A is for abstinence vol 2 kelly oram

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Envio: Soryu Monteiro Tradução:

Angela

Barreiros,

Ana

Paula-

Aninha, Vanessa Amb, Ana Nanci Revisão Inicial: Ale Campos Revisão Final: Nilde Soares, Munique Klein Leitura Final: Paixão Formatação: Lola Verificação: Anna Azulzinha



O músico ganhador pela sexta vez do Grammy Award, Kyle Hamilton tem tudo, dinheiro, fama, talento, boa aparência e um trabalho que ama. A única coisa que lamentou na vida foi ter que se afastar de uma garota notavelmente

virgem,

embora

fosse

muito

orgulhoso,

teimoso, por medo de dar a ela única coisa que pediu: sua abstinência. Quatro anos depois e um coração machucado, Kyle se dá conta de que o sexo não é tudo. E de repente não pode deixar de pensar na garota que escapou. A virgem Val Jensen ficou sob sua pele como ninguém nunca fez antes. Não estava preparado para ela então, mas as coisas são diferentes

agora.

Ele

está

pronto,

amadureceu,

e

finalmente sabe exatamente o que quer, ou melhor, a quem quer. Kyle Hamilton será tentado novamente, e desta vez está disposto a fazer, ou não fazer, o que for necessário.




O aniversário A música no clube parou e um refletor se acendeu, me cegando momentaneamente enquanto meus olhos se ajustavam à luz inesperada. Não me surpreendi quando me deparei olhando para o maior bolo do mundo, mas agi assim de qualquer maneira. Adrianna teve muito trabalho preparando esta festa para mim. Queria que soubesse que apreciava seu esforço. — Feliz aniversário! Parabéns! Parabéns! Parabéns, querido Kyle! Feliz aniversário para você! Passei a maior parte de minha vida cantando para outras pessoas. Foi bom ter todos cantando para mim. — Porque você é um bom companheiro! Porque é um bom companheiro! Porque é um bom companheirooooo, ninguém pode negar!!! Um braço passou ao redor de minha cintura e os suaves lábios de Adrianna roçaram minha bochecha. — Faça um pedido, aniversariante.


— Por que preciso fazer? — Perguntei. — Já tenho tudo o que sempre quis. Fama, dinheiro, uma linda mulher, louca o suficiente para se casar comigo... Adrianna me deu um olhar que enviou calafrios por minha coluna vertebral. — Se você não fizer um pedido, como poderei realizá-lo mais tarde esta noite? A multidão ao redor de nós riu e assobiou. Sorri. — Acredito que minha lista de desejos acaba de ficar interminável. Peguei Adrianna entre meus braços e a inclinei para baixo. O beijo que dei era uma pista do que queria exatamente dela para meu aniversário. Depois que a estabilizei, soprei as velas do bolo, todas as vinte e cinco em um sopro, e fiz uma reverência frente à multidão escandalosa. — Discurso! Discurso! Discurso! — O que posso dizer?

— Perguntei, sorrindo para meus

amigos. — É bom ser eu! E essa era a verdade. Muitas celebridades se queixavam sobre o inconveniente da fama, a falta de privacidade, as pessoas que os amavam só pelo dinheiro e as conexões, a constante perseguição dos fãs e os paparazzi. Não posso dizer que estou de acordo com eles. Se alguém estava destinado a viver a vida de uma celebridade, esse alguém era eu.


Tive minha primeira prova da fama quando tinha dezoito anos e minha banda, Tralse, teve a grande oportunidade. Em uma canção "Rota da Paixão” subiu para número um das paradas e nosso álbum ganhou disco de platina. Nosso próximo álbum, S é por Sexo, foi triplo platina, ganhamos seis Grammys e me transformei em um superstar internacional. Durante os últimos três anos as pessoas se jogaram a meus pés e ainda não me cansei da atenção. Nunca estou sem amigos ou algo para fazer, sempre consigo tudo o que quero e sou tratado como um rei aonde quer que eu vá. Não estou envergonhado de admitir que adoro. Quando alguém começou a partir o bolo, os convidados começaram a cantarolar de novo. — Canta! Canta! Canta! Canta! Tal como aconteceu com o dinheiro e também com a atenção, nunca me cansava que pedissem para que eu cantasse. Adorava estar no palco e agora, desde que me separei da banda, não tive oportunidade de fazer isso muitas vezes. Tralse teve seu começo na garagem de meu amigo Reid quando ganhou uma bateria em seu aniversário e chamou seus quatro melhores amigos para uma sessão improvisada. Todos nós tínhamos doze anos. Shane e Dustin já tocavam violão, e eu podia cantar. Depois dessa primeira noite obrigamos Jeremy a aprender a tocar baixo para poder ser uma banda completa e o resto era história.


Faz quase um ano, Reid morreu de uma overdose de droga. Nós cinco éramos como irmãos e a perda de Reid foi devastadora para todos nós. A banda não sobreviveu. Deixei de escrever músicas depois disso e não cantei para uma audiência depois do ocorrido. Mas era meu aniversário e era genial até agora, assim felizmente subi ao palco. O vocalista da banda que Adrianna contratou para a noite me deu o microfone com entusiasmo. — Isto é incrível, homem — disse. — Tralse foi nossa inspiração. Tocamos várias versões, então os caras sabem todas as suas músicas. A ideia de cantar uma das músicas de Tralse sem os caras me apoiando foi como se alguém arrancasse um band-aid que estava fundido a minha pele por um ano, mas vi a emoção nos olhos de minha noiva e não pude negar. Adrianna é, sem dúvidas, a maior fã de Tralse. Eu a conheci na viagem para a Europa para o tour de S é por Sexo. Ela e um grupo de amigas nos seguiram ao redor do continente, enrolando seu caminho atrás dos bastidores atrás do show. Uma noite, finalmente me dei por vencido e a convidei para ir ao ônibus do tour depois do show, e então surpreendi a todos quando continuei a convidando. Levou seis meses para me convencer a sermos exclusivos, mas estivemos juntos sempre. Por ela, podia cantar uma de minhas velhas canções. — A banda diz que conhecem minhas canções — disse para a “plateia”.


— O que querem escutar? Enquanto as pessoas gritavam os títulos de músicas, Adrianna me tirou o microfone. — OH não, vocês não — disse ela a todos. — Ele é meu noivo. Eu devo escolher. Ri. — Que seja por você, baby. O olhar que Adrianna me deu em resposta era desafiante. — Quero escutar "Verdadeira lástima". A festa "surpresa" não foi uma surpresa, mas agora me encontrava surpreso. Poderia ter me chutado nas bolas. Seu pedido estava abaixo da linha da cintura e ela sabia. Como podia me pedir isso? E na frente de todos os nossos amigos? No segundo em que duvidei soube que falhei em algum tipo de prova. — Baby — sussurrei e tive uma sensação de indisposição em minhas vísceras. — Sabe que não canto mais essa música. Todos sabiam que eu não cantava mais essa música. Tinha escrito para uma garota, e, bom, é uma longa curta história: Não cantava mais essa música. Não fiz desde o primeiro show do tour de S é por Sexo. Retirei a música mais popular da lista, deixei muitas pessoas com raiva e decepcionado a muitas fãs, mas não me importava. Jurei que nunca a cantaria novamente e tinha a intenção de manter essa promessa. Os caras foram os únicos


que me apoiaram nessa decisão, até que conheci Adrianna. Ela sempre me apoiou. Não entendia por que agora fazia isto. Adrianna fez seu melhor beicinho para a plateia e disse: — Por favor, baby? É minha favorita. Foi à primeira música sua que escutei e a razão pela qual me apaixonei por você. Cantaria ela para mim desta vez? Não podia. Ela sabia que não podia. — Por que faz isto? — Sussurrei. Meu coração doía fisicamente enquanto a olhava nos olhos e via raiva inexplicável ali. Não tinha ideia do que fiz para merecer isto. — Você sabe que te amo, não? — Perguntei. Não estava certo do porquê, mas comecei a entrar em pânico. — É claro que sim. — Adrianna zombou. — Mas amou mais a ela, não é? Não pode cantar esta música para mim porque nunca a esqueceu. Sou sua segunda melhor opção. Pela primeira vez em minha vida, desejei não estar em frente de uma centena de pessoas curiosas. Todos na sala permaneceram em silêncio, esperando para ver o que eu faria. Mal podia pensar, pela surpresa das ações de Adrianna e o surpreendente ressentimento que tinha pelo passado. Quando olhei de novo para Adrianna, sua boca se curvava no mais diminuto sorriso. Retinha amargura, mas o que me irritou era a satisfação em sua expressão. Desfrutava desta emboscada.


Apartei a dor que sentia e deixei que surgisse a irritação. — Sempre fui fiel a você — falei baixo o suficiente pelo que esperava que toda a sala não pudesse escutar. — Te dei tudo, incluindo meu coração. Não mereço isso. Se você tinha um problema, deveria ter falado comigo sobre isso. Virei para a multidão e fiz a melhor tentativa para não franzir a testa para meus amigos. — Obrigado pela festa, pessoal. Bebidas são por minha conta pelo resto da noite. Desci do palco e fui ao bar antes que todos no clube se dessem conta do que disse e corressem como loucos pelo álcool. A única pessoa no clube corajoso o suficiente para me abordar depois disso, foi Shane Leopard. Shane estava acostumado a estar no Tralse comigo e era meu melhor amigo. Shane, Reid e eu tínhamos sido melhores amigos desde a escola primária, e a morte de Reid nos golpeou mais forte que aos outros caras. Desde a morte de Reid, as coisas

ficaram

diferentes

entre

Shane

e

eu.

Raramente

passávamos algum tempo juntos. Ainda somos melhores amigos, irmãos até o final, de algum jeito, mas sair agora era difícil já que nosso terceiro amigo não estava mais conosco. — Isso foi frio, homem — disse Shane enquanto sentava na cadeira junto à minha e tomava uma cerveja. — Não é brincadeira. Um silêncio cômodo se estendeu entre nós. Shane me deu quinze minutos para beber em paz antes de romper o silêncio.


— Então... talvez devesse cantar a música. Eu tocarei para você, se isso ajudar. A oferta era tão grande como a solicitação. Posso ter cantado uma ou duas músicas no último ano, mas não creio que Shane tenha tocado para uma plateia uma só vez desde que enterramos nosso amigo. — Você acredita que eu deva dar o que quer depois disso? — Shane tomou outro gole de sua bebida. — Você a ama, não? — Sim, mas... — Então deveria fazer. — Quando olhei para Shane, ele encolheu os ombros. — Não deveria fazer. Ela não tem razão de estar com ciúme. Shane riu. — As mulheres não precisam de uma razão para estar com ciúmes. Demônios, a única namorada que tive além de Cara foi uma moça por nome Rebecca Carlisle no Colegial. Só durou perto de uns três meses, mas perdi minha virgindade com ela e agora Cara odeia todas as mulheres chamadas "Rebecca". Sua própria sobrinha se chama Becca, e Cara fez com que toda a família começasse a chamá-la por seu segundo nome. Sorri com isso. A noiva de Shane, Cara, era uma bomba de mulher. Não podia imaginar o que ela faria se Shane se atrevesse a olhar para outra. O que ele nunca fazia, é obvio. Shane era o mais patético idiota do planeta. — As mulheres sempre ficam inseguras sobre as relações


passadas de seus namorados — disse. — Com uma tão notória como a sua, bom... não posso culpar Adrianna por estar um pouco louca sobre isso. Se não quiser perdê-la, você tem que dar o que precisa. Inclusive se isto significa cantar essa música para provar que superou de verdade. Cantar essa música de novamente vai contra tudo o que há dentro de mim, mas Shane tinha razão. — É apenas uma música homem. Pode fazê-lo. Suspirei e logo tomei o resto da minha bebida. Não era apenas uma música e Shane sabia melhor que ninguém, mas apreciava a conversa de motivação de qualquer jeito. — Bem. — Esse é meu garoto. — Shane me deu um tapa no ombro e ficou de pé. —Vamos terminar com isto. — Olhe irmão, isto é meu problema. Posso lidar com isso. Não tem que tocar por mim. — Não se preocupe. Sabe que cubro suas costas. Assenti incapaz de dizer a Shane o quão agradecido me sentia, mas não precisava escutar as palavras. Ele sabia. Esperamos até que a banda terminasse seu set antes de subir ao palco. Eles eram um grupo genial. — Ouçam, são assombrosos — disse, estreitando suas mãos antes de perguntar se me faziam um favor. — Especialmente você — adicionou Shane, individualmente


ao guitarrista principal. — Foi genial com essa coisa. Qual é seu nome? Os olhos do garoto se iluminaram com o elogio. — Obrigado. Sou Embry Jacobs — respondeu, estreitando nossas mãos um pouco zeloso. Sou um grande fã. — Tem um excelente gosto por guitarras, amigo. Você se importa se eu pegar emprestada por um minuto? Os olhos de Embry quase saltaram para fora. —Você vai tocar? Shane escondia sua angústia melhor que eu. Ninguém saberia pelo sorriso em seu rosto quão difícil era para ele. — Kyle tem uma música para cantar. Não posso deixar que faça sozinho. Embry felizmente deu o instrumento. Respirei fundo enquanto Shane colocou a correia sobre sua cabeça e passou seus dedos sobre as cordas. Olhamos um ao outro, nossas expressões idênticas: Sério, estávamos prestes a fazer isto. Cada membro da banda de Embry nos observava. — Sério que vai cantar "Verdadeira lástima"? — Perguntou Embry. Olhei para ele e depois para seus companheiros. — Conhecem? — Assentiram muito assombrados para responder vocalmente. — Então acredito que cantarei. Tenho que dar o que a mulher quer.


Me senti mal do estômago, me percorreu um arrepio de emoção tão forte pelos meus nervos enquanto dava um passo para o microfone. Amava esta canção tanto como a odiava. — Ouçam todos! — Gritei, ganhando a atenção do clube inteiro. Limpei a garganta apesar de que não tinha nada a obstruindo. A senhorita pediu uma música. Não a cantei em anos, então, uh, tenham paciência comigo se estiver um pouco enferrujado. Esperei que Adrianna se dirigisse ao palco, mas não a via. — Adrianna, sobe aqui. Se for cantar isto para você, então te quero na frente e no centro. A multidão ficou em silêncio quando não obtive resposta. — Adrianna? Baby? — Uma risada nervosa me escapou. — Alguém viu minha noiva? Não posso fazer isso sem ela. As cabeças se retorceram e voltaram todos procurando Adrianna, e comecei a ter um mau pressentimento. Shane também teve um pressentimento na atmosfera, porque deu um passo a meu lado bem quando começamos a escutar gritos abafados. A multidão começou a se dividir como o Mar Vermelho, do palco aonde eu permanecia olhei para uma mesa no canto atrás da sala onde duas pessoas se encontravam nos braços uma da outra. Estava muito escuro para ver algo mais que apenas suas silhuetas, mas a surpresa da multidão me disse o suficiente. As duas silhuetas escuras se separaram e embora não podia decifrar seu rosto, podia sentir seu olhar me queimando.


Sabia que sentiria o ferrão da traição mais tarde, mas bem nesse momento não senti nada. Estava amortecido. — Bem, tanto para isso — disse no microfone. — Estou feliz por não ter feito ridículo ou algo assim. Senti uma mão sobre meu ombro. — Amigo, só vamos embora — sussurrou Shane. Apartei sua mão. — Em um minuto. Devo a esta mulher uma música. — Dei a volta e olhei à banda nervosa atrás de mim. — Meninos sabem minha música "Te dando o dedo do meio"? Embry

foi

o

primeiro

a

responder.

Seus

lábios

retorceram em um sorriso e pegou de volta sua guitarra. — É claro, homem.

se


E é por Enganos Quando acordei, soube que estava em minha cama. Os lençóis de algodão egípcio não mentiam. O que não sabia era a identidade da bomba morena que dormia em meus braços. Tinha uma séria ressaca. Já estive em piores situações, mas não por muito tempo e não muito frequentemente. Tentei pensar no que aconteceu ontem à noite, mas as coisas pareciam um pouco turvas. Algo sobre um jogo dos Lakers e shots de tequila. Por que trouxe esta mulher para casa estava além de mim. Não me interpretem mal, sabia exatamente porque fui para cama com ela, agora que pensava, estava certo de que era uma animadora dos Lakers, por isso... Olá, sim, por favor, mas, por que tinha que voltar aqui? A regra era: sempre levar às garotas a suas casas. É mais fácil escapar dessa maneira e reduz sérios riscos de perseguidoras psicóticas invadindo sua casa. OH, bem, o que foi feito está feito. Agora tinha que encontrar uma maneira de sair disso sem parecer um idiota


total. Talvez levá-la para tomar café da manhã em algum lugar antes de dirigir para sua casa. Entretanto, primeiro café, aspirina e uma boa ducha quente. Com cuidado para não despertá-la, tirei sua mão de meu peito e sai de seu abraço. Minha costa se chocou contra algo quente e sólido. Um suave gemido soou detrás de mim e passou um braço ao redor da minha cintura. Não estava sozinho nesta cama. Quero dizer, além da morena. Olhei por cima do ombro e recebi um sorriso sedutor. Ao que parecia, tinha uma loira quente para acompanhar a morena. Duas mulheres de uma vez não era uma novidade para mim, mas era estranho. — Bom dia, lindo — disse a loira, se aconchegando contra mim. A morena se mexeu ao ouvir o barulho e também se aconchegou, colocando um rastro suave de beijos em meu ombro nu. Uma delas já era bastante ruim. Como fugiria de duas? — Foi uma noite louca, hein? — Mmm — concordei. Deve ter sido, tendo em conta o lapso significativo na minha memória. Talvez uma ou duas doses de tequila a menos tivessem sido melhor. — Vocês duas senhoritas, com certeza sabem como fazer com que um cara tenha um bom momento. — Só as duas? — perguntou uma terceira voz sonolenta. Três? Sério? Uma ruiva sexy se sentou e me deu um biquinho sedutor.


Maldita seja. Isso era novo até para mim. Sinto como se estivesse protagonizando minha própria piada pessoal. Uma loira, uma morena e uma ruiva despertam em sua cama... todas riram e a loira tentou iniciar uma reconstituição do que aconteceu ontem à noite, mas não ouvi. Minha cabeça doía, estava de mau humor, irritado comigo mesmo por trazê-las para casa, e inclusive com as três aqui, não podia diminuir a dor da Adrianna. Só queria que estas mulheres fossem embora. Minhas orações foram respondidas da forma mais irônica quando minha ex-noiva entrou no quarto. — A hora de brincar terminou putas. Vocês têm trinta segundos para sair da cama do meu noivo antes que as tire eu mesma. Minhas convidadas não ficaram felizes com a ameaça e eu realmente não queria me entregar à birra de Adrianna, mas pelo menos resolveu meu problema. — Sinto muito, senhoritas, parece que minha ex e eu precisamos ter uma conversa. Levantei da cama e vesti um roupão. Enquanto tentava fechá-lo, encontrei o olhar furioso de Adrianna com um olhar aborrecido. — Pelo que parece alguém tem que rever as regras de ruptura. Por exemplo, não entrar em minha casa sem ser convidada e não se meter com meu tempo de diversão. Olhei às garotas de novo e assinalei o banheiro principal. — A ducha fica ali. Levem seu tempo. Vou fazer um pouco


de café. Fui para a cozinha e liguei a máquina de café. Ela esperou até depois que eu engolisse um punhado de analgésicos para começar a falar comigo. — Três mulheres de uma vez, Kyle? Era difícil manter meu temperamento sob controle. Nem deveria estar aqui e muito menos atuar como uma amante despeitada. — Não qualquer mulher — disse, abrindo a geladeira. — Animadoras profissionais. Ginastas. Hmm... Sobras de comida Chinesa. O Chow Mijem frio funcionaria por enquanto. — Com quantas mulheres dormiu esta semana? Coloquei um bocado de macarrão em minha boca e encolhi os ombros. — Na realidade não contei, por quê? Com quantos homens você fodeu? Além do cara pelo qual me deixou em meu aniversário, claro. Já sei sobre ele. Celebrity Gossip conseguiu um grande dinheiro pela foto de vocês indo para sua casa logo depois que rompeu meu coração e me humilhou diante da metade de Los Angeles. Assinalei a capa de uma revista sensacionalista que mostrava a minha noiva me traindo. Ela estava presa na minha geladeira com ímãs. Não podia assegurar o porquê mostrava como se fosse um cartão de Natal. Ela olhou a foto e seu rosto escureceu. Seus grandes olhos


castanhos embaçaram e seu lábio inferior tremeu. Tive que desviar o olhar. A odiava, mas meu amor por ela foi real. Tentei com todas as minhas forças enterrar esses sentimentos. Se chorasse, iria me segurar. O café estava pronto, assim me servi de uma xícara fumegante, coloquei um pouco de açúcar e fui para o terraço de trás. Precisava de um pouco de ar. Era um lindo dia no sul da Califórnia minha propriedade em Malibu se elevava sobre os penhascos com vista para o Oceano Pacífico. Respirei fundo, deixando que o aroma da água do mar, a brisa fresca do oceano e o som das tranquilas ondas ocupassem minha cabeça e meus nervos. Adrianna se uniu a mim, se encolhendo enquanto olhava ao redor. Sua dor era tão evidente como a minha. Na semana passada, nos sentarmos juntos neste terraço teria sido só uma parte de nossa rotina matinal. Tomaríamos café, contaria sobre os Lakers, ou algo que li na revista SPIN e ela me aborreceria até a morte com detalhes sobre o casamento. Soava terrível, mas não importava. Éramos felizes. Adrianna rompeu primeiro o silêncio. — Cometi um engano. Sua voz tremia enquanto lutava com suas emoções. Também me custava controlar as minhas. — Foi um engano rasgar meu coração por vingança na frente de todos os nossos amigos e atirar no lixo uma longa relação de dois anos e meio por uma música?


— Não se tratava da música, Kyle! — Seus olhos derramaram lágrimas finalmente. — Foi pelo fato de que não podia cantá-la. Passaram mais de três anos e ainda não pode superar o que aconteceu. — Mas não aconteceu nada.

Está com ciúme de uma

garota com a qual nem saí. Adrianna me golpeou com um olhar duro. — Não tem que estar em uma relação para estar apaixonado por alguém. — Apaixonado... — Não podia acreditar que estava tendo esta conversa. Enterrei todas as lembranças da garota em questão tão profundas quanto era possível. — Baby, como pode pensar que estou apaixonado por ela? Nem a queria naquela época. Sim, odeio cantar essa música, mas não pensei nela em anos. — Mas não a deixou ir, não é verdade? Voltei o olhar para o oceano e tomei um gole de café em silêncio. O que podia dizer? Amor poderia soar exagerado para meus sentimentos por Val, mas ela foi à única garota em uma série muito longa de mulheres que me escapou. Porque, como um idiota, a deixei ir. Durante meses, Val Jensen, a virgem, preencheu todos os meus pensamentos, dia e noite, até que me vi obrigado a bloqueá-la por completo de minha memória. Uma vez que tive a oportunidade de fechar a caixa de Pandora, me assegurei de fechá-la bem, e jogar fora a chave. Mas um encerramento era


algo que Val e eu nunca conseguimos. Empurrei Val de minha mente e me concentrei em meu problema atual. — Eu te amava Adrianna. Qualquer que fosse a condição em que se achava meu coração, você o tinha. — Eu sei — ela sussurrou, secando os olhos com um lenço — Posso ver agora. Posso ver o muito que te dói e eu sinto por isso. Sentia? Tomei meu café. Não era a única que sentia. — Cometi um erro, Kyle — ela suplicou. — Quando se negou a cantar essa música, doeu. Brian fez eu me sentir melhor naquele momento, mas ele não significava nada. Estava com raiva e chateada, e assustada de ter que competir com uma lembrança para sempre. Mas soube que estava errada quando me dei conta do que estava fazendo no palco. — Entretanto, ainda assim você foi para casa com ele naquela noite. Adrianna elevou as mãos com exasperação. — Bem, você saiu sem falar comigo! Cantou aquela música horrível e me disse que tivesse uma boa vida. — Certo. Isso geralmente significa que a pessoa não quer voltar a ver a outra nunca mais. Então, o que faz aqui neste momento? Por que entra em meu quarto e expulsa minha companhia como se tivesse o direito de fazer? Se inclinando sobre a pequena mesa do pátio ela pegou minha mão.


— Porque te amo. Podemos superar isto, Kyle. Ambos cometemos alguns erros esta semana, então concordo que... — Você cometeu erros esta semana — corrigi, tirando minha mão da dela. — Eu não fiz nada errado. Não me deitei com ninguém até depois que essa foto acabasse em minha geladeira. Minha noiva me traiu. Tenho direito de agir como quiser. Levantei da mesa e me inclinei sobre o corrimão do balcão. Depois de uma respiração profunda, a enfrentei de novo. — Eu poderia ter sido capaz de perdoar alguns beijos, mas você foi para casa com ele. E não diga que foi porque eu fui. Mantive meu telefone ligado a noite toda. Esperei que me ligasse. Venderia minha alma ao diabo por uma mensagem, me senti tão desesperado para que voltasse. Adrianna se uniu a mim no corrimão, o desespero em seus olhos. — Estava ferida! — disse. — Essa música que cantou... Tentei duramente manter meu temperamento sob controle, mas agora já não queria. Me senti um pouco nervoso. — Você estava ferida? — gritei. — Como acha que me senti? Ah qualquer momento nestes últimos dois anos e meio, você poderia ter me perguntado sobre Valerie. Em vez disso, escolheu me ferir e me humilhar na frente de todos os nossos amigos. E o pior de tudo, você gostou. Vi o olhar em seus olhos quando percebeu que estava desmoronando


por dentro. Fiz uma pausa, dando a oportunidade de se defender, mas sua culpa a manteve em silêncio. Virei à cabeça para trás, para olhá-la. — Se você se importasse comigo a metade do que eu o fazia, nunca seria capaz de me tratar assim. Muito menos de se deleitar com sua vitória. — Kyle... Ouvi o choro na sua voz, mas me neguei a olhá-la. Ela não merecia minha compaixão ou perdão. — Terminamos Adrianna. Deixe sua chave e meu anel no balcão quando sair. Ela hesitou por um momento, mas saiu sem dizer uma palavra. Esperei até que escutei a batida da porta da frente antes de entrar. Me senti aliviado quando encontrei uma nota do trio de garotas Lakers ao lado da cafeteira vazia, e ainda mais agradecido de ver Shane parado ali, assaltando minha geladeira. Foi para as sobras na caixa de comida que ainda não comi. — Uma loira, uma morena e uma ruiva entram em um bar — disse enquanto dava a volta e se apoiava no balcão. — Qual você leva para casa? — Por que se contentar com uma quando se pode ter as três? — brinquei. Sacudiu a cabeça e colocou um bocado de porco agridoce em sua boca. — E não as encontrei em um bar. — Roubei a caixa de


papelão e o garfo das mãos dele. Comi um grande bocado e sorri ao homem com a alegria que não sentia. — Eram líderes de torcida. Garotas Lakers, para ser exato. Com traje para um jogo. Shane levantou uma sobrancelha. Tentou manter a cara séria, mas finalmente rompeu em gargalhadas. — Isso é impressionante, até para você. — Suponho que é bom saber que ainda o impressiono. Suspirei e me deixei cair na mesa da cozinha com minha comida Chinesa fria. Ele se conformou com uma banana e um copo de leite, e se uniu a mim. Seu tom de voz se acalmou um pouco quando perguntou: — Como lidou com Adrianna? — Da forma como o esperado. — Esfreguei as mãos sobre meu rosto na tentativa de afastar a dor de cabeça. Tinha certeza de que tinha mais a ver com Adrianna do que com as doses de tequila da noite anterior. — Diria que me senti mal por ela, mas... — Sim, eu ouvi. Brutal. Você está bem? Dei uma olhada sobre a caixa de comida. — Não preciso chorar sobre seu ombro se isso for o que está perguntando, idiota. Ele soltou um bufo. — Bem, poderia ao menos dar a minha noiva o que precisa? Ela me mandou aqui para ter certeza de que ainda vai ao casamento neste fim de semana, mas só me deu permissão


para permanecer aqui durante vinte minutos. Tinha algum tipo de crise de centros de mesa esta manhã e estava ficando louca. Realmente não quero lidar com uma crise de centros de mesas. Ele viu a nota da equipe de animadoras e riu entre dentes. Estava coberta de beijos com batom e números de telefones. — A menos, claro, que queira me deixar por uma melhor oferta. Gemi. — Honestamente, acredito que já tive o suficiente de mulheres por hoje. Hoje me promete um dia de nada; exceto filmes de ação sem sentido, vídeo games, hambúrgueres e uma caixa de cerveja, e vou chorar lágrimas de verdade para sua noiva psicopata. Shane pegou meu ombro e seu olhar brilhou solene que me fez rir. — Meu herói!


B é para Bodas Só há uma coisa pior do que casamento: casamentos sem álcool. O pai de Cara era um alcoólatra sóbrio há oito anos, então proibiram todo o álcool na recepção. Respeitava sua decisão, mas de verdade precisava de um gole. Ao menos o DJ era decente. Claro, este era o casamento de Cara, então não esperava outra coisa. Sempre teve um excelente gosto para música e não tinha nenhuma dúvida de que ficou noivazilla com a lista de músicas. Na verdade, no que diz respeito ao casamento, este era bastante incrível, apesar da falta de álcool. A comida era estupenda, a música estava muito boa, a lista de convidados era pequena, Cara era uma noiva linda e ouça, era no Havaí. Se apenas pudesse conseguir que alguém me trouxesse um maldito copo de uísque, para me ajudar esquecer do fato de que há duas semanas fazia as provas de bolo com minha própria noivazilla. — Por que vim a esta coisa? Era uma pergunta retórica, mas meu ex-companheiro de


banda, Dustin, respondeu de qualquer maneira: — Porque é Shane. — Tomou um gole de sua soda e se encolheu. O coitado não queria estar sóbrio nestes instantes mais do que eu queria. É claro, ele nunca queria estar sóbrio. Soltou um arroto e então acrescentou: —Sabe que Cara teria um épico ataque de histeria se você não tivesse vindo. Isso era verdade. Cara se esforçou muito para ter a todos aqui. Era a primeira vez que os caras se reuniram desde o funeral de Reid. Toda a banda reunida foi o único presente de casamento que nos pediu. Era bastante incômodo, mas Cara tinha razão: Hoje tínhamos que estar aqui pelo Shane. Além disso, cá entre nós, tinha medo dessa mulher. Se ela dissesse salta... — Ei, cara, ao menos você vai tirar algo bom disto. — Dustin deu um empurrãozinho no meu ombro e apontou para o outro lado da sala. — A dama de honra está te fodendo mentalmente desde que apareceu. Segui seu olhar para a pista de dança onde a mulher em questão participava da dança obrigatória com o padrinho. O irmão mais novo de Shane olhava para seus seios enquanto ela me olhava. Quando encontrei com seu olhar, seu rosto aqueceu com o desejo. Conhecia muito bem esse olhar. Nem teria que ter uma conversa com ela. Simplesmente podia apontar com minha cabeça para a saída e seguiria para o meu quarto de hotel.


Era sexy. Não havia dúvida disso. Era uma atriz dessas telenovelas. Tenho certeza que conseguiu esse papel por duas razões, as duas razões pelas quais seu companheiro de dança, apenas um adolescente, ainda babava. — Talvez deva salvá-la desse imbecil. Dustin me deu um olhar curioso, mas não mencionou o que tinha em mente. Em troca, encolheu os ombros e disse: — Se não fizer, eu farei. Olhei Dustin de novo e vi algo que me incomodou. Piedade. Me empurrava para uma garota fácil porque sentia pena de mim. De repente, decidi provar ao mundo e especialmente a Dustin — Kyle Hamilton não é um homem para se sentir pena. — Fui para a pista de dança. Merda, o fato é que esta era a "primeira dança", ou seja, lá o que e eu estava indo interromper. — Desculpe, você se importaria se... — Eu adoraria! A dama de honra já estava em meus braços antes que o pobre Ben se desse conta que eu me encontrava ali. Ignorei seu olhar e me aproximei da linda mulher. Cheirava bem e usava um vestido que quase não deixava nada à imaginação. Ela tinha um par de grandes olhos castanhos e mordeu seu lábio inferior, muito cheio e sexy. — Esperava que me tirasse para dançar — disse. Fazia isso tantas vezes no passado que minha resposta era automática. — Como poderia resistir à mulher mais linda do salão?


— Será melhor que Cara não o escute dizer isto. — Será nosso segredo. Pisquei um olho e ela me deu um sorriso sedutor antes de apoiar sua cabeça em meu ombro. A forma que seu peito estava pressionado contra o meu não foi acidental. Esta mulher estava tão familiarizada com o jogo como eu, uma profissional. Mesmo assim, por educação conversei um pouco antes de arrastá-la para as escadas. — Então, trabalha com Cara? — Sim. — A dama de honra olhou ao redor do salão e então me deu outro sorriso sexy. — O que você achar se formos para um lugar mais privado? Tenho um quarto no andar de cima. Sorri. Tanta cortesia. — Não tem algum tipo de dever como dama de honra? Encolheu os ombros. — Sim, mas será pelo menos dentro de quarenta e cinco minutos antes que cortem o bolo e joguem o buquê. Meus olhos caíram em seus seios. Sei que acabava de criticar Ben por isso, mas não podia evitar. Eram grandes seios, sem dúvida e o resto dela era igualmente perfeito. Tentei imaginar todas as coisas que podia fazer com um corpo como o seu, tentei me entusiasmar. Coloquei as

mãos para baixo, desfrutando de uma

antecipação dos eventos que estavam por vir, não adequados para menores de treze anos. A dama de honra tremeu de prazer.


Levantou seu queixo, separando seus lábios ligeiramente. Era um claro convite, então a beijei. O

beijo

foi

bastante

intenso.

Ela

estava

entregue.

Definitivamente. Mas eu não. Não havia nada ali para mim. Não havia fogo. Não havia faísca. Só seguia os movimentos. Sabia que ir para o quarto com ela faria com que eu me soltasse, mas por alguma razão ainda não parecia valer a pena. Parei de beijá-la, surpreso com meus pensamentos. Sexo casual com uma linda mulher não parecia valer à pena? Que demônios? — Há algum problema? — Sussurrou enquanto passava seus lábios sobre minha garganta. Havia algum problema? Não tinha ideia. Não tinha nenhuma ideia do que estava acontecendo neste momento. Nunca experimentei nada como isto antes. A dama de honra parou seu ataque oral a meu pescoço quando alguém clareou a garganta. A noiva e o noivo nos olhavam com olhares divertidos em seus rostos. — Vejo que conheceu Afrodite — brincou Cara. O nome da dama de honra era Afrodite? Que tipo de nome era Afrodite? Um nome artístico. Porque era uma atriz. Como o idiota que fodeu minha noiva. Odeio atores. — Não nos conhecemos propriamente. — Afrodite riu. — Se importariam de esperar o bolo e o buquê e tudo isso por um tempo? Prometo que não demoraremos muito. Esperei que Cara explodisse em um ataque de raiva, mas


não parecia surpresa com o pedido de sua amiga. Rolou os olhos e disse: — Trinta minutos ou o jogarei sem você. Afrodite sorriu e lançou beijos para Cara. — Eu amo você baby. É a melhor! Agarrou minha mão, mas a retirei antes que pudesse me arrastar para fora do salão. Quando me perguntou, não sabia o que dizer. Não sabia qual era meu problema. Mas logo me encontrei dizendo: — Na verdade, acredito que ficarei aqui. Surpreendi Shane, Cara e especialmente uma muda Afrodite. Ela ficou boquiaberta e arregalou seus grandes olhos azuis

como

se

não

pudesse

compreender

o

que

estava

acontecendo. — Sinto muito — disse. — É uma mulher linda e tudo, mas não vai acontecer. Ao menos não comigo. — Apontei meu solitário companheiro de banda e acrescentei: —

Entretanto,

Dustin

provavelmente

te

daria

uma

oportunidade. Os olhos de Afrodite se arregalaram e sabia o que vinha. Nem tentei evitar a bofetada quando ela levantou a mão. Merecia isso.

Me

xingou

com

uma

sequência

impressionante

de

palavrões e então saiu pisando duro para o banheiro das mulheres. Virei para meus dois amigos e dei meu maior sorriso.


— Ao menos não tinha uma taça de champanhe na mão. Ouvi que essa coisa arde quando cai nos olhos. Ambos continuaram me olhando com a boca aberta, esperando por uma explicação que não tinha. — O que foi isso? — perguntou Cara. Eu me encolhi, me dando conta que poderia ter irritado à noiva em seu grande dia. — Sinto muito se acabo de arruinar suas bodas ou algo assim.

Não

foi

minha

intenção

insultar

sua

amiga.

Simplesmente não estava a fim. Esperei um tipo de explosão emocional que Adrianna sem dúvida teria tido se estivesse na posição de Cara, mas ela começou a rir. — Nunca, jamais pensei que veria esse dia! — exclamou, ofegando através de seu ataque de riso. Kyle Halmiton esbofeteado por negar uma oferta em lugar de ter feito uma. — Rápido, chame o Guinness book! — interveio Shane. Ria tanto que teve que agarrar meu ombro para evitar cair. — Isto tem que ser alguma espécie de recorde. Eles não tinham a intenção de me ferir, mas mesmo assim me irritei. Sabia que era bastante irônico, mas simplesmente não podia compartilhar seu humor. Isto não era engraçado para mim. Era perturbador. O que estava acontecendo comigo? Suspirei e forcei um sorriso em meu rosto que sabia, não enganaria ninguém. — Felicidades. Se precisarem de mim, estarei no bar do


hotel. Estava ocupado enchendo um copo de uísque escocês quando Cara se sentou no banquinho junto ao meu. — Escapulindo em sua própria festa de casamento? — perguntei. — Simplesmente tirei uma pausa rápida. — Bateu sua mão no balcão. — Alguém pode me servir uma bebida? Algo forte. — Sogra? — adivinhou o garçom, rindo enquanto deslizava um copo na frente dela e o enchia com vodca. Cara bebeu de repente em um gole como uma profissional. Fez uma careta pelo ardor do álcool e gemeu. — Essa mulher me deixa louca. Desta vez também ri. Cara passou seu braço por cima de meu ombro. — Obrigada por vir. Sei que não deve ter sido fácil logo depois de... Fiquei feliz quando sua voz falhou. — Está tudo bem. Superei. — Cara levantou uma sobrancelha, me recriminando pela mentira. — Não, sério — insisti. — Então, o que foi tudo aquilo lá dentro? Dei de ombros, bebendo o resto de meu uísque e então fiz gesto ao garçom para que voltasse a encher meu copo. — Não faço a mínima ideia. — Esteve com alguém desde Adrianna? — perguntou. O


colarinho da minha camisa de repente parecia muito apertado. Quando tentei puxar não ajudou, tirei a gravata e desabotoei alguns botões. — Mais do que quer saber, nessa primeira semana — disse uma vez que pude respirar de novo. — Mas não me fez sentir melhor simplesmente... perdi o interesse. — Perdeu o interesse? Dei de ombros outra vez. — Tinha algo... acreditei que tinha algo especial com Adrianna. A coisa casual parece... sem sentido agora. Não vale a pena. — Uau. — Cara piscou pela surpresa, mas sua reação mesmo assim foi sincera. Amaldiçoei quando percebi o que acabava de dizer. — Me arruinou, não é? Estou quebrado. Cara roubou um gole da minha bebida e então riu um pouco. — Talvez — concordou. — Acho que depende de como se vê. Aposto que se você perguntar a Val, diria que Adrianna te arrumou. Val. Como a antiga melhor amiga de Cara: Valerie Jensen. Como a única e inigualável Virgem Val. A garota que minha noiva me acusou de estar apaixonado e me traiu devido a isso. O que acontecia com todo mundo que trazia o passado de volta? — A boa Virgem Val. — Deixei sair o nome em um comprido


suspiro. Depois de uma pausa, sacudi a cabeça e tomei outro gole. —

Como

ela

está?

perguntei

lentamente.

Cuidadosamente. Relutante. Meus pensamentos se dirigiram para ela mais de uma vez desde a minha ruptura com Adrianna. — Continua sendo virgem ou encontrou seu par perfeito? Cara engoliu em seco. Tomou um minuto antes de responder. — Não sei — sussurrou. E então percebi. — Ela não está aqui hoje. — Sabia que se distanciaram depois do ensino médio, mas não podia acreditar que Val não comparecesse ao casamento de Cara. — Sinto muito. Cara deu de ombros. — Não a convidei. Frente ao meu olhar de surpresa, roubou minha bebida novamente. — Queria convidá-la, mas no final não pude. Não nos falamos desde aquela noite no show do Tralse. Não podia enviar um convite porque tinha medo que não viesse. Fico triste que não esteja aqui, mais vou superar. Em uma piscada, o bar do hotel se foi e me encontrava de volta naquele palco há mais de três anos. Aquele momento com Val foi um dos melhores de minha vida. Foi o primeiro show do Tralse no estádio, com as entradas esgotadas e fizemos a melhor


atuação de nossas vidas. A multidão ficou eufórica quando pedi a Val que se unisse a mim no palco. Ela tocou comigo pela primeira vez e realmente desfrutou. Val e eu chegamos a uma trégua naquela noite. Me surpreendeu mais do que ninguém jamais fez quando parou diante de mim naquela irritante e sexy saia, e me fez implorar de joelhos por seu perdão. Nunca esquecerei o olhar em seu rosto enquanto lutava para não sorrir. Aquele sorriso foi um reconhecimento da amizade que desenvolvemos e que nunca admitiu que existia. — Kyle? — Ah? Sacudi as lembranças e tentei focar em Cara. Seus olhos nublaram então dei um guardanapo de papel. A culpa tomou conta de mim enquanto secava os olhos. A amizade de Cara e Val foi arruinada por minha culpa. Fui eu quem se meteu entre elas. — Sinto muito, Cara. Cara apertou minha mão e negou com a cabeça. — Não foi sua culpa. Todos cometeram erros naquela época. — Eu cometi a maioria — murmurei. Ficamos em silêncio, perdidos em nossos pensamentos, provavelmente recordando toda aquela louca aventura e nos perguntando se poderíamos ter feito as coisas de maneira diferente.


— Ouça Cara, qual foi seu maior arrependimento na vida? A resposta de Cara foi rápida. — Perder Val. Sorri. Era o de ambos. Pensei que meu noivado fracassado seria meu maior arrependimento, mas estava equivocado. Passei as duas últimas semanas analisando minha relação com Adrianna e me dei conta que estava melhor. Estive com ela para tirar alguém mais de minha cabeça e fiquei porque era mais fácil. Sim, amei Adrianna, mas nunca foi um desses romances que mudam sua vida, que tiram o chão, sobre os que dizem nos filmes. Dentro de três anos não haveria nenhuma música que não pudesse cantar porque não poderia suportar pensar nela. Inclusive nunca escrevi uma música para ela. Val era diferente. Apesar de nunca termos tido uma relação real, a garota estava sob minha pele arruinando minha cabeça de uma maneira que ninguém mais fez. Senti Cara me olhando, mas mantive meu olhar fixo em meu copo. Nunca falei sobre a última vez que vi Val, a noite que nos despedimos. Nunca disse a ninguém exceto a Shane sobre o beijo que compartilhamos naquela noite. Apenas Shane sabia que ela tinha me dado seu coração com uma condição... condição esta que me assustou muito, eu fui muito teimoso e orgulhoso para aceitar. Sem saber o que mais dizer, tomei o resto de minha bebida de um gole só.


— Felicidades pelo casamento, Cara. Foi um casamento assombroso. Cara me deu um forte abraço. — Obrigada por estar aqui — disse de novo. — Sei que foi difícil para você vir. — Não totalmente — menti. — Além disso, este é seu dia. Não se trata de mim. —Cara me deu uma cotovelada. — Pela primeira vez — brincou. — Vamos, estrela do rock. Será melhor que retornemos lá para dentro, antes que Shane comece a pensar que finalmente me apaixonei pelo grande sedutor de animadoras. Ri e tentei não parecer muito orgulhoso. — Shane te contou sobre isso, hein? Cara deu um suspiro que a fez tão famosa em sua telenovela enquanto me arrastava de volta ao salão da recepção. — Meu querido e doce Kyle, Shane me conta tudo.


L é por Lembranças Cara nunca deixa de me surpreender.

Ela e Shane se

mudaram há apenas duas semanas, e de algum jeito já havia uma festa de inauguração tão glamorosa como suas bodas. A casa de três milhões e quinhentos mil dólares em Louro Canyon era quase tão bonita quanto a minha casa em Malibu. E essa noite se encontrava adornada com tantas flores e cintilantes luzes que podia ver e cheirar a quilômetros de distância. A orquídea em minhas mãos parecia bastante ridícula. — Kyle! — Não estava na porta principal nem dois segundos antes de Cara envolver seus braços ao meu redor e beijar minha bochecha. — Você conseguiu! — Felicitações pela nova casa. — Entreguei a flor. — O cara que me vendeu disse que isso era um símbolo de saúde, beleza, amor e elegância. — Meu tipo de flor. Cara sorriu. Sua felicidade a fazia brilhar com fulgor sob a


suave luz. Poderia ter sido a maquiagem que a fazia brilhar, mas o resplendor era definitivamente de felicidade. — E para o Shane... — elevei um pacote de seis coroas. Cara me deu um olhar. — Cerveja? — Ouça, é uma das boas. — me defendi. — Além disso, acreditei que você me mataria se eu chegasse com uma máquina de pinball que queria dar. Cara riu. — Tem razão. Obrigada. Acredito que Shane está fora. — Apontou para as cervejas em minha mão. — Não usem estas como desculpa para desaparecer a noite toda. Como adverti várias vezes, esta tarde ele é o anfitrião. Tem que se misturar. E para você, quero que conheça alguém. Era tarde demais para pedir ao manobrista minhas chaves? Me virei e tentei sair pela porta. Cara me agarrou pela gola da jaqueta de couro. — OH, não, não o fará! — Ante minha testa franzida, disse: — Vamos, Kyle. É formosa e muito divertida. Você vai adorar. Prometo isso. — Como a última? Cara revirou os olhos. A última vez tentou me juntar com uma garota que conheceu em suas classes de ioga. Tive que conseguir uma ordem de restrição contra ela. — Não, não é como a última. Candy é uma amiga minha — insistiu Cara.


— Você tem certeza que esta não é uma psicopata. Candy? Cara fez um gesto de desdém. — Estamos em Los Angeles. Sabe como é aqui. Sim, sabia muito bem. — Talvez é um bom momento para dizer que tranquei meu coração. Pulei a cerca. Troquei de equipe. Como quiser chamar. As mulheres já não me interessam, assim não tem sentido que tente me apresentar a cada mulher no planeta. Cara cruzou os braços sobre seu peito e arqueou uma sobrancelha. — Homossexual? Essa é sua desculpa desta vez? — Hey. Redescobri minha sexualidade. — Toquei seu ombro. — Lamento muito te decepcionar, Cara. Dê minhas desculpas a sua amiga. — Não se preocupe. — Deu um sorriso brilhante. — Se homens for o que busca, então tenho duas pessoas que

gostaria

que

conhecesse

esta

noite.

Edwin

ficará

emocionado. É um grande fã seu. Girei e golpeei a cabeça contra a parede. — Cara, por favor. Vim à maldita festa. Não é suficiente? — Estou preocupada com você, Kyle. Deixei de bater minha cabeça e girei de novo. — Estou bem. Só estou cansado de sair. Todas as mulheres que me apresentaram desde a Adrianna são iguais. Quero algo autêntico. Quero o que você e Shane têm juntos, e não vou


encontrar Muffin ou Lollypop, ou como se chama. — Candy. — Cara suspirou. Levantou o olhar para mim com uma expressão calculada que achei altamente desconcertante. Eu adorava as mulheres, sério, mas ela era intrometida e seus planos tendiam a terminar em desastre. — Pode ir procurar Shane agora. Promete que não irá desaparecer? — Juro. Cara estreitou os olhos. — Desejará morrer se permitir que meu marido arruíne esta festa. Te torturarei tanto que você irá rogar por piedade. — Entendido. Cara me deu outro olhar cheio de advertência, e se afastou. — Ele está perto da piscina. O pátio era inclusive mais incrível que a casa. Haviam arrumado as luzes piscantes, e não nos esqueçamos das árvores e os arbustos na lateral do pátio. Havia uma fogueira em um buraco na plataforma e a piscina se encontrava iluminada. As velas faziam com que as flores flutuando na superfície da água brilhassem e fizessem sombras ao dançar ao redor do pátio. E logo estava a vista. A casa se encontrava a um lado da colina e toda a cidade de Los Angeles se estendia para baixo. Encontrei Shane de pé perto do mirante, parecendo absolutamente

miserável

enquanto

assentia

a

alguma

conversação da qual ele sequer prestava um pouco de atenção.


