna comeu compulsivamente — todos os lanches da festa que Isabel tinha colocado para elas. Ali nunca tinha visto ela ingerir comida de forma tão compulsiva, ainda assim, Hanna pareceu surpresa quando o pai dela a chamou de “porquinha”. Quando Ali tinha seguido Hanna até o banheiro e abriu a porta, ela tinha
encontrado Hanna debruçada sobre o vaso sanitário com uma escova de dentes verde na mão. Hanna havia implorado a Ali para não contar a ninguém, e até agora, Ali não tinha contado. Ela tocou a mão de Hanna. — Realmente dói ver todos eles de férias juntos, hein? Um olhar de choque passou pelas características de Hanna, seguido por gratidão. — Mais ou menos — ela arfou. — E, quero dizer, você viu Kate. Ali assentiu. — Mas, ela era muito legal, Han. Hanna parecia ressentida. — Talvez ela fosse, eu não sei. Mas Kate usou um daqueles biquínis que é bem pequeno na bunda. Meu pai nunca deixaria eu usar. Você não ficaria bem em um desses, tampouco, Ali pensou, mas ela não se atreveu a dizer. Kate era magra, o tipo de garota que poderia expor um pouco de nádegas e deixar os garotos loucos. Apesar de Hanna não ser tão gorda, ela não era o tipo de garota que poderia pegar um par de calças jeans da prateleira e comprá-los sem experimentar. E ela também estava dolorosamente ciente de que — ela sempre apertava o excesso de gordura da barriga, sempre olhava para as outras meninas no vestiário com inveja, sempre era a última a tirar a blusa no country club ou na praia. O olhar de Ali foi direcionado aos lixos de alimentos da mesa de café. — Compulsão alimentar não é a resposta, Han. Hanna balançou a cabeça vigorosamente. — Não. Eu só comi uma vez, Ali. Eu juro. Algumas dessas coisas sobraram da minha mãe na noite passada. Ali cruzou os braços sobre o peito. Era mentira, a mãe de Hanna era um palito, fazia yoga religiosamente e tinha uma dieta macrobiótica. — Você pode me dizer, Han. Você já passou por muita coisa ultimamente. Cassie me contou sobre uma amiga dela que comia compulsivamente, ela fazia isso para recuperar o controle. Hanna se virou e começou a mexer com sua caneta. — Eu estou bem, Ali. Eu não tenho um problema. Ali sentiu um aborrecimento aumentar dentro dela. Ela não era boa o suficiente para ser confidente? Ela sustentou o olhar de Hanna, esperando ela admitir a verdade, mas Hanna apenas sacudiu as franjas dos seus mocassins. Ali baixou a mão. — Tudo bem — Ali disse bruscamente. — Você não tem um problema. — Você não disse a ninguém sobre Annapolis, não é? — Hanna perguntou de repente. Um sorriso misterioso se espalhou nos lábios de Ali. Ela esperou alguns segundos, observando o pânico inundar o rosto de Hanna. Então, ela apertou a mão de Hanna com força. — Claro que não, sua boba. Meus lábios estão selados, eu prometo. O celular de Ali tocou. Ela desviou o olhar do de Hanna e colocou a mão em sua bolsa. Número Desconhecido, dizia a tela. Ali franziu a testa. Ela atendeu, pressionando o celular no ouvido. Tudo o que ela podia ouvir era a respiração do outro lado. — Alô? — Ali disse novamente. — Alô? Hanna franziu o cenho, observando Ali atentamente. Ali se virou, seu coração acelerando. Subitamente, ela teve uma sensação horrível de quem a pessoa do outro lado poderia ser. — Alô? — ela disse mais uma vez, andando no corredor. Mais respiração. — É você? — ela sussurrou, imaginando sua irmã sentada em um dos sofás feios da Reserva, sorrindo
para o receptor. Mas os pacientes da Reserva eram proibidos de fazer chamadas telefônicas, certo? Eles tinham mudado as regras? Ou ela estava em uma de suas visitas com “acompanhantes”? Houve uma pequena aspiração na outra extremidade da linha, seguida por um clique. Ali ficou olhando para o tempo de chamada piscando na tela até a sua visão ficar turva. — Ali? Ela deu um pulo e se virou. Hanna estava no final do corredor com um pacote de chips amassado em suas mãos. — Está tudo bem? — ela perguntou. — Quem era? Ali olhou para o celular dela, preocupada por um breve momento que Hanna pudesse saber de tudo. Então, ela ficou ereta e empurrou o cabelo sobre o ombro. — Apenas um trote estúpido — ela disse despreocupadamente. — Provavelmente, um garoto que tem uma queda por mim. — Oh, definitivamente — Hanna disse, dando um sorriso rápido para Ali. Ali foi até a televisão e ligou-a, querendo esquecer o que tinha acontecido. Hanna rapidamente se sentou ao lado dela, provavelmente aliviada por deixar as coisas de lado, também. Mas, enquanto elas ficaram mudando de canais, tudo o que Ali conseguia ver era ela mesma deitada em uma cama vaga de hospital na Reserva. Amarrada, como eles costumavam fazer no Radley com as meninas que ficavam muito descontroladas. Eu sei o que você esteve fazendo, a voz da irmã dela ecoava em sua mente. Diga adeus.
14 BOA DEMAIS PARA SER ESQUECIDA
N
o dia seguinte, as meninas cruzaram de cima abaixo os corredores da Saks. A loja estava maravilhosamente iluminada por luzes embutidas perto das roupas, e as paredes foram pintadas com listras preto-e-branca. Uma música dançante bombeava para fora dos alto-falantes escondidos, as vendedoras bonitas e magras caminhavam ao redor da loja com sorrisos em seus rostos. Mas a coisa que Ali mais gostava na Saks era que sempre cheirava a fábrica de perfume. Nenhuma outra loja de departamento cheirava tão bem. Hanna pegou uma bolsa Chanel acolchoada de uma prateleira. — Essa. Definitivamente. — As meninas estavam jogando o jogo favorito delas: O Que Você Compraria Se Você Tivesse Todo o Dinheiro do Mundo? — Sério? — Ali fez uma careta. — Essa é tão vovó. Hanna pareceu horrorizada e a deixou cair. — Uh, eu peguei a errada. Eu quis dizer essa. — Ela mostrou a ela uma Louis Vuitton vermelha. Ali assentiu com aprovação, e Hanna sorriu com alívio. — Eu gostei dessa — Emily disse, segurando uma bolsa Chloé. — Vocês não me imaginam levando ela para a escola? — É linda — Ali disse, suspirando. — Eu gostaria de ter visto ela antes. Emily empurrou a bolsa na direção dela. — Você pode ficar com ela. Eu posso escolher outra coisa. Ali revirou os olhos. — É apenas um jogo, Emily. — Ela escolheu uma bolsa Dior da parede. — Vou ficar com essa. — Posso ajudá-las, meninas? — uma vendedora perguntou por atrás delas. Ela levantou uma sobrancelha quando viu as peças luxuosas em suas mãos. Ali olhou para as outras, e elas começaram a rir, então largaram tudo e saíram correndo. — Vamos a Contemporary — Ali anunciou. — Eu realmente quero gastar algum dinheiro hoje. Elas subiram nas escadas rolantes e olharam para seus reflexos nas paredes espelhadas. Ali estava usando jeans skinny e um top rosa choque folgado que ela tinha visto na capa da Teen Vogue. Aria tinha colocado uma faixa azul no cabelo e usava uma camiseta prata de lantejoulas, jeans flare azuis e sandálias wedges estranhas. Hanna estava usando um belo minivestido da coleção francesa que infelizmente era muito pequeno para ela. Spencer estava super bonita em um vestido de tênis Lacoste e sapatilhas Tory Burch, e Emily usava seu uniforme, jeans folgado e uma camiseta lisa azul. Ali fez uma nota mental para convencê-la a comprar algo bonito hoje.
Quando elas saíram da Contemporary, Ali viu uma loira magra perto dos vestidos e congelou. Era Iris, a antiga colega de quarto da irmã dela da Reserva. Ela estava com duas outras garotas da idade dela, e quando ela viu Ali, um sorriso malicioso se espalhou em seu rosto. Ela balançou seus dedos em um aceno provocador. Emily franziu o cenho. — Você conhece ela? — Não — Ali disse, levando suas amigas para o outro lado da área de vendas, para longe, muito longe. Ela respirou fundo enquanto se dirigia para os jeans. Não importa que ela esteja aqui, ela disse a si mesma. Ela não vai dizer nada sobre a Reserva. Ela provavelmente não quer que as meninas saibam que ela foi internada. Ela olhou intensamente para a prateleira de jeans, fingindo que Iris não estava lá. Aria, Emily e Spencer foram para ela também, e logo, todas as cinco estavam na parede de jeans, arrancando seus tamanhos de skinnys e bootcut escuras e claras. Em seguida, elas foram para os vestiários, se espremendo juntas em um antes da vendedora gritar: — Só uma menina por provador, por favor. No meio da sua enorme pilha de roupas para provar, Ali se virou na frente do espelho de três vias; então notou Emily sentada no sofá, no final do corredor do vestiário com um olhar melancólico e distante em seu rosto. Ela parou. — Por que você não está provando nada, Em? Emily balançou a cabeça. — Essas roupas são muito caras. Meus pais morreriam se vissem os preços. — Nós vamos dividir as despesas e comprar alguma coisa — Ali ofereceu. Mas Emily parecia estar em seu próprio mundo, simplesmente oferecendo um sorriso incerto a Ali e dando de ombros. — Eu vou ver você provar as coisas. Eu não me importo. De repente, Ali se animou, um pensamento se formando em sua cabeça. Ela sentou na beira do sofá. — Aconteceu alguma coisa entre você e o cara? — ela perguntou animadamente. Emily franziu o cenho. — Que cara? Ali esmurrou-a delicadamente. — Você sabe! Sua paixonite, boba! — Ah. — A boca de Emily se contraiu. — Não. Nada aconteceu. — Você vai me dizer quem ele é? — Ali perguntou. — Quem é quem? — Aria perguntou, saindo de outro provador usando um par de calças skinny. — Você gosta de alguém, Em? Quem? Emily olhou de um lado para o outro com uma expressão de pânico em suas características. De repente, ela lembrou a Ali da gata, Kiki, que sua família tinha quando ela ainda morava em casa — sempre que elas tentavam encurralar Kiki para levá-la ao veterinário, ela arqueava as costas e seus olhos se arregalavam como os de Emily estavam agora. — Hum... — É aquele cara da natação? — Spencer perguntou. — Qual era o nome dele... Ben? Ele é tão bonito. — Eu acho que ela gostaria de Kenneth Griggs da minha aula de arte — Aria disse. — Ele é lindo! — Hanna também saiu do provador. — Vocês ficariam incríveis juntos! — Não é Ben — Emily disse em voz baixa. — Nem Kenneth.
De repente, Ali sabia o que tinha que fazer. — Gente, se Em não quer nos dizer ainda, então temos que dar a ela um pouco de espaço. As meninas assentiram e entraram em seus provadores mais uma vez. Após as portas se fecharem Ali agarrou a mão de Emily e puxou-a para a área de sapatos. — Elas ouviram, me desculpe. Mas você pode me dizer, certo? Emily aparentava estar querendo fazer xixi, mas estava tentando prender. — Eu acho que não. Uma onda de dor percorreu Ali. Por que ela não era boa o suficiente para ela dizer? Ela disfarçou com uma careta de desgosto. — Eu não entendo. Por que é um segredo tão grande? Emily fez uma pausa e olhou para os sapatos escarpã Kate Spade na parede. Enquanto Ali esperava, ela sentiu a sensação distinta de que alguém estava olhando para ela. Do outro lado da loja, Iris tinha reaparecido e estava encostada em uma prateleira de blazers, seu olhar estava sobre Ali e havia um sorriso estranho em seu rosto. Ali engoliu um nó na garganta e se virou. — Por favor, Em? — Ali disse suavemente. — Talvez eu possa ajudar. É alguém que seus pais não aprovariam? Alguém mais velho? O rosto sardento de Emily ficou avermelhado. Ela balançou a cabeça. Irritada, Ali fez uma última tentativa. — Sabe a minha amiga Cassie? Ela me pediu para ser a melhor amiga dela. E eu estou pensando sobre isso. Emily piscou com essa mudança de assunto. — Sério? — ela parecia devastada. — Eu não ia ser, mas se você não confia em mim, então talvez nós não sejamos tão próximas como eu pensei — Ali disse. Os olhos de Emily estavam molhados de lágrimas. — Eu não posso — ela sussurrou. E então, engolindo em seco, virou em uma prateleira de Jimmy Choos e correu. — Emily! — Ali gritou, correndo atrás dela. Emily correu para a seção de creme de pele, mas Ali a perdeu próximo das maquiagens. Ela procurou pelo cabelo loiro morango nos acessórios de homens, mas Emily não estava em lugar nenhum. Então ela viu uma placa pequena e discreta para o banheiro feminino e correu até ele. Uma música clássica tilintava dentro. O banheiro cheirava a rosas e tinha uma pequena cesta sobre a pia contendo spray de cabelo, gel, desodorante de spray, absorventes e doces de manteiga. Uma menina de toalha, que estava encostada na pia e mexendo em seu celular, sorriu para Ali. Um par de tênis era visível sob a porta do box. Eles eram de Emily. Ali viu uma mochila familiar de brim no balcão. Ela não conseguia se lembrar de quantas vezes ela tinha dito a Emily que carregar uma mochila não era sofisticado, mas Emily sempre dizia que era melhor para os ombros de nadadora dela. Ela estava aberta, e alguns de seus cadernos estavam aparecendo. Os rascunhos que Emily gostava tanto de desenhar eram visíveis na capa. Ali olhou para os pés sob a tenda, em seguida, para a bolsa de novo. Parecia que Emily tinha propositadamente deixado lá para Ali encontrar. Quando a menina de toalha estava de costas, ela puxou a bolsa e tirou o caderno do topo. Principais da Equipe de Natação! Emily tinha escrito em letras bolha na frente, o nome da sua equipe de natação durante todo o ano competitivo. Abaixo, ela listou os nomes das
meninas campeãs estaduais de sua equipe de revezamento. Ao lado, vários rascunhos de um cachorro, um personagem de Family Guy, o qual Emily não era autorizada a assistir em casa, e um grande coração vermelho com a letra A no centro. A, Ali pensou, seu estômago sobressaltando. Ela estava perto de descobrir alguma coisa. Ela abriu a capa do caderno e olhou para a primeira página, mas não havia nada escrito lá. Ela folheou as páginas de papel pautado, mas só continham anotações sobre o teorema de Pitágoras e pequenos diagramas geométricos. Houve um som de papel higiênico no rolo, e Ali congelou e olhou para cima. Os pés de Emily se moveram sob o box. Ela soltou um alto fungado, como se estivesse chorando. Quais nomes começam com A? Andrew Campbell? Austin Chang? Aquele veterano gostoso Aaron Gearheart? Oh Deus, é Aaron Gearheart, Ali pensou, seu estômago revirando. Aaron saía com meninas da Hollis — havia rumores de que ele até mesmo tinha engravidado alguém. Ele comeria alguém como Emily no café da manhã. Ela folheou mais as páginas, rezando para não ser Aaron. Quando ela chegou na última parte do caderno de desenho, ela viu um pequeno coração vermelho no canto. Ele era tão pequeno, na verdade, que Ali só conseguiria ler a escrita se ela colocasse o rosto bem próximo e apertasse os olhos. Eu amo Ali.
15 PARQUE DE DIVERSÕES NÃO É SÓ PARA CRIANÇAS
N
a tarde seguinte, Ali estava na porta do Rive Gauche. Os bartenders usando camisas brancas passavam rapidamente ao redor servindo bebidas e lavando taças. Uma garçonete passou rápido com uma sopeira cheirando a fondue. Algumas garotas da escola estavam sentadas em uma mesa, incluindo Melissa Hastings, que já havia notado Ali e estava carrancuda. Ali esticou o pescoço, procurando ao redor por Nick — ele estava trabalhando hoje e tinha pedido a ela para passar aqui durante o intervalo dele — mas ela não o via em lugar nenhum. Ela estava tão feliz por ele ter mandado uma mensagem. Em alguns aspectos, ela precisava vê-lo, precisava confirmar ao mundo que ela gostava de garotos. Encontrar aquele coração no caderno de Emily tinha sacudido o seu mundo, ela tinha deixado o caderno cair e saiu correndo do banheiro o mais rápido que pôde, murmurando uma desculpa esfarrapada para Spencer e as outras e implorando a Jason para ir buscá-la imediatamente. Como ela não tinha percebido os sentimentos de Emily? Todas aquelas vezes que Emily tinha defendido ela, todos aqueles elogios. Ontem, Emily tinha ficado contente apenas por ficar sentada no sofá na área dos provadores e olhar Ali desfilar com os jeans na frente do espelho de três vias. Ali havia se trocado na frente dela um zilhão de vezes, por falar nisso. Isso totalmente explicava por que Emily tinha observado Ali tão de perto quando ela fez uma dança sexy com uma música do Justin Timberlake alguns fins de semana atrás. E ela deu um pequeno suspiro de satisfação quando Ali tinha terminado, como se ela fosse sonhar com Ali mais tarde naquela noite... Ali não tinha certeza de como ela deveria lidar com isso. Ficou claro que Emily estava apavorada de ter que contar a Ali seus sentimentos. Ela provavelmente sabia que Ali iria dizer a ela que não sentia o mesmo e a amizade delas desmoronaria. Emily era muito valiosa como uma amiga — ela era tão fácil de conversar e, mais do que isso, tão controlável. Ela faria qualquer coisa que Ali pedisse — Ali nunca iria encontrar uma amiga assim novamente. — Terra para Alison? Ali olhou para cima e viu Nick na porta, usando uma camisa branca do Rive Gauche e calças pretas. — Ei — ela disse com um grande sorriso. Só de estar com ele novamente a fez se sentir relaxada de repente, como se tivesse tomado um banho quente. Um sinal sonoro soou, e Nick olhou para seu celular. Depois de olhar para a tela por um momento, ele o deixou cair no bolso da calça. — Então — ele disse, sorrindo para ela, seus olhos azuis brilhantes e claros. — Você quer ir para o carrossel comigo?
Ali quase deu uma gargalhada. — Você está falando sério? O do parque infantil do salão? Nick sorriu. — Por quê? Você é muito legal para ir a um carrossel? Normalmente, Ali teria dito sim, mas algo sobre montar em um carrossel com Nick parecia divertido. — Eu vou se você for — ela desafiou. — Combinado. — Arrepios disparam na coluna de Ali quando ele pegou a mão dela. Juntos, eles saíram do restaurante e atravessaram o longo corredor, passando por várias lojas, incluindo a Woof, uma pet shop luxuosa. Logo no começo, quando ela tomou o lugar da irmã dela em Rosewood, ela passou horas lá, admirando os cobertores de cashmere, as roupas de couro de cachorro e os doces orgânicos, mesmo que sua família não tenha um animal de estimação. Esse é um lugar onde até mesmo os cães têm que usar as roupas certas, ela tinha pensado. Nick olhou para a loja. — Você gosta de cão ou gato? — Gosto de rato do deserto, lembra? — Ali brincou. — Mas eu acho que prefiro gatos do que cães. — Isso significa que você é distante e misteriosa — Nick disse. — Ou que eu não gosto de baba de cachorro — Ali apontou. — Ou que você não gosta de ver cães surtarem com cada coisa que se move. Ali começou a rir. Eles passaram pela Chanel, Bloomingdale e uma loja de crianças sofisticada, conversando sobre a escola, lição de casa e o novo trabalho de Nick — uma mulher que poderia ser a mãe dele deu em cima dele hoje. — Foi totalmente estranho — ele admitiu. Então olhou para ela. — Você já saiu com alguém mais velho alguma vez? Ali pensou em Ian, então no jogo dela e de Spencer de beijar garotos mais velhos que pudessem. Ela ficou com vários alunos da oitava série, e até mesmo um da nona série, mas tinha sido simplesmente beijos, nada mais. — Na verdade não — ela admitiu. — E você? Nick abaixou a cabeça. — Para ser honesto, eu não tenho saído com muitas pessoas. Eu só tive uma namorada, e ela... — ele parou. — Não deu certo. — Você está brincando — Ali deixou escapar. — Eu pensei que as garotas ficassem aos seus pés. — Eu não encontrei a garota certa, eu acho. — Ele virou os olhos azuis profundos para Ali e parecia que ia dizer outra coisa, mas depois fechou a boca. — O quê? — Ali perguntou, seu coração batia acelerado. Um rubor subiu pelo pescoço de Nick. Ali esperou, um sentimento efervescente de antecipação com emoção girava em seu estômago. Mas então alguém esbarrou em sua bolsa, e algumas de suas Polaroids, que ela mantinha no bolso da frente, caíram no chão. Ali olhou para cima e viu uma menina com cabelos loiros curtos dando passos largos para longe. Era a irmã de Spencer. Ali olhou para ela. Ela esbarrou em Ali de propósito? — Uau, legal — Nick disse quando abaixou para ajudá-la a pegá-las. — O que é isso? Ele segurou uma de Ali e Aria na aula de arte. Elas tinham posicionado seus pincéis grossos sob seus narizes para se parecerem com bigodes. Então olhou para uma foto de Jason relaxado no sofá com um salgadinho de queijo saindo de sua boca. Ela tinha tirado a foto às escondidas ontem e planejava usar como chantagem depois.
— Oh, apenas algo que eu faço — Ali disse. Ela vasculhou através das fotos. — Eu tenho uma de você indo embora no dia que nos reencontramos. — Ela achou e ergueu-a. — Você carrega por aí uma foto minha? — Nick parecia emocionado. — Eu quero uma foto sua, também. Ali folheou as fotos e encontrou uma que Spencer tinha tirado dela no lado de fora de Rosewood Day. Seu cabelo loiro brilhava à luz do sol. Seu sorriso era largo e malicioso, como se ela escondesse um segredo. — Aqui está — ela disse timidamente, passando-a para ele. Parecia significativo trocar fotografias com um garoto. Quase tão importante quanto trocar a metade de um colar de coração ou anéis de amizade. Eles dobraram a esquina e o carrossel apareceu, o calíope tocava uma música de circo. Os cavalos de madeira elaboradamente pintados subiam e desciam. Uma criança andava no pequeno trenó atrás dos cavalos, e um pai estava ao lado de um menino em um leão rugindo. Nick agarrou a mão dela. — Quer ir? — Claro — Ali disse, sem sequer olhar ao redor para ver quem poderia estar olhando. Normalmente, uma menina como ela nunca iria montar no carrossel. Mas com Nick, esses tipos de coisas eram legais. Eles pagaram os bilhetes, e quando o carrossel parou, o atendente levantou a corrente e deixou eles escolherem os cavalos. Eles escolheram dois pôneis brancos um ao lado do outro e subiram. Quando Ali colocou os pés nas correias, ela foi inundada por nostalgia e tristeza de repente. Uma memória apareceu em sua mente da última vez em que ela tinha estado em um carrossel. Isso aconteceu quando ela e sua irmã eram amigas, antes de qualquer coisa terrível acontecer. As duas estavam vestidas com saias idênticas rosas e tops brancos; elas tinham pedido balões rosas do carrinho de balões. Os cavalos eram tão altos que o pai delas teve que colocá-las, e elas sentaram-se lado a lado, assim como ela e Nick estavam agora. Quando a música começou, elas cantaram e pegaram uma na mão da outra. O que fez a irmã dela mudar? Por que, de repente, ela ficou tão ciumenta, tão desesperada para ser a única menina da casa? Era provavelmente uma resposta que Ali nunca saberia. Quando ela passou os dedos sobre a crina da imitação de cavalo, um pensamento surpreendente a golpeou: ela perdeu a irmã dela. Não a pessoa louca que ela se tornou, não a presença ameaçadora no banheiro, mas aquela menininha que uma vez foi a melhor amiga dela. Às vezes, no meio da noite no Radley e até mesmo agora, ela se encontrava estendendo a mão para algo na escuridão. Ela tinha se perguntando mais de uma vez se era para a mão da irmã dela. A música começou a aumentar, e o carrossel começou a girar. Ali sorriu para Nick, limpando os pensamentos de sua mente. Nick agarrou o poste com uma mão e segurou a mão dela com a outra. Ele não tirava os olhos de cima dela o tempo inteiro. O coração de Ali batia junto com a batida do tambor que acompanhava a música antiga do carrossel. O carrossel deu várias rodadas completas antes de um deles desviarem o olhar do outro. Quando o carrossel diminuiu, o celular de Nick tocou, e ele tirou-o do bolso e começou a escrever uma mensagem. — Pra quem você está escrevendo? — Ali deixou escapar, em seguida, quis colocar a mão sobre a boca. Ela não deveria se importar com quem ele estava trocando mensagens. Ela
deveria agir fria e distante. Os garotos não suportavam meninas que queriam saber cada detalhe de suas vidas. Mas Nick virou a tela do celular para que Ali pudesse ver. — Meu amigo Jeff. — Ele apontou para a mensagem. Um cara chamado Jeff G. estava perguntando o que ele estava fazendo, e ele respondeu: estou saindo com a minha nova paixonite, Alison. Ali ficou boquiaberta. — Eu sou a sua nova paixonite, hein? — ela disse, tentando parecer intocável e indiferente. Mas sua voz estava muito cheia de alegria por causa disso. Seus dedos estavam tremendo. Havia uma voz dentro dela gritando, Yeah! — Eu espero que sim — Nick disse, ajudando-a a descer do cavalo e caminhando para fora da pequena cerca que rodeava o carrossel. — Eu quero saber tudo sobre você, Ali. — Ele entrelaçou os dedos com os dela. — Eu gosto muito de você. — Eu gosto de você, também — Ali se ouviu dizer, sua voz soando baixa e nervosa — e emocionada. — Bom — Nick disse, inclinando-se para perto. E ali, ao lado da cerca e das crianças gritando e esperando na fila e do quiosque de algodão-doce, que cheirava nauseadamente açucarado, ele se aproximou e tocou os lábios de Ali. Acabou rapidamente, mas Ali sabia que iria lembrar da sensação do beijo por um longo, longo tempo. Eles vertiginosamente sorriram um para o outro por alguns segundos, mas de repente, por trás de Nick, algo chamou a atenção de Ali. Uma figura familiar estava dentro de um dos pequenos corredores que levavam para o banheiro e os escritórios de funcionários. Era a mãe dela? Ela apertou os olhos, a princípio irritada por sua mãe estar espionando. Mas então ela viu a segunda figura de pé ao lado dela. Um sombra de um homem com a mão no braço da Sra. DiLaurentis, conversando com urgência sobre algo. Não era o pai de Ali. Ácido subiu em seu estômago. Ela respirou bruscamente e se afastou de Nick. Sua testa se franziu. — Qual é o problema? — Eu... — O olhar de Ali permaneceu sobre sua mãe e o homem. Ele virou e tocou o lado do rosto dela, em um gesto tão carinhoso que fez o estômago de Ali revirar. — Ali? — A voz de Nick era suave, mas parecia tão distante. — Você está bem? — Não — Ali sussurrou, recuando. Parte dela queria ver quem era o homem, mas a outra parte estava aterrorizada para descobrir. Em vez disso, ela se virou e correu para a saída, correndo cada vez mais rápido até que suas pernas doíam e seus pulmões queimavam.
16 MANTENHA A CABEÇA FRIA
M
ais tarde naquela noite, Ali estava em formato de X em sua cama, olhando para o teto. Ela o tinha mudado desde que o tinha tomado da sua irmã — removido as fotos de Naomi e Riley e substituindo-as pelas de Aria, Spencer, Emily e Hanna; reorganizado o closet bagunçado da sua irmã e jogado fora os itens que ela não gostava, reorganizado a escrivaninha de modo que ela estava perto da grande janela que dava para o quintal; e pendurou um grande cartaz que dizia LIBERDADE sobre sua cama. Era uma pequena piada interna dela. A única coisa que ela guardava de sua irmã era a lâmpada do teto acima de sua cabeça com várias estrelas amarelas brilhantes e uma lua prateada. Quando ela era Courtney, ela deu isso a sua irmã de presente de aniversário, e ela se surpreendeu por sua irmã ter pendurado ela mesma. No fundo, sua irmã se arrependia do que tinha feito? Ou ela apenas tinha gostado do design? Beep. Ela abriu os olhos e olhou para o celular, nervos cruzando em seu estômago. Mas era só uma nova mensagem de Nick: Está tudo bem? Eu estou preocupado com você. Ali não sabia o que responder. Nick tinha levado ela até a garagem; ela tinha se inclinado contra um dos pilares de concreto e dado respirações profundas, tentando se acalmar. Ele perguntou a ela diversas vezes o que ela tinha visto, mas ela apenas balançou a cabeça e disse que não poderia falar. Ela não sabia como falar. Ela era Alison DiLaurentis: Isso não acontecia em sua família perfeita. Sua mãe não era acariciada em lugares públicos por homens estranhos. E quem era esse cara, afinal? O que ele estava dizendo tão urgentemente a ela? A mãe dela iria deixar eles por ele? Era algo que acontecia com outras famílias, com certeza, como a de Aria. Até mesmo com a de Hanna. Mas isso não acontecia com a dela. Eu te conto outra hora, ela finalmente escreveu. Eu prometo. Quando você estiver pronta, ele escreveu de volta. Uma porta bateu lá fora, e então houve uma risada. Ali rolou para fora da cama, foi até a janela e olhou para a casa ao lado, dos Hastings. Spencer estava em sua garagem usando uma saia xadrez velha de hóquei de campo, uma camiseta cortada e com os pés descalços. Seu cabelo loiro estava puxado para trás de sua cabeça, e seus lábios estavam machados com um gloss rosa. Suas faces estavam coradas, mas não de blush. Ela estava conversando com Ian Thomas, que estava encostado em seu SUV.
