ANTES QUE ACONTECEU VOLUME 2 Série Depois do que Aconteceu
JULIANA PARRINI
Copyright © 2015 Juliana Parrini Capa: Juliana Parrini Revisão e Edição: Carolina Durães de Castro Diagramação Digital: Carla Santos Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência. Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa. Todos os direitos reservados. É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora. Criado no Brasil.
Agradecimentos Agradeço a Deus pela força durante as madrugadas para dar vida a esse livro. Aos meus leitores do Wattpad, que acompanham minhas obras com todo o carinho do mundo. Aos novos amigos que essa carreira me trouxe, por todo carinho, apoio e dedicação. Obrigada, sempre. À minha revisora Carol Durães pelo lindo trabalho. À amiga Carla Santos, que em um momento de complicação, acalmou meu coração. Jamais esquecerei. À minha madrinha literária, a autora Camila Moreira por amar Alex desde o início. Ele sempre será seu. A toda a minha família que me apoia e me dão forças para continuar. Sou grata a Deus por ter vocês. Aos alicerces da minha vida: meu marido, Tiago Parrini; e meus filhos, Guilherme e Letícia. Obrigada por entenderem minha ausência, por cuidarem de mim com beijinhos e abraços. Eu amo vocês mais que tudo.
Sumário Agradecimentos Prólogo Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10 Capítulo 11 Capítulo 12 Capítulo 13 Capítulo 14 Capítulo 15 Capítulo 16 Capítulo 17 Capítulo 18 Capítulo 19 Capítulo 20 Capítulo 21 Capítulo 22
Capítulo 23 Capítulo 24 Capítulo 25 Capítulo 26 Capítulo 27 Capítulo 28 Capítulo 29 Capítulo 30 Capítulo 31 Capítulo 32 Capítulo 33 Capítulo 34 Capítulo 35 Capítulo 36 Capítulo 37 Epílogo A autora Contato Outras obras na Amazon
Prólogo Isabel
Eu não sabia ao certo se tinha tirado a sorte grande ou se era a mulher mais azarada da Terra. Eu fui do céu ao inferno e depois voltei para o céu. Vivi uma vida linda com Alex, tive tudo o que uma mulher desejava e as expectativas de um futuro ainda melhor. Até que o universo conspirou contra nós dois e Alex foi diagnosticado como esquizofrênico. Nossa vida virou de cabeça para baixo. Nosso casamento foi adiado e o sonho de sermos pais ficou cada vez mais distante com a sua insegurança, até ao fatídico dia em que ele simplesmente disse adeus em uma carta escrita à mão, deixada com o seu psiquiatra.
Isabel, Deus estava cuidando de mim quando fez você me olhar com aqueles olhos verdes musgos e com o sorriso de um anjo. Eu sempre fui tão tímido e fechado, e consegui em você a amizade perfeita, a segurança, o escoro que eu precisava mesmo quando criança. E quando adulto, não foi diferente, precisei de você ainda mais. Passamos por tantas coisas juntos, tantos momentos felizes. Como fui feliz ao seu lado, meu amor. Você é a mulher que todo homem sonha e poucos encontram em uma vida inteira, mas como nada é perfeito e eu muito menos, acabei por destruir tudo isso. Estou certo de que a minha doença se desencadeou tardiamente porque você esteve sempre ao meu lado. Foi graças à vida estável que me foi proporcionada e o principal, o seu amor absoluto. Infelizmente não tive como vencer a luta contra a genética. Hoje eu acho que Deus falhou. Não comigo. Comigo ele foi perfeito, por me dar a oportunidade de conhecer, e ser amado pela pessoa mais magnífica do universo. Foi com você que ele falhou Bebel. Falhou porque você investiu em um amor nulo, sem futuro e que nos últimos dias só te fez sofrer. Hoje eu sou como uma Ferrari como o motor fundido: meu corpo é perfeito, mas por dentro estou destruído. Quero dizer que meu tempo está esgotando, hoje estou raciocinando bem, mas nada me dá a certeza de que amanhã continuarei assim. Não tenho controle absoluto sobre a minha doença. Mesmo com todos aqueles horríveis
remédios, eu nem sempre consigo ficar com os pés no chão e isso é perturbador demais. Seria tão mais fácil se algo que a gente desejasse acontecesse. Eu gostaria que tudo fosse diferente, mas infelizmente não existe conto de fadas, nem mágica e essa é a nossa realidade. Quero você feliz, realizando todos os seus desejos. Tenho uma fé cega que você será capaz disso, e acredito veementemente que você encontrará alguém que te faça se sentir segura, amada, realizada, completa, sem pressão, sem doença, sem pisar em cacos de vidro todos os dias, porque você merece tudo isso, meu amor. Não sei a melhor forma de falar isso para você, então será da forma mais simples e sem rodeios: Estou indo embora e não quero mais você por perto. Vou me tratar em outro país e me reencontrar. Vou buscar algo que me faça feliz e te peço com todo o amor que eu sei que sente por mim: não tente me encontrar. Estou agindo de forma egoísta, eu sei. Mas não encontro outra saída. Só terei paz em minha vida quando imaginar que você refez a sua vida e é feliz. Sou um covarde por não conseguir fazer o que eu mais almejava, mas serei um covarde ainda maior, se eu continuar fazendo a sua vida andar para trás. Não pense que estou sob o efeito dos remédios, ou que o surto da doença tenha surgido novamente, não é nada disso. As enfermeiras e até o doutor Dimitri estão de prova que estou escrevendo em plenas faculdades mentais. Relutei em escrever essa carta, mas achei injusto não explicar a verdadeira razão disso tudo. Você não mereceu passar por isso nesses últimos dias. Fui rude, cruel, mas não podia fraquejar, me acolher em você e pedir apenas um abraço, como tive vontade a cada segundo que você esteve aqui ao meu lado. Você é meu coração, a minha vida... E como estou indo, estou optando por viver como um homem sem alma, sem o meu coração, sem o meu amor... Sem você. Obrigada por colorir a minha vida, por me mostrar que o amor é incondicional, que podemos colocar a felicidade do outro em primeiro lugar. Obrigada por todos os anos juntos. Ter tido você ao meu lado, me amando é a prova real da existência de Deus. Você sempre será a pessoa mais importante da minha vida e quero que você construa sua família e tenha filhos lindos, porque com a sua doçura e amor, tenho a mais pura convicção que será a melhor mãe do mundo. Eu sei que nesse momento você não conseguirá visualizar isso, mas eu consigo e sei que você será muito feliz. Você pode ter certeza de que nunca mais me verá, ou ouvirá falar de mim. Desaparecerei nesse mundo e quero que você imagine que a minha vida acabou naquele dia, no banheiro de casa, porque de fato foi o que aconteceu. Eu te amo mais do que a mim mesmo, minha Bebel. Mas só posso seguir nesse mundo
sabendo que você é feliz e isso não vai acontecer comigo ao seu lado. Jamais te esquecerei, isso seria impossível. Sinto muito por ter feito você sofrer, me perdoe pelos meus erros e medos, me perdoe por ter feito você chorar, só Deus sabe o quanto sofri e sofro. Eu sou um imbecil egoísta e é isso que eu quero que se recorde. Seja feliz, meu amor, é a única coisa que te peço.
Adeus,
Alex Simonelli.
Naquele dia uma parte de mim foi embora com ele. Passei um ano tão deprimida que, se não fosse pelo meu pai e minhas gêmeas, provavelmente hoje eu não estaria aqui. Mas a vida é capaz de mudar em um segundo, não é? Conhecer Daniel foi a algo bastante improvável. Seus belos olhos azuis transparentes e seu ar misterioso me encantaram. Mas nossa história também não foi fácil. Descobri que esse cara incrível que esbarrou em mim em plena Avenida Paulista, quebrando minha câmera digital, que me levou para jantar e foi atrás de mim no Rio de Janeiro, era o namorado da minha prima Marcela. Aos poucos a atração virou amor e redescobrir o sentido de amar foi um pouco assustador, mas me mostrou que eu ainda tinha chances de ser feliz. Quando nós achávamos que o pior tinha passado e nos tornaríamos oficialmente um casal, uma nova bomba surge no caminho: Marcela contou que estava grávida do Daniel. E lá estava eu passando por mais essa provação. Mas mesmo assim fiquei ao seu lado e tentei ser forte o suficiente por nós dois. Marcela solicitava sua presença nas horas mais inesperadas. Telefonemas no meio da madrugada e toda vez que tínhamos um encontro ou planejávamos passar um tempo junto. O timing dela era simplesmente perfeito demais. E o pior de tudo foi o fato de que o Daniel achou que eu estava sendo egoísta. Quando descobri que o filho que ela carregava não era dele, foi o momento em que eu me vi sem saber o que fazer. Eu poderia ir correndo contar a verdade a ele, mas arriscaria a vida inocente daquele bebê que ainda não havia nascido. Meu momento de hesitação quase custou o meu futuro. Foram meses afastados, e antes dele ir embora me acusou de não ser leal, de ter deixado a Marcela mentir para ele. Fui abandonada pela segunda vez, mas tentei não parar minha vida novamente. Trabalhei arduamente, não parei de ir ao Jonny’s bar com as minhas gêmeas doidinhas. Eu havia perdido um ano, não iria perder mais nenhum dia. Daniel reapareceu do nada, na festa de aniversário da revista Female, na qual eu trabalho como
fotógrafa oficial. Ele fez uma declaração linda em cima do palco, e como resistir ao amor? Dias depois ficamos noivos. O nosso amor era grande demais para que adiássemos o inevitável... E aqui estou eu, parada na cozinha da minha nova casa em Petrópolis, e estou prevendo um novo problema, ou melhor, um antigo problema. Respiro fundo tentando controlar meu nervoso ao máximo e releio mais uma parte da carta...
Estou voltando ao Brasil no verão, então achei que seria justo te avisar com antecedência. Espero que seja tempo suficiente para você entender que eu fiz tudo isso para te ver feliz. Eu quero você para mim novamente, quero que pense na vida em que ainda podemos ter. Eu quero recuperar todo o tempo perdido. Estou estável e pronto para recomeçar uma vida com você ao meu lado. E eu vou, Bebel, vou passar a eternidade lutando para que você me perdoe e ame novamente com a mesma intensidade que um dia me amou. Eu havia te prometido que levaria nossos filhos naquela ilha deserta. Eu irei cumprir.
Eu te amo para todo o sempre, Bebel.
Alex Simonelli
Eu não sei ao certo o que sinto. Desejei por tanto tempo que isso acontecesse, agora é como se um fantasma ressurgisse para puxar meu pé e dizer: Chega! Você ganhou um ano de felicidade plena, agora vamos voltar à realidade? Dobro a carta e junto com as correspondências. Pego um copo de água e bebo de uma única vez, tentando ainda me acalmar. Estou parada sozinha na minha cozinha quando Daniel aparece sorrindo. Sorrio para ele de volta e tento não demonstrar minha inquietude. — Está demorando demais, meu amor. Não consigo ficar longe de você por muito tempo! — Daniel enlaça minha cintura e beija meus lábios. — Você está fria, Bel. Está pálida também. O que aconteceu? Você está bem? Daniel segura meu rosto, encarando-me. — Está tudo bem. Acho que minha pressão baixou e estava tentando me recompor. Eu não queria mentir, mas também não queria estragar esse dia tão maravilhoso. Daniel já é tão inseguro em relação a Alex, mesmo deixando claro para ele que Alex faz parte do passado. Tenho
medo de como ele irá reagir quando eu contar a ele sobre a carta. Eu preciso pensar. Alex não pode ter mais esse efeito sobre mim. Somente imaginar vê-lo novamente faz meu coração disparar. Meu Deus, o que será de mim? — Deixa que eu pego o abridor. Foi um dia de fortes emoções, por isso deve estar assim. O que é isso? — pergunta ele, observando as correspondências em minha mão. — Contas e mais contas... Ele sorri, e me guia devagar até a sala. Guardo o bolo de cartas na bolsa e fico no modo automático. Não vejo alternativa nesse momento a não ser omitir a carta e finjo estar apenas com uma indisposição durante toda da noite.
Capítulo 1 Alex
Um ano atrás...
Alemanha...
Eu continuo detestando isso. Estou na Alemanha há quase um ano e tenho certeza que jamais irei me acostumar com a rotina das consultas periódicas ao psiquiatra. Mas, depois do tratamento, os surtos diminuíram drasticamente. Desde que fui embora do Brasil, eu tive um surto atrás do outro. Achava que me manter assim seria melhor para esquecer o que eu fiz com a Isabel e parei de tomar todos os remédios. Eu tinha como objetivo ser internado e dopado. Ficar inconsciente me dava a oportunidade de perder dias e até mesmo semanas, então quando voltava a ficar acordado não parecia que a Bebel estava longe há tanto tempo. Eu me culpava a cada segundo por imaginá-la sofrendo, e pedia aos céus que ela seguisse as instruções que deixei naquela carta, mesmo esmagando meu coração. — Senhor Simonelli. — Chama a enfermeira. Levanto-me da cadeira e ando ao seu lado, enquanto ela me conduz até uma pequena sala. — Desculpe. Eu sou a nova enfermeira do consultório. O doutor está um pouco atrasado. Pediu para eu fazer uma triagem com você, tudo bem? — Tenho alguma escolha? — Oh, na verdade, eu acho que sim. Se não quiser... Ela é uma linda jovem de cabelos loiros e olhos cor de mel, beirando para o verde. Olhando atentamente para ela consigo enxergar algumas semelhanças com a minha Bebel. — Senhor? — Chama ela, tirando-me dos meus pensamentos. — Sim, é claro. Hum, qual é o seu nome? — Meu nome é Ester. — Responde sorrindo. Ela enrola o medidor de pressão no meu pulso e aperta alguns botões enquanto eu fico encarando seu belo rosto.
— Eu nunca te vi aqui, Ester. — Eu sou nova. Hoje é o meu primeiro dia de trabalho. — Sério? Sou o seu primeiro paciente? Ela retira o aparelho, anota no prontuário e me encara. — Sim. Na verdade, você é o meu primeiro paciente. Sou recém-formada e este é o meu primeiro dia no emprego. Estou nervosa demais. — Oh, você está se saindo muito bem, Ester. Aferiu a minha pressão direitinho. — Sorrio. — É um bom começo, senhor Simonelli. — Alex. Pode me chamar de Alex. Ela apenas concorda. — Então, o que você costuma fazer quando está nervosa? – Pergunto, puxando assunto. Apenas olhar seu rosto me deixa feliz, sinto-me um pouco mais próximo a minha Bebel. — Eu bebo cerveja. — Só não te convido para beber uma cerveja por dois motivos. — Oh, eu também não poderia, eu... — Primeiro: você está no meio do expediente e isso poderia atrapalhar o seu primeiro dia. Segundo: eu estou proibido pelo doutor de beber cerveja ou qualquer tipo de bebida alcoólica, mas isso não me impediria de te chamar para sair hoje à noite. Você beberia a sua cerveja e eu um refrigerante. O que acha Ester? — Desculpe, senhor Simonelli... — Alex... — Oh sim, Alex. Eu não acho que isso seria admissível, já que... — Você não pode ter amigos, Ester? Ela respira fundo. — Sim. Eu posso ter amigos, Alex. — Então, nada nos impede de sermos amigos, não é? — Não. Nada. – Ela sorri. — Eu preciso me distrair um pouco e ter uma boa conversa. Será ótimo ter sua companhia. Ester concorda com um sorriso bobo nos lábios. E por um instante esqueço que estou paquerando alguém que não é a Isabel. Sou atendido pelo doutor Hillebrand, que troca uma das minhas medicações que estão me dando sono mais do que o normal.
Despeço-me de Ester e marco de buscá-la mais tarde. *** — Como foi a consulta? – pergunta o meu pai, colocando seu iPad sobre o sofá e retirando os óculos de grau do rosto. Ponho as chaves na mesinha de canto e caminho devagar, sentando-me próximo a ele. — Normal. Consegui convencê-lo a mudar meu remédio. — Oh, ótima notícia. — E tenho um encontro hoje. — Encontro? Com quem? Observar meu pai ter interesse na minha vida pessoal ainda é estranho. Nossa relação está começando a ser, pela primeira vez na minha vida, de pai e filho. Desde que minha mãe faleceu, há seis meses, ele está morando aqui na Alemanha comigo. Foi difícil tentar entender sua aproximação. Como eu me sentia muito sozinho, eu apenas aceitei. Acho que com a morte dela, ele começou a reparar nos erros cometidos. Eu não o cobro e nunca questionei o motivo de sua ausência na minha vida ou todas as omissões dele do passado, como o fato de que a minha mãe também era esquizofrênica. Não temos conversas profundas, na maior parte do tempo, as mantemos o mais superficial possível. Não acho que conseguirei deixar de ficar magoado com ele pelo passado, principalmente pela forma como tratavam a Isabel. Mas estamos tentando seguir em frente. Ao revelar que tenho um encontro, vejo seu olhar curioso. — Com uma enfermeira da clínica. — Isso não é antiético? — Não. Não estou indo com esse intuito. Eu não consigo esquecê-la. Meu pai respira fundo. — Que bom que tocou no assunto. Eu tento há tanto tempo te pedir perdão. Por tudo que fiz. Principalmente por não estar ao seu lado. — Eu tinha uma vida perfeita. Ainda teria se não fosse essa maldita doença. — Eu sei. Minha vida com a sua mãe também não era perfeita, até ela... — É difícil viver com um esquizofrênico, não é? — Sim. Mas não tive só momentos ruins, Alex. Nós fomos felizes até com a doença ao nosso redor. Mas achávamos melhor você ficar distante durante os surtos dela. E quando soubemos da sua
doença, demoramos a perceber que a distância que impusemos não adiantou. Nego com a cabeça. — Eu a amo, pai. Parece que a cada dia, uma faca que está instalada no meu peito, afunda ainda mais. Essa dor não cessa? — Eu não sei, meu filho. Só sei que o que eu sinto pela sua mãe, será eterno. Meu amor pela Isabel também será eterno. *** Chego ao prédio do consultório e paro na frente do portão de ferro. “Você não pode fazer isso! Você está traindo a Bel”. A voz que sempre atormenta meus pensamentos me induz a ir embora. Encosto minha cabeça no portão frio e tento desligar a voz da minha cabeça. Eu não vou conseguir. — Alex! — Ouço uma voz doce me chamar. Eu me viro e vejo Ester, sem o seu uniforme branco. Ela está vestindo uma calça jeans e um bonito sobretudo preto de gola alta. Coloco minhas mãos no bolso e caminho até ela. — Olá. — Cumprimento com um beijo no rosto. Caminhamos devagar até um restaurante próximo. Falamos sobre o Brasil, sobre alguns lugares que ainda não conheci aqui na Alemanha. Conforme nossa conversa flui, fico analisando suas reações e busco semelhanças com a Isabel. Quando encontro algum pequeno movimento ou comentário que ela faz que é parecido com a Bebel, me sinto eufórico. — Posso te perguntar uma coisa que não sai da minha cabeça? — Pergunto, já não aguentando ficar quieto. — Claro. — Por que você aceitou sair com um homem doente como eu? Não ficou com medo? Ela abaixa o olhar por um instante antes de se recompor e me encarar. — Não. É que meu pai tinha esquizofrenia e minha irmã também tem. Ah, desculpe, eu li no seu prontuário. Cruzo os braços sob o peito e sorrio. — Então, você conhece bastante sobre a minha doença? — Sim, esse foi um dos motivos de querer seguir carreira na área de saúde.
— Muito legal da sua parte. — Você não parece sofrer de esquizofrenia. — Você sabe que se o paciente manter-se medicado tem como levar a vida normalmente. Estou estabilizado por mais de um ano. — É claro. Isso é ótimo. — É sim. Evito falar sobre a doença ou sobre coisas antigas da minha vida. Ester sorri o tempo inteiro e parece realmente animada com o nosso jantar. O jantar foi agradável e por ser tão tarde, me ofereço para acompanhá-la até a sua casa. — Você gostaria de entrar? — pergunta Ester. — Hum, sabe o que é Ester? Eu... Vai embora, Alex! Vai embora! A voz permanece. Respiro fundo antes de terminar a frase, sob os olhos ardentes de Ester. Ela me quer por perto. A voz fica em looping e resolvo tomar as rédeas do meu controle. — Eu aceito. Ester sorri e abre o portão. Assim que ela abre a porta de casa, eu seguro seu rosto entre minhas mãos e a beijo, encostando-a na porta fechada. Fecho meus olhos e imagino sentir os lábios de Isabel, mas o gosto não é o mesmo. Ester geme na minha boca e aprofundo mais o nosso beijo. Eu quero possuí-la tanto pelo desejo carnal, mas também para provar a mim mesmo que eu posso deixar Isabel em paz. A voz cessa, e tento por diversas vezes não imaginar que Ester seja Isabel. Abaixo sua calça jeans e ela abre minha braguilha. Não pergunto onde é o quarto, e nem ela está muito preocupada com isso. Tudo acontece com os dois em pé e Ester encostada na porta. — Ah, Isabel... — sussurro, deixando minha cabeça pousar sobre sua testa e logo repara na idiotice que falei. — Desculpe, Ester... Ela me olha um pouco decepcionada, mas força um sorriso. — Não precisa se desculpar. Eu percebi que você não estava muito com a cabeça aqui. Quem é ela? – Pergunta, desprendendo suas pernas da minha cintura e colocando sua calça jeans. Ela segura minha mão e me conduz até o sofá, sentando-se ao meu lado. — Minha noiva. Minha ex-noiva, na verdade. — E porque terminaram, se você a ama? — Por causa da doença. — Ela acabou tudo por você ter esquizofrenia?
— Não. Eu terminei por causa da esquizofrenia. —Eu entendo. Minha irmã pensava assim também. Mas quando colocou na cabeça que poderia ser feliz, ela simplesmente se permitiu. Casou-se com um cara muito legal e tem Giulia, minha sobrinha. Eu ouvi muitos relatos felizes, mas também alguns horríveis, no grupo de apoio. Eu sou um cara prático, que precisa ter certeza dos fatos. Eu via cinquenta e um por cento de chances de estragar a vida de Isabel, não podia correr esse risco. — Ainda há tempo, Alex. — Não. O que eu fiz não tem volta. — Conhece aquele ditado? Melhor você se arrepender do que fez, do que daquilo que não fez. Você sempre terá a dúvida na sua cabeça... — Eu preciso ir. — falo, levantando-me do sofá. — Desculpe. Eu não deveria estar me metendo nisso. Eu gostei muito de você e... — Não se desculpe, Ester. Eu também gostei muito. — Então, se quiser ligar apenas para conversar... Posso ser mesmo uma excelente ouvinte. — Obrigado. Beijo seus lábios e deixo o apartamento me sentindo pior do que quando entrei. A voz na minha cabeça perpetua: Você pode ser feliz! Você quer Isabel! Volta! Volta! Volta! Respiro fundo no caminho de volta para a casa. A noite está fria e a cada passo que dou, luto contra meus pensamentos. Pés no chão, Alex. Pés no chão. Abro a porta do apartamento e meu pai está lá sentado assistindo televisão. — Chegou cedo. Como foi o jantar? — Eu preciso dela. Meu pai franze o cenho, sem entender. Acho que percebe minha agitação e caminha até mim. — Sente-se aqui, Alex. — Eu preciso da Isabel. Eu posso ser feliz. Eu quero tentar... Preciso disso... — Acalme-se. Você estava indo tão bem. — Você a odeia. Você a odeia! Minha mãe também a odiava. Vocês são horríveis. Isabel é a pessoa mais doce e linda que conheci na vida. E eu a abandonei! Eu sou um idiota, um burro egoísta. Meu Deus como eu pude fazer isso? Vocês não me ajudaram! — Eu sei que agimos errado...
— Chega! Eu quero voltar! Eu quero a minha Bebel! — Grito alto, repetidamente. — Eu quero a Isabel. Coloco as mãos sobre a cabeça e ando de um lado para o outro. Meu pai tenta me controlar, mas é em vão. As cenas seguintes são apenas flashes até acordar três dias depois internado no hospital psiquiátrico AGAPLESION MARKUS em Frankfurt, mas com a ideia inicial ainda em mente: Eu preciso tentar.
Capítulo 2 Daniel
— Ainda está se sentindo mal, Bel? — Pergunto, colocando uma das mãos em sua coxa e a outra no volante. Ela passou toda a descida da serra de Petrópolis para o Rio de Janeiro calada, com o rosto virado para o outro lado. Isabel vira para mim e força um sorriso. — Um pouco. — Vou te levar ao hospital agora mesmo. — Não! Eu só estou cansada. O dia foi cheio, meu amor. Muitas emoções. — Então, que tal comemorarmos isso tudo agarradinhos no nosso apartamento? Ela franze um pouco o cenho e percebo sua hesitação. — Podemos deixar isso para amanhã? Não fique chateado, mas tenho alguns trabalhos pendentes e queria resolver tudo hoje. — Bel, eu... — Por favor... Eu sei que ela não está bem e é alguma coisa que aconteceu horas atrás. Eu mostrei nossas passagens de lua de mel para a Itália na qual ela sempre sonhou em conhecer. Ela ficou encantada com a linda casa que seu pai construiu para ela. O que será que aconteceu? Isabel permanece quieta, com o rosto virado para a janela. Estaciono o carro em frente ao seu prédio e ela me encara. — Obrigada, meu amor, por esse lindo dia. — Eu só queria poder ficar perto. — Eu sei. Prometo que amanhã ficaremos bem grudadinhos, ok? — Promete mesmo? Ela faz que sim, dando um sorriso. Eu seguro sua nuca e beijo sua boca, saboreando o seu gosto. — Eu te amo, Bel. Nunca se esqueça disso.
— Eu também te amo, meu amor. Ela me dá um beijo nos lábios e sai. Dou partida no carro, sem entender o motivo da mudança de humor tão repentina. Eu deveria questionar mais, colocá-la na parede e pedir explicação. Isso não é só por causa do cansaço. O dia foi maravilhoso, ela deveria estar feliz. Desde que estou com Isabel minha vida tem sido repleta de novas experiências. Primeiro foi a descoberta do amor e depois foi lutar por esse amor. Ainda tenho que trabalhar na minha insegurança e possessividade. Isabel me ama, mas eu vivo a cada dia achando que esse sonho pode ter fim a qualquer momento. Pode ser bobagem da minha cabeça, mas é impossível não pensar que de uma hora para outra o fantasma do seu ex-noivo pode aparecer e tudo ir por água abaixo. Amar Isabel foi fácil. Com seu jeitinho tímido e com a firmeza que toda mulher precisa, ela foi mostrando o quanto me completava e que sem ela sou um homem perdido. Será que foi alguma daquelas cartas que ela estava segurando que a fez ficar daquele jeito? Relembro do momento em que a encontrei na cozinha. Ela estava com algumas cartas na mão e pálida. Foi a partir daí que ela ficou estranha. Sem pensar duas vezes, paro no meio da pista, agradecendo pelo fato de que não há movimento da rua essa hora da madrugada e faço uma manobra ali mesmo, voltando para o apartamento de Isabel. Poucos minutos depois eu entro em seu condomínio com a cópia das chaves que ela me deu, pedindo aos céus que eu esteja paranoico. Toco sua campainha e aguardo. A porta abre um pouco, ainda fechada com o trinco e vejo seus olhos verdes musgos brilharem. Ela volta a bater a porta e abre a tranca. — Daniel... Não deixo que fale. Encaixo minha boca na sua assim que percebo que ela está apenas com uma toalha enrolada sob seus seios. Com uma das mãos eu agarro sua cintura, grudando seu corpo ao meu e a outra aprofundo nosso beijo apertando sua nuca. Seus beijos são para mim a prova que o amor que sinto é maior do que eu mesmo. Eu a amo demais. — Daniel... — Xiii. — peço. — Eu só preciso estar com você agora, Isabel. Depois se ainda quiser que eu vá embora, eu vou... Ela coloca suas mãos no meu pescoço e eu começo a gemer na sua boca quando ela enrosca suas pernas na minha cintura. Eu puxo a toalha e jogo-a no chão. Eu quero questioná-la, mas sou covarde e só quero sentir em seus beijos e sua ternura que sou o único em sua vida. — Meu amor... Minhas mãos estão desesperadas pelo seu corpo, ela arfa e eu beijo toda a extensão do seu pescoço.
— Daniel! Isabel fala meu nome tão alto que eu paro na mesma hora e a coloco de pé. — Desculpe... — Ela pede, agachando, pegando a toalha do chão e enrolando sob o corpo novamente. — Me desculpe, mas eu não... Sem aguentar, eu respiro fundo e abro minha boca. — Conte-me de uma só vez, ok? Por que você está assim? Ela abaixa o rosto e algumas das minhas suspeitas se confirmam. Aconteceu algo bem sério. Ela me encara e seus olhos estão marejados. — Ele mandou notícias. — Ela fala como num cochicho, mas consigo ouvir perfeitamente. Meu coração volta a bater rápido. Meu maior medo está tomando forma. — Seu ex? Ela apenas confirma. — É por isso que você está assim? — Desculpe, Daniel. Isso me pegou de surpresa, eu jamais... — Eu sabia! — falo alto, passando a mão pelo rosto. — Sabia? — Eu imaginava que esse dia chegaria Isabel. Eu sei muito pouco da sua relação com ele, mas o pouco que você me contou, era bastante óbvio que um dia, quando ele estivesse são, iria tentar alguma reaproximação. Só não esperava essa sua reação! — Daniel, me escuta... — Ela segura meu rosto com as suas pequenas mãos e eu as tiro de mim. — Eu te amo. Você não tem que se sentir assim. Não tive notícias deles desde o seu sumiço e eu cheguei a pensar que ele poderia até estar morto... — Quem me dera! — Daniel! — Ela berra, chamando minha atenção. — Sua reação não demonstra o que está falando, Isabel. Você passou mal desde que ficou sabendo. — Eu ia te contar, mas queria processar primeiro. Acredite. — Eu acredito. — Então, não faça as coisas ficarem piores. Eu só estou chocada. Vai passar... — Eu sei o quanto ele foi importante para você, Isabel. Ela concorda e abaixa o olhar.
— Mas isso não muda nada. — Muda. Desde o momento em que você fica abalada desse jeito, muda muita coisa para mim. — O que você quer dizer com isso? — Quero te perguntar apenas uma coisa. Ela arregala os olhos deixando claro o seu choque. — Você ainda o ama? — Questiono. — Daniel, eu amo você. — Não! — eu grito e ela se assusta. — Não foi isso que te perguntei. Irei repetir: Você o ama? Ela respira fundo, olha para o chão e depois me encara. Uma dor se concentra no meu peito ao perceber sua confusão. — Você é o meu futuro... Sou feliz ao seu... — Chega! Eu não preciso ouvir mais nada. — Caminho virando para a porta. — Daniel! No batente da porta, ela segura meu braço e eu viro para encará-la. — Diga-me que não o ama, Isabel! — Exclamo, dando-a mais uma chance. Eu devo ser um idiota! — Eu não posso fazer isso. A mulher que mais amo na vida, ama outra pessoa. — Preciso ir. Entro no elevador com a convicção de que as minhas ideias absurdas de que um dia ele pudesse ressurgir, não são tão absurdas.
Capítulo 3 Isabel
Eu estava processando a informação e pensando na melhor maneira de contar para o Daniel sobre a carta. Não poderia ter magoado Daniel dessa forma! Não consegui mentir e falar simplesmente que não me importava! Eu sei o quanto estou errada, mas o amor que sinto sempre será puro. Ele foi embora por me amar, por ter uma doença que não tem cura e por querer que eu tivesse uma vida normal. Passei muito tempo sofrendo e até mesmo ficando brava com ele. Alex queria me dar o normal. E eu tenho isso com o Daniel. Pego a carta que está sob o sofá e abro. Coloco-a no meu rosto e a beijo. Meu Deus, é só queria saber se ele está bem, mas a notícia da sua volta é para mim um choque e não um motivo de comemoração. Eu segui em frente, assim como pediu. Não foi fácil, mas consegui com a ajuda de Daniel. O certo seria eu ir agora atrás dele e tentar explicar. Mas irei falar o que? Se ele insistir em perguntar se eu ainda o amo? Eu amo sim o Alex, caramba! Não da forma que eu o amo, é diferente. Vou deixar Daniel se acalmar e evitar que a situação piore de vez. A carta do Alex estava em Petrópolis por dois meses. Talvez ele tenha dito que voltaria em um momento solitário e tenha repensado sua atitude. Eu não vou me abalar por isso. Amanhã falarei para o Daniel a verdade. E dar todas as garantias que ele precisa. *** Vou para o trabalho na expectativa de encontrar Daniel. Liguei para ele assim que acordei, mas não atendeu. Meu peito dói só de pensar que ele esteja se sentindo em segundo plano. Estaciono meu carro na revista Female e sussurro um agradecimento ao perceber que o carro dele está estacionado também. Desde que voltamos a ficar juntos, Daniel ocupou o cargo de presidente da revista. Seu local de trabalho é aqui, e o seu pai se tornou o responsável pela empresa de marketing. Ele diz que queria novos ares e que estava na hora de presidir algo sozinho. Eu ainda tenho minhas duvidas se foi só por isso que veio trabalhar na revista. Fiz questão das nossas salas serem em andares diferentes, para que sentíssemos saudades, mas todos os dias ele dá uma escapadinha. Quando não é ele, sou eu que
vou até a sua sala. Entro na minha sala e deixo minha bolsa, sem querer perder tempo e vou logo atrás de Daniel. Ao chegar à porta da sua sala, não encontro a sua secretária, então presumo que ele esteja livre. Respiro fundo e dou três batidinhas antes de abri-la. A cena que encontro é no mínimo bem estranha. Daniel está sentado na sua mesa com os olhos fixos em algum papel e a sua nova secretária em pé ao seu lado, quase colocando os peitos na sua cara. Ele levanta o olhar e me encontra. Ela corrige a postura e pega o papel que ele acaba de assinar. — Está ocupado, Daniel? — Obrigada Daniel. — Pede a mulher. — Com licença. Ela caminha para a porta e passa por mim com um sorrisinho nos lábios. Reviro os meus olhos e vejo Daniel me encarando. — Daniel? Ela não deveria te chamar de senhor? Por que soou um pouco intimo de mais para tão pouco tempo — falo irônica. Ele bufa e encara seu laptop, digitando algo. — Ei! Você vai me ignorar? Você tem ciúmes de mim e eu não posso sentir de você? Ele ergue os olhos e vejo sua raiva estampada nele. — Você só pode estar de brincadeira! Não se compara uma coisa com a outra Isabel. Você está sendo infantil! — Desculpe. — Arranho a garganta. — Eu só acho que ela deveria se vestir de maneira mais adequada. — Você veio aqui para isso? Por que não vou entrar no seu joguinho de psicologia reversa, ok? Cerro meus olhos com raiva e cruzo meus braços sobre os seios. — Eu não vim aqui para isso, tá legal? E eu não estou fazendo psicologia reversa nenhuma. Só acho que você deveria impor respeito! — Respeito? A quem? A você? Você mentiu para mim! Disse que jamais esconderia algo de novo. Se eu não percebesse que estava diferente, você teria me contado? — É claro que sim! — Eu tenho minhas duvidas. — Tem? É realmente uma pena. — Pois é. Uma pena é quando você ama uma mulher incondicionalmente, está de casamento marcado e descobre que ela ama outro. — Não é assim...