Quando o saudei e mostrei o pacote de seis, seus olhos se iluminaram com alívio e praticamente correu através do pátio para mim. — É incrível! Pensei que não viria. Ri. Ele parecia desesperado. — Por favor, me diga que este lugar tem um lugar só para homens em algum canto. Shane tomou uma das cervejas e a abriu com o corrimão da plataforma. Depois que bebeu a metade da garrafa, entrou na casa. — Por aqui. — Não podemos ser vistos por sua esposa. Jurou que me faria sofrer se permitisse você ir. Shane riu, mas mesmo assim me levou a umas escadas ao outro lado da casa. — Sabe que odeio esta merda. Seu latido é pior que sua mordida, juro. — Diz o homem que está assegurando de que não há ninguém no espaçoso ambiente. Shane me mostrou o dedo do meio e logo me empurrou escada acima. — Se apresse. Há gente suficiente aqui para que ela não se dê conta de que desaparecemos, mas se nos vê ir, estamos mortos. Conseguimos chegar à sala de Shane a salvo. Havia uma mesa, um mini bar e um equipamento de som assassino. Sorri


enquanto olhava a sala. Deveria ter trazido à máquina de pinball depois de tudo. — Eu gosto — disse, me desabando no sofá de couro. Shane abriu outra cerveja e me estendeu. — Ouça, pode fechar a porta por segurança? — perguntei. — É sério tenho que me esconder. Sua esposa está tentando me arrumar um encontro novamente. Com Jolly Rancher, ou Snickers ou algo assim. — Candy. — Shane tremeu. — Fuja enquanto pode. Essa mulher é louca. Um cômodo silêncio se estabeleceu entre nós enquanto bebíamos nossas cervejas. — Então, como vai à vida de casado? — perguntei. Shane deixou escapar um suspiro e moveu a cabeça. — É genial. Não é muito diferente dos últimos três anos que vivemos juntos, mas Cara parece mais feliz. Tinha que concordar. — Ela estava deslumbrante esta noite. Shane sorriu. — À mulher adora entreter. Terminei meu tour pela sala e notei que na esquina mais longínqua da sala se encontrava tudo o que Shane dedicou à música. Fotografias emolduradas, penduras nas paredes junto a alguns de nossos prêmios como banda e seus instrumentos se achavam todos em seus postos, polidos e brilhantes. Esvaziei o último de minha cerveja, logo me aproximei e agarrei um violão. Minha voz era meu instrumento principal,


mas tocava um pouco de piano como também algo de baixo, e violões não elétricos como acústicas. Meus dedos se curvaram ao redor do pescoço do violão. Não peguei um em meses, mas dedilhar as cordas era algo instintivo. — Ouça, lembra dessa? — perguntei, me rendendo um pouco. Conectei o violão a um amplificador e toquei a música de fundo Orion do Metallica. Shane riu. Conectou seu violão também e assentiu. Antes que

soubéssemos,

tocávamos

da

forma

que

estávamos

acostumados a fazer quando íamos à escola. Uma canção se converteu em duas, e duas em três. Metallica, Pink Floyd, Os Beatles. Merda, tocamos até um pouco do Chili Peppers. Logo, de repente, sem nenhuma razão, comecei a tocar "Verdadeira lástima". Shane não me questionou; só me seguiu enquanto entrava em um redemoinho. Quando abri a boca, as palavras saíram apaixonadamente, cheias de confusão, ira, e inclusive desespero. Verti meu coração como não o fiz em anos. “Ela está fumando corações com chamas ardentes Tem um lado selvagem sem nome E quando está irritada, é uma verdadeira lástima Sim! Sim! Sim! Estou mau Sim! Sim! Sim! Estou ficando louco Porque em sua cabeça o tem claro Não irá à cama sem lutar Acredita que é sábia, acredita que o demonstra


Assim te mostre a mim sábia, sem essas roupas Está jogando duro, e não é nada novo Saias curtas para desfrutar da vista É uma completa provocadora, baby de sangue frio Sim! Sim! Sim! Estou mau Sim! Sim! Sim! Estou ficando louco Porque em sua cabeça o tem claro Não irá à cama sem lutar Acredita que é sábia, Acredita que o demonstra Assim te mostre a mim sábia, sem essas roupas Vamos, pernas, não o despreze Eu poderia ser sua única graça salvadora Ponha os costumes em segundo plano Algo me diz que é uma rápida, rápida aprendiz Sim! Sim! Sim! Estou mau Sim! Sim! Sim! Estou ficando louco Porque em sua cabeça o tem claro Não irá à cama sem lutar Acredita que é sábia, Acredita que o demonstre Assim se mostrar para mim, sábia sem essa roupa Quando terminei, fiquei ali, com o peito pesado, o coração pulsando rapidamente e as mãos tremendo. Não sabia de onde saiu isso ou por que isso escapou de mim neste momento, mas eu precisava deste momento desesperadamente. — Se sente melhor?


Shane me observava com um olhar curioso. Respirei fundo e tentei me recompor. — Um pouco — admiti enquanto colocava o violão em seu lugar. — Não sei por que essa canção me persegue tanto. — Não é a canção que te persegue — disse uma voz suave, surpreendendo a mim e a Shane. Giramos ante a intrusão para ver Cara de pé na entrada da sala, apertando algum tipo de livro contra seu peito. Seus olhos estavam nublados. Shane entrou em pânico. — Carinho! Olá! Só dava a Kyle o grande percurso. Juro que já estávamos de saída. — Certo. — Cara nos deu um sorriso conhecedor e negou com a cabeça. — Está bem... Desta vez. Entrou na sala e fechou a porta atrás dela. Shane correu para seu lado, sussurrando desculpas, agradecimentos e outras coisas que eu não precisava escutar e que fez com que Cara risse e colocasse sua língua na boca de Shane. Sempre foram assim, asquerosos. Limpei a garganta e Cara sorriu. — Genial — disse. Encolhi meus ombros incomodamente, sem ter ideia do que dizer. Ela elevou o enorme livro em seus braços. — Tenho algo para você.


— O que é isso? Pôs o livro na mesa e o abriu na primeira página. — É um álbum que fiz durante a excursão de S é por Sexo. — Fez um álbum? Olhei as páginas enquanto as virava lentamente. Estava cheio de fotos, recortes de revistas, ingressos... Cada página trouxe um montão de lembranças. — Não é a canção que te persegue, Kyle — disse de novo. — Lembra disto? Saltou até a última página no livro, onde uma bolsa para guardar canetas se encontrava entre os anéis do livro. Algo se retorceu em meu interior ao ver meu velho bracelete de abstinência na bolsa. Tirei a banda de couro da bolsa de canetas e passei os dedos pelo pequeno A de prata. — Pensei que perdi. — Quase perdeu — disse Cara. — Encontrei nos bastidores com Adrianna. Achei logo depois que evitei que a expulsasse. Era quase o final da excursão e o bracelete estava no bolso da calça que usou aquela noite. Adrianna ficou bem zangada quando se deu conta de que você o levava todo o tempo, que o tinha enquanto fazia a apresentação, como se fosse um amuleto da sorte. Quando me retorci e comecei a me afastar, Cara me agarrou a mão. — Está tudo bem — disse o que me envergonhou inclusive mais.


— Ainda tenho meu colar. Não foi o único que sentiu sua perda. — Não sei por quê. — A confissão saiu em um sussurro. — Porque a amava Kyle. Estive olhando fixamente o bracelete, mas minha cabeça girou de repente ante isso. Cara encontrou meu olhar, cheia de determinação. Não ia permitir que eu o negasse. Soltei o bracelete e me afastei da mesa. — Por que todos seguem dizendo isso? — perguntei, passando as mãos pelo cabelo como se isso pudesse resolver o mistério. — Adrianna me disse o mesmo. Merda, essa é a razão pela qual rompemos. Mas eu não a amava. Cara me deu um olhar, como se estivesse dizendo: "Claro". Estava louca. Claro que por algum tempo gostei de Val. A desejei? Sim, mais que tudo. Inclusive admito até que me preocupava com ela. Mas amá-la? Como podia estar apaixonado por alguém com quem nem saí? — Talvez estivesse um pouco obcecado, mas... — A gente supera as obsessões. Elas não têm êxito na lista, inclusive quando as pessoas o ameaçam. Quando o punha assim... Mas era louco. Não era possível. Certo? — Talvez não soubesse — disse Cara, me tirando de meus pensamentos.


— Mas a amava. Por razões que não podia explicar, senti a ira me encher, soltei: — Por que importa? Isso foi há anos. Acabou. — Sério? Então agora ela também me acusava de não ter superado Val. Era tão ruim como Adrianna. Que merda? Todo mundo conspirava contra mim? Por que não podiam deixar passar? Se ainda estivesse ligado a Val... não via como me ajudaria jogando isso na cara; constantemente. Agarrei outra cerveja do pacote de Shane, ele estava preparado, esperando com um abridor e um olhar cheio de desculpas em seus olhos. Desabei no sofá de novo e bebi para esquecer minha frustração. Cara sentou ao meu lado e pôs uma mão em meu joelho. — Não teve mais contato com Val, mas parece que o Google ainda funciona bem. Deixei de beber minha cerveja e olhei para Cara. Não sabia aonde ela queria chegar com isto, mas estava seguro de que não era bom. — Está solteira. E agora entendia. Enterrei o rosto em minhas mãos e resisti bravamente à urgência de arrancar mechas do meu cabelo. — Disse que queria algo autêntico — disse Cara.


— Acredito que você e eu sabemos onde pode encontrar. Amaldiçoei Cara por inclusive sugerir a ideia, mas, ao mesmo tempo, sabia que a semente já foi plantada. A esperança explodiu em meu interior. Por mais que tentasse aplacá-la, sabia que não chegaria a nenhuma parte. — Cara — gemi. Tinha vontade de estrangular a esposa de meu melhor amigo. — Quanto tempo faz desde que esteve com uma mulher? — perguntou Cara. Olhei furiosamente para ela, e ela manteve o olhar desafiadoramente. Perdi a batalha de vontades. — A líder de torcida — admiti com um suspiro de derrota. — Isso faz dois meses, Kyle. Olhei furiosamente de novo. — Não preciso que lembre isso. O sorriso em resposta de Cara estava cheio de travessura. Seu rosto iluminou e agarrou minha mão. Meu coração saltou um batimento de coração ou dois quando envolveu o bracelete ao redor de meu punho. — Por que não tenta? — disse. Sentia o bracelete pesado em meu braço, seu significado afundando. Em todos os meses em que o levei comigo, todas as apresentações nas quais o usei, nunca pus isso em prática. Não podia fazer, sabendo o que representava. Cara beijou minha bochecha e saiu da sala sem outra palavra. Segui olhando meu pulso, meus pensamentos e sentimentos giravam sem controle. Este bracelete não só


simbolizava abstinência de sexo. Representava o único vínculo que alguma vez houve entre Val e eu. Este bracelete e tudo o que representava, era a chave para nos unir. Poderia ser possível? Poderia fazer? Val e eu ainda tínhamos

uma

oportunidade?

Queria

inclusive

tentar

e

descobrir? Soube a resposta imediatamente. Sim, queria descobrir. Se havia inclusive uma pequena possibilidade de ter um futuro com Val, então queria fazer. — Merda. A gargalhada de Shane me surpreendeu. — O que? — Conheço esse olhar. — Que olhar? Shane sorriu. — Esse que diz: Que se foda o mundo, estou a ponto de escrever uma música. Me surpreendi. Não estive pensando em escrever uma canção, não? Não escrevi uma canção desde que Reid morreu e a banda se separou. Mas agora que mencionava, reconheci a familiar coceira na parte traseira de meu cérebro. Shane e eu nos olhamos por um longo momento, e logo rompemos em gargalhadas. — Bom, acertei maldito. A Virgem Val fez de novo. Levantei e golpeei Shane no braço. — Cale a boca idiota. — Me golpeou de volta.


— Mais me deixe escutá-la quando tiver terminado. Duvido que os meninos queiram voltar sem o Reid, mas se fizer sozinho, precisará de um guitarrista principal de apoio e chutarei seu traseiro se não for eu.


P

é

para

Programa

de

entrevistas Seis meses depois...

A última vez que escrevi uma canção para Val, ela detestou. Cara me assegurou que as coisas seriam diferentes desta vez, mas ainda não podia tirar a sensação de que este plano ia explodir no meu rosto. — Cara — gritou Shane. — Se apresse! Chegaremos atrasados! Segundos mais tarde, Cara veio correndo pelas escadas, vestida com um traje diferente ao que usava quando cheguei faz uns dez minutos. — O que acham? É conservador o suficiente? Ela afastou a mão trêmula da prega da saia. Nunca a vi tão nervosa. — Neném — Shane a pegou em seus braços e deu um beijo.


— Tudo vai ficar bem. Cara começou a procurar um brilho labial em sua bolsa gigante. Algumas pessoas fumavam cigarros ou roíam as unhas, Cara aplicava brilho de lábios. — Simplesmente não posso acreditar que me ligou — disse, passando o brilho nos lábios com a mão tremendo. — Não nos falamos em quatro anos. Estava certa que ela me odiava. — Foram melhores amigas — falou Shane. — Sabe que ela nunca poderia te odiar. Nunca teria admitido, mas estava mais nervoso que ela. — Só mantenha a calma, de acordo? — disse, dando um abraço. — Lembre que é uma surpresa total, por isso não pode deixar que saiba algo a respeito. Algo nos nervos de Cara se desvaneceu e ela me deu um sorriso arrogante. — Tenha um pouco de fé em mim — disse. — Sou uma atriz premiada, esqueceu. — Durante o dia — brinquei, como se fosse um lucro menor. Desde que ganhou como "Melhor Atriz " por seu papel nessa telenovela, brincava com ela sem piedade. Ela amava. Ela sabia como estava orgulhoso dela. — Seja gentil, ou contarei tudo — ameaçou. Deu a Shane um último beijo e se meteu em seu carro. Uma vez que o topo estava abaixado ela envolveu um cachecol


ao redor de sua cabeça para manter o cabelo em seu lugar, soprou um beijo para Shane e para mim. — Vamos encontrar Val! — chiou enquanto partia. Vimos o automóvel desaparecer na curva e Shane girou para mim. — Está preparado para isto? Me senti sorrir. Estava mais preparado para isto do que jamais estive para nada em minha vida. Seis meses de duro trabalho e hoje seria minha primeira recompensa. Assim eu esperava. Shane e eu subimos no meu carro. Cara almoçaria com Val, mas Shane e eu tínhamos que estar no estúdio para a passagem do som. Isto era tudo. Hoje por fim ia ver Val de novo. Shane não disse nada a respeito da forma como meu joelho saltou

incontrolavelmente

até

chegarmos

ao

estúdio.

Continuando, se manteve em silêncio sobre minha caminhada nervosa uma vez que nos encontramos em um salão vip à espera de surpreender Val. Ele levantou uma sobrancelha quando passei pela mesa do bufê que calculadamente puseram para nós, mas pelo resto me deixou seguir fingindo que estava bem. Foi Embry quem finalmente me chamou. Uma vez que escrevemos um par de canções, Shane e eu tivemos que encontrar uma banda para ajudar a preparar uma demonstração. Chamamos a impressionante banda de minha festa de aniversário e nós gostamos tanto que pedimos que permanecessem como minha banda oficial para meu álbum solo.


Estavam emocionados e estiveram muito bem no estúdio. Não é sendo presunçoso ou algo do tipo, mas meu novo álbum seria genial. Via mais Grammys em meu futuro. — Relaxe, amigo — disse Embry, sorrindo para forma em que eu roía minha unha do polegar, enquanto ele se unia a mim em um dos sofás da sala de espera. Tentei de ficar quieto, mas a grande tela de televisão na parede em frente a mim parou de mostrar a tela de espera, para uma transmissão ao vivo, incrementando minha antecipação ainda mais. “Ai merda” pensei voltando a roer minhas unhas. Melhor isso do que se todo meu corpo começasse a tremer alertando os meninos do quão exatamente nervoso eu estava neste momento. — Sim. Estou bem. Embry soprou uma risada. — Não, isto é patético. Fazendo tudo isto para impressionar uma garota que nem dormiu com você? E, além disso, tem medo. Rodei os olhos, mas esbocei um sorriso. Embry, genial. — Não ajuda imbecil. Embry assentiu à televisão, onde estava passando algum programa de entrevistas diurno para mulheres que agora cuspia estupidez a respeito de algum blog lamentável que descobriram. — Então, o que você vai fazer se sua mulher já estiver comprometida? Deixei escapar um

suspiro. Pelo

menos

tinha essa


vantagem. — Não está casada. Disse o Google. Embry me deu um olhar suspeito. — Isso não quer dizer que não esteja tomada. E se estiver loucamente apaixonada por algum namorado? Isso me preocupava, mas me neguei a deixar que Embry soubesse. — Isso não me parou há quatro anos — disse com muito mais confiança da que sentia. — Se estiver com alguém, mostrarei que sou melhor e espero como fiz da última vez. Não vai levar muito tempo. Embry arqueou uma sobrancelha. Quando não me retratei, riu entre dentes e sacudiu a cabeça. — Alguém te disse que é um filho de puta arrogante? O insulto me fez sorrir com orgulho. — Hoje, não. Comecei a dizer algo mais, mas então Val apareceu na televisão diante de mim e minha boca secou, fiquei mudo, sem fala. A mulher na tela não era a garota que eu lembrava. Val usava uma saia lápis de cor arroxeado claro, jaqueta com uma blusa branca debaixo. Os saltos que usava, fazia com que suas longas pernas tonificadas se vissem mais deliciosas que nunca, ela tinha que ter jogado um montão de voleibol. Seu cabelo estava trançado, só um ou dois cachos escapavam e ainda tinha esse mesmo maldito V encantador pendurado em seu pescoço.


Estava preciosa do tipo "tubarão corporativo" sexy, inteligente e amável, e caminhava com uma segurança que não tinha quando a conheci. Sempre foi confiante, mas agora era mais que isso. Era como se entendesse exatamente quem era e o que queria. Parecia incomparável. Era formosa. Radiante. Muito mais impressionante que a última vez que a vi. Embry amaldiçoou entre dentes. Ri enquanto ele olhava a tela com os olhos arregalados. — Não é o que imaginava? Embry negou com a cabeça, com os olhos em Val. — De maneira nenhuma — disse. — Não se parece em nada com as mulheres com quem te vi sair. Nem perto disso! Seu comentário me fez sorrir. Esse era o ponto. Na televisão, Val se sentou recatadamente em um sofá, sorrindo como se não tivesse nenhuma preocupação no mundo, enquanto que Connie Parker explicava sua história. Parecia tão... Satisfeita. Uma vez mais, senti uma pontada de medo de que tivesse um namorado ocupando seu coração. Não estava seguro do que faria se esse fosse o caso. Queria que ela fosse feliz, mas eu precisava de uma segunda oportunidade com ela e passei os últimos seis meses dizendo que ia consegui-la. Os meninos da minha nova banda conheciam toda a história da Virgem Val. Inclusive viram o filme. Mas ainda riam histericamente enquanto Connie reproduzia o vídeo de Val em pé


sobre uma mesa de refeitório professando sua virgindade. Não ria, mas meu rosto mostrou um amplo sorriso. Eu adorava esse estúpido vídeo. Depois que o vídeo terminou, Val começou a contar sua história. Completamente cativante. Com cada segundo de sua entrevista, me sentia cada vez mais ansioso, mais desesperado por vê-la de novo. Precisava falar com ela, tocá-la, tê-la em minha vida outra vez. A espera estava me matando. Meu estômago caiu em estado de choque quando Connie disse a Val que encontrou a sua mãe biológica. — Não. — murmurou Shane, caindo sobre o sofá ao meu lado. Só pude assentir. Se eu estava em choque, como estaria Val? Olhei para ela. Estava branca como um fantasma. — Sabia que trariam sua mãe ao programa hoje? — perguntou Embry. Neguei com a cabeça. — Acredita que disseram que está aqui? Tirei meus olhos da tela pela primeira vez desde que começou a entrevista e olhei Embry. — Sei que não disseram. Queriam fazer uma surpresa e me pediram que não dissesse nada a ninguém. Cara inclusive teve que mentir no almoço e fingir que não me encontrava para que Val não suspeitasse de nada. Embry riu e negou com a cabeça.


— O que querem fazer, matá-la? Pobre mulher. Está sendo completamente emboscada. Não pensei nisso. Surpreendê-la pareceu divertido, mas e se fosse muito? E se ela não pudesse lidar com o fato de me ver novamente depois que acabassem por completo de enlouquecê-la com sua mãe biológica? Qualquer relação que Val e eu tínhamos era débil, em todo caso, se é que tínhamos uma! O que acontecia com

a

estúpida

Connie

Parker

que

arruinava

minhas

possibilidades? — Amigo, sua mãe é quente. Não sei qual de meus companheiros de banda, disse isso, mas tinha razão. A Valerie original se parecia muito com minha Val, exceto que a minha era melhor em todos os sentidos. Minha Val era a nova e melhorada versão de sua mãe. A mãe era como um bonito esportivo Audi, mas Val era o novo Aston Martin Vanquish. — Ugh — gemeu um de meus companheiros de banda, franzindo a testa com desgosto ante a quantidade de emoções que mostravam na tela enquanto Val e sua mamãe choravam nos braços uma da outra. — Eu não gosto deste tipo de programas de entrevistas. Pelo menos no Jerry Springer brigam em vez de chorar. Todos os meninos estiveram de acordo. Eu também, mas valia a pena o festival de soluços para ver de novo Val. Finalmente, o pranto se deteve e Connie Parker disse: — Então, Val recentemente se graduou em Stanford;


licenciatura em economia e ciências políticas, não é assim? O sorriso de Val era tão orgulhoso. Sorriu enquanto assentia. — Sim. — Felicidades! Isso é ótimo. — Obrigada. Embora seja só um descanso. Começo meu programa de mestrado no outono. Sorri de novo. Meu pequeno cérebro seguia na escola. Shane e eu não nos surpreendemos, mas o resto dos meninos sim. Todos riram e Embry me deu uma cotovelada. — Stanford? — perguntou. — Um programa de dobro de licenciatura e um mestrado? Política? O que fez que se fixasse em você? — Vai à merda, amigo. — Não sentiria saudades de você, Val — disse Connie para a tela — Talvez você seja a primeira mulher presidente. — Sonhar é bom, não é? — brincou Val de novo. — Posso ver o encanto — continuou Embry, avaliando Val com um olho crítico. — Mas não é de sentir saudades que esteja sendo questionável. Essa garota é muito mulher para qualquer homem. Inclusive o grande Kyle Hamilton. Boa sorte, irmão. Você vai precisar. Os meninos riram de novo, mas desta vez não me uni a eles. A brincadeira de Embry de que eu não possa ser, bom o


suficiente para Val doeu mais do que queria admitir. Consegui muito

em

minha

completamente

vida,

diferente

mas do

estava

dela.

em

Somos

um tão

caminho diferentes.

Tínhamos diferentes objetivos, fomos de mundos diferentes. Já sabia que não a merecia. Talvez só me enganasse imaginando que ela fosse querer alguém como eu. Finalmente, Connie levou a conversa na direção em que eu tanto desejava. Ela disse: — Está bem, Val. Odeio ter que perguntar, mas você sabe que tenho que fazer: ainda é virgem? — É obvio, Val disse. — Sabia que o faria. Não estava casada e sabia que permaneceu fiel a si mesma. Foi à resposta a seguinte pergunta que me fez conter a respiração. — Nenhum menino especial em sua vida? — No momento não. Respirei tão forte que os meninos riram de mim. Ignorei suas brincadeiras e observei Val. — Estive muito ocupada com os estudos não tive muito tempo até agora. Solteira. Não só não era casada, mas também seguia solteira. E por como soava, não saiu muito. Não teve nada sério. Como era possível? Até eu consegui me estabelecer uma vez. O que seja. O como não importava. Não tinha a ninguém importante. Isso significava que tinha uma oportunidade. — Isso é uma lástima — disse Connie. — Sim, uma verdadeira lástima — brincou Shane, fazendo


com que todos gritassem de novo. Ganhou uma cotovelada nas costelas pelo resultado. Pelo sorriso na cara de Connie, sabia o que vinha depois. Levantei em um salto do sofá e comecei a caminhar pela sala. — O que aconteceu com esse menino? — perguntou. — Qual era seu nome? Kyle algo? Fiquei imóvel, contendo a respiração enquanto esperava a reação de Val. O rugido de aplausos que vieram da pequena audiência no estúdio ante a menção de meu nome me tomou de surpresa. Não é que os aficionados sempre se alegrassem por mim, mas a forma como essas pessoas aclamaram foi diferente. Não me animavam, animavam aos dois, a Val e a mim juntos. Quatro anos mais tarde e o mundo seguia tão apaixonado pela ideia de nós. Essa alegria foi minha primeira rajada muito necessária de confiança. A segunda foi à expressão do rosto de Val. Houve um breve instante em que um brilho de emoção a iluminasse antes que suavizasse sua expressão. Mas, que emoção era? Medo? Surpresa? Emoção? Não poderia dizer. — Suponho que não pode entrevistar a Virgem Val sem trazer de novo Kyle Hamilton — disse ela. Soava brincalhona, mas longe de estar tão calma como se encontrou a primeira vez que saiu ao cenário. Estava nervosa, mas era nervoso bom ou ruim? — Suponho que não. — disse Connie.


— É uma boa perdedora, Val. Então, os dois se mantêm em contato? Val sacudiu a cabeça. — Ele saiu em viagem no tour S é por Sexo, e eu fui a Stanford muito antes que ele voltasse. Nunca mais nos falamos. Foi lamento o que escutei em sua voz? Ou imaginei? — Estou segura de que esqueceu tudo sobre mim. Isso me fez ganhar outra rodada de brincadeiras dos meus companheiros de banda. Inclusive ri nesse momento. Era impossível esquecê-la. Claro, tentei enterrá-la por alguns anos, mas nunca pude esquecê-la por completo. Ninguém podia esquecer Val. — Ouvi que estava comprometido. Inclusive ficou noivo. Obrigado, Connie! Ela abordava o tema incômodo para que eu não tivesse que fazê-lo e me deixava ver a reação de Val. Nunca diria outra coisa má sobre os programas de entrevistas de garotas e suas intrigas. Val tragou saliva. Por quê? O que pensava? — Também escutei isso. Sua resposta foi muito vaga. Queria mais e Connie, Deus a abençoe, disse: —

Então

escutou

que

foi

uma

pressionou. — Dizem que ela partiu seu coração. O sorriso de Val caiu de seu rosto. — Ouvi sobre isso — admitiu.

separação?


— Mas me baseando em experiências adquiridas, não há muito de verdade nessas histórias sensacionalistas; então quem sabe? Não tinha nem ideia do que acontecia na cabeça de Val quando encolheu seus ombros, mas definitivamente lutava contra algum tipo de emoção. Se não falasse logo com ela, ia ficar louco. — Mas espero que não tenha sido tão ruim como acho. Espero que esteja bem onde quer que esteja! — disse Val. Meus lábios se curvaram em uma careta grande. Ela se preocupava comigo. Eu achava. Estava escrito por todo o seu rosto. A virgem Val não se esqueceu de mim. Minha confiança por fim apareceu. Se apoderou de mim como um raio e me deixou carregado de emoção. Podiam ter sido quatro anos, mas ainda era Val. E a Virgem Val sempre teve uma queda por Kyle Hamilton. Bom, agora ela ia ter uma surpresa, porque não era o mesmo Kyle Hamilton que ela conheceu. Como ela, também amadureci um pouco. Tive umas poucas experiências, aprendi algumas coisas. Desta vez estava preparado para ela. Que comecem os jogos, Virgem Val, pensei enquanto Connie gritava: — Vem aqui, Kyle!


V de Valerie. Todo meu corpo era um feixe de energia enquanto entrava no palco. Os gritos dos fãs ajudaram a me concentrar. Me trouxeram de volta a mim mesmo. Estava no palco, em frente a uma audiência. Estava em casa. Sorri às mulheres com animação e joguei beijos a elas, protelando enquanto me preparava para encontrar o olhar de Val. Havia me vangloriado para Connie, me armei com tanta confiança como possível. Sabia que parecia arrogante, mas não demonstraria nenhum receio. Eu sou Kyle Kamilton. Sou muito capaz de controlar uma mulher, mesmo que fosse a infame Virgem Val. Depois que Connie me deu a mão e me deu as boas-vindas ao seu show, ergui Val para o palco e a envolvi em um abraço, antes que ela tivesse a oportunidade de fazer ou dizer algo. A esmaguei contra mim, com tanta força que estava certo de que ela sentiu o batimento irregular de meu exultante coração.


Ela hesitou um pouco enquanto me abraçava também. Esfreguei a mão em suas costas, com a esperança de acalmá-la, Val se derreteu em meus braços. Apoiou a cabeça em meu ombro e soltou um suspiro, que duvidei ter ouvido. Eu me livrei de cada sentimento que tive por Val, e acredite, eram muitos, mas a emoção veio à superfície da minha pele. Me sentia vivo novamente, como antes. Val provocava algo em mim que não podia ignorar, não podia controlar. Sempre o fez. Quando eu e Val nos separamos, fui obrigado a me concentrar no que havia a minha volta. Não foi fácil, ela mexia com a minha cabeça. Tive que me agarrar com força. Sua mãe biológica ficou de pé, me olhando deslumbrada. — É uma honra conhecê-la, Senhora — disse estendendo a mão para cumprimentá-la. — Quero agradecer por trazer ao mundo minha virgem favorita. A mulher começou a chorar, mas sei que eram lágrimas de felicidade porque ela ria enquanto chorava. — Não sei se agradeço por trazer minha filha de volta a minha vida, disse. — Ou se dou uma bofetada pelo modo como a tratou. Me concentrei em sorrir. Muitas vezes me acusaram de ser um idiota em relação a Val, mas, honestamente, eu não pensava desta forma. Val sempre soube que não era nada sério com ela.


Enfim, se apaixonou por mim mesmo assim, então não posso ter sido tão horrível. — Bom, se for para escolher, — forcei um sorriso. — Prefiro o agradecimento. Já recebi uma bofetada em rede nacional e não foi nada divertido. Bem, em certas ocasiões, talvez eu tenha sido um pouquinho idiota. Mas de qualquer forma... Mãe e filha se acomodaram no sofá me deixando um espaço, no extremo mais próximo a Connie. Val se afastou um pouco demais para meu gosto, então quando me sentei, a puxei para mim, fechando a distância entre nós. Ela me lançou um olhar nervoso, me fazendo saber exatamente o quanto a afetava. Sorri e a coloquei apertadamente a meu lado. Val ficou rígida, como se eu a deixasse nervosa, mas não me importava. Me sentia bem. Se passaram anos, mas a química entre nós seguia ali, ainda espessa o suficiente para se afogar. Beijei um lado de sua cabeça e sussurrei: — Passou muito tempo, Val. — Eu não tenho certeza se estava tentando acalmá-la ou deixá-la mais nervosa. Minha atenção se afastou de Val quando Connie limpou a garganta e disse: — Bem, Kyle, Val nos contou que tinha certeza que você esqueceu completamente dela, é verdade? Connie sorriu tanto que tinha que doer. Parecia extasiada quando seus olhos saltavam entre Val e eu, obviamente


orgulhosa de ter nos reunido. Comecei a rir. — Connie, há algumas pessoas que nunca poderiam ser esquecidas. — Tenho que concordar — disse — Nos conte o que esteve fazendo. — Bom, tenho um álbum solo que sairá logo, mas, além disso, estou indo com calma. — Dei um apertão significativo a Val e acrescentei: — Esperando que a mulher adequada me faça um homem de bem. Connie quase se fundiu de prazer em sua cadeira. Inclusive o público suspirou. Tentei medir a reação de Val e notei pequenos pontos cor-de-rosa em suas bochechas. Ruborizou. Isso era um bom sinal. — Parece querer sossegar então, verdade? — perguntou Connie, seguindo meu exemplo. — Algo assim — Eu sorri para mim mesmo. Nós conversamos sobre se estabelecer, mas por dentro estava excitado. Meu olhar se desviou de novo para Val. Tinha o mais leve rastro de perfume. Era apenas suficiente para me deixar com vontade de me inclinar e enterrar meu nariz em seu pescoço, saborear sua pele. Era enlouquecedor. Seus lábios pareciam tão suaves. Se não fizesse algo rápido, ia beijá-la. Não podia deixar que isso acontecesse. Ela


ficou tão zangada na última vez que fiz isso, em frente às câmeras. Estendi a mão através de seu colo e pus minha mão sobre a sua. Precisava de uma distração. Abriu a boca, mas não era o que estava na minha mão que a surpreendeu, foi o bracelete atado no meu pulso. Então é a Virgem Val! — O que é isto? — perguntou, tocando a correia de couro negra com o pequeno A pendurando nela. Sorri, amando sua reação. — Não reconhece? Me deu isso uma vez, faz muito tempo. — Sim, reconheço. Seus olhos perdem o foco, como se evocasse uma lembrança. Tinha certeza que estava se lembrando do dia que me deu o bracelete, no Festival de Outono na Escola secundária Huntington. Me entregou isso como uma brincadeira. Foi com a intenção de pôr um pouco de espaço entre nós. Não acredito que pensasse que guardei. A noite que me deu o bracelete e escrevi minha canção. Estava tão zangado. No ardor do termino decidi que ia conquistá-la. Decidi que ia seduzi-la, tomar sua virgindade e esfregar minha vitória, em sua cara, como vingança por ter ferido meu orgulho. Em

algum

lugar

com

o

passar

do

tempo,

minha

necessidade de vingança se transformou em sentimentos verdadeiros e o bracelete se tornou inestimável.


O levei comigo no tour de S é por Sexo e o levava no bolso em cada atuação, até que a perdi no final do tour. Minha

boca

se

levantou

em

um

sorriso,

enquanto

olhávamos meu bracelete. Depois de tudo o que Val e eu passamos juntos, depois que a deixei e a perdi porque me neguei a jogar seu jogo, acabei dando o que ela queria. OH, a ironia. — Oito meses, agora — admiti. Val não entendeu no início. — Oito meses, o que? — perguntou. A ideia de minha abstinência sexual era tão impossível para ela que não podia compreender o que dizia. Tive que especificar — Não ouviu? A é para a Abstinência. A olhei, esperando que entendesse e vi o momento exato em que o assimilou. — Você? — ofegou. Comecei a rir. A expressão de seu rosto valia os últimos oito meses de celibato. Meu

bom

humor

morreu

rapidamente

quando

ficou

esperando uma explicação. A situação já não parecia graciosa. Não queria explicar, mas sabia que tinha que provar a Val que era sincero. Apertei os dentes e encolhi os ombros como se não importasse. — Foi em minha relação com a Adriana. Eu a amava sabe? Quando rompemos me dei conta de que não estive com ninguém, desde que a conheci e que não queria estar com mais


ninguém. A mulher me arruinou porque agora não quero dormir com ninguém que não esteja apaixonado. Acredite eu tentei. Quando me enganou, queria dormir com um milhão de garotas só para me vingar dela, mas não pude fazer. Não podia acreditar que admitisse tudo isto diante do maldito mundo inteiro. Adrianna provavelmente ia ver esta entrevista e riria de como quebrou o meu coração, para resto da minha vida. Afastei Adrianna de meus pensamentos. Já não me preocupava com ela. Não importava o que pensava. — Pensei, já que não estava fazendo de qualquer maneira, poderia muito bem usar o bracelete. Me obriguei a encontrar o olhar de Val. Esperava que me olhasse. Quando nossos olhos se encontraram, parecia que estava tentando me dizer algo importante. Como se minha vida dependesse de qualquer mensagem secreta que estava a ponto de transmitir. — Bom para você, Kyle — sussurrou. Seus olhos se embaçaram e me dei conta do que fazia. Estava orgulhosa de mim. A surpreendi, a impressionei, e inclusive tinha orgulho de mim. Esperei anos para ver esse olhar nela. Tentei tanto ganhar sua aprovação a cada dia, mas nunca obtive. Sim, ela teve algo por mim, mas nunca ganhei completamente seu respeito. Até agora. Meu peito começou a arder. A apertei contra mim de novo


e levei os lábios a seu ouvido. — Entendi Val. Antes

que

eu

pudesse

me

explicar,

Connie

nos

interrompeu. — Vai tocar algo para nós hoje? — perguntou. Sim, ia cantar algo. Minha adrenalina disparou. Nunca estive tão ansioso por cantar uma canção em minha vida. Nem a primeira vez que cantei "Verdadeira lástima". — Uh, sim — disse. Incapaz de ficar quieto mais um segundo, me levantei em um salto e cruzei o cenário onde estava minha banda. As coisas iam ser diferentes desta vez. Val não ia odiar esta canção. Ia amá-la. Todo mundo ia. Shane tinha razão esse dia. Tinha outro êxito em minhas mãos. Estava certo disso. Isto ia ser como "Verdadeira lástima" de novo. Podia sentir em meus ossos. Neste momento, agora mesmo, era o começo de algo épico. Kyle e Val: A continuação. Não podia esperar. Ajustei meu microfone e olhei para o público ansioso. Podia sentir sua emoção como podia sentir a minha própria. — Vou cantar o primeiro single do meu novo álbum — disse, um amplo sorriso se espalhava por meu rosto — E na grande tradição do Kyle Hamilton, escrevi para uma pessoa especial, que não consegui tirar da cabeça. O público ficou louco com a confissão e depois de sorrir,


meus olhos encontraram os de Val. A expressão de seu rosto era clássica: um pouco parecido ao horror. Rindo, pisquei um olho e disse: — Se chama "Vale a pena esperar". — Sei que parece como um clichê horrível, mas música é a minha vida. Eu, literalmente, vivo e respiro para os momentos em que seguro um microfone junto a minha boca e compartilho todos meus pensamentos e sentimentos mais íntimos em uma canção. Cantar não é só o que faço, é o que sou. Eu adoro. Logo que o primeiro acorde soou, tudo se desvaneceu e tudo estava bem no mundo. Todos os nervos que estive tentando ignorar o dia inteiro se desvaneceram e abri a boca para cantar, sentindo como se estivesse no topo do mundo. Pensamentos de ti correm por minha cabeça. Meu coração pulsa a toda velocidade. Meu corpo grita para ti baby, tem que ser minha Vem até mim, baby, estou perdendo tempo Me pede que te espere, mas não sei se posso. Muito assustado por te perder, sou só um homem. Mas não posso te deixar ir, não posso fechar a porta. O meu coração diz que vale a pena te esperar A sensação de seus lábios, o fôlego quente em minha pele Te tocando, me tocando, saboreei o pecado Vamos encontrar uma maneira de ganhar


Te necessito, te quero, baby tem que ser minha. Vem até mim, baby, estou perdendo tempo Me pede que te espere, não sei se posso Muito assustado por te perder, sou só um homem Mas não posso te deixar ir, não posso fechar a porta O coração me diz que vale a pena te esperar Sempre vou esperar, está me deixando louco Impulsionado pelas lembranças que ainda não tive Me agarrando à promessa de você e eu A esperança é eterna para as coisas possíveis Me pede que te espere, não sei se posso Muito assustado por te perder, sou só um homem Mas não posso te deixar ir, não posso fechar a porta O meu coração diz que vale a pena esperar Me pede que te espere, não sei se posso Muito assustado por te perder, sou só um homem Provoca a tortura, por sempre e cada vez mais Porque baby é verdade, vale a pena te esperar A música terminou, o público começou a aplaudir e desfrutei da emoção de um espetáculo bem feito. Homem, senti saudades disto. Se nada mais desse certo a partir de hoje, pelo menos voltei


a encontrar minha musa. Estive ausente desde que Reid morreu e por um tempo renunciei toda esperança de que, alguma vez voltaria de novo a ser meu velho eu. Quando abaixou minha adrenalina, soube que estava de volta. Eu era o mesmo. Estava disposto a deixar que este disco solo me levasse a minha próxima grande aventura. Tinha um propósito de novo e parecia incrível. E foi tudo graças a Val. Esse pensamento brilhou de novo à realidade. Val. O que ela pensava? Respirei fundo e olhei em sua direção. Seus olhos já se encontravam em mim. Sentada ali, completamente imóvel, como se tivesse congelada em seu lugar. Tinha os olhos muito abertos, mas pelo resto sua expressão era calma. Ou se esforçava

muito

para

ocultar

seus

pensamentos,

ou

se

encontrava em tal estado de choque que ainda era incapaz de expressá-los. Bom ou ruim? Bom ou ruim? Bom ou ruim? Não tinha ideia do que se passava em sua cabeça. Ficamos focados em um louco combate de olhares e não podia dizer nada do que se pensava. Nenhuma maldita pista. Tinha que fazer algo. Tinha que me mover, olhar para o outro lado, ou algo assim. Algo além de estar ali de pé, a olhando. Levantei um dedo em sua direção e murmurei as palavras: — Para você. O feitiço que nos sustentava se rompeu. Val voltou à


cabeça longe de mim e secou os olhos discretamente com um lenço. Estava chorando. A fiz chorar. Isso tinha que ser algo bom. Certo? Ou era ruim? Me movi exatamente um passo para ela e então Connie se encontrava ali, me abraçando e complementando a canção. Meu cérebro foi a piloto automático, incapaz de pensar em outra coisa que não Val, até que ouvi um rugido de aplausos. Acordei do atordoamento. Connie me pedia por algo. O que acabava de aceitar? Uma assinatura. Todos os membros da plateia receberam uma cópia de meu novo disco, eu aceitei ficar e assiná-los. Não, não, não! Val teria ido antes que terminasse. Isso era inaceitável. Sustentei o microfone em minha cara de modo que seria escutado por todos na sala quando lhe respondi: — Claro Connie. Ficaria feliz de ficar por um tempo e assinar alguns discos... desde que a Virgem Val aceite ficar comigo. — Dava o meu melhor sorriso às mulheres da plateia. — Não a vi em quatro anos. Não posso dar a oportunidade de escapar de mim tão rápido. Isto conseguiu a reação que esperava. Sem importar o que, quando se tratava de Val e eu, os fãs estariam sempre ao meu lado. Esperei os gritos e logo voltei meu sorriso a Val. Ela se encontrava do outro lado da sala, apresentando sua mãe biológica a seus pais e deu à volta a menção do som de seu nome. O olhar de incredulidade em seu rosto me fez cair na


gargalhada. Como nos velhos tempos. — O que diz Val? — brinquei — Quer fazer a Virgem e a Estrela do Rock outra vez comigo? — Era hora de pôr a evidente mascara sexy e irresistível — Só por esta vez? Pelos velhos tempos? — Voltei à cara de cachorro sem dono à plateia e disse: — O que os faria muito felizes, não? Todo o público ficou louco de novo. Val não teve mais remédio que lançar as mãos ao ar. Gemendo, disse: — Está bem, você ganhou. Vou ficar. — Excelente. — Sorri tanto que ela começou a rir. — Mas só desta vez! — advertiu. Não, se puder evitar. — É obvio só desta vez. Juro. Enquanto jurava a Val, com a cabeça gesticulei "não" à plateia, fazendo todos rir e os enlouquecendo de novo. OH, sim. Definitivamente sentia saudades disso.


R é por Reuniões

Val pediu uma pausa de dez minutos antes da assinatura, então usei o tempo para me despedir de meus companheiros de banda. Todos me desejaram sorte, enquanto se divertiam as minhas custas. Voltando ao estúdio principal, parei na sala de convidados por uma garrafa de água e alguns sanduíches que me ajudariam a passar a hora seguinte. Estive muito nervoso e emocionado antes do show para comer algo, mas agora a ardilosa mesa me atraía como um canto de sereia. Nunca é uma boa ideia interagir com os fãs tendo o estômago vazio, ou com Val neste caso. Na realidade, nunca é uma boa ideia ter o estômago vazio. Parei em um tranco seco, esquecendo minha busca por comida quando entrei no salão e vi Val. Estava parada, sozinha na escuridão, apoiada em um dos sofás. Estava de costas para mim, distraída o suficiente para não me escutar entrar. Abri a boca para dizer algo gracioso sobre suas intenções de me ter a


sós quando ela respirou fundo e seu corpo começou a tremer. Me dei conta de que não se apoiava contra o sofá, mas sim, se segurava a ele como se fosse o único qual a mantinha em pé. Nunca vi Val tão alterada. Só nervosa de forma regular no dia. Sempre empurrei seus limites de propósito, tentando conseguir que rompesse sua forte fachada, mais

jamais

consegui. Ela era a pessoa mais forte que conhecia. Se precisava de um descanso para se recompor antes de fazer a assinatura comigo, isso dizia muito sobre seu estado emocional. Sabia que provavelmente precisava desses poucos minutos a sós, mas não podia ir. Não podia deixá-la assim. Limpei a garganta para chamar sua atenção, ela saltou diante a intrusão. Deu a volta e se apressou a enxugar uma lágrima ou duas enquanto forçava a apagar suas emoções e voltar a ser a mulher calma e controlada que vi no cenário. Abriu a boca para se explicar, mas a fechou de novo, se dando conta de que não podia ocultar o que eu acabava de presenciar. Em troca decidiu ignorar. — Kyle Hamilton. — Foi uma quente saudação e um suspiro de uma vez. Seu sorriso era sincero e seus olhos tinham autêntico prazer, mas via uma desconfiança, o que me deu medo de me aproximar. Nos olhamos em silêncio, vendo as mudanças que ocorreram nesses quatro anos. Não estava certo do que fazer ou como romper o silêncio entre nós, então Val tomou a iniciativa. — Não acreditei que o veria de novo — disse com um


pequeno movimento de cabeça. — Eu tampouco. — Finalmente saí de meu estupor e dava um pequeno sorriso. — Um abraço para este velho amigo? Abri os braços, ainda sem dar outro passo, deixando que ela viesse para mim em seus termos. Levou um momento para decidir, mas no final, deixou que o sorriso subisse até seus olhos e cruzou a sala até mim. Nos

afundamos

nesse

abraço

e

simplesmente

nos

sustentamos um no outro, enquanto a tensão deixava nossos corpos. Seus braços estavam ao redor de meu estômago e os meus apertados ao redor de seus ombros. Graças a seus saltos, era só um par de centímetros mais baixa que meu um metro e noventa, a pondo na altura perfeita para que descansasse sua cabeça em meu ombro, o que fez com um pequeno suspiro. Meus olhos se fecharam e desfrutei do momento. Passou muito tempo antes que perguntasse: — Está tudo bem? Ela suspirou profundamente e saiu de meus braços. — Estou bem — Não acreditei nela. As palavras soavam muito impessoais. — Val, se não se sente bem para dar autógrafos comigo, entenderei. Direi que não se sente bem. Val ficou boquiaberta, surpresa pela oferta. Ficou surpresa que eu desse uma saída? Normalmente não faria, mas vê-la rompendo em pedaços, só nesta sala, era algo que não


esqueceria tão cedo. — O truque para sobreviver à fama — disse —, é saber quando dizer não. O público sempre vai tomar tudo o que você der. Tomarão e tomarão e tomarão, e nunca será suficiente. Tem que lembrar que ao final, você vem primeiro. Se alguma vez houver algo que precisa, tem que se manter firme. Por exemplo, não cantar sua canção mais popular de novo, sem se importar quanto incomode e decepcione as pessoas. Não disse em voz alta esse pensamento, mas me se perguntei ela também pensava nisso. — Se você não está bem, então negue. Val me estudou por um momento e seus nervos relaxaram. Dar a ela oportunidade de negar aparentemente era o que precisava para dizer que sim. — Está bem Kyle, não me importo em ficar. Parecia muito mais confiante, mas, ainda assim, perguntei: — Tem certeza? — Tenho certeza — prometeu. Um sorriso apareceu em seu rosto e subiu até seus olhos — Não posso deixar você só aí fora. Quem sabe que classe de rumores começaria. Provavelmente amanhã despertaria e me daria conta de que fui hospitalizada logo depois de ter ficado em choque quando você me beijou no camarim. Surpreso, rompi em risadas. — Isso soa como algo que você faria — brinquei. Riu comigo e nós fomos ao estúdio principal onde nossos fãs


esperavam. — Possivelmente aconteceu quatro anos atrás, Kyle, mas isso não significa que não lembro como era. Agarrei suas mãos enquanto abria a porta do estúdio. Não estava preparado para terminar este momento a sós com ela. — Não acredita que eu tenha aprendido um par de coisas depois? Sorriu e negou com a cabeça. —

Novos

truques,

mais

o

mesmo

cachorro.

—Era

impossível não tomar suas palavras como um desafio. A empurrei para trás até que ficou pressionada contra a porta e tão perto que nossas respirações se mesclaram. Seus olhos se abriram muito, da mesma maneira que faziam sempre que eu invadia seu espaço pessoal e observei satisfeito, como inspirava uma grande quantidade de ar e o continha. — Esse pensamento será sua perdição desta vez, Val. — Me inclinei, deixando que meus lábios permanecessem em sua mandíbula por apenas um momento, antes de levá-los a sua orelha — Os mesmos velhos truques — sussurrei — Mas novo homem. Com isso, beijei sua bochecha e fui ao estúdio, a deixando atordoada e com necessidade de uma nova pausa para se recompor. Quando voltei para o estúdio principal os fãs estavam alinhados, apertando os discos em seus peitos. Sua emoção era


evidente. Perambulei para a mesa que a equipe de produção instalou para a assinatura de autógrafos, tomei uma caneta e saudei a primeira fã. Ela saltou suas bochechas vermelhas e timidamente me entregou seu CD. — Qual é seu nome, querida? — Laura. Tirei a tampa de meu marcador e o deixei flutuar para cima da caixa do CD. — Tem um lindo nome, Laura. O que pensa da canção? Suspirou. — Foi tão romântica. Sério que a escreveu para Val? — pisquei pra ela, causando uma vermelhidão em suas bochechas de novo. — Falando de minha virgem favorita, sabe que não posso assinar este CD até que ela esteja no assento ao meu lado, verdade? Quer dizer, esse foi o trato. — OH, mantenha suas calças, Kyle. Estou aqui. — A voz dela veio detrás de mim e soava tão irritada como sempre. Senti meu sorriso aumentar em proporções ridículas. — Escutou isso? — perguntei a Laura — Ainda não levamos nem dois segundos reunidos e já está me lembrando que não vamos ter sexo. Fingindo um dramático suspiro, me coloquei de pé, sacudi a fivela da minha cinta e dava a minhas calças um bom puxão. As mantendo em seu lugar.


— Sim. Tudo está bem-posto em seu lugar. Minhas calças não vão a nenhum lado. É seguro para A Virgem se sentar comigo sem temer pela perda de sua virtude. — Lindo — disse Val revirando os olhos. Dei um sorriso que mostrava todos os meus dentes. — Senti saudades, Val. Como vivi esses quatro anos sem toda esta briga verbal? — Não sei, mas vivi de forma pacífica. Foi bom. — Que seja. Sei que também sentiu saudades. — Sentei de novo e pus a outra cadeira para Val. — Sente já comigo, para que possamos assinar o CD da linda Laura. Depois de pegar a cadeira de Val e colocá-la tão perto da minha que praticamente nos tocávamos, finalmente, comecei a dar os autógrafos. Resultou que Val era tão popular como eu e a maioria dos fãs pediram que também assinasse seus discos. Pensei que era interessante que assinasse com “Val Jensen" e não com "Virgem Val". — Por que essa assinatura? — perguntei logo depois da terceira vez que o fez, encolheu os ombros e disse. — Suponho que é meu nome artístico. Meus fãs querem conhecer a “Virgem Val”, por isso assino assim. — Embora eu adore "Virgem Val" — disse enquanto assinava meu nome debaixo do dela—, acredito que é tempo de mudá-lo por "Valerie Jensen". Não acha?


— Não sei. Tenho receio dessa ideia, de que ela nos dê mais fãs. Com certeza que sim! — Só porque emociona muito. Olhei o CD em minhas mãos, com a assinatura de Val e a minha juntas e tive a brilhante ideia, de desenhar um símbolo de mais entre nossos nomes e um "PARA SEMPRE" baixo deles. A capa do CD agora dizia: "VIRGEM VAL+ KYLE HAMILTON PARA SEMPRE." A mulher em nossa frente ficou sem fôlego pelo desenho. Val levantou o olhar para ver o que aconteceu e sustentei o CD no alto, minha obra prima. — O que acha? Ficamos bem juntos. Val suspirou, mas em seu rosto, apareceu um sorriso enquanto negava com a cabeça. — Não mudou muito, verdade? Levou

um

minuto

para

responder.