Ali levantou as sobrancelhas, ela tinha temporariamente esquecido do seu acordo com Ian. Ian falou alguma coisa, e Spencer riu. Quando ele tocou o braço de Spencer, Spencer não se afastou. Ela se inclinou e beijou a bochecha dele. Então, Ian a agarrou, puxou-a para mais perto e a beijou nos lábios. Ali arregalou os olhos. Mesmo que ela tivesse dito a Ian para fazer isso, seu entusiasmo a surpreendeu. Eles se separaram, então Ian se virou e entrou no carro. Spencer permaneceu na grama com as mãos nos bolsos da saia e um sorriso bobo no rosto. Um de seus cães, Beatrice, esfregou o nariz na mão de Spencer, e ela distraidamente começou a acariciá-la. Ali colocou os pés em suas sandálias e desceu as escadas. Ela podia imaginar o que iria acontecer: Spencer iria confessar que tinha acabado de beijar Ian com sua voz cheia de admiração. Ali diria que ela tinha ajudado a fazer isso acontecer — viu? Ela conseguia fazer qualquer coisa! E Spencer olharia para Ali com gratidão e agradeceria profusamente. Ela estaria sob o controle de Ali para sempre. Spencer ainda estava no mesmo local quando Ali cruzou o gramado. Quando ela viu Ali, ela saltou como se tivesse saído de um transe. — Ah. — Sua voz falhou. — Há quanto tempo você está aqui? — Não muito — Ali disse, se fazendo de boba. — O que você está fazendo? Spencer mexeu com a ponta do seu rabo de cavalo loiro. — Nada. — Você está de pé no meio do seu quintal sem fazer nada? — ela brincou. Spencer deu de ombros. — Eu vim pegar as correspondências. Ali bufou, olhando para as mãos vazias de Spencer. — Então, onde elas estão? — É... — Spencer parou. Sua testa franziu. — Eu não peguei ainda, ok? Deus. Ali colocou as mãos nos quadris. Por que Spencer estava tão irritada? E por que ela não estava se gabando por causa do seu grande beijo? Ela decidiu tentar uma tática diferente. — Eu tive um ótimo dia — ela mentiu. — E você? Spencer enfiou os dedos sob a coleira de Beatrice. — Foi ok. — Nada de interessante aconteceu? Ela elevou um ombro. — Na verdade, não. Ali piscou. Spencer realmente achava que Ian tinha beijado ela porque ele gostava dela? Ela estava tão fora da realidade assim? Nessa situação, algumas meninas apenas admitiriam que tinham visto tudo, mas para Ali, pareceria humilhante e desesperador. Ela queria que Spencer desse as informações para ela, que quisesse dizer a ela. Ela girou nos calcanhares. — Eu tenho que ir. — Tem? — Spencer perguntou. Ali não respondeu. Ela pisou de volta através das hedges, rangendo os dentes com tanta força que eles fizeram um som horrível de chiado como se eles deslizassem um contra o outro. No meio do caminho através do gramado, ela ouviu um farfalhar atrás dela e pensou que poderia ser Spencer para contar tudo. Elas poderiam consertar as coisas, Ali decidiu. Ela até mesmo perdoaria Spencer por não contar, contanto que Spencer implorasse. Mas quando ela se virou, não era Spencer. Era Jenna Cavanaugh. Um arrepio correu pela espinha de Ali. Os óculos de sol pretos de Jenna obscureciam seu rosto, exceto seus lábios naturalmente vermelhos e seu queixo pontudo. Seu cabelo negro caía em cascata pelos
seus ombros, e suas pernas e braços pareciam ainda mais finos do que tinham sido no ano passado antes de ela começar a ir para sua escola especial. Seu cão-guia pastor alemão estava ao lado dela, sua língua muito rosa pingando com saliva. Parecia que Jenna estava olhando diretamente para Ali, realmente vendo ela, mas é claro que era impossível. Ali se escondeu atrás de uma árvore de qualquer maneira. — Ali? — Jenna chamou. — É você? Ali se encolheu ainda mais. Mesmo que ela quisesse dizer a Jenna que era ela, ela não queria começar uma conversa — não com Spencer ainda em seu quintal. E se Jenna dissesse algo sobre sua irmã gêmea? — Ali? — Jenna chamou novamente. A porta de tela bateu do outro lado da rua, e Toby Cavanaugh saiu para a varanda. Ali congelou. O que ele estava fazendo em casa? Ele não tinha sido mandado embora para sempre? Toby saiu da varanda e atravessou o quintal. — Jenna, o que você está fazendo aí? Sua voz mal assombrada a fez recuar. Aquele momento terrível no sexto ano voltou para ela no mesmo instante: a forma raivosa que Toby tinha dito eu vi você naquela noite, o horror em seus olhos quando ela tinha dito a ele o que ela sabia sobre ele. Não muito tempo antes disso, ela tinha visto Jenna chorando. Mesmo que ela atormentasse Jenna na escola, Jenna sabia mais sobre Ali do que qualquer outra pessoa — e ela nunca disse a ninguém. Naquele dia ela quis reparar por ter sido tão desagradável. Ela queria fazer as pazes com ela. O que aconteceu? ela perguntou a Jenna. Ela apertou a mão dela. Você pode me dizer. Você sabe que eu não vou contar a ninguém. Jenna levantou a cabeça. Levou um longo tempo para ela falar. É o meu irmão, ela começou. Quando ela terminou, Ali deu-lhe um abraço. Você sabe que eu tenho problemas entre irmãos, também. Eu posso te ajudar. Deveríamos armar alguma coisa para fazê-lo ir embora para sempre. E elas conseguiram. — Jenna — Toby disse de novo, mais severamente dessa vez. Quando ele chegou no meio-fio, onde Jenna estava de pé, parou, como se também tivesse sentido que Ali estava lá. Seus olhos se estreitaram friamente. O coração de Ali batia na garganta. Finalmente, segurou o braço de Jenna. — Vamos — ele disse. — Vamos entrar. Jenna puxou a coleira do seu cachorro. Batendo sua bengala branca e andando com seu cachorro ao seu lado, ela desapareceu no interior da casa, sem dizer uma palavra.
17 COMO CONSEGUIR ÁGUA DE UMA PEDRA
N
ão havia outro som mais bonito, Ali pensou enquanto o toque de uma guitarra aguda anunciava que ela tinha uma nova mensagem de Nick. Qual é a sua matéria favorita na escola? era a mais recente. Ali, que estava sentada em seu balanço na varanda da frente esperando por Aria, digitou no teclado sua resposta. Era inglês, ela escreveu, mas agora temos que ler tantos livros chatos que eu acho que é a sala de estudos. LOL5. Ela não queria dizer sua verdadeira matéria favorita — ciências — por medo de parecer uma nerd. A minha também, Nick escreveu de volta, e Ali sorriu. Seu celular tocou novamente. Ei, lembra o conselheiro do acampamento que foi picado por várias abelhas? Nick escreveu. Qual era o nome dele? Ali mordeu o interior de sua bochecha com força. Eu sei de quem você está falando, depois de um momento ela digitou. Mas não lembro. Um Subaru familiar parou, e Aria saiu da parte de trás carregando Pigtunia debaixo do braço. Vamos conversar mais tarde, Ali escreveu para ele. Eu estarei esperando, Nick escreveu de volta. Ela olhou para o pai de Aria atrás do volante. Ele usava uma camisa rasgada com um desenho na frente tão desbotado que não era sequer legível. Seu cabelo ralo levantava-se em todas as direções, e ele tinha um pouco de barba, o que algumas meninas achavam sexy, mas Ali achava que apenas parecia nojento. Ela não conseguia nem mesmo olhá-lo nos olhos. Byron olhou para longe, também, como se soubesse que Ali sabia. O que significava que Aria sabia, também, certo? Se Aria admitisse alguma coisa, então talvez Ali dissesse que ela sabia como ela se sentia. Que ela tinha visto sua mãe e um cara qualquer no shopping. O segredo parecia uma lata de Coca-Cola sacudida dentro dela com o conteúdo efervescendo e pressionando contra seu interior. Seria bom dizer a alguém, especialmente a alguém que pudesse se solidarizar. Aria subiu os degraus da varanda e sentou-se no balanço ao lado de Ali. — E aí, alguma novidade? — Nada demais — Ali disse. — E você? Aria empurrou as grades da varanda para dar ao balanço um pouco mais de movimento. — Então, eu tenho que falar sobre uma coisa com você. O coração de Ali acelerou. — O quê? — ela perguntou inocentemente. 5
LOL: Dando gargalhadas (acrônimo de Laughing Out Loud na Internet).
Aria girou a pulseira de contas em torno do seu pulso. — Você sabe com quem eu estou tendo aula de teatro depois da escola? — Aria perguntou. — Bem, tivemos um novo aluno hoje. Toby Cavanaugh. Por instinto, Ali olhou através do pátio, esperando Toby ainda estar de pé lá, como tinha estado na noite passada. — Ele voltou — ela afirmou, não exatamente como uma pergunta. — Sim. — Aria mordeu o dedo indicador. — Ele ficava olhando para mim. E então nós tivemos que fazer um exercício de falar, e ficamos juntos. Eu tinha que dizer uma frase, e ele tinha que repetir até a frase mudar. Eu escolhi nunca neva no verão. E nós dissemos, um depois o outro, um depois o outro, até que Toby começou a dizer eu sei o que você fez no verão passado. — Ela arregalou os olhos dramaticamente. — Você acha que Toby sabe alguma coisa? Ali tocou uma parte enferrujada da corrente do balanço. Só Spencer estava lá quando ela confrontou Toby, e Ali tinha feito ela prometer que não contaria as outras. Parecia mais seguro manter entre elas. — Toby não sabe o que fizemos — ela disse firmemente. — E de qualquer maneira, a coisa com Jenna aconteceu na última primavera, e não no verão. Ele apenas está doido. — Então ela olhou para Aria. — Era isso o que você tinha para me dizer? — Bem, sim. — Aria franziu a testa. — Você não acha que isso é uma coisa séria? Toby é estranho. Ali encolheu os ombros. — Sim, mas isso não é exatamente uma novidade. Ela apoiou a cabeça no ombro de Aria, pensando por um momento como ela conseguiria fazer Aria conversar. Ela decidiu usar seu plano de última hora. Ela limpou a garganta. — Algo estranho aconteceu comigo também, e eu realmente preciso de alguém para conversar. — Ela olhou para o gramado. — Eu acho que meus pais vão se separar. — Apenas dizer as palavras fez se formar um nó em sua garganta. Aria virou para olhá-la de frente. — Por que você acha isso? — Eles estão discutindo muito. — Ali olhou para suas mãos. — E eles disseram que tinham que contar alguma coisa para mim e Jason. Eu sei que é isso. — De jeito nenhuma ela iria dizer a ela sobre sua mãe, no entanto. Ainda não. — Eu sinto muito. Aria parecia genuinamente simpática. Pareceu bom por um momento, mas então Ali percebeu que não era suficiente. — Eu não sei o que eu faria se meus pais não estivessem mais juntos — ela disse. — Seria ainda mais estranho se eles estivessem com outra pessoa. Você já pensou sobre isso? Aria encolheu os ombros. — Na verdade, não. — Sua mãe é linda, porém, e ela está rodeada de negociantes de arte. Seu pai é cercado por estudantes 24 horas. É possível, você não acha? Várias expressões — constrangimento, humilhação, vergonha — atravessaram o rosto de Aria, todos de uma vez. — Qualquer coisa é possível, eu acho. Seus lábios se separaram, talvez para confessar tudo. Mas, então, seu olhar pousou em algo atrás de Ali, e ela se levantou do balanço tão rapidamente que Ali cambaleou para trás. — Oh! Jason!
Jason subiu os degraus da frente com sua mochila pendurada no ombro. — Oi — ele disse rispidamente. — Como você está? — A voz de Aria era aguda e estranha. — Você está animado para se formar? — Na verdade, não — Jason disse, abrindo a porta e fechando-a novamente. Aria se jogou no balanço, parecendo desapontada. Ali pressionou suas unhas na palma da mão, sentindo-se humilhada. Aria tinha mudado de assunto de propósito? Ela sabia... e não queria contar? Ali havia dito a Aria algo verdadeiro, assustador e terrível. Aria não tinha a decência de retribuir? Não era isso o que as amigas faziam? Maldade a cobriu como uma capa preta grossa, e ela cutucou Aria com força. — Você ainda gosta de Noel? Os olhos de Aria se iluminaram. — Claro! Você falou com ele sobre mim? — Falei, na verdade — Ali mentiu. — E? Ali permitiu uma ligeira pausa, em seguida, colocou a mão sobre o joelho de Aria e apertou. — Bem, eu fui até a casa dele. Mas algo meio... estranho aconteceu. Eu disse a ele sobre você, e ele disse que gosta de você como amiga. Os cantos da boca de Aria se viraram para baixo. — Oh. — E então ele disse que gosta de mim. E eu acho que eu gosto dele também. Aria ficou ereta. — Oh! — Sua voz estava estranhamente animada. — Tudo bem. Uau. — Mas eu não saio com ele, se você não quiser. A dor era evidente no rosto de Aria. — Hum, tudo bem — ela disse depois de um momento. Por um momento, Ali quase lamentou a mentira. Noel provavelmente sairia com Aria se Ali tivesse perguntado. E ela realmente tinha planejado falar com ele sobre ela. Mas porque ela deveria fazer algo por uma amiga que nem mesmo dizia o que estava acontecendo em sua vida? Amizades eram olho por olho — o que ela iria ganhar com isso? Os cantos da boca de Aria tremeram. Ela olhou para a tela do celular com urgência, mesmo que ele não tivesse tocado. — Hum, eu tenho que ir — ela disse. — Minha mãe precisa de mim. — Problemas em casa? — Ali perguntou como uma tentativa final. Se ela admitir agora, eu vou dizer a ela que eu inventei tudo, ela decidiu. Eu vou dizer a ela que eu vou falar com Noel de verdade. Mas Aria só saiu da varanda. — Não — ela disse, partindo um pouco o coração de Ali. E então ela atravessou o quintal. Ali observou ela desaparecer na floresta. Sua cabeça estava abaixada com seus ombros curvados, e, depois de um momento, Ali tinha certeza que ela ouviu um soluço baixo e descontrolado vindo dos pinheiros. Ali apertou os lábios e tentou engolir seu pesar. Isso não foi doloroso. Isso foi muito bom.
18 NADA COMO OUVIR SUA BFF TE ENCHER DE ELOGIOS!
A
lguns dias mais tarde, o último sinal do dia tocou, e todos os alunos da classe de Inglês de Ali se levantaram e se dirigiram para a porta. — Não se esqueçam, pessoal! — A Sra. Lowry, a professora de Inglês deles, berrou. — As suas paródias de Hemingway são para segunda-feira! Eu não vou receber nenhuma depois disso! — Você já começou a sua? — Spencer perguntou a Ali enquanto elas caminhavam até a porta e para o corredor, que estava lotado com adolescentes em seus armários. — Não — Ali respondeu, balançando a cabeça. — Quer fazer ele para mim? Spencer fungou. — Eu tenho um trabalho enorme de história, Ali. Sinto muito. Ali cruzou os braços sobre o peito. Não muito tempo atrás, Spencer teria feito a lição de casa de Ali em um piscar de olhos, sem reclamação. Eu vi você, você sabe, ela queria dizer. Eu sei o que você fez com o Ian. Cada dia que passava sem Spencer dizer nada fazia a traição parecer cada vez pior. O celular de Ali tocou. Ela mergulhou a mão dentro da bolsa dela para pegá-lo. Número Desconhecido. Ela estava prestes a clicar em IGNORAR quando Spencer limpou a garganta ao seu lado. — Eu odeio quando eu recebo chamadas de números bloqueados — ela disse. — Normalmente é a minha mãe me vigiando, mas ela não quer que eu saiba que é ela ligando. O celular tocou novamente. Ali olhou para Spencer. — Será que se pode bloquear qualquer número? — Eu acho que alguns celulares não permitem isso. — Spencer parou em seu armário e começou a girar a combinação. — Orelhões são geralmente bons para isso. Celulares também. Ali assentiu. Ela lembrou-se de ter visto uma fileira de orelhões no lobby da Reserva — talvez sua irmã de alguma forma tenha chegado a um deles sem os enfermeiros perceberem. Ou talvez ela tivesse pegado emprestado o celular de alguém. Spencer deu a Ali um olhar desconfiado. — Por que você quer saber como bloquear números? Ali abriu a boca, depois fechou de novo. Spencer fungou. — Tudo bem — ela disse bruscamente, de frente para o armário novamente. — Não me conte. Finalmente, a chamada foi para a caixa postal. Ali olhou para a tela, esperando o pequeno ícone de mensagem aparecer, mas isso não aconteceu. De repente, ela se sentiu como se tivesse que ficar longe de Spencer, e rápido. Ela se empurrou através da multidão de adolescentes para as portas duplas que se abria para um pequeno pátio que ligava o ensino fundamental ao ensino médio. Era principalmente um território dos estudantes secundaristas; crianças do fundamental eram condenadas ao ostracismo se sentassem no pátio de três bancos ou permanecessem lá depois da escola. Ali tinha um passe, porém, especialmente se Cassie ou qualquer uma das outras estivessem ao redor, mas ela não as via em nenhum lugar. Ela viu, no entanto, uma menina pequena e um pouco gordinha de pé no canto do pátio, conversando animadamente com as mãos. Ela levantou-se reta. Aquela era Hanna?
Josie estava ao lado de Hanna, acenando com simpatia. Ali se arrastou para mais perto, abaixando-se atrás de uma árvore em um vaso para que Hanna não a visse. Quando ela estava a apenas alguns metros de distância, ela pegou parte da conversa de Hanna sobre o barulho dos outros alunos. — ...E ela é, tipo, tão manipuladora — Hanna estava dizendo. — Há algumas coisas que ela sabe sobre mim que eu não quero que ninguém saiba, e eu tenho tanto medo que ela diga a alguém se eu estragar tudo. Isso está me deixando louca. E ela está agindo mais estranho do que o normal ultimamente, guardando um monte de segredos, recebendo umas ligações estranhas — ela provavelmente me odeia. — Você tem que cortar os laços com ela antes que ela dispense você — respondeu Josie. Hanna puxou o lábio para dentro da sua boca. — Mas ela tem sido minha amiga há dois anos. Nós já passamos por muita coisa juntas. Os olhos de Ali se arregalaram. Hanna estava falando sobre ela? — Ela pode ter sido uma boa amiga para você antes, mas ela não é uma boa amiga agora — Josie disse com firmeza. — Você é super legal, Hanna. Você vai ficar bem. Ali bateu a mão em sua boca. Josie estava drogada? Hanna não ficaria bem sem ela — de jeito nenhum. Ela não aguentava mais. Ela saiu de trás da árvore e correu passando por Hanna como se ela não tivesse visto ela. — Oh! — ela disse, fingindo surpresa logo após chegar nela. — Oi, Han! Oi... Josie, não é? Hanna empalideceu. O sorriso de Josie vacilou. — O-oi — Hanna disse, seus olhos correndo de um lado para o outro. — Há quanto tempo você estava aqui, Ali? Ali colocou as mãos nos quadris e piscou. Seu silêncio pareceu enervar Hanna mais ainda. Hanna olhou para Josie. — Eu deveria ir. — É claro — Josie disse. Ela acenou com a mão para Ali, então caminhou para o lado dela da escola. Ali virou e marchou de volta para Rosewood Day com seus ombros tensos e sua mandíbula apertada. Hanna se esforçou para alcançá-la. — Eu espero que você não pense que eu estava falando de você, Ali — ela disse. — Eu estava falando sobre Kate. Eu juro. Ali se aproximou do seu armário e fingiu concentrar-se na combinação. — Mm-hmm. — Josie tem uma meia-irmã, também — Hanna disse, sua voz não particularmente convincente. — Ela meio que... já passou por isso, sabe? Ali a encarou e seus olhos se estreitaram. — E você foi amiga de Kate por dois anos? Desde quando? A boca de Hanna caiu aberta. Nenhum som saiu. Ali abriu seu armário e empurrou um monte de livros didáticos em sua bolsa sem prestar atenção em que matérias eram. — Você deve ter cuidado com quem você fala, Hanna. Você não conhece Josie. Ela não pode guardar seus segredos assim como eu. Hanna assentiu obedientemente. — O-kay. Ali saiu a caminho do estacionamento onde ela ia esperar Jason. — Mas ela parece ser muito legal — ela disse depois de um momento. — Sabe o que eu estou pensando? Talvez eu dê uma festa. Devíamos convidá-la. Hanna torceu sua boca. — Sério? — Uh-huh — Ali disse. — I-isso seria ótimo — Hanna resmungou. — Que bom que você pensa assim — Ali respondeu. Como ficou claro que Hanna não estava recebendo a mensagem de que Josie não era necessária, talvez fosse hora de tentar uma
tática diferente: roubar Josie. Provar a Hanna que todos queriam Ali como amiga mais do que eles queriam Hanna. Nessa altura elas estavam em frente da calçada, ao lado da grande fonte borbulhante. A mãe de Hanna parou no meio-fio e Hanna acenou um adeus enquanto entrava. Ali continuou a caminhar na direção do mastro, passando por meninas que carregavam pequenas caixas de chocolates Toblerone para vender para uma viagem de campo para a França, e um grupo de meninos estava indo em direção a um dos ônibus de volta. Ela examinou o estacionamento procurando Jason o tempo todo, mas ela não o viu. Ela virou à esquerda e caminhou até a rua principal de lojas à direita na estrada. A placa feliz da Pinkberry parecia berrante e irritante. A bandeira italiana balançando na frente da Cheesesteaks da Ferra a deixou tonta. Ela precisava se controlar. Mas então algo se materializou diante de seus olhos. Um Mercedes dourado estava estacionado no fim do bloco. O motor não estava ligado, mas uma pessoa estava sentada no banco do motorista. Ali reconheceria aquele cabelo loiro brilhante em qualquer lugar. Era a sua mãe. Ela se arrastou para mais perto. Sua mãe segurava um celular em sua orelha, e havia algo na sua postura e na sua cabeça abaixada que fez Ali querer ouvir. A janela estava aberta, e como Ali estava a apenas alguns carros de distância, ela podia ouvir algumas das suas palavras. Nós só precisamos de um pouco mais de dinheiro, querido. Só para pagar o resto das contas do hospital. Então ela se moveu. Eu sei, eu sei. Mas ela é sua filha, também. Ali ergueu os ombros. Por que sua mãe estaria implorando ao seu pai por dinheiro? A Sra. DiLaurentis fez um som de beijo no telefone, depois desligou. Uma fração de segundo depois, o telefone tocou de novo. — Oh, olá, Kenneth — a mãe de Ali disse com um suspiro. Kenneth era o nome do pai de Ali. O tom de voz da sua mãe era totalmente diferente do da última ligação. Entediado. Exasperado. Cansado. O coração de Ali acelerou. Ela abaixou-se na Wordsmith’s Books antes que sua mãe pudesse vê-la. Mesmo que ela não tivesse nenhuma prova, ela sabia que a sua mãe estava conversando com duas pessoas diferentes — dois homens diferentes. Ela perguntou ao primeiro por dinheiro, presumivelmente para as contas do hospital da irmã de Ali. Mas depois ela disse, Ela é sua filha, também. Isso não fazia sentido. A menos que... O lugar de repente começou a girar. Ali declinou para trás, quase colidindo com uma grade cheia de cartões de lembrança. A menos que o primeiro homem com quem a sua mãe estava falando ao telefone fosse o verdadeiro pai da sua irmã gêmea. O que fazia dele o verdadeiro pai dela, também.
19 SOBRE GELO FINO
D
ois dias mais tarde, no momento em que Ali estava saindo de casa, Jason entrou na sua frente e abriu a porta para ela. — Vai a algum lugar? — ele perguntou. — Por que você se importa? — Ali perguntou, se sentindo irritada. Jason estremeceu com o tom de voz de Ali. — Eu apenas achei que poderia te dar uma carona. — Ele se mexeu desconfortavelmente. — Eu pensei que talvez pudéssemos... conversar. Ali apoiou a mão no batente da porta, encarando o Vans de seu irmão. Sobre o que ele queria conversar? A última vez que eles realmente conversaram, ela expressou sua preocupação com seus pais se divorciando. Isso foi antes mesmo de ela descobrir sobre o caso de sua mãe. De repente, o desejo de contar a ele sobre a mãe deles e o homem estranho pulsava dentro dela. A antiga ela teria dito. Eles sentariam na sala de visitas do Radley e falariam sobre tudo, tentando descobrir por que a mãe deles estava fazendo isso, quem o homem poderia ser, o que iria acontecer a seguir. Era muito difícil guardar para si mesma. A cada dia que passava, ela se sentia como se fosse estourar. — Ali? — Jason perguntou. Ela estremeceu e se empurrou de volta à realidade. Ela não era a mesma, e ela nunca poderia ser novamente. Alison DiLaurentis não teria esse tipo de relacionamento com seu irmão, ele era muito temperamental e estranho para se importar. Ela deu um passo para fora da varanda. — Eu posso chegar lá sozinha — ela falou por cima do ombro. — Eu duvido que estejamos indo na mesma direção, de qualquer forma.
*** Dez minutos mais tarde, Ali estacionou sua bicicleta na frente da Pista de Patinação Orvis Hollis Memorial da Faculdade Hollis, onde ela foi se encontrar com Emily. CASA DOS PINGUINS DA HOLLIS, dizia um cartaz perto da calçada. Meninos com patins de hóquei de gelo pendurados nos ombros e varas compridas em forma de bumerangue passaram pelas portas duplas. Apesar de estar na rua, Ali sentiu o cheiro de pipoca recém feita da pista e cachorros-quentes dos estandes. — Alison DiLaurentis patinando no gelo? Ali se virou. Um Escalade preto estacionou no meio-fio, e o rosto de Ian Thomas, bronzeado e bonito inclinou-se para fora da janela. Ali caminhou até ele. — Você está me seguindo, perseguidor — ela brincou.
— Você me pegou. — Ian saiu do carro e caminhou até ela, parando tão perto que eles estavam quase se tocando. — Eu só queria que você soubesse que eu beijei Spencer, como você pediu. Então, quando é que você vai cumprir o final do acordo? Ali tirou um tubo de brilho e passou-o em seus lábios. A última coisa que ela queria era beijá-lo, mas algo na forma que ele estava olhando para ela a fez se sentir uma super-heroína poderosa, como se ela pudesse girar carros acima de sua cabeça ou dobrar barras de aço com sua mente. Um segundo depois, porém, ela se deu conta de uma coisa: trair Nick com Ian não a fazia melhor do que sua mãe. Um arrepio percorreu-a. Outra pessoa poderia ser o pai verdadeiro dela, um homem horrível qualquer que ela não conhecia? Não fazia sentido. Seu pai tinha levado ela e sua irmã para deslizar na neve quando eram pequenas. Ele ia para recitais de dança. Ele sabia que ela gostava de suco de laranja sem polpa e café francês Wawa de baunilha. O que quer que tivesse acontecido, se algo tivesse acontecido, ela estava quase certa de que ele não sabia sobre isso. E talvez algo houvesse acontecido. O Sr. DiLaurentis e Jason tinham dedos idênticos, o segundo maior do que o primeiro. E Ali tinha o cabelo loiro de sua mãe e olhos azuis gelo. Mas ela não tinha o nariz de nenhum dos dois — nem o pequeno nariz arrebitado e de botão da sua mãe tampouco o inclinado e feio do seu pai. Durante muito tempo, ela esteve grata de não ter herdado o nariz do seu pai, mas agora ela se arrependeu. E de onde seus lábios arqueados e sorriso sarcástico tinham vindo? Ela olhou para seu pai por tanto tempo no jantar na noite passada que ele perguntou a ela duas vezes se havia algo de errado. Ian levou a mão em direção ao braço de Ali, mas Ali se afastou antes que ele pudesse acariciar seu pulso. — Sabe de uma coisa? Eu mudei de ideia. Eu só vou te dar um beijo, se você terminar com a sua namorada. Ian franziu a testa. — Melissa? Ali soltou uma risada. — Não, Spencer. Claro que é Melissa. Eu não sou do tipo que sai com garotos que já tem donas. Ian cruzou os braços sobre o peito. — É apenas um beijo. — Esse é o meu acordo final. — Ela se virou e caminhou em direção à entrada para a pista de gelo. O interior da pista de gelo estava escuro e frio. Bandeiras de equipes e placas de campeonato estavam pendurados nas paredes, e uma música New Wave dos anos oitenta tocava nos alto-falantes. Um reparador de gelo grunhia de um lado para o outro sobre o gelo, retirando todos os gelos. Várias crianças pequenas ficavam impacientes contra as paredes de acrílico, seus patins de gelo balançando. Ali viu Emily no balcão de aluguel. Quando Emily se virou e sorriu, o estômago de Ali revirou. Essa era a primeira vez que ela ficava sozinha com Emily desde que ela descobriu o coração no caderno de Emily. Mesmo que ela estivesse quase certa de que Emily não tinha ideia de que Ali sabia disso, ela ainda se sentia insegura, como se Emily pudesse adivinhar que ela sabia. E como ela poderia não saber? Ali tinha corrido rápido do banheiro. Ela não tinha sequer tentado esconder, o que não era típico dela. Isso a fez se sentir paranoica com todos os outros segredos em sua vida. E se as pessoas descobrissem sobre isso? — Oi — Emily disse suavemente enquanto se aproximava. Dois pares de patins de gelo brancos estavam enrolados em seu pulso, e ela usava um suéter grosso de tricô e jeans. Ela entregou a Ali um par de patins do tamanho 36 e se sentou no banco. — Obrigada por vir me encontrar. Vai ser muito divertido.
— Se você gostar de se esquivar de crianças pequenas — Ali disse, observando as crianças de uniformes de escoteiras e patins marrons alugados saírem do banheiro. — E cair de bunda. Eu não patino desde que eu era pequena. — Não se preocupe — Emily disse suavemente. — Eu te ajudo. Ali olhou para a amiga, pensando no coração de novo. Eu amo Ali, ele dizia. Ali a amava também, mas não desse jeito. Ela ainda não sabia se sentia-se lisonjeada ou completamente esquisita. Ali empurrou o calcanhar dentro do patins e puxou os cordões apertados. Ela tinha acabado de amarrar um nó quando o reparador de gelo saiu da pista de gelo e os guardas abriram as portas novamente. As crianças pequenas correram para dentro. Luzes de discoteca iluminaram o gelo recém brilhante. Uma música de Flo Rida começou a tocar. Os tornozelos de Ali balançaram logo que ela pisou no gelo. Emily estendeu o braço. — Se segure. Eu pequei você. Ali se agarrou na manga de Emily. Seus pés ziguezaguearam com ela, e ela estendeu o outro braço para se equilibrar. Quando um menino com patins de hóquei de gelo e uma camisa do Flyers6 passou zunindo, quase esbarrando nela, Ali se moveu para a esquerda, mas seus pés viraram para a direita. De repente, ela estava de bunda no gelo frio. — Oops! — Emily disse, ajudando Ali a se levantar. Ela levou ambas em direção à parede e instruiu Ali a ficar quieta por um momento. — Mova seus pés desse jeito, deslizando — ela explicou, demonstrando. Seus patins riscavam uma linha perfeita no gelo. — Mantenha seus tornozelos rígidos. E não olhe para o seu pé, isso definitivamente vai fazer você cair. — Eu não vou cair de novo — Ali murmurou. Mas ela timidamente se empurrou para fora da parede e tentou copiar os movimentos de Emily. Seus tornozelos queriam virar, e suas coxas queimaram ainda mais do que depois de correr de um lado para o outro no campo de hóquei de campo, mas depois de duas voltas ao redor da pista, ela começou a pegar o jeito. Na verdade, era quase divertido. — Vê? — Emily disse. — Você amou, não foi? — Não diga a ninguém — Ali disse, piscando. — Prometo — Emily disse, dando outro sorriso a Ali de torcer o coração. Ali sorriu de volta, mas depois se virou bruscamente. Elas contorceram em torno de um grupo de escoteiras patinando em um aglomerado e olharam com inveja para os patinadores que estavam fazendo saltos complicados no centro. Então Emily limpou a garganta. — Você está animada para a formatura? — Definitivamente — Ali disse. A cerimônia estava chegando, e todas elas tinham que usar becas clássicas e capelo, assim como os veteranos. — Na verdade, eu vou ter um pequeno encontro no fim de semana antes. Eu provavelmente vou convidar Cassie e algumas das outras meninas, por isso vai ter várias classes. Hanna vai convidar a amiga dela Josie, também. — Oh. — A expressão desconcertada de Emily não combinava muito bem com seu tom de voz jovial. — Ainda vamos ter uma festa do pijama de fim de sétima série? — Até onde eu sei — Ali disse. — Por quê? — Só queria ter certeza. — Duas manchas rosadas apareceram nas bochechas de Emily. — Quero dizer, eu não te vi muito ultimamente. Você não tem, tipo, mandado mensagens. Eu pensei que você estivesse com raiva de mim. Ali olhou para o grande relógio Pepsi na parede. — Eu estava ocupada. — Ok. — A voz de Emily estremeceu. — Então... você não está com raiva? Ali olhou desafiadoramente. — Por que eu estaria com raiva? 6
Flyers: Um time profissional americano de hóquei no gelo da cidade da Filadélfia, Pensilvânia.
