Ladrilho Hidráulico em Pernambuco

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LADRILHO HIDRร ULICO EM PERNAMBUCO hydraulic tile in pernambuco / baldosa hidrรกulica en pernambuco




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sumรกrio


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Eu mandava ladrilhar...

josé luiz mota menezes

• O ladrilho hidráulico e as cidades do século xx

• Ladrilho, o que é?

• O processo de fabricação do ladrilho hidráulico

• O ladrilho hidráulico no brasil

p. 36 A presença do ladrilho hidráulico na memória e no

centro do Recife

clarice hoffman

• Em busca do tempo perdido

- Bairro do Recife

- Santo Antônio

- São José

• Em busca do tempo perdido

p. 66 Ladrilhos do Recife - A pesquisa de campo e a linguagem visual camila brito de vasconcelos

p. 132 Traduções

• English

- I’ve ordered the tiles... josé luiz mota menezes - The presence of hydraulic tiles both in our memories and in the center of Recife clarice hoffman - Tiles of Recife - Field research and visual language camila brito de vasconcelos • Español - Yo mandaba embaldosar... josé luiz mota menezes - La presencia de la baldosa hidráulica en la memoria y en el centro de Recife clarice hoffman - Baldosas de Recife – El trabajo de campo y el lenguaje visual camila brito de vasconcelos



eu mandava ladrilhar... JosĂŠ Luiz Mota Menezes



o ladrilho hidráulico e as cidades do século xx

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O mosaico romano– tessere – constituía, no entanto o elemento fundamental da decoração pavimentar no opus tesselatum ou novermiculatum agrupando pequenas pedras talhadas em cubos, mais ou menos regulares e cuja combinação produzia figuras multicores. In SIMÕES, João Miguel dos Santos, Azulejaria em Portugal nos séculos XV e XVI, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa 1969 p. 47 1

“Em 1908, publicação oficial, em três volumes, do Centro Industrial do Rio de Janeiro, intitulada O Brasil, em anexo 13 ao seu volume III, avaliava em cerca de 3 mil o número de estabelecimentos de indústria manufatureira no Brasil. Os Estados onde se achavam tais estabelecimentos em maior número eram: Rio de Janeiro (Distrito Federal), já com 35 mil operários; São Paulo, com 24 mil; Rio Grande do Sul, com 16 mil; Rio de Janeiro, com 14 mil e Pernambuco, com 12 mil. A principal indústria era a de tecido. Considerável, se apresentava, ainda, em Minas Gerais, a exploração de minas. Ainda fraca a industria do sal: o sal indígena vindo principalmente do Rio Grande do Norte. Várias fabricas de móveis, de bebidas, de charutos, de cigarros, de fumo, de mosaicos, de sabão, de fósforo, de cerâmica, de conservas alimentares, de veículos. Aliás, o ano de 1908 foi o da Exposição Nacional do Rio de Janeiro..”. In FREYRE, Gilberto. Ordem e Progresso. 6º. Edição Revista. Global Editora. São Paulo, 2004, p. 719 e 720. 2

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acentuado crescimento urbano das cidades capitais brasileiras, desde a segunda metade do século 19, com maior acentuação nas duas primeiras décadas do seguinte, conduziu com a abertura de grandes avenidas, onde estavam edificações grandiosas, à exigência de maior quantidade de determinados materiais de acabamento. Os revestimentos dos pisos, dos térreos e dos pavimentos superiores, estes antes em soalhos de madeira, provocou, considerando a quantidade de novos pisos, dificuldades de custos e entrega de materiais importados pelos representantes comerciais. Também o maior número de construções de moradias da classe média, edificadas quase sempre por mestres de obras, ampliou o problema. Um novo material para piso surgiu na Europa naquela segunda metade do século 19, sendo talvez isto tenha sido uma salvação. Esse material apresentava excelente aparência, que o assemelhava ao mosaico tradicional “à maneira romana”1, ou o mármore, materiais elaborados em uma técnica bastante onerosa, onde seus usos recuam historicamente há pelo menos o tempo de Roma antiga. Tal material, em aparência, era melhor do que o tradicional ladrilho de barro cozido, sendo ainda de menor custo do que aqueles revestimentos em mármores, ou mosaicos, ambos vindos da Europa. Podemos chegar a afirmar, sem medo de erros, que as cidades no século 20, no Brasil, no que diz respeito às moradias daquela classe média, cresceram, em paralelo, com a expansão do material em tela, o ladrilho hidráulico.2 Este com modelos e desenhos cada vez mais sofisticados, acompanhando sempre o gosto de cada momento histórico. Isto ao lado de modelos que traduziam, nesse novo material, desenhos conhecidos desde a técnica do azulejo e do mosaico tradicional. Lembra a questão, quanto ao processo empregado naquela altura, e seus custos, certa vulgarização que ainda acontece na tecelagem, onde tecidos, estampados, antes em


seda, são também confeccionados, empregando-se material de menor custo, embora adotando os mesmos desenhos. Uma maneira de transformar a produção de tecidos e roupas destinadas a um grupo reduzido de pessoas, onde tal modo de produzir era conduzido por gostos refinados, para uma maior quantidade de gente, com pouco custo e que sonhava vestir-se bem. O ladrilho hidráulico, em cimento, com grande beleza e variedade, oferecia para o grande público a possibilidade de ter aquilo que uma minoria convivia e orgulhava-se, isto por um preço bem menor.3

ladrilho, o que é?

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A palavra ladrilho vem do latim later, passando a ser ladrillo, em espanhol e, finalmente, ladrilho em português. Trata-se de uma peça, em barro cozido, de desenho quadrado, retangular ou variado que, segundo Francisco Rodrigues no seu Diccionário Technico e Histórico, (1875) é mais uma de tantas pedras artificiais. Empregado em pisos, teve este material largo uso no Brasil, desde o século XVI. Para os pisos das edificações também se empregavam pedras naturais e o conhecido mosaico, delineado com pedaços de materiais diversos. O mosaico visto desse modo tem sua origem em tempos remotos. Foi de largo emprego, como dissemos, em Roma e na Idade Média Ocidental, sendo considerado material de custo elevado tanto quanto os mármores ou granitos. O cimento, cimentum, do latim, em sua constituição tradicional, era uma espécie de argamassa composta de pó de tijolo e de cal. O cimento romano é, por sua vez, um produto da calcinação de certos calcários argilosos, uma espécie de betume ou argamassa, e excelente cal hidráulica. A fabricação de tal cimento em Portland, na Inglaterra, deu origem a um material de largo uso na construção. A necessidade de se encontrar ligantes que pudessem servir de matériaprima para argamassas de revestimento externo fez com que, no período entre 1780 e 1829, o cimento obtivesse algumas fórmulas e denominações diferentes como, “cimento romano” e “cimento britânico”. Foi em meados

“Neste depósito encontra-se quantidade de tijolos do mármore artificial, mosaicos para ladrilho, de bonitos desenhos e próprios para igrejas, repartições publicas, lojas e casas particulares. Estes tijolos fazem um ladrilho de efeito surpreendente e são preferíveis ao mármore por não serem frios e não ofenderem á saúde. O proprietário deste estabelecimento roga à todas as pessoas que gostam de luxo, economia e duração, de o visitarem, e está convencido de que quem vir os seus tijolos não os deixará de comprar e por isso conserva-se à disposição do público das 10 horas do dia às 03 da tarde no estabelecimento mencionado – Cais do Capibaribe.” Jornal do Recife, 15 de março de 1872. Edição 063, p. 3. 3


de 1830 que o inglês Joseph Aspdin patenteou o processo de fabricação de um ligante que resultava da mistura, calcinada em proporções certas e definidas de calcário e argila conhecido mundialmente até hoje. O resultado foi um pó que, por apresentar cor e características semelhantes a uma pedra abundante na Ilha de Portland, foi denominado “cimento Portland”. A partir daí, seu uso e sua comercialização cresceram de forma gradativa em todo o mundo.

O Ladrilho hidráulico ou piso hidráulico, (às vezes impropriamente chamado azulejo hidráulico), é um tipo de revestimento artesanal confeccionado à base de cimento, usado em pisos e paredes, que teve seu apogeu entre o fim do século XIX e meados do século XX.

Na França tal tipo de ladrilho, Carreaux em ciment comprimé, é considerado um piso muito decorativo, por causa dos desenhos muito variados, possíveis de ser

Na segunda metade do século 16 aparecem tentativas de simplificação do trabalho do alicatado, procurando concentrar em um ladrilho quadrado de molde levantino os esquemas de repetição das laçarias geométricas. A técnica usada consistia em isolar as áreas e esmaltar por sulcos mais ou menos profundos que impedissem a mistura dos esmaltes durante o processo de fusão. Era, aliás, uma técnica já familiar na Europa Medieval e praticada nos esmaltes sobre cobre – cujo centro foi Lamego – técnica conhecida por cloisoné: na gíria da cerâmica espanhola tal processo técnico é conhecido por cuerda seca. . In SIMÕES, João Miguel dos Santos, Azulejaria em Portugal nos séculos XV e XVI, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa 1969 p. 57 (As cordinhas separavam as cores nos sulcos) 4

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A vantagem do ladrilho hidráulico sobre o tradicional, em barro, estava como vimos no custo da produção, uma vez que o ladrilho de barro necessitava de cozimento, ou seja, o uso de um forno. O emprego do cimento e da areia excluía tal tarefa. Por outro lado, o processo de fabricação do ladrilho hidráulico permitia o uso de desenhos variados e em cores, o que o fazia bem aproximado do mosaico tradicional, tendo menor custo. Os ladrilhos hidráulicos têm sua origem na segunda metade do século 19 no sul da Europa. Rapidamente se espalhou pelos países mediterrâneos e tornaramse populares também na Inglaterra vitoriana e na Rússia por sua resistência e por suas qualidades decorativas. No desenho e na separação das cores, o processo de fabricação do ladrilho hidráulico, utiliza um procedimento empregado, no século 16, na elaboração do azulejo do tipo corda seca, onde as diversas cores na composição eram separadas por cordinhas que formavam o desenho. Quando no forno, a corda queimava e restavam as cores separadas com sulcos e boa aparência.4 No caso do ladrilho hidráulico as cores são separadas por uma grelha de metal, que é retirada depois das cores devidamente aplicadas e sobre elas e colocados o cimento e areia.


materializados pelo processo de fabricação. Nesse país, por tal causa era chamado de maneira torta, de mosaïque, situação que vulgarizou-se. Tal semelhança levou, a ser designado comercialmente tal tipo de ladrilho, como mosaico, deixando-se assim de lado a designação, na maioria dos lugares, de ladrilho hidráulico. Era um emprego meramente de natureza comercial. Também se fabricava, paralelamente, um ladrilho com tal semelhança em desenho, mas em cerâmica prensada e cozida. O custo desse último era maior pelo uso de forno. Somente quando se industrializou a cerâmica, como passou a ser conhecido este último tipo de piso, obteve-se menor custo de produção.

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Existe um tipo de piso, fabricado em paralelo com o hidráulico, em que as pedras artificiais são recortadas como aquele mosaico tradicional, com peças maiores e desenhos regulares geométricos, possibilitando variados tipos de composição. Era material importado e em algumas casas no Recife, ainda o temos assentado. No palacete do Barão Rodrigues Mendes, datado de 1878, atual Academia Pernambucana de Letras, grande parte do piso térreo utiliza essa modalidade de material.

o processo de fabricação do ladrilho hidráulico A fabricação do ladrilho hidráulico era muito simples. Dai seu maior poder de comercialização. As primeiras referências a tal tipo de ladrilho traz a data de 1857, quando um piso hidráulico foi descrito como alternativa à pedra (ao mármore, principalmente). Tal produto foi apresentado na Exposição Universal de 1867, em Paris, pela empresa Garret, Rivetet Cie, como uma cerâmica que não precisava de cozimento, pois era solidificada por meio de prensas. Isto, porque nessa prensa, inicialmente manual, se colocava no molde, em camadas sucessivas corantes, areia e cimento, empregando-se uma grade que separava as tintas e dava lugar aos desenhos variados. Grade que será retirada logo quando as tintas estavam dispostas. A seguir, tais corantes eram cobertos com areia e cimento. A seguir, ocorria a prensagem e, depois, a peça era deixada para secar ao ar livre. Depois, é imersa em água. Tal prensagem estava entre 120 a 150 quilogramas por centímetro quadrado.


A técnica de fabricação do ladrilho hidráulico está bem expressa no texto: Ladrilho hidráulico é uma placa de concreto formada em três camadas: A primeira camada, a face, é líquida e é despejada nos moldes que a gente chama de modelos. Depois, vem a segunda camada polvilhada a seco, com cimento e pó de pedra. E, por terceiro, uma camada de concreto umedecida. Ela tem um grau de umidade menor que o concreto comum. É prensada. Fica em repouso em prateleiras durante um período de doze horas, quando, então, não podemos encostar-nos à peça, senão ela desmancha. Após o descanso, a peça fica imersa em água de oito a doze horas, pois a segunda camada, por ser de concreto seco, ainda não foi hidratada suficientemente. Desse modo, para adquirir a resistência do concreto tem que ficar em imersão em água, para processar toda a reação química. Após isso, tem um período de cura e secagem de quinze a vinte cinco dias em média. (Zilton) 5

o ladrilho hidráulico no brasil

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Depoimento extraído do catálogo Ladrilho Hidráulico – Arte, Piso e Poesia

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Na segunda metade do século 19, as principais cidades capitais no litoral brasileiro e a de São Paulo e Minas Gerais no interior, por várias causas cresceram em um ritmo muito maior que durante os séculos anteriores. Por outro lado, a abertura dos portos, na primeira metade do mesmo século, conduziu a política de importação de materiais de construção em maior escala. Os agentes comerciais, instalados no Brasil e ainda os engenheiros estrangeiros, deram preferência, numa maneira natural de comércio, aos materiais construtivos importados. A própria madeira, de que o país era tão rico, cedeu lugar a importação do pinho da Riga e as portas, confeccionadas em material nativo, eram pintadas fingindo essa madeira europeia. Quanto aos pisos e os revestimentos, nas construções de todo o gênero, os mármores e a madeira substituíam, mais intensamente, o tradicional ladrilho em barro cozido de confecção local. Com as grandes intervenções que aconteceram a partir da abertura da Avenida Central, atual Rio Branco, (1906), no Rio de Janeiro e as demais nos outros estados, isto desde os inícios do século 20, ao que se somaram as criações de novas capitais, qual, por exemplo, Belo Horizonte, em Minas Gerais, a importação daqueles materiais, em maiores quantidades do que as usuais, não podia acontecer com maior presteza, essencialmente considerando os destinados à classe


média, em termos de moradias. Inclusive os custos, dos citados materiais, tornavam difícil a substituição dos ladrilhos de barro nessas construções. Diante de tal quadro, por razões da economia e da livre iniciativa, surgiram as primeiras importações e depois as fábricas no Brasil de ladrilhos hidráulicos, os conhecidos mosaicos. Não temos ainda certeza absoluta do ano em que começaram a fabricar ladrilhos hidráulicos no Brasil. Sobre importação de tal material, podemos ter uma data, o ano de 1869, no qual foi negada a isenção de direitos numa importação de tijolos (ladrilho) imitando mármore, da Inglaterra. Era tal mosaico artificial destinado para o corpo interior da igreja da Irmandade do Santíssimo Sacramento em Santo Antônio, no Recife. O piso ainda encontra-se no local.6 Em 1889, em Juiz de Fora, tem-se notícia de que um italiano, Giovani Lunardi7, iniciando a fabricação de ladrilhos hidráulicos. No entanto, outra fonte informa que a firma estava estabelecida na Rua Curitiba, naquele ano, em Belo Horizonte. Talvez o escritório de vendas.

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As melhores fontes para as notícias são os anuários dos estados, essencialmente os comerciais e ainda os periódicos. Assim, em 1875, na Rua Coronel Suassuna, vendia-se mármore artificial, mosaico francês, com 9 polegadas, a 500$00 (quinhentos reis). A data é bem apropriada para aquele palacete do Barão Rodrigues Mendes (1878) e outros do mesmo gênero no Recife.8 Em 1919, um anuário editado por José Coelho9 tem ilustrações e anúncios de estabelecimentos, onde podemos ver o emprego largo do ladrilho hidráulico, em variados desenhos. Anúncios publicados em vários jornais do

“Pela secretaria de governo se declarar a mesa regedora da irmandade do Santíssimo Sacramento da freguesia de Santo Antônio no Recife, para seu conhecimento e direção, que segundo consta de aviso expedido pelo ministério da fazenda de 17 de agosto ultimo, fora indeferido o requerimento em que pediu isenção de direitos para os tijolos, a imitação de mosaico, importado da Inglaterra para o ladrilho do corpo da respectiva igreja, visto não haver no regulamento das alfândegas disposição alguma, que permita essa isenção”. Diário de Pernambuco, 20 de novembro de 1869 . Edição 124 Página 1/ Capa. Sessão Edital. 6

A primeira fábrica de ladrilhos do país foi fundada em 1889 em Juiz de Fora pelo italiano Giovani Lunardi. In CAMPOS, Cláudia Fátima. Trajetória e significado do ladrilho hidráulico em Belo Horizonte. 2011. Dissertação (mestrado). Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Arquitetura. 7

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Anúncio publicado no jornal A Província, em 1875.

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COELHO, José, Editor, Propaganda Geral, Recife, 1919/1920.


Brasil comprovam a existência, então na primeira década do século 20 de muitas fábricas de ladrilhos hidráulicos. Também são os periódicos, nos anúncios de casa para aluguel e venda, que dizem do uso do ladrilho hidráulico. No Recife, na Rua da União, uma transversal da Rua Formosa, atual Avenida Conde da Boa Vista, anunciavase uma casa para alugar, de número 51, toda ladrilhada de mosaico, quintal, água e gás encanado.

