Espaços Coreografados | TFG FAUUSP

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LARISSA G.DELANEZ

coreografados





Ç LARISSA GONCALEZ DELANEZ

ORIENTADORA: CLICE DE T. SANJAR MAZZILLI

Ç - DEZ. 2016 FAU USP - TRABALHO FINAL DE GRADUACÃO


agradecimentos À Clice, que abraçou minha ideia com entusiasmo e dedicação, me ajudando a tornar este sonho possível. À Karina, que me ajudou a manter a confiança nos momentos de incertezas. À Giselle, que gentilmente aceitou participar da banca. Aos amigos-irmãos Yasmin, Marina, Renata, Flávia, Juliana, Guilherme, Eduardo e Maria Beatriz, por todos os momentos compartilhados e por tornarem essa jornada mais leve e colorida, acalentando meu coração nos momentos mais difíceis. Sem vocês, os seis anos de FAU não teriam sido tão incríveis como foram. Aos queridos Lucas, Maria Beatriz, Yve, Bruno, Aline e Marina, por aceitarem participar do projeto, permitindo que as imagens fossem produzidas exatamente da maneira como sonhei. À minhas professoras, coreógrafas e família da dança, por me introduzirem a esse mundo único do qual eu não pretendo nunca mais sair! À Maitê, por ceder sua coreografia e às queridas Aline, Mariana, Lucila, Thais e Lisa, por dedicarem o seu tempo apresentando essa performance ao meu lado. À Maria Beatriz, Flávia e Yasmin, por todos os conselhos, carinho, auxílio e consultoria nos momentos mais difíceis do processo deste tra-

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balho e por estarem comigo até o último segundo, me incentivando e sonhando junto comigo. À minha família e aos amigos de toda uma vida que, mesmo de longe, me acompanharam e incentivaram em mais uma etapa. Ao Lucas, pela compreensão, paciência e ajuda durante os últimos meses e por torná-los um pouco mais leves! Aos meus pais, por estarem ao meu lado em todos os momentos, sejam eles de angústias ou realizações, acreditando em mim mesmo quando eu mesma duvidei. Obrigada por terem, por muitas vezes, deixado de lado seus próprios caminhos para me ajudar a trilhar o meu. Sem a sua ajuda, a viabilização desta proposta não teria sido possível! Mãe, obrigada por ser meu maior exemplo de mulher, profissional e pessoa, sua garra e determinação me inspiram todos os dias! Tenho certeza de que o caminho a percorrer seria muito mais árduo não fosse pela sua parceria e dedicação ao longo dessa jornada! Pai, obrigada pelo apoio incondicional e por compreender as dificuldades desse percurso e estar sempre por perto para me ajudar a continuar de pé quando mais precisei! Muito obrigada!

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SUMÁRIO APRESENTAÇÃO

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ESPAÇO PÚBLICO

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REFLEXÕES

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Dança Fotografia Exposição

REFERÊNCIAS

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Pina Bausch Tesseracts of Time Ballerina Project Omar Z. Robles

PROCESSO

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Vídeos experimentais Fotos experimentais Imagens finais Organização das imagens

PROJETO

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Estudos preliminares Expositores Ensaios projetuais Produção gráfica Produção e montagem

PERFORMANCE

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BIBLIOGRAFIA

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Bibliografia básica Bibliografia complementar Iconografia

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apresentacĂŁo 6


Ao longo dos quase seis anos que passei como estudante na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, muito mudou em mim e em minha maneira de pensar, especialmente os assuntos relacionados à arquitetura, às cidades e à questão da apropriação dos espaços públicos pela população. Hoje enxergo minha cidade de uma forma diferente e sou capaz de compreender a importância do papel de cada indivíduo nos processos de formação e transformação dos seus ambientes. Certamente, a construção de um olhar mais crítico e questionador com relação às cidades, assim como o desejo de me apropriar de seus espaços, são resultados diretos dos ensinamentos que me foram transmitidos durante os anos de graduação. Imersa em estudos sobre a arquitetura, o urbanismo, a história das cidades, as artes, o design e o espaço público, percebi que havia me transformado não apenas profissionalmente, mas também no âmbito pessoal, tornando-me uma cidadã mais consciente sobre os meus direitos e deveres com relação à cidade e seus espaços públicos, com uma mentalidade completamente diferente daquela com a qual entrei na FAU há quase seis anos.

Fernando Haddad na FAU USP, 2016. Foto: Larissa Gonçalez Delanez.

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Dessa forma, encaro o Trabalho Final de Graduação como uma oportunidade de expor um pouco da visão que construí sobre os papéis do arquiteto na sociedade, suas possibilidades de atuação, e sobre as diferentes formas de uso e apropriação dos espaços públicos existentes nas cidades. Aproveito então para me debruçar sobre inquietudes e incertezas geradas durante a graduação, dedicando-me a uma temática que tanto me instiga e encanta. Graças à formação multidisciplinar proporcionada pela escola, fui apresentada a uma ampla variedade de assuntos e diretrizes do universo da arquitetura. Logo, a FAU me mostrou que o papel do arquiteto vai muito além do projeto urbanístico ou de edificações e me encorajou a alçar voos mais longos por outros campos do saber, como a dança, a fotografia ou a curadoria, tudo isso sem abrir mão dos ensinamentos e metodologias de trabalho que aprendi enquanto estudante de arquitetura. Diante de todas essas oportunidades, me sinto livre para trabalhar sob uma nova perspectiva e expor a quem possa interessar aquilo que me motiva e induz meus passos como futura Arquiteta e Urbanista. Faço isso aprimorando meus conhecimentos em outras áreas de conhecimento, levando em consideração três grandes paixões: a

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dança, a fotografia e a arquitetura! Utilizando-me desses três pilares centrais, realizo uma tentativa de compreender melhor as questões do direito à cidade e ao espaço público a partir de uma forma particular e autoral de apropriação e vivência das cidades. Sem dúvidas, trata-se tanto de uma abordagem pouco explorada no curso quanto de uma busca pessoal pelo entendimento do papel do arquiteto na sociedade. Pensando em uma maneira de conectar todas essas áreas de interesse em um único projeto, decidi trabalhar com as relações existentes entre a dança e a arquitetura através do registro fotográfico. Para tal, elaboro o projeto de uma exposição na qual são retratadas as tensões e nuances das relações entre o corpo em movimento e o espaço público. Na exposição, é a fotografia a responsável por apresentar ao público a temática abordada e exemplificar tais tensões. Faço isso com a intenção de tirar os bailarinos e coreógrafos de sua zona de conforto, levando-os para o centro da cidade e instigando-os a se apropriar das ruas através da dança. Nesse ponto, a sutileza e a leveza de seus movimentos e coreografias são contrapostas aos ruídos e à inconstância dos cenários da cidade. Tais contraposições são apresentadas por meio da fotografia, responsável por eternizar

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os momentos registrados e facilitar a compreensão das influências que os corpos têm sobre os espaços e vice-versa. Minha peça principal de trabalho são as pessoas, mostrando que são elas as responsáveis pela construção e transformação dos cenários urbanos a partir de seus desejos e anseios. Como diria Pina Bausch, “não são as paisagens, e sim as pessoas dessas paisagens que me atraem porque são as paisagens dentro dessas pessoas que contam como material para a pesquisa que desenvolvo” (apud DUNDER, 2000, p. 46). Portanto, este caderno reúne um conjunto de pesquisas, conceitos, levantamentos e experimentações realizados com o intuito de elaborar um projeto curatorial e expográfico capaz de colocar em debate a temática da dança e dos espaços públicos. Como resultado, foi definido o projeto de uma exposição fotográfica que apresenta um acervo de fotografias produzido especialmente para o presente trabalho, onde as bailarinas são retratadas dançando e se movimentando em cenários urbanos de diferentes pontos da cidade de São Paulo. Como forma de simbolizar o fechamento e a conclusão da presente proposta de trabalho, foi realizada a montagem da exposição no piso do Museu da FAU.

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Cabe agora explicar mais a fundo minhas motivações e as referências teóricas utilizadas, além de detalhar o meu processo de trabalho, que foi o responsável por delinear o produto aqui apresentado e é para mim a parte mais importante da minha proposta.

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espaco pĂşblico 12


A cidade é um organismo que está em constante transformação, influenciada por seus sistemas produtivos, pelas instituições que a compõem e pelas características de suas sociedades. Não é possível falar sobre as cidades se dissociarmos o seu presente de seu passado e de seus processos de formação ou se ignorarmos suas possibilidades de futuro. Ou, como afirmou Henri Lefebvre (1968/ 2011. p.106), “por outras palavras, no que diz respeito à cidade, o objeto da ciência não está determinado. O passado, o presente, o possível não se separam. É um objeto virtual que o pensamento estuda”. Diante disso, é impossível falar da problemática urbana atual sem citar os processos de industrialização e urbanização, uma vez que tais processos foram e são responsáveis pelas principais mudanças e transformações de nossa sociedade e da cidade como a conhecemos. As características das cidades atuais estão diretamente relacionadas ao produtivismo, ao economismo, à racionalidade limitada e à centralização que se preocupa em primeiro lugar com o crescimento econômico, com as empresas e com a burocracia. Por conta disso, vivemos hoje em “cidades funcionais”, que possuem uma dinâmica voltada para o cumprimento do desempenho adequado das funções que a ela são designadas. Um bom exemplo desse modelo de cidade é a cidade de São Paulo, a cidade do trabalho, a cidade que nunca Espelho d’água em Nice, França, 2015. Foto: Larissa Gonçalez Delanez.

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para, onde os cidadãos refletem claramente essa cultura na forma como se relacionam com a cidade, atrelando a ela uma constante relação funcional, entendendo que os espaços são feitos para nos servirem de forma útil e as ruas são apenas caminhos que nos levam aos lugares em que devemos estar. Tudo nessas cidades é pensado de modo a colaborar com o sistema produtivo, sem deixar espaço para o “não programado”. Ou seja, vivemos nessas cidades sem que possamos desfrutar, de fato, de seus espaços urbanos. [...] Talvez devêssemos introduzir aqui uma distinção entre a cidade, realidade presente, imediata, dado prático-sensível, arquitetônico – e por outro lado o “urbano”, realidade social composta de relações a serem concebidas, construídas ou reconstruídas pelo pensamento. (LEFEBVRE, 1968/2011, p.54)

Como afirma Lefebvre, o urbano não faz sentido se dissociado das questões das relações humanas e da vida em sociedade e ele deve existir como um espaço de convívio, de trocas, do coletivo. Sem as relações humanas, os espaços não fazem sentido. Contudo, não é sempre assim que vivemos os espaços urbanos nas cidades modernas. Desde a infância, os indivíduos são ensinados a estabelecer relações de funcionalidade com as cidades e a respeitar regras e normas que deverão garantir sua segurança dentro delas, de modo que acabamos

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ficando cada vez mais distantes dos espaços urbanos e públicos, nos aprisionando dentro de nossos muros e nos afastando do convívio em sociedade. Este sistema reforça o processo de individualização da sociedade, onde sua população parece estar cada vez menos preparada para a vida em comunidade. Com isso, produzimos adultos que não veem problema nas limitações de deslocamento e de uso e apropriação dos espaços disponíveis, pois estão habituados a isso. Então a dinâmica atual acaba por colaborar para a produção de uma sociedade que não compreende a questão do direito à cidade e, muitas vezes, não se importa com isso. Como disse Lefebvre (1968/2011, p. 117), “o direito à cidade não pode ser concebido como um simples direito de visita ou de retorno às cidades tradicionais. Só pode ser formulado como direito à vida urbana, transformada, renovada [...]” e, para que ele exista, é preciso que exista o convívio, e que o valor de uso da cidade supere seu valor de troca. Para que essa realidade comece a mudar, deve haver um trabalho constante em direção à apropriação dos espaços públicos pela população, indo contra uma cultura que privilegia os espaços individuais e privados e buscando novas maneiras de uso e compreensão das cidades. Portanto, apresento aqui minha busca por uma forma de viver

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e me expressar nas suas ruas que vai contra os padrões que me foram ensinados. É a minha forma de ir contra o funcionalismo e criticar a necessidade constante de trabalho, eficiência, produtividade e progresso exigidas pela nossa sociedade. Como nos disse Harvey (2012/ 2014, p.28): O direito à cidade é, portanto, muito mais do que um direito de acesso individual ou grupal aos recursos que a cidade incorpora: é um direito de mudar e reinventar a cidade mais de acordo com nossos mais profundos desejos. Além disso, é um direito mais coletivo que individual, uma vez que reinventar a cidade depende inevitavelmente do exercício de um poder coletivo sobre o processo de urbanização.