Por uma fração de segundo, ela quase quis que Emily dissesse. Eu sei que você viu o que eu escrevi sobre você no meu caderno. Talvez fosse melhor para esclarecer tudo. — Nada! — Emily disse rapidamente. Por um momento, ela quase perdeu o equilíbrio, seus patins escorregando em direções opostas e os braços balançando em círculos. Ali pegou no cós da calça jeans dela para mantê-la de pé. Por um momento, ela segurou o olhar de Emily, desafiando-a a desviar o olhar. De repente, ela imaginou Emily perdendo o interesse por ela, Ali se tornando apenas outra amiga, os generosos elogios chegando ao fim. Mesmo que ela não retornasse os sentimentos de Emily, havia algo neles que a fazia se sentir tão poderosa quanto o que ela estava fazendo com Ian. Ela limpou a garganta. — Você está bonita hoje, Em. Um olhar perplexo vibrou através do rosto de Emily. — Eu estou? — Uh-huh. Seu cabelo está ótimo. E eu nunca tinha percebido o quanto sua bunda era pequena na natação. — Oh meu Deus, minha bunda é enorme. — Emily parecia que estava prestes a desmaiar. — Bem, você sempre teve uma boa aparência, Ali. — Bem, então eu acho que nós duas somos lindas — Ali disse, empurrando-a de brincadeira. A boca de Emily se contraiu de emoção. — Você é, definitivamente, a garota mais bonita dessa pista. E de Rosewood. Às vezes eu nem mesmo acredito que te conheço. Ali sentiu um calor passar no seu rosto, lágrimas salpicaram seus olhos — ela não sabia o quanto ela precisava desse tipo de coisa. Envergonhada, ela se virou e engoliu em seco. — Eu mal posso acreditar que te conheço, tampouco, Em. — Ela quis dizer isso em mais de uma maneira: Se ela não tivesse trocado de lugar com a irmã, ela não conheceria Emily. As luzes da pista de repente esmaeceram, e uma música lenta começou a tocar. As crianças pequenas se apressaram para fora do gelo, e os casais restantes deslizaram em direção uns aos outros para uma dança lenta com patins. — Só os casais patinarão — a voz de um locutor disse no alto-falante. — Agarre quem você ama. Uma bola de discoteca se acendeu, enviando fragmentos de luz cintilante ao redor da pista de gelo. Ali se virou para Emily com o coração batendo rápido. — Quer dançar? Os lábios de Emily se separaram, e seus olhos se arregalaram. — Com você? — ela disse, chocada. Ali sorriu preguiçosamente, tentando controlar seu coração acelerado. — Claro, comigo. Meninas podem patinar com meninas, não podem? Ela colocou as mãos na cintura de Emily. Ela tentou ignorar os dedos trêmulos de Emily enquanto Emily colocava-os ao redor do pescoço de Ali. Depois de um momento, Emily fechou os olhos. Um pequeno sorriso apareceu em seu rosto. Elas balançaram de um lado para o outro com a batida. — Isso é bom, não é? — Ali sussurrou no ouvido de Emily. Emily assentiu nervosamente. Quando Ali a puxou ainda mais perto, Emily soltou um pequeno suspiro. As luzes de discoteca coloriam os rostos delas. Ali podia sentir os pulmões de Emily expandirem e contraírem rapidamente. Bzzzz. O bolso de trás de Ali vibrou. Ela estendeu a mão até ele e pegou o celular. Chamada Anônima, dizia. A realidade voltou, e Ali se afastou. — Alô — ela exigiu ao telefone, parando bruscamente sobre o gelo. Um casal quase colidiu com ela, mas ela não se importou. Nenhuma resposta, apenas respiração. — Diga alguma coisa! — Ali gritou. — Eu sei quem é!
Sua irmã não falou, apenas soltou uma pequena risada estridente. — Ali? Emily tocou em seu braço. Ali olhou para ela com o celular pendendo na mão. Os olhos de Emily foram até ele. — Quem era? — ela perguntou, preocupada. Ali balançou a cabeça rapidamente. — Era apenas Cassie — ela disse, dizendo o primeiro nome que ela conseguiu fazer sair de sua mente. — Estamos mandando trotes umas para as outras na semana toda. Nada demais. Emily mordeu o lábio inferior. — Você... tem certeza? — Uhum — Ali gorjeou, empurrando seu celular de volta no bolso. Ele vibrou novamente, mas ela ignorou. Outra música lenta começou a tocar, e Emily pegou a mão de Ali mais uma vez. Mas Ali se afastou, se sentindo suada e nervosa e muito, muito, muito visível. E se sua irmã estivesse de alguma forma a observando agora? E se ela tiver visto Ali fazendo isso e achado que ela estava dançando com Emily de verdade? — Eu acho que uma dança lenta é o suficiente por hoje, não é, Em? — ela perguntou, tentando colocar alegria em sua voz, mesmo que ela estivesse exausta e cansada. As bochechas de Emily ficaram rosa. — É-é claro! Eu não queria dançar! Eu só queria um cachorro quente, e eu queria saber se você queria um também! Mas o sorriso devotado ficou na mente de Ali, e à medida que elas deslizavam na direção da saída, um sentimento amargo fluiu em seu estômago. Dizer coisas agradáveis a Emily levou ela a um lugar mais doce, sentimental e vulnerável. E apesar de trazer à tona a vulnerabilidade geralmente fosse a especialidade de Ali, algo sobre isso a fez se sentir especialmente culpada. Talvez fosse porque Emily era sua melhor amiga. Ou talvez fosse porque, lá no fundo, as coisas que Emily dizia às vezes também faziam Ali se sentir sentimental e vulnerável.
20 A BOMBA
-Q
antos irmãos e irmãs você tem? — Nick perguntou a Ali ao telefone na tarde seguinte. — Um — Ali disse automaticamente, apoiando seus pés contra a parede do seu quarto e olhando para o teto. — E você? — Eu sou filho único. Foi difícil crescer assim. Eu sempre brincava sozinho. — Sim, mas você tinha toda a atenção — Ali apontou. Nick gemeu. — Todo mundo que tem irmãos sempre diz isso. Mas não era muito divertido. — Eu teria gostado de ser filha única — Ali murmurou, mais para si do que para Nick. Ela rolou sobre a barriga. Ela tinha estado ao telefone com Nick por 45 minutos e 36 segundos, não que ela estivesse contando. Essa tinha sido a conversa mais longa que ela tinha tido com um garoto, e eles ainda tinham coisas para falar. — E as amigas? — Nick perguntou. — Você tem uma melhor amiga, ou um grupo, ou o quê? — Eu tenho um grupo, todas elas são as minhas melhores amigas. — Ali cutucou sua unha feita. — Eu não tenho certeza sobre como estão as coisas entre nós agora, no entanto. Ele fez uma pausa. — Vocês brigaram? — Não exatamente. Elas só... bem, algumas delas não são as pessoas que eu pensava que eram. Isso já aconteceu com você? Nick pensou por um momento. — Eu tinha uma amiga há um tempo atrás. Ela era incrível, realmente doce, muito engraçada, mas ela tinha um lado mal. Ali levantou uma sobrancelha. — Uma namorada? — Não exatamente — Nick disse. — Ela era amiga da minha namorada. Uma verdadeira psicopata. A palavra psicopata atravessou o corpo de Ali como um tiro. — Como sua namorada a conheceu? — Espere aí — Nick disse, e houve uma pausa. — Desculpe — ele disse, voltando à linha. — Eu pensei que a minha mãe tinha me chamando. Britadeiras começaram a fazer barulho no quintal dela, e Ali gemeu. — O que é isso? — Nick perguntou. Ali suspirou. — Os trabalhadores estão cavando um buraco no meu quintal para abrir caminho para um gazebo. É o processo mais longo que eu já vi. — Por que os trabalhadores têm que cavar um buraco para construir um gazebo? — Essa é a pergunta que eu me faço — Ali disse, rindo. — Quem sabe? Talvez nós estejamos cavando um abrigo de bombas ao invés. Ou talvez esse gazebo precise de um porão. — Ela moveu o celular para o outro ouvido. — Então, eu vou fazer uma festa antes da formatura. Apenas para um pequeno grupo de amigos, mas eu adoraria que você fosse. — Seu coração batia de forma inesperada. A surpreendeu o quão nervosa ela estava por chamar Nick.
Essa era a primeira vez desde que ela se tornou Alison, que ela se importava se um garoto diria não. — Quando vai ser? — Nick perguntou. — Sexta — Ali disse. — Na minha casa. Totalmente casual. — Hum... Houve um rangido atrás dela, e Ali se virou. Sua mãe estava de pé no corredor com uma expressão nervosa no rosto. Era o tipo de olhar que não dava para ignorar. Ali agarrou o celular contra a orelha. — Eu tenho que ir. Depois continuamos. — Então ela clicou em FINALIZAR. A Sra. DiLaurentis deu alguns passos até o quarto. — Você pode descer por um segundo? Seu pai e eu queremos falar com você e Jason sobre algumas coisas. Por um momento, as pernas de Ali pareceram coladas na colcha. Sua mente trouxe instantaneamente imagens de sua mãe e quem quer que o cara do shopping fosse no outro dia. A forma que o cara tinha tocado o rosto da mãe dela. Talvez fosse melhor não ir lá embaixo, afinal. — Vamos — A Sra. DiLaurentis disse, oferecendo-lhe a mão. Ali não sabia mais o que fazer, além de segui-la. Seu coração batia mais alto enquanto ela descia as escadas e fazia a volta até a cozinha. O Sr. DiLaurentis estava sentado na mesa, e Jason encostado no balcão, comendo rapidamente de uma caixa aberta de Cheez-Its. Ali tentou fazer contato visual com ele, mas ele desviou o olhar. Ela se sentou na mesa e olhou o arranjo no centro da mesa. A Sra. DiLaurentis quebrou o silêncio. — Querida, temos algumas notícias sobre a Courtney. A cabeça de Ali se levantou rapidamente. — Ela está indo muito bem ultimamente. Ela não está mais chamando a si mesma de Ali. Ela está tomando os remédios e se dando bem com os outros pacientes e funcionários. Você viu ela no hospital há algumas semanas, ela parecia feliz. — Ela parecia uma louca — Ali interrompeu bruscamente. Sua mãe levantou um dedo. — Só me deixe terminar, ok? Tivemos uma longa conversa com os médicos, e eles recomendaram tentarmos trazê-la para casa por um tempo. Ela estará aqui na próxima semana, e depois veremos. Ali compreendeu cada palavra individualmente, mas juntas elas não fizeram sentido. — Na próxima semana? — ela perguntou, em seguida, empurrou a cadeira para trás. — Mas e a minha festa de fim-de-ano? Eu convidei vários meninos, e o pessoal de Rosewood Day. — Nós vamos buscá-la na terça, tudo bem? Ali só piscou. — Mas ela vai estar aqui para a formatura? A festa do pijama? Ela não vai para a formatura, vai? — E ela definitivamente não vai para a festa do pijama. — Ah, não, um de nós vai ficar com ela. — O Sr. DiLaurentis colocou uma mão no braço dela. — Vai ficar tudo bem, querida. Nós prometemos. — Não, não vai. — A voz de Ali falhou. — Essa ideia é terrível. — Eu sei que é uma responsabilidade muito grande — a Sra. DiLaurentis disse gentilmente. — E nós estaremos aqui para ajudá-la com isso. Mas, querida, nós realmente achamos que ela não vai mais te machucar. Tente olhar para isso com compaixão, se fosse você no hospital, você não queria que a gente te tirasse de lá? Sim! Ali queria gritar. Eu quis tanto, e vocês nunca me tiraram! Ela olhou ao redor da cozinha. Tudo parecia diferente de alguma forma, as paredes mais próximas, o relógio maior, o fogão brilhante demais. Lá fora, um corvo enorme empoleirou em cima da casa da árvore, parecendo ameaçador. — Ela não está mais chamando a si mesma de Ali? — ela resmungou.
— Não — a Sra. DiLaurentis disse. — Isso é ótimo, você não acha? Ali não tinha tanta certeza. A menos que ela realmente tenha enlouquecido, a razão mais lógica para a sua irmã não chamar a si mesma de Ali era para que os médicos a considerassem sã e a mandassem para casa. E então, o que aconteceria? Ela iria tomar seu lugar de direito como a Verdadeira Ali e forçar Courtney a ficar calada? Ou — mais provável — ela iria descobrir uma forma de fazer Courtney voltar para o hospital para que ela fosse a única menina DiLaurentis novamente? — Você vai dizer a todos quem ela é? — Ali perguntou. — Eu tenho que dizer a minhas amigas? A todo mundo da escola? O que as pessoas vão pensar? — Vamos dar um passo de cada vez — a Sra. DiLaurentis disse. — Agora, vamos tentar trazê-la para casa por alguns dias. Vamos manter Courtney aqui dentro como fizemos da última vez que ela esteve aqui. — Só que ela não ficou dentro de casa — Ali falou bruscamente. — Ela saiu e falou com Jenna Cavanaugh. Ela praticamente expôs todos nós. — Nós vamos observá-la mais atentamente dessa vez — o Sr. DiLaurentis insistiu, pousando sua caneca. — Esperamos que vocês, garotas, conversem um pouco, também. Nós programamos um conselheiro para vir aqui e nos ajudar durante a transição. Nós realmente precisamos começar a lidar com alguns desses problemas, ao invés de evitá-los. — Mas eu não quero falar com ela! — Ali gritou. Ela sabia que parecia selvagem, mas não podia evitar. Então ela olhou para Jason. Havia um pequeno sorriso em seu rosto, como se ele estivesse realmente feliz. — Você sabia sobre isso? Jason assentiu. — Me disseram ontem à noite. Eu também acho que é uma boa ideia. — Você acharia mesmo — Ali falou rudemente. Ela se levantou da mesa e saiu pela porta. — Alison, onde você vai? — a Sra. DiLaurentis gritou. — Sair — Ali falou com raiva, sua voz falhando, o que a deixou envergonhada. — Nós não terminamos de conversar! Ali apenas acenou, mas a Sra. DiLaurentis andou atrás ela, estendendo a mão para pegar a parte de trás da camiseta de Ali. Ali se afastou e se soltou, mas em vez de continuar, ela se virou e olhou para a mãe dela. Seus olhos queimavam. Suas narinas ardiam. De repente, Ali estava cheia de raiva da mulher que estava na frente dela. Seus membros, literalmente, contorciam de ódio. — Eu sei o que você anda fazendo — ela confessou. — Eu vi você com... ele. Eu sei a verdade. De primeira, a testa da Sra. DiLaurentis se vincou, mas depois seu rosto ficou muito pálido. Ela olhou nervosamente para o marido, em seguida, para Jason. A pele de Ali se arrepiou. Então era verdade. Talvez tudo. Ali virou e atravessou a porta correndo. — Alison! — o Sr. DiLaurentis chamou atrás dela. — Droga! Volte! Mas Ali já estava do outro lado do pátio em direção as árvores lá no fundo. Lágrimas escorriam pelo seu rosto. Sua garganta estava entupida com gritos. De repente, parecia que tudo o que ela estava tentando desesperadamente segurar agora era uma bola grande de lã desfiada. Ela imaginou-as jogadas em um emaranhado de nós impossíveis no chão. Não importava o quanto ela tentasse tirar os nós, ela nunca, jamais seria a mesma. E se ela fosse mandada para a Reserva? E se houvesse uma cama esperando por ela agora? Ela pensou na pilha de Polaroids em sua gaveta de cima, todas as suas lembranças desse ano e meio. Elas seriam tudo o que lhe restaria dessa vida. Da vida dela. Ela morreria se tivesse que voltar lá. Ela, literalmente, se mataria.
— Alison! — Sua mãe chamou da varanda, mas Ali continuou. Só quando ela veio para o buraco do gazebo que ela parou e encarou o abismo escuro. Deveria ser uma queda de 3 metros. Se seus pais descobrissem, se “Courtney” de alguma forma planejasse enviar Ali a Reserva no lugar dela, ela iria pular no buraco e nunca mais sair. O que seus pais iriam fazer? Eles tentariam salvá-la? Eles sentiriam falta dela? Eles ao menos se importariam? — Ali! — Sua mãe chamou mais uma vez, e Ali levantou o dedo do meio para o alto. Ela chutou um monte de sujeira e observou pequenos cascalhos deslizarem para baixo, para baixo, para baixo, preenchendo o fundo vazio, e então continuou a entrar na floresta, onde ela poderia chorar sem ninguém ouvir.
21 UMA OFERTA QUE ELA NÃO PODE RECUSAR
D
uas tardes depois, Ali e Spencer estavam sentadas à mesa grande da sala de jantar de Spencer, observando o fluxo da chuva caindo das janelas. Elas tinham tirado alguns dos pratos de porcelana, guardanapos e castiçais da mesa — a Sra. Hastings era do tipo que sempre tinha a mesa preparada para que ela pudesse servir um jantar com vinho para algum convidado que aparecesse sem aviso prévio — para dar espaço para o laptop de Ali e uma pilha de cartões de índice. Elas estavam usando o iTunes de Ali para escolher uma lista de reprodução para a festa improvisada do fim-das-aulas que Ali ia dar na sexta-feira. Os cartões de índice continham palavras do vocabulário para a sua prova final de Inglês de amanhã. — Ok, megalomaníaco — disse Spencer. Ali inclinou a cadeira para trás. — É uma banda ou uma palavra do vocabulário? Spencer deu uma risadinha. — Do vocabulário, boba. Ali levantou as mãos. — Você me pegou. Spencer virou o cartão. — Alguém que tem fantasias delirantes de poder, relevância e onipotência. — Entendi — Ali disse, virando-se. Essa definição lembrou-a de alguém: sua irmã psicótica. Querendo ser a única menina DiLaurentis. Empurrando-a para fora da família por qualquer meio possível. E agora eles estavam trazendo-a de volta. Faltavam seis dias, uma hora e vinte e três minutos aproximadamente para a sua irmã voltar, e Ali não tinha ideia do que fazer sobre isso. Pior, sua família havia começado a se preparar para o retorno da sua irmã gêmea: colocaram uma colcha nova no quarto de hóspedes, compraram para ela um laptop e uma escrivaninha, exigiram a adesão dela no Country Club de Rosewood, criaram uma conta na farmácia de Rosewood para que pudessem facilmente repor seus remédios. A Sra. DiLaurentis até teve a coragem de perguntar a Ali se ela tinha alguma roupa que ela não se importaria de abrir mão — “Courtney” provavelmente necessitaria de algumas coisas para começar a viver ali fora. Como se Ali realmente fosse deixá-la usar suas calças jeans e camisetas! Isso era inacreditável: Mesmo que seus pais acreditassem que a menina do hospital era a Courtney verdadeira, eles ainda estavam tratando ela melhor do que já tinham tratado Ali quando ela estava lá. Ela rodou e virou a noite toda, tendo pesadelos com os corredores da Reserva e os gemidos que ela costumava ouvir no Radley. Será que sua irmã poderia provar, de um modo inequívoco, que Ali havia mentido durante todos esses anos — e forçá-la a tomar o seu lugar na Reserva? E o que Ali poderia fazer se ela fizesse isso? Era verdade, afinal de contas. — Ali? Spencer estava olhando para ela com um lápis pairando a meio caminho entre a boca dela e o papel. Seus olhos azuis estavam arregalados e os fios do cabelo dela haviam se soltado do seu rabo de cavalo. — Eu perguntei se você acha que a banda Nas serve para a lista de reprodução.
— Oh. — Ali girou o anel com a sua inicial em torno do seu dedo. — Pode ser. Spencer inclinou a cabeça. — Você está bem? — É claro! — Ali deixou escapar. Então, ela deu de ombros. — Eu só tive uma péssima noite de sono na noite passada. Jason estava tocando sua música horrível de novo; você sabe como é isso. Spencer virou uma página do livro. O relógio do avô dela no corredor badalou a hora. Assim que a mente de Ali começou a vagar na desolação da histeria mais uma vez, Spencer fechou o livro e olhou para seu celular. — Isso — ela sussurrou, tocando na tela. Ali olhou para cima. — O que foi? Spencer sorriu maliciosamente. — Nada. Ali moveu sua cadeira para dar uma espiada, mas Spencer escondeu a tela com a mão. Não antes de Ali poder ver o nome de Ian Thomas situado no topo de uma mensagem de texto, no entanto. — Você está mandando mensagens de texto para Ian — Ali afirmou. Spencer colocou seu telefone virado para baixo sobre a mesa. — Talvez eu esteja. Ali olhou para ela, chocada com o tom altivo e sarcástico da voz que Spencer estava usando. Esse tom era reservado para ela e só para ela. Ela sustentou o olhar de Spencer por vários segundos. Ela não ia perguntar a Spencer sobre isso. Ela não ia inclinar-se tão baixo que ela teria que implorar. Assim que ela pensou, depois de alguns segundos, o exterior resistente de Spencer se rachou. — Ok, ok. Lembra que eu tinha uma queda por Ian? Ele e eu nos beijamos na minha calçada há pouco tempo. — Ela bateu no braço de Ali, brincando. — O que me coloca à frente da competição de beijar meninos mais velhos. Ali manteve suas feições serenas. — Hmm — ela disse tepidamente. Spencer girou o lápis em suas mãos. — Eu acho que ele gosta de mim. Ele estava totalmente a fim de mim. — Ela deu a Ali um pequeno sorriso presunçoso. — Então, agora eu estou me perguntando o que fazer. Devo ligar para ele? Espero que ele venha até mim? Vai acontecer de novo, eu sei disso. Mas eu não sei como agir. Talvez eu devesse convidá-lo para a sua festa? O que você acha? A boca de Ali caiu aberta. Spencer estava falando sério? Ela achava honestamente que a coisa com Ian era real, que iria continuar? Ele estava namorando a irmã dela. Ela olhou para uma antiga foto da escola de Melissa na parede, por um momento se sentindo mal por ela. Então ela lembrou-se daquele homem estendendo a mão e tocando o rosto da sua mãe. O homem que era, possivelmente, o seu pai, algum babaca que nem mesmo foi viril o suficiente para admitir que ela era dele. Como sua mãe se atrevia a nunca lhe dizer isso! Como ela ousa mantê-lo em segredo de toda a família! E se Ali quisesse conhecer esse cara, quisesse saber de onde ela realmente veio? Será que ela tem importância nisso tudo? Ela se sentia como quando ela estava no Radley — esquecida, a segunda melhor, um impedimento ao invés de algo para educar e acalentar. Vadia. Ela sentia a mesma maldade sombria e pegajosa que ela sentiu com Aria no outro dia. Ela virou-se para a linha de fotografias ao longo da parede ao invés, agarrando o quadro grande da foto de formatura de Melissa. — Isso é uma coisa muito feia de se fazer com a sua irmã, Spence — ela disse. — Ele é o namorado da sua irmã. Spencer estreitou os olhos. — E? Ali olhou nos olhos de Melissa na fotografia. Eles eram o mesmo azul dos dela própria. — Eu sei que você a odeia, mas isso é baixo, até mesmo para você. — Mas você me disse para ir atrás dele! — Spencer gritou, a voz embargada. Ali franziu a testa. — Não, eu não disse isso. Agora Spencer estava de pé. — Sim, você disse! Você não se lembra da festa de Melissa? Você disse, você deveria ir atrás dele. Vale tudo no amor e na guerra.
Ali cruzou os braços sobre o peito. — Bem, eu mudei de ideia. E de qualquer maneira, eu não achava que você realmente iria fazer isso. Spencer andou para o canto da sala e sem rumo olhou para fora da janela. A vista era do celeiro de Melissa. Havia uma luz acesa dentro; Melissa deve estar em casa. — Eu realmente gosto dele — ela disse trêmula, de repente com os olhos brilhando com lágrimas. — Eu pensei que você ficaria feliz por mim. Ali suspirou e levantou-se. — Eu ficaria mais feliz se você gostasse de outra pessoa. Um entendimento cobriu o rosto de Spencer. — Você gosta dele? Ali balançou a cabeça bruscamente. — Não. Eu só acho isso errado. E eu acho que você deveria contar a Melissa o que você fez. — Eu não posso! Ali se apoiou em um quadril. — Sim, você pode, Spence. E se você não fizer isso, eu vou. Os olhos de Spencer procuraram o rosto de Ali como se ela nunca o tivesse visto antes. Depois de um momento, ela se virou para o lado e soltou um gritinho. — Talvez eu não precise mais de você como amiga — ela resmungou entre os dentes. Ali riu. — Vamos lá, Spence. Você não seria nada sem mim. — Isso não é amizade. Estou cansada de você sempre tentar ser melhor do que eu. Ali bufou, mas não mordeu a isca. — Além disso, se não somos mais amigas, então eu não tenho absolutamente nenhuma razão para não contar a Melissa o que aconteceu. Eu só estou mantendo a minha boca fechada porque eu me importo muito com você. — Ela piscou inocentemente. Spencer passou a mão na sua testa. Ela abriu a boca, mas as palavras não saíram. Ela caminhou até seus livros, reuniu-os em seus braços, e marchou com raiva para fora da sala, deixando cair alguns cartões de índice enquanto ela ia. Ela não voltou para buscá-los, e Ali encarou a caligrafia perfeita. Svengali, dizia. Definição: pessoa que, com má intenção, controla outra pessoa pela persuasão ou mentira. O Svengali pode fingir bondade e usar manipulação para fazer com que a outra pessoa se submeta à sua autonomia. Essa sou eu, Ali pensou severamente. Isso é no que a minha família tem me transformado. Ela caminhou por entre os arbustos até o seu quintal. Mas, assim que ela estava prestes a abrir a porta da frente da sua casa, sua pele arrepiou. Parecia que havia alguém atrás dela, observando, mas quando ela se virou, a rua estava vazia. Ela estreitou os olhos para a casa dos Cavanaughs do outro lado da rua. As persianas estavam fechadas. Não havia luzes acesas. Algo sacudiu do batente da porta e caiu a seus pés. Ela abaixou-se, pegou, e franziu a testa para a foto Polaroid diante dela. Era a foto que ela tinha tirado de si mesma e de Ian em Romeu e Julieta algumas semanas atrás. Só que agora haviam palavras escritas com batom vermelho sobre os rostos sorridentes dela e de Ian. Ali arfou enquanto lia a mensagem, em seguida, olhou em volta mais uma vez. — Olá? — ela disse baixinho com a voz embargada. — Ali? — Nenhuma resposta. Engolindo em seco, ela olhou para a mensagem mais uma vez. Você está morta, vadia, dizia com uma letra que parecia estranhamente com a da sua irmã.
22 A GAROTINHA DO PAPAI
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a tarde de quinta-feira, Ali e Aria estavam nos corredores da Sparrow, uma loja de discos empoeirados no coração do distrito comercial de Hollis. Cut Copy tocava sobre os alto-falantes e dois adolescentes da faculdade de aspecto sujo estava nas registradoras, ouvindo a música com os olhos fechados. A Sparrow era uma das lojas que sobraram na área de Filadélfia que vendia álbuns de discos reais. Mesmo que a família de Ali nem sequer possuísse um toca-discos, era divertido percorrer as estantes, olhando as capas dos álbuns. — Estou realmente animada para essa festa — disse Aria enquanto ela vasculhava os discos de dança. — Foi legal da sua parte organizá-la, Ali. — Eu estou ansiosa para ela — Ali disse calmamente. Então, ela olhou para o seu celular apitando. Dessa vez, não era uma chamada de um número anônimo, mas uma mensagem de Spencer. Consegui a prova final de história hoje, disse. Você quer as respostas? Tudo bem, Ali escreveu de volta, sentindo uma onda de satisfação. Esta era a terceira mensagem de negociação que ela tinha recebido de Spencer hoje, tudo para impedir Ali de dizer qualquer coisa para Melissa. Na primeira mensagem, Spencer disse a Ali que ela poderia ficar com as bolsas Burberry dela em vez de apenas pegá-las emprestadas. Na segunda, ela disse que estava se esforçando bastante para conseguir o celeiro para a festa do pijama. Ali provavelmente poderia pedir a lua agora e Spencer iria oferecê-la enfeitada com um laço. Era bom Spencer estar sendo controlada por ela novamente. — Talvez eu devesse entrar na DJing — Aria murmurou, suas pulseiras braceletes batendo juntas quando ela pegou um grande par de fones de ouvido de plástico e colocou-os sobre suas orelhas. — Eu pareço legal? Talvez algum garoto de faculdade goste disso. — Você parece um controlador de tráfego aéreo — Ali disse, tirando-os dela. — Esses fones de ouvidos enormes irão estragar o seu cabelo. Aria fez beicinho, depois deu de ombros e colocou os fones de ouvido de volta na prateleira. Ela segurava um velho disco dos Rolling Stones. — Você devia levar este para Noel. Ele realmente gosta de rock clássico. Ali piscou. — Por que eu o daria para Noel? Aria parecia surpresa. — Porque você está saindo com ele? Ali ficou olhando incisivamente para um tufo de poeira no canto, era o tipo de loja que provavelmente nunca tinha visto um espanador. Ela quase tinha esquecido que ela disse a Aria que Noel estava a fim dela. Ela ainda disse a ela que eles tinham saído em dois encontros, mesmo que eles não tivessem. — É — ela disse tepidamente. — Você deve estar realmente magoada por causa de Noel, hein? Aria entrou na sala de discos raros, que tinha duas cabines de escutar na parte de trás e lâmpadas aquosas de néon cor de lava nas mesas dos cantos. — Eu não sei — ela murmurou. — Eu recebi algumas notícias hoje que diminuíram um pouco a dor.
Ali olhou para ela. — Que tipo de notícia? — Ela se preocupou, de repente, de que houvesse uma desculpa inocente para o que aconteceu entre o Sr. Montgomery e aquela garota. Que a família de Aria estivesse bem — que apenas a família dela estivesse desajustada. Aria pegou um disco dos Fleet Foxes, em seguida, pousou-o novamente. — Meu pai recebeu uma oferta para ensinar na Universidade da Islândia no próximo ano. Todos nós podemos ir. Ali piscou. — Islândia? Eu pensei que só pinguins vivessem lá. — Isso é na Groenlândia — Aria disse conscientemente. — A Islândia é exuberante e bela. Nós olhamos fotos dela na internet na noite passada, e ela parece incrível, ela é cheia de vulcões e geleiras e tem incríveis snowboards. Também há bons teatros musicais lá e, aparentemente, todos os caras são altos e lindos. Ali olhou para ela. Apenas imaginar a família de Aria alegremente sentada ao redor de um computador a deixou tonta. A última reunião da família DiLaurentis foi quando seus pais lhe disseram que sua irmã estava voltando para casa, e olha o quão bem isso tinha ido. — A Islândia não é o lugar que, tipo, fica claro o tempo todo no verão e escuro no inverno? Isso seria um saco! Aria encolheu os ombros. — Eu acho que você se acostuma com isso. — E se eles não falarem Inglês lá? — Eles falam. Nós checamos. Todo mundo fala Inglês perfeitamente. E a taxa de alfabetização é de cem por cento. Ali fungou, não convencida. — E se eles fizerem você aprender Yodel7? — Eu acho que isso é na Suécia — Aria disse. — Ou na Noruega. — Parece uma ideia terrível — Ali decidiu. — Você não leu a Teen Vogue do mês passado? Eles listaram os melhores lugares para visitar, e a Islândia não fazia parte da lista. Aria inclinou a cabeça. — Se você está com ciúmes, você pode vir me visitar. Eu adoraria. — Eu não estou com ciúmes! — Ali estalou. Mas talvez ela estivesse com um pouco de inveja. Além disso, Aria nem parecia se importar que ela estivesse deixando Rosewood, deixando-a. Na verdade, parecia que ela queria dar o fora daqui, como se suas amigas não valessem nada para ela. Aria ainda não tinha dito o quanto ela sentiria falta de alguém. Ela não tinha mencionado o quão triste ela estava por ir embora. A sensação deixou Ali quente e com coceira, como se ela tivesse acabado de ser mordida por formigas. De repente, ela foi atingida por um pensamento. Foi nessa época que ela tinha feito sua descoberta no beco. Talvez houvesse algo para descobrir lá hoje também. De repente, ela queria que Aria sofresse tanto quanto ela. Ela olhou para Aria. — Você disse que seu pai aceitou esta oferta? — Sim. — Aria sorriu. — Eles vão fazer dele o chefe do departamento. Ele está pensando em fazer sua pesquisa sobre trolls. Louco, não é? Ali fungou. — Seu pai não vai deixar Hollis. Aria apertou os olhos. — Por que não? Ali balançou-se para frente e para trás em seus calcanhares. Ela procurou na expressão facial de Aria qualquer sinal de reconhecimento, mas Aria apenas olhou para ela com os olhos semicerrados. Dando de ombros, Ali virou e começou a sair da loja. Aria a seguiu enquanto ela caminhava pela calçada. — Onde você vai? — ela chamou. — Você está com raiva? 7
Yodel: Tipo de canto caracterizado por modificações de tonalidade entre a voz normal e um falsete (na Suíça, em Tirol).
