Apresentação O
jornalismo esportivo tem contribuído ao longo do tempo de forma relevante para a divulgação e, inclusive, para o desenvolvimento dos esportes no estado do Rio Grande do Sul. Por meio de reportagens, os jornalistas revelam práticas cotidianas do esporte e expõem o processo de construção da cultura esportiva sul- rio-grandense. Para além das reportagens em jornais e programas de rádios, o legado dos jornalistas está registrado em almanaques esportivos, livros comemorativos, boletins, informativos, revistas, entre outros. Historicamente, os jornalistas esportivos atuam na preservação de informações. Suas diversas formas de registros são contempladas como fontes de pesquisa para desvendar a constituição do campo esportivo. Cabe a ressalva que uma informação configura-se como fonte histórica no contato com o pesquisador. Portanto, considera-se que as informações reunidas nesta publicação poderão possibilitar uma leitura histórica da constituição do Estado sul-rio-grandense por intermédio do desenvolvimento de um dos maiores fenômenos sociais modernos, o esporte. A iniciativa de produzir uma revista com reportagens esportivas surgiu na disciplina de História do Esporte ministrada no primeiro curso de Especialização em Jornalismo Esportivo da UFRGS realizado no ano de 2011. Durante o curso, os estudantes elaboraram uma reportagem esportiva com base em diferentes fontes históricas. O resultado deste trabalho motivou a publicação desta revista intitulada “Esporte em Revista”. A obra congrega 29 textos, os quais foram distribuídos em seis partes. Na Parte I, intitulada Clubes, cinco textos abordam trajetórias de clubes de futebol e de futsal do Rio Grande do Sul e, ainda, o papel das torcidas no fortalecimento dos clubes. A Parte II – Imprensa – apresenta dois textos: a narração esportiva e o jornal “Folha Esportiva”. Ambos destacam as contribuições da imprensa esportiva na difusão do esporte sul-rio-grandense. Esportes é o tópico da Parte III. Os nove textos privilegiam desde práticas esportivas que chegaram ao Estado no final do século XIX até alguns dos esportes que se destacam na atualidade. As competições esportivas compõem a pauta da Parte IV – Eventos – que registra informações sobre a Terceira Olimpíada Metropolitana dos Secundários, na qual participaram estudantes de 23 escolas de Porto Alegre. Outro tema abordado neste tópico foi a história da participação brasileira em copas do mundo de futebol. Na Parte V – Arbitragem – os textos registram a origem e o desenvolvimento desta prática em dois esportes tradicionais: o rugby e o futebol. Destaca-se a conquista de espaço das mulheres na arbitragem do futebol. Os Personagens da História do Esporte marcam presença no final da revista – Parte VI –, que reúne seis textos. Todas as personalidades referidas neste tópico distinguiram-se nas diferentes esferas do esporte. Suas histórias de vida foram intensificadas pelos momentos vividos e pelo legado deixado no campo esportivo. Por meio desta estruturação da revista, espera-se que os estudos históricos apresentados adicionem outra perspectiva ao conhecimento que vem sendo produzido tradicionalmente por distintas áreas. O enfoque desta revista satisfaz os anseios tanto de pesquisadores da área, quanto de leitores que, por iniciativa particular, se aventuram na persecução do conhecimento esportivo.
Prof. Dra. Janice Zarpellon Mazo Professora dos cursos de Licenciatura e Bacharelado em Educação Física e do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano da Esef/UFRGS Ministrou a disciplina “História do Esporte” na Especialização em Jornalismo Esportivo Fabico/Esef
Universidade Federal do Rio Grande do Sul Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico) Escola de Educação Física (Esef ) Especialização em Jornalismo Esportivo Esporte em Revista é uma publicação da disciplina “História do Esporte”, ministrada pela professora Dra. Janice Mazo Prof. Dr. Carlos Alexandre Netto Reitor Prof. Ricardo Schneiders da Silva Diretor da Fabico Prof. Dr. Vicente Molina Neto Diretor da Esef Profa. Dra. Sandra de Deus Coordenadora da Especialização em Jornalismo Esportivo Prof. Dr. Alberto Reppold Vice-Coordenador Especialização Prof. Ms. Sabrina Franzoni Coordenadora Pedagógica Especialização Equipe de alunos Andreza Domingues Stefani, Bernanrdo de Souza Duarte, Bruna de Lacerda Aquino, Camila Konrath Pereira, Carlos Alberto Padilha Dias, Carlos Diefenthaler, Conrado Bocchese Gallo ,Daniela da Silva Cenci, Diego Almeida Real , Eneida Feix , Gilson Pinto Alves, Gustavo Andrada Bandeira, Jonas Albandes Gularte, Laion Machado de Espíndula, Laís Prestes Bozzetto, Laura Gheller, Lucas Lopez da Cruz, Luis Roberto Saraiva, Luiza Borges, Luiza Naujorks Reis, Marcelo Beust Salzano, Marcelo Pizarro Noronha, Marcelo Salton Schleder, Márcio Fonseca Azambuja, Márcio Telles da Silveira, Marcos Notari Bertoncello, Matheus Passos Beck, Nathália Ely da Silveira, Paula Cunha Tanscheit, Rafael Sirangelo Eccel, Ricardo Tannhauser Sant’Anna, Roger de Mendonça Cruz e Ronaldo Dreissig de Moraes Comissão editorial Prof. Dra. Janice Mazo, Prof. Ms. Sabrina Franzoni, Andreza Domingues Stefani, Bernanrdo Duarte, Carlos Diefenthaler, Laion Espíndula, Laís Bozzetto, Márcio Azambuja e Matheus Beck Diagramação Laion Espíndula Capa Andreza Domingues Stefani Edição nº 1 2011
Índice Clubes A trajetória da Lagoense Núcleo de Mulheres Gremistas Centenário do Lajeadense Cruzeirinho de muitas glórias As torcidas do São José
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Imprensa A narração esportiva Trajetória da Folha Esportiva
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Esportes O rugby em Guaíba Pencas do Capão Seco O grão mestre do Haedong Kumdo A patinação no Rio Grande do Sul Nós versus nós mesmos Bola ao centro Porto Alegre em duas rodas Punhobol da Sogipa completa cem anos A Legalidade e o Gre-Nal 156
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Eventos A III Olimpíada Metropolitana dos Secundários 30 A história de nossos erros 33
Arbitragem O árbitro no rugby Bandeira erguida contra o preconceito A arbitragem no RS
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Personagens A recreação pública em Porto Alegre O garimpador do futebol João Carlos. Habilidade: fair play Larry Pinto. O atacante cerebral O último goleiro do clube Renner Ortiz, um campeão nas quadras Pedrinho: futebol, narração e automobilismo Scarpini: um campeão nas cestas
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Primeira turma de Especialização em Jornalismo Esportivo da UFRGS com o locutor Luiz Mendes (no centro)
Homenagem
Luiz Mendes:
o comentarista da palavra fácil N
o dia 23 de maio, a primeira turma do curso de Especialização em Jornalismo Esportivo da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) teve a honra de conhecer um dos mais antigos narradores esportivos do Brasil. Por cerca de uma hora, Luiz Mendes, gaúcho de Palmeira das Missões, lembrou algumas histórias de sua carreira, que contabiliza a cobertura de 13 Copas do Mundo. Foi com muito pesar que os alunos e professores receberam a notícia da morte do “comentarista da palavra fácil”, na manhã do dia 27 de outubro. Aos aos 87 anos, Mendes faleceu no Rio de Janeiro, onde morava há 67 anos, após complicações decorrentes de uma leucemia linfocítica crônica. Abrimos a primeira edição da publicação “Esporte em Revista” com esta singela homenagem ao locutor que narrou com a voz embargada o gol de Gigghia no Maracanazo, em 1950.
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fotos reprodução
Isabella Sander
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LIVRO
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Luiz Mendes aos 87 anos (1); O locutor chegou a trabalhar na TV Rio (2); Casou com a atriz Dayse Lúcide (3); Mendes na Copa de 1958 (4); Foi um dos fundadores da Rádio Globo (5)
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Livro “Minha Gente: o mestre da crônica esportiva do Brasil”, da jornalista Ana Maria Pires
Lagoense 12 anos e 10 km
Clubes
Andreza Stefani
A trajetória do vice-campeão da Série Ouro de 95
Equipe e comissão técnica do clube de futsal no ano de 1991 Andreza Domingues Stefani
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ez quilômetros de carros parados no acostamento da BR-285. Dez quilômetros entre o trevo para Sananduva e o centro de Lagoa Vermelha, no nordeste do estado. Esse era o cenário que esperava pela SER Lagoense em 1992: dez quilômetros de carreata para comemorar a vitória heróica sob a poderosa SER Itaqui. O resultado, para fins de campeonato, não valia nada. Nem título e nem classificação. Na verdade, mais tarde, a equipe lagoense seria eliminada da competição. Mas naquela partida, com um time inferior, havia vencido uma das melhores equipes do estado pelo placar de 4 a 1. Isso bastava. A paixão da cidade pelo futsal nasceu nas competições municipais, disputadas pelas associações das fábricas de móveis. Até 1986, o nome de Lagoa Vermelha viajava pelo Estado no preto e laranja da Associação Móveis Rodial. A equipe, formada por funcionários da fábrica de mesmo nome, era a única representante da cidade no Campeonato Gaúcho. Com a fundação do time de futsal da Lagoense, as duas equipes chegaram a disputar o mesmo campeonato em 1987, mas acabaram se unindo com as cores e nome da mais nova. A base do time era a da Rodial, ou seja, amadores lagoenses. Assim como eram seus treinadores, patrocinadores e dirigentes. Os resultados obtidos por esses atletas não foram tão significativos como os que seriam conquistados pelos profissionais nas temporadas que seguiriam, mas foram os mais comemorados. Ginásios Rodialito e Adolfo Stella lotados, carreatas, torcida organizada. Torcida
essa que não só participava da diretoria como seguia a equipe em todas as viagens, levando na bagagem o apoio incondicional da cidade na escala reduzida de 48 passageiros. E foi assim que, em 1990, a Lagoense conquistou num quadrangular em Canguçu, sul do estado, a vaga para disputar as semifinais. Pela primeira vez, foi recebida com festa. Assim, o clube da Lagoense (fundado em 1961) viu seu quadro social aumentar, chegando a quase mil pessoas que mantinham suas mensalidades em dia para assistir às partidas e manter seus filhos nas Escolinhas de Futsal. A profissionalização começou em 1991. Além dos atletas amadores com quem já contava, foram contratados Paulinho Sananduva (atual técnico do Atlântico de Erechim), Ronaldão (atual técnico do Atlético Sobradinho) da Enxuta de Caxias do Sul e o treinador Joca. Sem dinheiro para mantê-los em 1992, a Lagoense viu os três serem campeões pela Perdigão de Marau. Em 1993 eles voltaram e juntaram-se a eles o jogador Rabicó, o goleiro Mauro e o ex-jogador da seleção brasileira Morruga. A notícia do retorno de Morruga, que estava na Espanha, ao Brasil colocou Lagoa Vermelha no mapa e na briga pelo estadual. O título, no entanto, não veio. Foi a vez da renovada e profissional Lagoense ser surpreendida pela enfraquecida Itaqui na semifinal. Restou a disputa e a conquista do 3º lugar. Depois da eliminação em 1994, um grupo de empresários locais tomou para si o planejamento e gerenciamento do grupo do ano seguinte. Vieram Edésio, Waguinho e o técnico Ferreti, com passagem pela seleção brasileira, que foi substituído por Alexandre Zilles, mais conhecido como Barata.
Junto com ele vieram Ortiz e o então goleiro da seleção, Serginho. A Lagoense foi superando os adversários, um a um, implacável. Pela primeira vez, a cidade via um time reperesentá-la na final da Série Ouro. No primeiro jogo, um dramático 5 a 5 em casa. A decisão ficou para o jogo de volta em Caxias do Sul. Lagoa Vermelha se mobilizava para esperar os campeões com uma carreata jamais imaginada, digna da distância percorrida para alcançar o triunfo. Mas, no segundo jogo, a Lagoense não resistiu à Enxuta de Manoel Tobias. O placar final de 3 a 2 para os donos da casa decretou o fim do sonho e da saúde financeira do clube. O vice-campeão tinha ambições maiores para 1996. O grupo se renovou, contratou o técnico PC de Oliveira (ex-treinador da seleção, atualmente do Corinthians) e brigou pela liderança até a metade do campeonato. Mas a falta de patrocínio e a incapacidade de sanar as dívidas contraídas no ano anterior fizeram com que os jogadores e técnico fossem dispensados. Com o enfraquecimento da equipe, a Lagoense foi caindo divisão a divisão até finalmente encerrar suas atividades em 1998. Hoje, a cidade tem duas equipes: Lagoense/Passo Certo Sports, na Série Prata; e Volpato/Anatex/Milan, na Taça RBS. E mesmo que a presença delas ainda represente a vocação da cidade para o esporte e mostre que a paixão continua latente, parece haver pouca mobilização e envolvimento para que Lagoa Vermelha volte a viver a euforia daqueles dez quilômetros. * Andreza Domingues Stefani é formada em Publicidade e Propaganda pela UFRGS
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Clubes fotos Marcelo Noronha
Em ação desde 2004, o Núcleo tem sido importante na inclusão feminina no futebol
Em ação o Núcleo de Mulheres Gremistas Como um grupo de torcedoras se organizou para fazer parte e interagir no cotidiano do seu clube favorito
Marcelo Pizarro Noronha
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m atividade desde 2004, ano em que o Grêmio passou por uma das maiores crises da sua história, que culminou com o rebaixamento para a segunda divisão do futebol profissional do país, o Núcleo de Mulheres Gremistas vem desenvolvendo um importante trabalho no que diz respeito à inclusão feminina no universo futebolístico, sabidamente um território masculino, apesar do aumento da participação das mulheres neste campo. Preocupado em modernizar-se, o grupo alterou sua forma de organização, descentralizando seu processo de gestão, simbolizado na eleição de três coordenadoras, o que ocorreu em 2007 (antes disso, o Núcleo era chefiado por apenas uma integrante). Com mais de duas mil mulheres cadastradas, sobretudo
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através da internet, o Núcleo de Mulheres Gremistas participa de projetos sociais em prol do clube e também da sociedade em geral, colaborando em campanhas de doação de brinquedos e alimentos, destinados para instituições de caridade. O grupo também contribui com o Instituto da Mama do Rio Grande do Sul (Imama), frequentemente em suas reuniões e demais eventos,
O objetivo do grupo é legitimar o seu trabalho, a partir de ações de caráter universal, que independem de preferências futebolísticas, ampliando seu poder de comunicação
chamando a importância da prevenção do câncer de mama, doença que atinge inúmeras mulheres no país. O objetivo do grupo, sem dúvida, é o de legitimar o seu trabalho, a partir de ações de caráter universal, que independem de preferências futebolísticas, ampliando, deste modo, seu poder de comunicação com a sociedade gaúcha. Gre-Nais solidários: parcerias e rivalidades Boa parte das ações sociais desenvolvidas pelo Núcleo é realizada em parceria com um grupo de mulheres vinculadas ao clube rival (o Internacional), o Espaço da Mulher Colorada. Em outubro de 2009, por exemplo, ambos os grupos estiveram lado a lado numa campanha intitulada “Segundo GreNal Solidário”, que se deu em Porto Alegre, no Parque Moinhos de Vento.
A união de gremistas e coloradas, neste contexto, é importante, na medida em que aproxima os torcedores tidos como rivais, em torno de uma causa relevante, questionando, inclusive, a violência (física e simbólica) praticada nos estádios, que ocorre, comumente, em dias de clássicos como o Gre-Nal. É preciso salientar que o Núcleo de Mulheres Gremistas e o Espaço da Mulher Colorada atuaram em conjunto em campanhas em prol da paz no futebol. As mulheres tricolores Para entendermos os motivos que levaram ao surgimento do Núcleo de Mulheres Gremistas é necessário discutirmos a participação feminina no Grêmio ao longo da história. Uma rápida olhada para a produção cultural sobre o clube gaúcho indica que as mulheres ocuparam, por muito tempo, um lugar voltado basicamente para a estética ou beleza. É o caso de Maria Bruguer, por exemplo, eleita “Rainha Tricolor” em 1953, ano em que o Grêmio comemorou o seu cinquentenário (In: FERLA, 2002). O escritor Natal Dornelles, fenômeno de vendas em algumas das últimas edições da Feira do Livro de Porto Alegre, refere-se às torcedoras gremistas como “(...) botões de rosas, são margaridas, são violetas, são azaléias, são flores do campo”. Outros materiais, incluindo filmes e CDs, retratam a mulher numa perspectiva idealizada, recheada de
estereótipos, o que implica uma discussão de gênero. Segundo a pesquisadora Jussara Prá, o gênero pode ser compreendido tanto como uma variável sócio-cultural quanto como uma categoria de análise a ser explorada no âmbito científico. As pesquisadoras Rosa Silveira e Cláudia dos Santos, por sua vez, afirmam que o gênero é uma construção social. Para elas, os estudos neste campo sugerem o reconhe-
A atuação feminina no universo político do clube é limitada devido a uma cultura institucional que reserva aos homens os cargos diretivos, não por causa de regimentos escritos, mas pela tradição cimento e a análise de estereótipos. Em minha tese de Doutorado em Ciências Sociais, “Futebol é coisa de mulher! Um estudo etnográfico sobre o ‘lugar’ feminino no futebol clubístico” (Unisinos, 2010), aprofundo esta discussão. Superando preconceitos Um dos maiores problemas enfrentados pelo Núcleo de Mulheres Gremistas é o da falta de um “lugar” no clube. Muitas das reuniões do grupo foram improvisadas em
diferentes locais situados no complexo do estádio Olímpico Monumental, incluindo as escadarias do ginásio David Gusmão, a sala da Brigada Militar e as arquibancadas do próprio estádio. Atualmente, o Núcleo tem ocupado, sobretudo, o salão Ovelhão e o Espaço Rudi Armin Petry, criado em homenagem a um ex-dirigente do clube. Outra forma encontrada pelo Núcleo de se organizar foi através da internet. As mulheres gremistas se comunicam, com frequência, através do site do grupo (www.mulheresgremistas.com.br). É possível localizar este endereço eletrônico no site oficial do clube (www.gremio.net), uma conquista bastante celebrada pelas participantes. A aproximação do campo político institucional, opção que divide as integrantes, é uma estratégia do Núcleo, que conseguiu eleger três conselheiras ligadas (direta ou indiretamente) ao grupo, numa demonstração de força. Em se tratando deste campo, é preciso salientar que o Grêmio conta somente com cinco mulheres no seu Conselho Deliberativo, num total de 300 conselheiros titulares (que são organizados em dois mandatos: 2007-2013 e 2010-2016). Este número representa algo em torno de 1,6% do quadro. A atuação feminina no universo político do clube é limitada devido a uma cultura institucional que reserva aos homens os cargos diretivos, não por causa de regimentos escritos, mas pela tradição. Justifica-se, assim, a existência do Núcleo, que se propõe a representar as mulheres gremistas, mesmo que timidamente e a partir de ações sociais que acabam por reforçar o estereótipo acerca do papel feminino na sociedade. A luta do Núcleo, no entanto, é relevante, na medida em que o grupo procura minimizar as desigualdades (de gênero, em especial) sofridas pelas mulheres ao longo da história nos clubes de futebol. * Marcelo Pizarro Noronha é pós-doutorando em Antropologia Social (UFRGS), doutor em Ciências Sociais (Unisinos) e mestre em Educação (UFRGS)
Integrantes comemoram sete anos de existência do Núcleo
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Clubes
Centenário de casa nova De volta à elite do futebol gaúcho, o Lajeadense relembra seus dias de glória e celebra o bom momento do clube com a construção de um novo estádio Daniela Cenci
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m breve o bairro Floresta, em Lajeado, servirá de casa para o Clube Esportivo Lajeadense. Ainda em fase de acabamento – faltando terminar o piso, definir os locais dos banheiros, detalhes de decoração e instalação elétrica – o novo estádio não é apenas um projeto moderno, que oferecerá mais conforto a jogadores e torcedores, é uma homenagem aos cem anos do clube. Uma história que iniciou no dia 23 de abril de 1911, em um potreiro, local onde ficava o antigo estádio Florestal. Por iniciativa de um grupo de “peladeiros” foi criado o Club Sportivo Lajeadense, na época em que a palavra lajeadense ainda se escrevia com “G”. O clube foi o 25º criado no País. “Acho que chegamos ao centenário em um grande momento, o clube está saneado, com credibilidade e com opções de crescer
cada vez mais. Isso é um trabalho de todos”, afirma o atual presidente, Nilson Giovanella, que desde 2008 responde pelo Lajeadense. Na década de 20, no Florestal, os atletas treinavam em um campo irregular, sem drenagem, terraplanagem, alambrados, com uma cerca de madeira e uma carreira de tábuas que eram utilizadas como arquibancadas. Apenas em 1948 foi construído um pavilhão de madeira para o assento do público. Quatro
O novo estádio não é apenas um projeto moderno, que oferecerá mais conforto a jogadores e torcedores, é uma homenagem aos cem anos do clube
anos depois, o campo esportivo recebia melhorias. Um dos momentos relembrados pela diretoria foi a inauguração do sistema de iluminação, que ocorreu durante um amistoso contra o expressinho do Grêmio. Na época, o sistema era uma novidade no Vale do Taquari e chamou atenção até mesmo dos moradores da vizinha Estrela. Na oportunidade o Alviazul fez 5 a 2 em cima do Tricolor. Em alusão ao centenário, a diretoria reuniu, em um grande evento, pessoas que fizeram parte da história do clube. Um momento para recordar episódios como a primeira participação do Alviazul em campeonatos estaduais, em 1926; a conquista do Campeonato Estadual de Amadores de 1949; a vice-liderança da Segunda Divisão do Gauchão, em 1955; o título de campeão da Segundona de 1959, que se repetiu em 1979; e a Copa Pérola de 1962, decidida com o seu maior rival: o Estrela. fotos de arquivo pessoal
Formação original do amistoso entre o Alviazul e a seleção brasileira
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Os maiores confrontos registrados na biografia do Lajeadense eram contra o time de Estrela. A violência que ia além do campo fez com que, na década de 40, a chefia de polícia do estado proibisse jogos entre eles. Anos mais tarde, os presidentes dos dois clubes assinaram um acordo para a disputa da Taça da Paz com o objetivo de acabar com as desavenças. O livro “Cidades Vizinhas – Amor e Ódio”, do jornalista Olides Canton, retrata que foram marcados dois clássicos, um em cada estádio, mas o último terminou em confusão, inclusive pela disputa da renda
do jogo, caso que foi parar até na Justiça. Em 1962, a rivalidade entre eles continuava, mas sem a mesma brutalidade das décadas anteriores. Havia provocações também com o time de Santa Cruz. Superado tudo isso, neste ano, o clube que conquistou a repescagem na Segunda Divisão de 1983 – depois de cinco anos afastado da Primeira Divisão do futebol gaúcho – fez boa campanha no Gauchão, classificando-se na terceira posição do Grupo A. “Tínhamos uma base de equipe, uma comissão técnica competente e acertamos nos jogadores que
contratamos. O mérito maior é do grupo de atletas, afinal são eles que correm lá dentro”, reconhece Giovanella. E os planos vão adiante: “Agora temos que nos consolidar na primeira divisão, isso é o mais importante, e conforme pudermos, seguir estruturando nosso clube para no futuro podermos pensar em voos mais altos. Potencial para isso, nós temos”, conclui. * Daniela Cenci é formada em Jornalismo pela PUCRS e atua como jornalista de Política CURIOSIDADES •
Conforme o historiador José Alfredo Schierholt, o azul e branco do uniforme deve-se ao fato da maioria dos fundadores ser ligada ao Grêmio Futebol de Porto Alegre.
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Na década de 30 as convocações de jogadores eram anunciadas no jornal “A Semana”.
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Em 1940 o Clube Esportivo Lajeadense contava com equipes de cestoball (basquete), tênis, bolão e de tiro. Na sede social, aconteciam os bailes e sessões de cinema.
