O chorinho, gênero clássico brasileiro, também tem espaço para jovens músicos que criam uma nova identidade para o estilo sem esquecer sua origem.
Com ajuda da população que foi às ruas em junho e julho deste ano, a produção de documentários obteve importante crescimento no cenário audiovisual.
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Enquanto a “Lei do Circo”, aprovada pela Câmara Municipal de Fortaleza, não é sancionada, os circenses da cidade passam por dificuldades. Página 4
SOBPRESSÃO JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE DE FORTALEZA
AGOSTO / SETEMBRO DE 2013
ANO 12
N° 36
Intervenções colorem e modificam as ruas de Fortaleza Os coletivos, grupos de artistas que se reunem para fazer Intervenções Urbanas, transformam a cidade através de arte, fotografia, grafite, audiovisual, estêncil, entre outros. Ao invés de exposições em museus e galerias, a rua é o palco ideal para aqueles que procuram interagir com as pessoas. Além de uma forma de se expressar, as intervenções transformam o ambiente e o cotidiano dos que as veem. Página 10 e 11
Assessoria
Profissionais se especializam em corridas Página 14
Ensino alternativo
Educação quebra regras metodológicas Abordagens educacionais divergem em pedagogia que pretende formar cidadãos e bons profissionais, criando opiniões diferentes sobre a educação.
Cinema cearense
Geolocalização
Aplicativos de localização facilitam a rotina dos usuários de smartphones
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Artes marciais
Festas infantis
Lutar faz bem à saúde, afirmam cientistas Página 15
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Projeto cultural
Cresce a indústria por trás de festas para crianças Página 16
Cidades do interior carecem de cinema Das 184 cidades cearenses, apenas cinco possuem sala para exibição de filmes. Contudo, projetos itinerantes buscam soluções. Página 13
Startups cearenses
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História Passo a Passo é alternativa para um passeio diferente
Coletivo
Startups chamam Os desafios atenção no do casamento mercado homoafetivo
A cidade de Fortaleza conta com prédios históricos em vários bairros que ainda resistem à especulação imobiliária. O projeto História Passo a Passo–promove uma visita a esses prédios de forma descontraída.
Estas empresas se destacam pela rapidez e surgem a partir de ideias inovadoras. O risco é alto, mas estudantes e empreendedores usam a criatividade, preparação e visão de negócios diferenciada para garantir o seu sucesso.
No Brasil, a casamento civil de casais homoafetivos foi autorizado em maio de 2013. Apesar da obrigatoriedade dos cartórios em oficializar as uniões, ainda é necessário que seja aprovada uma lei no Congresso Nacional.
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AGOSTO / SETEMBRO DE 2013 • # 36
Editorial
Crônica
A pressa desacelerada Com a velocidade acelerada em que as pessoas estão vivendo, o jornalista se vê cada vez mais refém do tempo. São reuniões marcadas, entrevistas do outro lado da Cidade e deadlines virando a cada esquina. Mas, em vez de escolherem falar sobre assuntos fáceis de serem escritos, os alunos de jornalismo desse semestre entraram de cabeça em uma aventura em busca de notícias que realmente podem interessar a você, leitor. Então, que maneira melhor de começar do que com cultura? Os acordes do chorinho quase podem ser ouvidos na primeira matéria, logo seguida por palhaços que têm responsabilidades como qualquer outra pessoa sem nariz vermelho. E, para quem quer unir o lazer com história, falamos sobre programas que desvendam a cidade de Fortaleza. Dizem que é preciso fazer o que se ama para ser feliz no trabalho. Para os jornalistas, estar feliz é estar em campo, conhecendo pessoas e histórias que jamais conheceriam de outra maneira. Nossos repórters foram até o Parque do Cocó, na época da batalha da construção do viaArtigo
duto, entender como é a vida de quem largou tudo para morar no acampamento. Também enxergamos por trás das lentes daqueles que fazem documentários nas manifestações. A educação alternativa ganha duas páginas nesta edição, mostrando que há várias maneiras de crescer e aprender. Entre literatura, artes marciais e os desafios enfrentados pelo cinema cearense, achamos nas ruas pedaços de arte que transformam as imagens da Cidade. As intervenções urbanas renderam, ainda, um ensaio repleto de cores e formas. Falamos ainda sobre a indústria por trás das festas infantis e do que é necessário para começar a sua própria startup. Fechamos este Sobpressão com um dos temas de que mais gostamos: tecnologia. Contemplamos o vício pela Internet, a moda dos Instagram fitness e o desejo de contar a todos onde você está o tempo inteiro. Com tanta mistura e diversidade, esperamos que saboreie este jornal assim como nos deliciamos em escrevê-lo! Thaís Praciano
João Paulo de Freitas
A lucidez da amnésia Lembro bem quando eu tinha doze ou treze anos. Idade em que estive muito próximo da minha avó paterna. Recordo-me de como ela tinha dificuldade pra saber a sua idade. “Meu filho, já faz tanto tempo que nasci que nem lembro mais”. Assim, ela relatava quando estava sem paciência. Pensando um pouco mais, ela dizia: “70 anos, aliás, 72, não, não tem jeito”. Ela faleceu. Um câncer causou sua morte, que levou seu corpo e sua lucidez. Meu maior medo quando adolescente era pensar que um dia também esqueceria minha idade. Acreditava que, com a chegada dos cabelos brancos, minha memória se esvairia junto com a melanina. Vislumbrava chegar aos 100 anos e poder contar toda a minha história sem deixar passar nada, do meu primeiro ao derradeiro amor. Então, compreendi a efemeridade da vida. Assim como a chuva leva os entulhos da rua, o tempo arrasta os momentos. Minha avó sabia sim de tudo o que tinha vivido. Ela contava sua trajetória, nos mínimos detalhes, para os netos, porém, não constatava sua idade. Esse paradoxo fazia-a sofrer. Hoje me pergunto qual o sentido da angústia por não
Vislumbrava chegar aos 100 anos e poder contar toda a minha história sem deixar passar nada, do meu primeiro ao derradeiro amor. Então, compreendi a efemeridade da vida. Assim como a chuva leva os entulhos da rua, o tempo arrasta os momentos.
lembrar a data em que se veio ao mundo. Será mesmo que a casa decimal da idade interfere nos bons momentos do cotidiano? A função da idade é apenas orientar as fases da vida. Ser criança aos 15 anos pode ser tão divertido quanto aos oito. Viver momentos inesquecíveis na faculdade independe de você ter 23 ou
35 anos. Tudo é uma questão de bem-estar, oportunidades e equilíbrio emocional. Casar aos 30, depois do tão sonhado mestrado, e descobrir os piores defeitos do parceiro pode ser tão frustrante quanto uma gestação indesejada aos 16 por conta de um rompimento no preservativo. Hoje compreendo que minha avó amaria saber a sua idade antes de partir. Isso era importante para ela. Teria amado acalentá-la quando ela contava nos dedos o tempo de sua existência. Ficaria muito feliz em poder dizer que tudo o que ela viveu tinha sido mágico, tão incrível que a vida se perdeu no tempo e apagou os números de sua idade e deixou apenas os momentos. Talvez, partir sem saber o peso que a idade traz possa ter seu lado bom. São tantos acontecimentos, bons e ruins, que a vida nos presenteia, que o tempo, muitas vezes, não consegue acompanhar. E se um dia eu esquecer a minha idade e meus netos perguntarem quantos anos eu tenho, eu possa dizer: tenho a idade de alguém que aprendeu e ensinou o melhor da vida. Estudante do 7º semestre de Jornalismo
Estudante do 6º semestre de Jornalismo
Lise Ane Alves
Registro fotográfico
Multa para quem joga lixo no chão “Começou a tramitar na Câmara Municipal de Fortaleza um projeto de lei de autoria do vereador Capitão Wagner (PR) que prevê multa de R$ 100 para quem jogar lixo nas ruas e avenidas da Capital. Todo o valor arrecadado seria destinado ao Fundo Municipal de Limpeza Urbana. A proposta já foi enviada para as comissões na última quarta-feira (4).” O trecho da notícia foi retirado do jornal Diário do Nordeste, do dia 05 de setembro de 2013. Isso fez com que vários fatores tenham que ser avaliados antes de se aplicar esse tipo de lei na Cidade. A educação é um fator primordial a ser discutido, ou seja, será que a pessoa que joga lixo na rua também joga lixo no chão de sua casa? Será que essa mesma pessoa respeita o ambiente do próximo? São questões simples de educação, que todo ser racional deveria ter, porém é uma discussão que está sendo gerada de forma a nos fazer refletir como alguns agem de maneira irracional, ao ponto de precisarem ser multados pelo não cumprimento de obrigações. Outros fatores a se avaliar: o poder público tem dado um excelente suporte na cidade para que as pessoas encontrem lixeiras suficientes ao caminhar pelas áreas públicas? Particularmente acho que isso não existe. As bolsas, mochilas e outros utensílios pessoais de pessoas conscientes são os locais encontrados para depositar o lixo. Assim como cobrar, multar alguém se não damos o suporte necessário para que ela não cometa certa infração? Evidente que também existe todo um trabalho de conscientização do poder público em relação a educar as pessoas para que esse ato diminua. Espero também que lixeiras sejam suficientes para que todos se sintam realmente culpados ao jogar qualquer coisa no chão tendo um recipiente por perto, e assim a meu ver toda forma de conscientização será válida. Muitos dizem que em um país subdesenvolvido as regras somente começam a serem seguidas quando pesa no bolso. É assim com o trânsito, com “lei do silêncio”, entre outras. E onde fica nisso tudo o senso comum, o que está faltando para a formação de cidadãos mais civilizados, com mais respeito ao próximo, com mais autocrítica? Essas também são missões para os governantes, investindo em melhor educação pública, e também para os pais, que tem que trabalhar desde cedo com seus filhos que o mais importante para se viver em sociedade é o respeito ao próximo Estudante do 7º semestre de Jornalismo
Humberto Gessinger, ex-integrante da banda Engenheiros do Hawaii, foi a última atração da 6ª edição do Mundo Unifor. O seu show, intitulado Insular, contou com composições inéditas do seu 20º disco e antigos sucesso de carreira. O cantor, que também é compositor, multi instrumentalista e escritor, lotou a praça em frente à biblioteca da universidade. Fotografia: Thiago Gadelha
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Texto: Thaís Praciano
Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade de Fortaleza (Unifor) Fundação Edson Queiroz Diretora do Centro de Comunicação e Gestão: Profª. Maria Clara Bulgarim - Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Wagner Borges - Disciplina: Projeto Experimental em Jornalismo Impresso (semestre 2013.2) - Reportagem: Ahynnsa Thamir, Ana Beatriz Vieira, Bruna Bezerra, Carla Raquel, Capucine Anhalt, Elisangela Rocha, Emília Andrade, Emilly de Sousa, Fabiola Cordeiro, Gabriela Nunes, Hamlet Ribeiro, Iara Sá, João Paulo de Freitas, Katy Caroline, Kévila Cardoso, Leticia Késsia, Lígia Franco, Lyzia Hanna, Lise Ane Alves, Lucas Reboucas, Luiz Carlos Bomfim, Mariana Paula, Marina Freire, Marília Ceres, Mateus Ramos, Rayana Fortaleza, Tircianny Araújo, Thaís Praciano, Renata Larocca, Sabrina Coriolano, Sara de Sousa, Suellen Sales e Wilson Lennon - Projeto gráfico: Prof. Eduardo Freire - Arte final: Aldeci Tomaz - Professores orientadores: Eduardo Freire e Janayde Gonçalves - Coordenação de Fotograf ia - Júlio Alcântara - Revisão: Prof Celiomar Pinto - Conselho Editorial: Wagner Borges e Adriana Santiago Supervisão gráfica: Francisco Roberto - Impressão: Gráfica Unifor - Tiragem: 750 exemplares - Estagiário do Laboratório de Jornalismo (Labjor): Thaís Praciano - Estagiário de Fotograf ia: Thiago Gadelha - Estagiário de Produção Gráfica: Claudia Cabral - Edição: (Monitor da disciplina): Wolney Batista • Sugestões, comentários e críticas: jornalsobpressao@gmail.com
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Tem chorinho na terra do forró O choro, gênero musical carioca de nascença, vem conquistando espaço, ganhando novos músicos e adeptos cada vez mais jovens na cidade do forró Gabriela Nunes e Renata Larocca
Na terra do forró também há espaço para o chorinho. Um dos mais antigos gêneros populares urbanos em atividade – com cerca de 150 anos de existência -, continua ganhando admiradores e conquistando espaço no cenário musical de Fortaleza. Com um rol de compositores que deixaram uma vasta obra como legado, o chorinho também encontra seu lugar junto aos músicos mais jovens, que constroem seu espaço e dão a ele uma identidade nova sem deixar a antiga de lado. É o caso de Brenna Freire que, com apenas 20 anos de idade, diz que não troca uma boa roda de choro por balada nenhuma. Filha de Ribamar Freire, violonista autodidata e músico conceituado na cena musical cearense, Brenna começou a tocar cavaquinho desde pequena, sob influência do
pai. “Desde criança eu escuto choro dentro de casa. Fui gostando da música e, quando comecei a tocar, minha paixão pelo estilo só cresceu”, conta Brenna, que apesar da pouca idade, já teve a oportunidade de tocar com intérpretes renomados da música brasileira, como Luciana Rabello e Paulo César Pinheiro. Para o violonista George Anderson, 27, o choro é uma espécie de desafio para quem está acostumado a ouvir estilos musicais que soam como versões diferentes de uma mesma música, “pobres” em harmonia, melodia e letra. “Quando ouvi aqueles violões bem trabalhados com frases, respostas e bordoadas, vi que poderia adquirir a técnica de uma forma leve e divertida. É um estilo riquíssimo”, afirma George, que ganhou o apelido oficial de “Chorão” – como é designado aquele que executa o gênero - depois que passou a frequentar as rodas de música acompanhado do seu violão de sete cordas. “O pessoal da velha guarda sempre me disse que, para aprender a tocar choro, tinha que ‘desenrolar’ até os 25 anos. Se passar disso, não ‘desenro-
O Esquina Brasil é um dos grupos de jovens “chorões” que mantém a tradição do chorinho em Fortaleza Foto: Acervo Pessoal
la’ mais. Ainda bem que aprendi aos 22”, brinca. Velha guarda x nova geração Apesar da relação de aprendizado entre os mais jovens e a “velha guarda”, o conflito de gerações também está presente dentro do universo do chorinho. Os mais jovens criticam o tradicionalismo de alguns músicos antigos, enquanto os mais ve-
lhos classificam os mais jovens como “rebeldes” por estarem “inventando” um jeito de tocar que em nada se parece com o que os “medalhões” ensinaram. Por ser filha de músico, Brenna sabe bem como se dão estes conflitos. “Isso existe em tudo, não só na música. Mas também sei que são opiniões isoladas e não fazem parte da massa dos músicos, sejam eles
A origem de um estilo brasileiríssimo O gênero surgiu em 1870, no Rio de Janeiro, a partir da fusão das danças de salão européias com ritmos trazidos da África pelos escravos. Os primeiros grupos de choro se reuniam nos subúrbios cariocas ou nas biroscas do bairro Cidade Nova e utilizavam instrumentos como violão, flauta e cavaquinho, produzindo uma música com aspecto sentimental e melancólico. O nome “choro” possivelmente tem como origem esse caráter “choroso” do estilo musical, cujos integrantes eram chamados “chorões”. Outra possível origem do termo seria derivada da palavra “xolo”, que era um tipo de baile dos escravos no período colonial. O choro popularizou-se nos salões de dança a partir de 1880, e compositores como Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga - a primeira mulher a executar o gênero - foram responsáveis por firmá-lo como gênero musical. Entre os chorões do século 20, Pixinguinha foi um dos maiores destaques, compondo seu primeiro choro aos 12 anos: “Lata de leite”. O nome é inspirado no hábito dos chorões que, depois da noitada regada a bebida e música, costumavam tomar o leite que ficava nas portas das casas alheias. O choro e sua fórmula de improvisação é 50 anos an-
Serviço Conheça os principais pontos de encontro de chorões na Capital. As opções são muitas durante toda a semana. Confira: Terça Bar do Assis Benfica Atração: Grupo Cara de Choro 20h às 23h Quinta Marcão das Ostras Joaquim Távora Atração: Regional David Gouveia 19 às 22h Sexta Boteco do Arlindo Bairro de Fátima Atração: Tempero Cearense 20h às 23h Mercado dos Pinhões - Centro Atração: Macaúba e Regional Cordas que Falam 20h às 23h
De Pixinguinha a Hamilton de Holanda, o choro continua se renovando sem perder a originalidade e a tradição. Fotos: Divulgação
terior ao nascimento do jazz, apesar de que os dois estilos se constroem de forma muito semelhante, “como um jogo criativo executado com muita habilidade e genialidade”. Hoje, nomes como Hamil-
ton de Holanda, Yamandú Costa, Hélio Delmiro, Turíbio Santos, dentre outros, dão continuidade a essa manifestação instrumental considerada a primeira música urbana tipicamente brasileira.
