para morder os grandes lรกbios desta hora
para morder os grandes lรกbios desta hora (por jonatas onofre)
1. o sim está próximo, dizem os primeiros loucos o sim está chegando, algo muito parecido com uma profecia, mas é só um recado mofando numa porta carcomida ,
2. aqui não é lugar pra sonhar com chuva e sóis de LSD, eu penso demais em paralisia cerebral - disse uma pessoa dentro da mesma sombra em que a outra respondeu - quero gritar, façam como eu, esqueçam de mim. Não tem como saber quem fala agora. Lábios no escuro se movem sobre lábios no escuro. Nunca quem fala se sabe.
3. [soletre qualquer palavra só pra não esquecer como se diz, como se faz pra conversar e morrer ao mesmo tempo, há outra boca ainda, está muito perto e quase morta, faça ela dissolver-se num gemido, faça tudo o que não quiser]
4. minha geração - não haja mas permaneça, esse solene rebanho pastando seus medos entre doses de alcatrão e tragos de ganja entre leituras beat e surtos de concretismo pornô entre crises de ciúme e minuciosos ménage a trois
5. todos gostamos de dançar enquanto a bad vibe chega até nós dance até que tudo seja histeria e gemidos de fratura exposta dance até que nada mais esteja no maldito lugar em que você antes se encontrava dance até que teu nome seja legião ou jurema
6. [não, nunca o ar ensolarado de quando se abre um biscoito da sorte, um poema assim nem cabe na minha ausência de bolsos, nunca me salvaria e vou aceitando minha camisa frágil desmanchando-se no íntimo do breu]
7. [nesses tempos nada mais se pode querer além de uma vida súbita nesses tempos tudo mais se pode perder antes de uma morte estúpida]
[Qualquer metrópole suplica pelos suicídios de seus poetas: seja com gás, com navalhas ou com sintagmas. Está escancarada a caça ao que ainda não tem feições nem nome. Eis nossa primeira persona non grata.]
la bodeguita edições –março de 2016 “killing horses since 2016”
la bodeguita