Estava

ocupado

desfrutando do sorriso que coloquei em seu rosto. Não conseguia fazê-la sorrir com muita frequência, então quando o fazia, desfrutava do meu êxito. Enquanto deixava que meu olhar ficasse nela, por mais tempo do que o necessário, Val franziu a testa e tirou o CD das minhas mãos. — Se for assinar como um menino de escola se esqueceu da parte mais importante. Desenhou um grande coração ao redor de nossos nomes e


me mostrou isso. — Agora retornamos oficialmente a sexta série. Devolveu o CD à mulher de pé frente a nossa frente. — Aqui está, Brenda. Cuide bem dele. Acredito que Kyle está especialmente orgulhoso deste. Eu adorava que Val se divertisse com isto. Não eram todos que podiam fazê-lo. Adrianna odiava ter que interagir com meus fãs quando estávamos juntos em público. Não era assim com Val. Ela alegou que não gostava da atenção, mas era boa com as pessoas. Ajudava que meus fãs fossem também os dela. Nos amavam. Val poderia ser a noiva perfeita para um menino como eu. — Farei! Muito obrigada! — respondeu Brenda, suspirando, a Val e a mim, como se fôssemos tão lindos que era doloroso nos olhar. Começou a ir e logo parou, mordendo com nervosismo seu lábio inferior — Estou tão contente de que estejam juntos de novo. São perfeitos um para o outro. — Nós não... Joguei meu braço sobre o ombro de Val e a cortei antes que terminasse a frase. — Obrigado, Brenda. Também estamos emocionados por isso. Tentaremos não colocar a perder desta vez. Val me deu um olhar, mais só consegui rir. — O que? Não tenho que estar ausente para que comece rumores?


— De acordo, bem. Se quer jogar assim. O brilho malicioso em seus olhos enviou uma onda de emoção através de mim. A Val que recordava, foi sempre uma lutadora sob seu exterior sereno. Era a razão pela qual adorava tirá-la do sério. — Tente o melhor que puder. Esperei até que assinássemos mais um par de autógrafos. Quase esqueci o incidente, quando se inclinou e disse em voz baixa: — Claro que não acredito menos em você. Não é o primeiro homem com problemas de impotência, Kyle. Acredito que é bom que tenha decidido se abster, não importa qual é a razão atrás disso. Não tinha certeza sobre o que estava falando, até que levantei o olhar e vi uma mulher me olhando com a boca aberta. — Está brincando — disse enquanto Val sorria à mulher e estendia a mão para pegar o CD. A mulher o pegou, mas seus olhos voltaram para mim. Suas bochechas se ruborizaram e timidamente disse: — Um problema como esse não é uma razão para estar envergonhado. Não o faz menos homem. Acredito que é romântico, sendo esse o motivo que o fez voltar com Val. Fiquei de boca aberta e malditamente ruborizei de um vermelho-escuro. Esta mulher acreditou em Val! Acreditou que me abstinha porque era impotente. — OH, sim — disse Val sem perder o ritmo — foi tão


romântico. Ele chorou quando me contou o que acontecia e me comoveu muito. Saber a verdade só nos aproximou mais. Girei meu olhar surpreso a Val, que piscou pra mim, antes de sorrir à garota e dizer: — Qual é seu nome? — Melanie. Antes que pudesse tentar dissipar o rumor, Melanie trocou de assunto, o que era impossível. — Entretanto, poderia assiná-lo para Chloe, por favor? — disse a Val. — É minha filha. Está no segundo grau e também está esperando o cara certo. Ela estava acostumada a lutar por isso, mas depois que viu seu filme, ganhou muita mais confiança em si mesmo. Comprei um colar de Virgem para seu aniversário, o usa todos os dias. — Isso é ótimo! — disse Val. Me surpreende o quão sincera Val foi. Sua atitude brincalhona desapareceu ao escutar a história de Melanie e seus olhos ficaram brilhantes com lágrimas. Honestamente, se preocupava com esta mulher e sua filha. Acredito que essa é a razão pela qual impactava no mundo, a sua maneira e ser, porque se preocupa genuinamente. Esse também é o porquê, embora não estive de acordo com sua causa, sempre a achei irresistível. Admirava a Val. Na capa do CD de Melanie, Val escreveu: “Para Chloe, se mantenha forte! Virgem Val.”


Me passou o CD com um olhar severo, mas não precisava de uma advertência. Podia ver que isto era importante para a mulher. Não ia brincar com Melanie ou sua filha. Tomei o CD e escrevi simplesmente: “Para

Chloe,

estamos

juntos

nisto.

Kyle

'A

é

por

Abstinência' Hamilton” Melanie soluçou. — Vai significar tanto para Chloe, que você continue com a abstinência, Kyle. Muito obrigada por ser tão valente. Ignorando o fato de que esta mulher acreditava que tinha problemas sob os lençóis, tentei soar tão sincero como Val quando entreguei o CD à mulher a minha frente. — Se ajuda às pessoas, fico feliz em fazer. Diga a Chloe que estamos orgulhosos dela e que não está sozinha. A mãe de Chloe fungou e soluçou. — Farei — disse com voz rouca — Muito obrigada. Logo depois que se afastou, me virei para Val, sorrindo a contragosto. — Impotência? Val encolheu os ombros. — Se não pode com isso, não comece. — Você ganha. Lição aprendida. Trégua? Val sorriu. — Estou tendo um estranho sentimento de déjà vu. — riu. E negou com a cabeça


— Não posso acreditar que enfrentou isso com tanta maturidade. — É um pouco difícil, não fazer quando a mulher tem os olhos cheios de lágrimas. — Mesmo assim. Estou impressionada. Um ponto para mim. Toquei, Val, prometi aproveitando a situação e tomando sua mão na minha. — Pelo menos nos aspectos importantes. — Joguei uma olhada ao bracelete em minha mão e corrigi — Na forma mais importante. Vou demonstrar isso com o tempo. Val ficou olhando nossas mãos durante um momento e eu vi mudar todo seu semblante. Seu sorriso era tenso e seus olhos umedeceram. — Fico feliz — disse com um sorriso difícil, enquanto tirava seus dedos de meus e retornava sua atenção aos fãs. O estado de ânimo era muito mais sombrio quando terminamos de assinar os autógrafos. Algo mudou entre nós, mas não sabia o que. Não podia entender Val. Entretanto, nunca fui capaz de fazer isso, esse foi sempre uma grande parte do nosso problema. Enquanto o último dos membros da plateia tinham seus autógrafos e deixavam o edifício, Val e eu nos sentamos em silêncio, sem saber o que fazer ou o que dizer. Decidi ser o valente e romper a incômoda tensão. — Obrigado por ficar comigo. Acredito que os fãs


apreciaram muito. O sorriso de Val era pequeno e triste. — Acredito que tem razão. Obrigada por me pedir para ficar. Não tive que ser Virgem Val por tanto tempo que esqueci o quanto significava a campanha para as pessoas. O aviso foi bom para mim. Não estava seguro de como responder. Eram estranhos os momentos como este, onde Val e eu fomos sinceros com nós mesmo, ao invés de brincar ou brigar. Não queria arruiná-lo. O silêncio se arrastou entre nós até que um funcionário perguntou se podia tirar a mesa onde nós estávamos sentados. Val e eu fomos os últimos no estúdio, por isso nos dirigiam à porta. Ao chegar à saída, estendi o braço. — Te acompanho até seu carro? Me surpreendi quando não pôs nenhuma resistência. Olhou a meu cotovelo devotado e sorri quando entrelaçou sua mão por meu braço. Fomos até o estacionamento sem falar, mas desta vez o silêncio era cômodo. Uma vez que baixou o sol da tarde, era hora de ir por caminhos separados, nos detivemos e nos olhamos. — Foi bom te ver de novo, Kyle — disse. Tinha essa expressão de dor em seu rosto. Sorria, mas não chegava a seus olhos. Queria saber por que estava deprimida, mas não sabia como perguntar. A olhei desejando que me dissesse algo e ela me olhou, esperando o mesmo. O momento era quase idêntico à última vez


que nos vimos. Parecia como esse tipo de desesperança, de despedida agridoce. Dizer adeus foi inevitável quatro anos atrás, mas agora não podia aceitar. Desta vez não ia deixá-la ir tão rápido. — Val, janta comigo esta noite. Por favor? Ouvi o desespero no meu pedido, mas não podia me acalmar. Sentia um pouco de pânico que me recusasse. Abriu a boca e não saiu nada dela. — De verdade senti sua falta —disse. Peguei suas mãos e as apertei. Devolveu o apertão e me deu outro sorriso trágico. —

Também

estacionamento,

senti aonde

saudades. seus

pais

— e

Olhou sua

através

mãe

do

biológica

esperavam, falhando ao tentar demonstrar que não nos olhavam. — Acredito que meus pais e eu vamos jantar com minha mãe biológica esta noite. — Fez uma pausa, rasgada pela indecisão. — Se quiser se juntar a nós, estou certa que eles não se importarão. Quase

aceitei a

oferta. Queria mais que

tudo. Me

surpreendeu com o convite e sobre tudo, que estivesse disposta a me incluir, embora não estivesse segura a respeito. Mas tinha que ter privacidade, enquanto conhecia sua mãe biológica, por isso, por muito que me matasse, recusei. — Não quero interferir. Isso deveria ser uma coisa de


família. O pequeno suspiro de alívio de Val foi agridoce. — Obrigada. — Tomou um grande fôlego — Ainda não posso acreditar. Minha mãe biológica. — Envolveu os braços ao redor de si mesma como se a ideia a fizesse sentir insegura — Ela diz que também tenho um meio irmão mais novo. — Sério? Val assentiu. — Sim. Sério. Quero dizer estou feliz, mas... é muito para processar. Acredito que preciso de um pouco de tempo, para ordenar meus sentimentos a respeito de tudo. Eu não gostava de vê-la tão nervosa. — Sinto que tenham te mantido no escuro. E sinto que me colocaram no meio disso. Não deveria ter feito isso, mais não foi fácil apresentar outra canção sobre você. — Estava muito nervoso para poder sorrir para ela. Gostou da canção? Não disse nada a respeito. — Te incomoda me ver outra vez? Val negou com a cabeça. — Fiquei feliz que estivesse aqui. Foi bom te ver de novo. Sinto muito não termos mais tempo para nós. Finalmente me dava conta de que sua tristeza era por dizer adeus. Não planejava manter contato comigo depois disto. Tinha que fazer algo. — Quanto tempo ficará na cidade?


O sorriso de Val voltou a cair. — Voo amanhã cedo. Tenho trabalho. Meu intestino se retorceu. Ia pela manhã, e pela forma que me disse, definitivamente considerava este o final. Ouça, foi tão bom te ver de novo, Kyle. Foi divertido, mas minha vida já não o inclui, assim adeus. Sem saber mais o que fazer, tirei um dos discos restantes da minha bolsa e rabisquei uma nota nele. O assinei: Para a maior musa do mundo. Eternamente em dívida contigo, Kyle Hamilton. Logo escrevi: me ligue! E coloquei o número do meu celular. Sublinhei várias vezes. — Falo sério — disse, enquanto lia a inscrição — Me ligue. — Val assentiu, mas tinha minhas dúvidas se ia me ligar. Voltou seu olhar para sua família e me deu um último sorriso triste. — Tenho que ir. Quando deu a volta para ir, meu coração quase se deteve. — Val, espera! A agarrei e a esmaguei em um abraço que provavelmente a sufocaria. Não sabia por que, mas não podia deixá-la ir. A apertei como se isso pudesse de algum jeito, convencê-la magicamente, de não se afastar de mim. Os segundos em que nossos corpos estiveram conectados, meu coração pulsava com força em meu peito e todo meu corpo doía. Estava vivo de novo, e me formigava todo o corpo com uma energia temerária e apaixonada. Tê-la em meus braços assim,


era certo. Era o que precisava. A parte de mim que desapareceu durante tanto tempo. Amei a Adrianna e seria feliz com ela, mas nunca me fez sentir assim. Como se pudesse fazer algo. Como se merecesse tudo. Como se estivesse completo, e a vida não podia ser melhor. O peito de Val se agitou contra o meu com seu coração palpitante. Podia senti-lo. — Val — saiu um sussurro abafado. Não perdi o controle. Quando a beijei, foi planejado. Não ia deixar que se afastasse de mim, não sem me assegurar de que entendia que as coisas não terminaram entre nós. Pus minha boca sobre a dela, como se nossa vida dependesse disso. E sabe o que? Me fez voltar. O Beijo. Nossos lábios se tocaram e estalamos. Fomos fogo e gasolina. Anos de desejo reprimido se liberaram por fim. Fome, paixão e desejo. Foi épico. Val se separou primeiro, sem fôlego. — Tenho que ir. Meus braços se apertaram ao redor de sua cintura. — Tem que ficar. — Tenho que ir. Sua voz parecia bastante torturada, precisava saber que a afetei. Nosso beijo permaneceria muito depois de que se afastasse de mim. precaução.

Bem.

Só precisava de mais um por

Bom, talvez era eu que precisasse de mais um.

Empurrei uma mecha de seu cabelo, que caiu quando se moveu


detrás de sua orelha e baixei de novo os lábios aos seus. A beijei brandamente desta vez, me deleitando com sua doçura, agora que a paixão estava fora do caminho. Este beijo era diferente, muito mais. Era uma expressão de todas as emoções tranquilas, sentimentos que nenhum reconheceria que nenhum negava também, ficamos em silêncio por mais tempo. Suave e tenro. Senti até meus ossos. Quando me afastei, seus olhos se abriram como se despertasse de um sonho. O que me deu vontade de beijá-la de novo. — Está bem. Tem que ir — disse, passei meus dedos por sua bochecha — Mas isto não é um adeus. Não vou deixar que vá desta vez. — Kyle... — Não. Já cometi esse erro uma vez. Não vou fazer de novo. Boa noite, Val. Que tenha um bom momento com seus pais. Vou falar contigo logo. Me afastei antes que pudesse discutir.


P de Planos A Fundação "Nem todo mundo está fazendo" alugou um escritório de 63m² do tamanho de uma caixa de fósforos, no centro comercial em Pasadena, que já viu dias melhores. Fiquei deprimido, simplesmente ao olhar o lugar, e isso foi antes que juntasse coragem suficiente para entrar. Ainda não tinha certeza se estava fazendo o correto, meus representantes pensaram que estava louco, mas não sabia o que mais fazer para chamar a atenção de Val. Tinha se passado mais de uma semana do Programa de Entrevistas de Connie Parker, e não me ligou. Não me surpreendia. Estava muito preso no momento, para reconhecer o beijo pelo que era até horas mais tarde, quando fui incapaz de dormir. Me beijou com vontade, mas tinha certeza que para ela esse beijo foi algo que nunca conseguimos totalmente há quatro anos: um encerramento. No princípio, me senti ferido quando não me ligou. Como podia querer o encerramento depois desse beijo? Como podia


permanecer afastada? Então me irritei. Não merecia ser ignorado. Por último, decidi continuar determinado. De maneira nenhuma a conexão que senti entre nós foi unilateral. Estive com muitas mulheres em minha vida para saber que química como a nossa era real: uma energia tangível e inegável. Ela sentiu. Sabia. E ia fazer com que admitisse. A primeira fase do plano estava do outro lado da janela suja, em frente aonde estacionei. Baixei o boné de beisebol sobre meus olhos e entrei, antes que alguém me reconhecesse. Não precisava ser assediado antes que tivesse preparado para responder perguntas sobre o que fazia em uma organização que promove a abstinência. O escritório parecia ainda menor por dentro, ao estar repleto de caixas de panfletos e sobre tudo, folhetos de conscientização das DST, evitar a gravidez na adolescência, e a celebração da virtude. Havia uma mesa inteira na frente da janela dianteira, dedicado a V é por Virgem e o desafio da abstinência de Val. Havia um computador ali para que as pessoas pudessem navegar pelo website e se registrar para o desafio. Sobre a escrivaninha e em todas as paredes havia fotos de pessoas com seus nomes e compromissos de se abster de ter sexo. De certa maneira entendia agora, um pouco, do porquê alguém poderia tomar a decisão de esperar para ter sexo, mas por que todas essas pessoas pareciam tão malditamente felizes por isso? Podia me abster do sexo casual sem sentido,


mas não saltava de alegria sobre meu celibato recém descoberto. De fato, aparentemente, era uma merda. — Kyle Hamilton? Me controlei para não saltar diante a voz inesperada, mas ainda me sentia como um idiota, simplesmente por estar aqui. — Uh, sim. — Tirei o boné e passei os dedos pelo meu cabelo. — Suponho que tenho que falar com a pessoa responsável? — Essa seria Darla. Mas ela já foi embora. Há algo que possa ajudar? Estive a ponto de dizer que não e usar isto como uma desculpa para ir quando reconheci à mulher na minha frente. — Te encontrei na entrevista a semana passada. Assentiu. — Estive lá. A mulher parecia como se estivesse a ponto de explodir, me olhou com uma mescla de desconfiança e diversão que só podia significar que me conhecia. Bem, conhecia minha reputação e não apenas meu status de celebridade. Apostaria dinheiro que essa mulher conhecia pessoalmente Val e, portanto, conhecia minha história com ela. — Nos conhecemos? — Provavelmente sim e me senti estúpido outra vez por não saber quem era. A mulher sorriu. — Acredito que não fomos apresentados formalmente, mas sim, nos encontramos em várias ocasiões, — ela estendeu a mão


gorda e inchada. — Sou Robin. Conheço Val desde o colégio. Uma vaga lembrança de uma garota mais jovem, menos grávida com o cabelo castanho e um punhado de sardas curvada sobre um computador saltou a minha mente. — Claro. Era a amiga que fez toda a coisa do seu website. O assombro a inundou, mas rapidamente sorriu para encobri-lo. — Estou surpresa que se lembre. Não era tão enérgica como Cara ou Val, mas me dava conta do porquê era sua amiga. — Ao contrário do que Val pôde ter dito — brinquei — sou capaz de prestar atenção a algo mais do que a mim mesmo. Arqueou uma sobrancelha interrogativa que me fez rir. Te peguei. — Acontece raramente — admiti. — Quando é importante. — Se você diz. — Até parecia cética. De repente, ela se abaixou e agarrou seu estômago enquanto forçava uma longa e lenta respiração. Quando me dei conta do que acontecia, entrei em pânico. — Vai ter um bebê? Não sei por que pensou que minha pergunta era tão engraçada, mas ela riu me fazendo um gesto para que não me preocupasse enquanto a ajudava a chegar a uma cadeira próxima.


— Deveria chamar uma ambulância ou algo assim? Riu de novo. — Está tudo bem, Kyle, é só uma contração leve. Estive muito tempo em pé. — As contrações não significam que é hora de ter um bebê? Posso te levar para o hospital, se precisar. Há um pai do bebê que precisa que chame? — Se refere a meu marido? — Tirou os sapatos e esfregou seus pés, que pareciam o dobro do tamanho do que deveriam ter. — Relaxe — disse. — Ainda faltam pelo menos dois meses, prometo. As contrações leves são completamente normais uma vez que se está no último trimestre. Apontei seus tornozelos. — Isso não parece normal. Acredito que deveria te levar ao médico. Riu de meu olhar horrorizado e finalmente relaxou. A margem de desconfiança que tinha desde que entrei se dissolveu em algo que quase poderia se confundir com afeto. — Posso entender o que ela vê em você — disse de repente. A explosão de orgulho que senti por seu elogio foi inesperado. Geralmente não me importava com o que pensassem de mim, mas esta mulher era amiga de Val. Sua aprovação significava algo. E talvez pudesse ganhar sua ajuda com Val. — Então, o que a Fundação pode fazer por você, Kyle?


A pergunta me surpreendeu. Todo o susto pelas contrações da mulher grávida me fez esquecer tudo, sobre onde me encontrava e o que fazia aqui. — Finalmente quer assumir o desafio da Val? Está aqui pelo compromisso de abstinência? Se for isso... Joguei meus ombros para trás e inchei meu peito. Me neguei a deixar que esta mulher visse o quão nervoso me encontrava por isso. — De fato, sim. — Movi minha pulseira para que Robin a visse. — Não menti na semana passada. Já estou em abstinência por oito meses. Pensei que Val gostaria que fizesse oficial. Robin piscou e tirou um par de sandálias de uma gaveta em sua mesa. Se inclinou para tentar colocá-las, mas não conseguia alcançar muito bem, então me agachei e as coloquei em seus pés por ela. — Bem, se não é cheio de surpresas! — Disse. — Vê, posso ser um cara agradável. Não deveria ser tão cética. — Obrigada pela ajuda com minhas sandálias, mas na realidade falava de seu compromisso com a abstinência. É sério que quer fazer isso? Esticou sua mão para mim, como se literalmente precisasse da minha ajuda para levantar de sua cadeira. Na verdade, provavelmente precisava. — Tem certeza que deveria se levantar? Acredito que deva


descansar. Minha preocupação a divertia. — São cinco horas — disse, sufocando uma risada. — Hora de ir. Me preparava para ir quando entrou. — OH. Sinto muito. — Ajudei a se levantar, surpreso que estivesse decepcionado porque não conseguiria explicar meu plano. Foi comigo até a porta e quando apagou as luzes, virou e me perguntou: — Quer assinar o desafio de abstinência? Dei de ombros. — Por que não? Já renunciei ao sexo casual e acredito que assinar o desafio faria Val feliz, então... — Então deixaria um registro oficial e diria a seus fãs que está fazendo o desafio de abstinência de V é por Virgem só para fazer Val feliz? — Sim. — Robin segurou a porta para mim, logo a fechou depois que estávamos fora. — Eu gostaria de fazer isso por Val. Ela merece. Mas, aqui está a coisa. Se for fazer isto oficialmente, então vou fazer até o final. Quero que todo o maldito mundo saiba que Kyle Hamilton não está fazendo. Quero ser um porta-voz para vocês, como era Val. Robin parou de andar, parou tão bruscamente que cambaleou. O impulso de seu enorme ventre quase a fez cair. — Está brincando? — Perguntou quando agarrei seu


ombro para sustentá-la. Robin basicamente teve a mesma reação que recebi de meus representantes quando revelei meu plano esta manhã. Decidi falar o mesmo argumento que dei a eles. — Tenho que fazer uma turnê de divulgação para promover meu novo álbum e as pessoas vão perguntar de qualquer maneira, então pensei que poderia casar ambas as coisas. — Quer promover a Fundação "Nem todo mundo está fazendo" na turnê de divulgação de seu novo álbum? Bem, soava ridículo quando dizia assim. — Val é a razão pela qual escrevi minha nova música e vou esperá-la. Ela é a razão pela qual comecei a escrever de novo, a razão pela qual decidi fazer um álbum solo — Começo a explicar, — Além disso, já concordei em doar uma parte das vendas à Fundação, como Val fez com suas joias, então terei que mencionar o tema nas entrevistas de qualquer maneira. Bem, posso ser um porta-voz oficial, não? Robin apoiou a mão na parede de tijolo do edifício e me olhou boquiaberta com olhos muito amplos. —Merda, você fala sério — respirou. — Poderia se sentar antes que machuque algo, por favor? — Era possível que a surpresa fizesse alguém entrar em trabalho de parto? — Talvez devesse falar com alguém mais sobre isso. Está chocada. Não quero fazer com que tenha um bebê na calçada.


— Estou bem — prometeu Robin, ainda aturdida. — Simplesmente não posso acreditar. Com sua fama e sua reputação, e, sobretudo sua história com Val, sabe quanta propaganda conseguiria? Sabe o bem que poderia fazer? Quantas vidas poderia afetar ao fazer isso? Uh, esta era a parte que menos esperava. Não queria sua gratidão, nem a de ninguém. Não queria que as pessoas me fizessem ser algum tipo de santo. Isso não era correto. Eu não era como Val. Poderia fazer algo bom, mas meus motivos dificilmente eram puros. — Olhe, não fique sentimental, certo? Não me confunda com um benfeitor. Não me importo se afeto a vida das pessoas ou não. Faço isto por Val, ninguém mais. É completamente egoísta. Deixarei todo o cuidado e a coisa de fazer a diferença para vocês. Eu oficialmente estava incomodado e queria mais do que nada me afastar desse escritório e longe dos especulativos olhos de Robin. Tirei um dos cartões de meu representante da carteira e entreguei a ela. — Meus representantes estão dispostos a trabalhar com vocês para organizar algo. Só quem está no comando deve entrar em contato neste número. Estarão esperando pela chamada. Robin pegou o cartão como se fosse a Joia da Coroa da Inglaterra. Uma vez que superou a surpresa, colocou o cartão em sua bolsa e me olhou com uma expressão calculada. — Vem comigo? — Disse.


— O que? — Você e eu temos que conversar, e há um Taco Bell a uma quadra da minha rua. — Esfregou seu ventre e o sorriso em seu rosto não coincidiu com sua seguinte frase. — Este pequeno pestinha está decidido a me transformar em um hipopótamo antes que nasça. Ri, mas não a segui. Temia a ideia de andar em qualquer lugar. Sério, a gravidez era horrível. Estava tão feliz por ter nascido homem. — Está bem, mas de carro. Não vou deixar que ande a nenhuma parte assim. Robin riu e mudou de rumo para meu carro. Enquanto a ajudava a entrar no lado do passageiro, sorriu. — Será um bom pai algum dia. — Assim espero. Algum dia. Entre os dois, pedimos quase todo o cardápio de Taco Bell. Consegui chegar à mesa sem ser reconhecido e Robin conseguiu fazê-lo sem necessidade de uma ambulância, então ambos estávamos de bom humor enquanto comíamos nossa montanha de comida. — Então, do que queria falar? — Perguntei, uma vez que comi o suficiente para manter uma conversa educada entre mordidas. Robin deixou os nachos e me deu um olhar duro. — Está apaixonado por Val? A pergunta fez me engasgar com meu burrito. Tossi um


minuto e tomei um longo gole de refrigerante antes de responder. — Não. É claro que não. Isso é uma loucura. Robin se encostou e cruzou os braços sobre seu peito. — É? — Por que meu coração de repente golpeava em meu peito?

Queria sacudir algum sentido em Robin e obrigá-la a

parar de perguntar sobre isso. Val e eu definitivamente tínhamos uma conexão, mas como poderia amá-la? — Quase não a conheço — disse. — Não a vi em quatro anos e mal sabia dela. — Então por que passar por tudo isto? — Porque quero conhecê-la. Val e eu temos uma conexão que vale a pena explorar. Esta é a única maneira para que me dê uma chance. Robin me estudou por um minuto. Não tinha certeza do que tentava encontrar, ou o que pensava que sabia, mas o olhar em seus olhos me assustou. Me olhou com uma determinação que não vi em ninguém, exceto talvez em mim mesmo e em Val. — Vou ser honesta com você, Kyle. Esta ideia me assusta — disse, cavando em seus nachos de novo. Estava um pouco ofendido. — Por quê? — Escutei a decepção em meu tom e sabia que Robin também a ouviu. — Só tento ajudar. Poderia dar muita publicidade a sua fundação. Poderia fazer muito bem. Val quer que eu faça isso. — Esse é o ponto. Na realidade não entende o quanto que


significaria para Val. Não entende o quanto você significa para ela. Essa era a última coisa que esperava que dissesse. — O que quer dizer? — Robin suspirou e empurrou para o lado sua comida. Me perfurou com um olhar profundo. — Se começar isso e depois o estragar, quebrará seu coração de uma maneira que nunca se recuperará. O que quis dizer com isso era cem por cento sério. Deixei meu burrito, já não de muito bom humor para terminá-lo. — Explique. — Val me contou tudo o que aconteceu com vocês depois do show naquela noite. Chorou em meu ombro durante dias depois que foi embora. Tinha medo de ter feito a escolha errada. Começou a duvidar de si mesma, ela estava preocupada por esperar muito das pessoas e que tivesse afastado algo especial quando te deixou ir. Ela estava apaixonada por você, Kyle. Inclinei para trás em minha cadeira, surpreso pela confissão de Robin e o quanto ela significava. Com cada palavra que disse, as senti como um golpe físico. Queria acreditar, mas não queria escutar ao mesmo tempo. Odiava pensar que machuquei Val. Eu não gostei de escutar que a fiz questionar sobre si mesma. O fato de que ela estava tão confiante e decidida, que soubesse quem era e o que queria, era o que mais eu gostava nela. Éramos parecidos nesse aspecto. Robin continuou com seu sermão, se negando a segurar


qualquer coisa. — Val sempre esperou que algum dia entendesse sua decisão e a respeitasse, mas nunca pensou que realmente veria as coisas da sua maneira. Não se permitiu ter esperanças de que alguma vez estivesse disposto a esperá-la. — Mas agora estou. Por que isso é algo ruim? Robin tentou sorrir, mas era um sorriso triste. Cheio de compaixão. — Val confia em você — disse. — Sempre teve fé. Viu algo bom em você, inclusive quando não queria. Inclusive quando fiz meu melhor, para convencê-la do contrário. — Ei, obrigado — brinquei, mas saiu pouco entusiasta. Entendia por que Robin queria advertir Val sobre mim. Robin encolheu os ombros, sem arrependimento. — Se fizer isso, se você se comprometer com esta causa, dará a esperança que esteve negando por anos. De repente, será o homem perfeito, o herói, o príncipe encantado que vem dar o "felizes para sempre" que sonhou por toda sua vida. Vai se apaixonar de novo, Kyle. Duro e rápido. Tem que pensar nisso. Não brinque com seu coração. — Está dizendo que tenho que estar preparado para me casar com ela se quiser convidá-la para sair? — Não, mas... — Não vou brincar com isso — insisti, com voz baixa. Estava seriamente frustrado. Respirei fundo e me obriguei a


manter a calma, assim não chamaria atenção. —Há algo entre Val e eu. Você sabe — disse, dando um olhar a Robin para que o negasse. — Sei — admitiu com dúvida, mas a atitude defensiva em seu tom diminuiu. Quando falei de novo, soou como uma súplica. — Quero ver o que acontece se nos dermos uma oportunidade real, mas não me dará isso se não puder comprometer à coisa da abstinência. Não estou animado com isso, mas vale à pena e quero que saiba. Fazer isto a ajudará ver que falo sério. Robin sacudiu a cabeça. — Entendo — disse. — E acredite, acho que é ótimo que esteja disposto a tentar. Mas não acredito que entende no que está se metendo. Disse que só faz por Val, o que significa que ainda não entende. O desafio da abstinência não é um jogo. Não é uma brincadeira. Há muitas

pessoas

que

levam

a

sério

ser

quem

são,

seu

compromisso seria algo importante para muitas pessoas. Comecei a discutir, mas Robin não me deixou interrompêla. — Isto é diferente da fama — insistiu. — Se comprometer com uma causa e se converter em porta-voz te faria um modelo a seguir. As pessoas te admirariam. Colocariam sua confiança em você. Um erro e os desacreditará. Decepcionará alguns e a outros simplesmente darão razão.


Teriam um dia de campo com seu fracasso. Se o arruinar, uma vez que seja, faria um dano enorme a si mesmo e a Valerie, e a campanha que ela se esforçou tanto. Poderia destruir tudo o que ela

construiu.

Está

preparado

para

esse

tipo

de

responsabilidade? — Eu... Não sabia o que dizer. Fui à fundação esta tarde, tão seguro de mim mesmo. Passei horas discutindo com meus representantes e isso só fortaleceu minha decisão, mas de repente suava. Robin esticou sua mão sobre a mesa e apertou a minha. A ira e o ceticismo desapareceram, substituídos por carinho. Não entendia as mudanças de humor. Logo decidiu que me odiava e que pensava que era um caso perdido, então não sabia o porquê me dava um sorriso. — É um bom menino, Kyle — disse. — Sei que se preocupa com Val e sei que ela ainda se preocupa com você. Quero que ela seja feliz. Acredite ou não, acredito que poderia fazer isso. Tem razão. Há algo entre vocês. Sempre houve algo. Eu adoraria vê-los juntos. Apenas quero que entenda que Val vem com amarras. Precisa saber no que está se metendo, e tem que ter certeza do que você quer antes de fazê-lo. Talvez deveria falar com Val primeiro. É possível que queira se certificar que ela quer ficar com você antes de comprometer sua abstinência frente a todo mundo. Talvez não deveria ter comido esse último burrito. De


repente, me senti doente do estômago. — Acredita que não me dará uma chance? — Não é nada pessoal. — Robin deu de ombros. — Esteve muito ferida os últimos quatro anos. Isso a deixou desconfiada. É uma obstinada, ocupada e decidida, e neste momento, os relacionamentos não se adaptam a sua agenda. Se for convencê-la, terá que se esforçar muito. Bem, isso foi decepcionante. E extremamente bom de saber. Encostei e me deixei absorver por tudo o que ela me disse. Isto ia ser muito mais complicado do que pensei inicialmente. Depois de um minuto, Robin rompeu o silêncio. — Ela vale, Kyle — sussurrou, dando outro apertão na minha mão. No segundo em que disse, soube. — Sim — aceitei. — Vale à pena. — Saí de meus pensamentos e sorri a Robin. — Obrigado pela conversa. — Sinto muito, sei que fui muito dura. As mulheres grávidas não têm paciência, sabe. Neguei com a cabeça. — Precisava ouvir. É uma boa amiga por cuidar dela assim. Deve se preocupar muito por ela. — Sim. Robin e eu ficamos em silêncio durante o curto trajeto de volta ao escritório da Fundação. Enquanto a ajudava sair do


meu carro e entrar no seu, disse: — Também me preocupo com ela. O suficiente para fazê-lo, inclusive se não quiser sair comigo. Faça que seu chefe ligue para meus representantes. — Tem certeza? Me deu outro olhar severo, mas também vi a esperança em seus olhos. Essa esperança levantou meu ânimo. Queria que conquistasse Val tanto quanto eu. — Estou certo — disse com uma nova determinação. — Tente não se estressar muito. Quando me comprometo a fazer algo, faço bem feito. Vou ser um impressionante modelo a seguir. Robin fechou o cinto de segurança e sorriu. — Sem dúvida fará com que seja interessante. — E sexy. Isso a fez rir. — E como — concordou. — Boa sorte, Kyle. Apontei seu enorme ventre e disse: — Você também.


N é por Namorada

O novo projeto de Val, uma agência de adoção sem fins lucrativos chamada F é por Família, está no Sunnyvale, Califórnia, uma curta viagem de Stanford, onde Val esteve vivendo durante os últimos quatro anos.

Como a Fundação

"Nem todo mundo está fazendo", o escritório se encontrava no velho centro comercial. Este, ao menos, se encontrava entre um dentista e uma loja de empenhos. As janelas da frente também estavam limpas, com um bonito logotipo, de modo que foi um progresso. Este escritório era maior, muito mais brilhante e mais alegre. Tinha uma pequena sala de espera frente a um balcão de recepção e algumas cabines escondidas atrás. Na realidade, parecia como um negócio legítimo, enquanto que a outra Fundação parecia como se um par de pessoas de boa fé tivesse decidido criar um clube no porão de seus pais. O visual deste escritório me trouxe um sentimento de


orgulho. Val fez isso. Toda esta organização era sua criação. Havia algo que não podia fazer? (Além disso, é obvio) — Bem-vindo a F é por Família. Em que posso ajudar? A mulher atrás do balcão da recepção se levantou para me cumprimentar. Tinha por volta de seus cinquenta anos, tinha uma longa trança castanha que chegava até o final de seu traseiro, e usava um vestido tingido de arco íris que gritava ativista hippie. Eu me sentia tão fora de lugar aqui. — Olá. Estou procurando Valerie Jensen. Está aqui? A senhora hippie sorriu. — É claro. Está com um cliente no momento. Sente. Estou certa que sairá de sua reunião em breve. Sou Rain. Se precisar de algo, me avise. — Farei. Obrigado, senhora. Sentei na dura cadeira de plástico e peguei uma revista. Saúde da mulher, Criação, e Resumo do leitor. Ui. Escolhi não pegar o material de leitura e comecei a jogar em meu telefone. — Tem uma reunião, senhor...? Rain me observava com um olhar faminto de uma perita intrometida. Não me reconheceu, mas obviamente sentia muita curiosidade por quem era, o jovem estranho que visitava sua chefe. Não é próprio de mim me afastar das fofocas. Mostrei meu melhor sorriso. — Sou Kyle. Não tenho uma reunião. Só estou aqui para levá-la para almoçar.


Os olhos de Rain brilhavam com emoção. — Valerie tem um encontro para o almoço? How! Robin não brincou quando disse que Valerie não saía muito. O assombro na voz desta mulher insinuou que a ideia era impossível. Me senti mal o suficiente pela senhora por dar esperanças. — Na verdade, ela ainda não sabe que tem um encontro para almoçar. Sou um velho amigo. Só estou de passagem na cidade e pensei em surpreendê-la. O sorriso de Rain caiu um pouco com a decepção. — De fora da cidade? — Los Angeles. — Poderia ser pior — decidiu, fechando seus olhos para mim, — É solteiro? Ri. Eu gostei. — Muito solteiro e muito interessado. — Bem, agora eu gosto mais! Rain aproximou uma cadeira de uma mesa vazia e deu um tapinha no assento. — Vamos, venha aqui, Kyle, e me conte tudo sobre você. Posso te trazer uma xícara de café? Já se encontrava de pé em direção à cafeteira, então disse: — Obrigado. — E me sentei na cadeira junto à dela. — Creme e açúcar? — Perguntou. — Café é café. Vou aceitar de qualquer maneira.


Rain sorriu enquanto me dava uma xícara e sentou. Tomou um momento para olhar por cima de mim antes de sacudir a cabeça, para limpá-la. — Bem, é um jovem francamente bonito, não é? O que te traz para a cidade? Espero que esteja aqui por todo o fim de semana. Valerie precisa ser levada a um encontro apropriado. Ela é uma grande jogada, mas não dará muita oportunidade, só para você saber. — Bom, eu sei. — Sério? — Rain mordeu o lábio em um momento para conter a emoção. Me inclinei para ela e sussurrei: — Posso te contar um pequeno segredo? — Rain se inclinou para frente e seus olhos brilharam com antecipação. — Não estou "só de passagem" na cidade. Vim aqui especificamente para ver Val. Não planejo nada mais que cortejá-la e ficarei o tempo que seja necessário. Rain estava aflita para falar. Agarrou seu peito, como se tentasse ter certeza que seu coração não saiu de lá. Antes que o momento ficasse incomodo, uma porta se abriu e Val saiu do escritório principal com um casal de olhos chorosos e uma garota grávida que não poderia ter mais de quinze ou dezesseis anos. Val apertou a mão estendida do homem enquanto a mulher enxugava os olhos com um lenço Kleenex. — Não podemos agradecer o suficiente.


— Não há necessidade de me agradecer. Para isso é o programa. Não se esqueça de programar sua próxima consulta com Rain antes de ir. A adolescente de repente se lançou a Val, a envolvendo em um abraço apertado. — Muito obrigada, senhorita Jensen! — Balbuciou. Val abraçou a garota e passou seu polegar sobre as bochechas molhadas da menina. — Seque suas lágrimas, Colleen. Tudo vai ficar bem. A garota assentiu, dando a Val um olhar de adoração, como a um herói. Eu podia entender. Val era incrível. Observá-la com essa gente despertou algo em meu peito. Podia entender por que Robin foi tão hesitante antes. Isto era algo mais que um desafio de abstinência. Val realmente fazia a diferença na vida das pessoas. Poderia ajudá-la com isso... ou poderia atrapalhar. Absolutamente, não podia estragar. Nem agora nem nunca. Sem importar o que tivesse que sacrificar. — Ela definitivamente vale à pena. Não percebi que falei em voz alta até que Rain me deu um tapinha no joelho e disse: — Sim, vale. Nossa conversa chamou a atenção de Val e seus clientes. — Kyle? — Val ficou sem fôlego, ao mesmo tempo em que a adolescente enlouquecia. — Kyle Hamilton? Mamãe! Papai! Esse é Kyle Hamilton! A garota saltou em minha direção com lágrimas frescas em seus


olhos, ignorando os protestos de seus pais. — Sinto muito! É só que te amo demaaaaais! — Exclamou. — Obrigado. Colleen, certo? Me levantei e abri os braços: um convite para que me abraçasse. Ela gritou de novo e se agarrou a mim como se planejasse ficar ali para sempre. — Não posso acreditar que é você! É meu cantor favorito em todo mundo! Fiquei tão triste quando Trasle se separou! Ri e abracei à garota. Piscando um olho a seus pais sobre seu ombro para fazer saber que estava bem, me devolveram o sorriso. — Ouviu a nova música? — Perguntei a Colleen, meus olhos ainda voltados para Val, enquanto falava. — Sim! — Gritou Colleen. — Eu vi no programa de Connie Parker na semana passada! É incrível! E tão romântica! — Incrível, é? E romântica? — Não pude evitar o sorriso que disparei para Val. — Imagine isso. Quando ri, Colleen tirou seu rosto de meu peito e baixou o olhar para a pulseira A em meu pulso, quase deprimida em choque. —Ainda não posso acreditar que esteja fazendo o desafio da abstinência. Talvez sua incredulidade deveria ter sido insultante, mas me fez rir.


— Um mal necessário se quero sair com uma bela virgem. Os olhos da garota se abriram. — Muito bem. Acredito que isso é suficiente. — Val se interpôs entre Colleen e eu. Depois de me dar um olhar irritado, se desculpou com os pais de Colleen pela interrupção e os levou para a recepção. — Os Masterson foram aprovados e precisam fazer uma consulta. O sorriso de Rain foi sincero. — Maravilhoso. Uma vez que a família se encontrava fora do edifício, Val virou para mim. — O que faz aqui? — Disse entre dentes. — Vim te levar para almoçar. — Sustentei as mãos no alto, em sinal de rendição. — Por que estou com problemas? O que eu fiz? Minha pergunta fez com que Val desse conta de que acabava de falar bruscamente e deixou para trás seu mau humor. Esfregou as têmporas e suspirou. — Sinto muito. Estou surpresa de te ver. — Não me ligou. Esperei durante duas semanas. Como não tenho seu número, o que mais deveria fazer? Me olhou com a mesma expressão de tristeza que usou no estúdio. — Não deveria ter vindo. — Por quê? — Exigi. Sabia que tentaria me mandar embora


e não deixaria que saísse com essa. Val olhou ao redor da sala em nossa crescente audiência. Todo mundo no escritório saiu de seus cubículos para ver o que acontecia. Rain nos olhava, paralisada. O rosto de Val se contraiu de novo e me agarrou pela mão. — Vamos falar em meu escritório. Tirei os dedos de seu aperto. — Assim pode me mandar embora antes de me dar uma oportunidade? De jeito nenhum. Não desta vez. — Kyle, não podemos fazer isto. A puxei e passei os braços ao redor de sua cintura para que não pudesse escapar. — Me diga que não esteve pensando em mim desde o momento em que me viu. Não respondeu, mas a verdade estava em seus olhos. Suas sobrancelhas franziram e fechou os olhos para me deixar fora ou me fazer desaparecer. Doeu que nem me olhasse. Por que minha presença física parecia causar tanta dor? O que eu fiz de tão ruim? — Somos uma causa perdida, Kyle — sussurrou. — Você sabe disso. Quer mesmo nos fazer passar outra vez por isso? Se passaram quatro anos e de vez em quando ainda sinto o meu coração partido por isso. Fazia isso mais complicado do que devia. Doía meu coração pela dor em sua voz. Tinha que fazer parar. Tinha que afastar qualquer tristeza que sentia por mim.


— Há um momento e um lugar para cada coisa, Val. Não estávamos preparados. Mas e agora? A puxando com força para mim com um braço, coloquei seu cabelo atrás de sua orelha e levantei seu queixo. Meus dedos vagaram por suas bochechas. Parecia que não podia mantê-los longe. Estremeceu diante do meu toque e pôs as mãos em meu peito como se fosse me afastar, mas não fez nenhum esforço real para escapar de mim. — Agora? — Repetiu sua voz tão fraca que mal ouvi. — Esperarei por você. Esperarei até o altar se chegarmos a esse ponto. Assustada, seu corpo ficou rígido e sua respiração parou. Seus belos olhos castanhos, brilhantes por uma camada de lágrimas

contidas,

me

olharam

com

medo

e

esperança.

Vulnerável como estava nesse momento, era a coisa mais linda que já vi. — Estive esperando por você desde o momento em que coloquei essa pulseira — disse. — E também estava esperando por mim. — Sorri mediante a pergunta em seus olhos. — Quatro anos; alguma vez se apaixonou por mais alguém? Não me superou. Ainda quer isso tanto quanto eu. A cabeça de Val finalmente clareou e voltou em si. — Vejo que continua sendo completamente arrogante — disse sua voz voltando com sua força normal.


Sorri ao velho insulto. — Mas não ando me deitando mais com qualquer pessoa. Seus lábios se curvaram, embora me desse conta que fazia um grande esforço para não sorrir. A ação atraiu meu olhar a seus lábios e toda minha boca se encheu d’água. Baixei o rosto a meio caminho e esperei que me encontrasse no meio. Queria beijá-la de novo, mas precisava que ela fizesse um movimento. Tinha que saber que me queria tanto quanto eu a queria. — Nos dê uma chance. — Nunca funcionará — disse. Agora seus olhos também estavam em minha boca e sua respiração era rápida. — Pelo menos se não funcionar, não será porque não tentamos. Engoliu a saliva e umedeceu os lábios, mas não se moveu para me beijar. A distância entre nós era uma tortura. — Me beije — sussurrei. — Mas, Kyle, acho que... — Não pense. Só me beije. Finalmente, deixou que seus olhos se fechassem e colocou as mãos sobre meus ombros quando levou seus lábios aos meus. Envolveu os braços ao redor de meu pescoço e a levantei na pontinha dos pés para aprofundar o beijo. Esperei até que meu corpo gritasse por ar para que a pusesse de volta em seus pés. Ofegando, apoiei minha testa contra a dela e tomei um momento para recuperar o fôlego. — Não se pode pedir mais que isso, Val. — Minha voz


soava rouca e cheia de emoção. Com os olhos ainda fechados, deixou cair os braços para os lados e apoiou a cabeça em meu ombro, descansando contra mim, como se precisasse de um abraço. Obedeci e a envolvi suavemente. — Vive em Los Angeles, Kyle — sussurrou com tristeza. — Minha vida está aqui. Vou começar a pós-graduação em um mês e você irá sair em turnê com seu novo álbum. — Mas agora estou aqui. Me dê um dia. Só hoje. Se isso funcionar, então me dê amanhã. Tirou o rosto de meu pescoço e me observou com os olhos brilhantes. — Vamos levar um dia de cada vez — prometi. — Vamos ver aonde nos leva antes de nos preocuparmos com algo mais. Procurou

em

meu

rosto

por

respostas,

claramente

preocupada com o que poderia proporcionar o futuro para nós. Tudo o que ela procurava, estava decidido a mostrar. Era tão forte todo o tempo, em todos os outros aspectos de sua vida. Nesta área poderia pegar essa carga dela. Poderia ser mais forte desta vez. Poderia ser sua rocha se precisasse de uma. Não sabia o que traria nosso futuro. Não tinha ideia de como íamos superar os obstáculos já estabelecidos em nosso caminho. Mas sabia que não ia jogar a toalha sem uma grande luta. Renunciar não era algo que eu sabia fazer.


Isso é o bom da vida. Qualquer coisa é possível se quiser o suficiente. E nesse momento, segurando Val em meus braços, com o sabor de seu beijo ainda em meus lábios, não havia nada que quisesse mais do que fazer as coisas funcionarem com ela. — Tudo bem — disse finalmente. Os aplausos rugiram ao nosso redor vindo do punhado de pessoas em seu escritório. Me esqueci que tínhamos uma audiência. Val parecia como se também, tivesse esquecido esse pequeno detalhe. Ela corou, mas riu e aceitou as felicitações de seus colegas de trabalho. — Então... — coloquei o braço ao redor de sua cintura, — Posso levá-la para almoçar? Val suspirou. — Na verdade não posso. Bryce, Jacinta e eu nos reuniremos com alguns clientes em potenciais esta tarde. Uma pequena mulher negra interrompeu Val, aplaudindo com entusiasmo. —Pode ir para casa. — Negou com a cabeça quando Val começou a discutir. — Podemos ficar sem você. São apenas números e os Gresham já sabem todos os números. Você e Bryce são o coração desta organização. É aí que os dois estão investindo. Não precisa de mim. Meu cérebro se chocou contra uma parede de tijolos mental. Bryce? Quem era Bryce? E por que soava como se ele e


Val fossem uma espécie de casal de ouro? Val parecia rasgada por um minuto enquanto seus olhos se moviam entre sua colega de trabalho e eu. — Tem certeza que vai ficar bem? — Perguntou. — Os Greshman são muito conservadores e Kyle é... Sorri e enchi o espaço em branco por ela. — Capaz de se comportar. — Ante seu olhar cético, acrescentei: — Quando tenho que fazê-lo. — Na verdade, sua companhia poderia funcionar a nosso favor — disse uma voz suave e profunda. Se o menino bonito de um metro oitenta de altura, cabelo loiro, olhos cor avelã e de muito bom gosto era Bryce, então descrevê-lo como menino dourado era apropriado. Val sorriu ao recém-chegado e disse: — Kyle, este é Bryce Carmichael. Ele é o meio legal de F é por Família. Nunca poderia ter conseguido que a organização estivesse em marcha e funcionasse sem ele. Bryce começou a rir. — Não é verdade. Ela teria encontrado uma forma. Nada detém Val de conseguir o que quer. — O idiota me estendeu a mão, mostrando um grande sorriso branco perolado que teve o descaramento de parecer sincero. — É um prazer te conhecer. Val nos falou muito de você. Bem-vindo à família. — Obrigado.


Tentei não ser um imbecil e rosnar quando a mão do menino balançou, mas mantive minha resposta curta porque estava muito longe de ser o ator que Cara era e duvidava que pudesse esconder minha aversão imediata a esse cara. Estava com ciúme, porque embora soubesse que eles não estivessem namorando, tive que me perguntar se foram antes. Era claro que eram próximos. Lembrei que dois segundos atrás Val estava me beijando, não a ele. E concordou em ser minha namorada. Sorri frente à ideia e decidi que não precisava odiar o menino. Segurei Val um pouco mais forte a meu lado. Sorriu quando a apertei e voltou seu olhar a Bryce. — Tudo bem que Kyle venha esta noite? — Claro. Ele é sua história de maior êxito de V é por Virgem, Val. O que poderia ser mais atraente? O rosto de Val se iluminou. — Excelente argumento, Conselheiro — disse. — Como sempre. — Voltou seus olhos brilhantes para mim e disse: — Quer ser minha exposição para a tarde? Merda, sim queria.


