Um Olhar sobre Paranapiacaba

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LAÍS DE OLIVEIRA SORIANI

UM OLHAR SOBRE PARANAPIACABA: LEITURA E PROPOSTA DE REQUALIFICAÇÃO URBANA DA VILA FERROVIÁRIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

Orientadora: Profª Drª Viviane Manzione Rubio

São Paulo 2017 _______________________________________________________________________________________________________________________________



Aos meus pais, João Roberto e Maria Clara, Ao meu irmão, Mateus, _______________________________________________________________________________________________________________________________



Agradecimentos

Primeiramente agradeço à Deus, pela vida, oportunidades e capacidade. A realização deste trabalho foi facilitada pela colaboração e convivência com algumas pessoas, as quais agradeço por fazerem parte da minha vida. Aos meus pais, agradeço pelo apoio incondicional às minhas escolhas e pelo incentivo ao longo deste percurso. Ao meu irmão, pela parceria em tudo na vida e ajuda com os textos. À Carla, Carolina, Fernanda, Larissa, Marina, Rachel e Renan, pelo companheirismo e troca de conhecimentos ao longo do curso. À Angélica, Camila, Júlia e Milena, pela amizade e paciência. Aos meus professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em especial ao Profº Ms. Angelo Cecco Jr. Ao Instituto Presbiteriano Mackenzie e todos os funcionários envolvidos no seu funcionamento, pelo apoio na realização de minhas atividades. Ao escritório Martino Arquitetura, à Samantha e André, pela experiência profissional e incentivo à minha graduação. À Secretaria de Desenvolvimento Urbano de Santo André, pelos dados fornecidos. E especialmente à minha orientadora, Profª Drª Viviane Manzione Rubio, pela confiança, oportunidade, acompanhamento e dedicação. _______________________________________________________________________________________________________________________________



"É o alto da serra. Em frente, a alguns decâmetros, abre-se, rasga-se um vão, uma clareira enorme por onde se enxerga um horizonte remotíssimo, um acinzentamento confuso de serras e céu, que assombra, que amesquinha a imaginação. Começam aí os planos inclinados..."

“A Carne” - Júlio Ribeiro, 1888 RIBEIRO, 1888 In: PMSA, 2013. Disponível em: <http://www2.santoandre.sp.gov.br/index.php/paranapiacaba/117-vila-de-paranapiacaba>. Acesso em: 18 dez. 2016.

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RESUMO

A Vila de Paranapiacaba é uma vila pertencente ao município de Santo André, no estado de São Paulo, que teve sua ocupação em função da implantação da primeira ferrovia paulista, a São Paulo Railway. Testemunha de inovações ferroviárias e arquitetônicas para a época de sua formação, a Vila de Paranapiacaba foi consolidada como patrimônio, englobando questões vinculadas ao seu território natural e às influências das práticas em sua população. Nos últimos anos, apesar de seu potencial histórico e turístico, a situação de Paranapiacaba é de degradação e esvaziamento. Este trabalho visa contextualizar a relevância da Vila de Paranapiacaba através de sua formação e consolidação e, por meio de dados e levantamentos, fundamentar uma leitura urbana de modo a promover diagnósticos vinculados a melhorias da área, elencando e propondo ações de requalificação urbana, visando intensificar o fluxo de pessoas na região. Palavras chave: Paranapiacaba. Patrimônio. Ferrovia. Turismo.

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ÍNDICE

01.

Introdução ........................................................................................................................................................... 11

02.

2. História e Formação da Vila de Paranapiacaba 2.1 Contextualização ...................................................................................................................................... 15 2.2 Formação e Ocupação da Vila (1860 – 1899) ........................................................................................... 18 2.3 Principais transformações e a consolidação da Vila (1899 – 2002) .......................................................... 23 2.4 Leitura urbana (2002 – 2017) ................................................................................................................... 25

03.

3. Paranapiacaba como Patrimônio 3.1 Parâmetros bióticos e físicos ..................................................................................................................... 47 3.2 Tipologias de patrimônio ........................................................................................................................... 55 3.2.1. Patrimônio Natural .............................................................................................................. 55 3.2.2. Patrimônio Cultural .............................................................................................................. 59 3.3 O patrimônio em Paranapiacaba ............................................................................................................... 71

04.

4. Proposta de Requalificação Urbana de Paranapiacaba 4.1 Projetos referenciais ................................................................................................................................. 75 4.1.1 Masterplan para o Centro Antigo de Salvador (Levinsky; Stuchi & Leite) ......................... 75 4.1.2 Complexo Elevador Rubem Braga (JBMC) ......................................................................... 80 4.1.3 Residência Hélio Olga Jr. (Marcos Acayaba) ...................................................................... 85 4.2 Plano urbanístico ....................................................................................................................................... 92 4.3 Núcleo de Memória e Visitação de Paranapiacaba ................................................................................... 98

05.

Considerações Finais ........................................................................................................................................... 122 Referências Bibliográficas ................................................................................................................................... 124

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UM OLHAR SOBRE PARANAPIACABA

01. Introdução

Esta monografia tem a Vila de Paranapiacaba como área de estudo, partindo da identificação de potencialidades pouco aproveitadas no local, atreladas às questões turísticas e parâmetros que caracterizam a atual precariedade em termos de atratividade e qualidade de vida da população residente. A pesquisa surge como possibilidade de estruturação dos principais aspectos positivos e negativos da dinâmica urbana atual da Vila de Paranapiacaba. Paranapiacaba é uma vila ferroviária com origem no século XIX, que teve como principal impulso de ocupação a expansão da comercialização do café, produto que trouxe consigo o investimento de capital paulista em estruturas e infraestruturas para seu transporte (LAMARCA, 2008). Sob administração e fazendo parte do território que compreende o município de Santo André, no Estado de São Paulo, a Vila de Paranapiacaba, até então chamada de Alto da Serra, foi considerada localização estratégica para a implantação da ferrovia que ligaria o interior paulista ao porto de São Vicente na baixada santista (LAMARCA, 2008). Em 1860, com o investimento de capital inglês, foram iniciadas as obras para implantação da linha férrea, que trouxeram para a região 5000 trabalhadores (LAMARCA, 2008). Novas tecnologias foram utilizadas para a implantação do sistema de

modo a vencer o desnível de 800m existente entre a estação da Vila e o Porto de São Vicente (SILVA, 2014). Com o término das obras, alguns dos trabalhadores contratados para a implantação da ferrovia, especificamente os envolvidos com o funcionamento e manutenção do sistema ferroviário, se fixaram na parte da ocupação conhecida atualmente como Vila Velha, localizada na Parte Baixa da Vila (MINAMI, 2004). Com isso, comerciantes portugueses, observando ali uma oportunidade de negócio no fornecimento de mercadorias, instalaram-se na Parte Alta da ocupação (LAMARCA, 2008). Com a possibilidade da duplicação da linha férrea, em 1892, como forma de aumentar a capacidade de transporte dos produtos, inicia-se a ocupação da chamada Vila Martin Smith. Esta parte da ocupação da Vila de Paranapiacaba, com forte influência inglesa, é considerada urbanisticamente planejada. (LAMARCA, 2008). A Vila de Paranapiacaba destaca-se por ser testemunha de práticas revolucionárias para a época em que foi ocupada. Para a implantação da ferrovia foram utilizadas tecnologia e um sistema de logística ferroviária inovadores, marcando deste modo o início da cultura ferroviária no Brasil vinculada à economia cafeeira (RODRIGUES, 2014). A Vila Martin Smith, por sua vez, apresenta-se como destaque arquitetônico por se tratar de um modelo de infraestrutura urbanística moderna (MINAMI, 2004).

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Leitura e Proposta de Requalificação Urbana da Vila Ferroviária

Em 1970 a Vila de Paranapiacaba foi reconhecida como Patrimônio Natural pela UNESCO, por estar instalada em área inserida em uma Reserva de Mata Atlântica, em função da diversidade de fatores físicos e ambientais que se encontravam preservados (SCIFONI, 2014). Em 1987 recebe tombamento a nível estadual, em 2002, na escala federal e em 2003 na municipal (ALAMINO, 2011). Até o ano de 1999 a Vila de Paranapiacaba era administrada pela Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA). Em 2002, com falência desta empresa, é adquirida pela Prefeitura Municipal de Santo André (PMSA, 2013a). A partir daquele momento a PMSA inicia a implementação de políticas públicas de incentivo ao turismo e permanência da população, propiciando o envolvimento com o patrimônio, que nesta época se encontrava em estado de degradação e abandono (FIGUEIREDO, 2006). Apesar de implementadas ações visando integrar questões patrimoniais, ambientais, socioeconômicas, culturais e turísticas, dados da Secretaria de Desenvolvimento Urbano da Prefeitura Municipal de Santo André mostram que os índices relacionados ao fluxo turístico, à economia e ao número de habitantes na área tiveram queda nos últimos anos. Diante da problemática do baixo aproveitamento do potencial histórico, ambiental e turístico da Vila de Paranapiacaba, atrelado a precarização dos equipamentos e da infraestrutura urbana, além da redução da densidade demográfica, este trabalho tem por objetivo estudar brevemente os conceitos de patrimônio, relacionando-os aos dados levantados em campo e demais fornecidos pela PMSA.

A metodologia utilizada para a pesquisa e o projeto partiu da identificação dos pontos relevantes existentes, com base nos conceitos e teorias vinculadas à qualificação de áreas consideradas patrimônio histórico, cultural e ou ambiental, para propor a requalificação urbana da Vila. Desta forma, é proposto um Plano Urbanístico, que visa a ampliação do número de visitantes, desvinculado dos períodos que acontecem eventos programados, evitando a sazonalidade do fluxo turístico e econômico, valorizando o potencial da região, bem como o aumento da qualidade de vida dos moradores. Além disso, é proposta a implantação de um equipamento que viabilize uma conexão física e cultural mais franca entre as ocupações que formam a Vila e os visitantes, promovendo o envolvimento da população e o fortalecimento de sua identidade. A presente monografia desenvolve-se em três capítulos, sendo no primeiro apresentado um breve histórico da formação e da ocupação da Vila de Paranapiacaba, seguida de uma leitura urbana atual. O segundo capítulo apresenta os conceitos sobre patrimônio e a identificação na Vila de Paranapiacaba daqueles considerados natural, histórico, ferroviário, arquitetônico e cultural. E no terceiro capítulo apresenta-se a proposta urbana e arquitetônica para a área como conclusão da pesquisa. Espera-se que a leitura do trabalho seja apreciada e traga maior visibilidade para que a Vila de Paranapiacaba seja preservada pelo patrimônio que representa para o Brasil.

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2. História e Formação da Vila de Paranapiacaba 2.1. Contextualização

O distrito de Paranapiacaba1 pertence ao município de Santo André, Região Metropolitana de São Paulo (Mapa 01), e apresenta em sua paisagem aspectos do desenvolvimento econômico atrelado ao sistema ferroviário, sendo um dos maiores e mais importantes legados da implantação das estradas de ferro do Brasil. Os complexos ferroviários e as vilas operárias, provenientes dos investimentos de algumas empresas e companhias, se destacaram no cenário brasileiro por fazerem parte do processo de desenvolvimento social e econômico, principalmente em São Paulo. No percurso entre Santo André e a Vila de Paranapiacaba, três outras cidades são interceptadas – Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra – resultando numa distância de aproximadamente 35km (Mapa 02). Apesar desta distância, a gestão2 da Vila está sob a responsabilidade de Santo André. A dinâmica urbana das duas localidades é completamente diferente: enquanto a cidade de Santo André apresenta um desenvolvimento urbano crescente, a Vila, com parte da paisagem natural preservada, apresenta um desenvolvimento praticamente estagnado. Em contrapartida, a Vila caracteriza-se como uma espécie de “respiro” frente ao acelerado 1

“PARANAPIACABA”: Lugar de onde se avista o mar. Do tupi: paranã – mar. epiak – ver. aba – lugar. Significado retirado do Dicionário Tupi Guarani, (<http://www.dicionariotupiguarani.com.br/>, 2016).

processo de urbanização, não só de Santo André, mas também dos municípios vizinhos. No que diz respeito à organização, o território da Vila de Paranapiacaba é dividido em duas partes: a Parte Alta e a Parte Baixa. Quanto à topografia, a primeira apresenta altitudes de até 900m e a segunda em torno de 800m. Quanto à ocupação, a divisão considera três setores provenientes da implantação da linha férrea (Mapa 03), uma vez que a Parte Baixa foi ocupada em dois momentos diversos, dando origem à Vila Velha e Vila Martin Smith. Quanto aos métodos e características construtivas em função da variação de períodos e da instalação de grupos de diferentes descendências e nacionalidades, a Vila de Paranapiacaba apresenta variações nas características construtivas – inclusive em termos de organização urbana e implantação ocupacional.

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As especificidades referentes à administração de Paranapiacaba serão apresentadas no item 2.4 desta monografia.

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Leitura e Proposta de Requalificação Urbana da Vila Ferroviária

Mapa 01 - Relação de localização estado de São Paulo, cidade de Santo André e Vila de Paranapiacaba. Fonte: PMSA, 2008. Adaptado pela autora, 2017.

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Mapa 2 – Caminho do centro cidade de Santo André à Vila de Paranapiacaba Fonte: Google Earth, 2017. Adaptado pela autora, 2017.

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Leitura e Proposta de Requalificação Urbana da Vila Ferroviária

2.2. Formação e ocupação da Vila (1860 – 1899)

Tendo como contexto o Brasil governado por Dom Pedro II, no cenário paulista do século XIX, a cultura cafeeira iniciava o processo de substituição da lavoura de cana-de-açúcar para a do café, além da expansão da comercialização de produtos para o mercado exterior (KLEEB, 2014). Como apresenta Lamarca (2008), considerando a intensa produção cafeeira no interior paulista, principalmente na região de Campinas, Jundiaí, Piracicaba e Sorocaba, e visando a sua evolução, tornavam-se necessárias medidas que promovessem o desenvolvimento e melhoria do escoamento do café ao porto de Santos, uma vez que este produto exigia maior velocidade e qualidade na transposição da Serra do Mar.

dispostos a investir na construção da estada de ferro. Esta medida resultou na união do Marquês de Monte Alegre, do Conselheiro José Antônio de Pimenta Bueno e de Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, visando a concessão da implantação da linha férrea. A primeira linha férrea brasileira foi inaugurada em 1854, permitindo a interligação entre os meios de transporte hidroviário e ferroviário entre a Baía de Guanabara e Petrópolis (RODRIGUES, 2014). Dois anos mais tarde, através do Decreto Imperial Nº1759, em 1856, foi concedido à São Paulo Railway o direito da construção da Estrada de Ferro Santos Jundiaí, além da concessão para sua exploração com prazo de noventa anos (LAMARCA, 2008).

Segundo Silva (2014), a ligação entre o interior paulista e o litoral era realizada pela Estrada da Maioridade, criada em 1840, por onde era possível a circulação de veículos com tração animal, tanto para transportes de passageiros, quanto de cargas. Porém, em função das condições do desenho e do pavimento da estrada, tanto o tempo de viagem como a preservação das características dos produtos eram comprometidas. Diante deste panorama, o então presidente provincial de São Paulo, José Antônio Saraiva, mobilizouse em defesa da implantação da linha férrea para a realização deste percurso.

As condições de investimento e retorno de capital fizeram com que aumentasse o interesse de investimento dos ingleses pelas políticas de incentivo e busca da normalização das relações políticas, abaladas após o termino do tráfico negreiro, entre os impérios do Brasil e da Inglaterra. A Inglaterra então, provida da tecnologia das máquinas a vapor, promoveu iniciativas para a melhoria dos deslocamentos em solo paulista, buscando o desenvolvimento no processo de importação e exportação das mercadorias brasileiras (SILVA, 2014).

Ainda segundo Silva (2014), em 1852, uma lei geral do Império concedia a isenção de impostos na importação de mercadorias e direito de desapropriações àqueles que estivessem

As obras para a implantação da linha férrea que ligaria Santos a Jundiaí através de um sistema funicular iniciaram em 1860, tendo como grande dificuldade vencer o desnível de cerca de 800m entre o topo da Serra do Mar e o Porto de São Vicente. Sob o comando do

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engenheiro Daniel Fox, que estabeleceu o Alto da Serra como local estratégico para a implantação da ferrovia, a empresa Robert Sharp & Sons contratou cerca de 5000 homens para trabalhar na construção da linha férrea. Estes trabalhadores, por sua vez, se instalaram em um acampamento, por volta do ano de 1861 (LAMARCA, 2008). As obras para a implantação da linha férrea se estenderam por cerca de seis anos (Figuras 01 e 02) e se destacaram pela complexidade de seus projetos e fases, sendo a construção do Viaduto da Grota Funda (Figura 03) considerada uma inovação em termos de engenharia no Brasil naquele momento. Inaugurado em 1867 e considerado a maior obra da ferrovia, o viaduto tem aproximadamente 300m de comprimento e 90m de altura, de modo a transpor o vale da Serra do Mar (VEIGA, 2011).