— Eu não estou com raiva — Ali disse despreocupadamente. — Eu só precisava de um pouco de ar. Caminhe comigo. — Sinto muito, Ali. — Aria soou defensiva. — Mas eu pensei que você ia ficar feliz. É uma oportunidade incrível para o meu pai — para todos nós. — Uh-huh — Ali murmurou. — Estou muito feliz por você, Aria. Sua vida vai ser realmente perfeita. — Isso é o que você pensa, ela acrescentou em sua cabeça. Elas passaram pelo familiar Kinko’s, então pelo lugar no meio-fio onde ela e Jason tinham estacionado algumas semanas atrás. Quando Ali virou no beco que dava de encontro ao prédio de história da arte, eis que havia um Subaru parado em seu local regular no estacionamento da faculdade. Isso. Aria virou a esquina atrás dela. — Ali, por que estamos... — ela parou, olhando para o carro do seu pai. — Oh, hey! Vamos deixar uma nota para o meu pai. Aria enfiou a mão na bolsa, talvez à procura de um bloco de notas e uma caneta, quando algo no carro chamou sua atenção. Sua testa se franziu quando ela viu a cabeça do seu pai aparecer sobre os assentos. Ela estava prestes a gritar, mas, em seguida, a cabeça de uma garota apareceu também. Ali viu o momento exato em que Aria percebeu o que estava acontecendo. A bolsa dela caiu da sua mão. Ela deu um grande passo para trás, tropeçando em um bueiro. Byron Montgomery inclinou-se para a menina e beijou-a na boca. — Pai? — Aria deixou escapar. As pessoas do carro se separaram. O Sr. Montgomery virou e olhou para Aria, e a cor do seu rosto se drenou. A menina, que era loura e bonita, e ainda por cima, era definitivamente uma estudante de graduação, olhou para Aria, impassível, com um sorriso aparecendo em seus lábios. — Aria! — o Sr. Montgomery disse, abrindo a porta. Aria deu mais um passo para trás. Ela olhou para Ali, para seus olhos redondos. Sua expressão transmitia todos os tipos de perguntas. Você viu isso? Isso está acontecendo? E talvez, apenas talvez, você sabia que eles estavam aqui? E então, antes que seu pai pudesse alcançá-la, ela se virou e saiu correndo.
23 O EMARANHADO
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aquela noite, Ali estava deitada de bruços sobre a cama, seu diário aberto diante dela. Ela tinha muito a escrever; muito havia acontecido. Esses dias, ela estava escrevendo mais sobre a vida de suas amigas e transgressões do que ela estava escrevendo sobre ela própria. Era como escrever um romance suculento, mas sem ter de trabalhar nos detalhes, já que todos eles estavam lá em sua memória. Ela escreveu uma última frase sobre Aria espionar seu pai mulherengo no carro, então pousou sua caneta, pegou seu celular, e escreveu uma mensagem de texto para a própria Aria. Como você está?, ela escreveu. Quer conversar? Não houve resposta. Ali passou a língua sobre os dentes. Não era assim que deveria acontecer. Aria deveria cair em lágrimas na frente dela, deveria precisar dela, e então Ali confessaria o que ela também estava passando. Em vez disso, Aria estava sendo bastante silenciosa, quase como se isso fosse culpa de Ali. Seu celular tocou, e por um segundo, Ali pensou que Aria tinha respondido a mensagem. Mas a mensagem era de Nick. Saudades. O coração de Ali deu um salto. Também sinto saudades, ela respondeu. Você vem para a festa? Não sei se eu vou poder, Nick respondeu. Talvez eu tenha que trabalhar nessa noite. Não! Ali respondeu. Tente tirar a noite de folga! Bateram na porta, assustando-a e fazendo seu celular cair no tapete. Sua mãe estava na porta. — Está tão bom lá fora — ela disse suavemente. — Por que você não senta no terraço? Ali pegou o celular dela e encontrou o olhar da sua mãe com um olhar de pedra. — Você está me pedindo para sentar no terraço, ou mandando? A Sra. DiLaurentis parecia atormentada. — Por favor? Ali mordeu o interior de seu lábio enquanto ela seguia a sua mãe até o enorme terraço de madeira na parte de trás da casa. Sua mãe tinha colocado uma jarra de limonada e dois copos com vários ramos de hortelã apoiados na borda, uma tradição antiga de quando as meninas eram pequenas. Em sua antiga casa, hortelã tinha crescido no pátio lateral; Ali e Courtney costumavam amar pegá-la e pressioná-la perto de seus narizes para inalar o cheiro fresco. Elas bebiam suas limonadas como damas sofisticadas, fingindo que eram coquetéis. Ela sorriu para a memória e, em seguida, segundos depois, tossiu para esconder um pequeno gemido. — Você está bem? — a Sra. DiLaurentis perguntou, despejando limonada em seu copo. Ali deu de ombros e olhou para o gramado. Ele estava imaculadamente verde e bem cuidado, graças aos paisagistas semanais. Apenas um buraco feio na parte de trás marcando a cena pastoral. — Tanto faz. — Você está aguardando ansiosamente a sua festa? — a Sra. DiLaurentis perguntou. — Uh-huh. — Ela tomou um gole de limonada.
— Seu pai consertou os alto-falantes no terraço. E os trabalhadores vão ter terminado até lá, mas ainda vai haver um grande buraco. Apenas certifique-se de que ninguém vá lá, ok? Nós não queremos que ninguém caia dentro. — Tá. — Se ela desse uma palavra como resposta, talvez sua mãe a deixasse em paz. A Sra. DiLaurentis cruzou as mãos. O sol jorrava em seu rosto, iluminando uma bochecha e deixando a outra na sombra. — Na verdade, parece que algo está te incomodando. Ali pousou seu copo de limonada com força, fazendo o gelo tilintar. Sua mãe era tão idiota? É claro que algo estava incomodando-a. Várias coisas. E sua mãe sabia exatamente que coisas eram essas. Ela olhou para o buraco meio-cavado outra vez. — Quando é que eles vão terminar essa coisa? — ela perguntou abruptamente. — Eles estão demorando uma eternidade. Quando estiver pronto, a oportunidade de ter festas fabulosas de verão vai acabar. A Sra. DiLaurentis não olhou para o buraco, seus olhos ainda em Ali. — Você tem alguém para conversar, querida? Sobre... coisas? Ali olhou para suas sandálias. — Se você quer dizer sobre ela, nós estávamos mantendo isso em segredo, lembra? Eu não posso falar com ninguém. — Bem, se você gostaria de conversar com suas amigas sobre isso, por a gente tudo bem. Ali sugou seu estômago. — Não, obrigada. A Sra. DiLaurentis limpou uma bagunça invisível de folhas para fora da superfície da mesa do pátio. — Talvez um conselheiro, então. Eles podem ajudar. Ali olhou furiosa para ela. — Você escolheu a gêmea errada. Eu não sou a louca. Eu não preciso de um psiquiatra. A Sra. DiLaurentis fechou os olhos. — Não foi isso o que eu quis dizer. Mas a maneira como você reagiu no outro dia quando eu disse que Courtney estava voltando para casa — você parecia muito perturbada. Ali moveu sua cadeira para que ela não estivesse de frente para a mãe dela. — O que você esperava? Você simplesmente jogou isso em mim! Até mesmo Jason soube antes de mim! E eu não quero ela em casa, mãe. É uma ideia terrível. — Ela é parte da família. E, às vezes, nas famílias, você tem que fazer coisas que não quer fazer. — E o que acontece se ela tentar me machucar de novo? Um carro resmungou na rua. Uma pomba arrulhou das árvores. A Sra. DiLaurentis franziu os lábios. — Isso não vai acontecer. O incidente no banheiro da Reserva brilhou na mente de Ali. — Como você sabe? — Eu só sei, ok? — Então, a mãe de Ali olhou para o buraco meio-cavado, depois para os arbustos que separavam seu quintal do dos Hastings. — Devíamos conversar, também, sobre o que você me disse. Sobre... ele. Ali se levantou e se dirigiu para a porta deslizante. — Não, obrigada. A Sra. DiLaurentis pegou o braço dela. — Não é o que você pensa, Alison. Ali abriu a porta. — Sim, é. — Não é, e você não deveria ter me confrontado sobre isso. Agora, o seu pai está fazendo perguntas. Eu não estou tendo um caso com ninguém, e foi rude da sua parte dizer isso. A cabeça de Ali se levantou. Todos os sons — do farfalhar do vento, do cortador de gramas do vizinho, do zumbido constante da unidade de aquecimento — pareceram cessar todos de uma vez. — Você seriamente vai ficar sentada aqui e negar? Os olhos da Sra. DiLaurentis viraram de um lado para o outro, procurando o seu rosto. — O que você acha que viu, exatamente?
— Eu vi um cara tocando a sua bochecha no shopping. E eu ouvi você — Ali assobiou. — Eu ouvi você falando com alguém com uma voz doce — alguém que não era o papai. Parecia que quem quer que fosse sabia sobre Courtney. Um músculo da boca da Sra. DiLaurentis se contraiu. Seus olhos tinham escurecido para um azul mais profundo, o que sempre acontecia quando ela ficava séria ou enfurecida. — Sim, há alguém que sabe sobre Courtney além de nós. Mas é alguém que tem mantido as coisas em segredo absoluto, eu prometo. Há um monte de coisas que você não entende, Alison. Coisas que você não precisa saber. Ali passou a mão pelo comprimento do seu rosto. Raiva borbulhou dentro dela, então jorrou para fora dela como um gêiser. — Coisas que eu não preciso saber? — Ela rosnou, sua voz soando selvagem. Ela puxou a mão para longe da sua mãe, com sua cabeça girando cada vez mais rápido. — Quando é que você vai dizer a verdade, mãe? Quando é que você vai me dizer de onde eu realmente vim? A Sra. DiLaurentis empurrou sua cabeça para trás e franziu a testa. — Do que você está falando? — Eu ouvi você! — Ali gritou. — Eu ouvi você dizer, Ela é sua filha, também! Portanto, esta diz respeito a mim, mãe. Saber quem é o meu verdadeiro pai é que me preocupa muito. A cor desapareceu do rosto da Sra. DiLaurentis. — Alison — ela sussurrou. E então ela se levantou e deu um tapa no rosto de Ali. Ele veio tão rápido, tão de repente, que Ali não sentiu a picada até alguns segundos depois que ele acabou. Lágrimas brotaram de seus olhos. Sua boca se abriu, mas ela estava muito chocada para falar. A Sra. DiLaurentis se acomodou em sua cadeira. Calmamente, uniformemente, ela pegou o copo virado. Houve uma longa pausa. O coração de Ali palpitou; seu rosto queimava. Parecia que tudo dependia do que a sua mãe iria dizer em seguida. — Não haverá mais nada disso — a Sra. DiLaurentis anunciou em uma voz profunda. E, em seguida, o seu olhar deslocou-se para o buraco meio-cavado na parte de trás do estaleiro. — Os trabalhadores vão derramar o concreto para o gazebo no fim de semana que a sua irmã virá para casa — ela disse na voz superficial e cortante que Ali estava acostumada, uma voz incontestável. Ela apertou o ombro de Ali duas vezes. — Justo a tempo para as suas festas de Verão fabulosas. E com isso, ela se foi.
24 HANNA DEIXA TUDO DE LADO
N
a noite seguinte, Ali colocou a última tigela de batata frita na mesa e recuou para ver o resultado. — As pessoas ainda comem Doritos? — ela perguntou em voz alta, em seguida, virou-se e olhou para as amigas. Era uma pena Hanna não estar entre elas, caso contrário, ela teria feito um comentário sarcástico. — Está ótimo, Ali — Emily disse, ajustando a margarida atrás da orelha, que ela tinha escolhido do quintal lateral de Ali. Emily tinha se arrumado para a festa — para ela, também — usando um par de jeans simples sem buracos e uma quase-apertada camiseta que tinha pego emprestado de Aria que dizia Garotas Irlandesas Fazem Melhor. Ali tinha certeza de que se a mãe de Emily pegasse ela usando isso ela estaria bem encrencada. — As luzes de Natal deram um toque agradável — Spencer disse. Ela ainda estava de olho em sua casa ao lado, provavelmente à espera de Ian, que tinha um encontro com Melissa, essa noite, aparecer. — Obrigada — Ali disse. Seu pai tinha trazido uma caixa de luzes de Natal do porão essa manhã e amarrado-as pelo pátio — Ali tinha visto o resultado pela primeira vez em um restaurante em Little Italy, em Nova York. Depois disso, seu pai se ofereceu para buscar todos os convidados que não tivessem caronas e hambúrgueres grelhados para eles. Um pouco culpado? Ali quis negar, sem querer morder a isca. Era óbvio que ele estava tentando reparar a chegada de sua irmã gêmea na próxima terça, mas nada poderia compensar isso. Ela acendeu mais algumas velas e colocou-as sobre as mesas, em seguida, verificou se o aparelho de som estava selecionado em uma lista de reprodução dançante e que o terraço tinha sido esvaziado para que todos pudessem dançar. Ela tocou em Aria, que estava de pé no canto, olhando para as mensagens do seu celular. — Tudo bem em casa? Aria empalideceu, olhando em volta para as outras meninas no terraço. — Tudo bem. — Ela quase parecia irritada. — Eu estava apenas mandando mensagens para a minha mãe dizendo que horas eu vou voltar para casa. Ali se encolheu. Ela não podia tentar ser simpática? Fúria brotou dentro dela. Tudo bem. Se Aria achava que Ali era uma vadia, então ela seria uma vadia. — Então você sabe quem era aquela garota? — Ali perguntou, se aproximando, quase não reconhecendo a sua própria voz. Aria apertou a boca em uma linha. — Eu não sei do que você está falando. — Você acha que a sua mãe sabe? E todo mundo da Hollis? Aria deu a Ali um olhar suplicante, em seguida, empurrou o celular no bolso e foi embora. Ali observou-a ir, apertando os dentes. Ela não tinha certeza se ela realmente estava com raiva de Aria — tudo o que ela via quando fechava os olhos era a mão de sua mãe prestes a lhe dar um tapa. Mas ser malvada fez ela se sentir bem. Ela se sentia no controle. Ela inclinou a cabeça para o céu, admirando um avião voando alto. A noite estava clara e sem nuvens, com apenas um toque de frio, o que era perfeito para os casais que queriam se aconchegar. Mas essa era a única chatice: Mesmo que Nick houvesse pedido, ele não tinha
conseguido tirar a noite de folga do trabalho. Talvez fosse melhor assim, no entanto. Ali não tinha contado a ninguém sobre ele ainda — ela ainda não tinha certeza de onde eles estavam, e ela não quis dizer prematuramente a suas amigas sobre ele. E de qualquer maneira, essa noite ela tinha trabalho a fazer. A campainha tocou, e Ali atravessou a casa correndo e abriu a porta com um puxão. Hanna e Josie estavam na varanda, as duas usando vestidos estampados semelhantes que Ali tinha visto pendurados nas prateleiras da Otter. — Bem-vindas! — ela disse friamente, empurrando seu desgosto e inveja no fundo. Hanna nunca tinha combinado a roupa com ela. Quando ela se afastou para deixar Josie e Hanna entrarem, mais convidados apareceram no meio-fio. James Freed e o menino novo, Mason Byers, saíram do BMW do pai de James. Kirsten Cullen e Lanie Iler, que eram sempre sem graça, entraram logo em seguida, seguidas por Sean Ackard. No momento em que todos ficaram reunidos no hall de entrada, Mason se aproximou de Lanie, James deu a Kirsten uma cotovelada de eu-gosto-de-você-mas-voufingir-que-te-odeio, e Hanna se afastou, mortificada de estar no mesmo cômodo que sua paixonite. Josie, no entanto, continuou no mesmo lugar e apertou a mão de Sean. — Em que ano você está? — Ali ouviu ela perguntar a ele. — Vou para o oitavo — Sean respondeu. Josie franziu a testa. — Sério? Você parecer ser mais velho. Sean corou. — As pessoas me dizem isso, às vezes. Eu acho que é porque eu sou alto. Ali observou Josie rir e empurrar uma mecha de cabelo atrás da orelha. Ela tinha... gostado dele? Ela olhou para Hanna, que agora estava conversando com Spencer e comendo um punhado de Doritos, talvez não percebendo que Josie e Sean estavam conversando. Ali levou Hanna para o pátio e introduziu-a em uma conversa com duas meninas do time de hóquei de campo das secundaristas. Então, ela voltou para dentro. Josie ainda estava falando com Sean. Isso foi quase fácil demais. James agarrou Sean pelo ombro e levou-o para o quintal, onde alguém tinha ligado o aparelho de som. Ali aproveitou a oportunidade para andar do lado de Josie. — Que bom que você veio — ela deu um sorriso falso. — Qualquer amiga de Hanna é minha amiga também. Josie deu a Ali um olhar cauteloso, mas depois deu de ombros. — Foi legal você ter me convidado. Eu realmente não conheço muitas pessoas por aqui ainda, mas todo mundo parece bem legal. — Tipo Brayden, certo? Josie piscou. — Quem? — Esse cara com quem você estava conversando. Brayden. — Ali escolheu um nome ao acaso, no caso de Hanna ter dito a Josie sobre sua paixonite. Era improvável que Hanna tenha mostrado quem ele era, pois Josie estava flertando com ele, e claramente Sean não havia dito a ela seu nome, tampouco. — Eu acho que ele ficou a fim de você. Josie mordeu a ponta do dedo mindinho, parecendo intrigada. — Você acha? — ela perguntou com relutância. Ali assentiu. — Eu sou amiga dele há um longo tempo. Eu tenho certeza. Os olhos de Josie foram de um lado para o outro. — Ele era bem bonito. — Você quer conhecê-lo melhor? — Ali perguntou. Josie sorriu. — Claro. Ali assentiu. — Sabe o que eu vou fazer? Vou mandá-lo para o solário com algumas bebidas para que vocês possam conversar em particular. — Ela piscou em conspiração. Josie olhou para Ali por alguns longos segundos. — Obrigada. — Vá lá e fique a vontade no sofá — Ali disse, apontando para o solário. Para sua alegria, Josie fez exatamente o que lhe foi dito. Então Ali voltou para o pátio, que estava cheio de jovens. Spencer e Kirsten estavam dançando. Aria e Emily estavam em uma das
mesas, conversando com Joanna Kirby, que teria sido perfeita para o grupo de Ali, exceto pelo fato de que ela era muito obcecada por cavalos — havia rumores de que ela ainda brincava com estatuetas de cavalos. Ali avistou Sean no outro lado do pátio com James Freed. Hanna estava em pé perto dele, roendo a unha, provavelmente pensando em falar com ele. Ali o arrastou antes que ela falasse. E depois disso, foi fácil. Sean, sempre cavalheiro, imediatamente pegou dois copos de ponche e se dirigiu para o solário. Hanna o olhou, confusa, mas ficou colada no mesmo lugar ao lado da cesta de flores Não-Me-Toque pendurada. Cinco minutos se passaram. Em seguida, dez. Hanna se contorceu como se tivesse um percevejo em sua roupa íntima. Ela enfiou a mão na tigela de Doritos inúmeras vezes até que só sobraram migalhas. Finalmente, Ali se juntou a ela no parapeito. — O que aconteceu com Josie? — Eu não sei — Hanna disse, ansiosamente. — Eu não a vi desde que ela entrou. E se ela achou isso idiota e foi embora? Ali ignorou o fato de que Hanna tinha mais ou menos a insultado na cara dela e enganchou o cotovelo no dela. — Vamos procurar por ela pela casa. Elas caminharam até a cozinha, onde o silêncio era chocante em comparação com as vozes lá de fora. Ali enfiou a cabeça em um banheiro, em seguida, olhou para cima, para as escadas. — Eu não sei, Han. Quando Hanna andou até o solário, Ali não se juntou a ela. Ela não precisava. Ela observou quando Hanna parou na porta e a cor saiu do seu rosto. — O que foi? — Ali perguntou, chegando perto de Hanna. Hanna deu um grande passo para trás. Havia lágrimas em seus olhos. Ali espreitou e viu Josie e Sean aninhados no sofá, claramente quase se beijando. — Oh, meu Deus — Ali disse, segurando a mão de Hanna. Todos os tipos de expressões atravessaram o rosto de Hanna. Ela balançou a cabeça, em seguida, fugiu em direção ao banheiro. A porta bateu com força. Ali sacudiu a maçaneta, mas estava trancada. — Hanna — ela gritou. — Han, por favor, me deixe entrar! Uma pequena tosse seca surgiu de dentro. Água jorrando. O barulho da descarga da privada. Ali colocou a mão ao redor da maçaneta. Era um déjà vu do que havia acontecido em Annapolis, em fevereiro. De repente, ela sentiu uma pontada. Ela tinha feito isso acontecer hoje. Mas por outro lado, ela também meio que fez isso acontecer em Annapolis. Ali torceu a maçaneta, e ela abriu — era quase como se Hanna quisesse que ela entrasse. A porta se abriu e ela viu uma cena familiar: Hanna agachada sobre o vaso sanitário com os olhos vermelhos. Ela olhou para Ali não com horror, mas com derrota. Ali entrou e fechou a porta novamente. — Eu realmente não estou fazendo muito isso — Hanna desabafou. — Eu sei — Ali a tranquilizou. — E ver o que você acabou de ver... oh meu Deus, Han. É horrível. Hanna acenou com a cabeça. — Eu disse a ela que eu gostava dele. Eu disse a ela que ele estaria aqui. E ela foi direto para ele! — Algumas garotas são assim — Ali disse, acariciando o cabelo de Hanna. — Você sabe o que você tem que fazer? Nunca falar com aquela vadia de novo, a partir de agora. Se ela tentar falar com você, dê um gelo nela. Ela está morta para nós. Hanna engoliu um soluço. — Mas ela era tão legal. E divertida. E... — Você não pode deixá-la se safar — Ali interrompeu. — As garotas vão pisar em cima de você, se você deixar, Han. E se Sean não percebe o quão você é especial, é problema dele. Vou me certificar de que a reputação de Josie seja um lixo em Rosewood Day, ok? Eu vou até me certificar de que ninguém vá fazer compras na Otter. Eu vou mandar uma
mensagem agora para Spencer e vamos esquecer Sean. E iremos encontrar outro menino para você nesse verão — alguém bem melhor do que Sean. Eu prometo. Hanna enxugou uma lágrima. — Você vai? — Absolutamente. — Ali tirou o cabelo de Hanna do rosto. — Sem ofensa, Han, mas Sean é careta demais para você. Você precisa de um cara mais selvagem, mais legal e um pouco mais divertido. Eu conheço toneladas de meninos assim. — Ok — Hanna murmurou. E, quando ela olhou para Ali, Ali tinha certeza de que ela não falaria com Josie novamente. Ela faria qualquer coisa que Ali pedisse, especialmente agora. Então Hanna limpou a garganta. — E você não vai contar a ninguém sobre... isso, não é? — Ela apontou para o banheiro. Ali moveu seu peso contra a pia. — Hanna, você não acha que deveria dizer a alguém? — Não! — Nem mesmo a sua mãe? Hanna balançou a cabeça, seu cabelo balançando de um lado para o outro. — Por favor — ela implorou. Ali cruzou os braços sobre o peito, fingindo pensar sobre isso. — Tudo bem — ela disse. — Melhores amigas cuidam umas das outras, eu cuido de você, você cuida de mim. — Definitivamente — Hanna disse ansiosamente. — Eu vou fazer o que você quiser. — Perfeito — Ali disse, e deu um tapinha na cabeça de Hanna. — Isso é tudo o que eu peço. Ela pegou para Hanna um copo de água e disse para ela lavar o rosto. Então, ela a ajudou a sair do banheiro, o peso de Hanna apoiado em seu ombro. Mesmo que a roupa de Ali agora cheirasse a vômito como Hanna, ela não reclamou. Era para isso que as boas amigas serviam, afinal.
25 CASAS DE ÁRVORE FAZEM O PRIMEIRO ENCONTRO SER INCRÍVEL
A
festa havia se acalmado às onze horas e quase todos tinham ido para casa. Aria disse que estava cansada, Hanna disse que estava doente, e Spencer tinha um conselho de hóquei de campo na manhã seguinte, então Emily era a única que tinha ficado. Na manhã seguinte, as duas se sentaram no pátio, olhando o sol nascer e em seguida, o buraco no quintal. Havia uma lona em cima dele. Algumas ferramentas foram deixadas na grama perto de lá. — Os trabalhadores disseram mais alguma coisa para você? — Emily sussurrou. — Algumas vezes — Ali disse, fingindo estar chateada. — Isso é tão errado. — Emily estalou a língua. Ali puxou as pernas debaixo dela na cadeira. A verdade era que, mesmo quando ela desfilava na frente dos trabalhadores em um biquíni, eles mal olhavam para ela. Ela se perguntava se seu pai os havia advertido ou algo assim. Ela esticou as pernas. — Você se divertiu na noite passada? — Foi tudo bem. — Emily encolheu os ombros. — Hanna parecia realmente chateada por causa de Sean, no entanto. — Sim. — Ali inspecionou as unhas, esperando que Emily não tenha visto nenhuma armação nisso. Mas mesmo se ela tivesse, ela não perguntaria. — Aria parecia tranquila — Emily continuou. — Assim como Spencer. — Mais ou menos — Ali disse. — Você sabe o que está acontecendo com elas? A luz do teto parecia fazer uma auréola sobre a cabeça de Emily. Ela estava sacudindo os fios soltos da sua pulseira da Coisa de Jenna repetidamente. — Eu acho que elas provavelmente deveriam te dizer elas mesmas — ela disse. Seu telefone tocou, assustando as duas. Ali o pegou, esperando que fosse Nick, mas a chamada era de Desconhecido. Ela virou o telefone de novo. — Você precisa atender? — Emily perguntou. — Não agora. — Ali deu um sorriso apertado. O telefone parou, mas imediatamente começou a tocar novamente. Ali gemeu e chutou por baixo da mesa com o pé, em seguida, se levantou. — Vamos lá — ela disse a Emily. — Vamos andar por aí. Elas andaram até o buraco meio-cavado e olharam para dentro. Os trabalhadores haviam cavado vários metros mais abaixo do que a última vez que ela tinha verificado, expondo mais raízes retorcidas e solo argiloso escuro. Várias pás surradas estavam na parte inferior, e um canivete suíço estava abandonado na borda. Ali pegou a faca e olhou para o fundo. — Eu desafio você a pular no buraco. Emily parecia preocupada. — E se eu não conseguir sair?
— Você conseguirá — disse Ali, mas quando ela olhou para o buraco novamente, ela não tinha tanta certeza. Parecia mais profundo, de repente, do que há um momento atrás. — Pensando bem, esqueça — ela decidiu. — Eu ia ficar muito suja puxando você para fora. Emily se virou e olhou para a casa da árvore na parte de trás da propriedade. De repente, ela pegou o canivete suíço da mão de Ali e caminhou em direção ao tronco sólido. Depois de um momento, Ali ouviu sons de raspagem. Emily estava cortando alguma coisa na casca. — Você está cortando a minha árvore? — ela perguntou, caminhando até ela. — Não. — Emily afastou-se da árvore e mostrou o tronco. Havia um EF + AD esculpido na casca. — Você gostou? Uma sensação de tonteira varreu o corpo de Ali tão inesperadamente como uma tempestade manifestando-se de repente sobre uma cidade. — Fofo — ela disse com a voz embargada. — Eu estou tão feliz por sermos amigas — Emily jorrou. — Eu queria... Eu não sei. Demonstrar para você, eu acho. — Uh-huh. — A garganta de Ali, de repente, estava seca. Emily deixou cair o canivete suíço na grama e olhou para a casa da árvore. — Faz muito tempo desde que nós estivemos lá em cima. — Vamos — Ali disse, ansiosa para mudar de assunto. Ela pegou a corda puída e colocou os pés sobre as tábuas que seu pai tinha pregado ao tronco como degraus em algum momento dos anos que ela havia estado trancada no hospital. Era uma escalada fácil para a casa da árvore, que era basicamente apenas algumas tábuas no chão, pedaços de madeira nas paredes e no telhado, e recortes para as janelas. Havia folhas secas e insetos mortos espalhados pelo chão. Teias de aranha tinham feito residência nos cantos. Ali afastou tudo de lado com as mãos e sentou-se, os ossos da bunda dela cavando na madeira. Emily subiu logo depois e sentou-se ao lado dela. Elas ocuparam tanto espaço que mal havia espaço para as duas; até seus antebraços se tocavam. Elas olharam pela pequena janela, que oferecia uma boa visão do celeiro dos Hastings. Melissa Hastings se movia de um lado para o outro na frente da janela. Parecia que ela estava falando com alguém no telefone. Então Ali se virou e olhou para a casa dela. A luz estava acesa na janela do seu quarto, mas a janela do quarto de hóspedes estava escura. Tinha sido a primeira janela que ela espiou em Rosewood. Em poucos dias, sua irmã iria estar naquele quarto, olhando pela janela, ao invés. Ou ela ficaria em seu antigo quarto de novo? Será que ela convenceu seus pais sobre a verdade do que aconteceu? O interior de Ali revirou. — É tão bom aqui — Emily sussurrou, trazendo Ali de volta ao momento. — Tão... quieto. Parece que não estamos mais em Rosewood. — Seria bom sair de Rosewood, não é? — Ali murmurou. — Eu definitivamente não vou viver aqui quando eu ficar mais velha. — Nem eu — Emily concordou. — Eu não quero nem viver aqui agora. Ali olhou para ela por um momento. Ela queria perguntar por que não. Seus pais? Seus zilhões de irmãos e irmãs? Ela se perguntou se tinha algo a ver com a sua paixão em desenvolvimento. Rosewood não era exatamente o lugar mais tolerante com as pessoas que eram diferentes. — Uma ilha tropical seria bom — Ali disse, após um momento. Os olhos de Emily se iluminaram. — Eu adoraria viver em uma praia. Nadar todos os dias? Incrível. — Por que não vamos agora? — Ali disse. — Eu poderia reservar para nós passagens com os pontos do meu pai. Nós poderíamos fugir e nunca mais voltar.