“Comp. De Marmores e Ladrilhos, sucessora das antigas firmas A.P. de Almeida & Malheiros, Emanuele Cresta & C. e outras importadoras de mármores, ladrilhos, azulejos etc. Com grande estabelecimento de ladrilhos mosaicos, vitrificados para ladrilhar vestíbulos,varandas, sala de jantar, lojas, armazéns, estradas de ferro, igrejas etc. Tem sempre grande variedade, tanto em cores como em desenho; e um pessoal de artistas habilitados para o assentamento de ladrilhos naturaes e artificiaes; encarrega-se de qualquer obra de sua arte. Único importador dos ladrilhos conhecidos: F. Laugun & C, de Bourg-Sant Andéol (Ardéche); Boch Freres & C, (de Maubeuge); e vários outros fabricantes, tem também grande depósito de mármores bruto e lavrado e encarrega-se de qualquer esculptura artística, r Quintada, 41 e 44, Teleph 44, r. Ajuda, 33, 18 e 25, Teleph 312. r. Fresca, 14, Teleph 283 e Casa Filial, r. Bôa-Vista, 44, em São Paulo,. Fabrica de ladrilhos hydraulicos de cimento à r Saude, 126 e 128”. Almanak Administrativo Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1892.

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Anuncio publicado no dia 03 de junho de 1909 no Jornal O Pharol, Juiz de Fora, Minas Gerais. https://mail.google.com/mail/u/0/?ui=2&ik=2f467aac1a&view=lg&msg=14a36ed45d69a8a5 14a36ed45d69a8a5__ftnref12 11

O jornal A Província, publicado no Recife, no dia 18 de Janeiro de 1917, refere-se na página 04 à empresa Bernardino Costa & C, formada pelos Srs. Bernardino Ferreira da Costa, Zeferino da Costa Campos e Antônio Francisco Loureiro, proprietários das “Empresa Industrias Reunidas”, fundada em 1913, localizada, então, na Rua da Fundição, número 15, e que entre outros produtos fabricava mosaicos, ainda grafado com z. Empresa que, de acordo com anúncio publicado no Anuário de Pernambuco de 1935, continuava a fabricar ladrilhos. 12

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Aqueles anuários comerciais eram editados como propaganda dos estados e destinados aos usuários do ramo da construção civil e outros. Eram financiados pelo estado em parceria com os anunciantes. Deste modo, indicavam os estabelecimentos de fabricação e venda de tais materiais. No Rio de Janeiro, a notícia mais recuada informa-nos o ano de 1892, como o de inauguração de uma fábrica na Rua da Saúde10. Em 1909, verifica-se propaganda de fábrica próxima à Avenida Central, que coincidentemente foi construída na primeira década do referido século 20 11. No Recife, a empresa de Bernardino Costa e C, fundada em 1913, anunciava a fabricação de mosaicos. Em 1935 continuava no ramo. 12


Com o desenvolvimento da industrialização, tem mais aceitação pela gente a cerâmica prensada e cozida, em também rica variedade de cores e tipos, além de maior durabilidade que os ladrilhos hidráulicos quando de alta qualidade. Então, estes foram sendo substituídos pelo novo e resistente material, por conta de uma industrialização que conduziu a cerâmica a um preço compatível, por competitivo. De uma maneira lenta, mais eficiente, o ladrilho de cerâmica foi substituindo aqueles mosaicos, ora também ficando fora de moda. Ter sua casa nesse material era incompatível com a ascensão da classe mais pobre, chegando assim ao patamar da maioria da classe média. Com o surgimento da cerâmica, na década de 1960, muitas fábricas fecharam, pois não tinham estrutura financeira para manter os funcionários. Algumas começaram a produzir piso para calçada e outras fábricas se mantiveram também produzindo ladrilhos para fazer reposição de peças13, até que agora de 30, 40 anos atrás, novamente, há uns trinta anos atrás, houve a retomada do ladrilho. Surgiu com força, pela mídia, pelos arquitetos novos que também passaram a usar. 14

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Tal situação é bem expressa no texto de abertura da exposição Se Esta Rua Fosse Minha, do Museu da Casa Brasileira, de autoria de Adélia Borges: Longe de uma visão nostálgica de um passado que não volta mais, queremos trazer o precioso trabalho dos ladrilhos hidráulicos para os dias de hoje e mostrar toda a contribuição que eles deram – e dão – à construção em nosso país. Esse revestimento faz parte da memória afetiva de todos nós; evoca espaços e cenas, sentimentos, vivências a eles relacionados. Sua produção continua artesanal, como sempre, mas curiosamente atende a uma demanda atual dos consumidores de

Não somente para reposição, mas antes em 1900 eram vendidos restos de metragem, para que combinados fizessem novas composições, conforme anúncio do Jornal A Província: “Vende-se na fábrica, de mosaico, Rua Imperial n. 240, entrada pelo oitão, porção de mosaico, resto de diferentes desenhos, com o abate de 40% que combinados com outros desenhos para gabinetes, quarto, banheiros, forma um ladrilhado elegante”. (No Hospital Infantil do Recife, numa grande sala, assim foi realizado, isto na residência das Freiras). https://mail.google.com/mail/u/0/?ui=2&ik=2f467aac1a&view=lg&msg=14a36ed45 d69a8a5 - 14a36ed45d69a8a5__ftnref14 13

Depoimento extraído do catálogo Ladrilho Hidráulico – Arte, Piso e Poesia. (N.A.) No entanto, acreditamos que a retomada do uso do ladrilho hidráulico se deu no início dos anos noventa.

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adquirir produtos que, mesmo feiros em série, deem margem a uma personalização feita sob medida para cada um.

Justamente o caráter artesanal do ladrilho hidráulico foi a principal arma de sua morte. O custo da produção artesanal não era competitivo, diante da industrialização que chegou para o ladrilho de cerâmica cozida. Os ladrilhos hidráulicos têm sido destruídos sistematicamente. No entanto, ainda existem meios de salvá-los. A humanização das cidades, aliada ao interesse por seu passado cultural, pode conduzir ao salvamento do que resta. As palavras recolhidas em uma das fábricas de São Paulo traduzem tal sentimento:

O ladrilho hidráulico, não nos parece possa competir com a cerâmica industrializada, considerando o caráter utilitário presente nos empreendimentos imobiliários. As tentativas foram realizadas por essa gente apenas no que concerne às calçadas. É um material construtivo que tem sua importância na história da arquitetura e deve ser alvo de preservação e culto. Ainda é possível seu uso, diante de alguma forma de satisfação pessoal, ou em casos em que o material possa ser destaque na arquitetura interior. Desse modo, tem sido objeto do interesse de alguns profissionais da arquitetura, e ainda do gosto de pessoas que veem no material a beleza encerrada na variedade de desenho que, ao longo do maior uso do material, sempre soube adaptarse ao desejado pelos usuários. Um bem cultural que, da mesma forma de tantos

Depoimento extraído do catálogo Ladrilho Hidráulico – Arte, Piso e Poesia. Os catálogos dos desenhos e os nomes, com que eram conhecidos os modelos pela gente da fábrica, no Recife, estão desaparecidos até o momento. Talvez destruídos ou colecionados por algum antigo empregado.

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Tem clientes que vem aqui na fábrica e passam a lembrar da infância, principalmente, vendo os ladrilhos clássicos que são a Margarida, o Gobeto, Estrela, o Tijolinho, esses clássicos, são os primeiros ladrilhos decorados, bem geométricos. A Margarida foi o primeiro ladrilho sem ser geométrico, o estilo oral. Os ladrilhos trazem esse lado nostálgico muito forte e ainda mais quando conhecem a fábrica e veem o processo de fabricação que também remete ao passado. Tem muitos clientes que choram aqui na fábrica, lembram-se da avó, da mãe ou da casa que morava antigamente no interior, toda essa história. O ladrilho hidráulico tem esse lado nostálgico, remete muito ao passado, é lindo...(Junior).15


outros, não deve ser esquecido, diante de uma modernidade desprovida de qualquer vínculo e assim contaminada pela ausência de referência e vazia. Penso que essas peças que emocionam arquitetos e apaixonados por decoração combinam com todos os tipos de ambiente, exceto aqueles muito cleans ou supermodernos, pondera. Os quadrados coloridos que lembram azulejos portugueses e compõem desenhos em pisos, paredes e até em tampos de móveis, foram muito utilizados na Europa antes de chegar a São Paulo, no início do século passado. As primeiras peças vieram de Portugal, da França e da Bélgica e enfeitavam os pisos das casas de fazendeiros, de museus ou da entrada de prédios chiques. (opinião do arquiteto Darlei Ribeiro)16

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No Recife, na arquitetura interior, alguns arquitetos têm cuidado de empregar, em um revival singular, ladrilhos hidráulicos em desenhos, ora tradicionais ou criados. A riqueza da composição e a variedade de cores trouxeram novo alento para tão interessante material de construção. O ladrilho hidráulico deixa as coleções privadas e públicas de materiais de construção, voltando à ativa. Ele tem em si a modernidade eterna.

Extraído de artigo publicado no dia 11 de julho de 2007 na Gazeta Digital. Acessado em agosto de 2014 através do endereço eletrônico http://banners.gazetadigital.com.br/conteudo/show/secao/16/ materia/148215 16







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a presenรงa do ladrilho hidrรกulico na memรณria e no centro do recife Clarice Hoffman



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projeto Ladrilho Hidráulico em Pernambuco definiu como área de sua pesquisa de campo os bairros do Recife, Santo Antônio e São José. A escolha por tal território se deu em virtude da possibilidade de historiar cronologicamente o surgimento, auge e declínio do uso do ladrilho hidráulico em Pernambuco, identificando e relacionando sua presença às regiões centrais mais antigas de sua capital. Áreas do Recife marcadas por profundas mudanças em seu traçado urbano e por edificações construídas em conseqüência de tais transformações.

Com o intuito de relacionar o passado ao presente, ao longo dos meses de julho, agosto e setembro de 2014, percorremos todas as ruas do Bairro do Recife e da Ilha de Antônio Vaz, onde estão Santo Antônio e parte de São José, norteados por mapas desenhados em 1959 por L. Gonzaga de Oliveira para o livro Roteiros do Recife, de Tadeu Rocha. Em busca de pisos revestidos com ladrilhos hidráulicos ou de vestígios que porventura restassem de sua existência, batemos de porta em porta, abordando centenas de pessoas, que colaboraram de forma surpreendente com nossa pesquisa.

Outro apontamento resultante da pesquisa de campo consistiu na verificação da redução sistemática da presença do artefato nos bairros investigados, principiada na segunda metade do século 20. Hoje, é possível contar nos dedos o número de exemplares ainda existentes no Bairro do Recife e em Santo Antônio. Em São José, a presença do ladrilho se mostra proporcional à decadência e/ ou à falta de conservação dos estabelecimentos comerciais e residências da região. Tudo leva a crer que sua permanência está mais vinculada ao baixo poder aquisitivo ou descaso dos proprietários dos imóveis, do que a uma atitude preservacionista. No entanto, há exceções.

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O cruzamento entre os resultados do estudo exploratório e a sistematização de informações identificadas em periódicos, almanaques, álbuns e anuários comerciais publicados em Pernambuco no final do século 19 e início do século 20, permite afirmar que, nos últimas décadas dos anos 1800, os ladrilhos hidráulicos empregados nas construções e reformas de diversas edificações existentes na área pesquisada eram importados. A possibilidade de uso de ladrilhos hidráulicos de fabricação nacional é factível somente a partir do último decênio do século 19 e o emprego de exemplares de fabricação local, apenas após a virada do século.


No sentido contrário a destruição sistemática dos ladrilhos hidráulicos averiguadas nessas regiões, constatamos a reutilização do artefato em estabelecimentos comerciais inaugurados nos últimos anos. No restaurante Pé de Serra, localizado na Rua Coração de Maria, 131, o arquiteto André Carício inovou ao dar novo uso para ladrilhos destinados tradicionalmente ao arremate dos cantos dos tapetes. No restaurante Casa Amarela, situado na Rua do Nogueira, 239, ladrilhos hidráulicos foram utilizados como revestimento das paredes. O mesmo ocorreu na Orbe Coworking, estabelecida na Dantas Barreto, 324, 8º. andar.

a presença do ladrilho hidráulico na memória e no centro do recife

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Cabe ainda ressaltar que, ao longo do percurso da investigação, ouvimos depoimentos de moradores e comerciantes da região reveladores de uma verdadeira relação de afeto com o ladrilho hidráulico. Falas estimuladas por fotografias do artefato que levávamos à mão. Os entrevistados, ao serem apresentados às imagens e questionados sobre a existência de ladrilhos no espaço onde se encontravam, respondiam quase sempre negativamente à pergunta, mas espontaneamente falavam sobre lembranças relativas à existência do “mosaico” na casa de um avô, na residência onde foram criados, no interior de Pernambuco etc. Através do depoimento de outros frequentadores da região coletamos informações sobre antigas fábricas do artefato em Pernambuco. Seu José Vicente Gonçalves, morador de Ribeirão, cidade localizada na zona da mata sul do Estado, lembrou que, anos atrás, existia por lá uma fabriqueta de ladrilhos e seu dono era Tota Cajueiro. Edson Lima, ex-morador de Cupira, disse que ladrilhos eram produzidos há mais ou menos 25 anos atrás na fábrica do pai de Fumaça, um vereador da pequena cidade do agreste pernambucano. A vendedora Jovanete Gomes da Costa se lembrou de duas fábricas existentes no Recife, uma na Avenida Cruz Cabugá, e outra, na Rua da Harmonia. Já Nancy Ferreira fez referência a uma fábrica na Estrada do Arraial, localizada pouco antes da entrada para o bairro do Monteiro e próxima a uma antiga padaria. Possivelmente, trata-se do mesmo estabelecimento que Antonio José Santos, porteiro do Edf. Arnaldo Bastos, construído na Avenida Guararapes, guardou em sua impressionante memória. Ele contou que lá, pelo fim dos anos 1950, a Fábrica de Mosaico Marca Rocha, estabelecida na Estrada do Arraial, numero 4340, anunciava seus produtos em uma rádio, por isso nunca esqueceu seu nome e endereço!


Extraordinário também foi o encontro com Sonia Maria Alves, dona de um frigorífico de peixes, localizado na Rua Cais de Santa Rita, em São José. Nos anos 1970, ela foi proprietária de uma fábrica que produzia lajes e ladrilhos hidráulicos em Piedade, bairro da região metropolitana do Recife. Era o começo de sua vida de casada com Josué, que aprendeu o ofício com um ladrilheiro chamado Niron. Sonia contou que enquanto se dedicava a fabricação de ladrilhos, denominados por conta de seus desenhos de lírio, lençol ou estrada, vivia os melhores anos de sua vida, o nascimento de seus filhos, a compra de sua primeira casa. Mas, nos anos 1980, seu casamento terminou e o pequeno negócio faliu.

em busca do tempo perdido Bairro do Recife

Atestam a afirmativa, fotografias publicadas na Obra de Propaganda Geral do Estado de Pernambuco, editada por José Coelho, em 1919/1920. O uso do artefato é perceptível nas imagens dos ambientes internos do Banco do Recife, London & River Plate Bank, Banco Nacional Ultramarino, Silva Pereira & C e Pereira Carneiro & Cia. O poderio econômico dessas companhias situadas na, então, moderníssima zona portuária do Recife, somado aos registros dos pouquíssimos, porém sofisticados, exemplares ainda existentes no Bairro do Recife, indica que a maioria dos ladrilhos assentados na área investigada era importado e cerâmico. Esse é possivelmente o caso de quatro dos nove logradouros, nos quais foi identificada a ocorrência do artefato no Bairro do Recife. São bons exemplos, os

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As primeiras notícias sobre a existência de fábricas de ladrilho hidráulico no Recife datam dos dois primeiros decênios do século 20, coincidindo, portanto, com o crescimento urbano e a modernização da capital de Pernambuco, marcada neste período pelo planejamento e reforma do Bairro do Recife. As transformações empreendidas na área para abertura das avenidas Rio Branco e Marquês de Olinda levaram à construção de dezenas de edificações. Ladrilhos hidráulicos foram utilizados como revestimento dos pisos por parte dos estabelecimentos comerciais radicados nos novíssimos endereços.


ladrilhos encontrados na Av. Rio Branco, 50, onde outrora funcionou a Livraria Universal, e os exemplares da antiga sede da Western Telegraph Company Limited, construída no primeiro decênio do século 20 na Praça do Arsenal da Marinha e hoje ocupada pelo Paço do Frevo. O salão nobre da atual Capitania dos Portos de Pernambuco, situada na Rua de São Jorge, 25, é outro espaço da região cujo piso apresenta ladrilhos de confecção extremamente refinada e, como os demais, provavelmente cerâmico e de origem estrangeira. Certeira mesmo é a inferência de que a presença de tais exemplares aumentou o desejo de consumo da novidade por parte de outros segmentos da sociedade recifense, impulsionando assim a fabricação local do artefato.

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Na já citada Obra de Propaganda Geral do Estado de Pernambuco há também fotografias que apontam para a presença do ladrilho hidráulico em estabelecimentos comerciais localizados em Santo Antônio e São José, como a Casa Brack, Macgregor & C, Restaurant Manoel Leite, Fábrica Lafayette e Camisaria Especial. Chama atenção o registro do atelier do fotógrafo Louis Piereck, situado na Rua Floriano Peixoto, 198. Com a ideia de reproduzir uma imagem semelhante à original, voltamos à rua já investigada em busca de um pequeno milagre. Quem sabe não deixamos escapar o endereço? Ironicamente, ao chegar à frente do número indicado um rapaz fez o convite: entre, entre, aqui está seu futuro! O local abriga hoje um curso de inglês e no espaço não há mais nenhum vestígio do passado que tanto procurávamos.

