YBY BIBLIOTECA PARQUE
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TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO CAMPINAS | DEZEMBRO | 2021
CAMILA GARCIA KUHL ORIENTADOR: LEANDRO RODOLFO SCHENK BANCA EXAMINADORA: ANA CECÍLIA M. DE ARRUDA LOURENÇO GIMENES PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO 3
AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer primeiramente a minha família, em específico meus pais, Andréa e Luis Antonio, pela educação que me deram e e por sempre me apoiarem em todas as decisões. Ao meu amor, Matheus, pelo companheirismo e cuidado ao longo de todos esses anos, por me apoiar e me manter firme durante momentos instáveis. Ao meu orientador, Leandro, por nos trazer para um território tão complexo e bonito, e por nos mostrar que a arquitetura pode ser magnifica e singela. Aos professores Fábia Boretti e Caio Ferreira pelo auxílio durante o processo de elaboração do trabalho final. Ao meu grupo, Ana Paula Beltrão, Bárbara Sousa, Beatriz Cressoni, Fernanda Garcia e Gabriel Grothge que me mostrou que é possível fazer um trabalho sensível e desafiador de uma maneira leve e fluída. Obrigada por terem finalizado essa jornada comigo. E a todos amigos e profissionais que cruzaram meu caminho nesses 5 anos de ensino. 4
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SUMÁRIO
01
02
INTRODUÇÃO
° Resumo ° Brumadinho ° Relações Urbanas ° Parque da Reminiscência
CONTEXTUALIZAÇÃO
11 12 14 18
° Tema ° Localização
22 26
03
04
O PROJETO
° Concepção projetual ° Programa de necessidades ° O nome ° Implantação ° Setorização ° O Projeto
CONCLUSÃO
32 34 36 38 40 42
° Considerações Finais ° Referências Bibliográficas
83 84
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01
INTRODUÇÃO
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F
Resumo Este trabalho é referente à conclusão de um dos projetos de articulação e consolidação do Plano Urbano Territorial para o município de Brumadinho, desenvolvido no primeiro semestre de 2021 em equipe, formada por Ana Paula Beltrão, Bárbara Sousa, Beatriz Cressoni, Camila Kuhl, Fernanda Garcia e Gabriel Grothge, a fim de concretizar o trabalho final de graduação do curso de arquitetura e urbanismo da PUC Campinas. O projeto a ser apresentado promove um novo olhar para o município de Brumadinho, juntamente com os demais projetos. Visamos o crescimento e expansão econômica da cidade valorizando áreas públicas e introduzindo novos equipamentos de uso social e cultural, criando rede de conhecimento, tecnologias e culturas que interligam essas propostas. Após um rio de lama romper montanha abaixo, assolando tudo e a todos que passassem em seu caminho, transformando a paisagem de uma maneira abrupta, violenta e profunda, surge YBY. YBY nasce da terra, uma terra que foi devastada pelo descaso e irresponsabilidade, buscando através da arquitetura e do conhecimento, estabelecer relações com seu entorno e a sociedade, promovendo um espaço educador e democrático que visa o diálogo do homem com a paisagem. 11
Brumadinho Brumadinho está inserido em Minas Gerais, próximo a capital do estado, cerca de 60 km a leste de Belo Horizonte. A cidade se organiza por um núcleo urbano esparso, constituído por casas de poucos pavimentos e que se dispersam em outras áreas rurais do município. Atualmente o município tem sua economia baseada essencialmente na produção agropecuária, do trabalho de mineração da empresa Vale do Rio Doce, e também na recepção de turistas visitantes de Inhotim.
No dia 25 de janeiro de 2019, ocorreu um dos maiores desastres ambientais do país, quando a parte inferior da barragem 1 da mina do córrego do Feijão se rompeu fazendo com que cerca de 14 milhões de toneladas de lama e rejeitos de minério de ferro percorressem 8 quilômetros em poucos dias, chegando até no rio Paraopeba, e deixando 271 mortos.
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Relações Urbanas O Plano Urbano Territorial de Brumadinho foi estruturado em 3 pilares: da paisagem, organizando e delimitando áreas de recuperação ambiental, principalmente nos setores devastados e degradados pela tragédia, recuperação dos recursos hídricos e manchas de vegetação nativa; da cultura, criando espaços de natureza principalmente pública, parques, equipamentos e institutos vinculados a universidades e entidades públicas, nos quais a população possa contar com amparo e representatividade; e de desenvolvimento, investindo em políticas que fomentem uma produção agrícola diversificada, uma exploração mineral devidamente responsável e democrática, bem como um turismo sensato. Com a criação de um eixo cultural-histórico-turístico atrelado à memória, identidade cultural e diversidade paisagística do município, foi possível criar uma rede de estruturas ambientais que conecta Inhotim, parque da reminiscência e o parque Serra da calçada, cada um com diferentes raios de atuação.