Sábado Boteco Original Dionísio Torres Atração: Grupo Samba de Boteco 12h às 17h
Bar do Papai Aldeota Atração: Tarcísio Sardinha, Macaúba e Ciriban Soares 17h às 18h
novos sejam antigos”, garante. George acredita que, apesar de todas as diferenças, a relação entre os velhos e os novos chorões é de troca de aprendizados. “Músicos da velha guarda se apresentam com a nova geração e passam seu legado adiante. Vejo pai e filho, tio e sobrinho, irmãos tocando juntos e isso me deixa muito satisfeito. A música só tem a ganhar.”
Clube do Choro de Fortaleza reúne amantes do gênero no Sesc A tradição do chorinho se renova a cada sexta-feira à noite no Sesc São Sebastião, em Fortaleza. É lá que acontecem as reuniões do Clube do Choro de Fortaleza, onde os antigos “chorões” da capital se reúnem para matar a saudade da música de Jacob do Bandolim, Pixinguinha e dos sucessos da era de ouro do rádio. Totonho Montenegro, coordenador do clube, explica que o encontro acontece há mais de 27 anos, quando as reuniões musicais se iniciaram às terças-feiras na casa do violonista Raimundo Dias Calado, o Mundico, na rua Padre Mororó, no Centro. “Chegamos a receber grandes artistas, como Noite Ilustrada, Paulo Gracindo, Sérgio Reis, Moreira da Silva, Paulinho da Viola. Ele ficou surpreso de chegar no Ceará e encontrar isso na terra do forró”, relembra Totonho. Com o fechamento do antigo local, em 2003, a tertúlia foi transferida para o Sesc São Sebastião e passou a acontecer às sextas. “Tinham pessoas que frequentavam o Clube do Choro e faziam parte do grupo dos Idosos do Sesc. Eles fizeram a ponte”, explica Totonho, que já completa 12 anos no novo endereço e público cativo.
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Circenses sofrem com a demora na regulamentação da “Lei do Circo” Aprovada pela Câmara Municipal de Fortaleza, a lei falta ser implementada. A demora gera problemas para os circos e para os circenses que esperam ansiosamente por mudanças Wilson Lennon e Capucine Anhalt
Um dos maiores problemas que os circos itinerantes de Fortaleza enfrentam é a ausência de uma lei que regule o funcionamento dos picadeiros. Essa regulamentação vem sendo tradada desde novembro de 2011, quando foi aprovada pela Câmara Municipal de Fortaleza, porém, até agora, não foi sancionada. Para Leandro Guimarães, membro da Associação dos Proprietários, Artistas e Escolas de Circo do Ceará, essa lei trará muitos benefícios aos circos. “A lei prevê a organização de espaços públicos para receber os circos. Entre outras coisas, é um indicativo do Poder Público reconhecer o potencial dos circos como equipamento de promoção cultural e reconhecer o artista circense como cidadão.”, reforçou. Entre algumas exigências da Lei n° 9959 de 24 de Dezembro de 2012, estão: uma medida padrão da lona de no máximo 20 metros de altu-
O projeto “Circo de Todas as Artes” é realizado pela APAECE-Associação dos Proprietários, Artistas e Escolas de Circo do Ceará em parceria com a Prefeitura de Fortaleza, através da SECULTFOR. Foto: thiago gadelha
ra por 32 metros de largura e com capacidade aproximada de 600 pessoas sentadas. Atualmente, são 74 circos espalhados em todo o Ceará. Destes, 15 são em Fortaleza e Região Metropolitana. “Ao todo, 74 circos espalhados por todo o Ceará, 3 grupos de teatro realizando parcerias e formações, a Cia de Teatro da Boca Rica, Trupe Uiara Teatral Circense e Mais Caras de Te-
atro, além de muitos artistas que utilizam o circo como objetivo de pesquisa e desenvolvendo possibilidades artistas”, disse Leandro. Dificuldades Enquanto as luzes dos refletores não são acessas e o espetáculo não começa, os palhaços, trapezistas, malabaristas, dançarinos, acrobatas e equilibristas têm uma rotina muito dura
Saiba mais
APAECE Os projetos da Associação dos Proprietários, Artistas e Escolas de Circo do Ceará (APAECE), são voltados para formação do artistas circenses, qualificação dos espetáculos e a formação de plateia. A Associação De acordo com o Presidente da Associação, Leandro Guimarães, a APAECE nasceu com o intuíto de organizar e reconstruir todos os meios que envolvem para a realização de um circo. “Já caminhamos bastante em 6 anos, foram melhoradas as estruturas de muitos dos circos, discutidos e incentivados os editais, estando sempre presente nas discussões sobre as politicas culturais. A APAECE mudou junto com a realidade do artista de circo do nosso Estado”, ressalta Leandro. Nos primeiros eventos que a instituíção participou, pode-se notar que os artistas e donos dos circos estavam desacreditados. Mas, com o início dos projetos, o público está cada vez mais reconhecendo o potencial cultural, econômico e social do circo.
nos pequenos e poucos confor táveis trailers. Como se não bastasse isso, o preconceito e a burocracia enfrentada para colocar a lona e se instalar em locais é muito grande. Outra fator que afasta as pessoas do circo é a diversidade de fontes de entretenimento: cinema, festas, shopping, entre outros. É preciso resgatar na sociedade o hábito de frequentar espaços como o circo.
Escola de Circo transforma crianças no Bom Jardim Quando criança, geralmente é comum entrar no esporte para se divertir,fazer atividades físicas, aprender, se tornar um cidadão melhor. Porém, para as crianças que fazerm parte do Circo Escola do Bom Jardim o interesse é outro: fazer do circo uma grande escola para o dia. Arte que incentiva O projeto Circo Escola Bom Jardim nasceu em 1991, com o objetivo de fortalecer a educação através da arte. Atualmente, o Circo conta com 300 crianças, que são divididas em duas turmas. Para a coordenadora do Circo, Erisvana Costa, um dos maiores valores que o circo pode oferecer é a disciplina. “O nosso objetivo não é formar pessoas para trabalhar no circo. O nosso interesse é formar pessoas através da arte circense. Desenvolvendo os valores humanos, estimulando o coletivo, a valorização pessoal”. O Circo é a arte mais antiga do
mundo. Teve origem em povos viajantes de diversas culturas, como os chineses, gregos, egípcios e indianos. O mundo circense é o conjunto de diversas artes, tais
como: malabarismo, palhaço, acrobacia, adestramento de animais, equilibrismo etc. No cotidiano da Escola de Circo Bom Jardim, essa arte é trabalhada para o desenvolvi-
mente das crianças. As atividades acontecem no próprio picadeiro e em outros espaços abertos, que ficam no entorno deste. As atividades trabalhadas são: swing, trapézio, aro
Erisvana Costa
O nosso objetivo não é formar pessoas para trabalhar no circo. O nosso interesse é formar crianças melhores através da arte circense. Desenvolvendo os valores humanos, estimulando o coletivo, a valorização pessoal
espacial, arame, malabarismo, apresentação de palhaços, dentre outros. O Circo Escola, que é uma parceria entre o Governo do Estado e Entidade Filantrópica, tem total participação no processo de vida de muitas crianças no Bom Jardim, ajudando no amadurecimento, transformando-os em seres melhores. Para participar das aulas da Escola de Circo, é preciso estar matriculado em alguma escola de ensino e ter entre 6 a 17 anos. As aulas são dividias em duas turmas. A primeira tem inicio as 7 horas e vão até as 11, a segunda turma começa ás 13 horas e termina as 17 horas. As matrículas começam sempre no início de cada mês.
Serviço
Coordenadora da Circo Escola Bom Jardim Crianças participam de oficina no Circo Escola Bom Jardim
Foto: arquivo Pessoal
Circo Escola do Bom Jardim: Rua Três Corações, 762 - Bom Jardim - Fortaleza - CE / tel: (85) 3497.0766
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Projeto mostra a história da cidade Em caminhadas e de trenzinho a história é contada por Gerson Linhares. O Projeto mostra detalhes da Cidade que passam despercebidos no dia-a-dia Lise Ane Alves
O projeto História Passo a Passo é patrocinado há oito anos pelo Banco do Nordeste (BNB). Mostra prédios históricos, praças, monumentos dos quais muitas vezes não se sabem os nomes, a história, por que estão ali, e com isso, não se aproveita tudo que a Cidade tem de melhor a oferecer. Será por falta de tempo, por falta de interesse, ou simplesmente por falta de incentivo que os fortalezenses não procuram conhecer melhor a história da Cidade? O projeto existe há 18 anos e foi idealizado pelo turismólogo Gerson Linhares, que estuda a Cidade há 25 anos. Tem como objetivo mostrar estes locais que resistem à força da urbanização, como, por exemplo, casas em estilo colonial em um dos bairros mais antigos da cidade, a Jacarecanga, e as praças das quais não se sabe os verdadeiros nomes. As caminhadas mostram as edificações históricas do Centro de Fortaleza, o bairro que concentra mais monumentos históricos. Gerson inicia o passeio fazendo uma pequena
Caminhadas, trenzinhos e muita conversa mostram os principais prédios históricos de Fortaleza Foto: Lise Ane Alves
explanação sobre a história da Cidade. O ponto de partida da caminhada é a Praça Murilo Borges, conhecida como praça do BNB. O turismólogo brinca, dizendo que “o fortalezense adora dar nome às praças”. Ele também faz críticas à demolição dos prédios históricos, que, segundo ele, “aconteceu por falta de políticas públicas e da especulação imobiliária”. No passeio cultural do dia 26 de agosto, 16 pessoas puderam conhecer mais a história de cinco praças: do BNB, do Ferreira, da Bandeira, da Sé (a mais antiga de Fortaleza) e o Passeio Público. Durante o percurso são mostradas fotos antigas dos locais visitados.
Saiba mais...
Passeios culturais em Fortaleza
É grande a diversidade de profissões e de faixa etária do púbico que acompanhou a caminhada. Para José Rodrigues, estudante de Educação Física, o passeio foi bastante engrandecedor: “deveria haver mais projetos do tipo”. O estudante, que já visitou a cidade de Ouro Preto, diz que não viu esse tipo de trabalho por lá. Contudo, como enfatiza o guia, a falta de patrocínio prejudica bastante o crescimento deste tipo de ação. Ele resalta que vem fazendo várias tentativas aos longos dos anos para alavancar seus projetos culturais, fazer com que os políticos possam contribuir mais com suas ideias. Na opinião de Leidymara Teixei-
ra, estudante, “deveria ter mais incentivo nas escolas para esse tipo de projeto”. A caminhada é encerrada no Passeio Público, onde o guia pede às pessoas que divulguem o evento. Histórico O Programa das Caminhadas Culturais - Fortaleza a Pé - foi criado no dia 13 de abril de 1995, em comemoração aos 269 anos do aniversário de Fortaleza, por um grupo de profissionais cearenses ligados às áreas do turismo, história, cultura, geografia e pedagogia. O programa é respaldado por um banco de dados (informações históricas, arquitetônicas, etc) e de imagens (fotos, víde-
os, etc) criado a partir de uma pesquisa realizada há 18 anos na Capital, abrangendo os bairros antigos de Fortaleza. Todas as informações foram colhidas junto a profissionais de áreas afins: pesquisadores, historiadores, arquitetos, geógrafos etc. O programa é realizado em Fortaleza com o objetivo de sensibilizar a comunidade para a importância da valorização do nosso Patrimônio Histórico, Cultural, Arquitetônico e Turístico. É direcionado às escolas e universidades públicas e particulares, Organizações Não-Governamentais, Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, associações e sindicatos etc.
Trem da História traz conhecimento
No dia 13 de abril de 2013, data de aniversário da Cidade, a iniciativa completou 18 anos de atividades culturais, totalizando mais de 1.500 caminhadas realizadas no Centro Histórico de Fortaleza, atendendo a um público médio de 70 mil pessoas. História Passo a Passo Caminhada que acontece de segunda a sábado no Centro de Fortaleza, com o objetivo de mostrar a história do bairro. Os participantes devem se inscrever antecipadamente pelos telefones: (85) 32372687 / 88359915. Caminhos de Iracema Durante o percurso feito de ônibus é apresentada a vida e obra do escritor cearense José de Alencar. Para mais informações, Disque Turismo: (85) 3257.1000. Orçamento Participativo: (85) 3252.6792. Trem da História O programa tem como objetivo contemplar e conhecer edificações como igrejas, palacetes, monumentos, logradouros, de significância para o desenvolvimento sócio-cultural. Informações: (85) 3237.2687 – 88359915. Museu do Cajú O Museu do Caju foi idealizado em 1995 pelo turismólogo Gerson Linhares e instalado no ano de 2007 . Projeto abrange as comunidades de dois bairros populosos - Conjunto Ceará (Fortaleza) e Jurema (Caucaia). Informações: (85) 3237-2887.
Histórias, fotos antigas e muitas ruas visistadas, é o que faz do Trem da História um passeio cultural relevante. Foto: Arcevo Pessoal
O Trem da História tem como objetivo mostrar o Centro Histórico da Cidade, evocando os ares da Fortaleza Belle Époque, cheia de charme e glamour. Os roteiros, especialmente elaborados, levam as pessoas a apreciarem a diversidade da arquitetura antiga, que é de grande significância para o desenvolvimento sócio-cultural do povo, pelos relatos do passado em comparação ao presente, em narrações plenas de encanto e nostalgia. O passeio tem uma duração de três
horas, e acontece aos sábados das 13h30 às 16h aproximadamente. Guiado pelo educador Gerson Linhares e pela pedagoga Marize Marques. O projeto, que existe há oito anos, tem um apoio cultural do Banco do Nordeste. Seu público alvo é composto por pessoas da terceira idade, crianças de escolas públicas ou privadas, e o público de modo em geral que tenha interesse em conhecer alguns detalhes da história de Fortaleza. Existe ainda o passeio extra, também apoiado
pelo Banco do Nordeste, que ocorre tanto aos sábados quanto durante a semana. No pacote para esse passeio está incluso o trem estilizado, guia, e sorteios de brindes. Devido à grande procura por este evento cultural, tanto do passeio aos sábados, como do passeio extra, as realizações para o mês de setembro de 2013 se esgotaram ainda no dia 20. E retornaram somente em outubro, já contando com o apoio da nova sede do Banco do Nordeste.