Figura 01 - Assentamento de trilhos na Estação Alto da Serra Fonte: Imagem de Militão Azevedo, 1865. Disponível em: <http://www.ferroviaspr.com.br/paranapiacaba/>. Acesso em: 25 out. 2016.

Com o término da construção da ferrovia, grande parte dos trabalhadores envolvidos na implantação da linha férrea foram dispensados, permanecendo os que operavam e administravam o sistema ferroviário. Estes trabalhadores foram os primeiros a se fixar na região, até então denominada Alto da Serra (MINAMI, 2004). A ocupação do Alto da Serra chamou a atenção de investidores como Bento José Rodrigues da Silva, morador de Mogi das Cruzes e produtor de artigos alimentícios e construtivos, que resolveu implementar algumas medidas para o desenvolvimento da região, como a abertura do caminho que a ligava ao povoado de Mogi das Cruzes, pelo qual transportava sua produção de mercadorias, e a doação de terras, localizadas na Parte Alta, adquiridas através de uma requisição de território ao governo (LAMARCA, 2008).

Figura 02 - Assentamento de Trilhos na Estação de Alto da Serra Fonte: Imagem de autor desconhecido, 1865. Disponível em: <http://www.estacoesferroviarias.com.br/p/paranapiacaba.htm>. Acesso em: 25 out. 2016.

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Leitura e Proposta de Requalificação Urbana da Vila Ferroviária

Assim, no início da ocupação, a Parte Baixa abrigava equipamentos da ferrovia e as primeiras habitações operárias, feitas de pau-a-pique e dispostas desordenadamente na chamada Vila Velha. A ocupação da Parte Alta foi iniciada por imigrantes portugueses, em sua maioria comerciantes, com um parcelamento, onde os lotes eram estreitos e alinhados, com as casas erigidas sem recuo, geminadas, variadas em madeira e alvenaria, com fachadas pintadas com tinta em cores vivas. O investimento destes comerciantes tinha por objetivo atender aos operários da ferrovia, criando assim um núcleo de serviços. Deste modo, na ocupação da Parte Alta eram encontrados os usos residencial e comercial (LAMARCA, 2008). Em 1867, com a inauguração da ferrovia e da primeira Estação Alto da Serra, as residências dos funcionários envolvidos na construção da ferrovia, até então temporárias, tornaram-se permanentes dos operários voltados à manutenção desta, consolidando a ocupação da área (LAMARCA, 2008). A Igreja Senhor Bom Jesus de Paranapiacaba, localizada na Parte Alta, construída em um terreno doado por Bento Rodrigues, foi inaugurada em 1889 e atualmente é um dos marcos referenciais desta parte da ocupação (FIGUEIREDO, 2010).

Figura 01 - Viaduto da Grota Funda Fonte: Acervo da SPR Paranapiacaba, 1867 (In LAMARCA, 2008).

Em 1892 a São Paulo Railway inicia os levantamentos para a duplicação da via férrea na Serra do Mar tendo como objetivo a ampliação da capacidade de transporte. Paralelamente a isso, a empresa promove a ocupação mais recente da Parte Baixa, dando origem à Vila Martin Smith. A tipologia construtiva desta ocupação tinha as características da arquitetura inglesa da época, numa

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perspectiva da cultura moderna, com origens na Revolução Industrial3, onde a madeira passa a ser utilizada como sistema construtivo (LAMARCA, 2008). A madeira também foi utilizada na construção da passarela sobre a linha férrea, em 1899, elemento com estrutura metálica, com piso em madeira, que compõe a paisagem da vila ferroviária (GRANCONATO, 2012). A infraestrutura necessária para a ocupação com qualidade na área, como captação de água, alinhamentos regulares e arborização das ruas, baseava-se nos padrões sanitários europeus. Esta adequação foi implantada em toda a Parte Baixa e, portanto, a Vila Velha, que teve suas antigas construções de pau-a-pique substituídas, também recebeu infraestrutura, trazendo qualidade de vida à população. (LAMARCA, 2008).

Figura 04 – Antigo Mercado de Secos e Molhados. Fonte: Acervo da SPR Paranapiacaba (In LAMARCA, 2008).

A infraestrutura urbana oferecia condições de lazer, emprego, transporte e abastecimento (Figura 04), e, como apresenta Lamarca (2008), era ponto de encontro de eventos esportivos e festivos, através dos seus equipamentos conservados e bem aproveitados. Os trens que chegavam de São Paulo apresentavam uma composição média de dez vagões, sendo nove deles para transporte de passageiros, com a locomotiva dianteira do tipo Maria Fumaça (Figura 05). Figura 05 – Trem chegando na Estação Alto da Serra. Fonte: Acervo da SPR Paranapiacaba (In LAMARCA, 2008).

3 A Revolução

Industrial ocorreu na Inglaterra entre os séculos XVIII e XIX e foi caracterizada como um conjunto de mudanças no contexto europeu, resultando numa transformação no setor produtivo, com avanço tecnológico e industrial (FREITAS, 2016).

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Leitura e Proposta de Requalificação Urbana da Vila Ferroviária

Mapa 03 - Setorização da Vila de Paranapiacaba Fonte: Google Earth, 2017. Adaptado pela autora, 2017.

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2.3. Principais transformações e consolidação da Vila (1899 – 2002)

Em 1898 foi construída a segunda edificação da Estação Alto da Serra (Figura 06), em madeira envernizada, onde seriam desenvolvidas atividades comerciais. Nela foi instalado um relógio com caraterísticas muito próximas às do Big Ben4 (KLEEB, 2014), em alusão à ocupação de origem inglesa. Segundo Lamarca (2008), nesta época, havia na Vila uma escola primária e um hospital, além de áreas de lazer e esporte. Inaugurado em 1900, o Clube União Lyra Serrano, estabelece uma época áurea na formação da Vila, que durou até meados da década de 1940. Estabelece-se então neste momento, simultaneamente, a fixação da população e a consolidação da Vila.

Figura 06 - Segunda edificação da Estação Alto da Serra Fonte: Imagem de Cartão Postal, séc. XX. Disponível em: <http://www.estacoesferroviarias.com.br/p/paranapiacaba.htm>. Acesso em: 25 out. 2016

Em 1901, o antigo Viaduto da Grota Funda, inaugurado em 1867, foi substituído por uma nova construção em concreto (Figura 07), vencendo os mesmos 300m de comprimento (VEIGA, 2011). Segundo Silva (2014), em 1945, a Estação Alto da Serra foi renomeada Estação Paranapiacaba e em 1969, com o fim da concessão da São Paulo Railway, a linha férrea passa a se chamar Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, sendo assumida pela Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA)5. Em 1974, com a instalação do Sistema Cremalheira (Figura 08) modernização que auxiliava o processo de frenagem do trem na

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Relógio instalado no Palácio de Westminster, em 1859, considerado um dos maiores símbolos representativos do Reino Unido (KLEEB, 2014).

Figura 07 - Novo viaduto em operação e ruínas do antigo Fonte: Imagem de Veiga, 2011. Disponível em: <http://oblogferroviario.blogspot.com.br/2011/07/o-viaduto-da-grota-funda.html>. Acesso em: 25 out. 2016 5

RFFSA foi uma estatal brasileira criada em 1957 com o objetivo de administrar, conservar e desenvolver as estradas ferro do país (RODRIGUES, 2014).

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Leitura e Proposta de Requalificação Urbana da Vila Ferroviária

descida e de tração na subida - a rota realizada pelo sistema funicular foi reduzida pela metade, sendo demitida ou aposentada grande parte dos funcionários ferroviários, refletindo no número de empregos oferecidos na região (LAMARCA, 2008).

Entre 1980 e 1990, o crescimento de investimento em outros meios de transporte ocasionaram a redução do uso e incentivos à atividade ferroviária, trazendo impactos negativos à administração federal da RFFSA que, com a ascensão rodoviária, entra em processo de falência em 1999 e começa a liquidar seu patrimônio para pagar as dívidas com o governo federal (PMSA, 2013a). Segundo Moretto (2004), entre os anos de 1994 e 2001, Paranapiacaba passa a ser atendida apenas por trens metropolitanos da CPTM (Figura 09). E no ano de 2002, a Prefeitura Municipal de Santo André realiza a compra da Vila de Paranapiacaba (PMSA, 2013a).

Figura 08 - Teste do Sistema Cremalheira, 1974. Disponível em: <http://vidadmaquinista.blogspot.com.br/2012/08/sistema-cremalheira-aderencia-da-mrs.html>. Acesso em: 25 fev. 2017

A segunda edificação da estação ferroviária foi desativada em 1977 e alvo de um incêndio que a destruiu, em 1981, mesmo ano em que o sistema funicular foi desativado. Foi então construída a terceira edificação, a da atual estação turística, e o relógio foi deslocado do alto da segunda estação para a base em que se encontra implantado até os dias de hoje (RODRIGUES, 2014).

Figura 09 - Trem da CPTM chega a Paranapiacaba Fonte: Imagem de Vanderley Zago, 1998. Disponível em: <http://www.estacoesferroviarias.com.br/p/paranapiacaba.htm>. Acesso em: 25 fev. 2017

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2.4 Leitura urbana (2002 – 2017) Localizada no território do município de Santo André6 e ofertada perante a falência da RFFSA, a Prefeitura Municipal de Santo André efetivou a negociação e compra da Vila de Paranapiacaba, durante gestão do prefeito Celso Daniel, em 2002, tornando-se responsável por sua manutenção e administração. A Prefeitura passou a desenvolver medidas de conservação do patrimônio histórico e ambiental, além de tentativas de promover a região, como a criação de eventos e programas de turismo para a área (PMSA, 2013b). Esta vertente administrativa começou considerando o panorama a que Paranapiacaba se encontrava em termos sociais, econômicos, estruturais e políticos. Em função da desativação do trem e a falta de manutenção da estrutura existente, Paranapiacaba foi se tornando cenário de abandono, refletindo até mesmo na redução do número de habitantes (COSTA; NETO, 2002). Santos (2002) aborda o abandono por parte do poder público com relação à Paranapiacaba, resultando em avançado estado de deterioração, que, segundo a arquiteta, comprova que proteções legais como o tombamento7 não garantem a integridade da área, nem mesmo do ponto de vista técnico e fiscal, e cita que a sobrevivência de Paranapiacaba se deve à dedicação de seus moradores e voluntários. Minami (2002) aborda a necessidade de

reversão do processo de deterioração da infraestrutura física e levanta o risco de descaracterização do complexo mediante o descuido com a área. Segundo Gehl (2014), o que atrai vida a um local é a qualidade do espaço fornecido, de modo que a dinâmica urbana atue como um processo de auto reforço, onde as pessoas se sentem confortáveis usufruindo de um espaço e assim atraem potenciais usuários, gerando um ciclo positivo. Com relação à Paranapiacaba, a prevalente situação de degradação gerou espaços sem qualidade de vivências, o que reduz a atratividade da região. De acordo com dados do IBGE (2010, apud D’AGOSTINI; ABASCAL, 2014), a Vila de Paranapiacaba apresentou uma redução demográfica de 35% nos últimos dez anos. Considerando que sua população no ano de 2000 era de 1418 habitantes, o CENSO (IBGE, 2010, apud D’AGOSTINI; ABASCAL, 2014) aponta que em 2010 passou para o número de 921. D’Agostini e Abascal (2014) comentam que o CENSO em 2010 também apontou a procura por oportunidades de emprego pelos moradores em cidades vizinhas, indicando que as oportunidades locais não atendiam satisfatoriamente a população.

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Emancipada como município em 1940, Santo André começou a ser ocupada em 1637, como parte da Fazenda São Bernardo. Em meados do século XIX, foi instalada a ferrovia nas proximidades do Rio Tamanduateí, atraindo muitas indústrias para a área, que atualmente engloba o Grande ABC paulista. Em 1889 foi criado o município de São Bernardo do Campo e em 1910 surge o distrito de Santo André como denominação das áreas próximas à Estação Ferroviária, emancipado em 1940 como município (PMSA, 2013c).

7 As especificidades relacionadas aos tombamentos de Paranapiacaba

se encontram no item

3.3 desta monografia.

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Leitura e Proposta de Requalificação Urbana da Vila Ferroviária

Paranapiacaba foi aos poucos se transformando em “cidade dormitório”, uma vez que os moradores deixavam a Vila durante o dia para realização de suas atividades, voltando apenas ao final da tarde (MINAMI, 2002). Atrelado a isso, a partir de 2002 a atividade ferroviária foi gradativamente desativada, limitando as ofertas de transporte aos moradores, induzindo a um processo de esvaziamento da Vila (LIMA, 2015). Segundo Kevin Lynch (1960, apud MINAMI, 2004), os elementos móveis de uma localidade, as pessoas e suas dinâmicas, apresentam o mesmo grau de importância que sua existência física e imóvel, por fazerem parte da complexidade urbana. Diante da necessidade de tratar as questões da Vila de Paranapiacaba de maneira específica e diferente do município de Santo André, foi criada a Subprefeitura de Paranapiacaba e Parque Andreense em 2002. Ambas as áreas eram até então gerenciadas pela Prefeitura de Santo André. A autonomia da gestão promovia um modelo descentralizador, que desenvolvia políticas, programas e planejamentos voltados às condições específicas da Vila e à sua estrutura física e administrativa (FIGUEIREDO, 2010). Figueiredo8 (2006), aborda as experiências provenientes de um modelo de gestão participativa, que promoveu políticas públicas integradas, envolvendo questões ambientais, socioeconômicas e culturais, visando direcionar o desenvolvimento e preservação do

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Vanessa Gayego Bello Figueiredo é arquiteta, urbanista e foi subprefeita de Paranapiacaba no período de 2007 a 2009 (FIGUEIREDO, 2012).

local através do planejamento sustentável e da participação política, administrativa e popular. A partir da criação da Subprefeitura de Paranapiacaba e Parque Andreense viabilizou-se a integração entre as políticas de preservação do patrimônio cultural, conservação ambiental, turismo sustentável, desenvolvimento social, planejamento urbano e participação cidadã necessárias à promoção do desenvolvimento local com sustentabilidade. (FIGUEIREDO, 2010)

Após a compra da Vila de Paranapiacaba pelo município de Santo André, a prefeitura passou a cobrar aluguel dos que ocupavam as moradias da Vila e a promover políticas públicas que englobavam programas de inclusão social, no sentido de viabilizar a permanência daquela população. Por meio de um contrato, levando em consideração o perfil socioeconômico predominante da população, os moradores passaram a assumir compromissos com a prefeitura. O valor do aluguel era reduzido através da participação nos programas promovidos, visando intensificar a relação dos moradores com a conscientização do patrimônio (LIMA, 2015). Uma das iniciativas administrativas da Subprefeitura foi a criação do Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba9, em 2003, visando a conservação e a valorização dos aspectos naturais da Vila (PMSA, 2013a). Segundo Ramos (2014), o Parque foi criado na intenção de assegurar que os recursos naturais e a diversidade biológica existentes fossem preservados, bem como viabilizar a 9

As especificidades relacionadas ao Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba se encontram no item 3.2.1 desta monografia.

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UM OLHAR SOBRE PARANAPIACABA

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promoção de iniciativas educativas e sociais de integração e interpretação nos aspectos ecológicos da Vila de Paranapiacaba. Ainda em 2003 foi elaborado o chamado “Plano Patrimônio”, uma iniciativa da Subprefeitura que tinha por objetivo intensificar o interesse pela moradia e turismo na área. Por meio da atuação deste plano foram elencados eventos que funcionariam como atrativos turísticos e que atualmente compõem o Calendário Anual de Paranapiacaba, como o Festival Gastronômico do Cambuci, o Festival de Inverno, a Festa de Bruxas e Magos, entre outros. (FIGUEIREDO, 2006). Com relação ao envolvimento da população nas iniciativas, foram estabelecidos cursos profissionalizantes que permitiram o engajamento com as propostas de intervenções e práticas voltadas à conscientização de preservação e incentivo ao turismo sustentável10. A partir de 2002 foi implementado um modelo de gestão descentralizada, sendo criados alguns instrumentos de participação, como os Fóruns de Monitores, Comissão de Festas, Comissão da ZEIPP e Orçamento Participativo (FIGUEIREDO, 2012).

de Paranapiacaba, conciliando diretrizes, instrumentos e parâmetros de questões como preservação cultural e ambiental, gestão territorial, desenvolvimento urbano e econômico, sustentabilidade dos patrimônios materiais e imateriais e da qualidade de vida dos moradores (FIGUEIREDO, 2006). A ZEIPP definiu uma divisão da Vila de Paranapiacaba em setores, facilitando a gestão e o planejamento urbano (conforme Mapa 04), de acordo com as especificidades dos usos de solo existentes. Este zoneamento estabelece áreas predominantemente residenciais e as distingue das comerciais e turísticas. A Lei definiu conceitos urbanísticos como parâmetros de ocupação dos lotes, estabelecimento de recuos mínimos, taxas de permeabilidade, níveis de emissão sonora e diretrizes de preservação das edificações. Além disso, destacou imóveis representativos como exemplares de cada tipologia, indicando os padrões de intervenções que podem ser realizadas em possíveis manutenções (FIGUEIREDO, 2006).