B é por Beisebol

Val e seu melhor amigo, Bryce Carmichael, foram trabalhar todos os 81 dias no BMW conversível muito caro dele. Era chamativo e algo que meus pais aprovariam. E que Val adorava. As garotas e os conversíveis. Nunca entenderei. Me encontrava esmagado no pequeno assento traseiro porque Bryce se ofereceu para nos levar aonde quer que fôssemos e era muito cavalheiro para deixar que Val viajasse na parte de trás. — Primeiro a casa, Jeeves1 — disse Val enquanto colocava o cinto. — Preciso me trocar. Ambos vestiam trajes de trabalho. Val com uma saia de tubo, blusa e sapatos de salto, e Bryce uma camisa e calças. 1

Personagem de ficção nos contos e novelas do PG Wodehouse, considerado

genericamente como mordomo ou ajuda câmara.


Embora não usasse gravata, tive que admitir que ganhou um par de pontos interessantes. — Está bem assim — disse Bryce. Val o enviou um olhar sério que o fez gemer e discutir. — Sua casa está fora do caminho. — Bryce, nem tente. Sabe que esta é uma batalha que perderá. — Mas os Gresham são aficionados importantes dos Giants. — Não os reprovarei — respondeu Val com pouca seriedade. Bryce voltou a gemer e trocou de pista para entrar em outra direção. A familiaridade de um com o outro era quase tão chata como não ter nem ideia do que falavam. — O que houve? — Perguntei, esperando que minha irritação estivesse bem escondida. — Val vai ter o seu desejo — disse Bryce. — Como sempre. E vai acrescentar vinte minutos a nossa viagem por um chapéu. — É um chapéu da sorte — disse Val, como se isso explicasse tudo. Girou em seu assento e sorriu. — Os Gresham são um casal muito rico de Palo Alto. Nunca puderam ter seus próprios filhos e acolheram meninos por mais de vinte anos. Agora que são muito velhos para isso, procuram respaldar uma agência de adoção como uma forma de seguir envoltos, mas são muito exigentes sobre o tipo de agência


que querem apoiar. Somos uma das poucas agências sem fins lucrativos que estão considerando. — Se formos capazes de convencer eles de que somos adequados — disse Bryce, olhando para minha direção pelo espelho retrovisor, — Financiarão a maioria de nossos gastos anuais. Então poderíamos pôr muito mais esforços em localizar aos meninos em seus lugares e nos assegurar de nos manter. Me surpreendeu o entusiasmo em sua voz. Reconheço a paixão quando a vejo. Ele era tão sincero como Val com toda a coisa da adoção. — Então, o que isso tem a ver com um chapéu da sorte? — Perguntei quando Val me viu franzindo a testa. Seu sorriso se duplicou em tamanho. — Robert Gresham é um grande fanático do beisebol, então vai nos levar a um jogo. Os Giants vão jogar contra os Anjos hoje. Não posso ir a uma partida dos Anjos sem meu chapéu da sorte. Ela era fã do beisebol? Me surpreendeu tanto que nem soube

como

responder.

Nunca em

um

milhão

de

anos

adivinharia isso. — É fanática por esportes em geral ou só do beisebol? — Perguntei. — Sou uma atleta. — Encolheu os ombros. — Avaliação a competência sem importar o esporte. O voleibol é meu favorito, mas o beisebol é de perto o segundo e os


Anjos são minha equipe. — Disparou a Bryce outro olhar sem sentido e logo disse: — O chapéu é necessário. Meu pai me deu isso quando me levou a meu primeiro jogo. Tinha seis anos. Usei em cada partida dos Anjos que estive. Com os anos consegui que alguns dos meus jogadores favoritos o assinassem. Sorri apesar de estar apertado na parte de trás do típico carro de um homem rico. Finalmente, tínhamos algo em comum. Eu adorava esportes. Não podia jogar nem que minha vida dependesse disso, mas adorava. Pessoalmente era um grande fã dos Lakers, mas o beisebol também era muito agradável e felizmente levaria Val a todos os jogos dos Anjos que desejasse. — O que acontece com basquete? — Perguntei esperançoso. — Você gosta dos Lakers? — Sou dedicada a eles, mas eles me recusaram entradas para uma partida. — Moveu as sobrancelhas e acrescentou: — Especialmente onde estão seus assentos. Devia ter me pedido há quatro anos. Se tivesse me oferecido assentos ao lado da quadra de esportes teria dito que sim na hora. Qualquer que fora o olhar que havia em minha cara, fez que Bryce e Val rirem. — Como é que não sabe isto sobre Val? — Perguntou Bryce. Sua pergunta me incomodou, mas só porque tinha razão. Por

mais

que

gostasse

de

Val,

visivelmente

era

uma

desconhecida para mim. Tentei não olhar para o menino e disse:


— Ela nunca me deu uma verdadeira oportunidade para conhecê-la. — Tragando minha hostilidade, me obriguei a sorrir e acrescentei: — Mas espero aprender tudo sobre ela agora que finalmente me dará. Paramos em frente a uma pequena casa de um piso. Era de algumas décadas atrás, mas em bom estado. Grafite de cor amarela com corte branco, persianas e roseiras debaixo da janela da frente, se via como um lugar onde viveria uma avó. — Dois minutos! — Prometeu quando saiu do carro e correu para o interior. Tinha a oportunidade de perguntar a Bryce algumas coisas que morria por saber desde a primeira vez que o vi. — Então, há quanto tempo conhece Val? Bryce girou em seu assento para me olhar ao invés de olhar pelo espelho. Seu sorriso em resposta foi muito amável, como se não me considerasse uma ameaça. — Desde que se mudou para cá. Eu estava em meu segundo ano na escola de direito e tinha uma nomeação temporária para uma de suas classes de seu primeiro ano. Sabia da Virgem Val, também sou adotado e sempre pensei que sua história era genial, então a reconheci imediatamente. A convidei para um café, trocamos histórias de adoção e somo muito bons amigos desde então. Muito bons amigos? Sim, claro. Um menino não é só "muito bom amigo" de uma mulher.


— Vocês dois saíram alguma vez? Óbvio? Sim. Mas não me importava. Queria saber. Bryce riu. — Teria feito sem dúvida se percebesse que interessava a Val, mas nunca atuou além de algo platônico comigo. Com os anos aprendi a aceitar sua amizade. Me preocupo com ela o suficiente para só querer vê-la feliz. Enquanto me encontrava ali sentado tentando decidir exatamente o quanto estava apaixonado por Val, ele me estudava com uma expressão que não podia decifrar. Olhou para a casa e o sorriso caiu de seu rosto. — Nunca a vi responder a ninguém como fez com você no escritório — disse a preocupação gravada em sua frente. — vêlos juntos fez com que muitas coisas sobre ela façam sentido. — O que quer dizer? Ao invés de responder a minha pergunta, disse: — Tome cuidado com ela. Não faça mal a ela. — Não pretendia. Devia ter demonstrado que estava na defensiva de novo, porque ele levantou as mãos como se dissesse que ia retroceder. — Sei — disse. — Noto que é sincero, mas é difícil não me preocupar. Antes vi sua dor e não é algo que queira voltar a ver. Minha curiosidade sobrepôs meu interesse com este indício da história amorosa de Val, mas antes que pudesse perguntar, ela retornou. Colocou calças e uma camiseta ajustada dos Anjos


que me fez esquecer tudo sobre a conversa que tinha com Bryce. Tinha o cabelo preso pela parte de atrás do boné de beisebol velho e desbotado. Como era de esperar, estava coberto de assinaturas. Este era um lado novo de Val que nunca vi. Pelo geral, descreveria como bonita, quente, preciosa, ou sexy, mas agora só era simplesmente preciosa. Um sorriso apareceu em meu rosto e Val sorriu correspondendo. — Aprovo o boné da sorte — disse. — Val, a fanática por esportes é um estilo que poderia me acostumar. Os Gresham se apresentaram no jogo de beisebol vestidos para um torneio de golfe. A única indicação de que estavam no lugar correto, era o gorro dos Giants de São Francisco que o senhor Gresham tinha posto ao tradicional estilo de beisebol. Se vestia como um imbecil, mas gastou em assentos incríveis justo atrás do círculo de espera da saída da equipe, o que emocionou Val profundamente, então não invejei sua falta de estilo. Se encontravam de pé quando chegamos, e o senhor Gresham olhou com a boca aberta o traje de Val. — Os Anjos? — ofegou não precisamente ofendido, mas quase. Val deu um olhar muito solene e disse: — Senhor Gresham, vou ser franca com você. De verdade poderia usar seu dinheiro para a agência, mas não quero o suficiente para apoiar aos Giants quando estão enfrentando


meus Anjos. Nem agora, nem nunca. Quase estalei em risadas. Foi um movimento audaz que não sei se faria, mas Val sempre seria Val. Defendia seu direito de não ter relações sexuais, ou de apoiar à equipe visitante contra o chefe, nunca comprometia seus valores pessoais. A senhora Gresham riu entre os dentes enquanto seu marido olhava Val com assombro. Logo, sem prévio aviso, jogou sua cabeça para trás e soltou uma grande gargalhada. — Uma autêntica diretora — brincou. — Posso respeitar isso. Val deu um sorriso com a que um dia ganharia uma eleição e se meteram em uma cômoda conversa. Até que os Giants tomaram a vantagem com um homer de três carreiras na parte baixa da segunda, e Val começou a gritar insultos aos Giants. Para o sétimo, os Anjos foram de seis a um e Val foi de lançar insultos a discutir com os árbitros, e tentar treinar aos Anjos. Os Gresham pareciam tão surpresos e entretidos como eu, mas o olhar de resignação no rosto de Bryce sugeria que passou por muitos jogos como este. — Sempre é assim — disse, lendo meus pensamentos. Rindo, pus a mão de Val na minha e entrelacei nossos dedos. — Deveríamos conseguir alguns sacos de pipoca ou algo assim? — perguntei. — Caminhar para acalmar um pouco antes que nos expulsem do estádio?


Val desabou em sua cadeira com um suspiro de desgosto enquanto um dos Anjos foi golpeado e terminou a entrada. — Estava olhando para baixo — se queixou enquanto o jogador voltava para o banquinho, gritou: — Não pode bater uma bola se não conciliar, Trout.2 É a segunda vez consecutiva! Por desgraça encontrávamos há duas filas de distância do campo, por isso, ainda se encontra dentro do alcance dos ouvidos dos jogadores e esse comentário ganhou um olhar do jogador central em questão. Quando ela obteve sua atenção, lançou um beijo e gritou: — Não se preocupe, continua sendo meu favorito! O homem tentou sustentar seu olhar, mas veio abaixo e riu. — Obrigado, linda. Vou golpear o próximo só para você — disse enquanto desaparecia dentro do banquinho. Ri para mim mesmo. Ninguém pode resistir à mulher. — Deveria me preocupar com a concorrência? — brinquei, levando sua mão a meus lábios. — Só se ele fizer um golpe em seu seguinte turno com o taco de beisebol. Olhou nos meus olhos e suspirou grande parte de sua agressividade se foi.

2

Michael Nelson "Mike" Trout, jogador de beisebol profissional.


— Sinto muito. Estou frustrada porque são melhores que isto. E que podem fazer melhor que isso, mas se deram por vencidos. Isso fez Bryce rir. — Ela também é assim no escritório. Nunca deixa que alguém vacile e nunca abandona. — Não sou a única — respondeu. — Você é o que acompanha cada adoção que dirigimos até o final. Esse comentário, finalmente, levou todos a discutir a razão pela qual se reuniam hoje. Estava preocupado de que me aborreceria enquanto falassem de trabalho o resto da tarde, mas esta reunião parecia mais como se estivessem entrevistando Val para se transformarem em uma da família. Encontrei a sessão "chegar a te conhecer" fascinante e extremamente reveladora. Aprendi mais sobre Val nestas duas últimas horas que em todo o tempo que a conhecia. Os Gresham fizeram um montão de perguntas sobre a agência de adoção que ela fazia funcionar e falou de negócios, mas a maior parte, eles estiveram mais interessados nas pessoas que a dirigiam que na própria organização. Queriam que seu dinheiro estivesse em boas mãos. Foi durante o final da conversa que a verdadeira pergunta por fim foi levada a mesa. O condutor do BMW conversível de Val, amável e todo fazedor de boas obras na faculdade de Direito de Stanford, o companheiro adotado, o melhor amigo disse:


— Bom, acredito que Val possivelmente já falou tudo o que terá que dizer sobre si mesma, e com sua equipe perdendo com um vergonhoso oito a um neste momento, vocês viram o pior dela. Ri disso junto com os Gersham. Definitivamente Val não era uma boa perdedora. (Isso não me surpreende, considerando que pessoalmente não foi capaz de perder). — A única pergunta que falta — disse Bryce. — F é por Família pode contar com seu patrocínio? Por muito que odiei admitir, entendi por que essa mulher no escritório falou de Bryce e Val como se fossem uma classe de casal de poder. Bryce basicamente era a versão masculina de Val, e juntos eram realmente formidáveis. Eles me venderam isso, mas os Gersham duvidavam. — Viram os números — insistiu Bryce. — Conheceram o pessoal. Sabem do que se trata F é por Família. Que outra coisa não os convenceu? Os senhores Gersham compartilharam um olhar e logo o senhor Gersham disse: — Escutamos que a senhorita Jensen planeja deixar a organização. Isto é certo? Obviamente não gostavam da notícia, mas Val não se via nem um pouco alterada. — É certo — disse ela, assentindo. — Entregarei as rédeas ao controle de Bryce no final do verão. Vou começar a pós-graduação no outono e tenho a


intenção de seguir uma carreira política depois de me graduar. — Então vai permanentemente? — A agência sempre estará em meu coração, mas sim. Deixarei de forma permanente. Entretanto, posso prometer que minha saída não mudará nada sobre a organização. A transição continuará. Estarão em muito boas mãos. Enquanto Val olhava o casal multimilionário, em silêncio me maravilhei por sua coragem. Era a mulher mais segura que já vi. Era valente. Val ganhou o concurso de olhares, mas ainda não recebia o "sim" que procurava. — É minha vez de ser franco com você, senhorita Jensen — disse o senhor Gresham. — Minha esposa e eu nos sentimos atraídos por sua organização devido a você. Conhecemos sua história e estamos impressionados com tudo o que tem feito. Nós gostamos do que representa. O senhor Carmichael parece um homem com um bom coração e uma cabeça inteligente sobre seus ombros, mas é em você que confiamos. — Então confiem nela — disse. Estive bastante tranquilo durante toda a reunião depois das apresentações, na verdade não me encaixava com tudo isso das pessoas Ivy League "vamos salvar ao mundo, uma adoção de uma vez", mas era difícil ficar em silêncio quando a questionavam. A conversa morreu e os Gresham, Val e Bryce voltaram a me dar toda sua atenção. — Esta organização foi o trabalho de sua vida há anos —


disse. — Pôs seu coração e alma nela. Hoje conheci Bryce, mas não teria que o conhecer mais para saber que é perfeito para o trabalho.

De

maneira

nenhuma

Val

entregaria

algo

tão

importante para ela se ele não fosse a pessoa certa. Bryce e Val pareciam surpresos que tivesse saído em defesa dele. Os olhos dela se perderam um pouco e deu a minha mão um apertão em agradecimento. Me inclinei e beijei sua bochecha. — É certo. O senhor Gresham limpou garganta para ganhar minha atenção. — Entendo — disse. — Mas me pede uma fé cega. Honestamente pode me dizer que você apoiaria a uma organização simplesmente pelo que fez a senhorita Jensen, embora ela já não esteja no cargo? Ri. — Sim. Só Val se envolveu na campanha V é por Virgem, já tenho uma reputação e realmente nem acredito na causa, mesmo assim aceitei ser seu novo porta-voz oficial semana passada. A cabeça de Val girou de repente e ofegou. — Você o que? — Ouviu! — Disse, rindo com sua expressão. — Está tudo certo. Terei uma coletiva de imprensa na próxima semana para fazer o anúncio e farei a promessa oficial


de abstinência em frente a uma câmera. Assinei o contrato ontem, aceitando doar dez por cento de todos meus lucros do novo álbum à Fundação "Nem Todo mundo Está Fazendo". Sua comoção neste momento valia a promessa que dei a Robin. Ela golpeou sua boca com sua mão e seus olhos se encheram de lágrimas. Ruborizou enquanto aceitava um lenço da senhora Gresham. — Sinto muito — disse ela, secando as lágrimas. — Só estou... Kyle, não posso acreditar! Fala sério? Encolhi meus ombros. Val riu enquanto outra rodada de lágrimas de felicidade saía de seus olhos e lançou os braços ao redor de meu pescoço. — Obrigada! Quando retribuí o abraço, o senhor Gresham falou de novo. — Vê? É este tipo de coisas que nos impressionam, senhorita Jensen. Você inspira às pessoas a mudar. Val me soltou e se girou para o senhor Gresham. — Se esse for o tipo de pessoa que estão procurando, então têm que escolher a F é por Família. Inclusive é pelo Bryce que comecei a agência. Ele me inspirou a mudar. Não estou seguro de quem mais despertou curiosidade: a Gresham ou a mim. Queria estar doente do estômago. Já era bastante ruim que o senhor Carmichael basicamente fora perfeito para Val em todos os sentidos e, tinha tudo em comum com ela, até o estado de antigos alunos de Stanford, mas escutar que também foi à pessoa que a inspirou? Me provocou náuseas.


— Senhor Gresham, a verdade é que Bryce é muito mais adequado para manter F é por Família do que eu. Pode ser que eu tenha começado a agência, mas a ideia original foi de Bryce. Ele quem teve a visão. Eu só o ajudei a torná-la realidade. Tenho aspirações para uma carreira diferente depois de terminar a pósgraduação, mas Bryce permanecerá com a organização pelo resto

de

sua

vida.

Cresceu

no

sistema

de

acolhimento

temporário e não foi adotado até os quatorze anos. Os Gresham ofegaram ante a revelação e ficaram olhando fixamente

Bryce.

Suas

expressões

instantaneamente

se

derreteram em olhares de simpatia e admiração. — Tive sorte de ser acolhido por um casal quando tinha doze anos, que tiveram uma conexão comigo e decidiram me adotar — disse Bryce. — Pulei de lar em lar de adoção desde que tinha cinco anos. Não tinha nenhuma oportunidade de ter êxito na vida até que os Carmichael me ofereceram um verdadeiro lar e agora olhem. Sou um graduado de Direito de Stanford. Sei o quão importante é a adoção e ter um lar estável com bons pais para esses meninos. Para mim este trabalho é pessoal. Val rompeu o silêncio reverente que tinha nos alcançado com a história de Bryce. — Cada membro do pessoal de F é por Família de algum jeito tem uma conexão pessoal com a adoção e escolheu trabalhar ali porque é apaixonado pela causa. Garanto que não encontrarão uma agência mais dedicada para pôr seu dinheiro e


Kyle tem razão, Bryce é o homem perfeito para encabeçar a organização.

Seriam

tolos

se

escolhessem

outra

agência

simplesmente porque não estarei no cargo. Minha

mandíbula

caiu

flácida

ante

o

discurso

tão

contundente de Val. Os Gresham ficaram surpresos, mas quando se olharam e ambos sorriram, soube que Val tinha ganho. Os Gresham não escolherão outra agência. Encontraram um lar para seu dinheiro. A virgem Val atacou de novo. Inclusive Mike Trout fez o arremesso prometido, em seu segundo turno com o taco de beisebol, dando dois pontos a mais para os Anjos, como se simplesmente não pudesse decepcionar Val. Piscou o olho para Val voltando ao banquinho depois de cruzar o lugar de onde fez a batida, articulando as palavras: — Para você. — E mostrou dois grandes polegares para cima. Seriamente, a mulher era uma força da natureza. E finalmente era minha.


E é por Entrevista

Val estava de acordo em que a levasse a um local adequado para celebrar sua vitória depois da partida. Concordei em dar uma hora para tomar banho e se trocar, e logo me registrei em um hotel para poder fazer o mesmo. Acredite ou não, era nosso primeiro encontro de verdade e me sentia ansioso para que tudo fosse perfeito. Estar de pé em sua porta em minha jaqueta esportiva com um ramo de rosas, era um importante retrocesso ao segundo grau. Me sentia como um estudante de primeiro ano indo de novo a seu primeiro baile. Quando Val abriu a porta com um vestido vermelho coquetel sem alças que abraçava sua figura e chegava até a metade da coxa, morri. Abri o colarinho da minha camisa, tentando liberar uma parte do calor que de repente me consumia. Nunca a vi tão arrumada. No geral, parecia um estilo


casual, suficiente como para que meus pais, de clube de campo, a adorassem. Houve um par de vezes nas quais se arrumou de forma descarada, mas sempre assumi que esses momentos se deviam a Cara. Este aspecto era diferente. Com Classe. De bom gosto. Era elegante e divertido ao mesmo tempo, uma mescla perfeita de casual e formal. Era enlouquecedoramente sexy sem ser vulgar. Provavelmente sem saber. Me perguntei se tinha alguma ideia do quão tentadora estava. — Kyle? Quanto tempo estive de pé ali só a olhando? — Merda, Valerie — murmurei. Não podia decidir se aterrissei

no

céu

ou

no

inferno.

Se

transformou

na

impressionante beleza que agora era só para mim e não podia tocar. Esta noite poderia me matar. — Como acha que vou me segurar com você linda assim? Não brincava. Olhou meu jeans e mordeu o lábio inferior enquanto olhava para seu próprio traje. — Não disse o que íamos fazer, então não estava segura de como me vestir. Colocarei algo mais casual. — Não! — Estive a ponto de derrubá-la quando voltou para dentro da casa. — Não vai se trocar. Nem agora, nem nunca mais. Deixa eu te ver... — Tomei um longo momento para escolher uma palavra. — Impressionante. — Ainda não parecia adequada o


suficiente. Ruborizou diante dos elogios, mas quando a atraí para mim pelos quadris e minhas mãos começaram automaticamente a acariciá-la, seu sorriso caiu e suspirou. — Deveria colocar uns jeans. — Não, na verdade não deveria. Minhas mãos se dobraram sobre a curva de seu traseiro e ela levantou uma sobrancelha desafiante. Ri e de algum jeito tirei minhas mãos de seu corpo e as meti nos bolsos. — Então vou colocar calças jeans e uma camiseta. Já volto. Quando se virou para ir de novo, agarrei a mão e a devorei com o olhar. —Falo sério. Não vai tirar esse vestido. Eu, por outro lado... Maldita seja! Estava tão fodido. Ela nem estava na porta e já me sentia tentado a saltar o encontro por completo e levá-la diretamente para cama. — Kyle? Sai de meu transe. Tinha que me acalmar. — Estou bem — menti. — Segurei durante oito meses, posso fazer isto. Ninguém vai tirar o vestido. Nem você... nem eu. — Embora me custe à vida. Val

piscou

e

por

fim

compreendeu

a

verdadeira

profundidade de minha luta interna. A afastei da casa antes que pudesse sair correndo e dava um sorriso tímido.


— Vou atar minhas mãos atrás de minhas costas. Finalmente começou a rir. — Espero que não tenhamos que chegar a isso — disse, enquanto dirigia ao meu carro e abria a porta para ela. — mas acredito que o faria se me fizesse algo. A levei a São Francisco. Tinha uma reserva em um desses cruzeiros onde os levam em um grande iate e proporcionam um jantar romântico a luz das velas enquanto navega pela baía. Este vinha com um piano e um quarteto de corda. Não era meu gosto habitual em música, mas tinha vontade de dançar uma boa música lenta com Val depois de que jantássemos. Val seguiu meu olhar ao redor do local e logo sorriu à mesa como se estivesse desfrutando de uma brincadeira privada. Me fez sorrir também, embora não a entendia. Minha curiosidade me venceu. — Algo engraçado? Encontrou meu olhar com um brilho em seus olhos. — Pensava que não era fã de lugares que oferecem mais de um garfo. Ri entre dentes, surpreso de que recordasse isso de mim. — Em geral não, — concordei. — mas pensei; já que era nosso primeiro encontro de verdade e tudo... Val pensou e sorriu. — De verdade é o primeiro, não? — O primeiro que aceitou por vontade própria. Parecia uma ocasião especial o suficiente para merecer múltiplos garfos.


— Eu diria que sim. Só se passaram cinco anos desde a primeira vez que pediu. Deixei que meu olhar vagasse sobre ela outra vez. Seu cabelo estava preso, deixando o pescoço e os ombros a mostra. Sua pele brilhava ligeiramente na luz suave. Era bonita, mas quando a olhei, foram as lembranças que compartilhávamos que me fizeram sorrir. Ficava feliz que tivéssemos essa história, do contrário não poderia ver além da beleza. Não a apreciaria como o fazia agora. — Valeu à pena a espera Val, juro. Minhas palavras fizeram algo em seu semblante. Seu sorriso estava de uma forma que não podia decifrar. Sua voz era suave quando disse: — Não me perguntou o que penso a respeito de sua nova canção. Meu estômago deu um tombo, mas tentei soar o mais calmo possível quando respondi. — Estive tentando muito não perguntar. Aprendi a lição da última vez. Val ruborizou triste. — Mereço isso. Serei sincera — disse. — Não posso pedir mais que isso. — De repente se inclinou sobre a mesa e pôs sua mão sobre a minha. — Adoro a nova canção, Kyle. Não tinha me dado conta quanto precisava escutar isso, até que deixei escapar o fôlego que estava contendo e me senti um


milhão de vezes mais leve. — Fico feliz — disse, fazendo descer o nó em minha garganta. Movi a mão e entrelacei nossos dedos. Val olhou nossas mãos unidas, como se não entendesse o que acontecia. — Falou sério? — perguntou. — Ou era só uma boa ideia para uma canção? Doeu que precisasse de uma confirmação. — Estou aqui, ou não? — Sim, mas não entendo por que. — Parecia perplexa. — Já passou quatro anos. Esteve comprometido com alguém. Por que escrever outra canção agora? O que no mundo fez que pensasse em mim depois de tanto tempo? Me inclinei para trás com um suspiro e tomei um gole de meu vinho. Val retirou a mão e pôs ao seu lado da mesa e esperou uma resposta. — É uma longa história — adverti. — E estou bastante seguro de que falar de minha ex-noiva em um primeiro encontro é um passo em falso. Val não ia deixar passar assim tão facilmente. — Preciso entender. Quero acreditar que é sincero. Não é que penso que está mentindo, mas é Kyle Hamilton. É imponente e caprichoso. É tão apaixonado em tudo... por cinco minutos de uma vez. Não posso evitar ter dúvidas sobre o que exatamente quer comigo. Ela seguia vendo o meu velho eu. O jovem estúpido e arrogante estrela do rock que só sabia viver o momento e nunca


considerou o futuro. Como podia fazer entender que era diferente agora? — Estou aqui porque estou cansado de "cinco minutos de fama". Procuro a oportunidade de ter algo de verdade. Val considerou isto um momento. — E acredita que encontrará comigo? Assenti. — Não acredito que seja capaz de nada menos. Não é o tipo de mulher que um homem recolhe em um bar e leva para casa no fim de semana, Val. É do tipo que vemos sair com outros homens e nos faz nos perguntar o que estamos fazendo de errado. Val congelou, me olhando nos olhos enquanto se adaptava minhas

palavras.

Me

neguei

a

olhar

para

outro

lado.

Eventualmente, esboçou um sorriso e tomou um gole do seu copo. — Ainda não posso acreditar que seja o novo rei da abstinência. Seu tom zombador voltou a aliviar o estado de ânimo e ri. — Eu tampouco. Depois do jantar fomos à proa do navio. Apesar de que nasci e cresci em Surfe City, nunca fui um surfista. Mas adorava o oceano. Quando era menino, passava isso no bote. Meus pais tinham seu próprio iate e embora odiasse ir a seus eventos do estúpido clube do Yate e me misturar com gente queixosa, com roupas incômodas, sempre adorava sair no navio. Adorava a


sensação da água balançando debaixo de mim e a brisa fresca do mar com a água salgada e o aroma das algas marinhas. Navegar ao redor da Baía de São Francisco era agradável, porque enquanto a água estava um pouco mais tranquila que a do mar aberto, a vista o compensava completamente. De noite as luzes da cidade eram incríveis e as pontes espetaculares. Val se aproximou da borda do iate e se apoiou no corrimão enquanto contemplava a ponte Golden Gate. — É lindo — sussurrou. Estar de pé atrás dela, veio a certeza de que minha vista era um pouco melhor. Tirei a jaqueta e pus sobre seus ombros nus. Poderia ser a primeira semana de junho, mas em São Francisco ainda diminuía uns bons quinze graus depois que o sol se ia. Com a brisa, era bastante frio. — Obrigada — disse, agarrando a jaqueta com força a seu redor. — É um prazer. Agora tenho uma razão para fazer isto... — A atraí para meu peito e a envolvi em meus braços. — Se for usar minha jaqueta, então é seu trabalho me manter quente. — De acordo — disse. Respirou fundo quando dava um suave beijo em seu pescoço. Estremeceu e apoiou a cabeça em meu ombro. Ficamos em silêncio, desfrutando de todo o significado desse momento. Quando o navio passou por baixo da ponte, rompi o silêncio. — Nunca vou entender porque o homem faz certas coisas, e


como ás faz — Ao olhar a parte inferior da enorme estrutura, me senti impressionado. Havia um sorriso na resposta de Val. — Sei que há pessoas que pensam o mesmo sobre você e as coisas que obteve em sua vida. — Eu canto. Não desenho estruturas milagrosas que permanecerão por centenas de anos. — Mas as canções que escreve durarão para sempre. Sua música chegou a centenas de milhares de vidas e será lembrado como parte da história deste país. O que disse foi surpreendente e me aqueceu por dentro, mas ao mesmo tempo me senti um pouco ridículo. Era só música. Não era como se baixasse a média nacional de adolescente grávidas sem ajuda. — Olha quem fala — brinquei, querendo, por uma vez, ter a sua atenção em mim. — Olhe as coisas que obteve nos últimos cinco anos. Foi tão incrível que fizeram um filme de sua vida. Val sorriu por cima do ombro. — Estou bastante segura de que no filme também havia um personagem que levava seu nome. — Sim, mas acredito que era o vilão. Começou a rir, e me inclinei e pressionei meus lábios contra os seus. O beijo foi casto, mas só pelo fato de que podia fazê-lo, valeu à pena. Estava aqui comigo o que me permitia beijá-la cada vez que


tivesse vontade, me sentia tão alucinado como a façanha da construção da ponte que passamos. Val ruborizou. Me deu um sorriso tímido e voltou o olhar para a água. — Isto é um pouco estranho, não? — perguntou. Dei um pequeno apertão e disse: — Eu gosto de pensar que é inevitável. Soube desde o primeiro momento que te vi que, queria que fosse minha. Isto é como... uma doce vitória. Soube imediatamente que meti os pés pelas mãos, e que disse exatamente o pior, mas já era muito tarde para voltar a trás. Val saiu dos meus braços deu a volta para me olhar. Era como se estivesse a ponto de levar as mãos aos quadris e começar a dar golpes com o pé. — "Doce vitória"? — perguntou. — E agora que por fim ganhou o cobiçado prêmio, quanto tempo antes que se canse de mim e passe ao seguinte desafio? Suspirei. Às vezes poderia ser tão idiota. Sabia que Val se preocupava com minha sinceridade. Sabia que ia se sentir insegura a princípio. — Nunca — prometi. — Nunca poderia me cansar de você. Parecia não acreditar. — De verdade acredita que vou abandoná-la na primeira oportunidade que tenha? — perguntei.


Levou

cinco

anos

para

chegar

até

aqui.

Estou

emocionado de conseguir? É obvio. Neste momento me sinto como o homem mais afortunado da Terra, e tenho muito medo de que em qualquer momento dê conta que é muito boa para mim e me tire de sua vida. Seu cenho se converteu em um sorriso irônico. — É a verdade — insisti. Me aproximei e segurei seu rosto entre minhas mãos. — Confie em mim, não quero arruinar isto. De acordo? Me olhou nos olhos um momento e assentiu. — Está bem. — Uma vez evitada à crise, voltou meu sorriso. — Bem — disse. — E agora que nos entendemos, acredito que é hora de reclamar o troféu de minha vitória. Antes que pudesse discutir, baixei meu rosto no seu novamente. Desta vez a beijei bem e forte. O calor do mesmo provavelmente era inapropriado para uma exibição pública, mas não me importava, queria que ela o sentisse. Queria começar um incêndio em seu interior que a deixaria ardendo toda a noite. A empurrei contra o corrimão do navio e me inclinei até que nossos corpos se encontravam colados um contra o outro. Minha mão foi dentro da jaqueta que levava e passei os dedos pelo lado de seu corpo. Nada nos separava, exceto o tecido fino de seu vestido, mas não era suficiente. Minhas mãos caíram para seu traseiro e a apertei contra mim, esperando que pudesse aliviar


parte de minha necessidade por ela. Ela ficou sem fôlego. — Grosseiros — disse a voz de uma moça. Houve uma ronda de risadas e logo a voz de um homem disse: — Sim, consigam um quarto. Dava graças ao Senhor por sua intervenção divina e me afastei de Val. Me desculpei quando vi sua expressão de surpresa. — Sinto muito. Suponho que me deixei levar um pouco. — Sim — respirou. Fomos interrompidos novamente por uma terceira voz. — Não estão muito velhos para se agarrarem assim em público? Comecei a rir. Quem quer que fosse nossa polícia de beijos, era descarado. — Sou uma estrela do rock — disse voltando a atenção para eles. — é o que se espera de mim. Havia seis adolescentes vestidos com traje formal, com ramalhetes e flores. Com as testas franzidas, os olhos de todos se abriram ao mesmo tempo. — Kyle Hamilton? — O único. — Mostrei meu melhor sorriso. — Por favor, se sintam livres para saltar e chiar um pouco se precisarem. Não me importa. Val suspirou brandamente. Enganchei o braço ao redor de sua cintura e a atraí ao meu lado.


— O mesmo vai para você — disse. — Em qualquer momento que deseje enlouquecer, faça. — Sim, isso vai ocorrer... nunca. Lancei um suspiro exagerado, por isso as garotas diante de nós riram. Uma delas deu um passo adiante, sustentando um telefone. — Podemos tirar uma foto com você? — ruborizou e seus olhos se desviaram para Val. — Se sua namorada não se importar? Me chame idiota, mas senti um calafrio ao escutar o novo título de Val. — O que diz namorada? — perguntei jogando um olhar a Val que a fez rir. — Não sou sua namorada. E de repente, essa emoção se foi. Deixei de prestar atenção às meninas e franzi a testa para Val. — Um, sim, na verdade, é minha namorada. — Um, não, de verdade — repetiu com sarcasmo. — não sou. Isto é só um encontro. Apertei os olhos. Estava falando sério? Acreditei que a conversa em seu escritório o feito oficial. Poderia ter jurado que ela também estava de acordo. Por que seguia brigando comigo? Bom, se queria uma briga, teria. — Tenho uma notícia para você preciosa teimosa e fóbica ao compromisso. Isto não é só um encontro. É o começo de uma relação.


— É um encontro para ver se você merece uma relação. — Sabe que mereço. Está sendo difícil. Talvez não seja eu que goste da perseguição. Entretanto, não importa. Admita ou não, estamos saindo. Revirou os olhos e estendeu a mão para o telefone da garota. — Vou tirar a foto para você — disse. Levantou o telefone e acrescentou: — Se apertem. Vai ser difícil que caibam todos com tanto espaço que o ego do Kyle ocupa. Todo mundo riu e Val tirou uma série de fotos com vários telefones diferentes. Quando sorri para uma última foto, a garota que pegou ficou sem fôlego. — OH, Meu deus, sabia que era familiar! É a Virgem Val, não é? Val deu o telefone à garota e sorriu timidamente. — Me pegou. A

garota

gritou

e

correu

para

Val,

esquecendo

completamente de mim. Foi um pouco surreal. Não posso dizer que passei por isso antes. — Não posso acreditar! Sempre quis te conhecer. Seu filme me inspirou muito. — A garota levantou o braço para mostrar o bracelete virgem em seu pulso que estava escondido debaixo de seu casaco. — Uso o tempo todo. Posso tirar uma foto com você também? Por favor? Significaria muito para mim.


— É obvio. Val tirou minha jaqueta para posar para uma foto. Quando me deu, pisquei um olho. — Olhe você, roubando meus fãs. Sorriu. — Acredito que vai sobreviver. Quando deu a volta, a garota abriu a boca de novo. — OH! Inclusive usa seu colar! — Sempre. — riu quando pôs o braço ao redor da garota. — Especialmente agora que estou em um encontro com Kyle. Ele precisa do aviso constante. — Não parecia que o aviso estivesse funcionando muito bem — murmurou um dos meninos. Val ruborizou e comecei a rir. — Pode me culpar? — perguntei. Sacudi uma mão para Val. — Vê incrivelmente sexy que é esta mulher? Depois de que Val posou para umas fotos, a garota que a reconheceu, a abraçou e disse: — Não posso acreditar que esteja saindo com o Kyle Hamilton. Val suspirou, mais ri. — Nem eu — disse. — Só me custou cinco anos e um voto de celibato para que dissesse que sim. Os olhos da moça se arregalaram e mordeu o lábio para


conter um chiado de emoção. Roubei outra vez Val e passei o braço ao redor de sua cintura. — Agora, se nos desculparem, já que este é nosso primeiro encontro, e tudo, acredito que deveria levar à encantadora dama para dar uma volta na pista de dança. Antes que pudesse arrastar a Val, a garota gritou: — A beijaria outra vez para nós? Parei e sorri. — O que? — perguntou Val. — Encantado. Comecei a me inclinar, mas Val pôs uma mão sobre minha boca. — Espera — disse, rindo. — Não acabaram de pedir que parasse de me beijar? A garota ruborizou, mas disse: — Por favor? Minha irmã mais velha é também uma grande fã da Virgem Val. Nunca vai acreditar que vocês estão juntos de verdade. Val sacudiu a cabeça. — Disse isso, só estamos em um encontro. Não estamos... Val ficou sem fôlego pela surpresa quando a atraí para meus braços e a inclinei para trás. — Não estamos juntos? — perguntei e a beijei tempo suficiente para que essas garotas fizessem todas as fotos que desejassem seus corações. Quando finalmente voltei a pôr sobre seus pés, suspirou.


— Sempre tem que fazer uma cena? — Bom, já sabe, é como dizem — assinalei para os adolescentes com meu polegar. — Sou uma estrela do rock. Está na descrição do trabalho.


M é por Meios

Por mais que odiasse ter que me levantar na manhã seguinte, ter meu próprio lugar para dormir enquanto me encontrava na cidade era um mal necessário para poder sair com uma mulher com a qual não era permitido ter sexo. Pensei que entendia a tentação. Tentei tirar meu bracelete várias vezes nos últimos oito meses e consegui me manter forte. Mas essas vezes simplesmente evitei sexo ocasional com estranhas. Val não era uma estranha e não havia nada casual sobre a conexão que sentia com ela. Quando a deixei na porta de sua casa no final de nosso encontro, um desejo tão intenso tomou contra mim que quase me pôs de joelhos. Fiquei ali, apoiado no batente da porta, com medo de dar um só passo para o interior enquanto dava um beijo de boa noite. Avisei que fechasse a porta e trancasse, uma vez que estivesse fora, no caso de mudar de opinião em poucas horas,


enquanto ainda sofresse os dolorosos efeitos secundários da abstinência. Seus olhos ficaram marejados e me disse o quanto apreciava minha compreensão e minha vontade. Foi quando fui diretamente ao hotel mais próximo e tomei uma boa ducha fria. Agora era de manhã e me perguntei se seria capaz de tomar uma ducha quente de novo. O hotel mais próximo à casa de Val não tinha serviço de quarto, mas o café da manhã era gratuito. Ninguém nunca negaria comida grátis. Desci por volta das oito e meia à caça do que esperava que fosse waffle e alguns ovos. Acabava de servir uma xícara de café quando ouvi a voz de Val. Levou um minuto para encontrá-la, porque não pensei em verificar a televisão. — Sinto muito, mas o que fazem aqui? — resmungou. A televisão no vestíbulo do hotel transmitia as notícias locais. Val com um aspecto altamente irritado se encontrava de pé em sua porta da frente, em pijama com o cabelo revolto. — Vimos sua foto na capa da revista Celebrity Gossip desta manhã — disse o jornalista. — É verdade que se reconciliou com Kyle Hamilton e agora está saindo com ele? Comecei a rir. Então, os fãs que conhecemos ontem à noite eram da classe empresarial. Deveria ter pedido uma parte do cachê que ganharam vendendo nossas fotos para os tabloides. — Kyle e eu acertamos nossas diferenças há mais de quatro anos e sim, tivemos um encontro ontem à noite. Ainda não


entendo por que isso requer uma conferência de imprensa em minha casa às oito e meia da manhã de sábado. Ri de novo. Então Val não era uma pessoa matutina. Não imaginava isso dela. Assumi que era uma dessas mulheres que sempre estavam alegres e completamente arrumadas. — Onde está Kyle? — perguntou um homem com uma grande câmera. — Podemos falar com ele? O que fez decidir romper sua promessa de esperar até o casamento? Os olhos de Val se arregalaram quando finalmente se deu conta do porque estavam todos tão inquietos. Deixou escapar um suspiro e esfregou a cabeça indicando que lhe doía. — Não quebrei minha promessa — disse. — Fui a um encontro. Isso é tudo. Kyle me levou para jantar e me trouxe para casa por volta das 23h30min. Fui diretamente para cama. Sozinha! — Então de quem é esse carro na entrada de sua garagem? — Tenho uma companheira. Esqueci o café da manhã quando vi a dor nos olhos de Val. Val precisava ser resgatada. Fazia todo o possível para manter a compostura diante das câmeras, mas se sentia insultada pelas perguntas. A casa de Val estava só a três quadras do hotel e cheguei ali em menos de cinco minutos. Rosnei para chamar a atenção de todos quando cheguei e sai do carro, dizendo: — Bem, pessoal é hora de circular. Nada escandaloso


aconteceu aqui. Se Val me deixar porque vocês puseram em dúvida sua virtude, vou ficar muito irritado. O pequeno grupo de paparazzi entrou em um frenesi. Me bombardeando com perguntas, mas abriram caminho para que chegasse à porta principal de Val enquanto tiravam fotos e vídeos. Val saiu na varanda, esfregando os braços. Talvez estivesse com frio, ou talvez tentasse apenas esconder o fato de que não usava um sutiã. Estava vestida com calças de moletom e uma camiseta sem mangas. Estava descalça, sem maquiagem e seu cabelo era um desastre. Decidi que esse look de recém-saída da cama era muito sexy nela. Mesmo assim, tirei a jaqueta e envolvi ao seu redor. Só eu deveria ser capaz de desfrutar dela dessa maneira. — Bom dia, linda — disse enquanto fechava a jaqueta e a beijava na bochecha. — Sabia que está ao vivo neste momento? — Apontei a van estacionada na calçada que dizia que era do canal nove. — Te vi na televisão do hotel e não posso deixar que tenha toda a diversão sozinha. Franziu a testa, mas se derreteu em meus braços e disse: — Obrigada por vir. Como me livro deles? Comecei a rir. — Sorria e responda suas perguntas. Isso me valeu outra testa franzida, mas Val se recompôs. — Bem — disse, e se obrigou a sorrir para as câmeras.


— O que querem saber? Todo mundo gritou perguntas de uma vez, mas houve um que se destacou. — É verdade que rompeu com Adrianna Pascal por causa de Val? — Rompi com Adrianna porque ela foi para casa com o homem errado no meu aniversário. Quer dizer, sei que Brian me interpretou no filme V é por Virgem, mas a semelhança entre nós não é tão forte. — Então estão oficialmente juntos, meninos? Val disse "não" uma vez que eu disse "sim", e a multidão começou a rir. Dei aos paparazzi um grande sorriso e disse: — Só um minuto. — Virei para Val e disse: — Vamos. Não fui bem ontem à noite? — Sim. — Não quer voltar a sair? Hesitou em responder, como se estivesse esperando uma armadilha. — Mencionei que é uma mulher inteligente? — Sim... — disse lentamente. Sorri. Entrou direta em minha armadilha, senhorita Jensen. — E você não ficaria chateada se eu começasse a sair com mais alguém, neste momento? Não

respondeu,

mas

cerrou

os

olhos

e

apertou

a

mandíbula. Bingo! Jogo. Definido. Partida. Ganhador “Kyle


Hamilton” Namorada “Virgem Val”. — É sexy quando está com ciúme — brinquei. — Agora que estabelecemos que não tenho permissão para ver outras pessoas e claro que você também não, admita amavelmente na frente destas belas pessoas que é minha namorada. Levantou os olhos ao céu e deixou escapar um suspiro. — Está bem. — Lançou um olhar inexpressivo para as câmeras e disse: — Suponho que é oficial. Sorri como um idiota e a puxei para mim. — Obrigado. — Dei um beijo em seus lábios antes de apresentá-la frente às câmeras. — Todo mundo, diga olá para a minha... — Olhei para Val de novo. — Qual é a palavra que estou procurando? É minha o que? Ela revirou os olhos, mas esboçou um sorriso quando disse: — Sou sua namorada. Inclusive me assegurarei de atualizar seu status no Facebook. Quem é o homem? A multidão começou a disparar perguntas de novo. Era o tipo das notícias do Canal Nove, que obteve sua resposta quando sustentou seu microfone para mim e disse: — Como vão lidar com o tema do sexo? Levantei meu pulso com um sorriso e esperei os suspiros.


— Você de verdade concordou em se abster de ter relações sexuais? Encolhi os ombros. — Não ia sair comigo do contrário. — Não vai ser difícil para você? Soltei uma gargalhada. — É uma brincadeira? Não ser capaz de tocá-la ontem à noite foi tão difícil que quase a levei para Las Vegas para nos casar, então poderia ter meu fim. Os repórteres ficaram loucos com esse comentário. Se reuniram mais perto, tirando suas câmeras de novo e gritando mais perguntas, a maioria querendo saber se estávamos comprometidos. Comecei a rir até que Val golpeou meu braço. — Kyle! — gritou. — O que? Disse que estava tentado. Não é que planejasse levar ao fim. Olhei e não pude deixar de rir dela. Sempre me encantei quando se zangava comigo. —Está bem — disse. — Sinto muito. — Voltei minha atenção aos jornalistas. — Val e eu não estamos comprometidos em segredo. Só tivemos um encontro, por isso todos nós podemos nos acalmar. Ninguém vai correr a nenhuma capela. Nem sabemos se as coisas vão funcionar entre nós. Sim, isto de não ter relações sexuais com minha namorada vai ser incrivelmente difícil, mas tentarei o meu melhor. Agora, se não se importarem, vou levar


Valerie para dentro e fazer um pouco de café quente. Praticamente se transformou em um iceberg de pé aqui com os pés descalços. Val pareceu aliviada quando abri a porta e a empurrei para dentro, ignorando as perguntas que seguiam jorrando em nossa direção. Pensei que a entrevista tinha ido muito bem, mas foi óbvio que eu era o único desfrutando no momento em que a porta se fechou entre os repórteres e nós. Val deixou escapar um comprido gemido quando tirou a jaqueta de couro e se deixou cair no sofá. — Não foi tão ruim — disse, me unindo a ela. Estendi os braços para que se aconchegasse neles e consegui um olhar feroz em seu lugar. — Las Vegas, Kyle? Agora todo mundo pensa que estamos comprometidos em segredo e que só vamos nos casar para que possa dormir comigo. Sério, não via tão grave. — A quem isso importa? — A mim! — Merda. Alguém está de mau humor esta manhã. — Seu estado de ânimo era contagioso e me encontrei trabalhando para manter o controle de meu temperamento. — Olhe, as pessoas me conhecem, certo? E te conhecem. Pode ser que pensem que sou capaz disso, mas ninguém vai acreditar que você teria viajado a Las Vegas comigo. Foi só uma


brincadeira. — Não, foi um ato de circo. Sempre é com você. — se levantou e se aproximou da janela da frente. Ao abrir a cortina, franziu a testa. — Está de volta a minha vida, há menos de vinte e quatro horas e já tenho a mídia acampada em meu jardim. Deixou cair à cortina e se virou para me olhar. — Vou começar um programa de pós-graduação intensivo em setembro em uma das escolas mais competitivas do país. Nunca vou conseguir fazer se os paparazzi estiverem me seguindo vinte e quatro horas por dia, sete dias da semana. Esfregou as têmporas de novo, seriamente estressada. Queria ajudar de algum jeito, mas não havia nada que pudesse fazer a respeito dos repórteres e dos fotógrafos. Sempre estariam ali. Eram parte da minha vida. Levantei e cruzei a sala para ela, aliviado quando me deixou pegar suas mãos entre as minhas. — Isto é só porque somos novidade neste momento — prometi. — O frenesi da mídia vai apagar antes de começar as aulas. Me lançou com um olhar severo. — Não, não será assim. É um instigador, Kyle, um espetáculo. Luz para as câmeras e te seguem por aí como cães esperando que lance outra delícia. Sua vida será sempre assim. — Elevou sua mão em direção à porta, indicando os jornalistas sobre a grama.