Paro de falar, quando ele levanta com pressa da sua mesa. — Não?! É como então Isabel? Explique-me! — Eu... — gaguejo e ele fica calado esperando. — Foi uma vida, Daniel. Seus olhos brilham. — Por mais que tudo tenha acabado, é como se um ente querido, alguém que você tem um carinho grande e quer bem, estivesse dando sinal de vida depois de muitos anos... e... — Não consegue explicar, não é mesmo? Apenas balanço a cabeça, negando. — Você nunca vai entender que não é esse tipo de amor. Eu apenas quero que ele seja feliz. — Eu te falei uma vez que não poderia competir com isso. Eu vou repetir, Isabel. Eu não posso competir com um fantasma. Não posso continuar ao seu lado sendo que você confessa que... — E eu vou repetir o que te falei: Você não precisa disso. Eu te amo e é com você que eu quero estar. Sempre. — Eu quero ler essa carta. — ele pede e eu fico sem reação — O que foi Isabel? Vai negar isso também? — Não. Isso que você está fazendo não faz sentido, é invasão de privacidade. Você não está confiando em mim. — Quer saber? Se for relacionado ao Alex, eu não confio mesmo. Você sabe que sou inseguro. Por mais que eu tente fingir que ele não existe, não adianta. Eu sempre me lembro de que o cara foi embora só porque te amava tanto e não queria que a doença dele te fizesse infeliz. Porra! Você ficou um ano em depressão por conta desse cara e acha que eu não devo ficar inseguro? Que não devo pedir para que você demonstre para mim que não sente mais nada por ele? — Quer saber? Eu desisto! Eu vim aqui tentar explicar que você é o único, que quero construir uma família com você, mas vejo que ainda está relutante. — Jogo as mãos para o alto e viro para ir embora. — Isso! — grita ele. — Fuja mesmo! É isso que você sempre faz quando o assunto é Alex. Respiro fundo e fecho meus olhos. Eu não vou responder! Não vou. Abro a porta e fecho-a batendo com toda a força do mundo, sem olhar para trás. A secretária está na mesa dela me observando. — O que foi? Algum problema? – falo arrogante. Não espero resposta da oferecida, apenas quero ir para o meu canto e pensar em uma forma de não deixar meu futuro desaparecer.
Capítulo 4 Isabel
Bato a porta da minha sala, pouco me importando com o que os outros pensam. O que ele quer que eu faça? Pego meu celular na minha bolsa. Preciso desabafar. — Alô. — Luci! — Belzita! Estava mesmo querendo falar com você — Ela fala animada. — Abriu um restaurante japonês na rua do Jonathan. Ia chamar você e o Daniel para um programinha de casal, que tal? — Acho que não vai rolar. — O que foi? — Preciso de você. Aconteceram umas coisas e estou perdida. — Almoçamos juntas? —Perfeito. Tenho uma sessão agora e às 13 horas estarei naquele nosso restaurante favorito. — Combinado! Tente se acalmar. Que tal cantar aquele mantra que Lua nos ensinou? Eu tentei outro dia aqui no trabalho, depois de quase mandar meu chefe para aquele lugar. Sorrio, lembrando-me das loucuras da Luana e do mantra chato que gruda na cabeça igual chiclete. — Acho que a melhor opção no momento é cantar o mantra. Eu vou tentar. Despedimo-nos e vou para sessão de fotos. As horas voam e percebo que estou atrasada para o nosso encontro. Eu não sei qual será a reação de Lúcia ao saber da carta do Alex. Tanto ela quando Luana eram amigas do Alex e fizeram parte de toda a nossa história, até os momentos finais. Preciso desabafar e ouvir os conselhos da minha amiga. Pego minha bolsa na sala e assim que saio dou de cara com Daniel. — Oi. — Hum, oi.
— Com pressa? — Pergunta sem emoção. — Um pouco. Vou almoçar com a Luci. —Eu queria continuar a nossa conversa. — Daniel, eu não quero mais brigar e... — Eu também não quero, Isabel. Você pode ir até minha sala quando voltar? Ou prefere que eu venha aqui? — Bom, só se você me prometer que não vou encontrar sua secretária esfregando os peitos na sua cara. — Isabel! — Ele chama minha atenção. — Desculpe! Assim que chegar, eu vou até a sua sala, ok? Ele chega perto de mim, coloca seus lábios no meu devagar em um beijo carinhoso e encosta sua boca em minha orelha. — Eu te amo — sussurra. — Desculpa. Eu fico tão louco... — Eu também te amo, Daniel. Só quero que confie em mim. Ele apenas concorda devagar. *** Chego ao restaurante e logo encontro Luci sentada bastante concentrada do celular. — Cheguei! — Ah... Oi Belzita — fala, sem olhar para mim. — Que rugas na testa são essas? — Tem uma fulaninha curtindo todas as fotos do Jonathan no Instagram, onde já se viu? Ah, ele vai ter que me explicar direitinho quem é essa vadia! — Calma! Tenho certeza de que não é ninguém importante. — Você e sua mania de confiar nos homens. — Não é confiar. Jonathan te ama. Todo mundo sabe o quanto ele é louco por você. — Você acha? Foi tudo tão rápido e ainda teve o lance com você... — Luci! Esse papo de novo? O que combinamos? Isso é... — Passado, eu sei! Desculpe, é que ando muito estranha. Insegura. Acho que é a TPM, chegou daquele jeito esse mês.
— Sei bem o que significa isso. É o amor! — Cantarolo a música do Zezé de Camargo e Luciano e ela sorri, negando com a cabeça. O garçom chega e fazemos nosso pedido. — Uma dose de uísque, sem gelo. — Na hora do almoço? — Pergunta Luci. — Acredite, eu preciso. Voltando ao assunto. Você não é assim tão insegura. O que está havendo? — É exatamente isso que me deixa assustada. Eu nunca senti ciúmes do Iran quando estávamos juntos, mas com o Jonathan... — Ela bufa e revira os olhos. — Você o ama. — Eu o amo, Belzita. — Isso é bom, Luci. Só converse sobre isso com Jonathan, tenho certeza que ele te dará a segurança que precisa. — Eu vou fazer isso. Mas e você, o que houve? Estava tudo tão bem ontem. Aliás, que casa linda. Um sonho! Seu Pedro sempre arrasando na arquitetura. O garçom chega com a minha dose e com a água com gás da Luci. — É sim, ficou tudo perfeito. — Continua... Peço um segundo com o dedo e viro de uma única vez o copo. — Você não vai acreditar no que aconteceu. — E o que aconteceu? Pego minha bolsa na cadeira ao lado e retiro de lá a carta que recebi, entregando em suas mãos. Luci franze o cenho enquanto lê atentamente o conteúdo. Eu fico observando, apreensiva. Assim que termina, dobra a carta de volta e me entrega. — Ele vai voltar — falo. — Vai. Percebo sua convicção e na hora sei que tem algo estranho. Lúcia não esboçou nenhuma surpresa. — Você sabia disso? — Pergunto, erguendo a carta. Ela abaixa um pouco o olhar e assente. Merda! — Lúcia! — Ele me ligou, Isabel.
Abaixo a carta, sem acreditar. — Ele te ligou? Quando? — Faz mais ou menos um mês. — E por que você não me contou? — Questiono meio furiosa e o garçom chega com as nossas refeições, parando um pouco a nossa conversa. — Desculpe, Bel. Ele me contou que queria voltar, que havia escrito uma carta. Queria saber como você estava... Meu coração pulsa forte. — E você? — Eu disse a verdade. Eu tive que fazer isso. Contei que você estava feliz, que encontrou alguém especial, e está de casamento marcado e que era para ele ficar onde estava, já que essa foi a sua escolha... — Lúcia! — O que foi, Isabel? Eu falei a verdade! — Mas e ele? Como ele ficou? — Ele não respondeu. Desligou o telefone na minha cara. Talvez tenha desistido. Ao mesmo tempo em que estou aliviada ao imaginar que ele desistiu de voltar, me sinto triste por não conseguir me encontrar com ele uma última vez, para nos despedirmos. Quando ele me abandonou, não houve um desfecho e hoje eu entendo que a falta desse adeus foi o que me manteve esperançosa por muito tempo. — Ele estava muito eufórico. — Continua Luci. — Disse que estava fazendo o tratamento corretamente e que não conseguia continuar sua vida sem... — Sinto sua relutância em contar, mas sem bem o que ele deve ter falado. — Eu preferia não te contar isso Bel, por que sabia que ia ficar assim. — Você tinha que ter me contado, Luci! — Desculpe, Bel. Não contei nem para minha irmã. Tive medo de ver essa cara... — Ela aponta para mim. — Cara de quem está dividida. — Eu não estou! Eu amo o Daniel... — Mas ama o Alex também. Você pode mentir para Deus e o mundo, até para si mesma, mas eu te conheço, minha amiga. Você nunca deixou de amá-lo e nunca deixará. Uma lágrima escorre do meu rosto. — Eu estou tentando. Todos os dias eu rogo a Deus para que ele fique bem, mas que me faça deixar de amá-lo. — Tento controlar o choro, mas é quase impossível. — Eu queria apenas me despedir, sabe?
— Isabel Maia! O Daniel está sabendo disso? Confirmo. — Como reagiu? — Mal. Brigamos feio. — Não é para menos, não é? — Ele tem que confiar em mim, Luci! — Tem sim, mas primeiro você tem que confiar em si mesma. Essas palavras entram rasgando por todo meu corpo. Talvez isso tudo seja apenas um alarme falso. Depois de saber que eu segui em frente, Alex tenha desistido de voltar. Mas, e se ele realmente voltar? Eu posso confiar em mim mesma?
Capítulo 5 Alex
Pego o celular e aperto send para o número que estou encarando há algumas horas. Depois da tristeza profunda em que fiquei ao ligar para Lúcia, eu simplesmente tive a certeza que preciso fazer algo, antes que seja tarde demais. Eu preciso tentar reconquistar o amor da minha mulher. Eu a amo mais do que a mim mesmo e quis com todas as minhas forças seguir em frente, mas como? Como seguir sem que a felicidade faça parte da minha vida?! Fiquei oscilando entre a depressão e a alegria. Claro que me senti feliz por Isabel estar bem, mas só de imaginar ela com outro homem, meu mundo volta a desmoronar. O telefone toca e dessa vez não irei desligar. Eu tenho que avisá-lo da minha decisão. — Alô. — Uma voz grave e familiar atende. — Seu Pedro? — É ele. —Sou eu, Alex. — Um silêncio se instala e fico meio perdido. — Seu Pedro? — Alex? Meu Deus! — Ele arfa e sinto o pesar na sua voz. Seu Pedro é como se fosse meu pai. Ele sempre cuidou de mim desde pequeno. Permitiu que eu fosse brincar com a Isabel em sua casa quando éramos crianças e sempre se preocupou comigo. Quando nos mudamos para o Rio de Janeiro, ele nos ajudou financeiramente e emocionalmente. E quando fui diagnosticado, não me abandonou ou pediu para a Isabel me deixar. Falar com ele é duro. Eu fiz sua filha sofrer. Abandonei a filha do homem que me mostrou como um pai deve ser com seu filho. — Como você está? — Ele pergunta e percebo a surpresa da sua voz. Ao invés dele desligar o telefone na minha cara, ele pergunta como eu estou. — Eu estou bem, seu Pedro. — Caramba, rapaz. Eu não sei se eu te xingo ou te agradeço por mandar notícias. — Eu sei que nada irá mudar, mas peço desculpas por deixá-lo preocupado. — Eu não fui o mais afetado, Alex. — Eu sei, sei Pedro. Eu preciso voltar. Eu soube que Isabel está bem e feliz, mas eu preciso falar com ela frente a frente, nem que seja uma única vez.
Ele arfa novamente. — Isso não é uma boa ideia. Ela demorou muito tempo para se recuperar. Ficou depressiva e se fechou para o mundo... — Eu sinto muito. O senhor não sabe o quanto isso me dói. — Foi durante um ano, Alex. Não faça minha Isabel sofrer novamente. Ela não merece isso. — Essa é a última coisa que faria, seu Pedro. Eu fui embora querendo que ela encontrasse a felicidade. — Ela não precisava disso. Ela era feliz ao seu lado. — Eu sei, mas jamais poderia dar a ela a família que ela precisava. — O que mudou? — O fato de eu estar fazendo tratamento e estar conseguindo me manter com os pés no chão por um bom tempo. — Eu fico muito feliz por você. — Mas eu sou infeliz sem ela. Eu sou um homem sem vida. —Você escolheu isso, Alex. Você deveria saber que uma escolha desse tipo não teria mais volta. — Eu sei, seu Pedro. Mas eu a amo tanto. Eu preciso tentar. — E eu preciso te dizer que não admito que você faça minha filha sofrer novamente. — Eu jamais faria isso. Não outra vez. — Você é como um filho pra mim, Alex. Sinto sua falta e passei todo esse tempo preocupado com você. É bom saber que você está bem, na medida do possível, mas saiba que a felicidade de Isabel está em primeiro lugar. Ela encontrou um homem que a ama e que conseguiu tirá-la da depressão que você causou. Ele a faz feliz, Alex. Não foi isso que você quis? Fecho meus olhos. Imaginá-la sendo amada por outro homem é uma dor inigualável. — Foi isso que escolhi e desejei, mas sinto que a nossa história não teve fim. O meu amor por ela não tem comparação com nenhum outro, vai além. Eu quero a sua felicidade mais do que a minha própria, e é por isso que estou voltando. Não consigo viver em um mundo em que Isabel não saiba que eu a amo incondicionalmente. Eu preciso pedir o seu perdão e explicar que agi por puro medo. Medo de não poder fazê-la feliz e hoje eu sinto que posso fazer isso. Não vou descansar até sentir que cumpri o que tinha que fazer. Se após tudo isso ela pedir para me afastar, eu ficarei longe, mas eu preciso tentar explicar a maior besteira da minha vida.
Capítulo 6 Isabel
Chego à revista e antes de me dirigir até a sessão de fotos marcada, eu vou ao escritório do Daniel para continuarmos nossa conversa. Daniel está em uma conversa bem descontraída com a secretária, que está sorrindo e colocando as mãos no seu braço. Aposto que não tem nada a ver com o trabalho! Quando percebem minha presença, param de falar e ficam me encarando. — Estou atrapalhando? Posso voltar mais tarde. — Falo irônica. — Claro que não, Isabel. Podemos continuar mais tarde, Francine? A secretária apenas acena com um sorriso debochado, saindo da sala. Argh! Assim que ela sai, Daniel se levanta e caminha em minha direção. — Bel, eu... — Que porra é essa? — Como assim? — Ele pergunta, arqueando as sobrancelhas. — Você acha que está agindo de forma profissional com toda essa intimidade com a sua secretária? Não me lembro de você ter essa proximidade tão grande com a dona Sandra, antes dela se aposentar. Ele franze o cenho e levanta um dedo, pedindo a palavra. Eu cruzo meus braços sob os seios e espero, com os lábios cerrados de pura fúria. — Primeiro: isso é coisa que se fale? — Que porra é essa? — Cadê a Isabel doce e meiga? Segundo: não existe grau de intimidade nenhum, estávamos falando sobre um dos investidores. Minha raiva aumenta. — Primeiro: finalmente a Isabel idiota está mudando, já era tempo! Segundo: eu vou contratar um homem bem... — Arranho a garganta. — Bem homem mesmo, para ser meu secretário! — Vai? Quem? Talvez possa contratar o Alex. Ele não está voltando? — Ele fala grosseiramente e no mesmo instante se arrepende. — Desculpe, Bel. Isso está acabando comigo.
— Você é um cretino! — Sou. Eu sei. Eu quero te pedir desculpas. Por tudo. — pede, chegando mais perto — Eu perdi o controle ontem e hoje também. Eu sou um idiota. Tenho tanto medo de te perder. — Você não vai me perder. A única forma de me perder será se continuar agindo assim. — murmuro. — Você me perdoa? Eu vou tentar me controlar mais. Vamos tirar esse Alex da nossa vida. Concordo e na hora meu coração se aperta. Eu tento me colocar no lugar do Daniel. O que eu faria se uma ex dele ressurgisse e quisesse alguma aproximação? Daniel é um homem lindo, chama atenção por onde passa e mesmo sem ele flertar com elas, eu sinto ciúmes. Se fosse alguém que ele amou muito, durante anos, eu também surtaria. — Eu te amo! — Ele sussurra no meu ouvido. — Então, confie no meu amor... — Eu confio. — Você vai aprender a confiar ainda mais. Prometo. Daniel me beija. É um beijo vagaroso, intenso, que transmite emoção e significado. Recuo para falar, mas ele põe o dedo nos meus lábios, me silenciando. — Me deixa apenas fazer o que mais amo na vida, está bem? Não pense. Apenas sinta todo o amor que tenho por você. Seu olhar é tentador. Perco-me na profundidade dele e após vários segundos, concordo com um gesto de cabeça. Então ele sorri. Com os lábios e a língua, ele lambe a extensão do meu pescoço, e sobe até a minha boca novamente. Todos os pelos do meu corpo se arrepiam. Daniel agarra minha cintura e me ergue até chegar à sua enorme mesa de trabalho. Essa não será nossa primeira vez aqui. Batizamos essa mesa e a da minha sala e alguns cantos dessa parede. — Eu te amo demais, Bel. Não digo nada, apenas sorrio. Ele não precisa dizer que está pensando só em mim, que sou absolutamente tudo o que ele tem na mente. Está estampado em seu rosto, sinto isso no seu toque, no seu beijo. O que eu mais desejo nesse momento é esquecer que existe um mundo atrás dessas paredes. Que Alex talvez retorne e que teremos que conversar. Seus braços me apertam firmemente, como se ele soubesse o que passa pela minha cabeça. Nesse instante eu me permito a apenas apreciar o seu toque, o seu carinho e deixar claro para ele que ele é o meu presente. ***
Tentamos controlar nossa respiração ainda entrelaçados um ao outro. Sinto seu coração bater acelerado. Sua pele grudada a minha me faz sentir protegida de tudo. — Isso foi... — Delirante. — sussurro completando. Ele apenas concorda com a cabeça, beijando meu ombro. — Vamos! Quero ir para casa e dessa vez não aceito desculpas, ok? Eu o encaro e sorrio. — Ok, senhor Clark, mas sinto lhe informar que tenho sessão daqui... — Olho meu relógio de pulso e o encaro-o com beicinho. — Ai meu Deus, eu estou mega atrasada! Sua expressão não muda. Ele apenas chega um pouco para o lado, pega o telefone e aperta dois botões. — Pois não, senhor Clark. — Responde a secretária assanhada no viva-voz. — Por favor, Francine, você poderia desmarcar minha reunião e também a sessão de fotografias da minha noiva? É só entrar em contato com a assistente dela e remarcar, ok? Arregalo os olhos com a menção desnecessária e muito aceitável de: Minha noiva. — Senhor Clark, às 15h você tem a reunião marcada com um investidor daquela grande marca de departamentos... — Sem problemas, Francine. Remarque mesmo assim. — Tudo bem senhor, irei remarcar. — Obrigado. Ele aperta um botão e a chamada é encerrada. — Não gosto dela. — Pare de bobeira, Bel. Agora vem aqui que quero te beijar de novo... Daniel segura minha nuca e me beija de maneira voraz. Aos poucos diminui a intensidade e sinto meus lábios um pouco inchados. — Isso é muita falta de profissionalismo, senhor Daniel Clark. Eu deveria cumprir meu horário, e o senhor dar o exemplo para os seus funcionários — brinco. — Falta de profissionalismo seria se você não obedecesse ao seu chefe, não acha? E vamos fazer trabalho externo. — Trabalho externo? — Sim, externo. Lá em casa. Gargalho alto, jogando a cabeça para trás.
— Nossa, eu amo ouvir esse som. — Se ama, deveria ter o humor mais apurado, senhor chefe irresponsável. — Se esse é o preço para ouvir sua risada, eu farei o meu melhor. Sorrio e o abraço bem apertado. *** Daniel acena para a secretária de mãos dadas comigo. Enquanto saímos do seu escritório, eu encaro a oferecida com um sorriso debochado, deixando bem claro que aquele é o meu homem. Entramos em um elevador vazio. Daniel segura minha cintura e me beija. — Hoje eu vou preparar o jantar, que tal? — Diz ele. — É tudo o que mais quero. Jantar a dois, filme na cama... — O que acha de aproveitarmos essa noite para batizar a lavanderia? — cochicha em meu ouvido. — Batizarmos? Você quer dizer... — Isso mesmo que você está pensando. — Vai depender se o jantar for bom. — Então, vou dar meu sangue. Sorrimos e a porta do elevador abre no piso térreo do prédio da revista. O manobrista já está com a chave do carro de Daniel nas mãos. Ele pega a chave e conversa um pouco com o homem algo que não presto atenção e antes que ele abra o carro, em meio a sorrisos bobos e apertões bastante sensuais de Daniel, meus olhos são atraídos para o outro lado da rua. Sinto como se o mundo estivesse em câmera lenta. Meus pulmões ficam sem ar e meu coração entra em pane. É inacreditável estar diante do homem que eu amei tanto e que eu odiei por muito tempo. O homem que mais sinto saudade na minha vida. Nossos olhos se encontram e não consigo desviar. Seus cabelos estão perfeitamente penteados como sempre, e as mãos estão dentro do bolso da calça jeans escura. É como se os dias não tivessem passado. Sem conseguir aguentar a emoção de estar diante do Alex, eu cambaleio. Um ônibus passa entre a gente e me seguro no carro para não cair. — Isabel? — Ouço Daniel ao meu lado, segurando meu braço. — Você está bem? — Eu... — Não consigo falar. — Acalme-se, senhorita. Deve ser o calor. Vou buscar uma garrafa de água pra você.
Concordo devagar e vejo o semblante preocupado do Daniel. Os carros passam rapidamente pela avenida a nossa frente e não consigo mais enxergar o outro lado. — Vamos, vou te levar ao médico. — Não! Eu só quero...— Desprendo meu braço do Daniel e caminho devagar para a faixa de pedestres a minha frente. — Ei, onde você vai, Bel? — Pergunta Daniel sem entender absolutamente nada. O semáforo fica vermelho, os carros param e no outro lado da rua não vejo sinal e nem resquícios que Alex esteve ali de verdade. — O que houve? Vamos entrar na revista. Você não comeu hoje, Bel?! Quantas vezes eu te disse pra você... Procuro olhando para um lado. Antigamente eu via Alex em todos os lugares, o que me deixava maluca. Cada esquina que eu virava, cada rosto que eu encarava, tinha certeza de que era ele que havia retornado. Mas agora eu tenho certeza de que não foi uma alucinação. — Só me leve embora daqui! Daniel me ajuda a entrar no carro e quando ele dá partida eu sinto como se dessa vez, eu estivesse fazendo a mesma coisa que ele fez comigo, indo embora.
Capítulo 7 Alex
Ver Isabel com um sorriso enorme nos lábios, esbanjando felicidade foi muito doloroso. Observá-la de mãos dadas com outro homem machucou, mas reforçou minha convicção de que a amo ainda mais do que antes. Eu sou um covarde mesmo. Eu deveria ter ido falar com ela. Eu deveria! Abro a porta do hotel onde estou hospedado, coloco minha carteira e meu celular sobre a pequena mesa de ferro e me jogo na cama. Fecho meus olhos e consigo ver seus olhos, ela está tão linda! Será que eu estou agindo corretamente? Será que ela ama mesmo aquele homem? Será que ele a faz feliz, como um dia a fiz? Mil perguntas se passam pela minha cabeça. Eu não sei qual será sua reação quando estivermos frente a frente, quando eu puder falar o quanto sinto por ter me ausentado, o quanto sinto sua falta. Eu preciso ter a prova de que aquele homem a ama. Ela não merece nada menos do que isso. Estou disposto a amá-la e mostrá-la que posso, com o tratamento, tentar ter uma vida estável e que fazê-la feliz é o meu único objetivo na vida. Encontrar o endereço do seu trabalho foi fácil. Depois de Lúcia ter me negado qualquer informação procurei na internet e encontrei fotos de um evento que Isabel estava como fotógrafa oficial de uma famosa revista feminina. Ela estava deslumbrante! Fui até seu estúdio e consegui tirar do porteiro o seu novo endereço. Eu deveria ir até lá agora mesmo ou seria melhor esperar um pouco? Esperar que ela reflita? Se pelo menos conseguisse descobrir como começar essa conversa, sem que os dois saiam machucados, seria perfeito, mas eu não faço a mínima ideia de como fazer isso. A voz na minha mente ressurge e grita insistentemente que tenho que sair daqui e ir atrás dela. — Para quê? Para vê-la com outro novamente? Não! Eu não posso! — grito sozinho. Levanto e remexo na gaveta do criado-mudo ao meu lado. Tiro a caixa do meu antipsicótico e destaco dois comprimidos, engolindo-os a seco. Respiro fundo e deixo o efeito vir à tona. Após alguns minutos começo a sentir os efeitos da medicação e me entrego ao sono sedativo.
Capítulo 8 Isabel
Ainda me encontro entorpecida. Daniel está ao meu lado dirigindo. Ele fala algumas frases, mas estou sem condições de ouvi-lo. Era ele! Eu tenho certeza que era! Isso não pode ser apenas da minha cabeça! — Isabel?! — chama Daniel. — Eu o vi. — O quê? — Alex. Eu não viro o rosto para ver sua fisionomia. Continuo encarando o vidro, mas sinto o seu olhar em mim. Ele aciona a seta do carro e estaciona no acostamento. — Onde Isabel? Você esteve com ele? — Sua voz transmite dor misturada com raiva. — Não! — Olho para ele. — Eu o vi no outro lado da rua, Daniel. Não nos falamos, apenas o vi. — Vamos voltar agora mesmo! Vou ligar para a polícia e dizer que esse homem está te perseguindo. — Daniel age impulsivamente e liga o carro, querendo fazer o retorno e mexendo no seu celular. — Para! — grito. — Ele não fez nada! O que vai dizer a polícia? Que ele estava no outro lado da rua? Isso é ridículo! — Ridículo é ter que ver minha mulher quase desmaiar quando vê o ex. Isso é ridículo! — Era como se eu visse um morto! Ouviu? Um morto! — Aí é que está! Ele está vivo, Isabel, tão vivo que veio aqui, atrás de você. — Eu desisto! Desisto de explicar. Ele é passado, você é presente. Só peço que confie em mim! Ele bufa alto, passa a mão pelo rosto e permanece quieto por alguns minutos. — Eu preciso falar com esse cara! — Ele grita ao mesmo tempo em que faz o retorno, cantando pneu no meio da avenida. — Eu pedi que você confiasse em mim, Daniel! — berro, segurando com força na porta do
carro. Minha raiva aumenta. Em dois minutos chegamos na frente da revista. Ele estaciona no outro lado da rua, exatamente no lugar onde Alex estava. Algumas pessoas passam e ele observa a movimentação. — Cadê ele? Alex não está ali e mesmo se estivesse eu não falaria, ele não sabe como Alex é. Cerro meu punho e sem aguentar mais a insegurança dele, eu abro a porta do carro e saio, batendo-a com toda a força do mundo. — Isabel! — Ele chama de dentro do carro. Caminho no meio das pessoas, com lágrimas nos olhos. — Isabel! — grita ele, mais alto. Não olho para trás. Ele não confia em mim! Merda... Merda milhões de vezes! Algumas pessoas olham para trás de mim e sinto uma mão puxar meu braço com força. — O que você está fazendo? — Pergunta Daniel, com os olhos repletos de medo. — Me solta agora mesmo! — Puxo meu braço e ele reluta. — Você está fazendo isso por causa dele? — Não! Não é por causa dele. É por sua causa! Você não confia em mim. Você está descontrolado! — É claro que estou, porra! O que você espera? Olho para um lado e para outro e percebo que estamos em uma briga no meio de um ponto de ônibus e o centro das atenções. — Esse não é lugar para isso. — sussurro, puxando meu braço novamente. — Estou decepcionado com as suas atitudes. — Ele diz, sem prestar atenção no que eu acabei de dizer. — Foram treze anos! Treze anos de convívio. Sabe o que isso significa? Não! Você não sabe, por que esteve com a Marcela por um ano e nem a amava. Quem está decepcionada aqui, sou eu! Me solta! Eu quero ficar longe de você! Após a última frase, seus olhos arregalam e ele enfim solta meu braço. Eu viro rapidamente, deixando as lágrimas escaparem e continuo a andar até a faixa de pedestre para atravessar e ir buscar meu carro na revista. Antes de atravessar eu ouço o carro cantar pneu novamente. Entro no meu carro, tento encaixar a chave na ignição e não consigo. Estou tremendo de raiva! Daniel é um babaca! Ele está exagerando!
Respiro fundo, abaixo a cabeça e consigo encaixar a chave. Sem ter forças nas pernas para dirigir, eu pouso minha cabeça no volante com raiva dele, raiva do Alex, raiva de mim. Raiva do mundo! Estava tudo tão perfeito, perfeito demais, estava na cara que alguma coisa ia acontecer. Meu celular toca dentro da bolsa. Pego o celular e vejo no visor: Lua. — Fala, Lua. — Belzita! Até que enfim atendeu, mulher! Estou tentando falar com você há horas. — Desculpe, Lua. Estou em um péssimo dia. — Então meu convite será perfeito! Hoje não é sexta, mas é véspera de feriado, baby! Vamos Jonny’s Bar com a galera? A Luci não vai, porque tem compromisso com a família do Jonathan e Caio é um bundão que foi atrás de um bofe em Brasília... — Lua, eu não estou... Ah, quer saber, é justamente disso que estou precisando. — Espero você e Danzito! Agora estou animada! Tem quase um mês que não vou ao Jonny’s. Com o meu trabalho e o do Daniel e ainda por cima os preparativos do casamento, ficamos tão exaustos que preferimos nos refugiar no apartamento ou fazer algum programa só nos dois. — Ele não vai! — Trabalho? — Não Lua, porque ele é um babaca mesmo! — Ih! A coisa está preta, é? Então, mais do que nunca você precisa relaxar com umas tequilas e contar suas lamúrias para sua amigona aqui. Sorrio, sabendo que essa é a minha única opção. Melhor do que ir para casa ficar lamentando o ocorrido.
Capítulo 9 Isabel
Vou direto para o Jonny’s Bar, na esperança de tirar um pouco os últimos dias da cabeça. Assim que entro, vejo Luana acenar perto do bar. Aceno de volta e vou pedindo licença as pessoas que lotam o lugar. — Belzita! — Oi Lua. — Forço um sorriso. — Pode ir desfazendo esse mau humor, gata! Rafa! — grita ao meu lado, chamando o bartender. — Um shot bem esperto para a minha amiga aqui! Concordo com a cabeça, dando um sorriso para as maluquices dela. — Shot, Bel? — Pergunta o bartender. — Fazer o quê? Ela manda! — Sorrimos. Ele prepara a bebida no caballito, coloca um pouco do sal em volta e uma rodela de limão. — Precisa de contagem regressiva? Vamos Rafa, ajude-me! — grita Luana! — Três, dois, um. Vai! — Eles e mais algumas pessoas próximas ajudam na contagem. Pego o pequeno copo e viro de uma só vez e chupo o limão rapidamente. Sacudo a cabeça, sentindo o líquido entrar rasgando pela minha garganta. Era disso que eu estava precisando! Rafa volta a encher meu copo e viro mais uma vez. — Pronto! Agora podemos conversar. — Só você, Lua. Obrigada... — Eu nem dei meus conselhos ultra mega fodas e você está agradecendo. Agora me diga, o que o Danzito fez? — Danzito é um babaca! — falo, fazendo sinal para Rafa colocar mais uma dose. — Isso você falou no telefone... — Você não vai acreditar em tudo que aconteceu nos últimos dias. Tomo a terceira dose e puxo sua mão até uma mesa próxima, fazendo-a sentar.
— É tão sério assim? — Pergunta ela, raramente séria. — Alex voltou. Ela abre a boca e arregala os olhos, surpresa. — Puta que pariu! — Ele mandou uma carta para Petrópolis e só vi naquele dia em que inauguramos a casa. Ela continua com as sobrancelhas juntas. — A carta era de alguns meses, então pensei que ele poderia ter mudado de ideia. Eu tenho certeza que eu o vi, em frente ao meu trabalho, Lua. — Ele é louco? Olho para ela e aperto os lábios. — Estou falando no sentido figurado mesmo. Você conseguiu falar com ele? — Não. Daniel estava comigo... — Que merda, Belzita. — Merda é pouco. Eu contei tudo Lua, mas Daniel está descontrolado de ciúmes e provou hoje que não confia em mim. — O que você queria Belzita? Todos nós sabemos que você sempre vai amar o Alex. — Mas é justamente isso que tentei explicar. Isso não significa que eu o quero. Foram treze anos! Você viveu conosco todos esses anos, sabe tudo que passamos e simplesmente deletar isso da memória é impossível. Eu queria, mas não dá. — No que o Alex está pensando para ter voltado? — Em me reconquistar. — falo e meu coração na mesma hora se contrai. — Belzita, eu nem sei o que te falar. Pela primeira vez na minha vida está sendo difícil dar conselhos. — Nem me fale, Luana. Estou me sentindo perdida. Estava tudo tão bem. Eu amo Daniel. — Eu vi todo seu sofrimento. Desde antes dele ir embora até a sua depressão e Daniel te trouxe a alegria de viver. — Foi. — Meus olhos enchem de água. Relembrar o ano difícil que passei depois da partida do Alex é extremamente doloroso. — Daniel me reergueu, porém ele está agindo sem pensar e estou furiosa com ele. — Ele precisa confiar em você. — É, mas não confia e isso me tira do sério. Caramba, depois de tudo que passamos, de toda a fé que eu tive nele. Porra, eu era a outra e acreditei quando ele me disse que terminaria o
relacionamento! E ele não confia em mim? — Ah dani fazendo meleca de novo, assim como fez com a Marcela. Parece que ele se esqueceu do que você passou no início. De te deixar sozinha para ir atrás dela. Ele precisa agir menos impulsivamente. Nós entendemos o lado dele, é complicado mesmo, mas você provou inúmeras vezes que o ama. Inclusive na época que aceitou ficar ao seu lado, enquanto Marcela dava piti com o filho fake dele. — Filho fake? Não sei se é a tensão acumulada, a tequila ou tudo junto, mas ouvir a Lua falar desse jeito me fez gargalhar. — Sim. Lembra? Ele sempre te deixava de lado. Eu sei que ela estava grávida, e eu nunca dei minha opinião sobre isso, mas achava exagerado. Daí veio toda verdade e... Meu celular vibra no bolso da calça e pego ansiosa. — Daniel! — Levanto o celular para Luana. — Não vai atender? — Não. Lua inspira fundo, dando de ombros. — Então, vamos beber! Rafa, dose dupla! Bebo mais algumas doses, danço na pista e converso com diversas pessoas. Entre uma conversa e outra visualizo o celular. Três. Quatro. Cinco chamadas perdidas. O celular vibra novamente, só que dessa vez não é ligação e sim uma mensagem de texto. Aperto o botão de visualizar e bufo. “Não vai me atender? Fui ao seu apartamento e não te encontrei! Cadê você? DC”
Reviro meus olhos e continuo a dançar. Alguns minutos depois outra mensagem. “Onde você está Isabel? Chega de palhaçada! Atende esse celular agora mesmo!”
E logo uma ligação dele e aperto o botão de rejeitar e vem outra mensagem em seguida. “É assim? Vai continuar me ignorando? Espero que tenha uma ótima noite, seja lá com quem! Adeus.”
O que ele está pensando? Que estou com o Alex? Que cretino! Paro de dançar e minha cabeça gira um pouco. Adeus? Sinto falta de ar. O adeus dói, porém a sua suposição que eu esteja com outro homem dói ainda mais. Como ele pode pensar isso de mim? Desligo o celular. Chega! — Lua, estou indo para casa! — Vou com você! — Não precisa. — Sorrio para ela, vendo o cara bonitão que ela estava paquerando chegar perto. — Vou chamar um taxi e amanhã venho buscar o carro. — Tem certeza? Confirmo com a cabeça. Despeço-me da minha amiga com um forte abraço e do restante da galera. Chego em casa me sentindo desesperada por um banho. Após uma ducha rápida e ainda enrolada na toalha, adormeço profundamente. Acho que só se passaram uns minutos e começo a ouvir um barulho constante. Abro um olho e depois o outro. É a minha campainha tocando pela segunda vez. Pego o celular que está em cima do criado mudo e cerro meus olhos para enxergar as horas. São 10 horas da manhã! Quem faz visita uma hora dessas no feriado? Só pode ser ele. Daniel! Sento na cama e a campainha toca novamente. —Já vai! Ainda sinto minha cabeça girar um pouco. É a prova de que ontem à noite eu exagerei. Bufo enquanto pego meu roupão pendurado na maçaneta do quarto. Eu deveria deixá-lo plantado lá fora. Ajeito meu cabelo e abro uma brecha da porta. — Pai! Imediatamente abro a porta e o abraço. — Oi meu anjinho! —Aconteceu alguma coisa? — Não, Bel. Eu tentei te ligar ontem à noite para avisá-la que estaria aqui no Rio e viria lhe visitar, mas seu celular só caia na caixa postal. — Ah, eu desliguei, desculpe. Entre pai! Ele entra carregando umas sacolas. — Passei em uma padaria aqui perto e comprei nosso café da manhã. — Ele levanta as compras com um sorriso apertado.