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LEGENDA
Relações Urbanas As propostas atreladas ao Plano Urbano Territorial geram 5 grandes polos de desenvolvimento econômico diferentes da mineração, ligados ao turismo, cultura, agricultura e tecnologia. Em Palhano, prepondera o setor agrícola e do turismo relacionado à agricultura, que munido de uma linha férrea viabiliza o escoamento dessas produções e contribui para o desenvolvimento da cidade. Em conjunto a esses polos de desenvolvimento econômico criou-se uma rede de conhecimento vinculada a institutos e universidades, com o intuito de gerar cultura, estudos e tecnologias capazes de promover a sociedade local, a agricultura em geral, a agricultura familiar e de subsistência, a vocação turística para além da pré-existência de Inhotim, o patrimônio histórico de Piedade e seu ramo hoteleiro, e a paisagem local como um todo.
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LEGENDA
M M
YBY BIBLIOTECA PARQUE CCAP
MUSEU DA MINERAÇÃO
MEMORIAL ÀS VÍTIMAS
LEGENDA
Parque da Reminiscência O Parque da Reminiscência tem como principal diretriz reestruturar e ressignificar a área devastada pela lama. Pensado como um parque municipal, com conexão direta ao cotidiano da população, ele é parte integrante da cidade, todo aberto, configurando um circuito de espaços livres com edifícios institucionais distribuídos ao longo dos seus percursos. Como parte do plano, temos a reestruturação viária e a proposição de novos eixos, a fim de conectar o parque com diferentes bairros em acessos diversos. Além de priorizar o pedestre ao longo de toda sua extensão. A recuperação do solo, da água e do bioma existente, em conjunto com a memória, cultura e história locais, são pilares para a distribuição do programa do parque. YBY Biblioteca Parque: Espaço cultural destinado ao desenvolvimento social que estimula o encontro da população, as atividades educativas e lúdicas, a relação com a paisagem e o enfrentamento de desafios ambientais atrelados aos novos recursos de cultura digital. Centro Comunitário e de Atendimento à População (CCAP): Atividades comunitárias, relacionadas à cultura, música e esporte. Atendimento à população local com profissionais da saúde, a fim de tratar a saúde mental pós desastre. Museu da Mineração: Espaço de história, memória e educação vinculado à atividade mineradora. Veículo educativo, tecnológico e de pesquisa. Memorial das Vítimas: Projeto proposto pelo arquiteto Gustavo Penna em memórias às 270 vítimas do desastre. 19
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CONTEXTUALIÇÃO
Tema Bibliotecas-Parque são complexos urbanos compostos por edifícios de uso público com amplos espaços abertos para a circulação dos visitantes, oferecendo diferentes tipos de atividades culturais, educativas e lúdicas, incluindo inovações digitais. Sendo Brumadinho inserido em um estado onde a cultura incorpora tradições indígenas, africanas e europeias, abrangendo vários segmentos da arte, da cultura, da gastronomia e arquitetura; o projeto teve como objetivo fazer com que os usuários usufruam dos espaços amplos propostos, oferecendo manifestações artísticas e culturais. 22
26
Localização Implantado no local que antes era lama, o projeto faz parte do complexo do Parque da Reminiscência, localizado próximo à malha urbana do município. O parque tem como papel a reestruturação da paisagem e do tecido urbano devastado pela tragédia.
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03
O PROJETO
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Concepção Projetual Seguindo o princípio de que a arquitetura edificada no espaço, marca uma ação intencional do homem e serve como um instrumento de comunicação e relação direta com a paisagem, o projeto foi implantado seguindo as curvas originais do terreno, promovendo uma arquitetura que se integra à paisagem. O projeto conta com um espelho d’água que permeia as áreas livres, simbolizando as águas dos rios que foram tomadas pelo desastre. Pátios externos e internos demarcam o encontro da população em manifestações artísticas e culturais. Na perspectiva do observador que vem da rua, o volume não obstrui a vista do observador ao respeitar a altura das paisagens naturais do local. O desenho de implantação foi originado através de eixos e inclinações que seguem a topografia original do terreno, criando diversidade de espaços e de perspectivas da natureza. 33
Programa de Necessidade A Biblioteca Parque tem como ambição a criação de um polo de pesquisa em relação a paisagem. Dessa forma, o projeto foi desenvolvido para estimular sensações ao usuário através dos percursos, desde o generoso espelho d’água, que se reporta às amplitudes dos cursos d’água, ao sentido de maior introspeção oferecido pelo acesso secundário, quando o ingresso se dá sob uma laje ladeada de densa vegetação. O programa foi distribuído em três pilares, memória, cultura e educação. A memória resgata o desastre com a finalidade de conscientização da população em respeito à paisagem, com sala de projeção e exposições sensoriais sobre o tema. O programa contempla um auditório com capacidade para 364 pessoas, cuja finalidade é criar um circuito de palestras, congressos e fóruns de discussões sobre diversos temas, principalmente sustentabilidade, meio ambiente e paisagem, além de receber eventos culturais e peças teatrais. O programa possui também pátios externos e internos que promoverão exposições itinerantes e manifestações artísticas e populares.