— Eu não quero isso. Odeio a loucura. Seu tom era zangado, acusatório e me doeu tanto como me incomodou. — Eu também odeio algumas coisas. Val estremeceu e eu continuei. — Quero ter sexo com você — admiti. — Mais do que tudo. — Ante sua surpresa, a sustentei entre minhas mãos e dei de ombros com impotência. — Quero te levar para seu quarto agora mesmo e fazer no seu corpo coisas que te farão gritar meu nome em êxtase. Nunca quis nada mais em toda minha vida. Odeio não poder te tocar. Odeio. Val empurrou para liberar suas mãos e deu um passo atrás, um passo longe de mim. — Mas... — Seus olhos pararam sobre o bracelete em meu pulso. — Já estava se abstendo. Renunciou ao sexo por sua conta. — Renunciei ao sexo ocasional — esclareci. — Renunciei ao sexo com estranhas. Me abstive porque não tive ninguém que me importasse. Não quero fazer com que o amor seja algo sem sentido. Mas se estiver em uma relação comprometida, isso muda as coisas. Me olhou atônita. — Sinto muito, Val, mas é o que penso sobre a intimidade sexual é uma parte vital de uma relação. Posso admitir agora que o sexo é especial e que se deve esperar alguém que importe


para estar com ele, mas nunca vou entender por que tem que ter um selo de casamento em primeiro lugar. Sem dúvida nunca estarei de acordo com isso. Continuo pensando que fez uma escolha estúpida. Esperar o casamento não tem sentido. Os olhos de Val se encheram de lágrimas. Não queria machucá-la, mas ela precisava saber como me sentia. Tinha que ser honesto. Eu ia lutar com isto, e ela precisava saber. — Então, o que faz aqui? — perguntou. — Se odeia tanto e pensa que estou sendo uma idiota, por que voltou? Por que me pediu para estar em uma relação? Essa era a pergunta do momento, não? — Porque você vale. — Dei um passo para ela de novo e quando tentou retroceder, continuei me aproximando até que ficou encostada contra a parede. Virou a cabeça para o outro lado, mas agarrei seu queixo e a obriguei a me olhar nos olhos. Se alguma vez houve uma coisa que queria que ela entendesse, uma coisa que precisava que acreditasse, era isto. — Estou disposto a fazer o sacrifício, porque acredito que você vale. Não vou gostar de tudo em você e não vai gostar de tudo em mim, mas isso não significa que não possamos fazer com que isto funcione. Val fechou os olhos contra as lágrimas. Por mais que me odiasse ser a causa de sua tristeza, achei que estava linda com o princípio de lágrimas em seus cílios. Uma gota escapou e caiu por sua bochecha, e a limpei com meu polegar. — Temos algo especial — disse em voz baixa.


— Posso sentir. Acredito que você também pode. Então vou aceitar as coisas boas e as ruins e te pedir que tente fazer o mesmo. Não posso evitar a fama. Não é só meu trabalho, eu adoro. Sou uma puta em busca de atenção. Isso eu sei. Não vou negar. Estou te pedindo que aceite. Sei que odeia, mas é tão parte de mim como o de ser virgem é uma parte de você. Val tragou suas emoções e assentiu. — Tudo bem. — A promessa saiu pequena e estrangulada. — Tem razão. Não posso esperar que você faça todos os sacrifícios. Vou encontrar uma maneira de lutar com a fama. Um peso que não tinha me dado conta que estava ali saiu de meu peito e soltei um suspiro que estava contendo em meus pulmões. — Obrigado — disse enquanto pressionava um ligeiro beijo em seus lábios. Finalmente abriu os grandes e lindos olhos castanhos e olhou fixamente os meus. Sua incerteza e seu medo brilharam em seu olhar, mas junto com a vulnerabilidade vi esperança. — Por favor, espero que valha pena — sussurrou. A dúvida deveria ter picado, mas em vez disso acalmou meus nervos. Não estava segura de nós, mas estava disposta a correr o risco. Isso requeria coragem. Algo que Val sempre teve em abundância e uma das coisas que gostava dela. Senti os cantos de minha boca se curvarem em um sorriso. — Vou fazer o meu melhor — prometi e a beijei de novo. Desta vez fiz com que durasse e colocou os braços ao redor de


meu pescoço. A puxei da parede e a envolvi com força em meus braços, precisando da conexão assim como ela. Nos separamos quando escutamos uma forte aspiração. — Isso foi tão lindo — disse uma voz chorosa. — Vão conseguir, totalmente. Me virei para ver uma loira vestida com um roupão de banho. Secou os olhos com um lenço e estendeu a caixa. Val riu enquanto pegava um lenço de papel. Tinha certeza que perdia uma brincadeira. As duas mulheres se abraçaram e então Val empurrou sua amiga para mim. — Kyle, esta é minha companheira, Stephanie. Stephanie acaba de noivar há algumas semanas e isso a deixou um pouco emocional. Chora todo o tempo.

Filmes, músicas, livros,

conversa de garotas... inclusive uma vez quando lavava roupa. Stephanie empurrou Val de brincadeira. — Só estou feliz — disse. — Austin e eu estivemos juntos durante três anos. Não acreditei que me pediria isso alguma vez. O noivado foi uma completa surpresa. Não fiz perguntas. Cara e Adrianna também foram ambas umas confusões pegajosas e emocionais depois de ficarem noivas. Com o tempo, essa etapa passou e se estabeleceu a etapa "Noivazilla". Não pensei que esta mulher precisasse ouvir que logo deixaria as lágrimas de alegria e se converteria em uma neurótica louca por controle, então simplesmente estendi a mão


e disse: — Felicidades. O rosto de Stephanie ruborizou enquanto sacudia minha mão. — É um prazer te conhecer finalmente — disse. —

Estive

presente

durante

a

maior

parte

dos

acontecimentos do último ano da escola, mas estou certa que não se lembra de mim. Naquela época só tinha olhos para Val. Meus olhos se dirigiram automaticamente para Val e sorri perante suas bochechas rosadas. — Suponho que não adiantou muito. Quando me dei conta de que a olhava fixamente, ri e a atraí de novo para meus braços. — Algumas coisas mudaram. Por exemplo, agora tenho permissão para beijá-la. Comecei a demonstrar meu ponto. — Então, a respeito do resto do fim de semana... — disse. Val encolheu os ombros. — Não tenho planos até a segunda-feira. Justo o que esperava ouvir. — Bem. Tenho mais que planos suficientes para nós dois, mas temo que precise estar de banho tomado e vestida. — Incapaz de resistir, sorri e disse: — Você gostaria de um pouco de ajuda com isso? — Sim. — Stephanie começou a rir.— Definitivamente continua sendo o mesmo Kyle.


E é por Entrevista

Me assustei quando meu telefone tocou em meu bolso traseiro. — Olá, estrela do rock. Como foi na entrevista? O alívio me alagou quando vi que a mensagem era de Val. Tivemos um fim de semana incrível juntos, e então voei para casa na segunda-feira e não consegui nada mais dela do que um par de mensagens aleatórias em três dias. Ela estava atolada de trabalho e se aproximava uma entrevista, então voei para casa. Val não disse nada sobre quando voltaríamos a nos ver. — Ainda esperando, respondi.— Não estou seguro do porquê do atraso. — Te desejaria sorte, mas não precisa. Vai à rockearlos. — Era novo nos relacionamentos à distância. Eu não gostava que tivéssemos deixado as coisas em aberto. Val estava tão absorta em seu louco mundo a toda velocidade. Me perguntava,


inclusive, se tinha se dado conta de que se passaram três dias e não tínhamos nos falado. Talvez isso fosse normal para ela em um relacionamento, mas eu era um menino do tipo tudo ou nada. Não queria perguntar diretamente se queria vir a Los Angeles neste fim de semana, mas, o que podia dizer para dar uma pista? Queria que estivesse aqui. Deveria fazer esta entrevista comigo. Também gostaria de estar aí. Eu sinto sua falta. Bom, isso não respondia nada. Mas pelo menos sentia saudades. Pelo menos passei por sua cabeça um par de vezes desde que saí. Outro texto seguiu a seu último. — É brega? Dizer que sinto saudades? Sei que só passaram três dias. Senti um sorriso penetrar em meu rosto. Provavelmente o primeiro que tive o dia todo. Estava preocupado em dizer que sentia falta, enquanto que eu lutava para não saltar em outro avião. — Não é brega. Eu também sinto saudades. Todas as minhas outras namoradas daqui não são tão divertidas como você. — Ha. Ha. Não é engraçado. Comecei a rir. — É sexy quando está com ciúme. — Tenho que ir. Estarei com meu outro namorado para o almoço. — Tem razão. Não é engraçado. Viu?


— Na verdade não vai almoçar com outro cara, vai? — Ah, é tão lindo quando está com ciúme. — Tudo bem, você me pegou. — Bem. Na verdade, é que tenho que ir. Estou atrasada para uma reunião. Falarei com você mais tarde, tudo bem? — Mal posso esperar. Guardei meu telefone no bolso e tentei não franzir a testa. Sabia que estava brincando com o comentário do namorado, mas odiava pensar nisso de qualquer maneira. Sobre tudo depois de ter conhecido Bryce Carmichael, o menino de ouro de F é por Família. Dei uma olhada ao redor do estúdio, me perguntando por que o atraso. Meus representantes divulgaram que me comprometia à provação de abstinência V é por Virgem, e convidaram um número de pessoas de diferentes meios de comunicação para presenciá-lo. Celebrity Gossip pediu para fazer a capa e uma foto de

propaganda

e

uma entrevista

de

quatro

páginas

de

divulgação. Quem diria que minha abstinência seria uma notícia de primeira página? Estava indo com tudo, por isso luzes e câmeras em todos os lados. Tinham três equipes separadas em locais ardilosos e minha própria sala de espera privada. Pelo menos tinha isso. Não era perseguido pela imprensa enquanto esperava. Sério, qual era o problema? Quando comecei a ficar nervoso, tirei de novo meu telefone.


Esta tolice tinha que começar já, para não ficar aqui sentado, imaginando o Bryce "P é por Perfeito" Carmichael elaborar um plano para fazer do mundo um lugar melhor de margaridas com minha namorada. Ou o jogador "jardineiro central" de Los Angeles, Mike Trout, para o caso. — Nervoso? Olhe para cima, para ver Robin sorrindo para mim. Amaldiçoei a minha estúpida preocupação. Tinha esperança de que não parecesse que estava com medo de todos os outros daqui. Todos os jornalistas sentados do outro lado do estúdio estariam encantados de dizer ao mundo que estava nervoso neste momento. Me obriguei a ficar quieto. — Não estou preocupado com a entrevista. — Então, você diria que está animado para anunciar sua abstinência? — brincou. — Sim. Isso é tudo. Como o adivinhou? O sorriso de Robin se converteu em satisfação. — Por que Val te deixou desconfortável? Fiz uma careta. — É óbvio? — Reconheço o drama de uma relação quando o vejo. O que aconteceu? Pensei que as coisas foram bem no norte da Califórnia. De verdade, ia ter esta conversa? Procurei na sala de novo, desejando que alguém estivesse preparado para mim, mas todo


mundo estava ali de pé, ao redor ainda. Robin cruzou os braços e me deu um olhar que deixava claro que estava falando sério. Com um suspiro, afastei meu telefone e fiz um gesto para a cadeira vazia do lado da minha. — Sente, ponha os pés para cima. O rosto de Robin se iluminou e sentou. Vê-la sentar em sua cadeira foi doloroso. Olhou ao seu redor e baixou a voz. — Estou, com isso, infringindo algum tipo de regra por falar com um talento? Sorri. — Não quando os conhece pessoalmente. É uma distração bem-vinda. — Então, o que aconteceu com você e Val? — Espero que dê uma olhada — respondi. — Adverti que haveria uma mulher grávida aqui. Estarão equipados com um montão de manteiga de amendoim e pepinos japoneses. Robin

riu

e

subconscientemente

esfregou

o

ventre.

Entretanto, minha tática para evitá-la funcionou e ela estava distraída. — Infelizmente, meus desejos foram diferentes desta vez. Sou louca por bolo de banana e taquitos de postos de gasolina. Asqueroso, já sei, mas... — Ooh, aqueles Pepper Jack? Eu adoro. Começou a rir de novo e atirou seu braço por cima de meu


ombro. — Kyle, acredito que poderia ser minha alma gêmea. Robin tinha toda a razão. Me inclinei e falei em voz baixa como se estivesse compartilhando um grande segredo. — Quer ver algo genial? Olhe isto. Levantei o olhar e chamei a primeira pessoa que vi. O rapaz estava perto dos dezoito ou dezenove anos e tinha as mãos cheias de um montão de fios emaranhados. Parecia muito emocionado por ter minha atenção. — O que posso fazer por você, senhor Hamilton? Deu uma piscada para Robin e disse: — Temos uma emergência, uma senhora grávida em nossas mãos. Preciso que alguém corra ao 7Eleven e consiga alguns daqueles taquitos de Pepper Jack e um pedaço de bolo, sabor banana. Sorri quando o rapaz fez sinal a um dos membros de sua equipe e entregou os cabos. — Pode levar isto ao suporte técnico? Tenho que dar um recado para o senhor Hamilton. Virou para mim e disse: — Dois taquitos e um pedaço de bolo de banana? — Da marca Pepper Jack. — Vou fazer isso. O parei antes que saísse. — Na verdade, traga quatro. — Dei uns tapinhas no meu estômago e sorri.


— Desejos por simpatia. Uma vez que o rapaz se foi, Robin começou a rir. — Sério, ele irá comprar? — OH, sim. Também será rápido. Robin negou com a cabeça dizendo: — Não tinha que fazer isso. — Mas não pôde ocultar sua diversão. — Ah, não se preocupe com isso. Será pago. Além do que provavelmente acabo de fazer todo seu dia. Agora terá a oportunidade de ir para casa e contar a sua família, que chegou a conhecer Kyle Hamilton e que nós gostamos de taquitos e bolo. — Quando Robin me lançou outro olhar incrédulo, sorri. — Há vantagens em ser um superstar. — Suponho que sim. — Robin se esticou e fechou os olhos. — Infelizmente, me subornar com comida não vai conseguir que te libere. Vamos, fale. — É pior que Cara. — Ri e decidi que perdi a batalha. — Não há nada demais. É estúpido. Robin deu de ombros. — Mas está te incomodando. — Bom, sim, me incomoda. Vivemos separados por seis horas e não falamos de como vamos trabalhar isso, essa distância entre nós e como vamos agir partir daí. A bola estava em seu campo e ela não disse nada. Estive ausente por três dias e ainda não tocou no assunto. Normalmente não sou carente ou perseguidor, é que ela está sempre tão ocupada. E se não puder


lidar comigo por um mês? Fiquei surpreso por admitir tudo isso. Me sentia como um idiota, mas Robin não riu. Permaneceu em silencio durante um minuto, então deixou escapar um longo suspiro. — Não vou mentir, isso sempre vai ser um problema com Val. Ela e eu não estamos tão unidas como estávamos acostumadas no segundo grau. Continuamos sendo boas amigas. Nos falamos pelo Facebook, a vejo algumas vezes por ano e assumi tudo do V é por Virgem para ela, quando foi para a universidade, então continuo trabalhando um pouco com ela. Sei como opera. Sempre está ocupada, sempre tem muito em seu prato. Vive horas em seu tablet. É provável que sempre tenha que competir por seu tempo. Franzi a testa. Não acreditava que esta garota faladora me fizesse sentir melhor? Não era por isso que as mulheres sempre eram tão insistentes em falar? — Mas — disse Robin vendo a expressão em meu rosto — ela sempre estará lá quando precisar. E tem uma forma de fazer funcionar o impossível. Acredito que o surpreenderia. Não podia ignorar a sinceridade na voz de Robin, de fato, fazia com que me sentisse melhor. Robin conhecia Val e se pensava que funcionaria então eu também teria fé. Justo nesse momento, escutei uma porta bater e um par de sapatos de salto estalar pelo chão, a toda pressa. Isso fez com que o sorriso de Robin aumentasse até que escutei Val gritar: — Estou aqui! Sinto muito! Houve um acidente no


Grapevine. O tráfico na estrada foi interditado durante quase duas horas. O que se pode fazer? Virei para Robin, me sentindo um pouco traído. — Sabia todo o tempo que ela viria? Robin riu, desfrutando muito de meu estado de choque. Bateu na minha perna e piscou para mim, enquanto levantava de sua cadeira. — Eu sabia disso. Me deixou sentado ali, desconcertado e correu para Val. Se abraçaram e conversaram durante um minuto antes que Robin apontasse em minha direção e Val me visse. Minha boca devia continuar caída, aberta, porque Val franziu os lábios em um intento de não sorrir. Me levantei para cumprimentá-la e a encontrei no meio do caminho. — Olá. — Houve uma pitada de insegurança em sua resposta. — Surpresa? Ainda me sentia um pouco aturdido enquanto a atraía em meus braços e dava um beijo rápido. — Veio para fazer a entrevista comigo? — Minha incredulidade começava a se fundir com gratidão e por fim consegui um sorriso. — Na verdade... — vacilou, tomando seu lábio inferior entre os dentes. — Bryce me convenceu em tirar o verão livre. Meus pais me


disseram que podia ficar com eles até que comecem as aulas. Estavam muito animados. Não podia acreditar no que disse. — Deixou seu trabalho? Encolheu os ombros, como se não fosse nada, mas suas bochechas ficaram cor de rosa. — Estive treinando uma substituta, de qualquer maneira, porque sabia que teria que entregar a organização uma vez que começasse o curso de pós-graduação. Simplesmente entreguei um par de meses antes do tempo. Honestamente, é bom ter um descanso. Esperou uma resposta, mas não sabia o que dizer. Continuava imaginando um gigante planejamento do dia com a totalidade de sua programação apagada e substituída com a palavra "KYLE" em grandes letras maiúsculas. Quando não pude falar, começou a divagar. — Ainda haverá algumas conferências telefônicas se precisar e tenho algumas coisas de dama de honra para o casamento de Stephanie que vou ter que... A interrompi com um beijo. A mulher acabava de renunciar o seu trabalho por mim. Precisava dela em meus braços. A trouxe mais perto e a beijei até que ela derreteu. Me olhou com seu rosto vermelho, com um sorriso tímido. — Então, está tudo bem que viesse? — Está tudo bem que minha namorada queira passar seu verão na mesma cidade que eu? — Fingi pensar nisso.


— Acredito que vou sobreviver. Seu sorriso se tornou mais seguro. — E está tudo bem se hoje compartilhar o centro das atenções com você? Tantas pessoas entraram em contato comigo depois dessa aventura em frente à minha casa; pensei que fazer uma entrevista juntos ajudaria a responder muitas perguntas. Quando Robin mencionou isso para seu pessoal, pareciam muito empolgados. — Primeiro rouba meus fãs, e agora quer assumir a minha entrevista? — disse, com um suspiro brincalhão. — E depois diz que eu sou um faminto por atenção? Val revirou os olhos e não pude evitar beijá-la de novo. — Obrigado por vir. A primeira coisa que fizeram foi nos sentar, Val e eu, para uma entrevista em que anunciaríamos que estávamos saindo oficialmente. Expliquei que deixei o sexo por ela e que faria parte da equipe com a campanha V é por Virgem e com a fundação "Nem todo mundo Está Fazendo". Mostrei meu bracelete, contei sobre a porcentagem das vendas do álbum que estaria doando e inclusive cantei "Vale à pena esperar". Logo houve uma breve sessão de perguntas e respostas. A maioria das perguntas foi dirigida a Val. O que pensava da música. Como se sentiu quando nos encontramos. Como eu consegui finalmente conquistá-la. — OH, isso é fácil — disse. — Me convenceu quando vi as fotos de quatro anos atrás


depois que foi apelidado o Homem Vivo Mais Sexy desse ano. Val fingiu se abanar e todos da sala caíram na gargalhada. Ri com eles, mas por dentro me surpreendeu. Em todos os anos que a conhecia, ela nunca me paquerou. Eu a paquerava, tudo o que fazia era atacá-la, mas ela nunca correspondeu. Nem mesmo uma vez me disse que pensava que eu era bonito. Sabia que se sentia atraída por mim, porque sempre respondia a um nível físico, mas nunca admitiu em voz alta. — Mas a verdade é que — disse, quando as risadas acalmaram, — não estou certa de quando me convenceu. Olhou me contemplando e sacudiu ligeiramente a cabeça quando disse: — Ele me deixou tão louca, mas de algum jeito, eu gostei dele desde a primeira vez que nos vimos. Debaixo do ego, há um homem incrível. É apaixonado e centrado. Somos iguais nessa forma; simplesmente sempre tivemos nossos olhos em diferentes prêmios. Ainda me deixa louca às vezes, mas agora que o tema do sexo não está em nosso caminho — encolheu os ombros e ruborizou, — é um pouco difícil de resistir. Val sorriu e devolvi o sorriso, tentando com todas as minhas forças ocultar o fato de que lutava com emoções inesperadas. Este era um lado dela que nunca me mostrou antes. Sabia que se preocupava comigo e que era assim com os outros, mas pessoalmente nunca experimentei a elegante e carinhosa Val, que estava muito bem e tinha um alto conceito de mim e me complementava. Até agora, sempre esteve em guarda


comigo. — Está muito calado, Kyle. A declaração foi mais uma pergunta e vinha de alguém sentado na multidão. Me perguntava quanto tempo estive sentado ali, só olhando. — Estou um pouco surpreso — brinquei. — Não estou certo de quem é esta incrível mulher sentada ao meu lado, ou o que aconteceu com a sarcástica garota na defensiva de quatro anos atrás. Val apertou minha mão e com uma voz cheia de sinceridade do coração, disse: — Ela cresceu. Algo bateu em meu peito e me fez sentir como se não pudesse respirar. Teria que terminar a entrevista depois disso porque Val fez com que tudo se retorcesse em meu interior. Me filmaram assinando a promessa oficial de abstinência V é por Virgem e apresentei o certificado a Val. — Pegue — disse, atuando como se tivesse assinado minha vida e estivesse sendo jogado em uma cela da prisão. — Estou oficialmente na abstinência. Você ganhou. Ela brilhava de uma maneira que nunca vi, aceitando o documento com minha assinatura. Sorriu para o papel, e logo jogou os braços ao redor de meu pescoço e me beijou. — E eu sou oficialmente sua — disse, — então suponho que suas vontades também foram atendidas. Depois da entrevista, enviaram para longe toda a imprensa,


tiraram uma série de fotos de Val e eu, com ela levantando seu colar V e eu mostrando meu bracelete A. Fazia um monte de sessões de fotos através dos anos, mas nunca tive tanta diversão em uma como com Val, nesse dia. Estava acostumado aos fotógrafos loucos, mas ela não. Cada vez que o cara pedia que olhasse nos meus olhos e então saltava a nosso redor nos gritando instruções como "Estamos tão felizes! Estamos tão apaixonados!" ou "Agora somos sexy! A abstinência é sexy!", Val perdia sua compostura. Acredito que o pobre fotógrafo estava disposto a estrangulá-la depois da sexta vez que se perdia em um ataque de risada. Várias horas depois, se deu por vencido, a declarando um caso perdido e disse que se as imagens ficassem terríveis, não era culpa sua. Assegurei que estariam perfeitas. Sentia como se logo depois de todo este tempo, finalmente estivéssemos preparados, era capaz de ter Val toda para mim. Era muito cedo para o jantar, então decidimos deixar nossos carros estacionados no estúdio e dar um passeio. Não era como o centro de Burbank que é especialmente emocionante, mas sempre era uma boa ideia, estar longe dos lugares turísticos e fazia um lindo dia. — Então — perguntei enquanto caminhávamos pela rua de mãos dadas — Vai ficar com seus pais, enquanto está aqui? Continuam em Huntington Beach? Val assentiu com ar ausente.


— É sua casa. Suspirei e Val me jogou um olhar de soslaio. — Por quê? Onde mora nos dias de hoje, Mulholland Drive? Fingi estar ofendido pela hipótese, mas era difícil de acreditar quando tive que responder: — Sobre o PCH em Malibu. Val bufou brandamente e sacudiu a cabeça. — É claro que sim. — O que? É um lugar muito agradável. Começou a rir de novo. — Estou certa que é. — Também é um trajeto muito longo de carro desde Huntington Beach. Suspirou um pouco quando reconheceu meu ponto. E respondeu com: — É melhor que Sunnyvale. — É, com certeza. — Levei a mão de Val a meus lábios. — Fico feliz que esteja aqui. Obrigado por vir. Achamos um mercado de agricultores e tomamos nosso tempo vagando pelas diferentes bancas dos vendedores. Val estava interessada em assistir. Baixei meu boné até os olhos e fiquei bastante tranquilo, feliz de me misturar na multidão, mas Val interagiu com quase todos que cruzava. Parou para embalar um bebê, acariciar um cão, sempre conversando com os estranhos, fazendo perguntas ou elogios que

pareciam

sinceros.

Falou

com

todos

os

diferentes


vendedores, sobre seus prêmios ganhos com os tomates ou perguntando como foram seus cultivos este ano. Era um raio de sol, que deixava um rastro de sorrisos por onde quer que fosse. Nunca conheci alguém como ela. — Deveria ficar comigo — espetei de repente enquanto comprava um copo de limonada de uma jovem que vendia em um carrinho vermelho junto ao posto de frutas de seus pais. Ainda se encontrava de cócoras diante da menina, mas me olhou e arqueou uma de suas sobrancelhas. — Algumas vezes, pelo menos — insisti. Esperei enquanto Val pagava a menina, a elogiava por sua excelente limonada e disse que ficasse com o troco. Deu um passo atrás e encontrou meus olhos com um olhar sério. — Não acredito que seja uma boa ideia, Kyle. A puxei para a próxima banca e fora do alcance dos ouvidos dos outros, antes de sussurrar: — Não é como se tivesse que dormir comigo. Poderia inclusive ter seu próprio quarto. Isso economizaria tempo dirigindo Ficou em silêncio por um minuto. Quando finalmente negou com a cabeça, meu coração se afundou em decepção. — Sinto muito, Kyle. — Não confia em mim? — Não, absolutamente. — Val riu de meu rosto franzido. — Não tenho dúvidas de que faria coisas como andar sem camisa pela casa, parecendo todo sexy e tentador, tentando me


deixar louca de propósito. Não é o único que não confio aqui, senhor. Posso ser a mais forte dos dois, mas meu controle tem seus limites. Minha estadia em sua casa seria um choque de trens a ponto de ocorrer e você sabe. Estava surpreso pela repentina mudança da conversa e pela fragilidade que admitiu. Era triste e emocionante sua confissão. Parei e a aproximei de mim, passando os braços ao redor de sua cintura. — Sinto muito. Tudo o que ouvi é que me imaginou sem camisa sendo completamente sexy e tentador. Rolou os olhos, mas riu. — Como se fosse uma notícia de primeira página? — É para mim. Não me dava conta de que tinha hormônios. Ela riu de novo. — Sou virgem, mas continuo sendo humana e uma mulher. Não há uma mulher heterossexual no mundo que não o acharia sexy e tentador, por estar sem camisa. — Certo. — Meu sorriso egocêntrico fez ato de presença. — Eu coloquei o "abs" em "Abstinência"3, não? Val me olhou, sem falar por um momento e então colocou a mão sobre seu rosto e negou com a cabeça. Tentou não rir, mas não pôde lidar com isso.

3

Trocadilho com abdominais.


— Nunca deixa de me surpreender — disse enquanto me dava outro olhar que sugeria que era ridículo e comecei a caminhar de novo. Juntei nossas mãos e a senti ainda tremendo de risada. — Tenho uma ideia — disse. — Vamos para praia. Me deu outro olhar. — Praia? Sério? Assim pode andar em nada mais que seu traje de banho? Quanto mais precisa para alimentar seu ego? — É uma brincadeira? — Sorri. — Agora que sei que tirar minha camisa ficará quente e molhada, estou tentado me despir aqui e agora. — E é exatamente por isso que não vou ficar a noite em sua casa. Nunca. Tentei fazê-la se sentir culpada com minha cara mais convincente, mas só riu e deu a volta na direção em que originalmente vínhamos. — Vamos, vamos voltar. Prometi a meus pais que jantaria com eles esta noite.


V é por Vídeo

Val passou os próximos dias em Huntington Beach com seus pais, e se reuniu com seu meio irmão pela primeira vez na sexta-feira, mas viajou para Los Angeles no sábado para me ver filmar o vídeo de "Vale a pena esperar". Estava muito emocionado pelo vídeo. A canção era genial, tínhamos Carlos Gutierrez como diretor, quem fez mais vídeos número um que qualquer diretor na indústria da música, e a atriz mais sexy e premiada atuando como protagonista. Já que Cara fez o vídeo de "Verdadeira lástima", pedi que fizesse este também. Era uma excelente atriz e muito bonita. O vídeo ia ser assassino e o entusiasmo no set era alto. Quando cheguei, Cara já filmava suas cenas sozinha. A colocaram em frente de uma máquina de vento, muito quente em

uma

camisa

masculina. Me juntaria a


ela logo que me vestissem e maquiassem. Shane se encontrava a um lado, observando enquanto bebia uma caneca de café. Fui até ele e dei uma palmada brincalhona nas costas. Olhei de esguelha a Cara por um momento e disse: — Homem, amo meu trabalho. Shane me lançou um olhar de soslaio. — Imbecil. Ao menos poderia fingir que não está emocionado por passar o dia na cama com minha esposa? Para o vídeo, foram com o conceito de um Kyle solitário na cama, com minhas fantasias. Minha garota estaria aí, me espreitando em sonhos e logo despertaria sozinho. Artisticamente, pegava perfeitamente com a canção e seria grandioso. Significava que estava a ponto de passar o dia, sem camisa, com Cara sobre mim, me beijando, enquanto não usava mais nada que minha camisa. — Será um dia horrível de trabalho — disse sem expressão. Shane sacudiu a cabeça, mas seus lábios se curvaram em um sorriso. — Embora ela seja sexy, não? Acredita que possa conseguir levar para casa uma dessas máquinas de vento? Ri e olhei meu telefone. Val disse que viria em algum momento antes do almoço, mas estava preparado para vê-la agora. Quem pensaria que três dias sem vê-la seria tão difícil? O pior era saber que ela estava perto e não tivemos a oportunidade de estar juntos.


— Me pergunto quanto tempo levara a filmagem de hoje. Val quer jantar com vocês depois, mas também preciso de um momento a sós com ela esta noite e a mulher se recusa a ir comigo para casa. Pode acreditar? Inclusive ofereci o quarto de hóspedes. Me disse que não confiava em mim. Shane bufou. — Isso é o que acontece ao sair com uma mulher inteligente. Ela vê além de toda sua merda. — Ouça, poderia manter minhas mãos para mim mesmo. Shane tomou outro gole de seu café e logo disse: — Conto com isso hoje, amigo. — Deu uma palmada no meu estômago com o dorso de sua mão, forte o suficiente para me tirar o ar — Não faça nada, que me faça socar seu rosto. — Que demônios! Acaso ninguém confia em mim? — Eu sim — disse Cara, se aproximando de nós. Saltou nos braços do Shane, entrelaçando suas pernas nuas ao redor de sua cintura — Olá, amor. Não fique ciumento. Kyle só consegue me ter em seus sonhos. Você me tem na vida real. — O beijou, logo virou com um sorriso malicioso. — Terminei com minhas cenas solo. Preparado para realizar sua fantasia psicótica? Olhei meu jeans e a camiseta que coloquei e dava a ela um grande sorriso brega. — Claro, só me deixe pôr algo cômodo.


— Por favor, me diga que não utiliza essa cantada na vida real. — Não seria o Grande Sedutor de Animadoras, se não tivesse melhor material que esse — ofereceu Shane sendo de ajuda. Ri todo o caminho até o armário, onde me deram um par de calças pijama e me empurraram dentro de um vestiário. Logo, fui atacado por barbearia e maquiagem. Não acreditaria todo o produto que se precisa para dar um look "sexy de cama". Pelo menos usaram pouca maquiagem. Devia admitir que utilizava bastante delineador para um espetáculo, mas parecia um idiota com isso quando se acreditava que estaria dormindo. A manhã passou rápido. Todo mundo estava de bom humor, Cara era uma boa atriz, e Carlos disse que Cara e eu tínhamos

boa

química,

tanto

que

Shane

me

ameaçava

substituindo o rosto de Rico com o meu em seu tiro ao alvo. Tudo funcionava sem problemas e passamos pelas cenas com rapidez. Fizemos as cenas mais fáceis e por último chegamos às mais difíceis. Para esta, Cara tinha que se arrastar pela cama até que estivesse sentada sobre meu colo. Tinha que beijar meu peito e eventualmente chegar até meus lábios. Tudo era lento e sensual e tão, tão quente. Depois de uma cena particularmente quente, Carlos gritou: — Corte! — E a gente aplaudiu — Essa é a escolhida, definitivamente! — anunciou Carlos — Acredito que temos tudo o que precisamos. Agora só


temos que tomar um segundo ângulo. Podem ficar quietos por um minuto enquanto os enquadramos? Pode ficar dez. Olhei para Cara e sorri. — Belisca meu braço. — E você, Cara? — perguntou Carlos — vai ficar bem assim por uns minutos? Suas pernas não adormecerão? — Minhas pernas estão bem — respondeu. Piscou para mim e acrescentou: — Posso pensar em piores posições nas que estive parada. Do outro lado da sala, Shane grunhiu: — Isso é tudo. Cara não vai fazer outro vídeo para você. Imbecil! Cara e eu rimos. Sabia que fomos maus, mas Shane era muito fácil de incomodar. — Não se preocupe, baby — disse Cara — Teremos um descanso em um minuto e deixarei ensinar a Carlos o que é química de verdade. Kyle é lindo e tudo isso, mas não é nada comparado com você, amorzinho. — Assim é, baby! — respondeu Shane — ainda bem que reconhece. Kyle possivelmente seja o líder da banda, mas eu sou o que tem as habilidades reais. Ele foi aí. Não podia deixar passar. — Ouça, Shane, alguma vez escutou a piada do violonista principal que estava em sintonia? — Não. — Bom, eu também não.


Cara golpeou meu peito. — Isso foi lamentável — disse, mas também ria. Do outro lado da sala, Shane me atirou o dedo médio. — Como sabe quando um cantor está tocando a sua porta? — perguntou — Não pode encontrar a chave e não sabe como entrar. — Obrigado, imbecil. Não estou certo se foi minha brilhante resposta ou a brincadeira a que fez com que todos no set rissem. Mas ao menos Shane estava rindo. Cara e eu gostávamos de incomodálo, mas não queria pressioná-lo muito. — Parece que há uma festa aqui! Sorri como um idiota ante o som da voz de Val. — Por fim. Percorri a sala com meus olhos e observei a Val cuidadosamente vindo através do estúdio, escoltada por um assistente. Estava vestida em outro traje lindo, desta vez com uma calça em vez de uma saia e que o fazia difícil caminhar através do mar de cabos em seus saltos. A ponta de seus sapatos ficou presa em um cabo e ela cambaleou. Sorri. Se não tivesse visto a Val fanática do Beisebol, me perguntaria se ainda possuía um par de jeans. Cara fez um som de surpresa. — Convidou Val para isto? — Por que não faria? Ela disse que queria vir. Cara me olhou como se fosse o maior idiota do planeta. — E não podia ter convidado ontem quando só filmaram


você e à banda em um cenário? — Eu convidei, mas ela tinha que fazer algo com sua família biológica. Não estava contente por perder a filmagem, disse que hoje também filmaríamos. Não pensei nisso. Só disse que viesse. Cara sacudiu a cabeça. — Bom, te desejo sorte, idiota. Vai precisar. — Sim, claro. Val entenderá. É trabalho. Ela sabe. Cara não parecia convencida. — Suponho que estamos a ponto de saber — Forçou um grande sorriso em seu rosto e disse: — Val! Veio! Estou um pouco surpresa de te ver aqui — me deu outro olhar que sugeria que era um completo imbecil — mas estou contente que veio. Val finalmente nos encontrou e parou cambaleando. O assistente teve que alcançá-la para manter de pé. — Olá, doçura. Poderia ter usado tênis — burlei — Hollywood geralmente mantém a área de trabalho bastante casual. Val pestanejou entre Cara e eu e logo inalou. — Suponho. — Suspirei quando sua cara empalideceu. — Suponho que deveria haver dado alguma advertência, certo? Val tragou em seco e sua voz ainda falhava um pouco quando disse: — Provavelmente seria bom.


— Nem avisou? — disse Cara entre dentes. — Não pensei nisso. — Idiota. Dei um olhar mau a Cara e voltei minha atenção a Val. Era difícil ver seu rosto, porque os flashes começaram a disparar em minha cara enquanto um par de pessoas revoavam a nosso redor, provando a nova equipe de iluminação. — Sinto muito — disse — Terminará em um segundo, logo terei alguns minutos para mostrar o set, tudo bem? Val assentiu e deixou que o assistente a arrastasse até encontrar uma cadeira sem dizer uma só palavra mais. — Definitivamente vai te deixar — murmurou Cara. Antes que pudesse responder, o Diretor de Fotografia disse a Cara e a mim que podíamos nos levantar. Praticamente a empurrei de cima de mim e tinha a Val em meus braços antes que ela pudesse se sentar. — Ouça — disse, a devorando para dar um beijo — Estou contente de que esteja aqui. O beijo que me deu foi amável e seu sorriso era um pouco forçado. A preocupação enrugou minha testa e a apertei mais forte contra mim. — Lamento muito ter esquecido de te avisar sobre hoje. Nem pensei nisso. Só estava emocionado porque viria. Está bem? — Sim, é claro — disse.


Não tinha certeza se acreditava, mas ela tentava ser valente. Não tinha a intenção de que acontecesse nada disso, mas depois de um momento me dava conta que era algo bom. Infelizmente, isto era parte de meu trabalho. Eu não fazia tão frequentemente como Cara, mas de vez em quando sim. Quanto mais cedo Val fosse exposta a isso, menos incomodaria. Shane também não gostava, mas lidava com isso. — Tem certeza de que está bem? Assentiu. — Estou bem. Só foi uma surpresa. — Bom, me deixe te mostrar algo então, para que não haja mais surpresas. Enrosquei sua mão com a minha e comecei a arrastá-la através da sala a um grande painel de cortiça onde o artista do guia gráfico estava com os esboços para cada cena do vídeo. Cada esboço tinha a correspondente linha da letra da canção debaixo deles. Eram esboços, mas eram suficientes para ajudar a visualizar o projeto inteiro, para saber como ia funcionar tudo junto. — Cara está fazendo o papel da garota da minha fantasia — expliquei — A história é que estou sonhando porque tenho que esperar, então não podemos estar juntos e está me deixando louco. Não posso tocá-la na vida real, por isso me espera em sonhos. Viu como acordo só ao final? Assinalei os últimos esboços e esperei por algum tipo de


reação de parte de Val. Permaneceu calada enquanto olhava os desenhos e morria por não saber o que pensava. A amava, mas esta era sua canção. Queria que ela também a amasse. Embora tivesse odiado "Verdadeira lástima" tanto que temeu ver o vídeo. Queria me assegurar de que isso não acontecesse de novo. Trabalhei muito para encontrar algo que talvez ela gostasse quando me sentei com minha equipe e discuti os conceitos. — Estou muito emocionado a respeito — disse enquanto ela continuava examinando o esboço — É uma rodagem de baixo perfil. Eu fiquei feliz quando eles concordaram em um conceito quase misterioso escondido mais, não apenas sobre o sexo até o ponto do ordinário como em um montão de vídeos musicais. A canção é muito mais que querê-la na cama. É mais profundo, sabe. Ele tenta fazer o que ela quer, mas está lutando. O vídeo vai se centrar na luta. Vai mostrar a emoção da canção. Val finalmente afastou seus olhos dos esboços para encontrar meu olhar, mas mesmo assim não disse nada. Era como se estivesse sem palavras. Sua testa estava enrugada e mordia seu lábio inferior como se algo a preocupasse. — Carlos é um grande diretor — assegurei, adivinhando sua preocupação — Trabalhei com ele. Falamos muito desta canção e do que significa para mim. Entende o que sairá no produto final. Vai ser fantástico. Nada a julgar, prometo. Será só para maiores de treze anos.


Val tragou e logo forçou outro sorriso. — Você não gosta? — disse tentando não deixar que isso me decepcionasse. Sacudiu a cabeça rapidamente forçou mais entusiasmo em seu rosto. — Eu gosto — disse — Estou certa de que será um vídeo estupendo. — Então o que está acontecendo? Algo não está certo. — Nada. Prometo. Somente esperava... algo diferente. Pensei que haveria uma banda e luzes e máquinas de fumaça. Esperava te olhar cantar a canção tantas vezes seguidas que estaria sonhando com isso por um mês. Ri e a puxei para meus braços, aliviado de que ela só estivesse decepcionada porque não me escutaria cantar. — Isso foi ontem, mas se estiver tão desesperada por escutar a canção, chamarei os meninos e os farei tocar para você. Por fim me deu um sorriso genuíno e se apoiou contra mim, deixando que a sustentasse por um minuto. Deixou cair sua bochecha em meu ombro e suas mãos foram ao redor de minha cintura. O momento em que se deu conta de que eu não usava uma camisa e de que ela tocava minha pele nua, se afastou. Passou um batimento do coração e logo, lentamente, deixou que seus dedos passassem por minhas costas. O delicado toque me prendeu em fogo, me acendendo de dentro para fora. Era uma loucura, o toque mais simples de parte de Val me afetava em maneiras que toda uma legião de animadoras nunca


poderia. Suprimi um calafrio e forcei as minhas mãos a se comportarem. Embora não pude evitar como meu aperto a seu redor aumentou e eventualmente simplesmente tive que beijá-la. Retornou o beijou com mais entusiasmo de que esperava, levou todo o meu autodomínio para não tomá-la em meus braços e

atirá-la

na

cama

do

quarto.

Felizmente,

Carlos

nos

interrompeu antes que isso acontecesse. — Esta deve ser a musa — disse, reprimindo uma risada. Com orgulho, empurrei a Val para ele. — A única. Estava tendo uma recarga de inspiração antes de começar a filmar de novo. Carlos riu e assinalou para uma esquina do quarto. — Isso deve ser o que Cara está fazendo também. Val e eu seguimos seu olhar onde Cara atacava Shane. — Não — ri — Esses só são Cara e Shane. Sempre são assim. O nariz do Carlos se enrugou e isso me fez rir ainda mais. — Bom — disse — Deixarei que você os interrompa. Estamos preparados para começar de novo. Estamos adiantados. O conselho geral nos fará pular o almoço para que terminemos cedo. Acredito que poderemos terminar por volta das três. — Parece bom para mim — olhei Val — Você se importa? Ela sacudiu a cabeça. — Só se não se importar que convide a Robin e o Alan, para


que nos acompanhem para o jantar. Ela ligou e disse que Celebrity Gossip enviou o rascunho sobre nosso artigo. Queria nos mostrar. — Está bem — concordei. — Avisarei os outros — apressou-se Carlos. Val foi de novo a sua cadeira, mas não a deixei escapar. — Já que estamos negociando — disse, a trazendo de novo a meus braços, — irei jantar com todo mundo se estiver de acordo em ir comigo depois, só nós dois. Val parecia pensar nisso. — Suponho que posso fazer isso. Se tiver que fazê-lo. Minha ansiedade se desvaneceu com sua brincadeira. Se ela brincava, então estaria bem. A apertei em meus braços e me inclinei para beijá-la no ponto suave detrás de sua orelha. — OH, sim — sussurrei —realmente deve fazê-lo. Quando meus lábios tocaram sua pele, o calor percorreu meu corpo. Arrastei minha boca por seu pescoço e para sua mandíbula. Estava a segundos de fazer algo inapropriado, mas não podia me controlar. Tudo dentro de mim doía com o desejo. Meu peito estava pesado enquanto lutava por manter o ar em meus pulmões. Devorei o pescoço e beijei sua clavícula. — Kyle, pare — ofegou — Estamos em público. Pôs as mãos contra meu peito. Acredito que tentava me afastar, mas seus dedos se enroscaram contra minha pele, me excitando ainda mais.


— Sinto muito — disse, reprimindo o gemido — As cenas quentes como está sempre me fazem acumular tesão. As mãos de Val se esticaram em meu peito. — Está excitado? — Riu entre dentes, baixo e gutural. — Não sou o único. Viu Cara? Ao menos ela teve uma via de escape o dia todo. — A apertei mais contra mim — Estive morrendo por estar com você por horas. Mais tarde precisarei de ajuda para me liberar deste tesão. Embora, definitivamente vamos precisar da regra da fita adesiva, não há maneira de que possa manter minhas mãos longe de você. Não podia manter as mãos longe dela agora. Neste momento vagavam sobre tudo o que não me faria ser esbofeteado. — Agora pensando bem, talvez as algemas possam ser mais seguras. Não se preocupe, tenho um par que pode usar. Aparentemente, a pressionei muito com as algemas porque ela se desinflou em meus braços. — Só se apresse com isto e terminamos — disse, me empurrando para o set. Ainda bem que me afastou, porque não teria força de vontade para fazer por mim mesmo.


N é por Necessitado

Essa noite estava no sétimo céu. A filmagem saiu 127% melhor que qualquer outra que tenha feito, e então consegui sair com meus melhores amigos e Val. Quando me sentei com ela no restaurante na Pasadena, onde nos encontramos com Robin e seu marido, aproximei-a mais a mim e sorri a Cara e Shane. Desde que coloquei o bracelete e comecei a escrever de novo, minha relação com Cara e Shane voltou a ser como era antes da morte de Reid de maneira constante. Não me dava conta de quanta saudades senti do meu melhor amigo até que o recuperei. Era como se os últimos anos da minha vida transcorressem em branco e negro, só que não sabia até que Val trouxe de repente tudo de novo à tona. — Sabe, isto é o que sempre quis desde o dia em que se reuniram pela primeira vez — disse, fazendo um gesto ao redor da mesa


— Os quatro saindo juntos. — Eu também — concordou Cara — Tentei fazer com que acontecesse tantas vezes. — Enviou a tentativa de um sorriso a Val — Fico feliz que esteja aqui. Nunca parecia certo sem você. O sorriso com a que respondeu era tímida e me deixou triste. Cara e eu sempre tivemos a mesma visão, mas Val nunca a quis. Tentar impor este quarteto foi o que, finalmente, destruiu a relação de Cara e Val. Sua nova amizade era ainda mais frágil que a nossa. Tentavam reconstruí-la depois de estar completamente estranha. Funcionava até certo ponto, mas as coisas não seriam iguais nunca mais. Não eram unidas nem eram tão cômodas uma com a outra como antes. Não podia ter certeza se alguma vez estariam de novo. Me senti terrível pela tensão entre elas e desejei que Robin e seu marido não se reunissem conosco para almoçar e então pudessem ter mais tempo para arrumar as coisas corretamente, mas não podia dizer o mesmo de Val. Sabia que lutava por dar sentido a esta nova vida que estava vivendo. Imaginei que incluir Robin era sua maneira de fechar a brecha. Não estava completamente seguro disso antes, a forma em que saltou e agarrou a Robin em um abraço quando chegou, demonstrou. Era como vê-la agarrar desesperadamente um salva-vidas em meio de um mar enfurecido. Ficou tão aliviada quando chegaram Robin e seu marido. A pergunta que me


incomodou foi: por que se sentia tão incômoda que precisava de uma salvação? — Quando me enviou a mensagem de texto com a localização, pensei que era uma brincadeira. Uma estrela de rock e uma estrela da televisão almoçando em Coco's, as quatro da tarde? — disse Robin enquanto se deixava cair em uma cadeira — Não é que me queixe. Eu gosto de seu bolo. Ri. Val teve a mesma reação também. — Não há muitos lugares aos que uma estrela de rock e uma estrela da televisão possam ir sem serem reconhecidos — expliquei — A população de sessenta e cinco anos ou mais não são nossos seguidores. Bom, não meus, de todos os modos. A senhorita Durante o Dia aqui, provavelmente corre o risco de ser apanhada pelas anciãs. — Ciúme de minhas anciãs, Kyle? Não sabia que tinha algo pelos dentes postiços e o perfume com essência de rosas. Val limpou a garganta, nos tirando, Cara e a mim, de nossas brincadeiras. — Meninos, todos conheçam Robin e seu marido, Alan. Alan, eles são Kyle, Cara e Shane. Seguia estranha, então decidi pôr em prática minhas melhores maneiras. Fiquei de pé e estendi a mão a Alan. Deu a mão e saudou todos, foi educado, mas estava sem dúvida cauteloso de nosso grupo. Não podia culpá-lo se parecia muito ao homem do sonho americano dos subúrbios. Sua linha do


couro cabeludo ia retrocedendo ligeiramente, tinha uns quilos a mais ao redor da cintura, e apostaria dinheiro que usava uma camisa branca e gravata ao escritório todos os dias. Não é que houvesse nada mal nisso, mas era tão completamente oposto ao mundo no que vivíamos Cara, Shane e eu. A diferença entre nós era dolorosamente óbvia e tentei ignorar o fato de que Val parecia ter muito mais em comum com o Robin e com ele, do que com qualquer um de nós três. As coisas foram bem incômodas, mas ao menos a garçonete chegou para pegar nossos pedidos com bastante rapidez, rompendo um pouco a tensão. Quando perguntou a Robin, me surpreendeu ouvi-la dizer: — Nada para mim, obrigada! — Não pedirá nada? — Soltei. Não vi a mulher grávida sem comida na mão desde que nos conhecemos. Começou a rir e disse: — Meu estômago está um pouco estranho. Não estou tão faminta, então comerei um pouco do espaguete do Alan. — Não, não vai — disse ele. Levantou a vista para a garçonete e disse: — Nos traga dois pratos de espaguete. Robin franziu a testa. — Amor, não preciso de um prato. — Sim, precisa. Gosto de comer meu almoço e se não pedir o teu, comerá todo o meu. — Não, não o farei.


— Sempre faz. — Olhou à garçonete de novo e levantou dois dedos — Dois pratos de espaguetes. — E o bolo de nata de chocolate. — Nada de bolo — disse Alan com severidade, ganhando outra testa franzida de sua esposa. O olhar azedo o fez mudar de opinião. — Sabe o que o doutor disse.

Está perto de ter diabete

gestacional. Nada mais de doces. — "Perto" não é ser diabética — grunhiu Robin. Alan negou com a cabeça à garçonete. — Nada de bolo, obrigado. Só os espaguetes. — Dois pratos — respondeu a mulher com um sorriso. Não sei do que ria. Observar Robin e Alan era como ver uma partida de ping pong vertiginoso. Se permanecerem assim a noite toda, me dariam uma dor de cabeça. Não podia deixar de me perguntar se Shane e Cara terminariam assim. — Então — disse Robin alegremente depois que a garçonete se retirou. Sorriu como se a discussão com seu marido não tivesse acontecido — Aproveitando suas férias, Val? — Riu como se acabasse de fazer uma brincadeira divertida. Não entendi. Gemeu. — Me conhece. Robin riu, mas meu rosto fez um beicinho. Perdi a piada. Outra pessoa que a conhecia muito melhor que eu. Isso não era uma boa sensação.