Em 2007 é regulamentada a Lei ZEIPP – Zona Especial de Interesse do Patrimônio de Paranapiacaba (Lei Municipal nº 9.018), que havia sido incluída no Plano Diretor de Santo André (Lei Municipal nº 8.696), aprovado em 2004 de forma participativa. A ZEIPP foi aprovada com 50% de representatividade da população local, tratando-se de um instrumento de orientação à gestão da Vila 10

Turismo sustentável se refere a práticas turísticas que englobam questões sociais, econômicas e ecológicas, buscando satisfazer visitantes e simultaneamente, promover medidas de conscientização e conservação de áreas que necessitam de proteção (RAMOS,

2014). As especificidades relacionadas ao Turismo Sustentável se encontram no item 3.2.1 desta monografia.

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Leitura e Proposta de Requalificação Urbana da Vila Ferroviária

Mapa 04 - Setorização da Lei de Zoneamento Fonte: FIGUEIREDO, 2006.

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UM OLHAR SOBRE PARANAPIACABA

Em 2005, foi instaurado o Programa de Qualificação dos Serviços Turísticos (PQST), que incentivou a criação de programas de hospedagem como o Portas Abertas, o Fog & Fogão, o Bed and Breakfast, o Atelier-Residência. Em 2006, cursos de educação patrimonial foram criados, visando a formação de monitores culturais (FIGUEIREDO, 2006). Em sua pesquisa entre os anos de 2004 a 2007, com o objetivo de orientar futuras intervenções na Vila de Paranapiacaba, Lima11 (2015) promove levantamentos em dois âmbitos, sendo o primeiro de caráter técnico e construtivo, e o segundo a respeito dos moradores da Vila e suas características. A partir de análises, comenta que o processo de degradação e esvaziamento faz com que a Vila figure na lista de monumentos históricos com risco de desaparecimento, organizada pela World Monuments Fund, em 2002. A Cooperativa de Restauradores, criada em 2008, capacitou moradores para a indicação de produtos e elementos construtivos específicos para utilização em intervenções arquitetônicas nas construções (FIGUEIREDO, 2012). Lima (2015) considera este modelo o mais sustentável, por qualificar a mão de obra, gerar oportunidade de renda e promover preocupações vinculadas à restauração, envolvendo questões sentimentais por parte dos moradores. O Museu Castelo e o Clube União Lyra Serrano foram restaurados em 2004, o que, segundo Lima (2015), já demonstrava um interesse 11 Gilson Lameira de Lima é professor da Universidade Federal do ABC e é o responsável pela

pesquisa “Diretrizes e Procedimentos para Recuperação do Patrimônio Habitacional em Madeira na Vila Ferroviária de Paranapiacaba”, parceria da UFABC, da Prefeitura Municipal

do poder público em buscar recursos para melhorias na área. Além disso, ao longo da pesquisa, foi realizado o chamado “Pesquisa Ação”, que promovia a realização do restauro de quatro casas geminadas, que serviram como uma espécie de laboratório para treinamento de mão-de-obra, depois transformado no Centro de Documentação de Arquitetura e Urbanismo (CDARQ), viabilizando a abertura para público e visitação na edificação. Lima (2015) cita ainda que levantou dados para uma análise documental que resultou no chamado Plano Técnico, uma contribuição para a inserção da Vila de Paranapiacaba no Programa de Aceleração (PAC) – Cidades Históricas, do Governo Federal, em 2007. O Plano Técnico, apresentado pela Prefeitura de Santo André ao Governo Federal, viabilizou o investimento de R$41 milhões na recuperação de 242 imóveis (LIMA, 2015). As intervenções na área a serem realizadas pelo PAC – Cidades Históricas, tinham por objetivo viabilizar uma melhoria das condições das construções, parâmetro necessário para que a Vila concorresse ao título de Patrimônio da Humanidade, junto à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). A UNESCO requer que as condições do local estejam adequadas, e as edificações estejam íntegras e fiéis ao que eram originalmente, e desta forma foram elencados, entre os 242 imóveis, alguns edifícios notáveis para a restauração, como a

de Santo André e da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) dentro do Programa de Pesquisa em Políticas Públicas.

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Leitura e Proposta de Requalificação Urbana da Vila Ferroviária

Biblioteca de Paranapiacaba (Figura 10), os galpões das oficinas de manutenção da ferrovia e seu almoxarifado (BARATTO, 2015). A ordem de serviço para início das ações foi emitida em junho de 2015, com o prazo para que a maior parte do processo de restauração estivesse executado (LIMA, 2015). Durante visita à Vila em maio de 2017, foi possível observar o andamento do processo de restauração de algumas casas, as quais se encontravam em aparente processo de obras, outras já estavam com as vedações de madeira e a pintura renovadas. Gradativamente o aspecto estético da Vila segue melhorando. Porém, um grande número de imóveis permanece com aparente aspecto de degradação (Figura 11, 12, 13 e 14).

Figura 11 – Igreja Sr. Bom Jesus de Paranapiacaba Fonte: autora, 2017.

Figura 12 – R. William Speers Fonte: autora, 2017.

Figura 10 – Biblioteca restaurada Fonte: autora, 2017.

Figura 13 – Casa abandonada Fonte: autora, 2017.

Figura 14 – Trem abandonado Fonte: autora, 2017.

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UM OLHAR SOBRE PARANAPIACABA

O levantamento realizado pela autora permitiu registrar a relação entre o estado das edificações, seus usos e a atuação da administração pública, baseando-se nas identificações encontradas em placas externas afixadas nas fachadas das edificações (Figura 15), uma iniciativa da Prefeitura Municipal de Santo André.

Mapa 05 – Estabelecimentos comerciais e hospedagens Fonte: Google Earth, 2017. Adaptado pela autora, 2017.

Figura 15– Modelo de placa de identificação das edificações Fonte: autora, 2017.

Seguem os mapas com os resultados do levantamento da autora para a presente pesquisa: Mapa 06 – Residências ocupadas Fonte: Google Earth, 2017. Adaptado pela autora, 2017.

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Leitura e Proposta de Requalificação Urbana da Vila Ferroviária

Mapa 07 – Equipamentos de serviço Fonte: Google Earth, 2017. Adaptado pela autora, 2017.

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UM OLHAR SOBRE PARANAPIACABA

Mapa 08 – Edifícios históricos Fonte: Google Earth, 2017. Adaptado pela autora, 2017.

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Leitura e Proposta de Requalificação Urbana da Vila Ferroviária

Figura 16 – Setor da ferrovia abandonado Fonte: autora, 2017.

Mapa 09 - Edificações subutilizadas Fonte: Google Earth, 2017. Adaptado pela autora, 2017.

Mapa 10 – Edificações abandonadas Fonte: Google Earth, 2017. Adaptado pela autora, 2017.

Figura 17 – Piso da passarela Fonte: autora, 2017.

Analisando os mapas, nota-se existência significativa de áreas subutilizadas ou vazias (Mapas 09 e 10). O setor da ferrovia atualmente é composto por vagões abandonados e enferrujados, com alto grau de degradação, dispostos em meio a ferrovia desativada (Figura 16). A passarela metálica, principal elemento de transposição sobre a linha férrea, apresenta falha no piso de tábuas de madeira (Figura 17), sendo observada a falta de manutenção. A existência de casas abandonadas configura um cenário de degradação, com imóveis propensos a vandalismo e invasões. Os atrativos da Vila apresentam-se isolados e durante visita, foi notada a ausência de espaços públicos de qualidade. As ruas da Vila são usadas apenas para deslocamento. O ideal para que um local seja atrativo é conter a presença de espaços públicos de qualidade, de modo a transformar passagens diretas em percursos e promover a oportunidade de caminhar como algo vinculado à permanência, conforto e vivência de experiências, resultando numa dinâmica urbana viva e atrativa (GEHL, 2014). Segundo Jacobs (2014), um

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UM OLHAR SOBRE PARANAPIACABA

bairro eficiente deve valorizar a presença de vida nas ruas, buscando o envolvimento da população no tecido urbano, valorizando percursos e espaços públicos, integrando-os na malha urbana. Levantamentos fornecidos pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano de Santo André, vinculada à PMSA, apresentam uma redução de 13% no fluxo de visitação do Mercado de Secos e Molhados (Figura 19) entre 2004 e 2008 (Gráfico 01). O Museu Castelo (Figura 18), entre 2002 e 2008 apresentou um aumento de 136% (Gráfico 02) e o Clube União Lyra Serrano (Figura 20), de 2005 a 2008 apresentou um aumento de 30% (Gráfico 03). Estes índices não apresentam atualização com relação aos últimos anos e o início dos levantamentos é baseado no ano de abertura da edificação à visitação pública. O Museu Funicular (Figura 21), localizado em galpões desativados da ferrovia, é um equipamento turístico da Vila, porém não foram fornecidos índices a seu respeito.

Museu Castelo 14.000 12.000 10.000 8.000 6.000 4.000 2.000 0 Fluxo de Visitação (número de pessoas) 2002

2004

2005

2006

2007

2008

Gráfico 02 - Fluxo de visitação no Museu Castelo Fonte: Tabela fornecida (PMSA), adaptada pela autora, 2017.

Mercado de Secos e Molhados 60.000 50.000 40.000 30.000 20.000 10.000 0

2003

Clube União Lyra Serrano 30.000 25.000 20.000 15.000 10.000 5.000 0

Fluxo de Visitação (número de pessoas) 2004

2005

2006

2007

2008

Gráfico 01 - Fluxo de visitação no Mercado de Secos e Molhados Fonte: Tabela fornecida (PMSA), adaptada pela autora, 2017.

Fluxo de Visitação (número de pessoas) 2005

2006

2007

2008

Gráfico 03 - Fluxo de visitação Clube União Lyra Serrano Fonte: Tabela fornecida (PMSA), adaptada pela autora, 2017.

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Leitura e Proposta de Requalificação Urbana da Vila Ferroviária

O levantamento atual com base na visitação à área, permitiu a análise de alguns edifícios de importância histórica, com o objetivo de atualizar os parâmetros vinculados às informações fornecidas pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano de Santo André. Conforme os Mapas 08, 09 e 10, alguns destes edifícios se encontram com capacidade turística subutilizada. O Museu Castelo por exemplo, em função de atos de vandalismo, desde o começo de 2016 só recebe visitação agendada, aos finais de semana. O Clube União Lyra Serrano, recebe a maioria dos visitantes durante os eventos realizados, atuando como espaço multicultural. O antigo Mercado de Secos e Molhados, é utilizado atualmente como espaço informal de vendas e exposições, com espaços e sanitários malconservados. O Museu Funicular é aberto para visitação e a antiga Estação Paranapiacaba abriga agora o embarque e desembarque do Expresso Turístico.

Figura 19 – Mercado de Secos e Molhados Fonte: autora, 2017.

.

Figura 18 – Museu Castelo Fonte: autora, 2017.

Figura 20 – Clube União Lyra Serrano Disponível em <http://www.abcdoabc.com.br/santo-andre/noticia/prefeituracontrata-empresa-manutencao-predios-paranapiacaba-22540>. Acesso em: 10 mar. 2017.

Figura 21 – Museu Funicular Fonte: autora, 2017.

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UM OLHAR SOBRE PARANAPIACABA

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Nos índices fornecidos pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano de Santo André, não constam de levantamentos entre os anos de 2009 a 2012. Em 2009, o então prefeito eleito Aidan Ravin (PTB), extingue a Subprefeitura de Paranapiacaba e Parque Andreense, de modo que esta passa a ser gerenciada pela Secretaria de Gestão de Recursos Naturais de Paranapiacaba. Segundo este prefeito, vincular a administração de Paranapiacaba ao gabinete era uma forma de redução de custos para o município de Santo André (GRANCONATO, 2008). No ano de 2013, durante o governo do prefeito Carlos Grana (PT), alguns dos levantamentos voltaram a ser realizados.

Um parâmetro que representa a atratividade da Vila ao longo do ano é a quantificação do número de visitantes por mês, conforme Tabela 01: 200212 Mês

As análises comparativas serão realizadas usando como base os períodos de início dos levantamentos de cada categoria, em um ano intermediário e o mais recente disponibilizado pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano.

2008

Público

Mês

2016

Público

Mês

Público

Janeiro

-

Janeiro

4.036

Janeiro

17.017

Fevereiro

-

Fevereiro

8.097

Fevereiro

18.178

Março

-

Março

9.674

Março

Abril

-

Abril

17.151

Abril

24.545

Maio

1.010

Maio

13.924

Maio

19.043

Junho

3.880

Junho

11.422

Junho

10.808

Julho

20.000

Julho

115.753

Julho

33.814

9.914

Agosto

4.110

Agosto

8.120

Agosto

16.302

Setembro

4.020

Setembro

5.974

Setembro

11.780

Outubro

3.550

Outubro

6.008

Outubro

11.236

Novembro

4.175

Novembro

11.604

Novembro

10.498

Dezembro

1.615

Dezembro

8.013

Dezembro

9.012

Tabela 01 - Fluxo mensal de visitação nos anos de 2003, 2008 e 2016. Fonte: Tabela fornecida (PMSA), adaptada pela autora, 2017.

Nota-se que o maior número de visitas se concentra nos meses que acontecem os eventos na Vila de Paranapiacaba, denotando um movimento sazonal13. O principal deles é o Festival de Inverno de

12

Os dados vinculados ao ano de 2002 começaram a ser computados após a Vila de Paranapiacaba ser incorporada ao município de Santo André.

13

O termo sazonalidade indica um fenômeno proveniente de alguma atração turística que causa um desequilíbrio no número de visitantes de um local em determinado período de tempo (LOHMANN; PANOSSO, 2012)

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Leitura e Proposta de Requalificação Urbana da Vila Ferroviária

Paranapiacaba (FIP), que acontece em julho, seguido do Festival do Cambuci, em abril. O número de visitantes total levantado em 2002 foi de 41.000, sendo que 20.000 destes estiveram em Paranapiacaba durante o Festival de Inverno. Em 2008, o total foi de 219.776 visitantes, sendo 115.753 no mês de julho e 104.023 nos demais meses. Em 2016, nota-se uma redução considerável no número de visitantes ao evento, com um total de 192.147, sendo 33.814 visitantes durante o Festival de Inverno e 158.333 nos demais meses. Isto mostra uma reversão do quadro de dependência do Festival de Inverno para a manutenção do fluxo turístico, sendo de 48% em 2002, 52% em 2008 e 18% em 2016, o que indica que as pessoas passaram a visitar Paranapiacaba de forma mais distribuída ao longo do ano (Gráficos 04 e 05).

Fluxo Turístico julho - FIP

Fluxo Turístico Total 300.000

140.000

250.000

120.000 100.000

200.000

80.000

150.000

60.000

100.000

40.000

50.000

20.000

0

0

Número de pessoas

Número de pessoas

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

Gráfico 04 - Fluxo turístico total Fonte: Tabela fornecida (PMSA), adaptado pela autora, 2017.

2009

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2009

Gráfico 05 - Fluxo turístico do Festival de Inverno Fonte: Tabela fornecida (PMSA), adaptado pela autora, 2017.

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UM OLHAR SOBRE PARANAPIACABA

Atrelado ao número de visitantes, vale analisar que, segundo índices fornecidos pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano de Santo André, nos últimos 14 anos, considerando os levantamentos até 2016, o Festival de Inverno de Paranapiacaba foi responsável por 73% do fluxo econômico total da Vila. Comparando os anos de 2002, 2008 e 2016, nota-se uma queda brusca com relação ao percentual do Festival de Inverno no total de fluxo econômico anual, representando respectivamente 68% no total de 2002, 92% em 2008 e 17% em 2016 (Gráficos 06 e 07).

Fluxo Econômico Total (R$)

Fluxo Econômico julho - FIP (R$)

9.000.000

5.000.000

8.000.000

4.500.000

7.000.000

4.000.000 3.500.000

6.000.000

3.000.000

5.000.000

2.500.000

4.000.000

2.000.000

3.000.000

1.500.000

2.000.000

1.000.000

1.000.000

500.000

0

0 Valor gasto por visitantes

Valor gasto por visitantes

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

Gráfico 06 – Fluxo econômico total Fonte: Tabela fornecida (PMSA), adaptado pela autora, 2017.

2009

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2009

Gráfico 07 - Fluxo econômico do Festival de Inverno Fonte: Tabela fornecida (PMSA), adaptado pela autora, 2017.

