BRINCADÁRIO - A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA E DO BRINCAR PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO MELHOR

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Centro Universitário Barão de Mauá Pós-Graduação em Literatura Brasileira

Discente: AMON SIQUEIRA

A Imporância da Literatura e do Brincar para a Construção de um Mundo Melhor

Belo Horizonte, 2016


Centro Universitário Barão de Mauá

A Importância da Literatura e do Brincar para a Construção de um Mundo Melhor

Artigo apresentado como parte do requisito para aprovação no curso de Pós-Graduação em Literatura Brasileira no Centro Universitário Barão de Mauá Discente: Amon Siqueira1 Orientador: Professor Mário Marcos Lopes

Belo Horizonte, 2016

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Curso de Pós Graduação em Literatura Brasileira, pelo Centro Universitário Barão de Mauá, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil. E-mail do autor: amonsiqueira@hotmail.com Orientador: Professor Mário Marcos Lopes


RESUMO

Este artigo propõe chamar a atenção sobre a importância da literatura como suporte necessário e imprescindível na formação do caráter das pessoas. O artigo chama a mesma atenção para a importância do ato de brincar quando do aprender a leitura do mundo, e que juntos, são ferramentas potenciais para a construção de um mundo melhor. Um mundo que nos apresente diariamente o gosto a liberdade e do bem viver. O artigo defende a necessidade da transformação do nosso país em um país de leitores. Um país de livros, Onde a literatura faça parte do dia a dia dos brasileiros, consequentemente, um país com transformações positivas. Pretende também propor ao leitor uma reflexão sobre o tema em questão para que busquem alternativas eficazes, que ambas as ações sejam naturais em nosso cotidiano e que contribuam para alcançarmos o mundo tão desejado, livre do julgo da mentira e do ódio. Um mundo mais justo. Um mundo melhor. PALAVRAS-CHAVE: Literatura; Brincadeira; Caráter; Cidadania.


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 5 2. ELO ENTRE LER E BRINCAR ................................................................................ 6 2.1 Do Lúdico à Cidadania..................................................................................... 12 2.2 Brincar ............................................................................................................. 14 3. DA VIAGEM LITERÁRIA A FORMAÇÃO DE LEITORES ..................................... 16 4. ATITUDES............................................................................................................. 18 4.1 Proposta “BRINCADÁRIO” .............................................................................. 19 4.2 A Arte como Agente Transformador ................................................................ 20 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 21 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 23


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1. INTRODUÇÃO Ao observarmos o mundo contemporâneo, nos deparamos com crises em múltiplas dimensões que evidenciam uma lógica de exclusão como base de sustentação do projeto de modernidade ocidental e que caracteriza os dias de hoje como tempos de transição social e paradigmática que requerem um intenso caminho reflexivo e ações para a promoção de sociedades mais inclusivas (Santos, 2002; SoromenhoMarques, 1998). Isso demanda um processo de transformação pessoal e social como parte da mudança civilizacional para superação das crises da modernidade. Nesse sentido, a promoção de ferramentas de estimulação do senso crítico e do pensamento criativo como base de fomento a ações transformadoras faz-se central. É nesta perspectiva que o brincar enquanto atividade lúdica e a literatura são aqui endereçados e relacionados.

No contexto brasileiro contemporâneo, a sociedade busca reagir a heranças históricas reprodutoras dessa lógica de exclusão. O impacto da ditatura militar na produção do senso crítico é um exemplo das barreiras presentes na atualidade que demandam superação. Desde o início da ditadura militar no Brasil os conceitos que norteavam a liberdade de pensamento foram tolhidos, interrompidos de forma drástica. O regime buscava reprimir o conhecimento enquanto pensamento crítico para dar lugar à produção do conhecimento como alienação, de forma a fortalecer o status quo. As tentativas de anulação do senso crítico atuavam então como reação à demanda por liberdade individual, social e política, onde não raro tais tentativas podem ser observáveis nos dias de hoje.

Com o rompimento deste mal fadado período, houve uma corrida frenética para fazer tudo o que não se podia fazer antes, desordenadamente, deixando o povo brasileiro desorientado. Precisava-se reconquistar tudo que havia perdido. Foi como uma represa que fechada por muito tempo foi-se avolumando, enchendo cada vez mais seu conteúdo. Quando as comportas se abrem permanentemente, toda a água se esvai de uma só vez passando por cima de tudo que estiver pela frente, mas depois volta a ser o curso normal do rio que livre e auto controlado segue tranquilo seu caminho. Com os brasileiros algo semelhante aconteceu: os conceitos que


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representavam a construção do pensamento critico, foram brutalmente arrancados do seio do povo. E quando houve a possibilidade real de reconstrução, uma pressa em reverter o quadro de alienação surgiu como um tsunami.