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O pilar da educação engloba a biblioteca e seus anexos. Esse espaço de aprendizado contém diversas publicações, entre elas: livros técnicos referenciais sobre o tema paisagem, mapotecas, livros didáticos e paradidáticos. Além disso, esse edifício possui ambientes com mesas interativas, áreas de informática, salas multimídia, sala de reunião, ateliê e um espaço aconchegante para desfrutar de um café mineiro e um bom papo após a visitação do espaço. O pavimento térreo abrange todos os pilares do programa, criando uma conexão entre memória, cultura e educação, com mobiliários orgânicos e despojados mesclados a esculturas contemporâneas e do barroco mineiro.
“Fisicamente habitamos um espaço, mas, sentimentalmente somos habitados por uma memória” José Saramago
YBY BIBLIOTECA PARQUE
MEMÓRIA
Sala Sensorial Exposições
CULTURA
EDUCAÇÃO
Auditório Pátios para exposições Manifestações artísticas
Biblioteca com espaços dedicados a tecnologia e disseminação do conhecimento
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O nome Como dito anteriormente, YBY nasce da terra, uma terra que foi devastada pelo descaso e irresponsabilidade. Da lama, um local de memória, surge um edifício que conta novas histórias.
YBY BIBLIOTECA PARQUE
Yby em tupi-guarani Terra, o chão que se pisa. 36
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Implantação A implantação do edifício YBY Biblioteca Parque se desenvolve a partir da topografia, enfatizando os dois eixos de acesso. O percurso do Parque avança perante a arquitetura, criando uma transição fluída entre o externo e o interno. A rua se mistura à praça seca formando um amplo calçadão em frente ao edifício, comportando bicicletário e estacionamento para visitantes e trabalhadores. O espelho d’água junto ao teto verde transmitem ao projeto a ideia de natureza interligada a arquitetura. Em virtude disso, o espelho d’água foi feito em nível ao terreno original, proporcionando uma amplitude no olhar do observador.
0
25
50
100 m
39
Setorização Estacionamento
40
Sala Sensorial
Auditório
MEMÓRIA PAVIMENTO TÉRREO: Biblioteca
SALA SENSORIAL Exposições destinados a memória do desastre e a interrelação com a paisagem.
CULTURA PAVIMENTO TÉRREO: AUDITÓRIO Foyer, café, sala de som e vídeo, palco, camarim, banheiro, banheiro P.N.E, acesso lateral
EDUCAÇÃO PAVIMENTO DE ACESSO: BIBLIOTECA Café, cozinha, almoxarifado, banheiros, depósito, varanda, recepção, navegação, louge, acervo, área de leitura, área de estudos, varanda, loja, área de exposição intinerante, banheiros.
PRIMEIRO PAVIMENTO: BIBLIOTECA Mesas interativas, mapoteca, mesas de estudo, área de leitura, banheiros, sala multimídia, ateliê, sala de reunião, área de computadores.
PAVIMENTO TÉRREO: BIBLIOTECA Sala de direção, secretaria, banheiros, sala de restauro, volume de acervo, recepção, área de exposição, mobiliários de descanso. 41
3 2
1
42
Planta de acesso O acesso ao edifício se dá de duas maneiras, superior, passando pelo espelho d’água, ou, pelo acesso esquerdo, mais introspectivo chegando no nível térreo. Ao acessar o percurso do espelho d’água, o transeunte passa por um pátio de exposições e manifestações artísticas ao ar livre, reiterando a dimensão cultural e paisagística da biblioteca.
1 - Acesso Espelho D’Água 2 - Pátio Aberto 3 - Biblioteca 4 - Acesso Introspectivo
0
25
50
100 m
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Elevação Sudeste
45
Biblioteca A biblioteca é constituída por 3 pavimentos, sendo o de acesso, o primeiro pavimento e o pavimento térreo. Para materialidade do edfício, foi escolhido trabalhar com elementos naturais, seguindo a tonalidade da paisagem natural.