— Quando o senhor vai aceitar que eu não como nada de manhã? — falo, cruzando os braços e sorrindo para ele. — Eu sou seu pai e preciso cuidar de você. Me preocupo todos os dias imaginando se você se alimentou bem. Esse é meu pai! Para ele não faz a mínima diferença que eu moro sozinha há anos ou que eu sou uma adulta. Ele me mima como se eu ainda fosse uma criança. Aos 28 anos eu sinto que ainda preciso disso, agora mais do que nunca. — Eu estou bem pai — falo, pegando uma das suas sacolas, colocando sob a mesa da sala. — Eu te conheço Isabel. Você está com uma cara péssima. — Ressaca. Fui ao Jonny’s ontem com a Lua. — E Daniel? — Ah! — arfo. — Daniel está de castigo. — Então está explicado. O que aconteceu? — Pergunta ele, pegando minha mão, fazendo-me sentar no sofá junto com ele. — Tanta coisa, pai. — Antes que você fale, eu preciso contar algo que aconteceu há algum tempo atrás e já está mais do que na hora de você saber. Ah, meu Deus, mais problemas não, por favor! — Eu estou achando que é a mesma coisa que queremos contar um para o outro — completa. Eu levanto meu rosto e encaro meu pai. — Não vai me dizer que você esteve com Alex?! Ele fecha os olhos e abre devagar. — Não. Ele apenas me ligou. — O que ele disse? — Alex me disse que iria voltar e queria te ver e... — Pode falar, pai. Sabe aquelas minhas correspondências que estavam acumulando na sua casa? Uma delas era uma carta do Alex. Ele franze o cenho. — Ele disse que queria te ver, que te amava e precisava tentar. Meu coração acelera. — Eu contei para o Daniel e ele anda louco de ciúmes. Está sendo difícil. Eu sei que é uma situação delicada, mas ele não confia em mim.
— Dê tempo ao tempo, Bel. — Eu sei. Só queria que ele confiasse em mim. Alex faz parte do passado. Durante o resto da manhã conto os detalhes da briga que tive com Daniel e da tentativa dele de confrontar o Alex. Enquanto papai me dá conselhos, ele aproveita para me fazer tomar café da manhã. Durante nossa conversa é fácil perceber que a situação também é difícil para ele. Papai considera Alex como um filho. Os dois passaram muito tempo juntos enquanto Alex crescia, e papai sempre conversou e aconselhou bastante o Alex. A conversa dura um bom tempo e, papai só vai embora apenas depois do almoço. Mesmo sendo feriado eu tenho uma sessão externa agendada com uma modelo. É uma cliente particular que encaixei no meu horário livre. Preparo um café bem forte para me ajudar com a ressaca e me arrumo para o trabalho. Desço do prédio e encontro seu Francisco, o porteiro, e ele me entrega algumas correspondências. — Boa tarde, senhorita Isabel. — Boa tarde, Chico. — Ótimo dia de feriado para um passeio, não é mesmo? — E para trabalho também. — Sorrio. — Quer coisa melhor do que ir trabalhar no jardim Botânico? — Não mesmo. — Tenha um bom trabalho, seu Chico. — A senhorita também. Durante todo o percurso eu fico relembrando as mensagens enviadas do Daniel na noite anterior. Ele foi grosseiro! Quem ele pensa que eu sou? Estou chateada com ele. Ligo meu celular, enquanto caminho entre o lindo corredor de árvores centenárias do Jardim Botânico. Nenhuma mensagem e nenhuma ligação perdida, só as três do meu pai ontem. Ele não poderia ter falando sério ao citar Adeus, ou estava? Paro no caminho e repenso no que fazer. Ele tem que confiar em mim, caramba!
Capítulo 10 Alex
Acordo na parte da tarde ainda meio dopado graças à medicação. Tomo um copo de leite e sento na varanda do flat onde estou hospedado para pensar um pouco em uma forma de me aproximar da Isabel. Eu preciso fazer alguma coisa, antes que ela se case com outra pessoa. A dor dessa possibilidade me corrói. Eu desejei isso com todas as minhas forças quando tinha meus surtos, mas conforme fui ficando estável me dei conta da estupidez que fiz. Ela precisa saber que eu a amo e que quero uma chance de fazê-la feliz. Decidido, pego minha carteira e celular em cima do móvel e saio do flat, convicto de que é a coisa certa a fazer. De hoje não passa. Pego um taxi e poucos minutos depois chego ao prédio onde a Isabel mora. Fico parado na entrada por um tempo pensando. Não posso simplesmente bater em sua porta e dizer: Ei, eu voltei. Vamos sentar e conversar. Não é hora de desistir. Passo a mão pelo meu rosto e respiro fundo. Já perdi muito tempo. Antes de dar mais um passo, retiro do bolso o meu remédio para ansiedade. Eu preciso me acalmar e tentar colocar minhas ideias em ordem. Toco o interfone e um senhor de cabelos brancos aparece na portaria. — Boa tarde, eu procuro por Isabel Maia... — A senhorita saiu faz uns 30 minutos, sinto muito. Eu não posso perder o foco. — É que sou um amigo dela de muitos anos, e vim de longe para encontrá-la. O senhor sabe me dizer onde ela foi? — Ela comentou que tinha um trabalho no Jardim Botânico. — Muito obrigado... Não espero o senhor responder. Saio em disparada e faço sinal para o taxi que se aproxima e peço que me leve até o Jardim Botânico. Chegando lá, caminho entre as árvores altas, observando cada canto. Vejo casais de mãos dadas
passeando, famílias inteiras, um pai feliz com filho no colo. Todo esse cenário familiar faz com que eu me recorde das brigas que eu causei ao me negar ter um filho com a Isabel. O lugar continua o mesmo. Lembro-me das diversas vezes que passeamos aqui. Éramos tão felizes e agora tudo mudou, por minha culpa. Culpa do universo que conspirou contra mim. Hoje é um dia especial. Tentarei reafirmar para Isabel os motivos que me fizeram tomar essa atitude tão drástica, meus medos e receios, minhas falhas e por fim, o meu amor. O Jardim Botânico é imenso e após uma hora de caminhada procurando por ela, começo a ficar desanimado. Estou quase desistindo quando eu a vejo. É a melhor sensação do mundo. Ela me reconhece e seus olhos arregalam. Ela está aqui. A minha bebel, a minha melhor amiga, companheira. O amor da minha vida. Eu ensaiei inúmeras vezes o que diria quando a visse novamente, mas estar na sua frente me causa um branco total. A única coisa que faz sentido nesse momento é estar perto dela.
Capítulo 11 Isabel
Alex está a minha frente. O momento em que mais tinha sonhado durante todo esse tempo, finalmente aconteceu. Pequenos choques passam pela minha corrente sanguínea. Meu coração pulsa freneticamente, minhas pernas tremem e solto a câmera que está presa sob o meu pescoço. Eu deveria correr para longe dele, mas isso é impossível quando no fundo eu quero apenas saber como ele está, ouvir sua voz nem quer seja por alguns minutos. Alex não fala nada. Seu rosto está igualzinho. Sua beleza frágil e amorosa continua a mesma. Meu Deus, como a vida foi injusta com a gente. Ele levanta uma de suas mãos e levemente coloca um fio solto do meu cabelo atrás da minha orelha. Fecho os olhos ao sentir esse contato. Quando ele afasta sua mão, sou obrigada a encará-lo e ele força um sorriso apertado e pesaroso. — Isabel... — murmura ele. Sua voz é doce e gentil. Respiro fundo. Não sei bem o que dizer a ele, e não sou capaz de controlar o turbilhão que a minha mente está sofrendo. Meus olhos começam a encher de lágrimas e ao mesmo tempo eu dou um tapa em seu rosto. Fica impossível afirmar se o eco que eu ouvi foi real ou se eu imaginei, mas o rosto de Alex fica imediatamente marcado e eu sei que o tapa doeu. Alex não reage. Simplesmente fecha os olhos e aguarda. Ele entende. Meu Deus, eu precisava ter feito isso! Depois de tudo o que sofri por ele, eu fiquei com tanta raiva que tudo o que eu conseguia pensar era que se eu o reencontrasse, eu lhe daria um tapa. Alex me olha novamente e dessa vez seus olhos estão brilhando. A sua dor não é física. — Isabel, eu preciso... Sem deixar que ele continue, eu faço a segunda coisa que quis fazer quando estivesse ao seu lado: eu me jogo em seus braços e o abraço forte por um bom tempo. Suas mãos apertam meu corpo. É como se precisássemos desse contato para fundir a nossa dor. Seu cheiro me transporta para o passado. Tento recuperar meu fôlego, quando solto seu pescoço. — Eu precisava te ver — fala baixinho.
Nego com a cabeça. Não estou preparada para ouvir essas palavras. — Eu estou trabalhando. — Aponto para trás. — Minha cliente foi apenas ao banheiro. Preciso ir... — digo, virando. — Isabel... — Ele segura meu braço. — Eu posso esperar. Preciso conversar com você. Por favor, você não precisa dizer nada, apenas quero que me ouça. Por favor? Percebo o seu desespero na maneira como segura o meu braço e suplica com os olhos, mas não posso ter essa conversa agora, quando tudo está muito recente. — Não temos nada para conversar, Alex. O que você fez não tem justificativa. Você me abandonou. — E logo sinto a maldita lágrima brotar no canto do olho. — Eu sei que você não entende o que eu fiz e eu tenho muito pelo que me desculpar. Eu preciso de alguns minutos, por favor... Eu deveria negar e sair daqui, mas não posso. — Eu tenho que terminar essas fotos. — Tudo bem, eu espero. Concordo com a cabeça e me viro. Inspiro e expiro umas cinco vezes para tentar me acalmar, mas é em vão. Faço meu trabalho sem prestar muita atenção. De vez em quando eu procuro por ele, apenas para comprovar a sua presença e me deparo com seus olhos fixos em mim. Após terminar a sessão e me despedir da cliente, aceno para ele, que imediatamente caminha na minha direção. — As fotos devem estar lindas. — Espero que sim. — Forço um sorriso. — Tem um café aqui perto. Se quiser, podemos ir até lá para conversar. — Ah, sim. O que você preferir. — Ele diz, levantando um pouco os ombros e torcendo um pouco a boca. Caminhamos lado a lado através do longo corredor de árvores altas. O vento sopra tímido e o barulho das crianças brincando ao nosso redor é menos intimidador. — Fico feliz que sua carreira tenha decolado. — Ele é o primeiro a quebrar o nosso silêncio. — Eu estou feliz aonde cheguei. E você? Professor de Inglês? — Pergunto, lembrando que na carta que ele me enviou, Alex comentava sobre sua nova profissão. — Pois é, estou gostando bastante. Os alemães são bastante disciplinados. Assim que chegamos ao café, sentamos em uma pequena mesa, isolada no canto. Meus pensamentos oscilam entre dar um fim rápido nessa conversa ou simplesmente colocar a conversa em dia, saber tudo o que ele fez nesses últimos anos. Por mais absurdo que pareça, sinto falta da intimidade que compartilhávamos e das conversas bobas e sem sentido.
— E como está a galera do Jonny’s? Arqueio a sobrancelhas. — Você veio aqui para isso? Por que eu não tenho que ficar te atualizando de nada. Afinal, você está aqui agora, pode muito bem saber sozinho. Quer saber, eu nem deveria estar aqui... Estou tentando levantar e sair do café, mas Alex segura a minha mão. — Por favor, você aceitou me ouvir. Por favor, Isabel... — sussurra. Assim que ele solta minha mão, pego meu celular dentro da bolsa e observo o horário. Nenhuma chamada perdida e nenhuma mensagem. Meu Deus, o que Daniel faria ao me ver aqui? Seus olhos observam cada detalhe do que faço e por algum momento sinto-me constrangida. — Eu não vim até aqui por isso, você sabe... — Eu não sei absolutamente nada de você. O Alex que conheci era doce, gentil. Jamais teria me abandonado como se eu não tivesse sentimentos. Como se o que eu sentia por ele pudesse ter sido apagado facilmente. — E não foi? — Ele pergunta calmamente, para a minha surpresa. Minha raiva aumenta. Abro minha boca e fecho repetindo a ação por mais duas vezes. A resposta correta é: Não. Não foi.
Capítulo 12 Alex
Eu devo ir com calma. Nada do que aconteceu foi culpa da Isabel e se eu continuar forçando a barra dessa forma ela vai acabar indo embora. Respiro fundo e pedimos algo para beber. Ela está visivelmente constrangida e eu também. —Eu cheguei há poucos dias — revelo, mudando um pouco o assunto. — Estou em um flat, perto do nosso antigo apartamento. Ela apenas me olha, sem expressar nenhuma emoção. — Larguei tudo na Alemanha e voltei a me consultar com o doutor Dimitri. Ela se contrai um pouco. Imagino que a lembrança que ela tem do médico seja dolorosa, afinal de contas deixei com ele minha carta de despedida e nem estava presente quando ela a abriu. — Como está a sua doença? — Estável — sorrio. — Mas é uma luta é diária. Tenho tido ajuda. — Médicos? — Não, meu pai. — Oh. Eles não devem estar muito felizes com o seu retorno, não é? — Na verdade, meu pai mudou bastante, Isabel. — Eu duvido muito. — Ela revira os olhos. Não posso culpá-la, pois meus pais sempre foram muito cruéis com ela. — Minha mãe faleceu há algum tempo. — Oh... — Ela arregala os olhos, surpresa. — O que aconteceu? — Ela estava internada durante um de seus episódios e sofreu um infarto. — Nossa, eu sinto muito por sua perda. — Tudo bem. O fato é que, com isso, o doutor Simonelli pela primeira vez exerceu o seu papel de pai. — Pelo menos uma coisa boa.
Concordo. — Não sou uma pessoa rancorosa, Alex, mas jamais esquecerei a forma como eles sempre me trataram. Principalmente no final, me culpando pela sua doença. — Eu entendo. — E por incrível que pareça, eles não foram os responsáveis por você me abandonar. A culpa por me deixar na merda foi exclusivamente sua. — Ela franze o cenho e sinto a dor quase palpável no seu semblante. — Perdão. — Perdão? — Ela sorri um pouco, arfando em negação com a cabeça. — Você não pode estar falando sério! Aquilo não era o que você julgava o mais correto a fazer? Afirmo. — Eu só queria te ver feliz. — Então parabéns, Alex. Você conseguiu. Eu sou feliz. Ela realmente é. Com outra pessoa. Olho para minha mão e brinco com as gotas que escorrem do copo gelado de água, segurando as lágrimas. — Nós poderíamos ter sido também. — Ela comenta. - Mas você decidiu o nosso futuro por nós dois e sumiu, sem deixar rastros. — Eu... — O que fez você voltar? — Não sei viver sem você. — Isso não é justo. — Eu sei que não. Por isso te peço perdão... — O que você pretende com isso? — Pretendo mostrar a você que estarei por perto para o que você precisar. — Eu fiz... — Ela arranha a garganta antes de recomeçar. — Eu fiz o que você havia me pedido, eu encontrei uma pessoa e... — Eu sei. – Respondo com a voz embargada. — Ele me resgatou do abismo em que eu me encontrava. — Eu poderia colocar a culpa na doença. Isabel, você sabe o quanto uma pessoa pode ser autodestrutiva. O meu amor por você é tão grande, que na época a voz na minha cabeça só pedia para eu me afastar, que eu seria um fardo. Eu não quero que a doença seja a justificativa para as partes
ruins da minha vida. Eu quero um recomeço e, infelizmente ela sempre fará parte de mim. Eu sinto muito. — Sente? Muitos podem achar que o que você fez como um ato de benevolência, mas eu só via sua decisão como o ápice do egoísmo. Tínhamos uma vida juntos. Éramos para superarmos tudo juntos. Eu nunca reclamei de nada, sempre estive ao seu lado. — Eu realmente sinto muito. — Quer saber, isso aqui não está dando certo! Eu estou de casamento marcado. Eu não deveria estar aqui. — Desculpe... — Pare de pedir desculpas! Chega! — Ela fala um pouco alto. — Eu jamais atrapalharia seus planos. — Você já está atrapalhando! Eu queria falar que sentia muito por isso, mas me mantive calado. Isabel prende os cabelos em um coque e observa as pessoas na rua. Finalmente ela me encara novamente. — Eu tenho que ir. Concordo, mesmo que a minha vontade seja de prendê-la nos meus braços e jamais deixá-la sair. — Eu preciso dizer uma coisa. Assinto devagar. — Eu amo meu noivo. Achei que isso jamais fosse possível depois de você, mas eu estava enganada. Ele me trouxe de volta à vida, e é com ele que quero estar até o fim dos meus dias. Não quero que nada nesse mundo atrapalhe isso. Preciso que você me prometa não ir atrás de mim. Eu sei que posso soar grosseira demais, mas agora é a hora de colocarmos limites. Nossa história terminou porque você quis! Agora estou de casamento marcado com um homem que me ama incondicionalmente e me faz a mulher mais feliz desse mundo. Ouvir isso não era exatamente o que eu esperava quando resolvi voltar ao Brasil. Ela pode até amar esse homem, mas sei que no fundo o nosso amor ainda existe. Vivemos treze anos juntos felizes, e isso não é tão simples de esquecer. — Não precisa dizer mais nada. Eu ouvi o bastante para um único dia. — digo, completamente derrotado e tento me controlar para não desmoronar aqui na sua frente. — Prometa-me, Alex. Prometa-me que não ficará atrás de mim e que entende que é tarde demais para tudo isso? Eu apenas confirmo com a cabeça, sem ter forças para falar. O que eu esperava além dessa reação?
Ela se levanta e meus olhos acompanham seus movimentos até sair do café. Vê-la partir é doloroso demais. Nos meus sonhos, ela sorria e dizia que me amava. Mas, é apenas sonho. Fico sentado tentando absorver minha nova realidade. É como se eu tivesse apostado e perdido tudo. Eu apostei tudo há quase dois anos e aqui estou eu, perdendo pela segunda vez o que eu não tinha mais.
Capítulo 13 Isabel
Abro a porta do meu carro e jogo a minha bolsa e a mala da câmera no banco de trás. Enfim deixo as lágrimas caírem. Foi pior do que imaginei. Meu Deus, eu o amo tanto e vê-lo foi doloroso demais. Serviu para comprovar o que eu não tinha certeza. Achei que a raiva poderia sobrepujar o amor, mas não foi suficiente. Eu ainda o amo e negar isso para mim mesma é idiotice. Isso não muda absolutamente nada. O que eu disse a ele é verdade. A nossa história acabou. A dor chega a ser física. Nada disso é justo. Eu deveria ir até lá e ser mais ríspida, falar que ele foi um cretino egoísta, que jogou ao vento a nossa linda história de amor. Fico alguns minutos deixando descarregar toda a emoção de ter visto Alex novamente. Mais calma, eu respiro fundo. Ele não pode me afetar dessa forma. Isso não é justo. Não vou chorar mais, não vou. Repito inúmeras vezes a mesma frase, limpando as últimas lágrimas no rosto. Eu tenho Daniel, e meu amor por ele envolve tantas coisas. Não é só amizade e compaixão, é desejo. Um tipo de amor que arde o peito, que quer ficar junto. E é isso que quero para minha vida, um amor sem dor, sem passado traumático, sem mágoas. Não tenho que escolher, afinal eu nunca tive. Alex nunca foi uma opção. Daniel é a minha realidade. A única coisa que tenho que me preocupar agora é com o Daniel. Pego meu celular na bolsa, que está com menos de 10 por cento da bateria. Droga de celular, sempre quando eu mais preciso! Eu e Daniel precisamos fazer as pazes. Vou contar a ele desse encontro com Alex e que ele prometeu que não atrapalhará minha vida. Ligo para Daniel, mas cai na caixa postal. Tento uma segunda vez e nada, depois meu celular desliga de vez, acabando a bateria. Merda! Dou a partida no carro, estando mais calma e vou com destino fixo na minha mente: o apartamento do Daniel.
Capítulo 14 Daniel
Eu sei que fiz merda. Porra, eu sei! Mas, Isabel também fez. Morro de ciúmes dela. Sei que me exalto fácil e que falo sem pensar, mas segundo depois me arrependo. Com um amor tão forte como o nosso é normal ficar exaltado. Sou inseguro pra caralho quando o assunto é ele. Continuo bebendo uísque sem gelo para me acalmar. Caminho de um lado para o outro no meu apartamento. Trabalhei durante todo o feriado tentando tirar Isabel da cabeça. Ela não estava em casa ontem à noite e isso me deixou ainda mais louco. Eu tenho certeza que ele foi atrás dela. Não consigo acreditar que ela tenha aceitado sair com ele! Meus músculos enrijecem só com a possibilidade disso ocorrer. Ela não faria isso comigo, por mais que eu tenha ficado puto e tenha mando um SMS de merda, eu não acredito que ela tenha coragem de fazer isso. O cara viveu com ela durante treze anos. Quase metade da sua vida. E cada vez que penso dessa forma, nas inúmeras recordações que ela tem dele, eu me sinto mais louco de ciúmes. Será que ela pensa nele todas as vezes que está comigo? Isabel não retornou nenhuma das minhas ligações e por isso desliguei o celular. Ela pensa o que? Que estou na sua mão? Paro um pouco e penso na resposta. Puta que pariu, eu estou! Passo a mão pelo meu rosto e viro o conteúdo copo de uma vez. Ah, quer saber! Chega dessa porra de celular desligado. Foda-se! Pego meu celular em cima da mesinha de canto e pressiono uma tecla, até ele acender. Assim que o celular liga, algumas notificações sonoras ecoam no apartamento vazio. “Bel ligou e não deixou recado”. Duas mensagens são de ligações perdidas dela. Estou eufórico. Por que eu desliguei a porra do celular? Aperto o botão para retornar sua ligação, mas na hora cai na caixa postal. Mas que porra! Tento mais umas três vezes e nada. Jogo meu celular no sofá e fico inconformado, onde será que ela está? Sem pensar muito, pego a chave do meu carro, minha carteira e vou até seu apartamento novamente.
Eu não posso mais ficar sem Isabel ao meu lado. Antes de sair, meu celular toca em cima do sofá e corro para atender. — Isabel? — Aham, não. É a Francine, Daniel. — A voz da minha secretária ecoa do outro lado. — Algum problema? — Pergunto meio grosseiro. Afinal, ela me tirou de uma missão muito importante. — Sim. Um problemão. Eu deveria deixar o senhor em paz, mas acabei de ser informada que o representante que iria para Nova Iorque fechar parceria com a revista Rolling Stones teve um problema de saúde e terá que se ausentar. — Como é que é? De novo? Isso não havia sido adiado? — Questiono puto. — Sim, e é por isso que estou ligando para você. Desmarcar o compromisso por duas vezes consecutivas seria uma falta de profissionalismo. — Explica Francine, completamente certa. — E meu pai? Tentou falar com ele? — Ainda está em lua de mel, senhor. — Ainda? Que porra de lua de mel é essa? — O senhor mesmo me informou que ele se ausentaria por oito semanas e só se passaram quatro. No momento, ele se encontra em Dubai. Xingo minhas gerações passadas e as próximas que virão. Meu pai resolve se casar com a namorada dele e eu preciso resolver tudo sozinho. Agora não é uma boa hora para ter problemas na revista. — Senhor... — Eu tenho alguma opção que não seja ter que estar em Nova Iorque amanhã à tarde? — Sim. Pode pedir aos seus assistentes, ou deixar para o Marcelo, gerente administrativo, ir no seu lugar, mas acho que.... — De jeito nenhum. Assistentes não tem experiência suficiente para esse tipo de negociação. E o Marcelo está na minha lista de demissões. Quero gente comprometida, e ele tem se mostrado incompetente em diversas ocasiões. — Então, não vejo outra alternativa além de irmos para Nova Iorque, senhor... — Nós dois? — Sim. Eu sabia que o senhor iria querer fazer isso pessoalmente, então me adiantei e comprei nossas passagens. Fui até a empresa, fiz a programação e avisei toda a equipe. Sou sua secretária particular e posso ajudar nos tramites da negociação. Isso se o senhor permitir. — É claro. Sua ajuda será bem-vinda e você também precisa participar da reunião para ir aprendendo como funciona tudo. Que horas é o voo?
— Em menos de duas horas. Com o trânsito, eu aconselho o senhor fazer logo as malas. Era tudo que eu não queria. Ir viajar agora e sem conseguir falar com a Isabel. — Solicitei um taxi. Posso passar aí e iremos juntos para o aeroporto. Quanto mais coisas o senhor puder me informar sobre a negociação, mas terei como ajudá-lo. Concordo com ela, sem pensar muito na reunião e sim na Isabel. Tento ligar mais umas duas vezes para o celular dela e continua desligado. Por que logo agora, porra?!
Capítulo 15 Isabel
Meu despertador toca. Eu não dormi nem uma hora. Foi difícil pregar os olhos depois de ter ido ontem ao apartamento do Daniel para fazer as pazes e resolver nossa situação, e acabar dando com a cara na porta. Ele não estava. Voltei para casa com raiva dele. Ainda mais por tentar falar no seu celular e não conseguir. Onde ele está? Faz mais de 24 horas que não nos falamos. Isso não está certo! Tomo um banho rápido, me arrumo e saio rumo à revista. Estou me sentindo mais tranquila. Depois da conversa de ontem com Alex, sei que Daniel e eu poderemos seguir em frente. Eu precisava disso, e ele também. Nossa relação, mesmo após seu desaparecimento, precisava de um desfecho e ter isso depois de tanto tempo foi libertador. Eu o amo. Sempre amarei. Quero que ele seja feliz e que encontre a pessoa certa. Tenho certeza que ele a fará feliz, assim como me fez por tantos anos. Alex é um homem muito especial e por mais que tenha errado comigo, é sem dúvidas, um homem ímpar, que infelizmente acabou sendo abatido por uma doença tão perversa. Meu foco agora é outro. Eu preciso resolver minha situação com Daniel. Estaciono meu carro e não vejo o carro dele. Que estranho! Ele sempre chega antes de mim. Entro na revista e vou até a minha sala deixar minhas coisas antes de ir até sua sala conferir. — Bom dia, Bel. — Fala minha assistente com um sorriso nos lábios. — Bom dia, Elisa. — Forço um sorriso. — Eu vou até o escritório do Daniel e já retorno para levantarmos as pendências, ok? — Mas o Daniel não está. — Ela confirma o que eu já imaginava. Ele não dormiu em casa. Liguei para o seu telefone fixo várias vezes. Eu estou começando a ficar realmente muito brava com Daniel. — Não chegou ainda? — Eu recebi uma ligação ainda pouco da Francine. — A secretária dele? Meu Deus! Aconteceu alguma coisa? — Não, Bel, está tudo bem. Achei que você soubesse. — Ela diz com as sobrancelhas
franzidas. — Então onde ele está, Elisa? — Ele está em Nova Iorque. Foi a trabalho. — Nova Iorque? Minha raiva aumenta. Como ele pôde sair do país e nem me avisar? Isso está indo longe demais. Minha assistente assente. — Desculpe, Elisa. Eu e Daniel tivemos uma pequena discussão e não consegui falar com ele ontem à noite. — Não precisa explicar, Bel. — Deixe-me adivinhar? A Francine foi junto? — Sim. Ela ligou ainda pouco, parece que tiveram um problema no chek-in do hotel, mas já foi resolvido. Respiro fundo. Aquela mulherzinha não é flor que se cheire. Ah, Daniel! Você está frito quando voltar! Eu queria conversar com ele hoje, colocar tudo em pratos limpos e virar a página. — Sabe quando voltam? Ela nega. Tento demonstrar alguma tranquilidade no meu sorriso, mas acho que não consigo. Estou realmente preocupada com a sua frieza. Eu sei que agi de forma infantil não atendendo suas ligações, mas ele também errou. — Você me dá licença por alguns minutos, Elisa? Preciso resolver algo. — Arqueio as sobrancelhas e ela entende. — Aceita um café? — Perfeito. Um bem forte, por favor. Obrigada. Elisa sai da minha sala. Em seguida, pego meu celular dentro da bolsa e teclo rapidamente o número de Daniel. Toca, toca e a ligação não completa. — Caramba! Eu odeio essas viagens! Tento mais algumas vezes e nada. Já sei! Saio da minha sala rapidamente, subo elevador e entro na sala do Daniel, com o intuito de achar alguma informação que eu possa entrar em contato com ele. Remexo em alguns papéis que estão em cima da mesa e enfim, encontro: Programação NY. Três dias?! A letra feminina não nega: Francine.
9 horas – Chegada em NY. 10 horas - Check-in The Plaza Hotel. 13 horas – Almoço no Restaurante do hotel. 15 horas – Reunião com Walter White e conhecer as instalações. 20 horas – Jantar de negócios com os sócios...
The Plaza Hotel? Era isso que eu queria saber. Volto para a minha sala furiosa. Três dias longe com a secretária em Nova Iorque. Perfeito! Ligo meu laptop e pesquiso o hotel, procurando pelo número de telefone. Encontro o que quero! Disco no celular o número e logo um atendente me ajuda e transfere a ligação para o quarto em que Daniel Clark está hospedado. O telefone toca uma, duas, três. Não é possível! Até que ouço o telefone sair do gancho. — Daniel? — Oi Isabel. — Ele responde e expiro aliviada. — Está difícil falar com você. — Digo o mesmo — fala sem muito entusiasmo. — Ocupado? — Não. Estava no banho. — Por que não me avisou sobre a viagem? — Avisar? Como? Você não me atende, nem respondeu minhas mensagens. Eu fui ao seu apartamento e por incrível que pareça, você não estava. Quer mais algum motivo? Abro minha boca para contestar, e repenso. Ele está realmente muito aborrecido. — Você mereceu, oras! — Mereci? Porra, Isabel. Sério? Eu tentei te ligar ontem à noite para avisar, mesmo depois de você resolver me ignorar. —Eu fui ao seu apartamento e você não estava. Meu celular ficou sem bateria e... — continuo. — Sabe o que é mais complicado de entender? — O quê?
— Que logo depois de você ver a porra do seu ex, você some. — O que você está querendo dizer, Daniel? — Questiono, começando a ficar novamente muito irritada. — Você esteve com ele? — Sua pergunta entra na minha pele como água fervendo. Eu quero lhe contar, não por telefone, mas também não posso mentir. — Satisfeita? — Pergunta em um tom irônico, tomando como um sim, o meu silêncio. — Daniel, ouça. Eu fui ontem atrás de você para lhe contar, foi positivo e... — Positivo? Ah, Isabel, sem essa, vai! Você ia realmente me contar? Por que será que eu não acredito? Essa sua pergunta faz com que a raiva vire mágoa. — Chega. Você ultrapassou o limite. É comigo que você que se casar, Daniel? Por que sinceramente, eu jamais continuaria ao seu lado se não confiasse em você. É injusto. Eu te expliquei tudo e você insiste em achar que eu e Alex... — Eu não acho, porra! — Ele me corta. — Minha mulher está diferente, seus pensamentos estão longe e passa mal ao ver o ex. Você quer o que, Isabel? — Nós conversamos e... — Eu não quero saber se você e o maluco seu ex-noivo conversaram! Na mesma hora eu fico muda e tento me acalmar. O silêncio na linha é ensurdecedor. — Eu nunca me arrependi de contar a minha história para você. Confidenciei algo tão pessoal como a doença do Alex e você joga isso na minha cara tentando me magoar. Mas nesse momento, se eu pudesse voltar atrás, não teria confiado em você com isso. — digo, calmamente. Ele ouve ainda calado, arfa e no fundo escuto um bater na porta. Ouço ele tapar o fone, e logo uma troca de diálogos, mas é baixo demais e não consigo decifrar. — Isabel, eu preciso ir. — Ótimo. — Reviro meus olhos. — Precisamos conversar. Eu estou muito furioso com isso e decepcionado demais com você. — Decepcionado? Eu não fiz nada! — Não? Então porque não me mostra a merda da carta? — Eu te disse que isso não tem a ver e.... — Ok, Isabel. Você pede confiança, mas não me prova isso. — Se você pensa assim, eu sinto muito. — É bom saber que você sente...
— Quando você volta? — Só sábado à noite. Eu realmente preciso ir. Francine veio me informar que estou atrasado para a reunião e preciso acompanhá-la. — Francine é realmente muito eficiente. Aproveite sua noite — Ironizo. — Tchau! Desligo o telefone na sua cara, sem esperar resposta. Merda mil vezes!
Capítulo 16 Isabel
A conversa com Daniel deveria ter sido de reconciliação, mas foi um desastre total. A sua insegurança e grosseria ultrapassaram todos os limites e eu não sei como mudar isso. Ele foi cruel e ainda por cima está sozinho em Nova Iorque com aquela secretária. Caramba, como tudo desandou assim, do nada?! Serão três dias longe dele, onde nossos assuntos ficarão pendentes. Desde que eu e Daniel fizemos as pazes na festa de trinta anos da revista, nós nunca mais brigamos. Às vezes discordamos de algo e discutimos, mas não chegamos a brigar. Ele não ficou de me ligar e nem eu de ligar para ele. Não deixamos nada combinado e isso me deixa mal o restante do dia. Meu coração fica esmagado. Eu o amo tanto, queria poder conversar com ele. Meu celular toca e rapidamente atendo. — Belzita? — Oi Luci. — Nossa, que desânimo. — Meu dia não está sendo muito bom... — Vamos mudar isso? Preciso te contar algo. — Coisa boa? Por favor, diz que sim. — Estou noiva! — Noiva? Oh meu Deus, que ótima notícia! — Ai, Belzita. Jonathan me pediu em casamento ontem. — Ela conta suspirando. — Ele me levou para jantar, com direito a violinos e tudo mais e me pegou de surpresa. Tudo foi perfeito! — Jonathan é especial, minha amiga. Estou tão feliz por você. — Eu sei, Belzita. Mas me conte o que aconteceu agora? Ainda brigada com Daniel? — Ah, está tão complicado, Luci. Não estamos nada bem e agora ele está em Nova Iorque com
uma secretária boazuda. Mas não é hora de falarmos sobre isso. — Vou querer saber de tudo. — Você irá. — Então, estou ligando para intimar você a ir hoje ao Jonny’s conosco, comemorar com os amigos o nosso noivado. — Hum, eu não estou sendo uma boa companhia... — Não aceito desculpas. Por favor, vai, vai, vai... — repete várias vezes. — Está bem, eu vou. — Ah! É por isso eu te amo. — Eu também te amo, Luci. Vou para casa, tomo um longo banho e me arrumo para a comemoração de Luci e Jonathan. Pego meu celular e fico encarando. Será que eu devo ligar para o Daniel? Chama, chama e ninguém atende. Ligo para o hotel onde ele está hospedado e me informam que ele não está. Pergunto se ele deixou avisado onde estaria e depois de muita conversa ela me fala que ele está no bar do hotel. — Então poderia chamar por Francine, assistente do meu noivo? Ela fez check in junto com ele — solicito. Depois de algumas insistências da minha parte, a atendente me informa que Francine também está no bar do hotel. Ligo mais umas duas vezes para o seu celular. Eu não sou ciumenta! Não sou! Não sou! Repito inúmeras vezes. Por que ele não me atende? Eles devem estar falando sobre o trabalho, é óbvio! Confio no Daniel. Tendo isso em mente, parto para o Jonny’s bar. Alguns dos nossos amigos estão na porta e parecem constrangidos em me ver. — Belzita. — Viro-me e vejo Luana atrás de mim. Abraçamos e ela fica séria. — O que aconteceu? — Belzita! — berra Luci ao meu lado, me abraçando. — Parabéns Luci! — falo. — Alex está aqui. — Lua diz rápido no meu ouvido.