Hoje, embora muitas tentativas de reconstrução aconteçam diariamente, são imediatamente esquecidos. São como pequenos focos de incêndio na floresta, apagados com facilidade. Usam como arma o poder da mídia. Os poderes ainda trazem consigo “cacoetes” do pensamento retrogrado, que impedem de seguirmos o curso natural, que é nosso estado de liberdade. Diante deste cenário, atividades lúdicas como o brincar e a literatura podem ser relacionadas de modo a favorecer práticas reflexivas relevantes para se aprender a ler o mundo com liberdade.

Num primeiro momento o artigo propõe reflexões acerca da importância que a literatura aliada a brincadeira tem para o crescimento da humanização do ser humano enquanto cidadão, enquanto ser crítico e atuante. Num segundo momento pontua o lúdico como reforço imprescindível na formação do caráter e da cidadania. Por fim, o artigo sugere atitudes potencialmente contributivas para a realização da busca deste mundo possível. Embora sendo apenas um passo no caminho que temos para alcançar este sonho, é também - paradoxalmente - um grande passo para exercermos nossa humanidade.

2. ELO ENTRE LER E BRINCAR CONVITE Poesia É brincar com palavras Como se brinca Com bola, papagaio, pião. Só que Bola, papagaio, pião De tanto brincar Se gastam. As palavras não: Quanto mais se brinca Com elas Mais novas ficam. Como a água do rio Que é água sempre nova.


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Como cada dia Que é sempre um novo dia. Vamos brincar de poesia? (PAES, 1990, p.3)

“Ler ou não ler? Eis a questão”. É parodiando o escritor inglês Wiliam Shakespeare que inicio este artigo. O simples ato de ler, nos traz maior compreensão sobre nossas vidas, sobre como lidar com o outro e consigo mesmo. Abri-nos possibilidades indescritíveis no que se refere a escolhas. Ler nos dá um raciocínio mais humano nas decisões, reforça ou auxilia a formação de caráter e de justiça. Ler, também abre um leque de opções na comunicação com o outro, dando-nos condições de decidir quais palavras usar ou qual é a melhor forma de dizer sobre um mesmo assunto, ou seja, o melhoramento do emprego léxico da língua portuguesa.

[...] a leitura é um processo de reconhecimento e compreensão de palavras e frases que se apoiam mutuamente, levando a criança a se interessar por materiais impressos, brincando, recreando-se, e descobrindo significados, melhorando dessa forma sua linguagem e sua comunicação com outras pessoas. (ROSA; NISIO, 1998, p.44).

A ênfase de Rosa e Nisio (1998) sobre a importância atribuída à leitura no tocante a comunicação é aqui considerado um ponto de partida para discutir o elo do ato de ler ao ato de brincar. A literatura em seus diversos formatos nos possibilita tramitar entre o sonho e o real, um conhecimento compartilhado. É fato! No entanto é no brincar que se forma todo um conceito de vida, porque brincando experimentamos a realidade e aprendemos como nos portar diante da vida, a perceber o que dará certo ou não. Quando filhotes, os animais fazem simulações de luta, de caça e fazem isso brincando. Quando a mãe percebe que estão preparados, prontos para se defenderem e não morrerem de fome, ela os libera ao mundo rompendo o laço afetivo, pois sabe que os mesmos irão cumprir seu papel reproduzindo e criando seus filhotes, cumprindo assim o ciclo natural da vida.

Observando o comportamento dos animais podemos entender, de forma bem simplificada, o papel do brincar na infância e o reflexo deste na fase adulta. Mas quando se trata de seres humanos, outros conceitos são adicionados ao aprendizado, definindo melhor o papel assumido na sociedade no decorrer da vida.


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Esta complexidade, no entanto, será reforçada pela literatura que exerce um papel diferenciado no tocante a experiência e situações diversas, ou seja, soma-se na experiência adquirida até então, na observação do comportamento e experiências dos adultos e na reprodução das atitudes absorvidas no ato de brincar. Pois a literatura traz ao aprendizado do indivíduo ferramentas importantes para o crescimento humano cultural, social, político e emocional.

O que me parece fundamental deixar claro é que a leitura do mundo que é feita a partir da experiência sensorial não basta. Mas, por outro lado, não pode ser desprezada como inferior pela leitura feita a partir do mundo abstrato dos conceitos que vão da generalização ao tangível (FREIRE, Paulo. 1993, p. 30).

É a partir desse mesmo argumento que é aqui compreendida a relevância do aprendizado obtido durante a procura do conhecimento através da brincadeira por si só. É necessário que se introduza um sentido e questionamentos a estas brincadeiras. Geralmente atribuí-se esta função, unicamente como papel da escola. No entanto, faz-se crucial a participação familiar neste processo de recriação de conceitos de forma a rever cada descoberta na reprodução da realidade que a brincadeira proporciona. Adaptar os conceitos embutidos nas brincadeiras a uma nova realidade.

