Kukukaya mar abr 2015

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Sumário

02-03

Editorial

04

Governo, Poder e Governabilidade

05

A Mídia Partidarizada

07

Entrevista: Diógenes da Cunha Lima

12

Nós Seremos o Rescaldo

19

Cumprir ou Criar Lei?

21

Mário de Andrade e as “Danças Dramáticas”

24

Galeano, na Lembrança

27

O Golpe Antes que seja Tarde

28

A Cidade Alta e Todos os Bairros Circunvizinhos, Vistos do Rio Potengi Canteiro de Obras também foi feito para Mulher

30

Reflexões sobre o Fenômeno da Globalização IV

32

Livre como o vento; Quente como o Sol

34

A Escola Fabrício Maranhão e a História da educação de Canguaretama Encontro com a Poesia - Gonçalves Dias

37

Aprovação do PL 4330/2004 - A quem Beneficia?

45

31

40


“Era uma Casa muito engraçada”: em cada canto, uma contação

48

O Fundamentalismo Religioso como uma ameaça civilizacional

53

Coqueirais de Canguaretama

58

O Silêncio é o Avesso do Meu Grito

60

O que há de errado om a felicidade?

62

O Gestão Pública e participação Popular

64

Menino Deus

65

Leilão de jardim - Uma Leitura Subjetiva

66

Oito Passos para Conseguir Sucesso na Profissão (Passos V e VI) SARAU

68 70


C

omemoraremos

ama-

4330/04, ou as MPs 664 e 665

nhã mais uma data im-

que cerceiam e ferem as con-

portante à nível inter-

quistas históricas dos trabalha-

nacional; O DIA DO TRABALHARevista de Circulação bimensal.

DOR.

É uma publicação integrante do

do trabalho, talvez por pressão

site: VIRTUALCULT.COM.BR.

Alguns,

erroneamente,

gostam de chamar como o dia da própria força que combate-

Envio de Artigos:

mos desde 1886 (claro que bem

virtualcult@virtualcult.com.br

antes trabalhado-

A R e vi st a K u ku ka ya n ã o se

res

re sp o n sa b i l i za p o r co n c e i t o s

mundo já resisti-

e mi t i d o s e m a r t i g o s a s si n a -

am

d o s,

bem

co mo

qualquer

o p i n i ã o ma n i f e st a n o s a rt i -

de

todo

contra

o a

opressão do capi-

g o s p u b l i ca d o s, se n d o n e st e

tal e dos capitalis-

ca so d e i n t e i ra re sp o n s a b i l i -

tas), que permitiu,

d a d e d o s se u s a u t o re s. R e -

no entanto, o sur-

g ra s p a ra e n vi o d e a rt i g o s ve j a n a O p çã o : R e vi st a K u -

gimento a partir

ku ka ya / N o r ma s p a ra P u b l i -

da batalha de Chi-

ca çã o .

cago por melho-

Redator/Editor

res condições de trabalho e uma

Alfredo Ramos Neves

vida de dignidade: O DIA 1o DE MAIO. O 1o de MAIO é um grito pela não opressão, por igualdade entre os seres humanos e pela preservação da vida, é, nos dias atuais, a conclamação pelo não retrocesso, contra os projetos de leis nefastos e danosos

dores e trabalhadoras do Brasil. O 1o de MAIO é, assim... de muitas lutas! E só com a resistência dos que produzem que conquistaremos dias melhores, afinal, em cada fábrica, em cada banco, no campo e na cidade, em cada lugar onde o usurpador se vangloria, terá

que

existir

sempre uma consciência de não submissão às propostas de desvalorização e precarização da nossa força produtiva. O 1O DE MAIO é mais do que uma data, ou um feriado qualquer: é a possibilidade de construirmos sempre, uma vida cada vez melhor, e ela serve, esta data, para lembrarmos dos milhares que resistiram e nos repassaram os seus ideias para continuarmos resistindo.

aos trabalhadores e trabalhado-

VIVA, ENTÃO, O DIA 1o DE

ras; como por exemplo o PL

MAIO é o que desejamos!


C

omo compreender a vitória da proposta neoliberal de desmonte da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, expressa no Projeto de Lei – PL 4.330, na vigência de um governo democrático e popular, eleito em oposição ao projeto neoliberal pela quarta vez? A aprovação do texto básico do PL 4.330 e, posteriormente, da emenda aglutinativa pela câmara federal, representa a vitória dos que atentam contra a CLT desde sua edição. Os ataques à esta e as tentativas de flexibilização da legislação protetiva do trabalho, são pautas permanentes dos representantes do capital. Sua defesa midiática vem sempre acompanhada do apelo de modernização das relações de trabalho. A maioria da câmara federal está empenhada em fazer retroceder o estado democrático de direito e a proteção ao trabalho, resultantes de mais de 60 anos de luta social por direitos e por democracias inscritos na CLT, na Constituição Federal de

1988, na legislação complementar e na eleição de governos democráticos com participação popular. O cenário político que tem permitido a regressão tentada pela câmara federal é o cenário de intensa disputa política, principalmente no período pós eleição 2014. As forças conservadoras representantes dos interesses oligárquicos e do grande capital, inclusive internacional, se insurgem desde 2002, para evitar a consolidação de forças políticas novas à frente do governo federal. Nos últimos 12 anos, a retomada do crescimento econômico com distribuição de renda e valorização do trabalho, possibilitaram reduzir desigualdades que remontam à construção da primeira república, mas são ainda insuficientes para fazer justiça aos séculos de espoliação dos trabalhadores, dos pequenos produtores e dos pequenos e médios comerciantes. Mesmo assim, aterrorizam os donos do poder econômico e as camadas médias. Essa é a razão da fúria e do ódio destilado pelos descendente da Casa Grande.


A ascensão de forças políticas novas, como o partido dos trabalhadores e o partido comunista do Brasil - originadas na luta do trabalho contra o capital -, em aliança com forças democráticas e de centro, deslocou as forças conservadoras do governo central. Mas o poder político real, o poder ditado pela estrutura econômica, este permaneceu sobre o controle da classe dominante, que controla também os meios de comunicação e o poder judiciário. Garantir a governabilidade sem deter o poder material foi e é o desafio das forças novas, obrigadas a realizar as coalizões e fazer concessões para garantir as prioridades: retomar o crescimento econômico com distribuição de renda e redução das desigualdades. O novo governo garantiu e tem garantido a governabilidade, mas o que representa a possibilidade presente é, também, o que representa a limitação futura. A governabilidade construída nos dois governos do ex-presidente Lula é, agora, insuficiente para tomar medidas necessárias ao avanço da política de inclusão, que precisa avançar para garantir acesso aos serviços e aos postos de trabalho. Alcançar nova dimensão de crescimento econômico, com distribuição de renda e valorização do trabalho, exige reformas e mais investimento. As reformas são necessárias para ampliar a participação popular e para maior responsabilidade social do capital. A reforma política pode reduzir a influência do poder econômico na definição da vontade popular, com o fim do financiamento empresarial de candidatos, e a taxação das grandes fortunas é uma exigência democrática.

A ampliação dos investimentos é condição para o crescimento econômico, mas somente se efetiva com o investimento estatal em infraestrutura e em serviços. Para responder a tamanha exigência, o governo depende da garantia da propriedade das reservas de petróleo, na camada pré-sal, e da participação da União nas riquezas advindas de sua exploração. A proteção do petróleo nacional na camada pré-sal, garantida na legislação de partilha e na exigência do conteúdo nacional nos projetos de exploração e produção de petróleo, é, assim, passaporte e garantia do desenvolvimento nacional, capaz de fazer o país figurar entre as maiores economias e potências econômicas. Aqui reside o fundamento da espetacularização da operação lava jato: a disputa pelo controle do petróleo na camada présal. O segundo mandato da presidenta Dilma está chamado a reconstruir a governabilidade do seu governo. Além dos esforços para recompor a base de apoio, precisa construir nova política de diálogo com o movimento social e as forças políticas interessados no desenvolvimento e na valorização do trabalho, fator determinante e indispensável ao crescimento econômico. No ano de 2014, as forças democráticas e populares derrotaram o projeto neoliberal pela quarta vez, ao reeleger a presidenta Dilma. A vitória reafirmou a opção dos brasileiros pelo projeto nacional de desenvolvimento com inclusão social e valorização do trabalho. Mas o resultado eleitoral vitorioso permanece condicionado e limitado à conquista do governo.


A relação entre Mídia e Políti-

do CR-P (Cenário da Repre-

ca tem sido objeto de muitos

sentação Política) nas elei-

estudos tanto no campo da

ções presidenciais de 1998”

comunicação, como nas ciên-

de

cias sociais. Pelo menos des-

(apresentado no II Encontro

de a década de l990 foi cons-

Nacional de Estudos de Co-

tituído em várias universida-

municação e Política, em Sal-

des grupos de pesquisas que

vador, 1998) que mostra cla-

Cesar

Soares

analisam a re-

ramente

lação entre mí-

com

a

dia e política,

Veja

se

que tem resul-

posiciona

tado em traba-

em rela-

lhos apresenta-

ção

dos

con-

eleições,

das

em defe-

em

gressos

* Homero de Oliveira Costa, Prof. do Departamento de Ciências Sociais da UFRN.

Murilo

às

respectivas

sa

áreas,

candida-

em

artigos revistas

tura

acadêmicas,

da de

Fernan-

dissertações de mestrado e

do Henrique Cardoso” (o anti-

teses de doutorado. São mui-

petismo e antilulismo que con-

tas as pesquisas e a publica-

tinuará nas eleições presiden-

ção de seus resultados. Para

ciais de 2002, 2006 , 2010 e

fins deste artigo, destacaria

2014), os livros “Mito e discur-

mais especificamente alguns

so político: uma análise a par-

estudos que tratam de um dos

tir da campanha

aspectos relevantes da temá-

de 1994 de Luis Felipe Miguel

tica, que é o da partidarização

(Editora da Unicamp,2000);

da mídia (considerado aqui a

“Eleições

chamada “grande mídia” que

2002 no Brasil

(Hacker edi-

inclui jornais, revistas e ca-

tores, 2004) e

“A mídia e

nais de televisão)., entre eles,

as eleições de 2006 (Editora

o artigo “Veja e a construção

Perseu Abramo,

eleitoral

presidenciais

2007)

em


e, mais recentemente “A ditadura continuada:

ção; teses e hipóteses furadas; narrativas e

fatos, factoides e partidarismo da imprensa na

entrevistas enviesadas; fontes de baixíssima

eleição de Dilma Rousseff” de Jakson Ferreira

credibilidade” (p. 252).

de Alencar (Editora Paulus, 2012) . Este último trata das eleições presidenciais de 2010 e da “tomada de partido por parte da imprensa e da Folha de S. Paulo, em particular (...) , num posicionamento favorável à candidatura de Geraldo Alkmin. Como disse Venício Lima no artigo “ A inquestionável partidarização da imprensa”(Teoria e debate, janeiro de 2013): Se o leitor (a) ainda precisa de alguma comprovação sobre o comportamento partidário dos jor-

Destacam-se também as pesquisas realizadas pelo Doxa (Laboratório de Pesquisas em Comunicação Política e Opinião Pública) do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ e artigos de seus pesquisadores como: “Tomando partido: Imprensa e política nas eleições de 2006,

de Alessandra

Aldé, Gabriel Gutierrez e Marcus Figueiredo (Politica & Sociedade , v.10, 2007).

nalões brasileiros, sobretudo nos períodos

O

conjunto

desses

estudos

eleitorais, recomendo a leitura do excelente A

(todos baseados em pesquisas) mostra que

Ditadura Continuada – Fatos, Factoides e

não há nem isenção nem imparcialidade dos

Partidarismo da Imprensa na Eleição de Dil-

meios de comunicação na cobertura das elei-

ma Rousseff, resultado de uma cuidadosa

ções e mais do que isso, mostram o seu parti-

pesquisa realizada por Jakson Ferreira de

darismo. No artigo “A mídia e os juízes” (Carta

Alencar, recentemente publicado pela editora

Capital, 14/11/2012) Marcos Coimbra diz

Paulus” e completa: “ele demonstra e confirma

“ainda há quem duvide quando ouve que a mí-

o que já sabemos: os jornalões brasileiros,

dia brasileira é partidarizada. Que tem posição

além de partidarizados, não têm compromisso

política e a defende com unhas e dentes. Por

nem mesmo com seus manuais de reda-

opção

ção” (...) Nas suas conclusões, Jakson Alencar

partidária, ela é contra o PT. Desaprovam os

afirma que “a cobertura (da Folha de S. Paulo)

dois presidentes da República eleitos pelo par-

(...) misturou frequentemente fatos com opini-

tido e seus governos. (...) a chamada “grande

ões e boatos, somando-se a isso outros ele-

imprensa” é formada basicamente por quatro

mentos, como torcida, manifestação de dese-

grupos empresariais. Juntos, possuem um

jos travestidos de informação, argumentação

vasto conglomerado de negócios e atuam em

frágil e com pouca lógica, estratégias óbvias e

todos os segmentos da indústria da comunica-

já desgastadas pelo uso repetitivo em diversas

ção. Têm um grau de hegemonia no mercado

eleições, incapacidade de analisar processos

brasileiro de entretenimento e informação in-

econômico-sociais para construir posiciona-

comum no resto do mundo”.

mentos e críticas com um mínimo de sofistica-

ideológica

e

preferência

político-


No artigo “Imprensa e eleições

nário global e utiliza o termo “Aparelhos priva-

presidenciais: natureza e consequências da

dos de globalização” no qual “O verdadeiro

cobertura das eleições de 2002 e 2006”, (“A

poder é, a partir de agora, mantido por um

Mídia nas eleições de 2006” Fundação Per-

feixe de grupos econômicos e financeiros pla-

seu Abramo, 2007, org. por Venício A. Lima),

netários e de empresas globais, cujo peso

Marcus Figueiredo, Gustavo Mendes se Ales-

nos negócios do mundo é, às vezes, mais im-

sandra Aldé, ao analisarem a natureza e a

portante do que o dos Estados”. Eles são os

cobertura das eleições presidenciais de 2002

“novos mestres do mundo” e na nova guerra

e 2006 mostram como se "adotam um híbrido

ideológica imposta pela globalização, às mí-

entre

dois

dias são utiliza-

de

das como uma

modelos pluralismo:

arma de comba-

formalmente,

no

te. Elas abando-

discurso ético de

naram a função

autoqualificação

de “quarto poder”

diante

dos

e procuram de-

leitores, procuram

fender seus privi-

associar-se

légios. Segundo

aos

conceitos e rituais

Ramonet

tal

de objetividade do

“Como

jornalismo

antes com a oli-

ocorria

americano, como é possível constatar nos

garquia latifundiária, esses proprietários de

slogans,

de

latifúndios midiáticos opõe-se a toda reforma

redação, cursos de jornalismo. No entanto, na

social e a toda distribuição um pouco mais

produção do impresso diário, o que vimos são

justas das imensas riquezas sociais”.

diretrizes

diferenças

no

oficiais,

tratamento

manuais

conferido

aos

candidatos, de amplificação de certos temas negativamente

associados

a

Lula,

contraposto à benevolência no tratamento de temas espinhosos relacionados aos seus adversários".(p.84).

de

massa

zada, enquanto aparelho privado insere-se assim no processo de globalização e mantém como um dos núcleos constituintes a difusão da ideologia de seus proprietários, que são integrantes das classes dominantes. A mídia

No livro “A explosão do jornalismo – das mídias

A mídia, cada vez mais oligopoli-

a

massa

mí-

Serge Halimi os “novos cães de guarda” do

Ignácio

Capital (“Os novos cães de guarda”, editora

Ramonet analisa os grandes grupos midiáti-

Vozes, 1998). Longe de ser um “contra-

cos e a forma como se estrutura um novo ce-

poder”, como postulam, na verdade está

dias” (Publisher Brasil Ver, 2012),

de

hegemônica, são, para usar a expressão de


dominada por aquilo que ele chama de

res das classes dominantes em torno das ne-

“jornalismo de reverência”, a serviço do merca-

cessidades formuladas por um setor especifico

do, dominada por grandes grupos econômicos.

exatamente mais próximo às grandes corpora-

Para Ramonet, esses “cães de guarda” se

ções internacionais. “A tarefa de Veja, cumpri-

comportam como verdadeiros partidos políti-

da por seus editores, é a de disseminar e difun-

cos. “Não reivindicam o direito de crítica, mas

dir os projetos e perspectivas desses setores,

se constituem uma oposição ideológica. Sua

apresentados como se (re) produzissem os an-

verdadeira missão é conter as reivindicações

seios e as necessidades do conjunto do país”.

populares”.

A partidarização da mídia e da per-

Para muitos analistas, a revista Veja cumpre esse papel no Brasil, como representante da direita política brasileira, e que tem atuado como um verdadeiro partido político. O proprietário da revista, Roberto Civita, na sua carta ao leitor no final de 2012, reitera a ideia de que na falta de uma oposição digna desse nome, a imprensa deve assumir as funções de partido político: “ Ainda no que diz respeito à imprensa, é preciso notar que a ausência de uma oposição atuante e articulada vem colocando os veículos de informação independentes na curiosa posição de serem praticamente os únicos fiscalizadores e críticos das ações do governo”. Para Virginia Fontes, professora da UFRJ,

autora

do

livro

“Reflexões

Im-

pertinentes: História e capitalismo contemporâneo”, no prefácio do livro “Veja: o indispensável partido neoliberal” (l989-2002) de Carla Luciana Silva, ao tratar da mídia brasileira na qual “predominam verdadeiros latifúndios (...) alguns deles consolidados pela ditadura militar imposta a partir de l964”, afirma que a revista Veja após breve período inicial no qual procurou manter uma postura menos autocrática, passou a desempenhar um papel primordial como agência aglutinadora de diferentes seto-

da de sua credibilidade tem sido objeto de estudo e reflexão de um dos mais importantes analistas da mídia no Brasil, Venicio Lima, autor, entre outros, dos livros “Mídia: teoria e política”, “Política de comunicações: um balanço do governo Lula (2003-2010)”, e “Mídia: crise política e poder no Brasil”. No artigo “A obsessão do jornalismo partidário” ao tratar da erosão da credibilidade da mídia no Brasil, comenta o resultado de uma pesquisa do Ibope Inteligência em 2012 sobre o Índice de Confiança Social (ICS) na qual a mídia foi a instituição brasileira que apresentou maior queda em sua credibilidade, atrás apenas do sistema público de saúde e das escolas públicas. Segundo o autor a queda acentuada da credibilidade da grande mídia não é um fenômeno que ocorre somente no Brasil, mas no nosso caso específico, entre outros fatores explicativos está “a inconteste e fartamente documentada” partidarização que passou a caracterizar o “jornalismo político” que tem sido praticada nos últimos anos, pretensamente em defesa da “opinião pública”, expressão invocada simplesmente para identificar sua própria opinião, que, embora privada, pretende passarse por "pública”.


Na análise do cientista político

uma situação muito particular, porque, afinal

Wanderley Guilherme dos Santos, a chama

de contas, os interesses econômicos e em-

grande

mídia, de uma maneira geral, vem

presariais de proprietários de jornais deviam

agindo como escudeiro das elites conserva-

ter suas instâncias de defesa e não utilizar a

doras do Brasil e tem atuado como um verda-

imprensa para isso. Esta é uma peculiaridade

deiro partido político. Ao analisar mais especi-

do Brasil. E é isso o que se mistura com fre-

ficamente a im-

quência no Bra-

prensa ele afir-

sil: as campa-

ma que ela se

nhas

considera

desenvolvidas

in-

políticas

destrutível por-

pela imprensa,

que

sob o pretexto

resiste

à

democratização

de

que

são

e à republicani-

questões

que

zação do Brasil

se querem pú-

(uma das ex-

blicas, mas, na

pressões dessa

verdade,

são

resistência é o

interesses

pri-

combate

per-

vados dos pró-

manente

a

prios empresá-

qualquer forma

rios

de regulação da

cos”.

jornalísti-

mídia, a mesma que

a

mídia

conservadora de outros países, como na Venezuela, Equador, Bolívia e Argentina têm em relação às medidas para a democratização dos meios de comunicação). O partidarismo, portanto, não é específico do Brasil, nem apenas em relação aos governos Lula e agora de Dilma Rousseff. Vem de longe e justifica-se porque no Brasil, segundo ele "tem uma circunstância peculiar que é o fato de que as empresas jornalísticas têm os interesses empresariais também fora do circuito de informação. E isso cria

Uma

imprensa

que tome partido e tire a máscara da isenção e da imparcialidade e em defesa dos privilégios que julgar pertinentes, é preferível à da simulação, de veicular opiniões sob a aparência de reportagem isenta e pretensamente neutra. No entanto, esse tipo de jornalismo, a considerar a progressiva desconfiança dos leitores, mostra que pelo menos uma parcela considerável tem sabido distinguir manipulação e panfletagem do que deveria ser informação, imparcialidade e isenção.


Diógenes da Cunha Lima, natural de Nova Cruz-RN, tendo o seu nascimento registrado em 1937. De uma vida eminentemente cultural, política e literária. Conviveu com nomes importantes da nossa cultura potiguar, tais como: Luís da Câmara Cascudo, Edgard Barbosa, Alvamar Furtado, Otto Guerra, Floriano Cavalcanti, Raimundo Nonato Fernandes. De escrita lírica e de contos homéricos, Diógenes é hoje um consagrado poeta e escritor Norte-rio-grandense. Tendo exercido inúmeras funções e cargos públicos, dentre eles: Presidente da Fundação José Augusto; Secretário de Estado da Educação e Cultura; Consultor Geral do Estado; Presidente do Conselho Estadual de Cultura; Reitor da UFRN, dentre outros. Atualmente Diógenes da Cunha Lima é presidente da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras e nesta entrevista ele falará sobre o seu ofício de escritor, da literatura nacional e local, do mercado literário no estado, da sua vocação educacional, da sua formação em Direito, de Câmara Cascudo e de muitos assuntos de caráter cultural e histórico.