— Querem nos explicar o resto, garotas? — OH, não é nada. — Se apoiou em meu ombro e me apertou a mão, o que fez com que relaxasse um pouco — Só que fico inquieta às vezes. — Às vezes? — riu Robin — A mulher não pode ter férias. É completamente incapaz. Permaneceu aqui durante quatro dias inteiros, o que significa que está a ponto de enlouquecer por não ter nada o que fazer. Estava bastante seguro de que franzi a testa de novo. — O que quer dizer com nada que fazer? — perguntei. — Sua agenda esteve tão cheia que tive que esperar três dias para que voltasse a me ver. — Visitar a família e ficar em dia com velhos amigos é grandioso, mas ainda é muito... ocioso. Além disso, terminei de ver todos, então minha agenda agora está completamente vazia, mas não posso me sentar durante muito tempo. Sem um trabalho ou a escola, precisarei de algo para fazer este verão. — Pensei que eu era esse algo, que fazer este verão. Quando ambos, Cara e Shane riram e Val me deu um olhar inexpressivo, tive que pensar de novo no que disse. Sorri pela insinuação não intencional. — Isso nem é o que quis dizer. — Dessa vez — brincou Cara. A olhei e levei sua mão a meus lábios. — Pensei que veio aqui para passar um tempo comigo. Sorriu como se eu parecesse completamente adorável. Não


foi condescendente, mas, mesmo assim, me incomodou um pouco. Me fez sentir como se agradasse a um menino chorão. — Assim é — prometeu — Teremos um montão de tempo para estar juntos, mas estará ocupado durante o dia. Seus ensaios para a turnê começarão logo e terá muitas aparições na imprensa devido ao seu novo álbum. — Mas pode vir comigo a todas essas coisas. Será divertido. Como hoje. Seu sorriso se desvaneceu. — Acha que hoje foi divertido? — perguntou em voz baixa. — Não se divertiu? — Estava tão confuso. Minha pergunta fez que o sangue se drenasse de seu rosto mas, por minha vida, não sabia qual era o problema. Hoje não só foi divertido; mas sim incrível. Um dos melhores dias que tive em muito tempo. — Kyle, hoje foi... — mordeu o lábio, como se não quisesse dizer o que pensava e logo trocou sua frase. — Não posso só te seguir a toda parte durante todo o verão, sentada pelos arredores durante horas enquanto faz suas coisas. Me aborreceria até chorar. Não era egoísta, mas me sentia como se tivessem me esbofeteado e esqueci tudo sobre o fato de que evitou por completo a pergunta que fiz. — Acredita que o que faço; minha música, te aborrece? — É obvio que não — disse rapidamente. Beliscou sua


testa como se estivessem provocando uma dor de cabeça. — Só quis dizer que não poderei ajudar. Não poderei participar. Você estará ocupado e eu só sentada. Ir a um ensaio geral ou a uma entrevista ocasional é uma coisa, mas ver suas entrevistas e ensaios durante todo o verão? Não poderia fazer isso mais do que me sentar em uma praia, lendo e bebendo margaridas todo o verão. Apertou minha mão de novo quando franzi a testa. — Tudo bem que trabalhe, Kyle. Não preciso estar com você cada segundo do dia. Ficarei bem. Só tenho que encontrar algo para fazer. Preciso de um projeto ou algo assim. Não entendia a esta mulher. — Acredita que pedi que viesse a meus ensaios porque estou preocupado por ter que a entreter? — O que outra razão poderia haver para que me arraste ao trabalho com você? — perguntou, desconcertada. Claramente não falamos o mesmo idioma. Parecia tão confusa como eu. — Ah... é só porque eu gosto de sua companhia e a quero ali? Piscou para mim como se estivesse louco. — Kyle, ela não é uma fanática. Giramos para ver Cara reprimindo sua risada. — Terá que perdoá-lo — disse. — Sua última noiva na realidade era uma fanática e se fundiu a seu lado, sempre durante todo o tempo que foram um


casal. Não está acostumado a uma mulher que tem vida própria e que não gira em torno dele. Todo mundo riu da minha cara. Tentei ser um bom perdedor a respeito, mas não estava feliz com isso. Agora me fez lembrar Adrianna, e isso nunca foi algo bom. Agora podia ver todas as razões pelas quais não foi adequada para mim, mas o único que sempre gostei mais sobre ela, era o muito que se importava com a minha música. Foi meu maior apoio durante anos. Esteve sempre a meu lado, me amando e apreciando o que fazia. Val era diferente. Nem era uma admiradora. Desde a primeira vez que a conheci, nunca esteve impressionada com meu trabalho. De fato, me disse em muitas ocasiões que não tomasse como algo pessoal porque simplesmente não importava muito a música em geral. Se tocasse, escutaria, moveria sua cabeça junto com o ritmo pegajoso ou cantarolaria as canções que conhecia, mas não se conectaria da forma em que fazíamos Cara, Shane e eu. Sabia que respeitava meu trabalho. Era feliz por mim. Compreendia o muito que significava para mim, mas não se preocupava com isso pessoalmente. Sabia e aceitei, mas, mesmo assim, me deprimia. Desejava que houvesse uma forma de poder fazer que também o amasse. Esperava que minha nova canção fizesse isso, desse uma conexão real com a música. Disse que adorou e aceitou sair comigo, então talvez ajudou um pouco, mas claramente odiou a


filmagem do vídeo de hoje. Fui tirado de meus pensamentos quando nossa comida chegou, uma distração bem-vinda. Comecei a comer e depois do meu primeiro bocado, Val riu em voz baixa a meu lado. O som tranquilo levantou meu ânimo um pouco. Não tinha rido muito hoje. Algo a incomodava. — O que é tão engraçado? — sussurrei. Seus olhos brilharam enquanto sorria para mim. — Seu gosto pelo doce — disse, tomando um pouco de nata batida do topo de minha torrada francesa. Minha boca se secou quando chupou a nata de seu dedo. Tirava sarro, mas não da maneira que queria. Não se dava conta do efeito que tinha sobre mim. Decidi que sua ingenuidade era perigosa para os dois e precisava ser apagada. — Nunca roube nata batida de um homem, Val. — Dava um olhar de advertência, da qual riu rapidamente — Faça outra vez — desafiei. — E verá o que acontece. Considerou minha ameaça e alcançou meu prato. Apartei sua mão e molhei toda sua boca de nata batida, antes que pudesse limpá-la, me inclinei e a beijei, lambendo brandamente a nata açucarada de seus lábios. O movimento a surpreendeu. Claramente nunca jogou com sua comida. Se surpreendeu tanto que provavelmente nem se deu conta de que se podia fazer. E isso podia ser sexy. Isto era definitivamente sexy, tão incrivelmente sexy que


não pude me controlar. Seu ofego de surpresa me acendeu em chamas. Tomei vantagem de sua boca aberta e aprofundei o beijo. Me empurrou e sacudiu a cabeça, com suas bochechas acesas. — Pode não fazer isso em público, por favor? — sussurrou. Me aproximei mais e quase grunhi minha resposta. — Bem. Então, vamos a algum lugar sem público. — Precisava. Nesse momento. O que ela me deixasse ter. Me surpreendeu com um olhar severo, mas rapidamente encobriu sua ira como se não tivesse tido intenção de deixar que demonstrasse suas emoções. Seu rosto se suavizou em uma expressão indecifrável e não explicou quando a questionei. — Não me manuseie em público — advertiu com um sorriso que, estava seguro, era falso. Robin soltou uma gargalhada. — Sim, definitivamente não mais disso. Dá náuseas, Kyle, e se perder meu apetite estará em um grande problema. Sem dúvida teria sido algo muito ruim, mas não havia perigo de que perdesse seu apetite. Viu o sorriso em meu rosto e revirou os olhos. — Bem. Do que falávamos antes que tentasse de maneira tão grosseira, conseguir um pouco de amor ardente e doce da parte de minha namorada perversamente irresistível? Val revirou os olhos, sem diversão, mas ao menos o resto do grupo riu e desapareceu o último do desconforto.


— Discutíamos que Val precisa de um projeto para o verão — disse Cara. Alan não disse muito durante a tarde, mas limpou garganta e falou: — Deveria trabalhar com Robin na fundação. Estiveram um pouco saturados desde que Christina pegou esse trabalho no oeste. Robin adorou essa ideia. — Sim, claro que deveria! Poderia me ajudar a completar muitas coisas antes que chegue este pequeno pesadelo, teremos que conseguir um trabalhador temporário enquanto estou de licença maternidade. — estremeceu ante a ideia. Val suspirou e se inclinou para trás, sem tocar seu prato de comida. Ainda se encontrava chateada por algo e tentava esconder. Foi por que a beijei? Não acreditava, mas não podia imaginar o que poderia ser além disso. — Certamente posso fazer isso algumas vezes — disse, respondendo à pergunta de Robin — mas teria que dirigir de Huntington para chegar todos os dias. — Como disse, minha porta está sempre aberta. Minha brincadeira não fez nada para melhorar seu estado de ânimo. Em todo caso, piorou as coisas. — Falamos que isso não acontecerá — disse, exasperada — Além disso, Malibu está tão longe de Pasadena como Huntington Beach. Enquanto estávamos ocupados franzindo a testa um para o


outro, Shane posou seu braço sobre Cara e disse: — De Pasadena a Louro Canyon não é tão longe de carro. Temos um ou dois quartos livres, se quer ficar conosco. Os olhos de Cara se alargaram e chiou. — Sério? Não se importaria? Shane se encolheu de ombros. — Por que não? Tinha que respeitar o homem. Não admitiria, mas tentava ajudar na reparação da relação de Cara e Val. Eu também queria isso, assim dei uma cotovelada e disse: — Isso é uma grande ideia. — V, tem que aceitar! — chiou Cara. Sorri ante o apelido. Ela era a única pessoa que a chamava "V" e não a escutei usá-lo em muito tempo. Val gostou muito de ouvir e por fim formou um pequeno sorriso. — Bem. Suponho que seria bom passar mais tempo juntas. — O melhor. — OH! — gritou Robin de repente — Já sei! Poderia começar esse escritório em Los Angeles para F é por Família da que fala durante meses. Se animou ante a sugestão e imediatamente começou a refletir seriamente. voltas.

As engrenagens em sua cabeça davam

Conhecia a expressão em seu rosto, determinação e

entusiasmo. Era dono desse olhar. Acabava de encontrar seu projeto.


— Poderia conseguir que esteja funcionando em dois meses, antes que comece a escola? — perguntou Robin. — Não será fácil — admitiu — Mas se pudesse obter as permissões e os subsídios pressionando de algum jeito, poderia instalá-la o suficiente para que Jacinta possa vir e tomar o controle quando começarem as classes. De todos os modos quer voltar para o sul da Califórnia. Fiquei feliz que o ânimo de Val parecesse melhorar, mas eu não gostava de como soava isso. — Não estou seguro disto, Val. Não parece um projeto; a não ser mais um pesado árduo, que consome todo o tempo, te suga a vida e me rouba a minha namorada. Finalmente me deu um sorriso, embora fosse um pequeno, e me deu uns tapinhas na mão. — Não vou esquecer de ter tempo para você, mas Robin tem razão. Quero fazer isto há meses e é a oportunidade perfeita. Não posso deixá-la passar. — Mas e suas férias? E sobre tirar um descanso antes da escola? — Kyle, antes que você aparecesse, não tive um encontro em mais tempo do que me importaria admitir. Isto ainda se parece com férias. Posso afirmar. — Mas... — Kyle, pare de ser tão carente — interveio Cara. Franzi a testa para ela do outro lado da mesa. — Não sou carente. — De fato, riu de mim. Inclusive o


bastardo traidor do Shane riu. — É a pessoa mais carente que conheço — disse, me dando um sorriso simpático — Mas não se preocupe ainda te amamos de todos os modos. Não é sua culpa que seja uma celebridade malcriada que obtém tudo o que quer quando quer, tanto que não pode viver sem ter em todo momento o que deseja seu coração. Minha mandíbula caiu aberta. — Não sou uma diva! — Não — disse — Só carente, com uma tendência a fazer beicinho quando não consegue o que quer. — Ouça há diferença entre um cantor e Deus? — Franzi a testa e Val acariciou minha mão com simpatia. — Carente — insistiu e todo mundo riu de novo. Shane, sorrindo em minha direção disse: — Sabe não sou sabe o... Revirei os olhos. Ouvi esse um milhão de vezes, mas todo mundo esperava o arremate da piada. — Deus sabe que não é um vocalista. Mostrei o dedo médio a meu melhor amigo enquanto esperava as risadas. E acredite, havia um montão. Idiotas.


D é por Dissimulada

Val se animou um pouco com o passar do jantar e adorou as manchetes do artigo da Celebrity Gossip, mas sabia que algo continuava incomodando. Na verdade, acredito que era óbvio para todo mundo porque partiram rápido e desconfiados, nos deixando de pé em frente do restaurante. — Enfim sós — brinquei, com a esperança de manter o ânimo. — O que você gostaria de fazer agora? Quer ir a minha casa? Ainda não a viu. O rosto de Val empalideceu ante a sugestão. — Na verdade, acredito que vou para casa, se tudo estiver bem. Estou com dor de cabeça. Eu a vi esfregar a cabeça várias vezes esta noite, mas, mesmo assim, era uma desculpa para se livrar e ambos sabíamos disso.


— Val, o que há de errado? Tentei

puxá-la

a

meus

braços

e

ela

se

afastou

imediatamente. — Simplesmente não tenho vontade de sair esta noite. Vou para casa. Ligo amanhã. Houve um momento depois que Val se afastou de mim, simplesmente fiquei ali de pé, a olhando enquanto se afastava, chocado. Acabava de alcançar seu carro quando saí de minha estupefação e a alcancei. — Val. — Agora não, Kyle — disse com voz cansada, tirando as chaves de sua bolsa. Peguei sua mão antes que pudesse abrir o carro e a obriguei a me olhar. Não tinha lágrimas em seus olhos, mas sem dúvida lutava para contê-las. Minha garganta se estreitou, sabendo que de algum modo a incomodei tanto e ao mesmo tempo me sentia completamente frustrado com ela. — Não falo o idioma "de garotas". Tem que me dizer por que está tão chateada comigo se quiser que eu conserte. Confessar que não tinha nenhuma ideia do porquê estava zangada pareceu piorar o problema. Fechou os olhos para reter as lágrimas, mas escapou uma e rolou por sua bochecha. A puxei em meus braços, mas me empurrou rapidamente. — Por favor, não. — disse — Não quero que me toque agora. Dei um passo atrás com os olhos muito abertos e deixei


cair os braços aos meus lados como se pesasse várias toneladas cada um. Bem poderia ter dito, que me odiava e não queria me ver de novo. Estava enojada. Via escrito em seus olhos, nas poucas olhadas fugazes que se incomodou em me dedicar. Durante um momento não disse nada. Não me movi. Não podia dar sentido às emoções que tinha dentro de mim. Logo, meu orgulho ferido me obrigou a me afastar. A ouvi dizer meu nome, mas ignorei. O que ia dizer? Não estava tão surpreso desde que Adrianna me pediu que cantasse "Verdadeira lástima" em meu aniversário. Como podia ser sempre apanhado com a guarda baixa pelas mulheres que mais importavam? Seduzi uma centena de mulheres. Sempre me orgulhei de mim por entender o que queriam e como dar isso. Que piada. Havia um par de bancos de madeira colocados a cada lado da porta principal do restaurante, que serviam de zona de espera nas noites mais agitadas. Ainda era cedo então estavam vazios. Fui para o mais próximo e me deixei cair sobre ele. Dobrei os braços com força através de meu peito e olhei fixamente meus pés. Estava carrancudo. Sabia. Mas como deveria me sentir depois desse tipo de situação? Cara e Shane estavam juntos há cinco anos e faziam com que parecesse fácil. Então tinha Robin, a ponto de dar à luz a seu segundo filho e brigando com seu marido por um pedaço de bolo, porque ele se preocupava o suficiente para querer ter certeza de que ela e seu bebê se mantinham saudáveis. Duas


relações completamente diferentes e mesmo assim, ambos os casais se encontravam a anos-luz de mim. Me sentia como um completo imbecil, incapaz de ter uma relação mais profunda do que uma noite para tirar fotos e um corpo para ter sexo louco. Um par de sapatos de salto negros com a ponta aberta entrou em meu campo de visão. — Kyle, desculpe. Eu tento lidar com isto da melhor forma que posso, mas é muito mais difícil do que pensei. Não queria olhar para ela, mas não podia evitar olhar seu rosto em busca de pistas. Sabia da dificuldade, mas não podia fazer nada para evitar. Estava zangado. Ferido. Confuso. — Lidar com o que? — espetei. — Tudo o que fiz foi te beijar esta noite, e inclusive após recuou cada vez que a toquei. Concordei em não ter sexo, mas não posso evitar a forma que faz me sentir. Não posso simplesmente desconectar. Acredite, se pudesse já teria feito. É tão terrível que a deseje? Um lampejo de compreensão brilhou em seus olhos. Invejava o que pensava ou tivesse descoberto. Eu mataria por um indício de compreensão. Sua expressão se suavizou e se sentou junto a mim no banco. Não fiz nenhum movimento para me aproximar. Colocou a mão sobre minha perna e apertei os dentes. Ela podia me tocar, mas eu não podia tocá-la? — Como acha que me sinto — perguntou, — sabendo que não pode manter as mãos afastadas de mim porque está


excitado por ter passado o dia beijando outra mulher? Suspirei enquanto a imagem por fim se esclarecia. — Está chateada pela sessão de hoje? Deveria saber. Era um idiota por não ter entendido imediatamente, mas ao menos o aborrecimento e a dor se foram. Ela não me rejeitava, se sentia rejeitada. Finalmente alcancei sua mão. Aliviado porque me permitiu pegá-la entrelacei nossos dedos e deixei que nossas mãos descansassem sobre minha perna. — Era apenas um trabalho, Val. Não significou nada, nem para mim nem para Cara. — Eu sei — disse rapidamente. — Me disse o mesmo a tarde toda. Eu tento não ficar com ciúmes, mas você gostou Kyle. Desfrutou do beijo. Não? Poderia ter mentido, me olhava com grandes e vulneráveis olhos, me suplicando que negasse, mas nunca fui bom mentindo. Dizer a alguém o que queria ouvir só a feriria a longo prazo. É por isso que sempre fui direto com as mulheres com as que saí no passado, inclusive se me pintavam como o maior idiota do mundo. Todas sabiam que eu só procurava uma noite de

diversão

e

que

nunca

passaríamos

disso.

Dava

a

oportunidade de se retirarem se não podiam lidar com isso. As salvava da angústia. Era igual com Val. Podia dizer o que pensava que a faria se sentir melhor, mas no final, quando não pudesse ser o tipo perfeito que a fizesse acreditar que era, sairia muito mais ferida.


Melhor ser honesto e deixá-la saber se não pudesse aceitá-lo. — O que quer que diga? — perguntei, com a esperança de que minha voz amável suavizasse a dureza de minhas palavras. — É obvio que gostei. É uma mulher linda e beijá-la é muito prazeroso. A paixão está na natureza humana. Não posso evitar. Mas não estava lá mentalmente, Val. Ao longo de todo o dia, você foi o único pensamento em minha cabeça. Ela virou a cabeça para longe de mim, mas não tirou sua mão da minha. Dei um apertão. — Sinto muito se isso não é bom o suficiente, mas não posso me desculpar por meu trabalho. Nem quero fazê-lo. Estou orgulhoso do que faço e de como ficou esse vídeo. Val virou seu rosto lentamente para o meu. — Eu sei — sussurrou. — E eu também estou orgulhosa de você. Sei o quanto sua carreira significa para você. Sei o quanto a ama e sei que há certos

aspectos

dela

que

sempre

vão

me

preocupar.

Logicamente, entendo. Mesmo assim dói ver minha ex-melhoramiga fazer coisas que, nem sei se me sentiria cômoda fazendo eu mesma com você. Chegou mais longe com Cara hoje frente a uma sala cheia de gente e câmeras do que nunca cheguei com ninguém. Permanecia

atônito.

Nunca

pensei

dessa

maneira.

Encontrei seus olhos e se rompeu o controle sobre suas emoções. — É tão linda — disse.


— Todas são. Esteve com tantas e eu... — Sua voz se rompeu e as lágrimas brotaram de seus olhos. — Sei o que sou, tudo bem? Sei que não dou abertura e sei que não posso dar tudo o que quer. Estava tão assombrado que na verdade ofeguei. — Val... — Minha voz se desvaneceu pouco a pouco quando não pude pensar em nada o que dizer. Como podia pensar isso? Como podia possivelmente ser tão insegura? — Ao vê-lo hoje, simplesmente me senti como uma menina tola e ingênua. Não podia deixar de pensar em todas as mulheres com as quais esteve. Tantas, que estar meio vestido em uma cama beijando a esposa de seu melhor amigo, em frente de sua namorada não significa absolutamente nada para você. Não é um problema para você e nem considerou a possibilidade de que poderia estar chateada. Era algo normal para você. Nem posso imaginar quão pudica devo parecer a você e a seus amigos. Me sentei ali sacudindo a cabeça. Continuei movendo a boca, embora não saísse nada. Ela não me olhava. Tirou sua mão da minha e se moveu sobre o banco, ficando ligeiramente de costas para mim, como se sentisse completamente envergonhada. Uma intensa onda de paixão caiu sobre mim. Minha necessidade de fazer entender o quanto que significava para mim era tão forte que se chocou contra mim, fazendo meu corpo tremer enquanto lutava para escapar.


— Val, não. — Peguei suas pernas, girando seu corpo em minha direção outra vez e tomei seu rosto entre minhas mãos. — Cara pode ter sido a atriz no vídeo, mas essa música é sobre você. A letra, os sentimentos nela expressos, são reais e são todos por você. Escrevi a música para você. Estou mantendo minha abstinência por você. Coloquei um suave beijo em seus lábios e ela fechou os olhos enquanto outra lágrima escapava e descia por sua bochecha. — Não posso fazer nada a respeito de meu passado — disse suavemente. — Fiz muitas coisas com muitas mulheres diferentes, mas nunca esperei por nenhuma delas. Parei de falar e esperei até que abriu os olhos outra vez. Quando essa suave beleza castanha se encontrou com os meus, sorri e disse: — Entende? É a única. Esta é uma primeira vez para mim, então ambos somos novatos agora mesmo. Isto é algo que faço por você e só por você. Não há outra mulher no planeta pela qual consideraria fazer este sacrifício. Estou fazendo a coisa da abstinência porque é o único presente que posso dar, que a fará entender que significa mais para mim do que qualquer outra mulher com que já estive. Limpei a umidade de suas bochechas e coloquei sua franja atrás de sua orelha. Seus olhos ainda brilhavam pelas lágrimas, mas sustentavam um brilho de esperança neles. Todo meu corpo se derreteu sob seu olhar. Me desfez, até


me converter em algo tão suave que podia me moldar para ser qualquer tipo de homem que ela quisesse e me conformaria. Era massa em suas mãos delicadas. Existiam

muitas

coisas

que

queria

dizer,

muitos

sentimentos que queria que entendesse. Nunca fui bom com os discursos. Me expressava com as letras das músicas, então fiz a única coisa que sabia fazer, cantei suavemente as palavras de sua música: Sempre vou esperar, está me deixando louco Impulsionado pelas lembranças que ainda não tive, me agarrando à promessa de você e eu A esperança é eterna para as coisas possíveis Peça-me que espere, não sei se posso Estou muito assustado por te perder, sou só um homem Mas não posso te deixar ir, não posso fechar a porta Meu coração diz que vale a pena te esperar — É você, Val. Não é Cara. Nem nenhuma das mulheres de meu passado. Não vejo uma menina tola. Vejo uma mulher incrível. Sua aparência e ingenuidade são o que a fazem tão especial para mim. Seu olhar se centrou e cerrou os olhos até as menores frestas. Me fez sorrir. — Sinto muito, não posso negar que é uma dissimulada ingênua. Ambos sabemos que é uma — brinquei, — mas adoro


isso em você. Encontro sua inocência tão... quais eram as palavras que você usou... sexy e tentador. — Ela ruborizou e riu de novo. — Falo sério — disse. — É por isso que não consigo nunca manter minhas mãos longe de você, porque é muito sexy para seu próprio bem. É tão mais sexy e tentadora do que qualquer outra no mundo, inclusive mais do que eu sem camisa. Seus lábios finalmente se curvaram para cima e a beijei. — Aí está meu sorriso.

— Entrelacei nossas mãos e

suspirei quando me deu um apertão tranquilizador. — O que mais posso fazer para se sentir melhor a respeito de nós? Como posso ajudar? Val olhou para frente e encolheu os ombros. — Não sei. Conseguir uma vaga com a equipe de animadoras dos Lakers para o Natal? Uma gargalhada saiu de mim. — Nunca vou deixar isso acontecer, certo? — Nunca! Rimos por um minuto, mas minhas risadas deram passo a um suspiro. — Então estamos bem? — perguntei. De verdade esperava que a resposta fosse sim. Ela se inclinou para frente e pressionou seus lábios contra os meus. — Estamos bem. Sinto por ser um desastre de insegurança.


— Bem. — Passei os braços ao redor de sua cintura e a beijei de novo. — Não posso culpá-la. Você está namorando com Kyle Hamilton, depois de tudo. Isso é muito pelo que competir. Val pôs os braços ao redor de meus ombros e me deixou dar um beijo que foi mais do que um simples beijo. — Estou namorando com Kyle Hamilton ou com seu ego? — perguntou. Sorri contra seus lábios. — Na verdade, somos um pacote. Sorte sua, conseguiu ambos. — Sorte minha. Nos perdemos um no outro durante um minuto, ambos precisando da conexão depois de nossa briga. Mas no final tive que parar antes de deitá-la de costas no banco e conseguir que prendessem ambos por atentado ao pudor. — Então — perguntei bastante seguro de que era o inseguro nesse momento, — ainda quer ir para casa? Val suspirou e apoiou a cabeça em meu ombro. — Na verdade não. Gostaria de ver um filme ou algo assim? Não era uma noite tranquila em minha casa, mas aceitaria. — Sempre, com tanto que o protagonista não seja Brian Oliver, me parece bom.


I é por Irmãos

Antes de me dar conta, passou um mês e quatro de julho se aproximava. Cara e Shane iam para uma grande festa, mas estava decidido a passar à noite a sós com Val. Precisava de atenção. Depois que Val se instalou na casa de Cara e Shane, encontrou seu ritmo e ficou pouco a pouco cada vez mais ocupada. Mergulhou de cabeça começando seu escritório F é por Família e passou uma boa quantidade de horas com Robin fazendo "Nem Todo mundo Está Fazendo". Também viajou de volta ao norte da Califórnia duas vezes para as reuniões que não podia fazer através do Skype e as coisas de dama de honra para as bodas de sua melhor amiga. Entretanto, sempre assegurou de contar com tempo para mim, embora eu, literalmente, estivesse sendo escrito a lápis em sua agenda. Não era romântico, mas pelo menos me deu a senha


de sua agenda do Google para que pudesse escrever cada vez que tivesse algo que queria que assistisse comigo, ou se simplesmente precisasse de um tempo com Val. Para ela, isso era o equivalente a trocar as chaves de nossas casas. Este fim de semana, definitivamente precisava de um tempo com Val. Bloqueei toda a noite de sexta-feira, sábado e domingo em sua agenda com uma nota escrita onde advertia que qualquer mudança daria lugar a um castigo severo. (Robin também tinha a senha de sua agenda e em ocasiões gostava de trocar meus horários). De algum jeito arrumei para manter todo o fim de semana para mim até na sexta-feira pela manhã quando a mãe biológica de Val pediu para passar o quatro de julho com ela e seu filho. Sabia que Val continuava muito preocupada, com sua nova relação, com seu meio irmão, então renunciei meu tempo a sós e disse que deveríamos ir. Sua mãe biológica vivia em Lancaster. Era uma viagem de merda, mas havia um grande festival no parque da cidade onde lançariam fogos ao anoitecer, por isso nos reunimos com a mãe biológica de Val e seu irmão, Brody, para jantar e logo ir ao parque por algumas horas antes dos fogos. Brody tinha quinze anos e muito mal humorado. O menino foi um total punk do momento em que apareceu. Logo não disse uma palavra a nenhum de nós durante todo o jantar e quando falava com Val era de forma sarcástica. Sua atitude piorou quando fomos à festa e começamos a ver vários meninos de sua


escola. Era muito difícil de ignorar. Estávamos em um stand que tinha que jogar bolas de basquete no aro para ganhar um urso de pelúcia quando a sênior Val tentou quebrar o gelo, pela centésima vez. (Não sei se os títulos de júnior e sênior se aplicam às garotas, sem dúvida, Val riu cada vez que o usei, mas parecia a forma mais fácil de distinguir.) depois que Brody fez três arremessos seguidos, e em consequência ganhou um bulldog de pelúcia ridiculamente grande, sua mãe disse: — Val, sabia que este ano Brody esteve na equipe de basquete? Foi o primeiro estudante do segundo ano a fazer parte da equipe em mais de cinco anos. — Isso é incrível! Parecia genuinamente impressionada, mas Brody não gostou de seu entusiasmo. O punk zombou dela, me dando vontade de esmurrar seu rosto. O sorriso de Val vacilou, mas seguiu adiante, decidida a ser agradável. — Também sou um pouco atleta. Não sou muito boa no basquete, mas joguei voleibol na universidade para Stanford. — Bom para você — murmurou Brody, e então partiu sem olhar para trás. Se fosse sua mãe, teria o golpeado na cabeça por isso, mas ela só suspirou enquanto o via ir rígido. Havia uma capa brilhante de lágrimas em seus olhos. — Meu marido sabia de Val, mas não disse a Brody até que vi o filme — confessou. — Não aceitou muito bem. Foi muito frio com Val.


— Percebi — murmurei. Me

surpreendi

o

quão

difícil

foi

controlar

meu

temperamento. Não sou do tipo superprotetor, mas sabia o quanto Val queria ter uma relação com seu irmão e o quanto tentava. Me incomodou que não desse uma oportunidade. Uma mão passou ao redor de minha cintura, aliviando um pouco a tensão. — Ele foi vítima de intimidação pelos meninos da escola do show do Connie Parker — disse Val, — até por seus companheiros de equipe. Os olhos da Sra. Valerie. Se encheram de lágrimas. — Disseram coisas muito horríveis e depreciativas a respeito de Val e eu. Eles enchem seu facebook com comentários desagradáveis, zombando quando o veem. Foi muito difícil. Os adolescentes eram cruéis. Me senti mal pelo menino, mas não deveria descontar em Val. Não era culpa dela. — Não o culpo por me odiar — disse Val, tristemente. Pela forma que suspirou, sabia que se culpou por não ter uma boa relação com seu irmão. Não tinha nem ideia do que podia fazer ou dizer para melhorar as coisas, mas tanto Val quanto sua mãe pareciam tão tristes que tinha que fazer algo. Olhei o menino que dirigia o stand de basquete e disse: — Quanto por uma bola? — Sinto muito, não estão à venda. Tirei uma nota de cem dólares de meu bolso e a mostrei. Os


olhos do moço saltaram de par em par e olhou para trás para se assegurar de que seu chefe não observava antes que guardasse o dinheiro e me entregasse à bola. — Nos reuniremos com vocês daqui a pouco — disse, beijando a bochecha de Val. Seu sorriso de agradecimento foi toda a motivação que precisava. O parque da cidade era enorme. Todos os passeios do carnaval, jogos e postos de vendedores se estabeleceram nos hectares de campos de grama. Mas do outro lado da enorme área recreativa além dos banheiros e o campo de golfe, quadras de tênis, voleibol e basquete não estavam tomadas pelas festividades e seguiam abertas para o uso público. Foi nesta última atração que, tinha certeza, manteve o interesse de Brody quando nos abandonou e deixou o festival. Depois de me despedir de Val e sua mãe, fui para as quadras de basquete, passando uma turma de estudantes do ensino médio Starstruck, a maioria eram garotas. Isso era bastante comum em qualquer momento que saía em público, mas era estranho que ninguém tivesse se aproximado até agora. Simplesmente me seguiram, tentando ser discretos enquanto tiravam fotos com seus telefones. Acredito que se mantinham distantes porque estava com Brody e sua mãe. Era evidente que a maioria dos meninos que me seguiam eram da sua escola. A notícia de que estive aqui não tinha muito tempo para difundir uma vez que, o primeiro dos companheiros de Brody nos tivesse visto, e ao longo da noite


tinha reunido um pequeno exército. Normalmente teria parado para falar com eles, mas Brody foi tão idiota com Val que não estava com humor. Agora me achava em uma missão e evadir aos meninos que conheciam Brody ia funcionar a meu favor. Os ignorei e fui diretamente a ele. O encontrei sentado ao lado das quadras de basquete. Havia um jogo de basquete sem regras em uma das quadras de esportes, mas ele não se uniu. — Cuidado! Brody apanhou a bola de basquete que lancei justo antes que golpeasse sua cabeça. A julgar por seu olhar desagradável, posso ter colocado muita força em meu passe para que o considerasse amistoso. — O que houve homem? — Isso é o que gostaria de saber — disse. Cheguei e sentei a seu lado, sem esperar um convite. Me deu um olhar cauteloso, mas não me disse que fosse embora. O estudei enquanto permanecia ali sentado, tentando me ignorar. Não se parecia muito com Val, sua pele era escura e tinha o cabelo castanho no lugar de loiro, mas tinha os mesmos olhos castanhos escuros e compartilhava sua altura. Com apenas quinze anos, já se aproximava de um metro e noventa. Não me admira que jogasse basquete. Finalmente rompeu o silêncio com um bufo. — Enviaram você aqui para falar comigo?


— Não. É pior que isso. Enviei a mim mesmo porque minha namorada estava decepcionada. Quando me lançou um olhar inquisitivo, fiz uma careta e assinalei. — Totalmente derrotado. Negou com a cabeça, mas esboçou um pequeno sorriso. Nós dois dirigimos o olhar ao jogo de basquete. Depois de uma breve pausa, disse: — Ela é genial. Deveria dar uma oportunidade. Ele se inclinou para frente e começou a ricochetear a bola no chão entre seus joelhos. — Por quê? — perguntou. — Está arruinando minha vida. Bufei com desgosto. Que bebê chorão. — De maneira nenhuma. Se sua vida está arruinada, é porque

você

permite.

Acredita

que

Val

alguma

vez

foi

incomodada? Merda, a intimidei eu mesmo e o fiz diante de todo mundo. Em um momento, meus fãs a declararam a garota mais odiada na América. Sua casa ficou destroçada. Recebeu ameaças de morte. Os tabloides contaram mentiras sobre ela. As pessoas a chamaram de mentirosa, hipócrita e puta. — estremeceu frente as duras palavras. — Mas, acha que arruinou sua vida? Não. Se levantou sozinha e fez com que as pessoas a respeitassem ao invés de se irritar como uma pequena cadela punk. A bola congelou em suas mãos e me lançou um olhar ferido. Val teria se zangado comigo por chamá-lo dessa maneira,


mas sério, o menino precisava ser um homem. — O que sabe você sobre isso? — grunhiu, voltando o olhar para a partida de basquete. — Aposto que nunca foi vítima de brincadeiras em toda sua vida. Ri e descaradamente admiti: —

Nem

uma

vez.

Algumas

pessoas

são

muito

impressionantes para isso. — Quando me deu outro olhar severo, disse: — Então não tenho ideia do que está passando. Mas, sabe no que sou um perito? Em ser popular. Posso arrumar seu problema de status social neste momento, se quiser. Brody olhou à bola em seu colo como se estivesse ofendido pela oferta, mas era muito boa para deixá-la passar. Depois de um momento, se endireitou e me deu outro olhar cauteloso enquanto girava a bola em suas mãos. — Sério, me ajudaria? — Claro. Com uma condição. Dê a minha garota uma oportunidade. — Fiquei bravo quando zombou. — Isto não foi culpa dela — disse — ela não procurou sua mãe: sua mãe foi procurá-la. Sua mãe que decidiu fazer pública sua conexão com Val. É sua culpa que seus amigos zombem, não de sua irmã. Se olhar matasse, o que Brody me deu teria me fritado na hora. — Ela não é minha irmã.


Não recuei. — Ela quer ser. Não tem nenhum outro irmão. Estava emocionada quando soube que tinha um irmão e é um idiota ingrato que não pode apreciar que há uma pessoa incrível que quer a oportunidade de ser parte de sua vida. Não seja um idiota egoísta, homem. Apoiei os cotovelos sobre o encosto do banco, satisfeito em relaxar ali, olhando Brody na penumbra, inclusive se ele nunca mais voltasse a dizer uma palavra. Ficou em silencio durante um minuto, mas sorriu por fim. — É muito idiota. Sorri. — Um reconhece o outro. Ele começou a rir. — Bem. Darei uma oportunidade. Mas será melhor que não termine sendo uma completa desmancha prazeres. — Amigo. — Fiquei de pé e me estiquei quando me virei para ele. — Sou um fodido superstar. Poderia conseguir tantas mulheres no mundo quanto quisesse, incluindo sua mãe. Acredita que iria me amarrar a uma só mulher e renunciaria ao sexo por ela, se não fosse a garota mais genial do planeta? Sem prévio aviso, Brody me lançou a bola no rosto. Mal tive tempo para manter meu nariz intacto. — Fique longe de minha mãe, imbecil — advertiu. Tentou me dar um olhar do tipo cara duro, mas não pôde


sustentá-lo. Ri quando esboçou um sorriso. Olhei por cima do ombro ao jogo de basquete atrás de mim e disse: — Conhece esses caras? Seguiu meu olhar e assentiu. — Alguns. Dois estão na minha equipe. — E elas? — Balancei a cabeça em direção ao grupo de garotas que me seguiram pelo parque como se de repente tivessem o mais profundo desejo de se livrar da festa e ver uma partida de basquete. Desta vez, quando Brody esquadrinhou a multidão, suas bochechas ficaram ligeiramente coradas. — Reconheço à maioria delas da escola, mas não as conheço. São seniores. Garotas populares. — Perfeito. Dei um sorriso malicioso que fez com que o sangue abandonasse seu rosto. — O que vai fazer? — perguntou. — Vou resolver seu problema, se tornando valentão e te fazer muito legal para que se metam contigo. — Espere um minuto — disse, ficando de pé de um salto — tenho que ir para a escola com essas pessoas. Não acho que... Deixei de escutá-lo e fui à quadra de basquete que atualmente não estavam usando. A turma de garotas riu entre dentes com entusiasmo quando joguei a bola, e por sorte fiz uma cesta da linha de lance livre. Encestei antes que Brody finalmente se encontrasse


comigo. Joguei a bola, com muito menos hostilidade esta vez. — Ganha o primeiro que chegar a vinte e um. Marque suas próprias faltas. — Quer jogar basquete? — perguntou, confuso. Joguei um olhar às garotas que já se moviam de seu lugar na lateral do jogo de basquete para se sentar na beira de nossa quadra. Brody se deu conta do que acontecia e ruborizou novamente. O pobre garoto não tinha nenhum jeito, pelo menos não com as mulheres. Entretanto era bom no basquete e ia limpar o chão comigo. — Ou poderíamos voltar para a feira — sugeri, — e você poderia se desculpar com sua mãe e fazer as pazes com sua irmã. Brody lançou outro olhar às garotas antes de me lançar a bola, com um sorriso confiante que se espalhava por seu rosto. — Vou deixar que você comece o jogo. Vai ladeira abaixo, superstar. Muito bem menino, pensei. Mostre a essas garotas que tem confiança. Coloquei a bola no chão e me inclinei para tocar os dedos dos meus pés. — Começaremos — disse, — logo que me alongue. — Sério? — perguntou, mas notei que levou um de seus braços atrás de sua cabeça. — Sim, sério. Sabe o que meu personal trainer me faria se tiver uma ruptura de tendão em um jogo de basquete sem


regras? — Tem seu próprio personal trainer? Comecei a rir. — Amigo, ser famoso não é só festas e mulheres. Quer dizer, em sua maioria sim, mas um corpo como este — tirei a camiseta e a atirei de lado, piscando para o grupo de garotas quando gritaram, — não vem naturalmente. Passo duas horas de tortura todos os dias com meu treinador e isso é depois que ele me faz correr três quilômetros de aquecimento. Brody piscou, desconcertado e terminou seu alongamento em silêncio. Então, como previsto, começou a me bater no jogo de um contra um. Ele era bom, mas o fato de que eu era um desastre o fez muito mais impressionante. Ao final do nosso jogo, as garotas das linhas laterais se converteram em sua seção de animadoras pessoais e os meninos que jogavam na quadra ao lado pararam para ver o que era a tal publicidade exagerada. Dei meu melhor esforço, no entanto, no final do jogo estava suado e exausto. Uma vez que foi marcado os dois pontos da vitória, caí sobre a grama, perto da multidão, com a intenção de me refrescar e recuperar o fôlego. Brody, depois de aceitar timidamente uma rodada de felicitações, se sentou ao meu lado e sussurrou: — Me deixou ganhar? Ri entre dentes e não me incomodei em baixar a voz. — Deus. Sou um cantor, não um jogador de basquete. Na verdade sou um desastre em todos os esportes. O pior é que sua


irmã me disse que vou ter que jogar voleibol com ela naquele churrasco na praia que temos em algumas semanas. Você vai, né? Meus pais decidiram que era hora de conhecer Val. Nunca poderiam fazer nada simples sem ter a oportunidade de ostentar, por isso decidiram convidar a família de Val, biológica e adotiva, a seu clube de campo no Huntington Beach para um churrasco. Percebi pelo olhar culpado na cara de Brody que ele planejava ignorar. — Sim, acho que minha mãe disse que iríamos. — Bom. Então pode jogar com Val por mim, e me salvar da humilhação de ser derrotado por minha própria namorada. Brody riu e assentiu. — Suponho que poderia fazer isso. Sou muito bom no vôlei de areia. Esperei um momento e mais forte do que necessário disse: — Então, o senhor Basquete, é fã dos Lakers? Brody levantou uma sobrancelha para mim. — Minha irmã é virgem? — Ri entre dentes. Não era tão ruim quando não se comportava como um mucoso chorão. — O que acontece é que também sou um grande fã dos Lakers. E tenho um bônus da temporada, e não falo dos assentos mais longínquos. Os meus estão muito próximos ao Jack Nicholson. — De jeito nenhum! — gritou Brody. Sacudiu a cabeça com um pouco de desgosto.


— Vale a pena ser rico e famoso. Joguei meu braço sobre o ombro de Brody. — Também vale a pena conhecer os ricos e famosos. Vou perder muitos jogos da próxima temporada porque estarei em turnê. Pensei que talvez pudesse manter meus assentos quentes por mim, enquanto estou fora. A mandíbula de Brody caiu e por um momento ficou completamente sem palavras. Depois que passou a comoção, gritou de novo: — Fala malditamente sério? — Não brinco com os Lakers, garoto — disse solenemente. — Deveria levar sua mãe às vezes, ou possivelmente a sua namorada... Abaixou um pouco a cabeça para ocultar suas bochechas coradas. — Não tenho namorada — murmurou. — O que? — Uh... Sim? — Sem namorada? — praticamente gritei e olhei ao redor, fazendo contato visual com várias garotas lindas. — Bem, vamos ter que arrumar isso, e logo. Você vem a minha festa do lançamento do disco? Deu uma olhada à multidão e ruborizou novamente. Devia ter trinta ou quarenta pessoas de pé nos arredores escutando nossa conversa e todos agora olhavam boquiabertos a Brody em estado de choque.


— Incrível. Alguma pessoa que queira acrescentar à lista de convidados? Alguma estrela em particular que você gostaria de conhecer? Brody me olhou com uns olhos que pareciam perguntar se eu falava sério. — Uh... — Tenho acesso à lista A, amigo. Aproveite. — Hum. — Ele pensou por um momento e disse: — Miley? Não pude evitar em gargalhar. — Mirando alto, hein? Eu gosto. Sempre digo; pense grande ou vá para casa. Fiquei de pé e estendi a mão para ajudá-lo a levantar. — Miley já respondeu que sim — disse, enquanto limpava um pouco de grama de minha calça. Peguei a bola de suas mãos. — Ela estará lá. Por desgraça para você, sua irmã me mataria se te colocasse em contato com ela. Entretanto, como se sente a respeito de Bela Thorne? Ouvi que é um amor. O rosto de Brody se fundiu em um sorriso esperançoso. — Bela Thorne? Sim. — Feito. — Sacudi a cabeça. — E falando de sua temerosa irmã que sustenta uma correia invisível em meu pescoço, devemos ir procurá-la antes que me meta em problemas por abandoná-la toda a noite.


S é de Surpresa

Grunhi enquanto tirava a camisa pelo pescoço, e em segredo amaldiçoei as pessoas que decretaram a necessidade do uso de gravatas. Minha festa de lançamento do álbum era elegante demais para o meu gosto. Meus representantes optaram por fazê-la no novo restaurante de comida japonesa, embora não fosse um evento muito chique, afinal haveria coquetéis e peixe cru. Mataria por um hambúrguer com queijo, mas não devia me queixar muito da noite, já que o vestido preto e sensual que Val usaria faria valer à pena. No entanto a decoração do lugar era incrível e exótica. Aquários em todo o edifício davam ao ambiente um toque do mar, misterioso e romântico. Inclusive conseguiram algumas máquinas de fumaça espalhadas pelo piso, por isso parecia que todos caminhávamos em muitas nuvens. O ambiente era genial, meu novo álbum tocava através dos alto-falantes e tive a última palavra sobre a lista de convidados, assim a companhia era


espantosa.

Se

não

fosse

pela

estúpida

gravata,

sapatos

incômodos e a comida de luxo, a festa seria perfeita. — Me deixe adivinhar... — sussurrou Val, encontrando por fim de volta a meu lado. A mulher era uma socialite nata e uma convidada muito popular esta noite. — Neste momento, está se perguntando o quão grosseiro seria se tirasse a gravata e pedisse algumas pizzas. Avancei. Sorri. Viu minha careta desaparecer e se inclinou para beijar meu sorriso. — Ah agora está muito melhor. — brincou. Passei os braços ao seu redor antes que pudesse se afastar. — Se quiser que fique feliz, então não pode ficar longe de mim. — Só estou sendo uma boa anfitriã. É você que se mantém escondido de seus próprios convidados. — Não me escondo de meus convidados. Só tentava te atrair para este canto escuro. E olhe! Meu plano malvado funcionou, finalmente. Levou um tempo, mas a espera valeu à pena. Acomodei Val de modo que se encontrava sentada em meu colo. Me deu um olhar que ignorei e ela me beijou. A bendita mulher me entregou mais do que pensei, e por um minuto parecíamos um par de adolescentes. Com energia renovada, levantei e a arrastei de novo à festa. Tinha uma surpresa para Val e acabavam de enviar uma mensagem de que tinha chegado.


— O congressista Richards é esse o cara que você gosta, não? Val piscou e me olhou com estranheza. — Random. Como sabe? Sorri. — Meu bom amigo Google parece saber tudo. — Como assim? — Tinha a esperança de encontrar algumas fotos de nus, mas... — Kyle! Comecei a rir. Ela era muito fácil. — De todos os modos, — disse, entrelaçando sua mão na minha — sabia que a filha menor de nosso maravilhoso congressista tem quinze anos e é uma grande fã de Kyle Hamilton? — Sabia que o congressista Richards tinha uma filha adolescente e poderia ter adivinhado que era uma fã, como a maioria das adolescentes; embora me pergunte como você sabe disso! Fomos através da multidão, onde vi o congressista e a sua filha sonhadora de pé na porta principal. — Sei, porque quando telefonei a seu pai para convidá-lo, disse que eu ocupava mais espaço nas paredes do quarto da filha que One Direction. Val ofegou de forma brincalhona. — Nossa mais que One direction? Isso é impressionante,


espere, acabou de dizer que telefonou para convidá-lo? Para esta noite? Ri e a conduzi para o homem de pé em frente a nós. — Val, gostaria que conhecesse... O congressista Richards! Cautelosamente apertou sua mão. Surpresa. — É tão bom conhecê-lo, — ela ofegou. Seu rosto avermelhou envergonhada. O congressista riu entre dentes. — Não esperava ser reconhecido em um evento como este. — Não, é uma honra. Segui sua carreira desde que foi eleito Prefeito de Huntington Beach. As sobrancelhas do congressista se elevaram. — Não poderia ter mais de dez anos. Val voltou a ruborizar. — Tinha nove anos. Meu pai fez um montão de trabalho voluntário em sua campanha eleitoral. Me levou a um dos debates e me deixou contribuir com botões. Estive ligada na política desde aquele momento. Acabo de receber minha licenciatura em Ciências Políticas em Stanford e escrevi um artigo sobre sua plataforma no Congresso para o trabalho final em uma de minhas classes de psicologia política. Ao final não pude conter minha risada. Era tão estranho vê-la assim. Quando finalmente ganhei a atenção tanto de Val como do congressista Richards, sacudi a cabeça e suspirei. — Tenho o status internacional de superastro e ela enlouquece com você.


Val ruborizou ainda mais. O congressista Richards e eu rimos enquanto estreitávamos nossas mãos. — Congressista, esta é minha namorada nerd e primeira futura presidente, Valerie Jensen. Me esforcei muito para impressioná-la esta noite e a lista A de Hollywood não parece trazer qualquer resultado positivo para mim, então, devo um grande agradecimento por ter vindo. — Foi um prazer e foi muito amável de sua parte também convidar Mônica. Pôs a sua filha diante dele, com um repentino sorriso, o transformando de político a pai orgulhoso. — Obrigado por vir esta noite, Mônica. — A garota soltou um chiado quando disse seu nome e tremia enquanto me dava à mão. — Você me faria um grande favor? Esta noite tenho um amigo que estava preocupado em não ter ninguém de sua idade para poder conversar. Mostrei o irmão de Val. Não era difícil encontrá-lo, já que se destacava por cima da maioria das pessoas na sala. Dei a Mônica um segundo para olhá-lo e então a cutuquei levemente. — Um menino bonito, não é? — Ruborizou e não disse nada, mas seus olhos foram de novo para ele. — Está bem. Entretanto é um menino tímido. Olhei novamente para Mônica e acrescentei: — Suspeito que como você. Mordeu seu lábio e assentiu. Soltei Val e tomei a mão de Mônica.