A medida que crescemos, a leitura nos transporta em sonhos a lugares jamais vistos ou imaginados por nós, e a situações impensadas. Tudo isso provoca diversas emoções, aventuras, reflexões e questionamentos. Aprendemos a pensar com mais clareza. Mas tudo começa na infância. Na infância se brinca. Brincando se sonha. Sonhando se aprende. É nesse sentido que se considera a intrínseca relação da leitura ao ato de brincar, levando-nos quando adultos a aliar a literatura com outras artes, pois arte é brincadeira séria onde expressamos nossas opiniões ou reproduzimos tudo que aprendemos até então com prazer. Brincadeira é criação e recriação. A exemplo: os improvisos teatrais. Recriamos nosso universo e criamos nosso estado de liberdade, assim como também, nosso direito a ela. É que o ato de criar e respeitar regras acontece, principalmente, através do brincar. Quando se brinca coletivamente são criadas regras que devem ser seguidas em respeito ao coletivo. Isso faz com que o brincar nos ensine a viver e conviver com o outro,


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respeitar regras, opiniões e diferenças, sem sermos omissos ou até mesmo submissos.

Tal como apresentado por Augusto Boal (1991), o lúdico - representado nesse contexto pelo fazer teatral

- pode atuar também como uma forma de

empoderamento através da reflexão crítica e ação. Essa mesma questão é trazida na pedagogia de Paulo Freire (1991), onde o aprender atua como instrumento de empoderamento e emancipação social (Figueiredo, 2005). O reconhecimento do lúdico e do aprendizado como caminhos emancipatórios é relevante uma vez que ambos aspectos podem ser interligados. É nesse sentido que acresce a pertinência da relação entre o brincar e a literatura como processos de aprendizagem social.

Pensar a brincadeira como processo de aprendizado social é considerar como essa atividade pode atuar no preparo aos potenciais desafios presentes ao longo da vida pessoal e social, fomentando o desenvolvimento individual e de integração comunitária. Com as brincadeiras aprendemos a lutar, a nos defender, a defender o outro e até mesmo saber a hora certa de “bater em retirada”, recuar, a perceber que estamos errados, ou seja, aprendemos com as brincadeiras a definir nosso comportamento perante a vida, com alegria e desprendimento.

Na criação da fala e da linguagem, brincando com essa maravilhosa capacidade de designar é como se o espírito estivesse constantemente saltando entre a matéria e as coisas pensadas. Por de traz de toda expressão abstrata se oculta uma metáfora, e toda metáfora são jogos de palavras. Assim ao dar expressão à vida o homem cria um outro mundo poético, ao lado da natureza. (HUIZINGA,1988, p.7).

Este elo entre o brincar e o ler nos remete assim ao lúdico, ao sonhar, ao criar e recriar. Pois bem... Se recebemos histórias, criamos histórias e se contamos histórias, propagamos e ampliamos nossa visão de mundo, nossa experiência pessoal e coletiva, e assim, mantida pela oralidade que vai sendo modificada a cada interpretação, segue seu rumo passando por gerações. Com isso a necessidade de armazena-las. Então escrevemos essas histórias, daí lemos essas histórias e com isso alcançamos um maior número de pessoas que passam também a produzir e reproduzir mais histórias. Cria-se então um ciclo de criatividade incessante e


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pulsante, despejando elementos lúdicos para fortalecer e oportunizar a criação de um adulto melhor. [...] a escrita é considerada uma forma superior de linguagem. Requer que a pessoa consiga conservar a ideia que tem em mente, ordenando-a numa determinada sequência e relação. Escrever significa relacionar signo verbal, que já tem um significado, a um signo gráfico. É planejar e esquematizar a colocação correta de palavras ou ideias no papel. [...] Enfim, a escrita é uma forma de representação da linguagem oral que passa por diversos estágios de desenvolvimento, que é caracterizada pela atividade gráfica. (ROSA; NISIO, 1998, p.59-60).

A escrita ajuda a difundir uma ideia, um conceito, um princípio. Eterniza, organiza e dá visibilidade a todos os sentimentos, apresentando ações diversas, projetando o leitor a uma realidade comum, até muitas vezes, incomum a sua realidade, através de livros e textos.

Com o aumento do poder em torno das drogas, a transição política, econômica e social no país e os novos comportamentos em torno da globalização facilitaram o acesso ao mundo repentinamente. O ser humano perdeu-se nesse emaranhado de fios, levando-o desordenadamente em direções opostas. Esses eventos fazem com que nossa identidade se perca nessa imensidão de situações repentinas, nos deixando mais selvagens e perdidos. Entendemos que tudo isso só pode ser abrandado ou até mesmo estabilizado e resolvido com o aprender a ler e interpretar o mundo que vivemos e recria-lo mais humanizado, através da literatura e do ato de brincar.

Portanto, é aqui na infância que a cultura de um povo se forma, é aqui que aprendemos a aprender, aqui que os comportamentos e atitudes futuras se definem. Os adultos de hoje se mostram despreparados e perdidos no cenário cultural e passam este despreparo para as crianças que crescem em conflito com o novo.