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Conheça a rotina dos ativistas acampados do Parque do Cocó Acampamento no parque do Cocó possui organização e divisão de tarefas, para garantir permanência segura e saudável de quem participa da ocupação Lucas Pessoa e Luiz Carlos Bomfim
Há mais de dois meses a rotina dos manifestantes acampados no Cocó tem se intercalado entre protestos, administração do acampamento e atividades políticas, sociais e educativas. Para o estudante de Comunicação Social da Faculdade Nordeste (Fanor), Daniel Holanda (18), que se encontra há 65 dias no Cocó, o ínicio do acampamento foi um período de adaptação. “Antes era mais difícil, mas a gente foi se adaptando sem degradar o local. Fizemos bancos, áreas de alimentação, local pra dormir e barracões.” A rotina se dividia em limpar o parque, cuidar da alimentação, armazenar os donativos entregues por simpatizantes do movimento e gerir o lixo e os banheiros de um modo ecologicamente correto.
Divisões das tarefas são feitas para manter o acampamento em ordem Fotos: Luiz Carlos Bomfim
“Para as nossas necessidades fisiológicas a gente tem um banheiro seco, em que os dejetos são depositadas, podendo se transformar futuramente em adubo (acrescentando outros materiais, como cascas de frutas etc), e também tem um banheiro químico que a gente recebeu de doação. Pra este banheiro vem um pessoal de 15 em 15 dias fazer a manutenção do equipamento”, conta Daniel. Para tomar banho, os acam-
pados utilizam tanques, que ficam um pouco mais distantes do acampamento. Para preservação da privacidade, foram colocados panos para isolar a visão de quem estiver passando pelo local ou na trilha. “Vai um grupo tomar banho lá e depois vai outro e assim por diante ”, explica Daniel. O jornalista Afonsino Albuquerque é um dos acampados que se preocupam com a limpeza e o bem estar dos usuá-
rios do parque. “Por volta das 10 horas da manhã, o pessoal acorda e vai limpar o terreno, a passagem do pessoal que vem caminhar na trilha ou correr”. Quanto à energia e Internet, diversas doações foram feitas aos manifestantes, o que contribuiu muito para que se instalassem no parque. A energia, que no princípio era fornecida por uma concessionária de carros vizinha, foi posteriormente cortada. No
Diversão e arte fazem parte do cotidiano Muitas atividades são realizadas em paralelo no acampamento, desde oficinas de artes com produções artísticas diversas a rodas de discussão com pautas bem variadas. É muito comum a presença de habitantes de outras regiões da Cidade que se reúnem para reclamar de problemas urbanos, como a Comunidade do Trilho, cujos moradores estão sendo desapropriados para a construção do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). Neste ambiente de debate são expostas alternativas para projetos propostos pela Prefeitura e o Governo do Estado além de se definirem estratégias de ação. Há também espaço para atividades lúdicas. “A gente tem diversas artes aqui no parque, como o ‘Brotando Arte no Cocó’, que é um festival que tem música, contação de história, rodas de conversa. O pessoal das Faculdades está vindo também e interagindo com a gente.” afirma Afonsino. Muitas crianças visitam o acampamento e aprendem a realizar atividades de campo sem danificar o meio ambiente, crianças desenham e fazem trabalhos com artes que são expostos logo na entrada. A leitura ganhou um espaço próprio a Cocóteca.
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1 Leitura pode ser feita na Cocoteca. 2 A energia do gerador tem varias funções no acampamento. 3 Os tanques localizados no interior do parque são utilizados pelos manifestantes, para tomar banho. 4 Desenhos feito por crianças. 5 Trabalhos artisticos são expostos logo na entrada.
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entanto, os acampados conseguiram um gerador a gasolina. “Nós tínhamos Internet no começo porque o pessoal da revenda de carros aqui do lado disponibilizava a senha do Wi-fi. A gente carregava celular, notebooks. Com o tempo, a Coelce veio e pressionou a empresa para desligar. Para os acampados, os moradores têm papel fundamental na sustentabilidade do local, no entanto eles ainda precisam fazer “pedágios” para comprar água, comida e gasolina para o gerador. Além da adaptação ao local, outros fatores dificultavam a permanência. A preocupação com a segurança é constante e não se limita somente a uma possível retirada dos manifestantes por parte das autoridades, mas também a possíveis assaltos. “Aqui nunca todo mundo dorme ao mesmo tempo. Fica sempre um grupo de nove pessoas acordado enquanto o restante está dormindo. Depois troca e assim vai. O pessoal que tem moto ou carro sempre dá uma volta no entorno do parque para saber como está e depois volta para cá”, destaca Afonsino. Havia também perigos intrínsecos a quem acampa em um parque, como animais peçonhentos e insetos. Afonsino salienta que dentre os cuidados estão o de vistoriar as barracas antes de entrar para evitar surpresas. Além disso, sempre as deixam fechadas. Com relação à alimentação, ele preparam alimentos rápidos que não exijam muito trabalho e estrutura. “Não podemos acender fogueiras para cozinhar pois estamos em um parque. Então consumimos comidas simples como miojo e frutas. Assim, quando queremos água quente, usamos o mergulhão, uma espécie de ferro aquecido com energia do gerador”, conta Daniel Holanda. Nem toda a população apoia o movimento. “Um dia de madrugada, tinha um pessoal lá fora na calçada conversando, passou um carro importado em alta velocidade e jogou pedra no grupo. Uma delas, atingiu um colega nosso na perna. O ferimento foi tão grande que as duas pernas dele ficaram sangrando. Isso foi mais no começo, hoje a gente não tá vendo mais bomba, nem pedra; o que tem mesmo é só o pessoal que passa xingando.” pontua Afonsino. Até o fechamento desta matéria, os acampados permaneciam no local. Entretanto uma decisão judicial expedida pela Tribunal Regional Federal da Quinta Região (TRF5) autorizou a construção dos viadutos no Cocó. Resta agora ao juiz da 6ª Vara Federal do Ceará, Kepler Gomes Ribeiro, decidir como se dará a desocupação do local, neste que talvez seja o desfecho de um embate que já dura 84 dias.
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Manifestações aumentam a produção de documentários Com o incentivo das manifestações que ocorreram em todo o País, produções documentais vem ganhando destaque no cenário audiovisual Iara Sá e Marília Ceres
Questões ideológicas, profissionais ou simplesmente a motivação do registro levaram o audiovisual às ruas em junho e julho de 2013. Entre palavras de ordem, cartazes e bombas de efeito moral, foi possível observar a mídia e o documental se unindo, trazendo um novo tipo de recorte para os acontecimentos. Em coletivos ou registros independentes, a maioria dos trabalhos têm sua divulgação feita pela internet, através de redes sociais voltadas para o compartilhamento de vídeos, como Youtube e Vimeo. Sérgio Gurjão é o idealizador da página no Facebook intitulada “Verso de Pé Quebrado - Narrativas” e autor do vídeo “Viaduto para que, para quem?”, motivado pelas manifestações e conflitos gerados pela construção dos viadutos do Parque do Cocó. O arquiteto acredita que esse tipo de mídia alternativa está equilibrando a relação de poder entre a sociedade e o Estado, tornando a comunicação mais democrática, mas sem a falsa ideia de imparcialidade. “A medida que você faz um recorte da realidade, é um ponto de vista. Não há como fugir disto. Para mim, ser imparcial não é ser isento. Isto é falso. Acredito que ser imparcial é se aproximar do que realmente acontece e ser honesto com a sua motivação”, explica. Quanto
ao modo de execução, Sérgio diz que procura a maneira mais simples possível. “Se uma pessoa segura uma faixa defendendo algo, peço que explique o que defende na faixa. No caso dos viadutos, mostrei os dois lados na realidade que se apresentaram”. Até setembro, o vídeo já tinha mais de 21.000 visualizações. Para Samuel Carvalho, estudante de audiovisual, esse tipo de experiência é essencial para quem trabalha ou pretende trabalhar no ramo. Mesmo sem nunca ter participado ativamente de nenhum protesto de rua, decidiu fotografar e filmar de maneira independente as últimas manifestações como forma de praticar a filmagem documental e, consequentemente, contribuir para o registro da conjuntura nacional naquele momento. “A função da imagem nesse período foi importantíssima para a divulgação crua do que acontecia em meio àquele turbilhão de conflitos”, explica. Em meio ao caos que por muitas vezes se instaurou entre policiais e manifestantes, acabou molhando com vinagre e quebrando sua câmera de uso pessoal e profissional. “Tive que gastar uma grana para consertar, mas o que importa é que ela já voltou e está saudável novamente”, brinca. Profissão documentário Antes de as pessoas decidirem voltar às ruas e ao hábito de protestar, o Coletivo Nigéria, formado por Roger Pires, Yargo Gurjão, Bruno Xavier e Pedro Rocha, já buscava uma nova abordagem audiovisual dos acontecimentos. O grupo já tinha mais de 2 anos de trabalho com temas
Cinegrafista amador registrando detalhes da manifestação contra a construção dos viadutos no Parque do Cocó Foto: Arthur Henrique
ligados aos direitos humanos e democratização da comunicação, mas foi a partir do documentário “Com Vandalismo”, construído a partir de imagens, depoimentos e vivências colhidas nas manifestações de junho e julho, que muita gente pode conhecer e ter acesso aos vídeos. “Escolhemos focar nos chamados ‘vândalos’ pela necessidade de ampliar o debate e dar voz a quem sempre é citado, mas nunca é ouvido”. Para Yargo, a importância das mídias alternativas se dá no contraponto que é feito ao discurso da mídia hegemônica, que, segundo ele, acaba por fazer uma abordagem superficial de temas complexos. “A Nigéria surgiu dessa vontade de atuar como comunicadores, mas não em empresas de comunicação, redações de jornal ou assessorias de imprensa. Começou pela nos-
Saiba mais...
Luz, câmera, revolução Filmes que retratam diferentes revoluções e manifestações fictícias ou reais que já aconteceram ao redor do mundo.
Dennis Gansel A Onda Reiner Wegner, professor de ensino médio, propõe uma prática sobre os mecanismos do fascismo e do poder. O professor dá o nome de A Onda para o movimento que perde o controle, mas já é tarde demais para Wegner interrompê-lo.
Paul Greengrass Domingo Sangrento Cidadãos saem em passeata pelos direitos humanos em janeiro de 1972 em Derry, na Irlanda do Norte. Sem razões aparentes, soldados britânicos atiram e matam 13 pessoas, fazendo com que esse episódio fique conhecido como Domingo Sangrento.
Walter Salles Diários de Motocicleta Che Guevara e seu amigo, Alberto Granado, decidem viajar pela América do Sul conhecendo novos lugares. Ao chegar em Machu Pichu, os dois deparam-se com uma colônia de leprosos e questionam o progresso econômico da região.
sa insatisfação com as opções de carreira para comunicadores oferecidas em Fortaleza e por um encontro de pessoas que se identificaram e se complementaram enquanto grupo”. Depois de 80.000 visualizações conquistadas, os ra-
Artigo
pazes acreditam que ainda há todo um processo de formação para que a comunicação seja reformulada e se adapte aos tempos atuais, mas prometem continuar produzindo, estudando, praticando, experimentando e difundindo esse novo fazer midiático.
Glauber Filho
Os coletivos e a imprensa tradicional Um telejornal como o Jornal Nacional, por exemplo, é um jornal que faz um panorama dos acontecimentos, não um aprofundamento. E a tendência, geralmente, é generalizar todos os fatos - até pela rapidez que o jornal se estabelece no sentido de veicular as informações, mas quando você vai ver cada elemento desses, eles têm as suas contradições, suas profundidades. Coletivos como Nigéria e o Verso de Pé Quebrado têm um tempo maior para elaborar e aprofundar as questões de outra maneira. Mas a gente não pode estabelecer uma ótica maniqueísta do certo e do errado porque da mesma forma em que um telejornal está ligado a relações de poderes, ou então o olhar equivocado do jornalista, é importante ver que esses coletivos também carregam um olhar passional sobre o fato. Eles são feitos por pessoas que estão participando da manifestação, portanto o recorte deles é de quem participa ativamente politicamente, e não imparcialmente. Isso também não descredencia o valor da verdade que está nos conteúdos dos coletivos. O que é mostrado ali é uma verdade que não aparece no telejornal, e a que aparece no telejornal não aparece nos coletivos e o que é mostrado pelas pessoas que estão com seus celulares, com seus tablets, filmando aquele acontecimento, é uma verdade que talvez não apareça nem nos coletivos e nem na televisão. Ou seja, o acontecimento é feito de várias verdades. Acho extremamente saudável e necessário a questão dos conteúdos desses coletivos porque é uma contra informação e promove uma dialética da informação e faz com que o sujeito julgue o acontecimento não apenas por um olhar, mas por vários. É preciso até que tenha outros coletivos de direita, de esquerda, de centro, porque acho que a informação se dá dessa maneira. O espectador agora tem uma capacidade de fazer uma avaliação de um conteúdo não de um telejornal, mas de muitos telejornais e isso é muito interessante na questão da crítica. Professor de Comunicação Social - Jornalismo
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Ensino alternativo divide opiniões Escolas apostam numa educação diferenciada que busca fomentar nos alunos os valores humanos, contrapondo-se ao formato da metodologia tradicional João Paulo de Freitas
No final de 2012, uma polêmica envolvendo alunos chineses eclodiu. A busca pela aprovação no concorrido Gao Kao, o vestibular chinês, levou os estudantes a injetarem aminoácido no corpo. Uma das escolas envolvidas providenciou o suplemento para que os adolescentes inserissem na veia. Para a instituição, a fórmula dá energia aos alunos, deixando-os acordados por mais tempo, e isso faz com que eles estudem mais. Paralelo a este universo, existem instituições de ensino que acreditam que a sociedade só vai dar engrenagem a um mundo mais solidário e humano, quando o ensino básico for reestruturado. São escolas que têm a pedagogia centrada nos conceitos de observação do mundo, cooperativismo e nas artes, para tornar seus alunos pessoas e futuros profissionais mais resistentes às mudanças naturais da vida. Em Fortaleza, situada numa densa área verde e distante do asfalto, encontra-se uma escola com estrutura física parecida com a de uma casa simples. Meninas transitam pelos corredores com avental de cozinha e meninos carregam nas mãos ferramentas de marcenaria. Crianças e adolescentes - independentemente do gênero – aprendem a fazer comida, transformam pedaços brutos de madeira em ornamentos e estudam as ciências e as letras sob a ótica de um ambiente artístico, como o canto, flauta, violino, poesia, pintura, escultura, aquarela e teatro. A escola Waldorf Micael atua na capital cearense há 22 anos e tem uma pedagogia que tenta ampliar a visão do ser humano ultrapassando o materialismo. Tatiana Branco é a coordenadora da Waldorf e ressalta que as crianças e jovens precisam ser estimulados a pensar e a sentir para absorverem o conteúdo. “Aqui todo mundo faz o exercício de lembrar. Antes das aulas começarem, professores e alunos recordam os conteúdos passados e como foram os dias anteriores. Isso reforça o aprendizado e cria um laço com a matéria”. Material didático em branco Num caderno de folhas brancas, os alunos deixam a imaginação fluir e inventam colunas e templos com lápis de cor para aprender a história da Grécia Antiga e criam os mais diversos círculos, quadrados e retângu-
Crianças e adolescentes desenvolvem a lógica por meio de atividades lúdicas. Praticar a subjetividade é uma característica do ensino alternativo Foto: João Paulo de Freitas
los, num exercício de aproximação às formas geométricas. Karm Sutter, aluno do 9º ano, diz que estudar em contato com a arte promove a fixação do conteúdo e que dificilmente se esquece, pois cria-se primeiro um elo amigável com o exercício para depois por em prática. “Eu consigo ler textos analisando o seu conteúdo e resolvo cálculos de forma ágil. Aprendi desde cedo a me familiarizar primeiro com o conteúdo da forma como eu gosto, para depois resolver questões mais difíceis”. O professor polivalente João Batista de Carvalho trabalha há 7 anos no meio e diz que para aprender, é preciso sentir. E que é necessário captar os conhecimentos não só com a mente, mas com o coração. “Busco sempre conhecer o meu aluno, instigar seus talentos. Só depois de entender o que cada um busca, é que elaboro minhas aulas. Não dá para apenas jogar conteúdo para eles e esperar que eles aprendam”. O passo seguinte após o 9º ano Anastácia Helena Ribeiro é mãe de alunos. Ela acredita que esse método alternativo traz bons diferenciais, porém, ao terminar o ensino fundamental o adolescente enfrenta um estranhamento quando vai para um colégio tradicional. “O sistema educacional é mui-
Saiba mais...
