Lugares invisíveis: sobre o espaço público em São Bernardo do Campo

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LARISSA LOBO LUGARES INVISÍVEIS sobre o espaço público em são bernardo do campo



LARISSA COSTA LOBO

lugares invisíveis sobre o espaço público em são bernardo do campo

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário Senac - Campus Santo Amaro, como exigência parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo

Orientador Prof Ricardo Luis Silva

SÃO PAULO

2014


L799l Lobo, Larissa Costa Lugares invisíveis: sobre o espaço público em São Bernardo do Campo/ Larissa Costa Lobo – São Paulo, 2014. 34 f.: il. color.

Orientador: Ricardo Luis Silva

Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Arquitetura e Urbanismo) – Centro Universitário Senac, São Paulo, 2014. 1. Intervenções urbanas 2. Lugar 3. Vazio 4. São bernardo do campo I.Silva, Ricardo Luis (Orient.) II.Título CDD 720


Aos colegas de curso, que durante todo o processo compartilharam angustias e conquistas. Este trabalho é de todos e para todos. Agradeço aos professores que participaram da minha breve trajetória no curso de arquitetura e urbanismo, muitas das discussões em sala de aula foram traduzidas ao meu modo neste trabalho. Agradeço principalmente aos meus queridos amigos Hugo Martins pelas infinitas conversas que sempre me ajudaram muito, obrigada pelo aprendizado e pelas preciosas orientações, Bruno Ribeiro pelos vários trabalhos que fizemos juntos e pelas andanças e descobertas no velho continente e Rafael Zaia, eterno são bernardense compartilhador de vivências. Agradeço aos amigos de Bolonha, pelo entusiasmo coletivo aos descobrirmos juntos essa cidade e pelas experiências que dividimos. E aos meus pais, que sempre apoiaram minhas escolhas.



“O vazio é a ausência, mas também a esperança, o espaço do possível. O indefinido, o incerto também é a ausência de limites, uma sensação quase oceânica.” Ignasi de Solà-Morales


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resumo Os fenômenos que acontecem na cidade já não se adequam mais aos princípios formais de zoneamento e gestão. As atividades humanas acontecem no espaço de acordo com as necessidades contemporâneas, e não é mais um desenho arquitetônico que determina como cada espaço será utilizado, sobretudo quando estamos falando de espaços públicos. Estamos em tempo de recriar identidades, de reestabelecer o contato entre sociedades individualizadas, valorizando os espaços públicos e os indivíduos. Nesse aspecto as intervenções urbanas1, tanto as temporárias quanto permanentes, atuam como alternativa ao processo de desenvolvimento das cidades. São atitudes fundamentais ao reconhecimento das atuais necessidades, pois, muitas vezes, colocam em questão a percepção de áreas esquecidas na cidade, espaços que se desprenderam da memória dos seus habitantes e dos princípios estabelecidos pelo desenho urbano, e passam a valorizar os aspectos físicos de um lugar, permitindo que seus habitantes descubram novos lugares e novas identidades. Em São Bernardo do Campo, cidade que sempre foi palco das minhas experiências, se mostrou como o lugar mais propício para que eu pudesse desenvolver essa proposta, considerando sempre a ideia de se descobrir lugares esquecidos na cidade e oferecer um novo olhar a estes espaços. Palavras-chave: 1. intervenções urbanas. 2.lugar. 3. vazio. 4.São Bernardo do Campo.

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Intervenções urbanas – “Uma forma de transformação positiva dos lugares. Funcionam como catalisadores de relações de proximidade e intimidade, tanto com o próprio espaço, quanto na relação entre os indivíduos da urbs, atuando reativamente contra esse desfavorável estado de alienação pura.” SANSÃO, Adriana, 2012.


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abstract The phenomena that happen in the city are no longer suited to the formal principles of zoning and management. Human activities take place in space according to contemporary needs and the architectural design does not determine how each space will be used anymore, specially when we’re talking about public spaces. It’s time to recreate identities, to restablish contact between individualized societies, enhancing the public spaces and the individuals. On this way the urban interventions, both temporary and permanent, act as an alternative to the process of developing cities. These attitudes are fundamental to the recognition of actual needs, because it puts under observation the perception of neglected areas in the city, spaces that have broken off from memory of its inhabitants and the principles established by urban design, and start to appreciate the physical aspects of a place, allowing people to discover new places and new identities. In Sao Bernardo do Campo, a city that has always been the place of my experiences, proved to be the most propitious place for me to develop this theme, always considering the idea of discovering forgotten places in the city and offer a new look to these spaces.

Key-words: 1. urban interventions. 2. place. 3. empty. 4. sao bernardo do campo


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sumário introdução 10 capítulo 1 sobre escolhas e experiências 13 a memória 17 o vazio 19

capítulo 2 fatos da arquitetura 23 o som ao redor 28 o toque 29

disposições espaciais 30

iniciativas e intervenções 32

capítulo 3 aproximações 39 uma cidade que é duas 40 os espaços invisíveis 43 a rotatória 44 o pavilhão 45

sob o viaduto 47

considerações finais 66 referências bibliográficas 68 lista de imagens 70


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1. Muro de Berlim, Berlim, 2014.


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introdução 04 de agosto de 2014.

De volta à realidade. Fazia quatro dias que eu estava de volta a São Paulo depois de um ano inesquecível fora do país. Morei em Bolonha, uma pequena cidade ao norte da Itália de características medievais e constituída essencialmente por estudantes, de todas as partes do mundo. Em Bolonha não havia muitos bolonheses, sempre tinha muito movimento, apesar de não ser considerada uma cidade turística. Foi ali que eu descobri o valor dos espaços públicos. De volta à faculdade, naquele dia 04 de agosto de 2014, eu tive que escolher um tema pra desenvolver o meu trabalho de conclusão de curso, diante da necessidade de me formar naquele ano. Logo me pareceu muito conveniente dedicar minha pesquisa às novas estratégias de intervenções urbanas que pudessem qualificar os espaços públicos da minha cidade, afinal o conceito de espaço publico no Brasil é ainda muito diferente do europeu, e então, tinha encontrado um assunto que pudesse ser explorado aqui. Em uma semana eu tinha o esboço de um tema. Durante o primeiro mês de desenvolvimento do trabalho, procurei investigar este tema tentando encontrar um caminho que, de alguma maneira, sintetizasse as mais significativas experiências que tive ao longo dos anos no curso de arquitetura e urbanismo e, principalmente, a minha vivência de um ano fora. Nesse momento, a leitura do livro Acupuntura Urbana do Jaime Lerner foi imprescindível para dar o ponta pé inicial na elaboração do trabalho, expondo a simplicidade de pequenas intervenções que, na verdade, implicam uma diferença muito grande na vida da cidade. Eu entendo que o processo de maturidade do trabalho pode levar algum tempo, mas era justamente o tempo o que me faltava, e nesse período tive contato com diversas leituras que, de certa forma, me ajudaram a tornar este tema mais palpável. A princípio Peter Zumthor e Gaston Bachelard me ampararam na construção de um pensamento sobre o lugar, onde eu pudesse atribuir significado ao espaço, e consequentemente à arquitetura, mas foi com a leitura do livro São Paulo, razões de arquitetura que Angelo Bucci me aproximou a realidade que eu procurava, trazendo as condições que a cidade oferece para se operar


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em arquitetura. Percebi que o termo “vazio” era recorrente nos meus registros e, diante de todos os significados que essa palavra possa sugerir, decidi encarar o espaço vazio como elemento fundamental de intervenção na cidade. Escolhi investigar os espaços invisíveis da cidade de São Bernardo do Campo que pudessem, através de intervenções pontuais, se reintegrarem a imagem da cidade e ao imaginário de seus habitantes, uma espécie de resgate do espaço público da cidade.