Comemoração dos 50 anos da equipe de Lajeado MARCAS NA CARREIRA DEIXADAS PELO ALVIAZUL Denilson Olivera Santos atuou como ponteiro esquerdo no Lajeadense durante um ano e quatro meses. Apesar da curta passagem, duas grandes recordações do clube marcam a sua carreira até os dias de hoje. A primeira refere-se ao amistoso com a seleção brasileira, em julho de 1991. Naquele ano, o Lajeadense, com uma formação jovem dentro do campo, foi escolhido como o adversário da seleção canarinho. Denilson conta que jogou ao lado de grandes nomes do futebol, como Renato Portaluppi, Taffarel, Cafú e Branco. “Nós fomos convidados em razão da nossa boa campanha na Copa Governador”, explica. O Alviazul acabou perdendo por 4 a 0, mas ficou conhecido nacionalmente.
A segunda foi um fato inusitado que aconteceu no Campeonato Gaúcho. Na partida com o Grêmio, em novembro de 91, um empresário do setor calçadista prometeu premiar com um cheque aquele que fizesse gol para o Lajeadense. Denilson foi o autor do único gol da partida. “Dois dias depois, o professor Élio Giovanella me chamou para entregar o cheque no valor de 42 mil cruzeiros, o equivalente a um salário mínimo.” Junto recebeu um bilhete que dizia: “Parabéns Lajeadense. Gol histórico contra o Grêmio POA”. O Alviazul se classificou em quarto lugar no Gauchão, revelando nomes como Ênio, Vandeco, Gélson, Éverton (filho do Élio e atual diretor de Futebol do clube) e Leco.
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Clubes
Cruzeirinho: pioneiro e de muitas glórias Luiza Borges
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Esporte Clube Cruzeiro, mais conhecido como Cruzeirinho ou Leão da Montanha, é um time gaúcho de futebol, fundado na cidade de Porto Alegre em 1913. Hoje, muitos dos admiradores do futebol que acompanham o Cruzeiro dando trabalho para a dupla Gre-Nal pelo Campeonato Gaúcho não fazem ideia da história de pioneirismo e glórias que o time alvi-azul traz na bagagem. A trajetória de conquistas tem início em 1918. Com apenas cinco anos de idade, o Cruzeiro venceu o Campeonato Citadino (ou Campeonato Porto-Alegrense) pela primeira vez, repetindo a façanha em 1921 e 1929, quando conquistou o tricampeonato, ganhando o direito de disputar o Campeonato Gaúcho. Pelo estadual, o Leão da Montanha enfrentou o Juventude na primeira fase, vencendo com uma goleada de 4 a 1. Nas semifinais, passou pelo RioGrandense de Santa Maria com o placar de 2 a 0, chegando à final contra o Guarany de Bagé. A partida que ocorreu no extinto estádio da Chácara das Camélias, em Porto Alegre, teve o placar de 1 a 0 para o Cruzeiro, com gol de pênalti do atacante Nestor, tornando-o campeão Gaúcho de 1929. Com as importantes conquistas no Estado, o clube foi crescendo e chegou a ser considerado como a terceira força do futebol gaúcho, fazendo frente a Grêmio e Internacional. O time passou a ter mais força na década de 1940, ganhando títulos como o Torneio Triangular de Porto Alegre em 1943, a Taça Cidade de Porto Alegre, em 1947, e o Torneio Início de Porto Alegre em 1943, 1951 e 1962. Mas foi na década de 1950 o auge do Leão da Montanha, quando o time da capital ultrapassou as barreiras continentais. Consagrado como o primeiro time do Rio Grande do Sul a participar de um campeonato no exterior, o Cruzeiro embarcou em excursão para Europa, Ásia e Oriente Médio, para jogar contra times como Real Madrid, Lazio, Fenerbahçe, Be-
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siktas e Espanyol, além das seleções de Israel e Turquia. Com aproveitamento de 55% em 15 partidas, sete vitórias, quatro empates, sendo um deles com o Real Madrid, e quatro derrotas — com 28 gols marcados e 20 sofridos — o Cruzeiro ganhou seu reconhecimento internacional. Em 1960, o clube retorna à Europa em outra excursão para enfrentar times como Bayern Hof, Dínamo, de Zagreb, e Sevilla, além das seleções da Checoslováquia, Olímpica Dinamarca e Bulgária. O aproveitamento foi bem parecido com o da última participação: 54,16%. Foram 24 partidas, 11 vitórias, seis empates e sete derrotas, marcando 39 gols e sofrendo 35. A diferença é que esta excursão teve um gostinho a mais para o clube de Porto Alegre, pois foi quando ganhou o
Com as importantes conquistas no Estado, o clube cresceu e chegou a ser considerado como a terceira força do futebol gaúcho Torneio de Páscoa de Berlim, tornando-se, assim, o primeiro clube gaúcho a conquistar um título internacional de futebol. Com o sabor das vitórias e o reconhecimento internacional à flor da pele, o Cruzeiro não parou por aí. No ano seguinte, em 1961, partiu para a Argentina para disputar o Torneio de Páscoa em Mar Del Plata, sagrando-se, outra vez, campeão. Embalado por importantes triunfos na carreira, o time alvi-azul viu o sonho de se firmar como um grande clube desabar no final da década de 1960, quando o presidente Rafael Peres Borges vendeu o Estádio da Montanha para a construção de um cemitério no local. Na última partida realizada no estádio, em novembro de 1970, o Cruzeiro venceu o Liverpool, do Uruguai, pelo placar de 3 a 2, emocionando os torcedores estrelados presentes, que derramaram lágrimas na
despedida. Em abril de 1977, foi inaugurado o Estádio Estrelão, localizado no Bairro Protásio Alves, atual localização do clube. Mas a história não foi mais a mesma, tanto que, em 1977, o clube entrou em recesso, voltando à ativa somente em 1991. Renascimento Apagado durante anos, o Leão da Montanha renasceu em 2007, na presidência de Flávio Fachel, montando um novo projeto de futebol. Assim como em 1914, quando foi pioneiro ao criar as categorias infantojuvenil, o Cruzeiro voltou a apostar na base, valorizando seus atletas da casa. O resultado veio no mesmo ano, quando o time chegou às semifinais do Estadual de Juniores, sendo vice-campeão. Depois, em 2008, disputou a Segunda Divisão Gaúcha e a Copa Federação Gaúcha de Futebol. Agarrado às forças e à história de glórias, o Cruzeiro foi crescendo e, em 2010, disputou o Campeonato Gaúcho da Série B, tornando-se campeão e, assim, garantiu o retorno do time estrelado à elite do futebol gaúcho. Voltou, e voltou com tudo. Já na primeira fase de grupos, o Cruzeiro se classificou em terceiro lugar na chave dois. Pelas quartas de final, surpreendeu eliminando o Internacional nos pênaltis. Perdeu para o Grêmio na semifinal por 4 a 2. Apesar da derrota, a equipe deu trabalho para o Tricolor. No segundo turno, foi líder na fase classificatória, chegando à frente de Juventude e Grêmio, o campeão no primeiro turno. Forte e desafiador, incomodando os grandalhões da dupla GreNal, o Cruzeiro chega novamente com raça até as semifinais do campeonato, eliminado novamente pelo Grêmio. Desta vez, não se sagrou campeão, mas deixou claro que é capaz de fazer frente e acabar com a hegemonia da dupla Gre-Nal no Campeonato Gaúcho. O Leão da Montanha está de volta! * Luiza Borges é formada em Jornalismo pelo IPA
Clubes
As vozes das arquibancadas Perfil das torcidas “Os Farrapos”e “Os Guaipeca”. Duas cativas no estádio Passo D’areia, casa do Esporte Clube São José
de avanços e conquistas, tanto em campo, aos veteranos é algo comum nos ambientes quanto fora dele, a alma das arquibancadas onde novas figuras surgem com os mesmos comum escutar por aí que a tradição faz está montada para que duas torcidas distintas direitos que os antigos frequentadores: o um clube, o torna forte, sólido e respei- surjam: “Os Farrapos” e “Os Guaipeca” (as- comportamento diferenciado. É um paratado. Na ironia, pensando nisso avistei o Es- sim, com erro intencional de concordância). doxo a atual realidade (diga-se de passagem, porte Clube São José, de Porto Alegre, mais A primeira torcida, mais nova e com o espí- ocorre em todas as torcidas de futebol braconhecido pelo nome carinhoso de Zequi- rito Barra-brava implantado nos cânticos e sileiras) em que, ao se juntarem nas arquinha, até pelos não tão íntimos assim. Funda- faixas, surgiu com força quando o Zequinha bancadas com o mesmo objetivo, as torcidas do em 1913, apenas seis anos após o Grêmio ganhou maior notoriedade no Campeonato não se agregam, entoando cânticos próprios Football Porto-alegrense, o Zequinha carre- Gaúcho, lá por 2007. Começava ali, por um de cada uma e tendo sua próprias regras. Os ga junto com sua história no futebol a dos grupo de novos representantes, uma torcida mesmos se negam a serem confundidos com torcedores que participaram dela durante que um ano mais tarde, delirava com a con- guaipeca ou farrapo. Os Guaipeca, observanos tempos áureos, e que hoje, ainda frequen- tratação do goleiro ídolo de todo gremista: do o que ocorria na torcida irmã, estabelecetam as arquibancadas Danrlei. Esse fato levou ram que qualquer torcedor do São José pode O Zequinha carrega com seus filhos. mais torcedores ao estádio ser um deles, desde que respeite as regras de As baixas do e deu notoriedade ao clube não usar camiseta de outro time. Só pode ser junto com sua clube se deram após que começara a dar passos a do Zequinha e os cânticos são sempre em história no futebol a os anos 50 e o númemaiores depois de tanto português, fazendo provocação às vertentes dos torcedores que ro de torcedores tamtempo no esquecimento. A da torcida gremista “Alma Castelhana”, que participaram dela bém diminuiu com torcida cresceu e começou surgiram no grupo dos Farrapos. a popularidade. As a se organizar em grupos. A próximas gerações destes ávidos torcedores torcida dos Farrapos, que em sua maioria era Respeito entre torcidas acabaram por não herdar o Zequinha como formada por gremistas, hoje agrega, inclusive, Independente da torcida escolhida, tortime do coração e o legado das arquibanca- torcedores do rival Inter, apesar dos cânticos cedores como Robson gostam mesmo é de se das foi escorrendo até as bandas das avenidas se assemelharem aos da torcida organizada enraizar pela proximidade que o estádio tem Azenha e Beira-Rio. Os pais e avós que iam à “Geral”, do Grêmio. de suas casas, no bairro Passo D’areia, que dá Montanha, estádio do clube até 1940, onde Do outro lado dessa moeda, Os Guai- o mesmo nome ao estádio. Passando todos os hoje existe o Hospital Militar, estavam sem peca são poucos, mas uma torcida cheia de dias por ali, um dia ele resolveu parar e entrar. novas glórias há anos, principal poder moti- propriedade e singularidade. José Guilherme Em tom de deboche, lembra que o pensamenvador para convencer à filiação no Zequinha. é torcedor dos Guaipeca desde que passou a to ao adentrar os portões do estádio era que Passada a baixa, os tempos de grupo especial acompanhar os passos do clufaltava só escolher Apesar das diferenças em qual segmento voltaram e junto com eles, o estádio Passo be nos jornais e outras fontes. D’areia passou a receber maior número de Ele conta com orgulho que a se encaixar. A garexistentes entre as público nas arquibancadas. Os torcedores torcida não possui um dono ganta e o estilo dos duas torcidas, nunca atuais são, em sua maioria, gremistas e, mui- ou mentor: “Dizemos que Os Farrapos animou, houve briga entre tos outros, verdadeiros descobridores de algo Guaipeca é um movimento já tinha visto algo que poderia receber uma vanguarda de fôlego espontâneo de torcedores bem semelhante no seus membros por ali. O terceiro e menor tipo de torcedor apaixonados”. Mas revela que estádio Olímpico. são aqueles garotos que aprenderam a amar todo guaipeca tem como padrinho o técnico Assim decide Robson e diversos outros toro clube e somente ele, com seus pais, desde Beto Almeida. Beto, após assisti-los na arqui- cedores que compõem a cada vez mais massisempre torcedores do São José. bancada torcendo, os chamou de pitt-bulls, o va torcida “Os Farrapos”. que originou posteriormente, o nome definiApesar das diferenças que as duas torciDuas torcidas tivo de “Os Guaipeca”. das fazem questão de salientar, nunca houve A renovação da torcida com outras geraOs novos torcedores dos Farrapos de- brigas entre os membros. Eles se respeitam ções de alentadores pós-ressaca criou um am- ram mais fôlego e voz às arquibancadas do em detrimento de algo maior que suas vaidabiente movimentado outra vez, onde a social estádio e, ao mesmo tempo, um comporta- des: o Esporte Clube São José. é abandonada pelos novatos e a arquibancada mento não aprovado pela torcida mais antidá lugar a um novo cenário de paixão e com- ga, menor e que se diz mais fiel por torcer * Camila Konrath é formada em promisso com o Zequinha. Nessa atmosfera somente para o Zequinha. O que incomoda Jornalismo pela PUCRS
Camila Konrath
É
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Imprensa
A narração esportiva
Gilson Alves
Vicente Bisogno é narrador profissional há 42 anos, na Rádio Imembuí, de Santa Maria ainda criança eu preferia narrar do que jogar glioto, Flávio Araújo, que eram verdadeiros mesmo. Então foi despertando esse interesse! ícones de todos que já estavam na profissão narração esportiva acompanhou o espor- Eu sempre achei aquilo ali muito bom. Me e todos aqueles que estavam buscando espate através dos tempos, principalmente o atraía a ideia de ser um pouco criador, dar ço. Lembro também de Doalcei Bueno de futebol. O ato ou efeito de vida ao que aconte- Camargo, Jorge Curi e Valdir Amaral. Aqui narrar é capaz de emocionar cia, colocar emoção e no Rio Grande do Sul tem uma história toda Só o radinho de pilha na medida em que eu particular. É uma escola que tem na figura do multidões e aguça a imagié capaz de trazer os nação dos ouvintes. Aqui, fui percebendo que as Mendes Ribeiro, o grande formador de gequando falamos do futebol pessoas iam gostan- rações. Ele deu o estilo a narração que ainda lances detalhados, associado ao rádio, estamos do foi aumentando o prevalece em nosso estado. Hoje em dia, ainda através da descrição tratando da narração. Seja meu fascínio e a mi- na atividade, o ‘fenômeno’ Haroldo de Souza, dos narradores em casa, mesmo que assisnha vontade de dar se- que mudou muito o perfil dos narradores no tindo ao jogo pela televisão, quência e quando tive RS. Já o Pedro Carneiro Pereira, foi o grande ou no estádio acompanhando a partida, só o a primeira oportunidade de narrar agarrei da narrador gaúcho do todos os tempos. Ele mesradinho de pilha é capaz de trazer os lances de- melhor forma que pude”. clava os estilos, Perei“Tudo começou com talhados, através da descrição dos narradores. Em meio a tantas funra era um pouco de Na cidade de Santa Maria, vive um dos ícones ções no jornalismo esportivo, Mendes Ribeiro, um a narração de jogos da narração esportiva do Rio Grande do Sul: tais como comentarista, repouco de outros estide botão, tanto que Vicente Paulo Bisogno. pórter, plantão de estúdio, é o los. Narração limpa, nos campeonatos eu Atualmente, Bisogno trabalha na Rádio narrador que acaba assumindo sem firula, marcanImembuí, onde é o principal narrador e é o o papel mais importante, porte, correta, precisa e preferia narrar” gerente de programação. Ele narra futebol que ele desempenha a função com ritmo. Armindo prosifissionalmente desde 1969 e ainda hoje, de âncora. É possível “tocar” uma jornada sem a Antônio Ranzolin, que tinha uma voz forte, encara cada transmissão como se fosse única. presença momentânea dos profissionais citados potente, clara foi outro que marcou”. O locutor revela que sua paixão pela profis- acima, mas sem o narrador não. Resumidamensão surgiu desde que tinha consciência de sua te, o microfone dos outros pode falhar, mas o * Gilson Alves é formado existência. “Trago isso de berço. Tudo come- do “comandante da jornada” jamais. em Jornalismo pelo Centro çou com a narração de jogos de botão, tanBisogno enumera, ainda, quem são os Universitário Franciscano (UNIFRA), to que nos campeonatos desta modalidade, seus ídolos na locução esportiva: “Fiori Gi- em Santa Maria-RS
Gilson Alves
A
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Imprensa
Folha Esportiva:
Arquivo pessoal
o vespertino que marcou época Capa de uma das últimas edições da Folha da Tarde, que deu origem à Folha Esportiva, traz o esporte com destaque
Publicação porto-alegrense já extinta foi um importante veículo na história do jornalismo esportivo gaúcho. Um dos fundadores do periódico foi o professor de educação física e jornalista José Amaro Júnior Lucas Lopez da Cruz
A
Folha Esportiva foi criada dentro da redação da Folha da Tarde, jornal de grande rotatividade na cidade de Porto Alegre. O jornal era publicado pela Companhia Jornalística Caldas Júnior entre os anos de 1936 e 1983 e iniciou seus trabalhos como um caderno dentro da Folha da Tarde. Porém logo teve sua edição realizada de forma separada, sendo vendido como um jornal especificamente esportivo. No início, tinha sua grande cobertura dedicada ao futebol e a alguns esportes amadores que tinham grande expressão no Rio Grande do Sul, como por exemplo, o turfe, o ciclismo e o basquetebol. Na sua edição contava com o professor de educação física e jornalista José Amaro Júnior, um dos seus fundadores. Amaro Júnior se destacou na cobertura dos esportes amadores, mais especificamente no basquetebol, onde foi jogador e técnico, além de ter tido grande importância para a implantação da Associação Cristã de Moços de Porto Alegre, a grande precursora do
esporte na capital gaúcha. Ele ainda faria grande contribuição para o jornalismo esportivo, sendo um dos fundadores da Associação dos Cronistas Esportivos Gaúchos (Aceg ). A Aceg foi fundada em 24 de setembro de 1945, na sede da então Federação Rio Grandense de Futebol, sob a denominação original de Associação dos Cronistas Esportivos de Porto Alegre (Acepa). O objetivo inicial era congregar tão-somente os cronistas esportivos da capital. Uma história que não tem fim Com o passar dos anos, a Folha Esportiva acabou reintegrada à Folha da Tarde, que em função da falência da companhia Jornalística Caldas Júnior, acabou fechando suas portas em 1983. Porém, se engana quem pensou que acabava ali a história.
Tinha sua cobertura dedicada ao futebol e a alguns esportes amadores expressivos no Estado
Após 20 anos dos encerramentos dos trabalhos, a cada dia 30 de abril, os bravos guerreiros da redação da Folha da Tarde ganham um espaço para lembrar e contar a história e as estórias do vespertino que marcou época em Porto Alegre. O espaço que eles conquistaram no restaurante Copacabana, ali em frente à rótula onde se encontram Venâncio Aires, Aureliano de Figueiredo, Érico Veríssimo e Getúlio Vargas, agora marca presença também na web. O restaurante Copacabana acaba por ser um palco vivo na história da Folha da Tarde. Comprada em 1939 pelos italianos Leonardo e Rocoo Vitola, filho e pai respectivamente, o restaurante sempre foi um ponto de encontro dos jornalistas da publicação. Depois que surgiu a ideia das comemorações do aniversário da Folha, o próprio restaurante fez questão de abrir suas portas para os antigos redatores, inclusive lhes oferecendo um salão interno, denominado Salão Folha da Tarde. * Lucas Lopez da Cruz é licenciado em Educação Física pela UFRGS
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Esportes
“Coragem, Força e União” do rugby em Guaíba Clube fundado em 2006 apresenta grande potencial de crescimento
Wienskoski, Nilson Taminato, então líder do mos que íamos perder feio”. Porém, as duas Grupo de Desenvolvimento do Rugby/RS, partidas terminaram em empate, o que acaO rugby, segundo uma pesquisa realiza- Valandro Manzoni e Adair Weber, que até o bou estimulando os atletas a continuarem. da na faculdade de Coventry, na Inglaterra, e momento nunca haviam jogado rugby, mas Assim, em 30 de abril de 2006 é oficialmente publicada pela MasterCard no início do ano, estavam interessados na iniciativa. “Aquele fundado o Guaíba Rugby Clube. teve um crescimento de 19% no número de dia assistimos partidas de rugby e nos assuspraticantes em todo o mundo nos últimos tamos, não dava para acreditar que não tinha Escudo do time quatro anos. Na Améproblema nenhum jogar O nome e o brasão do clube foram O clube de Guaíba rica do Sul, o crescirugby”, lembra Valandro. criados com o objetivo de levar o nome mento no número de “A bola era gigante”, acres- e a história da cidade de Guaíba para as começou a ser atletas foi de 22%. Em centa Adair. competições. O brasão, criado por Sandro imaginado por um meio a este contexto de No dia 8 de março Souza, então jogador do clube, apresenta jogador do Charrua expansão do esporte, de 2006 deu-se então o uma linha de ataque de rugby formada por surge o Guaíba Ruprimeiro treino do Gua- cachorros sobre as cores da bandeira do Rugby, pensando gby Clube, que vem se íba Rugby Clube, em Rio Grande do Sul. Os cachorros foram esem contribuir para destacando desde a sua um sábado às 7 horas no colhidos devido à história contada de que desenvolvimento do fundação. Complexo Esportivo Ruy o nome original indígena Guahyba signifiO clube de Guaíba Coelho, o Coelhão, em ca “baía dos cachorros” ou então que este esporte no Estado começou a ser pensado Guaíba. Naquela manhã a seria o nome que os nativos chamavam a por um jogador de rugby do Charrua Rugby presença de cerca de 25 pessoas surpreendeu costa do Lago Guaíba. Já o grito de guerra Clube, time de Porto Alegre, chamado Le- Manzoni, que confessou do Guaíba foi criado andro Wienskoski, o Polaco, guaibense que não estar “levando muita a partir de vídeos que O primeiro título viajava à capital três vezes por semana para fé”. Pouco mais de duas os atletas assistiram conquistado pelo treinar. Visando contribuir para o desenvol- semanas de treino, o cluda seleção neozelanGuaíba foi o de vimento do rugby no Estado, Wienskoski de- be já teve suas primeiras desa de Rugby. Os All cide dar início ao projeto de fundar um time partidas marcadas contra Blacks, como são chaCampeão da Taça na sua cidade natal. A partir de 2005, através o Lanceiros Negros, de mados, realizam antes Prata do Torneio Pré do apoio de colegas e até de redes sociais na Canoas. Foram dois jogos de cada partida o Ka Gauchão de Rugby internet, o jogador começou as tentativas de realizados no dia 1 de abril Mate, uma espécie de recrutar interessados. Apesar de enfrentar di- de 2006, na cidade de Caperformance para inSevens de 2009 ficuldades, principalmente devido à falta de noas. Segundo Valandro: timidar o adversário. conhecimento sobre a modalidade do rugby, “Nós não sabíamos muita coisa na época, só “Refletimos ‘por que nós não temos um asé marcada a primeira reunião em março de sabíamos correr e ainda por jogar contra uma sim?’ Fomos pensando em algo, até que um 2006. O encontro contou com a presença de equipe chamada Lanceiros Negros, pensa- dos nossos gritou ‘Coragem Força e União,
Paula Cunha Tanscheit
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Guaíba Guaíba Guaíba’. Pronto estava formado o nosso lema”, conta Adair. A principal dificuldade na época, que inclusive é a mesma até hoje, foi encontrar adeptos ao esporte. O motivo mais destacado é o preconceito que existe com o rugby e a falta de conhecimento até em relação à estrutura corporal necessária para começar a praticar. Porém, para Rafaelle Oliveira, jogador do Guaíba desde 2007, o maior empecilho é a questão cultural: “Desde pequeno a criança pega a bola com a mão, e a primeira coisa que o adulto fala é para chutar”, exemplifica Rafaelle. Até hoje a equipe nunca contou com um plantel maior do que 25 atletas, o que faz com que se jogue na modalidade Seven, com sete jogadores, a mesma que será jogada nas Olimpíadas de 2016. Adaptação dos atletas Outro fator que o clube teve de en-
frentar no início foi a adaptação às normas. “Tivemos que começar do zero no Guaíba, então primeiro tivemos que aprender as regras do rugby e desaprender tudo aquilo que sabemos do futebol”, conta Adair. Em
“Depois que você é mordido pelo bichinho do rugby, não quer saber de outro esporte” 2006, como contam os atletas, também era difícil achar artigos para a prática do rugby nas lojas, às vezes era necessário encomendar peças de São Paulo, além dos altos valores. Os jogadores também quase não recebem apoio financeiro para as viagens que precisam fazer durante as competições e acabam tendo que pagar com o próprio di-
O RUGBY NO RIO GRANDE DO SUL O rugby teve inicio no Estado com a criação do Charrua Rugby Clube em 2001. O clube foi formado depois da iniciativa de Nilson Taminato, recém chegado ao Rio Grande do Sul, de formar um clube onde ele pudesse continuar praticando o esporte como fazia em São Paulo, onde jogava no Rio Branco Rugby Clube. Através de uma parceria com a ESEF (Escola Superior de Educação Física da UFGRS), Nilson e mais alguns interessados conseguiram fundar o Charrua no dia 2 de junho de 2001. Ainda naquele ano surge o segundo time do estado, o Farrapos Rugby, de Canela, que em 2003 virou o Guará Rugby. Com a criação do Grupo de Desenvolvimento do Rugby/RS (GDRS), em 2006, o rugby passou a ter competições
organizadas como o Campeonato Gaúcho de Rugby. No final de 2009 também é criada a Federação Gaúcha de Rugby (FGR), onde 16 clubes compareceram para aprovar o estatuto e eleger a primeira diretoria. Para Philippe Gauer, “o nível do rugby no Rio Grande do Sul continua crescendo proporcionalmente ao número de jogadores”, conta o francês que chegou ao estado em 2003. Segundo ele, ainda existe uma grande falta de pessoas que possam dar treino ou transmitir um rugby mais competitivo. De acordo com Philippe, a inclusão do rugby nos Jogos Olímpicos já gerou uma explosão de novas equipes e com aporte de capital e estrutura os resultados já estão acontecendo nos torneios de Sevens.