Pedagoga fala sobre o método Ana Paula de Medeiros é Pedagoga e Doutora pela Universidade Federal do Ceará. Ela acredita que as escolas deveriam ser ambientes vivos que estimulassem a curiosidade dos alunos e trabalhar o subjetivo, porém, precisa-se de cuidado quando se pensa em implementar uma pedagogia alternativa. “Há propostas muito interessantes, mas é prudente analisar com cuidado o que está sendo feito. Um coisa é a proposta, outra é a prática, e isto afeta a vida de quem está sendo educado”. A professora afirma que a dificuldade que alguns alunos possam enfrentar para passar no
to diferente. A gente vê crianças que vêm de outras escolas demorando um pouco para se adaptar, da mesma forma acontece quando um aluno sai daqui para outro método. Eles levam cerca de seis meses para viver confortavelmente num novo ambiente”. Para a coordenadora Tatiana Branco, essa nova adaptação é natural, pois muda a convivência, a forma de aprender e os valores são outros. “Isso acontece tanto com os nossos alunos, como também com quem vem de outras escolas. A gente se preocupa em dar a
vestibular será em decorrência das exigências específicas que alguns colégios impõem. “Como as avaliações de algumas escolas conteudistas são seletivas, cujo objetivo é separar aqueles que demonstram saber dos que não sabem, esta abordagem pode mudar o desenvolvimento do aluno”, esclarece a educadora. Ela acredita que a escola básica é refém dos processos seletivos para o ingresso no ensino superior. “O desenvolvimento da sociedade estimula a mudança no sistema educacional, mas quem dita como ensinar são as próprias instituições”.
melhor educação para que os alunos possam conviver tranquilamente em outros ambientes educacionais.” Mãos dadas com a sociedade Os pássaros Canarinhos se diferenciam por priorizarem o trabalho coletivo e estarem sempre em busca de novas descobertas. Assim se faz a educação na escola que leva o nome desta ave na Capital. O Colégio Canarinho atende há mais de 40 anos e tem o objetivo de construir cidadãos responsáveis e críticos no seu contexto social.
Todo mundo estuda em conjunto. A integração entre as diferenças individuais ou deficiências físicas ou mentais é marca do colégio. O estudante começa desde cedo ao exercer sua cidadania a perceber o meio social e político em que está inserido, na busca de desenvolver a autonomia. Mãe de aluna que estuda há sete anos no Colégio, Raquel Lima Damasceno acredita que para tornar sua filha uma cidadã mais humana, depende do fator familiar e do colégio, e o Canarinho estimula a visão social desde cedo, fazendo com que a criança já cresça abrindo a mente. “Os professores reforçam a ideia de que os alunos constituem suas próprias teorias. Esse desenvolvimento chega até nós pais, e percebemos o quanto o ensino é positivo diferenciado.”. Os ensinamentos continuaram a inspirar até quem já deixou de frequentar a unidade. Clara Maia tem 20 anos e estudou no Canarinho do Jardim II até a 8ª série. Hoje ela acredita que sua formação foi fundamental para tornar-se mais humanizada. “Tínhamos aula de formação humana da 5ª a 8ª série como disciplina de estudo, em que no último ano o tema principal era a vocação profissional”. A coordenadora da instituição Célia Luna, diz que para uma escola optar por esta li-
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nha mais reflexiva não é tão simples. “ É necessário trabalhar com um número limitado de alunos para que a sala de aula possa ser um fórum de discussão permanente. É indispensável também garantir um projeto de formação continuado ao professor”. Vida de universitário A estudante universitária de Biotecnologia pela Universidade Federal do Ceará Clara Maia, de 20 anos, diz que, onde estudava, o aprendizado era avaliado como satisfatório, regular e insuficiente, e isto promovia o autoconhecimento. Desde pequena, ela teve aulas extras de teatro, jornalismo e astronomia. “ Essa era uma das formas que o colégio tinha de despertar nosso interesse profissional de uma maneira humana”. Clara afirma que quando mudou de escola e foi para um ensino tradicional, se admirou com a quantidade e a intensidade das aulas. “ Tinha aula o dia todo, além dos sábados. Foi aí que eu comecei a me sentir pressionada para escolher um futuro profissional. Mas acho que foi uma idade boa pra começar algum tipo de preparação mais incisiva”. A estudante acredita que uma boa formação na fase da infância é fundamental para tornar adultos humanos. “A base educacional é importante porque leva o aluno a se desenvolver não só academicamente, mas de maneira pessoal também”. Aos 21 anos, Isnack Alencar estuda Medicina na Universidade Christus. Ele comenta que o colégio tradicional atua de forma impessoal e isto foi a primeira admiração que notou. “Eles trabalhavam nossos resultados e estimulavam a competição. Lembro que minha escola de base me formou uma pessoa mais humanizada,
mais sensível, além de ter me proporcionado um raciocínio globalizado”. O jovem ressalta que muitos de seus colegas de turma do ensino fundamental passaram no vestibular sem precisar de um reforço de cursinhos após o ensino médio. “Acredito que as chances de entrar na universidade não mudam, pois da minha turma todos tiveram a oportunidade de ingressar no ensino superior, muitos nos cursos mais concorridos do País”. O lado B da educação O método educacional alternativo também gera insatisfação. São pais que apostaram no diferencial que a instituição propõe, porém, houve o efeito contrário. A Professora Universitária Camila Marques (nome fictício) lembra que sua filha não absorveu o que a escola pretendia educar. “Não promoveu a autonomia que eu esperava e não tem nenhuma eficácia. Se você perguntar para minha filha o que aprendeu, ela vai dizer que foi sobre Deus”.
O colégio em que sua filha estudou só tem um professor para ensinar todas as disciplinas, objetivando criar laços fraternos entre os alunos, o professor e o conteúdo. “Isso dificulta a interação da criança com outras pessoas e conhecimentos adversos”, afirma Camila. A mãe diz que pra ser humanista não é preciso ir para uma escola com esta abordagem par agir assim. A advogada Milena Sampaio (nome fictício) também compartilha da mesma insatisfação. “A propaganda era a de uma escola inclusiva. Meu filho tem déficit de atenção e foi muito mal atendido.O colégio destruiu a autoestima da criança”. Milena lembra que seu filho foi mal atendido por uma das professoras e que para ter uma escola assim é preciso comprometimento. “Ele disse que a professora falou que não adiantava ele se esforçar, pois não iria aprender. Se não tem capacitação para ser uma escola inclusiva, não aja como se fosse só pra ganhar dinheiro e reconhecimento”.
Uma educação diversificada Alunos dividem o espaço da escola para promover a arte e o ensino alternativo, voltado para a essência do ser humano. A busca pelo aprendizado faz de meninos e meninas seguidores de um ensino que preza pelo cooperativismo
Momentos de lazer em escolas de cunho alternativo são caracterizados pelo carinho e apego dos alunos Foto: João Paulo de Freitas
A realidade na educação pública de Fortaleza A rede pública de ensino na capital cearense não tem sua base construída em uma pedagogia alternativa. As disciplinas são lecionadas de maneira prática e didática e arte está presente como um atributo a mais para a formação de crianças e jovens. A partir do 1º ano do ensino fundamental, os alunos têm os primeiros contatos com a arte. Do 6º ao 9º ano, professores especialistas ministram aulas de dança, teatro, música e artes visuais.
Segundo a Secretaria Municipal de Educação de Fortaleza, os alunos têm na grade curricular o Projeto Itinerário Cultural, com aulas de campo nos espaços culturais da cidade. A Prefeitura pretende realizar, nos próximos anos, festivais de arte, lembrado as datas comemorativas. Além disso, o Órgão vai investir em capacitação de professores de português e literatura para aperfeiçoarem suas habilidades nas artes.
Crianças são estimuladas a perceberem a natureza como fonte de existência para o presente e o futuro delas Foto: João Paulo de Freitas
Menina dança desinibida em frente a câmera. As crinças costumam tratar os visitantes da escola com atenção e hospitalidade Foto: João Paulo de Freitas
Estudantes aprovam o ensino conteudista como formação Tablets, lousas digitais e divisões de turmas para o foco no vestibular também agradam aos jovens. Suellen Sales é estudante de jornalismo e teve sua formação básica em uma escola com uma pedagogia rígida, disciplinada e organizada. “Todas as quartas-feiras tinha avaliação. Eu passava uma semana inteira me ocupando nos estudos. Isso me ajudou a ter foco e objetivos”. A estudante acredita que este ensino prepara o indivíduo para as adversidades do mundo, pois desde criança os alunos sabem o que é prudente ou não fazer no ambiente escolar. “A escola impor rigidez é fundamental para gerar um bom senso. Minha educação era baseada na ordem e num método focado, isto me ajudou a ser
Atividades lúdicas são recorrentes nas instituições com a pedagogia diferenciada.. Instruir o subjetivo é objetivo destas escolas Foto: João Paulo de Freitas
Investir em tecnologia é objetivo para escolas convencionais foto: Divulgação
mais resistente”. Marden Fraga compartilha da mesma perspectiva. Ele é estudante de publicidade e propaganda e teve formação de base numa escola púbica, porém, com métodos tradicionais. “Foi um período em que eu mais estudei, logo os profes-
sores transmitiam paixão pelo ensino, e isso contaminava a gente. Mesmo não tendo artes como disciplinas, o colégio era muito humano. Mesmo enxergando as vantagens de uma educação alternativa, acredito que o método tradicional é necessário”.
Cadarços desfeitos simbolizam a animação dos meninos na hora do intervalo. Eles trocam de sapatos numa ideia de integração Foto: João Paulo de Freitas
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Intervenções Urbanas mudam a dinâmica visual de Fortaleza
Saiba mais...
4 Coletivos legais para conhecer http://goo.gl/vE4rd0
As intervenções atingem o contato direito com o público através dos espaços urbanos, transformando o nosso dia a dia http://goo.gl/aNc7A2 Lígia Franco e Emília Andrade
Acredita-se que a década de 1970, por causa da ditadura e das frases de protesto pichadas no muros, pode ser considerada um marco na história das intervenções urbanas no Brasil. Principalmente através da atuação de coletivos – grupos de artistas que trabalham em conjunto – as intervenções começaram a aparecer como forma de expressão mais livre, ultrapassando o espaço territorializado da arte, indo além do lugar físico e simbólico de instituições artísticas, museus e galerias. Hoje, em Fortaleza, os coletivos realizam seus trabalhos através de diversas linguagens, como: Fotografia, audiovisual, grafite, estêncil, lambe-lambe, xilogravura, dentre outras. Os intervencionistas estão comprometidos com a experimentação e transformação do espaço urbano. Para além desta transformação, buscam também uma forma alternativa de viver, sobreviver e se expressar. A interação da arte com a população em espaços públicos é a grande jogada das intervenções urbanas. É o que as difere dos quadros pendurados no museu, da exposição de fotos na galeria e da escultura ex-
http://goo.gl/op1dQ8
http://goo.gl/r1ckB6
Intervenções urbanas mudam a paisagem da Cidade Foto: Diogo Marques
posta na sala de estar. “Munidas de criticismo, as intervenções buscam conversar com as pessoas”, afirma Thyago Robl. Formado em Audiovisual, Thyago trabalha como filmmaker e, junto a artistas independentes e coletivos de arte, já documentou várias ações artisticas, entre as quais a instalação de instrumentos musicais em paradas de ônibus do bairro Benfica. Para ele, Fortaleza não está acostumada com intervenções
urbanas, por isso, o público acaba interagindo de forma tímida, com medo ou, muitas vezes, com falta de interesse de entender o que está sendo feito. O sentimento de estranheza por parte da população evidencia que as ações ainda não são comuns na Cidade, mas ao poucos mudam o cotidiano das pessoas. Nome conhecido da arte urbana no Ceará, Narcélio Grud fez das ruas seu ateliê. Para ele, intervir em espaços públicos ajuda a trabalhar o olhar
Audiovisual também é intervenção Em Fortaleza, os coletivos vêm interagindo através de diversas linguagens nos espaços da cidade. O audiovisual é uma delas. E essa foi a opção escolhida, dentre tantas, pelo coletivo Pode Crer para atuar na Barra do Ceará. O nome do Cine: “Cine Invazão”, a alcunha faz um trocadilho com a história do bairro, Goiabeiras, a última praia do lado oeste da cidade, que surgiu através de invasões populares, de onde se vê um lindo pôr do sol e o mar se misturando com o Rio Ceará para nutrir o mangue. É em meio a esse cenário e outros da localidade que o coletivo passeia com o cineclube itinerante. O cine acontece em forma de circuitos, os locais das exibições são mapeados e esse mapeamento norteia a curadoria dos filmes. Para Paulo Bocão, gestor do coletivo PodeCrer e estudante
das pessoas. Dispensando explicações, quando questionado sobre o objetivo de suas obras, devolve a pergunta para os expectadores: “O que você está vendo? Cada um cria sua própria leitura, então deixar um enigma, um mistério, pode ser mais interessante.” Porém, a interação do público com suas intervenções nem sempre proporciona uma experiência positiva. Narcélio reconhece a natureza efêmera da arte urbana, mas afirma que
algumas pessoas não sabem interagir de forma cuidadosa com as obras e acabam danificando. Sendo a rua de todos e para todos, a arte torna-se democratizada, e, ao mesmo tempo em que os artistas tocam em questões sociais e utilizam de ideias politizadas, outros se manifestam de forma totalmente sentimental e pessoal. Então ficamos com um questionamento para nossa cidade: Qual o melhor lugar para espalhar sua ideia, senão a rua?
Enquete
Qual a sua opinião sobre grafismos nas ruas da cidade? As manifestações artisticas cada vez mais ganham espaço na cidade. Em Fortaleza, a população se divide “Gosto do grafite, acho legal, uma expressão de arte interessante, a gente para e pensa. O cara faz uma arte pra tá exposta, não um quadro pra ficar trancado num local que ninguém vê”
Cine Invazão no Campo do Grêmio, na Barra do Ceará. Foto: Diógenes Lopes
de Letras, o principal objetivo das intervenções urbanas é fortalecer o vínculo do moradores com o território em que vivem. Para isso, é preciso pensar tanto na valorização de alguns aspectos do local, quanto na problematizarão de algumas questões. Para ele, atuar nas ruas é importante, pois a rua
é um espaço publico não só de circulação, mas também de interação de sujeitos. Por isso deve ser usado pelos moradores como palco para interações. Interações essas que sustentam a comunicação e a troca de serviços entre uma comunidade, fortalecendo sua própria autonomia.
“Eu não acho interessante, tem que ter um local especifico pra pessoa fazer isso daí, tem que zelar pela limpeza pela organização da cidade” Rafaela Alves Estudante de Direito
Jose Luiz Pedreiro
“Intervenção urbana é vida vivida, é a busca da permissão da ruptura com alguns padrões estabelecidos. Porque muitas vezes esse padrões não respeitam a logica humana, e a intervenção urbana é humana.”