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Cobertura
Pavimento de Acesso
Primeiro Pavimento
Pavimento Térreo
47
5
3.7 3.5
8%
3.6
3.5
19,60
3.3
3.2
19,60
3.4 3.1
19,50
0.1
48
19,40
Acesso biblioteca A disposição interna na biblioteca foi estruturada a parti de um vazio central que retomam as inflexões do desenho de implantação. 2.4
2.1
4
2.2
2.3
0
1.2 1.3 1.1
1.1
0.1 - acesso espelho d’água 1.1 - banheiro 1.2 - P.N.E 1.3 - almoxarifado 2.1 - café 2.2 - cozinha 2.3 - depósito 2.4 - varanda
0
2,5
3.1 - recepção 3.2 - navegação 3.3 - lounge 3.4 - acervo 3.5 - área de leitura 3.6 - área de estudos 3.7 - varanda 4 - loja 5 - área de exposição
5
10 m
49
1.1
16,00 8%
1.2 1.3
8%
1
1.4 16,00 16,00
2.2
2.3
2.1 2.4
54
2.5
Primeiro pavimento biblioteca O primeiro pavimento da bilbioteca foi destinado para um uso mais reservado e silencioso, com salas e áreas para computadores.
12,00
1.1 - mesas interativas 1.2 - mapoteca 1.3 - mesas de estudo 1.4 - área de leitura
0
2,5
5
2.1 - banheiros 2.2 - sala multimidia 2.3 - ateliê 2.4 - sala de reunião 2.5 - área de computadores
10 m
55
4.1 8%
12,00
12
8%
12,00
4.1
3.1
1.1
58
1.2
1.2
1.4 1.3
1.3
1.5
2.1
2.2
Térreo biblioteca
2,00
4.2 1.1 - sala da direção 1.2 - secretaria 1.3 - baheiros 1.4 - P.N.E
3.1 - recepção 4.1 - área de exposição 4.2 - mobiliários de descanso e convívio
2.1 - sala de restauro 2.2 - volume de acervo
0
2,5
5
10 m
59
6
5 4 1 3
2
62
Térreo biblioteca O térreo é o pavimento integrador do projeto,riando uma conexão entre memória, cultura e educação, com mobiliários orgânicos e despojados mesclados a esculturas contemporâneas e do barroco mineiro.
1 - Biblioteca 2 - Acesso Introspectivo 3 - Sala Sensorial 4 - Pátio Externo 5 - Auditório 6 - Mirante
0
25
50
100 m
63
64
65
Sala Sensorial
68
69
1.7
1.7
1.7
1.7
1.6
1.5
1.4 1.1 1.8
70
1.3
1.2 1.1
Térreo auditório
1.1 - banheiro 1.2 - foyer 1.3 - café 1.4 - sala de som e vídeo 1.5 - platéia 1.6 - palco 1.7 - camarim 1.8 - acesso lateral
0
2,5
5
10 m
71
Elevação Sudoeste
Corte AA
A
B C
73
Elevação Nordeste
Corte AA
75
Elevação Noroeste
Corte AA
77
04
CONCLUSÃO
Considerações finais Por fim, o Plano Urbano Territorial insere novamente Brumadinho no seu contexto histórico. A memória da cidade e a cultura da população, apagadas pelo rompimento da barragem, são resgatadas em prol da população local, tanto em termos de assistência quanto de identidade. O projeto YBY marca a território e ao mesmo tempo quer promovê-lo, ao buscar por uma interação contínua da população local e que é abraçada por um ponto de convivência e de enriquecimento culturais. Mas o projeto também se expande além, para outras perspectivas, ao ser capaz de abarcar pesquisas nacionais e internacionais atreladas ao tema paisagem.
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Referências Bibliográficas Plano Diretor de Brumadinho - Dezembro 2020 PREFEITURA MUNICIPAL (Brumadinho). Prefeitura de Brumadinho. Dossiê. Dossiê Brumadinho, Brumadinho, MG, 2020. PROJETO Brumadinho UFMG. [S. l.]: UFMG, 2020. Disponível em: http://projetobrumadinho.ufmg.br/. Acesso em: 5 maio 2021. PIMENTEL PALHA, Felipe. CAMPO E RURAL IDÍLICOS COMO FALÁCIA:: minério-dependência, incompletude urbana e injustiça ambiental-hídrica em Brumadinho (MG). Orientador: Prof. Dr. Klemens Augustinus Laschefski. 2019. 275 p. Tesee (Doutorado em Geografia) - UFMG, Belo Horizonte, 2019 SANTOS, Milton. A natureza do espaço. 4 ed. São Paulo: Edusp, 2002.
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CAMILA GARCIA KUHL TFG 2021