SHORINJI KEMPO
Uma Questão de Equilíbrio “Um guia para a construção de um embu, por George Hyde”
Tradução portuguesa por: David Nóvoas Lisboa Branch Fevereiro de 2005 Uma Questão de Equilíbrio: Um guia para a construção de um embu, por George Hyde Com um Taikai no horizonte, Mizuno Sensei aproveitou a oportunidade para referir os elementos básicos para a construção de um embu que seja aceitável e ao mesmo tempo impressionante. Assim como a clarificação de alguns elementos que devem ser aplicados num bom embu, e os elementos que devem ser evitados. Mizuno Sensei dava muita importância ao equilíbrio que é a base do processo de construção. O artigo seguinte procura englobar estes e outros assuntos, ensinados por Mizuno Sensei ao longo dos anos.
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Como Começar: Quando criamos as fundações de um embu, devemos procurar a simplicidade. A maioria do conteúdo deve ser baseado em hokei credível. Os pares deve escolher técnicas que conheçam e nas quais estejam confiantes. O ren hanko, que liga essas técnicas deve ser natural, prático e fluido. Preocupem-se em assegurar que o ren hanko não se torne em henka (hokei adaptado) ou ainda pior, técnicas inventadas. Se a simplicidade e o efeito prático forem levados em conta este problema não irá aparecer. Em termos de execução, as falhas mais comuns ocorrem no timing, distância e precisão. A tendência geral é de aumentar a distância de ataque de modo a favorecer a segurança e a velocidade, o que faz com que o atemi falhe o seu alvo. Como consequência o tai sabaki torna-se desnecessário e o embu perde um dos seus requerimentos essenciais que é o realismo. Outros problemas semelhantes são causados por antecipar demasiado o atemi. O atemi deve ter como objectivo alvos específicos, e as defesas tem que parecer necessárias. Uma vez que os conteúdos das sequências sejam acordadas, os pares devem treinalas repetidamente a velocidades muito baixas, prestando bastante atenção à distância, timing, alvos e tai sabaki. Isto irá ajudar à retenção mental dos movimentos e assegurar que não se perca a precisão necessária em deferimento da velocidade no resultado final. Equilíbrio: O assunto do equilíbrio aplica-se a todos os aspectos de um embu no que diz respeito ao conteúdo, execução, e aparência geral. Mais especificamente isto inclui: ●Goho e Juho: Visualmente, dar uma ênfase maior a goho ou juho será bastante fácil de ser detectado. Mesmo que as técnicas sejam bem executadas, a aparência final do embu ira ficar desfavorecida devida a esta falta de equilíbrio. ●Conteúdo Geral: Quando escolhemos as técnicas hokei a utilizar, pelo menos 40% destas devem ser provenientes do programa técnico do par. Evitem construir um embu utilizando técnicas que sejam ou muito antigas ou muito avançadas. As graduações de kyu rank avançadas podem ser tentadas a utilizar apenas as técnicas mais interessantes e mais
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impressionantes dos seus programas. Uma vez mais isto iria criar um desequilíbrio óbvio e deverá ser evitado. ●Ataque e Defesa Num embu de seis sequências cada parceiro deve de atacar 3 vezes. Em todos os casos, a pessoa que inicia o ataque no início da sequência deve sofrer de um contra ataque no final da sequência. ●Dificuldade: Um embu que consista apenas de técnicas difíceis e complexas deve ser evitado, assim como um que seja composto apenas por técnicas básicas e simples. Os pares devem ser capazes de demonstrar um largo alcance de habilidade. Outro erro comum é o dos parceiros evitarem técnicas difíceis, simplificar demasiado o ren hanko evitando aplicar jodan geri, ou minimizar o katame favorecendo um final rápido e limpo para uma sequência. Enquanto que isto pode reduzir a hipótese de erros e a consequente perda de pontos, vai reduzir consideravelmente o impacto geral do embu. Contar uma História: Este talvez seja o elemento mais difícil de aplicar. Se seguirmos os guias já referidos devemos construir um embu bem encaminhado para contar uma “história interessante”, mas como melhorar? ●Evitem ser Previsíveis: Na maioria dos casos uma sequencia irá começar com goho seguida de ren hanko e acabar com juho ou go-ju, agrupando em si duas ou três técnicas individuais. Enquanto que este é um modelo fiável , os pares devem explorar formas práticas e aceitáveis de quebrar este molde. Por exemplo: desde que não desequilibre o aspecto geral do embu, é completamente aceitável que pelo menos uma sequencia seja composta inteiramente por goho ou juho. É também aceitável que uma das sequências seja composta por apenas uma técnica bem executada. Outra alternativa que pode ser explorada é a resistência ao katame e formas de lidar com a situação. Outros embu são uma fonte excelente de inspiração. Contudo, os pares não devem procurar recriar uma sequência que achem impressionante, devem antes procurar recriar a essência que fez que aquela sequencia se tornasse espectacular.