“Eu acho que não deveria ser feito nesse tipo de local, deveria ter um espaço adequado pra fazer isso, porque aqui é um local público que nao deveria ter esse tipo de arte.”
Analu Tofóli Professora Universitária
Mitia Paiva Estudante de Nutrição
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Intervenção sonora “Bus stop sound”realizada em paradas de ônibus no bairro Benfica Foto: Thyago Robl
Acesse video:
http://vimeo.com/71067508
As meninas do Selo Coletivo pintam o muro do Hey Ho!, em 2010. Foto: Divulgação
Intervenção realizada em fachada em ruínas na avenida Dom Manuel Foto: Emilia de Andrade
Intervenção feita pelo Selo Coletivo no carnaval de 2011. Foto: Divulgação
Lambe-lambe feito em lata de lixo por Grud Foto: Divulgação
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“Perdida” será adaptado às telonas Filme de Carina Rissi está em fase de pré-produção e chega aos cinemas em 2015 com história de romance e trama no Brasil do século XVIII Bruna Bezerra e Fabíola Cordeiro
Confirmado na Bienal do livro no Rio de Janeiro, Perdida, de Carina Rissi vai para as telonas. O filme já está em desenvolvimento e entra em pré-produção no começo de 2014, mas só vai para o cinema em 2015. Perdida teve a sua primeira publicação em 2011, pela editora Baraúna, e depois foi relançado pela Verus, grupo Record. Estima-se que mais de 12 mil exemplares já foram vendidos só no Brasil. Em 2012, o livro entrou para a lista dos livros em português mais vendidos na Amazon Alemã, ficando na quarta colocação. Carina Rissi é umas das roteiristas do filme, junto com o cineasta Luca Ambra que fará a adaptação do romance. Uma das principais preocupações de Carina é manter a integridade da obra. “O livro é um pouco denso e o tempo na tela não é tão grande”, destaca.
Vida e obra Carina Rissi nasceu em Ariranha, interior de São Paulo, onde vive até hoje com a família. Aos seus 33 anos, Carina conta que nunca passou pela sua cabeça ser escritora, seu sonho mesmo era ser jornalista. Tudo mudou quando assistiu a uma entrevista de Stephenie Meyer, autora da saga “Crepúsculo”. “Só depois de assistir a uma entrevista onde ela contava que também vivia em mundos de faz de conta é que criei coragem para começar a escrever. Não foi uma decisão do tipo ‘agora vou escrever um livro’. Foi mais um ‘vamos ver o que acontece se eu tirar da cabeça essas histórias e colocar no papel’”, conta. Perdida marcou sua estreia nas letras. A ideia do livro surgiu numa noite em que Carina ficou sem energia elétrica na hora do jantar e percebeu que não se lembrava de como aquecia comida sem um micro-ondas. “Me senti uma idiota que não sabe se virar sem um eletrodoméstico. Me peguei pensando como as pessoas se alimentavam antes do micro-ondas ser inventado e depois tentei imaginar como seria viver num lugar sem recursos
Literatura, Carina Rissi na Bienal do livro. Foto: Arquivo pessoal
conhecendo todas as facilidades que temos hoje.” A protagonista Sofia nasceu naquela noite, mas apenas dois anos mais tarde Ca-
Blogs ajudam na divulgação de novas obras e autores Para Carina Rissi, os blogs foram fundamentais no sucesso de Perdida, pois atuaram de forma divulgadora, o que é essencial para um escritor. Os blogs se tornaram um dos principais canais de comunicação da internet, tanto para uso pessoal quanto para uso corporativo. Eles podem abordar diversas áreas como moda, humor, literatura, política, entretenimento e comunicação. Só no Brasil são mais de 10 milhões de visitantes por mês, segundo dados do Ibope/NétRatings. E esses números só tendem a crescer. Nos últimos anos, o número de usuários que tornaram seus blogs rentáveis aumentou consideravelmente. O que antes era um hobby, agora passa a ser um trabalho como outro qualquer. Blogueiras de moda que fazem sucesso no Brasil chegam a ganhar até R$ 80 mil por mês, tudo isso pelos anúncios, citações e posts no blog, publicação de fotos e aparição em vídeos e eventos. Já quem possui blog literário recorre à parceria com editoras. Cada vez mais, empresas almejam leitores apaixonados
Internet, Jordana Silva do blog Feed your Head. Foto: Arquivo pessoal
que escrevam sobre literatura em seus blogs. Além de atuarem como divulgadores dos produtos, os blogs são mantidos por fãs e acessados pelo público-alvo de boa parte das obras. Editoras como a Intríseca, Arqueiro, iD, Novo Conceito, Verus, entre outras, veem nessa ferramenta um importante canal para falar com leitores. “Sempre buscamos divulgar nossos livros por meio de ações integradas, e os blogs são importantes ferramentas neste
conjunto de ações. Eles exercem um papel influenciador muito importante, não somente na divulgação dos nossos livros em si, mas, principalmente, para estímulo à leitura e à literatura”, ressalta a iD, editora voltada para o público jovem. Cada editora tem um modelo de parceria diferente, pode ser que ela não aceite fazer acordo com determinados blogs. Para Jordana Silva, dona do blog “Feed your Head”, o fato de a editora recusar o pedido de parceria não significa que o blog seja ruim. Há três anos publicando seus textos, Jordana conta que aprendeu muitas lições nesse período de blogosfera e dá dicas para aprimorar um blog literário. “Trabalhe com afinco para manter um bom conteúdo, escreva em um português decente, tenha um template/layout bacana, não brigue nas redes sociais e não faça ‘mimimi’ porque uma editora te negou a parceria. Seja imparcial e não troque ‘resenhas positivas por livros’, pois desse jeito seu blog perderá toda a credibilidade”, ensina Jordana.
rina começou a escrever sua história. Segundo a autora, durante esse tempo as cenas apenas iam e vinham em sua cabeça, a história ainda in-
completa. Ela diz que quando resolveu escrever para valer e o enredo foi se formando, percebeu que o romance estava se assemelhando a um chick-lit (gênero literário que tem como tema central o universo feminino). “Eu não pensei em que gênero se enquadraria enquanto escrevia, foi natural. Acho que meu estilo acaba sendo reflexo do que eu gosto de ler”, explica. Perdida é um sucesso de público e tende à continuação. Para a blogueira Priscila Alves, do blog literário Feed your Head, o livro surpreendeu positivamente. “Me impressionou. Acho que é um livro diferente, cativante e engraçado. Os personagens são bem construídos, os cenários são bem descritos e principalmente a história em si é surpreendente e eu acho que esse é o grande diferencial. Perdida é um conto de fadas moderno”, destaca Priscila. Atualmente, Carina está trabalhando no enredo de “Perdida 2” (com lançamento previsto para 2014) e na roteirização do filme de Perdida, previsto para 2015. Os fans aguardam avidamente os dois lançamentos.
Resenha
Por Fabíola Cordeiro
Perdida, um amor que ultrapassa o tempo Uma das coisas que chamam a atenção de cara para esse livro é o tema de viagem no tempo. Existem muitas obras que tratam do assunto. Mas em Perdida, Carina Rissi consegue nos envolver de uma forma fácil e sem complicações. Com uma escrita leve e nada difícil, Perdida nos leva ao Brasil do século XVIII, onde a imagem social era bem mais destacada do que qualquer outra coisa. Sofia, a protagonista, vive em uma capital, São Paulo Ela é completamente dependente da tecnologia no seu cotidiano. Se ela passar um dia sem o seu celular é capaz de enlouquecer. Trabalha em um escritório desde que terminou a faculdade, embora não goste. Mas, como a viagem do tempo se encaixa neste livro? Sofia deixa o celular cair na privada e tem que conseguir outro. Nisso ela compra de uma mulher meio suspeita. Quando tenta ligar, ela é envolvida por uma luz e vai parar no século XVIII. E quem melhor para ajudar uma donzela do que um homem maravilhoso? Pois é, esse é o Ian. Lindo, charmoso, elegante e principalmente um cavalheiro. Ele definitivamente é um homem que toda mulher deseja. Ele ajuda Sofia sem hesitar, pensando que ela foi assaltada, e a leva para sua casa onde vive com sua irmã. Agora imaginem Sofia, uma mulher moderna do século XXI, que não mede o que fala, cheia de gírias, e tendo que viver sem tecnologia e num mundo com costumes diferentes? É confusão e muitas risadas na certa. Sem celular e computador, Sofia tem que se virar e tentar se adaptar aos costumes da época.E ainda tem a questão das roupas. O Brasil, que é um país quente e tendo que se vestir com muitas peças de roupa, é anágua, vestidos enormes com muito pano e espartilhos . É uma história com uma trama bem elaborada, onde você encontra cenas engraçadas, de suspense e muito romance. Sofia tem um longo caminho pela frente tentando descobrir como voltar para os dias atuais. Mas será que depois de uma estadia com Ian no século XVIII ela vai querer voltar? Carina ainda faz várias citações no livro usando Jane Austen, escritora britânica que ficou conhecida pelo seu mais famoso trabalho, Orgulho e Preconceito. Estudante do sétimo semestre de jornalismo
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Cinema ainda é ficção em grande parte do Ceará Esquecidos no tempo, moradores do Interior reclamam da falta de salas de cinema e projetos audiovisuais, apesar de toda a tecnologia atual Hamlet Oliveira e Sara de Sousa
Apesar de se popularizar cada vez mais e ser considerado a sétima arte, o cinema ainda não é realidade em muitas cidades do Brasil, principalmente no interior do Ceará. O Estado possui 184 Municípios. Destes, apenas cinco possuem salas de cinema, incluindo a Capital. Com isso, muitas pessoas, principalmente jovens, ficam sem alternativas quando o assunto é entretenimento. A estudante universitária Clycia Najara, 20, conta que é uma amante de filmes e de cinema, mas por questões práticas e pelo fato de ela precisar se deslocar de Morada Nova,até Limoeiro do Norte, município mais próximo que dispõe de salas de cinema, programa se
torna um pouco inviável. Para assistir a um filme a jovem precisa viajar por mais de uma hora, percorrendo 36km de uma cidade para outra. A viagem até Limoeiro, no entanto, não garante que Clycia consiga ver algum filme, pois geralmente as sessões já estão esgotadas. O Cinema Francisco Lucena é o único de Limoeiro e recebe pessoas de várias outras regiões, e conta com apenas duas salas de exibição. “Às vezes nem vale a pena o tempo e o dinheiro gasto, pois muitas vezes já está muito lotado, o jeito é voltar pra casa e alugar filmes na locadoura”, conta. Em Poranga, é ainda pior. Localizada na Serra da Ibiapada, na divisa entre Piauí e Ceará, próximo a Ipu, lá os jovens revelam não terem muitas opções de lazer. Até hoje, a atração dos moradores é circular várias vezes pela única praça da cidade, ou esperar o período das férias do mês de julho, é o que conta a estudante Mariane Portela, 21. “Eu fui ao cinema uma vez, em Fortaleza. Quan-
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Pioneirismo: o Cangaço foi documentado Durante a segunda década do século XX, o Ceará viu nascer em suas terras o registro de seus primeiros filmes, realizados por diretores anônimos. Porém, devido ao trágico incêndio ocorrido na Biblioteca Pública do Estado do Ceará, boa parte do acervo se perdeu e muitos nomes permaneceram no esquecimento. Apesar deste triste fato, registros importantes para nossa história conseguiram ser salvos, como a importância de Adhemar Albuquerque e Benjamim Abrahão para a consolidação do cinema no Estado. Cine Aratanha promove exibições voltadas para o público infantil em comunidades onde não existem salas de cinema Foto: Arquivo pessoal
do falo no assunto os meus amigos gostam da ideia, mas infelizmente, fica só na ideia mesmo”. Boa experiência Em Sobral, a experiêcia com a instalação de um cinema deu bons resultados, movimentou a cidade e deu uma alternativa de lazer às pessoas. Para o professor de História Marcelo Gomes, 42, a chegada do equipamento movimentou o turismo em Sobral e contribuiu de certa forma para a educação das pessoas. “O cinema é uma ferramenta que dissemina a arte e contribui para a formação social. Funciona como uma oportunidade de experimentar vivências de coisas que não fazem parte do cotidiano das pessoas”, afirma.
Diante disto, em contra partida, a Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (Secult) conta que incentiva a abertura de salas de cinema através de editais que fomentam a atividade cineclubista. Também apoiam projetos de cinema itinerante. Entre eles, Cine Ceará, Cine Endesa, que criou o Cinema Itinerante Nordeste e desenvolve atividades em São Gonçalo do Amarante-Ce, projeto Cine Coelce – Cinema na Praça realizado em parceria com a Universidade Federal do Ceará(UFC) e Casa Amarela Eusélio Oliveira. Estas e outras ações levam até os bairros mais carentes da Capital e para a Região Metropolitana de Fortaleza amostras de filmes e documentários.
Investimento em produções é o desafio Apesar de o Governo afirmar que investe na atividade audiovisual do Ceará, não só a população, como os próprios realizadores reclamam do atual cenário local. “O que falta mais é um posicionamento do Estado de investir na produção”. Com essa frase, o diretor de “Cine Holliúdy” (2013), Halder Gomes, define sua visão quanto ao incentivo público na realização de produtos audiovisuais no Ceará. Para o diretor, os municípios do Interior estão à mercê dos interesses dos grandes exibidores em levar salas de cinema para municípios menores. Como ilustrado no filme “Cine Holliúdy”, incluindo a Capital, o Ceará conta com poucas salas de cinema em seus municípios, todas mantidas pela iniciativa privada. “É preciso existir um shopping para surgir um cinema. E esse universo do Interior não faz parte do interesse dos grandes exibidores”, ressalta Halder.
Halder Gomes e Glauber Filho durante o evento Focom falando sobre a criação do longa Cine Holliúdy Foto: Daniel Brainer
Contudo, a popularidade do filme despertou um desejo da população de cidades pequenas em ter acesso a cinemas. Para Halder, o interesse dos moradores do Interior gera uma demanda importante para cineastas locais, que produzem obras voltadas para nossa própria gente. “A falta de espaços adequados para a exibição de filmes é um empecilho tanto para os realiza-
dores quanto para o público”, reforça o diretor. Uma prova desta falta de incentivo do governo cearense está nos créditos da obra de Halder Gomes, Cine Holliúdy. Enquanto são exibidos os patrocinadores, percebe-se que o único órgão público a apoiar o projeto foi a Prefeitura do Rio de Janeiro, o que é, no mínimo, contraditório. Durante um evento sobre a
criação do longa no Shopping Benfica, Halder falou da dificuldade de receber apoio da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (Secult). O diretor aponta saídas encontradas pela população para terem acesso a filmes, como festivais itinerantes e cineclubes. Uma destas alternativas está localizada em Pacatuba/ CE, com o Cineclube Aratanha, criado em 2008, pela Secretaria de Cultura e Turismo de Pacatuba, com o incentivo fiscal da Lei Rouanet, que apoia projetos de realizadores culturais. Apesar do sucesso do filme, o diretor é realista quanto à importância de sua obra, enxergando-a como uma forma de abrir um questionamento sobre a falta de espaço que o cinema possui no interior do Estado. “Elas vão pensar ‘poxa, eu quero um cinema’. Pode ser que ele realmente instigue as pessoas a questionar por que não têm cinema. E a quem vão recorrer”, completa.