Muitos acontecimentos foram responsáveis por tamanho atordoamento na sociedade brasileira, acrescento aqui a velocidade com que estes acontecimentos se

apresentaram:

transições

políticas,

quebra

de

paradigmas

repentinos,

reavaliações comportamentais e readaptações sociais, mas, sobretudo a ascensão meteórica da internet onde as pessoas não conseguiram acompanhar, tamanha


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evolução, na mesma velocidade. Não podemos nunca perder o que foi aprendido e adquirido tempos atrás, é nossa base principal, nossa tradição, nosso alicerce. Segundo KISHIMOTO (1999: 15):

A tradicionalidade e universalidade dos jogos assenta-se no fato de que povos distintos e antigos como os da Grécia e Oriente brincaram de amarelinha, de empinar papagaios, jogar pedrinhas e até hoje as crianças o fazem quase da mesma forma. Esses jogos foram transmitidos de geração em geração através de conhecimentos empíricos e permanecem na memória infantil.

É importante enfatizar, sim, o caráter cultural que a brincadeira tem, pois passa de geração a geração, muitas vezes se adaptando a novos conceitos, a novas regras adquiridas pela sociedade atual sem perder sua essência, que é a alegria. Não podemos perder contato com nossa tradição, nosso folclore e brincadeiras antigas. São a base principal de nossa cultura.

Assim como na construção de uma edificação, após o alicerce, que é a base estrutural da mesma, o design pode ser misturado a tendências estéticas usando materiais fortes, resistentes, de última geração. Oswald de Andrade, em 1922, quando da semana de arte moderna, já se preocupava com a invasão da cultura externa, defendia a renovação cultural brasileira tendo como base a cultura indígena criando assim, a “Antropofagia” cultural. Com a proposta de sugar dos invasores o que tinham de melhor, “comendo-os”, devorando e absorvendo sua cultura, ao mesmo tempo fortalecendo e enriquecendo a nossa cultura.

A fusão da literatura com o brincar propicia tal ação, pois a literatura possibilita acesso a outras culturas, a outros exemplos de atitudes e até mesmo brincadeiras novas. As informações são trocadas constantemente. A internet ajuda nesse sentido, pois apresenta todas as culturas do mundo. Mas não podemos perder em hipótese nenhuma nossas referências primeiras, nossa base estrutural. A de se defender nossa cultura para que possamos mistura-la sem dissolvê-la.


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È imprescindível que entendamos a importância do brincar e da literatura. Quando nascemos aprendemos imediatamente a brincar. Nossos pais brincam conosco pra nos fazer rir, daí em diante brincamos o tempo todo, aguçando nossos sentidos e sentimentos. A brincadeira passa a ser nosso universo maior. Com ela aprendemos a ler o mundo e brincando seguimos interpretando-o diariamente. Ora, se assim é nossa natureza é também natural que aprendamos literatura brincando, então seguimos lendo e escrevendo pois brincar é sinônimo de prazer, alegria, diversão e precisamos de prazer, de ser alegres e divertidos em tudo na vida. Até nas coisas sérias é necessário estar feliz. Por tanto a alegria de brincar e a literatura devem andar sempre juntas semeando nossa alegria de viver.

2.1 Do Lúdico à Cidadania

Para a formação do caráter de uma criança é imperativo o acesso a leitura ainda na gestação, contando histórias, lendo livros infantis. Os pais devem fazer este primeiro contato, pois o som e entonação das palavras transportam-na a emoções diversas, de conforto, de carinho, de alegria, etc. Portanto, existe uma importância clara na aprendizagem de uma criança mesmo ainda em formação física, pois este contato primeiro com os pais propicia a esta criança, a este feto, emoções diversas, consequentemente, um começo de preparação no que se refere ao que será enfrentado por ela num mundo até então desconhecido.

A medida que crescemos, a presença da contação de histórias, seja por tradição oral ou através da literatura escrita, se faz necessária ao nosso dia-a-dia como auxiliadora e mediadora dos conceito antigos e novos conceitos adaptados a uma realidade mais atual onde através do lúdico cria mensagens e signos próprios que quando misturados à realidade de cada indivíduo ativa mecanismos de questionamentos e emoções que reagem de formas diferenciadas, mas ao mesmo tempo dialogam com o coletivo. Estas reações proporcionam uma base consistente em grupo, onde contribui com sentimentos saudáveis para formação da cidadania.

A contribuição que a literatura, neste caso infantil, apresenta, transpõe barreiras infindáveis, pois abre um leque de possibilidades de interpretações e causa


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questionamentos, abre oportunidade de debates, aumenta o embasamento crítico. Este exercício em torno da literatura é por si só um exercício de cidadania.

Abramovich (1997) vê a literatura como uma aprendizagem estética, em que as histórias lidas ou contadas explicam o mundo de um jeito que o leitor possa se situar em um universo que é dele. É um conhecimento ideal de mundos diferentes, culturas, pessoas ou situações diversas, que se caracterizam nas descobertas das emoções e sentimentos, dos caminhos internos das relações pela busca do conhecer e de se reconhecer.