Por: Thiago Gonzaga Diógenes da Cunha Lima onde você nasceu? Fale-nos um pouco da sua infância? Quais foram suas primeiras leituras literárias? Qual o livro que você leu, quando criança, que mais lhe marcou? A casa em que nasci foi depois o Hotel Cosmopolita. Por isso, creio, Nova Cruz me fez cidadão do mundo. Infância intensamente vivida, linda. Jogo de bola de borracha, bola de gude, jogo de castanha (castelo e tila) peteca, brinquedos construídos por mim e meus irmãos, montar em cavalo. Ainda hoje me arrependo e sofro por lembrar que caçava passarinhos com baladeira. Tenho em minha casa um self-service de passarinhos. Todos os dias sirvo alpiste e painço, comidinhas. Seria uma compensação? Tudo eu queria entender e aprender. Nova Cruz bebia água vinda de trem. Do rio Pequiri. Ficava impressionado com a fila de latas na estação à espera. Aí, aprendi a importância da água. Queria saber como um vapor, uma espécie de fumaça, podia mover uma enorme locomotiva. O padre Manoel Barbosa me ensinou explicando também que as rodas do trem se moviam porque havia um braço excêntrico, então, aprendi aí a importância de excentrici-

dade. Daladier e eu ganhamos uma bicicleta vermelha, fantástica. Aprendi equilíbrio e a partilhar. Aprendi, com uma surra, que não devia pegar “morcego” no trem. Fui coroinha na Igreja Matriz. Ajudava missa em latim. Ad Deum qui laetificat juventutem meam. Deus, que me alegrava a juventude, me faz feliz até hoje. Estudava no Colégio das freiras, Nossa Senhora do Carmo. A minha turma, três meninos e sessenta meninas. Um dia, fui fechar uma janela e as meninas disseram não fecha. Respondi: fecho porque estou resfriado e pode vir um ar de vento. Ganhei o apelido de advento e as meninas faziam uma espécie de coral cantando advento. Delicadamente, eu agradecia falando na mãe delas.


Aprendi a trabalhar na loja. Meu pai dizia que, quando o braço estirado dava um metro, estava na hora de trabalhar. Fazia pacotes, cilindrava. Fui caixa e vendedor de tecidos, chapéus, sombrinhas. Por vezes, vendíamos colchões de capim e máquina de costura. Meu pai era leitor imbatível, do Almanaque Capivarol a Shakespeare. Um dia me levou para ouvir cantadores de feira. Gostei. Entendi que a poesia popular era diferente, mas ágil do que as que meu pai recitava em casa. Li gibis, Monteiro Lobato, muitos livros infantis. Logo, Anatole France, Euclides da Cunha, Coelho Neto, José Lins do Rego, Câmara Cascudo. O livro que mais me impressionou foi Fogo Morto, de Zé Lins. Todo homem tem um rio correndo na sua infância. Eu tenho dois: o Curimataú e o Potengi. O Curimataú assombrava os meus olhos meninos quando vinha com cheia de água barrenta, de barreira a barreira. Zé Preto tomando cachaça e atravessa o rio com um balde de leite. Eu só podia tomar banho quando as águas estavam transparentes. Ou pescar piaba, com uma garrafa com farinha. Você participou de algum movimento cultural/literário na época de estudante? De muitos. Fui presidente do Centro Panamericano no Atheneu. O Centro tinha pretensão otimista de interagir com alunos da América Latina. Com José Augusto Delgado e outros fizemos uma exposição de poesia no Grande Ponto. Na Faculdade, apontado como de direita, fui candidato à Presidência do Diretório Acadêmico Amaro Cavalcanti e da União Estadual de Estudantes, derrotado por pouco votos.

E o período como estudante universitário, como foi? E por qual razão escolher cursar a área jurídica? Era sonho tornar-se advogado? Participei da chamada Turma da Paz da Faculdade de Direito. Aluno encantado por Luís da Câmara Cascudo, Edgard Barbosa, Alvamar Furtado, Otto Guerra, Floriano Cavalcanti, Raimundo Nonato Fernandes. Meu pai fora Adjunto de Promotor de Nova Cruz. Meu primo Otalício Pessoa da Cunha Lima, meu primo, foi Promotor da Cidade. Substituio, algumas vezes em Nova Cruz e fui Adjunto de Promotor da Primeira Vara de Natal cujo titular era Nogueira Fernandes. Otalício e Dr. Nogueira ocuparam, depois, a Procuradoria Geral de Justiça. Penso que nasci para ser advogado, tanto que fui Procurador da Prefeitura de Natal, fiz dois concursos para juiz de direito, fui nomeado e nunca assumi. Talvez, por medo de julgar pessoas. Quando acontece a sua estreia em livro? Relate-nos um pouco dessa fase, das influencias e do período de lançamento da sua primeira obra poética? Eu poetava em Nova Cruz. Com treze anos trouxe os poemas para Natal. Aqui o soneto era coisa do passado. Mudei o rumo e, incentivado por Newton Navarro e por Câmara Cascudo, publiquei pela Universidade Federal “Lua quatro vezes sol”. O editor foi Geraldo Batista. E as obras seguintes; "Instrumento dúctil", “Corpo breve" e "Natal, poemas e canções”? Seguem a mesma linha poética do primeiro? Não sei dizer. Só posso viver com poesia, viver poesia, acreditar nela até como um meio de sobrevivência. Estes livros representam o meu momento, estado de espírito. Quantos livros você escreveu até o momento (Junho de 2013)? Alguns da sua preferencia? Algum “filho” especial?


Vinte e cinco. Gosto muito do Livro das Respostas (Em face do Livro de Las Preguntas, de Pablo Neruda), um atrevimento meu que deu certo. Já Tendresse, (Poèmes d’un Amour Tourmenté) foi publicado na França em Charleville, tradução de Bernard Allegued. Aqui, transformei em Cd, eu recitando os poemas e Marco Bruno Miranda Clementino, hoje juiz federal, recitando em francês. Gosto de Natal, uma nova biografia, e de poemas como Celebração, Jesus Nordestino, A Ribeira, Poema da Moça Menina. Está por nascer um livro, filho especial: O Dicionário Amoroso de Natal. E como surgiu a ideia de escrever a obra “Câmara Cascudo Um Brasileiro Feliz”? Ele como ele recebeu a homenagem? Preparavam-se as comemorações dos 80 anos de Cascudo que sempre me considerava o aluno mais próximo, um filho de predileção. Paulo Macedo sugeriu que eu fizesse. Eu tinha muitas anotações de conversas com o Mestre. O problema é que estávamos a cinco semanas do aniversário. Fechei o Escritório e, durante oito dias e oito noites, escrevi o livro. Meu compadre Marco Aurélio de Sá fez a edição, correndo. O Mestre queria mudar o título. Perguntou-me se eu achava que ele era o único homem feliz no Brasil. Haveria cento e muitos milhões de infelizes? Depois, passou a se intitular um brasileiro feliz em entrevistas, em conversas, em crônica. Diógenes da Cunha Lima exerceu inúmeras funções e cargos públicos, dentre elas: Presidente da Fundação José Augusto; Secretário de Estado da Educação e Cultura; Consultor Geral do Estado; Presidente do Conselho Estadual de Cultura; Reitor da UFRN, dentre outras. Alguma marcou de modo especial a sua carreira ? Todas me marcaram. Exerci plenamente as funções, principalmente o exercício dos cargos de Reitor e da Presidência do Con-

selho de Reitores das Universidades Brasileiras. Você foi eleito muito jovem para Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, nos relate um pouco desse momento? Era um sonho entrar para Academia? Aluízio Alves era candidato à sucessão de José Augusto. Câmara Cascudo e Dr. Onofre lançaram o meu nome e trabalharam muito. Às vésperas do pleito, ficou claro que eu obteria o maior número de votos. Aluízio retirou a candidatura, afirmando que estava havendo interferência política na Academia. Ele estava cassado. Anos depois, com entusiasmo, apoiei a sua candidatura. A sua presença deu brilho a Academia. Poucos anos depois se torna presidente da Academia norte-riograndense de Letras, cargo que você ocupa até os dias atuais. Estava nos seus planos, dirigir esta tão importante instituição cultural? Não. Coloquei o meu trabalho à disposição dos colegas acadêmicos. E enquanto bem servir. Amo a Instituição, admiro os companheiros, tenho por eles carinho e amizade. Ninguém é feliz sem ser útil, nem é útil sem ser feliz. Você também recebeu ao longo da carreira varias condecorações e medalhas, como o Diploma de Mérito Centenário Câmara Cascudo. Diógenes da Cunha Lima de onde vem tanto amor pela educação/cultura/ literatura? Fui honrado com muitas distinções. Todas recebi com emoção. Destaco: a Ordem Nacional de Mérito Educativo no grau de Grande Oficial, a Medalha João Ribeiro da Academia Brasileira de Letras, do Conselho de Reitores da Universidade do Chile como Rector Y Consegero, e a Medalha Santos Dummont do Governo de Minas Gerais.


Da minha infância vem o amor. A minha infância nunca me abandonou. Tanto que escrevo livros e canções infantis. Você escreveu biografias de importantes figuras do RN, como Djalma Marinho, Câmara Cascudo, Onofre Lopes entre outros. O que você acha que poderíamos fazer para que estas figuras não fossem esquecidas e fizessem parte da formação dos nossos jovens? Biografias e perfis biográficos são essenciais à formação dos jovens. São modeladores. Governo, Instituições de intelectuais devem promover divulgações de grandes homens à coletividade. Você foi reitor da UFRN no período da transição da ditadura para democracia. Como foi conduzir a universidade naquele processo onde a sociedade e especificamente os estudantes, levantam bandeiras que iam de encontro às instituições que embora estivessem buscando a democratização adotavam políticas diferentes? Foi instigante. Era época do surgimento e fortalecimento das Instituições, das Associações de Professores, Estudantes e Funcionários. Com todos eu procurava dialogar. Uma vez fui avisado de que os estudantes haviam invadido o auditório da Reitoria com muitos protestos. Fui para lá e perguntei se me permitiam falar. O clima era tenso, com gritos, início de vaias, protestos muitos. Lideranças estudantis como a de Mineiro e Hugo Manso. Comecei o discurso dizendo: Esta é a Universidade que eu sonhei, viva, atuante, protestando, exigindo mudanças... Durante a minha gestão, não permiti interferências ditatoriais contra professores, alunos ou funcionários. As minhas decisões sempre tiveram o respaldo do Ministério da Educação. Você mantinha bom relacionamento com os líderes estudantis, considerando as posições divergentes entre estudantes e a reitoria? Algum dos antigos líderes estu-

dantis mantém contato ainda hoje com você? Algum fato marcante nesse período? Mantenho excelente relacionamento com os antigos líderes estudantis. Tive o privilegio de receber como cliente muitos professores que, por posições ideológicas, me combatiam. Os estudantes eram proibidos de se associarem. Contrariando ordem expressa, recebi na sede do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras a União Nacional de Estudantes, então presidida por Aldo Rabelo, hoje Ministro. Apoiamos as suas revindicações e fomos, os reitores, reivindicá-las ao Ministro. Aldo lembrou do episódio quando visitou Natal como Ministro de Esportes e depois quando me recebeu em Brasília. Sua obra O Livro das Respostas é um diálogo com um dos maiores poetas do século XX. Qual a sua motivação para escrever este livro considerando a história do escritor Pablo Neruda? Neruda é, do meu ponto de vista, o maior poeta das Américas. Sabendo da minha predileção, Veríssimo de Melo pediu-me para fazer três respostas ao Libro de Las Preguntas a fim de que ele fizesse uma crônica. Fiz. E não pude mais parar. A sétima versão do livro é que foi a definitiva com as 314 respostas. Neruda baixou como em sessão espírita e reprovava as tentativas iniciais. Afinal, senti dele a aprovação. Claro que foi um atrevimento meu esse diálogo onírico, mas deu certo. A crítica foi sempre exagerada, favorável. Thiago de Mello disse que gostaria de traduzir as perguntas de Neruda e que ele, se tivesse vivo ficaria feliz com as minhas respostas. Ivo Barroso fez um poema em homenagem e publicou na Folha de São Paulo. Agora mesmo em Frankfurt um editor mostrou-se interessado em representar o livro na Europa.


Quando vim para Natal, tinha 13 anos, meu pai me orientou: “Em Natal há um rio chamado Luís da Câmara Cascudo, o resto é tudo riacho”. Aconselhou-me a visitá-lo. Toquei na campainha da casa da casa da Rua Junqueira Aire, 377, e Anália, a velha criada, veio me atender: - O que é que você quer, menino? - Quero conversar com Câmara Cascudo. - Ele está muito ocupado e não vai poder “conversar” com você. - Vá dizer a ele que eu vim de Nova Cruz para vê-lo. O Mestre veio me receber, deu-me chocolates e uma cestinha feita por índios, disse lembrar-se de meu pai – “ele tem olho de xexeu” - e de alguns parentes que eu mencionei. Depois, procurei estar presente às palestras dele onde tivesse notícia. Já na Faculdade de Direito foi meu professor de Direito Internacional Público. De fato, foram aulas de etnografia, história, folclore, costumes, hábitos, supertições, mitos, lendas. Íamos ouvir o que ele dizia mesmo estando estudando outras matérias. Ele me fez seu aluno permanente e começou a me receber em sua casa. Foi meu padrinho de casamento no alto do Cabo Branco em João Pessoa. Quando me candidatei a Reitor ele fez uma carta enaltecedora ao Presidente da República. Escreveu em sua máquina Remigton, com carbono, e me deu a cópia assinada para que eu mostrasse a outros escritores a fim de que fizessem o mesmo. Levei a cópia para Gilberto Freyre, José Américo de Almeida, Jorge Ama-

do e Odílio Costa Filho. Durante cerca de vinte anos frequentei a sua casa. Chegava no final do expediente e saia quando ele dizia que eu fosse baixar em outro terreiro. Retirei no banco, muitas vezes, cheque relativo a sua aposentadoria, levei cartas para o correio, pesquisei significados de palavras e gestual populares, fui seu advogado, enfim, fazia tudo o que podia para facilitar o dia a dia do meu Ídolo. Câmara Cascudo é um ícone da cultura norte riograndense. É possível pensar o RN como sendo um antes e outro depois de Cascudo, em termos históricos e culturais? Certamente. Câmara Cascudo é um dos mais nobres arquitetos da alma brasileira. Fez promoção cultural como ninguém. Deu respaldo à fundação da Universidade Federal, criou a Academia de Letras e deu valor maior ao Instituto Histórico e Geográfico, sem esquecer do estímulo à criação da Sociedade de Danças Antigas e Semi-desaparecidas, ARARUNA. A ele se deve a permanência de muito das nossas tradições e muito da autoestima potiguar. A imagem da Natal provinciana tão presente na sua geração já foi superada ou você acha que ainda está presente nos dias atuais e ainda fazem parte dessa geração? Câmara Cascudo é o sinônimo mais nobre de Natal. Ele assinava, frequentemente, Luís Natal. Tudo produziu aqui. Daqui a quinhentos anos, enquanto se estudar o Brasil, o que é o brasileiro, haverá de se estudar Cascudo.


Você sempre esteve ligado a formação educacional. Foi secretário de educação e reitor da universidade. A educação apesar dos constantes discursos em sua defesa continua deficitária no nosso estado. O que você acha que esta faltando para mudar efetivamente essa situação. Eu sou um professor. Ainda hoje, no meu Escritório de Advocacia, eu não passo de um professor para colegas, para os estagiários e até para alguns clientes. Não há como fazer crescer o país com a educação deficiente. Tratando-se o professorado como uma classe subalterna, ganhando pouco sem condições de preparação adequada para o magistério. O investimento em educação determinara mudanças a todos os setores da vida social. E o mercado literário potiguar? Existe alguma diferença em relação, por exemplo, quando você estreou em livro? Sinto-me satisfeito com o mercado literário potiguar. Há várias editoras, com ótima escolha dos livros publicados. As sedes estão em Natal e Mossoró. Nada existia quando a UFRN publicou o meu primeiro livro, o Lua Quatro Vezes Sol. Você também escreveu alguns livros infantis, como surgiu o interesse por esta vertente ? Comecei fazendo músicas infantis. Cada filho meu, netos, alguns sobrinhos e filhos de amigos têm uma canção de ninar. Já fiz umas sessenta. Alguns estão com vozes lindas em três CDs. Natália, minha sobrinha, estava com o pai fazendo doutorado em Madri, quando eu estava de férias em Pirangi. Mandei uma história por e-mail. Ela gostou. Mandei outras, seguidamente. Aprendi, na prática, a fazer histórias para crianças. Acrescido de contos sobre os netos, estava pronto A Avô e o Disco Voador. Por isso, esse livro é dedicado à Internet. Este livro tem me dado todas as ale-

grias, adotado em vários colégios, estudado por meninos e teatralizados também. Sarah Benchimol, compositora carioca, viu o livro e fez um belíssimo Cd com as histórias. O Cascudinho o Menino Feliz também me deu alegria. Será, talvez, adotado pela Secretária de Educação de São Paulo. Foi manifestado o interesse. O livro resultou de um pedido de Cortez da Editora. É resultado da convivência com o Mestre Cascudo e teve a participação essencial de minha filha Cristine, a educadora. Revelo uma tristeza: As Secretárias de Educação daqui não o valorizam. Diógenes da Cunha Lima tem ideia de quantos prefácios e orelhas escreveu até o momento? Penso que já ultrapassam uma centena. Gosto de fazê-los, de ler em primeira mão, usufruir de novos afetos e pensamentos. Quais foram às pessoas mais próximas a você no mundo literário além de Cascudo? Tive o privilégio de merecer a simpatia de monstros sagrados da literatura como Gilberto Freyre, Afonso Arino de Mello Franco. Em Natal foram meus amigos diletos Newton Navarro, Zila Mamede, Veríssimo de Melo, Luís Carlos Guimarães, Nilson Patriota, Gilberto Avelino, Miriam Coeli, Dom Nivaldo Monte, Miguel Cirilo. Quais as obras mais importantes da literatura potiguar no século XX em sua opinião? A produção intelectual é boa. Temos excelentes escritores. Dou destaque a: Civilização e Cultura, Dicionário do Folclore Brasileiro, História de Alimentação no Brasil, Canto de Muro, Prelúdio e Fuga do Real de Luís da Câmara Cascudo, A Fortaleza dos Reis Magos de Hélio Galvão e, de Veríssimo de Melo, Folclore Infantil.


Como se sente sabendo que faz parte da historia da literatura potiguar? Participando das principais antologias poéticas do estado, inclusive com muitos elogios do Assis Brasil e do Tarcísio Gurgel, Diva Cunha, Manoel Onofre Jr, dentre outros. A critica tem sido generosa comigo. Tive a surpresa de ver trabalho meu integrante da Antologia de Poetas do Recife, elaborada por Edilberto Coutinho e do livro Dal “Pan di Zucchero” al Colosseo, de Aniello Angelo Avella, publicado em Turim na Itália. Neste estão incluídos escritores do porte de Cecília Meirelles, Murilo Mendes, Darcy Ribeiro, Chico Buarque de Holanda. Algum novo poeta potiguar, desperta sua atenção? Você tem lido a poesia potiguar da atualidade? Nosso Estado tem autores com poemas de excelência. Entre tantos, cito quatro mulheres: Marize Castro, Diva Cunha, Carmem Vasconcelos e Rizolete Fernandes. Leio com frequência a poesia potiguar.

Passados mais de 40 anos desde o lançamento do seu primeiro livro, qual o balanço que você faz da sua carreira literária, tudo valeu a pena? Quem faz o que pode, a mais não se obriga, ensinaram-me em Portugal. Sigo, aprendido com o Mestre Cascudo, a lição de Goethe: Eu, enfim / sou o que sou / se assim sirvo / aqui estou. E quais os seus planos literários para o futuro? Penso que um dia vou, luto para escrever o poema ideal. Claro, límpido, transparente, sem mácula. Tenho biografias a fazer, inclusive a de Dom Eugênio Sales e Dorian Gray. Coordeno um novo volume de O Livro das Revelações Matrizes do Afeto – o pensamento vivo de escritores. Quem é o escritor Diógenes da Cunha Lima?

Que outro tipo de arte desperta seu interesse além da literatura?

Um escritor provinciano que ama tudo que faz e procura somente fazer aquilo que ama.

Pintura, escultura, balé, teatro, filmes clássicos.

Quem é o ser humano Diógenes da Cunha Lima?

Você já virou personagem de ficção em obras de Joao Ubaldo Ribeiro e de Nei Leandro de Castro. Diógenes da Cunha Lima, nunca pensou escrever um romance?

Um ser que imagina ter encontrado um sentido para a vida.

Não tenho competência para escrever um romance. Lamento, mas não é a minha vocação. No máximo, escrevo um miniconto. Lembro, como exemplo um conto: Cantiga Triste. O cemitério da cidadezinha já não cabe ninguém, com tanta gente morrendo. A voz fanhosa do sino da Igreja despedem: vão, vão, vão ... A murmuração fanhosa do sino da igreja despede .


À

* Aluisio Azevedo Jr. Aluísio Azevedo Júnior, 52 anos, nascido em São Paulo do Potengi, Rio Grande do Norte, onde é presidente da Academia Potengiense de

Letras

e

Artes.