Em 1924, Adhemar dedicou-se a filmar partidas de futebol, um esporte já admirado pelos cidadãos. Na época das exibições, suas filmagens foram elogiadas pela imprensa pela boa qualidade da imagem e pela inovação que trazia para a cidade. Com o sucesso consolidado de suas exibições, durante as décadas de 1920 e 1930, logo veio sua maior realização, “O Juazeiro do Padre Cícero e Aspectos do Ceará”, documentário lançado em 1925. Figura marcante da história do Ceará, Padre Cícero possuía diversos devotos espalhados pela região Nordeste. Um dos mais conhecidos era Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. Por intermédio do Padre, o mascate Benjamim Abrahão, emigrante do Líbano, conheceu o cangaceiro. Interessado em registrar o convívio entre Lampião e seus homens, o libanês procurou em diversos estados do nordeste brasileiro pistas do paradeiro do grupo fora-da-lei. Depois de um longo período de buscas, o encontro finalmente ocorreu e, após convencer Lampião de que não trabalhava para a polícia, registrou dias e momentos íntimos do bando. O feito se tornou popular a ponto de ganhar capas de jornais da capital cearense. Ao retornar para Fortaleza e lançar seu filme, Benjamim Abrahão foi censurado pela ditadura Vargas, representada pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Contudo, o curto filme permaneceu preservado, apesar de, na época, jamais ter sido projetado para o grande público. Benjamim foi encontrado morto com 42 facadas na Serra Talhada, em 1938. Investigações apontaram que sua morte se deu por mostrar em seu filme Virgulino e seu bando como pessoas simpáticas, indo contra as ideologias governamentais. Em lembrança do amigo e colaborador, Adhemar Albuquerque continuou a preservar sua maior obra, lançando-a ao público em forma de documentário em 1957.
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Assessorias esportivas estimulam o prazer pela corrida Conheça o trabalho dessas empresas que atendem de forma personalizada iniciantes e competidores e estimulam o exercício ao ar livre Emilly Sousa e Mariana Paula
Ao mesmo tempo que Fortaleza cresce, aumenta a quantidade de praticantes de corrida de rua. Os fatos que comprovam essa tendência são o número superior de eventos de corrida que vem acontecendo na cidade e a grande quantidade de corredores que sempre participam desses eventos, ocupando os equipamentos disponíveis em algumas praças da capital. Outro fator que influenciou essa mudança é o trabalho das assessorias esportivas especializadas em corrida e outras atividades físicas supervisionadas ao ar livre. Em termos gerais, essas empresas fazem serviços de avaliação, montagem e acompanhamento de treino. Para isso, é feito um planejamento específico para cada aluno, de acordo com os seus objetivos. Para saber melhor como essas empresas atuam, o Sobpressão conversou com Adriana Genioli, educadora física e proprietária da AG Assessoria Esportiva, que explicou como esse serviço se desenvolveu ao longo do tempo: “Quando o aluno vai correr, ele conta com uma tenda que oferece suporte com alongamento, água e iso-
tônicos. Em dias de eventos de corrida, coloca essa mesma estrutura como ponto de apoio e oferecemos uma massagem, uma mesa de frutas, enfim, todo um suporte para aquele aluno que vai participar da competição”, explica. Segundo Adriana, o número de adeptos à corrida começou a crescer a partir de 2009. O resultado desse fato é que os clientes dessas assessorias não são necessariamente atletas especialistas na modalidade, mas também aqueles que estão iniciando uma atividade física, o que resulta em um variado grupo de pessoas com diferentes tipos de condicionamento físico. Adriana ressalta que não há contra-indicação para quem quer correr, mas alerta: “Existem pessoas que não podem praticar corrida. Se tiver hérnia de disco ou alguma lesão, primeiro tem que tratar o problema para depois começar.”, observa”. A avaliação física é o primeiro passo que deve ser dado para correr através de uma assessoria, a fim de que o educador físico saiba como está o condicionamento físico do aluno para decidir como sua planilha de treinamento será produzida. A postura e a forma de correr também são avaliadas. Ele geralmente começa caminhando e aos poucos ele começa a correr, recebendo planilhas de treinamento semanalmente via e-mail.”O aluno tem que tirar um tempo do dia pra cumprir a planilha.
Profissionais de assessoria auxiliam o treinamento dos corredores na Avenida Beira Mar Foto: Mariana Paula
Caso ele não consiga devido a problemas de trabalho, de saúde etc, ele tem que avisar antes para o seu treinador a fim de que ele modifique o cronograma de corrida”, alerta Adriana. O ponto de encontro dos alunos da AG, como de outras assessorias esportivas, é na Avenida Beira Mar, onde o trei-
namento geralmente ocorre no começo da manhã. No local é possível encontrar pessoas de várias idades praticando, além da corrida, ciclismo, natação e treinamento funcional. Embora todas essas modalidades ofereçam benefícios ao corpo, é necessário escolher bem o que praticar, a fim de que não haja
desistências no meio do processo de treinamento. “Quando a pessoa gosta do que faz, ela não irá faltar aos treinos, vai conseguir arranjar tempo e fazer de forma sequencial a atividade, para com o tempo começar a receber os benefícios para a sua saúde”, observa a educadora física.
Aposentado se apaixona pela corrida e vira atleta Arnaldo Bezerra Lima, de 55 anos,viu sua vida mudar com a corrida. Em 2005 ele pesava 98 quilos e tinha problemas de saúde, quando começou a cuidar da alimentação e a fazer caminhadas por conta própria. Com o tempo, começou a correr os 5Km de extensão da Avenida Beira-Mar e iniciou sua participação nos circuitos de corrida de Fortaleza. Para conseguir o condicionamento físico para percorrer os 21Km de uma meia-maratona, ele procurou os serviços de uma assessoria esportiva. “Vi que precisava de um suporte. Meus amigos de treino me recomendavam que eu precisaria de um profissional para realizar meu desejo”, relembra. Antes de iniciar os treinos,
Arnaldo Lima exibe medalha conquistada na meia-maratona de Lisboa Foto: Arquivo Pessoal
ele passou por uma série de exames para a análise de sua saúde e logo depois recebeu o aval para correr três vezes por semana e fazer outros exercícios até a data da competição. Hoje ele já fez quatro maratonas e teve a possibilidade de conhecer vários lugares a partir das competições, como o Chile e o Rio de Janeiro. Sobre as mudanças que aconteceram em sua vida após a corrida, o aposentado esportista ressalta as amizades que ganhou:”A gente faz amizade a cada hora, quando estamos treinando e participando de competições. O meu círculo de amigos triplicou quando comecei a correr”, observa. Atualmente, o Triathlon, esporte que combina natação, ciclismo e corrida, tem sido o seu desafio. Além de se exerci-
tar de acordo com as planilhas que recebe via e-mail todos os dias, ele segue uma dieta rigorosa, só podendo exagerar nos finais de semana.“Já faço parte da Federação de Triathlon do Ceará e nesse ano já participei de competições da área, mas ainda estou começando. Pretendo trabalhar para fazer o nível intermediário do esporte e futuramente participar do Ironman, que é uma das modalidades do triathlon no qual os trajetos são mais extensos”, acrescenta. Arnaldo dá dicas para quem almeja deixar o sedentarismo:” O mais difícil é a iniciação, é quando a pessoa tem que acordar cedo, conviver com as dores do exercício. Mas os ganhos à sua saúde compensam bastante esse sacrifício”.
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Cientistas e adeptos confirmam: artes marciais fazem bem à saúde protetores, e isso também é influenciado pelo instrutor”.
As artes marciais trazem muitos benefícios para a saúde do corpo e da mente, contudo a prática deve ser rodeada de cuidados. Equipamentos adequados são essenciais para a prática Mateus Costa Ramos
Artes marciais fazem bem ao corpo e à mente. A afirmação vem de uma pesquisa realizada pela Universidade de Vermont, nos Estados Unidos, que concluiu que a endorfina, hormônio liberado após atividades físicas, fica presente no corpo por até 12 horas. Essa constatação científica comprova a máxima, “Uma mente sã num corpo são”. A cultura do culto ao corpo, vivenciada na atualidade, tem ajudado a difundir a procura pelas lutas, já que são exercícios de alto impacto e de um gasto calórico elevado. Segundo o educador físico Elias Rêgo, 26, é possível se gastar entre 500 e 950 calorias em um treino de lutas. A perda de peso tem sido a principal justificativa de muitos alunos que procuram academias de artes marciais, de acordo com o mestre de Taekwon-Do Teodosio Riveros. Teo, como gosta de ser chamado, afirma que alguns alunos chegam a perder 10 kg em apenas 2 meses, aliando o treino a uma alimentação adequada. E que muitos deles acabam gostando e continuam treinando mesmo após ter seus objetivos atingidos. Praticar artes marciais faz bem tanto à mente quanto ao corpo, é o que diz
Taekwon-Do, caminho dos pés e das mãos Foto: Mateus Costa Ramos
Lucas Freitas
Vanessa Tanimoto, praticante e instrutora de arte marcial Foto: Mateus Costa Ramos
Todos nós somos lutadores, a vida é uma constante luta, mas nunca devemos brigar. (...) Praticantes incentivados por instrutores sem maturidade se tornam violentos, um problema para a sociedade e para os que vivem das artes marciais. Instrutor de jiu-jitsu
Team Nogueira chega ao Ceará
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Curiosidades das artes marciais A criação das artes marciais é rodeada de mistérios. Não há uma data, nem local específico que seja registrado oficilamente como berço desta atividade. Aqui são umas das muitas lendas que falam sobre o surgimento das artes marciais.
Marte, deus romano da guerra. Por ser inicilamente utilizada apenas para treinamento de tropas de guerra, as artes marciais tem seu nome originado do deus romano da Guerra, Marte. Antigamente, as tropas eram treinadas apenas para defesa de territórios e bens públicos ou privados. Ou seja, a arte marcial era uma arma de guerra.
Vajramushti, a primeira luta. Apesar de não haver um registro oficial, há indícios de que a primeira forma de luta tenha sido criada na Índia, há mais de 2 mil anos atrás. Seria a “Vajramushti”.
Elias, mas ele também afirma que a ausência de cuidados especiais pode transformar o prazer em desprazer facilmente. Como são atividades de alto impacto e que lidam também com uma filosofia de vida, as proteções e um instrutor capacitado são coisas indispensáveis. Segundo ele, se não há uma utilização correta dos protetores, específicos para cada arte marcial, a chance de ocorrer uma lesão grave é extremamente alta. “São lesões de atletas profissionais, coisa que demora para se curar. Há pessoas que necessitam de cirurgias por conta de uma má utilização, ou não utilização dos
Maus instrutores Lucas Freitas, instrutor de Jiu-Jitsu, explica que um mau professor, além de poder causar lesões nos alunos, pode formar mal seus lutadores. “Isso ocorreu muito na década de 90 e início dos anos 2000. Os praticantes de artes marciais eram mal vistos pela sociedade, tudo por causa dos ‘pit boys’, que geralmente eram alunos mal influenciados por instrutores sem maturidade, que incentivavam a violência, tornando seus praticantes também violentos”. Segundo Lucas, é necessário que o instrutor guie bem seus discípulos pelos caminhos da filosofia da arte marcial, mostrando que lutar é muito diferente de brigar. “Todos nós somos lutadores, a vida é uma constante luta, mas nunca devemos brigar”. Lucas afirma que a filosofia das artes marciais ajud muitas pessoas: “tem gente que chega aqui arrasado com as coisas da vida e essa filosofia acaba se tornando quase uma religião, é uma doutrina a ser seguida, como o respeito ao próximo, a integridade, força de vontade. Isso ajuda muita gente”. Manoel Lafuente, praticante de Jiu-jitsu há mais de 1 ano, diz que a arte marcial o ajuda a enfrentar melhor os problemas do dia a dia. “As vezes eu chego no treino totalmente submerso em angústias, depois de suar o kimono, bater no saco de pancada e ouvir meu mestre, saio de lá totalmente renovado, pronto para outra”.
Artes contemporâneas. Diferente do que muitos acreditam, nem todas as artes marciais são milenares. O Taekwon-Do, por exemplo, é bastante recente. A arte, que significa caminho dos pés e das mãos, tem apenas 58 anos e suas técnicas são baseadas em leis da física, como a força da gravidade e os movimentos em ondas sinusoidais.
No mês de outubro, chega a Fortaleza uma das academias de artes marciais mais famosas do mundo. A Team Nogueira, dos irmãos Rodrigo Minotauro e Rogério Minotouro. A unidade será a 1ª no Nordeste. Hoje, a Team Nogueira está presente em várias cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Londrina; Orlando e San Diego, ambas nos Estados Unidos; Dubai, nos Emirados Árabes; e Zurique, na Suíça. A academia chega com a proposta de levar as artes marciais para todas as pessoa, desde crianças até idosos. A Team Nogueira conta com programas especiais, como o “Ladies Camp”, um treinamento ape-
Team Nogueira Foto: Mateus Costa Ramos
nas para mulheres e o “Team Nogueira Kids”, para crianças a partir de 3 anos. “Vamos cultivar diariamente a filosofia das artes marciais difundindo o respeito ao próximo e a si mesmo, superação, perseverança, alegria, bem-estar, disciplina e qualidade de vida, juntamente com um programa de treinamento diferenciado”.
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Novas tendências agitam mercado de festas infantis O luxo das festas infantis chama a atenção do aniversariante e dos convidados. Por trás de cada festa existe dedicação de muitos profissionais Carla Raquel e Kévila Cardoso
Festas de aniversário, por mais simples que sejam, mexem com a cabeça das crianças. Seja pelos presentes recebidos, seja pelo fato de poder reunir amigos e comemorar, sem falar dos doces, das brincadeiras, e da emoção de quando “parabéns pra você, nesta data querida …” é cantado. Ultimamente, muitos pais têm transformado a festa de seus filhos em verdadeiros eventos de luxo. São decorações sofisticadas, bolos artesanais e decorados, convites e lembrancinhas. É claro que tudo isso tem um preço alto. O mercado de festas infantis está crescendo, e diversos profissionais estão surgindo. Com isso os pais têm muitas possibilidades para escolher o serviço mais adequado. São cerimonialistas, doceiras, artesãs, animadores infantis e buffets, todos envolvidos para que a festa aconteça da forma como os pais sonharam. “É um trabalho apaixonante, o mundo infantil é encantador. A criança possui doçura e inocência e nos permite brincar com a imaginação. Para muitas mães a festa de um ano do seu filho é a realização de um sonho. Existem mães que me procuram quando desocobrem
Luxo e delicadeza em festa organizada por Rafaela Mesquita Cerimonial
a gravidez, para começar a sonhar e discutir os detalhes da festa”, afirma a cerimonialista Rafaela Mesquita. Profissionais envolvidos Para Paula Athayde, proprietária do Fiestas Buffet, o cuidado na produção do aniversário é importante para o sucesso da festa. “É preciso colher o máximo de informações possíveis do que o cliente pretende, para assim fazer o planejamento do evento”, explica Paula. É preciso levar em conta a quantidade de convidados, o local, o tema da festa, os sonhos, os custos, o gosto musical, o cardápio, dentre outros. São muitos os profissionais envolvidos para o sucesso de uma festa, dentre eles: decorador, chef de cozinha, segu-
Foto: Magnum Fotografia
rança, cake design, filmagem, fotógrafo, músico, cerimonial, manobrista, animador etc. E tudo isso, adaptado ao gosto do cliente.” Mas, também é possível fazer uma festa bonita sem precisar gastar tanto. Paula Athayde lembra que é possível fazer uma festa bonita sem gastar muito, ligando o bom gosto e tempo para pesquisar. Ela enfatiza que o importante é que seu convidado esteja gostando e sinta o carinho do anfitrião. “É preciso ver o número de convidados e até quanto a pessoa quer gastar, e em seguida procurar bons profissionais e pechinchar”, complementa Rafaela Mesquita. Mercado em ascensão Para conquistar um espaço
nesse mercado, é necessário estar sempre atento às novidades. Com o mercado em crescimento é importante ter um diferencial, para isso é preciso participar de feiras e eventos, a nível nacional e internacional, ler sobre as tendências, participar de cursos e expor produtos. Fazer divulgação nas redes sociais, revistas, e mídia em geral é imprescindível. Serviço Fiestas buffet - Rua Pereira de Miranda, 568 - Papicu, Contato: 3265.1244 Rafaela Mesquita - Cerimonial Contato: 86846429 / 97757735 Casa de José de Alencar - Avenida Washington Soares, 6055 Contato: 3276.2378 Empresa - PatyScrap (Patrícia Siqueira) Contatos: 85-9621-4671 ou 8769-1290
Saiba Mais
Novidades do setor na Expofest Kids Tudo começou no ano de 2009, com o objetivo de realizar uma grande feira com profissionais do segmento infantil, com a exposição de produtos e serviços, atividades lúdicas, animações, apresentação de bandas musicais e muito mais. A feira está em sua 5 edição e promete trazer novidades. A edição 2013 do evento acontecerá nos de 9 a 11 de outubro, no Centro de Negócios do Sebrae, localizado na Avenida Monsenhor Tabosa, 777, na Praia de Iracema. O Evento é dedicado as mães, filhos, empreendedores do ramo, e contará também com espaço para contação de histórias e teatro. Os organizadores prometem muita diversão e entretenimento para a criançada, dentre eles o grupo Catavento e “Os Palhaços do Circo de Chulé”. Será possível também degustar bolos, doces e guloseimas em geral, uma oportunidade para as mães conhecerem cada profissional. No âmbito social a feira contará com a coleta de sangue para reforço dos estoques do Hemoce (Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará). O irreverente grupo músico-teatral, Dona Zefinha, encerrará a feira com sua apresentação no dia 11 de outubro, às 20h. Na peça, brincadeiras, palhaçadas, música excêntrica e outras surpresas prometem provocar o riso da meninada. Para quem se interessar em expor produtos, não é preciso ter CNPJ, basta levar documentação para assinar contrato e fazer pagamento em boleto ou cartão de crédito. O ingresso para visitação custa R$ 15,00.
