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Enquanto isso, no Poder Legislativo... rém, houve uma pressão da sociedade, pois “doía nos olhos de quem via”, até De um lado a população de For- que eles foram empurrados para a zona taleza sofre com as conseqüências das periférica. Fortaleza tem hoje cerca de enchentes, do outro o Poder Legislativo 92 áreas de risco, reconhecidas pela dá a sua versão sobre o estado de cala- Defesa Civil do Estado. “Corresponde midade em que se encontra a cidade. a mais ou menos 19 mil famílias que Há projetos de lei e comissões que pro- vivem em total situação de exclusão põem solucionar o sofrimento das fa- social”, especifica o vereador. mílias moradoras das áreas de risco e Segundo Pinheiro, falta ao Municonscientizar os cearenses em geral cípio uma política habitacional. Ele sobre como agir para que os proble- informa que só em dezembro de 2003, mas diminuam. depois de 12 anos, foi criado um órO vereador Rogério Pinheiro gão para tentar solucionar o problema (PSB), eleito relator da Comissão Es- da habitação em Fortaleza. É o pecial das Ações Preventivas e Habitafor, mantido com os recursos feEmergenciais em Áreas de Risco, ex- derais. O relator da comissão especial plica que essas áreas são conseqüênci- afirma que o Estado “tem feito interas da exclusão social. São pessoas sem venções superficiais e o Município renda e moradia que buscam locais que quase nenhuma em termos de política não estão sujeitos à especulação imo- habitacional”. Já quando o assunto é o biliária. “O grande agravante é que os meio ambiente, o poder público é o terrenos são, principalmente, de preser- maior responsável pelo desequilíbrio vação ambiental ambiental na como as margens cidade. Tanto de rios, lagoas, eno Governo do “Isso é uma característica costas dos morros, Estado como a do sistema capitalista: uns dunas, etc. O resulPrefeitura tado é um impacto têm renda e podem comconstroem ediambiental, pois os fícios e dão prar suas casas e outros no moradores destroalvará de constêm e buscam morar nesem as matas que trução em áretêm o papel fundaas inadequases lugares” mental de evitar a das. erosão do solo e o Outro assoreamento dos rios”, diz o vereador. grande causador das enchentes é a E como inexiste um sistema de coleta impermeabilização do solo, ou seja, o de lixo nas áreas menos favorecidas, asfaltamento em determinadas zonas as pessoas utilizam os rios ou os ca- sem plano de pavimentação. “Está se nais como depósito. Conseqüentemen- asfaltando até beco sem saída”, protesta te, quando chove, as águas transbordam o vereador. Portanto, quando chove a espalhando o lixo e levando-o, muitas água não tem como ser absorvida pelo vezes, de volta para as casas e causan- solo, provocando inundações e alagado doenças. mentos. É aí que a classe média tamPara Pinheiro, além de vítimas, os bém é prejudicada, pois não tem como moradores das áreas de risco também se locomover com as ruas alagadas e contribuem com os impactos os rios assoreados. ambientais. “Isso é uma característica Autor de um Projeto de Lei Comdo sistema capitalista: uns têm renda e plementar que cria um código podem comprar suas casas e outros não ambiental que proporcione a fiscalizatêm e buscam morar nesses lugares”, ção, proteção e recuperação do meio diz o socialista Rogério Pinheiro. O ambiente de Fortaleza, Rogério Pinheivereador lembra ainda que antigamen- ro considera essencial que exista “uma te, as pessoas que migravam para a ca- campanha de conscientização para toda pital à procura de melhores condições, a população, já que não é apenas a clasmoravam embaixo dos viadutos. Po- se de baixa renda que contribui, pois
por Manuela Barroso
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nós vemos pessoas em carros importados jogando lata na rua”. Atualmente, só os líderes comunitários e as Organizações Não-governamentais que estão fazendo esse trabalho de conscientizar a sociedade. A comissão especial das Ações Preventivas e Emergenciais em Áreas de Risco começou a fazer visitas nas zonas atingidas pelas enchentes. As comunidades do Conjunto Fluminense (Parque Santa Rosa) e Cônego de Castro foram as primeiras a receber a visita da comissão formada pelos parlamentares para cobrar da Prefeitura e do Estado, ações emergenciais nas áreas de risco afetadas pelas chuvas em Fortaleza. Para a deputada estadual Gislaine Landim (PPS), a situação é uma ‘tragédia anunciada’. Ela acredita que a população pobre e desassistida não constrói suas casas no leito dos rios por opção. Segundo Landim, já foi feita a limpeza de alguns rios e riachos, mas tudo muito superficial. Em relação ao Parque Genibaú, especificamente, os moradores constroem suas casas em uma área que alaga. “Essas casas são feitas numa espécie de tela, colocando os alicerces por fora e as paredes ficam rachando”, diz a deputada.