Formação em Processamento de Dados, pós -graduado

em

renomadas instituições de ensino superior do país (USP, FGV e UFRJ). Vem atuando, como consultor e gestor cultural. Publicou 7 livros, dentre eles alguns romances.

s vezes, fazse necessário um olhar diferente. Outros ângulos podem revelar realidades (e elas são tantas e simultâneas, plurais, como nossos olhares). Eu não me refiro a lados diferentes, mas a ângulos diferentes. Há tempestade. O que posso dizer desses trovões que tanto se anunciam e fazem barulho? Primeiramente, eu preciso lembrar que estou no barco. Rompantes sentimentalistas nos fazem imaginar que existe um lado de fora. E que podemos destruir, desmantelar, atear fogo, para depois aproveitar o rescaldo. Se existem pessoas de boas e más intenções, honestas e desonestas? Sim. São pessoas. Em todos os

regimes, governos e partidos; em todos os lugares do mundo. Há pessoas, assim, em governos e partidos. Mas, não podemos confundir governos e partidos, nem instituições e pessoas.

ta, que tem a Petrobrás e escândalos de corrupção ao fundo, nota-se a busca pura e simples do poder. Uns querendo manter, outros desejando (re)abocanhar. Não estaríamos relegando a plano inferior, ou

O Governo somos nós. Vivemos numa Democracia, não para simplesmente disputá-lo, mas para exercê-lo! A campanha eleitoral de 2014 (que já foi baixa, desonesta, passional) se estende, indefinidamente. Nessa dispu-

mesmo desconsiderando, a nossa própria existência? A crise (que, enquanto crise, tem componentes de artificialismo, de desesperança coletiva) não vai fazer bem à coletividade. Vai, sim, preponderantemente, atender a desejos de poder.


É difícil compreender a extensão e a proporção das crises, quando nos afundamos nelas. Vão se alastrando, corroendo, desarticulando, radicalizando. Os cidadãos se submetem à informação massificada, incorporam tudo que lhes empurram, goela abaixo. Estão atordoados, sem rumo.

tão no caminho certo. Se alguns pensam na coletividade, nas pessoas, neste todo que chamamos de nação, apontem soluções, aproximem-se, sugiram caminhos. Não parem de criticar. Mas, também não zombem das medidas que criminalizam (mais severamente) a corrupção, que respondem

foram reconduzidas ao Parlamento, na última eleição. Isso é grave. Ensinamos, todos os dias, aos nossos jovens que a política é coisa nojenta, suja, e que devem se afastar dela. No máximo, permitimos que toquem fogo, estirem o dedo, tirem a roupa, joguem pedras, quebrem, e sirvam de

Uns tiram a roupa. Outros pedem a volta da ditadura. Combinação quase libidinosa. Se a intenção é transformar a crise em catástrofe, sigam os que intentam! Es-

aos fatos e demandas identificadas. Nosso país tem pouquíssimas lideranças equilibradas e sensatas. Algumas (de primeira grandeza, como Pedro Simon e Suplicy) nem

fantoches. E a mídia que deveria ser pautada pela sociedade, mas se arvora a pautadora? Não vamos tocar no intocável...


N

os ditames do Direito Brasileiro têm se criando mais que cumprido certos preceitos legais, a evolução exacerbada da criminologia está gerando insegurança jurídica; no momento em que os projetos de Lei são considerados inconstitucionais, a severidade na aplicação das leis já existente é por sua vez mais viável que a criação de nova lei.

Nova Redação do artigo 121 – Códi-

A discursão atual esta relacionada a Constitucionalidade da Lei de Feminicídio; quero destacar o brilhante posicionamento da jornalista Rachel Sheherazade, que se posicionou contraria a Lei mencionada : “... O homicídio contra mulheres como crime hediondo, poderá ter efeito contrário, além de ser inconstitucional”.

§ 2o (...)

Vamos identificar conceituação do crime como sendo hediondo, para analisar a necessidade ou não desse agravante que contempla essa modificação;  Crime Hediondo – Estão previsto na Lei Nº 8.072 de 1990, são os que causa aversão a sociedade e” gravidade acentuada” independente de violência ou crueldade a Lei por se só já elencou todos. Para entendemos a real situação, farei uma breve explanação da alteração do artigo 121 – Código Penal pela Lei 13.104/15 que incluiu o feminicídio:

go Penal “Homicídio simples” Art. 121. (...) Homicídio qualificado

Feminicídio VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (...) § 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: I - violência doméstica e familiar; II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. (...) Aumento de pena § 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado:


I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência; III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima.” (NR) Art. 2o O art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990, passa a vigorar com a seguinte alteração: “Art. 1o (...) I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2o, I, II, III, IV, V e VI); (...) ” (NR) Art. 3o Esta Lei entra em vigor na data da sua publicação. Após síntese das mudanças, gostaria de mencionar as divergências doutrinarias a respeito do tema em discursão ao decorrer do texto, iniciaremos com o questionamento a respeito da pessoa transexual, “transexual é

aquele que sofre uma dicotomia físicopsíquica, possuindo um sexo físico, distinto de sua conformação sexual psicológica. Nesse quadro, a cirurgia de mudança de sexo pode se apresentar como um modo necessário para a conformação do seu estado físico e psíquico” Surgir então os contrapontos dos grupos Conservadores X Progressista ou Moderna; Os conservadora, entendendo que o transexual, geneticamente, não é mulher (apenas passa a ter órgão genital de conformidade feminina), e que, portanto, descarta, para a hipótese, a proteção especial; já os progressista entende que a pessoa portadora de transexualismo transmute suas características sexuais (por cirurgia e modo irreversível), deve ser encarada de acordo com sua nova realidade morfológica, eis que a jurisprudência admite, inclusive, retificação de registro civil; ou seja uma Lei recheada de controvérsias, lacunas divergências doutrinarias sito agora posicionamento de um jurista renomado: Rogério Greco, explica: “Se existe alguma dúvida sobre a possibilidade de o legislador transformar um homem em uma mulher, isso não acontece quando estamos diante de uma decisão transitada em julgado. Se o Poder Judiciário, depois de cumprido o devido processo legal, determinar a modificação da condição sexual de alguém, tal fato deverá repercutir em todos os âmbitos de sua vida, inclusive o penal”.


2-ANDRADE, Léo Rosa. Feminicídio, monogamia, violência contra mulheres. Disponível em: http://leorosa.jusbrasil.com.br/ artigos/172692529/feminicidio-monogamia -violencia-contra-mulheres. 3-CUNHA, Rogério Sanches. Lei do Feminicídio: breves comentários. Disponível emhttp://rogeriosanches2.jusbrasil.com.br/ artigos/172946388/lei-do-feminicidiobreves-comentarios?ref=...

Um posicionamento bastante plausível e realista é o declarado pelo advogada criminalista LUIZ FLÁVIO FILIZZOLA D’URSO “ Historicamente, o aumento da quantidade de pena e a adjetivação do delito como hediondo isoladamente, nunca foram suficientes para coibir a criminalidade a que se destinam, todavia se essas alterações forem acompanhadas da indispensável mudança de cultura, talvez tenhamos sucesso no que se busca com a nova lei”. O homicídio qualificado já é um crime hediondo, não entendo o porquê da necessidade dessa criação, ferindo o artigo 5º capt. da nossa Lei maior a Constituição Federal e seguindo no seu inciso “I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição”, o que demostra falta total de responsabilidade jurídica, a melhor forma de garantir a diminuição na criminalidade é a severidade na aplicação da Lei que por sua vez não necessita dessa transformação; perca exacerbada de tempo.

Referencias Bibliográficas: 1-TELES, Maria A. De Almeida. MELO, Mônica. O que é violência contra a mulher. São Paulo: Brasiliense, 2002.

4-VASCONCELOS, Fernando Parente dos Santos. Ação penal. Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n. 2930, 10 jul. 2011. Disponível em: http://jus.com.br/artigos/19516. Acesso em: 11 jul. 2011. 5-Apud. NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado. 4. ed. revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 121/122. 6- NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado. 4. ed. revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 121/122. 7-LIMA, Marcellus Polastri. Curso de processo penal. 4. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008, v. 1, p. 198. 8- BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 138. 9- Apud NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado. 4. ed. revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 121/122. 10- CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do processo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2009, p. 275/276.


A

* Alfredo Ramos Neves - Cientista Social formado pela Universidade Federal do RN (UFRN) - Poeta, escritor e Técnico em Informática da Petrobras.

s “danças dramá-

despertar para as artes popu-

ticas” de Mário de

lares e assim culminar com

Andrade

foi

e

formulações sobre a nossa

continua

sendo

origem e a nossa inserção

objeto privilegiado dos estu-

nas tradições teatrais abraça-

dos folclóricos. Através deste

das pela nossa gente humilde.

artigo analiso de forma reflexi-

Mário de Andrade, como

va, e tomando como base o

o eixo central desse estudo, e

livro de Marianna Monteiro

ancorado em seu livro As dan-

(2012), Dança Popular: Espe-

ças

táculo e Devoção, o seu tra-

(ANDRADE, Mário – 1934),

balho primoroso sobre o tema.

coloca-nos ao encontro a es-

A autora disseca as caracte-

se querer conhecer, do ir mais

rísticas contraditórias, e até

além e pensar a importância

mesmo contestadoras entre

das danças no seio da socie-

cultura erudita e cultura popu-

dade brasileira ao devorar os

lar.

nossos comportamentos men-

dramáticas

no

Brasil

Neste sentido, a partir de

tais e de como agimos no que

uma conceituação teórica, nos

se refere a dramaticidade. Pa-

dispomos de um laboratório

ra o poeta e escritor de Macu-

de estudos dos contextos e da

naíma, ao analisar as danças

essência brasileira em seu

dramáticas no Brasil, ele levará em consideração o seu principal

objeto:

que

são

os eventos

culturais de observação do passado para definir as

expressões

culturais do povo, a sua identidade, as suas manifestações e os nossos folguedos.


(MONTEIRO, Marianna – DANÇA POPULAR

outras formações nacionais da América. Possuímos um grupo numeroso de bailados, todos eles providos de maior ou menor entrecho dramático, textos, músicas e danças próprias. E se me fatiga bastante, pela sua precariedade contemporânea, afirmar que o povo brasileiro é formado das três correntes: portuguesa, africana e ameríndia, sempre é comovente verificar que apenas essas três bases étnicas o povo celebra secularmente em suas danças dramáticas”.

– Espetáculo e devoção, p. 14, 2012). A partir

De certa maneira, cultura e antropologi-

desses dois universos, o elitizado e o popular,

camente analisando e mergulhando no mundo

ou do colonizador e colonizado, ou ainda como

do Mário, o que está em jogo é o reconheci-

cita Mário: “... só no século XIX brasileiro, ao

mento da arte enquanto “nossa” e o que se

que parece, que o reajustamento erudito da

abraça de outras correntes que compuseram a

Chegança de Marujos principiou dançando es-

nossa formação; mas que de maneira geral

sa xácara sublime”, que conseguiremos expor

poderíamos por assim dizer que é a absorção

esse intricado caminhar de vertentes tão anta-

da cultura que vai torná-la, também, comparti-

gônicas, e ao mesmo tempo autofágicos que

lhada, universal e divisível. Mas, no meio des-

trafegam lado a lado na construção da nossa

se absorver, a inovação, a criação, e o surgi-

história cultural.

mento de uma arte folclórica, a depender dos

Sobre Marianna Monteiro, vale citar, para guiar os interessados no estudo, a sua análise em relação “as danças dramáticas”: “Todavia, o interesse pelas danças populares não interrompe a lógica do prestígio e da exclusão que separa os circuitos elitizados dos populares. Compreender as tensões e polaridades que permeiam o passado e o presente das danças brasileiras e, para isso, investigar as diferenças entre esses dois universos artísticos – o da dança enquanto espetáculo de palco e o da dança popular vivida nas ruas, terreiro e igrejas -, e buscar suas irredutibilidades e possibilidades de intercâmbio são os propósitos

iniciais

desta

pesquisa”.

Em seu livro “Danças Dramáticas” Mário de Andrade vai caracterizá-las da seguinte

arranjos, ela será exclusiva, como o bumbameu-boi, por exemplo.

maneira:

Muitas das culturas são impostas por “Uma das manifestações mais características da música popular brasileira são as nossas dançasdramáticas. Nisso o povo brasileiro evolucionou bem sobre as raças que nos originaram e as

outra classe mais poderosa, mas com o tempo os nativos, ou os “dominados” impõe também novas formas de se fazer cultura. Destaco então o que descreve Marianna Monteiro em seu texto:


“A perspectiva das classes dirigentes impõe à cultura de africanos e seus descendentes, na América portuguesa, a fórmula que estabelece a identidade cultural a partir da distinção entre divertimentos honestos, como os reinados de congo, as folias e pastoris, e os desonestos, como calundus, lundus, batuques. Essa dualidade percebida pelos estudiosos de cultura popular, pensada até agora exclusivamente na chave da dominação escravista, a meu ver, deve também ser compreendida a partir de fins do século XVIII, na afirmação de um pensamento ilustrado na colônia”. O pensamento de dominação da cultura popular está em Mário de Andrade como em Monteiro, mas esse caminho dual é a forma como a cultura, ou as culturas se encontraram ao longo das suas afirmações para se fazerem unas, aceitas ou abraçadas por todos os pensamentos. Caminhos que inicialmente foram de estranhamento, mas que facilitam e se encontram nas praticas eruditas e populares. Os dois apontam para essa linha dual, e quê “[...] identifica-se uma dominação cultural estrangeira, no caso, de modelos europeus do século XIX, aos quais se contrapõem práticas genuinamente brasileiras autênticas, fora do âmbito dessas influências”. O Domínio é vencido pelo pensamento “moderno”, de abraçar a nós mes-

mos, o nosso folclore, as nossas crenças. Mário vai então falar dos nossos festejos próprios, os nossos bailados, os folguedos, vai identificar a “Dança dos meninos índios com seu arco e flecha”, os Bailes Pastoris, Cheganças, Reisados, Festas de Natal, Reinados de Nossa Senhor do Rosário, as festas de São João e São Gonçalo, as quadrilhas, polcas, etc. De certa forma as narrativas em as “Danças Dramáticas” são manifestações também simbólicas, de sociabilidade e que vão além dos bailados, criando assim ações estéticas, musicais, inovações, originalidade e coreografia. A diversidade/pluralidade, o nosso próprio criar, seja através de uma construção profana, ou não, possibilita gestar um país com as suas características impares, apesar de ter, como bem afirma o autor, elementos “eruditos” que ultrapassam os conhecimentos do povo folclórico. E cito um trecho que achei importante: “Nossas danças dramáticas mais importantes como tamanho, são de fundo folclórico, e mesmo pagão algumas. O seu processo de formação gradativa é fundamentalmente rapsódico, ajuntamento de peças afins; e também nisto, muito embora recompostas algumas, algum dia por qualquer poeta urbano, elas permanecem eminentemente populares e folclóricas [...]” . DADOS BIBLIOGRÁFICOS: MONTEIRO, Marianna – DANÇA POPULAR – Espetáculo e Devoção. 2012 , pp. 13-55. ANDRADE, Mário – As danças dramáticas no Brasil., 1934, pp.23-83 .


Lembro sempre de Eduardo Galeano (Montevidéu, 19402015) como pessoa distraída, quase absorto em seus pensamentos e alheio ao que se passava em sua volta. Mas, Gius, como brincando lhe chamavam - alusão ao pseudônimo que firmava nas caricaturas que produzia quando era muito jovem - escondia sua timidez nessa imagem de pirado, ausente, evadido.

Félix Contreras, poeta e jornalista, nasceu em Pinar Del Rio, Cuba, 1940. Formado pela Escola de Instrutores de Arte de Havana, é fundador da revista literária El Caimán Barbudo. Autor de diversos livros de poesia e sobre música cubana (Porque tienen filin, Música Cubana, antologia personal).

Era um belo homem e muito simpático, que sabia mesclar o frívolo e a alta cultura na conversação - como Benedetti, Cortázar, Gelman, Vargas Losa. Sua imagem de playboy atraía, quando visitava Havana, as moças da Escola de Letras aglomeradas às portas da instituição acadêmica, muitas delas bolsistas, mocinhas de província hospedadas no edifício vizinho. Eu trabalhava na Casa das Américas - privilégio que me aproximava de Galeano e, obviamente, de muitos outros “monstros” das letras do Continente - e por diversas vezes me coube levar-lhe correspondência ou livros que lhe mandavam e os entregava no Hotel Riviera, hotel dos convidados da Casa.

Uma de suas vindas a Havana, realizou-a diretamente voando a partir da Espanha, com as malas repletas de Memoria del fuego (Los nacimientos, Las caras y las máscaras, El siglo del viento), feliz depois de muito haver suado com os extenuantes registros e nos intermináveis interrogatórios das autoridades aduaneiras aéreas cubanas, que o levavam a um humor de mil demônios. Direção e funcionários da Casa se aborreciam com seus chistes irônicos e intervenções críticas (refletidos nos famosos informes obrigatórios), mas não “viam” que Eduardo Galeano amava “esta ilha da única maneira digna de fé, com suas luzes e sombras”. Andava acompanhado de suas duas únicas paixões: a história da América Latina e o desejo de maior justiça para toda a - sua - gente do continente. E, a propósito de justiça, tê-la-á maior do que aquela do jurado do Concurso Casa das Américas que, em 1975, outorgou - oh, milagre! - a Las venas abiertas de America Latina, em vez do Prêmio Casa, tão simplesmente uma menção?


O Marcio Dias, 53, é Dirigente do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Secretário Geral do SINDIPETRO -RN e presidente em exercício da Central dos Trabalhadores e Trabalhadores no Rio Grande do Norte (CTB -RN) Sociólogo h t t p : / / www.facebook.com/ marcio.azevedo.dias Twitter: @marcioa_dias Endereço

Eletrônico:

m a r c i o a z e v e do2006@gmail.com

Brasil vive um momento muito difícil e peculiar decorrente de escândalos políticos e de corrupção que assustam a todos dada a dimensão criminal. São grandes somas de dinheiro surrupiadas de órgãos públicos, empresas estatais, empresas privadas e bancos. Tal situação traz revolta e indignação. Mas, também, é uma oportunidade de mudança e de superação. Mas, a crise, pela sua natureza e magnitude, nos ensina que a corrupção está encravada em todos os setores da sociedade e vai de uma simples "furada" de fila, negociatas politicas, passando pelo pagamento de propinas vultosas até a sonegação de bilhões e bilhões de Reais co-

mo de mostram as operações da Polícia Federal "LavaJato e Zelotes. E certo que tudo isso não é de hoje e o fato é que não se investigava corrupção nesse país e a Policia Federal não passava de um "criado mudo". Para se ter uma ideia nos 8 anos de governo FHC foram realizadas 48 operações da PF com "meia dúzia" de corruptos e corruptores presos. Uma vergonha. Porém, desde o advento do primeiro governo do presidente Lula, a PF nunca trabalhou tanto e já se vão mais de 3 mil operações com mais de 30 mil presos por prática de corrupção ativa e passiva. A presidenta Dilma continuou seguindo essa linha de ação no primeiro mandato e durante a campa-

nha eleitoral do segundo mandato em 2014, a presidenta afirmou que seria implacável com a corrupção e com os corruptos e que não iria deixar "pedra sobre pedra". Estamos vendo que ela não estava com bravata eleitoral e está cumprindo com a palavra. Por outro lado, o Partido da Imprensa Golpista - o famigerado PIG - grandes empresas nacionais e multinacionais, bancos, funcionários corruptos de todos os poderes, políticos de quase todos os partidos e até desportistas e artistas estão "reagindo" porque as investigações estão chegando bem perto deles, aliás, os escândalos recentes no HSBC e montadoras mostram que eles são a bola da vez.


Diante disso, eles partiram para o ataque com uma "estratégia" indisfarçável: confundir o povo colocando

Utilizando-se do velho e surrado discurso já usado contra Getúlio Vargas e Jango e muito bem aceito pelos

tudo num "saco só" para paralisar a economia do país e incentivar o ódio contra o PT para apear a presidenta Dilma do poder.

analfabetos políticos de que "ninguém aguenta mais tanta corrupção e que é preciso dar um basta nisso", resolveram agir.

E, para dar uma "mãozinha" aos intentos desses golpistas, os achacadores do PMDB e da "oposição" formaram uma "força tarefa" no congresso nacional para "trabalhar incansavelmente", juntamente com o PIG, setores do judiciário, PF e ministério público visando consumar o golpe.

Para tanto, eles estão com força total e, por razões óbvias, estão com muita pressa para dar o golpe fatal, afinal muitos deles já começaram a ser pegos. Alguns baderneiros chegam até a cometer a sandice de invocar um novo golpe militar contra a democracia. De maneiras que, nos planos desses cretinos, é

preciso dar o golpe antes que seja tarde demais para todos eles, pois, sabem muito bem o quanto estão mergulhados no mar de lama da corrupção, principalmente, como diria o velho Brizola, "as elites dominantes" que são, sem dúvidas, os principais interessados no golpe. Mas, o governo Dilma não pode retroceder e nem vacilar. É preciso continuar avançando nas operações para desarticular as quadrilhas e punir os corruptos e corruptores ou eles darão o golpe para parar com as investigações e afundaremos cada vez mais em esquemas pesados de corrupção. Enfim, diante dessa situação o caminho é o aprofundamento da democracia com mobilização dos setores democráticos e conscientes da sociedade e maior participação popular, avançando na transparência e no controle social, ou isso, ou veremos o triunfo desses golpistas corruptos que tanto prejudicam a economia, a democracia e envergonham o país.


―Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou. Assim, tudo é regido pela dialética, a tensão e o revezamento dos opostos. Portanto, o real é sempre fruto da mudança, ou seja, do combate entre os contrários‖. Heráclito de Éfeso (aprox. 535 a.C. - 475 a.C.)

Naveguei outra vez! Desta feita fui até a Ponte Velha, eternamente linda, de Ferro de Igapó. Se eu pudesse iria todos os dias, mas infelizmente a gente não consegue, pois temos a terra firme, e outros afazeres a cumprir no nosso espaço físico complicado, estressante e necessário na nossa vida. A geografia da nossa cidade é o que faz a nossa cidade ser privilegiada diante de tantas outras tidas como maravilhosas. * Washington Ferreira Fontes é Escritor, Filósofo e Poeta.

É difícil não sentir o clima refrescante, vindo tanto do mar, como do Rio Potengi, antes desta empreitada, tive duas opções: Navegar no Rio Potengi, ou caminhar pela nossa, também, bela orla. Sim! Quando estava lá no rio e vi as edificações da nossa Cidade do Natal, não teve como me conter. Fiquei vislumbrado e emotivo, afinal, a paisagem é de deixar qualquer um extasiado de perplexidade. Neste estado de encanto, comecei a reconhecer e identificar os prédios, como se fosse meus filhos. Foi um verdadeiro exercício praticado por alguém que ama e não quer desapontar alguns dos seus filhos quando alguém pergunta os nomes de cada um:

“O Prédio mais alto de Natal, as linha arquitetônicas da Catedral, Igreja do Rosário ou dos Pretos, Casa do Estudante, Prédio do TER, Antiga Catedral, Igreja do Galo, Hotel Ducal, local onde foi Refoles (Atual Base Almirante Ary Parreiras), Frota de navios da Marinha Brasileira, Navio no Dique, Quartel dos Fuzileiros Navais, Guarita Velha de Guerra, Passo da Pátria, Salgadeira, a caixa d’água do Hospital Giselda (nosso patrimônio de referência para doenças infectas contagiosas), o Bairro das Quintas, o Bairro Nordeste, a Ponte de Ferro de Igapó, etc...”. Por último, faço saber que subi até a Pedra do Rosário para ver o sol se pôr. Afirmo-vos que foi um programa bem legal e outras vezes irão se repetir, com a devida vontade de Deus. Minha terra me fascina e cada dia que passa, outros pontos maravilhosos descubro. PS: Heráclito, português europeu ou Heráclito, (português brasileiro) de Éfeso, aproximadamente: 535 a.C. - 475 a.C.), foi um filósofo pré-socrático, considerado o "pai da dialética". REFERÊNCIA http://pt.wikipedia.org/wiki


C

onstrução Civil, quando essa profissão é escolhida, logo se imagina homens na liderança. Quando se sabe que uma mulher é Técnica em Edificações, por algumas vezes surgem perguntas inadequadas e reações tais como; por que escolheu essa profissão? Você é ca-

* Ana Miria da Silva Alves— Técnica em Edificações (UNP/RN) sada?... por ser uma profissão onde se lida muito com colaboradores do sexo oposto. Em algumas empresas, ainda dão preferência aos homes e que tenha tempo de carreira na profissão, mais como adquirir experiência se não tiver a primeira oportunidade? Como ter conhecimento se não é dado credibilidade no trabalho de um profissional independente de seu sexo? Se o mercado de trabalho existe para ambos, não precisa

escolher, basta dar o primeiro passo, basta acreditar. O profissional nasce quando é dado a ele a primeira oportunidade, independente de ser homem ou mulher. Quando se aprende, aprende-se da mesma maneira, daí cabe as empresas acreditarem em quem está contratando, ai o serviço surgirá. Metas a cumprir todos nós temos, vontade de trabalhar também, quanto a remuneração sabemos que o sexo feminino ainda não está como deveria, mas esperamos que o reconhecimento e a igualdade um dia possa existir. Já que o ingresso é cada vez maior de mulheres no mercado da construção civil, como serventes, carpinteiras, ajudantes de obra, pedreiras, soldadoras, técnicas em segurança do trabalho e engenheiras, elas se misturam aos homens com naturalidade e em condições de realizar as tarefas com tanta competência quanto a qualquer trabalhador.


A

* Francisco Ramos Neves Dr. em Filosofia - Professor de Filosofia – UERN professor.ramos@hotmail.com

o final desses artigos sobre o fenômeno da globalização, observamos que o modelo hegemônico neoliberal, que controla e manipula o mercado internacional, está envolvido em constantes crises que ameaçam a paz dos países e a estabilidade vulnerável de suas economias. Por isso, não podemos negar e culpar a ideia de globalização, mas devemos julgar e condenar o modelo de globalização real existente que está sob a égide do neoliberalismo. A globalização é algo muito vital para a realidade atual; mas, a globalização com sua hegemonia nas mãos das elites neoliberais é destruidora da identidade do Estado-nação com sua soberania e identidade. O neoliberalismo faz da globalização não um universo de interações multilaterais, mas impõe uma tirania de uma cultura e um poder centralizador sobre as demais nações periféricas; submete financeiramente, via dolarização da economia, por exemplo, e pelo poderio bélico dos detentores do controle sobre o sistema financeiro mundial e de todos os mercados e economias domésticas. Ao falarmos da importância do Estadonação e do respeito às economias domésticas não estamos falando em resgate de um nacionalismo monocultural e unilateral que já deu margem ao desenvolvimento de ideologias e políticas totalitárias pelo mundo. A intenção aqui é a de apontar os limites e os aspectos críticos e negativos da

globalização, como é o caso do modelo neoliberal. O pensador social Octavio Ianni, ao escrever sobre a globalização como novo paradigma das ciências sociais, nos alerta muito bem sobre o perigo de sua versão negativa, que, segundo ele: "à medida em que esta debilita o estado-nação, reduz os espaços da soberania nacional, transforma a sociedade nacional em província da global.” Neste sentido, na globalização do neoliberalismo, defendida e disseminada por partidários da Direita, as nações periféricas e emergentes são sugadas e exploradas para o enriquecimento e hiper concentração de renda nas mãos dos capitalistas selvagens, detentores do controle sobre o capital financeiro. É a estes que muitos políticos neoliberais no Brasil, como em outros países, querem entregar as riquezas nacionais, como é o caso da tentativa de privatização (entreguismo) da Petrobrás, da exploração do pré-sal e de outras riquezas essenciais. E agora a tentativa golpista contra os direitos conquistados pelos trabalhadores ao tentarem, via medida oportunista do Congresso Nacional, implantar um projeto de terceirização dos setores essenciais, como as atividades fins nos diversos ramos de serviços estatais. Terceirização esta que tem como objetivo espúrio a continuidade da “privataria”, que marcou certos governos subservientes aos interesses neoliberais, reinantes em nosso país no passado.


Nesta era neoliberal vale distinguir “poder financeiro” de “governo financeiro”, para os que apontam suas desencontradas críticas a determinados governos como se estes fossem centros de poder. Governo financeiro que agora via Estado está sendo obrigado a intervir para certo controle planificador dos mercados, como falamos anteriormente, cuja natureza dos blocos econômicos e o sistema “Bretton Woods” são exemplos disso. Inclusive, certos governos financeiros (gestores de Estados) são instrumentalizados para protegerem e beneficiarem o grande capital financeiro, submetendo os interesses públicos aos excludentes interesses privados, o que alimenta cada vez mais a miséria social e a exploração da grande maioria da população. Portanto, para enfrentamento da grande crise avassaladora que avança lentamente é necessário rediscutir o ideal de globalização necessário para uma nova era de estabilidade econômica e prosperidade social. Para isto, é fundamental uma nova globalização sob uma nova hegemonia ativa, onde o local, com suas diferenças, seja respeitado e contemplado no global. Assim, em uma nova sociedade global, como diz Octávio Ianni, a diversidade e a globalidade devem ser contempladas em uma simultaneidade e reciprocidade. Também se faz necessário a rediscussão do papel do Estado, construindo políticas que o fortaleça e garanta a soberania e desenvolvimento nacionais com inclusão social e promoção da cidadania. O sinal de que isto é verdade está nos exemplos dos países fortalecidos na atualidade, que marcharam na contracorrente do neoliberalismo, contrariando e rompendo com o FMI e Banco Mundial, combatendo a dolarização da economia e implementando políticas econômicas de independência em relação aos efeitos “Bretton Woods”. Estes países investiram mais no setor social e no desenvolvimento interno, fortalecendo seu Estado. Estes países superaram e até deram lições de enfrentamento da crise para grandes nações, e foram os que menos sofreram e menos sofrem com a grande crise global do neoliberalismo, como foi o caso do Brasil nas atuais gestões políticas governamentais a nível nacional. E é esse combate ao neoliberalismo que alimenta o ódio dos neoliberais, aliados com o Partido da Imprensa Golpista, que alienam as massas e as movimentam pelas ruas na vã tentativa de um ter-

ceiro turno eleitoral que mais transparece ser uma tentativa cômica de golpe de Estado. Evidências da importância do fortalecimento do Estado e ampliação de sua presença na economia pudemos observar no enfrentamento da crise de 2008, onde os Estados foram chamados a intervirem, contrariando a lógica do liberalismo econômico, base da nova ordem neoliberal, do Estado mínimo e ausente. Recursos públicos foram injetados no mercado para garantirem liquidez de capital e investimentos para incremento do consumo e consequentemente da produção. E agora, na zona do euro, os Estados estão se articulando para intervenção no mercado para contornarem a crise. No entanto, é fundamental uma nova hegemonia ética, intelectual e política de controle e poder para evitar a trama ardilosa da banca privada que se apropria das concessões do Estado, nestes momentos de crise. Como pudemos testemunhar, no caso do Brasil, as isenções e reduções de impostos e tributos, como o IPI dos automóveis e de outros produtos, não foram efetivamente repassados para a sociedade, só serviram para ampliar as riquezas de muitos empresários capitalistas que ganharam muito mais. Por fim, para enfrentamento desta crise global o papel dos governos devem ser redefinidos para combate da atual ordem econômica mundial sob orientação neoliberal e devem somar forças para fortalecimento da categoria política do Estado-nação como parte de um todo coeso que respeite a diversidade dos países em uma nova globalização regida pelos princípios do Direito Internacional, tendo como base a declaração dos direitos humanos. Para isto, a ONU deveria ser repensada e ampliada, redemocratizada e respeitada por todas as nações, sem distinções ou exclusões, ou então desconstruída para dar lugar a outro organismo internacional legalmente constituído que não seja um mero porta-voz de uma ou outra grande potência totalitária. A saída para a crise neoliberal está em uma tomada de posição no sentido de uma alternativa ao atual sistema, que seja diferente do capitalismo atual e do socialismo real como visto no mundo até nossos dias. Uma inversão para um modelo que garanta os direitos da grande maioria de acordo com o imperativo categórico kantiano do bem universal, o que só poderia ser administrado por uma sociedade baseada numa espécie de comunismo de Estado.


O *Paulo de Macedo Caldas Neto, escritor, mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, licenciado em Letras-Língua Portuguesa e Literaturas (UFRN) e professor do IFRN.

título e prenuncio para quem tiver a curiosidade de ouvir o CD da cantora mineira, Lysia Conde, Uirapuru que pousou em paragens potiguares, desde, aproximadamente, 2007, 2008. Seu primeiro CD. Sem título; apenas, conforme ja perceberam alguns comentadores, mantendo o seu nome de artista, configura entre as inumeras produçoes musicais contemporaneas e chama a atençao daqueles que o apreciam pelo resgate de tons e tematicas que ate pareciam distantes do atual contexto sociocultural brasileiro. A leveza da voz de uma interprete, ate entao desconhecida no Rio Grande do Norte, nos lembra, em alguns momentos, o carisma e a total entrega aquilo que faz antes so vislumbrados em cantoras como Elis Regina, Maysa e Nara Leao nos idos de 50, 60, 70 e 80. O intimismo com que le cada cançao popular do disco e mais do que uma simples leitura; e um sentimento exposto pelo valor que cada obra musical representa para ela, enquanto artista, e para a Historia da Musica Popular Brasileira. E por que nao dizer da Musica Potiguar Brasileira, tendo em vista nao so a produçao no cenario local, da capa do CD ate o encarte, como tambem o fato de certas faixas abrigarem cançoes, cujos temas retratam a visao sertaneja da Naçao?

A Lua girou, cançao que introduz a obra, da a prova, a quem a escuta, de que houve a preocupaçao em se pesquisar ritmos, melodias e acordes do nosso Cancioneiro popular, bastante centrado na raiz do folclore e das origens do povo do Brasil, país assinalado por sua ja conhecida diversidade cultural. As congas de Antonio de Padua, unidas ao violao de Sergio Farias e a percussao de Sami Tarik acabam dando uma atmosfera lusoafricano-brasileira, quebrando com as dicotomias entre o que e considerado erudito e o que e popular, empresa estetica na qual Lysia nao e pioneira. Quem nao se lembra do CD Coisa de Preto (2007), em que Khrystal investe pesado no Coco, enquanto genero musical que provoca vibrantes e desafiadores ritmos num misto de pop erudito e samba de raiz? E logico que se esta falando de um estilo mais sofisticado, usando estilos popularescos, mas o que importa e a aproximaçao deles, pois pode-se ate se conseguir originalidade. “Eu bem queria fazer um travesseiro dos seus braços”, verso que transmite com lirismo a magia das brincadeiras de roda, típicas das agremiaçoes folcloricas. Ademais, o convite ao sonho e a fantasia acalanta os ouvidos na combinaçao escorreita entre a voz do uirapuru e as cordas do instrumento congado.


Despedindo-se da primeira faixa, com o dito folguedo “Sustenta a palavra de homem/que eu mantenho a de mulher”, o ouvinte agora e colocado frente a frente a mensagem da segunda faixa A vida do rio, composiçao de Simone Guimaraes e Virgínia Amaral, seguindo a linha sertaneja. E o que se sobressai aqui e o acordeon de Ze Hilton, o som de sua sanfona. A intençao e mostrar a simplicidade da vida do campo, a sobrevivencia da gente guerreira e feliz. Gente que vive de improviso para, em meio a tanta disparidade social, encontrar algum sentido para continuar vivendo. Mesmo improviso que surpreende na faixa Corta-jaca, cançao escrita pela maestrina Chiquinha Gonzaga em parceria com Machado Careca. O humor que questiona os costumes de uma epoca avigora a singeleza do povo brasileiro, longe dos rigores esteticos e europeizados de uma arte ja em declínio num contexto em que a naçao procurava a sua independencia política. Soava como contrassenso. A retomada dessa ideologia atualiza-se quando se contesta o poder da autoridade; nada melhor do que o maxixe (dança de salao e sensual, de origem moçambicana, trazida pelos escravos, e que teve como adepta a propria Chiquinha Gonzaga no fim do sec. XIX) e a flauta de Carlos Zens para acentuarem tal intençao. Mas como o mundo e uma alternancia entre o riso e o choro, a faixa Enigma, um dueto do qual participa Miltinho, expoente da MPB e autor da cançao, Lysia Conde revive a epoca de Ouro do radio, trazendo novamente a campo a serenata e o melodrama de amor que terao uma pequena mudança rítmica na abordagem que faz da cançao Contrato de separação, uma parceria entre Dominguinhos e Anastacia. Ze Hilton se encarrega mais uma vez de compor a cena musical com a sanfona que numa musica como essa nao pode

faltar. A mudança pode estar no perfil daquele cuja dor ou saudade e discorrida ao longo da letra: de um lado, um homem do sertao; de outro, um urbano. Ou o tempo. Cada período historico com sua forma de expressao. A dor e que e sempre universal. Dando continuidade ao ciclo folclorico e popular, a interprete nos apresenta as faixas Ana Bandolim e Flor Amorosa. A primeira, de autoria de um potiguar, Tico da Costa, simbolizando a valorizaçao da cultura local, e recentemente homenageado por ocasiao do projeto Várias vozes, um só canto 4-Tributo a Tico da Costa no Teatro Alberto Maranhao, ano retrasado (2012). A segunda, de Catulo da Paixao Cearense e Joaquim A. Callado, outros conhecidos da velha toada dos anos 30 e 40. Em Ana Bandolim, as cantigas de amor e de roda roubam a vigília, desta vez, enfatizando mais o ser infantil e a pureza da imaginaçao. Tudo isso permite a recriaçao em se tratando do ilusionismo que assegura o fascínio aquele que acompanha seus tons. Depois, ter-se-a um outro desafio para a cantora: a interpretaçao de Duerme negrito. Na mesma linha, fechando o ciclo, a cantiga, que mais recorda uma cantiga de ninar, de origem venezuelana, promove um intercambio que talvez ajude a entender influencias de outros Romanceiros populares na Tradiçao oral do Brasil. Flor Amorosa complementa apenas a toada sertaneja, possivelmente quase ciranda para os leigos em materia de musica e lembrando um pouco a abordagem amorosa de um Pixinguinha em Rosa. Todavia, Lysia sabe que e fundamental se atualizar os ritmos e buscar liames que justifiquem ora generos musicais da Tradiçao oral, conforme ja mencionados, ora o pop em si, imortalizado por outros compositores


da MPB e por ela tambem lembrados em outros projetos: Ivan Lins, Dorival Caymmi, Vinícius de Moraes, Chico Buarque e Tom Jobim. Daí, e notoria a combinaçao com o classico e a Bossa Nova dos anos 50. Primeiro Olhar, de Sergio Farias e Cristina Saraiva exemplifica o dito, com as notas magicas da flauta de Zens, outra vez incumbida da amalgama que funde o classico ao popular. É brincadeira, de autoria do poeta, professor e letrista, Carlos Newton Junior, em parceria com o musico Joao Salinas, incrementa ao pop de raiz o carater ludico e fecha novamente o ciclo do rural com a cançao Mais de um, de Eduardo Gudin em companhia do poeta e letrista Cacaso, ícone da literatura marginal dos anos 70 e 80. Aí, a percussao de Samir Tarik entra em palco para reproduzir a natureza e o lado paisagístico do tema dessa cançao. Nao se pode esquecer do talento inconfundível de Jow Ferreira, jovem violinista, cuja participaçao em quase todas as faixas e ímpar quando forma par com Sergio Farias, criando uma harmonia adequada aos arranjos.

Enfim, o que afiança um bom trabalho artístico e o respeito que oferece a base. Atesta-se a humildade do artista a partir do momento em que inicia a sua jornada tomando como apoio os mestres. Seja tradicionalismo, seja conservadorismo para alguns pos-modernos de plantao (ou ate mesmo para os que pedantemente assim se denominam com um pseudocomprovante de originalidade, que logo cai no esquecimento), nao importa! O passado sempre se fara presente, pois uma sociedade sem passado nao se recria, nao se reinventa, nao se conscientiza de seus valores. E como se o sujeito praticamente negasse a propria historia, e isso e prejudicial, e extremismo que leva a frustraçao. Uma arte nao pode ser radical assim. Arte e para se sonhar, sentir. Por isso mesmo, e dinamica, mobil. O que Lysia Conde nos confirma e a possibilidade de renovarmos sem parecermos antiquados. Atualizarmo-nos, desconstruirmo-nos, construirmo-nos. E so a arte para asseverar tamanho esplendor, tamanha magia, reinvençao. Assim, tambem o foi o show de lançamento do CD aqui comentado. So os que testemunharam uma quimera conseguirao guardar na memoria a evoluçao de uma diva, que, com tal produçao, ensinara muitos ainda dos que sobrevivem numa província como a nossa, alimentando a propria autoestima, quase sem respaldo financeiro proprio e das autoridades políticas. Nem, muitas vezes tambem, o reconhecimento da Elite intelectual do RN, que, infelizmente, ainda olha com descaso o talento de tantos artistas e amantes do acervo historico potiguar. Nos e que temos que agradecer tantos exemplos de força e coragem!


Q

*Lúcia Galvão

Especialista em Literatura Brasileira Mestranda em Educação

uando da fase inicial na escola, quando ainda era o Grupo Municipal Pedro Velho, os professores deveriam ser leigos e perpetuavam métodos de ensino considerados já ultrapassados para a época. A metodologia aplicada deveria apenas repetir o que teriam aprendido com a observação da prática de outros professores. Com a estadualização, em 1913, esses primeiros professores foram substituídos pelos profissionais formados pela Escola Normal de Natal. Nos registros mais antigos encontra-se os nomes de Matias Carlos de Araújo Maciel Filho (que era o diretor), Leonor Maranhão, José de Albuquerque Maranhão e Alice Wanderley, que foram professores até 1913. A partir de então aparecem os nomes de José Rodrigues Filho, Olda Marinho Rodrigues e Guiomar de Vasconcelos, que eram profissionais formados pela Escola Normal. Com a implantação do Grupo Escolar Pedro Velho e a mudança do paradigma educacional, os professores antigos foram substituídos. Apenas Matias Maciel continuou, muito embora se saiba que ele era formado em Direito e não tinha o curso de normalista. Ele foi o primeiro diretor e sua função, além de administrativa, era zelar pelo prédio e pela biblioteca, cuidar da assiduidade dos professores e representar a escola perante a comunidade. A quantidade de profissionais da educação que atendiam às exigências do Governo era insufi-

ciente em proporção às salas de aula. Esse fora um motivo que levara o governo a contratar pessoas sem a formação exigida. Assim, essas escolas terminavam transformando-se em simples oportunidade empregos para os correligionários. Isso ficou bem claro com o Relatório do Governo do Estado, em 1922, que explicitou a situação preocupante nos estabelecimentos de ensino: A administração não dispõe ainda de pessoal habilitado e, como bem se imagina, tem a cada passo de lutar contra a natural tendência de alguns para transformar essas escolas em simples empregos para protegidos. Os problemas na Educação se arrastaram e pareciam ter encontrado uma solução com o crescimento das tendências neoliberais na economia, após a 2ª Guerra Mundial. A Constituição de 1946 retomou o processo de discussão para por em funcionamento o que viria a ser a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação. O primeiro projeto de lei foi encaminhado ao legislativo em 1948 e gerou uma disputa entre as ideias políticas que durou mais de uma década, findando com a imposição da tendência dos liberalistas em 1961.


