JORNADAS [ CENTRO DE INTEGRAÇÃO DO MIGRANTE ] TCC Arquitetura

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DA SERRA GAÚCHA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

[ JORNadas ] ~

CENTRO DE INTEGRAÇAO DO MIGRANTE

PESQUISA EM AU 2018/1

LARISSA KANOPP DA SILVA PROFESSORA: PROFª. Ma. Giovana Santini



Hoje EU Muito longe de casa Abraço outra cultura Vivo, Me movimento, Como, Bebo: Tudo é diferente. ~

AmanhA VOCÊ Pode abraçar outra cultura ~ Por decisAo própria ou por falta de escolha ~ EntAo você irá Viver, Se movimentar, Comer, Beber: Tudo vai ser diferente. Somos todos estrangeiros ~ Hoje eu, ontem outro, amanhA você, talvez: ~ CidadAos deste mundo SOMOS TODOS ESTRANGEIROS, Mineirinha n’Alemanha



[ AGRADECIMENTOS ] Agradeço primeiramente a Deus, o arquiteto do universo, por ter me permitido sonhar e depois por me dar forças para realizar. Aos meus pais, Dirceu e Fátima, primeiros professores da vida, que junto a mim sonharam e enfrentaram junto o caminho para chegar até aqui. Obrigada por todo o amor e carinho, por todas as vezes em que me escutaram, se preocuparam, prepararam as refeições para que eu não ficasse sem comer nas semanas de entrega de projeto e principalmente por serem meu porto seguro quando tudo parecia desabar. Nenhuma palavra será suficiente para descrever o meu agradecimento a vocês. A minha irmã e melhor amiga, Letícia, que divide a estrada da vida comigo e que nunca mediu esforços em estar presente. Obrigada por sempre acreditar em mim, me fazer rir quando o que queria era chorar e me acompanhar em todas as etapas até aqui. Ao meu namorado e companheiro de todas as horas, William, por toda a paciência e compreensão ao longo desse tempo, por todo seu carinho, amor e dedicação e por sempre entender a minha frequente ausência. A todos os professores que passaram por minha vida, em especial a Giovana Santini e Leonardo Giovenardi, por dividirem sua saberia e intelecto, acreditando em mim e me fazendo crescer cada dia mais. A Elena e Mauro, por todas as oportunidades ao longo da graduação, apoio e amizade. A todos os familiares, amigos e colegas, que entenderam os momentos ausentes e que de alguma forma auxiliaram na realização deste trabalho.

[ À todos, meu sincero, muito obrigada! ]


[ RESUMO ] Em meio a uma das maiores crises da migração mundial, ocorrida devido a inúmeros fatores, como depressão financeira, guerras e desastres ambientais, o Brasil tornou-se uma rota para aqueles que desejam ter a chance de uma vida melhor, visto a sua política favorável de entrada no território. Ainda, dentro do próprio país, o número de deslocados em razão dos mesmos motivos, vem crescendo e se tornando um problema social. Caxias do Sul, mais especificamente, possui uma grande demanda de migrantes, uma vez que sua economia é voltada para a indústria metal-mecânica e é vista como geradora de empregos. Apesar disso, não possui estrutura suficiente para acolhe-lhos e abrigá-los, deixando algumas brechas em aberto. Por sua vez, o presente trabalho surge como uma resposta as deficiências encontradas, de forma a humanizar o assunto e possibilitar a adaptação dos migrantes. Desta forma, realizou-se uma pesquisa qualitativa (entrevistas), com intenção de atingir um diagnóstico mais preciso, identificando como principal necessidade destes a integração local. Assim, buscou-se um local de inserção que já apresentasse algum elemento que servisse de conexão entre comunidade e migrantes para facilitar o processo, portanto, além da proposição de Centro de Integração do Migrante, propõe-se uma requalificação urbana do local de implantanção a fim de atender o objetivo proposto. Palavras-chave: Migrantes. Comunidade. Integração Local. Requalificação urbana. Conexão.


[ ABSTRACT ] Amidst one of the biggest crises in world migration, due to numerous factors, such as financial depression, wars and environmental disasters, Brazil has become a route for those who wish to have a chance for a better life, given its favorable policy of entry in the territory. Still, within the country itself, the number of people displaced due to the same reasons has been growing and becoming a social problem. Caxias do Sul, more specifically, has a huge demand for migrants, since its economy is turned to the metal-mechanic industry and is seen as a generator of jobs. Despite this, it does not have enough structure to accommodate and shelter them, leaving some breaches open. In turn, the present work emerges as a response to the deficiencies found, in order to humanize the subject and enable the migrant’s adaptation. In this way, a qualitative research (interviews) was carried out, with the intention of reaching a more precise diagnosis, identifying as main need the local integration. Thus, it was sought a place of insertion where already presented some element that would serve as a connection between community and migrants to facilitate the process, therefore, in addiction to the proposal of the Migrants’ Integration Center, it is proposed an urban requalification of the implantation’s place in order to meet the proposed objective.

Keywords: Migrants. Community. Local Integration. Urban Requalification. Conection.


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APRESENTAÇAO

REFERENCIAL TEÓRICO

ANÁLISE DE REFERENCIAIS

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2.1 MIGRACAO CONTEMPORÂNEA...................................................26 ~ 2.2 INTEGRACAO LOCAL..................................................................28 ~ 2.3 A MIGRAçAO EM CAXIAS DO SUL.............................................30 ~ 2.4 BREVE HISTÓRICO DA LEGISLACAO BRASILEIRA.........................32 2.5 REQUALIFICAÇAO DE Praças URBANaS...................................34 2.6 O FUTEBOL COMO AGENTE INTEGRADOR....................................36

3.1 CIC DO IMIGRANtE....................................................................40 3.2 SESC POMPEIA.........................................................................46 3.3 BUD CLARK COMMONS.............................................................52 3.4 QUADRO COMPARATIVO ENTRE REFERÊNCIAS............................58 3.5 CONCLUSOES............................................................................59

1.1 INTRODUÇao.............................................................................14 1.2 PANORAMA GERAL...................................................................15 1.3 AS ANDORINHAS E OS HOMENS MIGRAM..................................16 1.4 CONCEITOS...............................................................................17 1.5 JUSTIFICATIVA DE TEMA E TERRENO..........................................18 1.6 OBJETIVOS..............................................................................22 1.7 METODOLOGIA..........................................................................23

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[ SUMÁRIO ] [4]

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ETAPAS DE PLANEJAMENTO

PARTIDO ARQUITETÔNICO

CONSIDERAÇOES FINAIS

REFERENCIAIS

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4.1 PREMISSAS PARA DEFINIÇAO DO LUGAR...................................62 4.2 LOCALIZAÇAO..........................................................................63 ~ 4.3 EVOLUÇAO URBANA.................................................................64 4.4 INFRAESTRUTURA E EQUIPAMENTOS........................................66 4.5 LEVANTAMENTO FOTOGRÁFICO.................................................68 4.6 USO E OCUPAÇAO DO SOLO......................................................70 4.7 TIPOLOGIAS DE ALTURAS..........................................................72 4.8 HIERARQUIA VIÁRIA E TRANSPORTE PÚBLICO...........................74 4.9 CHEIOS E VAZIOS....................................................................76 4.10 CONDICIONANTES AMBIENTAIS................................................78 4.11 CONDICIONANTES LEGAIS.........................................................79 4.12 ANÁLISE SWOT.......................................................................80 4.13 SÍNTESE DO DIAGNÓSTICO.......................................................80 ~

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5.1 DIRETRIZES PROJETUAIS...........................................................84 ~ 5.2 SETORIZAÇAO..........................................................................85 5.3 programa e pré dimensionamento.....................................86 5.4 ORGANOGRAMA.......................................................................88 5.5 FLUXOGRAMA...........................................................................89 5.6 DIAGRAMA DE PARTIDO ARQUITETÔNICO....................................90 ~ 5.7 IMPLANTAÇAO..........................................................................92 5.8 PLANTAS BAIXAS......................................................................93 5.9 CORTES E TÉCNICAS CONSTRUTIVAS..........................................94 5.10 PERSPECTIVAS.........................................................................96

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6.1 CONSIDERAÇOES FINAIS..........................................................103

REFERENCIAIS.............................................................................106



Figura 01. Fonte: Juan Barbosa.

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[ 1. APRESENTAÇAO ]


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[ 1.1 INTRODUÇAO ] O tema desta Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo, surge a partir de uma reflexão acerca da realidade dos migrantes visto o contexto geopolítico atual que impulsiona a crise da imigração. Devido o controle do acesso a determinados locais estar mais rígido, cidades de médio e grande porte de países como o Brasil, têm sido opções de rota para aqueles que buscam uma vida melhor. Desde os primórdios, o Homem migra em busca de sua sobrevivência, sendo esta prática recorrente até os dias atuais. Contudo, este fato passou a envolver problemas sociais, culturais, políticos e também urbanísticos. Sassen (2016) explica que "as imigrações são criadas, elas não acontecem por acaso". Logo, as políticas e diretrizes tomadas para conduzir o assunto é que determinam a maneira com que o tema se direciona. Assim, surge o papel do Arquiteto e Urbanista perante a problemática citada, visto que devem compreender o fenômeno a fim de observar as consequências que produz no espaço urbano e sua relação com a cidade, utilizando de suas habilidades para auxiliar na resolução destas. Assim, o foco deste trabalho volta-se para os migrantes que procuram a cidade de Caxias do Sul/RS para se estabelecer. A partir da delimitação do assunto a ser trabalhado, tem-se como objetivo o desenvolvimento de um partido arquitetônico para um Centro de Integração do Migrante junto a Requalificação de uma Praça. A proposta de projeto busca englobar algumas das necessidades apontadas como principais para o seu estabelecimento de forma humanizada, integrando-se a comunidade local.

teórico atualizado, com o intuito de analisar a migração contemporânea, além de situar as legislações brasileiras que regem o assunto, para compreender o motivo de o Brasil ter uma grande demanda de pessoas estrangeiras. Na terceira etapa, realizou-se análise de referenciais arquitetônicos, abrangendo programa de necessidades, zoneamento, dimensionamento e soluções arquitetônicas que pudessem vir de encontro com as intenções projetuais da proposição de Centro de Integração do Migrante. No próximo passo, a partir de algumas premissas, definiu-se o terreno que seria implantado a edificação. Desta forma, efetuou-se estudos de entorno, condicionantes legais, ambientais e físicas que seriam de grande importância para as futuras soluções de projeto. Em seguida, segue a etapa de partido arquitetônico, elaborando-se o programa de necessidades através de fluxograma e diagramas, intenções de materialidade e sistema construtivo, diretrizes e estratégias arquitetônicas, juntamente com imagens da maquete eletrônica que ilustram as ideias propostas. Por fim, vale ressaltar que a ideia do trabalho não é a solução do problema, visto que este é muito mais complexo do que a construção de um Centro de Integração para Migrantes. Logo, a pesquisa se apoia na inquietação da autora em mostrar que a Arquitetura e o Urbanismo, muito além da sua ampla definição, pode abordar problemas no âmbito social e auxiliar na melhoria destes através da articulação dos espaços em prol daqueles em situação de vulnerabilidade social.

Para atingir tal objetivo, buscou-se primeiramente contextualizar o assunto, abordando a situação atual dos migrantes em Caxias do Sul e o local no qual possuem apoio. A partir disso, realizou-se entrevistas com diferentes pessoas que trabalham em prol destes, a fim de compreender as suas necessidades e problemas encontrados. Por conseguinte, o embasamento foi realizado a partir de referencial 14


[ 1.2 PANORAMA MUNDIAL ]

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CERCA DE 8,6% da POPULAÇAO MUNDIAL SE ENCONTRA DESLOCADA DO LOCAL DE ORIGEM ~

= 66,5 MILHOES FONTE: ACNUR

NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, O NÚMERO CHEGA A

= 50 MIL FONTE: ACNUR

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NO BRASIL ESSA CONDIÇAO AFETA

= 117,145mil FONTE: ACNUR

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NA CIDADE DE CAXIAS DO SUL 1% DA POPULAÇAO ESTÁ NESSA SITUAÇAO

= 5200 MIL FONTE: POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL

Figura 02: Panorama mundial migração. Fonte: Autora.

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[ 1.3 AS ANDORINHAS e os homens migram ] No sentido amplo, o termo migração é frequentemente utilizado para os movimentos direcionais em massa de um grande número de indivíduos de uma determinada espécie, de uma localidade para a outra (BEGON; HARPER; TOWNSEND, 1990). No caso das andorinhas, a sua migração tem caráter voluntário e periódico, possuindo como objetivo principal a sobrevivência (CASA DOS PASSÁros, 2013). As aves localizadas no hemisfério Sul, migram no inverno para o hemis

fério Norte em busca de comida e sobrevivência. Quando chega o fim da estação e o verão recomeça, retornam para o seu local de origem. Da mesma forma ocorre com as migrações de pessoas, os quais saem de seus países ou cidades em busca de melhores condições de vida, com o intuito de que no “verão” a situação melhore e possam retornar para suas casas. Logo, tanto andorinhas quanto migrantes se deslocam em grupos, com o intuito de se auxiliarem ao longo da viagem.

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[ 1.4 CONCEITOS ] mi.grar. [do latim migrare] v.t.i.i. 1. Mudar (de local, país, cidade, Estado, região etc) com regularidade e de maneira periódica: durante o inverno certas espécies de pássaros migram para o norte.¹ mi.gran.te. adj. s.f.m. 1. Toda pessoa que muda seu lugar de residência para outro por um tempo indeterminado. ¹ i.mi.gran.te. adj. s.f.m. 1. Que ou pessoa que imigra ou imigrou; que ou quem se estabeleceu em país estrangeiro.¹ e.mi.gran.te. adj. s.f.m. 1. Emigrar é o ato de deixar o local de origem (a pátria) com intenção de se estabelecer em um país estranho.¹ re.fu.gi.a.do. adj. s.f.m. 1. Indivíduo que se mudou para um lugar seguro, buscando proteção; 2. Aquele que foi obrigado a sair de sua terra natal por qualquer tipo de perseguição; quem se refugiou; pessoa que busca escapar de um perigo.¹ “Art. 1º Será reconhecido como refugiado todo indivíduo que: I – devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas encontre-se fora de seu país de nacionalidade e não possa ou não queira acolher-se à proteção de tal país; II - não tendo nacionalidade e estando fora do país onde antes teve sua residência habitual, não possa ou não queira regressar a ele, em função das circunstâncias descritas no inciso anterior; III - devido à grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país.” (Lei nº 9.474, de 22 de Julho de 1997)

a.pá.tri.da. adj. s.f.m. 1. Que ou aquele(a) que perdeu a nacionalidade de origem e não adquiriu outra; sem pátria.¹ Figura 03: Imagem aérea Caxias do Sul. Fonte: Soly arena en brasil Blogspot, adap. autora.

e.xi.la.do. adj. s.f.m. 1. Pessoa que, por razões políticas, foi obrigada a deixar sua pátria, seu país: exilado político.¹ Deslocados internos. 1. Pessoas deslocadas dentro de seu próprio país.² Solicitantes de refúgio. 1. Todo imigrante que, tendo formalizado seu pedido de refúgio ao governo brasileiro, aguarda a decisão da sua solicitação.² Imigrantes econômicos 1. Imigrantes que deixam seus países de origem ou residência por razões sobretudo econômicas, como a procura de trabalho.² Imigrantes indocumentados 1. São todos aqueles imigrantes em situação migratória irregular, não dispondo de doumentos que autorizam residência no Brasil.² [ ORGÃOS RESPONSÁVEIS ] ACNUR: O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados é um órgão das Nações Unidas. Criado pela Resolução n.º 428 da Assembleia das Nações Unidas, em 14 de dezembro de 1950, tem como missão dar apoio e proteção a refugiados de todo o mundo. Possui mandato para proteger os refugiados e buscar soluções duradouras para os seus problemas.² CONARE: O Comitê Nacional para os Refugiados é uma comissão interministerial sob o âmbito do Ministério da Justiça, no Brasil. É o organismo público responsável por receber as solicitações de refúgio, e determinar se os solicitantes reúnem as condições necessárias para serem reconhecidos como refugiados. Além disso, cabe a ele a promoção e coordenação de políticas e ações necessárias para uma eficiente proteção e assistência aos refugiados, além do apoio legal. Aprova, ainda, os programas e orçamentos anuais do ACNUR, quando direcionados ao Brasil.³ ¹ Fonte: Dicionário Aurélio Online. ² Fonte: ACNUR. ³ Fonte: CONARE.

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[ 1.5 JUSTIFICATIVA DE TEMA E TERRENO ] Diante dos incontáveis eventos desencadeados a partir da Primavera Arábe¹, o fluxo de migrantes aumentou consideravelmente nos últimos anos. Além disso, catástrofes ambientais e a crise econômica que assolou o mundo entre os anos de 2008 a 2010 tiveram como consequência países em situação de pobreza, potencializando essa situação. De acordo com a ONU, em 2015, o fluxo de migrantes e deslocados eram de aproximadamente 244 milhões. O Brasil, devido a sua política favorável em relação a imigração, se tornou uma rota para aqueles que buscam condições melhores do que a encontrada no país de origem. Ainda, dentro do próprio país, há muitas pessoas que migram de um estado a outro a fim de buscar melhor qualidade de vida.

ni, não possui estrutura suficiente para atender todas as necessidades desses indivíduos. No momento, sua mantenedora é uma instituição religiosa, a qual não recebe auxílio governamental, logo, devido ao déficit do aporte financeiro, à configuração e dimensão do espaço destinado a essa entidade serem reduzidos (o Centro divide espaço com uma escola), algumas lacunas são deixadas em aberto, principalmente as voltadas à habitação. Desta forma, os migrantes submetem-se a buscar outras formas de assistência, mesmo que temporárias, sendo esta obtida na maioria das vezes, junto aos seus conterrâneos que já se encontram estabelecidos, muitas vezes em condições precárias.