Com o tema exposto, apresento essa composição estruturada em 3 capítulos. Quando comecei a escrever, tentei descrever como a cidade se configurou ao longo de sua história e inevitavelmente surgiu a questão da memória, inerente a formação de qualquer cidade. Ainda nessa linha, foi possível vincular a memória ao vazio, no que diz respeito a extinção das referências arquitetônicas da região e como isso forma a imagem da cidade, estes assuntos foram reunidos no primeiro capítulo. A seguir foram discutidos os fatos da arquitetura, o lugar e modelos de intervenções, entre eles os apresentados pela arquiteta e urbanista Adriana Sansão em seu livro Intervenções temporárias, marcas permanentes, evidenciando a capacidade que as intervenções temporárias exercem na estruturação do espaço público. Nesse momento as referências do Arte/Cidade e as obras do escultor Richard Serra foram também fundamentais como experiências estéticas em espaços públicos e abandonados. Deixei por ultimo o terceiro capítulo, o qual concentrei-me em descobrir os espaços que a cidade naturalmente oferece, mas que não fazem parte do mapa mental de seus habitantes e, a partir de registros fotográficos e diversas imersões, tentar entender esses espaços para propor pequenas intervenções que pudessem transformar a lógica ou percepção daquele lugar. O meu desejo talvez seja de que este trabalho represente apenas o início de uma ação efetiva, que possa ganhar dimensão como um trabalho colaborativo com outros arquitetos e, principalmente, com a sociedade, para tornar habitáveis os lugares invisíveis da cidade. Larissa Lobo Novembro 2014.


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CAPÍTULO 1 sobre escolhas e experiências Sempre vivi em São Bernardo do Campo e a escolha dessa cidade como objeto de estudo reflete não apenas as minhas experiências pessoais, mas principalmente, o desejo de transformar a experiência com a cidade, despertando o sentimento de pertencer a este lugar. São Bernardo tem sua história intimamente ligada às vizinhas Santo André, São Caetano e São Paulo, mas que, diferente dessas, logo cedo se envolveu com a indústria automobilística, descobrindo vocação para alavancar sua economia e receber uma nova população, constituída de operários metalúrgicos e suas famílias, o que contribuiu para a formação dos primeiros núcleos urbanos da cidade, as chamadas vilas operárias.

Até então, nos anos 1950, São Bernardo era uma grande vila que pulsava ao ritmo do progresso. A indústria moveleira também ganhou espaço no desenvolvimento da cidade, atividade implantada pelos primeiros imigrantes europeus na região. Nas salas de aula da década de 1960, as crianças aprendiam a ler: “São Bernardo, a cidade do móvel e do automóvel!”. Ainda hoje é possível observar os vestígios da indústria moveleira, a “Jurubatuba” é uma rua temática e em determinada época do ano, em razão de um evento de móveis, a rua é fechada e estendem-se os tapetes vermelhos nas calçadas. Com a grande oferta de oportunidades, aqui e em toda a grande São Paulo, pessoas de diversas regiões do país desembarcaram a procura de uma “vida melhor”. Isso impulsionou o crescimento excessivo da cidade, que na década de 1990, se viu em uma situação de estagnação econômica e uma população que não parava de crescer (segundo os dados do IBGE 1960: 82.411 hab; 1970: 201.662 hab; 1980: 425.602 hab; 1990: 566.893 hab; 2000: 703.177 hab, 2010: 765.463 hab).

Perante um intenso processo de conurbação da Capital, o grande ABC não se distinguiu como ocupação da superfície, pois suas características físicas são inerentes a São Paulo e a sensação é de que a região se tornou uma estrutura de apoio à cidade de São Paulo, no que diz respeito à moradia. A especulação imobiliária, durante muito tempo governa a região, trazendo grandes empreendimentos para o centro da cidade, ocupando osten-


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sivamente todas as áreas livres que existiam. Assim potencializou-se um crescimento desmesurado da cidade, espalhando modelos desproporcionais a escala do pedestre, que favorecem a imposição de muros em detrimento da criação de espaços públicos de qualidade, modelos estes que, pela arquitetura, desconsideram a importância da convivência entre os cidadãos. Outro aspecto relevante é a extinção da memória arquitetônica da cidade, em São Bernardo não existe, como na maioria dos municípios antigos, um centro configurado por elementos históricos, tudo foi apagado em prol do desenvolvimento da cidade.

Nesse aspecto, a cidade-irmã Santo André apresenta certa independência, pois possui uma dinâmica de cidade diferente e conserva construções originais, além de ter investido, mais do que aqui, na construção de espaços de lazer e cultura. Por exemplo, Santo André sustenta o projeto original do Centro Cívico, projetado por Rino Levi na década de 1965, o conjunto possui um teatro bastante movimentado e uma esplanada generosa, que é sempre palco de eventos da cidade. Outro projeto interessante é o Sabina Escola Parque do Conhecimento, que é um dos principais centros de ciência interativos do Estado e atua com propostas didáticas, oferecendo conhecimento e diversão às crianças, além de possuir um planetário e estar inserido na grande área verde que é o parque central da cidade. O centrinho comercial se estende por um longo calçadão de pedra portuguesa, que está sempre cheio de gente. O SESC também é um espaço significativo no município, presente tanto em Santo André como em São Caetano, e esta, por sua vez, mesmo sendo uma cidade relativamente pequena, abriga duas grandes áreas verdes de lazer, que são o parque Chico Mendes e o Parque do Povo. Deste modo, compreende-se que a vivência nessas cidades se torna muito mais agradável em virtude da presença desses espaços. Em São Bernardo não existem muitos escritórios de empresas, portanto, muitos são bernardenses, que atuam no setor corporativo, têm sua profissão em outros locais, e por isso vê-se que a cidade se tornou um grande dormitório para essa população que, muitas vezes, trabalha em cidades vizinhas. E que também sai em busca de atividades de lazer e convivência,


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2. Parada de 么nibus sob viaduto Kenzo Uemura, S茫o Bernardo do Campo, 2014.