Neste ponto começa minha tentativa de reinventar a cidade de São Paulo de acordo com minhas próprias experiências e desejos, levando em conta a ideia de que um espaço físico resulta não apenas dos elementos que o compõe, mas também da imaginação e da ação de seus usuários, permitindo assim a criação de ambientes distintos em um mesmo espaço físico. Como afirmou Lima (1989, p.14), “os espaços transcendem suas dimensões físicas, são entes e locais de alegria, de medo, de segurança, de curiosidade, de descoberta”, dependendo apenas da maneira como o compreendo ou me aproprio dele.

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Tentando encontrar o caminho para a criação dos meus próprios ambientes nos espaços urbanos, escolho a dança como forma de exteriorizar meus sentimentos e ideias e de tentar produzir uma cidade mais “minha”. Com a dança, sou capaz de desfuncionalizar a cidade, desconectar-me da vida cotidiana e encontrar no espaço público um lugar de expressão, de liberdade de ação, onde sou livre para ocupá-lo da maneira que me for mais conveniente. Com isso, o transformo no palco dos meus movimentos, da minha vida e das minhas ações. No seguinte extrato de texto, encontro uma breve e adequada explicação do que tento fazer ao longo de todo este trabalho e de como compreendo e me aproprio da cidade e da liberdade que é intrínseca a ela: A liberdade da cidade é, portanto, muito mais que um direito de acesso àquilo que já existe: é o direito de mudar a cidade mais de acordo com o desejo de nossos corações. (HARVEY, 2013)

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reflexĂľes 18


DANCA Como afirma a coreógrafa Jessica Lang, dança é movimento, é atitude, é o dia-a-dia, “apenas assista o padrão das pessoas caminhando, isso é dança! Qualquer coisa é dança [...]” [1]. A dança é uma forma de arte que depende das relações entre o corpo e o espaço para existir, ou seja, é uma arte viva, diretamente influenciada por nossos gestos e atitudes e que está em constante transformação. Dançar é, antes de mais nada, enxergar o mundo com outros olhos, compreender os espaços de outra forma e descobrir uma nova maneira de apropriação desses espaços.

[1] Trecho transcrito de documento de vídeo onde Jessica Lang e Steven Holl falam sobre o projeto “Tesseracts of Time”, disponível em <http://www. archdaily.com.br/br/781421/ steven-holl-a-arquitetura-precisa-se-reconectar-as-outras-artes>.

Coreografia “Lições Mágicas”, 2013. Foto: Acervo pessoal da autora.

Trata-se de uma arte versátil, popular e muito antiga, que tem sido usada como forma de manifestação desde o período primitivo, quando já era utilizada em rituais, comemorações ou momentos de adoração. Falamos de uma arte completa, que incorpora diversos elementos artísticos, como música, teatro e pintura e é ainda capaz de transcender o universo das palavras e se transformar em um meio de comunicação e expressão de sentimentos com linguagem e signos próprios, sem que exista a necessidade de uso da palavra. A gente é capaz de, ao ver um outro cidadão dançando, entender coisas que as vezes com a palavra não é possível compreender. A dança tem códigos. Você vai assistir um espetáculo, outro e mais outro e começa, pau-

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latinamente, a incorporar os signos, a linguagem. Então, de uma forma ou de outra, a dança acaba sendo comunicação. (STRAZZACAPPA, 2012)

Aos seus amantes, fica clara sua capacidade de conectar as pessoas, aproximar as artes, transformar a alma e o coração e fazer com que o corpo em movimento transborde sensações e ideias. Os palcos são uma grande escola, que te ensina não apenas sobre a dança, mas também sobre a vida. São também o cenário de produção de infinitas obras de arte: nele os bailarinos dão vida a uma arte efêmera e única através de seus movimentos sincronizados e sutis, como se os palcos fossem as telas de um pintor e os bailarinos os seus pinceis, responsáveis por dar cor e vida à obra de arte a medida em que “dançam” suas histórias. Como disse Pina Bausch [2], “há situações, é claro, que te deixam absolutamente sem palavras. Tudo que você pode fazer é insinuar. As palavras também não podem fazer mais do que apenas evocar as coisas. É aí que vem a dança”. Ou seja, através da dança somos capazes de expressar aquilo que não sabemos como dizer e de exteriorizar sentimentos que não podem ser traduzidos através do uso das palavras, de modo que “a dança assume o papel de representar, de simbolizar o universo do ser humano” (TRAVI, 2011, p.11).

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[2] Trecho de texto transcrito do documentário “PINA: Dance, dance, otherwise we are lost”, de Wim Wenders, 2011.


Não podemos esquecer que a dança é feita pelas pessoas e para as pessoas, ela é o resultado de ações, intervenções e movimentos no espaço. Sendo assim, não é possível falar dela sem citar os responsáveis pela magia em torno de sua existência: os bailarinos e coreógrafos. É importante ter em mente que eles são seres humanos complexos, que têm em sua bagagem um conjunto de experiências multidisciplinares, com um corpo híbrido em vivências e teorias e que retrata as inúmeras influências culturais, sociais, físicas e emocionais às quais já foi submetido. Sendo assim, os bailarinos não podem ser considerados como meros “objetos”, e sim como pessoas com história, imaginário, valores e emoções próprios, elementos subjetivos que servirão de matéria-prima para as composições coreográficas. Através dessas coreografias, repletas de inconstância e fluidez, os bailarinos dão vida às histórias propostas pelos coreógrafos. A dança não é uma ciência exata, ela é subjetiva, capaz de transcender tempo e lugar e ser um método de contar histórias. Para contar tais histórias, os bailarinos evitam as palavras e se concentram em seu discurso corporal, como nos afirma Susan Foster (1986 apud FERNANDES, 2007, p.32-33): [..] Dança é vista como o extravasamento de sentimentos intuitivos ou inconscientes, inacessíveis à expressão (intelectual) verbal. Baseados neste modelo, dançarinos frequentemente cultivam uma mudez reli-

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giosa, evitando o que é verbal, lógico e discursivo, para privilegiar o físico e o sensato.

A luta dos bailarinos, coreógrafos e amantes da dança é mostrar a relevância da dança e sua capacidade de alcance para que sejam capazes de mantê-la na cena atual, uma vez que conhecem a magia que a envolve. Aqueles que entendem sua força sabem que trabalhar com a dança, assim como qualquer outra forma de arte, é estar em contato com momentos indizíveis que se revelam nos rostos felizes daqueles que entendem o seu verdadeiro papel e daqueles que sentem o prazer e o fascínio da dança!

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FOTOGRAFIA Como afirma Henri Cartier-Bresson [3], “a fotografia é uma maneira de nos expressarmos através de uma outra ferramenta. Isso é tudo”. Assim como a dança ou a pintura, a fotografia é um meio de expressão e comunicação que dispensa o uso das palavras. Mais que isso, ela é um dos poucos - talvez o único - que lida diretamente com elementos transitórios e efêmeros, sendo capaz de registrar para sempre instantes precisos e passageiros. Como disse Cartier-Bresson, a fotografia é “capaz de registrar a eternidade em um instante”. Através das imagens, que são uma forma de interpretação da realidade, os fotógrafos eternizam um momento enquanto expõem suas ideias, sentimentos, opiniões e inquietações.

[3] Em entrevista concedida a Sheila Turner-Seed, em 1971 e publicada em 2013 pelo The New York Times, disponível em: <http://lens.blogs. nytimes.com/2013/06/21/ cartier-bresson-there-are-no-maybes/?_r=1>.

É certo que, no início, a fotografia desempenhava funções muito distintas dessas de atualmente. As primeiras fotografias de que se tem conhecimento foram produzidas em meados do século XIX. Como resultado, há uma grande virada no estatuto do pintor na passagem para o século XX, uma vez que a pintura como forma de representação e registro começa a perder espaço para a fotografia, que se mostra cada vez mais versátil e adequada ao desempenho dessa função. Nesse período, ela ainda não era considerada uma linguagem artística. Contudo, com o avanço da tecnologia e das técnicas fotográficas, esse cenário começa a mudar. Ela se mostra muito potente e capaz

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de se transformar e de se apropriar de diversos significados, inclusive artísticos. Com o tempo, passa a ser utilizada ao redor de todo o mundo para diversos fins, surpreendendo sempre com sua linguagem que consegue manter-se atual apesar dos avanços da tecnologia. Um dos desafios, e ao mesmo tempo um dos grandes prazeres de se trabalhar com fotografia, é o fato de ela ser uma linguagem “deslizante”, que, indócil por natureza, não se deixa represar por apenas um conceito ou canal de representação. Documental, experimental, utilitária, amadora, profissional, familiar, turística, vernacular, popular, erudita, registro histórico, obra de arte, meio de comunicação, de sedução, testemunha ocular, construção, flagrante, abstração, direta, encenada, pós-produzida, etc. (CHIODETTO, 2013, p.21)

Sua característica mutável e “deslizante” se mostrou muito apropriada para as necessidades das sociedades modernas, que estão em constante evolução e que sofrem infinitas alterações em curtos períodos de tempo. Essa versatilidade permite que sua linguagem se adapte a uma situação específica ou às necessidades de um grupo ou região sem grandes dificuldades. Ao mesmo tempo que ela pode servir como registro histórico, pode ser uma maneira de criar um mundo paralelo de imaginações e sonhos. Também pode ser um meio de representação histórica ou documental de um dado período, e ainda

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assim pode ser arte, criação e inovação. Apesar de ser uma linguagem deslizante e mutável, o resultado de toda essa produção é um só: o que perdura no tempo são as imagens, ou seja, “aquilo que sabemos que, em breve, já não teremos diante de nós [...]” (BENJAMIN, 1985, p.95). É fato que, por muitas vezes, a fotografia como arte foi ameaçada ou até mesmo renegada devido à sua dependência com relação à tecnologia. Mais recentemente, com os avanços sofridos e o advento da fotografia digital, muitos pensaram que a fotografia como arte perderia força e que a técnica seria banalizada devido à facilidade de acesso e à redução de preço dos equipamentos. Contudo, ela continua se reafirmando diariamente como forma de expressão artística e como uma linguagem que dá respostas ao seu tempo, onde a evolução é tão rápida quanto um “clique”.

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EXPOSICÃO Como defende Marta Bogéa [4], acredito que a exposição seja mais que uma simples exibição, ela é também responsável por colocar algo em presença e debate no mundo. Ou seja, ela é também um meio de comunicação, um instrumento através do qual é possível colocar em debate assuntos e temáticas atuais importantes e é ainda um local de encontro e diálogo entre os objetos de arte e o espectador. Vale lembrar que o curador tem um papel essencial nesse processo, uma vez que cabe a ele definir quais serão os temas abordados e de que maneira serão apresentados ao público por meio das obras. Diante disso, o curador Eder Chiodetto (2013, p.14) destaca que: É comum ouvir que o curador tem como função construir pontes que estabeleçam a comunicação entre as obras dos artistas e o público. A curadoria, no entanto, não é um exercício de tradução, pois esta comunicação pode se dar sem a mediação do curador, pelo menos em certos níveis de vínculo e entendimento. No entanto, cabe ao curador auxiliar para que se realize da forma mais enriquecedora possível para ambos, seja pelo didatismo, pelas conexões históricas, estéticas, pelo questionamento gerado a partir da montagem da mostra ou, principalmente, pelos desdobramentos que sugere a partir das premissas inerentes à obra de arte.