A partir disso, surge o papel do CAM, Centro de Apoio ao Migrante, que atualmente promove o auxílio jurídico, psicológico e trabalhista aos migrantes. A denominação “migrante” é utilizada pois, o Centro atende pessoas vindas de fora do país bem como pessoas deslocadas dentro dele, abrangendo todas as formas de migração (nacional e internacional). Contudo, esta instituição, que se localiza atualmente no Bairro Marechal Floriano, na Rua Carlos Bianchini esq. Rua Profº. Marcos Marti¹ Conforme BIJOS (2013), “... A Primavera Árabe é um fenômeno que eclodiu no Oriente Médio e norte da África, nos anos 2010/2011, quando a sociedade civil rebelou-se contra a opressão e corrupção dos ditadores de seus países e clamaram por melhorias sociais.”

RUA PROFESSOR MARCOS

MARTINI

Segundo COSTA (2016) a cidade de Caxias do Sul, localizada no estado do Rio Grande do Sul, é considerada o segundo maior pólo industrial metal-mecânico do país, ficando atrás apenas de São Paulo. Desta forma, considerando que mais empresas geram mais ofertas de trabalho, a cidade é vista como geradora de empregos e de acordo com dados obtidos através da Polícia Federal, o município se transformou em um destino oportuno, recebendo cerca de 26.800 migrantes durante o período de 2014 a 2017. Desse número total de ingressantes, atualmente há cerca de 5.200 pessoas registradas com endereço fixo na cidade.

RUA CARLOS BIANCHINI

Hospital unimed

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Figura 04: Localização CAM. Fonte: Mapa digital Geo Caxias, adap. pela Autora.

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Figura 05: Acesso CAM hoje. Fonte: Acervo pessoal.

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Figura 06: Fachada CAM hoje (Rua Profº. Marcos Martini). Fonte: Arquivo pessoal autora.

Assim, o presente trabalho manifesta-se como uma resposta as carências dessa população que, ao chegar, depara-se com barreiras e necessita de acompanhamento a fim de, aos poucos, superá-las. Por essa razão, entrevistou-se pessoas de diferentes âmbitos sociais para perceber as diversas perspectivas sobre o assunto e identificar as necessidades dos migrantes, com o intuito de tentar saná-las com a proposta de projeto. Uma das principais necessidades identificadas foi a ‘integração local’, que se torna um dos maiores desafios a ser resolvido, já que há preconceito na aceitação por parte de algumas pessoas por causa das diferentes raças e etnias. Desta forma, constatou-se que só seria possível a efetiva integração se a área de inserção do projeto propiciasse a conexão, migrantes e comunidade, através de algum elemento. Portanto, a deficiência apontada como uma das estratégias de resolução do problema social, se torna um dos norteadores para definição do terreno. Realizou-se também, uma pesquisa com o intuito de apontar os lugares em que já estabeleceram suas moradias, para poder inserir próximo a nova sede do CAM, obtendo acesso facilitado a ela. Todavia, percebeu-se que não há um lugar específico, visto que hoje estão espalhados por toda a cidade, em razão da falta de um programa de assistência vindo do munícipio e também das diferentes oportunidades oferecidas a eles. Desta forma, a investigação mudou seu foco, passando a identificar os locais por onde ingressam inicialmente, sendo eles: a Estação Rodoviária de Caxias do Sul e as vias principais de acesso da cidade. A intenção é a aproximação da implantação da edificação destes locais para favorecer a mobilidade. O bairro escolhido para estabelecer o projeto é o Sagrada Família, devido à proximidade com o equipamento e as vias mencionadas. Além da fácil localização, outros condicionantes foram analisados, dentre eles a escolha de um lote público, já que a proposta sugere uma parceria público-privada para sua execução. Na rua Irmão José, há um terreno pertencente à Prefeitura Municipal de Caxias do 20

Figura 07: Interior CAM, aos fundos escola que divide a edificação.Fonte: Arquivo pessoal autora.


Sul, a qual o intitula de ‘Praça Municipal Pedro Rodrigues da Silva’. Todavia, há abandono e descaso da Prefeitura em relação ao local, pois a praça mencionada nunca saiu dos papéis para existir efetivamente. Conforme os mapas disponibilizados pelo mapa digital Geo Caxias, de um total de 12.790,00m², apenas em torno de 1.500,00m² (12%) são ocupados com mobiliário urbano destinados a academia da terceira idade, sendo este o único investimento público no local. O restante da área é apenas um grande gramado, tornando-se um espaço ocioso. Devido a isso, a Associação do bairro adotou a área e inseriu goleiras, com intenção de utilizar o grande gramado como campo de futebol, já que se encontrava vazio e sem uso. Portanto, atualmente esta é a atividade exercida no local e toda a manutenção necessária parte da comunidade. Essa situação foi percebida a partir de visitas no local e através de uma análise em todo o bairro, onde verificou-se a falta de outros espaços públicos e áreas de lazer, sendo o terreno descrito o único espaço destinado a isso.

abaixo, definiu-se cada palavra de forma separada de acordo com o dicionário, para obter-se o entendimento total. cen.tro. s.m. 1. Qualquer núcleo que congregue ou reúna pessoas em torno de ideias ou objetivos comuns; 2. Lugar em que se concentram muitas atividades.

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in.te.gra.ção. s.f. 1. Incorporação de um elemento num conjunto. 2. Processo ou resultado de assimilar completamente os indivíduos de origem estrangeira ao seio de uma comunidade ou nação (do ponto de vista jurídico, linguístico e cultural), formando um único corpo social.

+

mi.gran.te. s.m.f. 1. Toda pessoa que muda seu lugar de residência para outro por um tempo indeterminado. ~

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A praça mencionada será o lote destinado ao projeto, contudo devido ao uso do campo de futebol já estar consolidado no local, o mesmo será mantido, havendo apenas a sua realocação. Isso ocorrerá com os devidos ajustes nas medidas do campo, para padronizar as dimenções de acordo com o que a FIFA recomenda para a categoria ‘Futebol 11’ (será mantido a característica dos jogos que já ocorrem atualmente). Assim, haverá o espaço necessário para locar o Centro de Integração do Migrante, que ganha esse nome devido ao objetivo proposto que vai de encontro com o uso atual da gleba e promove o resgate da sua função social original (praça pública). Utiliza-se também do esporte (futebol) como elemento de conexão entre as duas esferas, potencializando a integração local. Dessa forma, além da implantação da instituição, haverá a revitalização da área, possibilitando ligações entre as diferentes ruas que o terreno tem frente e que hoje não existem em razão do fechamento (tela) em torno do campo. Como forma de entender o nome criado para o projeto e a sua relação direta com as necessidades identificadas no diagrama

DISSEMINAÇAO

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CAPACITAçAO

HUMANIZAÇAO

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LOCAL

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INSERÇAO NO MERCADO de

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Figura 08: Necessidades identificadas pela autora, a partir de entrevistas realizadas. Fonte: Autora.

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[ 1.6 OBJETIVO ESPECÍFICO ]

[ 1.7 OBJETIVOS GERAIS ]

[ ] Propor um partido arquitetônico para o Centro de Integração do Migrante, que cumpra a função social do atual Centro de Apoio ao Migrante (CAM) além de atender as suas necessidades, principalmente no âmbito do abrigo temporário. Planejar espaços que facilitem o acolhimento e impulsionem a integração local entre os migrantes e a comunidade.

[ ] Identificar e compreender as necessidades dos migrantes através de entrevistas com diferentes pessoas que trabalhem em prol destes, a fim de perceber as diferentes perspectivas sobre o tema;

[ ] Analisar referências projetuais para conceber os espaços do Centro proposto; [ ] Pesquisar e analisar referencial teórico atualizado para entender o contexto atual da migração;

[ ] Visitar o atual Centro de Atendimento ao Migrante de Caxias do Sul para identificar as deficiências;

[ ] Realizar visitas na proposição de terreno de implantação do projeto, com o intuito de analisar todas as suas condicionantes e identificar se é o local adequado para sua inserção;

[ ] Conduzir a proposta de desenvolvimento deste trabalho através da implanta-

ção em um local capacitado socialmente e fisicamente e que proporcione o objetivo da integração, além de evidenciar a relação de singular e coletivo por meio do espaço público.

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[ 1.8 METODOLOGIA ] O presente trabalho tem por objetivo a implantação do Centro de Integração do Migrante. Emprega-se como técnica de metodologia a pesquisa qualitativa, a qual a abordagem é aquela que trabalha predominantemente com dados qualitativos, isto é, a informação coletada pelo pesquisador não é expressa em números, ou então, os números e as conclusões neles baseados representam um papel menor na análise (DALFOVO, LANA, SILVEIRA, 2008). Desta forma, a fim de obter as necessidades reais daqueles que chegam na cidade, foram realizadas entrevistas em três competências diferentes. Segundo D’Angelo (2016), a pesquisa qualitativa “...é conduzida de forma exploratória, em que o entrevistado é estimulado a opinar mais livremente, nem sempre de forma que pode ser expressada em números ou mesmo em palavras”. Primeiramente, através de um questionário, foram entrevistados dez imigrantes de diferentes etnias, a fim de obter um relato mais próximo de sua realidade possível. Após, conversou-se com um assistente social da sede atual do CAM, com o intuito de saber suas urgências como profissional que promove a assistência. Por último, ocorreu um diálogo com uma vereadora da cidade, a qual auxilia os programas de imigração no âmbito político. Esta também forneceu informações importantes, focando principalmente nos problemas encontrados e na situação atual dos migrantes. Ainda, foi realizada uma visita no departamento de imigração da Polícia Rodoviária Federal de Caxias do Sul, para coleta de dados referente a números de imigrantes na cidade desde 2014. Optou-se por esse modelo, pois pesquisas qualitativas, mais do que seguir um questionário, seguem um roteiro, conferindo mais liberdade e participação opinativa do entrevistado (D’ANGELO, 2016). Realizou-se também a revisão bibliográfica em livros, artigos, teses e dissertações que debatem sobre o assunto. Utiliza-se como objetivo metodológico a pesquisa exploratória, sendo que esta procura conhecer as características de um fenômeno para procurar explicações das causas e consequências de dito fenômeno

(RICHARDSON, 1989). Houve também, a preferência por trabalhos atuais para fins de referencial teórico (a partir dos anos 2000), visto que a imigração que ocorre atualmente no mundo é devido a problemas recentes. Por fim, as justificativas do trabalho tiveram respaldo nos dados obtidos através das declarações citadas e referenciais bibliográficos.

METODOLOGIA - MAPA TEÓRICO CONCEITUAL 1ª ETAPA

ENTREVISTAS COM PESSOAS QUE TRABALHAM C/ O TEMA

2ª ETAPA

REVISAO BIBLIOGRÁFICA PARA REFERENCIAL TEÓRICO

3ª ETAPA

ANÁLISE DE REFERENCIAIS ARQUITETÔNICOS

4ª ETAPA

ANÁLISE DE TERRENO, ENTORNO E CONDICIONANTES

5ª ETAPA

DESENVOLVIMENTO DE PARTIDO ARQUITETÔNICO

6ª ETAPA

ESTUDO PRELIMINAR E PROJETO FINAL

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Figura 09: Mapa teórico conceitural de metodologia. Fonte: Autora.

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Figura 10. Fonte: Delfina de la Rua Fotografia.

[ 2. REFERENCIAL TEÓRICO ]


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[ 2.1 MIGRAÇAO CONTEMPORÂNEA ] O processo migratório vem desde a Antiguidade e as razões que levaram o homem a migrar, sempre foram em prol da sobrevivência. Desde a Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945), o mundo vem sendo assolado por uma série de problemas que promovem os deslocamentos em massa da população. São vários os fatores, dentre eles as guerras decorrentes da Primavera Árabe, que ocorreram em países como Líbia, Síria, Iraque; conflitos armados na África; a crise econômica mundial; catástrofes ambientais e busca de trabalho, estudo e melhores condições de vida. De acordo com o Acnur (2017), atualmente existem cerca de 66,5 milhões de pessoas deslocadas do seu local de origem. Os principais destinos escolhidos, conforme imagem??, são os países desenvolvidos como os Estados Unidos, Canadá, Japão, Austrália e as nações da União Europeia (MARINUCCI; MILESI, 2005). A migração pode causar diversos problemas socioeconômicos, por isso algumas destas nações alteraram suas políticas internas e passaram a controlar o ingresso em seu território, aceitando apenas as pessoas com características que lhes são convenientes.

PRINCIPAIS fluxos migratórios no final do século XX E INÍCIO SÉCULO XXI

LEGENDA ~

Principais regIOes de destino de imigrantes; ~

Principais regioes de saída de imigrantes; ~

~

REGIOES que nao possuem fluxos consideráveis Figura 11: Fluxos imigratórios mundiais. Fonte: Marinucci ; Milesi(2005) adap. pela autora.

Contudo, além dessa atitude fortalecer a xenofobia², o contingente de indivíduos migrando aumentou, podendo esta ser considerada a maior crise desde o fim da Guerra Fria. Assim, numa perspectiva sociológica, as migrações são percebidas sob a ótica estruturalista como uma das conseqüências da crise neoliberal contemporânea (MARINUCCI; MILESI, 2005). Esta é caracterizada também pelo crescimento econômico, porém sem o acompanhamento das ofertas de trabalho, o que promove o surgimento do desemprego e induz as pessoas a mudarem em busca de trabalho e melhores condições. A crise da migração contemporânea, em razão de sua diversificação e dimensão, muito além das consequências que produz, torna-se complexa visto que as causas deveriam ser abordadas e entendidas para que o problema possa ser controlado. Desta maneira, como forma de organizar as diferentes legislações que regem o assunto, criaram-se conceitos que caracterizam cada um dos gêneros de migração, a fim de adaptá-las de acordo com a categoria que se insere. Portanto, é comum palavras como migrantes, imigrantes e refugiados serem confundidas, já que todas denominam indíviduos que estão em busca de melhores condições de vida diferindo, porém, as razões pelas quais procuram isso. Com o intuito de entender um pouco mais esses conceitos, Piedade (2016) explica que “em um viés de entendimento mais amplo, tanto imigrante quanto migrante podem ser entendidos como pessoas que ainda carregam uma expectativa de retorno ao seu país ou região de origem; pessoas que se deslocaram para outras regiões na intenção de um bem-estar social mais equilibrado. Já o refugiado, se encontra totalmente desconstituído pela sua condição explicitada no real risco de vida caso ele venha retornar para seu país de origem.” (PIEDADE, 2016) ² Conforme Dicionário Aurélio: “Xenofobia é a aversão a estrangeiros; repugnação a pessoas e/ou coisas provenientes de países estrangeiros. Hostilidade; receio, medo ou rejeição direcionados a quem não faz parte do local onde se viveu ou habita. ”

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Para maior entendimento, o quadro 01 explica as características mais relevantes das três categorias principais, sendo que dentro destas, ainda há algumas subdivisões. Importante mencionar que a categorização entre os grupos de migrantes é controversa, pois se revela altamente politizada em virtude dos usos estratégicos e políticos que se fazem em torno das várias categorias e dos interesses que os norteiam (MESSIN; LAHAV, 2005; CASTLES, MILLER, 2013).

ITENS INDICATIVOS MIGRANTE E IMIGRANTE eSTÁ FORA DE SEU PAÍS ~ x DESLOCAMENTO FORÇAdo - PERSEGUIÇAO Motivo do Deslocamento MELHORES CONDIÇOES DE VIDA ~ x NECESSITA DE PROTEÇAO INTERNACIONAL VULNERABILIDADE SOCIAL x CORRE RISCOS DE VIDA EM SEU PAÍS ~

pode voltar ao país/ESTADO de origem

rEFUGIADO

~

TEMOR FUNDADO DE PERSEGUIÇAO

x

Quadro 01: Categorias de migração. Fonte: MILESI, R. e CABRERA, M. Rede Solidária para Migrantes e Refugiados – Breve histórico, missão, desafios adap. pela autora.

