Oblíqua

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oblíqua


APRESENTAÇÃO

EXPEDIENTE

“Oblíqua” é uma história fictícia de gênero fotonovela, cujo tema é a divulgação não permitida de imagens íntimas de garotas na internet, e a culpabilização da vítima pela mídia e sociedade. Esse assunto tem se tornado comum às realidades sociais, mas ainda assim as colossais proporções em que esses casos podem resultar não são discutidas devidamente. A proposta da fotonovela é instigar essa reflexão. A narrativa fotográfica ocorre logo após o ex-namorado divulgar fotos de nudez da protagonista nas redes sociais - fotos estas que haviam sido confidenciadas somente a ele. Assim, a vítima é condenada pelos amigos, conhecidos e até parte da família em razão ao conteúdo das imagens, e é, portanto, excluída dos ciclos sociais. As falas de cada personagem foram adaptadas de depoimentos colhidos em entrevistas com vítimas, amigos, familiares e outras pessoas que já estiveram relacionadas a situações como essa. Além disso, a fotonovela é construída com informações e curiosidades relacionadas à temática, e com cores predominantes em cada fotografia, as quais representam os respectivos pensamentos e sentimentos de cada pessoa envolvida. O nome “Oblíqua” foi inspirado na Capitu, intrigante personagem do livro machadiano “Dom Casmurro”, que é descrita na obra como “oblíqua e dissimulada”. Assim como Capitu, a protagonista dessa novela é julgada e sentenciada por opiniões que não a representam.

Taiane Souza Diretora de Arte e Fotógrafa

Laira Carnelós Diretora de Pesquisa e Fotógrafa

Mariana Diniz Roteirista e Fotógrafa

Janine Lopes Fotógrafa

Modelos: Victor Brandão, Sofia Prevatto, Rafael Braga, Sâmara Magalhães, Vanessa Abreu e Luiz Felipe Cunha.


oblíqua

“ E com uma letra bem pequena, lá estava escrito no seu epitáfio: Tentou ser, não conseguiu; tentou ter, não possuiu; tentou continuar, não prosseguiu; e nessa vida de expectativas frustradas tentou até amar… Pois bem, não conseguiu, e aqui está.

Dom Casmurro


“Acha que ia terminar comigo e tudo bem? Vou destruir sua vida, e vou destruir sua família. Seu pai não vai nem conseguir ir pro serviço, todo mundo vai rir dele por ter “pornô” da filha na internet.”

As denúncias apontam que mulheres são, na maioria dos casos, as principais vítimas de revenge porn (“pornografia de revanche”), como têm sido chamados os vazamentos intencionais de fotos e vídeos íntimos. Se trata de uma forma de vingança - quase sempre o acusado é um exparceiro que não aceitou o fim do relacionamento.

#EX-NAMORADO


“Ele ameaçou colocar minhas fotos na internet. Eu não acreditei que ele fosse capaz de fazer isso, nós nos gostávamos tanto. Como eu vou sair de casa agora? Com que cara eu vou olhar pra minha família?”

A organização não-governamental Marias da Internet foi criada pela jornalista maringaense Rose Leonel, para dar apoio psicológico e jurídico a mulheres que foram vítimas de crime cibernético.

#VÍTIMA


A privacidade é um direito de todos brasileiros, garantido pelo artigo 5º da Constituição Federal de 1988.

“Nós sempre estudamos juntos, sempre na mesma sala. Eu nunca tinha pensado que você era gostosa assim. Perdeu toda a inocência para mim.“

#COLEGA


Carta a Fran, menina massacrada por um vídeo íntimo, teve mais de um milhão de visualizações no Facebook em apenas três dias e alcançou mais de 180 mil manifestações de apoio. Foi traduzida para outros idiomas e republicada em colunas e blogs.

“Eu tenho pena de você, não passa de uma carente. Só pode ter feito isso para se sentir gostosa! Não se respeita. Puta mesmo, aparecida, idiota, não tem personalidade própria. Você pediu por tudo que vai acontecer. Quando eu fiquei sabendo pensei: “Como ela ainda tem coragem de sair na rua?”

#CONHECIDA


“Você foi leviana, não pensou nas consequências. Nada disso muda sua personalidade. Isso não faz de você uma pessoa pior. Não vou brigar com você, já que essa história dificilmente vai ser esquecida, e não quero que você pense que está sozinha. Outro dia li que uma jovem se matou por isso, e eu não quero que alguma coisa assim aconteça com você.“

#MÃE


“Ninguém importa com o que realmente aconteceu. Todo mundo acha que você é uma puta e que fez isso por safadeza. Tá todo mundo me zoando. Todos meus amigos tão perguntando se não tem mais fotos, e falando que querem te comer. Você e seu namoradinho são burros, era lógico que isso ia dar errado.”

#IRMÃO

For You é um aplicativo destinado à vítimas de assédio virtual ou do “slut shaming”, que consiste em um bullying virtual contínuo que surge depois do vazamento de fotos íntimas ou sensuais.


“A mãe das minhas amigas não deixavam elas falarem comigo, e acho que muitas delas nem queriam. Foi um trauma e tanto. Às vezes alguns babacas ainda mexem comigo na rua. Tenho a sensação que sempre estou sendo excluída, e que todo mundo lembra disso. Mas eu decidi que não vou deixar com que ele acabe com a minha vida. Não vou mais me sentir culpada: eu sou a vítima.”

Um projeto de alteração da Lei Maria da Penha foi apresentado em maio de 2014, criando mecanismos para o combate a condutas ofensivas contra a mulher na internet.

#VÍTIMA


CORES Em todas as fotografias uma cor predominante foi objetivamente colocada, para que, a partir do seu respectivo significado, representasse os sentimentos e ações da personagem. Os significados são estes: Preto, usado para o ex-namorado, representa a ausência de cor que determina tudo o que está velado, e expressa separação, tristeza e noite. Vermelho, presente na primeira foto da vítima, pode significar paixão, emoção, ação, agressividade e perigo. Azul, cor escolhida para o colega, é uma cor discreta e que parece afastar-se. Pode expressar reserva e conservadorismo. Amarelo, cor que representa a conhecida, irradia sempre em todas as partes e sobre todas as coisas - é a cor da luz e pode significar egoísmo, ciúmes, inveja, ódio, adolescência, riso e prazer. Verde, dominante na foto da mãe, representa o reservado e esplendoroso. É a cor da esperança. Pode expressar natureza, juventude, descanso e equilíbrio. Violeta, cor primária na foto do irmão, pode representar violência, engano e agressão premeditada. Branco, prevalescente na última foto da vítima, é a luz que se difunde (na cor). Expressa a ideia de inocência, paz, estabilidade absoluta, calma e harmonia.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA Comunicação Social - Jornalismo


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