Caderno da
Fé
VITÓRIA, ES, QUINTA-FEIRA, 03 DE ABRIL DE 2012
A festa da Penha
STEFANO MARZI
Saiba tudo sobre o Convento e a festa da Penha Pág. 2
Programação completa da Festa da Penha 2012 Pág 3
Terço gigante é pindurado na entrada do Convento da Penha, como recepção para os dias de comemorações.
Linhas especias para evento Pág 4
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Caderno da Fé STEFANO MARZI
Uma das maiores festas religiosas do país, com a padroeira do estado. João Felipe Chagas Tavares
Vila Velha, o berço da civilização capixaba, que completa neste ano 477 anos, possui belas histórias que envolvem suas riquezas naturais, patrimônios e cultura. Entre tantas belezas, destaca-se o Convento da Penha, cartão postal capixaba, dedicado a Nossa Senhora da Penha, Padroeira do Espírito Santo. Desde o tempo das capitanias hereditárias, a padroeira capixaba é homenageada por devotos. E, através dos anos, a festa que homenageia a santa atrai milhares de fiéis, aumentando o fluxo de turistas na cidade. Considerada a terceira maior festa religiosa do Brasil, fica atrás somente da comemoração que homenageia a padroeira do Brasil, em Aparecida, São Paulo, e do Círio de Nazaré, em Belém, no Pará. A Festa da Penha é realizada todos os anos, oito dias depois do domingo de Páscoa, no Convento da Penha e no sítio histórico da Prainha. Fiéis e turistas se reúnem para assistir as missas celebradas no Campo
além de participar das romarias e dos shows. A devoção a Nossa Senhora da Penha começou na Europa por volta do século XV. As histórias estão no livro “Nuestra Señora da Peña de Francia” do Padre Calunga. Conta o livro que em 19 de maio de 1434, o peregrino francês, Simão Velha, descobriu na montanha Penha de França, situada na província de Salamanca, na Espanha, a imagem de Nossa Senhora, tão importante para o catolicismo. Segundo conta a lenda, o primeiro milagre de Nossa Senhora ocorreu no local onde foi encontrada a imagem, em Salamanca, quando um grupo de fugitivos, perseguidos por bandoleiros, invocaram ajuda à santa e ficaram livres dos inimigos. O fato espalhou-se rapidamente pela região, chegando até Portugal, onde a imagem passou a ser venerada. A primeira igreja erguida para a Nossa Senhora da Penha foi em Lisboa, quando o então Rei de Portugal, Dom Sebastião, curou-se de uma doença graças ao intermédio da santa. STEFANO MARZI
Imagem do Conveto da Penha visto pela cidade de Vitória, capital do Espírito Santo.
Curiosidades e lendas do Convento da Penha André Chiabai
Histórias curiosas não faltam em torno do monumento dedicado a Nossa Senhora da Penha. A decisão da construção da capela por Frei Pedro Palácios ocorreu após um fato inusitado: certo dia, o frei acordou e viu que o painel da virgem que encomendara de Portugal desaparecera da Capela de São Francisco, que o frade franciscano havia construído no campinho. Com o objetivo de achar a imagem a qualquer custo, o frei foi à sua procura nas matas da montanha e encontrou a imagem no alto do Morro da Penha, sob duas palmeiras. O sumiço do quadro repetiu-se duas vezes e ele foi encontrado no mesmo lugar. Então, Frei Pedro Palácios viu, por meio desses sinais, um “aviso” e a vontade de Nossa Senhora que a capela
fosse erguida naquele lugar. A construção da capela começou de imediato. Outra lenda, a “da Penha”, ocorreu logo no início da construção do Convento: o surgimento de uma fonte no local das obras. Chamada de fonte de Nossa Senhora, ela possibilitou a realização das obras no local e, depois que elas se encerraram, a fonte secou. Fala-se também da procissão marítima do ano de 1769, época em que a seca assolava a capitania. Segundo a lenda, as matas do morro seguiam verdes e viçosas enquanto o resto da região estava em uma profunda seca. Depois da procissão, a chuva caiu. Esse fato foi retratado em uma das telas do pintor Benedito Calixto, que se
encontra nas paredes do santuário. Várias lendas integram a história dos milagres de Nossa Senhora da Penha, como quando o Frei Pedro Palácios partia para suas viagens, deixava para seus companheiros (um gato e cachorro) a quantidade de bolinhos de farinha que representavam os dias de sua ausência. E os animais comiam apenas cada uma das suas rações diárias, sendo a última delas no retorno do frei. Em relação à imagem de Nossa Senhora, existe também a lenda de que a pessoa responsável em trazer a encomenda de Frei Pedro, o quadro de Nossa Senhora, esqueceu de fazê-lo. E, na véspera da viagem, o encarregado recebeu de
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Caderno da Fé
Programação completa da Festa da Penha 2012 STEFANO MARZI
Paralamas do Sucesso faz show aberto ao público no domingo (15) João Felipe Chagas Tavares
A Festa da Penha está chegando. De 08 a 16 de abril, o Parque da Prainha, em Vila Velha, receberá fiéis que participarão das programações preparadas para a maior festa religiosa do Estado. “Vai ser uma festa bonita e bem organizada”, prevê o secretário de Cultura e Turismo de Vila Velha. Na programação popular, o destaque vai para o show dos Paralamas do Sucesso, no dia 15. No dia se-
guinte, o destaque é a apresentação do Padre Juarez. A segurança da festa da Penha já está sendo planejada pela Prefeitura. Doze câmeras de videomonitoramento farão o monitoramento das ruas que dão acesso ao Parque da Prainha. A Secretaria de Defesa Social já se reuniu com a Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e o Exército para traçar o plano de trabalho para a festa.