Paro de sorrir imediatamente. — Está de brincadeira? — E eu por acaso iria brincar com isso? Olha para Luci que levanta os ombros e cerra os lábios. — Eu vou embora. — Não! Por favor, não. Fique — pede Luci. — Podemos ficar em outra mesa. — diz Lua. — É por isso que todo mundo estava sem graça. Essa situação é ridícula! — Vamos. Eu vou ficar ao seu lado e garantir que ele não vai te perturbar, ok? Concordo, sem vontade nenhuma de entrar. Ao caminhar através das pessoas em pé, ao lado de Luci e Lua eu o vejo. Alex está sentado ao lado de algumas pessoas, ele ri um pouco, ouvindo as outras pessoas falarem. Observo fixamente enquanto caminho. — Vamos sentar ali. — fala Lua. Jonathan se aproxima e eu parabenizo os dois pelo noivado. A alegria de Luci e Jonathan é visível, eles se completam. Eu e Luana pedimos nossa dose de tequila e Luci e Jonathan vão cumprimentar as outras pessoas que estão chegando. — Eu sei que pra você é uma situação muito estranha — fala Lua virando o copo. — Estranha? Isso é péssimo, Lua. Parece que não vai ter fim. Nós enfim conversamos, não há mais nada a ser dito. — Ei! Conversaram? Quando que não soube disso? — Ontem. Foi rápido, mas deu para deixar tudo claro. — Ele veio falar comigo. Estava preocupado se você viria, mas não sabia que vocês já tinham se encontrado. — Pois é. Ele me prometeu ficar longe. — Aqui é um lugar público. Além do mais quem convidou ele foi o Sandro. Então, não podemos fazer nada. — Eu sei. Se ele se manter distante, está bom. — Parece que vai. Mas e o Daniel, como vocês estão? — Não estamos. Ele está em Nova Iorque com a secretária piriguete. — Piriguete? Pegando minhas gírias? — ela ri.
— Seria cômico se não fosse trágico. Ela vive se esfregando nele no trabalho. — Daniel te ama. — Eu sei. Eu confio nele, mas essa situação está me matando. — Se ele souber que Alex está aqui... — Por isso que não queria entrar. Eu não quero mentir. Eu o amo, Lua, e não quero que nada, nem ninguém, atrapalhem nosso amor. Eu sei que fui errada em muitas coisas, mas eu precisava encerrar minha história com o Alex. — Você ainda ama o Alex? Bebo a dose de tequila, pedindo outra. — Lua, é complicado. Daniel me fez a mesma pergunta. — Ama ou não ama? — Amo. Sempre irei amar, merda! Foram treze anos juntos e a relação não terminou porque o amor acabou. Ele pensou que eu poderia ser mais feliz sem ele. — E você pode? — Você está chata hoje, Luana! — Chata? É uma pergunta simples. — É óbvio que posso! Eu fui feliz com Alex, mas estou sendo feliz com o Daniel. Não dá para comparar os dois amores, as duas relações. Eu cuidava do Alex, agora é Daniel que cuida de mim e eu amo ter alguém que cuide de mim, entende? — arfo. — Eu sabia minha amiga. Só queria que você mesma confessasse. Alex é passado, você ama Daniel e ele te ama. — Eu o amo. Tanto, tanto, tanto. — Então, vamos comemorar o amor! — grita Lua. Ela levanta a dose de tequila e eu a minha. — Ao amor. — Brindamos e viramos de uma só vez. — Agora vamos dançar. — Lua me puxa para a pista de dança. Dançamos e viramos mais tequilas. Conversamos com algumas pessoas e ocasionalmente meu olhar encontra com o de Alex, mas imediatamente eu desvio. Luci se junta a nós duas e voltamos a dançar. Bebo mais uma dose e já sinto que estou dormente. Lua está de papo com um carinha em um canto e sorrio com a situação. Ela não perde uma! Luci e Jonathan vão embora dizendo que agora precisam comemorar a sós.
Converso com algumas pessoas e caio na pista de dan莽a. Fecho meus olhos e penso em Daniel. Lembro-me do seu rosto, dos seus olhos, do calor da sua pele. Eu s贸 preciso do Daniel ao meu lado.
Capítulo 17 Alex
Ela está visivelmente alterada. Fico em um canto da mesa observando ela virar uma dose atrás de doses de tequila. A Isabel não bebia dessa forma. Será que eu causei isso a ela? Tento encontrar Luci ou Lua para que uma das duas a ajude, pois prometi manter a distância. Encontro um de nossos antigos amigos. — Você viu Luana ou a Lúcia por aí? — grito em seu ouvido, para que ele me ouça através do som alto. — Luci foi embora com o namorado. Luana deve estar lá atrás com o carinha fumante que conheceu. Fico de longe conversando com algumas pessoas, ao mesmo tempo em que analiso cada passo dela. Nossos olhares cruzam diversas vezes e meu coração dispara. A voz na minha cabeça me manda ir até lá e agarrá-la até mostrar para ela que eu voltei de verdade, que eu sou só seu, mas me recuso a ceder. Por alguns minutos ela fica sentada na mesa com algumas pessoas que conversam bem animadas. Até que ela levanta cambaleando e consigo fazer leitura labial dela dizendo: Com licença. Não posso deixá-la sozinha nesse estado, então vou atrás dela. O bar está cheio e ela entra no banheiro feminino. Paro na porta e fico esperando. Eu só quero saber se ela está bem. Depois de quinze minutos esperando, minha paciência esgota! Chega! Abro a porta do banheiro feminino e entro. — Só estou procurando uma pessoa — falo para as mulheres que estão ali, sem olhar para o lado. — Isabel! Algumas reclamam e até ouço alguns xingamentos. Lentamente uma das portas se abre e ela sai de lá com os olhos inchados e vermelhos. — O que você está fazendo aqui? — pergunta ela, enxugando algumas lágrimas do rosto. — Eu só queria saber se você está bem. Vi você e... — Você me prometeu, Alex. Prometeu que não ficaria atrás de mim. — Eu vim ao Jonny’s para rever os amigos, Isabel. Sinto muito.
— Mas você está aqui, atrás de mim, dentro do banheiro feminino. Você havia me prometido tantas coisas e não cumpriu. Eu deveria ter imaginado que com essa promessa não seria diferente, não é mesmo? Meus músculos se contraem. — Isabel, eu... — Ah, esquece, ok? — Ela revira os olhos. — Sabia que eu tive uma ótima experiência nesse banheiro? — Ela sorri um pouco, piscando os olhos lentamente e apontando para as paredes. — Mas não foi com você.. — Isabel, você não está bem, precisa ir para... — Os olhos eram diferentes. Eram quase transparentes... — Com certeza não era eu. — Respondo angustiado. Para o meu espanto, Isabel me abraça forte e meu peito se enche de felicidade. Abraço-a, sentindo seu corpo próximo ao meu e percebo um sentimento de paz e tranquilidade. Aperto sua nuca com uma das mãos e acaricio seus cabelos. — Eu te amo, Isabel. — sussurro em seu ouvido. Ela me solta e fica me encarando. — Eu vou pra casa. — Você não pode ir embora sozinha nesse estado. — Não se mete! — grita, quase caindo para o lado. — Isabel! Eu apenas irei levá-la para casa. Não precisa falar comigo. — Informo e ela assente devagar, sem ter como negar. Ela me passa a chave do carro e durante todo o trajeto, ela não diz uma palavra. Eu a ajudo a sair do carro e praticamente a carrego em meus braços. — Você precisa de um café bem forte — falo no elevador. — Eu preciso é de paz. — diz séria. Eu a ajudo a sair do elevador e fico aguardando suas orientações sobre a direção que devemos tomar. Isabel pega o chaveiro da minha mão e procura pela chave de casa. É impossível deixar de perceber que suas mãos estão trêmulas. Ela entra no apartamento e vai largando tudo no meio do caminho: chaves, bolsa, sapatos. Ainda cambaleando, ela se apoia na parede e fica de frente pra mim. Fica em silêncio por um bom tempo, com a testa franzida. — Durante o primeiro ano que você foi embora, eu chorava e implorava a Deus para que você voltasse. E eu esperei. Esperei por tanto tempo. Até que não conseguia sentir mais nada. Só existia o vazio dentro de mim. E aí... — Ela levanta os ombros e sorri. — Eu encontrei a luz, em plena
Avenida Paulista. Você acredita em coincidência, Alex? — Isabel, é melhor você se sentar. — Pois eu acredito. — Ela continua, ignorando-me. — Marcela que o diga. Enfim, a luz me tirou da escuridão e me trouxe de volta a vida. Tudo bem que primeiro quebrou a minha câmera digital, mas valeu a pena, sabe? — Ela continua falando, mas não faz muito sentido. — Onde é o seu quarto? Ela olha para mim e franze o cenho. — Não. — Nega com a cabeça também. — Quarto não. — Eu só quero colocá-la na cama, você não está bem. Isabel, você deveria tomar um banho frio, mas acho que não seria muito apropriado da minha parte colocá-la no chuveiro. — Nem ir ao meu quarto. — Ela aperta os lábios um pouco e faz que não com o dedo. — Ok, deite aqui na sala mesmo. Acomodo Isabel no sofá, e pego uma das almofadas para apoiar a sua cabeça. — Está melhor? — pergunto. Ela concorda com a cabeça e logo em seguida está adormecida. Fico sentado ao seu lado, apenas observando. Meu Deus, como eu senti falta disso! Todas as manhãs, ela era a primeira coisa que eu via. Era a visão do paraíso. Nesse momento eu tenho a certeza de que nenhuma mulher será tão importante na minha vida quanto ela. Não sei quanto tempo fico observando-a, mas de repente ela abre os olhos e me encara. Em seguida, abre um sorriso maravilhoso, e eu sinto um calor irradiar do meu peito. — Você sabe, não sabe? — murmura ela. — O quê? — Que você estará no meu coração para todo o sempre. Agora é a minha vez de sorrir. Sim, eu sei e isso já basta. Faço que sim e sorrio. Eu me sinto o homem mais desgraçado do mundo. Eu deveria ter protegido, amado e cuidado da Isabel. Não deveria ter feito ela sofrer. E por causa disso, nunca irei me perdoar. — Apenas durma, ok? Acaricio seu rosto e ela dorme novamente, como um anjo mais lindo do céu.
Capítulo 18 Daniel
Durante todo o dia eu só consigo pensar na Isabel. Até mesmo durante o meu jantar de negócios, eu me distraí inúmeras vezes por causa dela. Ela ligou duas vezes e eu ignorei de propósito, queria que ela ficasse tão magoada quanto eu. Estou tão irritado! Eu queria encontrar com esse filho da puta do Alex para fazê-lo sofrer, mas não faço a mínima ideia de como ele é. A Isabel não guarda nenhuma recordação dele em sua casa, nem mesmo uma única foto e na maioria das vezes, isso me deixa feliz, mas não hoje. Do que adianta não ter uma fotografia ou qualquer lembrança do relacionamento deles se ela ainda o ama? Aceitar isso é doloroso: a Isabel ainda ama o Alex. A mulher que eu amo mais do que tudo na vida, ama outro homem. Levanto meu dedo e peço mais um uísque. Estou no bar do hotel desde que o jantar de negócios terminou. Não consigo ficar no meu quarto sozinho e resolvi beber para relaxar um pouco. Encaro meu celular. Minha vontade é de ligar para ela ou agendar um voo de volta para o Brasil ainda hoje, mas eu não vou fazer isso. Eu não posso ser idiota e ficar nas mãos dela. Eu não sou idiota! Passo a mão sobre o rosto. Eu amo tanto Isabel que é difícil acreditar que chegamos a esse ponto. Será que não teremos sossego? O início do nosso relacionamento foi tão complicado, e conseguimos dar a volta por cima. Isabel é tudo o que eu poderia sonhar. Eu tenho certeza de que ela me ama, ela demonstra isso diariamente, mas achar que estou sendo ciumento e que não tenho motivos para isso é ridículo. Estou imerso em meus pensamentos quando ouço alguém tentando chamar minha atenção. Imediatamente eu me viro para ver quem está me importunando e me deparo com a Francine, em um vestido vermelho vivo, totalmente grudado no corpo, com um decote capaz de atrair o mais santo dos homens. Eu mesmo acabo encarando seu decote por mais tempo do que o adequado antes de encarála. — Oi. — Ela dá um meio sorriso, como se tivesse reparado que eu fiquei fitando seus enormes peitos. Ela começa a mexer nos cabelos, de modo que fica claro que ela está flertando comigo. Seus
cabelos são longos, negros e ondulados e pela maneira como ela fica me olhando, sei que está fazendo de propósito. — Fui até seu quarto levar alguns relatórios e você não estava lá, então imaginei que poderia estar aqui no bar do hotel. Levanto meu copo de uísque. — Estou relaxando um pouco. A senhorita me acompanha? — A hora que você quiser. — Em seguida, ela senta no banco ao lado do meu e pede uma bebida para ela e mais uma dose para mim. — Você parece estar exausto. — É. Estou sim. —Tem alguma coisa que eu possa fazer, Daniel? — Ela pergunta, encostando seu braço no meu de forma insinuante. — Ah, não. Estou apenas pensando em algumas coisas. — Se precisar de alguém para conversar... — Eu agradeço, mas infelizmente terei que resolver sozinho. Aliás, a senhorita fez um excelente trabalho hoje, também deve estar bem cansada. O dia foi cheio. — falo afastando-me um pouco. — Obrigada, Daniel. — Ela sorri e deixa claro que está flertando comigo. — Eu posso ser excelente em várias coisas. É só você permitir que eu terei prazer em lhe mostrar minhas outras especialidades. Eu já havia reparado nas suas investidas e o modo como fica me tocando sempre que pode. Francine é uma mulher extremamente bonita, que é capaz de deixar qualquer homem maluco: é alta, com corpo curvilíneo no formato de um violão. Sua pele morena contrasta com os olhos verdes. É o tipo de mulher que exala sensualidade sem fazer esforço. Tento manter meus olhos em seu rosto, mas é impossível ignorar os seus seios. Porra! Eu giro um pouco o banco do bar e fico de frente para ela. Levanto uma das minhas mãos e com a ponta do dedo coloco o cabelo dela para trás. Ela me encara com a boa entreaberta, e morde o lábio inferior em seguida. Ela se remexe na cadeira e com a mão sobre a perna cruzada, Francine levanta o vestido um pouco, mostrando-me grande parte da sua coxa. Fico excitado diante dos seus movimentos. Caralho! — Eu tenho alguns documentos que quero lhe mostrar, Daniel. Você prefere no seu ou no meu quarto? — Francine, eu não... — Tudo bem. — Ela levanta um pouco as mãos. — Eu estarei no meu quarto se quiser ver
alguns relatórios. — Ela diz sussurrando com seu rosto próximo ao meu. Aperto os olhos e observo atentamente ela se levantar. Ela atrai os olhares dos demais homens do bar e como uma pessoa que sabe do seu poder, caminha de maneira lenta e provocativa. Ajeito-me na cadeira. Sem pensar duas vezes, pego meu celular e disco para Isabel. Toca inúmeras vezes e ninguém atende. Atende, Isabel! Tento mais algumas vezes e o resultado é o mesmo. Talvez ela esteja dormindo. Acabo desistindo e tomo o último gole do uísque antes de ir para o meu quarto. Abro a porta devagar e quando acendo a luz, me espanto com a cena encontrada. Francine está deitada na minha cama, com uma lingerie vermelha. — Eu não aguentei esperar, Daniel. Trouxe seus relatórios. — Ela levanta e recolhe alguns papéis que estão em cima da cama, ficando de lado. Francine desliza da cama, caminha lentamente na minha direção e eu não me movo. Ao se aproximar, ela retira o meu paletó, ficando atrás de mim. Eu fico paralisado. — Você está tenso demais... . Eu deveria mandá-la parar. Deveria. Ela vai a minha frente, levanta o rosto ficando na ponta dos pés. Vira-se um pouco e passa seu nariz e boca sobre o meu pescoço, fazendo-me arrepiar. Fecho meus olhos e fico louco. Sem pensar muito eu agarro sua nunca e beijo sua boca de forma rude. Tento me concentrar, mas a primeira lembrança na minha cabeça é um beijo sedutor no meio da rua, depois de um jantar no Terraço Itália em São Paulo: Isabel. Ela passa suas mãos sobre meu corpo até chegar na minha parte mais sensível. Eu arfo um pouco e ela me empurra para trás. Francine me arrasta com os lábios grudados aos meus, em uma forma selvagem. Chego à poltrona e sento com a respiração rápida. Ela me olha e retira o sutiã, deixando seus seios a mostra, informando que está pronta para mim. Ela me olha com os lábios entreabertos com o olhar transmitindo excitação, enquanto passa a mão sobre seu próprio corpo. Meus pensamentos funcionam de uma forma destrutiva. Essa não é a minha mulher. Francine fica de joelhos na minha frente e lentamente desabotoa a minha camisa branca, e em seguida, ela coloca as mãos na minha braguilha. É nesse momento em que eu ajo por instinto, sem ouvir meu coração.
Capítulo 19 Isabel
Acordo sentindo dor no corpo e uma tremenda dor de cabeça. Espreguiço-me e fico alguns minutos ainda deitada tentando relembrar tudo o que aconteceu na noite anterior. Céus, eu bebi demais! Sento-me na beirada do sofá e a minha cabeça dá voltas. Olho para o lado e em cima da mesinha de telefone está um papel. É um bilhete do Alex: “Espero que tenha acordado bem. Você dormiu como um anjo. Ligarei mais tarde para saber como você está. Alex.” Vou até o quarto e guardo o bilhete junto com a última carta dele no criado mudo. Eu não deveria ter permitido essa aproximação. Onde eu estava com a cabeça?! Ah, eu prometo que nunca mais vou beber tequilas. Nunca mais. Caminho até a cozinha e pego uma garrafa de água. A água gelada alivia minha garganta, mas não meus pensamentos. Respiro fundo. Minha cabeça está explodindo. Lembro de como o Alex me ajudou a chegar em casa ontem à noite e da nossa conversa. Ele foi gentil e não tentou se aproveitar da minha vulnerabilidade. Engulo um remédio de dor de cabeça e vou até o banheiro tomar um banho para tentar desfazer um pouco da ressaca. Tudo o que eu queria era que o Daniel estivesse aqui comigo. Sem ter forças, eu deixo as lágrimas caírem no banheiro.
Capítulo 20 Daniel
Francine abaixa um pouco minha calça e olho em seus olhos. Não são os verdes musgos que tanto amo, os olhos que brilham e refletem o melhor de mim. Não são os olhos do meu amor. Na mesma hora eu travo. — Espera... — Seguro suas mãos. — O que foi? —Isso não está certo.... — Me afasto dela e dou as costas, passando as mãos no rosto. — Você não deveria estar aqui. — Daniel, não se preocupe. A Isabel não saberá que isso aconteceu. A menção do nome dela na boca de Francine faz meu corpo tremer. O que estou fazendo? Eu amo a minha noiva. — Não mesmo, porque nada vai acontecer, Francine. — Daniel... — ela tenta chegar perto e eu a impeço. — Já fomos longe demais. Você é uma mulher linda, extremamente sedutora, mas eu amo a Isabel. Eu a amo tanto que jamais conseguirei fazer isso. Ela aperta os lábios e seu semblante mostra insatisfação. — Difícil de acreditar que não conseguiria fazer nada com uma ereção dessas. Além disso, você também estava flertando lá no bar. É uma pena que você seja tão medroso. — Ela caminha até a mesa, pegando sua roupa e se vestindo. — Eu sou homem, porra! E isso não é medo. É amor. Eu sinto muito que você não saiba o que é isso. — Espero que ela valha a pena. — Ela vale a pena. A Isabel é a mulher mais linda, inteligente e meiga que conheço. Ela desperta o que há de melhor em mim. Francine sai batendo os pés. Sento-me na cama e me sinto culpado. Isso não deveria ter acontecido. Eu não aguento mais essa situação. Levanto rapidamente e minutos depois já estou agendando
um voo para casa. Eu não posso mais ficar um minuto aqui. Foda-se o trabalho. Eu preciso da minha mulher. *** A viagem de volta foi interminável. Passei todo o trajeto pensando em como fui estúpido. Preciso da Isabel. Saí do aeroporto e fui direto para o prédio dela. Mesmo tendo a chave, prefiro bater na porta do apartamento dela. Bato mais uma vez e espero. Seu carro está na garagem, então sei que ela está em casa. — Só um minuto! — Ouço-a gritar. Segundos depois escuto o barulho das chaves e ela abre a porta. Eu não quero ter que ficar longe dela novamente. Nunca. Só de olhar para ela fico sem ar. Ela fica surpresa com a minha chegada e abre um sorriso encantador. — Senti sua falta... — Ela fala baixinho e seus olhos ficam brilhantes. Na mesma hora eu a abraço e consigo sentir o coração dela batendo forte. Beijo o topo da sua cabeça. Solto-a um pouco e a beijo docemente. É o gosto mais saboroso da minha vida. Ter Isabel ao meu lado é tudo o que eu quero. Nada mais importa. Ela está apenas com uma toalha enrolada no corpo e eu sinto a necessidade de tocá-la. Preciso da conexão que temos para apagar os últimos dias. Fecho a porta atrás de mim, e logo minhas mãos estão puxando a toalha do seu corpo. Ela apenas observa os meus gestos, mas é possível reparar que a sua respiração está mais profunda. Eu volto a beijá-la e meus lábios descem até o seu pescoço. Vou dando mordidinhas e passo a língua para prová-la. Sua cabeça pende para trás, e observá-la de olhos fechados e completamente excitada é a minha perdição. Ela puxa minha camisa e cada centímetro do seu corpo está grudado ao meu. Sinto sua pele macia e ela enrola suas pernas na minha cintura enquanto eu nos levo até o quarto. A minha respiração fica irregular e tudo o que quero e preciso está aqui na minha frente. Coloco-a no meio da cama e retiro o restante da minha roupa. Isabel me ajuda a desfazer da calça jeans. Beijo sua boca e engulo seus gemidos. Estar em seus braços é estar em casa. Eu perco o pouco controle que ainda tenho quando sinto que não vou conseguir segurar por muito mais tempo o meu prazer. Tudo acontece de modo desesperador. Eu preciso dela por inteiro, e sei que ela também precisa de mim. Seguro as suas coxas com força e ela me aperta como se não
tivesse o suficiente de mim. Nossos gemidos são uma mistura de desejo com saudades. *** A primeira coisa que vejo ao abrir meus olhos é o rosto perfeito de Isabel. Acaricio seus cabelos, mas ela não se mexe. Apenas o seu peito se movimenta com a sua respiração calma e longa. Na mesma hora eu percebo que terei que contar o que aconteceu em Nova Iorque. Se eu contar, o que vai acontecer? Eu sei que exigi dela honestidade total, mas ao contemplá-la dormindo tão serenamente fico imaginando sua reação. Sento-me na cama e passo as mãos pelo rosto. É melhor eu não contar. Aquilo não significou nada. Respiro fundo e olho para a parede a minha frente, pensando em um modo de não mentir. Impossível. Ou eu omito o ocorrido, ou conto e aguento as consequências. Meu peito dói só de pensar nas possibilidades. Eu errei, mas não posso permitir que nada mude a minha vida com ela. Decidido, não contar a Isabel o meu “quase” envolvimento com Francine. No criado mudo ao lado da cama existe um porta retrato todo personalidade com a frase “Apaixonados um pelo outro”. Sorrio ao encarar essa foto, pois foi tirada enquanto fazíamos caretas em um momento em que estávamos nos divertindo muito. Percebo que a primeira gaveta do criado-mudo está entreaberta e tem a ponta de uma folha de papel saindo da gaveta. Curioso, abro a gaveta e constato que são dois papéis: um parece ser um bilhete curto, em um pedaço de papel qualquer e o outro é uma carta. É a carta do Alex. Por um momento hesito. Sei que deveria confiar na Isabel e respeitar a sua vontade. Olho para trás e vejo Isabel na mesma posição, dormindo. Decido ler o bilhete. “Espero que tenha acordado bem. Você dormiu como um anjo. Ligarei mais tarde para saber como você está. Alex.” O ar falta em meus pulmões. Alex esteve aqui? Levanto sem saber o que fazer. Isabel me traiu com ele? Não acredito que ela teve coragem de fazer isso comigo!
Minha vontade é de acordá-la agora mesmo e ouvir da boca dela que fui um babaca todo esse tempo. Eu acabo indo para a sala, decidido ler a porra da carta. Ainda de pé, abro o papel e leio.
(...) Eu te amo, Bebel. Sempre te amei e sempre amarei. Estou voltando ao Brasil no verão, então achei que seria justo te avisar com antecedência. Espero que seja tempo suficiente para você entender que eu fiz tudo isso para te ver feliz. Eu quero você para mim novamente, quero que pense na vida em que ainda podemos ter. Eu quero recuperar todo o tempo perdido. Estou estável e pronto para recomeçar uma vida com você ao meu lado. E eu vou, Bebel, vou passar a eternidade lutando para que você me perdoe e ame novamente com a mesma intensidade que um dia me amou. Eu havia te prometido que levaria nossos filhos naquela ilha deserta. Eu irei cumprir.
Eu te amo para todo o sempre, Bebel.
Alex Simonelli
Filho da puta, desgraçado! – grito tão alto que é impossível que a Isabel não tenha acordado. Dói saber que a Isabel me traiu. Eu disse a ela que não competiria com o seu passado, pois era ridículo. Mas a verdade é que não existe competição, pois nesse jogo, eu perdi antes mesmo de participar. Sento-me no sofá e fico aguardando que Isabel venha tentar explicar o que não tem necessidade. Explicar o inexplicável.
Capítulo 21 Isabel
Acordo assustada com o grito do Daniel vindo da sala. Levanto rapidamente e corro para lá. — O que aconteceu? Daniel está segurando alguns papéis e me encara de um jeito assustador. Eu só vi essa expressão uma única vez, quando ele descobriu que não era o pai do filho da Marcela. Ele dobra as folhas e coloca sobre a mesinha ao lado. — Você esteve com ele? Ainda meio tonta de sono, eu começo a entender o que está acontecendo. Quando começo a raciocinar direito, sinto um misto de fúria e pavor. — Eu não acredito que você mexeu nas minhas coisas, Daniel. — Você não respondeu a minha pergunta. — Ele pega novamente um papel e abre. — Isso te ajuda a relembrar, Isabel? Meu Deus, ele leu até o bilhete de ontem!Fecho os olhos para tentar organizar meus pensamentos e uma lágrima desliza pelo meu rosto. Eu o conheço bem, e sei que ele está procurando briga. Não importa o que eu diga nesse momento ele tentará distorcer. Daniel tirou suas próprias conclusões e não vai me deixar explicar. — Daniel... — Porra, Isabel! Você ainda me pede para confiar em você? Eu só posso ter cara de otário, não é possível. Bastou ele voltar e escrever juras de amor que você abre as pernas para ele? — Como é que é? — Isso mesmo que você ouviu, porra! —Eu não acredito que estou ouvindo isso de você. Eu exijo respeito! — Você não se deu o respeito quando foi para cama com esse doente quando eu estava fora. — Eu não fui para cama com ele, Daniel! — grito ainda mais alto do que ele, tentando chamar a sua atenção. Ele ri. Não sua risada feliz, mas um som de deboche, como se estivesse falando com alguém
estúpido. — Poupe-me das suas ladainhas. — Eu o encontrei, mas não aconteceu nada. Aliás, foi bom porque eu percebi que o meu amor por ele é diferente do que sinto por você. É com você que eu quero viver a minha vida inteira. — Chega! — Não adianta, não é? Você vai fazer a mesma coisa que fez quando descobriu que não tinha contado sobre o filho da Marcela. Vai me ignorar e tirar suas próprias conclusões. — Eu jamais vou te perdoar, Isabel. Fecho os olhos e respiro fundo. Isso só pode ser um pesadelo. Eu não posso estar perdendo o amor da minha vida. — E eu não vou te perdoar por você não acreditar em mim, Daniel. Eu te amo. Amo tanto que não tem como comparar você ao Alex. O meu amor por você vai além do que imagina. — Chega. Eu não preciso mais ouvir suas mentiras. Vai dizer que ele não dormiu aqui? Que ele não dormiu com você? — Vou. Por que essa é a verdade. Eu estava mal ontem no Jonny’s e ele apenas me trouxe... — Ah, então está explicado o seu sumiço. Você estava mesmo mal com as nossas brigas, hein! — Eu fui porque a Luci e o ... — Para! Porra! Para de falar mentiras. Não adianta desmentir o que está escrito ali. Levanto meus braços. Em meio ao desespero eu choro e não consigo parar. — Eu te amo, Daniel. Eu te amo... Ele volta para o quarto para terminar de se vestir. Sem pensar muito, eu entro na sua frente e seguro seus braços aos prantos. — Por favor, Daniel, não vá embora!Eu só quero você! — Me solta, Isabel. — Ele se desvencilha. — Acabou. — Não. Olha, ele me prometeu que não vai atrapalhar nossa vida, por favor... por favor... — Peço inúmeras vezes, perdendo meu controle. — Você é patética, Isabel. Por isso não queria me mostrar a carta. Nossa, até cheguei a ficar emocionado. Para um doente mental, ele é bastante sentimental — Daniel debocha. — Daniel, me ouça. Ele olha para baixo, com total desprezo sobre mim. Respiro fundo e tento me recompor. — Não vai embora. Eu te amo. — sussurro. — Nosso casamento é daqui a dois meses...
— Que casamento? Você está louca? Acabou! Não vai ter casamento algum. Eu sempre fui seu passatempo! Agora que o amor da porra da sua vida voltou, case-se com ele! — Não fale isso. Eu só quero você! — E eu me sentindo culpado. Eu sou mesmo um idiota! — Ele fala rápido, mas consigo entender perfeitamente. — Culpado? Daniel me encara e percebo que algo de muito ruim aconteceu. — Daniel... Culpado de que? — Eu beijei a Francine. Ele está desviando o olhar, e nesse instante eu sei que não foi apenas um beijo. A maneira como Daniel reage indica que ele está mentindo. Eu quero falar alguma coisa, mas não saí nenhum som da minha boca. Não consigo acreditar que ele me traiu. — Você... — É isso mesmo! Mas não continuei e sabe o motivo disso? Porque eu te amava. Assim que aconteceu eu me senti horrível e tentei falar com você... Ah, eu não preciso explicar porra nenhuma! — Não? — o filho da puta destruiu tudo o que construímos e ainda acha que está certo! — Eu deveria imaginar, não é?! Você traiu Marcela sem hesitar e depois de uma briga, você me traiu também. E o pior de tudo é que tem a cara de pau de ficar me acusando ao mesmo tempo em que age como se estivesse certo! — berro gesticulando, sob os olhos atentos dele. — Eu não beijei o Alex e muito menos fui para cama com ele, seu idiota! — Eu não acredito! — Foda-se! Você destruiu tudo! Vai transar com a puta da sua secretária! — É isso que vou fazer! Com ela e com quem eu quiser. — Ele termina de calçar os sapatos e me deixa sozinha no apartamento. Eu acreditei que o nosso amor fosse inquebrável, mas me enganei. Os meus sonhos são apenas isso. Sonhos. Sem ter como impedir isso, eu deixo meu corpo cair no chão e coloco para fora toda a minha dor.
Capítulo 22 Isabel
Um mês depois Promessa é feita para ser cumprida, ainda mais quando ela é feita a si mesma. É burrice negar algo que você tem ciência que é o melhor a ser feito. E com essa frase em mente eu sigo em frente. Eu havia aprendido minha lição. Não iria desmoronar outra vez. Eu analisei tudo o que aconteceu e cheguei à conclusão de que ambos erramos. Poderia ter lidado melhor com a insegurança do Daniel, mas ele também foi cruel. Quanto mais eu penso na nossa última conversa, tenho certeza de que a traição dele foi a maneira que ele encontrou de me punir. Ele sabia que eu tinha ciúmes das insinuações da Francine e ele desdenhava, dizia que era coisa da minha cabeça, sem levar em consideração os meus temores. Depois de tudo o que aconteceu com a Marcela, Daniel sabia que meu maior medo era que ele me traísse como ele fez com ela. Demorou muito tempo para que eu conseguisse me sentir segura sobre isso. E no final das contas, ele me traiu. Muitas pessoas acham que se não teve sexo, não foi traição. Mas eu não vejo assim. Quando você se compromete com alguém, não é apenas o fator físico, mas também o emocional. Todo mundo é tentado. Existe um momento durante um flerte ou uma paquera que as pessoas sabem que algo vai acontecer. Ele pode durar apenas um milésimo de segundo, mas ele existe. E é nesse momento em que você decide se vai seguir em frente ou não. E o Daniel seguiu. Quando ele fez isso tudo o que passamos juntos perdeu o valor. Não existe um “não significou nada”. Se ele foi capaz de beijar outra pessoa foi porque naquele instante, o beijo valia mais do que todo o nosso relacionamento. Se eu fiquei tentada em beijar o Alex? Sim, fiquei. Seria tão fácil dizer que tinha tido uma recaída e usado toda nossa história como desculpa, mas eu não fiz isso. A nossa conversa teria que ocorrer de uma maneira ou de outra e eu coloquei todas as cartas na mesa: falei que estava comprometida, que amava o Daniel e que o Alex tinha que se afastar. O que mais eu poderia ter feito? Até mesmo quando estávamos no mesmo bar, eu sentei em outra mesa e nem ao menos o cumprimentei. Eu não cedi aos “momentos” que tivemos. Nem quando estava bêbada. Acho que isso diz muito dos meus sentimentos pelo Daniel. Infelizmente, as atitudes dele também dizem bastante. Trabalhar no mesmo local que o ex é insuportável. Daniel nem olha na minha cara e é o maldito presidente da revista. O modo como me ignora, até mesmo nas reuniões, simplesmente acaba comigo. Pelo menos ele teve a decência de mandar a cretina da Francine embora e agora circula por todo o edifício acompanhado de uma ruiva alta. Nosso casamento estava marcado para o próximo mês e eu tive que cancelar tudo. Além da dor de cabeça que é lidar com vários fornecedores, ter que explicar o real motivo para cada um e
encontrar seus olhares de pena ou um “Ah, querida, sinto muito que não deu certo” iria me enlouquecer. Graças a Deus pelas gêmeas e pelo meu pai. Os três me ajudaram com tudo. Meu pai ficou arrasado, mas tentou não demonstrar. Ele percebeu que eu não iria desmoronar e ficou aliviado. Eu me senti mal por causa disso. Saber da sua aflição só me deixou mais decidida em seguir em frente. Acho que posso riscar casamento da minha lista... Alex me ligou algumas vezes, mas não atendi a nenhuma de suas ligações. Depois de um tempo, ele percebeu que eu não queria falar com ele e cumpriu sua promessa de permanecer longe. Ainda nos esbarramos de vez em quando, pois os amigos fazem questão da sua presença nas saídas de sexta-feira à noite, mas não conversamos. Ainda sim eu sei que em todas às vezes ele me observa. *** O dia de hoje parece não ter fim. Entre editar fotos e inúmeras reuniões sobre futuros projetos, mentalmente agradeço por não esbarrar no Daniel. Tenho medo de que não seja forte o suficiente e que acabe presa em um ciclo de dor e traição. Para comemorar a volta do Caio, que ficou alguns meses em Brasília, combinei com as gêmeas a noite da pizza no meu apartamento. Chego em casa tarde e só tenho tempo para tomar um banho rápido e colocar um cd do Dave Matthews para tocar antes da campainha tocar. — Oi! — Três vozes falam ao mesmo tempo: Luci, Lua e Caio. Os três me abraçam ao mesmo tempo e imediatamente me sinto grata por tê-los por perto. — Prima, eu estava com saudades! — Você é um abandonador de primas, Caio. — brinco. — De amiga também. — completa Lua, enquanto entram no apartamento. — Ah, o amor falou mais alto. — murmura ele. — Amor? — Não foi bem amor, já que o lance acabou, mas foi bom enquanto durou. — Eu queria ser assim como você, Caio. Desapegado, sabe? — digo. — Não me olha com essa cara de tristinha, que eu já estou sabendo dos acontecimentos. Quer falar sobre isso? — pergunta Caio, segurando minha mão e se sentando comigo no sofá. Apenas nego. — Então, vamos apenas fofocar, ok? — fala Lua. Pedimos a pizza e ficamos conversando sobre outras coisas. Caio conta da sua aventura sexual em Brasília com um menino um pouco mais novo que ele, mas que estava pegando demais no seu pé e
por isso veio embora. Lua torce a boca em reprovação dizendo que se fosse com ela nada disso aconteceria. Gargalhamos em diversas ocasiões. — Falei com a Sabrina hoje. — conta Caio. — Como ela está? Faz algum tempo que não trocamos e-mails. — Ela está bem. Está abrindo outra loja de tatuagem em Orlando e parece estar feliz. — Que ótima notícia. Sua irmã merece toda a felicidade do mundo. — Merece sim. Aliás, estou indo visitá-la daqui a três semanas. Estejam avisadas, ok? Quem sabe eu não encontre um americano bonitão ou... — Ele olha para Luana, provocando. — Uma americana peituda. Lua faz careta e ri. Caio agora não esconde mais sua opção sexual, ou melhor, suas opções sexuais, uma vez que sai com mulheres e homens. Sabrina, irmã de Caio, está em Miami já faz alguns meses, desde que resolveu refazer sua vida longe da sua mãe, a megera da tia Silvia. Antes de ir, ela me contou toda a verdade sobre a paternidade do filho da Marcela. Trocamos vários e-mails nesses meses e Sabrina sempre tinha novidades. Fico feliz demais em saber que ela está seguindo em frente. — Ei! — falo com uma ideia que ressurgiu do nada. — Eu acho que vou com você. — Para Miami? — Questiona Luci. — Sim! O que acha, Caio? A Sabrina sempre me convida e acredito que vai ser ótimo fazer uma viagem. — Eu acho uma excelente ideia, se não fosse o trabalho eu juro que iria com você — diz Luci, animada por mim. — Vocês são uns sacanas. Eu tenho um desfile para apresentar em Porto Alegre, maldade isso. — Eu não acredito! Isabel Maia vai sair da toca? — grita Caio. — Mas e o trabalho? — Eu iria tirar férias mês que vem, então posso tentar adiantar algumas semanas dependendo de quando iremos embarcar. Eu tirei passaporte por causa da viagem de lua de mel que faria com Daniel pela Europa... — Meu coração se contrai, ainda é difícil acreditar que isso não irá acontecer. — E iríamos passar uns dias em Nova Iorque, então o meu visto está em dia. — Que maravilha! Eu vou amar ter a sua companhia e Sabrina também. Ela sempre pergunta por você. — Você precisa mesmo disso. Respirar novos ares... — fala Luci. — Bom, o papo está ótimo, como sempre, mas eu preciso ir. — Ah, já? — reclama Luana. — Já, Lua. Jonathan deve estar chegando. Ele trabalhou até tarde e disse que passaria aqui antes de ir para casa.