O Brasil é conhecido devido a sua política favorável na aceitação de pessoas estrangeiras, logo tornou-se um destino oportuno para estas. Como para cada um dos casos mencionados há um tratamento diferente, há leis específicas para ambas as circunstâncias. É cabível explicar que as leis que regem os migrantes e imigrantes, dependem unicamente dos interesses de cada país, ou seja, são tratados de acordo com as leis internas. Aplica-se, portanto, a Lei nº 13.445 de 24 de Maio de 2017, denominada de Lei da Migração. Já para os refugiados, há acordos e tratados internacionais que determinam a conduta a ser seguida e os direitos que devem ser garantidos. Logo, utiliza-se a Lei nº 9.744 de 22 de Julho de 1997, seguindo parâmetro jurídicos consignados a partir de uma junção de

normas e acordos internacionais discutidos e ratificados ao longo de décadas embasadas nos princípios universais da dignidade humana (MARINUCCI; MILESI, 2005). As decisões estatais em relação a legislação regem o que se determina para as políticas migratórias. Hammar (2005), explica que a política migratória efetiva consiste apenas na política de controle imigratório, ou seja, apenas se refere às regras e aos procedimentos que regulam a seleção e a admissão de estrangeiros em território nacional. Moreira (2012) complementa que a política regulatória, ou regulation policy, se relaciona com o controle territorial, ao governar os fluxos de imigração, o acesso e a permanência dos estrangeiros no Estado-nação. Porém, percebe-se que a política regulatória regulamenta apenas o que diz respeito a burocracia, sendo esta referente a permanência dentro das fronteiras do país, tornando-se insuficiente. Surge então, o que Moreira (2012) denomina de política em relação aos imigrantes, ou immigrant policy, que confere as condições fornecidas aos imigrantes residentes no país (condições de trabalho e moradia, provisões de bem-estar, benefícios sociais, oportunidades educacionais, incluindo aprendizado do idioma local, dentre outras). Contudo, esta não apenas regula o vínculo jurídico-político que une o indíviduo ao Estado, mas também o pertencimento a nação (MOREIRA, 2012). Hammar (2005) a classifica como direta, ao atender as necessidades específicas dos estrangeiros; e indireta, ao buscar inseri-los nas políticas públicas direcionadas aos nacionais. Na realidade, as duas abordagens se complementam já que o país que recebe esses indivíduos implementam medidas a favor dos imigrantes e também os inserem nos programas de serviços básicos. Este entendimento faz relação com outro conceito denominado de Integração Local, o qual será abordado no próximo capítulo deste trabalho. 27


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Quando você chega num país, recebem o seu corpo, mas sua cabeça NAo, nem o que você trouxe na ~ ~ bagagem. O país NAo quer saber quem é você, o que você fez na sua terra. A troca cultural acaba NAo existindo." Shambuyi Wetu, imigrante congolês, artista plástico. 28


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[ 2.2 INTEGRAÇAO LOCAL ] A integração local é definida pelo ACNUR (2016) como um processo complexo e gradual com dimensões legais, econômicas, sociais e culturais. Além disso, impõe demandas consideráveis ao indivíduo e à sociedade que o acolhe. Em muitos casos, a aquisição da nacionalidade do país anfitrião é o culminar desse processo. Este conceito é aplicado pela Lei nº 9.474/1997, denominada de Estatuto dos Refugiados, aos cidadãos que se encaixam na categoria de refugiados, sendo estes reconhecidos como todo indíviduo que se encontra fora de seu país por causa de fundado temor de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, opinião pública, participação em grupos sociais ou violência e que não possa voltar para casa (ESTATUTO DO REFUGIADO, 1951).

legalmente de imigrantes. Sendo assim, a presente pesquisa abrange todas as formas de migração justamente para tentar atender à todas as demandas de pessoas que se encontram nessa situação. Além disso, identificou-se como necessidade à construção de relações sociais com membros da comunidade local (AGER; STRANG, 2008), aplicado a qualquer pessoa estrangeira que ingresse no país, ou até mesmo aos migrantes, que são os deslocados internos do país. Estas relações são uma forma de adaptação ao novo local em que se inserem, muito além do que prevê a lei apenas de forma burocrática. Assim, há a possibilidade de formarem com a comunidade o sentimento de pertencimento e troca, facilitando o processo de adaptação e inserção nos diversos serviços.

O termo ‘Integração Local’ é normatizado dentro do Estatuto dos Refugiados, sendo aplicado exclusivamente para a categoria dos Refugiados. Este conceito consta na Lei 9.474/1997, em seu Capítulo II, “Da Integração Local”:

Ademais, o processo só é possível quando há a participação conjunta da tripartite de prestação de assistência, composta pelos atores estatais e não estatais, definidos por Moreira (2012) como: orgãos do Estado, instituições da sociedade civil e organização internacional. Nessa continuidade, o papel da tripartite constitui uma positiva ação assistencialista que visa promover a integração social transversalmente a partir de atividades socioeducativas que contribuam para bem-estar social dessas pessoas (PIEDADE, 2013). À vista disso, a integração local visa não somente a integração social do migrante, bem como sua inclusão cultural e econômica. Ainda, a participação e engajamento da população na participação das políticas públicas constitui-se de uma parcela de grande importância para a adaptação dos migrantes, a qual deve identificá-los como potenciais, que possuem uma bagagem de vida diferente e não como ameaças.

“Art. 43. No exercício de seus direitos e deveres, a condição atípica dos refugiados deverá ser considerada quando da necessidade da apresentação de documentos emitidos por seus países de origem ou por suas representações diplomáticas e consulares. Art. 44. O reconhecimento de certificados e diplomas, os requisitos para a obtenção da condição de residente e o ingresso em instituições acadêmicas de todos os níveis deverão ser facilitados, levando-se em consideração a situação desfavorável vivenciada pelos refugiados.” (CONGRESSO NACIONAL, Lei nº 9.474, 1997)

Contudo, neste trabalho, será aplicado o conceito de Integração Local, previsto para os Refugiados, às categorias de Migrantes e Imigrantes também. Justifica-se esta escolha devido aos imigrantes, como haitianos e senegaleses, que se encontram em número expressivo no país e que também estão em situação de vulnerabilidade social, logo não se enquadram nas diretrizes que determinam a lei quanto ao reconhecimento de refugiados, sendo estes denominados Figura 12: Andorinhas voando. Fonte: Brasil Topno;

Por fim, Piedade (2013) entende que a Integração local é um processo que reforça a discussão acerca dos mecanismos de inserção social para populações compreendidas como minorias. Logo, as políticas em relação aos migrantes deveriam ser mais discutidas, pois em razão da instabilidade atual vivida em diversas localidades, o contingente de pessoas se deslocando só tende a aumentar. 29


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A decepçAO foi por causa de nossa cor; existe o preconceito, a xenofobia e o racismo. Ele é muito forte, ~ nós sabemos, somos negros e nao podemos virar brancos, como dizer assim: “Ah, agora somos brancos”! Somos assim, é nossa cor e temos que aceitar que somos negros e estamos aqui para crescer, estamos aqui para trabalhar. O meu objetivo é trabalhar e me dar bem mesmo e ficar fazendo toda a vida e se tiver a oportunidade de trazer a família para cá, entao é melhor. O objetivo é esse, viver, trabalhar e viver bem. Estou em uma luta muito grande deste objetivo que todos nós temos, né?! " Joel, 34 anos,imigrante haitiano, Entrevista a MENIN (2016).

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[ 2.3 A MIGRAÇAO EM CAXIAS DO SUL ] O tema da migração tem estado em evidência no Brasil, visto que este recebeu um grante contingente de imigrantes nos útlimos anos, tendo destaque as regiões Sul e Sudeste. Herédia, Gonçalves e Camargo (2016) ressaltam que nas últimas décadas alguns fluxos migratórios têm preferido às cidades médias em relação às regiões metropolitanas. Ainda, os autores completam que a preferência por estas em detrimento de centros urbanos pequenos ou de centros urbanos complexos faz com que o imigrante tenha melhores condições de se integrar devido às oportunidades que lhe são oferecidas. Além disso, não somente o tamanho da cidade, mas também a existência da demanda de mão de obra é considerada, em razão da possibilidade de mais ofertas de emprego surgirem.

[ ORIGENS ]

[ MEMÓRIAS (?) ]

A cidade de Caxias do Sul, localizada no Rio Grande do Sul tem a migração como parte de sua história, visto que a sua formação no final do século XIX, se deu a partir da colonização da imigração de italianos. Tão importante é esse fato para o munícipio, que possui um Monumento em homenagem aos Imigrantes, conforme imagem ao lado. Segundo Herédia (2015) a cidade atraiu e continua atraindo um número significativo de migrantes durante vários momentos de sua história: primeiro, a grande imigração italiana; depois, com seu desenvolvimento industrial, principalmente a partir das décadas de 60, ao provocar o êxodo rural da região colonial italiana e, mais tarde, do próprio estado e dos demais do país. Agora, considerando a migração contemporânea, novamente há um aumento nos fluxos de migrantes, sendo estes caracterizados principalmente por Senegaleses e Haitianos. Contudo, apesar da origem da população local também advir de outras nacionalidades, houve o ‘esquecimento’ acerca de suas origens levando a questionamentos quanto aos migrantes, principalmente em razão das diferentes características étnicas, culturais e religiosas. Herédia, Gonçalves e Figura 13: Monumento ao Imigrante de Caxias do Sul. Fonte: Mapio.net, adap. autora;

Camargo (2016) complementam que a chegada destes gerou uma série de controvérsias que refletem a dificuldade da cidade em relação ao acolhimento. Logo, a resistência à aceitação é uma constante no dia a dia desta, gerando alguns temores, como a concorrência nas oportunidades de empregos. As cidades têm papel fundamental na inclusão e integração dos migrantes, pois é através dela que irão se inserir na comunidade e ter acesso aos serviços públicos. Steffens (2016) explica que a formação e implementação de políticas para imigrantes, no entanto, implica em questões de legitimidade: mais que garantir o acesso a direitos, é preciso antes reafirmar que os imigrantes possuem os direitos. Norbert Elias e Scotson justificam que “aqueles que chegam e não se inserem automaticamente na sociedade são considerados ‘os de fora’ e esse julgamento é estabelecido ‘por aqueles que já estão estabelecidos”. O preconceito acerca dos imigrantes auxilia na sua exclusão visto que não conseguem se inserir na sociedade, assim como se confirma no relato do imigrante senegalês, morador atual de Caxias do Sul: “Eu sinto falta do Senegal, amigos, família; aqui o estrangeiro tem muita dificuldade. As pessoas não gostam de você, são racistas. Algumas pessoas são boas e algumas pessoas, ruins...” Sane, 35 anos, imigrante senegalês (Entrevista concedida a MENIN, 2016)

Por fim, Herédia (2015) evidencia que o processo de integração dos imigrantes, em Caxias do Sul (e no Brasil de modo geral), é uma via de mão dupla que coloca desafios tanto aos grupos de imigrantes quanto para a sociedade acolhida. O local de inserção deveria deixar de lado principalmente o preconceito e a resistência, a fim de que uma nova cultura possa ser assimilada e para que haja as trocas entre as diferentes pessoas. Dessa forma, a proposição de Centro de Integração do Migrante surge, com o intuito de auxiliar na quebra de paradigmas e integrar migrantes e comunidade Caxiense. 31


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[ 2.4 BREVE HISTÓRICO DA LEGISLAÇAO BRASILEIRA ] REPÚBLICA VELHA

getúlio vargas

LEI DE SEGURANÇA NACIONAL

- Ideia de branqueamento da população; - Preferência por imigração européia; - Restrições a imigração de negros, asiáticos e indígenas (POLITIZE, 2017).

Decreto renovado, proibindo totalmente a imigração (POLITIZE, 2017).

Utilização de Lei de Segurança Nacional para expulsar e aumentar restrições à entrada de estrangeiros “indesejáveis”. (POLITIZE, 2017).

1889 - 1930

1935

1932 1930 getúlio vargas Decreto restringe entrada de imigrantes (POLITIZE, 2017).

1934

getúlio vargas Decretos criam regimes de cotas para imigração (POLITIZE, 2017).

ALTO COMISSARIADO DAS ~ NAÇOES UNIDAS

1949

Em Dezembro de 1949, a Organização das Nações Unidas (ONU), mediante liberação da Assembléia Geral, decidiu criar um órgão específico para tratar da questão dos refugiados: O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), que inicou seus trabalhos em 1º de Janeiro de 1951 (ACNUR, 2000, p. 19)

1967

1945 1951 PÓS SEGUNDA GUERRA MUNDIAL ESTATUTO DOS REFUGIADOS - Brasil firma acordos com ONU acerca do recebimento de refugiados; - Grupos de refugiados poderiam ser recebidos após aprovação do governo; - Busca de perfil específico de imigrantes trabalhadores para desenvolver o país (POLITIZE, 2017).

Em 28 de Julho do mesmo ano, esta Organização elaborou o primeiro instrumento de proteção internacionaç aos refugiados: a Convenção Relativa ao Estatuto os Refugiados, que entrou em vigor no dia 21 de Abril de 1954 (ACNUR, 1996, p. 3).

32


~

PROTOCOLO SOBRE O ESTATUTO DO REFUGIADO

Tendo em vista os novos acontecimentos ocorridos no cenário internacional, como a descolonização africana, gerando novo fluxo de refugiados, foi elaborado o Protocolo sobre o Estatuto do Refugiado (MOREIRA, 2005, p. 61).

~

A DECLARAÇAO DE CARTAGENA

REFORMULAÇAO ESTATUTO DO ESTRANGEIRO

1980 ESTATUTO DO ESTRANGEIRO É lançado o Estatuto do Estrangeiro - Lei nº 6.815 / 1980 (POLITIZE, 2017).

É proposta nova Lei da Migração (POLITIZE, 2017).

2013

1996 1989

NOVA LEI DA MIGRAÇAO

Programa Nacional de Direitos Humanos prevê criação de legislação para refugiados e reformulação do Estatuto do Estrageiro (POLITIZE, 2017).

Elaboração da Declaração de Cartagena, um instrumento regional de proteção aos refugiados, aplicável ao sistema iteramericano. (MOREIRA, 2005, p. 64).

1984

~

BRASIL REVOGA A ''RESERVA GEOGRÁFICA'' Em 19 de Dezembro de 1989, o Brasil finalmente veio a revogar a “reserva geográfica”, por meio do Decreto nº 98.602/89 (ALMEIDA, 2001, p. 124).

1997 CONARE Criação do CONARE - Cômite Nacional para os Refugiados e fechamento do escritório do ACNUR no B (POLITIZE, 2017).

2017 ~ NOVA LEI DA MIGRAÇAO APROVADA O presidente da República Michel Temer promulga a Lei 13.445 em 24 de Maio de 2017 que trata dos seguintes assuntos: direitos e deveres do migrante e a entrada de estrangeiros no Brasil; os tipos de visto necessários para ingresso; os casos e procedimentos de repatriação, deportação e expulsão; a naturalização e os casos de perda de nacionalidade; a tipificação do crime de tráfico internacional de pessoas para fins de migração e infrações administrativas relativas a entrada irregular no país. 33


~

As praças sAO das crianças, dos passarinhos e dos namorados” POETisa ENEIDA DE MORAES

34


~

[ 2.5 REQUALIFICAÇAO DE PRAÇAS URBANAS ] As praças e áreas verdes em bairros são um privilégio a população que ali reside, funcionando como respiro urbano em meio a espaços consolidados de construções. Servem para passagem ou uma parada de descanso no dia a dia, espaço de trocas entre crianças que se apropriam dele para suas brincadeiras, além de local que diversas pessoas utilizam para lazer e descanso. Jacobs (2000) descreve estas áreas como “...São comumente considerados uma dádiva conferida à população carente das cidades. Vamos virar esse raciocínio do avesso e imaginar os parques urbanos como locais carentes que precisam da dádiva da vida e da aprovação conferida a eles. Isso está mais de acordo com a realidade, pois as pessoas dão utilidade aos parques e fazem deles um sucesso, ou então não os usam e os condenam ao fracasso.” (JACOBS, p. 97, 2000).

Contudo, parafraseando a autora, os parques urbanos e praças são locais efemêros, pois passam por momentos de popularidade e impopularidade, sendo difícil prever, apesar das boas intenções projetuais, qual será a resposta para o seu caso. Por esta razão, torna-se tão comum observar áreas verdes e livres, porém vazias e sem uso. Ainda, Jacobs (2000) explica que os parques e praças são frutos de sua vizinhança, além da maneira como a vizinhança gera uma sustentação mútua por meio de usos diferentes ou deixa de gerar essa sustentação. Logo, para possibilitar a efetiva utilização dos parques de bairro, deve-se observar o seu entorno e possibilitar os diversos zoneamentos para garantir a sua utilização em horários distintos, o que só os diferentes usos podem possibilitar. Além disso, Jacobs (2000) comenta que para uma praça de bairro ter sucesso e ser utilizada, deve ter a vantagem de ser rara. Isso ocorre pois as pessoas não têm tempo suficiente para utilizar vários espaços verdes, devido a vida corrida do cotidiano. Desta forma, sendo este único, a concentração de pessoas se dará apenas nele, não tendo a concorrência com outros. Figura 14: Praça Municipal Pedro Rodrigues da Silva. Fonte: Arquivo pessoal autora;

Como forma de revitalizar praças que não cumpram sua função social, Jacobs (2000) recomenda que o objetivo deveria ser costurar novamente esse projeto, esse retalho da cidade, na trama urbana - e ao mesmo tempo, fortalecer toda a trama ao redor. Ainda, aponta quatro elementos que considera importantes para a vitalidade de parques e praças, os quais seguem demonstrados no esquema abaixo, a fim de que sejam utilizados como diretrizes projetuais para o projeto desta pesquisa.

PARQUES E PRAÇAS COM VITALIDADE COMPLEXIDADE

CENTRALIDADE

~

INSOLAÇAO

~

DELIMITAÇAO ESPACIAL

DIVERSIDADE de usos RIQUEZA ESPACIAL Esquema: Critérios vitalidade em praças e parques . Fonte: JACOBS, Jane. Morte e vida das grandes cidades. 2000. Adaptado pela autora.