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Leitura e Proposta de Requalificação Urbana da Vila Ferroviária

Segundo Jan Gehl (2014), os eventos podem ser uma chave de atratividade de uma localidade, atuando como forma de inspiração de vida em áreas urbanas, partindo do conceito de concentração de pessoas e atividades, a fim de iniciar processos gradativos de evolução da atratividade de um local. A redução da dependência turística de Paranapiacaba do Festival de Inverno pode ser resultado desta teoria, considerando que, com o passar do tempo, o espaço se tornou popular por conta do evento e sua atratividade foi sendo intensificada como conjunto físico.

Empreendimentos turísticos 40 35 30 25 20 15 10 5

Segundo Lohmann e Panosso (2012), o objetivo da prática adequada do turismo é reduzir a sazonalidade. Consideram a temporalidade na prática turística uma das principais causas de baixo retorno de investimentos, da subutilização da capacidade física de determinado local e dos problemas com relação a retenção de mão de obra ao longo do ano. A sazonalidade indica mudanças drásticas no fluxo econômico, o que influi negativamente na questão da oferta e no comportamento da demanda. Com relação aos índices, a quantidade de empreendimentos vinculados à gestão turística também apresentou queda nos últimos anos. Com levantamentos realizados até o ano de 2013 (Gráfico 08), os dados indicam que, no ano de 2002, o número de empreendimentos era um total de 23, no ano de 2008, foram contabilizados 87 e em 2013, último ano em que foram colhidos os dados, o número caiu para 61. Atualmente, o levantamento realizado pela autora em 2017 apontou para 34 empreendimentos, aqueles indicados nos Mapas 05 e 07, representando uma queda de 55% se comparado ao ano de 2013.

0 Alimentação Hospedagem

2002

Arte e artesanato

2008

Serviços

Monitoria

2013

Gráfico 08 – Quantidade de empreendimentos turísticos Fonte: Tabela fornecida (PMSA), adaptado pela autora, 2017.

Segundo Jane Jacobs (2014), como forma de autodestruição, uma localidade com diversidade de usos torna-se atraente como conjunto, porém, com o passar do tempo, desenvolve-se uma potencial concorrência entre as ofertas, onde uma parcela se sobrepõe como dominante e suplanta os menos lucrativos, que acabam perdendo oportunidades na complexidade urbana. Assim, um lugar outrora bem-sucedido, pode se tornar gradativamente degradado, chegando a impulsionar a saída dos moradores em decorrência da falta de oportunidades (JACOBS, 2014). Esta teoria pode ser utilizada para promover uma ligação entre os índices de redução da população e de empreendimentos nos últimos anos em Paranapiacaba.

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UM OLHAR SOBRE PARANAPIACABA

Tratando dos aspectos físicos, o principal acesso à Vila de Paranapiacaba partindo da cidade de São Paulo se dá pela Rodovia Anchieta (SP-150), seguindo pela Rodovia Índio Tibiriçá (SP-031) até o município de Ribeirão Pires, onde se acessa a Rodovia Deputado Antônio Adib Chammas (SP-122), com cerca de 13km de extensão (Mapa 13). Existe também a possibilidade de acesso por transporte público, através da linha 10 - Turquesa da CPTM, partindo da Estação do Brás com destino à Estação Rio Grande da Serra, e a partir desta, por ônibus, segue com destino à Paranapiacaba (PMSA, 2011).

de uma das saídas da Rodovia Adib Chammas, sendo mais utilizada por moradores para acesso direto à Vila Velha e Martin Smith. Considerando o acesso principal à Vila, é permitido ao veículo visitante chegar até a proximidade com a Igreja Senhor Bom Jesus de Paranapiacaba, onde deve ser estacionado. Partindo deste local o percurso deve ser realizado a pé. A passagem de automóveis é restrita ao trânsito local, moradores, veículos oficiais e demais autorizados (Mapa 11).

Uma opção mais recente de transporte para a Vila é o Expresso Turístico que, com um percurso de 48km, passa pelas cidades de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra até a chegada em Paranapiacaba (PMSA, 2011). As partidas do Expresso são aos domingos pela manhã, saindo da Estação da Luz e da Estação Prefeito Celso Daniel – Santo André (Linha 10 – Turquesa da CPTM), mas, em função de restrições no funcionamento, o atendimento gera fila de espera. Segundo Issao Minami (2002), a gradativa inatividade da ferrovia é um dos maiores problemas da área, pois dificulta o transporte público entre as cidades da região metropolitana de São Paulo e a Vila. Além disso, esta estrutura que fazia parte da integração urbana, foi o principal fator de sua formação e deveria ser objeto de valorização. O acesso do público visitante se dá majoritariamente pela Parte Alta, considerando que é nesta área que existe infraestrutura de estacionamento e vias pavimentadas. Existe um acesso direto à Parte Baixa, que se dá por meio de uma estreita estrada de terra, partindo

Mapa 11 – Fluxo de automóveis. Fonte: Google Earth, 2017. Adaptado pela autora, 2017.

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Leitura e Proposta de Requalificação Urbana da Vila Ferroviária

Mapa 12 – Caminho entre o centro de São Paulo e a Vila de Paranapiacaba. Fonte: Google Earth, 2017. Adaptado pela autora, 2017.

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histórico da área, juntamente com a valorização do patrimônio envolvido. A tranquilidade, a sensação de segurança, a proximidade com a natureza e a vizinhança conhecida são aspectos levantados como parâmetros que os fazem sentir confortáveis em habitar a Vila.

Figura 22 – Placa de restrição ao fluxo de automóveis Fonte: autora, 2017.

Considerando que o principal destino dos turistas é a Parte Baixa da Vila, se faz necessária a transposição da Parte Alta para a Vila Martin Smith através da passarela metálica sobre a ferrovia, partindo da rua William Speers. A conexão entre a Igreja Senhor Bom Jesus de Paranapiacaba, ponto de acesso à Vila, e a rua William Speers pode se dá através da rua Albertino Duarte, com aproximadamente 23% de inclinação e da rua Antônio Thomaz, com 18% de inclinação. Estas duas ruas apresentam pavimentação em pedras, não contam com passeio público adequado e o espaço para a circulação de veículos e pedestres é conflitante (Mapa 13). De acordo com depoimentos dos moradores14 da Vila de Paranapiacaba (PIN, 2014), as principais razões para a permanência na Vila envolvem questões emocionais e culturais vinculadas ao

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A principal demanda é a volta da atividade ferroviária, não só para a melhoria da mobilidade, tanto dos moradores, quanto dos turistas, mas também para a valorização do patrimônio envolvido. Demais solicitações envolvem questões de investimentos à conservação do patrimônio e das atividades turísticas, bem como da melhoria da qualidade de vida dos moradores. Com relação à conservação e valorização do patrimônio histórico e ferroviário, indicam a necessidade de restaurações das edificações degradadas, incorporação de espaços inutilizados, além da melhoria da infraestrutura turística e do aumento de iniciativas voltadas à valorização dos âmbitos histórico e ferroviário, considerando que o ecoturismo tem se mostrado uma alternativa à sazonalidade e recebido maior destaque. Alguns depoimentos analisam a redução do número de moradores e, visando a melhoria da qualidade de vida na Vila, indicam a necessidade de maiores oportunidades de emprego, melhoria de espaços públicos, investimentos em iniciativas e equipamentos vinculados à valorização das produções artesanais, bem como a continuidade dos programas de turismo, que se tornaram um dos caminhos para geração de renda aos habitantes, mas que se encontram sem investimentos em capacitação e prática.

Depoimentos de moradores de Paranapiacaba à Eduardo Pin: PIN, 2014, p. 227-243.

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Leitura e Proposta de Requalificação Urbana da Vila Ferroviária

Mapa 13 – Ruas que dão acesso à passarela metálica da Vila de Paranapiacaba. Fonte: Google Earth, 2017. Adaptado pela autora, 2017..

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3. Paranapiacaba como Patrimônio A partir de 1950, aglomerados urbanos e seus entornos passam a ser considerados nas discussões sobre patrimônio nas cartas patrimoniais15. Com isso, o conceito de preservação é ampliado e ganha contornos específicos de acordo com o bem a ser tratado, considerando o fato de aglomerados urbanos integrarem diversidade e complexidade de processos históricos de formação (RAMOS, 2015). Gregotti (1985 apud NESBITT, 2013), considera o ambiente construído como a essência física da história, que mescla pré-existências, novas construções e transformações com significados profundos, tendo o projeto arquitetônico a função de exaltar o contexto por meio da transformação da forma, fazendo com este se consolide como uma totalidade geográfica, construtiva e histórica. As discussões sobre patrimônio passam a incluir o conjunto urbano, que ganham interpretações históricas, para além dos elementos arquitetônicos, de seu desenvolvimento, bem como análise de sua formação cultural, social, geográfica e antropológica, que compõem o território e o tornam de fato um lugar possuidor de memória, significado e importância. A união entre o território, a natureza e a ação humana é o que permite o desenvolvimento cultural de determinada população, onde o homem transforma o território através de sua vivência, necessidades e domínio de técnicas. (APSÁSIO, 2008).

A Vila de Paranapiacaba reúne, em diferentes âmbitos, relevância histórica, natural e cultural. Sua paisagem foi transformada por meio da ação humana, motivados por um fenômeno industrial, sendo seu território palco de inovações tecnológicas ligada ao transporte ferroviário. A Vila apresentou ao longo de sua formação, uma relação respeitosa entre os elementos naturais marcantes, como a topografia, vegetação e clima. A implantação da ferrovia e a ocupação pela população foram realizadas garantindo a integração entre o cenário original e as transformações, gerando a formação de uma cultura local. Segundo Apsásio (2008), a implantação da linha férrea num cenário característico de preservação ambiental é um modelo de ocupação, onde cada parte, apesar de sua individualidade, se integra de modo respeitoso no todo.

3.1. Parâmetros bióticos e físicos Os parâmetros bióticos e físicos são fundamentais na análise e caracterização da Vila de Paranapiacaba, por constituírem uma paisagem diferenciada. Os elementos naturais são marcantes em sua composição, destacando-se o relevo montanhoso, o clima úmido com formação de neblina e a mata nativa e sua biodiversidade preservadas em todo o entorno da Vila.

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Cartas patrimoniais são documentos que estabelecem conceitos e diretrizes de preservação, manutenção e restauro de patrimônios (RAMOS, 2015).

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Leitura e Proposta de Requalificação Urbana da Vila Ferroviária

A grande diversidade biológica é componente da paisagem da Vila de Paranapiacaba que, com aproximadamente 336Ha de Mata Atlântica preservada, foi reconhecida a primeira Estação Biológica da América do Sul (SCAF, 2011).

Petroquímico de Cubatão, em 1970, a vegetação passou a sofrer os efeitos poluentes, transportados pelo vento, provenientes das indústrias (SMA, 1990 apud PMSA, 2008).

A vegetação encontrada hoje na Serra do Mar representa cerca de 3% da Mata Atlântica original, sendo o remanescente mais preservado do estado de São Paulo. Trata-se de uma vegetação densa, predominantemente composta por espécies arbóreas (SMA, 1990 apud PMSA, 2008). Segundo levantamentos do Instituto Ekos Brasil (2006 apud PMSA, 2008), aproximadamente metade da mata é composta por vegetação secundária em estágio avançado de regeneração. As alturas das árvores variam entre 10 e 30m, de acordo com o tipo de solo em que se encontram, nos terrenos mais íngremes, com solos mais rasos, o crescimento das espécies é limitado (PMSA, 2008). A variação florística é ampla e, de acordo com a Lista Preliminar de Flora do Parque Nascentes de Paranapiacaba (PMSA, 2008), a área conta com 90 espécies arbóreas, distribuídas em 67 gêneros, de 42 famílias botânicas, o que indica sua biodiversidade. Destaca-se a presença de algumas espécies de grande porte na vegetação, como por exemplo a planta típica da região, o cambuci (Campomanesia phaea) e o guamirim-vermelho (Gomidesia spectabilis) (PMSA, 2008). Alguns fatores têm gerado a redução da regeneração da Mata Atlântica na Serra do Mar, como a variação de temperatura por exemplo, sendo registradas geadas no inverno, resultando na mortalidade de algumas árvores e, desde a implantação do Polo

Figura 23 – Vista aérea da Vila de Paranapiacaba (Victor Hugo Mori, 2010) Fonte: Imagem de Victor Hugo Mori, 2010. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/04.044/3603>. Acesso em: 20 mai. 2017.

Figura 24 – Vista da Vila de Paranapiacaba e sua vegetação Fonte: autora, 2017.

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Ainda em termos bióticos, com relação à fauna, a Serra do Mar e a Vila de Paranapiacaba abrigam animais de diversas espécies ameaçadas de extinção. Um levantamento preliminar a respeito da fauna da Vila identificou a presença de 170 espécies de aves, 20 de répteis, 15 de mamíferos, 11 de peixes e 7 de anfíbios. Alguns dos animais em extinção avistados em Paranapiacaba, são o gato-domato (Leopardus sp.), a jaguatirica (Leopardus pardalis) e a onçaparda (Puma concolor) (MMA, 2003 apud PMSA, 2008). O desenvolvimento urbano e a especulação imobiliária nas proximidades de Paranapiacapa induziu à fragmentação da área de mata, dificultando a livre circulação dos animais. (PMSA, 2008). Sendo assim, o engajamento da população local é item fundamental na preservação da fauna, uma vez que a expansão urbana avançou sobre a floresta, causando o deslocamento dos animais para fora de seus habitats naturais, trazendo riscos à sobrevivência das espécies.

Com relação aos parâmetros físicos, a região de Paranapiacaba está situada na Bacia Hidrográfica do reservatório Billings e pertence à Área de Proteção de Mananciais da Região Metropolitana de São Paulo. Com a presença de grande quantidade de nascentes corpos d’água (Mapa 14), preservar a vegetação natural foi uma maneira encontrada pelos ingleses de forma a assegurar a água como recurso de abastecimento da Vila e fornecimento para a ferrovia (RAMOS, 2014). Segundo Morato (1986, apud SCIFONI, 2014), adquirir estas áreas de mananciais nas imediações da Vila foram parte da estratégia da São Paulo Railway de garantir os recursos hídricos necessários ao núcleo urbano. São formadas ali três principais bacias hidrográficas: a do Rio Mogi, do Rio Grande e do Rio Anhangabaú. A bacia hidrográfica do Rio Mogi apresenta proximidade com o vale onde formou-se Paranapiacaba, é um rio coletor da baixada santista e apresenta nascente no planalto. A bacia hidrográfica do Rio Grande tem como característica o abastecimento do reservatório da Vila de Paranapiacaba por meio de suas nascentes e é um dos formadores da Represa Billings e do Rio Pinheiros. A bacia hidrográfica do Rio Anhangabaú, que também atravessa a planície litorânea é caracterizada por ser a principal formadora do Rio Quilombo (SCIFONI, 2014). A rica rede de drenagem da Vila de Paranapiacaba compõe o Parque Nascentes de Paranapiacaba, que se subdivide em quatro micro bacias, denominadas Norte, Nordeste, Leste e Sul-Sudeste, respectivamente representadas no Mapa 15 como sub-bacias I, II, III e IV (PMSA, 2008).

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Mapa 14 – Mapa de vegetação e hidrografia Fonte: PMSA, 2008. Adaptado pela autora, 2017.

Mapa 15 – Mapa de sub-bacias Fonte: PMSA, 2008. Adaptado pela autora, 2017.

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Com relação à topografia, a Vila de Paranapiacaba está localizada na denominada Serra de Paranapiacaba, parte integrante da Serra do Mar, extremidade oceânica do planalto atlântico. Por conta de fenômenos geológicos e erosivos, a Serra do Mar apresenta grande variação de altitudes, sendo composta por escarpas e serras, produto tanto de movimentos das placas tectônicas, quanto de processos mais lentos de erosão (AB’SABER, 1955 apud SCIFONI, 2014). A escolha do local para a implantação da ferrovia partiu de uma análise cuidadosa da topografia da região. O vale do Rio Mogi foi considerado ponto estratégico para implantação por possuir ampla área plana, oferecendo condições de realização de trechos retilíneos ou curvos do percurso da linha férrea (SCIFONI, 2014). A variação entre os níveis topográficos é uma característica presente nos diferentes setores da Vila (Mapa 16). Além da diferença de 100m de altitude entre a Parte Alta e a Parte Baixa, dentro de seus próprios perímetros nota-se relações diferenciadas com a topografia: enquanto a Parte Alta (Figura 25) é composta por encostas e terrenos íngremes, a Parte Baixa (Figura 26) conta com variações topográficas mais espaçadas, apresentando um aspecto mais aplainado. A linha férrea fica localizada na menor altitude do conjunto, entre a Parte Alta e a Parte Baixa, no fundo do vale.

Figura 25 – Parte Alta da Vila de Paranapiacaba vista da passarela Fonte: autora, 2017.

Figura 26 – Parte Baixa da Vila de Paranapiacaba vista da Parte Alta Fonte: autora, 2017.