Portanto, o curador é capaz de aproximar os artistas de seus espectadores e auxiliar o público na compreensão de saberes específicos,

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[4] Tiro essas conclusões a partir de palestra da Professora e Doutora em Arquitetura e Urbanismo Marta Bogéa no curso 6 Curadores, no Espaço Cultural Marieta, São Paulo, em 21 de maio de 2016.


os quais são apresentados através das narrativas construídas em torno das obras de arte presentes em cada exposição que propõe. Ou seja, ele trabalha como um intermediador, criando pontes de diálogo entre artistas, autores, patrocinadores e o público. Assim como os coreógrafos fazem por meio da dança e os fotógrafos através das imagens que produzem, os curadores se utilizam de suas exposições para se expressar, expor seus pensamentos e comunicar ao público suas ideias, inquietações, crenças e posicionamentos. Logo: Toda curadoria é um projeto de comunicação e, portanto, exige do curador um posicionamento político, uma tomada de decisão a respeito de suas crenças e valores. Trata-se da articulação de um discurso ideológico em que são realizadas opções estéticas, conceituais e políticas claras para impactar o público de determinada forma. Não há neutralidade possível e nem se deve almejá-la. Na comunicação com o público, o posicionamento da curadoria deve ficar claro. (CHIODETTO, 2013, p.14)

Como podemos perceber no trecho acima, o curador não é somente um intermediador e não deve agir de maneira puramente artística, mas também deve entender seu trabalho como um gesto político. Ele deve, portanto, estar ciente de seu papel na sociedade e da capacidade de alcance de seu instrumento de trabalho, utilizando-o da melhor maneira possível.

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A curadoria deve sugerir novos pontos de vista, iluminar pontos obscuros da história, desacomodar clichês, ironizar a linearidade das narrativas, gerar abordagens que amplifiquem a potência das obras, imantar o público com a hipótese poética que o artista propõe para olhar o cotidiano (CHIODETTO, 2013, p. 16)

Além disso, ele deve se posicionar de modo a tirar as pessoas de sua zona de conforto e disponibilizar novas possibilidades de atuação aos artistas, estimulando-os, encorajando-os e ampliando sua visibilidade. Também cabe a ele o processo de organização, preparação e montagem da exposição, ou ainda, como disse Marta Bogéa [5], é ele o responsável por “orquestra-la”, coordenando as equipes, os artistas e os seus espaços. Sendo assim, seu trabalho se inicia com a pesquisa e o estudo de acervos, onde enxerga as obras “como estímulo, como ponto de partida, como trampolim [...]” (CHIODETTO, 2013, p.15 ), mas o seu papel vai muito além disso. Como resultado de todo esse trabalho, chegamos finalmente às exposições. Fica claro que estas são pensadas como uma solução única para um problema particular proposto pelo curador naquele dado período e, portanto, não devem ser copiadas em outras situações. Trata-se de uma proposta de solução para um problema específico, que não existirá novamente daquela mesma maneira em nenhum ou-

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[5] Ainda durante a realização do curso “6 Curadores”.


tro momento ou local. Toda a dinâmica por trás das exposições existe para permitir que elas sejam capazes de expor as ideias dos artistas e curadores, ou ainda, como diria Giles Velarde (1988, p.09 ), uma exposição “deve atrair os visitantes (...), prender sua atenção e (...) informar o visitante”.

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referĂŞncias 30


Além da leitura de uma bibliografia básica, neste projeto foi muito importante a busca por referências práticas visando a construção de um repertório específico. Por conta disso, muitos autores, artistas e profissionais das áreas de interesse foram analisados. Além disso, foram avaliados projetos que lidam com as diferentes formas de relação entre a dança e a arquitetura. Dentre esses profissionais e projetos, alguns tiveram grande poder de influência sobre os caminhos que levaram à elaboração desta pesquisa. Portanto, cabe aqui uma breve explicação sobre quem são essas pessoas, quais são suas formas de trabalho e como elas tratam a arte da dança e da fotografia. De certa forma, percebemos que todos “desfuncionalizam” a dança, a arquitetura e a fotografia, focando nas nuances e na magia que é intrínseca a elas. Buscam libertar-se das amarras impostas pela sociedade sobre essas formas de arte e, cada um à sua maneira, vão em busca de uma liberdade poética, artística e de expressão. Somando o olhar desses profissionais, suas propostas e metodologias e as teorias estudadas, construo meu próprio olhar e o meu próprio método de trabalho, baseado em minhas experiências e nas condições de minha cidade.

Le Sacre du Printemps, 2002. Foto: Sébastien Mathé.

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PINA BAUSCH Pina Bausch (1940 – 2009), talentosa coreógrafa alemã de renome internacional e diretora da companhia Tanztheater Wuppertal, conquistou admiradores no mundo todo devido ao seu espírito revolucionário e à sua maneira particular de compreender e lidar com as relações entre a dança e o espaço. Ela deixa um legado riquíssimo em sua prática artística, especialmente para o cenário da dança contemporânea, uma vez que seus trabalhos representam uma grande ruptura com a cultura clássica. Além de todas as inovações trazidas em seu processo criativo, ela buscava “contrabalancear a tristeza do mundo”, como costumava dizer, e trazer alegria aos seus espetáculos através da arte. Na direção do Tanztheater, foi responsável por diversos espetáculos de sucesso, onde costumava “contar histórias” por meio da dança. Suas coreografias eram baseadas na experiência de vida dos bailarinos e funcionavam como uma tentativa de relacionar a dança e o teatro. Muitas dessas “histórias” falavam sobre a vivência dela e de seus bailarinos nas diversas cidades do mundo pelas quais passaram, uma vez que costumava se inspirar nas cidades onde se hospedavam durante suas turnês para construir suas ideias de trabalho. Nesse processo, a cidade era sua protagonista e o seu intuito era a articulação entre texto, cidade e memória, em uma tentativa de tornar legível os

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Cena do filme PINA, 1. Foto: Laurent Philippe.

Cena do filme PINA, 2. Foto: Donata Wenders.

Cena do filme PINA 3. Foto: Donata Wenders.


espaços urbanos visitados e descobertos por ela e seus bailarinos. Sua criação girava em torno da exploração de novas formas de ver o mundo através de um processo criativo baseado em sentimentos e não em métodos. Com isso, ela pretendia externar ao público as sensações e paixões que ela e sua companhia sentiram durante as visitas e estadias nesses locais. Solange Caldeira (2007, p.148) fala sobre o projeto e afirma que: [...] a cidade, personagem secundária da vida, vê-se de repente no centro das atenções. Transforma-se em espetáculo, hipótese a ser investigada. É esta hipótese que Pina Bausch explora numa espécie de polifonia que toma a personagem-cidade como objeto de pesquisa. Na impossibilidade de ser sujeito, a personagem que não tem fala, é falada pelo discurso dos outros, pelos desdobramentos do discurso do narrador.

Para analisar e compreender tais cidades, Pina se utiliza das pessoas e de sua percepção sobre os ambientes. A principal matéria-prima de seu trabalho é o corpo de seus bailarinos, que são capazes de transmitir seus pontos de vista, percepções, sentimentos e sensações através de seus movimentos. Para ela, as pessoas são as verdadeiras responsáveis pela criação dos espaços, uma vez que estes não são estáticos ou imutáveis e que são as pessoas as responsáveis por trazer

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vida e importância a eles. Como ela mesma disse, “não são as paisagens, e sim as pessoas dessas paisagens que me atraem porque são as paisagens dentro dessas pessoas que contam como material para a pesquisa que desenvolvo” (apud DUNDER, 2000, p.46). E é exatamente este o aspecto que me interessa e que me instiga em seu trabalho: a importância do indivíduo na questão da produção e transformação do espaço.

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TESSERACTS OF TIME Tesseracts of Time é um projeto colaborativo entre arquiteto Steven Holl e a coreógrafa Jessica Lang. O espetáculo que resulta dessa parceria no final de 2015, em Chicago. Os idealizadores do projeto trabalharam em conjunto para desenvolver um produto onde existisse a integração entre a dança e a arquitetura, uma vez que ambos acreditam que as diferentes formas de arte estão inter-relacionadas e dependem umas das outras para existirem. Sobre isso, Jessica Lang [6] afirma que “se não misturarmos as artes e colaborarmos, vamos falir... As artes vão desaparecer individualmente. Somos mais fortes juntos”. Ou seja, as artes devem caminhar e evoluir juntas, uma vez que influenciam umas às outras e que a sua justaposição as torna cada vez mais potentes. Para dar forma à sua proposta, enfatizam os aspectos de tempo, forma, luz e movimento, uma vez que “o corpo se movendo temporalmente no espaço é uma experiência central, tanto de dança quanto de arquitetura” [7]. Assim como Pina, acreditam na importância das pessoas para a conformação dos espaços e na influência que os mesmos têm sobre essas pessoas. Sendo assim, a ideia central é justapor dança e arquitetura e explorar suas relações com o tempo e o espaço, de modo a provocar reflexões sobre estagnação ou movimento, permanência ou efemeridade.

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[6] Informações transcritas de vídeo sobre o projeto “Tesseracts of Time”, disponível em: <http://www.archdaily.com. br/br/781421/steven-holl-a-arquitetura-precisa-se-reconectar-as-outras-artes>.

[7] Idem ao anterior


Quarto ato, OVER, 1. Foto: Todd Rosenberg.

Segundo ato, IN. Foto: Todd Rosenberg.

Quarto ato, OVER, 2. Foto: Todd Rosenberg.


Percebe-se aqui uma tentativa de romper as barreiras do senso comum e encontrar uma nova maneira de tratar a arquitetura. Para Steven [8], “há uma latente necessidade de que a arquitetura seja inspirada por outras artes”, há uma necessidade de transformação, de evolução da arquitetura como forma de arte. Em geral, entendemos que a arquitetura tem como função perdurar no tempo, ser eterna, enquanto a dança é uma forma de arte efêmera, que dura os poucos segundos de uma performance e então desaparece para sempre. Contudo, nesse espetáculo as duas se confundem e são capazes de perdurar ou desaparecer, viajar ou permanecer exatamente onde estão. É criada uma condição de espaço onde as duas se tornam uma só. Isso ocorre através da produção de uma arquitetura dinâmica, pensada para se adequar perfeitamente à dança e aos movimentos dos bailarinos e de uma coreografia estruturada de modo que o corpo seja capaz de acompanhar as linhas da arquitetura. Vemos um exemplo claro da utilização da dança como forma de expressão e exploração dos espaços e da arquitetura ao seu redor. Para a montagem do espetáculo, Steven e Jessica dividem a arquitetura em quatro tipos, que correspondem aos atos do espetáculo que dividem a dança em diferentes estilos: sob o solo, no solo, dentro do

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[8] Idem aos itens 6 e 7.


solo e sobre o solo. Através dessas divisões buscam compreender os espaços de diferentes maneiras e estudar suas relações com o corpo dos bailarinos, pensando cada detalhe da arquitetura que se torna cenário e, ao mesmo tempo, parte da obra. E é exatamente esse o meu foco de interesse nessa proposta: a tentativa de encontrar o ponto de congruência entre a dança e a arquitetura e compreender de que maneira o corpo do bailarino se comporta no espaço.

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BALLERINA PROJECT Dani Shitagi é o fotógrafo e idealizador do projeto Ballerina Project, que nasceu em Nova Iorque a partir da ideia de que a cidade é um ímã de criatividade e manifestações artísticas e se iniciou através de um longo processo de experimentação. Suas técnicas e propostas foram sendo aprimoradas ao longo dos seus quinze anos de trabalho e, aos poucos, o fotógrafo foi conquistando admiração e reconhecimento por conta de suas imagens de bailarinas profissionais retratadas em cidades de todo o mundo. A sua intenção é que a fotografia não seja utilizada apenas como forma de registro da dança, mas sim como forma de externar os sentimentos, as emoções e o coração dos bailarinos. Para ele, cada imagem produzida é uma mistura de esforços de dança, design de moda e fotografia, somadas ao contexto do cenário mutável e inconstante das cidades representadas. Ballerina project. Fotos: Dani Shitagi.

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OMAR Z. ROBLES Omar Z. Robles é um fotógrafo americano que ganhou reconhecimento por conta de seu trabalho sobre dança e arquitetura. Ao longo dos últimos dois anos, tem se dedicado ao projeto OZR Dance, no qual retrata bailarinos em cenários urbanos, especialmente em Nova Iorque, onde o projeto nasceu e cresceu. Ele está à procura de paisagens que o intriguem e bailarinos que o encantem e busca, através de suas lentes, transforma-los em protagonistas de tais cenários. Seu trabalho não é apenas um processo fotográfico, mas também um projeto de direção de arte e cenografia, em que dirige os “personagens” de modo a contar, através de seus corpos e movimentos, uma pequena história com cada fotografia. Assim ocorre a justaposição entre a delicadeza e a sutileza dos movimentos dos bailarinos e as paisagens rústicas e ruidosas das grandes cidades. OZR Dance. Fotos: Omar Z. Robles.