A partir dos princípios observados, nota-se a importância de praças bem planejadas, de forma a criar ambientes saudáveis para o meio urbano, do ponto de vista social e ambiental. Complementando, Gehl (2013) menciona que se as cidades e os edifícios pretendem atrair as pessoas para virem e permanecerem em seu espaço, a escala humana vai exigir nova e consistente abordagem. Esta surge a partir dos sentidos e sua percepção do espaço, sendo responsável pelo sentimento em relação aos locais. Desta forma, as alturas das edificações e a forma com que os elementos são utilizados na concepção do projeto, expressam, de maneira subjetiva, qual a forma que os usuários irão se sentir. Ainda, o autor afirma que uma cidade viva precisa de uma vida urbana variada e complexa, onde as atividades sociais e de lazer estejam combinadas. Assim, relacionando todos os conceitos abordados, será utilizado no trabalho em questão as diretrizes norteadoras para espaços com qualidade espacial, elementos interessantes e diversidade de usos, buscando a vitalidade urbana constante do local. 35


~

“O futebol une raças, une políticos, une religiOES” (Abdulbaset Jarour, COORDENADOR DA COPA DOS REFUGIADOS, 2017). 36


[ 2.6 O FUTEBOL COMO AGENTE INTEGRADOR ] Muito se fala sobre o Brasil ser o país do futebol, pois é o esporte mais praticado. Pereira (2004) descreve este esporte como prática social de lazer, ou seja, que envolve as pessoas em grupos pequenos para praticar o esporte, e ao mesmo tempo conseguem manter uma atividade de lazer. Desta forma, se estabelecem as relações de amizade através do elemento integrador: o futebol. As famosas ‘peladas’ que acontecem, são caracterizadas pela reunião de amigos que se juntam para um momento de integração. Wagner (2014) reforça que no fim das contas, o placar no final da pelada é o que menos importa. Ao fim de mais um encontro, a goleada foi de amizade. Mas como esse esporte, já consolidado, pode funcionar como agente integrador entre a comunidade e os migrantes de Caxias do Sul? Já aconteceram tentativas de integração através de campeonatos e torneios em diversas cidades, como é o caso do 1º Torneio de Integração Social em Porto Alegre - RS que ocorreu em 8 de Janeiro de 2017. Justino (2014) explica que muitos só mantêm contatos breves com os habitantes daqui, quando falam sobre os produtos que vendem na rua. A ação reuniu brasileiros e imigrantes ou refugiados de países como Senegal, Haiti e Angola para mudar essa história, promovendo integração entre pessoas de diversos lugares por meio do esporte. O presidente da Associação dos Senegaleses de Porto Alegre, Mor Ndiaye, explica que

a paixão pelo futebol, comum entre tantas nacionalidades, funcionasse como motor de integração para a comunidade migrante (PIRES, 2017). Ele afirma que “Esse é um torneio organizado por refugiados. O futebol nos dá a chance de mostrar que vamos muito além dos estereótipos, que podemos agregar valores à sociedade brasileira. Ainda há quem olhe para o refugiado com desconfiança. Mas, na hora que a bola rola, as diferenças somem e todos somos iguais”,” Mor Ndiaye, imigrante senegalês (PIRES, 2017)

Além dos eventos mencionados, O ACNUR (agência da ONU) também promove eventos desportistas de integração, os quais acreditam ser uma celebração do respeito à diversidade (ACNUR, 2017). Por fim, percebeu-se que o futebol funciona como agente integrador a partir do momento que as diferentes nacionalidades se juntam por um bem comum: a bola. Desta forma, há a interação entre a comunidade brasileira e os migrantes que chegam, promovendo a aceitação de diferentes culturas e etnias.

“O esporte é uma das coisas que mais consegue juntar seres humanos que não se conheciam. Qualquer imigrante ou refugiado se sentiria feliz de participar de um torneio assim.” Mor Ndiaye, imigrante senegalês (Gaúcha ZH, 2017)

Outro exemplo a ser mencionado é a Copa Refugiados que ocorre em São Paulo, lançada em 2017 pelo congolês Jean Katumba, um engenheiro civil que buscou refúgio devido a perseguições em seu país. Torcedor do Corinthians, fundou a ONG África do Coração, que acolhe refugiados e decidiu fazer com que Figura 15: Jogo em campo de futebol. Fonte: Fotógrafa Mari Carmen Del Valle;

Figura 16: Copa Refugiados. Fonte: El País. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/ brasil/2017/09/22/deportes/15061163_748657.html>. Acesso em 01 de junho de 2018.

37



Figura 17. Fonte: Journey Yang Fotografia.

[ 3. ANÁLISE DE REFERENCIAIS ]


[ 3.1 CIC DO IMIGRANTE ]

~

Localização: Barra Funda, São Paulo - São Paulo - Brasil; Escritórios de arquitetura: B Arquitetos + Escola da Cidade; Arquiteto responsável: Felipe Noto; Equipe: Felipe Noto, Maira Rios e Paulo Emilio Ferreira + Escola da Cidade; Área: 1580,00m² Ano do projeto: 2016; Fotografias: Pedro Vanucchi.


~

[ 3.1.1 LOCALIZAÇAO ]

[ 3.1.2 O PROJETO ] A escolha deste referencial se justifica devido a inserção do projeto junto a uma praça, da mesma forma como se tem a inteção projetual para o Centro de Integração do Migrante. Ainda, o programa de necessidades adotado pela CIC do Imigrante (Centro de Integração da Cidadania) vai de encontro com o que se propõe para o projeto em questão, pois também oferecem serviços nas áreas de defensoria pública, cursos de idiomas e atendimento ao trabalhador. “Queremos adaptar este predinho para que funcione como centro de atendimento a imigrantes; está perto da rua, quase pronto; é só um tapa”.(SECRETARIA DO ESTADO DA JUSTIÇA, 2015.)

BRASIL > SAO PAULO > Barra funda > CIC DO IMIGRANTE

AV. P AC

AEMB U

~

Figura 19: Localização CIC do Imigrante. Fonte: Google Earth. Figura 18: CIC do Imigrante. Fonte: Journey Yang Fotografia.

Foi dessa forma que a Secretaria do Estado da Justiça se aproximou da Escola da Cidade para futura parceria entre B Arquitetos e Defesa da Cidadania de São Paulo. Assim, nasceu a ideia para a nova sede da CIC em Barra Funda (SP), sendo a antiga estação ferroviária o destino de implantação. Foi realizado o restauro de três edificações que estão alinhadas a linha Férrea e que serviam de apoio aos trens para inserção do projeto. A praça em frente aos edifícios, além de servir como recepção a quem chega, facilita a separação dos diferentes usos que acontecem. Ainda, a criação deste espaço público faz a conexão com o jardim linear existente em toda a ferrovia. Estes espaços ganham infraestrutura adequada para a realização de festas, eventos e feiras que os próprios imigrantes promovem como forma de divulgar a sua cultura. Noto (2016), descreve como o restauro dos prédios se encaixou tão bem nas necessidades da proposta: “O desafio imposto foi converter um conjunto de edifícios ferroviários em espaço de reunião, acolhimento e entrega dos primeiros instrumentos de cidadania aos imigrantes recebidos em São Paulo. Para além da boa metáfora (o trem, a estação, a chegada), os três edifícios se revelaram de imediato a melhor estrutura a se adaptar: espaço contínuo, amplo e com a possibilidade de ampliação ao longo do tempo.” (NOTO, 2016)


[ 3.1.3 FUNCIONALIDADE E ZONEAMENTO ] LEGENDA ZONEAMENTO: Bloco B

Bloco C

03

04

05

06

Praça Pública MEZANINO INSTITUCIONAL

LAZER SERVIÇO

ACESSOS SECUNDÁRIOS ACESSO PRINCIPAL

~

FLUXO DE CIRCULACAO TRILHOS DE TREM

LEGENDA PROGRAMA DE NECESSIDADES:

02

01 PLANTA BAIXA PAVIMENTO TÉRREO ESCALA: SEM ESCALA Bloco B 08

07

Bloco C 09

10

PLANTA BAIXA PAVIMENTO SUPERIOR ESCALA: SEM ESCALA Figura 20: Plantas baixas. Fonte:Arch Daily, adaptado pela autora,

Figura 21: Acesso da CIC do Imigrante através de escada devido a desnível. Fonte: Arch Daily,

01 Acesso 02 Praça do Imigrante 03 Café | Internet

~

04 RecepçAo 05 Atendimento 06 Atendimento

07 Jardim 08 CAFÉ | INTERNET

09 TERRAÇO 10 RETAGUARDA | ESCRITÓRIOS

A implantação (figura 20) segue o que já está edificado, definido a partir de uma organização em barra linear, que acaba auxiliando na separação dos usos, visto que o acesso para a praça fica em frente ao primeiro edifício e comporta recepção e área de café com internet. O acesso de quem vem da rua (figura 21) é formado por uma escadaria, por causa do desnível entre o passeio público e a área ferroviária, portanto a própria entrada já faz o direcionamento de quem chega. Além disso, devido a necessidade de espaço amplo e contínuo para as

Figura22: Distribuição do programa de necessidades no mezanino (intervenção). Fonte: Arch Daily,


[ 3.1.4 MATERIALIDADE E TÉCNICAS CONSTRUTIVAS ] A’

C’ 6

2

4

7

6

ESCRITÓRIOS

atividades institucionais, o edifício maior em barra (Bloco C) se torna adequado e concentra todos esses serviços. Como forma de separar os dois usos (lazer e institucional), criou-se um terraço (figura 26) entre os dois blocos, de forma que há a ligação, mas ainda assim o zoneamento proposto fica bem definido. Há também uma grande permeabilidade entre interior e exterior, devido as dimensões das esquadrias, assim a praça se torna valorizada e há a integração do espaço interno, tanto com quem está do lado de fora quanto com a vegetação do entorno.

Figura 25: Distribuição do programa de necessidades no térreo do bloco institucional. Fonte: Arch Daily.

B’

Figura 23: Organograma e fluxograma. Fonte: Autora.

A B C

LEGENDA malha estrutural

3

1

2

5

4

1

6

8

11

10 12

13

15 17

14 16

A B C

PLANTA BAIXA PAVIMENTO TÉRREO ESCALA: SEM ESCALA

3

2

9

A

TERRAÇO Café | Internet

4

5

A’

BLOCO C - instit. / atendimento

2

Atendimento

3

5

4

Figura 24: Plantas baixas. Fonte: Arch Daily, adap. pela autora.

7

6

9

8

11

10 12

13

15 17

14 16

A

~

RecepçAo BLOCO B-CAFÉ E LAZER

A B C

Jardim

1

C

Praça do Imigrante

5

C’

PRAÇA DO IMIGRANTE

3

1

C

Acesso

B

GUARITA

B’

[ FLUXOGRAMA ]

B

[ ORGANOGRAMA ]

PLANTA BAIXA PAVIMENTO SUPERIOR ESCALA: SEM ESCALA

Figura 26: Fachadas com malha estrutural bem definida. Fonte: Arch Daily, adap. autora.

A B C


A estrutura da edificação original (concreto armado) foi mantida e adaptada para o novo uso. Pode-se observar uma modulação dos pilares e vigas em planta baixa (figura 24), possuindo duas linhas periféricas e uma central. Isso torna-se evidente nas fachadas e cortes (figuras 27 e 29), visto que seguem um ritmo, principalmente nas esquadrias, que foram dispostas de acordo com a modulação estrutural. O mezanino dos dois blocos e o terraço que faz a ligação entre as edificações são estruturados por estrutura metálica independente do restante das edificações. Estas duas intervenções mencionadas, foram as únicas realizadas pois o restante foi mantido como o original, apenas havendo o restauro. LEGENDA malha estrutural C

B

A

CORTE AA' ESCALA: SEM ESCALA

C

B

A

CORTE BB' ESCALA: SEM ESCALA

Figura 27: Desenhos Técnicos Cic do Imigrante. Fonte: Arch Daily, adap. pela autora.

A estrutura das coberturas originais das edificações foram restauradas pelos arquitetos e mantidas a fim de manter as características da época. A única que não pode ser mantida visto as condições em que se encontrava foi a do bloco B (café), logo foi refeita mas mantendo a similaridade. Retirou-se o forro, com o intuito de levar o usário ao resgaste da história, conforme menciona Noto (2016): “ Os elementos originais das coberturas (as tesouras de peroba com tirantes em aço, as mãos-francesas em aço rebitado da marquise lateral) foram restaurados e, sem forro, chamados a participar da espacialidade no novo recinto.” (NOTO, 2016) C

B

A A

8 67 B C 45 3 1 2

CORTE CC' ESCALA: SEM ESCALA

CORTE PERSPECTIVADO' ESCALA: SEM ESCALA

~

Subtraçao Marquise

Figura 28: Cobertura restaurada aparente bloco C. Fonte: Arch Daily.

Figura 29: Estudo de volumetria CIC do Imigrante. Fonte: Arch Daily, adap. pela autora.


~

[ 3.1.5 VOLUMETRIA E COMPOSIÇAO DA FORMA ]

[ 3.1.6 ASPECTOS PAISAGÍSTICOS E ENTORNO ]

Os volumes que compõem a edificação são puros com apenas uma subtração entre eles, o terraço que liga os dois blocos e compartimenta os usos. As características que mais se destacam na composição formal, são: o ritmo das fachadas devido a estrutura modulada (figura 29), bem como as esquadrias, compostas por perfis metálicos pretos e vidro, que se encaixam na modulação e se tornam bem definidas (figura 33); e os acessos, já que há esquadrias em todos os vãos entre pilares, há marquises nas portas de entrada com a intenção de demarcar o acesso (figura 29). A sinalização de identificação visual está presente também nas fachadas com a nomeação dos blocos (figura 32).

A forma com que os blocos estão dispostos faz com que todos tenham uma boa insolação. Todos possuem grandes aberturas voltadas para Norte / Nordeste e Sul / Sudoeste, logo a fachada a ‘Norte’ receberá boa incidência solar.

Bloco B

+

Além disso, devido também a implantação dos galpões, criou-se um microclima entre eles, o que promove um fluxo melhor de ventos e facilita a ventilação cruzada devido a disposição das aberturas. A vegetação presente na praça também auxilia no microclima, promovento uma barreira termo-acústica. N Bloco B

LEGENDA Bloco C L

Bloco C

SOL 21/06 SOL 21/12 MICROCLIMA VENT.

O

Elemento de ligação entre os blocos

Figura 30: Estudo de volumetria CIC do Imigrante. Fonte: Autora.

Figura 32: Relação dos blocos com o entorno da praça. Fonte: Arch Daily adap. pela autora.

estudo de volumetria escala: sem escala

PLANTA BAIXA PAVIMENTO TÉRREO S ESCALA: SEM ESCALA Figura 31: Estudo de Insolação CIC do Imigrante. Fonte: Arch Daily, adap. pela autora.

Figura 33: Integração interior e exterior. Fonte: Arch Daily, adaptado pela autora,


[ 3.2 SESC POMPEIA ]

Localização: Barra Funda, São Paulo - São Paulo - Brasil; Arquiteta: Lina Bo Bardi; Área: 23.571,00m² Ano do projeto: 1986; Fotografias: Pedro Kok, Fernando Stankuns, Flickr beatriz marques (CC BY-NC);


~

[ 3.2.1 LOCALIZAÇAO ]

[ 3.2.2 O PROJETO ] A definição do SESC Pompeia como objeto de estudo e referência projetural para o Centro de Integração do Migrante, se deu em razão do seu programa e forma com que os espaços públicos são tratados. A arquitetura em si, apesar de analisadas algumas características, não é o foco da pesquisa, mas sim a forma com que os espaços e usos são organizadas e se relacionam com o entorno.

BRASIL > SAO PAULO > Barra funda > SESC POMPEIA

AV .P

OM

PE

IA

~

Figura 35: Localização Sesc Pompeia. Fonte: Google Earth. Figura 34: Sesc Pompeia. Fonte: Arch Daily.

A cidade de São Paulo possui 16 unidades do Sesc em diversos bairros, nas quais ocorrem inúmeras atividades culturais, socias e esportivas. O Sesc Pompeia especificamente, é a unidade que mais se destaca devido a sua arquitetura. Lina Bo Bardi, arquiteta ítalo-brasileira, que já havia tido destaque com o desenvolvimento do projeto do Museu de Arte de São Paulo (MASP), foi convidada para projetar o que viria a ser um grande destaque mundial. Uma antiga indústria de tambores de óleo inspirada nas fábricas inglesas do século XIX, a qual foi leiloada e transformou-se em fábrica de geladeiras, é o local destinado ao Centro de Lazer. Este lugar estava intimamente ligado com o contexto histórico do bairro, o qual Lina considerava importante e queria valorizar através da arquitetura. Os três galpões fabris foram preservados e as intervenções surgiram a partir da construção de três edifícios em concreto que se ligam através de 8 passarelas. Estes espaços comportam diferentes usos como oficinas de arte, teatro, restaurante, piscina, ginásio poliesportivo, espaços de arte, além de já ter abrigado diversos eventos culturais importantes. Ainda, a forma como ocorreu a distribuição do programa e a valorização do local surgem de uma forma poética. Junto ao terreno passa um rio que a partir das diretrizes projetuais, é canalizado e passa a correr junto aos ambientes projetados de forma harmônica e integrada. “Arquitetura, para mim, é ver um velhinho, ou uma criança com um prato cheio de comida atravessando elegantemente o espaço do nosso restaurante à procura de um lugar para se sentar, numa mesa coletiva. Fizemos aqui, uma experiência socialista.” (BARDI, 2008)


[ 3.2.3 FUNCIONALIDADE E ZONEAMENTO ]

A’

A 1

2 3

12

4

10

11

5 9

14 16

15

13

8

16

01 02 03 04 05 06 07 08

CONJUNTO ESPORTIVO COM PISCINAS, GINÁSIO e quadras LANCHONETE, VESTIÁRIOS, SALA DE GINÁSTICA, LUTAS E DANÇA torre de caixa d'água deck SOLARIUM e espelho d'água ~ ALMOXARIFADO E OFICINAS De manutenÇAO Estúdios para pintores, carpinteiros, ceramistas, estofadores LABORATÓRIO FOTOGRÁFICO, SALA DE MÚSICA E DANÇA TEATRO

PLANTA BAIXA PAVIMENTO TÉRREO 0 15m 30m

09 10 11 12 13 14 15 16

FOYER RESTAURANTE self service COZINHA INDUSTRIAL VESTIÁRIOS E REFEITÓRIO FUNCIONÁRIOS ~ ÁREA DE ESTAR, mostras e jogos de salao BIBLIOTECA e videoteca ~ EXPOSIÇOES TEMPORÁRIAS ~ ADMINISTRAÇAO GERAL

LEGENDA ZONEAMENTO:

7

Figura 36: Planta baixa. Fonte: Arch Daily, adap. pela autora.