Santo Antônio Após as transformações ocorridas no Bairro do Recife, duas novas reformas urbanas foram empreendidas na área investigada. Nos anos 1940, parte do bairro de Santo Antônio foi demolida para construção da Avenida 10 de Novembro, hoje conhecida como Guararapes e, no início dos anos 1960, outra parte foi derrubada para a abertura do primeiro trecho da Dantas Barreto. Se na empreitada do Bairro do Recife, o ladrilho foi usado como último grito em termos de acabamento para pisos, o mesmo não ocorreu nas edificações erguidas ao longo das duas novíssimas vias.


Com exceção do Edifício Seguradora, cujos corredores apresentam ladrilhos hidráulicos lisos e sextavados, os materiais empregados no acabamento dos pisos dos modernos prédios construídos na área foram os mármores, para boa parte dos halls de entrada, e nos outros andares e ambientes artefatos em voga na época: pastilhas, tacos e o granilite. Nesta altura, era a classe média de Santo Antônio e São José que fazia uso do ladrilho hidráulico fabricado localmente no piso de suas residências e de seus pequenos estabelecimentos comerciais. Atualmente, a incidência de ladrilhos hidráulicos em Santo Antônio é baixíssima. Sem levar em consideração os exemplares presentes em sete igrejas do bairro, a ocorrência do artefato foi verificada em apenas uma dezena de endereços. Na Rua Nova e na Duque de Caxias encontramos o artefato em situações semelhantes: aos pés de escadas que dão acesso a pisos superiores de pequenas edificações. Achamos ainda ladrilhos hidráulicos em dois endereços que parecem estar perdidos no tempo. Exemplares lisos e sextavados, no restaurante Dom Pedro II, ladrilhos decorados na sede do Diário da Manhã.

São José A última grande reforma urbana realizada no território investigado ocorreu no bairro de São José no início dos anos 1970 e objetivava a construção da segunda etapa da Avenida Dantas Barreto. Marcada pela derrubada das quadras que ficavam entre as antigas ruas da Horta e Augusta, de um lado, e do outro, Santa Tereza, Dias Cardoso e Alecrim, a obra em questão simboliza nesta pesquisa o início do processo de soterramento e/ou de remoção dos ladrilhos hidráulicos das áreas estudadas. Roberval José do Nascimento e Fernando A. Carvalho, respectivamente, vendedor e proprietário da loja Ciclomania, localizada na Dantas Barreto, 698, contam que a avenida, construída sem qualquer preocupação com os moradores da região, ficou em um nível mais alto quando comparada aos domicílios que passaram a margear suas calçadas. Sujeitas, então, a entrada frequente de lixo e de água no período das chuvas, elevar o piso das edificações foi a solução encontrada por moradores e comerciantes da região, deixando assim os ladrilhos existentes a vários centímetros de profundidade.

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Comerciante da Dantas Barreto e moradora do Beco do Ramos, localizado também em São José, Dona Lídia Costa, contou história semelhante. Ela e seus vizinhos possuíam estabelecimentos comerciais e/ou casas com pisos revestidos com ladrilhos hidráulicos, mas por conta da entrada constante de água o mosaico foi afofando e terminou sendo arrancado ou soterrado para a construção de um piso mais elevado. Está aí, portanto, uma das razões para a baixíssima ocorrência de exemplares de ladrilhos em tão extensa avenida. Na Dantas Barreto sua presença foi identificada em apenas quatorze endereços. Alguns deles merecem comentários.

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O primeiro está situado no número 748 e pertenceu a Eralva Vieira de Lima, falecida há aproximadamente dois anos. Senhora donzela muito apegada a casa onde cresceu, Eralva manteve ao longo de toda a sua vida, como forma de preservar a memória de seus pais, sua residência, a chamada Casa Verde, praticamente intacta – mobiliário, pisos e paredes. Infelizmente, pouco antes de sua morte, com o objetivo de angariar fundos para cuidar de sua saúde, todos os móveis foram vendidos. No espaço, continuam preservadas as surpreendentes pinturas existentes em suas paredes e os revestimentos de seu piso, ladrilhos hidráulicos apresentando desenhos diferentes para cada um dos quatro ambientes onde estão presentes – sala da frente, corredor, sala dos fundos e cozinha/área de serviço. Interessados em alugar o espaço para fins comerciais não faltam, mas dar um destino adequado à magnífica casa de Eralva é hoje a maior preocupação de seus herdeiros. O segundo endereço que vale citar é a Galeria Art Veneza, dedicada à confecção de molduras e localizada na Dantas Barreto, número 867. Como seu proprietário não elevou o piso do estabelecimento, para entrar na loja é preciso descer um pequeno degrau. O balcão de atendimento aos clientes está sobre ladrilhos hidráulicos de um mesmo padrão. No entanto, é no piso do ambiente subseqüente, o da oficina, que está o verdadeiro achado! Nele, foram assentados ladrilhos de diversos desenhos, possivelmente adquiridos por um preço acessível como refugo da produção de alguma fábrica local. Um dos exemplares encontrados é surpreendentemente diferente dos padrões de costume, o que nos faz imaginar que seu modelo foi desenhado para atender uma encomenda específica.


Na Dantas Barreto conversamos ainda com Diógenes Leopoldino, proprietário de um bar situado na esquina da Rua do Peixoto. Ele contou que, anos antes, possuía na mesma avenida um restaurante que ficava na esquina da Rua São João. O estabelecimento, cheio de ladrilhos, não existe mais. A construção foi derrubada e seu terreno transformado em estacionamento. A fala de Diógenes corroborou para uma situação observada com freqüência nas áreas investigadas; a presença de tapetes de ladrilhos hidráulicos ou de seus vestígios em estacionamentos criados para motos, carros e caminhões.

santo de casa não faz milagre! Seu Antonio Cassiano, comerciante estabelecido há mais de seis décadas na Rua Santa Cecília, mostra com orgulho o chão de granilite de sua loja, muitíssimo bem conservado. Para ele, a substituição dos antigos ladrilhos hidráulicos por revestimento cerâmico está relacionada à chegada dos “chineses” ao bairro de São José. De fato, é fácil perceber que boa parte dos espaços gerenciados pelos imigrantes asiáticos segue uma mesma ambientação. Paredes revestidas com lambri de madeira e pisos cerâmicos lisos na cor cinza são o padrão. No entanto, não é possível responsabilizar os “chineses” pela destruição do artefato. Afinal, a preservação do patrimônio material existente no país é tarefa dos brasileiros. Continuando nossa caminhada chegamos à Praça Dom Vital, onde está localizado o Mercado de São José. Em seu entorno, cabe apontar dois endereços nos quais identificamos a ocorrência de ladrilhos hidráulicos.

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Esses espaços, ocupados anteriormente por casas, que podem ter caído por falta de conservação ou foram demolidas para dar lugar a uma das atividades mais lucrativa da nossa “carrocracia”, estão nas ruas Águas Verdes, Vidal de Negreiros, Floriano Peixoto, São João e tantas outras. No número 630 da Rua da Concórdia, local do antigo colégio Porto Carreiro, há oito diferentes tapetes que resistem bravamente ao peso dos veículos estacionados sobre seus ladrilhos. Foi ainda com imensa tristeza que constatamos no dia da visita ao endereço, a produção de cimento sobre um magnífico piso de mosaico, mosaico mesmo, que ironicamente foi chão em tempos idos das reuniões da Associação dos Amigos do Bairro de São José.


O primeiro deles é o Edifício Sian, construído na esquina da Rua do Livramento. Na calçada que ladeia o prédio estão estabelecidos comerciantes, que parecem ter cavado pequenos espaços em sua fachada movidos pelo desejo de deixar a condição de ambulantes. Entre eles, está Seu Roberto Cavalcanti, perito no conserto de relógios e óculos. Próximo ao seu balcão de trabalho, vestígios de ladrilhos ilustram, exemplarmente, o processo de soterramento do artefato e a formação paulatina de novos estratos da cidade. Ainda no Sian, constatamos em seus corredores internos a presença de ladrilhos de diferentes desenhos, alguns bem peculiares. Mas, nem sempre foi possível verificar a existência ou não do artefato em seus apartamentos, utilizados em sua grande maioria como depósito para mercadoria de ambulantes que trabalham na área, quase todas as portas estavam trancadas a sete chaves.

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Aliás, a incidência de ladrilhos hidráulicos em corredores e/ou apartamentos de pequenos prédios construídos no bairro de São José foi uma constante observada ao longo da pesquisa de campo. Subíamos as escadas dessas edificações com esperança de encontrar não apenas ladrilhos, mas ladrilhos em bom estado de conservação. Salvo pela altura, o artefato está presente nos edifícios Nery, Sagrada Família, Leny, Bonfim, Antonio Elihmas e Filhos, entre outros tantos. Esse é o caso do segundo endereço de destaque existente no entorno do Mercado de São José, o Edifício Inaúma, um exemplar da arquitetura eclética construído na década de 1920, na esquina da Rua do Rangel. No segundo andar do prédio, que já abrigou a pensão arco-íris, vive Dona Sheila, senhora magra, com os ossos da face protuberantes, olhos fundos e sobrancelhas delineadas por lápis cajal preto. Ela gentilmente nos convidou para entrar em sua residência e nos mostrou com orgulho os ladrilhos hidráulicos lustrosos de seu corredor e cozinha. Vivendo entre apartamentos utilizados por ambulantes da região, a antiga moradora tenta conscientizar seus vizinhos sobre a beleza e a necessidade de preservação do espaço que ocupam. Como Dona Sheila, o número de senhoras aparentemente solitárias que, desprovidas de qualquer desconfiança, abriram as portas de suas casas para nossa pesquisa foi


surpreendente. Sempre solicitas, oferecendo um copo de água ou uma xícara de café, desejosas de uma boa conversa e, especialmente, admiráveis por permanecerem morando em regiões bastante degradadas, essas senhoras idosas são como metáforas do objeto central de nossa investigação, ao mesmo tempo, tão resistentes e tão vulneráveis. Dona Maria Pociano, moradora há 59 anos da casa número 34 da Rua dos Pescadores, é bom exemplo. Arquétipo de uma bondosa vovozinha, ela abriu as portas de seu sobrado, de sua intimidade, e falou sobre o dia em que seu marido, já falecido, escolheu os ladrilhos nos quais pisa até hoje. Plena de lembranças, contou ainda que, anos mais tarde, após um pequeno conserto na encanação, foi em busca de peças de ladrilhos que combinassem com o lindo piso verde da entrada de sua casa. Era a memória de Dona Maria dando significado ao artefato e o artefato avivando a memória de Dona Maria. Salve!

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a pesquisa de campo e a linguagem visual Camila Brito de Vasconcelos



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s linguagens visuais que integram a imagem das cidades têm estado cada vez mais presentes em projetos inovadores, nas artes, na arquitetura e no design. O Projeto Ladrilho Hidráulico, em Pernambuco, frente a essa tendência e ao enorme potencial desse objeto, observou 376 ladrilhos nas residências e estabelecimentos comerciais no Bairro do Recife, em Santo Antônio e em São José, considerando desenhos e cores repetidas em diferentes residências da cidade. Talvez a grande ocorrência dos ladrilhos hidráulicos na construção civil de Pernambuco explique o quanto essa referência visual está presente no dia a dia dos pernambucanos, marcando ambientes, eventos, pessoas, histórias, sensações e memórias. Os relatos obtidos durante os registros deste projeto demonstram o quanto a imagem desse piso faz parte da vida dos moradores e o quanto esse padrão visual participa das memórias da cidade.

Exemplos da quantidade de cores As formas que delineiam as figuras observadas nos ladrilhos foram observadas sob a ótica de Wucius Wong (Princípios de forma e desenho), classificando as predominâncias entre geométricas, orgânicas, retilíneas e irregulares. A grande maioria (214) apresentam composições geométricas, com formatos que se combinam matematicamente, originando padrões mais rígidos para

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A contribuição estética dos ladrilhos abrange principalmente os formatos e cores, cuja diversidade foi observada em todos os registros obtidos com a pesquisa de campo neste projeto. Sobre as cores, a maioria (253) dos ladrilhos observados apresentam uma única cor, combinada com o branco, compondo os desenhos das peças hidráulicas. Em geral, tons de preto, vermelhos e verdes. É importante notar que a variedade de cores implica em uma confecção mais elaborada da peça, influenciando também no preço do produto.


as superfícies revestidas por este piso. 59 ladrilhos apresentam configuração retilínea, com linhas combinadas em diferentes espessuras e espaçamentos. Entretanto, padrões orgânicos (83) também são observados, conferindo mais fluidez às imagens formadas pela composição das peças. Apenas 20 ladrilhos apresentam formas irregulares.

Forma enquanto plano: geométrico, orgânico, retilíneo e irregular

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De maneira geral, o que se pôde observar foi a presença destes padrões revestindo as superfícies das várias edificações visitadas, em consonância com a arquitetura antiga da cidade. Essa memória identifica a estética da cidade, que, ao ser utilizada em outras superfícies, assumindo novas roupagens, atua junto ao imaginário coletivo, tornando-se inspiração para muitos estilistas, designers, arquitetos, artistas, etc. Sobre a preservação desse patrimônio cultural, a maioria das ocorrências observadas pela pesquisa de campo indicam que ele não é bem conservado. Alguns (109) estão em péssimo estado de conservação, e essa condição reafirma a necessidade da preservação visual dessa referência estética. Este projeto dá um pontapé nesta tarefa e convida todos a continuar enriquecendo de imagens e registros as várias possibilidades e padrões visuais encontrados nos ladrilhos hidráulicos de Pernambuco, em ornamentos e em demais artefatos que transmitam memórias. A seguir, as sínteses da observação de tais resultados:


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traduções English & Español


i’ve ordered the tiles... josé luiz mota menezes

the hydraulic tile and 20th century cities

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The sharp urban growth of Brazilian capital cities in the second half of the 19th century, accompanied by an even sharper growth during the first two decades of the following century, saw the construction of wide avenues lined with lavish buildings, which led to a greater demand for a number of finer finishing materials. The need for floor coverings, for ground and upper floors, which previously had been made of wood, together with the quantity of floors now required, prompted difficulties involving both the cost and the delivery of materials being imported by sales representatives. The problem was aggravated even further due to the construction of a large number of middle-class homes, almost always built by master builders. In the second half of the 19th century a new flooring material emerged in Europe, which perhaps came as a salvation. The material was of excellent appearance, and resembled the traditional “Roman-styled” mosaics [1], or marble, which were produced by an extremely onerous technique, the use of which dated back to the times of ancient Rome. In appearance, the material was of a far better quality than the traditional tiles of fired clay, and was much less expensive than marble or mosaic coverings, which both came from Europe. It is possible to assert without fear of contradiction that during the 20th century, in Brazilian cities, middle-class housing grew alongside the expansion of this material made with screens - the hydraulic tile. [2] The tiles were now produced with increasingly more sophisticated

models and designs, always following the fashion of each historical moment. Some models also transposed well-known designs onto this new material, using techniques from the traditional old wall tiles (known in Portugal as azulejos) and mosaics. The process used at the time, together with the costs involved, is reminiscent of the type of vulgarization that still occurs in weaving, where patterned fabrics, previously of silk, are also produced using less expensive fabrics, while adopting the same designs. This was a manner with which to transform the production of textiles and clothing aimed at a more restricted group of people, where the form of production was commanded by refined tastes, at a lower price and for a greater number of people, who dreamed of being able to dress well. The hydraulic tile, in cement, with its beauty and variety, offered the general public the possibility of affording that which only a minority prided itself in being able to obtain, and at a much lower price. [3]

tiles, what are they? The English word “tile” is derived from the French word tuile, which is, in turn, from the Latin word tegula, while in Portuguese the term is ladrilho, from the Latin later, for which the English term was brik. A tile is a piece of fired clay, which may be square, rectangular or varied in shape which, according to Francisco Rodrigues in his Historical and Technical Dictionary (1875), is just one of many artificial stones. This material has been widely used on floors in Brazil, since the sixteenth century. Floors were also made with natural stone and the well-known mosaic, outlined with pieces of various other materials. The mosaic seen thus, has its origins in ancient times. As mentioned above, it was widely used in Roman times and in the Western Middle Ages, and was considered as expensive as marble or granite.


Cement, from the Latin word cementum, in its traditional constitution, was a kind of mortar made of crushed brick and lime. Roman cement on the other hand, is a product made from the calcination of certain argillaceous limestones, a type of bitumen or mortar, and excellent hydraulic lime. The manufacture of such cement in Portland, England, led to it being widely used as a construction material. “The need to find binders, which would serve as the raw material for external rendering mortars in the period between 1780 and 1829, brought about a number of different formulas and denominations for cement, such as “Roman cement” and “British cement”. It was around 1830 that the Englishman Joseph Aspdin patented the manufacturing process of a binder that resulted from the mixture, calcined in certain proportions and defined as limestone and clay and known around the world until today. The result was a powder which, due to its similar color and characteristics to an abundant stone on the Isle of Portland, was called “Portland cement”. From that moment, its use and commercialization gradually spread across the world.” Hydraulic tiles or hydraulic flooring (often incorrectly referred to in Brazil as azulejo hidráulico), are a kind of artisanal cement rendering, which may be used on both floors and walls, and reached its peak between the late nineteenth and mid-twentieth centuries. The advantage of the hydraulic tile over the traditional clay tile, as we have seen, was in the production costs, since clay tiles required firing in a kiln. The use of cement and sand precluded such a task. On the other hand, the manufacturing process of hydraulic tiles permitted the use of various designs and colors, which was very similar to the traditional tile, but at a much lower cost.