Para acompanhar a situação, a Assembléia Legislativa lançou uma comissão mista permanente para habitação e desenvolvimento urbano. Na comunidade do Gato Morto, por exemplo, tiraram a favela e urbanizaram com quadra e pistas. “A população respeita, mas se deixam abandonadas, logo há novas invasões”, fala Gislaine. A deputada lembra que cabe ao Poder Legislativo cobrar do Executivo, “mas de concreto não podemos fazer nada”. “Tanto em nível municipal, estadual e federal eles deixaram que a situação tomasse uma dimensão grande que não dá para resolver de uma vez só”, protesta Landim, que ainda diz ser necessário um plano habitacional. O poder econômico exerce pressão sobre o poder público e permite construções desordenadas nas áreas nobres da cidade. A lei já proíbe, mas não é obedecida. E enquanto o desrespeito à legislação continuar, as autoridades deixarem os problemas acumularem e “esquecerem” que todo ano acontece a mesma coisa, muitas casas serão arrastadas e vidas serão perdidas.
Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade de Fortaleza ABRIL / 2004
ANO I - Nº 01
Duas realidades, uma só Fortaleza
Foto: Emanuela França
Deputados e vereadores discutem a situação das áreas de risco e cobram que o Governo tome providências.
Rogério Pinheiro - Vereador do PSB
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Os dois lados da moeda matéria de primeira página nos jornais todos os anos, seja pelo excesso ou falta dela, assim como o descaso das autoridades. E nenhuma prevenção para que essa situação não se repita é feita. Fortaleza cresceu desrespeitando o ambiente. Aterraram as lagoas, invadiram os rios e destruíram as matas, mas esqueceram que a resposta da natureza seria inevitável. A prefeitura espera pelo pagamento da taxa do lixo para poder limpar os bueiros da cidade enquanto a população suja as ruas e avenidas. Assumir o próprio erro e fazer cada um a sua parte é difícil quando se trata de uma sociedade acostumada em exigir soluções para os problemas que lhe afetam. Quem mora à margem do rio coloca nele a culpa das enchentes, mas esquece que não é o rio que alaga as casas, mas as casas que estão invadindo o rio. E quem invade o faz, na maioria das vezes, por absoluta necessidade. Pontuar os danos causados pelas chuvas e os milímetros que caem em cada município do Estado é a visão comum. Estamos diante de duas realidades e, quase sempre, como cidadão, fazemos essa associação, é como se a mídia cobrisse os acontecimentos de duas cidades diferentes. Fortaleza é uma só. Abordar as diferentes consequências das chuvas no Parque Genibaú e na Aldeota é uma tentativa de evidenciar a grande desigualdade a qual a sociedade é vítima.
For tale za a goniza de baix o d’água ortale taleza ag debaix baixo A quinta maior cidade do País mostra sua fragilidade, provocada por toda chuva que vem caindo nos últimos meses. Só no dia sete de março, 23 trechos de ruas e avenidas ficaram alagadas, jogos foram cancelados, o estádio Castelão virou abrigo para as famílias sem casa e, no dia seguinte, escolas não funcionaram. A cidade parou. Salta à vista a necessidade de uma escala de prioridades por parte das autoridades e maior conscientização da população para o fato de que ela também é responsável por parte dos males que a afetam nos períodos chuvosos. A falta de planejamento das obras - não se sabe por quais razões, já que conhecemos nossas estações climáticas – contribuiu muito para as calamidades vividas em Fortaleza. Do mesmo modo, a omissão das autoridades em tomar providências preventivas, muitas das quais possuem relação direta com o acontecido. Mas, é preciso levar em conta também a responsabilidade da população na prática de ações nocivas a seus próprios interesses. É o que acontece, por exemplo, quando entopem os canais e as galerias pluviais com todo tipo de detritos. É preciso que os cidadãos se sintam identificados com a administração pública, recebendo desta os meios para se conscientizarem de suas responsabilidades coletivas. No entanto, o mais comum é que os moradores de áreas de risco, por exemplo, só sejam lembrados em períodos eleitorais. E assim, passam a encarar as preocupações súbitas dos gestores como uma farsa. Não é de estranhar, portanto, que não acreditem em cooperação. Cabe aos governantes mudar esse quadro, realizando administração sintonizada com o interesse coletivo, na qual o cidadão tenha vez e voz para que assim possa fazer sua parte na prevenção de desastres como esses que estamos sendo testemunhas. por Helenira Cartaxo
Parque Genibaú Periferia
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Área nobre da cidade
e agora Sr. Prefeito como chego ao trabalho?