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em busca de uma identidade que não encontra aqui. O município ainda é formado majoritariamente por pessoas nascidas fora de seus limites geográficos, cerca de 52,3% da população, de acordo com o Censo 2010. Tais características nos levam a acreditar que é uma cidade onde a maioria de seus habitantes, na verdade, não habitam. “Quando o homem habita, ele está simultaneamente locado no espaço e exposto a um certo caráter ambiental. As duas funções psicológicas envolvidas, podem ser chamadas “orientação” e “identificação”. Para ganhar o suporte existencial o homem ter que ser capaz de orientar-se; ele tem que saber onde ele está. Mas também ele tem que identificar-se com o meio, isto é, ele tem que saber como ele está num certo lugar”1

O lugar, segundo Norberg-Schulz, é a manifestação concreta do habitar. Ele coloca o mundo como lugar, um mundo constituído por símbolos e elementos que transmitem significado e o homem precisa ser capaz de interpretá-los. Segundo o autor, o homem habita entre dois mundos opostos: a terra e o céu, o primeiro tangível (elemento estável, concreto e suscetível a mudanças) e o segundo não-tangível (elemento instável, referente a funções do tempo e clima) . O habitar, por sua vez, é o que ele chama de suporte existencial. Este suporte compreende as relações básicas entre o homem e o seu meio, ou seja, a união destes dois mundos, campo no qual atua a arquitetura. Nesse aspecto a intenção deste trabalho se baseia na identificação de espaços esquecidos na cidade de São Bernardo do Campo que possam se reintegrar à imagem da cidade por meio de intervenções pontuais. A construção do lugar deve valorizar a relação entre o indivíduo e o seu meio, intensificando a experiência com os espaços públicos para preservar na memória de quem aqui morou uma boa lembrança. 1 NORBERG-SCHULZ, Christian apud REIS-ALVES, Luiz Augusto dos. O conceito de lugar. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.087/225>


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a memória A memória que se tem da cidade está essencialmente ligada ao patrimônio industrial, que desencadeou importantes movimentos sociais, da indústria e do trabalho, ao longo da história. No ano de 2014 foi inaugurado o Museu do Trabalho e do Trabalhador, obra de destaque na cidade, assinada pelo escritório Brasil Arquitetura, local onde funcionava, no passado, o Mercado Municipal, mas que por anos permaneceu em ruínas no centro da cidade. Outro processo dramático de extinção do patrimônio arquitetônico da cidade é o caso da sede da prefeitura, o Paço Municipal, que, ao longo dos anos, vem perdendo suas características principais com intervenções que nada tem a ver com o conceito do projeto original. O conjunto, muito parecido com o de Santo André, configurava uma esplanada de pedra e volumes isolados que abrigavam as sedes dos poderes legislativo e executivo, mas que foram significativamente descaracterizados ao longo dos anos. Abrigava também uma grande área verde no coração da cidade. A atual intervenção, e talvez a mais catastrófica de todas, é a implantação de um piscinão na praça do paço. Outro exemplo, associado à perda de memória, é caso do Pavilhão Vera Cruz, que no passado, foi cenário de uma indústria cinematográfica intensa, mas que não teve condições de se perpetuar no tempo. Hoje, o espaço, um pouco degradado pela ação dos anos e a falta de manutenção, recebe feiras e exposições dos mais variados temas, desde automóveis a design de interiores, com conteúdos que pouco tem em contribuir para a integração da população a este espaço. Quando um edifício histórico é eliminado da cidade, ou é esquecido, deixado de lado, cria-se uma lacuna, um vazio. Apaga-se também uma parte da memória, e isso influencia a configuração da imagem que se tinha da cidade, e consequentemente a relação entre o indivíduo e o espaço.

A atual forma de vida na cidade se reduz ao cultivo de uma cultura segregadora, onde se criam muros e barreiras, vendendo uma falsa segurança a uma população já consumida pela violência, onde o sujeito vive em modo automático, percorrendo a cidade, não mais a pé, mas de dentro do seu carro ou dentro de um ônibus lotado, um sujeito que não consegue refletir sobre as experiências na cidade, que não tem oportunidades para


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construir uma relação afetiva com os espaços por onde anda. Uma cidade onde as relações sociais se restringem a encontros em shoppings e supermercados gigantescos, estes que por sua vez, sempre com as mesmas lojas e os mesmos logotipos, não te permitem identificar em que cidade está. E assim associa-se, essencialmente, a perda de memória ao vazio, ao espaço ausente de atividades, de construções, ausente de identidade. Ao vazio de quando buscamos algo e não encontramos. É o que observo quando ando pelas ruas da cidade, vejo um grande vazio representado pelo alheamento, pela ausência de relações, de pessoas usufruindo os espaços, vejo apenas caminhantes apressados, presos, cada um, em seus pensamentos e rotinas. A cidade já não detém mais os olhares de seus habitantes. É preciso reverter essa lógica.


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o vazio O vazio urbano é um elemento que surgiu como consequência de um processo de urbanização pós-industrial, quando as cidades tornaram-se grandes metrópoles em razão do crescimento tanto físico quanto populacional. O termo vazio aparece para denominar os espaços ou edifícios industriais que perderam o uso ou a função com o passar do tem po, ou, pode se restringir apenas a sua literal definição, que são lotes não edificados dentro dessa grande zona urbana. O vazio sem construção. Este conceito abrange diversas tipologias de vazios, envolvendo diferentes aspectos, sejam espaços edificados ou ausentes de construção, não utilizados, subutilizados, desocupados ou sem uso. De qualquer maneira, são espaços que possuem uma característica em comum, a de não exercerem função social ou econômica, são resquícios físicos do progresso das cidades. São espaços inúteis e que não contribuem para a formação da imagem da cidade.

Sobre o vazio construído, Solà-Morales (2002), arquiteto e historiador catalão, o define como “lugares aparentemente esquecidos onde parece predominar a memória do passado sobre o presente. São lugares obsoletos nos quais apenas certos valores residuais parecem manter-se apesar da sua completa desafetação da atividade da cidade”.2

Nesse contexto, encontramos os espaços subutilizados, que são vazios no sentido de serem edifícios improdutivos e obsoletos, geralmente associados a visões negativas do espaço, lugares degradados, sem uso ou ocupados de maneira inadequada. No entanto, esses lugares representam espaços de transição temporal, com potencialidades para transformações e mudanças, provocando novos usos/ ocupações mais efetivos no tecido urbano como um todo. Em levantamento realizado pela Secretaria de Planejamento Urbano, foi constatado que São Bernardo do Campo possui um total de 458 imóveis não edificados ou subutilizados e 89 edificados não utilizados.3 Junto a 2 SOLÀ-MORALES, Ignasi de. Territórios. Gustavo Gili, 2002. p.187 3 Dados disponíveis em: <http://www.saobernardo.sp.gov.br/comuns/noticia_ completa_print.asp?ref=9915>


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essa estatística, achei oportuno incorporar também os espaços de passagem, geralmente desinteressantes aos olhos dos pedestres, ou os não-lugares4, espaços onde não se pode ler de forma nítida a identidade, relação e história dos indivíduos inseridos nesse espaço, e então, reunindo estas características em comum, decidi identifica-los e nomeá-los de lugares invisíveis.