— Vai dormir com ele? — pergunta o Caio. — Claro que sim! Ainda mais agora que ele é meu noivo! — Com um noivo desses, eu jamais sairia de casa novamente. — Caio fala e todos nós caímos na gargalhada. Assim que Luci vai embora, terminamos de comer a pizza. — Jonathan é um fofo, não é? — fala Lua. — É sim. — O homem que toda mulher pede a Deus. — Completa ela. — Você não se arrepende um pouco? Franzo o cenho. — Que pergunta besta, Lua. Não me arrependo. Eu nunca gostei do Jonathan dessa forma e ele sempre mereceu uma mulher como a Luci. Ela ri um pouco. — Você tem razão, eles se completam. A noite termina ao som de Mercy de Dave Matthews e com um frio na boca do estômago. Miami que me aguarde! *** O dia começa normalmente, mas estou na expectativa. Avisei a Sabrina por e-mail que irei junto com Caio para Miami, e ela respondeu quase imediatamente, animada com a minha inesperada visita. Ela perguntou se Daniel iria e escrevi em caps lock SOMENTE EU E O CAIO. Acho que ela entendeu. Entro na revista para mais um longo dia de trabalho. O carro do Daniel não está na garagem, o que é muito comum ultimamente. Ao subir os degraus e abrir a grande porta de vidro eu me deparo com a vadia da Francine. O que ela faz aqui? Ela caminha na direção da porta, exibindo suas longas pernas, em um tubinho preto tão grudado no corpo que posso jurar que seus peitos estão quase pulando para fora. Ela dá passos como se desfilasse em uma passarela e os olhos masculinos da recepção seguem cada movimento dela. Cretina! Eu desvio o olhar e passo por ela fingindo que não a vejo. — Isabel? Paro e fecho meus olhos com raiva, virando-me devagar. — Francine.
Ela retira os óculos escuros do rosto e os coloca em cima da cabeça. Seus olhos são grandes e me fazem lembrar aqueles personagens de anime. — O que faz aqui? — pergunto meio grosseira. — Pelo seu tom eu acho que o Daniel contou o que aconteceu em Nova Iorque, não é? Apenas cerro meus olhos. — Eu sabia que ele era um idiota manipulado pela mulherzinha, mas não imaginava que fosse um bundão. — Ele é os dois. Ela sorri mostrando seus dentes exageradamente brancos. A nossa conversa está sendo o centro das atenções na recepção, mas tudo o que consigo reparar são os homens olhando em uma direção: a bunda de Francine. — Eu vim assinar uns documentos que ficaram faltando... — Ela levanta um papel. — Da demissão. — Então, adeus. — Me despeço e começo a andar, mas ela agarra meu braço e imediatamente puxo de volta, e eu estou pronta para atacar. — Acalme-se Isabel. Paz e amor, ok? — Ela levanta dois dedos. O indicador e o médio e fica com um sorrisinho nojento nos lábios. — Eu precisava te falar uma coisa. — Eu não quero ouvir suas merdas, Francine. — Daniel é o homem mais covarde que conheço. Jesus, Maria, José, eu deitei nua na sua cama. Olho novamente para o lado. Ela estava falando mais alto do que eu gostaria. — isso é ridículo. — E ele simplesmente não deu conta do recado, se é que você me entende. — Ela ri ainda mais e o polegar dela aponta para baixo. Essa mulher adora usar os dedos. Isso é sério?! A vadia está conversando comigo como se eu fosse amiga de longa data, e ainda por cima contando histórias sobre o Daniel. — Não nego que ele é gostoso demais. Seu beijo... — Eu percebi seu modo piranha assanhada no primeiro dia que a vi, Francine. — Ei, eu estou falando numa boa com você. — Essa não foi sua intenção desde o início? Dormir com ele? — Quem não iria querer dormir com ele? Desculpe garota, o bofe é uma loucura, mas, não passa de um animalzinho adestrado. — Não entendi.
—Você o domou. E eu que achava que os homens, principalmente os casados... — Ela enfatiza. — Não resistissem a uma secretária sexy. — Deve ter sido uma decepção pra você, não é? — Foi mesmo. Ainda mais do que a própria demissão, mas eu não te chamei para isso. Levanto as sobrancelhas. O que mais ela quer me falar? — Eu quero dar os parabéns. — Como é que é? — Por ter domado o seu homem direitinho. Eu jurava que você sendo tão pequenininha desse jeito e com essa cara de santinha do pau oco não tivesse naipe para isso, mas me enganei. É nessas horas que se usa a expressão clichê: As aparências enganam. Eu gostaria de pegar umas dicas, talvez um dia... — Você só pode estar de brincadeira! — Ela é louca. — É que isso é tão raro. — Isso se chama outra coisa, Francine. É amor. Por mais que ele seja um babaca egoísta, precipitado e um cretino, eu o amo. — Merda, agora eu estou desabafando com a vadia. Eu mereço! — Bom, isso é entre vocês dois, garota. Agora preciso ir. Só tinha que te parabenizar pelo trabalho bem feito. Você é danada! Franzo meu cenho, sem acreditar na conversa louca que acabei de ter. Ela dá um beijo no ar e se vira, voltando a desfilar graciosamente sob os olhares dos tarados da recepção. Fico na recepção por um tempo, absorvendo o que aconteceu. Francine foi direta e não tem medo de dizer o que pensa. Se ela não fosse uma vadia que tenta dormir com homens comprometidos, poderia jurar que ela se encaixaria muito bem no nosso grupo. É, as aparências às vezes enganam.
Capítulo 23 Daniel
Alguns dias depois... Acordo após mais um pesadelo. Percebo o suor escorrer pelo meu corpo e vou até o banheiro jogar uma água no rosto para me acalmar. Encaro meu reflexo no espelho a minha frente. Desde que terminamos, meus pesadelos giram em torno da Isabel. Todos eles terminam com a Isabel me abandonando e eu ficando sozinho. O pior é quando eu acordo e percebo que não é somente um pesadelo. Os dias estão sendo sufocantes. Nunca pensei que ficaria devastado por alguém dessa forma. Por causa da Isabel eu tive os dias mais felizes da minha vida e os mais excruciantes também. Sua traição me deixou extremamente decepcionado e desacreditado na vida. Nada tem graça. Concentro-me somente no trabalho e diariamente finjo que não a vejo na revista e digo a mim mesmo que não me importo mais com ela. Quem me dera isso fosse verdade. Toda vez que a vejo sinto como se a estivesse perdendo novamente e tenho que me controlar para não correr atrás dela, procurar saber se ela e o Alex ainda estão juntos. Mas não faço nada disso. Destruímos nossos sonhos. Eu posso ter errado, mas ela foi além. Não consigo voltar a dormir então fico esperando o despertador tocar para começar minha rotina. Tomo café da manhã, banho, me visto e vou para o trabalho. Chego ao trabalho um pouco mais cedo do que de costume. Caminho devagar, sentindo o calor infernal que perdura logo pela manhã. Vou cumprimentando os poucos funcionários que já estão por ali e quando viro o primeiro corredor dou de cara com Lúcia, segurando uma caixa e na mesma hora eu fico em pânico. — Onde está a Isabel, Lúcia? — pergunto, sem fingir que não me importo. Ela arranha a garganta e posso jurar que vi um meio sorriso debochado, mas ela continua séria. — Bom dia, Daniel. — Hum, desculpe. Bom dia, é que você está segurando.... então, eu... eu... — gaguejo. — Isabel não pediu demissão, Daniel. Ela ama trabalhar nessa revista, mesmo antes de você comprá-la. Ela só não está aqui.
Franzo o cenho. — Aconteceu alguma coisa? Onde ela está? — Nesse momento? — Ela ajeita a caixa na sua mão e encara o relógio de pulso. — Deve estar pousando em Miami. — Miami? — Sim, ela está de férias. Nosso casamento seria na semana que vem e estaríamos de férias. — Entendi, mas por que o... — aponto para a caixa. — Ah, são algumas máquinas e cartões de memórias que a Isabel pediu que eu pegasse. Quando ela voltar da viagem quer adiantar algumas dessas coisas em casa. Aperto os lábios e concordo. Ela me encara e percebo seu olhar de decepção. Faça-me o favor. A Isabel faz a merda e ela me olha assim? — Eu preciso ir, Daniel. Tenha um bom dia. — Luci... —Eu a impeço de passar. — A Isabel foi sozinha? Ela ri da minha cara! — O que você acha Daniel? Que ela tirou algumas férias românticas com o Alex? — E por que não acharia isso já que... — Ah Daniel, se você soubesse o quanto Isabel te ama, não falaria tanta bobagem. — Ela me traiu! —Você está brincando, né? Não foi você quem foi que pulou na cama da secretariazinha quando pintou uma turbulenciazinha na relação? — Sim! Quero dizer, não. — falo confuso com os seus “inha”. — Eu não fui para cama com ela. Jamais faria isso! Mas quanto a ela, eu vi. — O que você viu, Daniel? — Vi o bilhete que ele deixou, depois de ter dormido com ela. — Eu não deveria nem estar falando com você sobre isso, Isabel não iria aprovar. Ela proibiu a mim e a Lua de vir conversar com você. Na verdade, eu queria conversar e a Lua queria te bater, mas isso não importa. Aquela noite nós estávamos comemorando o meu noivado com o Jonathan. A Isabel não queria ir, mas eu insisti. Precisava das minhas irmãs naquele dia. O Alex apareceu por lá sem avisar ninguém e a Isabel não falou com ele a noite inteira. Não sentaram nem na mesma mesa. Só que eu fui embora mais cedo, com o Jonathan, e a Lua sumiu para ficar com um carinha qualquer. Ela passou mal e ele a levou para casa... — Ela faz uma pausa para respirar. — Enfim, minha amiga jamais trairia você.
— Eu não acredito nisso. — Então eu só posso sentir muito por você. — Ela está com ele, não está? — Não. Ela não está com ele. Ela nunca esteve com ele desde que voltou. Você não pensa? A história deles teve fim. Eles precisavam colocar esse ponto final e ela deixou isso bem claro para ele, pedindo para que não ficasse por perto. Alex é um homem bom e respeita isso até hoje, Daniel. Eles não se falam desde aquele dia. — Eu não... — Alex a ama incondicionalmente. Ele agiu errado, mas a doença que tem é cruel demais. Seus sentimentos são elevados ao extremo e consequentemente suas ações não foram boas. Ela sempre amará Alex, coloque isso na sua cabeça, mas não do modo homem e mulher. Ela só ama você assim. — Luci... — Deixe-me terminar. Eu estava mesmo com vontade de te falar essas coisas, mas sabia que Isabel jamais aprovaria e por isso vim cedinho para não esbarrar com você. Ouço Lúcia com toda atenção do mundo. Respiro fundo e solto o ar de uma só vez. — Pode falar. — Você é idiota demais, sabia? — arqueio minhas sobrancelhas com o seu xingamento. — Você não vê que está perdendo uma mulher incrível? Isabel te ama e você a magoou novamente. — Mas ela... — Isabel sempre te apoiou, esteve ao seu lado no meio de toda aquela confusão. Meu Deus, ela se conformou em ser “a outra” enquanto você hesitava em terminar o seu relacionamento! E quando ela precisa de compreensão você age como se fosse uma criança mimada? Ela não pode fazer nada em relação aos sentimentos do Alex ou ao que ele escreve para ela. Isabel não pode controlar isso. Puta merda, Daniel, você a traiu! Sabia que ela morria de medo que você a trocasse por outra e na primeira oportunidade você foi parar na cama de outra. VOCÊ está empurrando ela para o Alex ou para outro homem qualquer! Se você a ama de verdade, deveria repensar nas suas atitudes. Ela jamais trairia você. Pense nisso. E reze para todos os santos para que a Isabel confie em você novamente. Ela termina a frase e vai embora, me deixando parado e refletindo suas palavras. É claro que Luci irá defendê-la! Ela me traiu com o Alex, não foi?
Capítulo 24 Isabel
Três semanas depois. Pego minhas malas na esteira do Aeroporto internacional Tom Jobim, no Rio de Janeiro, e já sentindo o cheirinho de casa. O sol do início da manhã aponta no horizonte, informando que será digno do Rio 40ºc. Estar com Sabrina e Caio em Miami foi a melhor escolha que eu poderia ter feito. Relaxei, brinquei, sorri, dancei e passeei. Vivi intensamente os meus dias por lá, como se não houvesse amanhã. Não me envolvi com ninguém, mas não foi por falta de oportunidade. Até o Caio me encheu o saco por causa disso, dizendo que eu deveria aproveitar as oportunidades que surgiam. Ver Sabrina feliz me deixou maravilhada. Ela sorriu constantemente e mudou completamente. Parece que saiu de um casulo e finalmente se tornou a linda borboleta que merece. Ela está namorando um americano muito legal e engraçado, chamado Josh. Vê-la sorrindo e planejando o futuro é animador. Não poderia estar mais feliz por ela. O dia do nosso casamento passou, deixando uma dor profunda e pensamentos do tipo “e se”. E se o Alex não tivesse retornado? E se o Daniel não tivesse me traído? Estou com saudades do Daniel. Aliás, nunca deixei de sentir saudades. Levei um tempinho para entender que eu ainda o amo, mesmo depois de tudo o que aconteceu. Só não tenho certeza de que um dia voltarei a confiar nele. Ainda tenho uma semana inteira de férias. Vou aproveitar para caminhar na praia, ir ao cinema, atualizar minha agenda mensal do trabalho e adiantar algumas coisas com os documentos que Luci pegou na empresa pra mim. A primeira coisa que faço ao por os pés no saguão do aeroporto é ver dois pares de olhos animados e saltitantes me esperando: Luci e Lua. Fico emocionada só de vê-las. Estive ausente por pouco tempo, porém, eu senti falta delas o tempo inteiro, e ver o amor delas por mim é simplesmente comovente. Eu havia avisado que não tinha necessidade delas me pegarem no aeroporto. Caio resolveu ficar mais tempo com a irmã e fiz a viagem de volta sozinha. — Ah! — grita Luana. — Que saudades da nossa Belzita! As duas me abraçam com tanta força que eu quase caio no chão. — Na próxima teremos que ir com você, ouviu bem? — fala Luci.
— Só faltou vocês duas para que a viagem fosse perfeita! Elas me ajudam com a mala pelo saguão e a colocam dentro do carro da Luci. — O que tem aqui dentro? Chumbo? — pergunta Lua, erguendo a mala. — Presentes! Renovei meu guarda-roupa e é claro que também comprei alguns presentes para as minhas gêmeas. — Aí, sim! Vamos logo para sua casa, por que hoje pedimos o dia de folga no trabalho para colocarmos as fofocas em dia. Pedimos comida chinesa em casa e atualizo as duas sobre os acontecimentos lá nos EUA. Conto sobre a nova vida de Sabrina e animação de Caio. — Acho que ele vai acabar ficando por lá. — conto. — Ele não é louco de fazer isso comigo! — exclama Lua. Eu e Luci olhamos na sua direção, meio espantadas com a sua agressividade. Eles se dão muito bem, foi algo como paixão à primeira vista, mas nenhum dos dois comenta porque não estão juntos. — Não é isso que vocês estão pensando! Luci tem o Jonathan e você, Bel, tem o dan... — Eu não tenho mais, Lua. — Para de bobeira! — fala Luci, sentando ao lado da irmã. — Isabel está solteira! — Está nada! Isabel tem dois amores. Você... — Lua aponta para mim. — Pode ser tudo, minha amiga, menos solteira. Aperto os lábios para me impedir de corrigi-la. A verdade é que eu amo duas pessoas de maneiras diferentes, mas não tenho nenhuma delas. — Ele é meu companheiro de balada. Isso não é justo. Eu vou ligar pra ele e dar um sermão daqueles, quero ver se ele não volta. Caímos na gargalhada. Distribuo os presentes para meninas, que amam as peças de roupas, os óculos escuros e os perfumes importados. — Eu encontrei o Daniel lá na revista. — Luci comenta casualmente, enquanto guarda os presentes na grande sacola. — E? — Você tinha que ver o olhar dele quando me viu carregar algumas coisas suas, achou que você estava saindo da revista. Meu coração pulsa mais forte. — Ele te ama, Bel, mesmo sendo um babaca, às vezes. — Completa Luana. — O que vocês iriam imaginar se estivesse no lugar dele? Aquele bilhete insinuava que vocês ficaram.
— Ficamos, mas não desse jeito. Ele só cuidou de mim. — Eu também imaginaria besteira. — fala Luci. Arfo. — Eu pensei em sair da revista. Na verdade, eu decidi sair de lá. — Como assim? Você adora trabalhar lá! — exclama Lua. — Eu tenho muitos clientes no estúdio, então a parte financeira não é o problema. O problema é encontrar com ele diariamente. É doloroso. A nossa história teve fim. Chegou a um limite de desconfiança irrevogável. — Eu não acredito nisso, Belzita. Espero que você pense com muito cuidado antes de tomar qualquer decisão. — Ele me traiu, caramba! As duas ficam caladas, como se tivessem esquecidos desse detalhe. — Vocês estavam brigados, Belzita. Não estou querendo justificar, ele foi um cretino! Mas você sabe como são algumas mulheres hoje em dia, né? Ainda mais quando é um homem bonito como o Daniel... — fala Lua. Reviro meus olhos. — E ele não te falou que foi apenas um beijo? — pergunta. — Foi, mas estávamos juntos. Porra, o casamento seria em poucos meses. — Vocês estavam juntos também quando você ficou visivelmente abalada com a volta do Alex. Não deixa de ser uma “traiçãozinha sentimental”. — conclui Luci. — Você realmente acha isso, luci? Então eu posso avisar ao Jonathan que quando vocês brigarem ele tem passe livre para ficar beijando quantas vadias ele tiver vontade? Que merda! No momento em que eu termino de falar isso, luci arregala os olhos e tenho a impressão de que a magoei. Mas logo em seguida percebo que ela entendeu o que eu quis dizer. Daniel me decepcionou.
*** Acordo assustada e dolorida no sofá da sala, como se eu tivesse dormido a noite inteira em uma posição ruim, mas não. Olho o relógio do celular e percebo que cochilei apenas 2 horas depois que as meninas foram embora, e já passa da meia noite. Levanto lentamente e me espreguiço, me dando conta que as longas horas de viagem me deixaram exausta. Minha cabeça dói e o meu nariz está completamente constipado. Só me faltava essa! Pegar uma gripe na última semana de folga! Argh!
A mudança de temperatura não me fez bem. Fico tentando encontrar motivos para essa gripe aparecer do nada. Miami estava com um clima agradável e o verão do Rio está insuportável. Vou até a caixinha de remédios no armário da cozinha e não encontro nada para gripe. Pego o termômetro, pois tenho certeza de que estou febril. Sabia! No visor do termômetro eu tenho a minha confirmação: 39ºc. Tomo um banho gelado e me visto rapidamente. Só existe uma farmácia que fica aberta de madrugada e ela está a duas quadras de distância do meu apartamento. Coloco um agasalho e vou para a rua. Meu corpo está doendo tanto que caminhar essa pequena distância está sendo uma tortura. Chego à farmácia e tenho certeza que minha febre aumentou. Peço algumas cartelas de antitérmico e descongestionante para o atendente do balcão. Minha aparência deve estar muito ruim, pois ele me pergunta se preciso de ajuda e insiste que eu leve algumas vitaminas também. Agradeço a ajuda e falo que só preciso de uma longa noite entre os cobertores para a febre abaixar e estarei melhor. Ele riu um pouco, afinal estamos no verão. Coloco os remédios na cestinha e caminho até o único caixa aberto na enorme farmácia do bairro. — Isabel? — Ouço uma voz bastante conhecida vinda de trás de mim. Viro-me devagar e vejo Alex com uma cestinha na mão, vestindo uma bermuda verde água e uma camisa branca, como se fosse um dia qualquer de alguns anos atrás. Ele franze o cenho vendo meu estado. Eu devo estar mesmo um caco. — Ei, você está bem? — Alex... — Levanto uma mão, querendo evitar sua aproximação. — Eu só quero voltar para casa, ok? — Viro para o caixa, ignorando-o, e começo a colocar os remédios em cima da esteira, sob um sorriso amarelo da atendente. — O que você tem? — pergunta Alex ao meu lado. — Eu estou com uma gripe forte e precisava de remédios. — falo sem olhar para ele. — Isabel! — Ele me chama meio alto e coloca as mãos em meus braços para me olhar. — Você está fervendo! — O que você está fazendo aqui? Está me seguindo de novo? — Não. Meu remédio acabou e preciso tomar logo pela manhã. Então... — Cinquenta e seis reais e setenta centavos, senhora — avisa a mulher do caixa. Remexo-me um pouco para pegar a carteira no bolso da calça jeans mas Alex entrega seus remédios e o cartão para a atendente e a informa para cobrar as duas contas juntas. — Vou levá-la ao hospital, Bel. — Não. Por favor, eu só quero ir para casa.
Ele digita a senha na máquina do cartão, pega a sacola dos remédios e me abraça. — Venha. Vou levá-la pra casa. *** Alex chama um taxi que nos faz chegar em menos de 5 minutos ao apartamento. — Eu vou preparar um chá pra você e dar seus remédios. — Não precisa. — falo na porta do meu prédio. — Eu agradeço pela sua ajuda, Alex... — Ou prefere que a leve para o hospital a força? Você não está bem, Bel. Não pode passar a noite sozinha nesse estado. Estou tão cansada que nem faço questão de discutir. Assim que entramos no apartamento, ele me ajuda a tirar o casaco e me faz deitar no sofá, enquanto caminha em direção à cozinha. Poucos minutos depois ele volta com uma xícara de chá e os remédios ao lado no pires e um copo de água. — Sente-se para tomar o remédio e eu prometo deixá-la dormir. Engulo os remédios e tomo o chá de menta bem devagar. — Eu queria preparar algo para você comer, mas não tem nada para... — Não tem nada na cozinha. Cheguei hoje de viagem. — Ah. A viagem para Miami. Eu escutei as gêmeas conversando sobre isso outro dia no Jonny’s. — Sem problemas. — fungo. — Eu também soube que você e o... — Alex, por favor. Eu não quero falar sobre isso, especialmente com você, ok? Já foi complicado o bastante ter que lidar com as inseguranças do Daniel por causa do seu retorno e ainda por cima ter sido acusada por ele de abrir as pernas para você como seu eu fosse uma vadia. Sem mencionar o fato de que ele ficou puto da vida comigo e acabou fazendo umas merdas por aí. Alex arregala os olhos e percebo que não deveria ter falado dessa forma. Na verdade, eu não deveria ter falado nada. — Bel, me desculpa. Eu não sabia que... — Cheguei hoje de viagem. — explico, querendo mudar de assunto. — Acompanhada por uma tremenda gripe. — Percebi. — ele sorri, compreendendo que eu não quero mais conversar sobre nada sério. — Não é melhor você tomar um banho gelado? — Eu tomei um antes de ir à farmácia.
— Então você tem que ir para cama, descansar e deixar o remédio fazer efeito. Onde tem um lenço ou uma toalha de rosto? Vou fazer uma compressa de água fria. Ter Alex agindo como antigamente é reconfortante. Ele sempre foi cuidadoso. Mesmo sabendo que não daríamos mais certo como um casal, estar com ele ao meu lado, cuidando de mim, me deixa relaxada, e eu adormeço.
Capítulo 25 Alex
Isabel está dormindo há algum tempo. Terminei de fazer as compressas de água fria em sua testa e agora fico acompanhando o vai e vem da sua respiração. Como eu a amo. Tê-la tão perto de mim faz parecer que meus sonhos se realizaram. Acaricio seus cabelos loiros esparramados no travesseiro, enquanto fico sentado na pontinha da cama, ao seu lado, até que adormeço. *** Sinto algo se mexer ao meu lado. Abro meus olhos aos poucos, sentindo a dor no pescoço por ter dormido completamente torto. — Ei... — falo, percebendo Isabel levantar. — Desculpa te acordar, mas eu preciso ir ao banheiro. Eu poderia perguntar se ela quer ajuda, mas acho melhor não. Recomponho-me e ajeito a cama, para ela voltar a se deitar. Vou até a cozinha e preparo apenas um leite quente com um biscoito maisena, já que a dispensa está vazia. Pego os seus remédios e um copo de água bem gelado, do jeito que ela gosta. Volto para o quarto e a encontro deitada na cama toda enrolada no edredom. Ela me olha um pouco espantada e senta devagar na cama, enquanto eu coloco a bandeja sob suas pernas. — Você precisa se alimentar, Bebel. Ela ergue os olhos da bandeja com a menção do nome: Bebel. Saiu sem eu ao menos eu perceber. — Isabel, me desculpe. — Você não precisa fazer isso, Alex. Não precisa cuidar de mim. — Eu faço questão. Só quero que você fique bem. Como se sente? — Parece que um trem passou em cima de mim. — Tome esses remédios. — Pego o termômetro em cima do criado-mudo e mostro a ela. —
Posso? Ela concorda devagar. Levanto seu braço e encaixo-o para medir sua temperatura. Ela bebe o leite com o outro braço, sem falar nada e come apenas três biscoitos maisena. O termômetro apita e retiro, vendo a marca de 37,5ºc. — Está febril. Mas, logo os remédios farão efeito novamente. Retiro a bandeja de cima das suas pernas e coloco-a no chão. Cubro-a com o edredom macio e sorrio. Para minha surpresa, Isabel sorri também. — É como se o tempo não tivesse passado, não é mesmo? Meu peito se enche de alegria. É exatamente assim que eu me sinto. Fico de pé, apenas olhando seu rosto perfeito, porém cansado. — Sente-se aqui, Alex. — ela bate ao lado da cama. Faço o que ela pede. — Você sabe que isso não está certo, não é? Você não deveria estar aqui. — Bel, foi uma coincidência. Eu jamais imaginaria encontrá-la na farmácia e nunca deixaria você voltar sozinha naquele estado. Ela sorri e me encara. — Foi por esse motivo que sempre te amei. Fecho meus olhos após ouvir isso. É impossível segurar as lágrimas que escapam. Isabel toca o meu rosto e as enxuga. O seu toque é algo que anseio há tempos. Nada é mais reconfortante e maravilhoso do que isso. Ela puxa minha mão delicadamente e me coloca deitado ao seu lado. Ficamos um de frente para o outro, apenas apreciando cada detalhe, cada sentimento de amor que ainda existe ali. — Eu te amo, Bebel. — E eu sempre irei te amar, Alex. Sem parar para pensar nas consequências eu me apoio no cotovelo e junto seu corpo ao meu. Começo a beijar sua testa e sinto sua pele ainda um pouco quente por causa da febre. Para o meu contentamento, ela não me impede. Então, eu beijo uma de suas bochechas, depois a outra. Eu avanço mais um pouco e a beijo nos lábios. A sensação é indescritível. O seu gosto esteve presente em todos os momentos em que estive longe. Seu cheiro, sua ternura, seu toque estão marcados na minha memória e revivê-los é o paraíso. Não me importo com promessas que não estão sendo cumpridas. Passo as mãos sobre seu rosto, para me certificar de que isso é real e não mais um sonho. — Meu Deus, como eu a amo, minha Bebel — murmuro com os lábios grudados ao seu. Ela não diz nada, apenas continua a me beijar no mesmo ritmo. Tiro o edredom que separa
nossos corpos do caminho e devagar retiro a alça da sua blusa. Beijo o seu pescoço e Isabel arqueia suas costas. Vou descendo até beijar toda a extensão da sua barriga, tentando tocar em todo o seu corpo com a boca. Retiro minha blusa e deito-me em cima dela. Tudo acontece devagar, com uma doçura inexplicável. Será que apenas eu sinto que estamos fazendo amor? Nesse momento nada mais importa. O mundo poderia acabar nesse instante que seria o homem mais feliz do universo. *** Isabel adormece em meus braços e fico abraçado a ela, como se quisesse me fundir ainda mais, e nunca mais deixá-la. Aspiro o cheiro de lavanda dos seus cabelos. Eu amo seu cheiro, eu sonhava quase o tempo inteiro com o dia em que sentiria novamente. Acaricio seus cabelos devagar e sinto respiração pesada de Isabel com seu corpo quente e nu em cima do meu. Quando eu a solto um pouco, para poder colocá-la em uma posição agradável, ela se remexe sem acordar, e ajeita as mãos entre seu rosto e o travesseiro. Chego próximo aos seus cabelos e respiro fundo para sentir novamente seu cheiro. Isso é viciante. — Meu Deus, como eu a amo, Bebel. — Eu também te amo, Daniel.
Capítulo 26 Isabel
Espreguiço-me um pouco e sinto que a dor no corpo causada pela gripe persiste. Abro meus olhos devagar e percebo a luz do sol está forte aquecendo metade da cama. Concluo que deve passar do meio dia. Viro-me para o lado contrário e percebo que estou sozinha, nem sinal do salvador de mulheres inofensivas, moribundas e doentes na porta da farmácia. Ainda estou nua com uma fina coberta sob o meu corpo. Sento devagar na beirada da cama e tento ouvir algum barulho vindo da cozinha, ou do banheiro, e nada. Isso não deveria ter acontecido. Embora a dúvida permaneça incomodando a minha mente, é impossível ter pensamentos inteiramente ruins depois de tanto carinho e ternura do Alex. Fecho os meus olhos e ainda sinto suas mãos acariciando meu rosto, meus cabelos, como se o tempo não tivesse passado e os dias de sofrimento tivessem se dissipado. Encaro a janela e respiro fundo, tentando processar o que acabou de acontecer e o que pode mudar depois do que aconteceu. Eu pedi para que ele se afastasse, mas, o destino deu um jeitinho de mostrar que tem o poder de mudar a minha vida em um estalar de dedos. Caminho lentamente até o banheiro, estranhando a ausência do Alex. Precisamos conversar e esclarecer que isso não vai mudar nada. Eu ainda o amo, mas é um amor diferente agora, mais terno. Eu amo o Daniel. Essa simples constatação instala um vazio dentro de mim. Meu Deus, o que eu fiz?! Visto-me rapidamente, pegando um shorts jeans velho e uma camiseta de algodão. — Alex! Alex! Ele não está. Talvez melhor assim. Eu preciso por a cabeça no lugar. Tudo que aconteceu foi lindo, mas foi como se estivéssemos em clima de despedida.
Capítulo 27 Daniel
Assino o último relatório completamente entediado com o trabalho, com a minha vida. Eu estou com pena dos meus funcionários e das pessoas que convivem comigo, meu humor está péssimo e não consigo controlar minha frustração. A nova secretária é péssima, e isso tem me deixado ainda mais nervoso. Conto os dias e as horas para Isabel retornar da maldita férias. As férias que deveríamos ter passados juntos, em lua de mel. Passo mais tempo na revista do que em casa, na verdade odeio voltar para aquele apartamento enorme e ver as coisas de Isabel e não sentir sua presença. É frustrante. Às vezes acho que vou enlouquecer e que só conseguirei manter minha sanidade ao lado dela. Sacudo um pouco a cabeça, tentando dissipar esses pensamentos. Por várias vezes eu tive que me controlar e apertar o botão vermelho do celular depois de discar seu número, principalmente depois que Lúcia veio até a empresa e me disse: Ela jamais trairia você. Meu telefone toca, e me assusto com o toque alto, informando que é uma ligação interna. — O que foi? — Senhor Clark, mas tem um homem que insiste em falar com você... – A minha nova secretária, Amanda, está com receio de me passar os recados. Eu realmente devo estar assustador. — Nem pensar! — Eu disse que é só com horário marcado, mas ele continua insistindo. Falou que é um assunto é pessoal e do seu interesse. Quer que eu chame os seguranças? Bufo alto o suficiente para ela me ouvir. — Desculpe, senhor... — Qual o nome desse sujeito, Amanda? — Alex, senhor. Alex Simonelli. Paro de respirar por um instante. O que o filho da mãe está fazendo aqui?! Esfregar na minha cara que está com Isabel? Eu deveria chamar os seguranças, mas a minha curiosidade é maior. Eu tenho que enfrentá-lo e ter a confirmação que os dois estão juntos, assim posso seguir adiante. — Mande-o entrar, Amanda.