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processo 44


O processo deste trabalho gira em torno do desejo de conectar diferentes áreas de interesse e de compreender melhor onde está o ponto de equilíbrio entre arquitetura, dança e fotografia. Tendo em vista tal objetivo, o corpo e o espaço são os principais objetos deste estudo e também seu material de trabalho. O processo inicia-se pela tentativa de compreensão dos elementos que estão no centro deste debate e das relações entre eles, pensando na posterior elaboração de um conceito de projeto. Logo no início das pesquisas bibliográficas, ficou claro que o processo de desenvolvimento do trabalho se tornaria o responsável por delinear seu produto. Não se tratava de uma temática estática ou de uma tentativa de alcançar resultados preestabelecidos, e sim de um longo processo de experimentação e testes que acabariam por mostrar a solução mais adequada para os questionamentos aqui colocados. Entendi rapidamente que os estudos teóricos não seriam suficientes para suprir tais questionamentos e que seria necessário ir além da busca por conceitos e teorias existentes nos livros. Por se tratar de linguagens mutáveis e que estão em constante evolução, não cabe aqui imaginar que exista uma única solução possível para as questões apresentadas. Por conta disso, durante essa jorna-

Avenida Paulista, 2016. Foto: Lucas Jordan Aguiar.

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da pude colocar muito de meu olhar e aplicar um pouco de minha percepção sobre os temas em questão. Tive a chance de experimentar novas maneiras de vivenciar a cidade e entender seus espaços, moldando as análises e resultados de acordo com essas experiências. Sendo assim, apresento aqui meu processo criativo, minha metodologia de trabalho, minhas dificuldades, acertos e erros e as etapas práticas pelas quais passei para concluir este estudo. Em termos gerais, trata-se de um longo período de testes, que ocorreram paralelamente aos estudos teóricos e resultaram na produção de vídeos e imagens piloto. A escolha dos instrumentos de trabalho se deu diante das necessidades e exigências do tema abordado, que é marcado pela efemeridade e espontaneidade das manifestações corporais e que configura uma forma não tradicional de apropriação do espaço público. Diante disso, as formas de registro digital se mostraram ideais, uma vez que permitiam o registro das ações instantâneas da dança e a captura de seus detalhes. Quanto às escolhas de projeto, elas certamente foram moldadas de acordo com as decisões tomadas durante as experimentações e os caminhos então trilhados. Caminhos estes que não foram per-

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corridos sozinhos, uma vez que ao longo dessa jornada contei com a colaboração de amigos e profissionais que muitas vezes abriram meus olhos para novas possibilidades técnicas e de criação. Ficou claro que este trabalho não faria sentido se não se tornasse uma espécie de “processo colaborativo”, que conta com influências de cada um que colaborou, seja como fotógrafo, bailarino ou ouvinte. Cada um que participou do trabalho deixou um pouco de si gravado em sua estrutura, e é exatamente a partir de um conjunto de características e marcas individuais que foi construída a unidade que deu forma ao conjunto de resultados aqui apresentados.

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VÍDEOS EXPERIMENTAIS As primeiras experiências de captação de imagens foram realizadas na linguagem do vídeo. A escolha dessa linguagem ocorre devido à sua capacidade de captação de movimentos momentâneos e passageiros. Essa pareceu-me uma boa opção para iniciar um processo de especulação sobre as relações entre bailarino, pedestre e espaço público. Para tanto, foram produzidos três vídeos. Os vídeos foram gravados no Parque da Independência, no bairro do Ipiranga, São Paulo, no período da manhã, quando ele está mais ocupado. Para sua realização, reproduzo uma mesma coreografia em diferentes situações. Para isso, devo utilizar uma cadeira, elemento que faz parte da proposta coreográfica. No primeiro vídeo, experimento inserir uma cadeira no local e realizo a coreografia com ela. Contudo, as imagens deixam claro que a inserção da cadeira causa um ruído indesejado no espaço público, o que me leva a realizar uma segunda tentativa, que resulta em dois vídeos. Neles utilizo apenas o mobiliário urbano disponível no local, o que deixa claro que as relações entre o meu corpo, enquanto bailarina, e o espaço público são muito maiores, além de existir uma maior interação da população, que parece não ser acometida por um estranhamento tão grande quanto na situação anterior.

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Pq. da Independência, 15/03/2016. Filmagem: Rosa M. Gonçalez Delanez.

Pq. da Independência, 05/04/2016. Filmagem: Rosa M. Gonçalez Delanez.

Pq. da Independência, 05/04/2016. Filmagem: Rosa M. Gonçalez Delanez.


FOTOS EXPERIMENTAIS Buscando outras possibilidades, decido então experimentar a fotografia como forma de registro, técnica que de imediato se mostra muito eficaz. A vantagem das imagens com relação aos vídeos é que elas registram um único instante, milimetricamente calculado e, por conta disso, expressam muito melhor as tensões e nuances que ocorrem entre o bailarino e o espaço neste dado momento. Como resultado, o produto parece mais expressivo e atrativo do que o vídeo. Escolho iniciar esse processo na Avenida Paulista e conto com a ajuda do Lucas Jordan para produção das imagens. Em um domingo ensolarado, a rua estava repleta de pedestres, ciclistas, crianças e adultos, o que comprova o sucesso do projeto que abre a avenida para os pedestres aos domingos e demonstra a carência de espaços públicos de qualidade em nossa cidade. A possibilidade de se apropriar de um espaço que costuma ser dos carros e de fazer uso dele das formas mais diversas atraiu não apenas a população, como também a mim. Pensando na tranquilidade que a ausência dos carros gerava, a paulista me pareceu o local ideal para começar. A experiência foi importante para que eu pudesse sentir na pele as dificuldades e consequências de dançar fora dos palcos e salas de aula. Além disso, as imagens mostram o início de algo que viria a ser um caminho de trabalho quando começam a fazer sentido dentro de um mesmo conjunto.

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Avenida Paulista, 10/04/2016. Foto: Lucas Jordan Aguiar.

Metrô Chácara Klabin, 10/04/2016. Foto: Lucas Jordan Aguiar.

Metrô Alto do Ipiranga, 10/04/2016. Foto: Lucas Jordan Aguiar.


O cenário escolhido para as próximas imagens é um pouco diferente e funcionaria como um termômetro para avaliar as escolhas feitas até aqui. O endereço escolhido é a cidade de Socorro, local muito diferente de São Paulo, uma vez que se trata de uma cidade do interior. Sem dúvidas, a relação entre corpo e espaço deu-se de forma muito diferente no campo e na cidade. Os cenários se portaram mais como planos de fundo para o corpo ou texturas que pareciam não fazer parte da composição da imagem em si. Nessas composições fotográficas e cenários escolhidos, o corpo parece ser sempre o elemento principal e as relações entre ele e a natureza se dão de forma diferente da desejada neste projeto. Essa tentativa deixou claro que, diante da temática com a qual trabalho, a arquitetura das cidades é sim importante para a composição das imagens e que os seus ruídos criam uma relação interessante com a sutileza da dança. Para minha proposta, as imagens funcionavam melhor quando no contexto das grandes cidades, contracenando com a arquitetura e as construções. É importante dizer que foi quando comecei a produzir as imagens, que me descolei definitivamente do ponto de vista dos autores estudados e passei a elaborar minhas próprias opiniões e conceitos sobre

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Socorro, São Paulo, 24/04/2016. Foto: Lucas Jordan Aguiar

Socorro, São Paulo, 24/04/2016. Foto: Lucas Jordan Aguiar

Socorro, São Paulo, 24/04/2016. Foto: Lucas Jordan Aguiar


a temática. Tendo como base as referências analisadas, foi mais fácil encontrar um caminho para começar a pensar a composição das imagens. Para isso, mantive em mente a ideia de representação das contraposições existentes entre a sutileza dos movimentos da dança e a complexidade das cidades. Contudo, não estabeleci regras antes das saídas fotográficas, esperando que elas ocorressem sem limitações e que fossem construídas a partir de um olhar livre de vícios. Fiz isso com a certeza de que as próprias imagens geradas acabariam por guiar meu olhar, induzindo meus caminhos e delineando os contornos de meu produto final. Certamente não seria simples determinar tais contornos e, por conta disso, essa etapa foi tão importante: ela me ajudou a entender melhor as dificuldades que encontraria para criar um ponto de congruência entre as imagens, algo que garantisse que elas fizessem sentido entre si quando expostas lado a lado. A partir daí comecei a me preocupar com a viabilidade de utilização das imagens na exposição e na possibilidade – ou não – de sua coexistência, pensando em seu conteúdo, contexto ou estilo. Apesar do surgimento de tais questionamentos e de algumas dificuldades, ficou clara a capacidade das imagens de registrar e explicitar a tensão de um instante de maneira intensa e eficaz, o que me deu a segurança de que estava no caminho certo.

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IMAGENS FINAIS Depois de experimentar diferentes técnicas, locais e ideias, era chegada a hora de iniciar uma etapa de produção mais definitiva, direcionada e planejada de acordo com as diretrizes de projeto, construção e montagem da exposição. Para isso, foram escolhidos locais bastante ocupados da cidade de São Paiulo, que já possuíam uma variedade de usos não-obrigatórios, ou seja, locais que fossem passíveis de intervenções e onde fosse possível enxergar uma face mais humana da cidade. É uma busca por locais abertos, que “se abram como convite e não como paisagem” (JORGE, 2014), criando assim espaços de liberdade em meio a tantos ambientes “funcionais”. Podemos dizer que “se os espaços públicos priorizam uma única forma de necessidade, as pessoas que não se sentem motivadas por esta atividade estarão inclinadas a se afastar” (MEAN; TIMS, 2005, p.52). Por conta disso, optei por áreas centrais e movimentadas, onde houvesse uma grande variedade de uso dos espaços, uma vez que pretendia, a partir da minha intervenção, ocupa-los à minha maneira, propondo novas possibilidades de aproveitamento dos mesmos. Além disso, esses locais foram escolhidos também por conta de sua importância para o cenário e imaginário da cidade, utilizando como referência minhas próprias memórias de uso dos mesmos.

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Assim, as imagens foram realizadas na Avenida Paulista, no Centro Histórico de São Paulo, na Estação da Luz e arredores e no Minhocão, locais que - além de sua reconhecida importância para a cidade do ponto de vista social e econômico - costumam estar no centro das polêmicas sobre uso e ocupação dos espaços públicos. Sentiu-se a necessidade de um planejamento com relação ao figurino utilizado, ao cenário, à composição visual e ao estilo das imagens. Logo, fiz algumas proposições e organizei meus pensamentos de modo a planejar as maneiras através das quais pretendia expor os conceitos estudados. Com isso, foram organizadas categorias preliminares de imagens, pensadas de acordo com os possíveis elementos presentes, as cores, as relações entre corpo e espaço e o estilo fotográfico. Graças a esse primeiro esboço, foi mais fácil encontrar uma linha de raciocínio e pontos comuns entre as imagens, o que facilitou sua divisão e organização de acordo com as famílias escolhidas, abrindo os caminhos para pensar o projeto da exposição.

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Mapa de detalhamento dos locais fotografados.


estacão da luz

minhocão vd. santa ifigênia

r. 24 de maio

largo de são bento vd. do chá

avenida paulista 0 100m

500m

1km

N

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AVENIDA PAULISTA - 20/09 Em uma manhã chuvosa de terça-feira comecei o primeiro ensaio da segunda etapa de trabalho. O cenário escolhido foi a Avenida Paulista que, apesar da garoa e do frio daquela manhã, tinha suas calçadas e ruas repletas de pedestres e carros. Por se tratar de um dia útil e em horário comercial, a maior parte dessas pessoas estavam de passagem, apressadas, correndo para lá e para cá, mais uma vez preocupados com a função dos espaços e a forma como eles podem servir suas próprias necessidades, transformando as ruas em meros locais de passagem. Fomos eu, a Maria Beatriz – que ficou responsável pelas fotografias - e a Aline Fregozzi - como bailarina. Escolhi começar pela Paulista pois se trata de uma avenida movimentada, com fácil acesso através do transporte público, que é um centro empresarial e turístico da cidade de São Paulo e cenário de infinitas manifestações artísticas, intervenções e performances. Também levamos em conta a questão da segurança, pensando no cuidado necessário com as câmeras e equipamentos, uma vez que se trata de uma das avenidas mais movimentadas e ocupadas da cidade. Além disso, por conta de tudo que ela representa para o cenário cultural, político e artístico da cidade, consideramos que seria um bom local para começar, onde poderíamos nos sentir mais à vontade para realizarmos os movimentos e coreografias em meio aos transeuntes.

