Glossário - Arte e Institucionalização

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glossário ARTE E INSTITUCIONALIAZAÇÃO

Kiara Vaz Mar tins


glossário ARTE E INSTITUCIONALIAZAÇÃO

Unversidade Federal de Juiz De Fora Institudo de Artes e Design Art366 - Arte e Institucionalização Por Kiara Vaz Martins Juiz de Fora Dezembro de 2014


ARTISTA As diferentes discussões sobre a função da arte no decorrer da História da Arte levam a uma série de indagações sobre a o que é ser artista. Os pontos em comum que ajudam a encontrar esse significado estão na subjetividade e no intuito da produção. Panofsky, quando discorre sobre a História da Arte, tomando a arte como campo das humanidades, coloca que o artista (como humanista), trabalha com ações e criações humanas, se envolvendo então em um processo mental subjetivo. Mesmo que para uma representação mimética, o que está em jogo são significados e não a simples existência das coisas. Sol Lewitt já sobre a arte conceitual diz que “uma vez que tenha recebido do artista sua realidade física, o trabalho está pronto para a percepção de todos”. A existência obrigatória do espectador na arte é o ponto final na definição do artista. O produto gerado pelo seu processo individual de pensamento sobre alguma coisa ou conceito é o meio de transmissão desse pensamento para o espectador.


ARTISTA-PESQUISADOR O elo entre o artista e a pesquisa é a universidade. Ricardo Basbaum afirma que na universidade todo trabalho artístico se torna uma pesquisa. O artista-pesquisador, então, é o artista inserido no ambiente acadêmico. O que se destaca nessa reflexão são as barreiras que as diferenças entre o ambiente acadêmico e o circuito externo impõem na inserção dos artistas de um em outro. Segundo Basbaum, a falta de ligações mais estáveis entre um e outro impedem uma relação mais proveitosa. A aproximação desses dois ambientes tanto amplificaria o campo do artista do circuito, o trazendo para dentro da pesquisa, como daria a oportunidade do artistapesquisador de se inserir no circuito externo com mais facilidade.


ARTE-EDUCADOR Arte-educador é aquele que promove a educação através de propostas pensadas na arte. O papel do arte-educador não é ensinar conceitos e história da arte, é utilizar práticas de educação pensadas no âmbito artístico. Pablo Helguere fala sobre os cuidados na prática da arte-educação em seu texto sobre Transpedagogia, colocando a visão pedagógica de ensino em contraponto à proposta de arte-educação: “A pedagogia tradicional não reconhece três coisas: primeiro, a realização criativa do ato de educar, segundo, o fato de que a construção coletiva de um ambiente artístico com obras de arte e ideias é uma construção coletiva de conhecimentos, e, terceiro, o fato de que o conhecimento da obra não termina no conhecimento da obra de arte, ele é uma ferramenta para compreender o mundo”.



CRÍTICO DE ARTE A crítica de arte, segundo Julio Carlo Agan, consiste na “discussão sobre méritos comparativos das artes”. O crítico de arte é o indivíduo inserido no meio das artes que prepara essa discussão. Dentro da História da Arte, a importância do crítico é ligada na constituição de uma literatura da arte, daí a relevância de nomes como Giorgio Vasari e Giovanni Pietro Bellori. Na arte moderna e contemporânea, a crítica toma enorme importância na literatura e passa a abranger movimentos e temáticas de diferentes tempos e lugares simultaneamente, dando vasão á certas problemáticas como a própria crítica sobre a crítica, a questão do circuito ou da tradição, como aponta Glória Ferreira sobre a Crítica de Arte no Brasil.


curador O curador, como profissional, “é aquele que organiza, supervisiona ou dirige exposições, seja em museus ou nas ruas, em espaços culturais ou galerias comerciais”, nas palavras de Cauê Alves. As competências desse profissional envolvem conhecimentos de inúmeras áreas arquitetura, design, comunicação, etc. Por lidar com diversos tipos de instituições, o curador também precisa saber lidar com questões de tradições, mercado e marketing, sem deixar que nada atrapalhe sua liberdade de expressão. Como coloca Cauê, “o curador é um profissional como artista, também tem o direito a liberdade de expressão, mas que deve obrigatoriamente fazer uso público da sua reflexão”.