por Helenira Cartaxo
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uas interditadas, desordem no trânsito e quarteirões transformados em verdadeiros “riachos”. Essas são sempre as conseqüências das chuvas na região da Grande Aldeota. Mas quem será o responsável por esses alagamentos na área nobre da cidade? Alguns especialistas dizem que os problemas decorrem das falhas no sistema de drenagem do município, que não suporta o acúmulo de água. Outros falam da falta de educação dos cidadãos que jogam lixo nas ruas e provocam o entupimento de bocas-de-lobo, local por onde a água escoa. “O sistema atual de drenagem de Fortaleza foi construído quando poucas vias da cidade tinham asfalto, a grande maioria ainda era de calçamento, pedra e areia”, diz Cícero Alves, engenheiro civil da Secretaria Regional II – SER II. As manilhas, um tipo de tubo de barro que canaliza as águas da chuva, são de pequeno porte,porque boa parte da chuva era absorvida pela terra. Além disso, os bairros eram formados por casas entre terrenos, logo, a água que caia dos telhados das casas era embebida por essas áreas. Mas, Fortaleza se desenvolveu, vieram o asfalto e os prédios, e o sistema de drenaFoto: João Henrique
Expediente Jornal Laboratorio do Curso de Jornalismo - Disciplina: Projeto Experimental em Jornalismo Impresso - Universidade de Fortaleza - Unifor - Fundação Edson Queiroz - Centro de Ciências Humanas - Chanceler: Airton Queiroz - Reitor: Carlos Alberto Batista - Vice-Reitor de Ensino de Graduação: Wilhelmus Jacobus Absil - Vice-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Antônio Carlos Morano - Vice-Reitor de Extensão e Comunidade Universitária: Randal Martins Pompeu - Diretor do Centro de Ciências Humanas: José Batista de Lima - Coordenadora do Curso de Jornalismo: Erotilde Honório - Reportagem e Edição: Sheila Raquel, Emanuela França, João Henrique, Helenira Cartaxo e Manuela Barroso - Fotógrafos: Emanuela França, Fco. Viana Júnior, João Henrique e Helenira Cartaxo - Projeto Gráfico: Aldeci Tomaz - Diagramação: Aldeci Tomaz e Eduardo Freire - Professor orientador: Nilton Melo Almeida - Conselho Editorial: Eduardo Freire,Geísa Matos, Jocélio Leal, Marcelo Raulino, Nilton Almeida e Paulo Ernesto Serpa - Tiragem: 1000 exemplares - Colaboraram nesta edição: Silvia Maria Alves, Sheila Vidal, motorista Azevedo e o setor de pesquisa do Diário do Nordeste.
Aldeota
As causas de um problema. De quem é a culpa?
e agora Sr. Prefeito onde vou cozinhar?
Rafael
A falta de infra-estrutura de Fortaleza é problema antigo e notório em dias de chuva. As conseqüências são muitas e de diferentes proporções diante das desigualdades sociais que dividem a população. As fortes chuvas causam problemas tanto para os moradores do Parque Genibaú, área de risco, quanto para quem reside na grande Aldeota, área nobre de Fortaleza. A diferença está nas perdas de cada um. Edifícios de vários andares, centros comerciais, shoppings center e casas luxuosas, essa é a visão de quem passeia pelas avenida da Aldeota. Em dias de chuvas fortes, as ruas ficam completamente alagadas, dificultando a locomoção de quem necessita passar pelo bairro. Um problema para donos de carros, que sem saída, são obrigados a enfrentar as ruas alagadas e sofrem prejuízos materiais. À margem do rio Maranguapinho, no Parque Genibaú, a maioria das ruas não possui asfalto, dificultando o acesso de carros. Sem luxo, o maior edifício deve chegar a três andares. Boa parte da população mora em casebres de barro, que não possuem mais de um cômodo. Em dias de chuvas, o rio invade as casas e a água chega a cerca de um metro de altura, ou mais. Moradias destruídas, famílias desabrigadas e desespero. O cidadão perde em algumas horas o pouco que possui. O problema tem dimensão tamanha que fica impossível apontar um só culpado. A sociedade está diante de um ciclo vicioso. Chuva é
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Alves culpa a falta de educação da população
gem continuou o mesmo. O asfalto não absorve a água e os novos edifícios empoçam as águas empurrando-as para as ruas. Segundo Alves, a Prefeitura tenta redimensionar esses sistemas de drenagens, fazendo grandes obras que requer um bom tempo e altos custos. Marcelo Texeira, ex-secretário de infra-estrutura do município, destaca que os problemas das enchentes na Aldeota, estão sendo resolvidos e que a drenagem de algumas ruas, entre elas, a rua Maria Tomázia, “infelizmente não ficou pronta a tempo”. Ele acrescenta que a solução para o alagamento da rua Torres Câmara e avenida Barão de Studart, assim como da avenida Desembargador Moreira com Santos Dumont também estão sendo providenciados. “Tudo isso tem solução, só não pode ser resolvido da noi-