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Vão do MASP, 20/09/2016. Foto: Maria Beatriz Alves de Souza.

Vão do MASP, 20/09/2016. Foto: Maria Beatriz Alves de Souza.

Vão do MASP, 20/09/2016. Foto: Maria Beatriz Alves de Souza.


Avenida Paulista, 20/09/2016. Foto: Maria Beatriz Alves de Souza.

Avenida Paulista, 20/09/2016. Foto: Larissa Gonรงalez Delanez.

Avenida Paulista, 20/09/2016. Foto: Maria Beatriz Alves de Souza.


De fato, não tivemos nenhuma espécie de problema para a produção das imagens ou empecilho por parte dos pedestres. Pelo contrário, as pessoas pareciam não se importar com o que estava acontecendo, como se estivessem acostumadas a esse tipo de manifestação naquele local. A experiência foi interessante para que soubéssemos como agir diante das pessoas e para que nos acostumássemos àquela situação, perdendo o receio e a vergonha de dançar pelas ruas da cidade, já que os olhares não pareciam olhares de julgamento, e sim de interesse ou contemplação. A partir das imagens produzidas, comecei a realizar um esforço de seleção e encontrei uma primeira linha de raciocínio para a organização das famílias, pensando em formar um conjunto que desse sentido à exposição. Com essa seleção em mãos, percebi os pontos fortes de cada estilo de imagem e busquei direcionar as próximas produções de modo que seguissem, de alguma forma, uma linguagem similar.

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CENTRO HISTÓRICO - 23/09 Por algum tempo, hesitei em programar uma seção de fotos no centro de São Paulo. Todas as pessoas com as quais conversava sobre isso, diziam que a ideia não era boa, que fotografar naquela região seria perigoso, que deveria tomar cuidado, pensar bem, prestar atenção à câmera o tempo todo e tentar não chamar muita atenção. A cidade, como monstro, causa medo, nos sentimos vítimas prestes a ser engolidos. Mas ao passo que vamos descobrindo seus segredos, nos sentimos mais confortáveis, possuidores dela. (TREVELYAN, 1997)

Por muitas vezes, a cidade pode parecer um monstro, causando medo, insegurança e desconforto. Por conta dessa sensação, acabamos nos fechando em nossas prisões particulares, aumentando nosso distanciamento das cidades e nos afastando cada vez mais dos seus espaços de convivência. Quanto menos as conhecemos, mais medo temos e, por conta disso, mais distantes ficamos. Em uma tentativa de quebrar tal barreira e entender melhor os espaços subjugados e menosprezados das cidades, escolhi manter o plano inicial e produzir fotos na região central de São Paulo. Uma região tão especial e tão importante para o cenário cultural e histórico da cidade, onde existem infinitas paisagens e cenários incríveis, deveria sim ser retratada em meu projeto.

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Largo de São Bento, 23/09/2016. Foto: Yve Louise C. de Mendonça.

Largo de São Bento, 23/09/2016. Foto: Yve Louise C. de Mendonça.

Largo de São Bento, 23/09/2016. Foto: Yve Louise C. de Mendonça.


Centro histórico de SP, 23/09/2016. Foto: Yve Louise C. de Mendonça.

Viaduto Santa Ifigênia, 23/09/2016. Foto: Yve Louise C. de Mendonça.

Centro histórico de SP, 23/09/2016. Foto: Yve Louise C. de Mendonça.


Em uma manhã ensolarada de sexta-feira me encontrei com a Yve Louise – responsável pelas fotografias – na estação São Bento, e a partir de lá começamos um percurso sem rota pré-estabelecida. Fizemos algumas fotos na estação e, a partir de lá, caminhamos sem rumo em busca de paisagens e cenários interessantes. Os caminhos foram sendo trilhados ao longo do dia, à medida que caminhávamos e percebíamos nossos olhares sendo atraídos por essa ou aquela rua. Durante esse trajeto, passamos pelo Viaduto Santa Ifigênia, pela Rua 24 de Maio e pelo Teatro Municipal, concluindo nossa jornada no Viaduto do Chá. As ruas do centro estavam cheias de pedestres, trabalhadores da região e comerciantes e repletas de pessoas utilizando os espaços das maneiras mais diversas. Ao decorrer do dia tivemos a certeza de que a cidade não é tão assustadora quanto ela pode parecer e percebemos que não devemos ter medo de conhecê-la e de descobrir novas maneiras de aproveitar seus espaços. Todas as ruas pelas quais passei pareciam ocupadas e tinham muitos pedestres, comerciantes e uma imensa quantidade de pessoas desempenhando atividades e desfrutando dos espaços públicos. Acredito que isso comprove a importância de quebrar as barreiras que são construídas e impostas a nós por nossa sociedade.

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A partir da análise das fotografias produzidas, ficou clara a importância da relação entre o corpo do bailarino e o público, que reage das formas mais diversas à situação. Em diversas delas fica clara a intervenção dos pedestres na composição da cena, expondo sua reação e comportamento no exato momento de registro da imagem. A partir daí comecei a prestar mais atenção nas possibilidades de interação com os passantes e como isso poderia se compor nas fotos. Além disso, pensava nas relações desses aspectos com as demais famílias e imagens da exposição.

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ESTACÃO DA LUZ- 06/10 Quando optei por realizar fotos na Estação da Luz e em seus arredores, imaginei que encontraria um cenário parecido com o que encontrei nas ruas do centro, com os espaços ocupados e repletos de usos distintos. Contudo, a situação encontrada foi um pouco diferente do esperado e, ainda no interior da estação, percebemos uma certa relutância das pessoas com relação ao fato de que estávamos dançando em meio à estação. Algumas das pessoas que estavam no local, aparentemente trabalhadores da região, pareciam não gostar do que viam e acabamos sendo questionadas sobre o que estávamos fazendo e sobre as roupas que estávamos usando. Como essa não foi a primeira experiência para nenhuma de nós (uma vez que a Aline e a Yve – que estavam comigo neste dia – também já tinham participado do projeto em outros momentos), conseguimos conversar com essas pessoas e resolver a situação. Depois de algum tempo dançando e experimentando diferentes movimentos em algumas áreas da estação, fomos abordadas por seguranças que questionaram nossa atitude e julgaram que estávamos atrapalhando a passagem dos usuários. Para evitar maiores problemas, decidimos fazer algumas fotos externas. Contudo, a região nos pareceu um pouco perigosa, não tão movimentada quanto as ruas do centro que havíamos percorrido nas semanas anteriores. Percebemos

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Estação da Luz, 06/10/2016. Foto: Yve Louise C. de Mendonça.

Estação da Luz, 06/10/2016. Foto: Yve Louise C. de Mendonça.

Estação da Luz, 06/10/2016. Foto: Yve Louise C. de Mendonça.


alguns picos de lotação, quando os trens chegavam à estação, marcados por intervalos durante os quais aquela área parecia esvaziada. As pessoas estavam sempre apressadas e claramente de passagem, sendo poucas aquelas que permaneciam por algum tempo no local. Por conta das pequenas dificuldades que encontramos, fossem relacionadas à segurança ou à burocracia, decidimos finalizar a série depois do registro de mais algumas imagens nos espaços internos da estação, onde buscamos evidenciar as relações entre o bailarino, os usuários e os elementos gráficos e visuais existentes. Sem dúvidas, esta foi a série onde tivemos as maiores dificuldades burocráticas e também práticas. Contudo, ainda assim conseguimos obter um resultado apropriado. A experiência foi bastante válida e também muito interessante para perceber que nem todos os espaços ditos “públicos” de uma cidade são de fato públicos, e que muitas vezes existem barreiras e empecilhos que nos impedem de fazer uso dos espaços da maneira como gostaríamos. Cabe aqui um questionamento sobre até onde vai, de fato, o nosso “direito à cidade” e até que ponto temos a liberdade de utilizá-la de acordo com nossas vontades, mesmo quando respeitamos as leis e regras básicas de uso das mesmas.

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MINHOCÃO- 09/10 Em uma tarde ensolarada de domingo, me deparo com um Elevado Presidente João Goulart - mais conhecido como Minhocão – que mais se parece com um parque linear do que com uma via expressa. Com todo seu percurso fechado para os automóveis, encontro uma via ocupada por pedestres e ciclistas de todas as idades, que caminham, correm, pedalam, brincam, se divertem e ocupam o espaço das maneiras mais variadas. Para entender e registrar todos os detalhes do local através de ângulos variados, contei com a ajuda do Bruno Felfoldi e do Lucas, que ficaram responsáveis pela produção das fotografias. Como bailarinas fomos eu, a Aline e a Marina Dantas. Sem dúvidas, foi muito interessante poder avaliar um mesmo movimento a partir de diferentes câmeras e perspectivas, proporcionando uma variedade maior de estilos e resultados. O cenário da região é único e muito interessante e resultou em imagens incríveis. Os prédios do entorno do Minhocão acabaram funcionando muito bem para a produção das “cenas”, resultando em montagens muito interessantes do ponto de vista da cor, das texturas e das composições corporais das bailarinas. Ao fim desse percurso, acredito que já estavam evidentes as possíveis formas de divisão e organização das imagens em grupos ou famílias.

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Minhocão, 09/10/2016. Foto: Lucas Jordan Aguiar.

Minhocão, 09/10/2016. Foto: Bruno Felfoldi.

Minhocão, 09/10/2016. Foto: Bruno Felfoldi.


Após concluir a última jornada e observar as imagens, elas finalmente pareciam fazer parte de um conjunto e dialogar entre si, fazendo sentido diante da proposta inicial do projeto. Cabia agora iniciar o processo de organização e seleção das mesmas para concluir a narrativa que girava em torno delas. Isso feito, foi possível iniciar a etapa de projeto, onde busquei a maneira mais adequada de dispor as imagens no espaço da exposição para que fossem capazes de ilustrar a temática abordada. Sendo assim, a partir das imagens foi possível amarrar as teorias estudadas e concluir as análises práticas para finalmente estabelecer o conceito da exposição.

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ORGANIZACÃO DAS IMAGENS Como dito anteriormente, era chegada a hora de organizar as imagens e traçar uma linha de raciocínio capaz de transformá-las em um conjunto que desse sentido à exposição. O primeiro passo foi realizar uma análise comparativa das melhores imagens de cada série e fazer uma pré-seleção daquelas com maior potencial, agora imaginando seu funcionamento como um todo, e não apenas analisando suas características individualmente. Tal seleção foi feita de acordo com a temática das imagens, os estilos fotográficos e as características cromáticas de cada uma. A partir disso foi possível avaliá-las de forma crítica e realizar um esforço para dividí-las em grandes grupos que pareciam dialogar bem entre si. Por fim, os principais elementos utilizados para realizar a separação foram as relações entre bailarino e espaço e o estilo das imagens. Como resultado dessa análise e dos esforços da etapa de experimentação em produzií-las dentro de uma mesma linguagem, foram determinados três grandes grupos que serão melhor explicados a seguir. São eles: Grupo 1: Contornos; Grupo 2: Corpos e Grupo 3: Cotidiano.

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CONTORNOS As imagens do grupo “Contornos” têm como característica um enquadramento particular, que não apresenta de imediato todo o contexto e a temática das imagens. Trata-se de imagens em que são registrados pequenos extratos da cena, focando em algum detalhe do corpo da bailarina que faz alusão à dança, sem deixar claro o movimento exato que está realizando ou o local onde a imagem foi produzida. O foco aqui são os contornos que são delineados no espaço pelos corpos das bailarinas e por seus gestos sutis e encantadores. A ideia central é que o público se depare com detalhes específicos de uma composição, de modo que seja mantida uma atmosfera de mistério, evitando que a identidade das bailarinas e a cena sejam entregues por completo. Como resultado, foram produzidas imagens mais intimistas, voltadas para os movimentos das bailarinas e suas sensações sobre aquele instante.