— Sério? — Emily parecia atônita. — Você gostaria de ir comigo? — Claro, Em. — Ali mudou seu peso. — Seria divertido ir com você. — Talvez fugir seja a resposta, ela pensou de repente. Ela poderia evitar sua irmã para sempre. Ela nunca teria que enfrentar o que estava por vir. — Seria muito divertido ir com você, também, Ali — Emily disse sem fôlego. Seus dedos tremiam um pouco, mas Ali fingiu não notar. — Quando eu digo o quanto estou feliz de nós sermos amigas, eu realmente estou falando sério. Isto é... incrível. — Definitivamente — Ali disse, olhando para a coxa de Emily. Ela havia se aproximado de modo que agora estava tocando o joelho de Ali. Emily olhou para cima e encontrou o olhar de Ali. — Não foi divertido na pista de gelo? — Claro — Ali disse, um sentimento estranho se assentando sobre ela. — Nós vamos ter que fazer isso de novo algum dia. Um sorriso de partir o coração surgiu no rosto de Emily. — Sério? Eu adoraria! — Agora sua coxa estava definitivamente tocando o joelho de Ali. Emily colocou a mão sobre a de Ali e, em seguida, puxou-a para longe, parecendo envergonhada. — Eu estive pensando bastante sobre esse dia, Ali. De repente, tudo o que Ali podia ver em sua mente eram aquelas letras minúsculas soletrando Eu amo Ali no caderno de Emily. O ar parecia carregado — Emily parecia ansiosa para tirar alguma coisa do seu peito. Ali estava com medo de que ela soubesse o que era, também. Ela moveu seu joelho para longe em um puxão e tocou o ombro de Emily. — Eu tenho algo para lhe dizer — ela desabafou. — É um segredo. Emily apertou os lábios. Seus olhos brilhavam. Ali lambeu os lábios e respirou fundo. — Bem, eu meio que estou vendo alguém. Um cara mais velho. Ele é absolutamente incrível. Por um momento, a casa da árvore ficou totalmente silenciosa. — O-oh — Emily gaguejou. Seus olhos correram em várias direções. — Eu queria que você soubesse, porque você é a minha favorita, Em. Você sempre foi. Emily engoliu audivelmente. — I-isso é ótimo. Qual é o nome dele? — É... bem, eu não quero te dizer ainda. Mas em breve, está bem? — Está bem — disse Emily. Elas ficaram em silêncio novamente. Uma eletricidade estática pairava no ar, tão áspera como uma folha seca. Pássaros cantavam. Ao longe, alguém soltou uma risada. E então, de repente, Emily torceu o corpo em direção a Ali. Antes que Ali soubesse o que estava acontecendo, os lábios de Emily estavam tocando os dela. Eles eram macios, normais, assim como os lábios de um cara, na verdade, e por uma fração de segundo, Ali fechou os olhos e deixou a sensação tomar conta dela. De muitas maneiras, era uma sensação boa ser adorada de forma tão pura. Era bom dar a alguém exatamente o que ela queria. Mas, então, ela voltou para si mesma e se afastou. Não era isso que ela queria. E as pessoas iriam pensar que era estranho. Como Emily se atreve a apenas supor que Ali aceitaria isso? Tudo que Ali podia ver eram as partes brancas dos olhos de Emily. Ali sentiu um sorriso sórdido aparecer em seus lábios. — Bem — ela se ouviu dizer, com a voz firme e malvada, — eu acho que é por isso que você fica tão quieta quando está se trocando no ginásio. Emily se encolheu. Uma risada horrível, torturada e falsa vazou da sua boca. — Deus, me desculpa — ela disse. — Eu não sei o que aconteceu comigo nesse momento. Eu acho que eu estava pensando no cara que eu gosto e fiquei confusa. Ali riu de forma grosseira. — Eu não acho que você goste de alguém, Em. Eu acho que você está mentindo para mim.
Os olhos de Emily se arregalaram. — Eu gosto de alguém. — Um cara? — Ali brincou. Lágrimas brilharam nos olhos de Emily. Ela levantou-se e pulou para a escada de corda. — Eu tenho que ir. Ali não disse outra palavra quando Emily desceu e começou a atravessar o pátio. Ela observou-a da casa da árvore enquanto ela montava na sua bicicleta e descia pela rua com seu rabo de cavalo saltando. Emily não olhou para trás nenhuma vez. Por uma fração de segundo, Ali pôde sentir o cabelo de Emily em suas mãos de novo, sua pele macia contra seu rosto. E então ela mordeu com força o lábio, as emoções muito confusas dentro dela fazendo sentido. Por um lado, ela se sentia enojada. Por outro, ela se sentia restaurada. E por outro... bem, ainda mais do que o que ela tinha feito para Hanna, ela sabia que ela tinha acabado de alterar as coisas com sua melhor amiga para sempre. E, apesar de Emily provavelmente estar ainda mais em seu poder do que nunca, isso parecia meio... horrível.
26 SOBRE A BORDA
-N
ós estamos chegando — Nick sussurrou no ouvido de Ali. — Para onde vamos? — Ali abafou uma risadinha nervosa. A grama fazia seus pés formigarem. Os aromas de madressilva e lilases eram levados pelo vento. À distância, ela podia ouvir a água correndo e os pássaros cantando. — É surpresa — Nick disse, apertando a mão dela. — Mas eu prometo que vai ser bom. Era final de tarde, e Ali estava com Nick. Eles se encontraram no King James, e Ali achava que eles iriam fazer compras, mas depois Nick envolveu uma venda em torno dela e disse que para onde eles iriam, ela não poderia ver até que eles chegassem lá. Até onde ela sabia, eles tinham entrado em um táxi, Nick sussurrou as instruções para que Ali não pudesse ouvir. Tinha durado cerca de 15 minutos, e os cascalhos rangeram sob os pneus quando eles chegaram. — Sabe, eu devo confiar em você mesmo — Ali disse agora. — Eu não deixaria qualquer um me levar por aí com os olhos vendados. — Que honra — Nick disse. — Eu só espero que você goste do lugar para onde estamos indo. Depois de mais alguns passos, Nick parou e puxou o pano de seus olhos. — Tã-dã. A primeira coisa que Ali viu foi o rosto bonito de partir o coração de Nick — aqueles olhos profundos, aqueles lábios rosados beijáveis, os cabelos cacheados sobre suas orelhas. Atrás dele tinha um campo cheio de flores, e por trás era o que parecia um penhasco rochoso. A água transbordava nos lados e jorrava em uma ravina bem embaixo. Havia vários jovens espalhados nas grandes rochas negras em diferentes graus de nudez. Uma manta xadrez de piquenique tinha sido esticada a alguns passos de distância, com uma garrafa de cidra espumante no gelo, um pão francês comprido, uma roda de queijo e algumas uvas. Também havia um estéreo portátil de iPod na manta, e hip-hop tilintando dos alto-falantes. — Que lugar é esse? — ela perguntou. — Pedreira Homem Flutuante. — Nick parecia surpreso. — Você nunca esteve aqui? Ali olhou para dentro do lago grande e claro no fundo de um penhasco e balançou a cabeça. Spencer costumava encorajá-las a vir aqui, mas Ali sempre se recusou, preocupada de que todas gostassem demais desse lugar, o que poderia fazer Spencer ser mais maneira do que Ali. — O mergulho do penhasco é incrível. — Nick caminhou até a manta. — As pessoas sempre tentam fechar esse lugar, porque eles dizem que é perigoso, mas ninguém ficou ferido ainda. Ali sentou-se na manta ao lado dele, observando as gramas próximas molhadas de orvalho e com alguns trevos. Em seguida, Nick virou-se para ela e beijou-a suavemente nos lábios. Seu estômago flutuou e sua cabeça parecia leve. As mãos de Nick roçaram os ombros dela. Em seguida, ele se afastou e sorriu timidamente para ela. — Você é tão incrível — ele sussurrou.
— Você também — Ali disse de volta. Em seguida, Ali se deitou sobre a manta e olhou para o céu. Nick cortou um pedaço de pão para ela e colocou uma quantidade generosa de queijo. Enquanto ela pegava o pão dele, ele apertou a mão dela novamente. — Estou falando sério, sabe. Você é, tipo, a melhor. Estou feliz por você ter vindo aqui comigo hoje. Espero que compense eu ter perdido a festa da noite passada. — Estou contente por ter vindo, também — Ali disse. Mas, de repente, por razões que ela não podia explicar exatamente, um soluço subiu em sua garganta. Isso era quase bom demais. Ela se virou. Nick parou de derramar espumante de cidra nas duas taças e pousou a garrafa larga no cobertor. — O que foi? Ali balançou a cabeça. — Nada. Desculpe. Eu só estou sendo uma idiota. — Você tem certeza? Um jipe parou, e alguns adolescentes saíram, tiraram suas roupas e caminharam até a beira do precipício. Ali observou quando eles pularam, sem sequer olhar para baixo primeiro. Tudo o que tinha acontecido recentemente borbulhou dentro dela, pronto para transbordar. Sua irmã. Suas amigas. Era mais do que ela poderia aguentar. Seus problemas pareciam com um daqueles brinquedos com cobras dentro de latas que tinha na casa da avó dela: Não importa o quanto ela tentasse encaixar a tampa de volta, ela continuava saindo e as cobras saltando livres. Ela olhou por cima do penhasco, tentando empurrar tudo bem no fundo. — Quanto tempo é a queda? — Eu não sei, mas não o suficiente para ser perigoso — Nick supôs. Então ele se virou para Ali e deu-lhe um olhar muito sério. — Você não tem que mudar de assunto comigo, sabe. Eu faço isso também, quando há algo que eu estou lidando, mas não sei como falar. Mas a coisa que está te preocupando, o que você acha que não pode dizer, você pode sim. Ali engoliu em seco. Ela olhou para Nick, depois levou seu olhar para longe. — Eu não deveria — ela disse. — Não é algo que eu normalmente falo. — Eu não posso prometer que posso ajudar. Mas pelo menos eu vou ouvir. Você me parece alguém que tenta muito, muito fazer as coisas do seu jeito, porque todos os outros em sua vida não conseguiriam te ajudar. Eu sou do mesmo jeito. Ali olhou para ele com gratidão. — Sério? — Uh-huh. Isso me deixa em apuros, às vezes, especialmente quando eu estou lidando com alguma coisa realmente séria e não tenho ninguém a quem recorrer. Mas todos nós precisamos de alguém a quem recorrer. E talvez você e eu devêssemos ajudar um ao outro. Ali assentiu. De repente, ela se sentiu corajosa. Ela inspirou. — Eu tenho uma irmã gêmea — ela admitiu. — Ninguém sabe sobre ela. Apenas dizer as palavras em voz alta a fez se sentir tonta. Ela olhou ao redor, certa de que um relâmpago iria disparar no céu ou que uma praga de gafanhotos desceria da pedreira — algo para provar que o mundo realmente havia alterado. Em vez disso, uma borboleta passou e as nuvens se moveram lá em cima. Nick pegou as mãos dela. — E? — ele disse. — No começo, quando éramos pequenas, nós nos dávamos muito bem. — Ali puxou um punhado de grama e deixou o vento soprar. — Mas então, de repente... bem, eu não sei. Algo aconteceu. E então ela começou a me odiar. Queria que eu fosse embora. Ela fez coisas terríveis comigo. Nick apertou a mão dela. — Eu realmente sinto muito. Um nó se formou em sua garganta. — Meus pais a mandaram embora. Ela foi embora há muito tempo. Mas eu acabei de descobrir que ela vai voltar a viver com a gente de novo.
Nick piscou, sua expressão atordoada, como se tivessem acabado de lhe dar um tapa. — Ela vai? — Bem, sim. Meus pais querem que a gente tente ser uma família, mas não somos uma família, não com ela. Ela vai estragar tudo. Eu já posso imaginar. — Quando foi que você descobriu que ela ia voltar? Ali torceu o brinco de sua orelha. — Há alguns dias atrás. — Ela sentiu as lágrimas aparecendo. — Todo o resto é uma bagunça também. Meus pais... quem sabe o que está acontecendo com eles. E minhas amigas, eu nem entendo mais elas. Eu seria capaz de lidar com essas coisas por conta própria, mas com a minha irmã de volta, é... — É demais — Nick terminou para ela. Ali assentiu. — Exatamente. Então ele abriu os braços e puxou Ali. Ela se aninhou em seu peito, permitindo-se um soluço completo. Era tão bom um abraço ridiculamente apertado. Ela pressionou a orelha nas costelas dele e ouviu seu coração batendo, seu ritmo extraordinariamente rápido. Ele inclinou-se para trás e olhou nos olhos de Ali. — Aconteça o que acontecer, basta manter a cabeça erguida, ok? Você vai passar por isso, eu vou te ajudar. Não deixe que ela te derrube. E sempre que você quiser desabafar, pode me chamar. Eu só quero ter certeza de que você está segura. Ali tentou dar um sorriso vacilante. — Tudo bem — ela disse timidamente. Então, ela baixou os olhos. — Eu nunca disse isso a ninguém, sabe. — Bem, eu estou feliz por você ter me dito — Nick respondeu. — Eu também estou feliz de ter dito. Houve um rugido, e várias ATVs estacionaram. Três meninos desceram, tiraram o capacete, correram e saltaram do penhasco. Um grupo diferente de adolescentes subiu o morro em direção ao carro estacionado deles, todos bronzeados e cansados. Ali colocou um pedaço de queijo na boca e mastigou pensativamente. Ela estava contente por ter contado a Nick. Ela se sentia mais leve de alguma forma, como se tudo fosse ficar bem. Depois de um tempo, Ali se levantou, e foi até o banheiro, um pequeno pavilhão de concreto em frente ao estacionamento. Dentro do banheiro feminino, ela sorriu para seu reflexo no espelho deplorável. — Ele é incrível — ela sussurrou para seu reflexo. — Boo — disse uma voz. Ali gritou quando duas mãos cobriram seus olhos. Quem quer que fosse afastou suas mãos e gargalhou alto. Quando Ali se virou, ela viu Ian Thomas se dobrando de tanto rir. Seu hálito cheirava ao amargo de bebida. Seus Ray-Ban saíram de sua cabeça e caíram no piso de concreto. Ela se afastou dele. — O que você está fazendo aqui? Esse é o banheiro feminino. — E? — Ian deu um sorriso de bad-boy. Ele murmurou baixinho algumas palavras. — Eu vi você e eu pensei que pudesse entrar para ganhar aquele beijo. — Você me seguiu até a pedreira? — Alguém acha que é importante — Ian brincou. — Para sua informação, eu amo mergulhar nesse precipício. Eu não fazia ideia de que você também iria estar aqui. Quem é esse cara que está com você? Ele parece efeminado. — Ele não é efeminado! — Ali se virou para a pia novamente, passando sabão em suas mãos. — Ele não parece ser seu tipo. — Ian veio por trás dela e tocou seus ombros. — Então? E aquele beijo? Ali se contorceu para longe e olhou para ele. — Eu estou com alguém agora. O acordo está acabado. Ian levantou uma sobrancelha. — Então, é sério entre você e o Sr. Efeminado, hein?
— Isso não é da sua conta. Ele pressionou a palma da mão contra a parede, parecendo incrédulo. De repente, antes que Ali previsse, seus lábios estavam tocando os dela. Ali ficou imóvel, chocada, deixando a sensação de sua boca contra a dela consumi-la. Seus lábios eram suaves, e seus movimentos eram confiantes. E em seguida, uma segunda emoção atingiu sua mente: Ela estava beijando alguém mesmo tendo um namorado. Ela não era melhor do que a mãe dela. — Alison? Quando Ali abriu os olhos, seu coração despedaçou. Em pé no corredor, olhando pela porta escorada aberta, estava Nick. Sua boca estava aberta. Seus olhos brilhavam. Ele olhou de Ian para Ali, em seguida, para a mão de Ian, que estava firmemente entrelaçada na dela. Ali se afastou. — Nick! Nick a encarou. Sua cabeça balançou um pouco, e ele deu um grande passo para trás. Ali olhou impotente dele para Ian, que agora estava de pé contra a parede, com os braços cruzados sobre o peito e um sorriso no rosto. — Isso não foi... eu não... não foi nada. Nick pestanejou. — Eu sei o que eu vi. — Ele olhou para Ian. — Que diabos, cara? Ela é minha namorada. Ian sorriu presunçosamente, em seguida, ergueu-se à sua altura máxima. Ele era pelo menos quatro centímetros mais alto do que Nick. — Ela não tentou me impedir. Os olhos de Nick brilharam. Ele deu um passo em direção a Ian com seus braços estendidos. — Por favor! — Ali gritou, ficando entre eles. E então Nick se afastou e jogou a garrafa vazia de cidra espumante no chão. Ela quebrou em pedaços, o vidro voou por toda parte. Ali gritou. Ian levantou os braços para proteger o rosto. Nick olhou para Ali, balançando a cabeça devagar. — Tenha uma boa vida, Alison. — Ele começou a se virar. Ali pegou seu braço. — Do-o que você está falando? — Como assim? — Ele soltou uma risada incrédula. — Acabou. Nós terminamos. — Não! — Ali gritou, estendendo a mão para ele. — Eu sinto muito! Por favor! Mas Nick já havia se afastado dela. Ele atravessou o estacionamento. Ela o seguiu, chamando seu nome, mas ele continuou andando com seus ombros tensos e olhando para frente. — Nick! — Ali gritou. — Por favor, deixe-me explicar! — Mas mesmo quando ela disse isso, o desespero a encheu. Como ela explicaria isso? Eu prometi a ele um beijo se ele beijasse a minha melhor amiga? E, ah, sim, ele está traindo a namorada dele, a irmã da minha melhor amiga, algo que eu sabia o tempo todo? De qualquer forma que ela explicasse, ela soaria como uma vadia sem coração. Nick começou a correr. Ali correu atrás dele, assustada com a forma cega e descuidada que ele estava indo em direção à borda do penhasco. Algo sobre seus movimentos pareciam perigosos e irracionais. Era óbvio que o coração de Nick estava partido. Mas o que ele iria fazer? Agora ele estava a poucos metros do penhasco. Ali correu até ele, estendeu a mão e tocou sua camisa com as pontas dos dedos. — Espere — ela implorou. Mas, em vez de parar na borda e olhar para a água, ele continuou. Em um segundo ele estava em terra firme, no outro ele estava suspenso no ar, e no próximo ele tinha... desaparecido.
27 SORDIDEZ CURA TODAS AS FERIDAS
D
omingo à tarde, Ali se deitou na cama, ouvindo o som das britadeiras no quintal. Toda hora que ela considerava se levantar e fazer algo, seus membros não se moviam. Ela não conseguia se imaginar tomando um banho. Ela não conseguia se imaginar escovando os dentes. Tudo o que ela queria era olhar para os artefatos de seu namoro rápido com Nick. O ticket de montar no carrossel. Um recibo do paintball. Era quase nada. Ela caiu para trás no travesseiro, só querendo dormir. A última vez que ela se sentiu assim foi quando seus pais a enviaram pela primeira vez ao Radley. Ela permaneceu em seu quarto, chocada, muda e horrorizada. O que tinha acontecido? Ela tinha pensado repetidamente. Seus pais tinham deixado ela levar um álbum de família, e ela virou as páginas grossas e barulhentas tantas vezes que o arame ficou gasto. Os enfermeiros tentaram incentivá-la a participar das atividades em grupo, como cantar, escutar músicas ou aulas de arte. Um terapeuta tinha sentado ao lado da cama dela e tentou fazê-la falar, se mover — alguma coisa — mas ela se sentia como se houvesse uma pá enorme pairando acima dela, despejando areia nela até que apenas seus olhos podiam ser vistos de cima. Seu celular tocou, e ela se lançou sobre ele, mas era apenas uma mensagem de Spencer: Vamos nos encontrar na minha casa. Por favor, venha! Fora da janela, Spencer, Aria, Emily e Hanna estavam usando trajes de banho no pátio de Spencer. Ela se jogou para trás no travesseiro, sentindo lágrimas nos olhos. Elas olhariam para ela e saberiam. Emily provavelmente diria as outras que Ali estava vendo um garoto mais velho; talvez elas perguntassem porque os olhos dela estavam tão vermelhos. E como ela poderia fingir? Elas veriam a fraqueza em seus olhos. Elas perceberiam o quão confusa era a vida dela. Elas iriam atormentá-la como ela as atormentava. Era isso o que melhores amigas faziam, não era? Elas comiam vivas umas as outras. Elas dariam a Ali um gostinho do seu próprio veneno. Ela olhou suas mensagens, se certificando de que ela não tinha deixado de ver nenhuma de Nick, mas ela não tinha. O que ele estava fazendo agora? Almoçando, feliz e continuando sua vida? Ele voltaria para ela algum dia? E pior do que isso, ela contou a ele sobre a irmã dela, algo que ela tinha jurado manter em segredo para sempre. Agora, ela se sentia nua, exposta. Seu celular tocou novamente. Você vem? Spencer perguntou. Estou vendo a luz do seu quarto acesa. — Deus — Ali disse entre dentes, atirando o celular no closet. Ele bateu na parede com força, derrubando uma foto de Ali e suas amigas em um barco no porto de Newport. Depois de um momento, Ali saiu da cama, foi até seu celular e digitou uma mensagem para Spencer. Não estou me sentindo muito bem. Outra mensagem chegou imediatamente. Por que não? Você está doente? Podemos ajudar?
Ali fechou os olhos e não respondeu. A última coisa que ela queria era a pena delas. Outra mensagem. Nós vamos aí, Spencer escreveu. O que você estiver precisando, nós podemos ajudar. — Não! — Ali gritou, mas ela sabia que era tarde demais. E quando ela se levantou, Spencer, Aria, Hanna e Emily já haviam deixado o pátio de Spencer e estavam indo em direção ao pátio lateral. Em segundos, elas estariam aqui. De repente, os braços e as pernas dela puderam se mover novamente. Ela calçou um par de chinelos de dedo, ajeitou o cabelo em um rabo de cavalo, e desceu rápido as escadas. Ela quase esbarrou no centro da sala enquanto virava em direção à garagem, mas ela tinha que sair dali — rápido. A Sra. DiLaurentis, que estava com a cabeça na geladeira, olhou para cima quando ela passou. — Ali? Você está bem? — Estou — Ali falou rudemente, estendendo a mão para a maçaneta da porta de vidro deslizante. — Podemos conversar? — As garrafas de óleo de salada sacudiram quando a porta da geladeira se fechou. — Estou ocupada — Ali grunhiu. Lá fora, o sol parecia quase alienígena, claro demais. Um cortador de grama zumbiu ao longe, e as abelhas voavam em torno dos narcisos recém surgidos. O nariz de Ali se contraiu com o cheiro de algo próximo e azedo, e depois de um momento, ela percebeu que era ela mesma. Ela não tinha tirado a camiseta que usara em seu encontro com Nick ontem. Ela deu um passo para fora do pátio, depois parou. As árvores à beira da propriedade sussurraram e chiaram. Ali congelou. Parecia que alguém a estava observando. Ela olhou de um lado para o outro, quase esperando ver um par de olhos encarando ela da floresta. Um arrepio passou por suas costas. — Ali? Ela pulou, sacudindo a mão para o lado e batendo com força contra os tijolos. De pé na beira do pátio estavam Spencer e as outras, todas elas parecendo envergonhadas e preocupadas. Spencer deu um pequeno passo para frente. — Você está doente? Você parece doente. — Eu poderia te fazer uma sopa de frango — Hanna ofereceu. — Ou brownies. Meu pai sempre costumava fazer para mim quando eu ficava doente. — Talvez você devesse voltar para a cama? — Emily perguntou em voz baixa. Ali passou a mão pelo cabelo oleoso e desejou ter trocado a blusa. — Estou bem, apenas um pouco chateada — ela disse, suspirando. — Acho que eu poderia me bronzear por um tempo. — Oh. — Spencer empurrou uma mecha de cabelo atrás da orelha. — Bem, então vamos. Elas voltaram para o pátio de Spencer. Spencer começou a tagarelar sobre uma festa na próxima semana que todas foram convidadas, e Hanna sugeriu que todas fossem comprar vestidos depois da escola na segunda. Mas com cada passo que dava, Ali se sentia preocupada. A maldade familiar e frequente a encheu, e de repente ela quis atormentar alguém. Ela queria que todas se sentissem tão horríveis quanto ela. Aria olhou por cima do ombro, dando um olhar preocupado a Ali, e Ali sentiu uma chama queimar dentro dela. Ela agarrou o braço de Aria. — Você gostaria de falar alguma coisa? — ela sussurrou em um tom falso de interesse. Aria empalideceu e olhou para frente. — Não. Estou bem.
Ali estalou a língua. — Não é bom manter as coisas para si, Aria, eu vejo no Dr. Phil o tempo todo. Você precisa desabafar. Colocar para fora. Caso contrário, você vai ser, tipo, sexualmente reprimida, ou algo parecido, quando for mais velha. Aria se contorceu. — Sério? Ali colocou a mão em seu ombro. — Sim. Então, diga a Dra. Ali o que você vai fazer. Aria chutou uma moita de grama cortada que o serviço de aparar a grama tinha esquecido de ensacar. — Eu não posso fazer nada em relação a isso — ela sussurrou. — Você acha que eles são, tipo, namorados? — O volume da voz de Ali aumentou com uma mistura de horror e emoção. — Ela era tão jovem! Aria enfiou as mãos nos bolsos e deu de ombros. Mas seus olhos estavam molhados, como se ela estivesse prestes a chorar. Ali se virou. Pelo menos ela não estava chorando agora. Pelo menos a mãe dela estava tendo um caso com alguém da idade dela. Hanna olhou por cima do ombro e franziu a testa para a expressão magoada de Aria. — Do que vocês estão falando? — Ela ficou para trás, de modo que Ali e Aria a pudessem acompanhar. — Está tudo bem? — Claro — Aria disse rapidamente. — Tudo está ótimo — Ali respondeu. — Certo, Aria? Aria estremeceu. Ela atirou a Ali um olhar desesperado do tipo por-favor-não-diganada. Hanna parou, parecendo confusa. Emily e Spencer pararam também, olhando com curiosidade para elas de perto dos arbustos de framboesa. — E está tudo bem com você, certo, Hanna? — Ali perguntou. — Bem, exceto por Sean. Hanna torceu a boca. As outras olharam para ela com curiosidade. — Hanna pegou sua nova melhor amiga, Josie, ficando com Sean na minha festa — Ali explicou. As meninas arfaram. — Oh, Hanna, que horrível! — Emily gritou, colocando a mão no ombro de Hanna. — Por que você não nos disse nada? — Aria perguntou. Hanna deu de ombros. — Parecia estúpido falar sobre isso. Sean não é para mim, de qualquer forma. Eu estou superando isso. Ali se ouviu rir. — Você está certa, Han. Você definitivamente tem sua própria forma de tirar as coisas do seu corpo. Hanna ergueu a cabeça rapidamente. O olhar no rosto dela era tanto de horror quanto de traição. O que você está fazendo? sua expressão dizia. Ali não encontrava seu olhar. Ela falou sério quando tinha prometido a Hanna que não contaria sobre a compulsão. Mas isso foi antes. Atormentá-la com isso era quase divertido. Seu desgosto era muito pior do que o de Hanna. E Ali não era idiota o suficiente para pensar que vomitar era a forma de lidar com isso. Naquele momento elas tinham chegado na área da piscina. Spencer se sentou em uma das espreguiçadeiras e cruzou as pernas. As outras meninas também sentaram, embora todas elas parecessem abaladas. Aria olhava fixamente para a água. Hanna nervosamente enfiou a mão na tigela de pipoca da mesa. Ali, por outro lado, sentiu vagamente um brilho nuclear em seu interior. Sua maldade parecia um trem desgovernado, ela não conseguia parar mesmo se tentasse. Mas ela não queria. Toda vez que suas amigas se contorciam, ela se sentia como se restaurasse um pouco da sua fonte de vida. Emily pegou uma revista People e abriu aleatoriamente em uma página. Ali olhou para a página. No lado esquerdo, tinha uma foto de uma menina bronzeada de biquíni fazendo propaganda de cerveja. Ali a cutucou. — Eu me pergunto se ela gosta de casas da árvore. A revista caiu das mãos de Emily, e o olhar em seu rosto era o de um animal preso e torturado. Emily abriu a boca, mas nenhum som saiu.
Hanna se inclinou para frente. — Como assim? Ali sorriu e colocou as mãos no colo. — Ah, é só uma piada interna entre mim e Em. É engraçado, certo, Em? Emily apenas piscou, sem dizer sim ou não. Ali tentou ao máximo não olhar para os lábios cor de rosa dela ou pensar em como o beijo havia sido. Ela também tentou ignorar a pequena oscilação de remorso que ela sentiu por dentro. As outras meninas olharam para Emily, em seguida, para Ali. Todas elas pareciam querer dizer alguma coisa, mas parecia que nenhuma delas sabia o que. Então, como se fosse combinado, a porta deslizante se abriu, e Melissa Hastings, usando um biquíni verde e uma saia transpassada e drapeada estampada, enfiou a cabeça para fora. — Oh — ela disse carrancuda quando viu as meninas. — Eu não sabia que o pátio estava sendo usado. — Oi, Melissa! — Ali disse enfaticamente, se levantando. — Como você está? Melissa parou e observou Ali, seus lábios se contraíram. — Eu estou bem. Ali tocou o braço de Spencer. — Eu acho que Spencer tem algo para te dizer, uma grande surpresa. Não é, Spence? A boca de Spencer escancarou. Ela balançou a cabeça rapidamente. — Não, eu não. Melissa colocou as mãos nos quadris. — O que é, Spence? — Nada. Melissa se voltou para Ali, mas Ali apenas deu a Melissa um sorriso com a boca fechada. Não é assunto meu para eu contar, o olhar dela dizia. Finalmente, Melissa suspirou e voltou para a casa. A porta deslizante apitou quando fechou. Spencer se virou e olhou para Ali. — O que você está fazendo? — O que você está fazendo? — Ali repetiu. Aria piscou. — O que está acontecendo com todo mundo? Ali olhou para ela. — Eu não sei, Aria. O que está acontecendo? Houve outro silêncio atormentador. As aves gorjearam obviamente das árvores. Então Spencer olhou para seu celular. — Eu tenho que ir, ok? Eu acabei de lembrar. — Ela se levantou e entrou na casa sem sequer dizer adeus. As outras meninas observaram a porta deslizar, talvez achando que Spencer voltaria. Quando ela não o fez, Aria se levantou. — Isso me lembra que eu também tenho que ir. — Eu também — Hanna disse rapidamente. Emily deu a Ali um olhar longo e confuso, então se levantou. Elas saíram dali, montaram em suas bicicletas e foram em direção à floresta. Ali soltou um suspiro longo e satisfeito. Tinha sido uma boa ideia vir aqui afinal. Na verdade, ela se sentia muito mais forte — não havia mais necessidade de voltar para a cama. E o melhor de tudo, ela não tinha pensado em Nick nem sequer uma vez.
28 QUERIDA ALI, SEJA MINHA
D
epois da escola, no dia seguinte, Ali se inclinou na janela da frente do Jeep de Cassie enquanto Cassie fazia uma curva brusca em seu bairro. O vizinho dela estava na esquina em seu cortador de grama fazendo listras perfeitas no gramado. As crianças pequenas do outro lado da rua estavam jogando basquete no aro velho. E na casa de Mona Vanderwaal, Mona, Phi e Chassey estavam desfilando na calçada em uma espécie de desfile de moda de meninas feias. Ali franziu o nariz. Quando Cassie virou em direção à casa de Ali, ela se virou para ela e sorriu. — Estou feliz que você tenha me chamado para te levar hoje. Seu irmão estava ocupado? Ali encolheu os ombros. — Jason e eu não estamos nos falando nesse momento. Os lábios de Cassie se curvaram em um sorriso. — Quer que eu interfira? Ali fingiu rir, não querendo falar o motivo deles estarem brigados. Ela não tinha dito uma palavra a Jason desde que ele disse a ela que achava uma boa ideia a família estar trazendo sua gêmea para casa, e era mais fácil fazer isso se ela não aceitasse caronas dele também. Cassie então se virou e olhou para a calçada da frente da casa de Ali. — Você tem algum compromisso? Ali seguiu seu olhar. Emily estava em pé na caixa de correio de Ali, colocando algo dentro. Mas quando ela viu Ali, ela rapidamente fechou a caixa e se afastou como se estivesse pegando fogo. — Não que eu saiba — Ali murmurou, um pouco irritada com a presença de Emily. Antes, quando Em aparecia de surpresa, era bem-vinda. Mas agora, depois de tudo o que aconteceu, ela parecia um pouco... intrometida. Pegajosa. Cassie estacionou no meio-fio. Emily estava com os braços ao lado do corpo, com um sorriso tímido no rosto. Ela não fez nenhum movimento para se aproximar do Jeep de Cassie, talvez esperando a permissão de Ali ou que ela as apresentasse. Ali só se virou para Cassie e deu-lhe um grande abraço. — Foi muito divertido — ela disse. Então, olhou para o pacote de cigarros Marlboro Lights de Cassie. — Posso pegar mais um? Cassie levantou as sobrancelhas. — Garota travessa, fumando na própria casa! E se seus pais verem? — Eu não me importo — Ali disse. Cassie acendeu o cigarro para Ali, e Ali inspirou uma grande nuvem, tentando ao máximo não tossir. Então Cassie lhe deu uma borrifada de perfume Dior e foi embora. Ali ficou de costas para Emily enquanto Cassie virava a esquina dos condomínios. Então, finalmente, ela se virou para sua caixa de correio. — O-oi — Emily falou bruscamente. — Desculpe. Ali se dobrou no quadril. — Desculpe pelo quê? — Interromper. Parecia que você e Cassie estavam se divertindo. — Uhum. — Ali jogou a cinza. — Ela é incrível.