— Vamos, vou apresentá-los, enquanto deixamos que os adultos falem das chatices que é a política. Val seguiu falando com o congressista Richards quando retornei sem a tímida garota adolescente. — Não se preocupe Congressista. Prometo que a deixei em boas mãos. É o irmão de Val. Vai cuidar dela. Todos nos voltamos para olhar os meninos. Havia todo um grupo de garotas rodeando Brody, mas quando mencionei que Mônica era tímida e um pouco nervosa para se apresentar, ele tirou uma cadeira para ela e deu toda sua atenção. Estava apresentando várias garotas que eram facilmente reconhecidas. — Exatamente quantas adolescentes famosas convidou para esta noite? — perguntou Val. A suspeita em sua voz me fez rir. — Umas poucas, admiti. — E quantos meninos adolescentes famosos ou de outro tipo estão aqui? Ri de novo. — Um. Val revirou os olhos, mas o sorriso em seu rosto era de agradecimento. — Fez um milagre com ele. Valerie me ligou chorando várias vezes esta semana, dizendo que se tratava de um novo menino. Encolhi os ombros. — Só precisava de um pouco de atenção. É uma mulher


difícil com quem competir, Val. — É mais que isso — disse. — É muito bom com ele. Deveria pensar em tutorar adolescentes. Seria muito bom para o programa Irmão Maior. Ou, já sabe, poderíamos inclusive começar nosso próprio programa se quisesse. Começava um brilho de ideia em seus olhos, por isso parei a conversa já no início. — OH, não. De maneira nenhuma. Não mais programas para você. — Mas isso é tudo que poderíamos fazer juntos. Era uma ideia interessante e não a mais horrível que já ouvi. — Talvez! Vou pensar nisso, disse, em uns poucos anos. Neste momento tem bastante trabalho com seu escritório em Los Angeles para o programa F é por Família. O congressista Richards se animou. — Vai fazer isso? — Perguntou surpreso. — Estou tentando — disse. —

Ainda

espero

a

aprovação

de

doações

e

umas

permissões. Já sabe como é. O congressista Richards riu. — Sim, sei. Por que não me envia a proposta? Verei o que posso fazer para ajudar a mover as coisas um pouco mais rápidas. Val ficou aflita.


— Eu... eu... isso seria incrível — murmurou, surpresa. — Obrigada. — Ficaria feliz em ajudar. Escutei muito a respeito de sua V é por Virgem por parte de minha filha esta semana. Esteve conversando sem parar sobre o Kyle desde que nos convidou a vir esta noite. Me mostrou o recente artigo sobre vocês fazendo a promoção de abstinência juntos. Sou o pai de uma adolescente, senhorita Jensen. Não há uma mulher no planeta a que seria mais feliz de apoiar que você. De fato, deve ligar para meu escritório e realizar uma entrevista comigo. Vamos fazer uma entrevista antes que feche todas as vagas para a formação de meu pessoal de campanha de reeleição. Estou certo que poderíamos usar alguém como você. Val ficou sem fôlego de novo. Tive que colocar meu braço ao redor de sua cintura porque tinha medo de que seus joelhos cedessem. — Isso é muito amável de sua parte — disse uma vez que pôde falar. — Seria um sonho trabalhar com você, mas começarei a escola de pós-graduação em algumas semanas. Como se fosse possível, a opinião que o Congressista tinha sobre Val subiu ainda mais. — Isso é lamentável para mim. Mesmo assim, deveria guardar meu cartão e me dar um aviso depois que terminar. Aceitou o cartão que entregou e logo após fiz uma retirada estratégica, explicando ao Congressista que tinha posto minha


namorada em estado de choque e que ela precisava se sentar antes que caísse. Não era de tudo uma mentira. Ela nem se deu conta quando a arrastei a uma mesa e a sentei. — Isso acaba de acontecer de verdade? Ri entre dentes e logo fui atacado por minha muito surpresa namorada. Seus braços estavam ao redor de meu pescoço e seus lábios se encontraram com meus. Estava mais que feliz em deixar que me beijasse uma e outra vez, sempre e quando ela precisasse. — Não posso acreditar que fez isso por mim — disse enquanto seu fôlego se encontrava com o meu. Quando se afastou, seus olhos estavam brilhantes devido às lágrimas. A expressão de seu rosto me fez sentir completo. Centenas de mulheres me olharam com estrelas nos olhos, mas esta era a primeira vez que Val me dava esse olhar. Havia algo diferente que vinha dela. Seu amor não era oco. Havia emoção real em seu rosto. Emoção que significava algo. Emoção que me tinha engasgando com um nó devido à garganta seca. — Val — disse em voz baixa, com minha boca de novo na sua para dar um beijo suave. — Vamos sair daqui. Vamos a um lugar, só você e eu. — Riu como se tivesse pensado em uma brincadeira divertida. — Falo sério. — Kyle, não pode ir. — Claro que posso. É só uma festa. — É a sua festa.


Tinha razão, mas não podia deixar de me perguntar se estava me dando desculpas. Meu bom humor murchou e desabei na cadeira. Me sentia tão cansado disto. Nem se tratava do sexo. Era como se não quisesse estar a sós comigo. Como se tivesse algum tipo de regra. Estávamos saindo durante seis semanas e a única vez que nos encontramos a sós foi numa entrevista e sempre num lugar agradável e público. Inclusive estivemos em minha casa duas vezes, e Shane e Cara estiveram lá conosco em ambas as ocasiões. Nunca era simplesmente Val e eu. Sabia que esta relação não ia ser fácil, mas começava a me chatear. Esperava mais. Não queria arruinar isto. Val era incrível, a mulher perfeita. Era tudo o que queria. Estava me apaixonando por ela, mas algo não funcionava e não podia entender o que era. Se não o arrumássemos logo, não íamos durar. Val notou minha decepção. Seu cenho preocupado e sorriso de desculpa me confirmaram que sua decisão não tinha nada a ver com o medo de ofender alguém na festa. Não podia suportar mais. — O que está acontecendo Val? Parecia surpresa pela pergunta. — O que quer dizer? — Quero dizer, o que acontece conosco? Está nesta relação porque quer, ou porque não sabe como se livrar de mim? Sobressaltada, se inclinou e levou minha mão a sua de novo. Me olhou por um minuto, procurando meus olhos,


franzindo a testa com preocupação em seu rosto. — Sério que não sabe a resposta para isso? — perguntou em um sussurro. Me dava vergonha não saber. Chegamos ao ponto em que não deveria haver dúvidas. Odiava precisar de sua confirmação. Olhei para meu colo e encolhi os ombros. — Há intimidei um pouco. Durante todo o verão senti que esta relação estava fora de equilíbrio. Sentia como se a quisesse mais do que ela a mim. Sem dúvida eu precisava mais dela do que ela de mim. Ninguém que nos conhecesse diria isso. A princípio só estava encantado de que estivesse comigo. E agora que consegui, não era bom o suficiente. Precisava de mais. Precisava que ela se entregasse a mim e não estava certo que ela pudesse fazer. — Kyle. — Sua mão em meu rosto me obrigou a olhá-la nos olhos. — Você mais do que ninguém deve saber que não faço coisas que não quero. — Deu um sorriso estranho e presunçoso. — Eu poderia ter dito não. Não é impossível resistir ao grande Kyle Hamilton, não importa o quanto você pense que não. Não estava de humor para rir, mas meus lábios se curvaram. Os olhos de Val brilharam em meu sorriso. — Estou aqui em Los Angeles porque quero — disse. — Estou com você porque quero estar. Não poderia pedir um melhor namorado que você.


Era a resposta que queria ouvir, mas não me desfez a má sensação em minhas vísceras. As palavras não significavam muito sem ações que as respaldassem. — Está bem? — perguntou quando não disse nada. Não estava seguro de que estávamos muito bem, mas assenti. Não acredito em mim. Às vezes odiava o fato dela ser tão inteligente. Suspirou. — Agora mesmo não é um bom momento para este tipo de conversa, mas está claro que temos que conversar. Vamos ao churrasco de seus pais amanhã, mas não temos nada planejado pela tarde. Pode esperar até então? Esperou que a respondesse, mas não sabia o que dizer. A frase "temos que conversar" nunca era boa. Não podia deixar de me perguntar se estávamos a ponto de chegar a outro final trágico como o que tivemos há quatro anos. Não queria isso, mas às

vezes

era

inevitável.

As

coisas

sempre

pareciam

desesperadoras entre nós. — Kyle, o que está incomodando, quero consertar. Eu não gosto de te ver chateado. Ao menos não tinha intenção de me deixar. Isso não significava que não ia acontecer, mas ajudava saber que não era sua intenção. Respirei fundo e tentei me acalmar. Beijei o dorso de seus dedos e forcei um sorriso convincente. — Está bem — disse. — Só você e eu amanhã depois do churrasco.


Val me olhou de novo de pés à cabeça, para se assegurar de que não ia quebrar. Quando aprovei sua inspeção, sorriu e disse: — Só você e eu. Prometo.


B é por Bebê

Meus pais encarregaram seu "pequeno churrasco de verão" a um serviço de buffet. Era tão típico deles. Manifestaram um interesse em conhecer os pais de Val, então sugeri um churrasco na praia e terminaram realizando um evento no iate clube. Além do fato de que ali havia areia e água (o que significava que podia usar traje de banho e sandálias) era um evento mais elegante que a festa do lançamento do álbum de ontem à noite. A lista de convidados também não era curta. Convidaram todos os que conheciam. Nunca fizeram uma festa para Adrianna ou para mim, nem quando nos comprometemos, mas suponho que sair com uma graduada de Stanford, benfeitora de uma

organização

sem

fins

lucrativos

e

começando

com

aspirações políticas era algo do que finalmente podiam estar orgulhosos. Esnobes.


Mas, eram mamãe e papai, e embora me deixassem louco não eram os piores pais do mundo. Os amava, então os deixei ter sua reunião elegante, somente rangendo os dentes em todas as apresentações dolorosas enquanto eles mostravam a minha namorada a todos os que eram alguém em Orange Country. — OH, querida, Valerie, venha aqui! Tem que conhecer o prefeito. Sim, minha mãe se recusava a chamá-la de mais nada do que Valerie. —Val deu a minha mamãe um brilhante sorriso e girou sua atenção ao pequeno homem gordo e calvo que usava calças cáqui e camisa tipo polo que se encontrava junto a ela. — Prefeito Lambert, é obvio — saudou Val alegremente. — É um prazer conhecê-lo. Minha mamãe sorriu com orgulho sobre o fato de que Val já soubesse seu nome. Andei a uns metros de distância para a mesa dos sanduíches e os deixei ter suas apresentações. — Meu filho por fim se comprometeu com uma joia. Valerie é uma graduada de Stanford — presumiu minha mãe. — Tem dois títulos em economia e ciências políticas com honras e vai começar seu trabalho de pós-graduação em algumas semanas. Será melhor que a vigie ou poderia roubar seu trabalho em um par de anos. — OH, acredito que o senhor Prefeito está a salvo — disse Val. —Tenho postos meus olhos em uma área diferente. — Não seria essa a melhor área?


Val encolheu os ombros. — Bom, as vezes o diferente é melhor. — Disse com humor e os três estalaram em uma risada amável. Tristemente, Val parecia ter um bom momento. Ao observála ali, ao lado de minha mãe se acotovelando com gente presunçosa como se pertencesse completamente a esse lugar, fazia me dar conta de algo perturbador. Além da altivez que minha mãe tinha por ter sido criada como uma garota com dinheiro e privilégios, que Val não teve, as duas mulheres eram muito parecidas. Inclusive usavam vestidos do verão similares e sandálias com tiras. Shane passou junto a mim e seguiu meu olhar. — Ela parece estar desfrutando — meditou. Suspirei. — Estou saindo com minha mãe. Shane soprou. — Há uma classe de justiça poética nisso que acho muito engraçada. Val jogou uma rápida olhada ao redor, me procurando. Quando encontrou meu olhar, sorriu e revirou os olhos como se só estivesse seguindo minha mãe. Tenho que admitir, isso aliviou muito meu humor. — Bom, então não é exatamente como sua mãe. Deveria ir resgatá-la. — Sim, claro. Minha mãe me mataria. — Eu farei.


Shane e eu nos giramos para a nova voz e encontramos Brody parado junto a nós, lambendo molho de churrasco de seu dedo. — Estaria feliz de interrompê-los e roubar da preciosa caricatura de mulher — franziu a testa e adicionou: — Sem querer ofender. — Não me ofendi — disse com uma risada. Não me ofendia a hostilidade de Brody para meus pais. De fato, admirava o menino por ter a coragem de ficar diante deles. Meus pais foram amáveis com Val e Brody, mas seu desdém pelo fato de sua mãe ter sido uma adolescente grávida e agora mãe solteira e seu filho um dissimulado. Hoje quis estrangulá-los várias vezes por seus desprezos sutis. — Se souber uma maneira, por favor, com tudo o que significa, vá por ela. Eu adoraria ver o olhar em seu rosto. Brody me entregou seu prato vazio. — Observe e aprenda, amigo. Lambeu os dedos uma última vez e foi para minha mãe, parando entre ela e o prefeito e agarrando o braço de Val. — Me desculpe, senhora Hamilton — disse com a mesma falsa amabilidade que recebeu hoje. — Se importa se roubar minha irmã por um momento? Me prometeu um jogo de voleibol e tenho que ir logo. — Moveu seu grande sorriso falso para o prefeito. — Sabia que ela joga para sua universidade? Adora. — E também é uma atleta de nível universitário! — disse o


prefeito, suas sobrancelhas subindo de surpresa. — Isso é muito impressionante, senhorita Jensen. — Veremos quão impressionante é — disse Brody — O que diz irmã, Kyle e você contra mamãe e eu? Os perdedores têm que saltar no oceano completamente vestidos. Ri

dissimuladamente

com

o

olhar

completamente

horrorizado no rosto de mamãe, então estalei em gargalhadas quando o prefeito adorou a ideia. Val sorriu a seu irmão com genuíno entusiasmo e afeto. — Digo que vai ser uma viagem de volta comprida e incômoda para você e para sua mãe — brincou ela. Sorriu para minha mãe e ao prefeito como se tudo fosse completamente normal. — Se me desculparem, parece que preciso resolver uma pequena disputa familiar. Foi embora antes que minha mãe tivesse a oportunidade de argumentar. — Boa sorte! — gritou o prefeito. Brody era meu novo herói até que Val me beijou a bochecha e disse: — Espero que esteja preparado para se sujar. Fomos desafiados. Ele foi pego blefando e agora a minha honra está em jogo, e não podemos recuar. Franzi a testa, então beijou meus lábios, esperando me convencer. Funcionou! — Por favor?


— Está me batendo seus cílios? — perguntei, tentando o máximo para não cair na gargalhada. Bateu outra vez essas belezas e levantou o olhar para mim debaixo delas enquanto mordia seu lábio inferior em uma careta. — Está funcionando? Se seu intuito era me encantar na frente de Deus, seus pais e o Clube de Iates Huntington, então sim, definitivamente funcionava. — Me teve no momento em que disse "vamos nos sujar". Revirou os olhos e me levou pelos degraus do pátio para a areia onde um par de redes de voleibol se encontravam colocadas. — Fomos enganados — choramingou Val quarenta e cinco minutos depois enquanto permanecíamos na areia, olhando para as ondas. — Você foi enganada — corrigi. Poderia ter imaginado que Sra. Val era uma atleta, vendo como isso vem de família. E Brody sabia muito bem que não presto para os esportes. Suspirou, derrotada. — Como se supõe que haveria algo no qual você não é bom? Brody riu e bateu em Val e em mim nos ombros. — Vão dar um passeio, perdedores. Val se encolheu. — Suponho que é um mau momento para mencionar que tenho medo do oceano?


— O que? — perguntou Brody, assombrado. — Cresceu a menos de três quilômetros da praia e tem medo de mergulhar no oceano? — Pode haver tubarões — disse Val. — E muitas outras coisas, como lesmas. O que faço se um peixe tocar minha perna? Nunca a vi se comportar como uma garota. — Não se preocupe Val, brigarei com o peixe por você. — A puxei para a água e ela enterrou seus pés na areia. — Você fez a aposta, baby e perdeu. É hora de tomar seu desafio como um homem. — Revanche! — gritou a Brody. — Só você e eu. Sem o incapacitado teria te derrotado, e sabe! — Incapacitado? — Tossi. — Não fui tão mau. Val me deu um olhar inexpressivo. Aparentemente, o estresse levou seu senso de humor. — Kyle, Robin poderia ter jogado melhor que você e ela e está a dois dias de parir. — Robin? Não havia maneira de que fugisse, sem importar quão adorável era quando sofria um ataque de pânico. A levantei em meus braços e caminhei para as ondas. Ri quando começou a se retorcer e tinha que segurá-la apertadamente enquanto ela se sacudia em meus braços.


— Veja isso? — brinquei. — Suponho que todos os meus músculos são bons para algo mais que só olhá-los, depois de tudo. — Kyle, falo sério! Não se atreva a me soltar... — A lancei para uma onda que estava se aproximando e ela gritou. A água chegava até a cintura e saiu cuspindo segundos depois. — Kyle! — gritou — É um estúpido! Tentou correr pela costa, mas agarrei ao redor de sua cintura e a segurei com força. — Não é engraçado! — disse enquanto lutava por sair do meu abraço. — Fez uma aposta, mulher. Isso é um assunto importante. — Quando deu conta de que não podia se soltar, envolveu os braços ao redor de meu pescoço e se segurou por sua apreciada vida. — De acordo. Estou oficialmente toda molhada, então agora, por favor, me leve para a beira? Realmente odeio estar no oceano. — De maneira nenhuma. Nada comigo. Comecei a arrastá-la apenas um pouco mais longe. — Kyle. Sério. Quero sair. — A tenho, Val. Não vou soltá-la. Só fica comigo um minuto. Por favor? É o único lugar seguro de minha mãe. Val fechou seus olhos e disse:


— Bem. Só por um minuto e não se atreva a me soltar. — Nunca mais — brinquei. Levantei e envolvi suas pernas ao redor de minha cintura enquanto nos metia nas ondas que estavam acima de meus ombros. Tinha que empurrar a saia de seu vestido para cima de suas coxas. Ela ofegou e começou a protestar, mas então uma grande onda veio para nós e tive que saltar para manter nossas cabeças em cima da água. Ela se segurou em mim como um polvo. — Está bem, Val — sussurrei, empurrando seu cabelo molhado de seu rosto com uma mão enquanto que com a outra a sustentava com força contra mim. — A tenho. Respirou fundo e deixou cair sua cabeça em meu ombro. — Kyle, se algo baboso me tocar, juro, vou enlouquecer. — De acordo. Vou levá-la de volta logo. Só me deixe te sustentar por uns minutos mais. Val tirou sua cabeça de meu ombro e me deu um olhar inquisitivo. — Sério que está tão desesperado por minha atenção que tem que me fazer refém no oceano? Fez a pergunta a sério, conscientemente inclusive, então decidi ser honesto com ela. — Sim. Seus olhos se fecharam e suspirou enquanto apoiava sua frente contra a minha.


— Sinto muito — sussurrou.— Sou uma namorada terrível. — Se isso fosse verdade, não estaria tão desesperado por você, não é? — Me respondeu com um beijo que começou suave e rapidamente se tornou ardente. Quando minhas mãos caíram por suas costas, procurando pele nua, mas, sem encontrá-la, amaldiçoei a aposta que requeria que ela estivesse na água completamente vestida. — Deveria tirar o vestido — murmurei. Enredou as mãos profundamente em meu cabelo e ficou rígida. — Estive esperando todo o dia pela aparição de seu biquíni. Esperei que protestasse, mas em vez disso seu corpo se esticou e aprofundou o beijo. Quando se afastou por ar, suas mãos caíram de meu cabelo ao tecido que grudava em meu peito. Me devorou e disse: — Só se tirar sua camiseta, senhor Abstinência. Me ajeitei para me afastar dela só o suficiente para ajudar a arrancar a camisa sobre minha cabeça. — Vai perder isso — respirou, quando a lancei longe. — Não me importa. — Minhas palavras saíram em um grunhido e estrelei meus lábios nos dela, golpeando nossos corpos juntos. Minhas mãos

rodearam a curva de

seu traseiro e

finalmente encontrei suas coxas nuas. Empurrei o tecido de seu vestido mais longe até que minhas mãos estavam em sua cintura nua. Parei, esperando que me golpeasse me afastando,


mas não houve resistência. Estava confuso, mas definitivamente não me queixava. — Val! Kyle! Retornem! Os gritos pareciam distantes, de acordo com o som de meu sangue golpeando em meus ouvidos e nossas respirações ofegantes. Ambos os ignoramos. — Meninos! Robin está tendo seu bebê! — Bom para ela! — gritou Val, levantando os braços sobre sua cabeça, esperando que tirasse o vestido. Antes que pudesse fazê-lo, a palavra bebê abriu caminho em meu cérebro. — Disse que Robin está tendo seu bebê? — KYLE! VALERIE! Ambos paramos de nos beijar e giramos para a costa onde várias pessoas saltavam grosseiramente, tentando atrair nossa atenção. Minha mãe franzia a testa para nós. — Sua amiga entrou em trabalho de parto. Ela disse que vocês a trouxeram aqui. Precisam levá-la ao hospital. Quando reagi finalmente, amaldiçoei. — Robin está tendo seu bebê! Val e eu nos apressamos para a costa onde minha mãe nos esperava com toalhas. Não estava seguro se o olhar de desaprovação em seu rosto era porque beijava minha namorada no oceano, ou porque convidei uma mulher grávida a sua festa que se atreveu a entrar em trabalho de parto na metade dela. —

Onde

está

sua

camisa?

disse

apressávamos pela praia de volta à casa do clube.

enquanto

nos


Não podia nem lembrar o que aconteceu com ela. Minha mãe suspirou. — Deveriam levar as toalhas. Falarei com o dono do clube. O manobrista já trouxe seu carro. Seus amigos estão esperando. Corremos para cruzar o pátio, gritando desculpas e despedidas sobre nossos ombros. Depois de uma rápida despedida e uma caminhada gotejando água através do clube, encontramos Cara e Shane do lado de fora, parados junto a meu Escalade. — Isto vai ser divertido — disse Cara enquanto apontava a um casal gritando no assento traseiro. Shane sorriu e sustentou a porta do condutor aberta para mim. — Melhor que não pegue qualquer congestionamento. —

Congestionamento?

gritou

Alan,

entrando

ligeiramente em pânico. — Isto é o sul de Califórnia! Sempre há congestionamento! Adverti sobre isso, Robin! Disse que hoje precisava ficar em casa! — E eu disse que não podia passar um minuto mais em casa com sua mãe respirando em meu pescoço! — É minha mãe! Não a convidei! Simplesmente apareceu! O que devia fazer? — Fechar as portas com a tranca e enviá-la a um hotel! Vá. — Virei para o Shane e seu sorriso zombador ficou sério. — Boa sorte, homem. Estou contente de não ser você.


Respirei fundo e entrei no automóvel. Val beijou a bochecha de minha mãe e murmurou uma rápida desculpa antes de se unir a mim no automóvel. Olhamos um ao outro, e então pisei no acelerador. — Deveria levá-la a um hospital aqui de Huntington — disse Alan do assento traseiro enquanto saía da entrada do clube do condado. — Não — disse Robin. — Robin, é uma longa viagem até Pasadena. — Ficaremos bem. Estive em trabalho de parto com o Asher por dez horas. As contrações só têm seis minutos. — O que faremos se houver tráfego? — perguntou Alan. — Quer parir nosso filho ao lado da estrada? Aparentemente, golpeou outra contração porque Robin grunhiu e se curvou para frente. Não podia acreditar que estava passando por isto. Havia uma mulher tendo um bebê em meu assento traseiro e ela esperava que eu dirigisse? Tirei meu telefone, pensando que provavelmente seria melhor chamar uma ambulância e como se pudesse ler meus pensamentos, Robin me fulminou com o olhar através do espelho retrovisor. — Dirija! — gritou. — Dirija e nos leve a um hospital daqui — demandou Alan outra vez. E então Robin se converteu em um arrepiante monstro extraterrestre. — Não vou ter este bebê em um estranho hospital longe de


casa com algum médico charlatão! — gritou para Alan. Seu rosto vermelho girou para frente outra vez e me cortou com seu olhar fulminante. — Me leve ao hospital Huntington Memorial em Pasadena ou é um homem morto, Kyle. Ouviu? Não se meta com uma mulher em trabalho de parto! Olhei para Alan com um encolhimento simpático de ombros. Ele entendeu o olhar. Ia dirigir até Pasadena porque valorizava minha vida e queria mantê-la.


A é por Amor

Uau, dez horas de trabalho de parto! A bolsa de Robin rompeu perto da Monrovia, encharcando meu banco de couro com fluídos que me recusava a pensar. Ia precisar de um carro novo, mas pelo menos conseguimos chegar ao hospital antes que o bebê nascesse. Robin pediu que ficássemos, algo sobre não permitir que Val a deixasse sozinha com o idiota que fez isto com ela, assim que os funcionários do hospital encontraram uma camisa para mim, experimentei as duas horas mais longas de minha vida. Alan sentou ao lado de Robin, segurando sua mão. Val se sentou do outro lado segurando sua outra mão e eu fiquei no canto mais afastado da sala rezando para não vomitar ou desmaiar. Tive que me sentar quando o coração do bebê parou e eles trouxeram esta coisa chamada ventosa e literalmente aspiraram o pirralho. As enfermeiras me fizeram colocar a


cabeça entre meus joelhos e me trouxeram suco de laranja. Val ficou com pena de mim então veio segurar minha mão no lugar da de Robin, mas o bebê já tinha saído, então tudo estava certo. Acabei de decidir que nunca, nunca teria filhos, quando o bebê chorou pela primeira vez. Mal podia dizer o que era o vulto sangrento e coberto de uma substância pegajosa, mas então o entregaram a Robin envolto em um pequeno lençol branco, que o embalou como se fosse o sol, a lua e as estrelas. Robin rompeu em lágrimas e então Val também, e inclusive Alan deixou que uma ou duas lágrimas corressem por suas bochechas. Robin e ele brigaram sem parar o dia todo. Ela o chamou de coisas horríveis e ameaçou castrá-lo muitas vezes. Estava pálida, encharcada de suor e com olhos lacrimejantes, mas ele permaneceu a seu lado, sorrindo para sua esposa como se nunca tivesse amado mais nada, nem ninguém além dela. Havia muita emoção na sala e temia afogá-la. — Kyle, vem ver — sussurrou Robin. Seus olhos nunca deixaram o bebê em seus braços. Não tinha certeza se podia me levantar, mas Val pegou minha mão e me puxou para o lado de Robin. Fiquei surpreso pelo que vi. — O que aconteceu com sua cabeça? — ofeguei. — Está tudo bem? E por que está arroxeado? Todos na sala riram de mim. — É pela aspiração — explicou Robin. Riu para seu filho.


— É normal e logo estará bem, é ou não, um menino bonito? — É lindo — sussurrou Val. — Parabéns aos dois. — Obrigada. Val apertou minha mão enquanto sorria para o bebê e tinha uma estranha vibração no meu intestino. Robin passou o bebê a seu marido e ele se converteu em um atoleiro de mingau. Aconchegou o bebê em seus braços e balbuciou tanto como fez Robin. Logo depois de um nada, se inclinou e encontrou seus lábios com os dela, tendo cuidado com o menino em seus braços. — Te amo, querida — disse. — Faz bebês lindos. — Também te amo. Me dá bebês lindos. Era como se Val nem estivesse na sala. Robin e Alan se encontravam perdidos completamente um no outro e em seu novo filho. Nunca vi um casal mais feliz. O amor que tinham um pelo outro naquele momento era algo que não sabia que existia. Pensava que entendia o amor, mas acho que não tinha nem ideia. — Bom, deveríamos ir e deixá-los desfrutar disto, meninos — disse. — Felicidades. Robin e Alan apenas levantaram o olhar para nós para se


despedir e nos agradecer pela carona. Val prometeu que retornaria amanhã para segurar o bebê quando estivesse livre de água salgada e areia. Ambos ficamos calados todo o caminho de volta a meu carro, e por um minuto, nos sentamos ali no estacionamento deixando assimilar tudo o que experimentamos. — Foi incrível, não? — murmurou Val. Não sabia o que mais fazer ou dizer: — Sim. Louco. Val saiu rápido de seu atordoamento e sorriu. — Se sente melhor agora? Ainda me sentia um pouco enjoado, mas assenti. — Vocês, mulheres, são duras. — E vocês, os homens, são muito moles. — Pegou minha mão e a apertou. — Mas é por isso que gosto de você. Val sorriu tão alegremente que seus olhos brilharam e por um momento imaginei como seria para nós estar no lugar de Robin e Alan. Obviamente não me encontrava nem perto de estar preparado para crianças, em todo caso, esta experiência adiou, uns vinte anos, os filhos em minha agenda, mas me dei conta do tipo de relação que tinham Robin e Alan, era algo que queria. E estava preparado para isso. Queria o que tinham, Robin e Alan, e o queria com Val. Só não sabia como tornar realidade ainda. Liguei o carro, Val e eu viajamos em um silêncio cômodo, nossas mãos continuavam entrelaçadas, até que perdi a saída


para retornar à casa de Cara e Shane. — Essa era a saída — disse Val. — Era a saída para a casa de Cara e Shane — disse. — Mas ontem concordou ser minha esta noite então vamos para minha casa, ao menos por algumas horas. Val abriu a boca para dizer algo, mas a fechou de novo e voltou a olhar pela janela. Não tinha certeza do que significava isso. Mas não podia notar se estava feliz ou não. Tive a impressão que não queria ir para minha casa, mas sentia como se não pudesse discutir. Esse horrível peso retornou a meu estômago e senti que não pudesse respirar. Estive a ponto de retornar e levá-la para casa, mas decidi que precisávamos confrontar isto, inclusive se significasse perdê-la. Já não podia viver nesta relação pela metade. Nós dois ficamos calados pelo resto do caminho para casa e Val se encontrava muito tensa enquanto me seguia para dentro. Odiava

o

nervosismo

que

sentia.

Era

minha

namorada.

Estivemos juntos por quase seis semanas. Deveria ser capaz de trazê-la a minha casa sem sentir que a sequestrava. — Então — limpei a garganta, esperando afastar a névoa dela — Tem fome? Poderíamos arranjar algo. — Na verdade, se estiver tudo bem, primeiro gostaria de lavar os restos do mar. Imagens mentais encheram minha cabeça de uma forma


perigosa.

Fantasias

que

definitivamente

não

deveriam

se

converter em realidade. — Hum... — Tive que limpar a garganta de novo. A estúpida coisa estava tão seca que minha voz não queria funcionar. — Acredito que posso ajudá-la com isso. A puxei pela casa para a piscina no pátio traseiro. Vivia sobre o penhasco, então na verdade não tinha um grande quintal além de meu terraço e a piscina. Tinha uma dessas piscinas de borda infinitas, então parecia que podia nadar direto sobre a beira do oceano. A vista era incrível. O sol começou a se pôr no céu, o que fez com que a vista ficasse ainda mais espetacular. Em dez minutos, mudaria o horizonte e pintaria um vívido retrato de laranja e púrpura pelo céu. Não havia nada como um pôr-do-sol sobre o oceano Pacífico no Sul de Califórnia. — O que vamos fazer? — perguntou Val depois de apreciar a vista por um momento. Tirei a camiseta, uma verde de hospital que os funcionários tinham me emprestado e coloquei o pé na água. — Nós vamos lavar os restos da praia. Não tem medo de água, ou tem? — Não, só do mar, lagos e coisas às quais não posso ver mais à frente, mas... — Não se preocupe, a água está quente. É muito mais quente do que onde nadamos antes.


Val continuou olhando a piscina duvidosamente, assim que entrei dentro d’água. Mergulhei e esfreguei muito bem meu cabelo antes de voltar à superfície. — Vem nadar comigo, Val. Só o suficiente para ver o pôrdo-sol e então pode ir tomar banho. Val suspirou, mas sorriu um pouco. — Só quer me ver em um biquíni. Sorri, agradecido por romper a tensão. — A ideia passou por minha mente. Esperei, determinado a ganhar o concurso de olhares em que nos encontrávamos de repente. Felizmente, ela o rompeu primeiro e tirou o vestido de verão pela cabeça. Minha boca ficou seca de novo. A senhorita Atleta Universitária era tudo o que sabia que seria. Linda, pele branca que parecia suave e forte ao mesmo tempo. Era tonificada sem ser exagerada, sua figura não era nada do que zombar. Sabia que ela era consciente de seus seios, mas enchia tão bem esse top. E tinha esse pequeno sinal de nascença rosado em seu quadril esquerdo logo acima de seu biquíni. Todo meu corpo doeu com a ideia de beijar esse sinal de nascença. Val me viu molhando meus lábios e ruborizou. Só me fez querê-la mais ainda. — Você é linda, Val — disse em tom áspero. — Tão linda. Quando entrou na água, acredito que foi para se esconder de meu olhar faminto. Mergulhei abaixo da superfície de novo,


tentando clarear minha mente. Tinha que manter o controle, o que parecia ser uma tarefa árdua e impossível. Quando voltei a subir, Val estava ao alcance de meus braços. Queria puxá-la para mim, mas resisti. Ainda se encontrava na beira. Estendi a mão, esperando que se aproximasse de mim e me surpreendi quando o fez. — Vem ver isto. Peguei a sua mão e caminhei pela água para a beira da piscina que desaparecia. A senti recuar e a aproximei um pouco mais de mim. — Está perfeitamente segura. Pode ir ao longo da beira. — Sei, mas parece tão perigoso. — O único perigo nesta piscina é esse traje de banho que está usando. O comentário ganhou um suspiro exasperando e um sorriso. Chegamos à beira da piscina e apontei a saliência sob a água que funcionava como um banco para nos sentar. Val pareceu aliviada ao sentir o sólido concreto debaixo dela. Da beira da piscina podíamos ver a beira do penhasco a apenas dois metros de distância, onde o piso saía da vista e um interminável oceano se encontrava abaixo. — É lindo — sussurrou Val. Se aproximou mais, se encostando contra mim com um comando silencioso para que envolvesse os braços ao seu redor. A puxei de volta para meu peito, deixando que sentasse no espaço entre minhas pernas. Ela se inclinou para trás e todo seu


corpo relaxou contra o meu. Depois de um momento, suspirou em satisfação total. — Obrigada, Kyle. Precisava disto depois de hoje. Ri. — Eu também. Disse que minha mãe era um pouco demais. Escutei o sorriso na resposta de Val. — Está tudo bem. — Só porque você a agrada. Pode ser cruel quando desaprova as pessoas. — Bom, podemos nos considerar afortunados porque passei na lista de aprovação. — É bonito — admiti. — Acredito que é a primeira garota que apresentei na verdade e está à altura. Agora não pode me expulsar nunca. É a única qualidade redentora que tenho diante de seus olhos. — Se gabava de você todo o dia. Se gabava de mim por ser capaz de me amarrar com uma mulher como você. Então, na verdade, só ficava comentado sobre você. — Bom — riu Val. — Suponho que é uma de suas melhores qualidades. Mas tem outras. Muitas. E algumas inclusive são redentoras. Ri. — Como? Olhou ao horizonte enquanto pensava. — Como sua paixão e criatividade — disse.


— O que faz com a música, as letras que cria e a forma que se expressa é uma das coisas que mais gosto em você. Não tenho um pingo de criatividade e sou terrível em dizer às pessoas como me sinto. Deus, o tempo todo queria poder usar as palavras como você. Fiquei surpreso com seu elogio; me aqueceu por dentro e por fora. Nunca acreditei que prestasse atenção, muito menos que me apreciasse dessa forma. Senti que meu coração tentava sair de meu peito, então a apertei mais junto a mim, nos mantive unidos. Segurá-la tranquilizou um pouco o tamborilar de meu coração, mas não fui capaz de resistir mais a beijá-la, então levei minha boca a seu ombro. Ela inalou e inclinou a cabeça para um lado, me dando permissão de continuar e me dando acesso a seu pescoço. — Também é a pessoa mais amável que conheço, quando quer ser — disse. — As coisas que faz por mim, só para me fazer feliz, como a forma que me ajudou com meu irmão e me ajudou a conhecer um de meus heróis, vai acima e além da maioria das pessoas. Meus lábios roçaram um ponto sensível em seu pescoço e seu corpo balançou com um estremecimento violento. — Não te mereço — sussurrou, com voz estrangulada. Virei à cabeça para encontrar meus lábios com os seus em um beijo doce. O fogo se construiu entre nós em uma queimação lenta e sensual. Cada beijo se fez mais longo e profundo até que nos encontramos completamente fundidos e incapazes de soltar


um ao outro. Moveu seu corpo para os lados para poder alcançá-la melhor até que se encontrava embalada nos meus braços. Suas mãos exploraram meu corpo e seu toque delicado deixava um rastro de arrepios por onde seus dedos se conectavam com minha pele. A sensação era esmagadora. Tentei manter minhas mãos quietas porque sempre que nos beijamos no passado, se afastava quando meus dedos começavam a vagar, mas meu controle vacilou. Queria senti-la e queria que ela sentisse meu toque. Minha mão caiu de seu rosto para seu ombro e riscou a longitude de seu braço. Depois encontrei seu estômago nu e rocei as pontas de meus dedos sobre seu umbigo. Embora a água amortecesse as sensações, ela reagiu a meu toque. Ofegou e suas costas se arquearam de prazer inesperado. Seus olhos se fecharam e suas mãos mantiveram sua própria exploração enquanto relaxava. Era tão bonita assim. Tão incrivelmente deliciosa, apenas para tomar minha atenção como se nunca antes tivesse esperado. Logo depois percebi que nunca experimentou e o ar se obstruiu em meus pulmões. Sabia que havia lugares que nunca fora tocada, prazeres que nunca sentiu e me desesperei por fazê-la senti-los. Não podíamos ter sexo, mas não significava que não pudesse dar a ela uma nova experiência. Podia abrir seus olhos às coisas que a aguardavam. Podia deixá-la sentir exatamente o quanto me


importava. Queria fazer isso por ela. Queria compartilhar essa conexão com ela. Precisava dessa intimidade. Minha mão caiu ao sul de seu estômago sobre a borda de seu biquíni. No segundo em que a toquei, sufocou um ofego e se sentou, afastando minhas mãos dela. — Kyle, não! Fiquei surpreso com o olhar que me deu e meus braços instintivamente foram ao seu redor, a embalando comigo antes que tivesse a oportunidade de fugir. — O que foi? — perguntei, minha voz estrangulada e rouca. — Prometo que posso lidar com isso. As normas seguem definidas. Conheço as regras. Sem sexo. Saiu dos meus braços e virou para mim com um olhar de tristeza em seu rosto. — É mais que isso, Kyle. Não quero manter minha virgindade apoiada em uma questão técnica. Não protejo só minha virgindade. Mas a minha virtude. — O que significa...? — Não tentava ser desrespeitoso de maneira nenhuma. Honestamente não entendia. Val estudou meu rosto por um minuto, percebendo a minha confusão, e seu rosto se suavizou com uma expressão de tristeza. — Significa não fazer nada disto — disse. — A segunda e terceira base estão tão fora dos limites. Deveria saber. Saímos todo o verão e nunca chegamos aí.


Deveria ter visto isso chegando, mas ainda me surpreendia. Ainda doía. E não referia só a uma maneira de insatisfação. Era como se não quisesse ir aí comigo. Como se não sentisse nada. Como podia se manter tão fria quando eu estava tão quente? Sabia que não devia tomar sua recusa como pessoal, mas não pude evitar. Minhas mãos se fecharam em punho e fiz uma rápida retirada da piscina. Precisava de espaço longe dela. Agarrei a toalha de uma cadeira e tentei acalmar um pouco minha irritação enquanto secava o cabelo. Uma mão me tocou ligeiramente no ombro e Val sussurrou em voz baixa: — Sinto muito. Não pude suportar mais. Algo dentro de mim se rompeu. Virei para ela. — Isto está me matando! — Respirei fundo quando o sangue drenou de seu rosto e esperei até poder falar de um jeito mais controlado. — Nunca senti isto, Val. Nem com Adrianna. Não entende? Estou apaixonado por você. Te amo tanto que já não sei o que fazer comigo mesmo. Cada parte de Val congelou exceto seus olhos, os que se encheram com lágrimas. Não tinha ideia do que pensava, ou por que meus sentimentos causavam tanta dor, mas não podia deixar de falar. Comecei com este desastre e agora precisava chegar ao final. — Nem se trata de sexo — disse. — Estou ficando louco porque cada vez que tento me


aproximar de você, você se afasta. Nossa relação se encontra completamente na superfície. É superficial. Continuo tentando mergulhar e você não me segue. Tenho medo que não esteja tão comprometida

nisto

como

eu

e

isso

tem

me

deixado

completamente perdido. A última palavra morreu em minha língua. Eu estava vazio. Não sabia mais o que dizer para fazê-la entender. Val ficou ali por um momento angustiante, deixando que as lágrimas corressem por suas bochechas. — Kyle — sussurrou com voz afogada: — estou nisto tão profundo que me afogo. Minhas sobrancelhas se uniram confusas, mas a esperança despertou no mais profundo de minhas vísceras. — Também te amo. Meu coração parou, silenciosamente chocado e temia que começasse de novo. Secou a umidade de suas bochechas e deu um passo vacilante para mim. Surpreendi a ambos quando dei um passo para trás, ficando fora de seu alcance. Precisava de um momento para processá-lo. Ouvi-la dizer essas três palavras empurrou meus sentimentos a um ponto de não tinha retorno. Queria que fosse real.

Precisava que fosse

real, porque se

arrependesse, não

de

alguma forma se

sobreviveria à perda. Mas não podia me convencer que o que dizia era sério, então ainda não podia aceitar. Val tragou seus nervos e disse: — Estou louca e perdidamente apaixonada por você, e isso


me aterroriza. Me apaixonei por você na primeira vez que jogamos este jogo e me destroçou quando foi embora. Passei quatro anos tentando me convencer de que o superei, mas soube que nunca deixei de te querer no segundo que caminhou no palco no show de Connie Parker. Fechei os olhos ante a pontada de emoção e respirei tranquilo. — Não entendo — admiti. — Se sente assim, por que não me deixa te amar? — Porque tenho medo — sussurrou.

Quando encontrei

seus olhos de novo, encolheu os ombros. — Tantos rapazes me convidaram para sair na escola secundária e todos eram como você. O velho você — corrigiu rapidamente, quando estremeci. Se deixou cair sobre uma cadeira e ficou olhando fixamente suas mãos enquanto falava: — Eu era a famosa virgem — disse com amargura. — Viram um desafio irresistível e quando se davam conta de que não iriam ganhar, me deixavam. Me olhou com o rosto cheio de novas lágrimas. — Fui deixada por cada homem com que saí, começando na escola secundária com Zach e esse vídeo estúpido. Vi muitos de meus amigos encontrarem o amor: Robin, Isaac, Cara, Stephanie, e, entretanto, nunca consegui ter uma só relação bem-sucedida. Limpou os olhos e suspirou como se sua situação não


tivesse solução. — Você é a pessoa que me disse há tantos anos que deliro. Que tenho padrões impossíveis. Disse que tento encontrar um homem que não existe. Poderia golpear a mim mesmo na cara por dizer essas coisas tão horríveis. Por fim consegui mover os pés e fui me sentar a seu lado, na cadeira. — Val, era um idiota nessa época. Era um idiota egoísta e arrogante, estava chateado, já que não podia conseguir o que queria de você. — Mas tinha razão — insistiu. — Demonstrei sua teoria um milhão de vezes mais. Com o tempo

me

cansei

de

tentar

e

falhar,

então

renunciei

completamente a sair. — Não tinha razão — insisti. — Eu passei todo esse verão tentando demonstrar o quão equivocado estava. Acredito que ganhei um pouco mais de confiança a esta altura. Ela fechou os olhos e assentiu. — Tem — admitiu. — Mas isso é o que me assusta. Fui ferida tantas vezes, que perdi a conta, e então, de repente, do nada, o menino que mais queria e pensava que alguma vez teria uma oportunidade, aparece disposto a renunciar ao sexo por mim? E, Kyle, você é mais

surpreendente

do

que

qualquer

um

sabe?

Parecia

impossível que um homem como você fique, isso ainda parece


impossível. É inevitável pensar que você se cansará deste jogo e se afastará como todos os outros. Como fez antes. Meu peito estava tão apertado que quase não podia falar. Tive que usar toda minha energia para conseguir armar uma só frase. — Não vou a nenhuma parte, Val. Te juro. — Quero acreditar em você. Tento. Mas não posso deixar de manter a distância entre nós, porque apesar de continuar me apaixonando cada vez mais por você, sempre estou esperando que quebre meu coração. Se dissesse uma palavra mais, ia me quebrar em mil pedaços. Levei minha boca sobre a dela e a beijei como nunca a beijei antes. Com as paredes entre nós derrubadas, derramei cada grama de amor que tinha nesse beijo até que estivesse seguro de que ia parar de esperar que a machucasse. Porque depois desse beijo, sabia que seria impossível. Uma vez que parei para recuperar o fôlego, descansei minha testa contra a dela. Meus olhos se fecharam, mas ainda podia ouvir seus suspiros. Podia sentir seu peito tão agitado como o meu. — Val, cedo ou tarde, alguém tem que ceder — engasguei. — Não quero quebrar seu coração, mas está sempre me afastando e não posso suportar mais. Tem que me deixar entrar. Tem que confiar em mim. Tomei seu rosto entre as mãos e afastei seu cabelo para trás.


— Sei que não podemos ter relações sexuais, mas preciso me sentir mais perto de você. Preciso desta ligação para me sentir maduro. Não sei como lidar o "controle dos pais". Se não puder estar comigo fisicamente, então preciso que esteja comigo aqui. — Coloquei meu dedo em sua cabeça, logo o mudei para descansar sobre seu coração. — E aqui. Qualquer que seja o passo seguinte preciso disso. Preciso de você. Um soluço silencioso saiu do seu peito. Depois de um momento de agonia que pareceu uma eternidade, me olhou através de seus cílios úmidos e disse: — Ficarei com você esta noite. Fiquei imóvel, com certeza eu ouvi errado. — Podemos pedir comida, alugar um filme e ficar esta noite... só você e eu. — Ela respirou. — E vou passar a noite se quiser. Se você acha que pode lidar com essa situação. Minha mente ficou em branco. Quando enfrentei esta opção, simplesmente fez um curto circuito. Sabia que deveria dizer que não tinha que fazer isso. Sabia que só o oferecia porque pedi que me desse mais. Não pretendia passar a noite comigo, mas eu queria. Queria mais do que nunca desejei isso por toda minha vida, e definitivamente sou um homem egoísta. — Tem certeza? — Foi o mais parecido a uma resposta que podia administrar. Parecia nervosa e sua voz tremeu um pouco quando disse:


— Nada de brincar? — Nada — prometi. — vou manter minhas mãos quietas. E, como sempre, segue aplicando a regra da fita adesiva. Sorriu diante disso, e algo que me lembrou à determinação em seus olhos. — Então ficarei. Quero ficar. — Colocou a mão sobre meu peito e respirou um comprido e profundo suspiro. — Confio em você, Kyle. Peguei suas mãos e as envolvi atrás de meu pescoço. — Não vou te machucar — prometi enquanto passava os braços ao redor de sua cintura e a puxava para mim. — Não poderia. Eu te amo muito. — Também te amo — sussurrou ela e pela primeira vez desde que a conheci, acreditava que me amava de verdade.


F é por Fantasia

Ficamos ali no terraço da piscina nos beijando até que nos demos conta de que o sol se pôs e nos encontrávamos gelados e molhados. A coloquei no meu chuveiro e levei um par de calças com cordão e uma camiseta. Então fui pedir comida Chinesa e tentei, duramente, não pensar no fato de que Val estava em meu chuveiro. Acabava de pagar ao entregador e trazer as caixas de comida à cozinha quando ela apareceu. Minha roupa, a devorava. Usava uma calça esportiva azul marinho, minha camiseta favorita dos Lakers e o cabelo molhado amarrado em um coque desordenado. Era o aspecto mais quente que vi até agora. Viu o sorriso em minha cara e ruborizou quando se olhou. — Pareço ridícula. Neguei com a cabeça. — Parece sexy. — Sempre disse isso.


— Sempre parece assim. Especialmente neste momento. — Revirou os olhos e cruzou a sala para inspecionar as opções para o jantar. Coloquei os braços ao redor dela e sorri. — Está melhor? — Muito. Agora cheiro como um homem graças a seu sabonete corporal, mas estou limpa. Não pude resistir e respirei fundo. Enterrei o rosto em seu pescoço e inalei profundamente, mas logo comecei a rir. — Tem razão. Cheira como um menino. Isso... é estranho. — Mesmo assim, é melhor do que água salgada e cloro, então obrigada. O sabonete viril foi muito apreciado. — É bem-vinda a utilizar meu chuveiro há qualquer momento. E a usar minhas roupas em qualquer momento. Ou... não as usar. Isso também estaria bem comigo. Val suspirou, mas divertida. — Onde guarda os pratos? Vou arrumar isto para nós e procurar algo para assistir enquanto toma banho. — Tirou o talharim e disse: — Tem cinco minutos ou comerei sem você. — Mandona — brinquei. Soltei meu próprio suspiro brincalhão. — Meu banho terá que ser frio, então não precisarei de cinco minutos. Começou a rir, mas eu não estava brincando. Quando retornei cinco minutos mais tarde, encontrei Val sentada de lado no sofá, com os joelhos debaixo do queixo e o


controle remoto na mão. Havia dois pratos cheios de comida chinesa e alguns refrescos na mesa de café. — Espero que tenha fome — disse, fazendo um gesto para o prato com o dobro de comida. — Não sabia o que queria, então coloquei um pouco de tudo. Olhei a grande quantidade de comida e sorri. — É um começo. Encontrou algo para assistirmos? O rubor em suas bochechas despertou minha curiosidade. — Não me odeie — disse enquanto me sentava a seu lado, — mas notei que estava aqui e sempre pensei que seria divertido ver isto com você. Olhei a tela e gemi interiormente. — V é por Virgem? Fala sério? Ruborizou mais ainda e mordeu o lábio com nervosismo enquanto assentia. — Por favor? Já assistiu? Desta vez reclamei em voz alta. — Me fizeram de vilão e usaram o maior idiota de Hollywood para me interpretar. Riu e começou o filme sem esperar por minha aprovação oficial. — De alguma forma você era o vilão, então, — disse, — acredito que o ator foi perfeito. Bem quando disse isso, o idiota em questão apareceu na tela.


— Brian Oliver? — perguntei, insultado com meu pesar. — Você gosta desse cara? Ela riu da minha careta. — Veja, sei o que ele fez, mas é um grande ator. Fez um trabalho fantástico neste filme. Não podia acreditar no que escutava. Tinha que estar brincando comigo. — Está brincando. Você gosta, sério? Seu sorriso se desvaneceu um pouco e deu de ombros. — É difícil que não o faça. Se não fosse por ele, você e eu não teríamos uma segunda oportunidade. Minha resposta morreu em meus lábios. Como ia discutir com essa lógica? Pouco a pouco os cantos de minha boca se elevaram, transformando minha careta em um sorriso a contragosto. — Boa resposta. — Olhei a minha namorada, então dei uma olhada para a tela de novo e quase me senti agradecido ao filho de puta. Deixei escapar um suspiro. Agora precisava de um novo arqui-inimigo. — Talvez não seja tão ruim — admiti. Ela começou a rir e se inclinou para me beijar antes de pegar seu prato de comida. Peguei o meu e descobri que me sentia muito animado para ver este filme com ela. Mesmo assim, havia algo que tinha que criticar. — No entanto, o homem não consegue cantar uma merda.