4 AUGÉ, Marc. Não-Lugares, introdução a uma antropologia da supermodernidade. 3. Ed. São Paulo: Papirus, 1994.


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3. RuĂ­nas do Best Shopping, SĂŁo Bernardo do Campo, 2014.


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4. Janela do B&B La Rocca, Bergamo, 2014.


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CAPÍTULO 2 fatos da arquitetura A arquitetura lida naturalmente com a criação e organização do espaço, este que, pode ser denominado também de vazio (ZEVI, 1996), ou seja, o que não é apenas um conjunto de larguras, comprimento e alturas, mais do que isso, é um ambiente onde o homem anda e vive.5 Quando o espaço ganha significado diante da presença do homem, consideramos esse espaço como um lugar. Estas duas esferas (lugar e espaço) basicamente não podem ser compreendidas uma sem a outra, este fato pode estar relacionado tanto à dimensão temporal com a qual nos relacionamos com esse espaço e consequentemente nos apegamos a ele (ideia de experiência) quanto ao valor identitário que atribuímos a ele, sem que haja necessariamente uma prática duradoura (ideia de vivência). Em uma das minhas viagens, por motivos maiores fui levada a encontrar um B&B de ultima hora na cidadezinha de Bergamo, ao norte de Milão e, quando cheguei ao local, talvez pelo encontro de motivos e referências, imediatamente me identifiquei com aquele espaço, no qual permaneci por apenas algumas horas, e logo se tornou um lugar, que se conservou na memória como o um dos mais especiais dentre os lugares por onde andei. A vida contemporânea tirou do indivíduo a experiência com a rua, impondo muros e barreiras que colocam em crise a ideia de cidade, alterando a paisagem e confundindo o indivíduo com a presença de não-lugares. Através da arquitetura é possível proporcionar experiências diversas e reestabelecer vínculos entre o espaço e suas funções. Todo indivíduo pertence a um lugar. Um lugar rodeado por coisas e arquitetura.6 E é através de ações que envolvam a valorização do espaço, qualificando a arquitetura como marco, como identidade, que essas experiências se transformam. Ao defender a ideia de que o individuo perdeu a consciência de lugar, não o faço associando ao sentido de habitar porque é uma condição imutável de pertencimento aquele espaço, que no caso é representado pela casa. Segundo Bachelard, a imagem poética do espaço segue uma ideia que começa com a poética da casa, o refúgio físico do homem e abrigo dos seus sonhos e imaginação. Não existe lembrança mais presente na memória 5 REIS-ALVES, Luiz Augusto. O conceito de lugar. Disponível em: <http://www. vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.087/225> 6 ZUMTHOR, Peter. Atmosferas. 1. Ed. Barcelona: Gustavo Gili, 2009.


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do que a lembrança da casa, “a casa é nosso canto no mundo”7, a memória da primeira moradia nos acompanha por toda a vida, é inerente a nossa imaginação. Deste modo, transfiro esse pensamento à rua (moradia do coletivo), ou seja, mesmo que inconscientemente, sempre estaremos propensos a admirar os espaços externos que, de alguma maneira, seja ele material (espaço físico) ou imaterial (conjunto de sensações e acontecimentos), se assemelhe com a nossa casa. A rua, nesse contexto, também deveria cumprir o papel de lugar. As fachadas e os espaços públicos transmitem significado, acolhem o indivíduo e despertam admiração. É na rua que está a essência da cidade.

Bolonha, por suas características de cidade medieval e, principalmente, pela incomparável essência italiana em considerar os espaços coletivos, permanece intacta em minha lembrança a imagem da paisagem e os espaços. Quando caminhava ou mesmo andava de bicicleta, reconhecia em cada fachada da Via Indipendenza ou em cada espaço da Piazza Maggiore, um lugar. Pela primeira vez a rua era, de fato, um lugar.

“Se, no começo, as ruas se transformavam para ele em interiores, agora são esses interiores que se transformam nas ruas, e, através do labirinto das mercadorias, ele vagueia como outrora através do labirinto urbano”.8

Este trecho, de Walter Benjamin, retrata a Paris de Baudelaire, onde o sujeito que vagueia pelas ruas, representado pelo flaneur, sai à procura de abrigo no meio da multidão. A cidade se transforma em paisagem e as galerias em janela, o espaço público onde se pode observar e sentir a cidade. Ainda nas palavras de Benjamin, “os parisienses transformam as ruas em interiores”. 7 BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. 2. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008. 8 BENJAMIN, Walter apud BARROS, Fernando Monteiro de. Faculdade de Formação de Professores. Baudelaire, Byron e Lucio Cardoso: A flanerie e o dandismo do vampiro. Disponível em: <http://www.filologia.org.br/soletras/5e6/04.pdf>


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5. Via dell’ Indipendenza, Bolonha, 2013.


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Benjamin menciona elementos da cidade (as ruas), que através da arquitetura (as galerias) se transformaram em lugares. E a partir do momento em que essa consciência ganha dimensão, conferindo significado ao espaço, se estabelece uma identidade.

Existem outros fatos da arquitetura que devem ser mencionados nessa discussão, e então, mais uma vez volto a falar de Bolonha que, a parte de todo seu contexto histórico e cultural, possui uma característica arquitetônica que a define: os pórticos. Os pórticos de Bolonha representam a identidade daquele lugar, e sempre farão parte do imaginário da cidade. É um fato atemporal, implícito na vida de quem por ele caminha e por isso se configura como uma composição “silenciosa, que se reconhece pela sua capacidade de desaparecer no espaço”.9 O pórtico simboliza um tipo de vazio arquitetônico, representado pelos vãos e passagens, que é absolutamente conveniente com o meio em que está inserido. Ando entre os pórticos, que conduzem o meu caminho na chuva. O pórtico faz parte do cotidiano de seus habitantes e da imagem da cidade.

Podemos falar também sobre os marcos da cidade, que atuam como ponto de referência no meio urbano. Um monumento, um elemento arquitetônico relevante, como uma escadaria ou uma ponte, um edifício notável como uma igreja. São componentes inerentes à imagem da cidade. Gosto da ideia de associar o marco a um elemento perceptível, notável pelo seu valor afetivo. Como acontece com os parques ou as praças. A praça, no verdadeiro sentido da palavra piazza é um espaço de encontros, que pela união de elementos e momentos, sempre nos faz se sentir parte daquele lugar e consequentemente nos faz contemplar seu entorno. É um espaço de detalhes. Já o parque, em sua imensidão, é um espaço de generalidades, um lugar que nos direciona aos acontecimentos, a observar o que está dentro e o indivíduo é apenas mais um no espaço. Estes são fatos importantes para a formação da identidade do lugar, a cidade precisa de elementos que a revelem, que a torne essencialmente dinâmica 9 ARAVENA, Alejandro, PEREZ, Fernando, QUINTANILLA, José. Los Hechos de la Arquitectura. 3. Ed. Santiago: Ediciones ARQ, 2007.