O olhar de Emily caiu em direção ao cigarro. — Vocês fumam? Ali encolheu os ombros. — E? — ela expirou. Emily abanou a fumaça para longe, então pareceu envergonhada pelo gesto. — Eu só achei... quero dizer... Ali bateu na caixa de correio. Ela fez um som oco e de metal. — Então, você estava roubando minha correspondência, Em? Emily escancarou a boca. — Não! Claro que não! Na verdade, eu... — Porque isso é crime federal, sabe — Ali interrompeu. — Você sabia o que mais é crime federal em alguns estados? Beijar pessoas em casas da árvore. Os olhos de Emily se arregalaram. Ela deu um pequeno passo para trás. Ali expirou. — Eu estou brincando. — Oh. — Emily lambeu os lábios. — Eu sabia disso. Ela se virou para a caixa de correio, passando os dedos sobre a bandeira de plástico vermelha. Um olhar melancólico apareceu em sua expressão, e ela respirou fundo, como se estivesse prestes a dizer algo importante. De repente, Ali teve um pensamento horrível: E se Emily quisesse falar sobre as coisas? E se ela quisesse, tipo, tornar as coisas melosas — literalmente? — Você sabe o que seria fantástico? — Ali a interrompeu antes que ela pudesse falar. Ela apontou para as meninas da rua. — Se você dissesse a Mona para parar de desfilar. Ela está estragando a palavra fashion. Emily franziu a testa, em seguida, também olhou para as meninas. — Agora? — Uhum. Um olhar de mágoa cruzou o rosto de Emily. — Ali, eu realmente não quero. Ali abaixou o queixo, a raiva pela desobediência de Emily ondulando por suas veias. — Ei, Mona! — ela chamou em voz baixa. — Adivinha o que Emily gosta de fazer em árvores? Os cílios de Emily tremeram. Ela abriu a boca, mas nenhum som saiu. — Tudo bem — ela grunhiu, abaixando a cabeça e caminhando pela calçada. Ali se arrastou atrás dela, observando Emily interrompendo as meninas. Primeiro, os olhos de Chassey, Phi e de Mona brilharam quando viram Emily indo. Elas rodearam ela do mesmo modo que as alpacas do centro de jardinagem que a mãe de Ali sempre a arrastava se reuniam junto das pessoas perto da cerca. Mesmo que Ali estivesse um pouco distante, ela conseguiu ver o momento exato em que Emily fez o que ela pediu. Mona apertou a boca. Phi inchou as bochechas. Os cantos da boca de Chassey viraram para baixo. Ela quase parecia prestes a chorar. Emily voltou correndo para Ali. — Bem, eu acho que elas não vão mais desfilar. — Graças a Deus — Ali disse. — Elas iriam humilhar o bairro inteiro, você não acha? Bom trabalho, Em. Emily olhou para ela, seu queixo tremendo. — Como vão as coisas entre você e aquele cara? — Que cara? — Você sabe. O que você me falou. Na casa da árvore. O menino que você gosta. Ali apertou os lábios. Ela se impediu de enviar para Nick várias mensagens implorando porque ela não queria parecer desesperada, esperando que ele caísse em si. Só que ele não tinha tentado falar com ela. E quando ela tentou enviar uma mensagem instantânea na noite passada, ele a bloqueou de sua lista. — As coisas estão indo muito bem — ela disse, sorrindo. Emily sentiu um nó na garganta. Seu olhar disparou para a caixa de correio de novo. Ela correu até ela e abriu a pequena porta de metal. Ali colocou uma mão em seu braço. — O que você está fazendo?
Emily piscou. — Eu... — Roubar correspondência é um crime federal, Em — Ali disse em uma voz extremamente doce. Emily assentiu, então se virou, correu até a bicicleta e jogou sua perna por cima da barra. — Eu tenho que ir. — Seu olhar não deixou a caixa de correio, que ela não tinha fechado direito. Havia uma única carta dentro. — Eu vejo você mais tarde, Ali. Ali observou ela pedalar na rua, em seguida, se virou para a caixa de correio. Seus dedos se enroscaram em torno do envelope longo e fino. Ele tinha o nome de Ali na frente com a letra de Emily. Ela esperou até que o cabelo louro avermelhado de Emily desaparecesse na esquina, em seguida, o abriu. Era escrita em apenas um parágrafo, ambos os lados da página preenchidos. A letra de Emily parecia mais desleixada do que o habitual, como se ela tivesse escrito rapidamente, antes que perdesse a coragem. Querida Ali, Eu preciso tirar algo do meu peito. Eu sei que eu te disse que o beijo que compartilhamos na casa da árvore era um engano. Mas realmente não era. Eu quis fazer isso com você e somente você. Ali baixou a carta até a cintura por um momento com um gosto estranho na boca. Ela tinha uma sensação estranha de que Emily poderia querer que ela lesse essa carta na frente dela para que ela pudesse explicar, linha por linha. Ela examinou o resto da carta. Estou tão feliz por nós sermos amigas. Eu adoro olhar para a parte de trás da sua cabeça na sala de aula, eu amo quando você masca chiclete sempre que estamos falando no telefone juntas, e eu amo quando você sacode seus sapatos Skechers durante a aula, quando a Sra. Hat começa a falar sobre os casos judiciais americanos famosos, eu sei que você fica totalmente entediada. Eu não quero que nada fique entre nós, mas eu não acho que vá. Você também sentiu alguma coisa, não é? Eu sei. Ali fechou os olhos e deu algumas respirações profundas. Quando os abriu mais uma vez, ela leu o resto. ...e eu pensei muito no motivo de ter te beijado naquele dia. Eu percebi: não era um engano, Ali. Eu acho que eu te amo. Eu vou entender se você nunca mais quiser falar comigo, mas eu tinha que dizer a você. — Em Quando ela terminou, ela dobrou a carta ao meio e empurrou-a no fundo do bolso. Mas, então, porque parecia muito íntimo, ela tirou-a e empurrou-a no fundo de sua bolsa, em seu livro de matemática. Ela pegou o celular, pronta para escrever para Emily dizendo algo como, encontrei sua carta, que esquisita. Ha ha, brincadeira engraçada. Exceto, que talvez, fosse melhor simplesmente não reconhecer que ela leu. Ela ergueu os ombros e entrou na casa. Assim que ela atravessou o saguão, o cabelo em seu pescoço eriçou. Algo parecia diferente. As bugigangas em cima da mesa da sala eram as mesmas. Havia dois capelos e duas becas penduradas no corrimão, uma azul que era de Jason, e uma branca para sua própria formatura da sétima série. Seu olhar caiu na mala florida no chão. Era a mala dela — de quando ela era Courtney.
Ela sentiu cheiro de café fresco e rolos de canela, a única coisa que sua mãe sempre fazia para ela quando ela era pequena e precisava de consolo. Era o que ela deveria fazer para ela, não para sua irmã. Sua irmã, na verdade, costumava reclamar que rolos de canela faziam seus dentes doerem. Subitamente, Ali soube o que estava acontecendo. Mas isso não poderia estar acontecendo. Isso não deveria acontecer até amanhã. E então ela pensou em Mona e nas outras brincando na garagem, Emily espreitando perto da caixa de correio. Quando ela tinha chegado aqui? Alguém tinha visto? Seu primeiro instinto foi correr até o quarto dela e nunca mais sair, mas depois sua mãe enfiou a cabeça na esquina e sorriu. — Ali — ela disse suavemente. — Sua irmã está em casa.
29 ELA ESTÁ DE VOOL-TA
A
Sra. DiLaurentis colocou uma panela de lasanha de abobrinha na mesa. — Cuidado, está quente — ela alertou, em seguida, começou a despejar limonada nos copos de todos. — Acabei de espremer — ela falou alegremente. — O gosto fica melhor, vocês não acham? Eram algumas horas mais tarde, a família estava sentada na sala de jantar, que era normalmente usada apenas no dia de Ação de Graças e no Natal. Cada lugar tinha um guardanapo dourado, e eles estavam bebendo com as taças de cristal boas. A Sra. DiLaurentis tinha até mesmo acendido as velas, e a luz formava formas estranhas contra seus rostos. E lá estavam todos eles sentados: O Sr. e a Sra. DiLaurentis nas pontas da mesa, em seguida, Jason, então Ali... e, depois, a terceira filha. A gêmea. “Courtney”. — Então, mãos à obra — a Sra. DiLaurentis anunciou quando tirou as luvas de forno. — A lasanha não é nada sofisticada, mas os ingredientes são todos frescos. — Parece excelente — o Sr. DiLaurentis disse, pegando o garfo. — Absolutamente — Jason concordou, tomando um gole generoso de limonada. Ali lançou-lhe um olhar, mas Jason não olhou em sua direção. Na verdade, Jason tinha posto a mesa hoje. E se ofereceu para tirar o pão do forno. E se ofereceu para levar para cima as coisas da irmã dela, fazendo “Courtney” sorrir e dizer que seria ótimo. Todos os traços de Elliot Smith tinham desaparecido. Então Ali se virou para Courtney. Sua irmã estava educadamente esperando enquanto o pai delas colocava um retângulo de lasanha em seu prato. Seus pais tinham ido buscar ela enquanto Ali e Jason estavam na escola, dizendo que hoje era melhor por causa do horário de trabalho do Sr. DiLaurentis. Ela chegou em casa pouco antes dos ônibus pararem no estacionamento de Rosewood Day, o que significava que era bastante improvável que alguém da idade de Ali tenha visto. Não que isso a fizesse se sentir muito melhor. O cabelo de Courtney, que estava com o mesmo comprimento do de Ali, estava puxado para trás do seu rosto com pequenos grampos que tinham pequenas estrelas nas pontas. Ela usava uma blusa listrada com babados no pescoço que Ali nunca tinha visto antes, não era uma das roupas do seu closet que ela tinha embalado há anos atrás, e jeans skinny preto. Longe da luz forte do hospital, a pele de sua irmã tinha um brilho extra saudável, como se tivesse acabado de fazer uma caminhada. E ela parecia estar sorrindo muito, o que deixava Ali nervosa. Ela até sorriu para Ali quando entrou pela porta, se aproximando, dando-lhe um grande abraço e dizendo como era bom vê-la. Mas quando seus lábios estavam perto do ouvido de Ali, ela sussurrou novamente: Diga adeus. — Muito obrigada — Courtney disse agora, em um tom gracioso. — É legal da parte de vocês fazerem isso. — Ela levantou uma câmera Polaroid moderna até os olhos e tirou uma foto de sua mãe. — Diga xis! — Xis! — a Sra. DiLaurentis disse, sorrindo. A câmera fez um som de zumbido, e uma foto saiu. Primeiro, Ali tinha pensado que era a câmera Polaroid dela, mas a Sra. DiLaurentis
tinha rapidamente dito que Courtney havia visto Ali com a dela na cozinha e ficou interessada nela, então hoje eles também deram uma a ela. Ali limpou a garganta. — Engraçado você estar interessada em fotografia, Courtney. Esse também é o meu passatempo favorito. Courtney piscou inocentemente. — Não se preocupe, irmã. Eu não vou fingir que sou você. Ela baixou o queixo e piscou. Ali enrolou os dedos dentro dos sapatos. E se fosse exatamente isso o que a irmã dela tinha planejado? A Sra. DiLaurentis pegou um quadrado de lasanha. — Várias pessoas podem gostar de fotografia, meninas. Courtney sorriu timidamente, em seguida, estendeu a mão para o parmesão, que estava em um pequeno pote de prata — que Ali nunca tinha visto, geralmente eles apenas usavam o pote com pequenos buracos. — Ah, eu faço isso por você — o Sr. DiLaurentis disse, colocando um pouco de queijo na lasanha de Courtney. Como se ela fosse uma inválida e não pudesse fazer sozinha. — Então, nós tivemos uma conversa muito agradável com os médicos hoje — a Sra. DiLaurentis disse entre mordidas, olhando para Ali enquanto falava. — Courtney foi uma paciente modelo no ano passado na Reserva. Ela fez um monte de amigas, participou dos programas de grupo, foi ótima nos estudos... — Ela colocou a mão no ombro de Courtney. — Eles até mesmo deixaram você jogar em uma equipe limitada de hóquei de campo que se reunia ali por perto, não foi, querida? — o Sr. DiLaurentis se intrometeu, sorrindo para a filha. Ali se endireitou. — Você saiu da Reserva por causa de práticas integrais? Courtney deu-lhe um sorriso que provavelmente parecia genuíno para todos os outros, mas para Ali, parecia absolutamente sinistro. — Sim. Não é ótimo? — Você ia para outro lugar? — Ali deixou escapar. Sua irmã baixou o queixo. — Por quê? Você acha que me viu em algum lugar? Ali se encolheu. Então seus temores não eram infundados. Sua irmã a estava observando. Mas então, Courtney fungou e deu a seus pais um reconfortante balançar de cabeça. — Até parece. Os supervisores ficavam na minha cola o tempo todo. Eu jogava, ia a uma sorveteria algumas vezes, e só isso. — Mas você não gosta de sorvete — Ali argumentou, esperando pegar sua irmã em uma mentira. Courtney espetou um pedaço de abobrinha com o garfo. — Você não sabe tudo sobre mim. Houve uma longa pausa. Parecia que a temperatura na sala tinha caído cerca de 20 graus. Jason estendeu a mão para pegar mais pão, mastigando distraidamente. O Sr. DiLaurentis tomou um gole de vinho. — Ali? — A voz da Sra. DiLaurentis quebrou o silêncio. — Você não está com fome? Ali olhou para a lasanha, em seguida, sentiu o olhar de sua irmã nela, como se fosse uma lâmpada de calor escaldante. A última coisa que ela podia pensar agora era em comer, mas se não o fizesse, sua irmã poderia sentir o quão ansiosa ela estava se sentindo. Ela cortou um pequeno quadrado com os dedos tremendo e empurrou-o em sua boca. Tinha gosto de serragem. Courtney segurou a câmera novamente, apontando-a para Ali como se ela pudesse ser o cano de uma arma. Ali colocou uma mão na frente do rosto e se virou, mas Courtney tirou uma foto de qualquer forma.
A Sra. DiLaurentis limpou a boca. — No caminho para casa, todos nós estávamos conversando. Estávamos pensando que talvez pudéssemos apresentar Courtney para algumas pessoas de Rosewood, ver o que acontece. O pedaço que Ali tinha acabado de engolir subiu de volta até sua garganta. — Tipo quem? — Bem, os vizinhos, para começar. — A Sra. DiLaurentis pegou um tomate da salada. — Quero dizer, nós não podemos mantê-la trancada, como fizemos antes, Courtney disse que poderia ter sido parte do problema. — Definitivamente — Courtney disse, assentindo enfaticamente. — Deixá-la sair é parte do problema — Ali grunhiu. Ela olhou para a irmã. A cabeça de Courtney estava abaixada, mas ela estava tentando esconder um sorriso. — Nós só estávamos pensando nas pessoas do bairro — a Sra. DiLaurentis continuou, ignorando-a. — Nós achamos que não cairia bem Courtney, digamos, se graduar, mas deixar algumas pessoas saberem pode não ser uma coisa ruim. — Então vocês vão contar aos Hastings? — Ali praticamente gritou. Spencer não poderia saber sobre isso de jeito nenhum. De. Jeito. Nenhum. — Bem, naturalmente. — A Sra. DiLaurentis limpou a boca com o guardanapo de pano. — Mas achei que você gostaria de dizer você mesma a Spencer, Ali. Talvez na sua festa do pijama. — Ela se virou para Courtney. — Sua irmã vai ter uma festa do pijama do fim da sétima série com as amigas dela na noite de quinta-feira. Ali ficou boquiaberta com sua família. Eles estavam todos sorrindo para ela como se tivessem sofrido uma lavagem cerebral. — Dizer a Spencer na festa de pijama, basicamente, é como dizer a todas as minhas amigas. E, pessoalmente, eu não quero dizer a nenhuma delas. Courtney não é um membro da família que eu tenha orgulho de ter. — Alison! — o Sr. DiLaurentis abaixou o garfo. — Sua irmã está sentada bem aqui. Todos os olhos dispararam para Courtney, que estava escondendo outro sorriso. Ela endireitou-se e cruzou as mãos no colo. — Está tudo bem, sério. Eu estava pronta para um pouco de... hostilidade. Honestamente. Eu não consigo imaginar como deve ser para Ali me ter de volta. — Sua voz falhou, ela se virou para Ali e deu-lhe um grande olhar de filhotinho morrendo de fome. — Eu sei que vai demorar algum tempo para nos darmos bem, mas eu realmente, realmente espero que a gente consiga. Sabe, eu costumava estar muito zangada, mas agora eu entendo que essa raiva era ciúme. Você estava totalmente certa de me querer no hospital, Ali. Você salvou a minha vida. A boca de Ali se abriu, mas as palavras não saíram. Havia lágrimas reais nos olhos de sua irmã. Mais uma vez, para todos os outros, ela provavelmente parecia sincera, mas para Ali, suas palavras eram frias. Ameaçadoras. — Courtney! — a Sra. DiLaurentis falou, apertando as mãos em seu peito. — É tão maravilhoso você dizer isso. A Sra. DiLaurentis olhou encorajadora para Ali, mas Ali olhou para o desenho do seu prato. Ela podia sentir o olhar risonho de sua irmã sobre ela. De repente, ela se sentiu sufocada. — Já chega — ela deixou escapar, levando o prato para a cozinha e quase quebrando-o quando o bateu contra a lata de lixo para tirar os restos do seu pedaço de lasanha. E então ela correu para cima e bateu a porta do quarto com força, dando respirações ofegantes. Isso não poderia estar acontecendo. E, no entanto, estava... e era pior do que ela pensava. Talheres tilintavam lá baixo. Vozes murmuravam. A maldita câmera zumbia novamente, soltando mais fotos. Ali olhou ao redor do quarto, sentindo o coração acelerar no peito. Sua irmã tinha um plano, simples assim. O mais rápido possível, a irmã dela iria
encontrar uma forma de expor exatamente o que ela tinha feito. Talvez ela tivesse uma prova, de alguma forma. Talvez ela inventasse a prova. E talvez, apenas talvez, seus pais acreditassem nela. Afinal, era a verdade. Ali se jogou na cama, deitando a cabeça no travesseiro. Algo afiado cutucou seu crânio, e ela se levantou. Lá, na fronha, estava um pequeno grampo de prata. Ali o pegou e o segurou na palma da mão. Havia uma estrela brilhante na ponta. Ela sabia de quem era. Ela se levantou, olhando ao redor do resto do quarto por sinais de gavetas que tinham sido vasculhadas, portas do closet que tinham sido abertas. Tudo parecia em seu lugar. Mas, ainda assim, um sentimento de terror caiu sobre ela como um edredom de plumas. O grampo caído parecia um presságio. A irmã dela iria pegar sua vida de volta — começando por seu quarto — um grampo para derrubar de cada vez.
30 A SÓSIA
N
o dia seguinte, depois da escola, Ali ficou na frente de uma longa mesa no saguão e observou as crianças darem seus nomes para a Sra. Ulster, a professora de arte, que também era a responsável pela formatura da sétima série. — Sim, claro, Andrew — disse a Sra. Ulster, procurando através de uma caixa no chão e revelando uma longa beca branca da graduação e capelo combinando para Andrew Campbell, um dos nerds da classe. Seu capelo tinha uma medalha especial sobre ele, porque ele tinha conseguido tirar tudo A em um mesmo ano. Assim como Spencer, Ali supôs. — Obrigado — Andrew recolheu a beca e o capelo em seus braços. Quando ele passou por Ali, ele sorriu esperançosamente, como se fossem amigos. Ela bufou e se virou. Ali tinha pegado a beca no outro dia, por isso já estava em casa, mas ela apenas veio pegar o seu assento e os dois bilhetes para cada família que eram permitidos para o evento. Ao seu redor, crianças falavam animadamente sobre a cerimônia daquela noite. Rebecca Culpepper afirmou que ela ia usar sandálias de salto alto sob sua beca. Jordyn Wellsley anunciou que ia sair dançando no seu caminho para o pódio. Chassey Bledsoe perguntou quem ia ser o orador, mas Ali apenas revirou os olhos enquanto ela passava. — Nós não temos um orador, perdedora — ela brincou. — Isso é apenas para os seniores. Chassey parecia intimidada, como se ela devesse saber disso. Mas, enquanto Ali caminhava em direção ao estacionamento, ela sentiu um redemoinho de raiva. Ela esteve animada para se graduar durante todo o ano, e agora aqui estava ela, agora que sua irmã estava em casa, tudo parecia tão denegrido. Hoje era o primeiro dia que Courtney estava em casa, e Ali ainda não tinha sido capaz de sentar-se em alguma das suas aulas, com medo de que sua irmã pudesse aparecer na sua sala de aula a qualquer momento, deixando escapar a verdade. Um Jeep buzinou no estacionamento, e Ali olhou para cima e acenou. Cassie virou a ignição quando Ali subiu e dirigiu em direção à saída. À medida que elas saíam dos estacionamentos, ela ergueu os olhos e apontou com o queixo na direção de um casal subindo a colina em direção ao estacionamento dos seniores, com suas becas escuras balançando em suas mãos. — Eu não consigo acreditar que ele ainda não terminou com ela. Ali esticou o pescoço. Era Ian e Melissa. Eles estavam de mãos dadas e, quando eles se aproximaram do SUV de Ian, Melissa o agarrou pela cintura e lhe deu um grande beijo no pescoço que deu para ouvir à distância. — Eu não consigo acreditar, também — ela murmurou, sentindo uma pontada de ciúme surpreendente. Não era justo que o relacionamento de Ian estivesse tão bem depois que ele estragou o dela. Ela queria que ele pagasse por isso — e ela sabia como. Ela pegou seu celular e procurou o número de Ian. Quer aquele beijo? Ela digitou em uma mensagem. Me encontre na noite de quinta. No meu quintal. 21:00h em ponto.
Houve um ping dentro de trinta segundos. É isso aí, Ian escreveu de volta. Ali tentou reunir uma chama de excitação — afinal de contas, beijar um menino bonito era beijar um menino bonito. Mas ela não sentiu nada. Na calçada de Ali, Cassie inclinou-se sobre o volante. — Você se importa se eu entrar por um segundo? Eu realmente tenho que fazer xixi. — Não — Ali praticamente gritou. Cassie se afastou, dando a Ali um olhar estranho. — Hum, estamos tendo problemas com o sistema de fossa séptica — Ali deixou escapar, percebendo o quão louco tinha soado. — Realmente fede. — Ela olhou fixamente para a casa. Tinha uma cortina balançando? Cassie podia saber que sua irmã gêmea estava lá, só de olhar para o lugar? Cassie fez uma cara simpática, e depois disse adeus. Ali se atirou para fora do carro e correu em direção à porta, aliviada quando Cassie se afastou do meio-fio. Mas, assim que ela estava girando a maçaneta, ela ouviu vozes lá dentro. — Eu não quis dizer nada com isso — sua irmã lamentou. — Você devia ter pensado melhor! — respondeu sua mãe com firmeza. A pele de Ali se arrepiou. O que tinha acontecido? E então, de repente, ela ouviu vozes diferentes, desta vez no quintal. — Por que ela estaria em apuros? — alguém sussurrou. — Ela não fez nada de errado. Ali se afastou da porta. Essa era... Emily? — Não que nós saibamos — disse outra voz familiar. Ali quase se engasgou com a goma de mascar. Spencer. Sua mente girava. Ela não tinha convidado elas. O que elas estavam fazendo aqui? Sua irmã as tinha convidado? Ou — pior — sua mãe, querendo que Ali desse a notícia? Elas não poderiam saber. E se o fizessem, e se lentamente descobrissem o resto — que Ali não era quem ela disse que era? Talvez elas sempre tenham secretamente se perguntado por que Ali abruptamente as escolheu como amigas. Dispensando Naomi e Riley sem explicação. Aquele tempo em que Ali havia se perdido em Rosewood Day no início do sexto ano. Talvez tudo estivesse catalogado em seus cérebros, mínimas peças do quebra-cabeça que não se tornavam uma figura completa. Com a introdução de uma irmã gêmea, se tornaria. E se os pais dela descobrissem, eles a mandariam para a Reserva para puni-la. Ela estava na varanda da frente, com medo de contornar pelo lado e encarar a música. De repente, houve um forte estrondo. A voz da sua mãe veio para fora do pátio. — Eu só quero ter certeza de que as dimensões estão certas — ela gritou para os trabalhadores na parte de trás. Ali saiu do alpendre e na ponta dos pés foi para o pátio lateral, assim que sua mãe caminhava em direção aos trabalhadores do gazebo, que estavam sentados ao redor, aparentemente sem fazer nada. — Não estou pagando para ficarem sem fazer nada — a Sra. DiLaurentis estalou, com as mãos nos quadris. — Isso não pode ser feito mais rápido? Um dos trabalhadores levantou um ombro. — Estamos aguardando o concreto secar. — Quando é que este buraco vai ser preenchido? — a mãe de Ali exigiu. — Amanhã? O mesmo trabalhador balançou a cabeça, seu cabelo desleixado saltando. — Sexta-feira. É o mais cedo que podemos conseguir o caminhão. A Sra. DiLaurentis revirou os olhos e continuou a criticá-los. Ali deu um passo mais para perto, e suas amigas entraram em vista. Todas elas estavam lá, sentadas no pátio de trás, parecendo perplexas. Felizmente, Courtney não estava com elas. Então, talvez elas não soubessem. Ela respirou fundo e subiu as escadas do pátio. — Uh... oi — ela disse.
Spencer se levantou. Um grande sorriso nervoso apareceu no rosto de Emily. Aria olhou para Ali, impassível, e Hanna se contorceu em seu assento. Elas pareciam culpadas, e os temores de Ali vieram às pressas para a superfície mais uma vez. — O que você fez para deixá-la irritada? — Spencer exigiu. Ali ergueu a cabeça, não tendo certeza se ela devia responder. — Você está se metendo em encrenca sem nós — Aria continuou, seu tom de voz leve e sociável forçado. — Por que você se trocou? Aquele colete que você estava usando era tão bonito. Ali piscou com força. Colete. Sua irmã tinha usado um colete no dia anterior. Talvez ela tenha vestido ele nesta manhã, também, que era provavelmente a coisa mais fofa que ela possuía. Seus joelhos ficaram fracos. Elas tinham visto sua irmã gêmea... talvez até mesmo falado com ela, mas não foi por causa da sua mãe. Onde ela estava? Em casa? Lá fora? Mas, em seguida, Ali teve uma ideia. Ela apostava que ela sabia exatamente onde tinha visto a sua irmã. No quarto de Ali. Aquela vadia, ela pensou, fúria subiu em seu corpo como o mercúrio dentro de um termômetro. Como ela se atreve! Esta era a primeira fase do seu plano mestre? Ela estava tentando se passar por Ali e tentando destrocar? O que era ainda pior era que suas amigas acreditavam que “Courtney” era Ali. Se sua irmã poderia convencê-las, ela conseguiria convencer qualquer pessoa. Emily pigarreou, trazendo Ali de volta para si mesma. — Você quer que a gente... vá embora? Ali sacudiu a cabeça rapidamente, percebendo que ela não tinha ideia de que tipo de expressões acabara de cruzar por seu rosto. — É claro que eu não quero que vocês vão — ela conseguiu dizer, tentando recuperar o controle. — Minha mãe estava com raiva de mim porque eu... eu joguei minhas roupas de hóquei junto das suas roupas íntimas Delicates novamente. — Ela revirou os olhos. — Mas não se preocupem, meninas — eu não estou de castigo nem nada disso. Nossa festa do pijama espetacular pode prosseguir como planejado! As meninas pareciam aliviadas, embora algo ainda parecesse pairar sobre elas. Por um momento, Ali se preocupou de que elas estivessem olhando para ela e que percebessem que havia algo diferente nela, algo que não tinham visto na menina com o colete listrado há poucos momentos. Mas, então, Spencer acrescentou que ela tinha boas notícias: Elas poderiam ter a sua festa do pijama no celeiro do quintal dos Hastings, afinal. Inesperadamente, Melissa estava indo para Praga quinta-feira após a graduação, então elas poderiam ter o lugar para elas. — Legal — Ali disse em voz alta, esperando que Courtney, onde quer que estivesse, ouvisse. Ela não ia deixar a sua irmã ficar no caminho da sua diversão. Deixe-a tentar destrocar. Isso nunca iria acontecer. De repente, ela notou um flash de azul através do quintal dos Hastings. Melissa estava caminhando para o celeiro, sua beca balançando de um cabide na sua mão. Ela já tinha pendurado o manto de oradora oficial da escola sobre os ombros. Exibida. De repente, Ali tinha que fazer todo mundo ver o quão poderosa ela era, o quão esmagadora ela poderia ser. Ela não tinha certeza se era para o benefício de suas amigas, exatamente... ou para a menina assistindo de dentro da casa. Ali se levantou. — Ei, Melissa! Melissa parou e se virou. — Oh. Oi, pessoal. — Animada para ir para Praga? — Ali sorriu docemente. — Ian vai? Spencer estendeu a mão sobre a mesa e cravou as unhas no braço de Ali. — Ali. — Não — Melissa respondeu depois de uma pausa. — Ian não vai.
— Oh! — Ali ouviu sua própria voz dizer. — Você tem certeza de que é uma boa ideia deixá-lo sozinho? Ele poderia arranjar outra namorada! Ela deu a Spencer um olhar significativo. — Alison. Pare com isso. Agora. Mas Ali não podia parar. — Spencer — Aria perguntou. — O que está acontecendo? — Nada — Spencer disse rapidamente. Ali viu quando as outras meninas trocaram um olhar incerto. Mas nenhuma delas disse nada. Então, Melissa ajustou o manto em volta do pescoço e caminhou em direção ao celeiro. Ela lançou um longo e duro olhar para o buraco no quintal de Ali, mas não disse nada. Spencer olhou para Ali depois de Melissa ter ido embora, mas Ali não respondeu. Ela mal conseguiu aproveitar o resto da visita, e quando as meninas foram embora, ela correu de volta para dentro da casa e foi direto para seu quarto. Tudo estava em seu lugar. Em seguida, ela encontrou sua mãe, que estava em pé na pia, lavando uns copos. — Você deixou as minhas amigas entrar quando eu não estava aqui — ela exigiu. A Sra. DiLaurentis se virou, parecendo culpada. — Querida, eu pensei que você estivesse em casa. Mas então eu vi você chegar com a sua amiga do hóquei de campo e percebi o meu erro. O corpo de Ali começou a tremer. — Então, elas falaram com ela? — Bem, sim. Mas, então, eu a peguei. — Elas estavam no meu quarto? O olhar da Sra. DiLaurentis caiu a seus pés. — Ela só estava curiosa. O terapeuta nos explicou tudo: Ela não viveu uma vida normal. Nós a privamos disso. Pense em você como um modelo. Essas palavras machucaram: Era dela que eles estavam realmente falando, era ela que eles pensaram que ainda estava no hospital, apodrecendo, se tornando mais estranha e mais feroz a cada dia. — Onde ela está? — Ali disse, com a voz baixa e tensa. A Sra. DiLaurentis colocou a mão no braço de Ali como um aviso. — Querida, não comece uma cena. Tenho certeza de que ela não quis dizer nada com isso. — Onde. Ela. Está? — As emoções de Ali pareciam como uma pipa cuja corda tinha ficado longe dela. Era dessa mesma forma que ela costumava se sentir quando sua irmã a pressionava, pressionava e pressionava até que ela explodiu. Era incrível como, depois de todo esse tempo, o sentimento pôde voltar tão urgente e fresco como no dia em que ela o sentiu pela primeira vez. O pano de prato ficou mole nas mãos da Sra. DiLaurentis. — Olha, nós vamos ter mais cuidado, ok? Vamos mantê-la dentro de casa de agora em diante, só até termos a certeza de que ela não está tendo um retrocesso. Ela vai estar dentro de casa na sua graduação e na sua festa do pijama. Ok? — Você promete? — Ali exigiu. A Sra. DiLaurentis assentiu quase com medo. Mas isso não era o suficiente. Ali virou-se e subiu os degraus, passando por seu quarto mais uma vez. A porta do quarto estava fechada. Ela bateu nela com tanta força que os nós dos seus dedos doeram. — Courtney — ela gritou. Mas a porta não abriu. — Courtney — Ali gritou. — Alison, por favor — disse a Sra. DiLaurentis, ao pé da escada. — Abra a porta — Ali gritou. As molas da cama dentro do quarto rangeram. Uma gaveta se abriu e se fechou. E então, distintamente, ela ouviu uma risada estridente. Era o tipo de gargalhada que soava como uma bruxa e enviou um arrepio por sua espinha. — Eu sei o que você está fazendo — Ali disse, apertando seu rosto contra a porta. — Você não vai se safar dessa!