Hydraulic tiles originated in the second half of the 19th century in southern Europe. They quickly spread to Mediterranean countries and became popular in Victorian England and Russia because of their resistance and decorative qualities. The manufacturing process of hydraulic tiles uses a procedure from the 16th century for both the design and the separation of colors in the preparation of dry rope tiles, where the various colors in the composition that formed the design were separated by cords. When the tiles were fired, the rope burned away and the colors remained separated by grooves thus creating its attractive appearance. [4] With hydraulic tiles, the colors are separated by a metal grill, which is then removed once the colors have been duly applied, after which cement and sand are sprinkled on top. In France this type of tile, carreaux de ciment comprimé, is considered a very decorative kind of floor covering because of the many variations of designs, made possible by the manufacturing process. In Brazil, because of this, it was called the maneira torta (crooked manner), the mosaic, which resulted in a certain vulgarization. This similarity led to it being referred to commercially as a mosaic tile, and for the most part it was no longer termed the hydraulic tiles. This was a purely commercial form of reference. Alongside this, a very similarly designed tile was also manufactured, but this was a pressed and fired ceramic. The cost of this latter tile was higher due to the firing process. Only with the industrialization of the ceramic tile, as this latter type of flooring became known, did production costs go down. There was a type of floor covering, manufactured in parallel with the hydraulic tile, wherein artificial stones were cut in a similar manner to the traditional tile, in larger

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sizes with regular geometric designs, thus permitting various types of composition. This material was imported and may still be seen in a number of houses in Recife. In the palatial residence of Baron Rodrigues Mendes, dating from 1878, currently the Pernambuco Academy of Letters, much of the ground floor is covered with this type of material.

the manufacturing process of the hydraulic tile

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Manufacturing hydraulic tiles was very simple and from this fact came its greatest trading power. First references to such a tile dates from 1857, when a hydraulic floor was described as an alternative to stone (mainly marble). The product was presented at the Exposition Universelle of 1867 in Paris by Garret, Rivetet et Cie, as a tile that required no firing, since it was solidified by means of presses. This was because inside the press, which was initially manual, there was a mold, into which, on successive colored layers, sand and cement were placed. A grid was used to separate the colors which thus gave way to the various different designs. The grid would then be removed as soon as the pigments had been distributed. Following this, the colors were covered with sand and cement. Next, the tile was pressed, after which it was allowed to air dry and then finally immersed in water. The pressing process would have been between 120 to 150 kilograms per square centimetre. The technique of manufacturing hydraulic tiles is well expressed in the text: “A hydraulic tile is a concrete slab formed in three layers: The first layer, the face, is liquid and is poured into molds that we call models. Next comes the second layer, which when

dry, is sprinkled with cement and stone dust. And thirdly, a damp layer of concrete, which contains less moisture than ordinary concrete. It is then pressed. After this, it rests on shelves for a period of twelve hours, during which it must not be touched, otherwise it will break apart. After resting, the tile is then immersed in water for between eight to twelve hours, since the second layer, being of dry concrete, has not been sufficiently hydrated. So, to acquire the specific resistance of the concrete it must remain immersed in water, in order for the entire chemical reaction to process. Finally, it is cured and dried for a period of around fifteen to twenty-five days.� (Zilton) [5]

the hydraulic tile in brazil In the second half of the 19th century, for a number of different reasons, the main capital cities along the Brazilian coast and in the interiors of the states of SĂŁo Paulo and Minas Gerais, grew at a much faster rate than in previous centuries. On the other hand, as the ports began to open during the first half of the century, a large-scale import policy on building materials was introduced. Trading agents based in Brazil, as well as foreign engineers, gave preference to imported construction materials. Even wood, which was abundant in Brazil, gave way to imported Riga pine, and doors, made of native materials, were even painted to imitate European wood. In all types of buildings, floors and renderings were increasingly made of marble and wood, thus replacing the traditional locally produced fired clay tiles. From the beginning of the 20th century, with the introduction of major interventions, such as the construction of Central Avenue, today known as Rio Branco (1906), in Rio de Janeiro, as well as additional interventions in other states, including the creation of new capitals, Belo Horizonte for example in Minas


Gerais, the importation of larger than usual quantities of these materials, could not have taken place at a greater speed, especially those destined for middle class homes. The costs of the abovementioned materials made it difficult to replace the clay tiles in these buildings. Faced with this situation, for reasons of economy and free enterprise, the first imports began to appear and then factories were built in Brazil to produce hydraulic tiles, the so-called mosaics. It is not possible to be entirely certain of the year that the manufacture of hydraulic tiles began in Brazil. However, the date we have for importing such material is 1869, when exemption was denied from duties on imported English bricks (tiles) imitating marble. It was this very artificial tile that was destined for the church of the Brotherhood of the Holy Sacrament in the district of Santo Antônio, in the city of Recife. The floor may still be seen there. [6] In 1889, in Juiz de Fora, there was news of an Italian, Giovanni Lunardi, [7] beginning a business of manufacturing hydraulic tiles. However, a further source reports that the firm was established in Rua Curitiba that same year, in Belo Horizonte. Perhaps this was the sales office. The best news sources are the yearbooks of the states, especially those of trade and even the periodicals. Thus in 1875, on Rua Coronel Suassuna, 9 inch artificial marble and French mosaics were sold for 500$00 (five hundred réis). The date is most appropriate for the palatial mansion of Baron Rodrigues Mendes (1878) and those of a similar ilk in Recife.[8] A 1919 yearbook, edited by José Coelho [9] contained illustrations and advertisements of establishments where we observe the use of hydraulic tiles with various designs. Announcements published in several

newspapers in Brazil already in the first decade of the 20th century, demonstrate the existence of many factories producing hydraulic tiles. Advertisements in periodicals of the time for homes to let and sell, also mention the use of hydraulic tiles. In Recife, on Rua da União, which crosses Rua Formosa, today known as Avenida Conde da Boa Vista, there was an announcement for a house to let, at number 51, with “mosaic tiles, a backyard, with water and piped gas”. These commercial yearbooks were published as advertisements for the states and were aimed at users from the construction industry and others. They were financed by the state in partnership with advertisers. Thus, they listed the establishments that manufactured and sold such materials. In Rio de Janeiro, the latest news in the year 1892 was regarding the inauguration of a factory in Rua da Saúde [10]. In 1909, an advertisement informs us of a factory in the proximity of Central Avenue, which coincidentally was built in the first decade of the 20th century referred to [11]. In Recife, a company named Bernardino Costa and C, founded in 1913, announced the manufacture of tiles. They were still in business in 1935. [12] As industrialization developed, there was greater acceptance of pressed, fired tiles, which also came in a rich variety of colors and types. Those of high quality provided greater durability than hydraulic tiles. And so because of industrialization, they were gradually replaced by the newer, more resistant material, which led to ceramics that were more compatible, with competitive prices. Slowly, and more efficiently, ceramic tiles were replacing the mosaics, which were now moving out of fashion, since having a

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home with such material was incompatible with upward mobility from the poorer classes, thus reaching the threshold of most of the middle classes. “With the emergence of ceramics in the 1960s, many factories closed because they had no financial structures to retain their employees. Some began producing paving stones and other factories carried on producing tiles for renovation works [13], although about 30 or 40 years ago there was renewed interest in these tiles. They appeared with force, through the media and young architects who have also begun to use them.” [14] This situation is well expressed in the opening text of the exhibition Se Esta Rua Fosse Minha - If This Street Were Mine, at the Museu da Casa Brasileira by Adelia Borges: 138

“Far from being a nostalgic view of a past that will never return, it was our intention to bring the precious work of hydraulic tiles through to today and demonstrate the all-inclusive contribution they have made - and still make – to construction in our country. This type of rendering is part of everyone’s affective memory; it evokes the spaces and scenes, feelings and experiences to which they are related. Production of the tile continues to be artisanal, as ever, but curiously it seems to meet the current demand of consumers for products that, even when produced in batches, still bring a tailor-made feel for each individual.” It was exactly the artisanal aspects of the hydraulic tile which proved to be the main weapon of its destruction. The costs involved in artisanal production proved to be uncompetitive when faced with the industrialization that came with the fired ceramic tile.

Hydraulic tiles have been systematically destroyed. However, there are still ways of saving them. The humanization of cities, combined with an interest in our cultural past, may lead to saving what remains. Words gathered from one of the factories in Sao Paulo translate this feeling: “Many customers who come to the factory are reminded of their childhood, especially when they see the traditional tiles like the Daisy, Gobeto, the Star, the Flagstone. These classic tiles were the first to be decorated with geometric styles. The Daisy was the first tile that was not geometric, the floral style. Tiles can stimulate nostalgia very strongly and even more so when people come to visit the factory and see the manufacturing process, which is also a throwback to the past. We have many customers who cry here in the factory, remembering their grandmothers, their mothers or the house they once lived in the interior, an entire history. The hydraulic tile has that nostalgic side, it reminds us very much of the past, it’s beautiful ...” (Junior). [15] It would seem that the hydraulic tile has been unable to compete with industrialized ceramics, especially when we consider its utilitarian possibilities within the property market. However, attempts from within this area have only ever been directed towards the sidewalks. It is nonetheless a building material that holds an important position within the history of architecture, and should therefore be targeted for preservation and admiration. It would still be perfectly feasible to use this material, whether for a sense of personal satisfaction or in cases where such a material could be used as a feature for interior design. It has thus been the object of interest for several architects, and even to the taste of those who have identified the beauty contained within it through the range


of designs that, over the years, have always seemed able to adapt themselves to the desires of its users. This is a cultural treasure, which as with so many others, within these modern times devoid of any ties and thus contaminated by emptiness and a lack of references, should never be forgotten. “I feel that these tiles, that move both architects and those with a passion for dĂŠcor, are perfectly able to fit into all types of environment, except those of a very clean or ultramodern nature. These colorful squares, which resemble Portuguese wall tiles, that produce designs across floors, walls and even furniture tops, were widely used in Europe before arriving in Sao Paulo at the beginning of the last century. The first pieces came from Portugal, France and Belgium and graced the floors of the houses of farmers, museums or entrance halls of chic buildings.â€? (opinion of the architect Darlei Ribeiro) [16] In interior design in Recife, some architects have brought about a remarkable revival of this material and taken great care to use hydraulic tiles in their designs, sometimes traditionally, others newly created. The wealth of compositions and the variety of colors have brought new life to such a fascinating building material. The hydraulic tile leaves the private and public collections of building materials, and returns to activity. Within itself, it contains eternal modernity.

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[1] The Roman mosaic - tessera – constituted the fundamental element of floor decoration for the opus tessellatum or vermiculatum, grouping small carved stones into more or less regular cubes, the combination of which produced multicolored figures. In SIMÕES, João Miguel dos Santos, Azulejaria em Portugal nos séculos XV e XVI, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa 1969 p. 47

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[2] “In 1908, an official publication, in three volumes, from the Industrial Center of Rio de Janeiro, entitled Brazil, in Annex 13 of volume III, assessed the number of manufacturing establishments in Brazil at about 3000. States where such establishments existed in greater numbers were: Rio de Janeiro (Federal District), already with 35,000 workers; São Paulo, with 24,000; Rio Grande do Sul, with 16,000; Rio de Janeiro, with 14,000 and Pernambuco, with 12,000. The primary industry was textiles. There was also considerable mention in Minas Gerais of mining. The weakest industry was salt: indigenous salt coming mainly from Rio Grande do Norte. There were several factories producing furniture, beverages, cigars, cigarettes, tobacco, mosaics, soap, phosphorus, ceramics, canned food, vehicles. Incidentally, the year 1908 was the year of the National Exhibition of Rio de Janeiro…”. In FREYRE, Gilberto. Ordem e Progresso. 6º. Edição Revista. Global Editora. São Paulo, 2004, p. 719 and 720. [3] “Our warehouse contains a quantity of artificial marble bricks, mosaics for tiles with beautiful designs and suitable for churches, public offices, shops and private homes. These bricks make up tiles with surprising effects and are preferable to marble since they are not cold and are not offensive to health. The owner of this property implores everyone who enjoys luxury, economy and durability to visit the establishment, and is convinced that those who come to see these bricks will not resist making a purchase, and is thus available to the public from 10 am to 3 pm at the mentioned establishment - Capibaribe Pier.” Jornal do Recife, 15th March 1872. Edição 063, p. 3. [4] In the second half of the 16th century attempts were made to simplify the work of tile nippers, trying to concentrate the repeated schemes of

geometric forms on a square Levantine tile mold. The technique used was to isolate areas and to run the glaze through more or less deep grooves thus preventing the glazes from mixing during the fusion process. It was indeed a familiar technique in medieval Europe – the centre of which was Lamego – and practiced with glaze over copper, a technique known as cloisonné: in the jargon of Spanish ceramics this technical process is known as ‘dry cord’. In SIMÕES, João Miguel dos Santos, Azulejaria em Portugal nos séculos XV e XVI, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa 1969 p. 57 (The cords separated the colors in the grooves.) [5] Statement taken from the catalogue Ladrilho Hidráulico – Arte, Piso e Poesia [6] “The government secretariat hereby declares to the Governing Board of the Brotherhood of the Holy Sacrament in the district of Santo Antônio in the city of Recife, for their information and direction, that according to a reported notice issued by the Treasury on August 17 last, the application under which a request was made for exemption from duty to be paid on a delivery of imitation mosaic bricks imported from England, for the purpose of tiling the inside of the church, has been duly rejected, given that no such provision is cited in customs regulations that would thereby permit such exemption.” Diário de Pernambuco, 20th November 1869 . Edição 124 Página 1/ Capa. Sessão Edital. [7] The first tile factory in Brazil was founded in 1889 in Juiz de Fora by the Italian Giovani Lunardi. In CAMPOS, Cláudia Fátima. Trajetória e significado do ladrilho hidráulico em Belo Horizonte. 2011. Dissertation (Master). Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Arquitetura. [8] Advertisement published in the newspaper A Província, in 1875. [9] COELHO, José, Editor, Propaganda Geral, Recife, 1919/1920. [10] “Comp. De Marmores e Ladrilhos, successor to the former firms A.P. de Almeida & Malheiros, Emanuele Cresta & C and other importers of


marble, tiles, etc. A large establishment for mosaic tiles, glazed tiling for hallways, balconies, dining rooms, shops, warehouses, railroads, churches etc. A great variety always available, both in color and in design; and artists trained in laying natural and artificial tiles; able to undertake any work of art. Sole importer of the known tiles: F. Laugun & C, Bourg-Sant Andéol (Ardéche); Boch Freres & C, (Maubeuge); and several other manufacturers, there is also a large deposit of crude, carved marble, able to undertake any form of artistic sculpture, r Quintada, 41 and 44, Teleph 44, r. Ajuda, 33, 18 and 25, Teleph 312. r. Fresca, 14, Teleph 283 and Casa Filial, r. Bôa-Vista, 44 in São Paulo,. Factory of hydraulic cement tiles to r Saude, 126 and 128”. Almanak Administrativo Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, in 1892. [11] Advertisement published on June 3, 1909 in the newspaper O Pharol, in Juiz de Fora, Minas Gerais. https://mail.google.com/mail/u/0/?ui=2&ik=2f 467aac1a&view=lg&msg=14a36ed45d69a8a5 14a36ed45d69a8a5__ftnref12 [12] On page 4 of the newspaper A Província, published in Recife, on January 18, 1917, there is a reference to the company Bernardino Costa & C, formed by Messrs. Bernardino Ferreira da Costa, Zeferino da Costa Campos and Antonio Francisco Loureiro, owners of “Empresa Industrias Reunidas”, founded in 1913, and then located in Rua da Fundição 15, and that they manufactured, amongst other products, mosaics, still spelled with ‘z’. This same company, according to the notice published in the 1935 Pernambuco Yearbook, continued to manufacture tiles. [13] Not only for replacement work, but before in 1900, meters of end of line remains were sold, so that they could be combined to produce new compositions, according to the newspaper A Província: “For sale at the mosaic factory, Rua Imperial 240, side entrance, end of line remains of mosaics with different designs, with a 40% discount, which may be combined with other designs for offices, bedroom, bathrooms, to form an elegantly tiled floor”. (This was done in a large room at the Children’s Hospital in Recife, in the nuns’ residence).

https://mail.google.com/mail/u/0/?ui=2&ik=2f 467aac1a&view=lg&msg=14a36ed45d69a8a5 14a36ed45d69a8a5__ftnref14 [14] Statement taken from the catalogue Ladrilho Hidráulico – Arte, Piso e Poesia. (N.A.) However, we believe that hydraulic tiles began to be used once again at the beginning of the 1990s. [15] Statement taken from the catalogue Ladrilho Hidráulico – Arte, Piso e Poesia. Catalogues with the designs and names, models by which they have been known by the factory personnel, in Recife, until the present day, have disappeared. Maybe they were destroyed or taken by a previous employee. [16] Extracted from an article published on July 11 2007 in Gazeta Digital. Accessed on August 2014 via the following electronic address: http://banners.gazetadigital.com.br/conteudo/ show/secao/16/materia/148215

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the presence of hydraulic tiles both in our memories and in the center of recife clarice hoffmann

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The project Hydraulic Tiles in Pernambuco is defined as a field research in the districts of Old Recife (Bairro de Recife), Santo Antônio and São José. These particular districts were chosen due to the possibility of producing a chronological record of the rise, peak and decline of the use of hydraulic tiles in the state of Pernambuco, identifying and relating their presence to the older central areas of the capital. These areas of Recife have been marked by profound changes in their urban structure and by the construction of buildings in consequence of such changes. With the aim of relating the past to the present, over the months of July, August and September in 2014, we walked through the streets of Old Recife and the Island of Antônio Vaz where the district of Santo Antônio and parts of São José are located, guided by maps drawn up in 1959 by L. Gonzaga de Oliveira for the book Roteiros do Recife (Routes of Recife), by Tadeu Rocha. We went in search of floor coverings with hydraulic tiles or of any vestiges that remained of their existence. We went from door to door, approaching hundreds of people who collaborated amazingly with our research. By cross-referencing the results from the exploratory study and the systematization of information collected from journals, almanacs, albums and commercial yearbooks published in Pernambuco in the late 19th and early 20th century, we were

able to affirm that in the area investigated, during the final decades of the 1800s, the hydraulic tiles used in the construction and renovation of several existing buildings were imported. The possibility of using nationally manufactured hydraulic tiles only became feasible from the last decade of the 19th century, and the use of locally manufactured tiles, only after the turn of the century. A further fact resulting from the field research consisted in being able to verify the systematic reduction of the presence of tiles in the districts investigated, as from the second half of the 20th century. Today, it is possible to count on one hand the number of remaining examples in the districts of Old Recife and Santo Antônio. In São José, evidence of the tile appears proportionally to the decadence and/or the lack of upkeep of shops and residences within the area. It would seem that the few examples, which have managed to survive, have done so more through the lack of spending power or negligence on the part of property owners rather than a desire for preservation. There are however, certain exceptions. Contrary to the systematic destruction of the hydraulic tiles investigated throughout these regions, we also observed the reintroduction of such tiles at outlets that have opened over the last few years. In the restaurant Pé de Serra for example, located at Rua Coração de Maria, 131, the architect André Caricio, rather than employing the tiles as a traditional finish, has introduced an innovative new use by applying them to the corners of the carpets. In another restaurant called Casa Amarela, located at Rua do Nogueira, 239, hydraulic tiles were used as wall rendering. The same occurred at Orbe Coworking, on the 8th floor at Dantas Barreto, 324.