Existe uma linha tênue entre o bem e o mal, o amor e o ódio, o humano e o desumano. Todos guardamos dentro de nós diversos tipos de sentimentos e atitudes esperando para serem ativadas a qualquer momento. Alguns tendem a libertar sentimentos mais cruéis, já outros, os mais doces sentimentos. A busca deste equilíbrio é a grande façanha percorrida pela humanidade ao longo do tempo. A convivência pacífica destas ideologias é imprescindível para que tenhamos um futuro de respeitos diversos. Respeitar a si mesmo, respeitar o outro, respeitar o meio ambiente, respeitar opiniões, etc. Parece utopia, parece sonho, mas “sonhos não envelhecem” 2. Sonhar é acreditar no possível.

Para a busca deste sonho temos que manter o que é lúdico vivo, pois o lúdico exercita nosso dever de cidadãos, fortalecendo valores, estes gigantes adormecidos que necessitam de um grande “cutucão” para que possam despertar e nos orientar em nosso caminho. É no lúdico que acreditamos no possível, no tangível. É no lúdico que fazemos o “teste drive” da realidade. Nele, damos vazão à fantasia e selecionamos em que acreditar.

A literatura reforça bem isso enfatizando valores de maneira lúdica. O lúdico anda de mãos dadas, tanto com as brincadeiras como a literatura. A ludicidade é peça fundamental para o desenvolvimento da criança e também do adulto, pois com ela, sonhamos e se sonhamos transcendemos nossas barreiras e nos projetamos a caminho de realizações futuras.

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Parte da letra da música “Clube da esquina 2” de Márcio e Lô Borges


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2.2 Brincar

A declaração dos Direitos das Crianças da Organização das Nações Unidas de 1959 estabelece em seu 7º artigo que: “.... A criança deve ter a oportunidade de participar de jogos e brincadeiras, dirigidos, sempre que possível, para a sua educação. A sociedade e as autoridades devem se esforçar para promover o exercício deste direito.” Hoje brincar é um direito adquirido por lei. É uma conquista importantíssima para a sociedade brasileira. No entanto, é uma lei que não deveria ser preciso criar.

Brincar é parte natural do processo de aprendizagem de uma criança. É o elo forte para um crescimento saudável, é a simulação do que é real, é experimentação. Tolher este direito da criança é joga-la a uma jaula cheia de leões sem ensina-la o ofício de domador. Grandes serão as possibilidades de morte do caráter, morte de conceitos básicos de sobrevivência e outras mortes. Não poder brincar é “pena máxima” para uma criança. Seja ao não poder brincar por motivo de trabalho infantil, ou mesmo, excesso de ocupações como: cursos, academias, etc., com horários prémarcados e obrigações excessivas e pré-definidas. Brincar é um estado de liberdade plena, de experimentações diversas, de descobertas importantes, de criatividade, do conhecimento, do aprender sobre si mesmo e sobre lidar com o outro.

A força da brincadeira é tanta que alguns adultos ao deixarem de brincar, deixam também de viver. Tornam-se pessoas más, sofridas, carrancudas e incapazes de aceitar que podem amar ou até mesmo sorrir. Normalmente são as mesmas pessoas que tolhem a criança de sua liberdade. São aquelas que dizem: “quando eu tinha sua idade já trabalhava a muito tempo”. Como se aquilo fosse uma grande vantagem, ou seja, pessoas que querem que as crianças sejam frias e fúteis iguais a elas no futuro. Felizmente a lei foi criada, agora só falta fazer valer.

(...) brincar requer tempo e espaço próprios; constitui experiências culturais, que são universais e próprios da saúde, porque facilita o crescimento, conduz aos relacionamentos grupais, podendo ser uma forma de comunicação consigo mesmo (a criança) e com os outros. (QUEIROZ; MARTINS, 2002, p.13).


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Partindo desse pressuposto, cabe-nos garantir espaços e condições saudáveis e propícias para que a criança possa exercer seu direito de brincar, interagir com o outro, ter a liberdade de crescer e aprender a ser feliz. Com tempo apropriado para brincar ela aprende que na vida existem também momentos de responsabilidades a serem cumpridas, que é a liberdade de por em prática o que aprende nas brincadeiras. O Equilíbrio entre essas duas liberdades é o que se busca para um crescimento saudável. Quando brincamos, um gatilho é ativado em nossas mentes nos remetendo a uma sucessão de sentimentos novos e emoções até então adormecidas. Questões infindas nos provocam dúvidas forçando a decidir entre opções diversas. Muitas vertentes formam-se a todo instante nos dividindo. Situações de conflito despertam o lado aventureiro que se aflora automaticamente dando forte e presente dimensão de risco. O encontro com o medo sempre assustador. Fugir ou enfrentar? Eterna dúvida. Neste período conhecemos a dor física, a dor da perda, do fracasso, a dor emocional.