Figura 37: Espaços públicos. Fonte: Arch Daily.

6

Os acessos a edificação são através de duas ruas distintas, sendo que devido a disposição dos edifícios, se conectam e promovem a conexão entre estas. As circulações internas se tornam uma extensão do passeio público e da rua, transformando-se em um centro cultural espontâneo a céu aberto. LEGENDA PROGRAMA DE NECESSIDADES:

Uso CULTURAL E COLETIVO DE ACESSO PÚBLICO ESPAÇO PRIVADO DE ACESSO PÚBLICO ESPAÇOS EXCLUSIVOS PARA USUÁRIOS DO SESC

Figura 38: Relação da circulação com o programa. Fonte: Arch Daily.

áreas de serviço ACESSOS SECUNDÁRIOS ACESSO PRINCIPAL

~

FLUXO DE CIRCULACAO

Figura 39: Espaços públicos. Fonte: Arch Daily.


[ FLUXOGRAMA ] Acesso

BIBLIOT. e videoteca ESTAR, mostras ~ e jogos de salao

deck SOLARIUM e espelho d'água CONJUNTO ESPORTIVO COM PISCINAS, GINÁSIO e quadras

REST. self service torre de caixa d'água

LANCHONETE, VEST., SALA DE GINÁSTICA, LUTAS E DANÇA

Figura 40: Fluxograma. Fonte: Autora.

Figura 41: Espaços públicos. Fonte: Arch Daily.

ALMOX. E OFICINAS De manutenÇAO

FOYER

EXP. TEMPORÁRIAS

COZINHA INDUSTRIAL

TEATRO

LAB. FOTOGRÁFICO, SALA DE MÚSICA E DANÇA

VEST. E REFEITÓRIO FUNCIONÁRIOS

ADMINIST. GERAL Estúdios p/ pintores, carp., ceramistas, estofadores

Percebeu-se a preocupação da arquiteta em manter praticamente todas as atividades da edificação com caráter público, apenas a parte destinada a alguns serviços do Sesc (espaços esportivos e teatro) possui a necessidade de ser sócio para utilizá-los. A área de convivência, localizada no galpão maior (figura 41), é considerada uma praça pública coberta em São Paulo, pois cria um espaço de acolhimento. Através dos elementos água (riacho que foi canalizado dentro da edificação) e fogo (lareira para os dias de frio), cria-se uma ambientação única utilizando-se de diretrizes simples mas que juntos provocam sensação de calmaria e pertencimento. Estes sentimentos eram tão presentes para Lina que ela dizia que as pessoas poderiam adentrar no espaço e dormir. Os espaços destinados as oficinas são fechados com paredes altas (mas sem fechar todo o pé direito duplo, apenas metade de sua altura conforme figura 43) de blocos de concreto e não possuem um fechamento na cobertura ou portas de entrada, apenas o vão. Desta forma mantêm-se a privacidade das aulas e atividades desenvolvidas dentro destas, mas o fato de não possuir portas principalmente, propõe a liberdade de ir e vir, ou seja, convida as pessoas a entrarem nos espaços e participarem das atividades ou sair a qualquer momento.

Figura 42: Extensão de rua que se forma entre os galpões. Fonte: Arch Daily, 2013.

Figura 43: Espaços públicos. Fonte: Arch Daily.


~

[ 3.2.4 GEOMETRIA DA FORMA E OCUPAÇAO ] Para fins de definição do Sesc Pompéia, Lina diz que não é um ‘Centro Desportivo’, visto que a ideia não é incentivar competições, tampouco ‘Centro de Cultura’, já que diversas atividades ocorrem alí. Portanto, o define como ‘Centro de Lazer’, onde diferentes usos e apropriações acontecem. Como forma de distribuir o programa e ordenar a ocupação do espaço, as atividades esportivas acontecem em duas edificações diferentes, uma destinada as práticas esportivas propriamente e outra para serviços de apoio. Assim, os dois edifícios criados compõem o complexo desportivo. Já que no esporte as pessoas visam a brincadeira e a bola, essas atividades são projetadas com ~ circulação vertical, ~ CIRCULAÇAO VERTICAL CIRCULAÇAO VERTICAL

CORTE AA' ESCALA: SEM ESCALA

Figura 44: Desenhos Técnicos. Fonte: Arch Daily, adap. pela autora.

~

~

ELEVAÇAO INTERVENÇOES ESCALA: SEM ESCALA

tornando-as reservadas do restante. As dimensões das quadras e piscinas foram pensadas fora do padrão das normas para que não pudessem haver competições, apenas o lazer. O espaço de terreno entre os dois prédios, é considerado área non edificandi devido a um rio que passa. Por esta razão, houve a necessidade de autorização para construção das passarelas que fazem a ligação entre os dois. As circulações projetadas dão a sensação de amplitude e integração com o contexto conforme figura 45. As áreas de convivência, cultura e atividades diárias são implantadas nos espaços existentes e sua circulação é horizontal facilitando o uso. LEGENDA ~ APOIO ESPORTIVO SERVIÇOS ÁREA LAZER E CONVIVÊNCIA CIRCULAÇAO HORIZONTAL ~ BLOCO ESPORTIVO EXP. TEMPORÁRIA OFICINAS E ESTÚDIOS CIRCULAÇAO VERTICAL ~ TEATRO EDIFICAÇOES EXISTENTES

~

CIRCULACAO PEATONAL E HORIZONTAL

~

ELEVAÇAO PRÉ-EXISTÊNCIA ESCALA: SEM ESCALA

~

TIJOLOS DE BARRO ORIGINAIS DESCASCADOS

Figura 45: Relação da edificação com o entorno e insolação. Fonte: Arch Daily.

INTERVENÇOES EM CONCRETO ARMADO

Figura 46: Materialidade dos galpões existentes. Fonte: Arch Daily, adap. autora.


[ 3.2.5 MATERIALIDADE ]

[ 3.2.6 ASPECTOS PAISAGÍSTICOS E ENTORNO ]

Os antigo galpões, que remetiam as fábricas originárias da Inglaterra, possuem características comuns de espaços fábris, sendo esta especificamente em tijolo de barro (figura 46). Este tijolo, o qual foi descascado para remoção da tinta nos espaços que a tinha, mantém os traços dos bairros fabris para quem circula nas ruas do entorno. Houve a preservação de toda a sua estrutura, principalmente dos pilares e vigas que foram projetados por um dos pioneiros do concreto armado no início do século XX, o francês François Hennebique. Essa estrutura era considerada inovadora para a época pois não se apoiavam nas fundações, eram chamadas de ‘vigas duplas’ e se sustentavam por si só. Ainda, as intervenções realizadas pela arquiteta foram feitas em concreto armado além da cor vermelha, de forma a diferenciar as diretrizes atuais de projeto do que já era existente.

O bloco esportivo e os galpões já existentes possuem uma boa insolação, sendo esta Leste / Oeste. Dessa forma, com o auxilio das grandes esquadrias, o conforto térmico se torna garantido nas edificações. Como estratégia de proteção solar no bloco esportivo, propõem-se brises de correr perfurados que protegem do sol e ainda mantêm a relação com o entorno e garantem a ventilação do espaço interno. Mais uma vez, pensando na adequação climática, algumas das coberturas dos galpões são de vidro, o que traz a luz natural permanente para o interior. Em razão das circulações criadas entre os blocos, criou-se um fluxo de ventos que possibilitam ventilação efetiva dos espaços propiciando as trocas de ar. L LEGENDA SOL 21/06 SOL 21/12 MICROCLIMA VENT. S

Apesar das mudanças que ocorreram com o projeto de intervenção, os vestígios da antiga fábrica estão presentes nos pequenos detalhes. A própria linguagem arquitetônica das novas edificações remetem a indústria, o volume cilíndrico por exemplo, que é responsável por abrigar a caixa de água, representa os antigos silos utilizados nas empresas (figura 49).

N O

Figura 47: Estudo de Insolação. Fonte: Arch Daily, adap. autora.

PLANTA BAIXA PAVIMENTO TÉRREO ESCALA: SEM ESCALA

Volume caixa de água que remete aos antigos silos

Figura 48: Elemento de proteção solar. Fonte: Arch Daily.

Figura 49: Relação da edificação com o entorno e insolação. Fonte: Arch Daily, adap. autora.


[3.3 BUD CLARK COMMONS]

Localização: Portland, OR, USA; Escritório de Arquitetura: Holst Architecture; Área: 10.600,00m² Ano do projeto: 2011; Fotografias: Sally Schoolmaster, Christian Columbres; 52


~

[ 3.3.1 LOCALIZAÇAO ]

[ 3.3.2 O PROJETO ] O Edifício Bud Clark Commons é um abrigo e centro-dia para população de rua e pessoas em vulnerabilidade social. Escolheu-se esta referência para análise, pois apesar do direcionamento de público ser diferente do projeto da presente pesquisa, há muitos pontos principalmente no programa de necessidades que são semelhantes. Além disso, os arquitetos responsáveis mencionam que uma das características que o projeto deveria ter na sua concepção, era a possibilidade de aderir novos usos com o tempo, premissa esta utilizada também no Centro de Integração do Migrante.

ESTADOS UNIDOS > OREGON > PORTLAND > BUD CLARK COMMONS

NW BROADWAY

NW IRVING ST

NW HOYT ST

Figura 51: Localização Bud Clark Commons. Fonte: Google Earth. Figura 50: Edíficio Bud Clark Commons. Fonte: Arch Daily.

O Edifício está localizado em uma região que possui muitos desabrigados, desta forma torna-se um ponto chave no bairro para estes. Seus objetivos são providenciar serviços contínuos na área da saúde, abrigo e centro de aprendizado. Com estas atividades, é possível auxiliá-los na transição para uma vida estável, diferentemente do que possuem no momento em que procuram o Centro. A edificação se organiza a partir da definição de três setores distintos, sendo estes: área de acesso livre durante o dia para os serviços oferecidos; abrigo temporário com noventa camas para homens moradores de rua; e 130 apartamentos tipo “estúdio” nos últimos cinco pavimentos do total de oito pavimentos que possui. Estes apartamentos são direcionados para homens e mulheres com renda baixa e que buscam um abrigo permanente (ARCH DAILY, 2011). Além de se destacar devido ao cunho social, o projeto buscou a sustentabilidade e possui o certificado Leed Platinum. Dentre suas estratégias, a reutilização da água, aproveitamento das águas pluviais, água quente solar e materiais que auxiliam no conforto térmico. O Holst Architecture, menciona que a economia de energia por ano seria de aproximadamente U$ 60.000,00. Assim, torna-se um projeto inovador visto que apesar de ser para atendimento social, busca-se atender elementos que muitas vezes são considerados caros para esta categoria. 53


[ 3.3.3 FUNCIONALIDADE E ZONEAMENTO ] 11

11

10

09

09 07

06

06

04

08 05

03

39

21 22 23 20

24

19

17

25 29 29

33

33 34

33

06 29 28

02

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16 15 01 13 12 14

38 39

39

39

40

41

33 35

30

PLANTA BAIXA PAVIMENTO INFERIOR PLANTA BAIXA PAVIMENTO TÉRREO ESCALA: SEM ESCALA ESCALA: SEM ESCALA Figura 52: Desenhos Técnicos. Fonte: Arch Daily, adap. pela autora.

36

37

PLANTA BAIXA 1º andar ESCALA: SEM ESCALA

42

PLANTA BAIXA PAVIMENTOS 2º Ao 6º andar ESCALA: SEM ESCALA

54 Figura 53: Acesso abrigo temporário pavimento inferior. Fonte: Arch Daily.

Figura 54: Relação das áreas de convivência com o exterior. Fonte: Arch Daily, adap. autora.


LEGENDA ZONEAMENTO: CENTRO-DIA ABRIGO PERMANENTE ABRIGO TEMPORÁRIO

ACESSO CENTRO DIA ACESSO ABRIGO PERMANENTE ACESSO ABRIGO TEMPORÁRIO

LEGENDA PROGRAMA DE NECESSIDADES: ~

01 Acesso DOAÇOES 02 ACESSO PRINCIPAL ~ 03 RECEPÇAO 04 ÁREA COMUNITÁRIA 05 SALA DE EXERCÍCIOS 06 ESCRITÓRIOS 07 COZINHA 08 PÁTIO 09 DORMITÓRIOS 10 BANHEIROS 11 DEPÓSITOS

12 LOBBY 13 ADMINISTRATIVO 14 CORRESPONDÊNCIA 15 DESCARGA 16 MAQUINÁRIO 17 PÁTIO PÚBLICO 18 ACESSO ~ 19 RecepçAo 20 ÁREA COMUM 21 ESPAÇO MULTIUSO 22 COZINHA

23 BARBEARIA 24 SALA INFORMÁTICA 25 BIBLIOTECA 26 LAVANDERIA 27 CENTRO DE HIGIENE 28 VESTIÁRIO 29 ESCRITÓRIOS 30 SALA DE CÓPIA 31 SALA DE ARTES 32 VARANDA-JARDIM

33 ADMINISTRATIVO 34 DEPÓSITO 35 HALL ~ 36 SALA REUNIAO 37 SALA DESCANSO 38 UNIDADE ACESSÍVEL ~ 39 UNIDADE PADRAO 40 ADMINISTRATIVO 41 LAVANDERIA 42 SALA COMUNITÁRIA

O zoneamento com três setores distintos, fica evidente na distrição em planta baixa, o qual é compartimentado a partir dos diferentes acessos e circulações verticais que possui. O pavimento inferior possui os abrigos temporários conforme pode-se observar na figura 53, sendo que há a conexão do interior e exterior, o que fica evidente com os grandes panos de vidro. Esta estratégia faz relação com o tema do projeto, pois desta forma aproxima as pessoas que passam a quererem entrar, visto que está inserido em um bairro que possui muitos desabrigados. Já o pavimento térreo e 1º andar ficam responsáveis por receberem o centro-dia, ou seja, as atividades institucionais e que buscam recuperar as pessoas em situação vulnerável. Percebe-se claramente através da figura 50, que houve uma separação do abrigo temporário e centro-dia do abrigo permanente, com a intenção de deixá-lo com mais privacidade. Outra característica importante que pode ser percebida em planta baixa, é que a concepção de estrutura e layout permitem abrigar outros usos futuramente, como hoteis e abrigos para idosos ou estudantes. Até mesmo a separação dos usos a partir do zoneamento é uma solução arquitetônica para que isso possa ocorrer futuramente.

55 Figura 55: Acesso abrigo temporário e área de convivência. Fonte: Arch Daily.

Figura 56: Área de circulação abrigo temporário. Fonte: Arch Daily, adap. autora.


~

[ 3.3.4 GEOMETRIA DA FORMA E OCUPAÇAO ] A volumetria da edificação se constitui de dois volumes puros, com algumas subtrações para favorer a ventilação e insolação nos ambientes. A distinção entre as duas diferentes volumetria é vista devido a própria materialidade, que faz o zoneamento dos usos. Percebe-se a partir da figura 57, que a ala de estúdios acaba se sobressaindo do restante, pois as esquadrias seguem determinado ritmo, havendo algumas que se deslocam deste ‘quebrando’ a monotonia da fachada.

Visando a redução dos custos, a estrutura do priojeto é de concreto pré-moldado, o que remete ao conceito da sustentabilidade mencionado anteriormente, devido a racionalidade e o não desperdício de materiais. A malha estrutural fica bem definida em planta baixa, podendo ser vista também na volumetria, principalmente nas subtrações que deixam os pilares em evidência. 1 A

AQUECIMENTO SOLAR

2

3

4

A

B C

D

E

F

G

B

áreas de uso comum

C D

VOLUME DESTINADO AO ABRIGO PERMANENTE VOLUME DESTINADO AO ABRIGO PERMANENTE

E F

CENTRO DIA ABRIGO TEMPORÁRIO LEGENDA RITMO DE ESQUADRIAS NA FACHADA malha estrutural Figura 57: Fachada Leste. Fonte: Arch Daily, adap. autora.

[ 3.3.5 SISTEMA CONSTRUTIVO ]

G ~

ELEVAÇAO Leste ESCALA: SEM ESCALA

PLANTA BAIXA PAVIMENTO INFERIOR ESCALA: SEM ESCALA Figura 58: Diagrama malha estrutural. Fonte: Arch Daily, adap. autora.

~

ELEVAÇAO OESTE ESCALA: SEM ESCALA

56 Figura 59: Portão de acesso com material reutilizado. Fonte: Arch Daily.

Figura 60: Jardim interno para ventilação e insolação. Fonte: Arch Daily, adap. autora.


[ 3.3.6 MATERIALIDADE ]

[ 3.3.7 ASPECTOS PAISAGÍSTICOS E ENTORNO ]

Devido a possibilidade de a edificação aderir um novo uso no decorrer dos anos, apesar de ser uma obra de caráter público e haver a necessidade de menores custos, os materiais empregados foram de boa qualidade justamente para que sejam resistentes e durem ao longo dos anos. A materialidade utilizada, tem foco na sustentabilidade e foi escolhida especificamente para otimizar a saúde dos residentes, muitos dos quais sofrem de doenças, além da durabilidade e manutenção reduzida, redução do uso de energia, novamente em razão da natureza pública do projeto e sua necessidade de redução de custos. Alguns materiais foram reciclados para um novo uso, assim como ocorre com a estrutura metálico dos portões de acesso (figura 62).