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6. Praia em Barceloneta, Barcelona, 2014.


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o som ao redor A percepção do som transforma a escala do espaço. Todos os edifícios e todos os locais têm a sua sonoridade própria. Em São Bernardo ecoam os sons dos automóveis e o ronco dos caminhões, do latido vigilante dos cachorros nos portões, aos finais de semana ainda é possível escutar os passarinhos pela manhã e existe certo ônibus que, quando passa perto da minha casa, sou capaz de reconhecer qual é seu itinerário pelo ruído que faz ao subir a rua, é muito característico. Se estiver no centro da cidade, consigo escutar o badalar dos sinos da Igreja da Matriz sempre que o relógio vira a hora, esqueço que estou em uma cidade grande. Uma vez estava em um consultório, no décimo andar de uma torre do lado da igreja, parecia que os sinos tocavam ali dentro. O som nos envolve e revela a dimensão dos lugares, nos permite sentir sem ver.


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o toque Esta talvez seja a percepção mais interessante da arquitetura, a de sentir os espaços. Eu diria que é além do tocar e perceber os materiais, é experimentar o ambiente. O tato é o sentido mais sedutor, pois nos aproxima das coisas. “É certamente pensar qual é a matéria que o constrói, no desenho que isso implica, mas é também estar consciente que a sua percepção passa pelo encontro do seu corpo com o corpo de cada um” (FAZENDA RODRIGUES, 2007, p.49). A praça que envolve o ícone Berliner Fernsehturm na capital alemã, possui espelhos d’agua dispostos em diferentes níveis, como se fosse uma escada de aguas. O mais interessante disso tudo é que no verão, as pessoas passam boa parte do tempo ali com os pés dentro d’agua e as crianças, em seus pequenos espíritos aventureiros, se lançam às piscininhas. A sedução do toque é irresistível. Enquanto isso aqui se cultivam as plaquinhas de “não pise na grama”.


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disposições espaciais Nesse trecho, peço licença ao arquiteto Angelo Bucci para expor sua definição de disposições espaciais, pois considero fundamental essa etapa que precede o projeto de arquitetura, onde se estabelece uma leitura crítica da cidade simultaneamente a concepção do projeto. Não é propriamente uma análise dos edifícios da cidade, mas sim o que estes representam nessa composição.

Aqui se reflete sobre a atividade do arquiteto, digo, sobre o andamento e não sobre o resultado, sobre o inconcluso e não sobre o acabado da produção de objetos de arquitetura [...]

Imaginemos a cidade como o mundo; cada peça que a compõe, um fato arquitetônico – como, por exemplo, seus edifícios -, cada um desses fatos, como uma dada disposição espacial de objetos [...]

O espaço construído da cidade se apresenta como justaposição, como simultaneidade, como uma formulação complexa. A leitura do arquiteto desmonta essa complexidade de modo analítico [...] ele faz isso como se procurasse nos objetos a substância do mundo – cujo mundo, para os arquitetos, não é outra coisa senão a cidade [...] Então, as disposições espaciais não são projetos?

Não. Não são porque não tem a especificidade e a objetividade que exige um projeto de arquitetura. As disposições espaciais são como algoritmos abertos, que se podem desdobrar em diversas finalizações como diversos projetos. E isso o arquiteto bem o sabe pelo que demonstra na condução do processo do seu trabalho de modo que elas se desdobrem em projetos de arquitetura – com o perdão da expressão – primorosos[...] Uma obra que conversa com o seu lugar e, também, com o universo. (BUCCI, 2010, p.64-77)

É a partir da compreensão desses fatos que o arquiteto opera na cidade. Diante de uma análise envolvente do local podemos destacar os indí-


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cios que favoreçam ações alternativas. A cidade revela os modos de atuar através de sua arquitetura e, principalmente, de seus modos de vida, uma cidade pode conter diversas interpretações individuais, mas as atitudes coletivas se sobressaem no ambiente urbano e extrapolam os limites formais do desenho da cidade. São nesses pequenos contextos que encontro a oportunidade de elaborar novas estratégias, de trabalhar com disposições espaciais e estabelecer intervenções.


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iniciativas e intervenções “A intervenção valoriza os atributos físicos de um lugar. Um espaço que antes passava despercebido aos olhos da população, depois de uma intervenção faz com que venha à tona a sua forma, permitindo que se descubram novos lugares, abrindo para a cidade novas visadas, novas espacialidades, novas experiências urbanas.” (SANSÃO, 2002)

Tem se observado, com cada vez mais frequência, que as pessoas estão começando a se mobilizar pelos ideais que são importantes para alcançar o tipo de vida que elas querem. A era pós-moderna, marcada pela fragmentação da vida humana em sociedades individualizadas, começa a dar espaço a hipermodernidade, conceito empregado por Lipovetsky (2004) para descrever a atual situação a qual nos enquadramos. A hipermodernidade evidencia a cultura do excesso, onde tudo se torna muito mais intenso e urgente. As mudanças acontecem de maneira acelerada, determinando um tempo marcado pelo efêmero, no qual flexibilidade e fluidez aparecem como tentativas de acompanhar essa velocidade. É caracterizada por uma sociedade que está redescobrindo o passado, que valoriza o presente e se preocupa com o futuro e por isso formula estratégias para a permanência das próximas gerações. O bem estar individual dá lugar ao coletivo. “O que define a hipermodernidade não é exclusivamente a autocrítica dos saberes e das instituições modernas; é também a memória revisitada, a remobilização das crenças tradicionais, a hibridização individualista do passado e do presente. Não mais apenas a desconstrução das tradições, mas o reemprego dela sem imposição institucional, o eterno rearranjar dela conforme o princípio da soberania individual” (LIPOVETSKY, 2004). Podemos incluir a reconquista do espaço público como materialização desse comportamento. São dezenas de exemplos em São Paulo que, atualmente, tem assistido a inciativas por parte de uma população pró ativa, e recentemente também, por parte da prefeitura, em transformar o uso de espaços ociosos na cidade. Os largos São Francisco e Paissandu receberam, em 2014, intervenções temporárias com o projeto “Centro Aberto”, iniciativa da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano, com consultoria do escritório di-


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7. Piazza Maggiore, Bolonha, 2013.