Entre as principais resoluções da LDB de 1961 se destacou a autonomia aos órgãos estaduais; a obrigatoriedade de investimento de 12% do orçamento da União e 20% dos municípios na educação; matrícula obrigatória para o ensino primário; formação do professor para o ensino primário no ensino normal de grau ginasial ou colegial; formação do professor para o ensino médio nos cursos de nível superior. Ficava também definido um ano letivo de 180 dias e ensino religioso facultativo. Em Canguaretama, os investimentos em educação nessa época foram quase nulos. Seguindo ainda uma tradição comercial, em 14 de agosto de 1953, foi criada por decreto municipal a Escola Comercial de Canguaretama. Essa era uma tentativa de avanço para os alunos que viam suas chances limitadas ao curso primário oferecido pelo Grupo Escolar. Essa Escola Comercial também foi um marco educacional e movimentou a vida social do município. Havia até um jornal (O Estudante) ligado a entidade, mas que durou pouco tempo devido as inúmeras dificuldade de funcionamento. Em 1969 surgiu a Escola Cenecista 16 de Julho, que iniciou as atividades com o nome de Nossa Senhora da Conceição, e, por não ter prédio próprio, se estabeleceu no prédio do Grupo Escolar Fabrício Maranhão. Era uma escola que possuía organização de caráter privado, mas que recebia ajuda governamental. A escola funcionava apenas no turno noturno e funcionou até os anos de 1990. A Escola 16 de Julho mostrou a falta de investimentos dos governos na Educação Pública. Mesmo com o interesse da igreja, os avanços desse período foram muito tímidos. Excetuando-se as mudanças que Getúlio Vargas promoveu em seu primeiro governo, os avanços mais significativos tinham ocorrido no início da República.

A Igreja Católica estava bastante interessada na educação e atuava em diversos municípios. Muitas cidades do Rio Grande do Norte acolheram os investimentos da Igreja na Educação. Nesse sentido podemos citar várias escolas que surgiram pelo interior potiguar, como o Colégio Santa Águeda em Ceará Mirim (1937), o Colégio Nossa Senhora do Carmo em Nova Cruz (1941), o Colégio Diocesano Seridoense em Caicó (1942), o Educandário Jesus Menino em Currais Novos (1944), o Instituto Pio XII em São José de Mipibu (1948). Canguaretama não conseguiu fundar uma escola como nessas cidades e isso significou uma estagnação. Muitas famílias eram obrigadas a enviar seus filhos para estudar em outras cidades, como Natal, João Pessoa e Recife. Dessa forma muitos jovens não voltavam mais diante das oportunidades que encontravam em outros lugares.

Não houve vontade política do governo nem tampouco da iniciativa privada. Faltou, talvez, uma ação empreendedora ou uma visão mais ousada. Aquele era um momento especial de crise no município, quando a usina sufocava os engenhos do vale do Cunhaú, o clima e a mecanização do parque salineiro de Macau e Mossoró destruíam as salinas de Canguaretama. Até as culturas tradicionais, como a extração da cera de carnaúba e a cultura da mandioca sofreram mudanças significativas. A criação de camarão poderia ter substituído a atividade salineira, do mesmo modo que a criação do bicho da seda poderia ter sido implantada nas áreas agrícolas. Mas não havia empenho das autoridades. O atraso desses investimentos provocou um retrocesso incrível e forçou o êxodo rural, abrindo caminho para vários problemas sociais.


Um pouco depois da implantação da Escola 16 de Julho, surgiu o Instituto Francisco Ivo, com uma metodologia bastante inovadora. A escola funcionava em período integral e com alojamento para os alunos. Essa escola funcionava no prédio à margem ocidental da BR 101, mas durou apenas por poucos anos da década de 1970, por falta de investimentos. A escola Municipal José de Carvalho e Silva também se configurou como uma tentativa de melhoria educacional para o município, pois a instrução tornara-se bastante carente e dependente quase que exclusivamente do Grupo Escolar Fabrício Maranhão. Muito embora a cidade tivesse experimentado uma escola de comércio, por volta de 1955, faltavam investimentos maiores no setor educacional. O juiz, o padre, o médico, o advogado eram os professores da escola pública. Eles eram qualificados em conhecimentos, possuíam formação superior, mas não eram qualificados em Didática. A formação dada por esses profissionais tinham como base os ideais da elite dominante e privilegiava a informação e não o conhecimento. Com aumento do número de alunos nas escolas, os governos foram obrigados a improvisar professores e prédios. A qualidade caiu. Os recursos continuaram insuficientes. A classe média abandona de vez a escola pública. O próprio Governo Militar, que pregava a moral e os bons costumes, relegou à Educação um plano secundário. As elites logo encontraram estratégias para manterem-se bem instruídas. As escolas particulares tiveram a grande oportunidade de transformar a Educação em uma mercadoria e criar uma estratificação dentro do ensino. Mais uma vez, na História Brasilei-

ra, o hiato entre as classes sociais se aprofundou abruptamente. Em 1977, com a mudança na nomenclatura, o Grupo Escolar Fabrício Maranhão passa a se chamar de Escola Estadual de 1º Grau Fabrício Maranhão. Algumas mudanças, como o cargo de Vice-Diretor e o de Supervisor, foram implantadas nessa época. A primeira vice-diretora, a partir da documentação encontrada na escola, foi a professora Maria Auxiliadora de Carvalho Silva, que permaneceu no cargo entre 1978 e 1986. A primeira professora a atuar no cargo de supervisora foi Tereza Cristina de Souza Araújo, no período de 1977 até 1986. A presença de um vice-diretor e de supervisores foi um avanço muito profundo, se comparado com os primeiros anos da escola, quando o diretor também teria que ocupar a função de professor em sala de aula. Ao mesmo tempo a formação dos docentes era encarada apenas como um complemento, com cursos que não supriam as necessidades. A segunda metade do século XX, especialmente as últimas décadas, foi um momento difícil na história na Escola, que sofreu um processo de desgaste social muito forte. A falta de critérios na escolha de gestores e docentes colocou a educação em situação de vilipêndio. A recuperação se deu a partir da LDB de 1996 e do FUNDEF, transformado em FUNDEB. Mas isso se configurou apenas em processo que se fortaleceu no fim da primeira década do século XXI, quando um novo modelo foi proposto para a comunidade escolar, inclusive com a implantação da gestão democrática na escola.


E

ste encontro me remete a um tempo pessoal já antigo: 1965, quando eu tinha 19 anos, na casa de meu irmão Daltro, em Macau, no calor da tarde, antes do vento Nordeste soprar. Ali encontrei o romântico Gonçalves Dias, emocionado e inspirado (algo, aliás, próprio dos românticos), no torvelinho estético da dor e da poesia em que se envolvera, ao relembrar a paixão amorosa de sua juventude, podada pelo destino, e com maestria exposta em seu notável poema “Ainda uma vez - adeus!”, o qual Daltro declamava, com ávido entusiasmo.

Horácio de Paiva Oliveira - é natural de MacauRN . Advogado, poeta, escritor e Presidente da Comissão Municipal da Memória, Justiça e Verdade de Natal.

Trata-se de poema dos mais belos e também dos mais vivos do romantismo latinoamericano. Algo prosaico, confessional, e sobretudo humano, confere-lhe ares de modernidade. Claro, não foi o primeiro Gonçalves Dias que vi, pois já conhecera o da “Canção do Tamoio” (quase uma oração de otimismo e força) e o da “Canção do Exílio” (quase um hino - e estando, de fato, algumas de suas expressões no Hino Nacional), e vários outros, desde remotíssimos tempos escolares. Já se chegou a dizer que a “Canção do Exílio” é o maior fenômeno de intertextualidade da cultura brasileira, tal o

número de produções sequenciais que gerou. Estes - aos quais acrescento “I – JucaPirama” (“o que será morto”, considerado o ponto mais alto da poesia indianista) e “O Canto do Piaga” -, todos belos poemas, tratando de povo e terra pátria, têm a natureza do romantismo social, segmento da escola romântica tão ao gosto dos italianos e também explorado por outro grande poeta nacional, o baiano Castro Alves com as cores da política e do protesto.

Com efeito, duas vertentes jorram da sensibilidade estética de Gonçalves Dias. Ambas de águas límpidas, mas torrenciais: uma, épica, social, nacional, indianista e naturalista, que exalta e defende o povo originário os Índios - a natureza exuberante do Brasil tropical, em que os mencionados poemas são exemplos; outra, amorosa, íntima, sentimental, individualista. Pérolas desse romantismo intimista, lírico, autobiográfico e emocional (cujo subjetivismo constitui a sua característica emblemática, por vezes chegando a definir o cerne da própria escola) são, sem dúvidas, os seus poemas “Olhos verdes”, “Não me deixes”


e “Ainda uma vez - adeus!”. Este último, especialmente, que traduz episódio dos mais intensos de sua vida - quando o poeta sentiu a mão pesada e dura do áspero destino, como diria José Albano -, chega a resultado lírico dos mais sublimes. Ao final desta resenha, transcrevo nota do poeta e tradutor Onestaldo de Penafort, redigida sobre o assunto, a pedido de Manuel Bandeira. Nasceu Antônio Gonçalves Dias em 10 de agosto de 1823, no sítio Boa Vista, Município de Caxias, Maranhão, e faleceu em 3 de novembro de 1864 (aos 41 anos), tragicamente, quando retornava da Europa, no naufrágio do navio Ville de Boulogne, na costa daquele Estado (mais precisamente no baixio dos Atins, em frente à Ponta da Boa Vista, perto de Tutóia). Foi, aliás, o único a morrer: esquecido em seu leito, agonizante, com a tuberculose em fase avançada, afogou-se. Era filho de pai branco e mãe índia ou cafusa (mestiça de africano, negro, com índio). Seu pai, o comerciante português João Manuel Gonçalves Dias, se refugiara com a amante, Vicência Ferreira, no sítio onde nasceu o poeta, para escapar a perseguições políticas de nacionalistas radicais. Nunca legalizou essa união conjugal, encerrada por ele, que se casou com outra mulher, mas mantendo a guarda do filho, afastado assim da mãe com apenas 6 anos de idade. Anos depois, havendo-lhe morrido o pai, o poeta contou com o apoio da madrasta, que o mandou estudar em Portu-

gal. Ali, na histórica Universidade de Coimbra concluiu seu curso de Direito, retornando ao Brasil em 1845. O período passado em Portugal foi muito importante na formação de Gonçalves Dias. Além de seu curso universitário, estudou língua e literatura de vários países: França, Inglaterra, Alemanha, Espanha, Itália. E teve contato com vários escritores do romantismo português, entre eles Alexandre Herculano, Almeida Garret, Feliciano de Castilho. Também em Coimbra escreveu os “Primeiros Cantos”, parte dos “Segundos Cantos” e, em 1843, aquele que viria a ser o seu poema mais famoso e mais reproduzido e conhecido em nosso País: a “Canção do Exílio”. De volta ao Brasil, exerceu diversos cargos públicos, desde professor de Latim e História do Brasil no renomado Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, oficial da Secretaria de Negócios Estrangeiros (o que lhe deu novas oportunidades de viagens ao exterior) a membro da Comissão Científica de Exploração. Mesmo nesta apertada síntese biográfica, não pode faltar a citação desses episódios escritos pela mão do destino e que marcaram o poeta: seu encontro e paixão imediata por Ana Amélia Ferreira do Vale, em 1851, no Maranhão, e, no ano seguinte, 1852, a rejeição, pelos pais dela, do pedido de casamento, motivada pela origem bastarda e mestiça do poeta.


Ainda uma vez — Adeus I Enfim te vejo! — enfim posso, Curvado a teus pés, dizer-te, Que não cessei de querer-te, Pesar de quanto sofri. Muito penei! Cruas ânsias, Dos teus olhos afastado, Houveram-me acabrunhado A não lembrar-me de ti! II Dum mundo a outro impelido, Derramei os meus lamentos Nas surdas asas dos ventos, Do mar na crespa cerviz! Baldão, ludíbrio da sorte Em terra estranha, entre gente, Que alheios males não sente, Nem se condói do infeliz! III Louco, aflito, a saciar-me D'agravar minha ferida, Tomou-me tédio da vida, Passos da morte senti; Mas quase no passo extremo, No último arcar da esp'rança, Tu me vieste à lembrança: Quis viver mais e vivi! IV Vivi; pois Deus me guardava Para este lugar e hora! Depois de tanto, senhora, Ver-te e falar-te outra vez; Rever-me em teu rosto amigo, Pensar em quanto hei perdido, E este pranto dolorido Deixar correr a teus pés. V Mas que tens? Não me conheces? De mim afastas teu rosto? Pois tanto pôde o desgosto Transformar o rosto meu? Sei a aflição quanto pode,

Sei quanto ela desfigura, E eu não vivi na ventura... Olha-me bem, que sou eu! VI Nenhuma voz me diriges!... Julgas-te acaso ofendida? Deste-me amor, e a vida Que me darias — bem sei; Mas lembrem-te aqueles feros Corações, que se meteram Entre nós; e se venceram, Mal sabes quanto lutei! VII

Que eu nem a ti confiei: "Ela é feliz (me dizia), "Seu descanso é obra minha." Negou-me a sorte mesquinha. . . Perdoa, que me enganei! XI Tantos encantos me tinham, Tanta ilusão me afagava De noite, quando acordava, De dia em sonhos talvez! Tudo isso agora onde pára? Onde a ilusão dos meus sonhos? Tantos projetos risonhos, Tudo esse engano desfez! XII

Oh! se lutei! . . . mas devera Expor-te em pública praça, Como um alvo à populaça, Um alvo aos dictérios seus! Devera, podia acaso Tal sacrifício aceitar-te Para no cabo pagar-te, Meus dias unindo aos teus?

Enganei-me!... — Horrendo caos Nessas palavras se encerra, Quando do engano, quem erra Não pode voltar atrás! Amarga irrisão! reflete: Quando eu gozar-te pudera, Mártir quis ser, cuidei qu'era... E um louco fui, nada mais!

VIII XIII Devera, sim; mas pensava, Que de mim t'esquecerias, Que, sem mim, alegres dias T'esperavam; e em favor De minhas preces, contava Que o bom Deus me aceitaria O meu quinhão de alegria Pelo teu, quinhão de dor!

Louco, julguei adornar-me Com palmas d'alta virtude! Que tinha eu bronco e rude Co’o que se chama ideal? O meu eras tu, não outro; Stava em deixar minha vida Correr por ti conduzida, Pura, na ausência do mal.

IX XIV Que me enganei, ora o vejo; Nadam-te os olhos em pranto, Arfa-te o peito, e no entanto Nem me podes encarar; Erro foi, mas não foi crime; Não te esqueci, eu to juro: Sacrifiquei meu futuro, Vida e glória por te amar! X Tudo, tudo; e na miséria Dum martírio prolongado, Lento, cruel, disfarçado,

Pensar eu que o teu destino Ligado ao meu, outro fora, Pensar que te vejo agora, Por culpa minha, infeliz; Pensar que a tua ventura Deus ab eterno a fizera, No meu caminho a pusera... E eu! eu fui que a não quis!


XV És d’outro agora, e pr'a sempre! Eu a mísero desterro Volto, chorando o meu erro, Quase descrendo dos céus! Dói-te de mim, pois me encontras Em tanta miséria posto, Que a expressão deste desgosto Será um crime ante Deus! XVI Dói-te de mim, que t'imploro Perdão, a teus pés curvado; Perdão!... de não ter ousado Viver contente e feliz! Perdão da minha miséria, Da dor que me rala o peito, E se do mal que te hei feito, Também do mal que me fiz! XVII Adeus qu'eu parto, senhora; Negou-me o fado inimigo Passar a vida contigo, Ter sepultura entre os meus; Negou-me nesta hora extrema, Por extrema despedida, Ouvir-te a voz comovida Soluçar um breve Adeus! XVIII Lerás porém algum dia Meus versos d'alma arrancados, D'amargo pranto banhados, Com sangue escritos; — e então, Confio que te comovas, Que a minha dor te apiede, Que chores, não de saudade, Nem de amor, — de compaixão.

NOTAS: (1) Nota redigida por Onestaldo de Penafort, a pedido de Manuel Bandeira: ―A poesia ―Ainda uma vez - adeus!‖, bem como as poesias ―Palinódia‖ e ―Retratação‖, foram inspiradas por Ana Amélia Ferreira do Vale, cunhada do Dr. Teófilo Leal, ex-condiscípulo do po-

eta em Portugal e seu grande amigo. Gonçalves Dias viu-a pela primeira vez em 1846 no Maranhão. Era uma menina quase, e o poeta, fascinado pela sua beleza e graça juvenil, escreveu para ela as poesias ―Seus olhos‖ e ―Leviana‖. Vindo para o Rio, é possível que essa primeira impressão tenha desaparecido do seu espírito. Mais tarde, porém, em 1851, voltando a S. Luís, viu-a de novo, e já então a menina e moça de 46 se fizera mulher, no pleno esplendor de sua beleza desabrochada. O encantamento de outrora se transformou em paixão ardente, e, correspondido com a mesma intensidade de sentimento, o poeta, vencendo a timidez, pediu-a em casamento à família. A família da linda Don’Ana - como lhe chamavam - tinha o poeta em grande estima e consideração. Mais forte, porém, do que tudo, era naquele tempo no Maranhão o preconceito de raça e casta. E foi em nome desse preconceito que a família recusou o seu consentimento. Por seu lado, o poeta, colocado diante das duas alternativas: renunciar ao amor ou à amizade, preferiu sacrificar aquela a esta, levado por um excessivo escrúpulo de honradez e lealdade, que revela nos mínimos atos de sua vida. Partiu para Portugal. Renúncia tanto mais dolorosa e difícil por que a moça que estava resolvida a abandonar a casa paterna para fugir com ele, o exprobou em carta, dura e amargamente, por não ter tido a coragem de passar por cima de tudo e de romper com todos para desposála! E foi em Portugal, tempos depois, que recebeu outro rude golpe: Don’Ana, por capricho e acinte à família, casara-se com um comerciante, homem também de cor como o poeta e nas mesmas condições inferiores de nascimento. A família se opusera tenazmente ao casamento, mas desta vez o pretendente, sem medir considerações para com os parentes da noiva, recorreu


à justiça, que lhe deu ganho de causa, por ser maior a moça. Um mês depois falia, partindo com a esposa para Lisboa, onde o casal chegou a passar até privações. Foi aí, em Lisboa, num jardim público, que certa vez se defrontaram o poeta e a sua amada, ambos abatidos pela dor e pela desilusão de suas vidas, ele cruelmente arrependido de não ter ousado tudo, de ter renunciado àquela que com uma só palavra sua se lhe entregaria para sempre. Desvairado pelo encontro, que lhe reabrira as feridas e agora de modo irreparável, compôs de um jato as estrofes de ―Ainda uma vez adeus!‖, as quais, uma vez conhecidas da sua inspiradora, foram por esta copiadas com o seu próprio sangue.‖ (2) A estas alturas sou tentado à exploração dialética, intertextual, de outro poema de Gonçalves Dias, também inspirado pela musa Ana Amélia, mas escrito antes dos sucessos dramáticos que os envolveram. Trata-se de ―Olhos verdes‖, e o associo a dois outros de temática igual: o primeiro, de Camões (15241580) - e portanto anterior ao de Gonçalves Dias; o segundo, posterior a este, é de outro brasileiro ilustre: o parnasiano Vicente de Carvalho (1866-1924). Vejam os três - e percam-se nesses sonhos: De Gonçalves Dias: OLHOS VERDES São uns olhos verdes, verdes, Uns olhos de verde-mar, Quando o tempo vai bonança; Uns olhos cor de esperança, Uns olhos por que morri; Que ai de mi! Nem já sei qual fiquei sendo Depois que os vi! Como duas esmeraldas, Iguais na forma e na cor, Têm luz mais branda e mais forte.

Diz uma - vida, outra - morte; Uma - loucura, outra - amor. Mas ai de mi! Nem já sei qual fiquei sendo Depois que os vi! São verdes da cor do prado, Exprimem qualquer paixão, Tão facilmente se inflamam, Tão meigamente derramam Fogo e luz do coração; Mas ai de mi! Nem já sei qual fiquei sendo Depois que os vi! Como se lê num espelho, Pude ler nos olhos seus! Os olhos mostram a alma, Que as ondas postas em calma Também refletem os céus; Mas ai de mi! Nem já sei qual fiquei sendo Depois que os vi! Dizei vós, ó meus amigos, Se vos perguntam por mi, Que eu vivo só da lembrança De uns olhos da cor da esperança, De uns olhos verdes que vi! Que ai de mi! Nem já sei qual fiquei sendo Depois que os vi! Dizei vós:” Triste do bardo! Deixou-se de amor finar! Viu uns olhos verdes, verdes, Uns olhos da cor do mar; Eram verdes sem esp’rança, Davam amor sem amar!” Dizei-o vós, meus amigos, Que ai de mi! Não pertenço mais à vida Depois que os vi!


A

aprovação do PL 4330/2004 à revelia dos trabalhadores na Câmara dos Deputados provocou indignação e manifestações em todo o país de centrais sindicais e movimentos sociais, trazendo à tona a discussão sobre um tema pacificado em 2011, com a edição da Súmula 331, do TST - Tribunal Superior do Trabalho, que estabeleceu limites para a terceirização no Brasil.