Conforme percebeu-se no estudo de insolação (figura 61), tanto os dormitórios do abrigo temporário quanto os estúdios dos pavimentos tipos, possuem insolação adequada, sendo estas respectivamente Oeste e Leste. Ainda, outra estratégia utilizada que pode ser percebida nas plantas plantas baixa (figura 52) através de algumas subtrações que estas possuem, é a criação de jardins internos na edificação, com a intenção de promover a insolação e ventilação adequada em locais que não obtêm estas a partir das fachadas externas (figura 63).

O edifício possui dois pátios que são construídos com materiais duráveis, como concreto pintado e aço de intemperismo, um produto reciclado e reciclável. Muitos materiais usados na construção do edifício são produzidos localmente ou colhidos e produzidos de forma sustentável, incluindo tijolo local, concreto local e revestimentos internos e revestimentos internos certificados pelo FSC (SINGHAL, 2014).

N

LEGENDA SOL 21/06 SOL 21/12 O

N

LO

S PLANTA BAIXA PAVIMENTO INFERIOR ESCALA: SEM ESCALA Figura 61: Estudo de Insolação. Fonte: Arch Daily, adap. autora.

L

S

PLANTA BAIXA PAVIMENTO tipo ESCALA: SEM ESCALA

57 Figura 62: Portão de acesso com material reutilizado. Fonte: Arch Daily.

Figura 63: Jardim interno para ventilação e insolação. Fonte: Arch Daily, adap. autora.


[ 3.4 COMPARATIVO DE REFERENCIAIS ] [ REFERÊNCIA ]

[ PROJETO ]

[ PROGRAMA ]

[ ENTORNO ]

[ URBANO ]

CIC DO IMIGRANTE

O projeto é um centro de atendimento ao migrante, inserido em uma área ferroviária, devido a grande demanda de migrantes na cidade de SAO Paulo. O projeto é um retrofit dos galpOES existentes no local.

O programa abrange apoio nas áreas sociais, trabalhistas, psicológicas, lazer, espaços de convivência e direcionamento para habitaçOES, nAO possuindo abrigos na própria edificaçAO.

Devido ser um retrofit, os antigos galpOES que estavam no local nAO sofreram grandes intervençOES, foram apenas restaurados, assim, INTEGRANDO-SE NO SEU ENTORNO.

A relaçao com o urbano é muito importante pois devido a estar inserido em uma área ferroviária, criou-se uma praça no seu entorno em que a própria faz o direcionamento de quem chega para os serviços.

SESC POMPEIA

O Sesc Pompeia é um retrofit em uma antiga fábrica de tambores em SAO Paulo. Projeto consagrado de Lina Bo Bardi, conecta os espaços, PROMOVENDO O USO PÚBLICO E OS ENCONTROS ENTRE PESSOAS.

O programa abrange em sua maioria atividades de uso público, além das necessidades específicas do Sesc, que também é em prol da comunidade, como quadras poliesportivas e biblioteca.

O PROJETO SE RELACIONA COM O ENTORNO, POIS ESTÁ LOCALIZADO EM UM BAIRRO FABRIL E AS INTERVENÇOES FORAM FEITAS TODAS REMETENDO AO ESTILO INDUSTRIAL, INTEGRANDO-SE COM O local.

O Sesc Pompeia integra-se com o meio urbano, pois há uma praça em todo o seu térreo que promove a ligaçAO entre as diferentes ruas, além de fazer com que seja uma extensAO do passeio público.

O projeto surge em um bairro de Portland que possui muitos desabriga~ dos. Propoem um espaço que possa vir a abrigar novos usos com o tempo, além de princípios de sustentabilidade.

O programa é voltado para as pessoas moradoras de rua e vulnerabilidade social, possuindo espaços de abrigo, atividades profissionalizantes, apoio médico, psicológico, jurídico e trabalhista.

A relaçao com o entorno foi um ponto decisivo no partido arquitetônico, pois os arquitetos buscaram seguir as ~ alturas das~ edificaçoes existentes e cores que nao destoassem do entorno.

~

~

~

BUD CLARK COMMONS

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~

~

~

O projeto integra-se com o meio urbano através de grandes panos de vidro, que convidam as pessoas adentrarem o ~ edifício, pois estes fazem a relaçAO do ambiente interno com o externo.


~

[ 3.5 CONCLUSOES ] A partir das análises das referências e do quadro comparativo, percebeu-se que devido ao projeto abranger diferentes necessidades, diversos temas podem ser utilizados como referencial arquitetônico. Desta forma, as análises possuem temas com focos diferentes, mas que auxiliam nas diferentes competências que o Centro de Integração do Migrante assume. Todas as referências possuem em comum a relação do público e do privado, além de fazerem conexão com o seu entorno impulsionando a integração dos usuários. A CIC do Imigrante foi a primeira referência analisada e possui itens em seu programa necessidades em comum com o da pesquisa. O que mais se destaca é a integração com o urbano, pois está inserida dentro de um complexo ferroviário, logo cria-se uma praça em seu entorno, que já direciona quem chega ao acesso dos diversos serviços que exercem. Contudo, devido aos investimentos serem públicos, torna-se reduzido na questão habitacional, pois não prevê os abrigos temporários. A seguir, analisou-se o Sesc Pompeia, que atende o público em geral, mas que se relaciona com a presente proposta na forma com que os espaços se articulam. Além disso, a arquiteta enfatiza a experiência coletiva como fator para o sucesso do projeto, promove a conexão com as ruas e torna o projeto uma extensão desta, assim como se pretende trabalhar na requalificação da praça na qual o Centro estará inserido. Por fim, o Edifício Bud Clark Commons destinado a abrigo e centro-dia para pessoas em situação de rua, tornou-se objeto de análise visto que mesmo direcionados para públicos diferentes, possuem similaridades em seus programas de necessidade. Além disso, devido a ser destinado a pessoas em vulnerabilidade social, o que pode ser uma situação temporária, tem-se a preocupação em projetar um prédio atemporal e que tenha a liberdade de aderir novos usos no futuro.



Figura 64. Fonte: Cristian Newman;

[ 4. ETAPA DE PLANEJAMENTO ]


~

[ 4.1 PREMISSAS PARA DEFINIÇAO DO LUGAR ] Conforme já explicado anteriormente, como forma de identificar as necessidades principais dos migrantes em Caxias do Sul, realizou-se uma pesquisa qualitativa através de entrevistas com pessoas de esferas sociais distintas, a fim de perceber as diferentes perspectivas sobre o assunto. A partir dessas definições, foram dispostas algumas premissas para escolha do terreno, a fim de que o Centro de Integração do Migrante pudesse tentar atender as deficiências encontradas. Vale ressaltar que os migrantes atualmente não se encontram estabelecidos nos mesmos locais, devido principalmente as diversas oportunidades oferecidas, logo descartou-se a possibilidade de locar o Centro em um espaço em que já se encontrassem consolidados.

PREMISSAS definidas a partir das necessidades OBSERVADAS: ~ PROXIMIDADE COM A ESTAÇAO RODOVIÁRIA DE CAXIAS DO SUL: A maioria dos migrantes chegam na cidade através da Estação Rodoviária. Portanto, a localização do terreno deve estar próximo a ela, de forma que tanto utilizando transporte público quanto peatonal, obtenham facilmente a possibilidade de chegada.

FÁCIL ACESSO ATRAVÉS DE VIAS DE ENTRADA DA CIDADE: Alguns migrantes acessam a cidade pelas vias principais da cidade, como exemplo a RS 122 e a BR 116, portanto o lote deve estar localizado próximo a elas, propiciando o ingresso e levando mais pessoas a procurar os serviços oferecidos;

~

TRANSPORTE PÚBLICO QUE ATENDA A REGIAO:

Quase todos os migrantes que chegam a cidade não possuem transporte próprio. Logo, há a necessidade de que o local aonde se insira o Centro seja atendido por transporte público. Desta forma, obtém-se a mobilidade e contribui-se para os deslocamentos, visto que estes também são importantes para a integração com a cidade, pois só assim têm a oportunidade de conhecê-la;

EQUIPAMENTOS E ATIVIDADES QUE AUXILIEM OS USUÁRIOS DO PROJETO: A maioria dos migrantes que ingressam na cidade dependem exclusivamente do transporte público. A partir disso, localizar o Centro em um local que já seja atendido por diversas atividades e usos, facilitando os deslocamentos a pé, auxilia na qualidade de vida inicial deles na cidade; ~

~

POSSIBILIDADE DE CONEXAO COM A COMUNIDADE COMO FORMA DE IMPULSIONAR A INTEGRAÇAO LOCAL: A partir das análises realizadas, percebeu-se que uma das grandes deficiência está na falta de estímulo em integrá-los com a comunidade. Dessa forma, pensou-se que uma área que pudesse ter um elemento que servisse de conexão entre os migrantes e os usuários do próprio bairro, colaboraria com a integração local, o que promoveria também a humanização do assunto.

TERRENO PÚBLICO PARA PARCERIA PÚBLICO-PRIVADA: Atualmente, a mantenedora do Centro de Apoio ao Migrante existente é uma instituição religiosa que não recebe ajuda governamental. Como forma de viabilizar o projeto, pensou-se em uma parceria público-privada, portanto o terreno seria um lote público e os investimentos partiriam de instituições privadas. 62


~

[ 4.2 LOCALIZAÇAO ]

RU AI

RM ÃO

MA UR

ÍCI

O

RUA IRMÃO JOSÉ

Figura 65: Localização proposição de terreno. Fonte: Google Earth adap. pela autora.

BRASIL > ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL > NORDESTE RIOGRANDESE > CAXIAS DO SUL

~

CAXIAS DO SUL > BAIRRO MARECHAL FLORIANO > RUA IRMAO JOSÉ 63


~

Figura 68. Fonte: Google Earth adap. pela autora.

1979

2010

O bairro Sagrada Família se localiza próximo a duas vias importantes de acesso a cidade de Caxias do Sul, a BR 116 e a Avenida Perimetral Rubem Bento Alves. Teve seu desenvolvimento ligado fortemente a chegada da BR 116 na década de 1950 e posteriormente a construção da Perimetral. Pode-se observar que em 1988 haviam muitos lotes vazios, contudo, em 1998, já com a Avenida citada construída, a densidade de edificações aumentou consideravelmente em seu entorno. Atualmente o local é uma área pública, denominada de Praça Municipal Pedro Rodrigues da Silva, contudo, devido ao abandono da Prefeitura, o local não exerce sua função social e a comunidade hoje, o utiliza como quadra de futebol. Demarcação do lote a ser trabalhado

1998

[ 4.3 EVOLUÇAO URBANA ]

Figura 69. Fonte: Google Earth adap. pela autora.

2014

1988

Figura 66. Fonte: Google Earth adap. pela autora.

Figura 67. Fonte: Google Earth adap. pela autora.

Figura 70. Fonte: Google Earth adap. pela autora.

64


Figura 71: Praรงa Municipal Pedro Rodrigues da Silva. Fonte: Acervo pessoal autora.

65


[ LEGENDA ]

[ 4.4 INFRAESTRUTURA E EQUIPAMENTOS ] Utilizou-se para análise do entorno raios de abrangência de 500m e 1000m, a fim de identificar a infraestrutura e equipamentos que colaboram diretamente com o espaço destinado a proposta de projeto. Através da demarcação do bairro Sagrada Família, constatou-se que as áreas verdes estão localizadas apenas nos bairros do seu entorno, sendo que nenhuma abrange diretamente a população do local em análise, levando esta a percorrer distâncias mais longas. O único respiro urbano no seu interior é a Praça Pedro Rodrigues da Silva, a qual integra a proposição de lote do projeto. Atualmente, este espaço não atende a demanda total de usuários devido a falta de infraestrutura e subuso de seu potencial, logo não exerce a função social prevista no contexto macro da cidade de praça. Além disso, uma das diretrizes na escolha do terreno era o seu acesso facilitado, logo percebe-se que tanto a Perimetral Rubem Bento Alves quanto a BR 116, importantes vias de entrada da cidade, estão localizadas próximas a ele. Ainda, a Estação Rodoviária de Caxias do Sul, está posicionada a um pouco mais de 2,2Km do lote, o que impulsiona a ida dos migrantes ao Centro já quando chegam na cidade. Outra observação para escolha do local de implantação da edificação, é a proximidade com equipamentos públicos, com o intuito de facilitar o deslocamento pois os migrantes dependem, em sua maioria, de transporte público. A partir disso, dentre os locais de maior relevância, estão: a UBS do Sagrada Família; proximidade com o Hospital do Círculo e Hospital Geral; para fins de profissionalização, Universidade de Caxias do Sul; o Sine (Sistema Nacional de Empregos), local aonde podem obter a carteira de trabalho e que oferece ofertas e direcionamento para empregos; como local de possível trabalho, há algumas indústrias na Rua Irmão José e também, perto, há a empresa Randon (indústria de grande porte). Ademais, a proximidade com a área central da cidade facilita o alcance de serviços e atividades, que por sua vez, não se encontrem no bairro ou no entorno imediato do local em análise.

Raio de 1000m;

Raio de 500m;

P. Rubem Bento Alves;

BR 116;

Bairro Sagrada Família; Área de projeto;

Clube Recreio da Juventude;

Hospital Geral;

Universidade de Caxias do Sul;

Empresas Randon;

Polícia Rodoviária Federal;

Igreja Sagrada Família;

Parque Mato Sartori;

Hospital do Círculo;

SESI;

UBS Sagrada Família;

Jardim Botânico;

Praça Pedro Rodrigues Silva;

CIC - Câmara da Ind. e Comércio;

Escola Apolinário Alves;

SINE (Sistema Nac. de Emprego);

Estação Rodoviária;

Parque da Imprensa;

Estádio Alfredo Jaconi 66


1Km

0,5Km

B. SAGRADA FAMĂ?LIA

Figura 72: Mapa de ingraestrutura. Fonte: Google Earth adap. pela autora.

0 50m 100m 200m

67


[ 4.5 LEVANTAMENTO FOTOGRร FICO ]

01

Figura 73: Praรงa Municipal Pedro Rodrigues da Silva. Fonte: Acervo pessoal autora.

68


01

02

Figura 74: Praรงa Municipal Pedro Rodrigues da Silva. Fonte: Acervo pessoal autora.

03

Figura 75: Praรงa Municipal Pedro Rodrigues da Silva. Fonte: Acervo pessoal autora.

69


~

[ 4.6 USO E OCUPAÇAO DO SOLO ] Através do mapa de uso e ocupação do solo, percebeu-se a multifuncionalidade da região, com predominância de edificações residenciais, sendo algumas de uso misto com comércio e serviços. Assim, há uma clara percepção do zoneamento previsto pelo Plano Diretor Municipal, visto que o uso residencial se encontra bem definido. Já em direção a Avenida Perimetral Rubem Bento Alves e a BR 116, há um forte uso industrial, comercial e de serviços, em virtude principalmente da importância das vias mencionadas em relação a hierarquia viária e o contexto da cidade. Além dos espaços destinados a serviços e comércio, há edificações de usos institucionais que servirão de apoio aos usuários do Centro.

Figura 76: Entorno terreno. Fonte: Autora.

01

Figura 78: Entorno terreno. Fonte: Autora.

03

Figura 77: Entorno terreno. Fonte: Autora.

02

Figura 79: Entorno terreno. Fonte: Autora. 04

8VR 5HVLGHQFLDO

8VR ,QVWLWXFLRQDO

6HUYLoRV

8VR 0LVWR

8VR &RPHUFLDO

8VR ,QGXVWULDO

ÈUHD GHestudo HVWXGR

70


02

03 01

Figura 80. Fonte: Mapa Digital Geo Caxias adap. pela autora.

P

P

P

71


[ 4.7 TIPOLOGIAS DE ALTURAS ] A leitura dos gabaritos das edificações do bairro evidencia o zoneamento voltado ao uso residencial, uma vez que são poucas as edificações com mais de 2 ou 3 pavimentos, ou seja, a concentração de edifícios de grande porte é baixa. As alturas dos imóveis passam a aumentar na área onde se concentram os usos industriais e serviços, pois o pé-direito dos pavilhões são mais altos em razão das atividades desenvolvidas. Contudo, ainda assim, as alturas na rua Irmão José e Irmão Maurício ficam em torno de 8m, por conseguinte este é um fator que influenciará no partido arquitetônico posteriormente.

0

25m

50m 75m

Skyline 01

Figura 81: Entorno terreno. Fonte: Autora.

Figura 82: Rua Irmão José.Skyline 01

Demarcação do lote a ser trabalhado

Skyline 02

Skyline 02 . Fonte: Autora.

01

3DYLPHQWRV

3DYLPHQWRV

3DYLPHQWRV

RX PDLV 3DYLPHQWRV

ÈUHD GH HVWXGR

Trecho Skyline analisado

72


01

SkYline 01

SkYline 02

Figura 83. Fonte: Mapa Digital Geo Caxias adap. pela autora.

P

P

P

73


[ 4.8 HIERARQUIA VIÁRIA E TRANSPORTE PÚBLICO ] O sistema viário do bairro é hierarquizado a partir da Avenida Perimetral Rubem Bento Alves, tornando-se a via de maior importância para a região. Quanto ao transporte público, toda a região é atendida pelo ônibus urbano da empresa Visate, sendo que há alguns ônibus que passam em frente ao terreno, o que facilita a mobilidade e acesso ao projeto. Na imagem abaixo, demonstrou-se o itinerário do ônibus da Linha 11 (Sagrada Família - Madureira), a partir da Estação Rodoviária de Caxias do Sul (possível local de ingresso na cidade) até a rua Irmão José (proposta de terreno). Além disso, conforme a empresa Visate informa, há ônibus a cada 10min. Com isso, percebeu-se que o acesso ao Centro é viável e facilitado, visto que o transporte público é efetivo e supre as necessidades do local.