Tudo isso desenvolve

mecanismos importantes que nos ajudam em nossa trajetória diária nos fazendo crescer. Essas ações, por ser uma simulação do real de tudo que observamos na vida, nos remetem a um estado de realidade onde aprendemos a sermos mais humanos em nossas ações, pois é nossa natureza maior.

Uma questão relevante que podemos observar no ato de brincar coletivo, é a questão da liderança. Quando brincamos alguém se destaca enquanto líder, desperta reações claras de liderança, demonstra delegar tarefas com facilidade, trazer ideia firmes, sem medo de errar. Esse fato pode transpor a criança a uma posição de destaque na sociedade quando na fase adulta. Oportuniza a possibilidade, também, de exercer os conceitos democráticos e sociais. Na posição de liderança uma criança se depara com responsabilidade e decisões difíceis, pois envolvem situações diversas de disputas, de proteção do grupo liderado, de estratégia, que refletirão em sua vida adulta.

Segundo Vigotski (1984), é enorme a influência do brinquedo no desenvolvimento de uma criança. É no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva, ao invés de uma esfera visual externa, dependendo das motivações e tendências internas, e não por incentivos fornecidos por objetos externos. Ainda de acordo com Vigotski (1984) a brincadeira cria para as crianças uma “zona de desenvolvimento


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proximal” que não é outra coisa senão a distância entre o nível atual de desenvolvimento, determinado pela capacidade de resolver independentemente um problema, e o nível atual de desenvolvimento potencial, determinado através da resolução de um problema sob a orientação de um adulto ou com a colaboração de um companheiro mais capaz. A partir do exposto, pode-se considerar que o ato lúdico do brincar exerce no indivíduo uma sucessão de experimentações e exercícios que posteriormente estarão sendo colocados em prática no seu cotidiano, seja apenas cumprindo regras, seja também liderando. 3. DA VIAGEM LITERÁRIA A FORMAÇÃO DE LEITORES Quando lemos em voz alta, a literatura remete o ouvinte a lugares incríveis, muitas vezes a lugares inexistentes criados pelo sonho, ou apenas a lugares que gostariam de ir e não tiveram ainda oportunidade, ou até mesmo, a lugares que conhecem muito bem. Os coloca em situações fantásticas, impossíveis de viver, ou não. Proporciona sensações inesperadas, emoções diversas convidando o ouvinte a viajar pela imaginação. Com isso, passam a questionar, a ter opiniões, a querer participar ativamente de tudo. Toda essa “viagem” literária cria a necessidade de estar sempre com acesso direto a informações, a pesquisas constantes e descobrem que a literatura lhes fornece combustível suficiente para interagir com o mundo e aprender a lê-lo, a interpreta-lo e até mesmo contribuir para mudança e quebra dos paradigmas. Portanto, reafirmamos aqui que a literatura aplicada, principalmente na infância é a mola propulsora para construção de um cidadão mais atuante e participativo.

Quando aprendemos a pensar e questionar com sabedoria, calcados na literatura e na leitura do mundo, criamos a necessidade de expressar, de externar todo turbilhão de pensamentos e questionamentos guardados. Como uma panela de pressão que precisa soltar toda a pressão contida em seu interior, soltamos nossa pressão através da literatura, seja por anotações, seja por textos, ou mesmo livros. Com opiniões diretas, subentendidas ou mesmo metaforicamente, podemos expressar nossa impressão de mundo. Partilhamos nossas opiniões ao máximo de pessoas


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possível, revemos as nossas, debatemos e novamente reescrevemos, nem que seja apenas para nossa melhor compreensão do assunto em questão.

Entendemos a literatura como uma enorme caverna cuja porta vive trancada. Em seu interior, uma sucessão de túneis. Quando ainda não temos acesso à chave da porta e não sabemos, ou, não entendemos o seu conteúdo, passamos diante daquela porta trancada e a olhamos com grande curiosidade. Queremos saber o que tem dentro. Olhamos pela vidraça embaçada, suja, tentando descobrir detalhes daqueles contornos, daquelas silhuetas que ali se escondem. Tentamos deduzir, adivinhar, olhamos e não entendemos seu conteúdo, então criamos outras histórias, outras interpretações para parecer que deciframos. Até que um dia, alguém nos entrega a chave daquela porta. Uma excitação nos percorre o corpo. Uma palpitação ecoa nosso peito na medida em que a porta vai se abrindo. Parece que leva uma eternidade. Quando finalmente a abrimos por completo, uma infinidade de túneis se apresenta diante dos nossos olhos. Cada túnel com luzes de cores diferentes. São lindos! Tuneis que se cruzam em algum momento de sua trajetória e são infinitos. Ou seja, é um mundo dentro de um mundo, que esta dentro de um mundo,...

