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Capítulo XXIII –O Triângulo Falsificado
CAPÍTULO XXIII
O TRIÂNGULO FALSIFICADO
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o dia-a-dia de trabalho na Engenharia, nem sempre eram apenas desenhos de refrigeradores; às vezes apareciam coisas fora do “Script”.N O Triângulo é uma figura interessante; na geometria euclidiana, é a única figura plana e fechada, com menor número de linhas retas. Talvez por esse motivo, essa figura com três pontas foi adotada na simbologia místico-religiosa e por sociedades secretas ao longo da história. Por sua simplicidade, essa figura também foi adotada na simbologia de trânsito, no sentido de advertência ou atenção.
Mas, descendo ao nosso mundo cotidiano e material, essa figura já nos é familiar toda vez que abrimos a mala do carro. Geralmente está solta por lá, embalada ou desembalada, deslizando para lá e para cá ao sabor de cada curva fechada na estrada. Hoje nossos veículos já saem de fábrica com esse acessório conforme legislação, mas nem sempre foi assim.
Eis que um belo dia nos anos 60 apareceu uma lei exigindo que todo veículo portasse um novo acessório em forma de triângulo, para uso emergencial em caso de avaria no veículo ou acidente. Como sempre, tudo que é novidade provoca aprovações por alguns e reprovação por outros, principalmente se aquilo for imposição e custe dinheiro, ainda que venha a nos beneficiar. É sempre assim, não se pode agradar a gregos e troianos ao mesmo tempo. Com essa lei não foi diferente, e houve polêmicas na ocasião, mas manteve-se a lei.
Ocorre que, naquela época, não era fácil encontrar essa peça no mercado, e ninguém queria correr o risco de ser multado pela falta dela numa eventual fiscalização. Sendo novidade, havia poucos fabricantes e não davam conta da demanda. Além disso, os fabricantes e/ou revendedores aproveitavam a lei da “oferta e procura” para majorar seus preços, e mesmo assim as peças sumiam das prateleiras. Como
sempre acontece quando falta um produto no mercado, alguém sempre procura lucrar com a situação “falsificando” aquilo que está em falta. Certo dia, uma pessoa da Engenharia apareceu com um triângulo “falsificado” que havia comprado bem barato por aí, ou seja, notava-se que era meio artesanal e não produto industrializado. Não deu outra, o Eramis foi encarregado de desmontar aquele triângulo e desenhar as peças (copiando) para serem reproduzidas no departamento de Manutenção da fábrica. Não era de plástico reflexível como atualmente; era da chapa de ferro e pesado, sendo as peças articuladas entre si com rebites e pintadas com tinta vermelha reflexiva. Era um produto tosco, realmente.
Assim, foram feitas várias peças para as poucas pessoas interessadas, pois não havia muitos automóveis de funcionários na fábrica. Como eu tinha bicicleta não precisei desse acessório falso.
Nunca fiquei sabendo se aqueles triângulos de chapas foram considerados “válidos” em alguma fiscalização.