Itinerário B. Sagrada Família. Fonte: GeoCaxias e Moovit.Figura 84. 7UDMHWR {QLEXV XUEDQR

6DtGD 5RGRYLiULD GH &D[LDV GR 6XO

ÈUHD GH HVWXGR

+LHUDUTXLD YLiULD

+LHUDUTXLD YLiULD

3DUDGD GH {QLEXV

'HVWLQR 5XD ,UPmR -RVp

+LHUDUTXLD YLiULD

+LHUDUTXLD YLiULD

5XDV TXH SDVVDP {QLEXV XUEDQR

74


Figura 85. Fonte: Mapa Digital Geo Caxias adap. pela autora.

P

P

P

75


[ 4.9 CHEIOS E VAZIOS ] Através da análise do mapa de cheios e vazios, percebe-se que há uma grande densidade de edificações, principalmente a Sul da área de análise. Nota-se também que praticamente não há áreas verdes públicas (vazios) que atendam diretamente o bairro Sagrada Família e que sirvam de respiro urbano para a comunidade. Os únicos espaços que possuem essas características, são o lote que compõe a proposição de projeto e seu terreno vizinho (demarcados no mapa ao lado), o qual possui uma visual muito interessante devido aos aspectos paisagísticos existentes e que, juntos, formam a Praça Municipal Pedro Rodrigues da Silva. Conforme análise realizada no mapa, demarcou-se também, de acordo com os vazios existentes, as possibilidades de conexões existentes entre a gleba e as vias que a circudam, de forma que se utilize essas ligações como diretrizes no partido arquitetônico.

Figura 86: Área verde ao lado do terreno proposto. Fonte: Autora.

&KHLRV

01

9D]LRV

ÈUHD GH HVWXGR

Áreas verdes públicas

Possibilidade de conexões

76


Figura 87. Fonte: Mapa Digital Geo Caxias adap. pela autora.

P

P

P

77


[ 4.10 CONDICIONANTES AMBIENTAIS ] A cidade de Caxias do Sul possui um clima temperado, tendo como característica verões relativamente quentes e invernos rigorosos. O terreno possui topografia plana e seu entorno acidentado, sendo todo ele com uma boa incidência solar. Quanto as edificações do entorno, além das duas edificações a Norte que podem

interferir na incidência solar devido ao sombreamento que provocam, o restante (a Sul) não interferem. A Oeste pode ser observado uma grande massa de vegetação, a qual pode criar um microclima na região, auxiliando no conforto termoacústico do terreno, além de poder ser valorizada através das visuais propostas no projeto.

SOLSTÍCIO DE INVERNO

12:00 - 0º 330 ~

SOLSTÍCIO DE VERAO O

N

12:00 - 0,2º

30

240

~

Ventos de veRAO

Nordeste

VENTOS DE INVERNO

60

210

SUDOESTE L

S Figura 88: Condicionantes naturais terreno. Fonte: Autora.

150

120 78


[ 4.11 CONDICIONANTES legais ] ~

PLANO DIRETOR MUNICIPAL E CÓDIGO DE OBRAS

NORMAS DE PROTEÇAO CONTRA INCÊNDIO

Caracterização da Zona: - Zona Residencial 3 - ZR3; - Destinado aos espaços urbanos adequados à densificação, tendo como função dar suporte ao uso residencial e atividades complementares à habitação; - Rua Irmão José e Rua Irmão Maurício, Bairro Sagrada Família; - Lotes nºs 01 e 04, quadra nº 3452, Dentro do 2º anel viário;

As normas que regem o Plano de PPCI são estaduais e balizadas pela Lei Complementar nº 14.924 / 2016. Como a proposta de edificação é considerada nova (posterior a 26 de Dezembro de 2013), as medidas de segurança são baseadas no que rege o Decreto Estadual 53.280 e devem ser observadas em relação a ocupação prevista e altura.

Índices de acordo com o Código de Obras Municipal: - Área do terreno: 12.790,00m² - IA permitido: 2,4; IA máximo: 30.696,00m²; - TO permitido: 60%; TO máximo: 7.674,00m²; - TP permitida: 20%; TP mínima: 2.558,00m²;

NORMA DE ACESSIBILIDADE UNIVERSAL Para a acessibilidade universal será utilizada a ABNT NBR 9050 “Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e quipamentos urbanos’’, que determina as diretrizes projetuais que deverão ser usadas para garantir o acesso de pessoas portadoras de necessidades especiais. Para tanto, será seguido as orientações da referida norma, principalmente, no que tange as rampas, escadas, circulações, vagas de veículos e cabines de banheiros especiais. Além disso, será consultada ao longo do desenvolvimento do projeto, a fim de que qualquer alteração projetual necessária para cumprimento desta seja feito. Desta forma, pode-se garantir o acesso universal e um atendimento de público maior, evitando qualquer restrição de pessoas.

Ocupação: Albergues assistencias com alojamentos; Classificação: B-1; Classe de Risco: Médio (500MJ/m²); Altura: Tipo III (6 < H < 12m); Características Construtivas: Z (Díficil propagação do fogo); Medidas de Segurança (em atenção ao Decreto 53.280): Acesso de viaturas na edificação; Segurança estrutural contra incêndio; Controle de Materiais de Acabamento e Revestimento; Saídas de Emergência; Brigada de Incêndio; Iluminação de Emergência; Detectores de Incêndio; Alarme de Incêndio; Sinalização de Emergência; Extintores; Hidrantes ou Mangotinhos; Sprinklers. Para o item ‘Saídas de Emergência’, há uma Resolução Técnica específica, denominada de ‘RT CBMRS 11 - Parte 1 / 2016’, a qual orienta todas as projeções que devem ser feitas em relação ao assunto. ~

NORMAS DE PROTEÇAO DO MEIO AMBIENTE - SEMMA As obras realizadas na cidade de Caxias do Sul, passam por análise da secretária da SEMMA em atenção a IT nº 10 / 2010 do Tribunal de Contas do RS e a Lei 8.666 / 1993, as quais asseguram o correto tratamento do impacto ambiental. Além disso, quando houver a retirada de uma árvore, a mesma deverá ser compensada em outro local, preferencialmente por espécies nativas. 79


[ 4.12 ANÁLISE SWOT ] FORÇAS

FRAQUEZAS

+

- Bairro residencial e tranquilo; - Localização de fácil acesso; - Atividades no entorno que servem de apoio para os usuários do Centro; - Sistema viário bem definido; - O transporte público atende toda a região;

OPORTUNIDADES

- Subutilização do potencial do lugar através do campo de futebol; - Sem infraestrutura de apoio aos usuários; - Falta de valorização da paisagem natural existente;

S

W

O

t

- O local é considerado uma praça e tem potencial para o resgate dessa função social; - Valorização das visuais voltadas ao terreno vizinho que possui grande massa de vegetação; - Revitalização das vias do entorno e possibilidade de conexão entre a Rua Irmão José e Rua Irmão Maurício; - Requalificação do campo de futebol e adequação com equipamento e mobiliários urbano que o auxilie;

-

AMEAÇAS

- Acesso pela rua Irmão Maurício é pequeno e prejudicaria a fachada voltada para ela; - Descaso da Prefeitura Municipal em investir no local;

[ 4.13 SÍNTESE DO DIAGNÓSTICO ] A partir das análises realizadas, percebe-se que o local tem grande potencial para a implantação do Centro de Integração do Migrante junto a requalificação da Praça Pedro Rodrigues da Silva. Visto que é uma área pública da Prefeitura e atualmente é utilizado como campo de futebol pela população, a renovação da área junto ao projeto do Centro é impulsionado por já ser uma área consolidada no uso. Além disso, como uma das necessidades observadas é a integração, a possibilidade de conexão da comunidade com os migrantes através do futebol, esporte já praticado no local, transforma-se em elemento de ligação entre as duas esferas, auxiliando no atendimento dos objetivos apontados anteriormente. Ainda, o deslocamento dos migrantes até o Centro se torna propício devido a fácil localização, a proximidade com as principais vias de entrada da cidade, bem como o transporte público atender toda a região, estimulando a mobilidade. O terreno vizinho possui uma grande massa de vegetação, portanto um grande potencial paisagístico, dessa forma há a possibilidade de valorização das visuais do projeto voltadas a ele. Ademais, este cria um microclima devido as árvores, as quais auxiliam no conforto termoacústico do entorno. Além disso, o lote em análise possui frentes voltadas tanto para a Rua Irmão José (a Norte), quanto para a Rua Irmão Maurício (a Leste), por isso o projeto viabilizará a ligação entre essas duas vias, devido a reestruturação da Praça. Apesar disso, conforme os dados obtidos a partir da análise de SWOT, este torna-se um ponto fraco do local também, visto que a entrada pela Rua Irmão Maurício é pequena e prejudicaria a fachada orientada para ela. Por fim, a implantação do projeto do Centro junto a requalificação da praça e quadra de futebol, potencializará o uso do local visto que melhorará inclusive a qualidade de vida dos moradores, pois hoje não possuem esse espaço. Ainda, promoverá naturalmente a integração entre diferentes etnias, devido a ser um espaço de uso público. 80


01

01

Figura 89: Praรงa Municipal Pedro Rodrigues da Silva. Fonte: Acervo pessoal autora.

81



Figura 90. Fonte: Debashis Biswas.

[ 5. PARTIDO ARQUITETÔNICO ]


[ 5.1 DIRETRIZES PROJETUAIS ] A partir das necessidades definidas, algumas diretrizes projetuais surgem com o intuito de direcionar as soluções arquitetônicas propostas. Utiliza-se como base, os concetos que Mahfuz (2004) descreve em suas reflexões acerca da construção da forma pertinente, sendo estes as contribuições da arquitetura moderna ao pensamento projetual contemporâneo e que seguem descritos abaixo:

[ ECONOMIA ]

“O critério de economia tem a ver com o uso do menor número possível de elementos para resolver um problema arquitetônico, e se refere tanto aos meios físicos quanto conceituais de que uma obra é composta. Uma qualidade muito importante dos projetos econômicos é a intensidade a que conduz uma relação formal entre um número reduzido de elementos espaciais.”

[ RIGOR ]

“Projetar com rigor significa voltar o foco da concepção para aqueles spectos do problema arquitetônico que são relevantes e transcedentes, para aquilo que é essencial em um programa, lugar ou processo construtivo, deixando de fora o que for meramente acessório;

~

[ O CENTRO DE INTEGRAÇAO DO MIGRANTE DEVE ATUAR COMO: ] ~

CONexao público privado; ADEPTO DE NOVAS NECESSIDADES QUE VENHAM A SURGIR COM O TEMPO; ~

ATUAR COMO DISSEMINADOR DA ACEITACAO DE DIFERENTES ETNIAS; FOMENTAR O USO Do espaço urbano; POSSUIR PRINCÍPIOS DE ARQUITETURA BIOCLIMÁTICA E SUSTENTABILIDADE;

~

[ PRECISao ]

”Um projeto preciso acentua a identidade formal de um artefato arquitetônico, o que não apenas facilita o entendimento de sua estrutura formal em suas várias escalas, como também a própria construção material do objeto.”

[ UNIVERSALIDADE ]

“A universalidade de um projeto é a condição de que algo seja reconhecido por si mesmo e que possa servir para outros própósitos sem perder sua qualidade intrínseca. Objetos dotados de universalidade adquirem uma qualidade de permanência que permite que atravessem os tempos com dignidade e utilidade.” Fonte: MAHFUZ, Edson. 2004.

84


~

[ 5.2 SETORIZAÇAO ] Propõe-se um espaço Ecumênico para manifestações culturais e religiosas e demais cerimônias que realizam;

A partir da análise de referenciais e terreno, além das diretrizes propostas para o projeto, identificou-se cinco setores principais, nos quais as atividades propostas para o projeto do Centro de Integração do Migrante ocorrerão. Ainda, vale ressaltar que a proposição de programa de necessidades poderá sofrer algumas alterações no desenvolvimento do projeto, visto que as necessidades dos usuários e a melhor distribuição de ambientes serão priorizadas.

SETOR DE ACOMPANHAMENTO: O setor de acompanhamento tem o intuito de promover o

acompanhamento psicológico, jurídico e médico dos migrantes. Ainda, os documentos de regularização podem ser feitos todos num local só, a fim de facilitar deslocamentos. É proposto também, um núcleo do CAM dentro do Centro;

ESPAÇO PÚBLICO: O espaço público proposto para o projeto, surge a partir da neces-

~

SETOR DE PROFISSIONALIZACAO: Espaço destinado a realização de cursos para capaci-

sidade de integração com a comunidade local. Desta forma, o campo de futebol (atividade já existente no local) é mantido, além da criação da praça como elemento de conexão entre o público e o privado. Além disso, é proposto um restaurante comunitário visando o atendimento de toda a região como forma de impulsionar o convívio e interação entre as diferentes origens;

tação profissional, aprendizado da língua portuguesa e auxilio na inserção no mercado de trabalho.

SETOR DE ACOLHIMENTO: Local de recepção dos migrantes e abrigo temporário coletivo

com possibilidade de espaços destinados famílias. Proposição de espaços de serviço coletivo, promovendo também a integração entre os usuários.

LAZER E CONVIVÊNCIA: Área para a interação e troca entre os usuários do Centro.

~

ESPAÇO PÚBLICO

LAZER E CONVIVÊNCIA

ACOMPANHAMENTO

PROFISSIONALIZAÇAO

ACOLHIMENTO

80%

1%

1%

6%

12%

+

+

+

+

+

+

+

85


[ 5.3 PROGRAMA E PRÉ-DIMENSIONAMENTO ] 1. ESPAÇO PÚBLICO PROGRAMA

QUANTIDADE (UN)

ÁREA (M²)

USUÁRIOS

EQUIPAMENTOS

CAMPO DE FUTEBOL RESTAURANTE COMUNITÁRIO

01

7.140,00

MIGRANTES, FUNCIONÁRIOS E PÚBLICO

MESAS, CADEIRAS, BUFFET E COZINHA INDUSTRIAL

01

500,00

Praça

01

3.000,00

MIGRANTES, FUNCIONÁRIOS E PÚBLICO MIGRANTES, FUNCIONÁRIOS E PÚBLICO

ÁREA TOTAL ~

7.140,00

GOleiras e rede de proteçao

500,00

MOBILIÁRIO URBANO

3.000,00 10.640,00

EQUIPAMENTOS

ÁREA TOTAL

ÁREA TOTAL

2. LAZER E CONVIVÊNCIA PROGRAMA ÁREA DE ESTAR ÁREA ECUMÊNICA ~

RECREAÇAO CRIANÇAS

QUANTIDADE (UN)

ÁREA (M²)

USUÁRIOS ~

02

50,00

MIGRANTES e FUNCIONÁRIOS

TELEVISAO, SOFÁS, POLTRONAS

100,00

01

50,00 30,00

ALTAR, MESAS E BANCOS jogos, brinquedos, mesas e cadeiras

50,00

01

MIGRANTES e FUNCIONÁRIOS MIGRANTES e FUNCIONÁRIOS ~

ÁREA TOTAL (+ 30% DE CIRCULAÇAO E PAREDES)

30,00 234,00

3. ACOMPANHAMENTO PROGRAMA

QUANTIDADE (UN)

ÁREA (M²)

USUÁRIOS

EQUIPAMENTOS

ÁREA TOTAL

ACOMP. MÉDICO

01

10,00

MIGRANTES e FUNCIONÁRIOS

MESA, CADEIRAS, maca E computador

10,00

ACOMP. JURÍDICO

01

10,00

MIGRANTES e FUNCIONÁRIOS

MESA, CADEIRAS E COMPUTADOR

10,00

ACOMP. PSICOLÓGICO

02

10,00

MIGRANTES e FUNCIONÁRIOS

MESAS, CADEIRAS E COMPUTADORES

20,00

NÚCLEO CAM

01

30,00

MIGRANTES e FUNCIONÁRIOS

MESAS, CADEIRAS E COMPUTADORES

30,00 91,00

~

ÁREA TOTAL (+ 30% DE CIRCULAÇAO E PAREDES)

86


~

4. PROFISSIONALIZAÇAO PROGRAMA

QUANTIDADE (UN)

ÁREA (M²)

USUÁRIOS

SALAS MULTIUSO biblioteca

10

50,00

MIGRANTES e FUNCIONÁRIOS

Classes, CADEIRAS, QUADRO BRANCO e projetor

500,00

01

150,00

MIGRANTES e FUNCIONÁRIOS

ESTANTES, MESAS, CADEIRAs, livros e computadores

150,00

15,00 40,00

MIGRANTES e FUNCIONÁRIOS FUNCIONÁRIOS

projetor, mesas e cadeiras

ADMINISTRATIVO

02 01

MESAS, CADEIRAS E COMPUTADORES

30,00 40,00

SANITÁRIOS SALA DE INFORMÁTICA

01 01

40,00 50,00

MIGRANTES e FUNCIONÁRIOS MIGRANTES e FUNCIONÁRIOS

vasos sanitários, mictórios e lavatórios MESAS, COMPUTADORES, PROJETOR E CADEIRAS

40,00 50,00

~

sala reunioes

EQUIPAMENTOS

ÁREA TOTAL

~

ÁREA TOTAL (+ 30% DE CIRCULAÇAO E PAREDES)

1.053,00

3. ACOLHIMENTO PROGRAMA

QUANTIDADE (UN)

ÁREA (M²)

USUÁRIOS

60,00 10,00

MIGRANTES, FUNCIONÁRIOS E PÚBLICO

MESA, CADEIRAS, POLTRONAS E COMPUTADORES

TRIAGEM

01 04

MESA, CADEIRA E COMPUTADOR

QUARTOS COLETIVOS

40

30,00

MIGRANTES, FUNCIONÁRIOS MIGRANTES, FUNCIONÁRIOS E PÚBLICO

SANITÁRIOS LAVANDERIA COLETIVA

04 01

40,00 15,00

MIGRANTES, FUNCIONÁRIOS E PÚBLICO MIGRANTES, FUNCIONÁRIOS E PÚBLICO

~

RECEPÇAO / EXPOSICAO

EQUIPAMENTOS

ÁREA TOTAL

CAMAS, MESAS, PIAS, VASOS SANITÁRIOS E CHUVEIRO vasos sanitários, mictórios e lavatórios

1.200,00

BANCADAS, MÁQUINAS DE LAVAR E SECAR ROUPAS

15,00

~

COZINHA COLETIVA

01

50,00

MIGRANTES, FUNCIONÁRIOS E PÚBLICO

BANCADAS, FOGAO, GELADEIRA, MICROONDAS, FORNO E PIA

SALA FUNCIONÁRIOS

01

45,00

MIGRANTES, FUNCIONÁRIOS E PÚBLICO

COPA, ARMÁRIOS, VESTIÁRIOS

~

ÁREA TOTAL (+ 30% DE CIRCULAÇAO E PAREDES)

01 + 02 + 03 + 04 + 05

60,00 40,00 160,00 50,00 45,00 2.041,00

Demanda total: 14.059,00M² 87


[ 5.4 ORGANOGRAMA ] Todo o projeto se organiza a partir do espaço público. Este contempla a requalificação urbana e paisagística da Praça Municipal Pedro Rodrigues da Silva que abriga também o campo de futebol. O pavimento térreo da edificação abrange as atividades também de caráter público, como o restaurante comunitário e o apoio para o campo de futebol. A organização dos fluxos define a transição do público e privado, em que surge a partir do acesso para área institucional (setores de profissionalização e acompanhamento). Além disso, atividades como a biblioteca, localizada junto a

estes setores, tem acesso público por circulação externa junto a praça, como propulsor da troca entre diferentes culturas. O setor de acolhimento tem ingresso a partir do uso institucional, contudo este é restrito para os migrantes com recepção controlada por porteiro(a). Já o setor de lazer e convivência, funciona em todos os pavimentos do acolhimento, logo de caráter exclusivo também, como forma de potencializar a integração dos moradores. Desta forma, como são de diferentes nacionalidades, impulsionar a convivência entre eles próprios funciona como articulador da integração também.