* Dalvaci André da Silva Neves é pedagoga, bacharela em Direito pela UERN e Economiária.

Na década de 1990, no auge do neoliberalismo durante o governo FHC emergiram de forma desenfreada as contratações de empresas de mão de obra terceirizadas como forma de incremento da lucratividade através da redução de encargos trabalhistas e aumento da produtividade, com pessoas trabalhando mais e ganhando menos. Assim, empresas como PETROBRAS, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, dentre outras instituições financeiras e industriais passaram a terceirizar a mão-de-obra para executar inclusive as mesmas atividades exercidas pelos seus empregados efetivos, porém com salários e direitos trabalhistas redu-

zidos. Consequentemente, isso ocasionou o desemprego de trabalhadores estáveis que aos poucos eram substituídos pela mão de obra terceirizada, além do desespero de muitos trabalhadores terceirizados cuja empresa era dissolvida e seus empregadores simplesmente “sumiam”, deixando de pagar salários, FGTS, contribuição previdenciária e demais verbas trabalhistas. As demandas na justiça do trabalho com pedidos de responsabilidade da empresa contratante para assumir os encargos trabalhistas eram crescentes, inclusive pedidos de isonomia salarial, equiparação de direitos e reconhecimento do vínculo de emprego direto com a tomadora de serviços, uma vez que restavam configurados em muitos casos os requisitos que caracterizam a relação de emprego: subordinação, pessoalidade, não eventualidade e onerosidade. Assim, muitas decisões passaram a condenar as empresas tomadoras de serviços ao pagamento de indenização aos trabalhadores terceirizados, atribuindo responsabilidade subsidiária na ausência do cumprimento das obrigações trabalhistas pelas terceirizadas.


Assim, a Súmula 331, do TST, determina a responsabilidade subsidiária da empresa contratante no caso de inadimplemento das obrigações trabalhistas pelas empresas terceirizadas e atribui o vínculo de emprego direto quando ocorrer contratação ilegal, reconhecendo a possibilidade de terceirização apenas no trabalho temporário e nas atividades meio como os serviços de vigilância, conservação e limpeza, além de serviços especializados, desde que não haja pessoalidade e subordinação direta dos trabalhadores. A ideia é que a empresa utiliza a mão de obra terceirizada a fim de se dedicar exclusivamente a sua atividade principal. Por exemplo, uma instituição financeira deve se dedicar à comercialização de produtos, deixando que outra empresa cuide da limpeza, vigilância, e outras atividades alheias à sua finalidade. O PL 4330/2004, propõe regulamentar a terceirização, e na forma como foi aprovado, permite que ocorra em todos os setores da empresa, inclusive nas atividades fins, institucionalizando a precarização das relações de trabalho, ao tempo em que fere princípios constitucionais como o da dignidade humana e o da isonomia. As empresas tentam se livrar

dos encargos trabalhistas como forma de reduzir suas despesas, o que será mais fácil contratando uma terceirizada, e esta por sua vez pagando salários bem menores do que o que recebe por cada empregado para também obter o seu lucro. Ao fim resta legitimada a exploração do trabalhador, que irá ganhar menos, ter direitos reduzidos e trabalhar igual ou mais do que os empregados da empresa contratante, paralelo ao aumento de desemprego dos trabalhadores efetivos que serão substituídos e dos terceirizados que frequentemente se desligam da empresa, seja por término do contrato ou pela própria instabilidade do trabalho. É evidente que a terceirização é benéfica para empresas e empresários, uma vez que permite produzir mais com menor custo, ao contrário do que ocorre aos trabalhadores que são submetidos a uma jornada extensa, com menores salários, permanecem menos tempo na mesma empresa, com pouca possibilidade de ascensão profissional e mais expostos a acidentes de trabalho, diante da fragilidade na fiscalização e do escasso investimento em segurança por parte das empresas terceirizadas.


Dados estatísticos mostram que nos vários setores como construção civil, elétrico e petrolífero há maior incidência de acidentes com trabalhadores terceirizados. Já no setor bancário, além dos salários menores, os terceirizados não têm participação nos lucros nem outros benefícios da categoria. Ressalte-se que as terceirizadas são em geral empresas pequenas, com pouca estrutura, participam de licitações pelo menor preço e muitas vezes com poucos recursos se dissolvem deixando de pagar salários e verbas trabalhistas aos seus empregados. Lembremos que trabalhadores com menores salários, jornada de trabalho maior e alta rotatividade de emprego significa maior concentração de renda, mais desemprego, piores condições de vida, menos acesso à cultura e aos benefícios básicos, além de menor desenvolvimento social derivada da redução na arrecadação de tributos, como Imposto de renda e de encargos sociais como INSS e FGTS. Era de se esperar de um legislativo em sua maioria conservadora e representante do empresariado, o resgate de um projeto de lei apresentado há 11 anos, num período caracterizado pela ênfase à globalização, ao neoliberalismo, privatizações, desemprego, falências de indústrias nacionais e entrada do capital estrangeiro. Destaque-se que os deputados federais do RN: Felipe Maia (DEM), Betinho Rosado (PP), Fabio Faria (PSD), Walter Alves (PMDB), Rogério Marinho (PSDB), Zenaide Maia (PR), Antônio Jácome (PMN) e Rafael Motta (PROS) foram favoráveis à aprovação do PL 4330/2004 ou se abstiveram de votar neste projeto que vai de encontro aos interesses dos trabalhadores e representa

uma ameaça aos direitos e conquistas adquiridos ao longo dos anos através de muita luta, ao tempo em que satisfaz os interesses de uma minoria capitalista que tem o apoio dos seus representantes no Congresso Nacional. Para não incorremos no erro de pensar que todo político é igual, ressaltemos a votação do PL 4330: Foram 203 votos contra e 230 favoráveis. Contudo, no que diz respeito aos deputados federais do RN podemos ver a unanimidade na defesa dos interesses empresariais e o descompromisso com a classe trabalhadora. Resta-nos esperança na votação do Senado para diante das manifestações que vem ocorrendo em todo o país frear este mal que se enraizou no nosso sistema sócio econômico e que se obtiver o respaldo legal para aplicação ampla pelas empresas representará um golpe nas conquistas obtidas ao longo dos anos pelos trabalhadores, além da desaceleração no desenvolvimento social com perda do poder de compra dos trabalhadores e aumento do desemprego.


(Paredes de histórias e memórias no sólido letramento do menino Bartolomeu) “Enquanto ele escrevia, eu inventava histórias sobre cada pedaço da parede. A casa do meu avô foi o meu primeiro livro.” Bartolomeu Campos Queiróz in Por parte de pai.

E *Leocy

Maria da

Saraiva Costa - Poetisa, Assistente social, graduanda em Letras - UFRN.

u entrei naquela casa me sentindo praticamente um membro da família Queirós. Após transpor os três degraus da entrada: Pai, Filho e Espírito Santo, sentei-me na cadeira de balanço posta num canto da sala. Cadeira de Maria, já há tempos sem uso. Me veio um arrepio. Me veio um princípio de tempestade ameaçando inundar meus olhos quando vi um paninho de prato com bico de croché ao canto, inacabado, numa cestinha. Talvez o arrepio tenha sido pela presença fantasmagórica da outra Maria, a Turum, despertada pela minha presença e de tantas outras que passaram a frequentar a casa depois que Bartolomeu lhe abriu as portas, ou, melhor, as páginas. Foi assim que, conduzida por Bartolomeu, menino-homem feito, comecei o meu percurso pelas paredes-páginas do casarão da rua da Paciência deslumbrando-me com as histórias escritas por Joaquim. Histórias às vezes ilustradas, outras, quase inacessíveis, grafadas já perto do teto pelo tom indecente, co-

mo nos disse Bartolomeu. Tudo é fantástico na casa. Olhei por uma das janelas ousando inspirar-me, como acontecia a Joaquim. Foi em vão, faltava-me o “pouco-caso”, o olhar despretensioso, a paciência e a preguiça de “seu Queirós”. Pude, contudo, inevitavelmente, lembrar sua rima e pensar: “Que a vida tenha dó de mim! Que a vida tenha dó de nós!”. Pensei na vida. Lembreime de como, quando criança, me doía viver itinerante. Não havia paredes próprias onde se registrasse sequer minha vontade de rabiscos, quanto mais algum capítulo da minha infância. As paredes eram poucas, os livros, ainda mais. As paredes do casarão da rua da Paciência são vivas. São cheias de causos, informações, rezas, receitas (o suspiro de Maria está lá lembrando os suspiros da minha avó!), sabedorias populares, anedotas, fofocas, registros, opiniões... e mentiras (ou seriam milagres?) escritos por Joaquim Queirós, avô de Bartolomeu.


Em Por porte de pai, romance autobiográfico, a história de Bartolomeu Campos Queirós confunde-se com os registros narrativos, descritivos, expositivos, instrucionais, dentre outras sequências tipológicas utilizadas por seu avô Joaquim, que se utilizava de todos os espaços da casa como suporte para as suas escrituras. Paredes, portas e janelas se inserem, como afirma Marcuschi (2008), na categoria dos suportes textuais incidentais, ou seja, um lucus com formato específico que “serve de base ou ambiente para a fixação do gênero materializado como texto”. Em sua totalidade, a casa de “seu Queiros” era o seu bloco de notas, o caderno onde aquele homem ensimesmado, que “nunca sorria por inteiro” e que “enganava a tristeza com suspiros e gemadas” (QUEIRÓS, 1995. p. 24) [...] transformava tudo o que via em palavras. [“Ele não via só com os olhos. Via com o silêncio.” (Idem. p. 25)]. “O livro é lido para ficar na memória” disse, certa vez, em um discurso, Jorge Luís Borges (1999), afirmando ser este o mais assombroso instrumento do homem, “uma extensão de sua memória e de sua imaginação” (BORGES, 1999. p. 189). Como não se deslumbrar, então, com um livro que possui a magnitude de uma casa, que abriga em suas páginas-paredes tantos gêneros, tantos quadros, tantos recortes de vida, tanta (re) invenção de um mundo por fora da janela? Talvez Joaquim, com a sabedoria dos silenciosos, soubesse o mesmo que Borges tendo, por isso, decidido dar à sua casa uma função muito maior do que abrigar pessoas: a de abrigar memórias e histórias, deixando-as livres do esquecimento. Joaquim teria, pois, cuidado em eternizar sua família, sua comunidade, o mundo e suas representações, pregando tudo nas paredes “com lápis quadrado de carpinteiro” (QUEIRÓS, p. 18). Borges traz, ainda no discurso referido anteri-

ormente, uma declaração apaixonada, de reverência aos livros: “Penso que o livro é uma das possibilidades de felicidade que temos, nós, os homens.” (BORGES, 1999, p. 196). Levando essa afirmação para o contexto de Por parte de pai, podemos enxergar, na casa-livro da infância de Bartolomeu, um elemento de grande importância na concessão de momentos benéficos para a vida do menino naquele período. Os dizeres, gravuras, histórias e demais tipos textuais inscritos nas paredes proporcionavamlhe um ambiente de descobertas, de liberdade criativa e de inserção no mundo das letras com a leitura da sua história e da história da sua comunidade. De um bom livro se espera que fomente descobertas, instigue, inquiete, provoque o leitor. Quanto ao leitor, sua intervenção é de extrema relevância para a fruição da obra, devendo, no processo de interpretação, deixarse exposto a uma relação intima entre ambos. Com isso é possível compreender que um livro deve mover o leitor de seu estado inicial, provocando-lhe algo que antes não lhe ocorria. O narrador-autor, em Por parte de pai, expressa, no decorrer de toda a obra, o seu fascínio a sua curiosidade e a sua satisfação por habitar uma casa em que todos os recantos tinham algo a contar, ou um segredo a desvendar. De modo claro é possível perceber quão extraordinária é a inquietação provocada pela obra do avô em Bartolomeu. O menino narrador se sente habitando as páginas de um grande livro de histórias, a ponto de fundir o seu próprio enredo a outros que o cercam, retirados das histórias registradas nas paredes da casa. A prática das narrativas orais por meio de contação de histórias também era uma fabulosa realidade no cotidiano do menino Bartolomeu. A avó Maria mantinha esse habito reunindo a família em torno desse encantamento.


Minha avó colocava o urinol em cima da cama. Assentava e cobria tudo com sua saia de noite. Nos chamava para perto e se punha a recordar histórias. [...] Eu nunca sabia se minha avó ficava emocionada quando sua voz mudava durante as histórias. Ela contava também sobre a vida dos santos. [...]. Meu avô, sem se dar conta , vinha se assentar junto de nós e escutava, com admiração, minha avó nos encantar com rainhas, deusas, mancebos, heróis cheios de brilhos e vitórias. Com olhar embaçado, ele parecia saber de outras histórias, mas não contava por cuidado. (QUEIRÓS, p.38 e 39).

Certamente os escritos do avô Joaquim carregavam a influência direta das narrativas orais de sua esposa Maria. Bartolomeu foi inserido no mundo das letras num movimento fluido e contínuo, partindo da provocação causada pelas narrativas orais da avó, até os registros escritos do avô. Essa inserção provoca, comumente, o descortinar de um horizonte muito mais amplo, com a compreensão do leitor em relação a si mesmo, ao contexto em que está inserido e ao mundo, de uma forma geral. Cosson (2014, p.16) diz que “na leitura e escritura do texto literário encontramos o senso de nós mesmos e da comunidade a que pertencemos. A literatura nos diz quem somos e nos incentiva a expressar o mundo por nós mesmos.” Concordamos com ele irrestritamente quando afirma que “a literatura é plena de saberes sobre o homem e o mundo”. (Idem).

A Literatura foi um elemento fundamental para a família Queirós proporcionando momentos de interação entre seus membros, com troca de experiências, compartilhamento de saberes e estreitamento de laços afetivos. Além disso, principalmente para o menino Bartolomeu, fomentava o processo formativo da linguagem, além do desenvolvimento dos potenciais crítico e inventivo. A ficção e as memórias transformadas em palavra, nas narrativas e demais tipos textuais utilizados pelo avô em seus escritos, provocaram em Bartolomeu algo que a maioria das crianças só passa a ter acesso a partir da inserção escolar, com o início da alfabetização: o letramento. A língua escrita foi introduzida em sua vida a partir de textos significativos em seu cotidiano, textos carregados dos aspectos sociais e humanos da sua família, da sua comunidade, sendo importante frisar que tais aspectos eram partes constituintes da cultura letrada em que estava imerso. Para melhor compreendermos, observemos o que resalta Kleiman (2007): Uma atividade que envolve o uso da língua escrita (um evento de letramento) não se diferencia de outras atividades da vida social: é uma atividade coletiva e cooperativa, porque envolve vários participantes, com diferentes saberes, que são mobilizados segundo interesses, intenções e objetivos individuais e metas comuns.

instigavam a desbravar o universo daqueles registros ansiando pelos meios que o fizessem decifrar aquele código. A escrita do avô incitava-lhe a imaginação dia e noite. Em alguns excertos da obra temos a noção nítida da importância dessa representação para o autor/narrador:


o

“Leitura era coisa séria e escrever, mais ainda. Escrever era não apagar nunca mais.” (p. 14).

o

“Apreciava meu avô e sua maneira de não deixar as palavras se perderem. Sua letra, no meio da noite, era a única presença viva, acordada comigo. Cada sílaba um carinho, um capricho penetrando pelos olhos até o passado. [...]. Tudo era possível para ele e suas letras”. (p.18)

o

“Então, procurava distrair meu pavor decifrando os escritos na parede, no canto da cama, tão perto de mim”. (p.18).

o

“Uma coisa meu avô sabia fazer: olhar. Passava horas reparando o mundo. Às vezes encarava um ponto vazio e só desgrudava quando transformava tudo em palavras nas paredes.” (p. 25).

Naquele núcleo familiar, a prática de letramento era, pois, um evento bastante sólido. Se por um lado o menino se empoderava da vida por meio das práticas socioculturais vivenciadas na família, por outro transmitia o conhecimento adquirido na escola para seus familiares, num ciclo espontâneo e colaborativo de socialização de saberes: “Para meu avô eu repetia, em casa, as histórias das calmarias, do Cabo das Tormentas. E como um bom aluno ele me escutava, sem pestanejar, duvidando, eu sei, dos movimentos de rotação e translação”. (p.40). Não é de se estranhar que o menino Bartolomeu tenha enveredado pelos caminhos da vida literária. Em Por parte de pai podemos ter a noção da grandiosa importância da casa, ou poderíamos dizer, do livro que o abrigou na infância, assim como da postura de seus avós o expondo a textos literários nas modalidades oral e escrita, proporcionando-lhe a possibilidade de explorar proficuamente os domínios da linguagem; e, como expressa brilhantemente Borges (1999, p. 16), “dizer o mundo (re) construído pela força da palavra” ampliando suas perspectivas, seus horizontes, podendo assim alargar seus passos sobre o mundo.

Esse traçado de considerações fez, de repente, eu me achar vazia. Senti como se tivesse acabado de colocar, numa lâmina de laboratório, a poesia de uma vida inteira. A vida-obra de Joaquim. Me constrangi com a minha demora em entender que as expressões de Joaquim nada mais foram do que atitudes poéticas. Aquele homem silenciado por não se sabe o quê, talvez por tudo, vagava, incansável em seu olhar silencioso, janela afora, até voltar pleno de palavras com as quais subvertia as paredes da casa, confidenciando-lhes farturas e misérias, auroras e ocasos, caminhos e abismos. Tranquei na bolsa as reflexões analíticas, olhei ao redor de mim e vi a sala cheia de memórias. Lancei um último olhar profundo em direção às paredes, agora, com a sensação de, finalmente, compreender Joaquim. Fitei novamente o paninho de prato com bico de croché ao canto, inacabado numa cestinha. Eu me Sentia como alguém que habitara e partilhara vida naquele espaço e que devia, agora, partir. Senti que faltava, porém, um sinal de gratidão e reverência ao autor daquela incomparável obra. Dirigi-me à porta e, como se afagasse o criador, deixei minha mão sobrevoar suavemente os dizeres de Joaquim Queirós, eternizados perto da fechadura: “viver sem esperança é como ter casa sem janela”. Pensei “até breve”. Me dirigi à saída. Eu estava tomada pela linguagem preferida por Joaquim. Tenho a certeza de que ele me ouviu, porque as paredes me acenaram com a resposta. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BORGES, Jorge Luís. Obras completas IV. Ed. Globo. São Paulo, 1999. Vários trad.


COSSON, Rildo. Letramento literário – teoria e prática. Ed. Contexto. São Paulo, 2014.

KLEIMAN, Angela B. O conceito de letramento e suas implicações para a alfabetização. 1Projeto temático Letramento do Professor. Fevereiro de 2007. Disponível em <www.letramento.iel.unicamp> Acesso em: 08-04-2015.

MARCUSCHI, Luíz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. Ed. Parábola. São Paulo, 2008.

QUEIRÓS, Bartolomeu Campos. Por parte de pai. Ed. RHJ. Belo Horizonte, 1995.


N

a edição passada da Revista Kukukaya o professor Alípio de Souza instava, em seu artigo sobre o fanatismo religioso islâmico, que refletíssemos ―sem medo e sem tergiversações‖ sobre o atentado terrorista à sede do jornal Charlie Hebdo em 07 de janeiro último, em Paris. Tal reflexão, a julgar pela mídia televisiva de massa, não ocorreu.

* Marcelo Henrique Pereira—Natural de Macau-RN. Estudante do Curso de Filosofia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). e-mail: marcelohpc.80@gmail.com

O extermínio dos artistas e livres pensadores do jornal satírico francês Charlie Hebdo trouxe, à vista de todos, o debate fundamental sobre duas questões chaves para a humanidade neste século XXI: a primeira é a velha questão da liberdade de expressão; e a segunda versa sobre o não menos antigo problema do fundamentalismo religioso. Para ambas as questões pode -se aplicar o princípio do tropismo: quando o fundamentalismo religioso está presente, a liberdade recua de imediato; e, inversamente, quando esta predomina, é a outra que perde espaço, já que o fundamentalismo é a negação das liberdades de pensamento e de expressão, ao passo que estas liberdades funcionam como o mais eficiente

antídoto contra o mal que é o fanatismo religioso (assim como para todos os fanatismos). Ambas as forças são essencialmente incompatíveis e por isso exercem um combate recíproco desde a Antiguidade – uma, motivada pela força bruta da paixão instintiva, faz uso da violência bárbara e tem como armas o foice, a espada, a fogueira e, hoje, bombas e armas sofisticadas. A outra, isto é, a liberdade de expressão, tem como armas o papel, a pena e aquilo que faz um indivíduo humano ser digno desse nome, ou seja, inteligência, humor, sensatez e ideias. Algo de muito preocupante, no entanto, pôde ser observado tão logo tiveram início os debates motivados pelo trágico atentado ao Charlie Hebdo: nossos intelectuais midiáticos, aqueles que têm mais vez e voz ativa como comentadores nos programas de TV e principais telejornais, esses intelectuais (dentre eles alguns dos mais influentes formadores de opinião), em sua esmagadora maioria, fizeram coro na tentativa de dissociar as ações dos terroristas da religião que estes cultivavam.