nheiro. “O apoio desde o início tiramos de nós mesmos”, declara Adair. O clube desde sua fundação recebe apenas o apoio da prefeitura que empresta um campo de futebol para os treinamentos e partidas. O primeiro título conquistado pelo Guaíba foi o de campeão da Taça Prata do Torneio Pré Gauchão de Rugby Sevens de 2009. Porém já havia conquistado boas colocações desde 2007, sendo inclusive vicecampeão Gaúcho daquele ano. Para Adair, esta foi a conquista mais marcante vivida por ele no Guaíba: “Com apenas um ano de idade a nossa equipe sagrou-se vice-campeã, após várias vitórias em quatro etapas, perdendo a final para o nosso padrinho, o clube de rúgbi mais velho do Estado, aonde chegamos a estar na frente do placar por dezessete a cinco”. A partida foi decidida nos últimos minutos do jogo e deu o título ao Charrua de Porto Alegre. Atualmente a equipe guaibense treina duas vezes por semana no Complexo Esportivo Ruy Coelho e se prepara para as próximas competições. Segundo o atual técnico da equipe, Philippe Gauer, que já trabalha há 37 anos com rugby, o Guaíba é o time com maior potencial no Rio Grande do Sul: “Não importa em qual modalidade a gente jogue, vamos ganhar”. A procura hoje é por maiores incentivos, tanto financeiros, quanto de familiares que apóiem o esporte para que ele cresça cada vez mais na cidade. Os jogadores garantem que o tão popular futebol acaba perdendo a graça depois que se conhece o rugby de verdade. “Depois que você é mordido pelo bichinho do rugby, não quer saber de outro esporte”, constata Rafaelle. * Paula Tanscheit é formada em Jornalismo pela PUCRS Arquivo do Guaíba Rugby
TÍTULOS CONQUISTADOS - Vice Campeão da Taça Ouro do Torneio Pré Gauchão 2007 - Vice Campeão Gaúcho 2007 - Vice Campeão da Taça Prata do Pré Gauchão 2008 - Campeão da Taça Prata do Pré Gauchão 2009 - Vice Campeão Feminino do Pré Gauchão 2009 - Campeão Feminino da Taça Prata do Pré Gauchão 2010 - Campeão Juvenil da Taça Prata do Pré Gauchão 2010 - Campeão da Taça Ouro do Pré Gauchão 2011
O Guaíba Rugby busca atualmente maiores incentivos financeiros
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Esportes
Pencas do Capão Seco, uma tradição esquecida Como as carreiras de cancha reta terminaram em uma localidade rural pertencente a Rio Grande Jonas Gularte
O
povo gaúcho traz em sua história uma relação muito forte e latente com o cavalo. Isso ainda hoje é bastante evidente, em especial com o homem do campo, que utiliza seu fiel e leal amigo, o cavalo, tanto para lidas rurais, com gado e na lavoura, como para transporte ou passeio. Além de representar uma antiga paixão dos gaúchos, as corridas de cavalo constituíram, e por vezes ainda constituem, a prática esportiva do homem rural. Na região do Capão Seco, uma localidade do distrito de Povo Novo, pertencente ao município de Rio Grande, encontram-se diversas propriedades rurais, onde predominam a pecuária de corte e leite bem como o cultivo de arroz. Atividades as quais movimentam os trabalhadores da região e propiciam o convívio direto do homem com o cavalo. Esta localidade manteve, ao longo de muitos anos, uma forte tradição tanto na organização quanto na participação de corridas de cavalos em canchas retas. Capão Seco possuía canchas, jóqueis, apostadores, e donos de cavalos “parelheiros” (animal
rápido e veloz, destinado exclusivamente ou preferencialmente às corridas), onde a cada final de semana travavam disputas emocionantes tanto na cancha reta, como na zona de “arremates”, onde eram realizadas as apostas. Porém a última “penca” (nomenclatura local utilizada para designar as corridas de cavalo em canchas retas) foi corrida no ano de 2003. Cinco animais integraram a competição que contou com bom público espectador, conforme nos conta um dos integrantes do extinto piquete local, o qual organizara a disputa. Desde então, a prática aparentemente foi deixada de lado, não ocorrendo mais nenhum evento semelhante nesta localidade. Ao levantar hipóteses e razões para este repentino fim das carreiras de cavalo, citamos: a diminuição do número de moradores da localidade e o envelhecimento dos que ali permaneceram residindo; o maior acesso à energia elétrica que permitiu ampliação na utilização de meios de comunicação e entretenimento modernos, tais como televisão, DVD e internet, servindo como lazer e passatempo; a maior facilidade de locomoção dos moradores, com melhorias no transporte
rodoviário e por vezes a aquisição de automóvel próprio, fazendo com que busquem divertimento fora da localidade. Fatores estes que podem ter contribuído para um esvaziamento do local nos finais de semana e levado a um certo desinteresse dessas práticas esportivas e de lazer externos, como as “pencas”. Como alguns anos já se passaram desde a última “penca” ocorrida, o cenário da localidade gradativamente está sendo alterado. Houve a expansão do colégio Alcides Maia, que passou a ter ensino fundamental completo, fazendo com que crianças e adolescentes tanto da localidade como de regiões vizinhas se dirijam ao local todos os dias da semana, movimentando o povoado. Provavelmente este, entre outros motivos, levou a a um aumento do número de crianças e jovens moradores da localidade, os quais parecem demonstrar interesse pelo resgate da cultura rural sul riograndense. Tais fatores deixam no ar a esperança de um possível retorno das corridas de canchas retas, as famosas “pencas”, da localidade do Capão Seco. * Jonas Gularte é formado em Educação Física pela Ufpel
Cartazes de divulgação das competições de “pencas”, no Capão Seco em 2002
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Esportes
O grão mestre de
Haedong Kumdo O Grão Mestre Kim Jeong-Seong, presidente da Federação Mundial desta arte marcial, deve visitar o Estado pela segunda vez Roger Cruz
E
sta será a segunda vez que o estado recebe o presidente da Federação Mundial de Haedong Kumdo (United World Ha-edong Kumdo Federarion - UWHKF), Grão Mestre Kim Jeong-Seong, que possui a mais alta graduação entre todos os representantes, o nono Dan. Mas ainda está sem uma data confirmada. A visita deve ocorrer entre os meses de outubro e novembro. Segundo o presidente da Federação Brasileira de Haedong Kumdo (FBHK), fundada em 2006, Giovani Andreoni, a presença do Grão-Mestre visa promover a arte marcial da esgrima coreana no Brasil e “examinar os atuais e os novos faixas pretas, fazendo uma espécie de reciclagem técnica”. Para o haedong in (praticante de Haedong Kumdo) Matheus Luz, esse encontro é um marco na caminhada do atleta. “Mestre Kim é uma referência mundial. É uma grande honra poder apreciar de perto a técnica deste grande mestre e ter a sua técnica avaliada e corrigida por ele.” Haedong Kumdo é uma arte marcial de origem coreana especializada em espada, mas que também utiliza chutes. Seu nome significa “caminho da espada do mar do leste”, pois era assim que a Coreia era chamada popularmente, e que por conta de sua localização geográfica, recebeu diretamente influências chinesas e japonesas, países tradicionalmente reconhecidos por suas artes marciais. A origem As artes marciais coreanas com espada eram praticadas por pessoas comuns até tornarem-se restritas apenas para a classe Yangban (os nobres), pois temiam alguma possível revolta popular. Porém, mesmo com a imposição, o povo manteve sua prá-
tica, provando eficaz na Segunda Guerra Imjin (invasão japonesa, em 1597), onde a elite Yangban recuou e as classes populares formaram grupos de resistência que expulsaram os japoneses. Foi então que a classe Yangban decidiu abolir a proibição e incentivar o ensino popular. Com o passar do tempo as espadas foram tornando-se mais leves e reforçadas para o combate, permitindo maior agilidade ao guerreiro e resistência aos golpes. As espadas Com a ocupação militar do Império japonês na península coreana, as espadas foram confiscadas e destruídas, tornandose raras as suas evidências históricas. Com a libertação da Coreia em 1945, a fabricação artesanal de espadas legitimamente coreanas recomeçou em 1950, e em 1960 iniciou um longo resgate das antigas tradições folclóricas, mas a antiga forma de forja, que havia se perdido durante a ocupação do Japão, só foi resgatada por pesquisadores e historiadores em meados de 1990. Enquanto isso, muitos forjadores que haviam aprendido a fabricação de espadas japonesas, acabaram influenciando essa arte. Atualmente no Haedong Kumdo a espada de aço só é utilizada em demonstrações com corte de alvos fixos, como bambu, e alvos em movimento, como lançamento de
Arquivo pessoal de Giovani Andreoni
Grão mestre Kim em demonstração de Forma com duas espadas
maças, por exemplo, e ainda assim somente por alunos que já possuem a graduação mínima de primeiro Dan – ou seja, faixa preta – nos demais treinamentos de formas e lutas combinadas são usadas espadas de madeira, e as lutas competitivas, com equipamentos de proteção e espadas de bambu. Entre os principais benefícios de se praticar o Haedong Kumdo estão a melhoria da concentração, aumento da resistência muscular, força e velocidade, melhora na coordenação motora e aumento da flexibili-dade muscular. Em Porto Alegre existem duas academias que ensinam os segredos da esgrima coreana: Academia Lee, na Rua Carneiro da Fontoura, nº 38, próximo à Av. Assis Brasil – fone (51) 3341-9444, e no Instituto Tigre Coreano, sede da FBHK, na Rua José do Patrocínio, nº 1254 – fone: (51) 3392-3040. * Roger Cruz é formado em Jornalismo pela Ulbra de Canoas
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Esportes
Patinação: um esporte na pré-adolescência
Fotos: arquivo de Leandro Dias
Prestes a completar 50 anos, a patinação artística no Rio Grande do Sul é ainda uma “pré-adolescente”. É assim que o professor Leandro Dias, um dos precursores da modalidade no Estado, caracteriza o estágio da patinação, em sua entrevista, que traz um pouco da história desse esporte sobre rodas Nathália Ely
D
o casamento entre a patinação no gelo e o hóquei nasceu, em 1964, conforme registros oficiais, a patinação artística no Rio Grande do Sul. O berço foi o Colégio Marista Champagnat. Como pais da criança, os professores Osvaldo Casagrande e Alexandre Durante. “O fundador mesmo, no Champagnat, é o professor Alexandre Durante, ele que é o grande responsável por essa concretização do esporte aqui no Rio Grande do Sul”, confirmou o professor Leandro Dias. Os professores trouxeram o esporte de São Paulo, onde, em uma integração entre os colégios maristas, conheceram o hóquei. No início, a atividade em Porto Alegre era restrita aos homens, pois os colégios eram divididos. No entanto, ao acompanhar os irmãos patinadores, as mulheres se interessaram pelo esporte. Com a adesão delas, nasceu, o primeiro clube artístico, o Tangarás, e a patinação no Rio Grande do Sul. O batizado foi a primeira apresentação de hóquei e patinação no Champagnat em 21 de junho de 1969. Como madrinha, a Miss Universo, Ieda Maria Vargas. Evento importante na cidade, teve a presença de autoridades como o governador, o Comandante do 3° Exército,
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Madrinha do clube Tangarás, a Miss Universo Ieda Maria Vargas participou da apresentação de hóquei e patinação em 1969 o prefeito de Porto Alegre, Telmo Thompsom Flores, e da imprensa, que registrou ao vivo, com a TV Gaúcha (hoje RBS). Um clube, no entanto, tem que ter um irmão para competir e alguém que organize essa competição. Pois no dia 10 de agosto de 1973, na união dos clubes Tangarás, do Colégio Marista de Erechim, do Grêmio Náutico União e do Grêmio Foot-ball Porto Alegrense foi criada a Fe-
deração Gaúcha de Patinagem (FGP). A infância Em 1975, a patinação começa a se desenvolver com a primeira pista exclusiva para a prática, no colégio Dom Bosco. A modalidade foi introduzida por teólogos do colégio, com o apoio da Associação de Pais e Mestres. Já na década de 80, a moda dos rollers
invadiu Porto Alegre e, apesar de linhas diferenciadas – como lazer e alto rendimento –, Dias acredita que o fato ajudou a divulgar a patinação. Crescer também significa se expandir e agregar mais participantes. Segundo Dias, um dos responsáveis pela interiorização, foi o uruguaio Alfredo Garcia Sosa, que levou a modalidade para Estrela. Já o aumento do número de adeptos se dá com a criação de novas categorias. A mais nova delas é a de precisão, na qual um grupo precisa realizar movimentos simultâneos. Pré-adolescência Esporte Pan-Americano, a patinação artística sobre rodas busca ser olímpico. Dias acredita, no entanto, que, por possuir características de arte, com avaliações, de certa forma até subjetivas, essa busca se torna um pouco mais difícil. A qualidade olímpica ajudaria a desenvolver o esporte, visto que os investimentos do Comitê Olímpico Brasileiro são destinados principalmente às modalidades desse patamar. E a patinação precisa de investimentos. Depois do fechamento do clube Dom Bosco, em 1996, não existiu mais um local específico para a prática do esporte. Conforme Dias, além de ter de sobreviver de “paitrocínio”, o preconceito atrapalha o crescimento da patinação, principalmente no que se refere à participação masculina. Muitos deixam de patinar por considerar que ele não é um esporte para homens. A falta de profissionalismo também é um obstáculo, destaca o professor, visto que muitos dos que trabalham na federação são voluntários e não possuem no esporte sua única forma de atuação, mas é desse esforço conjunto que a modalidade precisa. “A patinação não depende de uma ou duas pessoas depende de um todo. Se a patinação cresce eu vou ser puxado com a patinação para frente”, comentou. Otimista, Dias acredita que a patinação ainda vai evoluir e chegará à fase adulta. O Campeonato Mundial, realizado em Brasília, contribuiu para esse crescimento. “Não sei se eu vou estar aqui para ver [a fase adulta], mas tomara que esteja, porque eu acho que a gente que participou sempre vai se sentir orgulhoso do sistema todo, de ver a coisa evoluída, de ter bons atletas, bons técnicos”, finalizou. * Nathália Ely é formada em Jornalismo pela UFRGS, atua na Secretaria Estadual do Esporte e do Lazer e no portal Travinha Esportes
Leandro Dias e Ana em show da Brigada Militar
Da esquerda para a direita, Waldir Veit, terceiro presidente da FGP, Leandro Dias, Susana Kochert e Vera Widniczck CONQUISTAS DA PATINAÇÃO GAÚCHA Apesar de ainda pré-adolescente e, por isso, depender de “paitrocínio” para sobreviver, a patinação gaúcha já escreveu alguns nomes na história. O próprio Leandro abriu caminhos. Em 1975, foi terceiro colocado no Campeonato Brasileiro, na categoria livre individual, quando ainda era disputado por seleções estaduais. Hoje é por clubes. Na categoria duplas, com Vera Widniczck, ganhou três nacionais, foi terceiro no Campeonato PanAmericano, em 1983, vice-sul-americano e quinto lugar na décima edição dos Jogos Panamericanos, em 1987. “Não tem como discriminar, quem participou [dos Jogos], é como participar
de uma Olimpíada, é uma coisa fantástica”, lembra. Outros destaques para Léo Bengochêa, Shara Signor e Janaína Espíndola, a primeira medalhista em Jogos PanAmericanos na modalidade, com o bronze em Winnipeg (1999). Hoje, Janaína treina o principal nome do esporte no Rio Grande do Sul, o tricampeão panamericano Marcel Stürmer. Leandro Dias iniciou na patinação em 1969 no colégio Champagnat. Presenciou o lançamento da modalidade em Porto Alegre e foi um dos responsáveis por expandir o esporte no Estado, como atleta, professor e dirigente.
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Esportes
Nós versus nós mesmos
Reprodução
O desenvolvimento do futebol. Da realização de jogos amigáveis até a rivalidade clubística atual
Matheus Beck
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ez clássicos nacionais na última rodada do Campeonato Brasileiro de 2011. Esta foi a maneira encontrada pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para evitar supostos favorecimentos ocorridos em anos anteriores, quando clubes haviam perdido jogos contra adversários diretos de seus rivais. Embora não afete o princípio de igualdade do esporte moderno de Allen Guttmann – já que os times se enfrentam com onze jogadores sob as mesmas regras –, o caso está longe da realidade encontrada por Johannes Christian Moritz Minnemann na cidade de Rio Grande em 1900. O fundador do Sport Club Rio Grande tinha outro desafio além de desenvolver o clube. A falta de praticantes do esporte desconhecido fez com que ele tivesse que ajudar a disseminar a prática entre a sociedade. Os primeiros cotejos foram disputados pelos sócios, ora entre os quadros A e B, ora entre o grupo Branco versus grupo Cores. O primeiro jogo “externo”, como se referem Claudio Dienstmann e Pedro Ernesto Denardin em “Um Século de Futebol no Brasil”, foi uma vitória contra marinheiros do navio canhoneiro inglês Nynphe. No ano seguinte, viagens a Bagé e a Pelotas levaram o futebol a fronteiras próximas. Mesmo assim não havia um adversário definido. Mal haviam clubes constituídos no país, à exceção de alguns poucos em São Paulo. Como era preciso importar do exterior o material esportivo, a diretoria do S. C. Rio Grande tomou
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Rio Grande fez embates clássicos contra o Inter, como em 1936, quando foi campeão gaúcho sobre o rival uma decisão: a cada nova aquisição que chegasse pelo porto da cidade, o material antigo seria doado para novos praticantes do esporte. “Doar uma bola, mesmo usada, mas em perfeito estado, não era façanha pequena para a época, pois se sabe que eram adquiridas, com dificuldade, no exterior”, conta Miguel Glaser Ramos em “Sport
“Doar uma bola, mesmo usada, mas em perfeito estado, não era façanha pequena para a época, pois se sabe que eram adquiridas com dificuldade”
Club Rio Grande: Centenário do Futebol Brasileiro”. Essa carta ressalta ainda o espírito dos fundadores, tudo fazendo para que o futebol fosse difundido entre o povo, criando um novo e salutar hábito esportivo. A relação entre a criação do Grêmio Foot-Ball Portoalegrense e o clube riograndino é estreita. Em sete de setembro de 1903, integrantes do S. C. Rio Grande partiram do sul do estado para uma partida demonstrativa na capital entre os dois quadros no antigo velódromo municipal, onde hoje está situado o Parque Farroupilha. Durante o jogo, a bola que havia sido levada pelo grupo furou, e a inervenção do comerciante Cândido Dias, cedendo sua própria bola, foi providencial. O fato
que deu origem ao Tricolor Gaúcho é narrado por Marcelo Ferla no livro “O Imortal Tricolor”: “Em troca do empréstimo, os agradecidos players riograndinos forneceram mais dicas de como se constitui uma agremiação de futebol ao orgulhoso ‘grupinho da bola’. Oito dias mais tarde, os novos conhecimentos foram adicionados aos que vinham sendo coletados desde que a pelota tinha chegado. E o Grêmio nasceu oficialmente.” Cinco anos depois, o Sport Club São Paulo foi fundado e o Rio Grande ganhou um rival local. No ano seguinte, em 1909, o Sport Club Internacional surgiu para se tornar o tradicional adversário do Grêmio anos mais tarde. No dia quatro de dezembro de 2011, no estádio BeiraRio, ambos se enfrentaram pela última rodada do principal campeonato nacional. O Colorado venceu por 1 a 0 e ganhou vaga na Libertadores. Um duelo bem distante da época em que os clubes tinham que confrontar a si mesmos pelo bem do esporte.
Programa da primeira partida oficial do clube
* Matheus Beck é formado em Jornalismo pela PUCRS A PARTIDA DA MORTE Em 1942, durante a ocupação da União Soviética pela Alemanha nazista, foi fundado o F. C. Start, equipe da capital ucraniana Kiev. A base da equipe era formada por remanescentes do Dínamo, como o goleiro Nikolai Trusevich, mas possuía também ex-atletas do Lokomotiv. “Trusevich encontrou os que pode encontrar”, conta Andy Dougan em “Futebol e Guerra”. “Também foi persuadido [...] de que devia salvar tantos jogadores dos demais times tantos quanto pudesse. Não havia lugar para rivalidades entre equipes.” O time disputou sete jogos amistosos. Venceu todos. Na última partida, após derrotar o Flakelf, equipe formada por oficiais da força aérea alemã, os jogadores foram capturados pela Gestapo sob a alegação de serem espiões soviéticos. Trusevich e mais três companheiros foram executados em fevereiro de 1943.
O DINHEIRO DA SOBREVIDA
Programa de jogo do time ucraniano
No período entre as duas guerras mundiais, a depressão econômica atingiu muitos países europeus. Um dos clubes atingidos pela crise foi o Leyton Orient, equipe do leste de Londres, conforme apontam Simon Kuper e Stefan Szymanski em “Soccernomics”. A ajuda para se manter ativo veio do vizinho do norte londrino Arsenal: “Os clubes sabem que não podem funcionar sem os rivais, portanto, diferentemente do que acontece na maioria dos negócios, o colapso de um competidor não é motivo de celebração”, afirmam Kuper e Szymanski. O capitalismo transformou o Arsenal em um gigante europeu, enquanto o Orient vagueia pela League One, a terceira divisão inglesa. Contudo, graças ao gesto de oito décadas atrás, ambos os times puderam se encontrar novamente na quinta rodada da FA Cup deste ano.