ESPAÇO PÚBLICO

ACOMPANHAMENTO

ACOLHIMENTO

~

PROFISSIONALIZAÇAO

LAZER E CONVIVÊNCIA Figura 91: Organograma. Fonte: Autora.

88


[ 5.5 FLUXOGRAMA ] PRAÇA

ACESSO PRINCIPAL

~

~

CAMPO DE FUTEBOL

ADMINISTRATIVO

RECEPÇAO/ESPOSIÇAO

VESTIÁRIOS E APOIO

SALA INFORMÁTICA

núcleo cam

ÁREA DE ESTAR

COZINHA coletiva

SALAS MULTIUSO

ACOMP. MÉDICO

ÁREA ECUMÊNICA

lavanderia coletiva

BIBLIOTECA

ACOMP. JURÍDICO

RECREAÇAO CRIANÇAS

~

SALA REUNIOES

ACOMP. PSICOLÓGICO

SANITÁRIOS

~

SANITÁRIOS QUARTOS COLETIVOS TRIAGEM

Figura 92: Fluxograma. Fonte: Autora.

SERVIços 89


[ 5.6 DIAGRAMA DE PARTIDO ARQUITETÔNICO ]

A:14,390m²

?

1 Terreno com frente para duas ruas: Rua IrmAO José e Rua Cândido José Calcagnotto. possui como

2 A proposta é readequar o campo de futebol, visto ser uma atividade já solidificada na área, na

uso consolidado um campo de futebol, porém algumas áreas SE ENCONTRAM ociosas.

qual muitas pessoas da comunidade local participam. Ainda, considera-se que o REFERIDO CAMPO está com medidas muito maiores do que o necessário para um jogo de Futebol CATEGORIA 11.

~

que serAO propostos para os migrantes se posicionarao a partir do 1 andar, visto que pretende-se ‘devolver’ 5 Seu volume é ajustado de forma a permitir que um eixo se crie alinhando-se com a praça. Além disso, propOE-se 6o Ostérreousosdestinado a praça para a comunidade local. Cria-se um volume acima do primeiro, em balanço sob a praça, ~

~

uma inclinaçAO da fachada voltada a rua, com a ideia de que quem venha desta seja convidado a entrar na praça, ~ ~ promovendo a integraçAO. Além disso, os usos do térreo sAO todos de caráter público.

Figura 93: Diagrama de partido arquitetônico. Fonte: Autora.

~

~

º

~

destinado as atividades institucionais, de forma a enfatizar o eixo de circulaçAO que ocorre no térreo. 90


3 O campo de futebol é redimensionado para as dimensOEs mínimas exigidas para a categoria

4 O Centro de IntegraçAO do Migrante é proposto junto a Rua IrmAO José, PREENCHENDO-SE TODO O TÉRREO.

~

~

~

MENCIONADA. Assim, possibilita a integraçAO entre as duas ruas que o terreno faz frente. A Unidade ~ Básica de Saúde, localizado dentro do lote é mantida, havendo apenas a revitalizaçAO do seu entorno.

~

SOLSTÍCIO DE INVERNO 12:00 - 0º

330

~

SOLSTÍCIO DE VERAO

O

12:00 - 0,2º

N

30

240

~

Ventos de veRAO Nordeste

VENTOS DE INVERNO

60

210

SUDOESTE S

7 Cria-se mais um volume sob os outros, com o intuito de ACOMODAR os abrigos DOs migrantes. Este volume posiona-se de forma longitudinal no terreno, de forma a privilegiar a visual do terreno vizinho.

L 150

120

8 Todos os espaços do projeto possuem ventilaçAO natural. Os dormitórios do abrigo ~

~

temporário ficam voltados para Oeste, possuindo uma insolaçAO adequada para o uso proposto. 91


~

[ 5.7 IMPLANTAÇAO ] ~

RuA IRMAO JOSÉ 05 ~

0 10m

08 05 06

09

30m

05 07

04 10

11

12 02

NOT TO

03

DID OJ RuA

CÂN

10

OAO~ CAL

CAG

01

A implantação do projeto se organiza a partir dos eixos norteadores de ligação entre as duas diferentes ruas que o terreno faz frente, os quais permanecem livres e sem obstáculos de forma a convidar as pessoas a adentrar e caminhar no local. Além disso, são criados canteiros com vegetação de pequeno e médio porte (evitando-se assim barreiras para a visual do terreno ao lado) que fazem o direcionamento para os eixos. O Centro de Integração do Migrante fica posicionado junto a Rua Irmão José, visto que das duas é a rua de maior importância para o contexto. O campo de futebol, que foi reposionado no terreno com dimensões adequadas, necessita de uma arquibancada, logo como forma de manter a ideia de não criar impedimentos quanto as visuais, propõe-se que o campo de futebol seja posicionado um metro (1,00m) abaixo do nível. Assim, a arquibancada segue o mesmo princípio, sendo que o seu degrau mais alto se alinha com o piso da praça. Por fim, não foi realizado intervenções na UBS que está no interior do terreno, mas sim feita a requalificação do seu entorno. Desta maneira, o playground e academia para terceira idade que não possuiam infraestrutura adequada, foram realocados próximo a UBS, visto a proximidade do equipamento e a facilidade de utilização do novo espaço. [ LEGENDA ]

~

RuA ALEXANDRE DE GUSMAO Figura 94: Implantação do Centro de Integração junto a praça. Fonte: Autora.

01 CAMPO DE FUTEBOL

05 cobertura verde

09 praça: permanência

02 arquibancada

06 ABRIGO COLETIVO

10 canteiros

03 UBS

07 PROF. E ACOMPANHAMENTO 11 área fitness ~

04 eixo de conexao entre as ruas 08 ESPAÇO PÚBLICO

12 playground infantil

92


[ 5.8 PLANTAS BAIXAS ] A edificação é proposta junto a Rua Irmão José, de forma longitudinal no terreno, para obter condições melhores de insolação e ventilação. A organização dos diferentes usos surge a partir das circulações verticais, que tornam-se elementos importantes visto que reforçam a integração. Uma destas ocorre pelo lado externo da edificação, através de uma rampa visando a acessibilidade e possibilita o acesso à biblioteca, que está localizada no primeiro andar, com carater público para impulsionar a troca cultural. O segundo conjunto, é uma escada que conecta todos os pavimentos e que torna-se aparente vista do exterior, devido a uma materialidade proposta com característica de transparência, permitindo a permeabilidade.

6º PAVIMENTO

5º PAVIMENTO

4º PAVIMENTO

A partir disso, no pavimento térreo é proposto apenas ocupações de uso público, com a ideia de deixar toda a área para a comunidade, já que esta havia se apropriado do espaço anteriormente. Assim, distribui-se o restaurante comunitário, área de apoio para o campo de futebol (vestiários) e lanchonete com mobliário externo adequado, a fim de atrair as pessoas a permanecerem no local. O acesso para os pavimentos superiores, está junto da recepção e triagem, que também se localizam no mesmo pavimento.

3º PAVIMENTO

2º PAVIMENTO

No terceiro pavimento, localiza-se além da biblioteca já mencionada, as atividades voltadas a profissionalização e acompanhamento dos migrantes. Do quarto ao sexto pavimento, estão localizados dosmitórios do abrigo temporário que se voltam para a fachada Oeste, sendo a circulação a Leste proporcionando a integração com o eixo da praça criado sob pilotis. Ainda, todos os andares do abrigo, possuem áreas de uso comum visando a troca entre os moradores.

RAMPA ACESSO

[ LEGENDA ] 01 Restaurante comunitário

04 SALAS DE ACOMPANHAMENTO

07 DORMITÓRIOS ABRIGO

02 RECEPÇAO, TRIAGEM E EXPOSIçAO

05 SALAS MULTIUSO PARA PROFIS.

08 ESPAÇOS DE USO COLETIVO

03 ADMINISTRATIVO

06 BIBLIOTECA

~

~

tÉRREO 0

10m

Figura 95: Zoneamento em planta baixa isométrica do Centro de Integração. Fonte: Autora.

93


[ 5.9 CORTES E TÉCNICAS CONSTRUTIVAS ] A edificação proposta contempla seis pavimentos, sendo os dois primeiros destinados a usos públicos e institucionais. Desta forma, o seu pé direito é um pouco maior que o convencional, a fim de que juntos tenham a mesma altura que a edificação localizada a esquerda do projeto (mercado), contextualizando assim com o entorno. O restante dos andares possuem pé direito convencional e acomodam os dormitórios do abrigo temporário para migrantes. Apesar da altura desses quatro pavimentos se sobressairem do entorno, ambas as edificações vizinhas possuem paredes cegas voltadas ao terreno, assim não haverá problemas de insolação tanto para o novo prédio quanto para os vizinhos. Além disso, o Centro foi posicionado de forma longitudinal no terreno justamente para aproveitar as melhores condicionantes naturais proporcionadas por este.

corte AA’

B

Outro ponto a ser mencionado é de que a cobertura de todos os pavimentos possuem telhado verde. Essa estratégia surge a partir da sustentabilidade, que além de melhorar o conforto termoacústico no interior da edificação, integra o edifício ao conjunto da praça, pois na sua implantação (figura 94) o verde da grama predomina. C

D

E

F

A

A'

A

Ainda, percebe-se observando os cortes (figuras 96 e 97), que as circulações ficam em evidência, proporcionando a integração do interior com o exterior. Bem como, impulsiona esta no seu interior também, visto que as circulações dos pavimentos destinados ao abrigo, possuem alguns ‘rasgos’ nas lajes, trabalhando-se com a ideia de ‘passarelas’ que ligam as escadas aos dormitórios. Desta maneira, através desses vazios, há a comunicação entre os pavimentos, o que potencializa a integração e troca entre os próprios moradores que ali residem.

0

5m

10m

Figura 96: Corte AA’.Fonte: Autora.

94


Princípios utilizados para definição do sistema construtivo: ~

[ MODULAçAO ]

Com as plantas baixas desenvolvidas a partir de uma malha estrutural, cria-se a modulação, o que possibilita uma padronização da estrutura;

[ ESTRUTURA RACIONAL ]

A partir da modulação criada propõe-se um sistema estrutural racional, visando o não desperdício de materiais in loco, além de redução de resíduos aplicado aos conceitos da construção civil sustentável;

[ ECONOMIA ]

Com todos os elementos acima citados, obtém-se a redução dos custos da obra e economia nos elementos que não são essenciais. Além disso, espera-se uma redução de custos na manutenção da edificação posterior a sua construção, visto esta ser uma parceria público-privada.

corte BB’ B

0

1

2

Assim, o projeto foi proposto a partir de uma modulação de 5mx5m, o que fica evidente na volumetria, pois proporciona um equilíbrio nas fachadas. Definição do sistema construtivo:

[ PILARES E VIGAS ]

Seguindo o direcionamento das premissas anteriores, utiliza-se estrutura metálica com perfil I, que apesar de ter um custo maior do que uma estrutura convencional, se apoia no conceito da racionalidade. Além disso, possibilita um vão maior, o que trás liberdade para a planta baixa, permitindo facilidade de adaptação para novos usos e necessidades.

[ LAJES ] Para este sistema, pensou-se lajes alveolares pré moldadas, que cumprem os vãos que a estrutura metálica permite. Ademais, por ser pré moldada e paginada conforme o projeto, tem custo e desperdício menores. 3

4

5

6

B'

5m

10m

Figura 97: Corte BB’.Fonte: Autora.

95


[ 5.10 PERSPECTIVAS ]

Figura 98: Acesso Centro de Integração do Migrante. Fonte: Autora.

96


Figura 99: Acesso eixo da praรงa proposto. Fonte: Autora.

97


Figura 100: Circulação abrigo temporário. Fonte: Autora.

98


Figura 101: Relação da praça com o novo campo de futebol prosposto. Fonte: Autora.

99



Figura 102. Fonte: Bill Wegener.

~

[ 6. CONSIDERAÇOES FINAIS ]


102


~

[ 6.1 CONSIDERAÇOES FINAIS ] O desenvolvimento da presente Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo documentada neste caderno técnico, realizou-se a partir de uma análise acerca do processo migratório atual. Assim, efetuou-se uma abordagem crítica sobre a chegada e acolhimento de migrantes na cidade de Caxias do Sul, com o intuito de identificar as diversas necessidades que não são atendidas hoje. O tema desenvolvido tem relevância para o contexto atual, visto que o mundo enfrenta uma das maiores crises da imigração e o Brasil, por sua vez, recebe muitos estrangeiros. Assim, as dificuldade encontradas não são concentradas em um único campo de ação, englobando aspectos sociais, políticos e culturais, além de influenciar no desenvolvimento urbano das cidades. Desta forma, o objetivo desta pesquisa não foi tentar solucionar todas as problemáticas encontradas, mas sim propor alternativas e mostrar que há soluções possíveis. Este trabalho e seu desenvolvimento reforçou para a autora, a importância da participação do arquiteto e urbanista nas questões sociais. Este profissional possui conhecimento multidisciplinar e através dele, pode buscar respostas aos problemas concretizando-as em seus projetos, de forma inclusiva e integradora. Percebeu-se também que para determinar diretrizes no âmbito social, não somente utiliza-se do conhecimento teórico, mas torna-se importante também ter um olhar atento sobre o outro, identificando muitas vezes sentimentos ditos nas entrelinhas, mas que podem definir como o projeto será visto pelos usuários futuramente. A proposta de partido arquitetônico para o Centro de Integração do Migrante, será desenvolvida e aprofundada até a etapa de anteprojeto, na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso I, a fim de atingir o objetivo específico desde trabalho. Assim, se apresentará os seguintes instrumentos de representação: diagramas conceituais, localização e implantação, planta baixa de todos os pavimentos, cortes, elevações, detalhes construtivos, perspectivas internas e externas e maquete física. 103



Figura 103. Fonte: Digital Sennin;

[ REFERENCIAIS ]


[ REFERENCIAIS ] ACNUR. Cartilha do Refugiado. 2015. Disponível em: <http://www.acnur.org/filea dmin/scripts/doc.php?file=fileamin/Documentos/portugues/Publicacoes/2014/Cartilha_ para_solicitantes_de_refugio_no_Brasil>. Acesso em 17 de março de 2018. ARCH DAILY. Bud Clark Commons. 2011. Disponível em: <https://www.archdaily.com/189376/bud-clark-commons-holst-architecture>. Acesso em 24 de junho de 2018. ARCH DAILY. CIC do Imigrante. 2017. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/871396/cic-do-imigrante-escola-da-cidade-plus-b-arquitetos>. Acesso em 05 de maio de 2018. ARCH DAILY. Clássicos da arquitetura. 2013. Disponível em: <https://www.arch d a i l y. c o m . b r / b r / 0 1 - 1 5 3 2 0 5 / c l a s s i c o s - d a - a q u i t e t u r a - s e s c - p o m peia-slash-lina-bo-bardi>. Acesso em 12 de maio de 2018. BEGON, M., J. L; HARPER; TOWNSEND C. R.. Ecology: Individuals, Popultions and Communities. 2nd Ed. Blackwell Scientific Publications. 1990. BIJOS, Leila Maria Da'juda; SILVA, Patrícia Almeida da. Aálise da Primavera Árabe: um estudo de caso sobre a revolução jovem no Egito. Revista CEJ, v. 17, n. 59, 2013. BOYD, H. W. et al. Marketing research: text and cases. Homewood: R. D. Irwin, 1989. BRASIL. Lei nº 9.474 - Estatuto do Refugiado. 1997. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9474.htm>. Acesso em 17 de março de 2018.

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