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namarquês Gehl Architects. O projeto é um convite ao cidadão para que se aproprie do espaço público, dotado de novos equipamentos urbanos, para vivenciar as transformações urbanísticas na região. 10 O “Better Block” 11 surgiu em Dallas, nos Estados Unidos, onde os moradores do bairro de Oak Cliff encontraram uma maneira de potencializar a experiência do bairro e tornar as ruas mais vivas, através de intervenções colaborativas entre artistas, vizinhos e comerciantes locais. O projeto consiste em identificar uma rua e as deficiências deste local, e assim, juntamente com a comunidade, propor uma intervenção. O primeiro Better Block aconteceu em 2010, o plano era dar uso aos locais de comercio abandonados, trabalhando com os proprietários para implantar atividades temporárias e com isso foi possível constatar que existia uma demanda local que podia tornar essa intervenção em algo permanente. Com o desenvolvimento do projeto, foi possível ainda implantar uma ciclovia e fazer uso das vagas de carro da rua para a criação de espaços de convivência. Por fim foram instalados novo mobiliário urbano, iluminação e vegetação, criando um sentido de lugar. Desde então a iniciativa propagou-se por todo o país, com projetos em diversas cidades.

Essas ações se enquadram na ideia de “urbanismo tático” (PETRESCU, 2011), este conceito consiste em criar estratégias que desenvolvam um sentido de comunidade entre os habitantes/ vizinhos de um determinado lugar. Tais estratégias se baseiam em intervenções urbanas que permitem recriar a identificação com a cidade.12 É o “faça você mesmo” e é a partir de iniciativas como essas que aos poucos se recompõe a imagem da cidade, proporcionando espaços saudáveis de interação social. Um acontecimento inerente a toda e qualquer cidade contemporânea é o chamado “urbanismo cotidiano” (CRAWFORD, 1999) que consiste na prática do urbanismo de forma empírica, favorecendo o uso de espaços 10 Centro Aberto. Disponível em: <http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/ centro-aberto/> 11 Better Block. Disponível em: < http://betterblock.org/> 12 Tácticas Urbanas, disponível em: <http://www.plataformaurbana.cl/archive/2011/05/25/tacticas-urbanas-1/>


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8. Badenschiff, Berlim, 2014.


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públicos de uma maneira alternativa, dando-lhe novos significados através dos indivíduos ou grupos que dele se apropriam em diversos momentos do dia, de acordo com ritmo da vida cotidiana. Esses espaços ganham um novo sentido através de ações efêmeras e se tornam memoráveis pela importância dos eventos que ali ocorrem. Não é o urbanismo de desenho formal e planos oficiais, trata-se do “olhar tático sobre a ação transitória, pequena e particular ao contexto que se desenvolve nos espaços ordinários da cidade, buscando novas possibilidades a partir da sua própria matéria prima que são as atividades cotidianas.”13

Ainda em sintonia com este tema está o termo “urbanismo temporário”, introduzido por Temel (2006) que abrange as intervenções em âmbito interativo, ou seja, a difusão da arte pública ou instalações arquitetônicas que transformam o uso e atribuem valor a um determinado espaço, produzindo um significado maior e mais permanente na cidade, diferente de uma intervenção efêmera. Pela sua qualidade tectônica, o processo interventivo é mais duradouro e experimental. Portanto, o urbanismo temporário atua também como alternativa ao planejamento urbano, “onde atividades temporárias podem ocupar as brechas do planejamento, enquanto se espera pela implementação dos planos, permitindo a pré-transformação do espaço.”14 Um modelo interessante de apropriação do espaço a partir da arte, e também o mais representativo desse segmento no país, é o Arte/Cidade, que se propõe a discutir novas estratégias urbanas e artísticas de intervenção em megacidades. Em quatro momentos, o evento aconteceu entre 1994 e 2002 em São Paulo, partindo de uma iniciativa institucional e coordenado pelo filósofo Nelson Brissac Peixoto15, quando arquitetos e artistas pude13 SANSÃO, Adriana. Intervenções temporárias e marcas permanentes na cidade contemporânea. arquiteturarevista. Vol. 8, n. 1. 2012. p 33-34. 14 Idem. p. 34-36 15 Nelson Brissac. Filósofo, trabalha com questões relativas à arte e ao urbanismo. Autor de diversos livros entre eles A sedução da barbárie, Ed. Brasiliense, 1982, Paisagens Urbanas, Ed. Senac 1995, Ate/Cidade – Intervenções Urbanas, Ed. Senac, 2002. Dedica-se também a pesquisas sobre dinâmicas territoriais na região sudeste do Brasil e as relações entre arte e indústria.


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ram então realizar intervenções onde se colocava em questão a percepção do espaço. As intervenções, em sua maioria, estavam comprometidas com técnicas escultóricas em grande escala e a percepção fenomenológica de objetos colocados no espaço, mas a característica, talvez mais interessante deste evento, foi a apropriação de estruturas arquitetônicas existentes para a disseminação da arte. Uma espécie de crítica à ideia dos megamuseus, que são exclusivamente projetados para a apreciação da arte, ao mesmo tempo em que a própria cidade oferece diversos espaços vazios para serem ocupados. Por isso, a ideia do Arte/Cidade não era exatamente o uso da arte como ferramenta de valorização do espaço, mas principalmente a de usar a cidade como instrumento de valorização da arte. O evento ganhou muito destaque na época, principalmente pela preocupação em revelar novos espaços na cidade, atuando em locais de transição, como também por ter sido promovido e idealizado no interior de uma secretaria de Estado da Cultura em um momento de crise de instituições públicas, após o governo Collor. “As relações com o lugar tornam-se um componente indissociável da obra de arte. Essa nova experiência estética substitui a contemplação de objetos autônomos deslocados do contexto por uma colocação em situação. Uma radical alteração na questão da percepção, que passa a pressupor um observador inserido no espaço engendrado pela obra. A obra como objeto se dilui diante da utilização do lugar como forma de experiência estética.” (BRISSAC, 2002, p.18)

As propostas do Arte Cidade não são exatamente projetos arquitetônicos e urbanísticos, elas indicam estratégias e alternativas para a reestruturação do espaço da cidade, colocando desafios para questões que ainda não se tem resposta. O projeto leva em consideração uma extensa pesquisa urbanística sobre a região de implantação e, atuando junto com os arquitetos e artistas participantes, procura compreender os elementos arquitetônicos e modos de ocupação existentes, para então começar a desenvolver as propostas.

Os espaços outrora ociosos que receberam as intervenções do Arte/Cidade passaram por reformas e atualmente fazem parte do cotidiano da cidade como a Cinemateca Brasileira e a Casa das Caldeiras.


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CAPÍTULO 3 aproximações Este capítulo trata-se de uma série de incursões e análises perceptivas de locais vulneráveis na cidade. Com uma câmera na mão, saí em busca de vazios, espaços de passagem e locais abandonados em que pudesse estabelecer intervenções que transformassem a configuração e assim a percepção de um espaço, reintegrando-o à imagem da cidade, à escala do pedestre. É indispensável estabelecer contato físico com a cidade e sentir as suas características e, a partir de todas as discussões expressas neste trabalho e o envolvimento maior com os espaços da minha cidade, apresento como objeto dessas reflexões uma composição entre o espaço construído e diversas propostas de disposições espaciais.