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Esportes
Bola ao centro O futebol foi criado em torno da bola e, um século e meio depois, a televisão segue lhe prestando reverência. Ao mesmo tempo, outros elementos ficam fora de foco e embaçados sob a lente do olhar arbitrário Marcio Telles
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jogo de bola. Mas a televisão, mais ainda do que os homens, ousou querer a bola – mas ela sempre dava um jeito de escapar. Por que, se a bola corre mais que os homens, que dirá das máquinas.
para qualquer contra-ataque – nesse caso, gostaríamos de ter visto a desorganização da defesa que provocou certo jogador a selecionar e aplicar tal movimento entre tantos outros possíveis. Os cronistas chamam isso de visão de jogo, aquilo que nos é negado enquanto telespectadores.
m amigo contou um causo curioso: disse que, durante um treino coletivo na escolinha de futebol em que joga seu filho, o treinador esgoelava-se à beira do gramado: “Marquem o adversário, não A TV corre atrás da bola marquem a bola”. Perspicaz, esse amigo Nesses primeiros registros audiovisuais provocou: não seria a obsessão dos garo- do futebol, a ausência da bola é marcante. Há De capotão a Jabulani tos pela pelota um sintoma de que pensa- um lance de uma partida do Arsenal inglês De toda a forma, já nos parece tarde. Fomos hoje o futebol a partir da televisão? de 1897 no qual os jogadores organizam-se à mos programados pelo futebol da televisão Afinal, o que não vemos numa transmis- espera de uma cobrança. Intuímos que a bola para colocarmos a bola no centro da nossa são televisiva é a organização espacial das vem e vai, pois jamais a vemos. Ela é ainda cultura futebolística. No futebol jogado buequipes em campo. Vemos, arbitrariamen- rápida demais para esse mecanismo primi- rocraticamente na Copa de 2010, na falta de te, somente a bola. tivo. Em alguns registros posteriores, feitos craques, elevou-se ela à condição de estrelaMas essa centralidade da bola não é ao longo do primeiro quarto do século XX, mor do espetáculo: Jabulani, para sempre nos algo recente: é a busca essencial dos regis- a bola já aparece como borrão, ponto escuro nossos arquivos. tros audiovisuais de futebol. Desde a pri- que jamais se concretiza esfericamente. Mas então voltemos às crianças. Que meira câmera que apontou sua lente para De uma às 32 culpa elas têm em A televisão, mais ainda um campo de futebol, a tentativa sempre câmeras, o motivo querer tanto estar foi enquadrar a bola, tê-la aprisionada em dessa multiplicação onde a bola está? do que os homens, ousou seu telecampo, afastada – o máximo quan- exponencial não era Não foi assim desde querer a bola – mas ela to possível fosse – de suas bordas, a partir destrinchar todo o que o futebol entrou sempre dava um jeito de da onde estaria irremediavelmente perdi- entorno do campo, por seus olhos pela da. Que isso nos diz sobre a televisão, o mas garantir a oniescapar. Por que, se a bola primeira vez? Posfutebol e nossa cultura? presença da bola. domesticá-la, corre mais que os homens, suí-la, Em “Veneno Remédio”, José Miguel Não deixá-la fugir, domá-la, enquadráque dirá das máquinas! Wisnik dedica algumas páginas para tratar como era bastante la. Eis o que todos desse objeto esférico, “perfeito por defini- comum nas primeiquerem da bola, as ção (acabado em si mesmo como nenhum ras transmissões esportivas, quando bastava crianças e a televisão. E também muito zaoutro) e escapadiço por natureza”. Haveria um descuido do homem com a câmera para gueiro profissional que, deslumbrado pela na bola um elemento que incomoda: está perdemos um gol. perfeita esfera midiatizada, a persegue ensempre sujeita a todas as apropriações, Problemas da unicidade da câmera… sandecidamente e deixa o centroavante addo perna-de-pau Que a pluralidade versário livre na pequena área. ao craque, demoviria a enquadrar A bola. Enquanto ela corre, a televisão Esse recorte do jogo, craticamente. Já o para sempre a bola a coloca no centro; quando para de correr, a bola no quadro, é sociólogo Roberto no centro de tudo. estamos dela libertos. E, então, sem nem autoritário e arbitrário: DaMatta, que baEsse recorte do jogo, podermos suspirar, a televisão nos abartiza com uma frase a bola no quadro, é rota com outros olhares: três segundos da quem disse que o mais de Didi seu livro interessante do jogo ocorre autoritário e arbi- câmera 11 e mais dois da 23, e então corte de ensaios futebotrário: quem disse para a… – olhem lá! – a bola já voltou a sempre onde está a bola? lísticos, “A Bola que o mais interes- correr! Ela ainda corre mais que os homens Corre mais que os sante do jogo ocorre e as máquinas. Homens”, aponta essa verdade universal sempre onde está a bola? O momento de sobre esse objeto que não para quieto. Se tensão raramente está ao redor de onde a * Marcio Telles é formado em você não cuidar dela, ela escapará. Essa é bola está, mas justamente onde a bola po- Jornalismo pela UFRGS e mestrando sua função: fugir, já que se não rola não há derá estar no momento seguinte. Olhemos em Comunicação e Informação (UFRGS)
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Esportes
Porto Alegre em duas rodas
Catálogo do Esporte da Revista do Globo (MAZO, 2004)
Ronaldo Dreissig de Moraes
Você deve ouvir frequentemente que o trânsito de Porto Alegre está caótico. O comentário mais comum é de que, a cada dia que passa, existem mais carros nas ruas. Nunca o termo mobilidade foi tão falado. Nunca o transporte público foi tão debatido. Alguns falam que o trânsito da cidade já não suporta mais veículos de quatro rodas transportando uma única pessoa. Mas nem sempre a nossa Porto Alegre foi assim. No final do século 19, as ruas portoalegrenses eram ocupadas por outro tipo de veículo: a bicicleta. Um pouco antes, no ano de 1869, pela primeira vez, alguém é visto andando de bicicleta no Rio Grande do Sul. Alfredo Dillon realizava demonstrações de como se andava no novo equipamento. Enquanto isso, seu pai os vendia no seu comércio de produtos importados dos Estados Unidos. Nesse momento, o custo da bicicleta era muito elevado, já que eram importadas. Com isso, novas versões de bicicletas são produzidas por Adolpho Mabilde e Emilio Mabilde com materiais rudimentares como a madeira, o ferro e o aço. É no ano de 1895 que o ciclismo começa a se difundir. Chegam à cidade bicicletas novas e muito mais leves. Em março deste ano é fundada a primeira associação com o objetivo de praticar o ciclismo de forma mais organizada. Surge então, a União Velocipédica de Amadores. Essa entidade realizou sua primeira excursão no dia 17 de março, saindo do Parque da Redenção com destino a Belém Velho. Alguns desses passeios chegavam a contar com a participação de aproximadamente mil ciclistas que pedalavam para desfrutar das belezas naturais do Lago Guaíba. Em 1896, uma nova sociedade é fundada com o propósito de aprimorar a prática do ciclismo. Surge a Rodforvier Verein Blitz, que logo foi chamada de Blitz. Também receberam o apelido de “Abelhas”, já que o desenho de sua camiseta tinha faixas horizontais em preto e amarelo. Após passar por um pe-
Disputa entre Blitz e União Velocipédica com a presença de mulheres ríodo de estruturação, a associação promove em 1897 a primeira corrida ciclística nas ruas de Porto Alegre, pois ainda não possuía um velódromo, que veio a ser concluído no ano seguinte. Em 1898, após a conclusão do velódromo (situado onde hoje está o Parcão), a Blitz promoveu a primeira corrida ciclística em pista oficial em Porto Alegre. Em 1898, a União Velocipédica constrói o seu velódromo no Bairro Bom Fim, na Rua Sarmento Leite esquina com a Avenida Osvaldo Aranha. Na virada do século 19 para o 20, Porto Alegre chegou a contar com dois velódromos, dois clubes de ciclismo, e cultivava as corridas de bicicleta. O ciclismo teve a virtude de atrair as mulheres ao esporte. Nas grandes corridas que então se organizaram houve competições femininas específicas, apesar das dificuldades das mangas largas e das saias-balão que a moda e o recato faziam obrigatórias. Nas competições de ciclismo, as disputas se acirravam cada vez mais, devido às questões culturais que envolviam os dois clubes ciclísticos da cidade, principalmente pelas visões diferentes relacionadas às regras de cada associação. Nesse aspecto uma equipe, a Blitz, primava pela manutenção da cultura alemã em
seus registros, enquanto que a União Velocipédica, apesar de sua origem germânica, abriu espaço para bons ciclistas de outras etnias, principalmente os descendentes de ítalianos. A prática do ciclismo em clubes teve uma ascensão muito rápida e uma trajetória curta, mas durante esse breve período mobilizou ciclistas e a sociedade em seus passeios e competições. No entanto, assim como hoje parece não haver mais espaços nas ruas de Porto Alegre para tantos carros, as bicicletas foram deixadas de lado, pouco a pouco. Existem dois fatores prováveis que teriam contribuído com o declínio do ciclismo: um deles foi a ascensão do futebol, que despertou maior interesse da sociedade, onde até mesmo dirigentes de associações de ciclismo estiveram envolvidos em fundações de clubes. O segundo fator foi o processo de urbanização da cidade, onde espaços destinados ao ciclismo foram utilizados para a construção de ruas e avenidas, sem contar o aumento do número de carros em Porto Alegre. * Ronaldo Dreissig de Moraes é formado em Educação Física pela UFRGS e integra o Núcleo de Estudos em História e Memória do Esporte e da Educação Física
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Esportes
Time sogipano é classificado como o melhor do mundo
Punhobol da Sogipa completa cem anos Laion Espíndula
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lassificado como o melhor time de punhobol do mundo, a Sogipa (Sociedade de Ginástica Porto Alegre) pratica a modalidade esportiva há cem anos. Disseminado por imigrantes alemães no Brasil, a atividade foi uma das primeiras a ser estruturada no clube sogipano. Em 1911, foi instituído o departamento responsável pela modalidade. De origem desconhecida, o que se sabe sobre o punhobol, esporte muito semelhante ao vôlei, é que no final do século 19 as primeiras regras foram formuladas na Alemanha. Pouco depois disso, no início do século 20, ele foi estruturado na Sogipa. Apesar do centenário e de ser a mais antiga equipe de punhobol da América do Sul em atividade, o histórico de conquistas da Sogipa na categoria é bastante recente. A taça do Campeonato Brasileiro foi levantada pela
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primeira vez em 1984. Antes disso, o time adulto da entidade não tinha tido resultados expressivos. O atual técnico do grupo, Jorge Eduardo Süffert, conhecido como Kuatschi, conta que a partir deste ano, mudou muito a característica de desempenho da Sogipa no punhobol: “Até 84 era uma prática amadora no nosso clube, depois adotou um caráter de alto rendimento. Essa vitória foi muito importante, assim como os Mundiais.” A Sogipa é hoje dona do melhor desempenho internacional no punhobol. De títulos mundiais, possui dez na categoria masculina e dois na feminina. Sendo que em 2005, o time venceu a principal disputa nas duas modalidades. “Significa que nesse ano, a Sogipa dominou tudo no esporte. E isso é muito recente”, comemora Süffert. O Campeonato Mundial Interclubes é decidido entre os campeões sul-americano e europeu. Para se classificar ao maior cam-
peonato da América do Sul, o clube precisa ser o melhor do seu país. Portanto, um caminho longo que deve ser percorrido. Com o título brasileiro de 84, a Sogipa se qualificou para o Sul-Americano do ano seguinte. O grupo saiu vitorioso, abrindo caminho para a disputa mundial. Em 1986, foram derrotados pelo Bayer Leverkusen, o mesmo clube alemão do futebol. Na edição seguinte, em 1988 – o Mundial era realizado a cada dois anos –, foi a vez de a Sogipa alcançar o maior título da modalidade. Süffert estava presente na competição como jogador. Os sogipanos superaram o Hagen, da Alemanha, que é considerado no esporte o clube do século da Europa. “Existiu uma soberba dos alemães. A princípio, o jogo deveria ser lá, pois o palco da final era alternado entre os dois continentes participantes da competição. Mas eles quiseram jogar no Brasil, pois acreditavam que
fotos: AI/Sogipa
nos venceriam. A Alemanha é até hoje uma potência no esporte. Claro que nossa vitória gerou uma euforia muito grande no clube. Lembro de pessoas que eu nunca tinha visto e estavam histéricas, comemorando o título. O sentimento de orgulho era muito grande”, conta Kuatschi. A final entre Sogipa e Hagen ocorreu em dois dias. No primeiro duelo, os alemães venceram pela diferença de um ponto. Na segunda partida, o clube brasileiro ficou à frente do adversário por dois pontos. Com o empate de vitórias, houve um terceiro confronto, em que os sogipanos levaram a melhor. Com vantagem de seis pontos, mantiveram o troféu do Mundial no país. Sogipa como protagonista Também diretor de punhobol da CBDT (Confederação Brasileira de Desportos Terrestres), Süffert afirma que a Sogipa foi protagonista no processo de internacionalização desta prática esportiva. Segundo ele, o clube transformou a modalidade em dois aspectos: na formação tática e em relação à bola usada nas competições. Para vencer os times estrangeiros nos anos 80, a equipe teve que pensar em uma fórmula de jogo que fosse mais adequada aos atributos dos seus atletas. Por volta de 1984, a estratégia mais utilizada por cerca de 90% dos times de punhobol era a formação em “X”. Na Argentina, alguns atuavam com a tática conhecida como “V”. Muito semelhante ao “V” argentino, a Sogipa foi a precursora do chamado “U”, que logo sofreu a disseminação aos outros grupos. Atualmente, explica Süffert, a maioria atua no punhobol em “W”, uma pequena variação do “U” criado pelo clube sogipano: “Acho que mudou muito a característica do jogo a partir daí. E essa foi uma adaptação natural. Não foi pensado por ninguém”. Outro avanço que contou com a con-
tribuição da Sogipa foi a padronização das bolas nas competições oficiais. Até 1991, em cada partida de punhobol os desafiantes levavam o próprio material de jogo. Geralmente, essas equipes carregavam bolas velhas. Com o tempo, por causa da graxa que era passada no couro, as pelotas ficavam mais lisas. Portanto, deslizavam bastante e tornavam os duelos mais rápidos. Aí estava o problema para as confederações. Como dispor Equipe feminina venceu nas competições ofiprimeiro Mundial de ciais de bolas novas Clubes em 2005 e que estivessem de acordo com a característica do esporte? O treinador conta como os atletas treinam para os campeonatos chegaram à solução: “Conseguimos desen- sem a certeza da presença neles”, comenta volver uma bola que deslizasse na grama, sem Süffert. Para ele, a pequena divulgação do ser velha. Ela era lixada e polida, como se fos- esporte e o número reduzido de equipes e se uma calça jeans pré-lavada. E isso ajudou participantes devem-se ao processo tardio muito para criar um padrão. Claro que hoje de organização da modalidade – a criação temos técnicas mais avançadas”. da Confederação Mundial é de 1961, o primeiro Mundial de Seleções vai aconteDesafios cer em 1968 e primeiro Mundial IntercluApesar de o Brasil ter a equipe mais bes oficial é de 1984. “Em função disso, vitoriosa no esporte, as dificuldades para acredito que o esporte perdeu um acesso os atletas são muitas. A principal é a ques- mais fácil ao movimento olímpico”, finatão financeira. Um dos exemplos é o Cam- liza o dirigente. peonato Mundial de Seleções realizado na Áustria. Pouco antes da competição, a de- * Laion Espíndula é formado em legação brasileira não sabia se teria condi- Jornalismo pela PUCRS e atua na ções para custear a viagem. “Muitas vezes, editoria de Esporte de O Sul COMO É O ESPORTE
Em 2011, para comemorar o centenário, a Sogipa inaugurou o Museu do Punhobol
O punhobol é semelhante ao vôlei. Entre as diferenças, está que a bola é tocada com os punhos, em uma quadra de grama com maior dimensão. São cinco jogadores para cada lado e uma rede ou cabo com altura de 2 metros divide o campo. Antes de cada toque, a bola pode picar até uma vez no chão. São permitidos três passes por equipe. Mas aí está um detalhe: o mesmo jogador não pode participar duas vezes da jogada. Diferente do vôlei, em que um atleta pode apoiar e receber a bola de volta.
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Esportes
A Legalidade e o Gre-Nal número 156 Em 1961, o clássico que deciria o turno do Gauchão precisou ser adiado devido à crise política instaurada com a renúncia do presidente Jânio Quadros. O Movimento da Legalidade queria garantir a posse do gaúcho Jango. No Rio Grande do Sul, o futebol assistia a tudo em ebulição
dem constitucional vigente. Esta queda de plo, em São Paulo, geograficamente mais braço perdurou por 13 dias, até a posse de próxima do centro da crise, os jogos se res pessoas com mais de 50 anos cer- Jango em 07 de setembro de 1961, que só alizavam apesar dela. Em outras palavras, tamente têm conhecimento do as- aconteceu após articulações políticas que foi como colocar água fria na fervura. sunto que abaixo será relatado. No mês alteraram o regime de presidencialista Com o acirramento do conflito, o de agosto de 1961, o Brasil foi sacudido para parlamentarista. que no início teria causado contrariedade, de norte a sul com a notícia da renúncia É redundância afirmar que o coti- acabou ganhando apoio. Pode-se obserdo recém-eleito presidente da República diano, principalmente o dos gaúchos, var este sentimento lendo o que escreveu Jânio Quadros. Esta sofreu alterações em o cronista esportivo do jornal Diário de renúncia traz uma todos os segmentos Notícias, do dia 29 de agosto de 1961, O título foi transferido sucessão de aconteda sociedade, e entre Walie Salomão: “Desde que teve início por causa da situação cimentos que marcaesses, o esporte, nosso o Campeonato Gaúcho, esta semana pela política instável. Em ram profundamente foco. A realização de primeira vez os torcedores não disseram a nação. Vamos aos um clássico Gre-Nal presente. Os estádios emudeceram. O outras palavras, foi fatos. Jânio Quadros possuía nesta época Colosso do Olímpico que se preparara, como colocar água foi eleito com a maior uma dimensão certa- no afã de ser o cenário, talvez do maior fria na fervura votação que um canmente maior do que espetáculo esportivo da história dos pamdidato a presidente em nossos dias. E isto pas, o Gre-Nal 156, naquela tarde não da República recebeu até então. Durante é explicado considerando que os clubes passou de um gigante adormecido. Ah, os poucos meses que presidiu o Brasil (de de ponta de nosso Estado, disputavam os motivos! Eles estão aí palpitantes, no 31 de janeiro a 25 de agosto), mostrou um com reais chances de ganhar, somente o burburinho das ruas, no recesso dos lares, perfil populista e certa independência na Campeonato Gaúcho. O título gaúcho na vigília sagrada de um povo que marcou política externa, o que desagradou alguns era o que se conseguia ganhar no período encontro com aqueles mesmos gestos, anparceiros comerciais, principalmente os de um ano, pois um Gre-Nal que deveria seios e supremos ideais que plasmaram a EUA. ser disputado no dia jornada de 30. De“Depois sim voltaremos pois sim voltaremos Após sua renúncia, deveria assumir o 27 de agosto de 1961, vice-presidente eleito, o gaúcho João Gou- isto é, no meio da ao estádio para o nosso para o estádio para o lart, mais conhecido como Jango. Devido crise, foi transferido nosso Gre-Nal 156, Gre-Nal 156, com a a suas posições de simpatia ao socialismo, por causa da situação com a tranquilidade tranquilidade dos que iniciou-se um movimento político/mili- política instável. Este dos que cumpriram o tar para impedir a sua posse. Para agravar clássico de número dever. Voltaremos aos cumpriram o dever” a situação, Jango estava realizando uma 156 decidiria o camnossos estádios para viagem oficial a China Comunista. Com peão do primeiro turno do campeonato novas rodadas, com o agradecimento nos a pressão para que Jango não fosse em- estadual daquele ano. lábios. Obrigado Gal. José Machado Lopossado, o governador do estado do Rio Segundo o mestre em história e pro- pes, obrigado Gov. Leonel Brizola.” Grande do Sul à época, Leonel Brizola, fessor Ney Eduardo Possap D’Avila, a O também cronista esportivo do joriniciou um movimento cívico/militar co- transferência do jogo causou muito des- nal Última Hora, Godoy Bezerra na sua nhecido como Movimento da Legalidade. contentamento junto às torcidas e aos or- coluna “Entrando de Sola” escreveu o seO objetivo era garantir a posse do vice- ganizadores do evento. A própria crônica guinte: “Muitos não aceitaram com agrado presidente eleito constitucionalmente, esportiva da época, em um primeiro mo- a determinação da suspensão das atividaimpedindo desta forma, a quebra da or- mento criticou a medida, pois, por exem- des futebolísticas, oriundas do Conselho
Luis Roberto Saraiva
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Regional de Desportos, do que resultou a sigente defensora dos princípios e dos pos- data remarcada, no estádio Olímpico, às transferência do Gre-Nal. A providência tulados constitucionais vigentes. Aneron 15h30min. O clássico foi vencido pelo S. deveria ter sido tomado com maior an- C, de Oliveira”. C. Internacional pelo placar de 2 a 1. Os tecedência, pois, com isso teria evitado gols foram assinalados por Gilberto aos a locomoção de numerosas caravanas do Turfe se posiciona 27 minutos do 1º tempo e Alfeu aos 33 interior, que desta vez, ao contrário das O segundo esporte de maior cober- minutos do 2º tempo, descontando para o anteriores, vieram em vão a Porto Alegre. tura pelos veículos de comunicação era o Grêmio Paulo Lumumba aos 17 minutos Outras atividades públicas não foram sus- Turfe. E este também se posicionou dian- da etapa final. A arbitragem apresentou pensas. Mas vamos convir, nenhuma delas te dos graves acontecimentos políticos um trio argentino, tendo o Senhor Bruspor suas características próprias poderia do país. No dia 1º de setembro de 1961, ca no apito e Juanola e Nitti como assisser equiparada ao Gre-Nal. No clássico, exatamente uma semana antes da realiza- tentes de linha. O público foi estimado o estado de espírito e a tensão nervosa da ção de uma das mais importantes provas em 30 mil torcedores, com uma renda de massa assistente podo calendário do Jó- Cr$ 3.659.710. deria representar uma quei Clube do RS, o As equipes tiveram as seguintes formações: Segundo esporte de situação para todos Grande Prêmio Pro- Internacional - Silveira, Zangão, Ary Ercílio, maior cobertura na os títulos imprópria tetora do Turfe, teve Kim, Ezequiel, Sérgio Lopes e Osvaldinho, época, o turfe também à hora grave e difícil da parte da diretoria Sapiranga, Alfeu, Telmo e Gilberto; Grêmio que a Nação atravesa seguinte posição: - Henrique, Sérginho, Airton, Gitinha, Ortuse posicionou sa. A transferência “Face à crítica situ- nho, Élton e Milton, Paulo Lumumba, Gessy, diante dos graves representa tensão; ação política atual, Marino e Vieira. No final do clássico, o técnico acontecimentos políticos parece ser bastante gremista Osvaldo Rolla (Foguinho) resumiu o um ingrediente novo a ser incorporado na viável a suspensão das clássico na seguinte frase: “Nós jogamos melhor, história do Gre-Nal. E, mais, do que isso, corridas programadas para a próxima do- mas o Internacional jogou para vencer”. a expectativa para a nova data, é por si só, mingueira. Já foi suspensa a confecção dos Tanto este clássico quanto o Campeooutra atração, que fará perdurar a ansieda- programas. A diretoria da entidade à Rua nato Gaúcho de 1961 produziram dentro de pelo momento do cotejo, pois é sempre Andrade Neves vai deliberar ainda no dia da história do futebol no Estado alegria certo, que o melhor da festa é esperar por de hoje a transferência das provas.” para um lado e tristeza para o outro. Aleela. A maioria dos clubes de Porto Alegre O Jornal Última Hora, noticiou: “O gria para os colorados, que além de vencer solidarizaram-se com Brizola”. Turfe gaúcho estava pela Legalidade: Jó- o seu principal rival, conquistou o primeiO jornal Diário de Notícias do dia quei Clube do RS na resistência”. ro turno e no final daquele ano comemo29 de agosto de 1961 noticiou o seguinte: “Como todo povo gaúcho e brasi- raram a conquista do título. Tristeza para “E. C. Cruzeiro e a dupla Gre-nal solida- leiro, também os profissionais do turfe o lado tricolor, pois se o Internacional não rizam-se com Brizola”. estão vibrando pela tivesse conquistado causa da LegalidaO Gre-Nal da Legalidade, o campeonato de Apoio das entidades de. Aguardam com 1961, o Grêmio teria em setembro, seria Também o esporte gaúcho começou a serenidade os acona maior sequência de disputado no momento se definir favorável à Legalidade. O presi- tecimentos, mas conquistas de camdente do E. C. Cruzeiro, Pinheiro Macha- prontos para o que peonatos estaduais. em que o Estado e o do Neto, e o patrono Ernesto de Primio acontecer. Respeito A equipe da Azenha Brasil começavam uma Beck, bem como jogadores do estrelado, à ordem e bravura havia faturado o tínova etapa estiveram no Palácio Piratini, levando o estão entre os eletulo estadual entre seu apoio irrestrito a causa da Legalida- mentos de sua for1956 a 1960, o pende. Mais tarde também os presidentes da mação como bons gaúchos e brasileiros.” tacampeonato. Depois da derrota de 61, dupla Gre-Nal, respectivamente Pedro da teve outra grande série de vitórias, de 1962 Silva Pereira e Luiz Fagundes de Mello, Gre-Nal com nova data a 1968 o heptacampeonato. Esta sequência efetuaram uma visita ao Palácio Piratini O clássico Gre-Nal, número 156, foi foi superada pelo Colorado entre os anos com as mesmas intenções, colocando o transferido do dia 27 de agosto de 1961 de 1969 e 1975, o octacampeonato. governador a par da decisão tomada, qual para o dia 10 de setembro de 1961. Esta O Gre-Nal da Legalidade realmente seja, a de solidarizar-se com as forças de- iniciativa foi saudada pela crônica espe- deve ser lembrado e comemorado com infensoras da Legalidade. cializada como um Gre-Nal que além de teresse por aqueles que gostam de futebol, Também a entidade matenedora do decidir o primeiro turno do título gaúcho, pois foi um fato que ajudou a alimentar os futebol gaúcho à época, a FRGF, pronun- também seria disputado no momento em meios de comunicação daqueles dias. cia-se pela vigência da constituição: “A que o Rio Grande do Sul e o Brasil comeCom relação aos acontecimentos podiretoria da Federação Riograndense de çavam uma nova etapa de suas existências. líticos, sabemos que estes e seus desdobraFutebol, reunida, sob a presidência do Sr. Agora com um presidente finalmente mentos, serviram de combustível para o Aneron Correa de Oliveira tomou impor- empossado e um regime não mais presi- que aconteceu em 31 de março de 1964, tante decisão tendo em vista os aconteci- dencialista, e sim parlamentarista, tendo o golpe militar. mentos que se desenrolaram no país, desde Tancredo Neves como primeiro minisa renúncia do presidente Jânio Quadros, tro. Informações político-institucionais * Luis Roberto Saraiva é formado manifesta e proclama a sua posição intran- à parte, o clássico 156 foi disputado na em História pela UFRGS
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fotos de arquivo pessoal
Final de vôlei feminino: à esquerda da rede, as meninas do Colégio Americano; à direita, Zulena (9), Tania, Beatriz, Diva (10) e Diná (ao fundo)
Eventos
Olimpíada Metropolitana dos Secundários Rafael Sirangelo Eccel
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o ano de 1959 foi realizada em Porto Alegre a terceira edição da Olimpíada Metropolitana dos Estudantes Secundários. O evento foi promovido pela União Metropolitana dos Estudantes Secundários de Porto Alegre (Umespa), através de sua Secretaria de Esportes, e organizado pela Liga Esportiva Gaúcha dos Estudantes Secundários (Leges). Entre 9 e 23 de maio, estudantes de 23 instituições de ensino participaram de competições de atletismo, futebol, tênis, basquete, lance livre e vôlei. Os jogos qualificavam os atletas a representar a Umespa na Olimpíada Estadual, que se realizaria em Lajeado na segunda metade do mês de julho, durante as férias escolares. A solenidade de abertura aconteceu em uma tarde de sábado, no Estádio José Carlos Daudt, da Sociedade Ginástica Porto Alegre (Sogipa), com um cerimonial típico de grandes eventos. Entretanto, o protocolo foi quebrado logo de início, já que a banda contratada não compareceu.