A literatura é algo mágico e fascinante que brinca com o real e o imaginário. Provoca curiosidades mis. Revela-nos o utópico e cria outras utopias. Um toque mágico que de uma montanha enorme de letras misturadas, confusas, umas sobre as outras, transforma-se em verdades, sonhos, emoções, sentimentos, atitudes, mas, sobretudo consciência. Este mundo quando se abri para uma criança ou mesmo para um adulto, completa todo o aprendizado adquirido até então. Completa tudo que se aprendeu com a leitura do mundo. Precisamos, sim, transformar este país em um país de leitores, pois todos temos direito a descoberta do mundo. Ao que é mágico, ao que é belo.

A partir da compreensão desse direito que aprendemos nosso dever de construir e apresentar o mundo da literatura, da leitura e do escrever a todo cidadão brasileiro. E toda essa construção literária se faz necessária na medida em que nos apropriamos de signos importantes ao nosso desenvolvimento intelectual. Através da literatura reinventamos o mundo milhões de vezes, e com isso crescemos, e nos


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tornamos fortes, e questionamos, e contribuímos para a construção de um mundo melhor. 4. ATITUDES

Sugerimos que atitudes sejam tomadas pelo poder público e ou pelo cidadão brasileiro com criações de espaços e condições para que o brincar e a literatura possam livremente cumprir seu papel de conscientização do individuo. Que cada ação seja um fator importante na construção desta oportunidade. Que cada uma se agrupe a outra sem competição, mas sim como complemento a um propósito maior que é aprendermos a sermos mais humanos e conscientes. Que isso faça parte da cultura brasileira, que se transforme em uma ação natural. É sabido que espaços de socialização, aprendizagem e organização do indivíduo já existem. Espaços como associações de bairro, centros culturais, bibliotecas públicas e uma infinidade de outros espaços que contribuem a esses objetivos.

A sugestão que aqui apresentamos, de certa forma, une algumas dessas entidades em um único projeto e acrescentara formas didáticas que auxiliarão, no emprego do universo do brincar e a da literatura para o objetivo final que é o exercício da cidadania. A união dessas ideias num só espaço e o acréscimo de outras atitudes desenvolve uma oportunidade única de abrir debates sobre o que podemos fazer para melhorar nosso convívio coletivo e contribuir para um mundo mais justo e solidário. Para que o mundo seja agradável de viver é extremamente necessário que comecemos a mudá-lo dentro de nós. Mudando a nós mesmos já podemos então, mudar a nossa casa para depois continuarmos mudando até que fique agradável de viver.

A proposta que aqui apresentamos não tem, em momento nenhum, a pretensão de resolver todas as questões que hoje sofremos em nossa sociedade, como a questão da violência desenfreada, da corrupção e abuso de poder, do descaso a cultura e a educação, etc. Não! Mas a apresentamos apenas como uma pequena porção de acréscimo a um esforço coletivo de mudanças. Engrossar frentes preocupadas com mudanças positivas. Acreditamos fazer parte de um crescendo de boas ideias que


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se somarão num futuro próximo, contribuindo para nos tornarmos mais sensatos e humanos. 4.1 Proposta “BRINCADÁRIO” Brincando com as palavras “brincadeira e literário” surgiu o neologismo “Brincadário”. A proposta se baseia na criação de espaços públicos de encontros entre adultos e crianças, pais e filhos, irmãos, amigos. Um espaço que abrigue uma biblioteca, que além de livros para empréstimos, haja troca de livros usados, grupos de estudos literários, criação de brinquedos usando método de reciclagem e brinquedos alternativos artesanais. Adultos contribuirão ensinando, sob supervisão de monitores, a criar brinquedos com materiais recicláveis, como: papagaios, pipas, carrinho de rolimã, porquinhos de jiló, e muito mais aprendidos na infância em outros tempos. Contribuirão lendo histórias, e contando histórias que aprenderam na infância ou das próprias vivências.

Propomos também, que se crie uma ludoteca, que exponha e empreste os brinquedos criados no “Brincadário”. Com o objetivo de aproximação e integração entre pais e filhos, irmãos e irmãs, adultos e crianças, a sociedade de um modo geral, sugerimos que seja feito um senso na comunidade em questão, identificando todos os artistas, artesãos, costureiras, dentre outros, abrigando todas as profissões e ou habilidades existentes entre os moradores da localidade, para que se estude e proponha um sistema de trocas e contribuições entre eles.

Esses momentos de integração poderá fazer com que adultos reaprendam o significado do brincar, e as crianças aprendam a se solidarizar, a socializar, a repartir. “Brincadário” também é um espaço para o despertar das artes, proporcionando oficinas como: contação de histórias, oficinas de teatro, música, circo, danças diversas, pinturas, esculturas, cinema, literatura, costura, culinária, etc. Mas, sobretudo, um espaço de comunhão, de socialização, de convívio, um espaço de troca e respeito, de experimentações.