It is worth noting that over the course of our investigation, we received reports from local residents and trades people expressing a genuine affection for hydraulic tiles. Stories were stimulated by photographs of tiles that we carried with us. On being presented with the pictures and asked whether there were any tiles still in existence in the space where they were, interviewees almost always responded negatively, but nonetheless spontaneously recounted their memories of “mosaics” in the home of a grandparent, the home where they were brought up in in the interior of Pernambuco etc. Through reports from other locals in the region, we also collected information regarding old tile factories in Pernambuco. José Vicente Gonçalves, a resident of Ribeirão, a town located in the southern part of the state, recalled that years ago there was a small tile factory owned by Tota Cajueiro. Edson Lima, a former resident of Cupira, mentioned that tiles had been produced about 25 years ago in a factory owned by the father of Fumaça, a local councilor in this small rural town in Pernambuco. The sales attendant Jovanete Gomes da Costa remembered two factories that had existed in Recife, one on Avenida Cruz Cabugá and the other on Rua da Harmonia. Nancy Ferreira referred to a factory on Estrada do Arraial, located just before the entrance to the district of Monteiro, next to an old bakery. This is possibly the same establishment that José Antonio Santos, porter at the Arnaldo Bastos Building, on Avenida Guararapes, retained in his impressive memory. He remembered that towards the end of the 1950s, the Marca Rocha Fábrica de Mosaico, on Estrada do Arraial, 4340, advertised their products on the radio, so he never forgot their name or their address!

There was also an extraordinary meeting with Sonia Maria Alves, owner of a fishmonger, located on Rua Cais de Santa Rita Pier, in São José. In the 1970s, she owned a factory that produced slabs and hydraulic tiles in Piedade, a district in the metropolitan region of Recife. She was just beginning her married life with Josué, who had learned the craft with a tiler called Niron. Sonia said that while she devoted herself to manufacturing tiles, which received their names because of their drawings of lilies, sheets or roads, she lived the best years of her life, the birth of their children and the first home they bought together. In the 1980s however, her marriage came to an end and the small business failed.

in search of lost time The District of Old Recife Bairro do Recife The first news regarding the existence of hydraulic tile factories in Recife date back to the first two decades of the 20th century, coinciding therefore with the state capital’s urban growth and modernization, a period marked by planning and reforms in the district of Old Recife. The changes carried out in the area to create Avenues Rio Branco and Marquês de Olinda led to the construction of dozens of buildings. Hydraulic tiles were used as floor rendering for the commercial establishments that had settled at this brand new address. This fact is confirmed by photographs published in Obra de Propaganda Geral do Estado de Pernambuco, edited by José Coelho, in 1919/1920, in which tiles may be observed inside the Banco do Recife, London & River Plate Bank, Banco Nacional Ultramarino, Silva Pereira & C and Pereira Carneiro & Cia. The economic power of

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these companies located in what was at the time an extremely modern area built around the port of Recife, plus the records of the very few, albeit sophisticated, examples that remain in the district of Old Recife, indicate that most of the tiles used within the investigated area were imported and ceramic.

investigated street in search of a small miracle. Perhaps we had overlooked this address? Ironically, when we arrived at the said number, a young man called from inside: “Come in, come in, your future awaits you!” The site now houses an English course and there is no longer any vestige of the past that we were so anxiously seeking.

This is most possibly the case of four of the nine public sites, in which we identified the presence of tiles in the District of Old Recife. Some extremely good examples of the tiles were encountered at Av. Rio Branco, 50, where the Livraria Universal was once housed, and others at the former headquarters of the Western Telegraph Company Limited, built in the first decade of the 20th century in the Praça do Arsenal da Marinha and now occupied by the Paço do Frevo. The large salon at the current Capitania dos Portos de Pernambuco, located on Rua de São Jorge, 25, is yet another place in the region where the floor rendering is of extremely refined manufactured tiles and, much like the others, probably ceramic and foreign in origin. One thing can certainly be inferred however, that the presence of such examples increased the desire of other segments of Recife society to consume this novelty, thus boosting local production of the tiles.

Santo Antônio

In the abovementioned Obra de Propaganda Geral do Estado de Pernambuco there are also photographs that indicate the presence of hydraulic tiles in commercial properties in Santo Antônio and São José, such as Casa Brack, Macgregor & C, Restaurant Manoel Leite, Fábrica Lafayette and Camisaria Especial. One eye-catching item is the studio of the photographer Louis Piereck, located at Rua Floriano Peixoto, 198. With the idea of reproducing a similar image to the original, we returned to the already

After the transformations had occurred in the district of Old Recife, two new urban reforms were undertaken within the investigated area. In the 1940s, part of the district of Santo Antônio was demolished to build Avenida 10 de Novembro, today known as Guararapes, and in the early 1960s, another part was demolished to make way for the first stretch of Dantas Barreto. If the tile had been used as the ultimate in floor rendering in the works undertaken in the district of Old Recife, then this most certainly did not occur in the buildings erected along these two brand new avenues. Apart from the building called Edifício Seguradora, with its corridors of smooth, hexagonal hydraulic tiles, the materials used for the floor renderings in the modern buildings built in the area, were of marble. For the entrance halls of these buildings, as well as other floors and areas, the materials in vogue at the time were: mosaic tiles, parquet and granite. In the meanwhile, it was the middle classes of Santo Antônio and São José who made most use of the locally manufactured hydraulic tiles for the floors of their homes and for their small businesses. Nowadays, the incidence of hydraulic tiles in Santo Antônio is very low. With the exception of seven churches within in the neighborhood, tiles were only encountered


at a dozen addresses. On Rua Nova and Duque de Caxias we encountered the tiles in very similar situations: at the foot of stairs that lead to the upper floors of small buildings. We also found more hydraulic tiles at two addresses that appear to be lost in time. Examples of smooth hexagonal tiles were observed at the restaurant Dom Pedro II, and decorative tiles at the newspaper offices of Diário da Manhã.

São José The last major urban reform in the investigated district occurred in São José in the early 1970s, and was aimed at constructing the second stage of the abovementioned Avenida Dantas Barreto. This work was marked by the entire demolition of areas that lay between the very old streets of Horta and Augusta on one side and Santa Tereza, Dias Cardoso and Alecrim on the other. In terms of our research, this work symbolizes the beginning of a burial process and/or removal of hydraulic tiles in the studied areas. Roberval José do Nascimento and Fernando A. Carvalho, sales attendant and owner respectively of the store Ciclomania, located at Dantas Barreto, 698, report that the avenue, constructed with no concern for any of the local residents, was built on a higher level than the houses that lined the sidewalks. Consequently, these homes were subjected to frequent invasions of both garbage and water whenever it rained. One solution encountered by local residents and trades people to combat this problem was to raise the floors of the buildings, thus burying the existing tiles to a depth of several centimeters. Lídia Costa, shop owner on Dantas Barreto and resident at Beco do Ramos, also located

in São José, recounted a similar story. She and her neighbors owned shops and/or homes with floors covered with hydraulic tiles, but the constant invasion of water from the street began to destroy the tiles. In the end, the tiles were either removed all together or buried under a raised floor. This is therefore one of the reasons for the very low occurrence of examples of tiles along such a large avenue, where tiles were observed at only fourteen addresses, some of which however deserve special mention. The first was located at number 748, and belonged to Eralva Vieira de Lima, who had passed away almost two years before. Eralva was an unmarried lady who had been very attached to the home where she had been brought up, and so to preserve the memory of her parents and her home, the so-called Casa Verde (Green House), she maintained the property virtually intact throughout her whole life - furniture, floors and walls. Sadly, shortly before her death, all the furniture needed to be sold in order to raise funds to take care of her failing health. At her home however, there are some amazing paintings still hanging on the walls and hydraulic tiles on the floor, that feature different designs for each of the four environments where they appear - the front room, the hallway, the back room and the kitchen/laundry area. Offers to rent the house for commercial purposes abound, but today the biggest concern for Eralva’s heirs is what to do with this magnificent house. The second address worthy of mention is the Galeria Art Veneza, dedicated to frame making, and located at Dantas Barreto, number 867. As the owner had never raised the floor of this establishment, it is necessary to go down a small step in order to enter the shop. The service counter

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stands on a floor of hydraulic tiles with the same pattern. However, the floor in the workshop area is the real find! Here, tiles of various designs have been laid, all possibly purchased at an affordable price as end of line production from a local factory. One of the examples encountered is surprisingly different from the usual patterns, which leads us to imagine that his model was most probably designed for a specific order.

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On Dantas Barreto we also talked to Diogenes Leopoldino, owner of a bar on the corner of Rua do Peixoto. He told us that years before, he had owned a restaurant on the same avenue at the corner of Rua São João. The property, which had been fully tiled, no longer exists. It was demolished to make way for a car park. Diogenes’ story corroborated a situation we often observed within the investigated areas; stretches of hydraulic tiles or of vestiges in parking lots created for motorcycles, cars and trucks. These spaces, previously occupied by houses, which may either have collapsed due to a lack of maintenance or otherwise demolished to make way for one of the most profitable activities of our “carrocracia” (the power of cars), may be seen on the streets of Águas Verdes, Vidal de Negreiros, Floriano Peixoto, São João, and many others. At number 630 Rua da Concórdia, site of the former college Porto Carreiro, there are eight different stretches of tiles that bravely resist the weight of parked vehicles. It was also with immense sadness that on the day we visited this address, we encountered cement being mixed on a magnificent mosaic floor, real mosaics, which ironically in days gone by, was exactly the spot where meetings were held by the Association of Friends of the district of San José.

saints at home cannot perform miracles! Antonio Cassiano, an established tradesman for over six decades on Rua Santa Cecília, proudly displays the granite floor of his shop, very well maintained. For him, replacing old hydraulic tiles for ceramic rendering is related to the arrival of the “Chinese” in São José. Indeed, it is easy to note that many of the spaces managed by Asian immigrants follow the same design. Walls covered with wood paneling and smooth gray ceramic floor tiles are standard. However, the “Chinese” cannot be blamed for the destruction of the tiles. After all, the preservation of our cultural heritage is the task of Brazilians. Continuing our walk, we arrive at Praça Dom Vital, a square in which the São José Market is located. In the surrounding area there are two noteworthy buildings where we identified the presence of hydraulic tiles. The first is the Sian Building, built on the corner of Rua do Livramento. Here, street venders, having established themselves along the sidewalk that circles the building, appear to have dug out small spaces along the facade of the building so that they would no longer be considered as street venders. Among them is Roberto Cavalcanti, a skilled watch and spectacles repairer. Next to his work top, vestiges of tiles are an exemplary illustration of the burial process of the tiles and thus the gradual formation of new strata across the city. Along the corridors inside the Sian Building, we encountered the presence of tiles with different designs, some of which were of a very particular nature. But it was not always possible to ascertain whether or not there were any tiles inside the


apartments, since they are mostly used by the street venders of the area to store their merchandise. Almost all the doors were closed under lock and key. In fact, hydraulic tiles along corridors and/ or apartments in small buildings built in São José were constantly observed during the field research. We climbed the stairs of these buildings hoping not only to find tiles, but to find them in good condition. Saved by the mere fact that these tiles were on the higher floors, we encountered tiles in the Nery, Sagrada Família, Leny, Bonfim and Antonio Elihmas e Filhos buildings, amongst many others. This is also the case of the second prominent address in the surroundings of São José Market - the Inaúma Building, an example of eclectic architecture built in the 1920s on the corner of Rua do Rangel. On the second floor of the building, which was once the Arcoíris boarding house, lives Sheila, a thin lady, with protruding facial bones, sunken eyes and black pencil-drawn eyebrows. She kindly invited us into her home and proudly showed us the glossy hydraulic tiles in her hallway and kitchen. Living amongst apartments used by street vendors of the area, this long-time resident attempts to educate her neighbors regarding the beauty and the need to preserve the space they occupy. Just like Sheila, the number of apparently lonely old ladies, devoid of any suspicion, who opened the doors of their homes for our research, was amazing. Always solicitous, offering a glass of water or a cup of coffee, with the desire for good conversation and more especially to be admired for continuing to live in a severely degraded area, these old ladies somehow resembled a metaphor for the central object of our investigation, while at the same time appearing to be so resistant

and yet so vulnerable. Maria Pociano, who has lived at 34 Rua dos Pescadores for 59 years, is a good example. An archetypal kindly grandmother, she opened the door of her townhouse, of her intimacy, and talked about the day her husband, now deceased, chose the tiles upon which she has walked until today. Flushed with memories, she also recounted that, years later, after a small plumbing repair in the house, she went in search of tiles that would match the beautiful green floor of the entrance to her home. Maria’s memories were bringing meaning to the tiles, and the tiles were reviving Maria’s memories. All Hail!

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tiles of recife – Field research and visual language camila brito de vasconcelos

The visual languages that comprise the images of cities have been increasingly observed in innovative projects, in the arts, in architecture and design. The project Hydraulic Tiles in Pernambuco, in keeping with this particular trend and the huge potential offered by this particular object, encountered 376 tiles in households and shops around the districts of Old Recife, Santo Antônio and São José, in terms of repeated designs and colors at different residences throughout the city.

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Perhaps the huge amount of hydraulic tiles used in civil construction in the state of Pernambuco explains the extent to which this visual reference is present in the daily lives of Pernambuco, thus making its mark on environments, events, people, stories, feelings and memories. Reports obtained during the undertaking of this project demonstrate how the image of this floor covering has become part of life for the residents, and the extent to which this visual standard participates in the memories of the city. The aesthetic contribution of these tiles is mainly contained within the shapes and colors, the diversity of which was observed in all the records obtained from the project’s field research. Most of the tiles that came under observation (253) presented a single basic color, tones of black, red or green, combined with white, so as to compose the various designs. It may also be noted that a variety of colors would necessary imply a more elaborate preparation of the tile, and therefore influence the price of the product.

Examples showing the number of colors (page 68) The forms that delineate the figures presented on the tiles were observed from the perspective of Wucius Wong (Principles of Shape and Design), thus classifying the predominance of geometric, organic, rectilinear and irregular. The vast majority (214) presented geometric compositions, with mathematically combined shapes, originating much stricter patterns for the coated surfaces of this floor tile. A total of 59 tiles presented rectilinear configurations, combined with lines of varying thicknesses and spacing. However, organic patterns (83) were also observed, conferring more fluidity to the images formed by the composition of the different pieces. Only 20 tiles presented irregular shapes. Shapes on flat surfaces: geometric, organic, rectilinear and irregular. (page 71) In general terms, the presence of these patterns was observed covering the surfaces of several buildings that we visited, very much in accordance with the old architecture of the city. This memory identifies the aesthetics of the city, which, when used on other surfaces, takes on a new semblance, acting together with the collective imagination, and becoming an inspiration for many designers, designers, architects, artists, etc. With regard to preserving this cultural heritage, most occurrences observed during the field research indicate that it has been poorly maintained. Many examples (109) are in bad condition, thus reaffirming the need for the visual preservation of this aesthetic reference. This project emphasizes the need for such a task, and calls on everyone to continue with enriching images and records of the various


possibilities and visual patterns found in hydraulic tiles in Pernambuco, on decorations and other artifacts that transmit memories.