Teve que dublar as minhas músicas. Ela começou a rir e finalmente começamos a comer e ver o filme. Ambos comemos nosso peso em comida chinesa e não passou muito tempo antes que Val começasse a cabecear. Ainda era muito cedo, mas ambos tivemos o dia mais longo de nossas vidas e, por uma vez, estávamos juntos sem nenhum tipo de tensão entre nós. Sua cabeça caiu em meu ombro e sua mão na minha. Quando percebi que dormia, desliguei o filme e fiquei ali, me debatendo se devia acordá-la ou não. Sabia que estaria mais confortável na cama, mas não sabia que tipo de arranjo para dormir tinha em mente. Se ia se fechar no quarto de hóspedes, então preferia não a acordar. Ficaria sentado aqui toda a maldita noite e felizmente sofreria a rigidez pela manhã. Apoiei a cabeça contra a dela e deixei que meus olhos se fechassem. Estava preparado para segurá-la durante toda a noite, mas durou apenas uns cinco minutos antes que entregasse os pontos e a beijasse. Ela acordou e instintivamente me devolveu o beijo, mas tomou uns minutos para despertar realmente. Ela estava de costas no sofá antes que recuperasse plenamente seus sentidos e percebeu que adormeceu. Parou de me beijar e se sentou. — Sinto muito — me desculpei. Dei um sorriso tímido. — Acredito que nunca serei tão horripilante como um vampiro. Tentei vê-la dormir, mas pelo que parece não tenho autocontrole.


Sabia que estava cansada quando sua única resposta foi um sorriso pequeno. — Sinto muito — disse, esfregando os olhos. — Passar o dia na praia sempre me esgota. — Acredito que foi todo o drama do bebê o que me destruiu. Ela riu entre dentes. — Nós tivemos um longo dia. — Sim. — Não queria terminar nossa noite tão cedo, mas percebi o quão cansada que estava. Fiquei de pé e estendi a mão. — Vamos. Tenho alguns quartos para convidados. Vou deixar que escolha, embora recomendo o com fechadura na porta, do contrário é possível que não se encontre sozinha quando acordar pela manhã. Comecei a levá-la pelo corredor, mas me parou. Quando virei para ela com um olhar inquisitivo, sorriu como se houvesse dito algo adorável. — Não tenho nenhuma intenção de acordar sozinha — disse. Essa foi toda a explicação que precisava. — É a melhor namorada do mundo — disse, chocando meus lábios sobre os dela de novo. Uma vez que me encarreguei disso, mudei meu curso para a suíte principal e a arrastei a um ritmo tão rápido que ela riu de mim. Encontrei uma nova escova de dente, rapidamente escovei


meus dentes e logo empurrei as mantas da cama. Normalmente dormia em nada mais que meus boxers, mas coloquei minha calça de pijama e uma camiseta pelo bem de Val, enquanto me metia na cama. De repente fervia de energia. Sabia que tudo o que íamos fazer era dormir, mas meu corpo não se importava. Permanecia vivo, cheio de antecipação, apenas com a ideia de tê-la em minha cama. Tive uma série de respirações profundas e tentei me acalmar. Se tivesse alguma ideia de quão difícil ia ser para eu manter as mãos longe dela, fugiria da casa gritando e nunca confiaria em mim. Estava ocupado, orando por autocontrole quando Val limpou garganta para chamar minha atenção. Levantei os olhos e... Santa merda! Ela saiu. Ela estava de pé na porta de meu closet, usando nada mais que uma camisa que parecia bem em Cara, mas em Val, com suas intermináveis pernas... Não podia respirar. Suas mãos se perdiam quase completamente nas mangas longas e tinha os dois primeiros botões abertos. Tinha certeza que ela ainda usava a parte inferior do biquíni, mas muito mais certeza que não usava a superior. Alisou a parte da frente da camisa uma vez e então me olhou nos olhos com um olhar um pouco vulnerável. Engoli saliva, completamente incapaz de formar qualquer tipo de palavra. O que esta mulher tentava fazer comigo?


Como uma sereia, nascida para seduzir os homens até sua morte suprema, caminhou para mim, sem desviar os olhos dos meus enquanto chegava aos pés da cama. — Val — sussurrei com voz rouca enquanto me sentava e me apoiava contra a cabeceira. — O que está...? Todo o ar abandonou meus pulmões quando subiu na cama e lentamente engatinhou até minhas pernas. Dei um grito abafado quando se sentou escarranchada em meu colo. Levantou minha camiseta e a passou por minha cabeça. — Esta era a fantasia, não? — perguntou enquanto suas mãos caíam a meu peito nu. Fechei os olhos e tomei um punhado do lençol por debaixo de mim, agarrando com tanta força que meus dedos queimavam. — Porra, Val — saiu uma súplica desesperada. Todo meu corpo tremia ao lutar por meu controle. Suas mãos suaves pegaram minhas bochechas e senti sua boca roçar a minha. — Foi um menino muito bom neste verão, Kyle — sussurrou. — Merece um pouco de ação para maiores de treze anos. Ela brincava com fogo e me deu muito crédito. Quando não respondi, trouxe seus lábios aos meus me forçando a abrir. Então me beijou mais profundamente do que já fez. Quando sua língua inundou minha boca e suas mãos


afundaram em meu cabelo, meu controle se rompeu. Envolvi os braços ao redor dela e fundi nossos corpos. Meus beijos se tornaram frenéticos e bruscos. Minhas mãos percorreram o comprimento de suas coxas e nuas e macias, viajaram pelos quadris até debaixo da camisa. Vagaram por suas costas, e na volta acariciaram os lados de seus seios nus. Ela estremeceu e escapou mais um pequeno suspiro, mas não me afastou. Não me disse que parasse. Estava oprimida tanto como eu, e, Deus me ajude, ia transar com ela. — Val — supliquei. — Tem que parar. — Tudo bem, Kyle — ofegou, sua respiração tão frenética como a minha. — Estou bem. Estamos bem. — Porra, Val, não estou bem! Surpresa jogou o rosto para trás para olhar meus olhos, mas rapidamente levei sua boca de novo à minha. Pressionei seus quadris com força contra mim e ofegou de novo. Sabia que tinha que parar, mas não pude. Não podia parar. Perdi todo controle. Ela era o demônio em forma de mulher, feita para seduzir os homens. — Preciso de você — rosnei. Era tanto uma advertência como uma declaração. — E em um segundo, vou tomar o que preciso a menos que me pare.


Finalmente reagiu e voltou em si. — Tudo bem — disse, e saiu do meu colo. Sentou em silêncio, insegura, com os joelhos dobrados contra o peito e os braços apertadamente ao redor deles enquanto eu tentava recuperar um pouco de controle. Levou muito tempo. Não sabia que estava chateada até que sussurrou: — Sinto muito. — Eu ouvi o nó em sua voz. Deitei e a arrastei comigo. — Não sinta — disse, a puxei contra mim e envolvi os braços a seu redor. — Eu não me arrependo. Não tem ideia de quanto significa para mim o que acaba de fazer. — De qualquer forma. Lamento não poder te dar mais. — Beijei sua testa e entrelacei nossos dedos sobre meu peito. — Isto é suficiente — prometi. — Esta noite foi suficiente. Durma um pouco, Val. — No final ela relaxou contra mim e quando a apertei em um abraço, sussurrei: — Eu te amo, Virgem Val Jensen. Choramingou um sussurrou em reposta: — Eu também te amo, Kyle.


M é por Matrimônio

Logo que

acordei, pensei que sonhei, a piscina, a

declaração de amor de Val, passar a noite relaxados, comendo pratos chineses e olhando filmes no Lifetime original, vê-la desenvolver minha fantasia até quase explodir de desejo, e logo dormir com ela em meus braços. Era muito bom para ser verdade. Tinha medo de abrir os olhos porque não queria me encontrar na cama sozinho. Mas então, a cama se moveu a meu lado e soube que era real. O sorriso se encontrava em meu rosto antes que abrisse os olhos. Val foi para longe de mim em algum momento da noite se encolheu em uma bola. Fui até ela e me encolhi contra suas costas, passando o braço sobre sua cintura para puxá-la com força contra mim. Murmurou algo incoerente quando deu a volta e se encolheu contra mim. Esticou suas largas pernas, e as enrolou com as minhas e voltou a cair em um sonho tranquilo. Ontem à noite não tive a paciência para vê-la dormir, mas


agora sentia como se pudesse estar ali para sempre. Era loucura que pudesse despertar me sentindo tão depravado e satisfeito apesar de que fui dormir dolorosamente frustrado. — Tira esse sorriso tão grande — disse de repente. — Ninguém deveria estar tão feliz de manhã. Não é natural. — Não tinha se movido e ainda tinha os olhos fechados. — Não estou sorrindo — menti. — Tem um sorriso tão grande que posso sentir. Me mantém acordada. Ri e dei um beijo na cabeça. — Já disse que parece hilário que não seja uma pessoa da manhã? — Parece decepcionante que você seja — resmungou Val. — É uma estrela de rock. Deveria estar em festas à noite toda e dormir o dia todo. — Normalmente não sou uma pessoa da manhã, mas esta manhã parecia valer à pena levantar cedo. Finalmente levantou a cabeça do meu peito e me olhou. Tentou manter uma expressão indiferente, mas não conseguiu enquanto eu dava um grande sorriso brega. Sorriu e se impulsionou para cima para beijar minha bochecha. — Bom dia. — A melhor manhã da minha vida. Disse em brincadeira, mas quando ela riu, me dava conta que era verdade. Fazia muito tempo que não me sentia tão contente. Agora me sentia feliz, verdadeiramente, pela primeira


vez em muito, muito tempo. Val me fazia feliz. — Quero isto — disse, a apertando, como se para segurar mais forte, o formigamento súbito que estava em meu peito. — Quero despertar contigo assim cada manhã. — Isso definitivamente não é uma boa ideia — riu Val. — Um pouco de tentação de vez em quando é uma coisa, mas não duraríamos uma semana se fizéssemos isto todos os dias. Kyle, ontem à noite quase não duramos. — Então case comigo. As palavras saíram de minha boca mesmo antes que me desse

conta

de

que

achava

em

minha

cabeça.

Ambos

congelamos, chocados. Val se sentou e me olhou com os olhos muito abertos, tentando entender se disse o que acabava de dizer. — O que? — perguntou. Meu cérebro era uma confusão, mas quando me sentei ali, tentando entender constatar o que aconteceu, me dava conta de que a sensação dentro de mim, não era pânico. Era emoção. Queria isto. — Case comigo — disse. Soava tão assombrado como parecia, mas me sentia bem. Era o correto. Quando voltei a falar, minha voz passou de surpresa a insistente. — Seja minha esposa, Val. Seja a mulher que acorda na cama comigo cada manhã pelo resto de nossas vidas. Briga comigo como fazem Robin e Alan. Faça amor. Tenha meus filhos. — Seus olhos se abriram tanto que ri e lhe disse:


— Você sabe, com o tempo, algum dia. — Kyle... eu.... fala sério? Não tinha intenção de pedir, mas agora que fiz se dissesse que não, me mataria. — Odeio admitir, mas passei por mulheres suficientes para saber que não há outra como você por aí. É a única, Val. Se me aceitar, não haverá ninguém mais para mim. Demorou uma eternidade para dizer algo. Esperei, com a respiração contida em meus pulmões por sua resposta. — Mas estamos a ponto de nos despedir — disse, enrugando a testa com preocupação e sua voz caindo a um sussurro. — Não se preocupa um pouco com isso? Temi durante todo o verão, mas agora me sentia seguro. Sorri. — Val, quantas vezes tenho que dizer? Vale a pena te esperar. Não apreciou a brincadeira. — Falo sério, Kyle. — Eu também. Superaremos a separação. São só alguns meses enquanto estou de turnê e pode me alcançar cada fim de semana, se quiser. Programaremos largas pausas pelo país e os diferentes lances da turnê mundial, e posso me assegurar de ter livres todos os dias festivos pra ficar com você.

Estará tão

ocupada com a universidade que o tempo passará voando. — Deixei escapar um bufar e acrescentei:


— Além disso, estar separados por todo o compromisso poderia ser a única maneira de fazer que chegue ao altar sendo virgem. Val me surpreendeu com uma risada. — Isso é definitivamente a verdade — murmurou. Não sabia o que fazer com isso. Isso foi um sim? Esperava que fosse um sim. Esperava obter dela, porque quanto mais falava disso, mais me convencia de que isto estava destinado. Me sentia visualmente enjoado quando tomei suas mãos entre as minhas e disse: — Val, se formos capazes de sobreviver a uma relação sem sexo, somos suficientemente fortes para sobreviver ao que a vida nos lança. Te amo tanto. Quero que seja minha para sempre. Me diga que se casará comigo. Ainda duvidava, então arqueei uma sobrancelha para fazêla saber que falava a sério, quando disse: — Não me obrigue a fazer algo drástico, como pedir isso na televisão ao vivo, então terá que dizer que sim. Porque sabe que farei. Deixou escapar uma gargalhada histérica e estalou em lágrimas quando lançou os braços ao redor de mim. — Não! — exclamou e meu coração deu um tombo até que disse: — Absolutamente não faça propostas na televisão ao vivo. Te matarei. Esta proposta foi perfeita e é a única precisa fazer. — Me separei para poder olhá-la nos olhos.


— Isso é um sim? — Sorriu entre as lágrimas e voltou a rir. — É um sim. Começou a dizer algo mais, mas falar não era algo para o que estava de humor por mais tempo. A paixão se apoderou de mim, e afligido com tanto amor pela mulher sentada diante de mim tive que beijá-la justo nesse segundo. Planejava nunca deixar de beijá-la, mas seguia arruinando o ânimo por rir sob meus lábios. Antes que soubéssemos, nós dois ríamos muito para manter o ritmo dos beijos. — Você gosta — disse, recordando uma brincadeira que fazia séculos. — Você gosta de cem por cento. Voltou a rir e sacudiu a cabeça. — Eu gosto uns oitenta e nove por cento, no máximo. Mas te amo os cem por cento. Tentei parecer doído, mas não podia apagar o sorriso de minha cara. — Bastante bom. Por um momento nos sentamos ali, sorrindo como idiotas. Val cobriu um bocejo com a mão e se estirou. — Por favor, me diga que tem café por aqui em alguma parte. — Sim. — Praticando? — Val riu dissimuladamente. Pus

os

olhos

ante

a

brincadeira

brega.

Nós

comprometermos, convertemos nossos cérebros em mingau.

nos


— Então, senhorita “Não Sou Uma Pessoa da Manhã”, o que você gostaria de fazer hoje? — Tomei sua mão e a beijei. — Quer ir às compras para que possa pôr uma pedra adequada neste dedo? Foi uma má maneira de pedir que case comigo antes que tivesse um anel. — Ouça, não critique minha proposta acidental — disse. — Não foi uma má maneira. Foi perfeita. Seu coração falou antes que seu cérebro pudesse detê-lo. Na verdade, foi muito próprio de você. Isso valeu outro beijo. — A cafeteira está na cozinha. O café deveria estar justo ao lado. Por que não coloca para fazer enquanto me visto e logo te levarei às compras. Conseguiremos uma muda de roupa enquanto estamos fora porque não quero levá-la na sua casa. — Soa como um plano. Val sorriu e envolveu os braços ao redor de mim. Depois de me beijar de novo, dediquei um sorriso malicioso. — Vou escolher sua roupa íntima. Me golpeou divertidamente no braço, mas me dava conta de que saiu do quarto e que não se negou à ideia. Val se encontrava no terraço com sua caneca de café quando a encontrei. Estava de pé no corrimão olhando para o oceano, ainda usando nada mais que minha camisa. Tomei um momento para desfrutar de suas pernas quilométricas, mas isso só me fez mais desesperado para tocar, então fui até ela e fiz isso.


— Já vê, isto está destinado — disse enquanto passava as mãos sobre seus quadris e suas pernas. — Já conhece a rotina. Bebo meu café aqui, cada manhã. Estremeceu de novo e se recostou em meu peito. — É uma vista magnífica. — Melhorou muito nos últimos tempos. Sorriu. —

Me

deixe

adivinhar,

porque

minha

aparência

recentemente saída da cama é sexy? — Você sabe que sim. E sabe que tenho uma fraqueza por estas pernas. Deveria usar nada mais que isto de agora em diante — disse, fazendo que me beijasse de novo. Nunca ia me cansar de beijá-la. Nem esses pequenos beijos rápidos. Dentro de cinquenta anos, ainda ia fazê-la me beijar cada vez que a visse. Levamos nossas canecas fumegantes ao sofá do pátio e nos sentamos

em

silêncio

por

um

momento,

simplesmente

desfrutando da paz entre nós. Val rompeu primeiro o silêncio. — Então — disse. — Pensava em toda esta coisa do matrimônio. — Já se acovarda? — brinquei. — É uma galinha. Sorria, mas continuava pensando. Tinha algo em sua mente e não ia deixar perder a concentração. — Qual é sua opinião sobre o casamento? Uh. O bate-papo sobre o casamento já começava. Contive


um gemido e me recordei que Val valia. — O que quer dizer? — Tem alguma preferência? Grande, pequena, destino... tema? Tema? Estremeci e a olhei. — Eu quero o que você quiser. — Soltou um gemido. — Falou como um verdadeiro homem. — Não, falei como um homem que conheceu um par de noivas. Um casamento é para a mulher. É seu dia, Val. Podemos fazer o que quiser. Ficamos em silencio de novo e mudei o olhar para o oceano enquanto tentava averiguar que tipo de bodas ela gostaria. Não pensava que estaria tão louca como Adrianna, mas depois de ontem, ver seu trabalho em público com minha mamãe, podia ver um casamento como um tipo de evento de grande política em meu futuro com um destacado planejador de casamentos e minha mãe tomando todas as decisões. Uma tortura. No lado positivo, estaria em turnê a maior parte do planejamento, então esperava que pudesse deixar elas fazerem tudo e não ter que fazer muito. Val me tirou de meus pensamentos de pesadelo. — E se eu não quiser uma? Não sabia como responder. O que quis dizer? Antes tirei sarro, mas na verdade dava para atrás? Meu pulso se acelerou ante a ideia. — O que quer dizer? Não quer casar? Quando riu, meu peito se relaxou.


— Quero me casar com você — disse. — Mas, e se simplesmente saltamos direto para o casamento? Ficaria decepcionado? Sem festa? Só casar? Brincava? Tinha medo de responder. — É uma pergunta com armadilha? Uma espécie de prova de garota? Voltou a rir e sacudiu a cabeça. — Não é uma prova. Sei o quanto odeia todas as coisas sofisticadas, que suponho incluem as festas de casamento. Além disso, disse que queria despertar comigo cada manhã e me parece um bom plano. Por que não o torna realidade? — Espera, diz que deveríamos fugir? — Não acredito que dizia isso. Não sou tão sortudo. Val encolheu de ombros. — Sabe o que acontecerá se você e eu anunciarmos nosso compromisso? Será um completo circo midiático. Pessoas nos seguiriam todo o tempo, querendo cada detalhe e nos julgando pelas decisões que tomamos. Provavelmente nos pediriam que fizéssemos um reality show de nosso casamento. Quero que meu casamento seja meu. Não quero compartilhá-lo com o mundo inteiro. Na verdade, podia vê-lo completamente assim. E Val tinha razão. Ela odiaria toda essa atenção. — Poderíamos fazer algo pequeno — disse. — Não tem que fugir. Se quiser que sua família e amigos estejam ali, estou seguro de que poderíamos encontrar uma


maneira de manter tudo privado. Val sacudiu a cabeça e tomou um sorvo de café. — Sou a Virgem Val, Kyle. Sabe o que significaria um matrimônio para o mundo? Significaria que a virgem enfim terá sexo. As pessoas ficarão loucas por isso. Inclusive se arrumamos isso para manter o casamento em privado, pessoas estariam em minha casa cada segundo até o dia do nosso casamento, me perguntando todo tipo de coisas pessoais que não vou querer responder. E logo encontrariam uma maneira de nos espreitar depois. Os paparazzi seguiriam a nossa suíte de hotel essa noite e acampariam no vestíbulo a fim de conseguir a primeira entrevista com a declaração sexual de A Virgem. Suspirei, porque tinha razão. Queria dizer que poderíamos evitar que isso aconteça, mas era sensato. Estive driblando com os paparazzi por muito tempo para ser ingênuo a respeito do que eram capazes de fazer. Não me surpreenderia se alguém fosse capaz de averiguar que quarto era o nosso e encontrar uma maneira de tirar nossas fotos durante o ato. Val ia ficaria muito nervosa em sua noite de núpcias. Não precisava acrescentar esse estresse. Queria que ela desfrutasse de sua primeira vez, sem temer que tivesse que enfrentar o mundo pela manhã. — Não quero isso — disse. — Não quero que os meios de comunicação arruínem a primeira vez que nós faremos amor. Meu cérebro ficou completamente louco outra vez. Disse


"nós". Disse a primeira vez que "nós" faremos amor. Falava de nós tendo sexo e de repente não podia pensar em nada mais. Tudo o que podia fazer era me sentar ali e imaginar exatamente como seria. — Sei que vão perguntar — disse Val. — Sei que não posso fugir da imprensa sempre. Sou a Virgem Val. Terei que falar disso pelo menos um pouco. Mas se nos casarmos e não dissermos a ninguém, poderíamos manter em segredo por uma semana ou duas. Poderíamos nos dar um pouco de tempo para desfrutar um do outro antes que comece o circo midiático. Continuou falando como se não se desse conta de que me estimulava. Me convenceu no comentário "fugir para casar". Deixou sua caneca no chão e virou para mim. Tomou minhas mãos entre as suas e me olhou com tanta intensidade que podia sentir. — Quando me entregar a você quero que seja a única pessoa em minha cabeça. Não quero ser capaz de pensar em nada mais do que você e eu. Esquecer do mundo. Isto se trata de nós. Pode ser que seja um modelo a seguir para muitas pessoas, mas me guardei para você, não para eles. Me guardei por mim. Isto é o que quero. Sempre e quando estiver de acordo com isto. Também, enquanto que seja o que queira. Acredito que nunca chorei. Nenhuma só vez em toda minha vida adulta, que me lembre. E não chorei agora, mas isto era o mais perto que cheguei de fazer. Minha garganta parecia


fechada, meus olhos ardiam e meu nariz formigava. Era perfeita. Ela era absolutamente perfeita e era minha. Ou seria, muito, muito em breve. Cobri o ataque emocional com uma risada. — Val, me pergunta se quero evitar meses de crise de centros

de

mesa,

minha

prometida

convertida

em

uma

noivazilla, minha mãe se transformando em algo um milhão de vezes pior e uma festa em que estaria obrigado a usar um smoking durante todo o dia, tudo para que possa a ter para mim e não ter que compartilhar com ninguém. Está louca? Ainda estou esperando o fim da piada. Val pensou por um minuto, procurando em meus olhos alguma

insinuação

de

que

não

me

encontrava

muito

emocionado. Não a encontrou. Uma vez que por fim acreditou que concordava, seus lábios se curvaram em um sorriso malvado. Era a classe de olhar que eu dava regularmente, mas nunca a vi em seu rosto e conseguiu bombear meu sangue como um louco. — Que tal isto para o fim... — sussurrou, molhando os lábios enquanto seu olhar se posava em minha boca. A ação fez que me esquecesse de respirar. — Case comigo hoje e voltarei a ficar esta noite, só que desta vez ao invés de pedir que pare, vou implorar para continuar. Aspirei uma baforada de surpresa e me afoguei com minha própria saliva. A forma em que a agarrei e a devorei em um beijo


era

completamente

animal,

tão

primitiva

como

minha

necessidade por ela. Minhas mãos encontraram suas coxas, ainda maravilhosamente nua e gemi. — Não conseguiremos chegar a Las Vegas — grunhi quando a devorei em meu colo. — Podemos fazer no escritório do secretário do condado — ofegou Val. Isso soava muito mais perto. E mais perto era bom. — Está bem. Iremos. Agora mesmo. — É segunda-feira pela manhã. Tem ensaio em umas poucas horas. — Fiquei doente. Acabo de adoecer de algo que tomará pelo menos uma semana de recuperação. — Não tenho nada que me opor. — Encontraremos um centro comercial no caminho. E agora, na verdade posso escolher a calcinha.


S é por Sexo!

Não desperdiçamos tempo. Preenchemos a solicitação de licença de matrimônio em linha e programamos a primeira entrevista disponível para a cerimônia. Nos deu o tempo certo para parar e comprar um traje para que Val usasse. Tentei convencer de que se casasse comigo levando só minha camisa, mas não tive êxito. Paramos no Macy´s e enquanto Val provava uns vestidos, comprei a metade da seção de lingerie. Simplesmente havia muito material bom. Era difícil me negar a toda a renda e seda. Tudo parecia que ficaria bem nela. Antes que nos déssemos conta, estávamos no escritório do secretário do condado. Meu joelho saltava enquanto me encontrava sentado na sala de espera e Val se retorcia em sua cadeira junto a mim. — Nervosa? — perguntei com curiosidade.


Me surpreendeu o olhar irritado que recebi como resposta. — Não são nervos. Me sinto incomodada porque estou usando uma tanga, Kyle — grunhiu enquanto se movia em seu assento. — Mmm — concordei apreciativamente. — Uma de renda negra, sei. Eu a escolhi. — Levei os dedos sobre sua coxa. Estava coberto agora, por desgraça, já que escolheu um vestido púrpura até as panturrilhas para casar. — Não posso esperar para ver em você. Recebi um giro de olhos por isso e gesticulou minha mão quando a pus muito perto do objeto de roupa em questão. — Para levar em conta no futuro, não sou uma fã da tanga. São um pouco vulgares e muito incômodas. Me inclinei para murmurar em seu ouvido: — Então é algo bom que a intenção seja tirar isso muito em breve. Sussurrou meu nome, envergonhada, mas esqueceu de sua irritação quando beijei o ponto sensível em seu pescoço, justo atrás da orelha. Seus olhos se fecharam e inalou uma respiração brusca. Me deixando louco de desejo. Se um beijo podia fazer isso, não podia esperar a ver como reagia a tudo o que pensava em fazer. Meus pensamentos retornaram uma vez mais a nossos planos pós-matrimônio. Arrastei meus lábios por sua mandíbula e capturei sua boca com a minha. Pela forma em que me devolveu o beijo, dava conta de que se encontrava tão preparada


como eu. Por um segundo, nós dois esquecemos que tínhamos público. Paramos diante ao som de uma garganta limpando e timidamente sorrimos à mulher mais velha, cinquenta e tantos anos que nos olhava com a testa franzida. — Suponho que vocês são os meninos com a entrevista do matrimônio? — Seguimos com os sorrisos tolos. — Sim, senhora. Por alguma razão, a mulher não parecia tão emocionada por isso como eu. — Têm sua licença de matrimônio? Tirei o papel de meu bolso e o entreguei com orgulho. — Recém saído da impressora. Examinou o documento e suspirou. — Me sigam. Foi uma curta viagem à sala onde se realizavam os casamentos, mas senti como se levasse uma eternidade para chegar ali. Era uma pequena sala que poderia conter até trinta pessoas, mas tendo em conta que somos só Val, eu e o funcionário do condado designado, o trabalho faria muito bem. Havia umas quantas filas de cadeiras de plástico dispostas de ambos os lados da sala com um corredor no centro que conduzia a um pequeno pódio. Atrás do pódio se encontrava um pequeno arco gradeado coberto de flores falsas. Era a única decoração da sala. O homem destinado a nos casar nos recebeu na porta. Era


um homem de baixa estatura, com uma cabeça cheia de cabelo cinza prateado, levava um traje de cor nítida e uma gravata vermelha ardente. Governava ali, mas ao menos tinha um sorriso genuíno para nós. — Bem vindos! Adiante, não sejam tímidos. Val riu disso. Como se pensasse que meu acanhamento com algo fosse divertido. O homem nos saudou com apertos de mãos. — Sou Gordon Pierce, e terei o prazer de uni-los em santo matrimônio. — Me parece bom, Gordon — disse. — Obrigado por nos receber com tão pouca antecipação. Se for rápido atiraremos uma gorjeta para você. Gordon riu entre dentes. — Com pressa, filho? — Foi uma longa espera. Quatro anos. Gordon nos olhou e começou a rir de novo. — Está bem, então, suponho que estão com pressa. Faremos rápido. Têm alguém de testemunha? Tinha esquecido disso. Dava a volta e sorri à encantadora mulher que nos escoltou aqui e dei o meu melhor sorriso. — Wanda? — perguntei, olhando a etiqueta com seu nome. — Se sente como uma dama de honra? Inclusive bati minhas pestanas para ela e segui sem receber um sorriso. Talvez não fosse capaz de sorrir. — É uma cota de trinta dólares para o condado


proporcionar uma testemunha — disse. Tirei um pouco de dinheiro de minha carteira. Entreguei os trinta dólares, logo levantei uma de cinquenta e meu telefone. — Quer ser fotógrafa, também? Olhou o dinheiro em efetivo e logo a mim. — Quer que grave suas bodas em seu telefone por cinquenta dólares? — Isso é um problema? Claramente pensou que estava louco, mas pegou o dinheiro de minhas mãos. Jogou uma olhada pela sala ao Gordon, que foi ao pódio mais adiante e agora mexia um pouco com o papel do matrimônio que dei a Wanda. Em voz baixa, ela murmurou: — Genial, por cinquenta dólares beijaria sua bonita bunda branca. Val e eu piscamos, e começamos a rir. — Sorri! — Fiquei feliz quando a vi curvar os lábios. — É uma mulher formosa, Wanda. Deveria manter o sorriso em seu rosto mais frequentemente. Ela ruborizou e caminhou para frente da sala. — Vamos, passarinhos loucos. Casem e saiam daqui antes que todos comecem a sorrir. Não teve que dizer duas vezes. Caminhamos pelo pequeno corredor até o pódio, onde Gordon nos esperava. Wanda chegou junto a ele para que pudesse conseguir um bom ângulo com meu telefone. Pisquei um olho e me lançou um beijo. — Deveria sair e deixar que vocês dois se casem? —


brincou Val. Ela começou a dar um passo atrás, mas a agarrei e a devorei para mim. — Nem pense. Está aqui e por fim é minha e hoje vai dizer "sim, quero", inclusive se tiver que fazer cócegas até aceitar. Gordon riu. — Suponho que deveríamos fazer já, então. — A versão curta — lembrei. Minhas mãos na cintura de Val já começaram a vagar. — Minha senhora e eu temos planos para depois disto. — Apertei com mais força. — Montões e montões de quentes, tórridos e selvagens planos sexys. Tanto Wanda e Gordon me olharam piscando. — Sinto muito. O cérebro está um pouco absorto no momento. Gordon sacudiu seu desconcerto e se concentrou. — Está bem, a versão extremamente curta.

Algum de

vocês tem votos que gostaria de falar? Olhei a Val e ela me olhou. — Aceita? — ofereceu. Sorri.

Antes disse que precisaria de criatividade e era

horrível com as palavras, mas essa, nesse momento, era perfeita. — Definitivamente aceito — prometi. Viramos para Gordon que nos observava. — Como parece isso? — perguntei.


Nos deu outro sorriso desconcertado e riu. — Muito... funcional. Têm as alianças? Ups. Val e eu nos olhamos de novo e vi a risada em seus olhos quando enrugou a cara. — Esquecemos as alianças. Lancei um olhar ao Gordon. — As alianças são necessários para que seja legal? Por um segundo, tive medo de que tivéssemos que voltar mais tarde. Me perguntei se Wanda poderia fazer alguns clipes ou fita adesiva, ou inclusive um pedaço de chiclete, qualquer coisa que pudesse envolver ao redor de meu dedo. Mas Gordon voltou a rir e sacudiu a cabeça. — Não, são mais algo como tradicional. Deixei escapar um suspiro de alívio tão grande que inclusive Wanda riu de mim. — Genial. Conseguiremos os anéis mais tarde. Pode continuar? Gordon sorriu. — Pelo poder que me outorga o estado da Califórnia, eu os declaro marido e mulher. Pode beijar a, bom, vejo que já descobriram essa parte. Rimos contra a boca um do outro, mas não rompemos nosso beijo. Apertei os braços ao redor dela e se levantou em um salto, envolvendo as pernas ao redor de minha cintura. A girei em círculos uma ou duas vezes, e nosso beijo era cada vez mais quente até que Wanda limpou a garganta outra vez. Giramos o


rosto e sorrimos à câmera. — Felicitações, moços loucos. — Obrigado, Wanda. Beijei Val mais uma vez e logo a pus de novo em seus pés. Era hora de sair dali. — Já está tudo preparado — prometeu Gordon. — Receberão o certificado oficial de matrimônio no correio dentro de duas semanas. Felicitações. Acredito que foi o casamento mais curto que realizei. — Foi perfeito — disse Val. A emoção em sua voz me tomou por surpresa e um grande nó na garganta se formou quando olhei seus olhos brilhando com lágrimas de felicidade. — Te amo — sussurrou. — Te amo mais — disse e a atraí a meus braços outra vez, precisando de repente outro beijo. — Vamos sair daqui. Por uma vez, Val respondeu a solicitação com um sorriso e uma piscada. — Vamos. — Boa sorte! — disse Gordon quando saímos da sala. Piscou um olho a Val e ela ficou vermelha de novo. Dava um sorriso malvado e disse: — A sorte não terá nada que ver com isso. Voltamos

ao

carro

antes

que

encontrássemos

um

obstáculo. Houve uma parte mais deste plano brilhante que não


pensamos antes. — Aonde quer ir? — perguntei quando colocamos o cinto. — Te levarei a qualquer parte do mundo que queira ir... amanhã. Hoje preciso de você, logo. Marinha Do Rei está perto, ou conheço um grande resort à beira do TJ. Agarrou minha mão sobre o câmbio. — Por que não vamos a sua casa? — disse. — Honestamente, é melhor que qualquer hotel, a vista é incrível, está provida de mantimentos, a piscina e a jacuzzi são privadas. Pisquei, sem poder acreditar que existisse uma mulher tão perfeita. — E agora tenho um fornecimento de uma vida de roupa intimas — continuou. — não deveríamos ter que sair por dias. — É uma roupa intima sexy — corrigi. — E você é brilhante. Para casa. A viagem de volta a Malibu pareceu mais comprida que meus últimos dez meses de abstinência combinados, mas soube que valeu a pena no momento em que chegamos à entrada e me dava conta de que minha casa já não era só minha casa. Era nossa casa. Val me deu um olhar inquisitivo quando não coloquei o carro na garagem. — Tenho que fazer isto direito — disse. Caminhamos até a porta principal e logo que se abriu, a levantei em meus braços. — Bem vinda a nossa casa, senhora Hamilton — disse


enquanto a levava pela soleira da porta. O gesto fez com que seus olhos se arregalassem de novo. Me inclinei para beijá-la e me surpreendeu a forma que respondeu. Me beijou como nunca tinha beijado. Parecia que esteve se contendo até agora. Pôs tudo o que tinha nesse beijo, lábios, língua, braços, pernas, corpo, coração, mente, paixão e luxúria, mais do que sabia que ela era capaz de fazer. Literalmente me pôs de joelhos e quase a tomei ali mesmo, no azulejo da entrada. Então me lembrei de que esta era sua primeira vez e fui capaz de me acalmar. Sim, a queria, mas isto era para ela. Guardou a si mesmo para este momento, assim poderia fazê-lo bom. A levantei de novo e sem palavras a levei até o quarto. Quando a deitei, a via um pouco nervosa, então dei um beijo muito suave e me deitei a seu lado. Me apoiei em meu cotovelo e sorri com o que esperava que fosse mais amor que luxúria. — Está certa disto? — perguntei. Sua resposta me surpreendeu. — Confio em você. — Era exatamente o que precisava ouvir. Tomei meu tempo com ela, lentamente a introduzindo ao mundo da vida sexual. Era fácil não pensar em minhas próprias necessidades quando cada toque, cada beijo, cada carícia era uma experiência nova para ela. A princípio, foi tímida e tão completamente vulnerável que se sentia como um milagre que


pudesse me confiar seu corpo. Não posso nem começar a descrever as emoções que experimentei enquanto chegávamos a nos conhecer desta nova forma. Estive com muitas mulheres em minha vida, mulheres que quis, mulheres que acabava de conhecer por cinco minutos, mulheres que sabiam cem maneiras diferentes de me agradar, e inclusive algumas mulheres que sabia que eram virgens. Mas nunca experimentei a intimidade que tive com Val. De

certo

modo,

era

quase

como

se

estivesse

experimentando algo novo, junto com ela. Tive sexo tantas vezes que perdi a conta faz anos, mas nunca fiz amor, na verdade não, não com uma mulher que amava tanto que meu coração, literalmente, doía. Foi durante este momento com Val que entendi por fim por que ela quis esperar. Porque cada vez que a olhava, quão único podia pensar era que este formoso anjo era minha esposa. Já tinha me prometido o resto de sua vida. Tinha meu nome e aceitou ser minha nova família. Não havia medo em nenhum lugar de minha mente, nem dúvida de que a amava e ela me amava. Ao final, fiquei feliz que tivéssemos esperado. É obvio, guardaria essa pequena confissão para um dia em que, indevidamente, me comportasse como um idiota e me metesse em um montão de problemas. (Tinha que acontecer em algum momento: Seguia sendo eu, depois de tudo).


A é por Anúncios

Val e eu não deixamos a casa por quatro dias, mas a vida tinha que seguir. Havia preparações para a turnê e ensaios, um punhado de apresentações para fazer, xampus de garotas e sabões que comprar, porque Val odiava "cheirar como homem", e tínhamos familiares e amigos para contar as boas notícias, antes que os meios descobrissem e o fizessem por nós. Primeiro dissemos a Cara, Shane e Robin. Cara gritou por dez minutos e logo me golpeou por não a convidar. Quando joguei a culpa de todo o segredo em Val, me golpeou de novo. Não se acalmou até que permitimos ver o vídeo das bodas. Estranhamente, embora tudo foi bastante cômico, tanto Robin como Cara choraram como bebês todo o vídeo. (Os três minutos de duração). Depois

visitamos

surpreendentemente

os

pais

aliviados.

de

Val,

que

Suspeitaram

pareceram que

um

compromisso se aproximava e se sentiam tão preocupados com


um casamento a nível nacional como ela. Tive um mau começo com seus pais, mas começaram a me aceitar, lentamente depois de que se deram conta que a respeitava o suficiente para esperála. Agora só se sentiam felizes de vê-la tão contente. Meus pais eram uma história totalmente diferente. Se incomodaram, mas Val suavizou as coisas prometendo que iríamos para casa para Ação de Graças e perguntando a mãe se gostaria de fazer nossa recepção. Já que eu ia estar ocupado na turnê e ela a suas tarefas na faculdade, deu a minha mãe o controle total do evento. Era um grande engano permitir que minha mãe estivesse a cargo, mas tirou um peso de cima de mim, então mantive a boca fechada e sofreria através do pesadelo de festa que com certeza faria. Depois disso, as únicas pessoas que nos faltavam dizer era o resto do mundo e sabia exatamente como queria fazer. Val nunca estaria de acordo, então não contei. “Voando Sozinho” era o nome de meu primeiro álbum solo, e desde que Val e eu nos casamos, estive brincando a respeito de que precisava trocar o nome, porque já não ia voltar a voar sozinho. A noite do primeiro concerto da turnê de “Voando Sozinho” me

sentia

muito

bem

em

retornar

ao

cenário,

mas

completamente irreal. Me encontrava de repente no centro do Staples, o mesmo estádio onde começou a turnê de S é por Sexo faz uns anos e, uma vez mais, vibrava de energia porque tinha uma canção para cantar a Val.


O concerto foi incrível. À multidão adorou o novo material e parecia que se sentiam tão felizes de me ter de volta, como amava estar de volta. Além disso, entre cada canção podia olhar para o lado e ver Val sorrindo dos bastidores. Cara e ela estiveram dançando e cantando todo o tempo, enquanto Shane e eu “rockeávamos” com o coração. Era tudo o que alguma vez desejei em minha vida. A parte da iminente recepção do nosso casamento, era bom ser eu. Ao final da apresentação, saí correndo do cenário e abracei Val. Depois de beijá-la, baixei o olhar para seu jeans e suspirei. — Para essa noite única só falta a Sassy. "Sassy" era a minissaia assassina que usou no dia que a vi pela primeira vez. Também era a saia que usou a última vez que a levei no show comigo. Me sentia mal que foi ao meu show de novo sem meu atrativo favorito, suas pernas, à vista. — Sei que é decepcionante — brincou. — Mas estou muito velha para andar por ai com uma minissaia. — OH, discordo totalmente. — Estou segura que sim. — riu e me beijou na bochecha. — Estão gritando seu nome, estrela do rock. É melhor que volte para outra canção. Escutei a multidão cantar e sorri. Sério, amava esse som. Com um último beijo, voltei para o palco, me golpeando no traseiro enquanto saía. Era tão impróprio dela, que morria de


dar risada quando voltei para o público novamente. Uma vez que recuperei minha compostura, girei e sorri à multidão. — Quero agradecer a todos por estarem aqui esta noite. Passaram uns quantos anos e é bom estar de volta. A multidão concordou comigo, rugindo com seus aplausos. Esperei que se acalmassem e disse: — Quantos de vocês se encontravam aqui comigo há quatro anos, para a excursão de S é por Sexo? Por como soava, a maioria deles esteve. Me senti feliz por isso. — Devem se recordar que nesse dia então escrevi uma canção sobre uma garota e se não sabem, fiz de novo! Os chiados em resposta soavam tão animados que tive que rir. — Gostam da nova canção? — De novo, ficaram loucos. — Sim — disse logo que pude. — A Val também gosta. De fato, acredito que esteve esperando toda a noite para ouvi-la. Girei para um lado do palco e encontrei o que procurava, a quem procurava. Me lançou um beijo e fiz gestos com a mão. — Vem aqui, Val. Venha saudar todos. Me

deu

um

olhar

cortante,

mas

rapidamente

se

transformou em um sorriso pouco entusiasmado. Quando entrou

no

palco

e

levantou

a

mão,

a

multidão

ficou

completamente demente. Começaram a fazer coro com seu nome


justo como tinham gritado o meu. — Virgem Val! Virgem Val! Virgem Val! — Agora quem é a estrela de rock? — brinquei enquanto estendia microfone. — Da olá, Val. — Olá a todos. — O que diz, Val? — Dei um banco para ela. — Posso cantar uma canção? Pelos velhos tempos. Embora não gostasse de ser o centro das atenções, sempre foi boa com a multidão. Se afastou de mim e levou um dedo a seu queixo, fingindo pensar, logo agarrou o microfone de minhas mãos. — O que dizem, senhoritas? — Perguntou à plateia. — Deveríamos permitir cantar uma última vez? Soa como um sim — disse quando cada mulher na plateia gritou. Estendi a mão para que me entregasse o microfone e sorriu. — O que? — perguntou. — Precisa disto para cantar? — Se afastou de mim com um sorriso brincalhão. — Então é melhor que venha buscar— disse, pondo atrás de suas costas. Estive sobre ela tão rápido que a surpreendi. A empurrei em meus braços e plantei um beijo de cinema enquanto tirava o microfone das suas mãos. A multidão ficou louca e a música começou. Não me afastei de seus lábios até o último segundo e


quase perdi a primeira linha da canção. Val permaneceu em seu banquinho e me deixou cantar com um sorriso secreto em seu rosto que me fazia sentir feliz. Só tinha mais algumas horas com ela antes que nos separássemos por uma semana ou duas em uns meses, e não ia desperdiçar. Quando a canção terminou, me inclinei e logo tirei Val de seu banquinho para que também fizesse uma reverência. Permanecemos ali e deixamos que a multidão chiasse por um minuto, mas então ela começou a sair do palco. Pus uma mão em seu pulso e a aproximei de mim de novo. — O que faz? — perguntou, confusa. — Ainda não terminamos. Val tinha esse olhar cheio de pânico que tanto amava, esse que fazia quando sabia que ia fazer uma cena. — O que vai fazer? Se alguma vez houve uma ocasião para sorrir com suficiência, era justo nesse momento. — Disse que nada de propostas ao vivo — disse. — Mas não disse nada sobre anúncios ao vivo. Seus olhos se abriram tão amplos como pires e moveu a cabeça. — Kyle, não. Agora não. Assim não. — OH, sim — disse, ignorando seus protestos. — Há um momento e um lugar para tudo, Val, e justo agora, justo aqui, definitivamente é o momento exato para deixar que o mundo saiba a verdade.


Ignorei suas outras queixas e pus o microfone em minha boca. — Ouçam, todos, ouçam, posso pedir silêncio por um minuto? Tenho algo que quero dizer antes que se vão. Era incrível o quão rápido podia calar um estádio cheio de pessoas e conseguir toda sua atenção. Com uma última piscada na direção de Val, dava o anúncio que estive morrendo para gritar aos quatro ventos desde o momento em que nos convertemos em marido e mulher. — Faz quatro anos, comecei a turnê de S é por Sexo neste mesmo estádio, Val e eu nos reconciliamos aqui. — Esfreguei meu pé no chão para dar ênfase. — Me teve de joelhos essa noite e parece que também o fará desta vez. Caí sobre meus joelhos frente a ela e logo sorri à multidão. — Bom — disse. — Possivelmente desta vez só preciso estar sobre um joelho. Quando ajustei minha posição para assim me encontrar em um joelho por Val, a multidão pensou que ia propor matrimônio e enlouqueceram completamente. Gritaram e chiaram tão forte que tremeu todo o edifício. Tive que esperar tanto tempo para que se acalmassem que meu joelho começou a doer. — Val — disse uma vez que as pessoas puderam me ouvir de novo. — Há algo que gostaria de te perguntar.


Isso, é obvio, enviou a soar à multidão de novo e tive que esperar outro momento. O que era bom, entretanto, porque desfrutava muito do olhar confuso em seu rosto. Não podia imaginar aonde queria chegar com isto. — Val? — disse de novo quando me cansei de esperar pela multidão. Se calaram no segundo em que comecei a falar. — O que quero te perguntar é... — Parei e todo o estádio teve uma respiração coletiva enquanto esperavam o resto. Sorri de novo. Isto ia ser divertido. — Podemos dizer ao mundo que já nos casamos na semana passada? Estou cansado de esperar para mostrar a minha esposa. Tomou um segundo para que a multidão entendesse. Houve um momento de silêncio e logo milhares de suspiros, e finalmente uma erupção de chiados que fizeram todos tremerem. Fiquei de pé, beijei a mão de Val e logo a empurrei para a plateia. — Deixem me apresentar a minha esposa, a senhora Valerie Hamilton! Gritei tão forte como pude. Acredito que poderia ter estado mais emocionado que a multidão. — Pedi que se casasse comigo na semana passada, a coloquei em um carro e fui para o tribunal. A mulher não podia esperar para pôr finalmente suas mãos em mim — contei à multidão, ganhando um olhar em branco de Val. Pisquei os olhos. Ela esteve preocupada com o sexo, então imaginei que


também poderia tirar esse peso de cima agora e em nossos próprios términos. — Quero dizer que a Virgem Val Jensen já não é virgem. Me assegurei disso. Muitas, muitas vezes. A

multidão

assobiou,

gritou

e

chiou

enquanto

ela

ruborizava e me golpeava no braço. Mas ria comigo, sendo tão boa garota como sempre. — Então, agora que finalmente temos feito, só fica uma coisa por fazer. — Estendi a mão e curvei meus dedos em um gesto que dizia "Entregue isso, ganhei isso”. Val sabia do que falava. Sacudiu a cabeça e riu enquanto desabotoava o infame colar de seu pescoço. — Sim, suponho que merece isso — disse no microfone enquanto colocava o colar com esse pequeno V de ouro branco em minha mão. Em um tom seco, acrescentou: — Muitas, muitas, muitas vezes. Desta vez, ri junto com a multidão. Desabotoei meu bracelete e o estendi frente a mim. — Definitivamente, já não preciso disto. Sei que é teu, mas foi um bom amuleto da sorte para mim, então vou ficar com isso. Então, comprei algo para substituir seu colar. — Pus meu bracelete em meu bolso e tirei o colar que levei para substituir o V de Val. Era de ouro branco como seu antigo colar, mas em lugar de um V, tinha um pequeno e brilhante K pendurando nele. O estendi e observei brilhar os olhos de Val. Supus que


acertei. Mordeu o lábio inferior enquanto colocava o colar em seu pescoço e logo passou as mãos pelo pingente quando caiu em seu peito. — É formoso — disse no microfone. — Mas, por que o K? A multidão riu e a puxei contra mim. — Me beija — disse. Não me sentia seguro se era a resposta à sua pergunta ou simplesmente uma ordem, mas de todas as formas, disse: — Bem. — E passou os braços ao redor de meu pescoço. Ainda me sentia emocionado pela apresentação e esse beijo ia me deixar excitado. Era hora de terminar esse show e me ocupar de desfrutar do resto de minha noite. — Acredito que precisamos terminar com um estalo esta noite! — gritei à multidão logo que rompi nosso beijo. — Shane! Temos que fazer, irmão! Conta! Olhei Shane e me deu um grande sorriso, gritando: — Um! Dois! Um, dois, três, quatro! Ela está fumando corações com chamas ardentes Tem um lado selvagem sem nome E quando está irritada, é uma verdadeira lástima Sim! Sim! Sim! Estou mau Sim! Sim! Sim! Estou ficando louco A plateia ficou louca quando reconheceu a entrada de


"Verdadeira lástima". Não a cantei para uma multidão da última vez que estive em um palco com Val. Tinha eliminado de minha vida quando ela a saiu da minha e agora que retornou, não sentia correto não a cantar. Escrevi "Vale a pena esperar" para Val, mas "Verdadeira lástima" sempre foi e sempre será, sua canção. Julgando pelo estado da multidão enquanto cantava, ia ter que fazer deste meu show mais íntimo pelo resto da turnê. O que posso dizer? Sério é a minha melhor canção.

Fim.



Kelly Oram escreveu sua primeira novela aos quinze anos, um fan-fiction sobre seu grupo de música favorito, The Backstreet Boys, seus familiares e amigos ainda zombam dela. É obcecada com a leitura, fala muito e gosta de comer esmalte das unhas. Vive em Phoenix, Arizona com seu marido e quatro filhos.



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