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uma cidade que é duas Da área total de São Bernardo, pouco mais da metade (53,7%) encontra se em áreas de Proteção aos Mananciais e 18,6% são compostos exclusivamente pela Represa Billings. A zona urbana representa apenas 30% de seu espaço físico , ou seja, cerca de 122km.16 Como a maioria das cidades brasileiras, não foi planejada para pedestres, os viadutos e as grandes avenidas sempre apareceram como prioridade no desenvolvimento do desenho urbano. Apesar de ser uma cidade relativamente pequena, os trajetos diários são feitos essencialmente de ônibus e por isso é comum ter um cartão de mobilidade que te permite utilizar vários ônibus em um determinado período de tempo, pagando apenas o valor de uma passagem. Desse modo instituiu-se um distanciamento do espaço publico, pois as pessoas estão sempre percorrendo a cidade de ônibus ou de carro.

Vivencio duas perspectivas de realidade na cidade e o principal fator que desencadeou esse contraste, é a presença da Via Anchieta, que corta a cidade em duas. A partir de uma leitura mais abrangente, constatou se que onde se estabeleceu o eixo histórico da cidade, a região é mais estruturada, dispondo de todo tipo de comércio e serviços básicos, até mesmo os três shoppings da cidade estão deste lado, enquanto que do outro lado da rodovia, a área ainda é subdesenvolvida, nota-se a expressiva presença dos galpões industriais e as grandes metalúrgicas. São duas cidades, uma parte se assemelha à vizinha Diadema e a outra a Santo André no que diz respeito ao tecido urbano e dinâmica da cidade.

As grandes áreas verdes da cidade são elementos desconexos, localizados em áreas distantes, isolados do tecido urbano, onde se faz necessário o uso do carro para chegar. A maioria das praças, na área urbanizada da cidade, são espaços verdes inabitáveis, mal cuidados, sem nenhum traço de personalidade, ou algum elemento que a reconheça como praça, definitivamente não são espaços que promovem o encontro entre as pessoas. Diante dessas características, estabeleceu-se um roteiro que pudesse ser feito a pé e que, principalmente, envolvesse os dois “lados” da cidade, a 16 Dados disponíveis em: <http://www.consorcioabc.sp.gov.br/consorcioabc/institucional/municipios-consorciados/sao-bernardo-do-campo>


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fim de identificar, por meio de aproximações, os espaços esquecidos na cidade e assim idealizar uma malha de intervenções que pudesse, de alguma maneira encurtar as distâncias físicas entre estes lados, mas que, principalmente, recriasse o contato entre os habitantes e o espaço público da cidade. Foram muitos registros e por isso não pude descrevê-los todos com o cuidado necessário, mas em diversos momentos espero conseguir retratá-los e aponta los nas primeiras apropriações.

Para o início desta série foram escolhidos três lugares, estes que fazem e fizeram parte do meu cotidiano na cidade e que possuem características particulares, lugares esquecidos a serem considerados e discutidos dentro do atual contexto urbano.


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9. Praรงa do Paรงo Municipal em obras, Sรฃo Bernardo do Campo,2014.


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os espaços invisíveis Por meio da escrita e inspirada pelos relatos de Marco Polo em As Cidades Invisíveis, tentarei descrever os espaços invisíveis da minha cidade. Estes que passam despercebidos pelos olhos de seus próprios habitantes. Intangíveis e desconectados, são espaços que vêem sem serem vistos. Para conhecer estes espaços faremos um pequeno trajeto a pé, percorrendo uma avenida que reúne diversos momentos e, principalmente, alguns espaços invisíveis ao longo de sua extensão. Descobrindo a pé a cidade do carro e narrando percursos como quem quer contar sobre uma cidade que acaba de visitar pela primeira vez.


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a rotatória Acessar a rotatória não é uma tarefa fácil, existe apenas um ponto em volta do gigante verde onde se pode atravessar a rua com mais tranquilidade para poder chegar a ela. Ao cruzar as três pistas encontramos um ambiente solitário, onde a grama permanece intocada e as árvores centenárias fazem sombra de dia. Voltado para a mais larga das avenidas que a circundam existe um totem de granito preto, gravado de forma ilegível o nome da praça. De tarde é possível ver algumas pessoas andando por ali, o pessoal da caminhada que atravessa sem demora a rotatória, pra acessar a avenida e continuar o “treino”. Agora imaginem essa praça oval, cortada por um viaduto. Mas um viaduto baixo, que desaparece entre as árvores, principalmente de noite. O cenário corresponde ao modelo de qualquer baixio de viaduto nas cidades brasileiras, onde a superfície é revestida de paralelepípedos dispostos de tal maneira a fim de, supostamente, impedir que moradores de rua se hospedem ali. Bom, volta e meia eles passam por ali, mas não têm presença marcada no local. Sob o viaduto ecoam os sons dos carros e ônibus que circulam a rotatória em baixa velocidade e descubro a presença abstrata de um ponto de ônibus, que eventualmente descarrega pessoas naquele mar de pedras. Ao sair do coberto as atmosferas se misturam e é como sair de uma caverna e entrar em contato com a natureza intacta, sentindo novamente o calor do sol na pele, passando entre as folhas das árvores. Ao completar o diâmetro da praça, estampado em um dos taludes que sustentam o viaduto, um tímido cartaz diz “espaço destinado a poesia”.


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Agora subimos ao nível do viaduto, no acesso onde começa a avenida que, de certa maneira, conecta os dois lados da cidade. Caminhamos em direção ao centro, as buzinas de moto rompem o silêncio, passando entre os carros parados no farol. Na calçada, desnivelada pela ação do tempo, nota-se o padrão característico da cidade, não sei bem como explicar mas são espécies de argolas pintadas de preto sobre o ladrilho branco. No centro da avenida estende-se um largo corredor de ônibus, onde os trólebus determinam o percurso de milhares de pessoas ao longo do dia. Mais três minutos de caminhada, entre diversos consultórios médicos e restaurantes da avenida, avistamos o próximo ponto.

o pavilhão

Um lugar que parou no tempo. Peço licença na guarita para tirar algumas fotos e sou advertida de que tivesse cuidado, pois “ali ninguém entra há muito tempo, e só tem pulgas”. Bem, as pulgas eu não vi, mas vi muitas pombas e até mesmo um filhote delas, o que foi uma grande surpresa, pois nunca tinha visto um filhote de pomba, que mal sabia voar e se assustou quando eu invadi o seu território.