PÚBLICO Público de arte é todo aquele que de alguma forma entra em contato com a ideia do artista através da obra. O conhecimento sobre arte não define o público, o interesse por ela sim. O interesse, mesmo que surgido após o contato sensível com a obra, leva ao contato com a ideia. Na arte moderna no Brasil, as questões sobre o público tomaram corpo com as propostas dos artistas Neoconcretistas do Rio de Janeiro. Artistas como Hélio Oiticica e Lygia Clark inserem o público em suas obras estreitando ainda mais a relação dele com o conceito sugerido. Mas a discussão ainda persiste no sentido de pensar na estrutura das instituições como os museus, do comportamento do público em relação às tradições, e principalmente na questão da espetacularização da arte.


COLECIONADOR DE ARTE O colecionador de modo geral é o indivíduo ou instituição que faz coleção de objetos. O colecionador de arte é então aquele que coleciona objetos de arte. A prática do colecionismo envolve tanto guardar como organizar, trocar e expor itens da coleção. Essa colocação é importante no entendimento de que as obras de um colecionador de arte não ficam reclusas. O colecionador, na possibilidade de ser também uma instituição, como o museu, por exemplo, tem a liberdade de movimentar os itens e os exibir. Mesmo os indivíduos colecionadores expõem os itens de sua coleção em museus ou em outros espaços, através de convites ou não. João Manoel Lopes, colecionador de arte, coloca em uma entrevista “as obras de arte são para o mundo e não para enfeitar as paredes da casa. A minha visão é socializada.”.


Museu O Conselho Internacional de Museus define o museu como “uma instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público e que adquire, conserva, investiga, difunde e expõe os testemunhos materiais do homem e de seu entorno, para educação e deleite da sociedade”. A origem dos museus está na pratica do colecionismo. As grandes coleções particulares no, os chamados gabinetes de curiosidades começados na Europa do século XVII e os antiquários deram origem à instituição que conhecemos como museu. O papel de servir a sociedade e seu desenvolvimento traz uma série de questionamentos quando se pensa o museu atualmente como “uma forma de dar acesso a sociedade ao gosto de uma elite”, como coloca Mila Milene Chiovatto, “se é uma instituição que detém as memórias da coletividade, ela pode e deve construir as memórias dessa coletividade”. Não deve deixar de haver proximidade entre a instituição e a comunidade. A proposta atual do museu é trazer a arte para a vida da sociedade sem deixar de manter diálogo com ela.


galeria de arte Galeria de arte é um espaço destinado á exposição e comercialização de obras de arte. Podem ser privadas ou vinculadas a alguma instituição como o museu ou centro cultural. A galeria pode possuir acervo próprio e/ou aceitar obras de artistas através do processo de curadoria. A comercialização das obras expostas pode ser tanto na forma de venda da própria obra ou de ingressos para visitação.


CIRCUITO DE ARTE Circuito de arte é a circulação do trabalho de arte como mercadoria e como bem cultural. O circuito de arte envolve artistas, críticos, colecionadores, merchands e público. O mercado de arte constitui parte circuito. Ronaldo Brito problematiza a questão do circuito de arte no Brasil na década de 70 destacando a relação arriscada com uma ideologia de mercado. Na tentativa de atrair o público comprador, o mercado opera dentro de um sistema que limitava o trabalho de arte e esvaziava seu significado. Não é possível separar o circuito do mercado de arte, mas é necessário atentar para que os processos de um não interfiram negativamente no outro.