Saúde: esquema especial vai atender romeiros A Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) montou um esquema especial para atender, todos os dias, os fiéis, romeiros e participantes da Festa da Penha. Será montada uma tenda no Parque da Prainha, em frente à Casa da Memória, com dois consultórios e sala de repouso. Uma equipe, formada por médicos, enfermeiros e técnico de enfermagem, estará de prontidão no local para atender à população.
No Campinho do Convento, por sua vez, haverá outra tenda, também com equipe médica para socorrer, caso seja necessário, os participantes das missas. Além disso, haverá postos de orientação para aferição de pressão arterial nas duas subidas do Convento. Duas ambulâncias estarão à disposição para atendimento de ocorrências de urgências e emergências.
Programação FESTA POPULAR - 13 de abril – sexta - 19h30 – Forró Comichão - 21h - Macucos - 22h - Casaca - 15 de abril - domingo - 21h - Paralamas - 16 de abril - segunda - 18h - Padre Juarez - 21h - Higino e Gabriel HORÁRIOS DE MISSAS NA CAPELA DO CONVEN TO - Dia 08 de abril – 5h, 7h, 9h e 11 horas - Dia 09 de abril a 12 de abril – 6h, 7h, 8h e 9h30 - Dia 13 de abril – Missa às 9h30 com participação de advogados - Dia 14 de abril – 6h, 7h30, 11 horas - Dia 15 de abril- 5h, 7h, 11h e 14 horas - Dia 16 de abril – 0, 1h30, 6h, 9h, 12 horas
OITAVÁRIO De 08 a 14 de abril – Campinho do Convento às 14h30 Dia 15 – Prainha, às 15h30 MISSAS De 08 a 14 – Campinho do Convento às 15 horas Domingo: Área Serrana Segunda: Área Vila Velha Terça: Área Cariacica/ Viana Quarta: Área Benevente Quinta: Área Serra Sexta: Área Vitória Sábado: Diocese Cachoeiro de Itapemirim Dia 14 – Missa da Diocese de São Mateus no Campinho, às 8 horas Dia 15 - Missa da Diocese de Colatina no Campinho, às 9 horas Missa da Romaria das Mulheres no Campinho, às16 horas
Dia 16 – Missa da CRB e Seminário Nossa Senhora da Penha no Campinho às 7 horas Missa das Pastorais Sociais no Campinho às 9 horas Missa de encerramento na Prainha às 16 horas ROMARIAS Cavaleiros – 08 de abril, saída de Cobilândia às 8h30 militares – 13 de abril, saída da Prainha às 14 horas Pessoas portadoras de deficiência – 14 de abril, saída da Praça Duque de Caxias, em Vila Velha, às 8h Homens – 14 de abril, saída da Catedral de Vitória às 19 horas Colatina – 15 de abril, saída do Portão do Convento às 8 horas Marítima – 15 de abril, Saída da Ilha das Caieiras às 9 horas
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Caderno da Fé Transcol terá operação especial durante Festa da Penha
Haverá reforço de frota para a Romaria dos Homens, mais 45 ônibus em todos os terminais de integração e ampliação das linhas que circulam de madrugada
A Ceturb-GV programou uma operação especial para o sábado (14), domingo (15) e segunda-feira (16), durante a Festa da Penha. Haverá reforço de frota para a Romaria dos Homens, mais 45 ônibus em todos os terminais de integração para cumprimento de viagens extras, mais viagens nas linhas que circulam de madrugada, conhecidas como “bacuraus”, e quadros-horários diferenciados para 89 linhas na segunda-feira (16), dia de Nossa Senhora da Penha. Uma frota de 12 ônibus extras ficará à disposição no Terminal Vila Velha entre as 17 horas de sábado (14) e as
6 horas de domingo (15) para garantir a volta dos participantes da tradicional Romaria dos Homens. Os veículos serão acionados de acordo com a demanda constatada pela equipe de fiscalização, para cumprimento de viagens extras a partir do terminal e dos pontos de ônibus mais próximos ao local do evento, em direção a Vitória, Cariacica e Serra, passando pelos principais eixos viários desses municípios. No sábado (14), domingo (15) e segunda-feira (16), haverá 45 ônibus de reforço distribuídos por nove terminais de integração da Grande Vitória (Laranjeiras e Carapina, na Serra; Jardim América,