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Equilibrem os embu com uma abertura e um final dinâmicos. Imediatamente depois de rei, procurem ir para posições de kamae com um ki-ai explosivo, e depois adoptem as posições correctas para a técnica de abertura e executem a primeira sequência sem qualquer demora. Evitem a tentação de atrasar a abertura com unpo-ho lento. Embora seja executado irá transmitir a ideia de hesitação. Este tipo de movimentação será melhor empregue a meio do embu de modo que os pares recuperem o fôlego e a energia, especialmente antes da sequência final que deve ser tanto ou mais explosiva e energética como a primeira. A parte média do embu deve ter vários tipos de velocidade e intensidade. Pontos Gerais: ●Ki-haku: A presença de energia espiritual (ki) no embu é conhecida como ki-haku. Dizer simplesmente que o ki-haku representa apenas a uma “performance com atitude” não é suficiente. O ki-haku é demonstrado por uma combinação de bom zanshin, contacto visual contínuo, heijo shin, observação e manutenção de distância, unpo-ho eficiente, happo moku, controlo de respiração e ki-ai A transição entre sequências é onde se nota mais o ki-haku ou a falta deste. Observem as posições no final de cada sequência e tenham em consideração os movimentos que irão usar na preparação da próxima sequência. Mantenham o unpo-ho simples e suave. Evitem andar às voltas, adoptarem posições desnecessárias ou passar de hidari para migi sem motivo. Quando ajustarem as distâncias para a próxima sequência, nunca avancem em hichiji gamae. Mesmo que a técnica de abertura requeira que o atacante adopte esta posição, avancem com o punho fechado e só o abram no momento do ataque. Os elementos de transição devem de assegurar que o embu ocupe o ringue todo. Evitem trocas lineares de sequências. ●Ki-ai: Usem o ki-ai para acentuar e dar ênfase aos vossos movimentos. Não o façam em todos os ataques, isto irá reduzir a eficácia geral do ki-ai e irá reduzir o nível de ki-haku no embu. Explorem e apliquem vários tipos de ki-ai. Usem um ki-ai explosivo para um atemi e fukumi gi-ai (ki-ai sem voz) enquanto ajustam as posições, aplicam katame waza e
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atacando em juho waza. Usem um ki-ai longo enquanto fazem nage waza e nage ukemi e usem um ki-ai intenso e decisivo para o kime. Para ajudar na escolha do ki-ai apropriado imaginem que o publico não consegue ver o vosso embu e usem o vosso kiai para descrever a técnica que estão a aplicar. Dito isto, se o ki-ai for aplicado correctamente, de modo a unificar o pensamento e a acção, este deve variar naturalmente. ●Katame e Kime: Esta é uma área onde a atenção ao detalhe pode fazer uma grande diferença. Certifiquem-se que a transição da técnica para o katame seja natural. Nunca ajustem ou alterem a forma como agarram. Mantenham o vosso Katame até que o vosso parceiro dê sinal de submissão. Nunca libertem do katame sem que este seja devidamente aplicado. Depois do katame certifiquem-se que o kime é bem aplicado no alvo correcto e no ângulo correcto. Evitem usar jun geri como kime. O atemi deve ser recolhido rapidamente. Não deixem o pé ou a mão que ataca em contacto com o vosso parceiro. Ao acabar, dêem uma pancada para baixo na mão e defendam-se com uchi arai uke enquanto saem da posição com hiraki sagatte. Enquanto que o vosso parceiro executa ukemi para recuperar a sua posição, certifiquem-se que o acompanham de modo a manter uma distância neutra. Permitir uma distância demasiado grande irá quebrar o ritmo do embu e ira danificar o ki-haku. Quando executarem qualquer tipo de ukemi, façam um esforço para manter contacto visual com o parceiro. Isto irá melhorar o movimento e assegurar a manutenção do kihaku. ●Zanshin: Enquanto essencial em todo o embu, um bom zanshin é mais importante no final das sequências. Isto é uma expressão de dominação contínua do adversário. Expressa uma concentração constante e é evidenciada na atitude mental e postura física. No essencial, um contacto visual contínuo, um bom controlo de respiração e a manutenção de uma boa distancia no seguimento de katame waza irão evidenciar um bom zanshin. ●Nage: Lembram-se, o nage é uma projecção, não é voar. Um bom nage ukemi vem da aplicação correcta de juho waza. Evitem a tentação de “saltar” ou de “se atirarem”. Essa