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Vão do MASP, 20/09/2016. Foto: Maria Beatriz Alves de Souza.

Vão do MASP, 20/09/2016. Foto: Maria Beatriz Alves de Souza.

Vão do MASP, 20/09/2016. Foto: Maria Beatriz Alves de Souza.


CORPOS Nas imagens do grupo “Corpos” é possível perceber melhor as relações entre as bailarinas e o espaço, uma vez que estas são retratadas diante do contexto da cidade. O tema central em discussão é o corpo das bailarinas, que está em primeiro plano na composição das imagens e atrai para si os olhares do público. O estilo das imagens remete a ensaios fotográficos, onde os movimentos são planejados e o momento exato da fotografia é calculado para que esta seja capaz de registrar um instante efêmero e específico: o “instante decisivo”. O que importa aqui é este instante, o instante onde a bailarina está no áppice de seus movimentos. Por conta disso percebemos nas imagens movimentos expressivos, que chamam atenção para sua dificuldade de execução, enquanto a cidade aparece como cenário, permitindo que as bailarinas se destaquem em detrimento dela.

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Minhocão, 09/10/2016. Foto: Lucas Jordan Aguiar.

Minhocão, 09/10/2016. Foto: Lucas Jordan Aguiar.

Minhocão, 09/10/2016. Foto: Lucas Jordan Aguiar.


COTIDIANO Para mim, o grupo “Cotidiano” é a síntese da proposta que tinha em mente desde o início deste trabalho. Nele percebemos a importância do espaço, da arquitetura e da população para a composição das imagens. Nessas imagens o contexto tem uma importância ainda maior que as próprias bailarinas e seus movimentos. As relações entre o corpo e a cidade são claras e as bailarinas parecem inseridas em seu cenário urbano e cultural. Além disso, podemos perceber a interação entre os cidadãos e as bailarinas, interação essa que se dá de diferentes maneiras dependendo da situação e do momento registrado. Acredito que tais imagens sejam aquelas que retratam melhor as sensações de curiosidade das bailarinas ao agir dessa forma em meio à cidade e a reação do público ao ver alguém que, de repente, começa a dançar. É como se as cenas criadas fizessem parte do cotidiano de uma cidade que é resultado das ações de seus usuários e, por conta disso, repleta de surpresas. A cidade se transforma à medida que bailarinas e pedestres tornam-se os elementos responsáveis pela conformação de seus cenários urbanos.

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Estação da Luz, 06/10/2016. Foto: Yve Louise C. de Mendonça.

Estação da Luz, 06/10/2016. Foto: Yve Louise C. de Mendonça.

Estação da Luz, 06/10/2016. Foto: Yve Louise C. de Mendonça.


projeto 80


Acredito que já tenha ficado claro ao longo deste caderno que o meu trabalho gira em torno de um processo experimental, que privilegia as sensações e experiências proporcionadas por ele. O que realmente importa são as oportunidades geradas e as impressões daqueles que participaram, sejam fotógrafos, bailarinos, pedestres, telespectadores ou colaboradores. Existiu uma busca constante pela integração entre todos os elementos do projeto, especialmente entre as pessoas e o espaço público. Além disso, coube também uma tentativa de entender quais sensações e sentimentos foram despertados em mim e como eles influenciaram as minhas percepções sobre o espaço público e o direito à cidade, do ponto de vista da arquitetura, da dança e também da fotografia. Diante disso, o conceito da exposição não poderia ser diferente: a ideia é que ela fosse projetada de modo a focar nas sensações e percepções dos usuários, pensando em suas relações, reações e atitudes dentro dela. Não se tratava da busca por um projeto elitizado ou voltado para um público específico, mas sim de uma exposição que pudesse ser interessante para todos os públicos, fossem profissionais e amantes de arte, da dança ou da arquitetura, ou até mesmo o público leigo.

Piso do Museu, FAU USP, 2016. Foto: Larissa Gonçalez Delanez.

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Pensando nisso, assumi que os espaços seriam organizados de modo a permitir a liberdade de ação e a movimentação entre os seus elementos, com caminhos fluidos e não compulsórios, possibilitando ao público percorrer a exposição como julgasse mais adequado. A intenção foi aproximar o projeto expográfico do mundo da dança, não considerando apenas as relações entre as imagens e o olhar do espectador, como também as relações entre seu corpo e os cheios e vazios criados pela expografia proposta. Fugindo da ideia de uma circulação pré-definida e formal, a ideia foi permitir um “caminhar errático”, como defende o curador Eder Chiodetto. Dessa forma, o público estaria livre para criar seus percursos da maneira como desejasse, tornando-se responsável pela sua própria percepção do espaço. Enquanto isso, eu, como curadora e propositora, não poderia fazer mais que direcionar o seu olhar em momentos que julgasse necessário ou estimular algumas sensações, como defende Eder (2013, p.74): Estimular o espectador a se afastar para ver uma obra em grande escala, se aproximar para ver outra ao lado em escala bem menor, dobrar uma esquina sem saber o que encontrará do outro lado da sala, por exemplo, ajuda a tirá-lo da inércia e a envolvê-lo para que interaja com o conteúdo exposto.

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Com isso, pretendia instigar os visitantes a entender a exposição à sua maneira, produzindo sensações e experiências particulares e únicas. Acreditando ainda que os responsáveis pela conformação dos espaços são as pessoas, esperava que assim fossem criados espaços distintos dentro da exposição, particulares de cada visitante, de modo que ela ganharia uma característica introspectiva, que levaria o público a compreendê-la através de suas próprias experiências. Isso se assemelha à ideia proposta por Eder Chiodetto (2013, p. 73) quando propõe suas exposições: Entre outros fatores, gosto de pensar na circulação das pessoas pelo espaço expositivo, ou, como costumo dizer para os arquitetos que trabalham comigo, a “coreografia” que a disposição das obras e das paredes expositivas vai levar as pessoas a criar no espaço.

Nesse ponto, tenho a sensação de que cada visitante atuaria como se fosse o coreógrafo de seu próprio corpo, elaborando através de seus movimentos uma “dança”, que transformaria a exposição em infinitos “espaços coreografados”. Acredito que a todo momento e a cada movimento que realizamos, somos responsáveis por conformar e transformar os espaços pelos quais passamos, deixando neles as nossas marcas. Assim como os bailarinos produziram seus espaços coreografados pelas ruas da cidade e experimentaram cada cm² dela

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a sua própria maneira, cabe agora a cada um que visitar a exposição produzir um espaço coreografado ímpar e singular, que não pertence a ninguém que não ele mesmo. Fica claro então que este trabalho não teve a intenção de transformar o espaço escolhido para a montagem da exposição em uma galeria de arte ou em um museu, onde ainda temos que lidar com a presença de um intenso “elitismo social”, como afirma o curador e crítico de arte Nicolas Bourriaud. A proposta do projeto foi ir contra o elitismo, evitando a criação de espaços exclusivos e caros, que isolam lotes do espaço e expõe as obras de modo que se assemelhem a joias preciosas ou produtos, transformando estética em comércio e fazendo com que a arte se torne inacessível. A ideia aqui foi exatamente o oposto disso: criar uma linguagem compreensível e acessível, que alcançasse a atenção das pessoas por sua simplicidade. Logo, elaborei uma produção preocupada com a interatividade do público e com as relações entre obra, espaço social e expectador, tendo como premissa a manutenção de todos no mesmo patamar de importância. Como diria Nicolas Bourriaud (2008, p.19) em seu livro Estética Relacional, trata-se da produção de uma “arte relacional”, que busca as interações humanas e seu contexto social.

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Nesse contexto, considerei a FAU o cenário ideal para a viabilização da proposta, uma vez que todo o seu projeto arquitetônico foi pensado de modo a privilegiar os encontros, a troca de conhecimentos, a experiência e a relação entre os usuários e o edifício. O edifício da escola favorece a liberdade de expressão e uma variedade de usos imensa, dando total abertura para que os usuários se apropriem dele das mais diversas maneiras. Portanto, é o local ideal para a realização de uma exposição que privilegia as diferentes possibilidades de apropriação e uso dos espaços e o encontro entre o observador e a arte.

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ESTUDOS PRELIMINARES Antes de mais nada, foi necessário definir e compreender o espaço escolhido para a exposição, uma vez que a FAU é repleta de ambientes interessantes e que poderiam ser usados para tal fim. Levando em conta o espaço disponível, o pé direito e os usos dos diferentes espaços do edifício, decidi realizar as análises estruturais e práticas levando em conta que a exposição deveria acontecer no piso do Museu. Além das questões práticas, não podemos esquecer que ele está em uma área de passagem e convívio dos estudantes, onde há um grande fluxo de pessoas e uma forte interação entre os usuários, característica que buscava. Depois de definido o local da exposição, era necessário compreender suas características e seu funcionamento. Para tal, realizei alguns estudos de fluxo e análises dos usos de cada espaço disponível no piso do Museu. A partir daí, foi possível escolher o local onde seria realizado o projeto. Ficou claro que aquele era um local de encontro e manifestações, onde costumam ocorrer reuniões, assembleias, palestras, rodas de conversa e debates entre estudantes, professores e funcionários. Ou seja, trata-se de um espaço ocupado naturalmente, principalmente pelos estudantes, e que possui condições que instigam e convidam ao uso e apropriação de diversas maneiras distintas.

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Coqui de estudo dos fluxos e usos do piso do Museu.


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1

5

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N

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EXPOSITORES Antes de iniciar o projeto da exposição, me dediquei às questões estruturais e práticas que poderiam limitar minhas possibilidades. Buscando um caminho, decidi me debruçar sobre a realização de testes e estudos sobre os expositores. Para isso, me baseei na concepção de que as estruturas deveriam ser leves e discretas, interferindo o mínimo possível nas imagens. O que eu pretendia era passar a ideia de que as fotografias estavam soltas, flutuando no espaço, como fazem os bailarinos que refletem a leveza enquanto dançam, transmitindo uma reconfortante sensação de fluidez. Então desenvolvi modelos de estudo baseados em certas propostas de projeto. Através deles testei diferentes possibilidades para a construção dos expositores em madeira e busquei uma solução na qual quase não houvesse interferência do layout dos expositores nas imagens. Contudo, depois da realização de diversos testes, conclui que talvez essa não fosse a maneira mais adequada de dispor as imagens. Percebi que as estruturas que propus não eram capazes de transmitir a leveza pretendida, uma vez que eram muito altas e esbeltas e acabavam passando a sensação de instabilidade e desconforto, exatamente o oposto do que pretendia. Além disso, por se tratar de expositores de chão a sensação de leveza se perdia por conta do ruído causado pelas ripas de madeira no entorno das imagens.

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fotos dos modelos

Primeiros modelos desenvolvidos para estudo de viabilidade da proposta.

Tentativa de melhoria da estabilidade dos expositores por travamentos.

Mais algumas soluçþes testadas para resolver a estabilidade da estrutura.


Durante conversas e discussões, a ideia de pendurar as imagens de modo que elas de fato flutuassem no espaço pareceu a mais adequada. Para isso o piso do museu era o local realmente ideal para a montagem da exposição, uma vez que possui trilhos de iluminação onde seria possível fixar as imagens. Caberia agora testar a viabilidade de pendurá-las e pensar a maneira mais apropriada para isso, evitando que a sensação de leveza fosse perdida. A ideia de construir as estruturas em madeira se manteve, uma vez que assim seria mais fácil fixar as imagens e garantir sua conservação e a estabilidade da estrutura. Como solução para a questão da leveza, optei pelo uso de fios de nylon, que acabam se tornando praticamente invisíveis de longe e passam a sensação de que as estruturas estão soltas no local. Depois de tomadas as primeiras decisões, construí alguns exemplares e realizei um teste de viabilidade. Como deveria fixar as imagens em uma estrutura já existente no edifício, era importante verificar se isso era mesmo possível, para então pensar na conformação do layout da exposição de acordo com as limitações impostas por esse fato. Como os trilhos possuem uma distância considerável entre eles (2,92m), fui em busca de uma solução para que pudesse ter imagens também

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Corte da madeira nas dimensões adequadas para a produção das molduras.