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Mapa 16 – Mapa topográfico da Vila de Paranapiacaba. Elaborado pela autora, 2017.

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O solo de Paranapiacaba apresenta baixa coesão e é pouco espesso, por conta da variação de inclinação do relevo montanhoso, e tem suscetibilidade à deslizamentos, com formação de lama quando em contato com a água (PMSA, 2008). A remoção da vegetação em determinadas partes das encostas, torna o solo mais suscetível à escorregamentos nos períodos chuvosos, considerando o papel fundamental da vegetação na estabilidade das encostas. Além da cobertura vegetal no solo, outro grande responsável pela estabilidade e amenização do efeito de erosão, são as copas das árvores, que filtram a água da chuva e reduzem a quantidade e a força da água que entra em contato com o solo (SCIFONI, 2014).

O clima da Vila de Paranapiacaba é tropical úmido, com temperatura média em torno de 22 Cº em meses mais quentes, e de 18 Cº em meses mais frios (PMSA, 2008). A chuva é um fator constante na região, proveniente da entrada de frentes frias que seguem pelo oceano e passam pela Serra do Mar, bem como pelo fato desta ser uma barreira que detém a umidade, despejada nas encostas (SCIFONI, 2014). O período mais chuvoso é entre os meses de dezembro a março e o menos chuvoso de maio a agosto, porém, a região apresenta ausência de estação seca (PMSA, 2008). A umidade é um fator de destaque na região, considerando que sua pluviosidade apresenta um dos maiores índices do país (acima de 4000mm anuais), a média da umidade relativa do ar é de 80% (SCIFONI, 2014). Os altos índices relacionados à umidade promovem a neblina (Figura 28), um fator que diferencia a paisagem da Vila de Paranapiacaba. Como fenômeno natural, produz uma névoa densa e esbranquiçada que encobre e diminui a visibilidade na região, dificultando o acesso e o deslocamento pela Vila.

Figura 27 – Encostas com vegetação Fonte: autora, 2017.

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Figura 28 – Neblina, fator predominante na paisagem da Vila de Paranapiacaba Fonte: autora, 2017.

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3.2 Tipologias de patrimônio 3.2.1 Patrimônio Natural A noção de patrimônio natural foi formulada através da Convenção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural da Unesco, em 1972, mas já havia surgido sua conceituação na Constituição Federal de 1937, onde o Decreto-Lei Federal nº25/37 faz menção ao termo, indicando a preocupação com o patrimônio natural bem como com o histórico e o artístico na formulação do monumento nacional (SCIFONI, 2014). Artigo 1º - Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico... Artigo 2º - Equiparam-se aos bens a que se refere o presente artigo e são também sujeitos a tombamento os monumentos naturais, bem como os sítios e paisagens que importe conservar e proteger pela feição notável com que tenham sido dotados pela natureza ou agenciados pela indústria humana (Decreto-Lei Federal nº25/37. In SCIFONI, 2014).

realizado pelo CONDEPHAAT, em âmbito estadual, integra no seu perímetro a Reserva Biológica do Alto da Serra de Paranapiacaba e o Parque Estadual da Serra do Mar, considerando que a Vila de Paranapiacaba envolve, além dos elementos da ação humana, a integração com a natureza (ALAMINO, 2011). Foram tomadas algumas definições legais que visam a proteção da região e suas condições físicas, entre elas a inserção da Vila de Paranapiacaba como Macrozona de Proteção Ambiental pela Prefeitura Municipal de Santo André e, por estar inserida na Bacia Hidrográfica do Reservatório Billings, faz parte da Área de Proteção dos Mananciais da Região Metropolitana de São Paulo (RAMOS, 2014). O destaque ambiental da Vila de Paranapiacaba se dá por conta da diversidade de seus parâmetros físicos e bióticos que se destacam quando comparados ao que é habitual das regiões circundantes. Scifoni (2014) trata das duas dimensões de patrimônio natural que podem ser incorporadas à Vila de Paranapiacaba: a questão proveniente de grandiosidade e beleza, que indicam uma preocupação estética com o monumento natural e o patrimônio natural que interage com a sociedade, suas práticas sociais e composição de sua memória coletiva, indicando assim um patrimônio que faz parte da vida humana.

A Vila de Paranapiacaba é resultado da apropriação e intervenção da tecnologia e presença humana, que interviram de modo a criar uma paisagem singular, envolvida num patrimônio natural já reconhecido desde 1970 internacionalmente pela Convenção do Patrimônio Mundial da UNESCO (SCIFONI, 2014). O tombamento

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O poder municipal buscou intensificar a administração das áreas de proteção, considerando intensificar o interesse turístico da região, sem que isso fosse prejudicial para a conservação da área. Foram então criados equipamentos de proteção à reserva biológica de Paranapiacaba. A Subprefeitura de Paranapiacaba e Parque Andreense busca a integração entre proteção e interação pública através da criação de um Parque Municipal e do incentivo ao turismo sustentável, como medidas de adquirir conhecimento e identidade com a área, promovendo assim uma postura de preservação (RAMOS, 2014). Foi estabelecido um modelo de gestão de Unidade de Conservação que, segundo o Ministério do Meio Ambiente (apud RAMOS, 2014) indica a inclusão de determinada área delimitada como passível de proteção, considerando um conjunto natural de condições singulares e sua necessidade de preservação e valorização. A ideia é garantir a preservação do espaço territorial e seus recursos ambientais, por meio de um regime especial de administração, e, além disso, promover atividades sustentáveis em conjunto com a comunidade. O Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba (PNP) (Mapa 17), foi criado como iniciativa de integração de medidas de proteção à área e experiência humana com a natureza, procurando promover uma interação com a comunidade local e visitantes, procurando conscientizar, gerar conhecimento, apreço e respeito pelas áreas de conservação, como um modelo social que expanda a importância da conservação e potencialize o desenvolvimento sustentável (RAMOS, 2014).

Mapa 17 – Delimitação do Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba. Fonte: PMSA, 2008.

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No dia 05 de junho de 2003, através do Decreto Municipal 14.937, o PNP foi estabelecido com os objetivos de assegurar a conservação dos recursos naturais e estabelecer políticas públicas que viabilizassem a realização de turismo ecológico (RAMOS, 2014). O turismo sustentável viabiliza o desenvolvimento de atividades voltadas à educação ambiental e à prática de modalidades esportivas envolvendo o meio ambiente, sem que ocasionem impactos negativos a este – a ideia é prover espaços de lazer, conhecimento, contemplação e preservação (PMSA, 2008). Segundo Ramos (2014), a visitação proporcionada pelo Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba viabiliza a experiência humana com a natureza. De acordo com conceitos abordados por MILLER (2005, apud RAMOS, 2014), esta interação é fundamental considerando a sensibilização das pessoas, através de sua proximidade, com relação à importância da preservação. O departamento administrativo do Parque conta com um orçamento anual, voltado para a manutenção da infraestrutura e necessidades do Parque, além do suporte orçamentário do Fundo de Gestão do Patrimônio Histórico, Arquitetônico e Ambiental de Paranapiacaba, o FUNGEPHAAPA (PMSA, 2008). A gestão do PNP é realizada pelo departamento de Recursos Naturais de Santo André16 e inclui a participação dos moradores da Vila de Paranapiacaba, que contribuem na conciliação do controle e

manejo através de participação popular (PMSA, 2008). Uma das medidas de incentivo à integração foi a capacitação ambiental dos moradores como monitores ambientais. Outra vertente de envolvimento foi o investimento nos jovens através do Programa Jovens de Paranapiacaba, que capacita adolescentes no âmbito eco profissional através do turismo sustentável e monitoria ambiental, agroindústria artesanal e manejo agrícola (RAMOS, 2014). Segundo o Atlas do Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba (PMSA, 2008), o ecoturismo engloba: o Núcleo Olho D’água, ponto de partida da Trilha das Hortênsias e a Trilha dos Gravatás, marcado pela presença da nascente responsável pelo abastecimento de água da parte baixa da Vila; o Tanque do Gustavo, área de interpretação ambiental, onde é permitida a visitação à estrutura hidráulica responsável pelo abastecimento de água da parte alta da Vila; seis trilhas monitoradas, com roteiros prédefinidos e sinalizadas, cada qual com diferentes características de percursos e dificuldades (Tabela 02; Mapa 18). O parque faz divisa com o Parque Estadual da Serra do Mar, que é a maior área de proteção do Estado de São Paulo, e ambos permitem a formação de um grande cinturão verde de Mata Atlântica, integrando-os como zona de Reserva da Biosfera do Cinturão Verde do Estado de São Paulo (PMSA, 2008).

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Departamento responsável pelo controle da conservação e manejo dos recursos, bem como pela realização de programas de pesquisa e interação socioeducativa da população com o meio ambiente (PMSA, 2008).

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Tabela 02 – Análise das trilhas do Parque de Paranapiacaba. Fonte: PMSA, 2008.

Mapa 18 – Mapa de atratividades Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba. Fonte: PMSA, 2008.

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3.2.2 Patrimônio Cultural A UNESCO estabelece em seu artigo 1º da “Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural” o que se entende como patrimônio cultural, podendo ampliá-lo a duas categorias: material e imaterial. Como patrimônio cultural material, o artigo define os monumentos, os conjuntos construídos e os locais de interesse que apresentem valor excepcional do ponto de vista histórico, artístico ou científico. Já como imaterial, a UNESCO amplia sua definição e agrega os valores e a herança cultural que são criados pelo homem e perpetuam entre as gerações (LOHMANN; PANOSSO 2012). Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico (PEREIRA, 2008).

Com relação à importância de Paranapiacaba vinculada ao seu desenvolvimento histórico e ferroviário, segundo Rodrigues (2014), tem-se destaque a estreita relação existente entre a economia brasileira e o desenvolvimento dos equipamentos ferroviários. A implantação da ferrovia permitia a expansão das atividades

Figura 29 – Galpões ferroviários Fonte: autora, 2017.

econômicas brasileiras, e em decorrência disto os complexos ferroviários viabilizavam concomitantemente o desenvolvimento social em determinadas regiões. O processo de formação e desenvolvimento da Vila de Paranapiacaba lhe atribuíram importância histórica, considerando que o conjunto ferroviário constitui um dos exemplares mais importantes da tecnologia britânica aplicada, além da fixação da população através da inserção e consolidação da atividade ferroviária (REBELO, 2001). Boehm (2015), trata da visão de Ricardo Di Giorgio, secretário de Gestão de Recursos Naturais de Paranapiacaba e Parque Andreense, a respeito da tecnologia

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utilizada na vila ferroviária ser muito avançada para a época, recebendo destaque por vencer o desafio de transposição da Serra do Mar através de uma linha férrea, tornando-se item de valor universal. Segundo Rodrigues (2014), o sistema ferroviário de Paranapiacaba pode ser considerado um exemplar da cultura ferroviária, não somente brasileira, mas geral, considerando a tecnologia aplicada em seu sistema. A transposição é feita para vencer cerca de 800 metros de desnível topográfico por meio de patamares, por aproximadamente 10 quilômetros de extensão, através da utilização de cabos e motores estacionários que permitiam a tração dos veículos ferroviários. A paisagem ferroviária compreende em si elementos significativos para sua estruturação, considerando a presença de equipamentos formadores dos complexos ferroviários e as logísticas funcionais e ocupacionais diferenciadas que a compõem. Em função destes fatores, a estruturação social e urbana faz da Vila de Paranapiacaba exemplo das consequências do desenvolvimento e da estruturação do transporte brasileiro (RODRIGUES, 2014). Com relação às questões urbanísticas e arquitetônicas e aos bens culturais materiais, a Vila de Paranapiacaba se destaca por ser testemunha de práticas e técnicas construtivas que apresentavam aspectos inovadores com relação aos parâmetros até então existentes na cultura construtiva brasileira. A Vila atua como modelo do desenvolvimento de implantação das construções, bem como técnicas construtivas e aplicação de materialidades.

Apesar das diferenças nos sistemas construtivos e suas tecnologias, as residências apresentam uniformidade nos gabaritos de altura através da predominância de casas térreas. Segundo Gehl (2014), o gabarito baixo faz com que o sol atinja as ruas e isso torna o espaço público mais agradável e convidativo às pessoas de modo a se sentirem convidadas a usufruir da rua, beneficiando a dinâmica urbana. Norgerg-Schulz (1976, apud NESBITT, 2013) trata da abrangência da tectônica na arquitetura, de como detalhes refletem e explicam o ambiente, manifestando qualidades peculiares de si. O teórico aborda que cada lugar apresenta um caráter próprio, e trata da determinação do ambiente através de acontecimentos e constituição material e formal, abordando a fenomenologia do lugar como a união dos métodos de construção e suas relações com a articulação formal, expressando a totalidade ambiental através de aspectos do seu espaço e vivências, promovendo assim, a determinação de seu caráter. Segundo Lima e Azevedo (2014), as condições geográficas da Vila de Paranapiacaba contribuíram para a utilização da madeira como sistema construtivo, considerando os altos índices de umidade da região, foi utilizada como solução para intensificar o conforto térmico das construções. A viabilização de transporte e uso do popularmente conhecido como “pinho de riga”, originário do Leste Europeu, foi possibilitada através da implantação da ferrovia, promovendo um caráter construtivo diferente do existente no cenário brasileiro da época (LIMA; AZEVEDO, 2014).

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As construções da Vila apresentam diversidades estéticas resultantes dos diferentes processos de ocupação. A Parte Alta, proveniente de influências portuguesas, apresenta composições variadas de disposição no terreno, cores de fachadas e alinhamento. A Vila Velha, na Parte Baixa, de influência inglesa e ocupação espontânea, já apresentava uma linguagem uniforme de materialidade e morfologia, sendo no início da ocupação de pau-apique, mas posteriormente substituída e reestruturada por casas de madeira (LAMARCA, 2008). A ocupação mais recente da Parte Baixa, a Vila Martin Smith é, segundo Lima e Azevedo (2014), a maior inovação arquitetônica do conjunto urbano. Proveniente da iniciativa construtiva da Companhia São Paulo Railway, que providenciou planejamento urbano antes de sua construção efetiva, esta parte ocupada apresenta características diferenciais das anteriores: os loteamentos são embasados em traçados regulares, a implantação das construções foi feita de maneira organizada, isoladas no lote, além do estabelecimento de tipologias.

Segundo Minami (2004) a Vila Martin Smith se encaixa em um modelo construído das chamadas Model Company Town17. A proprietária, a Companhia São Paulo Railway, atrelada à necessidade de fixação de seus funcionários, usufruiu do modelo de cidade projetada para a implantação e construção desta parte mais recente da Vila, que apresentava, para a realidade brasileira da época, uma infraestrutura urbanística moderna (MINAMI, 2004). As “Model Company Town” se caracterizavam por promover desenvolvimento econômico aliado à melhoria da qualidade de vida de trabalhadores alocados nesses empreendimentos, através de investimentos em planejamento e construção civil. [...] A análise do núcleo urbano Alto da Serra [...] mostra uma característica importantíssima: instalação de uma estrutura urbana necessária para exploração mercantil, como, também, um local onde os ingleses exerceram, simultaneamente, uma influência econômica e cultural, impondo um modo de vida e oferecendo um paternalismo presente até nos mínimos detalhes (MINAMI, 2004).

Enquanto a Vila Velha é resultado de uma ocupação urbana espontânea ocorrida a partir da implantação do canteiro de obras da SPR, a Vila Martin Smith é o resultado de um plano urbanístico claro, expresso em ruas largas de traçado ortogonal e regular, e pela implantação de edifícios padronizados (PMSA, 2013a).

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Provenientes de um modelo inglês, as denominadas Model Company Town são um aglomerado urbano onde determinada empresa planeja e constrói as moradias e a infraestrutura necessária para seus funcionários (MINAMI, 2009).

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Figura 30 - Foto aérea Vila Martin Smith Fonte: Imagem de Julio Bastos, 2008 (In LIMA; AZEVEDO, 2014)

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Rossi (2001) caracteriza um fato urbano como aquele que apresenta arquitetura e forma própria. Considerando a influência da arquitetura inglesa e a predominância da utilização da madeira na linguagem formal da Vila de Paranapiacaba, leva-se em consideração o conceito tratado pelo autor de que a morfologia urbana atua como um instrumento de leitura do caráter de determinado fato urbano. A uniformidade da materialidade da Vila de Paranapiacaba formula um modelo construtivo característico e reconhecível ao complexo urbano. Segundo Rossi (2001), há algo na arquitetura que desempenha um papel próprio, presente no modelo, que atua como uma constante, um modo constitutivo da arquitetura, transformando o fato arquitetônico reconhecível em si. O conceito inicial de planejamento e construção da Vila Martin Smith, segundo Lima e Azevedo (2014) foi a necessidade de fixação de uma população operária, com cultura prevalente de ordem social e hierárquica, sendo adotadas tipologias residenciais diferentes mediante a hierarquia de cada família.