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A organização do evento aguardou até as 15h e então deu início ao desfile dos colégios participantes. Embora não influísse na contagem geral dos pontos, o desfile de abertura tinha caráter competitivo, e a Escola Normal 1º de Maio foi proclamada vencedora por uma comissão julgadora composta pelo presidente da Umespa, José Pedro Carlan Martins, pelo presidente do Conselho Metropolitano dos Estudantes Secundários, Edison Ward Caldeira, e pelos representantes do governador do Estado e do prefeito municipal. Logo depois ocorreu a chegada do fogo simbólico, conduzido pelo atleta Carlos Alberto Bertolace, do Colégio Ruy Barbosa. Segundo os relatos, uma multidão acompanhava a abertura do evento. Assim publicou a revista Panorama Esportivo, na reportagem intitulada “Um sucesso os III Jogos Olímpicos dos Secundaristas”, de José Antônio Cruz de Módena: “Em pleno silêncio foi inflada a Pira Olímpica e, a seguir, todos os presentes entoaram, numa só voz, o Hino Nacional”.
Depois do juramento do atleta, proferido pela campeã sul-americana de natação Lísia Barth, do Colégio Júlio de Castilhos, tiveram início as competições de atletismo. O Colégio Nossa Senhora do Rosário venceu quatro das cinco provas em disputa. Sóstenes Cardoso foi o mais rápido nos 1.500 metros rasos e Belmiro Helena, nos 100 metros rasos. Ricardo Puhl venceu as provas de salto em altura e salto em distância, e apenas em arremesso de peso o Colégio Ruy Barbosa foi o melhor, através do atleta Rubem Bertolucci. Na contagem de pontos por equipe, entretanto, o Instituto Porto Alegre (IPA) chegou à frente do Colégio Ruy Barbosa, que subiu ao pódio apenas uma vez. O IPA foi mais regular, conseguindo três medalhas de prata e três de bronze. A educação física Com exceção feita ao vôlei, onde as disputas entre homens e mulheres eram realizadas em paralelo, as demais modalidades eram estritamente masculinas. A atleta Diva Santiago Corrêa, da equipe de
vôlei feminino do Instituto de Educação, explica: “Não havia nas escolas um trabalho para que pudesse ser realizada uma olimpíada feminina com os outros esportes. Então, eles incluíam o vôlei porque era o que se jogava”. Ao longo da vida, Diva praticou natação, vôlei, basquete e tênis, sempre envolvida em competições. Enquanto cursava a Escola Normal no Instituto de Educação Flores da Cunha, na segunda metade dos anos de 1950, treinava vôlei e basquete no Grêmio Náutico União (GNU) e disputava campeonatos brasileiros das duas modalidades pelas respectivas seleções gaúchas. Diva concluiu os estudos no Instituto de Educação e ingressou na Escola de Educação Física (Esef ) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A partir de 1962, passou a fazer parte da seleção brasileira de vôlei, pela qual conquistou o Sul-Americano realizado no Chile. No ano seguinte, representou o Brasil nos Jogos Mundiais Universitários (Universíade), em Porto Alegre, onde foi novamente campeã. Hoje aos 73 anos, a professora aposentada pela Esef continua em plena atividade. Treina e compete em três categorias master de vôlei: 55, 60 e 70 anos. O ingresso no GNU, no início da adolescência, fez com que tomasse gosto pela prática esportiva, ao contrário da imensa maioria de suas contemporâneas, cujo contato com o esporte vinha da escola, onde era limitado ao vôlei: “Não tinha esporte nos colégios. A gente até fazia aula de atletismo, mas não tinha outros esportes. Os professores não tinham qualificação para dar isso. Eram muito bons, eram disciplinadores, mas não eram qualificados para dar outras coisas”. As finais de vôlei A equipe de vôlei feminino do Instituto de Educação entrou na III Olimpíada Metropolitana buscando o tricampeonato. Depois de superar três adversárias nas fases eliminatórias, chegou à final contra as meninas do Colégio Americano e venceu por 2 a 0, com parciais de 15 a 7 e 15 a 7. O jogo decisivo se deu numa noite de sábado 23 de maio, data de encerramento do evento, no Palácio de Esportes do Grêmio Náutico União lotado. Nas arquibancadas havia uma clara divisão. Os rapazes do Colégio Rosário torciam pelo “sexteto da Avenida Osvaldo Aranha” enquanto seus tradicionais adversários, do IPA, incentivavam as meninas do Colégio Americano. A noite de
encerramento previa ainda a decisão de vôlei masculino, entre Rosário e Ruy Barbosa, e a de basquete, entre Rosário e IPA. “Em síntese o índice técnico foi regular, visto que a maioria das equipes participantes apresentou jogadas normais e infantis, o que não acontecia com o quadro do Instituto de Educação, que apresentou valores individuais superiores aos das outras equipes”, publicou a revista Panorama Esportivo sobre a competição de vôlei feminino. Segundo Diva, não era obra do acaso: “Tinha uma professora que era ótima, Ondina Flores Soares. A dona Ondina não era jogadora, mas ela adorava isso, e ela fazia a gente jogar. Foi aí que começou o nosso time, com a Tania, a Zulena, a Beatriz, a Diná e a Regina. Foi a dona Ondina que desenvolveu o voleibol no Instituto de Educação, e a gente conseguiu se destacar no âmbito porto-alegrense. Lembro que o Americano era o nosso adversário, mas a gente geralmente ganhava, porque o nosso time era mais completo”.
“Um encontro verdadeiramente sensacional”, assim o jornal Folha Esportiva qualificou o último capítulo da III Olimpíada Metropolitana dos Estudantes Secundários No vôlei masculino, a derrota do IPA para o Colégio Concórdia na primeira fase da competição aparentemente deixou caminho livre para o Colégio Rosário. A surpresa positiva, entretanto, foi a equipe do Colégio Ruy Barbosa – que, apesar de desacreditada, chegou até a final. Tratado pelo jornal Folha Esportiva como “um dos mais empolgantes encontros de volleyball que temos assistido ultimamente”, o jogo decisivo entre Rosário e Ruy Barbosa obrigou o primeiro a desdobrar-se para conquistar o título. O set inaugural foi vencido pelos rosarienses por 15 a 4, mas o Ruy Barbosa igualou ao vencer o segundo por 17 a 15. No terceiro e decisivo set, prevaleceu a superioridade técnica do Rosário, que finalizou a partida com 15 a 2. A decisão do campeonato de basquete entre Rosário e IPA, última atração antes da entrega dos prêmios, era aguardada com grande ansiedade. O IPA defendia o título e, além disso, buscava a recuperação dentro dos jogos — já que, até então, seu tradicional adversário havia conquistado os títu-
los de atletismo, tênis (simples e duplas) e vôlei. O IPA conquistara o primeiro lugar apenas no campeonato de lance-livre. Se as modalidades coletivas conquistaram atenção e interesse do público, as individuais nem tanto. As disputas de tênis, simples e duplas, foram acompanhadas por pouquíssima gente, e constituíram-se na grande decepção das Olimpíadas Secundaristas. Vários atletas não compareceram e partidas foram vencidas por WO. Na final do simples, João Bohrer, do Colégio Rosário, superou De La Casa, do IPA, por 2 a 0, parciais de 6 a 4 e 6 a 0, ficando com o título. Na categoria duplas, nova vitória do Rosário, na qual Ronaldo Machado e João Bohrer venceram na final Thomas Koch e L. Fonseca, do Colégio Farroupilha, por 2 a 1, parciais de 4 a 6, 6 a 2 e 6 a 3. Pouco interesse também gerou o campeonato de lance-livre, onde apenas quatro escolas se inscreveram: Júlio de Castilhos, Ruy Barbosa, Rosário e IPA. Individualmente, Paulo Sperry, do IPA, foi o campeão, convertendo 17 arremessos em 20 lances. Coletivamente, o IPA também foi superior, deixando o rival Rosário na segunda colocação. Futebol com bom público O campeonato de futebol, por sua vez, atraiu um bom público desde a fase classificatória. Surpresas marcaram a competição, através da eliminação prematura das duas grandes forças da época. Tido inicialmente como candidato ao título, o Ginásio Emílio Meyer foi batido nas quartas de final pela equipe do Colégio Nossa Senhora das Dores por 2 a 1. O outro favorito, o Rosário, caiu nas semifinais para o Ruy Barbosa, também por 2 a 1. A final foi entre Ruy Barbosa e Dores, que havia goleado o IPA por 5 a 0 na outra semifinal. Sobre a vitória do Ruy Barbosa por 3 a 1 e a consequente conquista do título, José Antônio Cruz de Módena publicou: “Um quadro modesto e construído à base do esforço de uma equipe representou o Colégio Ruy Barbosa. Mal sabiam eles que ao final da Olimpíada trariam para si o título de campeões. Campanha espetacular desenvolveram os pupilos do professor Clóvis, pois entre os esquadrões que tombaram diante do ‘velho Ruy’ encontrava-se o poderoso onze rosariense, que de poderoso agora não é nada. O exemplo do Ruy Barbosa veio demonstrar que a máscara e a fama não vencem partidas. Vão longe os meninos do Ruy...”. Os árbitros escalados para as partidas
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pertenciam ao quadro especial da Federação Rio Grandense de Futebol (FRGF). Depois de algumas rodadas, porém, negaram-se a prosseguir em função das críticas que vinham recebendo. O secretário de Esportes da Umespa, que acumulava o cargo de vice-presidente da Leges, Édison Viola Brenner, declarou à época, em entrevista à revista Panorama do Esporte: “Após muita luta conseguimos para as partidas de futebol o concurso de árbitros do quadro especial da FRGF, que nada cobrariam para nós. Entretanto, recusaram-se a apitar após sofrerem críticas de elementos que de futebol nada sabem. O que mais lamento é que este elemento, secundarista, por sinal, prejudicou aos quadros, pois não é a qualquer hora que se consegue pessoas capacitadas para apitarem jogos de futebol”. Brenner foi conduzido ao cargo de secretário de Esportes da Umespa apenas 30 dias antes do evento. A falta de iniciativa de seu antecessor desgostou os dirigentes, que viram no até então vice-presidente da Leges a liderança necessária para congregar as duas entidades e, em pouco tempo, motivar os grêmios estudantis e realizar a Olimpíada. A decisão de basquete A mais forte rivalidade esportiva do meio secundarista porto-alegrense se manifestava intensamente nas arquibancadas do Ginásio do Grêmio Náutico União. Ruidosas torcidas saudaram as equipes na entrada em quadra para a grande final do campeonato de basquete. De um lado o Rosário, líder isolado na contagem geral de pontos, grande sensação das Olimpíadas, de astral elevadíssimo, apesar do desconforto sofrido pela eliminação precoce no campeonato de futebol. Do outro, o IPA, que brigava sobretudo para manter a hegemonia no chamado ‘esporte elegante’, mas também buscava uma recuperação nos jogos, já que vinha sendo suplantado pelo rival quase que na totalidade das competições. Ao longo do torneio, o Rosário eliminou os colégios Machado de Assis, Ruy Barbosa e Júlio de Castilhos. O IPA, por sua vez, venceu o Concórdia, o Ginásio da Paz e o Inácio Montanha, chegando à final sem muito desgaste, dada a modéstia das equipes com que se defrontou. “Um encontro verdadeiramente sensacional”, assim o jornal Folha Esportiva qualificou o último capítulo da III Olimpíada Metropolitana dos Estudantes Secundários. O jogo começou bastante disputado,
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Diva sobe mais alto, observada por Zulena, contra o Colégio Americano com a equipe do Rosário tomando a iniciativa, impondo o ritmo. Mesmo assim, os instantes iniciais foram equilibrados, com as duas equipes alternando-se na frente. Nenhuma delas, contudo, conseguia abrir mais de três pontos de vantagem. À medida que o tempo passou, jogando um basquete mais técnico, o Rosário conseguiu, a partir de seu 18º ponto, manter-se sempre na frente, conquistando uma vantagem que, ao final do primeiro tempo, estava em cinco pontos: 38 a 33. O IPA, se não possuía a mesma técnica do adversário, esbanjava vontade. Voltou para a segunda etapa disposto a reverter o quadro. Diante da dificuldade, nunca esmoreceu, mesmo quando, ao final do jogo, o rival abriu dez pontos de vantagem. Os últimos minutos foram tensos. Édison, do IPA, cometeu falta desclassificante em Raul, do Rosário, até então o melhor jogador em quadra. Raul chegou a ficar de-
sacordado por alguns momentos. Scarpini, do Rosário, foi eliminado do jogo pelo mesmo motivo. Antoninho, outro gigante, e Carlos, ambos do Rosário, excederam o limite de faltas e foram substituídos, bem como Nelson, do IPA. Era 0h40min de domingo quando terminou o jogo, com vitória do Rosário por 79 a 71. Seguiu-se a entrega de prêmios e troféus aos campeões. Na contagem geral dos pontos, supremacia rosariense quase que absoluta. Com 61 pontos, o Colégio Nossa Senhora do Rosário foi o campeão. Em segundo lugar, o IPA, com 37,5 pontos, e em terceiro, o Colégio Ruy Barbosa, com 19. “O Rosário era um colégio que pegava alunos bons em esportes e ajudava com bolsas de estudos, então, os alunos iam estudar lá e reforçavam as equipes”, Diva recorda. * Rafael Sirangelo Eccel é formado em Jornalismo pela FAMECOS/PUCRS
Eventos
A história de nossas derrotas O Brasil que perde para ele mesmo e as justificativas para os fracassos da seleção nas Copas do Mudo. Como as derrotas são explicadas e quem é responsabilizado pela atuação abaixo das expectativas. Gustavo Andrada Bandeira
O
treinador Dunga dividiu com o volante Felipe Melo o protagonismo da eliminação brasileira da Copa do Mundo de 2010 na África do Sul. A ênfase na formatação tática europeia e a renúncia da convocação dos jovens Neymar e Ganso aumentaram a responsabilidade do treinador. Felipe Melo, jogador símbolo da equipe, dividiu a culpa com o capitão do tetra. Apesar do passe primoroso para o gol de Robinho, o choque com o goleiro Julio César, que marcou o primeiro gol contra do Brasil na história das Copas, e a expulsão após a agressão ao holandês Robben marcaram o volante como um novo vilão. E quais seriam os velhos vilões? Como o Brasil explica suas eliminações nas Copas do Mundo? A rixa entre paulistas e cariocas foi a primeira responsável pelo mau desempenho brasileiro em uma Copa do Mundo. Em 1930, a Associação Paulista de Esportes Atléticos (APEA) vetou a participação de atletas paulistas na competição, pois apenas cariocas faziam parte da comissão técnica. Os paulistas chegaram a comemorar a derrota da seleção “carioca” para a Iugoslávia por 2 a 1. Desorganização e rixa também participaram da derrota em 1934. A Confederação Brasileira de Desportos (CBD) decidiu levar apenas atletas amadores. Os 17 jogadores viajaram em cima da hora e não tiveram tempo para treinamento. A seleção foi eliminada na primeira partida, diante da Espanha. Em 1938 o Brasil teve seu primeiro bom desempenho em uma Copa do Mundo. Como o terceiro lugar na época não foi exatamente uma derrota, a única reclamação ficou por conta do pênalti cometido por Domingos da Guia que foi decisivo para a vitória da seleção italiana na semifinal.