te para o dia”, argumenta. na hora do pico da chuva não Para Marcus Vinícius, ge- dá vazão imediata à água porrente-coordenador da que o sistema está compromemonitoria de trânsito do Con- tido pela sujeira jogada pela trole de Tráfego em Área de população”, defende. Os ponFortaleza, CTAFOR , os trans- tos críticos são as bocas-detornos no trânsito em dias de lobo, que possuem tamanho chuva são causados pelo falho mediano e servem como lixeisistema de ra para pedrenagem. “Não há áreas de risco em destres e “O problecomercianFortaleza, o que há são ma no trântes. Quanáreas não edificáveis sito é uma do chove, a invadidas de forma conseqüênágua não cia de drenaescoa pelos desordenada.” gem ruim bueiros enLaísa Gondim das águas tupidos e, pluviais. Acabam ocorrendo em alguns casos, retorna às alagamentos em determinados ruas,provocando alagampontos de depressão onde não entos. têm uma drenagem boa, traDurante o período nãozendo como conseqüências chuvoso a Prefeitura faz uma congestionamentos, comenta. ação para limpar as bocas-deCícero Alves explica que lobo e as manilhas dos sistea falta de educação do povo mas de drenagem. Porém, não comprometeu uma rede de resolve o problema de Fortadrenagem. “A rede de esgoto leza, uma cidade plana, que
não tem local de escoamento da água. “É preciso uma área de armazenamento dessa água, ou um sistema de rede integrado que leve a água ao mar”, explica Cícero Alves. Ele sugere ainda que os órgãos públicos poderiam promover campanhas de conscientização da população em relação à limpeza das ruas, ensinando a colocar o lixo para fora somente nos dias de coleta e o uso dos containers para armazenamento até o caminhão passar. Enquanto isso, os poucos terrenos que sobraram na cidade, quase todos em margens de rios, foram sendo ocupados de forma desorganizada pela população carente. “Pessoas que chegam a Fortaleza de outros lugares constroem suas casas em áreas de preservação ambiental”, disse a Chefe de Controle Ambiental da Prefeitura, Laisa Gondim. Gondim defende, ainda, que não há áreas de risco em Fortaleza, “o que há são áreas não edificáveis, as quais as pessoas invadem de forma desordenada, sem infra-estrutura começando assim uma futura área alagada, cria-se a área de risco. Basta ver um terreno limpo que eles ocupam”. “A Prefeitura retira, conscientiza e leva os moradores para outros locais, mas tem vezes que eles próprios não querem ir ou acabam voltando”, diz Cícero Alves. Quando chove, as pessoas da área de risco perdem seus móveis, roupas, comida e, às vezes, a vida. Eles são remanejados para conjuntos organizados pela Prefeitura ou Governo do Estado, alguns se reestruturam, outros vendem ou alugam os seus imóveis cadastrados e voltam para as áreas de risco.
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Prejuízos mobilizam lojistas da Aldeota
Fortaleza vive tragédia anunciada por Sheila Raquel
por João Henrique
tra motivos, por exemplo, para o bloqueio da Avenida Desembargador Moreira. Buscando uma saída para o problema, Albuquerque convocou todos
enviou seus representantes para discutir o problema. Compareceram à reunião o tutelar da Secretaria Executiva Regional II, Joaquim Neto Bezerra, e sua equipe de
Administração Shopping Aldeota Open Mall
Rua Maria Tomásia sofre com as chuvas
os superintendentes dos principais shoppings da região, como também os donos de estabelecimentos, organizações de classe (Sindilojas, CDL e Fecomércio.) e a imprensa. Em seguida, comunicou o fato a Prefeitura, que
engenheiros. Segundo Albuquerque, a intenção da Prefeitura era deixar as obras paralisadas, com as vias interditadas e os canteiros abertos, até agosto, que é o fim do período de chuvas. O que ocasionaria um prejuízo ainda
Vivendo na lama Morando desde que nasceu na mesma casa, localizada na rua Barão de Aracati, Célia Amaral Paiva, 51, não sabe informar a quanto tempo sofre com os problemas do alagamento. Todo inverno as águas invadem sua casa, mesmo tendo ela construído uma pequena barreira há mais de dez anos. Os móveis e eletrodomésticos são todos suspensos, para evitar o contato com as águas. Trabalhando como auxiliar de serviços gerais para o Governo do Estado, Célia acredita que este problema se agravou nos últimos cinco anos e que o principal motivo são os bueiros e bocas-de-lobo entupidos pelo lixo. “Só Deus sabe como sobrevivo nesta situação. Tenho que cuidar de minha mãe, ela está com 91 anos. A sorte é que ela fica na cama quase todo tempo”, lamenta Célia afirma que as autoridades e os órgãos da Prefeitura não aparecem para resolver a situação, ou melhor, chegam apenas em períodos de eleição. Devido às águas sujas, ela já contraiu a dengue e sofre com coceiras pelos braços e pernas. Enquanto o problema de Célia não é resolvido, terá que continuar entrando em sua casa através da lama ou pulando o muro.