— Oh, sim, claro, senhor. Estou com tanta raiva que bato o telefone. Raiva por ter que encarar o homem que acabou com a minha vida. Amanda abre a porta e eu imediatamente levanto, cerrando os punhos. Nosso primeiro contato não poderia ser pior. Eu em posição de combate e ele extremamente sério. A primeira impressão que tenho é que Alex é diferente do que imaginei. É mais baixo do que eu, seus traços são mais finos e o cabelo está ridiculamente penteado. — O senhor aceita um café, água ou um suco? — pergunta Amanda para Alex. Ele não vira para minha secretária, continua apenas me encarando. — Não precisa, Amanda. Esse senhor não irá demorar muito. Ela assente rapidamente, pede licença e nos deixa a sós. Alex dá cinco passos na minha direção e eu me controlo para não pegar o telefone e ligar para os seguranças, afinal eu não sei muita coisa sobre reações de esquizofrênicos, mas ele apenas estende a mão direita, para me cumprimentar. Olho para sua mão estendida e depois para ele. Ignoro a mão, abro o último botão do meu paletó e volto a sentar na minha cadeira. Estou agindo como uma criança, mas foda-se, ele não é bem vindo. — Hum... — Ele retira a mão. — Posso? — pergunta apontando para a cadeira ao seu lado. Concordo revirando os olhos. Eu não tenho a mínima ideia do que esse cara está fazendo aqui. — Então, Alex, o que faz aqui? — Isabel. Ouvir o nome da minha mulher saindo da sua boca é uma sensação horrível e imaginar quantas vezes ele pronunciou o nome dela é ainda pior. — Não me diga. — debocho. — Daniel, eu vim até aqui para ter uma conversa civilizada, mas se você ficar na defensiva o tempo todo, isso não vai dar certo... — Nada aqui tem que dar certo... — Eu amo a Isabel. — ele diz rapidamente, cortando-me, e sinto sua voz um pouco embargada ao revelar isso. Eu queria falar não me diga novamente, mas achei que ia soar exageradamente infantil. Logo, tive vontade de expressar o que sinto e falar: eu também, mas apenas reviro os olhos bufo, cruzando os meus braços. — Eu a amo tanto que vim aqui conversar com você. — Reparo que ele está inquieto. — Sinceramente eu não estou conseguindo entender. — O meu amor por ela é tão grande que jamais a deixaria sofrer novamente e só Deus sabe a
culpa que carrego dentro de mim. Ela não sabe que eu estou aqui, Daniel. Eu estive com ela... hoje. Ouço com bastante atenção. Esteve com ela hoje? Ela voltou de viagem? — Eu estava disposto a tudo, quando voltei. Estava? — Me poupe disso... — Eu poderia ficar aqui falando dos anos que nós estivemos juntos e de como tudo era bom e perfeito... Sinto vontade de socá-lo. — Mas Isabel jamais será feliz comigo, Daniel. — Ele arranha sua garganta e abaixa um pouco seu rosto, encarando o chão. Eu o encaro e realmente o vejo pela primeira vez desde que entrou na minha sala: suas mãos estão trêmulas e seu olhar está repleto de dor. Fico esperando ele continuar. — É difícil ter que confessar isso... — Ele ergue a cabeça. — Hoje você tem a chance de ter uma vida com ela, porque eu errei no passado. Eu vou morrer me culpando por tê-la feito sofrer, mas não vou carregar a culpa de deixá-la infeliz para sempre. Meu coração acelera freneticamente. Eu estava esperando um confronto épico. — Eu só queria estar por perto dela novamente, entende? Eu sei que Isabel sempre irá me amar. — Ele sorri sozinho, olhando para as mãos por um momento. E sinto vontade de socá-lo novamente. — Mas não sou eu quem ela quer. Ela está sofrendo de saudades, de você. Alex está falando que a Isabel me ama? — Ela ama você e está sofrendo com a separação. — Estamos separados por sua culpa. Você imagina o quanto foi difícil para Isabel se permitir a amar alguém? — Eu posso te garantir que jamais quis que ela sofresse, apenas não consegui continuar minha vida sem ela. Eu precisava voltar e tentar. Isabel é a única mulher da minha vida, Daniel, e sempre será. Ela é doce e sempre... — Eu sei de tudo isso, ok? Ele concorda, sorrindo. — Ela me traiu. — falo, sem pensar muito em como isso soa ridículo, falar que fui traído para o homem com quem a minha mulher me traiu. — Vi seu bilhete na casa dela, perguntando se tinha dormido bem. Vocês passaram a noite juntos. — Não. — Ele fala com a testa franzida. — Naquele dia, Isabel estava mal. Eu me mantive distante, como ela pediu, mas a encontrei no Jonny’s bebendo demais, e as meninas tinham ido embora e apenas a levei para casa em segurança. Apenas isso.
— E você quer que eu acredite que não aconteceu nada? — Não. Não aconteceu nada naquele dia, mas... Ah, eu acho que não tenho mais que falar detalhes, isso não importa mais. Nós não tivemos nada naquele dia. Ela estava sofrendo por você. Isabel nunca te traiu, ela pediu que eu ficasse longe. Ela ama você. Sabia que quando eu fui tentar falar com ela pela primeira vez, Isabel me disse que você era a luz da vida dela? Que você a alcançou quando ninguém mais conseguiu fazer isso? A Isabel não confia em qualquer um e de alguma forma você conseguiu ultrapassar todas as suas barreiras desde o primeiro encontro. Você tem ideia de como isso é raro? Estou paralisado. Por que ele está negando ter dormido com a Isabel? Seria mais fácil para ele deixar que eu acreditasse nisso. Ela não me traiu? — Se você ama aquela mulher, vá até lá e diga isso a ela. Respiro fundo e fico um pouco mais relaxado. — Ela não vai querer me ouvir. Ele sorri um pouco. — Você a conhece de verdade? Ela é a pessoa mais bondosa que você irá conhecer. Ela sofre em silêncio pelas pessoas que ama, e tem uma capacidade enorme de perdoar. Os nossos amigos em comum me contaram a história de vocês dois lá no Jonny’s. Pelo que eu ouvi, ela aguentou muita merda por sua causa também. Eu espero que você perceba tudo isso logo, pois não sei quanto tempo ela irá esperar. Tenho a impressão de que nós dois já a machucamos o bastante. É por isso que eu estou desistindo. Descobri que a minha presença fará Isabel sofrer ainda mais. — Você veio aqui só para dizer que não vai mais atrapalhar nossa vida? — Não. Eu vim te dar um recado também. Aceno com a cabeça, dizendo para ele continuar. Ele se levanta devagar e eu o acompanho. — Isabel merece ser feliz. Eu sei que você não me conhece e muito menos gosta de mim. Acredite, eu também prefiro não gostar de você. Mas quero que você me prometa que fará Isabel feliz e cuidará dela até o fim dos seus dias, assim como eu faria se não tivesse minha doença e não tivesse a abandonado? Eu vejo seus olhos lacrimejarem. — Eu amo Isabel e fazê-la feliz é a coisa que mais quero, eu só serei feliz ao seu lado. Ele ri um pouco com os olhos abaixados, como se dissesse: Eu também penso assim. Alex enxuga uma lágrima dos olhos. — Então, diga que promete. — Eu prometo que farei Isabel feliz, Alex. Ele aperta os lábios.
— Obrigado, Daniel. Era tudo que eu precisava ouvir de você. Ele dá dois passos e estende a mão novamente. Dessa vez eu não ignoro, aperto sua mão cumprimentando sua atitude. Eu não sei se teria essa coragem. Ele assente com a cabeça, vira-se e sai da minha sala lentamente. Um frio na barriga me domina, e eu só tenho uma coisa a fazer. Encontrar a minha mulher, pedir desculpas e cumprir a promessa que acabei de fazer ao seu ex-noivo: fazê-la feliz.
Capítulo 28 Isabel
Eu deveria sair. Respirar ar fresco nesse lindo dia que está fazendo lá fora, mas o desânimo toma conta de mim, mais do que a gripe que aos poucos está melhorando. Eu estou me sentindo culpada, mesmo sabendo que não deveria. Faz muito tempo que eu e Daniel não estamos mais juntos, nem nos falamos mais. Ele terminou comigo, cancelou o casamento e seguiu em frente, mas eu sinto sua falta. Deus, eu sinto muito a sua falta! Sinto falta das suas piadas, da sua forma de falar, dos seus olhos azuis transparentes que me hipnotizam, o modo como ele cantarola minhas músicas favoritas, seu toque, sua risada, seu sorriso de lado, seus beijos... Alex foi gentil e talvez ele tenha reparado que enquanto fazíamos amor foi como se tivéssemos selado o fim da nossa história. Eu quero que ele seja feliz, ele não merece nada além de ser feliz e viver em paz. Sacudo mentalmente esses pensamentos e vou até a cozinha preparar uma sopa instantânea para almoçar na cama, assistindo algum documentário que está passando na televisão. Não consigo me concentrar direito e acabo me perdendo nas explicações, mas é uma distração bem-vinda. Não faço ideia de quanto tempo se passa até eu ouvir alguém bater na porta. Levanto devagar, ajeito meu cabelo que mais parece uma juba de leão e vou atender. Será que Alex voltou para conversarmos? Abro apenas alguns centímetros da porta e a primeira coisa que reparo é naqueles olhos azuis. Respiro fundo, buscando ar, com a pulsação do meu coração nas alturas. Abro a porta de modo que ele me veja por completo. — Oi Isabel, podemos conversar? Ouvir sua voz depois de meses é reconfortante. Eu senti tanta falta. Dou um passo para o lado, segurando a porta, dando passagem para que ele entre. Fecho a porta e faço um gesto para que ele sente no sofá. — Eu só preciso saber de uma coisa, e preciso ouvir da sua boca. Concordo com a cabeça e ele permanece em pé. — Por que você fez isso? — Daniel, eu não fiz nada... —Como me deixou sozinho? Eu não sei viver sem você Isabel.
Fecho meus olhos por tempo suficiente para entender o que ele acaba de dizer. — Foi você quem terminou tudo... — Eu sou um idiota. Céus, eu tinha tanto medo de te perder que acabei ficando cego de ciúmes, mas eu tirei uma conclusão disso tudo. — E qual conclusão você tirou, Daniel? — Que a dor de te perder é infinitamente maior do que qualquer coisa que já senti na minha vida. Eu sou um homem sem alma. — Daniel... — Bel, ouça. Eu preciso falar tudo que está entalado aqui dentro, senão vou enlouquecer. Eu tenho um voo marcado para daqui uma hora e não posso ir e ficar longe por um mês sem que eu consiga te falar tudo, ok? — ele pede, colocando a mão no peito e a outra no bolso da calça e percebo seus olhos brilharem. Vê-lo tão perto de mim, enche meu peito de alegria. — Eu errei. Fui fraco, imaginei mil coisas, tirei conclusões precipitadas, fui egoísta. Eu não me coloquei no seu lugar, porque nunca amei ninguém que não fosse você. Eu tive tanto medo... — E por que percebeu isso só agora? — Na verdade, eu sempre soube. Bel, eu preciso te dizer também que jamais conseguiria ter algo com aquela mulher, ou com qualquer outra. Eu olhei para ela e não senti nada, eu só queria você. Eu sinto um aperto no coração só de pensar nele com a Francine. Tive pesadelos em que inúmeros cenários dos dois juntos não me deixaram dormir. — Eu fiquei tão mal com aquilo. Eu ia te contar, ia pedir para você me perdoar... —Nós dois erramos, Daniel. Fiquei com raiva de você, da sua insegurança, quando eu deveria lhe mostrar que eu estava ao seu lado. Eu errei também. E quanto eu e Alex... — Eu preciso contar sobre a noite que tive com Alex, mesmo a gente ter estado separado. — Eu não quero saber, não quero saber disso. Eu quero que você saiba que eu te amo e preciso que você me perdoe, por ter sido um babaca novamente. — Eu imagino o quanto foi difícil pra você ver Alex voltar... — Eu te amo, Isabel. É só isso importa. Eu quase peguei um avião para ir atrás de você em Miami. Sorrio um pouco. — E eu quase bati todos os dias na porta do seu escritório. — Por que deixamos ficar assim? Por tanto tempo? — ele pergunta baixinho. — Porque somos orgulhosos demais. — Me perdoa, Bel. Eu te amo muito e quero você de volta. — Vejo uma lágrima cair dos seus lindos olhos.
— Eu também te amo, Daniel. O amor nunca foi o problema entre nós dois, mas não podemos voltar agora. — Não? Pelo amor de Deus, Bel! Eu sei que errei, mas não desista de nós dois! – Olhar para o Daniel transtornado dessa forma me machuca, mas não podemos voltar enquanto não trabalharmos a confiança, senão vamos ficar repetindo essa situação avassaladora e eu não aguento mais isso. — Daniel, eu te amo com todas as minhas forças, mas eu não confio em você. Toda vez que brigamos você não me ouve e me abandona. Eu não posso mais lidar com isso. Preciso de alguém que me apoie e que esteja ao meu lado e não que saia correndo toda vez que se irrita... — Bel... — Não, Daniel, é a minha vez de desabafar. Eu entendo que a volta do Alex mexeu com a sua confiança, mas você foi apenas maldoso, não só com as suas palavras, mas com as suas ações. Você sabia que eu não gostava da maneira como a Francine se comportava com você na revista, e por mais vadia que ela seja, não é estúpida. Você em algum momento concordou com os avanços dela na viagem, ou não teriam se beijado. Daniel, você me traiu. Enquanto eu estava tentando manter o Alex longe de nós dois, você estava beijando outra mulher. Você já parou para imaginar o quanto iria doer se eu tivesse feito isso com você? Daniel está andando de um lado para o outro na minha frente. Visivelmente transtornado, ele está respirando fundo e tentando colocar os pensamentos em ordem. A culpa preenche a fisionomia. Ele abre a boca para tentar falar algo, mas sou mais rápida: — Eu não estou falando isso para criar uma nova discussão. Passamos muito tempo separados e pude ver que você não confia em mim também. Estive ao seu lado, te apoiei e tentei conversar com você. Você tem crises de ciúmes que beiram ao absurdo! Até hoje você trata mal o Jonathan e ele está de casamento marcado com uma das minhas melhores amigas! Estou chorando tanto nesse momento que não sei se vou conseguir terminar de falar tudo que eu quero. É um choro que mistura alívio, por ele ter vindo me procurar, dor, pela sua traição e grosseria e desabafo. — Bel, por favor, não chore. Ver você assim acaba comigo. Eu não posso continuar sem você. Vou fazer de tudo para que você confie em mim. É só dizer o que eu preciso fazer! Porra, você não faz ideia de como ver você sofrendo por minha causa está acabando comigo. Eu pensei que você tivesse me traído com o Alex e isso me dilacerou. Mesmo você negando, só a ideia de você estar com outro foi o suficiente para me destruir. Então, eu consigo imaginar como deve ter sido para você saber que beijei outra pessoa. Estava com muita raiva e não conseguia falar com você ao telefone. Eu sei que não justifica minhas ações, mas não tenho outra explicação para o que aconteceu. Acredito que inconscientemente quis te machucar também, pois estava machucado. E só posso pedir perdão por isso. Não tenho como apagar o passado, mas sei que meu futuro é ao seu lado. Fico observando o homem que eu amo e tudo o que consigo pensar é que eu também quero que o meu futuro seja ao seu lado. Só preciso descobrir como conseguiremos seguir em frente com tanta dor no nosso passado. — E se...
— O que, Bel? — E se recomeçarmos do zero? A partir de hoje? O passado vai ficar no passado. Nós começaremos um novo relacionamento hoje. Sou recompensada por um enorme sorriso do Daniel. De alguma maneira, meu coração fica aliviado por conseguir tirar toda a dor que ele estava carregando até o momento. Ele se aproxima e estende a mão em minha direção. — Olá, eu sou o Daniel. Não me aguento e começo a rir. Sua carinha de inocente e o modo como me olha me faz derreter. — Muito prazer Daniel, eu sou a Isabel.
Capítulo 29 Alex
Eu sou maluco! Só posso ter pedido o pouco juízo que tenho. Idiota! Eu a perdi. O que eu fiz? Eu perdi a mulher que amo. Ele a fará feliz, se não fizer eu acabou com a vida dele! Acabou! Ele não irá fazer isso... Ela o ama... mais do que eu... Ele não a abandonou... não como eu fiz... Ela o ama! Estou perdendo a batalha. As vozes da minha cabeça estão me confundindo, me deixando irritado. Consigo perceber isso, mas não sei como fazê-las pararem. Abro a porta do meu apartamento. Em casa eu me sinto seguro, seguro de mim mesmo. — Alex? Meu pai está me encarando de maneira preocupada. Sua testa está enrugada e ele está me seguindo até o meu quarto. —Alex onde você estava? Fiquei louco de preocupação e te procurei em todos os lugares! — Não! O louco aqui sou eu, não você. Sou eu. — bato no meu peito com força. — Sou eu! — Não fale desse jeito, Alex! Onde esteve? Você não bebeu, não é? Sorrio um pouco. — Beber? Você conhece muito bem seu filho, não é? Ah, espera um minuto! Não, você não me conhece porque preferiu ficar longe a minha vida inteira só para me fazer largar a mulher que eu amo. E eu a perdi, perdi para sempre. Eu te odeio! — Nós já conversamos sobre isso, Alex. Agora me diga, onde você esteve? — Quer mesmo saber? Eu estive com a mulher que eu mais amo na minha vida. Eu passei a noite mais maravilhosa em anos e depois disso, pai, eu fui até o seu noivo e falei para ele o quanto ela ama. Porque ela o ama mesmo e jamais será feliz comigo. Eu a perdi, pai! Meu pai me abraça forte, e eu tento resistir por alguns segundos, mas é em vão. Choro em seu ombro com toda a dor do mundo instalada no meu peito. — Você tomou seus remédios? Merda de remédios! Eu não quero remédios! Eu não preciso de remédios! Foda-se os remédios! Sinto que estou perdendo o controle.
Fico com raiva da sua cobrança. Tínhamos conversado sobre isso e ele concordou em nunca me cobrar. Penso nos remédios que acabei esquecendo na casa da Isabel. Dane-se! Eu não quero tomálos. Eu não quero ficar dopado. Eu não quero esquecer a noite que tive com Isabel. — Não me enche! — Eu falei para não voltarmos ao Brasil. Olha como você está alterado! Fazia tanto tempo que você estava controlado. Por que não liga para a Ester? Ela gostava tanto de você... — Você só pode estar brincando, pai! Por que você não arranja outra mulher? — Isso jamais irá acontecer. — É claro que não. Porque a minha mãe é a única mulher da sua vida. Então, entenda de uma vez por todas que Isabel é a minha vida e eu optei em deixá-la para que ela pudesse ser feliz sem mim. Eu tenho uma doença incurável, caralho! Eu posso estar são agora, mas quem me garante quando eu estarei no próximo minuto? Fui embora! Eu a deixei! Voltei por que pensei que talvez pudesse recuperar o tempo perdido e provar a ela que a amo, sempre a amei... Mas o que encontro? Uma Isabel que conseguiu fazer o que eu havia pedido a ela. Ela sempre foi fiel a mim, é óbvio que iria fazer o que eu havia lhe pedido. Ela ama outro! Eu não terei uma família com ela, não terei filhos como sempre sonhamos em ter, não envelhecerei com ela ao meu lado. Eu perdi o meu coração! — Percebo que estou berrando e volto a respirar fundo. Vejo os olhos do meu pai arregalados e logo após os olhos caem como se sentisse pena de mim. Eu não o questiono. Eu também tenho pena de mim mesmo. — Eu sinto muito. — Não. Você não sente. Isso era tudo o que minha mãe e você queriam. Que eu estivesse sem Isabel. Pode ficar feliz, Sr. Renan Simonelli, vocês conseguiram! Saio de perto dele, antes de perder o controle e agredir meu pai. Quando sinto que já não estou no controle do meu próprio raciocínio, começo a ficar agressivo e tento me distanciar de todos, pois não quero machucar ninguém. Bato a porta com toda força do mundo. Encolho-me deitado na cama e ainda consigo sentir o cheiro da Isabel em minhas mãos. Como viver sabendo que perdi minha Isabel para sempre? *** Não sei por quanto tempo acabei dormindo, mas o toque do celular me acorda bruscamente. Piscando no visor vejo o nome da mulher da minha vida: Isabel. Uma parte de mim espera que ela esteja ligando para dizer: Fique comigo. E eu ficaria. Para sempre. Respiro fundo e sinto que ainda tenho mais uma etapa para cumprir. — Oi Isabel. — Boa noite, Alex. Eu queria saber como você está? Você nem se despediu.
— Eu estou bem — minto. — Eu queria mesmo falar com você. — Eu também, por isso te liguei. Você esqueceu seus remédios aqui em casa, então eu fiquei preocupada porque você disse que não tinha mais e... — Eu comprei outros — minto novamente. — Desculpe por não ter me despedido. — Tudo bem. Um silêncio constrangedor se forma e só consigo ouvir a respiração da Isabel do outro lado. — Bebel, você sabe o quanto te amo, não sabe? — Eu sei, Alex. Eu também te amo, mas... — Não precisa explicar. Eu entendo, juro que entendo. Sei que você ama o Daniel e que hoje ele faz parte da sua vida. — Desculpe... Posso jurar que ela está chorando do outro lado da linha. — Não precisa se desculpar, meu amor. — Eu sempre irei te amar. — Eu nunca duvidaria disso. Compreendo que a nossa história de amor foi linda, minha Bebel, mas ela terminou. Isabel funga e agora tenho a convicção que ela está mesmo chorando. Deus, como isso é difícil! Eu queria morrer nesse momento. — Eu sei que te pedi perdão, mas preciso fazer isso novamente. Eu peço perdão por tudo! Eu me arrependo por ter te feito sofrer tanto. — Você também sofreu... — Sofri. Muito. — Eu queria falar que ainda sofro, mas não posso. — Eu já te perdoei, Alex. Você quis apenas que eu fosse feliz. — Exatamente. E eu consegui, não consegui? — Alex... — Ela evita responder e sei que é para não me magoar. Isabel é a pessoa mais doce que conheço, evitaria ao máximo fazer isso. — Não precisa responder, Bebel. Eu sei que sim. Eu queria ficar por perto, mas isso irá somente nos magoar. — Eu não queria que fosse assim. — Nem eu, meu amor, mas eu ficarei bem e sei que você também. Prometa-me, Bel, que mesmo nas situações difíceis na sua vida, você tentará encontrar o lado bom do problema? — Eu prometo, meu amor. Eu prometo que serei feliz. — Isabel continua a chorar.
— Não chore. Eu te amo e serei feliz também, eu prometo — minto mais uma vez. Sei que ela me faria essa pergunta a seguir, apenas quis responder sem ser mais doloroso. — Eu te amo, Alex. — Eu também te amo, minha Bebel.
Capítulo 30 Isabel
Duas semanas depois Dizer adeus a Alex foi angustiante, mas também me deu uma sensação de encerramento. Não o vejo desde aquele dia. Ele não aparece no Jonny’s e ninguém tem notícias dele. Talvez seja melhor assim. Não conseguiríamos conviver sem sofrer, mas sua ausência ainda dói. A nossa história teve fim e irei levá-la comigo para eternidade. Estou passeando no shopping com a Luana quando o meu celular toca: Daniel. — Estou com saudades! — Bel! Céus, como eu queria ouvir sua voz. Como você está, minha princesa? — Estou bem. Lua me intimou para um passei no shopping. Como está sendo o seu dia? — Cheio. Eu não estou aguentando ficar longe de você! — Faltam poucos dias! Lua está revirando os olhos do meu lado, fazendo barulhos de beijos e abraçando a si própria, imitando um casal agarradinho. Tento ao máximo segurar minhas risadas, mas é em vão! — Nós duas estamos indo ao cinema. — Era tudo que eu queria, sabia? Eu, você, filme, escuro... Sorrio e viro um pouco para que Lua não ouça. — Estou pensando em depois do cinema dar um pulinho em uma loja de lingeries. Comprar algumas calcinhas de renda e algumas outras surpresas. O que acha? — Nossa, Isabel. Eu estou andando em uma rua cheia de engravatados e gente esquisita em Nova Iorque e começando a ficar excitado. Não pode ao menos esperar eu esperar chegar no flat? Eu começo a gargalhar ao imaginar a cena. — Então, mais tarde eu te ligo. E se você merecer, eu coloco a lingerie e mostro via webcam. — Isabel, vai para casa agora mesmo! Sorrio novamente.
— Adoro quando você quer mandar em mim. — E você nunca me obedece. Esperarei ansiosamente sua chamada via webcam. Por favor, não demore, não sei se vou aguentar. — Vai sim. Eu te amo. — Eu também te amo. Desligo o telefone com sorriso nos lábios e Lua ri da minha cara. — Que love, hein? Está pior do que era! — Esse recomeço foi a melhor decisão que tomamos. Nunca tivemos a fase do namoro sabe? Onde conversamos bastante, trocamos mensagens românticas e apenas ficamos curtindo um ao outro. Estamos com saudades. — Eu sei como é. — Sabe como é? Lua caminha sem olhar na minha cara e eu sei que tem mais nesse comentário do que ela soltou. — Ei! O que você está me escondendo? — Estou namorando! — Espera um minuto. Lua namorando? Não é possível, você é a senhorita “só quero saber de curtir a minha vida, não quero ficar amarrada com ninguém”! — Ah, dá para ficar feliz por mim? — É claro que sim! Parabéns! Mas quem é o felizardo, ou o louco que vai ter que te aturar? Ela torce a boca e depois volta com o sorriso. — O nome dele é Pierre Labarbarie. — Pierre o quê? — É francês. — Ela revira os olhos. — E onde você arrumou um francês? — Foi em Porto Alegre durante o desfile de moda. Ele é modelo e é francês. Não é perfeito?! — Estou feliz por você. Como está sendo a experiência? Estou dando tanta risada pela expressão furiosa dela. É impagável! — Ah um saquinho, viu! Eu queria que ele estivesse aqui. — A senhorita Luana Santos está apaixonada?! — Para de bobeira, Belzita! Eu estou mesmo, sabia? Ele quer que eu vá morar em Paris com
ele. — Ei! A coisa é séria? Você não pode nos abandonar... digo... É isso que você quer? Fico espantada ao saber que realmente o relacionamento dos dois é sério. Lua já teve pretendentes que a convidaram para viajar e morar junto, mas ela nunca parou um segundo para cogitar as propostas. Mas pela cara dela nesse momento, eu sei que esse tal de Pierre é importante para ela. — Eu falei para a gente ir com calma e tal, mas quem sabe um dia. — Não gosto desse quem sabe um dia... — Pensa. Você terá um motivo a mais para ir à França. — Boba! Fico feliz por Lua, ela merece ser feliz. Eu sempre disse a ela que essa história de não querer alguém fixo era porque ela ainda não tinha encontrado a pessoa certa e aí está minha amiga apaixonada e querendo largar tudo e ir morar no outro lado do mundo. Batemos pernas no shopping, rimos e ela me conta detalhes do Pierre sei lá o que, e faço o que comentei com o Daniel. Após o cinema, renovo minhas peças intimas e tenho certeza que com algumas delas, Daniel irá enlouquecer. Ponto para mim!
Capítulo 31 Daniel
Uma semana e meia depois... Abro a porta do apartamento em silêncio usando a minha chave. Ainda é madrugada e não vejo a hora de deitar ao lado da minha mulher. Estou ansioso. É incrível como a Isabel tem o poder de me fazer tremer e parecer um adolescente, pronto para ganhar a garota. E que garota! As luzes estão apagadas e ouço um barulho vindo do quarto. Bel e sua mania de dormir com a televisão ligada! Largo minha mala no sofá, vou até o banheiro social e tomo um banho rápido para tirar o suor da longa viagem de avião. Enxugo-me com uma pequena toalha e vou para o quarto. Isabel dorme em um sono profundo. É a visão mais linda que tenho nas últimas semanas e meu coração se enche de alegria. Levanto as cobertas no outro lado da cama e entro sob elas, encostando devagar no seu corpo pequeno e quente. — Ah! — ela grita. — Calma, Bel, sou eu. Sou eu, meu amor. Eu voltei. — Ai meu Deus do céu, você quer me matar do coração, Daniel? — Não era bem essa a recepção que eu imaginei quando resolvi pegar um voo mais cedo. Agora que ela está acordando, percebeu que eu cheguei antes do previsto e um sorriso ilumina seu rosto. Quando percebo, ela já está em cima de mim e beijando o meu rosto. — Eu não acredito! Eu te amo, eu te amo, eu te amo! — Agora sim, foi do jeito que imaginei. Nós nos beijamos ardentemente, querendo aproveitar cada segundo para apagar o tempo que ficamos distantes um do outro. — Ei, você está nu, seu assanhadinho? Ela está rindo em cima de mim. Seu olhar excitado imediatamente mexe comigo. — Hum-hum — confirmo. Aparentemente eu perdi a minha capacidade de falar. — Acho que o natal chegou mais cedo e o meu presente não veio embrulhado... – Porra, o modo como ela está mordendo os lábios só pode ser para me provocar!
— Bel... — Sem problemas, bonitão. Será menos uma coisa a ser feita antes de eu matar as saudades de você. Sorrio como um bobo. — Então acho que vai demorar no mínimo um mês para matarmos a saudades. O que acha da gente ficar preso aqui nessa cama, até mês que vem? — Eu acho uma excelente ideia. Eu seguro sua cintura e a viro de costas na cama. — Eu preciso beijar cada centímetro de você. Agarro suas mãos e Isabel fecha os olhos. Beijo um dos seus olhos, depois o outro. Beijo a ponta do seu nariz e cada uma das bochechas, lentamente. Beijo os seus lábios e ela me beija também. Céus, como amo sua boca contra a minha! Adoro sua suavidade, amo os pequenos sons que ela faz quando a toco. Desço um pouco e beijo seu pescoço, entre seus seios e toda extensão da sua barriga, fazendo-a arquear. Nesse momento eu estou louco de tesão. — Você tem alguma noção do quanto é linda? Seus olhos estão semicerrados demonstrando sua excitação. — Só quando você está me olhando dessa forma. Subo novamente e coloco uma das minhas mãos em sua nuca e a outra em sua cintura, sem desgrudar seus lábios dos meus. Nossas respirações estão rápidas e sinto seu corpo tremer. Agarro sua camiseta pela barra e a puxo para cima, separando nossos lábios apenas por milésimos de segundos. Eu havia planejado beijar todo o seu corpo, mas a intensidade dos nossos beijos é tão grande que logo estamos eufóricos por estarmos conectados. Entre o movimento suave do meu corpo dentro dela e suas súplicas, me sinto o homem mais fodidamente feliz do planeta. Uma onda de alegria invade meu corpo e rapidamente me passa um pensamento reconfortante: o momento mais feliz da minha vida foi quando Isabel surgiu. Ter ela de volta da minha vida pela segunda vez, me torna o homem mais sortudo do universo. *** — O que vai mangiare, amore mio? — pergunto, depois de nos acomodarmos na mesa do restaurante italiano para jantarmos. Permanecemos o dia inteiro na cama, nos curtindo fazendo amor e conversando. Foi tudo tão intenso que nem nos demos conta que não havíamos comido nada durante todo o dia.
Pedi para que Isabel sentasse ao meu lado e não na minha frente, pois não consigo parar de tocá-la. Ter a mesa entre nós dois é insuportável no momento. Acaricio suas mãos e beijo seus lábios, sua bochecha quantas vezes eu sinto necessidade. Essa mulher é minha. Ela sorri envergonhada e o corar do seu rosto é a coisa mais excitante que existe. — Surpreenda-me, senhor Clark. Ela aguarda a minha resposta enquanto prova o vinho recém-servido. — Escolho uma lasanha à bolonhesa, pois eu sei que é o seu preferido. O sorriso que recebo por saber sua comida preferida me faz sentir o homem mais importante do mundo. Eu a amo por isso. — Bel, eu já disse o quanto você fica sexy enquanto bebe vinho? — Apenas um milhão de vezes. — Então, acho melhor você parar de fazer isso em público, senhorita Maia. Isso é atentado ao pudor, contra mim e todos os homens nesse recinto. Ela gargalha alto, jogando a cabeça um pouco para trás. — Não quero que você saia da minha vida, Bel. Nunca mais. — Eu também não quero, meu amor. — Nós estamos recomeçando, então nada mais justo do que eu fazer tudo corretamente. — Como assim? — Começando por... Aceno com a cabeça rapidamente para o garçom e em questão de segundos três violinistas aparecem a nossa frente tocando Vivo por Ella do Andrea Bocelli. Ela se assusta e coloca a mão na boca, espantada. Eu levanto da cadeira e fico de joelhos a sua frente. Isabel fica sentada olhando para mim enquanto pego a caixinha revestida em camurça e abro. Seus olhos brilham ao ver o anel. — Você aceita se casar comigo, Isabel Maia? — É tudo o que eu mais quero nessa vida! Os seus olhos estão brilhando de lágrimas não derramadas e sua felicidade me fazer feliz. — Eu poderia te pedir em casamento todos os dias. Eu quero tanto estar com você que se pudesse casava agora mesmo. — E quem disse que não podemos? Ela levanta a mão esquerda ao invés da direita e me oferece. Eu pego o anel de brilhantes da caixinha e encaixo no seu dedo. — Eu te amo, Daniel.
— Eu também te amo, senhora Clark. O jantar foi maravilhoso. Surpreender Isabel se tornou o meu esporte favorito. Ela fica o tempo todo encarando o anel e falando palavras de carinho no meu ouvido. Saímos pelas ruas rindo. Optamos por caminhar, pois o apartamento da Isabel fica a apenas duas quadras de distância. A noite está perfeita. A lua cheia parece um farol indicando nosso caminho e as ruas estão silenciosas. Caminhamos de mãos dadas e virando a esquina ouvimos uma música vinda de um dos apartamentos que estão ao nosso redor. — Ah, eu amo essa música. “Ainda bem” da Vanessa da Mata. Isabel para por um instante, fecha os olhos e canta baixinho. — Dança comigo, senhora Clark? Ela sorri. — Aqui? — Por que não? — Você é louco, sabia? E eu amo isso. — Sou louco mesmo. Louco por você, minha princesa. Pego sua mãos e junto lentamente seu corpo ao meu. Ela deita sua cabeça em meu peito enquanto a música ecoa. Ainda bem Que você vive comigo Porque senão Como seria esta vida? Sei lá, sei lá Se há dores tudo fica mais fácil Seu rosto silencia e faz parar As flores que me mandam são fato Do nosso cuidado e entrega Meus beijos sem os seus não dariam Os dias chegariam sem paixão Meu corpo sem o seu uma parte Seria o acaso e não sorte
Neste mundo de tantos anos Entre tantos outros Que sorte a nossa, hein? Entre tantas paixões Esse encontro Nós dois Esse amor
Entre tantos outros Entre tantos anos Que sorte a nossa, hein?
Entre tantas paixões Esse encontro Nós dois Esse amor Sinto o pulsar do seu coração. A cada batimento eu a amo mais. A cada segundo ao seu lado, eu me apaixono um pouco mais. E jamais, em toda a minha vida, me cansarei disso.