Ela ouviu passos, e a porta se abriu. Sua irmã estava usando o colete listrado novamente, assim como Ali temia. Seu cabelo estava em um rabo de cavalo alto, sua nova Polaroid estava em uma faixa em volta do seu pescoço, e ela tinha um grande sorriso no rosto. Ela sustentou o olhar de Ali por tanto tempo que Ali começou a se sentir nervosa. — Por que não? — Courtney finalmente perguntou, sua voz cheia de alegria. — Você se safou.
31 DEFINITIVAMENTE EM SEU PODER
Q
uinta-feira após a formatura, um Subaru surrado parou na calçada da frente de Ali. Ali viu através da janela quando Aria saiu do banco de trás, fez piruetas no gramado e enterrou o rosto na grama. — Delicioso — Ali ouviu seu murmúrio. A Sra. DiLaurentis tocou o braço de Ali. — Você está indo lá pra fora? Ali se virou e olhou para sua mãe. Seu coração estava batendo como se ela tivesse corrido um zilhão de voltas ao redor do campo de hóquei. Cada som do andar de cima, onde sua irmã tinha sido mantida durante a graduação, a deixava tensa. — Você tem certeza de que vai mantê-la aqui dentro? — ela perguntou, olhando para as escadas. Um olhar culpado cruzou o rosto da sua mãe. Estava claro que ela se sentia muito mal por ter deixado a irmã de Ali entrar em seu quarto para enganar suas amigas, e ela estava tentando nas últimas quarenta e oito horas fazer as pazes com Ali. Eles pediram sushi do lugar favorito de Ali para a viagem como um jantar de formatura. Ela deu a Ali um par de brincos de diamantes antes da cerimônia naquela tarde, um presente de formatura. Mas isso não corrigia o que tinha acontecido. Courtney havia enganado suas amigas. Courtney tinha sido vista. E se havia algo diferente em Courtney, algo que as suas amigas tinham notado? Ela imaginou-as indo para casa na noite de terça e as quatro discutindo em um mesmo telefonema. Os olhos dela pareciam um pouco diferentes no pátio, vocês não acham? Aria poderia ter dito. E, em seguida, Hanna teria falado, e Ali não usaria uma blusa assim. E então Spencer: Sabe, eu vi uma luz acesa no quarto de hóspedes. E eu ouvi boatos ao longo dos anos. Mas não. Não tinha havido nenhum rumor, ou tinha? Este tinha sido um segredo contido. Então, Ali pensou em Jenna. E se ela tivesse dito alguma coisa? Talvez apenas um comentário inocente para Spencer uma vez, algo que Spencer recusou-se a acreditar. Ou que tal o homem que sua mãe tinha dito? Talvez ele tivesse dito alguma coisa. Suas amigas poderiam suspeitar de tudo. E se elas estivessem descobrindo isso lentamente? Tudo, até mesmo a troca? — Você não tem nada com que se preocupar — a Sra. DiLaurentis disse suavemente, interrompendo Ali de seus pensamentos. Ela puxou o lábio inferior para dentro da sua boca. — Embora, honestamente, querida, eu gostaria que você apenas contasse a elas. — Não — Ali quase gritou. — Por que não? Elas vão entender. Elas não se importarão por você ter escondido isso delas, se é com isso que você está preocupada. Pessoas escondem coisas das outras pessoas o tempo todo. — Sim, você sabe disso muito bem — Ali rebateu. A Sra. DiLaurentis se encolheu. Reflexivamente, ela levantou a mão para Ali, e Ali pensou que ela ia dar um tapa nela novamente, mas ela só a usou para empurrar um fio de
cabelo para fora de seus olhos. — Não vamos entrar nisso de novo — ela disse em um tom uniforme. Ali cerrou os dentes. Será que sua mãe esperava que ela se esquecesse de tudo? Havia um homem lá fora que era seu verdadeiro pai — ela tinha certeza disso — alguém que sua mãe estava escondendo dela. Ela estava determinada a descobrir quem era. Ela pensou em dizer ao Sr. DiLaurentis, mas então ela decidiu que era mais poderoso esperar até ela descobrir a identidade do homem. Quando ela voltou para a janela, Emily estava no pátio agora, também usando um par de calças jeans e uma camiseta azul indescritível. Ela e Aria estavam brincando perto dos arbustos de flores de Ali. E então Ali teve outro pensamento: Se ela não saísse logo, suas amigas iriam tocar a campainha. Talvez elas insistissem em entrar na casa. E se Courtney aparecesse no topo da escada? E se as meninas quisessem ir lá para cima, no quarto de Ali, e Courtney aparecesse na porta? Ela abriu a porta da frente com a ponta do pé e caminhou nervosamente para cumprimentá-las. A bainha da sua saia de hóquei de campo, que ela usara para a festa de fimde-ano da equipe nesta tarde, balançou com a brisa. — Oi, gente — ela falou com a voz mais feliz que ela pôde reunir. Suas amigas olharam para ela. Por um momento, Ali tinha certeza de que elas sabiam de tudo. Uma fração de segundo depois, porém, todas estavam sorrindo como se nada estivesse errado. Talvez elas realmente não saibam que algo estava errado. Emily animou-se visivelmente, as transgressões do outro dia aparentemente esquecidas — pelo menos por agora. Spencer e Hanna, que tinham acabado de chegar no quintal, também vieram na direção delas, e as meninas se reuniram em um abraço de grupo. Mas, enquanto Ali se agarrava firmemente a suas amigas, ela olhou por cima do ombro a tempo de ver uma cortina no segundo andar da sua casa balançando. Era o quarto de hóspedes. Uma figura estava na janela, olhando para elas. — Seu celeiro — ela disse para Spencer, se afastando e orientando-as através das sebes. Ela precisava sair dessa propriedade, e rápido. Felizmente, as meninas seguiram atrás dela como boas ovelhinhas. Mas o rosto da sua irmã a assombrava enquanto as cinco gemiam sobre quanto tempo o ano letivo tinha sido. E quando ela ouviu alguém chamando — Oi, Alison! Oi, Spencer! — seu estômago revirou. Pareceu, por um momento, como a voz da sua irmã. Ela se virou e viu Mona Vanderwaal e seu grupo de geeks vindo na direção delas. Parte dela queria jogar os braços ao redor de Mona de alívio. Em vez disso, ela falou sem pensar — Isso não! — Isso não — suas amigas disseram milissegundos depois. Mona veio pedalando em sua scooter. Chassey Bledsoe e Phi Templeton seguiram atrás, Chassey em uma mountain bike, Phi a pé, com seu fiel e ridículo ioiô. — Vocês querem vir assistir Fear Factor? — Mona perguntou. — Desculpa — Ali sorriu com afetação, escavando até o nível apropriado de maldade. — Estamos um pouco ocupadas. Então ela se virou e caminhou para longe. Suas amigas a seguiram. Quando ela revirou os olhos, elas rolaram os delas, também. Elas não sabem, ela pensou, seu batimento cardíaco abrandando. Elas não suspeitam de nada. Mas então ela espiou na direção da sua casa novamente. A luz ainda estava acesa no quarto de hóspedes, e aquele rosto ainda estava na janela. Para o horror de Ali, Hanna estava olhando de soslaio para a janela também. Ali puxou seu braço. — Vamos lá — disse ela. Elas andaram na linha entre o quintal de Ali e o de Spencer. Uma enorme e espalhafatosa escavadeira amarela estava estacionada na parte de trás ao lado de uma pilha em
forma de cone de sujeira. — Eu estou tão feliz que os trabalhadores não estão aqui agora — Ali disse em voz alta, fazendo com que a atenção de todas estivesse com certeza nela — e não na janela. Emily enrijeceu. — Eles estão dizendo coisas para você de novo? — Calma aí, Delegada — Ali brincou, e as meninas riram. Ela olhou por cima do ombro, mais uma vez. A luz na janela estava desligada agora. O rosto foi embora. Mas a sua irmã iria ficar de braços cruzados em seu quarto durante toda a noite como uma boa menina? Parecia impossível. O celeiro estava logo à frente. Ali levou as outras na direção dele, rezando para que sua irmã não estivesse olhando da cozinha para ver para onde elas estavam indo. E se a sua mãe tirasse os olhos dela? E se ela saísse? Risos soaram de dentro do celeiro. — Eu já disse, pare com isso — uma voz gritou. Era definitivamente Melissa. Spencer parou. — Oh Deus. O que ela está fazendo aqui? Ali olhou para Spencer bruscamente. — Eu pensei que você tinha dito que sua irmã estava em Praga. — Eu disse. — Spencer abriu a porta para revelar Melissa e Ian deitados no sofá, várias garrafas de cerveja entre eles. Melissa levantou e ajeitou a faixa da sua cabeça. Os olhos de Ian sondaram as meninas, seu sorriso preguiçoso e sedutor. — Vocês estavam nos espionando? — Ian brincou. Spencer parecia horrorizada. — É que... Eu não queria atrapalhar... Nós deveríamos ter este lugar esta noite. Ian bateu de brincadeira no braço de Spencer. — Eu só estava brincando com você. Uma faísca pareceu passar entre eles, o que, por sua vez, enviou uma onda de possessividade através do corpo de Ali. — Uau — ela disse em voz alta. — Vocês dois são o casal mais fofo. Você não concorda, Spence? Spencer piscou com força. Melissa deu a Ali um olhar estranho, e depois puxou o ombro de Ian. — Posso falar com você lá fora por um segundo? Ian drenou o último gole da sua cerveja Corona e se levantou do sofá. — Adeus, senhoritas. Ele passou por Ali e atirou-lhe um sorriso dissimulado. Ela assentiu com a cabeça um sempre-tão-modesto em troca. Eles iam se encontrar em seu quintal às 21:00 horas. Ela sabia que ele estaria lá. Tudo o que ela tinha que fazer era enviar uma mensagem para Melissa antes do seu beijo. E então Melissa iria ver tudo. Depois que eles foram embora, Ali voltou-se para as meninas. — Ian é tão quente — Hanna estava dizendo. — Até mesmo mais quente do que Sean. — Um pequeno olhar conflituoso vibrou em seu rosto. Ela provavelmente estava pensando em Josie e Sean na festa. — Você sabe o que eu penso — Ali disse a Hanna, sua maldade se revelando. — Sean realmente gosta de meninas que têm bom apetite. Hanna parecia surpresa. — Sério? — Não — Ali falou. A risada que saiu da sua boca foi inconsciente, mas quando ela percebeu o olhar magoado no rosto de Hanna, ela fechou a boca. Ela parecia frágil esta noite, desordenada, totalmente fora de controle. Ela sentia como se ela precisasse ser a Alison mais extrema que ela pudesse ser, não só para mostrar a sua irmã, mas para mostrar a suas amigas também. Ninguém pode me substituir. Ninguém é melhor do que eu. Não se atrevam a suspeitar de nada. De repente, ela teve uma ideia. Talvez houvesse uma maneira de ter as suas amigas definitivamente em seu poder de verdade. Mesmo que elas vejam sua irmã novamente, elas sempre estariam do lado de Ali, fazendo o que ela queria, o que significava que as duas nunca
poderiam destrocar. Isso também pode ser uma maneira de apagar o que elas tinham visto para sempre. — Eu sei a coisa mais perfeita que podemos fazer — ela sugeriu. — Eu aprendi a hipnotizar as pessoas. Spencer parecia preocupada. — Hipnotizar? — A irmã de Matt me ensinou — Ali disse, sua excitação crescendo. Isto era perfeito. Ela poderia hipnotizá-las e exigir que elas se curvassem a ela e só a ela. Ela também poderia extrair a memória da sua irmã em seu quarto de suas mentes. — Quero ver se funciona — ela perguntou, tentando não implorar. Todo mundo se mexeu desconfortavelmente. — Eu não sei — murmurou Aria. — A hipnose não faz você dizer coisas que você não quer dizer? Ali cerrou os dentes. — Por quê? — ela brincou. — Há algo que você não quer nos dizer? — Ela apontou para Pigtunia. — E por que você ainda está carregando isso para todos os lugares? Foi o seu pai quem deu isso a você? Aria empalideceu e, novamente, Ali sentiu uma pontada de remorso. Talvez tivesse sido malvado demais. Hanna olhou atentamente para ela com a testa franzida, e Spencer fez uma pausa, uma porção de pipoca a meio caminho da sua boca. Ali poderia dizer que todas elas estavam analisando o que Ali tinha dito em suas mentes. Por que Aria estava chateada? O que Ali disse? O que elas não sabem? — O estado hipnótico, hã, soa como uma espécie de esboço — Spencer desabafou. — Você não sabe nada sobre isso — Ali insistiu com urgência. — Vamos lá. Eu posso fazer com todas vocês de uma vez. Ela viu quando elas mudaram o seu peso. Um longo silêncio prevaleceu. Por favor, ela repetiu em silêncio. Por favor, por favor, por favor. — Eu vou fazer — Hanna falou. — Eu também — disse Emily. Spencer e Aria relutantemente deram de ombros também. Ali soltou um enorme suspiro mental. — Tudo bem — ela disse, emocionada. — Todo mundo se sente em um círculo. — Ela correu em volta da sala, desligou as luzes e acendeu algumas velas votivas pousadas na mesa de café. Em seguida, ela tomou seu lugar à frente da sala, fechou os olhos e soltou um om hum que soou vagamente espiritual. Suas amigas fecharam os olhos, também, e Ali se sentiu ainda melhor. Talvez a hipnose realmente estivesse funcionando. Talvez ela fosse capaz de dizer algumas palavras e elas se esqueceriam. — Ok, apenas relaxem — ela disse. — Vou contar a partir do cem para trás. Assim que eu tocar em todas vocês, vocês estarão em meu poder. Emily riu trêmula. — Assustador. Ali começou a contar, andando ao redor da sala e olhando para as coroas das cabeças das suas amigas. Sua voz encheu o espaço, os números caindo de noventa a sessenta para quarenta e cinco. No trinta, ela viu um clarão na janela e se virou. Algo negro desapareceu de vista. Seu coração pulou uma batida. — Vinte e nove... — ela disse, movendo-se em direção à janela. Depois, houve outro clarão. Ela protegeu seu rosto, um borrão se formando na frente de seus olhos. Quando sua visão clareou, uma figura estava do outro lado do vidro, uma câmera Polaroid moderna ao seu lado. Ali quase gritou. Era a sua irmã. — Vinte e oito... — Ali disse com um ligeiro soluço, sua mente dispersando em um milhão de direções. Não. Ela nunca, nunca iria perdoar a sua mãe por ter deixado sua irmã sair. O que ela devia fazer agora? Correr para fora do celeiro, contar aos pais dela que
Courtney estava solta? Mas logo suas amigas iriam abrir os olhos e veriam as duas gêmeas idênticas, uma do lado de fora, uma no interior. Elas trocariam olhares astuciosos. Tá vendo? Tudo o que nós suspeitávamos estava certo. E se elas gostaram mais da sua irmã gêmea? Ela iria fingir que nada estava errado, então? Isso não parece certo, também. Sua irmã pode irromper para dentro do celeiro. Ela poderia dizer a verdade. E depois o quê? Ali olhou para suas amigas, mas elas ainda estavam sentadas com os olhos fechados. Ela fechou as persianas, em seguida, puxou as cortinas apertadas, então contou através dos vinte, em seguida, de dez a baixo. Ela imaginou a sua irmã agachada na janela, não vendo mais o lado de dentro, mas ainda ouvindo. Ela verificou a porta para se certificar de que estava trancada. E estava. Mas e se Courtney entrasse de alguma outra forma? — Dez, nove... — Engolindo um nó na garganta, Ali tocou as testas das suas amigas. Primeiro a de Aria, depois Hanna, em seguida Emily. — Três... dois... — ela recitou. De repente, os olhos de Spencer se abriram. Para o horror de Ali, ela caminhou para o outro lado da sala e foi para a janela. Ali se virou, o coração pulando em sua garganta. — O que você está fazendo? — Está muito escuro aqui — Spencer disse, estendendo a mão para o pino que abria as cortinas. Ela abriu, e Ali estremeceu. Sua irmã gêmea tinha ido embora, no entanto. — Tem que estar escuro — Ali reclamou, correndo em sua direção. Ela não tinha ideia se Courtney iria reaparecer, mas ela não queria correr nenhum risco. — É assim que funciona. Spencer fez uma pausa, com a mão na haste. — Não, não é. — É sim — Ali rosnou, com o coração batendo rápido. De nenhuma maneira Spencer iria abrir a janela. Sua irmã estaria do outro lado, como um reflexo perverso em um espelho. Spencer se afastou da janela e colocou as mãos nos quadris. — Nem sempre tem que ser do jeito que você quer, sabia. — Feche-as — Ali rugiu, tentando controlar o desespero em sua voz. Spencer revirou os olhos. — Deus, tome um comprimido. — Tome você um comprimido! Ali olhou para ela. Algo de repente a atingiu: E se Spencer sabia? Talvez ela tenha descoberto tudo — ela era a mais inteligente de todas elas. Talvez tivesse visto até mesmo Courtney na janela agora e tinha juntado todas as peças. Ela estava brincando com Ali, porque ela podia. Ela sabia exatamente o que Ali temia. Em um gesto de desafio, Spencer esticou, puxou a corda e puxou cada palheta para cima, revelando o mundo exterior. Ali soltou um grito e escondeu os olhos, preparando-se para o pior. Ela espiou por entre os dedos. A vista era apenas dos bosques por trás do celeiro. Ali se virou para Spencer. Spencer olhou para fora da janela sem expressão, mas talvez houvesse uma pequena pitada de decepção no seu rosto. Spencer apontou para a porta. — Saia. — Tá bem — Ali disse. E estava tudo bem. Ela precisava contar aos pais dela o que estava acontecendo. Spencer lhe dera a desculpa perfeita. Jogando os ombros para trás, ela se dirigiu para a saída, girou a fechadura e entrou no crepúsculo da noite. O chão estava molhado de orvalho. O céu estava azul-marinho. Os carros na estrada assobiavam à distância. — Espere um segundo — Spencer chamou atrás dela. — Alison! Mas Ali continuou, girando a cabeça de um lado para o outro para verificar se havia sinais da sua irmã. Luzes brilhavam na casa dos Hastings, bem como na dos DiLaurentis. A janela do quarto estava acesa novamente. Ela não viu sua irmã em lugar nenhum. Mas Ali duvidava que ela estivesse lá dentro. Courtney estava aqui em algum lugar. Ela só tinha que encontrá-la e arrastá-la de volta para seus pais. Aquela vadia ia voltar para a Reserva de uma vez por todas.
32 AS PEÇAS PERDIDAS DO QUEBRA-CABEÇA
A
li percorreu o caminho escorregadio de ardósia, olhando da direita para à esquerda para uma sombra familiar na escuridão. Sua irmã tinha que estar por perto, mas onde? Um pensamento horrível apareceu em sua mente: uma cama de hospital dura e com antisséptico. Sendo empurrada para um quarto pequeno, a porta batendo. Nós nunca mais vamos deixar você sair de novo, uma voz zombou. Ela se imaginou pressionando as mãos contra uma janela da Reserva, observando seus pais — e Courtney — no carro. Isto não poderia acontecer. Um cheiro de algo a parou, e ela ergueu a cabeça. Cheirava a cigarro. Mas antes que ela pudesse descobrir de onde estava vindo, o cheiro desapareceu. — Ali — uma voz irrompeu através da noite. — Ali, volte! Ali parou no caminho de ardósia e olhou por cima do ombro. Os postes de luz em forma de templo da calçada não forneciam muita luz, mas ela podia distinguir Spencer vindo em sua direção. Uma nova ardência faiscou em seu estômago. Spencer não deveria estar aqui fora. Ela poderia ver algo — ou, mais precisamente, alguém. Ela endireitou os ombros, esperando que Spencer chegasse até ela. As bochechas de Spencer estavam vermelhas, e havia uma expressão de culpa em seu rosto. — Para onde você está indo? — ela perguntou com uma voz magoada. Ali piscou. De repente, parecia que Spencer não sabia. Ela parecia tão preocupada naquele momento, como se estivesse com medo de Ali a largar para sempre. Mas Spencer não poderia estar aqui agora, não com sua irmã gêmea por aí. Ali disse a primeira coisa que ela conseguiu pensar que iria fazer Spencer se virar e voltar para o celeiro. — Eu vou para um lugar bem mais legal do que ficar com vocês. A expressão de Spencer endureceu. — Tudo bem. Vá. — Ainda assim, ela não se moveu. Ali cerrou os dentes, lutando para pensar em outra coisa. Algo zumbia na floresta, e seus olhos foram em direção às árvores. Ian? A irmã dela? Spencer precisava sair daqui. Agora. — Você tenta roubar tudo de mim, Spence — ela brincou, tentando manter o desespero longe de sua voz. — Mas você não pode ter isso. Spencer estreitou os olhos. — Não posso ter o quê? Ali riu maldosamente. — Você sabe. Spencer acenou com a mão. — Você está delirando. — Não, eu não estou. — Houve outra agitação na floresta; Ali se aproximou de Spencer, tampando a visão dela para que ela não pudesse ver. — Você está. A raiva brilhou nos olhos de Spencer, e ela empurrou o ombro de Ali com força. Ali cambaleou para trás, surpresa com a força do empurrão. Seus pés escorregaram, ela girou para a direita e pegou um galho de árvore para se equilibrar.
Ela se endireitou e encarou Spencer com espanto. — Amigas não empurram amigas. Spencer se endireitou. — Bem, talvez não sejamos amigas. — Acho que não — Ali disse. Ela queria acrescentar, então volte para o celeiro. Mas Spencer ainda demorou. Já havia passado o propósito de aborrecer. Agora Ali queria magoar Spencer de verdade. De repente, ela percebeu o quanto. Ela lambeu os lábios, o gosto do segredo era como suco em sua língua. — Você acha que beijar Ian foi especial — ela zombou. — Mas você sabe o que ele me disse? Que você nem sabia beijar. Spencer deu um passo para trás como se Ali a tivesse esbofeteado. — Ian te disse isso? Quando? — Quando estávamos em um encontro — ela mentiu. Os lábios de Spencer se separaram. Nenhuma palavra saiu de sua boca. Ali se aproximou. — Você é tão ridícula, agindo como se não soubesse que estávamos juntos. Mas é claro que você faria isso, Spence. É por isso que você gostava dele, não é? Porque eu estou com ele? Porque sua irmã está com ele. — Ela encolheu os ombros. — A única razão pela qual ele te beijou naquela noite foi porque eu pedi a ele. Ele não queria, mas eu implorei. Spencer arregalou os olhos. — Por quê? — Eu queria ver se ele faria qualquer coisa por mim. — Ela apertou o lábio. — Oh, Spence. Você realmente acreditou que ele gostava de você? Spencer parecia tonta. Um vagalume pousou no braço dela, mas ela não o tirou. Ali esperou que ela se virasse furiosa, mas ao invés disso, ela estendeu a mão e empurrou Ali com tanta força que seus pés se dobraram debaixo dela e seu corpo voou para trás. Uma série de imagens passou por ela: as luzes nebulosas, a enorme lua no céu e depois ficou tudo branco. Um estalo soou em seus ouvidos. Sua cabeça latejava de dor. Ela caiu bruscamente sobre o cotovelo e rolou para o lado. A umidade infiltrou em suas roupas, mas por um momento, ela estava atordoada demais para se mover. Uma coruja piou nas árvores. Ali abriu os olhos, então, sentiu a sujeira endurecer ao lado de seu rosto. Ela mexeu os dedos das mãos, em seguida, os dedos dos pés, em seguida, se virou e tentou sentar. Spencer ainda estava lá, mas ela parecia paralisada, quase como se tivesse sido hipnotizada. Ali se levantou e se afastou. Quando ela correu pelo caminho, Spencer não a seguiu. Ótimo. Ela caminhou em direção ao quintal dela. Mas, quando ela alcançou as hedges da parte traseira do imóvel, uma porta bateu no celeiro, e um novo pensamento a atingiu. E se sua irmã aproveitasse a oportunidade e fosse para dentro do celeiro com Aria, Emily e Hanna? Ela poderia fingir que era Ali — ou dizer tudo a elas. Ela voltou, com sua cabeça latejando. Tinha que ser isso! Ela não conseguia acreditar que tinha caído nessa. Ela dobrou de volta para o celeiro com os pés escorregando na grama orvalhada. A porta bateu, e ela mal conseguia ver Spencer andando através das janelas de volta para dentro. Um zumbido soou atrás dela, e ela se virou. Algo estava se movendo perto do pátio dos Hastings. Uma pessoa. Ali colocou a mão sobre a boca. — Courtney? — ela sussurrou, baixo demais para qualquer pessoa ouvir. Só que, eram duas pessoas, e não uma. Elas estavam juntas, se movendo em direção ao lado da casa e parando perto da mangueira do jardim dos Hastings. O mais alto dos dois empurrou a pessoa menor contra a lateral da casa. Seus corpos pressionados juntos, e seus lábios se encontraram em um beijo.
Ali olhou fixamente. No começo, ela pensou que era Ian e Melissa — eles estavam por aqui. Então, um carro passou na rua, os faróis brilharam contra as pessoas por um breve segundo. Os longos cabelos loiros de sua mãe e o contorno do seu perfil brilhou à vista. Ali suspirou e olhou para a pessoa mais alta, que agora estava acariciando o pescoço da Sra. DiLaurentis. Os faróis focaram seu rosto por um breve momento, iluminando a sua mandíbula forte, seu nariz longo e fino e a cabeça cheia de cabelos. Ele se inclinou para a Sra. DiLaurentis contra o lado da casa com autoridade, como se fosse o dono do lugar. E então Ali se deu conta: Essa era a casa dele. O homem que sua mãe estava beijando era o pai de Spencer. Ela recuou, se sentindo literalmente derrubada pela notícia. Isso não podia ser verdade. Sua mãe odiava o Sr. Hastings, não era? Mas depois que ela ouviu as palavras da sua mãe no telefone: Só precisamos de um pouco mais de dinheiro, querido. Apenas para pagar o resto das contas do hospital... ela é sua filha também. Seu interior congelou. O Sr. Hastings certamente tinha dinheiro para pagar as contas do hospital — especialmente para uma filha demente que ninguém conhecia. Talvez isso explicasse por que o Sr. DiLaurentis sempre parecia tão escandalosamente ciumento dos Hastings — talvez ele sentisse que algo estava acontecendo. Mas o que tinha acontecido? Ele tinha engravidado a mãe de Ali enquanto eles estavam tendo um caso... e depois? Ela claramente fez as gêmeas se passarem como se fossem do Sr. DiLaurentis. Talvez ela tenha deixado isso pra lá por um tempo... até as coisas ficarem ruins entre Ali e Courtney, quando ela precisou da ajuda financeira do Sr. Hastings. Talvez ele tenha ajudado eles a se mudarem para Rosewood. Conseguindo para eles uma casa ao lado da dele para que ele pudesse manter um olho em suas filhas — e sua amante. Que conveniente, Ali pensou friamente. Seu pai, na casa ao lado, e ela nunca o tinha conhecido. Ali sentiu que ia vomitar. Ao invés disso, ela se virou e saiu correndo. Era alguém que ela conhecia, o pai da sua melhor amiga, o que era ainda pior. Como a mãe dela pôde nunca ter dito isso? Como eles puderam se mudar para morar ao lado dos Hastings, seu verdadeiro pai ao alcance da mão, mas fora dos limites? E isso tornava ela e Spencer... irmãs. Uma névoa girava em torno de sua cabeça, e de repente ela perdeu o rumo. Ela parou em seu quintal — ao menos ela achava que era seu quintal. Tudo parecia estranho. A casa brilhava ao longe acima de uma longa declive de grama. Uma lona balançou ao lado dela, e o luar capturou um brilho de uma ferramenta descartada no chão. Ela não tinha percebido que estava tão perto do buraco meio cavado. Um movimento em falso, e ela poderia ter caído bem dentro. — É muito chocante, não? Ali ergueu a cabeça. Uma pessoa estava na frente dela, envolta nas sombras. Seu rosto estava inclinado na direção do casal se beijando no quintal dos Hastings. — Parece que a nossa árvore genealógica tem um monte de maçãs podres — a pessoa disse, com uma voz que indicava que também tinha entendido tudo. Então, ela deu um passo para a luz, e Ali engoliu em seco. Era sua irmã.
33 UM EMPURRÃOZINHO
P
or um momento, Ali não podia se mover. Ela olhou para sua irmã na frente dela. Os olhos da menina brilhavam. Seus dentes brilhavam. Metade de seu corpo estava escondido na névoa, como se ela fosse um fantasma. Ali se virou e foi em direção a casa. — Você não deveria estar do lado de fora. Sua gêmea a agarrou pelo braço e cravou as unhas em sua pele. — Você não vai a lugar nenhum, Ali. — Me deixa ir — Ali disse, tentando puxar seu braço. Mas o aperto de Courtney era firme. — Eu vou gritar — ela avisou, o medo crescente em sua voz. Courtney deu uma risadinha. — Não, você não vai. Você não vai dizer nada. — Sim, eu vou — Ali disse. — Mamãe e papai virão correndo. Courtney deu uma gargalhada. — Hum, você não acabou de ver o que eu vi? Mamãe está um pouco ocupada agora. — Então eu vou chamar o papai. O sorriso de Courtney se esticou ainda mais. — O papai desmaiou no sofá. Alguém pode ter colocado algo no seu vinho no jantar. Ali se afastou, de repente tremendo. Ela realmente é uma louca, ela pensou. Mas “Courtney” apenas a puxou de volta. — E não pense que Jason vai vir salvá-la — ela sussurrou no ouvido de Ali. — Ele não dá a mínima para nenhuma de nós. E, assim como suas amigas, todos eles te deixaram. Festa do pijama do fim da sétima série, hein? — Me deixa ir! — Ali exclamou. Seu braço estava começando a doer da pressão das unhas da sua irmã, e seu coração batia tão rápido que ela pensou que poderia explodir em seu peito. Suas narinas sentiram outra baforada de cigarro. A fonte estava perto, mas não parecia ser que sua irmã gêmea tinha estado fumando. — O que você está fazendo aqui? Courtney riu novamente, o som mais horrível do mundo. — Oh, eu só queria ver como a sua vida é. A minha vida. O que deu em você para escolher essas meninas como suas novas amigas? Para me atormentar? Arruinar a minha reputação? — Não há nada de errado com elas — Ali disse defensivamente, sentindo uma onda de protecionismo para suas amigas. — Elas são realmente doces. — Elas são realmente doces — Courtney a imitou. — Você acha que elas ainda vão fazer tudo o que você pedir quando elas descobrirem o que você fez? — Elas nunca acreditarão em você — Ali disse, mas até ela mesma ouviu o vacilar em sua voz. Courtney levantou o queixo. — Elas vão se eu contar a verdade sobre você. Ali ficou tensa. De repente, a raiva correu através dela, quente e potente. — A verdade? — ela perguntou. — E qual seria? Que você me manipulou durante anos? Que você me enviou para o hospital em vez de você? Que você ficou lá e disse a eles que eu tinha que ir embora?