Foto: João Henrique
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maior ao shopping. A proposta não foi aceita e lojistas ameaçaram mobilizar a população e acionar a Justiça para que as obras fossem concluídas as vias liberadas. No dia seguinte ao encontro, Avenida Desembargador Moreira foi liberada e, oito dias depois, a Rua Maria Tomásia. A Prefeitura tapou os buracos e só vai reabri-los em agosto, fim do período da quadra chuvosa e também da alta estação no comércio. Detalhe: é que os trabalhos de drenagem não estão concluídas. “O principal problema é a falta de planejamento da Prefeitura, que não conseguiu terminar as obras no prazo de seis meses e não contavam com possíveis atrasos”, afirma Paulo. Apesar do fechamento dos buracos e liberação das ruas, o prejuízo foi inevitável para alguns lojistas. A Pet Shop do Aldeota Open Mall está fechando suas portas. O estabelecimen-
Foto: João Henrique
“Só foi falta de vontade política” A afirmação é de Paulo Albuquerque, superintendente do Shopping Aldeota Open Mall. Em julho do ano passado, a Prefeitura começou a construção de obras de drenagem em várias ruas da cidade, entre elas a rua Maria Tomásia, uma das vias que dão acesso ao shopping. As obras atrasaram, mesmo com um prazo de seis meses para termina-las. O que fez coincidir o período dos trabalhos com o início do inverno. Várias obras tiveram que ser paralisadas. As da Rua Maria Tomásia se tornaram um perigo aos cidadãos, com seus postes de alta voltagem apoiados em estacas de madeira e um buraco, com mais de cinco metros de profundidade, tomado pelas águas, ou seja, nenhuma segurança para lojistas, motoristas e pedestres. Do fim de novembro até o meio de janeiro, período de alta estação para comércio, as duas principais vias de acesso ao shopping, Rua Maria Tomásia e Avenida Desembargador Moreira, estiveram fechadas. Segundo Albuquerque, a interdição causou ao shopping prejuízo de cerca de R$ 25 mil dia ou 60% de seu faturamento, colocando em risco o emprego dos funcionários das 62 lojas. Ele não encon-
Paulo Albuquerque é o responsável pela mobilização dos lojistas
to não suportou passar três meses sem clientes, já que as principais vias de acesso estavam fechadas. “Os lojistas deveriam pedir isenção ou abatimento do IPTU. Pagamos tão caro, não merecemos o tratamento que recebemos, imagine os da periferia?”, questiona Paulo Albuquerque. Quem amargou mais prejuízos está entrando individualmente na Justiça para cobrar do Poder Público um ressarcimento. É o caso do empresário Ye Chen, que teve seu carro, um vectra de placas MYQ 8530, quase “engolido” por um buraco na Rua Maria Tomásia, quando o asfalto cedeu, devido às fortes chuvas. Engenheiros alertam que como a obra não foi concluída, o paliativo de tapar buracos sem a devida drenagem pode ocasionar novos problemas com a continuidade das chuvas.