Capítulo 32 Alex
Atravesso a rua sem olhar para os lados. Simplesmente continuo a andar como se nada mais me pudesse fazer mal. Tento usar o meu lado racional e analisar que estou me colocando em perigo, mas o meu outro lado apenas não liga para isso. Nada mais importa. Deveria voltar para casa e tomar os remédios. Eu ainda tenho consciência disso. Mas no mesmo instante em que a ideia passa na minha cabeça, fico furioso, xingando sem parar e praguejando sobre ser controlado e que merda nenhuma mais importa. Foda-se todas aquelas besteiras. Foda-se aqueles remédios idiotas! Eu não quero ficar em casa. Sinto-me preso com um carcereiro ao meu redor. Meu pai anda meloso demais. Não dá para mudar um sentimento de uma hora para outra. Isso é patético. A certeza de que perdi Isabel tem me isolado. Fico buscando forças para recomeçar e me reconectar com o mundo novamente. Eu já havia feito isso, mas agora é diferente. Eu a perdi por culpa minha e ela ama outro. Você é um perdedor imbecil! Ninguém te ama! Ela está dormindo com outro homem! Sacudo a cabeça para tentar abafar as vozes e acendo um cigarro. Até pouco tempo atrás eu não fumava, mas isso se tornou um vício que eu não consigo largar. Um cara que conheci em no bar me ofereceu e eu precisava de algo para relaxar. Eu odeio o cheiro. Minha pele está exalando nicotina, mas nem isso é capaz de me fazer largar o cigarro. Essas últimas semanas foram desesperadoras. Eu fui ao bar e enchi a cara por duas vezes. Não faço ideia de como conseguir voltar para casa nas duas ocasiões. Ando sem rumo pelas ruas da cidade. Às vezes acho que estou em busca de algo ou alguém que me dê uma solução concreta para parar a minha dor. Eu poderia voltar a tomar os remédios, mas não quero dormir. Tenho medo de dormir e esquecer o sorriso da mulher que amo. Tenho medo de dormir e ao voltar à sanidade, me dar conta que terei que enfrentar um mundo sem Isabel. Fecho meus olhos enquanto ainda estou andando sem direção fixa e relembro a nossa última noite juntos. Fizemos amor. Ela fez amor comigo. Só estava com pena de você! Ela não fez amor com você, ela estava pensando nele! Patético! Patético! Você é insano. Patético! Patético! Não! Eu sei o quanto ela me ama e sei que ela estava ali comigo. Isabel sabia o que estava fazendo. Nós sabíamos e queríamos aquilo. Mas o nome dele dito ao meu lado enquanto dormia foi a
resposta de tudo. Ela estava infeliz, pois o amava e eles estavam brigados por minha causa. Nós precisávamos dizer adeus e o fizemos. Depois disso, eu tive que conversar com o Daniel e esclarecer tudo. Isabel não podia mais sofrer por minha causa. Era injusto. Antes de atravessar uma esquina, eu vejo um casal do outro lado. É possível reparar em como estão apaixonados. A maneira como se tocam constantemente, enquanto dançam demonstra o quanto os dois querem essa proximidade. O homem está de costas para mim e só consigo ver as mãos da mulher acariciando suas costas. Eles se beijam e quando se viram um pouco mais no vai e vem de alguma melodia e eu me assusto. O casal apaixonado à minha frente é a minha Bebel e o seu noivo. Uma angústia profunda envolve meu corpo. Meus pés parecem que foram pregados na esquina. Eu só consigo enxergar Isabel e o seu futuro felizes. Não existe espaço para Alex. Não mais. Você perdeu! Você perdeu! Mate-o! Mate-o! Mate-o! A voz pede. Vá até lá e mostre que a mulher é sua. Mate ele! — Não. — Respondo para mim mesmo. Eu jamais faria isso com uma pessoa qualquer, ainda mais com alguém que Isabel ama. Ainda consigo controlar meu eu louco com o meu eu são. Minha garganta está fechada de tanta tristeza e consigo, enfim, me mover. Saio correndo, consternado, na direção contrária. Ela está feliz! Ela é feliz! Ele prometeu! Prometeu que cuidará dela! Ele vai cuidar dela.
Continuo andando depressa, mas de olhos fechados. Preciso apagar essa cena da minha memória! Continuo andando, e quase tropeço quando chego ao final da calçada, mas insisto em não abrir os olhos. A última coisa que eu me lembro é do barulho de uma buzina e de um carro freando com força. Agora sim... Eu encontrei minha paz.
Capítulo 33 Isabel
Acordo de repente assustada e suada. Acho que eu gritei, pois minha garganta está doendo. Sento na cama tentando acalmar o bater frenético do meu coração. — Bel, o que aconteceu? — Daniel também acorda assustado, mas por minha causa. — Eu não sei. Acho que tive um pesadelo, mas não consigo lembrar. — Acalme-se. Não há nada errado, volte a deitar um pouco. Respiro fundo e sinto meu estômago embrulhar. — Eu não estou bem. — Está sentindo o que? A claridade invade o quarto quando Daniel acende o abajur que está no criado mudo. Sua expressão é de pura preocupação. — Meu estômago está embrulhado. Acho que eu... — Não termino de falar. Só tenho tempo de sair correndo até o banheiro e levantar a tampa da privada antes de vomitar. A sensação é péssima e tenho a impressão de que não vai parar nunca. Não tem mais nada no meu estômago e não consigo nem lembrar quando foi a última vez que passei mal desse jeito. Lavo meu rosto na pia e escovo meus dentes. Abro a porta do banheiro e Daniel está parado ao lado. — Você está bem? — Alguma coisa não me fez bem. — Acho que foi a lasanha. — Será? Deus, eu daria tudo para comer a lasanha novamente. Daniel ri e me abraça. — Você tem que comer algo leve, Bel. — Ele beija o topo da minha cabeça e me conduz até a cama. — Deite. Vou preparar uma torrada e um suco, ok? — Perfeito. Daniel caminha exibindo seu corpo nu, pega sua cueca boxer no chão e fico com vontade de ir
buscá-lo para ficar aqui na cama comigo, mas estou com fome. Sem querer esperar e me sentindo cem por cento melhor, eu vou até a cozinha e ajudo Daniel a preparar nosso café da manhã. — O que quer que tenha sido, eu coloquei para fora. Argh! Eu faço uma careta e Daniel ri da minha cara. — Vou ficar aqui com você. — Mas você não tem uma reunião importante? — Tenho sim, Bel. Mas você é mais importante. É óbvio que não está bem e... — Eu estou bem, seu bobo. Pare de se preocupar. Eu estou bem. Tão bem que... — Eu o abraço e aperto sua bunda. — Que não consigo tirar a imagem de você nu andando pelo quarto. Senhor Clark, eu sou louca por você. — Ah, sua safadinha. — O que acha da gente repetir a brincadeira de ontem à noite, antes de você ir trabalhar, senhor Clark? Daniel larga o pão na bancada e segura minha cabeça afundando um beijo ardente na minha boca. — Adoro quando você consegue adivinhar os meus pensamentos. Tomamos café da manhã na bancada da cozinha, entre risadas e beijos. — Acho que você está atrasado para o trabalho — aviso. — Atrasado? Eu não vou sair daqui antes de satisfazer suas vontades. — Ah é? Minhas vontades? — Eu confesso. As nossas vontades. Estou cheio de tesão. Ele coloca as mãos na minha coxa e eu enlaço minhas pernas na sua cintura, ele vira e me coloca em cima da bancada. Minhas mãos vão automaticamente para dentro da sua camisa enquanto suas mãos passam por todos os lugares do meu corpo, sem desgrudar sua língua na minha. Daniel abaixa as alças da minha camisola de algodão, beija minha orelha, meu pescoço, meu colo e meus seios e solto pequenos gemidos. — Você é minha. Minha. — Eu sou sua, Daniel. Agora me possua. Eu não aguento mais! Ele ri e faz o que peço, me levando à loucura. ***
Antes do Daniel ir para o trabalho, nós tomamos banho juntos. Ele foi contrariado. Não queria me deixar sozinha, mas insisti para que cumprisse seus compromissos, mesmo querendo que ele ficasse aqui comigo. Ele concordou, mas me obrigou a ficar em casa, e se por acaso voltasse a passar mal, teria que ligar imediatamente para ele. Aceitei, afinal, são ordens do chefe. Sorrio sozinha. Dou uma ajeitada na cozinha e coloco nossa música Stay or Leave para tocar. Danço sozinha de alegria. Estou transbordando de amor. Minha campainha toca. Eu não acredito que Daniel desistiu de ir trabalhar. Abro a porta devagar. — Surpresa! — Duas vozes gritam de uma só vez. Lúcia e Luana. Minhas gêmeas. — O que fazem aqui? — pergunto abraçando-as. — Danzito fofíssimo ligou para a gente. Ele disse que você precisa de uma babá. — Não acredito! — Na verdade, ele ligou para a Luci, mas eu sou enxerida e vim mesmo assim. Sorrio. — Ele disse que você não está bem. Gripe de novo? — Não. A gripe passou faz tempo. Foi um enjoo forte. Depois que vomitei, fiquei melhor. Ele tirou vocês do trabalho por minha causa? Luci sorri e afasta o meu comentário com as mãos, como se não fosse nada de mais. — Ele nos salvou. Quem não gosta de uma folguinha de vez em quando? . — O que vamos almoçar? — pergunta Lua. — Nada de cozinhar. Pediremos algo no delivery. Cozinhei ontem para o Jonathan e foi um horror, não quero chegar perto de uma cozinha tão cedo... — Você deveria ter umas aulas com a sua mãe, não acha? — Pois é, Bel. Aquela expressão: filho de peixe, peixinho é, é uma furada. Sou uma negação na cozinha. — Todas nós somos. — Não me inclua nessa parada. Estão pensando o quê? Eu faço um frango xadrez de lamber os beiços. — fala Lua. — Seu frango xadrez é igual cabeça de bacalhau, Lua. Nunca vi, nem comi, eu só ouço falar. – Não perco a oportunidade de provocá-la, mas ela rapidamente revida, jogando a almofada na minha direção. — Pierre amou quando preparei lá em Porto Alegre.
- Nem conheço o Pierre e já estou me sentindo mal por ele. – Luci está rindo enquanto alfineta a sua irmão, pois sabe que são raras as oportunidades de conseguir realmente irritar a Lua. Pelo visto, dessa vez ela conseguiu, porque em seguida outra almofada está voando, dessa vez na direção da Luci. — Eu vou provar para vocês agora mesmo. Lua prepara seu frango xadrez na minha cozinha, enquanto eu e a Luci arrumamos a mesa. Ficamos o tempo inteiro brincando e fofocando. Lua conta um pouco mais da relação a distancia com seu namorado Pierre sei lá o que, e seus olhos brilham quando ela fala desse bendito francês. O cheiro da comida toma todo o apartamento e sinto meu estômago embrulhar mais uma vez. — Eu acho que vou vomitar... — O cheiro está tão ruim assim? Lua está me encarando com as sobrancelhas franzidas, mas nem perco tempo respondendo. Corro para o banheiro novamente. Vomito todo o café da manhã, lavo meu rosto e escovo meus dentes. Luci vem verificar meu estado. Ela está parada na porta me observando de um jeito estranho. — Bel, está bem? — Acho que a comida italiana não desceu bem, sabe? — Bel, você está sentindo dor na barriga ou algum outro sintoma? — Não. É só o enjoo mesmo. Por quê? — Será que talvez... Você poderia estar grávida? — Grávida?! — exclama Luana entrando no banheiro também. — Não. Nego com a cabeça, achando aquilo um absurdo. É impossível estar grávida. — Não o quê? Você não está grávida ou não, isso não pode acontecer? — indaga Luci. — Os dois. — Há quanto tempo você não menstrua, Belzita? — questiona Lua. — Faz algum tempo, eu acho que meu organismo ficou desregulado porque eu parei de tomar o remédio em Miami. Não encontrei meu anticoncepcional e acabei deixando de tomar aquele mês. — Foi na época que você estava separada do Daniel, certo? — Sim, Luci. Estávamos separados tinha um bom tempo e eu não me importei... Ei... — Uma lembrança ressurge. — Não pode ser! Merda! Não é possível que uma única vez após tantos anos... Bom, sim, é possível, mas eu não
seria tão azarada assim, seria? — O que aconteceu, Isabel Maia? —Luci está visivelmente preocupada e eu sei que preciso confessar a verdade para as duas. — Eu dormi com Alex. — Você o que? Lua grita tão alto que eu chego a me assustar. As duas ficam aguardando mais explicações. — E quando você ia nos contar? — Não ia. Foi uma coisa espontânea, rolou uma única vez. Foi no dia em que cheguei de viagem. Lembra que vocês ficaram aqui em casa? À noite eu comecei a me sentir mal por causa da gripe e fui até a farmácia. Acabei encontrando com o Alex lá. Estava tão febril que ele se negou a me deixar sozinha. Ele cuidou de mim e acabou rolando. Foi mais como uma despedida. Depois disso ele entendeu que a nossa história tinha acabado. Meu Deus do céu, isso não pode estar acontecendo! Começo a andar sem rumo pelo apartamento, sendo seguida pelas gêmeas que a todo custo querem que eu me acalme. — Mas e com o Daniel? Vocês não fizeram nada quando fizeram as pazes? — Luci está tentando ser racional nesse momento, e apesar de agradecer pelo seu apoio, sei que será em vão. — Não. Quando conversamos, decidimos recomeçar. Como ele iria viajar para Nova Iorque em algumas horas, apenas colocamos tudo o que estava machucando para fora. Depois disso, conversamos diariamente, mas é claro que não fizemos sexo. Foi só agora, que ele voltou que nós dormimos juntos novamente. — Isabel! Você precisa se acalmar e confirmar a gravidez. Pode ser até que não esteja grávida. E mesmo que o resultado seja positivo, pode ser que você esteja de dois ou mais meses. Tem pessoas que só apresentam algum sintoma quando está com a gravidez um pouco avançada. Nós duas vamos com você agora realizar um exame de sangue para comprovar. E antes que tente contestar, isso não está aberto à discussão. O exame sanguíneo vai permitir ter todas as informações de que precisa, inclusive quanto tempo de gestação. – Luci fala com tanta convicção que só posso concordar com ela. Eu não estou conseguindo ser racional nesse momento e se não fossem por essas duas, provavelmente eu estaria perdida. Não consigo raciocinar direito, eu não poderia estar grávida. Não do Alex. Seria o fim da minha relação com Daniel. Mudaria a minha vida para sempre. Eu ainda não acreditava que isso seria verdade. Estou certa que esse resultado dará negativo. Chegamos ao laboratório um pouco do horário limite para coleta. Após realizar o exame, a enfermeira avisa que o resultado sairia ainda hoje e que posso tanto pegar o resultado no laboratório ou pedir que alguém da recepção me ligue. Não vou ter forçar para voltar aqui hoje, então peço para me ligarem. As meninas ficam ao meu lado. Não se preocupe. No fim vai dar tudo certo. Às vezes é apenas uma suspeita. Não vamos nos precipitar. Pensei que é apenas um exame de rotina. E é nessas frases
que me concentro. Voltamos para o meu apartamento e finalmente almoçamos, mas a comida não para por muito tempo no meu estômago. As gêmeas ficam preocupadas por eu estar sem conseguir me alimentar o dia inteiro e se oferecem para me levar ao hospital, mas eu nego. A última coisa que quero agora é ir a um hospital. O dia passa e tento levar meus pensamentos para outras coisas. Quando as duas vão embora, eu organizo algumas pendências do trabalho, mas com o celular ao lado. Ansiosa para receber a ligação com o resultado. Como uma maçã para não ficar com nada no estômago e para minha sorte ela permanece no estômago. O celular toca na minha mesa de trabalho e eu corro para atender. Número desconhecido. É do laboratório. — Alô — Isabel? — Uma voz rouca e meio familiar entoa no outro lado. — Sim. É ela. — Aqui é Renan, pai do Alex. O frio na barriga aumenta e sento na cadeira, perdendo as forças das minhas pernas. Para o doutor Renan Simonelli entrar em contato comigo de livre e espontânea vontade, algo de muito ruim aconteceu. Meus olhos deixam escapar lágrimas antes mesmo de saber o motivo da sua ligação. — O que aconteceu? — Alex sofreu um acidente. — Como assim um acidente? Onde ele está? Quero falar com ele agora mesmo. — Ele está sendo encaminhado para o centro cirúrgico. Ele foi atropelado, Isabel... — Meu Deus! — Eu tenho certeza que ele gostaria que você estivesse aqui. — Para onde o levaram? — Hospital São José. — Eu sei onde fica. Estou indo agora mesmo. Não me despeço, apenas desligo o telefone rapidamente com uma dor tão grande que chega a ser física. Deus cuide dele por mim. Agarro minha bolsa e chamo um taxi. No estado em que eu me encontro não conseguiria dirigir. Não aviso a ninguém. Eu preciso ver o Alex.
Capítulo 34 Isabel
Percorro o corredor do hospital com a sensação de que tudo é um sonho, ou melhor, um pesadelo. O nó na garganta me impede de respirar e tento buscar ar a todo metro percorrido sem rumo. Um sentimento de déjà vu é inevitável. Eu já havia passado por isso, quando ele tentou suicídio em casa. — Por favor, Alex Simonelli. Ele sofreu um atropelamento. Eu preciso saber notícias dele. – Estou diante do balcão da enfermaria e a enfermeira me olha com pena, mas mantendo a postura profissional. — A senhora é parente? - Eu sou a sua noiva. — Conheço as rotinas dos hospitais. Passei muito tempo em corredores iguais a esse e sei que precisei mentir para obter informações. Por um segundo eu me sinto mal pela mentira, mas dessa vez, eu sei que ela é necessária. — Um momento. — ela pede, acreditando na minha mentira — Ele está na sala de cirurgia, seu sogro... — Isabel. A voz ligeiramente parecida com do Alex ecoa pelo silencioso hospital. Viro-me devagar e vejo o doutor Renan. A última pessoa que gostaria de ver nesse momento é o meu ex-sogro. Mas não tenho opções, preciso ficar e saber notícias do Alex. — Como ele está? — Ainda não sei. A cirurgia já dura horas. Tiveram que esperar o inchaço do cérebro diminuir para poder operá-lo. — Sua fisionomia mostra explicitamente sua tristeza. — Como aconteceu? — Provavelmente estava tendo um surto. Ele não toma os remédios há semanas. Meu coração para de bater por um segundo. Tudo o que eu consigo pensar é que ele parou de tomar os remédios por minha causa, tem que ser. — O motorista do carro disse que estava escuro e ele estava atravessando longe da faixa de pedestres. — Meu Deus! Não informaram o estado dele? Nada?
— Nada ainda. Só falaram que ele chegou gravemente ferido e fariam todo o possível por ele. Um pavor imenso toma conta de mim e fico tonta. — Isabel, você está bem? — Não. Eu não estou bem. — Eu sinto muito por tudo. — Agora é um pouco tarde para isso não é? Uma enfermeira passa por nós e pede que falemos baixo ou teremos que sair dali. Eu concordo com a cabeça e me desculpo. — Se tivéssemos o seu apoio e o da Cláudia, poderíamos estar juntos até hoje. Agora não venha mostrar o bondoso pai amoroso que você não é! — sussurro a sua frente, com os lábios cerrados de raiva. — Eu sei que errei, mas estou tentando me redimir. — Acho que nem se você vivesse mil vidas se redimiria de ter abandonado o próprio filho. — As palavras saem sem que eu perceba a maldade que ela carrega. Ele abaixa o olhar e eu respiro fundo, tentando me acalmar. — Desculpe. Eu não deveria ter dito algo tão cruel. Foram tantos anos sofrendo em silêncio que eu me descontrolei. Mas não tenho o direito de ser injusta dessa forma. — Eu entendo e sei que mereço tudo isso. Eu não irei viver mil anos, mas enquanto meu filho estiver respirando, eu estarei ao seu lado. Observo aquele homem a minha frente. O quanto ele e sua falecida esposa foram cruéis. Talvez ele tenha mudado de verdade. Afinal, quem sou eu para julgá-lo? — Isso não importa mais. Eu só preciso saber como ele está. — Renan concorda. — Eiii — chamo a enfermeira que acaba de sair do centro cirúrgico. — Preciso de notícias de um paciente que está na sala de cirurgia há um bom tempo. — Qual o nome do paciente? — Alex Simonelli. — Estamos preparando para levá-lo para UTI. O médico sairá daqui alguns minutos e falará com vocês. — Muito obrigada. Meu estômago embrulha novamente e relembro da suspeita de gravidez. Isso não é justo! Não nesse momento. Caminho até o bebedouro e bebo um pouco de água. Fico de um lado para outro. Estou nervosa demais para ficar sentada, até que um senhor de cabelo grisalho e alto sai da sala com outras pessoas atrás dele.
Eu e Renan vamos atrás dele. — É a família do... — Ele olha o prontuário. — Alex Simonelli? — Sim, eu sou o seu pai. — Eu sou o doutor Vicente Marinho — diz ele nos cumprimentando. — Sou neurocirurgião e um dos médicos que o atendeu. — Como ele está? — pergunto com medo da sua resposta. Sua expressão não é boa e tenho um pressentimento ruim. — Alex chegou com várias lesões — Ele observa novamente o prontuário. — Apresentou parada cardíaca ao dar entrada no hospital, mas conseguimos reanimá-lo. Teve uma fratura no fêmur direito, nos dois braços fraturados e em algumas costelas. Mas o pior é o traumatismo craniano. Avaliamos a extensão da lesão cerebral e chegamos à conclusão que foi um hematoma epidural. Na maioria dos casos, ocorre uma melhora durante as primeiras horas, mas no caso do Alex, isso não ocorreu. Na verdade, a hemorragia aumentou e por isso o levamos para a sala de cirurgia rapidamente, onde conseguimos conter o sangramento. Essas primeiras horas são fundamentais. Vamos esperar que o hematoma pare de crescer, e a pressão intracraniana diminua. — E se isso não ocorrer? — questiona o doutor Renan e sinto raiva. Isso vai acontecer. Tem que acontecer! — Infelizmente não temos como prever os efeitos antes dele ficar consciente, mas uma das possibilidades é a danificação dos núcleos que regulam as funções vitais, colocando a vida do Alex em perigo. Fecho meus olhos e respiro fundo. Isso não pode ser real. Eu preciso acordar! — Quais as suas chances? — Eu tenho que ser realista com vocês. O estado dele é considerado grave. Porém, como eu disse, essas primeiras horas depois da cirurgia são as principais. Vamos rezar para que dê tudo certo. — Com certeza, doutor Vicente. — Ele será transferido para a UTI. — Podemos vê-lo? — pergunto. — Daqui a pouco. Ele está em coma induzido, então acho que é bom ele descansar bastante para ajudar o seu cérebro a se recuperar. Daqui a pouco eu libero a visitação por alguns minutos, tudo bem? Concordo com as lágrimas escorrendo nos meu rosto. ***
Duas horas se passaram e ainda não fomos liberados para ver Alex. Conseguimos enxergá-lo através do vidro a nossa frente. São tantos tubos e faixas que não dá nem para reconhecer Alex. Renan mostra-se extremamente preocupado, e sinto uma sensação de pena. Meu telefone toca no bolso da calça jeans. — Oi meu amor. Está melhor? Luci e Lua tomaram conta de você? — Daniel, eu estou no hospital. — No hospital? Céus, eu achei que não fosse nada demais com você. Onde você está? Estou indo agora mesmo. — Daniel, presta atenção, não é comigo. É com o Alex. Daniel está quieto do outro lado da linha e eu tento controlar o meu choro. — Desculpe, eu sei que você não gosta dele, mas eu preciso estar aqui. — O que aconteceu? — Ele foi atropelado. O estado dele é grave. Foi operado há algumas horas atrás. — As meninas estão com você? — Não. Elas já haviam ido embora quando o pai do Alex me ligou. — Sinto muito, Bel. Você quer que eu vá até aí? Eu me admiro com a sua calma. Afinal, estou aqui pelo Alex. Acho que estamos começando a confiar um no outro. — Não tem necessidade, meu amor. Eu prometo te ligar assim que souber de alguma coisa, ok? — Tudo bem. Estarei em casa. — Eu te amo. — Eu também te amo, Bel. Desligo o telefone e aproveito que estou com o celular na mão e ligo para Luci avisando o que aconteceu com o Alex. Ela logo se prontifica para vir ao hospital. Sento em uma cadeira, aguardando informações ou a autorização para visitá-lo na UTI, quando o meu telefone toca novamente. — Alô. — É a senhora Isabel Maia? — Sim, é ela. — Aqui é do laboratório. Estou com o resultado do seu exame. Minhas pernas tremem e quase consigo ouvir meu coração pulsar forte. — Senhora?
— Estou aqui. Pode falar. — O resultado foi positivo. Parabéns! A senhora está grávida. Eu não consigo prestar a atenção em mais nada por um momento. O barulho ao meu redor fica mudo e tudo o que eu consigo ouvir são as batidas do meu coração, pulsando com uma força que nunca senti antes. — O resultado foi de 695,8 mUi/ml, o que significa que a sua gestação é de aproximadamente quatro semanas. — explica a mulher. Meu Deus, eu estou grávida do Alex! O telefone cai da minha mão e sinto que estou perdendo os sentidos. — Isabel? Você está bem? — De onde o doutor Renan saiu? Faço um esforço para me recompor e reorganizar minhas ideias. Acho que demoro um pouco, pois o doutor Renan continua ao meu lado preocupado. — Vou chamar a enfermeira. — Não precisa. — digo antes de sair correndo para o banheiro. Abro a torneira e jogo um pouco de água fria em meu rosto. Estou grávida! Como isso foi acontecer? Repenso em tudo. No tempo em que deixei de tomar o remédio, na noite de amor com Alex, no longo período sem Daniel. Meu Deus, e o Daniel? Coloco minhas mãos na boca para abafar o som do meu choro. Será que em algum momento da minha vida eu terei uma pausa? As coisas não param de dar errado! Eu me sinto impotente. Alex está entre a vida e a morte e agora eu carrego seu filho no ventre.
Capítulo 35 Isabel
Eu não sei por quanto tempo permaneço no banheiro, mas é o suficiente para uma enfermeira entrar para me procurar. Eu digo que está tudo bem e ela só acha que estou triste pelo estado do Alex. A gravidez não foi planejada, muito menos desejada. É triste pensar nisso, afinal esse sempre foi o nosso sonho. Meu e do Alex. Este deveria ser o momento mais feliz da minha vida, o sonho em ser mãe será realizado, mas estou desnorteada. Tento me recompor, caminho devagar e volto para a sala de espera. Renan está em um canto, de pé, com um copo de café na mão. — Alguma notícia? — Ainda nada. Você está melhor? — Sim. Foi só uma indisposição. — Toma... — Ele entrega o meu celular. — Você deixou cair. — Obrigada. — Aceita um café? — Não, obrigada. Eu estou enjoada. Eu estava enjoada novamente e agora sabia o real motivo disso. — Isabel, eu sei que não é o melhor momento para dizer isso, mas talvez não tenhamos mais chances... Eu não queria ouvir. Estou com a cabeça cheia dos meus próprios problemas e revirar o passado não iria me ajudar em nada. — Desculpe, doutor Renan, mas não precisamos falar sobre o passado. — Isabel, eu errei e peço perdão por ter sido um homem tão mesquinho. Eu só pensava no trabalho e descobri que nenhum sucesso compensa o meu fracasso como pai. Eu perdi a oportunidade ficar ao lado do meu filho por anos. — Perdeu mesmo. Seu filho é um homem magnífico. — Eu sei. Eu espero ter mais tempo para poder me redimir e estar ao lado dele.
Eu chego a abrir minha boca para responder que tudo dará certo, mas antes que minha voz saia, percebo algumas enfermeiras entrarem com rapidez na UTI e o médico em seguida. Eu e o doutor Renan caminhamos até o vidro e percebemos que o médico está praticamente em cima do corpo do Alex, fazendo massagem cardíaca. — Meu Deus! Meu Deus! — Não leve o meu filho, Senhor. Os enfermeiros e os médicos falam entre si, mas não consigo entender. Eles permanecem um tempo e o médico sai da UTI. — Doutor Vicente, por favor, o que aconteceu com Alex? — doutor Renan corre atrás do médico. — Ele apresentou outra parada cardíaca. Os exames foram refeitos e eu tenho que ser sincero com vocês... Minhas pernas fraquejam e o doutor Renan continua me segurando. — O hematoma cerebral não diminuiu. O fluxo sanguíneo está comprometido e não sei se ele aguentará mais uma parada cardíaca. Eu e o doutor Renan choramos. — Eu acho que chegou a hora de vocês visitarem o Alex. Eu entendo perfeitamente o que ele quer dizer. Visitar Alex antes que ele... — Pode ir, doutor Renan, eu aguardo. — Não, Isabel. Você é a pessoa que Alex mais ama na vida. — Suas palavras enchem meu peito de alegria e tristeza. Eu não podia acreditar no que estava acontecendo. — Eu preciso me acalmar um pouco. Eu vou depois do senhor, ok? — Eu vou liberar a entrada de vocês, apenas por poucos minutos, tudo bem? Doutor Renan concorda e entra na UTI. Pensar que talvez seja a última vez que eu verei o Alex é angustiante. Nós havíamos dito adeus, mas nada se compara ao fato de saber que eu viverei em um mundo em que a empatia, doçura e amor do Alex não existam. Choro muito e tento controlar meu nervosismo. Após alguns minutos, Renan sai da UTI chorando e acena para que eu possa entrar. Caminho para a porta da UTI e respiro fundo. As lágrimas quase me impedem de enxergar. Alex está com a cabeça enfaixada e, coberto por um grande lençol branco. A máquina ligada a alguns fios no seu corpo mostra seus batimentos. Chego perto da maca e analiso o meu Alex. Pego sua mão e a beijo. — A senhora terá que ser rápida. Os batimentos dele estão muito lentos, então... — explica a enfermeira injetando algum remédio no soro.
— Tudo bem. Espero a enfermeira sair com um olhar pesaroso e me aproximo do seu ouvido. — Alex, sou eu, sua Bebel. — Minha voz sai rouca e engulo o choro para conseguir continuar. Eu preciso dizer a ele tudo o que sinto e que a mágoa havia me impedido. — Eu quero que você saiba que o meu amor por você irá durar para eternidade. Não tenha medo, eu estou ao seu lado. Você nunca saiu da minha vida, Alex. Eu te amo. Céus, eu te amo tanto, meu amor. Não nos deixe. Em meio aos meus soluços eu só tenho mais uma coisa a fazer. Quase grudo meus lábios em seu ouvido e sussurro. — Alex, o nosso sonho se realizou. Eu terei um pedaço seu comigo para sempre. Estou esperando nosso filho. O filho que sempre sonhamos, meu amor. Beijo sua bochecha e os seus lábios gelados. Entre seus olhos fechados eu vejo escapar uma lágrima e meu choro agora é envolvido por uma risada de alegria. — Obrigada, meu Deus. Obrigada por ter permitido que ele ouvisse a notícia! — Eu terei um filho seu, Alex. Você consegue me entender, não consegue? Eu te amo. Obrigada por tudo. As lágrimas escapam do seu rosto e enche meu coração de alegria. Nesse momento o aparelho ligado a ele solta um barulho ensurdecedor. Envolvo a mão do Alex nas minhas e beijo seus lábios novamente. Eu entendo perfeitamente o que está acontecendo, mas não quero acreditar na realidade. Os médicos e enfermeiras logo estão ao meu lado e uma delas segura meu braço, me empurrando para fora da sala. — Não! — grito. — Não! Alex! Me solta! Eu preciso ficar com ele! Não nos deixe Alex, por favor! Não! Seu filho está aqui comigo. Fique por ele, meu amor! — Você precisa sair — diz ela com tanta pena de mim que me abraça. Ela entendeu a parte do “seu filho está aqui”. — Acalme-se senhora. Saio da sala contrariada e fazendo preces para que um milagre aconteça. Encontro um Renan desolado no lado de fora e nos abraçamos, como se quiséssemos juntar nossa dor. Imediatamente sinto Lua e Luci ao meu lado. Elas me abraçam e choram junto comigo. O médico sai da UTI e nos olha negando com a cabeça. Nós o perdemos. Alex havia partido para sempre. O adeus é algo doloroso demais, mas a sua presença será eterna na minha vida. *** Duas horas após a confirmação do falecimento do Alex, eu consigo ficar um pouco mais calma e
respirar fundo. As gêmeas continuam ao meu lado e Renan está lidando com toda a burocracia para liberação do corpo do seu filho, enquanto aguardamos sentadas na recepção. — Recebi a ligação do laboratório — cochicho. — E aí? — pergunta Lua. — Quatro semanas. Estou grávida do Alex. — Isabel... — Luci arfa com os lábios cerrados e mais uma lágrima escapa dos meus olhos. — Ei, não chora, Bel. Nós estamos aqui — afaga Lua. — O que será da minha vida, meninas? Acabou tudo outra vez... — Bel, ouça. Eu sei que não foi algo planejado minha amiga, mas tente se acalmar... — Acalmar, Luci?! Como? Eu amo Daniel. Estávamos tão bem juntos. Perdi Alex vou perder o Daniel e... — E você vai ganhar a maior alegria da sua vida, Bel... Eu sorrio e choro ao mesmo tempo. — Eu sei, Luci. Só que agora eu não consigo pensar em uma situação pior do que essa para estar grávida. — Bel, tudo vai se ajeitar, tenho certeza — reforça Lua. — Alex me ouviu. Eu consegui falar para ele que estava esperando o nosso filho. — Meu Deus, Bel. Nós sabemos o quanto isso era importante para vocês, o quanto Alex queria ter um filho com você. Luci está secando as minhas lágrimas enquanto fala comigo. Um gesto tão maternal e tão natural por parte dela que imediatamente me acalma. — Ele me ouviu. Eu vi lágrimas saindo dos seus olhos. As meninas me abraçam apertado, com os olhos em lágrimas também. Levanto a cabeça e eu vejo Daniel debruçando no balcão de informações. Meu coração volta a acelerar e um desespero me assola. — Daniel — As meninas me soltam e indico com a cabeça onde ele está. — Bel, você não precisa contar agora... — E mentir outra vez? Chega de mentiras. Chega de deixar para depois o que tem que ser feito hoje. Eu não posso esconder isso, Lua. Eu amo Daniel, e por isso não posso deixar de contar a ele. Eu só estou com medo, porque sei que é o fim. A partir de agora, não existe mais volta. Eu apenas sei disso.
— Bel, se você quiser, nós duas conversaremos com o Daniel e você não precisa encarar mais nada nesse momento. — Não, Luci. Eu preciso... De repente, nossos olhos se cruzam. Daniel suspira aliviado e sorri. — Oi, meu amor. Eu sei que você pediu para eu não vir, mas eu precisava saber como você está e... Eu não espero ele terminar de falar. Coloco meus braços em volta de sua cintura e o abraço apertado. Sinto seu cheiro e sua mão afagando meus cabelos e fecho meus olhos. É o último abraço. Eu preciso sentir o máximo do Daniel. Preciso senti-lo de uma forma que eu consiga levar para toda a vida. — O que foi, Bel? Você está tremendo. Sua voz é calma e gentil e me sinto ainda pior. — Ele se foi, Daniel. Eu o abraço ainda mais e ele me aperta. — Eu sinto muito, Bel. — Eu também. Daniel acena para as meninas que estão sentadas com os olhos paralisados na gente. — É melhor você ir para casa, Bel. Precisa descansar. — Eu preciso falar com você, Daniel e é muito sério. Ele franze o cenho. — Aqui? — Você me leva para casa? Podemos conversar lá? — Você não prefere ir para a minha, meu amor? É aqui perto e eu posso... — Não! — exclamo. — Na minha. Por favor. Ele concorda sem entender. — Eu só preciso de alguns minutos. Você pode esperar? — É claro, Bel. Aguardo você no carro, ok? — Logo estarei lá. Daniel me dá um beijo na testa. Um beijo gentil e carinhoso. Sentirei falta disso. Caminho até as meninas e me despeço delas, que também estão prontas para ir. — Boa sorte, Belzita.
— Bel, explique tudo ao Daniel. Você e ele estavam separados quando aconteceu algo entre vocês e quem sabe... — Luci, é o fim. Daniel sempre olharia para o meu filho e veria Alex. Ele seria infeliz. Eu jamais suportaria isso. Elas apenas me abraçam. — Nós te amamos, Bel. — Eu também amo vocês. Doutor Renan está no canto da sala, cabisbaixo e resolvo que preciso ser sincera com ele também. — Doutor Renan, eu já estou indo. O senhor precisa de alguma ajuda? — Não, Isabel. Obrigado por ter ficado aqui. Meu filho te amava muito. Eu sinto por não poder ter mostrado a ele que eu poderia ser um bom pai. A dor dele é palpável. Por mais que eu tenha mágoas profundas, é impossível não se emocionar. Eu não consigo imaginar a dor de perder um filho e automaticamente coloco as mãos no meu ventre, como se eu pudesse proteger esse bebê até mesmo dos pensamentos. Ele encara algum ponto no meio do nada e seus olhos estão muito inchados. — Você ainda pode... — sussurro. — Não entendi. — Você não pode dar o apoio necessário ao Alex, mas por que não tenta com o filho dele, seu neto? — Meu neto? — Ele enfim me olha assustado. — Eu estou grávida, doutor Renan. Estou grávida do seu filho. — revelo e ele me olha incrédulo. — Como isso é possível? Eu não respondo e percebo doutor Renan voltar a chorar. — Eu ficarei feliz em ter o senhor presente na vida do nosso filho. — Obrigado— Ele me abraça. — Eu amarei meu neto e farei por ele tudo o que não fiz ao meu filho. Obrigado, Isabel, por acalmar meu coração e me proporcionar uma segunda chance. *** Entro no carro do Daniel calada e ele segue rumo ao meu apartamento. Ao chegar, eu seguro sua mão e o faço sentar no sofá comigo.