De modo que professores universitários, psicólogos, cientistas políticos, filósofos e historiadores (como a professora de História Árabe da USP, Arlene Clemescha, assídua comentarista do Jornal da Cultura da TV Cultura) se apressaram em afirmar e reafirmar alguns sofismas que se tornaram grandes chavões, a saber: ―nada disso tem a ver com religião‖; ―isso é uma questão política, não religiosa‖; ―a religião islâmica é uma religião de paz e amor‖. Por outro lado, tais intelectuais criticaram a falta de limites com que o Charlie satirizou e criticou a religião islâmica (e é bom lembrar que o Charlie sempre orientou sua verve crítica também contra o judaísmo e o cristianismo, além de políticos e celebridades), insinuando que os cartunistas Franceses haviam ultrapassado ―todos os limites da liberdade de expressão‖. Aliás, sobre esse tema, não faltaram titubeios e contradições, comentários rasos e posturas covardes que contribuíram para a superficialidade do debate, de fato, mas que igualmente denunciavam a intenção desses intelectuais: proteger a religião de verdadeiras críticas e limitar o alcance de tais críticas. Penso, ao contrário, que é urgente ressaltar o seguinte fato: o sujeito fundamentalista é o religioso em grau elevado, extremado e demasiado, e é isso que o separa do religioso moderado e pacifista, ou seja, o grau de fervor de sua religiosidade, e não a essência de sua doutrina de fé. O fundamentalista é aquele que, como a palavra indica, se fundamenta, de verdade, em seu texto dito sagrado, interpretando-o com literalidade. Ele é radical porque recupera e segue fielmente o texto fundador de sua doutrina. Ele é extremista por seu esforço em seguir um modo de vida primitivo e por seguir a risca, custe o que custar, o que diz o Corão (ou a Bíblia, se fosse o caso de pensar o fundamentalismo cristão ou judaico), sobretudo as passagens que incitam o ódio, à violência e à intolerância à mínima dife-

rença de outras crenças e outros modos de ser e que os nossos intelectuais midiáticos fizeram questão de ocultar ou de negar a existência. Um documentário sobre o Estado Islâmico apresentado pelo repórter Silio Boccanera e exibido em fevereiro último no canal Globo News (veja aqui o trailher de chamada: http:// globotv.globo.com/globonews/globonews/v/ conheca-o-estado-islamico-no-globonewsdocumentario/3956312/) mostrou bem como o fundamentalismo religioso nada tem a ver com política, sendo a política, quando muito, apenas um instrumento menor utilizado entre os próprios extremistas para articular outros fins, fins estes puramente religiosos, verdadeiramente religiosos. O Estado Islâmico não declara guerra ao Ocidente por seu passado de colonialista violento (não obstante esse fato complexo tenha reflexos motivacionais mais ou menos explícitos), mas simplesmente porque o ocidente cultiva valores que são contrários aos da religião islâmica. Os fanáticos matam em nome de um deus e de um texto ―sagrado‖, não em nome de uma nação, líderes ou ideologias políticas. E Deus, mais que qualquer tirano que tenha pisado sobre a terra, é o pior dos inimigos, pois, contrariamente a um líder político fascista ou nazista que se tornaria alvo físico e concreto dos que lutam pela liberdade e pela democracia, nunca um inimigo da liberdade foi mais difícil de combater quando ele, em vez de se ―encarnar‖ na terra, se ―espiritualiza‖ numa divindade estabelecida nas nuvens metafísicas da teologia. Ao contrário de um Hitler ou de um Mussolini, entidades físicas e reais, logo limitadas por natureza, como combater a ideia ou o delírio de um Deus que, além de pai todo poderoso, seria criador do próprio universo, e, portanto, estaria acima de tudo o que se possa imaginar? Assim, um fiel fanático facilmente pode se tornar o filho que obedece cegamente, uma vez que tudo humano e terreno se tornam minúsculos ante Deus ou Alá.


Mas, então, como combater esse delírio chamado Deus ou, noutros termos, como combater esse novo avanço da imposição da religião sobre a civilização? Penso que o avanço do fundamentalismo religioso só pode ser contido se o combate for travado, de verdade, amplamente e com total liberdade no âmbito das ideias e no campo do debate público. Faz-se necessário defender a tese de que o problema não é a liberdade de expressão, e sim a religião que não a tolera. Deve-se cada vez mais romper a barreira que impede que se critique, sem ter de pisar em ovos, a ideia de deus e do religioso. Tal postura, predominante entre os intelectuais coniventes com o fanatismo por protegerem a religião de críticas ao afirmarem que os atos dos terroristas ―nada tem a ver com religião‖, tal postura, dizíamos, limita a expressão do pensamento crítico e abre um perigoso e fértil espaço ao fundamentalismo que se aproveita desse excesso de respeito às religiões. Não penso que seja possível combater o fanático com ideias e argumentos sensatos. Não há a menor chance disso, pois o mal aí é sem salvação. Como argumentar com quem acredita verdadeiramente que a morte é uma benção? Que morrer como mártir é a maior de todas as glórias? Como combater quem acredita estar a serviço de uma entidade que é maior que a humanidade, que é maior que o mundo e o cosmos em seu conjunto? O fanático é um lunático por natureza, ele quer desesperadamente matar e morrer em nome de seu senhor porque acredita, alucinadamente, que assim o serve da maneira mais absoluta e submissa possível, mas

também porque assim está escrito, e, portanto, ordenado em seu livro sagrado. Agora, quem, sem ser cúmplice ou intelectualmente desonesto, pode dizer o contrário após um exame crítico desses textos dito sagrados? O telejornal que costumo assistir chegou a exibir uma reportagem com a participação de um especialista na religião islâmica na qual este, com o Corão aberto sobre a mesa, ―demonstrava‖ não haver passagens que incitassem ao ódio e à violência. Como digerir tal informação, que visa formar uma opinião pública determinada, com o que nos apresenta a obra de autores que fizeram uma verdadeira crítica a essa religião? Nesse contexto, leiamos, por exemplo, estes excertos do Corão extraídos do livro A morte da fé: religião, terror e o futuro da razão (2009, pp. 135-136), do filósofo americano Sam Harris: ―Que a maldição de Deus caia sobre os infiéis!‖ (2, 89); ―Deus é inimigo dos incrédulos‖ (2, 98); ―A única religião verdadeira, aos olhos de Deus, é o islã. [...] Mas quem nega a revelação, saiba que Deus é rápido no ajuste de contas‖ (3, 19); ―Infundiremos terror no coração dos incrédulos [...]. O fogo do inferno será sua morada‖ (3, 149-51); ―Deus não perdoará os que servem a outros deuses; mas perdoará outros pecados, conforme lhe aprouver‖. (4, 55); ―Profeta, guerreia contra os descrentes e os hipócritas, e trata-os com rigor. O inferno será a morada deles: um mau destino‖ (7, 73); ―Crentes, guerreai contra os infiéis que vivem ao vosso redor. Tratai-os com firmeza. Sabei que Deus está com os justos‖ (Corão 9, 123). O islã é uma religião de paz? Não a julgar por essas passagens.


Porém, o Corão, como mostra o pensador francês Michel Onfray em sua obra Tratado de ateologia, é um livro contraditório uma vez que, tal como a Bíblia, ele diz tudo e o contrário de tudo. Se exorta a matar os incrédulos (VIII, 39) e os politeístas (IX, 5), também “lhes oferece asilo (IX, 6)‖; se celebra o perdão (VIII, 199), o esquecimento (V, 13) e a paz (XLVX), em outros momentos faz a ―justificação do massacre (IV, 56, IV, 91, II, 191-194)”; se proíbe a amizade com judeus e cristãos (V, 51), no mesmo passo permite o casamento de homens muçulmanos com mulheres que praticam os outros dois monoteísmos (V, 5). Também é possível encontrar a ―invocação de Deus para a aniquilação dos judeus e dos cristãos (IX, 30)‖. Onfray lembra ainda que Alá, tal como o Deus do Velho Testamento, aparece no Corão como um ―guerreiro sem piedade‖:

Alá é brilhante em estratégia, tática de guerra ou punição – matar, entre outras – (VIII, 30); [...] recorre de bom grado à violência e decide sobre a morte (III, 156); trama castigos ignominiosos para os incrédulos (III, 102); é o Senhor da vingança (V, 95 e III, 4); aniquila os incrédulos (III, 141); pratica de tal modo essa virtude sublime que não tolera nem mesmo uma crença diferente de seu desejo: pune então os que têm uma

ideia errada dele ((XLVIII), ONFRAY, 2007, p. 144)

Claro, vão dizer que escolhemos as piores passagens selecionadas pelos críticos, ignorando as mais benévolas. Mas isso não chega sequer a ser uma objeção, pois, o que os críticos fizeram, não por prazer, mas pelo ofício do trabalho intelectual, foi ler todo o Corão (esforço que pode ser muito árduo, conforme registrou o escritor Thomas Carlyle sobre a leitura que fora obrigado a fazer do livro sagrado dos mulçumanos: ―a leitura mais enfadonha que jamais experimentei. [...] Nada além do senso de dever poderá fazer um europeu atravessar o Corão!‖ (Apud HARRIS, 2009, p. 300, nota 17)) para só então poder fazer uma crítica séria e intelectualmente honesta. Ora, há de fato tais passagens que se contrapõem às ―boas‖, e são precisamente elas que aqueles que afirmam que o extremismo ―não tem nada a ver com a religião islâmica‖ ocultam ou dizem não existir, argumentando que as ações bárbaras dos fanáticos não têm apoio nos textos ―sagrados‖, que tais ações seriam arbitrárias e sem relação com a religião. O fato é que para aqueles que têm gosto pelo sangue e inclinações a matar e a morrer em nome de seu deus não faltam tinta preta sobre o papel branco, assim como, inversamente, também para quem quer apenas viver sua espiritualidade a partir dessa religião e viver em paz. Ambos os casos encontram textos que os fundamentem O filósofo Sam Harris faz pergunta central para o nosso tempo: ―O que constitui uma sociedade civil?‖; para em seguida responder nos seguintes termos: ―No mínimo, é um lugar em que as ideias – ideias de todos os tipos – podem ser criticadas sem risco de violência física‖ (HARRIS, 2009, p. 173). Portanto, o atentado à sede do Charlie Hebdo, com tanto sangue derramado, foi um monstruoso atentado à civilização e à liberdade de expressão que a sustenta.


Quando a religião, autoritária e universalista por essência, predomina numa sociedade, esta se torna menos civil, pois o risco de violência física previsto nos textos sagrados é real, e as tendências teocráticas as evocam com fervor. Quando, ao contrário, é a liberdade de expressão que predomina, a influência da religião se torna mais inofensiva politicamente e isso é um sinal claro de democracia e civilidade – e inclusive é o único fator que garante a pluralidade das liberdades de culto religioso. Por conseguinte, o grau de tolerância que uma sociedade tem para com a liberdade de expressão expõe proporcionalmente o seu grau de civilidade, de modo que qualquer tentativa de limitar tal liberdade, mesmo que em graus mínimos, é um sinal tenebroso de que em algum nível nossa civilização está em risco. Nesse sentido, quanto mais proteção à religião (e temos aqui no Brasil nossos próprios problemas com o fundamentalismo...), menos civilização; quanto mais proteção à liberdade de expressão, mais civilização – e, por favor, não confundir com a estúpida ideia de inverter as coisas e passar a perseguir a religião, em vez de apenas criticá-la com lucidez. Conclui o meu texto de estreia na Revista Kukukaya com as palavras do escritor português José Saramago. Quero aqui repetir o gesto homenageante – uma vez que o autor de Caim foi um grande crítico da religião, tema que sempre fez parte de suas inquietações filosóficas –: O mundo seria ―muito mais pacífico se todos fôssemos ateus‖, escreve Saramago. ―Claro que, sendo a natureza humana isto que é, não nos faltariam outros motivos para todos os desacordos possíveis e imagináveis,

mas ficaríamos livres dessa ideia infantil e ridícula de crer que o nosso deus é o melhor de quantos deuses andam por aí e de que o paraíso que nos espera é um hotel de cinco estrelas. E mais, creio que reinventaríamos a filosofia [grifo nosso]‖ (SARAMAGO, 2009, p. 189).

REFERÊNCIAS

HARRIS, Sam. A morte da fé: religião, terror e o futuro da razão. Trad. Claudio Carina, Isa Mara lando. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

ONFRAY, Michel. Tratado de ateologia: física da metafísica. Trad. Monica Stahel. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2007.

SARAMAGO, José. O caderno / Textos escritos para o blog: setembro de 2008 – março de 2009. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.


Uma fruta muito conhecida no nordeste, especialmente nas regiões litorâneas, o coco,

Francisco Alves Galvão —Sociólogo e president da Academia de Letras de CanguaretamaRN.

dizem pela historiografia tradicional, foi trazido pelos portugueses, que o encontraram na Ásia e o plantaram no Brasil. O município de Canguaretama tem uma identificação especial com esta fruta, presente em seu território desde alta data. Para tanto é possível ver no famoso Mapa de Marcgrave, produzido em 1642, um coqueiro que crescia ao lado da ca-

pela de Nossa Senhora das Candeias, no engenho Cunhaú. Assim, o coqueiro tendo entrado tão precoce na região teve tanta influência como a cana de açúcar e ajudou a forjar a paisagem tão paradisíaca dessa terra. Sobre o assunto, Helio Galvão expressou grande conhecimento ao expor o contorno geográfico da Barra do Cunhaú moldado por coqueirais, que adentrariam pelo território, dando ao local uma paisagem própria que se destacaria no litoral sul do Rio Grande do Norte, diferenciando-se de Pipa, Sibauma e Baía Formosa. Já houve até quem defendesse que o nome Canguaretama poderia ser traduzido em Terra dos Coqueiros. Nesse sentido, o Vocabulário Tupy-guarani de Batista de Castro sugestiona o topônimo Cangatetama, onde canga


pode ser coco e tetama é a terra. Além disso, o coco foi uma fruta que significou grande

pé nas primeiras décadas do século 20, noventa anos depois. Parece ser possível ter existido esse es-

pécime extraordinário, mesmo sabendo que, segundo a botânica, o coqueiro (Cocos nucifera) é uma árvore que pode crescer até 30 metros de altura e possui vida útil econômica que pode chegar até 40 anos. Para quem duvida, dizem que esse coqueiro foi plantado na cova de um escravo enterrado vivo e de cabeça para baixo.

força na economia do município durante o século XX. Como vemos, então, o coqueiro não influenciou só a paisagem. Uma das lendas mais conhecidas de Canguaretama é a respeito de um famoso coqueiro em Cunhaú, que teria crescido muito mais do que todos os outros à sua volta e seria visto a uma légua de distância, do coro da igreja de Canguaretama. Esse coqueiro deve ter sido plantado por Dendé Arcoverde, em 1834, mas ainda estaria de

Para quem quer observar outra curiosidade dos coqueiros que restaram no litoral sul, eu indico ver os famosos coqueiros tortos da barra do Cunhaú, estranhas obras de arte que a natureza esculpiu à beira mar. Para acompanhar pode ser com uma aguinha de coco natural que tem o sabor da cultura dessa nossa terra de coqueirais.


José de Castro, jornalista,

escritor, poeta. Nasceu em Resplendor-MG. Vive em Natal desde 1976. É autor de livros para crianças (A marreca de Rebeca, O mundo em minhas mãos, Poemares, Poetrix, Dicionário Engraçado, A cozinha da Maria Farinha). Brevemente estará lançando APENAS PALAVRAS, poemas, pela CJA Edições. Participa da Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do Rio Grande do Norte – SPVA/RN e da União Brasileira de Escritores – UBE/RN.

uma leveza na escrita de certos poetas – a leveza de que nos fala Ítalo Calvino - que nos faz ter a sensação de bolhas de sabão multicoloridas que vão subindo, subindo e subindo... E brilham e depois estouram de luz. E se desmancham no ar. Ninguém sabe aonde vão, em que mistérios se escondem. Onde vão chocar seus versos? Em ninhos de sorriso ou de pranto? Em ruas, em praças, em esquinas, em igrejas, nos bares? Onde? Talvez em berços de vento. Ou tomam o mesmo destino das chamas que se apagam e ninguém sabe em que páramos vão brilhar. E algures lançam faíscas. Talvez sejam estrelas, novas estrelas de outro lugar. Assim os poetas insones. Que temperam com versos o sabor das madrugadas. Essa escrita mágica tem a sabedoria ancestral de todos os que vieram antes, abrindo trilhas. Cada poeta é um pouco de drummond, quintana, manoel de barros ou bandeira, cecília, adélia, vinícius, leminsk e tantos outros, daqui e de além mar – camões ou pessoa, neruda ou verlaine - que pisaram

esse solo fértil da poesia leve, livre, solta feito o pássaro que nunca se aquietou em seu ninho. E que está sempre à procura da mais alta montanha de onde possa espiar o mundo e espichá-lo e, ao mesmo tempo, fazê-lo caber dentro de nós. E nos deixar guardá-lo nas retinas feito um papel de parede enfeitado de novos horizontes. E passamos a ser guardiães do tempo. Um tempo sem tempo, mas contemporâneo de todos os vivos e de todos os mortos. É hora de descobrir que o poeta tem por abrigo o espanto. E o canto de todos os menestréis que sabem a alegria ou a dor de rimar alma e coração. E os poemas são feito grãos de espigas de milho trincando de amarelo por entre o bico das araras azuis nos finais de tarde. E alimentam de estrelas os pássaros da noite. Seriam os poetas como o último voo do flamingo de que nos fala Mia Couto? As mesmas aves que abrem suas asas de esperança por sobre os precipícios que engolem o mundo? Todo poeta é menos que nada e um pouco mais que isso. E tem olhos de além. De olhos vendados, desvendam e abrem clarões no escuro.


Os poemas nos ajudam a ninar e afagar a solidão que atravessa a savana de nossas almas. Feito a imensidão de uma África que nos trouxe de herança o lamento escravo, o mesmo que nos ensinou lições de afoxé, o banzo dos cangerês ao luar e os encantos de iorubá. E somos a ginga da capoeira e somos poeira e somos pó. E somos prisioneiros de nós mesmos, sob o látego de rimas que inauguram saudades de um tempo em que éramos sem ter sido. Irmãos de agônica dor. E da mesma tristura de folhas de outono a arrastar promessas de novas primaveras, sonhos que amadurecerão feito o fruto das lembranças da criança que ainda habita em nós. Então, os livros nos espiam e conversam conosco. E, mesmo sozinhos, jamais estamos sós. E navegamos e seguimos o curso da vida. O poeta abre-nos os olhos. Ao mesmo tempo os poetas lançam um olhar sobre eles mesmos. E dizem: somos feito o rio que flui para si mesmo, sem foz, que segue apenas a voz do encanto que se espalha nas praias de algum lugar perdido, sem mar. E somos sol e sal. E ardemos e temperamos de emoção o mundo. E somos feito um grão de ternura que se espalha pelo ar. E depois de depois não se sabe mais o que somos... Um mistério que se esvai sem pouso certo. E segue em frente, sempre em frente... Em direção a lugar nenhum. E vai a todos os lugares, pelos mundos do sem fim... Até achar o princípio do que nunca existiu. E assim se faz de alfa e ômega. E onde começa, ali mesmo termina. E nunca tem fim. Nesse momento, o poeta é o verso e o reverso do infinito. E o silêncio contido no peito é o avesso do seu próprio grito. E recebe das palavras a unção bendita de tudo aquilo que, apesar de ser falado, jamais é compreendido em plenitude. O que uma palavra diz, ela mesma esconde. E assim mesmo pressente-se a vacuidade e a plenitude do vazio que não cabendo em si transborda. Caudal de emoções. Poesia é

um jeito de sentir. E beleza é tudo aquilo que se sente e jamais se explica. Por isso, a cada dia, agradeço o dom do entendimento recebido de todos os que nos ensinam os mistérios da entrelinha. E o segredo de cochichar palavras a uma centena e mais uma dezena e outras tantas quantas folhas em branco. E pousam os poetas sobre elas os sonhos que ainda precisam nascer em berços de girassol, em pétalas amarelas do pão da poesia para nos alimentar a cada dia. Benditos os trigais da palavra que tremulam os seus frágeis pendões pelas campinas. Ali germina o alimento que ninguém vê, mas que nutre a alma do milagre do simples existir. Ali também adormecem as rimas. E depois vão-se embora. Sem métrica, vida afora. Feito grão de vento. Feito o orvalho que acaricia a folha e tem o brilho da prata, o fulgor do ouro, esse tesouro de sol, vida a se reinaugurar em mistérios a cada nova manhã. Por isso mesmo, tomo a bênção todos os poetas, os de antes e os que ainda virão. O mundo é um barco que só a poesia sabe remar. Tão breve por fora. Tão vasta por dentro. De volta ao começo. Solta o verso, feito pluma bate asas, evola e se esfuma, se esgarça e se perde pelo ar. O poeta abre o livro e nele inscreve três versos breves: o silêncio é o avesso do meu grito e nele mora o infinito. agora, resta-me apenas calar.


C

omo primeira parte do convite feito na edição anterior, apresentamos aos queridos leitores as pinceladas inicias sobre a obra “A arte da vida” de Zygmunt Bauman. E se colocamos antes que seria necessária uma pausa para pensar e refletir, numa leitura interrogativa e investigativa, aqui estamos nós.

* Johnie Neves 29 Anos. Estudantes Ciências Sociais—UFRN.