Itacibá e Campo Grande, em Cariacica; e São Torquato, Ibes, Vila Velha e Itaparica, em Vila Velha). A frota será utilizada no cumprimento de viagens extras nas linhas que apresentarem acréscimo de demanda, de acordo com monitoramento realizado por agentes da fiscalização. Todas as linhas do sistema municipal passam próximas à Prainha (local da Festa da Penha). No Oitavário os ônibus que passarem no local vão circular com aviso no para-brisa dianteiro. As demais linhas circularão com quadro-horário de domingos e feriados.
“Quem me acompanha é Nossa Senhora”, diz devota que visita santa diariamente STEFANO MARZI
Thiago Morgado Horta
Com passos leves, mas decididos, ela caminha por uma rua escura. Vai cumprir um rito diário que há quatro anos se impôs: participar das cele-
brações matinais do Convento da Penha. Como a aposentada Cenelita Adami Justi, de 74 anos, dezenas de fiéis rompem todos os dias as barreiras da insegurança, da falta de apoio familiar e até mesmo da lógica para exercer a sua fé. Juntos formam uma multidão de católicos - 1,95 milhão -, que representa quase 60% da população do Estado. Desses, quase 80% dedicam suas preces à Virgem da Penha. Uma santa franciscana que chegou ao Estado como Nossa Senhora das Alegrias e que teve seu nome alterado pela insistência em permanecer no alto de uma pedra, onde conquistou seu santuário. As homenagens a ela mobilizam mais de um milhão de devotos, todos os anos. Mas a devoção à Penha vai
muito além das semanas de festa. Todos os dias, assim que a portaria do Convento se abre, por volta das 5h30, uma pequena multidão aguarda para iniciar a sua jornada espiritual. Dentre eles está Cenelita. A idosa de cabelos alvos que, sem nenhum constrangimento, estende a sua mão a pedir uma carona aos que sobem a ladeira de carro. É o único luxo a que se permite numa trajetória que começa antes das 4 horas da madrugada, e só para não chegar atrasada à primeira celebração, às 6 horas. Quem a conhece ou com ela convive não consegue deixar de se perguntar: o que leva uma pessoa a uma vida tão monástica? A resposta, segundo o arcebispo de Vitória, dom Luiz Mancilha Vilela, está no cerne
da própria religiosidade popular. Uma fé que não é racional, mas que envolve a pessoa, que a move, que lhe dá forças para enfrentar todos os obstáculos simplesmente para exercê-la. Talvez assim seja possível compreender a trajetória da senhora que caminha sozinha por quase 300 metros até o ponto. É lá que aguarda por meia hora, na rua ainda escura, o ônibus que a levará a dois terminais, em duas horas de viagem. Quando desce do coletivo ainda precisa percorrer mais meio quilômetro, apressadamente, para não perder o seu horário.
Parceira de toda vida Cerca de 40 quilômetros separam a residência de Cene-
lita, na Mata da Serra, na Serra, do Convento da Penha, na Prainha, em Vila Velha. Parece pouco, mas o percurso é feito enquanto a maioria da cidade ainda dorme. Nessa jornada, sua única companheira parece ser uma bolsa, que leva agarrada ao corpo. Mas ela faz questão de corrigir: “Quem me acompanha é Nossa Senhora”. Uma parceria que começou há mais de 60 anos, no interior de Iconha. Foram seus pais, católicos fervorosos, que a apresentaram à Penha, para quem rezava o terço diariamente com seus oito irmãos. Pessoalmente só a conheceu aos dez anos, numa romaria familiar. No mesmo dia em que viu o mar pela primeira vez, lá do alto do Convento. “Neste dia mal contive as lágrimas e a emoção”, conta.