Um objetivo central é que seja um espaço onde cada indivíduo possa compartilhar o que aprendeu e vivenciou na infância e despertar sua criança interior. Onde a


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criança aprenda o significado real das palavras coletivo, harmonia, confiança. Este tipo de trabalho poderá ser feito dentro e em parceria com centros culturais já existentes. A proposta é que seja um projeto descentralizado, aberto a todas as pessoas, classes sociais, raças, credos, e em todos os bairros da cidade. Nessa proposta, cada oficina apresentará o resultado do seu trabalho em todos os espaços “Brincadário” e que haja troca entre eles, discutindo suas experiências e resultados. Cada “Brincadário” deverá ter coordenadores, oficineiros e monitores que auxiliarão e farão o intercâmbio. Sucintamente, esta é apenas uma pequena ideia, que pretensiosamente, acreditamos contribuir para a construção de um mundo melhor no futuro.

4.2 A Arte como Agente Transformador

Não queremos aqui analisar o conceito de arte, apenas pontuar a importância que a arte tem para a nossa sugestão de projeto. A arte e consequentemente o artista, são nada mais, nada menos, que interpretes dos sentimentos. Conseguem como poucos externar e muitas vezes explicar cada sentimento com minúcias. Em todas as manifestações artísticas, cada artista, sem exceção, apresenta ao público sua interpretação dos sentimentos, suas vivências, seu aprendizado, sua interpretação de mundo. Os vários formatos artísticos propiciam, em suas manifestações, uma oportunidade impar de dizer o que cada um pensa sobre um determinado fato, uma determinada ideia, ou questionar comportamentos, se posicionar politicamente, enfim, a arte proporciona interação e integração social de extrema importância.

A literatura segue seu papel com grande maestria. Através da literatura, além de todas as funções aqui descritas, atua como reforço imprescindível nos quesitos educação e comunicação. A literatura é um elemento-chave que se faz presente em todas as formas de manifestações artísticas. Como letra de música, como roteiro de filme ou teatro, como denominação ou explicação de um conceito de uma peça de artesanato, de dança, de moda ou de escultura, como livro, texto, etc. Em todo momento de arte a literatura se faz presente. Todas as linguagens artísticas por se só é um turbilhão de sentimentos e exercício de consciência. É claro que mesmo a arte, em alguns momentos, não contribui tanto assim para o exercício da


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consciência, pois também pode e é manipulada por pessoas que visam interesses próprios, financeiros, de poder. Como tudo na vida, pode ser usada para o bem ou não. Com essa observação, não estamos desmerecendo o trabalho do artista, nunca, mas sim da manipulação em torno dele, falamos daqueles que não tem alma de artista.

Independente disso, a arte exerce um papel preponderante para o desenvolvimento motor, desenvolvimento psicológico, de relacionamento, de consciência crítica e o afloramento dos sentimentos. Todas essas funções exercem influencia direta no comportamento das pessoas, em suas manifestações pessoais e coletivas. Determinam motivação, reação e atitude. Por tanto a presença da arte como agente transformador no projeto “Brincadário” é de extrema importância, porque não dizer, primordial para seu sucesso. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não estamos afirmando que apenas as crianças devam ler e brincar para um futuro melhor, que os efeitos dessa atitude sejam apenas para melhoria de um adulto futuro, mas também ao adulto de hoje que precisa muito entender a sua criança interior. Ser criança, no sentido do contato consigo mesmo, ter um encontro direto com o seu melhor, aos valores de respeito, honestidade, cidadania, e humanidade. Ser verdadeiro em suas ações e atitudes. Tudo isso não se deve apenas a idade, mas, sobretudo à reconstituição da consciência libertária absorvida no decorrer da vida, assim como do que aprendemos nas ações e brincadeira que exercemos para formação do nosso caráter.

Em qualquer idade se pode e se deve aprender. Brincar é sinônimo de alegria e a alegria nos torna seres humanos melhores. Nos deixa mais brandos e confiantes, nossa autoestima se especializa em crescer. Em estado de alegria há maior abertura para a reflexão e para a crítica construtiva, elementos essenciais para a promoção do diálogo. Brincar desperta em nós sentimentos abandonados, esquecidos pela dor, pelo rancor, pela desesperança. Mas, conclamamos que sejam sentimentos reais atrelados a reconstrução do cultural, a uma reconstrução coletiva. O exercício do brincar reconhece nossa cultura, pois a cultura brasileira é alegre e


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sua reconstrução deve ser baseada no respeito ao antigo e ao novo entendimento de seu conteúdo adquirido no habito de brincar, no prazer de ser alegre.

Não podemos, no entanto, aceitar a alegria de brincar, a alegria de viver, como uma forma alienante, onde, brincamos, dançamos para esconder nossos problemas reais e com data marcada. Mas sim, como celebração de soluções destes problemas, como celebração da consciência, como exercício da cidadania. No entanto, para alcançar tais “prêmios” precisamos também fazer do povo brasileiro um povo leitor e com isso um povo pensante, participante, questionador, atuante e livre de amarras. A literatura e o brincar emitem vibrações positivas ao nosso bem viver. São ferramentas base para a construção de um mundo melhor, criando assim, uma sociedade igualitária e mais justa.


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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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