A introdução de seu livro, que fizemos questão de colocar como título deste breve texto, traz a interrogativa que instiga ao mesmo tempo em que nos causa desconforto. Errado? É possível pensar à primeira vista: o que pode estar errado com algo (felicidade) que não cabe o errado? Bauman destaca os estudos e autores diversos que procuram atribuir à situação econômica dos indivíduos o seu nível de felicidade, bem como a produção e rendimentos de uma sociedade ao nível de felicidade desta sociedade. Porém, apresentando também autores diversos, descontrói esse pensamento afirmando que o contrário acontece, apesar de decepcionante, visto que diversas situações de melhoria na situação financeira trouxeram também uma maior taxa de criminalidade, roubos a residências e automóveis, tráfico de

drogas, suborno e corrupção no mundo dos negócios. Então nos parece que associar, pura e simplesmente, felicidade ao contexto econômico é algo ao menos difícil de aceitar. Sendo mais preciso, Bauman coloca que os índices de satisfação com a vida, os índices de felicidade no geral, somente são resultantes do crescimento financeiro até o ponto em que a carência e pobreza dão lugar à satisfação das necessidades essenciais de sobrevivência, e repentinamente param de subir ou tendem a descer drasticamente. Seguindo esse pensamento, o autor afirma em seu texto que cerca de metade dos bens cruciais para a felicidade humana não tem preço de mercado nem pode ser adquirida em lojas. E vai mais além quando coloca que, independente da condição em matéria de dinheiro e crédito, o ser humano não encontra num shopping o amor e a amizade, os prazeres da vida doméstica, a satisfação que vem de cuidar dos entes queridos ou de ajudar um vizinho em dificuldades, tampouco a autoestima proveniente do trabalho bem feito ou a simpatia e o respeito de colegas de trabalho.


Existe uma relação íntima entre a capacidade financeira, que propicia a compra de determinados bens, e que para tal é preciso despender energia, e a incapacidade de dedicar-se aos bens que o dinheiro não compra, conflitando assim a felicidade com a infelicidade. Sem dúvida, se estamos tão apressados e com tempo corrido objetivando ganhar dinheiro e comprar o que ele pode comprar, que energia nos resta para os bens que o dinheiro não pode comprar? E quanto ao mercado e os engenhosos estudiosos do marketing que, como exemplo citado por Bauman, para vender desenvolveram um abridor de latas eletrônico que oferece um esforço menos “ruim pra você”, permitindo assim que sobre mais tempo para você se dedicar a uma academia exercitandose com aparelhos que prometem uma variedade de exercícios “boa pra você”. E nos parece que nesses pequenos detalhes a nossa relação com a felicidade vai sendo construída. O título da obra “A arte da vida” tem a sua explicação nesse momento da leitura, quando Bauman apresenta uma visão, já na introdu-

ção do livro, de que a vida é uma obra de arte, quer saibamos ou não e quer saudemos ou lamentemos. E como obra de arte, exige que nós, como qualquer tipo de artista, estabeleçamos desafios que são difíceis de confrontar diretamente; que tracemos alvos que estão muito além do nosso alcance, e padrões de excelência que pareçam estar muito acima da nossa capacidade. Nas palavras do próprio Zygmunt Bauman, encerrando as suas considerações introdutórias: “a felicidade (genuína, adequada e total) sempre parece residir em algum lugar à frente: tal como o horizonte, que recua quando se tenta chegar mais perto dele.” Para continuar nossas reflexões, convidamos o leitor a acompanhar a publicação seguinte da Kukukaya, onde iremos prosseguir com o tema “As misérias da felicidade”, que corresponde a parte seguinte da obra de Bauman. Aguardamos todos nessa leitura. Até breve.

Referência: Bauman, Zygmunt. A arte da vida; Tradução, Carlos Alberto Medeiros – Rio de Janeiro: Zahar, 2009.


dever do governante contar com a participação dos cidadãos na execução dos serviços na comunidade. Uma das formas é que o orçamento previsto para realizar no período tenha um planejamento e que envolva os diversos segmentos da sociedade.

É

Portanto, quanto mais envolver a população e todos os seus seguimentos: Professores, pescadores, empresários, idosos, jovens, taxistas, motoqueiros, igrejas, associações, sindicatos e demais seguimentos da sociedade, mais um governante terá subsídios para poder governar bem.

Quando um governante não conta com a presença dos munícipes na discussão dos problemas e soluções que envolvem a cidade, este governante pode ser chamado de centralizador e opaco.

Vale salientar que participação popular, não é criar comissões com representantes que apenas concordem com os interesses dos governantes, e sim pessoas que possam contribuir para um futuro melhor.

Pois, como todo o poder emana do povo e para o povo; deve ser administrado com este povo, e nada mais justo que esta população se faça presente nas decisões que visam trazer melhorias para sua vida. São ações como esta da participação popular, que diferenciamos um bom administrador de um mero “sentador” na cadeira do poder. Quando o cidadão não tem conhecimento das verbas, convênios e repasses advindos do governo federal, estadual e municipal ele não tem como opinar sobre o que deve e não deve ser realizado para o seu benefício.

Deixar a população alheia aos seus interesses, só se apresentando em palanque ou festinhas, não é a forma de administrar que a população necessita.

Quantos anos já se passaram em nossa cidade e não vemos uma administração que utiliza deste instrumento tão democrático. No Orçamento Participativo retira-se poder de uma elite burocrática repassando-o diretamente para a sociedade. Com isso a sociedade civil passa a ocupar espaços que antes lhe eram "furtados".

O cidadão tem que ser tratado como parte pensante no processo de administrar, e não como mero coadjuvante que apenas recebe a informação sem saber como foi projetada. A participação popular nas decisões municipal, é um importante instrumento de complementação da democracia representativa, pois permite que o cidadão debata e defina os destinos de uma cidade. Nele, a população decide as prioridades de investimentos em obras e serviços a serem realizados a cada ano, com os recursos do orçamento da prefeitura. Além disso, ele estimula o exercício da cidadania, o compromisso da população com o bem público e a coresponsabilização entre governo e sociedade sobre a gestão da cidade.


E *Jonh Kennedy Ferreira da Silva, estudante de Letras (UnP) - Natal (RN).

m seu quarto, Deus cuida de seu terrário com zelo. Menino disciplinado, Deus tira as melhores notas da sala. O menino ama seu pequeno mundo, adora ver os seres que vivem lá vivendo. Toma muito cuidado, pois o menor descuido pode ter efeitos catastróficos. Um dia, em que demorou fazendo a refeição, Deus notou que uma espécie havia feito as outras escravas. Haviam torturado, violentado, assassinado muitos dos outros seres, e alguns de sua espécie. Ah, como o nosso menino chorou, pensou em se desfazer do terrário, mas ele amava demais tudo aquilo. Deus se culpou por ter demorado no almoço, ficou melancólico. Superou. Observando a espécie, que denominou homo (por achar que combinava com o caráter egoísta do mesmo), Deus se admirou com o que

tinham desenvolvido: tecnologias, conhecimentos, sentimentos e civilizações. No entanto, o menino ficou assustado com alguns comportamentos ininteligíveis e incompreensíveis. No mundo do jovem Deus era comum ter um terrário, todo jovem da vizinhança, que era enorme, queria um: era um bom passatempo. Para Deus não era só isso, ele amava cuidar de suas criaturas. O que perturbava o menino eram suas muitas responsabilidades que não permitiam dedicação total ao terrário. Se Deus se esquecia do ar ligado, o terrário congelava; Se esquecesse o ar desligado, o terrário aquecia; No horário do metrô passar, o terrário sofria terremotos, maremotos; Se os remédios acabassem, peste. Deus era menino, Deus chorava.


Uma leitura subjetiva do poema "Leilão de jardim", da Cecília Meireles. Este texto foi resultado de uma atividade orientada pelo prof. doutor Henrique Eduardo de Souza.

A

*Guilherme Henrique Cavalcante, 19 anos. Aluno da UFRN, do curso de Letras Língua Portuguesa. Lançou o livro "A imagem do cão", em fevereiro de 2014, pela CJA Edições. Atualmente publica em sites e blogs que incentivam a produção de autores iniciantes. O último projeto de que fez parte foi o EntrePeles promovido pela página "Filhos da arte", que com os textos de quatro autores potiguares, montou uma exposição em que somava poesia e fotografia.

ntes assim, que isso não seja considerado um começo, pois desde os tempos (ante) passados o verbo se fez carne e o início se perdeu. Antes, sim!, um retrato, talvez. Vamos: a criança corre pelo quarto, escorrega pelo corredor e desemboca na cozinha. Não corre, alça voo. Desliza pelo espaço, visto que ela domina o próprio universo. E o universo é tudo aquilo que os olhos varrem, que os olhos pescam e trazem para perto, para dentro. Os olhos aconchegam. A criança continua com a aventura e da cozinha uma galáxia de cheiros e barulhos saborosos - avizinha-se do muro de tijolos cósmicos, grande compilação de muita poeira cósmica, e dispara domando um velocípede mais veloz do que a velocidade do vento, do ver, do 'vai chover!'. A criança aparata no jardim. Pedaço de canto, gigantesco mundo em que as estruturas são feitas de cores e tão somente de cores é que todas as matérias se constituem. A cor é a mãe e o pai. A cor é a professora e a gente grande da rua. A cor é, apenas. O jardim é, para aquela criança, cor. Colorocrian-

ça. E o universo antes tão consistente - em matéria de nuvemalgodão - já não mais existe agora. O jardim é cor e só. A criança sozinha, manuela-se, desbandeira -se, meirela-se na terra. E a terra em que ela pisa é pequenos planetas Terra e a criança os traz, ali, nas solas dos pés, nas palmas das mãos. Chafurda a terra e tudo se desfaz mais uma vez. Não existem mais cores. Há muito não existe mais universo. Mira-se a plenitude murada do jardim. As flores, os pequenos animais, as estátuas, os ovos, os ninhos. Mira-se. Contempla-se. Muro, hera. E a criança se faz dona daqueles tudos. Quer se apropriar de tudo com as mãos. Quer sentir. E como quando sente, torna-se parte de tudo aquilo. E o tudo é o jardim. A criança vira enorme inseto-mutante e embrenha-se entre troncos, jarros e cantos. Inseto-mutante vira vento. Balança cabelos, galhos, penas. Tudo seu. Tudo da criança. Doulhe uma, dou-lhe dez, dou-lhe mil: vendido!!! E lá se vão os cantos e atrás seus pássaros. Dou-lhe vinte, dou-lhe quinhentos, dou-lhe trinta: vendido!!! Coaxares e sapos


pularam para além. E a criança desvira o que havia virado antes, é gente grande agora, mas gente grande com escamas de peixe e folhinhas verdes nas pontas dos dedos. Ser gente grande é ser grande demais, mas ainda é menor do que ser criança. E a criança sabe. A criança forja uma gente grande só dela. Vai amarrando coisas naquela armadura de adulto. Anda como gente grande. Olha em torno como gente grande. Enche de ar os pulmões e, como gente grande, vocifera: dou-lhe três, dou-lhe dois, dou-lhe um: vendido!!! Lá se foram as sombras de gente grande que as grandes estátuas amarravam. E se foram também as estatuas que são irmãs das sombras e dos pesos presos aos pés do pé-do-mundo. Ali por perto saltivoam borboletas-bobas. Eis que das escamas, estimuladas por aquela visão, estiram-se nadadeiras tornando alado o grande-gente. Aos pulos, a criança vai no encalço dos pequenos calcanhares das bobasletas. Persegue-as até que elas tombam em uma grande rede que surgiu na frente delas. Dou-lhe zás, dou-lhe trás, dou-lhe zuns: vendido!!! Lá se foi a leveza e em seguida as borboletas. Some-se todo de gente grande e, criança, volta a ser o princípio da fantasia. Os olhos pescam no jardim novos horizontes. Num tanto próximo um formigueiro. As formigas migalham os restos que ficam pelo chão e desfolheam as folhas das plantas que são como asas coladas nas plantas. Se tudo faz parte do mundo e o mundo é feito por tudo, cada pedaço de qualquer coisa é um mundo. Uma migalha de bolacha é um mundo, então. As formigas carregam mundos sobre as costas. Gente grande levanta peso-ferro. As formigas erguem peso-mundos. Dou-lhe plás, dou-lhe crás, dou-lhe mrás: vendidas!!! Enfileiradas partem as formigas e seus migalhamundos. O jardim está inteiramente em inteiro-repartido. E a criança desinteressase por aquilo. A criança é tudo o que os seus olhos podem alcançar O leilão para a criança não tem a sisudez das grandes salas com pessoas grandes bem vestidas. O leilão é antes uma forma de explorar o mundo e de ser nele. Dei-lhe início, dei-lhe meio, dou-lhe fim...

LEILÃO DE JARDIM (Cecília Meireles) Quem me compra um jardim com flores? Borboletas de muitas cores, lavadeiras e passarinhos, ovos verdes e azuis nos ninhos?

Quem me compra este caracol? Quem me compra um raio de sol? Um lagarto entre o muro e a hera, uma estátua da Primavera?

Quem me compra este formigueiro? E este sapo, que é jardineiro? E a cigarra e a sua canção? E o grilinho dentro do chão? (Este é o meu leilão.)"


Oito passos para conseguir sucesso na profissão – Saiba como sair de sua zona de conforto e praticar a iniciativa e o otimismo – Por Edivan Silva* Veja Edição No 08 a introdução desse artigo. 7 - Ter criatividade nas vendas Todos nós somos tão criativos o quanto desejamos ser. Às vezes, precisamos de uma oportunidade para mostrar. A criatividade também nasce da necessidade. Se você observar bem, verá que nunca houve no mundo tantas oportunidades de colocar pra fora toda sua habilidade e talentos como agora. Use toda a sua criatividade. Tenha ideias que façam vender mais, pois nada

*Edivan Silva é palestrante e consultor. Autor dos livros “O PODER DA INICIATIVA”; “MOTIVACAO – A mais forte aliada para enfrentar desafios” e “O PODER DO MARKETING DE ATITUDE”. e-mail: conta-

vende mais do que ideias que fazem vender. Troque dicas e ideias com todos os membros da sua equipe. Faça com que todos apresentem novidades, ideias e estratégias para poder alavancar as vendas, com isso, você irá gerar um maior interesse nas outras pessoas; isso será fundamental para o seu sucesso.

Agora, convidamos você através de lições de vida a estimular a reflexão na sua profissão e nas suas ações. Porém, se você não acredita que possa moldar seu próprio futuro, então pode parar por aqui mesmo. Só existe uma pessoa capaz de limitar seu próprio crescimento. Essa pessoa é você mesmo!

Somos nós

quem podemos fazer uma revolução em nossas vidas, da mesma forma como somos nós os únicos a prejudicá-la. É dentro do nosso coração que vamos encontrar a energia necessária para nos tornar o artista de nossa criação. Todo o resto é apenas desculpas. Não fique parado, faça a diferença, e desenvolva o poder da INICIATIVA. Valorize o amor e lute pelos seus

Uma das formas eficientes de des-

sonhos. Saiba também que é a realiza-

perdiçar talentos é não dar valor a toda e

ção dos sonhos que nos faz feliz e que o

qualquer ação criativa.

mundo está nas mãos daqueles que têm

to@edivansilva.com.b r –

As pessoas criativas estão sempre

iniciativa e coragem de sonhar e correr o

pensando na área em que atuam, estão

risco de viver seus sonhos. Se você es-

www.edivansilva.com.

sempre perguntando: “O que tem sentido

colher a inércia, não correr riscos e assu-

br

aqui?”, “O que fazer para aumentar as

mir desafios, jamais conseguirá a sua

vendas?”, “O que falta então?”.

realização.

Fica aqui um aviso: Todo cuidado

Mesmo depois de identificar idei-

é pouco com os “matadores de idéias”;

as e oportunidades, pesquisando as me-

são pessoas negativas que só sabem

lhores estratégias e tomado a iniciativa,

criticar e enxergar defeito em tudo, que

talvez ainda encontre alguns obstáculos.

não querem romper seus velhos paradig-

A forma como você lida com esses obs-

mas.

táculos pode determinar seu sucesso. Mostre que você é capaz de resolver

8 - Estimular a reflexão na sua profissão com as lições de vida aprendidas.

problemas e lutar pelos seus ideais.



O ESCRAVO FAVORITO DE HIPNOS (Roberto Noir) Minhas pálpebras pesam bastante Como marmóreas tampas de sepultura Um chamado vindo de uma praia distante Cativa-me de forma sinistra e obscura

Não tardará para o retorno do sol Um espetáculo diário mas sublime Vivo em busca de vislumbrar o arrebol Contudo esta noturna letargia me reprime!

Ó sono! Tua similaridade com a morte É algo que é de fato notável É deveras irresistível, assaz forte A ti submeto-me de forma execrável

Então tombo perante tua presença Sepultado em minha cova onírica Mais uma vez, vitimado por tua sentença, Compulsivamente descanso minha caveira raquítica!

MÃE - Três haicais alusivos ao tema (Horácio Paiva) E-MAIL DE MAIO em meio a maio: mãe.

EM PAZ Deitada entre as flores, mãe, parecias voltar aos teus vinte anos.

NATIVIDADE Luz na estrebaria: sobre as dores do mundo o olhar de Maria.


Cotidiano (Silva Alves)

O galo canta Abre-se os olhos Espreguiça Levanta-se Calça as sandálias Escova os dentes Toma banho Veste a roupa Toma café Pega o carro, ônibus, metrô, bicicleta... etc...

O TEMPO Trabalho, escola, curso, esporte, etc... Volta pra casa Tira a roupa Toma banho Almoça

(Erilva Leite)

Ah o tempo O misterioso, anfitrião da eras.

Volta a por a roupa Pega o carro, ônibus, metrô, bicicleta... etc... Volta pra casa Descansa Ver a lição dos filhos Toma banho Janta Dorme O galo canta...

Oh incauto deus que a tudo dilacera. Que a dureza do mármore Sem dó Corrói e aniquila. És o menestrel das noites vagas Hierofante, da corte celestial Tens o brilho das estrelas, Mas vicejas - na escuridão total.


ECOS DO ESCURO

- (Francisco Ramos Neves)

Sinfonia nº 3 de Beethoven na correnteza dos sons, Que estraçalham o ar. Ar sem abrigo para todos. Ar somente seu. Não necessito do meu espaço reduzido, Nem o seu subjugado. E vamos assim, ladeira abaixo, devorados pelas noites, Num cais do porto ou num banco de praia. Quem sabe poderíamos nos tornar de novo mundanos e ociosos, ousados e ferozes Com a distância que insiste em interferir. E com os dedos de aço, com vozes televisivas, traçam em nossos peitos um rastilho quente de pólvora, que se acende corrosivamente pelos devaneios da incredulidade. Como vês, tua presença rouba cena em uma poesia tonta e impudica. No entanto, esparramo pelo fosco chão, Um lençol de denúncias rejuvenescedoras. E no baile frívolo da música do titãs, ouço que a vida parece uma festa. Porém, o lado puramente sóbrio persiste em continuar marcando passo, com seu medo sob os longos braços frios. E, ao longe, a tarde cai cantada em poesias, não mais, Em recuos expirados por um tedioso hálito de normalidade. Quero meus cacos e bandeiras dentro desta tua barraca, Cercada de fúteis barras sólidas de representações vis. Solte teus cabelos pelo rosto. E no arfar de asas de um pássaro distante, sufocadamente lutando pelo voo, Vamos desalinhar os contornos deste céu, Que chora em nuvens, para que o descrevamos em uma carta ou em qualquer bilhete perdido na contemplação da criação estética. Mesmo que não sorrias, não queime às escondidas minhas bandeiras. Segure no parapeito de uma nova quimera, e a mediemos com o mundo reto e real lá de fora, Que tenta com tuas garras funestas nos devorar inteiramente em tuas espumas de regras. Que são metadiscursos difundidos nas rajadas intermitentes de repetições. Solte tuas sandálias, que já marcam seus traços nos teus pequenos pés. E despida do medo, e despojada do desejo de domínio, Desarmemos nossas armadilhas e soergamos uma sacada para o mundo. Ou cortemos o encontro com o jeito sereno do começo. Ou então, nos precipitemos no espaço do paralisante silêncio. Estilhace tua garganta em bramidos do teu eu. Mas, ao estardes sorrateiramente te recuperando dos gritos dissonantes, Garanta meus gemidos ferinos de um vaga-lume que repousa em teus peitos, Desejando ficar. E tudo pode também ser ecos do escuro das minhas máscaras.


Resposta do Urubu ao Carcará (Jonh Kennedy Ferreira da Silva) Bem sei que és cangaceiro cruel e mortal, mas de morte eu entendo sem igual. Vestindo esse gibão todo emproado, bem sei que és temido, amado, vangloriado. Meu irmão carcará, prestes bem atenção, posso não ser atraente, nem usar um gibão. Mas a morte a mim não assusta, nunca assustou. Porque eu como a morte a sangue frio, escutou? És cangaceiro famoso para ti há canções, mas eu sou o coveiro dessas bandas dos sertões. Urubu Oh pássaro nobre, de rapina podes não ser! Tua humildade singela covarde fazes parecer. Porém aos olhos dos justos és grande inspiração, vives sem guerrear, vives do necessário pra viver: vadiar, comer, fuder.

A dor e o luto tingem suas plumas… já não aguenta mais. Sou legião Eu também nunca guardei rebanhos, guardo legião... Mas já não sei se são eles prisioneiros desse cárcere. Um dia, quem sabe, surja uma rebelião, e meu pescoço rasgado, meus amores violentados, seja o fim dessa condição. O voo do Urubu O Urubu não consegue voar em uma sala de estar. Auto-ajuda Queimei os livros de auto-ajuda. Percebi que sendo auto, só ajudavam a quem escrevia. Pão Dá-me um pedaço de pão, e para mim serás Cristo. Urubu

Urubu urbano Um urubu que vivia em um lixão estava com azia, havia algo estragado na comida: sacos plásticos.

Um Urubu bateu na janela do meu carro. Ele queria entrar. Ele pensava que eu estava morto Pediu desculpas, e disse: nunca mais. . Inércia

Urubu O Urubu nasce branco, pássaro da paz.

Pessoas e livros que não estão destroçados, não cumpriram seus papéis: Odeio a inércia.



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