Diversão, simplicidade e delicadeza ao ar livre Hoje é possível realizar festas infantis em parques, praças, shoppings. Diante dessas novas possibilidades, a engenheira química, Patrícia Siqueira, decidiu comemorar o aniversário de 7 anos da sua filha Sophia em um lugar onde as crianças e os adultos pudessem desfrutar da natureza. Fugindo dos temas tradicionais utilizados em aniversários infantis, optou por fazer a festa na Casa de José de Alencar. “Queria fazer um tema novo de princesa ao ar livre, um pic-nic como se fosse nos jardins de um castelo”, diz Patrícia. Os custos foram razoáveis, já que a natureza, o espaço ao ar livre, já propicia a beleza e
Requinte, delicadeza e simplicidade na decoração do aniversário de Sophia, na Casa de José de Alencar. Foto: Patrícia Siqueira
o encanto, e foi possível complementar com uma decoração simples e bonita sem gastar muito. Além disso, Patrícia trabalha com scrap (artesanato em papel) e produziu toda a decoração, incluindo mimos e lembranças da festa. “Foi surpreendente ver que algumas crianças nunca tiveram contato com brincadeiras ao ar livre. Contratei um recreador que pôde explorar brincadeiras antigas que envolveram as crianças, e os pais puderam aproveitar os momentos despreocupados, pois o lugar é bem cuidado e seguro, estacionamento amplo e de fácil acesso”, conta Patrícia. A Casa de José de Alencar possui estacionamento para
aproximadamente 350 veículos. Para realizar uma festa naquele espaço basta agendar uma data e assinar um contrato de responsabilidade pelo patrimônio público (preservação da natureza e limpeza do ambiente). É necessário levar todo o material que for utilizado na festa. “A maior dificuldade encontrada foi em relação às instalações elétricas para ligar a máquina de crepe, mas nada que não pudesse ser resolvido rapidamente”, afirma Patrícia. A Casa de José de Alencar é uma instituição cultural mantida pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
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Startups cearenses destacam-se pelo sucesso rápido e crescente Ao contrário do que muita gente acredita, startup não é uma empresa exclusivamente de base tecnológica, mas um negócio muito mais complexo Ahynssa Thamir e Thaís Praciano
Não, essa foto não está errada. Uma lanchonete também pode ser uma startup. As startups são empresas em introdução no mercado com crescimento acelerado e baixo custo de manutenção. A ideia de que elas precisam ser ligadas à tecnologia é uma deturpação, avalia o professor de Empreendimento e Criação de Negócios da Unifor, Wilson Linz. A empresa já começa como um risco, já que não existe como prever se uma ideia inovadora vai dar certo. Depois, ela deve ser repetível, ou seja, ser capaz de entregar o mesmo produto para vários clientes sem customização para cada um. Ela também deve ser escalável, crescer cada vez mais e gerar bastante lucro. Resumindo, startups são empresas que, em pouco tempo de existência, se notabilizam no mercado e não param ou diminuem. Algumas startups do Ceará já conseguiram obter sucesso e se destacar no mercado. A Logovia trouxe um novo conceito em concorrência criativa no desenvolvimento de logomarcas e logotipos. Lá, os designers trabalham com projetos do Brasil inteiro. Pedro Renan, diretor financeiro da Logovia, define a startup como “uma plataforma de conectividade entre clientes que procuram rapidez, preço, qualidade e
designers dispostos a desenvolver soluções criativas de design visual”. Outra startup bem conhecida em Fortaleza é a do aplicativo Vitrola Mobile Jukebox, que foi desenvolvido por três estudantes da Universidade de Fortaleza, Daniel Alves, Felipe Benevides e Bruno Cruz. O aplicativo pode ser utilizado em restaurantes, pubs, shoppings, academias, salões de beleza e até em supermercados. Um dos fundadores, Bruno Cruz, conta como surgiu a ideia. “Em uma conversa de barzinho, sentimos vontade de trocar a música do local e logo lembramos das antigas máquinas Jukebox. Hoje, o projeto virou empresa, as dificuldades viraram soluções e os desafios começaram a ser vencidos”. Há também startups famosas no universo dos games. A Alvanista é uma rede social criada por cinco jogadores e permite ao usuário participar de discussões com os seus amigos, relembrar os clássicos, receber notícias, vídeos, imagens engraçadas, organizar sua coleção de jogos, compartilhar suas experiências e receber conteúdo sobre os seus games favoritos. Bruno Cavalcante, um dos idealizadores, explica que a proposta da rede social é ser a “Terra Prometida” para os amantes dessa arte. Focada em um universo mais didático, a Zeppelin Game Studio é outro exemplo. Ela se dedica a criar games direcionados para o auxílio no processo de aprendizado. A fórmula do sucesso Mas qual é o segredo para tanto crescimento? De acordo com o professor Wilson, é o
Maçaricos culinários impressionam os clientes na lanchonete Oh My Dog! Foto: ahynssa thamir
comportamento do empreendedor e da sua equipe. “Uma das características da startup é que o seu elemento fundador é um indivíduo que conhece as suas habilidades, mas também sabe trabalhar com as habilidades dos outros”. De acordo com ele, os criadores são pessoas que realmente preparam-se para o mercado e não simplesmente têm uma ideia e partem para uma aventura. Os empreendedores modificam valores e transformam hábitos em comportamento de consumo. Para criar um startup é preciso não só uma ideia, mas transformar uma oportunidade em um empreendimento de respostas rápidas, porque ela é uma empresa pequena com uma estrutura flexível, extremamente adaptável ao mercado e, acima de tudo, consciente da necessidade de um aprimoramento constante.
Sem tecnologia Apesar de a própria Associação Brasileira de Startups ter em sua definição que a startup é uma empresa de base tecnológica, não é essa a realidade. O professor Wilson explica que isso acontece porque a tecnologia muda constantemente e a startup está sempre evoluindo e por isso é mais fácil encontrar os dois como aliados. Um bom exemplo disso é o restaurante Oh My Dog!, lançado em junho do ano passado e que virou uma febre em Fortaleza. Em 10 meses, abriu mais duas lojas e já pretende abrir mais duas. O criador, Jorge Kubrusly, apostou em uma forma diferente de fazer cachorro-quente: enormes, com 30cm de comprimentos, diferentes combinações, o uso de maçaricos culinários para esquentar o queijo (na frente dos clientes) e luvas descartáveis ao invés de talheres.
Incubadoras e investidores facilitam os negócios Para expandir uma startup, as incubadoras podem orientar o empreendimento, melhorar os negócios, promover contatos com investidores e facilitar o rápido ganho de escala. Elas oferecem espaço físico para as empresas, possibilidade de ampliar o networking, assessoria para a gestão técnica e empresarial e vários outros serviços. Segundo a presidente da Rede de Incubadoras de Empresas do Ceará (RIC), Tecia Vieira Carvalho, existem oito incubadoras e um programa de incubação em Fortaleza, e, para a empresa tornar-se parte de uma, é preciso passar pelas exigências pedidas no edital de seleção. As vantagens vão para quem possui um modelo de
Incubadora do IFCE dá suporte a alunos e ex-alunos Foto: ahynssa thamir
negócio com “viabilidade econômica e técnica, diferencial competitivo, inovador e que se destaque das soluções existentes no mercado”, explica Tecia. Mêndel Oliveira e Renato Furtado fundaram a PolivalenTI,
empresa de softwares que envolvam educação. No início, eles conseguiram que ela fosse admitida pela Incubadora de Empresas do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IE-IFCE). “O
IFCE implantou uma Central de Estágio e nós atuamos com o RH do Instituto para administrar as vagas das empresas e direcioná-las para os alunos”. Outra boa alternativa são os investidores-anjos, que são empresários ou ex-empresários e empreendedores que investem parte dos seus recursos para investir em outras empresas. Esses investidores procuram negócios que possam gerar grande retorno e são chamados de anjos por apoiarem também o empreendedor com os seus conhecimentos e experiências. Até o ano passado, 6.300 anjos brasileiros já aplicaram quase 500 milhões em novas empresas, segundo a Anjos do Brasil.
Saiba mais...
Dicas de quem entende “Tenha ciência que existem pessoas muito melhores que você e que poderão te ajudar em vários assuntos.” Pedro Renan
“Ouça seus clientes, aumente sua rede de contatos, busque pessoas melhores do que você, sempre.” Bruno Cruz
“Aprenda a amar os números. Estatísticas e métricas deverão fazer parte do seu cotidiano se você quer montar uma Startup.” Bruno Cavalcante
“Desenvolva o que genuinamente é importante para você. Foco, estudo e determinação.” Andre Bayma
Serviço Oh My Dog!: Rua dos Tabajaras, 458, Praia de Iracema IE - Incubadora de Empresas do IFCE: Av. Treze de Maio, 2081 - Benfica
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Tecnologia demais também vicia O stress causado pelo excesso de dados e a ansiedade para se conectar podem desencadear a fadiga da informação e inúmeros conflitos psicológicos
Entrevista - Daniel Pinheiro
Reconheça os sinais de alerta Perda do sono, ansiedade e mudanças nas relações interpessoais estão entre os sinais mais comuns
Elisangela Lopes e Letícia Késsia
No mundo atual, marcado pelo domínio da informação e a rapidez com que ela chega até o indivíduo, reina o império cibernético, que vem desencadeando um sério problema em curto prazo. As pessoas estão cada vez mais ansiosas por notícias, vivem aprisionadas na tentativa de buscar algo que elas mesmas não sabem ao certo o que é. A tecnologia, por sua vez, vem constituindo para que isso aconteça – O que deveria ser uma ferramenta saudável e de utilidade pública está trazendo à tona discussões sobre sua dependência e os malefícios causados por quem a utiliza de forma errada. Segundo a psicóloga Camila Maia, em consequência das demandas sociais, o sujeito sente a obrigação de estar informado, seja para acompanhar a movimentação do seu grupo social, seja porque isso pode ser um requisito na hora de uma possível vaga de emprego ou outro interesse qualquer. Uma vez que a quantidade de informações disponibilizadas pela rede é imensa, há uma tendência de o sujeito não conseguir dar conta de tudo. “É aí que surgem os sentimentos de angústia, de impotência que vão fazer com que o sujeito despenda boa parte do seu tempo tentando suprir esta demanda,” diz Camila. O bombardeio de informação e o crescimento desenfreado da tecnologia têm contribuído bastante para que isto aconteça, fazendo com que as pessoas estejam conectadas o dia inteiro, sem noção de tempo e espaço, o que causa a necessidade de sempre saber mais. As múltiplas mídias (rádio, televisão, jornal e Internet) que as pessoas acompanham, principalmente pelo celular, facilitam ainda mais ao dataholic, pessoa viciada em informação, nessa obstinação. Seja no trabalho, na escola, na família, nos lugares públicos, nas salas de aula das universidades, não importa a significância do fato, a necessidade de informação e de estar conectado tomou conta das pessoas, tornando-as reféns dos dispositivos móveis e plataformas de informação. “O tempo que porventura tenham que passar afastados da Internet, é carregado de
Conectados, timidamente os dispositivos móveis foram tomando conta dos espaços e da vida das pessoas.
Viviana Alejandra
Eu acho que é necessário ter um equilibrio, pois a gente não pode depender da tecnologia e nem tampouco ter relações somente na virtualidade. Estudante de Jornalismo
culpa, pois poderia estar sendo destinado para possivelmente aproximar-se mais de cumprir a demanda. Isto é o que estão chamando de abstinência à informação”, acrescenta a psicóloga. A estudante de Jornalismo colombiana Viviana Alejandra, 18, acredita que é muito importante estar conectada e fazer uso das novas tecnologias, pois essas ferramentas são fundamentais para relacionar-se com outras pessoas, geran-
Depoimento
João Neto
Confissões de um viciado em informação Portais, Twiter, Facebook, Google, assino feeds e newsletters do senado, planalto, câmara dos deputados, entre outros órgãos, consumo 24 horas de informação. Tenho pra mim que gasto 8 horas na frente do PC, mas esse cálculo aumenta porque utilizo outras plataformas como tablet, notebook e smartphone durante todo o dia. Para mim faz- se necessário porque trabalho em um órgão público e preciso estar bem informado sobre tudo que está acontecendo. Utilizo as redes como ferramentas de comunicação, seja através de um e-mail ou mensagem via Whatsapp. Sem as redes fica difícil trabalhar. Como mandar um motoqueiro buscar um arquivo de vídeo ou pegar um release? Algo impensado, sabendo das possibilidades que temos com a Internet. Controlo três contas de e-mail, uma pessoal e duas da assessoria,. Imagina um monte de cartas chegando atrasadas? Inviável, em custos e logística. Claro! Não existe comunicador mal informado, só os que querem (risos), a informação está aí, gratuita, é só consumi-la, seja qual for sua plataforma. Parece algo clichê, mas o mercado só absorve aqueles que realmente se mostram atentos a tudo que está “rolando” ao seu redor. Hoje o que você lê, curte e compartilha no seu consumo diário por informação serve de avaliação para uma futura entrevista de emprego. As empresas estão cada dia mais atentas ao perfil dos seus funcionários. Então, cuidado com o que você consome. Não diria vício, pois não ligo informação a “falha” ou “defeito”. Vicio é um hábito repetitivo que degenera ou causa algum prejuízo ao viciado. A informação só me traz benefícios. Como é bom conhecer o desconhecido e levar conhecimento para quem não tem. Não é fácil, claro, passa a ser necessário desconectar para cultivar alguma sanidade. Dá minha parte digo que sim, nos finais de semana tento me desligar, mas, caso haja uma explosão no meu bairro ou um tiroteio nas ruas, serei o primeiro a noticiar (risos). Tudo é uma questão de como você usa as redes a seu favor.