Foi preciso cair chuvas atípicas para que se descobrisse que Fortaleza, a quinta capital do País, é uma cidade sem infra-estrutura física para suportar o inverno. Antecedentes não faltaram. A cada estação invernosa, qualquer chuva já deixava as ruas e avenidas alagadas e transformava a vida dos fortalezenses num verdadeiro caos. O mapa do perigo também foi traçado. Segundo dados da Defesa Civil do Estado, no ano passado, foram identificadas 82 áreas de risco na região metropolitana. A Assembléia Legislativa nomeou Comissão Especial para Acompanhar os Efeitos das Chuvas. Seus membros, de 14 de abril a 27 de junho de 2003, realizaram 16 visitas a diferentes comunidades. Um relatório com mais de cem páginas foi preparado, apontando riscos de deslizamentos e inundações em cada uma das áreas elencadas. O curioso é que nesse período, a Fundação Cearense de Metereologia (Funceme) ainda não previa o “inverno atípico”. O relatório apontou ainda como elemento indutor à formação de áreas de risco a ocupação desordenada do solo urbano – famílias habitando áreas livre e de preservação ambiental - , alto índice de desemprego, êxodo rural e a ausência de manejo ou a inadequação da bacia hídrica de Fortaleza.Mas a falta de planejamento urbano não atinge só a periferia. Na área nobre da cidade, e também no Centro, proliferaram construções que não deixam espaço para o escoamento da água, e não observaram os mínimos critérios de preservação do meio ambiente. Resultado, a cada chuva, não atípica, mas freqüente, a cidade inteira fica alagada. A Prefeitura de Fortaleza, também no ano passado, anunciou a solução para os “alagamentos históricos” dos bairros Centro e Aldeota. Uma grande obra de drenagem foi iniciada, mas faltou rigor no cumprimento do cronograma de trabalho. As chuvas vieram em janeiro e a situação, já incômoda, se agravou. Engarrafamentos quilométricos, calçadas que afundaram, enormes buracos e carros
submersos, foi o que se viu nos primeiros três meses do ano. Tudo isso somado a prejuízos de moradores, empresários e funcionários, tendo em vista que se trata dos dois bairros mais comerciais da cidade. Em dia de chuva, o fortalezense sofria ao ficar em casa ou ir para o trabalho. Prejuízos materiais à parte, o inverno confirmou a tragédia anunciada nas áreas de risco. Só com a chuva que caiu nos últimos dias 6 e 7 de março, 68 áreas da cidade ficaram submersas,
No último dia 12 de março, o prefeito decretou calamidade pública em Fortaleza por conta das chuvas. Para o atendimento emergencial à população serão necessários cerca de R$ 2 milhões, fora as obras de infra-estrutura. Segundo Lúcio Bruno, como abril é tradicionalmente o mês de inverno mais forte, a situação pode se agravar se providências urgentes não forem tomadas. Porém, os recursos federais estão previstos para ser repassados até junho. O Ministério da Integração Nacional ain-
do Parque Genibaú à Barra do Ceará. Cento e oitenta famílias perderam suas casas e vivem hoje em 26 abrigos mantidos pela Prefeitura. E o mais grave: cinco pessoas morreram. Na ocasião, o coordenador estadual da Defesa Civil, João Alfredo Pinheiro, minimizou a situação dizendo que a chuva foi fora do normal. Já o coordenador da Defesa Civil do município, Lúcio Bruno, disse que o prefeito Juraci Magalhães iria “garantir leite e pão” para as famílias. Os 16 técnicos do Estado e os 18 do município não deram conta das quase duzentas ocorrências registradas naquele final de semana.
da aguarda receber o relatório de avaliação de danos (Avadan) do município, para iniciar o processo de liberação. As chuvas do trimestre deixaram no Ceará um prejuízo que já ultrapassa R$ 34 milhões. Segundo cálculos da Secretaria de Ação Social do Estado, esse montante não inclui recuperação de estradas, unidades carcerárias, recuperação e reconstrução de açudes e pontes nos 89 municípios atingidos pelas chuvas. Somando tudo isso, o valor ultrapassa R$ 250 milhões, no entanto, até o momento o Governo federal anunciou a liberação de pouco
mais de R$ 6 milhões para o Estado. Até março, de acordo com a Defesa Civil estadual, o Ceará gastou apenas R$ 4 ,5 milhões com serviços relacionados aos danos das chuvas. Foram solicitadas ao Governo federal 66.165 cestas básicas, mas só chegaram ao Estado 17 mil. Enquanto isso, a população vem fazendo sua parte e se mobilizando para ajudar os desabrigados. O programa Ceará Solidário, que conta com o apoio de supermercados, igreja, Corpo de Bombeiros, e 34 empresas particulares, já arrecadou quase 61 toneladas de alimentos e mais de 54 mil quilos de roupas. A Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) prometeu destinar 220 toneladas de alimento pré-cozido até a primeira quinzena de abril. O Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo doou dez toneladas de leite. Em visita ao Nordeste, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantiu que não permitiria que nenhuma família desabrigada voltasse a ocupar áreas de risco. Além de destinar cerca de R$ 4 milhões para a construção de casas populares no Ceará, o presidente, por meio da Caixa Econômica Federal, liberou recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para os trabalhadores que tiveram suas casas destruídas. Resta saber qual o impacto desses recursos em um déficit habitacional de 190 mil moradias. Isso sem contar no projeto de urbanização a ser desenvolvido em tais áreas para evitar o retorno das famílias. O caso é complexo, envolve não só qualidade de vida, mas risco de morte, e segundo o relatório da Assembléia Legislativa, precisa de ações ousadas e conjuntas dos três níveis do Executivo. Enquanto isso, na área nobre, moradores amargam prejuízos, comerciantes baixam as portas, demitem funcionários. Outros buscam a Justiça a fim de ser ressarcidos, ou mesmo mudam de endereço, para no próximo inverno não ver tudo se repetir. Se providências concretas não forem tomadas, em pouco tempo faltará até lugar para “ver o inverno passar”.