Modelos devivamente colados, prontos para serem lixados e pintados.

Início do processo de pintura dos expositores, depois de lixados.


nos pontos onde não existiam trilhos. Os testes foram muito bem sucedidos e, para resolver o problema citado, utilizei fios de arame fino para realizar a conexão entre trilhos, o que me permitiria alocar imagens em todas as direções sem maiores restrições técnicas. Pensando ainda do ponto de vista visual e estético, decidi que seria mais interessante pintar as estruturas de preto e transforma-las em uma estrutura aparentemente “maciça”, fechando o seu verso também com papel preto. Com isso, não temos conflito de cores e ideias entre as fotos e os expositores, o que poderia acontecer caso mantivesse as estruturas em madeira.

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Processo de colagem das folhas pretas no verso da estrutura.

Exemplo do verso de um expositor.

Exemplo da parte frontal do expositor, onde foram coladas as imagens.


ENSAIOS PROJETUAIS Após a definição da estrutura dos expositores, ficou mais fácil debruçar-me sobre o conceito e a proposta do projeto. Para a produção dos desenhos, me baseei nos conceitos já apresentados, em uma tentativa de instigar a vontade dos espectadores de caminhar pelos cheios e vazios criados pelas imagens, deixando-os livres para desenhar seus próprios percursos. Tomando como base os estudos de fluxo realizados anteriormente e as características do piso do museu, foram elaborados os primeiros croquis e estudos volumétricos que levariam à solução final do projeto expositivo. Nesta etapa foram testadas diversas possibilidades de disposição das imagens, evitando conformações clássicas e tradicionais e buscando o equilíbrio entre a ordem criada pelo projeto e a liberdade de ação e deslocamento que ele deveria permitir. Diante das tentativas, ficou claro que seria mais adequado organizar as imagens de modo a criar núcleos temáticos baseados em sua divisão nos grupos anunciados anteriormente. Sendo assim, as propostas mais adequadas foram aquelas em que as imagens se organizavam de modo a formar três grandes núcleos a partir da disposição do layout expositivo. Acredito que a compreensão da proposta central pelo público seja facilitada pela utilização desses núcleos, que permitem uma melhor visualização das diferentes formas de relação entre o bailarino e o espaço.

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Ao longo de discussões e análises com a orientadora do projeto, surgiu a ideia de realizar uma performance de dança como forma de simbolizar a abertura da exposição. De acordo com toda a metodologia de trabalho já apresentada, pareceu evidente que esta deveria acontecer de modo que a coreografia se integrasse à expografia proposta. Pensando nisso, esforcei-me para que a conformação das imagens fizesse sentido diante do contexto da coreografia de modo a funcionar como um “cenário” da mesma. Portanto, o layout proposto se volta para a área da performance à medida que deixa livre uma área central, como se a expografia abraçasse o “palco” da coreografia. Pensando ainda nos usos do piso do Museu, escolhi voltar a performance para o Salão Caramelo, uma vez que a maioria das pessoas chegaria até lá vindo desse sentido pelas rampas ou escadas, entendendo esta vista como a vista frontal da exposição e a performance como um primeiro convite para adentrar e conhecê-la melhor. No dia da abertura da exposição, o público e os membros da banca poderiam se reunir em frente ao local da performance, como também assistí-la de outros pontos do piso do Museu, tendo suas próprias impressões e pontos de vista sobre o conjunto do trabalho.

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BANCA 0

1

5

10

N


Depois de realizar diversos estudos, análises, esboços e modelos, foi definida a proposta final para conformação do layout da exposição, levando em conta todos os aspectos, pré-requisitos e limitações enunciados anteriormente. O projeto proposto cria ambientes definidos através de três linhas de força principais e de um forte fechamento da passagem com uma linha central. No entanto, o layout não demarca um caminho obrigatório a ser seguido e permite a livre circulação pelo espaço, estimulando o público a sair do automatismo e a tomar suas próprias decisões quanto ao percurso. Para possibilitar a criação desses três ambientes, as imagens foram organizadas de acordo com seus grupos temáticos (Contornos, Corpos e Cotidiano), de modo a criar três diferentes núcleos na exposição. Dessa maneira, a organização das imagens apresenta a narrativa da proposta e a sinopse de suas informações. Além disso, a disposição do layout e a distância entre seus elementos possibilita o deslocamento entre os expositores, permitindo a construção de percursos espontâneos dentro de um mesmo grupo de imagens ou entre os diferentes núcleos, sem que exista uma ordem preestabelecida. Diante disso, é favorecida a liberdade de movimento e a criação de uma circulação fluida.

Conformação do layout pensada para a realização da performance de dança.

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Dentro dos núcleos foi pensada a relação entre as imagens, distribuindo-as de forma harmoniosa e construindo um diálogo interno relacionado à composição, atmosfera, causa, efeito ou cor das fotografias que compõem cada um. Cada núcleo de imagens encontra-se voltado para uma direção distinta, de modo que quando a exposição é vista de longe ou de diferentes pontos do Museu, as imagens de determinado núcleo se intercalam com as telas pretas do verso das imagens dos outros núcleos. As interrupções geradas por essas telas acabam funcionando como um convite ao público, uma vez que mantém um certo mistério sobre uma porção do conteúdo da exposição e instigam a curiosidade dos espectadores, despertando neles o interesse em se aproximar para conhecer mais a fundo o conteúdo que ali está. Para acentuar tais características, as imagens foram dispostas em diferentes alturas (alinhando a parte mais alta da imagem a 1,60m ou 1,70m do chão), criando uma sensação de inconstância que atrai a atenção do público. Através dessa “incompletude”, estimula os movimentos dos espectadores pelo espaço, evitando que a experiência da exposição se torne cansativa.

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Posição e orientação das imagens com relação aos expositores.


0

1

2

N


A diferença de alturas entre as imagens criam também a sensação de que os espaços não são monocórdicos ou contínuos, uma vez que produz quebras e retomadas que provocam o olhar crítico dos espectadores e influenciam seu deslocamento. Tal disposição foi viabilizada pela existência dos trilhos de iluminação, onde as imagens foram fixadas. A escolha pela utilização das imagens em dois tamanhos distintos também está relacionada a isso, uma vez que o posicionamento de imagens de diferentes tamanhos próximas umas das outras faz com que o espectador precise se movimentar, estimulando-o a se aproximar ou se afastar para melhor compreender o conteúdo das imagens. Isso também instiga a construção de caminhos próprios e particulares e permite a criação de hiatos entre as imagens, que funcionam como um respiro ao longo dos percursos.

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Planta da exposição: detalhes e cotas.


CONTORNOS 1,72 1,72

CORPOS

2,92

2,92

COTIDIANO TRILHOS DE ILUMINAÇÃO 11

0

1

5

10

101

N


DEMARCACÃO DO CORTE AA

A

A

0

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2 0

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0.5

Corte geral- Disposição das imagens.

1



DEMARCACÃO DO CORTE BB B

B

0

1

2 0

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0.5

1

Detalhe 1 - Imagens do grupo “Corpos”.



GRUPO “CORPOS” - IMAGENS UTILIZADAS Reunião das imagens da exposição utilizadas no grupo “Corpos” e apresentadas anteriormente no corte BB. Foram selecionadas nove imagens a serem expostas no padrão de 45x30 cm e três trios de imagens padronizadas em 22,5x15 cm, conforme apresentadas a seguir.

Avenida Paulista Foto: Lucas Jordan Aguiar


Minhocão. Foto: Larissa Gonçalez Delanez..

Minhocão. Foto: Larissa Gonçalez Delanez..

Minhocão. Foto: Larissa Gonçalez Delanez..


Estação da Luz. Foto: Yve Louise C. de Mendonça.

Estação Chácara Klabin. Foto: Lucas Jordan Aguiar


Estação da Luz. Foto: Yve Louise C. de Mendonça.

Minhocão. Foto: Lucas Jordan Aguiar


MinhocĂŁo. Fotos: Bruno Felfoldi.

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MinhocĂŁo. Foto: Bruno Felfoldi

MinhocĂŁo. Foto: Bruno Felfoldi


Avenida Paulista Foto: Larissa Gonรงalez Delanez

Avenida Paulista Foto: Lucas Jordan Aguiar


Avenida Paulista. Fotos: Lucas Jordan Aguiar.

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DEMARCACÃO DO CORTE CC

C

C

0

1

2 0

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0.5

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Detalhe 2 - Imagens do grupo “Cotidiano”.



GRUPO “COTIDIANO” - IMAGENS UTILIZADAS Reunião das imagens da exposição utilizadas no grupo “Cotidiano” e apresentadas anteriormente no corte CC. Foram selecionadas quatro imagens a serem expostas no padrão de 45x30 cm e quatro trios de imagens padronizadas em 22,5x15 cm, conforme apresentadas a seguir.

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Estação da Luz. Foto: Yve Louise C. de Mendonça.

Estação da Luz. Foto: Yve Louise C. de Mendonça.

Estação da Luz. Foto: Yve Louise C. de Mendonça.


Centro histórico Foto: Yve Louise C. de Mendonça.

Centro histórico Foto: Yve Louise C. de Mendonça.

Centro histórico Foto: Yve Louise C. de Mendonça.


Viaduto Santa Ifigênia Foto: Yve Louise C. de Mendonça.

Viaduto Santa Ifigênia Foto: Yve Louise C. de Mendonça.

Viaduto Santa Ifigênia Foto: Yve Louise C. de Mendonça.


Estação da Luz. Foto: Yve Louise C. de Mendonça.

Minhocão. Foto: Lucas Jordan Aguiar


Centro histรณrico. Foto: Yve Louise C. de Mendonรงa.

Shopping Light. Foto: Yve Louise C. de Mendonรงa.


MinhocĂŁo. Fotos: Bruno Felfoldi

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DEMARCACÃO DO CORTE DD D

D

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2 0

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0.5

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Detalhe 3 - Imagens do grupo “Contornos”.


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GRUPO “CONTORNOS” - IMAGENS UTILIZADAS Reunião das imagens da exposição utilizadas no grupo “Contornos” e apresentadas anteriormente no corte DD. Foram selecionadas quatro imagens a serem expostas no padrão de 45x30 cm e um trio de imagens padronizadas em 22,5x15 cm, conforme apresentadas a seguir.

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Largo de São Bento Foto: Yve Louise C. de Mendonça.

Largo de São Bento Foto: Yve Louise C. de Mendonça.

Largo de São Bento Foto: Yve Louise C. de Mendonça.


Minhocรฃo. Foto: Lucas Jordan Aguiar.

Avenida Paulista. Foto: Larissa Gonรงalez Delanez.


Avenida Paulista. Foto: Maria Beatriz Alves de Souza.

Avenida Paulista. Foto: Maria Beatriz Alves de Souza.


PRODUCÃO GRÁFICA Para a apresentação da exposição, foram produzidos um cartaz de divulgação e um folder, que deverá ser entregue durante a exposição. Eles foram pensados paralelamente, visando a criação de uma identidade visual que fosse comum a todos os elementos da exposição, como também ao presente caderno. O cartaz foi responsável pela divulgação da exposição, contendo suas informações práticas, como local e data. Além disso, ele está presente na exposição junto de uma breve explicação sobre a proposta, cumprindo duas importantes funções: indicar o local de início da exposição no piso do Museu e dar uma breve explicação sobre as imagens ali apresentadas. Sua função elucidativa cumpre, portanto, de forma concomitante, o objetivo de convidar e informar. Para o seu desenvolvimento, foi utilizada uma das imagens utilizadas na exposição. Contudo, a intenção era que ele não apresentasse imediatamente todo o conceito por trás da proposta das imagens, de modo que mantivesse ainda um certo mistério sobre seu conteúdo. Optei assim por cortar uma das fotografias e utilizar apenas parte dela, em que não é possível compreender toda a cena e vê-se apenas a sombra de um corpo, o que define perfeitamente o conteúdo das imagens do grupo “Contornos”.