Foto: letícia KÉssia
do uma maior proximidade. “Eu acho que é necessário ter um equilibrio, pois a gente não pode depender da tecnologia e nem tampouco ter relações somente na virtualidade”, reforça a estudante. Estatísticas Segundo pesquisa realizada em 2013 pelo grupo espanhol Telefónica, o brasileiro fica mais tempo conectado que a média mundial. 63% destes possuem smartphones e passam em média sete horas por dia online, contra apenas seis horas da média mundial. A pesquisa foi realizada pela Internet no início do ano, mas divulgada apenas no mês de junho. Participaram do levantamento 12.171 pessoas de 27 países, com idades entre 18 e 30 anos. Nesta pesquisa foram entrevistados 1.028 internautas brasileiros. Conclui-se, ainda, que as redes sociais, como Twitter, Facebook e Instagran, lideram a preferência na hora de acessar as notícias. A tecnologia tornou-se uma aliada no acesso de informações relacionadas a política e a economia do País na opinião de 57% dos entrevistados brasileiros, número elevado em relação a outros países, onde a média foi de 38%. Um dado curioso também foi revelado na pesquisa: 18% dos entrevistados brasileiros foram classificados com atitude positiva em relação à tecnologia, denominados como “líderes da geração do milênio”. A desiguadade social, educação, pobreza e saúde estão entre as principais preocupações dos jovens brasileiros consultados na pesquisa. Além de servir como aliada na busca de informações, a Internet tornou-se a fonte preferida de entretenimento.
SobPressão - O que é um Dataholic? Daniel Pinheiro - Essas ideias estão sendo amadurecidas ainda tem muitas dúvidas do que seria esta saturação. Para muitas pessoas lidarem com muita informação pode ser um sofrimento, um problema, elas mantém relações descarnadas com o mundo, ou seja, elas estão próximas das pessoas distantes e longe das pessoas próximas, resultado, começam a viver uma situação de mal-estar, causado pelo grande volume de informação. Necessitam saber sempre mais e mais, não conseguem aprofundar, meditar, refletir sobre o significado dessas informações. SP - Como uma pessoa pode identificar quando está ultrapassando os limites da necessidade e transformando-se em um vício? DP - O primeiro sinal é quando ela começa a incomodar as pessoas que gostam dela, que estão em seu entorno. O segundo sinal quando começa a ficar incomodado consigo mesmo. Perde o sono, liga o celular à noite, fica ansioso porque o apagão deixou ela sem linha telefônica. Nesse caso o indivíduo precisa de atenção de um profissional. SP - Em sua opinião até que ponto esse consumo exagerado de informação pode ser prejudicial à vida das pessoas? DP - Está na história da ciência, onde Freud discute a impossibilidade de ser feliz, porque por maior que seja a quantidade de informação que se obtenha, nunca vai ser suficiente. Por mais duradoura que seja a capacidade de alerta, o tempo nunca vai ser suficiente, e o seu desejo por mais informação vai ser permanente. A frustração do nosso corpo impõe nunca corresponder as expectativas, os desejos são ilimitados, e a vida muito breve. Chego a um resultado diferente de Freud. Uma pessoa muito tempo online perde a possibilidade que é a dimensão material do amor e o nível de dopamina sobe tanto que você vai perdendo esse contato com o outro, aqueles afetos que a gente troca. E a perda de contato é o que o deixa preocupado.
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Apps de localização ganham mais adeptos A tecnologia está tão imersa no nosso cotidiano, que muitas vezes nem notamos as modificações que ela ocasiona em nossas vidas e nas nossas relações Ana Beatriz Vieira e Marina Freire
Hoje, desligar-se do mundo por alguns minutos é cada vez mais difícil. A todo momento distribui-se e recebe-se informação. As pessoas gostam de divulgar onde estão, o que fazem e com quem saem. Dessa forma, as mídias locativas estão ganhando mais espaço. Uma mídia locativa envolve, segundo o professor André Lemos, da Universidade Federal da Bahia, um conjunto de tecnologias em que a informação está ligada a um lugar específico. Em suas pesquisas, ele aponta que esse tipo de mídia é utilizada para incluir conteúdo digital a uma certa localização, servindo para monitoramento, vigilância, mapeamento e geoprocessamento. Pegar um táxi atualmente se tornou muito mais fácil. O Easy Táxi pode fazer isso em apenas um clique. Para facilitar o trabalho dos taxistas e passageiros, o aplicativo usa o GPS do celular para fornecer a localização de ambos. “O aplicativo facilita muito a minha vida, não perco mais tempo ligando, nem passando o endereço e ainda consigo ter noção do momento em que ele vai chegar” relata a estudande de arquitetura da Unifor Thamires Studart. Várias empresas já utilizam este tipo de mídia como estratégia de marketing, publicidade e controle do produto. Alguns estabelecimentos resolveram
Aplicativo gratuito serve para pedir táxi e localiza seu destino Foto: ana Beatriz vieira
Resultado da Enquete
“premiar” clientes que usam estas redes sociais de localização. Por exemplo, o cliente faz um check-in (a marcação do lugar que o usuário se encontra) mais de três vezes no restaurante e com isso ganha um desconto na conta. Aqui em Fortaleza, esse tipo de promoção pode ser encontrada. Diversos locais aderiram a essa moda, desde lanchonetes a diversão adulta. Segundo a proprietária da pizzaria Shake pizza, Adriana Horst, a promoção consiste em fazer o check-in no local, mos-
trar para o atendente e em seguinda ganhar um desconto. Adriana conta que o retorno é lento, mas que vale a pena pela divulgação do local. Virtual + Real = Sim As mídias locativas unem o espaço físico com o ciberespaço, e trazem novos modelos para dentro do espaço urbano. As cidades não existem apenas em formas físicas, mas também no mundo cibernético. Segundo a professora de comunicação social Alessandra Oliveira, “as mídias locativas
Saiba mais...
Fique por dentro dos aplicativos e siga sua rota... Foursquare Quer uma opção de passeio? O Foursquare ajuda você a compartilhar e registrar as suas experiências aonde quer que você vá, obtendo recomendações, ofertas personalizadas e muito mais.
Waze Este aplicativo de mapeamento do trânsito e navegação baseado forma uma comunidade de usuários, que, conectados, contribuem com informações do tráfego nas vias, para pessoas que pretendem fazer o mesmo percurso.
Easy Táxi Aplicativo que facilita a vida na hora de chamar um táxi, fornecendo sua exata localização por meio do GPS do smartphone. É possível também acompanhar a rota que o táxi está fazendo.
Buscar meu Iphone Aplicativo que encontra um dispositivo iOS ou Mac perdido. Além disso é possível bloquear seu aparelho (usando o modo “perdido”), apagar informações e fazê-lo reproduzir som.
Onde fui roubado? Esta ferramenta de utilidade pública capta dados sobre ações criminosas e ajuda a população a se prevenir indicando ocorrência de roubos. Cada tipo de delito ocorrido nos diferentes pontos da cidade é identificado por cores diferentes.
Life 360º Por meio da tecnologia mais moderna de rastreamento por GPS, o Localizador de Família Life 360º permite que você veja a localização de sua família em um mapa. Mas para isso e preciso ter a permissão de cada usuário do aplicativo.
possibilitam uma interação entre espaço físico e virtual e, com isso, trazem um novo sentido e complexificam esse espaço”. Nota-se que as mídias locativas também mudam os hábitos, pois “vão interferir na relação que a sociedade tem com a cidade e com o cotidiano”, acentua a professora. A jornalista acrescenta que “as pessoas criaram novas formas de sociabilidade. É possível conectar vários lugares ao mesmo tempo e podemos fazer isso em movimento”. O mundo das opiniões Algumas redes sociais aderiram a esta nova onda. Facebook, Viber, Whatsapp, Twitter e Instagram adotaram este instrumento para marcações de lugares. As mídias locativas também servem como guia na escolha de estabelecimentos. Trazem críticas a respeito do check-in, o que pode influenciar e ajudar na decisão de amigos ou de curiosos. “Eu não sou muito de escrever dicas no Foursquare, mas, se o lugar for bom mesmo, com bom atendimento, qualidade etc, eu escrevo. Acho legal.”, acrescenta a estudante de jornalismo da UFC Lidiane Almeida. Enquete A reportagem do Sobpressão realizou uma enquete, pela internet, para saber a frequência do uso das mídias locativas e quais são as mais populares. Dentre as 62 pessoas que responderam, 71% afirmam que as utilizam constantemente. O aplicativo com maior percentagem entre os internautas foi o Waze com 33%, seguido do Foursquare (23%), Buscar Iphone (14%), Onde fui roubado? (8%), Easy Táxi (5%) e Life360º (0%). Todos os outros aplicativos somaram 17%.
Depoimento
Sorria, você está sendo vigiado Nós estávamos namorando havia seis meses, pela segunda vez. Sem nenhuma maldade, pedi a senha da conta do smarthphone, para baixar alguns aplicativos, pois eu não era cadastrada. Com o tempo, a desconfiança foi aumentando, pois tudo que ele me contava soava duvidoso. Um dia, ele me ligou para avisar que já estava voltando para casa, mas um amigo, burramente, fez check-in em um bar e o marcou, que foi rapidamente deletado. Mas para minha sorte, e azar dele, não foram rápidos o suficiente para me impedir de ver. Sua explicação foi de que o amigo pensava que ele fosse para o local, porém ele já estava a caminho de casa. Deixei passar. Algumas semanas depois, mexendo no site da Apple, descobri que existia uma ferramenta chamada iCloud. Não pensei duas vezes e testei. Coloquei para localizar o telefone dele, e deu exatamente no lugar que ele disse que estava, seu trabalho. Morri de rir da minha loucura, mas confesso que amei ter este poder. Depois deste achado, passei a usá-lo frequentemente. Um belo dia, ele me falou que tava saindo da academia e ia para casa. Não acreditei e corri para meu mais novo amigo para me certificar, e acabei constatando que ele estava mentindo mais uma vez, pois ele já permanecia na mesma rua por um tempo. Não compreendi o porquê de ele não me falar a verdade, se estava só em um restaurante com os amigos depois do treino. O que me deixou ainda mais ligada. Afinal, quem mente por uma besteira, pode mentir sempre. O ruim, é que você acaba ficando viciada em monitorar a pessoa. Resolvi testar a senha que eu possuía no Facebook, e, pasmem, deu certo. Ou seja, comecei a vigiar duas vezes, o que piorou a situação, pois passei a ver várias outras mentiras. Vi uma mensagem na internet dizendo que ele ia sair para um canto com os amigos, mas ele me disse que ia ficar em casa. Resolvi segui-lo na companhia de um amigo que foi me pegar em casa para irmos até o local indicado no aplicativo, que se tratava de um sushi bar. Passado esse episódio, notei que esse relacionamento não estava me fazendo bem, conversei e contei tudo o que sabia pra ele, e decidimos terminar. Mariana Gurgel é estudante de Engenharia Metalúrgica da UFC
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Nutricionistas apoiam aplicativo que incentiva boa alimentação Os males da dieta detox
A busca por um modo de vida saudável, permitiu que o Instagram se tornasse uma ferramenta de referência e etímulo para os usuários Rayana Fortaleza e Tircianny Araújo
O usuário do aplicativo Instagram é livre pra fazer suas postagens. Para tirar proveito dessa ‘liberdade’, é comum ver perfis publicando imagens de alimentos, suplementos alimentares e até do próprio corpo. Mas qual o significado disso? A prática é utilizada constantemente por usuários que buscam um bem-estar e também por aqueles que pretendem mostrar que não estão preocupados com seus hábitos alimentares. Para isso, são criadas hashtags, que viram hiperlinks dentro da própria rede permitindo que todos os usuários possam ver as postagens, seguir determinado perfil e até curti-las. O estudante Philype Tâmega, 17, vê o Instagram como uma ferramenta de inspiração pra quem pratica exercícios físicos e pretende regular os hábitos alimentares. As fotos de comida e suplementos acabam servindo de dica e o usuário acaba ganhando mais ‘curtidas’. “Gosto e costumo postar quase que diariamente fotos de alimentos e suplementos por que faço parte do universo da musculação, e esses dois itens são imprescindíveis. E essa forma de incentivo vem dando muito certo, pois desde que decidi postar tais fotos, meus números de seguidores aumentaram consideravelmente.” Para quem ainda não entendeu a finalidade das hashtags, elas são vistas pelos usuários como uma forma de dar pu-
Suco verde, um dos elementos mais importantes na dieta detox. Foto: Internet
Foto no Instagram e a necessidade de compartilhar hábitos saudáveis
Nathalia Arruda
Quando o paciente colabora, é interessante trabalhar com esses perfis como aliados. Até porque muitos deles são conduzidos por profissionais Nutricionista
blicidade ao seu perfil. O usuário coloca várias ‘tags’ junto à foto, e automaticamente redireciona para várias fotos sobre o mesmo assunto. Essa foi a maneira que Philype encontrou para repassar sua dieta e hábitos alimentares. “Eu geralmente as uso para que outras pessoas que estão procurando determinado tipo de assunto, possam encontrar minhas fo-
Foto: RAYANA FORTALEZA
tos e assim possam ler o conteúdo na descrição, visualizar a imagem e, quem sabe, até curti-la!” Os perfis de vida saudável despertaram ainda um interesse maior em cuidar do corpo. Eles tornaram a preocupação corporal um prazer e não mais uma obrigação como era visto anteriormente. A nutricionista Nathalia Arruda acredita na ajuda dos perfis saudáveis. Ela diz que muitos dos seus pacientes seguem alguns. “Quando o paciente colabora, é até bem interessante trabalhar com esses perfis como aliados. Até porque muitos deles são conduzidos por profissionais que entendem do assunto”, completa a nutricionista. Um exemplo disso é o perfil @deustavendo projeto idealizado por Mariana Marques. Visava criar o Instagram como forma de apoio e incentivo ao seu novo estilo de vida,
Saiba mais...
Perfis inspiradores para seguir no instagram
que já tinha sido adotado algumas vezes e sem sucesso. Ela tem acompanhamento de nutricionista e o sucesso e a dedicação à dieta foi tanta que hoje em dia ela possui mais de 4.500 seguidores no Instagram e, segundo ela, a ajudam a não desistir. “Você sabe que inspira as pessoas, as pessoas fazem o mesmo com você. Isso ajuda bastante. Essa coisa do compartilhamento de receitas também ajuda bastante, porque nunca deixa a dieta ficar monótona”, afirma Mariana. A prática pode ser comum, mas tirar foto de comida em excesso pode indicar que o usuário está excluindo outros itens relevantes da sua vida. Muitas vezes, a função da rede social acaba perdendo sentido, uma vez que o indivíduo deixa de partilhar valores e objetivos para mostrar sua preocupação exacerbada com a alimentação.
As ‘tags’ e as fotos de comida compartilhadas podem ser a solução encontrada por aqueles que buscam um incentivo. Por outro lado, alguns sugestões de alimentos e dietas podem gerar problemas caso o usuário não seja devidamente orientado por um especialista. Uma das dietas que estão sendo bastante faladas entre os usuários é a dieta detox. Ela promete livrar o organismo de substâncias que possam fazer algum mal, e ainda ajuda a emagrecer. É fácil ver no Insta usuários que dão dicas de detox, que postam fotos das refeições e exercícios físicos. O problema está na restrição de alimentos que possam oferecer riscos à saúde. A nutricionista Nathalia Arruda não recomenda o uso da detox por longos períodos. “A detox não deve ser o tipo de cardápio que o paciente siga por 45 dias, que é o período que separa uma consulta e outra, justamente por essa característica restritiva dela.” A dieta restringe, por exemplo, alimentos com lactose, cuja ausência no organismo por longo período, pode se tornar perigoso. O leite é rico em cálcio e vitaminas e só deve ser cortado em caso de intolerância, pois o organismo necessita dessas substâncias para diminuir e prevenir problemas ósseos.