CENTRO CULTURAL Centro Cultural é um espeço destinado a promover atividades culturais. É aberto ao público e visa a participação da comunidade na cultura. As atividades são normalmente gratuitas ou bastante acessíveis. Os centros culturais promovem desde exposições de arte a espetáculos de teatro, dança, música, oficinas, palestras etc. Contam também com espaços de lazer comunitário. A estrutura de um centro cultural é pensada no intuito de atrair a população para dentro do cenário cultural local, dissolvendo as impressões já deixadas pelas instituições mais tradicionais, como o museu, de que arte e a cultura em geral são objetos da elite, de que há um deslocamento na inserção de diferentes classes sociais nesse âmbito. A proposta é inserir a cultura na vida da comunidade.


UNIVERSIDADE A Universidade é uma instituição destinada à formação de profissionais de nível superior em diversas áreas do conhecimento. O trabalho de pesquisa é a principal característica da universidade. Na área das artes, a pesquisa tem importância crucial tanto na questão histórica da arte, quanto no conceitual e prático. No entanto, o trabalho de arte dentro de universidade enfrenta certos obstáculos devido a dificuldade na aplicação dos critérios acadêmicos a área. Ricardo Basbaum coloca que “a universidade (em seu funcionamento altamente tributário a uma tradição basicamente cientificista do conhecimento, filtrada por cristalizações tecnocráticas e produtivistas) ainda não encontrou um caminho mais claro, que possa fluir e ramificar a partir do ‘saber da arte’, de modo decisivo.”


REferências PANOFSKY, Erwin. Significado das artes visuais. São Paulo: Perspectiva, 1979. “A história da arte como disciplina humanística”. Sol LeWitt, “Paragraphs on Conceptual Art,” 1967. BASBAUM, R. . O artista como pesquisador. Concinnitas (UERJ), v. 1, p. 70-76, 2006.] Helguera, P. (2011) Transpedagogia. In: Helguera, P., Hoff, M. (orgs.). Pedagogia no campoexpandido (pp. 11-12). Porto Alegre: Fundação Bienal do Mercosul. Preâmbulo ao Estudo da História da Arte. In: ARGAN, Giulio Carlo; FAGIOLO, Maurizio. Guia de História da Arte. Lisboa: Estampa, 1994. p. 11-42. Critica de arte no Brasil: temáticas contemporâneas/organizadora: Gloria Ferreira — Rio de Janeiro: Funarte, 2006. ALVES, Cauê. A curadoria como historicidade viva. In: Sobre o ofício do curador. Alexandre Dias Ramos (org.) Porto Alegre, RS: Zouk, 2010 Entrevista concedida a João Carlos Tiburski e Gisele Scalco Sutil pelos colecionadores Dr. César Bernardi, Dr. João Borges Fortes e João Manoel Lopes. Boletim Informativo do MARGS, nº 31, out/dez , 1986] Museum Definition, Internacional Counsil of Museums. Disponível em: “http://icom.museum/the-vision/museum-definition/”


Mila Milene Chiovatto, Coordenadora do Núcleo de Ação Educativa da Pinacoteca do Estado de São Paulo, em entrevista para o programa “Museu em movimento 1 - Museu: Para Que Serve?”, 2012. BRITO, Ronaldo. Análise do Circuito, in Malasartes n. 1

imagens Obra: As Meninas, Diego Velázquez, 1656. Material de oficina do arte-educador Marcos Medeiros realizada na Escola Municipal de Educação Bilíngue para Surdos Helen Keller - EMEBS HK São Paulo - Brasil. Disponível em: “http://surdohk.blogspot.com.br/2014/09/otalento-do-arte-educador-marcos.html” Capa do livro “As Vidas dos mais Excelentes Pintores, Escultores e Arquitetos”, de Giorgio Vasari, publicado em 1568. Manipulação de uma peça da obra “Bichos”, de Lygia Clark, 1960. Disponóvel em: “http://espacohumus.com/lygia-clark/” Gravura de Ferrante Imperato. Dell’Historia Naturale (Nápoles 1599). Interior da Galeria de Arte do Centro Cultural Minas Tênis Clube, durante a exposição “Tomie Ohtake, 100 anos” em 2013. Vista frontal do Instituto de Artes e Design, Universidade Federal de Juiz de Fora.


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