— Bel, eu sei o quanto você está sofrendo. Eu entendo. — Não é por causa da morte do Alex que eu quero conversar com você. Como acabar com um sonho? Daniel me olha espantado. — Eu preciso te contar uma coisa que vai mudar a nossa vida... — Nossa, Isabel! — Daniel se levanta e percebo o seu nervosismo. — Eu estou ficando preocupado. — Nós não podemos mais ficar juntos — digo de uma só vez e é como se uma lâmina rasgasse o meu coração. — Como é que é? Bel, eu sei que o Alex era importante para você. Eu superei isso, não tenho mais tanto ciúmes e... — Eu estou grávida. O olhar aterrorizado dele diz tudo o que eu precisava. — Como? Então aquela história da traição foi... — Não! Não foi! Nós nos envolvemos durante aqueles meses em que ficamos separados... — Como você pode ter certeza, Bel? — Eu fiz o exame e descobri que estou grávida de um mês. Percebo quando ele finalmente entende tudo. Quando calculou que há um mês estávamos brigados e retomamos o relacionamento horas antes da sua viagem. Viagem essa que nos manteve afastados até uns dias atrás. — Diz que isso é uma brincadeira de mau gosto, Bel. Por favor... — Ele pede, segurando meus braços. Eu choro. Não consigo encará-lo. — Eu só soube hoje da gravidez. Depois daquele enjoo todo. Eu tentei te contar que eu e o Alex ficamos juntos apenas uma vez, e você deixou claro que não queria saber nada do Alex. Como não foi nenhuma traição, eu achei melhor... — Eu não sei o que te dizer. — Não precisa dizer nada, Daniel. Acabou e eu entendo isso. Não vamos deixar as coisas ainda mais dolorosas. Por favor. Daniel me olha e eu só queria poder abraçá-lo nesse momento. Ele arfa um pouco e vejo a lágrima cair do se rosto e molhar o colarinho da sua camisa. Sem ter o que falar, ele apenas sai do meu apartamento enquanto eu fico ali, parada, percebendo que tudo desmoronou outra vez.
Capítulo 36 Isabel
Três meses depois... Sabe aquela música: levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima? Eu já estava craque em me reerguer. A morte do Alex e o fim do meu relacionamento com o Daniel foi terrível. A única coisa que não permitiu que eu entrasse em uma profunda depressão foi saber que em alguns meses eu teria um bebê nos meus braços. Esse ser que eu ainda não conheço mantém a minha vida em suas mãos. Cada vez que eu sinto ele se mexer ou vou ao médico escutar o seu coração é como se eu tivesse uma nova chance na vida. Ele cresce saudável. Os enjoos melhoraram e agora só restou o sono que insiste em me pegar nos horários mais inoportunos. Passei por exames de rotina e faço o pré-natal como recomendado. Eu amo ouvir ser coraçãozinho batendo. É a vida que o Alex deixou para mim. Os últimos meses foram de mudança total. Eu pedi demissão da revista na semana seguinte em que Alex morreu. Sabia que Daniel não iria suportar me ver todos os dias desfilando pela revista e nem eu conseguiria encontrá-lo diariamente. Eu sinto sua falta diariamente. É como se a minha vida estivesse incompleta. Daniel jamais me aceitaria grávida, ainda mais do Alex. E eu não aguentaria saber que ele pode se ressentir do meu filho. Ele me telefonou várias vezes e em nenhuma eu atendi. Não temos mais nada para falar que não vá causar ainda mais sofrimento. O meu foco agora é exclusivamente o meu filho. Preciso colocá-lo em primeiro lugar, sempre. A tristeza tem que ser cortada pela raiz e deixar de nos ver e conversar é a solução. O tempo tratará de curar nossas feridas. Ele sempre cura. Eu sei disso muito bem. Reabri meu estúdio em tempo integral e estou conseguindo meus clientes de volta. Faço externas e estou me aventurando, estudando bastante a fotografia de bebês recém-nascidos, newborn, e estou encantada com os novos desafios. O importante é manter a cabeça cheia e tentar evitar ficar remoendo o passado. ***
Luci
— Luci, meu amor, acorde. — Abro meus olhos e vejo Jonathan sentado ao meu lado. — Ah, oi. Eu estou com sono. Deixe-me dormir, vai... — Eu preciso falar com você algo muito sério. Abro meus olhos e os esfrego. Sento na cama, contrariada e observo Jonathan com a expressão indecifrável. — Primeiro: o que você está fazendo aqui? — pergunto. — Desculpe, eu usei a chave reserva que fica embaixo do tapete. —Segundo: que cara é essa? — Luci, é algo muito sério. — Para com isso! Fala logo que você vai me deixar porque está com medo de se prender a uma mulher só e quer... Arfo nervosa. — Ei, acalme-se. Quantas vezes eu vou ter que te dizer que não sou Iran? — Você jura que não é isso? — É claro que não. Eu o abraço forte e ele beija meu pescoço. — Então, qual é o problema? Aconteceu alguma coisa com a Bel, Lua ou com a minha mãe? — Não, estão todas bem. — Ah, ainda bem. Você quer me matar do coração, não é? — Talvez. Na verdade, eu vim até aqui para insistir na história do casamento. Reviro meus olhos. Não acredito que vamos discutir isso novamente. — Amor, o que eu te expliquei? Eu quero me casar com você, mas esse não é o momento... — Por causa da Isabel... — Sim, você sabe da história. Minha amiga passou por tantas coisas. É tudo tão recente, sabe? Ela finge ser forte, mas sei que por dentro ela está sofrendo com o fim da relação com o Daniel. — Eu sei, mas... — Não, Jonathan. Eu não vou largar minha amiga para poder me preocupar com convidados, salão, bufê, vestidos, flores e esbanjar felicidade enquanto a vejo recomeçar. É injusto.
— Ela não aprovaria isso. — Não! Claro que ela aprovaria. Se ela soubesse disso, me obrigaria a casar hoje mesmo. Por isso não mencionei nada para a Isabel. Mas como eu posso estar tão feliz desse jeito enquanto ela sofre? Não posso celebrar o meu amor por você, enquanto ela não se recupera. — Eu ainda quero casar com você... — Eu também quero, meu jojozinho! Jonathan começa a rir. Ele não admite, mas adora quando eu o chamo assim. Eu sei que ele se sente tão amado quanto eu e por mais que ele queira agir todo “machão” seu olhar o entrega. — Vamos apenas esperar um pouco, ok? — E se eu te disser que não posso? — Ah Jonathan, você só pode estar de sacanagem com a minha cara! — Eu vim até aqui resolver isso. E não saio daqui sem você. Pegue uma pequena mala e roupas suficientes para apenas dois dias. — Como assim? Mala? Roupas? Por acaso vamos viajar? Ele concorda com um sorriso lindo nos lábios. — Vamos para onde, eu posso saber? — Vamos nos casar. — Como assim casar, Jonathan? Jesus, você só pensa nisso! — Vamos nos casar em Las Vegas. Ninguém está sabendo. Será sem convidados, salão ou bufê, mas faço questão do vestido e das flores. Quando tudo se acalmar por aqui, fazemos uma grande festa para comemorar, mas no momento, eu quero que você seja a minha mulher. O que acha? Eu fico espantada e ao mesmo tempo extasiada. — Eu já disse que te amo? — Não. — Eu te amo, meu jojozinho! *** A campainha toca e mesmo sem atender, já sei quem é! — Oi, Lua! As meninas ficaram de me ajudar com a reforma do quarto do bebê. Sabemos que ainda é cedo, mas a ansiedade em deixar tudo pronto é maior. Faremos um final de semana só de meninas, com
direito a fofocas, comer muitas besteiras e é claro, muita pintura. — Olá nenezinho da titia! Lindo! Começo a rir. Depois que soube da gravidez, a Lua praticamente me trata como uma incubadora na maior parte do tempo. Dificilmente conversa comigo e sim, com a minha barriga. Até mesmo quando está se queixando das saudades que sente do namorado ou quando está falando uma besteira, ela fala direto para o meu umbigo, como se o meu filho fosse lhe dar conselhos ainda no ventre. — Cadê Luci? Não veio? — Se eu te contar você não acreditar! — Conta logo. — Está em Las Vegas. — Las Vegas? Como assim? Teve que trabalhar? — Que nada. Jonathan apareceu lá ontem à noite e meio que a sequestrou! — Nossa! Que doido! — Muito, mas pelo que me disse volta no domingo à noite... — Como assim? Apenas dois dias? — Sim! Doido mesmo, né? Bom, tomara que aproveitem. E ela ainda me ligou ontem de madrugada, antes de embarcar, toda triste por que não estaria aqui para pintar o quarto do neném. — Então acho melhor fazermos no final de semana que vem. O que acha? — Por mim tudo bem. Agora quero mostrar o que trouxe para o bebê da titia Lua! — Ela abre as inúmeras sacolas que trouxe no meio da sala e começa a retirar um monte de roupinhas de bebê. Uma mais linda do que a outra. Como ainda não sabemos o sexo do bebê, todas elas têm cores neutras e eu fico encantada. Meu bebê é muito amado. Luana continua namorando Pierre à distância. Por incrível que pareça, ela é uma namorada fiel e muito dedicada. Mês que vem ela irá para a França ficar um mês ao lado do seu amor e sempre peço para que ela me conte as novidades, mas eu sinto que ela evita declarar toda a sua felicidade na minha frente, preocupada com o meu bem estar. O importante mesmo é saber que ela está feliz. Isso me enche de alegria. Caio se arranjou em Miami. Foi e não voltou mais, dizendo que lá é a onda do momento e que conseguiu pegar algumas peitudas e alguns boys magia como ele diz. Meu pai me convenceu que eu ficaria após o sexto mês da gestação na minha casa em Petrópolis. Eu não pude negar o pedido. Ele quer ficar mais perto de mim e no fundo sei que será ótimo estar em um lugar tranquilo, curtindo cada dia da minha gravidez. A maior novidade desses últimos meses é que meu pai, seu Pedro Maia, está namorando. E para minha surpresa e das gêmeas, a pretendente é a dona Sônia, mãe delas. Primeiro ficamos sem
entender, afinal eles se conhecem há mais de 20 anos. Sempre foram solteiros, mas nunca rolou nada, pelo menos não que eu saiba. Ficamos felizes pelos dois, mas também por nós três, porque agora podemos dizer verdadeiramente que somos irmãs. Aos poucos as coisas vão se encaixando, e eu espero que o meu encaixe aconteça logo.
Capítulo 37 Daniel
Os dias passam arrastados. Isabel desapareceu da minha vida tem alguns meses. Tentei ligar e ouvir a sua voz, mas ela não atendeu nenhuma das ligações. Estou magoado com a forma com que ela me descartou, mas sei que ela está fazendo o que acha que é melhor para todos. Fico imaginando como ela deve estar agora. Linda como sempre! Sua barriga deve estar enorme, já que pelos meus cálculos, ela deve estar no sexto mês da gestação. Todo esse tempo longe da Isabel trouxe o meu pior à tona. Bebi até desmaiar e reparei que dessa forma não chegaria a lugar algum. Marquei encontros com algumas mulheres, mas em todas eu enxergava Isabel e quando percebia que nenhuma delas se comparava a ela, eu simplesmente travava e me arrependia. Eu não existo longe dela, sou um ser sem propósito. Ainda estou na revista em plena madrugada de sábado. Não tenho mais trabalho para fazer e tudo o que eu consigo nesse momento é pensar na Isabel. Isabel está grávida e o filho não é meu. Pareço patético lamentando dessa forma, mas não consigo evitar. E aceitar isso é difícil demais. Primeiro veio a negação, depois da dor quando você tem a certeza de que é real, seguida da tristeza. Ela está feliz. Deixou claro para mim que sua vida agora seria cuidar do bebê que está esperando. Eu sonhei tanto em ver Isabel grávida, gerando nosso filho. Eu tenho certeza que seria um excelente pai. O que aconteceria se Alex estivesse vivo? Eles formariam uma família feliz? A suposição me causa angústia. Eu não deveria ficar me torturando dessa forma. Isabel me ama, eu sei que ama. Mas agora ela ama mais o filho que gera. Não seria Isabel que eu amo se ela não fizesse isso. Tenho certeza que Isabel será a melhor mãe da face da Terra. Às vezes eu fecho meus olhos e imagino-a correndo atrás de um pedacinho de gente com suas risadas e seu jeito doce de falar. Seria a visão mais bela do mundo. Olho o porta retrato a minha frente. Ainda não tive coragem de tirar a foto dali. Eu tirei essa foto com a câmera dela, enquanto sorria, com o rosto grudado ao meu. Isabel está linda com os seus cabelos loiros esvoaçantes e um lindo por do sol ao fundo. No natal ela revelou a foto e me deu de presente. Jamais esquecerei o que ela me disse quando entregou o presente: “Sempre que precisar de mim e eu não estiver por perto, é só olhar em meus olhos”. — Céus, eu não suporto mais isso!
Pego o porta retrato, viro e tento tirar a foto com a ponta de uma caneta. Quando consigo, pego a foto e observo a cena. Eu estava feliz, como nunca havia estado em toda minha vida. Isabel também transbordava alegria. Eu sentia que a cada dia as suas feridas do passado iam diminuindo. Foi um avanço e tanto, até que... Jogo a foto sob a mesa e jogo a cabeça para trás da cabeça, passando as mãos pelos cabelos. — Por que as coisas tiveram que ser assim?! Recomponho-me e levanto da cadeira. Por hoje chega. Agora vou para casa tentar esquecer por mais algum tempo. Pego minha pasta e alguns documentos na mesa, até que vejo a foto que está virada ao contrário. Atrás dela tem algo escrito. Lentamente eu seguro a foto e leio:
Aconteça o que acontecer, nunca se esqueça: Eu amo você. Para sempre sua, Bel. Cada palavra lida é um choque que percorre toda a extensão do meu corpo. Isabel escreveu isso antes de me dar de presente. Eu jamais imaginaria. O que eu estou fazendo aqui? Porra, até quando vou ser egoísta desse jeito? Quando as coisas não saem como eu quero, eu fujo, como uma criança mimada? Sou um covarde! Eu finalmente me dou conta disso! Sou um covarde! Quando a Marcela anunciou a gravidez, a Isabel ficou magoada, mas não me abandonou ou deixou de me incentivar para cuidar do bebê. Mesmo quando sofria toda vez que eu tinha que deixá-la para atender as necessidades da Marcela ou quando ouvia os desaforos da sua prima, ela se manteve firme do meu lado. Agora que a situação se inverteu eu não lutei por ela. Basta! Largo tudo o que eu estava recolhendo na mesa e pego apenas minha carteira, celular e chave do carro, decidido a encontrar a mulher que amo. Eu posso até ser ignorado, mas eu preciso tentar um pouco mais. Eu sei que ela me ama! Tudo que vivi ao seu lado foi real. Eu só preciso tentar até que Isabel perceba que podemos dar certo. Ligo o meu carro com destino certo: o apartamento de Isabel. Faço o trajeto ansioso por vê-la. Ela precisa me ouvir! Chego em tempo recorde. O porteiro me conhece e apenas abre o portão principal para que eu suba, e por um momento eu me espanto. Isabel não deveria ter dado ordens para que proibissem a minha entrada no prédio? Cumprimento o porteiro, que está sentado atrás de um balcão alto de granito com uma televisão tão minúscula que chega a doer a vista. Passo direto por ele e aperto o botão do elevador meio desesperado. — Desculpe senhor, mas a dona Isabel não está. — Ah... Hum... — Bufo decepcionado. — O senhor sabe onde ela pode ter ido? Talvez no bar?
— Afinal, é madrugada de sexta. — Não, não. Dona Isabel está fora tem algumas semanas. Meu peito arde. Só tem um lugar onde ela possa estar tanto tempo: Petrópolis. — Obrigado! — agradeço ao porteiro, sem esperar sua resposta, correndo para dentro do carro. Daqui até Petrópolis são 67 km. Subo a serra com cautela, mas a minha vontade é de colocar meu R8 para roncar e chegar o mais rápido possível. Eu tenho certeza que ela está lá. Ela só pode estar lá! O dia amanhece e a sensação que tenho é que a luz do dia veio para iluminar minha vida. Rogo a Deus que Isabel me escute e não me mande embora como da última vez. Entro em Petrópolis e vou direto para a sua casa. Por mais que sejam as primeiras horas da manhã, eu consigo enxergar as montanhas ao fundo. Será um dia glorioso. O portão de madeira está entreaberto e caminho em direção à porta lentamente. Agora que estou realmente aqui, estou com medo de a Isabel me rejeitar. Ao me aproximar escuto música tocando bem baixinho. Reconheço imediatamente: Dave Matthews. Não esperaria nada diferente de Isabel. Fico ansioso e sinto o meu corpo tremer. Ela está acordada e apenas a alguns passos de distância. Dou a volta na casa, seguindo a varanda que a rodeia, ouvindo a nossa a música, Stay or Leave, cada vez mais alta.
So what to do With the rest of the day's afternoon hey Isn't it strange how we change Everything we did Did I do all that I could That I shoulda done
Ao chegar à grande varanda nos fundos da casa, me deparo com uma paisagem magnífica a minha frente. Montanhas começam a ficar iluminadas pelo sol, o verde nas pontas começam se tornar um verde vivo e alegre, com nuvens moldando sua extensão. Paro de respirar ao ver que uma rede de tecido grosso está de frente para as montanhas, em um vai e vem lento e ritmado. A música fica relativamente mais audível e posso sussurrar cada estrofe cantada. “Remember we used to dance And everyone wanted to be You and me
I want to be too What day is this Besides the day you left me What day is this Besides the day you went So what to do With the rest of the day's afternoon hey Well isn't it strange how we change Everything we did Did I do all that I could”
Tento regular minha respiração, e tenho certeza que meu coração está batendo tão rápido que pode entrar em pane a qualquer momento. — Isabel. A rede para de balançar e quando Isabel aparece no meu campo de visão, eu tenho ainda mais certeza de que não existo sem aquela mulher. Ela está iluminada! O sol reflete de lado em seu corpo e seu cabelo brilha. Sua mão está pousada sobre a barriga avantajada. Seu pequeno corpo está realmente diferente. Ela está usando um vestido azulado e curto de verão e um casaco fino que cai até a barra do vestido. Se é que é possível, ela está mais linda do que nunca! Uma onda de amor brota, como se percebesse que agora sim, minha vida tem um propósito com sentido. Eu a amo por completo, eu amo tudo que vem dela, eu amo como se fosse meu. Isabel me encara assustada e fecha o fino casaco que está vestindo, ocultando a barriga. — Não faça isso. Você está linda... — minha voz sai um pouco rouca. Minha vontade é sentar no chão onde estou, me encolher e chorar. Chorar de emoção. Minha garganta fica fechada e tento controlar as lágrimas. — Daniel, o que faz aqui? Eu te pedi... — sua voz doce e gentil chega aos meus ouvidos e uma lágrima escapa dos meus olhos. — Eu não consigo, Bel. Eu não posso viver sem você. Ela se aproxima apenas um pouco. — Eu nunca mais serei a mesma Isabel, Daniel. Eu sorrio e choro ao mesmo tempo. — Você é a mesma Isabel linda e doce que tanto amo. A que tem os lábios doces como mel e a
que anseio para estar com o corpo grudado ao meu todos os dias quando acordo. Eu sei que tenho defeitos, que sou um idiota, mas eu te amo. Você ainda me ama, Bel? — Daniel, você sabe que sim. — Ela encara a própria barriga e volta a me olhar. — Mas, eu amo ainda mais o meu filho. E jamais conseguiria viver ao seu lado sabendo que você veria o menino como um... — Filho? É um menino? Ela assente devagar, envolvendo a barriga com as mãos. — Eu sempre sonhei com um menino. Isabel me olha com a testa franzida. — Olha para mim, Daniel. Você ainda não entendeu? Olha pra mim! Percebo a lágrima brotar no canto dos seus olhos e sei que ela está tentando se segurar para não desmoronar também. — Alex deixou uma parte dele comigo. Para sempre. Consegue ver isso? — Eu consigo. Aliás, foi olhando pra você naquele dia de sol em plena Avenida Paulista que tive a convicção que jamais estaria sozinho novamente. — Caminho em sua direção em passos curtos. — E de repente me vi apaixonado por você. Eu achei tudo muito estranho, afinal nunca havia sentido nada parecido, mas no fundo eu sabia. Eu sabia que havia apenas um caminho a seguir, e que esse caminho, mesmo com tantas curvas, valeria a pena. Por que por mais que eu tente não pensar em você durante todo o meu dia, quando me deito para dormir, eu te vejo. Deus, a cada piscar de olhos eu sou capaz de ver você. Paro a sua frente e pego sua delicada mão e a beijo, e mais uma lágrima rola pelo seu rosto. — Eu amo o modo doce que você sorri. E toda paz que esse sorriso transmite ao meu coração. Eu amo seus questionamentos, sua genialidade, seu modo irônico de falar e principalmente suas tentativas de me tirar do sério. Eu amo quando você é a pessoa mais sensata do mundo. Amo o jeito como você cora e suas bochechas ficam vermelhas. Eu amo quando você sente ciúmes e finge não sentir e o jeito como franze entre as sobrancelhas quando está emburrada. Eu amo quando você para e fica apenas me olhando em silêncio, e quando você coloca suas mãos na minha nuca e me beija. Quando você entrelaça suas mãos nas minhas e segura forte como se não quisesse soltar nunca. Eu amo quando você caminha pelos corredores da revista, e quando você entra na minha sala, é o ápice do meu dia. Deus, eu esperava todos os dias para te ver. Eu amo quando você fala palavrões, principalmente: merda. E o seu abraço é o encaixe perfeito que me faz ficar deslumbrado. Eu amo acordar ao seu lado e o seu Bom dia. Eu amo quando meu celular toca e vejo que é uma mensagem sua. E amo ouvir seus planos, e fico encantado ao ver que você me incluía neles. Eu amo você. E não posso ficar sem o brilho dos seus olhos. Eu não posso viver em um mundo em que não posso cuidar do meu amor. Aconteça o que acontecer. Solto sua mão e o que faço é surpresa até para mim. Eu fico de joelhos e levo minha mão até sua barriga, aproximando o meu rosto.
— Ei, garotão. Como está aí dentro? Eu preciso te contar uma história bem legal, acho que você vai gostar — sussurro, mas tenho certeza que Isabel me ouve. — Um dia o destino resolveu presentear a vida de um homem vazio. Esse homem descobriu o amor em uma mulher linda e delicada, mas que estava passando por um momento muito difícil. Quando ele reparou que ela estava apaixonada por ele também foi a maior felicidade da sua vida. Ele não é perfeito, sabe? Ele errou algumas vezes, mas nunca deixou de amá-la incondicionalmente. Até que um dia, essa mulher reencontrou o passado. E ele ficou magoado e acabou cometendo vários erros. Ao invés de estar ao seu lado, ele só soube sofrer e mostrar o quanto era inseguro. Um dia o passado foi até seu trabalho e disse que o futuro dessa mulher era só seu e lhe fez prometer que cuidaria dessa mulher para sempre. O homem prometeu que jamais magoaria essa mulher. Ele prometeu e está disposto a tudo por isso, porque a ama mais do que qualquer coisa na vida. Sem saber como proceder, com o rosto tomado pelas lágrimas, eu beijo sua barriga. Levanto lentamente e seguro seu rosto entre minhas mãos. Seus olhos estão tomados por lágrimas, suas bochechas vermelhas. — Ele fez isso? — Ele fez e pediu para que não te contar, Bel. Mas acho que agora ele aprovaria isso. Ela assente, fechando os olhos. — Eu prometi que cuidaria de você para sempre, e... — E... — Isso inclui amar não só a você. Inclui amar seu filho também. Isso se você me deixar dizer nosso filho. Isabel chora ainda mais, agora com uma risada junto. — Eu te amo, Isabel. — Afago a barriga com um carinho. — Eu te amo... — Gabriel. — Ela completa. — Lindo nome, meu amor. Seremos uma linda família: Daniel, Isabel e Gabriel. Eu te amo, Gabriel. Ela enlaça seus braços em meu pescoço e beija docemente meus lábios. — Eu e o nosso filho estamos felizes por você estar aqui, meu amor. Nesse momento eu me dou conta que o meu maior sonho se realizou. Talvez não tenha sido da maneira que eu esperava, mas isso não importa. Eu serei da Isabel para sempre e ela será minha. Eu sou seu futuro, e ela é o meu. De repente, toda a tristeza e medo que transbordavam em meu corpo é desfeito. Alguns podem dizer que o nosso encontro na Avenida Paulista foi pura coincidência, mas eu acredito que o destino quis me ensinar o que era amar incondicionalmente. Enquanto construo a minha família, eu serei um homem preenchido de amor. Não importa quantas interrogações, exclamações e reticências a nossa história terá daqui para frente. O que realmente importa é que estaremos juntos, prontos para enfrentar qualquer obstáculo. Eu e Isabel não
precisamos de um final feliz, porque o nosso amor nunca terรก um fim.
Epílogo Isabel
O recomeço é algo assustador. Primeiro você sempre começa sem rumo, sem saber ao certo que caminho traçar e consequentemente surgem as dúvidas. Certo ou errado? Continuar ou parar? Tudo pela busca do pote de ouro no final do arco íris. Segundo, vem a insegurança. Recomeçar exige coragem e perseverança, delinear metas é fundamental. E por último, deixe apenas o destino escolher o terceiro, tudo bem? Afinal, mesmo que a gente queira algo com todas as forças, ele só acontecerá se o destino der aquela forcinha e estiver ao nosso favor. Ninguém é feliz o tempo inteiro, sempre há algo a ser conquistado, ou alguma coisa a ser mudada. Pode ser um trabalho, um amor, um caminho ou até mesmo o número da sua calça jeans. O ponto chave da vida é aproveitar o máximo quando essa felicidade está ao seu lado e garantir que ela te dê forças para recomeçar quando a vida resolver te dar “aquela rasteira”. Todas as vezes que tive que recomeçar foram difíceis. Perdi Alex em duas ocasiões na minha vida. Ambas foram dolorosas o suficiente para abalar o meu emocional. Posso culpar o destino por essa doença horrível, ou posso simplesmente entender que era para ser. Eu prefiro a segunda opção. Não estava em minhas mãos ou de qualquer pessoa escolher o seu futuro. E quando eu acho que estou prestes a perder uma parte de mim, Deus na sua magnitude e bondade me deu a dádiva de ser mãe. O luto foi difícil, mas ter um filho seu me ajudou a seguir em frente. O destino não nos traz apenas tristezas. Eu encontrei Daniel. Ai de quem dizer que foi pura coincidência! Não foi. Eu precisava dele e ele de mim. Somos o encaixe perfeito, sendo imperfeitos. O importante é que nos amamos cada dia mais e construímos uma família linda. — Mamãe, mamãe! — A vozinha mais linda do mundo me chama. Gabriel já tem dois aninhos e é um menino lindo e educado. Alguns dizem que ele é a minha cara, mas eu consigo enxergar em seus pequenos olhinhos cor de mel os olhos do seu pai e a ternura que tem por todos. Eu sou grata demais por tê-lo em minha vida. — Oi, meu amorzinho... — Papai mi deu tocolate! — diz ele segurando metade de uma barra de chocolate com as mãos e o seu rosto todo lambuzados. — Ei, mocinho, a mamãe não falou que você ia almoçar e que chocolate era só depois do almoço. Cadê seu pai?
— HÁ! — Daniel aparece de repente, me dando um susto e Gabriel solta uma gargalhada. — Seu bobo! — bato no ombro do Daniel sorrindo — Estou vendo que não foi só o Biel que comeu chocolate, não é? — O que eu posso fazer? Ele me obrigou! — fala rindo, pegando Gabriel no colo — Não foi, filho? Biel sorri e faz que sim, sem entender. — Eu falei. — Deixe-me ver... — beijo os lábios de Daniel que estão sujos de chocolate — Hum, parece que esse chocolate deve estar muito gostoso. — Tá tososo, mamãe. Come! — Biel aponta o chocolate para mim e eu mordo. — Está uma delícia mesmo, filho. — Eu acho que a sua irmãzinha também gostou, não é, Biel? — Gostô, papai. Mel gosta de tocolate! — Eu tenho certeza que sim, meninos — digo acariciando minha barriga. — Agora, deixe-me voltar para as panelas antes que eu queime tudo. Saio correndo e coloco água no arroz. — Ih, Biel, é melhor irmos brincar lá fora, senão vamos ter que comer aquele papá feio da mamãe, e nós queremos o papá gostoso que ela faz, não é? — Ah, eu ouvi muito bem, viu! É o nosso primeiro dia de férias e esse ano nós resolvemos passar inteirinho na nossa casa em Petrópolis. O motivo? Estou no oitavo mês da minha segunda gestação. Dessa vez teremos uma menina e seu nome será Mel. Seremos a família “el”. Daniel, Isabel, Gabriel e Mel. Daniel me surpreendeu. Eu sabia que ele seria um pai bom, mas ele foi além das minhas expectativas. Ele é o pai do Gabriel, será o exemplo de pai pelo resto da vida, mas combinamos que Biel sempre saberia a existência do Alex. Tanto que no seu quartinho no nosso apartamento tem um porta-retratos ao lado da sua pequena cama, com a foto do Alex. Ele sabe quem é. Casamos logo após nossa reconciliação. Na verdade foi uma semana depois, pois não queríamos mais esperar e nem preciso dizer que o medo nos dias anteriores foi gigante. Afinal, só faltava uma bomba cair aos meus pés no caminho para o altar, abrindo uma cratera imensa e me impedindo de continuar. Graças a Deus, deu tudo certo. A cerimônia foi simples e muito bonita, aqui no jardim da nossa casa da Petrópolis. A casa que meu pai sempre sonhou em ver seus netos crescendo. Meu pai é o homem mais feliz do mundo. Vive paparicando Biel e já comprou uma dúzia de bonecas para Mel. Aliás, Biel não é só paparicado por esse avô. Ele tem mais outro dois vovôs muito legais que o amam incondicionalmente. Vovô Henry e vovô Renan. Doutor Renan fez questão de fazer parte da vida do Gabriel e eu fiquei muito feliz com isso. As
mágoas ainda existem, mas o carinho e a atenção dada ao neto mostram o quanto ele sente a falta do filho e isso enche meu coração de alegria. Jamais negaria isso a ele. Luci e Lua são as madrinhas. Não teve ninguém que iria impedi-las de se tornarem as madrinhas do meu pequeno. As duas estragam o menino. Compram presentes para o Gabriel toda semana e levam balas e mais balas, e ainda pedem para ele não me contar, é mole? Mas a paixão e amor que essas gêmeas têm pelo meu filho é emocionante. São as titias Luti e Lu. Quanto ao Daniel... Hum, o que falar do meu marido? É clichê falar que tenho sorte e que ele é o melhor marido e pai do mundo? Pode ser clichê, mas é a mais pura verdade. Ele é tudo isso e muito mais, mesmo com todas suas imperfeições. Aliás, imperfeições mínimas, assim como eu tenho as minhas. Ele se tornou um homem muito mais seguro e eu também. O tempo nos mostrou muitas coisas e o mais incrível é perceber que o amor que a gente imaginava ser o maior do mundo, poderia crescer ainda mais a cada dia com todos os gestos de carinho e dedicação. Eu tenho certeza de que Alex está feliz com o pai que escolhi para o nosso filho. O mais importante de tudo isso é que estou aproveitando cada segundo dessa felicidade e que quando a tempestade vier, não vou me abalar, porque hoje eu tenho em quem me apoiar. Eu tenho vidas que dependem de mim. Tenho um marido que está de mãos dadas comigo e que não me deixa cair. E quando a saudade apertar é só eu fechar meus olhos e olhar as estrelas. Eu sei que ele está lá.
FIM
Para quem não conhece o primeiro livro da série: DEPOIS DO QUE ACONTECEU, saiba como começou a saga de Isabel, Daniel e Alex nesse romance que irá tocar fundo o seu coração. Já à venda na Amazon.
Como alguém consegue seguir em frente após uma perda devastadora? Desde pequena Isabel sabia como seria o seu felizes para sempre. Infelizmente nem sempre a vida acontece como planejado e o último ano provou isso para ela. Presa entre as dolorosas lembranças do passado e o amor incondicional de seu pai e suas amigas, Isabel precisa aprender a viver novamente. E parece que o Destino resolve dar uma ajudinha, colocando em sua vida um charmoso homem chamado Daniel. Mas será que a tão desejada felicidade realmente está prestes a se concretizar? Conheçam a história de Isabel e descubram como ela aprendeu a seguir em frente Depois do que Aconteceu.
A autora JULIANA PARRINI
Carioca, Juliana Parrini é estudante de Letras, com especialização em Língua Inglesa. Leitora compulsiva, mãe coruja e apaixonada por rock. Sua paixão pela escrita começou ainda na adolescência, quando começou a escrever suas histórias nos cadernos em salas de aula tendo seus amigos como leitores. Sobre os romances, ela diz: “Admiro dramas reais e sentir o amor brotar, mesmo com as adversidades da vida. Seja amando, odiando e chorando... os livros sempre nos transportam para um mundo encantador”. O romance Depois do que Aconteceu foi sua estreia no mundo literário, que conquistou mais de três milhões de leituras na plataforma Wattpad. Em outubro de 2014, lançou seu segundo livro intitulado Novamente Você, uma comédia romântica. Ambos tornaram-se best-sellers na Amazon, entrando no ranking dos e-books mais vendidos da Revista Veja. Juliana é casada, mora com o marido e os dois filhos no Rio de Janeiro.
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NOVAMENTE VOCÊ
Miah Madsen precisa voltar para o lugar que fez questão de esquecer por doze anos e encarar sua família, seus amigos e, inclusive, seu ex-marido. Tudo o que ela não queria era ser novamente a Maria Rita. Mas, ao colocar os pés naquela ilha, ela percebe que aquele lugar seria o seu maior pesadelo. Porém, essa era a sua única opção. Leonardo Júnior ou Léo, como é chamado por todos, era um caiçara típico que foi abandonado pela esposa de um dia para o outro. Porém, em vez de se entregar ao sofrimento, ele descontou sua mágoa e sua decepção no trabalho árduo, sendo recompensado com o sucesso. Léo se tornou um empresário bem-sucedido, dono da melhor pousada de Ilha Grande, o lugar onde nasceu. O que ele não imaginava é que Maria Rita, sua ex-esposa, voltaria e faria seus alicerces balançarem novamente. Será que podemos nos apaixonar novamente pela mesma pessoa após tantos anos? Afinal, uma mágoa pode mesmo durar para sempre?
Table of Contents Agradecimentos Prólogo Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10 Capítulo 11 Capítulo 12 Capítulo 13 Capítulo 14 Capítulo 15 Capítulo 16 Capítulo 17 Capítulo 18 Capítulo 19 Capítulo 20 Capítulo 21 Capítulo 22 Capítulo 23 Capítulo 24 Capítulo 25 Capítulo 26 Capítulo 27 Capítulo 28 Capítulo 29 Capítulo 30 Capítulo 31 Capítulo 32 Capítulo 33 Capítulo 34 Capítulo 35 Capítulo 36 Capítulo 37 Epílogo A autora Contato
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