Figura 31 - Vila Martin Smith vista da passarela Fonte: autora, 2017.

A diversidade tipológica dentro da Vila Martin Smith foi uma medida tomada como fornecimento de moradia conforme as categorias sociais específicas, onde a distribuição era feita de forma hierárquica, considerando também a necessidade de adequação ao perfil da família que ocuparia cada unidade (LIMA; AZEVEDO, 2014). Sendo assim, além da construção de algumas poucas residências em alvenaria, as edificações em madeira desta ocupação da Vila de Paranapiacaba apresentam categorizações, subdividindo-se entre os denominados tipos “A”, “B”, “C”, “D”, “E1”, “E2” e “X”, cada qual com características específicas.

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Leitura e Proposta de Requalificação Urbana da Vila Ferroviária

Mapa 17 – Mapa de tipologias da Vila de Paranapiacaba. Fonte: LIMA; AZEVEDO. 2014. Adaptado pela autora, 2017.

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UM OLHAR SOBRE PARANAPIACABA

“Tipo A”

Figura 32 – Casa Tipo A Fonte: autora, 2017.

Com a primeira construção datada de 1898, apresenta fundação em alvenaria de tijolos. Implantada sempre em modo geminado, apresenta quatro cômodos, sendo dois dormitórios, um de estar e uma cozinha, o banheiro fica no exterior da casa, assim como a área de serviço. Com relação à fachada frontal, cada unidade apresenta uma porta e uma janela, o beiral apresenta balanço de um metro e tem como função proteger a madeira do contato direto com a chuva. Tanto o beiral quanto os espaços internos são revestidos por forro plano, já o revestimento das paredes é de tábuas de madeira dispostas horizontalmente (LIMA; AZEVEDO, 2014).

“Tipo B”

Figura 33 - Casa Tipo B Fonte: Imagem de Julio Bastos, 2008 (In LIMA; AZEVEDO, 2014)

Esta tipologia, voltada para famílias maiores, também era implantada de modo geminado e contém um diferencial que foi a incorporação de tesouras na estrutura da cobertura. Apresenta uma área de estar, quatro dormitórios e a cozinha, além da área de serviço e banheiros anexos. Sua fachada frontal é composta por duas janelas e uma porta no meio e o revestimento é feito por tábuas posicionadas horizontalmente. O beiral é longo e permite a criação de uma pequena varanda na entrada. Alguns engenheiros da companhia agrupavam duas residências desta tipologia, transformando-as numa só, com acabamentos mais refinados (LIMA; AZEVEDO, 2014).

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Leitura e Proposta de Requalificação Urbana da Vila Ferroviária

“Tipo C”

Figura 35 – Casa Tipo C – Museu Castelo Fonte: autora, 2017.

Figura 34 – Casa Tipo C – Museu Castelo Fonte: Imagem de Julio Bastos, 2006 (In LIMA; AZEVEDO, 2014)

Com apenas um modelo executado, também conhecido como Castelinho, o Museu Castelo foi construído com a utilização de peças pré-moldadas de madeira com encaixe de tipo macho-fêmea, com colocação de duas camadas viabilizando maior conforto térmico. Com vinte e dois cômodos, apresenta localização estratégica, num ponto alto da vila, e se tratava da casa mais importante do conjunto, pertencente ao engenheiro-chefe da companhia inglesa, apresentando vista privilegiada dos operários em atividade (LIMA; AZEVEDO, 2014).

Figura 36 – Casa Tipo C – Museu Castelo Fonte: autora, 2017.

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UM OLHAR SOBRE PARANAPIACABA

“Tipo D”

Figura 37 – Casa Tipo D Fonte: Imagem de Vanessa Figueiredo, 2005 (In LIMA; AZEVEDO, 2014)

Implantada de duas a duas, as fachadas apresentam duas janelas e uma porta e se assemelham com a tipologia A, tendo adicionado um dormitório. São poucas as construídas desta tipologia, um total de duas duplas, sendo que atualmente apenas uma delas continua em modo geminado, a outra foi agrupada se transformando em uma residência só. O beiral apresenta balanço de um metro e o revestimento das paredes é composto por tábuas de madeira dispostas horizontalmente (LIMA; AZEVEDO, 2014).

“Tipo E”

Figura 38 – Casa Tipo E Fonte: autora, 2017.

Começaram a ser construídas na Vila em 1915, e se subdividem em dois tipos: E1 e E2. As casas tipo E são sempre geminadas, as E1 apresentam dois cômodos em madeira e cozinha e banheiro em alvenaria; é a tipologia mais simples e comportava as famílias pequenas dos ferroviários, sua fachada é composta por uma porta e uma janela, com tábuas de madeira dispostas verticalmente. As casas tipo E2 tem quatro cômodos em madeira, para quartos e sala, além de uma cozinha e banheiro em alvenaria, a sua fachada apresenta duas janelas e uma porta, com tábuas de madeira dispostas verticalmente; na parte posterior destes agrupamentos há um pátio pavimentado que, por meio de canaletas, realiza o escoamento de águas pluviais (LIMA; AZEVEDO, 2014).

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Leitura e Proposta de Requalificação Urbana da Vila Ferroviária

“Tipo X”

Figura 39 – Casa tipo X Fonte: Imagem de Gilson Lima, 2006 (In LIMA; AZEVEDO, 2014)

Implantada junto ao alinhamento das ruas, começou a aparecer em 1940, com geminações em duplas. Suas unidades apresentam sala de estar, dois dormitórios, cozinha com fogão à lenha e banheiro em alvenaria. Diferentemente das demais, esta tipologia apresenta a entrada pela lateral da casa e a fachada frontal apresenta apenas duas janelas. O revestimento é feito com tábuas de madeira dispostas horizontalmente e tem a cobertura como elemento formal diferenciado, apresentando uma espécie de prolongamento da cumeeira para além dos espigões, formando um espaço triangular acima do telhado, onde se instala uma pequena janela (LIMA; AZEVEDO, 2014).

Alvenaria

Figura 40 – Casas de alvenaria Fonte: autora, 2017.

Por volta de 1950, em função da demanda por moradia, começam a surgir algumas casas em alvenaria. Este modelo de construção apresenta tipologias com dois ou três dormitórios, uma sala de estar, banheiro e áreas de serviço no interior da casa, com implantação de modo geminado. Nas suas fachadas, as aberturas são de madeira, variando entre uma porta e uma janela por casa, ou uma porta e duas janelas (LIMA; AZEVEDO, 2014).

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A ocupação do território de Paranapiacaba tentou integrar o respeito à natureza à atividade ferroviária, aos parâmetros arquitetônicos ingleses e à formação de um novo perfil de população, compatibilizando estas vivências e estes acontecimentos à uma formação cultural específica (APSÁSIO, 2008). Segundo Rodrigues (2014), a estruturação do complexo ferroviário compreende questões materiais e imateriais, físicas e sentimentais. Wagner (2014), conceitua o termo Zeitgeist18 como a época referida que influencia na representação das produções, e, aborda Hegel (1986, apud WAGNER, 2014), que fundamenta a arte como uma ideia a ser conceituada, superando a subjetividade. Hegel (1986, apud WAGNER, 2014) aborda a história como um sentido para a evolução do espírito do tempo e trata da referência estética atrelada a condições materiais, sociais e econômicas: os critérios estéticos e culturais são preservados através da transmissão de conhecimentos entre as gerações, sendo atribuído, ao longo da história e da evolução do local, um caráter de permanência. Norberg-Schulz (1976, apud NESBITT, 2013) trata do potencial fenomenológico de um lugar e da interdisciplinaridade entre os elementos concretos e os acontecimentos. O autor aborda o termo genius loci, definindo-o como o “espírito do lugar”, abrangendo a atmosfera atribuída a um local e a essência gerada por este. Atrelado a isso, abrange o conceito de habitar, definido pelo teórico como a necessidade de se sentir protegido e identificado em determinado lugar.

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Estes conceitos podem ser relacionados com relação ao vínculo emocional que a população de Paranapiacaba apresenta com relação ao local. Na Vila, os espaços ferroviários determinavam a vida pessoal e profissional da população residente, constituindo-se assim em espaços sociais. Devido às suas estruturas físicas, Paranapiacaba é abordada como exemplo de patrimônio material. Já em termos de relevância imaterial, a Vila representa uma memória socioeconômica a partir da qual se desenvolveu uma população de cultura ferroviária (RODRIGUES, 2014). Sou de uma família tradicional de ferroviários, meu pai iniciou na Ferrovia em 1940, ainda na época da administração inglesa (...). Nós vivemos num mundo tão diferente que tenho até medo de sair daqui. A Vila é meu refúgio, porto seguro, um lugar bom para viver e retornar. Pessoalmente, eu acho o Castelo muito significativo, não tem como estar lá e não sentir o poder daqueles ingleses.... Gosto de a Vila ser reconhecida como patrimônio, mas sonho em ver um trem chegando novamente (SANTOS, in PIN, 2014).

Rossi (2001) trata da memória coletiva vinculada à cidade, onde aponta a memória como o fio condutor de toda a estrutura de determinado local, se destacando da obra de arte, considerando que existe por si e é na sua história. O autor refere-se à cidade como algo que tem como fim a si mesma e à medida que se desenvolve, engloba em sua formação as ações do indivíduo, afirmando que a memória

Zeitgeist – termo alemão que significa espírito do tempo, da época (WAGNER, 2014)

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coletiva faz parte da transformação do espaço e é o que nos ajuda a compreender a individualidade de determinada estrutura urbana. Ainda com relação à memória coletiva, Riegl (1903, apud CUNHA, 2006) trata da atribuição de valor artístico aos monumentos, abordando-o como uma obra que o homem cria com o objetivo de conservar a lembrança de determinado fato ou ato na memória de gerações futuras. Relaciona então o sentido original de monumento com a manutenção da memória coletiva de um povo ou de uma sociedade. A individualidade imaterial de Paranapiacaba abrange o perfil da população vinculada à cultura ferroviária e a formação e vivência do território permitem o desenvolvimento cultural de uma população. Através de experiências e acontecimentos, foi sendo constituída uma nova realidade, formando assim um lugar, palco de referências de identidade individual e grupal que permitem a diferenciação dos homens culturalmente (APSÁSIO, 2008). O complexo ferroviário visto como patrimônio inclui estações, edifícios administrativos e de manutenção de máquinas e equipamentos, além de armazéns, pontes e vias no que cabe à sua estrutura. Consideram-se, ainda, os elementos sociais relacionados, tais como as vilas ferroviárias com seus conjuntos habitacionais e todos os equipamentos e infraestrutura urbana. Incluem-se também, os bens móveis, os registros e as histórias de vida dos diversos grupos sociais – ferroviários e familiares – que determinam uma perpetuação da memória e da história ferroviária (RODRIGUES, 2014).

O sistema ferroviário, composto por um grande número de trabalhadores, desencadeou o desenvolvimento de sistemas sociais (MATTOS, 1974 apud RODRIGUES, 2014). A identidade de muitas sociedades está vinculada às atividades econômicas e seus desdobramentos, e a consolidação da economia industrial e ferroviária de Paranapiacaba, fez com que se desenvolvesse ali um perfil social específico (RODRIGUES, 2014). Sou neta de ferroviário, quando me casei, meu pai deixou a casa na Vila para eu morar. Tudo na Vila é patrimônio, não é possível separar nada, tudo tem a mesma expressão (...). Gostaria que a Vila fosse mais reconhecida, porque nossa história merece ser conhecida pelo mundo. Quero que a Vila volte a ser como no tempo da Rede Ferroviária, tudo arrumado e funcionando perfeitamente (TERSETTI, in PIN, 2014).

Apesar da ferrovia ter sido desativada, ainda habitam na Vila de Paranapiacaba os que conviveram com essa prática, bem como seus descendentes, conscientes do seu valor e significado. A predominância do espírito ferroviário é presente no cultivo dos acontecimentos históricos, na valorização da cultura ferroviária, na expressão cultural, na morfologia construtiva. Tanto as referências físicas como as experiências emocionais contribuem para a permanência do caráter ferroviário.

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3.3 O patrimônio em Paranapiacaba O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) instituiu no Brasil conceitos que predominam até hoje com relação à preservação de patrimônios (APSÁSIO, 2008). A Carta de Atenas, documento proveniente do Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM), é uma carta patrimonial de 1933 que engloba questões urbanas interpretadas por arquitetos (GALBIERI, 2008), envolvendo conceitos relacionados à documentação, preservação, manutenção e tombamento do patrimônio (RAMOS, 2015). O tombamento é um instrumento relacionado ao patrimônio que envolve documentações com o objetivo de orientar ações de preservação, respeitando as necessidades de cada parte, buscando não compartimentar um complexo em si. As ações envolvem questões como controle de mudança territorial, uso do solo e consideração de aspectos sociais e econômicos (APSÁSIO, 2008). O título de tombamento pode ser realizado em três esferas de administração - municipal, estadual e federal - e tem por objetivo determinar que um bem (de valor histórico, ambiental, arquitetônico ou cultural) receba reconhecimento e proteção, impedindo destruições ou descaracterizações sem permissão dos órgãos envolvidos. Com o objetivo de manter um bem preservado para as gerações futuras, o tombamento tem por premissa que qualquer intervenção passe primeiramente pela aprovação do Conselho responsável (IPHAN19). 19

Segundo dados do Iphan, a Vila de Paranapiacaba apresenta em seu território aspectos históricos, ambientais e construtivos que registram a importância e o desenvolvimento de um determinado momento, agregando-lhe especificidades. Em 1987, a Vila recebe o primeiro título de tombamento pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT), órgão estadual. Posteriormente, em 2002, a Vila recebeu o tombamento pelo seu conjunto arquitetônico e natural pelo IPHAN, órgão federal, e em 2003, pelo Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico-Urbanístico e Paisagístico de Santo André (COMDEPHAPASA), órgão municipal. O CONDEPHAAT inicia o processo de tombamento da Vila de Paranapiacaba em 1982, e o conclui em 1987, por meio da Resolução Estadual nº 37/87, considerando a Vila e seu entorno tombados em âmbito estadual como bem cultural de interesse histórico, arquitetônico-urbanístico, ambiental e tecnológico (ALAMINO, 2011). O IPHAN inicia o processo de tombamento da Vila em 1985 e o conclui em 2002, mediante o Processo nº 1.252-T-87, considerando o tombamento em âmbito federal, englobando o complexo ferroviário, ressaltando os bens móveis relacionados à ferrovia (máquinas, equipamentos, locomotivas, entre outros). O perímetro tombado restringe-se às edificações que apresentam relação direta com a ferrovia, excluindo assim a Parte Alta e a área natural que

Os dados fornecidos pelo IPHAN não constam data de publicação.

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Leitura e Proposta de Requalificação Urbana da Vila Ferroviária

resulta na envoltória da Vila, sendo a área tombada pelo IPHAN a menor das três estabelecidas pelos órgãos responsáveis (ALAMINO, 2011). O COMDEPHAAPASA inicia o processo de tombamento da Vila em 1996 e o conclui em 2003, através do Processo nº 56616/96-5, indicando o seu tombamento em âmbito municipal. O tombamento em questão trata da maior área entre as três instâncias, considerando que inclui toda a área urbana da Vila de Paranapiacaba, envolvendo a Parte Alta, Parte Baixa (tanto a Vila Velha, quanto a Vila Martin Smith), a linha férrea e os seus equipamentos e o seu entorno natural (incluindo o Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba) (ALAMINO, 2011). Segundo dados do IPHAN, apesar de ser tombada pelo seu conjunto urbano, a Vila de Paranapiacaba também apresenta edificações específicas tombadas. O Museu Castelo (Figura 18), construído em 1897, o Mercado de Secos e Molhados (figura 19), construído em 1899 e o Museu Funicular (Figura 21), construído em 1867.

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4. Proposta de Requalificação Urbana de Paranapiacaba 4.1 Referências projetuais Os levantamentos físicos e teóricos abordados permitiram a identificação da relevância histórica, cultural e ambiental intrínseca à Vila de Paranapiacaba, bem como o seu atual estado de degradação e redução de índices turísticos, econômicos e habitacionais, que levaram à conscientização da necessidade de um plano urbano que contemple uma requalificação urbana em diferentes escalas de intervenção. Considerando uma intervenção em macro escala, será apresentado como estudo de caso o Plano de Reabilitação Urbana da área central de Salvador, que, apesar de apresentar uma escala maior se comparado à Paranapiacaba, integra medidas que consideram a necessidade de requalificação urbana de um centro histórico.