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Cartaz proposto para a exposição


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O folder deve ser entregue ao público no dia da exposição, e nele são apresentadas algumas das imagens presentes na exposição e uma breve explicação sobre a dança e sobre a proposta. O papel do folder vai além de seu caráter de divulgação, já que são agregadas a ele funções informativas e explicativas, dando ao público uma primeira ideia sobre o conteúdo da exposição e sobre a temática abordada. As suas imagens foram escolhidas de acordo com suas características temática e cromática, buscando um equilíbrio visual proporcionado pela organização do seu layout. Quanto a isso, foram escolhidas imagens dos três grupos temáticos: “Contornos”, “Corpos” e “Cotidiano”. Além disso, a forma de apresentação das imagens também faz referência à maneira como elas são dispostas na exposição, sendo apresentadas em trios ou individualmente. A imagem da capa é a mesma utilizada no cartaz, porém, completa, uma vez que revela também o corpo da bailarina e não apenas sua sombra. Na primeira página é apresentado um pequeno texto que fala sobre a dança e as suas nuances e capacidades de alcance. Então, são apresentadas algumas das imagens presentes na exposição, de modo a criar uma espécie de mosaico. Depois da última abertura, vemos um pequeno texto que explica, em linhas gerais, a proposta da exposição.

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14/12/2016 às 19:30 piso do museu - fau usp rua do lago, 876, BUTANTÃ

Folheto aberto: capa, verso e aba interna.

LARISSA G.DELANEZ

espacos

coreografados

Há situações, é claro, que te deixam absolutamente sem palavras. Tudo que você pode fazer é insinuar. As palavras também não podem fazer mais do que apenas evocar as coisas. É aí que vem a dança. (BAUSCH, Pina)

14/12/2016 às 19:30 piso do museu - fau usp rua do lago, 876, BUTANTÃ

LARISSA G.DELANEZ

espacos

coreografados

Capa do folheto

Há situações, é claro, que te deixam absolutamente sem palavras. Tudo que você pode fazer é insinuar. As palavras também não podem fazer mais do que apenas evocar as coisas. É aí que vem a dança. (BAUSCH, Pina)

Além de uma forma de arte extremamente versátil e popular, a dança é também um meio de comunicação não verbal de longo alcance, capaz de extravasar sentimentos intuitivos e inconscientes, inacessíveis à expressão verbal. O corpo transborda sensações e ideias, permitindo que os bailarinos contem através de seus movimentos suas histórias, desejos e inquietações. Como nos afirma Pina Bausch, a dança é capaz de mostrar aquilo que as palavras não são capazes de dizer!

Além de uma forma de arte extremamente versátil e popular, a dança é também um meio de comunicação não verbal de longo alcance, capaz de extravasar sentimentos intuitivos e inconscientes, inacessíveis à expressão verbal. O corpo transborda sensações e ideias, permitindo que os bailarinos contem através de seus movimentos suas histórias, desejos e inquietações. Como nos afirma Pina Bausch, a dança é capaz de mostrar aquilo que as palavras não são capazes de dizer!

Capa aberta com a aba interna fechada: texto sobre dança e imagens do grupo “Corpos”. A intenção da exposição Espaços Coreografados é aproximar o público desse mundo único e particular e mostrar a magia que o envolve através de uma nova perspectiva. Essa temática é abordada de modo a priorizar a análise e obervação das relações existentes entre dança e cidade, corpo e espaços públicos, levando em consideração a ideia de que são as pessoas e suas ações as responsáveis pela conformação dos espaços. Portanto, foi produzido um acervo de imagens que retratam diferentes formas de interação entre as bailarinas, os espaços públicos e a população da cidade de São Paulo. Para total compreeção da proposta, vale a pena vivenciar a experiência que somente a exposição pode proporcionar!

Abertura da capa e da aba central: imagens dos grupos “Contornos”, “Corpos” e “Cotidiano” e texto informativo sobre a exposição.

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PRODUCÃO E MONTAGEM Para viabilizar a exposição, foi necessário construir as estruturas onde as fotos seriam expostas. Esse processo se iniciou paralelamente à etapa de projeto, sendo que as possibilidades de montagem eram testadas de acordo com as decisões tomadas quanto às imagens e sua disposição. O primeiro passo foi escolher os materiais para a realização dos primeiros testes, pensando em sua versatilidade e capacidade de funcionar de acordo com as ideias. Então, foram definidas as dimensões da estrutura, baseadas nas imagens impressas. Foram definidos dois modelos de expositores, um para as imagens de 45x30 cm, que estariam dispostas individualmente, e outro para as imagens de 22,5x15 cm, que seriam organizadas sempre em grupos de três imagens (dentro de uma mesma temática e composição fotográfica). Pensando nisso, foram escolhidas as dimensões da madeira, que tem 1,5 x 1,5 cm de espessura. Definidas as dimensões e quantidades, foi possível iniciar a produção dos expositores. Todo o material foi cortado de acordo com essas predefinições (sendo as madeiras da moldura maior de 45x27 cm e as da menor de 22,5 x12cm, descontando os 0,3 cm da espessura da madeira). Tendo isso em mãos, iniciou-se o processo de colagem, utilizando inicial-

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mente apenas a cola de contato. Contudo, ao avaliar os resultados, pareceu prudente acrescentar um prego à estrutura para garantir a fixação e a estabilidade das molduras. Depois de montadas, as lixei e coloquei as argolas por onde são sustentadas pelo fio de nylon e, então, todas foram pintadas de preto, como proposto no projeto. Para realizar a vedação do verso da moldura, foi utilizado papel color set preto. No outro lado da moldura, foi colado o papel craft para que as imagens fossem fixadas nele com dupla-face, evitando possíveis danos à fotografia no momento da fixação. Isso feito, foi necessário apenas fixar as imagens com todo o cuidado devido. Quanto à impressão das imagens, foi realizada em uma galeria de artes, especializada na produção de material para exposições. Nesta galeria é utilizada a técnica de impressão giclée sobre papeis Fine Art, que confere uma alta qualidade às impressões. Depois da realização de algumas provas, optei pelo uso do papel fotográfico CANSON® IMAGING photo matte, 200g em alfa-celulose. A qualidade do papel e dos equipamentos garante que a cor impressa seja fiel à da cópia digital, facilitando assim o processo de edição das imagens.

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performance 138


Como comentado anteriormente, a ideia de realizar uma performance no dia da banca pareceu ideal como forma de amarrar as temáticas abordadas por este projeto. A coreografia simboliza a abertura da exposição e deve ocorrer como forma de introduzir o público ao contexto deste TFG, uma vez que expõe algumas das relações que foram tão comentadas ao longo do trabalho. Ao contrapor o corpo das bailarinas e o espaço expositivo, a performance traz à exposição um exemplo vivo da integração que existe entre o corpo em movimento e os espaços e deixa claro o poder de influência e transformação que um tem sobre o outro. A coreografia é de autoria da bailarina e coreógrafa Maitê Parra Molnar, que gentilmente cedeu sua obra para que eu pudesse usá-la em meu projeto. A mesma intitula-se “Satori”, que significa, no budismo, iluminação. Ela fala sobre as luzes duradouras que existem dentro de nós mesmos, as luzes do conhecimento e da consciência. Trata da constante busca das pessoas por uma felicidade eterna e suprema e da maneira como nós, bailarinas, encontramos traços dessa felicidade através das artes e especialmente da dança. Cada um tem sua maneira particular e única de buscar a felicidade e, para mim, a dança é um destes caminhos.

Frame da coreografia “Satori”, 2016. Filmagem: Rosa M. Gonçalez Delanez.

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Da mesma maneira que busco minha felicidade e plenitude na dança, o faço na arquitetura, buscando sempre encontrar novas possibilidades de atuação e maneiras de compreender o papel do arquiteto, como fiz ao longo deste trabalho. Por conta disso, me pareceu tão importante concluir essa proposta com a união dos dois mundos que regiram o presente trabalho: reunir dança e arquitetura era a maneira ideal para realizar o fechamento desta etapa do projeto. Com relação à performance, acredito que ela proporciona experiências únicas e muito interessantes tanto aos espectadores quanto às bailarinas, como ocorre em todos os espetáculos de dança que assistimos. Ou ainda, como afirma Pina Bausch [9]: [...] O que é bonito sobre encenar um espetáculo é que cada performance é diferente da outra. Ela nunca pode ser repetida novamente, sempre será única. E eu acredito que público e dançarinos são apenas uma coisa, por isso adoro performances ao vivo. Ao mesmo tempo, é sempre um recomeço. Depois que fazemos com que ela tenha acontecido, precisamos conseguir torná-la viva novamente no dia seguinte. Uma vez feita, há sempre que recomeçar.

Independentemente da quantidade de vezes que tenhamos ensaiado ou encenado uma coreografia, as experiências e resultados são sempre únicos, especialmente quando se trata de uma situação atípica.

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[9] Em entrevista concedda a Fábio Cypriano, em 2006.


Frame da coreografia “Satori”, 2016. Filmagem: Rosa M. Gonçalez Delanez.

Frame da coreografia “Satori”, 2016. Filmagem: Rosa M. Gonçalez Delanez.

Frame da coreografia “Satori”, 2016. Filmagem: Rosa M. Gonçalez Delanez.


Frame da coreografia “Satori”, 2016. Filmagem: Rosa M. Gonçalez Delanez.

Frame da coreografia “Satori”, 2016. Filmagem: Rosa M. Gonçalez Delanez.

Frame da coreografia “Satori”, 2016. Filmagem: Rosa M. Gonçalez Delanez.


Ao longo do meu processo de trabalho percebi como é interessante sair da rotina e dançar em diferentes locais, mesmo quando não são ambientes destinados a isso. Portanto, mais uma vez me aproprio de espaços não destinados à dança e os utilizo como palco de uma performance. Dessa vez o cenário escolhido é a escola que fez parte do meu cotidiano e da minha história durante os últimos anos. Mesmo sabendo que a performance sinaliza a finalização desta etapa da proposta, não tenho dúvidas de que este trabalho não termina aqui, pois acredito que os trabalhos de pesquisa fazem parte de um processo de construção constante. Além disso, sei que a dança e a arquitetura não são formas de arte estáticas e estão sempre em transformação e, por conta disso, os resultados desta pesquisa foram diretamente influenciados pelo momento que vivemos e pelas minhas próprias experiências, podendo sofrer alterações mais adiante. Da mesma maneira, a dinâmica e o movimento presentes na performance testificam a atemporalidade do espaço urbano e a efemeridade de todos os processos humanos. Portanto, concluo o presente trabalho expressando o meu desejo de que o mesmo continue gerando frutos e inspirando as pessoas a se envolverem com a dança, a fotografia e, sobretudo, a arquitetura.

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bibliografia 144


BIBLIOGRAFIA BÁSICA BAUSCH, Pina. Pina Bausch equilibra a tristeza do mundo. Entrevista concedida a Fábio Cypriano. São Paulo: Folha de São Paulo, Ilustrada 50 anos, 03 ago. 2006. Disponível em: < http://www1.folha.uol.com. br/fsp/ilustrad/fq0308200607.htm>. Acesso em: 10 jun. 2016. CALDEIRA, Solange Pimentel. A Cidade-Personagem: Pina Bausch e Ítalo Calvino. Revista de C. Humanas, Vol. 7, Nº 2, p. 147-162, Jul./ Dez. 2007. CARTIER-BRESSON, Henri. Henri Cartier-Bresson: ‘There Are No Maybes’. Entrevista concedida a Sheila Turner-Seed em 1971. Tradução livre. In: Lens Blog, The New York Times, 21 jun. 2013. Disponível em: <http://lens.blogs.nytimes.com/2013/06/21/cartier-bresson-there-are-no-maybes/?_r=1>. Acesso em: 05 nov. 2016. CHIODETTO, Eder. Curadoria em fotografia: da pesquisa à exposição. São Paulo: Prata Design, 2013. CYPRIANO, Fabio. Entrevista com Pina Bausch. Revista BRAVO!, 14 ago. 2010. Disponível em < http://poeticasteatrais.blogspot.com. br/2010/08/entrevista-com-pina-bausch.html>. Acesso em: 7 jun. 2016.

Vista para Biblioteca da FAU USP, 2016. Foto: Larissa Gonçalez Delanez.

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