Tragédia e interferência: os novos problemas A primeira grande derrota da seleção brasileira aconteceu no Maracanã, em 16 de julho de 1950. Na principal derrota da nação no futebol apareceram os primeiros culpados individuais. Os negros Bigode, do Flamengo, e Barbosa, do Vasco, ficaram para sempre marcados pelo suposto erro técnico que determinou a inesperada derrota brasileira de virada para o Uruguai. Na Suíça, em 1954, a desconfiança e a responsabilidade pós-1950 acabaram dificultando o desempenho brasileiro. A acusação de falta de “raça” na Copa anterior fez com que os atletas acabassem abusando da violência na derrota para a excelente seleção da Hungria. Após o bicampeonato 1958-62, a desorganização e a interferência de fatores externos novamente protagonizaram a explicação da derrota. O técnico Vicente Feola teria sido voto vencido na escalação da equipe que acabou eliminada contra Portugal de Eusébio. Espetáculo ou resultado? Zagallo permaneceu no comando técnico do selecionado canarinho, após a conquista do tricampeonato em 1970. A responsabilidade da derrota para a Holanda caiu no colo do treinador e em sua teimosia por um esquema defensivo que não atendia as tradições brasileiras. A Copa do Mundo de 1978, na vizinha Argentina, deu ao Brasil um título inédito, o de “campeão moral”. Mais uma vez a tradição brasileira foi renunciada em benefício do que se chamava de “eficiência europeia”. A dor mais próxima da sentida em 1950 foi a tragédia do Sarriá, em 5 de julho de 1982. A seleção de craques comandada por Telê Santana acabou sucumbindo ao imponderável e foi eliminada pela Itália de Paolo Rossi. A seleção que encantou a todos por sua forma
“brasileira” de atuar voltou a colocar um personagem como responsável pela tragédia. O excelente volante Cerezo errou um passe que acabou resultando em um dos gols italianos. Em 1986, Telê e os remanescentes queriam vencer antes de apresentar a “essência do futebol brasileiro”. A maior responsabilidade caiu nas costas de Zico. Ele errou um pênalti contra a França no tempo normal. A equipe acabou eliminada nas penalidades. A time comandado por Sebastião Lazaroni primava pelo pragmatismo e burocracia, em 1990. Outra vez, a renúncia ao estilo brasileiro de jogar futebol foi entendida como principal culpada pelo fracasso na Copa do Mundo. O volante Dunga, tal qual Felipe Melo em 2010, ficou como o responsável pela campanha insatisfatória na Itália. A derrota por 3 a 0 para a França, em 1998, foi diretamente relacionada à crise nervosa de origem desconhecida do atacante Ronaldo no dia do confronto. O caso virou alvo de uma CPI no Congresso Nacional que investigou se a fábrica de material esportivo Nike teria obrigado a escalação do jogador naquela partida. A preparação para a Copa do Mundo de 2006, na Alemanha, foi a grande responsável pelo mau desempenho brasileiro. Jogadores acima do peso e participando de festas até altas horas da madrugada foram os principais culpados pelas dificuldades da equipe, que novamente foi eliminada pela França. Da falta de organização passando pelos erros individuais de atletas, a interferência de fatores externos e a renúncia pela “essência do futebol brasileiro”, muitos foram os motivos e os culpados por nossas derrotas. Ousaria afirmar que alguns personagens não tiveram o merecido destaque como principais responsáveis por nossas eliminações, entre eles Ghiggia, Eusébio, Cruyff, Daniel Passarella, Paolo Rossi, Michel Platini, Maradona, Zinedine Zidane, Sneijder. * Gustavo Andrada Bandeira é pedagogo, mestre em educação pela UFRGS e servidor federal na mesma universidade
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Arbitragem
O árbitro no rugby O desenvolvimento da arbitragem em um dos esportes mais praticados no mundo
Reprodução
Ricardo Sant’Anna
A
origem mais aceita para o rugby emana da Rugby School, Inglaterra, onde em 1823, um aluno da escola chamado William Webb Ellis, durante uma partida de futebol, pegou a bola com as mãos e correu em direção ao gol adversário, tentando ser contido tanto por oponentes quanto por companheiros do próprio time. O feito desde aluno, desmotivado com o futebol jogado na sua época, entrou para história como origem de um dos esportes mais praticados atualmente em todo o mundo. Desde esta data, porém, o rugby sofreu diversas alterações na sua maneira de ser jogado e nem sempre um árbitro esteve envolvido para comandar o espetáculo. Durante os primeiros anos, a figura do árbitro não fazia parte do jogo, sendo as regras e as decisões feitas em Primeira expulsão em uma partida internacional de rugby, em 1925 conjunto pelos capitães das duas equipes, que entravam em acordo antes da partida sobre de 1891 a 1906, os árbitros foram ganhando e os árbitros australianos Kevin Crowe e Craig quais regras iriam ser aceitas e, juntos, toma- cada vez mais autoridade para comandar par- Ferguson foram acusados de notoriamente vam as decisões durante o jogo quando ne- tidas internacionais. Começaram a usar apitos beneficiar o país local. Essas disputas e queixas cessário. No entanto, pela primeira vez em continuaram até 1975, quando o escocês Scot No início, a figura do muitas vezes os dois ca1885, enquanto que os Norman Sanson foi o primeiro árbitro neutro pitães eram incapazes árbitro não fazia parte do juízes de linha primei- a dirigir uma partida no hemisfério sul, tendo de concordar sobre um ro usavam bengalas, arbitrado África do Sul e França na cidade suljogo. As decisões eram tema e dois árbitros que depois foram subs- africana de Bloemfontein. A partir desta data, tomadas pelos capitães foram introduzidos no tituídas por bandeiras. árbitros neutros em qualquer partida internajogo, cuja função era A partida entre cional passou a ser uma tradição, até que em das duas equipes decidir apenas as quesInglaterra e Escócia, em 2007 o Sul-Africano Jonathan Kaplan quebrou tões em discórdia. Inevitavelmente, esses dois 1882, foi a primeira a ter um árbitro neutro, ou essa tendência, tendo dirigido a partida entre árbitros não chegavam a um acordo em deter- seja, de uma nacionalidade diferente da dos pa- África do Sul e Namibia na Cidade do Cabo. minadas situações e várias vezes eram acusados íses que se enfrentavam. Coincidentemente, foi A foto (acima) mostra o primeiro jode agir de forma tendenciosa. Para resolver neste jogo que acontegador expulso de uma Entre 1891 e 1906, isso, um árbitro “central” foi introduzido para ceu a primeira vitória de partida internacional. decidir as questões que os dois capitães não um país visitante, tendo O feito coube ao neoos árbitros ganharam conseguiam resolver e que os outros dois árbi- a Escócia ganho na cizelandês Cyril Brownmais autoridade para tros não chegavam a um acordo. Esse sistema dade inglesa de Manlie que foi expulso pelo comandar as partidas confuso foi facilmente resolvido quando final- chester. A partir desta árbitro galês Albert mente foi dado o direito ao árbitro “central” data, árbitros neutros Freethy durante a parinternacionais de tomar as suas próprias decisões, com os dois começaram a comandar tida Inglaterra e Nova árbitros originais sendo transformados em ju- partidas internacionais no hemisfério norte, Zelândia no estádio Twickenham, Londres ízes de lateral. Posteriormente, esse nome foi o que não se repetia no hemisfério sul, muito em 1925. Apesar de contar com um jogador mudado para “juízes de linha” e hoje em dia provavelmente devido ao fato das dificuldades a menos, a Nova Zelândia ganhou a partida são chamados “árbitros assistentes”. de viajar de um país ao outro. Porém, queixas de com o placar de 17 a 11. Quando se jogou a primeira partida in- arbitragens tendenciosas começavam a aconternacional, em 1871, dois árbitros ainda con- tecer cada vez que um país visitava outro no * Ricardo Sant’Anna é formado em trolavam o jogo, sendo o árbitro “central” ape- hemisfério sul. Um exemplo disso ocorreu em Educação Física pela UFRGS e árbitro nas introduzido em 1876. Logo, no período 1965, quando a África do Sul visitou a Austrália da Confederação Brasileira de Rugby
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Arbitragem
Bandeira erguida contra o preconceito Número de árbitras e assistentes mulheres que comandam decisões estaduais aumenta Luiza Naujorks Reis
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ntre os 13 estados do Brasil que tiveram finais em seus campeonatos estaduais, apenas o campeonato paulista contou com uma árbitra assistente em suas decisões. Tatiane Sacilotti dos Santos Camargo atuou como bandeirinha número dois, ao lado do também assistente David Botelho Barbosa e do árbitro Luiz Flavio de Oliveira. Tatiane atuou no segundo jogo entre Santos e Corinthians, no qual o Santos sagrou-se campeão. Hoje, no Brasil, quase todas as federações já contam com mulheres em seu quadro de arbitragem. Porém, é a Federação Paulista de Futebol (FPF) que tem o maior quadro feminino: 21 mulheres. Mesmo assim, é muito recente o fato de mulheres atuando em decisões de campeonatos estaduais das divisões principais. Em 2003, a então árbitra assistente Fifa Ana Paula de Oliveira atuou na final do Campeonato Paulista entre São Paulo e Corinthians, juntamente com o árbitro Sálvio Espínola e o assistente Marinaldo Silva. O fato ficou conhecido como algo inédito para a mulher brasileira. Desde a estréia das mulheres em decisões do Paulistão, a FPF mantém esse padrão em suas finais. Os campeonatos de 2004, 2007 e 2010 também tiveram mulheres trabalhando nas laterais do campo. A Federação Mineira de Futebol (FMF) também já mostrou que suas árbitras assistentes têm potencial. Na final do Campeonato Mineiro de 2009, entre Atlético-MG e Cruzeiro, a árbitra assistente da Fifa Katiuscia Mendonça compôs o trio em conjunto com Leonardo Gaciba e o assistente Carlos Berkenbrock. CBF Foi apenas na década de 1990, quando surgiram os campeonatos internacionais fe-
mininos oficiais, que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) criou um quadro exclusivo para árbitras. Mas, logo no início, esse trabalho era restrito apenas para partidas femininas. Hoje, as mulheres têm a possibilidade de integrar o quadro chamado como masculino da CBF, tendo como maior empecilho o teste físico. Para estar neste quadro as mulheres devem executar o mesmo teste físico que os homens, fato que não acontece para o ingresso no quadro feminino, no qual os índices são diferenciados. Em 2010 a lista da CBF contava com 65 mulheres no quadro feminino e 9 no quadro masculino, sendo essas últimas todas árbitras assistentes. A Federação Gaúcha de Futebol (FGF) conta com cinco mulheres em seu quadro de árbitros de 2011. Todas são assistentes. Destas, apenas duas trabalham no Campeonato Gaúcho da primeira divisão. Mulher e seu espaço Os homens dominaram o esporte há muito tempo com status, força e poder, enquanto a mulher restava a imagem de
frágil, bonita e submissa. Somente a partir da década de 60, após os protestos de mulheres que queimaram seus sutiãs em praça pública, surgiu o feminismo. Depois de muita luta, apenas recentemente é possível observar certa igualdade na sociedade. Hoje, o esporte, inclusive o futebol, também é coisa de mulher. Pesquisas comprovam que a mulher tem melhor visão periférica em comparação ao homem, levando vantagem na principal função do árbitro assistente: a marcação do impedimento. Além disso, membros de comissões de arbitragem por todo o país dizem que as mulheres são mais perfeccionistas, o que também facilitaria seu trabalho. O senso comum emprega que o lado mãe das mulheres as ajuda a mantê-las no poder. Como diz Silvia Regina em seu blog, o fato é que por serem minoria dentro de um ambiente predominantemente masculino, as mulheres têm maior visibilidade, tanto para erros quanto para acertos. * Luiza Naujorks Reis é professora de Educação Física
O MITO ANA PAULA DE OLIVEIRA
SILVIA REGINA
Árbitra assistente desde 1998, quando se filiou ao quadro de arbitragem da FPF, estreou no campeonato Paulista em 2001 — mesmo ano em que estreou no Campeonato Brasileiro da Série C e da Série A. Em 2005, chegou a trabalhar em alguns jogos da Copa Libertadores. Em 2006, atuou na final da Copa do Brasil no confronto entre Flamengo e Vasco. Ao contrário do que muitos pensam, Ana não foi excluída do quadro de árbitros da Fifa por ter posado nua para uma revista masculina. Ela perdeu o seu escudo em 2007 após ter sido reprovada nos testes físicos. Atualmente trabalha para a Rede Record comentando partidas de futebol.
Silvia Regina de Oliveira, ex-árbitra de futebol, se tornou a primeira mulher a trabalhar como árbitra principal pelo Campeonato Brasileiro da Série A. E isso foi acontecer apenas em 2003, na partida entre São Paulo e Guarani. Nesta partida, Silvia contou com a assistência de Ana Paula Oliveira e Aline Lambert, que, juntas, integraram o primeiro trio feminino a atuar na série A do Campeonato Brasileiro. Desde 2009, ela é diretora da Comissão de Arbitragem da FPF, quebrando mais um tabu e se tornando a primeira mulher instrutora internacional de arbitragem e membro de Comissão de Arbitragem.
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Arbitragem
O começo da arbitragem no RS Diego Almeida Real
“O
árbitro é o álibi de todos os erros, explicação para todas as desgraças. Se perdem, é por culpa dele. Se ganham, é apesar dele. Mas se ele não existisse, teriam de inventá-lo!”. De fato, esta frase de Eduardo Galeano define a importância e responsabilidade que um árbitro de futebol carrega em sua carreira. Definir um árbitro talvez seja quase impossível, pois como tentar entender o que leva um rapaz a escolher esta carreira? Amor ao esporte com certeza é uma opção de justificativa mais próxima. Muitos o definem como um louco, outros como uma pessoa de coragem e personalidade. Talvez, para alguns, um “recalcado” que não conseguiu ser jogador de futebol, mas com certeza para todos uma carreira de muita força de vontade e que mesmo inconscientemente é admirada. Nos momentos de racionalidade de um simples bate-papo, causa respeito e muita curiosidade de quem tem a possibilidade de interagir com esses “loucos por futebol”. “O homem é assim, o árbitro constante de sua própria sorte. Ele pode aliviar o seu suplício ou prolongá-lo indefinidamente. Sua felicidade ou sua desgraça dependem da sua vontade de fazer o bem”, constata Allan Kardec. Na gramática portuguesa, árbitro de futebol define-se como “juiz que dirige um prélio de futebol”. Esta faz parte da maioria das definições encontradas para a palavra. O que diferencia o árbitro de futebol de um juiz de direito é que o juiz de direito deve julgar e o juiz de futebol precisa e deve decidir como um juiz de fato e de direito independente às partes envolvidas. Imparcialidade e ética fundamentam o árbitro de futebol desde sua invenção. A relação de confiança entre clube e árbitro é importantíssima para o transcorrer de uma partida ou “peleia”, como chamamos baseados no folclore gaúcho. O Surgimento do Árbitro No começo do futebol, os próprios jogadores acusavam as infrações, pois os ingleses acreditavam no cavalheirismo de quem
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participava do jogo. Inclusive em um Brasil e Argentina realizado em Buenos Aires, após o segundo gol marcado pela Argentina, o jogador argentino correu em direção ao juiz e pediu que este anulasse o gol, pois ele havia cometido infração antes. Mesmo com o cavalheirismo, a liga inglesa passou a buscar uma solução que surgiu em meados de 1878 e mudaria para sempre a historia do futebol: colocar em campo mais uma pessoa chamada de “referee”, encarregado de apontar as faltas com seu equipamento – uma bandeirola vermelha. Três anos depois, em 1881, a bandeira foi substituída pelo apito. Em 1894, determinou-se que as decisões do árbitro eram incontestáveis e irrecorríveis. No Brasil, o “referee” foi chamado de juiz. Com o regime militar na década de 60, os militares recomendaram à imprensa que o juiz de futebol fosse chamado de árbitro para que não houvesse confusão com o juiz magistrado. Em 1890, surge o árbitro por meio da regra, que regulamentava a sua função em campo. Estes senhores, que utilizavam irrepreensíveis calças vincadas bem cortadas e jaquetas, corriam por campos enlameados parando o jogo a gritos quando achava que teria sido cometida uma falta.
Arbitragem no Rio Grande do Sul No Rio Grande do Sul, o futebol ganhou notoriedade e deu seus primeiros passos no final do século 19, principalmente na cidade de Rio Grande e cidades próximas ao Uruguai, como Uruguaiana e Santana do Livramento. Oficialmente, o clube de futebol mais antigo do Brasil é o Sport Club Rio Grande, de Rio Grande, fundado em 19 de julho de 1900. No dia 7 de setembro de 1903, o Sport Club Rio Grande joga sua primeira partida, de forma amistosa ou de exibição como relatava-se na época, em Porto Alegre. Este fato por muitos é citado como o fato motivador da fundação de clubes de futebol na capital gaúcha. O primeiro campeonato de futebol disputado no Rio Grande do Sul aconteceu no ano de 1906, em Santana do Livramento. A primeira liga, entretanto, seria formada somente no ano seguinte, sendo estruturada na cidade de Pelotas. Através da possibilidade de o cavalheirismo inglês não prosseguir nos campos de
futebol brasileiro, o juiz foi utilizado nos primeiros jogos do SC Rio Grande, nos quais era proibido reclamar das marcações dele. Penalidade era considerada covardia e só era marcada quando algum jogador colocava a mão na bola. E se por acaso o time estivesse vencendo e tivesse uma penalidade a seu favor, a cobrança era feita para fora. Em 1918, é fundada a Federação RioGrandense de Desportos. Em 1919, é organizado o primeiro campeonato Gaúcho. Os campeões citadinos disputam os regionais e, por conseguinte, os campeões regionais disputavam o campeonato gaúcho. O Gauchão é o primeiro campeonato realmente estadual do país. Já no primeiro torneio, um clube do interior, o Brasil de Pelotas, conquistou o troféu. A final do campeonato gaúcho de 1919 foi disputada entre o Brasil, de Pelotas, e o Grêmio, de Porto Alegre, e apitada pelo senhor Fontoura. O árbitro estava no mesmo nível amadorístico dos jogadores. Era escolhido momentos antes do inicio do jogo e sem receber remuneração. Estes árbitros escolhidos eram considerados pessoas dignas, corretas e muito respeitadas no dia-a-dia. Como árbitro, podia atuar qualquer pessoa. Na maioria das vezes, eram ex-jogadores de futebol ou pessoas com muita influência e prestígio. O primeiro Gre-Nal foi comandado por um quinteto de árbitros. O árbitro principal foi Waldemar Bromberg, o qual é citado na história do Grêmio como uma pessoa muito importante por ter influenciado para que o clube conseguisse o dinheiro para comprar o terreno no qual seria construído o primeiro estádio. Os juízes de linha foram João de Castro e Silva e H. Sommer, e juízes de gol Theobaldo Foernges e Theodoro Bugs. Os juízes de gol ficavam sentados num banquinho ao lado das goleiras, indicando se a bola entrava ou não no gol, pois na época não havia redes nas goleiras. Estes árbitros foram os precursores da arbitragem gaúcha, que, no decorrer das décadas, tiveram como ícones Nestor Ludwig, Agomar Martins, José Luis Barreto, José Mocelin, Luis Cunha Martins, Carlos Simon, Leandro Vuadem, Leonardo Gaciba e Renato Marsiglia. * Diego Almeida Real é formado em Educação Física
Personagens
Recreação pública em Porto Alegre
Jornal Zero Hora, 22 de março de 1997
No início do século 20, o professor Frederico Guilherme Gaelzer conseguiu sensibilizar o poder público sobre a importância da recreação
Eneida Feix
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oi no “Alto da Bronze”, na década de 20, que Porto Alegre, uma das capitais brasileiras pioneiras na instituição do lazer e da recreação pública, iniciava a história neste setor, através da criação dos “Jardins de Recreio” nas praças da cidade. Na subida da rua Duque de Caxias, área central da cidade, espaço onde a garotada se reunia para o futebol se instalou, em 1926, o primeiro jardim de recreio da América do Sul. Este era constituído por salas para jardim de infância, biblioteca e vários equipamentos na área externa como balanço, escorregador, gangorra, entre outros, e quadras esportivas para a prática do basquetebol, voleibol, basebol, tênis e de um jogo de pelota denominado frontão. As atrações eram diversificadas objetivando que crianças, jovens e adultos pudessem se divertir. A valorização do lúdico nos “Jardins”, com equipamentos apropriados à recreação infantil e com lindos gramados e quadras esportivas marcou as primeiras décadas do século 20, uma proposta de trabalho que possibilitou às crianças brincar e se entreter. Ainda hoje existem o primeiro e o segundo “Jardim de Recreio”, respectivamente denominados Praça General Osório, inaugurada em 1926, e Praça Pinheiro Machado, em 1927. Além dessas, no período de 1926 a 1951, foram instaladas outras praças em diferentes bairros da cidade, como por exemplo, Praça Florida, Praça Dr. Montaury, Praça Jayme Telles, Praça São Geraldo, Ararigbóia e Tamandaré. A idealização e a vontade política de efetivação deste projeto, na década de 20, foram iniciativas do professor Frederico Guilherme
Praça Gal. Osório, antiga Alto da Bronze, início da Recreação Pública na cidade, em 1926 Gaelzer, que conseguiu sensibilizar o poder público sobre a importância da recreação e do esporte para a juventude como prevenção da delinquência e um meio de qualificar a sociedade. Gaelzer permaneceu cerca de cinco anos estudando nos Estados Unidos, onde também acompanhou o trabalho da Associação Cristã de Moços (ACM). Depois que retornou para Porto Alegre chefiou o Departamento Municipal de Praças Públicas e Jardins, o Departamento Municipal de Educação Física e, posteriormente, o Serviço de Recreação Pública. O professor Gaelzer e sua equipe promoveram atividades variadas nos jardins de infância, teatro infantil e amador para adultos; e viabilizaram espaços como: bibliotecas infantis, técnicas e ambulantes; parques balneários para ensino de natação e remo; parques esportivos com campeonatos e recantos infantis. A equipe realizou conferências, cursos especializados, exposições, concertos, excursões orientadas, comemorações cívicas e folclóricas; organizava também os desfiles carnavalescos. O papel da educação no progresso de um país era
exaltado nos discursos de Gaelzer. Ontem e Hoje As fotos, os recortes de jornais e os documentos garimpados retratam algumas das ações voltadas à recreação e aos esportes nas praças e parques de Porto Alegre iniciadas em 1926. Ao longo de 85 anos, esse trabalho se manteve em funcionamento, oportunizando o esporte, a recreação e o lazer aos portoalegrenses. Atualmente há mais de 500 praças e parques públicos que recebem pessoas, alegram-nas e possibilitam trocas de afeto, divertimento, práticas corporais diversas e atividades culturais. Além disso, as praças e parques são locais de encontros e lembranças dos frequentadores configurando-se como “lugares de memória” da cidade. Valorizar esta história é vivê-la duas vezes, com diz Paulo Freire. * Eneida Feix é licenciada em Educação Fisica (UFRGS) e mestre em Ciências do Movimento Humano (UFRGS). Atua como coordenadora da Divisão de Esporte e Lazer - (Fundergs/SEL-RS)
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Personagens fotos Hilberto Prochnow
Desejo do pesquisador é disponibilizar seu acervo em museu
O Garimpador do futebol Como o médico veterinário cachoeirense Sergio Claudio Engel tornou-se o maior historiador de futebol amador do país.
Laura Gheller
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oi no dia 14 de março, um sábado. O ano era 2009. Chegamos em Cachoeira do Sul por volta das 10 horas da manhã. Enquanto uns tiravam o equipamento do carro da Rádio, outros já iam adentrando a casa de dois andares que ficava do outro lado da rua. Na porta, à nossa espera, estava a figura: os cabelos levemente grisalhos desgrenhados pelo vento, a camisa pólo preta, a bermuda cáqui e o tênis branco o confundiriam fácil com um jogador de bolão ou bocha, não fosse pela destoante tipoia apoiando o braço direito. No dia anterior, quando ligamos para confirmar o churrasco, ficamos sabendo do incidente que resultou em gesso em todo o antebraço direito. Apesar de estar triste por ter ficado com os movimentos limitados justo nesse momento, ele foi categórico ao confirmar o churrasco do dia seguinte: “Contratei um cara muito bom, enten-
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dido nesta arte”. E de fato, o perfume da carne esparramada sobre o fogo já se alastrava por toda a rua Marcílio Dias. Quando chegamos ao jardim, que já recepcionava alguns convidados, foi possível notar a presença do “profissional do churrasco” por todos os lados: louça especial, suporte para pratos mais especiais ainda, talheres que aparentemente não tinham serventia explícita, barril de chopp no canto e mais adiante, escondido sob fumaça que vertia da churrasqueira, o tão festejado “profissional do churrasco”. Não sei se era porque nunca tínhamos visto algum serviço do tipo, mas nos perguntamos todos – intimamente, é claro - do porquê da roupa branca (e do chapeuzinho) de chef de cozinha francesa para assar uma carne gaudéria. Enfim. Constatações à parte, começamos a montar o equipamento para transmitir o programa especial direto da casa do nosso colaborador de mais de cinco anos que, na-
quela noite, também passaria a ser o maior historiador de futebol amador do Brasil. Histórias recordistas Sergio Claudio Engel, veterinário por formação e historiador por dedicação, participa do programa Radar Esportivo da Rádio Universidade da UFSM desde 31 de dezembro de 2004. Ele foi convidado pelo jornalista Gilson Piber, orientador do programa na época, para assumir o quadro “Histórias do Futebol”. Desde então, Engel contabiliza a marca de quase 300 programas com histórias inéditas contadas aos ouvintes do Radar. “Eu falo da essência, da anatomia, da fisiologia do futebol; de como surgiram as primeiras bolas, as primeiras botinas; como eram os gramados, as camisas, as arquibancadas, os primeiros médicos, os massagistas. Esse tipo de futebol, que eu enriqueço com um pouco de cultura.” Engel começou a ficar ainda mais co-
nhecido depois que suas histórias foram publicadas nos jornais de Cachoeira e de Porto Alegre. Ele já fez várias participações em programas esportivos de rádios do Estado. A notoriedade o levou a ser apresentado ao jornalista Lile Corrêa, morador de Bela Vista (MS), que publica recordes em seu blog: o www.guinnessbrasil.com. Após contatos e averiguação de materiais, Engel foi considerado pelo Guinness Brasil como o “Maior historiador do futebol amador do país”. A cerimônia de homologação do título aconteceu na noite do dia 14 de março de 2009, em frente ao prédio do Museu Municipal de Cachoeira do Sul Patrono Edyr Lima. Cerca de 50 pessoas presenciaram o acontecimento, entre elas o prefeito da cidade, Sérgio Ghignatti, esportistas e familiares de Engel. O passado no futuro A ligação com o futebol começou aos 6 anos, quando o menino Sérgio foi convidado por seu tio Saul a acompanhar uma partida de futebol amador no extinto campo do Daer em Cachoeira do Sul. Enquanto Saul jogava, o guri segurava a carteira e o relógio do tio. Anos mais tarde, passou de espectador a protagonista: tornou-se um ágil goleiro no futsal e jogou no time do Gauchinho do bairro Carvalho. Os estudos fizeram Sérgio ir para Santa Maria. Formou-se técnico agrícola na Escola Agrotécnica (hoje Colégio Politécnico) da UFSM. “Como eu tirava notas boas em Zootecnia, um professor me perguntou: por que tu não faz Veterinária?”. Em dezembro de 1970 estava formado na UFSM o médico-veterinário Sérgio Cláudio Engel.