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yo mandaba embaldosar

José Luiz Mota Menezes

la baldosa hidráulica y las ciudades del siglo xx

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El progresivo crecimiento urbano de las capitales brasileñas a partir de la segunda mitad del siglo XIX y, con mayor intensidad, en las dos primeras décadas del siguiente supuso la abertura de grandes avenidas, en las que se situaban edificaciones grandiosas así como la exigencia de una mayor cantidad de determinados materiales de acabamiento. Los revestimientos de los pisos, de las plantas bajas y de los pavimentos superiores, que eran hechos antes de tarimas de madera, supuso, teniendo en cuenta la cantidad de nuevos pisos, dificultades por causa de los costes y también a la hora de la entrega de materiales importados por los representantes comerciales. Por otra parte, el mayor número de construcciones de viviendas de clase media, edificadas casi siempre por maestros de obras, amplió el problema. Un nuevo material para los pisos surgió en Europa en la segunda mitad del siglo XIX, lo que se convirtió en la solución para estos problemas. Este material presentaba una excelente apariencia, que lo asemejaba al mosaico tradicional “a la manera romana”,[1] o al mármol, materiales elaborados con una técnica bastante onerosa, cuyos usos se remontan históricamente a, por lo menos, la época de la Roma antigua. Tal material, en apariencia, era mejor que la tradicional baldosa de barro cocido, y además de menor coste que los revestimientos en mármoles o mosaicos venidos de Europa. Podemos afirmar, sin miedo a equivocarnos, que las

ciudades brasileñas en el siglo XX, en lo que respecta a las viviendas de clase media, crecieron, a la vez, que la expansión de este material en cuestión, la baldosa hidráulica. [2] que con modelos y diseños cada vez más sofisticados, seguía siempre los gustos de cada momento histórico. Además existían modelos que reproducían, en este nuevo material, diseños conocidos desde la técnica del azulejo y del mosaico tradicional. Todo esto nos recuerda a lo que ocurrió en aquella época con la industria del tejido, en cuanto a los procesos empleados y a sus costes, que resultó en una cierta popularización que todavía hoy sucede. Ya que los estampados, antes en seda, son también confeccionados empleándose material de menor coste, aunque adoptando los mismos diseños. Es una manera de transformar la producción de tejidos y ropas destinadas a un grupo reducido de personas, donde el modo de producir era caracterizado por gustos refinados, para alcanzar así, con poco coste, un público mayor que soñaba con vestirse bien.La baldosa hidráulica, en cemento, con gran belleza y variedad, ofrecía para el gran público la posibilidad de tener aquello de lo que solo una minoría disfrutaba y de lo que se enorgullecía, por un precio bien menor. [3]

¿qué es el ladrillo? La palabra ladrillo viene del latín later, derivó en ladrillo en español y, finalmente, en ladrilho en portugués. Se trata de una pieza de barro cocido, de forma cuadrada, rectangular o variada que, según Francisco Rodrigues en su Diccionario Técnico e Histórico (1875) es una más entre tantas piedras artificiales. En castellano , el ladrillo, cuando es utilizado en suelos, recibe el nombre de baldosa, palabra de origen incierto, según la Real Academia Española de la Lengua (N. del T.)


Empleado en pisos, este material fue muy usado en Brasil desde el siglo XVI. Para los pavimentos de las edificaciones. También se empleaban piedras naturales y el conocido mosaico, delineado con pedazos de materiales diversos. El mosaico, visto de este modo, tiene su origen en tiempos remotos. Fue ampliamente utilizado en Roma y durante la Edad Media en occidente, siendo considerado como un material de coste elevado como mármoles o granitos. El cemento, cimentum en latín, en su constitución tradicional era una especie de argamasa compuesta de polvo de ladrillo y de cal. El cemento romano es, en cambio, un producto de la calcinación de ciertos calcáreos arcillosos, una especie de betún o argamasa, y excelente cal hidráulica. La fabricación de tal cemento en Portland, Inglaterra, dio origen a un material de gran uso en la construcción. La necesidad de encontrar aglutinantes que pudiesen servir de materia prima para argamasas de revestimiento externo hizo que, en el periodo entre 1780 y 1829, el cemento recibiese algunas fórmulas y denominaciones diferentes como, “cemento romano” y “cemento británico”. Fue a mediados de 1830 cuando el inglés Joseph Aspdin patentó el proceso de fabricación de un aglutinante que resultaba de la mezcla, calcinada en proporciones adecuadas y definidas, de calcáreo y arcilla conocido mundialmente hasta hoy. El resultado fue un polvo que, por presentar un color y características semejantes a una piedra abundante en la Isla de Portland, fue denominado “cemento Portland”. A partir de ahí, su uso y su comercialización aumentaron gradualmente en todo el mundo. La baldosa hidráulica o mosaico hidráulico, (a veces impropiamente llamado azulejo hidráulico), es un tipo de revestimiento

artesanal confeccionado a base de cemento, usado en pisos y paredes, que tuvo su apogeo entre el final del siglo XIX e mediados del siglo XX. La ventaja de la baldosa hidráulica respecto a la baldosa tradicional, en barro, residía, como vimos, en el coste de la producción, una vez que la baldosa de barro necesitaba de cocción, o sea, del uso de un horno. El empleo de cemento y de arena evitaba esa tarea. Por otro lado, el proceso de fabricación de la baldosa hidráulica permitía el uso de diseños variados y de colores, lo que lo hacía bien parecido al mosaico tradicional, con menor coste. La baldosa hidráulica apareció en la segunda mitad del siglo XIX en el sur de Europa. Rápidamente se extendió por los países mediterráneos y se hizo popular también en la Inglaterra victoriana y en Rusia por su resistencia y por sus cualidades decorativas. En el diseño y en la separación de los colores, el proceso de fabricación del mosaico hidráulico, utiliza un procedimiento empleado ya en el siglo XVI, en la elaboración del azulejo a la cuerda seca, en donde los diversos colores de la composición eran separados por pequeñas cuerdas que formaban el diseño. Cuando la cuerda se quemaba en el horno resultaban los colores separados en surcos y con buena apariencia. [4] En el caso de la baldosa hidráulica los colores son separados por una reja de metal, que es retirada después de que los colores son debidamente aplicados y sobre ellos colocados el cemento y la arena. En Francia este tipo de mosaico, Carreaux em ciment comprimé, es considerado como un piso muy decorativo, debido a los diseños muy variados que pueden realizarse gracias al proceso de fabricación. Por esa causa

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era llamado de manera equivocada, de mosaïque, nombre que se popularizó. Tal parecido llevó a designar comercialmente este tipo de baldosa, como mosaico, dejándose así de lado, en la mayoría de los lugares, el nombre de baldosa hidráulica. Se trataba de un uso meramente comercial. También se fabricaba, al mismo tiempo, una baldosa con un diseño muy parecido, pero en cerámica prensada y cocida. El coste de esta última era mayor debido al uso del horno. Solamente cuando se industrializó la cerámica, como pasó a ser conocido este último tipo de piso, se obtuvo un menor coste de producción.

molde, en camadas sucesivas, colorantes, arena y cemento, empleándose una reja que separaba las tintas y daba lugar a los distintos diseños. Reja que era retirada una vez que las tintas estaban colocadas. Después estos colorantes eran cubiertos con arena y cemento. Más tarde se pasaba al prensado, y luego la pieza era expuesta para secar al aire libre. Por último, era inmersa en agua. El prensado era de entre 120 a 150 quilogramos por centímetro cuadrado.

Existe un tipo de piso, fabricado al mismo tiempo que el hidráulico, en el que las piedras artificiales son recortadas como en el caso del mosaico tradicional, con piezas mayores y diseños regulares geométricos, lo que posibilita variados tipos de composición. Era material importado y en algunas casas de Recife, todavía lo tenemos asentado. En el palacete del Barón Rodrigues Mendes, de 1878, actual Academia Pernambucana de Letras, gran parte del piso de la planta baja utiliza esta modalidad de material.

La baldosa hidráulica es una placa de hormigón formada por tres capas: La primera capa, la cara, es líquida y es vertida en unos moldes llamados modelos. Después, viene la segunda capa espolvoreada en seco, con cemento y polvo de piedra. Y, por último, una capa de hormigón humedecida. Esta tiene un grado de humedad menor que el hormigón común. Es prensada. Queda en reposo en estantes durante un período de doce horas, en el que no podemos tocar la pieza, porque se partiría en pedazos. Después del descanso, la pieza ¬es sumergida en agua de ocho a doce horas, ya que la segunda capa, al ser de hormigón seco, todavía no está hidratada su¬ficientemente. De este modo, para adquirir la resistencia del hormigón tiene que ¬quedar inmersa en agua para procesar toda la reacción química. Después de esto, hay un período de cura y de secado de quince a veinticinco días de media. (Zilton)[5]

el proceso de fabricación de la baldosa hidráulica La fabricación de la baldosa hidráulica era muy sencilla, de ahí su mayor poder de comercialización. Las primeras referencias a tal tipo de baldosa son de 1857, cuando un piso hidráulico fue descrito como alternativa a la piedra (al mármol, principalmente). Este producto fue presentado en la Exposición Universal de 1867, en París, por la empresa Garret, Rivetet Cie, como una cerámica que no necesitaba cocción, pues era solidificada por medio de prensas. En esa prensa, inicialmente manual, se colocaba en el

La técnica de fabricación de la baldosa hidráulica está bien explicada en el siguiente texto:

la baldosa hidráulica en brasil A lo largo de la segunda mitad del siglo XIX, las principales capitales del litoral brasileño y las ciudades de São Paulo y Minas Gerais, en el interior, por diferentes motivos, crecieron a un ritmo mucho mayor que durante los siglos


anteriores. Por otro lado, la apertura de los puertos, durante la primera mitad del mismo siglo, llevó a una política de importación de materiales de construcción a mayor escala. Los agentes comerciales, instalados en Brasil y también los ingenieros extranjeros, dieron prioridad, en una lógica natural de comercio, a los materiales constructivos importados. La propia madera, de la que el país era tan rico, dejó su lugar a la importación de pino de Riga y las puertas, confeccionadas con material nativo, eran pintadas para que parecieran hechas con madera europea. En cuanto a los pisos y a los revestimientos, en las construcciones de todo tipo, los mármoles y la madera sustituían, progresivamente, a la tradicional baldosa de barro cocido de fabricación local. Con las grandes intervenciones urbanas que ocurrieron a partir de la abertura de la Avenida Central, actual Avenida Rio Branco, (1906), en Rio de Janeiro y en otros estados, desde inicios del siglo XX, a lo que se sumó la creación de nuevas capitales, como, por ejemplo, Belo Horizonte, en Minas Gerais, la importación de aquellos materiales, en mayores cantidades de las que eran habituales, no podía suceder con mayor celeridad, especialmente los materiales destinados a la clase media para viviendas. Incluso los costes, de los citados materiales, hacían difícil la sustitución de las baldosas de barro en esas construcciones. Ante esta situación, por razones económicas y por libre iniciativa, surgieron las primeras importaciones y, después, las fábricas en Brasil de baldosas hidráulicas, los conocidos mosaicos. Aún no sabemos con seguridad en qué año comenzaron a ser fabricadas las baldosas hidráulicas en Brasil. Sobre la importación de este material, tenemos una fecha, el año 1869, en el que fue negada la exención de derechos en una importación de ladrillos (baldosas) imitando mármol, de Inglaterra.

Era el mosaico artificial destinado para el cuerpo interior de la iglesia de la Hermandad del Santísimo Sacramento en el barrio de Santo Antônio, Recife. Este suelo todavía se encuentra hoy en día en ese local.[6] En 1889, en Juiz de Fora, se sabe que um italiano, Giovani Lunardi,[7] estaba iniciando la fabricación de baldosas hidráulicas. Sin embargo, otra fuente informa que esa firma estaba establecida, ese mismo año, en la calle Rua Curitiba de Belo Horizonte. Tal vez se tratase de la oficina de ventas. Las mejores fuentes de información son los anuarios de los estados, especialmente los comerciales, y los periódicos. Así, en 1875, en la calle Rua Coronel Suassuna, se vendía mármol artificial, mosaico francés, de 9 pulgadas, a 500$00 (quinientos réis). La fecha coincide, aproximadamente, con la de aquel palacete del Barón Rodrigues Mendes (1878) y la de otros del mismo tipo en Recife. [8] En 1919, un anuario editado por José Coelho[9] contiene ilustraciones y anuncios de establecimientos, donde podemos constatar el uso frecuente de la baldosa hidráulica de diferentes diseños. Anuncios publicados en diversos periódicos de Brasil comprueban la existencia, ya en la primera década del siglo XX, de muchas fábricas de baldosas hidráulicas. También son los periódicos, a través de los anuncios de casas para alquiler y venta, los que informan del uso de la baldosa hidráulica. En Recife, en la calle Rua da União, una transversal de la calle Rua Formosa, actual Avenida do Conde da Boa Vista, se anunciaba una casa para alquilar, situada en el número 51, toda embaldosada con mosaico, patio, agua y gas canalizados. Aquellos anuarios comerciales eran editados como publicidad por los estados y destinados a usuarios del ramo de la

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construcción civil y otros similares. Eran financiados por el estado en colaboración con los anunciantes. De este modo, publicitaban los establecimientos de fabricación y venta de tales materiales. En Rio de Janeiro, la noticia más antigua que tenemos es de 1892, en ella se informa de la inauguración de una fábrica en la calle Rua da Saúde[10]. En 1909, encontramos publicidad de una fábrica próxima a la Avenida Central, construida en los primeros años del siglo XX [11]. En Recife, la empresa Bernardino Costa e C, fundada en 1913, anunciaba la fabricación de mosaicos. En 1935 continuaba activa en el sector. [12]

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Con el desarrollo de la industrialización, va teniendo más aceptación entre el público la cerámica prensada y cocida, también con una rica variedad de colores y tipos, además, aquellas de buena calidad, ofrecían una mayor durabilidad que las baldosas hidráulicas. Estas, entonces, fueron siendo sustituidas progresivamente por el nuevo y resistente material, gracias a una industrialización que llevó la cerámica a un precio asumible, por competitivo. De una manera lenta, pero eficiente, la baldosa de cerámica fue sustituyendo aquellos mosaicos, que, por otra parte, comenzaban a quedar pasados de moda. Tener este material en su casa era incompatible con la ascensión social de la clase más pobre, que alcanzaba el nivel de la mayoría de la clase media. Con el surgimiento de la cerámica, en la década de 1960, muchas fábricas cerraron, pues no contaban con estructura ¬financiera para mantener a los trabajadores. Algunas comenzaron a producir piso para aceras y otras fábricas se mantuvieron también fabricando baldosas para reponer piezas[13], hasta que, de nuevo, hace como unos treinta años, hubo un resurgir de la baldosa.

Surgió con fuerza, a través de los medios de comunicación, impulsado por los nuevos arquitectos que comenzaron a usarla. [14] Esta situación es bien explicada en el texto de apertura de la exposición Se Esta Rua Fosse Minha, del Museu da Casa Brasileira, escrito por Adélia Borges: Lejos de una visión nostálgica de un pasado que no va a regresar, queremos traer el precioso trabajo de las baldosas hidráulicas a los días de hoy y mostrar toda la contribución que aportaron – y aportan – a la construcción en nuestro país. Este revestimiento forma parte de la memoria afectiva de todos nosotros; evoca espacios y escenas, sentimientos, vivencias relacionados con él. Su producción continúa siendo artesanal, como siempre, pero curiosamente atiende a una demanda actual por parte de los consumidores de adquirir productos que, aún fabricados en serie, den margen para una personalización hecha a la medida de cada uno. Precisamente el carácter artesanal de la baldosa hidráulica fue la principal causa de su muerte. El coste de la producción artesanal no era competitivo ante la industrialización, lo que nos llevó a la baldosa de cerámica cocida. Las baldosas hidráulicas han sido destruidas sistemáticamente. Sin embargo, aun existen medios de salvarlas. La humanización de las ciudades, junto al interés por su pasado cultural, puede llevar a la salvación de lo que todavía existe. Las palabras recogidas en una de las fábricas de São Paulo manifiestan este sentimiento: Hay clientes que vienen aquí a la fábrica y comienzan a recordar su infancia, principalmente viendo las baldosas clásicas como la Margarida, el Gobeto, Estrela, el Tijolinho, estos clásicos, son las primeras


baldosas decoradas, bien geométricas. La Margarida fue la primera baldosa que no era geométrica, el estilo fl oral. Las baldosas traen ese lado nostálgico muy fuerte, y todavía más cuando conocen la fábrica y ven el proceso de fabricación que remite al pasado. Hay muchos clientes que lloran aquí, en la fábrica, acordándose de su abuela, de su madre o de la casa en la que vivía antiguamente en el campo, de todas esas historias. La baldosa hidráulica tiene ese lado nostálgico, remite mucho al pasado, es algo bonito...(Junior).[15] No pensamos que la baldosa hidráulica pueda competir con la cerámica industrial, teniendo en cuenta el carácter utilitario presente en los emprendimientos inmobiliarios. Solo se intentó en lo que se refiere a las aceras. Es un material constructivo que tiene su importancia en la historia de la arquitectura y que debe ser objeto de protección y de culto. Todavía es posible su uso como una forma de satisfacción personal, o en aquellos casos en que el material pueda sobresalir en la arquitectura interior. De este modo, ha sido objeto de interés por parte de algunos profesionales de la arquitectura, y además del gusto de personas que ven en este material la belleza encerrada en la variedad de diseño que, cuando fue ampliamente utilizado, siempre supo adaptarse a lo deseado por los clientes. Se trata de un bien cultural que, de la misma forma que tantos otros, no debe ser olvidado ante una modernidad desprovista de cualquier vínculo, contaminada por la ausencia de referencias y vacía. Pienso que esas piezas que emocionan a arquitectos y a apasionados por la decoración combinan con todo tipo de ambiente, excepto aquellos muy minimalistas o super modernos, considera. Los cuadrados

coloridos que recuerdan azulejos portugueses y componen diseños en suelos, paredes y hasta en superficies de muebles, fueron muy utilizados en Europa antes de llegar a São Paulo, a inicios del siglo pasado. Las primeras piezas vinieron de Portugal, de Francia y de Bélgica y adornaban los suelos de las casas de hacendados, de museos o de la entrada de edificios elegantes. (Opinión del arquitecto Darlei Ribeiro)[16] En Recife, en la arquitectura interior, algunos arquitectos han tenido el cuidado de emplear, en un revival singular, baldosas hidráulicas de diseños, bien tradicionales o creados. La riqueza de la composición y la variedad de colores trajeron un nuevo aliento para un material de construcción tan interesante. La baldosa hidráulica abandona las colecciones privadas y públicas de materiales de construcción, volviendo a la actividad. Ella posee en sí misma la modernidad eterna.