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é uma forma óbvia e simples de demonstrar que a técnica falhou. Permitam que o parceiro faça a técnica correctamente para que nage ukemi se torne necessária; façam os ajustes necessários em tai sabaki de modo a criar a melhor posição possível para fazer um bom nage e um bom nage ukemi, mas não mudem a forma de execução das técnicas de modo a obter um bom voo e uma aterragem suave. Se não conseguem fazer um bom nage de uma técnica aplicada correctamente então mudem a técnica. Na execução, nage ukemi deve ser alto e direito. Evitem a tentação de voar baixo. Contudo se nage ukemi é muito difícil, concluam as sequências com técnicas que requeiram outros tipos de ukemi. Kari ashi e tsuki taoshi são boas opções e ajudarão a dar alguma variedade. ●Fluidez: Embora não seja aceitável adoptar um kamae (como taiki gamae ou hasso gamae) a meio de uma sequência é por vezes pouco natural, muitas vezes difícil e pode interromper a fluidez significativamente, e por isso deve ser evitado. Contudo, adoptar essas posições no início de uma sequência poderá ser a oportunidade ideal de expressar um bom ki-haku e melhorar a apresentação consideravelmente. A meio de uma sequencia se o ren hanko vos deixa em tai game e precisam de estar em hiraki gamae para a próxima técnica então gyaku mowashi geri para chudan, defendido com arai uke é uma forma suave e efectiva de adoptar hiraki gamae sem fazer alterações complicadas ao ren hanko. Também tomem atenção às formas como cumo ashi, hiraki sagatte e sashikae ashi podem ser usadas para manter uma distância apropriada. Sem reduzir a atitude do ataque, ou o timing do contra ataque, demonstrem uma tentativa de bloquear todos os atemi. Enquanto que isto não possa ser sempre possível, irá ajudar a manter o ki-haku, e continuar a um bom ritmo. ●Drama: Embora devamos fazer um esforço para não representar, os pares irão encontrar várias oportunidades para criar drama e introduzir tensão. Uma área a explorar é a recusa. É comum aceitar a técnica de juho para uma boa execução. Contudo uma recusa seguida de um atemi explosivo e bem colocado irá ajudar a aumentar a tensão, dar variedade e manter o interesse da audiência e é um ki-haku muito bom. Treino:
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Manter um treino de embu continuo é essencial, mas muitas vezes difícil dependendo da agenda dos pares. Comuniquem regularmente com o vosso parceiro e façam esforços para assegurar que estejam disponíveis ao mesmo tempo. Depois de ter feito isto não tenham medo de pedir ao vosso instrutor alguns minutos para trabalhar no vosso embu. È um treino facilmente esquecido. Se não se puderem juntar á hora do vosso treino façam um esforço para se encontrarem noutro dojo. Sempre que possível, treinem com outros pares. Façam turnos para demonstrar uma sequência e depois, enquanto recuperam o fôlego, observem o outro par. Depois façam um esforço por comentar e aconselhar. Pare evitar respostas vagas, examinem um elemento de cada vez, como tai sabaki, distancia ou atemi. Isto irá melhorar e maximizar o tempo de treino. Peguem numa sequencia de cada vez e façam-na 5 vezes começando muito devagar e fazendo em velocidade máxima na quinta vez. Isto irá ajudar para a transição da velocidade máxima sem deixar de ter em consideração outros elementos enquanto ganham velocidade. As partes de transição entre sequências requerem o mesmo tipo de atenção como as sequencias. Enquanto praticam uma sequência comecem do fim da sequência anterior (na maioria dos casos será de katame/ukemi) e terminem na fase de preparação para a próxima sequência. Evitem praticar sequencias separadamente, porque ira diminuir a importância das transições. Aproveitem todas as oportunidades para demonstrar o vosso embu perante uma audiência e prestem atenção às reacções e comentários. Se não surgirem oportunidades, criem-nas. Quando quiserem demonstrar o embu, pensem em fazer em metade da velocidade. Na realidade irão fazer à velocidade máxima, mas desta forma irão reduzir os nervos e evitar precipitações. Ideias Finais: Um embu deve acima de tudo, ser tecnicamente correcto, realista e fluido. Contudo também deve ser dinâmico, excitante e cheio de energia. Aproveitem as transições ao máximo para dar ênfase ao ki-haku e injectar tensão e drama. Corram riscos ao criar sequencia fora do comum e excitantes e perguntem aos vossos instrutores se são aceitáveis ou não. Mesmo que vão longe demais irão encontra alguma forma de recriar a essência das vossas ideias mais com técnicas mais aceitáveis.
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Finalmente é fácil de assumir que o Taikai é a única razão pela qual se cria um embu. Isso não é verdade. O embu é o ponto mais alto da prática do Shorinji Kempo e a incorporação dos ideais do Kongo Zen. È muito valioso para o vosso progresso técnico e um bom embu é um óptimo treino de meditação. Qualquer que seja a vossa graduação, nunca é demasiado cedo ou tarde para começar a criar um embu.
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