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que foi construída uma ponte que interligasse o Parque Genibaú aos outros bairros. Agora, em dias de chuva, a ponte passa a adquirir outra função. Com o rio cheio e independente de toda a sujeira, os garotos se arriscam fazendo dela uma diversão. As crianças não se intimidam com o perigo de pular da ponte ou de serem carregadas por uma enchente. Com água suja e contaminada, o rio é fonte de muitas doenças, elas se agravam no período chuvoso, aumentando a preocupação das famílias que sofrem com a precariedade do atendimento nos postos de saúde. É feito campanha de conscientização sobre limpeza, mas “o povo vive morrendo de fome, acha
Rio Maranguapinho é uma ameça constante no Parque Genibaú enquanto famílias esperam providências do poder público. Por Emanuela França
A chuva agrava os problemas da família de Elias Aragão
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Foto: Fco. Viana Jr.
enchentes e diminuir os prejuízos. “Se disser que está ruim é pior, tem que agüentar o rojão”. É pensando assim que milhares de pessoas levam a vida e encaram as dificuldades. Se faltou dinheiro para comprar o gás ou se a enchente levou o fogão, não importa: com as descobertas da era da pedra eles fazem o fogo na terra e, quando tem, esquentam a comida. E assim a rotina prossegue, até que Deus queira que as coisas melhorem. As chuvas? É esperar que esse período passe e aguardar o ano que vem. Enquanto isso o número de famílias nas áreas de risco aumenta, agravando ainda mais os problemas. Quem sabe, com sorte, São Pedro não mande tanta chuva em 2005.
Mª das Graças comenta os efeitos do Rio Maraguapinho
Genibaú desistiu de participar dessa maratona entre as casas alagadas e os abrigos provisórios. É o que comenta Maria das Graças dos Santos Perreira, moradora da Comunidade do Capim e integrante do Centro de Formação Dom Hélder Câmara. “Esse ano as pessoas nem quiseram sair das casas, já estão acostumadas com essa enchente”, diz ela. A saída é pedir para São Pedro fechar as torneiras lá em cima. Segundo os moradores, nem visitas às áreas são feitas pela Defesa Civil. Quem procura a Secretaria Executiva Regional V ainda consegue lona ou cesta básica. As perdas com as chuvas são tantas, que até a esperança das pessoas parece ter sido carregada pelas enchentes. Nem promessas em relação à entrega de novas moradias são feitas para os prejudicados com as chuvas de 2004. Depois de três anos, tempo que as famílias atingi-
das pelas chuvas em 2001 e 2002 no próprio Parque Genibaú tiveram que esperar, a Prefeitura de Fortaleza entregou em fevereiro deste ano os 132 apartamentos prometidos. Localizado na zona oeste de Fortaleza, o Parque Genibaú limita-se ao norte com o bairro Antônio Bezerra, ao sul com o Conjunto Ceará, ao nascente com o Rio Maranguape, ao poente com a via férrea Fortaleza - Teresina, abrangendo trechos da ferrovia que limita Fortaleza a Caucaia, e a leste ao KM 10 da BR-222. Diante da grandeza de nossa cidade e, principalmente do estado do Ceará, a situação do Genibaú é apenas um exemplo das consequências das chuvas. O Rio Maranguapinho foi um fator de grande dificuldade no começo da formação do bairro. Ele serviu, durante muito tempo, de elemento isolador das áreas vizinhas, até
Revolta e conformação no dia-a-dia dos moradores da Comunidade do Capim Francisca Rodrigues da Costa é mais uma vítima das chuvas em Fortaleza Na tentativa de barrar a água, ela foi construindo aos poucos a casa de tijolos. Não adiantou. Com 65 anos, Francisca Rodrigues da Costa resiste como pode aos estragos causados pelas fortes chuvas registradas neste ano. Residente na rua Rio Verde, 409, na Comunidade do Capim, bairro Parque Genibaú, ela é mais uma vítima do Rio Maranguapinho. A casa de dois cômodos não tem piso. De cima da cama, a filha de Francisca varre a sujeira que invade a casa. Geane Rodrigues da Costa, de
29 anos, é deficiente física e mental. Um risco ainda maior em dias de enchente devido à dificuldade de locomoção. Preocupada, a dona da casa desabafa sobre a vontade de sair do local. Os vizinhos, que com esforço melhoraram as casas, antes construídas com barro, madeira e lona, abandonaram a região devido à estrutura ameaçada. Para quem ficou, o perigo só aumenta. As fortes chuvas elevam o volume de água do Rio Maranguapinho e provocam enchentes na comunidade, afe-
tando os imóveis que podem cair a qualquer instante. Em um bairro onde o desemprego é muito alto, a situação de pobreza e fome agra-
va ainda mais a situação. A aposentadoria que Francisca recebe pela filha é o único sustento da casa. Com R$ 164,00 (cento e sessenta e quatro re-
Foto: Fco. Viana Jr.