— Você tinha que ir embora — Courtney disse, com a voz estranhamente calma. — E você vai ter que ir de novo. Você vai contar para todo mundo o que você fez. E eles nunca, nunca vão te perdoar. O medo correu nas veias de Ali, mas ela se manteve firme. — Eu não vou a lugar algum — ela disse, plantando seus pés na grama fria e molhada. Ela riu com tanta confiança quanto pôde. — Você realmente acha que seria mais fácil para você entrar em minha vida e ser eu? Eu fiz coisas que você não é capaz de fazer. Sou melhor sendo você do que você nunca foi. — É a minha vida — sua irmã rosnou, colocando as mãos com firmeza sobre os ombros de Ali. — Você realmente acha que eu não vou me adaptar? Eu posso até ser amiga daquelas vadias estúpidas, se é isso que é preciso. Eu posso fazer isso com os meus olhos fechados. — Não, você não pode — Ali disse. — Você não sabe de nada. Courtney bufou. — Por favor. Eu li o seu diário — meu diário. Eu sei tudo sobre elas, sobre você. Você escreveu todos os seus segredos lá, tudo que é importante... — Nem tudo — Ali rebateu, pensando em Nick. Graças a Deus ela o deixou de fora. Ela desejou que ela pudesse se gabar sobre ele para Courtney agora — ele tinha, afinal, sido a paixão não correspondida dela. Mas agora que eles terminaram, sua irmã gêmea apenas riria dela. — Você certamente escreveu o suficiente em seu diário — Courtney provocou. — É assim que eu descobri que vínhamos chamando de papai o cara errado. Veja onde você guardou os seus segredos, Ali. Qualquer um pode abrir um diário e descobrir todos os tipos de coisas. — Ela pegou o braço de Ali. — E agora é hora de dizer adeus. Vamos encontrar a mamãe e o nosso pai verdadeiro, não é? Podemos contar tudo a eles! Ela apertou com força os ombros de Ali e tentou conduzi-la para a casa dos Hastings, mas Ali dobrou seu corpo no meio e puxou-se para longe. Courtney pegou-a pela cintura e puxou-a sobre a grama, mas Ali tropeçou, puxando-a para baixo com ela. — Levanta, vadia — Courtney gritou. — Eu não vou a lugar nenhum com você — Ali puxou com força os cabelos de sua irmã gêmea e rolou em cima de Courtney, fixando-a sobre a grama espinhosa. Os velhos sentimentos voltaram — ela era aquela menina de nove anos de idade novamente, lutando contra uma força tão louca, tão manipuladora, ela não sabia mais o que fazer além de bater nela, socar ela, perder a cabeça. Mas, de repente, ela voltou para si mesma. Isto era uma loucura. Ela odiava sua irmã, mas ela não podia cair nessa armadilha. Ela tinha que ser a superior. Ela saiu de cima de Courtney, levantou-se e dirigiu-se para a casa. Mas depois de poucos passos, uma mão serpenteou em torno de seu tornozelo, e ela estava deitada na grama, mais uma vez. Ela sentiu o corpo da sua irmã em cima dela. As extremidades do seu longo cabelo fizeram cócegas na nuca de Ali. — Eu acho que vai ser o plano B, então — Courtney sussurrou. Ela afastou-se de Ali e, antes que Ali pudesse ir a qualquer lugar, agarrou os tornozelos de Ali e arrastou-a em direção à borda da propriedade como se ela fosse uma boneca de pano. Ali gritou e arranhou o chão, mas seus dedos não conseguiram agarrar nada. Quando elas passaram por algumas das ferramentas descartadas, seu coração pegou ritmo. Ela estava arrastando-a para o buraco? Ali tentou gritar, mas não conseguiu dar uma respiração completa. A casa estava tão longe, o celeiro dos Hastings agora estava escuro. Onde as suas amigas tinham ido? Elas a tinham deixado? Então ela pensou em Ian, esperando por ela na floresta em algum lugar. Talvez fosse ele que tinha estado fumando. Ela olhou desesperadamente para as árvores negras, rezando para que ele a visse. Mas a floresta estava em silêncio. Nenhum ramo estalou sob seus pés. Ninguém emergiu.
Sua irmã gêmea parou de arrastá-la quando ela estava na borda do buraco. Ali tentou levantar, mas Courtney empurrou-a novamente, com os olhos brilhando. — Eu deveria ter feito isso anos atrás — ela resmungou. E então ela atirou as mãos para o pescoço de Ali, pronta para estrangulá-la. — Não — Ali gritou. — Por favor! Mas sua irmã gêmea apenas apertou com mais força. — Você merece isso — ela disse em uma voz desapaixonada, quase automática. — Você merece morrer pelo que fez. Não, eu não mereço! Ali chutou as pernas e moveu os braços. Ela torceu o pescoço e tomou um gole de ar. — Eu faço qualquer coisa — ela gritou. — Digo a verdade — eu não me importo! Só não me mate! — Você merece morrer — Courtney repetiu. Quando ela reajustou para um melhor agarre, Ali deu um grande fôlego, seus pulmões gritando. — Lembra de como costumava ser? Quando nós costumávamos ser amigas? — Nós nunca fomos amigas — sua irmã gêmea assobiou. — Sim, nós éramos! Eu te amei! Você me amou! Eu... Eu sinto falta disso! O aperto de Courtney soltou-se um pouco, e Ali virou para o lado para se libertar. Ela tossiu violentamente, seus pulmões parecendo que nunca mais iriam se preencher novamente. Ela arrastou-se para trás, sentou-se e olhou fixamente para sua irmã. Courtney estava respirando com dificuldade, os olhos arregalados. Ela olhou para as mãos dela com admiração, como se ela nunca tivesse visto elas antes. Então ela olhou para Ali. — Não posso — ela disse em voz baixa. — Não pode o quê? — Ali se atreveu a perguntar. A mandíbula de Courtney tremeu. — Eu quero te matar. Mas eu não posso. Um alívio inundou o corpo de Ali. — Claro que você não pode — ela disse. — Somos irmãs. Courtney olhou para ela cautelosamente. Mais uma vez, ela olhou para suas mãos. Ela se moveu em direção a Ali, seus olhos brilhando de novo. — T-talvez possamos começar de novo — Ali barganhou. Se ela continuasse falando, talvez ela pudesse manter a loucura da sua irmã gêmea contida até que alguém viesse procurar por elas. — Eu posso ser eu. Você pode ser você. Você pode ser Alison DiLaurentis novamente. Courtney piscou. — Simples assim, você vai trocar de volta? Ali assentiu, engolindo um nó na garganta. — Simples assim. — Ela estendeu a mão e tocou a mão da sua irmã, um gesto terno que ela não havia feito há anos. — Eu só quero uma irmã novamente — ela disse suavemente. — Isso é tudo que eu sempre quis. A cabeça de Courtney permaneceu baixa por mais algumas batidas. Um forte cheiro de sujeira girava no ar, e por um momento, os grilos ficaram em silêncio. Então, ela respirou um suspiro longo e lento. Ela cobriu a mão de Ali com sua outra mão. — Eu não sei se eu posso fazer isso. — Você pode — Ali insistiu. — Por favor. — Eu... — “Courtney” parou. Ela arregalou os olhos para alguma coisa atrás dela. — Você está aqui — ela sussurrou. Ali tentou se virar para ver quem apareceria. Um pai? Ian? Uma de suas amigas? Mas antes que ela pudesse, o olhar da sua irmã endureceu mais uma vez, a sua determinação aparente. Ela pulou para frente e empurrou-a com força. Ali esperou bater na grama imediatamente, mas ela não sentiu nada além do ar. Ela gritou quando o mundo virou de cabeça para baixo, e em seguida seu pescoço bateu em alguma coisa afiada e metálica. Por um momento, tudo ficou escuro, então ela ouviu um estrondo horrível em seus ouvidos. Todo o ar pareceu deixar seu corpo quando ela bateu na
implacável superfície de terra fria. Algo rachou por perto. Depois de um segundo, Ali percebeu que era um osso dentro de seu corpo. Ela estava no fundo do buraco. Ela tentou gritar, mas sua boca não abria. Apenas um quadrado de luz aparecia muito acima da sua cabeça. Estrelas brilhavam à distância. Um pedaço de lua apareceu por trás de uma nuvem. — Socorro! — ela gritou, mas foi só em sua cabeça. Seu coração tremeu dentro do seu peito como um motor amarrado. Uma estranha sensação estava ocorrendo sob sua pele, seus nervos se descontrolaram. Depois de um momento, ela percebeu que ela não estava respirando — ela não conseguia respirar. Ela tentou arranhar, tentou lutar, mas parecia que cada célula do seu corpo estava carregada de areia. Então ela percebeu o que estava acontecendo. Ela estava morrendo. Uma figura apareceu sobre o buraco. A gêmea de Ali apareceu, com uma estranha mistura de horror e alívio no rosto. Ela olhou para suas mãos novamente com aquela mesma expressão de-onde-isso-veio. Então ela se virou e olhou para algo fora da sua vista. — Eu não sabia que você viria — ela disse. — Pensei que você não ia fazer isso. Em primeiro lugar, Ali pensou que Courtney estava falando com ela, mas, em seguida, uma voz respondeu. — É claro que eu vim. Eu sempre vou vir por você. Ali se esforçou para ouvir. Era uma voz que ela tinha certeza de que ela reconhecia, uma voz que ouvira muitas vezes antes. Mas seu cérebro, com suas células morrendo e com a falta de oxigênio, não conseguia juntar as peças. Ela tentou levantar a cabeça para obter um vislumbre de quem era, mas seu pescoço não se movia. — Você está feliz? — disse a voz. A mandíbula de Courtney balançou. — Eu não sei — ela disse, olhando de volta para baixo no buraco, com uma mão sobre sua boca. — Eu não consigo acreditar que eu apenas... fiz isso. — Mas era o nosso plano o tempo todo. De repente, Ali percebeu de quem era a voz. Ela tentou reagir, tentou gritar, mas ela podia sentir-se esvaindo centímetro por centímetro, primeiro os pés, depois as panturrilhas, então os joelhos. Ela se esforçou para estar presente, mas era muito esforço. Ela olhou para o topo do buraco até que a figura da sua irmã não era nada além de uma grande bolha de luz e sombra. Ela pensou na segunda voz, aquela voz que ela conhecia. Só uma pergunta gritava mais e mais em seu cérebro: Por quê? Mas antes que ela pudesse responder, a sensação de morrer, como uma vela derretendo, havia atingido seu pescoço. Ela inalou o último suspiro que ela jamais iria tomar novamente, e, em seguida, fechou os olhos. Depois de um momento, em meio a sujeira, as rochas e as minhocas, ela respirou e, finalmente, se foi.
34 DESAPARECIDA: ALISON DILAURENTIS
N
a manhã seguinte, a verdadeira Alison DiLaurentis viu o sol nascer através das cortinas de bordo em seu antigo quarto. Um pisca-pisca iluminava as vaidades que ela pediu para a mãe dela comprar para ela na quinta série, os puxadores de cristal azul em seu armário e gavetas da cômoda, uma pátina débil e cheia de poeira para o monitor de tela plana e a TV. Este quarto ainda cheirava do mesmo jeito, a sabonete de baunilha. Parecia como um lar. Finalmente. O aroma de café fresco na cozinha flutuava em suas narinas. Quando ela olhou sobre o corrimão, sua família já estava acordada. O Sr. e a Sra. DiLaurentis sentaram-se à mesa da cozinha, olhando de olhos turvos de um para o outro. Jason caminhou pelo corredor, parecendo preocupado. Apenas um membro da família estava faltando, embora Ali certamente não fosse sentir falta dela. Ela olhou-se no espelho. Seus olhos tinham sido sempre mais azuis do que os da sua irmã, as maçãs do seu rosto em forma de coração mais pronunciadas. Ela era a gêmea mais bonita, a legítima abelha rainha de Rosewood Day. Agora era o momento de recuperar seu trono daquela vadia. Só de pensar nela, apenas imaginar sua cara, ainda enchia Ali de raiva. Como ela ousava frequentar a sua sexta série e fingir que era alguém que ela não era. Como ela ousava aparecer na Reserva durante as visitas e escolher a sua manicure perfeita ou mandar mensagens de texto para suas amigas enquanto seus pais tentaram puxar conversa. Essa vadia merecia tudo o que ela recebeu. E agora Ali nunca mais teria de se preocupar com ela de novo. Ela desceu as escadas com a cabeça erguida. Mas quando ela entrou na cozinha, a família olhou para cima e ficou pálida como se tivesse visto um fantasma. A Sra. DiLaurentis avançou e tocou em seu braço. — Eu acho que você deveria voltar lá para cima, Courtney. Ali parou. — Eu já lhe disse. Eu não sou Courtney. Eu sou Ali. Seus pais trocaram um olhar preocupado. Uma fina fita de medo começou a caminhar no cérebro de Ali. Ela conhecia aquele olhar. Está acontecendo novamente. E agora a sua outra filha estava desaparecida. Ontem à noite, quando ela voltou para casa, Ali não esperava que seu pai estivesse acordado — ou que sua mãe estivesse em casa — mas ela ainda achava que lidou muito bem com tudo. Ambos a pegaram quando ela estava subindo as escadas furtivamente e gritaram seu nome — seu nome verdadeiro. — Oi, mãe, oi, pai — ela disse despreocupadamente, permanecendo nas sombras, para que não pudessem ver seu cabelo despenteado ou o machucado no rosto dela. — A festa do pijama foi um fracasso. Nós meio que brigamos. Eu vou para a cama. Ela chegou em seu antigo quarto e fechou a porta. Uma vez lá dentro, ela lavou as mãos e escovou os cabelos. Seu cérebro tinha girado, tentando entender porque ela e suas amigas
estavam brigando. Tinha parecido que sua irmã estava tentando hipnotizá-las ou algo assim, certo? Mas Spencer não tinha gostado disso. E então sua irmã e Spencer começaram uma briga estúpida sobre Ian Thomas do lado de fora do celeiro — Ali ouviu tudo. Em seguida, uma batida soou em sua porta. Ela levantou-se e ofereceu aos seus pais, que estavam nervosos no corredor, um sorriso nervoso. Seus olhares se moveram para o dedo indicador de Ali, que, é claro, estava sem seu anel com a sua inicial. Então eles olharam para seu pulso. Ele estava nu, sem a sua pulseira de corda da Coisa de Jenna. Porcaria. — Courtney? — a Sra. DiLaurentis perguntou timidamente. — Querida, você estava fora? — Eu não sou Courtney — Ali disse, franzindo a testa. — Eu sou Ali. Tá vendo? É por isso que eu não quero que você traga ela para casa. É tão confuso. Ela tentou fechar a porta, mas o Sr. DiLaurentis enfiou a mão no batente antes que ela pudesse. — Este não é o seu quarto, Courtney — ele disse com autoridade. E você não é meu pai, Ali queria atirar. — Sim, é — ela disse em vez disso, e então franziu o cenho para ele. — E, por favor, não me chame de Courtney. É um insulto. A Sra. DiLaurentis parecia confusa. — Você estava tentando sair com a sua irmã e com as amigas dela? Você entrou no celeiro de Spencer? Ali encolheu os ombros. — Sim, eu estava no celeiro de Spencer — eu sou Ali. Mas a festa do pijama foi uma droga. Tivemos uma briga, e fomos todas para casa. Eu já disse a você. A Sra. DiLaurentis piscou com força. — Então ninguém mais está no celeiro? — É. Elas foram para casa. Parecendo que não estava acreditando nela, a Sra. DiLaurentis caminhou rapidamente para a janela do banheiro, que oferecia uma visão dos quintais. Ali já sabia que as janelas do celeiro eram escuras. Segundos depois, sua mãe voltou para o quarto de Ali. — Onde está sua irmã? — Courtney? — Ali olhou para ela inocentemente. — Eu não tenho ideia. Ela não está no quarto dela? A Sra. DiLaurentis enfiou a cabeça dentro do quarto escuro, então balançou a cabeça. Ali arregalou os olhos. — Ela saiu? Você não estava vigiando ela? Foi a única coisa que eu pedi para você fazer! — Ela fez sua voz aumentar e diminuir, da mesma forma que sua irmã tinha feito quando ela tinha ficado fora de si quando sua mãe descobriu que Ali se encontrou com suas amigas. Esgotada, a Sra. DiLaurentis passou as mãos pelos cabelos. — Nós vamos resolver isso. — Ela tocou no braço de sua filha. — Boa noite... Ali. — O nome soou estranho saindo da sua boca, como se ela nunca tivesse usado ele em sua vida. — Boa noite — Ali disse, pegando um pijama da sua gaveta. Sua irmã gostava de boxers rosa da Victoria’s Secret — tão idiota. Mas ela obedientemente vestiu, sentindo uma onda de triunfo. Seus pais podem ter estado um pouco confusos no início, mas eles tinham acreditado no final. Ela estava dormindo em seu antigo quarto. Isso. Mas esta manhã, com seus pais olhando para ela e chamando-a de Courtney, a dúvida penetrou em sua mente. Talvez o pânico tenha parecido muito encenado. Talvez ela tenha pegado um pijama que sua irmã nunca teria escolhido. Talvez eles estivessem intrigados pela falta do seu anel. E ela tinha ouvido eles lá embaixo até altas horas da noite, andando, murmurando no telefone, abrindo a porta da frente e fechando novamente. Ela ouviu-os se mover à meia-noite, depois de duas, depois de quatro e depois de cinco e meia. Eles podem nem ter dormido.
— Vá lá para cima, ok? — A paciência da Sra. DiLaurentis estava se esgotando. — Spencer e as outras meninas chegarão em breve. Eu gostaria de fazer-lhes perguntas sem explicar nada. Ali fez sua respiração acelerar como se estivesse com medo. — Então Courtney sumiu? Tá vendo? É por isso que eu não queria que ela voltasse! Ela é totalmente louca, mãe. É por isso que você a internou. Quem sabe o que ela vai fazer agora! E se ela tentar me machucar? A Sra. DiLaurentis deu a seu marido um olhar melancólico. O Sr. DiLaurentis apenas olhou para ela, impotente. Ela voltou para Ali. — Apenas vá lá para cima até nós entendermos tudo isso. Suspirando dramaticamente, Ali subiu as escadas, tentando assimilar tudo. Uma vez no seu antigo quarto, porém, ela caiu de joelhos, sua mente vibrando. Por que não estava dando certo? Por que eles não acreditavam nela? Ela precisava de um álibi incontestável. Se essas meninas estavam vindo, elas provavelmente iriam perguntar onde ela tinha ido ontem à noite, e quando. Havia provavelmente vinte minutos inexplicáveis, seus pais iam perguntar onde ela estava. Falando no telefone, ela poderia dizer. Andando por aí, esfriando a cabeça. Mas eles deveriam acreditar nela. Eles não deveriam enxotá-la para longe ou questionar essas meninas sem ela por perto. A campainha tocou. A porta rangeu aberta, e os sons da Sra. DiLaurentis e as vozes das meninas vieram através do foyer. Houve pegadas, e depois o raspar das cadeiras sendo puxadas para trás para que todos se sentassem. Ali se arrastou para fora de seu quarto e desceu para o fundo das escadas. Todas as quatro meninas estavam sentadas ao redor da mesa, olhando para suas mãos. Todas elas ficaram quietas, como se estivessem escondendo algo. Emily cutucava suas cutículas. Spencer tamborilava com os dedos sobre a mesa. Aria inspecionava um porta-guardanapos em forma de abacaxi e Hanna mastigava vorazmente uma goma de mascar. — Alison não voltou para casa — a Sra. DiLaurentis disse. As garotas olharam para cima, chocadas. Ali colocou a mão sobre sua boca nas escadas. Como isso foi acontecer? — Agora, eu não sei se vocês tiveram uma briga ou o que, mas ela deu alguma dica a vocês sobre onde ela poderia ter ido? — a Sra. DiLaurentis continuou. Hanna torceu uma mecha de cabelo em torno da sua orelha. — Eu acho que ela está com suas amigas do hóquei de campo. A Sra. DiLaurentis balançou a cabeça. — Ela não está. Eu já liguei para elas. — Ela limpou a garganta. — Ali alguma vez falou sobre alguém implicando com ela? As meninas se entreolharam, em seguida, olharam para longe. — Ninguém poderia fazer isso — disse Emily. — Todo mundo adora Ali. — Ela alguma vez pareceu triste? — a Sra. DiLaurentis pressionou. Spencer torceu o nariz. — Tipo, deprimida? Não. — Mas, então, um olhar conturbado apareceu em seu rosto. Ela olhou fixamente para fora da janela. — Vocês não sabem onde o diário dela está, não é? — a Sra. DiLaurentis perguntou. — Eu procurei por ele em todos os lugares, mas eu não consegui encontrá-lo. — Eu sei como é o diário dela — Hanna se ofereceu. — Você quer que a gente vá lá em cima procurar? Alison subiu para o meio da escada, imaginando o diário em sua mente. Ela sabia onde ele estava — em um lugar muito, muito seguro. Mas ela não ia contar. — Não, não, está tudo bem — respondeu a Sra. DiLaurentis. — De verdade. — Hanna empurrou a cadeira para trás. Houve passos no corredor. — Não é nenhum problema. — Hanna — a mãe de Ali gritou, sua voz de repente afiada. — Eu disse que não.
Houve uma pausa. Ali desejou que ela pudesse ver os olhares nos rostos de todos, mas sua visão foi obstruída. — Ok — Hanna disse calmamente. — Sinto muito. Depois de um tempo, as meninas saíram. A Sra. DiLaurentis fechou a porta atrás delas e ficou por um momento no corredor, apenas olhando. Ali se agachou atrás do muro do segundo andar, mal respirando. Ela tinha que pensar — e rápido. Ela precisava convencer a todos que ela era a verdadeira Ali. Ela correu para a janela do seu antigo quarto e observou as amigas da sua irmã enquanto elas estavam de pé em um círculo no quintal. Elas pareciam preocupadas, talvez até culpadas, especialmente Spencer. Emily começou a chorar. Hanna mastigou nervosamente um punhado de Cheez-It’s. Parecia que elas estavam discutindo, mas Ali não poderia realmente dizer. Ela deveria ir lá fora e falar com elas? Talvez ela pudesse dizer a verdade — que havia gêmeas, que a outra menina era uma louca e imitadora de Ali, que ela havia saído na noite passada, mas os pais dela estavam confusos e achavam que as meninas tinham trocado de lugar. Ela precisava que aquelas vadias estúpidas convencessem o mundo, assim como sua irmã tinha feito um ano e meio antes. Ela começou a descer as escadas, mas de repente houve um ensurdecedor resmungar no quintal. Era a escavadora mecânica. Ela estava se movimentando para o buraco, seus pneus enormes rasgando a grama. — Justo o que precisamos agora — a Sra. DiLaurentis gemeu. — O barulho dessa coisa é tão alto que eu mal posso ouvir meus próprios pensamentos. — Você quer que eu diga a eles para parar? — o Sr. DiLaurentis perguntou. As palavras percorreram Ali. Um pensamento horrível tocou em seu cérebro. Seus pais não podiam ir lá fora. E se eles vissem sua irmã no fundo do buraco? Ela empilhou um monte de sujeira sobre ela, mas estava escuro lá fora — talvez ela não tivesse coberto ela o suficiente. Ela correu para a janela do banheiro e olhou para fora. Havia homens de pé ao redor do buraco, posicionando uma rampa que ligava o caminhão de cimento a um ponto para dentro do buraco. Ninguém olhou para o buraco. Não houve gritos de terror ou passos para trás de surpresa. Ali pensou novamente nas mãos cheias de sujeira por ela ter jogado sobre o corpo, em seguida, sobre a pessoa que tinha ajudado ela. Ela estava feliz por seu cúmplice ter aparecido, assim como ela tinha pedido. Por algumas semanas, ela não teve certeza se isso iria acontecer. O misturador começou a virar. Cimento cinza caía de uma rampa para dentro do buraco, enchendo-o lentamente. Os homens estavam em volta, fumando cigarros. Um deles contou uma piada, e alguns deles riram. Ali continuou esperando que eles se virassem para o buraco e de repente gritassem de terror, mas ninguém o fez. O misturador girou e girou. O cimento lamacento rolou sobre a rampa. Ali avaliou seus sentimentos, mas ela não sabia o que sentia. Uma espécie de alívio. Mas também preocupação. Houve uma batida na porta do banheiro, que estava entreaberta. A Sra. DiLaurentis estava no corredor, brincando com a bainha da sua camiseta. — Você tem que nos dizer o que você sabe, querida — ela implorou, com os olhos cheios de lágrimas. Ali encolheu os ombros. — Por que você acha que eu sei de alguma coisa? A Sra. DiLaurentis piscou para ela. Ali olhou para baixo, tentando manter a calma, e estendeu a mão para o celular da sua irmã, que ela encontrou na grama na noite passada. Mas então ela ouviu o misturador ser desligado. Estava tudo acabado. O buraco estava preenchido. Sua irmã estava enterrada. Ela morreu. Estava acabado. Seus dedos começaram a tremer incontrolavelmente.
Ela colocou a mão sob suas coxas. Então ela pegou um vislumbre da sua expressão assustada no espelho. Quando ela olhou para cima, a boca da Sra. DiLaurentis estava aberta. Todo o sangue havia sido drenado de seu rosto. Em um instante, Ali sabia que ela sabia. A Sra. DiLaurentis apertou sua boca em uma linha. — Faça as malas. Agora. Ali piscou. — Por quê? A Sra. DiLaurentis virou-se para as escadas. — Kenneth? — Ela gritou. — Kenneth, eu preciso de você. O Sr. DiLaurentis subiu as escadas rapidamente. A Sra. DiLaurentis virou-se e apontou tremulamente para Ali. — Querido, ela... Alison... ela... — E então ela explodiu em lágrimas. O Sr. DiLaurentis se lançou para Ali, como se tivesse estado planejando a mudança a horas. Antes que Ali soubesse o que estava acontecendo, eles a empurraram para dentro do quarto e trancaram a porta pelo lado de fora. — O que diabos é isso? — Ali gritou. — O que está acontecendo? Por que vocês dois estão agindo como loucos? Ela podia ouvir as suas vozes no corredor, murmúrios baixos. Ela fez algo. Eu não sei o que, mas algo terrível aconteceu. Temos que tirá-la daqui. A coluna de Ali enrijeceu. Tirá-la daqui? Eles não queriam dizer... a Reserva, não é? Mas eles não podiam. De maneira nenhuma. O coração de Ali começou a acelerar só de pensar nisso. Ela passou dezoito meses de tortura naquele lugar. Horas dentro daquela sala escura. Dias trancada dentro da sua cabeça, tão drogada por causa daquelas enfermeiras indiferentes. E os médicos, oh, os médicos, eles eram ainda piores. Cruéis. Descuidados. Esqueciam-se do seu nome. Esqueciam-se da sua situação. Quando ela disse, entre lágrimas, eu sou Ali, eu sou Ali, eles olharam para ela como se fosse nada além do que um número, um estudo de caso. Momentos mais tarde, quando seus pais voltaram para o quarto, a Sra. DiLaurentis arrancou a mala do chão e começou a encher de camisetas e roupa íntimas. — Mãe — Ali disse com a voz trêmula. — Eu não sei o que você está fazendo, mas... — Não fale — a Sra. DiLaurentis interrompeu. O marido dela estava ao telefone. Depois de um momento, uma voz respondeu tão alto que Ali podia ouvi-la através do receptor. — Bom dia, Reserva de Addison-Stevens, como posso ajudá-lo? Lágrimas assustadas vieram aos olhos de Ali. Ela tentou pegar o telefone da mão do seu pai, mas ele o colocou fora do seu alcance. — Você não pode me mandar de volta para lá! — Ela gritou. — Eu não fiz nada! A Sra. DiLaurentis empurrou as palmas das mãos contra os ombros de Ali com uma força surpreendente, empurrando Ali de volta para a cama. — Pare de mentir — alertou, com os olhos cheios de lágrimas. — Apenas pare com todas as mentiras! Ali gritou e tentou rolar para fora do colchão, mas então o Sr. DiLaurentis apareceu e agarrou-a pela cintura. Seus pés chutaram enquanto eles a puxavam para baixo das escadas. Ela gritou tão alto que ela tinha certeza de que os trabalhadores na parte de trás viriam correndo, mas ninguém o fez. — Vocês não entendem — ela gemeu para seus pais. — Eu sou Ali! Mas eles não ouviram. Ela pegou trechos de coisas enquanto eles a arrastavam para o carro: a letra da sua irmã no diploma da sétima série na ilha da cozinha, sua irmã no campo de hóquei encostada no canto da lavanderia, o misturador girando no quintal. O céu estava tão perfeitamente azul, os jardins tão imaculadamente cuidados. — Eu sou Ali! — Ela gritou novamente na garagem, um apelo desesperado aos Cavanaughs, aos Vanderwaals, até mesmo aos Hastings. Mas ainda ninguém veio em seu socorro. Seu pai a empurrou para o banco traseiro, e sua cabeça bateu na janela oposta com força. Ela tentou sair pela porta de novo, mas seus pais já haviam entrado no carro e travaram as portas. Então o motor roncou. Em seguida, eles estavam dando ré. Agora a visão de Ali foi
nublada pelas lágrimas. Sua garganta estava inflamada de gritar. Ela olhou para fora da janela para as casas impassíveis ao longo do beco sem saída. Ninguém se importava com ela. Ela odiava todos desta rua estúpida. E com isso, eles foram embora. — Vocês não entendem, eu sou Ali — ela repetiu mais algumas vezes, mas enquanto eles saíam da garagem, ela percebeu que era inútil. Eles não acreditaram nela. Seu plano tinha saído pela culatra. Ela nunca, nunca seria Alison DiLaurentis novamente. E pior, de alguma forma eles descobriram o que ela tinha feito. Talvez eles pensassem que estavam sendo gentis. Eles poderiam ter chamado a polícia, poderiam ter trancado ela na cadeia. Mas isso não parece bom para ela. Ela teria preferido a prisão. Pelo menos ela teria obtido um julgamento. Pelo menos ela teria conseguido o seu nome de volta. O rosto do Sr. DiLaurentis estava enrugado quando ele girou para a direita e começou a descer a rua. Em estado de choque, Ali virou o pescoço para o lado e viu quando o caminhão de cimento cobriu o topo do buraco, nivelando-o com o resto do quintal. Ela está enterrada para sempre. As palavras da sua irmã giraram em espiral na sua cabeça: Eu só quero uma irmã novamente. Isso é tudo que eu sempre quis. Isso tinha parado ela, pelo menos por um momento. Eles passaram pela casa dos Hastings. Spencer estava na varanda, olhando preocupada para o quintal — talvez ela tivesse ouvido os pedidos de ajuda de Ali. — Se abaixa — o Sr. DiLaurentis gritou, empurrando rudemente a cabeça de Ali na zona dos pés assim que Spencer notou o carro. Depois que eles passaram, Ali sentou-se de novo e olhou para trás para Spencer. Ela era irmã de Ali, também. Exceto que tudo o que Ali sentia por ela era ódio. Quando você digere tudo, a coisa toda foi culpa de Spencer, Aria, Emily e Hanna. Foram elas que tinham interceptado sua irmã no pátio naquele dia um ano e meio atrás. Foram elas que tinham facilitado a ascensão de Courtney no domínio-de-Ali. Um novo lote de ódio inundou seu corpo. Já não era da sua irmã que ela estava com raiva. Era delas. O Sr. DiLaurentis colocou para piscar a seta para virar a esquina. A Sra. DiLaurentis soltou um atormentado fungado quando eles chegaram na estrada principal, deixando a pequena rua tranquila e feliz para trás. Ali olhou pela janela de trás, querendo saber se ela a veria novamente. Ela veria, ela decidiu. Ela iria encontrar uma maneira de voltar aqui, para limpar seu nome. E uma vez que ela o fizesse, ela iria se vingar — dessa vez ia ser para valer. Ela ia fazer essas vadias pagarem. Ela ia fazê-las desejar nunca terem se tornado amigas de Alison DiLaurentis em primeiro lugar. Ela não sabia como, e ela não sabia quando, mas pelo menos ela tinha uma pessoa com quem ela poderia contar para ajudá-la a por isso em prática. Juntos, eles iriam fazer isso acontecer. Mesmo que isso a matasse.
Fim!
A Pretty Little Liars Novel