Masterplan para o Centro Antigo de Salvador Arquitetos: Levisky Arquitetos Associados, Stuchi & Leite Projetos e Consultorias Localização: Salvador – BA, Brasil Ano de projeto: 2014 A elaboração do Plano de Reabilitação foi uma iniciativa do Governo do Estado da Bahia, em conjunto com o Escritório de Referência do CAS (ERCAS), a Diretoria do Centro Antigo de Salvador

(DIRCAS) e a Unesco, em parceria com os escritórios Levisky Arquitetos Associados e Stuchi & Leite Projetos e Consultorias. A iniciativa do plano surgiu considerando as diversas intervenções pontuais, provenientes do poder público, que o Centro Antigo de Salvador passou por cerca de trinta anos, em grande parte desarticuladas entre si, contribuindo para o surgimento do processo de degradação do patrimônio edificado, refletindo nas condições de vida da população residente (ARCHDAILY, 2014). Foram então adotadas questões emergenciais em âmbitos econômico, social, urbanístico e ambiental, escolhidas através das demandas públicas, viabilizando uma elaboração participativa e democrática, direcionando o diagnóstico das maiores necessidades da área, que envolviam prioritariamente melhorias na iluminação pública e de monumentos, recuperação dos passeios e dos mobiliários urbanos, segurança, limpeza pública, mobilidade, reabilitação valorização da cultura local, qualificação da atividade turística, entre outros (GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA, 2015). O centro antigo de Salvador abrange onze bairros e carrega consigo importante significado histórico por se tratar de uma das primeiras áreas urbanas ocupadas no continente americano, chegando a se tornar inclusive capital colonial. Segundo dados do IBGE (2010, apud ARCHDAILY, 2014), o centro histórico de Salvador apresenta cerca de 7km² e 80 mil habitantes, população 40% menor da levantada em 1970. Na maioria comercial, os usos na área são variados, apresentando residências, algumas precárias, além de equipamentos culturais de Salvador como teatros, igrejas, museus, bibliotecas, dentre outros (ARCHDAILY, 2014).

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Leitura e Proposta de Requalificação Urbana da Vila Ferroviária

Figura 41 – Áreas vocacionais do Masterplan para Salvador Fonte: Arquivo Stuchi & Leite. Disponível em: <http://www.archdaily.com.br/br/624697/masterplan-estrategico-para-o-centro-antigo-de-salvador-carlos-leite-e-adriana-levisky>. Acesso em: 03 mar. 2017

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Os estudos e levantamentos resultaram em catorze proposições ao Centro Antigo de Salvador, sendo elas: fomento à atividade econômica, revitalização da costa marítima, aprimoramento do atendimento à população, qualificação dos espaços culturais, aumento da competitividade das atividades econômicas, melhoria das condições ambientais, estruturação do turismo, requalificação da infraestrutura, recuperação e valorização da encosta do frontispício, incentivo ao uso habitacional e institucional, melhoria da segurança, inserção da educação patrimonial, criação de equipamento de referência em cultura e estruturação do gerenciamento do Plano de Reabilitação (MELENDEZ, 2014). Atrelado a estas propostas, os escritórios de arquitetura e urbanismo Stucchi e Leite e Levinsky elaboraram um Plano Urbano Estratégico, resultado do planejamento de aplicação e viabilidade das proposições compatibilizadas aos recursos disponíveis, setorizando as de maior escala e as organizando de acordo com dois eixos estruturantes: conexão e moradia, com a ideia levantada pelos autores de “morar e conectar para regenerar” (ARCHDAILY, 2014).

mistos e devidas conexões com diversas partes da cidade (MELENDEZ, 2014). As medidas relacionadas à conexão urbana tratam da melhoria da mobilidade através do centro antigo de Salvador, facilitando a transposição entre a Cidade Alta (centro antigo) e a Cidade Baixa (orla marítima), por meio de medidas como a reativação do Elevador do Taboão e do Plano Inclinado do Pilar, a modernização do Elevador Lacerda e a incorporação de dois novos Planos Inclinados, o Castro Alves e o Santo Antônio Além do Carmo. Além disso, outros meios propiciam a conexão e maior mobilidade no Centro, como a implantação de ciclovias (visando a integração entre os principais equipamentos culturais e de serviço), a incorporação de Metrô, BRT (Bus Rapid Transit) e o resgate do Bonde realizando um circuito interno pelo Centro Antigo, transformando-o em VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) – que apresenta como vantagens não ser poluente e ter baixo nível de ruído (MELENDEZ, 2014).

A principal premissa do Plano era o repovoamento habitacional, considerando o recente processo de esvaziamento populacional. O Plano Urbano indica medidas para tornar o Centro Antigo um local atrativo para moradia, de modo que o patrimônio não dependa exclusivamente do turismo e do comércio para ter dinâmica urbana constante. Sendo assim, o plano estratégico prevê qualificação e adaptação de cerca de mil imóveis, além de iniciativas de qualificação urbana do espaço, valorização da utilização de usos

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Leitura e Proposta de Requalificação Urbana da Vila Ferroviária

Figura 42 – Momentos do Masterplan para Salvador Fonte: Arquivo Stuchi & Leite (In ARCHDAILY, 2014)

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Figura 43 – Iluminação dos monumentos Fonte: Arquivo de CONDER, 2014 (In ARCHDAILY, 2014).

Figura 45 – Acessibilidade no CAS Fonte: Arquivo de CONDER, 2014 (In ARCHDAILY, 2014).

Figura 44 – Obras na pavimentação do Centro Antigo de Salvador (CAS) Fonte: Arquivo de CONDER, 2014 (In ARCHDAILY, 2014).

Figura 46 – Restauro dos monumentos Fonte: Arquivo de CONDER, 2014 (In ARCHDAILY, 2014).

Figura 47 – Acessibilidade no CAS Fonte: Arquivo de CONDER, 2014 (In ARCHDAILY, 2014).

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O conceito de transposição foi eixo fundamental no desenvolvimento do partido projetual do Núcleo de Memória e Visitação de Paranapiacaba considerando que, de acordo com a leitura e diagnóstico da área, foi identificada a dificuldade de acessibilidade às principais áreas de potencial histórico e turístico na Vila. A partir disso, tornou-se um objetivo realizar conexões através de possibilidades de deslocamento com qualidade entre os diferentes níveis da Vila. Toma-se como estudo de caso o Elevador Rubem Braga, que realiza a conexão entre uma estação de metrô em Ipanema, bairro do Rio de Janeiro, e o morro do Cantagalo, através de eixos de circulação vertical acoplados em duas torres edificadas, interligadas por uma passarela.

Complexo Elevador Rubem Braga Arquitetos: JBMC Localização: Rio de Janeiro – RJ, Brasil Ano de projeto: 2010 Até 2010 a ligação do morro do Cantagalo e a Praça General Osório, seu principal acesso, no bairro de Ipanema (Rio de Janeiro), só era possível de ser realizada através de precárias escadarias acopladas na beira de um penhasco, vencendo os 80 metros de altura que os separam. O permanente risco de deslizamento de encostas e a dificuldade de transposição tornava precário o deslocamento dos moradores do morro do Cantagalo e da

comunidade vizinha, o morro do Pavão-Pavãozinho (MORATELLI, 2010). Além da dificuldade de transposição dos morros, crescia constantemente a insegurança relacionada à violência e ao tráfico de drogas. Visando reduzir as dificuldades locais, no final de 2009 foi instalado no morro uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) e em 2010 foi inaugurado o Complexo Rubem Braga, projeto de autoria do escritório JBMC, com o objetivo de realizar uma transposição com qualidade, buscando potencializar o fluxo de pessoas no morro, fazendo com que ambos contribuíssem para melhoria da segurança local, do turismo e da qualidade de vida da população (MORATELLI, 2010). Ao longo do tempo, o processo de ocupação dos morros aumentou sem controle do poder público, dificultando a administração de condições qualificadas de vida da comunidade. Além da infraestrutura do Complexo Rubem Braga conectar os diferentes níveis e qualificar as escadarias já existentes, a construção da estação de metrô General Osório propicia a contenção das encostas, reduzindo os perigos até então apontados (FRACALOSSI, 2011). O conjunto é formado por duas torres sustentadas por uma estrutura metálica de forma triangular, com pilares de 1m de raio em seus vértices, que recebem um sistema de contraventamento a cada dois pavimentos através de um tubo de seção circular locados em diagonal. Cada torre apresenta um conjunto de escadas fixas e cobertas, externas ao triângulo estrutural, e dois elevadores com

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capacidade para 30 passageiros por viagem cada, com a face voltada para a rua com fechamento de vidro (FRACALOSSI, 2011). Com projeto de 2008, o Complexo foi entregue em 2010 e é composto por uma torre mais alta, que apresenta 64m de altura e acesso pela rua Cândico das Neves, no bairro de Ipanema; uma torre menor, com 28m de altura e acesso pela rua Leonel de Azevedo, no morro do Cantagalo e permite a conexão com o metrô, onde a plataforma da Estação General Osório se liga pela base da torre maior através de uma galeria com 230 metros de extensão. (MACHADO, 2010). No piso térreo se dá o acesso aos elevadores e escadas do complexo. As duas torres são ligadas por uma passarela de estrutura metálica localizada na cota 65m do morro e apresenta um fechamento ripado, atuando como mirante (FRACALOSSI, 2011). O último nível da torre que possui maior altura tem vedação de vidro, permitindo a vista da Lagoa Rodrigo de Freitas, da Praia de Copacabana e da Praia de Ipanema. O Complexo se transforma então em um ponto turístico, que ultrapassa o potencial arquitetônico. Como um elemento de integração urbana, colabora com as dinâmicas do local no qual está inserido e com a cidade (FRACALOSSI, 2011).

Figura 48 – Passarela de conexão do complexo Fonte: Arquivo JBMC (In FRACALOSSI, 2011)

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Figura 49 – Planta térreo inferior Fonte: Arquivo JBMC (In FRACALOSSI, 2011)

Figura 50 – Planta pavimento tipo Fonte: Arquivo JBMC (In FRACALOSSI, 2011)

Figura 51 – Planta passarela Fonte: Arquivo JBMC (In FRACALOSSI, 2011)

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Figura 52 – Planta térreo superior Fonte: Arquivo JBMC (In FRACALOSSI, 2011)

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Figura 53 – Corte esquemático de integração térreo inferior (Ipanema) e superior (Cantagalo) Fonte: Arquivo JBMC (In FRACALOSSI, 2011)

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Figura 54 – Vista do Complexo Fonte: Imagem de Celso Brando, 2011 (In FRACALOSSI, 2011).

Figura 55 – Vista da Passarela Fonte: Imagem de Celso Brando, 2011 (In FRACALOSSI, 2011).

Figura 56 – Vista do Complexo Fonte: Imagem de Celso Brando, 2011 (In FRACALOSSI, 2011).

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Com relação às técnicas construtivas estudadas para o partido projetual e conceituação arquitetônica do Centro de Memória e Visitação de Paranapiacaba, levando em consideração que a premissa inicial era a utilização da madeira por conta da linguagem arquitetônica já consolidada na Vila de Paranapiacaba, e que o terreno escolhido para intervenção é bastante íngreme, foi então utilizado como estudo de caso a Residência Helio Olga Jr., projeto do arquiteto Marcos Acayaba, considerando as tratativas do projeto com relação a utilização da madeira como estrutura e materialidade, relação com a paisagem, contraventamento e implantação em terreno de alta declividade.

Residência Hélio Olga Jr. Arquiteto: Marcos Acayaba Localização: São Paulo – SP, Brasil Ano de projeto: 1990 Sendo uma das primeiras construções de madeira com implantação em terreno de alta declividade, o projeto de 1987, situado no bairro Vitória Régia, em São Paulo (SP), é resultado do experimento formal e técnico do proprietário da residência, o engenheiro Hélio Olga e o arquiteto responsável Marcos Acayaba. Com mais de 100% de declividade, o terreno inviabilizava a instalação de um canteiro de obras convencional, sendo então levantada a opção de utilização do sistema pré-fabricado de madeira (NAKANISHI, 2007).

O arquiteto propôs, seguindo o programa de uso residencial solicitado por Hélio Olga, um modelo de implantação perpendicular ao terreno, usufruindo da insolação leste/oeste. Para a modulação dos espaços, foram implantados módulos de 3,30mx3,30mx3,30m (Figura 57), de modo que todas as peças foram sendo medidas e cortadas na serraria, facilitando o trabalho no local, de modo que a montagem em canteiro fosse realizada em um total de 45 dias (NAKANISHI, 2007). Com desenho escalonado, a residência é composta por quatro pavimentos que abrigam sala, cozinha, quatro dormitórios e uma sala de brinquedos. Sua implantação intervém o mínimo possível no terreno, sendo feita de modo elevado, apoiada em seis pontos de concreto, de modo que a estrutura de madeira descarrega sua carga e não fica em contato com o solo (Figura 59). A fim de evitar maiores esforços estruturais, os materiais da cobertura e de vedação são sistemas leves, minimizando o peso total da construção (NAKANISHI, 2007). Todas as etapas foram sendo simultaneamente planejadas pelo arquiteto Marcos Acayaba, integrando o dimensionamento programático, estrutural e de vedação. A madeira utilizada na estrutura desta obra foi o Angelim Vermelho, que, segundo Nogueira (2001, apud NAKANISHI, 2007), é resistente e apresenta como características aspecto fibroso, que inibe o ataque de fungos e capins. O painel wall utilizado na vedação é composto por sarrafos de madeira, revestidos por lâminas de madeira, que externamente recebem chapa lisa cimentícia. Considerando o módulo de 3,30m, a medida base utilizada para a vedação é de 1,10m, de modo que não

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houvesse desperdício das peças. Para cada módulo, o pé direito é de 2,50m, deixando 80cm restantes para a passagem de instalações necessárias (NAKANISHI, 2007). O sistema de contraventamento se dá por meio de vergalhões de aço dispostos na diagonal, que permitem o travamento da estrutura nos sentidos horizontal e vertical. O encontro e fixação entre as diferentes materialidades se dá através do nó estrutural, de modo que o cabo do contraventamento se fixe na estrutura de madeira através de perfis metálicos parafusados, que por sua vez é fixada no tubulão de concreto através de um conector de aço. (NAKANISHI, 2007).

Figura 57 – Croqui módulo básico Fonte: Elaborado por Tatiana Nakanashi (In NAKANISHI, 2007)

O projeto propõe um sistema de compatibilização de processos de modo que a produção fosse realizada na construtora e as peças fossem encaixadas na obra, sem perda de material. Sendo assim, segundo Martins (2005, apud NAKANISHI, 2007), foi necessária uma preocupação técnica e formal desde a concepção à execução. Segundo Hélio Olga (SOUZA Jr, 2005 apud NAKANISHI, 2007), os profissionais técnicos participaram das etapas iniciais do projeto de modo que em diferentes etapas da obra as questões estruturais e construtivas coincidissem com as arquitetônicas.

Figura 58 – Detalhe de nós estruturais Fonte: Acervo pessoal Marcos Acayaba, adaptado por Tatiana Nakanishi (In NAKANISHI, 2007)

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Figura 59 – 3D estrutural Residência Hélio Olga Jr Fonte: Acervo pessoal Marcos Acayaba (In NAKANISHI, 2007)

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Figura 60 – Implantação Fonte: Acervo pessoal Marcos Acayaba (In NAKANISHI, 2007)

Figura 61 – Planta do pavimento social Fonte: Acervo pessoal Marcos Acayaba (In NAKANISHI, 2007)

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Figura 63 – Planta do quarto de hóspedes Fonte: Acervo pessoal Marcos Acayaba (In NAKANISHI, 2007)

Figura 62 – Planta do pavimento íntimo Fonte: Acervo pessoal Marcos Acayaba (In NAKANISHI, 2007)

Figura 64 – Planta da brinquedoteca Fonte: Acervo pessoal Marcos Acayaba (In NAKANISHI, 2007)

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Figura 66 – Residência Hélio Olga Jr iluminada Fonte: Imagem de Sebastian Crespo*

Figura 67 – Residência Hélio Olga Jr iluminada Figura 65 – Residência Hélio Olga Jr iluminada Fonte: Imagem de Sebastian Crespo* Fonte: Imagem de Sebastian Crespo* *Figuras 65-68: Disponíveis em: <http://www.itaconstrutora.com.br/portfolio/casa-helio-olga-jr/>.