tura. Dona de um pequeno comércio, em dia de enchente o marido dela não sai de casa, temendo saque das mercadorias. A solidariedade das pessoas é grande, mas sem recursos, tudo que a associação pode fazer em dia de chuva forte é levar os moradores para esperar o nível da água baixar num abrigo provisório. Maria das Graças da Silva, coordenadora da igreja onde é improvisado o abrigo, explana que tudo que é feito é por conta da comunidade e do dízimo da igreja. “A gente ajeita o povo, faz uma sopinha, enquanto espera o grosso chegar”. O “grosso” a que Maria das Graças se refere é algum tipo de providência por parte das autoridades. Em situação crítica, qualquer tipo de ajuda para essas famílias é válida. Segundo os integrantes da associação, muita coisa é oferecida para a população, mas apenas em período de eleições. À procura de eleitores, os candidatos visitam a comunidade na tentativa de trocar cesta básica, dentadura e outros atrativos por votos. Enquanto o volume do rio sobe e desce, os moradores de áreas de risco, como o Parque Genibaú, vão perdendo o pouco que têm. Roupas, móveis e a pouca comida são levadas pelas águas com uma facilidade proporcional à dificuldade de obtê-los. Neste ano, depois de duas fortes chuvas, uma de 295 mm em janeiro e outra de 250 mm em março, a grande parte dos moradores do
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va agrava ainda mais os problemas. Vizinha do Rio Maranguapinho, o maior afluente do Rio Ceará, que corta o Parque Genibaú e é o principal motivo dos transtornos causados aos moradores da região no período chuvoso, a família de Elias é apenas uma das vítimas. “Na hora da enchente a gente vai pra igreja e espera a água baixar”, conta Orlângela. A opção, para quem não quer ficar dentro da casa alagada, é correr para abrigos organizados pela própria comunidade. Conhecida como Toinha, Eroneide Brandão é uma das integrantes da Associação Grupal dos Moradores do Parque Genibaú (AGMPG), que tem um número aproximado de 240 famílias cadastradas. A entidade não atende o bairro todo, mas apenas a comunidade específica do KM 10. Segundo Toinha, o alagamento acontece devido ao rio e chega a mais de um metro de al-
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“Consigo tirar R$ 5,00 por dia, tá bom demais, dá pra comprar a janta e o leite”. Com 20 anos, Elias Aragão de Andrade tenta sustentar a família limpando vidros de carros nos cruzamentos de Fortaleza. Morador do Parque Genibaú, Elias divide um pequeno barraco com a mulher, Orlângela de Morais Silva, de 18 anos, e o filho David Luan, de um ano. Grávida de seis meses, Orlângela explica que, no inverno, nem todo dia o marido pode ir trabalhar. A falta de água, luz e saneamento básico são algumas das necessidades do dia-a-dia da família de Orlângela. Uma cama de solteiro, móveis velhos, um filtro de água e poucas panelas ocupam o cômodo de cerca de 6m² que já aguarda a chegada de mais um morador. “O dinheiro que eu ganho é só pra se alimentar e não morrer de fome”, diz Elias. E como se não bastasse tanta pobreza e miséria, a chu-
que não deve se preocupar com esse tipo de coisa”, argumenta Maria das Graças dos Santos. Dados da Defesa Civil, apresentados em fevereiro deste ano, mostram que devido às intensas chuvas, 1.809 residências foram danificadas em Fortaleza e outras 34 destruídas. Número que vem crescendo, principalmente depois da forte chuva que ocorreu no segundo fim de semana de março. Para fugir dessas estatísticas, vários moradores do Parque Genibaú e outras áreas de risco colocam seus imóveis a negócio. Basta uma pequena caminhada pelo bairro, a grande quantidade de placas na porta das casas é notória. Vender ou alugar, o objetivo é fugir das
Sem saneamento básico, crianças arriscam a saúde
ais) mensais ela se desdobra para não morrer de fome. Quando a situação aperta a saída é pedir esmolas de porta a porta para complementar a renda. “Não sou aposentada, eles alegam que não podem fazer a minha, se não cortam a dela”, explica. O período chuvoso também agrava os problemas de saúde da família. Na rua de Francisca o esgoto corre a céu aberto, pois não existe saneamento básico. Os constantes alagamentos agravam a sujeira nas ruas e casas, intensificando os focos de doenças. Com aparência cansada, a moradora da Comunidade do Capim transmite, simultaneamente, revolta e conformação, enquanto assiste, por mais um ano, ao descaso das autoridades diante das causas e consequências das chuvas.
Abril/2004
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