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[1]El mosaico romano– tessere – constituía, sin embargo el elemento fundamental de la decoración pavimentar en el opus tesselatum o novermiculatum agrupando pequeñas piedras talladas en cubos, más o menos regulares y cuya combinación producía figuras multicolores. In SIMÕES, João Miguel dos Santos, Azulejaria em Portugal nos séculos XV e XVI, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa 1969 p. 47

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[2]“En 1908, publicación oficial, en tres volúmenes, del Centro Industrial do Rio de Janeiro, titulada O Brasil, en anejo 13 de su volumen III, calculaba en torno a tres mil el número de establecimientos de industria manufacturera en Brasil. Los Estados donde se encontraban tales establecimientos en mayor cantidad eran: Rio de Janeiro (Distrito Federal), con 35 mil obreros; São Paulo, con 24 mil; Rio Grande do Sul, con 16 mil; Rio de Janeiro, con 14 mil y Pernambuco, con 12 mil. La principal industria era la textil. También era importante, en Minas Gerais, la explotación de minas. Todavía era débil la industria de la sal: la sal indígena provenía principalmente de Rio Grande do Norte. Varias fábricas de muebles, de bebidas, de puros, de cigarros, de mosaicos, de jabón, de fósforo, de cerámica, de conservas alimenticias, de vehículos. Además, el año 1908 fue el de la Exposición Nacional de Rio de Janeiro..”. In FREYRE, Gilberto. Ordem e Progresso. 6º. Edição Revista. Global Editora. São Paulo, 2004, p. 719 e 720. [3]“En este depósito se encuentran cantidad de baldosas de mármol artificial, mosaicos para baldosa, de bonitos diseños y propios para iglesias, oficinas públicas, tiendas y casas particulares. Estas baldosas de efecto sorprendente son preferibles al mármol por no ser frías y no perjudicar la salud. El propietario de este establecimiento ruega a todas aquellas personas a las que les gusta el lujo, la economía y la duración, que lo visiten, y está convencido de que quien vea las baldosas no las dejará de comprar y por eso queda a disposición del público de las 10 horas del día a las 03 de la tarde en el establecimiento mencionado – Cais do Capibaribe.” Jornal do Recife, 15 de marzo de 1872. Edición 063, p. 3. [4]En la segunda mitad del siglo XVI aparecen tentativas de simplificación del trabajo de alicatado,

procurando concentrar en una baldosa cuadrada de molde levantino los esquemas de repetición de los lazos geométricos. la técnica usada consistía en aislar las áreas y esmaltar por surcos más o menos profundos que impidiesen la mezcla de los esmaltes durante el proceso de fusión. Era, además, una técnica ya familiar en la Europa Medieval y practicada en los esmaltes sobre cobre – cuyo centro fue Lamego – técnica conocida por cloisoné: en la jerga de la cerámica española tal proceso técnico es conocido como cuerda seca. . In SIMÕES, João Miguel dos Santos, Azulejaria em Portugal nos séculos XV e XVI, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa 1969 p. 57 (Las pequeñas cuerdas separaban los colores en los surcos) [5] Texto extraído del catálogo Ladrilho Hidráulico – Arte, Piso e Poesia [6] “Por la secretaria de gobierno se declarara a la mesa rectora de la Hermandad del Santísimo Sacramento de la parroquia de Santo Antônio en Recife, para su conocimiento y dirección, que según consta en aviso expedido por el ministerio de hacienda de 17 de agosto último, fue denegada la petición en que se pedía exención de derechos para las baldosas, a imitación de mosaico, importado de Inglaterra para el suelo del cuerpo de la respectiva iglesia, al no existir en el reglamento de las aduanas disposición alguna, que permita esa exención”. Diário de Pernambuco, 20 de noviembre de 1869 . Edición 124 Página 1/ Portada. Sección Edicto. [7] La primera fábrica de baldosas del país fue fundada em 1889 en Juiz de Fora por el italiano Giovani Lunardi. In CAMPOS, Cláudia Fátima. Trajetória e significado do ladrilho hidráulico em Belo Horizonte. 2011. Tesis (maestría). Universidad Federal de Minas Gerais, Escuela de Arquitectura. [8]Anuncio publicado en el diario A Província, en 1875. [9] COELHO, José, Editor, Propaganda General, Recife, 1919/1920. [10] “Comp. De Marmores e Ladrilhos, sucesora de las antiguas firmas A.P. de Almeida & Malheiros, Emanuele Cresta & C. y otras importadoras


de mármoles, ladrillos, azulejos etc. Con gran establecimento de mosaicos, vitrificados para embaldosar vestíbulos, balcones, comedores, tiendas, almacenes, estaciones de ferrocarril, iglesias etc. Tiene siempre gran variedad, tanto en colores como en diseño; y um equipo de artistas habilitados para el asentamiento de baldosas naturales y artificiales; se encarga de cualquier obra de su arte. Único importador las baldosas conocidas: F. Laugun & C, de Bourg-Sant Andéol (Ardéche); Boch Freres & C, (de Maubeuge); y otros varios fabricantes, tiene también un gran depósito de mármoles bruto y labrado y se encarga de cualquier escultura artística, r Quintada, 41 y 44, Tel. 44, r. Ajuda, 33, 18 y 25, Tel. 312. r. Fresca, 14, Tel. 283 y Casa Filial, r. Bôa-Vista, 44, en São Paulo,. Fábrica de baldosas hidráulicas de cemento en la r Saude, 126 y 128”. Almanak Administrativo Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1892. [11] Anuncio publicado el día 03 de junio de 1909 en el diario O Pharol, Juiz de Fora, Minas Gerais. https://mail.google.com/mail/u/0/?ui=2&ik=2f 467aac1a&view=lg&msg=14a36ed45d69a8a5 14a36ed45d69a8a5__ftnref12 [12] El periódico A Província, publicado en Recife, el día 18 de enero de 1917, se refiere en la página 4 a la empresa Bernardino Costa & C, formada por los Srs. Bernardino Ferreira da Costa, Zeferino da Costa Campos y Antônio Francisco Loureiro, proprietarios de la “Empresa Industrias Reunidas”, fundada en 1913, localizada, entonces, en la calle Rua da Fundição, número 15, y que, entre otros productos, fabricaba mosaicos, todavía escrito con letra z. Empresa que, de acuerdo con un anuncio publicado em el Anuário de Pernambuco de 1935, continuaba fabricando baldosas. [13] No solo para reposición, ya antes, en 1900, eran vendidos restos de metraje, para que combinados formaran nuevas composiciones, según el anuncio del periódico A Província: “Se vende en la fábrica de mosaico, Rua Imperial nº. 240, entrada por el frontón, porción de mosaico, resto de diferentes diseños, con descuento de 40% que combinados con otros diseños para gabinetes, cuartos, baños, forma un baldosado elegante”. (En el Hospital

Infantil de Recife, en una gran sala, así fue realizado, concretamente en la residencia de las monjas). https://mail.google.com/mail/u/0/?ui=2&ik=2f 467aac1a&view=lg&msg=14a36ed45d69a8a5 14a36ed45d69a8a5__ftnref14 [14] Texto extraído del catálogo Ladrilho Hidráulico – Arte, Piso e Poesia. (N.A.) Sin embargo, creemos que el resurgir del uso de la baldosa hidráulica comenzó a inicios de los años noventa. [15] Texto extraído del catálogo Ladrilho Hidráulico – Arte, Piso e Poesia. Los catálogos de los diseños y los nombres por los que eran conocidos los modelos por la gente de la fábrica, en Recife, han desaparecido. Tal vez hayan sido destruidos o quizás conservados por algún antiguo empleado. [16] Extraído del artículo publicado el día 11 de julio de 2007 en la Gazeta Digital. Accedido en agosto de 2014 a través de la dirección electrónica http:// banners.gazetadigital.com.br/conteudo/show/ secao/16/materia/148215 » Eu mandava ladrilhar. Canción popular brasileña compuesta por Mario Lago y Roberto Martins (Nota del Traductor) » Deficinión de baldosa: Ladrillo, fino por lo común, que sirve para solar. http://lema.rae.es/ drae/?val=baldosa. Accedido el 27/07/2015.

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la presencia de la baldosa hidráulica en la memoria y en el centro de recife Clarice Hoffman

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El proyecto Baldosa Hidráulica en Pernambuco definió como área de su trabajo de campo los barrios de Recife, Santo Antônio y São José. La elección de este territorio se produjo en virtud de la posibilidad de historiar cronológicamente el surgimiento, auge y declive del uso de la baldosa hidráulica en Pernambuco, identificando y relacionando su presencia con las áreas centrales más antiguas de su capital. Áreas de Recife marcadas por profundos cambios en su trazado urbano y por edificaciones construidas a consecuencia de tales transformaciones. Con la intención de relacionar el pasado con el presente, a lo largo de los meses de julio, agosto y setiembre de 2014, recorrimos todas las calles del Bairro do Recife y de la Ilha de Antônio Vaz, donde se encuentran los barrios de Santo Antônio y parte de São José, siguiendo los mapas diseñados en 1959 por L. Gonzaga de Oliveira para el libro Roteiros do Recife, de Tadeu Rocha. En busca de pisos revestidos con baldosas hidráulicas o de vestigios que, por acaso, hubiera de su existencia, fuimos de puerta en puerta, abordando centenas de personas, que colaboraron de forma sorprendente con nuestro proyecto. El cruce entre los resultados del estudio exploratorio y la sistematización de informaciones identificadas en periódicos, almanaques, álbumes y anuarios comerciales publicados en Pernambuco al final do siglo

XIX e inicio del siglo XX, permite afirmar que, en las últimas décadas del siglo XIX, las baldosas hidráulicas empleadas en las construcciones y reformas de diversas edificaciones existentes en el área investigada eran importadas. El uso de baldosas hidráulicas de fabricación nacional solo fue posible a partir del último decenio del siglo XIX y el empleo de ejemplares de fabricación local, tan solo después del cambio de siglo. Otro dato resultante del trabajo de campo fue la verificación de la reducción sistemática de la presencia de la baldosa en los barrios investigados, a partir de la segunda mitad del siglo XX. Hoy es escaso el número de ejemplares todavía existentes en el Bairro do Recife y en el de Santo Antônio. En São José, la presencia de la baldosa es proporcional a la decadencia y falta de conservación de los establecimientos comerciales y residenciales de la zona. Todo indica que su permanencia está más vinculada al bajo poder adquisitivo o a la falta de cuidado de los propietarios de los inmuebles, que a una intención de preservación. Sin embargo, hay excepciones. En sentido contrario a la destrucción sistemática de las baldosas hidráulicas atestiguadas en estas áreas, constatamos su reutilización en establecimientos comerciales inaugurados en los últimos años. En el restaurante Pé de Serra, localizado en la calle Rua Coração de Maria, 131, el arquitecto André Carício innovó al dar un nuevo uso a las baldosas destinadas tradicionalmente a los remates de las esquinas de las alfombras. En el restaurante Casa Amarela, situado en la calle Rua do Nogueira, 239, baldosas hidráulicas fueron utilizadas como revestimiento de las paredes. Lo mismo ocurrió en Orbe Coworking, establecido en la Avenida Dantas Barreto, 324, en el 8º piso.


Cabe destacar que, a lo largo de da investigación, escuchamos testimonios de residentes y comerciantes de la zona reveladores de una verdadera relación de afecto con las baldosas hidráulicas. Conversaciones estimuladas por fotografías que llevábamos a mano. Los entrevistados, al ver las imágenes y ser preguntados sobre la existencia de baldosas en el lugar en el que se encontraban, respondían casi siempre de forma negativa, pero espontáneamente hablaban sobre recuerdos relativos a la existencia del “mosaico” en la casa de un abuelo, en la residencia donde fueron criados, en el interior de Pernambuco etc. A través del testimonio de otros frecuentadores de la zona recogimos informaciones sobre antiguas fábricas de baldosas en Pernambuco. El Señor José Vicente Gonçalves, vecino de Ribeirão, ciudad localizada en la zona de la mata sur del Estado, recordó que, años atrás, existía por allí una pequeña fábrica de baldosas y que su dueño era Tota Cajueiro. Edson Lima, antiguo vecino de Cupira, dijo que baldosas eran producidas hace aproximadamente 25 años en la fábrica del padre de Fumaça, un concejal de esa pequeña ciudad del agreste pernambucano. La vendedora Jovanete Gomes da Costa se acordó de dos fábricas existentes en Recife, una en la Avenida Cruz Cabugá, y otra, en la calle Rua da Harmonia. Já Nancy Ferreira hizo referencia a una fábrica en la calle Estrada do Arraial, localizada poco antes de la entrada para el barrio de Monteiro y próxima a una antigua panadería. Posiblemente, se trata del mismo establecimiento que Antonio José Santos, portero del Edificio Arnaldo Bastos, construido en la Avenida Guararapes, retuvo en su impresionante memoria. Él nos contó que allí, hacia finales de los 50, la Fábrica de Mosaico Marca Rocha, establecida en la calle

Estrada do Arraial, número 4340, anunciaba sus productos en una radio, ¡por eso nunca se olvidó ni de su nombre ni de su dirección! Extraordinario también fue el encuentro con Sonia Maria Alves, dueña de una pescadería, localizada en la calle Rua Cais de Santa Rita, en São José. En los años 70, ella fue propietaria de una fábrica que producía losas y baldosas hidráulicas en Piedade, barrio de la región metropolitana de Recife. Era el comienzo de su vida de casada con Josué, que aprendió el oficio con un ladrillero llamado Niron. Sonia contó que mientras se dedicaba a la fabricación de baldosas hidráulicas, denominadas por causa de sus diseños como lirio, sábana o camino, vivía los mejores años de su vida, el nacimiento de sus hijos y la compra de su primera casa. Pero, en los años 80, su casamiento terminó y el pequeño negocio quebró.

en busca del tiempo perdido Bairro do Recife Las primeras noticias sobre la existencia de fábricas de baldosas hidráulicas en Recife datan de los dos primeros decenios del siglo XX, coincidiendo, por tanto, con el crecimiento urbano y la modernización de la capital de Pernambuco, marcada en este período por el planeamiento y reforma del Bairro do Recife. Las transformaciones emprendidas en la zona para la abertura de las avenidas Rio Branco y Marquês de Olinda llevaron a la construcción de decenas de edificios. Baldosas hidráulicas fueron utilizadas como revestimiento de los pisos por parte de los estabelecimientos comerciales radicados en las nuevas direcciones. Corroboran esta afirmación, fotografías publicadas en la Obra de Propaganda Geral

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do Estado de Pernambuco, editada por José Coelho, en 1919/1920. El uso de las baldosas hidráulicas es perceptible en las imágenes de los ambientes internos del Banco do Recife, London & River Plate Bank, Banco Nacional Ultramarino, Silva Pereira & C e Pereira Carneiro & Cia. El poderío económico de esas compañías situadas en la, entonces, modernísima zona portuaria de Recife, sumado a los registros de los poquísimos, pero sofisticados, ejemplares todavía existentes en el Bairro do Recife, indica que la mayoría de las baldosas asentadas en el área investigada era importada y cerámica.

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Ese es posiblemente el caso de cuatro de los nueve espacios públicos, en los que se encontraron baldosas hidráulicas en el Bairro do Recife. Son buenos ejemplos, las encontradas en la Avenida Rio Branco, 50, donde otrora funcionó la Livraria Universal, y los ejemplares de la antigua sede de la Western Telegraph Company Limited, construida en el primer decenio del siglo XX en la Praça do Arsenal da Marinha y hoy ocupada por el Paço do Frevo. El salón de actos de la actual Capitania dos Portos de Pernambuco, situada en la calle Rua de São Jorge, 25, es otro espacio de la zona cuyo piso presenta baldosas de confección exquisitamente refinada y, como los demás, probablemente cerámico y de origen extranjero. Con toda seguridad la presencia de estos ejemplos aumentó el deseo de consumo de esta novedad por parte de otros sectores de la sociedad recifense, impulsando así la fabricación local de las baldosas hidráulicas. En la ya citada Obra de Propaganda Geral do Estado de Pernambuco hay también fotografías que muestran la presencia de la baldosa hidráulica en establecimientos comerciales localizados en Santo Antônio

y en São José, como la Casa Brack, Macgregor & C, Restaurant Manoel Leite, Fábrica Lafayette y Camisaria Especial. Llama la atención el registro del estudio del fotógrafo Louis Piereck, situado en la calle Rua Floriano Peixoto, 198. Con la intención de reproducir una imagen semejante a la original, regresamos a la calle ya investigada en busca de un pequeño milagro. Quién sabe, ¿se nos habría pasado por alto esa dirección? Irónicamente, al llegar delante del número indicado un muchacho me dijo: entre, entre, ¡aquí está su futuro! El local aloja hoy una academia de inglés y en el espacio no queda ningún vestigio del pasado que tanto buscábamos.

Santo Antônio Después de las transformaciones ocurridas en el Bairro do Recife, dos nuevas reformas urbanas fueron emprendidas en la zona investigada. En los años 40, parte del Bairro de Santo Antônio fue derribado para la construcción de la Avenida 10 de Novembro, hoy conocida como Guararapes y, a inicios de los años 60, otra parte fue demolida para la abertura del primer trecho de la Avenida Dantas Barreto. Si en los trabajos de modernización del Bairro do Recife, la baldosa fue considerado como el último grito en términos de acabamiento para pisos, no sucedió lo mismo en los edificios erguidos a lo largo de las dos novísimas vías. A excepción del Edifício Seguradora, cuyos corredores presentan baldosas hidráulicas lisas y hexagonales, los materiales empleados en el acabamiento de los pisos de los modernos edificios construidos en aquel área fueron los mármoles, para buena parte de los vestíbulos de entrada, y en los otros pisos y ambientes objetos de moda en la época: teselas, tacos y granilito. A


estas alturas, era la clase media de Santo Antônio y de São José la que usaba baldosa hidráulica, fabricada localmente, en el suelo de sus residencias y de sus pequeños establecimientos comerciales. Actualmente, la presencia de baldosas hidráulicas en Santo Antônio es bajísima. Sin tener en cuenta los ejemplares presentes en siete iglesias del barrio, solo fueron encontradas en apenas una decena de edificios. En la calle Rua Nova y en la calle Duque de Caxias las encontramos en situaciones semejantes: a los pies de escaleras que dan acceso a pisos superiores de pequeñas edificaciones. También encontramos baldosas hidráulicas en dos lugares que parecen estar perdidos en el tiempo: Ejemplares lisos y hexagonales, en el restaurante Dom Pedro II, y baldosas decoradas en la sede del Diário da Manhã.