Figura 68 – Residência Hélio Olga Jr Fonte: Imagem de Sebastian Crespo*

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4.2 Plano Urbanístico A realização de um Plano Urbanístico com propostas de requalificação urbana para a Vila de Paranapiacaba surgiu em função da leitura urbana da área e o diagnóstico de necessidades de intervenção visando melhoria da qualidade de vida e valorização do potencial histórico e turístico do local. Os principais parâmetros utilizados para realização da leitura urbana da área foram registrados nos mapas 05, 06, 07, 08, 09, 10 e 11, onde foram acopladas as informações fornecidas pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano de Santo André, os depoimentos dos moradores (in PIN, 2014) e os levantamentos realizados pela autora durante visitas à área. Foram elencadas como principais deficiências a necessidade de restauração de parte das edificações que se encontram degradadas e malcuidadas; existência de edificações sem uso ou subutilizadas; falta de espaços públicos de qualidade; disposição isolada dos interesses turísticos; necessidade de valorização de aspectos culturais, históricos e ambientais; redução de oportunidades de renda aos moradores; dificuldade de mobilidade e baixa qualidade de acessibilidade em algumas ruas. Considerando a morfologia já consolidada na Vila em termos construtivos, o ponto de partida da proposta relacionada às intervenções foi buscar realizar a utilização de edificações já existentes, levantadas como subutilizadas e abandonadas, promovendo adequações para possibilitar maior diversidade de usos

na área. As construções antigas podem potencializar a vida de um local, através da adaptação de velhos espaços para novos usos, a busca da combinação de edifícios antigos na dinâmica urbana demonstra uma capacidade de buscar renovações, que podem potencializar a valorização de um local por gerações futuras, aliando respeito ao valor insubstituível criado pelo tempo como uma herança (JACOBS, 2014). Segundo Boer (2015), um imóvel vazio é lugar desprovido de vida em meio à dinâmica urbana, e pode ser visto como oportunidade de ativar experiências na rua, agregando maior significado à edificação e possibilitando conexões com o local a que está inserido. Com relação ao uso, o autor aborda que o contexto a que o prédio está inspira intervenções adequadas ao ambiente e à população que ali vive. De acordo com Gehl (2014), um planejamento urbano deve envolver iniciativas que almejem tornar um local sustentável, saudável e seguro. A primeira medida citada pelo autor é transformar o caminhar pelo território, possibilitando diferentes experiências aos transeuntes ao longo de seus percursos, utilizando o espaço público como oportunidades de diversos usos e usuários, envolvendo assim qualidades funcionais e emocionais nos espaços comuns

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Figura 69 – Maquete de estudo das intervenções Elaborado pela autora, 2017.

Considerando a perspectiva de valorização dos espaços públicos e a integração com a dinâmica urbana, propõe-se a setorização dos usos que poderão ser implantados nas edificações sem uso e áreas subutilizadas, considerando a adequação com o entorno próximo (Mapa 18), e seguindo a setorização de usos proposta pela Lei de Zoneamento (Mapa 04). Nas áreas com maior aglomeração de residências, propõe-se usos cívicos e institucionais. Já nas áreas com maior presença de atividade comercial, a intenção é promover a valorização do potencial gastronômico da região, e, nos locais com vocação de pontos turísticos, buscar adequação das edificações e promover relações ativas na dinâmica urbana, buscando beneficiar também a qualidade de vida dos moradores. Foram estabelecidas áreas de intervenção de modo a intensificar o fluxo de pessoas por toda a Vila. De acordo com Jacobs (2014), a atratividade nas ruas transforma o percurso da população através de uma continuidade, de modo que os espaços públicos se conectem com a malha urbana, fazendo com que a cidade se conecte. Farr (2013) trata da importância de existir diversidade de usos em um bairro como forma de torná-lo atrativo, sendo considerado modelo o bairro compacto, voltado para o uso do pedestre e que apresenta multiplicidade de usos, de modo que as pessoas possam morar, trabalhar, estudar, comprar, se exercitar, se divertir sem a necessidade de grandes deslocamentos.

Figura 70 – Croqui de estudo das intervenções Elaborado pela autora, 2017.

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Mapa 18 – Mapa de áreas de intervenção Fonte: Google Earth, 2017. Adaptado pela autora, 2017.

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Com relação aos usos institucionais e cívicos, notou-se a deficiência de espaços para convivência social e cultural na Vila. Sendo assim, são propostas a implantação de um Centro Cívico, espaço para encontros e reuniões de moradores, e um Espaço de Convivência e Cultura, voltado ao incentivo de práticas artísticas. Devido à falta de oportunidades de emprego na área e a possibilidade do engajamento da população em atividades da Vila, foi proposto um Centro de Capacitação, com o objetivo de ampliar a capacidade intelectual dos moradores. Além disso, considerando a ausência de amplos espaços multifuncionais, foi proposto com localização afastada da área residencial um Centro de Convenções e Eventos, espaço que abrange diferentes modos de utilização. Considerando que a Vila possui o primeiro campo de futebol do Brasil20, outra proposta à área é a intensificação do esporte. Atualmente, conforme levantado em visita, o campo apresenta-se desconfigurado, com vegetação alta, sem demarcações, tornando-se uma barreira física entre as residências na proximidade. A proposta para o local pretende promover o esporte, através da infraestrutura necessária para a prática com qualidade, possibilitando outras atividades esportivas além do futebol. A proposta de intensificação e valorização do comércio surge do potencial gastronômico e artístico verificado na área, que atualmente conta com pequenos estabelecimentos, degradados e pouco convidativos. Segundo Gehl (2014), as fachadas ativas suavizam a caminhada e criam maior interação do transeunte com a

rua, gerando sensações atrativas e assim, promovendo um aumento do fluxo de pessoas. Com relação aos equipamentos turísticos e sociais, foram destacadas áreas com potencial para visitação, de modo a receber propostas de intervenções no sentido de adequação e valorização dos usos e integração com premissas turísticas da área. Considerando o potencial turístico do Parque Natural Nascentes de Paranapiacaba, foi proposto um equipamento de apoio ao ecoturismo, visando melhoria na prática e envolvimento da população. Outro elemento atrativo da região é o Cambuci, envolvido na proposta de horta comunitária, para que a população e os visitantes possam se integrar em sua prática agrícola. A horta é proposta nas proximidades do Mercado, onde é indicada a reativação de seu uso original, como espaço de exposições e vendas, gerando oportunidades de intensificação econômica aos moradores. Além da identificação de necessidades programáticas, foram levantadas necessidades de requalificação da mobilidade e do percurso. Propõe-se a reativação da ferrovia e integração com a mobilidade do local, deixando de ser utilizada apenas para fins turísticos. Considerando a atual situação da passarela metálica, a proposta urbana abrange sua requalificação, bem como a melhoria de mobilidade e acessibilidade ao seu acesso, proveniente da ligação com a Igreja Senhor Bom Jesus de Paranapiacaba - daí surge a proposta do Núcleo de Memória e Visitação de Paranapiacaba.

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O campo de futebol mais antigo do Brasil se encontra na Vila de Paranapiacaba e foi inaugurado em 1894, numa partida entre os ferroviários (CANDIDO, 2013).

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Mapa 19 – Proposta urbana Fonte: Google Earth, 2017. Adaptado pela autora, 2017.

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4.3 Núcleo de Memória e Visitação de Paranapiacaba

Como proposta de requalificação do percurso realizado entre o principal acesso à Vila, no nível da Igreja Senhor Bom Jesus de Paranapiacaba e a rua William Speers, que dá acesso à passarela metálica sobre a ferrovia, o Núcleo de Memória e Visitação de Paranapiacaba surge como equipamento de transposição em níveis que facilitam o acesso à Parte Baixa. Atualmente, o acesso à passarela pode ser realizado através das ruas Albertino Duarte, com aproximadamente 23% de inclinação e Antônio Thomaz, com aproximadamente 18%. A rua Antônio Thomaz localiza-se entre quadras residenciais e a rua Albertino Duarte, apresenta uso residencial de um lado da rua, e do outro, uma área desmatada, com a presença de três residências de alvenaria, em mal estado de conservação, isoladas do conjunto urbano.

O terreno escolhido está próximo à Área de Preservação Permanente, a qual possui vegetação nativa, portanto insere-se na intenção realizar uma expansão da vegetação para a área de intervenção, integrando-a com o projeto proposto. A rua Anthonio Thomaz apresenta atualmente fluxo de automóveis dos moradores e trânsito autorizado, porém, por apresentar cerca de 3m de largura e ausência de passeios, existe conflito entre o percurso realizado por carros e por pedestres. A proposta diante desta problemática é promover a valorização da rua Albertino Duarte como principal via de percurso de pedestres, considerando sua largura aproximada de 2m, promovendo a partir desta uma requalificação da transposição até a rua William Speers.

Por meio deste levantamento, foi escolhida a área de intervenção, tratando-se de um terreno com 17% de declividade, localizado entre a Igreja Senhor Bom Jesus de Paranapiacaba e rua William Speers. Considerando o mal estado de conservação e o isolamento urbano das três edificações hoje existentes nessa área, propõe-se a remoção, realocando seus moradores em imóveis hoje vazios, inseridos no Plano de Restauração da Vila. Viabilizar a transposição entre o nível da Igreja Senhor Bom Jesus de Paranapiacaba e a rua William Speers, com qualidade de percurso e projeto, foi a principal premissa utilizada para a definição de projeto. Assim, começaram-se os estudos de partido projetual.

Figura 71 – Residências removidas na proposta Fonte: autora, 2017.

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Mapa 20 – Localização intervenção projetual Fonte: Google Earth, 2017. Adaptado pela autora, 2017.

Mapa 21 – Estudos iniciais intervenção projetual Fonte: Google Earth, 2017. Adaptado pela autora, 2017.

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A proposta inclui o entorno da área de implantação do Núcleo como passível de requalificação: considerando, portanto, a rua Albertino Duarte como a principal ligação da Vila com o terreno da intervenção, é proposta a melhoria de sua pavimentação. Na intersecção da rua Albertino Duarte com a rua William Speers, existe atualmente um pátio concretado, onde propõe-se a realização de uma praça, como boulevard ao eixo comercial que, através da proposta de requalificação urbana da rua William Speers, terá sua atividade intensificada, atuando como ponto de acesso na menor cota do projeto. Como ponto de partida, estabeleceu-se a utilização da madeira, considerando ser o material majoritariamente utilizado na Vila. Desta forma, propõe-se a elevação do projeto do terreno, visto que a madeira não pode apresentar contato direto com o solo, de modo a evitar sua degradação. Além disso, por se tratar de uma construção que promove a valorização de questões ambientais, com relação à sustentabilidade de sua fabricação, a madeira apresenta vantagens com relação aos demais materiais tipicamente usados.

socioeconômicas que poderiam ser trabalhadas por meio da disposição de usos dentro de uma edificação neste local, e assim foram estudados níveis topográficos para a implantação. Foram estudadas cotas intermediárias para viabilizar a implantação de uma edificação (esquema 02), sem que sua altura ultrapassasse a altura média das edificações do entorno, com aproximadamente 4m de altura, de modo a não interferir bruscamente na paisagem (esquema 03). A partir das cotas projetuais estabelecidas, a premissa básica para definição da forma do edifício era a de não haver necessidade de grande quantidade de movimentação de terra, sendo assim estudados recuos e elevações do solo em diferentes níveis (esquema 04). Além disso, foi estudada a projeção que a volumetria produziria, resultando em áreas de sombras sobre a vegetação proposta. Deste modo, foram definidos vazios nos blocos, integrando o conteúdo programático com a vegetação proposta, possibilitando aos usuários maior integração com a natureza, bem como viabilizando iluminação e ventilação zenital ao projeto (esquema 05).

Os primeiros estudos indicavam a realização da transposição de níveis de forma direta, sem a obrigatoriedade de tratar-se de espaços com conteúdo programático (esquema 01). Porém, através da leitura urbana na área, foram levantadas questões

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O programa do Núcleo foi dividido nos três blocos que compõem o edifício. Para efeito de entendimento do projeto, são identificados como blocos 01, 02 e 03, sendo o bloco 01 o mais próximo à Igreja Senhor Bom Jesus de Paranapiacaba e o bloco 03 o mais próximo à rua William Speers.

O bloco 01 é o primeiro ponto de acesso ao edifício por quem acessar a Vila pela Parte Alta, através do pátio da Igreja de Paranapiacaba. Levando isso em consideração, o programa deste bloco é voltado para a contextualização do visitante com a área. Através de áreas de pesquisa, leitura, acervos cartográficos e exposições, este bloco tem por objetivo atuar como um portal que insere o turista e apresenta o contexto do patrimônio que está a ser visitado. Este bloco possui um café, que se estabelece como um mirante, uma área de contemplação para a estrutura ferroviária e a Parte Baixa da Vila.

Figura 72 – Identificação dor blocos Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

Figura 73 – Transposição desejada entre os blocos Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

Figura 74 – Esquema programático Bloco 01 Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

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Pensando em intensificar a integração social entre moradores e visitantes, foi proposto ao bloco 02 espaços de ateliês e oficinas, de forma que os moradores possam transmitir seus conhecimentos artísticos, gastronômicos, educativos e patrimoniais aos visitantes. O pavimento inferior possui uma sala multiuso, com painéis retráteis na fachada posterior, que se abre para uma arquibancada, construída a partir do nível superior e segue através do vão central, propiciando a integração do bloco com a vegetação.

O bloco 03 é o ponto de acesso pela menor cota do conjunto, propõe-se espaços com divisórias flexíveis, podendo assim atuar como área de exposição e galeria, adaptável conforme as necessidades. A proposta é que este bloco sirva como meio de intensificação de práticas econômicas aos moradores. O pavimento inferior apresenta um deck como área de estar, para permanência e contemplação da Parte Baixa da Vila.

Figura 75 – Esquema programático Bloco 02 Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

Figura 76 – Esquema programático Bloco 03 Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

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A vedação frontal dos pavimentos superiores nos três blocos será de vidro, para que possibilitem a visualização da Vila, fazendo com que a paisagem externa se incorpore ao percurso do edifício. Já os pavimentos inferiores dos blocos 01 e 02, apresentam painéis retráteis de madeira, que se abrem para a laje de cobertura do bloco imediatamente abaixo, expandindo as áreas para atividades externas. Segundo Rohmer (2015), envolver o espaço público em um projeto arquitetônico viabiliza pontos de encontro entre as pessoas e possibilita interações espontâneas, tornando o ambiente mais vivo e atrativo, de forma que o projeto atue como um conector da cidade a si própria, valorizando-a. O conceito de integração foi aplicado ao longo das etapas projetuais, construindo as conexões entre os blocos e do projeto com a Vila. Além dos vazios nos blocos possibilitarem a integração da vegetação com o projeto, decks foram pensados como forma de abrir o projeto para a rua, fazendo as vezes uma extensão dela.

Farr (2013) indica que as áreas verdes melhoram a qualidade de vida de um local, simbolizando a liberdade de atividades humanas, além de promover interação entre os usuários, de modo a possibilitar troca de experiências sociais. O termo “terceiro-lugar”, explicado por Oldenburg (1989, apud FARR, 2013) abrange lugares que não abrigam o uso de moradia e trabalho, mas que permitem a experiência humana através de encontros de pessoas, são lugares necessários para a completude de um bairro e fundamentam a questão do urbanismo sustentável, facilitando encontros e expandindo a integração social (FARR, 2013). O objetivo do Núcleo de Memória e Visitação de Paranapiacaba é se tornar, além de um equipamento de transposição de níveis, possibilidades de conexões visuais e físicas com a Vila e ponto de encontro entre diferentes tipos de pessoas, através da diversidade de atividades. Figura 77 – Corte urbano para mostrar integração do projeto com a Vila Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

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Figura 78 – IMPLANTAÇÃO Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

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05.

Considerações Finais

A leitura urbana da Vila de Paranapiacaba, partindo da abordagem do conceito de patrimônio realizada por diversos autores, unida aos dados levantados e fornecidos, permitiu a análise acerca da potencialidade da área e a identificação das principais necessidades atuais. Por meio da leitura urbana foram identificados, com relação à infraestrutura urbana e aos espaços públicos, os pontos críticos e passíveis de requalificação. A proposta de intervenção tem por objetivo valorizar o potencial turístico da Vila de Paranapiacaba, de forma a intensificar o fluxo de pessoas na região. Esta medida pretende ampliar a visibilidade patrimonial da área, gerando oportunidades econômicas para a Vila, e de renda a seus moradores. O Plano Urbanístico prevê o aumento do fluxo de pessoas, a melhoria da qualidade de vida e de vivência nos espaços, possibilitando seu usufruto e criando novas oportunidades. O equipamento urbano proposto, o Núcleo de Memória e Visitação de Paranapiacaba, desenvolvido como produto da monografia, partiu da identificação do potencial turístico e patrimonial da Vila, bem como a dificuldade na transposição e na locomoção do pedestre entre a Parte Alta e a Parte Baixa da ocupação. Desta forma, é proposta a implantação de um edifício em patamares escalonados, que permita a transposição entre o local de estacionamento de veículos, na Parte Alta, e a rua William Speers, que dá acesso à

passarela que conecta a Parte Baixa, de maneira programática e com qualidade de acessibilidade. A pesquisa realizada nesta monografia permitiu identificar a importância da Vila de Paranapiacaba como patrimônio brasileiro e diagnosticar a necessidade de intervenções para que seu território seja ocupado, valorizado e preservado. Em função disso, as propostas tendem a promover à Vila maior qualidade de percurso e programas, sem interferir drasticamente em sua morfologia já consolidada. Além disso, buscam valorizar e intensificar sua importância e promover novas possibilidades turísticas e econômicas, adequando-a à uma dinâmica urbana que promova maior qualidade de vida aos seus habitantes, impulsionando-os a permanecer e se identificar com o local.

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