O envolvimento com o futebol, entretanto, seguiu ao lado da lida com os animais. Agora, um pouco além das quatro linhas: foi cônsul do Internacional, em Canela, presidente do Conselho Deliberativo do Cachoeira Futebol Clube e ajudou o outro time da cidade, o São José. O interesse pelo passado do futebol surgiu com força em 1994, quando Engel resgatava a história do Rotary Clube Zona Alta de Cachoeira do Sul. Ele iniciou uma pesquisa minuciosa sobre tudo relacionado ao futebol nos jornais antigos, conservados no Arquivo e no Museu Municipal. O período pesquisado iniciou
“Eu falo da essência, da anatomia, da fisiologia do futebol; de como surgiram as primeiras bolas, as primeiras botinas” em janeiro de 1900. Hoje Engel possui 10 mil páginas de história: “Foram sábados e domingos retirando dados, que resultaram em mais de 20 pastas com cópias das notícias e anotações sobre o futebol em Cachoeira”. O veterinário-pesquisador também procurou ex-jogadores, hoje com 80, 90 anos, para conseguir fotografias e lembranças daqueles tempos. “Sou chamado de ‘garimpador’ aqui em Cachoeira, em tom de brincadeira.” E o resultado dessa busca foi a descoberta de aproximadamente 630 times de futebol que já existiram na cidade. Engel costuma contar que, no início, os jornais publicavam o convite para o
“match”, mas que depois não informavam o placar do jogo, muito menos quem fazia os gols. O que geralmente era publicado eram relatos de brigas ou invasões de campo. Com a pesquisa, foi possível construir a estatística completa de todos os jogos dos times mais destacados da cidade: o Cachoeira, o Guarani (vice-campeão gaúcho em 1942), o Tamandaré e o São José. Com o tempo, o pesquisador começou a receber doações de camisas dos times, troféus, faixas, medalhas, bolas antigas, várias fotografias e inúmeros documentos. Entre eles, o arquivo original com a partitura musical do hino do Cachoeira, escrita em 1914 pelo maestro Miguel Iponema. Engel também construiu maquetes representando as goleiras e os estádios de antigamente. Fez réplicas de bolas, utilizando bexigas e crina de cavalo. Ele usa todo esse material em exposições e durante palestras em escolas. Uma pequena biblioteca com livros sobre o futebol de outras cidades gaúchas também faz parte do seu acervo. Como todo bom pesquisador, Sérgio Cláudio Engel convive com o passado, mas pensa o futuro. Além de deixar um museu montado para a posteridade, ele quer guardar todas as suas memórias em um livro. E ainda pretende fazer disso um novo recorde: seu objetivo é escrever a primeira obra que resgate toda a história do futebol de uma cidade gaúcha. O Guinness que se prepare. O garimpador dos gramados não pretende parar de usar sua mina de ouro tão cedo. * Laura Gheller é formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Maria
Parte do acervo do veterinário Engel, que pretende guardar suas memórias em um livro
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Personagens fotos Arquivo Pessoal
João Carlos. Habilidade: Fair Play A trajetória de um jogador que nunca foi expulso no futebol. Em mais de dez anos como profissional, alcançou essa façanha que lhe permite acesso a todos os jogos realizados no país
Ainda muito jovem, integrou o Clube Esportivo Bento Gonçalves Bruna Aquino
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m jogador que jamais viu um árbitro de futebol chamá-lo e lhe mostrar o cartão vermelho, que nunca disputou de forma agressiva uma jogada e que não foi punido pela Justiça Desportiva em toda sua carreira: isso é possível no futebol? João Carlos Araújo Pinheiro Machado, formado em Educação Física pela Unicruz – Cruz Alta/RS e especialista em Educação pela antiga Fundames, hoje URI - Campus Santo Ângelo/RS. Casado, pai de dois filhos, é atualmente aposentado do magistério e dos gramados. Como assim? Além de professor, João Carlos também foi esportista. Este resumo profissional é apenas o “pontapé inicial” para que se conte a história de um grande atleta e sua carreira na modalidade que mais ama, o futebol. “Gú”, apelido que João Carlos ganhou em casa e que, por muitas pessoas, é utilizado como única forma de chamá-lo, nasceu em 7 de janeiro de 1946. O gaúcho de São Luiz Gonzaga iniciou no esporte ainda criança, ao acompanhar o pai em eventos esportivos. O interesse pela área não parou, seguindo o rit-
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mo de seu crescimento: “Nos tempos de escola já participava dos eventos que se realizavam nos educandários. Com o passar dos anos, fui me interessando pelo tênis, futsal e futebol de campo”. Dos três esportes, o guri João Carlos preferiu o último, e a vontade de jogar aumentou quando ingressou no time juvenil do Grêmio Sportivo Santoangelense, atualmente S.E.R. Santo Ângelo. Em 1959, junto com os outros juvenis, foi campeão da cidade. Nessa época, já dava sinais de que seria um grande jogador. Ainda adolescente, “mas com muita vontade de vencer com os demais do elenco”, aos 16 anos e mediante aprovação dos pais, tornou-se profissional. Gú, que atuava como meio-campista, explica o motivo que o levou a assumir essa posição: “As pessoas que comandavam a equipe diziam que eu era um jogador com boa qualidade técnica, habilidoso e com boa visão de jogo”. Após defender profissionalmente o Grêmio Sportivo Santoangelense no período de 1962 a 1963, o meia passou a atuar, no ano seguinte, no Esporte Clube Juventude. “Meu ingresso no futebol de campo profissional aconteceu de surpresa, pois os dirigentes do Juventude receberam infor-
mações sobre mim e vieram me buscar em Santo Ângelo. Fiz testes no Juventude e a aprovação veio tão rápida que, em 15 dias, já residia na concentração do clube”. Mesmo tendo participado do time principal várias vezes, Gú nem sempre começava jogando. Como era muito novo, acredita que a pouca idade era um dos motivos que o deixavam no banco de reservas. A titularidade finalmente entrou em campo, mas logo em seguida encontrou um marcador difícil de ser driblado: “Quando surgiu a oportunidade de me fixar como titular, sofri uma lesão grave no tornozelo. Isso aconteceu em 1965, no jogo contra o Grêmio FBPA durante a realização do quadrangular da Festa da Uva, onde participaram Grêmio, Internacional, Juventude e Flamengo, hoje o Caxias. Minha recuperação foi demorada. Atualmente os recursos são modernos e rápidos, antes não, e aí demorei um bom tempo para voltar a ser titular, mas consegui a recuperação”. Ainda em 1965, antes da lesão que o afastou do campo, foi vice-campeão gaúcho com o Juventude. Recuperado e com boas atuações, Gú retomou a titularidade e, em 1966, foi aprovado para jogar no Botafogo,
do Rio de Janeiro. “Jogar em clube de maior que era o momento de encerrar a carreira tebol”, acompanhando o que acontece no porte, todo jogador sonha e comigo não seria de profissional no futebol. Nos primeiros mundo da bola, e vê a modalidade diferente diferente. Quando treinei no Botafogo e fui momentos foi meio difícil, pois saía de ati- do que vivenciava: “No futebol da nossa aprovado em 15 dias de treinamento, pensava vidades futebolísticas para o trabalho com época, na maior parte das equipes, os elenque poderia desenvolver mais ainda meu fu- alunos, mas com o tempo nos desligamos de cos eram compostos por jogadores de qualitebol porque iria para futebol técnico, onde momentos passados.” dade técnica apuradíssima. Hoje falam em encaixaria com o meu potencial.” DificuldaSobre alguma dificuldade durante a car- ‘acima da media’, ‘diferenciados’. A evolução des na liberação por parte do Juventude im- reira no futebol ou no momento em que de- da preparação física, em minha opinião, está pediram a transferência, e o meia seguiu em cidiu parar de atuar como profissional, Gú é decidindo partidas importantes”. Caxias do Sul. Em 2004, Gú recebeu o troféu enfático: “Não considero dificuldade as situEm março de 1998, no estádio da S.E.R. “JU 90 Anos”. Como consta no documento ações que aconteceram. Se não foram como Santo Ângelo, que seria palco do jogo entre entregue ao jogador, a homenagem é “pelo eu queria, apenas aconteceram. Após parar o clube e o Caxias, João Carlos recebeu das relevante trabalho quando de sua passagem de jogar, tive a consciência de que vinha uma mãos de sua mãe, Maria Araújo Pinheiro Mapela agremiação”. nova vida pela frente”. chado, a medalha do Prêmio Belfort Duarte, Do Juventude, Gú seguiu para o Clube concedido pela CBF a atletas que não sofreEsportivo Bento Gonçalves. Em 1969, foi Aposentadoria como jogador ram punição aplicada pela Justiça Desporticampeão da divisão estadual de profissionais, Gú colocou o futebol profissional na va ao longo da carreira. Para que o jogador em jogo disputado com o Lajeadense, e este tí- reserva e escalou o lazer para entrar em cam- receba esta comenda, sua carreira deve ter, tulo deu direito ao Esportivo de Bento dispu- po. Em 1976, passou a integrar a confraria no mínimo, dez anos e 200 jogos. Gú atuou tar o Campeonato Gaúcho na divisão especial. do “Depois das Seis”, time de futebol de durante 13 anos como jogador profissional Em 1970, último ano na equipe, entrou no salão de Santo Ângelo, onde reside com a de futebol e nunca foi expulso. segundo tempo e, aos 44 minutos, fez A disciplina constante lhe reno gol de empate contra o Pelotas, “com deu, além do reconhecimento como Em março de 1998, no estádio da um tiro de fora da área”, como destacou “autor de bons serviços prestados ao S.E.R. Santo Ângelo, João Carlos um jornal da época. desporto nacional” por parte da maior No ano seguinte, transferiu-se entidade de futebol do país, ter acesso recebeu das mãos de sua mãe a para o Esporte Clube Internacional medalha do Prêmio Belfort Duarte, livre aos estádios de todo o território de Santa Maria e, um ano mais tarnacional e até dar nome a uma compeconcedido pela CBF a atletas que de, defendeu a Associação Esportiva tição: em 2010, o campeonato amador não sofreram punição pela Justiça Santo Ângelo (Aesa). Fez o único de Santo Ângelo, modalidade futebol gol do primeiro jogo da equipe, um de campo, foi intitulado João Carlos Desportiva ao longo da carreira amistoso com o São José de Porto Araújo Pinheiro Machado, em justa Alegre. Permaneceu até 1975, onde homenagem ao atleta que, com sua encerrou sua carreira profissional, com família, e que leva esse nome em função dos história exemplar, prova que é possível jogar apenas 29 anos. jogadores se encontrarem, desde seu início, sem ser violento. João Carlos Araújo Pinheiapós as 18h. Desde 2010 participa somente ro Machado, o jogador que soube abrilhantar Professor de educação física fora das quadras, pois duas cirurgias no qua- seus passes com o jogo limpo sem deixar de “Quando conclui a faculdade de edu- dril, uma no lado direito e outra no esquer- ser guerreiro. cação física, já estava trabalhando em esco- do, o impedem de jogar. Não se afastou do las e, com isto, não conseguia conciliar o esporte, praticando natação, hidroginástica, * Bruna Aquino é formada em futebol. Nesta época, também decidi casar e academia e caminhadas. Longe dos grama- Jornalismo pelo Centro Universitário construir minha família e então me parecia dos, o ex-jogador se diz “apreciador do fu- de Brasília — UniCEUB
Dirigentes, equipe técnica e jogadores do Juventude, quando o time foi vice-campeão gaúcho em 1965. Entre os atletas abaixados, João Carlos é o terceiro da esquerda para a direita
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Personagens
O atacante cerebral Larry Pinto de Faria marcou época no Internacional, Fluminense e também na Seleção Brasileira.
Marcelo Salzano
À direita, o grande jogador dos anos 50 mostra os principais títulos. Acima, pôster produzido em sua homenagem
Marcelo Salzano
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m craque dentro e fora dos gramados. Assim deve ser definido Larry Pinto de Faria, 79 anos, nascido no dia 3 de novembro de 1932, em Nova Friburgo, cidade serrana do interior do Rio de Janeiro. Ele começou nas categorias de base do Friburgo Futebol Clube, passando pelo infantil e juvenil. Depois foi para o Fluminense, onde permaneceu de 1950 a 1954. Então, ingressou no Internacional, onde jogou de 1954 a 1961. Encerrou a carreira em 1962. Era conhecido, como o “atacante cerebral”, devido a sua enorme inteligência para jogar futebol. Desde pequeno, Larry sempre demonstrou interesse em se tornar um profissional da bola. E jogando bem, chamou logo a atenção de um grande time do futebol brasileiro: o Fluminense. “Em 1950 comecei a minha carreira como jogador profissional. Inicialmente como juvenil. Depois, fui convidado para jogar pela Seleção Carioca de Juvenis que disputou um torneio contra os estados de Minas Gerais e São Paulo. Ali, fui campeão”, ressaltou.
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Seleção Brasileira Em 1952, foi convocado para disputar pela Seleção Brasileira as Olimpíadas de Helsinque. Juntamente com Larry, uma legião de craques: Zózimo, Vavá, Humberto Tozzi, entre outros. Obteve a marca histórica de ser o primeiro atleta brasileiro a fazer gol em uma Olimpíada. Além disso, com quatro gols, sagrou-se artilheiro da competição. Para ele, o jogo contra a Holanda foi o principal da campanha. “Jogamos contra a Holanda, na cidade de Kotka. Marquei dois gols. Após esse jogo, ganhamos de Luxemburgo. Na sequência, veio a partida diante da Alemanha. Saímos vencendo por dois a zero, mas relaxamos e os alemães empataram. Na prorrogação, eles venceram”, lamentou. Em 1954, ainda no Fluminense e treinado por Zezé Moreira (também comandante da Seleção Brasileira), Zezé queria que Larry jogasse dentro da área, finalizando as jogadas. Ele retrucou. “Não sabia jogar assim. Sempre gostei de vim de trás para finalizar as jogadas”, defendeu. A pedido do próprio Zezé, o time carioca foi a Colômbia para a inauguração do
estádio Atanasio Girardot (local onde o Grêmio sagrou-se bi-campeão da Libertadores de 1995) e depois jogou com o Atlético-MG, em Belo Horizonte. Antes de ir dirigir o Brasil na Copa de 1954, Zezé chamou Larry para uma conversa e disse: “Larry, vou emprestálo para o Internacional. No sul, o futebol é mais competitivo. Será bom para você”, disse o então técnico da Seleção Brasileira. Por intermédio também do jornalista Luiz Mendes, Larry Pinto de Faria desembarcou no estádio Beira-Rio. Inicialmente, o contrato era de empréstimo. De cara, caiu nas graças do torcedor, principalmente por marcar gols em clássicos Gre-Nais. E o que mais marcou, sem dúvida, foi o clássico de inauguração do estádio Olímpico, onde marcou quatro gols na casa do rival. “Esse foi o jogo da minha vida. O que mais marcou. O Inter venceu por 6 a 2 e 57 anos depois desse feito, muitos colorados me param na rua, lembrando com muito entusiasmo, até por ser diante do Grêmio”, comemorou. Os quatro gols no Gre-Nal de inauguração do Estádio Olímpico, consolidaram Lar-
ry como um dos grandes ídolos da história do A Seleção Brasileira, campeã do Pan- pelos treinadores, com uma avalanche de ataColorado. Havia uma preocupação em men- Americano de 1956, com jogadores que, cantes. Quem começou a mudar esta escrita te. Com as seguidas boas atuações, o temor basicamente, atuavam na Dupla Gre-Nal, fez no futebol brasileiro foi o então técnico do de que ele voltasse ao Fluminense existia. Isto o “centro do país”, especialmente o eixo Rio- Vasco, Flávio Costa, na década de 40, quando porque era só o clube carioca requisitar e ele São Paulo debochar do potencial do Brasil. tinha um atacante Eli e puxou ele para o meio. voltava para as Laranjeiras. Chegava o ano de “Aconteceu o seguinte. Em janeiro de 1956, Aí começou o esquema 4-3-3”, explicou. 1955. Larry era eleito o melhor jogador do o Brasil disputou, com uma equipe compleO “amor à camisa” é outro assunto que Campeonato Gaúcho. ta, um campeonato inquieta Larry. “O futebol mudou muito. Então, comunicou a Sul-Americano, em Atualmente, esse negócio de amar o cluA grande lembrança direção do seu desejo Montevidéu. E a der- be que joga é uma grande besteira. Hoje, o de sua carreira foi o de permanecer no Inrota por 4 a 1 contra esquema é profissional. Quem pagar mais, clássico de inauguração o Chile foi o estopim leva. No meu tempo, não era assim. Havia ter. “Procurei os diretores da época, pois a para a desconfiança. um comprometimento com o clube muito do estádio Olímpico, vontade de permanecer A CBD na época ti- grande. Eu joguei quase sete anos no Internaquando anotou quatro era muito grande. Me nha um problema. O cional. Outros atletas também permaneciam gols na casa do rival adaptei a Porto Alegre Sul-Americano acon- muito tempo nos seus times. Eu, por exemcom uma facilidade teceu em janeiro, o plo, quando jogava pelo Inter, tive algumas impressionante. No fim das contas, deu tudo Pan-Americano em fevereiro e a excursão à propostas para sair. O Vasco veio a Porto Alecerto e fiquei no colorado”, completou. Europa. Então, queriam colocar os gaúchos. gre três vezes para tentar minha contratação Entre tantos companheiros de ataque, Mas, o centro do país não queria, porque e não conseguiu. Os uruguaios Nacional e destacou Bodinho como o principal parcei- entendiam que o futebol gaúcho não tinha Peñarol também me sondaram. O Palmeiras, ro, dentro e fora dos gramados. “ O Bodinho condições de representar o futebol brasileiro. uma vez, manifestou interesse. Mas, devido a era um atleta extremamente qualificado. Aí, conquistamos um título fantástico, mas o minha forte identificação com o Inter, resolvi Fazia o que queria com a bola. E o negócio eixo Rio-São Paulo minimizou o impacto da permanecer em Porto Alegre”, desabafou. dele era fazer gol. Não importava o jeito. O conquista”, explicou. Larry não esconde o seu grande carique facilitava também era a inteligência dele Encerrou a carreira em 1961, com 29 nho pelo Inter. A homenagem da torcida para jogar. Por exemplo, eu lançava a bola e anos. Segundo Larry, foi um processo de des- Popular no Beira-Rio, mostrando uma faixa nas disputas com os zagueiros, sempre levava gaste em sua vida. “De manhã cedo, eu ia para com o seu rosto, ao lado de outros ídolos vantagem em relação aos adversários”, com- o Internacional realizar meus treinamentos. do clube, lhe deixa emocionado. “É uma pletou. Larry falou de uma história curiosa Ganhava muito pouco. E tinha um detalhe sensação maravilhosa. O reconhecimento com Bodinho. “Teve um jogo que agora não interessante. Antigamente, as substituições que os colorados tem com a minha história me recordo qual foi, em que o Inter vencia poderiam acontecer até os 43 minutos do pri- dentro do clube emociona demais. Os meus com total facilidade, e eu já havia feito três meiro tempo. Então, eles diziam: ‘Você não netos, que torcem para o Inter, quando vão gols no jogo. Aí recebi um lançamento, dri- precisa treinar muito, se a ao Beira-Rio e obserblei o zagueiro e chutei meio mascado. A gente precisar de ti, entra O amor à camisa é um vam o meu retrato bola tava entrando lentamente e o Bodinho, aos 43 minutos e tá resolna torcida, ficam liassunto que inquieta não resistiu e acabou completando para den- vido o problema’. Era comteralmente malucos”, Larry: “O futebol mudou completou. Questro do gol. Na hora da comemoração, ele veio plicado, pois participava me cobrar: ‘Pô, Larry, você já fez três na par- das atividades no Inter muito. Hoje, o esquema tionado sobre o tratida, deixa eu fazer o meu’”, ressaltou. pela manhã, à tarde ia para tamento que o clube é profissional.” O Pan-Americano de 1956, realizado a Câmara de Vereadores e proporciona para o no México, foi outro momento marcante na à noite para a faculdade”, ex-atletas, é categóricarreira de Larry. Era um time basicamente contou. Tornou-se vereador em Porto Alegre co. “O Inter talvez seja o clube no Brasil que formado por jogadores que atuavam no Rio em 1959, onde na sua primeira eleição, acabou melhor trata os seus atletas. Em qualquer Grande do Sul. Marcou cinco gols na com- eleito. Após este pleito, obteve a reeleição em festividade (comemoração de aniversários, petição (nas vitórias de 1 a 0 sobre o Peru e três oportunidades, pela UDN. de títulos de relevância), o clube faz questão na goleada diante da Costa Rica por 7 a 1, de ter os ex-atletas ao seu lado. A comemoanotando quatro gols) , sendo o artilheiro Três ou quatro atacantes ração de 100 anos é um exemplo. Foi um brasileiro no Pan. “A conquista de 1956 foi Das diferenças do futebol de ontem para momento marcante, inesquecível. Não sei se um marco. Isto porque na final, enfrentamos hoje, Larry é enfático. “Tem muitas coisas que em outros clubes acontece o mesmo. Somos a Argentina. E os nossos irmãos argentinos, mudaram. A primeira delas é que no futebol privilegiados”, destacou. na época, eram invencíveis. Quebramos um dos anos 60, 70, 80, os ponteiros jogavam Este é Larry Pinto de Faria. Um dos tabu. Em toda a competição que o Brasil dis- mais abertos. Hoje, isso raramente acontece, maiores artilheiros da história do Inter. Craputava e a Seleção Argentina estivesse presen- até porque os atacantes costumam fazer as jo- que dentro de campo e fora dele. Dono de te, era raro os hermanos perderem o título. E gadas puxando para o meio e batendo a gol. títulos importantes e marcas históricas. A no Pan de 1956, eles foram disputar a com- A segunda mudança que eu vejo é na meia torcida colorada agradece eternamente. petição com a equipe completa. E, na final, cancha. Antigamente, os times jogavam com depois de empatarmos em 2 a 2, no tempo dois volantes e não havia um armador nato, * Marcelo Salzano é formado em normal, vencemos na prorrogação. Foi histó- um ‘criador de jogadas’ no jargão futebolísti- Jornalismo pela PUCRS, repórter e rico”, falou Larry, eufórico. co. Então o 4-2-4 era o esquema mais utilizado produtor da Rádio Guaíba
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Personagens
O último
Arquivo pessoal
goleiro
do Renner Arqueiro Raul Kinnemann lembra a história que construiu no Papão de 54
Marcelo Salton
O
presidente do Grêmio Esportivo Renner, Mário Azevedo, interrompe o treinamento no campo do estádio Tiradentes, na tarde de 11 de março de 1959, para conversar com o técnico Selviro Rodrigues. Minutos depois, os jogadores são chamados ao pavilhão social para receber um comunicado: a equipe de futebol será desativada imediatamente. Todos ficam em estado de choque. “O ambiente era de total comoção. Meu Deus, acabou o nosso futebol”, relembra Raul Kinnemann, um dos goleiros do elenco. Quatro dias antes, o cenário era de animação e entusiasmo. Uma vitória por 2 a 0 sobre o Guarany, em amistoso realizado no Estádio Municipal de Cachoeira do Sul, indicava que a equipe estava bem preparada para iniciar a disputa do Campeonato Gaúcho. Titular na última partida, Raul foi obrigado a encerrar uma ligação iniciada em 1947, ainda nas divisões inferiores. “Até nesse momento o Renner foi grande. Todos os jogadores receberam salários e continuaram treinando até que conseguissem colocação em um novo clube”, afirma. Raul chegou ao Renner aos 12 anos, para atuar no time infantil. Após algumas idas e vindas, impostas pela mãe a cada queda de rendimento na escola, ele chegou aos juvenis, então treinados por Abílio dos Reis – que mais tarde viria a conquistar fama no Internacional. “Era o maior olheiro de craques da várzea naquela época”, avalia. Em 1956, recém-promovido aos profis-
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Time que empatou com o Brasil, em amistoso de 1956. Em pé: Raul, Orlando, Bonzo, Gago, Léo e Augusto. Agachados: Pedrinho II, Ivo Medeiros, Breno Mello, Nena e Leoni sionais, recebeu a primeira oportunidade. Enquanto o titular Valdir de Moraes defendia a seleção brasileira nos Jogos Pan-Americanos, Raul atuou nas partidas da pré-temporada. Foi nesse período que conquistou o primeiro título, o Torneio da Associação dos Cronistas Esportivos de Porto Alegre (Acepa). Entretanto, o goleiro perdeu espaço quando o Renner contratou Henrique, do Força e Luz. Dupla jornada Renner foi um clube com administração diferenciada, muito a frente do seu tempo. Os dirigentes eram funcionários do grupo A. J. Renner e levavam para a esfera esportiva o modelo profissional da empresa. A estrutura tinha o objetivo de dar as melhores condições possíveis para que os jogadores pudessem conquistar resultados dentro de campo. Para os atletas, jogar no Papão de 54 representava uma oportunidade não apenas no futebol. Raul, assim como a maior parte do elenco, trabalhava em jornada dupla, alternando o trabalho na indústria ou nas lojas pela manhã com os treinamentos à tarde. A segunda-feira, dia seguinte às rodadas do final de semana, era livre, assim como as manhãs posteriores aos jogos noturnos. Na década de 1950, não havia preparação específica para guarda-metas. O trabalho era insípido, com muitos exercícios para reforçar a musculatura dos braços. Apesar disso, Raul testemunhou no estádio Tiradentes o surgimento, mesmo que tímido, de novos métodos: “O Ivo Andrade, irmão do Ênio, se tornou auxiliar do Selviro e dava, esporadicamente, al-
gum treinamento voltado para os goleiros”. Modelos Os conceitos da época para a posição eram muito diferentes dos atuais. Valdir de Moraes, com 1,75m de altura, tinha a estatura ideal e Raul, de 1,82m, era considerado grande. “As pessoas achavam que goleiro alto não conseguiria defender bolas rasteiras”, comenta. O preconceito era tanto que Henrique, de 1,90m, dobrava os joelhos sempre que fazia pose para fotografia ao lado dos companheiros. Campeão na seleção brasileira, no Renner e, posteriormente, no Palmeiras, o ex-companheiro de equipe Valdir de Moraes foi a principal influência na carreira de Raul. “Ele batia na bola como nenhum outro goleiro, tinha calma e o posicionamento era impecável”, elogia. Com o fechamento do Renner, Raul foi contratado pelo Internacional. Ainda em 1959, foi emprestado ao Rio Grande. No ano seguinte, se transferiu para o Grêmio. Ele participou da excursão do clube à Europa em 1961, em que o clube disputou 24 partidas em 15 países no período de 88 dias. No retorno ao Brasil, decidiu encerrar a carreira. Aos 75 anos, ex-gerente comercial de uma empresa de café e aposentado Raul se declara, até hoje, torcedor do Papão de 54. “Defendi o Renner por mais de dez anos, fui muito feliz com aquela camisa”, diz com o ardor de um apaixonado por um clube que vive apenas em lembranças. * Marcelo Salton é formado em Jornalismo pela PUCRS
Personagens
Alexandre Lops
Conquista do Mundial de 97 foi sua maior glória Marcos Bertoncello
G
aroto poliesportivo de aproximadamente 15 anos nascido em Porto Alegre. Amante de todos os esportes coletivos, sempre foi um jovem competitivo, mas apenas concentrou suas forças em campeonatos escolares e universitários. Até que um convite para se profissionalizar no então desconhecido futebol de salão chegou às suas mãos. Luiz Fernando Roese mal sabia que aquilo iria mudar sua vida, ou melhor, que passaria a ser chamado de Ortiz e viveria uma fase maravilhosa deste esporte no Brasil. O alto e mirrado Luiz Fernando era pivô do time de basquete, pivô do time de futebol de salão, jogador de ponta da equipe de vôlei e atacante do grupo de handebol. Tudo isso no período em que esteve no colégio, no final dos anos 70. “A minha paixão pelo esporte nasceu e cresceu desde quando eu era guri. Jogava tudo e tinha facilidade para aprender os jogos e suas regras”, conta Ortiz, que passou por várias escolhinhas, entre elas a de futebol de campo do Sport Club Internacional, onde ele mal sabia que um dia faria história. Mas ainda não era hora, sequer o esporte certo para isso. “Eu morava na Zona Norte e era complicado ir até os treinos do estádio Eucaliptos. Como minha família sempre exigiu que eu tivesse boas notas e fosse um bom aluno, não pude me focar tanto nisso. Aí, já próximo da universidade, entrei na equipe de futebol da minha turma e lá fiquei”, relembra. Foi quando Ortiz foi jogar com amigos no Teresópolis Tênis Clube. “Um amigo me viu jogar e exigiu que eu tentasse atuar na equipe de futsal do clube. Achei meio estranho porque não tinha muita experiência no esporte. Mas aceitei o convite”, disse. Ele não foi muito bem nos primeiros testes. “Até que no último fui muito bem e consegui vaga no time juvenil.” Ortiz per-
Ortiz, um campeão nas quadras Luiz Fernando Roese, conhecido como Ortiz, relembra anos dourados do futsal gaúcho e os títulos que o consagraram
maneceu três anos no futsal do Teresópolis. Em seguida, foi chamado para defender as cores do time de futebol de salão do Inter. Atuou ao lado de jogadores famosos como Pinga e Aloísio. Parou no Grêmio, assumindo a vaga de titular no time principal. “Contei com uma lesão séria do antigo titular, que, inclusive, teve que abandonar o futsal. Aí sim foi uma temporada maravilhosa para mim. Marquei muitos gols”, recorda. Em 1984, com 20 anos, o jogador experimentou uma fase diferente da carreira profissional: trocou a quadra pelo campo. A bola ficou maior e o sucesso também. “Fiquei dois anos jogando futebol e convivi com pessoas especiais como Valdir Espinosa e Rubens Minelli. Tive a felicidade de ser tricampeão gaúcho.” Apesar de positiva a experiência nos campos, o profissional retornou às quadras. Teve um litígio com a direção gremista e, por ainda estar na universidade, resolveu retomar a carreira no futsal. A volta não foi fácil. Mesmo jogando na seleção brasileira em que conquistou o II Campeonato Mundial de Futsal, em Hong Kong (1992), ele teve que passar por vários clubes para se estabilizar novamente. Em 1995, surgiu a oportunidade de vestir a camisa do Internacional pela segunda vez. “Com o patrocínio da Ulbra, o Inter teve condições de montar uma excelente equipe, com nomes de seleção brasileira, como Manoel Tobias, Serginho e Edinho. No mesmo ano, o time colorado foi campeão da Liga Nacional de Futsal Série Bronze e Prata, garantindo vaga na Série Ouro do ano seguinte” explicou. O Internacional, então, conquistou a Liga Nacional de Futsal. “No dia 6 de julho de 1996, goleamos a equipe do Vasco da Gama, da cidade de Caxias do Sul, no ginásio Gigantinho, por 6 a 1. Tivemos a melhor campanha, o melhor ataque e os três dos cinco principais artilheiros da competição: eu, o Manoel Tobias e o Serginho.