São José La última gran reforma urbana realizada en el área investigada ocurrió en el Bairro de São José a inicios de los 70 y se trató de la construcción de la segunda etapa de la Avenida Dantas Barreto. Caracterizada por el derribo de las casas que se encontraban entre las antiguas calles Rua da Horta y Rua Augusta, de un lado; y del otro, entre las calles Santa Tereza, Dias Cardoso y Alecrim, la obra en cuestión representa en esta investigación el inicio del proceso de soterramiento y de remoción de las baldosas hidráulicas de las áreas estudiadas. Roberval José do Nascimento y Fernando A. Carvalho, respectivamente, vendedor y propietario de la tienda Ciclomania, localizada en la Avenida Dantas Barreto, 698, cuentan que esta avenida, construida

sin tener en cuenta a los residentes de la zona, quedó a un nivel más alto que el de las viviendas que acabaron situados a sus márgenes. Expuestas, entonces, a la entrada frecuente de basura y de agua en el período de lluvias, elevar el piso de los edificios fue la única solución encontrada por los vecinos y comerciantes de la región, dejando así las baldosas existentes soterradas a varios centímetros de profundidad. Comerciante de la Avenida Dantas Barreto y residente en el Beco do Ramos, localizado también en São José, Doña Lídia Costa, contó una historia semejante. Ella y sus vecinos poseían establecimientos comerciales o casas con pisos revestidos con baldosas hidráulicas, pero a causa de la entrada constante de agua el mosaico se fue ablandando y terminó siendo arrancado o soterrado para la construcción de un piso más elevado. Está ahí, por tanto, una de las razones para la bajísima presencia de ejemplares de baldosas en tan extensa avenida. En la Dantas Barreto su presencia fue identificada en tan solo catorce edificios. Algunos de ellos merecen comentarios. El primero está situado en el número 748 y perteneció a Eralva Vieira de Lima, fallecida hace aproximadamente dos años. Señora soltera muy apegada a la casa donde creció, Eralva mantuvo a lo largo de toda su vida, como forma de preservar la memoria de sus padres, su residencia, la llamada Casa Verde, prácticamente intacta – mobiliario, pisos y paredes. Desafortunadamente, poco antes de fallecer, con el objetivo de obtener fondos para cuidar de su salud, todos los muebles fueron vendidos. En el local, continúan preservadas las sorprendentes pinturas existentes en sus paredes y los revestimientos de su piso, baldosas hidráulicas mostrando diseños diferentes

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en cada uno de los cuatro ambientes donde están presentes – sala principal, corredor, sala posterior y cocina con área de servicio. Interesados en alquilar este local para fines comerciales no faltan, pero encontrar un destino adecuado a la magnífica casa de Eralva es, hoy en día, la mayor preocupación de sus herederos.

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El segundo local que vale la pena citar es la Galeria Art Veneza, dedicada a la confección de molduras y localizada en el número 867 de la Avenida Dantas Barreto. Como su propietario no elevó el piso del establecimiento, para entrar en la tienda es necesario descender un pequeño escalón. El mostrador donde atiende a los clientes está sobre baldosas hidráulicas de un mismo padrón. Sin embargo, en el suelo del cuarto de al lado, en el que está el taller, es donde realizamos un verdadero descubrimiento: en él fueron asentadas baldosas de diversos diseños, posiblemente adquiridas a un precio más barato como restos de la producción de alguna fábrica local. Uno de los ejemplares encontrados es sorprendentemente diferente a los padrones habituales, lo que nos hace suponer que su modelo fue diseñado para atender una encomienda específica. En la Dantas Barreto conversamos también con Diógenes Leopoldino, propietario de un bar situado en la esquina de la calle Rua do Peixoto. Él nos contó que, años atrás, poseía en la misma avenida un restaurante que quedaba en la esquina de la calle Rua São João. El establecimiento, lleno de baldosas, ya no existe. La construcción fue derribada y su terreno transformado en un aparcamiento. El testimonio de Diógenes corroboró una situación observada con frecuencia en las áreas investigadas; la

presencia de suelos de baldosas hidráulicas o de sus vestigios en aparcamientos creados para motos, coches y camiones. Estos espacios, ocupados anteriormente por casas, que pueden haberse caído por falta de conservación o que fueron demolidas para dar lugar a una de las actividades más lucrativas de nuestra “tiranía de los coches”, están en las calles Águas Verdes, Vidal de Negreiros, Floriano Peixoto, São João y tantas otras. En el número 630 de la calle Rua da Concórdia, local del antiguo Colégio Porto Carreiro, hay ocho diferentes tapetes que resisten bravamente el peso de los vehículos estacionados sobre sus baldosas. Con enorme tristeza constatamos el día de nuestra visita a aquel local, la producción de cemento encima de un magnífico piso de mosaico, mosaico auténtico, que por ironías de la vida, fue, en tiempos pasados, el suelo sobre el que se realizaban las reuniones de la Asociación de Amigos del Barrio de São José.

¡santo de casa no hace milagros! Don Antonio Cassiano, comerciante establecido hace más de seis décadas en la calle Rua Santa Cecília, muestra con orgullo el suelo de granillito de su tienda, en gran estado de conservación. Él afirma que la sustitución de las antiguas baldosas hidráulicas por revestimiento cerámico está relacionada con la llegada de los “chinos” al Bairro de São José. De hecho, es fácil percibir que buena parte de los espacios gestionados por los inmigrantes asiáticos sigue una misma decoración. Paredes revestidas con madera y pisos cerámicos lisos de color gris son el padrón. No obstante, no es posible responsabilizar a los “chinos” por la destrucción de las baldosas, ya que la preservación del patrimonio material existente en el país es tarea de los brasileños.


Continuando nuestro recorrido llegamos a la plaza Dom Vital, donde está localizado el Mercado de São José. En su entorno, cabe destacar dos locales en los que constatamos la presencia de baldosas hidráulicas. El primero de ellos es el Edifício Sian, construido en la esquina de la calle Rua do Livramento. En la acera del edificio están establecidos comerciantes, que parecen haber excavado pequeños espacios en su fachada con la intención de dejar de ser ambulantes. Entre ellos, está Don Roberto Cavalcanti, experto en el arreglo de relojes y gafas. Próximo a su mesa de trabajo, vestigios de baldosas ilustran, ejemplarmente, su proceso de soterramiento y la formación paulatina de los nuevos estratos de la ciudad. También en el Sian, constatamos en sus corredores internos la presencia de baldosas de diferentes diseños, algunos bien peculiares. Pero, no siempre fue posible verificar la presencia o no de las baldosas en sus apartamentos, ya que al ser utilizados en su gran mayoría como depósito de mercancías por parte de los vendedores ambulantes que trabajan en la zona, casi todas las puertas estaban cerradas bajo siete llaves. Además, la presencia de baldosas hidráulicas en corredores y apartamentos de pequeños edificios construidos en el Bairro de São José fue una constante observada a lo largo del trabajo de campo. Subíamos las escaleras de esos edificios con la esperanza de encontrar no solo baldosas, sino baldosas en buen estado de conservación. Salvadas por la altura, están presentes en los edificios Nery, Sagrada Família, Leny, Bonfim, Antonio Elihmas e Filhos, entre otros tantos. El caso del segundo local destacado existente en el entorno del Mercado de São José, es el Edifício Inaúma, un ejemplo

de arquitectura ecléctica construido en la década de 1920, en la esquina de la calle Rua do Rangel. En el segundo piso del edificio, que ya albergó la pensión Arco-íris, vive Doña Sheila, señora delgada, con los huesos de la cara protuberantes, ojos hundidos y cejas delineadas con lápiz de ojos negro. Ella gentilmente nos convidó para entrar en su residencia y nos mostró con orgullo las baldosas hidráulicas lustrosas de su corredor y de su cocina. Viviendo entre apartamentos utilizados por los vendedores ambulantes de la región, la antigua residente intenta concienciar a sus vecinos sobre la belleza y la necesidad de preservación del espacio que ocupan. Como Doña Sheila, el número de señoras aparentemente solitarias que, desprovistas de cualquier tipo de desconfianza, abrieron las puertas de sus casas para nuestra investigación fue sorprendente. Siempre solícitas, ofreciendo un vaso de agua o una taza de café, deseando mantener una buena conversación y, especialmente, admirables por permanecer viviendo en zonas bastante degradadas, estas señoras ancianas son como metáforas del objeto central de nuestra investigación, al mismo tiempo, tan resistentes y tan vulnerables. Doña Maria Pociano, residente desde hace 59 años en la casa número 34 de la calle Rua dos Pescadores, es un buen ejemplo. Arquetipo de una bondadosa abuelita, abrió las puertas de su sobrado, de su intimidad, y nos habló sobre aquel día en que su marido, ya fallecido, escogió las baldosas en las que pisa hasta hoy. Llena de recuerdos, contó además que, años más tarde, después de una pequeña reparación en las cañerías de la casa , fue a buscar piezas de baldosas que combinasen con el lindo piso verde de la entrada de su casa. Era la memoria de Doña Maria dando significado al objeto y el objeto avivando la memoria de Doña Maria. Salve!

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baldosas de recife – el trabajo de campo y el lenguaje visual Camila Brito de Vasconcelos

Los lenguajes visuales que integran la imagen de las ciudades han estado cada vez más presentes en proyectos innovadores, en las artes, en la arquitectura y en el diseño. El Proyecto Baldosa Hidráulica, en Pernambuco, ante esta tendencia y ante el enorme potencial de este objeto, observó 376 baldosas en residencias y establecimientos comerciales en el Bairro do Recife, en Santo Antônio y en São José, contando diseños y colores repetidos en diferentes residencias de la ciudad.

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Tal vez la gran presencia de las baldosas hidráulicas en la construcción civil de Pernambuco explique por qué esta referencia visual está tan presente en el día a día de los pernambucanos, marcando ambientes, eventos, personas, historias, sensaciones y memorias. Los relatos obtenidos durante los registros de este proyecto demuestran cuanto la imagen de este piso forma parte de la vida de los moradores y cuanto este padrón visual participa en las memorias de la ciudad. La contribución estética de las baldosas abarca principalmente los formatos y los colores, cuya diversidad fue observada en todos los registros obtenidos durante el trabajo de campo de este proyecto. Sobre los colores, la mayoría (253) de las baldosas observadas presentan un único color, combinado con el blanco, componiendo los diseños de las piezas hidráulicas. En general, tonos en negro, rojos y verdes. Es importante señalar que la variedad de colores supone una confección más elaborada de la pieza, lo que influye en el precio del producto.

Ejemplos de la cantidad de colores (página 68) Las formas que delinean las figuras encontradas en las baldosas fueron observadas bajo la óptica de Wucius Wong (Principios de forma y diseño), clasificando las predominancias entre geométricas, orgánicas, rectilíneas e irregulares. La gran mayoría (214) presentan composiciones geométricas, con formatos que se combinan matemáticamente, originando padrones más rígidos para las superficies revestidas por este piso. 59 baldosas presentan una configuración rectilínea, con líneas combinadas en diferentes espesores y distancias. Por otra parte, padrones orgánicos (83) también son observados, dotando de más fluidez a las imágenes formadas por la composición de las piezas. Apenas 20 baldosas presentan formas irregulares. Forma respecto al plano: geométrico, orgánico, rectilíneo e irregular. (página 71) De manera general, lo que se pudo observar fue la presencia de estos padrones revistiendo las superficies de varios edificios visitados, en consonancia con la arquitectura antigua de la ciudad. Esta memoria identifica la estética de la ciudad, que, al ser utilizada en otras superficies, asumiendo nuevos aspectos, interactúa con el imaginario colectivo, sirviendo de inspiración para muchos estilistas, diseñadores, arquitectos, artistas, etc. Sobre la preservación de este patrimonio cultural, la mayoría de las piezas observadas durante el trabajo de campo indican que no está bien conservado. Algunas (109) están en pésimo estado de conservación, y esta condición reafirma la necesidad de preservación visual de esta referencia estética. Este proyecto da impulso a esta tarea y convida a todos a continuar enriqueciendo


con imágenes y registros las diferentes posibilidades y padrones visuales encontrados en las baldosas hidráulicas de Pernambuco, en adornos y en demás objetos que transmitan memorias. A continuación, las síntesis de la observación de los resultados:

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expediente geral do funcultura governador de pernambuco

gerente de políticas culturais

State Governor of Pernambuco / Gobernador de Pernambuco

Cultural Policies Manager / Gerente de Políticas Culturales

Paulo Câmara SECRETARIA DE CULTURA STATE SECRETARIAT FOR CULTURE SECRETARíA DE CULTURA

secretário de cultura Secretary for Culture / Secretario de Cultura

Marcelino Granja secretária executiva Executive Secretary / Secretaria Ejecutiva

Silvana Meireles gerente geral de articulação social General Manager for Social Organization / Gerente General de Articulación Social

Severino Pessoa gerente de formação e capacitação Qualifications and Training Manager / Gerente de Formación y Capacitación

Aurélio Molina gerente de planejamento Planning Manager / Gerente de Planeamiento

Fernanda Lais Matos

gerente de administração e finanças Gerente de Administración y Finanzas / Administration and Finances Manager

Manoel Araújo

Teresa Amaral

coordenador de artes cênicas Performing Arts Coordinator / Coordinador de Artes Escénicas Jorge Clésio coordenador de artes visuais Visual Arts Coordinator / Coordinador de Artes Visuales Márcio Almeida assessora de design e moda Design and Fashion Advisor / Asesora de Diseño y Moda Janaína Branco assessor de fotografia Photography Advisor / Asesor de Fotografía Jarbas Araújo coordenadora de audiovisual Audiovisual Coordinator / Coordinadora de Audiovisual Milena Evangelista coordenadora de cultura popular Popular Culture Coordinator / Coordinadora de Cultura Popular Teca Carlos assessor de artesanato Handicrafts Advisor / Asesor de Artesanía Breno Nascimento coordenador de literatura Literature Coordinator / Coordinador de Literatura Wellington de Melo coordenadora de música Music Coordinator / Coordinadora de Música Andreza Portella assessoria de gastronomia Gastronomy Advisor / Asesoría de Gastronomía André Maurício

assessores de comunicação Communications Advisors / Asesores de Comunicación

Tiago Montenegro e Michelle de Assunção


FUNDAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO DE PERNAMBUCO – FUNDARPE FOUNDATION FOR HISTORICAL AND ARTISTIC HERITAGE IN PERNAMBUCO – FUNDARPE FUNDACIÓN DEL PATRIMONIO HISTÓRICO Y ARTÍSTICO DE PERNAMBUCO – FUNDARPE

diretora-presidente Managing Director / Directora-Presidente

Márcia Souto

vice-presidente Deputy Managing Director / Vicepresidente

Antonieta Trindade

superintendente de planejamento e gestão Planning and Management Superintendent / Gerente de Administración y Finanzas

Henrique Lira

gerente de administração e finanças Administration and Finances Manager / Gerente de Producción

Sandra Simone dos Santos Bruno gerente de produção Production Manager / Gerente de Producción

Diego Santos

superintendente de gestão do funcultura Management Superintendent at Funcultura / Superintendente de Gestión de Funcultura

Gustavo Antonio Duarte de Araújo

gerente geral de preservação do patrimônio cultural

General Manager for the Preservation of Cultural Heritage / Gerente General de Preservación del Patrimonio Cultural

Marcia Chamixaes

gerente de preservação cultural Manager for Cultural Preservation / Gerente de Preservación Cultural

Célia Campos

gerente de equipamentos culturais Manager for Cultural Amenities / Gerente de Equipos Culturales

André Brasileiro


ficha tĂŠcnica


idealização e coordenação

agradecimentos

Creation and Coordination / Idealización y Coordinación

Acknowledements / Agradecimientos

Josivan Rodrigues e Ticiano Arraes

Albino Oliveira, Antenor Vieira de Melo [in memoriam], Beti Lacerda, Beth Oliveira Bruno Barros, Diógenes Leopoldino, Edmilson Pereira, Eva Duarte, Fábrica do Forte, Felipe Verçosa, Fernando A. Carvalho, Fred Lyra, Fundação Joaquim Nabuco, Guilherme Luigi, Gustavo Cauás, Hugo Coutinho, Hugo Medeiros, Ireneide Maria, Jacaré Vídeo, João Lucas Jorge Tinoco/CECI, Juana Carvalho, Lídia Costa, Maiara Lira, Mateus Barros, Moacyr Campelo, Museu da Cidade do Recife, Rafael de Amorim, Roberval Nascimento, Ruth Soares, Silvânia Maria Walkiria de Lima & Moradores e Comerciantes dos Bairros de São José, Santo Antônio e Recife

pesquisa e textos Research and Texts / Investigación y Textos

Camila Brito Clarice Hoffmann José Luiz Mota Menezes inventário visual Visual Contributions / Inventario Visual

Josivan Rodrigues design gráfico Graphic Design / Diseño Gráfico

João Vitor Menezes

realização

Implementation / Realización

apoio

Support / Apoyo

Arraia & Luminar www.ladrilhohidraulicobr.com


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