Antes de chegar a parte abandonada do conjunto, visualizo o grande pavilhão, que está sendo preparado para a próxima feira, acho que tem a ver com noivas. Desisto de dar uma volta pelo espaço diante do olhar curioso dos trabalhadores do local e vou direto para a área abandonada. O chão, até então asfaltado, agora é só terra e pedriscos. O sol parece estar próximo, refletindo a brancura inerte dos pequenos


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pavilhões, ao caminhar a poeira sobe e os olhares me perseguem, até que entro em um deles. Pisos de cerâmica empilhados, sacos de areia e dezenas de pallets, a escrivaninha de madeira parece ter sido arremessada ali dentro junto às esquadrias e aos restos de madeira velha. Não sei quando o pavilhão se transformou em um grande depósito de entulhos. Diante das aberturas opostas o vento corre ali dentro, carregando aquela sensação característica de uma obra não acabada, um ar pesado. As quatro paredes em alvenaria armada preservam o aspecto natural do tijolo de concreto, mas o ambiente é marrom, marcado talvez pelo reflexo do chão de terra vermelha em que todos estes elementos repousam. A forma trapezoidal do edifício é espelhada no segundo pavilhão. Entre um pavilhão e outro existe um plano baixo e uma pequena ponte de madeira deteriorada para atravessar este pequeno vão, penso que viria a ser uma espécie de espelho d’agua, seria bonito se estivesse funcionando. Do outro lado, o segundo pavilhão é uma versão menor do primeiro. Sem aberturas, a não ser a única porta que se mantém aberta, este é completamente escuro e gelado, o cheiro é o mesmo de uma garagem de subsolo e por algum motivo ali dentro o nível é mais baixo, é preciso descer uma pequena escada para sentir-se no espaço, mas penso que talvez não seja uma boa ideia fazê-lo. A praça que envolve o conjunto é formada por dois níveis de piso e a grama se confunde com a terra. Nesse ponto vejo o encontro de uma rua calma e arborizada com uma das avenidas mais movimentadas da cidade e logo a frente ergue-se uma igreja alta de forma peculiar, uma espécie triangular com vitrais


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azuis, que se destaca no céu sem nuvens. As pessoas que por ali caminham, acostumadas com a quietude do lugar nem notaram a minha presença, talvez pela atual fachada de grades, que aprisionam o pequeno conjunto abandonado.

Passo novamente pela guarita e agradeço ao vigia, estamos novamente na avenida. Sigo pela mesma calçada, em direção ao centro da cidade, o cenário é o mesmo. Existem duas opções para chegar ao centro, podemos seguir pelo viaduto até chegar a cota mais baixa da cidade, onde está o paço municipal, ou acessar a escadaria e descer. Vamos pela escada.

sob o viaduto

Antes de descer, o que me chama atenção é uma criança que brinca sozinha naquele ambiente desfavorável e então percebo que é a filha da dona do carrinho de cachorro quente que fica ali, aceno e desço os 40 degraus que conectam a parte alta e a parte baixa, o semáforo de pedestre abre lá embaixo e cruzo com diversas pessoas no caminho. Nesse ponto as avenidas convergem o fluxo de quem vem de diversas regiões da cidade, as paradas de ônibus estão cheias. Fico na beirada da escada, que agora sobe. À frente, nas largas faixas de pedestres, cada indivíduo caminha em seu próprio ritmo, compartilhando caminhos e misturando-se aos ambulantes que ficam sob o viaduto. Estes são personagens fixos no cenário, que casualmente são procurados quando alguém está tempo demais a esperar no ponto e precisa de uma água ou um chocolate, já que não se vende mais passe de ônibus. Entre uma pista e outra


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os espaços são generosos, os percursos não acompanham o desenho do piso, por isso a terra batida. Cartazes lambe-lambe de todos os tipos se sobrepõem, colados nas colunas do viaduto que se inclina ao encontro do paço. À direita, no baixio que acompanha o desnível ao lado da escadaria, os paralelepípedos repousam uniformemente em uma inclinação perfeita para se estirar, imagino como seria interessante ocupar aquele vazio com pequenas plataformas, onde eu realmente pudesse me estirar e talvez até mesmo escutar o burburinho incessante das pessoas que ali esperam os seus ônibus passarem. Imaginando como as coisas podiam ser diferentes.

E entre tantos percursos, este foi o primeiro a me colocar em contato com alguns espaços esquecidos na cidade, ainda que existam muitos outros a serem descobertos e imaginados.


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considerações finais Este ensaio não é sobre os fins e nem sobre os começos, são os meios. Sempre os meios me fascinaram, o processo por assim dizer. Este trabalho reuniu algumas reflexões muito breves sobre os pensamentos que me rodeiam e de como as ideias aparecem para mim até o momento. Os propósitos deste trabalho foram construídos durante a pesquisa, feitos, refeitos e descobertos dentro dos limites de tempo que me foi possível fazê-lo. Concretizar pensamentos nunca foi tarefa fácil, mas motivada pelo ritmo intenso do trabalho, tudo pareceu clarearse à medida que me esforçava para exteriorizar minhas observações. Sempre achei a escrita um exercício fantástico, mas eu reconheço a necessidade de me aprimorar com a organização das palavras. A contemplação é, para mim, o aspecto mais interessante da arquitetura, pois é o momento em que os conceitos propostos, então materializados, ganham sentido e dimensão no espaço, criando atmosferas. Como diria Paulo Mendes da Rocha é o “seduzir a ponto de parar e ficar”, e o arquiteto é a figura que idealizará estes espaços, que por sua vez provocarão sentimentos e consolidarão identidades. Acredito que a compreensão dessa perspectiva sempre me trará um campo de alternativas para atuar na cidade e, em algum momento, isso se revelará através de projetos. Estamos vivenciando novas descobertas que indicam profundas mudanças na configuração da sociedade no que diz respeito às formas de vida e consequentemente à reformulação de espaços. No momento, compreendo que a intervenção seja o caminho mais coerente para a reconquista do espaço


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público nas cidades, espaços estes que materializam os desejos de uma sociedade que está começando a redescobrir o valor da rua. A intervenção é o processo. Criam-se alternativas ao tecido urbano consolidado, promovendo novos olhares aos lugares esquecidos. Formam-se diversas imagens de uma mesma cidade que assiste a arquitetura se transformar. “Já é hora de outros protagonistas pensarem e projetarem a cidade de modo que, perante a dominante cidade especulativa e segregadora sejam incorporados pontos de vistas plurais que possam reinventar a cidade humana.” (MONTANER, p.27, 2014) É por isso que defendo a democratização da arquitetura. E que o primeiro passo seja através de intervenções urbanas.


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lista de imagens Figura 1. Acervo pessoal. p 9

Figura 2. Acervo pessoal. p 15 Figura 3. Acervo pessoal. p 21 Figura 4. Acervo pessoal. p 22 Figura 5. Acervo pessoal. p 25 Figura 6. Acervo pessoal. p 27 Figura 7. Acervo pessoal. p 33 Figura 8. Acervo pessoal. p 35 Figura 9. Acervo pessoal. p 42



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