Em 25 jogos, marcamos 99 gols, com 16 vitórias, 6 empates e apenas 3 derrotas”, detalha Ortiz. A maior das glórias Contudo, a grande conquista da equipe fantástica ainda estava por vir. Em 1997, a Federação Gaúcha de Futsal moveu-se para organizar um Campeonato Mundial Interclubes, reunindo campeões de todos os cantos do mundo. Com a autorização de entidades maiores, o torneio foi confirmado no ginásio Gigantinho, em Porto Alegre. “Vieram a Porto Alegre campeões da Holanda, Estados Unidos, Argentina, entre outros. O Barcelona também participou, mesmo sem conquistar a liga espanhola. Se me lembro bem, foram dez times divididos em duas chaves de cinco”, conta. A decisão do Mundial ficou entre Inter e Barcelona. Uma final histórica: “O Gigantinho estava lotado, com 16 mil espectadores. Em um jogo duríssimo contra o Barcelona, empatamos em 2 a 2 no tempo normal. E, felizmente, vencemos na prorrogação por 2 a 0”. Luiz Fernando Ortiz aponta a conquista mundial como o seu grande momento no futsal gaúcho. O atleta jogou até 2003, depois pendurou as chuteiras sem travas para trabalhar nas categorias de base do Internacional. “Eu vivi várias ‘gerações’ no futsal. O esporte sempre teve pouco investimento, principalmente no início. As rádios eram as que davam mais destaque para nós. O crescimento ocorreu nos anos 90, com uma certa profissionalização do futebol de salão, tornando-o mais espetacular para o público. O investimento do Inter neste esporte motivou o surgimento de times como o de Carlos Barbosa, por exemplo. Tive o prazer de ver este crescimento”, concluiu. * Marcos Bertoncello é formado em Jornalismo pela PUCRS
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Personagens
Pedrinho: futebol, narração e automobilismo
Reprodução
Um dos grandes narradores esportivos do Estado faleceu em um acidente de automobilismo no dia 21 de outubro de 1973 José Antonio Soares Martins Filho
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unca se imaginou que numa tarde de primavera poderia se encerrar a vida de um dos grandes narradores do jornalismo esportivo do Rio Grande do Sul. Pedro Carneiro Pereira, ou Pedrinho como assim era chamado, adorava esporte e jornalismo. Na infância, organizava partidas de futebol de botão e ao mesmo tempo em que elas se desenrolavam, Pedrinho exercitava seus dotes de narrador. Gaúcho, Pedro Carneiro Pereira nasceu no dia 11 de março de 1938, em Porto Alegre. Em 1961, já com 23 anos, iniciou na Rádio Guaíba, vindo da antiga Rádio Difusora, onde inicialmente trabalhou como locutor comercial. Em pouco tempo ele já havia ascendido ao posto de principal locutor esportivo da emissora. Voz clara, dicção perfeita e principalmente ritmo e estilo. Essas eram algumas das grandes características marcantes de Pedrinho. Mas para alguns, o que era mais marcante nele, como grande gremista que sempre foi, os gritos de gol do seu time de coração eram sempre alguns segundos mais longos do que os gols do co-irmão, o Internacional. A atividade de narrador o aproximou de sua outra paixão, o automobilismo. Ele desenvolveu esse gosto, a partir da transmissão de algumas provas, como as “Mil Milhas”. Começou a correr de carro, no ano de 1962, com 24 anos, e ainda solteiro. Afora o automobilismo, Pedrinho foi formado em Direito, exercitando as atividades de advogado e também atuou na área de Publicidade e Propaganda, sendo diretor da empresa Standard Propaganda
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na Região Sul. Além disso, Pedrinho viria também a se tornar o Diretor do Departa- Legenda legenda legenda legenda legenda lege mento de Esportes da Rádio e posteriormente casou com Maria direito. Esse acidente quase impediu que PeRegina Greco Viana, sendo pai de três drinho fosse viajar para realizar a transmissão crianças: um filho e duas filhas. da Copa do Mundo de 1966, evento em que No automobilismo, começou correndo o Brasil fora eliminado nas oitavas de final, com Volkswagen, em 1962 nas 12 horas de fato que indignou o narrador. Porto Alegre, obtendo a décima colocação no geral. Correu também com carros como Retorno às provas Corvette, da marca Chevrolet, em corridas Até então, após a Copa do Mundo de pelo interior do Rio Grande do Sul, e viria 1966, Pedrinho realizava aparições esporádicorrer novamente as 12 horas de Porto Ale- cas nas corridas de Carretera. Porém, a partir gre, dessa vez com um Renault Gordini, ob- do ano de 1968, ele resolveu comprar uma tendo um bom resultado nessa categoria. carretera do modelo FNM/JK 2.000 pertenPedrinho começou a correr de carretera cente a categoria “Turismo”, acima das 1.300 (carros antigos criados na época, que foram cilindradas. Com a aquisição, passou a participar mais regularmente das corridas. Com a inauguração do autódromo de Os gritos de gol do seu Tarumã, localizado na cidade de Viamão, time de coração, o Grêmio, no Rio Grande do Sul, circuito do qual foi eram sempre alguns um dos grandes incentivadores de sua construção, Pedrinho comprou um Chevrolet segundos mais longos do Opala, na cor branca de quatro portas, que que ao gol do rival o piloto Bird Clemente de São Paulo havia utilizado para estabelecer o recorde brasileiro criados especificamente para se correr em de velocidade em linha reta, no ano de 1971. estrada, já que o termo “carretera” vem do O carro era muito competitivo. espanhol, que significa estrada), no ano de Pedrinho foi também um dos vinte pi1966, disputando duas provas. Na segunda, a lotos gaúchos, a realizar a compra do Bino chamada de Antoninho Burlamaque, do ano Formula Ford, em 1971, mesmo ano em de 1966, no percurso entre Gravataí e Capão que ele adquiriu o Opala de Bird Clemenda Canoa, acabou sofrendo um acidente. te. Ele foi presidente da Federação Gaúcha No ocorrido, ele atropelou um porco que de Automobilismo e do Automóvel Clube atravessava a estrada e como consequência, do RS, se tornando uma das figuras mais além de matar o porco, acabou danificando importantes do automobilismo gaúcho bastante sua carretera, e quebrando seu braço dos anos 60 e 70.
Acidente e São Paulo, interrompeu as transmissões da Silêncio no Beira-Rio Porém, no fatídico dia 21 de outubro emissora e disse: Os torcedores, que lotavam o estádio, de 1973, em uma prova realizada pelo Cam“Bem, este tipo de informação nós não com o radinho no ouvido, começaram a peonato Gaúcho da estávamos preparados aplaudir. O juiz do jogo, Arnaldo Cezar divisão três, Pedrinho para receber. O Pedrinho Coelho, assim que soube da morte de PeOs dois acabaram acabou se envolvendo capotando, e o fogo corre há tanto tempo. drinho, parou o jogo e pediu um minuto em um acidente com Morre tanta gente nos de silêncio aos jogadores, no que foram logo tomou conta outro competidor, Ivan autódromos, mas nós acompanhados pela multidão. Foi um sidos carros Iglesias. Os dois acabasempre imaginamos que, lêncio sepulcral como o Beira-Rio nunca ram capotando, e o fogo com o Pedrinho, isso não experimentou. A emissora silenciou e paslogo tomou conta dos carros. Sem ter como aconteceria. Confesso para os ouvintes da Rá- sou a tocar músicas sacras. escapar, e como os bombeiros não possuíam dio Guaíba que não há a O narrador da os equipamentos adequados para realizar menor condição para que descrição precisa, sem O narrador da o salvamento, os dois, rivais na pista, mas o nosso trabalho prosbordões ou adjetivos descrição precisa, sem exagerados, morria em amigos fora, Pedro Carneiro Pereira e Ivan siga. A partir deste mobordões ou adjetivos Iglesias, faleceram. mento, o Departamento uma tarde de céu azul, A primeira homenagem a Pedrinho de Esportes da Rádio exagerados, morria em muito azul, parecendo ocorreu minutos após a sua morte. O repór- Guaíba vai encerrar as uma tarde de céu azul uma saudação, uma ter Clóvis Rezende, da Rádio Guaíba, que es- suas atividades. Nós não homenagem da pritava em um dos postos da Radio Guaíba (co- transmitiremos o jogo do mavera acompanhada, bria o jogo entre Desportiva e Grêmio, além Internacional e São Paulo, nem o jogo do Grê- assim, pelo reconhecimento do público e da partida entre Inter e São Paulo) informou mio contra a Desportiva Ferroviária. Vamos de seus colegas. a todo o Rio Grande do Sul, e ao então narra- colocar um ponto final na participação do dor Armindo Antonio Ranzolin, sobre o fa- Departamento de Esportes da Rádio Guaíba * José Antonio Soares Martins Filho lecimento de Pedrinho. Ranzolin, após nar- nesta Jornada Esportiva Ipiranga e nesta trans- é formado em Jornalismo pela Ulbra rar quinze minutos de jogo do Internacional missão aqui do Beira-Rio” de Canoas ALGUMAS PARTICIPAÇÕES EM PROVAS •
06/05/1962 - 12 Horas de Porto Alegre/RS - Circuito da Cavalhada - Com Verner Meyer - VW Sedan 1.192cc - 10º na geral e 2º na classe A
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28/11/1971 - 4ª Etapa do Campeonato Brasileiro de F-Ford - Tarumã/RS - Bino F-Ford nº 5 1.440cc - 6º Lugar
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19/11/1972 - 5ª Etapa do Campeonato Brasileiro de F-Ford - Tarumã/RS - Bino F-Ford nº 5 1.440cc - 16º lugar
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18/11/1962 - I Festival de Recordes - Guaíba/Camaquã/RS - Chevrolet/ Corvette nº 78 - 4.500cc - 4º Lugar
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12/03/1972 - 3 Horas de Tarumã/ RS - Chevrolet Opala nº 22 4.098cc - T+3.0 2º lugar
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23/01/1966 - XII Prova Antoninho Burlamaque - Gravataí/Capão da Canoa/RS - Chevrolet/Corvette nº 78 - 4.500cc - TFL - Acidente
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09/04/1972 - 1ª Etapa do Campeonato Brasileiro de F-Ford - Tarumã/RS - Bino F-Ford nº 5 1.440cc - 5º Lugar
19/11/1972 - 4ª Etapa do Campeonato Gaúcho de Turismo Tarumã/RS - Chevrolet Opala nº 22 - 4.098cc - AB
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04/08/1968 - 200 Quilômetros de Porto Alegre/RS - Pedra Redonda FNM/JK 2000 nº 28 - 1.975cc - 3º na geral e 3º na cat. T+1.3
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11/06/1972 - 3ª Etapa do Campeonato Brasileiro de F-Ford - Tarumã/RS - Bino F-Ford nº 5 1.440cc - 24º lugar
19/08/1973 - 5ª Etapa do Campeonato Brasileiro de F-Ford - Tarumã/RS - Bino F-Ford nº 5 1.440cc - 4º lugar
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03/01/1971 - 3ª Etapa do Campeonato Gaúcho (70) Classe D - Tarumã/RS - Chevrolet Opala nº 22 - 3.769cc - T+3.0 2º lugar
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27/08/1972 - 2ª Etapa do Brasileiro de Turismo Div.3 - Tarumã/RS - Chevrolet Opala nº 22 - 4.098cc T+3.0 1º lugar
01/09/1973 - VI 12 Horas de Porto Alegre - Tarumã/RS - Com Ismael Chaves e Dado Andrade - Chevrolet Opala nº 22 - 4.098cc - 3º na geral e 1º na cat. T+3.0
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04/07/1971 - 3ª Etapa do Campeonato Gaúcho - Tarumã/RS - Chevrolet Opala nº 22 - 3.769cc T+3.0 1º Lugar
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17/09/1972 - 2ª Etapa do Campeonato Gaúcho de F-Ford - Tarumã/RS - Bino F-Ford nº 5 1.440cc - 4º lugar
23/09/1973 - 4ª Etapa do Campeonato Gaúcho de F-Ford - Tarumã/RS - Bino F-Ford nº 5 1.440cc - 3º lugar
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12/09/1971 - 1ª Etapa do Campeonato Brasileiro de F-Ford - Tarumã/RS - Bino F-Ford nº 5 1.440cc - 6º Lugar
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21/10/1973 - 4ª Etapa do Campeonato Gaúcho de Turismo Div.3 - Tarumã/RS - Chevrolet Opala nº 22 - 4.098cc - Acidente fatal na 2ª volta
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07/10/1972 - V 12 Horas de Porto Alegre - Tarumã/RS - Com Ismael Chaves - Chevrolet Opala nº 22 4.098cc - T+3.0 1º lugar
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Personagens
A história de um campeão nas cestas
fotos Divulgação/GNU
Scarpini recebendo um troféu
Conrado Gallo
N
ascido em 1944, Celso Scarpini, antes de se tornar um dos mais importantes jogadores de basquete do Brasil, começou a carreira esportiva como nadador, . Na água, manteve durante oito anos o recorde em uma das modalidades da natação. Mesmo campeão e fazendo sucesso nas piscinas do Grê-
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mio Náutico União, em Porto Alegre, optou por utilizar a sua altura – 1,90m – para enterrar bolas pelas quadras brasileiras, sul-americanas e mundiais, chegando a participar de uma edição dos Jogos Olímpicos. Hoje em dia, sem conseguir se desligar do esporte foi autor de projetos como o “Bola na Cesta” e “Mérito Olímpico”. Como morava a algumas quadras do
União, um dos clubes sociais mais tradicional da capital gaúcha, praticamente vivia em ambientes esportivos. Com 13 anos, inspirado pelo irmão mais velho jogador de basquete, e por uma tabelinha que adaptou no pátio da sua casa, pegou gosto pela bola laranja e tornou-se aluno das escolinhas do clube. “A minha motivação era ver os ginásios lotados, eu queria participar daquilo, ali eu comecei a
me interessar”, lembra. Aos 15 anos, quando estava na categoria juvenil foi convocado para a Seleção Gaúcha que disputaria o Campeonato Brasileiro de Basquete, em Ponta Grossa (PR). Na competição foi o atleta que mais pontos fez, popularmente conhecido como “cestinha”. Segundo ele, o seu desempenho no Paraná chamou a atenção de olheiros da Confederação Brasileira de Basquete, que dois anos mais tarde o convocaram pela primeira vez a participar de uma seleção brasileira profissional. Ainda como juvenil, fez parte de um selecionado que jogaria quatro amistosos em Porto Rico. “Os meus pais tiveram que ir ao Rio de Janeiro, local da concentração, dar autorização para que eu pudesse viajar”, conta o atleta. Aquela seleção lançou, além dele, três jovens promessas do basquete: Ubiratan, Vitor e Menon, todos com 18 anos que foram mesclados com jogadores já campeões mundiais com o Brasil, casos de Amauri, Rosa Branca, Vlamir e Sucar.
Delegação do Pan-Americano de 1963 (Scarpini é o 5º, a partir da Esq.) Conrado Gallo
sempre esses dois que chegavam às finais dos campeonatos estaduais do Rio Grande do Sul, mas, como conta orgulhoso, o clube do bairro Moinhos de Vento era soberano em quantidade de taças no armário. “Os ginásios viviam lotados em Porto Alegre, era um período em que o basquete gaúcho estava em um nível paralelo ao de São Paulo e Rio de Janeiro. Hoje em dia não tem comparação, a nova geração não conhece o basquete de antigamente”, afirma o veterano com nostalgia.
Título internacional Outras convocações tornaram-se rotina e em 1963 em um torneio sul-americano, em Lima, no Peru, conquistou o primeiro título internacional com a verde-amarela. No mesmo ano, em São Paulo, ele e a seleção foram Incentivo ao esporte vice-campeões do Pan-Americano perdendo Apesar de estar aposentado como atleta, na final para os Estados Unidos, por apenas não consegue ficar longe do esporte que lhe deu dois pontos. Além de outros títulos com a muitas coisas na vida. Foi idealizador de dois seleção brasileira programas vinculae outros nacionais dos com o basquete, “Hoje em dia não tem pelas equipes que o “Bola na Cesta”, comparação, a nova jogou no Brasil ao que atende crianças, longo da carreira, o jovens e adultos pelo geração não conhece o ápice da sua trajetóBrasil inteiro e o “Mébasquete de antigamente” ria foi a participação rito Olímpico”, que nos Jogos Olímpicos virou um projeto de do México, em 1968, a primeira Olimpíada lei, a partir de uma resolução aprovada em 2007 acontecida na América Latina. Na ocasião, o pela Assembléia Legislativa do RS, onde todos Brasil ficou sem medalha tirando um quarto atletas gaúchos participantes de Jogos Olímpilugar. “Eu nunca imaginei chegar a uma sele- cos devem ser agraciados com este título, desde ção e ao ponto que cheguei”, diz, humilde. o primeiro deles em 1920, um praticante de Celso Scarpini considera como seu prin- Tiro ao Alvo. “Nada mais significativo para cipal treinador o Canela, tio do apresentador um ex-atleta do que o reconhecimento. As époJô Soares, mas não esquece o técnico que lhe cas mudam, mas a base não muda. Não posso ensinou os primeiros passos nas quadras. admitir que um esporte que já esteve em alta, “Eu tive sorte de pegar um baita treinador no agora não se saiba aonde vai. Se já aconteceu é União que me enriqueceu de fundamentos. porque tem potencial”, opina. Se você os têm, aliado a um dom, você vai lá Para ele, a concretização de grandes em cima”, ensina Scarpini que quando treinava eventos como a Copa do Mundo de 2014 e com a seleção arremessava cerca 300 bolas no os Jogos Olímpicos de 2016 a serem realizacesto, das quais, 245 faziam “chuá”. Para ele, das no Brasil são ótimas oportunidades para os adversários que jogavam com as duas mãos incentivar crianças a praticar o esporte. “Mas eram os mais difíceis de enfrentar. é difícil, porque se formos às escolas ou em Na época de unionista o time que riva- clubes, as quadras estão abandonadas, sem lizava com o seu era o Internacional, que não sustentação. Nos Estados Unidos cada retem mais equipe de basquete. Eram quase sidência tem uma tabela”, lembra Scarpini e
Scarpini é hoje idealizador de programas em prol do esporte continua. ”Quando a criança gosta põe um objetivo e um ideal na cabeça e se livra das más companhias. A melhor coisa para combater isso é o esporte.” Outra instituição brasileira que ele considera com fraco incentivo à prática esportiva são as universidades: “Elas têm estrutura, mas não tem iniciativa. Quando um jovem chega aos 16 anos tem que escolher entre o vestibular e o esporte que gosta, se as universidades dessem apoio ele poderia conciliar as duas coisas.” Scarpini fala com conhecimento de causa, pois quando cursava uma graduação foi convocado para a seleção universitária e disputou o Campeonato do Mundo, em Turim, na Itália. “Tive muitas dificuldades no início, mas com perseverança consegui vencer”, finaliza a conversa. Scarpini é natural de Porto Alegre e encerrou a carreira aos 35 anos de idade, jogando pelo Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense. Além de brilhar com a seleção brasileira, atuou pelos clubes: Grêmio Náutico União, Cruzeiro (POA), Corinthians (SP), Fluminense (RJ) e Grêmio (RS). * Conrado Gallo é formado em Jornalismo pelo IPA
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Clube fundado em 2011, pela 1ª turma de Jornalismo Esportivo da UFRGS ESCALAÇÃO 01 Luiza Borges 1 Roger Bell 2 Andreza 3 Matheus 4 Laion 5 Luiz Roberto 6 Marcos 7 Nathi 8 Rafael 9 Ronaldo 10 Carlinhos 11 Gilson 12 Camila 13 Paula 14 Márcio 15 Ricardo 16 Salzano
17 Gustavo 18 Daniela 19 Diego 20 Lucas 21 Luiza Reis 22 Eneida 23 Jonas 24 Laís 25 Bruna 26 Laura 28 Carlos Dias 29 M. Salton 30 Zeca 33 Conrado 41 M. Noronha 51 Bernardo